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Sucessoes 153-350-10-40
Sucessoes 153-350-10-40
a aplicaçao desta figura aos legados. Trata-se assim de urna situaçao bens”, enquanto que “a substituiçao fideicomis
sucessor instituldo em primeiro lugar (o fiduciário) fica obrigado a
e ma dnjca disposicao de
nurna dupla disposiçao sucessiva, que se traduz normalmente
o objecto da sucessão para que ele reverta por sua morte em benefIcjo
conse ja consiSte 1 1
nens “279
irna aqUislcao sucessiva aos
— .
d7
segundo sucessor (o fideicornissário). Em ordem a permitir 0
Conhecjm
da situaçao por terceiros, a cláusula fideicomissária está sujeita a A ubstitUicao fideicomissária também se distingue da substituiçao pupi
termos do art. 94° b) C.R.P.
registoffl( e quase-puPilar uma vez que nesta o progenitor se substitui ao filho ou ao
A substituiçao fideicomissária ou fideicornisso277 corresponde a r acompanha na realizaçao do seu testarnento, e portanto na qualidade
urna I J.ir, enquanto que naquela é o herdeiro ou legatário que e substituldo.
tese tIpica de vocaçao sucessiva, em que se verificam duas vocacoes,
a favor do fiduciário e depois do fideicornissário, após a morte deste.
prim a além disso, 0 substituto pupilar não é herdeiro do testador, nem vem a
Ao ben quaisquer bens deste, adquirindo bens que foram do fliho ou do major
trário do que se verifica na vocação indirecta, que toma por referéncia c
ou panhado após a sua morte, e que este tenha adquirido por via do testador.
charnado cuja vocação não se concretizou, aqui verificarn-se e concret
-se duas vocaçöes, as quais resultam do mesmo negócio jurIdico
(testame 6.2. Evolucão histórica.
ou pacto sucessório) celebrado pelo de cuius, o que vai permitir a missos surgern no Direito Romano como forma de reagir contra as
ac
sucessiva dos bens por parte dos dois chamados2°. pacidades sucessórias, que nesse ordenamento tinharn gnande amplitude,
Assim, a substituiço fideicomissária distingue-se da substituiçao
dire i como para ultnapassar as formalidades testamentánjas. Assim penante a
pelo que nesta o substituldo nao chega a exercer o direito de suceder, ossibilidade de detenminada pessoa suceden ao testadon, este solicitava a
enqua
que naquela esse direito é efectivamente exercido. Enquanto que na s
seu herdeiro ou legatánio (o fiduciário), que após a sua monte tnansmitisse
tuição directa ha apenas urn chamamento eficaz, a substituiçao fideicomjs
dos esses bens ou pante deles a urn terceiro (fideicomissánio). Esta vinculaçao
na pressupöe a eficácia dos dois chamamentos, sendo o substituto chan tinha, porém, fonça junIdica, sendo apenas um dever moral, fnequentemente
depois do substituIdo. Por isso se pode dizer que “a substituiçao directa umprido pelo fiduciánio280. Apenas corn Augusto vejo a ser reconhecida fonça
Cd
siste nurna dupla disposiçao alternativa, que se resolverá necessariame [dica aos fideicomissos (Inst. 2.23.1.), ainda que, difenenternente dos legados,
o pudessern ser sujeitos a actio ex testamento, mas a uma junisdiçao especial,
(1948), I, n2s 3 e 4, pp. 105-134, GALVAO TELLES, Sucessao testamenta’rja, .fideicommissarius, que poderia reconhecê-los atnavés do pnocesso da
pp. 97 e ss., BAPTIS’
LOPES, Das doaçaes, pp. 103 e ss., OLIVEIRA ASCENSAO, Sucessães, 232 e ss., CAPELC
,nitio extra ordinem28t. 0 fideicornissário tornou-se assim credon do fiduciánio
pp.
SOUSA, SucessOes, I, pp. 220 e ss., CARVALHO FERNANDES, Sucessöes, ie era obrigado a cumpnir as disposiçoes testamentánias, tnansmitindo lhe os
pp. 240 e ss. JOR(
DUARTE PINHEIRO, Sucessães, pp.139 e ss., CARLOS OLAVO, “Substituiçao
fideicomissária”,c ens. No caso dos fideicomissos parciais, tal deconnia de stipulationes parciais
ANTNIO MENEZES CORDEIRO / LUIS MENEZES LEITAO JANUARIO
/ COSTA GOM 1melhantes ao cumpnimento do legado pelos hendeinos. No caso dos fideico
(org.), Estudos em Homenagem ao Profrssor Doutor Inocêncio Galvao Telles, I Direito
Privado e Vdris
issos univensais, o cumpnimento dos mesmos passava por vendas fictIcias da
—
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DIREITO DAS SUCF.SSOES
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DIRETTO DAS SUCESSOES CAPfTULO X A vocAcAo SIJCESSóRIA.
permite-Ihe reter a quarta parte dos bens que a Lex Falcidia reconheci
sdive1Os palses eurOpeus288. Recenternente, no entanto, tern-se vindo
herdeiros testamentários excessivamente onerdados282. dos fideicomissos. Assim, em Franca, a reforma do
Corn o Direito Justinianeu, tanto fiduciário e fideicomissárjo r alguma reabilitacão
foram rec -o das SuceSSOe5 institulda pela Lei 2006-728, de 23 de Junho, permitiu
nhecidos corno herdeiros, podendo 0 primeiro reter a quarta parte incluindo de resIduo, corn urn novo regime das liberalidades
dos b
e ficando o segundo corn direito a receber os bens através da restitutio residuais (arts. 1048° e ss. e 1057° e ss. CCfr).
N uais e
época, permitiu-se ainda que os fideicomissos fossem sujeitos a termo,o portugal, Os fideicomissos perpétuos foram reduzidos pelo Decreto de
permitia que a restituiçao so se fizesse após determinado lapso de
teni i--il de 1832 e definitivarnente abolidos pelas Leis de 30 de Junho de 1860
‘
No âmbito do Direito Intermédio, o objectivo de manutençao d , Maio de 1863. Os restantes continuaram, no entanto, a ser admitidos,
familia permitiu o desenvolvimento das substituiçoes fideicomissárjas
do contrOvérsia na doutrina qual 0 grau ate ao qual poderiam vigorar289.
a estipulaçao de verdadeiras condiçoes. Foi assim cornum no fideicor
estipulaçao da condiçao si sine liberis decesserit, que apenas permitia a
-
o Codigo Civil de 1867 viria a restringir ainda mais as substituiçoes fideicomis
trant -s, apenas as admitindo para o futuro em proveito dos netos ou de sobrinhos
são dos bens para o fideicomissário no caso de o fiduciário falecer sem ,.ior (art. 1867°). Já Os fideicomissos de pretérito so foram considerados
des
dentes, destinada a permitir a conservaçao dos bens na farnIlia do gray os ate ao primeiro grau (art. 1874°). A sanha contra os fideicomissos viria,
que em regra era parente do testador. A Glosa viria mesmo a considerar itanto, a ser ate nuada pelo Decreto n° 19126, de Dezembro de 1930, que alte
condiçao impilcita nos fideicomissos284. 0 fideicomisso viria por outro
la to art. 1867°, voltando a permitir todas as substituiçoes fideicomissárias em
ser associado a proibiçao de alienaçao e a ser admitido em vários graus, n+grau. Foi essa a soluçao que igualmente passou para o actual Codigo Civil.
mitindo assirn ao testador criar uma ordem de sucessores, a quem os
be
deveriam ser sucessivamente atribuldos e cuja alienaçao era proibidaa8s. .3. Elementos constitutivos da substituiçao fideicomissária.
Em Portugal, o costume levou ao desenvolvirnento de duas formas .3.1. Generalidades.
pa
ticulares de fideicornisso: as capelas e os morgadios, os quais eram per ubstituição fideicomissária possui os seguintes elernentos constitutivos:
tuos, sucessivos, inalteráveis e indivisIveis, sendo os primeiros deixados
p
cumprimento de obras pias e os segundos corn o fim de conservar o nome c a) Dupla liberalidade com o mesmo objecto;
famIlia. Os morgados vieram a ter grande aplicaçao, embora tenham b) Encargo imposto ao primeiro beneficiário da liberalidade de conservar
vini
a ser regulados apenas nas Ordenaçoes Filipinas (Livro IV, Tit.100)286. durante a sua vida o objecto da mesma para que este reverta por sua
Corn o advento do liberalismo e a absolutizaçao do direito de propriedai morte a favor do segundo beneficiário;
os fideicomissos entram em decadéncia, vindo a Revoluçao Francesa a proil c) Ordem sucessiva290.
as substituiçoes fideicomissárias através da Lei 14 de Novembro de 17
considerou nulas as disposiçoes a favor do fideicomissário. Indo ainda ma: Examinemos sucessivarnente estes elementos
longe, o Código Civil frances de 1804 considerou nulas as mesmas ta
em relaçao ao fiduciário (art. 896 CCfr287). A difusão das ideias revolucionL e’ritier institutou du le’gataire”. Hoje esta diposicao limita-se a prever: “La disposition par laquelle une
personneestchargee deconserveretde rendreà n tiers neproduit d flitque dans lecas 011 cite estautoriséeparla lot”.
