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Heloíso Gonçalves Barbosa

PROCEDIMENTOS
TÉCNICOS DA
TRADUÇÃO:
Umo novo proposto

3° EDIÇÃO

Pontes
PROCEDIMENTOS
TÉCNICOS DA
TRADUÇÃO:
Uma novo proposto

3a EDIÇÃO

INCLUI POSFÁCIO
Copyright © 1990 - Heloisa Gonçalves Barbosa
Coordenação Editorial: Pontes Editores
Editoração e capa: Eckel Wayne
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PONTES EDITORES
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Dados Internacionais dc Catalogação na Publicação (CIP)

B arbosa, H eloisa G onçalves.

P rocedim entos técnicos da tradução: um a nova proposta


H eloisa G onçalves B arbosa
C am pinas, SP : Pontes E ditores, 2020, 3a edição.

Bibliografia.
ISBN 978-85-7113-032-6

1. T radução e interpretação 2. T radução e interpretação técnica 1. T ítulo

C D D -4 1 8 .0 2
418.02028

índices para catálogo sistemático:

1. T radução : T radução : L ingüística - 418.02028


2. T radução : L ingüística - 418.02
3. T radução : Procedim entos técnicos : L ingüística - 418.02028

2020 - Impresso no Urasil


Heloísa Gonçalves Barbosa

PROCEDIMENTOS
TÉCNICOS DA
TRADUÇÃO:
Uma nova proposto

3a EDIÇÃO

síítjk*
PonU 's
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C o n s e l h o E d it o r ia l :

Angela B. Kleinian
(Unicamp -Campinas)

Clarissa Menezes Jordão


(U F P R ~ C u ritib a)

Edleise Mendes
(UFBA ~ Salvador)

Eliana Merlin Deganutti de Barros


(U E N P -U niversidade Estadual do Noite do Paraná)

Eni Puccinelli Orlandi


(Unicamp - Campinas)

Glaís Sales Cordeiro


(Université de Genève - Suisse)

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(UnB - Brasília)

Maria Luisa Ortiz Alvarez


(UnB ~ Brasilia)

Rogério Ti lio
(UFRJ Rio de Janeiro)

Suzete Silva
(UEL Londrina)

Vera Lúcia Menezes de Oliveira c Paiva


(UFMG - Belo Horizonte)
A
O lésia M aia G onçalves,
m in h a m ãe.
In memoriam

In the beginning was the Word,


and the Word was with God,
and the Word was God.

John 1:1

N o princípio era o V erb o ,


e o V erbo estav a com D eus,
co V erbo era D eus.

Jo ã o 1:1
AGRADECIMENTOS

Ao meu grande amigo e orientador, Prof Dr. Luiz Paulo da Moita


Lopes.

A Celina Engersen, primeira professora de tradução e grande in-


centivadora; à Profa. Dra. Marcella Mortara, por ter-me apresentado ao
texto de Vinay e Darbelnct.

Aos amigos e colegas do Departamento de Letras Anglo-Germânicas


da Faculdade de Letras da IJFRJ.

A Ana Maria Sarda, grande amiga e companheira de todas as ho­


ras. A Mário Galvão de Queirós Filho. A Elisa Salles Novaes. A Maria
Rodrigues de Oliveira.

Ao meu pai, meus irmãos e meus amigos, por terem compreendido


minhas ausências.

A Armando, meu marido, pelo apoio.


SUMÁRIO

1 - INTRODUÇÃO......................................................................................................................11

2 - MODELOS DE TR A D U Ç Ã O ............................................................................................19
2.1 Análise dos m odelos............................................................................................................22
2.1.1 Tradução Direta vs Tradução Oblíqua: O Modelo de Vinay e D arbelnet..............22
2.1.2 Equivalência Formal vs Equivalência Dinâmica: O Modelo de N id a.................... 34
2.1.3 Os Quatro Modelos de C atford.......................................................................................38
2.1.4 Tradução Literal vs Tradução Oblíqua: O Modelo de Vázquez-Ayora................. 46
2.1.5 Tradução Semântica vs Tradução Comunicativa: O M odelo de New m ark............53
2.2 RESUMO DOS MODELOS................................................................................................... 61

3 - PROPOSTA DE CARACTERIZAÇÃO DOS PROCEDIMENTOS


TÉCNICOS DA TRADUÇÃO................................................................................................. 69
3 .1 A tradução palavra por palavra.......................................................................................... 70
3.2 A tradução literal................................................................................................................... 71
3.3 A transposição........................................................................................................................72
3.4 A m odulação..........................................................................................................................73
3.5 A equivalência...................................................................................................................... 74
3.6 A omissão vs. A explicitação.............................................................................................. 75
3.7 A com pensação..................................................................................................................... 75
<.8 A reconstrução dc períodos................................................................................................. 77
í.9 As m elhorias..........................................................................................................................77
<.!() A transferência................................................................................................................... 78
U 0 . I O líslrangcirism o............................................................................................................ 79
V 10.2 A Transi iteração...............................................................................................................80
V 10.3 A Aclimatação...................................................................................................................81
VI0/1 A Transferência com Explicação..................................................................................82
V II A explicação.......................................................................................................................83
I LM ) d ecalq u e.........................................................................................................................83
1,11 A ttdnpUlÇflo..........................................................................................................................84
4 - DUAS PROPOSTAS DE RECATEGORIZAÇÃO OS
PROCEDIMENTOS TÉCNICOS DA TR A D U Ç Ã O .......................................................S7
4.1 A categorização dos procedimentos técnicos da tradução pela frequência de ocorrência... 9 1
4.2. A categorização dos procedimentos técnicos da tradução pela convergência
ou divergência lingüística e extralinguística entre a LO e a L T .....................................100
4.2.1. A convergência do sistema lingüístico, do estilo e da realidade extralinguística........101
4.2.2 A divergência do sistema lingüístico......................................................................... 105
4.2.3 A divergência do estilo .................................................................................................107
4.2.4 A divergência da realidade extralinguística...............................................................108
4.3. Resumo da proposta........................................................................................................ 111

5 - CONCLUSÃO................................................................................................................... 113

UITTRÊNCIAS...................................................................................................................... 123

l»< >SI'ÁCIO........................................ .'.................................................................................... 129

LIS I A Dli SIMBOLOS


LO - Língua original
LT - Língua da tradução
TLO - Texto na língua original
TLT - Texto na língua da tradução
TO - Texto original
1

INTRODUÇÃO

liste trabalho constitui uma pequena tentativa de rccaracterização c


de reeategorização dos procedimentos técnicos da tradução, inicialmente
descritos por Vinay e Darbelnet (1977)1em 1958.
O exercício da profissão de tradutora bem como, mais tarde, do
magistério ligado a esse mesmo ofício, fez-me sentir a necessidade de
efetuar uma reflexão sobre a tradução, assim como de aprofundar meus
conhecimentos a respeito do assunto, através da realização de leituras da
literatura disponível sobre o tema.
Como primeiro passo, através de reflexões sobre meu trabalho e
dos subsídios colhidos na literatura disponível, procurei estabelecer uma
definição de tradução. Concluí que esta se trata de uma atividade humana
realizada através de estratégias mentais empregadas na tarefa de transferir
significados de um código lingüístico para outro, concordando, portanto
com Bordenave (1987, p. 2).
Foi também possível identificar na literatura as principais áreas
de tensão nas diversas reflexões sobre a tradução. A primeira delas se
estabelece em torno da possibilidade ou impossibilidade da mesma (cf.
MOUNIN, 1955, 1975, 1976a e b e 1980, por exemplo). A segunda
detém-se na divergência entre a tradução livre e a literal, que é também
a tensão entre conteúdo e forma, e vem a ser uma discussão constante na
1 A primeira edição desta obra é de 1958. Para este trabalho 1'oi utilizada a edição revista e
aumentada de 1977.

11
literatura, como será visto adiante. A terceira r iillimn pieiulc-se à po­
sição entre a tradução técnica e a literária c se relíele lanío na literatura
(cf. LEFEVERE, 1977; MAILLOT, 1975; PORTIN1IO, 1984; ROCHA,
1982; TATE, 1970; WANDERLEY, 1983, por exemplo), como nas tabe­
las de preços cobradas por tradutores juramentados (cf. Associação dos
Tradutores Públicos e Intérpretes Comerciais - RJ, 1988) e autónomos
(cf ABRATES-RJ, 1988).
Uma vez que é inegável o grande volume de traduções realizadas a todo
instante, em todo o mundo, atualmente, abandonei, de imediato, a ideia de
efetuar minha reflexão no campo da primeira área de tensão - a possibilida­
de ou impossibilidade da tradução - por parecer-me estéril esta discussão.
A oposição entre tradução livre e literal, por outro lado, pareceu-me
uma questão central para qualquer investigação acerca dessa atividade,
pois o que está em jogo aqui é o modo como a tradução deve ser feita ou
não. Além disso, esta questão engloba também a terceira área de tensão,
ou seja, a tensão entre a tradução literária e a técnica, pois esta oposição,
tal como a tensão entre a tradução livre e a literal, é também uma oposi­
ção entre dois “modos de traduzir” (um supostamente adequado ao texto
literário, outro ao texto técnico) que é a questão que desejo tratar, através
dos procedimentos técnicos da tradução.
Para deixar mais claro este ponto, é preciso voltar atrás um pouco,
tcccr algumas considerações de caráter geral e histórico.
Todos - leigos, clientes, consumidores, críticos e tradutores - têm
uma noção instintiva, uma expectativa, daquilo que uma tradução é ou
deve ser: fiel ao original (cf. AUBERT, 1983, p. 3). Para muitos, esta
fidelidade é sinônimo de literalidade, como o cliente que deseja a tradução
de um documento e indaga: “Mas essa tradução que a Sra. faz é literal,
palavra por palavra?” Do mesmo modo, a fórmula para a juramentação
de uma tradução nos Estados Unidos inclui a garantia de que a mesma foi
feita palavra por palavra, “implicando simultaneamente em literalidade e
exaustividade” (AUBERT, 1987, p. 17-18).

12
( lu'i'ii il Inis extremos esln vnloiï/uçiïo da fidelidade à Ibrma que,
assinala Nula ( l%4), allumas populações prelerem que seja dada ao
texlo bíblico uma tradução totalmente fiel à forma, totalmente literal,
mesmo que seu resultado seja uní texto incompreensível para os falantes
da língua da tradução (doravante LT).
A questão da fidelidade, portanto, remete imediatamente à tensão
entre conteúdo e forma: a tradução deve ser literal, palavra por palavra,
mantendo estrita fidelidade à forma, ou deve não se preocupar com a
Ibrma e se manter fiel apenas ao conteúdo, ou deve, ainda, ser alguma
outra coisa?

Esta parece ser a indagação mais antiga acerca da tradução. Já na


Roma Clássica, Cícero (55 a.C), autor de uma das primeiras reflexões
conhecidas a respeito do assunto, foi pioneiro em defender a fidelidade
ao conteúdo em detrimento da forma (cf. NEWM ARK, 1981, p. 4; NIDA,
1964, p. 13).

Mais tarde, no Império Romano cristianizado, em outro dos mais


antigos textos conhecidos sobre a tradução (cf. NEWMARK, 1981, p.
4; NIDA, 1964, p. 13), São Jerónimo (384 d.C), o tradutor-revisor dos
quatro Evangelhos, a denominada Vulgata, em uma carta ao papa Dáma­
so, preocupa-se com aqueles que porventura repudiassem sua tradução,
talvez rompendo “em imediato protesto, gritando que eu, falsário, sou
um sacrílego cuja ousadia chega ao ponto de cm livros tradicionais fazer
acréscimos, mudanças, correções!?” (São Jerónimo, s/d).
Ao meu ver, aí, na verdade, São Jerónimo enumera os procedimentos,
ou modos de traduzir, que utilizou: acréscimos, mudanças e correções,
além da tradução literal, pois, como aponta Newmark (1981, p. 4), São
Jerónimo advogava uma interpretação literal das palavras, a qual, como
mostrei acima, faz parte das expectativas daquele que encomenda a tra­
dução, nesse caso específico, o papa Dámaso.
Assim, uma vez que, novamente de acordo com Bordenave (1987),
considero a tradução como “um fazer, um fazer intelectual que requer o

13
domínio de operações mentais'''' (BORDENAVE, 1987, p. 2), optei por
focalizar minha atenção sobre os procedimentos técnicos da tradução
enquanto desdobramento da questão da oposição entre tradução livre e
literal. Pareceu-me que a definição de procedimentos aplicáveis à prática
da tradução serviria de diretriz tanto para o tradutor como para o aluno.
Nesse campo, sobressai o trabalho de Vinay e Darbelnet (1977) por
terem sido estes dois autores os primeiros (em 1958) a descrever os proce­
dimentos técnicos da tradução2. Sua exposição é objeto dc cursos, desde
os livres até aqueles no nível de pós-graduação, de artigos publicados (cf.
AUBERT, 1978,1981, 1983,1987 e s/d; CAMPOS, 1986a cb; DUTRA,
1983; PAIVA, 1981/82; SANTOS, 1977 e SOUSA-AGUIAR 1980,
por exemplo), de dissertações de mestrado (ALVES, 1983; COELHO,
1988; QUEIRÓS FILHO, 1976, por exemplo) e dc teses de doutorado
(FREGONEZI, 1984, por exemplo) dentro do país, sem falar na atenção
que lhe devota a literatura internacional, onde sua obra é presença quase
constante nas listas bibliográficas de obras publicadas - ou seja, se não
é objeto de discussão direta, é, ao menos, parte das leituras feitas pelos
diversos estudiosos da matéria.
Tendo tomado conhecimento dos procedimentos técnicos da tradução
através das fontes mencionadas no parágrafo acima, minhas leituras em
torno do assunto visaram responder a uma série de indagações a respeito
dos procedimentos técnicos da tradução tal como expostos por Vinay e
Darbelnet ( 1977) e tal como discutidos na literatura disponível. Em pri­
meiro lugar, seriam eles uma chave para a compreensão das operações
mentais envolvidas no ato tradutório? Seriam estes procedimentos apenas
uma série de “boas Meias”, de “achados”, sem status de generalização
suficiente para a formulação de teorias? Ou seriam apenas uma tentativa
ad hoc de descrever os vários problemas que encontra o tradutor no exer­
cício de sua profissão? Até que ponto as teorias lingüísticas mais recentes
utilizadas no trabalho de investigação do ato de traduzir contribuiriam
2 No dizer de Mounin (1975, p. 20), inclusive: ‘Telo que sabemos, J. P. Vinay e J. Darbelnet
foram os primeiros a se dispor a escrever um compcmiio de tradução que reivindicasse um
status científico’’.

14
pina mu onlcndimonlo mais eselarooedoeda concepção inicial de Vinay c
I )arbclnol ( 1977) sobeo os proccdimcnlos técnicos da tradução? Até que
ponto a calcgorização dos procedimentos técnicos da tradução, proposta
por Vinay o Darbelnet ( 1977), e reproduzida nas obras que os seguem, é
útil para o ato de traduzir e, assim, para o ensino da tradução?
Visando responder a estas perguntas, iniciei um exame da literatura
disponível sobre tradução, o que logo me deixou claro qual deveria ser o
en loque a dar à minha reflexão: realizar uma pequena tentativa de recarac-
lerizar e recategorizar os procedimentos técnicos da tradução descritos por
Vinay e Darbelnet (1977) à luz tanto da revisão da literatura disponível,
como de minha experiência como tradutora e professora de tradução.
A prática da tradução c do ensino da matéria já me haviam permiti­
do constatar que a descrição dos procedimentos tradutórios efetuada por
Vinay e Darbelnet (1977) era insatisfatória e incompleta, embora fosse
de relativa simplicidade - pois enumera apenas sete procedimentos, hie-
rarquizados segundo a dificuldade de realização do tradutor (cf. VINAY
c DARBELNET, 1977, p. 46-55).
A experiência de tradutora e professora de tradução e a conseqüente
visão da tradução como uma atividade humana permitem a atribuição de
uma grande importância aos procedimentos tradutórios, que vejo como
uma tentativa de responder à pergunta “como traduzir?”, e de estabelecer
o que de fato acontece no ato da tradução.
A fim de responder à pergunta “como traduzir?”, a literatura dis­
ponível busca subsídios cm várias áreas do conhecimento —análise do
discurso, antropologia ou lingüística antropológica, estética, estilística,
filosofía (especificamente a filosofia da linguagem), informática, in­
teligência artificial, lexicografía, lingüística, lógica, neurofísiologia,
psicolinguística, psicologia cognitiva, semiótica, sociolinguística, teoria
da comunicação e teoria literária, por exemplo (cf. ARROJO, 1988;
BASSNETT-McGUTRE, 1978; BORDENAVE, 1988). Efetua também o
exame de traduções existentes, e de trabalhos de alunos, como método de

15
trabalho para encontrar soluções para o problema que se propõe resolver.
Considero esta metodologia compatível com os métodos da lingüística
aplicada, conforme o exposto em Cavalcanti (1986).
Assim sendo, em vista da importância que atribuí aos procedimentos
técnicos da tradução, e havendo detectado falhas na descrição de Vinay e
Darbelnet (1977), procurei, em uma primeira etapa, subsídios teóricos na
literatura disponível na área da tradução que abordassem especificamente
este assunto, a fim de encontrar soluções para a questão que me propus,
ou seja, responder à pergunta “como traduzir?” através da formulação de
procedimentos técnicos da tradução.
Esta primeira etapa de meu trabalho é apresentada no Capítulo 2
da presente obra, onde faço uma revisão comentada da literatura. Em
primeiro lugar, apresento uma breve descrição desses procedimentos
segundo Vinay e Darbelnet (1977), os pioneiros em efetuá-la, catego­
rizando-os como procedimentos da “tradução direta”, ou da “tradução
indireta” (cf. VINAY e DARBELNET, 1977, p. 46-55). Em seguida,
procurando manter uma ordem cronológica, apresento o modelo de Nida
(1964), que se recorta em vista da tensão entre a “equivalência formal” e
a “equivalência dinâmica” (cf. NIDA, 1964, p. 165-175,225); os quatro
modelos de Catford (1965); o modelo de Vázquez-Ayora (1977), que
revê os procedimentos técnicos da tradução segundo a tensão entre a
“tradução literal” e a “tradução oblíqua” (cf. VÁZQUEZ-AYORA,
1977, p. 257-266); finalizando com o modelo dc Newmark (1981), que
estabelece a tensão entre “tradução semântica” e “tradução comunica­
tiva” (cf. NEWMARK, 1981, p. 38-40).
Em uma outra etapa, utilizei estes procedimentos nas traduções que
realizei (como fizeram SOUSA-AGUTAR, 1980 e CUBRIC, 1984) bem
como nas traduções efetuadas por meus alunos, com minha orientação,
além de detectá-los cm traduções existentes (como fizeram PAIVA,
1981/82; ALVES, 1983; FREGONEZI, 1984eCOELHO, 1988). Assim,
não parti de um corpus delimitado para efetuar minha reflexão.

16
lisia elapa de men Irabalho aparece nesle livro sob a forma dos
exemplos que apresento. Uma parle deles loi retirada da literatura e inclui
exemplos em inglês, francês, espanhol, alemão e hindi. Ao apresentar
minhas formulações, entretanto, procurei apresentar sempre exemplos
retirados diretamente de meu trabalho, a tradução entre o português e o
inglês, acrescentando exemplos cm franccs, espanhol, italiano, alemão c
russo onde se fizeram necessários.
Após percorrer as etapas descritas acima, cheguei à conclusão dc
que os procedimentos técnicos da tradução acrescentados por outros
autores aos descritos por Vinay e Darbelnet (1977), bem como diversas
modificações que fizeram dessa primeira descrição, pareciam ser úteis no
sentido de ampliar o alcance da descrição e de esclarecer melhor o que é
de fato realizado no ato da passagem dc uma língua para outra.
Verifiquei, no entanto, que havia discrepâncias entre as categori-
zações efetuadas pelos autores examinados, englobando divergências
terminológicas e modos diversos de recortar os procedimentos descritos.
Por acreditar que uma recaracterização destes procedimentos, que
aglutinasse de modo coerente às descrições dos autores examinados, ao
mesmo tempo em que eliminasse as discrepâncias encontradas, poderia ser
útil para o tradutor - que encontraria nesses procedimentos recaracteriza-
dos um amplo elenco de modos de traduzir a seu dispor para o professor
e o aluno de tradução - cuja tarefa seria facilitada pela disponibilidade
desses procedimentos - e para futuras pesquisas na área - que contariam
com um novo ponto de partida - é que me propus a tarefa de efetuar uma
recaracterização dos procedimentos técnicos da tradução, cujo resultado
apresento no Capítulo 3 deste livro.
O trabalho que desenvolvi até este ponto permitiu-me também
concluir que as categorizações dos procedimentos técnicos da tradução
propostas pelos autores examinados não refletem o que de fato ocorre
no ato da tradução, nem contribuem para um melhor esclarecimento dos
fatores com que se defronta o tradutor em sua tarefa. Isto porque todos

17
os modelos examinados categorizam os procedimentos técnicos da tra­
dução dispondo-os ao longo de dois eixos diametralmente opostos: o da
tradução literal e o da tradução não literal, reproduzindo a tensão entre
estes dois modos de traduzir, que é a mais antiga controvérsia em torno
da tradução, como foi visto acima.
Diante desta constatação, propus-me também a tarefa de tentar ofe­
recer uma nova proposta de categorização dos procedimentos técnicos da
tradução. Assim sendo, no Capítulo 4 deste livro, discuto duas propostas
de recategorização dos procedimentos tradutórios.
Na primeira delas, efetuei uma tentativa de categorizar os procedi­
mentos técnicos da tradução de acordo com a frequência com que ocor­
rem na tradução, verificada a partir de traduções existentes. Fui, todavia,
obrigada a abandonar esta proposta, pois não encontrei, na literatura
disponível, subsídios para viabilizá-la.
Na segunda, em lugar de se distribuírem ao longo do eixo divisório
entre uma tradução que é literal e outra que não é literal, os procedi­
mentos tradutórios se categorizam de acordo com o grau de divergência
entre as duas línguas que entram cm contato através do ato tradutório. A
tradução literal é vista como uma instância de elevada identidade formal
e cultural entre as duas línguas que se confrontam na tradução. As ins­
tâncias de maior divergência entre as línguas são analisadas como sendo
de divergência lingüística, ou estilística, ou da realidade extralinguística,
dispondo-se os demais procedimentos tradutórios ao longo desses eixos.
Ao meu ver, esta é a categorização mais adequada dos procedimen­
tos técnicos da tradução. Como será visto adiante, no corpo do presente
trabalho, não encontrei na literatura disponível qualquer abordagem que
caracterizasse ou categorizasse os procedimentos tradutórios nos modos
que expus acima.
No Capítulo 5 apresento uma breve conclusão deste trabalho.

18
2

MODELOS DE TRADUÇÃO

I lá milênios a tradução está entre nós, chegando alguns até mesmo a


recorrer ao mito da Torre de Babel para explicar a sua origem (cf. CAM­
POS, 1986a e b). Há muitas centenas de anos também que se escreve
sobre a tradução, podendo-se citar, entre os que o fizeram, Cícero (cf.
NEWMARK, 1981, p. 4; MOUNIN, 1965, p. 31-32), na Antiguidade,
ou São Jerónimo (s/d), o santo patrono dos tradutores, tradutor-revisor
dos quatro Evangelhos (a Vulgata). No entanto, o falar sobre a tradução
viesse este de Drydcn, Pope, Arnold, Proust ou Gide (cf. NEWMARK,
1981; MÓUNIN, 1965; NIDA, 1964; VÁZQUEZ-AYORA, 1977)-e ra
um falar impressionista, em que autores-tradutores beletristas discorriam
sobre suas experiências e impressões ao traduzir e recriar o belo, mas se
mantinham isolados, muitas vezes ignorando o trabalho uns dos outros,
sem que pudessem formar um corpo teórico.
Mas a tradução não se restringe à da palavra divina, da poesia ou da
grande obra literária. No mundo de hoje, na aldeia global forjada pelos
meios de comunicação de massa, ela se torna corriqueira, cotidiana e
fundamental nos mais variados campos do conhecimento e das atividades
do homem.
Assim é que, em 1915, durante as Conferências para a Paz, em
Paris, que geraram a Liga das Nações, ficou evidente a necessidade
de que fossem treinados intérpretes para atuar nas assemblcias dessa
entidade, bem como profissionais que se ocupassem da tradução das

19
enormes quantidades de documentos por ela elaborados. Para que
se treinassem esses profissionais, era necessário um estudo objetivo
daquilo que constitui a tradução e de como esta se realiza (cf. HER­
BERT, 1968).
Os estudos acerca da tradução tomaram maior impulso a partir dos
anos cinqüenta, lindo o conflito da Segunda Guerra Mundial e parcial­
mente superados seus efeitos, através dos esforços pela paz entre os po­
vos, consubstanciados na formação de organismos internacionais, como
a Organização das Nações Unidas, nos quais o francês se viu deslocado
como a língua franca da diplomacia, e nos quais foi dado peso igual aos
idiomas das nações fundadoras, originando, assim, a necessidade de
grande volume de traduções (cf. HERBERT, 1968).
O impacto dessa quantidade de traduções de aplicação prática ime­
diata fez com que a tradução deixasse de ser uma preocupação essencial­
mente de autores-escritores diletantes na área, para inscrever-se na pauta
de estudiosos informados por teorias lingüísticas e, mais especificamente,
na pauta de linguistas aplicados, já que a tradução é uma instância de uso
da linguagem, um caso de interação à distância mediada pelo texto (cf.
CAVALCANTI, 1986, p. 8), envolvendo duas línguas.
Dentre os linguistas que primeiro se ocuparam da tradução está
Mounin (1955, 1975, 1976a e b e 1980), cuja obra se volta consistente­
mente para o tema c que se tomou clássica e fundamental para o estudo
da matéria. Mounin (1975) apoia-se em vários aspectos da lingüística de
seu tempo, funcional e estrutural, inclusive a lingüística antropológica,
c aborda vários aspectos da tradução, até mesmo sua possibilidade ou
impossibilidade, mas logo se rende à evidência da produção nesta ativi­
dade, e afirma: “... tradutores existem, eles produzem, recorremos com
proveito às suas produções” (MOUNIN, 1975, p. 19).
Assim, validada pela sua própria existência, e definida por Mounin
(1975, p. 22) como uma operação lingüística,

20
"pois eoiiipoi lu, I>iiM( iii i h‘i ill*, mi in série tic análises e de ope-
ravoes especilicm nenle d e p en d e n te s da língua e susceptíveis
de serem niais e m elhor esclarecidas pela ciencia lingüística
aplicada corretamente do qu e por qualquer em pirism o artesanal"

¡i tradução conquista definitivamente seu espaço como área de reflexão


e passa a ser objeto de estudo de vários outros linguistas após Mounin,
muitos deles ativos também como tradutores e professores de tradução.
Sendo, portanto, a tradução vista como uma atividade humana, uma
operação lingüística, aqueles que se ocupam dela têm procurado fornecer
uma resposta à pergunta “como traduzir?”. No pensamento tradicional
sobre a tradução, esta resposta era simples: literalmente, fielmente, sendo
esta literalidade e esta fidelidade vistas como sendo primordialmente à
Ibrma do original, relegando seu conteúdo ao segundo plano.
Desde os primordios das reflexões sobre a tradução, no entanto,
houve aqueles que advogavam um modo de traduzir que privilegiasse o
conteúdo e se afastasse da literalidade pura e simples.
r

Não sendo literal, entretanto, como deveria ser a tradução? E como


resposta a esta pergunta, como um modo de justificar a tradução não
literal, que, ao meu ver, surgem, no estudo da tradução, descrições de
procedimentos técnicos. Isto porque a necessidade premente, em todo
o mundo, de traduções para aplicação imediata impede que sejam tão
literais que se.tornem incompreensíveis para o usuário, ou tão livres
que percam seu valor legal ou se efetivem como um outro texto original
(doravante TO), uma recriação 011 paráfrase. Assim, torna-se preciso
que haja parâmetros de execução que validem um determinado tipo de
tradução como sendo funcional, operacional, e que sirva de base para
o ensino da tradução.
É da descrição dc tais procedimentos técnicos da tradução que vão
ocupar-se muitos autores, buscando subsídios na teoria da natureza da
linguagem que goza de maior prestígio em seu tempo, decorrendo dela a
visão que têm sobre como deve ser uma tradução.

