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AIRC: Ausência de certidão de quitação eleitoral, contas não prestadas.

[1]

EXMO. SR. DOUTOR JUIZ ELEITORAL DA ª ZONA ELEITORAL DE... (MUNICÍPIO) DO ESTADO
DE ..................

AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO DE REGISTRO DE CANDIDATURA-AIRC [incidente ao Pedido de Registro


de Candidatura 89-63.(....).6.06.0009 (Requerente: ..................)].

Impugnante: Ministério Público Eleitoral.

Impugnado: ...................

O Ministério Público Eleitoral da 9ª Zona Eleitoral do Estado do .................., representado, neste ato,
pelo Promotor Eleitoral que ora subscreve, no uso de suas atribuições legais, com fulcro no art. 127 da
Constituição Federal de 1988, bem como no art. 3º da LC 64/90, c/c o art. 78 da LC 75/93 e c/ o art. 39 da
Resolução TSE nº 23.455/2015, vem respeitosamente para formular, a tempo e modo oportunos, a presente
AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO DE REGISTRO DE CANDIDATURA (AIRC), em face do candidato[2] da
Coligação “.................. de Todos” (PSD/PMB/PP/PR/PDT/PROS/PRP/PC do B/PSDC/PEN/PT), Sr.
.................., número de Registro 55.555, fazendo-o ante as razões fáticas e jurídicas expendidas a seguir.

I. DOS FUNDAMENTOS FÁTICOS E JURÍDICOS DA PRESENTE AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO.


AUSÊNCIA DE QUITAÇÃO ELEITORAL DO CANDIDATO IMPUGNADO.

O Impugnado pleiteou perante o Juízo desta 9ª Zona Eleitoral do Estado do .................. registro de
candidatura ao cargo de Vereador pela Coligação “.................. de Todos”
(PSD/PMB/PP/PR/PDT/PROS/PRP/PC do B/PSDC/PEN/PT), após regular escolha em convenção
partidária, conforme lista publicada nos sítios eletrônicos do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e do Tribunal
Regional Eleitoral do .................. (TRE/CE), bem como constante em edital devidamente publicado.

Em primeiro plano, é de se ressaltar a legitimidade do Ministério Público Eleitoral para interposição da


presente AIRC, nos termos do artigo 3º da Lei Complementar nº 64, de 1990, sendo dispensada, ademais,
oitiva de testemunhas, dado tratar-se de matéria atinente à ausência de requisito formal, relativamente à
eleição proporcional (Vereador do Município de ..................-CE), conforme assim se encontra patente e
documentalmente demonstrado ante a Declaração de Regularidade dos Atos Partidários (DRAP), RRC e
certidões do Cartório Eleitoral, acostados à presente Ação de Impugnação (docs. 01/04).
Como se sabe, com o pedido de registro, devem ser levados à Justiça Eleitoral os documentos enumerados
no art. 11 da Lei nº 9.504/97, dentre os quais se destaca a certidão de quitação eleitoral. Este documento
objetiva assegurar a ausência de anotação, no cadastro eleitoral do candidato, de hipóteses de
descumprimento de obrigações tipicamente eleitorais a todos impostas, como a plenitude do gozo dos
direitos políticos, o exercício do voto, o atendimento às convocações da Justiça Eleitoral para trabalhos
eleitorais (mesários, escrutinadores, etc.), a apresentação de prestação de contas de campanha eleitoral e a
adimplência de multas.

Consta, entretanto, das certidões anexas (docs. 03/04), expedidas pelo Cartório Eleitoral desta 9ª Zona
Eleitoral do .................., que o ora Impugnado – tendo sido candidato nas eleições de .................. – não
apresentou suas contas de campanha à Justiça Eleitoral, nem mesmo após regular notificação para que o
fizesse no prazo de 72 horas, sendo julgadas como não prestadas, em decisão definitiva da Justiça
Eleitoral.

Impende ressaltar, nesse ponto, que a não prestação das contas de campanha, além de constituir óbice à
diplomação do candidato eleito (Lei n.º 9.504/97, art. 29, § 2º), implica em descumprimento de obrigação
político-eleitoral a todos imposta (hipótese de suspensão de direitos políticos na forma do art. 15, IV, da
CF/1988), impedindo a obtenção da quitação eleitoral pelo menos nos 04 (quatro) anos do mandato
disputado, e para além desse prazo, até que as contas sejam prestadas, tudo por força do disposto no art.
73[3], I, da Resolução TSE n.º 23.463/(....), que veio a consolidar o que preconizam as Resoluções n.º
21.823/2004, 21.848/2004, 22.715/2008 e 23.376/2012, todas do TSE.

Ademais, bom lembrar que a Lei 9.504/97, em seu artigo 11, § 7º, inclui, entre os elementos constitutivos do
conceito de quitação eleitoral, “a apresentação de contas de campanha eleitoral”.

