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Recebido: 05/04/2013 Parecer emitido em: 27/05/2013 Artigo original

EXERCÍCIOS DINÂMICOS BASEADOS NO CONCEITO NEUROEVOLUTIVO DE


BOBATH COMO TRATAMENTO DA HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA
Rafaela Maria de Paula Costa1; Leilane Costa Leal1; Themis Moura Cardinot2; Liszt Palmeira de
Oliveira3; José Tadeu Madeira de Oliveira1; Hugo Jorge Almeida Jacques1.

RESUMO

A hipertensão arterial sistêmica é uma síndrome multifatorial cuja prevalência no Brasil atinge
de 22% a 44% da população urbana adulta, sendo por isso considerada um dos grandes problemas de
saúde pública. O objetivo deste trabalho foi estudar a eficácia dos exercícios dinâmicos baseados no
conceito neuroevolutivo de Bobath como método de tratamento da hipertensão arterial sistêmica. Foram
avaliadas sete mulheres hipertensas, sem disfunção neurológica, com idade entre 44 e 67 anos. Foram
medidas a pressão arterial sistólica e a pressão arterial diastólica, antes e após cada sessão de treinamento
que consistia em uma série de exercícios dinâmicos, realizados de forma ativa livre, com duração de uma
hora, frequência de três vezes por semana, durante quatro meses. A análise estatística foi feita utilizando
testes não paramétricos de Wilcoxon. O treinamento físico com exercícios dinâmicos baseados no conceito
neuroevolutivo de Bobath foi eficaz em reduzir a pressão arterial em mulheres hipertensas sem disfunção
neurológica em um período de quatro meses. Estudos futuros podem verificar a eficácia do método no
tratamento do paciente neurológico hipertenso.
Palavras-chave: Exercício. Hipertensão. Neurológico.

DYNAMIC EXERCISES BASED ON BOBATH NEUROEVOLUTIVE CONCEPT AS


ARTERIAL HYPERTENSION TREATMENT

ABSTRACT

Hypertension is a multifactorial syndrome considered one of the major public health issues in Brazil,
reaching from 22% to 44% of the Brazilian adult urban population. The objective of this research was to
study the effectiveness of dynamic exercises based on the Bobath neuroevolutive concept as a method of
treating hypertension. We studied seven hypertensive women aged between 44 and 67 years old without
neurological disorders. The systolic blood pressure and diastolic blood pressure were measured before and
after each training session, which consisted of a series of free dynamic exercises for sixty minutes, three
days a week, during four months. The statistical analysis was calculated using Wilcoxon tests. The dynamic
exercises physical training based on the Bobath neuroevolutive concept were effective in reducing blood
pressure in hypertensive women without neurological disorders in a period of four months. Future studies
can verify the effectiveness of this method in the treatment of hypertensive neurological patients.
Keywords: Exercise. Hypertension. Neurologic.

