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Katia Pessoa
— Pode me ajudar?
— O que deseja?
— É puro?
— É puro como água mineral saída da Fonte São Lourenço.
— Você usaria?
— Sim. De olhos fechados.
— Vou levar um vidro.
No caixa...
— Deu erro no cartão.
— Por favor, tente de novo.
— Senha errada.
— 234547.
— Senha inválida.
— 432547.
— Cartão bloqueado.
— Tente esse.
A fila se constrói.
Não passou.
— Quanto é mesmo?
A fila aumenta. Clientes resmungam.
— São trinta reais.
As moedas rolam pelo chão. A fila triplica. Os clientes resmungam mais ainda. Alguns ajudam a pegar as moedas.
— Só um minuto, por favor. Não posso ir para casa sem isso.
Bolsa aberta, moedas recolhidas.
Fila em caracol. Criança chorando. Muita reclamação.
— Eu vou tirando da bolsa e você conta...
As moedas brotavam e sobre o balcão trinta reais redondo. A fila em caracol olhava torto.
Após colocar o produto na sacola, saiu e chegou ao estacionamento.
Plaft! O vidro se estatelou no chão.
A sacola plástica conseguiu conter o “sangue” melado e o cheiro de abelha se mostrou por inteiro.
CRÔNICA
Gênero textual de narrativa curta com tema cotidiano, de linguagem simples e direta, apresentando um humor
crítico, irônico ou sarcástico, cujas ações das personagens são realizadas em tempo presente e espaço determinado.
O desfecho, quase sempre, é inusitado, revelando (quando a personagem é humana) comportamentos voltados às
questões sociais, artísticas, políticas, coletivas etc.
TIPOS DE CRÔNICA
Dissertativa: escrita em 1ª ou 3ª pessoa do plural. Apresenta o ponto de vista do autor sobre determinado tema.
Jornalística: possui características de texto jornalístico, abordando assuntos ou acontecimentos atuais noticiados em
jornais.
Narrativa: narrada em 1ª ou 3ª pessoa do singular, tem ação, crítica e humor.
Filosófica: possui reflexões sobre algum tema.
ATIVIDADE 1
Elementos da narrativa
● Enredo: história na qual há um tema a ser narrado. É um conjunto de acontecimentos sucessivos dados pela
personagem.
● Personagens: pessoas presentes na narrativa. Há personagens principais ou secundárias.
● Tempo: indica o tempo em que a narrativa acontece.
● Espaço: refere-se ao local/aos locais no(s) qual(is) a história se desenvolve.
Elementos da narrativa
● Foco narrativo: é o ponto de vista do narrador.
● Narrador: quem conta a história.
● Tipos de narrador: personagem, observador e onisciente.
Os acontecimentos são mostrados de maneira cronológica e a sua estrutura divide-se em: introdução, clímax e
conclusão.
ATIVIDADE 2
É importante saber...
ATIVIDADE 3
Releia a crônica e busque identificar todos os elementos a seguir elencados.
a. Personagens:
b. Tipo de narrador:
c. Espaço:
d. Enredo:
● Você já ouviu a expressão “Nossa, está parecendo um Frankenstein...”?
● Sabe o que ela significa?
Vamos ler a crônica a seguir para refletir um pouco a respeito.
FRANKILINSTEIN...
Mãe...
— Sim?
— O que é um Frankenstein?
— Como assim filho?
— O que é um Frankenstein? O que isso quer dizer?
A mãe suspirou fundo... Explicar certas coisas é complicado... Na verdade, ela ficou surpresa até com a
pergunta.
A maioria dos jovens da idade dele curte filmes de terror. Ela amava desde a adolescência. Até participava de
um grupo em um aplicativo de mensagens que compartilhava listas sobre filmes de terror, artistas, datas e
curiosidades. Embora acabasse assistindo sempre sozinha, porque o marido morria de medo da maioria dos filmes.
— Frankenstein é um personagem de filme de terror... Achei que você soubesse... tem várias versões... até
séries... É baseado em um livro. Mas por que a pergunta? Alguém te chamou assim?
Minha professora de Língua Portuguesa disse que minha redação parecia um Frankenstein. Tirei 5...
A mãe respirou mais aliviada. Ao menos não fora bullying.
— Como assim? Ela explicou?
— Ela disse que eu escrevi muito, mas na verdade era um amontoado de partes sem muito sentido... Por isso
prefiro Matemática... Odeio escrever....
— Qual era o tema?
Estamos escrevendo alguns textos dissertativo-argumentativos... Daí eu precisava escrever sobre os avanços
da Ciência no século XXI. Daí li alguns arquivos, pesquisei na internet e juntei as informações. Daí não deu muito
certo...
