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ÍNDICE

NOTA DA AUTORA
AVISO
SINOPSE
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
CAPÍTULO 29
CAPÍTULO 30
CAPÍTULO 31
CAPÍTULO 32
CAPÍTULO 33
CAPÍTULO 34
CAPÍTULO 35
CAPÍTULO 36
CAPÍTULO 37
CAPÍTULO 38
CAPÍTULO 39
CAPÍTULO 40
CAPÍTULO 41
EPÍLOGO
AGRADECIMENTO
NOTA DA AUTORA

O Filho Rejeitado Do Sheik é o meu primeiro livro nesse


universo, espero ser início de muitos outros.
Preciso deixar alguns avisos para vocês. Para ter mais
liberdade em escrever a história e deixar o livro mais gostoso de ler,
decidi criar um país fictício chamado Sahra, até mesmo o deserto
chamado Amal é fictício.
O país do meu sheik, apesar de eles serem apegados a muitas
tradições antiga, algumas da cultura árabe serão reais, outras
mescladas, e algumas inventadas por mim. Ou seja, Sahra é país mais
moderno em relação a liberdade e direitos para às mulheres.
Não tenho nenhuma intenção de dar aulas sobre essa cultura
tão rica, embora eu vá apresentar a vocês algumas coisas sobre ela,
mas o foco aqui é a história de Rashid e Suzana.
Também não desejo insultar e nem criticar nenhuma cultura
ou religião.
Espero que vocês gostem.
Obrigada por lerem e pela oportunidade de apresentar o meu
trabalho.
AVISO

O Filho Rejeitado Do Sheik é um livro único.


A história de Suzana e Rashid começa e termina nesse.
Foi um prazer escrever e espero que vocês gostem tanto
quanto eu amei dar voz a eles.
Um cheiro e boa leitura!
Agatha Costa.
SINOPSE

O sonho da vida de Suzana Weston sempre foi ser mãe. No dia


que enterrou seu marido, ela descobriu que ele a havia traído, como
também teve uma filha fora do casamento, deixando-a completamente
arrasada.
Ao completar 39 anos, Suzana sabe que seu relógio biológico está
correndo. E é em uma viagem de férias para comemorar seu
aniversário de 39 anos, organizada por sua melhor amiga Lucy, que ela
decide ter uma gravidez independente.
O que Suzana não contava era que o homem escolhido, tratava-se
de uma figura muito importante em Sahra.
Uma noite de loucuras entre eles, gerou outras quentes no deserto,
de pura paixão. Ela fica grávida do homem intenso e misterioso, que a
fez conhecer a força da paixão pela primeira vez.
Arrependida de tê-lo enganado, Suzana decide contar a verdade
sobre o bebê deles crescendo em seu ventre, mas Rashid a rejeita,
dizendo que nunca a conheceu e o filho não era dele.
Rashid é um homem de coração gelado, que após uma implacável
decepção amorosa, ao ver a jovem que ele amava se casar com seu
irmão mais velho, decide nunca mais entregar os seus sentimentos a
outra mulher.
Ele só quer ter algumas noites de diversão, até a próxima amante
entrar em sua cama. Mas a estrangeira Suzana Weston mexe com ele
mais do que Rashid poderia ter esperado.
Só que Rashid jurou nunca mais acreditar em olhos inocentes e
sorrisos doces. Nenhuma mulher valia a sua confiança e, depois de tê-
la, ele a arrancaria da sua vida, como se Suzana nunca tivesse existido.
Rashid seria capaz de permitir que o muro em volta de seu
coração protegido caísse?
Suzana seria capaz de perdoá-lo por ter rejeitado o filho deles?
Qual seria mais forte?
Ódio ou amor?
CAPÍTULO 1

Connecticut, EUA

Apenas quem já foi traído consegue entender como é


profunda a dor ao descobrirmos que a pessoa que mais achávamos
amar no mundo, fosse capaz de colocar uma estaca em nosso coração.
Não conseguimos acreditar em nossa ingenuidade, crenças e em como
nos portamos como tolos por tanto tempo.
Eu conheci Willian quando eu tinha 31 anos. Eu havia
acabado de perder os meus pais em um acidente de carro horrível.
Foi em uma viagem que fiz à Paris, com minha amiga, Lucy.
Para tentar me recuperar dos longos meses de luto e perda devastadora,
que inesperadamente, conheci aquele homem atraente.
Ele nos abordou no Rio Sena e pediu que eu tirasse uma foto
dele. Descobrimos, coincidentemente, ao nos reencontrarmos, naquela
tarde que estávamos no mesmo hotel e marcamos de nos vermos de
novo no bar.
Aceitar o convite de Willian para jantar e outros encontros
naquela semana foi algo tão natural quanto empolgante.
Nós nos vimos todos os dias até o fim da minha viagem, que
terminou dois dias antes da dele. Eu descobri que Willian morava em
Boston, enquanto eu vivi a minha vida toda em Connecticut. São cerca
de duas horas de viagem, se pegássemos a via I-90 W e a I-84. O que
no início não achamos ser muito, até voltarmos para casa e a realidade
corrida das nossas rotinas começar a pesar.
Mas eu acreditei estar tão apaixonada por Willian ou
desesperada desejando ter alguém para amar, que alguns meses após
nosso namoro firme, aceitei sua sugestão de vender a casa que herdei
dos meus pais e me mudar para Boston com ele.
No ano seguinte nos casamos.
Eu queria ter uma família de imediato, já que não me restava
mais ninguém no mundo, além de parentes muito distantes. Queria no
mínimo quatro filhos. E embora não pudesse controlar isso, planejava
em minha mente, e, principalmente, no meu coração, que seriam dois
meninos e duas meninas.
Mas Willian estava no começo de sua carreira militar e meus
trabalhos como artista plástica ainda não me davam muito retorno.
Assim, adiamos por um ano, que se transformaram em dois,
e após quatro e meio, eu finalmente bati o pé, receando receio que o
fator, idade, viesse complicar o meu desejo de ser mãe. E assim foi.
Por um ano fiz alguns tratamentos rigorosos e quando finalmente
recebi resultados positivos do meu médico, Willian ficou doente.
O meu imenso desejo de ter um filho teve que ser adiado
novamente, para que dessa vez eu pudesse cuidar do meu marido
enfermo, o que fiz de todo coração e com muito amor. Infelizmente, o
câncer o levou de mim.
Mas essa não foi a única dor que tive que enfrentar.
No velório, poucas horas antes do corpo ser enterrado fui
tomada pela surpresa. A mulher que Willian vinha me traindo em suas
viagens a trabalho e sua filhinha de três, surgiram. A garotinha era
completamente idêntica a ele. Até o sinal no braço, no mesmo lugar
que ele tinha, ela possuía.
Aquele dia enterrei o meu marido, a crença no amor, o sonho
de ser mãe e qualquer esperança de felicidade.
Eu estava completamente sozinha no mundo.
Com a morte de Willian, vendi nosso apartamento em
Boston, dei parte do dinheiro a filha dele e voltei a Connecticut, para
morar próximo a Lucy.
— Terra para Suzana?
O estalo em frente ao meu rosto faz eu desviar a minha
atenção dessas lembranças tristes e me concentrar em Lucy.
Vim encontrá-la em um café próximo a agência de viagens
onde ela trabalha.
— Desculpe, o que dizia?
— O seu aniversário, amiga. É daqui a duas semanas. Nós
temos que comemorar.
Sorrio para a empolgação de Lucy, embora eu não sinta o
mesmo. É graças a ela que ainda levanto da cama, trabalho e, continuo
respirando. Acordo com suas ligações me dizendo para mover o meu
traseiro do lugar e vou dormir com suas promessas que o dia seguinte
será melhor.
Mas, não é. Nunca, é. Minha vida continua triste, vazia e
solitária.
— O que tem para comemorar, Lucy?
— Você fará 39 anos!
E com isso as minhas chances de ter um filho ficavam cada
vez mais distantes.
Eu sinto um vazio tão grande no peito, que todas as noites
enquanto choro no meu travesseiro, sinto que essa dor vai me sufocar.
— Sim, eu estou ficando velha. E serei como a tia viúva, dos
gatos, mas eu não tenho gatos e nem sobrinhos.
— Ah, Suzana! Você está na melhor idade, amiga. Precisa
sair mais. Ver gente. Já faz um ano que aquele...
Lucy não continua. Embora ela odeie Willian pelo que ele
me fez, suas crenças não permitem que fale mal dos mortos.
— A filha dele fez quatro anos no próximo mês. A mãe de
Willian me convidou para a festinha de aniversário dela.
Isso para mim foi como uma nova apunhalada sendo dada
em meu peito. Willian havia partido, mas diferente de mim, ele tinha
deixado uma parte dele no mundo.
— Que mulher sem noção.
— Não acredito que ela tenha feito por mal. Acho que pensa
que eu ficaria feliz em ver uma parte dele entre nós.
— Ela é louca, isso, sim. E você, bondosa demais para não
ver maldade nisso.
Talvez Lucy tivesse razão, mas eu só enxergava uma mãe
tentando lidar da melhor maneira possível, com a morte do filho, sem
imaginar o quanto isso ainda me fere.
— Mas esqueça isso. Vamos falar do seu aniversário, que é o
único que importa, pelo menos para mim. Eu tenho uma surpresa para
você.
— Eu não gosto de surpresas, Lucy. Sabe que não tenho
recebido nenhuma que tivesse sido agradável nos últimos tempos.
— Mas você irá amar essa — ela ignora completamente a
minha descrença e desamino, e pega sua bolsa na cadeira ao lado dela
— Faz tempo que estou namorando visitar esse país. E agora a agência
conseguiu formar ótimos pacotes.
Junto com os folhetos do hotel, passeios e outros
informativos, Lucy me estende as duas passagens aéreas em nosso
nome.
— Nós vamos para Sahra! — Ela comemora como se
tivéssemos recebido prêmios da loteria — Praia, sol, e quem sabe você
não conhece um sheik lindíssimo e rico.
— Ou uma outra versão, só que árabe de Willian. Sheiks não
costumam ter várias esposas? — murmuro, amargurada.
— Não em Sahra, amiga.
— De qualquer forma, não. Obrigada.
O meu coração já havia sido quebrado uma vez e eu nem
sabia se existia alguma parte dele em meu peito, para ser enganada,
traída e machucada novamente.
— Tudo bem. Esquece o sheik bonitão. Mas nós iremos
viajar, Suzana Weston. E vamos comemorar o seu aniversário.
Lucy tem me dado tanto apoio, muito antes da morte de
Willian, que não posso recusar o seu convite. Seria completamente
ingrato com ela, ainda mais vendo-a tão animada com essa aventura. E
ela também havia acabado um relacionamento faz pouco tempo. Era
minha vez de dar apoio a ela.
— Certo. Eu vou. Mas nada de romance. Você tem que me
prometer, Lucy.
Ela cruza os dedos como fazíamos quando éramos escoteiras
e leva aos lábios, selando o juramento.
— Eu prometo — após isso ela pula da cadeira e vem
saltitante para o meu lado — Vai ser uma viagem incrível, Suzana.
Você vai ver.
Por Lucy, tentaria aproveitar a viagem e esconder da minha
melhor amiga o máximo possível, a constante tristeza me consumindo.
Talvez o sol de Sahra pudesse trazer um pouco de calor ao
meu peito congelado.
Essa poderia mesmo ser uma boa viagem de férias
inesquecível.
CAPÍTULO 2

Palácio de Saha
Um ano antes
Vinte segundos.
Para algumas pessoas esse tempo seria tão insignificante
quanto um piscar de olhos. Para mim, mudou a minha vida inteira.
Por causa deles, o meu irmão gêmeo Hamad havia nascido
na frente e se tornado o filho mais velho e futuro emir [1]de Sahra.
Nosso pequeno, próspero e lidíssimo país, no deserto de Amal.
Nunca houve qualquer tipo de competitividade entre nós.
Até ele ficar comprometido e se casar com a mulher que eu amava.
Apesar de ser o mais velho, Hamed é mais descontraído,
festivo e aventureiro do que eu. Ele estudou na Europa, conheceu
muitas mulheres em suas viagens pelo mundo. Porque o meu irmão
exigiu isso, antes de ser obrigado a assumir como o futuro rei. Poder
viver em liberdade. Enquanto, eu, fiquei aqui, ajudando nosso pai a
cuidar de Sahra, fazendo o nosso país prosperar e crescer cada vez
mais.
Foi fácil para Hamed retornar anos depois e conquistar a
jovem Layla Zahir. Em poucas semanas de corte, ele já tinha o coração
da bela dama em suas mãos.
A nossa tradição exige que o futuro emir tome uma esposa
quando atingisse a idade máxima de quarenta anos, para que ainda
tivesse vigor para produzir herdeiros. Como segundo na linhagem, eu
não era obrigado a isso, a não ser que Hamed fosse impotente ou
morresse.
Agora eu só poderia assistir de longe a família de Hamad e
Layla se formar e crescer dando frutos. Congelar o meu coração e
esconder todos os dias a mágoa em saber que Layla jamais poderia ser
minha.
Ela havia traído nossas juras de amor, em nossas caminhadas
nos jardins, para se tornar a esposa do príncipe herdeiro e futuro sheik.
Agora devo esquecê-la.
— Salam [2]— digo a Jalal que está me esperando no pátio,
no lado fora do grande salão palácio.
Ele é o meu braço direito e amigo de longa data.
— Salam. Os cavalos estão prontos, Vossa Excelência.
Podemos partir quando quiser.
Eu já havia tolerado os três dias de festa de casamento.
Todos os rituais para os noivos já haviam sido cumpridos e minha
presença no palácio não seria mais exigida.
— Para onde vamos? — Questiona Jalal,
— Passar algumas noites no hotel do meu primo, Omar, na
capital e de lá vamos para o Sul do deserto de Amal.
Pretendo me isolar na minha tenda no deserto o máximo de
tempo que eu puder. Hamed estava de volta e agora é dever dele cuidar
de todas as obrigações reais junto com o nosso país. É hora dele
aprender mais sobre Sahra. E em como as coisas haviam mudado
desde que ele partiu para estudar e se divertir pelo mundo. Como
relembrar algumas das nossas importantes tradições.
Sigo para o meu garanhão negro, um Aswad[3], uma raça
premiada, criada em nosso país, que vale milhões em todo mundo,
devido sua resistência a longa viagens no deserto e velocidade
impressionante.
— Rashid?
Fico tenso ao reconhecer a voz e feminina me chamando.
— Iria embora sem se despedir de mim?
— Vossa Alteza — faço uma reverência a Layla e não ergo o
meu olhar para ela — Apesar de nos tornarmos parentes agora. De
você se tornar minha irmã. Não é certo que fale comigo sem o seu
marido presente.
— Rashid — ela encurta a distância entre nós — Nunca
ligamos para essas tradições tão antigas. E nem creio que Hamed iria
ligar. Você ainda é o meu melhor amigo.
Não, eu não era. Como seria possível ser amigo de quem
temos um amor não correspondido?
Quando olhá-la com outro, sendo o meu próprio irmão,
idêntico a mim, mas tão diferente na personalidade, machuca.
— As coisas mudaram, Layla — dessa vez me atrevo a olhar
rancoroso para ela — Você fez a sua escolha.
— Eu tive que cumprir o pedido do meu pai!
— Você mesmo disse que não éramos tão ligados a antigas
tradições — relembro-a com sarcasmo — O que mudou com meu
irmão?
Apesar de Layla ser a escolhida de Hamed e o pai dela ter
ficado feliz com isso, ela poderia ter recusado a corte dele e seu pedido
de casamento. Sim, causaria um desconforto diplomático por algum
tempo, que seria superado quando nós dois nos casássemos. Mas Layla
queria mais. Ela desejava o trono.
Como pude ser tão cego para não ter visto isso?
— Eu me apaixonei por ele. Aconteceu, Rashid.
— Nós conversamos por meses, Layla. Estava certo apenas
esperarmos Hamed voltar e assumir o seu cargo para eu pedir sua mão.
Idealizamos ficar juntos tantas vezes. Não. Eu idealize. Agora quer me
dizer que em três semanas de cortejo, você se apaixonou pelo meu
irmão?
Não vou confiar em seu olhar triste. Eu precisava acreditar
que Layla era apenas uma garota ambiciosa. Só assim eu conseguiria
lidar com o meu ego e coração ferido.
— Adeus, Layla — falo, secamente, dando às costas a ela.
Não apenas a partiu o meu coração. Mas me enterrou para o
amor. Eu nunca mais entregaria essa parte tão frágil de mim a
ninguém.
CAPÍTULO 3

Connecticut, EUA
No aeroporto
Quando eu digo que odeio surpresas, tenho propriedade para
falar isso.
— Como assim você não vem, Lucy?
Fecho os meus olhos com fora e tento controlar a fúria com
minha amiga. Eu deveria ter imaginado quando ela disse para nos
encontrarmos no aeroporto, que alguma coisa estava errada.
— Abiga — sua voz fanhosa que a faz falar errado, poderia
soar engraçada, se a situação não estivesse me deixando
completamente em pânico — Eu guro que queria ir. Mas nem consigo
lebantar da cama.
Com o que ela diz e um ruidoso espirro que dá, me faz
afastar o telefone do ouvido.
Lucy está mesmo mal, o que nem me permite ficar brava
com ela.
— Mas, Lucy, essa viagem foi ideia sua. Então se não vai...
— Dada disso, abiga! É seu presente de anibersário. Bocê
tem que entrar naquele abião e se dibertir em Sarha por nós duas.
Promete isso, Suz!
Eu nuca quis fazer essa viagem, muito menos sem a Lucy.
— Gastei uma fortuna. Bocê bai! — O grito a faz entrar em
uma crise de tosse seca — Já está aí. Então só aprobeita.
Seria um grande desperdício jogar as duas passagens no lixo.
Além disso, com Lucy doente, não haveria nada que eu pudesse fazer.
Com toda certeza a sua Diana, mulher que a criou desde bebê, estaria
enfurnada na casa dela, tratando-a como o seu cristal.
— Certo. Eu vou. Mas saiba que vai ficar me devendo essa.
— Te pago aquele japonês que bocê ama quando boltar.
É claro que eu nunca iria exigir isso dela. A viagem com ou
sem Lucy, já tinha sido um presente de aniversário para mim.
— Eu mando fotos. Aliás... — aviso, mostrando a minha
passagem a funcionária, para passar no embarque — Vou encher você
com fotos de praias, sol, comidas maravilhosas, bebidas exóticas e
homens bonitos.
— Cruel. É assim que me agradece bor ser uma amiga
incrível?
— Você é mesmo incrível — aviso, com amor — Eu te amo,
Lucy.
— Também te amo, Suzana. Banda notícias assim que
chegar lá, ok?
Quando chego ao portão de embarque, o meu voo está sendo
anunciado pela última vez.
— Suzana Weston? — Indaga a comissária no balcão.
— Eu mesma.
— Só faltava você e a Srta... — ela olha o computador,
checando sua lista de passageiros — Golding.
— É minha amiga, Lucy. Está doente e não irá.
— Então entre senhorita — ela sorri, amigavelmente —
Vamos partir imediatamente.
Serão muitas horas de viagem até Sahra, contando com duas
escalas de espera de três horas. Eu desejo que todo esse empenho para
chegar ao país, realmente valha a pena.
O aeroporto de Sahra é impressionante e diferente de tudo o
que já vi em questão de modernidade e beleza. Essa primeira
impressão do país é excelente e até começa a me empolgar.
Um homem com trajes típicos, com as cores de Sahra, azul,
vermelho e preto, com uma placa com meu nome e de Lucy está me
esperando no lado fora do desembarque.
— Srta. Weston? Ou Stra. Golding? — Ele olha atrás de
mim, acho que esperando a minha amiga surgir a qualquer momento.
— Suzana Weston — apresento-me a ele.
— Bem-vinda a Sahra, senhorita.
O sotaque ao falar minha língua é bastante carregado, mas
não tenho muitas dificuldades em entendê-lo. Explico ao senhor que
Lucy não vem, por ter ficado doente em última hora. E ele demostra
sincera indulgência por ela não ter vindo comigo.
Gostei dele. É muito sorridente e simpático. Em nossas
conversas sobre a viagem, Lucy me disse que os sahrarianos são
conhecidos por sua hospitalidade, alegria e gentileza.
Entramos no jipe dele e do aeroporto magnífico, seguimos
para Fils, a capital de Sahra. Eu fico encantada em como a cidade é
moderna, urbanizada e impressionantemente limpa.
Eu já sinto o peso do calor nos primeiros minutos da viagem,
mas as paisagens por qual passamos são tão lindas, que a temperatura
extrema do Emirado não me incomoda.
— Chegamos, bela senhorita — avisa o Sr. Abdul, o meu
transfer, ao estacionar em frente ao lindo hotel — Zafir vai levar suas
malas.
Ele aponta um jovem igualmente sorridente, que vem ao
nosso encontro.
Ao check-in é feito rapidamente por uma funcionaria
bastante comunicativa e quase sem sotaque ao falar comigo. E em
minutos recebo as chaves do quarto.
Apesar de não ser o mais caro do hotel, é um dos melhores
que já fiquei em minha vida toda, e é de frente para a linda praça de
Fils. A cidade capital não fica próximo ao litoral. A praia mais perto
daqui e de livre acesso é em Dabab[4]. Vai ter uma excursão para lá no
dia seguinte e seria o meu primeiro passeio com Lucy.
Antes mesmo de desfazer as minhas malas, estou ligando
para ela.
— Você não vai acreditar, Lucy — Jogo-me na cama,
olhando para o teto branco — Aqui é mais lindo do que nas fotos. E
faz muito calor também.
É obvio que minha animada amiga me enche de perguntas
curiosas e eu passo os minutos seguintes respondendo e como uma
pequena vingança por ter me deixado embarcar nessa sozinha, a deixo
com muita inveja.
CAPÍTULO 4

Fils, Sahra
Sei transitar muito bem entre o mundo moderno e das nossas
tradições milenares. Fico confortável em me sentar em uma mesa com
dezenas de chefes de estados, tratando de assuntos importantes e de
interesse entre nossas nações, como posso passar dias, semanas e até
mesmo meses, em meu acampamento no deserto de Amal, em frente a
um magnífico oásis Raar-al-Mir, completamente privativo, que
pertence a minha família há mais de trezentos anos.
Tenho fascinação na junção entre as areias que enformam
linhas horizontais em constantes oscilações. A contraposição das cores
tépidas das dunas com o azul vivo dó céu, refletindo nas águas serenas
do lago.
É um alimento para a minha alma, sentir o frescor da
vegetação, que apesar da agitação da areia, se mantém inabalável.
Aqui é onde eu tenho fugido do mundo nos últimos meses,
desde o casamento do meu irmão, na verdade. Jalal costumar zombar,
dizendo que tenho me escondido, e, ele não está totalmente errado.
Esse tempo aqui, avaliando a minha vida, serviu como uma
espécie de purificação. A ferida em meu peito está fechada. Nesses
meses revivendo a nossa história, percebi que estive apenas encantado
com a ideia de me apaixonar pela primeira vez, por uma jovem linda,
atraente e ingênua.
A verdade é que foi mais o meu ego e orgulho sendo feridos,
do que realmente o meu coração.
Eu nunca desejei ser o sheik emir, esse destino já estava
traçado para Hamed, e eu aceitava o que tivesse sido escrito a mim.
Por amá-lo e saber das grandes responsabilidades que ele teria no
futuro, aceitei de bom grado me tornar o braço direito do nosso pai,
enquanto ele vivia suas aventuras.
Então foi desapontador, mesmo que ele não tivesse feito de
forma cruel, vê-lo apenas tomar algo que queria e que achei que fosse
meu. Que Layla tão rapidamente tivesse caído encantado por Hamed,
esquecendo as promessas que fizemos ao outro.
Mas isso teve seu lado positivo. Me fez ver o amor como
realmente é, frágil e não confiável. Eu não cairia nessa armadilha
novamente.
Agora era minha vez de aproveitar a vida, as festas e as
mulheres. Como segundo na linha de sucessão, pelo menos até Hamed
ter seus herdeiros, filas de belas garotas seriam feitas a mim, tanto em
Sahra como em todo o resto do mundo.
É minha vez de bancar o playboy da realeza.
Era o que estava em minha mente até Jalal trazer
informações importantes de Fils.
Agora já coroado, Hamed tem carta branca tratar de assuntos
de governo. Só que meu irmão não tem experiência alguma para lidar
com algumas questões que precisam de medidas mais diplomáticas, do
que operacionais.
Há um acordo que que dura mais de cinquenta anos,
garantindo que Alnaas al'ahrar, uma das tribos mais antigas no norte de
Amal, continue a ser independente de Sahra.
Apesar da área ser rica em petróleo e poder gerar muitos
benefícios a eles, a grande parte deseja continuar vivendo da forma
antiga, em suas tendas no deserto, comendo e vestindo do que eles
mesmo produzem.
Normalmente, eles são um povo pacífico, mas a insistência
de Hamed em tomar o lugar novamente para Sahra, tem agitado os
defensores rebeldes, deixando-os furiosos.
— Qual a última notícia que teve em Fils? — Indago a Jalal
quando ocupamos os nossos cavalos.
A pedido de meu pai, em uma missiva enviada a mim há três
dias, preciso ir à cidade capital para acalmar os ânimos de algumas
pessoas, depois que o restaurante onde Hamed e Layla estavam sofreu
um ataque como resposta às suas promessas de tomar Alnaas al'ahrar.
— O povo ainda anda inquieto e com medo de uma guerra.
Acho que foi um erro ter deixado Hamed lidar com assuntos
tão importantes como esse cedo demais. Mas ele havia jurado ser
capaz de começar a administrar suas funções e tomar decisões
necessárias.
Sahra não era como uma das fraternidades que ele decidia
coisas estúpidas. A vida do nosso povo, o presente e o futuro de toda
uma geração, dependia de nós.
— Acha que vai precisar ficar quanto tempo na capital? —
Estudo os olhos escuros de Jalal, que o turbante preto faz ficar ainda
mais sombrios ao analisar a sua pergunta.
Ele não era apenas o homem responsável pela minha
segurança. Mas um dos soldados mais bem treinados e implacáveis do
país. Eu nunca temia a minha vida ao lado dele.
— O mínimo necessário.
— E pretende ir ao palácio falar com Hamed?
Pelos relatórios que venho recebendo, o meu irmão não anda
muito amigável. Isso porque a essa altura seu primeiro herdeiro já
deveria estar a caminho, mas o ventre de Laila continua vazio.
Somado a isso, ter tomado algumas estratégias erradas, tanto
políticas quanto econômicas, que cobram suas consequências, faz
Hamed ficar impaciente.
— Ele não quer a minha ajuda, Jalal — aviso, seco.
— Mas vai ajudá-lo mesmo assim.
De um jeito que Hamed não precise saber ou que só
descubra tarde demais. Sermos gêmeos idênticos, algumas vezes tem
suas vantagens.
CAPÍTULO 5

Já é o meu quinto dia aqui em Sahra e ainda tenho mais dez


de férias. Apesar de estar sendo uma aventura incrível conhecer esse
lindo país, sinto saudades de Lucy e esses dias com ela teriam sido
muito mais divertidos.
A minha amiga é bem mais descontraída que eu e faz
amizade fácil com desconhecidos. É ela que sempre me faz sair da
bolha da timidez e falar com a pessoas.
De qualquer forma, conheci lugares maravilhosos como O
Mercado de Fils, com suas lindas pecas de artes, artigos de moda e
comidas maravilhosas. Visitei as deslumbrantes praias de Dabab e
Zahri, que me ajudaram a começar a ter um tom dourado em minha
pele muito clara.
E há muitos passeios e atividades interessantes oferecidas
pelo hotel, mas hoje, em especial, não me sinto animada.
E o dia do meu aniversário e comemorar sozinha em um país
distante, me soa mais solitário e triste do que o normal. Ainda assim,
pela insistência de Lucy, depois de me arrumar toda, colocando um
vestido novo e bonito, desci para o meu jantar.
Tenho reserva no restaurante do hotel, mas não é muito
animador comer sozinha. Então, pulo o jantar e caminho direto para o
bar, assim que a porta do elevador abre. Talvez uma bebida me
animasse a encarar mais uma noite, em que a minha companhia
melancólica será a única que terei hoje.
Eu poderia tentar ir em alguns dos clubes noturnos na
cidade, mas a ideia de chegar sozinha e despertar curiosidade e pena,
desestimula.
Olho em volta do bar. Tudo nesse lugar é atrativo. As
pessoas são bonitas, sorridentes e elegantes, destacando o status social
que elas têm. Lucy teve realmente sorte em conseguir essas reservas e
agora entendo por que praticamente havia me obrigado a vir.
Já estou ganhando suficientemente bem com as minhas
pinturas e esculturas para não precisar me preocupar financeiramente.
Uma viagem de férias por ano caberia em meu orçamento, mas acho
que nunca mais ficarei em um lugar tão chique e bonito quanto esse.
— O que gostaria de beber, senhorita? — Indaga o barman,
ele usa uma mistura de roupas típicas da região com o lado ocidental.
— O que me sugere? — indago, sorrindo, tentando ficar
mais animada.
Afinal, esse era um lugar que onde as pessoas desejam
relaxar e se divertir.
— Normalmente, as damas que nos visitam gostam muito de
[5]
easal . É suave e doce. E tem toques de coco com mel.
— Vou querer isso, por favor.
O homem prepara a bebida em um bonito copo transparente
e bem ornamentado. No final, recebo um drinque exótico nas cores
branco e amarelo.
— Cuidado — Ele me dá o alerta e uma piscada — Apesar
de ser uma bebida de escolha feminina, ela é forte.
Movimento a cabeça concordando e provo o meu drinque. É
realmente muito suave, gostoso, doce, sem ser enjoativo e ao mesmo
tempo refrescante. Levada por essa explosão de sensações em minha
boca, tomo mais dois longos goles, também para aliviar o calor.
Coloco a minha bolsinha sobre o balcão e viro de costas para
o bar, decidindo observar ao meu redor.
Há muitos homens e mulheres vestindo as roupas da região,
mas outros da mesma forma que eu, revelando que também são turistas
conhecendo o lugar.
Lucy não havia exagerado quando disse que os homens em
Sahra eram lindos. A maior parte são altos, bronzeados, devido a tanta
exposição ao sol, possuem bocas carnudas e pecaminosamente bem
desenhadas, olhos absurdamente claros ou impressionantemente
escuros.
Mas o que mais me impressionou mesmo, é que apesar de
viris, são muito respeitadores também. Sim, eu notei alguns olhares de
cobiça em mim, mas se eu não desse algum tipo de sinal positivo de
interesse, nenhum deles seria desrespeitoso para se aproximar. Isso é
que vem me fazendo a aproveitar a viagem com mais tranquilidade.
As mulheres também não ficam atrás. Apesar de algumas
delas optarem por usar o xador[6], que deixam a vista apenas seus
rostos bonitos. A maioria delas mantém apenas os belíssimos hijabs [7],
cobrindo seus cabelos. Suas maquiagens são perfeitas, fazendo uma
combinação impressionante com as joias deslumbrantes.
O meu olhar continua a vagar pelo local. Eu estou levando o
copo com meu maravilhoso drinque a boca quando observo um
movimento na entrada. Algo como uma inquietação entre as pessoas
próximas, como se em algum momento, alguém muito importante
estivesse para entrar.
E de fato, surge um homem de expressão muito séria, olhos
escuros e com trajes com cores de Sahra um pouco diferente da
maioria. Ele observa todo o ambiente. Seus olhos caem em mim por
alguns segundos, mas acho que não sou alguém interessante o
suficiente para ele gastar o seu tempo.
Após a minuciosa avaliação, ele dá um passo ao lado,
colocando as mãos atrás das costas e outro homem surge.
Minha nossa!
Como eu poderia descrevê-lo?
Não consigo saber exatamente a cor dos seus cabelos porque
estão cobertos, mas como a maioria dos sahrarianos possuem tons
escuros, acredito que os deles sejam no mínimo castanhos, mas aposto
no preto, devido as grossas e bem desenhadas sobrancelhas. Os olhos
deles são azuis como límpido céu de Sahra. Ele tem o rosto quadrado
de queijo rígido, um nariz proeminente, apenas o suficiente para dar
mais personalidade ao rosto bonito de tirar o fôlego e, claro, uma boca
volumosa de dar inveja.
Apesar das pessoas o observando e as locais fazerem sinais
de respeito, o homem caminha pelo local com bastante tranquilidade.
Seria alguém importante que trabalhava no palácio real ou
para a família do sheik?
Minha curiosidade e pensamentos são freados quando o
olhar dele caí sobre mim. Diferente das outras pessoas que ele olhou
de relance, a sua atenção se fixa em mim e ele dá uma olhada nada
discreta em meu vestido até os meus pés nos saltos vermelhos. E essa
avaliação predatória faz a minha pele formigar.
Quando volta ao meu rosto, o sorriso de canto de lábios
deixa muito claro que ele se agrada do que vê.
Um calor incontrolável começa a correr pelo meu corpo. A
minha boca fica seca, mas em vez de levar a bebida que seguro a ela,
passo a ponto da língua entre os meus lábios. O gesto leva o homem
misterioso e perigoso como um leopardo, encarar-me com mais
intensidade.
Senhor!
Que homem é esse?
Ele é completamente diferente de todos os que eu já havia
conhecido a minha vida inteira.
Mais sedutor. Perigoso. E letal.
A forma que mexe comigo, apenas me devorando com seu
olhar, torna essa a experiência mais erótica e sedutora de minha vida.
Como isso era possível?
CAPÍTULO 6

Jalal não havia exagerado quando disse que o clima em Fils


andava um tanto quente. Principalmente com os empresários do
comércio e que fazem a cidade movimentar. Os ânimos estão aflorados
com alguns nômades de Alnaas al'ahrar circulando pela capital.
Em meu jantar dessa noite com Yusuf Kazeen, o presidente
do comercio, eu esperava conseguir botar panos quente por alguns
dias. Até conseguir conversar com Hamed e fazê-lo entender que pela
violência e ambição cega, ele só conseguiria conquistar inimigos.
Dizem que poder mudar as pessoas. Ou que só revelava
quem elas realmente são.
Passar tantos anos fora lidando com outras culturas, teria
mudado Hamed ou eu que realmente nunca o conheci.
As ações irracionalmente de meu irmão, decretando a si
mesmo, como o dono do mundo, me faz pensar cada vez mais nisso.
Na política, além de inteligência, precisamos ter diplomacia.
Falta isso e algumas outras coisas em Hamed.
Infelizmente, um problema familiar impediu que Yusuf
comparecesse ao nosso compromisso. E ele tem a sorte de ser eu, a ter
nosso jantar adiado, e, não sheik de Sahra.
— Eu não tenho fome — Jalal arremessa o menu sobre a
mesa — Que tal irmos ao bar?
Desejo é voltar ao deserto, mas ainda preciso ficar aqui.
Assim que concordo com o pedido dele, meu amigo e
protetor, sempre segue em minha frente. Ele precisa verificar todos os
lugares e pessoas antes de considerar se o ambiente é seguro a mim.
Assim que entro no bar, após a figura marcante de Jalal,
alguns nativos me reconhecem e fazem respeitosos cumprimentos
enquanto os estrangeiros me encaram com curiosidade.
Não foco a minha atenção em ninguém especial, até o meu
olhar cair sobre ela.
A linda mulher de vestido vermelho, cabelos longos e
negros, junto ao bar.
O seu rosto oval e nariz empinado demostram personalidade,
e os lábios têm um desenho que me agrada, me atraem como dois imãs
se colidindo.
Tudo nela emana delicadeza e força. Os dois não precisam
andar separados e a estrangeira prova isso.
Ela é linda, mas muitas mulheres do meu país também são.
Há algo nela, no entanto, que me faz ficar estranhamente atraído.
Então, faço uma varredura com meu olhar malicioso por
cada curva no corpo perfeito que o vestido justo evidencia. Mas é em
seus olhos, quando voltamos a nos encarar que me mantém cativo nela.
Há uma lenda em meu país, que diz que quando duas almas
gêmeas se esbarram, elas conseguem se reconhecer. Que a força entre
elas é tão intensa que torna impossível ignorar. As pessoas do ocidente
dizem algo como amor à primeira vista.
Eu acho as duas possibilidades uma grande besteira e
improváveis.
O que essa mulher bonita e sexy me desperta é puro tesão.
Como um garanhão ficando eriçado ao sentir o perfume da fêmea.
Além disso, não tive contato com nenhuma mulher desde
que me enfiei no deserto. O meu corpo está em abstinência sexual e
essa mulher faz a minha necessidade por sexo explodir.
— Quem é ela Jalal? — Sussurro ao meu amigo, de forma
que somente ele consiga ouvir.
É claro que ele não pode me dar uma resposta imediata, mas
vai descobrir.
— Interessado em estrangeiras agora?
— Nela. — Respondo secamente e não desvio um segundo o
olhar da linda mulher cativando a minha atenção.
Observando sua mão delicada de dedos longos e bonitos
segurando o copo, constato que não há sinais de que ela pertença a
outro homem.
Mas isso não quer dizer nada, vindo de estrangeiras como
ela.
— Alteza — um garçom surge me entregando uma bebida.
Dou um pequeno gole no burj[8] e a mistura entre o macio,
seco e amarga, dançam em minha boca.
Continuo estudando a mulher. Parece estar sozinha. Sahra é
um país seguro para as mulheres, tanto para as nossas, como as que
vem nos visitar. Desde meu avô, que se casou com uma estrangeira
americana, novas leis foram implantadas e antigas erradicadas, nos
tornando um dos países mais modernos nos Emirados.
Nenhum homem pode chegar próximo a uma mulher com
intenções sexuais ou românticas, se elas não derem um claro sinal para
isso.
E eu o vejo perfeitamente na forma que linda estrangeira me
encara, que eu agrado a ela. Carregados de desejo e com um pedido
mudo que a tome para mim.
— Eu a quero. — Afirmo a Jalal.
Noto o sorriso retorcer discretamente o rosto dele e depois
em seu afastamento silencioso, para que eu pudesse agir.
Retorno a minha atenção a estrangeria tentadora. Ela passa
novamente a ponta da língua em seus lábios tão vermelhos quanto o
seu vestido e isso dá uma resposta direto ao meu pau, ficando duro.
Porra!
Eu preciso tê-la.
Largo o copo em uma bandeja qualquer de um garçom
passando por mim e vou em direção a garota. No meio do caminho
vejo a sua atenção ser desviada de mim para um homem colocando-se
a frente dela, cobrindo-a de minha visão.
Não!
Ela é minha.
Eu havia determinado isso assim que nossos olhares se
cruzaram pela primeira vez.
E eu derrubaria toda Sahra por esse objetivo.
CAPÍTULO 7

Apesar de ter sido uma mulher romântica por algum tempo.


