Você está na página 1de 14

Revista Brasileira de

NUTRIÇÃO
FUNCIONAL
Brazilian Journal of Functional Nutrition

ISSN 2176-4522
ano 17. edição 71
www.vponline.com.br

RECEITA
Tortinha de Legumes com
Taioba

Nitrato: suplementação,
fontes dietéticas e efeitos na performance

Interpretando a
dosagem da vitamina B12

Série Agroecologia: Parte II


A importância das abelhas para a agroecologia
Editorial

Dra. Valéria Paschoal


Diretora da VP Centro de Nutrição Funcional

Nesta nova edição, importantes atualizações científicas nas áreas de Nutrição Clínica,
Nutrição Esportiva e Fitoterapia contribuirão para a prática clínica de nossos
leitores.
Em Nutrição Esportiva, uma esclarecedora revisão acerca do papel do nitrato
na performance esportiva, proveniente de fontes alimentares ou suplementares,
mostrará ao profissional dessa área que a ação desse componente pode ir além
da vasodilatação: se bem aplicado, pode potencializar o desempenho em exer-
cícios de alta intensidade e curta duração. Ainda sobre nutrição e esporte, uma
atualização sobre o papel da vitamina D no esporte abre evidências de sua atuação
como importante estratégia para o processo de hipertrofia muscular.
Em Nutrição Clínica, uma revisão sobre a interpretação da dosagem da vitamina
B12 incita discussões importantes para a prática clínica. A adequada interpretação
das dosagens de vitamina B12 é essencial para os âmbito preventivos e terapêuticos
das doenças correlacionadas à deficiência dessa vitamina, prevalente especialmente em alguns grupos
de risco, como crianças, idosos, gestantes e veganos.
Em Fitoterapia, trazemos um estudo de caso com a aplicação clíni-
ca de Astragalus membranaceus, com resultados iniciais interessantes
sobre a modulação do sistema imune.
Na sessão de Gastronomia, uma receita nutritiva, prática e saborosa
que valoriza nossa biodiversidade: tortinha de legumes com taioba.
Dando continuidade à séria sobre Agroecologia, a matéria desta
edição mostra um tema preocupante e de grande relevância, acerca
do risco de extinção das abelhas, que tem como uma das causas o uso
excessivo de agrotóxicos.
Excelente leitura!

Dra. Paula Gandin


Presidente do Instituto Brasileiro de Nutrição Funcional
Revista Brasileira de Nutrição Funcional

2
O
Expediente
ÃO IÇÃ
ira de
asile

LT RIONAL
sta Br
Revi

R I ÇN U
A
ileir
a de

N NC
s

T
Bra
ta

N U NCIO FU
Re
vis
n rition
itio l Nut
utr tiona
lN Func
na nal of
Jour
nctio Brazilian

FU
f Fu
522
76-4 70 r
lo 21 ição m.b 6-4522

rna
217
ISSN 17. ed e.co ISSN edição 69 r
o in 17. m.b
ou an ponl line.co
ano

nJ
pon
w.v www.v
ww
zilia
Bra

Revista Brasileira de Nutrição Funcional - 2017 - edição 71


EITAguado assaandoha
RECde lin cast
Filé molho depurê de rcíc oco to
o,
ísic l
io f ndria
icos amb
iental Indexação: Sumários (www.sumarios.org) e ESALQ (http://dibd.esalq.usp.br)
com ngibre e rra exe se mit Impac tos transgên
e ge -da-te
nal banana vel, êne imen
dá a biog
Diretoras Responsáveis Redação, Publicidade e Administração
cio dos al
ITA eal
fun sesau
CE cer to
nte
RE a de u la en
r ecim s estim era
) :
Bar
velh nte
En nutrie
m
ta-rim
areisagspe
3 na muscular
o ração
eto pr
ica ?
gên ática
arte
a C r em logia:sPde cultivo
I- Valéria Paschoal e Andréia Naves VP Centro de Nutrição Funcional
ção(Beidaoccôeh re
e ccu ietcolocagroecoté
li za ca d D o rie A cnica
Uti esee japrot tudo
:45

es 12:06

omSé ferent
/2017
26/06

nt
sí q u e s c e di
: eito
ar lica
Coordenação Científica Associação
Conc
a c abó
o d met
feit ome
O esíndr
na
capa.
indd
1 Ana Beatriz Baptistella Leme da Fonseca Atendimento ao Associado
consultoriacientifica@vponline.com.br Paula Gimenez - contato@vponline.com.br
Neiva dos Santos Souza Fone/ Fax: (11)3582-5600
neiva.souza@vponline.com.br
As condutas nutricionais preconizadas na
Jornalista Responsável Revista Brasileira de Nutrição Funcional
José Maria M. Filho devem ser supervisionadas exclusivamente
MTB – 19.852 - josemaria@vponline.com.br por nutricionistas ou médicos especializados.

Revisão Ortográfica Os editores não se responsabilizam pelo


Lemuel Cintra conteúdo dos anúncios, matérias e artigos
lcintra@gmail.com assinados. A reprodução total ou parcial
desta publicação só será permitida mediante
Capa, Ilustrações e Editoração autorização prévia.
Bárbara Feracin Meira
VP Centro de Nutrição Funcional
Ctp e Impressão Fone/ Fax: (11)3582-5600
A.R. Fernandez Pré-Impressão e Gráfica contato@vponline.com.br
www.arfernandez.com.br www.vponline.com.br
comercial@arfernandez.com.br

Coordenação e Autores
Conselho Editorial
Ana Cláudia Poletto
Nutricionista pela Universidade Estadual do Centro-Oeste (2002) e mestre em Ciências, com ênfase em
Fisiologia Humana pela Universidade de São Paulo (2006). Pesquisadora (doutoranda, desde 2007) do
programa de Fisiologia Humana da Universidade de São Paulo. Tem experiência na área de Fisiologia
Endócrina, atuando nos temas: mecanismos transcricionais envolvidos na regulação da expressão do gene
SLC2A4, sensibilidade à insulina, metabolismo lipídico, obesidade e diabetes mellitus.