21
A esta visão de como deve ser uma tradução denominei “modelo” (ou
paradigma, of. KUHN, 1970), pois é esta concepção que vai determinar
o modo como são categorizados os procedimentos técnicos da tradução,
e também os critérios que são apontados para que sejam selecionados
como válidos em um determinado ato tradutório.
Um trabalho que pretende analisar os procedimentos técnicos da tra­
dução a partir da descrição pioneira de Vinay e Darbelnet (1977) precisa
confrontá-los com o tratamento dado a eles na literatura, por alguns outros
autores. Para fazê-lo, é preciso examinar primeiro os modelos de tradução
dos autores selecionados, bem como examinar os subsídios teóricos que
utilizam para defini-lo, o que passo a fazer em seguida.

2.1 Análise dos modelos

Apresento abaixo uma revisão sucinta dos modelos de alguns auto­


res que selecionei na literatura disponível para cotejar com o trabalho de
Vinay e Darbelnet (1977), com cujos procedimentos técnicos da tradução
inicio miiiha revisão da literatura, passando, em seguida, a uma análise
dos modelos de Nida (1964; NIDA e TABER, 1982), de Catford (1965),
de Vázquez-Ayora (1977), finalizando com Newmark (1981, 1988).

2.1.1 Tradução Direta vs Tradução Oblíqua: O Modelo de Vinay


e Darbelnet

Em 1958, Vinay e Darbelnet publicaram a obra Stylistique compa­


rée du français et de l ’anglais: méthode de traduction, como parte da
série “Bibliothèque de Stylistique Comparée” - que inclui a Stylistique
comparée du français et de l ’allemand, de Malblanc, que é também o
coordenador da série, e Chemins de la traduction: domaine anglais, de
Bonnerot- sendo as obras dessa coleção norteadas pelo trabalho de Bally1
1 Algumas obras de Bally: Traité de stylistique française, Paris, Klincksicck. 1909: Le langage
et la vie. Gcnebra, Alar, 1913; Linguistique générale et linguistique française* Paris, E. Lerous,
1932 (apud DUBOIS et al., 1978), além de ter sido um dos organizadores do Curso de lingüistica
geral, Saussure (1972).

22
11 no, secundo Mal blanc ( 1977, p. 2), “no cxpl ¡citar a teoría lingüística de
I'. de Saussure, criou o estudo da estilística francesa”.

loi, portanto, na lingüística estrutural, saussuriana, e na estilística


que Vinay e I)arbclnet ( 1977) buscaram subsídios teóricos para seu exame
da tradução, além de já mencionarem que a gramática de base gerativa
Iransformaeional poderia ser útil para o tradutor.
Vinay e Darbelnet (1977) trabalham com conceitos saussurianos
tais como “signo lingüístico”, “significado” e “significante”, “valor” e
“significação” (cf. SAUSSURE, 1972). Estes conceitos, além da noção
de arbitrariedade do signo lingüístico (cf. SAUSSURE, 1972), dão-lhes
unia sólida base teórica para justificar sua proposta de afastamento da
tradução literal.
No contexto da obra de Vinay e Darbelnet (1977, p. 32), deve-se
entender estilística segundo a visão de Bally, ou seja, “como catálogo das
Ibrmas elegantes e convincentes” (apud DUBOIS et al., 1978, p. 243).
Vinay e Darbelnet (1977, p. 15) consideram como estilística comparada
aquela “que observa as características de uma língua tais quais se revelam
por comparação com uma outra língua” e relacionam a tradução a “um
caso particular, a uma aplicação prática da estilística comparada” (VINAY
e DARBELNET, 1977, p. 20).
Isto fica claro já no prefácio da obra, com o exemplo de traduções
encontradas em placas de sinalização cm estradas canadenses, oferecido
pelos autores: a placa SLIPPERY WHEN WET, em língua inglesa, foi
traduzida para o francês como GLISSANT SI HUMIDE. Esta tradução,
no entanto, como a de outras placas de sinalização encontradas nessas
estradas, consideram Vinay e Darbelnet (1977, p. 17), “são muito claras,
muito corretas, mas não é assim que seriam redigidas em francês”. A
forma usada na França para a placa citada é CHAUSSÉE GLISSANTE
(cf. VINAY e DARBELNET, 1977, p. 17-22), correspondendo-lhe, em
português, a forma PISTA ESCORREGADIA, como se vê nas estradas,
no Brasil.

23
É visando a, na tradução, produzir um texto idêntico ao que “sairia
espontaneamente de um cérebro monolingue, em resposta a uma situação
comparável sob todos os pontos de vista”, o que implicaria em um afasta­
mento da tradução apenas literal - que nem sempre teria como resultado
a forma mais natural, tal como definida acima - , que Vinay e Darbelnet
(1977, p. 46-55) enumeram os procedimentos técnicos da tradução.
Para Vinay c Darbelnet (1977, p. 46-55), os procedimentos técnicos
da tradução distribuem-se ao longo de dois eixos, o da tradução direta e
o da tradução oblíqua como se vê no quadro abaixo:

EMPRÉSTIMO
TRADUÇÃO DIRETA DECALQUE
TRADUÇÃO LITERAL

TRANSPOSIÇÃO
MODULAÇÃO
TRADUÇÃO OBLÍQUA
EQUIVALÊNCIA
ADAPTAÇÃO

A tradução direta, para Vinay e Darbelnet (1977, p. 46) é o mesmo


que tradução literal, ou palavra por palavra, tanto mais possível quanto
maior for a semelhança entre as duas línguas em questão, como no caso de
línguas de mesma família, ou seja (VINAY e DARBELNET, 1917, p. 46):

quando a m ensagem da LO (língua original) se deixa passar


perfeitam ente para a m ensagem da LT (língua da tradução), pois
repousa seja cm categorias paralelas (paralelism o estrutural),
seja sobre concepções paralelas (paralelism o extralinguístico).

A tradução oblíqua, por outro lado, é aquela que não é literal. Isto
porque há casos em que a tradução literal não é possível pois, segundo
Vinay e Darbelnet (1977, p. 49), o texto que produziria na LT poderia:

24
¡i) 1er simililleudo diverso do original,
h) nao 1er significado,
c) ser eslruluralmenle impossível,
d) nao 1er correspondência no contexto cultural da LT,
e) 1er correspondência, mas não no mesmo registro.

Considero possível afirmar que os itens expostos acima consti-


lucm um teste de viabilidade da tradução literal a qual, desta maneira,
constituiria um procedimento pré-tradutório: o tradutor faria a tradução
li feralmente, aplicaria o teste e, resultando impossível a tradução literal,
passaria a empregar procedimentos mais complexos.
Um exemplo poderá esclarecer melhor. A frase em inglês “Paul
kicked the ball” permite tradução literal, palavra por palavra, em por-
Uiguês, como se vê abaixo:

Paul kicked the ball.


J' 'L 'L 'L
Paulo chutou a bola.

No entanto, a frase inglesa “Paul kicked the bucket” não permite


tradução literal, palavra por palavra, pois esta, “Paulo chutou o balde”
não corresponde ao significado da LO, que é “Paulo morreu” ou, para
manter o mesmo registro, como recomendam Vinay e Darbelnel (1977,
p. 33-34), “Paulo bateu as botas”, ou “Paulo abotoou o paletó”.
Assim, sendo impossível a tradução literal, será necessário recorrer
à tradução oblíqua, ou seja, àquela que utiliza recursos lexicais ou sintéti­
cos diversos daqueles empregados no texto da LO (doravante TLO), quer
dizer, que altera a forma, mas sem alterar o conteúdo, ou a mensagem.
E dentro desse contexto, portanto, que Vinay e Darbelnet (1977, p.
46-55) categorizam os procedimentos técnicos da tradução, ordenando-os
segundo a dificuldade de execução pelo tradutor: quanto mais próximos

25
da LO, mais fácil sua realização, estando, assim, os pi imciros o emprés­
timo, o decalque e a tradução literal - no âmbito da tradução direta, e os
demais - a transposição, a modulação, a equivalência e a adaptação ,
no âmbito da tradução oblíqua, que é a que, em busca do sentido, mais
se afasta da forma do TLO e, portanto, seria mais difícil para o tradutor.
O primeiro procedimento da tradução direta, o empréstimo, é o mais
fácil de todos, segundo Vinay e Darbelnet (1977), pois consiste em co­
piar, ou utilizar a própria palavra da LO no texto da LT (doravante TLT).
Vinay e Darbelnet (1977) afirmam que este procedimento deve ser usado
quando não houver, na LT, um significante que tenha o mesmo significado
expresso pelo significante empregado no TLO, como no exemplo abaixo
onde, não tendo a língua francesa um posto equivalente ao do coroner2
anglo-saxônico entre seus magistrados, foi realizada a tradução através
de um empréstimo (cf. VINAY e DARBELNET, 1977, p. 47):

The coroner spoke.


I
Le coroner prit la parole.

Vinay (1968, p. 737), em um artigo que retoma a discussão sobre


os procedimentos técnicos da tradução, assim define este procedimento:

O texto na LO pode conter um termo novo, para o qual a LT ainda


não possui equivalente. D e preferência a recorrer a um a definição
ouexplicação, o tradutor pode utilizarpura e simplesmente o termo
da LO, que se torna, daí po r diante, um empréstimo.

Dcstc modo, o empréstimo, segundo a definição de Vinay e Darbelnet


(1977) e de Vinay (1968), não poderia ser classificado entre os proce­
dimentos da tradução direta (q.v. página 24 acima), pois expressa não
um paralelismo, mas uma divergência extraiinguística entre a LO e aLT.

2 "Magistrado encarregado de investigar casos dc morte suspeita” (cf. HOUASSIS c AVERY,


1981, p. 133).

26
I)c Jiilo, de acordo com a definição de Vinay. e Darbelnet (1977),
o empréstimo não constitui uma tradução. Não corresponde à definição
de Iradução oferecida por Catford (1965, p. 20, q.v. 2.1.3, p. 35), que é:
“substituição de material textual em uma língua (LO) por material textual
equivalente em outra língua (LT)”. Na verdade, o empréstimo é a manu-
lenção tie material textual da LO na LT.
Aparentemente, para Sousa-Aguiar (1980, p. 50), a colocação
do empréstimo como procedimento anterior à Iradução literal também
pareceu inadequada, pois inicia seu comentário do modelo de Vinay e
Darbelnet (1977) pela descrição da tradução palavra por palavra.
Vázquez-Ayora (1977) vai ainda mais longe, eliminando de seu modelo
lauto o empréstimo como o decalque.
Vinay e Darbelnet (1977) consideram o segundo procedimento da tradu­
ção direta, o decalque, como um caso particular do empréstimo. Isto porque
o empréstimo refere-se a palavras isoladas, enquanto o decalque cstcnde-sc
aos sintagmas.
Para Vinay e Darbelnet (1977), há dois tipos de decalque. O primei­
ro, chamado decalque de expressão, utiliza palavras já existentes na
língua da tradução, respeitando também sua estrutura sintética, o que é
exemplificado por Vinay e Darbelnet ( 1977, p. 47) como aparece abaixo:

Season ’s Greetings.

Compliments de la Saison.

27
Já o segundo tipo, chumado de ikralquc de estrutura, iililizu as pala­
vras da LT, embora em construções sintéticas estranhas a ela, como no
exemplo abaixo, fornecido por Vinay e Darbelnet ( 1977, p. 47):

science-fiction
I ' 1
science-Jidion

onde a tradução do sintagma inglês em francês é um decalque em que


foi desrespeitada a estrutura sintática da língua francesa que, nesse caso,
exigiria a pós-posição de um adjetivo flexionado, ao passo que, em inglês,
o adjetivo é anteposto ao substantivo e invariável.
Existe algum conflito, na literatura disponível, em tomo da definição
de decalque por Vinay e Darbelnet (1977). Em Vinay (1968, p. 739) e Dutra
(1983a, p. 88), o decalque é definido como o procedimento através do qual
“a palavra ou expressão é adaptada à ortografia da LT : futebol, líder, buque,
uísque, fim de semana”. Os quatro primeiros exemplos citados são, na re­
alidade, casos de aclimatação {q.v. 3.10.3), sendo o último (fim de semana)
um caso de decalque tal como definido por Vinay e Darbelnet, mas não um
caso de aclimatação. Esta controvérsia será abordada novamente em 4.1.
Considero também inadequada a colocação do decalque como
procedimento da tradução direta, pois este é usado em conseqüência
de divergências entre as duas línguas cm confronto no ato da tradução.
Segundo Vinay e Darbelnet (1977), este procedimento introduz na LT
“novos modos de expressão”, o que está em desacordo com sua definição
de tradução direta (q.v. página 24 acima), onde, na verdade, tal procedi­
mento nunca seria necessário.
O terceiro e último procedimento da tradução direta é a tradu­
ção literal, ou palavra por palavra. Segundo Vinay e Darbelnet (1977,
p. 49), este procedimento deve ser usado sempre que seu resultado for
um texto correto e que respeite as características formais, estruturais e
estilísticas da LT.

28
him Vinay e Darbelnet (1977), a tradução literal c, cm principio,
uma soluçào completa cm si mesma, única c reversível, pois a retra-
diiçíío (cria como resultado precisamente o texto original.3 Oferecem o
NCjuimle exemplo (cf. VINAY e DARBELNET, 1977, p. 48):

/ left my spectacles on the table downstairs.


u u u î i îi îi n î i
J'ai laissé mes lunettes sur la table en bas.

O primeiro procedimento da tradução oblíqua, a transposição,


consiste em um afastamento, no plano sintático, da forma do TLO. Assim,
um significado que era expresso no TLO por um significante de uma de­
terminada categoria gramatical (parte do discurso), passa a ser expresso, no
TLT, por um significante de outra categoria gramatical, sem que, com isso,
lk|iie alterado o conteúdo, ou a mensagem, do TLO.
Vinay e Darbelnet (1977) oferecem vários exemplos de trans­
posição, já que este procedimento pode envolver vários pares de
categorias gramaticais, dentre estes o que se vê abaixo (cf. VTNAY e
DARBELNET, 1977, p. 97), tirado de uma manchete de jornal:

Situation still critical (still - advérbio)


I
La situation reste critique (reste - verbo)

Observe-sc que, no exemplo acima, a transposição foi uma esco­


lha do tradutor, já que haveria outras possibilidades de tradução (por
exemplo, La situation est toujours critique), fato que não é levado em
consideração por Vinay e Darbelnet (1977), podendo-se supor que a opção
foi feita em vista de a primeira versão, mais curta, ser mais adequada a
uma manchete de jornal.
3 Newmark ( 1(>81,1988 ) refere-se a esta relxadução como back translation test, que demonstraria
ser uma traduçao a melhor possível, em termos de ser fiel ao mesmo lempo ao conteúdo e à
forma do original.

29
I lá casos, porém, cm que a transposição é obrigatória, como no exem­
plo da tradução dofrancês para o inglês citada por Vinay e Darbelnet ( 1977,
p. 50), uma vez que o inglês não possui uma outra construção equivalente
mais próxima do original em franccs:

des son lever (lever - substantivo)


'L •1'

as soon as he gels up (gets - verbo)

O segundo procedimento da tradução oblíqua é a modulação. Neste


caso, há uma mudança de ponto de vista, ou de foco, na expressão da mensa­
gem em cada uma das línguas envolvidas na tradução.

IJm dos exemplos oferecidos por Vinay e Darbelnet (1977:89) pode


esclarecer melhor este procedimento:

jusqu a une heure avancée de la nuit.


I
until the small hours o f the morning.

Neste exemplo, embora os segmentos textuais nas duas línguas


estejam-se referindo ao mesmo espaço de tempo, entre uma e três horas
da manhã, pode-se dizer, o trancês refere-se ao período como noite, en­
quanto o inglês refere-se a ele como manhã, ou seja, cada língua privilegia
um aspecto diferente da mesma realidade. Assim, na tradução, é preciso
lidar satisfatoriamente com este fato, abandonando a tradução literal para
preservar o sentido da mensagem.
O terceiro procedimento da tradução oblíqua é a equivalência. Esta
é utilizada em casos onde as duas línguas em confronto dão conta
da mesma situação através de meios estilísticos e estruturais totalmente
diversos. Assim sendo, será empregada primordialmente para a tradução

30
do repeilório fraseológico, clos idiotismos, clichés, proverbios, interjeições
c onomatopéias.

( )s provérbios em geral constituem exemplos perfeitos da equiva­


lencia, pois encerram uma mensagem total em si mesmos, permitindo
uma operação de equivalência, já que os povos criaram provérbios cujo
referencial se encontra em sua realidade extraiinguística particular que,
muitas vezes, será incompreensível para falantes de outras línguas, os
quais terão gerado seus provérbios particulares, baseados em sua própria
ienIklade extralinguística.
Vinay e Darbelnet (1977, p. 52) citam vários exemplos de
equivalencia, dentre eles o reproduzido abaixo:

too many cooks spoil the broth


deux patrons font chavirer la barque

A mesma idcia é expressa, por equivalência, tradicionalmente, em


português, por “panela que muitos mexem ou sai salgada ou sai sem
sal” ou por outras formas aproximadas. É possível, também, realizar
esta equivalência trazendo-a mais para perto de uma realidade brasileira
propriamente dita: “muito cacique para pouco índio”.
A adaptação, o último procedimento da tradução oblíqua, é tam­
bém o limite extremo da tradução. Aplica-se em casos onde a situação
extralinguística a que se refere o TLO não existe no universo cultural
dos falantes da LT, devendo, portanto, ser recriada através de uma outra
situação, que o tradutor julgue equivalente, no contexto extra-linguístico
da LT. Trata-se, portanto, de um caso particular da equivalência, uma
equivalência de situação.
Um dos exemplos oferecidos por Vinay e Darbelnet (1977, p. 53)
é reproduzido a seguir:
he kissed his daughter on the mouth
il serra tendrement sa fille dans ses bras

31
Neste caso, o anglo-saxônico beijo que o pai dá à filha na boca é subs­
tituído por um terno abraço em francês, já que na cultura dos povos falantes
deste segundo idioma não existe o primeiro comportamento.
Ao descrever estes procedimentos, Vinay e Darbelnet (1977) deixam
claro também que, em um determinado segmento de texto, poderão ser
usados, concomitantemente, mais de um procedimento técnico da tradu­
ção, como pode ser visto em um dos exemplos citados acima (q.v. p. 29):

A B C D E F G

jusqu ’à une heure avanceé de la nuit

until the sm all** hours of lhe morning

Onde A e E são traduções literais. B é uma transposição de artigo


indefinido para artigo definido, C é uma tradução literal, mas com um
deslocamento obrigatório de posição dentro do sintagma nominal (pós-
posição do adjetivo flexionado em francês e anteposição do adjetivo
invariável no inglês), além de uma modulação de singular para plural.
D é uma modulação onde se encontram também alterações estruturais
obrigatórias, ou seja, a pós-posição do adjetivo e sua concordância cm
gênero e número no francês. F é uma tradução ao mesmo tempo lite­
ral e que envolve uma transposição obrigatória do artigo definido de
gênero feminino singular em francês para o artigo definido invariável
em inglês. Em G encontra-se novamente uma modulação.
Vinay e Darbelnet (1977, p. 54) citam ainda um exemplo onde vários
procedimentos tradutórios se realizam no interior da tradução de um só
pequeno segmento textual (que, no caso, pode ser considerado como um
texto completo em si mesmo):

32
m I VATh:
DEb'ENSE I) ’ENTER

lisias seriam placas encontradas pregadas na porta de um gabinete


pari ¡ciliar. A tradução do inglés para o francês é uma transposição, pois o
adjetivo se transforma em sintagma nominal; uma modulação, porque se
passa dc uma constatação a uma ordem; finalmente, é uma equivalência
pois a tradução é feita tendo-se em vista a situação sem preocupação de
manter-se a estrutura sintética do TLO.
Além desta concomitância de ocorrência de procedimentos, Vinay
c Darbelnet (1977) abordam também outros procedimentos auxiliares,
embora discutam-nos fora do quadro de procedimentos técnicos da tra­
dução que expõem. Estes procedimentos são analisados de modo ad hoc
quando os autores aplicam os procedimentos técnicos da tradução
aos três planos onde consideram que a tradução se realiza: o lexical, o
sintético e o da mensagem.
Estes procedimentos auxiliares não são analisados neste ponto do
presente trabalho, pois foram revisados e expandidos por Vazquez-Ayora
( 1977), e são examinados quando da revisão do trabalho deste autor (q.v.
2.1.3).
Através do breve exame dos procedimentos técnicos da tradução,
segundo Vinay e Darbelnet (1977), feito acima, pode-se concluir que, para
estes autores, a tradução literal ocupa uma posição privilegiada, embora
sujeita a certos limites: o tradutor deve afastar-se dela quando este proce­
dimento for invalidado pelo teste apresentado na página 24, onde pode-se
dizer que está também implícita a noção de erro na tradução.

33
Observe-se que, nesse tesle, estão colocados, os principios que
norteiam a tradução para Vinay e Darbelnet (1977). () primeiro deles é a
manutenção do significado do TLO ao passar para a LT. Estaria ai defi­
nida sua noção de fidelidade: ao conteúdo, mas também à forma, já que o
tradutor só deve afastar-se da tradução literal quando esta for impossível
por ir contra os princípios e normas que regem a LT, sua estrutura e seus
registros, ou quando não houver correspondência no contexto cultural
da LT para o contexto gerado pelo TLO.
Esta atitude diante da tradução deve-se, em parte, à preocupação esti­
lística de Vinay e Darbelnet (1977). Sua obra é um compêndio de estilística
comparada, um cotejamento entre as formas ideais encontradas cm duas
línguas. Portanto, em seu ponto de vista, a tradução não pode ser efetuada
de modo que contrarie aquilo que, na sua concepção, é o estilo (q.v. p. 22)
da língua para a qual é feita.

2.1.2 Equivalência Formal ws Equivalência Dinâmica: O Modelo de Nida

Lançando mão de sua grande experiência como tradutor da Bíblia,


no âmbito da United Bible Societies que, até o final de 1968, já havia
trabalhado com 1393 línguas (cf. Nida e Taber, 1982, vii), Nida (1964
e 1966) escreve sobre a teoria e a prática da tradução. Busca subsí­
dios teóricos na gramática de base gerativa transformacional e, como
Chomsky (1957), considera a língua como “um mecanismo dinámico
capaz de gerar urna série infinita de enunciados diversos” (cf. NIDA,
1964, p. 9). Acredita que esta visão gerativa da língua é fundamental
para o tradutor, pois este, ao traduzir de uma língua para outra, deve ir
além da simples comparação das estruturas correspondentes nas duas
línguas - comparação feita por Vinay e Darbelnet (1977, q.v. 2.1.1). O
tradutor deve também procurar descrever os mecanismos por meio dos
quais a mensagem total veiculada através de um texto é decodificada,
transferida c transformada nas estruturas de outra língua (cf. NIDA,
1964, p. 9).

34
Vendo ¡i línj',un como um “código comimiciilivo," Nida (1964, p.
10) procura oslabeleeer a nalure/a do significado. Para islo, busca sub­
sidios na semántica e na pragmática, mais especilicamcnte no trabalho
de Katz e l’otlor ( 1962, 1963), quando explicita o “dicionário” de que
dependem para a descrição dos traços semânticos (cf. NIDA, 1964, p.
39), cuja formulação poderia ser útil para o tradutor no estabelecimento
de equivalencias lexicais de uma língua para a outra.
Também as funções da linguagem descritas por Jakobson (1980)
são utilizadas por Nida (1964, p. 45-46) em sua análise, no sentido de
determinar quais funções da linguagem estão presentes no TLO e se são
as mesmas existentes no TLT após o processo tradutório.
Desta visão da linguagem resulta o primeiro “modelo operacional” da
Iradução, segundo a proposta de Nida (1964, p. 68), dividido em três etapas:
I ) redução do texto original a seus núcleos {kernels, cf. CHOMSKY, 1957)
mais simples e semánticamente mais evidentes; 2) transferência do signi­
ficado da LO para a LT em um nível estruturalmente simples c 3) geração
de uma expressão estilística e semánticamente equivalente na língua da
Iradução (cf. NIDA, 1964, p. 68). Afuma aínda que o tradutor realmente
competente traduz “unidades de significado” (cf. NIDA, 1964, p. 68), não
se ocupando apenas em reproduzir “unidades estruturais”.
Nida (1964) aplica, aqui, àtradução, o modelo da gramática de base
gerativa transformacional. Trata-se de uma explicitação teórica daquilo
que o tradutor faz. Pode-se dizer mesmo que seria uma visão em câmera
lenta do que se passa na cabcça do tradutor no ato de traduzir. Não encon­
trei, no entanto, qualquer subsídio na literatura disponível para afirmar
que esta fosse realmente uma descrição satisfatória dos processos mentais
que ocorrem no ato da tradução.
Segundo o próprio Nida (1964, p. 145), para efetuar tal descrição,
seriam necessários subsídios da psicologia e da neurologia, ciências que
“não sabem precisamente o que ocorre na mente do tradutor quando este
traduz”.