Não sonhava mais com amor à primeira vista. Acreditei que o meu por
Willian foi se construindo e crescendo com o tempo e convivência.
Bem, somente da minha parte, já sabemos.
Talvez a paixão fosse assim, avassaladora e incontrolável.
Só sei que, no momento, os meus olhos não conseguem se
desviarem do homem me encarando no outro lado do bar, me levanto a
ter certeza de que é ele, a pessoa perfeita para o meu desejo.
É esse homem lindo, com ar misterioso e perturbadoramente
atraente, encarando-me com intensidade, que decido escolher para ser
o pai do meu bebê.
A minha vida toda eu fiz tudo certinho.
Fui uma boa filha, estudei bastante, namorei, casei-me na
igreja. Fui uma esposa perfeita.
E para quê?
Tudo o que eu amava foi tirado de mim. Os meus pais e meu
marido antes mesmo da morte dele. Além de ter sido enganada e traída
da pior maneira.
Talvez fosse a bebida local, que eu não estava acostumada,
falando por mim, ou liberando esse desejo violento, mas pela primeira
vez na vida, irei agir irresponsavelmente e de forma egoísta.
Anseio ser mãe desesperadamente, e essa possa ser a última
chance da minha vida. Eu nem desejo nada a mais desse homem
intrigante. Ele nunca saberá que, com sorte, levarei para o meu país, no
nosso filho em meu ventre.
Casos assim, aventuras de uma noite, aconteciam em todo
momento. Com a mãe da Lucy foi dessa forma. Minha amiga foi
gerada em uma viagem que a mãe dela fez de férias à Escócia, após ter
se formado no colégio.
Tudo bem. A mãe de Lucy só tinha vacilado em uma louca
noite de aventura e eu estava agindo de caso pensado. E não estou
dando a oportunidade desse homem decidir se gostaria de ser pai.
Ainda, assim, eu desejo ardentemente ter um filho dele.
Não.
Meu bebê.
E tudo isso só poderia ser apenas um devaneio da minha
cabeça. Até porque, mesmo que eu criasse coragem de falar com ele,
não havia nenhuma garantia de que desejasse passar ao menos uma
noite comigo.
— Mais um, por favor — peço ao barman, ainda preciso de
mais dose de coragem para levar esses pensamentos insanos a diante.
O barman me encara com incredulidade. Não estou ligando
se o rapaz pensa que entrarei em um coma alcoólico se continuar nesse
ritmo.
Uma das coisas que pesquisei sobre o país, é que faz alguns
anos que o consumo de bebida alcoólica não era mais proibido aos
visitantes, desde que não cometessem condutas inadequadas. Foi uma
lei defendida pelo segundo filho do sheik, um tal de Al Shahir alguma
coisa, devido a Sahra receber muitos turistas todos os anos e muito da
economia do país ser aquecida por isso.
Só quero mesmo é ficar bêbada. É o meu aniversário, poxa.
Será que isso me levaria diretamente a uma das salas de
prisão de Fils?
Quando volto a encarar o dono das minhas fantasias mais
impossíveis, percebo que ele está sozinho e vindo em minha direção.
O meu coração bate forte em meu peito.
— Oi.
Um homem loiro e com pele muito vermelha, destacando
que o sol de Sahra vem castigando-o severamente, coloca-se à minha
frente.
Eu nunca havia visto ele antes nem mesmo no hotel.
— Eu estava observando você. Vi que está sozinha.
Algo nesse homem me faz sentir um arrepio estranho no
pescoço. Talvez fosse pela forma que ele me olha. Não é como o
nativo misterioso, que me atraia com sua energia e intensidade. Esse
me passa uma sensação esquisita que não sei explicar.
— Mas eu não estou — afirmo, determinada a refrear
qualquer expectativa dele.
O seu olhar diz que ele não acredita nada em mim.
— Tem certeza? — A forma que atrevidamente passa a
ponta dos dedos em meu braço, me faz ficar ainda mais com medo.
Se Lucy estivesse aqui comigo, seria mais fácil conseguir
enfrentar essa aproximação invasiva. A minha amiga não leva
desaforos para casa.
Eu sempre fui mais pacificadora e que gostava de me manter
longe de confusões.
— Nenhum homem inteligente deixaria uma mulher tão
linda, sozinha num bar. Ainda mais aqui.
Sahra é um país seguro para que mulheres como eu, sozinha
em férias, possa visitar. E eu estou no bar do hotel, qualquer
funcionário poderia vir ao meu socorro.
— Já disse que não estou sozinha, senhor. O meu noivo
chegará a qualquer momento.
Ainda sem levar crença em minhas palavras, ele se aproxima
mais, ao mesmo tempo que eu tento me afastar, comprimindo a minha
cintura contra o balcão.
— Habibti? — Sinto uma mão passar por minha cintura e
seguir por minhas costas, me puxando, até que bato em um peito largo
e duro — Desculpe o atraso.
Levo um beijo gentil acima da minha cabeça, mas não é o
contato íntimo que faz o homem me importunando, de vermelho a
ficar pálido, acho que é a forma que ele está sendo encarado pelo que
me abraça.
— Algum problema? Esse homem está incomodando você?
De longe a presença dele é impressionantemente marcante,
mas agora de perto e comigo presa em seus braços, o que esse homem
misterioso causa em mim, está longe das minhas explicações.
Talvez seja por causa de seu braço protetor em minha
cintura, a mão de dedos longos, bonitos e fortes, fazendo um carinho
suave em minha pele sobre o vestido.
Como artista plástica, eu sou obcecada por mãos e as dele
demonstram força e poder.
O seu peito largo dando apoio as minhas costas, o calor que
o corpo dele irradia para o meu, a sua respiração que faz alguns fios
dos meus cabelos sacudirem e o perfume masculino, cheiro de campo,
invadindo os meus sentidos, deixa-me levemente zonza por ele.
Balanço levemente a cabeça para dar uma resposta, mas nem
sei que disse, na verdade. Estou docemente atordoada por ele.
— Desculpe — o desconhecido pigarreia e começa a se
afastar — Não sabia que a dama estava acompanhada.
— Mas foi exatamente o que eu a ouvi dizer.
O homem abre e fecha a boca como um peixe fora da água.
Ainda não posso ver o rosto do meu salvador, mas acredito que ele
deve ter uma expressão bem ameaçadora, que faz o inconveniente
insistente sair, tropeçando sobre os próprios pés.
A fuga dele me dá alívio e ao mesmo tempo causa lamento.
Não há mais motivo para meu protetor continuar a me manter
abraçada.
Quando começamos a nos separar e ele me vira em sua
direção, sinto como se o meu corpo começasse a ficar frio.
— Obrigada, pela ajuda — murmuro, quando ficamos frente
a frente — Mas acho que poderia cuidar disso sozinha.
Não era exatamente isso que eu queria dizer, mas ficar diante
desse homem com apenas alguns centímetros nos separando, me deixa
nervosa.
— É mesmo? — Um sorriso jocoso começa a surgir em seus
lábios, tornando-a ainda mais sedutor do que nunca — Não parecia
isso.
— Mas eu poderia! — Afirmo, determinada.
Ou tentaria, pelo menos. Claro que se eu visse que situação
continuaria a sair do meu controle, teria pedido a ajuda do barman ou
qualquer outro funcionário que passasse por perto.
No geral, Sahra é seguro, mas sempre tem alguns visitantes
ignorando regras e leis que foram criadas para nos proteger de
assédios.
Intimidada com a intensidade que ele me encara, fico
paralisada no lugar quando ele atrevidamente segura o meu pulso e
desliza seus dedos até os fecharem em minha mão.
Por que o toque dele não me incomoda e apenas a presença
do outro homem estranho me causava repulsa?
Claro que o fato dele ser um dos homens ou o homem mais
bonito e atraente que já vi, contribuía para me sentir atraída por ele.
Mas não era só isso. Desde que o vi entrar no bar com sua aura de
virilidade e poder, era como se nós tivéssemos nos conectado de
alguma forma.
Eu sabia que era ele.
Mas para o quê? Uma noite de sexo e aventura?
Observo hipnotizada ele ergue o meu braço, levando a minha
mão até próximo ao rosto dele e fica por um tempo olhando para ela.
Por mexer com muitos materiais e produtos químicos, eu
cuido das mãos muito mais do que a maioria das mulheres, afinal,
também é o meu instrumento de trabalho. Elas são bonitas.
— O quê foi? — Indago, insegura.
De todas as coisas que ele poderia não gostar em mim, nunca
imaginei que seriam as mãos.
— As suas garras — um sorriso provocativo e sexy surge,
levando-me a estremecer — Queria ver quanto afiadas são antes de
cravá-las em minha pele.
Uau!
Não é apenas a frase cheia de malícia que mexe comigo, mas
a forma como ele me olha. Como alguém apreciando o banquete por
horas, antes do jantar.
E que Deus me ajudasse, mas que queria ser o prato dele.
CAPÍTULO 8

A forma que ela me encara, com bastante segurança, é algo


novo para mim e me inquieta de uma forma positiva, fazendo o meu
corpo novamente tomar o lugar da razão.
Essa estrangeira me intriga e me faz desejar aprofundar cada
vez mais fundo nos mistérios que seu olhar esconde.
Se ela fosse uma das mulheres do meu povo, nem poderia
estar comigo, sem no mínimo uma companhia feminina, sendo a mãe,
tia ou uma avó. Mas ela vem de uma cultura completamente diferente.
Não pertence a Sahra e não há nenhuma tradição rígida que nos
impedisse de ficarmos tão próximos.
E eu a quero!
Hoje. Essa noite. Agora.
— Eu sou Rashid — digo apenas o meu primeiro nome
quando levo seus dedos a minha boca.
Vendo que ela não me reconhece como príncipe, gosto que
pelo menos nesse momento seja assim.
Diferente de Hamed, sempre levei uma vida discreta. E não
deixo que circule fotos minhas além de Sahra. Os olhos do mundo
deveriam estar voltados para o meu irmão. Ele quem gostava dos
holofotes.
— Suzana.
É muito fácil me prender nas profundezas de seus olhos
castanhos, que me soam intrigantemente doces.
Foi assim que me avó se sentiu ao conhecer sua primeira e
única esposa estrangeira?
Hipnotizado à primeira vista.
— De onde você é Suzana?
Ela se movimenta. Vejo que seu corpo está tenso. A minha
presença a intimida e é delicioso saber que não sou o único percebendo
essa energia entre nós.
— Connecticut — ela faz um gesto para pegar o copo que
havia depositado no balcão, mas eu afasto, pedindo outro drinque ao
barman.
Aquele já deveria estar quente.
— Estados Unidos, conhece?
— Diferente dos americanos, aqui estudamos geografia.
Sua careta indignada me faz sorrir.
— Ei! Essa foi pesada.
Ao contrário de se sentir ofendida, ela sorri também.
— Mas posso nos defender. Pelo menos não todos os
americanos.
— Também não posso defender todos os de Sahra.
A começar pelo meu irmão.
— E há alguém esperando você em Connecticut, Suzana?
Eu nunca me envolveria com uma mulher que pertencente a
outro homem, porque arrancaria os olhos de quem se atrevesse a
cobiçar o que era meu. Então, essa resposta determinaria tudo.
— Como um namorado?
— Ou um marido.
Ela abaixa o olhar timidamente.
— Sou viúva.
Em Sahra, se um homem morresse e tivesse irmãos, a sua
esposa poderia ser oferecida a um deles, como uma segunda ou
terceira esposa. Porque devemos proteger e cuidar dela. Isso fazemos
bem. Nossas mulheres são para serem amadas, protegidas e tratadas
como rainhas.
— Não — ela ergue seus olhos castanhos e doces para mim
— Não há ninguém esperando por mim Connecticut, além da minha
melhor amiga, Lucy.
Seus pais estariam mortos ou ela nunca os conheceu?
Quanto mais a jovem me revela, mais eu desejo saber sobre
ela.
— O que a traz ao meu país?
O drinque dela é servido e eu assisto-a levar o copo a boca,
imaginando outra coisa em seus lábios vermelhos.
— Férias — Ela dá um gole generoso na bebida antes de
voltar a me encarar.
Apesar do drinque ser adocicado e geralmente de escolha
feminina, ele tem um teor alcoólico que precisa tomar cuidado.
Eu a quero bem consciente quando eu estiver entre suas
pernas, fazendo-a gemer e gritar o meu nome.
— Você deveria mesmo tomar cuidado com a bebida —
passo um dedo lentamente pelo seu pulso e sigo suavemente até o
cotovelo, notando os fios do seu braço arrepiarem — O easal tem um
sabor adocicado, mas é forte. Principalmente para quem não é
acostumado.
— Tem razão — Suzana volta a colocar o copo sobre o
balcão, também como uma forma de fugir do meu toque que mexe
com ela — Talvez se eu não tivesse pulado o jantar, não me afetaria
tanto.
Eu, ou a bebida?
Apostaria na primeira opção.
— Ainda não comeu?
Ela dá de ombro, observo o brilho de seu olhar mudar para
algo mais melancólico.
— Achei que jantar sozinha no dia do meu aniversário, não
era muito animador.
Suzana tenta fazer parecer como se fosse algo sem
importância, mas eu não encaro assim, como também analiso que isso
a incomoda, mesmo que ela negue.
— É o seu aniversário, hoje? Isso não pode passar em
branco.
Rapidamente a minha mente começa a agir e eu busco Jalal
pela sala. Sei que ele está por aqui, embora tenha me dado liberdade e
privacidade para ir até a mulher.
— Não. Tudo bem, eu...
Eu não deixo que ela termine e assim que meu segurança
surge em meu campo de visão, conduzo-a do bar para o restaurante.
— Rashid — ela me chama enquanto tenta acompanhar os
meus passos.
— O nascimento é uma das datas mais importantes por aqui
— aviso quando paramos na entrada do restaurante — Só fica atrás do
casamento e pode ser comemorado até por três dias. Ao menos um
jantar você terá.
E será minha deliciosa sobremesa no final.
Jalal se aproxima e o que digo a ele em nossa língua, faz a
linda mulher com a mão grudada a minha, nos ouvir calada.
— O restaurante inteiro? — Jalal me indagou, abismado.
Antes de começar a cortejar Layla, acreditando que nos
uniríamos em matrimônio logo que Hamed voltasse, tive as minhas
quantidades de amantes. Sempre fui generoso com elas, mas nunca
havia feito um pedido tão impetuoso ou usado meu poder como
príncipe para evacuarem um restaurante, deixando-o completamente
para mim e a linda estrangeira ao meu lado.
— Sim. E não esqueça dos outros detalhes.
— Como quiser, Vossa Excelência.
Jalal sai discretamente, empenhado em cumprir todos os
meus pedidos. O início da conversa dele com o maître soa tensa, mas
assim que o olhar do homem caí sobre mim, ele faz uma referência
respeitosa.
É esse tipo de comportamento que quero evitar quando
estiver jantando com Suzana, que ela estiver comendo, na verdade.
A um olhar de Jalal todos estão sendo conduzidos para fora
do restaurante.
— É impressão minha ou as pessoas estão indo embora? —
Suzana cochicha para mim ao sermos direcionados a nossa mesa.
— Convidadas a se retirarem — aviso com uma dose de
humor enquanto coloco-me atrás dela e puxo a cadeira para que se
sente.
— Mas por quê?
Paro ao seu lado e seguro seu queixo com carinho.
— Porque eu ordenei.
— Ordenou? — Seus lindos olhos ficam maiores e ela passa
a língua entre os seus lábios.
O gesto é absurdamente sexy e leva uma resposta imediata
para o meu pau.
— Mas... quem é você?
Passo o polegar suavemente em seu queixo. A maciez da sua
pele acende a cama trepidando dentro de mim.
— Por que a pressa, habibti? — Levo seus dedos mais uma
vez aos meus lábios, passando suavemente a minha língua pelos nós
deles — Antes que a noite termine, irá descobrir isso.
Não sobre o príncipe Rashid[9] bin Shalaan[10] bin Shahir[11]
Al Awad[12], mas sobre um amante que ela jamais sonhou ter.
CAPÍTULO 9

As palavras dele eram mais do que um convite, significavam


uma promessa.
E eu sento o meu corpo inteiro pegar fogo quando Rashid
passa as pontas dos seus ao longo do meu ombro, antes de se dirigir
para sua cadeira, colocando-se a minha de frente.
E assim que ele se acomoda, as coisas começaram a
acontecer. O easal foi substituído por uma garrafa de champanhe, que
foi colocada na mesa em um balde. Eu mal tive tempo de me
surpreender com isso quando a taça com o líquido borbulhante, foi
entregue a mim. O restante seguiu com a mesma rapidez e discrição.
Vários pratos locais foram exibidos diante de meus olhos
impressionados. Alguns eu já havia provado antes, como o tabule[13] e
o baba ganoush[14].
O que Rashid me apresentava era um banquete de
aniversário, e, eu não tenho como não me emocionar com isso. Desde
que ele espantou o turista inconveniente, suas ações não foram menos
que gentis, atenciosas e protetoras.
Eu sei que por trás de tudo isso, há intenções de que
terminemos a noite em sua cama, mas por mais louco que isso seja, eu
não me importo. Pelo contrário, estou surpreendentemente ansiosa.
O último ano, até mesmo antes deles, foram terríveis para
mim. Mesmo antes de Willian cair doente, nossa relação já estava fria.
O sexo rolava apenas nos dias e horários marcados nos meus picos de
fertilidade. Acho que minha obsessão em ser mãe, espantou a
naturalidade entre nós. Ou talvez, tivéssemos começados a perceber,
que o encantamento do início da relação, havia acabado.
Talvez nunca tivesse existido amor verdadeiro, apenas
carinho. Porque nem no dia que eu conheci o meu falecido marido em
Paris, uma das cidades mais românticas do mundo, ele me despertou
tanto desejo em mim, como Rashid fazia, apenas com seu olhar
predatório, carregado de promessas indecentes.
E um segundo ponto me leva a seguir com essa aventura
perigosa e louca.
O meu desejo de ser mãe. É tão forte em mim, que me tira a
oportunidade de pensar racionalmente. Imaginar que nos próximos
anos eu não estarei sozinha, contando apenas com a amizade fiel de
Lucy. Porque por mais que minha amiga venha negando que nunca irá
se casar e ter filhos, sei que quando ela encontrar o amor verdadeiro,
seu fervoroso discurso irá mudar.
— Você ficou pensativa, habibti.
Olho angustiada para ele. Não queria enganar Rashid, mas
não acredito que ele agiria de forma natural, se eu apenas pedisse que
ele fosse um doador de esperma. Até porque pelo que estudei do povo
dele, são muito ligados a família.
— Já me chamou assim antes, no bar. O que significa?
A minha pergunta parece o pegar de surpresa e pela primeira
vez vejo sua segurança baixar um pouco. Ele leva o copo com seu
drinque a boca, tomando um longo gole antes de me responder.
— Depende da situação. Ou para quem falamos isso. Pode
significar querida ou amada.
Nós mal nos conhecemos, então acredito que eu me
enquadre na primeira opção.
— É o mesmo para os homens?
— Não. Ao homem você dirá, habibi.
Eu faço outras perguntas sobre a língua dele e até me arrisco
dizer algumas palavras e frases, fazendo-o rir. Depois a nossa conversa
muda para os lugares que já visitei e Rashid me fala de outros que eu
não poderia deixar de tentar explorar, antes de ir embora, ou visitá-los
em uma próxima viagem a Sahra.
— As montanhas de Asad [15]ficam nos limites que separa o
leste de Sahra com o país Musafir[16] — explica ele — Jalal é de lá.
Busco o homem musculoso e de expressão carrancuda pelo
restaurante e encontro sua figura as sombras, nos vigiando.
Jalal me dá um certo medo, preciso confessar. Parece
implacável.
Quantos mistérios mais rondavam esses dois?
CAPÍTULO 10

Quando volto a olhar para Rashid, percebo que seu rosto


exibe divertimento.
— Ele é seu segurança, certo?
— Um amigo, acima de tudo. Seu pai é diplomata de
Musafir e a mãe é daqui. Nós estudamos juntos desde criança e
fortalecemos a amizade desde então.
É muito claro para mim que Rashid confia cegamente em
seu braço direito.
— Você trabalha no palácio?
Eu quero saber muito mais sobre ele. Sinto como se Rashid
fosse uma rocha guardando pedras preciosas, mas difíceis de escavar.
— O que faz pensar isso?
— É evidente que é uma pessoa importante. Vi as pessoas
saudarem você quando chegou no bar. E depois saíram do restaurante
apenas como uma ordem sua.
— O que sabe sobre a família Al Shahir?
— O atual emir, o sheik Hamed ou o anterior, o pai dele?
— A família em geral. Ele tem mais um filho.
— Confesso que não fiz uma pesquisa profunda sobre isso.
Lucy e eu, a amiga que me presenteou com essa viagem, ficamos mais
interessadas em nosso roteiro. Você trabalha para eles no palácio?
— Digamos que, sim — apesar da reposta curta, há humor
em seus olhos — Então, você não tem interesse algum na realeza daqui
ou de qualquer lugar do mundo.
— Por que eu teria? Estão completamente fora da minha
realidade. Acho que você é a pessoa mais importante que conheci até
hoje.
— Sou um homem simples.
— Um homem simples não conseguiria fechar um
restaurante inteiro, expulsando todas as pessoas, só para dar um jantar
de aniversário a uma desconhecida.
Ele sabe que tenho razão e que de simples ele não tem nada.
Mas sendo honesta comigo mesma, mesmo que Rashid não fosse o
homem poderoso que destaca ser, se tivesse apenas me levado a uma
barraquinha de comidas na rua, sua presença ainda é tão marcante, que
ele teria tornado o meu aniversário especial.
— E ainda tenho mais duas surpresas para você — ele avisa
ao inclinar um pouco o corpo para pegar a minha sobre a mesa.
Assim que ele levanta a outra mão, um garçom surge
trazendo um lindo bolo de aniversário com velas e tudo.
— Mas... — encaro, completamente chocada — Como você
conseguiu isso.
— Algo importante sobre mim, Suzana — seu polegar
acaricia os meus dedos — Quando realmente desejo, conquisto tudo o
que quero.
Outra mensagem com duplo sentindo, que faz o meu sangue
correr mais rápido em minhas veias.
Rashid me deseja.
Ele deixou isso claro desde o primeiro momento que me viu
e comigo não é diferente.
O bolo é colocado sobre a mesa e ele me incentiva a apagar
as velas e fazer um pedido conforme a minha tradição.
Eu só tenho uma coisa a pedir.
Ser mãe.
Assim que recebo meu pedaço de bolo e me delicio com ele,
descubro que a segunda surpresa da noite é uma apresentação de
dança.
Lindas mulheres com tops bordados em dourados e
pedrarias, com saias e lenços deslumbrantes, surgem. Elas também têm
bonitos adornos nos cabelos e testas. Joias belíssimas com brincos
enormes balançando nas orelhas e muitas argolas nos pulsos.
A música e a forma que elas se movimentam é tão
envolvente, que mesmo não sabendo dançar nada, eu me movo na
cadeira, com um enorme sorriso esticando a minha boca.
Tenho que confessar que após alguns dias de Lucy falando
mais sobre o destino das nossas férias, fiquei encantada e animada em
conhecer mais de Sahra, que pesquisei muitas coisas sobre o país e os
mulçumanos em geral.
Umas das explicações que encontrei na internet é que a
origem da Dança do Ventre é bastante polêmica, existindo muitas
versões e contradições sobre ela. Uma das hipóteses mais aceitas é que
tenha se originado no Antigo Egito, vinda de rituais ligados à
fertilidade da terra e da mulher.
Originalmente o nome da Dança do Ventre é Racks el
Sharqi, em árabe é Dança do Leste. Posteriormente, este nome foi
traduzido pelos franceses como Danse du Ventre e pelos norte-
americanos como Belly Dance.
Aqui em Sahra, eu sei que está totalmente ligada a sedução e
fertilidade, mudando alguns movimentos de dança e de corpos. Se
imita as diversas oscilações da serpente, a mulher deseja seduzir e
hipnotizar o seu homem, se são mais suaves como o balanço
românticos dos lenços, significa a busca por fertilidade.
No final do belo show, as dançarinas fazem uma reverência
tanto a Rashid quanto a mim, em sinal de respeito. Essa foi uma
apresentação artística a nós dois e não tinha nenhuma intenção de
sedução a ele.
— Foi maravilhoso. Nunca vi nada parecido — contínuo,
aplaudindo enquanto as vejo sair — E as roupas delas? Perfeitas. Tão
lindas.
Olho para ele, emocionada.
— Obrigada, Rashid — não me envergonho de secar as
lágrimas no canto dos meus olhos — Foi o melhor aniversário que já
tive até hoje. Eu nunca vou esquecer.
— Isso foi só o início — ele avisa, ficando de pé, depois
estende sua mão para mim — Vem comigo?
Para onde ele quisesse. Levanto-me, unindo a minha mão a
dele.
O toque causa um choque que reverbera por todo o meu
corpo.
Até o fim do mundo.
CAPÍTULO 11

Existe algo em Suzana que me desnorteia mais do que


qualquer mulher que eu já havia conhecido. Talvez seja essa mistura de
mulher com toque de garota tímida, que me leve do desejo ao
sentimento de posse e proteção.
Não é apenas todos esses meses em celibato, praticamente
vivendo como um nômade no deserto. Sempre me achei capaz de
controlar os meus instintos mais primitivos, mas não com ela.
A voz em meu cérebro é insistente e angustiante.
Preciso tê-la e vou ter.
Então, assim que ela aceita o meu chamado e nossos dedos
se entrelaçam, eu a puxo para os meus braços.
Porra. A maneira como os nossos corpos se encaixavam
perfeitamente, como se tivéssemos sido moldados um para o outro,
foge da minha compreensão.
Mas é somente quando a minha boca cobre a dela,
esmagando os seus lábios, que a minha língua invade a sua boca em
um beijo voraz, carregado de fome e desejo, que entendo a expressão,
encontrar água no deserto.
As nossas línguas se movem juntas. Elas se buscam, se
encontram. Fazem uma dança agitada e sensual. Agarro mais Suzana
junto a mim. Os seus seios macios comprimem em meu peito e isso
leva um choque direto ao meu pau.
Como eu a desejo!
Não me importo com Jalal escondido nas sombras ou
qualquer outra pessoa no restaurante. Eu poderia simplesmente jogar
Suzana sobre a mesa. Erguer a saia de seu vestido, rasgar sua calcinha
com os meus dentes e afundar o meu pau cada vez mais rijo, em sua
boceta que deve estar cada vez mais molhada com meus beijos e
carícias em seu corpo perfeito. Pelo menos é o que os gemidos dela em
meus lábios indicam.
Mas não.
O ato sexual entre um homem e uma mulher é algo íntimo,
que só deve ser compartilhado entre o casal. Demonstrações públicas
de afeto em Sahra são punidos com uma lei dura. E nem mesmo o fato
de ser o príncipe nos manteria livre de um julgamento, se fossemos
denunciados.
Claro que aqui, ninguém se atreveria a isso. Ainda assim,
não posso arriscar. Como também quero toda privacidade e liberdade
para fazer com Suzana, o que a minha mente atordoada de desejo,
almeja desde que coloquei os meus olhos sobre ela.
— Vamos — nos afasto apenas o suficiente para olhar em
seus olhos embevecidos de prazer.
Ela não protesta quando a direciono para fora do restaurante.
Desde o início e quando aceitou o meu convite, Suzana sabia como
isso iria acabar. Ela não é uma viagenzinha inocente e eu fico aliviado
com isso. Com exceção de Layla, a quem pretendi me unir ao
matrimonio, elas sempre estiveram fora do meu radar.
É um caminho angustiante até o elevador e quando as portas
se fecham, nos deixando sozinhos outra vez, agarro Suzana e empurro
em direção a parede, espremendo o meu corpo contra o dela.
Movo o meu quadril e a faço sentir a potência da minha
ereção.
— Você me deixou assim — sussurro em seus lábios que
ficam cada vez mais inchados por meus beijos — Desde o momento
que a vi.
Esfrego mais o meu pau entre suas pernas e Suzana fecha os
olhos, deliciando-se de prazer.
Eu passo a minha mão por suas coxas e começo a subir a
saia do vestido até que eu consiga enfiar a minha mão por dentro dele.
— Caralho! — Uma respiração pesada sai de mim quando os
meus dedos tocam a calcinha melada — Você está molhada.
Encaro-a e afasto o tecido para o lado. Suzana estremece
quando deslizo o meu polegar até tocar o seu clitóris.
— Rashid — ela vibra em meus braços com a minha carícia.
Continuo a massagear sua boceta e ver seu rosto retorcer de
prazer. Isso a torna ainda mais linda para mim. Quero vê-la gozar
gritando o meu nome.
A porta é aberta indicando que chegamos a suíte
presidencial.
O hotel é do meu primo Omar. Sempre que venho a Fils e
não fico no palácio, esse quarto me pertence.
É impossível não me divertir com o olhar admirado de
Suzana quando estramos na suíte. Quando disse a ela que sou um
homem de vida simples, vinha do fato que prefiro mais a minha tenda
no deserto e absorver a natureza, do que todo o luxo no palácio e a
quartos como esse, mas eu tenho acesso a todo luxo que a riqueza pode
proporcionar. E vejo que ela sim, possivelmente, tem uma vida mais
modesta do que a minha.
Depois de dar alguns segundos para que ela absorva tudo
com um olhar curioso, eu a trago novamente para os meus braços.
O beijo é imediato e explosivo como os anteriores.
Começamos a nos acariciar e acender cada vez mais essa
chama entre nós.
CAPÍTULO 12

Eu a guio de costas até o quarto, sem um único momento


desgrudar às nossas bocas.
Desvio o beijo para o canto dos seus lábios, passo por suas
bochechas, chegando em seu pescoço. Suzana apoia as mãos em meus
ombros quando a minha língua molhada passa por sua pele.
Ela estremece comigo, por mim.
Eu me afasto para começar a retirar o seu vestido e visão do
seu corpo cheio de curvas coberto apenas pela lingerie também
vermelha, na pele levemente bronzeada pelo sol de Sahra, me coloca
louco.
Inclino e faço um caminho de beijos pelos seios dela,
parando em um, que eu chupo através do tecido rendado.
Suzana finca mais as unhas em meu ombro.
Ela tem mesmo garras, sorrio, excitado.
Minhas mãos vão para as suas costas e eu abro o fecho do
sutiã com muita facilidade. Quando os seus seios empinados, de
mamilos duros, saltam para mim, um grunhido escapa da minha
garganta.
Preciso prová-los.
Chupo os mamilos duros. Suzana geme alto. Eu continuo a
mamá-los, fazendo-a se contorcer de prazer. Eu mesmo estou em um
ponto muito alto de excitação.
Em seguida minhas mãos vão para sua calcinha e eu rasgo o
tecido como se fosse uma folha de papel. Ela me olha surpresa, mas
com inegável desejo transbordando por seus olhos.
Seguro seus braços e a guio até a cama.
Deito-a nos lençóis negros e macios de seda. Começo a
acariciar suas pernas, levando Suzana a fechar os olhos e morder os
lábios de excitação. Cravo os meus dedos em suas coxas e afasto suas
pernas, deixando-a aberta para mim.
A sua boceta brilha mais do que as estrelas no céu de Sahra.
E eu tenho que provar o mel que ela oferece a mim.
Dou uma lambida longa, generosa e Suzana emite um grito
desesperado de prazer. O gosto dela explode em minha boca, invade o
meu cérebro e vai direto para o meu pau, deixando-o ainda mais duro.
Depois de provar, eu jamais seria capaz de esquecer o gosto
dela.
— Rashid... Rashid... — seus dedos contorcem o lençol
enquanto ela geme o meu nome, como se fosse uma oração.
Uma súplica a mim para que dê o que ela precisa.
Ergo meu rosto para ela e sorrio de um jeito safado. Em
seguida volto toda a minha atenção para a sua boceta pedindo por isso.
Com a minha língua faminta, massageio toda a sua vulva e
com meus dedos provoco seu clítoris sensível e enfio três dos meus
dedos dentro dela. Supreendentemente, por não ser uma virgem sem
experiência, Suzana é apertada.
Pensar em meu pau afundando em sua cavidade espremida e
quente, me deixa fora de controle.
Eu sigo chupando-a, lambendo, fodendo-a com minha boca e
dedos até que o corpo de Suzana começa a sacudir de prazer e com um
gemido alto, seu gozo molha toda a minha boca e dedos.
Ela me encara cheia de desejo, assistindo, ansiosamente, eu
começar a tirar o keffiyeh[17], e em seguida o gahfiya, [18]revelando os
meus cabelos completamente. Em Sahra os homens os mantêm curtos,
alguns até preferem raspar completamente a cabeça, como Jalal, mas
não é o meu caso.
Depois eu tiro a túnica revelando meu peito, tendo apenas o
[19]
cirwal cobrindo o meu corpo.
— Gosta do que vê, habibti? — Com a pergunta, esfrego
descaradamente o meu pau por baixo do cirwal, embora a calça seja
solta, é impossível ela não notar a minha potência dura e cada vez mais
excitada com ela.
Ela oscila, as suas pupilas dobram de tamanho e os lábios se
abrem, soltando um gemido alto.
— Responda? — Exijo duro.
— Sim.
Aproximo-me da cama ficando de joelhos diante dela.
— Então vem pegar o que você quer.
Ela fica de joelhos também e sua mão vem em direção ao
meu pau. Ela começa a me acariciar timidamente sobre o tecido. É
mais quente que o calor do inferno, mas não suficiente para mim.
— Assim, não — agarro firme a sua mão e com a minha
outra abaixo a minha calça, fazendo meu pau saltar em sua direção —
Dessa forma.
Quando seus dedos delicados envolvem o meu pau, o ar fica
preso em meu peito.
Eu mostro como ela deve mover a sua mão, de cima a baixo,
em movimentos ritmados.
Porra, que tesão.
Fixo o meu olhar no dela. Há satisfação em notar que me
causa prazer.
Deixo que ela me masturbe até me levar ao limite e quando
estou muito perto de explodir, afasto-a bruscamente, jogando-a na
cama.
Só tenho tempo de buscar um preservativo dentro da gaveta
na mesa ao lado da cama.
Quando volta a minha atenção a ela, totalmente protegido,
vejo algo passar levemente por seus olhos.
Decepção?
Não. Balanço a cabeça afastando esse pensamento absurdo.
Que mulher sentira pesar, em ver um homem que estava indo para
cama pela primeira vez, os proteger?
Volto a cobri-la com meu corpo e beijo apaixonadamente até
sentir que o desejo entre nós havia voltado com força total. Enquanto a
beijo, os meus dedos esfregam a sua boceta, deixando-a ainda mais
molhada.
Suzana está pronta e eu preciso me afundar dentro dela.
Quando faço isso, em uma arremetida forte e profunda, vejo
o paraíso pela primeira vez.
— Oh! — Estremeço quando saio dela e estoco duro
novamente.
Parece que todo o sangue em minhas veias vai direto para o
meu pau.
— Rashid — ela pranteia, envolvendo as suas pernas em
minha cintura e eu consigo me afundar ainda mais dentro dela — Oh,
Rashid.
Seus gemidos, a minha própria respiração pesada, o cheiro
de sexo invadindo o quarto, nosso desejo crescente, tudo isso leva a
nossa experiência a algo que eu jamais experimentei.
Por um segundo, desejo que não houvesse mesmo a proteção
entre nós. Que fosse apenas pele contra pele.
O nosso caminho ao prazer é desenfreado.
Soco em sua boceta tão forte que não leva muito tempo para
Suzana se quebrar em meus braços, gritando o meu nome. Eu vou com
ela logo em seguida, caindo sobre o seu corpo, logo após o meu
orgasmo roupar todas as minhas energias.
CAPÍTULO 13

