07 - Magic Breaks

Magic Breaks
Ilona Andrews
Livro 7
2
Traduzido do Inglês e Espanhol por Fãs
Disponibilizado por: Janiele
Tradução e 1ª Revisão: *Bia Divas
Revisão, Leitura Final e Formatação:
*Diana Prince e *Divas Rosa
Mais um Projeto das Divas & Lord’s FOREVER

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Livro 7

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Rupturas Mágicas
6
Copyright © 2014
Não importa o quanto a política paranormal de Atlanta mude, uma

coisa sempre permanece a mesma: se houver problemas, Kate
Daniels estará no meio dela ...
Como ex-mercenária e companheira de Curran, o Senhor das Feras de Atlanta,

Kate Daniels tem mais responsabilidades do que parece ser possível
administrar. Não só ainda está lutando para manter sua Agência de investigação à
tona, como agora deve lidar também com os assuntos do Bando, incluindo
preparar seu povo para o ataque de Roland, um ser antigo e cruel com poderes
divinos. Já que a conexão de Kate com Roland foi revelada, ninguém está a salvo -
especialmente os mais próximos de Kate.
Enquanto a grande ameaça de Roland se aproxima, Kate é chamada para
participar do Conclave, uma reunião dos líderes das várias facções sobrenaturais
em Atlanta. Quando um dos Mestres dos Mortos é encontrado assassinado lá,
aparentemente nas mãos de um metamorfo, Kate recebe apenas vinte e quatro
horas para caçar o assassino. E desta vez, se ela falhar, se encontrará envolvida
em uma guerra que poderia destruir tudo o que ela ama ...

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Lista de Personagens
O Bando
7
KATE DANIELS: Personagem principal. Mulher,
aproximadamente vinte e sete anos no momento desse livro.
Ex-mercenária, ex-membro da Ordem dos Cavaleiros da Ajuda
Misericordiosa, atualmente é Consorte de Curran, o Senhor da
Feras Livres de Atlanta, e alfa do Bando de Metamorfos.
Carrega uma espada chamada Matadora. Filha de Roland, de
quem ela tem se escondido toda a sua vida, criada pelo
renegado Senhor da Guerra de Roland, Voron. Kate é dona da
Cutting Edge, uma pequena agência de investigação financiada
pelo Bando.
CURRAN LENNART: Senhor das Feras. Alfa e líder dos

metamorfos de Atlanta. Homem, cerca de trinta e três anos.
Tem sido o Senhor das Feras desde os quinze anos.
Transforma-se em um imenso leão cinzento. Loiro, de olhos

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cinzas, aproximadamente um metro e oitenta de altura, possui

estrutura física de um levantador de peso profissional. Em
forma humana, prefere combate corpo-a-corpo, dessa forma
pode usar facilmente seu treinamento em judô, luta livre e jiu-
jítsu.
8
JIM SHRAPSHIRE: Metamorfo jaguar e alfa do Clã Felino.
Homem, trinta e cinco anos; um e noventa de altura, possui
estrutura física de um pugilista peso médio1. Pele escura, olhos
castanhos. Jim se move com um andar atlético, suave, que
esconde a energia reprimida e a violência guardada logo
abaixo da superfície. Jim é o Chefe de Segurança do Bando. Ele
é um controlador paranoico, que vê ameaças ao Bando em
cada esquina e em todas as sombras. Tem uma história com
Kate Daniels (não-romântica), trabalharam juntos na
Associação dos Mercenários.
1
Lutador de box de uma categoria que pesa mais de 70 kg.

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BARABAS GILLIAM: Apesar de ser um metamorfo

mangusto2 é membro do clã bouda (metamorfos hienas), um
metro e setenta e cinco de altura, esbelto. Aparentando estar
em seus vinte e tantos anos, Barabas tem uma pele muito clara
que se choca com o seu cabelo vermelho brilhante, geralmente
9
espetado em cima de sua cabeça. Possui estrutura física
esbelta de um esgrimista3 ou dançarino. Barabas é o principal
assessor jurídico do Bando e uma das ‘babás’ de Kate,
designado pela Tia B antes de sua morte em Ascensões
Mágicas, possui um conhecimento enciclopédico das leis
humanas e as do Bando. Barabas é um habilidoso lutador de
facas.
ANDREA NASH: Mulher, um metro e sessenta de altura,

loira. Andrea é a melhor amiga de Kate. Ex-cavaleira da Ordem
e perita em armas de fogo. Andrea é bestial, o que significa que
2
Mangusto – Suricato.
3
Atleta da esgrima.

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ela é a prole extremamente rara de uma bouda fêmea e uma

hiena que poderia se transformar em humano. Em muitos
grupos de metamorfos, os bestiais são, na melhor das
hipóteses, tolerados, mas maltratados, na pior das hipóteses
vistos como abominações e mortos ao nascer. Andrea e sua
10
mãe sofreram abuso e crueldade indescritíveis nas mãos de
seu primeiro clã. Escapou dessa vida e, disfarçando-se de
humana, juntou-se e graduou-se com honras na Ordem dos
Cavaleiros. Após os eventos do livro A Magia Sangra, Andrea
foi exposta como uma metamorfa e foi expulsa da Ordem, ela
agora trabalha junto com Kate na Agência de Investigação
Cutting Edge. Andrea está noiva de Raphael, macho alfa do Clã
Bouda, e juntos comandam agora o clã depois da morte de Tia
B.
RAPHAEL MEDRANO: Herdeiro e alfa do Clã Bouda, tem

vinte e tantos anos e cerca de um metro e noventa de altura.
Único filho sobrevivente de Tia B e seu falecido marido.
Raphael é um homem muito bonito e atraente, alto, moreno e
extremamente simpático, dono de um sorriso diabólico. Como
a maioria no Clã Bouda, Raphael possui uma longa lista de

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parceiros, mas se apaixonou por Andrea Nash à primeira vista

e a perseguiu implacavelmente até que, apesar de seu melhor
julgamento, ela aceitou seus avanços. Andrea tem um respeito
relutante por Raphael, mas até recentemente o via como
mimado e vaidoso, apesar de sua posição como
11
indiscutivelmente o melhor lutador de facas no Bando.
DEREK GAUNT: Metamorfo lobo e o protegido de Jim e

Curran. Entrou na história já no primeiro livro, Sangue Mágico,
como um adolescente, Derek é agora um jovem adulto, cerca
de dezenove anos e um lutador experiente. Até pouco tempo
atrás Derek era um homem extremamente bonito, mas foi
irreparavelmente desfigurado durante os eventos que
ocorreram em Ataques Mágicos. Suas cordas vocais também
foram danificadas no ataque, deixando-o com uma voz
permanentemente baixa e ameaçadora. Kate muitas vezes se
refere a Derek como ‘menino maravilha’ e sua devoção a ela é
quase fanática, perdendo apenas para sua admiração e
lealdade a Curran. Derek, como Curran, tem um profundo ódio
e desdém por loups, metamorfos que se tornaram ferozes.

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ASCANIO FERARA: Adolescente bouda, dezesseis anos.

Basicamente uma versão mais jovem de Raphael, mas ainda
mais selvagem. Entrou na história no livro Magia Destruidora.
Ascanio é um jovem bouda criado até recentemente em uma
comunidade religiosa e isolado do mundo exterior. Ele está
12
determinado a compensar o tempo perdido e, às vezes, seu
comportamento é extremo, até mesmo para os padrões
bouda. Suas travessuras muitas vezes trazem atenção
indesejada ao Clã Bouda e ao Bando. Ele é visto por Derek da
mesma forma que Curran vê Raphael, selvagem e
indisciplinado. Nesse livro Ascanio é um estagiário não
remunerado na Cutting Edge, onde Kate e Andrea podem ficar
de olho nele.
DESANDRA: Mulher, vinte e tantos anos, metamorfa loba.

Entrou na história no livro Ascensões Mágicas, Desandra é um
enigma. Seu pai era um dos alfas mais implacáveis e sádicos
entre os bandos de metamorfos do Mediterrâneo. A única de
seus filhos a viver até a idade adulta, Desandra sobreviveu
fingindo ser vaidosa e estúpida. Levada a Atlanta com seus
filhos gêmeos, ela rapidamente subiu nas fileiras do Clã Lobo

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para se tornar beta, perdendo apenas para Jennifer. Debaixo

de seu exterior aparentemente rude e chocantemente
contundente, ela é muito parecida com o seu pai, astuta,
inteligente e capaz de uma violência súbita e chocante.
DR. DOOLITTLE: O primeiro e o mais experiente médico
13
mago do Bando, Doolittle é um homem afro-americano que
parece estar na casa dos cinquenta anos, com cabelos curtos e
grisalhos, usa óculos de armação de arame e tem uma
estrutura física robusta e forte. Um cirurgião extremamente
talentoso, Doolittle tende a dedicar seu tempo à ciência e ao
tratamento do Bando, mas assim como o animal em que se
transforma, ele é destemido e disposto a enfrentar qualquer
um, até mesmo Curran e Kate. Doolittle foi gravemente ferido
em Ascensões Mágicas, o que o deixou em uma cadeira de
rodas.
JULIE: Mulher, adolescente, Curran a chama de ‘filhote de

Kate’. Loira, pequena e bonita, Julie está sendo criada por Kate
depois de perder sua mãe no livro Fogo Mágico. Como Kate,
ela é uma humana com magia vivendo entre e sob a proteção

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do Bando. Julie tem a capacidade única de ver magia, ela é um

m-scanner4 humano e seus poderes ainda estão se
desenvolvendo. Tem uma queda por Derek, que a vê como
uma irmã mais nova, e uma relação competitiva com Ascanio,
que a vê como uma rival e potencial conquista romântica.
14
Durante o livro Magia Destruidora, Julie foi infectada com o
Lyc-V, o vírus metamorfo, e estava indo a loup. Kate usou um
dos rituais de seu pai para salvar a vida de Julie, limpando seu
sangue com o dela, o que ligou Julie a Kate. Julie é incapaz de
recusar uma ordem direta de Kate, fato que Kate e Curran
escondem dela.
JENNIFER: Alfa fêmea do Clã Lobo e viúva de Daniel, que

morreu em Magia Destruidora. Jennifer ainda guarda rancor
contra Kate por matar sua irmã e a odeia ainda mais agora por
trazer Desandra para Atlanta. Jennifer sabe que ela é fraca e é
apenas uma questão de tempo até que sua nova beta tire sua
liderança. Ela teme por ela e seu filho.
4
Na série, um m-scanner é um aparelho capaz de ler e descobrir o tipo de magia através dos espectros de cores.

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ROBERT E THOMAS LONESCO: Alfas casados do Clã Rato.

Os metamorfos ratos são muito numerosos, ficando atrás
apenas dos metamorfos lobos, os ratos são excelentes espiões
e invasores. Os Lonescos se sentem desvalorizados e
desconfiam de Jim, o Chefe de Segurança do Bando.
15
CHRISTOPHER: Até pouco tempo era o favorito na corte de
Roland, Christopher foi dado a Hugh d'Ambray, que o castigou
por alguma transgressão desconhecida, condenando-o a uma
morte lenta. No momento em que Kate o resgata no livro
Ascensões Mágicas, depois de ser mantido preso por meses
em uma jaula por Hugh d'Ambray, Christopher está emocional
e mentalmente abalado. Christopher parece confundir a
realidade e às vezes acredita que pode voar, mas
simplesmente esqueceu como fazê-lo. Ele é totalmente grato
a Kate por libertá-lo e acredita que Barabas, que se tornou uma
espécie de seu tutor, é um anjo.

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A Ordem dos Cavaleiros da Ajuda

Misericordiosa
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TED MOYNOHAN: homem branco, final dos seus cinquenta
anos. Estrutura física de um pugilista experiente ou jogador de
futebol americano, Ted tem um metro e oitenta e pesa mais de
noventa quilos. Como Cavaleiro da Ordem, Ted supervisiona o
núcleo da Ordem da Ajuda Misericordiosa de Atlanta e, como
tal, ele também é um velho conhecido de Kate e de Andrea.
Ted é um fanático que desconfia e despreza igualmente os
metamorfos e a Nação. Ele já foi visto como um grande líder
dentro da Ordem, mas sua estrela foi manchada quando os
escritórios da Ordem foram atacados e queimados por
soldados da falecida tia de Kate, Erra. O plano de Ted para
impedir Erra falhou e resultou em dezenas de mortes civis (ver
Magia Sangra). A sua manipulação subsequente da situação de
Andrea Nash prejudicou ainda mais sua reputação. Ele agora é
visto como um empecilho ultrapassado, mas por causa dos
longos anos trabalhando para a Ordem, não pode ser forçado

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a se aposentar, a menos que cometa um erro colossal. Ted está

determinado a sair de forma honrosa.
MAXINE: Poderosa telepata e secretária de longa data e

guardiã da Ordem. Uma não-combatente, Maxine se refere a
todos como ‘Querido’. Ela gosta de Kate apesar da
17
animosidade de Ted em relação a ela.
MAURO: Um grande samoano5, Cavaleiro da Ordem,

Mauro é o último da velha guarda de Ted, o resto foi
transferido ou morreu durante o ataque à Ordem em Magia
Sangra. Mauro é um gigante gentil de cento e sessenta quilos,
inteligente e tranquilo, não se irrita fácil e está coberto de
tatuagens que brilham quando ele usa seu poder para
redirecionar o fogo.
5
Quem nasce em Samoa. As ilhas Samoa ou arquipélago de Samoa (anteriormente Ilhas Navegadores) formam um grupo
de ilhas localizadas no centro-sul do Oceano Pacífico. Pertencem à região da Polinésia

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A Nação (Navegadores de
Mortos-Vivos)
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GHASTEK: Esbelto e sombrio, idade indeterminada, pode
ter trinta e tantos ou quarenta e poucos anos. Um poderoso
Mestre dos Mortos, Ghastek está envolvido em uma luta pelo
poder com Mulradin Grant para preencher a posição de poder
deixado pelo recente e inexplicável desaparecimento de
Nataraja, o ex-necromante chefe de Atlanta. Ghastek sente
que Kate é mais do que aparenta ser e quer descobrir quem ela
realmente é. Ele é muito inteligente e talentoso, e sabe disso,
mas a sua arrogância o faz cometer erros com frequência.
MULRADIN GRANT: O principal rival de Ghastek pelo poder

do núcleo da Nação de Atlanta. O Bando sabe pouco de
Mulradin, além de sua reputação como um homem de família
equilibrado.

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A Turma do Mal
HUGH D'AMBRAY: o Senhor da Guerra de Roland; ele caçou

e matou Voron quase uma década atrás. Descobriu a existência
19
de Kate e está determinado a apresentá-la ao pai dela. Kate
tornou-se um prêmio irresistível para ele: ela é a filha de Roland
e foi treinada por Voron, assim como o próprio Hugh. Seu ódio
por Curran é igualado apenas por sua determinação em
quebrar a resistência de Kate. Está determinado a fazê-la se
submeter a sua vontade, mesmo que ele tenha que queimar
Atlanta até o chão ou afogá-la em sangue de metamorfo. Ele
realmente não se importa se ela vem a ele por sua própria
vontade ou se será arrastada em correntes. Hugh é um
excelente estrategista e um excepcional médico mago. Ele
também é o preceptor da Ordem dos Cães de Ferro, a unidade
de elite, braço militar das forças de Roland.
HIBLA: Mulher, origem desconhecida. Hibla é um dos Cães

de Ferro de Hugh. Uma metamorfa e especialista com facas,
Hibla é diretamente responsável pela morte de Tia B, e Kate

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tem esperado pela oportunidade de vingança desde o fim do

livro Ascensões Mágicas.
ROLAND: O pai de Kate é uma figura mítica cujas origens

estão em algum lugar entre fato e fábula. Ele é o Construtor de
20
Torres. Dormiu por séculos, mas agora com ressurgimento da
magia, acordou do seu longo sono. Roland possui um poder
quase divino.

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MAPA DE ATLANTA PÓS-MUDANÇA
21

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MEU NOME É Barabas. Eles me deram esse nome

porque minha mãe era ambiciosa. Poderia ter sido pior.
22
Um dos meus primos se chama Lúcifer. Uma vez
perguntei à minha tia o porquê e ela respondeu: ‘Porque
eu queria que ele fosse bonito e decidisse seus próprios
caminhos, assim como o anjo rebelde’. Boudas, ou
metamorfos hienas, como a maioria das pessoas nos
conhece, tem uma visão interessante sobre o mundo.
Tecnicamente, não sou um bouda. Sou um metamorfo
mangusto, mas minha mãe é uma bouda e eu cresci entre
eles.
No momento em que escrevo estas linhas, tenho vinte

e nove anos. Sou formado em direito pela Universidade
da Virgínia e atualmente moro em Atlanta. Trabalho
como advogado do Bando, o que quer dizer que sou
membro da maior organização de metamorfos do Sul do
país e a segunda maior do continente da América do
Norte.

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Também trabalho para a Consorte do Bando como um

consultor especial. A Consorte me chama de ‘babá’ de vez
em quando, e acho esse termo excepcionalmente preciso.
Colocaria uma daquelas coleiras de segurança6 para
crianças nela se pudesse, o problema é que tenho certeza
23
de que ela cortaria meu braço.
Estou vivendo um momento particularmente

singular. Algo importante está acontecendo bem na
minha frente, algo que suspeito que alterará
drasticamente o futuro, não apenas do Bando, não apenas
da minha geração, mas das gerações vindouras. Tenho
um lugar na primeira fila. Estou no meio disso. Ainda
ninguém ao meu redor parece perceber que daqui a
alguns anos nossos descendentes olharão para trás neste
momento e se perguntarão como tudo aconteceu. Alguém
deve documentar isso. Afinal, a história é escrita por e
para os sobreviventes e, no momento, não tenho certeza
6
Coleira infantil.

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de quem serão esses sobreviventes. Não me leve a mal,

não pretendo me virar e desaparecer na noite. ‘Eu irei me
enfurecer com os melhores deles’, assim como o poema de
Dylan Thomas7 aconselha. Mas na chance de não
sobreviver, deve haver um registro de quão duro nós
24
lutamos. Parece que serei o único a fazer esse registro, já
que ninguém mais demonstra-se interessado nisso.
Engraçado como sempre essas coisas sobram para mim.
Então, suponho que devo começar do começo. O

mundo sofreu um apocalipse mágico. Como esperado, foi
completamente culpa nossa.
Nos tempos antigos, a tecnologia e a magia existiam

em perfeito equilíbrio, mas depois veio a raça humana.
Eles construíram uma civilização baseada na magia.
Criaturas de terror e beleza percorriam a terra. Magos
com poder divino construíram cidades inteiras durante a
7
Dylan Marlais Thomas, nascido em 27 de outubro de 1914, no sul de Gales, era o arquétipo do poeta
romântico da imaginação popular americana - ele era extravagantemente teatral, bebedor pesado, envolvia-se em disputas
estrondosas em público e lia seu trabalho em voz alta com tremenda profundidade. Sentimento e uma cadela galesa
cantando. Barabas se refere ao poema: Do not go gentle into that good night. O que Barabas quis dizer com a referência é que
não esperem ele fugir ou se esconder, Barabas irá lutar o combate junto com todos os outros guerreiros.

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noite e fizeram chover cobras aladas e metal derretido em

seus inimigos. (Na minha opinião, essa época deve ter
sido um pesadelo. Como deixaram concentrar tanto poder
nas mãos de seres humanos egocêntricos? Ora, será que
não percebiam que isso nunca teria dado certo ou que isso
25
iria levar a atrocidades horríveis? Dúvida? Leia a Bíblia.)
O equilíbrio entre a magia e a tecnologia ficou tão
perturbada que a magia finalmente desapareceu. As
cidades forjadas pela magia desmoronaram, suas
maravilhas se transformaram em pó e suas bestas se
tornaram mitos.
Avancemos cinco mil anos. É o início do século XXI e

nós criamos uma civilização baseada na tecnologia, mais
uma vez, perturbamos o equilíbrio. Então a magia
retornou, vingativa, batendo em nossas cabeças. Inundou
o planeta em ondas temporárias. Uma parte do tempo o
mundo funciona com tudo que ainda sobrou da
tecnologia, os motores de combustão interna funcionam,
as armas disparam e a eletricidade mantém os monstros
longe. Até que a próxima onda mágica invisível afogue o
mundo, inutilizando as armas, os carros a gasolina, as

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lâmpadas e os motores elétricos, no lugar deles a magia

desentoca criaturas com dentes de pesadelo e apetites
ferozes. Então, novamente e sem aviso, a magia vai
embora e os magos da SWAT8 param de cuspir fogo e
voltam a usar seus rifles9.
26
Este apocalipse é chamado de Mudança. A Mudança
destruiu a civilização tecnológica. Viagens aéreas não são
mais possíveis, porque os aviões caem do céu quando a
magia volta. A Internet está praticamente morta, porque
na metade do tempo não temos eletricidade e a magia
mastigou a maioria dos computadores. Os telefones
celulares não funcionam, a menos que você esteja no
exército e tenha uma autorização especial realmente boa.
Prédios e arranha-céus caíram, roídos pelos dentes da
magia, mas a vida continua e as pessoas aprenderam a
sobreviver em uma Atlanta pós-Mudança, onde novas
facções e poderes entraram em cena.
8
SWAT é um acrônimo em inglês para Special Weapons And Tactics. Nos Estados Unidos, SWAT é o nome dado a uma
unidade de polícia altamente especializada nos departamentos das grandes cidades.
9
De modo geral rifle é uma arma de fogo, portátil de cano longo.

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Primeiro, há o Bando. Como mencionei, sou um

metamorfo e trabalho para o Bando, por isso tenho
interesse em explicar exatamente quem somos e o que
fazemos. O Bando é a segunda maior organização de
metamorfos do país e tem mais de mil e quinhentos
27
membros. É formado por sete clãs, de acordo com as
espécies de seus animais, assim formam os Clãs Boudas,
Lobos, Felinos, Ratos, Ágil, Heavy e Chacais. Cada clã é
liderado por um par de alfas.
Juntos, os alfas formam o Conselho do Bando. Mas

como a Disney nos ensinou, todo castelo deve ter um rei,
e nosso rei é conhecido como o Senhor das Feras, porque
nós, como americanos de sangue nativo, temos um
problema com a monarquia. Seu nome é Curran Lennart.
Curran assumiu o controle do bando quando tinha quinze
anos, derrotando um metamorfo urso enlouquecido que
ninguém conseguia capturar. Ele nos unificou.
Convenceu os alfas a comprarem terras coletivamente e
construiu a Fortaleza, nossa fortaleza, nos dando um
lugar seguro para sermos nós mesmos. Ele impôs regras
e leis e nos ensinou que o abuso não seria tolerado. Por

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causa dele, vivemos juntos em relativa prosperidade.

Quando Curran diz pule, pulamos com tanta força que o
chão treme. O que não quer dizer que ele não tenha crises
de idiotices, mas considerando todas as outras coisas,
elas são perdoáveis. Ele também é um bastardo
28
realmente assustador que gosta do estilo de governo ‘ou
faz o que eu mando ou caia fora’. Falarei mais sobre isso
depois.
Nós, os metamorfos, somos vistos com suspeita

declarada pelo resto de Atlanta. Nossa existência é o
resultado do vírus Lyc-V e, às vezes, o vírus se multiplica
incontrolavelmente pelo nosso corpo, transformando-nos
em loups. Loups são assassinos cruéis, insanos e
canibais. Não há cura para o lupismo, e é por isso que
todos praticamos disciplina rigorosa e passamos por
extensivo condicionamento mental, dessa forma podemos
manter nossas emoções sob controle. Quando tudo isso
falha, há panaceia, uma mistura de ervas cozida com
magia. Não vai curar o loupismo, mas cerca de trinta por
cento dos casos pode reverter a transformação em
progresso. Falarei mais sobre isso depois, também. Aos

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olhos do público em geral, todo metamorfo é um potencial

loup e ‘lobisomem’ ainda é palavrão.
Em seguida, temos a Nação. Eles são uma

organização de âmbito nacional, com escritórios em todas
as grandes cidades. A Nação pilota os mortos-vivos,
29
especificamente vampiros, por diversão e lucro, mas se
você perguntar a eles, irão dizer que é para fins científicos
duvidosos. Vampiros não têm mente própria. O patógeno
Immortus, que leva à morte e subsequente reanimação
de suas vítimas, limpa seus corpos de tudo que não é
necessário, incluindo órgãos internos, cabelo, genitália e
consciência. Um vampiro é uma máquina de comer,
consumida por uma fome sem fim. Eles não falam, eles
não pensam, eles matam qualquer coisa que pulse com
vida, e parar um exige um tanque de guerra com munição
pesada ou serem decapitados. Fatiá-los em pequenos
pedaços parece também funcionar, como a Consorte
provou em muitas ocasiões. Um único vampiro à solta na
cidade resulta na evacuação imediata de um raio de dez
quarteirões e no envio de várias unidades policiais de

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emergência, porque uma única equipe da SWAT ficará

sem munição antes de derrotá-lo completamente.
Os necromantes, que preferem ser chamados de

navegadores, agarram telepaticamente a mente vazia de
um vampiro, impondo sua vontade, a mente de um
30
vampiro para um navegador é uma tela em branco. Isso
é chamado de navegação. Os navegadores pilotam os
vampiros como carros de controle remoto. Eles veem e
ouvem o que o morto-vivo vê e ouve, e quando um vampiro
fala, a voz do navegador sai de sua boca. Eles podem
enviar o vampiro direto para o perigo enquanto tomam
café nas entranhas blindadas do Casino. Os melhores
navegadores se autoproclamam de Mestres dos Mortos,
porque a modéstia é claramente a virtude mais valiosa
deles.
A Nação faz sua sede no Casino, enquanto o nosso

quartel general é a Fortaleza. A Nação é o maior rival do
Bando na cidade. Quando batemos cabeças, pessoas
morrem, então, há um tempo, em um esforço para reduzir
um possível derramamento de sangue, nós

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nominalmente dividimos a cidade em seu ‘território’ e o

nosso. É um pouco complicado com ruas e áreas
específicas, mas, para simplificar, o norte e o nordeste são
nossos e o sul e o sudoeste são deles. Quando você ouve
um de nós dizer ‘território da cidade’, é isso que queremos
31
dizer. Não possuímos propriedades nas áreas específicas
umas das outras e patrulhamos nossas fronteiras
imaginárias.
Neste momento, a Nação está envolvida em uma luta

interna pelo poder. O chefe do núcleo da Nação de Atlanta
se aposentou, ou talvez o mataram, ninguém sabe, e dois
dos Mestres dos Mortos estão manobrando para chegar
ao topo do poder. Um é Ghastek: inteligente, competente,
extremamente perigoso e envolto em uma concha
protetora de arrogância enfadonha. Basicamente um
sabe-tudo com a perícia e uma manada de vampiros para
apoiá-lo. O outro é Mulradin, de quem sabemos pouco,
exceto que ele é um homem de família tradicional e fica
revoltado quando as pessoas falam palavras inofensivas,
como ‘Puta merda!’ ao alcance da voz de sua esposa, que

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não deve ser maculada e exposta a tal grosseria. (Como

se alguém se importasse.)
Aqui está uma revelação: a maioria das pessoas não

sabem, mas a Nação responde a um homem.
Lembra-se da Era da Magia e magos com poderes
32
divinos? Acontece que quando a magia começou a
desaparecer do mundo, nem todos os magos morreram.
Alguns deles entraram em hibernação. Milhares de anos
depois, a Mudança despertou um deles. Pense sobre isso.
Existe um homem sem restrições pela ética e pela moral.
Um homem que costumava governar impérios. Um rei-
mago, uma lei para si mesmo, que vive há milhares de
anos com o poder de esmagar milhares de vidas com um
único impulso de magia. Uma bomba nuclear ambulante.
Um homem tão poderoso, que não precisa de um nome, o
nomeiam com frases inteiras e as iniciais das palavras
com letras maiúsculas: O Pai da Morte. O Construtor de
Torres.
Ele se autonomeou agora de Roland. Perguntei a

Consorte o porquê desse nome e ela me mostrou a Canção

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de Roland10. É um poema épico do século XII sobre um

cavaleiro que é emboscado por causa de uma traição e,
por orgulho, se recusou a soprar o berrante da
misericórdia até que todos os seus soldados estavam
mortos, então finalmente soprou com tanta força que
33
suas têmporas estouraram e ele morreu como mártir.
Entenda como quiser.
Milhares de anos atrás, Roland criou vampiros e

agora dirige a Nação no meio-oeste. Há histórias e mitos
dele espalhados pelas mitologias de diferentes livros
sagrados: Torá, Bíblia e outros, cada o nomeia de formas
diferentes. Aparentemente, Roland tem duas
compulsões. Primeira, ele é engenheiro social.
Ele constrói impérios. Parece que é algo que não

consegue evitar. Ele acredita que a única maneira pela
qual podemos alcançar a iluminação, a evolução
espiritual é através de suas leis. A democracia não é um
conceito que ele considera relevante, o que é uma má
10
A Canção de Roland é um poema épico composto no século XI em francês antigo, sendo a mais antiga das canções de
gesta escritas em uma língua românica. Teve enorme influência na Idade Média, inspirando muitas outras obras sobre o tema
por toda a Europa. Para conhecer uma das inúmeras versões musicais: https://www.youtube.com/watch?v=eFs2uw5-Xk4
Para saber um pouco mais: http://www.hs-augsburg.de/~harsch/gallica/Chronologie/11siecle/Roland/rol_intr.html

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notícia para nós. Em segundo lugar, ele se apaixona.

Roland se apaixonou muitas vezes e fez filhos, e mais
cedo ou mais tarde, esses filhos superpoderosos se
voltaram contra ele e ele teve que matá-los. Por exemplo,
Abraão era um dos seus, eles tiveram algum tipo de
34
desentendimento, e Roland o exilou até que Abraão
finalmente morreu mais tarde na pobreza. Não
exatamente do jeito que a Bíblia diz, mas ...
Antes de Roland entrar em hibernação,

aparentemente jurou que não iria ter mais filhos. Mas
depois que acordou durante a Mudança, deve ter sido
superado pela euforia de estar vivo. Mesma razão pela
qual as pessoas fazem sexo após os funerais. Roland se
apaixonou por uma mulher chamada Kalina. Ela queria
ter filhos e ele aparentemente aceitou sem maiores
problemas, até que uma criança foi concebida, uma filha
e, em seguida, Roland se arrependeu e decidiu matá-la
ainda no útero. Kalina tinha sua própria magia, a magia
da coação, e ela estava desesperada para salvar seu bebê.
Ela enfeitiçou o Senhor da Guerra de Roland, Voron, e o
levou a pensar que ele estava apaixonado por ela. Juntos

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fugiram. Kalina deu à luz, mas Roland finalmente os

alcançou. Kalina percebeu que, dos dois, Voron tinha
mais chances de sobreviver e criar o bebê, então ela disse
a ele para correr e ficou para trás e confrontou Roland.
Ela o esfaqueou no olho e ele a matou.
35
Não é uma história feliz.
Então aqui está Voron, um bastardo frio e cruel, um

guerreiro muito talentoso que liderava os exércitos de
Roland quando ele veio para tomar o nosso continente,
um cara que provavelmente matou centenas de pessoas
para conseguir isso, e agora se encontrava sozinho com
esse bebê. Seu cérebro estava permanentemente cozido
pela magia de Kalina. Então ele olha para esse pequeno
bebê mágico, a filha da provavelmente única mulher que
amou, e ao invés de dizer para si mesmo: ‘Pelo menos eu
tenho algo que sobrou dela. Vou criar essa criança e farei
tudo que estiver ao meu alcance para protegê-la, educá-
la, amá-la, e garantir que ela tenha uma vida feliz.’ Não,
ele não diz isso, ele olha para ela e pensa: ‘Eu te darei o

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que você merece’. Porque ele é esse tipo de bastardo cruel

e implacável.
Ele pega este bebê e a cria e a molda, até que ela se

transforme em uma arma viva. Ela pode te matar com
sua espada, mas ela também pode te matar com um palito
36
de dentes. Pode até te matar com as próprias mãos. Eu
sou um metamorfo mangusto. Sou extremamente rápido.
Quando fico entediado, brinco com minha cobra de
estimação, e não quero dizer isso figurativamente. Nunca
sou mordido, porque sou impressionantemente rápido o
suficiente para me esquivar facilmente de qualquer
cobra. Às vezes, quando Kate balança sua espada, eu não
consigo vê-la. Ela é muito rápida.
Então, enquanto essa menina cresce, ela e Voron

vagam por todas as Américas. Nunca ficam em um lugar
por muito tempo, um mês a garota está treinando com
alguém em Oklahoma11, o próximo ela está em um poço
11
Oklahoma é um dos 50 estados dos Estados Unidos. Limita-se ao
norte com o Colorado e o Kansas, a leste com o Missuri e o Arkansas, ao sul com o Texas, e a oeste com o Texas e o Novo
México.

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de gladiadores no Brasil. O tempo todo ele diz a ela como

o pai dela matou a sua mãe e como esse pai iria matá-la
se ela fosse descoberta. Tudo isso é verdade. Mas Voron
também diz a ela que a única maneira de sobreviver é
matar Roland. Ela aprende como acabar com uma vida
37
humana antes de atingir a puberdade. O dano que foi
feito a ela quando criança é impressionante. Mas isso não
foi o pior.
Voron se dedicou a transformá-la em uma assassina

perfeita, mas ele não lhe ensinou nenhuma magia. Ele
não era um usuário mágico, então ela aprendeu
habilidades mágicas gerais, um pouco das bruxas, um
pouco dos magos, mas não praticou a magia do sangue, a
marca da magia de Roland. Primeiro, porque ninguém
podia ensiná-la e segundo, porque Voron achava que isso
iria denunciá-la. Mas há um terceiro motivo. Não havia
necessidade, porque Voron sabia do que Roland era
capaz. Ele sabia que a habilidade de Kate era suficiente
para chegar até Roland, mas também sabia que ela não
teria nenhuma chance contra seu pai. Esse foi o ponto
crucial de sua vingança.

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Ele criou essa criança desde que ela era um bebê

apenas para que um dia pudesse assistir a Roland matar
ou ser morto por sua própria carne e sangue. Pense como
isso é cruel.
Voron não teve a chance de ver esse dia chegar.
38
Roland decidiu que precisava de um novo Senhor da
Guerra, então escolheu o melhor aluno de Voron, o garoto
que ele criou como um filho, e fez dele seu Senhor da
Guerra. Seu nome é Hugh d'Ambray, ou Louco Fodido, o
que é mais adequado. Hugh d'Ambray caçou Voron desde
sua traição. Um dia, quando Kate estava longe da casa,
Hugh o encontrou e o matou. Ele alega que está um pouco
arrependido disso, mas você não pode confiar em uma
única palavra que saia da boca daquele bastardo
mentiroso. Com Voron morto, Kate ficou sozinha no
mundo. Um cavaleiro da Ordem da Ajuda Misericordiosa
assumiu temporariamente a tutela dela e tentou mandá-
la para a Ordem, mas ela desistiu. A Ordem é uma
Agência de Segurança Semioficial. O status legal deles é
obscuro, como já mostrei várias vezes para quem quiser
ver e ouvir. Eles são fanáticos, têm uma mentalidade

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rígida e acreditam que qualquer mudança nas

características biológicas, padrões do Homo Sapiens, faz
com que você não seja humano.
Você que leu o que escrevi até aqui, acha que não sou
humano?
39
Para esses caras, Charles Manson12 e Jack, o
Estripador13, são mais humanos do que eu. Se não fosse
pelo fato de nossa força policial estar sobrecarregada, a
presença da Ordem não seria tolerada. Não deveria ser
tolerada de qualquer maneira. Mas, como é de se esperar,
quando alguém vem até você e se oferece para remover
aquele grifo14 que está matando seus vizinhos e faz isso
gratuitamente, quando você não pode pagar, a maioria
das pessoas não olharia os dentes do cavalo dado15.
12
Charles Milles Manson, nascido Charles Milles Maddox, foi o fundador e líder de um grupo que cometeu vários
assassinatos nos Estados Unidos no fim dos anos 1960, entre eles o da atriz Sharon Tate, esposa do diretor de cinema Roman
Polanski.
13
Jack, o Estripador é o pseudônimo mais conhecido para designar um famoso assassino em série não identificado que
atuou na periferia de Whitechapel, distrito de Londres, e arredores em 1888.
14
Grifo é uma criatura lendária com cabeça e asas de águia e corpo de leão. Fazia seu ninho em bolcacas
e punha ovos de ouro sobre ninhos também de ouro. Outros ovos são frequentemente descritos como sendo de ágata.
15
Vem da expressão popular: ‘Cavalo dado não se olha os dentes’; Que significa: não seja ingrato quando receber um
presente ou não importa que presente, receba, afinal está sendo dado.

