Você está na página 1de 15

v.3, p.

32-46 – junho/2022

Inclusão escolar sob a perspectiva histórico-cultural: uma revisão


integrativa de literatura
________________________________________
Nayla da Silva Moura Pires 1
Ana Terra Sudário Gonzaga 2

Resumo
A inclusão escolar é um processo com constantes desafios e enfrentamentos que alcança primeiramente os
sujeitos com necessidades educativas especiais, mas também envolve a todos como um direito à cidadania.
Através de uma análise sob a teoria do desenvolvimento e aprendizagem da Psicologia Histórico-Cultural, este
trabalho se trata de uma revisão integrativa de literatura por meio de análise e comparação de informações
acerca do tema através de 15 artigos. O objetivo é resgatar e construir reflexões críticas sobre os percursos
históricos, as práticas da educação inclusiva e suas contribuições para o desenvolvimento e aprendizagem.
Como critérios de inclusão, foram considerados artigos em português, artigos publicados nos últimos 10 anos
e abordagem teórica da Psicologia Histórico-Cultural. Os artigos científicos foram coletados das bases de
dados SciELO e Pepsic, sendo pesquisas com investigações empíricas e bibliográficas. Os principais
documentos de políticas públicas observados foram a Constituição Federal Brasileira de 1988, a Declaração
de Salamanca e a Política Nacional de Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva. A partir dos
resultados, a discussão é dividida em 3 principais categorias: A práxis e lócus da inclusão escolar; Inclusão
escolar em contraponto com a educação especial e, a Inclusão escolar como responsabilidade coletiva. Diante
das análises, observa-se a necessidade de reverberar reflexões e posicionamentos que instiguem ações
transformadoras na educação inclusiva, visto que as práticas se distanciam das teorias assim como apresentam
contradições e aparentam uma manutenção da dicotomia inclusão/exclusão.
Palavras chave: Inclusão escolar; Psicologia Histórico-Cultural; Psicologia Sócio-Histórica.

Abstract
School inclusion is a process with constant challenges and confrontations that firstly reaches subjects with
special educational needs, but also involves everyone as a right to citizenship. Through an analysis under the
theory of development and learning of Historical-Cultural Psychology, this work is a literature review through
analysis and comparison of information on the subject through 15 articles. The objective is to rescue and build
critical reflections on the historical paths, practices of inclusive education and their contributions to
development and learning. As inclusion criteria, articles in Portuguese, articles published in the last 10 years
and theoretical approach of Historical-Cultural Psychology were considered. Scientific articles were collected
from SciELO and Pepsic databases, being research with empirical and bibliographic investigations. The main
public policy documents observed were the Brazilian Federal Constitution of 1988, the Salamanca Declaration
and the National Policy on Special Education from the perspective of Inclusive Education. Based on the results,
the discussion is divided into 3 main topics: The praxis and locus of school inclusion; School inclusion in
contrast to special education and school inclusion as a collective responsibility. In view of the analyses, there
is a need to reverberate reflections and positions that instigate transformative actions in inclusive education,
since practices distance themselves from theories as well as present contradictions and appear to maintain the
inclusion/exclusion dichotomy.

Keywords: School inclusion, Historical-Cultural Psychology, Socio-Historical Psychology.


_________________________________________
1
Graduada em Psicologia pelo Centro Universitário Alves Faria. Psicóloga clínica e social. E-mail: psinayla@gmail.com

32
v.3, p. 32-46 – junho/2022

2
Mestra em Psicologia pela Universidade Federal de Goiás. Pós graduada em Terapia Sistêmica de Casal e Família pelo Centro de
Avaliação, Ensino e Pesquisa de Goiás. Graduada em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás. Psicóloga clínica.
Email: anaterra.gonzaga123@gmail.com

Os percursos que levam à inclusão educativas especiais” (p.3) os que apresentam


escolar perpassam por um histórico de deficiência ou dificuldades de aprendizagem.
enfrentamentos, discussões e lutas sociais, Outrora, o direito à educação já se
visto que é um processo, está em movimento e mostrava como prioridade social na
em constantes transformações para se alcançar Constituição de 1988, que no artigo 205
o ideal de escola democrática a todos. Para enfatiza a educação como direito de todos para
isso, os documentos nacionais e internacionais o desenvolvimento e exercício da cidadania e
que orientam ou que deveriam orientar até hoje capacitação para o trabalho, assim como no
as ações dos atores pedagógicos e dos projetos artigo 208 (Brasil, 2019) que garante como
políticos-pedagógicos de escolas como dever do Estado a oferta de acesso ao ensino
instituições socioeducativas e formativas de educacional especializado, principalmente na
cidadãos críticos, são políticas públicas que rede regular de ensino, chamando a atenção
legislam e fundamentam um ideal de educação para o desafio de atender às necessidades e
e que dirigem esses direitos a determinados diferenças de todos os alunos.
alunos. E quem são esses sujeitos a serem Como marco importante para a
incluídos? educação especial, a Declaração de Salamanca
A Política Nacional de Educação (1994) diz que
Especial na perspectiva da Educação Inclusiva O princípio que orienta esta Estrutura
(2008) foi criada com o objetivo de (de ação em Educação Especial) é o de
Assegurar a inclusão escolar de alunos que escolas deveriam acomodar todas
com deficiência, transtornos globais do as crianças independentemente de suas
desenvolvimento e altas condições físicas, intelectuais, sociais,
habilidades/superdotação, orientando emocionais, linguísticas ou outras.
os sistemas de ensino para garantir: Aquelas deveriam incluir crianças
acesso ao ensino regular, com deficientes e superdotadas, crianças de
participação, aprendizagem e rua e que trabalham, crianças de origem
continuidade nos níveis mais elevados remota ou de população nômade,
do ensino; transversalidade da crianças pertencentes a minorias
modalidade de educação especial desde linguísticas, étnicas ou culturais, e
a educação infantil até a educação crianças de outros grupos
superior; oferta do atendimento desavantajados ou marginalizados.
educacional especializado; formação Tais condições geram uma variedade
de professores para o atendimento de diferentes desafios aos sistemas
educacional especializado e demais escolares (Unesco, 1994, p.3).
profissionais da educação para a Demonstrando aqui uma visão mais
inclusão (...) (Brasil, 2008, p.14) . ampla e social, para além das necessidades
Ou seja, a escolarização garantida pela orgânicas dos sujeitos como alvos das ações
educação inclusiva e pela educação especial educacionais especiais, se alinhando
são para os alunos com deficiência física, diretamente com o direito de educação a todos.
intelectual ou sensorial, transtornos globais do Na prática, o acesso ao ensino educacional
desenvolvimento e superdotação. Já a especializado é uma modalidade com suporte
Declaração de Salamanca (Unesco,1994) no Atendimento Especializado de Ensino
denomina como alunos “com necessidades (AEE) que não substitui a escolarização
comum dos alunos, mas complementa para