Como uma mulher que esteve casada por alguns anos e teve
alguns relacionamentos antes disso, eu conheci o sexo. Mas nada do
que vivi poderia se comparar com o que Rashid me fez experimentar
essa noite.
Até o fato de vê-lo se proteger, nos proteger, sendo mais
correta, jogando por terra o meu plano para essa noite, ficou apagado
quando Rashid me fez sua.
Ele me levou ao céu e me fez conhecer o paraíso.
Eu nunca havia me deparado com um homem tão intenso,
apaixonado e fogoso como ele. E, bem, preciso ressaltar que tem duas
vantagens, que acredito que todas as mulheres devem ao menos
sonhar, ele tem um pau grosso e grande.
Esse pensamento me faz ver o quanto devassa estou sendo e
eu solto um pequeno gemido, envergonhada, que faz Rashid afastar o
rosto do meu pescoço para me encarar, curioso.
— Quais pensamentos estão levando cor as suas bochechas?
Ele se afasta, tirando o seu peso sobre mim, mas me puxa
para os seus braços em seguida.
— Eu não digo nem sob tortura.
Isso o faz sorrir e a forma que eu olho para o seu corpo
musculoso e perfeito, meio que deve dar a ele uma ideia de quais
pensamentos fazem uma verdadeira bagunça em minha cabeça.
— Quanto tempo mais ainda têm por aqui?
Com a pergunta inesperada, Rashid passa carinhosamente os
dedos em minha testa, afastando os fios suados do meu rosto.
— Dez dias. Em Sahra, não necessariamente em Fils.
Dos cantos dos meus olhos, os dedos descem até a minha
boca e ele brinca entreabrindo os meus lábios.
— Fique comigo! — O pedido feroz soa mais como uma
ordem, que não espera recusa.
Levo alguns segundos para realmente entender o que Rashid
está sugerindo. Até porque, quando embarquei nessa aventura com ele,
acreditei que teríamos apenas essa noite juntos e nada mais.
— Quer que eu fique com você até o final da minha viagem?
— Venha para o deserto comigo — ele se inclina e encosta a
testa na minha — Ainda não tive o suficiente de você, Suzana.
Eu deveria achar um absurdo o que ele me propõe, mas
consigo entendê-lo perfeitamente. Também sinto que não tive dele o
suficiente e não falo apenas em meu plano insano em engravidar. Mas
de Rashid mesmo. Esse homem intrigante e misterioso que me fez
conhecer a paixão pela primeira vez.
— Mas, Rashid, no deserto? Sei que Sahra é seguro. Só que,
entende como isso é insano?
— Pense como uma aventura — ele esfrega o nariz no meu e
esse gesto me amolece ainda mais — O que quero te mostrar é lindo e
garanto que será a experiência mais incrível da sua vida.
Mais tempo com Rashid, significava mais noites quentes
como essa e talvez em algumas delas, eu conseguisse pegá-lo de
guarda baixa, fazendo-o esquecer-se do preservativo.
Esse pensamento, quase que criminoso e imoral, me faz
sentir como a pior pessoa do mundo.
Não. Eu não posso fazer isso com ele. É completamente
errado, imoral e injusto com ele e com nosso filho, se eu realmente
ficasse grávida.
Mas ainda assim, a proposta de Rashid para que eu viajasse
com ele, essas quase duas semanas, é irresistível.
— E eu poderia ir embora quando quisesse?
Eu deveria mesmo estar ficando maluca.
— Quando quiser. Basta me dizer e a trarei de volta a Fils ou
a levarei para onde desejar.
— Que garantias eu tenho disso?
Eu ouvi muitas histórias de mulheres que eram sequestradas
e mantidas como escravas sexuais, quando não aconteciam coisas
piores.
— A minha palavra, habibti. Eu posso garantir que ela vale
mais do que ouro aqui e é tão pesada quanto a lei.
Eu não sei explicar, mas acredito nele. O que vivemos essa
noite, tudo o que Rashid me fez sentir, não apenas durante o sexo, me
faz acreditar na promessa dele.
E talvez essa seja minha última chance na vida de me jogar
de cabeça em uma aventura e agir sem pensar.
— Tudo bem. E quando vamos?
O sorriso dele inicia modesto, mas logo se alarga, fazendo os
seus lindos olhos azuis brilharem como faróis.
— Amanhã cedo, depois que eu resolver algumas coisas na
capital — ele se move e seu corpo enorme volta cobrir o meu — Por
essa noite, ainda quero mais de você.
Ele afasta as minhas pernas com os joelhos e enfia sua mão
entre as minhas coxas. Ele esfrega os seus dedos na minha boceta
sensível, que rapidamente começa a ficar molhada com as carícias que
Rashid me faz.
— A noite inteira — ele sussurra em meu ouvido, depois me
beija com ímpeto.
Nos provocamos com os nossos lábios e mãos aflitas, até que
Rashid se afasta novamente para buscar outro preservativo.
Nesse momento, só ele me importa. Com o que Rashid me
faz sentir.
E ele me leva ao paraíso mais uma vez.
E eu nunca mais queria voltar de lá.
CAPÍTULO 14

É um absurdo dizer isso, mas eu nunca havia acordado com


uma mulher em meus braços. Normalmente, os meus encontros com
amantes duravam apenas o tempo de saciarmos nossos corpos com
sexo. Depois eu as presenteava com algumas joias e Jalal cuidava para
que a garota fosse colocada longe do meu caminho.
Era frio, mas como príncipe, se eu desejasse me casar algum
dia, teria que ser com uma mulher de conduta impecável. Assim,
nenhuma delas esperava algo mais de mim, além sexo, prazer e muitos
presentes.
Com Suzana, eu gosto de sentir sua mão pousada em meu
peito. Gosto da forma que seu corpo perfeito se encaixa no meu. O
calor que vem dele para mim. Seus cabelos longos, macios e escuros
roçando em minha pele
Eu poderia ficar horas observando os cílios tremularem
enquanto ela dorme em meus braços. Fascinando ao observar como
seus lábios entreabertos fazem o meu desejo ascender. De como o seu
corpo é perigosamente gostoso e me leva a ter fantasias loucas com
ela.
Deveria ser apenas uma noite ardente entre nós, uma que
ficaria guardada na memória, mas eu ainda não podia me desfazer
dela. Precisava tê-la até me sentir saciado e espero que esses dias
juntos, apenas nós dois e Jalal, no deserto, conseguisse aplacar o
desejo que essa estrangeira me provoca.
Mas eu não posso no momento ficar preso a esses devaneios.
Eu vim a capital por um motivo importante, tentar apagar o rastro de
fogo que Hamed deixava pela cidade.
Afasto Suzana com cuidado para não a acordar, depois sigo
para o banheiro. O banho gelado não é agradável tão cedo, mas é
necessário para apagar o calor que ela causa em mim.
Eu queria fazê-la minha outra vez, mas sei que se provar
mais um pouco, não vou conseguir sair do quarto, logo, toda essa
energia precisa ser deixada para mais tarde.
No deserto teremos dias e noites de calor para nos fartamos
um do outro. E eu estava faminto por Suzana.
Devidamente higienizado e de roupas limpas, olho para
cama onde ela dorme como uma sereia, enfeitiçando-me cada vez mais
e saio do quarto.
Escrevo um bilhete rápido para Suzana antes de partir.
— Salam — saúdo Jalal quando o encontro ao lado da porta,
fora da suíte — Ficou aqui esse tempo todo?
— Onde acha que eu iria? — A pergunta impertinente não
me incomoda, temos uma amizade longa para que eu não me sinta
ofendido por isso e nem o castigue — Sou responsável pela sua
segurança.
Mas ele não é o único, embora eu quase nunca veja Jalal
trocar de turno com outros.
— Um dia eu descubro como você surge e desaparece do
nada, Jalal.
Ele sorri. Acho que sou o único que já viu o sorriso do meu
segurança, que sempre mantém uma expressão severa.
— Você pode tentar.
Acho que nunca irei descobrir, por mais curioso que eu
fique. Deixe Jalal com os seus segredos.
— O encontro com Yusuf?
— Ele já está esperando-o no palácio.
— Então não vamos mais perder tempo.
Leva apenas quinze minutos de carro para eu chegar ao
palácio e mais dez para entrar em minha sala. Yusuf faz uma
reverência respeitosa quando eu entro.
Depois dos cumprimentos formais e votos de paz, nos
acomodamos em nossos lugares.
— Qual a gravidade da situação, Yusuf?
O homem perto dos cinquenta anos e que comenda o
comércio de Fils por mais de dez, me encara bastante apreensivo.
— Cada vez mais os rebeldes de Alnaas al'ahrar vem
entrando na cidade, Vossa Excelência.
O homem está claramente desconfortável com o que precisa
me dizer.
— Yusuf, trabalhamos juntos por muitos anos. O que precisa
me contar, ficará entre nós.
É a minha promessa que não irei me indispor com o que ele
tem a falar sobre Hamed e nem contar a ele.
— A insistência do emir em tomar Alnaas al'ahrar, vem
deixando seu povo mais inquieto e eles reagem aqui.
Como a cidade já fez parte de Sahra, como um acordo, feito
por meu avô, há muitos anos, povo tem direito circular pelo país sem
fiscalização. Estivemos em paz por muito tempo e eles só vinham a
capital para vender e comprar produtos. Assim tem sido até Hamed
colocar seus olhos cobiçadores nas terras de Alnaas al'ahrar.
— Invadem lojas. Assustam as nossas mulheres, crianças e
os turistas.
Esses guerreiros se intitulam protetores de Alnaas al'ahrar.
Eles a consideram uma cidade santa, que não pode ser tocada. Não da
maneira que meu irmão pretende.
— Nós já estamos aparecendo em noticiários estrangeiros e
isso não é bom para o turismo. Muitas famílias em Fils e outras
pequenas cidades, precisam e sobrevivem do turismo.
Se formos considerados um país inseguro de visitar, vai
afetar uma boa parte de nossa economia e provocar um desconforto
com países vizinhos, com que temos excelentes relações.
— Tenho tentado manter as coisas calmas, mas as pessoas
estão com os ânimos quentes.
Yusuf me fala mais detalhadamente de alguns
acontecimentos preocupantes e um possível ataque mais ofensivo a
capital. Nada do que escuto me deixa feliz.
— Vou falar com o meu pai e com Hamed também. Gostaria
que continuasse a manter o controle de tudo, Yusuf.
— Não há a menor dúvida sobre isso, Vossa Excelência.
— Que a paz esteja com você — nos curvamos e após a
saudação espero que o homem saia para dirigir meu olhar a Jalal.
Ele se posiciona de braços cruzados em frente a porta, assim
que a fecha.
— Vai mesmo falar com Hamed? Ele não vai gostar disso.
Pelo que parece, meu irmão achava que após assumir seu
governo, estava acima de todos e tudo. Mas ainda havia uma pessoa,
que pela tradição, ele deveria ao menos ouvir.
— Com o nosso pai, primeiro.
— Ladino, mas inteligente.
Eu precisava jogar diferente de Hamed e de uma forma que
não jogasse ainda mais gasolina nesse incêndio.
CAPÍTULO 15

Acordo sozinha, tanto na cama, como na suíte de Rashid. E


se eu não estive em um quarto completamente diferente do meu, diria
que nossa noite não tinha passado uma fantasia da minha cabeça. E a
minha pele sensível e marcada por ele, por nossas horas de paixão
intensas, também é a prova que foi muito real.
Sento-me na cama e sinto o meu corpo protestar. Não de
uma forma realmente ruim. Rashid é viril. Um verdadeiro garanhão,
como vi nos cavalos de alguns nativos ao andar pelas ruas de Sahra.
Passo os meus dedos por meus cabelos emaranhados e
sorrio. Um sorriso bobo e apaixonado, que quando avisto através do
espelho, me faz acordar para realidade.
Eu não posso me apaixonar por ele. Serão apenas mais dez
dias juntos, antes de partir para os Estados Unidos. Para minha vida
normal, triste e solitária.
Mas como manter o meu coração protegido, se apenas uma
única noite com Rashid havia se tornado inesquecível para mim?
Talvez eu devesse abandonar minha resistência em me tornar
a solitária dos animais e quando voltar para casa adotar um gatinho, ou
um cachorrinho, quem sabe.
Não quero ficar me torturando no que poderá acontecer no
futuro.
Saio da cama.
O lençol macio desliza pelo meu corpo nu. Vejo um robe
depositado em cima da cadeira e vou até ele.
Levo ao tecido ao nariz, apenas para o perfume confirmar
que pertence a Rashid. Visto-o e sigo em direção ao banheiro. Assim
que entro e posso analisar com mais calma, a recordação de nós dois
aqui, vem como flashes em minha cabeça. Era para ser apenas um
banho no meio da madrugada, mas acabamos nos entregando ao desejo
e a paixão.
Procuro nas portas do gabinete e encontro escovas de dentes
ainda na embalagem.
Depois da higiene bucal, ignoro a enorme banheira branca e
redonda me chamando e vou direto para o box. Há três jatos de
chuveiro e quando os ligo, a água toca o meu corpo de todos os lados.
O banho é maravilhoso, relaxante e eu poderia ficar nele por
horas, mas preciso poupar tempo. Já passa das dez da manhã e eu não
tenho ideia de quando Rashid pretende voltar para seguirmos com a
nossa viagem ao deserto.
Ainda não acredito que concordei com isso, mas também,
nem cogito a possibilidade de mudar de ideia.
Depois de sair do banheiro procuro as minhas roupas pelo
quarto, não seria nada apropriado deixar a suíte vestindo apenas
toalhas ou robe de Rashid.
Encontro o meu vestido no chão e próximo aos pés da cama,
o sutiã e a calcinha rasgada. Lembrar do que Rashid fez, em como seus
olhos ardiam de desejo, me faz perceber que nenhum homem havia
sido tão selvagem comigo e que fiquei louca com isso.
Era como se ele invocasse uma ninfomaníaca em mim.
Descobrir esse lado meu estava sendo uma experiência memorável.
Acho nunca mais conseguiria ver qualquer outro de um jeito tão
primitivamente sexual, depois de Rashid. Ninguém nunca chegaria tão
longe quanto ele.
Coloco o sutiã com pressa, depois o vestido. Sigo para a sala
e encontro os meus sapatos. Enquanto visto-os, vejo um papel sobre a
mesa e acredito que seja um recado dele para mim. Por um momento
penso que Rashid havia desistido do pedido que me fez e desejava
apenas se livrar da minha presença.
Caminho com as pernas vacilantes até a mesa.
“Bom dia, habibti. Espero que tenha dormido bem.”
Antes mesmo de continuar a ler, um enorme sorriso surge em
meus lábios. Eu amava quando ele me chamava de habibti. Parece que
faz a conexão entre nós ficar mais forte e mais íntima.
“Tome café da manhã.”
Mandão.
Até isso eu gostava nele.
Cuidado, Suzana!
“Nos vemos em breve. Quero muito mostrar o deserto a
você. Espero que não tenha mudado de ideia.”
Se eu tivesse asas, sairia voando nesse momento. Rashid não
tinha desistido da nossa viagem e nem estava me dispensando.
Levo o papel ao meu peito e fecho os meus olhos,
inspirando, profundamente.
Fico nesse pequeno momento de felicidade até me lembrar
que preciso me apressar e voltar ao meu quarto para fazer a mala.
Para não perder mais tempo, decido dispensar o café da
manhã como. Penso em beliscar algo em meu quarto mesmo.
Quando saio da suíte apressada, bato a porta esperando que
ela travasse automaticamente. Só quando chego ao elevador, lembro
que não deixei nenhum bilhete para Rashid.
O desespero me toma. Será que ele pensaria que fugi dele?
Eu me chutaria no traseiro se pudesse. Sem ter o que fazer,
além de contar que ele buscasse informações sobre mim, só me restava
ir para o meu quarto e esperar por ele.
Quando entro, vejo o celular que havia deixado na cama
ascender.
Tem pelo menos umas vinte mensagens de Lucy, querendo
saber como eu estava e três ligações dela dessa manhã.
Resolvo retornar.
— Suzana!
Ainda bem que estou fazendo uma chamada de vídeo ou
teria ficado surda com o grito dela.
— Onde você esteve? Se demorasse mais dez minutos para
me ligar, juro que colocaria toda polícia de Sahra atrás de você.
Eu não duvidava nenhum pouco que a minha amiga maluca
tentasse isso.
— Por que tanto desespero, Lucy?
— Você não me ligou e nem me enviou uma mensagem
ontem a noite, depois do jantar.
— Não foi você que insistiu e sugeriu que eu deveria sair e
me divertir?
— Mas você não fez isso, Suzana. Porque eu te conheço —
ela faz uma pausa para espirrar — Ou pelo menos achei que você não
faria.
Depois ela me avalia como pode.
— Espera! Ainda está com o mesmo vestido de ontem a
noite? O que você aprontou, Suzana.
—Amiga é uma longa história.
— E envolve algum homem bonito?
— O mais bonito, interessante e atraente que você poderia
imaginar.
Ela arregala seus impressionantes olhos verdes e abre um
sorriso enorme antes de olhar para o teto do seu quarto.
— O senhor finalmente ouviu as minhas preces. Me conte
todos os detalhes. Principalmente os mais sujos.
A única pessoa que eu conseguiria me abrir e falar sobre
coisas tão intímas é Lucy. Ainda assim, acho que não consigo revelar
as partes mais sujas a ela.
— Tudo começou quando Rashid me salvou de um bêbado
inconveniente no bar.
— O nome dele é Rashid? Acho que não me é estranho.
— Deve ser um nome bem comum aqui. Escuta quer me
ouvir ou vai ficar interrompendo? Eu não tenho muito tempo, Lucy.
Rashid me convidou para viajar com ele.
— Puta que pariu! — Seus olhos dobram de tamanho ainda
mais que da vez anterior — Certo. Prometo ficar calada.
E ela o faz. Pela primeira vez desde que conheço Lucy, vejo-
a me ouvir muda, deliciando-se com tudo o que conto a ela.
Enquanto conversamos, aproveito para arrumar a minha
mala. Ela vai me ajudando a lembrar tudo o que preciso colocar.
Depois de quase uma hora e meia de conversa, posso
finalmente dispensar Lucy porque a campainha em meu quarto tocou.
É mais do que surpresa ver Rashid parado em minha porta.
Sinto alívio, como uma grande felicidade em vê-lo de novo.
CAPÍTULO 16

Após quarenta anos exercendo sua função como sheik emir de


Sahra, era para o nosso pai estar tendo suas merecidas férias, mas as
decisões ruins de Hamed me obrigam a pedir uma intervenção.
— Que a paz esteja com você, filho.
— Que a paz esteja com você, pai — saúdo-o, respeitosamente,
tanto como antigo emir como meu pai.
— Rijad disse que precisava falar comigo urgentemente. Isso me
faz pensar que tem a ver com Hamed.
Eu devo lealdade ao novo emir, principalmente com meu irmão,
mas antes de tudo, devo isso a Sahra.
— Hamed andou tomando algumas decisões que não estão
refletindo muito bem meu pai. Todo o trabalho do meu avô e o seu
com Alnaas al'ahrar, agora está estremecido.
— Seu irmão deseja reivindicar a cidade antiga para Sahrar outra
vez, não é?
— Ele só está interessado no petróleo. Não liga para o povo e
como eles vão viver.
— Você havia conseguido um acordo com o chefe de Alnaas
al'ahrar. As negociações estavam avançadas. Achei que Hamed só
teria que concretizar isso. Mas ele quer mais. Em sua sede em ser
melhor governante de Sahra, anda metendo os pés pelas mãos, não é
mesmo?
— Talvez ele não tivesse tão preparado como imaginamos. Todos
os anos estudando no fora só serviram para preparar Hamed para ser
um homem de negócios do ocidente.
— Mas não o emir de Sahra — murmura nosso pai, tristemente.
— Não disse isso, pai. Apenas acho que Hamed precisava de
mais tempo. Mais orientação. Ele passou muitos anos longe do nosso
povo.
— Ou talvez seu irmão nunca tenha sido o homem certo para
assumir essa missão — ele me olha com pesar, sinto que nessa
conversa ele estivesse envelhecendo cem anos — Mas você era.
Sempre foi. Você ficou aqui ao meu lado. Aprendeu na prática e de
coração aberto tudo o que precisava entender. Era você que eu deveria
ter tornado o emir.
— Hamed é o mais velho, pai. E eu nunca almejei isso.
— É o que o torna perfeito, Rashid. Você não deseja o poder,
mas sabe lidar com ele quando está em suas mãos. Seu irmão é um
garotinho com um brinquedinho novo. Eu deveria ter mudado a lei
quando tive tempo.
— Sabe que isso não seria fácil. O primeiro filho sempre assume
o trono.
— Não seria fácil. Lutaria com muitas pessoas. Mas não seria
pior do que ver Hamed colocando Sahra em guerra após tantos anos de
paz.
— Não vamos deixar que Hamed chegue a esse ponto. Temos
que fazê-lo enxergar a razão.
— Falarei com ele e espero que você esteja certo e conheça seu
irmão melhor do que eu.
Eu também queria acreditar nisso.
Alguns minutos depois no hotel

Eu nunca dei muita importância ao que as mulheres vestem. Até


porque as que cruzo diariamente, destacam sua beleza através de joias
brilhantes e, outros segredos que só devem ser entregues aos seus
maridos ou amantes, de forma intima.
Mas não posso deixar de notar que no vestido branco e simples,
destacando ainda mais seus cabelos escuros e pele ficando dourada,
Suzana está tão deliciosa quanto no vestido vermelho e sexy da noite
anterior.
É uma mistura de sensualidade, com um toque de inocência, que
me coloca completamente ligado nela.
— Oi — ela diz com um sorriso tímido, mas que ilumina todo o
seu rosto de boneca — Você me achou.
— Eu a encontraria até no fim do mundo, Suzana — não era para
minha voz sair em um tom tão feroz e eu esperava que tanta
intensidade, não viesse a assustá-la — Você está pronta?
Olhando rapidamente por cima da cabeça dela, vejo uma mala
pequena em cima da cama. Mas isso não era uma garantia de que ela
fosse manter a palavra e me acompanhar em viagem.
Nunca nenhuma mulher já me deixou inseguro.
—Sim. Podemos ir quando você quiser.
— Imediatamente — estico às minhas mãos até tocar os seus
braços e a trago para mais perto de mim — Mas antes.
Esmago seus lábios com os meus. E é como se faíscas saltassem
dos nossos corpos. A minha língua invade a sua boca e eu torno o
nosso beijo mais profundo e sensual. O seu corpo tremula contra o
meu e os gemidos de entrega faz o leão dentro de mim, querer rugir.
— Temos que ir — seguro o rosto dela com as minhas duas mãos
— Ou eu não...
O seu olhar languido, sonhador e apaixonado, faz a excitação
queimar por todo meu corpo, como se jogassem ácido sobre a minha
pele.
— Teremos muito tempo, habibti. Dias e noites que a farei
minha, até que se esqueça de qualquer outro antes de mim e ninguém
mais após, signifique algo.
Eu desejava me tatuar nela como uma henna permanente. E que
eu nunca mais saísse de sua pele.
— Rashid — ela responde, atordoada a minha promessa intensa.
Beijo-a outra vez. Não com a mesma paixão anterior, mas com a
profundeza de um carinho que abala até mesmo a mim.
— Vamos — digo em um tom determinado.
— Mas e a minha mala? — Suzana questiona, olhando para trás
enquanto a conduzo para o elevador.
— Jalal cuidará dela.
Suzana olha constrangida e surpresa ao ver meu segurança surgir
como um fantasma e entrar no quarto dela.
— Ele estava aqui o tempo todo? — Ela sussurra quando
entramos no elevador.
— Jalal faz isso sempre e nem eu sei como — aviso, sorrindo —
Então nem tente entender. Ele irá garantir nossa segurança. Isso é tudo
o que precisa saber.
—Até no decerto? — Ela indaga, baixinho.
— Principalmente, lá.
Vejo o seu corpo ficar tenso. Tenho conhecimento do que o lado
ocidental pensa dos países que formam o Emirados, mas Sahra não é
assim. Ou pelo menos não era até Hamed subir ao poder.
— Está segura comigo habibti. Eu nunca deixaria ninguém te
tocar.
Que fosse um bêbado num bar ou algum dos inimigos que
Hamed estava colecionando. Ninguém tocaria num único fio de cabelo
de Suzana e quem tentasse seria um homem morto.
Isso era mais do que uma promessa.
CAPÍTULO 17

Nós não vamos deixar o hotel de carro como imaginei, então em


vez de descermos para o hall, o elevador nos leva para a cobertura,
onde tem um helicóptero está à disposição.
Eu me sinto como a Julia Roberts, no filme Uma linda mulher,
sendo paparicada.
— Eu nunca estive em um helicóptero antes — relato a Rashid
assim que ele termina de me ajudar com os procedimentos de
segurança.
— Quando chegarmos próximo a Amal, iremos fazer uma boa
parte do caminho a cavalo. Mas até lá, achei que gostaria de ver Sahra
do alto.
E ele não estava errado. Cada cidade, praias e montanhas que
sobrevoamos, eu ficava cada vez mais encantada com esse lindo país.
Tudo era um sonho. A forma orgulhosa que Rashid falava algum
fato importante ou interessante. O jeito que ele mantinha a minha mão
na dele. Que fazia carícias sem perceber em minha pele e a intensidade
que olhava para mim, vendo-me ficar encantada com tudo que ele me
apresentava.
A única coisa que, inicialmente, colocou um pouco de sombra
sobre esse momento romântico, era seu amigo e segurança, Jalal, que
mantinha sua atenção focada em tudo, mas com a mesma expressão
carrancuda de sempre.
Senhor! Esse homem nunca sorria?
Pelo menos comigo nunca vi.
Depois de decidir ignorar Jalal e me concentrar totalmente em
Rashid, o clima ficou mais leve e eu consegui aproveitar a viagem de
helicóptero.
Quando pousamos na densa areia do deserto, há um carro preto,
próprio para conseguir avançar até esse ponto, mais homens vestidos
como Jalal e alguns cavalos estão a nossa espera.
— É melhor que você vista isso — Rashid me entrega um tipo de
túnica branca — Vai proteger sua pele do vento e areia.
— Vento? Mas o sol está de matar.
Ele sorri da minha inocência. Rashid fica tão lindo quando sorri,
que me tira o fôlego mais do que o sol ardente, derretendo a minha
pele.
— Confie em mim, habibti.
E novamente ele tinha razão. Seu cavalo, impressionantemente,
galopava velozmente pelas dunas. As patas do animal faziam a areia
saltar em nossa direção como uma tempestade.
Eu estava mais do que feliz de cavalgarmos juntos, tanto pelo
prazer de ter Rashid me abraçando firme, como pelo fato de que
sozinha, em qualquer um dos outros cavalos, eu teria provavelmente
quebrado o pescoço.
Quase meia hora depois cruzando o deserto e dunas, começo a
avistar de longe, como uma miragem produzida pelo sol, a figura de
um acampamento. Uma grande tenda para ser mais correta.
Quanto mais vamos nos aproximando, vejo que não é nenhuma
fantasia causada pela alucinação.
O cavalo é freado alguns metros antes da grande tenda marrom e
cinza.
Rashid desmonta com elegância e me ajuda a descer. As minhas
pernas, cansadas da mesma posição e do galopear do cavalo perdem a
força e eu sou amparada por ele.
Da estampilha, ele tira um cantil, abre a tampa com os dentes e
leva o gargalho a minha boca. A água molhando os meus lábios,
tirando o gosto de poeira e areia, e, principalmente, passando pela
minha garganta seca, é maravilhosa.
— Você está bem?
Seu olhar preocupado me leva a sorrir e tocar sua bochecha com
carinho.
Faz tempo que não tenho quem se preocupe comigo, além de
Lucy, mesmo por tão pouco.
— Estou. De verdade.
— Deveríamos ter feito algumas paradas — ele se culpa ao se
dar conta disso apenas agora — O deserto castiga quem não está
acostumado com ele.
Não foi uma viagem tão longa assim, mas em parte Rashid tem
razão, não estou acostumada a força e grandiosidade do deserto. É
interessante que um, me faz lembrar do outro. Também nunca convivi
com a alguém tão intenso quanto esse árabe irresistível.
Inesperadamente ele me pega no colo e carrega para dentro da
tenda. Ela tem três divisões, uma para cozinha, o que acho ser uma
sala, pelas almofadas no chão, mesa e sofás.
No chão há tapetes persas cobrindo seja lá o que tenha sobre a
areia.
— O que achou? — Ele indaga assim que me coloca no chão.
— É como uma casa.
— É a minha casa.
— Você realmente mora aqui?
É interessante como Rashid parece combinar com todos os
ambientes. Exalando poder e riqueza em sua suíte superelegante ou
essa força rústica, dominadora e impressionantemente sexy, aqui no
deserto.
— Sempre que consigo vir para cá. Tem algo que desejo te
mostrar.
Ele pega a minha mão e me conduz para o fundo da tenda.
Encontramos o quarto. Ele é lindo e dentro do que é possível, não
deixa nada a desejar em um dos quartos do hotel. Uma mistura de
antigo e novo, com toques da cultura de Sahra, que me faz pensar nos
Contos das Mil e Uma Noites.
Saímos por uma portinha feita pelo próprio tecido da tenda e
andamos por quase um minuto na areia tão fofa, que faz os meus pés
afundarem.
— Rashid — olho, impressionada, para a deslumbrante paisagem
que ele me apresenta — É lindo.
— É Raar-al-Mir — vejo o profundo amor que ele encara o lago
e toda a vegetação em volta dele — Esse oásis pertence a minha
família há muitas gerações.
— Agora eu compreendo perfeitamente você amar esse lugar.
Eu poderia passar horas, dias, a minha vida inteira aqui com as
minhas tintas, quadros e pincéis. Mas, mesmo que eu fosse a arista
mais perfeita do mundo, nunca chegaria perto de tanta perfeição.
— Você quer nadar? — Ao mesmo tempo que ele me faz a
pergunta, começa a tirar suas roupas.
— Agora?
— Está quente, não acha?
A indagação é feita com seu olhar malicioso varrendo o meu
corpo. Rashid não está falando exatamente do calor provocado pelo
sol.
— Os meus maiôs ficaram na mala dentro da tenda.
— Não precisamos deles — seu sorriso alarga quando me vê
devorar seu peito musculoso.
— Mas, e as outras pessoas? Os seus seguranças.
— Ninguém virá até aqui — ele leva os dedos ao cirwal,
deixando-o cair sobre seus pés, revelando seu pau enorme — Nem
mesmo Jalal.
Diante de meu olhar chocado e ao mesmo tempo cobiçador por
toda sua exuberância masculina, Rashid me circula até parar atrás de
minhas costas. Ele junta os meus cabelos torcendo-os e joga-os sobre o
meu peito. Em seguida sinto a ponta dos seus dedos em minha nuca, e
eles seguem até as alças do vestido.
— Confie em mim, habibti — os lábios molhados tocam o meu
pescoço e apesar do calor absurdo, sinto a minha pele arrepiar.
Eu confio cegamente. É por isso que estou aqui com ele, em
meio ao deserto e esse paraíso tropical.
O vestido cai sobre os meus pés, depois o sutiã e fico apenas de
calcinha diante dele, mas sei que a peça não durará muito.
E exatamente como imaginei, ouço a peça ser rasgada e depois
de ser arrancada de mim, ela é jogada na areia.
Em seguida sou virada bruscamente para Rashid e ele cobre os
meus lábios com o seu.
Só nesse beijo, qualquer receio é levado para as profundezas do
lago.
Eu só tenho uma coisa em minha mente.
Que Rashid me possua.
CAPÍTULO 18

Quando Rashid me beija, é como se ele roubasse um pouquinho


de mim e me entregasse parte dele também. Os movimentos sensuais
dos lábios com as suas mãos acariciando e correndo pelo meu corpo,
me faz queimar mais do que os raios de só tocando a minha pele.
Então ele me pega no colo e me leva para o lago de águas tão
cristalinas e azuis quanto os lindos olhos dele.
Continuamos a nos beijar e nos acariciar dentro da água. Ele
segura firme as minhas coxas e me faz enrolá-la em volta da sua
cintura, e eu enrosco os tornozelos, prendendo-me mais a ele. Isso faz
com que seu pau rijo comprima em mim, excitando-me ainda mais.
A água ajuda a nos movermos com mais fluidez. Como se
estivéssemos em uma dança lenta e sexy do sexo.
Os nossos beijos ficam mais ardentes, luxuriosos e apaixonados.
Meu corpo grita por Rashid e anseio tê-lo dentro de mim.
— Rashid — fecho os meus olhos e murmuro entre seus lábios
possessivos quando sinto os dedos dele se infiltrarem em minha
calcinha e escorregarem para dentro de mim — Ah!
Ele sabe como me tocar e rapidamente me fazer contorcer por
ele, gritando o seu nome e implorando por mais. Seus dedos
habilidosos tocando em meus pontos mais sensíveis, coloca-me
alucinada por ele.
Desço a mão por seu peito e quando fecho os dedos em seu pau,
ele fica cada vez mais e mais duro. Rashid solta um gemido
animalesco.
Vamos dando prazer ao outro até chegarmos ao ponto que não
conseguimos suportar mais tanto tesão. Rashid me aperta mais firme
contra o seu corpo e nos leva de volta para areia. E por todo caminho
ele me dá beijos ardentes de tirarem o fôlego.
Ele me deita sobre sua túnica para que a areia quente não
machucasse as minhas costas, depois se afasta alguns segundos para
buscar a proteção.
Eu só penso em Rashid. O quanto desejo tê-lo dentro de mim.
E assim que ele se posiciona entre as minhas pernas abertas e que
seu pau me invade em uma investida profunda, sou levada ao paraíso,
que somente ele consegue me mostrar.
Solto gemidos desvariados quando suas arremetidas duras fazem
meu pico de prazer ficar cada vez mais perto.
Então suas grandes mãos cravam em minha cintura e ele me faz
virar, ficando de quatro para ele.
Aqui, no meio de tanta beleza natural, como viemos ao mundo,
sinto-me primitiva. Como dois animais buscando prazer.
Uma mão em meu quadril e outra segurando firme os meus
cabelos, Rashid entra e sai de mim com tanto ímpeto, que minha
boceta contrai ainda mais em volta do pau dele. Ela começa a pulsar a
cada estocada profunda que ele me dá e eu me quebro em um gozo
violento.
— Suzana... — ele geme o meu nome, passando a mão por
minhas costas, depois desaba sobre mim.
Fracos, caímos lado a lado.
Nossos corpos dourados brilham e o nosso suor reflete aos raios
de sol. É como se fossemos uma linda pintura e eu tento memorizar o
máximo de detalhes para eternizar isso através de uma das minhas
pinturas ou esculturas.
— Eu nunca mais vou pensar em nadar da mesma maneira —
murmuro, abrindo um sorriso preguiçoso.
— E eu nunca mais vou olhar para o lago como antes.
Quero acreditar na sinceridade de suas palavras, mas não
consigo. Rashid além de lindo, é um homem muito sedutor e no sexo o
melhor amante que qualquer mulher poderia sonhar.
— Diz isso a todas que traz aqui?
Seu semblante fica assustadoramente sério. Como se eu estivesse
ofendendo-o com essa pergunta.
— Nenhuma outra mulher esteve em minha tenda e
principalmente aqui. Você é única Suzana.
— Por quê?
— Esse é um lugar muito especial — ele se deita de forma que
seu rosto fique apontado para o céu.
O sol abrasador parece não o incomodar.
— Era um dos lugares preferidos da minha mãe. O meu irmão
não gostava muito de vir aqui com ela, mas eu amava.
— A sua mãe...
Tenho receio de perguntar e estar tocando em uma ferida.
— Faleceu há dez anos.
— Sinto muito, Rashid — acaricio seus cabelos e fico surpresa
em como eles são macios.
Sei bem como é a dor de perder quem amamos. Saber que nunca
mais poderemos olhar em seus olhos e nem darmos um abraço.
— O seu pai?
— Ainda está vivo. Ele nunca quis uma segunda ou mais
esposas. E nunca se casou novamente depois que ela se foi. Ele disse
que já havia encontrado sua ruh nessa vida e que irá reencontrá-la na
outra se houver.
— Isso é opcional? — Estou faminta por conhecer mais dele e
sua cultura.
— Ter outras esposas?
— Sim. O sonho de todo homem, não é? Ter várias mulheres
como um sultão.
Ele fica de lado e sua expressão é divertida ao olhar para mim.
— Não é assim. A segunda esposa não é a sua amante. Você tem
que amá-la, protegê-la, cuidar dela e das suas necessidades tanto
quanto a primeira. Não é algo apenas para alimentar uma fantasia.
Pensando na possibilidade impossível de estar na posição de
esposa de Rashid, jamais aceitaria que ele tivesse uma segunda esposa.
Eu não conseguiria dividi-lo com ninguém.
— Um homem ter mais de uma esposa não é uma obrigação —
ele continua e passa gentilmente os dedos pela minha testa, desfazendo
a preocupação quem nem deveria estar ali — Cada vez menos os
homens em meu país têm optado por isso. Devem ter descoberto que
uma mulher sozinha já dá bastante trabalho.
— Ei! — Belisco o braço dele, que só o faz rir mais alto.
Rolamos juntos nos besuntando de areia, até que ele se deita e
me coloca sobre o seu peito.
— Agora fale-me de você.
— Não tem nada interessante para falar sobre mim.
— Deixe que eu avalie isso.
— Já disse que sou artista plástica? Gosto de pintar, mas também
faço algumas esculturas quando estou inspirada.
— Gostaria de ver algum dia.
— Eu tenho fotos no celular. Quando voltarmos a tenda eu te
mostro.
Pego-me percebendo que realmente desejo que ele goste do meu
trabalho. Willian nunca ligou muito.
— E o que mais sobre a Suzana?
— Os meus pais estão mortos — isso me causa uma dor no peito,
que é amenizada quando ele toca rapidamente os meus lábios — Foi
acidente de carro. E você já sabe que sou viúva.
— Você o amava?
Sinto tensão vindo dele, mas não sei como devo encarar isso.
— Quando conheci Willian, achei que sim. Eu tinha acabado de
perder os meus país. Eu só não queria ficar sozinha no mundo.
Ansiava ter uma família com ele, mas...
Hoje me dói mais todo o tempo perdido me dedicando a ser uma
esposa perfeita para Willian, do que realmente a sua traição.
— Suzana.
Ele acaricia o meu queixo.
— Foi um sonho apenas meu. Se a doença não tivesse tirado ele
de mim, a sua amante e a filha que tiveram, fariam isso.
Rashid diz algo em seu idioma e pela forma que se rosto se
contorce, sei que foi um xingamento.
— A palavra de um homem é a sua honra. Se ele perde isso,
perde tudo. Você poderia tê-lo rejeitado três vezes depois ido a corte.
— Você quer dizer o divórcio? — É muito fofa a raiva que ele
demonstra sentir para me defender de quem nem está mais entre nós
— Não funciona assim em meu país. E de qualquer forma, só descobri
isso no enterro dele.
— Chinzir[20]! — Ele vocifera e me puxa para um abraço.
É estranho que isso agora já não me magoe tanto. É como se
desde que conheci Rashid, e todo esse tempo passando com ele,
algumas feridas estivessem prontas para começarem a se curar.
CAPÍTULO 19

Vir ao lago ao pôr do sol, além de me conectar com a minha fé,


dava oportunidade para que pudesse conversar com Jalal e receber
informações do palácio.
— Alguma notícia nova? — questiono quando iniciamos uma
caminhada tranquila a margem do lago.
— Depois que seu pai conversou à portas fechadas com Hamed,
ele anda estranhamente silencioso.
— Você não acredita que meu pai o tenha convencido a enxergar
que andava por caminhos perigosos?
— O que eu não acredito é em mudanças drásticas. Rashid, ele é
seu irmão e sei que seu desejo será sempre buscar o melhor do emir.
Mas acho que o amor pode ter cegado você e seu pai por tempo
demais. Ele já dava sinais de quem era no oriente.
Diversas vezes tivemos que abafar alguma confusão em que
Hamed se enfiava. Não dá para negar que Jalal tem razão.
— Acha que ele pode estar agindo silenciosamente?
— Eu sei que está.
Se Hamed estiver mesmo ignorando os conselhos do nosso pai
para deixar o povo de Alnaas al'ahrar paz. A guerra será inevitável.
— Descubra tudo o que puder, Jalal.
— O que pretende fazer?
De algum jeito obrigar Hamed a encontrar a razão.
Eu vou pensar sobre isso.
— E quanto a garota? Você sabe que precisa estar em Fils. Vai ter
mais vantagens estando lá.
Irritantemente Jalal tem razão mais uma vez. Eu deveria estar no
palácio vigiando e tentando colocar freios em Hamed. Mas eu
simplesmente não consigo dar adeus à Suzana.
Ainda, não. Ela é como um vício que não consigo me livrar.
Quanto mais a tenho, mais eu a quero.
— Ela só tem mais sete dias aqui...
— Rashid, você sabe que ela está sendo uma distração.
Suzana acredita que Jalal não gosta dela, mas na verdade, meu
amigo e segurança está apenas pensando de forma militar e estratégica.
Quando estou com a garota, o mundo se torna só nosso.
— Apenas uma semana, Jalal. Ao meu irmão foram concedidos
anos.
— Sahra nunca esteve em perigo com você, como está nas mãos
dele.
— Ele é o sheik.
— Nunca deveria ter sido assim. E muitas pessoas já estão
dizendo isso. Quem deveria ter sido coroado é você.
Eu nunca almejei isso e nem sei se quero agora.
Só desejo que Sahra volte a ter paz.

