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ANATOMIA, FISIOLOGIA E ASPECTOS

PSICOLÓGICOS DA LACTAÇÃO E
AMAMENTAÇÃO
UNIDADE I
ANATOMIA DA MAMA
Elaboração
Ana Caiane Rocha da Silva

Produção
Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.................................................................................................................................................. 4

UNIDADE I
ANATOMIA DA MAMA......................................................................................................................................................................... 5

CAPÍTULO 1
LOCALIZAÇÃO DAS MAMAS..................................................................................................................................................... 5

CAPÍTULO 2
CARACTERÍSTICAS DO TECIDO MAMÁRIO, TIPOS DE BICO/MAMILO................................................................... 10

CAPÍTULO 3
ANATOMIA MACROSCÓPICA DA MAMA........................................................................................................................... 38

REFERÊNCIAS................................................................................................................................................57
INTRODUÇÃO

A glândula mamária é classificada como uma estrutura tubuloalveolar ramificada com


lóbulos responsivos a hormônios cercados por um estroma frouxo do tecido conjuntivo.
As glândulas que compõem a mama são incorporadas no tecido adiposo, separadas por
bandas de tecido conjuntivo.

A mama é única, pois completa a maior parte do seu desenvolvimento após o


nascimento, sofrendo alterações hormonalmente reguladas durante a puberdade.
Varia moderadamente durante cada ciclo menstrual, desenvolve-se adicionalmente
durante a gravidez e diferencia-se após o parto durante o processo de lactação.

A mama regride após a lactação para um estado muito menos diferenciado por meio do
processo de involução, que ocorre após cada ciclo de gravidez, parto e lactação. Após a
redução de estrogênio e progesterona na menopausa, a mama involuta reverte-se para
uma estrutura quase pré-puberal.

Esses complexos processos de desenvolvimento são controlados por uma combinação


de estimulação hormonal, fatores de crescimento e outros elementos físicos que
constituem o microambiente da glândula mamária. Dessa forma, faz-se necessária a
exploração da anatomia e fisiologia da mama, assim como é importante estudar os
fatores psicológicos envolvidos durante o processo de amamentação.

Objetivos
» Aprender sobre a anatomia da mama.

» Explorar a fisiologia da lactação.

» Compreender a psiconeurobiologia da amamentação.

» Compreender a respeito da amamentação em crianças com necessidades especiais.

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ANATOMIA DA MAMA UNIDADE I

Capítulo 1
LOCALIZAÇÃO DAS MAMAS

As mamas são estruturas pareadas localizadas na parede torácica anterior,


na região peitoral. Elas estão presentes em homens e mulheres, mas são mais
proeminentes em mulheres após a puberdade. Nas mulheres, os seios contêm as
glândulas mamárias - uma glândula acessória do sistema reprodutor feminino.
As glândulas mamárias são as principais estruturas envolvidas na lactação.

A mama está localizada na parede torácica anterior. Estende-se horizontalmente


da borda lateral do esterno até a linha axilar média. Verticalmente, abrange a
2ª e a 6ª cartilagens intercostais. Encontra-se superficialmente nos músculos
peitorais principais e serrátil anterior.

1.1. Desenvolvimento embrionário


Tem origem em dois espessamentos salientes longitudinais da ectoderme
da parede torácica anterior, denominados cristas mamárias primitivas. São
visíveis nas semanas 7-8 do desenvolvimento embrionário, estendendo-se
obliquamente para baixo e para dentro, da axila até a região inguinal (ou
raramente até a raiz da coxa) homolateral. As cristas regridem exceto em nível
do tórax, no qual persistem duas saliências ectodérmicas localizadas, as papilas
mamárias futuras (antigamente designadas mamilos).

Esses espessamentos enviam para a profundidade da mesoderme cordões celulares


sólidos durante a semana 12. Os cordões canalizam no oitavo mês para formar os
canais lactíferos (ductus lactiferi). Estes abrem-se à superfície numa depressão
epitelial, que só se elevará em papila após o nascimento. Por isso, uma papila
invertida pode significar uma paragem do desenvolvimento embrionário e não uma
condição patológica. A extremidade profunda dos cordões dá origem aos ácinos. A
regressão incompleta das cristas mamárias pode persistir sob a forma de papilas

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UNIDADE I | ANATOMIA DA MAMA

supranumerárias (politelia) ou de glândulas supranumerárias (polimastia) (GRAY,


2005; SKANDALAKIS et al., 2004).

1.1.1. Anatomia de superfície

A mama pode ser considerada composta por duas regiões:

» corpo circular – parte maior e mais proeminente da mama;

» cauda axilar – parte menor, corre ao longo da borda lateral inferior do


peitoral maior em direção à fossa axilar.

No centro da mama, está o mamilo, composto principalmente de fibras


musculares lisas. Ao redor do mamilo, está uma área pigmentada da pele
denominada aréola. Existem numerosas glândulas sebáceas nas aréolas - estas
aumentam durante a gravidez, secretando uma substância oleosa que atua
como um lubrificante protetor para o mamilo (figura 1).

Nas mulheres, os seios cobrem os músculos peitorais principais e geralmente


se estendem do nível da segunda costela ao nível da sexta costela na frente
da caixa torácica humana; assim, os seios cobrem grande parte da área e das
paredes do peito. Na parte frontal do peito, o tecido mamário pode se estender
da clavícula até o meio do esterno (osso da mama).

Nas laterais do tórax, o tecido mamário pode se estender para a axila e pode
chegar até as costas como o músculo latissimus dorsi, estendendo-se da parte
inferior das costas ao osso do úmero (o osso do braço). Como glândula mamária,
a mama é composta de diferentes camadas de tecido, predominantemente de
dois tipos: tecido adiposo e tecido glandular, o qual afeta as funções de lactação
das mamas.

Figura 1. Anatomia superficial da mama.

Mama

Mamilo

Aréola

Fonte: https://www.anatomiaemfoco.com.br/sistema-reprodutor-genital/sistema-reprodutor-feminino-aparelho-genital/
glandulas-mamarias-mamas/.

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ANATOMIA DA MAMA | UNIDADE I

Morfologicamente, o peito é em forma de lágrima. A camada superficial do tecido


(fáscia superficial) é separada da pele por 0,5-2,5 cm de gordura subcutânea
(tecido adiposo). Os ligamentos suspensores de Cooper são prolongamentos de
tecido fibroso que irradiam da fáscia superficial para o envelope da pele.

A mama adulta contém de 14 a 18 lobos lactíferos irregulares que convergem


para o mamilo. Os dutos de leite de 2,0-4,5 mm são imediatamente cercados por
tecido conjuntivo denso que suporta as glândulas. O leite sai da mama através do
mamilo, que é cercado por uma área pigmentada da pele chamada aréola.

O tamanho da aréola pode variar bastante entre as mulheres. A aréola


contém glândulas sudoríparas modificadas, conhecidas como glândulas de
Montgomery. Essas glândulas secretam fluido oleoso, que lubrifica e protege
o mamilo durante a amamentação. Os compostos voláteis nessas secreções
também podem servir como estímulo olfativo para o apetite do recém-nascido.

As dimensões e o peso da mama variam amplamente entre as mulheres. Uma


mama de tamanho pequeno a médio pesa 500 gramas (1,1 libras) ou menos, e
uma mama grande pode pesar aproximadamente 750 a 1.000 gramas (1,7 a 2,2
libras) ou mais.

As proporções de composição tecidual da mama também variam entre as


mulheres. Os seios de algumas mulheres têm mais diferentes proporções
de tecido glandular do que de tecido adiposo ou conjuntivo. A proporção de
gordura para tecido conjuntivo determina a densidade ou firmeza da mama.
Durante a vida de uma mulher, seus seios mudam de tamanho, forma e peso
devido a alterações hormonais durante a puberdade, ciclo menstrual, gravidez,
amamentação e menopausa.

1.1.2. Forma, textura e suporte

As variações morfológicas em relação a tamanho, forma, volume, densidade


do tecido, região peitoral e espaçamento dos seios determinam sua forma,
aparência e posição naturais no peito de uma mulher. O tamanho da mama
e outras características não preveem a proporção de gordura/leite/glândula
ou o potencial de a mulher amamentar um bebê. O tamanho e a forma dos
seios são influenciados por alterações hormonais da vida normal (celulite,
menstruação, gravidez, menopausa) e condições médicas (por exemplo,
hipertrofia mamária virginal).

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UNIDADE I | ANATOMIA DA MAMA

A forma das mamas é determinada naturalmente pelo apoio dos ligamentos


suspensos de Cooper, pelas estruturas ósseas e musculares subjacentes do
tórax e pelo envelope da pele. Os ligamentos suspensores sustentam a mama
da clavícula e da fáscia clavico-peitoral (clavícula e tórax), atravessando e
englobando os tecidos da gordura e da glândula de leite. A mama é posicionada,
afixada e apoiada na parede torácica, enquanto sua forma é estabelecida e
mantida pelo envelope da pele. Na maioria das mulheres, um seio é um pouco
maior que o outro. A assimetria mais óbvia e persistente no tamanho da mama
ocorre em até 25% das mulheres.

Embora tenha sido uma crença comum que a amamentação faz com que os seios
caiam, pesquisadores descobriram que os seios de uma mulher caem devido a
quatro fatores principais: tabagismo, número de gestações, gravidade e perda
ou ganho de peso.

A base de cada mama é presa ao tórax pela fáscia profunda sobre os músculos
principais do peitoral. O espaço entre a mama e o músculo peitoral maior,
chamado espaço retromamário, dá mobilidade à mama. O tórax (cavidade
torácica) se inclina progressivamente para fora da entrada torácica (em cima
do esterno) e acima das costelas mais baixas que sustentam os seios. A prega
inframamária, na qual a porção inferior da mama encontra o tórax, é uma
característica anatômica criada pela aderência da pele da mama e dos tecidos
conjuntivos subjacentes. O tecido mamário normal geralmente tem uma textura
que parece nodular ou granular, em uma extensão que varia consideravelmente
de mulher para mulher.

O músculo peitoral maior forma a base da mama, a mama é ancorada à fáscia


peitoral maior pelos ligamentos de Cooper. No entanto, esses ligamentos
são flexíveis e permitem movimentos na mama. Na maioria das mulheres,
os ligamentos de Cooper ficam esticados com o tempo e a idade, resultando
eventualmente em um seio ptótico. Por causa da gravidade, o polo inferior do
seio é mais cheio que o polo superior. Nas bordas laterais do peito, a cauda de
Spence se estende na axila.

O mamilo geralmente está localizado apenas superior ao sulco inframamário e


é consistentemente encontrado nivelado ao longo da linha clavicular média e
da quarta costela.

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ANATOMIA DA MAMA | UNIDADE I

O formato arredondado do seio de uma mulher evoluiu para impedir que a


prole lactente se sufocasse enquanto se alimentava na teta, isto é, devido à
mandíbula pequena do bebê humano, que não se projeta da face para alcançar
o mamilo, ele pode bloquear as narinas contra o peito da mãe, se fosse de uma
forma mais plana. Teoricamente, quando a mandíbula humana recuou para o
rosto, o corpo da mulher compensou com seios redondos.

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Capítulo 2
CARACTERÍSTICAS DO TECIDO MAMÁRIO, TIPOS DE
BICO/MAMILO

A maioria das mamas consiste em tecidos glandulares (produtores de leite) e


gordurosos. No entanto, a proporção de tecido glandular para tecido adiposo
varia entre os indivíduos. A mama é fortemente influenciada pelo hormônio
sexual estrogênio. À medida que a menopausa se aproxima, os níveis de
estrogênio diminuem, o que também diminui os tecidos glandulares.

A mama subjacente é feita de tecido glandular (produtor de leite) e gorduroso.


A proporção de gordura versus glandular varia dependendo da idade, da pós-
menopausa, do pós-parto ou do status da gravidez. No início da menopausa,
um declínio nos níveis de estrogênio resulta em uma diminuição no tecido
glandular e um aumento no tecido adiposo.

O mamilo desempenha um papel importante na amamentação. O comprimento


mínimo do mamilo necessário para o sucesso da amamentação é de cerca de
sete milímetros. No entanto, o mamilo mostra grande variação na topografia, o
que pode dificultar a amamentação em algumas mulheres.

A pele da mama recebe seu suprimento sanguíneo do plexo subdérmico. Esses


minúsculos vasos sanguíneos, por sua vez, se comunicam com as arteríolas
subjacentes profundas que suprem o parênquima mamário. O sangue é
fornecido ao peito pelos seguintes vasos:

» artéria toracoacromial;

» perfuradores mamários internos (segundo a quinto);

» artéria torácica lateral;

» artéria toracodorsal;

» ramos terminais dos perfuradores intercostais (terceiro ao oitavo).

No geral, pelo menos 60% do suprimento sanguíneo é dos perfuradores


superomediais que saem da artéria mamária interna.

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ANATOMIA DA MAMA | UNIDADE I

A mama também possui drenagem venosa abundante dividida em veias


superficiais e profundas. As veias superficiais são encontradas ao longo da
superfície anterior da fáscia. Essas veias seguem o caminho da aréola sob o
complexo areolar do mamilo, geralmente chamado de plexo venoso de Haller.
No fundo do peito, existem muitas veias grandes que drenam para as veias da
parede torácica.