33
v.3, p. 32-46 – junho/2022

uma formação com autonomia e independência A perspectiva da Psicologia Histórico-


tanto da escola quanto do mundo externo Cultural fundamenta que todo “sujeito é
(Brasil,2008). histórico e se constitui em relação com a
Para a Política Nacional de Educação cultura” (Barbosa & Souza, 2010, p.353).
Especial na Educação Inclusiva (2008), o AEE Desse modo, o desenvolvimento das funções
“identifica, elabora e organiza recursos superiores são mediadas e aprimoradas nas
pedagógicos e de acessibilidade que eliminem relações sociais e culturais, bem como o
as barreiras para a plena participação dos processo de compensação das funções que são
alunos, considerando as suas necessidades limitadas e que possuem específicas
específicas” (Brasil, 2008, p.16), sendo um dificuldades, demonstrando a importância da
serviço que dissiparia as concepções históricas cultura e das relações sociais.
de educação especial que limitava as Por fim, o objetivo desta pesquisa é
interações sociais e reduzia os sujeitos à suas trazer uma breve análise e explanação teórica
deficiências, produtora de concepções de sobre a inclusão escolar em 3 categorias
normalidade/anormalidade. principais: (1) A práxis e lócus da inclusão
Enquanto que na Declaração de escolar; (2) Inclusão escolar em contraponto
Salamanca (1994) a proposta de uma educação com a educação especial; (3) Inclusão escolar
inclusiva é um desafio pois confronta uma ação como responsabilidade coletiva;
pedagógica centrada no aluno ao mesmo compreendendo essas 3 categorias sob a
tempo que institui o dever de ensinar todos os perspectiva da Psicologia Histórico-Cultural.
alunos inseridos em sala de aula, como uma Método
responsabilidade de ensino e aprendizagem
somente do professor. Este estudo se trata de uma revisão
Todavia, a realidade revela a integrativa de literatura, pela análise de artigos
disparidade dos documentos elaborados e publicados e disponíveis em diferentes revistas
estudos produzidos frente a múltiplos fatores brasileiras, com períodos de publicações entre
como: a falta de suporte material e estrutural 2010 a 2020 que abordam em diferentes
das escolas pelo Estado; a manutenção de uma leituras e interpretações a inclusão escolar. O
educação reducionista e que fortalece embasamento teórico em Psicologia Histórico-
concepções normalidade/anormalidade; a Cultural confronta um método que seja
formação generalizante e descontinuada dos resultado e ferramenta ao mesmo tempo de
profissionais que atuam nas escolas que uma investigação, instiga o pesquisador ao
anunciam inclusão escolar; a burocracia e a movimento contínuo de construção (Souza &
falta de diálogo entre escola e família para a Andrada, 2013).
formação desses alunos, dentre outros que Diante disso, os procedimentos
se apresentam nesta pesquisa. Dessa forma, utilizados foram as plataformas de pesquisa de
faz-se necessário espaços de reflexões e artigos Scientific Electronic Library Online
diálogos que mediem possibilidades e (SciELO) e o Portal de Periódicos Eletrônicos
repensem as ações concretas feitas nas muitas de Psicologia (Pepsic), utilizando três
escolas brasileiras. Visto que a educação palavras-chave em duas formas de
brasileira ainda se encontra sob projetos combinações: Inclusão escolar ou Psicologia
políticos pedagógicos que pouco consideram a histórico-cultural e Inclusão Escolar ou
aprendizagem participativa como mediador de Psicologia sócio-histórica.
um desenvolvimento psíquico e cultural, que Foram encontrados na base de dados
forma sujeitos críticos e atuantes na realidade SciELO 1.719 resultados de artigos, enquanto
social inseridos. na Pepsic um total de 85 resultados da pesquisa
geral com ambas combinações dos descritores.

34
v.3, p. 32-46 – junho/2022

O período de pesquisa e seleção foi de 23 de artigo de 2017, 2 artigos de 2018, 2 artigos de


setembro a 11 de outubro de 2020. Utilizou-se 2019 e 1 artigo de 2020.
para orientar a seleção, observação dos títulos Resultados e Discussão
e palavras-chave utilizadas, delimitando
juntamente com os critérios de exclusão: A partir da revisão integrativa de
artigos com mais de 10 anos de publicação; literatura dos artigos, leituras na íntegra e
textos em outros idiomas exceto em português; análise interpretativa dos dados, objetivou-se
abordagem da temática sob a ótica de outras trazer uma breve análise e explanação teórica
profissões que não a Psicologia e suas sobre os percursos e desdobramentos da
abordagens e atuações; artigos que exploravam inclusão no contexto escolar em 3 principais
indiretamente ou superficialmente a inclusão categorias, bem como compreender como os
escolar. mesmos são abordados pela Psicologia
Como critérios de inclusão Histórico-Cultural sendo composto por
observamos: artigos em português de revistas estudos teóricos e empíricos.
de publicações brasileiras, fundamentação Para isso, fundamentado nas
psicossocial da teoria Histórico-Cultural. concepções socioculturais dos sujeitos e no
Diante desses critérios, foram selecionados 15 desenvolvimento e aprendizagem mediados
artigos nas bases de dados supracitadas, sendo pela presença de estruturas, possibilidades e
9 da SciELO e 6 da Pepsic, de anos e em conflitos do social e da cultura que permeia as
quantidades encontradas: 3 artigos de 2010, 1 relações, os 15 artigos selecionados
artigo de 2012, 1 artigo de 2013, 1 artigo de apresentam diferentes procedimentos e
2014, 2 artigos de 2015, 1 artigo de 2016, 1 reflexões, conforme mostra a tabela 1 a seguir:

Tabela 1
Estudos teóricos e empíricos selecionados que investigam sobre a Inclusão Escolar e de
abordagem Histórico-Cultural.
Título Autores Ano Revista Tipo de
investigação

Formação de Araújo, 2010 Revista Revisão de


professores e inclusão Rusche, Psicopedagogia Literatura
escolar de pessoas Molina &
com deficiência: Carreiro
análise de resumos de
artigos na base
SciELO
A vivência de Barbosa & 2010 Revista Empírico
professores sobre o Souza Psicopedagogia
processo de inclusão:
um estudo da
perspectiva da
Psicologia Histórico-
Cultural

35
v.3, p. 32-46 – junho/2022

A psicologia escolar e Virgínia & 2010 Psicologia: Ciência Ensaio


a educação inclusiva: Dazzani e Profissão teórico
Uma leitura crítica

Avaliação da Souza, Silva 2012 Revista Semestral Estudo


aprendizagem e & Macedo da Associação teórico
inclusão escolar: a Brasileira de
singularidade a serviço Psicologia Escolar
da coletividade e Educacional

Contribuições de Souza & 2013 Estudos de Estudo


Vigotski para a Andrada Psicologia Teórico
compreensão do
psiquismo
Políticas de inclusão Lasta & 2014 Psicologia & Estudo
escolar: produção da Hillesheim Sociedade Teórico
anormalidade

Educação Inclusiva: Nunes, Saia 2015 Psicologia: Ciência Estudo


Entre a História, os & Tavares e Profissão Teórico
Preconceitos, a Escola
e a Família

Dificuldades no Barros, Silva 2015 Boletim – Empírico


processo de inclusão & Costa Academia Paulista
escolar: percepções de de Psicologia
professores e de
alunos com deficiência
visual em escolas
públicas

Concepções e Práticas Braz- 2016 Psicologia: Ciência Empírico


de Psicólogos Aquino, e Profissão
Escolares e Docentes Ferreira e
acerca da Inclusão Cavalcante
Escolar

36
v.3, p. 32-46 – junho/2022

Desenvolvimento Padilha 2017 Revista Brasileira Estudo


Psíquico e Elaboração de Educação Teórico
Conceitual por Alunos Especial
com Deficiência
Intelectual na
Educação Escolar

Possibilidades de Andrada, 2018 Revista Revisão de


intervenção do Macedo, Interinstitucional de Literatura
psicólogo escolar na Gasparelli, Psicologia
educação inclusiva Canton,
Rovida &
Cruz

Inclusão escolar: Medeiros & 2018 Psicologia em Empírico


concepções de Barrera Revista
professores e práticas
educativas

A função social da Dainez & 2019 Educação e Empírico


escola em discussão, Smolka Pesquisa
sob a perspectiva da
educação inclusiva

Formação docente Pinto & 2019 Pro-Posições Empírico


continuada e práticas Amaral
de ensino no
atendimento
educacional
especializado
Mediações em sala de Mendonça, 2020 Psicologia Escolar Empírico
aula na construção do Silva, e Educacional
conhecimento Barbosa-
em escolas inclusivas Andrade &
Silva