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Então Kate decidiu que a lavagem cerebral da Ordem

não era para ela. Perambulou pela Geórgia, indo e vindo
de vez em quando a Atlanta. Trabalhou para a Associação
dos Mercenários por um tempo. Os Mercenários são os
caras que você chama, se você tem dinheiro e um monstro
40
no seu quintal, e a força policial está ocupada demais com
uma água-viva voadora venenosa no centro da cidade.
Kate passou a vida se escondendo à vista de todos e
poderia ter continuando assim, mas ela não contava
conhecer o Senhor das Feras.
Como mencionei, Curran é um bastardo assustador e

muito autoritário. Kate odeia qualquer autoridade. Ele
ordena: ‘Salte.’ Ela responde: ‘Vá se foder’. É claro que
eles se apaixonariam loucamente depois disso. E quando
digo loucamente, estou falando sério.
Kate nunca faz nada pela metade. Tenho certeza de

que Voron tentou criar uma psicopata, mas de alguma
forma falhou. Kate sempre se colocará entre o perigo e
qualquer outra pessoa. Ela encontrou uma criança meio
morta de fome morando na rua, quase morreu salvando-

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a de demônios, e depois a adotou. Julie é uma criança

excepcional em todos os sentidos, incluindo a quantidade
de problemas que ela pode gerar. Não é uma garota fácil
de lidar, mas nunca ouvi Kate reclamar.
Kate me considera como um de seus amigos. E para
41
mim é um privilégio. Significa que, mesmo que eu esteja
a vários estados de distância, e ligar para ela dizendo:
‘Estou em apuros’, ela pega sua espada e vem me
socorrer, sem esperar nada em troca.
Isso é uma coisa rara. Curran pode até ser o Senhor

das Feras e um teimoso, mas ele sabia exatamente o
tesouro que encontrou quando conheceu Kate. É por isso
que ela é agora a Consorte do Bando. Há muito tempo
precisávamos de uma Consorte. Alguém para equilibrar
Curran. Então ela chegou, sensata e sempre tenta ser
justa. Por um tempo as coisas estavam indo muito bem.
Lembre-se de que mencionei a panaceia, a fórmula

fitoterápica que nos ajuda a não ir à loup? Até
recentemente, não tínhamos acesso a ela. Era produzida
em algum lugar na Europa e quem produzia não queria

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vender a qualquer preço. No verão passado, de repente, o

Senhor das Feras e sua Consorte receberam um convite
para resolver uma disputa de famílias metamorfas em
um pequeno país no Mar Negro. Em troca receberiam o
pagamento em panaceia. Todos nós sabíamos que era
42
uma armadilha, mas mesmo assim, lá fomos nós
descobrir quem segurava a corda dessa armadilha. Era
Hugh d'Ambray. Ele seguiu o rastro de migalhas de pão
e encontrou Kate. Uma mulher que foi treinada pelo
homem que d’Ambray considera seu pai.
Kate provou ser melhor em uma luta de espadas do

que d’Ambray. Ela é a filha do homem que ele venera.
Você consegue ver onde eu estou indo com isso? Hugh a
quer a qualquer preço e não vai desistir. Ela o odeia,
porque ele é um maníaco fodido e matou Voron. O clima
entre eles ficou rapidamente tenso e acabou em uma luta
gigante e um castelo destruído em chamas.
Então aqui estamos nós. Não conseguimos a

panaceia, mas temos Christopher, um mago louco que
Kate tirou de uma jaula onde Hugh estava lentamente

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matando-o de fome. Christopher ainda está mentalmente

abalado, mas acontece que ele pode fazer panaceia, então
agora nós podemos produzir nossa própria reserva do
medicamento, porém o preço foi muito alto. Perdemos a
Tia B, a alfa do clã Bouda. Os boudas são desajustados.
43
Outros metamorfos não confiam em nós. Nós não
seguimos as regras padrões. A Tia B cuidava da gente.
De mim. Palavras não podem descrever o que ela
significou para mim. Ela se foi agora. Kate a viu morrer
e isso a consome diariamente. Posso ver essa tristeza no
rosto dela. Ela visita o túmulo de Tia B mais do que seu
filho, e olha que Raphael está lá toda oportunidade que
tem.
Agora, nos encontramos em uma encruzilhada. Não

sabemos se Hugh está vivo ou morto. Curran quebrou a
coluna de Hugh e atirou-o no fogo, mas Kate disse que o
sentiu se teletransportar. Nós sabemos que os dias de se
esconder de Kate acabaram. Roland procurará por sua
filha. Ele atacou o Bando antes através de seus agentes.
Não gosta de nós, porque estamos crescendo e ganhando
força. Mas agora, com Hugh vivo ou não, Roland virá de

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qualquer maneia. Se Hugh estiver morto, Roland vai

procurar quem o matou. Se Hugh estiver vivo,
provavelmente contou a Roland sobre Kate e ele virá
atrás dela.
Como eu disse, este é o momento particularmente
44
singular e muita coisa está em jogo. Se Roland nos atacar,
lutaremos não apenas pela Consorte, mas por nossas
vidas, por mais dramático que pareça. Roland entende o
conceito de liberdade pessoal, mas ele acredita que a
liberdade é altamente superestimada. Liberdade é tudo
para nós. Nós não seremos escravos. Kate é a nossa
melhor esperança de detê-lo, mas há aquele detalhe
desagradável de novo, ela sabe que sua magia não é
suficiente para derrotá-lo. Os Covens16 de Atlanta se
aliaram com Kate e estão fornecendo sangue de morto-
vivo para que ela possa praticar a magia de sangue de
seu pai. Ela está aprendendo, mas temo que não seja
rápido o suficiente. Se Roland dominar Atlanta, outras
16
Coven, conventículo ou conciliábulo é o nome genérico dado a uma agregação ou reunião de bruxos para a realização
de rituais religiosos e ritos.

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cidades também serão dominadas. Nós, o Bando, temos a

melhor chance de lutar contra ele.
Há uma tempestade se formando em nosso horizonte.

Vamos nos preparar para ela, mas me pergunto se isso
será suficiente quando chegar a hora.
45
Capítulo 1
—disse
Ascanio.
Os metamorfos adolescentes têm uma definição

interessante de ‘perigoso’. O Lyc-V, o vírus responsável pela
sua existência, regenera seus corpos a uma taxa acelerada,
então ser esfaqueado significa um cochilo seguido por uma
grande refeição, e uma perna quebrada seria igual a duas
semanas de repouso, mas depois poderiam correr uma

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maratona sem problemas. Além de metamorfo, Ascanio era

um adolescente e um bouda, ou metamorfo Hiena. As Hienas
estavam em uma categoria própria quando se tratava de
assumir riscos. Normalmente, quando um bouda dizia que
algo era perigoso, isso significava que você poderia ser
46
instantaneamente incinerado e ter suas cinzas espalhadas ao
vento.
— Tudo bem, —eu disse. —Segure a corda.
— Realmente acho que seria melhor se eu fosse em vez

você.
Ascanio me deu um sorriso deslumbrante. Eu dei a ele o

meu olhar de ódio. Quase um metro e oitenta de altura e ainda
ganhando músculos muito rápido, Ascanio não era apenas
bonito, ele era lindo: feições perfeitas, mandíbula desenhadas,
maçãs do rosto esculpidas, cabelos escuros e olhos mais escuros
ainda. Ele tinha o tipo de rosto que só poderia ser descrito
como angelical, no entanto, um olhar para aqueles grandes
olhos e você percebia que ele nunca poderia ter vindo do céu,
ao invés disso, em algum lugar no inferno um casal de anjos
caídos tinha perdido de vista um adolescente de dezesseis
anos. Ele percebeu o efeito que sua aparência tinha nos outros

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muito cedo na vida, e a usava frequentemente para conseguir

o que queria. Em cerca de cinco anos, quando esse rosto
amadurecer, Ascanio será devastador, se ele viver até lá, o que
agora não parece provável, porque eu estava muito brava com
ele.
47
— Segure a corda, —repeti, e dei o primeiro passo.
— Não olhe para baixo, —disse Ascanio.
Olhei para baixo. Eu estava de pé em cima de uma viga de

metal de cerca de quarenta e cinco centímetros de largura.
Abaixo de mim, os restos do Hotel Georgian Terrace17
afundados tristemente na rua arruinada. Magia não tinha sido
gentil com o prédio outrora glamuroso. Seus dezoito andares
haviam desmoronado em etapas, criando um labirinto de
passagens, colinas e paredes em ruínas. Toda a bagunça
ameaçava virar poeira a qualquer segundo, e eu estava no topo
desse monte de escombros. Se eu escorregasse, cairia cerca de
17
Georgian Terrace Hotel, em Midtown Atlanta, parte do Fox Theater Historic
District, foi projetado pelo arquiteto William Lee Stoddart em estilo Beaux-Arts que pretendia evocar a arquitetura de Paris.

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trinta metros até a calçada abaixo. Minha mente imaginou a

minha cabeça rachada como um ovo no meio da calçada.
Imaginar essa cena era só o que eu precisava, porque manter-me
equilibrada na viga congelada não era suficientemente difícil.
— Eu disse que não olhasse para baixo, —disse Ascanio,
48
prestativo. — Além disso, tenha cuidado, o gelo é
escorregadio.
— Obrigada, Capitão Óbvio.
Abaixo de mim, o cemitério de prédios do centro de

Atlanta se estendia à distância. Os edifícios maciços haviam
caído décadas atrás, alguns se espatifaram em cascalho, outros
quase inteiros, tombados no chão com seus esqueletos de vigas
de metal expostos, como baleias podres encalhadas com seus
ossos à mostra. Montes de entulho sufocavam as ruas. Plantas
estranhas alaranjadas cresceram entre os escombros, cada uma
possuía um fino caule que terminava em uma única folha
triangular. No verão, o esgoto e o transbordamento de chuva
corriam a céu aberto, mas no inverno rigoroso congelavam,
cobrindo o chão com gelo preto.
A magia da Unicorn Lane girava em torno de mim,

perigosa e retorcida. A magia inundava o nosso mundo em

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ondas, um minuto estava aqui e no outro ela ia embora sem

aviso, mas a Unicorn Lane, que era um lugar fascinante,
mantinha o seu poder mesmo quando a tecnologia estava mais
forte. Era o lugar onde você vinha quando os problemas da
vida se tornavam demais para suportar. Coisas com olhos
49
brilhantes brotavam aqui entre os arranha-céus caídos, e se
você permanecesse nessas ruínas, uma dessas coisas garantiria
curar tudo o que lhe afligia.
Qualquer um com a metade de cérebro evitava Unicorn

Lane, especialmente depois de escurecer. Mas quando sua
empresa está se afogando em dívidas, você precisa aceitar
qualquer trabalho, especialmente quando a editora-chefe do
Jornal da Constituição de Atlanta amanhece se lamentando na
cadeira do escritório da sua agência, porque seu animal de
estimação exótico e caro desapareceu. Desde que a magia
matou a Internet e enfraqueceu a TV, os jornais de papel
voltaram a ser a principal fonte de notícias, e um apoio do
maior jornal da região valia seu peso em ouro. Além disso, ela
chorou no meu escritório. Aceitei o trabalho.
Sendo uma Consorte, eu não precisava trabalhar para

ganhar minha vida. O Bando podia cuidar das minhas

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necessidades, mas eu queria que a Cutting Edge tivesse sucesso

e eu faria o que fosse necessário para fazê-la funcionar e pagar
as minhas contas. Mesmo que isso envolvesse rastreamento e
captura de animais de estimação fugitivos.
Infelizmente, o bicho fofo em questão tinha ido direto para
50
Unicorn Lane. Levei algumas horas para encontrá-lo e deixei
meu estagiário de dezesseis anos vir comigo, porque ele podia
rastrear a besta pelo cheiro e eu não podia. Ascanio não era
ruim em uma briga. Ele era fisicamente poderoso e rápido, e
tinha uma meia forma decente, uma mistura entre um humano
e um animal que elevava um metamorfo normal a um
assassino incrivelmente eficiente. Raphael, o alfa do Clã
Bouda, tinha transformado Ascanio em um lutador decente
nos últimos meses. Infelizmente, todo esse treinamento não
fez nada pelo bom senso do garoto.
Finalmente havia encurralado a pequena criatura,

escondida em uma fenda. Enquanto eu caminhava na ponta
dos pés em silêncio, Ascanio decidiu ‘ajudar’ rosnando ‘para
expulsá-la da fenda’, o que me fez quase cair em um buraco no
chão e deixou a ferinha em pânico, fazendo-a correr para o
topo do edifício precariamente em pé. Foi assim que acabei

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com uma corda ao redor da minha cintura, tentando me

equilibrar em uma viga de meio metro de largura, a mais de
trinta metros de uma queda fenomenal, enquanto o animal de
estimação exótico e caro tremia ao final do mesmo.
— Por favor, deixe-me fazer isso, —disse Ascanio. — Eu
51
quero ajudar.
— Você já ajudou bastante, obrigada. —Dei outro passo

ao longo da viga. Se eu caísse, com a força de metamorfo que
Ascanio possui, ele não teria problemas em me puxar para a
segurança. Se ele caísse, puxá-lo de volta ao topo do prédio
seria consideravelmente mais difícil para mim. O peso de um
ser humano inconsciente não era brincadeira, imagine o de um
metamorfo.
— Me desculpe, eu a assustei.
— Quando eu a pegar, você pode pedir desculpas.
A pequena fera estremeceu e caminhou na ponta dos pés

na direção da outra extremidade da viga. Ótimo.
Ascanio rosnou baixinho.

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— Posso ouvir você rosnando. Se eu posso ouvir você

rosnando, a criatura também pode. Se assustá-la e ela pular
para a morte, eu ficarei muito brava com você.
— Não posso controlar. Ela é uma abominação.
A abominação me encarou com grandes olhos verdes.
52
Eu dei outro passo. — Não é uma abominação. É um gato-
coelho.
O gato-coelho caminhou mais um centímetro para o final

da viga. Assemelhava-se a um fofo gato doméstico de tamanho
médio. Sua dona descreveu a cor da pele como lilás, que para
mim parecia mais um castanho-claro. Tinha um lindo rosto de
gatinho, emoldurado por duas longas orelhas, como se alguém
tivesse pegado as orelhas de gato e as esticado até deixá-las do
tamanho das de um coelho. Suas patas traseiras eram idênticas
a de coelho, poderosas e musculosas, enquanto suas patas
dianteiras, muito mais curtas do que as de um gato comum,
pareciam completamente felinas. Sua cauda, um pedaço de
penugem parecia com uma cauda de esquilo, tremia em
alarme. Os primeiros gatos-coelhos foram o resultado de
algum tipo de experiência mágica do curso de veterinária da
Universidade da Califórnia. Eles foram vendidos para uma

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clientela selecionada e desde que eram raros e bonitos, se

tornaram a nova febre de animais domésticos ridiculamente
caros. O vento me golpeou, lutei para meu corpo não tremer.
— Qual é o seu problema com o bichinho de qualquer
maneira?
53
— É errado e não natural, —disse Ascanio.
— E se transformar em uma hiena é natural?
— Um gato é um predador. Um coelho é uma presa. Um

roedor. Eles pegaram um gato e misturaram com um roedor.
Não tem cheiro de um nem de outro.
Eu dei mais alguns passos. Porra, essa viga estava alta.
— Quero dizer, como se alimenta? —Perguntou Ascanio.

— Se não caçar, não pode sobreviver sozinho e é algo que não
deveria existir. Se caçar, provavelmente pegará ratos, a única
coisa pequena o suficiente além dos pássaros, o que significa
que estaria se alimentando de seus parentes. É um roedor
canibal. Parece um filme de horror trash18.
— Roedores já são canibais. Pergunte ao Clã Rato, eles

dirão a você. —O Bando consistia de sete clãs, separados pelas
18
Cinema trash ou filme trash definem os filmes de baixo orçamento que são feitos com os custos e com uma qualidade
inferior aos filmes B. Os filmes trash devem ser distinguidos dos gêneros exploitation, kitsch e camp.

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espécies de seus animais, e os membros do Clã Rato eram

bastante pragmáticos sobre os hábitos de suas contrapartes
naturais.
— O que eles comem afinal? —Perguntou Ascanio.
— Bacon e morangos.
54
Houve um silêncio indignado atrás de mim.
— Bacon? —Ele falou finalmente.
— Sim. —Eu me movi para a frente mais quinze

centímetros. Fácil, fácil, isso, devagar. Ascanio continuou
tagarelando.
— Porque seria um javali que pegariam na natureza,

certo? Eu queria ver muito um bando de coelhinhos
derrubando um porco selvagem com aquelas pequenas
patinhas curtas. O javali não ficaria surpreso?
Todo mundo era um comediante.
— Talvez se eu fizer um barulho alto o suficiente, ele vai

saltar sobre essa viga e tentar me devorar.
Uma rajada de vento frio bateu contra mim, penetrando

as três camadas de roupas até meus ossos.
Meus dentes batiam. — Ascanio ...

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— Sim, Consorte?
— Acho que você entende mal todo o sentido do que

significa ser um empregado. Nós temos um trabalho a fazer,
aliás, estamos fazendo ele. Ou melhor, eu estou fazendo, e
você está tornando-o mais difícil.
55
— Eu não sou um empregado. Sou um estagiário.
— Tente ser um estagiário silencioso.
Eu me agachei na viga. O gato-coelho tremia a menos de

trinta centímetros de distância.
— Aqui ... —Coelho? Gatinho? — Aqui, criaturinha fofa ...

não tenha medo.
O coelho se enrolou em uma pequena bola, parecendo

doce e inocente. Eu já vi esse olhar em gatos selvagens antes.
Aquele olhar significava que eles se transformariam em um
tornado de garras afiadas assim que você estivesse a pouca
distância.
Eu o peguei, me preparando para ser sangrentamente

arranhada.
O gato-coelho olhou para mim com os olhos verdes

redondos e ronronou.

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Eu me levantei e me virei. — Consegui.
A viga desmoronou sob meus pés e nós mergulhamos

abismo abaixo. Meu estômago tentou sair pela minha boca.
A corda sacudiu, queimando minhas costelas, e eu fiquei

suspensa sobre a queda, o gato-coelho se aconchegou em meus
56
braços. A viga caiu no chão com um estrondo alto, quebrando
mais ainda a calçada já em ruínas.
A corda girou ligeiramente. O coelho ronronou, alheio.

Do outro lado da cidade em ruínas, o sol estava rolando em
direção ao horizonte, tornando o céu laranja em seu rastro. Eu
estava viva. Que tal isso? Agora eu só tinha que permanecer assim.
— Certo, me puxe.
A corda não se mexeu.
— Ascanio? —O que diabos agora? Ele viu uma borboleta e se

distraiu?
A corda foi puxada para cima, tão rápida que parecia ser
puxada por um guincho. Continuei subindo rápido. O que ...?
Alcancei a borda e me encontrei cara a cara com Curran.
Oh garoto!

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Ele segurava a corda com uma mão, os músculos salientes

em seu braço sob o moletom. O rosto de Curran sem nenhuma
expressão. É bom ser o metamorfo mais malvado da cidade.
Atrás dele, Ascanio estava imóvel, fingindo ser invisível.
Os olhos cinzentos de Curran riam de mim. O Senhor das
57
Feras estendeu a mão e tocou meu nariz com o dedo.
— Booo!
— Muito engraçado, —eu disse a ele. — Você poderia me

colocar para baixo?
— O que você está fazendo na Unicorn Lane depois de

escurecer?
— Capturando um coelho-gato. O que você está fazendo

na Unicorn Lane depois de escurecer?
— Procurando por você. Eu me preocupei quando você

não chegou em casa para o jantar. Parece que te encontrei na
hora certa. Novamente. —Ele me abaixou do telhado
arruinado.
— Eu tinha tudo sob controle.
— Hum-rum. —Ele se inclinou sobre o gato-coelho e me

beijou. O sabor era exatamente como eu me lembrava, e a

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sensação de sua boca na minha era como voltar de uma noite

escura e fria para uma casa quente e iluminada.
Coloquei o gato-coelho no transportador de pequenos

animais e saímos correndo do telhado.
58
viga de metal coberta de lama cor-de-
rosa que fervia apesar das temperaturas congelantes. O vento
frio bateu em minhas costas e atravessou meu casaco.
À minha frente, Curran saltou sobre uma pedra de

concreto. Para um homem grande, ele era notavelmente
gracioso. — Estacionei na rua quatorze.
Hum, carro. Um bom carro quentinho. Havíamos chegado a

pé e agora o aquecedor do carro parecia celestial.
Curran parou. Eu parei ao lado dele. — O que foi?
— Lembra-se disso? —Ele me perguntou.

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Olhei para o Unicorn Lane. Na minha frente, um antigo

prédio de apartamentos afundado na rua, pesado demais para
seus ossos de aço enfraquecidos. À direita, a geada
transformou uma pilha de restos de concreto e fios em um
labirinto de treliça branca. Parecia familiar... Ah ...
59
— O que foi? —Perguntou Ascanio.
Apontei para o prédio de apartamentos meio

desmoronado, onde uma abertura escura oferecia um caminho
para dentro. — Este é o lugar onde nos conhecemos.
Eu estava investigando a morte do meu guardião e

descobri que o Bando estava envolvido. Na época, fazia o meu
melhor para me esconder, o que me tornou uma desconhecida,
então Curran me convidou para uma reunião cara a cara
naquele prédio de apartamentos. Ele queria ver se eu
enfrentaria a Unicorn Lane à noite. Eu fiz.
Parecia que isso tinha sido há muito tempo agora.
Curran colocou o braço em volta de mim. — Aqui,

gatinho, gatinho, gatinho?
— Eu tinha que dizer algo para fazer você sair da

escuridão.

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— Ali? —Perguntou Ascanio. — Naquele buraco escuro?
— Sim, —eu disse.
— Por que alguém iria querer se encontrar na Unicorn

Lane? Algo ruim poderia ter acontecido. Por que não um bom
restaurante? Mulheres gostam de restaurantes.
60
Eu gargalhei. Curran deu um sorriso e descemos do
concreto para o beco.
Curran havia estacionado seu Jeep do Bando na esquina

do beco com a rua quatorze. Três bandidos, dois homens e
uma mulher, estavam tentando abrir a fechadura. Oi! Obrigada,
Atlanta.
Os pretensos ladrões de carros nos viram. O homem de

casaco azul virou e apontou uma arma em nossa direção.
Grande idiota de cérebro pequeno, o que você está pensando? ‘Epa,
olha aqui que estão saindo da Unicorn Lane à noite? Eles estão
em boa forma e parecem que poderiam chutar a minha bunda.
Acho que vou tentar roubar o carro deles com uma arma’.
Brilhante. Sim, isso vai dá certo totalmente.
Sem quebrar o passo, Curran se moveu e se colocou na

minha frente. Eu não tinha dúvida de que, se o bandido

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Livro 7
atirasse, Sua Peludeza o bloquearia em vez de deixar a bala me

atingir. Ele já tinha feito isso antes. Eu ainda não estava certa
de como me sentia sobre isso. Realmente não queria que ele
levasse um tiro no meu lugar.
— Me dê as chaves! —O de casaco Azul disse, sua voz
61
rouca.
Os olhos de Curran ficaram dourados. Sua voz caiu em

um grunhido áspero. — Se vai atirar, certifique-se de esvaziar
o cartucho, porque depois que você terminar, eu vou enfiar a
arma de lado na sua bunda.
O de casaco azul piscou.
— E isso é possível? —Perguntei.
— Vamos descobrir. —Curran olhou para o bandido. —

Bem? Atire, para que possamos testar essa experiência.
O de Casaco Azul enfiou a arma no bolso e fugiu. Seus

amigos correram atrás dele pela rua.
Curran sacudiu a cabeça, pegou as chaves e abriu o porta-

malas. Nós colocamos a transportadora com o gato-coelho
dentro, Curran deslizou para o assento do motorista e ligou o

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Livro 7
motor, e nós saímos, indo pela cidade em direção ao nordeste,

onde o Bando Metamorfo fazia seu esconderijo na Fortaleza.
O aquecedor do carro entrou em ação. Meus dentes

pararam de bater.
— Estou morrendo de fome, —disse Ascanio. — O que
62
tem para o jantar na Fortaleza?
— Eu e Kate vamos para a Fortaleza, —disse Curran. —

Você vai para a casa da sua mãe.
Ascanio tremeu. — Por quê?
— Porque você não apareceu lá nesses últimos três dias e

ela gostaria de ver sua cara. E também deseja discutir seu
último boletim.
Droga. Ele e Julie. Minha filha adotiva de quinze anos não

era muito espetacular em álgebra. Primeiro, ela tentou me
convencer de que a professora perdeu o dever de casa, todos
os quatro diferentes deveres de casa. Então ela se queixou por
um tempo sobre como a escola era difícil e nós estávamos
colocando demandas irracionais nela, e então, para um grande
final do espetáculo, ela nos informou que preferia desistir e

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Livro 7
ficar sem teto. Curran e eu batemos palmas por um minuto

inteiro pela sua atuação dramática.
— No que você falhou desta vez?
— Eu não falhei em nada. Estou passado em todas as

matérias.
63
— Ele ficou com quatro em álgebra, —disse Curran.
Álgebra novamente.
Eu me virei no meu lugar e olhei para Ascanio. — Como

diabos você conseguiu ficar com quatro?
— Não sei.
— Ele não está fazendo o dever de casa. Passa metade do

tempo com Raphael e o resto com você na Cutting Edge.
— A escola é superestimada, —disse Ascanio. — Eu não

gosto dela e não tenho interesse nela. Só quero trabalhar para
o Bando.
— Deixe-me estourar essa bolha para você, —disse

Curran. — O Bando requer pessoas formadas. Se você quer
subir na cadeia de comando, precisa saber o que está fazendo.
A maioria dos alfas tem diplomas universitários avançados.

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Livro 7
De fato, a maioria das pessoas que você conhece tem

graduação.
— Como quem? —Perguntou Ascanio.
— Raphael tem pós-graduação em administração de

empresas. Barabas tem um doutorado em direito. Andrea
64
concluiu a Academia da Ordem. Doolittle concluiu a
faculdade de medicina. Mahon tem doutorado em história
medieval.
Isso explicava algumas coisas. Mahon comandava o Clã

Heavy e eu sempre achei que seu raciocínio estava no tempo
medieval. Óóóóó, devo dizer isso a ele algum dia. Ele vai gostar
de ouvir. Só não vou dizer quando ele estiver em sua forma de
urso, é claro. Eu poderia correr muito bem para uma humana,
mas tinha a sensação de que um urso Kodiak19 enfurecido seria
mais rápido do que eu.
— A Tia B não tinha um diploma, —Ascanio disse.
19
O urso-de-kodiak também conhecido como urso pardo de kodiak
ou urso pardo do Alaska é uma subespécie de urso-pardo que habita as ilhas do arquipélago de Kodiak no sudeste do Alasca
e ilhas adjacentes.

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Livro 7
— Sim, ela tinha, —disse Curran. — Tia B estudou em

Agnes Scott20 e se formou em psicologia.
Ascanio olhou pela janela.
— Qual é o plano? —Perguntou Curran. — Você tem

dezesseis anos, tem que ter um plano. Ou vai deixar sua mãe
65
pagar suas contas pelo resto da vida ...?
— Não. —Ascanio interrompeu a frase.
— Então sugiro que você estude álgebra, —disse Curran.
entregamos o gato-coelho,
recebemos o pagamento e agora Curran dirigia para a
Fortaleza. Eu me aconcheguei no meu banco. Tudo estava
20
Agnes Scott College é uma faculdade particular de artes liberais para mulheres no centro de
Decatur, na Geórgia.

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Livro 7
bem e tinha terminado bem. Não morri, ganhei meu dinheiro,

finalmente estava aquecida, e agora, depois de um longo dia
no trabalho, eu ia para casa e tomaria um bom banho.
— Você o protege muito, —disse Curran. — Como se

esperasse que ele quebrasse. Ele é um garoto forte. Pode se
66
defender e sei que você sabe disso, então qual é o problema?
Essa era uma pergunta difícil. — Tive um sonho ontem à

noite. Estava presa na torre de um castelo. O telhado estava
em chamas. Havia chamas ao meu redor e elas queimavam
meus pés. —Na vida real, o castelo havia sido consumido por
chamas mágicas, mas nunca chegara àquela torre em
particular. Era muito alta. — No pátio, Hibla estava matando
a Tia B.
Essa parte do sonho nasceu das minhas memórias, tão

vivas que ainda doíam. Quando fomos ao Mar Negro para
obter a panaceia, encontramos Hugh d'Ambray, o Senhor da
Guerra de meu pai e preceptor da Ordem dos Cães de Ferro.
Hibla era sua segunda em comando. Quando o castelo pegou
fogo, acabei presa no alto da torre. Vi nosso povo tentar sair
do castelo, perseguido pelos Cães de Ferro de Hugh, e Tia B
havia se sacrificado. Ela sabia que os Cães de Ferro matariam

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Livro 7
todo mundo, então ficou para trás. Eles tinham um mago com
eles. Eu lembrava da cena claramente em minha mente: o
mago chicoteando as correntes de prata e prendendo tia B no
lugar, a saraivada de flechas que perfuraram seu corpo, e
finalmente Hibla, caminhando em direção a Tia B com uma
67
espada na mão.
— Eu tentava ajudá-la, —disse. — No meu sonho tentava

ajudá-la, mas eu não tinha pés.
Curran se aproximou. Seus dedos quentes se fecharam

sobre a minha mão. Ele apertou meus dedos suavemente.
— Eu me lembro da maneira como a Tia B rosnou um

pouco antes de Hibla cortar a cabeça dela. Posso ouvir esse
rosnado na minha cabeça repetidamente. Estava a quarenta e
cinco metros acima deles. Não deveria ter sido possível ouvir
esse rosnado.
— É a primeira vez que você teve esse sonho?
— Não. Eu deveria ter superado ...
— Eu te amo, —disse ele. — Mas mesmo que eu não

amasse, ainda lhe diria a mesma coisa. Não havia nada que
você pudesse ter feito para salvar Tia B. Isso ajuda?

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Livro 7
— Não.
— Eu sinto muito.
— Obrigada.
— Você falou com alguém além de mim?
— Não.
68
— Você deveria conversar com alguém. O Bando tem
doze terapeutas em nossa folha de pagamento.
Certo. — Estou bem, —eu disse a ele. —Só não quero que
nenhum deles morra.
— Nenhum deles quem?
— Do Clã Bouda.
Ele apertou meus dedos novamente. — Bebê, você não

pode envolvê-los em plástico bolha. Eles rasgariam e iriam
para sua garganta. Eles possuem seu próprio povo. Ascanio
tem dois alfas e dois betas, e uma mãe, que é, a propósito, uma
terapeuta licenciada do Bando. Fale com Martina. Isso
ajudará. Falar sobre isso sempre ajuda.
— Vou pensar.

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Livro 7
Ele beijou meus dedos. — Se Derek viesse até você com

esse problema, o que você diria?
— Eu diria a ele para falar com alguém e que o Bando tem

doze terapeutas licenciados na folha de pagamento.
Eu sabia exatamente o que me ajudaria a superar.
69
Precisava matar Hibla. Depois do castelo, quando
embarcamos em nosso navio, meio morta e mal de pé, eu
estava cansada demais para ver qualquer coisa. Mas Derek
tinha visto o píer e viu Hibla correndo nua, com a espada na
mão. Ela havia sobrevivido e nos assistiu ir embora. Matá-la
não traria a Tia B de volta, mas precisava ser feito. Além disso,
matando-a eu mandaria uma mensagem: Se você matar alguém
com quem eu me importo, encontrarei você e farei pagar por isso. Não
importa onde se esconda ou quão bem você corra, irei te punir e farei
isso tão brutal que ninguém ousará machucar alguém próximo de mim
novamente. Fiz Jim procurar por Hibla, mas até agora não
tínhamos nada. Por tudo que eu sabia, ela ficara na Europa e
eu nunca mais a veria.
— Você não precisa ir sozinha, —disse ele. — Se decidir

procurar um terapeuta e precisar de mim, eu vou. Entro com
você ou espero na porta até que você termine.

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Livro 7
— Obrigada, —eu disse a ele, e quis dizer isso.
Nós ficamos em silêncio.
— Eu tenho que viajar manhã, —disse Curran.
Ele disse ‘eu’, não ‘nós’. — Por quê?
— Você se lembra de Gene Monroe?
70
Assenti. A família de Gene Monroe era proprietária da
Mineradora Silver Mountain, perto de Nantahala Gorge21. Foi
uma das principais fontes de prata para o sudeste. Gene
afirmava que sua família tinha raízes nos Melungos22, mouros
espanhóis que se estabeleceram na área há séculos tentando
escapar da perseguição da Inquisição Espanhola. O fato de que
alguns membros de sua família se transformavam em lobos
ibéricos, sua reivindicação tinha algum crédito. Gene era
isolacionista por natureza e difícil de lidar. Ele dirigia um
21
O Rio Nantahala é um rio no oeste da Carolina do
Norte nos Estados Unidos, dentro da Floresta Nacional de Nantahala e perto do Parque Nacional Great Smoky Mountains.
22
Melungos (em inglês: Melungeon) é um termo tradicionalmente aplicado a um dos vários grupos étnicos trirraciais -
taxados, pelos estadunidenses, como "isolados"- do sudeste dos Estados Unidos. Nomeadamente há nas montanhas
dos Apalaches um povo que há de mais de 300 anos que se auto-intitula de "portugee" e que pode indicar terem ascendência
portuguesa.

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Livro 7
pequeno grupo de metamorfos e, embora seus vizinhos

tivessem se juntado ao Bando há muito tempo, Gene resistiu.
— Ele está nos dando problemas?
— Não exatamente. Aparentemente, uma vez por ano, os

homens de seu pequeno grupo se reúnem e saem para as
71
montanhas em uma caçada. Família e amigos íntimos apenas.
— Você foi convidado? —Eu imaginei.
— Sim.
— Eles sabem que você odeia caçadas?
— Acho que nunca mencionei esse detalhe. —Curran

virou o volante para a direita, evitando um buraco do tamanho
de um pneu cheio de gosma púrpura luminescente de origem
desconhecida. — Ele quer a panaceia.
Eu não prestava muito atenção nos detalhes das intrigas

diplomáticas de Curran até vê-lo trabalhar com panaceia. A
primeira coisa que ele fez ao chegar em casa daquela viagem
foi aprovar uma lei que garantia que nenhum metamorfo em
risco de loupismo teria a panaceia negada dentro do território
do Bando. Como resultado, famílias de metamorfos de todo o
país começaram a se estabelecer na fronteira do território do

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Livro 7
Bando, formando um amortecedor entre nós e o mundo

exterior. Alguns esperando a sua admissão formal no Bando.
Outros simplesmente querem uma curta viagem através da
fronteira se os filhos começarem a mostrar sinais de loupismo.
Se surgir algum problema, eles lutarão pelo Bando, porque
somos sua única esperança. Enquanto isso, Curran usa a
72
panaceia como uma moeda e isca, conspirando, subornando e
negociando para estabilizar o Bando e fortalecer nossas
defesas. Uma guerra está chegando e estamos fazendo tudo o
que pudemos para nos preparar.
Pensar na panaceia e na guerra me fez lembrar de meu pai.