Cfr. CARLOS OLAVO, Estudos GaivaoTettes, I, p. 406.
282
Cfr. CARLOS OLAVO, Estudos Gaivão Telles, I, pp. 400-401. Cfr. ANTONIO COSTA FARO, na ROA 8(1948), I, n9s 3 e 4, p. 110, eCARLOS OLAVO, Estudos
283
Cfr. CARLOS OLAVO, Estudos Galvao Telles, I, p. 401. alvaoTelies, I, p. 406.
284
Cfr. GALVAO TELLES, Direito deRepresentaçao, p. 161. Cfr. VAZ SERRA, “Sobre o problerna dos fideicornissos condicionais”, na RU 62 (1929-1930),
285
Cfr. CARLOS OLAVO, Estudos Galvao Teiles, I, p. 402.
pp. 145-147, 161-163, 177-179, 193-196, 209-212, 225-228, 241-244, 257-259, 273-276, 289-291,
Cfr. CARLOS OLAVO, Estudos Galvao Telies, I, pp. 402-403.
287
L305308, 321-324,337-340,353-356,369-372,385-388,401-404 e 63 (1930-1931), pp. 2-4 e 17-202
Code Civil, art. 896: “Les substitutions sont prohibees. Toute chsposition par laquelle le donataire, l’héritier J354, CUNHA GONçALVES, Tratado, X, pp. iSle ss., ANTONIO COSTA FARO, na ROA 8(1948),
instituéou le leataire, sera chargé de conserver et de rendre a tin tiers, sera nulls, mêrne a ügard dii donatairt, I, n8s 3 e 4, pp. 111 e ss., e CARLOS OLAVO, Estudos Galvão Teltes, I, 431.
p.
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DIREITO DAS SUCESSO
ES
CAPITULO X A vocAcAo SUCESSORIA
o que permite igualm
ente a sua aplicaçao no
âmbito da sucessão contratual. quadro da doaçao por mo
0 art. 17OO, n22, é alias rte tar 1idir essa proibicã0 como na hipótese de alguém determiflar uma
o recurso a substituiçöes fideic expresso em pen fideicomjssanjo, subordinada a urn acontecirnen
ornissárias em relaçao aos ersâo para urn segundo to
estabelecidos na convenção pactos sucessó
antenupcial. A substituiç
ao fideicomissária no e incerto. Senia 0 caso de alguém determiflar a atnibuicão dos seus bens
naturairnente também ser
realizada no caso de do
açoes em vida. pod atófli0, corn o encargo de os transmitir por morte para BernardO, mas que,
Já no âmbito da sucessão
legitirnária, a substituiç reste ltimo falecesse sern descendentes, os seus hens passariam para Canlos.
vedada pelo art. 2163, qu ao fideicon:,
e impede o testador de
instituir encargos A maioria da doutrina considera, porérn, que o facto de o art. 2288° apenas
a legItirna contra a vonta sob referit a que a reversão para ofideicornissãrbo fique subordinada a urn aconte
de do herdeiro. Também
admissIvel a aplicaçao da su nao é conceptualmep
bstituiçao fideicomiss rnentO futuro e incerto impede a estipulacão apenas da condicãO suspensiva,
legItirna, urna vez que a ária em relaçao a
sua instituiçao por testam
ento ou pacto sucess
sucessã as j não da cojcão resolutjva, uma vez nesta verificase antes a resolu
implicaria que os herde
iros legitirnos passasse da vocacão (art. 270°, sendo assim a mesma permitida pelo art. 2229°.
rios ou contratuais. E, ali rn a sucessores testa .
as, o que sucede no caso ment te enquadrarnento seria possIvel instituir uma vocação subordinada a
em que, no caso de proibi previsto no art. 2295°,
çao ao herdeiro de dispo n°2 ndicã0 resolutiva de o herdeino instituIdo falecer sern descendefltes, caso
considerados corno fideic r dos bens da herança
ornissários os herdeiro
s legItimos do fiduciári
, são rem que os bens seriam antes atnibuldos a terceiro. Nesse caso, o falecirnento
o2°. ‘scm descen ntes resolveria a vocacão, considerando-5e esse herdeiro
5.6.5. Limites de validad inca tendo sido charnado, o que afastaria o carãcter sucessivo da substitui
e.
A lei admite a possibilida ;aofideiconssaria. A questãO de saber se uma clãusula si sine liberis decesserit
de de a substituiçao fideic
havendo assim obstácu omissária ser plural,
los a designaçao simultân nia uma condicao resolutiva em vez de uma substituicão fideicomisSaria
de vários fideicomissári ea de vários fiduciáriosnaQi
os (art. 22872). Nesse ca iepende da estipulacão do seu efeito retroactivo, sendo matéria a resolver
siçao para Os fideicorniss so, naturalmente que a
ários so se verifica corn o aqui. pela interpretacäo do testarnento299.
fiduciários. falecimento do ültimo
do Parecefl°5, no entanto, que o espirito do art. 2288° é o de evitar a utili
São, porém, nulas as subs zacão da condicäo para elidir a proibicão das substituicoes fideicorniSSárias
tituiçoes fideicornissári
como na hipótese de o fideic as em mais de urn
omissário ser por sua vez g em mais de urn grau, o que tanto se verifica na condicão suspensiva corno na
de outro fideicomissári de sig na do fid condicão resolutiva. SomoS assim de opinião que ambas são vedadas por essa
o (art. 22882). Trata-se de
uma regra que se justifi
uciáriol
pelo facto de se pretende ca disposicão.
r impedir o estabelecim
gos sobre os bens, restringind ento de excessivos enca
o a faculdade de disposiç r Em caso de instituicãO de uma substitUicão fideicomissârja em mais de
inevitavelmente resultari ao dos mesmos, como urn grau, a nulidade dessa substituicao fideicomiSsária não envolve a nulidade
a da instituiçao de duas
A lei esciarece que esta pro substituiçoes sucessivas.
ibiçao se verifica, ainda qu
para o fideicomiss
ário fique sujeita a cond e a reversão da herança
a estipulaçao de fideicom içao (art. 2288°). A lei DasdoacãeS, 1, pp. 286 e ss. Em conformidade corn esta Assento STJ 14/12/1937 (Carlos
issos condicionais, admi não proibe
tidos nos termos gerais Alves), processo 049523, publicado no D.G. I Série de 28/l2/1937 estabeleccu que “o legado de
art. 2229°, como na hipóte do
se de alguem condicion certa coisa a urna pessoa, sob a condicSo de passar a terceira se aquela falecer sem descendef
ltes
missário para o caso de o fid ar a reversão para o fideic
uciário falecer sem descend o é condicional e vâlido e nSo substituicio fldeicorniSSlria” Mas essa concepcSo foi rapidamente
liberis decesserit)298. A lei entes (condicao sisine ultrapassada tornando-se pacifica a admissibilidade dos fldeicon7iSsos condicioflais podendo a
já prolbe, no entanto, a uti ,
lização da condição para condiçio ser aposta a instituicão, a reverslo ou sirnultaneament a ambas. Cfr. GALVAO TELLES,
e
Direito de rep resentacaTh, pp. 160 e ss., VAZ SERRA, na RLJ62 (1929-1930)
297
Neste sentido, JORGE DU PP. 323 e ss. ANTONIO
298 ARTE PINHEIRO, Suc COSTA FARO, na ROA 8 (1948), I, n8s 3 e 4, p. 121, e CARLOS OLAVO, EstudoS Galvão Telles, I,
No âmbito da doutrina essôes, p. 242.
mais antiga, sustentava-se pp. 441 e ss. Na jurisprudência veja-se o Ac. STJ 7/11/2019 (MARIA ROSA TCHING), procesSO
diçOes e a substituiçao fide a inc ompatibilidade entre
icomissária. Cfr.JOSE GA a estipulacao de con 3077/16.3T8VIS.C1.S
dos negociojuridicos, I A con BRIEL PINTO COELH
clição, Coimbra, Impre O, DascldiisulasacessóriaS 299
nsa da Universidade, 191 Neste sentido, cfr. PIRES DE LIMA / ANTUNES VARELA, Código, VI, sub art. 2288, n8s S e
quem o fideicomisso con 0, 449-450, nota (para
dicional é uma “figura
jurIdica impossIvel”) e PP. 6, PP. 455-456, OLIVEIRA ASCENSO, Sucessees,
Pp. 227-228, e JORGE DUARTE PINHEIRO,
ABRANCHES FERRAO,
Sucessôes, pp. 244, e nota (456).
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DIREITO DAS SUCESSOES
CAPfTULO X A VOCAcAO SUGESSORIA
Cfr. PIRES DV LIMA / ANTUNES VARELA, Codigo, VI, sub art. 2293, n2S, pp 462-463.