2.1. Estrutura anatômica

A mama é formada pelos:

» tecido glandular epitelial, a glândula propriamente dita (ou parênquima);

» tecido celuloadiposo;

» tecido fibroso (estroma) que atravessa e rodeia o tecido glandular.

A mama não tem tecido muscular. Uma camada de gordura envolve as glândulas
e se estende por toda a mama.

A mama é responsiva a uma interação complexa de hormônios que fazem com


que o tecido se desenvolva, amplie e produza leite. Os três principais hormônios
que afetam a mama são estrogênio, progesterona e prolactina, que causam
alterações no tecido glandular da mama e no útero durante o ciclo menstrual.

Cada mama contém 15 a 20 lobos dispostos de forma circular. A gordura (tecido


adiposo subcutâneo) que cobre os lóbulos dá à mama seu tamanho e forma.
Cada lóbulo é composto por muitos lóbulos, no final dos quais são pequenas
lâmpadas, como glândulas, ou sacos, em que o leite é produzido em resposta a
sinais hormonais.

Os dutos conectam os lóbulos, lóbulos e glândulas em nutrizes. Esses dutos


fornecem leite para as aberturas no mamilo. A aréola é a área de pigmentação
mais escura ao redor do mamilo.

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Figura 2. Estrutura anatômica da mama.

Pele

Lóbulos
Dutos
Músculo

Gordura

Fonte: https://www.researchgate.net/figure/Anatomia-de-uma-mama_fig1_326431461.

2.1.1. Tecido glandular

O tecido glandular é de tipo túbulo-alveolar, constituído por 12-20 lobos, formados


por lóbulos, e estes por ácinos. Cada lobo é drenado por um canal excretor
próprio, o canal lactífero. Os canais lactíferos são sinuosos, independentes,
dirigem-se todos para a base da papila, mas, antes de a alcançarem, apresentam
uma dilatação fusiforme, o seio lactífero (sinus lactiferi), com 12-15 mm de
comprimento e 6-8 mm de altura. Após essa dilatação, os canais lactíferos
convergem para a papila de modo retilíneo, abrindo-se de forma independente
no seu vértice por orifícios arredondados, cujo conjunto é denominado área
crivosa (ROUVIÈRE; DELMAS, 2005).

O contorno circunferencial da base de implantação da glândula é frequentemente


irregular, por saliências mais ou menos limitadas, denominadas prolongamentos
mamários. De acordo com a situação e direção respectiva, denominam-se
prolongamentos: a) súpero-externo ou axilar (processus axillaris), o mais
importante e constante, contorna o bordo lateral do grande peitoral e alcança o
fundo da axila em maior ou menor extensão; b) superior ou clavicular, quando
se dirige para a clavícula; c) inferior ou epigástrico; d) infero-externo ou
hipocôndrico direito; e) medial ou esternal. O prolongamento axilar é frequente
e bem desenvolvido. Os outros são raros e pouco importantes (ESPERANÇA,
2004).

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ANATOMIA DA MAMA | UNIDADE I

2.1.2. Tecido celuloadiposo

O tecido celuloadiposo subcutâneo reveste a glândula completamente, podendo


descreverem-se duas partes:

» a) anterior superficial, situada entre a glândula e a pele, de onde partem


para a profundidade prolongamentos de tecido adiposo que preenchem os
espaços ou sulcos que separam os lobos à superfície, para fora do plano
areolar;

» b) parte posterior ou profunda, denominada bolsa serosa ou espaço


retromamário, entre a base da glândula e a aponevrose do grande peitoral.
É fina e facilita o deslizamento da mama sobre o músculo. Essa mobilidade
desaparece quando um tumor maligno invade a aponevrose (MOORE;
DALLEY, 2007).

2.1.3. Tecido conjuntivo fibroso

O tecido conjuntivo fibroso estende-se desde a bolsa serosa retromamária até


a derme, por entre os lobos e os canais lactíferos. É bem desenvolvido na parte
superior da mama, ajudando a sustentar os seus lobos, pelo que se denomina
de ligamento suspensor da mama (MOORE; DALLEY, 2007).

2.1.4. Vascularização arterial e venosa da mama

O suprimento arterial da mama é derivado principalmente de ramos da artéria


torácica interna (mamária), artérias intercostais e artéria torácica lateral.

Superficialmente, os ramos arteriais das artérias torácicas interna e lateral


arborizam através da mama e enviam ramos perfurantes profundamente para
dentro do parênquima mamário. Ao longo da margem posterior (profunda) da
mama, os ramos das artérias intercostais percorrem os músculos anteriores
peitoral e serrátil e enviam ramos perfurantes através da musculatura da parede
torácica e saem para o parênquima profundo da mama.

A artéria torácica interna é a artéria dominante que fornece a mama, e seus


ramos suprem o parênquima medial e central da mama. A artéria torácica
lateral fornece o parênquima mamário superolateral. Os ramos das artérias
subclávia e axilar, incluindo a artéria toracoacromial, a artéria subescapular e a

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UNIDADE I | ANATOMIA DA MAMA

artéria toracodorsal, geralmente suprem uma porção do parênquima mamário


superior. Os ramos da artéria musculofrênica, uma continuação da artéria
torácica interna, suprem uma porção variável da mama inferior. As artérias
intercostais anterior e posterior possuem ramos que perfuram os músculos
da parede torácica para suprir os tecidos parenquimatosos centrais da mama
(figura 3).

A anatomia venosa da mama é paralela à anatomia arterial nos tecidos profundos


da mama, com ramos arteriais e venosos pareados, vistos pelas vias vasculares
intercostais, axilares e torácicas internas (mamárias) posteriores.

Figura 3. Anatomia arterial e venosa normal da mama.


Vasos
Vasos laterais
torácicos
torácicos
internos

Vasos laterais
torácicos

Vasos
torácicos
internos

Fonte: https://pubs.rsna.org/doi/full/10.1148/rg.317115503.

As veias superficiais geralmente drenam para o centro da mama e para a periferia


e podem ter conexões de drenagem com a mama contralateral. Quando as veias
superficiais drenam centralmente, elas geralmente convergem em uma rede
circular periareolar de veias (circulação venosa de Haller); desse plexo venoso,
o sangue venoso é canalizado para as veias torácicas internas medialmente e
para as veias torácicas laterais lateralmente.

2.1.5. Drenagem linfática

A mama também possui drenagem linfática extensa, que corre superficialmente


e profundamente dentro dela. Os linfáticos superficiais são o plexo areolar e
subareolar. Este último também recebe linfáticos dos tecidos glandulares. Os
linfáticos superficiais continuam posterior e medialmente e, eventualmente,
atingem os linfonodos axilares.

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ANATOMIA DA MAMA | UNIDADE I

Recapitulando, a drenagem linfática da mama se origina nos lóbulos da mama e


flui através dos nós e canais intramamários para um plexo subareolar, chamado
plexo de Sappey. A partir desse plexo, a drenagem linfática ocorre por três vias
principais paralelas aos tributários venosos. Os linfáticos da mama esquerda
terminam no ducto torácico e na veia subclávia esquerda e, da mama direita,
na veia subclávia direita.

2.1.6. Via axilar ou lateral

Via dominante (recebe mais de 75% da linfa dos seios), drena quadrantes
laterais da mama diretamente ou via plexo de Sappey para os nós axilares,
corre em torno da borda inferior do peitoral maior para alcançar o grupo
peitoral de linfonodos ou passa diretamente para o grupo subescapular poucos
canais da mama superior ao grupo apical, às vezes interrompidos pelo grupo
infraclavicular de linfonodos.

2.1.6.1. Via mamária interna

Origina-se dos quadrantes medial e lateral da mama, passa pelos espaços


intercostais e peitoral maior para os linfonodos paraesternais/internos da
mama conexões e podem levar através do plano mediano e, portanto, à mama
contralateral.

2.1.6.2. Via retromamária

Vem da parte mais profunda do peito e drena para o plexo subclavicular. Outras
vias ocorrem quando os canais habituais são bloqueados na doença. A linfa
pode passar para a mama contralateral, os nós cervicais, a cavidade peritoneal
e o fígado através do diafragma ou através da bainha do reto.

Os linfonodos axilares podem ser divididos em níveis cirúrgicos:

» nível 1: abaixo do peitoral menor;

» nível 2: deitado atrás do peitoral menor;

» nível 3: situado entre a borda superior do peitoral menor e a borda inferior


da clavícula.

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UNIDADE I | ANATOMIA DA MAMA

2.1.7. Nervos

A inervação sensorial da mama é derivada dos ramos dos nervos intercostais


T3-T5. Outros nervos que fornecem inervação sensorial incluem o plexo cervical
inferior. A sensação no mamilo é derivada do ramo cutâneo lateral do T4.

2.1.8. Músculos

Na parede lateral e medial do tórax, a base da mama repousa sobre os músculos


serrátil anterior e externo oblíquo.

» O peitoral maior é um músculo amplo, tipo leque, que se origina no


esterno lateral e na clavícula e se insere na cabeça do úmero. O músculo
recebe a maior parte de seu sangue dos ramos das artérias mamárias e
toracoacromiais internas. As mamas ficam sobre o músculo peitoral e a
parte superior do músculo reto abdominal entre a segunda e a sexta costelas.
A mama é ancorada ao peitoral maior pelos ligamentos suspensores de
Cooper, que atravessam o tecido mamário desde a derme da pele até a
fáscia peitoral. Os ligamentos de Cooper não são esticados e ajudam os
seios a manter sua mobilidade natural. Com o avanço da idade, há uma
perda de tensão nos ligamentos, o que resulta em ptose da mama.

» O serrátil anterior é outro músculo em forma de leque que corre ao longo


da parede lateral da parede torácica. O serrátil anterior é suprido por
ramos das artérias toracodorsal e lateral torácica. O músculo é inervado
pelo longo nervo torácico. Se o nervo torácico longo for danificado durante
a dissecção axilar, pode resultar em alça da escápula.

» O reto abdominal demarca a borda inferior da mama. O músculo é suprido


pelos vasos epigástricos inferiores e superiores. Em mulheres submetidas
à cirurgia para câncer de mama, às vezes é utilizado o retalho do músculo
reto abdominal (TRAM) baseado no retalho epigástrico superior.

» O oblíquo externo é um músculo em forma de leque encontrado no aspecto


anterolateral da parede torácica. O músculo tem um suprimento sanguíneo
segmentar que se origina dos vasos intercostais inferiores. O músculo faz
fronteira com a parede inferolateral da mama.

» Nas mulheres jovens, a localização do mamilo é encontrada apenas


superior à dobra inframamária no nível da quarta costela e logo lateral à
linha mediana clavicular.

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ANATOMIA DA MAMA | UNIDADE I

2.1.9. Tipos de bico/mamilo

Assim como os seios são de todas as formas e tamanhos, existem diferentes


tipos de mamilos, que resultam em mulheres com variações significativas
na aparência de seus mamilos. A maioria das mulheres (90%) tem o que é
conhecido como mamilo comum, que se projeta em repouso e, por estarem
carregadas de terminações nervosas, ficam eretas devido a estímulos como frio,
tato e atividade sexual. Os 10% restantes das mulheres têm mamilos planos ou
invertidos.

Existem até diferenças entre esses tipos de mamilos. Alguns estão virados para
a frente, enquanto outros apontam para os lados. Muitas mulheres têm um par
incompatível – por exemplo, talvez um mamilo seja mais alto que o outro, ou
apenas um seja invertido ou achatado.

Saber disso pode ser um alívio se estiver preocupado com o fato de os mamilos
não serem “normais”. Dito isso, existem algumas diferenças nos mamilos que
sinalizam um problema em potencial, e sobre elas também vale a pena aprender
mais (figura 4).
Figura 4. Tipos de mamilos.

Normal Plano Protuso Invertido

Fonte: https://mommysangel.com.br/variacoes-de-mamilo-voce-sabia-que-existem-diferentes-tipos-de-mamilos/.

Há variação entre os mamilos, mesmo entre aqueles considerados “comuns”.


Os mamilos salientes sobressaem da aréola, e a quantidade que eles se projetam
varia. Outros mamilos são “inchados”, com uma aréola arredondada para fora.

Todos os mamilos têm pequenas saliências na aréola chamadas glândulas de


Montgomery, ou glândulas areolares. Essas glândulas secretam um fluido
chamado líquido lipoide para ajudar a manter toda a área da aréola e do mamilo
lubrificada.

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UNIDADE I | ANATOMIA DA MAMA

Além de variar em tamanho, os mamilos também variam em cor; a aréola


pode variar de muito pálida a marrom escura, dependendo da cor da pele, e
geralmente fica mais escura durante a gravidez.

2.1.9.1. Mamilo plano

Esse tipo de mamilo sobressai tão discretamente que parece formar uma
superfície plana em relação à aréola. No entanto, reage da mesma maneira que
um mamilo comum diante de qualquer estímulo ou amamentação. Seu aspecto
peculiar é que ele tende a ser mais curto ou a se destacar menos.

