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Resumo
A evolução das técnicas construtivas na engenharia civil tem propiciado alterações na
magnitude e na forma de aplicação das ações atuantes nas edificações, delegando aos
projetistas de estruturas e fundações a tarefa de solucionar e dimensionar elementos
estruturais de fundação solicitados por ações verticais conjugadas a esforços
transversais, que podem ser aplicados no topo do elemento estrutural da estaca ou em
profundidade. Objetivou-se, neste trabalho, estudar o comportamento de estacas do tipo
broca escavada mecanicamente, confeccionada em concreto armado com diâmetro de 32
cm e comprimento de 10 m, instalada em solo arenoso de comportamento elástico-linear
e solicitada por esforços transversais, considerando-se a sua rigidez flexional. Faz parte
desta análise a determinação de deslocamentos, rotações, momentos fletores e cortantes
atuantes ao longo das estacas e as pressões atuantes no solo ao longo do fuste das
estacas, parâmetros estes utilizados no seu dimensionamento. Foram realizadas provas
de carga em quatro estacas, utilizando-se duas estacas em cada ensaio (ensaio duplo). O
sistema de aplicação das cargas foi instalado entre duas estacas, de modo que uma
serviu de reação para a outra, possibilitando a realização de duas provas de carga
simultâneas. São feitas considerações do comportamento estrutural das estacas.
Concluiu-se que, para as cargas máximas aplicadas nas provas de carga, a influência da
rigidez flexional das estacas foi bem expressiva.
1 Introdução
2 Revisão Bibliográfica
pressão
kh = (Equação 1)
deslocamen to
p
K= (Equação 2)
y
K = kh.D (Equação 3)
em que:
D: lado (ou diâmetro) da estaca.
p
K= = cons tan te (Equação 4)
y
p
K= = nh.z (Equação 5)
y
em que:
nh: coeficiente de reação horizontal do solo (coeficiente angular da reta).
Alizadeh & Davisson (1970) apresentaram as curvas nh x yo, obtidas em provas de carga
horizontal, realizadas em solos arenosos, utilizando a expressão de Matlock & Reese
(1960) que fornece o deslocamento horizontal (yo), dado pela Equação (6) no caso de
cargas horizontais aplicadas na superfície do terreno.
T3
yo = 2,435 .H. (Equação 6)
EI
em que:
yo: deslocamento horizontal medido na superfície do terreno;
E: módulo de elasticidade da estaca;
I: momento de inércia da estaca; e
T: rigidez estaca-solo.
EI
T=5 (Equação 7)
nh
Substituindo a Equação (7) na Equação (6) e isolando o termo nh, resulta a Equação (8):
5
3
4,42.(H)
nh = 5 2
(Equação 8)
3 3
( yo) .(EI)
46º Congresso Brasileiro do Concreto - ISBN: 85-98576-02-6 II.834
IBRACON - Volume II - Construções em Concreto - Trabalho CBC0115 - pg. II.832 - II.846
Cintra (1981) determinou uma expressão para o caso de uma carga horizontal (H)
aplicada no topo de uma estaca a uma distancia vertical “e” acima da superfície do
terreno, com leituras do deslocamento horizontal neste mesmo nível (yt), utilizando a
proposta de Kocsis (1971) para determinar o valor de yt pela Equação (9) (ver a Figura 1):
yt = yo + y1 + y2 (Equação 9)
H.e 3
y2 = (Equação 11)
3.EI
yo y1 y2
So
Segundo Miguel (1996) o emprego das equações de Matlock & Reese (1960) para o
deslocamento horizontal a superfície (So), no caso de atuação conjunta de carga
horizontal e do momento fletor, respectivamente, as Equações (12) e (13):
T3 T2
yo = 2,435 .H. + 1,623 .(H.e ). (Equação 12)
EI EI
T2 T
So = −1,623 .H. − 1,750 .(H.e). (Equação 13)
EI EI
46º Congresso Brasileiro do Concreto - ISBN: 85-98576-02-6 II.835
IBRACON - Volume II - Construções em Concreto - Trabalho CBC0115 - pg. II.832 - II.846
Cintra (1981) calcula, por tentativas, o valor de T e, em seguida, obtém o par nh verus yo
para cada estágio da prova de carga.