37
v.3, p. 32-46 – junho/2022

Para melhor compreensão deste vasto é necessária a relação com outras pessoas, com
tema em breve análise, dividimos os artigos em o mundo, e assim se apreende sua função
3 categorias centrais para explanação e social, um processo de educação (Padilha,
discussão, sendo essas: (1) A práxis e lócus da 2017).
inclusão escolar; (2) Inclusão escolar em Barbosa e Souza (2010) também
contraponto com a educação especial; (3) concordam em A vivência de professores sobre
Inclusão escolar como responsabilidade o processo de inclusão: um estudo da
coletiva. perspectiva da Psicologia Histórico-Cultural
que a inclusão é de caráter relacional, social e
A práxis e lócus da inclusão escolar
cognitivo, nas aberturas à socialização a
Para observar a prática esperada de atender as necessidades específicas para a
inclusão nas instituições escolares, é preciso aprendizagem dos alunos, com maior suporte e
considerar as concepções que fundamentam formação ampla dos professores bem como da
essas ações e o lugar como possibilidade de instituição, das estruturas sociais, políticas e
desenvolvimento de todos e mediadora da identitárias.
aprendizagem e envolvimento social. Para Mesmo sendo comumente um processo
isso, 7 dos 15 artigos selecionados abordam e inicial para todos os sujeitos que adentram a
problematizam essa questão (Dainez & escola, a maioria dos artigos abordam a
Smolka, 2019; Lasta & Hillesheim, 2014; inclusão escolar direcionados aos alunos com
Mendonça et al., 2020; Nunes et al., 2015; deficiências e necessidades educativas
Padilha, 2017; Souza & Macedo, 2012; Souza especiais, pois os documentos de políticas
& Andrada, 2013). públicas de educação inclusiva e educação
Souza e Andrada (2013) em especial são para este grupo.
Contribuições de Vigotski para a compreensão Conforme Souza e Macedo (2012) para
do psiquismo, afirmam que Vygotsky a práxis da inclusão escolar acontecer como
fundamenta sua teoria sobre o lócus de legitimação do novo e de
desenvolvimento humano na Psicologia possibilidade de conscientização da
Histórico-Cultural a partir do método do responsabilidade social, há de se rever qual a
materialismo histórico-dialético em que o função da escola, considerando que a educação
desenvolvimento das funções psíquicas escolar é uma “possibilidade de
superiores se iniciam pelas funções mais desenvolvimento do homem que vive na
elementares do biológico do ser humano e que história ao passo que a constrói” (p. 280).
mediadas pelos elementos da cultura, pelas É nessa possibilidade de uma vivência
ações do homem em permanente relação com social coletiva que Mendonça et al (2020)
o meio através de instrumentos e pela observam que os sujeitos com deficiência
apropriação evoluem assim o psiquismo dos podem encontrar recursos que mediam a
sujeitos e constituem suas personalidades. internalização das funções culturais e
Sendo como uma passagem do ser desenvolvem processos que compensam suas
biológico ao ser cultural (Padilha, 2017) o deficiências, amplificando seus
sujeito histórico postulado por Vygostky é um funcionamentos psíquicos. Como se observa
sujeito “que incorpora, de modo inseparável, o no caso do aluno Gustavo, apresentado no
social como "fonte" de desenvolvimento e não artigo de Dainez e Smolka (2019) e da aluna
como aspecto que o influencia” (Souza & Bianca no artigo de Mendonça et al (2020).
Andrada, 2013, p. 364). As apropriações dos A relevância de vivências em espaços
elementos históricos da cultura são postas e colaborativos que incluam métodos e ações de
não dadas aos sujeitos, por isso, para se ensino criadoras que contribuam para os
tornarem características singulares de cada um, processos compensatórios faz parte da

38
v.3, p. 32-46 – junho/2022

responsabilidade da escola. Dainez e Smolka & Amaral, 2019; Mendonça et al, 2020; Nunes
(2019) consideram que “Com base nisso, et al, 2015; Lasta & Hillesheim, 2014;
argumentamos que a função social da escola Medeiros & Barrera, 2018; Barros et al., 2015,
não se resume à socialização/convivência; Padilha, 2017 e Souza e Macedo, 2010).
relaciona-se, sim, ao trabalho de ensino e à Os autores Souza e Macedo (2012) e
apropriação do conhecimento valorizado, Dazzani (2010) observam que a existência da
condição de desenvolvimento cultural inclusão, revela também a presença do seu
orientador da personalidade” (p.14). oposto: a exclusão escolar. Pois sendo pautado
Diante disso, observa-se que o meio só por ideais de igualdade e homogeneidade
contribui para o desenvolvimento humano através da democratização da educação
quando se torna uma experiência emocional pública, são observadas ações que implicam na
para os sujeitos (Souza & Andrada, 2013). No negação e omissão do Estado e da escola,
entanto, há de se notar que vivências tão aplicando a responsabilidade de sucesso e
significativas e processos de escolarização fracasso tanto da aprendizagem como da
atentas a proporcionar um ensino- inclusão, no aluno que adentra a instituição.
aprendizagem adequados a todos é ainda uma Um discurso ideológico que perdura no tempo
realidade em construção, mais visto nas e nas representações sociais de atores
políticas públicas que legislam sobre a pedagógicos de escolas públicas e privadas
inclusão escolar sob uma visão igualitária e brasileiras.
democratizante, o que para Lasta e Hillesheim Souza e Macedo (2012) em Avaliação
(2014) se contradiz ao mundo marcado “por da aprendizagem e inclusão escolar: a
uma globalização neoliberal excludente” singularidade a serviço da coletividade
(p.141) e coloca questões como diferença e acrescentam algumas críticas sobre a dialética
diversidade, inclusão e exclusão em evidência entre inclusão e exclusão e as implicações de
que precedem das noções de normalidade e políticas igualitárias para a educação, a qual
anormalidade. Os campos da igualdade são os mesmos
Como visto pelos artigos analisados que delimitam as diferenças, uma vez
acima, há contradições entre teoria e práxis da que se espera um comportamento
inclusão escolar para serem exploradas. A "igual" de seres que apresentam
função da escola se atrela à importância das peculiaridades, idiossincrasias,
interações sociais e da cultura para o singularidades, subjetividades que a
desenvolvimento humano e dos processos escola não tem conseguido administrar
compensatórios, mas o acesso não é ofertado com seus padrões representados por
para todos para além de mera socialização. classes homogêneas, currículos
O que nos conduz a refletir sobre os estanques e, sobretudo, com um
objetivos dessas políticas públicas para a sistema de avaliação composto a partir
inclusão amparados na igualdade, mas que da medição de conhecimentos
especifica os que devem ser incluídos. Sendo nivelados e da atribuição de notas na
assim, o que os diferenciam são respeitados ou forma de medidas padronizadas
limitados? (p.278).
Não somente no sistema de avaliação
A inclusão escolar em contraponto com a
como também nas relações entre professor-
educação especial
aluno e aluno-aluno, nos processos de ensino-
Sobre educação inclusiva e educação aprendizagem, as ações padronizadas
especial, 10 artigos trouxeram importantes impedem mediações pelos potenciais de
discussões e considerações sobre esta temática desenvolvimento que cada aluno possui,
(Dazzani, 2010; Dainez & Smolka, 2019; Pinto