2.1.9.2. Mamilos invertidos

Mamilos invertidos são aqueles que são retirados abaixo da superfície da pele
e não possuem a saliência normal. Uma pessoa pode ter mamilos invertidos
desde o nascimento, que os médicos chamam de inversão congênita. Ou, ainda,
uma pessoa pode desenvolver mamilos invertidos mais tarde na vida, o que é
uma inversão adquirida.

A inversão adquirida pode indicar um problema médico subjacente, como


inflamação do tecido mamário. As pessoas devem consultar um médico se um
ou ambos os mamilos se inverterem em um curto período. As condições médicas
que podem causar inversão do mamilo incluem:

» mastite, que é uma infecção da glândula mamária;

» ectasia do ducto, que é uma dilatação anormal de um ducto no tecido


mamário;

» um abscesso sob a aréola;

» complicações da cirurgia da mama;

» câncer de mama.

O câncer de mama também causa outras alterações mamárias. Se uma pessoa


notar alguma dessas alterações, como um mamilo escamoso, inchado ou
secreção mamilar, deve consultar um médico.

Graus de inversão do mamilo

» No primeiro grau, não há obstrução relevante nos dutos de leite. Este é


o melhor cenário para a amamentação, uma vez que a futura mãe poderá
amamentar seu bebê normalmente depois de fixar os mamilos.

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ANATOMIA DA MAMA | UNIDADE I

» No segundo grau de inversão, há pequenas obstruções nos dutos de leite da


mama. Nesses casos, a amamentação pode ser possível, mas a mulher terá
dificuldades e poderá sentir dor ao oferecer leite materno.

» Infelizmente, no terceiro grau de inversão, os dutos de leite materno são


totalmente restritos e a amamentação é impossível.

2.1.9.3. Técnica de Hoffman

A Técnica de Hoffman para extração de mamilos invertidos está em uso desde


os anos 1950. Vejamos (figura 5):

» coloque os polegares em ambos os lados do mamilo. Coloque-os na base


do mamilo, não na parte externa da aréola;

» pressione firmemente o tecido mamário;

» enquanto ainda pressiona, afaste os polegares um do outro;

» mova os polegares ao redor do mamilo e repita.

Não há estudos que comprovem que essa técnica é eficaz, no entanto, após a realização,
é perceptível uma leve mudança no formato do mamilo.

Figura 5. Técnica de Hoffman.

Fonte: https://www.healthline.com/health/inverted-nipple-treatment#home-remedies.

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UNIDADE I | ANATOMIA DA MAMA

2.1.9.4. Tratamentos para mamilos planos ou invertidos e técnicas para


facilitar a trava

Embora as opiniões e experiências variem, muitas mulheres consideraram os


tratamentos para mamilos invertidos ou planos úteis, e muitos especialistas
em amamentação continuam a recomendá-los. Especialistas em amamentação
discordam se as mulheres grávidas devem ser examinadas quanto a mamilos
planos ou invertidos e se os tratamentos para extrair o mamilo devem ser
rotineiramente recomendados.

As mudanças hormonais durante a gravidez e o parto fazem com que os mamilos


de muitas mães se projetem naturalmente. Embora seja discutido o tratamento
de mamilos planos e invertidos durante a gravidez, se o recém-nascido tiver
dificuldade em se agarrar a um mamilo plano ou invertido, a mãe poderá considerar
alguns ou todos os seguintes itens úteis.

» Conchas de seio: usadas dentro do seu sutiã, as conchas do seio podem


ajudar a retirar os mamilos planos ou invertidos. As conchas do peito são
divididas em duas partes e são feitas de plástico. A peça interna possui
um orifício que se encaixa sobre o mamilo. A pressão no tecido ao redor
do mamilo faz com que o próprio mamilo se projete através do orifício.
As conchas do peito podem ser usadas durante a gravidez para aproveitar
o aumento natural da elasticidade da pele, aplicando uma pressão suave,
mas constante, para esticar as aderências subjacentes (tecido conjuntivo)
e retirar o mamilo. Após o nascimento, eles podem ser usados por cerca
de meia hora antes das mamadas para extrair o mamilo. Eles não devem
ser usados à noite, e o leite coletado enquanto as conchas são usadas não
deve ser salvo.

» Bomba de mama ou seringa modificada: após o nascimento, uma


bomba de mama eficaz ou outro dispositivo que puxe para alongar o
mamilo podem ser usados para retirar o mamilo imediatamente antes da
amamentação. Isso facilita a trava para o bebê. Esses dispositivos também
podem ser usados em outros momentos após o nascimento para quebrar
ainda mais as aderências sob o mamilo, aplicando uma pressão uniforme
a partir do centro do mamilo.

20
ANATOMIA DA MAMA | UNIDADE I

» Produtos projetados para alongar e reverter os mamilos: existem


muitos produtos no mercado que podem ser úteis para tentar projetar
para alongar e inverter os mamilos.

» Estimulação do mamilo antes das mamadas: instrua a mãe a segurar


o mamilo, role-o entre o polegar e o indicador por um minuto ou dois.
Em seguida, toque-o rapidamente com um pano úmido e frio ou com gelo
envolvido em um pano. Esse método pode ajudar o mamilo a ficar ereto.
Evite o uso prolongado de gelo, pois entorpecer o mamilo e a aréola pode
inibir o reflexo de queda.

» Puxando o tecido da mama durante a trava: como a mão apoia a


mama para trava com o polegar na parte superior e quatro dedos embaixo
e atrás da aréola, puxe ligeiramente o tecido mamário em direção à parede
torácica para ajudar o mamilo a se projetar.

» Amolecimento da pressão reversa: o uso das pontas dos dedos para


circundar a base do mamilo e empurrá-lo em direção à parede torácica
por 1-3 minutos antes da trava pode ajudar a afastar outros líquidos,
desencadear o fluxo de leite e permitir que o mamilo sobressaia para que
o bebê possa agarrá-lo mais facilmente.

» Protetor de mamilo: um protetor de mamilo é um bico de silicone fino


e flexível que é usado sobre o seu próprio mamilo. Possui orifícios na
ponta para permitir que o leite flua para o bebê. Se outras estratégias
não estiverem funcionando, um protetor de mamilo pode ajudar o bebê
a se agarrar e amamentar bem, fornecendo estímulo ao céu da boca, que
sinaliza seu reflexo de sucção. As proteções para os mamilos devem ser
usadas apenas com a orientação de um profissional em lactação, pois
podem causar problemas se não forem usadas adequadamente.

2.1.10. Variantes fisiológicas

Várias anomalias do mamilo foram reconhecidas, incluindo as seguintes:

» É relatado que um mamilo acessório ocorre em 1% a 4% da população


e tem uma incidência igual em mulheres e homens. O mamilo acessório
geralmente está localizado na área inframamária e é propenso aos
mesmos distúrbios médicos que o mamilo típico. O mamilo acessório pode
ser excisado se causar ansiedade, má cosmese, desconforto ou limitar o
movimento do braço.

21
UNIDADE I | ANATOMIA DA MAMA

» Athelia, ou a ausência congênita do complexo areolar do mamilo, ocorre


em pacientes com Síndrome da Polônia. A condição também está associada
a uma mama subdesenvolvida.

» Amastia é conhecida como a ausência completa de todo o tecido mamário,


exceto o complexo areolar do mamilo.

2.1.11. Significado clínico

A mama é suscetível a muitos distúrbios benignos e malignos, incluindo os


seguintes:

» mastite puerperal;

» mastalgia;

» alterações da mama fibrocística;

» necrose gordurosa;

» abscesso mamário;

» galactorreia.

2.1.12. Câncer de mama

A principal causa de morte em mulheres é o câncer de mama. Além disso, o câncer


de mama é uma das neoplasias malignas mais comuns das mulheres em todo o
mundo. Muitos fatores de risco para câncer de mama foram identificados, mas
é importante garantir que mulheres com mais de 45 anos tenham mamografias
regulares, tenham uma dieta saudável, se exercitem e evitem fumar.

2.1.13. Seios masculinos

Os seios masculinos se desenvolvem a partir das mesmas células embriológicas


que as fêmeas. No entanto, os homens têm uma menor produção de estrógenos
e uma maior produção de andrógenos. Em alguns homens, os seios podem
crescer bastante, como consequência de um desequilíbrio entre estrógenos e
testosterona. Cerca de dois terços dos meninos terão algum tipo de ginecomastia
temporária, que se resolve em 24 meses. Às vezes, a ginecomastia pode ser
causada por medicamentos como digoxina e espironolactona.

22
ANATOMIA DA MAMA | UNIDADE I

2.1.14. Outros problemas

A cirurgia plástica é frequentemente realizada para aumentar ou reduzir o


tamanho dos seios. Em outros casos, a cirurgia plástica é feita para reconstruir
uma mama deformada, especialmente em mulheres que se submetem à cirurgia
para câncer de mama. Os elevadores mamários e o aumento dos seios são
procedimentos estritamente cosméticos, enquanto a redução das mamas nas
mulheres geralmente é feita por razões médicas (dor nas costas ou no pescoço).
Às vezes, a reconstrução mamária é feita para mamas assimétricas.

O aumento do peito, quando feito adequadamente, não interfere na capacidade


da mulher de amamentar. No entanto, sabe-se que a cirurgia de redução
de mama danifica os nervos no complexo areolar do mamilo e leva a uma
diminuição da sensação. Além disso, muitas mulheres que foram submetidas
à cirurgia de redução de mama podem não ser capazes de amamentar porque
os tecidos glandulares foram removidos. Por fim, é importante saber que os
implantes mamários podem interferir na mamografia.

2.1.15. Nutrientes do leite materno

Compreender as concentrações dos nutrientes dos estágios de lactação,


fatores maternos e suplementação é essencial para apoiar as boas práticas de
amamentação. Em locais onde a desnutrição materna compromete a qualidade
do leite humano, uma consciência completa da eficácia das intervenções pode
direcionar esforços para alcançar a suficiência de nutrientes tanto materna
quanto infantil. A seguir, vejamos os componentes nutricionais do leite.

2.1.15.1. Tiamina

A tiamina atua como uma coenzima no metabolismo de carboidratos e BCAAs. A


deficiência é um problema de saúde pública mais comum em mulheres grávidas
e crianças pequenas, pode causar beribéri infantil e é uma das principais causas
de morbimortalidade infantil nas populações afetadas. No leite materno, a
tiamina está presente principalmente como monofosfato de tiamina (~ 60%) e
tiamina livre (~ 30%).

As concentrações de tiamina no leite materno aumentam nos primeiros meses


de lactação. O status de tiamina está associado a concentrações de tiamina
no leite materno em mulheres com status adequado de tiamina, mas não em
mulheres com status ruim, sugerindo o transporte preferencial de tiamina para
o leite em caso de deficiência materna.

23
UNIDADE I | ANATOMIA DA MAMA

A ingestão de tiamina está associada positivamente às concentrações de tiamina


no leite materno em populações bem nutridas e mal nutridas. As concentrações
de tiamina no leite materno respondem rapidamente à suplementação materna
em populações nas quais a deficiência materna é prevalente, mas não em
mulheres bem nutridas. Faltam dados sobre a influência de outros fatores
maternos nas concentrações de tiamina no leite materno.

2.1.15.2. Riboflavina

A riboflavina funciona como parte das coenzimas FMN e FAD nas reações redox
envolvidas na produção de energia e na atividade da glutationa, um limpador
de radicais livres. A deficiência de riboflavina afeta múltiplas vias metabólicas
e pode causar anormalidades dermatológicas, neuropatia periférica, baixo
crescimento e diminuição da absorção de ferro. No leite materno, a DAF e a
riboflavina livre são as formas predominantes de riboflavina.

A riboflavina no leite materno está positivamente correlacionada com a ingestão


alimentar materna. Há evidências conflitantes sobre a correlação entre o
status da riboflavina materna e a riboflavina do leite materno. Em mães bem
nutridas, os pesquisadores encontraram uma correlação positiva entre status e
riboflavina do leite.

A suplementação tem um efeito positivo nas concentrações de riboflavina


no leite que podem diminuir com o tempo. A paridade materna não afeta as
concentrações de riboflavina no leite materno. A riboflavina no leite armazenado
é altamente suscetível à fotodegradação após exposição à luz solar, mas é estável
com refrigeração de ≤ 2 semanas.

2.1.15.3. Vitamina B-6

A vitamina B-6 atua como cofator para mais de 100 enzimas envolvidas
no metabolismo de aminoácidos, glicólise e gliconeogênese. Em bebês, a
deficiência de vitamina B-6 está associada a anormalidades neurológicas e
comportamentais, incluindo irritabilidade, aumento da resposta assustadora
e convulsões.

O piridoxal é a forma predominante de vitamina B-6 no leite materno, que


também contém quantidades menores de fosfato de piridoxal, piridoxamina e
piridoxina. As concentrações de vitamina B-6 no leite materno aumentam de 3
a 4 vezes nas primeiras semanas pós-parto, seguidas por um declínio gradual

24
ANATOMIA DA MAMA | UNIDADE I

no final da lactação. Após 6 meses, o leite materno sozinho pode ser insuficiente
para atender aos requisitos de vitamina B-6 de uma criança.