54 (1 99 4), p. 163. 6) , n0s 3-4, pp. 217-258 .
Cfr. PIRES DE (242.24: Na urisprudêd1a cfr. Ac. STJ 29/9/1992 (CESAR MARQU) process° 081544, e Ac. STj
LIMA / ANTUN
Soluçao inversa ES VARELA, Có
constava da versS a’i go, VI, sub art. 2291 014 (ALVES VELHO), processo lO2/I2.0T2AND
nha: “0 fideicorn o original do ar 18 , n94, 460.
issário adquire t. 680 do Codi p. 2
Cfr. GALVAO TELLES, Direito de represefltacao pp. 169 e ss., e 194 e ss., e CARLOS OLAV0,
que nao sobrev di reito a sucessão go Civil de 1867
ia ao fiduciário , desde o momen ,0 qual dispm ‘sstudos GalvãO Telles, I, P.46
pacIfica na doutrin . Este direito pa to da morte do 6.
ss a ao s seus herdeiro te stador, ainda
a, como se pode s”. Mas a soluça Neste sentido, cfr. OLIVEIRA ASCENSAO Dos relaçoeS Jo icas reGis, pp.251 e sS., StICeSSOeS,
viria a ser, por ver em JOSÉ TA o nunca foi ,
isso, alterada pe VA RE S, Sucessoes, I, pp e MARIA RAQUEL REI, “Da expectativa urIdic’, na ROA 54 (1994 PP 149-180 (154)
“Se o fideicorniss lo Decreto 1912 . 466 e ss. Esta disposic .
ário nao aceitar 6, de 16 de Dezem ão Esta 6ltirna autora explica que “0 fldeicornissIfb e titular de uma expeCtati uridica porque o
a herança ou lega bro de 1930, pa
a substituiçao, flc do, ou se falece ssando a dispor:
ando o fiduciário r antes do fiduc que no fideicomisso estã em jogo e a vontade do disponente e essa determifla que o direito do
Cfr. CARLOS OL corn a proprieda iário, caducará
AVO, Estudos Ga de definitiva do fiduciãrio se exerca de tal forma que nSO preudiqUe o futuro titular do direito o fldeicofl1iS
lvão Telles, I, s hens’. —
510
p. 51 6. 0 flduciâtio é titular pot morte do disponente e a vontade deste Implica a limitacSo do seu direito
166
em atençlo ao fldeicomiss’°
167
DIREITO DAS SUCESSOES CAPITULO X A vocAçAo SUCESSORIA.
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CAPiTULO X A VOCAçAO SUCESSORIA.
DIREITO DAS SUGESSOES
I
—
I
a esta tese, uma vez que se estaria apenas a qualificar
como direito real nlais amplos do que os do usufrutuário, urna vez que incluem poderes
norno urn direito consagrado na lei, a verdade é que au
dificilmente a situ alienacao dos bens (art. 2291°), corno também a aquisicao dos bens pelo
do flduciário pode ser considerada corno urn direito e
I
autor da sucessão fazer testamento atribuindo a sua herança a dois herdeir
simultaneamente e designando urn substituto (directo ou fideicomisSárj(d
urn deles que, no entanto, deixou descendentes. Nesse caso, verifica-se
u
situaçao de concurso de vocaçoes anórnalas, que tern que ser resolvido atrav
da determinaçao de urna vocação anómala prevalecente, seja esta a subs{,
tuiçao (directa ou fideicomissária), o direito de representaçao ou o direito
de
acrescer. Para esse efeito, a lei estabelece urna hierarquia especIfica entre
as
vocaçöes anórnala, aplicando-se ern prirneiro lugar a substituiçao directa
ou
a substituiçao fideicomissária (quando estas possam ter lugar), em seguid
o direito de representacao e so por fim o direito de acrescer331. PARTE III
Na sucessão testarnentária, a prevaléncia da substituiçao directa sobre
direito de representaçao resulta do art. 2O41, n2, a) que deterrnina a in
o
AS SUCESSOES EM ESPECIAL
cacao deste instituto sempre que tenha sido designado substituto ao herdeir
ou legatário. A mesma prevaléncia sobre o direito de representaçao verifica.s
em relaçao a substituiçao fideicomissária, quer em benefIcio dos herdeiro
do fiduciário (art. 2O41, n2 a) e 2293, n3), quer em benefIcio dos here
ros do fideicornissário (art. 204P, n2, b)). Em relaçao a sucessão contratua,
a estipulaçao de urna substituiçao fideicomissária, nos termos do art. 17OO,
n22, exlui iguamente o ünico caso nela previsto de direito de representacao
i
(art. 17O3, n2).
A substituiçao directa e a substituiçao fideicomissária prevalecem ig’’1
mente sobre o acrescer, nos termos do art. 23O4, uma vez que constituem
disposiçao do testador em sentido contrário ao mesmo.
Já a prevaléncia do direito de representaçao sobre o acrescer encontra-se
estabelecida no art. 23O4, in fine. 0 mesmo regime deve ser aplicável por
analogia em relaçao a sucessão contratual. Já em relaçao a sucessão legI
tima e legitimária, urna vez que entendemos nao haver lugar nesses casos
31
a substtuiçao directa332, a regra é apenas a da prevaléncia do direito de repre
sentaçao sobre o direito de acrescer, conforme resulta dos arts. 2138 e 21572.
174
CAPITULD X
A SUCESSAO LEGITIMA.
l.Generalidades.
o nao tiver disposto, válida e eficaz
os termos do art. 2131 “Se o falecid
da morte, são charnados a
‘ente, dos bens de que podia dispor para depois
os”. A sucessão legItirna ocorre
icessão desses bens os seus herdeiros legItirn
nao houver uma disposiçao dos
sim a tItulo supletivo, so tendo lugar se
ão. Deve dizer-se, no entanto,
ens da herança por parte do autor da sucess
muitas pessoas repugna fazer
ie tal ocorre corn frequencia, urna vez que a
seja por terern a
estamento, seja por não quererern pensar na própria morte,
seja por acei
upersticão de que a realizaçao do testamento acelere a morte,
a333.
arern a soluçao legal relativa as regras da sucessão legItim
Tradicionalmente considerava-se que a sucess ão legItirn a correspondia a
Iveis hierarquizadas
vontade presurnida do tie cuius, sendo as classes de sucess
explicaria a preva
de acordo corn a ordern natural dos seus afectos334. Tal
maxima latina
ncia dos descendentes sobre os ascendentes, nos termos da
de grau, devido
amorprius descenditpostea ascendit, bern corno a preferéncia
s mais próxim os. Hoje em
ao maior afecto do falecido para corn os parente
177
DIREITO DAS SUCESSOES
a) Conjuge e descendentes, incluindo adoptados; A regra da preferéncia de classes implica que os sucessIveis de uma classe
b) Conjuge e ascendentes, incluindo adoptantes; èrern aos sucessIveis das classes subsequentes, pelo que apenas aqueles
c) Irmãos e seus descendentes; são chamados a sucessão.
r Esta regra encontra-se consagrada no art. 2133°, que nos indica quais são
as classes de sucessIveis, acrescentando o art. 2134°, que “os herdeiros de cada
Cfr. GALVAO TELLES, Sucessães, pp. 142-143, e FERNANDO NOGUEIRA, ROA 40 (198O),
ma das classes de sucessIveis preferem aos das classes imediatas”. Da mesma
pp. 665 e ss.
Esta soluçao afasta-se do princIpio rornanista nemo pro parte testatusproparte intestatusdecedere orma, o art. 2137° prevé que os sucessIveis de uma classe so são chamados a
potest, que considerava incompatIvel a sucessão testarnentária corn a sucessão legitirna, obrigando iceder se nenhum dos sucessIveis da classe anterior quiser ou puder aceitar
o testador a dispor de todo o seu patrimonio por forrna a que nao coexistissem herdeiros testa a herança.
rnentários e herdeiros legItirnos. Ern consequéncia, se o testador fizesse urna disposicao parcial,l • Nestes termos, imaginernos que o autor da sucessão deixa dois flihos
entendia-se que a rnesma abrangia toda a herança. Tendo sido seguida no ins commune esta regra
e dois pais. Corno os flihos integram a primeira classe de sucessiveis e os
veio a ser abolida ern Portugal a partir do sec. XVII. Cfr. GALVAO TELLES, Direito de rep resentacdO,
pp. 245 e ss., e SucessCo legItima, pp. 16-17. is a segunda, apenas os fllhos serão chamados a sucessão. Se urn dos fllhos
178 179
I
DIREITO DAS SUCESSOES CAPfTULO XI A STJCESSAO LEGITIMA.
repudiar a herança, e não tiver descendentes, a sua parte acrescerá a do OUtTI .4.2. ExcepçOeS.
fliho (art. 2137, n2). 0 charnamento dos pais apenas se verificará em caso1’ divisão por cabeca é, no entanto, objecto de algurnas excepçOes:
A regra da
ambos os flihos repudiarern a herança (art. 2137, n1).
a) sucessão do cônjuge corn mais de trés descendentes (art. 2139, n21,
3.3. Preferéncia de graus de parentesco. segunda parte);
b) sucsão do cônjuge corn ascendentes (art. 2142, n1);
A regra da preferéncia de graus de parentesco determina que, dentro de ca c) sucessão dos irmãos gerrnanos e unilaterais (art. 2146);
classe, os parentes de grau mais próximo preferern aos de grau mais afastad d) direito de representacao (21382).