Coleção Pesquisa em Educação Física - Vol. 12, n. 2, 2013 - ISSN: 1981-4313 71


INTRODUÇÃO
A hipertensão arterial sistêmica (HAS) é uma síndrome multifatorial cuja prevalência no Brasil
atinge de 22% a 44% da população urbana adulta, sendo por isso considerada um dos grandes problemas
de saúde pública (FREITAS et al., 2001, FUCHS et al., 1994, AYRES, 1991). A HAS é um dos principais
fatores de risco para as doenças cardiovasculares, além de diminuir a expectativa e a qualidade de vida
dos seus portadores. A HAS eleva o custo médico-social, principalmente pelas suas complicações, como as
doenças cerebrovascular, arterial coronariana e vascular de extremidades, além da insuficiência cardíaca
e da insuficiência renal crônica (SOCIEDADE BRASILEIRA DE HIPERTENSÃO, 2007).
A HAS é definida quando, no consultório, os valores da pressão arterial sistólica (PAS) forem iguais
ou maiores a 140 mm Hg e/ou de pressão arterial diastólica (PAD) forem iguais ou superiores a 90 mm Hg.
Também é caracterizada HAS quando, na Monitorização Ambulatorial da Pressão Arterial (MAPA) de 24
horas, os valores de PAS e PAD estiverem acima de 130/80 mm Hg; ou na Monitorização Residencial da
Pressão Arterial (MRPA), forem acima de 135/85 mm Hg (SOCIEDADE BRASILEIRA DE HIPERTENSÃO, 2007).
Existem, basicamente, duas formas de tratamento para a hipertensão arterial: o medicamentoso,
que consiste na utilização de fármacos, e o não medicamentoso, que requer medidas alternativas para a
mudança no estilo de vida, tais como redução do peso corporal, diminuição da ingesta de sódio e álcool,
redução ou eliminação do tabagismo, redução do estresse e a eliminação do sedentarismo (RONDON e
BRUM, 2003, CRIQUI, LANGER e REED, 1989). Tem sido documentada por meio de estudos epidemiológicos
uma associação entre o baixo nível de atividade física ou condicionamento físico com a presença de
hipertensão arterial (LATERZA, RONDON e NEGRÃO, 2007, LESNIAK e DUBBERT, 2001). Vários estudos
apontaram que o treinamento físico aeróbico de baixa a moderada intensidade é capaz de reduzir aguda
e cronicamente a pressão arterial em pacientes com HAS (MEDINA et al., 2010, VIECILI et al., 2009). A
adoção dessas medidas alternativas, dependendo do grau da HAS e da disponibilidade e aderência do
paciente, podem ser empregadas como tratamento único, não medicamentoso ou em associação com o
tratamento medicamentoso (FORJAZ et al., 2006, RONDON e BRUM, 2003).
A grande maioria dos estudos sobre HAS e exercício físico mostrou o benefício do treinamento
físico aeróbico na prevenção e no tratamento da HAS (CUNHA et al., 2006, FORJAZ et al., 1998), mas,
pouco se sabe sobre o efeito hipotensor de outras modalidades de exercício, como os baseados no conceito
neuroevolutivo de Bobath para pacientes com disfunção neurológica. Tal estudo reflete sua importância,
haja vista muitos pacientes com distúrbios neurológicos apresentarem HAS.
O conceito neuroevolutivo de Bobath foi desenvolvido pela fisioterapeuta Berta Bobath e pelo
neurologista Karel Bobath, na década de 50, e hoje é amplamente conhecido na área da fisioterapia. É
uma modalidade terapêutica usada na avaliação e no tratamento de pacientes com distúrbios de função,
movimento e controle postural, secundários à lesão do sistema nervoso central. O conceito de Bobath enfatiza
mais a observação e a análise funcional imediata do paciente no desempenho motor para identificação de
metas terapêuticas eficientes (GRAHAM et al., 2009, KNOX e EVANS, 2002).
Esse conceito utiliza exercícios dinâmicos característicos do desenvolvimento normal e atuam inibindo
a atividade reflexa e os padrões posturais e motores anormais, com subsequente facilitação de movimentos
com padrões motores adequados (BEGNOCHE e PITETTI, 2007, MAHONEY, ROBINSON e PERALES, 2004).
Indivíduos submetidos ao tratamento com base no conceito neuroevolutivo de Bobath apresentam melhora
pelo recrutamento de áreas intactas do cérebro (PALÁCIO, FERDINANDE e GNOATTO, 2009) e pela inibição
dos reflexos segmentares distais via inibição de interneurônios Ib (FONSECA et al., 2006).
Vale lembrar que esse tipo de exercício utilizado no conceito de Bobath também provoca
respostas cardiovasculares. O aumento do débito cardíaco durante o exercício dinâmico é determinado,
principalmente, pela elevação da frequência cardíaca. A pressão arterial também se altera durante o exercício
dinâmico; a PAS se eleva e a PAD tende a ligeira redução, de modo que a pressão arterial média se eleva
discretamente (FORJAZ e TINUCCI, 2000, BRUM et al., 2004).
Nossa hipótese foi propor um treinamento físico a partir de exercícios dinâmicos baseados no
conceito neuroevolutivo de Bobath como uma alternativa para o tratamento da HAS. Assim, o objetivo
deste trabalho foi estudar a eficácia dos exercícios dinâmicos baseados no conceito neuroevolutivo de
Bobath sobre a HAS.

