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ANO XXV
BRASÍLIA DF
82
ISSN 1517-6959
PRÁTICA EM
CURSO
Novas diretrizes curriculares provocam
mudanças para melhorar formação dos
T Aula em campo de Medicina
futuros médicos-veterinários Veterinária na Fazenda Água
Limpa, da Universidade
de Brasília
ARTIGOS
TÉCNICOS
Foto: Pixabay.com
T A PSA e a PSC são doenças virais graves que infectam suídeos, mas não são transmitidas a humanos ou outras espécies animais (foto ilustrativa)
O
Brasil é o quarto maior produtor e exportador tes para o comércio internacional de produtos suínos, a
mundial de carne suína. Em 2018, produziu Organização Mundial da Saúde Animal (OIE) destaca a
mais de 3,9 milhões de toneladas, exportou Peste Suína Africana (PSA) e a Peste Suína Clássica (PSC).
aproximadamente 650 mil toneladas e a movimentação Atualmente, o Brasil é considerado livre de PSA
financeira de toda a cadeia de suínos foi de aproxima- junto à OIE, pois, apesar de a doença ter ingressado no
damente R$ 150 bilhões, posicionando-se entre as ati- país em 1978, foi erradicada em 1984 (Figura 1A). Com
vidades econômicas mais importantes do agronegócio. relação à PSC, possui grande parte de seu território – e
A manutenção e a abertura de mercados depen- cerca de 95% da suinocultura industrial – reconhecida
dem dos padrões de qualidade e competitividade, do como zona livre pela OIE. Os surtos recentes que têm
fortalecimento da condição sanitária e da capacidade ocorrido na região Nordeste estão localizados na área
de certificação dos serviços veterinários. Nesse con- considerada endêmica para a doença (Figura 1B).
texto, as doenças infecciosas, caracterizadas por surtos A PSC causa prejuízos sanitários e socioeconô-
súbitos, que muitas vezes tomam proporções epidêmi- micos graves, principalmente pelas perdas diretas
cas, representam uma ameaça. Entre os aspectos que e restrições comerciais impostas a produtos oriun-
podem levar à emergência de doenças infecciosas em dos de áreas não livres da doença. Sua presença em
animais domésticos, estão a intensificação da produ- parte expressiva do território nacional ameaça a po-
ção, mutações nos patógenos, mudanças no meio am- sição do país no mercado internacional, causando
T Figura 2. Distribuição mundial dos focos de PSA, de 2009 a 2019, segundo o Sistema WAHIS/OIE
T Figura 3. Situação sanitária oficial dos países junto à OIE em relação à PSC, 2019
No Brasil, a PSC era endêmica em vários estados elucidados. Informações detalhadas sobre as formas
até 1980, porém programas oficiais de controle e er- de apresentação clínica e epidemiologia das duas
radicação, com uso massivo de vacina viva modificada, doenças estão disponíveis no site da OIE (https://
reduziram drasticamente a ocorrência da doença no www.oie.int/standard-setting/terrestrial-code/ac-
país. Atualmente, grande parte do território brasileiro cess-online).
é reconhecida pela OIE como livre de PSC, compreen- A principal via de transmissão dos vírus é pelo
dendo Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Paraná, Minas contato direto entre suínos infectados e suscetíveis ou
Gerais, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, ingestão de produtos cárneos de origem suína (como
Goiás, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Bahia, Sergipe, To- salames e embutidos) contaminados com vírus, oriun-
cantins, Rondônia, Acre, Distrito Federal e mais quatro dos de restos da alimentação humana.
municípios amazonenses (Figura 1B). Na PSA, tanto a transmissão quanto a manutenção
do vírus no ambiente podem ocorrer pelos ciclos sil-
PONTOS IMPORTANTES DA TRANSMISSÃO DOS VÍRUS vestre e doméstico. A epidemiologia da doença varia
A PSA e a PSC são doenças virais graves que in- em diferentes partes do mundo, de acordo com a cepa
fectam suídeos, mas não são transmitidas a huma- prevalente, o habitat, a presença ou não de suídeos
nos ou outras espécies animais. Embora sejam sín- selvagens e vetores (por exemplo, Ornithodoros spp.)
dromes hemorrágicas que podem ser clinicamente e os tipos de criação.
confundíveis, apresentam diferenças clínico-epide- Para PSC, a infecção congênita causa o nasci-
miológicas significativas, com aspectos ainda a ser mento de leitões clinicamente sadios, mas persis-