(art. 21352). Assirn, se ao autor da sucessão sobreviverern dois flihos e urn neto
fliho de urn deles, os flihos são sucessIveis prioritários, preferindo aos netos A primeira excepção respeita a sucessão do cônjuge corn mais de três descenden
Consequentemente o neto nao será chamado a sucessão do de cuius, se ‘“cEfectivamente, embora o art. 2139, n1, estabeleça que “a partilha entre o
a herança repartida entre os dois flihos. njuge e os flihos faz-se por cabeça, dividindo-se a herança em tantas par
No entanto, a regra da preferência por classes de sucessIveis pode ser posta s quantos forern os herdeiros” determina na sua parte final que “a quota do
em causa pelo instituto do direito de representaçao (art. 21382). Assim, s conjuge, porérn, não pode ser inferior a uma quarta parte da herança”. Assirn
ao autor da sucessão sobreviverern dois filhos e urn neto, fliho de urn ou - sendo, sempre que o cônjuge concorra corn mais de trés descendentes, a regra
fliho, falecido antes do autOr da sucessão, o neto tern direito a concorrer a da divisão por cabeça deixa de se aplicar, passando o cônjuge a receber sem
herança juntamente corn os outros dois flihos, na posiçao que competia ao pre urn quarto da herança, enquanto que os descendentes dividirão entre si
anterior filho. Os restanteS trés quartos.
A segunda excepçao respeita a sucessdo do cônjuge corn os ascendentes, caso
3.4. Divisão por cabeça. em que o art. 2142, n21, estabelece que “ao conjuge pertencerao duas terças
partes e aos ascendentes uma terça parte da herança”. A sucessão do con
3.4.1. Regime geral. juge corn os ascendentes é assim totalmente exciulda da regra da divisão por
A regra da divisão por cabeça significa que os sucessIveis legItimos priori-. cabeça, uma vez que neste caso ao cônjuge são sempre atribuldos dois terços,
tários sucedem em partes iguais e aplica-se normalmente entre parentes de cabendo aos ascendentes dividir entre S 0 terço restante.
cada classe (art. 21362), e na situaçao do concurso do cônjuge corn ate três A terceira excepção respeira a sucessão dos irrntosgermanos e unilaterais. Corn
descendentes (art. 2139, n21, prirneira parte). efeito, deterrnina o art. 2l46 que “concorrendo a sucessão irmãos gerrnanos e
Assim, se ao autor da sucessão sobreviverem dois flihos, a cada urn deles irmãos consanguIneos ou uterinos, o quinhao de cada urn dos irmãos germanos,
caberá metade da herança. Se ihe sobreviverem dois flihos e o seu cônjuge, ou dos descendentes que os representern, é igual ao dobro do quinhao de cada urn
a cada urn destes sucessIveis será atribuldo urn terço. Assirn, os diversos her dos outros”. Esta excepçao justifica-se pelo facto de existir habitualmente major
deiros sucedem de forma igualitaria. proxirnidade do autor da sucessão em relaçao aos seus irmãos germanos (flihos
A regra da divisão por cabeça é aplicável, mesmo no caso de existirem cola dos mesrnos pais) do que em relaçao aos seus irrnãos consangulneos ou uterinos
terais que sejam duplamente parentes do falecido (art. 2148). E o que ocor filhos apenas do mesmo pai ou da mesrna mãe o que justifica que estes herdern
rerá, por exernplo, em relaçao a primos, flihos de urn casamento do irmão do apenas metade do que compete aqueles. Esta excepçao apenas se aplica a suces
pai corn a irma da mae. Apesar do duplo parentesco existente, a sua posição são dos irmãos e seus descendentes que os representem, pois se estiver em causa
sucessória nao e diferente da dos outros primos que sejarn apenas flihos de a sucessão de colaterais, o art. 2148 volta a rnandar aplicar a regra da divisão por
irmãos do pai ou de irrnãos da mae, aplicando-se a todos eles a regra da divisäo cabeça, rnesrno que algurn dos colaterais seja duplamente parente do falecido.
por cabeça. A ültirna excepçao refere-se a situaçao do direito de rep resentacao, urna vez
que, nos termos do art. 2l38, a divisão por cabeça não prejudica o direito
180 181
DIREITO DAS SUCESSOES CAPITLJLO XI A SUCESSAQ LEGITIMA.
de representaçao, nos casos em que este tiver lugar (cfr. arts. 2039° e ss.). i Tambe nao terá direito de suceder o cônjuge que celebre novo casa
tivamente, e conforme acirna se salientou, nos terrnos deste direjto a djvj flto após a declaraçao de morte presumida (art. 116Q), perdendo este direito
diversa, posterior
faz-se por estirpe (cfr. art. 2044°), pelo que a parte que competia ao sucess’ 4ucessã0 caso se comprove que 0 óbito ocorreu em data
que não pôde ou nao quis aceitar a herança é atribuIda ao conjunto dos desc (art. ll8).
aSse casarneflto
dentes desse mesmo sucessIvel. Em consequéncia, havendo mais do que : Em contrapartida, 0 cônjuge mantém o seu direito de suceder
em caso de
sucessIvel do herdeiro pré-falecido, a regra da divisão por cabeça deixa de
tej.1 paracão de facto ou de simples separaçao judicial de bens.
aplicaçao, determinando antes o art. 2042° que “na sucessão legal, a represent j já em relação aos descendentes, naturalmente que a sucessão depende de
rem urn vinculo de fihiaçao estabelecido. Relativamente a mae,
çäo tern sempre lugar, na linha recta, em benefIcio dos descendentes de fjIh0 o vInculo da
autor da sucessão e, na linha colateral, em benefIcio dos descendentes de irmi jação resulta do facto do nascimento (art. 1796, n1), o qual é estabelecido
do falecido, qualquer que seja, num caso ou noutro, o grau de parentesco”. Nes través da declaraçao de maternidade (arts. 18O3 e ss.), averiguaçao oficiosa
nto judicial (arts. 1814° e ss.). Relativamente
caso, “cabe a cada estirpe aquilo que em que sucederia o ascendente respect
ivo1 tarts. 1808° e ss.) ou reconhecime
1826° e
(2044°, n°1), 0 que implica que o direito de representaçao prejudique a aplic. o pai, o mesmo pode resultar da presunçao de paternidade (arts.
çao da regra da divisão por cabeça, quer em relaçao a sucessão dos descendentj oficiosa (arts. 1864° e ss.)
ss.), de perfilhacao (arts. 1849 e ss.), averiguaçao
ou reconhecimento judicial (arts. 1869° e ss.). E legalmente equiparada
(2140°’), quer em relaçao a sucessão dos irmãos e seus descendentes (art. 21452) a urn
to constitutivo da fihiaçao a sentença de adopcao (art. 1986°, n°1).
No caso da adopçao, o vInculo de adopçao tern que se encontrar consti
4. A sucessão do cônjuge e dos descendentes. aldo por sentença já proferida a data da morte do adoptante (art. 1973°, n°1337.
já no caso da fihiacao o seu estabelecirnento tern eficácia retroactiva (art. 1797°,
A primeira classe de sucessIveis prevista no art. 2133°, n°1, integra o con n°2), pelo que o reconhecimento judicial em data posterior a morte do decuius
juge e os descendentes. 0 cônjuge sobrevivo, no entanto, deixa de integrar permite a aquisiçao dos direitos sucessórios. A nosso ver, são inconstitucio
a prirneira classe se o autor da sucessão não deixar descendentes e deixarl nais os prazos constantes dos arts. 1817° e 1873°, uma vez que viola claramente
ascendentes, passando nesse caso a integrar a segunda classe. o princIpio da proporcionalidade exigir que o direito ao estabelecirnento da
Para poder suceder, o cônjuge tern, no entanto, que ter em vigor o seu fihiacao so possa ser exercido por urna pessoa na fase inicial da sua vida ou
casamento. Assim, dispöe o art. 2133°, n°3, que “o cônjuge nao é chamado a no prazo de trés anos após o conhecimento de factos supervenientes rela
herança se a data da morte do autor da sucessão se encontrar divorciado ou tivos a fihiaçao338. Também nao nos parece sustentável a posiçao defendida
separado judicialmente pessoas e bens, por sentença que já tenha transitado
ou venha a transitar em julgado, ou ainda se a sentença de divórcio ou sepa Ao contrário do que refere JORGE DUARTE PINHEIRO, Sucessães, pp. 69-70, nao julgamos
ração vier a ser proferida posteriormente àquela data, nos termos do n° 3 do necessário que essa sentença tenha transitado em julgado a data da abertura da sucesslo.