35
Retomando sua visão da língua como eódigo comunicativo, Nid;i
(1964, p. 120-144) volta-se para a teoria da comunicação, na qual o
tradutor e o leitor da tradução podem ser considerados como elementos
atuantes em um ato comunicativo (cf. ZAGURY, 1975, p. 105-106), bem
como a tradução uma etapa dele, como no gráfico apresentado abaixo que
elaborei para ilustrar este ponto:

f o n t e I—> MENSAGEM. RECEPTOR MENSAGEM, RECEPTOR,

FONTE = autor do TLO MENSAGEM, = TLT (equivalente à MENSAGEM,)


MENSAGEM ( = TLO
RECEPTOR 1= tradutor RECEPTOR 2= o leitor do TLT

Nida (1964, p. 120) considera esta análise como tendo especial im­
portância para a tradução, pois vê a produção de mensagens equivalentes
(a MENSAGEM[ e a MENSAGEM2 não são iguais, mas equivalentes)
como um processo não apenas de encontrar equivalentes para segmentos
de enunciados, mas como um processo de reprodução do caráter dinâmico
global da comunicação.
Assim sendo, Nida (1964, p. 156) considera que há três fatores bá­
sicos a serem avaliados antes de se efetuar uma tradução: 1) a natureza
da mensagem, 2) o objetivo ou objetivos do autor e, consequentemente,
do tradutor e 3) o tipo de público visado pelo original e pela tradução.
A partir daí, o que se deve buscar na tradução é a maior equivalência
possível entre a MENSAGEM i c a MENSAGEM^, 2 afirma Nida (1964,
p. 159). mas considerando que há dois tipos fundamentais diversos de
equivalência: uma que pode ser chamada de formal e outra que é primor­
dialmente dinâmica.
A equivalência formal é centrada no conteúdo e na forma da MEN­
SAGEM!, o texto original. Neste tipo de tradução, a preocupação está
em manter a correspondência estilística, a correspondência de frase para
frase e de conceito para conceito entre o TLO e o TLT. Encarada com
esta orientação formal, a tradução precisa gerar um TLT que corresponda

36
o milis possível ¡ios diversos elem entos lingüísticos c extralinguíslicos
contidos no TLT.

Já a equivalência dinâmica tem como meta atingir urna total natu­


ralidade na expressão da MENSAGEM , o TO, na LT e tenta transpor
o TLO para a LT de tal modo que o leitor encontre no TLT modos de
comportamento e outros elementos exlralinguísticos relevantes cm sua
própria cultura; não insiste que ele compreenda padrões culturais do
contexto da LO a fim de poder compreender a mensagem.
Assim, de acordo com este modelo, a tradução deve almejar ao
“efeito equivalente” que, segundo Nida (1964, p. 159), foi enunciado por
Rieu e Phillips (1954, apud NIDA, 1964, p. 159),4ou seja, a tradução teria
sobre seu leitor o mesmo efeito que teve o TO sobre seu leitor.
Mas isso nem sempre c possível5 ou desejável, como no caso das
populações mencionadas por Nida (1964) que, mesmerizadas pelo TLO,
preferem uma tradução totalmente literal, mesmo que não compreendam
seu significado. Nida (1964,1966) não enumera procedimentos técnicos
da tradução nos moldes do que fazem Vinay c Darbelnet (1977, q.v.
2.1.1). Nida (1964) discute procedimentos técnicos da tradução, embora
não de modo ordenado, dificultando uma apreciação sucinta dos mesmos,
observação já feita por Vázquez-Ayora (1977, p. 6).
Há considerável superposição entre os procedimentos descritos ao
longo de sua obra por Nida (1964, 1966) e por Vinay e Darbelnet (1977)
a quem Nida (1964) cita e cujos exemplos utiliza em seus comentários.
Assim, por causa da dificuldade de elencar os procedimentos abor­
dados por Nida ( 1964, 1966), estes não são apresentados a esta altura, no
presente trabalho, mas serão mencionados sempre que forem necessários
para esclarecer melhor minha proposta.
4 RIEU, E. V. e PHILLIPS, J. B. Translating the Gospels. Concordia Theol. Monthly 25:754-765.
1954. Apud Nida (1964, p. 159).
5 Segundo Arrojo ( 1986, p. 22): “ ...ainda que uni tradutor conseguisse chegar a uma repetição
total de um determinado texto, sua tradução não recuperaria nunca a totalidade do “original”;
revelaria, inevitavelmente, uma leitura, uma interpretação desse texto que, por sua vez. será,
sempre, apenas lido c interpretado, e nunca totalmente decifrado ou controlado”.

37
2.1.3 Os Quiltro Modelos de ( 'ut/ord

Catford (1965, vii) considera que, urna ve/ que ;i Iradução opera
com a língua, a análise e discussão de seus processos de ve utilizar
categorias estabelecidas para a descrição das línguas. Em outras
palavras, deve recorrer a uma teoria da língua, ou seja, a uma teoria
lingüística geral. Afirma Catford (1965, p. 1) que a teoria lingüísti­
ca que utiliza é a desenvolvida, sobretudo por M. A. K. Halliday,6
influenciada pelo trabalho de J. R. Firth (1970, por exemplo). Sua
preocupação expressa não é deter-se em problemas específicos da
tradução, mas antes analisar o que a tradução é (cf. CATFORD,
1965, vii). Deste modo, logo após sua apresentação sucinta da teoria
lingüística de onde tirou subsídios, com a qual inicia seu livro, forma
de apresentação já encontrada em Vinay e Darbelnet (1977, q.v. 2.1.1
c NIDA, 1964, q.v. 2 .1.2), encontra-se sua definição de tradução (cf.
CATFORD, 1980, p. 22): “a substituição de material textual numa
língua (LO) por material textual equivalente noutra língua”. A partir
desta definição, delineia os eixos de tensão ao longo dos quais se
colocam os tipos de tradução que considera existir, que se configuram
em quatro modelos de tradução.
Para Catford (1965, p. 23-24), no primeiro modelo, a tradução pode
ser plena ou parcial. Na tradução plena, todo o material textual na LO é
substituído por seu equivalente na LT. Já na Iradução parcial há partes
(ou uma só parte qualquer) do TO que não são traduzidas, mas que são
simplesmente incorporadas ao TLT, procedimento denominado “trans­
ferência” por Catford (1965, p. 43-48).
Observe-se que esta incorporação de elementos do TLO no TLT
corresponde ao procedimento denominado “empréstimo” por Vinay e
Darbelnet (1977, q.v. 2.1.1). Catford (1965, p. 21) justifica seu emprego
do mesmo modo que Vinay e Darbelnet ( 1977): ou por ser o item lexical
6 Catford (1965, p. 1) remete o leitor para Halliday, M. A. K., “Catégorie.',- o f the theory o f gram­
mar", Word. v. 17. n. 3. 1961, p. 241-92; e Halliday, M. A. K. ctal. The linguistic sciences and
language teaching, Longmans, 1964,

38
cm quesillo considerado inlraduzível, ou pelo objetivo estilístico de dar
"cor local” ao texto traduzido.
Em seguida, Catford (1965, p. 24) explica o conceito de “ordem”
ou “plano” (ranks, cf. CATFORD, 1965, p. 24, § 2.4; CATFORD,
l‘)K(), p. 26, § 2.4) lingüísticos, os quais considera importantes para
li tradução. As “ordens” ou “planos” são os degraus da hierarquia
g r a m a t i c a l ou fonológica nos quais se estabelece a equivalência da

Iratlução. As “ordens” que considera Catford (1965, p. 24) são o mor­


fema, a palavra, o grupo, a oração, o periodo, o parágrafo e o texto,
podendo haver sobreposição, já que, por exemplo, em uma placa de
sinalização que contenha a palavra PERIGO, esta palavra é também
li in texto completo em si mesma.
O eixo descrito em seguida por Catford (1965, p. 22-24), e que confi­
g u ra seu segundo modelo da tradução, é o da tradução total vs. a restrita.

A tradução total corresponde à definição de tradução citada acima (p.


42-43). Nesta, todas as “ordens” ou “planos” do léxico, de uma hierarquia
gramatical, fonológica e grafológica do TLO são substituídos por outros
ila LT. A tradução restrita limita-se apenas a uma dessas “ordens” ou
“planos”, conforme será descrito abaixo.
A tradução fonológica consiste na substituição da fonología da LO
pela equivalente na LT. No exemplo a seguir, organizei um quadro em
que apresento dois itens lexicais do inglês com sua tradução fonológica
para o português e o espanhol, segundo a descrição de Catford (1965),
para ilustrar este caso:

39
INGLÊS PORTUGUÊS DO BRASIL ESPANHOL DO URUGUAI

output [autipútí] [aupú]

vickvaporub [viquivaporúbi] [viváporu]

A tradução grafológica consiste na substituição da grafologia da


LO pela equivalente na LT. No exemplo abaixo, citado por Catford
(1965, p. 13), aparece uma inscrição inglesa com grafologia devanagári
(hindi):

INDIAN AIRLINES

A tradução gramatical e lexical consistiria respectivamente na subs­


tituição da gramática ou do léxico da LO por uma ou outro da LT. No
entanto, por causa das estritas relações entre gramática e léxico, é muito
difícil, se não impossível, que um tipo ocorra independentemente do outro.
Catford (1965, p. 71) cita o seguinte exemplo de tradução gramati­
cal, onde se substituiu a gramática da LO pela gramática equivalente da
LT, sem efetuar as substituições do léxico:

This is the man (that) I saw.


4 4 4 4 4 4 4 4 4
G G L G G G L G
1 4 4 4 4f 4 4 4 r
Voici le man que j
*

ai see- e.

G - item gramatical L - item lexical

40
A Imduçfto lex¡cíiI do mesmo período produziria:

This is the man I saw.


I i 4 1 i 1
Ci G G L G L G
1 i 1 1 4 1 4
This is the homme i voi-ed

mule só foram traduzidos os itens lexicais e não os gramaticais.


Como se pode observar através dos dois exemplos acima, nenhum
desses dois tipos de tradução parece ser de utilidade prática isoladamente,
¡i nao ser talvez em algum tipo de texto de função metalinguística, talvez
para análise contrastiva.
liste modelo de tradução, que se configura na tensão entre tradu-
çao total e tradução restrita, pode ser resumido graficamente como no
quadro abaixo:

0
/ tradução fonológica
) tradução grafológica
TRADUÇÃO TOTAL
1 tradução gramatical
Vtradução lexical

tradução fonológica
tradução grafológica
TRADUÇÃO RESTRITA
tradução gramatical
tradução lexical

onde fica claro que a tradução total engloba, simultaneamente, todos os


modos de traduzir listados ao longo de seu eixo, enquanto a tradução
restrita seleciona somente um deles de cada vez.
Trabalhando ainda com o conceito de “ordem”, Catford ( 1965, p. 24)
considera que pode haver dois outros tipos de tradução, que configuram
seu terceiro modelo: a tradução limitada à ordem, aquela em que se pro­
cura encontrar equivalentes da LO na LT apenas em uma das ordens, por

41
exemplo, a da palavra. A outra, a tradução nao Iinalada, corresponde à
tradução total, ou seja, mais uma vez, à definição de tradução oferecida
por Catford (1980, p. 22) citada acima. Neste caso, as equivalencias sc
deslocam livremente na escala das ordens, conforme as necessidades
geradas pelo confronto entre as duas línguas.
Expondo um quarto modelo de tradução, Catford (1965, p. 25) afirma
também que as noções intuitivas de tradução livre, literal e palavra por
palavra correspondem em parte às descrições acima. A tradução livre é
não limitada, total; a tradução palavra por palavra é limitada à ordem
da palavra e a tradução literal situa-se a meio termo entre as duas, pois
parte de uma tradução palavra por palavra, mas efetua as alterações
necessárias, dc acordo com as normas de uso da LT, fazendo com que
possa ser uma tradução efetuada na ordem do grupo ou mesmo da oração.
Catford (1965, p. 25-26) oferece um exemplo deste quarto modelo,
reproduzido abaixo:

Texto na LO: I t ’s raining cats and dogs.


Tradução palavra-por-palavra: * Il est p leu va n t chats et chiens.
Tradução literal : * Il pleut des chats et des chiens.
Tradução livre : Il pleut à verse.

(* Não aceitável na LT)

Aqui, somente a terceira versão é comutável com o TLO, e portanto,


ao meu ver, é a única que constitui uma tradução aceitável.

Como foi visto acima, na discussão do quarto modelo, há uma certa


sobreposição nos modelos de tradução descritos por Catford (1965), o
que poderá ser melhor explicado por meio de um gráfico, tal como o que
elaborei e apresento abaixo:
OS (JIJA I KO M<>1)1*1 OS Dl; I KADIK/Ao |)li ( ’A 11'OKI) (l%5)
r: su as sohriiv )si(,,0i:s

Trnduçfto
Parcial Tradução Restrita Tradução ■*-— Tradução
— Limitada Palavra-por-palavra
Tradução « — Tradução Total *— Tradução *” Tradução Literal
Plena ~¡ Não Limitada — Tradução Livre

Examinando-se o quadro acima observa-se que: 1) a tradução par­


cial tem correspondência na tradução restrita c na tradução limitada,
bem como na tradução palavra por palavra, que encontram também
correspondências entre si; 2) a tradução literal corresponde, em parte, à
tradução limitada e à tradução restrita, que sc correspondem, também,
cm parte; 3) a tradução literal corresponde, em parte, à tradução plena,
<i tradução total e a tradução não limitada, que se con’cspondem perfei­
tamente, assim como correspondem à tradução livre.
Além destes modelos de tradução, Catford (1965, p. 73-82) fala
das transposições7 (shifts) que ocorrem na tradução. A definição destas
mudanças, oferecida por Catford (1980, p. 82), que é “perdas de corres­
pondência formal no processo de passagem da LO para LT”, cor­
responde à definição de tradução oblíqua de Vinay e Darbelnet (1977)
cujos exemplos Catford (1965) cita abundantemente em seu livro - e,
mais especificamente, ao procedimento que descrevem sob o nome de
“transposição”.
É possível dizer, acredito, que as transposições a que se refere
Catford (1965) são, na verdade, procedimentos técnicos da tradução, in­
clusive pela proximidade com as colocações de Vinay e Darbelnet (1977,
q.v. 2.1.1). Enquanto procedimento técnico da tradução, a transposição
de Catford (1965) estaria dentro dos eixos das traduções plena, total, não
limitada, literal e livre.

O termo “mudanças" foi utilizado na traduçao brasileira (cf. Catford, 1980, p. 82) para o termo
shift, em L(Xque vem a ser o mesmo utilizado por outros autores (por exemplo, NEWMARK,
J9 8 1) para traduzir o termo transposition utilizado por Vinay e Darbelnet (1977).

43
Para resumir as transposições expostíis por ( ’¡illord (1965, p.
73-82), elaborei o quadro abaixo, que será explicado cm seguida:

T R A N S P O S IÇ Õ E S N A T R A D U Ç Ã O

de gramática a léxico
TRANSPOSIÇÃO DE ORDEM
de léxico a gramática

de estrutura

de classe
TRANSPOSIÇÃO DE CATEGORIA
de unidade

intra-sistema

O primeiro tipo dc transposição que cita Catford (1980, p. 82) é a


transposição de ordem ou plano. Por exemplo, uma transposição entre a
ordem gramatical e a ordem lexical, como no exemplo abaixo, retirado de
Vinay e Darbelnet (1977) por Catford (1965, p. 75):

This text is intendedfor...


"1 1- 'L
Le présent manuel s ’adresse à...

Aqui, o dcitico this, da ordem gramatical, foi traduzido por le pré­


sent, artigo + adjetivo lexical, pertencendo parcialmente à ordem lexical
(cf. CATFORD, 1980, p. 85).
O segundo tipo de transposição que enumera Catford (1980, p.
85) corresponde às transposições de categoria, também definidas como
perda de correspondência formal, e subdivididas em transposições de
estrutura, de classe, de unidade e intra-sistema. Abaixo são examinadas
estas transposições, de acordo com Catford (1965, p. 76).
As transposições de estrutura envolvem alterações sintáticas, como
no exemplo entre a tradução do inglês para o francês, citada por Catford
(1965, p. 77-78), onde a estrutura sintética do inglês, modificador + qua-

44
Iilicmloi i núcleo, Ini iis loi nui-sc cm modilU’iuloi i núcleo > c|iuil i (Iciulor
11ox ioundo cm linnees:

A white house.

Une maison
Xblanche.
A transposição de classe ocorrc quando um item da LO é traduzido
por um item de classe diferente na LT. Catford (1965, p. 78-79) define
,i classe segundo Halliday: “o agrupamento de membros de determinada
unidade que se define pela sua operação na unidade imediatamente su­
perior”. O exemplo abaixo é citado por Catford (1965, p. 79):

a medical student (medical - adjetivo)


un étudiant en médecine (en médecine - sintagma adverbial)

A transposição de unidade consiste em um afastamento da cor­


respondência formal em que o equivalente tradutório de uma unidade
ou uma ordem no TLO pertence a uma outra ordem no TLT. Seria o
mesmo dizer transposição de ordem, mas, segundo Catford (1980, p.
89), não é possível empregar este termo aqui, pois criaria uma diver­
gência com a gramática de Halliday (as transposições de ordem foram
discutidas na página anterior e o exemplo que Catford (1965) oferece
para transposição de unidade é o mesmo oferecido naquela altura para
transposição de ordem).
A transposição intra-sistema ocorre quando a LO e a LT possuem
sistemas de relativa proximidade formal, mas o tradutor escolhe um ter­
mo não correspondente na LT para traduzir o termo da LO. Para ilustrar
este caso, Catford (1965, p. 79) emprega um exemplo retirado de Vinay
e Darbelnet (1977), onde esta transposição ocorre de singular no inglês
para plural no francês (sendo opcional a transposição, pois existe a pos­
sibilidade de uso no singular, dentro da língua francesa):

45
advice —> des conseils (un conseil)
news —» des nouvelles (une nouvelle)
lightning —> des éclairs (un éclair)

Como se pode concluir pelo exposto acima, há muitos pontos de


contato entre a visão de Catford (1965) e a de Vinay e Darbelnet (1977,
q.v. 2.1.1) e mesmo entre a de Catford (1965) e a de Nida (1964, q.v.
2.1.2). O que distingue a visão de Catford (1965) das outras duas é pri­
mordialmente a teoria lingüística que utiliza como base para seu modelo
da tradução, pois o que Catford (1965) faz é aplicar à tradução o modelo
da gramática de Halliday.
Assim, esclarece melhor as operações lingüísticas que ocorrem na
tradução do ponto de vista desse modelo gramatical especifico mas, ao
meu ver, não lança uma luz maior sobre o ato tradutório era geral. Além
disso, alguns dos tipos de tradução que descreve são de aplicação prática
rara ou até nula (como a tradução gramatical exclusivamente ou a tra­
dução lexical exclusivamente).
A sobreposição entre os modelos tradutórios que Catford (1965)
propõe torna difícil sua aplicação em trabalhos teóricos, fazendo com que
fosse rejeitado por Alves (1983) como base para sua análise estatística,
em favor do modelo de Vinay e Darbelnet (1977).

2.1.4 Tradução Literal vs Tradução Oblíqua: O Modelo de Vázquez-Ayora

Tal como Vinay e Darbelnet (1977, q.v. 2.1.1), Nida (1964, q.v.
2.1.2) e Catford (1965, q.v. 2.1.3). Vázquez-Ayora (1977) começa seu
livro pela descrição da teoria lingüística que serve de base para seu estudo
acerca da tradução, que vem a ser a análise contrastiva de base gerativa
transformacional e a semântica estrutural (cf. Vázquez-Ayora, 1977, p.
1), além da estilística, a partir de Bally (cf. Vázquez-Ayora, 1977, p. 68-
101), tal como Vinay e Darbelnet (1977, (cf. Vázquez-Ayora, 1977, p.
252), o que tem em comum com Nida (1964, q.v. 2.1.2).

46
Tiimhcm conn* Nida ( I9(>-|), cm que se baseia, V ázq uez-A yora
(1 9 7 7 , p. 49 ) aponía um modelo trunsfonmiciomtl da tradução, que
pode ser en ten did o alravés do quadro a b a ix o (cf. V á z q u e z -A y o r a ,
197 7, p. 4 9), onde se vê o cam inho que d eve percorrer o tradutor para
produ/ir o TLT:

língua original língua da tradução


texto 1 texto2
*
redução reestruturação
*
4/ *
nível pré-nuclear
nível nuclear _
nível conceituai

Esse caminho consiste em 1) reduzir o TO às orações pré-nucleares


estruturalmente mais simples e semánticamente mais evidentes, 2) trans­
ferir o sentido da LO para a LT e 3) gerar na LT a expressão estilística e
semánticamente equivalente (cf. Vázquez-Ayora, 1977, p. 49).
Vázquez-Ayora (1977, p. 49) afirma ser este modelo a base do
método de tradução oblíqua (cf. Vinay c Darbelnet, 1977, q.v. 2.1.1),
portanto um dos meios mais eficazes de evitar a tradução literal, que, de
acordo com ele, é a fonte da maioria dos erros8 e, cm segundo lugar, de
proporcionar os meios para obter o contexto apropriado na LT.
Apesar de tentar aplicar os parâmetros da gramática de base gerativa-
transformacional à tradução, o modelo que produz é quase idêntico ao de
Vinay e Darbelnet (1977, q.v. 2.1.1) identificando dois macro-eixos - a
tradução literal c a oblíqua - ao longo dos quais se distribuem procedi­
mentos técnicos de execução, ampliados a partir dos descritos por Vinay
e Darbelnet (1977).

8 Na literatura disponível só encontrei uma tentativa üe caracterização do erro tradulório, cm


üouadec ( 1974, p. 9), onde estes sâo classificados em três tipos: non-sens (não senso), contresetis
(contrassenso) e faux-sens (falso senso).

47
Uni quadro representai¡vo do m odelo de V u /q u e / Ayora poderia
ser o que elaborei e apresento abaixo:

T R A D U Ç Ã O L IT E R A L (P rocedim ento único)

T ran sp o sição
P rocedim entos m odulação
p rin cip ais eq u iv alên cia
ad aptação
T R A D U Ç Ã O O B L ÍQ U A
A m p lificação
Procedim entos ex p licitação
C om plem entares o m issão
co m p en sação

A definição que oferece Vázquez-Ayora (1977) de tradução literal


c a mesma oferecida por Vinay e Darbelnet (1977, q.v. 2.1.1), com a
diferença que, para estes últimos, a tradução literal é, ao mesmo tempo,
um macro-eixo ao longo do qual se alinham procedimentos tradutórios (o
empréstimo, o decalque e a própria tradução literal) e um procedimento
tradutório por si mesmo, enquanto que para Vázquez-Ayora (1977), a
tradução literal se destaca por ser um eixo e um procedimento ao mesmo
tempo, mas sem possuir outros procedimentos que se alinhem sob ela,
pois, como se vê no gráfico acima, Vázquez-Ayora (1977) não inclui em
seu modelo os procedimentos denominados empréstimo e decalque por
Vinay e Darbelnet (1977, q.v. 2.1.1).

Vázquez-Ayora (1977) analisa aquilo que considera um defeito de


tradução, o anglicismo defrequência - anglicismo porque Vázquez-Ayora
(1977) trabalha somente com a tradução do inglês para o espanhol que
guarda alguma semelhança com o decalque descrito por Vinay e Dar­
belnet (1977, q.v. 2.1.1).
Para Vázquez-Ayora (1977, p. 120-140), o anglicismo defrequência
ocorre quando se decalca com frequência excessiva um tipo de construção
comum no inglês, mas rara no espanhol, embora não incorreta, como no
exemplo de tradução abaixo (cf. Vázquez-Ayora, 1977, p. 107), que foi
feita literalmente.

48
sonic countries arc demanding...
i- .{. y l
algunos países están exigiendo...

O mais comum, aqui, em espanhol, seria: algunos países exigen...

Após a tradução literal, passa-se para a tradução oblíqua, cujos


procedimentos principais, descritos por Vázquez-Ayora (1977, p. 266-
334) são exatamente os mesmos descritos por Vinay c Darbelnet (1977)
e discutidos no presente trabalho em 2.1.1.
Quanto aos procedimentos complementares da tradução oblíqua
descritos por Vázquez-Ayora (1977), três deles, a amplificação, a expli­
citação c a compensação foram descritos por Vinay e Darbelnet (1977),
embora fora dos eixos da tradução direta ou oblíqua, ou seja, de modo
ad hoc, para explicar procedimentos utilizados nos textos que apresentam
como exercícios de tradução.
Como foi visto acima, em 2.1.1, é por este motivo que estes procedi­
mentos não foram examinados anteriormente neste trabalho, mas reserva­
dos para serem analisados dentro do modelo de Vázquez-Ayora (1977).
Além desses três procedimentos, Vázquez-Ayora (1977) considera
um quarto, a omissão, que não é incluído por Vinay e Darbelnet (1977).
Todos esses procedimentos serão examinados abaixo, na ordem em que
são enumerados por Vázquez-Ayora (1977).
A amplificação é utilizada quando é preciso desdobrar uma palavra,
por necessidades sintáticas da LT, como se vê nos exemplos abaixo (cf.
Vázquez-Ayora, 1977, p. 334-335):

49
toward
I
por encontrar

La planta que opera en Bogotá...