Por sua vez, Miguel (1996) faz considerações interessantes que são aplicáveis a este
trabalho também. Assume que a altura “e” representa a profundidade da cava aberta na
parte posterior da estaca, para proceder à inundação do solo. Portanto, yo passa a
representar o deslocamento horizontal da estaca ao nível do fundo da cava. Além disso, o
deflectômetro para a leitura do deslocamento yt foi instalado a uma distancia vertical “e’”
acima do ponto de aplicação da carga horizontal (Figura 2).
yt
yt
topo da
estaca
y3
e´
α
H
yo y1y2
e
L cava
yo
ponta da
estaca
Por este motivo, faz-se necessário acrescentar uma nova parcela (y3) à decomposição do
valor yt, dada pelo valor da derivada de y2, que é igual à tg α, multiplicado pela
excentricidade, cegando-se a Equação (14):
H.e 2 .e´
y3 = tg α.e´= (Equação 14)
EI
3 Campo Experimental
3.1 Generalidades
O campo experimental ocupa uma área de 2000 m2 no interior do Campus da Unesp de
Ilha Solteira (SP), no qual se dispõe de um grande número de dados de sondagens, bem
como de ensaios de laboratório e de campo.
No campo experimental foram desenvolvidas diversas pesquisas, destacando-se entre
estas: a) três teses de doutorado; b) três dissertações de mestrado; e c) diversos
trabalhos de graduação.
N qc (MPa)
Perfil Típico
0 3 6 9 12 15 0 2 4 6 8 10
4
Areia fina
5
Argilosa
6
Profundidade (m)
9
fs
10
11
12
Cascalho qc
13
14 Areia fina
Argilosa
15
16
0 100 200 300 400 500
f s (K Pa)
4 Materiais e Métodos
4.1 Materiais
Nas provas de carga foram utilizados os seguintes materiais e equipamentos: estacas de
teste; macaco hidráulico; célula de carga; rótula; indicador de deformação; sistema de
referência; relógios comparadores; e placa de acrílico.
a) Estacas de Teste
Estacas escavadas de concreto com 32 cm de diâmetro e 10 m de comprimento. O
sistema de aplicação de carga fica entre duas estacas (ver a Figura 4 e a Foto 1), de
forma que cada uma funcione como estaca de reação para a outra, possibilitando desta
forma a realização de duas provas de carga simultâneas. Sistema semelhante ao utilizado
de forma eficiente nos ensaios realizados por Miguel (1996).
Planta
Extensão removível Rótula
Célula de carga
2,75 m 2,75 m
e = 0,158 m Perfil
Para dar estabilidade a este sistema (macaco hidráulico, rótula, célula de carga e
extensões) nos dois planos, utilizou-se uma barra de aço Dywidag com 32 mm de
diâmetro, disposta horizontalmente entre o par de estacas, com suas extremidades
apoiadas em buchas de aço fixadas no fuste das estacas. Para isso todas as peças
utilizadas no sistema eram vazadas (ver Figura 5).
Tirante Dywidag (φ = 32 mm)
Planta
5,50 m
Tirante Dywidag (φ = 32 mm)
e = 0,158 m Perfil
c) Macaco Hidráulico
Os carregamentos foram feitos por um macaco hidráulico manual de 200 kN de
capacidade com bomba hidráulica (ver a Foto 1). O macaco utilizado tinha um furo central
para passagem da barra de aço de segurança, e foi previamente calibrado com o
indicador de deformação, utilizando-se uma prensa hidráulica.
Os carregamentos aplicados foram monitorados por meio de uma célula de carga
conectada a um indicador de deformação.
d) Célula de Carga
Para monitorar os estágios de carregamento nas provas de carga foi utilizada uma célula
de carga vazada com capacidade de 150 kN, devidamente calibrada em prensa
hidráulica. O controle da aplicação dos carregamentos foi efetuado pelo indicador de
deformação, que estava conectado a célula de carga (ver a Foto 1).
e) Rótula
Para manter os carregamentos na posição horizontal ao longo das provas de carga, foi
utilizada uma rótula de aço, vazada, com capacidade de 500 kN (ver as Fotos 1).