338 Neste sentido, JOAQUIM SOUSA RIBEIRO, “A inconstitucionalidade da limitaçao temporal
art. 1785°”. Actualmente, o divórcio ou a separação judicial de pessoas e bens ao exercIcio do direito a investigacao da paternidade”, na RU 147, n° 4009, Março-Abril 2018, pp.
por mütuo consentimento podem ser igualmente decretados pelo conserva 214-238. Em sentido contrlrio, vejam-se Os Acs. TC 401/2011 (JOAO CURA MARIANO, vencidos
dor do registo civil, nos termos dos arts. 1776°, n°3, e 1794°, pelo que, caso tal JOAQUIM SOUSA RIBEIRO, CUNHA BARBOSA, CATARINA SARMENTO E CASTRO, JOSE
tenha ocorrido o cônjuge nao será igualmente chamado a sucessao. BORGES SOEIRO, VITOR GOMES, GIL GALVAO), de 22/9/2011, e 247/2012 (PAMPLONA DE
OLIVEIRA, vencido GIL GALVAO). 0 Tribunal Constitucional viria posteriormente a tomar posi
0 cônjuge também nao será chamado a sucessão em caso de inexistén
çao no sentido que defendemos, o que fez no Ac. TC 488/2018 (MARIA CLARA SOTTOMAYOR,
cia (arts. 1628° e 1630°), nulidade (art. 1625°) ou anulabilidade do casamento vencidos PEDRO MACHETE e FERNANDO VAZ VENTURA), de 4/10/2018, mas esse Acórdao
(art. 1631°). Nos dois dltirnos casos, haverá, porém, que salvaguardar o regime veio lamentavelmente a ser revogado pelo Ac. TC 394/2019 (JOAO CAUPERS, vencidos CLAUDIO
do casamento putativo, pelo que se o cônjuge estiver de boa fé terá direito MONTEIRO, JOANA FERNANDES COSTA, CLARA SOTTOMAYOR, MANUEL DA COSTA
de suceder, caso a morte do outro cônjuge ocorrer antes do trânsito em jul ANDRADE, CATARINA SARMENTO E CASTRO). de 3/7/2019, demonstrando a dificuldade
da nossa jurisprudéncia constitucional em pôr em causa as opcoes do poder legislativo, mesmo
gado da sentença de anulaçao (arts. 1647° e 1648°). perante situaçoes de evidente lesao dos direitos fundamentais.
182 183
DIREITO DAS SUCESSOES CAP1TULO XI A SUCESSAO LEG 1T [MA.
f
342
Diferente era a soluçao consignada no Anteprojecto, em que o art. 132°, 2° previa que
340
Cfr. Ac. STJ 9/4/2013 (FONSECA RAMOS, vencido SALAZAR CASANOVA), processo “achando-se porém os ascendentes no mesmo grau, caberá metade dos bens disponIveis a uma
187/09.7TBPFR.P1.S1, publicado na ROA 73 (2013), I, pp. 361-395 e em CDP no 45 (Janeiro/Marco linha e a outra nietade a outra linha”. Cfr. INOCENCIO GALVAO TELLES (org.), Direito das
2014), pp. 32-49. Sucessães, Tra bathos Preparatórios, p. 63.
Cfr. MENEZES LEITAO, “Anotação ao Acórddo do S.T.J. de 9/4/2013”, na ROA 73 (2013), I, Neste sentido, cfr. FIRES DE LIMA / ANTUNES VARELA, Código, VI, sub art. 2143, n°3,
pp.396-399. Em sentido contrário cfr. CRISTINA DIAS, “Investigaçao da paternidade e abuso de
p. 239, CARVALHO FERNANDES, Sucessães, pp. 379-380, CAPELO DE SOUSA, Sucessães, I,
direito. Das consequências jurIdicas do reconhecimento da paternidade Anotaçao ao AcórdSo
—
p. 250 e nota (628) e JORGE DUARTE PINHEIRO, Sucessães, pp. 72 e nota (117).
do S.T.J. de 9.4.2013, Processo 187/09”, em CDP n” 45 (Janeiro/Marco 2014), pp. 49-59 (56 e ss.). Cfr. OLIVEIRA ASCENSAO, Sucessães, pp. 209-210.
184
185
DIREITO DAS SUCESSOES CAPITULO XI A SUCESSAO LEGITIMA
2. ConCeito de testameflto.
;tarnentO surgeflos definido no art. 2l79, n°l, corno “o acto unilateral e revo
vel pelo quai urna pessoa dispöe, para depois da morte de todos os seus bens
u de parte deles”. A definicâo legal não parece, porérn, integralmente correcta.
Em prirneirO lugar, o testarnentO não é urn simples acto mas urn verda
iro negócio jurIdic0 na medida em que, tirando as lirnitacoeS resultantes
da sucessão iegitimária o testador tern plena liberdade de estipulacão dos
eltos juridicos da sua sucessao.
Em segundo lugar, o testamento não é apenas urn acto de disposicão de
‘ens, admitindo o art. 2179, n22 a ossibi1idade de o testarnentO inserir dis
posicoes de carácter nao patrimonial. EfectivaiTlente, a lei admite que o tes
tamento possa conter a declaracãO de maternidade cart. 114, n2l, CRC), a
perfilhacäo (art. l8S3, b)) ou a designacão de tutor (art. 1928, n23).
Preferirnos por isso uti1izaco a definicão de OLIVEIRA ASCENSAO,
igualmente seguida pot JORGE DUARTE PINHEIR0, que qualifica o tes
tamento como urn “negócio urIdico unilateral pelo qual alguérn procede
a disposicOes de ültirna vontade”347.
346
Ta! não implica, no entanro, o reinicio
do prazo de prescricao, relativamente
critos em vida do falecido. Neste sentido, a créditos já pres
cfr. Ac. STJ 22/9/2016 IANTON
processo 125/06.9TBMMV-C.CI.S1. IOJOAQUIM PIçARRA, Cfr. OLIVEIRA ASCENSAO, Sucessöes, pp.43 e 293 e JORGE DUARTE PIN HEIRO, SucessOeS,
p.83.
188
18’)
DIREITO DAS SLCESSOES CAPTULO XII A SUCESSAO TESTAMENTARIA.
350
Cfr. MARIA DE NAZARETH LOBATO GUIMARAES, “Testamento e autonomia (algumas
348
Cfr. NICOLO LIPARI, Autoriomia privata e testamento, Milano, Giuffrè, 1970, pp. 48 e 162-163. de um livro de LIPARI’, na RDES 18 (1971), n0s 1-2-3-4, pp. 1-109 (6),
flotas criticas a proposito
Cfr. LIPARI, Autonomia, p. 68. “
Cfr. ENRICO CIMBALI, “II testamento è contratto?”, emIl Filangieri 9 (1884), I, pp. 265-274.
190 191
DIREITO DAS SUCESSOES
CAPITULO XII A SUCESSAO TESTAMENTARIA.
Em consequéncia, o testarnento
considera-se válido e eficaz
momento em que é celebrado por a tamento e urn negócio gratuito, uma vez que contém disposicoes patri
alguma das formas previstas parid0
sar de a concretizaçao das dispos
içoes testarnentárias estar
na lei. Ape.
I s em beneficjo de oUtrenT sern qualquer contrapartida por parte do
morte do autor da sucessão e da depend-’—’ fjciáriO. A disposicäo testamefltá’ja pode estar sujeita a encargos, nos
aceitaçao dos charnados, tal
testamento comece a produzir im
ediatarnente os seus efeitos.
não altera c os do art. 2244°, mas esteS representam apenas uma restricãO a libera
o testamento e a aceitaçao da suc
essão são dois actos unilatera
Efectiva de e nãO uma contrapartida por parte do beneficiário.
autónomos, resultando imediata is distji
rnente do testamento a design
e apenas sendo possIvel a aceitaç aça o suces 3.6.0 testamento como negócio formal.
ao apds a verificaçao da vocaçã
em virtude da abertura da sucessã o sucess
o corn a morte do seu autor352.
dos devem aceitar ou repudiar a
sucessão, rnas tal não constitui
Os cha: Otestamento e urn negócio formal, urna vez que a lei prevê formas especiais
perfeiçao, nem sequer de eficácia
do testarnento, a qual se res
requisit( Lra 0 testamento, so sendo o mesmo válido se obedecer a uma das formas
naçao sucessdria, que permite pro ume a des ..mente previstaS (cfrs. arts. 2204° e ss.).
duzir, corn a morte do autor
a vocaçao sucessória353. da suces
3.7.0 testamento como negóciO individual.
3.4. 0 testamento como neg
ócio jurIdico mortis causa.
7.1.0 carácter individual do testamellto.