Quando chego ao quarto da tenda, encontro Suzana ainda


dormindo. Eu havia exigido bastante dela antes de deixá-la sozinha
para descansar.
Basta que eu vejo seu corpo, que cada dia ganha um tom de
dourado mais bonito, cujo lençol mal consegue cobrir, meu corpo já
reage.
Sem desviar um único segundo da perfeição que faz os meus
olhos ficarem ofuscados e que intensifica o desejo em mim, começo a
tirar as minhas roupas.
Descubro-a completamente e arrasto-me pela cama.
— Habibti? — Passo minha mão lentamente pela sua bunda
virada para mim.
Ela é toda macia ao meu toque. Como se os meus dedos
deslizassem sobre pura seda.
Aliso suas coxas e beijo seu pescoço.
— Suzana?
Ela me deixa desnorteado com o perfume natural do seu corpo.
Tudo nela me deixa embriagado e explodindo de tesão.
— Rashid? — Seus olhos sonolentos despertam felizes ao me
verem — Você voltou.
Beijo a curva do seu pescoço, subo pelo queixo e tomo os lábios
em um beijo feroz.
— Estou aqui, habibti — enfio a minha mão entre as suas pernas
e minhas carícias começam a deixá-la melada — Não vou a lugar
algum.
— Nunca?
Eu queria poder prometer isso. É o meu coração grita para fazer.
Manter Suzana comigo para sempre. Mas temos mundos
completamente diferentes.
Volto a beijá-la com tanto fervor, que em seguida Suzana apenas
geme o meu nome, deixando qualquer dúvida ou preocupação de lado.
O futuro não importava, o nosso agora e hoje, sim.
Encontro a proteção as cegas e assim que fico seguro, afundo-me
em sua boceta quente e apertada.
Suzana emite um grito alto de prazer e eu me empenho para
multiplicar cem vezes mais.
Meto fundo. Mais fundo. Rápido. Como um dos meus garanhões
correndo pelo deserto.
— Ah! — Suzana enfia suas unhas em minhas costas, alucinada
pelas minhas arremetidas.
Sua boceta molhada me apertando mais e pulsando forte em
torno do meu pau, é um aviso que ela está lindamente gozando comigo
e ela diz isso entre sussurros e balbucios de prazer. O que me leva a
também liberar o meu orgasmo, gritando por ela.

Ainda estamos na cama, saciando nosso corpo dessa vez com


frutas e bebidas geladas.
— O que está pensando? — Indago, levando uma uva à boca
dela.
— Você.
O som da fruta estourando em sua boca, a forma que seus lábios
se movem ao mastigá-lo e caldo suculento nos cantos dos lábios, faz o
meu pau começar a acordar.
— Eu?
Ela passa os dedos na parte frontal de meus cabelos. É intrigante
como gosto quando Suzana faz isso. Seus olhos demonstram um
carinho que me abala. Isso é perigoso. Posso me viciar tanto quanto já
estou por ela.
— É lindo. Eu adoraria pintá-lo algum dia.
Me ver pelos olhos dela. Seria interessante.
—Talvez algum dia eu pose para você. Se você também estiver
sem roupa.
— Rashid? Tudo para você é sexo?
Não era. Sexo estava ligado a mim mais como uma necessidade
do meu corpo.
Até agora.
— Me deixe mostrar o quanto, habibti.
CAPÍTULO 20

Seis dias.
Em apenas seis dias a minha linda fantasia ardente no deserto iria
acabar. Tudo o que eu teria de Rashid seria lembranças doces e
incríveis ao lado dele. Ainda assim eu estava muito feliz.
Lucy estava certa quando disse que essa viagem mudaria a minha
vida. E mesmo que eu não saísse desse paraíso, levando o bebê de
Rashid em meu ventre, não desistiria da ideia de ser mãe.
Voltando para casa, a primeira coisa que eu faria seria procurar
uma clínica de fertilização, para que eu pudesse realizar de forma legal
e moralmente, esse desejo.
— Está pronta, habibti?
— Você ainda não me disse o que vamos fazer?
Ele só havia me entregado uma linda vestimenta chamada goa
gaun e dito que faríamos um passeio pelo deserto.
— Os olhos falam melhor do que a boca.
— É um ensinamento árabe?
Rashid apenas me dá um dos seus sorrisos de tirar o fôlego e me
leva para fora da tenda. Quando chegamos em frente a ela, solto um
enorme grito de surpresa.
— Camelos?
Não sei se olho para os lindos animais brancos ou para ele.
— Nós vamos de camelo?
— Pensei que ficaria com medo.
— Eles são mansos?
Rashid me envolve em seus braços e eu já fico toda derretida por
ele. Como só há Jalal verificando os animais por perto. Não se pode
dizer que estamos em uma exibição pública de afeto.
— Eu nunca a colocaria em perigo.
— Nesse caso, estou ansiosa por mais essa aventura com você.
Tudo que exploramos até agora foi o oásis, não que eu esteja
reclamando. Amei cada cantinho dele que Rashid me tornou sua.
Tanto ele quanto Jalal, me ajudaram a subir no camelo e mostram
como devo fazer para colocá-lo em movimento. Nos primeiros passos
fiquei insegura, mas assim que aprendi a me posicionar no animal o
passeio se tornou mais divertidos.
Nós passamos por lagos menores e chegamos a um ponto que
podíamos ver as montanhas de longe. Dessa vez Rashid ficou atento
aos momentos que acreditava que deveria parar, dando-me água,
algumas frutas e um tempo para esticar as pernas.
E ele sempre aproveitava isso para também me presentear com
seus beijos e carinhos.
Voltamos a tenda antes do pôr do sol e enquanto ele e Jalal
tinham seu momento religioso no lago, eu aproveitava para fazer
rascunhos de algumas pinturas que quero iniciar.
Estou preguiçosamente relaxada na banheira de madeira quando
Rashid surge. A roupa que ele usa essa noite é diferente. Tem mais
bordados e tecidos mais finos, como se ele estivesse se vestido para
uma ocasião especial.
Noto também que ele traz um embrulho em suas mãos.
— Para você. Um presente de aniversário atrasado.
A curiosidade me faz esquecer que estou completamente nua na
banheira e eu me levanto, animada.
Rashid em encara com o seu olhar faminto. Em vez de me
envergonhar como no início, isso me faz sentir poderosa. Saio da
banheira e nem faço questão do roupão em uma cadeira.
Descalça, com o meu corpo e cabelos molhados, caindo em
minhas costas, vou até ele.
Os olhos de Rashid estão brilhando de desejo, como se suas
pupilas fossem de fogo.
Não retiro o pacote das mãos dele, mas começo a desfazer os
laços.
— Rashid — balbucio sem ar.
Encontro várias peças que formam o mesmo figurino que as
dançarinas usaram no meu aniversário. Só que o meu top, saia e lenços
são em vários tons de vermelho e tem bordados dourados, além de
pequeninas pedras transparentes que brilham tanto, que me faz pensar
se as joias são reais.
— Eu não posso aceitar.
— Recusar um presente aqui é considerado uma ofensa grave,
habibti — ele envolve as peças com o papel de embrulho e as coloca
em minhas mãos — Além disso, tenho minhas próprias intenções
através dela.
— Intenções?
— Dance para mim.
Agora assim eu fico vermelha.
— Mas eu não sei dançar. Não como elas.
Ele passa a mão pela curva do meu pescoço, pelos meus ombros
e fecha seus dedos em volta do meu seio. Com a sua carícia os meus
mamilos ficam duros e outras partes em meu corpo despertam de
desejo por ele.
— Apenas dance. Como quiser.
Eu me vejo desejando isso desesperadamente.
— Está bem, habibi.
É primeira vez que o chamo assim e isso o leva a soltar um
grunhido atormentado e me puxar para os seus braços.
É como se eu estivesse sendo punida com o beijo mais sensual e
desnorteante do mundo. Só que para o meu lamento, apesar de desejar
aplacar nosso desejo tanto quanto eu, Rashid se afasta para que eu
termine de me arrumar.
Descubro no quarto que na cama tem joias, um deslumbrante
conjunto contendo colar, brincos e muitas pulseiras de pedras
vermelhas, também tem um kit novo de maquiagem. Decido ousar
fazendo algo bem marcante, principalmente nos olhos e na boca
vermelha.
Quando decido que estou pronta, em vez de Rashid, encontro
Jalal no lado de fora da tenda.
— Vou levá-la — ele se coloca ao meu lado em uma distância
respeitosa. — Rashid à espera.
Eu já não sinto tanto medo dele. E vejo que esse porte
carrancudo, faz parte da sua postura profissional. Até um dia o vi rindo
de algo atrapalhado que fiz, mesmo que tivesse durado pouco tempo.
Sigo Jalal sentindo-me ansiosa e quanto chegamos perto de uma
luz de fogueira, ele me diz para continuar sozinha.
A música lindamente romântica e típica desse país e as chamas
da fogueira me guiam até Rashid. Ele se ergue do tapete quando me
nota aproximar e estende a mão para mim.
— Está linda, habibti.
— Você também está lindo. Deveria ter dito isso antes.
Ele passa seu polegar em minhas bochechas e esse carinho me
faz entender o significado de sentir borboletas no estômago.
Depois Rashid me guia até os tapetes, almofadas e mantas. Nos
acomodamos e ele vai explicando cada tipo de comida para o nosso
jantar.
— Como conseguiu trazer isso tudo?
— Um homem não pode revelar todos os seus segredos.
É isso que o torna ainda mais especial. Rashid me faz pensar que
ele é capaz de realizar o impossível.
Comemos, alimentamos um ao outro, na realidade. Ele me conta
histórias antigas que me deixam cada vez mais fascinado por sua
cultura. É incrível como me vejo facilmente morando aqui. Em
qualquer lugar do mundo que ele estivesse.
Esse pensamento me pega como uma marretada na cabeça. Sem
que eu percebesse, estava cada dia mais me apaixonando por ele.
Como seria voltar aos meus dias solitários, sabendo agora que, a
verdadeira felicidade existe.
— Habibti? — Ele toca o meu rosto preocupado.
Não quero que esses pensamentos tristes estraguem a nossa noite
perfeita.
— Acho que chegou a hora da dança — aviso, ficando de pé —
O que você acha?
— Estive o tempo todo fantasiando com isso — ele passa
suavemente os dedos por um dos véus em minha saia — No momento
que a vi olhando com tanta admiração para as roupas delas, idealizei
isso.
— Então, meu habibi — ergo o meu pé e coloco contra o peito
dele, empurrando-o para trás — Talvez não seja a melhor dança que
você viu na vida, mas será a melhor que eu já fiz.
O fogo que vejo arder em seus olhos não vem do reflexo da
fogueira, mas sim de dentro de Rashid e ele está queimando por mim.
CAPÍTULO 21

Suzana precisaria de muitas aulas para executar com a


mesma perfeição a dança que as odaliscas fizeram no aniversário dela.
Mas se me perguntassem qual apresentação me encantava mais, não
precisaria pensar duas vezes para dizer a dela.
Porque seus movimentos sensuais, tentando repetir o que ela
se recordava dos passos, eram exclusivamente para mim.
O seu corpo ondulando como uma serpente, o suave, mas
sensual movimento de mãos, pernas e braços. A forma que seus seios
sacudiam e eram oferecidos a mim. Esse delicioso balançar de quadris
e ondulações que lembravam às várias vezes que eu a tomei.
Sim. A sua maneira, Suzana executava uma dança
pecaminosamente sensual e erótica. O meu pau já estava duro por
baixo da túnica. E eu o esfrego tentando causar algum alívio do tesão
que ela me provoca e que só cresce mais com a parte mais sensual da
sua dança.
Ela me hipnotiza.
Me cativa.
Me torna seu escravo. E eu não quero quebrar essas
correntes.
Completamente levada pela música, ela arranca o último
véu, o que representa a sua fertilidade e quando se curva para mim e eu
a puxo para o meu colo.
Sou apenas instinto, primitivo e fora de controle.
Beijo-a como se precisasse engoli-la ou fundi-la comigo.
O top cobrindo os lindos seios, é a primeira peça que arranco
de seu corpo. E quanto a minha boca fecha em volta dos mamilos,
sugando-os, Suzana tomba a cabeça para trás. Dedico longos minutos
mamando neles e fazendo-a se contorcer em meus braços.
Depois livro-a da saia e da calcinha pequena, correndo-a
lentamente por suas pernas.
Seus gemidos de excitação faz o meu pau ficar ainda mais
grosso. Então faço Suzana ficar de pé em frente a mim. Eu agarro uma
das suas coxas e trago uma perna para cima do meu ombro. Suas mãos
trêmulas agarram os meus cabelos com forca, mas eu não ligo, gosto
dessa brutalidade.
Passo a língua por toda a vulga e cubro a sua boceta com a
minha boca.
— Rashid! — seus gemidos me deixam ainda mais excitado.
Eu lambo e chupo sua bocetinha gostosa com tanta vontade,
que leva apenas alguns segundos e Suzana mela a minha boca com seu
gozo.
Ela cai fraca sobre mim, mas ainda tem energia para me
empurrar sobre o tapete. Com seus cabelos sedosos roçando em meu
peito, inicia uma trilha de beijos pelo meu corpo até chegar ao meu
pau.
Quando a sua boca delicada, de lábios macios, abocanha o
meu pau ,vejo mais estrelas do que as que brilham no céu sobre as
nossas cabeças.
Afundo os meus dedos nos cabelos delas e ajudo a chupar o
meu pau da forma que gosto. A boca dela é quente e sinto que posso
derreter dentro dela.
— Porra! — Rujo alto quando Suzana aceita que eu enfie
meu pau mais fundo em sua garganta.
Ela aguenta tudo o que pode antes de começar a tossir e eu
dar tempo para ela tome ar.
Esfrego meu pau, me deliciando com seu rosto vermelho e
molhado.
Eu tenho que estar dentro dela. Esse desejo é tão insano, que
estou pronto de enlouquecer de tanto tesão.
Mudo nossas posições colocando Suzana embaixo de mim e
arregaço as suas pernas.
Esfrego sua boceta e vejo o quanto ela está ensopada de
prazer. Isso destrói toda a minha resistência e eu me afundo dentro
dela.
— Rashid... — ela murmura, alarmada, quando me retiro e
afunda dentro dela mais uma vez.
A proteção foi ignorada completamente dessa vez. Sei os
riscos, mas se não tivesse Suzana apenas uma vez assim, sentir o meu
pau em pele, afundando dentro da sua boceta molhadinha e quente, iria
passar todos os meus dias enlouquecido com esse desejo.
— Não se preocupe — saio devagarinho e estoco duro outra
vez — Há um chá que você pode tomar no dia seguinte. Eu vou cuidar
disso.
Quando intercalo as arremetidas lentas com mais profundas,
que a fazem gritar alto de prazer, sua preocupação é deixada de lado e
eu volto a beijá-la ferozmente.
Os nossos quadris movimentam-se juntos buscando o prazer
e ele chega violento, fazendo-nos sacudir e nossos gritos apaixonados
ecoarem na noite escura.
Quando trago Suzana esgotada para os meus braços, tenho
certeza de uma coisa. Não importa o que o destino me reserve no
futuro. Não posso renunciar a ela. Nunca.

Por volta do meio da madrugada envolvo o corpo nu de


Suzana em uma manta e com ela ainda dormindo, após outras rodadas
de sexo quente, levo-a de volta para a segurança da tenda.
Eu não consigo pegar no sono tão facilmente. Além de seu
corpo irresistível enroscado no meu, tenho milhares de coisas
atormentando a minha cabeça.
A conversa que tive com Jalal. As decisões equivocadas de
Hamed nos levando para a guerra. O futuro de Sahra e destino do
nosso povo, que por anos nossa família cuidou e protegeu.
A manhã já está nascendo quando Jalal invade o quarto da
tenda.
Somente a sua expressão extremamente severa, mostrando
que ele está em posição de defesa, me impede de me enfurecer com
ele, por quase ter visto partes do corpo de Suzana que somente eu
posso colocar os olhos.
— Acorde-a! Temos que sair daqui. Já não é mais seguro.
— O que aconteceu Jalal?
— Vamos para a casa. Lá é mais seguro e te conto pelo
caminho.
A propriedade que ele se refere fica quase meia hora a
cavalo daqui. É de lá quem vem toda comida entregue na tenda e tudo
o que posso precisar. Bastava Jalal comunicar a um dos empregados e
o pedido seria entregue a mim.
Acordo Suzana. Ela está desorientada pelo sono e não
compreende muito a gravidade do que eu digo e o fato de termos que
nos arrumar às pressas. Ajudo-a se vestir e a carrego até meu cavalo.
— O que aconteceu Jalal? — Inquiro enquanto ele monta.
— Seu irmão fez um ataque silencioso Alnaas al'ahrar há
dois dias. Alguns homens revidaram se infiltrando no palácio.
Chegaram muito próximo do quarto do sheik. Os guardas conseguiram
tirá-lo de lá. Outros avistaram rebeldes seguindo nessa direção.
— E você acredita que estão vindo atrás de mim?
— É possível. Para matá-lo como retaliação ou para pegá-lo
como refém.
— Precisamos proteger a Suzana — encaro, preocupado a
mulher novamente adormecida em meus braços.
Ela está exausta. Tomei dela e de seu corpo tudo o que pude
na noite anterior e ainda não me sinto saciado.
— Rashid! Estamos falando da sua vida.
Para Jalal isso é tudo o que importa.
— E eu estou falando da vida dela!
Antes que meu segurança e melhor amigo pudesse protestar,
faço o cavalo sair em disparada pelo deserto.
Ninguém tocaria em Suzana.
Eu mataria com as minhas próprias mãos o primeiro que
tentasse isso.
CAPÍTULO 22

Acordo num quarto completamente diferente da tenda e nada


similar com o do hotel onde tenho reserva. Esse me lembra muito o
estilo árabe que já vi em filmes e revistas. As cores claras são
predominantes. O teto é oval, as janelas amplas estão cobertas com
cortinas de um tecido muito fino. O colchão na cama dossel me faz
sentir estar como estar deitada nas nuvens.
— Salam — uma jovem entra no quarto fazendo reverencias
exageradas, que eu respondo timidamente.
Eu não entendo nada do que ela me diz, mas ela aponta uma
mesa farta. Acho que quer mostrar o café da manhã esperando por
mim.
Vejo pela janela que o dia está bastante claro lá fora e pego
robe nos pés da cama para me cobrir ao me levantar.
A jovem continua falando comigo, mostrando um guarda-
roupa enorme. Além de todas as roupas que eu trouxe na mala, tem as
que Rashid me deu na tenda e outras novas que não fazia ideia de onde
tinham saído.
Mas o que me interessa mesmo é o telefone. Fico feliz ao
saber que aqui tem sinal de internet e não há uma senha bloqueando.
Eu não iria entender se a jovem simpática tentasse me falar.
— Suzana! — Lucy atende no segundo toque e seu
desespero me faz sorrir — Você ainda está viva.
— Que exagero, Lucy. Você sabia que eu ficaria sem internet
no deserto por dez dias.
— O que não impediu de me deixar preocupada, ok. Ainda
mais depois do que eu soube sobre o seu árabe misterioso.
— O que soube sobre o Rashid?
Eu não conseguia pensar em nada de ruim vindo dele. Não
combinava com o homem atencioso e apaixonado que conheci nesses
últimos dias.
— Você está sentada?
— Lucy!
— É melhor se sentar Suzana.
Eu preciso mesmo tomar café da manhã, então ocupo uma
das cadeiras em frente a mesa.
— Diga logo o que sabe sobre o Rashid.
— Ele é nada mais do que irmão do emir de Sahra.
Eu preciso de um tempo para assimilar o que ela diz.
— O sheik de Sahra. O governante desse país?
— Ele mesmo. Quando falou dele. Sabia que tinha visto em
algum lugar.
— Rashid é um nome comum aqui, certo?
— Não, exatamente. E Al Shahir, não é? E você mesma
disse que ele trabalhava no castelo. Rashid esteve ao lado do pai
cuidando de Sahra até o irmão Hamed voltar de sua longa temporada
longe do país e ser coroado.
— Ainda assim, você não pode ter certeza disso, sem vê-lo,
Lucy.
— Mas você pode, não é? — Espera... — ela some da minha
tela por um segundo e a imagem é focada no teto — Aqui. Eu imprimi
a única foto que consegui dele ao lado do pai, o antigo emir. Pode me
dizer se esse é o seu Rashid?
Ela me mostra a imagem impressa e eu não tenho como
negar isso. Rashid é mesmo príncipe de Sahra.
— Meus Deus!
— Ah! — Lucy pula no lugar toda feliz — Eu estava certa,
não é verdade?
— Sim — balbucio, ainda muito chocada para dizer mais
alguma coisa — Por que ele não me disse nada, Lucy?
Olhamos em silêncio uma para a outra.
Rashid me contou sobre a mãe. O amor do pai dele ainda em
luto. Falou vagamente sobre o irmão, mas não disse nada sobre o
importante papel dele em Sahra. Se antes ele era um homem
impossível para mim, agora se tornava inalcançável.
— Eu não sei, Suzana. Mas só foi uma aventura, né? Você
não se apaixonou por ele, certo?
Eu não havia apenas me apaixonado, como a noite de ontem
poderia ter consequências.
Mas Rashid falou sobre um chá que eu deveria tomar. Deve
funcionar como a pílula do dia seguinte, mas só conseguia pensar que
tomar esse chá, arrancaria uma possível vida crescendo dentro de mim.
— Suzana?
— Hum... A gente conversa depois, tá bom?
— Não! Eu quero saber como foi...
Eu encerro a ligação antes que ela continue.
A minha cabeça está cheia demais para lidar com minha
amiga curiosa agora.
— Rashid? — Digo a jovem que educadamente está de
prontidão na porta — Onde está o Rashid?
— Rashid? — Ela diz o nome dele em um sotaque
carregado, ou talvez fosse eu que falasse da minha própria maneira.
Ela me aponta a mesa e repete o nome dele com outras
palavras algumas vezes. Entendo que eu preciso tomar café primeiro.
Não tenho muita fome, mas o desejo de que a mulher
colabore comigo e me leve até o príncipe, fala mais alto.
Príncipe. É estranho pensar nele assim. Para mim era só
Rashid, mas pensando bem, agora explica toda essa aura de poder que
ele tem. A realeza está em seu sangue.
— Agora você pode me levar até o Rashid?
Sua ladainha que não entendo nada, retorna, mas dessa vez
ela me mostra uma porta. Observo que é o banheiro. Depois aponta
para um conjunto de roupas que ela havia separado.
Ok. Rashid é um príncipe e fora do deserto deve ter
protocolos para falar com ele. Quando mais rápido eu entendesse isso
e cumprisses essas regras, mas rápido conseguiria vê-lo e perguntar
por que manteve esse segredo de mim.
Depois do banho, a jovem me ajuda a pentear e prender
devidamente os meus cabelos, e me auxilia com o hijab.
— Rashid — aponto para os meus olhos e depois para a
porta — Quero ver o príncipe.
A jovem balança a cabeça e sorri, mas dessa vez vamos em
direção a porta.
Há um guarda parado do lado de fora. E ele começa a nos
seguir quando andamos pelo corredor. A casa é imensa e nós passamos
por diversos cômodos cheios de esculturas, quadros e outros objetos de
arte, que eu teria imenso prazer de parar e apreciar, se não estivesse
ansiosa para ver Rashid.
Só quando paramos em um lindo e imenso jardim, percebo
que, em vez de me levar a ele, a jovem tinha feito um tour comigo pela
casa.
Desanimada, aceito me acomodar em uma das mesas e
assisto quando um empregado surge trazendo bebidas geladas e
comida.
Decido ficar pelo jardim esperando que Rashid viesse me
procurar, já que ir até ele parecia impossível.
— Habibti — sua voz me alegra, mas são os toques dos seus
dedos passando pelo meu ombro, que faz meu coração bater mais forte
— Dormiu bem?
Viro-me rapidamente e dou de cara com seu sorriso
irresistível. Eu não posso focar nisso, ordeno a mim mesma.
— Sim. E você não estava lá quando acordei.
— Você estava tão cansada, que nem notou nossa viagem de
cavalo até aqui — ele continua a sorrir e se senta ao meu lado —
Achei um pecado despertá-la quando precisei sair. Então deixei Samila
cuidando de você. Ela foi atenciosa?
— Muito. Apesar de não entender nada que ela diz.
— Na capital é mais comum as jovens falarem em inglês,
porque frequentas as escolas e universidades de lá.
— Isso não é um problema, Rashid. Ela foi muito atenciosa e
nos comunicamos bem.
— Então por que vejo angústia em seus olhos?
Como ele já me conhecia tão bem?
— Lucy me disse uma coisa — mordo o meu lábio e ele
segura o meu queixo, impedido que eu abaixe a cabeça e desvie o meu
olhar.
— O que sua amiga disse?
— Que você é...
— Que eu sou?
— Que você é Rashid bin Shalaan bin Shahir Al Awad, o
príncipe de Sahra.
Seu movimento incomodo na cadeira foi quase
imperceptível, mas eu estava muito atenta a ele.
— Você descobriu — é quase um sussurro.
— Então é verdade? — Eu me levanto, indignada — Por que
não me disse nada Rashid?
Quando ele fechou o restaurante inteiro, só para me dar um
jantar particular de aniversário, que conseguiu as dançarinas para fazer
um show exclusivo para mim, e me levou para voar de helicóptero, e
ele disse trabalhar no palácio, imaginei que ele fosse alguém
importante, mas não um príncipe, irmão de um emir.
— Por causa disso. Desse olhar. Eu sou Rashid, habibti —
ele se aproxima, segurando as minhas mãos — Ainda sou aquele
homem que conheceu no deserto.
— E é mais que isso. Não confiava em mim?
— Não é isso. Eu gostava de como era somente nós dois no
mundo. Mas contos de fadas um dia acabam, não é mesmo?
O que ele queria dizer com isso? Esse era o nosso adeus?
Cogitar isso me causa uma dor profunda no peito.
— Não pense nessas besteiras — ele leva a mão em meu
rosto, cobrindo a minha bochecha com carinho — Ainda temos quatro
dias. Tenho que ajeitar algumas coisas e depois a gente conversa, tudo
bem?
Uma pequena promessa, de um pequeno futuro de nós dois
juntos, era melhor do que nada.
— Por que viemos para cá às pressas?
— As coisas andam complicadas na capital. O meu irmão
está colecionando inimigos. Não era seguro ficarmos no deserto.
— Você corre perigo? — Agarro-o, apavorada.
Ele sorri com meu alarde e faz um carinho em meu rosto,
que vai até os meus lábios.
— Preocupada comigo?
— É claro que, sim. Eu não quero que nenhum mal aconteça
a você.
Ele me olha atentamente. Acho que se lembra que já perdi
muitas pessoas que amo.
— Eu sei me cuidar, habibti — ele me puxa para os seus
braços e eu grudo as minhas mãos na cintura dele — Não ocupe sua
cabeça com isso.
Jardim nos dá certa privacidade. Acho que a única pessoa
por perto é Jalal, zelando pela segurança de seu príncipe e dessa vez,
fico muito feliz e aliviada por ele estar sempre ao redor de Rashid.
Ele me beija. Um beijo mais contido para não nos levarmos
a algo mais quente, mas ainda assim, cheio de emoção.
— Escuta. Preciso me ausentar por um ou dois dias.
Encontrar o meu irmão. Quero que fique aqui e me espere.
— Mas...
— Fils não está segura nesse momento, Suzana. Prometa que
vai me esperar?
— Tudo bem. Não há nenhum lugar que eu queira ir sem
você, Rashid.
— Então venha — ele segura a minha mão e nos conduz de
volta a casa — Me faça lembrar do porquê preciso voltar o mais rápido
que puder.
Nós temos horas maravilhosas no quarto.
Eu sinto como um gosto amargo de despedida. E me
preocupo com ele.
— Nada vai acontecer — ele vem até mim na cama, após
vestir sua túnica — Vou voltar são e salvo.
—Você promete? — Agarro a roupa dele.
— Prometo.
Nos beijamos até uma batida na porta nos interromper.
A garota que agora conheço como Samila, entra após o
comando de Rashid. Ela traz uma bandeja contendo uma xícara.
Rashid pega a bandeja e a jovem se retira. Ele coloca sobre a
mesinha ao meu lado da cama.
— É o chá que eu falei ontem a noite. Deve tomá-lo até o
fim dessa tarde.
Assinto e quando olho para a xícara me esperando, sinto uma
pressão forte em meu peito.
— Eu volto logo — Rashid beija a minha testa, depois
apaixonadamente os meus lábios com furor.
Fico, melancólica observando-o se afastar. Quando a porta é
fechada logo atrás dele, eu olho para xícara, depois toco o meu ventre.
E se a semente de Rashid estiver ganhando vida em mim?
Um filho. O meu bebê tanto desejado, sonhado e com o
homem que eu havia me apaixonado perdidamente.
Só tenho mais quatro dias em Sahra e talvez nunca mais
voltasse a vê-lo. Eu queria, não, desejava mais do que apenas doces
lembranças de momentos vividos com Rashid.
Uma parte de mim me avisava o quão errado eu estava
agindo. Mas uma outra, e essa era bem mais forte, me faz correr até o
banheiro e despejar a bebida na pia.
Talvez eu nem tivesse ficado grávida, nem no deserto e nem
hoje.
O destino diria.
CAPÍTULO 23

