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CARTA DE PAULO A FILEMOM

A respeito do texto de Filemom, veja Barth e Blanke, T h e L e tte r to P h ile m o n ,


pp. 1 0 4 1 0 8 ‫־‬. Fitzmyer (T h e L e tte r to P h ile m o n , p. 7) escreveu: “É im pressionante
com o o texto grego da Carta a Filem om foi transm itido, ao longo dos sáculos, de
form a praticam ente idêntica. Em dezoito dos vinte e cinco versículos não se re-
gistra nenhum a variante. O núm ero de leituras variantes significativas é m ínim o,
chegando, quando m uito, a dez ...”

2 τη άδελφη (à irmã) {A}

Áfia é cham ada de “a irmã” em testem unhos de boa qualidade que represen-
tam os tipos de texto alexandrino e ocidental. Em alguns uncíais e na m aioria
dos m anuscritos m inúsculos aparece τη άγαπητή (à am ada), um a alteração feita
talvez para que o texto concordasse com o v. 1, em que Filemom aparece com o τώ
άγαπητω (o amado). A leitura τη άδελφη τη άγαπητη (à irmã am ada), que combi-
na as duas anteriores, é, claram ente, resultado de uma elaboração posterior, ou
seja, um esforço por reter ambas as leituras que se conhecia.
Em algum as lín gu as, os parentes próxim os são sem pre parentes de alguém ,
ou seja, se encontram num a relação de p osse. N esses casos, não será possível,
do ponto de vista da gram ática, dizer sim plesm ente “a irm ã”, sem que se use um
pronom e p ossessivo. Em outras lín gu as, talvez não soe natural dizer apenas “a
irm ã”. Visto que m ulheres que tinh am fé em Cristo eram por v ezes cham adas
de “irm ãs” (Rm 16.1; 1 C0 7.15; 9.5), Áfia provavelm ente era um a “irmã em
Cristo”. Muitas traduções ao inglês e ao portu gu ês dizem “para a nossa irmã
Á fia” (NTLH, NBJ, BN, TEB, NRSV, REB, TEV, FC). Caso se decida em pregar o
pronom e “n ossa”, será n ecessário, em algum as línguas, escolh er entre a forma
exclusiva e a forma inclusiva do pronom e de prim eira pessoa do plural. Se, na-
quele “n ó s”, Paulo está incluindo os seus colaboradores T im óteo, Filem om , Áfia
e Arquipo, é provável que se ten ha de usar a forma exclusiva do pronom e de
prim eira pessoa. Em outras palavras, os leitores da carta não estariam incluídos
naquele “n ós”.

6 έν ήμϊν (em nós) {B}

O p eso dos m anu scritos pend e um pouco m ais na d ireção da leitura va-
ríante έν ύ μ ΐν (em vós). No en tan to, o m ais provável é que um copista ten h a
colocad o um pronom e de segu n d a p essoa do plural (vós) em lugar do pronom e
de prim eira p esso a (nós), para harm onizar o tex to com os dem ais pronom es
de segu n d a p esso a , tanto sin gu lar com o plural, que aparecem no contexto.
A lém d isso, o pronom e ήμΐν é m ais exp ressivo e tem m ais ch an ces de ser ori-
CARTA DE PAULO A FILEMOM 467

g in a l. N esse co n texto, o pronom e ‫״‬n ó s” tem sig n ifica d o inclu sivo, p ois, com o
diz Fitzm yer ( T h e L e tte r to P h ile m o n , p. 9 8 ), “a locu ção e n h ê m in não pod e ser
restrin gid a a Paulo, T im óteo e às p esso a s m en cion ad as nos vs. 2 3 -2 4 ... ela
se refere com certeza aos cristãos em geral, p e sso a s que passaram a crer no
Cristo ressu scita d o ”.
Mesmo tendo chegado a uma decisão quanto ao texto, ainda persistem as difi-
culdades de interpretação e tradução desse versículo. C. F. D. Moule (T h e E p istles o f
P a u l th e A p o s tle to th e C olo ssia n s a n d to P h ile m o n , p. 142) fez o seguinte comentário:
“Este é, com certeza, o versículo mais obscuro em toda a carta (a Filemom)”. H.
Riesenfeld (“Faith and Love Promoting Hope: An Interpretation o f Philem on 6 ,” em
P a u l a n d P a u lin is m : E ssa ys in H o n o u r o fC . K . B a r r e tt [M. D. Hooker e S. G. W ilson,
ed. Londres: SPCK, 1982], pp. 2 5 1 2 5 7 ‫־‬, citado por Barth e Blanke [T he L e tte r to Phi-
le m o n 9 p. 281]) escreveu algo sem elhante: “Poucas passagens do Novo Testamento
foram interpretadas e traduzidas de m aneiras tão diferentes”. Para um estudo mais
aprofundado deste versículo, veja Barth e Blanke (p. 280-291). Estes autores opta-
ram pela variante e traduziram o texto por “que se encontra em vossa congregação
[εν ύμΐν].” Veja tam bém Fitzmyer, pp. 9 6 9 9 ‫־‬.