O testamento é urn negócio jurIdi testamento é urn negócio individual, uma vez que a lei apenas admite que
co mortis causa porque os seus
nas se produzem por morte do efeitos ap bnha urna pessoa como seu autor, sendo proibida por lei a realizacão de urn
testador. Não constitui por isso
deiro testarnento o denominado urn verd1 stamento em que haja rnais do que urn testador. Efectivamente, no art. 2181°
testamento vital, previsto no art
25/2012, de 16 de Juiho, alte . 2 da Lc eda-se odenominado testarnento de mao comum, ao se proibir que no mesmo
rada pela Lei 49/2018, de 14 de
constitui urn documento uni Agosto, o qua LctO testem duas ou mais pessoas, quer em proveito próprio quer em favor
lateral e livrernente revogável
uma pessoa estabelecer direct que permite a .e terceiro. Desta norma resulta que o testameflto, em ordem a ser garan
ivas antecipadas de vontade, no
aos cuidados de saüde que des que concern ido o pleno exercIcio da liberdade de testar, apenas pode ter urn ünico autor,
eja receber, ou não deseja recebe
por qualquer razão, se encontrar r, no c......., sendo nub o testamefltO em que apareca outrem igualmente a participar na
incapaz de expressar a sua von
e autonomarnente. Esse docum tade pessoal feitura do acto354.
ento e sujeito a forma escrita e
especiais (art. 3Q da Lei 25/201 a form alidades Segundo explica CUNHA GONcALVES, a proibicao dos testarnentOs
2), tendo urn prazo de eficácia
conta da sua assinatura (art. 7 de cinco anos a de mao cornurn e justificada pelas seguintes razöes: “a) quando o testarneflto
da Lei 25/2012). Uma vez que essa
respeitam aos tratarnentos me s directivasi sse cerrado, a morte de urn dos co-testadores obrigaria a abertura daquele e
dicos a receber pelo doente (cfr
da Lei 25/2012) e não podem des . art. 2, n92, a consequente revelacão davontade do outro; b) o testamentO de mao comum,
tinar-se a provocar a sua morte
não natural
Cfr. CAPELO DE SOUSA, Suce 3S4
ExceptuamSe naturalmeflte as intervencoeS exigidas por razOes de ordern formal como a do
353
ssães, I, p. 168.
Cfr. GUILHERME DE OLIV notário ou das testemunhas e, no caso de o testamento cerrado, a possibilidade de o mesmo ser
EIRA, 0 Testainento, p. 9.
escrito por outra pessoa a rogo do testador (art. 22OS, nI).
192
193
DIREITO DAS SUCESSOES CAPITULO XII A SUCESSAO TESTAMENTARIA
194 195
DIREITO DAS SUCESSOES 11 CAPITULO XII A SUCESSAO TESTAMENTARIA.
3.Z2.3. A autorizaçao do conjugepara a disposicao de coisa certa e deternhinada 3.8.0 testamentO como negócio pessoal.
incluIda no patrimonio conjugal.
A existência de casamento nao afecta a liberdade de testar dos cônjuges, refe. 3.8.1. 0 carácter pessoal do testamento.
rindo expressamente o art. 1685, n1, que cada urn dos cônjuges conserva a o testarnento é urn negócio pessoal, uma vez que a lei proibe que
o
faculdade de dispor, para depois da morte, dos hens próprios e da sua mea.. seja efectuado por representante ou possa estar dependente do arbitrio de
çao nos hens comuns, sem prejuIzo das restriçoes impostas por lei em favo1 oUtren, quer pelo que toca a instituiçao de herdeiro ou norneação de legatario,
dos herdeiros legitimários. quer pelo que respeita ao objecto da herança ou do legado, quer pelo que per
No entanto, relativamente aos bens comuns, o cônjuge, uma vez que ape.. tenCe ao cumprimento ou nãO cumprirnento das suas disposiçoes (art. 2l82).
nas é titular da sua rneação, não pode dispor de coisas certas e determinadas1
Em consequência, o art. l68S, n2, estabelece que a disposiçao que tenha por 3.8.2. Excepçöes ao carácter pessoal do testamento.
objecto coisa certa e determinada do património comum apenas dá ao con.I 3.8.2.1. Generalidades.
templado o direito de exigir o respectivo valor em dinheiro. Daqui resulta que Existern, porém, algumas excepcoes ao carácter pessoal do testamento. São
a disposiçao de coisas certas e determinadas do patrimonio cornum, emboral estas a atribuiçao a terceiro da repartiçao da herança ou legado quando seja
seja válida quanto ao valor, é nula quanta a substância, não atribuindo ao institulda ou norneada urna generalidade de pessoas (art. 2l82, n2, a)),
beneficiário o direito de reclamar essa coisa. a atribuicao a terceiro da nomeaçao do legatário entre pessoas determinadas
0 art. 1685, n3 b) reconhece, porém, ao beneficiário o direito de recla I (art. 2l82, n 2 b)), a escolha do legado pelo onerado, pelo legatário ou porter
mar a coisa em espécie se a disposiçao tiver sido autorizada pelo outro ceiro (art. 2183) e as substituiçoes pupilar ou quase-pupilar (arts. 2297 e ss.).
cônjuge por forma auténtica ou no próprio testamento. Neste ültimo caso, Examinernos sucessivamente estas situaçOes.
a lei admite assim a intervenção do outro cônjuge no testarnento em ordem
a conferir validade ao direito do beneficiário em relaçao a coisa em espé 3.8.2.2. A atribuiçao a terceiro da reparticao da herança ou legado quando seja
cie, o que constitui igualmente urna excepçao ao carácter individual do
testamento.
I institulda ou noineada uniageneralidade depessoas.
A primeira excepção ao carácter pessoal do testamento é a possibilidade de
o testador cometer a terceiro a repartiçao da herança ou do legado, quando
3.Z2.4. A inclusao de disposiçoes testamentdrias na convençao antenupcial. institua ou nomeie uma generalidade de pessoas (art. 2l82, n22, a)). Trata-se
A ültima excepçao ao carácter individual do testamento é a inclusão de neste caso de urna situação em que o testador institui uma generalidade
disposiçoes testamentárias na convençao antenupcial. Efectivamente,. de pessoas como herdeiros ou legatários, atribuindo por exemplo urn sexto
o art. 17O4 possibilita aos esposados que instituarn urn terceiro como da sua herança aos membros de um determinado clube, OU os livros da sua
herdeiro ou o nomeiem legatário na convenção antenupcial, atribuindo biblioteca jurIdica aos advogados de determinada comarca. Nesse caso,
-Se, no entanto, cariz meramente testamentário a essas disposiçoes se nao a disposiçao testarnentária nao se encontra completa, faltando a repartiçao da
se tratar de pessoa certa ou determinada ou se esta nao intervier no acto herança ou do legado entre os beneficiários, sendo por esse motivo permitido
como aceitante. Essa soluçao constitui assim mais uma excepção a regra ao testador atribuir a terceiro a faculdade de fazer essa repartiçao. Essa situa
que proIbe os testamentos de mao cornum, ao permitir que os esposados cão constitui uma excepçao ao carácter pessoal do testamento na medida em
façarn testarnento em benefIcio de terceiros no mesmo acto (a convenção que se admite que urn terceiro possa especificar mais precisamente o conteüdo
antenupcial). A lei adrnite inclusivarnente que nesse caso fique consig da disposiçao testarnentária.
nada na convençao antenupcial a correspectividade dessas disposiçOes, Nesse caso, pode qualquer interessado requerer ao tribunal a fixaçao de
caso em que a invalidade ou ineficácia de uma das disposiçoes produz urn prazo para a repartiçao da herança ou legado sob a cominaçao de a repar
a ineficácia da outra (art. 17O6Q). tiçao pertencer a pessoa designada para o efeito pelo tribunal (art. 2182, n3).
196 197
DIREITO DAS SUCESSOES CAPTULO XII A SUCESSAO TESTAMENTARIA
364
Cfr. Assento STJ 21/7/1944 (LUTZ OSORIO), proces
so 052176. 366
Cfr. CAPELO DE SOUSA, Sucessöes, I, p. 171.
198
199
DIREITO DAS SUCESSOES CAPITULO XII A SUCESSAO TESTAMENTARIA.
366
Cfr. JOSÉ TAVARES, Sucessöes, I,
pp. 111-112. Cfr. CRISTINA ARAÜJO DIAS, SucessOes, p.247 e DANIEL MORAlS, Direito SucessOrio, p.
80.
200 201
DIREITO DAS SUCESSOES CAPITULO XII A SUCESSAO TESTAMENTARIA.