39
v.3, p. 32-46 – junho/2022

olhando pelo que lhes falta, visto como limitações de desenvolvimento “se dão em
incapacidade permanente ou doença. razão da privação de uma efetiva participação
Todavia, como visto na Declaração de e inserção no meio coletivo/cultural,
Salamanca (1994), a educação especial surge compartilhado e construído nas relações
na tentativa de oferecer uma educação que sociais” (Mendonça et al., 2020, p.6).
alcance as necessidades educativas especiais Vale ressaltar o que Nunes et al. (2015)
(NEE) e tenha um atendimento educacional pontuam sobre a Educação Inclusiva que
especializado (AEE) de acordo com as apesar de surgir pelas lutas da educação
especificidades, sendo um serviço integrativo especial, não a substitui, mas vem para retomar
de escolarização juntamente com o ensino a educação democrática a todos e que
regular. O que em uma perspectiva de A diversidade presente na educação
normalização dos sujeitos analisado pelas inclusiva não é um favor aos grupos
autoras Lasta e Hillesheim (2014), uma historicamente excluídos, mas uma luta
educação especializada se torna um recurso de pela humanização de todos nós.
“corrigir” os sujeitos falhos, que estão fora da Quando não conseguimos lidar com as
norma e precisam dessa intervenção constante diferenças que nos rodeiam perdemos
durante a vida. uma oportunidade de caminhar na
Barros et al. (2017) em entrevistas com nossa própria evolução. Assim, quando
professores de escolas públicas de ensino privamos os alunos de conviverem com
regular e alunos com deficiência visual outras crianças com dificuldades
atendidos no Centro de Apoio Pedagógico visuais, motoras, auditivas, intelectuais
(CAP), observou queixas relatadas quanto ao ou com outras diferenças marcantes tais
atendimento de apoio pedagógico, que pela como classe social, lugar de origem,
falta de recursos multifuncionais, falta de religião, opção sexual etc., falhamos na
capacitação adequada dos atores pedagógicos sua formação, porque, quando adultas,
e de investimento do Estado para melhoria e talvez terão menor facilidade de lidar
acessibilidade, agrava o processo de inclusão com essas mesmas pessoas (p.1117).
e atrasa o acompanhamento das atividades Portanto, pode-se perceber que a
escolares desses alunos com o restante da educação especial embora apresente propostas
turma. válidas de serem aplicadas em conjunto com o
Portanto, “não se pode esperar que ensino regular para atender e proporcionar a
pessoas com deficiência estejam recebendo mesma qualidade de ensino aos alunos com
atendimento adequado (de qualidade), tendo necessidades educativas especiais, os artigos
em vista que essa forma de atendimento demonstram que ainda é um desafio para as
educacional pode estar restringindo a escolas contribuírem de forma eficaz sem se
efetividade da inclusão” (p.160). tornar um serviço assistencialista e que
A atividade criadora e participativa em reifique a exclusão.
sala comum proposta pela professora de Uma educação inclusiva não se baseia
Bianca, no artigo de Mendonça et al (2020) somente na inserção desses alunos, mas na
provam os desdobramentos positivos de uma participação no espaço coletivo da sala de aula,
escolarização para todos, que atenda às em que as especificidades são consideradas
especificidades de cada aluno em um espaço para o ensino-aprendizagem e se desenvolvem
coletivo, um dos pontos principais que outras a partir dessas trocas, acolhendo as
Vygotsky criticou contra a educação especial diferenças e desafiando as capacidades de
como sendo um espaço que restringe esse desenvolvimento.
contato relacional e conforma o aluno para
suas limitações orgânicas. Para ele essas

40
v.3, p. 32-46 – junho/2022

A responsabilidade coletiva na inclusão Barbosa e Souza (2010) no artigo “A


escolar vivência de professores sobre o processo de
inclusão: um estudo da perspectiva da
Dentre os 15 artigos analisados, 9
Psicologia Histórico-Cultural” também
artigos apresentaram considerações sobre a
afirmam essa urgência, observando em seus
relevância da coletividade diante da
estudos uma grave defasagem na prática de
responsabilidade de se efetivar a inclusão. Para
inclusão de alunos com necessidades
que haja articulação e intervenção para criar
educativas especiais pelas vivências e
estratégias de melhorias na educação inclusiva,
formações dos professores de uma escola
um dos pontos mais importantes e também
pública do município de Campinas, São Paulo.
mais encontrados nos artigos, se refere à
Sendo possível observar que também são
formação dos profissionais que compõem a
profissionais que além de exercerem suas
escola e que intervêm direta ou indiretamente
funções de ensino, também vivenciam o
nessa ação.
sofrimento e desamparo nesse processo de
As pesquisas aqui selecionadas
inclusão/exclusão dos alunos.
concentraram seus discursos sobre a formação
As representações sociais e crenças
de dois grupos de profissionais: Professores e
podem também influenciar as percepções dos
Psicólogos escolares (Araújo et al., 2010;
professores sobre alunos com necessidades
Andrada et al., 2018; Barbosa & Souza, 2010;
educativas especiais, o que decorre por vezes
Barros et al., 2015; Braz-Aquino et al., 2016;
de preconceitos que expressam como
Dazzani, 2010; Medeiros & Barrera, 2018;
consequência, ações pedagógicas limitantes e
Pinto & Amaral, 2010 e Souza & Andrada,
conformistas diante da necessidade de
2013).
interlocução com outros profissionais que
Araújo et al (2010) abordam a inclusão
compõem a equipe pedagógica e com outras
escolar em “Formação de professores e
áreas de conhecimento como a Psicologia,
inclusão escolar de pessoas com deficiência:
Sociologia e outros. Como Barbosa e Souza
análise de resumos de artigos na base
(2010) ressaltam, o problema se inicia pela
SciELO” como um processo de humanização e
percepção dos professores sobre as
de caráter coletivo onde todos são sujeitos e
deficiências e diagnósticos em vez das suas
possuem condições para o desenvolvimento e
capacidades de desenvolvimento que são
para a aprendizagem. Os autores utilizaram
diferentes, não impossíveis.
documentos e movimentos de políticas
Na investigação em campo, Pinto e
públicas considerados marcos importantes
Amaral (2019) debatem a atuação de 23
para a educação inclusiva e os direitos das
professores de uma escola pública no
pessoas com deficiência, como a Declaração
atendimento educacional especializado (AEE)
de Salamanca (1994) e a Política Nacional de
um serviço de ensino que conforme os autores,
Educação Especial na perspectiva da educação
é historicamente utilitarista que cria barreiras
inclusiva (2008) dentre outros.
para ações inclusivas de acesso a todos e o
A partir dos resultados da revisão
desenvolvimento das funções psicológicas
bibliográfica, os autores observaram a
superiores.
necessidade de formação dos professores mais
Para os autores, o olhar para a
convergentes com os desafios e que considere
deficiência é uma questão que somatiza os
as necessidades de cada aluno, principalmente
construtos históricos e biológicos, a qual diante
as especificidades de cada deficiência, assim
das impossibilidades frente ao diferente e de
como a necessidade de uma formação
inquietações teóricas e epistemológicas,
acadêmica alinhada com as mudanças
sugerem o redimensionamento e
históricas da educação inclusiva (Araújo et al.,
transformação da formação pedagógica, sendo
2010).