O piridoxal 5-fosfato plasmático, principal biomarcador do status da vitamina


B-6, está positivamente correlacionado com as concentrações de vitamina B-6
no leite materno. A ingestão materna de vitamina B-6 é um forte determinante
das concentrações de leite materno, com rápidas mudanças nas concentrações
desse leite observadas em resposta a alterações na ingestão.

A suplementação de mães em lactação com vitaminas B-6 levou a um aumento


nas concentrações de leite que poderiam ser medidas em várias horas. Em um
estudo que forneceu suplementação de cloridrato de piridoxina a grupos de
mulheres que amamentam em quantidades diferentes, as concentrações de
vitamina B-6 no leite materno foram paralelas à quantidade de suplementação.

Existem dados conflitantes sobre o efeito do parto prematuro nas concentrações


precoces de vitamina B-6 do leite materno, com as concentrações relatadas no
leite prematuro sendo maiores ou menores do que no leite a termo. Faltam
dados sobre a influência de outros fatores maternos nas concentrações de
vitamina B-6 do leite materno.

2.1.15.4. Vitamina B12

A vitamina B-12 atua como cofator em duas reações enzimáticas essenciais


ao metabolismo do folato e à síntese de DNA, com deficiência durante a
infância, resultando em um conjunto de sintomas neurológicos e regressão do
desenvolvimento. Comparados aos lactentes que consomem leite de fórmula
ou bovino, os lactentes exclusivamente amamentados têm um nível mais baixo
de vitamina B-12 aos 4-6 meses de idade, possivelmente refletindo um perfil
de cobalamina alterado, mas adequado, associado à amamentação. No entanto,
lactentes amamentados exclusivamente de mães com depleção crônica de
dieta B ou mal-absorptiva de vitamina B-12 podem sofrer consequências de
deficiência.

No leite humano, a vitamina B-12 está fortemente ligada à apo-haptocorrina,


uma proteína de ligação à cobalamina. Demonstrou-se que a ligação pela
apo-haptocorrina interfere na medição da cobalamina, levando à super ou
subestimação, dependendo dos métodos utilizados para o pré-tratamento e
subsequente ensaio da vitamina.

25
UNIDADE I | ANATOMIA DA MAMA

A ingestão materna de vitamina B-12 tem sido associada a concentrações


de cobalamina no leite materno em 1, 6 e 12 meses após o parto em estudos
em mulheres que amamentam no Quênia e na Guatemala. Vários estudos
encontraram concentrações mais baixas de vitamina B-12 do leite materno em
mães macrobióticas ou vegetarianas do que em mães onívoras. Outros fatores
maternos que influenciam a vitamina B-12 no leite materno incluem condições
como anemia perniciosa ou má absorção, que prejudicam o status materno da
vitamina B-12. As concentrações de vitamina B-12 no leite colostro, transicional
e maduro não diferiram significativamente entre as mulheres que deram à luz
a termo ou prematuros.

2.1.15.5. Folato

O folato e suas formas coenzimáticas são necessários para a biossíntese de


proteínas, DNA e RNA e, como tal, são mais carentes durante os períodos de
crescimento, desenvolvimento e reprodução. A forma predominante de folato
no leite humano é o 5-metiltetra-hidrofolato. As concentrações de folato no
leite materno são baixas no colostro e aumentam nas semanas após o parto,
atingindo o pico de 2 a 3 meses, diminuindo ligeiramente de 3 a 6 meses e
permanecendo estável em lactação tardia.

O folato é utilizado preferencialmente pelas glândulas mamárias secretoras,


mantendo as concentrações de folato do leite às custas dos estoques maternos,
exceto nos casos de deficiência materna franca. Como resultado do controle
homeostático, as concentrações de folato no leite não estão relacionadas ao
status ou à ingestão materna de folato.

2.1.15.6. Colina

A colina é uma amina vital envolvida em vários processos fisiológicos, incluindo


a integridade estrutural das membranas celulares, sinalização transmembranar,
transporte e metabolismo lipídico-colesterol, metabolismo do grupo metil e
desenvolvimento do cérebro. A adequação da colina é particularmente importante
durante o rápido crescimento associado ao desenvolvimento perinatal. Como
a betaína, produto de oxidação irreversível da colina, é excretada por bebês
humanos em grandes quantidades durante o primeiro ano de vida, supõe-se
que o suprimento de colina na dieta via leite materno seja fundamental para o
desenvolvimento normal.

26
ANATOMIA DA MAMA | UNIDADE I

Em crianças pequenas, a inadequação da colina tem sido correlacionada


com o nanismo, o que sugere que a colina adequada do leite materno pode
ser necessária para o crescimento adequado na infância. No leite materno, a
colina é encontrada principalmente como fosfocolina e glicerofosfocolina, com
menores concentrações de colina livre, fosfatidilcolina e esfingomielina. As
concentrações totais de colina no leite materno aumentam rapidamente entre
7 e 22 no pós-parto e permanecem relativamente estáveis no leite maduro,
embora as concentrações de colina livre caiam de 12 para 180 no pós-parto.

A colina total do leite materno está positivamente correlacionada com as


concentrações séricas maternas de colina ligada a fosfolipídios, enquanto a
colina livre de leite materno está positivamente correlacionada com a colina
sérica materna, a colina ligada a fosfolipídios e a glicerofosfocolina. O aumento
da colina livre de soro materno, ligada a fosfolipídios que ocorrem durante a
lactação, é provavelmente uma adaptação para manter altas concentrações de
colina no leite materno e é explicado pelo aumento da síntese hepática.

Foi encontrada uma correlação significativa entre a ingestão alimentar e as


concentrações de colina total, fosfocolina e fosfatidilcolina no leite materno,
embora essa relação seja mediada por polimorfismos de nucleotídeo único
em genes que codificam as enzimas do metabolismo da colina e do folato. A
suplementação com fosfatidilcolina é eficaz no aumento das concentrações de
colina livre no plasma materno e no leite materno, bem como nas concentrações
de fosfocolina no leite materno. As concentrações de colina são mais baixas no
pré-termo do que no leite materno a termo e são influenciadas pela inflamação
materna e pelas concentrações hormonais.

2.1.15.7. Vitamina C

Vitaminas antioxidantes no leite humano desempenham um papel importante


na imunomodulação. A vitamina C estimula os leucócitos, aumenta a produção
de anticorpos e melhora a síntese de interferons. O ácido ascórbico do leite
materno (AA) é mais alto no colostro e diminui ao longo da lactação. Existe
grande variabilidade nas concentrações de AA do leite materno, em grande
parte devido às diferenças no estado materno e na ingestão alimentar.

Em ambientes com poucos recursos, as concentrações de AA no leite materno


são paralelas às variações sazonais no consumo de frutas e vegetais ricos em

27
UNIDADE I | ANATOMIA DA MAMA

vitamina C, enquanto, em mulheres bem nutridas, a ingestão ou suplementação


alimentar têm muito menos influência nas concentrações de leite materno. A
vitamina C é mais concentrada no pré-termo do que no leite a termo e é mais
baixa no leite de mães que fumam ou têm diabetes.

2.1.15.8. Vitamina A

Como os bebês nascem com poucas reservas de vitamina A, independentemente


do estado nutricional materno, o retinol adequado no leite materno é
fundamental para garantir o crescimento e desenvolvimento saudáveis da
criança e para acumular reservas de fígado necessárias após o desmame.
Expresso em concentração ou em relação à gordura, o retinol é mais alto no
colostro e atinge a estabilidade no leite maduro.

A vitamina A do leite materno está presente quase exclusivamente como ésteres


de retinil, principalmente palmitato de retinil, na fração lipídica do leite.
Dadas reservas hepáticas adequadas, a proteína-retinol de ligação ao retinol
circulante é estável em uma ampla gama de ingestão de vitamina A. Embora
grande parte da vitamina A no leite materno seja derivada do retinol sérico,
que é esterificado na glândula mamária, postula-se que o retinol dietético
recém-absorvido convertido em palmitato de retinil passe diretamente ao leite
via quilomícrons, ignorando a regulação pelo fígado.

Como as reservas hepáticas maternas são utilizadas para compensar a


inadequação da ingestão alimentar, e o retinol é alocado preferencialmente ao
leite materno, uma baixa concentração de vitamina A no leite materno sugere
reservas hepáticas insuficientes, além de ingestão inadequada.

A suplementação materna com megadoses de 200.000 a 400.000 UI de


vitamina A na primeira semana após o nascimento resultou em um aumento
nas concentrações de retinol no leite materno em comparação com os grupos
de base ou controle que foram mantidos por 1 a 6 meses.

A influência de vários fatores maternos nas concentrações de retinol no


leite materno foi investigada para a maioria dos fatores, e os resultados são
variados. Há uma sugestão de concentrações mais altas de retinol após o parto
a termo do que após o parto pré-termo e em mães multíparas do que em mães

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ANATOMIA DA MAMA | UNIDADE I

primíparas. Não há fortes evidências de associação entre as concentrações de


retinol no leite materno e o status socioeconômico, a idade materna, as medidas
antropométricas maternas ou a inflamação. A vitamina A no leite materno
é suscetível à fotodegradação, com perda de ≤70% relatada pela exposição
controlada da amostra de leite materno à luz solar.

2.1.15.9. Vitamina D

A vitamina D desempenha um papel importante no crescimento ósseo infantil,


no desenvolvimento do sistema imunológico e no cérebro, mas está presente em
baixas concentrações no leite materno. A forma primária de vitamina D passada
da circulação materna para o leite materno é o colecalciferol, o precursor
biológico da 25-hidroxivitamina D. No entanto, o colecalciferol é rapidamente
convertido em 25 (OH) D na mãe, resultando em captação limitada de vitamina
D no leite materno.

A atividade total média de vitamina D do leite materno nos primeiros


6 meses de lactação é de 544 pg/ml, o que fornece à criança amamentada
exclusivamente com I15 UI/d. Até onde sabemos, nenhum estudo mediu as
concentrações de vitamina D no leite materno longitudinalmente em mulheres
não suplementadas.

As concentrações de vitamina D variam sazonalmente e são mais altas no leite


materno. Existem evidências de que a exposição solar ou a radiação materna
à luz solar aumentam o leite materno 25 (OH) D. A obesidade materna está
associada a menores concentrações de 25 (OH) D no leite materno.

2.1.15.10. Vitamina E

Durante a gestação e o período pós-natal, a vitamina E fornece proteção


antioxidante essencial ao feto e ao recém-nascido e estimula o desenvolvimento
do sistema imunológico. Apesar do aumento das concentrações de vitamina
E na circulação materna durante a gravidez, a transferência placentária é
limitada. Uma concentração muito alta de vitamina E no colostro permite que
os bebês aumentem as concentrações circulantes de vitamina E de um terço da
mãe para as concentrações normais de adultos dentro de 4-6 dias após o início
da amamentação.

29
UNIDADE I | ANATOMIA DA MAMA

As concentrações de vitamina E no leite materno diminuem à medida que o


leite amadurece e estabilizam após o primeiro mês de lactação. Foi levantada
a hipótese de que a diminuição da vitamina E do colostro para o leite maduro
está relacionada a um aumento no diâmetro dos glóbulos de gordura, com uma
diminuição proporcional no tocoferol e em outros componentes da membrana
solúvel em gordura.

As concentrações de vitamina E do leite materno não estão associadas à paridade


materna, ao IMC ou ao status socioeconômico. Um estudo descobriu que as
concentrações de tocoferol no leite materno eram menores em adolescentes
do que em mulheres, mas essa associação não foi confirmada em um segundo
estudo. Há evidências limitadas de que as concentrações de vitamina E são
menores no leite prematuro do que no leite a termo e no leite materno.

2.1.16. Vitamina K

A vitamina K atravessa mal a placenta e está presente em baixas concentrações


no leite materno. Como resultado, bebês amamentados que não recebem
uma dose profilática de vitamina K ao nascimento correm risco de doença
hemorrágica do recém-nascido. A filoquinona, ou vitamina K-1, é a forma
primária da vitamina K circulante e tem sido considerada a forma essencial
para mães e bebês. No entanto, a menaquinona-4, uma forma de vitamina K-2
(menaquinona), também é encontrada no leite humano. A vitamina K está
localizada no núcleo lipídico do glóbulo de gordura do leite.

As concentrações de filoquinona no leite materno não se correlacionam


com as concentrações plasmáticas maternas ou com a ingestão alimentar
materna em uma ampla gama de quantidades de ingestão, mas são pelo menos
transitoriamente afetadas por doses suplementares farmacológicas.

2.1.17. Ferro

Além de seu papel como parte da hemoglobina, o ferro é um componente estrutural


de uma variedade de enzimas necessárias para uma variedade de processos
metabólicos. Os bebês são particularmente suscetíveis às consequências da
deficiência de ferro devido ao rápido crescimento e desenvolvimento cerebral.
As necessidades de recém-nascidos de ferro são atendidas por meio da utilização
de reservas hepáticas acumuladas principalmente durante o trimestre final da
gestação. No leite, o ferro é ligado principalmente a peptídeos de baixo peso
molecular, glóbulos de gordura e lactoferrina, com a saturação média de ferro

30
ANATOMIA DA MAMA | UNIDADE I

da lactoferrina variando de 2,2% a 12%, com valores médios relatados de 0,04


a 1,92 mg/l.