0 notário tern, no entanto, o dever de participar a Conservatória dos Regis. 0 art. 106°, n°1, CN exige que o documento seja manuscrito pelo próprio
tos Centrais a informaçao corn a identificaçao dos testamentos püblicos e as testador ou por outrem a seu rogo. Admite-se, no testarnento cerrado, a res
escrituras da sua revogacão (art. 187, n21, a) CN), em ordem a permitir que salva de emendas, rasuras, traços, entrelinhas, borroes ou notas marginais,
Os interessados possam, após a morte do testador, tomar conhecimento da desde que seja feita exciusivarnente por quem o tiver escrito ou pelo próprio
sua realizaçao. testador (art. 1060, n°2, CN). A ressalva faz-se antes da assinatura ou em adi
Não sendo acessIvel ao püblico, no deixa de haver no testamento pübl icoI tamento seguido e novamente assinado (art. 106°, n°3, CN).
conforme reconhece GALVAO TELLES, urna certa “publicidade defacto E exigida a assinatura do testador no testamento cerrado. 0 art. 2206°,
resultante de o instrumento ser lavrado e lido perante pessoas cuja presenca n2, apenas permite a falta de assinatura do testador quando ele não souber
e juridicamente indispensável mas que poderao, indiscretamente, dar a conhej ou não puder faze-b, ficando consignada no testamento a razão porque não
cer o seu conteñdo a pessoas interessadas nesse conhecirnento e levá-las, 0 assina70. Em qualquer caso, a pessoa que assinar o testamento cerrado
inclusive, a exercer pressao sobre o testador, no sentido de revogar ou alterarj deve rubricar as foihas que não contenham a sua assinatura (art. 2206°, n°3).
O testamento feito”368. RelativaTnente a aprovaçaopüblica do testamento cerrado, dispoe o art. 2206°,
na4, que o testamento cerrado tern que ser aprovado por notário, nos termos
da lei do notariado (art. 2206°, n°4). Aplica-se assim o art. 108° CN, o qual
4.2.3. 0 testamento cerrado.
A segunda forma prevista para o testamento é o testarnento cerrado, que I determina que a aprovaçao do notário é feita através de instrumento lavrado
e elaborado e assinado pelo testador ou por outrem em virtude de instru
çao sua, tendo em qualquer caso que ser aprovado por notário. Conforme
refere CUNHA G0NALVES “o testamento cerrado tern duas partes: umal
I após a asssiflatura, contendo as seguintes declaraçoes do testador: a) que o
escrito apresentado contém as suas disposiçoes de ültima vontade; b) que
está escrito e assinado por ele, ou escrito por outrern a seu rogo, ou somente
de elaboraçao puramente privada, o testamento propriarnente dito; outra,
—
assinado por si, OU que está escrito e assinado por outrem, a seu rogo, visto
de elaboraçao püblica, o auto de aprovaçao notarial. E esta segunda que ihe
—
ele não poder ou não saber assinar; c) que o testamento não contém pala
dá força jurIdica; sern ela, a primeira parte, embora escrita e assinada pelo vras emendadas, truncadas, escritas sobre rasuras ou entrelinhas, borroes
testador não teria valor algum, seria simples projecto, visto a nossa lei nao ou notas marginais ou, no caso de as ter, que estao devidamente ressalvadas;
admitir o testarnento olografo”369. d) que tödas as foihas, a excepção da assinada, estão rubricadas por quem
Relativamente a elaboraçaoprivada do testamento cerrado, o art. 22O6, n1, assinou o testamento. Caso o testarnento não tenha sido feito pelo testador,
admite trés possibilidades: a) o testarnento ser escrito e assinado pelo testa deverá ainda conter a mençäo de que foi por este lido. 0 notário faz constar
dor; b) o testamento ser escrito e assinado por outra pessoa a rogo do testador; [do instrumento o nümero de páginas completas e linhas de alguma página
c) o testamento ser escrito por outra pessoa a rogo do testador e assinado incompleta. A lei obriga a que as foihas do testarnento sejam rubricadas pelo
pelo testador. notário, sendo que, se o testador o solicitar, o testamento, corn o respectivo
No entanto, mesmo quando escrito a rogo por outrem, exige-se que instrumento de aprovação, é ainda cosido e lacrado pelo notário, que apoe
o testamento cerrrado possa ser lido pelo testador, já que nos termos do art. I sobre o lacre o seu sinete. Em qualquer caso, na foiha que servir de invólucro,
22O8, os que nao sabem ou não podem ler são inábeis para dispor em testa é lançada uma nota corn a indicaçao da pessoa a quem o testamento pertence.
mento cerrado. Trata-se de urna soluçao que se justifica pelo facto de que as No entanto, a aprovaçao pelo notário d meramente formal, urna vez que
pessoas nessas condiçoes poderem ser facilmente iludidas sobre o conteüdo é feita sem leitura, dado que o art. 107° CN determina que so a pedido do
do testamento que celebrassem por essa forma.
OLIVEIRA ASCENSAO, SucessOes, pp. 63-64, GUILHERME DE OLIVEIRA, 0 testarnento,
p. 44, e JORGE DUARTE PINHEIRO, SucessOes, p. 105, propOem uma interpretaçSo abrogante
do art. 2206, n82, dizendo que n5o é concebIvel que a1guen saiba ler mas nSo saiba assinar. Mas,
como demonstra CAPELO DE SOUSA, SucessOes, I,
368
Cfr. GALVAO TELLES, SucessaTh testamentdria, p. 45. pp. 189-190, nota (425), essa situaçao pode
369
Cfr. CUNHA GONçALVES, Tratado, x, 293. OCorrer em muitos casos.
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TESTAMENTARIA.
CAPITULO XII A SUCESSAO
DIREITO DAS SUCESSOES
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DIREITO DAS SUCESSOES
CAPITULO XII A SUCESSAO TESTAMENTARIA
ou recornendaçoes feitas a outrem secretamente, ou se reporte a document Requisitos do testamento e das disposiçUes testamentárias.
não auténticos, ou não escritos e assinados pelo testador corn data anteriot
a data do testamento ou contemporanea desta”. Assim, por exem1 I GeneralidadeS.
se o testador disser no testamento que remete para instruçOes que deu ao seu
advogado ou que as suas disposiçoes constam de urn papel guardado num para alérn da necessidade de adopçäo da forma especial, o testamento e as dis
certo lugar, a disposicao testamentária nao será considerada válida. poSicOes testamefltáriaS que nele se integram obedecem a requisitos especiais
A doutrina tern discutido se a referência legal aos “docurnentos n ra poderem ser válidas. Poderernos indicar a este propósito a possibilidade
escritos e assinados pelo testador corn data anterior a data do testamento ou isica e legal, a determinabilidade e a licitude do objecto e do fim negocial,
contemporâna desta” permite considerar válido o testarnento que remetat a capacidade para testar e a inexisténcia de indisponibilidades relativas.
esse tipo de documentos, como na hipdtese de o testador determinar qu& ExaminemoS sucessivamente estes requisitos.
deixa a determinada pessoa os imóveis que adquiriu por escritura püblica ei I
certo dia, ou os rnóveis que constam de urna relaçao datada e assinada. Algum 15.2. Possibilidade fisica e legal e licitude do objecto e do fim
doutrina, onde se incluem os nomes de ANTUNES VARELA e DAI. do testameflto.
MORAlS respondem afirmativamente, entendendo que e válida uma disi
posiçao testarnentária essencial que conste de docurnento anterior ou corn o testarnento está em princIpio sujeito as regras relativas ao objecto e ao fim
a mesrna data escrito e assinado pelo testador372. negocial constantes do art. 280°. Será assirn nub urn testamento que tenha
Aposiçao maioritária, onde se incluem OLIVEIRAASCENSAO, PAMPLONA urn objecto fisicarnente impossIvel, como a deixa de urn bern inexistente,
CORTE-REAL, CAPELO DE SOUSA e CARVALHO FERNANDES vai, ou legalmente impossIvel, como a deixa de bens do domInio püblico. Será
porém, em sentido diferente, considerando que essa regra so se pode aplicar igualmente nub urn testarnento de conteüdo indeterminável. Finalmente
as disposiçoes testarnentárias nao essenciais, pois em relaçao a estas ültimas também será nub urn testamento de conteüdo ilIcito, como a deixa de urn
a rernissão sO se pode fazer para documento que revista a forma legal de tes- , depósito de drogas.
tarnento ou de escritura püblica, sob pena de se pôr em causa a exigéncia de E também nula a disposiçào testamentdria quando da interpretaçao do
forma no testamento373. testamento resulte que foi essencialmente determinada por um firn contra-
Por nossa parte, aderimos também a esta ültima posiçao, considerando rio a lei ou a ordem püblica, ou ofensivo dos bons costumes (art. 2186°). Será,
que o art. 2184° não admite que disposiçoes testamentárias essenciais cons- por exemplo, o caso da deixa de valores para que o beneficiário possa corneter
tern de documento que não revista a forma de testamento ou, pelo menos, de crimes, ou a deixa de urn local para o exercIcio da prostituiçao.
escritura püblica. Serd assirn válida a disposiçao testamentária em que o tes Existe urn regime especial para as condiçoes e encargos ilIcitos, constante
tador deixe a alguem os imóveis que adquiriu por escritura püblica de uma dos arts. 2230° e 2245°. Referiremos detalhadamente esse regime quando nos
determinada data, mas jd nao aquela em que deixe os irnóveis referidos em ocuparmos do conteüdo do testamento.
certa pãgina do seu caderno de apontarnentos.
