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INTRODUÇÃO AO TRATAMENTO DE

ÁGUAS RESIDUAIS A PEQUENA


ESCALA

Tópico 1.
Águas Residuais. Indicadores de
Contaminação

Curso financiado pela:

INTRODUÇÃO AO TRATAMENTO DE ÁGUAS RESIDUAIS A PEQUENA ESCALA


Lições do Tópico 1

1. Águas residuais, definição e conceitos


básicos.
2. Indicadores físicos e químicos de
contaminação
3. Indicadores biológicos de contaminação

“A água, dissolvente universal”

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Lição 1.1
Águas residuais, definição e conceitos
básicos

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1.1 Águas residuais, definição e conceitos básicos.

O que são Águas Residuais?


A combinação dos resíduos líquidos ou águas portadoras de
resíduos procedentes tanto de zonas residenciais como de
instituições públicas e outras instalações industriais e comerciais,
aos que se podem agregar, eventualmente, águas subterrâneas,
superficiais e pluviais.
Que problemas causam as águas residuais?
Os elementos contaminantes vazados nas águas residuais de
origem doméstica e/ou industrial criam problemas nos canais
recetores, nas águas subterrâneas e no litoral, causando problemas
sanitários, sociais e econômicos, e contribuindo diretamente a
degradação de muitos dos recursos hídricos.
Como solucionar?
Evacuar as águas imediatamente, sem prejudicar àquele que as
gerou, tratando-as a través de um sistema de saneamento Os resíduos de uma dessalinizadora
adequado para cada caso. “salmouras” não se consideram água
residual a pesar de que podem ter efeitos
O que é “contaminação”? ambientais. Fonte: ITC
Ação ou efeito de introduzir matérias ou formas de energia, ou induzir condições na água que, de um
modo direto ou indireto, impliquem a alteração prejudicial da sua qualidade em relação com os
posteriores usos ou com a sua função ecológica.

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1.1 Águas residuais, definição e conceitos básicos.
Classificação segundo a sua origem:

1. Águas residuais pluviais : São águas provenientes da


chuva. Caracterizam-se por contribuírem na produção de
grandes caudais de forma pontual. A contaminação que provoca
vem originada pela própria contaminação atmosférica (chuvas
ácidas), por sua capacidade erosiva de arrastar partículas e
contaminantes à deriva na superfície, assim como pelas águas
de drenagem (esgotos), por exemplo: perdas da rede de
saneamento.

Os contaminantes das águas residuais a destacar são: resíduos Águas de escoamento nas áreas rurais e urbanas.
Fonte: ITC
sólidos e excrementos abandonados no solo, restos de óleos,
gorduras e hidrocarbonetos devido ao trânsito, terra e areia fruto
da erosão, resíduos de inseticidas, herbicidas e fertilizantes
procedentes da agricultura e jardinagem, etc. E por isso é
fundamental manter a limpeza nas vias públicas, prevenir a
erosão e promover práticas ecológicas no sector agropecuário e
na manutenção das áreas verdes como jardins, praças e
campos de golfe.

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1.1 Águas residuais, definição e conceitos básicos.

2. Águas residuais urbanas: São águas residuais


domésticas ou a mistura de águas residuais domésticas com
águas residuais industriais e/ou águas de escoamento pluvial,
caso não houver redes de esgoto separadas.

Águas residuais domésticas são águas residuais de serviços


e instalações residenciais, essencialmente do metabolismo
humano e das atividades domésticas.

Entre os compostos químicos presentes podem encontrar-se,


entre outros: ureia, albumina, proteínas; bases de sabão e As descargas de águas residuais domésticas podem
ter efeitos diretos sobre o meio recetor . Fonte: ITC
amido; óleos de origem animal, vegetal e mineral; gases
(sulfídrico, metano, etc.); sais; assim como micro-organismos,
restos vegetais e animais.

A contribuição das atividades industriais na composição das


águas residuais urbanas depende principalmente do grau de
industrialização da aglomeração urbana e das caraterísticas
das descargas realizadas na rede de saneamento municipal,
que podem ter uma composição muito variada dependendo
do tipo de indústria.

