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Como já estudado anteriormente, a Atenção Básica deve coordenar e ordenar o cuidado, promovendo que os

indivíduos possam acessar não somente seus pontos de atendimento, mas como outros dentro da rede de
atenção à saúde.
Para isso, as pessoas devem ser compreendidas, os profissionais precisam ver além da presença ou
ausência de doenças. Deve-se olhar todo o contexto em que se está inserido e lembrar que o cenário atual
contribui para o aumento do risco de pessoas adoecerem

Equipes de atenção básica: garantir acesso aos serviços de saúde, respeitando os princípios de igualdade e
equidade. Para isso, o Método clínico centrado na Pessoa visa entender e conhecer cada pessoa como um
indivíduo único que é, indo além de um diagnóstico "seco e frio”

A CONSULTA

O espaço onde ocorrerá a consulta deve, primordialmente, ser um lugar agradável. Isso deixa a pessoa à
vontade e reforça a sensação de individualidade e segurança. Apesar da consulta ser um local para objetivar
o problema, ela deve ocorrer com empatia (a capacidade de se colocar no lugar do outro)

"Como vai?” “Em que posso te ajudar?” São perguntas que geram um conforto no paciente, mostrando que
aquele profissional está preocupado com seu bem estar. Além disso, um contato visual é importante para
demonstrar interesse naquele indivíduo. Os detalhes devem ser observados. Nos primeiros minutos da
consulta pode-se deixar o paciente falando para o profissional conseguir colher todas as informações e
entender o que levou a buscar ajuda

Antes de se adicionar contra perguntas para o paciente após ele falar sua demanda, pode-se incluir perguntas
que demonstrem interesse além de resolver aquele problema. EX: “Existe mais alguma coisa para relatar?”
Isso permite estabelecer quais as prioridades que serão abordadas, tanto pela percepção do que é mais
importante para pessoa naquele momento quanto pela visão técnica do profissional. Vale lembrar que quando
são apresentadas muitas demandas (queixas do paciente) em uma mesma consulta, é interessante marcar
um outro encontro para tratá-las com excelência, visto que podem acabar sendo abordadas superficialmente.

DICAS PARA UMA BOA CONSULTA:


1. Preze pela ambiência e por um espaço adequado para consulta;
2. Seja empático;
3. Inicie por perguntas abertas;
4. Mantenha contato visual;
5. Procure não interromper a pessoa, principalmente no início da consulta;
6. Previna demanda aditiva; e
7. Utilize o método clínico centrado na pessoa.

O MCCP 1,2 é uma forma de abordagem que dá conta desses vários aspectos e auxilia o profissional a
desempenhar uma comunicação adequada às diversas necessidades levantadas pelas pessoas que buscam
atendimento na Atenção Primária. Ele se organiza em quatro componentes, que dão conta dos problemas
identificados no atendimento

1. Explorar a saúde, a doença e a experiência da doença - sinais e indicações (entendimento integrado)


2. Entender a pessoa como um todo - analisar todos os pontos acima e entender a pessoa como
indivíduo mesmo, o contexto ao redor dele e o contexto externo a ele.
3. Elaborar um plano conjunto de decisões para corrigir os problemas - decisão que englobe a resolução
dos problemas, das metas e dos papeis que cada um irá cumprir
4. Intensificar a relação entre pessoa e o médico
Primeiro componente: explorando a saúde, a doença e a experiência da doença

Já vimos que, no Cuidado Centrado na Pessoa, não se deve focar apenas na doença. Apesar do
conhecimento técnico ser importante, é necessário saber os estágios do paciente para ter um
acompanhamento focado inteiramente no bem estar geral do paciente.
Por exemplo, quando deixamos a pessoa falar no início da consulta, mantendo contato visual e sem
interrompê-la, estamos não apenas fortalecendo a relação e o vínculo mas também dando oportunidade para
que os principais aspectos do seu problema sejam relatados, sem que tenhamos que direcionar ou conduzir a
consulta.
O foco é deixar o paciente como protagonista da consulta, deixando ele seguro e confortável para expor suas
problemáticas.

Claro que existem aqueles pacientes que extrapolam e acabam fugindo do teor principal da consulta, que é
corrigir o problema que o mesmo está sentindo. Nesse caso, deve-se ser educado e gentil ao direcionar a
conversa para o rumo certo, então frases como: “Você gosta de conversar e é bom ouvir as suas histórias,
mas, hoje, preciso saber em que você espera que eu possa te ajudar” ou “Entendo suas questões e podemos
conversar sobre elas em uma outra consulta. Mas neste momento, preciso saber qual o principal motivo para
te trazer aqui hoje nessa consulta”

Costuma ser útil, nesses momentos, tocar na pessoa e manter contato visual. Outras pessoas já são
mais quietas e reservadas e falam pouco. Nesses casos, pode-se estimulá-las a falar com perguntas
abertas, como: “Fale-me mais sobre isso...”, ou “Gostaria de entender melhor isso”. Em alguns
momentos, manter contato visual e ficar em silêncio por um breve período é suficiente para que a
A pessoa se sinta confortável, entendendo que o profissional está ali para ouvi-la, e volte a se expressar.