Conheço muito bem o meu país, como o meu povo também,


e, ao circular pela capital, vejo que estamos à beira do colapso. Não dá
mais para esperar que Hamed use a razão e pare de agir como um
garotinho que não ganhou o presente esperado no dia do aniversário.
— Alto! — Um guarda manipula seu fuzil quando eu, Jalal e
mais alguns, colocados para a minha segurança chegamos à porta do
emir.
— Eu quero falar com Hamed — ordeno ao homem que até
quase dois anos atrás recebia ordens minhas e dos meus homens.
Ele não está contra mim, mas defendendo seu rei.
— Vossa Alteza não está recebendo visitas.
Eu sabia que Hamed iria evitar a minha presença o máximo
que ele pudesse.
— Você está falando com o príncipe Rashid bin Shalaan bin
Shahir Al Awad — Jalal se coloca entre mim e os homens na porta —
Então saia da frente antes que eu arranque a sua cabeça antes mesmo
que pisque os seus olhos.
Eu não vou permitir que ninguém arranque a cabeça de
ninguém ou qualquer parte do corpo, mas a ameaça de Jalal, que é um
dos melhores soldados em Sahra, se não o melhor, faz o guarda
começar a vacilar.
— Escuta, Ibrahim Al-Maktoum, não é mesmo?
Jalal já havia me alertado quem estaria de guarda na sala de
estratégias de Hamed.
— Sim, Vossa Excelência.
— Nós já trabalhamos juntos antes. Todos vocês me
conhecem bem. Eu jamais colocaria a vida de Hamed em perigo. Antes
de tudo, ele é o meu irmão. Eu sempre vou protegê-lo — não é apenas
isso que o preocupa a permanecer firme em sua missão de guardar a
porta — E dou a minha palavra que nenhum dos dois serão
penalizados por me deixarem entrar.
Os homens se entreolham. E no fim, liberam espaço para que
Jalal abra a porta.
Avisto Hamed em sua mesa, ele tem outros homens em torno
dele, analisando algum tipo de mapa.
Reconheço entre eles o comandante da guarda real e o do
estratégias de guerra.
— Rashid? — Hamed se ergue, bastante surpreso em me ver
entrar — O que faz aqui? Seus assuntos agora são as políticas
internacionais.
— Temos que conversar, Hamed.
— Sheik Hamed Al Awad. Pode ser o meu irmão, mas ainda
sou o seu rei.
— Como quiser, Vossa Alteza — eu não tenho problema
algum em ter alguém superior a mim, o meu ego não precisa ser
massageado dessa forma — Precisamos conversar. Sozinhos.
Hamed dá um olhar para todos os homens na sala e com um
erguer de mãos, faz todos eles se retirarem.
— E o seu cão de guarda? — Ele aponta para Jalal, que não
se abala nenhum pouco com o que ele diz.
— Jalal fica. — Aviso com firmeza.
É nítido que Hamed não gosta disso, mas ele também que se
livrar de mim o mais rápido possível.
— Então — ele ocupa a sua cadeira com ares de majestade
— O que quer falar?
— Seus ataques a Alnaas al'ahrar e sua insistência em tomar
a cidade está colocando nosso país em guerra com eles.
— Não se toma o que sempre nos pertenceu.
A arrogância que ele diz isso, me preocupa mais do que o
normal.
— Alnaas al'ahrar pertence aos alnaarianos agora. As
negociações sobre o petróleo que você tanto deseja já estavam
avançadas, sem precisarmos invadir a cidade sagrada.
— Palavras ao vento. Prefiro a ação. Nenhum país que quer
ser respeitado fica de conversinha com seus inimigos. Eles tomam o
que lhes foram roubados.
— O povo de Alnaas al'ahrar não é nosso inimigo! Agora
eles estão com raiva e pior, com medo.
E o medo faz as pessoas agirem irracionalmente.
— As suas ações impensadas estão levando outros países a
ficarem inseguros com o nosso governo — pontuo, apoiando as
minhas mãos na mesa
— Qual o seu problema Rashid? Está mesmo preocupado
com o destino de Alnaas al'ahrar? — Ele se ergue e coloca suas mãos
na mesa e nossos olhares furiosos se cruzam — Ou é apenas a sua
inveja que eu esteja me tornando o maior e melhor emir que Sahra já
viu? Melhor do que nosso pai e avô. E um que você jamais será.
— Se você quer dizer, tornar-se um ditador, assassino e...
— Cuidado com as palavras. Traição é paga com a morte. E
eu não pouparia nem mesmo você, meu irmão.
— O que aconteceu com você, Hamed? Como você mudou
tanto?
— Eu mudei? — Ele se ergue voltando a uma calma
assustadora — Talvez tenha começado a ver as coisas as claras.
Enquanto eu estava fora, você estava aqui, conquistando admiradores e
ganhando terreno para usurpar o meu lugar.
— O quê?
— Não havia nada que eu estivesse disposto a fazer sem que
alguém me dissesse, Rashid faria diferente. O Rashid isso, o Rashid
aquilo.
— Porque passei anos aqui, ajudando nosso pai a manter
Sahra em pé e prosperando. Você exigiu conhecer o mundo.
— E vocês não ligaram nenhum pouco para isso. Pensa que
não notava que nossa mãe amava apenas você.
— Isso não é verdade.
— Não é? Eu ouvi os dois conversando. Rashid seria um rei
maravilhoso, pena que ele nasceu alguns segundos depois, eles diziam.
Eu fui embora para aprender como ser um bom rei e meu irmão ficou
aqui, planejando roubar o que é meu.
Ou Hamed estava ficando completamente louco. Ou ele
estava sendo envenenado por alguém e há bastante tempo.
— Até uma esposa que não pode gerar filhos você me
empurrou.
— Layla não pode ter filhos?
— Aquela é seca como folhas de inverno. Era isso que você
queria, não é? Se não tenho um herdeiro, você ocupa o meu lugar. Mas
irei tomar uma segunda esposa. Ou melhor, renegar Layla. Seus filhos
não irão roubar o meu trono.
— Quem andou colocando essas coisas na sua cabeça,
Hamed?
A minha pergunta o pega de surpresa e eu percebo que estou
no caminho certo.
— Hamed. Eu nunca iria tomar o seu trono e nem roubar
nada do que acredita que é seu. O que posso fazer para você acreditar
nisso, meu irmão?
Ele me estuda atentamente e por tempo irritante.
— Abdicaria de seu título real e deixaria Sahra?
Dar adeus ao meu país, minhas terras, cultura, as minhas
raízes e principalmente família?
— Não diga sandices! — Jalal se manifesta pela primeira
vez.
A família é a base de tudo em nossa cultura. Eu não havia
cometido nenhum crime para ser exilado.
— Cala boca cão imundo! — O meu irmão esbraveja.
Eu me coloco entre eles. Hamed e Jalal nunca se deram bem,
e não quero aumentar ainda mais essa animosidade. O meu irmão o
provocou bastante o meu amigo quando éramos jovens e agora
entendo que foi tudo por ciúmes da nossa amizade.
— Você faria isso, Rashid?
— Não aceite, Vossa Excelência.
— Deixaria Alnaas al'ahrar e seu povo em paz?
— Sim.
— Ele está mentindo. Que garantias você tem Rashid, que se
depois de longe, Hamed não voltará a atacar.
— A minha palavra! — Esbraveja Hamed.
Eu poderia mesmo confiar na palavra do meu irmão? Um
homem faltar com ela na nossa cultura, significava desonra.
— Tenho que pensar. Enquanto isso, você coloca uma trégua
nesses ataques?
— Vou te dar uma semana.
Não é tempo suficiente para tomar uma decisão como essa. E
eu também queria descobrir se existia mesmo alguém sussurrando
esses absurdos nos ouvidos de Hamed. Mas era o que eu tinha no
momento.
— O que você vai fazer? — Jalal questiona assim que
começamos a caminhar no longo corredor.
— Eu preciso pensar, Jalal. Mas de uma coisa eu sei, Hamed
não pode continuar no trono, agindo como ele está fazendo ou ele
levará Sahra a destruição.
Seguimos silenciosamente até o carro nos aguardando.
— E você tinha razão. Eu preciso ficar em Fils.
Só havia uma coisa positiva na exigência de Hamed. Longe
de Sahra, eu ficava cada vez mais perto e livre para Suzana.
CAPÍTULO 24

Eu estava sonhando?
Não. As mãos e lábios tocando minha pele, fazendo-a
incendiar eram reais demais para que eu estivesse em um sonho erótico
com Rashid.
— Habibi? — Abro os olhos languidamente e encontro o
tom azulado dos de Rashid, mais escuros devido a penumbra — Você
já voltou.
— Foram os minutos, horas e dia longe, mais angustiantes
da minha vida, habibti.
Não tomo como exagero nenhuma as suas palavras porque
me senti exatamente igual na sua ausência, miserável.
Rashid me beija. Um beijo lento, sensual, mas com muita
fome e desejo.
Ansiosos um pelo outro, tiramos as nossas roupas. Quando a
pele nua dele toca a minha, a febre se espalha pelo meu corpo.
Ele inicia beijos que começam do meu pescoço e correm
pelos meus ombros. A sua boca envolve o meu seio e o beliscão que
Rashid dá no mamilo enquanto torce o outro com o polegar e
indicador, levam um formigamento entre as minhas pernas.
Continua mamando meus seios e gemidos irrefreáveis
escapam dos meus lábios entreabertos. Então ele desce mais a sua
boca. Abre as minhas pernas e devora a minha boceta com sua boca
talentosa.
— Rashid! — Torço o lençol entre os meus dedos,
segurando-o firme.
Suas lambidas, três dos seus dedos entrando em mim, a
forma que ele massageia o meu clítoris ficando duro e sensível, a
combinação de tudo isso, faz o prazer explodir dentro da minha mente
e meu corpo sacudir.
Ainda estou trêmula quando ele termina de se proteger e
coloca-se entre as minhas pernas.
Então ele me invade em uma estocada só.
— Ah! — Grito tanto de prazer como por sentir seu pau
imenso e grosso me preencher inteira.
Rashid me fode com fúria. Como um animal que não pode
ser domado. Todas as vezes que fizemos amor, foi intenso e especial,
mas havia algo diferente em Rashid. Como se ele estivesse me
marcando como dele, para que eu nunca mais me esquecesse disso.
Gozo de novo, mas ele ainda não está satisfeito. Vira-me de
costas colocando-me de quatro na cama e volta a socar o seu pau em
minha boceta em chamas.
O seu quadril bate duro contra a minha bunda, fazendo-me ir
para frente e para trás.
Ele é impiedoso comigo.
Cada estocada sua, dura, firme e profundo, sinto um prazer
ainda maior que os anteriores começar a crescer.
— Ai, habibi! — Agarro os lençóis com mais forca quando
ele começa a esfregar o meu clitóris com as pontas dos dedos — Eu
não aguento.
Parece que prazer está desintegrando o meu corpo.
Mas ele não tem piedade. O que digo o faz ficar ainda mais
determinado em me foder e tornar essa noite impossível de esquecer.
Ele continua a me foder forte e implacável. O meu orgasmo
vem como uma avalanche impossível de conter. O meu corpo sacode,
tento me afastar de Rashid, mas ele me mantém presa a ele enquanto
também goza, grunhindo feito uma fera selvagem.
Eu não tenho forças para me mover, então como sempre,
alguns segundos após recuperar um pouco suas energias, ele me leva
para o seu peito.
Não posso mais negar ou fugir disso. Eu estava
perdidamente, completamente apaixonada por ele.
Jamais haveria outro além de Rashid.
Nunca.
— Como foi na capital? — Indago antes que a sonolência
causada pelos carinhos dele em meus cabelos, me fizessem dormir.
— Nada bem. Precisamos voltar a Fils pela manhã. Pode
ficar no palácio comigo.
Eu ainda não consegui assimilar que Rashid é príncipe de
Sahra.
— Ainda tenho reserva no hotel. Prefiro ficar lá.
Mal sabia como me comportar aqui com os empregados me
tratando como se a princesa fosse eu. Num palácio, então. Além disso,
provavelmente Rashid ficaria muito tempo ocupado. E eu não queria a
tensão de me preocupar o tempo todo com o que dizer ou fazer.
E entrar no palácio com a posição de amante dele, não me
agrada.
O que o irmão dele faria sobre isso?
Rashid não me fala muito dele.
— Talvez você esteja certa. O hotel pode ser mais seguro
nesse momento.
— Atacaram o palácio outra vez? — Ergo a minha cabeça
para ele com olhar preocupado.
— Ainda, não. Mas as pessoas na capital andam tensas.
Conversei com o meu irmão e não foi muito favorável — ele alisa
minhas costas nuas com seus dedos — Mas não ocupe sua cabeça com
essas coisas.
— Acha que não sou inteligente o suficiente para entender?
— Não é isso, Suzana. No momento nem eu sei qual é o
rumo melhor a tomar.
Eu noto que ele está mesmo preocupado e que encher a
cabeça dele com minhas neuroses não ajudará em nada.
— Eu sei que vai encontrar uma solução — deslizo pelo seu
peito e busco os seus lábios — Tenho fé em você, Rashid.
Sobre o futuro de Sahra e o nosso.
Chegamos ao hotel, mas não vamos direto para o meu
quarto. Rashid me coloca na suíte dele e convoca o gerente.
— A senhora Weston está sobre os meus cuidados. Quero
que mantenha a segurança dela e realize qualquer pedido que ela
desejar.
— Como quiser, Vossa Alteza — o homem se curva antes de
sair.
— Não acha que é um exagero, Rashid?
— Com você? E para você? — Ele me puxa para os seus
braços — Nada é exagero, habibti.
E quando penso que não, esse homem conquista ainda mais
o meu coração.
Infelizmente, o nosso momento romântico tem que acabar
com o surgimento de Jalal.
— É um recado do meu pai — avisa Rashid e ele parece
bastante preocupado — Tenho que ir vê-lo imediatamente.
A gente precisa conversar. Eu só tenho mais dois dias
legalmente em Sahra. Depois de amanhã, ao menos que recebesse uma
extensão de visto, precisarei voltar aos Estados Unidos.
— Rashid, eu...
— Conversamos na minha volta mais tarde — ele me beija,
exasperado — Tenho algo importante para te dizer.
— Vossa Excelência — inquieto, Jalal o chama da porta.
— Não se preocupe — ele encosta a testa na minha — Tudo
vai se resolver. Não saia do hotel, está bem?
Eu assinto e tento conter as lágrimas em meus olhos.
Aflita, assisto-os saírem apressados pela porta.
Jogo-me na poltrona mais próxima.
Não resta mais nada a fazer além de esperar Rashid voltar.
CAPÍTULO 25

O restante da manhã e tarde passaram sem que eu tivesse


qualquer notícia de Rashid.
O fato de nunca ter me dado o telefone dele, se é que tem
um, faz muita falta agora, porque eu poderia ligar ou enviar uma
mensagem para que ele respondesse quando pudesse.
Eu tentei ver os canais de notícias aqui, mas eu não entendo
nada do que eles falam. E as imagens de pontos que foram atacados na
capital, só havia me deixado mais nervosa, então desisti da TV.
Eu não comi quase nada durante o almoço e ao me trazerem
o jantar, também não estava com apetite, mas comi um pouco de
salada de frutas.
O que me distraia um pouco era conversar com Lucy. Mas
nossos horários não ajudavam muito.
— E se ele não voltar?
— Ele vai voltar, Lucy. Rashid deu a palavra dele.
— Mas se algo o impedir de voltar? Tem que ir embora
depois de amanhã.
Apesar de Sahra ter sido um país tranquilo de visitar, as leis
de imigração eram bastante rígidas. Então quando entramos com a
solicitação de visto, só nos dão exatamente os dias que pedimos nos
formulários. Nem um a mais.
— Rashid vai voltar — afirmo, determinada — Ele já deve
estar vendo isso.
— Espero que você tenha razão. De qualquer forma estou
louca para voltar a te ver.
— Eu também, Lucy.
Mas eu esperava que isso não significasse perder o homem
que eu amava.

A minha noite foi tensa e carregada de pesadelos.


Salto alarmada da cama e procuro por toda suíte. Não há
nenhum sinal de que Rashid está ou esteve por aqui.
A angústia e ansiedade começam a tomar conta de mim.
Ligo a TV. A legenda no jornal, que traduzi no meu telefone,
diz que o palácio de Fils foi invadido por rebeldes, que agora estão
presos para interrogação.
A minha preocupação com Rashid agora é alarmante.
— Você é burra, Suzana!
Por que eu não aceitei ficar no palácio com ele? Pelo menos
eu teria informações mais exatas e atualizadas.
Eu não posso ficar aqui imaginando coisas. Preciso ver
Rashid. Saber se ele está bem.
Volto para o quarto para me arrumar e pego a minha bolsa
em cima da poltrona.
Há um movimento grande na recepção do hotel. Turistas
querendo encurtar sua viagem e exigindo reembolso. O país não anda
seguro agora.
Alcanço a rua e faço sinal para o primeiro carro de taxi que
vejo.
— O palácio de Fils, por favor.
O motorista vira em minha direção antes de sair.
— Tem certeza de que quer ir para lá?
Seu sotaque é carregado, mas eu entendo perfeitamente,
como também decido ignorar seu alerta.
— Sim, por favor.
Leva quase uns vinte minutos para chegarmos perto.
— Não tenho como ir mais longe, senhorita. Mas já dá para
ver o palácio daqui.
— Tudo bem. Obrigada, senhor.
Desço do carro rapidamente. É impossível não perceber que
o clima na capital não está mais como no dia que cheguei. Em vez de
sorrisos amigáveis, há preocupação no olhar das pessoas.
Com a minha mente focada em Rashid, caminho
apressadamente até a frente do castelo.
— Com licença — chamo a atenção de um dos guardas que
tem um impressionante armamento nas mãos — Eu vim ver o príncipe
Rashid bin Shalaan bin Shahir Al Awad.
Por um momento e pelo tempo que ele me encara friamente,
penso que não havia entendido o que falei. Estou pronta a começar a
digitar o meu pedido no telefone para ser traduzido quando o guarda se
manifesta.
— Vossa Excelência não irá falar com a imprensa.
— Não! — Aliviada por ele falar a minha língua, abro um
sorriso — Eu não sou uma jornalista. Escuta. Fale com o senhor Jalal.
Diga que é Suzana Weston.
Ele faz um sinal para que um outro guarda se aproxime. Eles
dizem algo na língua deles e os dois riem. Depois inesperadamente e a
arma deles é apontada para mim.
— Saia ou o único lugar do castelo que irá conhecer, será a
prisão.
Tenho fôlego para argumentar o dia inteiro, se fosse preciso,
mas as armas apontadas para mim e suas expressões agressivas, me
fazem recuar.
Foi ingenuidade e burrice minha achar que bastava chegar ao
palácio de dizer o nome de Rashid e me levariam até ele.
Com corpos imensos e expressões severas, outros dois
guardas surgem e me arrastaram para longe dos portões do palácio.
As lágrimas de frustração queimam em meus olhos, mas
esperança de Rashid me encontrar na suíte como prometeu, me faz
voltar a me movimentar.
Mal dei alguns passos em direção a parte mais movimentada
da cidade, quando avisto a manada de pessoas surgirem correndo em
minha direção.
Por instinto, sigo na mesma direção que elas estavam indo.
Correndo o máximo que eu consigo. Essas pessoas estavam fugindo de
algo muito perigoso e eu não queria ficar no caminho.
Por sorte, não muito longe vejo um vão entre duas lojas e me
refúgio lá com outras pessoas. Homens e mulheres que estão
pressionados comigo no cubículo, dizem coisas que eu não entendo,
mas a expressão nos homens e em algumas mulheres, que não tem seus
rostos cobertos, são de puro medo.
Eu vejo surgir homens em cavalos pretos e enormes. Eles
têm algum tipo de garrafas nas mãos, que nas pontas há pedaço de
tecido pegando fogo. As garrafas são jogadas em todas as direções e
elas incendeiam barracas nas ruas e atingem algumas lojas antes que as
portas fossem fechadas.
Ouço gritos assustados em todos os lugares.
Então o exército de Sahra surge e eles tem armas de fogos.
Agora são os rebeldes que fogem dando-nos oportunidade para usar as
ruas para escaparmos.
É impossível eu encontrar um carro para o hotel, sigo
andando e tentando me recordar do caminho. Após me perder algumas
vezes e quase uma hora de caminhada, finalmente a calmaria já está
voltando a capital e consigo que um taxi me leve corretamente ao
hotel.
— Sra. Weston. Sou o gerente do hotel, lembra? — O
homem intercala o meu caminho até o elevador — Vi que seu
checkout é para tarde e seu voo sai a noite. Fils está em estado de
alerta agora. Então não é seguro que saia do hotel. Permaneça aqui até
a hora de ir para o aeroporto. Vamos disponibilizar um carro que a
leve.
Entendo superficialmente o que o homem me diz. O meu
pensamento está em Rashid e se ele está correndo algum tipo de perigo
no palácio.
Os homens que atacaram a cidade tinham uma expressão
maligna no olhar.
— Se precisar de algo, providenciamos para a senhora.
— Podem enviar uma mensagem ao príncipe Rashid bin
Shalaan bin Shahir Al Awad?
— Bom...
— O senhor ouviu as ordens que ele deixou ontem. Deve
providenciar qualquer coisa que eu pedisse. E eu preciso falar com
Rashid antes de viajar.
Nem que fosse apenas para me despedir dele.
— Certo, senhora. Farei o melhor que puder. Apenas não
saia mais do hotel, por favor. Não é seguro.
Assinto e garanto que vou direto para o meu quarto. Como
esperar por Rashid tornam os minutos angustiantes, eu decido começar
a fazer a minha mala.
Eu ganhei muitas coisas Rashid, peço que providencie mais
uma mala. Eu não queria deixar nada para trás. Poderiam ser as minhas
últimas lembranças dele.

Dessa vez eu nem consegui dormir de tão tensa que eu


estava.
Cada minuto do relógio correndo me deixa mais angustiada.
— Você está bem Suzana?
— Exatamente sobre o que, Lucy?
— Olha, pode ter acontecido alguma coisa mesmo. Eu vi no
jornal que o pai deles teve um ataque cardíaco.
Eu também soube disso na legenda que traduzi no jornal,
embora não tenha conseguido pegar mais nenhuma outra informação.
Faz sentido Rashid ainda não ter voltado, mas eu não tinha mais o que
fazer. \
Preciso voltar para casa.
— Talvez ele te procure quando as coisas acalmarem.
— E como Lucy? Rashid só sabe que moro em Connecticut,
que sou viúva e artista plástica.
— Para um príncipe, já é muita informação. Escuta. Volte
para casa e espere as coisas se melhorarem para o Rashid.
Talvez Lucy tenha razão. Se ele realmente quiser, poderá me
procurar no futuro.
Ainda assim, ir embora sem ao menos dizer adeus, estava
abrindo uma ferida em meu peito.
Tudo o que me resta a fazer é escrever uma carta e deixar
com o gerente do hotel.
Alguns minutos depois estou dentro do carro que me leva ao
aeroporto e duas horas depois, olhando no portão de embarque pela
última vez, esperando ver Rashid, sigo para o avião.
CAPÍTULO 26

Palácio de Fils
No dia anterior

Assim que entro nos aposentos de meu pai e vejo Hamed me


encarar severamente, percebo que estamos em uma situação
complicada.
— Que a paz esteja com o senhor, meu pai.
Curvo-me respeitosamente para ele.
— Que a paz esteja com você, meu filho.
Eu dirigiria a mesma saudação a Hamed, mas pelo seu olhar
de ódio para mim, vejo que a última coisa que ele deseja era paz.
— Veio correndo pedir ajuda ao papai, não foi? — Ele me
acusa duramente — Pensei que fosse agir como um homem.
Olho para Jalal e ele não esconde que a informação fugiu
dele. Antes de ser meu segurança e que me deve fidelidade, ele é o
meu melhor amigo. E foi muito mais irmão para mim do que Hamed a
vida toda.
— Hamed... — começo a dizer.
— Calem-se os dois! — O nosso pai diz, rispidamente.
Não importa o nosso cargo. Na figura de pai, ele sempre
teria o nosso respeito.
— Hamed, estou completamente decepcionado, que além de
não ouvir os meus conselhos, ainda fez uma proposta imoral ao seu
irmão.
— Eu queria ver até onde iria o amor que ele diz sentir tanto
por Sahra. E se não queria mesmo tomar o meu lugar.
— Mentira! — Acusa Jalal — Sua única intenção era tirar
Rashid do caminho.
Eu não preciso que ele me defenda.
— Fique calado cão de guarda, ou juro que mando executar
você.
— Toque em Jalal ou mesmo o ameaçasse de novo e eu... —
ignorando completamente que Hamed é o emir, coloco-me a frente
dele.
— Parem com isso! — Papai volta a se manifestar —
Hamed? O que há com você? É o meu primeiro filho...
— Por segundos — ele reclama, amargurado — Mas sempre
preferiu ele. Queria que ele fosse o rei. Ouvi sua conversa com a
mamãe.
— Não queria filho — a voz de papai soa cansada tanto
quanto ele — Quando ouviu isso?
— Eu tinha sete anos.
— Só uma criança e não ouviu bem. Ou entendeu errado o
que nós conversamos. Você sempre foi mais ativo, aventureiro e...
Ele leva a mão ao peito.
— E...
— Pai? — Nós dois falamos juntos e corremos até ele.
O nosso pai aperta forte o peito. Seu rosto começa a ficar
vermelho.
— Um médico! Jalal peça a ambulância.
Não o vejo sair e início os primeiros socorros enquanto papai
perde a consciência em meus braços.
— Ele morreu? — Indaga Hamed em pânico quando os
paramédicos o colocam na maca.
— Não, Hamed. Mas você um dia ainda vai matá-lo se
continuar assim.
Ele me olha com raiva.
— É culpa sua. Seu cão nunca deveria ter falado nada para
ele.
Não queria brigar com ele, não agora.
— Eu vou com ele — aviso assim que o nosso pai é
colocado na ambulância.
Quando me sento ao lado dele, segurando sua mão, vejo
Hamed parado, nos encarando com uma expressão que não sei
identificar. Apesar da angústia em ver nosso pai desacordado, espero
que esse susto faça o meu irmão voltar a pensar com o coração e não
com sua razão distorcida.
CAPÍTULO 27

Connecticut, EUA
Um mês depois

Eu não conseguia encarar isso sozinha, então pedi que Lucy


fizesse isso comigo.
Já tinham sido oito testes de farmácia e agora eu tinha o de
sangue nas mãos dela, apenas para confirmar o que eu já sabia.
— Então, Lucy? Fale de uma vez!
Eu não sei dizer qual de nós duas está mais nervosa.
— Positivo. Você está mesmo grávida, Suzana.
Eu não sei se sorrio, se choro ou entro em pânico.
Grávida.
O meu sonho em ser mãe, finalmente se tornando realidade.
— Oh, meu Deus, Suzana. Você vai ter um bebezinho — ela
me abraça feliz, empolgada e me balança de um lado para o outro.
— Eu ainda não consigo acreditar — balbucio, as lágrimas
estão correndo grossas pelo meu rosto — Eu vou ter um filho.
— Você e Rashid vão ter um bebê — ela me recorda —
Agora não acha que tem motivos para procurá-lo?
Um motivo muito grande.
— O Rashid não quer saber de mim, Lucy — mesmo com as
minhas pernas trêmulas, levanto do sofá e começo a andar pela sala,
nervosa — Ele nunca me procurou.
— As coisas em Sahra ainda estão tensas, Suzana.
— E um telefonema? Nada. Você mesmo disse que se ele
quisesse, teria me encontrado e ele não quer.
Eu passei dias, semanas e noites chorando amargando essa
realidade. Só fui uma mulher que Rashid teve uma aventura. Agora
talvez eu nem esteja mais nas lembranças dele. O que me dói em
dobro, porque todos os dias com ele e noites principalmente, a forma
como ele me tratava, cuidava de mim, me fizeram acreditar que Rashid
tinha sentimentos. Mas eu só me iludi mais uma vez.
Em meu desespero por amor, fantasiei tudo.
— E já te disse. Ele me pediu para tomar o chá. Eu não fiz
isso. Engravidei contra a vontade dele.
— Ainda assim, ele é o pai, Suzana. Tem o direito de saber
sobre o filho. Não erre sobre isso também — ela me encara com dor —
Eu sei como é crescer sem um pai. O quanto isso dói.
Sei que Lucy tem razão, eu acompanhei de perto sua tristeza
por não saber e nunca ter conhecido o pai dela. Mas tenho medo de
como Rashid iria reagir ao filho que ele não planejou.
Ele não é qualquer homem. É um príncipe.
— Eu vou pensar, Lucy. Prometo que vou pensar.

Aeroporto de Connecticut, EUA

Três semanas depois

Após três dias me remoendo entre o certo, o errado e meus


medos, cheguei à conclusão que Lucy tinha razão. Não importava
como Rashid iria reagir ao saber do nosso filho, ele tinha o direito de
saber que será pai.
Assim, com a ajuda de minha amiga, que mexeu os
pauzinhos através de sua agência de viagem, um serviço que não me
saiu barato, consegui mais uma licença para visitar Sahra por cinco
dias.
Volto para o mesmo hotel. Descubro pela recepcionista que
gerente está ausente por assuntos familiares, mas há outro no lugar
dele.
Como eu só queria conferir se ele havia entregado a minha
carta a Rashid, deixo para lá.
— Aqui está as suas chaves Srta. Weston. Pedimos que tenha
atenção ao andar pela cidade, principalmente a noite — com os
cartões, ela também me entrega um panfleto — Esses pontos estão
indicados com zona vermelha. Evite ir lá sem um guia.
A minha viagem não era novamente de turismo. Só quero
falar com Rashid.
Depois de deixar as minhas coisas no quarto e enviar uma
mensagem para Lucy, avisando que cheguei bem d tomar um banho,
eu me arrumo para a minha missão.
Dessa vez uso o hijab e tento ficar o mais próximo às
mulheres nativas.
No portão não são os mesmos homens que me expulsaram
da última vez, o que também não me favorecia em nada. Todos devem
ser treinados iguais.
— Que a paz esteja com você — digo a um dos guardas na
língua dele.
O cumprimento respeitoso exige que ele retribua e isso meio
que já quebra parte da tensão.
— Com licença, senhor — sigo a dizer na sua língua.
Eu treinei por dias o discurso que precisava fazer.
— Preciso ver e falar com Jalal. Ele é segurança do príncipe
Rashid bin Shalaan bin Shahir Al Awad.
O homem me encara com desconfiança, mas comigo falando
sua língua nativa, dessa vez ele é menos rude que o anterior.
— Veja! — Eu me movo para abrir a minha bolsa e ele
aponta sua arma para o meu rosto — Tenho uma foto dele.
Mostro a foto que imprimi. Era para ser uma lembrança
minha no deserto. Rashid tirou para mim e só depois vendo a galeria
de fotos que vi que em algumas delas, Jalal aparecia, essa inclusive,
ele estava sorrindo, o que era extremamente raro.
O homem analisa a foto e embora Rashid não apareça nela,
reconhecem Jalal.
Eles conversam o que não consigo entender. Infelizmente o
pouco tempo que tive para aprender o idioma, só foi suficiente para o
meu discurso, com intenção de convencê-los a me deixar entrar ou
chamarem Jalal.
Um dos homens falam em uma espécie de rádio e após
alguns minutos angustiantes, o grande e pesado portão começa a abrir.
Sou conduzida pelo longo caminho de pedra. O palácio
magnífico vai se agigantando conforme eu me aproximo e eu fico
embasbacada em como ele é bonito. Com suas torres de cúpulas
redondas e arquitetura milenar, ele parece saído de um conto de fadas.
Chegamos em um grande pátio e eles fazem um sinal para
que eu parasse.
— Suzana?
Como o fantasma de sempre, Jalal surge de onde não vi se
aproximar.
— Jalal — sorrio, aliviada por encontrá-lo — Eu preciso
falar com Rashid.
Ele não retribui o meu sorriso. Sinto que está aborrecido
comigo.
— Nunca imaginamos que você iria voltar.
Ele não imaginou ou não queria que eu voltasse?
— Eu tenho que falar com Rashid. Por favor, Jalal, me leve
até ele.
Assisto-o meditar. Acho que deve estar em dúvida entre
cumprir sua obrigação como segurança do príncipe ou seu dever como
amigo.
— Venha comigo.
Sou conduzida para dentro. Saber que vou rever Rashid
depois de tanto tempo e saudade, me faz levar a mão ao ventre, onde
nosso filho cada dia mais, cresce mais forte.
Jalal acompanha o meu movimento com o olhar e me analisa
intrigado. Eu tiro rapidamente a mão da barriga e torço-as uma na
outra. Não quero que ele descubra e diga algo a Rashid antes de mim.
Chegamos ao hall que tem um gigantesco lustre pendendo do
teto. Eu nunca me vi pisando em um lugar como esse e fico um pouco
apreensiva.
— Fique aqui — diz Jalal — Não vá a lugar algum ou fale
com alguém antes que eu volte.
— Tudo bem.
Ele indica um elegante sofá de espera, mas eu ignoro.
Os minutos se arrastam me deixando mais nervosa.
Então eu vejo um movimento de guardas vindo da escada e
para minha alegria e surpresa, Rashid surge. E é mais forte que vá até
ele.
— Habibi! — O meu chamado carinhoso desvia a atenção
dele da conversa que estava tendo no telefone.
Seu olhar para mim era como se me visse, mas não
identificasse quem eu era.
Não poderia ser as roupas.
— Sou eu, habibi, Suzana — os guardas se colocam hostis
quando tento me aproximar dele.
— Suzana? — Ele repete como se testasse o meu nome pela
primeira vez — E o que deseja Suzana? Por que acha que pode se
dirigir a mim assim?
— Eu... — os meus lábios estão secos e eu estou muito
nervosa — Podemos falar à sós?
— Não. Não podemos. Agora saia do meu caminho.
Por que ele estava agindo assim tão friamente?
Tudo bem, que visse o que vivemos apenas como uma
aventura romântica, mas não precisava ser tão frio comigo.
— Sei que está passando por muitas coisas. Enfrentando
muitos problemas. E eu entendo.
Respiro fundo. A hora da verdade tinha chegado.
— Mas preciso te contar e não vou embora sem fazer isso.
Eu estou grávida — ignorando que seus homens poderiam estourar os
meus miolos com suas armas a qualquer momento, encho-me de
coragem e pego a mão dele.
E entre risos e lágrimas, levo-a ao meu ventre.
— O nosso bebê.
Os homens me olham estranho e Rashid puxa a mão como se
o meu toque o queimasse.
Ele sorri, mas não é como um dos sorrisos que ele sempre
me dava, bonito e cheio de calor. Há frieza nesse gesto como também
em seu olhar.
— Sei que não esperava e que é assustador...
Ele segura firme os meus ombros e diz algo aos seus
guardas, que riem.
— Tirem-na aqui. Eu nunca vi essa golpista antes.
— Rashid? — balbucio, chocada e incrédula que ele
estivesse me dizendo isso.
— Achou que o quê? Que vindo até aqui eu a tomaria como
esposa? — Ele me afasta com brusquidão — Nunca que uma puta
americana como você seria digna de se tornar rainha.
Rainha? Eu nunca havia dito isso. Eu só queria que, ao
menos, ele quisesse participar da vida do filho.
— Por favor...
Tento me aproximar dele, mas Rashid puxa o braço com
tanta violência, que me faz cair no chão. Eu nunca me senti tão
humilhada em toda a minha vida. Nem mesmo quando a amante de
Willian surgiu no enterro, apresentando a filha deles.
— Pelo bebê que diz carregar. Vou ser misericordioso com
você e deixá-la ir embora. Agora saia daqui! Volte ao seu país e nunca
mais volte pisar em Sahra. Se eu a vir novamente, que seja na rua —
ele se agacha e segura meu queixo com brutalidade — Vai direto para
cadeia.
O meu corpo está trêmulo, mas o que me mantém largada no
chão, chorando, é meu coração ficando espedaçado.
Levo a minha mão a barriga.
Rashid não me ama.
Ele nunca sentiu nada por mim e rejeitava o nosso filho.
Eu acreditei numa fantasia tola e agora estava pagando por
ela.
Um dos guardas me obriga a sair do chão e me leva para fora
do castelo.
Quando chegamos aos portões ele me arremessa a um dos
soldados fazendo vigia.
— Se ela entrar novamente — ele avisa de forma que eu
conseguisse entender — Vocês vão pagar com a vida.
O soldado que me deixou entrar me encara com ódio. Ele diz
algo em seu idioma, que me faz ter certeza de que está me xingando.
Depois, novamente sou arremessada contra o chão, dessa vez na
calçada.
— Vá!
As pessoas passam e me encaram com curiosidade, mas
ninguém tem coragem de enfrentar o guarda real.
Com as minhas mãos e joelhos machucados, pego a minha
bolsa e me levanto do chão.
A vergonha só não é maior que a dor virando ferida em meu
coração.
Por mais que me ferisse, eu conseguiria lidar com a tristeza
de Rashid não me querer mais como mulher, mas negar o seu próprio
filho e nem me deixar explicar como as coisas haviam acontecido.
Quando retorno para casa, Lucy me esperava no aeroporto.
— Ele negou o filho dele, Lucy — desabo, chorando, caindo
em seus braços acolhedores — Aquele não era o Rashid. Não era o
homem por quem eu me apaixonei.
Não. Eu nunca seria capaz de perdoá-lo por isso.
Agora seria apenas eu e meu bebê.
Sozinhos.
Mas eu daria a ele todo amor que o pai dele negava.
CAPÍTULO 28

Connecticut, EUA
Quatro meses depois

Nas semanas e meses seguintes após eu retornar de Sahra,


dediquei-me completamente ao meu trabalho e a planejar e colocar em
prática as coisas para a chegada do bebê.
Assim, eu tinha a minha casa cheia de caixas, quadros e
esculturas espalhadas por todos os lados.
— E aqui, podemos ouvir... — a médica gira o equipamento
pelo meu ventre, cada vez mais redondo — Um coração saudável e
forte, batendo. Não quer mesmo saber o sexo, Suzana?
— Não, doutora.
Já me emocionava o suficiente ver o meu bebê na tela e
saber que ele ou ela está bem.
— Mas deveria me deixar saber — reclama Lucy, que veio
outra vez a consulta comigo.
— Claro que, não. Você não consegue guardar segredo,
Lucy.
— Esse eu guardaria — ela diz manhosa, mas eu não caio
em sua cara de coitadinha.
Depois de dar o exame por encerrado, a doutora limpa o gel
da minha barriga e desliga o equipamento.
Eu me sento na maca, suspirando. Poderia ficar o dia inteiro
assistindo o meu bebê.
— Está tudo certo com seu peso Suzana. Os exames também
indicam que está tendo uma gestão muito saudável. Continue seguindo
tudo o que eu disse. Você trocou as tintas que usava, não é?
— Sim. Desde a primeira consulta doutora.
Muito bem. Então dentro de dois meses e três semanas,
aproximadamente trinta e seis o seu bebê estará entre nós.
— Ah, quero te entregar o convite — Tiro o envelope da
bolsa — Minha agente gostou tantos das minhas criações novas, que
agendou essa exposição no próximo fim de semana.
— E já tem quase tudo vendido — avisa Lucy, muito mais
orgulhosa dessa conquista do que eu.
— Será um prazer ir.
Saio da clínica feliz. Eu me obrigo a todos os dias sorrir e
ficar bem pelo bebê.
Evito pensar em Rashid e todo meu sentimento por ele foi
colocado para fora através de arte, em meus quadros e três esculturas
que fiz. Taylor diz que é minha melhor coleção em todos esses anos
trabalhando com ela.
Um sonho nas arábias, assim que décimos chamar a
exposição, é uma mistura de várias paisagens do deserto. Tem telas
com várias pinturas do lago, das dunas, camelos, a tenda onde vivi os
melhores dias e noites com Rashid. Uma com um casal se amando na
areia e outra de um homem árabe, mas que não mostra muita a parte do
rosto, apenas sua contemplação para o oásis.
Uma das esculturas chamada, O homem no deserto, já tinha
traços mais reveladores. Qualquer um que conhecesse Rashid de perto,
iria reconhecê-lo. Eu proibi que fosse vendida, mas aceitei expor junto
com os quadros e as duas esculturas de dançarinas do ventre.
— O meu Deus! — Assim que abro a porta de casa, o
desanimo em ver tanta bagunça por todos os lados me pega.
— Calma, amiga. Taylor disse que pegará os últimos quadro
hoje, não?
— Sim.
— E nós vamos pintar o quarto do bebê após sua exposição
— ela tenta circular entre as caixas fechadas e quadros — Você só tem
que parar de comprar tanta coisa pela internet.
— Se fosse só pela internet — abro um sorriso, culpado —
Mas você sabe que tem alguma coisa nos computadores. Se eu penso
em algo para o bebê, elas aparecem na tela. Então é difícil resistir a
tanta coisa linda. Ontem eu comprei uns sapatinhos fofos.
— Meu Deus! — Ela se joga no sofá — Essa criança vai ser
mais mimada por mim ou por você? Porque vi um vestido no shopping
e comprei.
— Lucy, não sabemos se é menina.
Eu geralmente compro coisas que sirva para os dois sexos.
— Se não for, tem uma colega no trabalho que está grávida e
ao contrário de você — ela me encara os seus lindos verdes, fuzilantes
— Ela sabe que terá uma menina e já contou para todo mundo.
Eu não quis saber mais de nenhuma informação de Rashid, e
Lucy respeitou isso. Mas às vezes pesquisava coisas da cultura dele,
pois quero que o nosso bebê tenha contato, embora ele nunca vá saber
que seu pai é o príncipe de Sahra, o primeiro filho é esperado que seja
homem, e isso é muito importante.
Não quis colocar essa pressão na criança, sem ela nem ter
nascido ainda.
Seja o que for, vou amá-la igual.
— Comida italiana? — Indaga Lucy, olhando no aplicativo.
— O que desejar, Lucy. Eu só preciso de um banho.
É a minha parte preferida do dia porque posso parar em
frente ao espelho e ficar muito tempo observando como a minha
barriga fica cada vez maior.
E é uma pena que Rashid não esteja acompanhando nada,
penso com tristeza.
A dor no peito me faz lembrar que jurei não ficar pensando
nele.
— Somos só nós dois, bebê.