5.3. A capacidade testamentdria.
5.3.1. Generalidades.
Outro requisito do testarnento é a capacidade testarnentária activa, dado que,
372
Cfr. PIRES DE LIMA / ANTUNES VARELA, Codigo, VI, sub art. 2184, n4, p. 298, nos termos do art. 2190°, o testamento feito por incapaz é nub. No termos do
GUILHERME DE OLIVEIRA, 0 testamento, pp. 50 e ss., e DANIEL MORAlS, Dire ito Sucessório,
art. 2188°, podem testar todos os indivIduos que a lel não declare incapazes
pp. 84-85.
Cfr. OLIVEIRAASCENSAO, Sucsssöes, p. 66, PAMPLONA CORTE-REAL, Sucessães, pp. 90-91,
para o fazer, sendo manifesto que apenas as pessoas singulares podem testar,
CAPELO DE SOUSA, Sucessöes, p. 195, e CARVALHO FERNANDES, SzicessOes, p. 484.. não possuindo as pessoas colectivas capacidade testamentária. Em relaçao as
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DIREITO DAS SUCESSOES CAP1TULO XII A SUCESSAO TESTAMENTARIA.
pessoas singulares, resulta do art. 2189° que são incapazes de testar os mern testador, embora a tItulo de legItima, nao abrangendo assim bens que o
res não ernancipados, e os maiores acompanhados sempre que a sentei Ibstituldo haja adquirido de terceiros.
de acompanhamento assirn o determine. A razão das substituiçoes pupilar e quase-pupilar é a intençao de o proge
itor, no caso em que o menor ou o acompanhado não tenha descendentes ou
5.3.2. Casos de incapacidade testamentária. cende1tes, evitar que qualquer dos outros herdeiros legItimos possa rece
A primeira situaçao de incapacidade testamentária é a dos menores er a heranca por morte deste, em virtude da sua incapacidade para testar375.
n
emancipados, sendo que o menor obtém, de pleno direito, a ernancipaçao ‘or esse motivo, estas substituiçoes ficam sem efeito logo que o substi
e
consequência do casamento cart. 132°). Uma vez que a lei nao distingue,
pared luido adquire capacidade para testar, ou se falecer deixando descendentes
que o casamento do menor, mesmo sern a autorizaçao dos pais ou do tuy,
ou ascendefltes.
legalmente exigida (art. 1604° a)), nao o impede de fazer testamento
(art
133° e 2189° a), mesmo em relacao aos bens excluIdos da sua administraç; A substituiçaopupilar.
nos termos dos art. 1649°. Efectivamente, a exclusão desses bens da
adminil A substituicao pupilar encontra-se prevista no art. 2297°, permitindo ao pro
tração do menor ate atingir a maioridade nao implica que o mesmo não nitor que não estiver inibido total ou parcialmente do exercIcio das suas
capacidade testarnentária em relaçao a todos os bens de que seja titular’ ompetências parentais substituir aos fllhos Os herdeiros ou Iegatarios que
Já relativamente ao major acompanhado, hoje a lei limita a sua inca hes aprouver para o caso de estes falecerem antes de perfazerem os dezoito
dade ao estritarnente necessário (art. 145°, n° 1), pelo que em princIpio é livr anos de idade376.
O exercIcio pelo mesmo dos seus direitos pessoais, onde se inclui expressa Uma vez que a substituiçao pupilar se destina a suprir a incapacidade
mente o de testar (art. 147°, n°2), salvo existindo deterrninaçao em contrárjo de testar, a mesma fica sem efeito logo que o menor perfaça os dezoito anos de
na sentença judicial (art. 147°, n°1).
Face ao carácter pessoal do testamento, nao é possIvel a representaçao ou
j jdade (art. 2298°, n°2), devendo considerar-se que a mesma fica também sern
efeito se o menor for antes dos 18 anos emancipado pelo casarnento (art. 132°),
assistência nesse acto, admitindo a lei, no entanto, as figuras da substituiçao uma vez que nessa situacao o menor adquire plena capacidade de exercicio
pupilar e quase-pupilar (arts. 2297° e ss.), das quais falaremos em seguida. de direitos (art. 133°), passando consequentemente a poder testar (art. 2189°
a)). Da mesma forma, a substituição pupilar fica sem efeito se o substituldo
5.3.3. As substituiçoes pupilar e quase-pupilar. deixar descendentes ou ascendentes (art. 2297°, n°2).
5.3.3.1. Generalidades.
As substituiçao pupilar e quase-pupilar constituern urna forma de represen. 5.3.3.3. A substituiçao quase-pupilar.
taçao legal do testador, permitindo, nos casos em que este é incapaz de testar Já a substituiçao quase-pupilar encontra-se prevista no art. 22980, permi
que o seu progenitor o substitua nesse acto, realizando urn testamento em
por conta dele. 0 art. 2300° esciarece que as substituiçOes pupilar ou quase
L tindo ao progenitor exercer igualmente essa faculdade sem dependéncia da
idade do fliho, no caso de este ser incapaz de testar em consequência de uma
-pupilar 56 podem abranger Os hens que o substituldo haja adquirido por via sentença de acompanhamento.
termos do art. 2299°, a substituiçao pupilar converte-se em quase
-pupilar, se o menor for declarado interdito por anomalia psIquica, disposiçao
Sustentam, porérn, GUILHERME DE OLIVEIRA, 0 testamento, pp. 20-21, e JORGE DUARTE Nos
PINHEIRO, SucessOes, p. 89, que, se o menor casar sern autorizaçao dos pais, e nula a disposiclo Tern sido tradicional a explicaçao de que a consagracao destas substituiçoes resultaria ate do
testamentária por ele realizada, em reaçao a bens de que o menor nSo tenha a administração, receio de que, em virtude da sua ambiçSo, os herdeiros legItimos pudessern atentar Contra a vida
uma vez que a incapacidade de testar subsiste quanto aqueles bens, por força do art. 1649g. Nao do menor ou do incapaz, em ordem a herdar os seus bens. Cfr. CAPELO DE SOUSA, SucessOes, I,
nos parece, porérn, que tenham razão. A Onica sançao que é atribulda ao menor é a exclusão da
p. 225. Nao acompanhamos, porérn, esta posiçao, que nos parece exagerada.
adrninistraçao desses bens, podendo fazer testamento, pelo que nao faria sentido que o testamentO Sobre as origens da substituiçao pupilar no Direito Rornano, cfr. GALVAO TELLES, Dirnto
que fizesse nao abrangesse todo o seu patrimonio. de representação, pp. 145 e ss.
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TESTAMENTARIA
SUCESSAO
CAPITULO xii A
minadas por virtude da capacidade de influéncia que estas tenharn sobre interposta pessoa
designacao e antes da
apro
-
1
Daqui resulta que, testamento não e proibido se
menor, o as respectivas
“
Cfr. PAMPLONA CORTE-REAL, SucessOes. p. 98, CAPELO DE SOUSA, Sucessoes, p. 226, nota tuada em relacão a urn maioridade e já estiverem aprovadas
depois de omenor
atingir a que a disposiSão
(543), e CRISTINA ARAUJO DIAS, Sucessães, pp. 138-139, nota (213). aprovadas as contas, parece
não estejarn
Cfr. OLIVEIRA ASCENSAO, Sucessães, p. 50. contas. Mesmo que 215
Cfr. DANIEL MORAlS, Direito Sucessdrio, pp. 94-95.
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DIREITO DAS SUCESSOES
CAPITULO XII A SUCESSAO TESTAMENTARIA
I
cfr., porém, CUNHA GOXçALVES,
Thtado,IX, p. 671. Na jurisprudência,cfr. oAc.25/10/2001 (TERESA
PATS), na CJ26 (2001), 4,pp. 125-128 mente quando realizadas por interposta pessoa, considerando como inter
que considerou inapticvel o art. 21940 ao caso de urn doente
que morre de ataque cardlaco e sofria do postas todas as referidas no art. 5798, n82. Tal abrange assim tanto o cônjuge
coraçao, tendo efectuado determinada disposiçao a favor de urn
383
dos medicos que regularrnente o tratava.
No Ac. STJ 24/1/2002 (SILVA PAIXAO), em CJ-ASTJ1O (2002),
1, pp.51-54, considerou-se nb ser
inconstitucionalo art. 2196 por o valor de tutela da familia prevalecer
sobre o da tutela da propriedade Cfr. JORGE DUARTE PINHEIRO, Sucessdes, p.94 e DANIEL MORAlS, Direito Sucessório, p.97.
e que nao envolve abuso de direito ser o próprio doador a solicitar
a declaraçao de nulidade da doaçIo. CUNHA GONçALVES, Tratado, IX, p. 677.
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