Eu esmaguei o pensamento antes que arruinasse a minha
noite. — Então Gene quer a panaceia. O que você quer?
— Quero que ele seja mais seletivo sobre os compradores

de sua prata. Ele está negociando com o meio-oeste.
— Com Roland? —O nome do meu pai saiu da minha

língua. Tanto esforço para não pensar no bastardo.
— Seus agentes.
A prata era veneno para metamorfos. Se meu pai estava

comprando-a em grandes quantidades, é porque ele estaria
vindo em nossa direção e não viria com presentes. Ele

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Livro 7
considerava os metamorfos uma ameaça. Eu o odiava. Roland

tentou me matar no útero, mas minha mãe fugiu e se sacrificou
para que eu pudesse viver. Meu padrasto me escondeu e ao
longo dos anos me transformou em uma arma contra o meu
pai. Fui criada com um propósito: matar Roland. Infelizmente,
73
meu pai é uma lenda viva e matá-lo seria difícil. Eu precisaria
de alguns abrigos blindados e armas nucleares.
Curran fez uma careta. — Gene não vai gostar nenhum

pouco que eu me meta nos seus negócios. Mas sei que dois de
seus netos foram a loup ao nascer, então ele vai querer
negociar. É disso que trata o convite.
Ele tinha que ir. Qualquer coisa que enfraquecesse Roland

seria boa para nós. Ainda assim, me senti desconfortável.
Desde a viagem ao exterior, eu estava ciente de que esse
período de tranquilidade que vivíamos era temporário. Nós
não sabíamos se Hugh d'Ambray estava vivo ou morto.
Pessoalmente, morto seria melhor para mim, porque de
qualquer forma meus dias de viver escondida de todos
acabaram. Roland viria investigar quem matou seu Senhor da
Guerra, mais cedo ou mais tarde. Todos os dias sem ele era
um presente.

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Livro 7
— Quanto tempo você vai ficar fora? —Perguntei.
— Um dia para chegar lá, dois dias para a caça e um dia

de volta. Estarei aqui na sexta-feira.
Eu fiz alguns cálculos rápidos. Além do Bando, Atlanta

abrigava várias facções sobrenaturais, das quais a Nação era a
74
mais perigosa para nós. A Nação respondia a Roland, e era por
isso que eu fazia o meu melhor para evitá-los. No passado, o
Bando e a Nação quase afogaram Atlanta em uma guerra
sobrenatural por causa de um mal-entendido. Agora nos
reuníamos todos os meses em um restaurante local para
resolver nossos conflitos antes que eles saíssem do controle, em
uma reunião com o nome imaginativo de ‘o Conclave’. Porque
chamar isso de ‘reunião mensal’ não fazia com que todos se
sentissem especiais o suficiente.
— Sair amanhã e voltar na sexta-feira significa que você

perderá o Conclave nesta quarta-feira. —E isso significava que
como a Consorte do Senhor das Feras, eu teria que substituí-
lo e liderar o Bando nessa reunião. Prefiro me esfaquear com uma
faca enferrujada.
Ele olhou para mim. — É mesmo? O Conclave é essa

semana? Que chato que isso aconteceu.

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Livro 7
Eu revirei meus olhos. Curran sorriu. Ele gostava de sentar

nas reuniões do Conclave tanto quanto eu.
— O Bando está tranquilo esses dias, —disse ele.
Ele tinha razão. Hoje era dia três de dezembro. Era nessa
época que os clãs do Bando tinham suas reuniões individuais
75
de fim de ano. A temporada de caça ainda estava em pleno
andamento e a maioria dos jovens metamorfos excitáveis
estavam fora da cidade, perseguindo cervos e porcos selvagens
e se divertindo em vez de brigar com os lacaios da Nação.
— Jim me disse que mais de um terço do nosso povo está

fora, —eu disse. — Isso está deixando-o paranoico.
Curran olhou para mim. — Deixando?
— Mais do que o normal.
Jim sempre foi paranoico, mas em nossa viagem para

obter a panaceia, Hugh d'Ambray deixou escapar que ele tinha
um espião no Conselho do Bando. Bastou Jim saber disso para
o nível da sua paranoia disparar para a estratosfera. Ele varreu
toda a Fortaleza atrás de câmeras escondidas. Seu povo farejou
cada centímetro quadrado da sala do Conselho. Entrevistou
todo mundo, incansavelmente, até que os alfas o ameaçaram

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Livro 7
usar de violência para impedi-lo, e quando ele não conseguiu

mais entrevistá-los, tentou vigiá-los. Nós quase tivemos uma
rebelião. Cada Clã tinha seu próprio ponto de encontro, e Jim
planejou virá-los do avesso, mas ninguém o deixou entrar. Era
quase Natal e ainda não sabíamos quem estava dando
informações a Hugh d'Ambray. Jim transformou em uma
76
missão compulsiva encontrar esse espião, mas isso estava o
levando a loucura.
— Quando todo mundo sai para caçar, Jim sempre

reclama de força reduzida, —disse Curran. — Quando todo
mundo volta para o jantar de Natal, ele reclama que há muitas
pessoas e ele tem que ter mão de obra extra para ajudá-lo.
— Verdade.
Curran encolheu os ombros. — As férias estão chegando.

Ninguém quer lutar antes do Natal. A Nação vai reclamar
sobre alguns pequenos problemas, então nós vamos reclamar
sobre outros pequenos problemas, então todo mundo vai
comer, beber e ir para casa. Apenas tente não chutar nenhum
dos Mestres dos Mortos na cara e nós ficaremos bem.
— Não se preocupe, Vossa Peludeza. Eu posso cuidar da

Fortaleza até sexta-feira.

Magic Breaks
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Livro 7
Ele fez uma pausa. Uma nota séria escorregou em sua voz.
— Apenas fique segura.
— O que poderia acontecer comigo? Com você fora, Jim

vai entrar em modo maníaco, o que significa que eu vou estar
cercada por assassinos desenfreados, loucos para puxar o
77
gatilho e protegida como o diamante Hope23. Você é o único a
ir para a floresta com algumas pessoas que mal conhecemos.
Está levando alguém com você?
— Mahon, Raphael e Colin Mather, —disse Curran.
Alfas do Clã Heavy, Clã Bouda e Clã Chacal. Maravilha.
— Estarei aqui antes que sinta minha falta.
Com esses três o apoiando, Curran poderia destruir um

pequeno exército. — Dê lembranças a Gene. E, por favor,
deixe-o saber que se você não voltar para mim são e salvo, não
terei problemas em mobilizar nossa horda de metamorfos e
invadir a Carolina do Norte. —E se Gene fizesse alguma coisa
23
O diamante Hope é uma pedra preciosa azul, famosa pela sua história atribulada
e pela suposta maldição que carrega. É um diamante de grandes dimensões, com 45.52 quilates, exposto, atualmente, no
Museu de História Natural do Instituto Smithsonian, em Washington, DC, Estados Unidos

Magic Breaks
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Livro 7
para machucá-lo, ele não viveria tempo suficiente para se

arrepender.
O Senhor das Feras sorriu para mim. — Eu duvido que

chegue a isso.
Nós dirigimos em silêncio. Eu gostava de sentar ao lado
78
dele. A noite fora do carro era vasta e fria, e ele estava quente
ao meu lado. Se algo desagradável cruzasse nosso caminho,
Curran sairia do carro e resolveria. Não que eu não pudesse
fazer isso sozinha, mas saber que ele estaria lá comigo fazia
toda a diferença do mundo. Três anos atrás, em uma noite
como essa, eu teria levado meu carro velho para casa sozinha,
rezando para que ele não morresse em algum buraco gelado.
Quando eu chegasse em casa, estaria tudo escuro. Meu
aquecedor desligado, minha cama estaria fria, e se eu quisesse
contar a alguém sobre o meu dia, teria que falar com minha
espada e fingir que ela escutava. A Matadora era uma
excelente arma, mas nunca riu das minhas piadas.
— Você ainda não me disse o que quer de Natal, —disse

Curran.
— Tempo, —eu disse. — Para você e para mim. —Estava

muito cansada de viver na redoma de vidro da Fortaleza.

Magic Breaks
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Livro 7
— Você poderia dar uma olhada no porta-luvas? —Ele

perguntou.
Eu abri e peguei um pedaço de papel. ‘Agradecemos a

preferência ... obrigado pela sua reserva ...’
— Isso é ...?
79
— Os Chalés Black Bear, —disse ele.
Duas semanas antes tínhamos ido ao Condado de

Jackson, na Carolina do Norte, para capturar um troll24 solto
no campus da universidade. Nos Apalaches25 tinham uma
grande população de metamorfos e muitos de seus filhos
frequentavam a Universidade da Carolina do Oeste. Nós
24
Trol, por vezes também grafado troll, é uma criatura antropomórfica imaginária do folclore
escandinavo. É descrita tanto como gigante horrendo – como os ogros – ou como pequena criatura – semelhante aos goblins.
Diz-se que vive nas florestas e nas montanhas, em cavernas ou grutas subterrâneas.
25
Os Apalaches são uma cordilheira da América do Norte estendendo-se da Terra
Nova e Labrador, no Canadá, ao estado de Alabama, no sudeste dos Estados Unidos, apesar de a sua parte mais setentrional
acabar na península de Gaspé, do Quebec.

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Livro 7
ficamos no Chalés Black Bear, um conjunto de chalés de

madeira recém-construídos com boa comida e quartos
acolhedores com enormes lareiras. Passamos dois gloriosos
dias lá, caçando o troll, bebendo vinho, e a noite fazendo amor
em uma cama gigante e macia. Eu queria ter ficando lá para
80
sempre, tanto que quase doía. Ele conseguiu essa reserva para
mim. Um sentimento feliz e quente se espalhou pelo meu
peito.
— Quanto tempo ficaremos lá? —Perguntei.
— Duas semanas. Podemos sair assim que eu voltar e ficar

até o natal. Teríamos que voltar para o início do período de
férias ou o Bando vai gritar e uivar, mas com a Linha Ley26
levaremos apenas dois dias para chegar aqui.
Duas semanas de folga. Puta merda. — E a audiência de

petição?
— Já resolvi isso, —disse ele. — Lembra daquela sessão

de emergência que aconteceu na quinta-feira passada? Resolvi
tudo naquele dia.
— O processo de Gardner?
26
Alinhamentos místicos e espirituais (teoria mística) – acredita-se que monumentos históricos e geográficos, assim como
elementos da natureza (cordilheiras, rios, cânions, etc.) importantes estão ligados entre sim de forma sobrenatural.

Magic Breaks
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Livro 7
— Também já resolvi. —Curran se inclinou e olhou para

mim. Seus olhos cinzentos brilhavam com pequenas faíscas
douradas. Ele lentamente franziu as sobrancelhas loiras e as
moveu para cima e para baixo.
— Isso é o seu olhar sexy?
81
— Sim. Estou tentando lhe dizer com esse olhar que
prometo noites de êxtase.
Eu ri. — Você leu aquele livro de romance pirata que

Andrea deixou para mim?
— Eu poderia ter folheado ele. Então, o que você acha?

Vai me dar a honra de me acompanhar aos Chalés Black Bear,
ficar na cama o dia todo, nos embebedar, engordar, e não ter
que pensar em nada relacionado a Atlanta por um bom tempo?
— Vou ter noites de êxtase?
— E dias. Êxtase o tempo todo.
Duas semanas, apenas eu e Curran. Soava celestial. Sou

capaz de matar só para conseguir ir e eu quero dizer isso
literalmente.
— Combinado, Vossa Majestade.

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Livro 7
Capítulo 2
concreto e
82
olhei para o sangue de morto-vivo em uma poça plácida aos
meus pés. A magia me chamava, ansiosa e encorajadora,
sussurrando uma canção suave e sedutora.
Às vezes o Universo sorria para mim. Na maioria das

vezes ele me chutava na cara, pisava em minhas costelas e
quando eu estava no chão, ria da minha dor, mas de vez em
quando ele sorria para mim. Era quarta-feira. Eu tinha passado
por toda a pilha de relatórios de atividades para o Conclave,
detalhando todos os incidentes e conflitos entre nós e as
pessoas que poderiam nos causar problemas. Nenhum
assassinato, nenhum assalto, nenhuma troca de palavras
acaloradas. Ninguém roubou a propriedade de ninguém.
Ninguém ficou bêbado e bateu no namorado de alguém.
Aleluia!
Feito o meu trabalho, eu me tranquei aqui, em um

pequeno quarto retangular de concreto lacrado. Costumava ser

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Livro 7
um quarto de armazenamento para equipamentos de ginástica

de Curran, mas ele os tirou daqui e deu o quarto para mim.
Nenhuma janela interrompia as paredes de concreto marrom
claro e havia um ralo no chão. Na maioria dos dias eu não
precisava do ralo.
83
Minha magia fluiu para fora de mim, como o vapor de
uma panela fervente que subia para o ar frio. Se brilhasse,
pareceria que eu estava em chamas. Na maioria das vezes
matinha a magia escondida dentro de mim. Deixá-la em
exibição era extremamente imprudente para alguém da minha
linhagem.
Direcionei minha magia para o sangue. Um leve tremor

perturbou a poça no chão, como se algo se movesse sob a
superfície.
Voron, meu pai adotivo, sempre me ensinou que suprimir

o poder do meu sangue era a melhor estratégia. ‘Fique quieta.
Mantenha-se escondida. Não pratique magia que possa lhe
expor’. Isso não era mais uma opção. Eu precisava dessa
magia. Tinha que ser boa nela. Ninguém poderia me ensinar,
então eu treinava sozinha. Praticava, praticava e praticava.
Parte do sangue era Jim que conseguia. Ele comprava para

Magic Breaks
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Livro 7
mim no mercado negro. Outra parte vinha de Rowena, uma

Mestre dos Mortos que devia um favor às bruxas locais. As
bruxas sabiam quem eu era e me apoiavam. Elas sabiam o que
iria acontecer: quando Roland chegasse, eu era a única coisa
entre elas e meu pai, então as bruxas fizeram Rowena me
84
fornecer sangue de vampiro. Rowena não tinha ideia para que
o sangue era e nem o que eu era. Praticava todos os dias
quando a magia estava em alta.
Meu progresso era lento, muito lento, serrei os dentes

quando pensei sobre isso. Estava começando a odiar este
quarto. Isso me lembrava uma tumba. Talvez eu devesse
rabiscar algumas coisas nessas paredes para animar o concreto:
Uma batida silenciosa ecoou pelo quarto. Eu pulei um

pouco.
— Sim?

Magic Breaks
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Livro 7
— Sou eu, —disse Barabas.
Eu abri a porta. — Entre.
Ele entrou, movendo-se com elegância casual. Não

importava o que vestisse, Barabas sempre conseguia transmitir
um ar de sofisticação urbana e civilização, mas ao mesmo
85
tempo um perigo iminente e perspicaz. Alto, esbelto e pele
muito clara, tinha cabelos ruivos brilhantes que se projetavam
da sua cabeça como uma floresta de pontas afiadas. Se ele
alguma vez pintasse seu cabelo de azul, pareceria um
queimador a gás. E se alguém olhasse para mim do jeito
errado, ele rasgaria seu disfarce civilizado e se tornaria um
tornado demoníaco de garras de navalha e presas de adaga.
Mexer com um metamorfo magusto era um perigo.
— Se é ruim, eu não quero ouvir.
Barabas era um dos advogados do Bando e fazia o melhor

que podia para me guiar pela lama traiçoeira da política e das
leis dos metamorfos.
— Não é ruim. —Barabas se sentou no chão, jogando uma

perna longa e magra sobre a outra, olhou para poça de sangue
e fez uma careta. — Bem, retiro o que disse. Talvez seja.

Magic Breaks
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Livro 7
— Vai te assustar se eu terminar isso? Eu já derramei

sangue no chão.
— Não, não. Por que deixar um bom sangue de morto-

vivo ser desperdiçado?
Furei meu antebraço com uma agulha e deixei cair uma
86
única gota de sangue na poça. Magia disparou através do
sangue do morto-vivo como um raio. O sangue subiu em um
gracioso arco carmesim.
—Uau! —Barabas murmurou.
O sangue tocou meus dedos e envolveu-os, deslizando

sobre minha pele, elástico e maleável. Uma luva de sangue
embainhou minha mão. Não era bonito, mas era funcional.
Puxei uma faca do cinto e golpeei a luva.
Barabas fez um ruído de sucção.
Nenhum corte. Senti a pressão da lâmina, mas ela não

penetrou minha pele. Dobrei meus dedos, tentando fechar
minha mão em um punho. Os dedos se dobraram um pouco e
nada mais.
Cerca de um ano atrás, minha tia Erra tinha vindo a

Atlanta com a intenção de destruí-la. Eu a matei. Foi a coisa

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Livro 7
mais difícil que fiz na minha vida. Ela estava vestindo uma
armadura de sangue durante a luta. A armadura se encaixava
no seu corpo como um macacão de elastano. Ela corria e se
contorcia, e não teve nenhum problema em balançar um
machado rápido o suficiente para me rebater.
87
Tentei fechar a mão novamente, mas a luva de sangue se
recusava a dobrar. Estava claramente fazendo algo errado. Isso
não daria certo. Se eu não pudesse segurar uma espada,
poderia assinar minha própria sentença de morte.
Concentrei-me em modelar o sangue, transformando-o em

segmentos que ficavam um em cima dos outros, como as
placas da armadura de um tatu. — Então, o que você tem para
me dizer?
— Duas coisas: Primeiro, Christopher quer falar com você.
Falar com Christopher era como jogar um jogo de sorte ou

azar: às vezes você tinha um Christopher tão lúcido e brilhante
que doía e às vezes você tinha um completo maluco. Nós o
resgatamos de Hugh d'Ambray. Ele deve ter sido
excepcionalmente inteligente em algum momento e
definitivamente tinha conhecimento avançado de magia, mas
Hugh ou meu pai destruíram a sua mente. O domínio de

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Christopher sobre a realidade frequentemente sumia, e de vez

em quando tínhamos que largar tudo, correr para os parapeitos
da fortaleza e tentar convencê-lo de que não, ele não podia
voar. Eu geralmente podia convencê-lo sozinha, mas se ele
estivesse realmente longe da realidade, era preciso chamar
88
Barabas para fazê-lo parar.
— Ele tem estado agitado nos últimos dois dias, —disse

Barabas. — Eu não tenho ideia se nesse momento ele está
lúcido.
— Onde ele está agora?
— Escondido na biblioteca.
Não era um bom sinal. A biblioteca era o refúgio de

Christopher. Os livros eram preciosos para ele. Ele os tratava
como um tesouro e se escondia lá quando o mundo se tornava
demais para ele. Algo deve estar realmente incomodando-o.
— Ele disse do que se tratava?
— Só que era importante. Se você quiser não precisa falar

com ele, —disse Barabas.
— Tudo bem. Vou falar com ele depois do Conclave. —

Tentei fechar os meus dedos envoltos na luva de sangue

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novamente. Era como ter uma lata na minha mão, impedindo-

a de fechar. Meeerda! O que estou fazendo errado? O que? — Qual
é a segunda coisa?
— Jim montou a ‘Guarda Pretoriana’27 e está esperando

por sua inspeção.
89
Que alegria! Jim deve ter reunido um grupo de metamorfos
assassinos treinados e prontos para me proteger no Conclave.
— Pelo que me lembro, foi a própria Guarda Pretoriana quem
matou os imperadores romanos enquanto os protegia. Eu
deveria estar preocupada?
— Você está planejando colocar a Fortaleza em chamas

enquanto toca lindas melodias em um violino28?
— Não.
Barabas me deu um sorriso rápido, mostrando dentes

muito bem alinhados. — Então provavelmente não.
27
A Guarda Pretoriana era o grupo de legionários experientes encarregados da
proteção do pretório, parte central do acampamento de uma legião romana, onde ficavam instalados os oficiais. Com a
tomada do poder por Otaviano, transformou-se na guarda pessoal do imperador. Barabas usa a referência de forma
sarcástica.
28
Barabas faz uma referência a Nero, que segundo o historiador e Senador romano Tácito, teria colocando fogo na cidade
de Roma e enquanto assistia as chamas tocava violino.

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— Algo mais?
Barabas olhou para mim com cuidado. — O clã Ágil quer

saber se a data do casamento foi marcada.
— De novo?
— Sim. Eles querem escolher e providenciar o presente
90
apropriado. Recusar-se a marcar a data é jogar o problema
para frente e isso não é um comportamento típico de você.
Eu nunca imaginei me casar. Nunca havia parado para

pensar sobre o meu futuro vestido, nem mesmo nunca folheei
uma revista de noivas. Esse não era o futuro que esperava para
mim. Meu futuro era continuar a sobreviver até que eu fosse
forte o suficiente para matar meu pai. Mas então Curran bateu
com uma marreta nesses planos e me propôs casamento, e eu
disse sim, porque o amava e queria casar com ele. Meu futuro
havia feito uma curva de cento e oitenta graus. Agora eu tinha
que pensar nos detalhes desse casamento. Eu queria uma
pequena cerimônia, a mais simples cerimônia possível.
Tranquila, privada, talvez alguns poucos amigos.
Assim que o noivado foi anunciado, os clãs do Bando se

reuniram e jogaram o meu desejo de uma cerimônia tranquila
no fundo do poço e, em seguida, continuaram empurrando-o

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para baixo até que o desejo parasse de convulsionar e

morresse. Eles queriam que o Bando inteiro estivesse na
cerimônia. Queriam presentes, rituais e um enorme banquete.
Queriam um casamento com um C maiúsculo. O Clã Heavy e
Clã Rato, eram ambos donos de confeitarias, e os confeiteiros
quase lutaram para decidir quem estaria fazendo o bolo.
91
Deveria ser um casamento no inverno ou um casamento na
primavera? Quem faria o meu vestido e como deveria ser? Seria
apropriado vestir branco ou cinza, a cor oficial do bando? Meeerda!
Cada momento que Curran e eu conseguíamos passar

juntos era nosso. Apenas nosso. E assim continuamos adiando
o casamento. Nós nunca discutimos sobre como faríamos isso.
Estávamos ocupados demais para nos casar e, quando
tínhamos algumas horas livres, as aproveitávamos para passar
um com o outro e com Julie.
— Estou farta com essa história de casamento, —eu disse.

— Outro dia, Andrea tentou me explicar que, aparentemente,
devo usar na cerimônia uma coisa nova, uma coisa velha, uma
coisa azul e uma coisa roubada.
— Emprestada, Kate, —Barabas murmurou.
— Quem diabos fez essas regras?

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— É tradição, —disse ele.
— Até Julie falou comigo sobre isso no outro dia.
— O que ela disse? —Barabas perguntou.
— Ela acha que eu deveria usar preto.
Barabas suspirou. — Os clãs terão um ataque cardíaco
92
coletivo.
A luva de sangue envolta em minha mão ainda se recusava

a dobrar. Foda-se. Puxei minha magia. A luva de sangue ficou
marrom escuro e se desfez em pó. — Estou cansada deles me
perseguindo sobre isso. Prefiro ser baleada.
— Compreendo. No entanto, se você quer que eles

larguem um pouco do seu pé, preciso dar-lhes alguma
informação.
Rosnei em sua direção. Infelizmente, rosnar só funcionava

mesmo quando se é um metamorfo leão.
— Você poderia pelo menos decidir a estação do ano? —

Barabas perguntou.
— Primavera, —eu disse. Por que não? Nós sempre

poderíamos adiar para mais tarde.
Barabas suspirou. — Vou deixá-los saber.

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Livro 7
93
a maioria dos
metamorfos não eram assassinos frios com fome de sangue.
Eram pessoas normais: professores, pedreiros, especialistas em
recursos humanos, que, por acaso, praticavam rígida disciplina
mental e ficavam furiosos de vez em quando. Alguns deles
tinham controle suficiente para manter a forma de guerreiro,
uma mistura de humano e animal assustadoramente eficiente
em matar. Destes, menos ainda se tornavam soldados em
tempo integral do Bando. Os melhores dos melhores entre os
soldados tornavam-se Renders. Os Renders eram armas de
destruição em massa e amavam seu trabalho.
Reunir mais de cinco agentes de nível de combate em uma

sala era raro. A menos que estivéssemos prestes a combater um
exército, que até então só acontecera uma vez, um ou dois
soldados eram suficientes. Eu estava olhando para doze deles.
Dez combatentes, dois Renders, além de Barabas e Jim. Com

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um metro e noventa de altura e provavelmente uns oitenta e

cinco quilos de músculos duros como aço, Jim usava sempre
roupas pretas e esse detalhe somado com o seu olhar
intimidador, fazia as pessoas correrem em busca de proteção.
Sua pele era escura, seu cabelo preto era cortado bem curto e
94
ele tinha uma estrutura física que poderia quebrar paredes
sólidas só com o seu corpo. Você tinha a certeza que se Jim te
socasse, você estaria quebrado. Ser o metamorfo jaguar no
comando de toda a guarda era só um bônus.
— O que? Não trouxe o Rambo29?
Jim fez uma careta para mim. Normalmente, quando ele

fazia uma careta para as pessoas, elas gemiam e se encolhiam,
tentando se proteger. Felizmente, consegui juntar valentia
suficiente e não desmaiar.
— Se continuar fazendo cara feia, seu rosto vai ficar

paralisado dessa maneira.
— Você vai levar isso a sério? —Ele rosnou.
29
Rambo é uma série de filmes baseada no romance "First Blood", de 1972, escrito
por David Morrell, mas que se tornou célebre pelos filmes protagonizados por Sylvester Stallone.

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— Certo. —Examinei a tripulação de assassinos cruéis. —

Deixe-me adivinhar: uma unidade de elite de comandos de
algum império do mal invadiu o Restaurante Bernard's e o
cercou. Agora estão tentando conquistar Atlanta e a cidade nos
pediu para expulsá-los?
95
Ninguém riu. Devo estar ficando enferrujada.
Jim fez uma careta mais forte. Uau! Não achei que isso fosse
possível. Vivendo e aprendendo.
— Você não acha que isso é um exagero? —Perguntei.
— Não.
Faça uma pergunta estúpida ... — Jim, há mão de obra

suficiente aqui para destruir um pequeno país.
Ele esperou.
— Você não acha que isso passará a impressão de que

estamos com medo da Nação?
— Isso vai passar a impressão de que, se eles pensarem em

começar alguma merda, nós os transformaremos em pequenos
pedaços.
Olhei para o Render ruivo na frente. Seu nome era Myles

Kingsbury e ele tinha um físico construído para quebrar ossos:

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ombros largos, peito rígido, cintura magra e um olhar tranquilo

em seus olhos. Myles tinha a minha idade e, nas poucas vezes
em que conversamos, ele me pareceu competente e sensato.
— Senhor Kingsbury, o que acha?
O Render abriu a boca e disse em voz profunda: — Acho
96
que passaremos a impressão de que não hesitaremos em tomar
a iniciativa de sermos decisivamente agressivos.
Fechei meus olhos por um segundo e exalei. — Jim, se eu

fosse Curran, você me sobrecarregaria com tantos guarda-
costas?
— Não.
Bem, pelo menos eu ainda podia contar com a sua sinceridade.

— Então você concorda que aparecer dessa forma, fortemente
protegida na reunião, me fará parecer frágil?
— Sim. No entanto, fará o Bando parecer forte. Não estou

inclinado a apostar com sua segurança. E ... —ele ergueu a
mão. — eu também faria Curran ter esse tipo de proteção, se
aquele desgraçado teimoso não anulasse minhas ordens.
Olhei para Barabas. — Posso anular as ordens dele? —

Apontei para Jim.

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— Sim, —disse Barabas.
Jim deu a Barabas seu olhar fulminante.
Barabas o ignorou. — Você quer que eu minta?
Jim se virou para mim. — Se eu pudesse ter um momento

do seu tempo, Consorte?
97
Ah, é ‘Consorte’ agora, hum. — Claro, Chefe de Segurança.
Eu ficaria encantada.
Normalmente, no mundo humano, caminhar alguns

metros era o suficiente para ficar fora do alcance da audição,
mas todos na Fortaleza desfrutavam dos incríveis benefícios da
audição aprimorada dos metamorfos. Jim e eu marchamos uns
cinquenta metros pelo corredor.
— Estamos com menos da metade da nossa força de

segurança, —disse Jim. — Curran está longe da Fortaleza.
Querendo ou não, você é vista como uma ameaça muito
menor do que ele. Se eu estivesse planejando algo, iria
aproveitar esse momento e nos atacaria agora e eu iria atingir
onde mais doeria nele.
Mantive minha voz baixa. — Essa coisa do espião no

Conselho do Bando está realmente te incomodando muito.

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Ele inalou devagar e olhou para mim. — Você está

tentando dizer que perdi meu bom senso?
— Talvez um pouco.
Ele se inclinou para perto de mim. Sua voz tremia

ligeiramente, não com medo, mas com uma raiva acumulada.
98
— Três meses. Dezesseis dos meus melhores homens.
Mais de mil horas de vigilância. E eu não encontrei nada.
Nada. Temos um espião e não tenho ideia de quem é.
Curran era muito melhor nessa merda do que eu. — Você se

lembra da hidra30?
Jim fez uma careta.
Aconteceu anos atrás, no meu primeiro ano na Associação

dos Mercenários. Tivemos um inferno de inverno, e enquanto
eu estava tentando descobrir como aquecer a minha antiga
30
A Hidra de Lerna, na mitologia grega, era um monstro, filho
de Tifão e Equidna, que habitava um pântano junto ao lago de Lerna, na Argólida, hoje o que equivaleria à costa leste da região
do Peloponeso. A Hidra tinha corpo de dragão e várias cabeças de serpente.

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casa, um grupo de bruxas amadoras perto de Franklin31

estavam jogando coisas estranhas em um caldeirão gigante. Eu
não sabia o que diabos elas estavam querendo preparar, mas o
que saiu do caldeirão ficou conhecido como a Hidra de
Franklin. Não era um clássico dragão com muitas cabeças. Era
99
algo com muitos tentáculos, com pontas afiadas e bocas de
tubarão em lugares onde não deveria haver uma boca. Comeu
as bruxas e deslizou para as profundezas congeladas do Lago
Emory. Sob o gelo, transformou o lago em lama e comeu
qualquer coisa que se aproximasse. A cidade pediu ajuda e
arrecadou algum dinheiro. Duas semanas depois, vinte
mercenários e uma unidade da Guarda Nacional saíram para
o gelo. Ele quebrou debaixo de nós. Quatro pessoas
sobreviveram.
Eu não deveria ter sido uma dessas quatro. Caí através do

gelo, com lodo na altura do meu peito e continuei afundando
enquanto tentáculos pontiagudos deslizavam ao meu redor.
31
Franklin é uma cidade localizada no estado norte-
americano de Tennessee, no Condado de Williamson.

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Sabia que estava condenada, e então algum mercenário que eu

não conhecia deslizou através do gelo para mim e jogou um
cinto na minha direção, mas o cinto não me alcançou.
Se eu me debatesse, os tentáculos se apertariam e me

puxariam para baixo. Então me estiquei, doloridos
100
centímetros de cada vez e a cada poucos segundos.
— Se lembra do que você disse para mim? —Perguntei.
Ele encolheu os ombros.
— Você disse: ‘Não se apavore. Não faça movimentos

bruscos. Tente chegar ao cinto devagar e suavemente.’
Ele olhou para mim sem qualquer expressão. Acertei o alvo.

Um ponto para mim.
— Bernard’s é um território neutro onde nenhuma arma é

permitida, incluindo vampiros. —E minha espada, sobre a qual
eu não estava feliz. — A Nação virá a esta reunião desarmado.
Nosso povo está sempre armado, porque podem se
transformar a qualquer momento em criaturas capazes de
matar. Levar muitos metamorfos treinados em combate pode
ser visto como uma ameaça. Com os guarda-costas somados

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Livro 7
com os alfas dos outros clãs que irão, superaremos os números

da Nação de dois para um.
Apontei com a minha cabeça em direção as armas de

carne e osso esperando pela minha inspeção. — Este é um
movimento brusco. Você está complicando a situação. A
101
Nação sentirá a pressão e pode retaliar. Isso tornará as relações
diplomáticas muito mais difíceis.
Jim mastigou. — Justo. Contudo ...
Eu estava começando realmente a odiar essa palavra.
— Tenho informações do pessoal de inteligência que

descobriu que a Nação comprou um dos prédios ao lado de
Bernard’s e montou um centro de comando lá dentro. Hoje à
noite, chegarão ao prédio vários navegadores e pelo menos seis
vampiros. Você sabe o que seis vampiros podem fazer.
Seis vampiros poderiam despovoar Atlanta em uma

semana. Seis vampiros pilotados por navegadores fariam isso
em três dias. Um vampiro telepaticamente guiado pelo
navegador era uma arma de precisão com o potencial de
destruição de uma pequena bomba nuclear.

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Livro 7
— É uma precaução, —eu disse. — Ghastek não irá

comprometer sua ascensão ao topo do poder da Nação.
Os navegadores mais habilidosos eram conhecidos como

Mestres dos Mortos. Havia sete deles em Atlanta, e dois deles,
Ghastek e Mulradin Grant, estavam planejando e tramando,
102
ganhar o controle do núcleo da Nação de Atlanta. Minha
aposta estava em Ghastek. Nós havíamos trabalhado juntos
antes por necessidade. Ele era inteligente, calculista e
implacável, mas também razoável. No Conclave de hoje, ele é
quem estaria representando a Nação.
— Talvez uma guerra com o Bando seja exatamente o que

ele quer, —disse Jim. — Não quero me arriscar. Espere. —Jim
olhou para o final do corredor.
Um homem de cabelo loiro-branco virou a esquina e

disparou em nossa direção. Bastante magro, se movia quase
correndo, segurando uma pilha de livros no peito. Seus jeans
caíam em sua cintura, e sua gola alta, que teria sido apertada
na maioria das pessoas, tinha muito tecido sobrando.
Christopher ocasionalmente esquecia de comer. Barabas
sempre tinha que o obrigar a comer as três refeições por dia,

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Livro 7
mas Christopher parecia nunca ganhar qualquer carne em seus

ossos.
Jim se virou e o observou se aproximar. Nenhum

sentimento de simpatia poderia sair dali. Jim via Christopher
como uma caixa de surpresas. Poderia revelar um tesouro ou
103
uma bomba quando abrisse, e Jim não gostava de não saber
qual desses era.
— Lembra-se de todos os trabalhos de guarda-costas que

costumávamos fazer? —Perguntou Jim.
— Lembro. Você está tentando me dizer que estou sendo

o cliente difícil de proteger?
— Algo parecido.
Christopher nos alcançou. Seus olhos azuis estavam

arregalados. Alguns dias eles eram como um céu claro de
verão, sem nenhum pensamento à vista, mas agora estavam
focados com uma aparência que beirava a obsessão. Alguma
ideia fixa o agarrou e estava o empurrando de um penhasco.
Ele provavelmente nem sabia que carregava os livros.
— Senhora!

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Livro 7
Eu desisti de dizer a ele para me chamar de Kate. Ele

sempre ignorou isso. — Sim?
— Você não pode ir!
As sobrancelhas de Jim se juntaram.
— Ir para onde, Christopher? —Eu perguntei.
104
— Para aquele lugar. —Palavras saíram dele. — Tenho
tentado estar no meu perfeito juízo.
— Hum. —Em caso de dúvida, fique com palavras

simples.
— Sei o que eu costumava ser, mas não posso mais ser

daquele jeito. Eu tento. Tento muito. Mas minha mente é
vendada e os fios estão muito emaranhados. Há pedaços de
mim flutuando. Eu estou despedaçado. Ele me quebrou.
— Quem te quebrou? —Jim perguntou.
Christopher olhou para ele. Sua voz era um mero sussurro.

— O Construtor.
Meu pai. O Construtor de Torres. Raiva cravou dentro de

mim. Eu gostaria de poder voltar no tempo e no espaço e dar
um soco no rosto de Roland. Christopher se virou para mim.

