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Revista Brasileira de

NUTRIÇÃO
FUNCIONAL
Brazilian Journal of Functional Nutrition

ISSN 2176-4522
ano 18. edição 73
www.vponline.com.br

RECEITA
Bolinho assado de
grão-de-bico e especiarias

Efeitos do exercício nas respostas


moleculares e hormonais que induzem a lipólise

Prevenção e tratamento da
esteatose hepática pelos alimentos

Série Agroecologia - Parte IV


Água: Recurso finito vital à sobrevivência das populações e do planeta
Editorial
Dra. Valéria Paschoal
Diretora da VP Centro de Nutrição Funcional

Iniciando mais um ano de atualizações científicas, esta edição conta com temas
relevantes para agregar mais conhecimento à prática clínica de nossos leitores.

A esteatose hepática é um desequilíbrio que acomete centenas de pessoas todos


os anos e está associada ao aumento da obesidade a estilos de vida não saudáveis.
Trazemos, assim, uma importante revisão sobre o papel da nutrição nessa doença,
ressaltando que por meio de alimentos ricos em vitaminas, minerais e compostos
bioativos, é possível reduzir os riscos e auxiliar no seu tratamento.

Os alimentos são as principais fontes dos nutrientes essenciais para a modulação e


equilíbrio das funções orgânicas, sendo o principal objeto de trabalho do nutricionista.
Na prática clínica, em alguns casos, de acordo com a individualidade bioquímica, a
suplementação nutricional pode ser uma ferramenta complementar. Nesse contexto,
apresentamos um artigo esclarecedor sobre os fatores que podem influenciar a efetividade
da suplementação, reforçando a importância da prescrição de forma ética, responsável e segura.

Na área de nutrição esportiva, apresentamos atualizações sobre a aplicação da dieta de FODMAPs


em atletas e seus efeitos no sistema gastrointestinal e sobre os efeitos do exercício nas respostas
moleculares e hormonais que induzem a lipólise, que trazem informações relevantes para o tratamento
nutricional de atletas e praticantes de atividade física que buscam saúde e rendimento.

No âmbito da agroecologia e sustentabilidade, trazemos dados importantes


para o entendimento do papel do estresse ambiental no metabolismo secundário
das plantas e como os sistemas de produção convencionais e naturais podem
impactar na qualidade nutricional dos alimentos. Ainda nesse aspecto, nossa
série de Agroecologia vem ao encontro do 8° Fórum Mundial da Água,
fortalecendo o conceito da água como recurso finito vital à sobrevivência das
populações e do planeta.

Na gastronomia, uma nutritiva receita de bolinho assado de grão-de-bico


e especiarias para dar mais sabor e vitalidade positiva à alimentação.

Boa leitura!
Dra. Paula Gandin
Presidente do Instituto Brasileiro de Nutrição Funcional
Revista Brasileira de Nutrição Funcional

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Revista Brasileira de Nutrição Funcional - 2018 - edição 73


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Diretoras Responsáveis Redação, Publicidade e Administração
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Valéria Paschoal e Andréia Naves VP Centro de Nutrição Funcional
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Coordenação e Autores
Conselho Editorial
Ana Cláudia Poletto
Nutricionista pela Universidade Estadual do Centro-Oeste (2002) e mestre em Ciências, com ênfase em
Fisiologia Humana pela Universidade de São Paulo (2006). Pesquisadora (doutoranda, desde 2007) do
programa de Fisiologia Humana da Universidade de São Paulo. Tem experiência na área de Fisiologia
Endócrina, atuando nos temas: mecanismos transcricionais envolvidos na regulação da expressão do gene
SLC2A4, sensibilidade à insulina, metabolismo lipídico, obesidade e diabetes mellitus.

Ana Vládia Bandeira Moreira


Nutricionista graduada pela Universidade Estadual do Ceará (1996), mestre em Ciências dos Alimentos pela
Universidade de São Paulo (1999) e doutora em Ciências dos Alimentos pela Universidade de São Paulo (2003).
Atualmente é professora adjunta da Universidade Federal de Viçosa (MG). Coordenadora do Laboratório
de Análise de alimentos e coordenadora do Projeto de extensão pró-celíaco. Ministra as disciplinas de
Técnica Dietética na Graduação e Dietética Aplicada no Mestrado e Doutorado e Gastronomia Funcional na
especialização na UFV.