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1.1 Águas residuais, definição e conceitos básicos.

3. Águas residuais industriais: São todas as águas


residuais provenientes de qualquer tipo de atividade que
não podem ser classificadas como águas residuais
domésticas nem como águas pluviais. Essas águas têm
poluentes próprios dessas atividades de fabricação ou
processado.

A grande variedade e quantidade de produtos que se


liberam obriga a um estudo próprio para cada tipo de
indústria. Existem muitas diferenças entre as atividades
como a alimentação, química, petroquímica, agrícola,
florestal, mineração e metalúrgicas. É necessário analisar as As pequenas atividades agroindustriais como as salas
substancias específicas descarregadas que possam de ordenha e queijarias são fontes de vazados de
dificultar o tratamento biológico ou danificar os materiais de águas residuais que requerem um estudo e
tratamento específico. Fonte: ITC
construção da rede de esgoto.

4. Águas de origem agropecuária: Procedentes das atividades agrícolas e pecuárias. A


contaminação destas águas é muito importante devido a que prejudica as caraterísticas do canal ou
meio receptor. Ademais de conter substâncias idênticas aos vazados de origem doméstica, podem
conter produtos característicos da atividade agrícola tais como: fertilizantes químicos, biocidas, restos
de esterco, resíduos variados, etc. Tem especial incidência na contaminação das águas.

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1.1 Águas residuais, definição e conceitos básicos.

Uma vez abordado o abastecimento de água potável à população em qualidade e quantidade


adequada, surge a problemática das águas residuais que é um fato evidente e presente em todos os
lugares do planeta, dependendo do seu nível de desenvolvimento.

A Organização das Nações Unidas estima que 2.5 bilhões de pessoas carecem de acesso ao
saneamento adequado e em torno a 1 bilhão praticam a defecação ao ar livre. Entretanto, o cenário nos
países desenvolvidos é outro, a quantidade de elementos contaminantes vazados nas águas residuais
domésticas e industriais, se não forem devidamente tratados, geram impactos negativos nos canais
recetores, no litoral e nas águas subterrâneas.

O alcance da problemática é de índole social, econômico e meio ambiental ao atentar contra à saúde
pública, inutilizar os recursos hídricos e deteriorar os espaços contaminados, pelo que o
desenvolvimento de um saneamento básico e um tratamento adequado constitui hoje em dia uma
necessidade de grande importância.
Objetivos do saneamento e tratamento de águas
residuais:
• Proteger o estado ecológico dos meios recetores
(reservatórios, rios, ribeiras, aquíferos, mar, etc..).
• Evitar riscos para a saúde pública.
• Produzir efluentes com caraterísticas físicas, químicas
e microbiológicas aptas para sua reutilização. A proteção do meio é um dos objetivos do saneamento e
tratamento de águas residuais, mas não é o único. Fonte: ITC

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1.1 Águas residuais, definição e conceitos básicos.
Indicadores de contaminação das águas residuais urbanas:
As águas residuais apresentam uma série de caraterísticas físicas,
químicas e bacteriológicas que as diferenciam das restantes
águas. É necessário conhecer estes parâmetros para otimizar seu
manejo, minimizar o impacto e abordar o tratamento. O grau de
contaminação das águas residuais se determina em laboratórios
mediante análises de uma série de indicadores de contaminação.
São muitos os parâmetros que caracterizam uma água residual. A
seguir se explicam os parâmetros indicadores mais comuns
utilizados na gestão das águas residuais urbanas. Os laboratórios dotados de uma equipe
qualificada, equipamento adequado e
disponibilidade de reagentes, é uma peça
Parâmetros físicos Parâmetros químicos Parâmetros fundamental a gestão das águas residuais.
Fonte: ITC
biológicos
Odor Demanda Bioquímica de Bactérias
Temperatura Oxigênio (DBO) Fungos
Densidade Demanda Química de Vírus
Cor Oxigênio (DQO) Flora e fauna
Turbidez Oxigênio dissolvido Protozoários
Sólidos em Nitrogênio Algas
suspensão Fósforo total Parasitas
Gases
pH
Gorduras

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Lição 1.2
Indicadores físico e químicos de
contaminação

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1.2 Indicadores físico e químicos de contaminação
Caraterísticas físicas das águas residuais urbanas (1)
São os que definem as caraterísticas das águas residuais de acordo
com os nossos sentidos. As mais importantes são a cor, odor,
temperatura e presença de sólidos.