f) Indicador de Deformação
O monitoramento das cargas aplicadas nos estágios de carregamento das provas de
carga foi feito com um indicador de deformação. Com sua utilização foi possível manter
constante a pressão exercida pelo macaco hidráulico sobre a estaca de teste no decorrer
dos estágios de carregamento das provas de carga (ver Foto 2).
g) Sistema de Referência
O sistema de referência foi composto por dois perfis metálicos em “I”, com 10 cm de alma
e abas de 5 cm, cada um colocado do lado externo de cada estaca ensaiada,
devidamente bi-apoiado e longe de interferências (ver a Foto 3).
h) Relógios Comparadores
Para as leituras dos deslocamentos, foram utilizados relógios comparadores analógicos,
com curso de 50 mm e precisão de 0,01 mm, dois em cada estaca, posicionado um no
topo da estaca e outro na altura do ponto de aplicação do carregamento horizontal,
fixados ao sistema de referência por meio de bases magnéticas e posicionadas suas
hastes de leituras sobre placas de acrílico coladas no fuste das estacas (ver Foto 4).
i) Placa de Acrílico
Foi utilizada uma placa plana de acrílico para receber a ponta da haste de leitura do
relógio comparador, a mesma foi colada no fuste da estaca, de forma a garantir uma
superfície plana na ponta da haste do relógio comparador (ver Foto 4).
4.2 Métodos
Foram realizados neste trabalho provas de carga em pares de estacas com
carregamentos transversais do tipo rápido, de acordo com a MB-3472/91, utilizando-se
tempo de incremento de carga de 15 minutos.
O descarregamento foi realizado em quatro estágios de 15 minutos.
Os ensaios foram conduzidos até se atingir a deformação de 15 mm, procurando com
este procedimento evitar o comprometimento do comportamento estrutural da estaca,
para que a mesma possa ser reensaiada futuramente.
Os dados obtidos nas quatro provas de carga com carregamento transversal foram
analisados de forma a contemplar o estudo da interação entre a estrutura de fundação e o
solo. Este estudo está inserido na interface de conhecimentos estruturais e geotécnicos.
Inicialmente foram definidos os parâmetros geotécnicos: coeficiente de reação horizontal
do solo (nh) e o módulo de reação horizontal do solo (K).
Em seguida foi realizado um profundo estudo do comportamento de estacas longas em
solo arenoso, solicitadas por esforços transversais, sob o ponto de vista da interação
estrutura-solo, no qual foi analisado o comportamento do elemento estrutural (estaca)
com relação aos deslocamentos, rotações, momentos fletores, cortantes e pressões do
solo, todos em relação ao comprimento da estaca (ou profundidade), por intermédio dos
métodos de: Matlock & Reese (1960) e Reese (1977).
2
Deslocamento Horizontal (mm)
6
PC 1
8
PC 2
10 PC 3
PC 4
12
14
16
18
Figura 6 - Curvas de carga horizontal versus deslocamento horizontal (In: Del Pino Júnior, 2003).
5.2 Valores de nh
Para a construção da curva de nh versus yo relativa à prova de carga, faz-se necessário à
determinação da profundidade de engastamento (Lf) e o deslocamento horizontal da
estaca na superfície do terreno (yo), para cada estágio de carregamento. Com os valores
dos deslocamentos horizontais das estacas na superfície do terreno (yo) e dos
coeficientes de reação horizontal do solo (nh) foram confeccionadas as curvas de yo
versus nh, para as quatro estacas (ver Figura 7).
250
225
Estaca 1
200
Estaca 2
Estaca 3
175
Estaca 4
150
nh (MN/m3)
125
100
75
50
25
0
0 1 2 3 4 5 6 7 8
y o (mm)
Figura 7 - Curvas de yo versus nh das Estacas 1, 2, 3 e 4 (In: Del Pino Júnior, 2003).
5.3 Valores de K
Diversos autores consideram que o módulo K para as areias varia linearmente com a
profundidade, segundo a expressão: K = nh.z, como nh = 50 MN/m3, temos que: K = 50.z,
em que ao se variar à profundidade “z” determina-se o valor de K ao longo da mesma.