No primeiro exemplo, houve uma amplificação de toward para por


encontrar. No segundo, uma amplificação de in para que opera en, por
necessidades estruturais e estilísticas do espanhol, a LT.
A explicitação é um caso particular de amplificação, realizada para deixar
claro que o leitor do TLT algo que não lhe é familiar na cultura do TLO, como
se vê nos exemplos abaixo (cf. Vázquez-Ayora, 1977, p. 350):

The Secretary o f State testified against the En las audiencias previas el Secretario
provision that automatically excludes all de Estado argumentó en contra de la
OPEC members. disposición que excluye ipso facto a los
miembros de la OPEP.

I f the assistance o f the police authorities at the Si el Estado que deporta desea obtener la
place o f an intermediate stop is desired... asistencia de las autoridades de policia
en el lugar donde se haga escala...

No primeiro exemplo foi explicitado “en las audiências previas”


para elucidação daqueles que não conhecem os mecanismos que regem a
tramitação de um projeto de lei no Congresso dos Estados Unidos.
No segundo, foi explicitado “el Estado que deporta ” para auxiliar
o leitor do TLT que não esteja familiarizado com os procedimentos de
deportação ou extradição empregados nos Estados Unidos.
A omissão, procedimento que não c discutido por Vinay e Darbelnet
(1977), consiste em omitir elementos excessivamente repetidos na LO,
mas que não são habitualmente repetidos na LT, ou elementos que a LT
em geral não explicita, como no exemplo abaixo (cf. Vázquez-Ayora,
1977, p. 364):

50
To speak o f a mutual convertibility from Hablar de una convetibilidad reciproca
one particular language to another. de una lengua a otra.

Neste exemplo, foi omitido o adjetivo particular do inglés, por não


ser necessário para o entendimento da frase em espanhol.
A compensação é utilizada para repor as perdas de conteúdo ou
de recursos estilísticos do TLO ao se falar a tradução para a LT (cf.
Vázquez-Ay ora, 1977, p. 374), Segundo este procedimento, quando, por
exemplo, um trocadilho feito na LO é impossível em um determinado
ponto do TLT, um outro pode ser introduzido cm um ponto diverso do
texto, para recuperar o efeito total do mesmo. Este procedimento está,
também, inteiramente de acordo com a formulação do princípio do efeito
equivalente, apontado por Nida (1964, q.v. 2.1,2). O exemplo abaixo é
oferecido por Vázquez-Ayora (1977, p. 374).

ycx» ............
cuerpo masa Iazui dei estanque

Uma tradução meramente literal deste mesmo segmento de texto


produziria:

As they drove by a girl , dove into, the bright green water

/ I
i i i > l l ? I ----------------- , j

Cuando pasaba
1 4
saba %
n 'por
1
por aallí
llí ut O íí
una muchacha Te tiró a / agua verdeQ) brillante

and her body sliced through the tank

rHHrj./-irV
y su cuerpo cortó a través d \el tanque
C'orno se pode ver, a compensação inclui a aplicação do uma diver­
sidade dc procedimentos técnicos da tradução que, como já loi apontado
por Vinay e Darbelnet ( 1977, q. v. 2 .1. 1), muitas vezes se sobrepõem.
No primeiro caso há vários casos dc tradução literal, além de mo­
dulações (green - azul; water - masa), mudanças de ordem de palavras
e diversos ajustes para atender às necessidades sintáticas e estruturais da
LT, o espanhol.
É através da utilização desses vários procedimentos combinados,
afirma Vázquez-Ayora (1977, p. 375), que se consegue obter na tradução
o mesmo efeito global do TLO, o que, repete, não é conseguido com a
tradução literal apenas. Como foi mencionado acima, estas considerações
encaixam-se perfeitamente no conceito de princípio do efeito equivalente,
exposto por Nida (1964, q.v. 2.1.2).

Conclui-se, portanto, que o modelo de Vázquez-Ayora (1977) baseia-


se no de Vinay e Darbelnet ( 1977), o qual expandiu e modificou em alguns
aspectos (a retirada do empréstimo e do decalque, por exemplo). Guarda,
também, muitas semelhanças com o modelo de Nida (1964), especial­
mente no que diz respeito ao princípio do efeito equivalente.

Uma característica marcante do trabalho de Vázquez-Ayora (1977) é


a intensidade da tensão que apresenta entre a tradução literal e a tradução
oblíqua. Em todo o correr da obra (cf. Vázquez-Ayora, 1977), é ressaltada
a superioridade da tradução oblíqua sobre a literal, que é considerada
como fonte de todos os erros e defeitos das traduções.
Um exame do modelo de Vázquez-Ayora não podia deixar de ser
incluído no presente trabalho, pois a literatura de língua portuguesa (cf.
CAMPOS, 1986a e b; DUTRA, 1983 e outros), bem como Newmark
( 1981 ) o citam como o revisor e ampliador do modelo de Vinay e Darbel­
net (1977). Para os fins deste trabalho é relevante o fato de Vázquez-Ayora
(1977) ter incluído no seu modelo procedimentos mencionados por Vinay
e Darbelnet (1977) sem que fossem encaixados no seu modelo. Embora
não haja aí uma concepção teórica diferente, existe uma formulação mais

52
completa dos procedimentos técnicos da tradução, o que, ao meu ver, é
útil para o tradutor, o professor e o aluno de tradução, pois fica recoberto
de modo mais abrangente o que o tradutor realiza no ato tradutório.

2 .1.5 Tradução Semântica vs Tradução Comunicativa: O Modelo de Newmark

Ao contrário dos demais autores examinados até agora no presente


trabalho, Newmark ( 1981) comcça seu estudo da tradução não com uma
revisão da teoria lingüística em que apoia sua reflexão, mas com uma
revisão da literatura especificamente sobre tradução, na qual são estuda­
dos, entre outros, os autores cujos modelos foram selecionados para uma
apresentação mais detalhada neste capítulo.

A partir do exame que faz da literatura, Newmark ( 1981 ) se detém na


grande tensão que existe no pensamento sobre a tradução, que é a tensão
entre a tradução livre e a literal, entre o foco sobre o autor ou o leitor, a
LO ou a LT. Dá especial atenção ao princípio do efeito equivalente (q.v.
2.1.2 e 2.1.4), que considera estar adquirindo predominância na literatura
(cf. NEWMARK, 1981, p. 38).

O princípio do efeito equivalente mantém o foco sobre o leitor, que


é privilegiado no ato comunicativo (q.v. 2.1.2) que se estabelece através
r
da tradução. E em benefício do leitor, para facilitar sua compreensão
e para aproximar afetivamente dele o texto, que a tradução procuraria
aplainar as diferenças estruturais expressas entre a LO e a LT, bem como
as expressas no texto entre a realidade extralinguística da LO e da LT.

Por exemplo, quando traduzi documentos sobre a Lei da Informática


(cf. ABICOMP, 1987/88) para o inglês, para serem examinados pelo Pre­
sidente Reagan e a Comissão de Informática do Congresso Americano,
não podia esperar, pelos motivos amplamente divulgados pela imprensa,
que o texto tivesse entre esses leitores o mesmo efeito que teve entre seus
leitores no Brasil, tanto do ponto de vista político, como do ponto de vista
das divergências entre as instituições jurídicas dos dois países.

53
No caso da Lei da Informática, o princ ipio do afeito equivalente
levaría o tradutor a tentar criar uma proximidade inexistente entre o
sistema jurídico brasileiro, baseado no Direito Romano, e o sistema ju­
rídico americano, baseado no Direito Consuetudináiio. Isso, porém, não
era possível, nesta situação - nem desejável - pois, enquanto atende a
interesses brasileiros, a Lei da Informática contraria os americanos.
Segundo Newmark (1981), o equívoco do princípio do efeito equi­
valente está em não levar em consideração as funções da linguagem pre­
sentes em um determinado texto, ou a finalidade desse texto, pois estas
sim é que determinariam que tipo de procedimentos utilizar na tradução.
De modo a poder incluir as funções da linguagem, tipo e finalidade
do texto em seu modelo da tradução, Newmark ( 1981, p. 12-16) apresenta
as adaptações que fez dos modelos de Buhler9 e de Frege10 acerca das
funções da linguagem.
Para ilustrar a aplicação que fez da teoria das funções da linguagem
à tradução, Newmark (1981, p. 15) apresenta um quadro que resume o
modo como o tradutor deve agir diante de cada tipo de texto, que repro­
duzo na página seguinte, comentando-o abaixo.

No quadro, A, B e C correspondem a tipos de texto. Nas colunas


sob cada uma destas letras estão listadas as características de cada texto,
indicadas pela primeira coluna à esquerda. Para Newmark (1981, p. 14-
15) todos os textos têm função informativa e os exemplos em (1 ) apenas
ilustram a ênfase principal, já que há concomitância nas funções. Este
quadro, acredito, pode servir de orientação para tradutores, professores
e alunos de tradução.
Em seguida, Newmark (1981) conclui que os modos de traduzir
podem-se polarizar em dois extremos, sendo que no primeiro, que deno­
mina tradução semântica, o foco recai sobre a LO, o autor original e seu
público, enquanto, no segundo, que denomina tradução comunicativa,
9 BUIILER, K. Die Spradiiheorie. Fischer, Jena. 1934, apud Newmark ( 198 J ).
10 FREGE, G. Sense and reference. In: GEAC'H, P.; BLAK, M. Translationsfrom thephilosophical
writings of Gottlieb Frege. Blackwell. Oxford, 1960, apud Newmark ( 1981, p. 14).

54
o loco recai sobro a LT c o Icilor. Para melhor explicar a diferença entre
estes dois pólos, será útil o diagrama apresentado abaixo, reproduzido
de Newmark (1981, p. 39):

A B C

Funçõo da linguagem EXPRESSIVA INFORMATIVA VQCAT1VA


Obras polêmicas,
Relatórios científicos publicidade, avisos, leis
Literatura
(1) Exemplos típicos ou técnicos e livros e regulamentos,
Textos de autor
didáticos propaganda política,
literatura popular
Persuasivo ou
(2) Estilo “ideal” Individual Neutro, objetivo
imperativo
Língua da tradução Língua da tradução
(3) Ênfase textual Língua origina] (LO)
(LT) (LT)
(4) Foco Autor (l.a pessoa) Situação (3.a pessoa) Leitor (2* pessoa)
Princípio do efeito
Principio do efeito
(5) Método Tradução “literal” equivalente -
equivalente - recriação
equivalência
(6) Unidade de tradução Pequena Média Grande
Máxima Grupo (sintagma) Oração Texto
Mínima Palavra Grupo (sintagma) Parágrafo
(7) Tipo de linguagem figurativa Fatual Convincente
Depende das
(8) Perda de sentido Grande Pequena
divergências culturais
(9) Palavras e Não permitidos a não Sim, exceto nos textos
Obrigatórios no TLO
significados novos ser que justificados formais
(10) Palavras-chaves Leitmotiv
Palavras temáticas Palavras simbólicas
(manter) Marcadores estilísticos
(11) Metáforas incomuns Reproduzir Dar sentido Recriar
(12) Comprimento em Aproximadamente o
Um pouco mais longo Não há regra
relação ao original mesmo

55
FOCO SOBRE A LO /■()( 'OSO!i RE A LT

LITERAL LIVRE

FIEL IDIOMATICA
" ^ AT
SEMÂNTICA/COMUNICATIVA

De acordo com a definição de Newmark (1981, p. 39), a tradução


comunicativa é aquela que visa a produzir em seus leitores um efeito tão
próximo quanto possível do efeito produzido sobre os leitores do origi­
nal. A tradução semântica, por sua vez, tenta transmitir, com a maior
aproximação permitida pelas estruturas semânticas e sintéticas da LT, o
significado contextual do original.
No exemplo abaixo, a tradução semântica c a comunicativa de um
original alemão e outro francês (Newmark, 1981:39), onde a tradução
comunicativa é a única correta, por ser a única eficaz e idiomática11,
ilustra os dois tipos de tradução.

TLO TRADUÇÃO SEMÂNTICA TRADUÇÃO COMUNICATIVA

Bissiger Hund—> Dog that bites


^ ~~^>Beware o f the dog!
Chien méchant —> Savage dog

Dentro desta polarização, e levando em conta as funções da lingua­


gem, o tipo de texto e a finalidade da tradução, Newmark (1981, 1988)
descreve os procedimentos técnicos da tradução. Apesar disso, Newmark
(1988, p. 81-93) lista os procedimentos técnicos da tradução na mesma
ordem em que são hierarquizados por Vinay e Darbelnet (1977, q.v. 2.1.1),
embora não apresente qualquer justificativa para tal.

11 Aqui entendido como um adjetivo derivado do idiotismo em sentido lato, “os traços línguis-
tieos de uma língua, que melhor a caracterizam em face de outras que lhe são cognatas” (cf.
CÂMARA JÚNIOR, 1977, p. 142).

56
Apii'si’iilo abaixo um quadro que elaborei a 11m de demonstrar como
se distribuiriam os procedimentos técnicos da tradução ao longo dos dois
eixos descritos por Newmark ( 1981 ):

transferência (empréstimo)
decalque
TRADUÇÃO tradução um-por-um (literal)
S E M Â N T IC A

transposição

modulação
equivalência cultural
omissão
compensação
sinonimia lexical
rótulo tradutório
TRADUÇÃO
C O M U N IC A T IV A
definição
paráfrase
contração
reconstrução de períodos
reorganização, melhorias
dístico tradutório
naturalização

Chama a atenção, neste quadro, em primeiro lugar, a linha pontilhada


ao longo da transposição - procedimento definido por Newmark (1981 )
de modo idêntico aos autores anteriormente examinados (q.v. 2.1.1-4)
- marcando uma divisão não tão radical entre os dois eixos do modelo.
Isso ocorre porque aquilo que Newmark (1981) define como tradução
semântica equivale quase que exatamente ao que Vinay e Darbelnet ( 1977,
q.v. 2.1.1) e Vázquez-Ayora (1977, 2.1.4) definem como tradução dire­
ta. Apesar disso, tal como Catford, (1965, q.v. 2.1.3), Newmark (1981)
considera que a transposição é um procedimento ncccssário mesmo na
tradução literal, para acomodar o texto às necessidades estruturais, sin­
táticas e semânticas da LT.
Em segundo lugar, observa-se que os primeiros nove procedimentos
definidos por Newmark (1981, 1988) são os mesmos citados por Vinay

57
e Darbelnet ( 1977) e ampliados por Vázquez Ayom ( 1977), autores que
eonslam da bibliografía de Newmark (1981, 1988), sendo que Vinay e
Darbelnet (1977) são abundantemente citados por Newmark ( 193 1, 1938)
que lista também a terminologia francesa original de Vinay e Darbelnet
(1977) ao lado da terminologia inglesa que propõe. Isto demonstra que
Newmark (1981,1988), apesar de lançar mão de subsídios teóricos diver­
sos dos utilizados por Vinay e Darbelnet (1977) para estabelecer o foco
da tradução, não faz qualquer alteração substancial aos procedimentos
técnicos da tradução descritos por aqueles autores, apenas acrescentando
alguns procedimentos novos aos deles.
Assim sendo, estes primeiros nove procedimentos tião serão reexami­
nados aqui. Abaixo, descrevo os demais nove procedimentos tradutórios
propostos por Newmark (1981, 1988). A sinonimia lexical consiste na
tradução por um equivalente próximo na TL. Deve ser usada quando uma
palavra é definida através de sinônimos inadequados e incorretos tanto
nos dicionários monolingues como nos bilíngües. Newmark (1981, p.
31) oferece o seguinte exemplo, do alemão: ein Greis, que vem a ser um
homem muito velho, idoso, com o componente secundário de ser grisalho,
digno, frágil, sendo o tradutor forçado a buscar o sinônimo mais próximo
na LT (talvez ancião, em português).
O rótulo tradutòrio consiste no uso de, um equivalente aproxima­
do, muitas vezes um sintagma entre, aspas. Os exemplos oferecidos por
Newmark (1981, p. 31) são:

promotion sociale —> social advancement


autogestion —> worker management
se lf-m a n a g e m e n t

A definição, ou equivalente descritivo, consiste em substituir um item


lexical da LO por sua definição. Em Newmark (1988, p. 83), encontra-se
o seguinte exemplo:
machete —> Latin American broad, heavy instrument

58
I /><thi/i<hc consiste cm uma ampliação on rc-cscrilura livre do sig­
nificado dc inn período.

Newmark (1981) considera este o último recurso do tradutor, pois es­


capa a qualquer vínculo com o TLO: é preciso lembrar que a tradução não é
um TO, sendo o tradutor obrigado a refletir do TLO todas as características
possíveis. Newmark (1981) não oferece exemplo.
A expansão consiste cm expandir gramaticalmente um segmento de
texto, a fim de atender às necessidades gramaticais da LT. Por exemplo
(Newmark, 1981, p. 31):

to taste o f —» avoir le goût de

A contração é o oposto do procedimento descrito acima e consiste


na redução gramatical de um segmento de texto, a fim de atendei* às
necessidades gramaticais da LT. Por exemplo (Newmark, 1981, p. 31):

science anatomique —» anatomy

A reconstrução de períodos consiste em reformular os períodos ou


orações do TLO no TLT. Segundo Newmark (1981, p. 31), os comple­
xos períodos franceses são algumas vezes reconstruídos como orações
coordenadas em inglês. A reorganização e as melhorias consistem em
corrigir no TLT o uso cxccssivo do jargão, de erros de sintaxe, erros de
imprensa, erros de fato, de um TLO mal escrito. Newmark (1981, p. 31)
considera, porém, que tal procedimento só é válido se o TLO: a) tiver
sua preocupação principal com os fatos reais, ou se b) for mal escrito.
É fácil compreender as restrições acima. Em um texto onde os erros
estruturais (do ponto de vista da norma culta) forem um reflexo de uma
situação social relevante, ou da personalidade de um personagem, o tra­
dutor deverá reproduzi-los.

59
Bm uní texto cuja finalidade for informativa, ou seja, cujo loco sejam
os fatos reais narrados, os erros do original poderão ser corrigidos, u não
ser que reflitam uma situação específica do autor ou do contexto, por
exemplo o sistema ptolemaico em que a Terra era considerada o centro
do universo.
O dístico tradutório consiste em realizar uma tradução literal, ou
uma transferência (empréstimo) e segui-la com uma tradução literal do
item lexical em questão. Newmark (1981, p. 76) fornece os seguintes
exemplos:

-A
Literal: Conseil d ’E tat —> Council o f State
Transferência + tradução literal (ou vice-versa):
Knesset (the Israeli Parliament)
‘legists ’ (hommes de loi)

A naturalização consiste no processo de adaptar à LT os nomes


próprios da LO. Newmark (1981, p. 77) oferece o exemplo abaixo, onde
o nome do filósofo grego foi naturalizado para o inglês:

Aristotle

Para o presente trabalho, é relevante examinar o modelo de Newmark


(1981) pela sua inclusão dos conceitos de função da linguagem, tipo de
texto e finalidade da tradução, que me parecem muito relevantes para a
execução de traduções e para uma visão teórica do que é a tradução. Ê
importante também a sua inclusão de procedimentos que não haviam sido
encaixados nos modelos de Vinay e Darbelnet (1977, q.v. 2.1.1) ou de
Vázquez-Ayora (1977, q.v. 2.1.4).

60
2.2 KlíSUMC) l)( >S M O DI il.OS

A fim de proporcionar uma visão global dos modelos de tradução


examinados e de seus respectivos procedimentos técnicos de execução,
apresento, nas duas páginas que se seguem, dois quadros sinóticos que
elaborei para ilustrá-los.
No primeiro, apresento os autores examinados até aqui com uma
listagem dos procedimentos que descrevem, sob os nomes que os autores
lhes dão nas respectivas LOs, com o objetivo de ressaltar as semelhanças
e as diferenças entre cies. Note-se que os procedimentos técnicos da tra­
dução são listados com a tradução que dei à nomenclatura, em português,
no quadro seguinte.
Nida ( 1964, q. v. 2.1.2) está ausente do primeiro quadro porque não faz
uma listagem clara de procedimentos técnicos da tradução, como fazem os
outros autores discutidos neste capítulo.
Através do quadro, podemos observar que a trans literação de
Catford (1965) não tem correspondência cm outros autores. Catford
(1965, p. 66-70) discute este procedimento fora do âmbito de seus quatro
modelos; por este motivo não foi discutido no presente capítulo. No entanto,
será retomado em 3.10.2.
Observa-se também que somente Vázquez-Ayora (1977) não discu­
te o empréstimo (ou transferência) e nem este autor nem Catford (1965)
discutem o decalque.
Fica claro também que a tradução literal de Catford (1965) não en­
contra correspondência em outros autores.

61
O
ro

PROCEDIMENTOS TÉCNICOS DA TRADUÇÃO

Vinay « Darbelnet (1977) Newmark (1981, 1988) Vázquez-Ayora (1977) Catford (1965)

TRANSLITERATION
EMPRUNT TRANSFERENCE (TRANSCRIPTION) TRANSFERENCE
CALQUE THROU GH-TRANSLATION
TRADUCTION LITTÉRALE ONE-TO-ONE TRANSLATION TRADUCCIÓN LITERAL WORD-FOR-WORD TRANSLATION
LITERAL TRANSLATION
TRANSPOSITION SHIFT OR TRANSPOSITION TRANSPOSICIÓN SHIFT
MODULATION MODULATION MODULACIÓN FREE TRANSLATION
EQUIVALENCE {CULTURAL EQUIVALENCE } EQUIVALENCIA
\ FUNCTIONAL EQUIVALENCE }
1
*
ADAPTATION ADAPTACIÓN I

AMPLIFICACIÓN
EXPLICFTACIÓN
OMISSIÓN
COMPENSATION COMPENSACIÓN
LEXICAL SYNONYNMY
TRANSLATION LABEL
DEFINITION
PARAPHRASE
«. .éttofement... EXPANSION (ÉTTOFEMENT)
CONTRACTION
RECASTING SENTENCES
REARRANGEMENT/IMPROVEMENTS
TRANSLATION COUPLET
MODELOS DE TRADUÇÃO E PROCEDIMENTOS TÉCNICOS DA TRADUÇÃO

a>
Observa-sc também que a equivalência cultural e a equivalência
funcional de Newmark (1981) são desdobramentos da equivalência de
Vinay e Darbelnet (1977) e Vázquez-Ayora (1977).
A ampliação, explicitação, omissão e compensação descritas por
Vázquez-Ayora (1977), embora não estejam presentes na listagem de
Vinay e Darbelnet (1977), foram descritas também por estes autores, fora
do modelo de tradução que propõem.
Observa-se que Newmark (1981, 1988) inclui vários novos proce­
dimentos em sua descrição, alguns retirados dos mencionados por Vinay
e Darbelnet (1977) fora de seu modelo da tradução, como é o caso da
expansão (éttofement) que inclui na listagem de Vinay e Darbelnet (1977)
especificamente para demonstrar este fato.
Vê-se, finalmente, que a tradução livre de Catford (1965) pode
englobar qualquer procedimento necessário para sua realização.

No segundo quadro, nota-se, primeiramente, que o modelo de Catford


(1965) aparece quatro vezes. Tal ocorre porque, na realidade, Catford
(1965) não apresenta um modelo só, mas quatro, que foram discutidos
em 2.1.3.
Marcante é também o fato de que o quadro é aberto em sua porção
inferior. Esta característica foi empregada para indicar que nenhum dos
autores examinados pretende ter esgotado os procedimentos técnicos
da tradução ao descrevê-los. Newmark (1981) afirma que sempre serão
propostos novos procedimentos, à medida que forem aumentando os
conhecimentos acerca da linguagem humana e dos processos mentais
envolvidos na tradução.
Observe-se que há uma linha tracejada (---- ) que limita a listagem
de procedimentos de Vinay e Darbelnet (1977), Vázquez-Ayora (1977)
e Newmark (1981, 1988). Este recurso foi utilizado para indicar que há
um tipo de limitação aí, no sentido de que é neste ponto que estes autores
encerram sua descrição explícita dos procedimentos técnicos da tradução,

64
mas que prosseguem mencionando-os, de modo ad hoc, no correr de sua
obra.
lisses procedimentos são complementares a alguns dos anteriores,
ou diametralmente opostos a eles. Por exemplo, c citado o procedimento
denominado contração. TIaveria um outro, o contrário dele, a expansão,
que só aparece quando surge um exemplo, no contexto da obra desses au­
tores, que necessita deste procedimento para que a tradução seja possível.
Note-se também a existência de um hachurado (\\\\\\\) no quadro,
liste foi colocado para representar espaços vazios, onde há algo em um
r

modelo que não encontra correspondência em outro. E o que acontece


com o conceito de tradução palavra por palavra de Catford (1965),
que conserva uma fidelidade excessiva à LO, produzindo um TLT que
não é aceitável, nem, muitas vezes, correto, como é o caso do exemplo
apresentado em 2.1.3, página 39. Este procedimento simplesmente não é
considerado válido por outros autores, por não respeitar as regras da LT.

No quadro, rotulei este procedimento de “pré-tradução,” pois é assim


que seria considerado por alguns dos autores examinados, por exemplo,
Vinay e Darbelnet (1977). Seria uma tradução preliminar, que não pas­
saria no teste que propõem (<q. v. 2.1.1, p. 24) para verificar a validade da
tradução literal, o que apontaria para a necessidade da utilização de outro
tipo de procedimento.
Um outro dado a observar é que os procedimentos técnicos da tra­
dução são listados pelos autores sempre em determinada ordem, que é a
apresentada no quadro.
É importante observar que esta ordem é explicada somente por Vi­
nay e Darbelnet (1977, q.v. 2.1.1) que a indicam como sendo de acordo
com a difículdadc dc execução pelo tradutor. No entanto, ao examinar os
modelos dos diversos autores, fica patente que este ordenamento parte da
palavra para segmentos maiores do texto, como se pode ver, pois parte
do empréstimo (cf. VINAY e DARBELNET, 1977), que é a utilização
de um elemento lexical no TLT tal e qual aparece no TLO, e vai até a

65
adaptação, o último procedimento citado por Vinay e Darbelnet (1977),
que envolve o texto global.