Ana Vládia Bandeira Moreira


Nutricionista graduada pela Universidade Estadual do Ceará (1996), mestre em Ciências dos Alimentos pela
Universidade de São Paulo (1999) e doutora em Ciências dos Alimentos pela Universidade de São Paulo (2003).
Atualmente é professora adjunta da Universidade Federal de Viçosa (MG). Coordenadora do Laboratório
de Análise de alimentos e coordenadora do Projeto de extensão pró-celíaco. Ministra as disciplinas de
Técnica Dietética na Graduação e Dietética Aplicada no Mestrado e Doutorado e Gastronomia Funcional na
especialização na UFV.

Andréia Naves
Nutricionista e Educadora Física. Diplomada pelo The Institute for Functional Medicine (USA) em 2007. Editora
Científica da Revista Brasileira de Nutrição Funcional. Diretora da VP Centro de Nutrição Funcional. Docente
convidada dos cursos de pós-graduação em Nutrição Clínica Funcional e Nutrição Esportiva Funcional da VP
Centro de Nutrição Funcional em parceria com a Universidade Cruzeiro do Sul. Autora dos Livros “Nutrição
Clínica Funcional: dos Princípios à Prática Clínica”, “Nutrição Clínica Funcional: Obesidade”, “Nutrição Clínica
Funcional: Modulação Hormonal” e “Tratado de Nutrição Esportiva Funcional”. Colaboradora do livro
www.vponline.com.br

“Suplementação Funcional Magistral: dos Nutrientes aos Compostos Bioativos”. Membro do The Institute
for Functional Medicine – USA. Coordenadora científica dos cursos de pós-graduação em Nutrição Esportiva
Funcional da VP Centro de Nutrição Funcional em parceria com a Universidade Cruzeiro do Sul.

3
Coordenação e Autores
Anna Cecília Queiroz de Medeiros
Nutricionista pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Mestre em Ciências da Saúde pela
Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Docente da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Experiência na área de Nutrição, com ênfase em Nutrição e metabolismo de nutrientes nos diversos estados
fisiológicos.

Fátima Aparecida Arantes Sardinha


Nutricionista. Doutora em Ciência dos Alimentos pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas/USP. Mestre em
Ciências Aplicadas à Pediatria pela UNIFESP/EPM. Especialista em Nutrição e Saúde Pública pela UNIFESP/
EPM. Docente convidada do curso de pós-graduação em Nutrição Clínica Funcional da VP Centro de Nutrição
Funcional em parceria com a Universidade Cruzeiro do Sul.

Fernanda Serpa
Diretora e Docente da Empresa Nutconsult. Nutricionista pela Universidade do Estado do RJ/UERJ. Título de
residência em Clínica Médica no Hospital Universitário Pedro Ernesto/UERJ. Pós-graduada em Nutrição Clínica
Funcional da VP Centro de Nutrição Funcional em parceria com a Universidade Cruzeiro do Sul. Docente
convidada dos cursos de pós-graduação e extensão da VP Centro de Nutrição Funcional em parceria com
a Universidade Cruzeiro do Sul. Mestre em Clínica Médica - IPPMG/UFRJ. Nutricionista Militar do Corpo de
Bombeiros do RJ. Nutricionista Municipal do Hospital Souza Aguiar.

Gilberti Hübscher
Nutricionista. Mestre e Doutora em Fisiologia Cardiovascular pela UFRGS. Especialista em Gestão e Saúde
pela PUC-RS, Gestão em UAN pela UNISINOS e em Saúde da Família pela ULBRA (RS). Docente convidada
dos cursos de pós-graduação em Nutrição Clínica Funcional da VP Centro de Nutrição Funcional em parceria
com a Universidade Cruzeiro do Sul e dos cursos de graduação em Nutrição e pós-graduação em Saúde e
Trabalho da Feevale (RS). Membro do Instituto Brasileiro de Nutrição Funcional (IBNF).

Márcia Cristina Paiva


Nutricionista, graduada na Universidade de Passo Fundo - RS. Pós-graduada em Nutrição Clínica Funcional e
pós-graduanda em Fitoterapia Funcional da VP Centro de Nutrição Funcional em parceria com a Universidade
Cruzeiro do Sul. Educadora em diabetes certificada pela empresa Medtronic Brasil de equipamentos médicos
(Bombas de infusão de insulina). Atua em atendimento clínico em clínica de gastroenterologia em São José
dos Campos - SP.

Rosangela Passos de Jesus


Professora Adjunta da Escola de Nutrição da UFBA (ENUFBA). Doutora em Ciências da Saúde pela Faculdade
de Medicina da USP. Mestre em Nutrição pela Universidade Federal de São Paulo. Especialista em Nutrição
Clínica Funcional, coordenadora do Ambulatório de Nutrição e Hepatologia do Hospital Universitário Prof
Edgard Santos.

Sandra Matsudo
Médica Especializada em Medicina Esportiva pela Escola Paulista de Medicina - UNIFESP. Doutorado e pós-
doutorado em Ciências pela Escola Paulista de Medicina - UNIFESP. Diretora Geral do Centro de Estudos do
Laboratório de Aptidão Física de São Caetano do Sul - CELAFISCS. Coordenadora geral do Projeto Longitudinal
de Envelhecimento e Aptidão Física de São Caetano do Sul. Coordenadora pela IUHPE dos Cursos de Atividade
Física e Saúde Pública - Agita Mundo. Professora Titular do Curso de Educação Física do Centro Universitário
FMU. Editora Executiva da Revista Brasileira de Ciência e Movimento. Autora dos Livros: “Avaliação do Idoso
- Física e Funcional”, “Envelhecimento e Atividade Física” e “Obesidade e Atividade Física”.
Revista Brasileira de Nutrição Funcional

