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PROPOSTA DIDÁTICA-METODOLÓGICA
Pelo conhecimento crítico dos problemas ambientais do campo e da
floresta no contexto amazônico
Igarapé-Açu – PA
2024
DANIELE CRISTINA DA SILVA PALHETA
PROPOSTA DIDÁTICA-METODOLÓGICA
Pelo conhecimento crítico dos problemas ambientais do campo e da floresta no
contexto amazônico
Igarapé-Açu – PA
2024
DANIELE CRISTINA DA SILVA PALHETA
PROPOSTA DIDÁTICA-METODOLÓGICA
Pelo conhecimento crítico dos problemas ambientais do campo e da floresta no
contexto amazônico
Banca Examinadora:
__________________________________________
Prof. Rodrigo Rafael Souza de Oliveira – Orientador
Dr. em Ciências Ambientais – Universidade do Estado do Pará
__________________________________________
Prof. Nonato Sousa Gonçalves – Examinador Interno
Me. em Geografia – Universidade do Estado do Pará
__________________________________________
Prof. Vanessa do Socorro da Silva Costa – Examinadora Externa
Dra. em Educação (Currículo) – Pontíficia Universidade Católica de São Paulo
PROPOSTA DIDÁTICA-METODOLÓGICA: PELO CONHECIMENTO
CRÍTICO DOS PROBLEMAS AMBIENTAIS DO CAMPO E DA
FLORESTA NO CONTEXTO AMAZÔNICO
RESUMO
Neste artigo objetiva-se a análise, a reflexão e a discussão acerca das contribuições e limitações
didáticas-metodológicas de uma intervenção realizada na turma de 8º ano do Ensino
Fundamental da E. E. E. F. M. José Elias Emin, no âmbito do Programa de Residência
Pedagógica da Universidade do Estado do Pará, em Igarapé-Açu – PA. Esta, ocorrida através
do subprojeto “Conscientização e sensibilização ambiental na Educação Básica de Igarapé-
Açu: aliando teoria e prática”, desenvolveu-se tendo como horizonte uma prática de ensino
pautada pela Educação Ambiental Crítica, e nesse sentido, partiu do seguinte questionamento:
como contribuir para a construção do conhecimento crítico dos(as) alunos(as) do 8º ano, a
respeito dos principais problemas ambientais do espaço agrário amazônico? A metodologia da
experiência aqui relatada se deu a partir de uma pesquisa exploratória na referida escola,
levantamento de referencial teórico e planejamento da intervenção didática-metodológica. A
aula, então, foi a culminância do trabalho, a qual possibilitou as observações e experiências
aqui analisadas à luz do conhecimento acadêmico. Como resultado têm-se uma abordagem
didática-metodológica que se utilizou de questionamentos atrelados à análise de música, em
formato de videoclipe, e construção de histórias em quadrinhos, pelas quais os(as) alunos(as)
demonstraram identificar os principais problemas ambientais que ocorrem no campo e na
floresta amazônica desde os seus espaços de vivência.
ABSTRACT
This article aims to analyze, reflect and discuss the didactic-methodological contributions and
limitations of an intervention carried out in the 8th year class of Elementary School at E. E. E.
F. M. José Elias Emin, within the scope of the Pedagogical Residency Program at the State
University do Pará, in Igarapé-Açu – PA. This, which took place through the subproject
“Environmental awareness and awareness in Basic Education in Igarapé-Açu: combining
theory and practice”, was developed with a teaching practice guided by Critical Environmental
Education as its horizon, and in this sense, it started from the following question: How to
contribute to the construction of critical knowledge of 8th grade students regarding the main
environmental problems of the Amazon agrarian space? The methodology of the experience
reported here was based on exploratory research at the aforementioned school, survey of
theoretical references and planning of the didactic-methodological intervention. The class, then,
was the culmination of the work, which enabled the observations and experiences analyzed here
in the light of academic knowledge. As a result, we have a didactic-methodological approach
that used questions linked to the analysis of music, in video clip format, and the construction of
comic books, through which the students demonstrated identifying the main environmental
problems that they occur in the countryside and in the Amazon forest from their living spaces.