Aparentemente, este tipo de abordagem é ainda um reflexo daquela


ideia mais antiga a respeito da tradução, de que esta deve ser feita literal­
mente, ao pé da letra, ou palavra por palavra. Não leva em consideração a
lingüística moderna, que abandona o termo “palavra,” por sua imprecisão
(cf. CÂMARA JÚNIOR, 1977, p. 187; CRYSTAL, 1980, p. 384-385;
DUBOIS et ai, 1973, p. 449-450 e PEI, 1966, p. 295), nem tampouco as
considerações mais modernas em tomo do que é exatamente um texto (cf.
CRYSTAL, 1980, p. 354; DUBOIS é ta l, 1973, p. 586-587).
É possível dizer que é a partir deste aspecto falho do pensamento
acerca da tradução, devido a basear-se em um aspecto ainda não definido
satisfatoriamente na lingüística, que surge uma outra área de estudo dentro
da teoria da tradução, a das unidades de tradução (seriam elas as palavras
ou unidades maiores ou menores do que a palavra?). Este aspecto não será
aprofundado aqui por não estar dentro da proposta do presente trabalho.
Uma questão primordial para este trabalho pode ser observada atra­
vés do aspecto mais marcante do quadro, que é a coincidência da linha
horizontal que separa os dois eixos em, que se dividem os modelos dos
autores examinados, à exceção da linha quebrada (não utilizada para
Catford, 1965, e Newmark, 1981, 1988). Estes elementos do quadro
ilustram muito bem o fato de que, embora sob rótulos diferentes, o que os
autores citados estão discutindo realmente é a tensão entre tradução livre
e literal que, como foi visto no capítulo 1 e em 2 acima, é a controvérsia
mais antiga em torno da tradução.
Catford (1965) e Newmark (1981) não são exceções, mas seu modelo
inclui a transposição como um procedimento técnico da tradução literal,
já que, parte daquilo que constitui a transposição consiste em fazer ajustes
à tradução literal para que o texto produzido na LT seja correto dentro das
suas normas. Outros autores, porém, como Vinay e Darbelnet (1977), por
exemplo, só aceitam dentro de sua definição de tradução literal aquela

66
que é possível sem que sejam necessários quaisquer ajustes. Por isso a
linha quebrada (AA) foi usada, demonstrando que a tradução literal pode
abranger a transposição.
O exposto acima indica que, embora há mais de dois mil anos se
escreva sobre a tradução (q.v. 1), a grande controvérsia em torno do as­
sunto continua a mesma: tradução livre ou literal?
Muitos autores têm procurado afastar-se da tradução literal, dentre eles
os examinados aqui. Em um extremo coloca-se Vázquez-Ayora (1977) que,
a todo momento, repete ser a tradução literal o grande mal da tradução, cm
outro um autor como Catford (1965) para quem até mesmo a tradução pala­
vra por palavra, sem manter sequer a gramaticalidade da LT, tem seu lugar.
Para todos os autores examinados aqui, acredito, o problema está em
a tradução literal ser anteriormente considerada como única possibilidade
de tradução. Para afastar-se dela criaram seus modelos de tradução.

Em minha avaliação, o princípio do efeito equivalente citado por


Nida (1964, q. v. 2.1.2, p. 35) foi a primeira visão da tradução que pareceu
efetivamente alcançar a meta do afastamento da tradução literal, pois
propunha que a tradução tivesse sempre o mesmo efeito sobre seu leitor
que tinha o TLO sobre o seu.

No entanto, em minha experiência de tradutora e professora de tra­


dução, logo ficou aparente que isso nem sempre é possível, nem desejável
(q.v. 2.1.2, p. 35 e 2.1.5, p. 49), o que fez com que eu me voltasse para a
proposta de Newmark (1980,1988, q. v. 2.1.5, p. 50-53) de incluir a teoria
das funções da linguagem no modelo da tradução.

Nesta visão, o tradutor seleciona os procedimentos técnicos da tra­


dução a serem utilizados em um determinado texto a partir das funções
da linguagem que encontra, do tipo de texto com que está trabalhando e
com a finalidade da tradução. Assim, este modelo abre espaço igual para
as traduções desde as muito literais até as muito livres.

67
aulas de tradução.
Embora esteja fora do escopo do presente trabalho aprofundar este
aspecto, é na aplicação da teoria das funções da linguagem à tradução
que pretendo desenvolver meu trabalho no futuro.
Nesta dissertação, prossigo formulando uma proposta de caracterização
dos procedimentos técnicos da tradução, tarefa que me propus por achar
que poderia eliminar algumas discrepâncias entre as abordagens de vários
autores, assim auxiliando tradutores, alunos e professores de tradução. Esta
proposta é apresentada no Capítulo 3.
Prossigo também apresentando duas propostas de recategorização
dos procedimentos técnicos da tradução, tentando apresentar uma visão
que não sc prenda apenas à tensão entre tradução livre e tradução literal.
Estas duas propostas são apresentadas no Capítulo 4.

68
3

PROPOSTA DE CARACTERIZAÇÃO
DOS PROCEDIMENTOS TÉCNICOS DA TRADUÇÃO

A revisão da literatura efetuada no capítulo anterior (<q. v. 2) mostra


que os procedimentos técnicos da tradução são propostos como uma
tentativa de responder à pergunta “como traduzir?”.

O trabalho pioneiro a enumerar esses procedimentos foi o de Vinay


e Darbelnet ( 1977), sendo que os trabalhos subsequentes aqui examinados
ou se reportam diretamente a esse trabalho, ou fazem uma reformulação
do mesmo.
Constatando que os procedimentos descritos por Vinay e Darbelnet
(1977) não eram suficientes para dar conta de todos os modos de traduzir
empregados nas traduções, os autores examinados (q.v. 2) acrescentaram
outros a eles, ou eliminaram alguns que não consideravam pertinentes.
Existem discrepâncias também no modo como os autores examinados
(q. v. 2) descrevem e recortam os procedimentos técnicos da tradução, sem
falar na divergência terminológica entre eles.
Neste capítulo, apresento uma proposta de caracterização dos pro­
cedimentos técnicos da tradução onde procuro combinar as visões dos
autores examinados, acrescentando procedimentos aos listados por Vinay
e Darbelnet ( 1977) e, ao mesmo tempo, reagaipando e eliminando alguns
dos procedimentos descritos posteriormente, por considerar que estão, na
realidade, embutidos em outros.

69
Procuro, também, adotar uma terminologia que considero mais
adequada, visando a eliminar algumas das dificuldades ocasionadas por
sua variação entre os autores examinados.
Acredito que, assim, poderá estar facilitada a tarefa do tradutor,
que terá à sua disposição uma série de procedimentos que efetivamente
recobrem o que acontece no ato da tradução.
A clareza terminológica, acredito, poderá também facilitar a tarefa
de professores e alunos de tradução, que não mais se verão diante de uma
série de discrepâncias entre diversos autores.
Espero também que esta recaracterização seja útil em futuros es­
tudos sobre a tradução, já que os problemas terminológicos podem ter
uma influência negativa em alguns trabalhos, conforme mostro em 4.1.

Além disso, na minha segunda proposta de recategorização dos


procedimentos técnicos da tradução, já utilizo a recaracterização que
apresento a seguir, acredito que com resultado positivo.
Considero, em minha proposta, um total de treze procedimentos, a
saber: a tradução palavra por palavra, a tradução literal, a transposição, a
modulação, a equivalência, a omissão vs. a explicitação, a compensação,
a reconstrução de períodos, as melhorias, a transferência que engloba
o estrangeirismo, a transliteração, a aclimatação e a transferência com
explicação - a explicação, o decalque e a adaptação.
Estes procedimentos são descritos abaixo.

3 .1 A tradução palavra p o r palavra

A tradução palavra por palavra corresponde à expectativa que


muitos têm a respeito da tradução.
Enquanto procedimento tradutório, é definida por Catford ( 1965),
r

Newmark (1988) e Aubert (1987). E caracterizada aqui segundo a defi­


nição de Aubert (1987, p. 15):

70
il (rmliii'Ho cm que determinado segmento textual (palavra,
liase, oração) ó expresso na L T mantendo-se as mesmas ca­
tegorias numa mesma ordem sintática, utilizando vocábulos
cujo semanticismo seja (aproximativamente) idéntico ao
dos vocábulos correspondentes no T L O , por exemplo:

he wrote a letter to the mayor


ï ï 1 i ï I I
ele escreveu uma carta para 0 prefeito

sans retard
I I
sem demora

Seu uso é restrito, porém, pois é rara uma eonvergência tão grande
r
entre as línguas. A esse respeito, comenta Aubert (1987, p. 16): “E rela­
tivamente fáeil perceber que, encarado como um todo, a tradução de um
texto de certa extensão (dois ou mais períodos compostos) jamais poderá
ser empreendida” palavra p o r palavra.

3 .2 A tradução literal

A tradução literal corresponde à ideia mais difundida a respeito da


tradução, e é definida por todos os autores examinados para o presente
trabalho (q.v. 2). É caracterizada aqui tomando por base as definições de
Catford (1965), Newmark (1988) e Aubert (1987).

Aubert ( 1987, p. 15) considera a tradução literal como “aquela em


que se mantém uma fidelidade semântica estrita, adequando porém a
morfossintaxe às normas gramaticais da LT”.
Cita como exemplos os segmentos textuais abaixo, onde é possível
observar as alterações morfossintáticas a que foram submetidos, sendo
que essas alterações é que distinguem a tradução palavra por palavra da
tradução literal (cf. AUBERT, 1987, p. 16).

71
it is a known fact
i I I ï 4
0 r
e e fato conhec

It est allé en ville

1 i ï 4
\
(ele) foi a cidade

Muitos autores, notadamente Vázquez-Ayora (1977), parecem


repudiar totalmente a tradução literal como a fonte de todos os erros na
tradução. No entanto, como apontam Aubert (1987) e Newmark (1988),
ela pode ser necessária, ou até obrigatória. Pode ser necessária em um tipo
de tradução que tem como objetivo a comparação com o texto original,
como em certas edições bilíngües. Pode ser obrigatória na tradução de
certos documentos. Nesse caso, observa Aubert (1977), a tradução literal
- ou mesmo palavra por palavra - deixa de ser meramente um reflexo de
uma coincidência estrutural e cultural entre duas línguas, para tomar-se
um procedimento tradutório deliberado. Segundo Newmark (1988), é o
procedimento recomendável sempre que for possível.

3.3 A transposição

A transposição consiste na mudança de categoria gramatical de


elementos que constituem o segmento a traduzir, como se observa nos
exemplos abaixo:

she said apologetically. - advérbio


(ela) disse desculpando-se. - verbo reflexivo
(ela) disse como justificativa. adjunto adverbial

she said reproachfully. — advérbio


(ela) disse censurando. verbo
(ela) disse em tom de reprovação. adjunto adverbial

72
incnlo, o quo indica que a transposição não é um procedimento obriga-

definida aqui, q.v. 3.2) do segmento.


No segundo segmento citado acima, por exemplo, existe no portu-
guês a possibilidade de se manter um advérbio na tradução, como se vê
abaixo, tomando a tradução literal.

she said reproachfully advérbio


(cia) disse repreensivamente advérbio
(ela) disse recriminadoramente advérbio

Assim sendo, a transposição pode ser obrigatória, quando é impres­


cindível para que a tradução se atenha às normas da LT, ou facultativa,
quando é realizada por razões de estilo, como para se evitar o excesso de
advérbios com sufixo “mente”, na tradução do inglês para o português,
considerado deselegante e que, na minha experiência, constitui uma re­
comendação expressa de editores brasileiros.
Este procedimento é definido por Vinay e Darbelnet ( 1977, q.v. 2.1 ),
Vázquez-Ayora (1977), Newmark (1988) e Catford (1965).

3.4 A modulação

A modulação consiste cm reproduzir a mensa gem da TLO no TLT,


mas sob um ponto de vista diverso, o que reflete uma diferença no modo
como as línguas inteipretam a experiência do real, como nos exemplos
abaixo, na tradução entre o inglés e o portugués.

like the back of my hand —> como a palma da minha mão


keyhole > buraco da fcchadura

73
Nos casos apresentados acima, a modulação ó obrigatória, encon­
trando-se inclusive dicionarizado o segundo exemplo (keyhole = buraco
da fechadura, cf. HOUAISS, 1981, p. 319). Este procedimento pode
também ser facultativo, refletindo então uma diferença de estilo, aspecto
abordado por Vinay e Darbelnet (1977). Vê-se abaixo um exemplo de
modulação facultativa:

It is easy to demonstrate .
É fácil demonstrar (tradução literal)
N ão é d ifíc il demonstrar (modidação)

Este procedimento é definido por Vinay e Darbelnet (1977, q.v. 2.1,


p. 28), Vázquez-Ayora (1977) c Newmark (1981, 1988).

3.5 A equivalência

A equivalência consiste em substituir um segmento de texto da LO


por um outro segmento da LT que não o traduz literalmente, mas que lhe
é funcionalmente equivalente.

Este procedimento é normalmente aplicado a clichês, expressões


idiomáticas, provérbios, ditos populares e outros elementos cristalizados
da língua, como nos exemplos abaixo:

God hless you! Saúde!


<
G esundheit !-—" Deus te crie!
r

It's a piece o f cake. E sopa.


Truly yours. Atenciosamente.
Sincerely yours'

74
liste procedimento foi defendido por Vinay e Darbelnet (1977, q.v.
2.1,p. 29), Vázquez-Ayora (1977, p. 313-322) e Newmark 1988, p. 90-91).
Newmark ( 1981,1988) considera o equivalente cultural, o equivalen­
tefuncional e o equivalente descritivo como procedimentos independen-
tes, mas estes procedimentos estão englobados aqui sob a equivalência,
considerada como um procedimento mais geral.

3.6 A omissão vs. A explicitação

A omissão consiste cm omitir elementos do TLO que, do ponto de


vista da LT, são desnecessários ou excessivamente repetitivos.
Na tradução do inglês para o português, este procedimento c usa­
do, por exemplo, em relação aos pronomes pessoais. Em inglês ocorre
aquilo que, em português, seria considerada uma repetição excessiva
deles, já que o português, auxiliado pelas desinencias verbais que dei­
xam claro a que pessoa se refere o verbo, costuma omitir o pronome
pessoal na posição de sujeito, ao contrário do inglês, onde é obrigatória
sua presença.
Na tradução do inglês para o português seria usado, para o mesmo
caso, o procedimento inverso, a explicitação do pronome, pois sua pre­
sença c obrigatória em inglês.
Estes dois procedimentos foram definidos por Vázquez-Ayora (1977,
q.v. 2.1.4, p. 46).

3 .7 A compensação

A compensação consiste em deslocar um recurso estilístico, ou seja,


quando não é possível reproduzir no mesmo ponto, no TLT, um recurso
estilístico usado no TLO, o tradutor pode usar um outro, de efeito equi­
valente, em outro ponto do texto.

75
()s trocadilhos, por cxcmplo, quando nao podem ser el'cluados com
um mesmo grupo de palavras, podem ser leitos cm outro ponlo do lexio
onde sejam possíveis, para equilibrar o texto estilísticamente.
É comum dizer-se, ao criticar as traduções, que “empobreceram” o
texto. Este empobrecimento seria a ausência no TLT dos recursos estilísticos
empregados pelo autor no TLO. Cito abaixo um trecho de Alice in Won­
derland (cf. CARROL, s/d, p. 53), por Fernando de Mello (cf. CARROL,
1976, p. 89-90) onde podem-se notar perdas e compensações:

T H E R A B B IT S E N D S IN A L IT T L E B IL L

It was White Rabbit, trotting slowly back again, and looking


anxiously about as it went, as i f it had lost something; and she
heard it muttering to itself, “The Duchess! The Duchess! Oh
my dear paws! Oh my fu r and whiskers! She ’II get me executed,
as sure asferrets are ferrets! Where can I have dropped them,
I wonder?" Alice guessed in a moment that it was looking fo r
the fan and the pair o f white kidgloves, and she very good-
naturedly began hunting aboutfo r them, but they were nowhere
to be seen - everything seemed to have changed since her swim
in the pool; and the great hall with the glass table and the little
door, had vanished completely.

O C O E L H O M A N D A -L H E O L A G A R G O P E L A C H A M IN É

Era o Coclho Branco que lá vinha, aos saltos, devagar e às voltas


como quem perdeu alguma coisa; e Alice ouviu-o murmurar:
“A Duquesa! A Duquesa! Ai as minhas patinhas, ai as minhas
suíças e os meus bigodes! V ai mandar-mc executar, tão certo
como eu me chamar Coelho! Onde é que eu os teria deixado
cair?”. Alice adivinhou logo que ele andava à procura do leque
e das luvas brancas de pelica e, como era boa por natureza,
começou também a procurá-los, mas sem os ver em nenhum
lado - via-se que tudo tinha mudado depois que ela tinha co­
meçado a nadar no lago: o átrio com a mesa de vidro e a porta
pequena, tudo tinha desaparecido por completo.

76
Iislc procedimento é examinado por Nida (1964), Vázquez-Ayora
(1977, q.v. 2.1.4, p. 47) e Newmark (1981, 1988).

3.8 A reconstrução de períodos

A reconstrução consiste em redividir ou reagrupar os períodos e


orações do original ao passá-los para a LT.
Na tradução do portugués para o inglês é muitas vezes necessário
distribuir as orações complexas do português em períodos mais curtos em
inglês. Na tradução do inglês para o português ocorre o inverso.
Observo isso com frequência quando traduzo manuais do usuário
do inglês para o português. De modo geral, meus clientes não aceitam
os períodos curtos do inglês, achando que dão ao texto em português um
tom excessivamente infantil.
Um exemplo de reconstrução de períodos realizado por mim pode
ser visto abaixo em 3.9.
Este procedimento é descrito por Newmark (1981, q.v. 2.1.5, p. 55).

3.9 A s melhorias

As melhorias consistem em não se repetirem na tradução os erros


de fato ou outros tipos de erro cometidos na TLO.
É este o procedimento que utilizo quando traduzo para o inglês os
relatórios de bolsistas de uma instituição beneficente. Alguns deles, ao
escreverem seus relatórios, cometem vários tipos de erro. Como o relatório
visa apenas a informar aos supervisores da entidade nos Estados Unidos
acerca do desenvolvimento dos projetos dos bolsistas - e não a refletir seu
idioleto - corrijo automaticamente tais erros, como no exemplo abaixo
(cf. FARIAS, 1988):

77
O trabalho será desenvolvido c id 04 etapas ¡i I." etapa do
trabalho consta da sensibilização dos professores, nesta
etapa cada grupo apresenta rclize de seus trabalho que serão
discutidos em reunião com todas às diretoras e professores
de educação artística, comunicação c expressão c Estudos
Sociais, (sic.)

The work will be developed in fo u r stages. The first is to


make teachers aware o f the issues. A t this stage each group
will present an oral summary o f their work to he debated at
meetings with the school principals, and art, language, and
social studies teachers.

Este procedimento foi definido por Newmark (1981, q.v. 2.1.5, p.


55, 1988).

3 .1 0 A transferência

A transferência consiste em introduzir material textual da LO no


TLT. A denominação “transferência” para este procedimento é a preferida
por Newmark (1988, p. 81-82).
A transferência pode assumir as formas abaixo:
1) estrangeirismo
2) estrangeirismo transliterado (transiiteração)
3) estrangeirismo aclimatado (aclimatação)
4) estrangeirismo + uma explicação de seu significado, que pode ser:
a) nota de rodapé
b) diluição do texto.

Esses procedimentos serão descritos a seguir.

78
3 .10.1 ( ) I \(niinn‘lri\ni<>
ii

O estrangeirismo consiste em transferir (transcrever ou copiar) para


o TLT vocábulos ou expressões da LO que se refiram a um conceito,
técnica ou objeto mencionado no TLO que seja desconhecido para os
falantes da LT.
O vocábulo ou expressão aparecerá no TLT entre aspas, em itálico
ou sublinhado marcando o itálico - isto é, com uma marca gráfica de
que se trata de vocábulo estranho à LT o que é obrigatório nas normas
brasileiras de editoração (cf. SILVA, 1984; HOUAISS, 1975).
Este procedimento é definido por Vinay e Darbelnet (1977, q.v.
2.1.1, p. 25). Ao defini-lo, denominam-no “empréstimo”, apropriando à
teoria da tradução um termo já utilizado pela lingüística, dando-lhe uma
acepção diferente, pois falam de um “empréstimo” tomado no próprio ato
da tradução, e não da utilização de vocábulos já incorporados ao léxico
da LT : “o que interessa ao tradutor são os empréstimos novos e mesmo
os empréstimos pessoais” (VINAY c DARBELNET, 1977, p. 47), ob­
servação feita também por Nida (1964, p. 137).
Aquilo que entendem por “empréstimo”, portanto, outros autores
chamam dc estrangeirismo, como observa Yebra (1984, p. 333). Con­
ceituado pela lingüística, o estrangeirismo vem a ser um empréstimo
vocabular não integrado à língua que o toma, conservando da outra os
fonemas, a flexão e a grafia. Com o passar do tempo, sendo o vocábulo
da língua estrangeira amplamente aceito pelos falantes da que o acolheu,
tende este a se adaptar à fonología e à morfología desta última, caso em
que se transforma em empréstimo (cf. CÂMARA JÚNIOR, 1977, p. 111),
através de um processo denominado aclimatação (cf. PEI, 1966, p. 3-4).
Exemplos de empréstimos do inglês aclimatados no português são:
chulipa, escrete, nocaute, piquenique, sinuca, time. Suas formas em lín­
gua inglesa são: sleeper, scratch, knockout, pic-nic, snooker e team (cf.
FERREIRA, s/d, p. 321,557, 975, 1091, 103, 1378).

79
O empréstimo lingüístico, por sua vez, consiste, como loi dito acima,
na incorporação dc elementos de uma língua em outra, “tais elementos
podendo ser, em princípio, fonemas, afixos flexionais, afixos derivacio-
nais, vocábulos e tipos frasais” 1(cf. CÂMARA JÚNIOR, 1977, p. 104).
Embora o termo empregado por Vinay e Darbelnet (1977) não seja
estritamente correto, pelos motivos examinados acima, já adquiriu livre
curso entre tradutores, professores e teóricos da tradução. Ao realizar
o presente estudo, senti a necessidade de marcar a distinção entre os
termos “empréstimo” e “estrangeirismo”, correntes na lingüística, como
foi visto acima, e o procedimento descrito por Vinay e Darbelnet (1977).
Foi encontrada a mesma preocupação em Newmark (1981, p. 178-179),
que sugere o uso dos termos “transcrição”, “transferência” ou “adoção”.
Proponho utilizar o termo transferência para o macroproccdimcnto que
engloba outros que utilizam o elemento lexical do TLO no TLT. Reser­
vei o termo estrangeirismo para aquilo a que Vinay e Darbelnet (1977)
denominam “empréstimo”, a fim de evitar ir dc encontro à terminologia
tradicional cm lingüística.

3 .1 0 .2 A Transliteração

A transliteração consiste em substituir uma convenção gráfica por


outra (cf. DUBOIS et a l, 1978, p. 601; PEI, 1966, p. 282), como no caso
de glasnost, uma transliteração do alfabeto cirílico para o romano, e que
não deve ser confundida com a transcrição fonética (cf. DUBOIS et al.,
1978; PEI, 1966).
Como procedimento de tradução, ocorre em casos de extrema di­
vergência entre duas línguas, que nem sequer têm um alfabeto comum.
Este procedimento é descrito por Catford (1965, p. 26).
Na tradução entre o inglês e o português normalmente não haverá
lugar para este procedimento, uma vez que as duas línguas utilizam o

1 Os empréstimos de tipos frasais são tratados sob a rubrica do decalque. de acordo com o modelo
de Vinay e Darbelnet(1977, q.v. 3.12).

80
al labelo lomano. Podem ocorrer, contudo, elementos já transi iterados na
LO. Sendo este o caso, é preciso obedecer as normas detransliteração
adequadas para cada língua (cf. MAILLOT, 1975, p. 147; Associação Bra­
sileira de Normas Técnicas-ABNT, 1961, p. 1).

3 .10 .3 A Aclimatação

A aclimatação é o processo através do qual os empréstimos são


adaptados à língua que os toma (cf. PEI, 1966, p. 3-4). Este processo pode
também ser denominado “decalque” (cf. P E I, 1966, p. 34; CRYSTAL,
1980, p. 51). Através desse processo, um radical estrangeiro se adapta à
fonología e à estrutura morfológica da língua que o importa (cf. CÂMARA
JÚNIOR, 1977, p. 105).
Enquanto procedimento tradutório, a aclimatação consistiria em o
tradutor realizar, ele mesmo, essas transformações a que o empréstimo
estaria sujeito durante o uso pelos falantes da língua que o adota.
Seria, portanto, um passo além do estrangeirismo (q.v. 3.10.1) em
que a palavra estrangeira é simplesmente copiada da LO no TLT. Aqui,
o vocábulo já estaria sujeito a alguma transformação, a ser efetuada pelo
tradutor.
Observo que, em meu trabalho de tradutora e de professora de tra­
dução, nunca tive a oportunidade de realizar este procedimento, de modo
que concluo que o tradutor raramente o realiza: normalmente só depois
que uma palavra é tomada de empréstimo pelo conjunto de falantes de
uma língua é que passará pelo processo de aclimatação.
Tal como observa Alves (1983), este procedimento só pode ser detec­
tado em uma tradução através de uma análise diacrônica, para determinar
se já havia sido utilizado anteriormente ou não.

81
3 . 10.4 A / ransfcrência com Explicação

A condição ncccssária para o emprego da transferência na tradução


é que o leitor possa apreender seu significado através do contexto.
Muitas vezes o TLO não permite esta compreensão, sendo neces­
sário acrescentar ao TLT procedimentos adicionais à transferência para
proporcionar ao leitor um entendimento do significado do mesmo.
Esses procedimentos adicionais, que se dividem em notas de rodapé
e explicações diluídas no texto, foram examinados em detalhe por Nida
(1964) e Newmark (1981,1988).

Newmark (1988) enumera as três formas que podem tomar as notas


do tradutor: 1) notas de rodapé, 2) notas no final do capítulo e 3) notas
ou glossário no final do livro.
Além disso, a explicação da transferência pode ser diluída no texto,
assim evitando-se o emprego da nota de rodapé. Nesse caso, a explica­
ção pode aparecer entre vírgulas, entre travessões, entre aspas ou entre
parênteses, como no exemplo abaixo:

SA T, Scholastic Aptitude Test, exame de avaliação a que se


submetem estudantes norte-americanos ao final do segundo
grau como requisito para a entrada ñas universidades...

