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Centro Universitário – UNIESP

Curso: Psicologia
Unidade Curricular: Psicologia Educacional/6ºPeríodo
Professora: Adriele Vieira de Lima Pinto

Patologização e medicalização
da Educação
O que estudamos na aula passada?

História da Psicologia Escolar


Educacional

Resgate histórico;
Diferenças nas terminologias;
Relações entre Psicologia e
Educação;
Compromissos e perspectivas

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O que iremos estudar na aula de hoje?

Patologização e medicalização da
Educação

Seus conceitos;
Sua relação com o fracasso escolar;
Análises dos discursos das professoras;
Algumas perguntas norteadoras para
debate em sala.

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1 Medicalização
A Transformação do Espaço Pedagógico em Espaço Clínico

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Medicalização

◉ Refere-se ao processo de
transformar questões não-
médicas, eminentemente de
origem social e política, em
questões médicas.
◉ Tentar encontrar no campo
médico as causas e soluções
para problemas dessa
natureza. 5
Medicalização

◉ A medicalização ocorre segundo uma concepção de ciência


médica que discute o processo saúde-doença como
centrado no indivíduo, privilegiando a abordagem biológica,
organicista.

◉ Omite-se que o processo saúde-doença é determinado pela


inserção social do indivíduo, sendo, ao mesmo tempo, a
expressão do individual e do coletivo.
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Medicalização

◉ Esse processo de medicalização representa a pura


biologização de conflitos sociais.

◉ Como elemento final comum recorre-se ao reducionismo


biológico: situação de vida e o destino de indivíduos e
grupos poderiam ser explicados por - e reduzidos a -
características individuais.
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Medicalização

◉ O sistema sociopolítico é praticamente desresponsabilizado


promovendo eficazmente a culpabilização da vítima.

◉ A Educação, assim como todas as áreas sociais, vem sendo


medicalizada em grande velocidade, destacando-se o
fracasso escolar e seu reverso, a aprendizagem, como
objetos essenciais desse processo.
8
Medicalização da
2 Educação
Medicalização da Educação

◉ A aprendizagem e a não-aprendizagem sempre são relatadas como algo


individual, inerente ao aluno, um elemento meio mágico, ao qual o
professor não tem acesso - portanto, também não tem responsabilidade.

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Medicalização da Educação

A medicalização do campo educacional assumiu, e


ainda assume, diversas faces no passado recente,
alicerçando preconceitos racistas sobre a
inferioridade dos negros e do povo brasileiro, porque
mestiço; posteriormente, a inferioridade intelectual
da classe trabalhadora foi pretensamente explicada
pelo estereótipo do Jeca Tatu, produzido pela união
de desnutrição, verminose, anemia...Preconceitos,
nada mais que preconceitos travestidos de ciência!

(Moysés e Lima, 1982; Collares e Moysés, 1996; Moysés e Collares, 1997)


Trecho do artigo: Mais de um século de patologização da educação - 2014 11
Medicalização da Educação

O diagnóstico é centrado no aluno,


chegando no máximo até sua família; a
Ante índices de 50,
instituição escolar, a política educacional
70% de fracasso entre raramente são questionadas no cotidiano
os alunos matriculados da Escola. Aparentemente, o processo
na 1ª série da Rede ensino-aprendizagem iria muito bem, se
Pública de Ensino não fossem os problemas existentes nos
brasileira. que aprendem.

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Brasília, 28 de janeiro de 2021 – Em 2019, 2,1 milhões de estudantes foram reprovados no
Brasil, mais de 620 mil abandonaram a escola e mais de 6 milhões estavam em distorção
idade-série. O perfil deles é bastante conhecido: concentram-se nas regiões Norte e
Nordeste, são muitas vezes crianças e adolescentes negros e indígenas ou estudantes com
deficiências. Com a pandemia da Covid-19, foi esse, também, o grupo de estudantes que
enfrentou as maiores dificuldades para se manter aprendendo – agravando as desigualdades
no País. Mais de 5,5 milhões de crianças e adolescentes não tiveram atividades escolares em
2020.
https://www.unicef.org/brazil/comunicados-de-imprensa/cultura-do-fracasso-escolar-afeta-milhoes-de-estudantes-e-
desigualdade-se-agrava-na
pandemia#:~:text=Bras%C3%ADlia%2C%2028%20de%20janeiro%20de,estavam%20em%20distor%C3%A7%C3%A3o%20idade%2Ds
%C3%A9rie.
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Patologização da Educação

Até alguns anos atrás, Entretanto, mais Daí a substituição do


a biologização da recentemente, com a termo medicalização
Educação era feita criação/ampliação de por um outro mais
basicamente pela campos do abrangente –
ciência médica, conhecimento, novas patologização.
concretizada pelos áreas, com seus
profissionais respectivos
médicos. profissionais, estão
envolvidas nesse
processo.
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De que maneira ocorre a patologização do
fracasso escolar?

