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32-46 – junho/2022
Resumo
A inclusão escolar é um processo com constantes desafios e enfrentamentos que alcança primeiramente os
sujeitos com necessidades educativas especiais, mas também envolve a todos como um direito à cidadania.
Através de uma análise sob a teoria do desenvolvimento e aprendizagem da Psicologia Histórico-Cultural, este
trabalho se trata de uma revisão integrativa de literatura por meio de análise e comparação de informações
acerca do tema através de 15 artigos. O objetivo é resgatar e construir reflexões críticas sobre os percursos
históricos, as práticas da educação inclusiva e suas contribuições para o desenvolvimento e aprendizagem.
Como critérios de inclusão, foram considerados artigos em português, artigos publicados nos últimos 10 anos
e abordagem teórica da Psicologia Histórico-Cultural. Os artigos científicos foram coletados das bases de
dados SciELO e Pepsic, sendo pesquisas com investigações empíricas e bibliográficas. Os principais
documentos de políticas públicas observados foram a Constituição Federal Brasileira de 1988, a Declaração
de Salamanca e a Política Nacional de Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva. A partir dos
resultados, a discussão é dividida em 3 principais categorias: A práxis e lócus da inclusão escolar; Inclusão
escolar em contraponto com a educação especial e, a Inclusão escolar como responsabilidade coletiva. Diante
das análises, observa-se a necessidade de reverberar reflexões e posicionamentos que instiguem ações
transformadoras na educação inclusiva, visto que as práticas se distanciam das teorias assim como apresentam
contradições e aparentam uma manutenção da dicotomia inclusão/exclusão.
Palavras chave: Inclusão escolar; Psicologia Histórico-Cultural; Psicologia Sócio-Histórica.
Abstract
School inclusion is a process with constant challenges and confrontations that firstly reaches subjects with
special educational needs, but also involves everyone as a right to citizenship. Through an analysis under the
theory of development and learning of Historical-Cultural Psychology, this work is a literature review through
analysis and comparison of information on the subject through 15 articles. The objective is to rescue and build
critical reflections on the historical paths, practices of inclusive education and their contributions to
development and learning. As inclusion criteria, articles in Portuguese, articles published in the last 10 years
and theoretical approach of Historical-Cultural Psychology were considered. Scientific articles were collected
from SciELO and Pepsic databases, being research with empirical and bibliographic investigations. The main
public policy documents observed were the Brazilian Federal Constitution of 1988, the Salamanca Declaration
and the National Policy on Special Education from the perspective of Inclusive Education. Based on the results,
the discussion is divided into 3 main topics: The praxis and locus of school inclusion; School inclusion in
contrast to special education and school inclusion as a collective responsibility. In view of the analyses, there
is a need to reverberate reflections and positions that instigate transformative actions in inclusive education,
since practices distance themselves from theories as well as present contradictions and appear to maintain the
inclusion/exclusion dichotomy.
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Mestra em Psicologia pela Universidade Federal de Goiás. Pós graduada em Terapia Sistêmica de Casal e Família pelo Centro de
Avaliação, Ensino e Pesquisa de Goiás. Graduada em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás. Psicóloga clínica.
Email: anaterra.gonzaga123@gmail.com
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Tabela 1
Estudos teóricos e empíricos selecionados que investigam sobre a Inclusão Escolar e de
abordagem Histórico-Cultural.
Título Autores Ano Revista Tipo de
investigação
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Para melhor compreensão deste vasto é necessária a relação com outras pessoas, com
tema em breve análise, dividimos os artigos em o mundo, e assim se apreende sua função
3 categorias centrais para explanação e social, um processo de educação (Padilha,
discussão, sendo essas: (1) A práxis e lócus da 2017).
inclusão escolar; (2) Inclusão escolar em Barbosa e Souza (2010) também
contraponto com a educação especial; (3) concordam em A vivência de professores sobre
Inclusão escolar como responsabilidade o processo de inclusão: um estudo da
coletiva. perspectiva da Psicologia Histórico-Cultural
que a inclusão é de caráter relacional, social e
A práxis e lócus da inclusão escolar
cognitivo, nas aberturas à socialização a
Para observar a prática esperada de atender as necessidades específicas para a
inclusão nas instituições escolares, é preciso aprendizagem dos alunos, com maior suporte e
considerar as concepções que fundamentam formação ampla dos professores bem como da
essas ações e o lugar como possibilidade de instituição, das estruturas sociais, políticas e
desenvolvimento de todos e mediadora da identitárias.