41
v.3, p. 32-46 – junho/2022

continuada, crítica e coletiva, que instigue à que nas ações para viabilizar essa
formação de cidadãos conscientes da sua proposta. Isto pode ser observado nas
realidade e das suas capacidades, através de dificuldades enfrentadas pelas escolas
um espaço educativo interdisciplinar, onde o públicas brasileiras, destacando-se
ensinar seja um ato político e criativo para formação insuficiente de professores,
alcançar a apreensão de todos os sujeitos e falta de infraestrutura, precárias
assim, o AEE seja uma extensão do que é condições de trabalho, quantitativo
exposto em sala de aula comum. elevado de alunos nas salas de aula,
Em entrevistas com psicólogos entre outras [...] (pp.149-150)
escolares e docentes de escolas públicas em Devem ser considerados diversos
João Pessoa- PB sobre a inclusão, Braz- fatores a serem trabalhados e assumidos para
Aquino et al (2016) analisaram suas que realmente haja uma educação inclusiva de
verbalizações e condutas diante da realidade qualidade, pois são questões que
educacional e também pontuaram a impossibilitam o cumprimento do
necessidade de uma formação continuada dos compromisso político, social e humanizador
docentes bem como para os psicólogos, pois a dos processos inclusivos e de acessibilidade na
formação das graduações e especializações se educação e só contribui para fomentar
apresentam generalizantes e dissonantes ao preconceitos (Barros et al, 2015).
contexto escolar e educacional, o que acabam Quanto à formação continuada e ampla
por ações “que promovem a psicologização de dos professores, há de se considerar o que
processos pedagógicos e não contemplam a Nunes et al (2015) ressaltam, pois não se trata
investigação de processos socioculturais” de haver metodologias de ensino acabadas para
(p.260). atender todos os desafios que esses professores
Ainda é preciso observar as diferenças podem passar diante da realidade e de suas
que as escolas possuem e seus projetos variações. Partindo da ideia de que está diante
político- pedagógicos que sustentam a conduta de uma relação com o outro que é inesperado e
dos professores em salas de aulas e de seus complexo, na qual também se aprende algo
outros atores que a compõem. A valorização da novo na troca. Sem essa abertura ao novo,
formação continuada e ampla desses podem existir atuações pedagógicas
profissionais também revelam o compromisso normatizadoras e rígidas sobre a diversidade.
político e social da instituição, que entre Dazzani (2010) em “A psicologia
contradições a escola pública está sujeita ao escolar e a educação inclusiva: Uma leitura
descaso de subsídios do Estado, dificultando o crítica” aborda alguns dados históricos de
acesso e a otimização do ensino inclusivo. formação dos psicólogos no Brasil e a atuação
Ao passo que em escolas particulares destes no contexto escolar, sendo uma inserção
podem ser observadas outras percepções e que a priori seriam para impulsionar e
outros recursos que mudam as ações dos contribuir para a efetivação da inclusão escolar
professores, podemos verificar essa realidade e da democratização da educação.
nas entrevistas realizadas no artigo “Inclusão Porém, na verdade embalou na
escolar: concepções de professores e práticas concepção de homogeneidade dos alunos na
educativas” por Medeiros e Barrera (2018). década de 70, uma ideia de igualdade para
Barros et al (2015) pontuam todos que negava as singularidades e as
Contudo, importa destacar as limitações de cada um, tornando um caminho
prioridades, política e financeira, em de exclusão e de repercussão dos fracassos
benefício da inclusão escolar da pessoa escolares como culpa somente dos próprios
com deficiência que, no Brasil, parece alunos, fonte de psicologização.
se concentrar mais nos textos legais do

42
v.3, p. 32-46 – junho/2022

Diante disso, a autora traz uma análise “Intervenções macrossociais; Intervenções