Assim sendo, o Impugnado em questão não cumpriu obrigação eleitoral imposta a todos os candidatos,
consistente em prestar as contas relativas à sua campanha eleitoral do ano de .................., incorrendo,
substancialmente, em ausência de quitação eleitoral no período de 1º/01/2015 a 31/12/2018.

Com efeito, aquele que não cumpre suas obrigações eleitorais não está quite com a Justiça Eleitoral e
não está apto à candidatura, por não reunir a plenitude dos direitos políticos.

Constituindo a quitação eleitoral, destarte, requisito indispensável ao registro de candidatura (condição de


elegibilidade infraconstitucional, na visão do próprio TSE), forçoso concluir, portanto, que o indeferimento
do registro do candidato que não apresentou suas contas no prazo legal relativamente às eleições de
.................., em decisão definitiva, é medida que se impõe.

A melhor jurisprudência dos Tribunais Eleitorais pátrios corrobora o quanto disposto nas linhas
antecedentes, a saber:

1) TSE-388-75....................619.0000. ED-REspe - Embargos de Declaração em Recurso Especial Eleitoral


nº 38875- Rio de Janeiro/RJ. Acórdão de 21/10/................... Relator(a): Min. LUCIANA CHRISTINA
GUIMARÃES LÓSSIO. Publicação: PSESS - Publicado em Sessão, Data 21/10/...................

Ementa: ELEIÇÕES ................... RECURSO ESPECIAL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. DECISÃO


MONOCRÁTICA. RECEBIMENTO. AGRAVO REGIMENTAL. DEPUTADO ESTADUAL.
QUITAÇÃO ELEITORAL. NÃO APRESENTAÇÃO DAS CONTAS. AUSÊNCIA. AGRAVO
REGIMENTAL DESPROVIDO. 1. Recebem-se como agravo regimental os embargos de declaração
opostos contra decisão monocrática e com pretensão infringente. 2. O dever de prestar contas está
previsto no art. 28 da Lei nº 9.504/97 e, uma vez descumprido, impõe-se o reconhecimento de que o
candidato está em mora com esta Justiça Especializada, ou seja, de que não possui quitação de suas
obrigações eleitorais (art. 11, § 7º, da Lei nº 9.504/97). 3. Conforme já decidiu o TSE, as condições de
elegibilidade não estão previstas somente no art. 14, § 3º, I a VI, da Constituição Federal, mas também
na Lei nº 9.504/97, a qual, no art. 11, § 1º, estabelece, entre outras condições, que o candidato tenha
quitação eleitoral. Precedente. 4. A exigência de que os candidatos prestem contas dos recursos
auferidos tem assento no princípio republicano e é medida que confere legitimidade ao processo
democrático, por permitir a fiscalização financeira da campanha, verificando-se, assim, eventual
utilização ou recebimento de recursos de forma abusiva, em detrimento da isonomia que deve pautar
o pleito. 5. Embargos de declaração recebidos como agravo regimental, ao qual se nega provimento.

Decisão: O Tribunal, por unanimidade, recebeu os embargos de declaração como agravo regimental e o
desproveu, nos termos do voto da Relatora. (negritos inovados);

2) TSE- 746-73....................607.0000. AgR-REspe- Agravo Regimental em Recurso Especial Eleitoral nº


74673- Brasília/DF. Acórdão de 30/09/................... Relator(a): Min. HENRIQUE NEVES DA SILVA.
Publicação: PSESS - Publicado em Sessão, Data 30/09/...................

Ementa: REGISTRO DE CANDIDATO. ELEIÇÕES ................... DEPUTADO DISTRITAL.


CONDIÇÃO DE ELEGIBILIDADE. QUITAÇÃO ELEITORAL. AUSÊNCIA. NÃO PRESTAÇÃO
DE CONTAS. CAMPANHA PRÉTERITA. 1. A jurisprudência do TSE é firme no sentido de que as
contas de campanha pretérita julgadas não prestadas pela Justiça Eleitoral geram óbice à quitação
eleitoral e ensejam o indeferimento do pedido de registro. 2. Tendo em vista que o candidato teve suas
contas de campanha do pleito de 2010 julgadas não prestadas, fica ele impedido de obter a certidão de
quitação eleitoral pelo curso do mandato ao qual concorreu. 3. Não cabe, em processo de registro de
candidatura, discutir eventual nulidade sucedida no feito alusivo à prestação de contas, “o que somente é
possível de ocorrer nos respectivos autos, mediante os recursos cabíveis ou por meio das vias próprias”
(AgR-REspe nº 625-17, rel. Min. Henrique Neves, PSESS em 20.11.2012). Agravo regimental a que se nega
provimento.

Decisão: O Tribunal, por unanimidade, desproveu o agravo regimental, nos termos do voto do Relator.
(negritos inovados);

3) TSE- 1845-45....................619.0000. AgR-REspe- Agravo Regimental em Recurso Especial Eleitoral nº


184545 - Rio de Janeiro/RJ. Acórdão de 25/09/................... Relator(a): Min. JOÃO OTÁVIO DE
NORONHA. Publicação: PSESS - Publicado em Sessão, Data 25/09/...................