— Daí talvez se você prestasse mais atenção em vez de ficar jogando, enquanto faz as tarefas online... Aposto
que tem um monte de “Daí” no seu texto... Pior que o tema tem tudo a ver com a história de Frankenstein.
Não tenho paciência... A tela do aplicativo é muito pequena... Ela disse para eu pesquisar conectivos inter e
intraparágrafos... Acho que já vimos isso em alguma aula... Mas não lembro...
— Sei... a tela para assistir às aulas é pequena... Para jogar online, não... Então tá...
— Agora preciso reescrever, organizar as partes... dar coesão ao texto, segundo ela.
Faça isso...
— Tô com preguiça...
— Ela falou só que o texto parecia um Frankenstein? Porque você, às vezes, também parece...
— Credo, mãe!...
— Sim, você é devagar quase parando... Vai lá, vou pegar uma gramática e eu te ajudo.
E lá se foi Frankilin... Alto, magro, lento...
Texto cedido pelo autor Marcos Rohfe para uso neste material.
A crônica é um gênero textual que pode apresentar elementos da estrutura narrativa e trechos reflexivos.
Entre as suas características mais básicas, destacam-se a linguagem clara e objetiva e o texto curto. Costuma trazer
um olhar singular acerca de temas reais contemporâneos, apresentando-os de forma mais subjetiva, transitando
entre o jornalístico e o literário.
O gênero chama atenção pelo tom mais leve, muitas vezes irônico e humorístico, prendendo a atenção do leitor por
contar uma história de forma breve. Em geral, na crônica a narração capta um momento, um flagrante do dia a dia; o
desfecho, embora possa ser conclusivo, nem sempre representa a resolução do conflito, e a imaginação do leitor é
estimulada a tirar suas próprias conclusões.
Questões
1- Observe a estrutura do texto “Frankilinstein” e responda:
a) Há a predominância de diálogos ou de observações feitas pelo narrador?
b) Qual é o tipo de narrador presente na crônica? Justifique com um trecho do texto.
3. No trecho destacado, a fala é informal por tratar-se de diálogo entre mãe e filho.
Reescreva-o utilizando conectivos adequados para deixá-lo mais formal, realizando as adaptações necessárias.
[...] “— Estamos escrevendo alguns textos dissertativo-argumentativos... Daí eu precisava escrever sobre os avanços
da Ciência no século XXI. Daí li alguns arquivos, pesquisei na internet e juntei as informações. Daí não deu muito
certo [...].”
Produza uma crônica a partir de uma situação que tenha ocorrido na escola ou na comunidade que você considere
interessante para compartilhar com seus colegas. Deixe claro para o leitor:
• Tema, assunto e cenário;
• Situação do cotidiano retratada;
• Tom do texto e foco narrativo.
Não se esqueça de revisar seu texto antes de compartilhá-lo com a turma.
Época mágica
Elisangela Vicente
Minha infância foi mágica. Eu acreditava que realmente a luz acabava, por isso tinha que dormir mais cedo.
Que se eu não fosse uma boa filha, Papai do Céu ia me castigar. Que se eu não comesse alface, jiló, beterraba, entre
tantas outras coisas saudáveis, eu ficaria magrinha igual à cachorrinha da vizinha. Que se eu mentisse meu nariz
cresceria igual ao Pinóquio. Que eu ia me casar com um príncipe igual à Cinderela.
Hoje, tudo isso perdeu a graça, desejo todo dia dormir mais cedo, mas o trabalho nunca me permite. Ser
100% boa e prestativa só faz com que meu chefe me sobrecarregue de trabalho extra. Ainda continuo comendo
alface, jiló, beterraba, mas agora com uma vontade imensa de ser magrinha igual à “cachorra” da minha vizinha. A
mentira se tornou comum no dia a dia, ou para garantir mais um dia no emprego, ou para garantir outro encontro
com o pretendente nem tão perfeito assim.
Naquela época tudo era tão inocente, mesmo com a inflação compramos nossa casa, com um quintal
imenso, conhecíamos todos os vizinhos e até a família deles, a mesa era farta. Os familiares nos visitavam e ficavam
até tarde conversando, enquanto meus primos (que não eram poucos) e eu ficávamos brincando.
Agora, dizem que a economia está estável, mas mal pago minhas contas, quem dirá comprar um
“apertamento” de míseros 50 m 2. Vizinhos? Mal sei quem mora ao meu lado, só escuto as brigas quando chegam à
noite de mais um dia estressante de trabalho. Mesa farta, só naquela época mesmo, porque a cesta básica não se
pode dizer que sustenta uma família durante um mês sequer.