A explicação pode também tomar a forma de um “equivalente cul­


turar’ (cf. NEWMARK, 1988, p. 82-83), por exemplo:

Night School, o Supletivo americano...

ÎCM, the Brazilian sales tax...

Ou pode tomar a forma de um “equivalente funcional” (cf. NEW­


MARK, 1988, p. 83), livre de conotações culturais, como nos exemplos
a seguir:

82
I Ugh School (tiseola Sccmuhii iii )...

Cambono, an acolyte...

Surgeon General - Ministro da Saúde...

Wall Street, o mercado financeiro de Nova Iorque...

3.11 A explicação

Havendo a necessidade de eliminar do TLT os estrangeirismos para


facilitar a compreensão, pode-se substituir o estrangeirismo pela sua ex­
plicação. Isso pode acontecer em uma peça de teatro, por exemplo, em
que, por uma questão de ritmo cênico, é preciso que o espectador tenha
uma compreensão imediata da situação.
Este procedimento é descrito por Nida (1964), que o recomenda ao
invés do estrangeirismo, particularmente quando comenta a tradução da
Bíblia para leitura em voz alta, a qual geraria a mesma necessidade de
compreensão imediata que o teatro. Os exemplos oferecidos acima (q.v.
3.10.4) podem ser repetidos aqui, omitindo-se o estrangeirismo:

... exame de avaliação a que se submetem estudantes norte-


americanos ao final do segundo
grau como requisito para a entrada nas universidades...
... o Supletivo americano...
... lhe Brazilian sales tax...
... Escola Secundária...
... acolyte
... Ministro da Saúde...
... o mercado financeiro de Nova Iorque...

3.12 O decalque

O decalque consiste em traduzir literalmente sintagmas ou tipos


frasais da LO no TLT, abandonando a confusão que se criou em torno
do termo empregado por Vinay e Darbelnet (1977, q.v. 2.1.1. p. 27), já

83
que, como loi vislo, mui los ¡nitores inloipicliim o decalque como sendo
lima aclimatação do empréstimo lingüístico.
Tal como o eslrangeirismo e a aclimatação, o decalque só pode ser
detectado em uma tradução existente através de unía análise diacrônica,
que determine se já havia sido usado ou não, como observa Alves ( 1983).
Newmark (1981, 1988) define dois tipos de decalque. Um deles é o
empréstimo de tipos frasais propriamente dito e o segundo é o decalque
empregado na tradução de nomes de instituições, conforme nos exemplos
abaixo:

a) decalque de tipos frasais


task force grupo tarefa
textbook livro texto
case studv estudo de caso

b) decalque de tipos frasais ligados a nomes de instituições


INPS - National Institute fo r Social Welfare
The People’s Republic o f China - A República Popular da China

3 . 1 3 / 1 adaptação

A adaptação é o limite extremo da tradução: aplica-se em casos


onde a situação toda a que se refere a TLO não existe na realidade extra-
linguística dos falantes da LT. Esta situação pode ser recriada por uma
outra equivalente na realidade extralinguística da LT.
Este procedimento foi descrito por Vinay e Darbelnet (1977, q.v.
2.1.1, p. 30) e por Vázquez-Ayora (1977), além de ser comentado por
Newmark (1988).
Tive a oportunidade de utilizar este procedimento ao traduzir manu­
ais de treinamento de pessoal americanos para uma firma brasileira. Foi
exigência do cliente que os nomes dos personagens citados nas histórias
de caso, das entidades mencionadas (tais como universidades e firmas),

84
hem como miados, fossem substituídos por outros bem brasileiros, a lím
de aproximar da realidade dos empregados brasileiros as situações ciladas
como exemplos, sem, no entanto, alterar o conteúdo da teoria de trabalho
em equipe que desejavam veicular.

O mesmo deu-se em relação a situações tipicamente americanas, tais


como horários de refeições, tipos de alimentos, esportes praticados, que
foram substituídos por outros mais comuns no Brasil.

85
4

DUAS PROPOSTAS DE RECATEGORIZAÇÃO


OS PROCEDIMENTOS TÉCNICOS DA TRADUÇÃO

Como foi visto no capítulo 2, todos os modelos dc tradução exa­


minados categorizam os procedimentos técnicos da tradução ao longo
de dois grandes eixos: o da tradução literal e o da tradução não literal,
embora sob rótulos diversos.

Um outro modo de expressar essa dicotomía é dizer que um desses


eixos prioriza a forma do TLO sobre o conteúdo desse texto e a forma e
o conteúdo do TLT, e que o outro prioriza o conteúdo do TLO e do TLT
sobre a forma do TLO e do TLT.

Como foi mencionado acima (q.v. 1), essa dicotomía corresponde à


controvérsia mais antiga em torno da tradução, em pauta desde o chamado
“período pré-linguístico” fcf. NEWMARK, 1981), quando a reflexão so­
bre a tradução era realizada de modo impressionístico e intuitivo, sem o
apoio dc outras áreas do conhecimento. A partir da década de cinqüenta,
porém, como foi visto (q.v. 2, p. 20), o estudo sobre a tradução tomou
grande impulso, passando a buscar subsídios para seu estudo nessas outras
áreas (q.v. 1, p. 15).
Assim, foi possível que essa grande divisão em dois eixos, embora
continuasse a existir, tomasse certas nuances. No quadro da página 58
observa-se, por exemplo, que em Catford (1965), Newmark (1981) e Nida
(1964), a linha que marca a divisão entre os dois eixos já não é tão rígida.

87
No caso do Newmark (1981, q.v. 2.5) c de Nida ( 1964, q.v. 2.2), c
a teoria da comunicação que permite a inclusão tic novos elementos no
modelo, além dos conceitos de conteúdo (sentido) e forma.
Com Nida (1964, q.v. 2.2) o leitor passa a integrar o modelo, sendo
em proveito dele que o modelo passa a admitir o princípio do efeito equi­
valente (q.v. 2.1.2, p. 35 e 2.1.5, p. 50), que visa a aproximar ao máximo
o TLT do leitor. Levando mais adiante o pensamento de Nida (1964),
Newmark (1981, 1988, q.v. 2.1.5), através do estudo das funções da lin­
guagem, inclui no modelo dois elementos já citados por Nida (1964, q.v.
2.1.2, p. 34), além do leitor: a natureza da mensagem e o tipo de público
visado pelo original e pela tradução, chamado por Newmark (1981) de
finalidade da tradução.
Introduzidos esses elementos, o foco da tradução deixa de incidir
apenas sobre o conteúdo (o sentido) ou a forma, passando a recair tam­
bém sobre o leitor, a natureza da mensagem ou a finalidade da tradução.
Assim, uma tradução cuja finalidade seja uma comparação entre
duas línguas poderá ser totalmente literal, sem preocupação com o con­
teúdo; uma tradução que vise a uma compreensão total pelo leitor poderá
afastar-se muito da literalidade, adaptando o texto para a realidade do
leitor, facilitando-lhe em tudo a compreensão.
No entanto, os estudos acerca da tradução são ainda muito recentes
e os novos enfoques dados à visão tradicional da tradução não foram
ainda suficientemente elaborados de modo a poderem responder satis­
fatoriamente à pergunta “como traduzir?” levando-se em conta todos os
elementos em jogo em uma tradução.
Na introdução (q.v. 1), foi visto que os procedimentos técnicos da
tradução constituem uma tentativa de responder a essa pergunta. Vários
autores vêm tentando respondê-la desse modo, entre eles os examinados
neste livro. Para fazê-lo, lançam mão de subsídios teóricos de diversas
áreas do conhecimento (q.v. 1, p. 15). Apesar disso, o modo como são
categorizados os procedimentos técnicos da tradução na literatura dis-

88
pom'vel piiiccc não levar eni conta as alterações efetuadas nos modelos
da tradução.
r

Isto porque, até hoje, na literatura disponível (por exemplo, VAZ-


QUEZ-AYORA, 1977; NEWMARK, 1981, 1988), os procedimentos
técnicos da tradução são apresentados na ordem em que foram colocados
por Vinay e Darbelnet (1977, q.v. 2.1), ou seja, segundo a facilidade de
execução pelo tradutor, partindo do procedimento mais fácil e indo até o
mais difícil - estando aí implícito que a dificuldade é o afastamento da
forma em busca do sentido.
Para Vinay e Darbelnet (1977), portanto, o procedimento mais fácil
para o tradutor é o empréstimo, que consiste na simples cópia de um ele­
mento lexical da LO no TLT. Os procedimentos que se seguem são mais
difíceis porque se afastam mais da LO. Assim, conclui-se que, na visão
de Vinay e Darbelnet (1977), quanto mais se afasta da LO, mais difícil é
o procedimento, do ponto de vista do tradutor.
Além do critério da dificuldade, pode-se dizer que está embutido
na categorização de Vinay e Darbelnet (1977) um ordenamento que
vai de uma unidade menor (a palavra, ou vocábulo, ou item lexical),
envolvida no empréstimo, passando pelo sintagma, envolvido no de­
calque, até atingir uma reformulação total de um segmento de texto,
envolvida na adaptação.
Não acredito, no entanto, que o empréstimo seja um procedimento
tão fácil assim. Ele é usado quando há uma divergência tão grande entre
as línguas, entre as realidades extraiinguísticas expressas por meio delas,
que falta a uma itens lexicais possuídos pela outra para designar objetos ou
exprimir conceitos desconhecidos pela primeira, o que representa grande
dificuldade para o tradutor e obstáculo para a tradução (cf. ALVES, 1983)
e compreensão do TLT por seu leitor.
Em lugar de simplesmente copiar o item lexical da LO no TLT,
o tradutor deve assegurar-se primeiro de que o contexto deixa claro
para o leitor o significado do empréstimo, devendo utilizar também

89
procedimentos auxiliares (cf. 3.1.10) quando necessários para garantir
a compreensão do leitor.
O decalque, segundo procedimento na escala de dificuldade de
Vinay e Darbelnet (1977), expressa o mesmo tipo de divergência que o
empréstimo, agora ao nível sintagmático, tendo o mesmo nível de difi­
culdade para o tradutor, embora envolva uma unidade tradutória maior.
Talvez pelos motivos expostos acima, Souza-Aguiar (1980) comece
sua exposição do modelo de Vinay e Darbelnet (1977) pela tradução
palavra por palavra (ou tradução literal), deixando para depois o em­
préstimo e o decalque, enquanto Vázquez-Ayora (1977) omite totalmente
estes dois procedimentos, começando sua exposição pela tradução literal
Tampouco acredito que o empréstimo e o decalque possam fazer
parte do eixo da tradução direta, definido por Vinay c Darbelnet (1977)
como aquele em que a passagem de uma língua para a outra se faz com
facilidade, sem que se encontrem obstáculos maiores à tradução. Ora,
como foi visto acima, o empréstimo e o decalque constituem meios de
se lidar justamente com grandes divergências entre as línguas, com casos
onde não existe equivalência entre elas, o que constitui um obstáculo para
a tradução e uma dificuldade para o tradutor.
Assim sendo, considero que caberia propor uma nova categorização
dos procedimentos técnicos da tradução que eliminasse algumas das in­
consistências discutidas acima. Neste livro, apresento duas propostas de
categorização dos procedimentos técnicos da tradução e argumento em
favor de uma delas como será visto abaixo.
A primeira seria uma categorização segundo um critério de frequ­
ência, onde os procedimentos técnicos da tradução seriam ordenados
de acordo com a frequência com que são utilizados. Este ordenamento
poderia ser útil para tradutores e alunos de tradução, que teriam à mão
unia lista de procedimentos utilizáveis em tradução, sabendo a quais deles
recorrer em primeiro lugar.

90
A segunda proposta se prende à convergêneia ou divergência entre
as línguas envolvidas no ato tradutório, bem como entre as culturas ou
contextos extralinguísticos a que se referem.

Quanto maior for a convergência entre as línguas, mais simples e


mais fáceis os procedimentos tradutórios necessários para a passagem
de uma para outra.
Estas duas propostas são examinadas a seguir.

4.1 A categorização dos procedimentos técnicos da. tradução pela.


frequência de ocorrência

Minha constatação intuitiva e impressionista de tradutora e professora


de tradução de que o empréstimo, o procedimento técnico da tradução citado
por Vinay e Darbelnet (1977, q.v. 2.1.1) como o mais fácil e, portanto,
colocado por estes autores em primeiro lugar, tem uso bastante limitado
na prática, é corroborada por estudos estatísticos em que se medem
a frequência de utilização dos procedimentos, tais como o realizado por
Alves (1983).
Neste trabalho, Alves (1983, p. 10) toma por base a escala hie­
rárquica de dificuldade crescente de emprego dos procedimentos técnicos
da tradução proposta por Vinay e Darbelnet (1977). Alves (1983) efetua
uma contagem da frequência de utilização dos procedimentos técnicos da
tradução através do cotejamento entre originais e traduções existentes de
alguns textos na área de ciências sociais, com a finalidade de verificar a
possibilidade de assim selecionar textos de dificuldade gradativa a serem
utilizados em cursos de treinamento de tradução.
A hipótese de Alves (1983, p. 11-12) é de que quanto maior fosse o
número de procedimentos considerados mais fáceis utilizados em um texto,
mais fácil seria traduzi-lo. Como procedimentos que apresentam menor
grau de dificuldade, dentre os descritos por Vinay c Darbelnet (1977),
Alves (1983, p. 11) considera a tradução literal e a transposição, “ visto

91
dispensarem uma reflexão semântica e uma análise contrastiva mais pro­
funda” (ALVES, 1983, p. 11), no que diverge de Vinay e Darbelnet ( 1977),
que antepõem o empréstimo e o decalque a estes dois procedimentos.
r

E preciso notar que Alves (1983) achou necessário incluir outros


procedimentos em seu trabalho, além de sete básicos enumerados por
Vinay e Darbelnet (1977), que, como aponta também a literatura exa­
minada para o presente trabalho, não são suficientes para a descrição dos
procedimentos técnicos efetivamente empregados em traduções. Assim,
Alves (1983), inclui procedimentos complexos, compostos de mais de
um dos descritos por Vinay e Darbelnet (1977), bem como a omissão e
o erro, que Alves (1983) observa não serem descritos por Vinay e
Darbelnet (1977), além da explicação como um apêndice do empréstimo.
Para resumir o resultado geral da contagem efetuada por Alves
(1983, p. 88), organizei, sob a forma do quadro abaixo, os dados que
apresenta:

Tradução Literal 53,99%


Transposição 39,11%

TOTAL 93,10%

O quadro mostra que houve uma maioria esmagadora de tra­


duções literais e de transposições, totalizando 93,10% dos procedimentos
detectados, contra apenas 6,90% para todos os demais, com 0,10% para o
empréstimo (q.v. quadro abaixo).
Para dar uma ideia mais ampla da frequência de utilização dos pro­
cedimentos em geral no corpus analisado por Alves (1983), organizei
em ordem decrescente, por frequência e por número de vezes em que
foram utilizados os procedimentos técnicos da tradução, os totais gerais
que apresenta (ALVES, 1983, p. 229) em sua tabela de Frequência
Absoluta e Relativa dos Procedimentos de Tradução por Texto, e obtive
o quadro abaixo:

92
Procedimentos % N" de vezes
Tradução Literal 53,99 4 .9 2 4

T ransposição obrigatória 33 ,3 4 3.041

T ransposição Facultativa 5,77 526

O m issão 2,92 266

Erro 1,34 122

E m préstim o 0,65 59

T ransposição obrigatória + M odulação obrigatória 0 ,64 58

T ranscrição 0,53 48

M odulação facultativa 0,50 46

M odulação obrigatória 0,11 10

T ransposição obrigatória + Em préstim o 0 ,1 0 9

Transposição facultativa + Transposição obrigatória + M odulação 0,04 4


facu ltativa

T ransposição facultativa + M odulação facultativa 0,03 3

Tradução literal + Em préstim o 0,02 2

T ransposição obrigatória + Transcrição 0,01 1

E m préstim o + E xplicação 0,01 1

D ecalq u e 0,01 1

Reorganizando este quadro para adequá-lo ao modelo de Vinay e Darbelnet


(1977, q.v. 2.1, p. 23), obtive o quadro que apresento abaixo:

% N° de vezes
Em préstim o 0,65 59
Tradução Direta D ecalque 0,01 1
Tradução Literal 53 ,9 9 4 .9 2 4
Transposição 39,11 3 .5 6 7
M odulação 0,61 56
Tradução Indireta
E q uivalência
A daptação

Um exame dos dois quadros acima deixa claro que a hierarquização


proposta por Vinay e Darbelnet (1977, q.v. 2.1) para os procedimen­
tos técnicos da tradução não corresponde à frequência com que são

93
utilizados os procedimentos técnicos da tradução em textos da área dc
ciencias sociais.
Paiva (1981/92) realizou um trabalho em que efetua uma contagem
dos procedimentos técnicos da tradução descritos por Vinay e Darbelnet
(1977, q.v. 2.1) na tradução de sintagmas nominais característicos de
textos de serviço social.
Reordenei o quadro apresentado por Paiva (1981/82, p. 89) de acordo
com o número de vezes que foram utilizados os procedimentos técnicos
na tradução de sintagmas nominais em textos da área de serviço social e
obtive o quadro abaixo:

Procedimentos Número de vezes que foram utilizados


Transposição 730
M odulação com T ransposição 160
Tradução Inadequada 64
Transposição com om issão 46
Transposição com acréscim o 26
Tradução Incom pleta 19
M odulação 11
E quivalência 10
T ransposição com Equivalência 9
E quivalência Facultativa 4
Em préstim o 3
Literal 2

Reorganizei, em seguida, o quadro acima para adequá-lo ao modelo dc


Vinay e Darbelnet (1977, q.v. 2.1, p. 23) e obtive o quadro abaixo:

Em préstim o 3
Tradução Direta D ecalq u e
Tradução Literal 2
Transposição 730
M odulação 11
Tradução Indireta
E quivalência 14
A daptação

94
Um exame dos dois quadros acima deixa claro que a hierarquização
proposta por Vinay e Darbehiet (1977, q.v. 2.1) para os procedimentos
técnicos da tradução não corresponde à frequência com que são utiliza­
dos na tradução de sintagmas nominais cm textos da área de serviço social.
A combinação dos dois quadros que elaborei, a partir dos trabalhos de
Alves (1983) e Paiva (1981/82), produziu o quadro abaixo:

Vinay e Darbelnet Alves (1983) Paiva (1981/82)


(1977) n"de vezes n°de vezes
Em préstim o 59 3
D ecalque 1
Tradução Literal 4.924 0
Transposição 3.567 730
M odulação 56 11
Equivalência 14
A daptação

Um exame desse quadro deixa ver duas coincidências entre os re­


sultados obtidos por Alves (1983) e Paiva (1981/82): a alta incidência
do emprego da transposição, por um lado, e a baixa incidência do em­
préstimo, por outro.
Estas duas coincidências parecem confirmar minha intuição de que a
transposição é um dos procedimentos mais utilizados dentre os descritos
por Vinay e Darbelnet (1977, q.v. 2.1 ), assim como de que o empréstimo
é um dos menos utilizados. O quadro torna aparente também algumas dis­
crepâncias entre os resultados obtidos respectivamente por Alves (1983)
c por Paiva (1981/82). A principal delas é a diferença na frequência de
utilização da tradução literal. Em Alves (1983), esta foi de 4.924 vezes,
parecendo confirmar minha intuição de que seria o procedimento mais
utilizado. Em Paiva (1981/82), no entanto, o número encontrado para
este procedimento foi de apenas duas vezes, parecendo contrariar minha
intuição de que seria o procedimento mais utilizado.

95
Creio que o principal motivo para esta discrepância é a escolha
do corpus. Enquanto Alves (1983) examinou textos completos, Paiva
(1981/82) examinou unidades menores, ou seja, sintagmas nominais,
cujas traduções, segundo o modelo de Vinay e Darbelnet (1977, q.v. 2.1,
p. 26-27), deveriam estar classificadas como decalques, como foi visto
acima (q.v. 3.12, p. 76).
Ao meu ver, as discrcpâncias entre os resultados obtidos não per­
mitem que, a partir deles, se organizem os procedimentos técnicos da
tradução de acordo com a frequência de uso.
Um dos motivos para tal impossibilidade, acredito, reside na própria
caracterização dos procedimentos técnicos da tradução utilizados para as
contagens, como será visto abaixo.
Paiva (1981/82) baseou sua análise exclusivamente nos procedimen­
tos descritos por Vinay e Darbelnet (1977). Alves (1983) fez o mesmo,
depois de analisar o modelo de tradução de Catford ( 1965) e concluir que
este não era adequado para os fins propostos em seu trabalho.
Tanto Paiva (1981/82) como Alves (1983) concluíram que a descri­
ção dos procedimentos técnicos da tradução feita por Vinay e Darbelnet
(1977) não era suficiente para recobrir todos os procedimentos que en­
contraram no corpus que examinaram e incluíram em sua análise outros
procedimentos, definidos de modo ad hoc cm seu trabalho, para poder
descrever as ocorrências encontradas nas traduções que cotejaram com
seus originais. Um exame dos quadros encontrados nas páginas 84 a 86
acima mostra que não houve coincidência entre os procedimentos que
definiram, alem dos descritos por Vinay e Darbelnet (1977), (e nem
mesmo na interpretação que deram a estes), como se pode ver no quadro
que elaborei e apresento abaixo:

96
Alves (1983) Paiva (1981/82)

O m issão

Transposição Obrigatória + M odulação Obrigatória


Transcrição
Transposição Obrigatória + Empréstimo
Transposição Facultativa + Transposição
Obrigatória + Modulação Facultativa
Transposição Facultativa + M odulação Facultativa
Tradução Literal + Empréstimo
Transposição Obrigatória + Transcrição
Empréstimo + Explicação

Modulação i 'transposição
Transposição + Omissão
Transposição + Acréscim o
'tradução Incompleta
Transposição + Equivalência

Está fora dos objetivos do presente trabalho analisar a descrição


de procedimentos adicionais feita por Alves (1983) e por Paiva (1981/82).
Todavia, é possível apontar uma falha desses trabalhos na interpretação
dos procedimentos técnicos da tradução descritos por Vinay e Darbelnet
(1977) que, no meu entender, pode ter o efeito de invalidar os resultados
das contagens efetuadas.
Na descrição de Vinay e Darbelnet (1977, p. 47-48), o decalque
aparece como um tipo particular de empréstimo: a adoção, no TLT,
de sintagmas da língua estrangeira traduzidos literalmente, respeitando
ou não a estrutura sintática da LT. Em qualquer dos casos, segundo
Vinay e Darbelnet (1977, p. 47), é introduzido “um novo modo dc
expressão na LT”.
Apesar disso, tanto Paiva (1981/82) quanto Alves (1983) interpre­
tam e descrevem o decalque, enquanto procedimento tradutório, como

97
um empréstimo aclimatado, o que é uma das definições tradicionais que
a lingüística dá ao termo “decalque” (cf. PEI, 1966, p. 34),mas não a tie
Vinay e Darbelnet (1977), como se viu acima, nem a de outros linguistas
(cf. CRYSTAL, 1980, p. 51; CÂMARA JÚNIOR, 1977, p. 105), em que
o decalque é definido como o empréstimo de tipos frasais.
O próprio Vinay (1968, p. 739) toma o decalque como sendo um
empréstimo aclimatado, e fornece como exemplo a palavra iglou no
francês, empréstimo aclimatado de igloo do inglês. Este exemplo é citado
por Alves (1983), que engloba a tradução de “Epictetus”, do inglês, para
“Epiclelo”, em português, como uma instância de decalque detectada no
corpus que examina, o que está em desacordo com o texto de Vinay e
Darbelnet (1977).
Paiva (1981/82, p. 85) cita dois exemplos ilustrativos de decalque
- segundo a definição de Vinay (1968) e, portanto, divergindo de Vinay
e Darbelnet (1977) - encontrados no corpus que examina:

activists - ativistas
interactionist - interacionista

Observe-se que estes exemplos são meramente ilustrativos, já que


Paiva (1981/82) não encontrou nenhum decalque, enquanto decalque de
tipos frasais ou de sintagmas, em sua análise da tradução de sintagmas
nominais em textos da área de ciência social, como se vê nos quadros
das páginas 84 a 86.
Como o trabalho de Paiva (1981/82) dedica-se ao exame da tradução
de sintagmas nominais, a expectativa, então, deveria ser de que o trabalho
fosse girar especificamente em tomo de uma análise dos tipos de decalque
utilizados no corpus, já que, segundo Vinay e Darbelnet (1977), como foi
visto acima, é este o procedimento empregado da tradução de sintagmas.
Em vista dessas observações a respeito da caracterização do decal­
que nos dois trabalhos examinados nesta seção (ALVES, 1983 e PAIVA,

98
1981/82), bem como de outros problemas de caracterização que encontrei
nos dois trabalhos, parece-me lícito perguntar: quando examino o resulta­
do das contagens efetuadas por estes trabalhos, estou falando exatamente
de quais procedimentos técnicos da tradução?
Parece estar claro que a descrição de Vinay e Darbelnet (1977) não
é suficiente para cobrir todos os procedimentos técnicos encontrados cm
traduções. Como foi visto no presente trabalho (q.v. 2), outros autores
reviram a descrição feita por Vinay e Darbelnet (1977) e acrescentaram
a ela outros procedimentos, tal como fizeram Alves (1983) e Paiva
(1981/82). Assim sendo, acredito que, para que seja possível propor um
modelo de tradução, é preciso efetuar também uma recaracterizaçâo dos
procedimentos técnicos da tradução que elimine algumas das dificulda­
des apresentadas pelo modelo de Vinay e Darbelnet (1977), tal como a
caracterização do decalque, e também dê conta dos procedimentos pro­
postos por alguns outros autores, que parecem contribuir para suprir as
insuficiências da descrição de Vinay e Darbelnet (1977).
Alves (1983) aponta outras limitações em seu trabalho de avaliação
estatística. A primeira delas é a limitação do corpus, sendo que não há
na literatura disponível dados que permitam avaliar que tamanho de
corpus seria suficiente para determinar inequivocamente a hierarquia
dos procedimentos técnicos da tradução segundo sua frequência de uso
(cf. Alves, 1983:92).
A segunda é quanto ao tipo de texto. Nas duas contagens menciona­
das, os textos são da área de ciências humanas, não havendo contagens
disponíveis em outras áreas. Alves (1983:14) levanta a hipótese de que
talvez contagens em outros tipos de textos produzissem resultados dife­
rentes. Está aí aberta uma área de estudos futuros.
Além do tipo de texto, segundo Alves ( 1983:95), seria preciso levar
em conta as “peculiaridades estilísticas de cada tradutor,” pois estas pode­
riam estar fazendo com que cada texto apresentasse resultados diversos.
Alves (1983:95) aponta que um estudo para resolver esta dificuldade

99
pediria que vários tradutores traduzissem o mesmo texto, avaliando em
seguida cada tradução, para poder determinar até que ponto as pecu­
liaridades de cada tradutor interfeririam na frequência de uso de cada
procedimento técnico da tradução.
Em vista dos dados expostos acima, fica aparente que o estado
atual dos estudos sobre a tradução não permitem que os procedimentos
técnicos da tradução sejam hierarquizados de acordo com a frequência
com que são usados.