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Livro 7
— Se eu soubesse como era ser quebrado, teria preferido a

morte.
Não. — Não diga isso, —eu disse.
— É a verdade.
— Christopher, você é importante para mim. Quebrado
105
ou não. Você é meu amigo.
Christopher abriu os braços. Os livros caíram no chão. Ele

agarrou-se a mim, dedos longos segurando meus ombros. —
Não vá. Não vá para aquele lugar terrível, ou ele vai te destruir
e então você estará sozinha. Será como eu. Não vá, Senhora.
Jim se mexeu, mas eu balancei a cabeça.
— Que lugar terrível é esse? —Perguntei, mantendo minha

voz tranquila.
Ele balançou a cabeça e sussurrou: — Não vá ... Não vá

embora.
— Eu não vou, —prometi a ele. — Eu não vou, mas você

tem que me dizer o nome do lugar.
— Você não entende. —Christopher olhou para mim, e

em seus olhos azuis vi puro pânico. — Você não entende. Vou

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Livro 7
te seguir até os confins da terra, mas não lá. Não posso ir lá de

novo.
Eu não iria lá também, se eu soubesse onde esse ‘lá’ ficava. —

Está bem. Apenas me diga ...
Ele balançou sua cabeça. — Não. Não, isso não.
106
— Tudo vai dar certo.
Ele estendeu a mão, tocou a mecha do meu cabelo que

havia escorregado da minha trança e a puxou, arrancando um
pouco de cabelo.
Ai.
Jim atacou Christopher, derrubando-o de volta. O homem

magro caiu no chão. Eu bati em Jim com meu ombro. — Não!
Christopher ficou de pé, de olhos arregalados, com alguns

fios de cabelo na mão. — Não confie no lobo!
Ele se virou e fugiu pelo corredor.
— Que diabos? —Jim rosnou. — Vou mandar sedá-lo.
— Ele sabe de alguma coisa, —eu disse a Jim. — Não sei

se ele teve uma visão ou alguém lhe disse alguma coisa, mas
isso o assustou e ele não pode explicar o que aconteceu. Vamos

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Livro 7
ver o que ele vai fazer com o meu cabelo. Posso ser capaz de
descobrir a partir daí.
Os cabelos, como os fluidos corporais, retinham a magia

de seu dono, uma vez removidos do corpo. Um ano atrás, eu
poderia ter matado Christopher por ter um pouco dos meus
107
cabelos em sua posse, porque estudá-lo revelaria todos os meus
segredos. Mas meus segredos estavam prestes a explodir de
qualquer maneira. Hugh já sabia a verdade, Roland
provavelmente sabia também, e mais cedo ou mais tarde todos
saberiam. Estava conformada com isso.
— Se alguém disse a ele alguma coisa, tem que ter sido

alguém do Bando ou magia de adivinhação, —pensei alto.
Mesmo agora, com o número de guardas reduzido, a

Fortaleza mantinha pelo menos duzentos metamorfos em
patrulha e estranhos não eram bem-vindos. Christopher nunca
deixou os terrenos da Fortaleza.
Jim rosnou. — Vou colocar um guarda nele. Alguém

discreto. Se ele está recebendo sua informação de alguma
aparição que se manifesta em seu quarto à noite, não quero
que ele compartilhe seu cabelo com ela.

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Livro 7
Eu olhei para ele. — De que lobo você acha que

Christopher estava falando?
— Eu sei lá!
Havia mais de seiscentos lobos no Bando e eu não tinha

muitos fãs entre eles.
108
— E você diz que eu é que sou paranoico. —Jim apontou
na direção da fuga de Christopher. — E ele é o que?
— Ele está quebrado. Qual é a sua desculpa?
— Eu tenho que trabalhar com sua bunda teimosa. Você

me deixa louco.
Suspirei. Poderia cancelar as ordens de Jim e ir ao

Conclave nos meus termos. Mas Jim e eu tínhamos que
trabalhar juntos. Poderia também dizer pela tensão de sua
mandíbula que ele morreria, mas não abriria mão de suas
decisões. Cooperar com ele não me custava nada, exceto um
pequeno pedaço de orgulho, e o orgulho era uma das coisas
que eu não me importava de sacrificar.
— E se nós chegarmos a um acordo? —Perguntei.
Jim olhou para mim por um longo segundo. — Os

demônios irão precisar de suéteres no inferno.

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Por que eu tentando ser a voz da razão congelava o inferno? —

Há, Há, Há. Você disse que eles tinham vampiros como apoio.
Vamos dividir nosso pessoal em dois. Um grupo vem com a
gente, o outro aguarda nas redondezas caso precisemos de
apoio. Ponha alguém como responsável, quem você quiser, e
109
peça-lhes que esperem por perto. Dentro da distância de uma
corrida rápida.
Jim ponderou isso. — Eu escolho as duas equipes.
Abri meus braços. — Como queira.
— Posso lidar com esse plano. Vou preparar algumas

estratégias de saída para você no caso da merda bater no
ventilador. Se eu estiver errado, não perdemos nada. Se eu
estiver certo ...
— Espero que você esteja errado.
— Eu também, —disse ele.
— Bom. Então terminamos aqui. —Eu me afastei dele,

atravessei o corredor e comecei a subir as escadas. Isso era
bastante emoção para o dia. Se ninguém fizesse nada maluco,
eu poderia me esconder em nossos aposentos e ler um pouco

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Livro 7
... Hannah, uma das guardas pessoais minha e de Curran,

desceu correndo as escadas.
Por favor, que não seja para mim, por favor, que não seja para
mim ...
— Consorte!
110
Droga. — Sim.
— Há um Cavaleiro da Ordem aqui para ver você.
E essa agora? A Ordem da Ajuda Misericordiosa servia

como uma agência semioficial de aplicação da lei.
Competentes e eficientes, mas atrasados em sua mentalidade,
ajudavam os cidadãos a lidar com seus problemas de risco
mágico. Infelizmente, uma vez que você pedia ajuda, eles
faziam do jeito deles e nem todo mundo gostava. Eu
costumava trabalhar para a Ordem. Eles decidiram que os
metamorfos não eram pessoas, eu disse que eles estavam
errados, e nós seguimos nossos caminhos separados. Ted
Moynohan, o Cavaleiro chefe, ainda estava irritado com isso.
— Ascanio e Julie está com ele e disse que nenhuma

acusação será arquivada.
Por que eu?

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111
conferência pronta para a batalha.
Ascanio sentado em uma cadeira, parecendo genuinamente
culpado e arrependido, e se eu não tivesse trabalhado com ele
nos últimos meses, acreditaria nisso. Julie sentada em frente a
ele, esbelta, loira e desafiadora. A fase gótica estava passando,
mas o preto ainda era sua cor favorita e eu vestia um adorável
conjunto de jeans preto, blusa gola-alta cinza e olhar
penetrante.
Um homem enorme ocupava a terceira e última cadeira

disponível. Imenso, com músculos enormes e coberto de
elaboradas tatuagens, ele tinha os belos e vigorosos traços dos
nativos das ilhas do Pacífico.
— Mauro! —De todos os Cavaleiros da Ordem ele era o

que eu mais simpatizava.

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Livro 7
— Olá, Consorte, —Mauro disse. Ele se levantou, abriu

os braços e fez uma reverência.
Ascanio colocou a mão sobre a boca.
— Eu vejo que você ainda se acha engraçado.
— Pode crer. —Seu rosto se dividiu em um sorriso feliz.
112
Eu me virei para Hannah. — Você poderia nos trazer um
chá quente?
— Claro.
Mauro apontou para minha filha e Ascanio. — Eu trouxe

esses dois meliantes para você.
— O que aconteceu?
— Eu estava atendendo a uma chamada na Shiver Oaks,

quando uma mulher correu para fora da casa do outro lado da
rua e me perguntou se eu poderia ajudá-la com alguns ladrões
que seu cachorro encurralou.
Eu me virei para Ascanio e Julie. O olhar no meu rosto

deve ter sido assustador, porque eles se encolheram em
uníssono. Ha! Ainda os ratinhos tinham medo de mim.
— Roubo? —Perguntei baixinho. O Bando tinha uma

visão radical sobre qualquer atividade criminosa. Nós já

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tínhamos bastante dificuldades de sermos aceitos, imagine se

acobertássemos criminosos.
Ascanio suspirou, claramente resignado a seu destino. —

Ela queria ver os gatinhos-coelhos. Era a casa de uma criadora.
Encontramos em um anúncio no jornal. A mulher não
113
permitiu vermos os bichinhos a menos que pagássemos por
isso, então escalamos a cerca quando ela saiu. Eu poderia ter
lidado com o Rottweiler32. Só não queria machucá-lo.
Claro que Julie iria querer ver gatinhos-coelhos. Inferno,

até eu queria ver os gatinhos-coelho. Então, Ascanio a levou.
O problema era que foram pegos.
— Nós não iríamos roubá-los, —disse Julie. — Queríamos

só acariciá-los.
— A dona da casa está acusando-os de roubo? —Perguntei

a Mauro.
— Eu a convenci que não seria uma boa ideia.
32
Rottweiler

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— Obrigada.
— A qualquer hora, —ele disse.
Olhei para as crianças. — Sumam da minha frente! Falo

com você depois.
Os dois correram para fora, quase derrubando Hannah e
114
sua bandeja de chá. Ela mostrou os dentes para eles.
— Obrigada. —Peguei a bandeja. Hannah saiu e fechou a

porta. Servi o chá para Mauro.
— Como vão as coisas?
Mauro pegou a xícara, soprou um pouco. — Obrigado. —

Ele tomou um gole. — Deus, isso é bom. Eu estava quase
congelando. Tempo maldito. As coisas estão ... indo. Selena
ainda acha que eu trabalho demais.
— Como está a sua esposa?
— Ela está bem, obrigado. —Ele hesitou. — Estou

pensando em pedir transferência.
Isso era novidade. O núcleo da Ordem de Atlanta era

considerado um dos mais importantes no sul do país. Não
apenas isso, mas os Cavaleiros não gostavam de serem
transferidos para outros núcleos. Uma vez designados a uma

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Livro 7
determinada região, eles construíam contatos de rua e

relacionamentos profissionais. A maioria deles faria
praticamente qualquer coisa para evitar começar de novo em
um outro lugar. — Transferindo para onde?
— Qualquer outro lugar. Charleston. Orlando.
115
Estranho. Adicionei mais chá ao copo dele. Aprendi que se
você ficar silenciosa, as pessoas acabam falando mais para
preencher o silêncio.
— Obrigado. —Mauro suspirou. O núcleo de Atlanta

costumava ser o lugar para onde qualquer um almejava vir,
porque seria bom para a carreira. Você sabe, núcleo
movimentado. Onde as coisas mais interessantes aconteciam.
— As coisas ainda acontecem.
— Não o tipo de coisas certas. —Mauro colocou a xícara

na mesa. — Você sabia que Ted Moynohan é um dos Noventa
e Oito Originais Cavaleiros da Ordem?
Vinte e três anos atrás, os Noventa e Oito Originais,

vindos de diferentes agências de aplicação da lei, formaram o
primeiro núcleo da Ordem da Ajuda Misericordiosa. Eles
foram dramaticamente condecorados em uma cerimônia

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única em frente ao Monumento a Washington33. A Ordem

queria fazer uma afirmação.
— Isso faz de Ted um Cavaleiro-fundador, —eu disse.
Mauro assentiu. — Tivemos perca de trezentos e

cinquenta por cento de pessoal nos últimos três anos. O normal
116
para um núcleo é de cerca de vinte por cento.
A taxa baixa de perda de pessoal fazia sentido. Cavaleiros

morriam, mas eles morriam ocasionalmente. Eles eram muito
bem treinados e difíceis de matar.
— Atlanta teve esses últimos três anos muito difíceis, —eu

disse.
— As pessoas na cadeia de comando notaram esse

aumento da saída e de morte de funcionários da Ordem do
núcleo daqui. Uma equipe de investigação composta por três
Cavaleiros veio de Wolf Trap34. Houve uma audiência.
33
O Monumento de Washington é um obelisco localizado no centro do
Constitution Gardens, em Washington, D.C. Estados Unidos.
34
Wolf Trap é uma Região censo-designada localizada no estado norte-
americano da Virgínia, no Condado de Fairfax.

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Questões foram levantadas, principalmente sobre prejuízos

nos negócios. Você foi citada.
— Eu? —Nunca fui um Cavaleiro da Ordem, trabalhei

para eles de modo informal.
— Você era vista como um trunfo, com habilidades
117
preciosas e então se tornou a Consorte do Bando, e a pergunta
feita foi: porque a Ordem não aproveitou essa oportunidade
para estreitar as relações com o Bando. Andrea também foi
citada e eles passaram muito tempo discutido o caso dela.
Porra, é claro que eles fizeram. Eu nunca fui um Cavaleiro,

mas Andrea era uma veterana condecorada e uma mestre de
armas, que não poderia ser desprezada, mas eles a jogaram
para fora como lixo, quando descobriram que ela era uma
metamorfa.
— A Ordem não podia se dar ao luxo de perder mestres

de armas, —disse Mauro. — Nunca consegui aceitar a
maneira como o caso de Andrea foi tratado. Não deveria ter
chegado a isso. Não havia necessidade de empurrá-la contra a
parede do jeito que Ted fez. Eu respeito Andrea e suas
habilidades.

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Difícil não respeitar alguém que pode atirar em você nos olhos a
quilômetros de distância. — Ela sabe que você a considera.
— Como ela está?
— Andrea agora comanda o Clã Bouda com Raphael. Ela

tem as mãos cheias. —E os grandes sapatos da Tia B para
118
calçar, o que não era um trabalho que eu desejaria a ninguém.
— É bom saber. —O grande Cavaleiro se mexeu na

cadeira. — Depois que eles discutiram o caso de Andrea,
foram direto para Shane Andersen e os Faroleiros.
Não havia como Ted sair cheirando a rosas nesse assunto.

Um de seus Cavaleiros provou ser um terrorista. Se Ted
soubesse do envolvimento de Shane, era tão culpado quanto.
Se ele não soubesse, era incompetente. — Então o que
aconteceu?
— Essa é a parte ruim. Nada. Não aconteceu nada. Eles

terminaram a audiência e voltaram para o seu Quartel General
de origem. Mas decidiram que o núcleo de Atlanta deveria ser
reconstruído com novos funcionários. Agora temos pessoas
completamente novas. Os únicos que restaram da antiga
equipe, além de Ted, são eu, Richter e Maxine.

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Mauro era um bom Cavaleiro e Maxine, a secretária

telepática da Ordem, era a espinha dorsal do núcleo de
Atlanta, mas Richter era psicótico e irresponsável.
— Só vocês? —Eu perguntei.
— Hum-rum. Os outros são ... novatos.
119
— Não gosta das novas pessoas?
Mauro fez uma careta. — O pessoal que está chegando já

passou por dois ou três núcleos diferentes. Seus chefes
anteriores não fizeram nenhum esforço para mantê-los nos
núcleos que passaram, porque eles de alguma forma deram
problemas. A maioria deles cometeu alguns erros. O resto
cometeu erros graves.
Agora eu entendi. Como Ted era um Cavaleiro-fundador,

bem conectado e provavelmente vigorosamente defendido, o
Alto Comando da Ordem não o forçaria a sair sem uma
evidência gritante de sua incompetência, então recrutaram
para o núcleo de Atlanta os rejeitados da Ordem. Ou ele
entendia a indireta e se aposentava ou seus novos funcionários
darão motivos suficientes para removê-lo. Mauro não queria
fazer parte do esquadrão.

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— Mauro, você é um bom Cavaleiro. Qualquer núcleo

brigará para conseguir você.
— Sim. Eu gosto dessa cidade. Aqui me sinto em casa.

Mas sim, é hora de ir. —Ele se levantou. — Obrigado pelo chá.
— Obrigada por salvar as crianças de problemas.
120
— A qualquer hora. —Ele sorriu. — A qualquer
momento.
Eu o levei até a entrada da Fortaleza. Eram quase cinco

horas da tarde. Espremeria Julie e Ascanio depois do
Conclave. Agora tinha que me vestir, pegar minha espada e
fazer de conta que sou uma mulher educada na frente dos
Mestres dos Mortos.

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Capítulo 3
rolava pelas ruas mergulhadas no
121
crepúsculo. O outro carro, carregando minha guarda de honra
potencialmente assassina, nos seguia. Jim dirigia o carro que
estávamos. Barabas sentava-se no banco de trás.
A Atlanta pós-Mudança tinha muitos bairros, alguns

antigos, alguns novos, nascidos na era da magia. Havia o
Honeycomb a sudoeste, um lugar onde ‘paredes sólidas’ era
um termo relativo. No Sudeste estava o Warren, um bairro
pobre e violento, dominado por gangues itinerantes que se
atacavam umas às outras. E depois havia Northside, onde os
ricos de Atlanta usavam seu dinheiro para conter o caos da
cidade devastada.
Magia gostava de comer o asfalto, mas em Northside o

asfalto parecia liso, as ruas limpas, muito longe de ser o lixo e
as estradas sujas de entulho do Warren. Casas grandes, cada
uma em seu próprio terreno em áreas de mil metros quadrados,
olhavam para nós com janelas gradeadas por trás de cercas de

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ferro cobertas com rolos de arame farpado. A maioria das

casas foi construída após a Mudança, com não mais do que
três andares, paredes grossas, portas reforçadas e janelas
gradeadas. O dinheiro comprava segurança, terra e bons
pedreiros.
122
O sol se pôs, e a lua reinava no céu, uma enorme bola
alaranjada, parecendo que foi mergulhada em sangue. A
magia estava de folga, mas a cidade ainda respirava apreensiva
e vigilante. Era o tipo de noite que monstros saíam para
brincar.
A Matadora, minha espada, descansava em meu colo. Eu

acariciava a bainha. A espada ia aonde eu ia, mas esta noite
teria que deixá-la para trás. O Bernard's tinha uma política
rígida de não uso de armas. Sem ela, me sentia nua.
— Quem mais está vindo? —Perguntei. O protocolo do

Bando exigia que representantes de pelo menos três clãs
estivessem presentes em cada reunião do Conclave. No
começo, cada alfa queria ser incluído, mas agora tínhamos
dificuldade em conseguir três para vir. Jim era o alfa do Clã
Felino, então ele contava como um. Faltavam mais dois.
— Robert Lonesco e Jennifer, —disse Barabas.

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Robert Lonesco era casado com Thomas e juntos eles

administravam o Clã Rato. Jennifer liderava o Clã Lobo.
Ela e eu não tínhamos uma boa relação. Primeiro porque

tive que matar sua irmã depois que a menina foi a Loup, levada
pela magia da minha tia. Então seu marido sacrificou a própria
123
vida para evitar uma catástrofe mágica, catástrofe essa que
entrou em nossas vidas através da minha agência. Jennifer me
culpava pela perda de ambos. Tínhamos uma trégua difícil,
porque precisávamos trabalhar juntas, mas evitar não matar
uma a outra era muito difícil. O aviso de Christopher surgiu
na minha memória. Quando se tratava de lobos, eu não
confiava muito neles e ela definitivamente estava no topo da
minha lista.
— Algum desafio? —Perguntei. Jennifer tinha dado à luz

há mais de um mês e o período de trinta dias que ela tinha de
não ser desafiada se esgotou na quarta-feira passada.
— Não, —disse Jim.
Estranho. — Pensei que Desandra iria desafiá-la logo.
— Eu também, —disse Jim.

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Como Christopher, Desandra foi um resgate da nossa

viagem ao exterior. Ela era a filha do alfa mais poderoso nas
Montanhas dos Cárpatos. Ele era um egocêntrico psicótico e
cruel, que construiu seu bando a partir do nada e dominava
toda a região com garras de aço, aterrorizando seus inimigos,
124
estrangeiros e nativos. Ele teve onze filhos. Desandra era a
única que sobreviveu até a idade adulta e fez isso fingindo ser
uma idiota, mimada e petulante. Seu pai estava obcecado em
encontrar um herdeiro que estivesse de acordo com seus
padrões. Ele não tinha ideia do tipo de loba que estava bem
debaixo do seu nariz, e quando ela atravessou as costelas dele
com suas garras afiadas, arrancando seu coração momentos
antes de dar à luz a gêmeos, ele ficou terrivelmente surpreso.
Desandra acabou vindo conosco para Atlanta. Ela era

inteligente, esperta e implacável. Quando voltamos, Jennifer
ainda estava grávida e não podia ser desafiada. Desandra
também teve duas semanas de licença maternidade, mas ela
não usou. Ela matou pela primeira vez quarenta e oito horas
depois de jurar lealdade ao Bando e começou a subir na cadeia
de comando. Agora segurava o posto de beta do Clã Lobo e
Jennifer estava dormindo com os olhos abertos.

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— Jennifer e Desandra fizeram algum acordo? —

Perguntei.
— Não que eu saiba, —disse Jim. — Jennifer a odeia

ainda mais do que ela te odeia. Se Desandra estivesse em
chamas, Jennifer não iria mijar nela para salvá-la.
125
— Então, qual é o problema?
Jim encolheu os ombros. Olhei para Barabas. Barabas deu

de ombros também. Nenhum deles sabia de nada. Isso era raro.
— Desandra faria uma alfa melhor, —disse Jim. — Ela é

mais forte.
Apesar da antipatia de Jennifer por mim, nunca tive

problemas com ela. Ela já me provocou algumas vezes e eu
respondi suas provocações com força, mas nunca iniciei uma
briga com Jennifer. Ainda assim, tinha que admitir que
Desandra seria uma alfa infernal. Isso não significava que eu
estava ansiosa para lidar com ela.
— Ansioso para sentar ao lado de Desandra no Conselho

do Bando? —Perguntei.
Jim me deu um olhar de pura aversão.
Barabas riu.

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Jim permitiu-se um pequeno meio sorriso sem mostrar os

dentes. Ele raramente sorria, conflitava com sua imagem de
fodão. Em todos os anos que nos conhecemos, eu o vi mostrar
os dentes para apenas três pessoas, e duas delas estavam
mortas. A terceira estaria morta, se não fosse pelo fato de que
126
agora era tecnicamente um amigo do Bando.
— Elas precisam resolver essa bagunça e logo, —disse

Jim. — Há seiscentos lobos e todos estão apreensivos. Há
rumores de que Desandra foi até Orhan e Fátima para pedir
suas benções.
Orhan e Fatima haviam comandado o Clã Lobo antes de

Daniel assumir o controle. Eles treinaram Daniel como seu
sucessor, renunciaram e se retiraram da política do Bando.
Viviam em uma chácara não muito longe da Fortaleza e
permaneciam estritamente neutros. Até agora, eu os tinha
visto exatamente duas vezes, em um jantar de Ação de Graças
e em um casamento, e os dois me pareciam o tipo de pessoas
com quem eu não queria mexer.
— O que você quer dizer com ‘ela foi pedir as benções

deles?’ —Perguntei.

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— É uma regra do Bando, —disse Barabas. — Um alfa

pode ser desafiado até a morte ou optar em abrir mão do posto.
Quando um alfa abri mão de sua liderança, ele dá ao seu
sucessor sua bênção para continuar de onde parou. Isso
praticamente garante que os apoiadores do alfa anterior
127
apoiarão o novo alfa por respeito, pelo menos por um tempo.
É a passagem das chaves do reino, e é por isso que Daniel não
foi desafiado por quase seis meses depois que se tornou um
alfa. Se Desandra foi mesmo até Orhan e Fátima, isso foi uma
atitude de mau gosto, porque eles deixaram claro que não
queriam ser incomodados.
A estrada se virou em uma curva. Lembrei-me de fazer

esse percurso há cerca de um ano, passando muito rápido na
direção oposta. É incrível como você pode dirigir tão bem
quando se tem um Senhor das Feras puto da vida te
perseguindo.
Bernard’s apareceu a frente. Em uma cidade orgulhosa de

sua herança sulista, o restaurante se destacava como um lorde
inglês entre os caubóis. Amplo, de dois andares, e construída
com tijolos vermelhos, lembrava as mansões britânicas de

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estilo georgiano35 às vezes mostradas nos filmes antigos,

exceto que os proprietários do Bernard’s desistiram de toda a
coisa simétrica em favor das varandas ornamentadas. Fios
longos e densos de kudzu36 subiam por suas paredes, suas
bordas congeladas pelo frio invasor. Luz amarela clara filtrava
128
pelas janelas gradeadas.
Nós estacionamos no local reservado na primeira fila.

Quatro pessoas estavam na porta. As luzes do carro os
iluminaram e seus olhos cintilaram com o brilho familiar dos
metamorfos. Três homens e uma mulher alta. A mulher nos
observava, com desagrado óbvio no rosto. Jennifer. Alta e
muito magra, com o físico de uma corredora de longa
distância, ela parecia ainda mais magra agora. A maioria das
mulheres engordava durante a gravidez, mas se Jennifer
35
Mansão georgiana.
36
Kudzu é um grupo de plantas do gênero Pueraria, na família das ervilhas Fabaceae,
subfamília Faboideae. Eles estão subindo, enrolando e arrastando vinhedos perenes nativos de boa parte do leste da Ásia,
sudeste da Ásia e algumas ilhas do Pacífico.

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ganhou alguns quilos a mais, eles já tinham ido embora. Ela

usava um casaco de pele de coelho e calças pretas justas. Os
longos e desenvolvidos músculos de suas pernas se destacavam
através do tecido. Eu treinava todos os dias, porque tinha um
trabalho perigoso e quando chegasse a hora, teria que lutar
129
para permanecer viva, mas minhas pernas eram menos
musculosas do que as dela. Era como se ela tivesse arrancado
cada indício de suavidade de seu corpo. Isso não era
simplesmente dedicação. Isso era desespero.
Jim desligou o motor. Ele e Barabas saíram e ficaram

parados por um segundo, com os rostos levantados,
experimentando os aromas no ar. Permanecer sentada dentro
do carro enquanto eles farejavam fazia me sentir como uma
idiota. Me mate! Suspirei e deslizei a Matadora do meu colo.
Eu tinha concordado em não ser o cliente difícil. Agora tinha
que me conformar.
Uma mancha suja tomou conta da minha mente, como o

fluido podre de um cadáver em decomposição. Vampiros. Eu
me concentrei. Seis. Não nos prédios próximos, esses estavam
mais próximos ainda. Logo acima de nós, no telhado. Eu não
deveria ter sido capaz de senti-los tão facilmente com a magia ausente.

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Minha sensibilidade deve ter aumentado. Isso fazia me sentir uma

abominação maior ainda. Para lutar contra meu pai, eu tinha
que praticar minha magia, e quanto mais praticava, mais como
ele me tornava. Não podia evitar, era como descer uma grande
ladeira escorregadia.
130
— Jim.
Jim abriu a porta do motorista. O frio exalou no meu

rosto, mordendo minha pele.
— Seis vampiros no telhado, —eu disse a ele em voz

baixa.
Ele olhou para cima. — Ou Bernard’s está envolvido, ou

eles não sabem que têm convidados extras.
— De qualquer maneira, no momento em que chegarmos

ao telhado, eles terão fugido, —disse Barabas.
E nós pareceríamos idiotas assustados. — Avise nosso povo,

—murmurei para Barabas. Ele assentiu.
— Se ficarmos separados ... —Jim disse.
— Ponte da rodovia Monte Paran. Eu lembro. —Era onde

o nosso apoio nos esperava.
Barabas bateu na minha janela. Abaixei o vidro

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— Agora lembre-se, Kate. —Barabas se inclinou para

mim, sorrindo. — Você é a Consorte. Seja a Consorte.
Ele transformou ‘se-eeee-ja’ em uma palavra de três

sílabas, esticando-a. — Pense como uma ...
— Abra a porta ou vou socar sua cara, —eu rosnei.
131
Barabas riu e abriu a minha porta. Gelo rangeu sob meus
pés. Ao nosso lado, no segundo Jeep, cinco dos meus guarda-
costas saíram, incluindo os dois Renders: Myles Kingsbury e
Sage Rome. Circulei o jipe e encontrei o olhar de Jennifer. Ela
olhou em minha direção por um longo segundo e depois
desviou o olhar para à minha direita. Seu rosto estremeceu.
Virei. Outro carro parou ao lado dos nossos dois. A porta

se abriu e Desandra saltou. Ela usava um casaco de pele de
carneiro com capuz. Seu cabelo, uma longa trança loira, se
derramava por cima do ombro. O frio deixou suas bochechas
rosadas. Seus olhos de metamorfo brilhavam alaranjados.
Desandra acenou para mim e caminhou em minha direção.
O rosto de Jennifer ficou duro, como se tivesse sido

esculpido em pedra.

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— Minha alfa favorita. —Desandra me deu um grande

sorriso brilhante.
Que dentes grandes que você tem, vovó37. — Desandra, —eu

disse.
Jennifer parecia dura e esquelética, como um lobo meio
132
faminto que fora empurrado para um canto e agora mostrava
os dentes. Desandra era a imagem de saúde, curvilínea,
sorridente, olhos brilhantes. Jennifer escorria de ansiedade,
Desandra projetava confiança. Era impossível não comparar
as duas. Mas eu não confiava em Desandra, não sabia quais
eram seus planos.
Jennifer precisava renunciar. Eu vi Desandra lutar. Não

lutaria com ela a menos que eu fosse forçada. Jennifer era
decente em uma briga, mas era previsível e quando suas
estratégias não funcionavam, ela perdia a paciência. Sua
ansiedade claramente a consumia, atormentando-a.
— Tem certeza que você deveria ser tão amigável comigo?

Eu não sou exatamente popular entre os lobos.
37
Uma referência a história do clássico infantil Chapeuzinho Vermelho: “Vovó, que dentes grandes você tem” ...

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Desandra sorriu mais largo, seus olhos verdes maliciosos.

— Sim, não é angustiante como o espírito de cooperação tem
sofrido ultimamente, oh! Nesses últimos mais ou menos nove
meses? De alguma forma, nós conseguimos afastar do nosso
clã todos os outros clãs. Alguns até justificam o afastamento
133
devido a um fracasso na liderança.
Nós, né? — Isso é inaceitável. —Respondi com falso

espanto.
— E pensar que o Clã Lobo está perdendo todas as

vantagens e benefícios que um bom relacionamento com o
Senhor das Feras e a Consorte poderia trazer. Uma vergonha.
—Desandra suspirou e piscou para mim. — Mas não se
preocupe. Eu, ao contrário de alguns, sei trabalhar em equipe.
Não tenho problemas nenhum em ser amigável e até mesmo
humilde se meu clã puder se beneficiar disso.
Arrá! E ela estava esfregando o nariz de Jennifer na

calçada na frente de testemunhas. — Você é um demônio.
— Obrigada, Consorte. Você diz coisas tão bonitas. —

Desandra baixou a voz para um murmúrio. — Ela está
olhando?
— Ela está olhando.

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— Está vendo aqueles três sujeitos com ela? Eles são seus
guarda-costas. —Desandra desdenhou. — Ela tem que ter
guarda-costas, Kate. Posso sentir o cheiro do medo. —O
demônio acenou com a mão na frente do rosto, como se
estivesse puxando um aroma para o nariz. — Hummm,
134
delicioso.
Mostrei a ela, apontando com a minha cabeça, Jim e a

pequena tropa de guarda-costas que mantinha a apertada
distância de três metros ao meu redor.
— Isso é diferente, —disse Desandra. — Você é a

Consorte e uma humana, e essa reunião é toda cheia de
cerimônias. Se espera que iremos defendê-la até a morte. Mas
um alfa de um clã nunca deve precisar de guarda-costas.
Jennifer virou-se bruscamente e entrou. Os três homens a

seguiram. Ela deve ter ouvido isso.
— Pensei que você iria desafiá-la agora, —disse Jim. — O

que está esperando?
— Eu tenho o apoio do Senhor das Feras e da Consorte?

—Desandra perguntou.

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Suas perguntas não eram perguntas, elas eram armadilhas

de urso prontas para serem usadas. — A liderança do Clã Lobo
é um assunto privado a ser decidido dentro do clã. Nós não
interferimos. Eu não falo pelo Senhor das Feras, mas vou lhe
dizer que prefiro uma solução pacífica.
135
— Isso é muito diplomático, —disse Desandra. — Não
entendo. Além disso, desde quando você prefere soluções
pacíficas?
— Desde que eu não quero lidar com um banho de sangue

em pleno Natal. Ela é a viúva de um homem que sacrificou a
vida pelo Bando. Se você a matar a sangue frio e deixar sua
filha órfã, vou tornar as coisas mais difíceis para você. Assim
farão os outros lobos. Resolva isso como a alfa que você quer
ser.
Desandra fez uma careta. — Não vou fazer dela uma

mártir. E não quero deixar a filha órfã. Não há necessidade de
tragédias. Não é hora de uma de qualquer maneira. O clã ainda
não é meu, mas estou chegando lá. Jennifer sabe que estou de
olho em qualquer tropeço dela, então hesita. Adia decisões
importantes e fica na defensiva quando as pessoas a
questionam, o que a faz parecer fraca e tímida. Enquanto isso,

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sento-me nas sombras e espero a hora certa, convertendo o clã

de um por um. Os lobos exigem um líder forte e quanto mais
tempo Jennifer os colocarem no limite, mais alto vão uivar.
Logo virão para mim e dirão que sentem muito, mas o clã já
teve o suficiente da liderança de Jennifer. Eu serei hesitante e
136
humilde. Irei precisar ser convencida de que esta é a coisa
certa, a coisa nobre a fazer. Terão que fazer algumas coisas
para me convencer, e quando forçá-la a sair, todo o clã ficará
radiante.
Desandra sorriu para nós. — Então você não precisa se

preocupar. Não vou matá-la no meio de um jantar formal. Não
sou meu pai, afinal de contas. Aproveite seu jantar. —Ela
piscou, virou-se e foi embora.
Uau!
— Essa criatura vai ser em uma dor gigantesca no nosso

rabo, não é? —Disse Barabas.
— Sim, vai. —De repente, senti falta do meu apartamento.

Era pequeno, apertado e localizado em uma parte ruim da
cidade, mas era todo meu, antes que minha tia o tivesse
demolido. Agora era só uma ruína. Eu realmente queria ir para
casa, fechar a porta e não ter que lidar com nada disso.

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Um SUV38 escuro virou a esquina. Outro seguiu, depois

mais outro. A Nação estava chegando.
— Hora do show, —disse Jim.
Chalés Black Bear. Se eu passasse por isso, ficaria duas

semanas com Curran no Black Bear. Coloquei meu rosto de
137
negócios e entrei no Bernard’s com dez metamorfos nos meus
calcanhares.
dizendo que o Bando não pode

comprar um prédio no território da nossa fronteira na cidade.
—Ryan Kelly bateu na mesa com o dedo indicador. —
Estamos dizendo que, quando isso acontecer, temos que ser
notificados.
38
SUV – Veículo utilitário esportivo é um veículo semelhante a uma camionete,
normalmente equipado com tração nas quatro rodas para andar sobre todos os tipos de terreno.

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Segurei um bocejo antes dele começar. A maioria dos

Mestres dos Mortos vestia um elegante uniforme coletivo que
os deixaria à vontade em qualquer sala de reuniões com altos
executivos. Ryan era exceção e não parecia estar preocupado
com o que vestia. Seu terno azul era obviamente feito sob
138
medida, com o queixo quadrado bem barbeado e cheirando a
colônia cara. Ele também tinha um enorme moicano roxo39. O
moicano estava despencado, pendurado no lado esquerdo da
cabeça, fazendo Ryan jogar a cabeça para trás a todo
momento, tentando evitar que o cabelo entrasse em seus olhos.
A mecha do cabelo roxo sendo jogado para lá e para cá acabou
ficando estranhamente hipnótica e eu tive que me forçar a
ouvir o que ele dizia em vez de esperar por outra sacudida da
cabeça.
— Não é que nos opomos à compra desse prédio em

particular. —Sacudida. — É o fato de que ...
39
Moicano é um corte de cabelo de origem indígena que era usado pelos povos moicanos, iroqueses
e cherokees. O estilo caracteriza-se por possuir uma "crista" no meio da cabeça, que é, geralmente, raspada dos lados
(embora, historicamente, os indígenas arrancassem os cabelos dos lados ao invés de os rasparem)

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O Bernard’s nos colocou em uma sala de jantar privada

com uma longa mesa. Nos sentamos em um lado, a Nação
sentou no outro. À direita de mim, Jim examinava a sala,
olhando periodicamente para a porta. À esquerda de mim,
Robert Lonesco brincava com seu garfo, seu belo rosto perdido
139
em pensamentos. A secretária de Ryan, cujo nome era
Meghan e estava de pé atrás da cadeira de seu chefe, estava
discretamente o apreciando. Robert virou a cabeça. Ele tinha
o tipo de beleza suave que com o fotógrafo certo e um grande
outdoor pararia o tráfego. Sua pele luminosa era bronzeada,
seu cabelo macio era tão escuro que parecia preto-azulado, e
seus olhos, sérios e grandes, pareciam insondáveis.
À direita de Ryan, Ghastek observava Meghan com uma

curiosidade neutra. Magro ao ponto de ser esquelético, ele
estava em algum lugar na encruzilhada dos trinta a quarenta
anos, seu cabelo castanho curto ainda intocado pelo cinza, e
usava ‘inteligência’ como se fosse um perfume. Onde Ryan
Kelly parecia um homem de negócios que de alguma forma
brotou um moicano na cabeça, Ghastek parecia mais um
cientista que acidentalmente se viu convidado para uma festa
formal onde todos eram mais idiotas do que ele e agora se via

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obrigado a girar os polegares, tentando fazer seu cérebro se

acalmar.
Mulradin Grant não apareceu, já que era a vez de Ghastek

participar do Conclave, mas sua esposa, Claire, estava
presente. Claire tinha seus trinta e tantos anos, loira, bem
140
vestida, altura mediana e um corpo tonificado. Seu terninho
parecia caro e seu cabelo falava de mimos e muitas visitas ao
salão.
Ryan continuava a falar. Ele apoiava Mulradin e não

deixaria de se esforçar em criar algum tipo de problema entre
o Bando e a Nação, só para depois jogá-lo nas costas de
Ghastek. Infelizmente para ele, nada potencialmente
problemático havia acontecido, e por isso ele estava sendo
forçado a construir uma montanha com um baldinho de terra.
Ryan sabia disso, todo mundo sabia disso, e agora

estávamos todos coletivamente entediados até a morte por
isso. Por conveniência, a Nação e o Bando dividiu a cidade em
territórios imaginários, com cada lado patrulhando suas
próprias fronteiras imaginárias, e o negócio de Extrações de
Raphael acabou comprando um prédio na fronteira.