E meus primos, quanta saudade dos nossos encontros. Alguns saíram do Brasil procurando melhores chances
de trabalho, outros fizeram sua família pequena com um filho e preferem não sair muito.
Antes de ter telefone e televisão em casa, falávamos mais com as pessoas, tomávamos um chá da tarde com direito a
bolo de laranja, sentávamos na sala e conversávamos por horas sobre a vida, sem pressa de a visita ir embora.
Aprendi a jogar dominó com meu avô, fazer tricô com a minha vó. Ficava deslumbrada com a massa de pão enrolada
no cobertor pra crescer. O cheirinho de pão assando tomava a casa toda. Após a aula, brincava de escolinha com
minha mãe e meu irmão.
Fazia a lição de casa como forma de brincadeira e aprendia muito mais. Com a televisão em casa, as famílias
mal conversam com a visita. Bolo de laranja, café? Não, senão a visita vem toda hora. Temos telefone, mas não temos
tempo de ligar pra ninguém pra saber notícias.
Mandamos e-mail. Videogame meu vô não acharia graça, é muito botão pra entender. E não tem que montar
estratégia, só ir passando as fases. O tricô que minha avó fazia eu compro na loja por preços exorbitantes. E a lição de
casa ficou a cargo do professor particular.
Que saudades da minha infância. Que saudades do cheirinho de bolo no forno. Do café da tarde com ou sem visita.
Bom, isso me abriu o apetite, vou até a padaria pegar o pão, sem o carinho das mãos de mamãe.
FOCO NARRATIVO
No foco narrativo em primeira pessoa, predominam palavras e expressões da língua, como pronomes e verbos que
marcam a presença do narrador-personagem, isto é, aquele que participa da história e se manifesta como
“eu”/“nós”.
No foco narrativo em terceira pessoa, o narrador é observador; não participa da história como personagem. Ele
narra os acontecimentos a partir da observação (“de fora” da história). Nesse caso, predominam marcas linguísticas
de terceira pessoa, por exemplo, “ele”/“eles”.
ATIVIDADE 1
a. No trecho, predomina o foco narrativo em primeira pessoa ou o foco narrativo em terceira pessoa? Que
elementos ajudam a comprovar sua resposta?
ATIVIDADE 2
CRÔNICA
Narrativa curta com temas cotidianos, de linguagem simples e direta, muitas vezes humorística, cujas ações das
personagens são realizadas em tempo presente e espaço determinado.
O desfecho, quase sempre, é inusitado, revelando (quando a personagem é humana) comportamentos voltados às
questões sociais, artísticas, políticas, coletivas etc.
Elementos da narrativa
● Enredo: história na qual há um tema a ser narrado. É um conjunto de acontecimentos sucessivos dados pela
personagem.
● Personagens: pessoas presentes na narrativa. Há personagens principais ou secundárias.
● Tempo: indica o tempo em que a narrativa acontece.
● Espaço: refere-se ao local/ou aos locais no(s) qual(is) a história se desenvolve.
Elementos da narrativa
● Foco narrativo: é o ponto de vista do narrador.
● Narrador: quem conta a história.
● Tipos de narrador: personagem, observador e onisciente.
Os acontecimentos são mostrados de maneira cronológica e a sua estrutura divide-se em: introdução, clímax e
conclusão.
Produção de crônica
Agora é a sua vez de produzir uma crônica.
Pense em situações cotidianas: um diálogo entre amigos, casais, cenas em um shopping, restaurante, praia,
momentos inusitados em uma estação de metrô, viagem etc. ou até mesmo uma crônica sobre a saudade, como no
texto “Época mágica”.
DICAS
Lembre-se: a narrativa apresenta um acontecimento a ser narrado, tipo de narrador, personagens, desenrolar da
história.
Dica: crie um rascunho, depois revise-o ajustando o necessário e o finalize reescrevendo.
Verifique se:
O enredo está bem desenvolvido?
Existe um conflito, uma unidade de ação?
A finalização está coerente?
O cenário mostra o local onde se vai vivenciar a narrativa?
Ela provoca reflexão no leitor?
Foi feita em 1ª ou 3ª pessoa?
A linguagem é simples tal qual uma conversa informal?
Desenrolar da história: há descrições das características das personagens, cenário, conflito, tempo etc.?
Verificou:
Pontuação?
Erros gramaticais, ortografia?
As orações estão todas completas?
As palavras estão escritas corretamente?
Crônica: Elevação
Marcos Rohfe, 2021
Estava um sol lascado, como dizia meu avô pernambucano. E nós já estávamos há mais de vinte minutos no
ponto até que, finalmente, o ônibus adaptado encostou, orgulho do prefeito... Parou, o motorista desceu...