aprendizagem e envolvimento social. Para Mesmo sendo comumente um processo
isso, 7 dos 15 artigos selecionados abordam e inicial para todos os sujeitos que adentram a
problematizam essa questão (Dainez & escola, a maioria dos artigos abordam a
Smolka, 2019; Lasta & Hillesheim, 2014; inclusão escolar direcionados aos alunos com
Mendonça et al., 2020; Nunes et al., 2015; deficiências e necessidades educativas
Padilha, 2017; Souza & Macedo, 2012; Souza especiais, pois os documentos de políticas
& Andrada, 2013). públicas de educação inclusiva e educação
Souza e Andrada (2013) em especial são para este grupo.
Contribuições de Vigotski para a compreensão Conforme Souza e Macedo (2012) para
do psiquismo, afirmam que Vygotsky a práxis da inclusão escolar acontecer como
fundamenta sua teoria sobre o lócus de legitimação do novo e de
desenvolvimento humano na Psicologia possibilidade de conscientização da
Histórico-Cultural a partir do método do responsabilidade social, há de se rever qual a
materialismo histórico-dialético em que o função da escola, considerando que a educação
desenvolvimento das funções psíquicas escolar é uma “possibilidade de
superiores se iniciam pelas funções mais desenvolvimento do homem que vive na
elementares do biológico do ser humano e que história ao passo que a constrói” (p. 280).
mediadas pelos elementos da cultura, pelas É nessa possibilidade de uma vivência
ações do homem em permanente relação com social coletiva que Mendonça et al (2020)
o meio através de instrumentos e pela observam que os sujeitos com deficiência
apropriação evoluem assim o psiquismo dos podem encontrar recursos que mediam a
sujeitos e constituem suas personalidades. internalização das funções culturais e
Sendo como uma passagem do ser desenvolvem processos que compensam suas
biológico ao ser cultural (Padilha, 2017) o deficiências, amplificando seus
sujeito histórico postulado por Vygostky é um funcionamentos psíquicos. Como se observa
sujeito “que incorpora, de modo inseparável, o no caso do aluno Gustavo, apresentado no
social como "fonte" de desenvolvimento e não artigo de Dainez e Smolka (2019) e da aluna
como aspecto que o influencia” (Souza & Bianca no artigo de Mendonça et al (2020).
Andrada, 2013, p. 364). As apropriações dos A relevância de vivências em espaços
elementos históricos da cultura são postas e colaborativos que incluam métodos e ações de
não dadas aos sujeitos, por isso, para se ensino criadoras que contribuam para os
tornarem características singulares de cada um, processos compensatórios faz parte da
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responsabilidade da escola. Dainez e Smolka & Amaral, 2019; Mendonça et al, 2020; Nunes
(2019) consideram que “Com base nisso, et al, 2015; Lasta & Hillesheim, 2014;
argumentamos que a função social da escola Medeiros & Barrera, 2018; Barros et al., 2015,
não se resume à socialização/convivência; Padilha, 2017 e Souza e Macedo, 2010).
relaciona-se, sim, ao trabalho de ensino e à Os autores Souza e Macedo (2012) e
apropriação do conhecimento valorizado, Dazzani (2010) observam que a existência da
condição de desenvolvimento cultural inclusão, revela também a presença do seu
orientador da personalidade” (p.14). oposto: a exclusão escolar. Pois sendo pautado
Diante disso, observa-se que o meio só por ideais de igualdade e homogeneidade
contribui para o desenvolvimento humano através da democratização da educação
quando se torna uma experiência emocional pública, são observadas ações que implicam na
para os sujeitos (Souza & Andrada, 2013). No negação e omissão do Estado e da escola,
entanto, há de se notar que vivências tão aplicando a responsabilidade de sucesso e
significativas e processos de escolarização fracasso tanto da aprendizagem como da
atentas a proporcionar um ensino- inclusão, no aluno que adentra a instituição.
aprendizagem adequados a todos é ainda uma Um discurso ideológico que perdura no tempo
realidade em construção, mais visto nas e nas representações sociais de atores
políticas públicas que legislam sobre a pedagógicos de escolas públicas e privadas
inclusão escolar sob uma visão igualitária e brasileiras.