Andréia Naves
Nutricionista e Educadora Física. Diplomada pelo The Institute for Functional Medicine (USA) em 2007. Editora
Científica da Revista Brasileira de Nutrição Funcional. Diretora da VP Centro de Nutrição Funcional. Docente
convidada dos cursos de pós-graduação em Nutrição Clínica Funcional e Nutrição Esportiva Funcional da VP
Centro de Nutrição Funcional em parceria com a Universidade Cruzeiro do Sul. Autora dos Livros “Nutrição
Clínica Funcional: dos Princípios à Prática Clínica”, “Nutrição Clínica Funcional: Obesidade”, “Nutrição Clínica
Funcional: Modulação Hormonal” e “Tratado de Nutrição Esportiva Funcional”. Colaboradora do livro
www.vponline.com.br

“Suplementação Funcional Magistral: dos Nutrientes aos Compostos Bioativos”. Membro do The Institute
for Functional Medicine – USA. Coordenadora científica dos cursos de pós-graduação em Nutrição Esportiva
Funcional da VP Centro de Nutrição Funcional em parceria com a Universidade Cruzeiro do Sul.

3
Coordenação e Autores
Anna Cecília Queiroz de Medeiros
Nutricionista pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Mestre em Ciências da Saúde pela
Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Docente da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Experiência na área de Nutrição, com ênfase em Nutrição e metabolismo de nutrientes nos diversos estados
fisiológicos.

Fátima Aparecida Arantes Sardinha


Nutricionista. Doutora em Ciência dos Alimentos pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas/USP. Mestre em
Ciências Aplicadas à Pediatria pela UNIFESP/EPM. Especialista em Nutrição e Saúde Pública pela UNIFESP/
EPM. Docente convidada do curso de pós-graduação em Nutrição Clínica Funcional da VP Centro de Nutrição
Funcional em parceria com a Universidade Cruzeiro do Sul.

Fernanda Serpa
Diretora e Docente da Empresa Nutconsult. Nutricionista pela Universidade do Estado do RJ/UERJ. Título de
residência em Clínica Médica no Hospital Universitário Pedro Ernesto/UERJ. Pós-graduada em Nutrição Clínica
Funcional da VP Centro de Nutrição Funcional em parceria com a Universidade Cruzeiro do Sul. Docente
convidada dos cursos de pós-graduação e extensão da VP Centro de Nutrição Funcional em parceria com
a Universidade Cruzeiro do Sul. Mestre em Clínica Médica - IPPMG/UFRJ. Nutricionista Militar do Corpo de
Bombeiros do RJ. Nutricionista Municipal do Hospital Souza Aguiar.

Gilberti Hübscher
Nutricionista. Mestre e Doutora em Fisiologia Cardiovascular pela UFRGS. Especialista em Gestão e Saúde
pela PUC-RS, Gestão em UAN pela UNISINOS e em Saúde da Família pela ULBRA (RS). Docente convidada
dos cursos de pós-graduação em Nutrição Clínica Funcional da VP Centro de Nutrição Funcional em parceria
com a Universidade Cruzeiro do Sul e dos cursos de graduação em Nutrição e pós-graduação em Saúde e
Trabalho da Feevale (RS). Membro do Instituto Brasileiro de Nutrição Funcional (IBNF).

Márcia Cristina Paiva


Nutricionista, graduada na Universidade de Passo Fundo - RS. Pós-graduada em Nutrição Clínica Funcional e
pós-graduanda em Fitoterapia Funcional da VP Centro de Nutrição Funcional em parceria com a Universidade
Cruzeiro do Sul. Educadora em diabetes certificada pela empresa Medtronic Brasil de equipamentos médicos
(Bombas de infusão de insulina). Atua em atendimento clínico em clínica de gastroenterologia em São José
dos Campos - SP.

Rosangela Passos de Jesus


Professora Adjunta da Escola de Nutrição da UFBA (ENUFBA). Doutora em Ciências da Saúde pela Faculdade
de Medicina da USP. Mestre em Nutrição pela Universidade Federal de São Paulo. Especialista em Nutrição
Clínica Funcional, coordenadora do Ambulatório de Nutrição e Hepatologia do Hospital Universitário Prof
Edgard Santos.