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Claire mexeu na pulseira de metal em seu pulso. Todos da

Nação usavam uma hoje, e conhecendo-os, a nova joia era
uma declaração de moda corporativa.
— ...nos opomos ao continuo desrespeito do Bando por ...
As portas duplas que separavam a sala de jantar privada
141
do resto de Bernard’s se abriram. Um corpo alto de ombros
largos encheu a porta. Hugh d'Ambray entrou na sala.
Por um momento, minha mente lutou para digerir o fato

de que Hugh estava ali, e então todas as células do meu corpo
ficaram em alerta, como se alguém tivesse jogado um balde de
água gelada em mim e depois me chocado com um fio elétrico.
Minha memória me atirou de volta ao verão passado. Eu

ouvi o barulho de sua coluna estalando quando Curran
quebrou o corpo de Hugh sobre o parapeito de pedra. Senti o
cheiro da fumaça do fogo que lambia as pedras, devorando o
Castelo Megobari e me lembrei de Hugh cair nas chamas lá
embaixo. No entanto, aqui estava ele, vestindo jeans e um
casaco de couro sobre uma camiseta preta. Ele não parecia que
carregava alguma sequela do nosso combate. Bastardo. Sem
mancar. Sem rigidez. Até o cabelo dele, escuro, quase preto,
tinha o mesmo comprimento, caindo sobre os ombros. O

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Livro 7
mesmo queixo endurecido, a mesma mandíbula quadrada, o

mesmo restolho de barba. Mais de um metro e oitenta de
altura, o corpo marcado com músculos duros e flexíveis e se
movia com a graça de um espadachim, perfeitamente
equilibrado, seguro e hábil em seu controle.
142
Como isso poderia ser possível?
Ele estava quebrado. Estava muito quebrado, maldição. Seus

ossos foram esmagados. Seu rosto havia sido espancado.
Curran havia quebrado sua coluna como um palito de dente, e
aqui estava o desgraçado, caminhando casualmente como se
nada tivesse acontecido.
Seu rosto não mostrava sinais de ossos quebrados. Sua

pele não tinha marcas de queimaduras. Faltava até a cicatriz
em sua bochecha. Ele parecia... mais jovem. Menos esculpido
pela luta. Talvez não fosse ele. Talvez fosse Saiman usando a
aparência de Hugh, ou ...
Hugh encontrou meu olhar. Olhos azuis gelados riram de

mim.
Os pêlos na parte de trás do meu pescoço subiram. Era ele.

Hugh estava naqueles olhos e eu o conheceria em qualquer
lugar.

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Livro 7
Eu não tinha ideia do que meu pai fez, mas de alguma

forma consertou sua bola de demolição humana favorita.
Querido Deus, quanta magia foi necessária? Como xds...?
Isso também significava que Roland sabia. Eu estava

tentando fingir que Hugh tinha morrido e quase consegui me
143
convencer de que Roland não sabia sobre mim, mas a prova
concreta de que Hugh estava vivo e bem, desfilava aqui na
minha frente, rasgando a minha negação. Roland o curara.
Eles conversaram. Meu pai sabia sobre mim. Meu pai estava
vindo atrás de mim.
Foda-se!
Jim sorriu, mostrando os dentes. Ao lado dele, Barabas

congelou.
Uma pequena voz histérica dentro da minha cabeça

gritava: Corra! Corra!
Esmaguei a voz. Estava sem minha espada. Nenhum de

nós tinha armas. Agora não era hora de entrar em pânico.
Estávamos no terceiro andar. Havia apenas duas saídas, a

porta da frente e uma porta de fundo, que não era uma saída,
mas uma entrada para um corredor estreito que levava a uma

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marquise. Eu teria que passar por Hugh para chegar à porta da

frente. Hugh era mais pesado do que eu em mais de trinta
quilos e eu tinha experimentado o que seu corpo poderia fazer.
Não conseguiria passar por ele sem uma espada. A porta dos
fundos era a nossa única opção para recuar com o mínimo de
144
perdas. Tinha que tirar o meu povo daqui agora. Teria que
esperar até mais tarde para surtar sobre isso.
Os navegadores ficaram de boca aberta para Hugh. A

maioria deles provavelmente não o reconheceu. O rosto de
Ghastek ficou branco. O mesmo aconteceu com Ryan. Eles
sabiam exatamente quem ele era e do que era capaz.
Ghastek se recuperou primeiro e se levantou. — Nós não

esperávamos por você, Comandante.
Tradução: O que diabos você está fazendo aqui?
Hugh moveu-se e ficou ao lado de Ghastek. Ghastek era

alto. Hugh o superava. — Minha culpa. Eu deveria ter ligado
antes.
Hugh sorriu. Ele estava vestindo sua fantasia de agradável

e afável: Não precisa se preocuparem, sou apenas um de vocês. Eu só
derrubo governos, ceifo vidas e me alegro com violência, mas, por favor,
não se incomodem comigo.

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Livro 7
Isso acabaria mal.
Hugh esperou. Ghastek se tocou e deu um passo para o

lado. — Por favor, sente-se.
— Você deveria me apresentar aos outros, —Hugh disse a

ele e sentou-se.
145
Ghastek meditou sobre isso por um segundo, deve ter
passado pela cabeça dele: Este é meu colega, um Senhor da Guerra
psicótico e quase imortal ...
— Por favor, recebam Hugh d'Ambray, —disse Ghastek.

— Ele é um representante do nosso escritório principal e tem
amplos poderes executivos.
— Não seja tão formal, —disse Hugh. — Por favor,

continuem com as discusões. Vou apenas sentar aqui em
silêncio e observar.
Ghastek e eu nos entreolhamos.
— Por favor, —Hugh pediu. — Acredito que estavam

discutindo algo sobre um prédio?
A boca de Ryan Kelly permaneceu firmemente fechada.

Todos olhavam para mim. Aparentemente eu deveria dizer
alguma coisa.

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— O prédio em questão é uma ruína que a empresa

Extrações Medrano comprou. Eles vão extrair os materiais,
vendê-los e seguir em frente.
— Estou ciente de como o processo de extração funciona,

—disse Ryan, sua voz cuidadosamente neutra. — A extração
146
não é o problema. É a localização do prédio. Nós nos opomos
ao Bando de andar levianamente em nossa fronteira da cidade.
Levianamente? Alguém havia passado a noite lendo um

dicionário. — Você sabe onde fica a fronteira?
— Claro que sei.
— Então você reconhece que o prédio está do nosso lado?
— Sim, mas o prédio, como você mesmo indicou, é uma

ruína. Está parcialmente do nosso lado e, segundo o nosso
acordo, o Bando não pode comprar propriedades em nosso
território.
— Você está certo. —Levantei minha mão e Barabas

colocou um papel nela. — Uma avaliação independente feita
pela prefeitura mostra que aproximadamente trezentos e
cinquenta metros cúbicos de destroços estão do seu lado da
fronteira, dos quais setenta e cinco por cento são definidos

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como pó solto e pó mágico reduzido, quinze por cento como

madeira e dez por cento como metal sortido, tudo isso
avaliado em aproximadamente mil e quinhentos dólares. É por
isso que preparamos essa concessão. Como uma
demonstração de boa fé para a continuação da cooperação e
147
das relações amistosas entre nossas duas facções, o Bando
oferece o valor dos ditos detritos para a Nação fazer o que
quiser.
Segurei o papel da concessão. Ryan pegou e parou,

inseguro. — Comandante, você gostaria de ...?
Hugh sacudiu a cabeça.
Por que você está aqui? O que você está planejando?
Ryan leu o documento. — Parece tudo certo.
— A Nação agradece ao Bando por seu generoso presente,

—disse Ghastek.
— O Bando agradece a Nação por sua generosa

cooperação. —Bom, ótimo, acabou, vamos dar o fora daqui.
Hugh se inclinou para a frente, olhou para mim e disse em

um tom de voz calmo: — Você também fica entediada com
essas reuniões e fica com vontade em bater em alguém?

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— Bata em qualquer um dos meus, e eu vou arrancar o seu

braço e espancar você até a sua morte com ele.
— Kate. —A voz de Ghastek vibrou com um aviso. —

Acredito que você não entenda bem a situação.
Hugh sorriu. — Essa é a minha garota.
148
Ghastek piscou.
Jim mostrou todos os dentes em um grunhido feroz.
— A Nação tem algum outro problema? —Perguntei.
— Não neste momento, —disse Ghastek, seu olhar fixo

em mim e Hugh.
— Fantástico. O Bando também não tem mais nenhum

problema.
Hugh pigarreou.
As portas se abriram e quatro pessoas que eu nunca tinha

visto antes carregavam uma lona.
Levantei da cadeira e me afastei. Meu povo recuou

comigo.
Os quatro largaram a lona na mesa com um baque alto.

Os pratos e copos tremeram. O corpo ensanguentado e

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esquartejado de um homem estava exposto na nossa frente, as

roupas rasgadas e manchadas de vermelho pegajoso.
O espesso cheiro metálico de sangue me atingiu.
Os dois Renders atrás de mim ficaram peludos, seus

corpos se retorcendo em transformação.
149
O estômago do cadáver havia sido cortado, as bordas das
feridas esculpidas com as marcas reveladoras de garras de
metamorfo. Seus intestinos se projetavam em grumos grossos.
Seu rosto era uma bagunça manchada de sangue, mas eu o
reconheci instantaneamente.
Claire gritou. Os navegadores recuaram da mesa. Todos

começaram a falar ao mesmo tempo.
— Seu povo assassinou Mulradin Grant, —disse Hugh,

sua voz abafando a dos outros.
— Não vamos perder a cabeça, —alertou Ghastek.
— Mostre-me a prova! —Jim rosnou.
— Olhe para o corpo. —Hugh apontou para o cadáver. —

Ele é toda a prova que se precisa.
Até mesmo o recruta mais inexperiente, recém-saído da

academia de polícia, identificaria instantaneamente essas

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feridas. A disseminação dos cortes, o padrão, o tamanho dos

sulcos, tudo isso era inconfundível. Mulradin foi assassinado
por um metamorfo.
— Não há provas de que isso foi feito por um membro do

Bando, —eu gritei. — Você emprega metamorfos em seu
150
esquadrão de assassinos.
Claire se balançava para frente e para trás. — Oh meu

Deus, oh meu Deus, oh meu Deus.
— Não vamos tirar conclusões precipitadas, —disse

Ghastek.
Hugh apontou para ele. — Cale a boca. O Bando

reivindica domínio sobre todos os metamorfos no estado. Eles
têm total responsabilidade por qualquer crime que qualquer
metamorfo cometer.
— Não se meta com o meu povo, —eu disse. — Vou fazer

você se arrepender.
— Amo quando você faz ameaças, —disse Hugh.
— Você vai amar mais ainda o que vem depois delas.
Ghastek continuou olhando para Hugh, depois para mim,

para Hugh e depois para mim.

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Livro 7
— Eu não posso esperar, bebê, —disse Hugh.
Apenas Curran me chamava de bebê. Ele estava me

provocando.
— Você o matou! —Claire gritou, sua voz estridente. —

Você matou meu marido!
151
Hugh se aproximou dela. Sua voz muito gentil. — Eles é
quem mataram. Olhe. Olhe para ele. Seu marido sofreu antes
de morrer. Você não quer fazer algo sobre isso? Não quer que
esses animais paguem?
O rosto de Claire ficou branco. Ela agarrou a pulseira de

metal em seu braço.
— Pare! —A voz de Ghastek estalou como um chicote.
Hugh se virou para ele. — É a vontade dele. Que se

cumpra.
Ghastek deu um passo para trás. — É a nossa cidade. Eu

tenho direito de arbítrio.
— Não mais, —disse Hugh, que olhou para mim e piscou.
Seu filho da puta. Isso era exatamente o que ele queria: um

grande e feio incidente público do qual não havia escapatória.
Poderíamos matar vampiros sem muitas repercussões, eles

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Livro 7
eram propriedades. Mas já estávamos sendo acusados de

assassinato, se matássemos qualquer um da Nação agora, com
o corpo de Mulradin na mesa e sua triste viúva enlouquecida
pela dor, Atlanta inteira se viraria contra nós. A cidade não
amava a Nação mais do que nos amavam, mas se tivesse a
152
chance de se livrar de qualquer um de nós, a cidade aceitaria.
Hugh teria uma desculpa para declarar guerra contra o Bando
e ser aclamado por isso.
Claire arrancou a pulseira do braço. A pulseira pulsou

brilhando de vermelho e o teto explodiu.
Seis vampiros caíram na sala. Por uma fração de segundo

eles ficaram parados, três empoleirados na mesa, três no chão,
os olhos brilhando com uma fome escarlate. Eram criaturas
esqueléticas, sem pêlos, envoltos em grossas fibras de
músculos e cobertos por uma pele esticada, não mais
humanos, não mais sensatos, mas sempre famintos.
Ryan pulou para frente, com os braços bem abertos. Os

olhos dos seis vampiros escureceram. O rosto de Ryan tremia
com o esforço. Ele estava tentando segurar as mentes dos
vampiros, mas seu domínio estava escapando.
— Recuar! —Gritei.

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Livro 7
Os metamorfos ao meu redor correram para a porta de

trás, todos, exceto os dois Renders. Um baque anunciou a
porta se soltando das dobradiças quando alguém a quebrou.
Hugh se virou e deu um soco no queixo de Ryan. Os olhos

arregalados de Ryan reviraram em seu crânio, seu rosto ficou
153
frouxo e ele caiu.
Os seis vampiros avançaram como cães raivosos com

correntes quebradas. Um deles, grande, fêmea e recentemente
transformada, atacou Hugh. Os outros cinco vieram voando
pelo ar em nossa direção, com os olhos vermelhos vorazes,
livres de qualquer controle de algum navegador, suas mentes
como feridas abertas, transpirando a morte. Cinco. Muitos.
A Nação fugia pela porta da frente. Ghastek parou, seu

rosto torcido.
Agarrei os cinco vampiros com a minha mente. Foi fácil.

Muito chocantemente fácil. Os mortos-vivos ficaram moles no
meio do caminho, caindo em vez de pular.
Atrás da mesa, um dos homens de Hugh, deu um passo à

frente, ele era grande, tinha cabelos curtos e escuros, segurava
duas metralhadoras nas mãos e atirou no rosto da vampira. As
balas rasgaram a morta-viva, mastigando a carne seca.

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Livro 7
Meus Renders pularam em direção a dois vampiros que

estavam presos em meu controle. Sage, à minha direita,
agarrou um vampiro no ar, antes que ele pudesse atingir o
chão, e torceu a cabeça com sua enorme mão monstruosa
armada com garras de leopardo. O Render lobo a minha
154
esquerda estripou o segundo sanguessuga. Enviei mais dois
vampiros para eles destruírem.
A vampira continuou indo para frente, contra o fluxo de

tiros. O homem continuou atirando, seu rosto esculpido em
pedra fria. Raios brilhantes de névoa vermelha saíam da parte
de trás da cabeça da vampira enquanto as balas atravessavam
o cérebro e os músculos. O topo do crânio se desintegrou. A
morta-viva fez uma pausa, virou-se um pouco, instável em
seus pés, e eu vi a parede do outro lado através do buraco onde
seu cérebro costumava estar. A vampira deu outro passo e
caiu, mancando, seus membros se contraindo.
Hugh riu.
Certo, certo, parece que seu lacaio sabe como apertar um gatilho.
Foda-se. Mandei o último morto-vivo para os Renders
destruírem. Uma pessoa correu de trás de mim para a mesa.

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Ela saltou sobre os cadáveres de vampiros e aterrissou no

corpo de Mulradin. Desandra. Mas que merda!
Os Renders rasgaram o último vampiro.
O homem com a arma virou e eu vi o rosto dele. Seu olhar

me deu um soco. Nick. Querido Deus.
155
— Desandra! —Eu rosnei.
Nick avistou Desandra e atirou. A arma rugiu, cuspindo

balas em rápidas explosões. Desandra deu um solavanco com
o impacto da bala, virou-se e correu direto para mim.
Os Renders derrubaram o último vampiro no chão.

Desandra passou por mim e saiu pela porta. Os Renders a
fecharam em seguida, me impedindo de ver a Nação e os
corpos dos vampiros. Eu me virei e corri para o corredor. A
última coisa que vi, antes da porta ser fechada, foi o rosto de
Ghastek na saída da frente. Ele parecia um homem que
acabara de testemunhar o início de uma guerra.
O corredor estava deserto. A vinte metros de distância, no

final dele a lua brilhava através das janelas quebradas da
marquise. Jim estava de lado, rosnando enquanto os

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metamorfos saltavam pelas janelas, um por um. Eu corri para

ele, os dois Renders protegendo minha saída.
— Corra! —Hugh trovejou, sua voz nos perseguindo. —

Corra para o seu castelo patético! Você tem até o meio-dia de
amanhã para me dar o assassino ou eu vou acabar com você!
156
Se eu te ver em nosso território, vou te matar!
Eu queria me virar e quebrar todos os ossos do corpo desse

desgraçado antes de cortar a cabeça dele. Ele matou meu
padrasto, destruiu a Tia B e quebrou as pernas de Curran. Ele
pagaria. Eu me virei de volta para a sala. Se eu o matasse agora
...
— Consorte! —Jim gritou.
Se eu o matasse, os metamorfos pagariam por isso durante

anos. E eu não tinha espada. Mas que merda!
Forcei meu controle através da névoa de raiva cega e corri

para as janelas quebradas. Hugh esperava que eu invadisse o
território da Nação na cidade. Isto não era um aviso, era um
desafio.
As janelas quebradas da marquise estavam diante de mim.

Três andares, uma grande queda.

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Livro 7
Jim me agarrou nos braços e saltou pela janela quebrada.

Meu estômago pulou na minha garganta. Nós aterrissamos no
chão e ele me colocou na calçada. Fiquei em pé e corri para os
nossos carros.
Jim enfiou a chave na porta do carro.
157
Um vampiro mergulhou de cima e pousou no telhado do
jipe. Os olhos vermelhos insanos olharam para mim. Agarrei
sua mente com a minha.
Antes que eu pudesse fazer qualquer outra coisa, um

metamorfo magusto na forma de guerreiro apareceu, pêlos
vermelhos eriçados, os olhos cor-de-rosa com pupilas
horizontais, parecia um demônio. Garras brilharam. A cabeça
do vampiro voou para um lado, o corpo cadavérico para o
outro. Puxei a porta e deslizei para o banco do passageiro. Jim
enfiou a chave na ignição e Barabas se sentou atrás de mim. O
motor ronronou.
A onda de magia atingiu o mundo. As barreiras de

proteções mágicas se acenderam nas paredes do Bernard’s,
brilhando em um verde pálido. O motor crepitou e morreu.
Mas que merda dos infernos!

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Livro 7
Jim xingou.
Levaria quinze minutos de encantamento para ligar o

motor de água encantada do carro. A cada segundo que
demorávamos, os reforços da Nação se aproximavam. Nós
tínhamos que dar o fora daqui e chegar a ponte da rodovia
158
Monte Paran antes que esse incidente crescesse ainda mais.
do veículo e deslizei a Matadora na

bainha das minhas costas. — Nós vamos a pé. —Eu me virei
e corri, sem olhar para trás. Um momento e os dois Renders já
estavam comigo. Atrás de mim, Jim gritou: — Formem uma
fila. Sarah, na frente. Rodriguez, retaguarda.
Nós corremos para fora do estacionamento.
— Posso carregá-la! —O Barabas-demônio se ofereceu

atrás de mim.

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Livro 7
— Estou bem. —Enquanto eles não corressem a toda

velocidade, eu poderia acompanhá-los. Não seria capaz de
fazer isso por muito tempo, mas não precisaria. A rodovia
Monte Paran ficava a um quilômetro e meio de distância. Era
lá que o apoio de Jim esperava. Nós nos reuniríamos e então
159
eu faria Hugh se arrepender de encontrar Atlanta em um
mapa.
Capítulo 4
Ao meu
redor árvores se amontoavam na estrada. Plantas amavam a
magia, estimulava o crescimento delas como se fossem
superalimentadas com Miracle-Gro40, e as árvores ao nosso
40
Marca de fertilizantes sintética para plantas.

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Livro 7
redor pareciam ter décadas de vida, seus ramos trançados em

uma única massa de galhos.
Meus músculos estavam quentes e relaxados sob minhas

roupas. Corríamos pela estrada há nove minutos e os
metamorfos ao meu redor não pareciam nada mal. Para eles,
160
isso era uma corrida tranquila. Para mim, era uma corrida
rápida.
Em minha mente, matei Hugh d'Ambray pela quarta vez.

Fantasiar matá-lo não era tão satisfatório quanto a coisa real
seria, mas imaginar deslizar a Matadora em seu peito me fazia
correr mais rápido.
A época do ano não poderia ter sido pior. Estávamos com

menos da metade da força do Bando e Curran fora da cidade.
Hugh era um estrategista. Ele nunca planejava nada ao acaso.
Ou ele tinha uma boa fonte de informação dentro da Fortaleza,
o que justificaria pensar que seu espião é alguém com alta
posição no Conselho do Bando, ou ele planejou toda essa
situação, inclusive a viagem de Curran, o que significava que
Gene e seus lobos ibéricos estavam trabalhando para Hugh e
Curran tinha ido direto para uma armadilha. O medo se

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Livro 7
contorceu através de mim. Aumentei a velocidade. Os

metamorfos aceleraram comigo.
Curran podia cuidar de si mesmo. Ele não era exatamente

uma flor delicada. Se Gene e seu lobos fossem idiotas o
suficiente para tentar encurralá-lo, Curran voltaria para casa
161
coberto de sangue.
Senti atrás de nós o tremular da mente de um morto-vivo.

Este não estava solto. Alguém o navegava. Outra mente
vampírica se juntou ao primeiro. Então outro. Uma escolta até
a fronteira. Quanto gentileza da Nação.
Os vampiros se aproximaram. Olhei por cima do meu

ombro e vi os três pesadelos galopando rapidamente pela
estrada.
Corri, apertando cada gota de velocidade das minhas

pernas. A estrada fez uma curva e vi a Cratera Monte Paran,
uma abertura do tamanho de um campo de futebol, que
lembrava a boca de um gigante semiaberta no chão. A cratera
havia nascido durante uma forte onda mágica, o dinheiro e a
influência de Northside garantiram que uma ponte de pista
única tivesse sido construída sobre ela quase da noite para o

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Livro 7
dia. O luar banhava o corrimão de pedra, três jipes familiares

e os seis metamorfos que nos aguardavam na ponte.
Um metamorfo aguardava na frente dos outros. Seu

casaco estava aberto. Ele se inclinou para frente, seus olhos
escureceram fixos nos vampiros atrás de nós, com uma
162
expressão predatória e fria, seu corpo musculoso preparado
como uma mola comprimida, pronta para saltar. Eu costumo
chamar Derek de ‘garoto maravilha’, mas ‘garoto’ não se
encaixava mais. Ele não era nada mais além de músculos
superdesenvolvidos cobrindo ossos conectados com tendões.
Seu corpo poderia ter dezenove anos, mas seus olhos sob as
sobrancelhas escuras diziam trinta e cinco. Bem, eu disse a Jim
para colocar alguém no comando na unidade de apoio e ele colocou
Derek.
Um segundo metamorfo estava sentado no corrimão de

pedra da ponte à direita de Derek. A luz da lua deslizou por
seu rosto. A maldição da minha existência. Por que ainda me
surpreendo? Derek e Ascanio. Enquanto estivessem separados
pela distância de um campo de futebol, eles se davam muito
bem. Colocá-los perto um do outro era como acender um

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fósforo em uma casa cheia de gás metano41. É uma maravilha

que a ponte ainda não tenha explodido.
A distância entre nós e os vampiros diminuía. Os mortos-

vivos estavam ganhando. O ar se transformou em fogo dentro
da minha garganta. Chegamos a ponte. Uma linha branca
163
desenhada com giz riscava o chão: a fronteira. Alcançamos a
linha.
O sugador de sangue que liderava a corrida estava muito

perto, se ele atravessasse a linha o pegaríamos.
Derek passou por nós como uma bala de uma arma de

fogo.
Olhei por cima do meu ombro. O vampiro passou por

cima da linha de giz. Derek saltou e chutou o morto-vivo. Seu
pé se conectou com a cabeça do vampiro. O impacto fez a
abominação voar seis metros. Caiu, recuou, congelou e trotou
de volta para o resto dos cadáveres vivos que esperavam no
outro lado da linha.
Continuei correndo pela fila de metamorfos, diminuindo

a velocidade para uma caminhada. O que eu realmente queria
41
Gás de cozinha.

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Livro 7
era me curvar e sugar o ar para os meus pulmões, mas todos

me olhavam, então forcei meu corpo a permanecer em pé.
Respirar era como andar de bicicleta. Você nunca esquece
como fazê-lo, e eventualmente meu corpo lembraria que
também podia respirar em vez de se afogar com o ar e engoli-
164
lo em grandes goles. Andei passando por veículos, até que a
maior parte dos Jipes pôde nos esconder da visão dos
sanguessugas. O resto do grupo me seguiu.
Minha mente finalmente processou o que aconteceu no

Conclave. Hugh d'Ambray veio atrás de mim.
Todo mundo ligado a mim acabara de ganhar um grande

alvo no peito. Ele iria matá-los, um por um ou uma dúzia de
cada vez, o que fosse preciso. Minha memória repetiu a voz de
Hugh: ‘É a vontade dele. Que se cumpra’. Meu pai já tinha os
metamorfos como alvo antes, mas nunca tão explicitamente.
Roland sabia que eu estava aqui, e ele mandou Hugh destruir
o Bando e me arrancar de dentro dele. O que eu mais temia
tinha acontecido. Meus amigos morreriam por minha causa.
Admitir essa realidade era como mergulhar minha cabeça

em um balde de água fria.

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Livro 7
Não era para ser assim. Nos meus planos, Curran estaria
aqui comigo. Nos meus planos, estaríamos juntos, lutaríamos
juntos e enfrentaríamos Roland em nossos termos. Em vez
disso, Curran estava enfiado em algum deserto nos Apalaches,
e eu estava sozinha aqui, com um assassinato em minhas mãos
165
e mil e quinhentas pessoas que dependiam de mim para mantê-
los vivos. Eu era a Consorte. Tinha um trabalho a fazer. Tinha que
parar esta guerra.
Teria que dar um passo de cada vez. Primeiro passo:

encontrar o assassino.
Jim combinou seu passo com o meu e ficou ao meu lado.

— O que diabos foi aquilo lá atrás? Você deixou que ele te
provocasse e quase foi atrás dele.
— Eu preciso que você encontre Curran. Hugh o odeia e

provavelmente sabe exatamente onde Curran está. Na melhor
das hipóteses, Gene só o mantem longe daqui. Na pior das
hipóteses, Gene preparou uma armadilha.
Jim se inclinou para mim. Seu olhar encontrou o meu. —

Ei. Olhe para mim.
Eu olhei.

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— Curran ficará bem. Ele pode cuidar disso. Eles terão

que enviar um exército a Carolina do Norte se quiser derrubá-
lo. Eu tenho pessoas de confiança de olho no território de
Gene. Ninguém entrou nem saiu.
Está certo. Jim teria alguém os observando, é claro.
166
— Hugh tentará foder com sua cabeça. Não deixe que
consiga. Faça seu trabalho. Você tem mil e quinhentas pessoas
dependendo de você.
— Seu discurso estimulante é pavoroso.
— Se você quer um discurso estimulante melhor, arranje

uma líder de torcida. Você reconheceu o cruzado com Hugh?
— Sim. —Eu reconheci Nick. Tenho certeza que era ele e o vi

atirar em Desandra.
— Por que corremos? —Perguntou um homem atrás de

mim.
Parei e girei o meu corpo para encará-lo.
Era um dos guarda-costas de Jennifer. Homem grande,

bastante atlético, vinte e poucos anos, tinha uma cabeça cheia
de cabelos loiros encaracolados. Seus olhos brilhavam
amarelos, captando o luar. Seus lábios tremiam, mostrando os

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dentes, sua respiração exalando agressão. Certo, todas as luzes

estão acesas42 ... Viciado em adrenalina. Má escolha para um
guarda-costas.
— Nós estávamos em maior número do que eles.

Poderíamos ter os derrotado.
167
— Faça-o calar a boca, —eu disse a Jennifer. — Ou eu vou
e ele não vai gostar.
A expressão de Jennifer estava em branco.
— Parecemos um bando de covardes, —rosnou o loiro. —

Nós deveríamos ...
Desandra pulou para a frente, agarrou o loiro pela

garganta e o empurrou no batente de pedra da ponte. Suas
costas bateram na rocha. A voz de Desandra era um grunhido
irregular. — Não questione a Consorte! Não envergonhe seu
clã na frente de sua alfa!
O loiro ofegou, tentando respirar.
Enquanto uma não fez nada, a outra fez o dobro. Eu não sabia
quem era a pior.
42
No original em inglês: “all the lights are on...” (todas as luzes estão acesas...): A expressão popular americana completa é:
lights are on but nobody is home (luzes estão acesas, mas não tem ninguém em casa). Usada para descrever uma pessoa que não
está equilibrada mentalmente, inepta socialmente ou intelectualmente.

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Desandra levantou o loiro até que ele ficou na ponta dos

pés e olhou em seus olhos, seu rosto a um centímetro do dele.
— Olhe para mim.
O homem olhou para ela, com o rosto chocado.
— Jennifer é tolerante. Olhe bem para minha cara, você
168
acha que eu sou tolerante?
O loiro engoliu em seco. — Não, Beta.
— Quer que eu te mostre que não sou tolerante?
— Não, Beta.
— Quando você ganhar o direito de questionar a

Consorte, você pode falar. Até lá, quando ela lhe der uma
ordem, você fecha a boca e obedece, ou eu vou arrancar sua
língua. Eu já tive a minha arrancada uma vez e levou seis
meses para voltar a crescer. Estamos entendidos?
O loiro assentiu.
— Basta! —Disse Jennifer.
Desandra abriu a mão e abaixou a cabeça para mim. —

Nossas desculpas, Consorte.
— Eu não preciso de você para se desculpar por mim, —

disse Jennifer. — Veja como fala.

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Livro 7
A coluna de Desandra ficou rígida por meio segundo,

depois relaxou tão rápido que parecia que nada tinha
acontecido. Ela encolheu os ombros, olhou para baixo e
murmurou. — Sinto muito, Alfa.
Eu não tinha tempo para o joguinho delas. — Temos menos
169
de dezoito horas até Hugh d'Ambray e a Nação atacar a
Fortaleza. Quando a guerra começar, será difícil parar.
A Nação e o Bando nunca tinham se entendido de fato, e

haviam em ambos os lados muitos idiotas achando que tinham
algo a provar.
Desandra tirou o casaco e virou as costas para um

metamorfo lobo. Ele puxou uma faca e cortou a pele dela.
Desandra mostrou os dentes por um minúsculo segundo. A
bala provavelmente ainda estava em seu corpo.
— Temos que impedir a guerra, —eu disse. — Alguém

tem alguma ideia do que aconteceu a Mulradin?
— O assassino é um metamorfo, —disse Jim. — Não é um

urso. Eles tendem a esmagar ossos. O corpo tinha perfurações
consistentes com dentes de caninos ou felinos.

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Livro 7
— Concordo. —Olhei para Jennifer. Eu precisava de um

consenso, porque nenhum deles gostaria do que eu estava
prestes a dizer. — O que você acha?
— É possível que tenha sido um metamorfo, —disse

Jennifer. — Alguém fora do Bando. Não consigo imaginar
170
nenhuma dos nossos fazendo isso.
— Eu consegui captar um bom cheiro do corpo. É de um

lobo, —disse Desandra. — Um dos nossos.
— Você está mentindo! —Jennifer cuspiu.
Desandra encolheu os ombros. — Porque eu mentiria?

Reconheci o cheiro. Já senti esse cheiro algumas vezes antes
na Fortaleza e na casa do Clã Lobo. Não é alguém que está na
Fortaleza frequentemente, mas reconheci o cheiro e é um dos
nossos.
Raiva e ódio brigavam um com o outro no rosto de

Jennifer. — Por que está fazendo isso? O que você poderia
ganhar com isso?
— Estou dizendo a verdade, —disse Desandra.
— Este é um dos seus esquemas, não é? Não dessa vez.

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Livro 7
Os três lobos escoltando Jennifer e o Render lobo ao meu

lado, simultaneamente, decidiram olhar para todos os lugares,
menos para as duas mulheres. Atrás deles, Derek também
fingiu que nada estava acontecendo.
Ascanio revirou os olhos.
171
— Você já esgotou minha paciência, está me entendendo?
—A voz de Jennifer disparou, soltando notas de histeria. —
Chega de conspirações, Desandra. Chega dos showzinhos de
Desandra.
E Jennifer acabara de perder o bom sendo em público.

Impressionante. Porque isso é exatamente o que precisávamos
agora, um concurso de mijada no meio da ponte e diante de
testemunhas.
— Foco, —eu disse. — De volta ao corpo de Mulradin.
— Desandra está certa, —disse Robert, sua voz fria e

precisa.
Todos nós olhamos para o alfa do Clã Rato. Robert

permaneceu até agora tão quieto, que eu tinha esquecido que
ele estava lá.

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Livro 7
— Foi um lobo, —disse ele. — Eu não senti o cheiro

porque o odor de sangue era muito forte, mas eu estava perto
o suficiente para ver as feridas em detalhes. Mulradin lutou.
Ele deve ter agarrado seu atacante, porque eu vi pêlos presos
em suas mãos ensanguentadas. Pêlos de lobo.
172
Jennifer olhou para ele, mas foi como bater em uma
parede de gelo. Robert permaneceu imperturbável.
— Precisamos encontrar o assassino antes do fim do

prazo, —eu disse antes que ela pudesse surtar novamente. Se
tivéssemos o assassino sob custódia, ainda haveria uma chance
de desarmar a situação.
— Se ele ou ela ainda estiver vivo, —disse Jim.
Bem pensado. Se eu fosse o Hugh, mataria esse lobo para ter

certeza de que não poderíamos pegá-lo.
— E se encontrarmos essa pessoa, o que vai acontecer? —

Robert disse.
A pergunta foi feita em um tom suave, mas eu tive a

impressão de que era uma pergunta retórica.
— Se o assassino for capturado, uma investigação será

conduzida dentro do Bando, —eu disse.

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Livro 7
— E se for considerado culpado? —Robert persistiu.
— Robert, o que você exatamente quer saber?
Robert fez uma pausa. — Estou perguntando sobre a

custódia.
— Não tenho nenhuma intenção de dar a Nação um dos
173
nossos membros do Bando para sua ‘festinha de queimem-um-
metamorfo-vivo’, —eu disse. — Nós não rolamos e nem damos
as patinhas quando eles batem os pés. Mas precisamos
encontrar quem é responsável. Não podemos tomar nenhuma
decisão até sabermos o que realmente aconteceu.
— Precisamos examinar a cena do crime, —disse Jim. —

O corpo não cheirava a acônito43.
Acônito era usado para obscurecer a trilha de cheiro. Uma

vez que um metamorfo o aspirava, até mesmo o melhor
rastreador tinha ataques de espirros. Sem rastro de acônito no
corpo significava que tínhamos uma pequena chance de que a
cena do crime estava intacta e esperando por nós em algum
43
O acônito ou acónito é uma planta venenosa, pertencente à família Ranunculaceae muito utilizada em
fármacos homeopáticos. Acônito é também conhecido como mata-lobos pois em lendas de lobisomens o acônito enfraquece-
os.