As concentrações de ferro no leite atingem o máximo no colostro e


subsequentemente diminuem durante o primeiro ano de lactação. Apesar de
um aumento no volume de leite consumido, a ingestão diária total de ferro
diminui do nascimento para 4 meses após o parto. As concentrações de ferro
no leite humano são insuficientes para atender às necessidades do bebê, e a
suplementação pode ser indicada após os 6 meses de idade. As concentrações
de ferro no leite materno não estão associadas à ingestão alimentar materna e
geralmente são refratárias ao status materno.

Poucos fatores maternos influenciam as concentrações de ferro no leite


materno. Não há evidências de que o uso de contraceptivos orais, infecção ou
β-talassemia grave afetem as concentrações de ferro no leite materno, apesar
de seu papel na alteração do metabolismo do ferro. Há evidências inconclusivas
de que as concentrações de ferro no leite materno estão associadas à paridade,
às concentrações de vitamina A no leite e ao fumo.

2.1.17.1. Cobre

O cobre, um cofator essencial para enzimas envolvidas na respiração celular,


metabolismo do ferro e síntese do tecido conjuntivo, é acumulado no fígado
fetal durante a gestação e mobilizado no início do período neonatal. Estudos
longitudinais das concentrações de cobre no leite materno descobriram uma
diminuição ao longo do tempo, pelo menos nos primeiros 6 meses de lactação.
Enquanto no soro, a maioria do cobre (83-100%) está ligada à ceruloplasmina,
no leite materno, a ceruloplasmina carrega apenas 20–25% de cobre.

A ceruloplasmina do leite materno diminui no primeiro mês de lactação, mas


isso não está diretamente relacionado à diminuição das concentrações de cobre
no leite. As concentrações de cobre no leite materno não estão associadas ao
estado materno, à ingestão alimentar ou à suplementação. A idade materna,
a paridade, o tabagismo, a suplementação de ferro, o uso de contraceptivos
orais e a infecção não influenciam as concentrações de cobre no leite materno,
nem há diferença nas concentrações entre leite materno e posterior. As
concentrações de cobre no leite materno estão diretamente correlacionadas
com as concentrações de selênio, e existem evidências de que um aumento no
teor de selênio no solo pode indiretamente aumentar as concentrações de cobre
no leite materno.

31
UNIDADE I | ANATOMIA DA MAMA

2.1.17.2. Zinco

A deficiência de zinco em bebês resulta em crescimento atrofiado e


comprometimento da função imunológica, com aumento da morbimortalidade
por diarreia e infecções respiratórias. As concentrações de zinco no leite materno
diminuem acentuadamente do colostro para o leite de transição, seguido por
um declínio gradual ao longo da lactação. Estima-se que a transferência diária
média de zinco para a criança via leite materno seja de 4 mg no colostro, 1,75
mg a 1 mês e 0,7 mg a 6 meses.

As concentrações de zinco no leite materno são refratárias ao status materno,


à ingestão e à suplementação. Baixas concentrações de zinco no leite materno
foram observadas em mulheres mais velhas, multíparas e com deficiência de
ferro. Não foi encontrada relação entre as concentrações de zinco no leite
materno e o tabagismo materno, suplementação de ferro ou multivitamínico/
mineral, incluindo zinco ou tempo de gestação.

2.1.17.3. Cálcio

O cálcio é um constituinte importante do osso e desempenha um papel crítico


como mensageiro nas vias de sinalização celular. Apesar da especulação de
que baixas concentrações de cálcio no leite materno podem contribuir para o
raquitismo infantil, pesquisas indicam que as concentrações do leite materno
estão intimamente ligadas à caseína e ao citrato no leite. As concentrações totais
de cálcio no leite materno aumentam acentuadamente nos primeiros 5 dias de
lactação, seguidas por um declínio gradual durante o período de lactação. Por
outro lado, as concentrações de cálcio ionizado no leite materno são estáveis
durante toda a lactação, o que sugere uma homeostase semelhante à do sangue.

A ingestão alimentar por si só é insuficiente para explicar as diferenças entre


países nas concentrações de cálcio no leite materno, o que é consistente com a
maioria dos estudos que não encontraram associação entre a ingestão materna
de cálcio na dieta e as concentrações de cálcio no leite materno. No entanto, em
áreas geográficas onde a ingestão habitual de cálcio é baixa, o cálcio da dieta
pode influenciar as concentrações de leite materno.

Nem o estado materno nem as intervenções com cálcio na dieta ou vitamina


D mostraram efeito nas concentrações de cálcio no leite materno. As
concentrações de cálcio nesse leite são menores em adolescentes em lactação
e em mulheres com anemia por deficiência de ferro. Outras variáveis, como

32
ANATOMIA DA MAMA | UNIDADE I

tempo de gestação, técnicas de amostragem (hora do dia, comparadas com leite


materno, gotejamento com expressão), idade materna, paridade, raça, histórico
de lactação, tabagismo e uso de contraceptivos orais, não estão associadas às
concentrações de cálcio no leite.

2.1.17.4. Fósforo

O fósforo é um componente estrutural das membranas celulares e ácidos nucleicos


e está envolvido em vários processos biológicos, incluindo mineralização
óssea, sinalização celular, produção de energia e equilíbrio ácido-base. Embora
a secreção de cálcio e fósforo no leite seja regulada independentemente, a
proporção média de cálcio para fósforo é de 1,7 no leite materno pré-termo e
a termo. Como o cálcio, as concentrações de fósforo são mais altas no leite de
transição e diminuem gradualmente à medida que a lactação progride.

As concentrações de fósforo no leite humano são baixas em comparação com


o leite de outros mamíferos, possivelmente como um mecanismo para inibir
o crescimento de patógenos fecais, proteger o sistema renal imaturo do
recém-nascido contra distúrbios no metabolismo do cálcio ou prevenir a
acidose metabólica. O fósforo do leite materno é fortemente regulado e não
parece ser influenciado por ingestão materna, idade, paridade, raça, histórico
de lactação, técnicas de amostragem, tabagismo ou uso de contraceptivos orais.
Somente no caso de hipofosfatemia familiar materna ou hiperparatireoidismo,
as concentrações de fósforo no leite materno diminuem significativamente.

2.1.17.5. Magnésio

O magnésio desempenha um papel estrutural no osso e está envolvido em


mais de 300 reações metabólicas essenciais. O magnésio do osso materno é
mobilizado durante a lactação, adicionando magnésio armazenado ao tanque
mineral que fornece a glândula mamária. As concentrações medianas de
magnésio no leite materno são de 31 mg/l, com as médias mais relatadas na
faixa de 20 a 40 mg/l. Apesar da variação interindividual, as concentrações
de magnésio no leite materno na mesma mulher são razoavelmente estáveis
durante o período de lactação, embora vários pesquisadores tenham relatado
pequenas tendências de aumento ou diminuição nos primeiros 6 meses.

As concentrações de magnésio no leite materno não são afetadas pela ingestão


ou suplementação materna, nem variam com tempo de gestação, distúrbios
metabólicos maternos, paridade, raça, histórico de lactação, tabagismo ou
uso de contraceptivos orais. Existem evidências de menores concentrações de

33
UNIDADE I | ANATOMIA DA MAMA

magnésio no leite materno em adolescentes em lactação. Como a maior parte


do magnésio no leite materno está ligada a frações e proteínas de baixo peso
molecular, há pouca diferença entre suas concentrações no leite e posterior.

2.1.17.6. Iodo

O iodo é necessário para o crescimento infantil, desenvolvimento mental


e sobrevivência. As concentrações de iodo no leite materno são máximas no
colostro, diminuem nas próximas semanas e permanecem estáveis a 100–150
µg/l no leite maduro de mulheres cheias de iodo. A maioria dos estudos não
encontrou associação entre as concentrações de iodo no leite e os estágios da
lactação após 1 mês em mães sem deficiência de iodo.

As concentrações de iodo no leite humano variam amplamente, principalmente


devido ao conteúdo de iodo no solo, iodização de sal ou óleo e ingestão
materna. Embora a ingestão e o status materno de iodo estejam intimamente
relacionados, dada a região geográfica, as concentrações de iodo no leite
materno estão associadas à ingestão materna atual e não ao status.

As concentrações de iodo no leite materno são mais altas nas regiões não
endêmicas do que em bócio endêmico, em áreas onde os iodóforos são usados
para higienizar na pecuária leiteira e em países com iodização de sal. Em áreas
onde a ingestão materna de iodo é excepcionalmente alta devido ao consumo
de algas, as concentrações de iodo no leite materno são 10 vezes maiores do que
as relatadas em outras regiões. A suplementação materna com iodo também é
eficaz no aumento das concentrações de iodo no leite materno.

2.1.17.7. Selênio

O selênio é um componente essencial de várias selenoproteínas. Isso inclui as


potentes antioxidantes glutationa peroxidases e desiodinases que funcionam no
metabolismo do hormônio tireoidiano, ambas críticas para o desenvolvimento
precoce da vida. No leite materno, o selênio está presente como um componente
da potente antioxidante glutationa peroxidase e, em menor grau, como
selenocistamina, selenocistina e selenometionina.

Os bebês humanos nascem com reservas de selênio, mas também dependem do


selênio fornecido pelo leite de suas mães. As concentrações de selénio são ricas
em colostro e diminuem à medida que progride o aleitamento, em paralelo com
a tendência para as proteínas do leite em que o selénio é incorporada.

34
ANATOMIA DA MAMA | UNIDADE I

A ingestão alimentar de selênio orgânico, que reflete o conteúdo de selênio


dos solos onde os alimentos são cultivados, é um determinante essencial
das concentrações de selênio no leite materno e explica a ampla gama de
concentrações de selênio nesse leite nas regiões geográficas.

Muitos estudos descobriram uma correlação significativa, embora fraca,


entre as concentrações séricas ou plasmáticas e de selênio no leite materno.
No entanto, outros não encontraram correlação significativa. A profilaxia por
meio de tratamento do solo ou suplementação materna com selenometionina
ou selenato de sódio é eficaz para aumentar as concentrações de selênio no
leite materno.

2.1.17.8. Aminoácidos

Os aminoácidos totais (TAAs) no leite materno incluem aminoácidos ligados


a proteínas, bem como aminoácidos livres (FAAs) pertencentes à fração de
nitrogênio do leite sem proteínas. Os FAAs são responsáveis por 8 a 22% do
nitrogênio não proteico e 5 a 10% dos TAAs. As concentrações de TAA diminuem
do colostro para o leite maduro e permanecem estáveis a partir dos 4 meses de
lactação, o que corresponde às mudanças nas necessidades de proteínas do
bebê.

O padrão e a composição dos FAAs ao longo da lactação diferem dos TAAs,


que refletem o papel funcional dos FAAs no crescimento e desenvolvimento
pós-natal precoce. Os FAAs são mais facilmente absorvidos que os aminoácidos
derivados de proteínas e são creditados com a alteração inicial nos aminoácidos
plasmáticos infantis após a alimentação. As FAAs não são influenciadas pela
idade materna ou gestacional, mas mostram grande variabilidade interindividual
e são modificadas pelas doses maternas recentes e habituais.

O glutamato é a FAA mais abundante em todos os estágios medidos da


lactação, com concentrações no leite materno variando de 960 a 1529 µmol/l
em comparação com 4-453 µmol/l para outros FAAs individuais. A glutamina,
que pode ser sintetizada a partir do glutamato, mas é condicionalmente
essencial, aumenta em aproximadamente 20 vezes do colostro para a lactação
de 3 meses, de modo que o glutamato e a glutamina combinados representam
aproximadamente 50% dos FAAs no leite materno.

Especula-se que o glutamato e a glutamina fornecem substratos funcionais


ao tecido nervoso, protegem o crescimento e a integridade intestinais e são
essenciais para o desenvolvimento imunológico. O glutamato livre pode ter um

35
UNIDADE I | ANATOMIA DA MAMA

efeito negativo no apetite e no crescimento da criança, embora sejam necessárias


pesquisas adicionais para confirmar isso. Em um estudo dinamarquês
recente, as concentrações de glutamina no leite materno foram positivamente
correlacionadas com o comprimento do bebê aos 4 meses, embora a associação
tenha sido atenuada no controle do comprimento do nascimento.

A taurina é a segunda FAA mais abundante em todas as fases da lactação. A


taurina está presente no leite materno apenas como FAA. Como os humanos
têm uma capacidade relativamente baixa de sintetizar taurina, ela é considerada
essencial ao desenvolvimento perinatal normal. A taurina está envolvida na
conjugação de ácidos biliares, na estrutura e na função dos fotorreceptores da
retina e no neurodesenvolvimento. Comparado com bebês alimentados com
fórmulas, a presença de conjugados de ácido biliar da taurina mais ácidos no
intestino pode favorecer a colonização por Lactobacillus e Bifidobacteria.

2.1.17.9. Lipídios

Comparada com os outros macronutrientes, a gordura é o componente mais


variável do leite materno, com um CV estimado de 47% ao longo de 24 horas
no leite maduro. Grande parte da flutuação nas concentrações de gordura do
leite em um indivíduo pode ser explicada pela plenitude do seio no ponto de
amostragem, o que está relacionado, mas pode não explicar completamente,
a variabilidade devido a hora do dia, intervalo de alimentação, ponto de
amostragem durante a alimentação e diferença entre os seios.