1 INTRODUÇÃO
A Amazônia, na atualidade, tem sido o centro das discussões políticas globais no que
concerne as ações para conter o aceleramento das mudanças climáticas. Ocorre que é na escala
dos lugares e territórios que as transformações intensas à natureza têm demonstrado suas
consequências (Nobre et al., 2007). Por isso, cada vez mais ativistas, povos tradicionais e
cientistas têm alertado sobre a necessidade de romper com essa lógica predatória dos recursos
naturais, que não só tem devastado nossas florestas, infeccionado nossos rios e solos e assolado
nossos povos, mas vêm se ampliando e se intensificando com impactos para toda a dinâmica
climática do planeta (Fearnside, 2008; Nobre et al., 2007; PBMC, 2014).
Trazer tais assuntos para serem debatidos nos mais diversos âmbitos da sociedade é
urgente, nesse sentido, o ambiente escolar, como espaço fomentador da consciência crítica e
cidadã, pode ser ponto de partida. Nele, a Educação Ambiental (EA), enquanto disciplina
transversal, possui grande potencial na promoção da consciência crítica e sensibilização de
crianças, jovens e adultos, para os problemas decorrentes das formas vigentes de se relacionar
com a Natureza (Kondrat; Maciel, 2013).
Partindo desse pressuposto, o subprojeto de Geografia do Programa de Residência
Pedagógica (PRP) da Universidade do Estado do Pará (UEPA) buscou contribuir com a reflexão
e prática da EA em três escolas de ensino básico da rede pública estadual do município de
Igarapé-Açu, Pará, Amazônia Oriental1. Licenciandos(as) em Geografia atuaram nas
disciplinas de Geografia e Estudos Amazônicos2 partindo da ideia de que a prática de EA deve
ser articulada com as problemáticas ambientais existentes. Nesse sentido, ela precisa ser um
processo educativo que possibilite pensar o contexto de crise ambiental, de crescente
1
A Amazônia Legal é dividida em Amazônia Ocidental, composta pelos Estados do Amazonas, Acre, Rondônia
e Roraima, e a Amazônia Oriental, composta pelos Estados do Pará, Maranhão, Amapá, Tocantins e Mato Grosso.
2
A disciplina “Estudos Amazônicos" é um componente curricular ofertado em escolas da rede pública de ensino
do Estado do Pará, do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental. Para atuar na referida área, os profissionais devem ser
licenciados em Geografia, História ou Ciências Sociais.
insegurança e incerteza face aos riscos produzidos pelas formas de produção e consumo da
sociedade atual (Jacobi, 2005).
Esta é uma premissa gerada dentro do que Mauro Guimarães (2004) denomina de
Educação Ambiental Crítica, na qual se compreende que, para além de promover a
conscientização e sensibilização acerca da problemática ambiental do contexto em que se vive,
ainda é fundamental convertê-las em ações transformadoras desta realidade. No entanto, este
horizonte somente será alcançado por meio da mobilização social coletiva e a partir do
rompimento da hegemônica lógica dualista e fragmentada concebida desde o advento da
Modernidade (Guimarães, 2004).
Infelizmente, o que ainda se mostra predominante no Brasil é um modelo de EA focada
no indivíduo, a qual tem buscado resolver o problema através do seu próprio cerne constituidor
(Guimarães, 2004). Isto nos aponta a necessidade de repensar as nossas práticas pedagógicas,
e, sobretudo, a nossa postura ética e política enquanto cidadãos e cidadãs educadores(as), desse
modo, comprometidos(as) com a mudança da realidade socioambiental para uma outra que não
seja injusta e desigual como a atual.
No âmbito da educação formal, mais especificamente, sabe-se que apesar de estes serem
pontos primordiais na identificação dos problemas e também para a busca por um futuro outro,
há estruturalmente uma série de outras problemáticas que envolvem não só a escola, mas
também a família, a comunidade e o Estado. Esta foi a realidade encontrada no lócus desta
pesquisa.
Ocorridas na Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio José Elias Emin,
localizada na periferia urbana de Igarapé-Açu, as experiências posteriormente relatadas e
analisadas, puderam constatar desde problemas ligados à estrutura escolar (o prédio e seu
funcionamento), até aos professores(as) sobrecarregados e desanimados frente a alunos(as) sem
perspectivas ou interesse para estudar, porque também partem de contextos sociais diversos que
os são desfavoráveis.
Esta situação incorre, ademais, para uma predominância do ensino bancário, pelo qual
os alunos(as) são meros receptores e reprodutores de conteúdos que não refletiram ou
entenderam criticamente. Na EA, especialmente, a escola costuma reproduzi-la de forma
conservadora, sem ser capaz de desenvolver nos(as) alunos(as) um olhar crítico perante as
relações de produção e consumo existente no sistema capitalista, muito menos envolve-los em
práticas conjuntas pela superação deste paradigma.