Valéria Paschoal
Nutricionista. Mestre na área de Nutrição e Pediatria pela UNIFESP – EPM. Editora Científica da Revista
Brasileira de Nutrição Funcional. Coordenadora científica e docente convidada dos cursos de Nutrição
Clínica Funcional e Nutrição Esportiva Funcional da VP Centro de Nutrição Funcional em parceria com a
Universidade Cruzeiro do Sul. Diretora da VP Centro de Nutrição Funcional. Autora dos Livros “Nutrição
Clínica Funcional: dos Princípios à Prática Clínica”, “Suplementação Funcional Magistral: dos Nutrientes aos
Compostos Bioativos”, “Nutrição Clínica Funcional: câncer” e “Tratado de Nutrição Esportiva Funcional”.
Coordenadora da Comissão Científica do Instituto Brasileiro de Nutrição Funcional (IBNF). Membro do The
Institute for Functional Medicine – USA. Nutricionista do CSA Brasil (Community Supported Agriculture -
Agricultura Sustentada pela Comunidade). Membro do conselho consultivo da CNTU (Confederação Nacional
dos Trabalhadores Liberais Universitários Regulamentados).
4
Coordenação e Autores
Lista de Autores
Cristiane de Oliveira Cravo
Nutricionista Clínica Funcional. Mestre em Fisiopatologia Clínica Experimental pela UERJ. Pós-graduada
em Nutrição Clínica Funcional pela Universidade Cruzeiro do Sul em parceria com a VP Centro de Nutrição
Funcional. Docente de graduação da Universidade Castelo Branco. Docente convidada dos cursos de pós-
graduação Universidade Cruzeiro do Sul em parceria com a VP Centro de Nutrição Funcional. Docente de
pós-graduação pela UERJ.

Débora Kelly Oliveira das Neves


Graduada em Nutrição pelo Instituto Metodista Bennett (2010). Pós-graduada em Fitoterapia Funcional pela
Universidade Cruzeiro do Sul (2016). Nutricionista no Núcleo de Saúde do Trabalhador da Fundação Oswaldo
Cruz, onde trabalha no campo da saúde, trabalho e ambiente. Atua em atendimento clínico nutricional em
consultório.

Gabriela Pimentel
Nutricionista graduada pela Universidade Federal de Santa Catarina. Pós-graduada em Nutrição nas doenças
crônico não transmissíveis pelo Albert Einstein. Pós-graduada em Nutrição Clínica Funcional pela Universidade
Cruzeiro do Sul. Pós-graduada em Fitoterapia Funcional pela Universidade Cruzeiro do Sul. Docente dos
cursos de pós-graduação em Fitoterapia Funcional Universidade Cruzeiro do Sul. Atua em atendimento
clínico nutricional em consultório.

Gustavo Barbosa dos Santos


Bacharel em Treinamento Desportivo pela UNICAMP. Especialista em Treinamento e Nutrição Esportiva,
LABEX-UNICAMP. Mestre e Doutor em Biologia Funcional e Molecular – UNICAMP.

Hugo Comparotto
Graduado em Nutrição e Metabolismo pela FMRP-USP (SP, 2011). Especialista em Obesidade e Emagrecimento
pela Universidade Gama Filho (SP, 2013). Especialista em Nutrição Esportiva Funcional pela Universidade
Cruzeiro do Sul (SP, 2013). Consultor científico e desenvolvimento de novos produtos na Atlhetica Nutrition,
First e Cuida Bem. Responsável pela Equipe Hábitos Nutrição Clinica e Esportiva – Cia Athletica Ribeirão
Preto – Ribeirão Preto - SP e Academia Acqua – Araraquara – SP. Palestrante e professor de pós-graduação
em nutrição esportiva

Isabela Pereira Gouveia


Graduanda em Nutrição pelo Centro Universitário São Camilo. Estagiária em Nutrição no departamento
científico da VP Centro de Nutrição Funcional.

Luiz Lannes Loureiro


Nutricionista formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2011), Mestre em Nutrição Humana
pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2014) e Especialização em Nutrição Esportiva Funcional pela VP
Centro de Nutrição Funcional/UNICSUL. Atua com pesquisas voltadas para Nutrição Esportiva, Metabolismo
Basal, Bioquímica Nutricional, Fisiologia Esportiva e Desenvolvimento de alimentos e suplementos para fins
especiais.

Rodrigo Minoru Manda


Biomédico com graduação pela UNESP/Botucatu (2008). Aprimoramento Profissional em Laboratório e
Metabolismo Nutricional Desportivo pela Faculdade de Medicina de Botucatu/UNESP (2010). Especialização
em Atuação Multiprofissional em Medicina do Exercício Físico e do Esporte pela Faculdade de Medicina de
Botucatu/UNESP (2011). Mestrado em Patologia pela Faculdade de Medicina de Botucatu/UNESP (2012).
Doutorado em Patologia pela Faculdade de Medicina de Botucatu/UNESP (defesa em 2017). Professor
colaborador do Centro de Metabolismo em Exercício e Nutrição (CeMENutri) da Faculdade de Medicina de
Botucatu/UNESP. Palestrante na área de metabolismo, exercício físico e nutrição esportiva.
www.vponline.com.br

Wagner Alessandro dos Reis


Nutricionista formado pelo Centro Universitário Newton Paiva/BH. Especialista em Formação Pedagógica
para Profissionais de Saúde pela Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Pós-graduado em Nutrição Esportiva Funcional e Fitoterapia Funcional pela Universidade Cruzeiro do Sul.
Pós-graduando em Nutrição Clínica Funcional pela Universidade Cruzeiro do Sul. Docente convidado do curso
de pós-graduação da Universidade Cruzeiro do Sul. Docente da Escola Técnica Profissional de Nível Médio
do SITIPAN – MG. Nutricionista e diretor do Espaço Wagner dos Reis. Personal Nutrition Funcional. Realiza
5
palestras em empresas, escolas e academias.
Índice

Nitrato: suplementação, fontes dietéticas e efeitos na performance


7

Astragalus membranaceus e os seus benefícios para a saúde: um estudo de caso


17

Interpretando a dosagem da vitamina B12


22

Os efeitos da vitamina D na hipertrofia muscular


30

Receita: Tortinha de Legumes com Taioba


40

Série Agroecologia: Parte II - A importância das abelhas para a agroecologia


43
Revista Brasileira de Nutrição Funcional

6
Cristiane de Oliveira Cravo

Interpretando a dosagem da vitamina B12

Vitamin B12 dosage interpreting

Resumo
A vitamina B12 pertence à família de compostos denominados de cobalaminas, caracterizada como uma substância hidrossolúvel
sintetizada exclusivamente por micro-organismos, sendo as fontes dietéticas para seres humanos os alimentos de origem animal. É
uma vitamina envolvida em diversas reações bioquímicas como cofator enzimático, incluindo a formação de hemoglobina e reações
de metilação. A prevalência de deficiência de vitamina B12 na população em geral pode ser superior a 20%, sendo mais evidente em
crianças, idosos, gestantes e pacientes pós-cirurgia bariátrica. Tal deficiência pode caracterizar um fator de risco para lesões no sistema
cardiovascular, neurológico e no metabolismo ósseo. Considerando a importância das funções biológicas atribuídas à vitamina e a
prevalência de sua deficiência e doenças associadas, a adequada interpretação das dosagens de vitamina B12 em humanos é primordial
para o diagnóstico nutricional da B12, que deve ocorrer de forma aliada à anamnese alimentar e semiologia completa, utilizando a teia
de inter-relações metabólicas preconizada pela nutrição funcional.