O fracasso escolar seria uma


consequência da desnutrição

O fracasso escolar seria o resultado da existência de


disfunções neurológicas, incluindo-se aqui a
hiperatividade, a disfunção cerebral mínima, os
distúrbios de aprendizagem, a dislexia...

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Patologização da Educação

Muitos autores consideram que os altos índices de fracasso surgem no Brasil


com a expansão da rede educacional e consequente acesso de crianças
oriundas da classe trabalhadora. Na mesma linha, tende-se a atribuir à
patologização da aprendizagem as mesmas causas.

Entretanto, a análise histórica das áreas da Educação e da Saúde, tanto em


termos de literatura especializada como de documentos oficiais sobre as
políticas públicas demonstra o contrário.

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Fala de uma professora

"(...) Causas do não-aprender? Bem.., é a


alimentação... problemas em casa... A gente vê
logo que é desnutrida. Se ela é
mal-alimentada, a cabecinha não pode mesmo
funcionar. No geral é o organismo todo que
está comprometido, tem problema neurológico
por causa da desnutrição (...)'"

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Patologização da Educação

• Porém, quando se
• O discurso das • a patologização permite que esse novo
professoras se passa a ocorrer sob discurso se estenda,
modifica, se novas formas, de quando se pergunta um
moderniza: acordo com as pouco mais, aparece o
mesmo velho discurso:
circunstâncias, "(...) ela não consegue
com a "moda". mesmo aprender é
présilábica (...) ela é
imatura, desnutrida (...)".

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Patologização da Educação

Rotulação de crianças
absolutamente
Desvalorização crescente do
normais professor, cada vez menos
apto a lidar com tantas
"patologias" e "distúrbios

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Patologização da Educação

A criança estigmatizada incorpora os


rótulos, introjeta a doença. Passa a ser
psicologicamente uma criança doente,
com consequências previsíveis sobre sua
autoestima, sobre seu autoconceito,
sobre sua aprendizagem.

Na prática, ela confirma o


diagnóstico/rótulo estabelecidos
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Patologização da Educação

Um outro agravante decorre do fato de que parece que a única


preocupação consiste em encontrar "diagnósticos" que expliquem,
justifiquem o não aprender.

Uma vez feito o "diagnóstico", cessam as preocupações e angústias...

"Os três com DM estão esperando a vaga, mas não sei


quando (...) continuam comigo, mas não fazem nada (...)".
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Patologização da Educação

O que deveria ser objeto de


Essa prática acalma a angústia reflexão e mudança - o processo
dos professores, não só por pedagógico - fica mascarado,
transferir responsabilidades, mas ocultado pelo diagnosticar e
principalmente porque desloca o tratar singularizados, uma vez
eixo de preocupações do que o "mal" está sempre
coletivo para o particular.
localizado no aluno.

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Patologização da Educação

O espaço escolar, voltado para a


aprendizagem, para o saudável

transforma-se em espaço clínico,


voltado para os erros e distúrbios.

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Formas de atuação “emergentes”

Em quais condições poderíamos


Até que ponto somos sujeitos
nos constituir em minorias ativas
da uma ação científico-
promotoras de influências para
profissional transformadora?
a transformação da educação
nos contextos em que atuamos?

Considerando as dificuldades que as


mudanças implicam, qual o esforço pessoal
que estamos dispostos a fazer, inclusive em
relação às mudanças em nós mesmos, para
um exercício profissional criativo e inovador?

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"Estamos sendo convencidos de


que a diferença é problema, que o
questionamento é problema, de
que sonhar é problema, quando
isso faz parte da vida e é
necessário pra vida."


(Trecho da fala da Dra. Maria Moyses)
Obrigada!

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