4.2.A categorização dos procedimentos técnicos da tradução pela convergência


ou divergência lingüística e extralinguística entre a LO e a LT

Uma outra possibilidade de categorização dos procedimentos técni­


cos da tradução, que é a que defendo aqui, no meu entender, rela-ciona-se
com o grau de divergência entre a LO e a LT.
Serve de base a esta proposta de categorização a constatação feita
por Vinay e Darbelnet (1977:46-48) de que: 1) a tradução direta (q.v.
2.1, p. 24) é possível quando há paralelismo estrutural e paralelismo
extraiingiiístico entre a LO e a LT, e 2) os exemplos mais numerosos
de tradução literal (q.v. 2.1, p. 24) são encontrados entre línguas de
mesma família (francés-italiano, por exemplo) e sobretudo de mesma
cultura. Estas duas afirmações permitem concluir que uma divergência
lingüística e extralinguística mínima, que será aqui denominada “con­
vergência”, permitirá o uso mais freqüente da tradução literal enquanto
procedimento técnico da tradução, ao passo que uma divergência maior
entre esses fatores obrigaria o tradutor a procurar recursos tradutórios
mais complexos.
Outro aspecto que serve de base para esta proposta de categorização
são as dificuldades que se encontram no ato de transpor de uma língua para
outra, tal como apresentadas por Mounin ( 1963): 1) as diferenças das rea­
lidades extralinguísticas que cercam os povos falantes das várias línguas;
2) as diversas maneiras como cada sistema lingüístico divide e analisa as

100
experiencias da realidade extralinguística; 3) as organizações diversas
dos sistemas lingüísticos, seja ao nivel morfológico ou sintático; e 4) as
divergências estilísticas, que se podem considerar aqui como diferenças
de registro, da probabilidade de ocorrência de um enunciado c do grau
de adequação de um enunciado a uma situação (cf. Hymes, 1979: 22-23).
A partir do exposto acima, portanto, na minha proposta de catego-
rização, os procedimentos técnicos da tradução se distribuiriam ao longo
de quatro eixos, a saber: 1) convergência do sistema lingüístico, da rea­
lidade extralinguística e do estilo; 2) divergência do sistema lingüístico;
3) divergência do estilo e 4) divergência da realidade extralinguística.
Elaborei um quadro sinótico que resume esta proposta e que apre­
sento na página seguinte. Explico mais detidamente, abaixo, cada um dos
eixos, enumerando os procedimentos (cf. 3) que se dispõem ao longo de
cada um deles.

4.2.1. A convergência do sistema lingüístico, do estilo e da realidade ex­


tralinguística

Haveria convergência da realidade extralinguística quando duas


línguas fossem usadas para expressar duas realidades que tivessem uma
diferença mínima entre si.
Acredito que esta seja uma situação ideal para o tradutor, mas não
necessariamente real, já que até uma mesma língua pode ser usada por
povos de realidades extrai inguísticas muito diversas, tal como o português
no Brasil, em Portugal e na Africa.
Por outro lado, é possível que dois povos que dividam o mesmo
território, mas falemlínguas diferentes, compartilhem a mesma realidade
extralinguística.

Mesmo os povos hipotéticos mencionados acima poderiam divergir


na maneira como recortam lingüísticamente a realidade que os cerca.
Nida e Taber (1982) e Mounin (1963) citam os já célebres exemplos dos

101
esquimós que possuem vários termos pni.i (Irsipniu os diversos tipos de
neve, bem conio os exemplos dos povos ;ili iemios que recoi (am de modos
variados o espectro cromático.

Na ausência desse tipo de divergência é que haveria convergencia


do sistema lingüístico. Seria preciso que houvesse também uma divergen­
cia mínima ao nivel morfológico, sintático e estrutural, o que, segundo
Vinay e Darbelnet (1977), é possível entre línguas de mesma familia e
de mesma cultura.
Tomando estilo com a acepção que lhe é dada por Bally (apud DU­
BOIS et al., 1978, p. 237), como “os fatos de expressão da linguagem
organizada do ponto de vista de seu conteúdo afetivo, isto é, expressão
dos fatos da sensibilidade pela linguagem e ação dos fatos de linguagem
sobre a sensibilidade”, pode-se considerar a convergência estilística como
a convergência desses modos expressivos.

102
PROPOSTA DE CATEGORIZAÇÃO DOS PROCEDIMENTOS TÉCNICOS DA TRADUÇÃO
Convergência do Sistema
Lingüístico, do Estilo e àa Divergência do Sistema Lingüístico Divergência do Estilo Divergência da Realidade
Realidade Extralinguistica Extralinguistica
Tradução palavra por palavra
Tradução literal
Transposição

M odulação
Equivalência

O m issão v s. Explicitação

Com pensação
Reconstrucão
M elhorias

Transferência
Transferência c/ Explicação
Decalque
Explicação
Adaptação
É possível considerar estilo também como estando relacionado ao
registro, à probabilidade de ocorrência de um enunciado e do grau dc
adequação de um enunciado a uma situação (cf. HYMES, 1979, p. 22-
23), como foi visto acima, sendo a convergência estilística, então, uma
convergência desses fatores.
Mesmo que não haja uma convergência entre o sistema lingüístico,
o estilo (como entendido acima) e a realidade extralinguística em todo o
espectro recoberto por duas línguas, elas podem convergir em algumas
instâncias ou em segmentos de texto, como, por exemplo, no período
abaixo:

r
A casa e branca.
l 4 4 4
La casa es blanca.
4 1 4 4
La casa ès bianca.
4 1 4 4
La maison est blanche.

Assim sendo, nos casos em que existe a convergência, tal como


descrita acima, são dois, no meu entender, os procedimentos técnicos
da tradução de que o tradutor pode lançar mão: a tradução palavra por
palavra e a tradução literal, conforme definidas acima (q.v. 3.1).
Quando esta convergência é máxima, é possível aplicar-se a t r a ­
dução palavra por palavra, embora mesmo que apenas em pequenos
segmentos de texto. Em seguida, vem a tradução literal, que já não é
mais palavra por palavra, pois faz todas as alterações morfossintáticas
necessárias para produzir um texto aceitável na LT, sem afastar-se dele.
Acredito que este segundo procedimento seja o mais comum nas
traduções. No entanto, para ordenar os procedimentos aqui, foi utilizado
um critério de progressivo afastamento da LO - sem contudo chegar ao

104
a tradução literal pode funcionar como uma pré-tradução que permitiria
ao tradutor avaliar que procedimentos deverá empregar em sua tradução.

4 .2 .2 A divergência do sistem a lingüístico

Esta divergencia é entendida aqui segundo a observação de Mounin


(1975), citada acima (q.v. 4.2), a respeito das dificuldades encontradas pelo
tradutor: as organizações diversas dos sistemas lingüísticos, seja ao nível
lexical, morfológico ou sintático e as diversas maneiras como cada sistema
lingüístico divide e analisa as experiências da realidade extralinguística.
A divergência dos sistemas lingüísticos obriga o tradutor a empregar
procedimentos tradutórios mais complexos do que a tradução palavra por
palavra ou a tradução literal, conforme definidas aqui (q.v. 3.1 e 3.2).
Esses procedimentos mais complexos visariam a preservar, alem do sen­
tido do original, a gramaticalidadc (cf. HYMES, 1979, p. 21-22) do TLT.
Assim sendo, mesmo uma tradução literal, como foi visto em 3.1,
necessita de procedimentos que não são exatamente literais. Por exemplo,
a tradução do segundo segmento “the boy is fa t ”, que gera uma versão
aparentemente literal, espontânea, “o menino é gordo ”, dependeu de
escolhas no sistema lingüístico do português que não são necessárias no
inglês:

o gordo (gord+o)
the a fat. gorda (gord+a)
os (o+s) gordos (gord+o s)
as (a+s) gordas (gord+as)

105
Essas escolhas, no entender de Catford (1965) já constituem um
procedimento tradutório específico, que denomina transposição. Caso
não sejam efetuadas estas operações, obteríamos a tradução abaixo do
segmento examinado:

the boy is fat

o-a-os-as menino é gordo-gorda-gordos-gordos

onde a tradução é um segmento inaceitável em português

Este tipo de procedimento, no entanto, é, no meu entender, realizado


espontaneamente pelo tradutor, podendo ser englobado por aquilo que
defino como tradução literal {q.v. 3.1) e que, portanto, já dá conta de
algumas divergências do sistema lingüístico.
No caso de divergências maiores entre os sistemas lingüísticos, serão
necessários procedimentos proporcionalmente mais complexos, que, ao
meu ver, são: a transposição, a modulação e a equivalência, conforme
definidas aqui {q.v. 3.3, 3.4 e 3.5).
A colocação do eixo da “divergência do sistema lingüístico” junto
do eixo da “convergência” toma a transposição o terceiro procedimento
apresentado. Ao meu ver, esta c uma vantagem da organização que pro­
ponho, já que, de acordo com minha experiência de trabalho, bem como
o resultado da contagem de Alves (1983), é a transposição o segundo
procedimento mais usado, em seguida à tradução literal. Acredito ser co­
erente esta colocação também porque a transposição é um desdobramento
da tradução literal. Como foi visto acima, a própria tradução literal já
emprega procedimentos (adequações morfossintáticas) que têm afinidade
com a transposição, um procedimento realizável no nível sintático.
Como foi visto em 3.3 e 3.4 a transposição e a modulação podem
ser obrigatórias ou facultativas. São obrigatórias quando, se não forem

106
ilmIi/IkIns, |iii'|iiilu'¡iicm o entendimento do Icilorou produ/ircni uni Icxlo
iiiíicciliivcl mi I I 1. São facultativas quando geradas por uma divergencia
de estilo.

4 .2.3 A divergência do estilo

Como foi visto em 3.2, o estilo é entendido aqui com a acepção que
lhe dá Bally (apud DUBOIS et al., 1978, p. 237):

os fatos de expressão da linguagem organizada do ponto de


vista de seu conteúdo afetivo, isto é, expressão dos fatos da
sensibilidade pela linguagem e ação dos fatos de linguagem
sobre a sensibilidade.

Em Crystal (1980, p. 337) encontra-se também que a estilística é

um ram o da lingüística que estuda as características de usos


(variedades) da língua e tenta estabelecer princípios capazes de
exp licar as escolhas efetuadas por indivíduos c grupos sociais
no seu uso da língua.

Uma vez que esses modos expressivos variam de uma língua para
outra, assim como variam as escolhas de uso da língua, o estilo é um
aspecto importante a ser considerado ao se efetuar uma tradução, porque
pode tomar impossível a tradução literal (q.v. 3.1.2) que é o procedimento
espontâneo do tradutor diante do TLO.
Todos os autores examinados para o presente trabalho levam em
consideração o estilo nos modelos que propõem (q.v. 2). Em minha
proposta de categorização, os procedimentos técnicos a serem utilizados
diante de divergências de estilo são a omissão e seu oposto, a explicitação,
a compensação, a reconstrução de períodos e as melhorias conforme
definidos em 3.6, 3.7, 3.8 e 3.9.

107
listes processos são listados dc acordo com o tamanho do segmento
de texto que envolvem: a omissão e a explicitação podem ser realizadas
com os pronomes pessoais, por exemplo, na tradução entre o português c
o inglês, podendo, também, envolver segmentos maiores. A compensação
e a reconstrução geralmente envolvem segmentos maiores, atingindo até
a totalidade do texto a ser traduzido, o que pode acontecer também com
as melhorias. Ao mesmo tempo, acredito, estão listados de acordo com a
ordem de frequência com que são realizados, de acordo com o que pude
observar em meu trabalho de tradutora e professora de tradução.

4.2.4 A divergência da realidade extralinguistica

As divergências da realidade extralinguistica são um obstáculo à


tradução, pois essas divergências causarão divergências no léxico e até
nos modos expressivos.
Em termos de tradução, podem obrigar o tradutor a introduzir no
TLT itens lexicais do TLO, acompanhados ou não de um procedimento
tradutório que os explique, ou a utilizar um desses procedimentos expli­
cativos sem o item lexical da LO.
Qualquer que seja o procedimento adotado, no meu ver é esse tipo de
divergência que mais interfere na leitura do TLT. Acredito que, aplicados
adequadamente os procedimentos descritos até aqui para as divergências do
sistema lingüístico e do estilo, o leitor do TLT, que não conhece a LO, será
exposto a um texto que é acessível a ele, pois teriam sido aplainadas as diver­
gências entre as duas línguas através da tradução.
Mas o mesmo não acontccc cm relação às divergências culturais. Se
uso um estrangeirismo em uma tradução, o leitor perccbe imediatamente
que está diante de um item lexical que pertence à LO e que expressa uma
divergência extralinguistica. Mais ainda, acredito que pcrccba este fato como
um fenômeno tradutório.

108
A <11\ nj'.i'iu mi c*u11ura I pode ser apresentada de modo diluído dentro
do lexlo, aliuvés de explicações ou definições, mas, acredito, também isto
será percebido pelo leitor como expressão de uma divergência cultural.
Em minha opinião, essas divergências só devem ser totalmente
aplainadas, eliminando o estrangeirismo, cm casos muito especiais, li­
gados à finalidade do texto (cf. NIDA, 1964; NEWMARK, 1981, 1988),
pois acredito que lcmos traduções primordialmente com a finalidade de
conhecer outras culturas (tomando-se cultura em seu sentido mais amplo),
ainda que à distância, embora desconheçamos as línguas que as expressam.
Por serem tão perceptíveis ao leitor e por representarem uma grande
dificuldade para o tradutor, ao meu ver, é que os procedimentos tradutórios
ligados às divergências extralinguísticas são tratadas em grande detalhe
pela literatura disponível.
A partir de minha vivência como tradulora e professora de tradução,
posso afirmar que são os procedimentos ligados a estas divergências os
menos utilizados pelo tradutor, assim como os que lhe causam maior
dificuldade.
O procedimento definido por Vinay e Darbelnet (1977) como em­
préstimo, por exemplo, só é usado pelo tradutor quando este: 1) desiste
de encontrar um equivalente, ainda que apenas aproximado, na LT, 2) o
empréstimo é de uso consagrado na LT ou 3) considera importante utilizar
o item lexical da LO por algum motivo, em geral ligado ao estilo. Assim
sendo, está longe de ser o procedimento mais fácil, como dizem Vinay e
Darbelnet (1977), ou de constituir uma simples cópia, como dizem (cf.
VINAY e DARBELNET, 1977), pois envolve muito mais trabalho - ou
operações lógicas - por parte do tradutor.
Além disso, como já foi dito aqui e por Alves (1983), só é possí­
vel detectar, cm uma tradução existente, os procedimentos que cito sob
transferência e decalque através de uma análise diacrônica. Em muitos
dos casos observados, e utilizados aqui como exemplos desses proce­
dimentos, o uso dos estrangeirismos já é consagrado na língua, estando

109
esses dicionarizados, o mesmo acontecendo com alguns li pos frasais.
Talvez, nesses casos, fosse mais correto falar cm tradução literal, ou
mesmo palavra por palavra.
Ainda assim, creio que pode existir um momento em que estes pro­
cedimentos estejam sendo usados pela primeira vez, tal como discutido
aqui. Ao traduzir para o inglês “INPS” c “cambono”, como já me acon­
teceu, não sabia se já haviam sido traduzidos ou não para esta língua, e
acredito ter aí realizado os procedimentos que descrevo.
Na categorização que proponho, são três os tipos de tratamento que
podem ser dados aos itens lexicais, sintagmas c segmentos textuais que
reflitam a divergência extralinguística:

1. transferência do elemento lexical da LO para o TLT:


a) tal e qual ocorre na LO (estrangeirismo) (q.v. 3.10.1)
b) transliterado (transliteração) {q.v. 3.10.2)
c) aclimatado (aclimatação) (q.v. 3.10.3)

2. transferência do elemento lexical da LO para o TLT acrescido de


explicação (q.v. 3.10.4).

Note-se que, como foi visto acima, estas transferências só poderão


ser detectadas em traduções existentes através de uma análise diacrônica
cm que seja possível determinar se já eram utilizadas pela LT anterior­
mente ou não.

3. o emprego da definição ou explicação do elemento lexical da LO no


TLT sem a transferência do mesmo (q.v. 3.11).

4. decalque de tipos frasais, que também só poderá ser detectado diacro-


nicamente (q.v. 3.12).

110
5. ¡i (idaptiiçdo de lodo um segmento de texto que contém uma situação
completamente desconhecida para os falantes da LT, ou que lhes dê uma
impressão diversa da pretendida no TLO (q.v. 3.13).

Para expor minha proposta de categorização dos procedimentos


técnicos da tradução, trabalhei com os procedimentos que caracterizei
no capítulo 3.

4.3. Resum o da proposta

Na minha proposta, fica aparente que os procedimentos estão


categorizados em uma ordem que vai dos mais simples para os mais
complexos, dos que envolvem unidades menores para os que envolvem
unidades maiores, e, primordialmente, na ordem dos que minha intuição
revela serem mais usados (mais freqüentes) para aqueles que considero
menos usados (menos freqüentes), embora eu não tenha encontrado na
literatura subsídios para comprovar esta frequência.
Nesta categorização que proponho para os procedimentos técnicos
da tradução, tentei eliminar a dicotomía entre tradução livre e tradução
literal. Assim, distribuí os procedimentos ao longo de quatro eixos,
aqueles onde seria gerada a necessidade de cada procedimento a fim de
preservar o sentido (que priorizo em minha proposta) sem impor uma
divisão rígida entre eles.
Em primeiro lugar, uma vez que a tradução opera nas línguas, no fundo
todos os procedimentos são gerados por uma divergência lingüística, sendo
a divisão em eixos uma questão de grau, mais do que de separação.
Além disso, um procedimento pode ter a sua necessidade gerada
em mais de um eixo simultaneamente. Por exemplo, o tradutor pode
decidir manter um estrangeirismo no TLT (gerado por uma divergência
extralinguística) por motivo de estilo (divergência de estilo), querendo
manter a cor local.

111
Km segundo lugar, a passagem de um eixo para oulro se dá de manei­
ra suave, como a que se realiza entre a tradução literal e a transposição,
pois há uma ccrta imbricação entre as duas.
Finalmente, considero que a opção por um procedimento ou outro
será feita segundo a teoria das funções da linguagem, o tipo de texto e a
finalidade da tradução, nos moldes do que é descrito no quadro apresen­
tado em 2.1.5 página 51. Nesta visão da tradução todos os procedimentos
são igualmente válidos, independentemente de serem literais ou não.
r
E esta visão dc tradução que se impõe à categorização dos procedi­
mentos técnicos da tradução que tentei realizar neste trabalho.

112
5

CONCLUSÃO

No presente trabalho, parti do pressuposto de que os procedimen­


tos técnicos da tradução são um modo de responder à pergunta “como
traduzir”, e que cada estudioso do assunto a responde de acordo com sua
visão daquilo que deve ser uma tradução.

A fim de realizar um exame do tratamento dado aos procedimentos


técnicos da tradução na literatura disponível, efetuei, cm primeiro lugar,
uma revisão sucinta de alguns autores que selecionei (q.v. 2).
Iniciei esta revisão pelo trabalho pioneiro de Vinay e Darbelnet
(1977, q.v. 2.1.1). Estes autores caracterizam sete procedimentos técni­
cos da tradução, hierarquizando-os segundo a dificuldade de execução
pelo tradutor e categorizando-os sob o eixo da tradução direta ou da
tradução oblíqua, ou seja, uma tradução que é literal e outra que não
é literal.
Estando insatisfeita com as colocações de Vinay e Darbelnet (1977),
por constatar que os procedimentos que caracterizam não são suficientes
para dar conta do que efetivamente ocorre em uma tradução, e por não
concordar com a divisão dicotômica entre tradução literal e não literal,
procurei examinar, cronologicamente, outros autores que tratassem do
mesmo assunto.
Em seguida, portanto, examinei o trabalho de Nid;t (1964, 1966;
NIDAe TABER, 1982, q.v. 2.1.2). Embora este aulor nfu> liste e enume-

113
rc procedimentos técnicos da tradução, como fazem Vinay e Darbelncl
(1977), ele os comenta brevemente em vários pontos de sua obra.
A visão de Nida (1964) da tradução é que esta constitui um ato
comunicativo. A partir daí, haveria dois modos de traduzir: a equiva­
lência formal, onde se visa a produzir um TLT que corresponda o mais
possível aos diversos elementos lingüísticos e extralinguísticos do TLT,
ou seja, produz-se uma tradução o mais literal possível, mesmo que
isto prejudique a compreensão do TLT pelo leitor; e a equivalência
dinâmica, onde se visa a proporcionar ao leitor um TLT que lhe seja
familiar em termos não só da construção lingüística e estilística, como
também em termos dos comportamentos e elementos extralinguísticos
expressos no TLT.
Assim, foi introduzida, por Nida (1964), uma figura importante no
modelo da tradução: o leitor. É em prol dele que Nida (1964) considera
válido realizar uma tradução que se distancia em muito do TLO em termos
formais. Neste modelo, entretanto, persiste ainda a oposição entretradução
literal e não literal.
Passei, em seguida, para um exame de Catford (1965, q.v. 2.1.3),
que apresenta quatro modelos de tradução, utilizando a teoria lingüística
de Halliday.
Catford (1965) inicia pela tradução plena vs. a tradução parcial. Na
primeira, todo o material textual na LO é substituído por seu equivalente
na LT; na segunda, há uma parte, ou partes, do TLO que são incorporadas
ao TLT.
A segunda oposição exposta por Catford (1965) é a da tradução
total vs. a tradução restrita. Na primeira, todas as “ordens” ou “planos”
(q. v>. 2.1.3, p. 36) do TLO são substituídos por outros da LT; na segunda,
esta substituição limita-se a apenas uma dessas “ordens” ou “planos.”
A terceira oposição é aquela entre a tradução limitada e a não li­
mitada. A primeira se realiza em apenas uma das ordens, enquanto, na

114
segunda, as equivalencias onlre o i l X) c o I I ,'l' sat) buscadas deslocando-
se livremenlc na escala das ordens.

Finalmente, Catford (1965) apresenta um modelo tripartido, onde


figuram a tradução livre, a tradução literal e a tradução palavra por
palavra, entendidas de acordo com a visão intuitiva que se tem destes
tipos de tradução.
Alguns dos tipos de tradução descritos por Catford (1965) são equi­
valentes a procedimentos tradutórios descritos por Vinay e Darbelnet
(1977), mas tampouco me pareceram suficientes para dar conta do que
efetivamente ocorre em uma tradução, ou para um maior esclarecimento
do processo.
Examinei, em seguida, o trabalho de Vázquez-Ayora (1977, q.v.
2.1.4), que reviu e ampliou os procedimentos técnicos da tradução des­
critos por Vinay e Darbelnet (1977), opondo a tradução literal - como
modo de traduzir e procedimento técnico da tradução ao mesmo tempo
- à tradução oblíqua, com os demais procedimentos listados ao longo
deste eixo.
Vázquez-Ayora (1977) faz uma tentativa de aplicar à tradução o
modelo da lingüística de base gerativa transformacional. Talvez seja este
o modelo que mais se aproxima do que realmente ocorre na cabeça do
tradutor no ato da tradução, que é apresentado nesta visão como que em
câmera lenta. No entanto, não encontrei evidência empírica na literatura
para comprová-lo.
Terminei minha revisão da literatura com o trabalho de Newmark
(1981, 1988, q.v. 2.1.5), que dispõe os procedimentos técnicos da tra­
dução ao longo dos eixos opostos da tradução semântica e da tradução
comunicativa. A primeira visa a transmitir, com a maior aproximação
r

possível, o significado contextual do original. E, portanto, uma tradução


fiel e literal. A segunda visa a produzir em seus leitores um efeito tão
próximo quanto possível do efeito produzido sobre os leitores do original.
É, portanto, livre e idiomática.

115
Newmark (1981, 1988) introduz no modelo da tradução alguns
elementos vitais: as funções da linguagem, o tipo de texto e a finalidade
da tradução. São esses elementos que auxiliarão o tradutor a decidir que
tipo de tradução, livre ou literal, deve empregar em um determinado texto.

Esta última formulação foi a que me pareceu intuitivamente mais


adequada, pois reflete o modo como procedo ao traduzir. Observo, todavia,
que Newmark (1981, 1988) ainda apresenta os procedimentos técnicos
da tradução na mesma ordem em que foram apresentados por Vinay e
Darbelnet (1977), embora sem explicitar por que o faz. Além disso, seu
trabalho continua a manter os procedimentos técnicos da tradução divi­
didos ao longo de dois eixos diametralmente opostos.
O exame que fiz da literatura disponível permitiu-me responder a
algumas das perguntas que me propus ao iniciar este trabalho {q.v. 1).
Em primeiro lugar, nenhum dos autores examinados alega serem
os procedimentos técnicos da tradução que descrevem uma chave para
a compreensão das operações mentais envolvidas no ato tradutório. En­
contrei, na literatura (cf. BORDENAVE, 1987; ALVES, 1983)subsídios
para afirmar que, até hoje, não foi desvendado o mistério sobre o que se
passa na cabeça do tradutor no ato da tradução.
A fim de compreender as operações mentais envolvidas no ato de
traduzir, poderiam ser úteis as pesquisas de lingüística aplicada de natu­
reza qualitativa, que poderiam utilizar a técnica introspectiva dc protocolo
verbal ou de protocolo de pausa (cf. CAVALCANTI, 1986).'