O dia da exposição
— Suzana você está linda — Lucy coloca-se atrás de mim e
segura o meu ombro — Vermelho sempre a deixa muito sexy.
Lembro que usava um vestido vermelho quando conheci
Rashid.
— Não quero parecer sexy — eu me afasto de frente o
espelho — Apenas vender os quadros que faltam. Talvez seja melhor
eu me trocar.
— Nem, pensar. Você está linda. Além disso, já estamos no
horário. Taylor já ligou duas vezes enquanto estava no banho. Aquela
mulher é uma desalmada.
Não é verdade. Ela só está muito empolgada com a
exposição. Terá outros olheiros, imprensa e pessoas muito importantes
na lista de convidados.
Eu não ligava para nada disso, mas fazia parte do trabalho,
que não posso dispensar. Estou bem economicamente para os
próximos cinco anos, mas crianças geram gastos. Logo viria a escola e
quando eu piscasse os olhos, o meu filho estaria fazendo planos para a
faculdade.
Eu não pensava em me casar novamente e nem ter outros
bebês. Mesmo que eu não tenha significado nada para Rashid, ele
significou tudo para mim. Nenhum outro homem chegaria tão perto do
que ele me fez sentir.
— Ei, por que essa cara triste? Estava pensando nele?
— Por um momento Lucy. Mas hoje é um dia para ficarmos
felizes. A médica até me deixou tomar uma taça de champanhe para
comemorar.
— Tem razão. É sua noite de brilhar. E vou beber tudo por
você.
— Nem pense ficar bêbada que eu nem consigo me carregar.
— Talvez eu conheça algum convidado bonitão.
Eu esperava que sim. Depois que terminou seu
relacionamento complicado. Lucy vinha fugindo dos homens. Ela
pensar, nem que seja por brincadeira, em abrir o coração novamente,
me deixa feliz.
Duas horas depois, na galeria

Já sorri, conversei com pessoas, e pousei para fotos de


revistas, mais do que eu conseguia. Agora não vejo a hora de Taylor
me dispensar para ir embora. Mas de acordo com ela, a festa está no
auge.
— Suzana! Você não vai acreditar nisso — Taylor me
encontra na mesa de frutas, colhendo algumas uvas — Temos um
convidado muito especial. Não um convidado exatamente. A equipe
dele praticamente exigiu que o deixássemos entrar. É claro que eu
jamais poderia dizer não. Quem se atreveria a isso?
A empolgação dela me deixa um pouco tonta e divertida.
Mas o meu sorriso morre completamente quando olho em direção a
entrada e vejo logo após Jalal e mais alguns homens, surgir Rashid.
Nenhum deles usam as vestimentas típicas de Sahra. Todos
estão de terno e o de Rashid é branco, destacando dos pretos dos seus
seguranças.
— Não — balbucio no momento que o olhar intenso dele caí
em mim.
Levo a minha mão ao ventre e Rashid acompanha meu gesto.
O que ele está fazendo aqui?
Por que veio?
Eu ajo sem pensar, deixando as uvas caírem no chão, indo
para uma porta que dá para os fundos da galeria.
— Ei, Suzana? — Escuto Taylor me chamar, mas não
diminuo os meus passos — Aonde você vai?
Praticamente corro até o estacionamento.
— Droga!
Vim com a Lucy e as chaves do carro estão com ela.
Atordoada, continuo andando entre os automóveis.
— Suzana!
Escuto a voz de Rashid e por mais que queira, não olho para
trás. Continuo a correr.
Finalmente chego a rua e praticamente salto em frente ao
primeiro carro de taxi que vejo vazio.
— Cuidado, moça. Eu poderia ter atropelado você.
— Me tira daqui, por favor.
Assim que o homem faz o motor funcionar outra vez, vejo
Rashid alcançar a rua. Pela iluminação vejo seu rosto de expressão
muito dura, acompanhar eu me afastar.
Quando o carro se mistura ao trânsito, respiro aliviada.
CAPÍTULO 29

Fils, Sahra
Cinco meses antes

Ela foi embora.


Nenhum telefone, e-mail, que fosse uma carta em despedida.
Suzana apenas desapareceu, como se ela não tivesse sido um mero
devaneio da minha cabeça.
Nas noites seguintes a sua viagem de volta aos Estados
Unidos, enquanto dividia o meu tempo em ficar com o meu pai no
hospital, se recuperando do infarto e lidar com as merdas que Hamed
havia feito, e ele mesmo, amargava horas pensando se realmente as
noites que tivemos no deserto, não havia sido fruto da minha cabeça.
— Qual o seu problema filho? — O meu pai, segura a minha
mão, apesar de ele estar fraco, ainda é firme — Hamed jurou que vai
começar a recuar as tropas. Dessa vez seu irmão está dizendo a
verdade.
Eu não sei se posso confiar em Hamed mais uma vez. Talvez
quase perdermos o nosso pai tivesse feito-o ver o quanto estava agindo
errado. Sei que os dois conseguiram finalmente conversar e acertar o
passado. Mas ainda tenho os dois pés atrás com o meu irmão.
— Então? Qual é o motivo da sua angústia? É uma mulher?
— Como você sabe?
— Eu sempre sei de tudo.
— Jalal...
— Não foi ele dessa vez. Além disso, eu conheço bem essa
expressão de homem atormentado por uma mulher. A sua mãe me deu
trabalho. Nem mesmo por Layla, no casamento dela, eu o vi assim.
— Com Layla foi mais ego ferido, hoje consigo enxergar
isso. Suzana é diferente.
— E por que não vai atrás dela?
— É complicado.
— O amor sempre é.
— Ela é estrangeira papai. Americana.
— Seu avô também se casou com uma. Sabe que não precisa
se casar com uma sahrariana, não é? Se fosse o sheik, seria mais
complicado.
— Ela é viúva.
— Significa que sabe como ser uma boa esposa. Sua mãe
também era, sabia?
— O quê.
— Não chegaram a consumar o casamento. O marido
morreu antes. Ela era meio que proibida para mim, porque a noiva
perder o marido no casamento, não é bom sinal. O que o prende aqui,
filho?
— Não posso correr o risco e deixar Hamed sozinho de
novo.
— Outra vez se sacrificando por seu irmão.
— Por Sahra, pai. Se Suzana sente alguma coisa por mim,
ela vai me esperar.
— Cuidado, filho, dizem que amor suporta tudo, mas isso
não é verdade. Ainda mais ao tempo longe de quem o alimenta.
Então isso seria mais uma prova que os nossos destinos
nunca estiveram ligados.
Fils, Sahra, um mês depois

Tenho que reconhecer que Hamed está cumprindo à risca sua


promessa de recuar e estabelecer a paz entre Sahra e povo do deserto.
Mas ele fez tanta merda e irritou tanta gente, que a confiança nele está
na lama.
— Eu disse a você. São uns selvagens.
— Tem que ter paciência, Hamed. Você provocou tudo isso.
Nós sempre brigamos. Com a diferença é que agora o meu
irmão me permite estar em suas reuniões e mesmo que não goste
admitir, começa a ouvir os meus conselhos.
— Vou falar com Baghdadi — ele me diz fazendo sinal para
que seu secretário se aproximasse — Ele garantiu que foram avistadas
novas tropas de rebeldes vindo a capital.
Enquanto o homem faz a ligação, vejo Jalal ser chamado por
um dos guardas. Ele olha para mim enquanto ouve. Hamed chama a
minha atenção para algo e quando volta a olhar para porta, o meu
amigo já não está.
Diabos de homem que desaparecia como mágica.
A conversa continua tensa. Hamed avisa ter um
compromisso fora do castelo e eu continuo a discutir com o
comandante do exército, que sugere atacar os novos rebeldes se
aproximando de Fils.
— Rashid — Jalal me puxa para um canto, o comandante
tenta impedir, mas antes que meu amigo parta para cima dele, apaziguo
as coisas.
O clima anda cada vez mais tenso.
— Ela está aqui.
Jalal não precisa me dizer um nome. Sei de quem ele está
falando.
— Onde está? — Seguro o seu braço com força — Onde ela
está, Jalal? Por que não a trouxe a mim?
— Com Hamed aqui? Sério?
— Ainda não confia nele?
— Você confia?
Não posso responder isso ainda.
— Traga-a a mim — ordeno — Não. Me leve até ela.
Cruzamos o palácio até chegarmos ao grande hall onde Jalal
disse que a havia deixado.
— Onde ela está? — Agarro a roupa dele — Onde está a
Suzana?
— Eu pedi que esperasse aqui.
— Porra, Jalal. Procure em cada canto desse palácio.
Infelizmente, gastamos tempo demais procurando em todos
os cômodos do palácio que não pensei no mais obvio, Suzana ter
seguido para o aeroporto.
— Eu acho que ela... — início assim que vejo Jalal surgir.
— Temos um problema.
— Rashid! — Hamed surge de outra direção — Você é um
dissimulado.
Um estrondo que faz as paredes milenares tremerem, leva
nós três a olharmos para fora.
Uma fumaça densa cobre tudo.
— O que está acontecendo? — O meu irmão pergunta.
— Baghdadi estava certo — assume Jalal — Um novo grupo
de rebeldes invadiu a cidade e estão vindo para cá. Precisamos tirar os
dois daqui.
— A Suzana.
Ela escapou entre os meus dedos mais uma vez.
— Chequei e foi dada nova entrada no aeroporto — diz Jalal
— Agora o mais importante é manter os dois vivos. O pai de vocês já
está sendo removido. Ficarem aqui não é mais seguro.
Uma nova explosão nos faz sair do lugar e seguir Jalal e seus
homens.
Hospital de Fils, um mês depois

Quando desperto, sinto como se um bombardeio estivesse


acontecendo em minha cabeça.
— Filho! Graças a Deus que você acordou.
— Pai?
Viro em direção a voz e vejo o meu pai na cadeira de rodas.
A minha mente fica um pouco mais confusa.
Quero me levantar, mas tanto o meu pai como Jalal não
permitem.
— Tenha, calma, Vossa Alteza. Nós não o perdemos por
pouco.
— Você quis dizer, Excelência, Jalal.
Percebo o olhar que ele e meu pai trocam e não gosto disso.
— Ainda precisa ter uma cerimonia oficial, mas Jalal tem
razão, meu filho. Você é o emir agora.
— O quê? — Mesmo com os protestos e a dor lancinante em
minha cabeça, me sento na cama — O que estão dizendo? Não!
Hamed é o emir de Sahra.
O meu pai engole um soluço antes de segurar a minha mão e
me encarar com dor.
— Seu irmão está morto, meu filho.
— Morto? — Nego-me a acreditar — Jalal, o que
aconteceu?
— Do que você se lembra antes do ataque?
— Ataque?
Forço a minha mente a voltar ao passado.
— Quanto tempo estou aqui?
— Um mês.
Isso não é possível.
— O que se lembra, Rashid? — Dessa vez é o meu pai a
perguntar.
— Estava em reunião com Hamed. Jalal me chamou.
Suzana. Ele tinha voltado a Sahra.
— O prédio foi cercado pelos rebeldes — explica Jalal —
Eles queriam Hamed. Você saiu na frente para desviar a atenção dos
rebeldes e assim o emir pudesse sair, sem que fosse visto.
— E Hamed?
—Atacaram o carro quando um outro grupo inesperado de
rebeldes surgiu. Eles atacaram fortemente o palácio. Tomaram a nossa
guarda. Consegui te tirar do seu carro capotado e trazê-lo ao hospital
com vida, mas o que Hamed estava e alguns de seus homens pegou
fogo. Não conseguimos ao menos recuperar parte do corpo deles.
Meu senhor.
É muita coisa para eu conseguir assimilar, principalmente a
dor pela partida do meu irmão. Não fomos os melhores amigos do
mundo e nem estávamos dando bem nos últimos tempos, mas eu tinha
fé que Hamed voltaria a ser uma boa pessoa. Ele era a minha outra
metade. Dividimos o mesmo ventre.
— Faz um mês que isso tudo aconteceu? — Indago,
fracamente.
— Sim. Seu ferimento foi grave na cabeça e nem sabíamos
se iria acordar, filho.
Com isso já faz três meses que estou longe de Suzana.
Ela ainda se lembraria de mim?
Estaria acompanhando as notícias sobre Sahra?
Já havia me esquecido?
— O que acontece agora?
— Assim que sair do hospital e estiver bem — avisa o meu
pai — Haverá a cerimonia oficial para coroá-lo.
— O seu pai segurou as pontas enquanto você esteve aqui —
Jalal coloca a mão no meu ombro — Mas Sahra precisa de você. O
povo precisa. Tem que consertar a bagunça que Hamed fez.
Eu nunca desejei ocupar o lugar de Hamed como ele
pensava. Mas o país precisava de mim agora.
Fils, Sahra.
Duas semanas antes da exposição

Quando Layla pediu uma audiência para falar comigo, já


tinha uma ideia do que ela queria discutir. O assunto já foi levantado
por meu pai e os pais dela, após um jantar entre as nossas famílias.
— Você vai se casar comigo, Rashid? Como deveria ter sido
desde o início.
Por ser a viúva de meu irmão, Layla tinha esse direito. Mas
nenhum de nós dois era obrigado a cumprir essa tradição.
— Agora você me quer, Layla? Porque Hamed está morto?
A minha pergunta direta e dura a pega de surpresa. Não sou
mais o idiota que ela pensa ter poder de manipular, com seus sorrisos
falsamente inocentes e doces.
Ela está se aproveitando do fato que moralmente por ser a
viúva do meu irmão, eu deva pedi-la em casamento. Mas posso
garantir que ela tenha uma boa vida, sem precisar dar esse passo.
— Eu estive cega, habibi.
— Não me chame assim. Não tem mais esse direito.
— Rashid, eu disse no meu casamento que pensei amar
Hamed, mas ele me mostrou que não era como você. Ele mal me
tocava por isso nós...
— Não tiveram filhos? Mas não era por culpa de Hamed.
Você não pode ter filhos.
— Quem te disse isso? — Ela está pálida ao me encarar.
— O meu irmão. Achava que eu a empurrei para ele, mas no
fundo foi você, não é?
— Já disse que achei que estava apaixonada — ela chora,
levando o lenço aos olhos.
— Em todo caso. Não sei se casar com você seria uma boa
ideia.
— Por que não? Sou a viúva do seu irmão. Nossas famílias
se conhecem há anos e... O meu pai é o general.
— Mas você ainda não pode ter filhos.
Isso a faz encolher, atingida.
Fui duro, eu sei. Não é motivo suficiente para recusar Layla,
principalmente se eu a amasse.
— Não me importo que tenha uma segunda esposa para ter
seus herdeiros. Desde que eu seja a primeira.
Ah, o peso da primeira esposa. Embora a segunda esposa
também deva ser tratada com respeito e ter os mesmos direitos da
primeira, entre as mulheres ser a primeira sempre tinha um peso maior.
Eu não me via casado com Layla, com outra candidata
desconhecida, então.
Nem pensar.
— Eu não posso pensar nisso agora, Layla.
A razão é que com as coisas ficando mais calmas, cada vez
mais eu não conseguia tirar Suzana da minha cabeça.
Sua partida para os Estados Unidos, sem me dizer nada, por
duas vezes, ainda é uma ferida dentro de mim. Pensei que o que
vivemos, tivesse sido especial para ela também.
Que quando retornou a Sahra estava disposta a explicar sua
partida sem uma despedida adequada, mas outra vez, ela escapou pelos
meus dedos como areia no deserto, ignorando tudo o que
compartilhamos.
— Sei que amava Hamed e que está tentando lidar com o
luto por ele. Mas sabe que se casar comigo é o correto a fazer. Vou dar
mais um tempo para pensar antes de voltarmos conversar, Rashid.
Olho para Jalal que tem uma expressão indecifrável. Layla
não podia me colocar contra a parede e se ela continuasse a insistir
nisso, eu precisaria tomar medidas mais duras.
— Você não consegue esquecê-la, não é? — Jalal destaca
assim que Layla deixa a sala.
— Eu não penso em Layla desde o casamento dela com
Hamed.
— Não é dela que eu estou falando — ele me encara ainda
mais sério do que o normal — É sobre a americana.
Ele é meu amigo. Meu irmão. Não adiantava continuar
mentindo por orgulho.
— Não — levanto-me indo até a janela — Eu não consigo
tirá-la da minha cabeça Jalal. E meu corpo sente falta dela. É como se
a minha alma não estivesse inteira.
— Então vá atrás dela.
O meu pai tinha dito a mesma coisa.
— Sabe que a situação em Sahra ainda não está
completamente estabilizada.
— Mas também não está tão ruim quanto o seu irmão
deixou. Se ela é sua alma gêmea, tem que buscá-la.
Eu sorrio de sua afirmação inflamada.
Ele também tinha aprendido a gostar de Suzana? Ou só
queria a minha felicidade?
Talvez os dois.
— E você agora acredita nisso?
— Não. Mas você acredita. Ou começou a acreditar nisso
desde que a viu.
Isso é verdade.
— Consiga o endereço dela e cuide para a minha viagem aos
Estados Unidos aconteça o mais rápido possível.
Ele apenas balança a cabeça e deixa a sala silenciosamente.
CAPÍTULO 30

Connecticut, EUA.
Uma hora após a exposição

Eu tinha escapado por muito pouco, reflito, encostando o


meu corpo trêmulo contra a porta.
Tiro o sapato apertando os meus pés e passo a mão na
barriga.
— Calma bebê. Vai ficar tudo bem.
Eu não posso me permitir ficar tão abalada por ter visto
Rashid. Qualquer emoção minha passaria para o bebê e isso não seria
bom. Eu tenho tentado levar uma gravidez tranquila.
Um chá. Sim, um chá, um banho e ir direto para cama me
faria bem.
Decido pelo banho primeiro. Depois de sair e me secar,
coloco uma camisola de gestante de cetim e um robe do mesmo tecido,
calço as pantufas e sigo para cozinha.
A água está na chaleira quando escuto a campainha tocar.
Desligo o fogo, ela toca mais uma vez, outra vez e
irritantemente não para até eu ir à porta.
Pela insistência na campainha, só poderia ser Lucy. Ela deve
não ter entendido nada da minha saída sem aviso. Além de Taylor, que
deve estar furiosa comigo ao me assistir fugir como uma louca.
Ninguém além de Lucy sabe quem é pai do meu bebê. Então
eu teria que encontrar uma explicação logo para dar a ela.
— Eu posso explicar — aviso, abrindo a porta rapidamente.
— É excelente ouvir isso — a voz dura e o olhar intimidador
me fazem paralisar no lugar
— Rashid?
Aproveitando-se da minha surpresa, ele entra em minha casa
sem ser convidado. Como se Rashid precisasse de convite para entrar
onde ele quisesse.
— O que está fazendo aqui, Rashid?
— Então é verdade? — Ele olha para o meu ventre redondo,
que a roupa de dormir não consegue esconder.
Como se não acreditasse no que seus próprios olhos viam.
— Vim olhar com os meus próprios olhos o quão... — ele
parece não encontrar adjetivos em meu idioma para provavelmente me
insultar, então faz isso na língua dele.
— Eu quero que você saia!
Pensei que já havia superado tudo. Sua rejeição, a negação
em relação ao nosso bebê. O meu amor por ele. Mas não, basta ter
Rashid no mesmo ambiente que eu e meu coração parece querer saltar
do meu peito.
Então, como toda mãe onça deve agir, eu ataco, batendo em
seu peito para nos defender.
— Saia daqui!
— Fique calma — ele murmura, calmamente, segurando os
meus pulsos — Todas as emoções que tiver, irão passar para o bebê.
— E desde quando você se importa com o meu filho?
— Nosso filho.
— Ah, seu filho? Não. É meu filho. Só meu.
A partir do momento que ele me deu as costas aquele dia,
negando tudo o que nós vivemos, esse bebê passou a ser só meu.
— É um menino?
— Não sei. Eu não quis saber nos ultrassons. Eu queria que
meu bebê...
— Nosso bebê, Suzana — dessa vez ele é duro ao falar isso.
— Eu queria que ele ou ela soubesse que era amado
independente do que fosse.
Rashid alivia a pressão, mas não me solta. Ele une os meus
pulsos e ergue a mão como se fosse tocar o meu ventre, mas acaba
deixando a mão pesando no ar.
— Eu posso?
Há tanta angústia no rosto dele, que mesmo querendo apenas
nutrir raiva por todos os meses de sofrimento e abandono que ele me
casou, tenho empatia.
Amando ou odiando Rashid, esse filho também é dele. E
mesmo não querendo mais nada com o seu pai, o nosso bebê tinha
direito a ter contato com ele.
Eu não respondo à pergunta dele, soltando as minhas mãos,
pego a dele, ainda parada no ar e a levo para o meu ventre.
Seus dedos envolvem a minha barriga e Rashid fecha os
olhos, dizendo algo em sua língua nativa.
— Nós vamos nos casar.
O decreto duro e firme, me leva a afastar a mão dele e eu
coloco um pouco de distância entre nós
— O quê? Do que está falando?
— Vou corrigir esse erro. Nós vamos nos casar
imediatamente.
Encaro-o chocada e com raiva. Como ele podia me dizer
isso?
— Erro? Acha que nosso filho é um erro que precisa ser
corrigido?
Ele dá três passos decididos até mim e agarra rudemente o
meu ombro. Não sei dizer quem de nós dois está mais furioso nesse
momento.
— Agora admite que o bebê que está em seu ventre é meu?
— Nunca fui eu que neguei.
Ele me encara como se não estivesse entendendo nada.
— O que você queria, Suzana? Dinheiro? Fama? Que merda
você buscava comigo?
Amor. Não me sentir mais sozinha no mundo. Silenciar o
vazio que existia em meu peito. Mas Rashid havia deixado um buraco
ainda maior, que sangrava todos os dias com a ausência dele.
— Vá embora. Eu não quero nada de você! — Odeio
mostrar fraqueza quando não consiga frear as minhas lágrimas — Meu
filho e eu não precisamos e, não queremos nada de você. E esquece
essa história ridícula de casamento.
— Ridícula — ele me encara duro — É o certo a fazer. Sou o
emir de Sahra, agora. É imoral que eu tenha um filho bastardo. E...
— É por isso? O precioso sheik não pode deixar seu
segredinho sujo escondido do seu reino?
— Suzana. Você está sendo irracional. Assim que a imprensa
daqui souber que carrega o meu filho no ventre, vocês dois estarão
desprotegidos. Sahra está voltando ao estado de paz, mas ainda tenho
inimigos criados pelo meu irmão morto, espalhados por aí.
Mesmo com Lucy tentando me falar alguma coisa, não quis
saber nada a respeito de Sahra e qualquer outra informação que me
fizesse lembrar de Rashid.
— O seu irmão morreu?
Droga. Eu não deveria sentir pena dele por isso.
— Como eu disse, agora sou o sheik governante. Você pode
casar comigo e voltar a Sahra, pacificamente, ou vou tomar o meu
filho de você.
— Não pode fazer isso!
Completamente cega de raiva e desespero, bato novamente
em seu peito com toda força, tantas vezes, até perder minhas energias e
cair contra o peito de Rashid.
— Não estamos em Sahra. Você não é o rei aqui nos Estados
Unidos. Nenhum juiz iria permitir isso.
— Você quer tentar, habibti?
Por algum tempo acreditei que essa palavra significava
carinho. Mas agora tem um sabor agridoce em meus lábios.
As lágrimas saltam dos meus olhos, como se transbordasse
no lindo lago de Raar-al-Mir.
— Não pode fazer isso comigo — aviso, sentindo-me fraca
— Não o quer de verdade. Você disse... disse que...
As palavras começam a desaparecer nos meus lábios ao
mesmo tempo que uma escuridão me toma, e, eu perco os meus
sentidos.
CAPÍTULO 31

Verifico os sinais vitais de Suzana e se ela está respirando


devidamente, antes de deitá-la no sofá e ir até Jalal esperando na porta.
— Chame um médico imediatamente.
— E o que faço com a outra garota?
Eu noto que a bochecha dele está arranhada. Não é somente
Suzana que tem garras, a amiga dela que nos trouxe aqui, contra a sua
vontade, também tem.
— Leve-a ao hotel e a mantenham lá até segunda ordem.
— Rashid você sabe que infringiu meia dúzia de leis pelo
menos, né?
— Faça o que pedi Jalal. Traga um médico logo.
Ele me olha por cima dos ombros.
— Ela está bem?
— Desmaiou de nervoso, mas quero a garantia de um
médico.
— E por que não a levamos a um hospital?
Olho com impaciência para ele, que se dá conta que tirar
Suzana do hospital seria mais difícil que da casa dela.
— Não está pensando no que estou pensando, não é?
— Se eu não tiver alternativa, sim.
— Rashid? Quer criar guerra justo com os Estados Unidos?
— Pelo meu filho?
— Acha que é seu?
— Eu sei que é meu.
— Droga! — Ele coça sua cabeça careca, agora evidente
sem seus trajes oficiais de Sahra — Eu vou buscar um médico e dar
um jeito na garota. Ela não tem apenas garras afiadas, sabe gritar como
ninguém. Não sei como não fomos presos pela polícia até aqui.
Deixo que ele saia resmungando. A minha atenção volta para
Suzana no sofá. Eu me aproximo dele, me sento e coloco-a em meu
colo.
Ela está comigo de novo. Os dois estavam. E dessa vez eu
não permitiria que Suzana fugisse, levando o meu filho.
Porque sei que é meu. Ela não teria ficado tão surpresa e
com medo ao me ver na galeria.
Assim que coloquei os meus olhos nela. Que a vi linda
naquele vestido vermelho e notei seu ventre redondo, eu soube que
esse bebê era meu.
Por que ela não tinha me contado?
Não foi por nenhuma das acusações que fiz. Se Suzana só
almejasse fama e meu dinheiro, já teria usado a gravidez contra mim.
Eu tinha que fazê-la se casar comigo.
E eu faria tudo o que fosse preciso.
CAPÍTULO 32

Eu sabia que alguma coisa estava errada antes mesmo de


abrir os meus olhos. O medo faz o meu coração bater mais forte, mas
eu me recuso a voltar a realidade.
Tinha sido um pesadelo!
Rashid não esteve na galeria. Ele não veio ao apartamento
me confrontar sobre a gravidez. E nem me intimado a me casar com
ele. Porque tudo isso era um absurdo. Portanto um terrível pesadelo.
— Eu sei que já está acordada, habibti — ouvir a voz dele e
a forma carinhosa que me chama, ao mesmo tempo que alegra o meu
coração idiota, me causa raiva.
— Não me chame assim — finalmente abro os olhos e me
sento na cama — Não tem mais esse direito Rashid.
Ele está ao meu lado, sentado em uma poltrona que não é
grande o suficiente para ele, mas ainda assim o acomoda. Parece que
até os objetos se curvar a ele.
— Do que devo chamar minha futura esposa, então?
— Sra. Weston. E eu não vou ser a sua esposa. Saia da
minha...
A minha voz começa a morrer quando percebo que não estou
em meu quarto e que o ambiente tem um leve movimento, indicando
que também não estamos em um quarto de hotel ou qualquer lugar que
Rashid tenha escolhido para se hospedar em meu país.
— Onde eu estou? — Pergunto, alarmada.
Quero me levantar da cama, mas Rashid me mantém no
lugar.
— Calme. O médico disse que você precisa se manter
tranquila.
— Médico? Que médico? A minha médica é a Dra. Banks.
— Um que pedi para trazer quando você desmaiou.
— Ordenou que um estranho me tocasse?
Tudo bem. Talvez eu estivesse fazendo uma tempestade em
um copo d`água e devesse estar agradecida por Rashid ter se
preocupado comigo e nosso filho.
Não! Meu filho. Ele tinha perdido o direito ao bebê quando
me abandonou sozinha e grávida dele.
— Eu não deixei que um estranho tocasse em você — ele diz
isso de uma forma tão dura e intensa, que quando se ergue vindo até
mim na cama, fico paralisada, olhando-o — Eu nunca deixaria que
outro tocasse em você. Ele apenas a examinou.
Quando seus dedos firmes, mas gentis, tocam o meu rosto,
segurando o meu queixo, meu coração dá um pulo no peito.
Droga! Por que esse homem continua tendo esse poder sobre
mim?
Eu deveria odiar o Rashid.
Eu odeio.
— Você me sequestrou. Isso é crime!
— Não posso roubar o que é meu, Suzana.
— Eu não sou sua!
— Mas o nosso filho é, então. E enquanto ele estiver dentro
de você, os dois me pertencem.
— Em que século você acha que vive, Rashid?
Ele não responde a minha pergunta. Em vez disso faz um
escrutínio pelo meu rosto. Como se fotografasse com os olhos cada
detalhe.
— Você disse que eu tinha uma escolha.
— Ainda tem e nenhuma delas me levará para longe do meu
filho. Quanto mais cedo aceitar isso é melhor.
Ele me solta e se afasta, indo em direção a porta.
— Estamos em avião, não é mesmo? Para onde está me
levando, Rashid?
— Sahra. Para casa.
— Sahra não é a minha casa. Connecticut é. Me leva de
volta.
Ele não responde, se quer se vira ao abrir a porta.
— A Lucy vai me procurar. Ela vai denunciar você. O meu
país vai me resgatar...
— Lucy está indo para Sahra também.
— É mentira. Lucy jamais aceitaria isso.
A menos que Rashid a obrigasse. E só havia um jeito de
minha amiga concordar em fazer parte do plano sujo dele. Temer por
minha vida ou que me tirassem o bebê como Rashid prometeu. A Lucy
sabe do meu imenso desejo de ser mãe e que perder meu filho seria a
minha morte.
As lágrimas descem pesadas pelo meu rosto quando vejo
Rashid sair e fechar a porta.
Eu o odiava mais do que nunca.
CAPÍTULO 33

Eu não queria ter que partir para ações tão extremas, como
levá-la a força comigo, mas Suzana não estava me dando alternativas.
Ela não conseguia entender que termos um filho era uma ligação para
o resto da vida. Mais forte que qualquer sentimento que ainda
pudéssemos ter pelo outro.
E eu tenho muitos por ela.
O meu corpo ainda a quer como se fosse a primeira vez. Vê-
la grávida, sabendo que minha semente cresce nela, só fez esse desejo
aumentar ainda mais. Eu nunca a vi tão linda quanto agora.
Mas apesar da atracão, inegável, também estou muito furioso
com ela.
Como pôde ter escondido o meu filho de mim?
Ela mentiu duas vezes. Primeiro não tomando o chá e nem
falando sobre isso, depois ao esconder o nosso bebê.
— Por que ela fez isso, Jalal? Por que não me falou sobre o
meu filho?
— Talvez tenha ficado com medo.
Olho para ele, desacreditado.
— O que fiz para causar esse medo nela?
Tratei Suzana como uma rainha. A minha rainha. Desde o
dia que nos conhecemos. Em um primeiro momento só a vi como uma
amante, que eu usasse e pudesse descartar, mas ela foi me envolvendo
de tal maneira, que me vi enfeitiçado o suficiente para desejá-la
comigo para sempre.
Quando a deixei no hotel o plano era cuidar da
documentação dela, como também pedi-la em casamento. E se eu
fosse cumprir o pedido de Hamed, renunciando meus direitos reais, até
mesmo estava disposto a recomeçar minha vida nos Estados Unidos
com Suzana.
Mas o infarto de meu pai e tudo o que veio depois, jogaram
esses planos pela janela. Hamed morreu e agora sou emir de Sahra.
— Não o que você tinha feito, mas quem você é e o que
poderia fazer.
Ele me entrega o copo com whisky e dessa vez eu aceito,
preciso da bebida para ver se me acalma um pouco. O meu desejo é
voltar ao quarto e com os meus beijos e carícias, fazer com que Suzana
se derretesse em meus braços até provar como quanto ela esteve errada
em tentar me manter longe.
— Você era o príncipe de Sahra. Irmão do emir, e um dos
homens mais poderosos do mundo. Talvez ela tivesse medo de que
tirasse o filho dela. E, no final das contas, é isso que disse a ela, não é?
Droga. Largo o copo na mesinha sem ao menos tocá-lo. Jalal
está certo, sequestrando Suzana e amiga dela, porque foi exatamente
isso que fiz, só confirmava as desconfianças dela e seus medos.
— Eu não vou continuar longe do meu filho. O que queria
que fizesse Jalal?
Não tenho intenção alguma de tirar o bebê de Suzana,
mesmo que ela não se case comigo, mas também não posso ficar longe
deles.
— Se fosse meu filho e a mulher que eu amasse? Teria me
casado com ela ali mesmo nos Estados Unidos.
É irritante quando ele consegue ser mais sábio do que eu.
Normalmente tenho frieza e sabedoria para tomar decisões
importantes, mas quando se tratava de Suzana. Bam! A razão deixava
de existir.
Essa mulher me deixa maluco.
— Para alguém que não acredita no amor. Você anda
bastante filosófico, não?
Sua cara marrenta não me assusta, pelo contrário, me faz rir.
— E amiga dela?
— Graças a Alá está no outro avião.
— E ela fincou as garras em você de novo?
— Apenas fui pego desprevenido.
— Jalal. Eu já o vi enfrentar mais de dez homens ao mesmo
tempo — toco o ombro dele com humor em meus olhos — Nenhum te
pegou desprevenido.
Minha provocação vai manter meu amigo carrancudo,
possivelmente o resto da viajem. É bom que eu não seja o único
carrancudo aqui.
Eu tenho muito o que pensar.
Como fazer Suzana se casar comigo e transformar seu ódio e
medo por mim, em amor?
O deserto.
— Mudanças de planos Jalal — murmuro enquanto observo
as nuvens através da janela.
Talvez relembrar o que vivemos, a traga de novo para os
meus braços.
CAPÍTULO 34