METODOLOGIA
A casuística foi constituída por sete mulheres hipertensas, sem disfunção neurológica, com idade
entre 44 e 67 anos, selecionadas de uma amostra de pacientes da Clínica Escola de Fisioterapia. Todos os
indivíduos receberam informação prévia sobre os objetivos e procedimentos do estudo, leram e assinaram
o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) autorizando a utilização das informações obtidas na

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pesquisa. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Sistema Nacional de Informações
sobre Ética em Pesquisa Envolvendo Seres Humanos (SISNEP), em 19 de novembro de 2009. O período
em que se realizou essa pesquisa foi entre novembro de 2009 e junho de 2010. O estudo foi realizado na
Clínica Escola de Fisioterapia da UNIABEU Centro Universitário, na cidade de Belford Roxo, RJ.
Os indivíduos foram submetidos a uma avaliação inicial na qual se verificou o histórico de doença(s)
pregressa(s) e hereditária(s) e foram aferidos: frequência cardíaca, frequência respiratória, PAS, PAD e peso
corporal. Todos os pacientes receberam orientações sobre medidas de prevenção da HAS e sobre hábitos
de alimentação saudável.
O programa de treinamento consistia em uma série de exercícios dinâmicos baseados no conceito
neuroevolutivo de Bobath, realizados de forma ativa livre, com uma frequência de três vezes por semana,
com duração de uma hora diária, durante quatro meses, em ambiente climatizado. Foram medidos os
valores de PAS e PAD, antes e após cada sessão de treinamento.
Os pacientes ao chegarem à clínica ficavam 10 minutos em repouso, em decúbito dorsal, fazendo
exercícios respiratórios de inspirações profundas e expirações lentas com freno labial. A seguir, realizavam
a sessão de treinamento baseada no conceito neuroevolutivo de Bobath. Em decúbito dorsal realizavam:
flexão, extensão, adução e abdução dos ombros; circundução dos membros superiores (MMSS); dissociação
de cintura pélvica; flexão, extensão, abdução e adução do quadril; dorsiflexão e flexão plantar; exercício de
“ponte” com apoio bipodal e unipodal alternadamente; puppy (posição em que há mudança do decúbito
dorsal para o ventral realizando apoio dos antebraços, seguido pela extensão dos cotovelos com o apoio
das mãos) e transferência de peso para os lados; puppy com transferência de peso para um lado e liberação
de membro superior à frente; puppy e reação de anfíbio; puppy, reação de anfíbio e extensão dos MMSS;
posição de “gatas” e balanceio para frente e para trás; posição de gatas com movimento de “engatinhar”;
sentar de lado e reação protetora lateral e posterior; postura de “gatas”; semiajoelhado e ortostatismo. A
volta à calma era realizada com exercícios de alongamento. A PAS e PAD foram aferidas antes e após cada
sessão de treinamento, durante os 4 meses.
A análise estatística foi feita utilizando testes não paramétricos de Wilcoxon para as comparações
de PAS e PAD no início e no final do estudo, antes e após a sessão de treinamento. As correlações entre
as pressões arteriais também foram avaliadas pelo método de Spearman. Diferenças e correlações foram
consideradas significativas quando o nível descritivo dos testes foi menor que 5% (p<0,05).