crítica da literatura sobre a formação, postura e institucionais; Intervenções entre os atores
prática do psicólogo escolar pontuadas em três escolares; e, Intervenções direcionadas ao
etapas na tentativa de ser uma atuação que sujeito” (p.125).
promova esta democratização e que defenda os Os autores observam que o campo de
direitos humanos, a saber: “na formação do ação desse profissional é amplo e coletivo,
psicólogo, a Psicologia na formação do bem como ultrapassa a esfera da escola, sendo
professor e a pesquisa em Psicologia” (p.370) uma ponte para a integração e enfrentamento
sendo o papel da escola ser plural e dos estigmas limitantes históricos colocados
interdisciplinar. nos alunos com deficiências, acreditando que “
O psicólogo escolar para que promova o psicólogo na escola poderia mediar essas
a inclusão precisa estar comprometido na ações, na medida em que a Psicologia é uma
“prevenção e promoção de saúde e bem- estar ciência que fundamenta os processos inter-
subjetivo” (p.372) tanto dos alunos como da relacionais do desenvolvimento humano e suas
equipe pedagógica a buscar constantemente múltiplas diversidades” (p.137).
uma prática em relação e contribuir Dazzani (2010) diz que,
criticamente com outros profissionais para É nesse contexto, quando a educação
atender a todas as demandas de ensino- não se realiza, quando a escola não
aprendizagem e promover um espaço para a consegue cumprir sua tarefa, quando a
formação de cidadãos, de encontros de aprendizagem não se dá, é aqui
subjetividades e de diversidades culturais e precisamente que o discurso e os
socioeconômicas, que considere os sujeitos em saberes da Psicologia surgem com uma
relação e não meramente questões psicológicas força especial. Os educadores, teóricos
individuais reducionistas (Dazzani, 2010). e políticos se veem obrigados a
A atuação do psicólogo escolar frente compreender os mecanismos internos
aos processos de inclusão de alunos com da prática pedagógica para, daí,
necessidades educativas especiais pode ser de encontrar os caminhos de superação –
fato relevante para que possa acontecer uma posto que o desafio educacional é visto
convergência das políticas públicas de como um desafio civilizacional (p.
educação inclusiva e a legitimação da inclusão 368).
na realidade. Portanto, trata- se de uma
Conforme Andrada et al. (2018) uma conscientização coletiva, um desafio que
prática sustentada na perspectiva teórica alcança o Estado, a cultura, a família e não
Histórico-Cultural compreende e atua somente professores e psicólogos escolares,
analisando criticamente todas as esferas que mas também de toda a escola. Assim como a
permeiam a vida de cada aluno e busca romper educação inclusiva rompe com a
tanto a dicotomia inclusão/exclusão como a culpabilização individual do aluno, rompe
orientação de ensino-aprendizagem pela também a ideia de serviços educacionais
deficiência em vez das potencialidades e individualizados, pois há necessidade de
compensações que cada sujeito possui. interlocução para que esses alunos estejam
Neste artigo de pesquisa bibliográfica, acompanhando e participando ativamente
Andrada et al. (2018) pontuam quatro junto com os outros colegas. Trata-se de uma
dimensões da atuação do psicólogo escolar responsabilidade coletiva que supere as
considerando ser um profissional que é agente incapacidades e desigualdades (Mendonça et
para elaborar caminhos que contribua para a al., 2020; Souza & Macedo, 2012; Barbosa &
diversificação da aprendizagem e do Souza, 2010).
desenvolvimento, sendo estas nas:

43
v.3, p. 32-46 – junho/2022

A partir dos artigos analisados, nota-se processos de socialização, também não se faz
a relevância de profissionais em constante sem participação que proporcione o
formação e que estejam abertos para aprender envolvimento social desses alunos, com
também nas relações com o aluno e com os atividades criadoras que estimulem as
outros profissionais que compõem a escola. potencialidades enquanto sujeitos capazes de
Construir uma formação crítica e de cidadania vivenciar o desenvolvimento e de apreenderem
a todos os alunos também demanda muito das o conhecimento ao passo que mediados pela
concepções que sustentam as ações desses cultura.
professores e psicólogos quanto às A Psicologia Histórico-cultural
possibilidades de desenvolvimento e ensino- fundamenta como teoria, uma prática pela
aprendizagem. historicidade dos sujeitos inseridos numa
sociedade em constante transformação e
Considerações Finais
formação, sendo nas contradições das relações
Uma atuação crítica da Psicologia sociais e da cultura que há transformação em
considera e se faz frente a uma realidade que movimento contínuo nos sujeitos, formando
se mantem em consonância com os processos assim suas subjetividades nos encontros
de adoecimento, alienação social e políticas concretos com a realidade em que estão
públicas idealizadoras. Percebe-se que colocar inseridos, em todas as esferas sociais. Por isso
em análise as situações concretas de inclusão se faz necessário uma inclusão para além de
vividas nas escolas brasileiras é um inserção, mas de participação ativa desses
movimento que confronta e instiga uma alunos, enquanto que ao passo que aprendem,
resolução que não se faz sem considerar que a criam e fazem, forma-se cidadãos conscientes
transformação social só acontece por meio do da sua história e atuantes na sociedade.
desenvolvimento integral de cada sujeito que a Diante disso, a inclusão não se faz
compõe e que por isso a aprendizagem se faz somente para os alunos com necessidades
em coletivo e é tão eficaz. educativas especiais, mas para todos,
A Inclusão escolar é um tema em independentemente das condições orgânicas,
movimento e se atualiza nas áreas da educação, socioeconômicas, geográficas e identitárias.
políticas públicas de educação e em processos Um processo que mesmo ainda deficitário e
psicossociais. Ao analisar os artigos, nota-se visto nas concepções de professores,
dois pontos principais que são desdobramentos psicólogos e grande parte da sociedade através
críticos a esse processo: A dissonância da de reducionismos e assistencialismos, o lócus
Educação inclusiva na teoria e na prática e os inclusivo deve ser considerado como uma luta
frequentes fortalecimentos de diagnósticos que social e política pois entre desafios e
orientam uma ação socioeducativa que enfrentamentos, o “(...) convívio com a
fortalece a exclusão, desigualdades, desviando diferença é um esforço coletivo” (Nunes et al.,
o olhar para as possibilidades existentes para 2015, p. 1117).
além das limitações orgânicas. Portanto há o desafio e a necessidade de
A dissonância transparece nas atuações mais estudos que demonstrem a realidade das
sem suporte e sem interlocuções necessárias escolas brasileiras e suas contradições com a
para conduzir uma educação inclusiva como inclusão escolar, com mais investigações
proposta nas políticas públicas, pois demanda sobre possibilidades que incluam a atuação de
uma responsabilidade e empenho não somente todos os profissionais da educação para fazer a
dos professores que estão diretamente em inclusão e não somente centrado aos
contato com os alunos, mas de toda a equipe professores e psicólogos escolares.
escolar, do Estado, família e comunidade.
Assim como a inclusão não se limita a Referências