É bem reconhecido que as concentrações lipídicas aumentam à medida que a


mama é esvaziada, com aproximadamente 50% de gordura presente nos 20%
de leite que permanece na glândula mamária após uma alimentação infantil
típica. No entanto, as concentrações de gordura no leite também são afetadas
por fatores não transitórios, incluindo estágio da lactação, peso materno ou
IMC e estado nutricional geral da mãe.

As concentrações de TGs e AGs de cadeia média e o tamanho do glóbulo de gordura


do leite aumentam do colostro para o leite maduro, enquanto as concentrações
de colesterol e colesterol esterificado diminuem. As concentrações de gordura
permanecem estáveis no leite maduro, embora a composição da AF dependa da
ingestão e do estado nutricional da mãe. Em todos os países, as concentrações
de PUFAs no leite materno, especialmente DHA, variam mais amplamente do
que as concentrações de SFAs e MUFAs.

36
ANATOMIA DA MAMA | UNIDADE I

2.1.17.10. Carboidratos

O dissacarídeo lactose é o principal carboidrato encontrado no leite materno,


com concentrações na faixa de 67 a 78 g/l. As concentrações de lactose são
mais baixas no colostro e aumentam nos primeiros 4 meses de lactação.
Diferentemente dos outros macronutrientes, as concentrações de lactose
são bastante consistentes no leite de diferentes mães, com um CV de 2 a 4%,
independentemente da dieta materna e do estado nutricional.

As concentrações de lactose não são influenciadas pelo peso ou paridade


materna. Há alguma evidência de que as concentrações de lactose no leite
materno são mais baixas no leite prematuro, mais altas com a idade materna
avançada e transitoriamente mais baixos antes e após a ovulação, uma vez
retomada a menstruação. As concentrações de lactose estão correlacionadas
com o volume de leite, possivelmente relacionado a taxas de secreção alteradas
de eletrólitos que contribuem para a osmolaridade.

Os oligossacarídeos, carboidratos não nutritivos que incentivam seletivamente


o crescimento de Bifidobactérias intestinais benéficas e atuam como receptores
solúveis de “engodo” para patógenos, contribuem substancialmente para
a fração de carboidrato do leite humano. O colostro contém 20 a 25 g de
oligossacarídeos do leite humano/l, diminuindo para 5 a 20 g/l à medida que
o leite amadurece. Foram identificados quase 200 oligossacarídeos do leite
humano, com a distribuição dependendo do estágio da lactação, bem como dos
fatores genéticos maternos.

37
Capítulo 3
ANATOMIA MACROSCÓPICA DA MAMA

3.1. Macroscópica externa


A aréola é a área pigmentada em torno da mama em forma circular. A aréola,
em geral, é uma pequena área circular no corpo com uma histologia diferente
do tecido circundante ou outras pequenas áreas circulares, como uma região
inflamada da pele.

O mamilo feminino humano maduro possui várias pequenas aberturas dispostas


radialmente em torno da ponta do mamilo (ductos lactíferos) a partir do qual o
leite é liberado durante a lactação. Outras pequenas aberturas na aréola são as
glândulas sebáceas, conhecidas como Glândulas de Montgomery.

As aréolas podem variar de rosa a vermelho e marrom chocolate a marrom


escuro ou quase preto, mas geralmente tendem a ser mais pálidas entre as
pessoas com tons de pele mais claros e mais escuras entre as pessoas com tons
de pele mais escuros. Uma razão para a cor diferente pode ser tornar a área do
mamilo mais visível para o bebê (figura 6).

Figura 6. Variação de cores da aréola.

Fonte: https://www.tattooforaweek.com/pt/newsdesk/Ar%C3%A9ola+%28Mamilo%29+Tatuagens+depois+da+Cirurgia+da+
Mama.html.

O tamanho e a forma das aréolas e mamilos também são altamente variáveis,


com os das mulheres geralmente sendo maiores do que os dos homens e das
meninas pré-pubescentes. As aréolas humanas são principalmente de formato
circular, mas muitas mulheres têm grandes aréolas que são visivelmente
elípticas (figura 7).

O diâmetro médio das aréolas masculinas é de cerca de 28,0 mm. Mulheres


sexualmente maduras têm uma média de 38,1 mm, mas os tamanhos
podem exceder 100 mm. Mulheres que amamentam e mulheres com seios
particularmente grandes podem ter aréolas ainda maiores. Uma função da
derme especializada da aréola é proteger a pele normal do peito contra desgaste,

38
ANATOMIA DA MAMA | UNIDADE I

rachaduras e irritações. Para os bebês, por vezes, é criar trauma para o mamilo
e aréola. Outra função de uma aréola é alojar mecanorreceptores de adaptação
lenta que acionam a ocitocina.

Figura 7. Aréola e papila mamária.

Aréola Mamária
Papila Mamária

Fonte: http://rle.dainf.ct.utfpr.edu.br/hipermidia/index.php/mama/anatomia-das-mamas/anatomia-de-
superficie#macroscopia-externa.

O tamanho da aréola implica a necessidade de proteger uma área maior que o


mamilo, devido a muitos fatores que não são totalmente conhecidos. Podemos
observar também que as papilas mamárias possuem uma forma cilíndrica,
localizada em direção ao 4 o espaço intercostal, em que se observam numerosos
orifícios (6 a 20), aberturas dos canais lactíferos; possuem, ainda, terminações
sensoriais e faixas de musculatura lisa, cuja função erétil facilita a amamentação.

3.1.1. Macrocospia interna

3.1.1.1. Ligamentos de Cooper

Os Ligamentos de Cooper (também conhecidos como ligamentos suspensores


de Cooper e os septos fibrocolagênicos) são tecidos conjuntivos da mama que
ajudam a manter a integridade estrutural. Eles são nomeados para Astley
Cooper, que os descreveu pela primeira vez, em 1840. Sua anatomia pode ser
revelada usando a tomografia por difração de transmissão.

O ligamento suspensor de Cooper não deve ser confundido com o ligamento


pectineal (às vezes chamado ligamento inguinal de Cooper), que compartilha o
mesmo epônimo. Além disso, as fibras intermediárias e/ou a parte transversal
do ligamento colateral ulnar, às vezes, são chamadas de Ligamentos de
Cooper (figura 8).

39
UNIDADE I | ANATOMIA DA MAMA

Figura 8. Ligamentos de Cooper.

Ligamentos
de Cooper

Retículos

Prega inframamária

Fonte: http://rle.dainf.ct.utfpr.edu.br/hipermidia/index.php/mama/anatomia-das-mamas/anatomia-de-
superficie#macroscopia-externa.

Os ligamentos correm da clavícula e da fáscia clavipectoral, ramificando-se


através e ao redor do tecido mamário até a derme da pele sobre a mama. O
ligamento intacto suspende a mama da clavícula e a fáscia profunda subjacente
da parte superior do tórax. Isso tem o efeito de apoiar a mama em sua posição
normal e manter sua forma normal. Sem o apoio interno desse ligamento, o
tecido mamário (que é mais pesado que a gordura circundante) afunda sob seu
próprio peso, perdendo sua forma e contorno normais.

Os ligamentos suspensores de Cooper desempenham um papel importante na


alteração da aparência da mama, que geralmente acompanha o desenvolvimento
de carcinoma inflamatório da mama, no qual o bloqueio dos ductos linfáticos
locais causa o inchaço dela. Como a pele permanece amarrada pelos ligamentos
suspensores de Cooper, ela assume uma aparência ondulada que lembra a casca
de uma laranja. Os carcinomas também podem diminuir o comprimento dos
Ligamentos de Cooper, levando a uma covinha.

Muitas mulheres acreditam que a flacidez é causada pelo fracasso dos Ligamentos
de Cooper em sustentar o tecido mamário. De fato, a flacidez é parcialmente
determinada por fatores genéticos, mas um estudo científico descobriu que os
maiores fatores que afetam a flacidez são o cigarro, o índice de massa corporal,
seu número de gestações, o tamanho dos seios antes da gravidez e sua idade.

Muitas mulheres acreditam incorretamente que usar sutiã impede que seus seios
caiam mais tarde na vida e que esses não podem se sustentar anatomicamente.

40
ANATOMIA DA MAMA | UNIDADE I

Mas os fabricantes de sutiãs afirmaram que, como os seios são formados por
tecido adiposo e não muscular, os sutiãs afetam apenas a forma dos seios
enquanto estão sendo usados.

Em mulheres de meia idade, a ptose da mama é causada por uma combinação


de fatores. Se a mulher teve filhos, as alterações hormonais pós-parto causarão
atrofia das glândulas do leite empobrecidas. Mulheres que tiveram várias
gestações repetidamente esticam o envelope da pele durante o ingurgitamento
no período da lactação. Além disso, após o nascimento de cada criança, as
volumosas glândulas do leite diminuem de tamanho, contribuindo ainda mais
para a flacidez.

À medida que os seios de uma mulher aumentam de tamanho durante gestações


repetidas, os Ligamentos de Cooper, que mantêm a posição das glândulas
mamárias contra o peito, são esticados e gradualmente perdem força. O tecido
mamário e os ligamentos suspensivos também podem ser esticados se a mulher
estiver acima do peso ou perder e ganhar peso.

3.1.2. Espaço retromamário

O espaço retromamário é um tecido areolar frouxo que separa a mama do


músculo peitoral maior. O espaço retromamário geralmente é o local do implante
mamário, devido à sua localização longe dos principais nervos e estruturas que
sustentam a mama (figura 9).

Figura 9. Espaço retromamário.

Músculo peitoral maior

Espaço
retromamário

Fonte: http://rle.dainf.ct.utfpr.edu.br/hipermidia/index.php/mama/anatomia-das-mamas/anatomia-de-
superficie#macroscopia-externa.

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UNIDADE I | ANATOMIA DA MAMA

3.1.3. Músculo peitoral maior

O peitoral maior (do latim pectus, que significa mama) é um músculo grosso e
em forma de leque, situado no peito do corpo humano. Compõe a maior parte
dos músculos do peito e fica sob ele. Abaixo do peitoral maior, encontra-se o
peitoral menor, um músculo fino e triangular. As principais funções do peitoral
maior são flexão, adução e rotação interna do úmero. O peitoral maior pode ser
coloquialmente chamado de peitoral ou músculo peitoral, por ser o músculo
maior e mais superficial da região torácica (figura 10).

Figura 10. Músculo peitoral maior.

Músculo peitoral maior

Tecido adiposo

Ductos lactíferos

Tecido glandular

Fonte: http://rle.dainf.ct.utfpr.edu.br/hipermidia/index.php/mama/anatomia-das-mamas/anatomia-de-
superficie#macroscopia-externa.

Surge da superfície anterior da metade esternal da clavícula, da largura da


metade da superfície anterior do esterno, tão abaixo quanto a fixação da
cartilagem da sexta ou sétima costela; das cartilagens de todas as costelas
verdadeiras, com exceção, frequentemente, da primeira ou da sétima, e da
aponeurose do músculo oblíquo externo do abdome.

Dessa origem extensa, as fibras convergem para a sua inserção, os que surgem
da clavícula passam obliquamente para baixo e para o exterior (lateralmente) e
geralmente são separados do resto por um ligeiro intervalo; os da parte inferior
do esterno e as cartilagens das costelas verdadeiras inferiores correm para cima
e lateralmente, enquanto as fibras do meio passam horizontalmente. Todos
terminam em um tendão plano, com cerca de 5 cm de largura, inserido no lábio
lateral do sulco bicipital (sulco intertubercular) do úmero.

42
ANATOMIA DA MAMA | UNIDADE I

3.1.4. Músculo peitoral menor

O peitoral menor é um músculo fino, triangular, situado na parte superior


da caixa, por baixo do peitoral maior no corpo humano. Surge das margens
superiores e superfícies externas da terceira, quarta e quinta costelas, próximas
às cartilagens e às aponeuroses que cobrem a intercostal. As fibras passam
superior e lateralmente e convergem para formar um tendão plano, que é
inserido na borda medial e na superfície superior do processo coracoide da
escápula (figura 11).

Figura 11. Músculo peitoral menor.

Esterno

Músculo peitoral maior

Músculo peitoral menor

Fonte: http://rle.dainf.ct.utfpr.edu.br/hipermidia/index.php/mama/anatomia-das-mamas/anatomia-de-
superficie#macroscopia-externa.

3.1.5. Músculo esternal

O músculo esternal é uma variação anatômica que fica na frente da extremidade


esternal do peitoral maior paralela à margem do esterno e pode ser visto como
uma estrutura radiopaca. O músculo esternal pode ser uma variação do peitoral
maior ou do reto abdominal.

O esterno é um músculo que corre ao longo da face anterior do corpo do


esterno. Encontra-se superficial e paralelo ao esterno. Sua origem e inserção
são variáveis. O músculo esternal geralmente se origina da parte superior
do esterno e pode exibir inserções variadas, como fáscia peitoral, costelas
inferiores, cartilagens costais, bainha reta, aponeurose do músculo oblíquo
externo abdominal (figura 12).