Cor: Determina o tempo (idade) da água residual. A água residual


recente costuma ter uma cor cinzenta ou bege claro. Ao aumentar o
tempo de transporte nas redes de esgoto e desenvolver-se em
condições mais próximas às anaeróbicas passa de cinza a cinza
escuro para finalmente adquirir uma cor preta.
Agua residual em condições anaeróbico
Fonte: ITC

Odor: Se produzem pelos gases liberados durante o processo de decomposição anaeróbica (na ausência
de oxigênio) da matéria orgânica. Se as águas residuais são recentes, não apresentam odor desagradável
nem intenso. A medida que passa o tempo aumenta o odor por liberação de gases como o gás sulfídrico
(sulfuro de hidrogênio) ou compostos de amoníaco. O desconforto por odores pode prevenir-se através de
um bom arejamento da água residual no processo de tratamento, confinamento das etapas anaeróbicas
quando sejam necessárias, filtrado e dispersão dos gases emitidos.

Temperatura: A temperatura da água residual costuma ser mais elevada que a do abastecimento. Pode
estar entre 15 e 20 ºC. A temperatura da água é um parâmetro muito importante dada sua influência, tanto
sobre a manutenção da vida aquática e a atividade microbiana quanto sobre as reações químicas e a
velocidade de reação. Além disso, o oxigênio é menos solúvel em água quente que em água fria.

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1.2 Indicadores físico e químicos de contaminação
Caraterísticas físicas das águas residuais urbanas (2)

Sólidos: A quantidade total de matéria sólida contida na água


residual constitui os sólidos totais (ST) compreendendo tanto
os orgânicos (proteínas, hidratos de carbono, gorduras, etc.)
como inorgânicos (minerais, areia, terra, etc.).

Classificação por tamanho e estado:

Sólidos dissolvidos (SD). Não se sedimentam. Encontram-


se em água no estado iónico ou molecular.
Aspecto de águas residuais provenientes de diferentes
Sólidos em suspensão (SS), que podem ser sedimentáveis fases de tratamento, onde conseguem reduzir o nível
de sólidos em suspensão e turbidez. Fonte: ITC
ou não.

Por sua vez, os mesmos grupos podem ser classificados novamente sobre a base da sua volatilidade. Os
termos de voláteis e fixos referem-se a sua parte orgânica e inorgânica, respectivamente.

Turbidez: Mede as propriedades de transmissão de luz de uma água. Indica a qualidade da água em
relação com a matéria coloidal e residual em suspensão. A matéria coloidal dispersa absorve luz impedindo
sua transmissão. Não é possível afirmar que exista uma relação entre a turbidez e a concentração de
sólidos em suspensão de uma água não tratada. É possível relacionar a turbidez e os sólidos em
suspensão no caso de afluentes procedentes da decantação secundária do processo de lodos ativados.

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1.2 Indicadores físico e químicos de contaminação
Caraterísticas químicas das águas residuais urbanas (1)
A água é chamada de dissolvente universal e os parâmetros químicos estão relacionados com a
capacidade da água para dissolver diversas substâncias entre as quais podemos encontrar componentes
orgânicos, inorgânicos e gasosos. Os componentes orgânicos são biodegradáveis. Absorvem de forma
natural até a sua mineralização uma certa quantidade de oxigênio, devido aos processos químicos ou
biológicos de oxidação.
Demanda bioquímica de oxigênio (DBO): Quantidade de oxigênio dissolvido (mg O2/l) necessário para
oxidar biologicamente a matéria orgânica presente na água residual. Indica a matéria orgânica
biodegradável existente na água, traduzido no oxigênio necessário para alimentar os micro-organismos e
as reações químicas. No controlo dos processos de tratamento costuma-se adotar a demanda bioquímica
de oxigênio a uma temperatura média de 20°C durante 5 dias (DBO5). Nesse tempo consome-se
aproximadamente um 70% das substâncias biodegradáveis.