44
v.3, p. 32-46 – junho/2022

Araújo, M., Rusche, R., Molina, R., & Psicólogos Escolares e Docentes acerca da
Carreiro, L. (2010). Formação de Inclusão Escolar. Psicologia: Ciência e
professores e inclusão escolar de pessoas Profissão, 36(2), 255-266. Retirado de:
com deficiência: análise de resumos de https://www.scielo.br/scielo.php?script=s
artigos na base SciELO. Revista ci_arttext&pid=S1414-
Psicopedagogia, 27(84), 405-416. 98932016000200255&lang=pt
Retirado de: Brasil (2019). Constituição da República
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?scrip
Federativa do Brasil. Brasília: Senado
t=sci_arttext&pid=S0103- Federal.
84862010000300010&lng=pt&nrm=iso
Dazzani, M. (2010). A psicologia escolar e a
Andrada, P., Macedo, P., Gasparelli, T., educação inclusiva: Uma leitura crítica.
Canton, F., Rovida, M., & Cruz, P. (2018). Psicologia: Ciência e Profissão, 30(2),
Possibilidades de intervenção do 362-375. Retirado de:
psicólogo escolar na educação inclusiva. http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?scrip
Revista Interinstitucional de Psicologia, t=sci_arttext&pid=S1414-
11(1), 123-141. Retirado de: 98932010000200011&lng=pt&nrm=iso
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?scrip
t=sci_arttext&pid=S1983- Dainez, D., & Smolka, A. (2019). A função
82202018000100010&lng=pt&nrm=iso social da escola em discussão, sob a
perspectiva da educação inclusiva.
Brasil (2008). Política Nacional de Educação Educação e Pesquisa, 45, 1-18. Retirado
Especial na perspectiva da Educação de:
Inclusiva. Brasília: MEC/SEESP. https://www.scielo.br/scielo.php?script=s
Retirado de: ci_arttext&pid=S1517-
http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/poli 97022019000100401&lang=pt
ticaeducespecial.pdf
Lasta, L., & Hillesheim, B. (2014). Políticas de
Barbosa, E., & Souza, V. (2010). A vivência inclusão escolar: produção da
de professores sobre o processo de anormalidade. Psicologia & Sociedade,
inclusão: um estudo da perspectiva da 26, 140-146. Retirado de:
Psicologia Histórico-Cultural. Revista
https://www.scielo.br/scielo.php?script=s
Psicopedagogia, 27(84), 352-362. ci_arttext&pid=S0102-
Retirado de: 71822014000500015&lang=pt
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?scrip
t=sci_arttext&pid=S0103- Medeiros, A., & Barrera, S. (2018). Inclusão
84862010000300005&lng=pt&nrm=iso escolar: concepções de professores e
práticas educativas. Psicologia em
Barros, A., Silva, S., & Costa, M. (2015). Revista, 24(1), 191-208. Retirado de:
Dificuldades no processo de inclusão http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?scrip
escolar: percepções de professores e de t=sci_arttext&pid=S1677-
alunos com deficiência visual em escolas 11682018000100012&lng=pt&nrm=iso
públicas. Boletim-Academia Paulista de
Psicologia, 35(88), 145-163. Retirado de: Mendonça, F., Silva, D., Barbosa-Andrade, F.,
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?scrip & Silva, D. (2020). Mediações em sala de
t=sci_arttext&pid=S1415- aula na construção do conhecimento em
711X2015000100010&lng=pt&nrm=iso escolas inclusivas. Psicologia Escolar e
Educacional, 24, 1-9. Retirado de:
Braz-Aquino, A., Ferreira, I., & Cavalcante, L. https://www.scielo.br/scielo.php?script=s
(2016). Concepções e Práticas de

45
v.3, p. 32-46 – junho/2022

ci_arttext&pid=S1413- Souza, A., & Macedo, M. (2012). Avaliação da


85572020000100307&lang=pt aprendizagem e inclusão escolar: a
singularidade a serviço da coletividade.
Nunes, S., Saia, A., & Tavares, R. (2015).
Revista Semestral da Associação
Educação Inclusiva: Entre a História, os
Brasileira de Psicologia Escolar e
Preconceitos, a Escola e a Família.
Educacional, 16(2), 283-290. Retirado de:
Psicologia: Ciência e Profissão, 35(4),
https://doi.org/10.1590/S1413-
1106-1119. Retirado de:
85572012000200011
https://www.scielo.br/scielo.php?script=s
ci_arttext&pid=S1414- Souza, V., & Andrada, P. (2013).
98932015000401106&lang=pt Contribuições de Vigotski para a
compreensão do psiquismo. Estudos de
Padilha, A. (2017). Desenvolvimento Psíquico
Psicologia, 30(3), 355-365. Retirado de:
e Elaboração Conceitual por Alunos com
https://www.scielo.br/scielo.php?script=s
Deficiência Intelectual na Educação
ci_arttext&pid=S0103-
Escolar. Revista Brasileira de Educação
166X2013000300005&lang=pt
Especial, 23(1), 9-20. Retirado de:
https://www.scielo.br/scielo.php?script=s Unesco (1994). Declaração de Salamanca:
ci_arttext&pid=S1413- Sobre princípios, políticas e práticas na
65382017000100009&lang=pt área das necessidades educativas
especiais. Salamanca: Espanha. Retirado
Pinto, G., & Amaral, M. (2019). Formação
de:
docente continuada e práticas de ensino no
http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/p
atendimento educacional especializado.
df/salamanca.pdf
Pro-Posições, 30, 1-20. Retirado de:
https://www.scielo.br/scielo.php?script=s
ci_arttext&pid=S0103-
73072019000100546&lang=pt

46

Você também pode gostar