Eu tinha um plano.
Conseguir encontrar Lucy e fugirmos de Sahra, assim que
possível. Mas Rashid tinha jogado sujo outra vez ao me trazer para o
deserto, onde lembranças maravilhosas nos cercavam.
Provavelmente foi aqui, no dia que dancei para ele em frente
a fogueira e que nos amamos na areia, que nosso filho havia sido
concebido. Voltar ao oásis mexe comigo de tal maneira que gasto
muita energia tentando ignorar Rashid.
Eu o odeio. Mas não posso negar que ainda me sinto atraída
por ele.
Desejo sexual. É o que venho convencendo a mim mesma.
Não pode ser nada além disso. E meus hormônios da gravidez também
são culpados.
Porque toda vez que vejo-a entrar na tenda, como agora, e,
tirar o keffiyeh e a gahfiya, revelando seus cabelos escuros, arrancar a
túnica, mantendo apenas o cirwal, cobrindo seu corpo musculoso, o
meu sangue começa a correr mais rápido em minhas veias.
As memórias de nós dois aqui, nos amando intensamente,
pioram as reações do meu corpo e isso é um ponto para Rashid nessa
guerra entre nós.
— Gosta do que vê, habibti?
Já desisti de pedir para ele parar de me chamar assim. Me
lembrava o Rashid que eu me apaixonei, quando preciso me concentrar
naquele que com olhos frios, me expulsou do palácio ao saber sobre o
nosso bebê.
— Sabe que pode tocar quando quiser — ele passa a mão no
peito suado e vem até mim, como uma pantera analisando a sua presa.
Ridículo. Esse joguinho bobo de sedução não daria certo.
— Eu sou todo seu, Suzana. Sempre serei.
As suas mãos pegam as minhas que estão trêmulas e as
levam para o seu peito.
— É só pedir.
Engulo em seco.
Nunca!
Jamais vou tocá-lo e permitir que me toque de novo.
Os meus dedos estão no peito de Rashid e eu consigo sentir
seu coração batendo forte. Ele também está envolvido e isso não é algo
que se finge.
— Rashid... — o seu nome escapa por entre os meus lábios
um segundo antes dele segurar possessivamente o meu rosto e tomar
minha boca.
O nosso primeiro beijo depois de meses dolorosos de
separação. E eu sinto um mundo de sentimentos explodir dentro de
mim.
É como se eu voltasse a respirar com esse beijo. Que
voltasse a viver. Porque sem Rashid eu apenas sobrevivi, me
arrastando pela vida.
Eu nunca deixei de amá-lo, apenas tentei manter adormecido
esse sentimento. E com esse beijo tudo fica claro para mim.
A gente não escolhe quem vai amar e quão grande será esse
sentimento.
— Suzana — ele interrompe o beijo para que eu possa
respirar, mas sua boca continua pelo meu rosto, pescoço.
Ele começa a retirar a minha roupa e quando me vê apenas
de calcinha, exibindo a minha barriga imensa, a intensidade que
sempre vi em seu olhar, multiplica.
— Você está linda, Suzana.
Ele toca o meu ventre com carinho e isso me desmonta.
Eu não fui o tipo de gestante que se preocupava com as
mudanças do corpo, porque o único homem que já pensei agradar era
Rashid, então ele me dizer isso nesse momento, me faz sentir plena
com as mudanças que a gravidez faz em mim.
Depois de me olhar com devoção, Rashid volta a me puxar
para os seus braços e me beija. Ele me faz esquecer dos motivos que
preciso ficar longe dele.
Como também preciso tocá-lo, passo timidamente a minha
mão por seu peito largo, escorrego-o pelo seu abdômen e enfio os
meus dedos dentro do cirwal, encontrando seu pau inchado.
— Oh, Suzana! — Ele sussurra esse gemido em meus lábios
e estremece com meu toque.
Eu podia ser completamente vulnerável a atracão por Rashid,
mas com ele não é diferente. Ele está em angústia tanto quanto estou.
Envolvo o seu pau com meus dedos e vou movendo-os
lentamente, sinto-o engrossar ainda mais em minha mão e os
estremecimentos de Rashid.
Eu o torturo assim como ele está fazendo comigo, até ele
tomar o controle de volta e me pegar no colo para me deitar na cama.
Ele começa a deslizar a calcinha pelas minhas pernas de uma
maneira muito sensual e que me impede de desgrudar o olhar de seu
rosto lindo e tensionado pelo desejo.
Rashid tem a ousadia de levar a lingerie ao nariz e inalar o
meu cheiro como se fosse seu perfume preferido.
O gesto me faz estremecer.
Depois fica de joelhos em frente a cama e agarra os meus
tornozelos, separando as minhas pernas. Primeiro ele passa suave e
sensualmente as mãos por minhas coxas. Seus lábios e nariz percorrem
em minha pele o mesmo caminho que elas fizeram.
Nesse ponto já estou completamente envolvida e absorvida
por ele.
Então sua boca cobre a minha boceta e as suas lambidas e
chupadas me fazem gemer alto. Busco o lençol para ter algo em que
meus dedos pudessem agarrar.
— Rashid — pranteio seu nome, em desespero enquanto ele
continua a me torturar de prazer — Ah...
Ele me faz ferver. Sentir a febre queimando minha pele.
Convulsionar e explodir em um orgasmo em sua boca.
Seu corpo cobre o meu. Ele me beija de um jeito feroz e eu
retribuo como se a minha existência dependesse disso.
Como a minha barriga enorme de gestante não dá muitas
posições que me ajude, ele se senta na cama e me traz para o seu colo.
Seguro em seus ombros e Rashid em minha cintura, ajudando-me a
descer em seu pau. Ter Rashid me preenchendo de novo, após tanto
tempo me faz inclinar a cabeça para trás, soltando um gemido alto.
Sinto-o ficar tenso e quando olho em seu rosto, vejo receio e
aflição.
— O que foi?
— Se eu machucar vocês dois?
A sua pergunta deveria me fazer rir, mas o seu rosto
verdadeiramente atormentado, provando que Rashid está mesmo
preocupado em não machucar a mim e ao bebê, me desmonta.
Você não vai Rashid. Eu só fiquei bastante tempo sem...
Tenho vergonha em continuar e assumir que nunca teve
outro além dele.
— Ninguém?
— Só você.
O que eu digo sacode a fera dentro dele e ele me puxa
completando a penetração. Eu estremeço em seus braços e conforme o
prazer de ser possuída por Rashid intensifica, volto a me mover em
cima dele, dessa vez com sua ajuda.
— Ah... Isso!
Os meus gemidos ficam cada vez mais constantes e espero
que nenhum dos seguranças próximo a tenda e outros funcionários
trazidos para nos atender, pudessem me ouvir. Mas é impossível não
reagir a todo prazer que Rashid está me dando.
Estou cada vez mais perto do precipício quando sinto seus
dedos massagearem meu clítoris e o meu gozo vem como um trovão
em meio a tempestade.
— Rashid! — Ele me silencia com um beijo urgente e
também se entrega ao prazer.
Sem forças, desabamos na cama sem nos desgrudar.
Eu tinha sentido muito falta disso, apenas estar em seus
braços protetores depois de nos amarmos.
Eu quase poderia dormir com suas carícias em meus cabelos.
— Eu sabia que tudo iria acabar bem, habibti.
O que ele me diz me acerta como se fosse uma martelada na
cabeça.
Me seduzir era tudo parte do plano dele?
— Foi só sexo, Rashid — levanto-me e busco as minhas
roupas pelo chão — Isso não muda nada. Ainda não vou me casar com
você.
Quando o encaro, em vez de raiva, vejo seu sorriso
convencido e isso me irritar ainda mais.
— Continue dizendo isso. Se enganando — ele se estica
mais na cama e leva um dos braços para atrás da cabeça — Mas eu
posso esperar a vida toda, Suzana.
Quando olho para o seu corpo nu, tão perfeito, que me faz
desejar ter uma tela nova e tintas para pintá-lo de novo, sinto tesão,
que me leva a raiva.
Ah! Eu o odeio!
Saio da tenda precisando de ar puro. Diferente da última vez
que estivemos aqui, agora há muitos guardas ao redor. Isso minava
qualquer tentativa minha em escapar. Eu precisava ir para um território
melhor.
Sigo para o lago. O sol como sempre está de nos fazer
derreter.
Mais lembranças me invade quando mergulho os pés na
areia e caminho pelo longo da margem.
Está muito quente e eu decido me sentar embaixo de
algumas palmeiras. Passo os minutos seguintes pensando na loucura da
minha vida desde que conheci Rashid. Eu descobri a paixão, o
verdadeiro prazer no sexo e agora tenho um filho dele, enquanto me
recuso a casar pelas razões erradas.
Mas Rashid não é um homem que desiste fácil. E ele não irá
recuar até conseguir o quer.
É irônico que nas poucas vezes que me permitir pensar em
Rashid, sobre o nosso filho, fantasie que ele nunca tivesse nos
rejeitado e feito de nós dois a sua família.
Agora Rashid está de volta e o meu medo de outra vez
entregar meu coração a ele e o ver destruído, me paralisa e me faz
fugir desse compromisso que nos unirá para sempre.
O nosso filho também tem esse poder. Mas o casamento?
Não, isso é entre mim e Rashid. É algo sobre nós.
— Suzana?
Abro os olhos e vejo as linhas do rosto dele, os raios de sol
não me permitem observar mais do que isso.
— É melhor voltar para a tenda.
Eu nem percebi que havia pegado no sono. Há quanto tempo
estive aqui?
Aceito a sua mão e ajuda para me levantar, mas assim que
tento, uma forte vertigem me faz perder as forças.
— Não consigo — murmuro fraca.
Rashid resmunga alguma coisa em sua língua e me pega no
colo.
— Estou pesada, Rashid.
— Não para mim.
Não insisto. Sinto-me tão fraca que sei que não conseguiria
caminhar.
— Eu acho que é o calor — aviso, sentindo a minha garganta
seca.
— Não deveria tê-la trazido — sua voz denuncia a culpa que
ele sente — Não, nesse estado. Assim que se sentir um pouco melhor
vamos partir.
— Iremos a Fils? No palácio.
Mesmo com muitos guardas, ele é grande o suficiente para
que eu pensar em algum plano de fuga.
— Vamos ao palácio para o nosso casamento — ele avisa,
fazendo a minha empolgação esmorecer — Vamos para a casa perto
daqui.
Aposto que lá terá o dobro dos guardas que nos protegem na
tenda. Fugir de lá seria quase impossível.
CAPÍTULO 35

Mas eu tentei escapar, por três vezes de concluir que só


estava apenas dando trabalho às pessoas e bancando a idiota.
Além disso, cada tentativa de fuga minha, mantinha Rashid
afastado. Eu não sei se ele ficava mais furioso comigo ou com seus
empregados.
Já se passou uma semana e eu tive tempo o suficiente para
refletir.
Tenho que me casar com Rashid.
A minha preocupação com Lucy, não a vi e nem falei com
ela desde que fomos trazidas a Sahra. o medo de que Rashid perca a
paciência e realmente cumpra a promessa de tomar nosso filho de mim
quando nascesse e os sentimentos que ainda tenho por ele, e não
adiantava continuar negando, finalmente me levam a essa decisão.
Estou cansada de lutar, brigar e chorar. São os meus últimos
meses de gravidez e deveríamos estar cuidando da chegada do bebê.
Rashid nos rejeitou cruelmente no início, mas ele ainda é o
pai do meu filho, e parecia estar mesmo arrependido e desejando ter
nós dois ao seu lado.
E eu faria tudo para que nosso bebê crescesse seguro e feliz,
até mesmo me casar com o pai dele, mesmo sabendo que não me ama.
Pelo menos, ainda somos muito compatíveis na cama. E eu mais do
que qualquer pessoa, sei como essa conexão que temos é rara.
— Samila disse que queria falar comigo?
Vejo-o surgir no jardim. Olhando-o com mais atenção,
percebo que os últimos dias não tem sido fáceis para ele também. A
barba acirrada estava maior, há olheiras em volta de seus olhos e seu
rosto que sempre exibe confiança está abatido.
— Sim — eu inicio um pouco receosa — Quero dizer que
eu...
Respiro fundo. Era agora ou nunca.
— Escuta, Suzana, eu...
— Vou me casar com você, Rashid.
Ele me encara surpreso. Não era isso que esperava o tempo
todo?
— Vai se casar comigo?
— Vou. Mas tenho algumas condições.
Ele puxa uma cadeira e se senta, sem em um segundo algum
desviar a atenção de mim.
— Quero que libere Lucy. É a única família que tenho.
— Tudo bem.
Ajeito-me no lugar, começando a me sentir mais confiante.
— Depois eu quero a sua palavra que se o nosso casamento
não der certo e eu decidir pelo divorcio, vivendo aqui ou voltando para
os Estados Unidos, não vai tomar o meu filho de mim.
— Nosso filho.
Olho-o seriamente.
— Eu aceito.
— E por último. Se o nosso casamento der certo...
— Você pode parar de ser tão pessimista.
— Essas coisas acontecem e eu não quero ser pega
desprevenida de novo.
— Prossiga.
— Se nosso casamento der certo — seu rosto se contorce,
mas dessa vez ele não me interrompe — Eu não quero que tenha uma
segunda esposa. E nenhuma outra além de mim.
Sei dos costumes dele e respeito, mas não consigo me
imaginar dividindo Rashid com nenhuma outra mulher. Isso me
deixaria maluca.
— Ciúmes, habibti? — O sorriso cínico e orgulhoso me faz
ter vontade de enfiar as minhas unhas na cara dele.
— Igualdade. Se será meu único marido...
Mesmo que em Sahra fosse permitido as mulheres terem
mais de um marido, eu jamais aceitaria isso. Não vejo nenhum outro
me beijando, tocando e me tornando dele, além de Rashid.
— Eu nunca permitiria isso! — Ele se levanta, vindo até
mim.
Foi como ter mexido com um leão com vara curta.
— Ciúmes, habibi? — Devolvo a provocação na mesma
moeda.
Ele envolve o meu rosto com as duas mãos, esse simples
toque possessivo é suficiente para me fazer estremecer.
— Não divido o que é meu.
— Ainda não sou sua.
— Mas será. De corpo e alma habibti.
Após a promessa ele me puxa para os seus braços e beija
com fervor.
É a primeira vez que nos tocamos assim, desde a tenda.
Eu odeio amar esse homem tão intenso.

Palácio de Fils, Sahra


Dois dias depois

O meu retorno ao palácio é bem diferente das duas vezes que


estive aqui.
Primeiro porque dessa vez, chego com o carro real e com
Rashid ao meu lado. Segundo porque é impossível esconder de todos
que estou grávida do sheik.
O quanto disso seria considerado um escândalo?
— Suzana? — Ele me chama ao assistir o meu receio ao
descer do carro — Ninguém tem nada a ver com isso.
Ele me conhece bem.
— Como não? É o seu povo, Rashid.
— Pessoas que no final das contas, só querem me ver feliz.
Por favor, querida, desça do carro.
Sinceramente? Eu não me envergonho do nosso filho e não
deve me importar o que qualquer pessoa maldosa possa pensar ou
dizer.
Uno a minha mão a dele e permito que me ajude a sair do
carro.
Não há ninguém no grande pátio e eu fico aliviada. Só os
guardas nos portões e outros em vários pontos estratégicos, mas todos
estão concentrados em seu dever.
Já dentro do palácio, não posso dizer o mesmo. Assim que
entramos há uma imensa fila de funcionário esperando por nós. Rashid
me apresenta os que imagino terem um papel maior. Nenhum deles se
atreve a olhar para a minha barriga e todos tem uma expressão feliz e
de respeito.
Talvez Rashid tivesse mandado que falassem com cada um,
ou apenas entendem qual a minha importância na vida do sheik. De
qualquer forma, sinto-me mais tranquila em não receber olhares
recriminatórios ou hostis.
— E por fim — diz Rashid quando chegamos em frente a
duas jovens muito bonitas — Layla é a viúva de Hamed.
Dou um olhar compadecido a ela, tentando mostrar que sinto
tocada por sua perda, afinal, eu já estive no lugar dela. Mas apenas
recebo um olhar frio, que se estende para a minha barriga redonda.
Sem perceber, aperto a mão de Rashid. Não gosto da energia
que vem da cunhada dele. Sinto como se ela visse a mim e meu filho
como invasores. Mas essas não eram conclusões que eu deveria ter,
sem conhecer Layla primeiro.
— É um prazer conhecê-la.
Esperamos que ela retribua o meu cumprimento.
— Layla — Rashid a repreende, baixinho.
— Sim. Estou muito feliz que esteja aqui, Suzana.
Eu não acredito nisso.
— E essa é Jamile, irmã da Layla — continua Rashid me
apresentando uma jovem com olhar e sorrisos acolhedores — Jamile
fala muito bem a sua língua e cuidará de você, habibti. Para que todas
as suas necessidades e desejos sejam atendidos.
— É um prazer conhecê-la — diferente da irmã, ela me faz
uma reverência e suas palavras soam sinceras.
— O prazer é meu Jamile.
Assim como os outros funcionários, a garota também não
fica encarando a minha barriga, que a túnica não consegue disfarçar
como eu gostaria.
Ao fim das apresentações, Rashid libera todos, despede-se
das irmãs e me guia para o quarto.
— A sua cunhada não gostou de mim — observo quando
entramos.
— Não ligue para Layla. Ficou apenas surpresa e logo vocês
poderão ser amigas.
Eu duvidava disso, mas eu não queria colocar mais lenha
nesse clima já estranho.
— E a Lucy?
Ter alguém da minha parte, me deixará mais confortável
enquanto o casamento é colocado em andamento.
— Chegará amanhã — Rashid para a minha frente e me
beija, diferente das outras vezes, é só um roçar de lábios — Sei que já
pulamos as etapas. E já temos nosso bebê a caminho. Só que até o
casamento, precisamos seguir certas normas.
— Normas? Que normas?
— Só vamos nos encontrar na frente de uma dama. E como
você só tem a Lucy, pode ser ela ou Jamile. Voltas no jardim são
permitidas e até um ou dois beijos se elas fingirem não ver. Mas nada
além disso até o casamento.
— Você está brincando?
Ele me encara sério, fazendo o meu olhar chocado aumentar.
— Rashid, antes mesmo de te conhecer eu não era uma
virgem inocente.
— Não é só uma questão de tirar sua virgindade. É sobre
entrar pura na igreja. Nós dois, na verdade.
— Então não vamos nos ver? Você não vai...
Fizemos sexo essa manhã no chuveiro, antes de nos
aprontarmos para viajar até Fils. Depois de finalmente parar de resistir
a Rashid e voltar aos seus braços, retomamos o fogo que tínhamos
antes de nos separarmos.
— Para quem dúvida do sucesso desse casamento — ele
exibe um sorriso divertido — Está ansiosa demais para me levar para
cama.
— Não seja idiota!
Porque ele está completamente correto. Que mulher em sã
consciência conseguia resistir a um deus do sexo como ele.
— Eu só queria ter sido avisada antes.
Teria aproveitado melhor as horas antes da nossa viagem.
Ele acaricia a minha bochecha com o polegar.
— Serão apenas cinco dias, habibti.
— Cinco? Iremos nos casar em cinco dias?
— Eu me casaria hoje mesmo se fosse possível.
Cinco dias com visitas vigiadas e beijinhos castos nos
jardins.
Que os meus hormônios me ajudassem a não enlouquecer.
Principalmente quando tenho guardado na memória o nosso
último beijo cheio de desejo.

Alguns minutos depois

Conhecer o pai de Rashid está me deixando mais nervosa e


ansiosa do que o normal. Um homem cheio de fé e tradições, que eu
não sabia como estava reagindo a chegada do neto e meu casamento
com seu filho.
— Fique calma — Rashid me pede pela terceira vez
enquanto esperamos o pai dele surgir na sala — O meu pai já a estima
muito.
— Ele nem me conhece.
— Conhece através de mim.
— E você disse muitas coisas lindas e louváveis sobre mim?
— indago, sarcástica.
— Por que eu faria diferente? — Ele me encara sério — É a
mãe do meu filho e...
— Salam — um senhor que lembra muito Rashid entra na
sala acompanhado de uma mulher de rosto cabisbaixo — Que a paz
esteja com vocês.
Nós repetimos a saudação e o pai dele nos indica o sofá.
— Então você é a Suzana? — O senhor me encara com
carinho e isso começa a dissolver a minha tensão — A jovem que
roubou o coração do Rashid, aqui.
— Pai.
Vendo os dois juntos, compreendo que o afeto entre pai e
filho é igual como em qualquer outro lugar do mundo.
— Estou feliz em conhecê-la Suzana. Saiba que a partir de
agora será como uma filha para mim. E espero que me veja como um
pai.
Ter essa figura novamente em minha vida, enche o meu
coração de calor.
— É o que mais desejo.
Ele olha para o meu ventre. Fico apreensiva, mas o sorriso
que o pai de Rashid abre, coloca todas as minhas dúvidas por terra.
— Estamos radiantes com a chegada dele.
— Pode ser ela, papai.
— Não importa.
O sorriso dele não diminui, pelo menos até o que eu acho,
uma lembrança o pegar.
— Eu perdi um filho amado recentemente. Esse bebê é um
presente.
Ainda não perguntei a Rashid como foi a morte do irmão
dele. Sinto que é uma ferida aberta e que ele deve se abrir comigo
quando se sentir preparado.
CAPÍTULO 36

A cada minuto ao lado de Suzana, eu tenho certeza de uma


coisa: Ela me ama.
Ainda não a pressionei sobre os motivos que a levaram a se
esconder de mim, porque não quero que ela recue com decisão de
finalmente aceitar se casar comigo.
O passado já não importa mais. Estamos juntos, eu amo,
como nunca imaginei amar alguém no mundo e estou pronto para dizer
isso na hora certa.
Eu teria feito isso se o meu pai não tivesse interrompido a
nossa conversa.
A estrangeira doce, guerreira, valente, determinada e gentil,
que havia roubado o meu coração. O amor surgia quando e com quem
menos esperamos. E estou contente que tenha sido por ela que eu me
apaixonei.
Temos química. As nossas conversas são sempre
interessantes, mesmo quando ela me desafia com sua língua afiada e
juntos vamos formar uma família que irá multiplicar ainda mais o
nosso amor.
Caramba. Ainda bem que Jalal não pode ouvir pensamentos
ou eu seria atormentado por ele até o juízo final.
— Vossa Alteza — O meu secretário chama a minha atenção.
Antes que ele possa continuar, Layla surge atrás dele. O
homem fica chocado com a ousadia dela em quebrar o protocolo,
entrando na sala sem ser avisada, mas eu faço um sinal que está tudo
bem.
— Deixe a porta aberta Zayn — depois de vê-lo sair
discretamente, viro para Layla — Onde está sua companhia?
Mesmo que ela seja viúva, eu sou o sheik, não é apropriado
que venha me ver sozinha.
— Jamile está paparicando a sua futura esposa. Sério
Rashid? Uma estrangeira e ainda grávida? Como pode ter certeza de
que essa criança é sua? Conhece bem essas mulheres do ocidente. Se
deitam com todos os homens que encontram.
— Eu não tenho que dizer nada a você, Layla, mas só vou
falar uma vez — levanto-me, olhando-a furiosamente — Nunca mais
duvide da paternidade do meu filho ou vou considerar isso traição.
Seu olhar altivo rapidamente se desfaz ao observar minha
expressão fria.
— Em segundo lugar. Não volte a desrespeitar minha futura
esposa ou a envio para casa dos seus pais.
— Entendo a situação e o que me leva a ser a segunda
esposa. Mas sobre o nosso casamento?
— Pelos céus acima de nossas cabeças. Eu não vou me casar
com você.
— Sou a viúva de Hamed.
— E vou garantir que seja bem cuidada, mas pela última vez.
Esqueça isso.
— É por culpa dela!
— Sobre isso você está correta. É por Suzana. Mesmo que
ela não me pedisse, eu nunca tomaria outra esposa. Porque ela é a
única que eu amo.
Ouço seu grito estridente, seguido de um ataque ao pegar um
objeto na mesa e jogar contra a parede.
Vejo claramente agora quem Layla é. Uma jovem mimada
que achou que poderia ter tudo e quem quisesse. Hamed fez um favor
ao tirá-la do meu caminho.
Respiro, fundo quando a vejo sair.
Talvez o palácio não seja o melhor lugar para a viúva do meu
irmão morar.

Os olhos podem chorar de alegria.


Uma vez ouvi meu pai dizer isso a minha mãe.
Embora os meus não estejam realmente em lágrimas, é uma
festa ver Suzana feliz ao lado de sua melhor amiga, Jamile e outras
mulheres, escolhendo tecidos para os seus vestidos novas.
— Olha esse que bonito — Jamile pega uma peça vermelha
com bordados dourados — Combinam com seus cabelos.
— Nós já não temos tecidos demais?
— Vossa Alteza disse que deveria ser um vestido para cada
dia do ano.
— Escuta, onde mais tem um sheik para se casar? — Lucy
provoca, fazendo as duas rirem.
— Rashid é um exagerado, isso, sim.
Em se tratando de Suzana, não vou contrariar isso.
Assim que saio das sombras, ela rapidamente percebe a
minha presença e me recebe com um sorriso.
— E por falar em sheik-lobo-mau — Lucy provoca.
Eu não ligo. Já estou me acostumando ao jeito dela.
Principalmente, em sempre esquecer que em Sahra, eu sou o rei.
É o meu momento com Suzana para cortejá-la antes do
jantar e não quero perder um único minuto.
— Ai, meu Deus — ela sussurra quando pego a sua mão e
começamos a andar pelo salão das damas — Eu me sinto como nos
tempos da regência.
— Nos tempos da regência eu só a veria no dia do
casamento — respondo, sorrindo.
— Você acha tudo isso engraçado, não é?
— Nós já quebramos todas as regras possíveis, podemos
manter algumas?
— Tá certo. Não quero bancar a ranzinza.
Então ela vira, parando de frente a mim.
Como é linda. Cada dia que passa e sua gravidez avança
mais, Suzana fica mais bonita.
— O que aconteceria se... — ela olha para os dois lados,
analisando se estamos sendo ouvidos — Acidentalmente, a noite, eu
me perdesse no seu quarto?
— Suzana.
Ela tinha jogado o anzol, agora seria impossível eu escapar
disso.
— Você não sabe onde é o meu quarto.
— Será?
O sorriso travesso me leva a fazer o que eu não deveria.
Tomá-la em meus braços dando um beijo que deixará todos os
presentes chocados.
E noite, como se fosse eu, a donzela esperando o seu
príncipe encantado, fico na penumbra do meu quarto, ansiosamente
esperando a porta abrir.
Em um capuz vermelho e pesado vejo Suzana surgir.
A tradição diz que no dia do casamento deveríamos nos
entregar com o corpo puro.
Mas se o amor não era a coisa mais pura do mundo?
O que mais seria?
CAPÍTULO 37

O meu casamento com Rashid está sendo completamente


diferente do que eu estava acostumada na minha cultura, mas
igualmente lindo.
A começar que aqui em Sahra, as noivas têm os braços,
mãos e pés pintados à henna. Também recebi joias para os cabelos e
meu vestido de casamento não precisava ser necessariamente branco.
Eu escolhi creme, com muitas rendas, bordados e pedrarias.
E minha surpresa maior é que no começo da cerimônia,
recebo de Rashid uma imensa caixa cheia de joias.
Ele me explica que é o mahr. O valor a ser pago pelo noivo à
noiva, no momento do casamento.
Eu não precisava de joias, tecidos finos, vestidos e todos os
lenços que ele me dava. O meu grande presente era o nosso filho e
Rashid.
— Ayuni [21]— ele me diz com um olhar devotado, antes de
me beijar.
Embora eu não entendesse nenhuma palavra, e, nem mesmo
Lucy, chorando próximo a nós, foi uma sagração linda.
— Eu desejo que você seja muito feliz, Suzana — ela me
abraça antes que o restante dos convidados começasse a fazer fila.
Não sei como explicar, mas eu sinto que tomei a decisão
certa e que esse será apenas os primeiros, de longos anos felizes com
Rashid e nosso filho.
Depois de falarmos com todos, e seguirmos alguns outros
rituais, paramos para as fotos.
Não foi um casamento aberto ao público, apenas família e
amigos mais próximos presenciaram. Mas Rashid disse que algumas
fotos nossos seriam colocadas no site oficial do palácio e nos jornais
para que o povo pudesse ver.
Eu nunca vi uma festa tão animada e mesmo tendo medo de
errar alguns passos, não consigo fugir do meu sogro, me levando para
dançar.
Serão três dias de festas, pelo menos que eu e Rashid
estaremos presentes.
A única que não vi entre nós, foi a Layla, mas essa não faz a
menor falta. Diferente do que Rashid disse, ela nunca tentou uma
aproximação comigo para nos tornarmos amigas. Eu só a via pelos
cantos, me encarando com rancor e ódio.

A festa ainda está no auge quando Rashid me pega no colo e


leva para o nosso quarto.
— Pensei que você tinha falado que a comemoração do
casamento pode durar até três dias.
— O nosso até uma semana. E eles vão comemorar muito.
Com a nossa presença durante o dia — sua expressão é séria, mas o
olhar intenso denuncia a sua verdadeira intenção — Mas as suas noites
serão minha. Pelo resto das nossas vidas.
Ao contrário de mim, Rashid nunca viu a nossa união como
algo temporário. Quando aceitei o pedido dele, fui inicialmente
coagida, vamos falar a verdade, eu tinha em mente que me casar com
ele, seria apenas uma forma de ganhar tempo até encontrar uma nova
forma para voltar aos Estados Unidos com o nosso filho.
Agora vejo que não posso isso. Me apaixonei por Sahra
quase tão profundamente quanto amo Rashid. Eu quero fazer esse
casamento dar certo, não apenas pelo bebê. Cada palavra que eu disse
hoje em nosso casamento, foi sincera.
— Pelo resto das nossas vidas, habibi — sussurro em seus
lábios alguns segundos antes dele me beijar.
Essa noite não fizemos apenas sexo quente.
Nós fizemos amor.

Alguns dias depois

Eu não liguei por nesse momento não termos uma lua de


mel, mas estou profundamente triste em saber que Lucy precisa voltar
para casa.
— Tem mesmo que ir? Lucy o que vou fazer sem você?
Estou sendo exagerada e seu olhar irônico comigo prova que
ela sabe disso. A minha adaptação ao palácio tem sido tranquila e
gradativa.
— Terminar de organizar as coisas para a chegada do bebê?
Eu só soube alguns dias depois ao casamento, ao falar com
Rashid sobre o quarto do nosso filho no palácio, que ele tinha trazido
dos Estados Unidos tudo o que havia comprado para o bebê. Além das
inúmeras caixas que precisam ser abertas, quase diariamente chega ao
palácio mais coisas que eu escolho por catálogo ou internet.
— Aprender a língua do país? Acompanhar seu marido em
compromissos importantes?
— Tá bom. Eu tenho muita coisa para fazer. Mas ainda
queria que você estivesse aqui. Pensar que vamos nos ver a maior parte
do tempo apenas por telefone ou computador me deixa triste.
— E eu estarei aqui quando seu bebê nascer — ela me
encara divertida e me puxa para um abraço — Sabe que o meu chefe
está estudando a possibilidade de eu trabalhar aqui. E se ele disser,
não. Rashid afirmou que abriria uma agência só para mim.
— Ele disse isso? Quando?
Não me surpreende Rashid ter prometido algo assim. E eu
sei que ele cumpriria a promessa, bastava eu ou Lucy darmos o sinal.
— Um dia antes do seu casamento. Ele gosta mesmo de
você, Suzana.
Gostar.
Eu queria que Rashid me amasse. Mas tenho que admitir que
desde que me trouxe para Sahra, ele fazia o máximo possível para me
deixar feliz. Até parecia o mesmo Rashid que conheci antes dele me
mostrar que também poderia ser cruel.
Era isso que ainda me mantinha com o pé um pouquinho
atrás.
E se Rashid mudasse de novo?
Mas eu não tenho tempo de contar meus receios a Lucy e
mesmo que tivesse, acho não faria, para não a preocupar. Rashid, Jalal
e mais dois funcionários chegam, avisando que o carro para a levar ao
aeroporto está esperando.
A nossa despedida é emocional, com muitos lamentos e
lágrimas.
— Ela vai voltar, habibti — ele afirma ao me abraçar
enquanto assistimos Jalal guiar Lucy para dentro do carro.
— Como você sabe? — Seco as novas lágrimas molhando o
meu rosto.
— Porque eu não vou deixar que nada a deixe triste.
— Rashid! Não pode obrigar Lucy a ficar aqui.
Ele me vira para ele quando o carro cruza os portões. Seu
sorriso é travesso e faz as borboletas em meu estômago baterem asas.
— Se você diz.
Eu pretendia dizer outras coisas a ele, mas quando Rashid
me beija, todo o restante do mundo é esquecido.
Em todas as tardes após as minhas aulas para aprender sahry,
gosto de ficar no lindo jardim do palácio tomando sol. Às vezes como
hoje, fico pintando e quando estou concentrada nisso, não vejo o
tempo passar e nem as pessoas a minha volta.
Por isso não notei Layla se aproximar.
— Você tem o dom para isso.
Dirijo o meu olhar da tela para ela. Não sinto sinceridade no
sorriso que ela me dá. Sempre que toquei no assunto, afirmando a
Rashid que desconfio que Layla me odeia, ele diz que são coisas da
minha cabeça. Mas eu sei que não é.
Sua rispidez comigo não mudou após o casamento e outro
dia, sem querer, ou talvez não tenha sido tão sem querer assim, eu a
ouvi dizendo a Jamile, no meu idioma, que o único motivo do sheik se
casar comigo era porque precisava de um bebê. Um herdeiro que
garantisse o reinado dele por muitos anos.
Eu sei que Layla fez isso de propósito e sabia que eu estava
na sala. Mas ainda assim, mesmo comigo lutando para não ser
contaminada por suas palavras venenosas, a dúvida foi plantada em
meu coração.
Quando Rashid renegou o nosso filho, o irmão dele ainda era
o emir, ele não precisava cumprir obrigação. Mas e agora?
— Salam, Layla.
— Salam — ela se dirige para uma das cadeiras próximas a
mim e se acomoda tranquilamente — Quero me desculpar. Não tenho
sido uma boa irmã para você. Acho que ainda estava amargurada pelo
luto.
— Eu sinto muito pelo que houve.
Estou sendo cem por cento sincera. Pela expressão que vejo
passar pelo rosto dela, rapidamente, vejo que ela não acredita nisso.
— O destino tem suas formas de agir. Sabia que era com
Rashid que eu iria me casar?
Isso me paga de surpresa, exatamente como ela gostaria.
— Estávamos perdidamente apaixonados. Mas Hamed
exigiu que me casasse com ele e... — ela faz uma pausa para emitir um
suspiro profundo — Como uma boa filha, fui obrigada a aceitar.
Aquilo destruiu o Rashid. Ele ficou um ano inteiro refugiado no
deserto.
— Por que está me dizendo isso, Layla?
O passado dos dois não importa mais. Eu que me casei com
Rashid e espero um filho dele.
— Para que saiba que nós nunca deixamos de ter
sentimentos pelo outro. E agora com Hamed morto, vamos nos casar
como deveria ter sido desde o início.
— Isso não é possível. Rashid está casado comigo.
— Eu acho que você sabe que um em meu país, um homem
pode ter mais do que uma esposa.
— Mas não Rashid. Ele me prometeu.
— E ele te disse que como viúva do irmão dele, é sua
obrigação me tornar como esposa? — Ela me enfrenta com uma
expressão de desafio — Ele não te disse isso, não é?
Com o meu choque, o seu sorriso é vitorioso.
— Nem mesmo o Rashid pode dar às costas a essa tradição.
Tudo o que interessa a ele é o filho para nascer — a voz dela ameniza,
mas eu não confio na falsa simpatia — Você vai se cansar logo daqui.
Esse não é o seu mundo. Mas não se preocupe, quando partir, vou
cuidar bem da sua criança.
Com a intriga de Layla, todos os meus medos quando vi
Rashid surgir na galeria, voltam a mim com força total.
Rashid mentiu?
Ele me enganou com suas palavras, promessas e juramentos
falsos?
Eu fui novamente traída?
— Se algum dia eu decidir ir embora — rujo como uma leoa
defendendo sua cria, ao colocar as minhas mãos em meu ventre — O
meu filho vai comigo!
O sorriso de Layla é como uma cobra e seu eu não estivesse
tão tensa, tentando assimilar tudo o que ela disse, arremessaria cada
um dos meus objetos de desenho nela.
— Você não pode. Aqui, o filho pertence ao pai.
É sua última provocação antes de sair e me deixar com
cabeça confusa e coração contaminado por seu veneno.
Embora os meus olhos estivessem pesados com as lágrimas,
não me permito chorar.
— Vossa Alteza — Jamile larga seus afazeres assim que me
nota entrar nas instalações íntimas do sheik e esposa.
— Onde está o Rashid? Eu quero vê-lo imediatamente.
— Senhora. Não acho que deva ficar tão...
— Quero vê-lo agora, Jamile. Ou me leva até ele ou eu sairei
batendo em cada porta desse palácio.
Acho que ela começa a entender a gravidade da situação,
pois começa a mexer as mãos e dizer coisas em sua língua,
demonstrando o quanto está nervosa.
Quando ela sai, sigo direto para o quarto. Procuro as malas
pelo quarto, cegamente. A dor, que antes era apenas uma fisgada em
meu peito, começa a crescer rapidamente.
Como Rashid pôde fazer isso comigo?
Como ele havia sido capaz de me trair dessa maneira?
Essa traição doía muito mais do que a de Willian, porque eu
não amei meu marido metade do que eu amo Rashid.
CAPÍTULO 38