Demanda química de oxigênio (DQO): Quantidade de oxigênio dissolvido consumido pela água residual
durante o processo de oxidação química provocado por uma substância química fortemente oxidante. A
sua determinação é mais rápida do que a correspondente DBO.
DBO5 / DQO Biodegradabilidade
A relação DBO5/DQO indica a biodegradabilidade das das águas residuais
águas residuais urbanas e possibilidade de encontrar
< 0,2 Pouco biodegradável
vazados de origem industrial. A água residual urbana
bruta costuma estar entre 0,35 e 0,45. 0,2 – 0,4 Biodegradável
> 0,4 Muito biodegradável

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1.2 Indicadores físico e químicos de contaminação
Caraterísticas químicas das águas residuais urbanas (2)
A presença de nutrientes nas águas residuais é devida principalmente aos detergentes, fertilizantes e as
excreções humanas. A sua descarga ao meio aquático pode favorecer o crescimento de vida aquática não
desejada, e não só, também a mesma pode provocar a contaminação da água subterrânea.
Nitrogênio (N): É um elemento essencial junto com o fósforo para o crescimento de vegetais (algas e
plantas). O conteúdo total em nitrogênio está composto por nitrogênio orgânico, nitrogênio amoniacal (NH3,
NH4+), nitrito (NO2-) e nitrato (NO3-). Outro indicador que se utiliza é o nitrogênio Kjeldahl que inclui o
nitrogênio orgânico e o amoniacal.

Na figura se ilustram as diferentes


formas de presenciar o nitrogênio na
natureza, junto com os diferentes
mecanismos que vão modificando suas
formas. A idade da água residual pode
medir-se em função da proporção de
amônio presente. No meio aeróbico, a
ação das bactérias pode oxidar o
nitrogênio amoniacal a nitritos e nitratos.
A preponderância de nitrogênio em forma
de nitratos indicando que o resíduo se
estabilizou em relação à demanda de
oxigênio.

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1.2 Indicadores físico e químicos de contaminação
Caraterísticas químicas das águas residuais urbanas (3)
Fósforo total (P): Elemento imprescindível
para o desenvolvimento dos micro-
organismos presentes na água e como
consequência para o processo de
tratamento biológico. Sua presença na
água deve-se às descargas urbanas
(detergentes, fossas sépticas, etc.) e às
descargas da indústria agroalimentar
(fertilizantes, alimentos compostos para
animais, etc.)

É essencial para o crescimento das algas


e outros organismos biológicos. Devido ao
problema que acarreta para as águas
superficiais, crescimento incontrolado das
algas, é de muito interesse limitar a
quantidade de compostos de fósforo nas Ciclo do Fósforo no meio aquático. Fonte: ITC
descargas de águas residuais.

As formas mais frequentes do fósforo em soluções aquosas incluem o ortofosfato, o polifosfato e os


fosfatos orgânicos.

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1.2 Indicadores físico e químicos de contaminação
Caraterísticas químicas das águas residuais urbanas (4)
Gases: As águas residuais urbanas contém diversos gases em diferentes concentrações entre os quais
se destacam: o nitrogênio (N2), o oxigênio (O2), o dióxido de carbono (CO2), o ácido sulfídrico (H2S), o
amoníaco (NH3) e o metano (CH4). Os três primeiros são gases de presença comum na atmosfera, e se
encontram em todas as águas em contato com a mesma. Os três últimos procedem da decomposição da
matéria orgânica presente nas águas residuais.