Sandra Matsudo
Médica Especializada em Medicina Esportiva pela Escola Paulista de Medicina - UNIFESP. Doutorado e pós-
doutorado em Ciências pela Escola Paulista de Medicina - UNIFESP. Diretora Geral do Centro de Estudos do
Laboratório de Aptidão Física de São Caetano do Sul - CELAFISCS. Coordenadora geral do Projeto Longitudinal
de Envelhecimento e Aptidão Física de São Caetano do Sul. Coordenadora pela IUHPE dos Cursos de Atividade
Física e Saúde Pública - Agita Mundo. Professora Titular do Curso de Educação Física do Centro Universitário
FMU. Editora Executiva da Revista Brasileira de Ciência e Movimento. Autora dos Livros: “Avaliação do Idoso
- Física e Funcional”, “Envelhecimento e Atividade Física” e “Obesidade e Atividade Física”.
Revista Brasileira de Nutrição Funcional

Valéria Paschoal
Nutricionista. Mestre na área de Nutrição e Pediatria pela UNIFESP – EPM. Editora Científica da Revista
Brasileira de Nutrição Funcional. Coordenadora científica e docente convidada dos cursos de Nutrição
Clínica Funcional e Nutrição Esportiva Funcional da VP Centro de Nutrição Funcional em parceria com a
Universidade Cruzeiro do Sul. Diretora da VP Centro de Nutrição Funcional. Autora dos Livros “Nutrição
Clínica Funcional: dos Princípios à Prática Clínica”, “Suplementação Funcional Magistral: dos Nutrientes aos
Compostos Bioativos”, “Nutrição Clínica Funcional: câncer” "Tratado de Nutrição Esportiva Funcional" e
"Nutrição & Sustentabilidade: alimentando um mundo saudável". Coordenadora da Comissão Científica do
Instituto Brasileiro de Nutrição Funcional (IBNF). Membro do The Institute for Functional Medicine – USA.
Nutricionista do CSA Brasil (Community Supported Agriculture - Agricultura Sustentada pela Comunidade).
Membro do conselho consultivo da CNTU (Confederação Nacional dos Trabalhadores Liberais Universitários
Regulamentados).
4
Coordenação e Autores
Lista de Autores
Elisa de Almeida Jackix
Nutricionista graduada pela PUC Campinas. Doutora em Nutrição Experimental Aplicada à Tecnologia dos
Alimentos - UNICAMP. Mestre em Nutrição Experimental Aplicada à Tecnologia dos Alimentos - UNICAMP.
Docente do curso de graduação da PUC-Campinas. Docente e supervisora de estágio na área de Nutrição
Social e Educação Física da FAM, UNIMEP, METROCAMP. Docente convidada dos cursos de pós-graduação
em Nutrição Clínica Funcional e Nutrição Esportiva Funcional da Universidade Cruzeiro do Sul em parceria
com a VP Centro de Nutrição Funcional.

Fernando Oliveira Catanho da Silva


Bacharel em Treinamento Esportivo pela UNICAMP. Licenciado em Educação Física pela UNICAMP. Especialista
em Bioquímica e Fisiologia do Exercício pela UNICAMP. Doutor em Biologia Funcional e Molecular pela
UNICAMP. Professor Titular do Centro Universitário Adtalem/Devry/Metrocamp, Campinas/SP. Docente
convidado no curso de pós-graduação em Nutrição Esportiva Funcional pela Universidade Cruzeiro do Sul.

Isabela Pereira Gouveia


Graduanda em Nutrição pelo Centro Universitário São Camilo. Estagiária em Nutrição no departamento
científico da VP Centro de Nutrição Funcional.

Luis Gustavo Patricio Nunes Pinto


Graduando em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho” (Unesp) de
Bauru, integrante da Articulação Regional de Agroecologia (ARA); principais temas de pesquisa: Agroecologia,
produção orgânica e biodinâmica, Agricultura familiar, sustentabilidade rural e ambiental.

Maiara Cristina de Lima


Nutricionista. Especialista em Nutrição Esportiva. Membro da Academia Brasileira de Nutrição Funcional.
Docente convidada no curso de pós-graduação em Nutrição Esportiva Funcional pela Universidade Cruzeiro
do Sul em parceria com a VP Centro de Nutrição Funcional.