1 2 ο ν άνέπεμψά σοι, αυτόν, τοΰτ’ εστιν τά έμά σπλάγχνα (ο qual m andei/estou


m andando de volta para ti, ele, isto é, o meu interior/coração) {B}

A leitura que aparece como texto é a que m elhor explica a origem das outras
leituras, que são tentativas de melhorar a gramática do original grego. Em alguns
m anuscritos, o imperativo προσλαβοΰ (recebe), que aparece no v. 17, foi acres-
centado depois de σπλά γχνα (‘entranhas’/ interior) ou, em alguns casos, antes de
α υτόν (ele), que é um pronome no caso do objeto direto. Além disso, em alguns
m anuscritos, o pronome pessoal da segunda pessoa do singular συ (tu), que está
no caso do sujeito, foi inserido em lugar de σοι (para ti) ou, em alguns casos, em
acréscim o ao σοι.
A maioria dos manuscritos m inúsculos traz ο ν άνέπεμψα, σύ δέ αυτόν, τοΰτ’
εστιν τά έμά σπλάγχνα, προσλαβοΰ (ο qual enviei, tu, pois, a ele, isto é, ao meu
próprio interior/coração, recebe), e este é o texto que está por trás da tradução em
ARC (e na KJV). Numa argum entação contra o acréscim o do verbo προσλαβοΰ
no v. 12, Barth e Blanke (T h e L e tte r to P h ile m o n , p. 351) indicam que “a clareza
estrutural e lógica da carta a Filemom fica comprometida quando se antecipa para
esta parte da epístola (v. 12) a reação que se espera que Filemom tenha diante da
volta do escravo Onésimo. Na verdade, nesta parte da epístola Paulo simplesmente
descreve seus sentim entos e suas intenções em relação a Onésimo. A reação que se
espera de Filemom passa a ser o assunto principal da carta apenas na seção seguin-
te (vs. 15-21)”.
468 VARIANTES TEXTUAIS DO NOVO TESTAMENTO

2 5 κυρίου ([do] Senhor) {B}

Em muitos manuscritos, o pronome da primeira pessoa do plural ήμών (nosso) foi


inserido depois de κυρίου. Entretanto, se o pronome tivesse feito parte do original,
ficaria difícil explicar a sua omissão, ao passo que sua inclusão posterior se explica
pela tendência dos copistas de fazer esses tipos de acréscimos.
Em algum as línguas não será possível, em termos gramaticais, dizer simples-
m ente “o Senhor”, pois se faz necessário usar o pronome possessivo (inclusivo).
Portanto, ao se traduzir o texto, é perfeitam ente aceitável dizer “nosso Senhor Jesus
Cristo”, como foi feito na BN.

2 5 υμών, (vosso.) {A}

Nos testem unhos de boa qualidade que representam os tipos de texto alexandri-
no e ocidental, essa carta term ina com as palavras “seja com o vosso espírito” Os
m anuscritos que trazem a palavra άμήν ao final da carta foram influenciados pelo
uso litúrgico. Veja casos sem elhantes a este no final de outras cartas de Paulo [por
exem plo, 1C0 16.24; lTs 5.28; 2Ts 3.18; lTm 6.21; 2Tm 4.22; Tt 3.15].

OBRAS CITADAS

Barth, Markus e Helmut Blanke. The L e tte r to P h ile m o n . Eerdman’s Critical


Commentary. Grand Rapids: Eerdmans, 2000.
Fitzmyer, Joseph. The L e tte r to P h ile m o n . AB 34C. Nova Iorque: Doubleday, 2000.
Moule, C. E D. The E pistles o f P a u l th e A p o stle to th e C olossians a n d to P h ile m o n .
Cambridge Greek Testament Commentary. Cambridge: Cambridge University
Press, 1968.
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