Palavras-chave: Vitamina B12, cobalamina, diagnóstico nutricional.

Abstract
Vitamin B12 belongs to the family of compounds called cobalamins, characterized as a water-soluble substance synthesized exclusively
by micro-organisms, and its dietary sources for humans are foods of animal origin. B12 is a vitamin involved in several biochemical
reactions as an enzyme cofactor, including the formation of hemoglobin and methylation reactions. The prevalence of vitamin B12 defi-
Revista Brasileira de Nutrição Funcional

ciency in the general population may be higher than 20%, being more evident in children, elderly, pregnant and patients after bariatric
surgery. This deficiency may characterize a risk factor to cardiovascular, neurological and bone systems. Considering the importance
of the biological functions of vitamin B12 and the prevalence of its deficiency and associated diseases, the adequate interpretation of
vitamin B12 dosages in humans is essential for the nutritional diagnosis of B12, which should occur in a way associated with food
anamnesis and complete semiology, using the matrix of metabolic interrelations advocated by functional nutrition.

Keywords: Vitamin B12, cobalamin, nutritional diagnosis.

22
Interpretando a dosagem da vitamina B12

A
A vitamina B12 faz parte de uma família de origem animal, como produtos lácteos, carnes,
de compostos denominados genericamente de fígado, peixes e ovos, que adquirem a vitamina
cobalaminas. É a única dentre todas as vitaminas indiretamente das bactérias2,5,7,13. Seu processo
que contém uma molécula orgânica complexa e um digestivo depende de um trato gastrointestinal
elemento-traço essencial – o cobalto – que, na B12 íntegro, mastigação adequada e secreção efetiva
purificada, está ligado a um grupo cianeto, o que de ácido clorídrico e enzimas digestivas, para
lhe confere a denominação de cianocobalamina. liberação da vitamina de sua matriz alimentar
Dependendo dos outros compostos ligados e posterior absorção ileal. Esse processo leva
à molécula, pode ser encontrada também na algumas horas, e várias proteínas são necessárias
forma de metilcobalamina, hidroxicobalamina, à sua realização: inicia na boca e depende
aquacobalamina e deoxiadenosilcobalamina1-4. da ligação da B12 a uma proteína produzida
Quimicamente, o termo vitamina B12 refere-se nas glândulas salivares e células gástricas,
à hidroxicobalamina e cianocobalamina, sendo a denominada haptocorrina (também conhecida
metilcobalamina a forma predominante no soro e como proteína R, transcobalamina I ou holo-Hc).
a deoxiadenosilcobalamina no citosol5. Esse complexo chega ao intestino e é degradado
Estudos epidemiológicos realizados em países pelas proteases – presentes no suco pancreático
industrializados e em desenvolvimento mostraram secretado no duodeno durante o processo digestivo
que na população em geral há uma prevalência –, e a cobalamina livre é, então, ligada ao fator
de deficiência de vitamina B12 superior a 20%, intrínseco (FI) produzido pelas células parietais do
sendo mais evidente na infância, em idosos, estômago, formando um novo complexo resistente
gestantes e pacientes submetidos às cirurgias às enzimas proteolíticas da luz intestinal1,2,5, que
gástricas6-11, podendo estar relacionada aos hábitos posteriormente se liga a receptores específicos das
alimentares com menor ou nenhum consumo células epiteliais do íleo terminal, onde a vitamina
dos alimentos fontes, hipocloridria, mastigação B12 é, enfim, absorvida e lançada na circulação
inadequada, uso crônico de medicamentos ligada a um transportador plasmático capaz de
com finalidade de inibir a secreção ácida ou levá-la até o tecido alvo2.
mesmo doenças autoimunes e presença de No sangue, a vitamina B12 encontra-se ligada
polimorfismos que podem levar à inativação a pelo menos duas proteínas transportadoras: a
ou deficiência na síntese de fator intrínseco, haptocorrina (HC) – que, além de ser sintetizada
interferindo na biodisponibilidade da vitamina, pelas glândulas salivares, também tem sua síntese
podendo levar a graves transtornos hematológicos, pela mucosa gástrica e células mieloides – e a
cardiovasculares e neurológicos7,9,11. A partir transcobalamina II (TC-II), considerada a proteína
desta análise, o diagnóstico precoce do status da transportadora fisiológica, sintetizada pelos
vitamina B12 através de análises laboratoriais com enterócitos, hepatócitos, células endoteliais e
maior sensibilidade e especificidade é necessário monócitos (Quadro 1). Essas proteínas apresentam
para prevenir os danos decorrentes da deficiência, meias-vidas específicas e diferentes graus de
muitas vezes irreversíveis12. Entretanto, para tal, é associação, uma vez que somente 10% da
imprescindível a compreensão da bioquímica da transcobalamina está saturada com apenas 10
cobalamina e suas vias metabólicas. a 30% da vitamina B12 circulante, enquanto a
A vitamina B12 é uma substância hidrossolúvel, haptocorrina é uma glicoproteína quase totalmente
sintetizada exclusivamente por micro-organismos, saturada com a B12, transportando a maior parte da
sendo a fonte natural na dieta humana os alimentos vitamina, cerca de 70 a 90% da B12 plasmática14-16.
Quadro 1. Resumo das propriedades mais importantes das proteínas transportadoras de cobalamina
no plasma
TCII HC
Local de síntese Fígado, endotélio dos enterócitos, monócitos Glândulas salivares, mucosa gástrica, células mieloides
MW 38 kD 60 kD
www.vponline.com.br