democratizante, o que para Lasta e Hillesheim Souza e Macedo (2012) em Avaliação
(2014) se contradiz ao mundo marcado “por da aprendizagem e inclusão escolar: a
uma globalização neoliberal excludente” singularidade a serviço da coletividade
(p.141) e coloca questões como diferença e acrescentam algumas críticas sobre a dialética
diversidade, inclusão e exclusão em evidência entre inclusão e exclusão e as implicações de
que precedem das noções de normalidade e políticas igualitárias para a educação, a qual
anormalidade. Os campos da igualdade são os mesmos
Como visto pelos artigos analisados que delimitam as diferenças, uma vez
acima, há contradições entre teoria e práxis da que se espera um comportamento
inclusão escolar para serem exploradas. A "igual" de seres que apresentam
função da escola se atrela à importância das peculiaridades, idiossincrasias,
interações sociais e da cultura para o singularidades, subjetividades que a
desenvolvimento humano e dos processos escola não tem conseguido administrar
compensatórios, mas o acesso não é ofertado com seus padrões representados por
para todos para além de mera socialização. classes homogêneas, currículos
O que nos conduz a refletir sobre os estanques e, sobretudo, com um
objetivos dessas políticas públicas para a sistema de avaliação composto a partir
inclusão amparados na igualdade, mas que da medição de conhecimentos
especifica os que devem ser incluídos. Sendo nivelados e da atribuição de notas na
assim, o que os diferenciam são respeitados ou forma de medidas padronizadas
limitados? (p.278).
Não somente no sistema de avaliação
A inclusão escolar em contraponto com a
como também nas relações entre professor-
educação especial
aluno e aluno-aluno, nos processos de ensino-
Sobre educação inclusiva e educação aprendizagem, as ações padronizadas
especial, 10 artigos trouxeram importantes impedem mediações pelos potenciais de
discussões e considerações sobre esta temática desenvolvimento que cada aluno possui,
(Dazzani, 2010; Dainez & Smolka, 2019; Pinto
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olhando pelo que lhes falta, visto como limitações de desenvolvimento “se dão em
incapacidade permanente ou doença. razão da privação de uma efetiva participação
Todavia, como visto na Declaração de e inserção no meio coletivo/cultural,
Salamanca (1994), a educação especial surge compartilhado e construído nas relações
na tentativa de oferecer uma educação que sociais” (Mendonça et al., 2020, p.6).
alcance as necessidades educativas especiais Vale ressaltar o que Nunes et al. (2015)
(NEE) e tenha um atendimento educacional pontuam sobre a Educação Inclusiva que
especializado (AEE) de acordo com as apesar de surgir pelas lutas da educação
especificidades, sendo um serviço integrativo especial, não a substitui, mas vem para retomar
de escolarização juntamente com o ensino a educação democrática a todos e que
regular. O que em uma perspectiva de A diversidade presente na educação
normalização dos sujeitos analisado pelas inclusiva não é um favor aos grupos
autoras Lasta e Hillesheim (2014), uma historicamente excluídos, mas uma luta
educação especializada se torna um recurso de pela humanização de todos nós.
“corrigir” os sujeitos falhos, que estão fora da Quando não conseguimos lidar com as
norma e precisam dessa intervenção constante diferenças que nos rodeiam perdemos
durante a vida. uma oportunidade de caminhar na
Barros et al. (2017) em entrevistas com nossa própria evolução. Assim, quando
professores de escolas públicas de ensino privamos os alunos de conviverem com
regular e alunos com deficiência visual outras crianças com dificuldades
atendidos no Centro de Apoio Pedagógico visuais, motoras, auditivas, intelectuais
(CAP), observou queixas relatadas quanto ao ou com outras diferenças marcantes tais
atendimento de apoio pedagógico, que pela como classe social, lugar de origem,
falta de recursos multifuncionais, falta de religião, opção sexual etc., falhamos na
capacitação adequada dos atores pedagógicos sua formação, porque, quando adultas,
e de investimento do Estado para melhoria e talvez terão menor facilidade de lidar
acessibilidade, agrava o processo de inclusão com essas mesmas pessoas (p.1117).