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Livro 7
lugar. Se tivéssemos essa sorte, os metamorfos poderiam ler os

cheiros como um livro aberto.
— Nem sabemos se existe uma cena do crime, —disse

Robert. — Eles poderiam ter simplesmente a incendiado.
— Não, ela ainda existe, —disse Barabas.
174
— D'Ambray gosta de joguinhos, —disse Derek. — Ele
quer que a gente jogue.
Se havia ainda uma cena do crime, onde poderia ser? O sangue

no corpo de Mulradin estava fresco. — Desandra? Você tem uma
ideia de quanto tempo ele estava morto?
— Eu diria menos de duas horas, —disse ela.
Jim assentiu. — Isso parece certo, mas colocaria Mulradin

no Casino da Nação na hora da morte.
Meu nariz tinha seis milhões de receptores olfativos. O

nariz de um lobo tinha duzentos e oitenta milhões. Se
Desandra disse que ele estava morto há algumas horas, eu
estava inclinada a acreditar nela, mas não havia como um
metamorfo ter entrado no Casino, assassinado Mulradin e
saído. Eu me virei para Jim. — Tem certeza de que ele estava
no Casino?

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Livro 7
— Sim, —disse Jim. — Ghastek e Mulradin revezam a

supervisão, para que um deles esteja no Casino o tempo todo.
Ghastek estava no Conclave, então Mulradin ficou de plantão
no turno da noite. Ele não teria saído do Casino ...
— Não necessariamente, —Robert disse baixinho.
175
Jim se virou para ele.
— Duas semanas atrás, recebi um relatório de um dos

meus espiões dizendo que o viu do lado de fora quando ele
deveria estar de plantão, —disse o metamorfo rato.
— Onde? —Perguntei.
— No Warren, —disse Robert. — Meu espião viu

Mulradin entrar em um prédio, mas não pôde acompanhá-lo
porque tinha um compromisso naquela noite.
— E você estava planejando compartilhar isso com o

Bando quando? —Jim perguntou.
— Há uma série de coisas que o Bando prefere não

compartilhar conosco, —disse Robert.
Claramente havia algum ressentimento aqui. — Que prédio no

Warren? —Perguntei.
— O espião não especificou.

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Livro 7
Isso diminuía as nossas chances tanto quanto apontar qual

dos palheiros tinha a agulha escondida nela. Quando a magia
destruiu Atlanta, ela havia pisado no Warren, esmagando ruas
inteiras. Qualquer morador que teve condições de sair de lá,
fez. Agora os Warren consistiam em favelas, povoadas por
176
desabrigados, criminosos e crianças de rua, e era enorme.
— Podemos pedir ao espião para encontrar o prédio

novamente? —Perguntei.
Robert parecia um pouco desconfortável. — Sim. Mas ele

está em um posto de observação.
— Onde? —Por favor, não diga no território da Nação.
— No território da Nação.
Esta, definitivamente, não era a minha noite.
— Linha telefônica? —Perguntei.
Robert sacudiu a cabeça.
Claro. O telefone provavelmente não teria funcionado com

a magia de qualquer maneira. — Preciso de uma pequena
equipe para entrar no território deles comigo e ir até o posto de
observação.
— Não, —disse Jim. — Você não pode ir.

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Livro 7
— É o que veremos, —eu disse a ele.
— Kate!
— A última vez que verifiquei eu estava no comando.

Você gostaria de me desafiar para resolver isso?
Jim fez uma careta para mim.
177
— Muito assustador, mas eu ainda estou no comando.
Robert, onde fica o posto de observação?
— No Parque Centennial Olympic44.
Só pode estar de brincadeira comigo. — No Centennial? Em

frente ao Casino?
Robert assentiu.
Ótimo. Invadir o território da Nação, enquanto Hugh tem

todos os vampiros em Atlanta à procura de qualquer coisa com
um rabo ou uma espada, encontrar um metamorfo rato que
precisava ficar escondido, já que estava lá como espião, e então
44
Centennial Olympic Park é um extenso parque público
localizado no centro de Atlanta, Geórgia. Pertence e é operado pela Georgia World Congress Center Authority. O parque foi
construído pelo Comitê de Atlanta para os Jogos Olímpicos, como parte das melhorias de infra-estrutura para os Jogos
Olímpicos de Verão de 1996.

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Livro 7
correr para o Warren. Moleza, fácil, mamão com açúcar. Deixe-

me pegar minha capa de invisibilidade e um dispositivo de
teletransporte ...
— Com todo o respeito, Consorte, você nunca encontrará

o posto de observação, —disse Robert. — E mesmo se fizesse,
178
meu espião não falaria com você.
— Você vem comigo?
Robert assentiu. — Sim.
— Temos pessoas suficientes para invadir o local, —disse

Barabas. — Nós poderíamos usar a força.
— Não. A ideia é entrar e sair sorrateiramente. Se

entrarmos com um grupo grande, falharemos. Primeiro,
porque chamaremos muito a atenção, seria o mesmo que colar
um letreiro em néon em nossas costas dizendo ‘Estamos aqui,
matem à vontade’. Segundo que se levarmos um grande
número, eles verão isso como uma invasão ao território deles.
Terceiro, se encontrarmos algum vampiro, o plano será correr
e se esconder para minimizar qualquer dano, não combatê-los.
Não, nós vamos em um pequeno grupo e quem for conosco se
manterá em pele humana.

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Livro 7
— Aquele desgraçado planejou tudo isso, —disse Jim. —

Ele estava se regozijando. Haverá uma armadilha na cena do
crime.
— Provavelmente. É por isso que tenho que ir. —De todos

nós, sou eu que tenho as melhores chances de sobreviver a um
179
combate com Hugh e conseguir que nosso povo saia vivo.
— Você parece muito certo disso, Jim, —disse Jennifer. —

Talvez tudo isso tenha sido uma coincidência. Este d'Ambray
veio a Atlanta para inspecionar a Nação, procurou o homem
no comando, não conseguiu encontrá-lo e descobriu o
assassinato.
Ah cale a boca. — Quaisquer que sejam suas motivações,

devemos chegar à cena do crime. Este assunto não está em
discussão. —Eu levantei meu pé e deliberadamente pisei na
ponte. — Façam como eu. Coloquem os pés no chão. Lidem
com a realidade.
Todos olhavam para mim.
— Não há mais objeções. Apenas me ajudem a chegar lá

e sair viva.
— Eu vou, —disse Jim.

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Livro 7
— Preciso de você para iniciar o protocolo de proteção a

Fortaleza. —O protocolo de proteção a Fortaleza previa que
em casos de guerra iminente, todos os metamorfos da cidade
deveriam ir para a Fortaleza. Aqueles nas cidades mais
próximas seriam aconselhados a evacuar para o Bosque, uma
180
enorme floresta ao norte.
— Barabas pode fazer isso.
Curran estava fora da cidade, eu estava fora da Fortaleza e Jim

queria ficar fora também. Que tal não? Que tal uma vez na vida deles,
o Bando fazer o que eu mandar fazer? — O Conselho do Bando
pode precisar de alguém com conhecimento direto do que
aconteceu e experiência em administrar esse tipo de situação.
—E eu não queria que Jennifer fosse a única fonte relatando o que
havia acontecido.
Jim olhou para mim. Eu sabia exatamente o que estava

passando na cabeça dele. Por sua vontade ele teria amado me
arrastar de volta para a Fortaleza e me cercar de metamorfos
combatentes, mas Hugh mudou tudo. Eu era a melhor
esperança do Bando contra o Hugh. Ele era um inimigo que
eu estava exclusivamente equipada para lutar. Curran havia
colocado sua vida em risco pelo Bando dezenas de vezes. Era

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Livro 7
a minha vez agora. Se eu não voltasse, alguém tinha que

segurar o Bando juntos. Jim seria esse alguém, porque ele era
o mais capacitado, mas isso o estava chateando como o
inferno.
— Você está levando Robert, —ele disse, sua voz muito
181
calma. — Leve Derek também.
Abri minha boca para dizer não, mas parei. Eu não tinha
ideia com quem a lealdade de Robert estava, mas Derek
morreria por mim. Ele tinha quase vinte anos, treinava em
combate desde os dezesseis, e passara por mais merda do que
a maioria das pessoas podia aguentar durante a vida. Negando
que ele me acompanhasse, porque eu ainda pensava nele como
uma criança e não queria vê-lo machucado, seria apenas
humilhar a nós dois.
— Você está dentro? —Eu perguntei.
Derek pareceu ligeiramente ofendido.
Certo. Por que ousei perguntar? Metamorfos lobos adolescentes e

seus sentimentos delicados.
Eu me virei para o resto deles. — Precisamos de mais um.

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Livro 7
Havia uma razão pela qual todos, da SWAT aos Marines45

e SEALs46, andavam sempre em equipes de quatro homens.
Uma equipe de quatro era rápida, manobrável, permitia que os
quatro lados fossem cobertos e, no nosso caso, ter quatro
pessoas tornaria o acesso mais fácil ao território da Nação. Nós
182
poderíamos nos dividir em pares. Uma dupla andando à noite
em Atlanta não chamaria a atenção imediatamente. Três ou
quatro pessoas juntas chamariam a atenção.
Myles, o Render lobo, deu um passo à frente. Perfeito.
— Não. —Jennifer estreitou os olhos. — Leve Desandra

com você.
Sério? Ela nem estava tentando agora disfarçar. Eu era uma

amadora quando se tratava da política do Bando, mas isso era
simplesmente óbvio. Se eu insistisse em levar Myles, estaria
insultando Desandra. Se Desandra se negasse a ir, perderia a
credibilidade.
Jim e Robert se entreolharam.
45
Marines: O Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos é um ramo das Forças Armadas dos Estados Unidos.
46
O United States Navy's SEAL Teams, possuí na sua sigla (Sea, Air, e Land) derivada de sua capacidade em operar no
mar (SEa), no ar (Air) e em terra (Land). Comumente chamados de Navy SEALs, são uma das principais Forças de Operações
Especiais da Marinha dos Estados Unidos e um componente do Comando Naval de Operações Especiais (NSWC), bem como
também um componente marítimo do Comando de Operações Especiais (USSOC)

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Livro 7
— Esta é uma missão perigosa e o Clã Lobo quer ajudar a

Consorte, —disse Jennifer. — Nós ainda somos os maiores no
Bando, e como a alfa presente no Conclave eu sinto que nosso
clã deve fazer tudo o que estiver ao seu alcance para ajudar.
Desandra reconheceu o cheiro do assassino e é uma excelente
183
lutadora.
— Você está mandando Desandra nesta missão, na

esperança que ela morra. E para que? Para que você possa se
agarrar ao poder por mais alguns dias? —Disse Jim.
Jennifer levantou o queixo. — Você tem algo a me dizer,

gato, diga logo.
— Eu acabei de fazer, —Jim disse a ela.
Se eu não parasse essa discursão agora, eles brigariam a noite

toda. — Já chega. Desandra, você está pronta para isso?
Desandra parecia que preferia chupar alguns limões

podres. — Eu ficaria honrada, Consorte.
— Ótimo. —Agora eu tinha dois lobos na minha festinha

divertida. Minha estratégia de evitar lobos até agora provou ser
uma falha épica. — Nós vamos tomar a rota de evacuação
norte.

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Livro 7
Planejamos as rotas de fuga norte e sul, mas a rota norte

passava direto por um estábulo. Eu precisaria de um cavalo
para acompanhar os metamorfos. Que bom que eu já tinha um
alugado.
— Lembra da maneira como D'Ambray gritou sobre
184
matar alguém capturado no território da Nação? —Jim
perguntou. — Para essa merda acontecer, D'Ambray deve ter
feito acordos com os policiais. Eu não sei se ele os subornou,
os chantageou ou o que mais, mas fez algo. Fique longe da
Divisão de Atividade Paranormal47.
— Vou ficar, —eu disse.
— Quem trouxe o baú do tesouro? —Desandra perguntou.
Sage, o outro Render, caminhou para o Jeep esquerdo e

abriu o porta-malas. Uma variedade de armas olhou para nós:
espadas, facas, clavas e bastões. Nada elaborado, apenas
ferramentas simples e funcionais que aceleraria a passagem
dessa vida para o que nos espera após a morte. Derek olhou
para o banquete por um longo momento e tirou uma
47
PAD (Paranormal Activity Division) Divisão de Atividade Paranormal. Divisão especial do Departamento de Policia de
Atlanta, que trata sob todas as ocorrências de natureza mágica.

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Livro 7
machadinha tática48. Preto fosco e cerca de cinquenta

centímetros de comprimento, a arma tinha uma lâmina de
quinze centímetros em um lado da cabeça do machado e uma
ponta afiada no outro. Desandra puxou uma clava de metal49
de sessenta centímetros de comprimento, com uma das
185
extremidades em forma de uma esfera incrustrada com oito
pontas afiadas de metal. Eu olhei para Robert.
Ele sorriu. — Estou preparado. Peguei meus brinquedos

do meu jipe antes de sairmos.
Eu me virei para Barabas. — Posso ter uma palavra antes

de irmos?
— Claro. —Ele se afastou comigo. Colocamos uma

centena de metros entre nós e o resto dos metamorfos,
assegurei-me de que estava de costas para eles e disse: —
Barabas, antes de você ir para Fortaleza, preciso que consiga
48
Machadinha tática.
49
Clava

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Livro 7
um mensageiro e envie algumas mensagens. Chame todos os

favores que temos com a cidade e qualquer boa vontade que
tenhamos com os órgãos policiais. Use qualquer coisa
guardado para um dia chuvoso, porque o furacão já está aqui.
Por favor, entre em contato com Evdokia ou um de seus filhos.
186
Diga a ela o que aconteceu.
Evdokia era uma das bruxas proeminentes dos Covens de

Atlanta e uma das poucas pessoas que conheciam meu
passado. Os Covens lutariam com Roland até o fim, e deixá-
los saber que Hugh estava no caminho da guerra lhes daria
tempo para se prepararem.
— Irei fazer.
— Assim que você chegar à Fortaleza, por favor, junte

uma equipe de combatentes e envie-os a Carolina do Norte
para encontrar Curran. Mantenha isso em sigilo. Nós não
precisamos de pânico.
Barabas assentiu.
— Jim vai querer mandar qualquer um, mas quero que

você fique de olho. Mande Renders, mande pessoas de
combate, o melhor que você pode conseguir sem deixar a
Fortaleza vulnerável demais. Eu não me importo se eles

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Livro 7
tiverem quer revirar a montanha rocha por rocha. Precisam

encontrar o Senhor das Feras e precisam fazer isso
rapidamente.
— Compreendo. E quanto ao Conselho do Bando?
— O Conselho é problema de Jim. Se você puder, tente
187
enrolá-los. Atrase qualquer tomada de decisão até amanhã.
Nós iremos estar de volta pela manhã. Se eu não aparecer até
o meio-dia, estou morta e você está sozinho.
— Entendido.
— Encontre Curran, Barabas.
— Kate, eu vou. Prometo a você, eu vou.
— Além disso, diga a Jezebel que tire Julie da cidade. Ela

precisará de apoio porque Julie é boa em fugir e Jezebel pode
perdê-la de vista. Se Hugh tomar Atlanta, Julie não pode estar
aqui. Ele vai usá-la e transformá-la em algo terrível.
— Ele não vai tomar Atlanta, —disse Barabas.
— Eu sei. Por favor, faça isso por mim.
— Claro. Boa sorte.
— Obrigada. Nós vamos precisar.

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Livro 7
Voltamos para os carros. O rosto de Jim parecia sombrio.

— Quero deixar registrado que estou cansado de ser deixado
para trás, —disse ele
— Quero deixar registrado que estou farta de Hugh ainda

estar vivo.
188
O metamorfo magusto estava acenando para a nossa
equipe. — Estamos saindo.
Jim fez uma pausa. — Não se mate e não me faça ir

resgatar sua bunda.
— Obrigada, mãe. Eu também te amo.
Jim rosnou baixinho e foi para o jipe.
— Jim! —Gritei, muito alto.
Ele virou.
Esperei um segundo para me certificar de que tinha a

atenção de todos. — Se eu não voltar até amanhã à noite e o
Senhor das Feras ainda estiver fora, você tem o meu total
apoio.
Jim piscou. Sua boca se abriu. — Entendido, Alfa.

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Livro 7
Alguém teria que liderar o Bando. Ele tinha feito isso antes
e se eu não voltasse, faria de novo, e agora eu tinha uma dúzia
de testemunhas que apoiariam seu direito de fazê-lo.
Jennifer sacudiu a cabeça. Ela e seus guarda-costas

entraram no veículo deles. O homem de cabelos escuros que
189
havia aberto as costas de Desandra esperava parado. Desandra
se aproximou dele. — Vá com a nossa alfa. Quando chegar à
Fortaleza, mande alguém avisar Orhan e Fátima. E se Jennifer
tentar fazer algo estúpido, segure-a o máximo que puder. Peça
a George para ajudá-lo.
Então ela foi ver mesmo o casal alfa aposentado.
O homem assentiu e saiu.
Nós nos viramos e corremos pela ponte, os carros nos

escondendo da visão dos vampiros. Os metamorfos
começaram a cantar, encantando os motores de água dos
Jipes.
— Orhan e Fátima? —Robert perguntou.
— Hum-rum, —disse Desandra. — Eu tenho a bênção

deles para assumir o clã. Vocês acreditam que essa cadela me
mandou com vocês em sacrifício?

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Livro 7
190
a ponte e
corremos mais uns quatrocentos quilômetros ao longo da
estrada florestal, em seguida, entramos na trilha pouco visível
à esquerda. As árvores sufocavam o caminho, as raízes
empurravam a terra, quase invisíveis nas sombras da noite.
Perfeito. Talvez eu tropeçasse, quebrasse meu pescoço e
poupasse Hugh do trabalho de me caçar.
— A puta acabou me dando uma rasteira, —disse

Desandra. — Mas compreendo. Ela está desesperada. A
mulher tem sido uma alfa sozinha, o que? Seis meses? É justo
não esperar por alguma sutileza.
— Quando você foi ver Orhan e Fátima? —Robert

perguntou.
— Alguns dias atrás, —disse Desandra.

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Livro 7
— Eles não querem se envolver nos problemas do Bando,

—disse Robert. — Quando saíram deixaram isso bem claro.
Um alfa quando abre mão de sua posição e renuncia ele ganha
todo o direito de não se envolver mais com os problemas do
Bando. Você os colocou em uma posição difícil.
191
— Foram os próprios alfas que me convidaram para um
encontro com eles. Eu não pedi. Quer saber por que Orhan e
Fátima mandaram me chamar? —Desandra apontou para
mim e depois para Robert. — Alfa, alfa ... —Ela apontou para
si mesma com o polegar. — Beta. Ser Beta não é igual a ser
alfa. Jennifer deveria estar aqui em vez de andar com guarda-
costas em um carro confortável. É por isso.
— Eu não sou um alfa, —disse Derek.
— Você é como o irmãozinho de Curran. —Desandra

acenou com a mão. — Você não conta. Então, não, eu não
violei as regras e fui incomodar Orhan e Fátima por conta
própria. Dê-me algum crédito.

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Livro 7
Robert tentou o seu melhor para parecer inabalável. O

melhor dele foi muito bom, mas não me impediu de provocá-
lo. — Então, Robert, que gosto tem esse pé50?
Robert olhou para mim, claramente inseguro sobre como

reagir.
192
— Ah, e mais uma coisa, —disse Desandra. — Sobre
Hugh ter planejado tudo isso. Você está certa.
Ela tirou a jaqueta do ombro e virou de costas para nós.

Uma ferida vermelha e brilhante, ainda molhada, marcava a
pele abaixo do ombro. A bala deve ter penetrado pela frente e
rasgado em linha reta através do topo de seu peito para as
costas. Uma mancha cinza escura beirava a ferida. Ela foi
baleada com uma bala de prata. Quando a bala tóxica passava
pelo corpo, o Lyc-V nos tecidos circundantes morria. Quando
o outro lobo a cortou para retirar a bala, ela deve ter sangrado
bastante.
Ninguém carregava balas de prata a menos que quisessem

lutar contra metamorfos. A prata era muito cara e havia
munições melhores e mais precisas disponível.
50
No original: “So, Robert, how does that foot taste?”: É uma provocação da Kate, por Robert ter falado demais, falado
o que não sabia, enfiado o pé na boca.

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Livro 7
O rugido de motores de água encantada que arrebentava

o tímpano de qualquer um, sinalizou que os veículos do Bando
passaram pela estrada atrás de nós. Continuamos em
movimento. Os últimos ecos dos motores desapareceram.
— Onde estamos indo? —Desandra perguntou.
193
— Estamos indo para os Estábulos Blue Ribbon, —eu
disse. — É o lugar mais próximo para alugarmos um cavalo.
— Por quê? —Desandra perguntou.
— Porque eu não conseguirei acompanhar vocês a pé, —

eu disse.
— E ela corre como um rinoceronte, —acrescentou Derek.

— Você pode ouvi-la a um quilômetro de distância.
Traidor. — Pensei que você estava do meu lado?
— E estou, —disse Derek. — Correr feito um rinoceronte

é bom. Torna fácil acompanhar você. Se algum dia eu te
perder, só preciso ouvir e encontrarei você.
— Sim, —concordou Desandra. — É bem conveniente.
Eu ri.
— Você é sempre tão casual? —Robert perguntou.

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Livro 7
— Derek e eu trabalhamos juntos por um longo tempo, —

eu disse a ele. — O garoto já ganhou o direito de ser informal
comigo.
— E quanto a Desandra?
— Ela só se incomoda em seguir protocolos quando quer
194
alguma coisa. O resto do tempo são piadas indecentes e
descrições sobre ameixas51.
Desandra riu.
As sobrancelhas de Robert subiram. — Ameixas?
Eu acenei minha mão. — Nem queira saber.
Dez minutos depois, saímos do caminho arborizado direto

para a rodovia Troll's Ferry, e quinze minutos depois paramos
ao lado de uma cerca, perto do portão que levava ao Estábulos
Blue Ribbon. Meia hora já havia se passado. Nós não
tínhamos muito tempo.
51
Kate se refere a uma cena no livro 6 (Ascensões Mágicas), quando Desandra descreveu as bolas de um dos seus maridos,
comparando-as a ameixas.

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É melhor você entrar sozinha, —disse Desandra. — Ou

eles podem ficar com medo de que eu e Derek pretendemos
assoprar a casa deles52.
— Se houver um problema, —disse Robert, — estamos a

apenas alguns metros de distância.
195
Eu ouvi um som baixo e gutural e percebi que era Derek
rindo. Bem, pelo menos seu senso de humor estava voltando.
Obrigada universo por esses pequenos favores.
Corri para a porta e bati. A porta se abriu e um homem

negro idoso apontou uma besta53 para mim. Levantei minhas
mãos. — Senhor Walton? Preciso de um cavalo. Liguei para o
senhor ontem e pedi que reservasse um para mim.
O Senhor Walton olhou para mim. — Sobre isso ...
— Sim?
— Infelizmente precisei alugar todos eles.
52
Desandra faz uma piada usando como referência a história infantil dos três porquinhos, onde o lobo assoprar a casa
deles.
53
Besta.

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Livro 7
Só pode estar de brincadeira comigo. — Você disse que tinha

uma égua disponível e a guardaria para mim. Mandei um dos
meus funcionários para cá e ele me disse que o senhor recebeu
o pagamento.
— Eu disse isso e realmente recebi o pagamento. Mas sabe
196
como é. O dinheiro é uma coisa engraçada. Quanto maior a
quantidade, mais bonito parece. Você disse que talvez
precisaria de um cavalo, mas não confirmou se realmente iria
usá-la.
Dai-me paciência.
— Você quer um reembolso?
— Eu quero um cavalo.
— Estou sem cavalos para esta semana, mas tenho o

mamute Jenny.
— Um o quê?
— Venha, vou te mostrar.
Ele me levou para o estábulo. Dentro da terceira barraca,

algo grande se moveu. Parecia um cavalo de porte grande. O
homem levantou a lanterna. Uma cara comprida com orelhas
de setenta centímetros de comprimento me olhou com grandes

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Livro 7
olhos azuis. Um jumento, exceto que tinha cerca de dois

metros e meio de altura, de orelha a casco. Grandes manchas
brancas pintavam seu couro preto e peludo.
— O que é isso?
— Isso aí é o mamute Jenny. Uma fêmea Mamute Jumento
197
Americano54.
— Ela é resultado de magia?
— Não. Foi desenvolvida no início do século XX,

principalmente para a criação de mulas. Ela é uma boa
montaria. Boa em uma trilha. Vai te dar um galope de trinta
quilômetros por hora, mas não mantem essa velocidade por
muito tempo. Uma coisa, no entanto. A maioria de sua espécie
é dócil. Só que essa moça aqui resolveu ser diferente da
maioria, é o que chamamos no negócio de aberração da
natureza. Ela é inteligente, teimosa e temperamental.
— Qual é o nome dela?
54
American mammoth jackstock, ou Jumento mamute americano, é uma raça
de asno originária dos Estados Unidos, e que surgiu à partir do cruzamento entre várias raças de grande porte europeias. É
atualmente a maior raça de jumento do mundo. Os machos medem em média 142 cm na cernelha, e as fêmeas cerca de 137
cm. A raça foi desenvolvida para trabalho, e teve criação iniciada entre o século XVIII e XIX.

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Livro 7
— Mimosa.
Perfeita. — Eu vou levá-la.
No momento em que eu puxei Mimosa para fora de sua

tenda, ela se virou para mim, ficou parada, e colocou as
orelhas para a frente. Certo. Quando um cavalo estava pronto
198
para ser agressivo, ele normalmente coloca as orelhas para
trás. Orelhas para frente eu não sabia o que significava.
Jumentos eram um novo território para mim.
— O que as orelhas assim significam?
O Senhor Walton deu de ombros. — Significa que ela não

tem certeza sobre você. Os jumentos são animais estoicos. Só
para você saber eles não são como os cavalos.
Certo. Se Mimosa fosse um cavalo, eu caminharia em sua

direção para forçá-la dar um passo para trás. Nas regras de
dominância de cavalos, quem recuasse primeiro perderia a
dominância. Algo me dizia que não funcionaria aqui. — Você
tem alguma cenoura?
O Senhor Walton atravessou o estábulo para a frente e

trouxe-me uma cenoura grande.

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Livro 7
— Obrigada. —Peguei uma, mordi na ponta, e fiz

barulhos altos de mastigação. — Humm, cenoura gostosa.
Mimosa abriu os olhos um pouco mais.
— Humm, deliciosa.
Mimosa deu um passo à frente. Eu me virei de lado e tentei
199
mastigar mais alto. Mimosa se aproximou e cutucou meu
ombro com o seu nariz. Eu segurei a cenoura na frente dela e
acariciei sua bochecha. Ela comeu a cenoura e olhou para
mim.
— Muito bom, —o Senhor Walton aprovou. — Você é

uma encantadora de jumentos.
— O senhor tem mais cenouras?
Dois minutos depois, os alforjes de Mimosa estavam

abastecidos com três quilos de cenoura. Ele me deu as
cenouras de graça, segundo ele, para recompensar por Mimosa
não ser um cavalo e por ter alugado a outra pessoa a égua que
eu havia reservado. Bom, pelo menos se uma manada de jumentos
gigantescos cruzarem nosso caminho e precisarem ser dominados, eu
os dominaria.

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Livro 7
Saí dos estábulos em cima de um jumento de dois metros

e meio de altura que parecia ter roubado a pele de uma vaca
Holstein55 e agora estava vestido na pele roubada. Robert ficou
de boca aberta para mim. Desandra fez uma cara esquisita: sua
sobrancelha direita subiu, sua esquerda caiu, e sua boca ficou
200
presa em algum lugar entre a surpresa e o começo da frase ‘o que
diabos’. A boca de Derek se abriu e não se fechou até que
paramos ao lado dele.
— O que diabos é isso? —Desandra perguntou.
— Essa é Mimosa. Ela é um jumento mamute.
Derek gargalhou, apoiando-se na cerca. — Você tem

algum respeito próprio?
— Não.
— Ah, eu achei fofa. —Desandra estendeu a mão.
Mimosa prontamente tentou mordê-la. Desandra afastou

a mão, mostrou os dentes e rosnou. — Mimosa, você não sabe
com quem está mexendo. Vou comer você no café da manhã.
55
Holstein, também referida como Holstein-Frísia e popularmente conhecida como Gado Holandês, é uma
raça de gado bovino.

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Livro 7
— Onde agora? —Perguntei.
— Espere, —disse Robert. — Ainda estou ... tentado

aceitar o seu meio de transporte.
— Leve o tempo que precisar. —Cutuquei Mimosa,

virando-a para que Robert pudesse vê-la melhor. Mimosa
201
sacudiu suas orelhas, levantou suas patas e saltou. Oh meu
Deus!
Derek colocou a cabeça na cerca e gemeu. Desandra

gargalhou.
— Certo, —disse Robert. — Eu acho que já aceitei. Estou

pronto para o planejamento estratégico agora. Você poderia,
por favor, parar de empinar o animal?
— Ela não que parar.
Demorou mais trinta segundos e uma cenoura para

manter Mimosa sob controle.
— Como entramos no território sem sermos mortos? —

Perguntei.
— Poderíamos tentar entrar pelo lado noroeste, —disse

Robert. — É menos patrulhado. Mas com a situação atual,

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Livro 7
provavelmente dobraram a segurança. Eles estarão

procurando por nós.
Essa era a conclusão do século.
— Eu poderia ir sozinho, —Robert ofereceu.
— Se eles pegarem você, nunca encontraremos seu espião
202
ou a cena do crime, —disse Desandra.
Ele olhou para ela. — Eles não me pegarão.
Claro, eles não vão. Apontar que seu orgulho estava levando
a melhor sobre ele não seria político. Eu tinha que dizer algo
neutro.
— Acidentes podem acontecer. —Kate Daniels, Mestre em

Diplomacia.
— Podemos entrar em uma das rotas habituais de patrulha

deles, —disse Derek.
Nós nos viramos para ele.
— Eles conhecem nossas rotas de patrulha, —disse o

garoto maravilha. E por isso, quando há uma emergência nós
as mudamos. Eles provavelmente farão o mesmo e deixarão
suas rotas de patrulha usuais desprotegidas.
— Provavelmente? —Desandra sacudiu a cabeça.

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Livro 7
— Provavelmente é o que temos, —disse Robert.
— Eu não gosto disso, —disse Desandra. — Não sei

vocês, mas tenho dois bebês me esperando em casa. Nós
podemos acabar caminhando direto para a patrulha de
vampiros deles.
203
— Nós não vamos, —eu disse.
— O que te dar tanta certeza? —Robert perguntou.
— Temos um detector vivo de vampiros com a gente, —

disse Derek.
Todos olharam para mim.
— Se vocês continuarem me olhando desse jeito, vou ser

obrigada a dançar.
— Você pode detectar vampiros? —Robert perguntou.
— Sim.
— De qual distância? —O metamorfo rato alfa perguntou.
— Longe o suficiente para nos dar tempo de nos

escondermos
— Certo, —disse Robert. — Então eu voto para irmos pela

rota de patrulha.

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Livro 7
Desandra me observou como se tivesse me visto pela

primeira vez. — Que outras coisas divertidas você pode fazer?
Eu pisquei para ela. — Fique comigo e você pode

descobrir.
— Podemos atravessar a zona de quarentena, —disse
204
Derek. — Até mesmo os sanguessugas ficam de fora dessa
zona.
— Provavelmente há uma razão para isso, —disse

Desandra.
— A sorte favorece os corajosos, —eu disse a ela. Também

mata os estúpidos, mas decidi guardar esse fato para mim
mesma.
— Vamos. Precisamos nos apressar.

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Livro 7
Capítulo 5
205
nas sombras, escuras e viscosas como tinta, que deslizavam
pelos prédios em ruínas, reunindo-se nos buracos das janelas
quebradas e pingando nos becos cheios de escombros.
Mimosa trotava pela rua, os sons de seus cascos

afundando na escuridão. Robert e Desandra caminhavam
comigo à minha esquerda, Derek à minha direita. Robert não
corria, ele deslizava em silêncio completo, seus movimentos
curtos e rápidos. Desandra e Derek tinham entrado naquele
passo comprido de pernas de lobo que os deixaria caminhar
por quilômetros e quilômetros. O rosto de Derek estava
neutro, nem pensativo nem duro, apenas concentrado.
Eu não mostrei nada também. Eu tinha um objetivo. Eu

me concentrei nisso. O truque era não pensar em tudo o que
seria perdido se falhasse.
Deveria ter arranjado mais tempo para mim e Curran. Eu deveria

ter ...

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Livro 7
Tranquei esse pensamento. Conserte essa bagunça primeiro.

Culpa, arrependimento, viria depois.
Nosso povo encontraria Curran e, se eles falhassem, eu o

encontraria. Ele estaria bem. Estaríamos juntos novamente.
Enterraria a cabeça de Hugh ao lado da de Hibla. Já tinha até
206
um local escolhido para isso. Bem ao lado do túmulo da tia B.
Assim, quem sabe meus pesadelos parariam.
Derek parou e girou nos calcanhares, olhando para trás.

Inclinou a cabeça para baixo, sua expressão predatória, seus
olhos sem piscar, fixos em um ponto à distância, onde as casas
devastadas lançavam sombras noturnas na rua. Seus músculos
ficaram tensos e sua boca se abriu levemente, revelando apenas
uma sugestão de suas presas, como se fosse um lobo paralisado
no momento antes de um ataque.
Peguei minha espada. Robert colocou a mão dentro do

casaco. Desandra sorriu.
— Saia, —disse Derek. — Você foi descoberto.
Uma sombra apareceu em meio a outras sombras noturnas

mais profundas e entrou na rua. Um rosto angelical nos olhou
com olhos diabólicos.

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Maldito seja! — Ascanio!
O bouda caminhou para frente, uma imagem de pura

inocência em seu rosto.
— O que diabos você está fazendo? —Eu rosnei.
Ele colocou na cara um grande sorriso, tentando usar
207
como um escudo. — Seguindo vocês.
— Por quê?
— Porque sim.
Por favor, me ajude Deus, ou eu o matarei em um minuto. —

Por que sim?
— Eu queria vir. É muito perigoso para você e estou

preocupado.
Derek rosnou baixinho.
— Você não pode me culpar, —disse Ascanio. —

Qualquer um em meu lugar estaria preocupado. Você nem se
quer tem um cavalo adequado. Está montando um equino
mutante de origem desconhecida.
— Não desrespeite meu jumento. Se queria vir, por que

não disse?

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Ascanio olhou para mim, transmitindo sinceridade. —

Porque você diria não. E eu nunca desobedeceria a você, Alfa.
Dai-me paciência. — Você disse a Jim para onde estava

indo?
Ele pareceu surpreso. — Claro que não!
208
— Por que não?
Ele abriu os braços. — Porque ele diria não.
Coloquei minha mão no meu rosto.
— Tecnicamente, não desobedeci a nenhuma ordem, —

disse Ascanio.
Fui na direção dele.
— Ceeeerto. —Ascanio disse, dando um passo para trás.

— Entendo que você precisa de um momento para se acalmar.
— Posso bater nele? —Derek perguntou.
— Pessoalmente, não acho que agora seja um bom

momento para nós lutarmos, —disse Ascanio. — Mas se o
Senhor Espertinho quer descobrir o quanto eu aprendi nesse
último ano, ficarei feliz em mostrar a ele. Faria muito barulho
e atrairia muita atenção com todo o sangue voando por aí.

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O Senhor Espertinho deu um passo à frente.
— Não, —eu disse.
Derek rosnou baixinho.
Ascanio me lançou outro sorriso brilhante. — Sinto muito

por todo esse problema. Eu honestamente apenas queria
209
ajudar. Mas agora que estou aqui, não poderei voltar sozinho
e indefeso. A menos que você queira me condenar à morte
certa. Sozinho. Na noite. Na chuva gelada.
Desandra riu.
— Não está chovendo, —eu disse a ele.
— Quantos anos você tem? —Robert perguntou.
— Dezesseis, —disse Ascanio, de repente soltando o tom

lamurioso. — Não tenho idade suficiente para beber ou assinar
um contrato, mas tenho idade suficiente para ser julgado como
adulto se eu matar um humano. Também tenho idade
suficiente para lutar pelo Bando.
As sobrancelhas de Robert subiram. — Tem idade

suficiente para aceitar as consequências de suas decisões?
— Sim, —disse Ascanio.
Robert olhou para mim.

