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Breves Considerações da Prostiuição alinhadas à narrativa dos

movimentos sociais de trabalhadoras do sexo (texto de


apresentação).

Seminário de direitos humanos do curso de Psicologia da Universidade


Nove de Julho, 2021 - São Paulo

Dan Brosko Mendes.

É preciso começar o assunto da prostituição por onde ela não é. Logo que iniciada a
pesquisa para esse trabalho, foi muito confuso entender porquê os posicionamentos acerca
dos direitos dos trabalhadores sexuais eram tão contraditórios entre si na academia. Então
foi optado por um viés de pesquisa e coleta de materiais que visava escutar diretamente os
trabalhadores sexuais e os movimentos sociais organizados dessa categoria, através de um
formulário online, e isso foi o que ajudou a virar muitas chaves sobre esse tema,
principalmente pra não cair no lugar onde o senso comum costuma cair, num lugar
distanciado dos sujeitos e grudado no julgamento, e nem cair num lugar que se descola da
crítica e ignora o assujeitamento desses trabalhadores a um lugar de vulnerabilização.

Então sobre essas chaves, a primeira delas foi compreender alguns sistemas, que embora
se misturem com as vulnerabilidades, são termos que não definem a prostituição, e nem
são definidos por ela. Quando falamos de meninas de 12 anos na beira de estradas do
Recife usando da prostituição para comprar arroz, não estamos falando de trabalho sexual
e consumidor, estamos falando de abuso de menores, de exploração sexual, de uma
normalização do que já está tipificado como crime e nós ainda insistimos em atribuir a um
exercício profissional. Da mesma forma, a exploração e a cafetinagem, assim como a
insalubridade ou o acúmulo de função, são braços da mesma desigualdade, que vai atingir
o mercado sexual, o mercado automotivo, o mercado empresarial, etc.

A exploração sexual é o que vai separar os trabalhadores sexuais em duas categorias, o


profissional do sexo, e a pessoa em situação de prostituição. Quando a única alternativa
possível da pessoa é o trabalho sexual, ela está numa situação de prostituição e não
podemos chamar isso de escolha. O profissional do sexo se caracteriza por prestar serviços
sexuais, e quando eu falo desse serviço, eu coloco aqui como objeto do escambo, a força
de trabalho, e não o meio, o corpo, a dignidade ou a liberdade desse trabalhador.

Já a cafetinagem é uma modalidade da exploração sexual, que se aproveita de uma


demanda por um espaço físico privativo e discreto exigindo parte do lucro dos
trabalhadores, as vezes em proporções desfavoráveis para o trabalhador.

Falar dos trabalhadores sexuais no Brasil ainda é um desafio, não dá para fazer um
mapeamento dessa população utilizando dados internacionais, então os conceitos e dados
que coletamos foram mapeados e propostos pelos próprios coletivos auto-organizados
desses trabalhadores, e alguns de artigos qualitativos.
Então, o que de fato é a protituição, ao desconsiderar os sistemas de opressão e
marginalidade que se correlataão com a prostitução, pode ser apresentado de maneira
simplesta: serviço sexual remunerado, podendo ser com contato físico, telepresencial,
dominação e submissão, striptease, pornografia, etc.

Apesar de simples de ser definida, os “sistemas” da prostituição são mais complexos, são a
organização política e legislativa em torno da questão, que partem de diferentes
perspectivas sobre o objeto da prostituição, a cultura da prostituição, e o exercício
profissional, comercial e social da sexualidade. No modelo abolicionista, há a criminalização
do consumidor, pois subjetiva o corpo e o sujeito enquanto objeto de exploração que não
deve ser comercializado. No modelo liberal, tudo é legalizado, ficando a cargo do prestador
e do consumidor todos os acordos, regras e remuneração. O modelo proibicionista pune
qualquer comercialização sexual, quem oferece e quem consome, justificando seus
argumentos em pautas morais. E o modelo regulamentador coloca o estado como agente
mediador e fiscalizador dos direitos.

Desses 4 modelos, o que os movimentos sociais dos trabalhadores sexuais mais almejam,
é o regulador, pois este seria o modelo com mais estrutura para diminuir as vulnerabilidades
sociais da atualidade. O Brasil atualmente tem um modelo abolicionista muito na teoria,
porque na prática o que acontece é que os estabelecimento pagam a propina da
fiscalização, retendo para esta propina, parte do lucro do funcionário. No fim, se é o
funcionário quem paga por todas as suas condições de trabalho, o modelo está mais
próximo do liberal, mas com o véu moral do proibicionismo.

Slides anexos.

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