e atrasa o acompanhamento das atividades Portanto, pode-se perceber que a
escolares desses alunos com o restante da educação especial embora apresente propostas
turma. válidas de serem aplicadas em conjunto com o
Portanto, “não se pode esperar que ensino regular para atender e proporcionar a
pessoas com deficiência estejam recebendo mesma qualidade de ensino aos alunos com
atendimento adequado (de qualidade), tendo necessidades educativas especiais, os artigos
em vista que essa forma de atendimento demonstram que ainda é um desafio para as
educacional pode estar restringindo a escolas contribuírem de forma eficaz sem se
efetividade da inclusão” (p.160). tornar um serviço assistencialista e que
A atividade criadora e participativa em reifique a exclusão.
sala comum proposta pela professora de Uma educação inclusiva não se baseia
Bianca, no artigo de Mendonça et al (2020) somente na inserção desses alunos, mas na
provam os desdobramentos positivos de uma participação no espaço coletivo da sala de aula,
escolarização para todos, que atenda às em que as especificidades são consideradas
especificidades de cada aluno em um espaço para o ensino-aprendizagem e se desenvolvem
coletivo, um dos pontos principais que outras a partir dessas trocas, acolhendo as
Vygotsky criticou contra a educação especial diferenças e desafiando as capacidades de
como sendo um espaço que restringe esse desenvolvimento.
contato relacional e conforma o aluno para
suas limitações orgânicas. Para ele essas
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continuada, crítica e coletiva, que instigue à que nas ações para viabilizar essa
formação de cidadãos conscientes da sua proposta. Isto pode ser observado nas
realidade e das suas capacidades, através de dificuldades enfrentadas pelas escolas
um espaço educativo interdisciplinar, onde o públicas brasileiras, destacando-se
ensinar seja um ato político e criativo para formação insuficiente de professores,
alcançar a apreensão de todos os sujeitos e falta de infraestrutura, precárias
assim, o AEE seja uma extensão do que é condições de trabalho, quantitativo
exposto em sala de aula comum. elevado de alunos nas salas de aula,
Em entrevistas com psicólogos entre outras [...] (pp.149-150)
escolares e docentes de escolas públicas em Devem ser considerados diversos
João Pessoa- PB sobre a inclusão, Braz- fatores a serem trabalhados e assumidos para
Aquino et al (2016) analisaram suas que realmente haja uma educação inclusiva de
verbalizações e condutas diante da realidade qualidade, pois são questões que
educacional e também pontuaram a impossibilitam o cumprimento do
necessidade de uma formação continuada dos compromisso político, social e humanizador
docentes bem como para os psicólogos, pois a dos processos inclusivos e de acessibilidade na
formação das graduações e especializações se educação e só contribui para fomentar
apresentam generalizantes e dissonantes ao preconceitos (Barros et al, 2015).
contexto escolar e educacional, o que acabam Quanto à formação continuada e ampla
por ações “que promovem a psicologização de dos professores, há de se considerar o que
processos pedagógicos e não contemplam a Nunes et al (2015) ressaltam, pois não se trata
investigação de processos socioculturais” de haver metodologias de ensino acabadas para
(p.260). atender todos os desafios que esses professores
Ainda é preciso observar as diferenças podem passar diante da realidade e de suas
que as escolas possuem e seus projetos variações. Partindo da ideia de que está diante
político- pedagógicos que sustentam a conduta de uma relação com o outro que é inesperado e
dos professores em salas de aulas e de seus complexo, na qual também se aprende algo
outros atores que a compõem. A valorização da novo na troca. Sem essa abertura ao novo,
formação continuada e ampla desses podem existir atuações pedagógicas
profissionais também revelam o compromisso normatizadoras e rígidas sobre a diversidade.
político e social da instituição, que entre Dazzani (2010) em “A psicologia
contradições a escola pública está sujeita ao escolar e a educação inclusiva: Uma leitura
descaso de subsídios do Estado, dificultando o crítica” aborda alguns dados históricos de
acesso e a otimização do ensino inclusivo. formação dos psicólogos no Brasil e a atuação
Ao passo que em escolas particulares destes no contexto escolar, sendo uma inserção
podem ser observadas outras percepções e que a priori seriam para impulsionar e
outros recursos que mudam as ações dos contribuir para a efetivação da inclusão escolar
professores, podemos verificar essa realidade e da democratização da educação.