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Livro 7
Isso era exatamente o que eu precisava. Mais de sessenta

quilos de adolescente louco em uma panela de pressão. —
Bem.
Derek olhou para mim. — Mesmo?
— Sim.
210
Ele olhou para mim, incrédulo. — Então ele conseguiu o
que queria?
— Sim. Estamos muito perto do território da Nação. Se o

mandarmos de volta, ele continuará nos seguindo e acabará
entrando em problemas que não vai conseguir sair sozinho. E
se a Nação se apoderar dele, o usarão como moeda de troca
contra nós.
Ascanio sorriu.
— Olhe para mim, —apertei meus dentes. — Você vai me

obedecer. Se eu disser ‘pare’, você para. Se eu disser ‘pule’,
você pula. Se eu disser ‘prenda a respiração’, será melhor que
desmaie ao invés de começar a respirar novamente.
— Sim, Alfa.
— Isso não acabou. Se sobrevivermos e voltarmos para a

Fortaleza, eu vou ter uma conversa com seus alfas. Você acha

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o Senhor das Feras assustador? Espere até voltarmos para a

Fortaleza. Prometo, que depois que eu terminar com você,
você vai se lamentar disso.
— Eu já estou lamentando, —ele prometeu.
Virei Mimosa. Ascanio trotou ao lado de Derek. Derek
211
estalou os dentes. Ascanio piscou para ele.
— Admita que você sentiu minha falta.
Nós subimos a rua.
Agora eu tinha dois guarda-costas pessoais. Pena que a

idade média deles era de dezessete e meio. Isso me lembrou ...
— Desandra?
— Hum?
— O cara loiro de cabelo encaracolado, guarda-costas de

Jennifer. Qual é a história dele?
Desandra suspirou. — Brandon. Ele acabou de fazer vinte

anos, meses atrás. Um caso clássico de síndrome do segundo
filho: tem um irmão mais velho que é melhor do que ele em tudo
e está chateado com os pais, porque eles geralmente o ignoram.
Jennifer é muito boa em fazê-lo se sentir especial. Esse é o
talento secreto dela. Ela pegou suas inseguranças e o fez sentir

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Livro 7
como se ele fosse seu herói. Pelo que descobri, foi assim que
ela também conquistou Daniel. Ele deve ter tido alguns
demônios internos que precisavam ser acalmados. A mulher é
muito boa nisso, tenho que concordar.
— Quanto leal é Brandon?
212
Desandra encolheu os ombros. — Jennifer é mais velha,
atraente, sexualmente mais experiente e mais alta na cadeia de
comando. Brandon está louco para ser apreciado e elogiado
pelo tesouro especial que ele é. Além disso, tenho certeza que
ela está usando toda aquela conversa de sexo proibido. ‘Eu
quero você, mas não podemos. Seria muito errado.’ Eu sei que
eles não dormiram juntos ainda, mas ela deve ter deixado
escapar indiretas, porque Jennifer tem uma coleira em volta do
pau dele e quando ela puxa, ele vem correndo. Ele se jogaria
de um penhasco por ela. Aquela cena que eu fiz na ponte não
foi exatamente para dar uma lição em Brandon. Foi para dar
um aviso aos outros, no caso de algum deles terem ideias
erradas, porque deixe-me dizer a você, Kate, nenhum medo
que eu fizer a Brandon vai adiantar, porque se Jennifer disser
para ele te esfaquear pelas costas, ele fará isso.
Bom saber. Mais um lobo para ter cuidado.

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— Derek? —Desandra olhou para ele.
— Sim, —disse ele.
— Digamos que eu me interesse pela posição de alfa. O

que seria preciso para ganhar seu apoio?
Ele encolheu os ombros. — Sou apenas um lobo comum.
213
— Nós dois sabemos que isso é besteira, —disse Desandra.
— Você é um membro do círculo íntimo de Curran. É
praticamente da família. Você tem muita influência no clã. E
então, o que seria preciso? Você gostaria da posição de beta?
Derek sorriu. — Não.
— Apostando em algo mais alto? —Desandra ergueu as

sobrancelhas.
— Não. Eu estou por perto. —Derek acenou para mim. —

E posso ver o quanto a posição de alfas os deixam felizes.
— O sarcasmo magoa, —eu disse.
— Por que você quer a posição de alfa? —Perguntou

Derek.
— Posso melhorar as coisas, —disse Desandra. — Posso

fazer o clã funcionar melhor. Posso fazer as pessoas se

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Livro 7
sentirem mais seguras e felizes. E um dos meus filhos é um

monstro.
Se o filho mais novo dos gêmeos de Desandra alguma vez

provar carne humana, ele se tornará um lamassu56 como seu
pai. Ele crescerá asas e dentes enormes. Nós não tínhamos
214
certeza do que mais ele era capaz.
— O que isso tem a ver com alguma coisa? —Perguntou

Ascanio.
Desandra sorriu para ele. — Jennifer nunca vai deixá-lo

crescer no Bando. Ela praticamente disse isso.
Jennifer, idiota.
— Passei minha vida sob um alfa abusivo, —disse

Desandra. — Sei o que é estar à mercê de alguém. Meus filhos
não crescerão perseguidos. Se eu tiver que lutar pela posição
de alfa para ter certeza de que eles tenham uma infância feliz,
farei isso.
56
Lamassu é uma divindade tutelar da antiga Mesopotâmia, considerada com frequência como sendo
do sexo feminino. Utiliza-se com frequência o nome de Shedu para se referir ao equivalente masculino de um lamassu. Na
trama, lamassu são metamorfos modificados pela magia dos sacerdotes de Roland, que quando se alimentam de carne
humana viram monstros poderosos. Para lembrar mais sobre Lamassu ler Ascensões Mágica – livro 06.

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Livro 7
Um prédio deserto apareceu à nossa esquerda, meio

tombado na rua, finas faixas de tinta descendo em suas paredes
como lágrimas. Robert olhou para ele. — Me deem um
momento.
Começou a correr, pulou e escalou a parede quase vertical.
215
Seus dedos se fixaram no peitoril da janela do terceiro andar e
ele mergulhou para dentro. Desandra assobiou baixinho em
apreciação.
— Você sabe que ele é casado, não sabe? —Eu perguntei.
— Mas ainda posso apreciar o traseiro dele.
Seus olhos se iluminaram.
Ah não.
— São como duas ...
— Não.
Desandra deu uma risadinha.
Essa foi por pouco.
— Sabe, se você tem certas frustrações, —disse Ascanio,

— eu ficaria feliz em ajudá-la a resolvê-las.

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Derek olhou para mim, apontou para Ascanio e deu um

soco na palma da própria mão esquerda com o seu punho
direito algumas vezes. Eu balancei a cabeça. Não, você não pode
machucá-lo.
Desandra riu. — Talvez daqui a vinte anos. Quando eu
216
tiver ... como se chama? Conflito de meia idade?
— Crise da meia idade, —eu forneci.
— Sim. Exatamente. Isso se você viver tanto tempo assim.
— Isso é um grande ‘se’, —disse Derek.
Robert reapareceu carregando um pequeno saco marrom,

saltou e correu para nós.
— O que é isso? —Eu perguntei.
— É um esconderijo de ratos, —disse Derek. — Eles os

escondem por toda a cidade.
Robert enfiou a mão no saco, tirou um grande rolo de fita

adesiva, um monte de pedaços de tecido e sorriu.
— O que é isso? —Desandra perguntou.
— Você vai ver, —eu disse a ela.
Nós descemos a rua.

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Desandra encolheu os ombros. — Ei, Kate? Já pensou em

ir até Hugh e dizer que ele tem o maior pau de todos os
tempos? —Ela estendeu os braços para o tamanho de um taco
de beisebol.
— Não, você acha que funcionaria? —Perguntei.
217
— Vale tentar. Talvez ele fique tão feliz que você tenha
finalmente notado sua ‘espada de porco57’, que vai esquecer de
tentar nos matar.
Espada de porco. Me mate agora. — Vou pensar sobre isso.
Ascanio começou a tatear suas roupas.
— O que foi agora? —Derek rosnou.
— Procurando por algo para fazer anotações.
Robert não deu nenhuma indicação de que ele nos ouviu,

mas eu sabia que ele estava ouvindo. Qualquer idiota poderia
descobrir que Hugh e eu tínhamos uma história, e Robert
estava longe de ser um idiota. Logo as perguntas estariam
chegando, já podia sentir isso.
57
Original em inglês: pork sword (espada de porco) – uma das infinitas maneiras em inglês de apelidar o pênis.

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Ascanio desistiu de dar tapinhas e olhou para Desandra

com algo parecido com admiração. Já não bastasse os problemas
que ele nos dava? Só faltava o mau exemplo vindo de Desandra agora.
— O que foi, criança? —Desandra perguntou.
— Você realmente teve sua língua arrancada? —
218
Perguntou Ascanio.
Os olhos de Desandra se estreitaram. — Quando eu tinha

doze anos, meu pai não gostou de uma resposta malcriada que
dei a ele, então ele pegou uma faca e cortou minha língua.
Levou seis meses para voltar a crescer e assim que eu pude
falar, eu disse a ele para se foder. Decidi então que ninguém
me faria calar a boca. Não vou segurar minha língua. Eu não
vou calar a boca.
— Nem eu, —disse Ascanio.
— Se não pararem com isso agora, vou mudar de planos e

mandar vocês dois para casa, —eu disse a eles.
Eles fecharam suas bocas.
A rua estreitou-se. Um poste de madeira grosso enfiado no

meio do chão da calçada segurava uma placa de aviso. Letras
negras grossas sobre um fundo branco:

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Livro 7
PERIGO!
AMI - ÁREA MÁGICA INFECCIOSA
NÃO ENTRE!
APENAS PESSOAL AUTORIZADO
219
Embaixo do aviso, alguém havia desenhado uma caveira
com chifres, apenas para reforçar a ideia do perigo.
Nós paramos na placa. Na rua destruída o pavimento

aparecia aqui e ali. Grandes pedaços de vidros azuis, verdes,
brancos translúcidos emergiam do asfalto em ruínas,
lembrando pontas de icebergs. À distância, torres e paredes de
vidro se projetavam para cima, transformando o que antes era
conhecido por Inman Yard, o pátio de trens de Norfolk
Southern58, em uma enorme geleira de vidro. Quando
terminássemos de cruzar o labirinto de vidro estaríamos
oficialmente no território da Nação.
58
A Norfolk Southern, é uma das maiores empresas ferroviárias dos Estados Unidos da América operando 58 mil
quilômetros de linhas em 22 estados da região leste e central daquele país, sendo diretamente responsável pela manutenção
de 46 mil.

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— Vocês possuem a merda mais esquisita de Atlanta, —

disse Desandra. — Como isso aconteceu?
Eu desmontei. — Costumava ser um enorme pátio de

trens, com mais de sessenta linhas. A cidade construiu uma
enorme estação de trem pouco antes da Mudança, toda a
220
estrutura era de vidro e aço, muito moderna. Quando a magia
chegou, os trens colidiram e a estação desabou. Montes de
vidro espalharam-se por toda parte, e então começaram a notar
que os vidros estavam se fundindo e crescendo, até que ao
longo dos anos isso se formou.
— É chamado de Zoológico de Vidro, —disse Robert, e

passou-me a fita adesiva e os pedaços de tecido. Enrolei o
casco esquerdo de Mimosa com o tecido e prendi com a fita.
— É perigoso? —Perguntou ela.
— Oh sim, —disse Ascanio. — Eu e Andrea matamos um

monstro lá. Era maior que uma casa.
Derek revirou os olhos.
— Tem coisas estranhas aí que ninguém sabe como

classificar, —eu disse. — O Colégio de Magos o estuda há anos
e ainda não sabe ao certo como o vidro cresce ou se espalha. É

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Livro 7
por isso que trouxemos a fita adesiva e os pedaços de tecido.

Vamos enrolar os tecidos nos nossos calçados e quando
terminarmos de atravessar essa região, jogaremos os tecidos
fora para não arrastarmos contaminação por toda a cidade.
Terminei de enrolar os cascos de Mimosa, enrolei as
221
minhas botas com tecido e fita e passei o rolo para Robert. Ele
prendeu seus pés, e então o rolo foi para Desandra, para Derek
e Ascanio.
Robert pulou de um pé para outro.
— Você está bem? —Perguntei.
— Eu não gosto de ter meus pés enrolados. —Ele deu de

ombros.
— Você está usando sapatos, —Desandra apontou.
— Sim, mas já estou acostumado com a aparência deles.

—Robert olhou para os envoltórios e suspirou.
‘Ainda é hora de voltar’, Voron disse calmamente dentro da

minha cabeça.
‘Isso não vai acontecer’. Eu pensei que tinha banido seu

fantasma.
‘Isso é perigoso. Não faça isso. Vá embora.’

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‘É para isso que você me treinou. Deixe-me ser o que você me

preparou para ser.’
Esperei por uma resposta, mas minha mente permaneceu

em silêncio.
— Kate? —Derek perguntou baixinho.
222
Cutuquei Mimosa e nos dirigimos para o Zoológico de
Vidro.
através dos icebergs de vidro,

difusa e refletida, até que parecia vir de todos os lugares ao
mesmo tempo, banhando o interior da geleira em um brilho
suave e fantasmagórico. Placas sólidas de vidro cobriam o
chão. Conduzi Mimosa, movendo-me o mais rápido que podia
sem deslizar. Eu não tinha nenhum relógio comigo, mas
deveria ser depois da meia-noite.
— Algum vampiro? —Robert perguntou.

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— Não.
— Há quanto tempo você tem a capacidade de sentir

vampiros? —Robert perguntou.
E as perguntas chegaram. — Por que o interesse repentino

nas minhas habilidades? —Eu perguntei.
223
— Nós ouvimos algumas coisas, —disse Robert. —
Rumores.
— Que tipo de rumores? —Perguntei.
— Rumores perturbadores, —disse Robert. — Estamos

insatisfeitos com o atual nível de comunicação e divulgação de
informações. Nós estamos preocupados.
Nós. Ele quis dizer o Clã Rato. Os alfas dos clãs não
gostavam muito de não serem mantidos informados sobre
tudo, e Jim estava sempre andando em uma linha muito fina
entre pôr em risco a segurança do Bando, dizendo demais e
irritando o Conselho, ou dizendo muito pouco e colocando
todos em perigo. Para minha sorte, eu não era responsável pela
segurança.
— Se você tem preocupações, deve se dirigir a Jim, —eu

disse.

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Livro 7
O alfa dos ratos assentiu. — Porque ele vai proteger você

barrando qualquer coisa que te comprometa e não irá
responder a nenhuma pergunta que faremos?
Dei a Robert meu melhor olhar duro. — Proteger-me?
O metamorfo rato encarou meu olhar. — Sim.
224
— Ele não parece que ficou com medo. Você precisa
trabalhar mais nesse seu olhar alfa ameaçador, —disse Derek,
que observava Robert com uma expressão calma e relaxada,
uma que eu conhecia muito bem. Se o rato alfa espirrasse em
minha direção, Derek tentaria arrancar sua garganta e Ascanio
ajudaria. — Talvez você devesse escolher um alvo mais fácil
para praticar, como um coelhinho fofo.
Ascanio apertou a mão no peito e cambaleou para perto

de Robert. — Não estou acreditando que o senhor Espertinho
fez uma piada. Eu ... eu não sei o que fazer. Nada faz mais
sentido.
Derek e Ascanio estavam cercando Robert, sem que ele

percebesse. Se Robert se movesse em minha direção, Derek o
acertaria de frente e Ascanio o rasgaria de lado. Os olhos de
Desandra se estreitaram. Ela também percebeu isso.

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Livro 7
Derek fingiu estudar Ascanio e olhou para mim. — Você

gostaria que eu arrancasse as pernas dele? —Seus olhos
estavam completamente sérios. Ele estava me perguntando se
eu queria que ele atacasse Robert.
— Não, eu quero que vocês dois se afastem por pelo
225
menos cinquenta metros, então Robert e eu poderemos ter
uma conversa.
— Mas ... —Ascanio começou.
— Obedeça, —eu disse a ele, afundando uma ordem na

minha voz.
— Você a ouviu, —disse Derek.
— Eu vou, —disse Ascanio.
Eles se afastaram por alguns metros. Nós retomamos

nosso trote através do labirinto de vidro.
Desandra riu baixinho. — Então é assim que um menino

bouda é.
— Normalmente eles são piores, —disse Robert. —

Conheço Rafael desde os seis anos, eu tinha onze anos. Ele era
insuportável quando adolescente. São lindos, mas dão muito
trabalho. Ascanio é típico.

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Livro 7
— Os boudas são diferentes, —eu disse para o benefício

de Desandra. — Não há muitos deles e a chance de loupismo
é alta em seu clã, então toda criança é um presente precioso,
porém estragado. Ascanio não teve sua infância entre eles. É
uma longa história.
226
— De volta às minhas perguntas, —disse Robert. — Há
quanto tempo você tem a capacidade de sentir vampiros?
— Você não pode me obrigar a responder, Robert.
— Não, eu não posso, —disse ele. — No entanto, posso

explicar minhas razões para saber a resposta. Os metamorfos
ratos têm certas habilidades naturais quando se trata de
trabalho secreto.
Os metamorfos ratos eram naturalmente quietos e

furtivos, podiam deslocar os ossos do seu corpo com muita
facilidade, o que os permitia se esconder em lugares muito
pequenos. Muitos espiões de Jim eram do Clã Rato.
Quando não se sabe para que lado a conversa está indo,

diga algo vago e lisonjeiro. — O Clã Rato é bem conhecido
por sua excepcional discrição. —Alguém me ajude, eu soava como
Curran. O Bando lentamente estava me enlouquecendo.

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Livro 7
Lembrar dele fez a minha ansiedade apunhalar meu peito

com uma faca. Curran estava bem. Preocupar com ele não o
ajudaria a nada, isso me deixaria distraída. Eu tinha que
esquecer disso.
— Também temos nossa própria rede de coletores de
227
informações, —disse Robert. — Recebemos nossas
informações de duas fontes: instruções oficiais de Jim e de nosso
próprio pessoal. Sempre há uma diferença entre as informações
que nos chegam de Jim e que nos chegam através das nossas
próprias fontes. Desde que você se mudou para a Fortaleza,
essa diferença aumentou substancialmente.
Robert esperou.
Eu não falei nada. Minha paciência estava se esgotando.

Podia apenas imaginar a voz de Barabas em minha mente.
‘Chatear o Clã Rato não é uma boa ideia. Eles são o segundo maior
clã ...’
— Consorte? —Robert chamou.
Ah, então estamos de volta a Consorte agora. — Então está

chateado, porque acredita que Jim retém informações de você?
— Eu tenho provas de que ele retém.

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Livro 7
Eu teria que dizer isso com cuidado. A diplomacia não era

o meu forte, mas eu tinha uma boa memória e tinha lido o
Código de leis do Bando de capa a capa várias vezes. — A
retenção de informações impede sua capacidade de governar
efetivamente seu clã ou compromete a segurança dos membros
228
de seu clã?
— Se você está citando o Artigo Seis ... —Robert

começou.
Eu estava citando o Artigo Seis. Ele delineava os deveres

do Chefe de Segurança do Bando. — Por favor responda
minha pergunta.
— Ainda não, —disse Robert. — No entanto, estamos

preocupados que isso possa acontecer.
— Até que algo de fato aconteça, como Consorte, eu não

sou obrigada a tomar qualquer providencia.
— Ela está certa, —disse Desandra.
Robert olhou para ela.
Desandra encolheu os ombros. — Eu li o Código.

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Livro 7
Os olhos de Robert se estreitaram. — Posso levar minhas

preocupações ao Conselho e tornar muito difícil para você
evitar responder as perguntas.
A melhor defesa é um bom ataque. — Nós dois sabemos que

isso vai fazer com que eu e Curran dificulte a vida do Clã Rato.
229
— Já estamos sendo marginalizados, —disse Robert.
— Como vocês estão sendo marginalizado? —Desandra

ficou boquiaberta para ele. — Vocês são o segundo maior clã
do Bando!
— Sim, somos, mas quando chegou a hora de ir atrás da

panaceia, nosso clã não foi representado. —Ele levantou a
mão e começou a contar nos dedos. — A delegação incluiu o
Clã Heavy, o Clã Bouda, o Clã Ágil, o Clã Lobo e o Clã Felino
...
Oh meu Deus. — Os chacais também não foram.
— Os chacais não pediram para ir. Nós especificamente

solicitamos um lugar e fomos cortados da lista.
— Não foi um complô contra vocês. Vocês foram cortados

da lista porque eu estava sob pressão da Tia B e pedi a Curran
que abrisse espaço para ela.

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Livro 7
— Esse é precisamente o meu ponto! Você tem

animosidade contra nosso clã, porque votamos contra você
quando Curran entrou em coma.
Eu não podia acreditar. — Você está falando sério?
— Sim!
230
— Isto é ridículo.
Robert sacudiu a cabeça. — Não, não é de todo ridículo.

Quando Jim nos forneceu o relatório da viagem de vocês ao
Mar Negro, ele não continha três coisas. Uma delas, não havia
nada lá que falasse sobre seu relacionamento anterior com
Hugh d'Ambray, que obviamente existe. Dois, não incluiu o
fato de você e Hugh d'Ambray terem jantado em particular.
Três, omitiu completamente a visão que todos presenciaram
no jantar final.
— Que visão? —Desandra perguntou. — Aquela em que

você cortava todo mundo em pedaços?
Eu olhei para ela. — Obrigada por aumentar a paranoia

dele.
— De nada, —disse ela. — Eu faço o que posso.

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Livro 7
Robert deveria estar segurando seu descontentamento por

algum tempo, e agora esse sentimento corria como um trem
desgovernado. — Eu tenho uma responsabilidade para com o
meu clã. Eles são o meu povo. Nada vai me impedir de
defende-los. Essa falta de informações completas combinada
231
com a sua opinião pessoal negativa sobre nós ...
— Eu não tenho uma opinião pessoal negativa sobre

vocês, mas você agora está trabalhando duramente para que
tenha uma.
... — Seu preconceito pessoal é perigoso para o meu clã.

Eu quero saber a natureza do seu relacionamento com Hugh
d'Ambray ...
— D’Ambray que foder Kate, porque ela deu uma surra

nele e ambos foram rejeitados pelo mesmo cara, pai deles dois,
—disse Desandra.
Robert congelou no meio da frase, piscou e olhou para

mim. — Hugh d'Ambray é seu irmão e vocês dois estão
sexualmente envolvidos?
Por que eu, porque? — Desandra, se não pode me ajudar,

não atrapalhe.

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Livro 7
— Eu me cansei de ouvi-lo, —disse ela.
— Uma de vocês vai explicar isso para mim? —Robert

exigiu.
Minha paciência acabou. — Você realmente quer uma

explicação honesta?
232
Ele me encarou. — Sim.
— Certo. Hugh serve Roland, que é o líder da Nação.
— Eu sei quem é Roland, —disse Robert.
— Bom, então isso será mais fácil. Roland quer governar.

Ele tem cinco mil anos, possui magia divina e não acredita que
a palavra ‘não’ se aplique a ele. Hugh é seu Senhor da Guerra.
Pense nele como uma enorme bola de demolição imparável.
Onde Roland aponta, Hugh esmaga. Agora Roland está
apontando para o Bando. Hugh lutou contra nós há alguns
meses atrás e nós chutamos o traseiro dele. Agora ele quer
atacar cortando a raiz. Hugh está aqui para te esmagar. Você
gostaria de saber exatamente o que Hugh pensa de você? Ele
acha que você é um reles animal.
Robert mostrou os dentes.

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Livro 7
— Se ele não pode fazer você se sentar e rolar, você não

tem utilidade para ele. Hugh vai acabar com você, criança,
idoso, grávida, não importa, e depois, beberá uma cerveja no
jantar para comemorar o trabalho bem feito. Ele não pode ser
subornado, não pode ser convencido, e é quase impossível de
233
matá-lo. Curran quebrou sua coluna e o jogou no fogo que
derretia pedra sólida. Mas aqui está ele, vivo.
Parei para respirar. — Hugh e eu fomos treinados pela

mesma pessoa. Eu sou melhor do que ele em combate corpo-
a-corpo. Se lutarmos mais uma vez, vou matá-lo e ele sabe
disso. Ele me quer, quer minha espada e minha magia.
Enquanto estávamos no Mar Negro, me apontou uma sala
cheia de metamorfos e me disse que mataria cada um deles por
uma chance de jantar comigo.
Desandra encolheu os ombros. — Isso é meio sexy. De um

jeito doentio.
Eu a ignorei. — Jim, que me cercou com um esquadrão de

guarda-costas para ir ao Conclave, mas não criou muito
problema com a minha decisão de vir nesta divertida aventura.
Sabe por que? Porque ele sabe que quando me tornei
companheira de Curran, prometi me colocar entre o Bando e

Magic Breaks
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Livro 7
Hugh. Jim espera que eu faça o meu trabalho. Estou aqui

fazendo exatamente isso. Eu sou a melhor chance de defesa do
Bando. Então, se chegarmos a enfrentar Hugh e ele me
derrotar, vocês precisam correr.
Os dois me olharam.
234
— Estou falando sério. Se eu for derrotada, se me
capturarem, vocês precisam fugir, arrastem Derek e Ascanio
para fora de lá, porque eles não vão me deixar ir. Não fiquem.
Não lutem. Basta pegar as duas crianças e irem embora. Isso é
o máximo de informações que vou compartilhar com você.
Tenho que parar esta guerra antes que ela comece. Deixe-me
fazer o meu trabalho e se ficar chateado sobre como eu lidei
com tudo isso, você pode se queixar sobre o meu túmulo ou,
se eu sobreviver, pessoalmente para mim no próximo
Conselho. Até lá, não quero mais lidar com política, não quero
responder mais perguntas. Isso está dificultando meu trabalho,
que já é difícil o bastante. E isso é uma ordem.
— Sim, Alfa, —disse Desandra.
— Muito bem. Eu vou ... —Robert parou e franziu o nariz.

Desandra respirou fundo. Algo claramente não cheirava bem.

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Livro 7
Olhei em volta. Ascanio e Derek aceleraram,

aproximando-se. Robert tinha uma expressão de intensa
concentração no rosto. Também senti aquela sensação
alarmante de que tem alguém atrás de você, observando
atentamente, esperando que você tropece para ele pular nas
235
suas costas e afundar seus dentes afiados e frios na nuca. Eu
podia sentir o olhar nas minhas costas e sabia que, se me
virasse, não veria nada, apenas as sombras entre os penhascos
de vidro. Mas algo nos observava. Algo estava lá.
Derek ficou ao meu lado e se virou. Eu segui o seu olhar.

Quatro olhos se acenderam nas sombras, um par em cima do
outro, brilhantes, turquesas, a cerca de um metro do chão. Os
olhos apareciam e desapareciam atrás do iceberg de vidro.
Nós diminuímos o ritmo para uma caminhada, nos

preparamos: Derek e eu na frente, Robert e Ascanio nas laterais,
e Desandra cuidando da retaguarda. Se corrêssemos, os
predadores nos perseguiriam. Nós não iríamos correr.
Outro conjunto de quatro olhos brilhou para nós na

esquerda, refletindo no vidro por meio segundo antes de
desaparecer.
— Eles estão nos cercando, —disse Desandra.

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Livro 7
À frente, três conjuntos de pares idênticos de olhos se

materializaram na escuridão. Eles estavam tentando nos fazer
virar à direita. Eu puxei a Matadora da bainha.
Três formas atarracadas de peito largo apareceram da

escuridão e se moveram para a luz, muito devagar.
236
Eram do tamanho de um pequeno bezerro e tinham seis
pernas musculosas. Suas pernas terminavam em patas
semelhantes a mãos com dedos ágeis, cada um dos dedos
carregava uma garra curta e curva. O couro cinza claro
embainhava seus corpos, exceto nas costas e no peito, onde
placas ósseas formavam uma carapaça protetora. Suas
mandíbulas eram enormes, seus dentes afiados, e eles olhavam
o mundo com quatro olhos, aninhados em duas fileiras em
suas cabeças.
— Eu e Andrea lutamos com eles, —relatou Ascanio. —

Estes são filhotes. Sua mãe era enorme.
Impressionante. — Algum de vocês pode ver caudas? Eles

são segmentados como o de um escorpião? —Seis pernas eram
uma dádiva inoperante. Não que muitas criaturas tivessem seis
membros, mas eu queria ter certeza.
— Sim, —confirmou Robert do lado.

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Livro 7
— É um tarasca59. Vem do sul da França, quando adultos

são enormes, e cospem fogo.
Ainda de acordo com as lendas, um tarasca era uma

espécie de dragão. Esses caras pareciam mais gatos que de
alguma forma brotaram armaduras semelhantes a
237
rinocerontes, mas quem era eu para reclamar?
— Como os franceses os matavam? —Perguntou Derek.
— Eles enviavam uma virgem cristã, e ela os amarrava

com os seus cabelos e os levavam até a cidade, onde os
cidadãos os massacravam. Nós não temos uma virgem por
aqui.
— Nenhuma, —disse Desandra.
O monstro do meio mostrou os dentes dele para nós. Eram

grossos, afiados e tortos.
— Rápido, Derek, é a sua chance de brilhar, —disse

Ascanio.
59
Tarasca

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Livro 7
Derek deu-lhe um olhar fulminante.
— Desandra é mãe, Robert é casado, Kate é acasalada e

noiva e eu sou uma alma antiga. Você é o mais parecido com
uma virgem que temos. Só falta ter cabelos compridos.
Robert riu. O som foi tão inesperado que quase pulei. Em
238
todo esse tempo que eu o conheço, um sorriso cuidadoso foi
tudo que já presenciei.
— Eu vou te machucar depois disso, —prometeu Derek.
Ascanio sorriu. — Ei, apenas assumi que você estava se

guardando para o casamento, meu erro.
Robert puxou duas soqueiras de aço de dentro de seu

terno. Uma longa lâmina curva percorria o comprimento dos
nós dos dedos60. Interessante. À minha direita, Ascanio
prendeu o cabelo para trás e pegou uma espada curta de dentro
do seu casaco de couro. A lâmina tinha uns quarenta
centímetros de comprimento e pelo menos uns seis centímetros
de largura, borda única, com um perfil que lembrava uma faca
60
Soqueira com lâmina.

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Livro 7
de cozinha, mas com uma simples proteção de cabo em forma

de cruz, lembrando uma espada de guarda. Ascanio segurava
duas espadas, uma na mão direita outra na esquerda. Espadas
borboletas61. Também chamadas de Baat Jaam Do. Lidar com
duas espadas exigia muita prática. Bom. Interessante.
239
Três tarascas surgiram da esquerda, dois da direita.
— Temos dois atrás de nós, —relatou Desandra.
Nós estávamos cercados.
Os grossos membros dianteiros dos tarascas ficaram

tensos. Narinas dilataram, enviando nuvens de vapor para a
noite fria. As caudas se curvaram para cima, batendo de um
lado para o outro.
Eu virei minha espada, aquecendo meu pulso.
Bocas monstruosas abertas. Dentes maldosos morderam o

ar.
— Venham! —Gritei. — Estou entediada.
61
Espadas Borboletas.

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Livro 7
As bestas correram em nossa direção como baratas

gigantes, movendo-se com um andar estranho, levantando a
perna da frente e de trás de um lado e a do meio do outro. O
maior dos três animais assoviava como uma coruja. Ele estava
quase em cima de mim. Na minha mente, imaginei pulando
240
para o lado, balançando a lâmina e atingindo o pescoço da
criatura em um clássico golpe diagonal. Porém a espada se
chocava com a carapaça. Nada de bom.
Três metros. Fique parada.
Um metro e meio ...
A besta se lançou para mim. Eu me esquivei para a

esquerda. Dentes afiados agarraram um centímetro do meu
braço e eu apunhalei a Matadora na lateral sem proteção da
carapaça da criatura. Minha lâmina encantada rasgou carne e
nervos. Um sangue escuro e enferrujado se derramou da ferida
e se espalhou pelo lado cinza da fera.
À esquerda, Derek pulou, dando uma cambalhota no ar,

aterrissou nas costas da besta e cortou a garganta com a
espada. À direita, Ascanio girava no lugar, cortando a besta, a
espada girando no ar em um familiar padrão horizontal de oito
... Ele estava tentando usar minha técnica de borboleta. Não

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Livro 7
estava tão ruim: Os pés muito separados, muito inclinado para

frente, mas não era tão ruim. Eu não tinha ideia onde ele tinha
aprendido. Se sobrevivêssemos esta pequena aventura do
inferno, eu teria que corrigi-lo antes que fosse tarde demais.
Uma familiar magia doentia tomou conta de minha
241
mente. Era só o que nos faltava. — Vampiros. Chegando.
O tarasca atacou-me e eu cortei o seu focinho.
— Quantos? —Robert perguntou.
Meu tarasca gritou e fugiu.
— Dois. Eles estão vindo nessa direção, rápido.
Nós tínhamos que terminar essa luta agora. Se

sangrássemos, tudo estaria acabado. Um vampiro era como
um tubarão, uma única gota de sangue humano iria atraí-lo há
quilômetros de distância como um ímã.
A segunda fera me atacou pela direita. Cortei o lado de

sua garganta. Ele caiu e eu esfaqueei a Matadora em seu olho
superior esquerdo.
Desandra cuspiu alguma palavra que eu não entendi. Um

corpo cinza voou acima de nós pelo ar, colidiu contra um
iceberg de vidro com um ruído repugnante, deslizou para

Magic Breaks
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Livro 7
baixo e ficou imóvel, com as seis pernas para cima. Uau. Atrás
de mim, um ruído afiado anunciava alguém cortando carne.
As duas mentes repugnantes se aproximavam.
— Trezentos metros, —eu sussurrei. — Vindo à esquerda.

Eles irão nos ver.
242
Um tarasca do tamanho de um cavalo surgiu da escuridão
e saltou para nós, seis patas no ar. Eu desviei. Esse é o
problema com o salto. Uma vez que se salta pelo ar, não há
muito que se pode fazer para mudar o local do pouso. A fera
caiu bem entre nós. Eu me lancei em cima e afundei minha
espada entre as costelas. As garras afiadas como aço cravaram
em minha bota, rasgando a fita adesiva, o tecido e arrancando
o couro reforçado.
Derek arrancou o crânio da fera com a machadinha,

agarrou o corpo que se retorcia e atirou-o à minha direita, para
as sombras. Desandra pegou outro e jogou no escuro. Corpos
voavam ao meu redor. Um momento e todos os cadáveres
desapareceram.
— Cento e cinquenta metros, —eu sussurrei.

Magic Breaks
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Livro 7
Robert se virou. Uma linha vermelha deslizou por seus

dedos de um pequeno corte em sua mão. Merda.
Os vampiros aceleraram.
Ele enfiou os dedos na boca. O corte na mão se fechando,

o Lyc-V lutando para fazer reparos.
243
Olhos turquesas se acenderam dos dois lados da estrada.
Quantos malditos tarascas tinham escondidos por aqui?
Desandra apontou para cima. Dez metros acima de nós,

um iceberg de vidro lapidado, formando uma borda quase
horizontal.
Derek me agarrou e me arremessou. Peguei a borda e me

puxei para cima. Ele começou a correr e pulou na parte mais
baixa da borda. Desandra o seguiu, escorregou, e Derek pegou
a mão dela e a lançou. Ascanio pulou para cima, como se
tivesse saltado, e se ergueu no vidro ao meu lado.
Menos de trinta metros até os vampiros nos alcançarem.
Robert correu para a parede de vidro quase transparente,

subiu rápido e silencioso, como se as mãos dele tivessem cola
nelas, e deslizou no lugar ao nosso lado. Ficamos deitados no
vidro, perto o suficiente da borda para olhar para baixo. Se os

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Livro 7
sanguessugas olhassem para cima, eles veriam os contornos de

nossos corpos através do vidro.
Duas criaturas endurecidas e magrelas entraram na nossa

visão diretamente abaixo de nós. Em suas vidas anteriores
foram um homem e uma mulher. O macho ainda mantinha
244
alguma semelhança de humanidade em seu rosto e seu corpo
não parecia tão seco, mas a fêmea era mais velha. Ela deve ter
tido a pele escura quando viva, e a morte deu a sua pele um
tom azulado não natural. Ela se agachou e levantou a cabeça,
olhando em volta. O patógeno Immortuus eliminava toda a
gordura e suavidade de suas vítimas, atrofiando seus órgãos
internos. Seus seios estavam pendurados no peito como dois
bolsos vazios de pele. Fibras de músculo se destacavam em seu
pescoço.
— Foi por aqui, —disse uma jovem voz masculina da

boca da vampira fêmea. Eu poderia identificar todos os
Mestres dos Mortos em Atlanta pela voz. Não reconheci essa,
então ele tinha que ser um navegador ou alguém novo. Talvez
um dos de Hugh.
— Não há nada aqui, —respondeu outra voz

masculina.