Márcio Leandro Ribeiro de Souza


Nutricionista. Doutorando e mestre em Saúde do Adulto pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal
de Minas Gerais (UFMG). Pós-graduado em Nutrição Clínica Funcional, em Nutrição Esportiva Funcional e em
Fitoterapia Funcional pela Universidade Cruzeiro do Sul em parceria com a VP Centro de Nutrição Funcional.
Pós-graduado em Treinamento Desportivo. Docente convidado nos cursos de pós-graduação em Nutrição
Clínica Funcional, Nutrição Esportiva Funcional e Fitoterapia Funcional pela Universidade Cruzeiro do Sul em
parceria com a VP Centro de Nutrição Funcional.

Wagner Alessandro dos Reis


Nutricionista formado pelo Centro Universitário Newton Paiva/BH. Especialista em Formação Pedagógica
para Profissionais de Saúde pela Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Pós-graduado em Nutrição Esportiva Funcional e Fitoterapia Funcional pela VP Centro de Nutrição Funcional
(UNICSUL). Docente convidado dos cursos de pós-graduação em Nutrição Esportiva Funcional e em Fitoterapia
Funcional da VP Centro de Nutrição Funcional (UNICSUL). Nutricionista e diretor do Espaço Wagner dos Reis.
Personal Nutrition Funcional. Ministra palestras e cursos de atualização em Nutrição Funcional.
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5
Índice

O papel do estresse ambiental no metabolismo secundário das plantas correlacionado


aos sistemas convencionais e naturais de produção de alimentos
7

Short Communication: aplicação da dieta de FODMAPs em atletas e efeitos no


12 sistema gastrointestinal

Prevenção e tratamento da esteatose hepática pelos alimentos


17

Efeitos do exercício nas respostas moleculares e hormonais que induzem a lipólise


26

Fatores que influenciam a efetividade dos suplementos nutricionais


35

Receita: Bolinho assado de grão-de-bico e especiarias


43

Série Agroecologia: Parte IV - Água: Recurso finito vital à sobrevivência das


Revista Brasileira de Nutrição Funcional

populações e do planeta
45

6
Maiara Cristina de Lima

Short Communication: aplicação da dieta de


FODMAPs em atletas e efeitos no sistema
gastrointestinal

Short Communication: application of the FODMAPs diet in athletes and effects on the
gastrointestinal system

Resumo
As queixas gastrointestinais durante o exercício são relatadas de maneira recorrente em diversos esportes, como ciclismo e corrida, ou
em dias de competições e incluem refluxo, náuseas, vômitos, eructações, dor estomacal, cólicas, desejo de defecar e diarreia. A dieta
conhecida de baixo teor de FODMAPs (oligossacarídeos fermentáveis, dissacarídeos, monossacarídeos e polióis, carboidratos de cadeia
curta) é implementada visando a reduzir esses sintomas em treinos e competições, sendo uma promissora estratégia em corredores e
demais atletas na prática clínica.

Palavras-chave: FODMAPs, sintomas gastrointestinais, atletas.


Revista Brasileira de Nutrição Funcional

Abstract
Gastrointestinal complaints during exercise are recurrently reported in various sports, such as cycling and running, or on competition
days, and include reflux, nausea, vomiting, belching, stomach pain, cramps, craving and diarrhea. The known diet of low content of
FODMAPs (Fermentable Oligosaccharides, Disaccharides, Monosaccharides and Polyols, short chain carbohydrates) is implemented in
order to reduce these symptoms in training and competitions, being a promising strategy in runners and other athletes in clinical practice.

Keywords: FODMAPs, gastrointestinal symptoms, athletes.

12
A
Short Communication: aplicação da dieta de FODMAPs em atletas e efeitos no sistema gastrointestinal

As queixas gastrointestinais durante o exercício “oligossacarídeos fermentáveis, dissacarídeos,