RESULTADOS
As Tabelas 1 e 2 apresentam estatísticas descritivas de tendência central (média e mediana), dispersão
e posição (intervalo de confiança de 95% para a média, desvio padrão, percentis 25 e 75, valor mínimo e
máximo) da PAS e PAD no início e ao final do estudo, antes e após a sessão de treinamento.
Tabela 1. Estatística descritiva da pressão arterial sistólica antes e após a primeira sessão de treinamento
(inicial); e, antes e após a última sessão de treinamento (final).
PRESSÃO ARTERIAL SISTÓLICA
INICIAL FINAL
ANTES APÓS ANTES APÓS
n 7 7 7 7
Média 144,3 130,0 124,3 125,7
IC95% (132,5;156,1) (115,9;144,1) (110,3;138,3) (114,0;137,5)
Mediana 150,0 130,0 120,0 120,0
DP 12,7 15,3 15,1 12,7
Per 25 140,0 120,0 120,0 120,0
Per 75 150,0 150,0 130,0 130,0
Min 120,0 110,0 100,0 110,0
Max 160,0 150,0 150,0 150,0
Legenda: n – número de pacientes; IC95% – Intervalo de Confiança de 95% para a média;
DP – Desvio Padrão; Per25 e Per75 – Percentis 25 e 75; Min – valor Mínimo; Max – valor
Máximo. Fonte: Dados da pesquisa.

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Tabela 2. Estatística descritiva da pressão arterial diastólica antes e após a primeira sessão de treinamento
(inicial); e, antes e após a última sessão de treinamento (final).
PRESSÃO ARTERIAL DIASTÓLICA
INICIAL FINAL
ANTES APÓS ANTES APÓS
n 7 7 7 7
Média 84,3 82,9 78,6 77,1
IC95% (75,3;93,3) (75,9;89,9) (70,3;86,9) (70,2;84,1)
Mediana 80,0 80,0 80,0 80,0
DP 9,8 7,6 9,0 7,6
Per 25 80,0 80,0 70,0 70,0
Per 75 90,0 90,0 90,0 80,0
Min 70,0 70,0 70,0 70,0
Max 100,0 90,0 90,0 90,0
Legenda: n – número de pacientes; IC95% – Intervalo de Confiança de 95% para a média;
DP – Desvio Padrão; Per25 e Per75 – Percentis 25 e 75; Min – valor Mínimo; Max – valor
Máximo. Fonte: Dados da pesquisa.

Testes não paramétricos de Wilcoxon foram aplicados para as comparações de PAS e PAD no
início e ao final do estudo, antes e após a sessão de treinamento. Os valores de p (nível descritivo dos testes)
estão apresentados na Tabela 3.
Tabela 3. Resultado dos testes de comparação das médias de PAS e PAD de 7 pacientes, antes e após a
sessão de treinamento no início do estudo (inicial) e ao final de 4 meses (final).

INICIAL FINAL
n Média p
Antes Após Antes Após
7 PAS 144,3 130,0 0,041
7 PAS 124,3 125,7 0,317
7 PAS 144,3 124,3 0,023
7 PAS 130,0 125,7 0,438
7 PAD 84,3 82,9 0,655
7 PAD 78,6 77,1 0,317
7 PAD 84,3 78,6 0,102
7 PAD 82,9 77,1 0,102
* Testes de Wilcoxon. Legenda: n – número de pacientes; PAS – pressão arterial sistólica;
PAD – pressão arterial diastólica. Fonte: Dados da pesquisa.

Os gráficos 1 e 2 apresentam a mediana e o intervalo interquartílico – IIQ da pressão arterial


sistólica (PAS) e da pressão arterial diastólica (PAD).

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Gráfico 1. Mediana e intervalo interquartílico (IIQ) da pressão arterial sistólica (PAS) medida no início do
estudo (inicial) e ao final de quatro meses (final), antes e após sessão de treinamento.