Constante de afinidade* 1,1 x 1011/M 0,8 x 1011/M


Tmeia vida no plasma 40 min. - 5 hrs 6 - 9 dias
TBBC** 380 - 1130 pmol/L 145 -860 pmol/L
UBBC*** 350 - 970 pmol/L 55 - 370 pmol/L
*Para adenosil-Cbl em 20°C, pH 7,4
**Capacidade total de ligação de cobalamina no plasma
***Capacidade de ligação à cobalamina não saturada no plasma
Fonte: Adaptado de Ermens, Vlasveld e Lindemans15 23
Cristiane de Oliveira Cravo

A cobalamina, após captação celular, é essencial manutenção da bainha de mielina. Além disso,
em diversas reações bioquímicas, funcionando a conversão da homocisteína em metionina
como cofator para duas enzimas: metionina sintase pela enzima dependente de B12 promove a
(MS) e L-metilmalonil-CoA mutase (Figura 1). A desmetilação do 5-MTHF, que é regenerado a
metionina sintase, enzima presente no citosol, é tetrahidrofolato (THF), completando o ciclo e
responsável por catalisar a reação do metabolismo permitindo maior retenção de ácido fólico nos
de um carbono, que envolve a metilação da tecidos para realização efetiva de suas funções,
homocisteína – um metabólito intermediário do incluindo síntese de DNA e divisão celular2,17,18.
metabolismo da metionina – na ressíntese de Outra importante função da cobalamina, desta
nova metionina, tendo o 5-metiltetrahidrofolato vez na forma ativa de adenosilcobalamina, envolve
(5-MTHF) – forma ativa do ácido fólico – sua participação como cofator de uma enzima
como doador de grupamento metil (-CH3) e a mitocondrial denominada L-metilmalonil-CoA
metilcobalamina como cofator da MS2,5,17. Após mutase que catalisa a conversão de metilmalonil-
metilação da homocisteína, a metionina formada CoA, proveniente do metabolismo do ácido
é metabolizada pela enzima metionina adenosil propiônico, a succinil-CoA. Esta reação é de
transferase (MAT) formando S-adenosilmetionina grande importância na reutilização do propionil-
(SAMe), repondo os estoques desse metabólito CoA para obtenção de energia através do ciclo
considerado o único doador de grupamentos metil do ácido cítrico e para síntese de grupo heme na
para numerosas reações de metilação, incluindo formação de hemoglobina2.
algumas essenciais para modulação de genes e
Figura 1. Reações envolvendo a vitamina B12, desde sua absorção intestinal até sua captação celular
e o metabolismo de homocisteína no citosol e metilmalonil-CoA na mitocôndria das células
Cobalamina ligada a proteínas
(vitamina B12 de origem alimentar)

Hidrólise (HCl)

Estômago CBL-HC
Proteases
CBL
Fator instrínseco (FI)
CBL-FI
Intestino AMN
Megalina CUBN
RAP

CBL Livre

Sangue CBL - TC II

TC IIR
CBL - TC II

N5-Metil-THF Homocisteína
AMS Metil-CBL
Revista Brasileira de Nutrição Funcional

CBL - TCR CBL


MTHFR
THF Metionina
Lisossomos
METILMALONIL COA
Adenil- MCM
CBL succinil-CoA
Tecidos

CBL: cobalamina; HC: haptocorrina; FI: fator intrínseco; TC II: transcobalamina II; TC IIR: receptor de transcobalamina
II; MTHFR: metilenotetrahidrofolato redutase: MS: metionina sintase; MCM: metilmalonil-CoA mutase.
Fonte: Adaptado de Cozzolino5
24
Interpretando a dosagem da vitamina B12

Sendo assim, a deficiência de vitamina promover diminuição na retenção de folato nos


B12 é grave e está associada a uma série de tecidos, ocasionando prejuízos funcionais dessa
patologias (Quadro 2), uma vez que prejudica vitamina com desequilíbrio em vias metabólicas
a reação de metilação ou remetilação da relacionadas à programação metabólica16,18.
homocisteína, aumentando os níveis plasmáticos A ausência de adenosilcobalamina também
deste metabólito intermediário, potencialmente impede a reação de degradação do metilmalonil-
pró-inflamatório, sendo, portanto, um fator de CoA a succinil-CoA no metabolismo do ácido
risco para lesões nos sistema cardiovascular graxo, desviando o substrato para a formação do
e neurológico e no metabolismo ósseo. Além ácido metilmalônico (MMA), aumentando seus
disso, o bloqueio dessa reação de metilação pela níveis sanguíneos e urinários, gerando um quadro
ausência da cobalamina acaba reduzindo os níveis de acidemia metilmalônica, além de promover
de SAMe, com consequente inibição de reações acúmulo do ácido propiônico, com consequente
de transmetilação, com riscos de hipometilação acidose metabólica16-18.
de DNA e defeitos mielinizantes, além de

Quadro 2. Deficiência funcional da vitamina B12

Deficiência funcional da vitamina B12 Consequências


Acúmulo de metabólitos: homocisteína e MMA Anemia megaloblástica
Redução de SAMe Inflamação sistêmica
Menor retenção de folato nos tecidos Danos vasculares
Prejuízo na síntese e metilação de DNA Danos neurológicos
Elevação do ácido propiônico
Redução de succinil-CoA
Prejuízo na formação da bainha de mielina

Fonte: Adaptado de: Andrès et al.16, Li et al.17 e Ajayi et al.18

A realização de todas essas funções essenciais apenas a fração ligada à holo-TC pode ser captada
da cobalamina depende da sua adequada captação pelas células e exercer suas funções metabólicas?
pelas células, portanto, é de fundamental De fato, muitos autores questionam os testes
importância a análise criteriosa e fidedigna do diagnósticos existentes, especialmente quanto à
status intracelular da vitamina B1211,18. Entretanto, dosagem de vitamina B12 sérica usada há muitos
a bioquímica da cobalamina torna essa análise anos e que apresenta como referência valores
complexa, uma vez que a sua maior parte entre 185-1.000 pg/ml (137-740 pmol/l), sendo
circulante está ligada a holo-c, considerada inerte valores acima de 500 pg/ml considerados ideais11.
por não existir um receptor celular específico para Embora seja o teste mais comumente utilizado por
esta proteína, enquanto apenas 10 a 30% da B12 ter menor custo e ser mais conhecido, apresenta
plasmática está ligada a transcobalamina II (holo- limitações de sensibilidade e contradições
TC), a única glicoproteína capaz de promover quanto à especificidade, uma vez que representa
a entrada específica da cobalamina em todas as o valor total da vitamina circulante, incluindo
células do corpo, ou seja, a fração biologicamente a fração inerte ligada à haptocorrina, além de
ativa da vitamina2,19. sofrer influência direta das concentrações de
www.vponline.com.br