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UNIDADE I | ANATOMIA DA MAMA

Figura 12. Músculo esternal.

Músculo esternal

Fonte: https://dolopedia.com/articulo/musculo-esternal.

3.1.6. Anatomia microscópica da mama

3.1.6.1. Glândulas mamárias

As glândulas mamárias são uma das características distintivas encontradas nos


mamíferos. São glândulas sudoríparas apócrinas tubuloalveolares modificadas
localizadas na parede torácica anterior. As glândulas mamárias são órgãos
muito dinâmicos, pois sua estrutura varia com a puberdade, menstruação,
gravidez e menopausa.

As glândulas mamárias masculinas e femininas se desenvolvem


comparativamente desde o nascimento até a pubescência. No início da
puberdade feminina, o epitélio mamário previamente inativo invade a camada
de gordura mamária, levando à proliferação epitelial, ao aumento da mama e ao
aumento da deposição de tecido adiposo. Nos homens, esse processo é inibido
pelo aumento dos níveis de testosterona, que atuam nas células mesenquimais
do estroma mamário para induzir regressão e necrose (figura 13).

Figura 13. Glândulas mamárias.

Fonte: https://www.hypeness.com.br/2019/04/postaram-uma-foto-real-das-glandulas-mamarias-femininas-e-a-internet-nao-
esta-acreditando/.

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ANATOMIA DA MAMA | UNIDADE I

A fisiopatologia das glândulas mamárias tem sido estudada principalmente em


mulheres, por serem consideradas órgãos vestigiais em homens. No entanto,
tanto as glândulas mamárias masculinas quanto as femininas podem ser
afetadas por entidades patológicas e, portanto, ambas têm relevância clínica.

3.1.6.2. Estrutura

Microscopicamente, a glândula mamária adulta consiste em uma bicamada


epitelial contida no mesênquima adipócito ativo. Essas células têm o suporte
de uma estrutura frouxa de tecido conjuntivo fibroso denso, conhecido como
Ligamentos de Cooper.

Dois tipos distintos de células compreendem a bicamada epitelial. As células


cuboidais luminais formam a porção interna, revestindo os ductos lactíferos.
Esses ductos irradiam do mamilo e se dilatam nos seios lactíferos logo abaixo
da aréola.Cada lóbulo termina em pequenas glândulas semelhantes a bulbos,
conhecidas como unidades lobulares ductais terminais (TDLUs), em que o leite
é produzido em resposta à prolactina.

As células mioepiteliais compõem a porção externa da bicamada mamária;


estes circundam firmemente as células luminais. Essas células em forma de
fuso têm propriedades celulares das células musculares lisas e participam do
processo de ejeção do leite durante a lactação.

Estudos de transplante e rastreamento de linhagem mostraram que os


componentes epiteliais da glândula mamária se originam das células-tronco
e progenitoras encontradas nos epitélios ductular e basal. No entanto, há
controvérsia, uma vez que mais de uma população de células com propriedades
de células-tronco foi encontrada no epitélio mamário. As populações
conhecidas de células-tronco incluem unidades de reconstituição mamária
(MRUs), células-tronco mamárias bipotentes (MaSCs) e progenitores epiteliais
mamários unipotentes.

As MaSCs bipotentes podem se diferenciar em células luminais e mioepiteliais


e são caracterizadas pelo perfil CD49f/CD29/CD24. A expansão das
células-tronco é mediada pela progesterona, que induz a secreção de RANK-L
nas células epiteliais mamárias positivas para progesterona. O RANK-L

45
UNIDADE I | ANATOMIA DA MAMA

secretado atua no receptor RANK encontrado nas células progenitoras dos


receptores hormonais negativos.

Cada ducto lactífero se conecta ao exterior por meio de orifícios encontrados no


mamilo. Esses orifícios de 0,5 mm possuem esfíncteres minúsculos que evitam
vazamentos durante a amamentação. Uma área circular pigmentada conhecida
como aréola circunda o mamilo. O pigmento da aréola varia entre as pessoas,
pois pode variar de rosa a quase preto. Esse pigmento também está sujeito a
escurecimento durante a puberdade, gravidez, excitação e orgasmos sexuais.
A aréola é coberta por epitélio escamoso estratificado, que é contínuo com o
mamilo e a pele circundante.

Além disso, a aréola contém em sua periferia algumas elevações nodulares


conhecidas como Tubérculos de Morgagni, que representam as aberturas das
Glândulas de Montgomery. São glândulas modificadas que representam um
estágio entre o suor e as glândulas mamárias verdadeiras. Elas secretam uma
substância que fornece lubrificação durante a amamentação. Nas profundidades
da aréola e do mamilo, as fibras do músculo liso são responsáveis pela ereção
do mamilo secundária a vários estímulos sensoriais, incluindo frio, excitação e
amamentação.

O componente adipócito da glândula mamária forma uma grande parte da


camada de gordura estromal da mama. A variação no tamanho da mama entre
as mulheres está relacionada ao volume do tecido adiposo e não ao componente
epitelial em si. O tecido adiposo é abundante nos espaços interlobulares,
enquanto sua presença no estroma intralobular é escassa. O mesênquima
adiposo regula ativamente a homeostase da glândula mamária, pois participa
do crescimento epitelial, da comunicação intercelular, da angiogênese e da
produção de leite. Além disso, serve como um reservatório de fluidos intersticiais
que inclui moléculas derivadas localmente (por exemplo, prolactina) e aquelas
sintetizadas em outros lugares.

Os fibroblastos também são componentes importantes do estroma mamário.


Essas células costumam ser vizinhas do lado basal da árvore ramificada epitelial.
Eles têm várias funções, incluindo síntese de fator de crescimento, produção
de metaloproteinase (MMP) e deposição de matriz extracelular (ECM). A
MEC é composta de colágeno tipos I e III, proteoglicanos, ácido hialurônico,
fibronectina e tenascinas. Ele apoia ativamente a sobrevivência epitelial
suprimindo a apoptose, um processo mediado pela MMP-2. Também participa
da ramificação secundária e terciária dos ductos mamários, um processo

46
ANATOMIA DA MAMA | UNIDADE I

mediado pela MMP-3. A MEC também se correlacionou com a supressão do


tumor por meio da membrana basal intacta. As membranas basais são finas
folhas de glicoproteínas e proteoglicanos, lamininas e fibrilas IV de colágeno
com 100 nm de espessura.

As redes vasculares e linfáticas se desenvolvem em estreita associação com


a árvore epitelial mamária. As células mioepiteliais sintetizam VEGF-C e
VEGF-D, o que provavelmente leva à linfangiogênese. Os adipócitos também
podem regular a angiogênese, pois também secretam VEGF.

As células imunes regulam a invasão na camada adiposa e, portanto, são


necessárias para a morfogênese ductal; isso é especialmente verdadeiro para
macrófagos, mastócitos e eosinófilos. Os mastócitos também estão implicados
na involução mamária durante as fases posteriores da vida, pois são capazes de
ativar a calicreína plasmática e, portanto, a cascata de plasminogênio.

3.1.6.3. Função

A principal função da glândula mamária feminina é produzir e secretar leite


para a nutrição dos recém-nascidos. Além disso, existe uma função erógena
para as glândulas mamárias adultas masculinas e femininas.

A glândula mamária sofre alterações durante o ciclo menstrual e a gravidez, em


preparação para a lactação.

3.1.7. Ciclo menstrual

Fase folicular: altos níveis de estrogênio estimulam a proliferação ductal. O


estroma intralobular permanece denso, parecendo mais colágeno e menos
celular. Além disso, essa fase demonstra um aumento no número de Treg.

Fase médio-lútea: aumenta o tamanho e a altura das células epiteliais. Os altos


níveis de progesterona desencadeiam a formação de gemas alveolares epiteliais.
Além disso, as secreções começam a se acumular nos dutos, formando lumina.
O número de macrófagos também aumenta quando comparado à fase folicular.
A sensibilidade tátil mamária é máxima durante essa fase.

Fase lútea tardia: antes do início da menstruação, o epitélio glandular sofre


regressão por apoptose.

47
UNIDADE I | ANATOMIA DA MAMA

Gravidez: as alterações observadas são moduladas por um aumento no


complexo hormonal lactogênico (estrogênio, progesterona e prolactina). Outros
hormônios, como o lactogen da placenta, também estão envolvidos.

Primeiro trimestre: a proliferação de MaSCs e células progenitoras leva ao


alongamento e à ramificação dos ductos. O processo de morfogênese alveolar
também começa. Cada alvéolo forma-se a partir de uma bicamada em malha de
células mioepiteliais e epiteliais, que circunda o lúmen alveolar. Clinicamente,
as veias superficiais dilatam, e a aréola escurece e cresce.

Segundo trimestre: o aumento dos níveis de prolactina estimula a diferenciação


epitelial no lúmen alveolar, formando lactócitos (diferenciação secretória). O
colostro começa a se acumular nos alvéolos. O tecido conjuntivo intralobular
torna-se infiltrado por células plasmáticas, linfócitos e eosinófilos.

Terceiro trimestre: essa fase demonstra caracteristicamente a maturação dos


lactócitos, que começam a acumular glóbulos de gordura no citoplasma.

Após a entrega da placenta, os níveis de progesterona diminuem, aumentando


sua ação inibitória sobre a prolactina; isso permite o início da secreção abundante
de leite (ativação secretora). A membrana basal que separa o estroma mamário
do epitélio fica apertada, com permeabilidade reduzida; isso ocorre para
regular o movimento dos componentes do leite da circulação sistêmica para o
lúmen alveolar. A ocitocina é liberada em resposta à sucção, o que estimula a
contração das células mioepiteliais nos alvéolos e ductos, causando a ejeção do
leite.

A primeira secreção (3 a 5 dias após o parto) é conhecida como colostro, que


é secretado inicialmente durante a décima segunda até a décima sexta semana
de gravidez (um processo conhecido como lactogênese I). Essa fase é seguida
pelo leite de transição, por 2 a 3 semanas após o parto (lactogênese II); após,
o que o leite é considerado maduro (lactogênese III). Vários tipos de células
mamárias estão presentes no leite materno, incluindo células-tronco do leite
humano (hBSCs), MaSCs bipotentes, células mioepiteliais e lactócitos.

Após o desmame, o leite materno começa a se acumular nos ductos. A estase


resultante do leite materno inicia o processo de involução mamária, embora
os mecanismos envolvidos não sejam bem compreendidos. A primeira fase

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ANATOMIA DA MAMA | UNIDADE I

da involução demonstra a regressão dos tecidos epiteliais e estromais. Um


aumento das enzimas hidrolíticas limpa o leite residual. Essa fase dura até
duas semanas e é reversível. A segunda fase é irreversível e é caracterizada por
perda de células luminais e remodelação estromal.

As células apoptóticas são lançadas no lúmen alveolar, onde se acredita


que sejam eliminadas pelos macrófagos. No entanto, estudos em murinos
sugerem que uma subpopulação de células epiteliais mamárias também pode
fagocitar células epiteliais apoptóticas, o que coloca em questão o papel dos
macrófagos. Após a involução, a mama é semelhante, mas não idêntica ao seu
estado pré-gestacional. Algumas células epiteliais escapam do processo de
limpeza e permanecem como células precursoras da memória, que alimentam
a remodelação mamária nas gestações subsequentes.

Após a menopausa, os elementos ductal e glandular da mama começam a


involuir. Esse processo é desencadeado pelo declínio da função ovariana e
níveis reduzidos de estrogênio e progesterona. Eventualmente, os elementos
gordurosos e estromais também começam a regredir, levando ao encolhimento
dos seios e à perda de contorno. A ptose mamária pode se desenvolver à medida
que os ligamentos suspensores de Cooper relaxam.

3.1.8. Preparação de tecidos

A glândula mamária é frequentemente biopsiada para confirmar o diagnóstico


de câncer de mama. Várias manchas podem ser usadas na amostra para
determinar certas características do tumor, como grau, tipo histológico e
subtipo molecular. Para a preparação inicial do tecido, a biópsia é fixada em
formalina tamponada a 10% por 48 horas a 4 °C. Também deve ser desidratada
em etanol a 70% para minimizar a distorção adiposa. Após as 48 horas iniciais,
as amostras fixadas são transferidas para o xileno, embebidas em parafina,
seccionadas de 2 a 5 mm e tingidas com a mancha desejada.

3.1.9. Histoquímica e citoquímica

Várias manchas são úteis para o estudo histológico das glândulas mamárias. A
combinação de hematoxilina e eosina (HE) é útil para a visualização de várias
estruturas; o componente hematoxilina mancha os núcleos em azul/roxo,
enquanto a eosina dá um tom rosado às estruturas eosinofílicas (por exemplo,
citoplasma, colágeno e fibras musculares).