são relatadas de maneira recorrente em diversos monossacarídeos e polióis”, que são tipos de
esportes, como ciclismo e corrida, ou em dias de carboidratos de cadeia curta presentes em diversos
competições. Diversos gatilhos podem desencadear alimentos, incluindo trigo (frutanos), pera
sintomas gástricos durante o exercício, como (frutose), leite de vaca (lactose), legumes (galacto-
mecânicos fisiológicos (permeabilidade intestinal) oligossacarídeos, GOS) e nectarina (polióis)7.
e fatores dietéticos1,2. Para melhor compreensão de quais alimentos
Corredores apresentam mais chances de devem ser consumidos e evitados, tem-se, como
apresentar problemas gastrointestinais, em referência, a tabela atualizada do IBS Diets no site.
virtude da maior movimentação peristáltica Essa tabela foi criada com o intuito de auxiliar
que o esporte promove e pelo próprio impacto. pacientes com síndrome do intestino irritável
Aproximadamente 30-90% dos corredores podem a conhecerem alimentos que pioram o quadro
sofrer de distúrbios gastrointestinais, que podem inflamatório intestinal e quais variedades podem
ou não afetar o desempenho3,4. ser incluídas na alimentação. A tabela possui uma
Tais desequilíbrios podem ser definidos primeira parte em rosa, separada por grupos que
como sintomas gastrointestinais superiores, devem ser evitados (alto teor de FODMAPs), e
como refluxo, náuseas, vômitos, eructações, dor uma tabela azul, com os alimentos que devem
estomacal, inchaço, ou sintomas gastrointestinais ter seu consumo incentivado (baixo teor de
inferiores, incluindo cólicas abdominais, dor FODMAPs). Observamos que, apesar de uma
lateral, flatulência, sangramento intestinal, desejo grande listagem de alimentos com elevado teor,
de defecar e diarreia3,5. existem muitas combinações de alimentos que
A dieta conhecida de baixo teor de FODMAPs podem ser consumidos, tornando a alimentação
é muitas vezes implementada na prática clínica desses pacientes menos monótona. No Quadro 1
como um tratamento eficaz para síndrome do estão listados alguns exemplos desses alimentos
intestino irritável6,7. O termo FODMAP significa que estão na tabela como fontes de FODMAPS.

Quadro 1. Alimentos fontes de FODMAPs.

Lactose Frutose Frutanos /GOS Polióis

Leite Maçã Inulina Maçã

Iogurte Cereja FOS Damasco

Queijo cottage Melancia Chicória Nectaria

Ricota Alcachofra Alho Pêra

Aspargos Alho-poró Ameixa

Agave Cebola Ameixa seca

Mel Pistache Melancia

Rum Castalha-de-caju
Castanha-de-caju
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Xarope de milho

Fonte: Adaptado de ibsdiets.org8

13
Maiara Cristina de Lima

Os carboidratos não absorvidos, incluindo flatulência, dor abdominal ou diarreia5.


frutanos e GOS, são fermentados no cólon, Na Figura 1 é possível observar como ocorre
levando à produção de gases. Na síndrome do o processo de fermentação desses alimentos pelas
intestino irritável é comum a má absorção de bactérias intestinais, aumentando a produção
FODMAPs, que, livres no intestino, podem de gases e o líquido dentro do lúmen intestinal
aumentar o fluido colônico e gás produzido, o que (termo comumente conhecido como distensão
posteriormente pode desencadear ou amplificar abdominal)9.
os sintomas gastrointestinais, como inchaço,

Figura 1. Mecanismos dos efeitos dos FODMAPs no trato gastrointestinal.

Intestino delgado Cólon


H2O
Distensão luminal
Lactase
H2O
Glucose
Galactose Lactose
H2O H2
H2O H2O Fermentação
Poliois bacteriana
CH4
H2O H2O
H2O
Frutose
H2O CO2
GOS
Frutose SCFA H2O
Glucose Acetato
Frutanos
Propionato
Butirato
GLUT2 GLUT5

Fonte: Adaptado de Aziz et al.9

Para o nutricionista esportivo é muito microbioma11. Assim, é importante modular o


importante saber como prevenir problemas intestino com probióticos e com o aminoácido
gastrointestinais severos. Treinar o intestino para glutamina12.
tolerar quantidades aumentadas de carboidratos e De acordo com a Sociedade Brasileira de
fluidos pode aumentar a oxidação de carboidratos Nutrição Parenteral e Enteral, a implementação
e, teoricamente, reduzir a probabilidade de da dieta com baixo teor de FODMAPs envolve
desequilíbrios gastrointestinais10. aconselhamento dietético aprofundado. A exclusão
Considerando o comprometimento do intestino dietética de FODMAPs pode ocorrer por 4 a 8
durante o exercício extenuante, é possível que semanas para testar a resposta dos sintomas, e, após
altas ingestões ou presença residual de FODMAPs esse período, quando a resposta sintomática foi
no cólon possam desencadear ou amplificar os alcançada, esses carboidratos são reintroduzidos
Revista Brasileira de Nutrição Funcional