Longe de querer dar conta de tudo ou de ter a prepotência de pensar que poderia fazer
completamente diferente, esta pesquisa se fez para lançar contribuições aos trabalhos de
muitos(as) outros(as) educadores(as) que vieram antes e dos que ainda estão na trincheira de
luta por uma educação libertária, e com isso conseguir avançar na formação do pensamento
crítico em EA. Luta esta que se acirra com o aprofundamento da citada crise climática e o
contraditório avanço do capitalismo sobre espaços ainda resistentes, mediadores do equilíbrio
ecossistêmico do planeta e territórios de uma variedade de grupos humanos que constituem com
eles relações específicas e diferenciadas da dominação hegemônica do capital.
Por estar no contexto espacial amazônico – principal alvo da expansão da fronteira
agropecuária e neoextrativista no Brasil, e desse modo, palco de conflitos e impactos
socioambientais gravíssimos – nada mais coerente do que partir dos nossos territórios para
começar a trilhar, dentro e fora das nossas escolas, um caminho em direção a uma Educação
Ambiental Crítica. Para tanto, esforços teóricos metodológicos fazem-se necessários, e nesse
intuito, toma-se como norte a realização pedagógica de uma prática reflexiva.
O exercício da práxis pedagógica em Educação Ambiental Crítica, à luz do
conhecimento científico, se concretiza, portanto, como principal objetivo deste relato de
experiência, que se constrói enquanto momento de análise, discussão e reflexão acerca das
contribuições e limitações didáticas-metodológicas de uma intervenção realizada na turma de
8º ano do Ensino Fundamental da E. E. E. F. M. José Elias Emin, através da disciplina de
Estudos Amazônicos. Esta se desenvolveu partindo do seguinte questionamento: como
contribuir para a construção do conhecimento crítico de alunos do 8º ano, a respeito dos
principais problemas ambientais do espaço agrário amazônico?
Decorrente desta questão central, chegou-se a outras indagações, sendo elas: Que
conteúdo abordar? De que forma o abordar? E para quem? Quais os materiais e recursos
convenientes e possíveis a serem utilizados? Como avaliar o aprendizado e conhecimento
crítico? E o mais importante: O que se pretende e se pode obter com esta intervenção?
Na tentativa de respostas a todos estes questionamentos foi que, inicialmente, realizou-
se uma pesquisa de campo exploratória, pela qual se identificou os mais preponderantes
problemas e desafios educacionais vivenciados na turma do 8º ano (manhã) e na escola lócus
de pesquisa. Posteriormente pôde-se fazer um levantamento bibliográfico acerca dos principais
conceitos e temas aqui abordados, como problemas socioambientais, Educação Ambiental
Crítica, avanço da fronteira agroextrativista sobre Amazônia e suas implicações ambientais,
além de metodologias didáticas ativas. Terminada esta etapa, planejou-se a intervenção
didática-metodológica (por meio da elaboração de um plano de aula) que, por fim, culminou na
sua efetivação.
Como resultado do percurso supracitado, obteve-se uma abordagem didática-
metodológica centrada no(a) aluno(a), que se utilizou de questionamentos e reflexões sobre o
espaço vivido atrelados à análise de videoclipe musical e à construção de histórias em
quadrinhos, pelos quais, os(as) educando(as) demonstraram conseguir identificar os principais
problemas ambientais do campo e da floresta amazônica (queimadas, desmatamento e poluição
de rios e solos) provenientes, principalmente, das práticas econômicas da agropecuária,
mineração e garimpagem.
Para a confecção deste artigo, utilizou-se do relatório mensal (mês de agosto) produzido
pela autora no PRP, o qual, por narrar o desenvolvimento da intervenção, serviu como fonte
principal para reflexão e discussão da experiência aqui analisada por meio do pensamento
científico.
Feitas as devidas contextualizações e apresentações da pesquisa, exposta em formato de
relato de experiência, importa ainda destacar a organização deste artigo para melhor orientar
o(a) leitor(a) na compreensão do que aqui se pretende expor. Nesse sentido, informa-se que este
trabalho se organiza no formato convencional de um artigo científico, ou seja, em introdução,
fundamentação teórica, metodologia, resultados e discussões, e considerações finais.