Oxigênio dissolvido (OD): Fonte de energia dos seres vivos. Este


parâmetro é fundamental para a definição e controlo das águas
residuais. Sua concentração pode diminuir devido à respiração dos
micro-organismos, algas e organismos microscópicos, aumento da
temperatura, reações químicas devido à ação metabólica dos micro-
organismos regidos pela ação enzimática. E pode aumentar devido a
captação do oxigênio através da superfície da interface água-ar, ação
fotossintética das algas, diminuição da temperatura e processos de
diluição. Forçando a introdução do ar
a água residual mantém a
Devido a que evita a formação de odores desagradáveis nas águas concentração de oxigênio
residuais, é desejável e conveniente dispor de quantidades suficientes dissolvido na massa de água a um
nível que promove a oxidação.
de oxigênio dissolvido. Fonte: ITC

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1.2 Indicadores físico e químicos de contaminação
Caraterísticas químicas das águas residuais urbanas (5)
Metano (CH4): É o principal subproduto da decomposição anaeróbica da matéria orgânica da água
residual. O metano é um hidrocarbureto combustível de alto valor energético, incolor e inodoro. Se
produz, sobre todo, nos tratamentos anaeróbicos e de digestão de lodos.

Dióxido de carbono (CO2): Procedente


da respiração dos seres vivos e da
combustão de determinados materiais
orgânicos. Os organismos autótrofos são
os únicos seres vivos capazes de captar o
CO2 do ar ou da água, mediante a
fotossínteses ou a quimiossínteses, para
criar compostos orgânicos, nos quais fica
incorporado o carbono.

Ácido sulfhídrico (H2S): Gás que se


forma num meio anaeróbico (ausência de
oxigênio) pela decomposição de
substâncias que contém enxofre. Sua
presença se manifesta pelo odor
desagradável e o escurecimento que
produz. Outros gases também produzem
Ciclo do Carbono no meio aquático. Fonte: ITC
maus odores.

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1.2 Indicadores físico e químicos de contaminação
Caraterísticas químicas das águas residuais urbanas (6)
pH: Na natureza, assim como nas descargas urbanas e
industriais, encontram-se ácidos e bases que modificam
o pH das águas. As águas urbanas constituem um meio
idôneo para a sobrevivência de micro-organismos porque
tem um pH próximo a 7. Se ocorrem acréscimos ou
retrocessos no valor do pH das águas, é um indício da
aparição de descargas industriais.

Óleos e Gorduras: Englobam as gorduras animais,


óleos, ceras e outros componentes presentes nas águas
residuais. Podem provocar problemas tanto na rede de
esgoto como nas estações de tratamento. Determinam-
Medidor de pH. Fonte: ITC
se pela extração da amostra com um dissolvente
adequado.
Contaminantes emergentes e prioritários:
Alcalinidade
Os hábitos de consumo da sociedade atual
Outros parâmetros Enxofre
geram uma série de contaminantes que
químicos para avaliar a Compostos tóxicos
não existiam anteriormente. Estas
contaminação das águas inorgânicos
substâncias aparecem introduzidas em
residuais e depuradas Metais pesados
produtos de higiene pessoal, limpeza
Cloreto
doméstica, farmacêuticos,…
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Lição 1.3
Indicadores biológicos de
contaminação

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1.3 Indicadores biológicos de contaminação (1)
Micro-organismos patogênicos: Entende-se por patogênicos aqueles organismos causadores de
doenças. Os micro-organismos patogênicos encontrados nas águas residuais podem proceder de
rejeitos humanos que estão infetados, ou que sejam portadores de uma doença determinada. Os micro-
organismos patogênicos bacterianos que habitualmente podem ser excretados pelo homem causam
doenças do aparelho gastrointestinal, tais como febres tifoides ou paratifoides, disenteria, diarreias e
cólera. Devido a que estes micro-organismos são altamente infeciosos, são os responsáveis de milhares
de mortes cada ano em áreas com escasso saneamento, especialmente nos trópicos. Dentro dos
organismos patogénicos, as bactérias são sem dúvida as mais numerosas, mas não são de nenhum
modo os únicos patógenos presentes nas águas residuais.