Contudo, um outro tipo de análise é possível a partir do cotejamento


entre o TLO e a TLT (cf. ALVES, 1983, p. 9):

E m bora seja p o ssív el um a preparação p relim in ar para se tra­


d u zir um texto, há um m om ento, justam ente aquele em que o ato

1 De acordo com Cavalcanti ( 1986, p. 7), na técnica de protocolo verbal, o informante verbaliza
seu pensamento durante a solução de um problema. No protocoio de pausa, a verbalização só
ocorre quando o informante se dá conta do que está fazendo, ou porque encontrou um problema
ou porque achou algo digno de nota. (> linguista grava esses protocolos, analisa-os e interpreta­
os qualitativamente.

116
tradutório propriam ente dito ocorre, que é dilleil de explicar, ( )
processo parece englobar todo um aspecto psiconcurológico,
sobre o qual seria difícil dc se afirm ar algo objetivam ente com -
provável. Parece ser possível, entretanto, inferir algum a coisa
sobre a natureza propriam ente lingüística do processo, a partir
do confronto entre os textos da língua original (TLO) e da
língua da tradução (TLT).

Os autores examinados trabalharam, na maioria, sobre o cote-jamento


de TLO’s e TLT’s e as constatações que fazem são ao nível da natureza
lingüística do processo.
Em segundo lugar, creio ser possível afirmar que os procedimentos
técnicos da tradução não são apenas uma série de “boas à idéias,” “acha­
dos,” ",trouvailles, ” ou “macetes” em termos de tradução.
Os estudos mencionados aqui, realizados por linguistas (cf. Vinay e
Darbelnet, 1977; Catford, 1965), professores de tradução (cf. Vázquez-
Ayora, 1977; Newmark, 1981, 1988; Sousa-Aguiar, 1980; Cubric, 1984)
e outros (cf Alves, 1983; Fregonezi, 1984; Paiva 1981/82) demonstram
que estes procedimentos são verificáveis ao se realizarem cotejamentos
entre traduções existentes e seus originais.
Além disso, nem mesmo os modos diversos de encarar a tradução,
informados por bases teóricas diferentes, negaram estes procedimentos.
Ao contrário, preocuparam-se em acrescentar procedimentos aos sete
descritos por Vinay e Darbelnet (1977) e a tornar cada vez mais precisa
sua descrição.

Acredito também que os procedimentos técnicos da tradução


refletem as operações lingüísticas que o tradutor realiza ao efetuar uma
tradução.
Em terceiro lugar, ao meu ver, os procedimentos técnicos da tradução
são mais do que uma mera listagem das dificuldades que o tradutor encontra
na realização de uma tradução, ou uma tentativa ad hoc de descrever os
problemas que este encontra.

117
É verdade que está implícita na descrição dos procedimentos técnicos
da tradução aquelas que seriam as dificuldades encontradas pelo tradutor,
já descritas por Mounin (1975). No entanto, os procedimentos técnicos
da tradução constituiriam um elenco abrangente de possíveis modos de
proceder à disposição do tradutor, que os sele-cionaria de acordo com
uma visão ampla (um modelo) daquilo que vem a ser uma tradução e dc
qual é o papel do tradutor.

O fato de os procedimentos técnicos da tradução poderem ser de­


tectados em traduções existentes, feitas mesmo por indivíduos que talvez
desconhecessem a formulação dos procedimentos de execução, bem
como a variedade de parcs de línguas em que são encontrados, alguns
exemplificados no presente trabalho (q.v. 1, p. 16), comprovam a
abrangência destes procedimentos.
Assim, pelos motivos expostos acima, acredito que os procedimentos
técnicos da tradução, tal como abordados na literatura examinada,
possuem status de generalização suficiente para a formulação de teorias.
Em quarto lugar, o exame da literatura que realizei permitiu constatar
que os autores que se seguiram a Vinay e Darbelnet (1977, q.v. 2.1.1)
procuraram investigar o ato de traduzir à luz das teorias lingüísticas mais
atuais em seu tempo. No entanto, conforme pude verificar, pouco
contribuíram para um entendimento mais esclarecedor da concepção
inicial de Vinay e Darbelnet (1977), como será visto abaixo.
Nida (1964, q.v. 2.1.2) fez uma primeira aplicação do modelo da
lingüística de base gerativa transformacional à tradução, o que foi feito
também, mais tarde, por Vázquez-Ayora ( 1977, q.v. 2.1.4). Embora estas
duas formulações sejam, na literatura examinada, as que me parecem
mais aproximar-se do que se passa na cabeça do tradutor durante o ato
de traduzir, não me parecem ter logrado contribuir efetivamente para que
o tradutor tivesse condições de realizar melhor a sua tarefa.

118
Nida ( 1964) aplicou também o modelo da comunicação à tradução,
com maior sucesso, acredito, pois, em lugar de um confronto entre duas
línguas, orquestrado por um autor ausente, mas plenipotenciário, seu
modelo introduz na tradução as figuras do leitor e do próprio tradutor
como intermediário do ato comunicativo.
Assim, são diminuídos os poderes do autor, que passa a se curvar
às necessidades do leitor, o que considero vital, pois elimina a tradução
tão fiel ao original que é incompreensível para o leitor e porque valoriza
a figura do tradutor.
Catford (1965, q.v. 2.1.3) aplica o modelo da teoria da lingüística
geral de Ilalliday à tradução mas, ao meu ver, com pouco sucesso, já
que explicita em grande detalhe procedimentos pouco usados - (como
a tradução fonológica e a tradução grafo lógica, q.v. 2.1.3, p. 36-37) ou
impossíveis de utilizar na prática (como a tradução exclusivamente gra­
matical e a tradução exclusivamente lexical, q.v. 2 .1.3, p. 37), que talvez
possam ser úteis em algum tipo de texto metalinguístico, com afinalidade
de realização de uma análise ccwtrastiva - deixando de lado uma série de
outros procedimentos de grande utilidade para o tradutor e examinados
pelos demais autores e que, em sua descrição, ficam englobados indis­
tintamente naquilo que denomina tradução livre (q.v, 2.1.3, p. 38-39).
Newmark (1981, 1988, q.v. 2.1.5) emprega a teoria das funções da
linguagem cm seu modelo, embora sem conseguir alterar a disposição
dos procedimentos técnicos da tradução em dois eixos dicotômicos, o
da tradução semântica e o da tradução comunicativa (q.v. 2.1.5, p. 52)
como foi visto no presente capítulo, acima, nem a ordem de apresentação,
idêntica à de Vinay e Darbelnet (1977).
No entanto, acredito que é na conceituação da teoria das funções da
linguagem, da tipologia dos textos e da finalidade das traduções que está
a chave para a solução da tensão entre a tradução literal e não literal, que
é, ao mesmo tempo, a tensão entre o conteúdo e a forma. Isto porque é a
definição destes fatores que permitirá a decisão dc qual modo de traduzir

119
será adequado em cada caso. Conforme o loco se deslocar ao longo
desses elementos será escolhido o modo dc traduzir adequado, não
dicotomicamente entre tradução literal e não literal, mas passando por
toda urna gama de modos de traduzir variados que se encontram entre
estes dois pólos: mais literal se o foco recair sobre o autor, menos literal
se cair sobre o leitor, e assim por diante.
Este aspecto não foi tratado exaustivamente no presente trabalho,
r

por estar fora de seus objetivos. E a este assunto, todavia, que pretendo
dedicar minha atenção no futuro.
Finalmente, concluí que a categorização dos procedimentos técnicos
da tradução proposta por Vinay e Darbelnet (1977) c a hierarquização
proposta em termos da dificuldade de execução pelo tradutor deixam a
desejar quanto a sua utilidade para o ato dc traduzir e o ensino da tradução.
A categorização dos procedimentos técnicos da tradução ao longo
de dois eixos diametralmente opostos, no meu entender, não reflete o que
ocorre na tradução, que, acredito, deve ser executada em vários graus
diferentes de literalidade e não-literalidade, conforme a situação, o que
expus acima. Não refletindo o que de fato ocorre, uma categorização não
pode ser útil para o tradutor ou o aprendiz de tradução.
A ordem em que são expostos os procedimentos técnicos da tradução
tampouco pareceu-me útil para o tradutor ou para o aluno de tradução.
Isto porque sua hierarquização do mais fácil para o mais difícil apenas
ilusoriamente atende aos interesses do tradutor, pois este raramente é o
foco da tradução - talvez o seja na tradução recriativa da poesia onde,
acredito, o poema (TLO) é usado quase que apenas como inspiração para
o tradutor criar seu próprio poema (cf. entrevista de Jorge Wanderley em
“Sem Censura”, TVE, 19/01/89).
Por outro lado, os dois procedimentos colocados por Vinay c Dar­
belnet (1977) como os mais fáceis (o empréstimo e o decalque) não são
tão fáceis na realidade (q.v. 4.1) c sua utilização, ao meu ver, é muito
restrita na prática.

120
( oir.l.ilri Inmhóm que havia discrepancias, sobreposições e conlu-
sões cuire as descrições dos procedimentos técnicos da tradução efetuadas
pelos varios autores examinados,
Assim sendo, procedi, primeiramente, a uma recaractcrização dos
procedimentos técnicos da tradução em que procurei sanear as dificulda­
des que encontrei. O resultado deste empreendimento foi apresentado no
Capítulo 3. Espero que esta parte de meu trabalho seja útil para tradutores,
professores e alunos dc tradução e pesquisadores da área, no sentido de
ter deixado mais claro o que são os procedimentos descritos, e de que a
descrição seja abrangente suficiente para recobrir o que de fato ocorrc
nas traduções.
Em seguida, examinei duas propostas de recategorização dos proce­
dimentos técnicos da tradução. A primeira delas prendeu-se à frequência
de utilização dos mesmos nas traduções, proposta que me pareceu útil
porque refletiria o que realmente acontece nas traduções. No entanto,
verifiquei ser impossível viabilizá-la com o conhecimento atual de que
dispomos e da literatura existente.
A outra proposta gira em tomo do grau dc divergência entre as
línguas em confronto no ato da tradução. Parece-me ser esta a proposta
mais adequada, pois eliminaria a tensão entre tradução livre e literal,
proporcionando uma passagem suave de um eixo para outro, como no
caso da Iradução literal para a transposição.
Além disso, a seleção dos procedimentos técnicos da tradução pas­
saria a scr informada pela teoria das funções da linguagem, pelo tipo de
texto e pela finalidade da tradução. Sob esta ótica, todos os procedimentos
são igualmente válidos, quer sejam extremamente literais ou totalmente
livres, pois já não seriam escolhidos arbitrariamente.

121
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127
POSFÁCIO

OS PROCEDIMENTOS TÉCNICOS DA TRADUÇÃO


CATORZE ANOS DEPOIS

Os dois mil exemplares que compuseram a primeira edição dos


Procedimentos técnicos da Iradução, publicada em 1990, esgotaram-
se em cerca de quatro a cinco anos. Foi uma boa carreira para um livro
académico no Brasil. Como deixei o País logo após a publicação, para
fazer o doutorado na Inglaterra, na Universidade de Warwick, onde fiquei
quatro anos, o livro ganhou vida própria, sem interferência minha, sem
lançamentos, sem propaganda.
Catorze anos se passaram, c parece tratar-se de um livro que fez
história, que, acredito, deixou uma marca nos estudos da tradução do
Brasil: é utilizado em cursos de graduação e pós-graduação de um lado a
outro de nosso território— e até em Portugal {cf. MAGALHÃES, 1996).
O livro figura na bibliografia de inúmeras dissertações, teses e artigos.
Mereceu uma resenha por Pedro de Moraes Garcez (1992) e outra por
José Luiz Vila Real Gonçalves (1996).
A recepção do meu trabalho parece demonstrar que o livro veio
preencher uma lacuna na área de treinamento em tradução, uma lacuna
que não foi ainda preenchida totalmente, apesar da rica bibliografía
internacional para o ensino da tradução e de uma obra da qualidade de
Traduzir com autonomia (ALVES, MAGALHÃES e PAGANO 2000)
ter sido publicada dez anos mais tarde, no Brasil.

129
ü germe do livro Procedimentos técnicos da tradução loi minha
dissertação de mestrado.1 Pelas mãos da Profa. Dra. Marcella Mortara,
encontrei a obra de Jean-Paul Vinay e Jean Darbelnet, Stylistique com­
parée du français et de l ’anglais: méthode de traduction, de 1958. Esta
obra pareceu-me abordar a tarefa do tradutor de um modo mais claro do
que qualquer outra disponível no Brasil, naquele momento. E tratava
da tradução com um forte embasamento teórico, calcado na estilística,
propondo fornecer as bases para desvendar o modo como um tradutor
trabalha para obter os melhores resultados possíveis. Tendo eu migrado,
como tantos outros, do mundo da prática para a teoria, sendo, além de
tradutora, professora de tradução, era necessário que encontrasse uma
base teórica sólida que fundamentasse não somente minha pesquisa como,
também, meu exercício da profissão. Por isso, a praticidade da obra de
Vinay e Darbelnet me atraiu tanto.

Naquela época, havia muito poucas publicações sobre tradução no


Brasil. Tomando como base uma bibliografia compilada por Waltcnsir
Dutra, tradutor, presidente do SINTRA, consegui levantar praticamente a
totalidade do que havia sido publicado sobre tradução no Brasil até aquele
momento, desde a obra pioneira de Breno da Silveira (1954) e de Paulo
Rónai (1952, 1970, 1976, 1981) publicadas originalmente nos anos 50
— estando as de Rónai ainda disponíveis no mercado em re-ediçÕes —,
chegando aos trabalhos mais recentes (naquela altura), do professor Erwin
Theodor Rosenthal (1976), de Agenor Soares dos Santos (1977, 1981) e
do Prof. Delton de Mattos ( 1980, 1981,1983), passando por algumas das
mais recentes dissertações e teses produzidas no Brasil sobre o tema, por
exemplo: Alves (1983), Coelho (1988) Cubric (1984) Fregonezi (1984)
Mendonça (1982) Queirós Filho (1976) e Wanderley (1983).
Pouquíssimas obras internacionais de peso haviam sido traduzidas
para o português até então. Entre elas estavam A Linguistic Theory o f
Translation de J. C. Catford, traduzida por um grupo de alunos da PUC
1 BARBOSA, Heloisa Gonçalves. Os procedimentos técnicos da tradução: unía proposta de
rccategorização, dissertação de mestrado. Rio de Janeiro: Faculdade de Letras da Universidade
Federal do Rio de Janeiro. 1989. Mimeo.

130
do Campinas, I,a traduction cientifique et technique, de Jean Maillot,
traduzido por Paulo Rónai, e Les problèmes théoriques de la traduction
de Georges Mounin, traduzido por Heloysa de Lima Dantas.
Havendo-as lido e estudado, cheguei à conclusão de que algumas
dessas obras não me seriam úteis, particularmente as nacionais mais anti­
gas. Essas pertencem a uma tradição que denomino humanista-beletrista:
seus autores são homens (em geral, homens, não mulheres) extremamente
cultos, poliglotas, amantes das belas letras, que relatam sua experiência
como tradutores c tentam ditar normas para a tradução. Mas essas pres­
crições refletem apenas o seu gosto pessoal, revela-os como “homens de
seu tempo”, servindo de muito pouco como sustentação seja de uma teoria
da tradução, seja de uma prática da tradução no dia a dia.
Tomava-se necessário encontrar obras que não fossem apenas uma
coleção de impressões, mas que, ao contrário, se respaldassem cm um
suporte teórico. Ao mesmo tempo, queria encontrar algo que fosse também
ancorado na prática tradutória, ao contrário da obra teórica de Mounin
(1975), por exemplo. Decidi, então, que, dentre as obras disponíveis, a de
Vinay e Darbelnet era a que melhor atendia meus anseios, particularmente
ao descrever os procedimentos técnicos da tradução. Já havia, inclusive,
alguns estudos brasileiros do fazer tradutório com base nesses autores,
destacando-se os estudos do Prof. Francis Aubert e de seus alunos da
USP, continuados até bem recentemente pela professora Diva Camargo
(2001 ),2 bem como artigos seminais das professoras Eliane Zagury e Ma­
ria Anninda Sousa-Aguiar (ZAGURY 1975; SOUSA-AGUIAR 1980).
No entanto, alguns conceitos dc Vinay c Darbelnet não me deixavam
completamente satisfeita. Tentei achar outras obras que pudessem me ser­
vir de balizamento para um estudo detalhado dos procedimentos técnicos
da tradução. Afinal, selecionei o trabalho teórico de Catford (1965,1980),
já publicado em português, alguns trabalhos dos teóricos de base lingüís­
tica, ancorados na prática da tradução da Bíblia, de Eugene Nida (1964,
Observando se que tais pesquisadores utilizam o termo “modalidades" de tradução ao se
referirem aos procedimentos técnicos da tradução descritos por Vinay e Darbelnet.

131
1975, 1982) e as obras também teóricas de Peter Newmark ( 1988, 19 8 1),
que já circulavam no Brasil, embora nunca tenham sido traduzidos para
o português. Escolhi usar também o trabalho de Vázquez-Ayora ( 1977),
que fazia uma revisão da proposta de Vinay e Darbelnet estudando outro
par de línguas, o inglês e o espanhol, calcado em seu trabalho na OEA.
Assim, meu trabalho tomou forma: de início, uma cuidadosa com­
paração entre os modelos de tradução propostos pelos quatro autores
selecionados (Catford, Nida, Newmark c Vinay e Darbelnet), seguida
por uma análise detalhada daquilo que propunham como procedimentos
técnicos da tradução. Finalmente, uma proposta de caracterização de
quinze procedimentos técnicos da tradução, bem como de uma catego-
rização desses procedimentos, ou seja, de sua distribuição não em uma
tensão dicotômica (tal como a que se estabelece entre conceitos como
frio e quente) entre a tradução literal se contrapondo à tradução livre,
mas com uma distribuição ao longo de um fluxo contínuo que abrange
desde as mínimas até as máximas divergências (tal como variações de
temperatura) entre dois sistemas lingüísticos, dois estilos e duas realidades
extralinguísticas.
A grande contribuição de meu trabalho, portanto, é a tentativa de
ruptura com a tradição clássica dos estudos tradutológicos que consideram
as traduções e seus procedimentos como sendo simplesmente “livres” ou
“literais” (ou “tradução direta” vs “tradução indireta”, na expressão de
Vinay e Darbelnet). Tentei demonstrar que tal dicotomía não é válida e
que os procedimentos tradutórios podem, na verdade, ser escolhidos de
acordo com a proximidade ou distância entre os sistemas lingüísticos
envolvidos em um ato tradutório e entre as realidades cxtra-linguísticas
que representam. Assim fazendo, desestruturei a organização dos proce­
dimentos técnicos da tradução feita por Vinay e Darbelnet.
Esses autores hierarquizam os procedimentos técnicos da tradução
de acordo com a dificuldade de aplicação que representam para o tradutor,
colocando o empréstimo em primeiro lugar, como sendo o procedimento

132
mais fácil. De acordo com os autores, para utilizar o empréstimo, tudo
o que o tradutor tem a fazer é copiar uma palavra ou expressão. Minha
colocação, ao contrário, é de que este é o mais difícil procedimento de
todos, uma vez que parece ser utilizado quando a distância entre dois
sistemas lingüísticos e sua realidade extrai inguística é tão grande que a
comunicação fica prejudicada e o único recurso do tradutor (sem dúvida
depois de muitas tentativas infrutíferas) é copiar um item lingüístico que
será ininteligível para os leitores do texto meta. Não se trata portanto, de
mera cópia, mas de luta perdida na negociação do sentido.
Demonstrando isso, retiro o tradutor da posição de mero copista c
liberto seus poderes de seleção e criação. Deste ponto dc vista, o tradutor
adquire o poder de trabalhar não somente no enquadre da tradução literal
vs tradução livre, mas, também, a possibilidade de mover-se à vontade
ao longo de um eixo onde se dispõem quinze procedimentos tradutórios
de igual peso e relevância.
Desta maneira, parece justificar-se a utilização de Procedimentos
técnicos da tradução no ensino porque, quando o aluno iniciante deíronta-
sc com uma série de procedimentos tradutórios viáveis e válidos, quer
dizer, com muitas maneiras possíveis de traduzir, tem-se a impressão que
se abre diante dele um mundo de possibilidades. Isto parece indicar que
há, entre os iniciantes, um certo medo do texto original que os faz pensar
que devem traduzi-lo estritamente palavra por palavra, mesmo que este
modo de traduzir produza um texto ininteligível em língua meta, como
demonstra não só a minha própria prática pedagógica como também a de
muitos docentes que mc relatam suas experiências.
Para tais alunos, tomar consciência dos quinze procedimentos téc­
nicos da tradução que recaracterizei e recategorizei é descobrir que são
livres para manipular o texto fonte de várias maneiras a fim de obter um
texto meta que atinja os objetivos almejados — ligados ao registro c ao
estilo adequados em vista do público a que o texto meta se destina. Como
afirma Rosemary Arrojo:

133
Sc o que futuros tradutores devem aprender, cm últim a instân
' cia, é com o fazer traduções que sejam aceitáveis e celeb radas
dentro da com unidade cultural em que desejam atuar c já que
não é h u m anam ente possível ensinar-lhes tudo que há para
se s a b e r — sim plesm ente porque não existe tal possibilidade
de conhecim ento a única abordagem realista ao ensino de
tradução deve se co n cen trar no esforço dc forn ecer aos futuros
p rofissionais um aparato crítico que lhes perm ita d esco b rir que
tipo de estratégia deve ser em pregada em cada projeto tradutório
que decidirem realizar. (A R R O JO , 1993: p. 147-48)

Assim, é importante ressaltar que os procedimentos técnicos da


tradução descritos não constituem um receituário, um livro de receitas
para a tradução, como se uma pitada de equivalência, uma colherzinha de
transferência, um raminho de modulação pudessem fazer de um texto uma
tradução “perfeita”. Ao contrário, traduzir é uma constante descoberta,
um constante “lidar com o novo” {cf BARBOSA e CALDAS 2001) que
exige sensibilidade lingüística e capacidade de pesquisa.
Por tal motivo, é importante deixar claro que a palavra “modelo”,
que emprego no livro, não deve ser interpretada como “molde”, “fôrma”,
“padrão”, “gabarito”. Quando falo em “modelos da tradução”, discuto
construios teóricos que visam tentar circunscrever e definir um objeto
de estudo e fornecer uma base sólida, mesmo que temporária, aos estu­
diosos de uma ciência. Um exemplo claro é o modelo do sistema solar
que usamos hoje, com o sol no meio e os planetas em volta. Podemos
mesmo construir um modelinlio, com bolinhas e arame, que nos deixe ver
como é esse universo — mas, mesmo assim, nossa faculdade de montar
um modelo não nos permite fazer com que modifiquemos o modo como
a realidade se comporta: não podemos dizer ao sol, “Ponha-se no leste”.
Note-se, também, que um modelo não é uma teoria: a teoria explica o
por quê das coisas. O modelo nada explica, as bolinhas que representam
o sol e a lua podem girar no arame, mas se continua sem saber por quê.
A explicação é função da teoria (c f BARBOSA 2001).

134
A teoría lingüística, porém, até hoje, não foi capaz de dar conta do
fenômeno da tradução. Desde Mounin (1975) a Umberto Eco (2004) se
manifesta, em um embate entre a teoria e a prática, a incapacidade de,
sequer, decidir se a tradução é possível ou não:

E ntre o argum ento puram ente teórico de que, um a vez que as


línguas têm estruturas diversas, a tradução é im possível, e o
reconhecim ento do senso com um de que, afinal, as pessoas, no
m undo, realm ente traduzem e entendem um as às outras, parece-
m e que a idéia de tradução com o um processo de negociação
(entre autor e texto, entre au to r e leitores, bem com o entre a
estrutura de duas línguas e as enciclopédias de duas culturas)
é a ún ica que corresponde a nossa experiência. (E C O 2004:12)
[m inha tradução]

Aqui, Eco caracteriza a tradução como um “processo”. Uma visão


consistente com a da vasta maioria dos pesquisadores da área hoje. Para
a descrição dos procedimentos técnicos da tradução os autores analisados
por mim, bem como virtualmente a totalidade das pesquisas desenvolvi­
das até o final dos anos 80, partiam de traduções prontas, quer dizer, de
produtos finais, sem se voltar para o processo da tradução. Quer dizer,
até há cerca de catorze anos atrás, era o cotcjamento entre originais e
traduções que embasava a pesquisa e permitia inferir o modo como tra­
dutores trabalhavam. Não se analisavam rascunhos, prefácios, posfácios,
anotações; não se faziam entrevistas; não se tomavam depoimentos; não
se registrava o processo tradutório, quer por meio de gravações de áudio
ou vídeo, ou através de programas de computador. Não se faziam estudos
de corpus. Não se utilizava metodologia de pesquisa introspectiva, não se
acessavam os processos mentais dos tradutores por meio de protocolos de
relato verbal, como se faz atualmente {cf. PAGANO 2001 e ALVES 2003).
As relevantes questões levantadas por Vinay e Darbelnet e pelos
demais autores estudados neste livro (os procedimentos técnicos da
tradução, a unidade de tradução, as modalidades de tradução adequadas
para cada tipo de texto, por exemplo) são ainda questões primordiais

135
tic que sc ocupam os pesquisadores da área, havendo mudado somenle
as ferramentas de pesquisa. Ainda hoje, minha própria investigação se
dedica a um refinamento desses conceitos. Enfoco todos estes aspectos,
agora agrupados sob a perspectiva de estratégias da tradução, e investigo
a tradução como processo (cf. BARBOSA 1996, 1999, 2003, BARBO­
SA e CALDAS 2001, 2002; BARBOSA e NEIVA J997, 2003). E, para
minhas reflexões, bem como para tantos que hoje se iniciam na arte, na
técnica e na pesquisa do processo tradutório, os Procedimento técnicos
da tradução ainda são um excelente ponto de partida.

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leitura deste trabalho torna possível identificar

A as principais áreas de tensão existentes nas


diversas reflexões sobre a tradução. O livro
busca, pela comparação dos modelos descritos na literatu­
ra disponível, uma recaracterização dos procedimentos
técnicos necessários para transferir significados de um
código lingüístico para outro.

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