Diante disso, considerando a análise bioquímica proteínas ligantes, sendo, portanto, um indicador
predominante atualmente para se avaliar o status da pobre dos níveis de vitamina B12 que está
B12 na prática clínica, surge um questionamento: efetivamente disponível para a célula. Desta
por que dosar a vitamina B12 sérica total, se forma, a sua análise só tem eficiência quando

25
Cristiane de Oliveira Cravo

associada a sinais clínicos de deficiência, ou pode determinar o acúmulo de metabólitos como


seja, em indivíduos sintomáticos2,13,20,21. Portanto, homocisteína (HCT) e ácido metilmalônico
as concentrações séricas de B12 respondem (MMA), que podem ter seus níveis plasmáticos
fracamente à deterioração no status desta vitamina, analisados e que, segundo estudos recentes, quando
com prejuízo na detecção precoce dos sinais desta aumentados, apresentam forte correlação com
deficiência, com risco de agravamento do quadro deficiência funcional de B12, mesmo na ausência
de anemia megaloblástica, neuropatias e mudanças de sinais clínicos, alterações hematológicas e,
neuropsiquiátricas potencialmente irreversíveis22. ainda, sem a necessidade de baixos níveis séricos
É possível, ainda, a ocorrência de níveis de B12 de B12 total2,13,22.
normais em pacientes com sinais clínicos de O desenvolvimento de ensaios específicos para
deficiência2, ao mesmo tempo em que Berg e MMA em urina, soro ou plasma tem viabilizado
Shaw12, ao considerarem essa análise, observaram diagnosticar precocemente a insuficiência de B12
que apenas uma pequena minoria de pacientes e tem tornado possível diferenciá-la da deficiência
submetidos à administração intramuscular de B12 de folato, já que o aumento de MMA é condição
apresentou benefícios clínicos. mais específica de deficiência intracelular de
Sendo assim, o fato de apenas a vitamina B12 B12 e é considerado marcador quando os seus
ligada a transcobalamina ser captada pelas células níveis estão superiores a 0,4 mcmol/L no soro ou
tem reforçado o conceito de que a medida de holo- maiores que 3,2 mmol/mol de creatinina urinária
transcobalamina (holo-TC) seria mais significativa para adultos e superiores a 20-23 mmol/mol de
para refletir melhor a disponibilidade celular de creatinina urinária em crianças, embora o emprego
vitamina B12 do que a medida dos seus níveis de dosagens urinárias necessite de mais estudos
séricos11,13,22. A holo-TC representa 5 a 10% da e ainda não seja recomendado. Além disso, a
transcobalamina total e está saturada com cerca de dosagem sérica de MMA também apresenta
10 a 30% da B12 circulante. Existem três tipos de limitações, uma vez que seus níveis encontram-
métodos analíticos disponíveis para avaliação da se elevados na insuficiência renal, gestação,
holo-TC, e, segundo estudos, todos dão resultados nas alterações tireoidianas, em condições de
razoavelmente semelhantes. Atualmente usa-se hemoconcentração e em condições de disbiose
um ensaio que utiliza anticorpos monoclonais com aumento de bactérias produtoras de ácido
específicos de holo-TC que pode utilizar amostras propiônico, precursor de MMA2,22,23.
de plasma ou soro. Dentre os intervalos de Já a homocisteína pode ser considerada também
referência publicados até agora, parece ser como um marcador sensível de deficiência de
consenso o valor de 40 a 200 pmol/L, que ainda B12, pois o aumento dos seus níveis plasmáticos
deve ser confirmado após mais investigação antes aparece precocemente no decorrer da deficiência,
de aplicação na prática clínica13,19. Concentrações precedendo os sintomas clínicos. Dentre os
inferiores a 25 pmol/L sugerem forte associação intervalos de referência citados, temos a faixa
com deficiência de B1222. O principal problema de 5 a 15 mcmol/L como adequados, embora
para utilização da holo-TC como marcador de alguns estudos já mostrem que valores acima de
deficiência de vitamina B12 ainda está associado 9 mcmol/L podem estar associados a inflamação
à dificuldade de se encontrar um método adequado e lesões cardiovasculares como trombose e
de dosagem, uma vez que a transcobalamina aterogênese. Sua análise apresenta limitações em
precipita sob uma variedade de condições, entre doenças renais e na carência de outras vitaminas do
Revista Brasileira de Nutrição Funcional

as quais altas concentrações proteicas e baixos complexo B, como folato, piridoxina e riboflavina,
valores de pH, e pode ser afetada em casos de uma vez que seu metabolismo é dependente
inflamação, insuficiência renal e/ou hepática e, destas vitaminas, cujas deficiências também
portanto, não deve ser usada como marcador do levam a quadros de hiper-homocisteinemia, sendo
status de B12 neste casos2. sua análise pouco específica para detecção de
Considerando as vias metabólicas dependentes deficiência de B122,11,22,23. Outro fator importante
de B12, a carência funcional desta vitamina de se analisar envolve o fato de que, nos países