Tipo de micro- Possíveis agentes patogénicos


A identificação dos organismos patogénicos organismo presentes nas águas residuais
presentes nas águas residuais exige um
Bactérias Escherichia coli, Legionella, Leptospira,
consumo excessivo de tempo devido à Salmonella, Shigella, Vibrio cholerae,
complexidade da analítica. Existe uma Yersinia,…
grande variedade de organismos
Vírus Adenovirus, Enterovirus, Hepatitis,
patogénicos. É por isso que se recorre a Rotavirus, Reovirus,…
organismos indicadores. Na atualidade, o
Protozoários Balantidhtm coli, Crytosporidium,
grupo de bactérias coliformes fecais é a
Entamoeba histolytica, Giardia lamblia
que se utiliza como indicador da presença de
fezes nas águas residuais, e por tanto de Helmintos Ascaris, Enterobius, Fasciola,
Hymenoplis, Taenia, Trichuris,…
organismos patogénicos.

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1.3 Indicadores biológicos de contaminação (2)
As Bactérias encontram na água um meio ideal para sua transmissão, por isso consideram-se bons
indicadores de contaminação. Pode encontrar-se bactérias patogénicas para o ser humano, outras
inócuas e inclusive outras benéficas. O grupo mais utilizado como indicador de contaminação fecal são
as bactérias coliformes fecais. A ausência destas bactérias na água é um indicativo da boa qualidade da
mesma. As bactérias coliformes formam parte da família das enterobacteriáceas e a elas pertencem os
gêneros Escherichia, Klebsiella, Enterobacter y Citrobacter.

Bactéria patógena Doenças Efeito

Escherichia coli* Gastroenterites Diarreia (* habita normalmente no trato gastrointestinal,


entretanto algumas comportam-se como patogénicas
em determinadas condições).

Legionella pneumophila Legionelose Doenças respiratórias agudas

Leptospira (150 esp.) Leptospirose Febre

Salmonella (~1.700 esp.) Salmonelose, Envenenamento de alimentos. Em caso de febre


Febre tifoide tifoide, febre alta, Diarreia, úlceras no intestino delgado

Shigella (4 esp.) Shigelose Disenteria bacilar

Yersinia enterolitica Yersinose Diarreia

Vibrio cholerae Cólera Diarreia aquosa em grande quantidade, desidratação


severa.

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1.3 Indicadores biológicos de contaminação (3)

Os Protozoários são micro-organismos Os Vírus não habitam na flora normal do ser


eucariotas cuja estrutura está formada somente humano, somente no aparelho digestivo de
por uma célula aberta e aparecem com frequência pessoas infectadas, estes são conhecidos como
na água. Alimentam-se de bactérias e outros enterovirus.
micro-organismos microscópicos. Podem provocar gastrenterites, doenças
Os protozoários patogénicos que cobram maior respiratórias, cardíacas, meningite, hepatite,…
importância hoje em dia em relação a Como alternativa à deteção dos próprios vírus,
contaminação das águas são Giardia lamblia e costuma-se utilizar como indicadores de
espécies do género Criptosporidium que contaminação os colifagos, que são muito
provocam diarreias e doenças como a Disenteria. similares aos vírus humanos e habitualmente
Também deve-se levar em consideração seus estão associados à presença destes.
cistos (estruturas resistentes à situações
adversas), especialmente em climas temperados.

Dentro dos Helmintes (vermes parasitas), existem duas classes,


os Platelmintes, vermes planos, como a Taenia, e os Nematodos,
vermes de corpo cilíndrico. Destes últimos, os ascarideos são
parasitas intestinais do ser humano e vários animais domésticos
(cachorros, gatos, porcos, etc.). O ciclo de vida implica a
transmissão por ingestão de ovos procedentes das fezes de outro
hospedeiro, por isso a importância de controlar sua presença nas
Ovo fertilizado de Ascaris lumbricoides.
águas residuais tratadas visando sua posterior reutilização. Fonte: http://commons.wikimedia.org

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1.3 Indicadores biológicos de contaminação (4)

As Algas. Desde do ponto de vista ecológico, os organismos fitoplanctónicos podem apresentar sério
inconveniente nas águas superficiais, já que quando as condições são favoráveis podem reproduzir-se
rapidamente e cobrir rios, lagos e albufeiras com grandes colônias flutuantes, fenómeno que se
conhece como crescimento explosivo ou boom fitoplanctônico. O crescimento explosivo de
microalgas é característico dos lagos com um grande teor dos compostos requeridos para o
crescimento biológico (lagos eutróficos). Por outra parte, o fitoplâncton terá um importante papel nos
sistemas de tratamento natural, por um lado vão consumir os compostos inorgânicos (CO2 e outros
nutrientes) produzidos pela decomposição bacteriana da matéria orgânica e por outro vão transferir
oxigênio ao meio, como subproduto das fotossínteses.