A PAS medida antes da sessão de treinamento foi significativamente menor no final do estudo do
que no início do estudo (p=0,023). Em mediana foram, respectivamente, 120 e 150 mm Hg. A PAS no início
do estudo diminuiu significativamente após a primeira sessão de treinamento (p=0,041). Em mediana, o
que antes era 150 mm Hg, diminuiu para 130 mm Hg, após a primeira sessão treinamento.
Gráfico 2. Mediana e intervalo interquartílico (IIQ) da pressão arterial diastólica (PAD) medida no início
do estudo (inicial) e ao final de quatro meses (final), antes e após sessão de treinamento.

Em relação à PAD, não foram encontradas diferenças significativas ao longo do tempo. A PAD no
início do estudo se manteve igual até o final do estudo, 80 mm Hg. Também não foi observada diferença
na PAD após sessão de treinamento em comparação com a PAD medida antes da sessão de treinamento,
tanto no início quanto ao final do estudo, apresentando valores de 80 mm Hg.

DISCUSSÃO
Nossos resultados mostraram que a PAS medida antes da sessão de treinamento foi significativamente
menor no final do estudo do que no início do estudo (p=0,023) e a PAS no início do estudo diminuiu
significativamente após a primeira sessão de treinamento (p=0,041). É possível explicar esses resultados pelos
efeitos fisiológicos do exercício físico. Eles podem ser de dois tipos: agudos (imediatos ou tardios) e crônicos.
Os efeitos agudos imediatos ocorrem nos períodos pré e pós-imediato ao exercício; e os agudos tardios, por
sua vez, são observados ao longo das primeiras 24h após o exercício e podem ser identificados na discreta
redução dos níveis tensionais, especialmente nos hipertensos. Já os efeitos crônicos, chamados também de
adaptações, são aqueles que resultam da exposição frequente e regular às sessões de exercício, o que se
caracteriza como condicionamento físico (LATERZA, RONDON e NEGRÃO, 2007, BRUM et al., 2004).