Ementa: AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL ELEITORAL. ELEIÇÕES ...................


DEPUTADO FEDERAL. REGISTRO DE CANDIDATURA. QUITAÇÃO ELEITORAL. AUSÊNCIA.
DESPROVIMENTO. 1. Consoante o art. 53, I, da Res.-TSE 23.376/2012, que dispõe sobre a prestação
de contas de campanha das Eleições 2012, a decisão que julgá-las não prestadas acarretará ao
candidato o impedimento de obter certidão de quitação eleitoral durante o curso do mandato ao qual
concorreu, persistindo os efeitos dessa restrição, após esse período, até a efetiva apresentação. 2. A
apresentação posterior das contas implica a regularização do cadastro eleitoral somente ao término da
legislatura, a teor do art. 51, § 2º, da Res.-TSE 23.376/2012. 3. No caso dos autos, é incontroverso que
as contas de campanha do agravante relativas às Eleições 2012 foram julgadas não prestadas, o que
impede a obtenção da quitação eleitoral para disputar as Eleições ................... 4. O processo de registro
de candidatura não é adequado ao exame da regularidade de intimação relativa ao processo de prestação de
contas que transitou em julgado (AgR-REspe 503-83/PA, Rel. Min. Laurita Vaz, PSESS de 20.9.2012). 5.
Agravo regimental desprovido.

Decisão: O Tribunal, por unanimidade, desproveu o agravo regimental, nos termos do voto do Relator.
(negrito nosso).
II – DO PEDIDO.

Face ao acima exposto, REQUER o Ministério Público Eleitoral que:

a) Seja recebida a presente Ação de Impugnação de Registro de Candidatura e autuada junto aos autos
do Requerimento de Registro de Candidatura (RRC) do Impugnado ..................;

b) Seja determinada a notificação do Impugnado para apresentar Contestação, no prazo de 07 (sete) dias,
nos termos do artigo 4º da Lei Complementar nº 64/90, c/c o artigo 40 da Resolução TSE nº 23.455/2015;

c) Estando a matéria fática provada por documentos, sem necessidade de dilação probatória, seja
JULGADA TOTALMENTE PROCEDENTE a presente Ação de Impugnação de Registro de
Candidatura (AIRC) para INDEFERIR-SE o Pedido de Registro de Candidatura do Impugnado
.................., dado que em desacordo com o disposto no artigo 11, § 1º, VI, e § 7º, da Lei 9.504/97
(ausência de quitação eleitoral por não apresentação de Prestação de Contas de Campanha).

Outrossim, na hipótese de V. Exa entender necessária a produção de novas provas, protesta o Ministério
Público Eleitoral por todos os meios de prova em Direito admitidos, particularmente a juntada
posterior de documentos, com o fim de fazer prevalecer a verdade real dos fatos.

Sem valor da causa. Conforme ensina Francisco Dirceu Barros, Manual de Prática Eleitoral, 2ª edição,
Editora JH Mizuno, São Paulo, (....), “Não há valor da causa nos feitos eleitorais, trata-se, in casu, de atos
necessários ao exercício da cidadania em conformidade com o artigo 1º da lei nº 9.265/1996 (No mesmo
sentido: TSE - Proc. n. 183/96 - Classe XVII - Rel. Juiz Norberto Caruso Mac-Donald - 16.12.96, Arespe -
Agravo Regimental Em Recurso Especial Eleitoral Nº 28335 - Campinas/SP. AC. 16/10/2007. Relator(A)
Min. Carlos Eduardo Caputo Bastos. Publicação: Dj - Diário De Justiça, Volume 1, Data 05/11/2007,
Página 136)”. Ademais, em conformidade com as diretrizes gerais do TSE para a aplicação da Lei nº
13.105, de 2015 – Novo Código de Processo Civil –, no âmbito da Justiça Eleitoral: “Art. 4º Os feitos
eleitorais são gratuitos, não incidindo custas, preparo ou honorários (Lei nº 9.265/96, art. 1º)”.

Local, data e ano.

Assinatura....................................................

[1] Modelo gentilmente cedido pelo amigo Dr. João Batista Sales Rocha Filho, promotor eleitoral.

[2] Compreenda-se a expressão “candidato” como a qualidade daquele que realizou o pedido de registro
de candidatura, uma vez que o momento da impugnação dá-se antes da decisão de deferimento de qualquer
pedido de registro de candidatura, certo que, tecnicamente, ainda não há candidato, mas, isto sim, mero
postulante a candidatura.
[3] Art. 73. A decisão que julgar as contas eleitorais como não prestadas acarreta:

I – ao candidato, o impedimento de obter a certidão de quitação eleitoral até o final da legislatura,


persistindo os efeitos da restrição após esse período até a efetiva apresentação das contas [BRASIL.
Legislação. Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Resolução nº 23.463, de 15 de dezembro de 2015. Publicada
no Diário de Justiça eletrônico do TSE de 29/12/2015. Disponível em <www.tse.jus.br>. Acesso em
21/08/(....)].

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