Os Fungos são protistas eucariontes aeróbicos,


multicelulares, não fotossintéticos e quimioheterótrofos. Sua
alimentação baseia-se em matéria orgânica morta.

Com diferença das bactérias


podem crescer e desenvolver-se
em zonas de baixa humidade e
em âmbitos com pH baixos. Sem
a colaboração dos fungos nos
processos de degradação da
matéria orgânica o ciclo do
Boom de microalgas em uma lagoa carbono se interromperia em
eutrofizada. Fonte: ITC Deteção de fungos. Fonte: ITC
pouco tempo.
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1.3 Indicadores biológicos de contaminação (5)
Micro-organismos indicadores da qualidade da água
Cada pessoa despeja de 100 a 400 bilhões de organismos coliformes por dia, além de outras classes de
bactérias. Os organismos coliformes não são daninhos para o ser humano e, de fato, são úteis para
destruir a matéria orgânica nos processos biológicos de tratamento de águas residuais.
Os organismos coliformes fecais utilizam-se como indicadores. Sua presença interpreta-se como uma
indicação de que os organismos patogénicos também podem estar presentes e sua ausência indica que a
água não está afetada por contaminação fecal.
Consideram-se organismos exclusivamente fecais os estreptococos fecais e os coliformes fecais, sendo
Escherichia coli a espécie de coliformes mais representativa das fontes de contaminação fecal. O valor
indicador de cada um deles não é o mesmo, fato que deve-se considerar no momento de interpretar os
exames bacteriológicos. A relação entre os coliformes fecais (CF) e os estreptococos fecais (EF) contidos
em uma mostra pode usar-se para determinar se a contaminação procede de resíduos humanos o
animais.

Material para análise


microbiológico,
processo e placa para
contagem de unidades
formadoras de
colônias (UFC).
Fonte: ITC

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1.4 Valores de concentração representativos de água residual urbana
Parâmetros Forte Média Fraca Parâmetros Forte Média Fraca
Sólidos totais 1000 500 200 Oxigênio
0 0,1 0,2
dissolvido
Voláteis 700 350 120
Nitrogênio
Fixos 300 150 80 86 50 25
total (N)
Sólidos em
500 300 100 Orgânico (N) 35 20 10
suspensão
Amônia livre
Voláteis 400 250 70 50 30 15
N-NH4
Fixos 100 50 30
Nitrito N-NO2 0,10 0,05 0,00
Sólidos
250 180 40 Nitrato N-NO3 0,40 0,20 0,10
sedimentáveis
Fósforo total 17 7 2
Voláteis 100 72 16
Cloreto 175 100 15
Fixos 150 108 24
pH 6,9 6,9 6,9
Sólidos
500 200 100
dissolvidos Graxas 40 20 0
Voláteis 300 100 50 Coliformes
106-108 106-107 105-107
fecais
Fixos 200 100 50
DBO5 / CBO5 a
300 200 100 Na prática, em áreas rurais e de baixo consumo de
20ºC
água, as concentrações podem chegar a duplicar
DQO /CQO 800 450 160 os valores de forte concentração.
Valores en mg/l, exceto pH (adimensional) e Coliformes fecais
(UFC/100ml) www.prodes-project.org
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REVISÃO DE CONCEITOS (1)
• Águas Residuais: Fração líquida que despeja uma comunidade uma vez
contaminada durante os diferentes usos para os quais foi empregada.

• Segundo a procedência incluem-se no conceito de água residual as águas de:


 Drenagem.
 Escoamento.
 Domésticas: fecais, limpeza.
 Industriais: comerciais, industriais.
 Agrárias: agrícolas, pecuárias.