Já tenho metade da mala com roupas que fui jogando


aleatoriamente quando Rashid entra no quarto expressando toda sua
preocupação comigo.
— Habibti? — Ele tenta se aproximar, mas eu me afasto —
Está sentindo dor?
Gemo baixinho, fazendo sua expressão ficar aflita. A sua
preocupação não é comigo e sim com o seu precioso herdeiro.
— O que está sentindo Suzana?
— Raiva. Ódio. Desapontamento. E uma imensa tristeza.
Ele me encara confuso, depois percebe a mala aberta em
cima da cama.
— Mas raiva do que todos os outros que citei.
— Por que essa mala? — Ele pergunta de uma maneira
extremamente calma e que faz a minha fúria crescer.
— Eu vou embora! Vou voltar aos Estados Unidos.
— Que merda você está falando? Sei que deve ter sonhado
com uma lua de mel... Mas não podemos viajar agora.
— Não tem nada a ver com isso.
Ele acha mesmo que sou tão fútil?
— O que é então? — Sua indagação é exasperada — Você
nem pode entrar em um avião nesse estágio da gravidez, Suzana.
Droga. Eu não havia pensado nisso.
— Então vou ficar em um hotel — volto a minha atenção
entre o closet e a mala na cama — Irei para qualquer lugar bem longe
de você, Rashid. Longe das suas mentiras.
Seus passos largos e ansiosos o trazem para perto de mim.
— Do que está falando?
— Layla! O seu dever em se casar com ela.
— Quem te disse isso?
Ele não estava negando. Isso faz o meu coração se apertar.
— Que foram apaixonados antes de mim? Que seu irmão
não tivesse impedido era ela que seria sua esposa? E que pela tradição
vai fazer dela sua segunda mulher?
— Não foi exatamente assim. Escuta, se me deixar explicar...
— ele tenta tocar o meu rosto, mas eu o afasto com um empurrão.
— Não há nada a explicar Rashid. Eu disse a você que não
aceitaria outra dividindo-o comigo. E nem você ou ela vão ficar com o
meu bebê. Vocês se amam? Querem ficar juntos? Então...
Só há uma coisa que nos separaria para sempre.
— Suzana — é mais do que uma ordem para que eu parasse,
Rashid me encara atormentado.
— Eu o rejeito.
Vejo-o ficar impressionante pálido enquanto as lágrimas
descem grossas pelo meu rosto.
— Não faça isso, habibti.
Rashid vem velozmente até mim. Ele se ajoelha, abraçando a
minha cintura.
A surpresa me toma completamente. Um sheik nunca se
curva a ninguém. Mesmo antes do título, Rashid não era o tipo de
homem que fazia isso.
Vê-lo tão vulnerável como eu assistia, me abala
profundamente, mas eu preciso seguir em frente.
— Eu o rejeito, Rashid — murmuro, trêmula e ele me segura
mais firme.
Noto os seus olhos brilharem.
Lágrimas?
Em todo tempo que estamos juntos nunca vi Rashid chorar,
nem mesmo pela morte do irmão.
— Você quer me matar? — Há tanto tormento em seu olhar,
que me pergunto se ele realmente está sofrendo com isso tanto quanto
me demostra — Não continue, Suzana ou é isso que irá fazer.
Se eu disser as palavras três vezes, significa que estamos
divorciados.
— Eu... eu... — a minha mente grita a frase
desesperadamente, mas é o meu coração tolo, calando essa voz.
Não posso ir adiante. Mesmo que Rashid decida ter nós
duas, três, dez esposas, não consigo voltar a ficar longe dele. Eu já vivi
essa dor antes.
— Então jure para mim — desabo, também caindo de
joelhos à sua frente.
Ele segura o meu rosto com aflição e passa
desesperadamente a mão pelas minhas bochechas.
— O que quiser, ayuni.
— Você nunca terá uma segunda esposa. Nem Layla e
nenhuma outra além de mim. Você disse que a palavra de um homem
vale mais do que a lei.
Rashid encosta a testa na minha. O meu coração bate
dolorido no peito.
— Fiz esses votos quando me casei com você, ayuni. Eu
nunca os quebraria.
— Foi isso que disse aquele dia?
— Só você, apenas você, Suzana. Até o último dia que eu
respirar.
Ele beija os meus lábios com amor e devoção.
Talvez eu não devesse, mas acredito em Rashid.
Eu vejo amor em seu olhar quando me olha. Quando ele me
beija com tanta paixão como agora. Eu sinto o seu desejo tão
incontrolável quanto o meu, quando começa a arrancar as minhas
roupas.
Na forma carinhosa que ele me deita na cama. Nos olhos que
não conseguem desviar de mim quando também arranca as suas roupas
com pressa.
Eu vejo o quanto Rashid me deseja ao colocar seu rosto entre
as minhas coxas e me ter em seus lábios até me fazer gozar em sua
boca.
Quando ele me vira de joelhos na cama e me faz dele, de
forma quente, selvagem e carregada de intensidade. Ele me diz com
seu corpo, no jeito que me faz gozar gritando o seu nome, que
pertencemos um ao outro.
Apenas nós dois.

Odeio brigar com Rashid, mas se todas as nossas brigas


terminassem assim, com sexo quente, depois momentos de carinho na
cama, não seria tão ruim algumas discussões para apimentar as coisas.
— Quem te disse todas aquelas besteiras, habibti?
— Layla — respondo com a minha voz ficando trêmula —
Ela me contou que vocês estavam apaixonados quando seu irmão a
obrigou a casar com ela.
Sinto o seu corpo ficar tendo e ele pega a minha mão,
fazendo círculos no peito dele.
— Isso não é verdade. Sim, eu a cortejava antes de Hamed
voltar. Achei que nos casaríamos. Mas Layla caiu nos encantos dele.
Ela não foi obrigada a casar. Fez isso porque quis.
— E você sofreu muito.
Ele se vira para me encarar e a tranquilidade que vejo em seu
rosto, começa a tirar os meus receios. Rashid não parecia ainda estar
amargurado com isso.
— O meu ego foi ferido acima de tudo. O meu irmão exigiu
passar alguns anos estudando fora, ter liberdade e diversão. Eu fiquei
aqui ajudando o nosso pai, cumprindo obrigações que eram dele. Eu
acho que fiquei chateado por Hamed ter sempre o que queria. Eu
nunca esperei nada. Ser o emir, a fama, o poder. Só desejava a Layla e
ele me tomou.
Vendo a história sendo contada por Rashid, consigo entender
o outro lado dela. De certa forma, ele também foi traído por quem
achava amar.
— Mas Hamed não me tomou nada. Foi escolha de Layla
aceitar se casar com ele. Passei um bom tempo no deserto porque
gosto de lá e você viu isso. Eu compreendi que na verdade, nunca amei
Layla como pensei. Eu não me casei com ela antes e mesmo viúva
agra, não tinha a intenção disso, antes mesmo de você voltar a minha
vida.
— Ela me disse que vocês dois ficariam com o meu bebê.
Com o olhar dele indicando meu equívoco, eu me corrijo.
— O nosso bebê.
— Layla está amarga porque eu já disse a ela isso. Eu acho
que aqui já não é há mais lugar para ela morar.
— O que vai fazer, habibi?
— Encontrar um lugar onde ela possa viver, se recuperar do
luto e ser feliz.
Como dizem, pessoas felizes não incomodam ninguém.
— E Jamile?
Quer que eu a mande embora também?
— Ainda, não sei. Eu gosto dela. Tem sido boa comigo.
Ele se vira ficando sobre mim.
— O que quiser, quando quiser, basta me dizer e darei a
você, ayuni — ele passa o polegar pelo meu rosto — Mas nunca mais
pense em fazer algo como aquilo de novo.
Ele fala sobre as palavras que o renegaria.
— Você me deixou com raiva.
— Atire coisas em mim — ele sorri e perco o meu fôlego
com isso — Mas não volte a pensar naquilo de novo.
Eu não poderia. O meu amor por Rashid só cresce mais em
meu peito.
— Então fica anotado que a partir de hoje, se me irritar, vou
arremessar sapatos na sua cabeça.
Eu não vou fazer isso. A minha natureza pacífica impediria.
— Se terminarmos, assim — ele esfrega seu pau já ficando
duro em mim, fazendo-me gemer — Será divertido.
Nó temos uma conexão incrível de pensamentos.
Quando acordo, estou sozinha no quarto. Normalmente,
Rashid não sai ao menos sem me dar um beijo de bom dia, mas como
tivemos uma noite bastante agitada, nos amando até a exaustão, acho
que ele não quis interromper o meu sono.
Assim que saio do quarto após os meus cuidados matinais,
encontro Jamile me esperando na saleta.
— Salam, Jamile — cumprimento-a, festivamente.
— Salam, Vossa Alteza.
— Aqui pode me chamar apenas de Suzana, lembra? —
Recordo com um sorriso amigável e vou para a mesa de café da
manhã, que ela providenciou para mim — Por que não se senta
comigo?
Não é a primeira vez que a convido quando estamos
sozinhas. Em público ela deveria manter uma postura respeitável e
distante, mas eu não goste de tanta formalidade na intimidade.
— Eu tenho uma coisa para dizer. E talvez isso a faça
repensar se quer continuar a trabalhar comigo e ser a minha amiga.
Conto a ela tudo o que sua irmã Layla me disse, e o que
Rashid vai fazer como represália. Eu estudo cuidadosamente suas
expressões para ver se noto algo diferente da jovem doce, atenciosa e
amigável que ela tem sido desde que cheguei ao palácio.
— Não acredite nas mentiras de Layla, Vossa Alteza. Ela
apenas está com inveja de você.
— Por ter me casado com Rashid? Mas ela é tão linda.
Poderia ter marido que quisesse.
— Não é assim. Logo que se casaram, Hamed desejava um
filho e isso não aconteceu. Inicialmente, pensamos que o problema
fosse com ele. Mas a minha irmã foi a vários médicos e na verdade, é
ela que não pode engravidar. É do seu filho que ela tem inveja. Por não
ter dado um Hamed e nunca poderá dar a Rashid, mesmo que se
casassem.
Faz sentido muita coisa agora. A raiva de Layla comigo e
sua promessa de ficar com o meu bebê.
— Por que devo acreditar em você? É a irmã da Layla.
Como posso saber se isso não é um plano de vocês duas?
Eu tenho que pensar nisso e manter o meu filho seguro.
— Porque não concordo com o que Layla está fazendo.
Primeiro a ambição que a cegou se casando com Hamed, agora a dor
de ser rejeitada. Mas eu não posso dar nada além da minha palavra,
Vossa Alteza. Só peço que tente resolver qualquer problema com sheik,
sem dar ouvido a terceiros.
— Ele vai mandar Layla embora do palácio — relembro.
— Acho justo. Se quiser que eu vá...
— Eu gosto de você, Jamile. E não acho que tenha que pagar
pelos erros da sua irmã.
— Fico muito agradecida Alteza. Prometo que todos os dias
provarei a minha fidelidade.
— Suzana. Somos amigas agora.
— Então, Vossa... — com meu olhar divertido, ela volta a se
corrigir — Você e o sheik se resolveram?
— Sim. Há algumas outras coisas que precisamos conversar,
mas... Tem algo que eu gostaria que você me ajudasse. Quero fazer
uma surpresa ao Rashid.
— Uma mulher sábia, sabe como amansar o marido — ela
murmura, sorrindo.
— E Rashid não tem que me amansar? — Indago,
falsamente, indignada.
— Desculpe. Esqueço que temos criações e costumes
diferentes.
Quando ela percebe que minha reação é apenas para
provocá-la, sua expressão aterrorizada, ameniza.
— Quero aprender mais sobre Sahra e posso te dizer coisas
interessantes da minha cultura também.
Podíamos unir o melhor dos mundos.
— E em que gostaria que eu a ajudasse?
A seduzir o meu marido.
CAPÍTULO 39

Assim que deixei Suzana entregue ao seu descanso


necessário, fui me encontrar com Jalal. Eu preciso ficar mais atento ao
estado delicado da minha esposa e que ela não deve se esforçar muito.
Mas no dia anterior, quando ela quase negou nossa união por três
vezes, eu quase perdi a cabeça.
Eu nunca implorei nada a ninguém, mas estava disposto a
isso, a me curvar e pedir que Suzana não fosse embora. Jamais senti
tanto medo em minha vida como no dia anterior.
Sou completamente apaixonado pela minha esposa desde o
primeiro momento que a vi e não menti a ela quando disse que se me
deixasse, significaria a minha morte. Não a física, tudo o que acredito
não me permitiria a isso, mas eu estaria com a alma condenada a dor e
a solidão. Esse seria um castigo pior que toda uma eternidade
queimando no inferno.
Mas eu consegui a tempo, fazer com que Suzana entendesse
que jamais haverá outra mulher para mim, além dela.
Somos uma família agora e não vou deixar que nada e
ninguém se coloque entre nós.
— A Layla não vai gostar disso.
— Ela não tem que aprovar nada. Tive paciência de esperar
que ela tentasse se aproximar da Suzana e tudo o que ela fez foi tentar
envenenar o meu casamento — eu nunca iria perdoá-la por isso — A
minha única obrigação com ela por ser a viúva do meu irmão é garantir
que tenha suas necessidades supridas. Mas eu a quero longe do palácio
antes do meu filho ou filha nascer.
— Vou providenciar isso.
Jalal era mais do que meu segurança agora. Ele é o meu
braço direito e conselheiro. As observações deles são sempre
inteligentes, além do fato que é ao lado de Suzana, o único que
consegue me levar a tranquilidade quando a raiva tenta me cegar.
— E sobre Lucy? Como ficou?
— Eu a acompanhei aos Estados Unidos como me pediu. O
chefe dela foi convencido.
Quando Jalal diz, convencido, quer dizer de fato, persuadido.
— A fazer uma filial aqui. Mas também, com todas as
vantagens e benefícios que você ofereceu a ele, até eu gostaria de abrir
uma empresa.
— Mais uma?
Ele tem seus investimentos em Sahra, que lhe dão muito
lucro.
— Quando a Lucy chega?
— Em duas ou três semanas.
Suzana ficará muito feliz em saber que sua amiga-irmã, não
apenas vai estar aqui para o nascimento do nosso bebê, como também
vai morar em Sahra.
— Agora mande que tragam Layla. É a última vez que quero
ver a cara dela.
Eu não dou a chance para que um cão raivoso morda a
minha mão duas vezes.
CAPÍTULO 40

Palácio de Fils
Algumas semanas depois

Não posso reclamar de nada. A minha vida tem sido


maravilhosa.
Enquanto pelas manhãs e parte da tarde Rashid trabalhava
para tornar Sahra o país maravilhoso e de paz que foi antes do irmão
dele assumir o poder, gasto o meu tempo longe dele finalizando a
preparação do quarto do nosso filho, estudando sahry e tendo aulas de
danças com Jamile.
— Tem certeza de que não estou parecendo uma idiota?
Amo a minha barriga redonda de grávida, mas não sei
consigo parecer sexy com ela.
— Pelo contrário. Estar grávida deixa os seus olhos, pele e
cabelos mais brilhantes. Além disso, trazer uma pessoa a esse mundo é
presente. Uma dádiva. Sei que o sheik ficará fascinado em vê-la.
E Jamile havia me ensinado movimentos da dança que
chamavam mais atenção para os meus seios, quadris e coxas.
— Será hoje como pretendia?
— Sim. Em poucas semanas vou ter o bebê e já sinto que
mal consigo me levantar da cama sozinha.
Se eu não tivesse a certeza dada pela minha médica, que era
apenas um bebê dentro de mim, juraria que estava grávida de gêmeos.
O bebê de Rashid é grande por natureza porque devido eu estar em
uma idade que pede cuidados ao engravidar, eu não havia mudado a
alimentação saudável.
— Você aprendeu todos os passos, Suzana — Jamile entrega
o robe para que eu vista — Será uma apresentação linda.
A nossa amizade vem ficando cada vez melhor e Jamile não
dava nenhum sinal que fosse como a irmã.
— E Layla? Tem visto-a?
Eu só a vi uma única vez desde a manhã após minha briga
com Rashid. O seu olhar de ódio para mim ao ir por outro caminho no
corredor, onde nos cruzamos, indicava que o meu marido havia falado
com ela e a colocado em seu devido lugar.
Depois ele me disse que uma casa nova estava sendo
procurada para que Layla pudesse morar. Só que de acordo com que
Jamile me dizia, nada do que era oferecido a irmã dela, estava do
agrado da mulher. A casa era grande demais, imoralmente pequena
para a viúva do falecido emir, perto demais da cidade ou longe da
família.
— Teve que escolher uma casa perto de Dabab. Ela não
ficou feliz, mas o sheik perdeu a paciência com ela.
— Você está chateada?
Afinal de contas, Layla é irmã dela.
— Minha irmã nunca foi fácil. A primeira filha. Os meus
pais idealizavam um mundo de fantasia para ela. Talvez um pouco de
realidade ajude-a ser menos mimada.
— Estou feliz que você tenha ficado Jamile.
— E eu que acredite nos meus sentimentos sinceros, Alteza.
Não quero gastar o resto do meu dia pensando e Layla e todo
rancor que ela carrega. Nos minutos seguintes cuido para que essa
noite especial, que vou oferecer a Rashid seja perfeita.
E nós começamos pelo jantar. Pedi que fosse servido tudo o
que disseram que ele amava e pelo seu chef preferido.
Lembro do meu aniversário, em como ele foi atencioso,
gentil e generoso comigo.
— Gostou do jantar habibi?
— Estava maravilhoso. Mas por que tudo isso?
— Você sempre me trata como uma rainha. E está sempre
cuidando de tudo e todos. Eu queria retribuir isso.
— Mas você é. Não apenas rainha da minha vida, mas de
toda Sahra, ayuni.
— Não é a primeira vez que me chama assim. Quer dizer luz
dos meus olhos, não é?
Rashid deposita o guardanapo na mesa e pega a minha,
fazendo-me ficar em pé.
— Ou no seu caso. Amor verdadeiro.
Sua declaração inesperada me faz ficar sem ar.
— Rashid...
— Já deveria ter falado há muito tempo, ayuni — ele segura
o meu rosto com tanto carinho, que traz lágrimas aos meus olhos —
Estava esperando o momento certo, mas ele é hoje, agora, e, nenhum
minuto a mais. Eu te amo, Suzana.
— Rashid... — sorrio, choro, sou um poço sem fundo de
tantos sentimentos e amor por ele — Eu também te amo. Acho que me
apaixonei por você no memento que o vi entrar naquele bar.
— Foi amor à primeira vista, habibti — ele me beija nos
lábios com profunda devoção — Para nós dois.
— Um encontro de almas.
Eu sabia que era ele. O homem que meu coração escolheu
amar. O pai desse e todos os outros bebês que viessem. Soube o tempo
inteiro.
— Espera... — ronrono quando os beijos que dá em meu
pescoço me fazem estremecer — As surpresas ainda não acabaram.
Ele olha para mim e ninha barriga redonda.
— Já tenho em mãos tudo o que preciso, amor.
Rashid. Sempre me dizendo as coisas mais lindas.
— Não. Mas quero te dar um presente antes. Vem comigo.
Eu o guio para o nosso quarto que está todo decorado como
se estivéssemos em um cenário romântico de Mil e Uma Noites.
Deixo-o no meio do quarto e vou até o grande objeto coberto
por cetim.
— Foi a primeira peça que fiz depois que fui embora.
Trabalhei nela por semanas pensando em você.
Tiro o tecido e uma escultura de Rashid surge.
“O homem no deserto”, foi o nome que dei e conquistou
muito interesse na exposição, mas não poderia me desfazer dela.
— É lindo, Suzana.
— Taylor queria vender. Recebeu ofertas irresistíveis, mas
eu não podia fazer isso.
Ainda vou pintar e esculpir, mas não totalmente de forma
profissional, embora minha agente me tenha feito prometer enviar
algumas peças a ela. Como esposa do sheik, qualquer quadro ou arte
que eu produzisse, valeria muito mais agora. No entanto, quero curtir
nosso casamento e a vinda do nosso filho o máximo que eu puder.
— Agora é seu. O meu presente de casamento — aviso,
tímida — Claro, se você quiser.
— Posso colocar na minha sala? — Ele pergunta como um
menino pedindo autorização para devorar o bolo dado a ele.
— É seu presente, Rashid. Pode até jogar fora se quiser.
— Eu jamais faria isso. Talvez um dia quando não estiver tão
ciumento, coloque no grande salão para todos saberem como minha
esposa é talentosa.
Eu fico muito emocionada que ele realmente tenha gostado.
— Então, agora... — seu olhar faminto e cheio de desejo me
fala o que ele quer.
— Calma — agarro a túnica dele e o faço caminhar de costas
até cair sobre a cama — Tem só mais uma coisa.
O seu olhar felino me acompanha até o aparelho de som. Eu
tiro a minha própria túnica e mostro a ele o que havia por baixo do
tecido.
— Caramba, Suzana. Você quer me matar?
Estou com a mesma roupa de dança do ventre que ele me
deu no deserto. Precisei fazer alguns ajustes na cintura e nos seios
devido a gravidez. Ainda assim, vejo sua expressão tão apaixonada
como da primeira vez.
— Essa dança é especialmente para você, meu sheik.
Ligo a música e começo a execução dos passos exatamente
como Jamile me ensinou.
Todas as horas exaustivas treinando, valeram a pena. Rashid
não consegue desviar o olhar de mim. Ele passa a língua nos lábios ao
assistir os meus movimentos sensuais e os nós dos seus dedos estão
brancos de tanta força que ele agarra os lençóis.
Mesmo com o meu ventre enorme, sinto-me linda e sexy
dançando para ele. Porque era mais do que o meu corpo ondulando.
Tinha a ver com o meu sorriso e meu olhar sedutor para ele.
Quando a música acaba, ele vem até mim como uma fera
enjaulada, ganhando liberdade.
Seus beijos são cheios de fome e paixão. As suas mãos
exploram o meu corpo como se Rashid quisesse me tatuar com seus
dedos.
Febris arrancarmos as nossas roupas. E Rashid me faz ir ao
céu com sua boca fodendo sem piedade a minha boceta molhada e
desejando mais dele.
Ele se senta na cama e me conduz para o colo dele. Essa é
uma das nossas melhores posições agora. Posso ter o controle e ir
como eu quiser.
— Hum... — estremeço, segurando firme o seu ombro
quando o sinto me preencher toda — Rashid.
Ele me ajuda, segurando a minha cintura, a me mover sobre
ele.
É tão bom.
Os meus movimentos vão aumentando de velocidade até o
orgasmo chegar mais perto e ele explode em minha cabeça, fazendo-
me cair sobre Rashid.
Ele goza junto comigo, sussurrando o meu nome.

Rashid está fazendo carinho na minha barriga, depois a beija.


Há uma coisa que venho pensando há alguns dias, sempre que ele é tão
atencioso e carinhoso comigo e nosso bebê.
— Rashid? — O meu chamado fraco o faz olhar para mim
— Eu não consigo entender você. Demonstra que que ama o nosso
bebê, mas o rejeitou. Aquilo me magoou muito.
Ele se senta na cama, apressado.
— Eu nunca rejeitei o nosso filho, Suzana.
— Talvez o acidente que você disse que teve, e os dias que
ficou no hospital, te fizeram perder da memória. Mas você rejeitou,
sim — lembrar disso ainda é uma ferida aberta em meu peito, que
todos os dias tento cicatrizar — Quando eu voltei a Sahra para te
contar do nosso filho. Jalal me colocou para dentro do castelo e eu te
vi.
— Jalal? — Ele demostra sincera confusão — Como
exatamente aconteceu?
— Ele pediu que eu esperasse. E depois eu vi você indo em
direção a saída. Te chamei, fui até você. Contei que estava grávida e
você disse que eu era louca. Que nunca tinha me visto antes. Que eu
era uma golpista querendo dinheiro e que nunca se casaria com uma
prostituta americana. Me empurrou, depois mandou que os guardas me
colocassem para fora.
— Não era eu, ayuni — ele passa os seus dedos trêmulos em
meu rosto — Eu nunca faria isso.
— Era você, sim. Nunca te vi tão furioso daquela forma, mas
era você, Rashid.
— Não. Não era. Aquele era Hamed. Éramos gêmeos
idênticos. Se lembra do retrato que mostrei no salão?
Deveria, mas não prestei muita atenção na pintura porque,
preciso falar, não era um trabalho muito bom, além disso, estava tão
preocupado com Rashid, dele falar como seu relacionamento com o
irmão foi complicada, além da sua dor pelo luto, ainda tão recente, que
não, eu não prestei muita atenção naquele quadro.
Ou talvez tenha sido o escudo que coloquei em meu
inconsciente e que eu não tinha derrubado até agora.
Eu não sei como não liguei esses pontos antes, mas agora faz
sentido. O homem que procurei, realmente parecia nunca ter me visto
antes. Isso que mais me magoou na época, pensar que Rashid havia se
esquecido de mim tão rapidamente.
— Não era você? — balbucio, quase chorando.
— Não, ayuni. Aquele dia Jalal disse que você estava aqui.
Fiquei imensamente feliz sabendo que tinha voltado. Eu queria saber
por que tinha ido embora da primeira vez e sem ter dito nada.
— Eu deixei uma carta com o gerente do hotel.
— Nunca a recebi.
— O meu visto tinha acabado. Eu não poderia mais esperar.
Achei que fosse um sinal seu para me fazer entender que era o fim.
— O meu pai teve um infarto aquele dia. Ele descobriu que
Hamed estava me chantageando para renunciar a tudo e ir embora —
eu percebo que isso é algo que ainda o fere — Alguém esteve
envenenando o meu irmão contra mim. Mas quer saber de algo?
Estava disposto a largar tudo e depois ir atrás de você. Por isso não
consegui entender por que escondeu o meu filho de mim.
— Ah, Rashid — soluço e ele me uxa para o seu colo —
Estivemos todo esse tempo enganados sobre o outro. Tirando a galeria
e quando me trouxe a força para Sahra. Nunca fugi de você. Só tinha
pavor de que me tomasse o bebê.
— E eu alimentei mais ainda esse medo, afirmando
justamente isso. Eu nunca cumpriria a promessa, Suzana. Eu quis te
dizer aquele dia ao aceitar o meu pedido, mas pensei que fosse o
destino me dando outra chance, então me calei. Queria que vocês dois
ficassem comigo, não importasse como.
— Dois tolos apaixonados — encosto a minha testa na dele e
sorrio entre as minhas lágrimas, dessa vez de felicidade — Agindo
como dois tolos apaixonado.
— O amor realmente nos deixa burros e cegos — ele
murmura entre os meus lábios trêmulos — Mas também nos liberta.
Eu amo vocês dois, ayuni.
A forma que Rashid afirma isso, que ele me olha e
principalmente acaricia a minha barriga onde nosso filho está
quentinho e protegido, me faz nunca mais duvidar a partir de agora.
— Oh! — Ele me encara chocado e meu sorriso alarga mais
— Sentiu isso?
— É o nosso bebezinho dizendo ao pai dele que também o
ama muito.
E como para provar o que eu disse, o bebê chuta forte o meu
ventre de novo.
É o nosso momento mágico em família.
CAPÍTULO 41

Foi o melhor sexo de toda a minha vida.


Eu sei que sempre afirmo isso quando caímos suados e
exaustos na cama, mas havia algo diferente em Suzana. Tanto que, por
mais que tenha tentado resistir as suas provocações, não consegui ficar
imune as suas jogadas de sedução.
E embora seu médico tivesse dado carta branca para termos
uma vida sexual ativa até o nascimento do bebê, preocupa-me que isso
deixe mais cansada do que o normal. Ela diz que sou muito protetor, o
que não posso negar.
Meu desejo e fome por ela nunca irá diminuir, mas seu bem-
estar e do nosso bebê vinham antes do meu inesgotável apetite sexual
por ela.
— Rashid? — Ela me chama baixinho enquanto passo os
meus dedos entre os fios macios dos seus cabelos e tento normalizar
minha respiração — Habibi, acho que chegou a hora.
Tomo alguns segundos para compreender o que ela está
falando e quando faço isso, salto na cama, alarmado.
— A bolsa estourou — com um enorme sorriso, ela aponta a
cama molhada.
— Por Ala, Suzana! — Sinto como se o meu sangue esvaísse
do meu corpo como vapor — Eu disse seria arriscado transarmos. É
culpa minha.
Eu podia errar como emir de Sahra. Até tomar algumas
decisões políticas erradas. Mas não podia falhar com eles dois.
— Rashid, você tem um pau enorme, querido — ela tenta
sorrir, mas uma contração a faz se curvar — Mas não o suficiente para
fazer a bolsa estourar.
Eu não estava convencido disso, mas o mais importante era
levar Suzana para sala hospitalar, criada no palácio para atendê-la no
momento do parto.
Pego-a no colo ignorando todos os protestos que ela quisesse
fazer e saio desesperado do quarto.
— Chame o médico imediatamente, Jalal — encontro o meu
amigo no corredor — O meu filho vai nascer.
— Ou filha — destaca Suzana.
Não importava para nenhum de nós dois, só queríamos ver
nossa criança chegar ao mundo bem.
De acordo com o médico, não foi um parto difícil, em duas
horas de trabalho, Suzana cumpriu a sua missão. Mas para mim,
vendo-a se esforçar, sofrer e chorar com as contrações, levou uma
verdadeira e angustiante eternidade.
— Aqui, Vossa Alteza — o doutor coloca o bebê no peito de
Suzana enquanto eu continuo a abraçá-la — Seu lindo garotinho.
O meu rosto está molhado e não é apenas pelo suor por todo
esforço em dar apoio a minha esposa. É a emoção de ver nosso filho
pela primeira vez.
— Ele é tão lindo, Suzana — murmuro, beijando os cabelos
molhados dela — E perfeito.
Ela se emociona tanto quanto eu ao passar a ponta dos dedos
no rosto rechonchudo do nosso pequeno milagre.
— É tão grande e forte quanto o pai.
Realmente é um bebê muito robusto. E os meus traços com
os suaves de Suzana, o torna um garotinho lindo.
— E ele vai se chamar Khan bin Rashid bin Shalaan bin
Shahir Al Awad — avisa ela com orgulho, dizendo o nome dele
completo.
— Sabe o que significa Khan?
— Rei, governante. Assim como o pai dele.
Ele é mesmo o nosso reizinho. E se no futuro irá se tornar
sheik emir de Sahra, dos nossos corações Khan já é dono.
— Obrigado por me tornar hoje o homem mais feliz do
mundo — viro-me o suficiente para buscar seus lábios, para um beijo
cheio de amor — Eu te amo, ayuni.
O nosso bebê que não quer ser ignorado por muito tempo,
bem no dia do seu nascimento, resmunga e voltamos dar toda a nossa
atenção a ele.
Quando os dedos pequenos seguram o meu com tanta força,
o meu amor por ele intensifica.
Por Suzana, principalmente.
A mulher que não é mais uma estrangeira me fascinando,
mas a dona do meu coração.
EPÍLOGO

Palácio de Fils
Alguns anos depois

Tento me concentrar no bloco de desenho, mas Rashid e as


crianças brincando no jardim tiram completamente a minha
concentração.
Admiro com o coração cheio de amor o nosso pequeno
Khan, cada dia mais lindo, de personalidade forte como o pai e
igualmente protetor comigo e seus irmãos mais novos. A nossa
pequena Hanna, que com seu olhar doce e sorriso travesso, faz de
Rashid gato e sapato. O mais novo da família, o calmo e dócil bebê
Jamil, que comemoramos o aniversário de um ano, há dois meses.
Passo inconscientemente a mão pelo meu ventre. Ainda não
disse nada ao meu esposo sobre um novo príncipe ou princesa
crescendo em meu ventre.
— Amiga, não me diz que vai competir com a Katy
Middleton, em qual das duas terá mais bebês?
Viro para o local onde vejo Lucy surgir. Ela havia me pegado
no flagra sonhando acordada com a chegada de mais um bebê. Nada
escapa dos olhares atentos de Lucy.
— Olha só quem me diz isso. A pessoa que jurou que nunca
iria se casar e ter filhos.
Foi uma grande surpresa descobrir por quem ela havia se
apaixonado e que isso estabeleceu de uma vez por todas a paz em
Sahra. E estou muito feliz em ver que ela encontrou o amor e é tão
feliz quanto eu, com sua linda família.
— Eu só tive dois bebês.
— Até agora — o marido dela aparece trazendo as crianças
no colo.
O casal, como todos os apaixonados, mergulha na sua bolha
e eu deixo os meus rascunhos para depois.
Junto-me as minhas quatro preciosidades, sabendo que logo
seremos cinco.
— Algo me diz que esse sorriso feliz tem um motivo muito
especial, habibti.
Rashid me conhece tão bem. Ele sabe identificar cada um
dos meus sorrisos.
— Quanto especial você acredita que seja, meu amor? —
Levo sua mão ao meu ventre e isso faz soltar um urro de felicidade.
As crianças olham curiosas para nós dois, mas quando veem
Rashid me girar no alto, rindo de felicidade, também pulam e gritam
em volta de nós dois. Até o bebê Jamil pula com a bunda no chão.
Será que dessa vez viria mais uma menina para formar dois
casais, como sempre sonhei?
Houve uma época que havia desistido da felicidade. Agora
minha vida transborda dela e de amor.
Graças a esse sheik que havia roubado o meu coração.
AGRADECIMENTO
Agradeço à Deus, primeiramente. A minha família, que
sempre me apoia em tudo e a cada leitor que deu oportunidade de
conhecer esse sheik maravilhoso.
Espero que todos vocês tenham gostado do livro. Foi uma
aventura incrível dar vida e voz ao Rashid e Suzana.
Para saber mais sobre os meus livros e próximos
lançamentos, me siga no Instagram: @agathacostaescritora.
Até breve com o próximo mocinho cadelinha da nossa
mocinha forte e determinada.
Quem será?
Beijos!

[1] Emir: Lider do país.


[2] Salam: Significa paz, mas também é um cumprimento íntimo.
[3] Aswad: É uma raça de cavalos criadas exclusivamente para esse livro.
[4] Dabab: Também é uma cidade fictícia para o livro.
[5] Easal: bebida criada para o livro, não é proibida e Sahra, mas apenas estrangeiras costuma
tomar em bares, restaurantes e ocasiões de festas.
[6] Chador ou Xador: É uma veste feminina que cobre todo o corpo com exceção do rosto.
[7] Hijab: Modelo de lenço que as mulheres mulçumanas usam para cobrir os cabelos.
[8] Burj: Bebida criada para o livro, típico de Sahra, muito parecido com o whisky. Assim,
permitida em Sahra.
[9] Rashid: Nome próprio.
[10] Bin Shalaan: Nome do pai.
[11] Bin Shahir: Nome do avô.
[12] Al Award: Nome de família.
[13] Tabule: Uma saladinha fria com triguilho, tomate, pepino, salsa, hortelã e outros temperos
como suco de limão e pimenta.
[14] Babaganouche/Baba ganoush: É como um patê de beringela assada, tahine, e suco de
limão. É servido com pão sírio, mas também como salada.
[15] Asad: Região nas montanhas criada para o livro.
[16] Musafir: País criado para o livro. Significado viajantes.
[17] Keffiyeh: tradicional lenço quadrado, dobrado e usado em volta da cabeça, pelos homens
no Médio Oriente (árabes, curdos, judeus mizrahim e judeus do velho yishuv).
[18] Gahfiya: Pequena touca branca usada para prender o cabelo dos homens e manter o
keffiyeh no lugar. Pode ser feito de uma trama parecida com o crochê.
[19] Cirwal: consiste em uma calca larga usada pelos árabes e mulçumanos por baixo da túnica.
Acredita-se que foi uma invenção dos persas, adotada pelos árabes a partir do século VII e
incorporada ao longo do tempo por muitos países muçulmanos.
[20] Chinzir: Porco. O porco é considerado um animal imundo.
[21] Ayuni: Luz dos meus olhos. O verdadeiro amor.

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