No primeiro tópico pretende-se gradativamente apresentar as ideias e conceitos centrais
que orientam a problemática deste estudo, assim, parte-se da diferenciação entre a Educação
Ambiental Conservadora e a Educação Ambiental Crítica, para que seja possível definir uma
orientação didática capaz de objetiva-la, sendo, por fim, necessário apontar alguns possíveis
caminhos e abordagens metodológicas para o ensino que possam possibilitar a construção desse
saber crítico e transformador. Como se espera, na sequência será descrito todo o percurso
metodológico da pesquisa, e depois, os seus resultados e discussões, para finalizar com algumas
conclusões e notas a respeito do todo deste trabalho.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
[u]ma alfabetização científica que tenha como base a relação com a sociedade e o
meio ambiente torna-se uma exigência para a população. Isso não significa
transformar todos os cidadãos em cientistas, mas sim fornecer informações básicas
(Gil-Pérez; Vilches, 2004) que permitam a compreensão, por parte dos cidadãos, das
possíveis soluções e de suas melhores aplicações (Praia; Gil-Pérez; Vilches, 2007, p.
143). A importância do ensino de ciências é parcialmente demonstrada pela
aprendizagem efetiva de conceitos e métodos científicos que auxiliam os futuros
cidadãos a enfrentarem as diversas situações de seu dia a dia (Malafaia; Rodrigues,
2008).
Nesta perspectiva, para a concretização ativa dos cidadãos é necessário, primeiramente, formá-
los por meio dos conhecimentos interligados das ciências, que permite, desse modo, uma visão
holística das relações e fenômenos da natureza e sociedade.
3 METODOLOGIA
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Porém, tem uma gente surda e cega / Para a beleza e o valor da mata
Embora o mundo grite que já chega / Pois é a vida que desmate mata
Mais vasta ainda, todavia é a devastação e o trauma / Focos de fogo nos sufocam
fauna, flora e até a alma
Mais uma vez eles(as) citaram elementos presentes na música, à exemplo dos presentes
nos trechos abaixo:
[...] Amazônia! Abaixo o desgoverno que abandone a / Amazônia! Não mais a soja,
o pasto que seccione / Amazônia! Não mais a carne, o prato que pressione a
Amazônia!
O que afirma o citado autor é de fato a realidade sentida e vivida por muitas populações
que tradicionalmente já ocupavam este espaço. Esse povo, chamado de amazônidas por Porto-
Gonçalves (2001), tem passado por processos que apagam suas manifestações culturais, os
restringem ou os expulsam dos seus territórios, os tiram condições de vida e rejeitam suas
identidades.
Mas não é sem (re)existência que essa exploração acontece, por isso, em seguida
dialogou-se sobre os conflitos pela terra, pela água e pela floresta, e nesse sentido destacou-se
símbolos da luta pelo meio ambiente e pela proteção dos povos da Amazônia: Chico Mendes,
Dorothy Stang e Cacique Raoni Metuktiri. Com a ajuda de um mapa, comentou-se sobre a luta
do seringueiro no Acre e da missionária no noroeste do Pará contra grandes latifundiários, bem
como a luta do cacique Kayapó contra a construção da hidrelétrica de Belo Monte em defesa
da floresta e dos povos que dela dependem, os quais seriam negativamente afetados com a
construção.
Guimarães (2004), fala sobre a importância de a EA ir para além da escola, e a enxerga
como um meio de promover a construção de cidadãos engajados em coletivos de luta política.
Espera-se, portanto, que conhecer a luta destas lideranças sirva para demonstrar como, na
maioria das vezes, as transformações que buscamos só ocorrem por meio da movimentação
conjunta.
Mas, por a Amazônia ser grande e diversa, os(as) jovens das nossas escolas
cotidianamente podem vivenciar problemas ambientais distintos dos comentados
anteriormente. Por isso, na tentativa de aproximá-los do assunto, com mais sentido e
significado, buscou-se utilizar um exemplo do cotidiano, como o hábito de tomar banho de
igarapé (rio), principalmente em áreas mais distantes de centros urbanos. Esta é uma prática
cultural amazônida, que todavia pode ser prejudicada com a seca e contaminação dos rios e
igarapés. Além disso, também se comentou sobre o monocultivo da palma de óleo, para
produção de dendê, o qual ao longo das últimas décadas tem se ampliado no município. Quanto
a isto, os(as) alunos(as) destacaram a poluição diária do ar, provocada pela agroindústria
instalada na cidade.