• Os objetivos do tratamento das águas residuais deve garantir:


 A proteção sanitária e do meio ambiente.
 Assegurar o melhor serviço aos usuários.
 A possibilidade de reutilização das águas.

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REVISÃO DE CONCEITOS (2)
• Os parâmetros físicos: São os que definem as caraterísticas da água residual que
respondem aos sentidos da vista e olfato como podem ser os sólidos em suspensão,
densidade, turbidez, cor, odor e temperatura.

• As matérias oxidáveis:
 DBO/CBO. Indica a matéria orgânica (M.O.) que existe na água medindo a
quantidade de oxigênio dissolvido consumido pela água residual durante a
oxidação por via biológica da matéria orgânica.
 DQO/CQO. Quantidade de oxigênio dissolvido que é consumido pela água
residual durante a oxidação por via química provocada por um agente químico
fortemente oxidante.

• Os parâmetros químicos: A água é conhecida como o dissolvente universal e os


parâmetros químicos estão relacionados com a capacidade da água para dissolver
diversas substâncias entre quais podemos encontrar o nitrogênio, fósforo total,
hidróxidos, carbonatos e bicarbonatos, cloreto, gases como o oxigênio, metano,
ácido sulfídrico, gorduras e metais pesados.

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REVISÃO DE CONCEITOS (3)
• Os parâmetros biológicos: Os processos biológicos são tão importante como os
físico e químicos no tratamento de águas residuais.
• As bactérias desempenham um papel importantíssimo nos processos de
decomposição e estabilização da matéria orgânica nas plantas de tratamento.
• Os fungos são capazes de desenvolver-se em zonas de baixa humidade e em
âmbitos com pH baixos. Sua colaboração é fundamental para que não se interrompa
o ciclo do carbono.
• A descarga de afluentes residuais em águas superficiais favorece o crescimento
desmesurado das algas podendo chegar à eutrofização.
• Os protozoários são micro-organismos eucariontes na sua maioria aeróbicos que se
alimentam de bactérias e outros micro-organismos microscópicos, são muito
importante para o bom funcionamento dos tratamentos biológicos e para a
purificação da água.
• As águas residuais contêm uma elevada carga orgânica, bem como grandes
quantidades de bactérias e vírus os quais constituem uma ameaça para a saúde
pública. O seu controlo analítico se realiza através de indicadores de contaminação
fecal, não de forma direta.

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REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
• Metcalf and Eddy. Ingeniería de las aguas residuales. Tratamiento vertido y reutilización. Juan de dios
Trillo Montsouriu Ian Trillo Fox (trad.). Angel Cajigas (prol.). 3ª Edición. Madrid: McGraw Hill, 2000.
1485 p. ISBN: 84-481-1697-0.

• Aurelio Hernández Muñoz. Depuración de aguas residuales. 1ª Edición. Madrid: Paraninfo, S.A., 1990.
902 p. ISBN: 84-380-0040-1.

• Aurelio Hernández Muñoz, Aurelio Hernández Lehmann, Pedro Galán Martínez. Manual de depuración
de Uralita. Sistemas para depuración de aguas residuales en núcleos de hasta 20000 habitantes. 1ª
Edición. Madrid: Paraninfo S.A., 2000. 427 p. ISBN: 84-283-2162-0

• Aurelio Hernández Muñoz. Saneamiento y Alcantarillado. Vertidos Residuales. 6ª Edición. Madrid:


Colección Senior, 2001. 867 p. ISBN: 84-380-0201-3

• Real Decreto Ley 11/1995 de 28 de Diciembre (España).

• Directiva 91/27/CEE del Consejo relativa al tratamiento de aguas residuales urbanas.

• Isabel Martín García (CENTA), Juana Rosa Betancort Rodríguez (ITC) y colaboradores. Guía sobre
tratamiento de aguas residuales urbanas para pequeños núcleos de población. 2006. ISBN: 84-689-
7604-0

• http://www.un.org/spanish/waterforlifedecade/sanitation.shtml

• http://commons.wikimedia.org
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