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UNIDADE I | ANATOMIA DA MAMA

O tricrômico de Masson mancha as fibras de colágeno e é usado principalmente


para avaliar a fibrose tumoral. Além disso, a imunocoloração pode ser usada
para identificar seletivamente antígenos que servem como importantes
marcadores de diagnóstico. Alguns dos exemplos mais relevantes incluem
anticorpos contra o receptor de estrogênio (ER), receptor de progesterona
(PR) e HER 2 neu. Esses marcadores ajudam a classificar os tumores malignos
em subtipos moleculares (luminal A, luminal B, HER-2 enriquecido, basal e
triplo negativo). Outros anticorpos utilizados na imuno-histoquímica incluem
aqueles contra antígenos mioepiteliais (a-SMA, miosina, calponina, p63, CD10,
S100) e antígenos luminais (citoqueratinas (CK) 7, 8, 18 e 19).

A diferenciação entre tipos de células é geralmente feita usando CK 5 para


MaSCs bipotentes, CK19 para células luminais ductais, CK18 para células
luminais alveolares e CK14 para células mioepiteliais. CK8 e E-caderina são
especialmente úteis para distinguir entre carcinomas ductal e lobular. Embora
a CK8 seja positiva para ambos, geralmente mancha o citoplasma periférico
no carcinoma ductal, enquanto apresenta um padrão de coloração perinuclear
no carcinoma lobular. O antígeno E-caderina é expresso principalmente nos
carcinomas ductais e ausente nos lobulares.

3.1.10. Significado clínico

O câncer de mama é a patologia mais relevante da glândula mamária. Entre as


mulheres, é a neoplasia mais comum, bem como a principal causa de morte por
câncer. Nos homens, é uma entidade extremamente rara, representando 1%
dos diagnósticos de câncer e menos de 0,1% de mortes relacionadas ao câncer.

Os fatores de risco para câncer de mama feminino incluem idade avançada,


histórico familiar, menarca precoce, menopausa tardia, nuliparidade, uso
de contraceptivos orais, obesidade e gravidez a termo após os 30 anos de
idade. Além disso, cerca de 5% dos cânceres de mama se correlacionam com
os autossômicos dominantes, mutações BRCA1 e BRCA2. Por outro lado, o
câncer de mama masculino é pouco conhecido quando comparado ao câncer de
mama feminino. No entanto, fatores de risco conhecidos incluem obesidade,
Síndrome de Klinefelter, ginecomastia, orquite, lesão testicular, criptorquidia,
alcoolismo, doença hepática e exposição à radiação.

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ANATOMIA DA MAMA | UNIDADE I

A patogênese do câncer de mama envolve alterações neoplásicas nas células


mioepiteliais ou epiteliais, ou, ainda, de uma célula-tronco com capacidade
de se diferenciar em uma das duas. Essas alterações neoplásicas incluem
proliferação prolongada, lesão de DNA, inativação de genes supressores de
crescimento, mutações na via RAS/MEK/ERK e PI3K/AKT, entre outras.

O tipo mais prevalente de câncer de mama é o carcinoma ductal invasivo, que


representa cerca de 80% de todos os cânceres de mama femininos. Outros
tipos menos comuns de câncer de mama incluem carcinoma lobular, tubular,
medular, mucinoso, neuroendócrino, papilar, metaplásico e inflamatório, entre
outros. Essas alterações neoplásicas incluem proliferação prolongada, lesão de
DNA, inativação de genes supressores de crescimento, mutações na via RAS/
MEK/ERK e PI3K/AKT, entre outras.

Além do câncer de mama, as glândulas mamárias também podem ser afetadas


por algumas patologias benignas. Estes incluem fibroadenoma, papilomatose,
doença fibrocística, adenoma em lactação, ginecomastia, tumor filodificado,
ectasia do ducto mamário, mastite e mastalgia. Desses, destaca-se o tumor
filodificado, por seu potencial de malignidade.

3.1.11. Aleitamento e câncer de mama

Os fatores de risco reprodutivos associados ao risco de câncer de mama incluem


idade da menarca, número de gestações, idade do primeiro nascimento, duração
da amamentação ao longo da vida, idade da menopausa e uso de terapia
hormonal na menopausa. No entanto, uma pesquisa descobriu que esses fatores
estão associados diferencialmente a cada subtipo.

A amamentação é de particular interesse para a prevenção do câncer de mama,


pois é um fator de risco modificável. A amamentação não apenas reduz o risco
de câncer de mama, mas também confere outros benefícios à saúde da mãe,
incluindo risco reduzido de câncer de endométrio e ovário e risco reduzido
de condições crônicas que também são fatores de risco para câncer, como
hipertensão e diabetes. Além disso, a amamentação oferece muitos benefícios
ao bebê, incluindo menos episódios de diarreia, infecções de ouvido e infecções
respiratórias inferiores e um menor risco de morte súbita do bebê, diabetes,
asma e obesidade infantil.

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UNIDADE I | ANATOMIA DA MAMA

O principal mecanismo pelo qual a lactação ou a amamentação pode influenciar


plausivelmente no risco de câncer de mama é pela influência hormonal do
período associado de amenorreia e infertilidade. Isso diminui a exposição ao
longo da vida aos ciclos menstruais e, portanto, altera as exposições cumulativas
a hormônios específicos, particularmente androgênios, que podem influenciar
no risco de câncer. Níveis aumentados de esteroides sexuais estão fortemente
associados ao risco de câncer de mama na pós-menopausa. Além disso, a
esfoliação sustentada do tecido mamário durante a lactação e a acentuada
apoptose epitelial no final da lactação podem diminuir o risco de câncer
de mama por meio da eliminação de células com danos e mutações no DNA
(figura 14).

Figura 14. Amamentação e câncer de mama.

Fonte: https://areademulher.r7.com/curiosidades/cancer-de-mama-ela-emocionou-ao-amamentar-seu-bebe/.

É importante reconhecer que, em geral, o risco de câncer de um indivíduo é


uma combinação de determinantes genéticos, bem como fatores ambientais e
de estilo de vida. Como o câncer de mama é predominantemente uma doença
diagnosticada em mulheres mais velhas, à medida que o limite de idade da
população aumenta, também é esperado que a incidência de câncer de mama
aumente. Se as mulheres começam a mudar seu estilo de vida agora, como
reduzir o uso da terapia de reposição hormonal, manter o peso corporal normal,
aumentar os níveis de atividade física, limitar o uso de álcool e amamentar por
seis meses, até 2024, um em cada 10 casos pode ser evitado.

As mulheres também devem ser informadas de que o risco de câncer de mama na


pré-menopausa é reduzido com a lactação e que esse efeito protetor parece ser

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ANATOMIA DA MAMA | UNIDADE I

melhor para as mulheres que tiveram um período prolongado de amamentação


durante a vida. Mulheres com riscos familiares poderiam se beneficiar mais com
a amamentação. Como o leite materno é o nutriente ideal para o recém-nascido
e como a amamentação é um fator de risco modificável, todas as mulheres
devem ser incentivadas a amamentar seus filhos.

3.1.12. A mulher pode ter câncer de mama durante a


amamentação?

É possível desenvolver câncer de mama durante a amamentação de um bebê,


mas é raro. As mulheres que amamentam representam 3% dos casos de câncer
de mama. Segundo o Instituto Nacional do Câncer, algumas pesquisas sugerem
que o risco de câncer de mama é temporariamente maior nos anos seguintes à
gravidez e ao parto. Esse risco aumentado pode ser o resultado de alterações
hormonais durante a gravidez. No geral, no entanto, a amamentação reduz o
risco de câncer de mama, especialmente em mulheres na pré-menopausa.

Os meses de gravidez e amamentação diminuirão o número de ciclos menstruais


que uma mulher tem em sua vida. Isso reduzirá sua exposição a hormônios que
podem aumentar o risco de certos tipos de câncer. Apesar do baixo risco, as
mulheres devem conversar com um médico se tiverem alguma dúvida sobre a
saúde da mama. Vários fatores podem dificultar o diagnóstico das mulheres
que estão amamentando. Isso inclui:

» a amamentação pode causar problemas muito semelhantes aos sintomas


do câncer de mama;

» os médicos podem não pensar em testar o câncer de uma mulher se ela


encontrar um nódulo durante a amamentação, pois existem outras causas
possíveis;

» mamografias e ultrassonografias mamárias têm maior probabilidade de


dar um resultado falso positivo ou inconclusivo durante a lactação.

3.1.13. O que mais pode causar um nódulo na mama durante a


amamentação?

Existem muitas outras condições, além do câncer de mama, que podem causar
nódulos na mama durante a amamentação, conforme veremos a seguir.

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UNIDADE I | ANATOMIA DA MAMA

3.1.13.1. Ingurgitamento

Nas primeiras semanas de amamentação, é comum que os seios fiquem


excessivamente cheios de leite, fazendo com que se sintam irregulares e
desconfortáveis. Isso é chamado ingurgitamento.

O ingurgitamento é comum durante os estágios iniciais da amamentação,


mas pode ocorrer sempre que houver uma drenagem incompleta das mamas.
Os sintomas do ingurgitamento devem desaparecer à medida que os seios se
esvaziam. A condição também pode diminuir com o tempo, à medida que o
corpo da mulher se ajusta à demanda de leite do bebê.

3.1.13.2. Dutos obstruídos

Células especiais nos seios produzem o leite antes de viajar em pequenos


dutos para os mamilos. Se a drenagem do leite for muito pouco frequente
ou o leite engrossar, pode entupir o duto. Isso pode levar ao leite retido no
tecido mamário, que pode formar um caroço dolorido. Na maioria dos casos,
amamentação frequente, massagem mamária e compressas quentes podem
ajudar a resolver um duto obstruído.

3.1.13.3. Mastite

Mastite é a inflamação ou infecção da mama. É mais provável que ocorra após


ingurgitamento ou duto obstruído. Se o leite ficar preso no seio, as proteínas
do leite podem se acumular e eventualmente começar a vazar para o tecido
circundante. Além de um nódulo, a mastite pode causar os seguintes sintomas:

» vermelhidão no peito;

» febre;

» arrepios;

» mal-estar.

Uma mulher com mastite deve continuar a amamentar. A amamentação pode


ajudar a drenar o leite preso do tecido, que é a melhor maneira de aliviar os
sintomas.

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ANATOMIA DA MAMA | UNIDADE I

3.1.13.4. Abscesso

Um abscesso é uma complicação rara, mas perigosa, de mastite não tratada. É


uma das maneiras pelas quais o corpo lida com uma infecção para impedir que
ela se espalhe por todo o corpo. O centro de um abscesso contém um bolso de
pus e bactérias. Depois que um abscesso se forma, o tecido infectado no centro
não pode escapar.

Um abscesso precisa de cuidados médicos urgentes, e o tratamento incluirá


drenagem e antibióticos. Quem pensa que pode ter um abscesso deve falar com
um médico o mais rápido possível.

3.1.13.5. Cistos

Cistos pequenos, conhecidos como galactoceles, às vezes podem se formar na


mama. Eles contêm leite e podem ir e vir dependendo da quantidade de leite
existente no peito. Esses pequenos nódulos geralmente não são dolorosos e
desaparecem após a lactação.

3.1.14. Quando uma mulher deve ir ao médico com um nódulo


na mama?

Na maioria dos casos, nódulos mamários em mulheres que amamentam não


são cancerígenos e não são motivo de preocupação. No entanto, uma mulher
deve consultar o médico sobre um nódulo na mama se:

» ele não vai embora;

» ele continua a crescer;

» pressioná-lo não o faz se mover dentro do tecido mamário;

» causa covinhas na pele ou assemelha-se à casca de laranja.

Uma mulher também deve consultar seu médico se ela tiver alguma preocupação
com a saúde da mama em geral.

3.1.15. Uma mulher pode amamentar se tiver câncer de mama?

Na maioria dos casos, o médico recomendará que uma mulher pare de


amamentar após um diagnóstico de câncer de mama. Muitos tratamentos para
o câncer de mama podem afetar o suprimento de leite da mulher ou impactar
negativamente o bebê.

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UNIDADE I | ANATOMIA DA MAMA

O médico ajudará a determinar qual o melhor tratamento para um indivíduo


com câncer de mama, pois isso pode variar de pessoa para pessoa. Os possíveis
tratamentos incluem:

» cirurgia: a cirurgia pode ser necessária para remover um nódulo


ou crescimento canceroso. Em alguns casos, isso pode envolver uma
mastectomia (remoção da mama) ou uma mastectomia dupla (remoção de
ambas as mamas). A extensão da cirurgia determinará se o indivíduo pode
ou não continuar amamentando;

» quimioterapia: a quimioterapia utiliza medicamentos fortes para


destruir as células cancerígenas no corpo. As mulheres que estão em
quimioterapia precisarão parar de amamentar;

» radiação: algumas mulheres em tratamento com radiação podem


continuar amamentando, dependendo do tipo específico de terapia. Um
médico será capaz de explicar os riscos para permitir que o indivíduo tome
uma decisão.

A amamentação durante o tratamento do câncer pode ser possível, mas é


essencial falar com um médico antes e durante o processo de tratamento.

3.1.16. Aleitamento e câncer de ovário

Os mecanismos subjacentes a um menor risco de câncer de ovário entre


as mulheres que amamentaram não são bem elucidados. Uma hipótese
predominante é que a amamentação está associada a períodos mais longos de
amenorreia e, assim, maior supressão da ovulação e diminuição dos níveis de
gonadotrofina e, portanto, menor exposição ao estradiol plasmático ao longo
da vida.

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REFERÊNCIAS

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