sintomas gastrointestinais durante ou após o na dieta individualmente, para avaliar a tolerância


exercício7. e monitorar os sintomas. Isso garante alcançar uma
Nesse sentido, a escolha da alimentação é a dieta diversificada e nutricionalmente adequada
chave para a implementação bem sucedida da ao lado do controle de sintomas em longo prazo13.
dieta com baixo teor de FODMAPs, pois tem Em se tratando de atletas em períodos próximos
potencial para ser menor em fibras com alto a competições, a recomendação é para que
teor fermentativo do próprio grupo citado de seja seguida uma dieta baixa em FODMAPs
FODMAPs, influenciando a composição do durante 2 a 3 dias antes dos eventos ou sessões

14
Short Communication: aplicação da dieta de FODMAPs em atletas e efeitos no sistema gastrointestinal

de treinamento críticos, para aliviar os sintomas. Contra filé grelhado com sal grosso e pimenta-
Sabendo que a nutrição antes e durante o exercício do-reino
pode contribuir para reduzir os riscos de diarreia Macarrão de arroz com molho pesto
em corredores, sugere-se evitar os seguintes Lanche da tarde
componentes4: Pasta de berinjela
• Alimentos contaminados; Biscoito de arroz
• Alta ingestão de fibras; Jantar
• Isomaltulose; Sopa de abóbora e frango com gengibre e
• Gordura; cebolinha com azeite
• Proteína;
• Frutose (isoladamente); Estudos com a aplicação da dieta baixa
• Cafeína; em FODMAPs em praticantes de atividade
• Álcool; física ainda são escassos. Contudo, alguns
• Bicarbonato; pesquisadores, ao aplicarem uma intervenção
• Baixo consumo de líquidos. dietética baseada nos princípios acima, verificaram
resultados promissores. Lis et al.14 analisaram
Abaixo, um exemplo para ilustrar a aplicação um grupo de praticantes de atividade física
prática de um cardápio com baixo teor de durante 6 dias sem intervenção com dieta LOW-
FODMAPs. FODMAPs e durante 6 dias de treinamento com
Café da manhã a dieta LOW-FODMAPs. As classificações de
Ovos mexidos com azeite, finalizados com sintomas gastrointestinais foram registradas
cúrcuma imediatamente após o treinamento. As pontuações
Raízes (batata doce ou salsa) no forno com (escala 0-9) variaram de 0 a 4 durante o período
alecrim dietético habitual, enquanto durante a dieta LOW-
Lanche da manhã FODMAPs todos os escores tiveram a pontuação
Smoothie de leite de coco com banana 0, ou seja, sem sintomas de refluxo, eructação,
congelada com mirtilo ou açaí vômitos, náuseas, dores abdominais e urgência
Almoço de defecar, como mostra a Tabela 1.
Folhas verdes

Tabela 1. Escores de sintomas gastrointestinais durante treinamento com dieta LOW-FODMAPs

Sintomas Linha de Base Habitual Low FODMAP


Diariamente Min Máx Min Máx
TGI Superior
Refluxo 2 1 2 0 0
Eructação 2 1 2 0 0
Inchaço 4 1 3 0 0
Cãibra abdominal 4 0 1 0 0
Vômitos 0 0 0 0 0
Náusea 0 0 0 0 0
TGI Inferior 1 3 0 0
Cãibra abdominal 4 1 3 0 0
Dor lateral 2 0 2 0 0
Flatulência 7 3 4 0 0
Urgência para defecar 5 0 3 0 0
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Diarreia 5 0 0 0 0
Hemorragia intestinal 0 0 0 0 0

Fonte: Adaptado de Lis et al.14

15
Maiara Cristina de Lima

Observando todos os sintomas que ocorrem a aplicação desse tipo de dieta pode ser uma
durante a prática esportiva e como podem ser estratégia inicial e promissora para melhorar
aliviados pela dieta com baixo teor de FODMAPs, sinais e sintomas tão comumente relatados na
a intervenção do nutricionista esportivo é de suma prática clínica, podendo refletir positivamente na
importância para alcançar a melhora da qualidade performance física.
de vida e saúde desses praticantes. Dessa forma,

Referências
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Revista Brasileira de Nutrição Funcional

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