I gt = 1,5073 x 10 −3 m4
M cr = 6,6 kN.m
2,172
Ie = 2,301 x 10 − 6 + 3 m4
Ma
a) Deslocamentos
São mostrados na Figura 8 os gráficos de deslocamento versus profundidade, da estaca
1, referentes aos métodos escolhidos para as análises.
Como se poderia esperar, com a fissuração do material da estaca, os deslocamentos
obtidos quando se considera EI variável são maiores que para EI constante.
Outra observação interessante é que o ponto de deslocamento nulo é mais próximo do
topo da estaca para EI variável do que EI constante.
b) Rotações
São mostrados na Figura 9 os gráficos de rotações versus profundidade, da estaca 1,
referentes aos métodos escolhidos para as análises, observando-se uma divergência no
trecho que vai da superfície do terreno até a profundidade de 2,7 m, onde a curva obtida
pelo método de Matlock & Reese (1960) com EI constante coincide com a curva do
método de Reese (1977) com EI variável. Já no trecho de 2,7 m até a profundidade de
8,71 m (ponta da estaca), todos os métodos analisados têm comportamentos bem
similares.
1 1
2 2
3 3
Profundidade (m)
Profundidade (m)
4 4
9 9
c) Momentos Fletores
São mostrados na Figura 10 os gráficos de momentos fletores versus profundidade, da
estaca 1, referentes aos métodos escolhidos para as análises.
Devido ao fato da estaca fissurada apresentar menor rigidez flexural, o momento máximo
com EI variável é menor do que EI constante, e ocorre ligeiramente mais próximo do topo
da estaca, porém, para o método de Matlock & Reese (1960) com EI constante, a curva
obtida para o momento coincidiu com a curva de Reese (1977) com EI variável.
d) Cortantes
São mostrados na Figura 11 os gráficos de cortantes versus profundidade, da estaca 1,
referentes aos métodos escolhidos para as análises, na qual observa-se uma boa
concordância entre as curvas.
46º Congresso Brasileiro do Concreto - ISBN: 85-98576-02-6 II.844
IBRACON - Volume II - Construções em Concreto - Trabalho CBC0115 - pg. II.832 - II.846
Cortantes (kN)
Momentos Fletores (kN.m)
-40 -20 0 20 40 60
-20 0 20 40 60 80
0
0
1
1
2 2
Profundidade (m)
3
Profundidade (m)
8 8
9 9
Figura 10. Gráfico de momentos fletores versus Figura 11. Gráfico de cortantes versus
profundidade (EI constante x EI variável). profundidade (EI constante x EI variável).
e) Pressões do Solo
São mostrados na Figura 12 os gráficos de pressões do solo versus profundidade, da
estaca 1, referentes aos métodos escolhidos para as análises.
3
Profundidade (m)
4
Matlock & Reese
5
EI Constante
6
EI Variável
6 Conclusões
As estacas sofreram deslocamentos horizontais pequenos (no máximo 1,1 mm) até
cargas correspondentes a 41% da carga máxima aplicada nas provas de carga. Para
cargas superiores estes deslocamentos aumentaram vertiginosamente até a carga
máxima do ensaio (11 e 17 mm).
O comportamento das curvas yo x nh das estacas 1, 2, 3 e 4 foram similares, e
determinaram um valor médio de nh igual a 50 MN/m3.
Com a fissuração da estaca, os deslocamentos obtidos quando se considera EI variável
são maiores que para EI constante. As maiores diferenças ocorreram no topo da estaca,
já o ponto de deslocamento nulo é mais próximo do topo da estaca para EI variável.
Os gráficos de rotações mostram uma divergência no trecho que vai da superfície do
terreno até a profundidade de 2,7 m. Já no trecho de 2,7 m até a profundidade de 8,71 m
(ponta da estaca), todos os métodos analisados têm comportamentos bem similares.
Devido ao fato da estaca fissurada apresentar menor rigidez flexural, o momento máximo
com EI variável é menor do que EI constante, e ocorre ligeiramente mais próximo do topo
da estaca.
Houve uma boa concordância entre os gráficos de cortante.
Como conclusões gerais, temos que: a) para o nível de carregamento analisado,
verificou-se uma maior influência do EI e uma influência bem menor do solo no
comportamento das estacas; e b) os resultados obtidos se mostraram consistentes.
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