26
Interpretando a dosagem da vitamina B12

onde a adição de ácido fólico nas farinhas e 40% dos pacientes com metástases no fígado,
nos produtos enriquecidos é obrigatória, a mostram elevação plasmática de B1214. No caso
elevação nos níveis de HCT > 20 mcmol/L em dos tumores hepáticos, o mecanismo implicado
pacientes com função renal normal pode indicar na gênese da elevação dos níveis séricos de B12
disfunção da metionina sintase em resposta à baixa envolve diminuição do clearance do complexo
disponibilidade de B1222. haptocorrina-B12 pelo fígado doente – que
Outra análise que contribui para o diagnóstico expressa menor quantidade de receptores de
de deficiência de B12 envolve o fato de que nesta HC e apresenta menor vascularização – e pelo
deficiência ocorrem alterações hematológicas aumento da liberação de transcobalamina devido
típicas, caracterizadas por diminuição da à degradação excessiva dos hepatócitos, enquanto
hemoglobina em um quadro de anemia, que tem que nos demais tumores o aumento dos níveis
como um dos principais aspectos a presença de plasmáticos de B12 pode ocorrer pela maior
hemácias imaturas e macrocíticas, representando síntese de TC pela célula tumoral ou pelo aumento
uma anemia megaloblástica, detectada no na HC devido a indução pela leucocitose28,29.
hemograma pelo valor aumentado do VCM Considerando, ainda, que o fígado tem papel
(Volume Corpuscular Médio) acima de 98 fl, importante no armazenamento e transporte da
embora estudos recentes já associem valores cobalamina, não nos surpreende que outras
de VCM > 92 fl à deficiência de B12 e folato, doenças hepáticas estejam associadas também
sendo mais uma análise com baixa especificidade a mudanças nas concentrações plasmáticas de
para detecção de deficiência de B122. Além B12, como em casos de hepatite aguda e cirrose,
disso, o inapropriado tratamento com ácido que, dependendo da severidade, pode aumentar
fólico e a alta ingestão de farináceos e outros em até 5 vezes os valores superiores descritos na
alimentos enriquecidos podem corrigir esses sinais referência14,29.
hematológicos, mascarando a deficiência da B12, Segundo a literatura, as desordens hematológi-
propiciando o desenvolvimento e/ou agravamento cas também podem estar associadas a mudanças
de sintomas vasculares e neurológicos19. nos níveis plasmáticos de B12, com cerca de 30%
Outra condição encontrada na prática clínica dos casos apresentando um aumento em torno de
e ainda pouco descrita na literatura diz respeito 10 vezes, especialmente nas desordens mielopro-
ao aparecimento de altas concentrações séricas liferativas, incluindo leucemia mielomonocítica
de B12, definidas pela faixa superior a 950 pg/ml crônica, síndrome hipereosinofílica primária,
(701 pmol/L) e que, segundo estudos, podem estar síndromes mielodisplásicas, leucemias agudas,
paradoxalmente associadas a sinais clínicos de policitemia vera, trombocitopenia e outras mie-
deficiência, refletindo um prejuízo funcional dessa lofibroses. Esse fenômeno está provavelmente
vitamina15. Os altos níveis séricos podem envolver relacionado a uma elevação na produção de HC
pelo menos 4 mecanismos fisiopatológicos: pelo aumento no número de leucócitos14,15.
aumento direto por excesso na ingestão ou Contudo, não podemos também descartar a
suplementação de B12; aumento nos níveis de prática de atividade física anterior à realização
transcobalamina e haptocorrina, por excesso na do exame como um fator predisponente para o
produção ou prejuízo no clearance; deficiência aumento dos níveis plasmáticos de B12, como
quantitativa ou falta de afinidade da proteína pela visto em um estudo realizado com jogadores de
B12; e liberação das reservas por lesão tecidual15,25. futebol em que após o exercício foi observado um
De fato, a associação entre excesso de B12 aumento significativo nas concentrações séricas
plasmática e neoplasias sólidas vem sendo de B1230. O mesmo foi observado em um outro
descrita e documentada por Carmel et al. 27 estudo, após 1 hora de exercício aeróbico regular. A
desde 1975, e vários estudos vêm apontando a existência de mecanismos adaptativos decorrentes
www.vponline.com.br

relação com carcinoma hepatocelular e tumores do treino pode explicar essas mudanças na B12
hepáticos secundários, câncer de mama, cólon, circulante, provavelmente, pelo aumento dos
estômago e pâncreas 26,27. Por exemplo, 30 a níveis séricos de ácidos graxos livres, provenientes

27
Cristiane de Oliveira Cravo

da maior oxidação de gordura estimulada pelo assintomáticos. Nestes pacientes, encontram-


exercício e, consequentemente, maior demanda se deficiências significativas de vitamina B12
da vitamina armazenada no fígado25. detectadas inicialmente por aumentos de MMA e
Desta forma, o simples aumento da vitamina HCT, mesmo na ausência de danos hematológicos
B12 plasmática, sendo clinicamente assintomático e sem a necessidade de baixos níveis circulantes de
ou com déficits funcionais potenciais, é muito mais B12 total. Logo, a associação desses vários testes
preciso que seja descrito como hipervitaminemia laboratoriais tem auxiliado a reconhecer e analisar
em vez de hipervitaminose e, do ponto de vista estágios mais precoces, expandindo a definição de
prático, deve ser considerado um marcador precoce deficiência de vitamina B1222.
para diagnóstico de doenças malignas, seguido Sendo assim, na prática seria interessante o
pela busca da real causa desta condição, uma vez profissional de saúde analisar vários aspectos
que a correção específica da hipervitaminemia para avaliar de forma mais completa e fidedigna
pode ser obtida com o tratamento da desordem o diagnóstico nutricional da B12, dentre eles:
primária14. VCM, níveis séricos de B12 total, homocisteína
Concluindo, a avaliação da deficiência de e ácido metilmalônico e, ainda, níveis séricos de
vitamina B12, que anteriormente era dependente holo-TC, sempre aliados a anamnese alimentar
da presença de sintomatologia clínica e/ou anemia e semiologia completa, considerando sinais e
macrocítica associadas a baixos níveis séricos de sintomas de deficiência, utilizando a teia de inter-
B12, passou a desempenhar um papel mais amplo, relações metabólicas, instrumento essencial usado
principalmente no que se refere aos pacientes na prática clínica do nutricionista funcional.