nas entrevistas realizadas no artigo “Inclusão Porém, na verdade embalou na
escolar: concepções de professores e práticas concepção de homogeneidade dos alunos na
educativas” por Medeiros e Barrera (2018). década de 70, uma ideia de igualdade para
Barros et al (2015) pontuam todos que negava as singularidades e as
Contudo, importa destacar as limitações de cada um, tornando um caminho
prioridades, política e financeira, em de exclusão e de repercussão dos fracassos
benefício da inclusão escolar da pessoa escolares como culpa somente dos próprios
com deficiência que, no Brasil, parece alunos, fonte de psicologização.
se concentrar mais nos textos legais do
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A partir dos artigos analisados, nota-se processos de socialização, também não se faz
a relevância de profissionais em constante sem participação que proporcione o
formação e que estejam abertos para aprender envolvimento social desses alunos, com
também nas relações com o aluno e com os atividades criadoras que estimulem as
outros profissionais que compõem a escola. potencialidades enquanto sujeitos capazes de
Construir uma formação crítica e de cidadania vivenciar o desenvolvimento e de apreenderem
a todos os alunos também demanda muito das o conhecimento ao passo que mediados pela
concepções que sustentam as ações desses cultura.
professores e psicólogos quanto às A Psicologia Histórico-cultural
possibilidades de desenvolvimento e ensino- fundamenta como teoria, uma prática pela
aprendizagem. historicidade dos sujeitos inseridos numa
sociedade em constante transformação e
Considerações Finais
formação, sendo nas contradições das relações
Uma atuação crítica da Psicologia sociais e da cultura que há transformação em
considera e se faz frente a uma realidade que movimento contínuo nos sujeitos, formando
se mantem em consonância com os processos assim suas subjetividades nos encontros
de adoecimento, alienação social e políticas concretos com a realidade em que estão
públicas idealizadoras. Percebe-se que colocar inseridos, em todas as esferas sociais. Por isso
em análise as situações concretas de inclusão se faz necessário uma inclusão para além de
vividas nas escolas brasileiras é um inserção, mas de participação ativa desses
movimento que confronta e instiga uma alunos, enquanto que ao passo que aprendem,
resolução que não se faz sem considerar que a criam e fazem, forma-se cidadãos conscientes
transformação social só acontece por meio do da sua história e atuantes na sociedade.
desenvolvimento integral de cada sujeito que a Diante disso, a inclusão não se faz
compõe e que por isso a aprendizagem se faz somente para os alunos com necessidades
em coletivo e é tão eficaz. educativas especiais, mas para todos,
A Inclusão escolar é um tema em independentemente das condições orgânicas,
movimento e se atualiza nas áreas da educação, socioeconômicas, geográficas e identitárias.
políticas públicas de educação e em processos Um processo que mesmo ainda deficitário e
psicossociais. Ao analisar os artigos, nota-se visto nas concepções de professores,
dois pontos principais que são desdobramentos psicólogos e grande parte da sociedade através
críticos a esse processo: A dissonância da de reducionismos e assistencialismos, o lócus
Educação inclusiva na teoria e na prática e os inclusivo deve ser considerado como uma luta
frequentes fortalecimentos de diagnósticos que social e política pois entre desafios e
orientam uma ação socioeducativa que enfrentamentos, o “(...) convívio com a
fortalece a exclusão, desigualdades, desviando diferença é um esforço coletivo” (Nunes et al.,
o olhar para as possibilidades existentes para 2015, p. 1117).
além das limitações orgânicas. Portanto há o desafio e a necessidade de
A dissonância transparece nas atuações mais estudos que demonstrem a realidade das
sem suporte e sem interlocuções necessárias escolas brasileiras e suas contradições com a
para conduzir uma educação inclusiva como inclusão escolar, com mais investigações
proposta nas políticas públicas, pois demanda sobre possibilidades que incluam a atuação de
uma responsabilidade e empenho não somente todos os profissionais da educação para fazer a
dos professores que estão diretamente em inclusão e não somente centrado aos
contato com os alunos, mas de toda a equipe professores e psicólogos escolares.
escolar, do Estado, família e comunidade.
Assim como a inclusão não se limita a Referências
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