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Vários estudos apontaram que o condicionamento físico reduziu potencialmente a pressão arterial
em pessoas com HAS (FORJAZ et al., 2006, RONDON e BRUM, 2003). Uma única sessão de exercício físico
aeróbico é capaz de reduzir agudamente a pressão arterial tanto em normotensos quanto em hipertensos
(BERMUDES et al., 2004, FORJAZ et al., 1998). Negrão e Rondon, 2001 mostraram que o treinamento físico
foi capaz de diminuir a pressão arterial em 75% dos pacientes hipertensos. Todos esses estudos revelaram
o poder hipotensor do exercício em pacientes hipertensos, e a diminuição contínua dos valores pressóricos
com o transcorrer do treinamento físico.
Os resultados indicam a existência, no início do estudo, do efeito hipotensor agudo; porque a PAS
diminuiu logo após a primeira sessão de exercício. Também ocorreu a adaptação fisiológica ao exercício,
ou seja, o efeito hipotensor crônico, porque a PAS medida antes da sessão de treinamento reduziu ao final
do estudo.
No entanto, nos resultados encontrados, não houve evidência de redução significativa na PAS,
medida após a sessão de treinamento, no início e no final do estudo (p=0,438), em mediana, 130 e 120
mm Hg, respectivamente. Também não houve diferença significativa na PAS medida no final do estudo,
antes e após a sessão de treinamento (p=0,317), em mediana 120 mm Hg para ambas as medidas.
Esses resultados evidenciam que não ocorreu ao final do estudo o efeito hipotensor agudo observado
inicialmente. Tal fato indica um viés do estudo que foi a falta de uma avaliação inicial e intermediária para
determinação e ajuste da intensidade do exercício para que os efeitos fisiológicos agudos, antes e após a
sessão de treinamento, principalmente ao final do estudo, pudessem ser observados com maior magnitude.
Viecili et al., 2009 mostraram que a pressão arterial diminuiu já no primeiro dia de treinamento,
com 20 minutos de atividade, com um incremento progressivo, chegando a 12 mm Hg até a quinta sessão.
A partir desse período, apesar do aumento do tempo até 40 minutos, a intensidade fixa empregada não
contribuiu com maiores efeitos hipotensores significativos. Isso aponta para a necessidade de um ajuste
constante na intensidade do exercício para que continue produzindo os efeitos hipotensores agudos.
Contudo, tal viés não invalidou os resultados positivos encontrados, que foi a redução da PAS ao
longo do tempo: como se tratava de pacientes inicialmente sedentárias, o treinamento físico proposto no
início do estudo foi eficiente para produzir adaptações agudas e crônicas, que poderiam ter sido maiores
se um ajuste na intensidade do exercício tivesse sido feito no decorrer do estudo. Por isso, houve a redução
significativa da PAS no início do estudo, antes e após a primeira sessão de treinamento; mas no final do
estudo, a intensidade do exercício não foi suficiente para reduzir a PAS após a sessão de treinamento. No
entanto, no final do estudo, a PAS reduziu quando medida antes da sessão de treinamento; mas quando
essa medida foi feita após o treinamento não houve redução significativa, porque a intensidade de exercício
não foi suficiente para provocar o mesmo efeito hipotensor agudo da primeira sessão de treinamento.
Entretanto, cabe ressaltar que a medida tomada como parâmetro da pressão arterial é aquela feita antes
de qualquer sessão de exercício, justamente para afastar a interferência desse efeito hipotensor agudo do
exercício (SOCIEDADE BRASILEIRA DE HIPERTENSÃO, 2007).
Em relação à PAD, não foram encontradas diferenças significativas ao longo do tempo: a PAD
no início do estudo se manteve igual até o final do estudo. Também não foi observada diferença na PAD
após sessão de treinamento, tanto no início quanto no final do estudo. Nossos resultados são corroborados
por outros estudos que também não encontraram reduções significativas na PAD com o treinamento físico
(BERMUDES et al., 2004). Entretanto, alguns autores relatam reduções significativas entre 2 e 6 mm Hg na
PAD, tanto agudamente, quanto cronicamente (HALLIWILL, TAYLOR e ECKBERG, 1996, PIEPOLI et al.,
1993).
Grandes ensaios clínicos e metanálises não deixam dúvidas quanto ao efeito benéfico do exercício
sobre a pressão arterial de indivíduos hipertensos leves e moderados (FORJAZ et al., 2006, LESNIAK e
DUBBERT, 2001). O treinamento físico reduz significativamente a pressão arterial em pacientes com HAS,
e os resultados encontrados neste estudo evidenciam a utilização dos exercícios dinâmicos baseados no
conceito neuroevolutivo de Bobath como uma terapia eficaz no tratamento da HAS, na sua profilaxia e
na redução dos sintomas comumente apresentados pelos indivíduos hipertensos – corroborando para a
melhora da qualidade de vida desses pacientes. Este método é uma importante ferramenta para o tratamento
de pacientes neurológicos. Estudos adicionais podem avaliar sua aplicação no tratamento do paciente
neurológico hipertenso.

CONCLUSÃO
O treinamento físico com exercícios dinâmicos baseados no conceito neuroevolutivo de Bobath
reduziu os níveis de pressão arterial em mulheres hipertensas sem disfunção neurológica em um período

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de quatro meses. Estudos adicionais podem verificar a eficácia do método no tratamento do paciente
neurológico hipertenso.

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1 Centro Universitário - UNIABEU, Belford Roxo.
2 Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - UFRRJ, Seropédica.
3 Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ, Rio de Janeiro.

Apoio: Centro Universitário - PROAPE/UNIABEU e Laboratório de Artroscopia - HUPE/UERJ.

Rua Gal. Pereira da Silva 259 Apt. 503


Icaraí
Niterói/RJ
24220-030

AGRADECIMENTOS
Aos pacientes, alunos, professores e funcionários da UNIABEU que direta, ou indiretamente, participaram deste estudo.

78 Coleção Pesquisa em Educação Física - Vol. 12, n. 2, 2013 - ISSN: 1981-4313

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