Após a discussão dos problemas apresentados no clipe da música, organizou-se a turma
em cinco equipes e se distribuiu os materiais (Figura 2), pedindo que construíssem histórias em
quadrinhos, as quais, retratassem algum dos problemas ambientais discutido anteriormente.
Alguns demonstraram, num primeiro momento, não gostar da ideia, mas logo estavam
concentrados pensando no que fazer, pegando os materiais e escolhendo quem iria desenhar das
suas equipes.
Então ao final da aula foi solicitado que as equipes levassem o trabalho para casa,
terminassem e trouxessem na próxima aula para serem expostos e comentados.
Na aula da semana seguinte, com exceção de uma equipe, todos apresentaram os seus
quadrinhos (figura 3), e com muita insistência foram a frente da turma explicá-los. Cabe
ressaltar que estes(as) alunos(as) não possuem o hábito de oralizar suas ideias e opiniões durante
as aulas, talvez por timidez, mas principalmente por não serem estimulados a isto, pois, recorre-
se cotidianamente, principalmente, de acordo com eles(as), às atividades escritas como forma
de fixação do conteúdo.
Figura 3 – Histórias em quadrinhos produzidas pela turma
Quadrinho 1
Quadrinho 2
Quadrinho 3
Quadrinho 4
De acordo com Silva e Silva (2011), os quadrinhos podem despertar nos(as) aluno(as)
a aprendizagem de vários conteúdos, além de proporcionar uma quebra na rotina das aulas.
Segundo eles, com o uso de histórias em quadrinhos, é possível promover a aprendizagem de
conteúdos factuais e conceituais, ou seja, de um dado ou fenômeno, bem como de fatos,
princípios e conceitos, propriamente ditos (Alencar; Silva, 2018).
Neste caso, nos quadrinhos acima, pode-se notar a retratação de mudanças na paisagem,
à começar com uma área de floresta – no quadrinho 2 e 4, com a presença de indígenas – que
vai sendo desmatada para dar espaço a cidades e indústrias. Isto significa que as equipes
conseguiram construir noções sobre algumas das práticas sociais que mais causam problemas
ambientais não somente no espaço agrário, mas também no urbano, identificando ainda
problemas como o desmatamento, a poluição atmosférica e a expropriação de indígenas dos
seus territórios.
Pelo exposto pode-se compreender que a obordagem utilizada permitiu a compreenssão
da turma de modo contextualizado, reflexivo e orientado por uma perspectiva crítica, conforme
concebe Guimarães (2004) sobre a EA, dentre outros autores anteriormente citados.
Desde a construção desta proposta é possível perceber objetivos traçados a partir uma
consciência cidadã comprometida com a formação de sujeitos ecológicos, aptos a contribuírem
com a transformação social, como sugere (Carvalho, 2005).
A música e videoclipe utilizados foram relevantes para sugerir aos alunos(as) conceitos,
fatos e fenômenos socioambientais situados no contexto do campo e da floresta amazônica,
servindo, desse modo, para de modo sensível e também crítico, possibilitar o diálogo basilado
pelo saber científico apresentado pela professora, imprescindíveis para uma EA coerente com
a realidade e capacitada técnicamente (Praia; Gil-Pérez; Vilches, 2007).
Além disso, as vivências dos(as) educandos(as) trazidas ao debate por meio de
indagações são pontos importantes a serem destacados enquanto meio de produção de um
conhecimento que não seja abstrato e desconexo do cotidiano da turma. Mas, do contrário, por
ser aquilo que eles(as) conhecem, se tornaram elementos não só para identificaçaõ e reflexão
crítica dos problemas sociambientais, mas também aspirações para intervenções futuras, sendo
isto o que se espera de uma EA, que é crítica e emancipatória (Dotto, 2016).
Ademais, de acordo com o evidenciado pelo relato, o que se concretizou na intervenção
didática-metológica aqui analisada, foi uma tentativa de contrução do conhecimento crítico, e
nesse sentido, ultrapassou abordagens que focam em ações individualizadas, como aquelas
incentivadas pela EA conservadora, conseguindo alcançar reflexões acerca das formas de
produção do sistema capitalista no espaço agrário amazônico, ou seja, sobre as principais
atividades econômicas que tem causado impactos negativos aos territórios, e que são, de fato,
as principais responsáveis pelos atuais problemas sociambientais.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Universidade do Estado do Pará
Centro de Ciências Sociais e Educação
Curso de Licenciatura Plena em Geografia
Campus X – Igarapé-Açu