Referências
1. FUTTERLEIB, A.; CHERUBINI, K. Importance of vitamin B12 screening in clinical evaluation of elderly patient. Sci Med;
15 (1): 74-78, 2005.
2. PANIZ, C.; GROTTO, D.; SCHMITT, G.C. et al. Fisiopatologia da deficiência de vitamina B12 e seu diagnóstico laboratorial.
J Bras Patol Med Lab; 41 (5): 323-334, 2005.
3. MORAN, L.A.; HORTON, H.R.; SCRIMGEOUR, K.G. et al. Bioquímica. In: MORAN, L.A. Coenzimas e Vitaminas. 5a ed.
São Paulo: Pearson, 2013.
4. COLLINS, A.B.; PAWLAK, R. Prevalence of vitamin B12 deficiency among patients with thyroid dysfunction. Asia Pac J
Clin Nutr; 25 (2): 221-226, 2016.
5. COZZOLINO, S.M.F. Biodisponibilidade de Nutrientes. In: MAFRA, D.; COZZOLINO, S.M.F. Vitamina B12 (Cobalamina).
5a ed. Rev. e Atual. Barueri: Manole, 2016.
6. RIZZO, G.; LAGANÀ, A.S.; RAPISARDA, A.M.C. et al. Vitamin B12 among Vegetarians: Status, Assessment and
Supplementation. Nutrients; 8: 1-23, 2016. doi: 10.3390/nu8120767
7. IREVALL, T.; AXELSSON, I.; NAUMBURG, E. B12 deficiency is common in infants and is accompanied by serious neurological
symptoms. Acta Paediatr; 106 (1): 101-104, 2016. doi: 10.111/apa.13625
8. SUKUMAR, N.; VENKATARAMAN, H.; WILSON, S. et al. Vitamin B12 status among pregnant women in the UK and its
association with obesity and gestational diabetes. Nutrients; 8: 768, 2016.
9. GUPTA, A.; KAPIL, U.; RAMAKRISHNAN, L. et al. Prevalence of vitamin B12 and folate deficiency in school children
residing at high altitude regions in India. Indian J Pediatr, 2017. doi: 10.1007/s12098-017-2291-7.
10. JERUSZKA-BIELAK, M.; ISMAN, C.; SCHRODER, T.H. et al. South Asian ethnicity is related to the highest risk of vitamin
Revista Brasileira de Nutrição Funcional

B12 deficiency in pregnant Canadian women. Nutrients; 9: 317, 2017. doi: 10.3390/nu9040317
11. ALLEN, L. H. Causes of vitamin B12 and folate deficiency. Food Nutr Bull; 29: 2 (suppl), 2008.
12. BERG, R.L.; SHAW, G.R. Laboratory evaluation for vitamin B12 deficiency: The case for cascade testing. Clin Med Res;
11 (1):7-15, 2012. doi: 10.3121/cmr.2012.1112
13. FANG, H.; KANG, J.; ZHANG, D. Microbial production of vitamin B12: a review and future perspectives. Microb Cell
Fact; 16: 15, 2017. doi: 10.1186/s12934-017-0631-y
14. NEXO, E.; HOFFMANN-LUCKE, E. Holotranscobalamin, a marker of vitamin B12 status: analytical aspects and clinical
utility. Am J Clin Nutr; 94 (1): 359S-365S, 2011.
15. ERMENS, A.A.M.; VLASVELD, L.T.; LINDEMANS, J. Significance of elevated cobalamin (vitamin B12) levels in blood.

28
Interpretando a dosagem da vitamina B12

Clin Biochem; 36: 585-590, 2003.


16. ANDRÈS, E.; SERRAJ, K.; ZHU, J. et al. The pathophysiology of elevated vitamin B12 in clinical practice. Q J Med; 106:
505-515, 2013.
17. LI, K.; WAHLQVIST, M.L.; LI, D. Nutrition, one-carbon metabolism and neural tube defects: a review. Nutrients; 8: 741,
2016. doi: 10.3390/nu8110741
18. AJAYI, O.I.; BWAYO-WEAVER, S.; CHIRLA, S. et al. Cobalamin status in sickle cell disease. Int J Lab Hematol; 35 (1):
31-37, 2013.
19. KLEE, G.G. Cobalamin and folate evaluation: Measurement of Methylmalonic acid and homocysteine vs. vitamin B12
and folate. Clin Chem; 46 (8): 1277-1283, 2000.
20. CARMEL, R. Biomarkers of cobalamin (vitamin B12) status in the epidemiologic setting: a critical overview of context,
applications, and performance characteristics of cobalamin, methylmalonic acid, and holotranscobalamin II. Am J Clin
Nutr; 94 (1): 348-358, 2011. doi: 10.3945/ajcn.111.013441
21. KWOK, M.D.; CHENG, G.; LAI, G. et al. Use of fasting urinary methylmalonic acid to screen for metabolic vitamin B12
deficiency in older persons. Nutrition; 20 (9): 764-768, 2004.
22. OBEID, R.; SCHORR, H.; ECKERT, R. et al. Vitamin B12 status in the elderly as judged by available biochemical markers.
Clin Chem; 50 (1): 238-241, 2004.
23. HARRINGTON, D.J. Laboratory assessment of vitamin B12 status. J Clin Pathol; 70: 168-173, 2017.
24. CARMEL, R.; GREEN, R.; ROSENBLATT, D.S. et al. Update on cobalamin, folate, and homocysteine. Hematology (Am
Soc Hematol Educ Program); 62-81, 2003.
25. PAWLAK, R. Is vitamin B12 deficiency a risk factor for cardiovascular disease in vegetarians? Am J Prev Med; 48 (6):
e11- e26, 2015.
26. KIM, Y.; HWANG, J. H.; CHO, Y. The effects of exercise training and acute exercise duration on plasma folate and vitamin
B12. Nutr Res Prac; 10 (2): 161-166, 2016.
27. CARMEL, R. Extreme elevation of serum transcobalamin I in patients with metastatic cancer. N Engl J Med; 292: 282-
284, 1975.
28. CARMEL, R.; EISENBERG, L. Serum vitamin B12 and transcobalamin abnormalities in patients with cancer. Cancer;
40: 1348-1353, 1977.
29. DENEUVILLE, T.; MARIO, N.; TIEV, K.P. et al. Concentration plasmatique élevée de la vitamine B12: un indicateur des
maladies hépatiques ou tumorales? Rev Med Interne; 30 (suppl 2): S73, 2009.
30. JAMMAL, M.; DENEUVILLE, T.; MARIO, N. et al. High plasmatic concentration of vitamin B12: an indicator of hepatic
diseases or tumors. Rev Med Interne; 34 (6): 337-341, 2013.
31. DEMINICE, R.; ROSA, F.T.; FRANCO, G.S. et al. Short-term creatine supplementation does not reduce increased
homocysteine concentration induced by acute exercise in humans. Eur J Nutr; 53: 1355-1361, 2014.
32. FEDOSOV, S.N. Metabolic signs of vitamin B12 deficiency in humans: computational model and its implications for
diagnostics. Metabolism; 59 (8): 1124-1136, 2010.

www.vponline.com.br

29

Você também pode gostar