Segundo componente: entendo a pessoa como um todo

Compreender o ambiente ao redor e externo ao paciente, ajuda a estabelecer cuidados que sejam
compatíveis com sua realidade, além de identificar em qual estágio do ciclo de vida ela está.
Quando um paciente está demonstrando seus problemas, mesmo que não seja algo direcionado a consulta,
escute com atenção. Não o interrompa e permita que ele se expresse.

O contato com essa perspectiva, além de simplesmente ter o conhecimento técnico da problemática, permite
que a equipe possa auxiliar o paciente ou a família dele se articulando com outros setores. Isso traz
segurança, demonstra interesse e auxilia, principalmente, na queixa do paciente.

Pode-ser que existam barreiras para solucionar durante esse processo, mas ainda é melhor do que
desconhecer todo o cenário pela qual aquele paciente está inserido, onde uma lacuna no diagnóstico devido a
esse desconhecimento, pode gerar um tratamento errado e, consequentemente, a piora do quadro do
paciente ou problemas para a rede de saúde - como custos adicionais.

Terceiro componente: elaborando um plano conjunto de manejo dos problemas

Para finalizar, a consulta serve para diagnosticar a problemática e traçar um plano. Tal plano deve conter o
papel de cada membro, interno ou externo ao paciente, visando um resultado positivo para o paciente.

O Grading of Recommendations Assessment, Development and Evaluation (GRADE) é, atualmente, o


principal sistema utilizado para avaliar a qualidade das evidências e para subsidiar as recomendações
de práticas e decisões em saúde. Um dos aspectos que ele aborda é a utilização de desfechos que
são mais relevantes em saúde e importantes para as pessoas
Além disso, deve-se agregar estratégias para a promoção da saúde e prevenção de doenças, não somente
uma resolução engessada para o atual problema. Vale lembrar, que esse plano deve ser baseado lá na
consulta, tendo em vista as preferências do paciente, o cenário que eles estão inseridos e em qual estágio.

Quarto componente: fortalecendo a relação entre a pessoa e o médico

Todos os componentes do MCCP estão inter-relacionados e devem ser vistos em conjunto. Ao se realizar
uma escuta ativa, demonstrando estar interessado na pessoa, seja pelo contato visual, por um sorriso ou por
um aceno de cabeça, procurar conhecer como ela experiencia a sua doença ou mesmo o seu medo de
adoecer, como é o seu contexto de vidas familiar e social, as suas crenças e, por fim, buscar construir um
plano de cuidados conjuntos, está se fortalecendo as relações e construindo o vínculo

Para o profissional ver o indivíduo como uma pessoa única e não apenas mais um, a relação irá se fortalecer
e construir um vínculo de confiança. Essa prática do MCCP permite o paciente ser mais aberto, podendo o
profissional analisar todo o cenário e a pessoa em si, e traçar um melhor tratamento de acordo com as
circunstâncias em que o paciente se encontra.

Em algumas situações, a pessoa já se encontra dependente de cuidados de terceiros. Nesse caso, deve�se
considerar a sua autonomia para definir o quanto se vai passar de informações e recomendações
para a família ou cuidadores.

“Se a autonomia não está mais presente, a família passa a assumir um papel basilar, pois, com ela, se devem
compartilhar todas as decisões, informações e aconselhamentos. Se houve tempo durante a vida para utilizar
o MCCP com a pessoa enquanto ela mantinha a sua autonomia, devem ser respeitados, portanto, na medida
do possível, os seus sentimentos, as suas ideias e as suas expectativas.”

RESUMO

Não é suficiente possuir conhecimento técnico ou habilidades para diagnosticar e tratar. É crucial integrar
esses conhecimentos a uma abordagem centrada nas pessoas. Nesse contexto, o Método Clínico Centrado
na Pessoa destaca-se como uma abordagem apropriada na Atenção Primária à Saúde (APS). Ele não
apenas permite ao profissional reconhecer a doença, mas também compreender as perspectivas da pessoa
em relação à sua saúde e experiência no processo de adoecimento, incluindo sentimentos, ideias,
expectativas e o impacto da doença em seu funcionamento na vida. Além disso, aborda os contextos de
trabalho, familiar e social nos quais a pessoa está inserida, considerando suas crenças.

A partir dessas informações, o profissional pode identificar com mais precisão os problemas de saúde
apresentados, estabelecer objetivos de tratamento comuns, alinhados às expectativas da pessoa, e colaborar
na definição de um plano de cuidados claro, que delineie o papel de cada envolvido.

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