— O elevador quebrou....
— Oi? Como assim?
— Vou tentar consertar.
O “tentar consertar” do motorista consistia em ficar pulando no elevador do ônibus para ver se ele descia...
— Está calor, motô... a gente ajuda a subir a cadeira...
Nisso, dois caras desceram para ajudar a subir a minha cadeira... E minha mãe já estava impaciente...
— Vai se atrasar para o jogo de futebol por conta desse ônibus zoado, meu filho...
— Jogo de futebol? Ele joga futebol?
— Sim, futebol para cadeirantes. Por quê? Algum problema?
— Calma, mãe...
Calma, Dona, só perguntei — respondeu o motorista, suado e com ar visivelmente cansado.
— E aí? Esse busão sai ou não sai? Tô atrasada... — disse a menina com o fone de ouvido maior que a testa...
Minha mãe pacientemente ajeitou minha cadeira e sentou-se no banco ao lado. Segunda vez na semana que
pegamos um ônibus com elevador para cadeirantes quebrado. Era interessante observar como algumas pessoas
eram solidárias, outras indiferentes, e outras... bem... lançavam olhares com um misto de preconceito e
incompreensão.
Mas eu não estou nem aí... Até me divertia com isso. Sou uma pessoa com deficiência, com muito orgulho do
que sou capaz de fazer. Graças à minha mãe, histérica por natureza.
Um senhor que estava sentado logo atrás de nós resolveu se manifestar....
— Graças a Deus, vamos sair, achei que ia me atrasar por causa desse...
— “Por causa desse” o quê? — berrou minha mãe, antes que o homem pudesse concluir a fala…
Minha avó dizia que eu nasci sem poder andar, mas minha mãe nasceu com audição superprivilegiada...
— Por causa desse pequeno incidente, minha senhora... — disse o senhor, vermelho e visivelmente
constrangido.
Minha mãe sentou-se e me deu uma piscadinha.
Estar em uma cadeira de rodas nunca me impediu de batalhar por aquilo em que acredito. Ser negro e
cadeirante em um país preconceituoso como o nosso requer muita resiliência. O ônibus saiu e seguimos em direção
ao centro de treinamento, penúltimo ponto da linha norte-sul daqui. Olhava pela janela as pessoas passando.
Lembrava sempre do que minha mãe me dizia com frequência quando eu era pequeno. Você pode não andar, como
as outras pessoas, mas pode voar... Então voe, meu filho. Vá para onde você quiser, ninguém pode te impedir. E assim
sempre foi, e sempre será. Outra coisa que aprendi com ela: ler, sempre foi uma leitora voraz.
Minha melhor retribuição àqueles que não acreditam que eu seja capaz de realizar coisas é me dedicar ao
que acredito, sem pensar em limitações. Praticar power soccer, ou futebol para cadeirantes, me ajudou a perceber
que nada nos limita se acreditamos em algo. Claro que ter uma mãe militante, que sempre batalhou por seus filhos,
ajuda muito. Ainda que coisas simples, como pegar um ônibus, possam ser uma verdadeira aventura.
(SEE/SP. Currículo em Ação: linguagens. 2023)
Questões
A crônica é um gênero textual que pode apresentar elementos da estrutura narrativa e trechos reflexivos. Dentre
suas características mais básicas, destacamos a linguagem clara, objetiva e o texto curto.
Costuma trazer um olhar observador acerca de temas reais contemporâneos, apresentando-os de forma mais
subjetiva, transitando entre o jornalístico e o literário.
O gênero chama atenção pelo tom mais leve, muitas vezes irônico e humorístico, prendendo a atenção do leitor por
contar uma história de forma breve e sem grandes detalhamentos.
Responda:
Um exemplo claro dessa linguagem informal, presente no texto, está em:
a. “E nós já estávamos há mais de vinte minutos no ponto até que, finalmente, o ônibus adaptado encostou,
orgulho do prefeito”.
b. “O ‘tentar consertar’ do motorista consistia em ficar pulando no elevador do ônibus para ver se ele descia…”.
c. “— Está calor, motô... a gente ajuda a subir a cadeira... Nisso, dois caras desceram para ajudar a subir a
minha cadeira...”.
d. “— Graças a Deus, vamos sair, achei que ia me atrasar por causa desse…”.
Sua turma vai organizar um acervo de crônicas produzidas por vocês, estudantes.
O intuito é estimular novos escritores e leitores no Ensino Médio.
Com base no tema discutido na sala de aula sobre preconceito, produza uma crônica.