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Exatamente, não há nada aqui. Sigam em frente, porque não

temos tempo para isso. Tínhamos que encontrar o espião de
Robert e o relógio estava correndo.
— Estou dizendo a você, senti o cheiro de sangue

vindo daqui, —disse o primeiro navegador.
245
O sanguessuga macho levantou os braços. — Então
onde está, Jeff? Eu não sinto nada.
Não. Definitivamente são navegadores. E não muito experientes

também.
A vampira fêmea se moveu e deslizou na mancha úmida

de sangue escuro. — Veja. O que diabos é isso?
— O que quer que seja, não tem hemoglobina,

porque meu vampiro não está enlouquecendo.
Talvez seja vômito. Talvez uma daquelas coisas
distorcidas que mora aqui veio e vomitou em todo o
vidro e agora você está deslizando nele. Quer que eu
peça que providenciem um pouco de serragem para
você a limpar quando os levarmos de volta?
Navegadores. Sempre agradáveis.

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Livro 7
A vampira fêmea torceu o rosto, tentando imitar a

expressão de Jeff. — Muito engraçado, Leonard. Você é
um fodido comediante.
— Nós tínhamos um roteiro a seguir, mas não, você

tinha que sair do posto porque sentiu o cheiro de
246
algum sangue fantasma em algum lugar.
— Nós devemos patrulhar. Estou patrulhando

porque é nosso trabalho, Leonard. Se não quer
patrulhar, pode ir até o chefão e dizer isso a ele.
Apenas me avise com antecedência para que eu
possa tirar fotos quando ele arrancar suas bolas e fizer
com que você as coma.
— Tudo bem, tudo bem, acalme-se. —O vampiro

macho olhou para a escuridão. — Suponhamos que
encontremos os metamorfos. Vamos levá-los a
Ghastek ou a d'Ambray?
— A Ghastek, —disse Jeff.
— Sim, mas d'Ambray é maior na cadeia de

comando. Percebe-se que Ghastek está chateado,

Magic Breaks
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Livro 7
mas ele fica de boca fechada. Então, poderemos

entregá-los diretamente a um comando maior.
— E o que acontece quando D'Ambray for

embora e Ghastek estiver de volta no comando? —
Jeff disse.
247
Saiam daqui. Vão embora. Xô, xô!
— Sem coragem, sem glória. —Leonard deve ter dado

de ombros, porque seu vampiro levantou os ombros em um
movimento brusco.
— Nós cumprimos as nossas obrigações e

seguimos a cadeia de comando. Ninguém nunca
errou seguindo a cadeia de comando, —disse Jeff.
Algo saiu das sombras. Ah não.
Os vampiros ficaram tensos, como dois gatos mutantes se

preparando para atacar.
Mimosa surgia no espaço aberto. Eu tinha esquecido

completamente que ela estava lá.
Robert colocou a mão sobre o rosto. Desandra revirou os

olhos.

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Livro 7
— Que diabos é isso? —Jeff disse.
Por que eu? Por quê?
— É um cavalo, —disse Leonard.
— Você é cego? Como isso é um cavalo? Suas
248
orelhas têm mais de meio metro de altura.
— Então é uma mula.
— Não é uma mula. O pescoço não é de mula e

a cauda ...
— E a cauda?
— Mulas têm rabos de cavalo. Ele tem um rabo de

jumento. Como uma vaca. Parece um burro, mas a
maldita coisa tem pelo menos dois metros e meio de
altura. Eu nunca vi nada assim.
— É uma mula. Tem uma sela nela, então alguém

estava montando-a.
O vampiro macho avançou.
— Onde você vai?
— Vou pegá-la e ver a quem ela pertence.

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Merda.
Mimosa colocou suas orelhas para frente.
— Não parece amigável, —observou Jeff.
— Está tudo bem. Se ela tivesse colocado as
249
orelhas para trás, teríamos que tomar cuidado. Está
tudo na voz. Assista e aprenda. Venha garota. Venha
aqui ... quem é uma boa mula estranha? Você é.
O vampiro macho avançou. Mimosa ficou um pouco mais

reta.
— Isso. Boa menina.
O vampiro pegou as rédeas. Seus dedos se prenderam no

couro.
Mimosa gritou. Não era um barulho de zurro, era uma

gritaria de puro chiado de burro, como se alguém pegasse uma
sirene de nevoeiro e tentasse estrangulá-la.
— Ôôa ... —Leonard falou.
Mimosa levantou e sacudiu a cabeça. Os pés do vampiro

deslizaram no vidro e Mimosa o arrastou para a esquerda.
— Ôôaa ...

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Livro 7
Ela o arrastou para a direita.
— Venha!
Mimosa continuou girando e pulando, seu corpo enorme

subindo e descendo, sacudindo o morto-vivo de um lado para
o outro como uma líder de torcida com um pompom.
250
— Oh, seu idiota, —a vampira riu na voz de Jeff.
Eu vi o momento exato em que Mimosa percebeu que

aquela coisa que se agarrava a suas rédeas não era algo natural.
Seus olhos se arregalaram e ela plantou as patas dianteiras para
baixo e chutou. A vampira fêmea voou cerca de seis metros e
se chocou contra um iceberg de vidro. Ai!
O vampiro macho finalmente soltou, caiu e deslizou pelo

vidro. Mimosa recuou e se preparou.
O vampiro macho ficou de pé e se recompôs para um

salto.
— Pare! —Jeff moveu a vampira entre o morto-vivo de

Leonard e Mimosa.
— Eu vou matar esse animal idiota.
Se ele tocasse Mimosa, eu tomaria o vampiro da mente

dele.

Magic Breaks
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Livro 7
— Não, você não vai. Pertence a alguém e se

você o matar, teremos que pagar indenização por
ele. Eu não ganho rios de dinheiro.
— A mula puta nos chutou! —Leonard rosnou.
— Você colocou as suas mãos nela. Ela estava se
251
defendendo. Vamos lá, vamos fazer de conta que
não aconteceu nada. Nós saímos e fomos alimentar
nossos vampiros hoje à noite e ninguém saberá de
nada. Mas se a machucarmos aparecerá algum
caipira alegando que extraviamos sua mula, haverá
um inquérito. Ghastek está andando como se
estivesse pronto para explodir. Eu não quero estar em
sua área de explosão.
O vampiro de Leonard torceu o rosto em uma careta

horrível.
— Precisamos ir embora de qualquer maneira, —

disse Jeff. — Em cinco minutos, Rowena vai descer pelo
corredor para fazer a ronda. Não quero explicar a ela
que estamos brincando com o que pode ou não ser
um burro gigante em vez de varrer o perímetro.

Magic Breaks
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Livro 7
O vampiro macho balançou a cabeça e circulou Mimosa,

e os dois mortos-vivos saíram para o labirinto de vidro.
Ficamos parados por mais cinco minutos, até que eles estavam
a dois quilômetros de distância.
— Eu retiro o que eu disse sobre a jumento mamute, —
252
disse Ascanio. — Ela é demais.
Eu queria que Curran tivesse visto isso. Ele morreria de rir.
Meu coração palpitou por um instante. Escorreguei pelo

vidro, fiquei de pé e fui dar uma cenoura a Mimosa.

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Livro 7
Capítulo 6
253
ocupava uma área de quase noventa mil metros quadrados em
Atlanta, um espaço alegre, pavimentado com tijolos gravados62,
jardins gramados e lindas fontes. Depois que a magia golpeou
os prédios ao redor do parque, ele ficou abandonado por
alguns anos. Eventualmente, as bruxas de Atlanta se uniram e
o compraram da cidade junto com as ruínas próximas. Logo
depois que elas assumiram, a vegetação dentro do parque se
revoltou. Árvores cresceram, lançando raízes grossas pela
vizinhança e espalhando enormes copas, como se estivessem
ali por centenas de anos. O parque triplicou de tamanho.
Agora, uma parede densa de vegetação a cercava, uma barreira
impenetrável de carvalhos63, uma variedade de arbustos e
62
Calçada com tijolos gravados do Centennial Park, Atlanta-EUA.
63
Carvalho.

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Livro 7
amoras silvestres64 que permaneciam sempre verdes, resistindo

até as geadas mais severas. No departamento de defesa, as
bruxas fariam a bruxa má da Bela Adormecida chorar de
inveja.
Montava Mimosa ao lado dessa barreira verde agora,
254
descendo a Centennial Drive em direção ao Cassino. Os
metamorfos me ladeavam. As bruxas declaravam ser
amigáveis comigo, mas mesmo assim fiquei de olho na
vegetação.
Evdokia, uma das três bruxas do Oráculo, chegou a

afirmar que éramos parentes distantes. Mas a ajuda delas
sempre foi condicional e agora eu não confiava em ninguém.
Os arbustos à nossa frente farfalharam.
Parei Mimosa e peguei a Matadora.
Um coelho marrom pulou na calçada e olhou para mim.
— Lanche, —disse Desandra.
64
Amoras silvestres.

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Livro 7
O coelho me olhou com olhos minúsculos e se virou para

os arbustos. Certo.
— É um coelho só de vez em quando, —eu disse. — Às

vezes é um pato. Pode ser também um gatinho.
Robert levantou as sobrancelhas para mim.
255
— Estamos sendo convidados a visitar as Bruxas do
Oráculo. —Desmontei e segui o coelho.
— De novo não, —rosnou Derek.
— Por que, o que há de tão ruim sobre as bruxas? —

Perguntou Ascanio.
As sobrancelhas de Derek se juntaram. — Você verá.
O coelho saltou para os arbustos. A vegetação se abriu,

puxando seus galhos para os lados, revelando um caminho
estreito.
— Nós temos uma escolha? —Robert disse.
— Na verdade não.
Pisei no caminho. Estávamos com pouco tempo, mas

irritar as bruxas era o mesmo que enfiar a mão em um ninho
de vespas ou dizer a Curran que tem brócolis para o jantar. A

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Livro 7
essa altura, elas já sabiam que Hugh estava na cidade. Se elas

queriam me ver, tinha que ser algo importante.
Passamos pela barreira espessa de verde e emergimos em

uma floresta de pinheiros. A neve cobria o chão com um
cobertor denso. Troncos altos de pinheiro elevavam-se de
256
ambos os lados, como se um navio de guerra espanhol
estivesse navegando sob a neve e apenas seus mastros fossem
visíveis. Passando pelos pinheiros, uma clareira se estendia,
prateada ao luar. Atrás dela, as paredes translúcidas de uma
estufa subiam na noite, abrigando fileiras de ervas. O
Centennial Park servia como o centro da maioria dos Covens
de Atlanta e elas gostavam de ter ervas frescas ao alcance.
O coelho pulou entre as árvores. Nós o seguimos. Neve

rangia sob meus pés. Não tínhamos tempo para isso, mas
infelizmente, eu precisava do Oráculo. Se Hugh e Roland
pretendiam atacar Atlanta, eu precisaria da ajuda e da magia
delas. E não podia ignorar o conselho do Oráculo. Eu me
arrependeria profundamente se me recusasse a vê-las e elas
acabassem tendo algum tipo de míssil mágico autoguiado que
poderia destruir Hugh.
Derek franziu o nariz. — É aqui.

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Puxei uma tira de tecido do bolso e passei para ele.
— O que é esse cheiro? —Desandra franziu o nariz.
Derek rasgou o tecido ao meio e entregou-lhe um pedaço.
As árvores acabaram e chegamos a uma colina no meio de

uma grande clareira. Perfeitamente esférica e lisa, projetava-se
257
da neve, como a cúpula de uma catedral submersa. Eu me
lembrava que era cinza escuro com manchas douradas e
redemoinhos verdes, mas a luz da lua a transformou em índigo
brilhante.
O coelho parou.
O chão sob nossos pés roncou. Derek espirrou. Desandra

apertou a gaze no nariz. A colina estremeceu e deslizou para
cima, a neve escorregando do topo.
Robert pulou três metros para trás. Ascanio apenas olhou,

de olhos arregalados.
Uma cabeça gigante apareceu da neve, seu pescoço era

uma massa marrom de dobras enrugadas. Ei linda garota. Há
quanto tempo. A colossal tartaruga me encarou com íris do
tamanho de um prato de jantar e abriu sua boca gigantesca.

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Certo. O tratamento completo. Será que mataria alguém, pelo

menos por uma única vez, elas me receberem para um encontro em um
jardim florido ou algum lugar que servem frango frito?
Derek e Desandra se dobraram em um ataque de espirros.
A pele do coelho rastejou, ferveu e se esticou na forma de
258
um pequeno gato preto. O gato saltou para a boca da tartaruga.
— Uau, —disse Ascanio. — Isso foi ‘pesado’.
Arquivei a nova gíria adolescente para referência futura.
Desandra apontou para a boca aberta, a outra mão

apertando o nariz dela. — Ali dentro?
— Hum-rum, —eu disse.
— Foda-se! Estou ficando aqui.
— Eu sou um rato, —disse Robert. — Não vou entrar na

boca de um réptil.
Oh garoto. Bom tempo para desenvolver fobias. — Tudo bem,

—eu disse a eles. — Elas provavelmente não vão permitir que
vocês entrem de qualquer maneira.
— Eu vou, —declarou Ascanio.

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Livro 7
Derek assentiu, segurando o pano sobre o nariz e

aproximou-se de mim.
Entramos na boca da tartaruga.
259
debaixo dos meus
pés era suave. Fui para a frente, passando pelo céu da boca, até
a garganta, coberta de guirlandas de algas congeladas e
pingentes de gelo. O gelo escuro à frente alisava o chão do
túnel da garganta. Na última vez que passei por aqui, tomei
um banho no que suspeitava fortemente que fosse cuspe de
tartaruga. Pisei no gelo. Seguro. Um ponto para mim.
— Isso é incrível, —Ascanio disse atrás de mim.
Alguém estava se divertindo muito.
O túnel da garganta terminou e eu saí em um lago gelado

no meio de uma cúpula colossal.

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A parte baixa das paredes eram escuras, mas clareava até

ficarem transparentes, conforme iam subindo até o topo. O céu
noturno, cravejado de estrelas, derramava o luar sobre
aglomerados de pingentes azuis suspensos no teto. Os
pingentes de gelo brilhavam com luz azul suave, iluminando
260
os contornos de criptas retangulares dentro das paredes, cada
uma marcada por um glifo65 dourado brilhante.
Na minha frente, numa plataforma retangular, três

mulheres esperavam tranquilamente. A primeira tinha mais de
setenta anos. A vida havia dado a ela um aspecto frágil e
esquelético, mas seu rosto era aguçado e predatório. Estava
empoleirada em uma grande cadeira preta como uma ave de
rapina: Maria, a Anciã, ao lado dela, uma jovem sentada em uma
cadeira confortável. Esbelta, com cabelos loiros claros até os
ombros, parecia quase uma criança, aparentemente muito
delicada, o que escondia seu grande poder: Sienna, a Donzela.
65
Glifo designava a princípio qualquer signo entalhado ou pintado, a exemplo dos glifos
da escrita maia e dos hieróglifos egípcios.

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Livro 7
Salvei a vida dela durante o último Flare66. À direita, em uma

cadeira de balanço, sentava-se Evdokia: a Mãe. Rechonchuda,
com uma trança pesada de cabelo castanho-avermelhado,
balançava para a frente e para trás, tricotando um suéter de lã
cinza. Parecia quase pronto.
261
O gato preto correu para ela e esfregou-se contra os seus
pés.
Atrás delas, um grande mural mostrava sua deusa, uma

mulher alta e régia parada atrás de um caldeirão que ficava no
cruzamento de três estradas. Três dos seis braços da mulher
seguravam uma faca, uma tocha e um cálice. Um gato preto,
um sapo, uma vassoura e uma chave completavam a imagem.
Ela tinha muitos nomes: a Rainha da Noite, a Mãe de todas as
Bruxas, Hekate67. Seu poder era vasto e terrível e eu não estava
inclinada a desrespeitá-la.
66
Flare significa um alargamento, dilatação, erupção. Na trama o Flare é um período onde a magia vem com força total e
desenfreada, costuma acontecer a cada sete anos.
67
HeKate.

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Evdokia apontou para Derek e Ascanio. — Vocês!

Esperem aí.
Uma parede de gelo surgiu ao redor dos dois metamorfos,

prendendo-os em um círculo gelado.
Sienna se virou para mim. — Seu pai está vindo.
262
despejando baldes de água
gelada na minha cabeça. — Quando?
— Logo, —Evdokia disse, suas agulhas estalando.
— Ele vem reivindicar a cidade, —disse Sienna. — Nós

previmos isso.
Maria levantou a mão ossuda e apontou para Sienna. —

Mostre a ela.
Sienna se levantou. O mural atrás dela desapareceu e a

visão de uma rua da cidade surgiu. À esquerda, típicos
edifícios antigos ladeavam a rua, um de tijolos escuros com

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Livro 7
janelas quebradas e cobertas com tábuas, o outro revestido

com argamassa bege e em melhores condições. À direita, um
grande prédio de tijolos e granito romanos cor de areia
ocupava a maior parte do quarteirão. Sua metade inferior, uma
típica estrutura retangular, tinha cerca de quatro andares de
263
altura. No topo dela, uma torre de cinquenta metros de altura
se estendia para o céu. Eu podia ver todo o caminho da rua,
passando pelas luzes dos postes, até a torre de alguma igreja
distante.
O céu acima da cidade se agitava com nuvens de

tempestade, furiosas e escuras. O vento soprava lixo pela rua
em fortes rajadas curtas. O ar vibrava com a tensão e a magia,
como se estivesse carregado e apenas esperasse a queda de um
raio. Os pêlos na parte de trás do meu pescoço subiram. Algo
perigoso cavalgava naquela tempestade. Algo poderoso e
assustador.
Um homem virou a esquina. Ele usava uma túnica branca.

O vento soprava seu longo cabelo loiro no rosto.
— Uther Stone, —disse Maria.
— O nome soa familiar, —eu disse.

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— O massacre dos ciganos, —Evdokia respondeu,

erguendo os olhos do tricô. — Você está olhando para Sioux
City68.
Ah. Agora me lembrei. Uther Stone era realmente um mago

elementar poderoso, podia manipular com facilidade a
264
eletricidade. Ele ganhou notoriedade defendendo a cidade de
um gigantesco búfalo. A cidade o elegeu prefeito e Stone não
perdeu tempo em aprovar leis sobre o tipo de pessoas que não
eram bem-vindas em Sioux City. Então um grupo de ciganos
desapareceu. Seus corpos foram encontrados em um túmulo
comunitário e Uther Stone teve que responder algumas
perguntas, exceto que ele não teve tempo para isso.
Na visão, outras pessoas seguiam Stone, algumas usavam

roupas modernas, outras vestiam mantas. Oito pessoas no
total.
Stone abriu a porta do prédio e correu para dentro. Sua

legião o seguiu.
A imagem na visão da parede deslizou para cima,

mostrando o edifício em maior detalhe. Uma imagem
68
Sioux City é uma cidade localizada no estado americano do Iowa, nos condados de Plymouth e Woodbury.

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decorativa de um homem musculoso de barba, ladeado de

ambos os lados por seis figuras menores estava entalhada no
espaço acimas das portas.
Acima da imagem, palavras gravadas em letras

maiúsculas:
265
‘A LEALDADE BROTARÁ DA TERRA, E A PERFEITA
JUSTIÇA DESCERÁ DOS CÉUS!69’
A vista continuava subindo, mais e mais alto em direção

ao topo da torre, até que dava para ver o telhado plano e uma
pequena entrada, barrada por uma porta de metal verde. A
porta se abriu e Stone emergiu, o vento puxando seu manto.
Seu povo seguiu, formando um círculo. Uma mulher com
cabelo roxo puxou uma jarra com líquido vermelho da
mochila e começou a jogar o conteúdo da jarra para frente e
para trás, seus lábios se movendo em um cântico.
69
Salmos 85:11. Essa frase está gravada na parede
da fachada do prédio histórico do tribunal do Condado de Woodebury, localizado na cidade de Sioux City. Esse é o prédio que
os autores usaram nas cenas da trama.

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Livro 7
— Um Coven local, —disse Evdokia. — Isso foi tudo o

que ele conseguiu reunir. Esse pequeno Coven está prestes a
alimentar a magia dele.
A nuvem acima do prédio ficou negra. O céu ferveu. A

magia segurou a cidade em um punho invisível e apertou.
266
Senti uma pressão no meu peito. De repente, ficou difícil de
respirar. Dentro de mim, minha magia surgiu em resposta. Se
eu fosse um animal, teria rosnado. Isso era uma provocação.
A mulher de cabelos roxos esvaziou o jarro nos pés de

Stone. Stone esticou os braços para fora, segurando um cajado
em seu punho direito. As pessoas que o rodeavam ficaram
rígidas, seus corpos anormalmente imóveis.
A nuvem de tempestade se abriu. Magia crepitou. Uma

lança, brilhando como se fosse feita de ouro fundido, atingiu
Stone.
Ele empurrou seu cajado, bloqueando-o, e eu quase me

movi com ele. Ele não conseguiria suportar por muito tempo.
A ponta da lança tocou o eixo do cajado. O poder trovejou

no ar, sacudindo a cidade.

Magic Breaks
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Livro 7
Respiração pegou na minha garganta. Meu coração

martelou no meu peito muito rápido. Tanto poder ...
O cajado se desintegrou.
Por um segundo Stone ficou imóvel, o contorno de seu

corpo brilhando com violento vermelho, e então ele também
267
se desintegrou em cinzas. A lança enterrou-se no telhado. Sua
ponta brilhando com luz intensa e uma onda de magia rolou
pela cidade em um enorme círculo, varrendo do telhado as
cinzas que até a pouco era o Coven.
Eu me preparei, esperando o impacto, mas a magia ficou

além de mim. O brilho da lança apagou.
Um homem pousou no telhado, materializando-se no ar.

Ele estava envolto em um simples manto cinza, gasto, com
uma bainha irregular e um grande capuz que escondia seu
rosto. Se eu tivesse visto ele na rua, eu não teria o olhado uma
segunda vez.
— Quero ver o rosto dele. —Eu precisava vê-lo. Queria

ver meu pai.
— Eu não posso, —sussurrou a voz de Sienna. — Ele não

me deixa.

Magic Breaks
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Livro 7
O homem agarrou a lança e puxou-a para fora. Olhou para

a cidade, virou-se e lentamente, sem pressa, dirigiu-se para a
porta.
A visão desapareceu. Eu engoli o ar. Sienna se afundou

em seu assento. Suor pingava em seu rosto.
268
— A onda de magia, o que foi aquilo? —Perguntei.
— A Reivindicação, —disse Maria. — Ele fez da cidade

terra dele.
— Cada terra tem um povo, —disse Sienna. São aquelas

pessoas que se estabeleceram, aquelas que nasceram e
morreram nela, suas linhagens se ligam a terra por gerações.
Seus corpos estão enterrados na terra, nutrindo-a. A magia
dessas pessoas se enraíza nela e cresce da terra como uma
floresta.
— É como na agricultura, —disse Evdokia. — Antes que

um agricultor possa usar a terra, ele deve limpar as árvores,
remover suas raízes, cavar as pedras e arrancar as ervas
daninhas. Uma floresta antiga e forte onde suas árvores
crescem há milhares de anos, fará com que essa terra seja
muito mais difícil de trabalhar.

Magic Breaks
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Livro 7
Maria se mexeu. — Mas aqui, nesse país, já fizemos o

trabalho de agricultor por seu pai. Nós matamos os povos
nativos desta terra. Não há mais floresta antiga. Há apenas
jovens mudas, famílias de colonizadores e imigrantes, as mais
antigas do século XVII, mas ainda assim muito jovens. Sua
269
ligação com a terra é frágil. O que você faz para o outro voltará
para você e o equilíbrio será sempre restaurado. Nós
cometemos genocídio. Destruímos um povo e agora temos que
pagar o preço pelos terríveis crimes que perpetramos. A terra
está infértil, sem defesas. Tudo o que seu pai tem que fazer é
reivindicá-la.
Então foi por isso que ele veio para cá. Sempre me
perguntei por que ele deixou o Oriente Médio e viajou para a
América do Norte. Agora eu sabia. Ele veio para cá porque
não havia poder nativo antigo para se opor a ele. A terra estava
infértil e pronta para ser conquistada. — O que acontece
quando ele reivindica um território?
— Ele colhe o que pode ainda colher da terra, —disse

Evdokia. — A magia da terra alimenta-o e o fortalece.
— E o protege, —acrescentou Maria. — É muito mais

difícil lutar em seu território. Quanto mais tempo ele o

Magic Breaks
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Livro 7
mantém, mais forte é o seu vínculo com a terra, mais difícil é

destruí-lo. —Ela se virou para mim, seu olhar penetrante me
apunhalando. — Ele está vindo. O que você está planejando
fazer sobre isso?
— Se ele vier, vou tentar matá-lo. —O que mais eu poderia
270
fazer?
Maria girou na cadeira para enfrentar Evdokia e me

apontou com um dedo ossudo. — Ela é uma idiota! Eu te
disse! Eu te disse, mas não, você disse ...
— Você vai parar de importuná-la por um momento? —

Evdokia estalou. Ela se inclinou para frente, olhando para
mim.
— Se você lutar diretamente com o seu pai, você vai

morrer. Você não é experiente o suficiente, forte o suficiente
ou possui conhecimento o suficiente.
— Obrigada pelo voto de confiança.
Evdokia fez uma careta. — Se todos os Covens, todos os

pagãos e todos os usuários mágicos de Atlanta se unirem e
canalizarem o poder para você, provavelmente poderíamos
segurar o seu pai, mas não podemos exatamente juntar todos

Magic Breaks
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Livro 7
a tempo. Nós não sabemos como canalizar todo o nosso poder

junto. Não sabemos quando a Reivindicação irá acontecer,
nem onde.
Seria em alguma torre. Era o que meu pai fazia. Ele

construía torres. Elas eram o símbolo de seu poder e agora eu
271
sabia o porquê. Quanto mais alta a torre, maior a área que ele
poderia reivindicar com uma onda de magia.
— Você é nossa melhor chance, —disse Evdokia. — Há

coisas que podemos ensinar a você, mas isso vai levar tempo.
Você tem que nos conseguir esse tempo. Tem que impedir a
Reivindicação.
— Como?
— Não sabemos, —disse Sienna.
— Nós te apoiamos, —disse Maria. — Ajudamos e

fornecemos sangue de mortos-vivos para o seu treino. Não
fizemos tudo isso para que você possa se sacrificar como um
idiota.
Eu sempre soube que as bruxas não me ajudaram pela

bondade de seus corações. Elas queriam um retorno do
investimento. — Ele matou minha mãe.

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— Obnyat e pluhkuht, —Evdokia suspirou.
Abrace e chore. Era isso que os russos exasperavam quando

não havia mais nada a fazer.
— Sua mãe deu a vida para que você pudesse viver, —

disse Evdokia. — Sua lamentável morte não vai ajudar
272
ninguém. Não vai honrar a memória dela e não vai proteger
nenhum de nós. Há pessoas nesta cidade que dependem de
você. Faça o que tiver que fazer, mas você deve evitar a
Reivindicação.
Eu abri meus braços. — O que você quer que eu faça?

Devo ir até Roland e pedir-lhe gentilmente que não reivindique
a cidade como um favor pessoal para mim?
— Se isso for preciso, sim! —Maria retrucou.
Esta era uma conversa ridícula. — Você percebe que ele

vai tentar me matar no momento em que me vê?
— Isso não estar claro, —disse Sienna. — Por quase seis

meses, não fiz nada além de analisar seu futuro. Eu vi você
quase morrer de dezenas maneiras diferentes e eu vi você
sobreviver. Mas nunca o vi morrer.

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Impressionante. Simplesmente fantástico. — Obrigada. Isso é

realmente útil. Mais alguma coisa?
Evdokia mordeu o fio do tricô, cortando com o dente e

jogou o suéter para mim. Eu peguei.
— Lã pura, —ela disse. — Manterá você aquecida mesmo
273
quando molhado. Coloque-o e não tire isso pelas próximas
vinte e quatro horas.
Tirei meu casaco, minha blusa e vesti o suéter de lã. —

Vocês sabem de alguma coisa que eu não sei?
Evdokia suspirou. — Querida, podemos encher esse lugar

com coisas que sabemos e você não sabe.
Faça uma pergunta estúpida ... — Se eu puder encontrar uma

maneira de resolver esse dilema com Hugh d'Ambray, posso
precisar de testemunhas para minhas negociações com a
Nação. Os Covens serão minhas testemunhas?
— Sim, —disse Sienna. — Vamos mandar representantes

para a Fortaleza.
Eu me virei e saí. Atrás de mim o gelo rachou, liberando

Ascanio e Derek.
Do lado de fora Robert e Desandra nos esperavam.

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Livro 7
— Como foi? —Robert perguntou.
— Roland está vindo para reivindicar a cidade. Elas

exigem que eu o detenha.
— Como? —Desandra perguntou.
— Elas não sabem. Não têm informações que possa me
274
ajudar. Sua sugestão mais útil foi ‘apenas faça isso’. —Eu
rosnei e saí da floresta. Até agora esse tinha sido um dia
infernal.
de um prédio de apartamentos.
Desandra, Derek e Ascanio se inclinaram para o meu lado,
enquanto Robert se deslocava muito rápido por cima de
algumas ruínas que aparentemente já foram as paredes
estruturais de um prédio. Nós deixamos Mimosa amarrada a
um carvalho no Centennial Park. Ninguém em sã consciência

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roubaria um animal pertencente às bruxas. Se vampiros a

avistassem, eles a deixariam em paz.
Estávamos no limite do Slave Pens, um alojamento ao

lado do Casino reservado aos Navegadores e outros
funcionários do Casino. O nosso plano original era atravessar
275
o Centennial, mas os vampiros nas fronteiras estavam em
grande número. Tivemos que dar a volta, virar para o norte e
para o oeste, e nos aproximar do Casino pelo Slave Pens.
Custou-nos uma preciosa meia hora e se eu pensasse nisso por
mais de um segundo, me faria ranger os dentes.
Do meu ponto de vista, podia ver o Beco dos Zumbis, uma

rua de quatro pistas que agora estava deserta. Mais a frente,
uma vasta área pavimentada se estendia, grande o suficiente
para acomodar centenas de carros. No centro, o Casino se
erguia, brilhando como uma miragem nascida do ar frio e do
calor do asfalto. A enorme cúpula principal brilhava com uma
luz azulada clara vindo da lanternas a gás, rodeado por

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Livro 7
minaretes70 finos e altas paredes texturizadas de pedra branca.

Olhando rapidamente a visão era de tirar o fôlego, mas então
você notava os vampiros rastejando sobre o prédio como
pulgas em um gato branco.
A entrada principal do estacionamento que rodeava o
276
Casino ficava a oeste. Nós estávamos no canto sudoeste.
Um par de vampiros trotava ao longo da borda do

estacionamento. Eu segurei minha respiração. Eles
desapareceram de vista.
Esses foram o terceiro par que vi nos últimos cinco

minutos. A Nação estava em alerta máximo. Eu podia sentir
oito vampiros patrulhando o estacionamento e mais três
estacionados em pontos aleatórios: um para o norte e os outros
dois para o oeste e sul de nós.
Robert deslizou para baixo e caiu ao meu lado sem emitir

nenhum som.
70
Minarete é a torre de uma mesquita, local do qual o almuadem anuncia as cinco chamadas diárias
à oração.

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Livro 7
— Onde está o posto de observação? —Eu sussurrei.
— Ali. —Ele apontou para o leste nos restos esfarelados

do viaduto da Centennial, que se projetava contra o céu
noturno. No passado, três viadutos se cruzado ali, um acima
do outro, mas agora os dois primeiros haviam desmoronado
277
sobre o mais baixo. Gelo havia deixado o concreto liso e
escorregadio e partes do viaduto brilhava com o luar prateado.
A coisa toda não parecia particularmente estável.
— Há duas entradas, —Robert sussurrou em meu ouvido.

— Uma no leste e uma no sul. A entrada sul está lá. —Ele
apontou para uma pilha de escombros do outro lado da rua à
nossa esquerda. Um vampiro sentado em cima dele.
— A que distância fica a entrada leste?
— Um quilômetro e meio.
Um quilômetro e meio, metade à vista do Casino. Se

dobrássemos de volta para desenhar um círculo mais amplo
em torno dele, teríamos que passar pelos destroços da Arena
Phillips, o que nos custaria outra meia hora ou mais. Chegar
até aqui sem sermos notados foi um milagre. Tentar dar a volta
no Casino com tantas patrulhas seria impossível.

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Livro 7
Eu me virei para o vampiro empoleirado nos escombros.

Mesmo que conseguíssemos pegá-lo de surpresa, isso perto do
Casino não nos faria bem. Quando um vampiro morria
repentinamente, seu navegador geralmente ficava catatônico
ou em pânico, porque sua mente, ainda ligada ao morto-vivo,
278
se confundia de que era o navegador que havia morrido. Os
experientes Mestres dos Mortos aperfeiçoavam seus reflexos o
suficiente para se desvencilharem a tempo, mas alguns
navegadores sucumbiam à uma morte súbita, e a maioria
acabava vegetando. No momento em que matássemos aquele
vampiro, um dos navegadores dentro do Casino ou gritaria em
pânico ou começaria a babar, e o Casino vomitaria vampiros
suficientes para nos transformar em carne seca.
— Precisamos desviar a atenção deles, —Robert

murmurou.
Se voltássemos ao Centennial Park, poderíamos colocar

algo em chamas, mas isso não garantiria que os vampiros
saíssem de seus postos. O mais provável é que eles enviariam
uma equipe de reconhecimento. Nós estávamos presos.
Pense. Pense, pense, pense ...

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Desandra abaixou a cabeça. — Quando terminarmos

aqui, para onde vamos depois?
— Centennial, —eu sussurrei. — Se conseguirmos,

precisamos voltar e pegar meu jumento.
— Vejo vocês lá.
279
— Não! —Estendi a mão tentando segurá-la. Meus dedos
quase a tocaram por um fio de cabelo. Ela saiu correndo e
atravessou a rua em grande velocidade. Merda!
Desandra atravessou metade da calçada. O vampiro se

virou para encará-la. Ela balançou a clava, atingindo o
vampiro com força. O morto-vivo caiu e se arrastou pela
calçada, metade de seu crânio destruído. Desandra o chutou.
— Morra seu merdinha!
Desandra era oficialmente louca e tomou a decisão de morrer,

fazendo assim um favor a Jennifer.
Quatro sombras se espalharam pelo estacionamento, indo

em direção a ela, duas vindo do norte e as outras duas pelo
viaduto. Desandra se virou e correu para longe, correndo para
o leste, pernas compridas se movendo muito rápido, pés
voando no chão.

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Eu deitei no chão, junto à parede. Robert se achatou ao

meu lado. Atrás de nós Ascanio e Derek congelaram, tentando
se misturar com as pedras.
Quatro vampiros passaram por nós, olhos brilhantes,

garras raspando a calçada.
280
Nós tínhamos meros segundos antes dos reforços
chegarem.
À distância, o riso gutural e insano de Desandra ecoou das

ruínas. Aparentemente ela estava se divertindo.
Fiquei de pé e corri como se minha vida dependesse disso.

Robert e os garotos enfileirados atrás de mim como três balas
em um tambor de uma arma. Passamos pelo prédio de
apartamentos. Calçada ... rua ... eu só tinha que ficar atrás da
pilha de escombros. Círculos nadaram na frente dos meus
olhos.
A porta do minarete mais próximo se abriu e vampiros

saíram, escalando na parede, subindo como lagartos pálidos.
Eu me escondi atrás do entulho, cai na terra gelada e quase
colidi com Robert deitado e encostado em uma enorme placa
de concreto. Um bueiro escuro estava semiaberto. Robert
terminou de abri-lo com a mão. Eu pulei para dentro dele, caí

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Livro 7
cerca de quatro metros e aterrissei no chão duro em um poço

de cerca de dois metros de largura. O impacto socou meus pés.
A minha mente podia sentir seis mortos-vivos se movendo

em nossa direção, eles estavam se espalhando, nos procurando
pelo estacionamento.
281
Ascanio pulou no buraco. Eu encostei contra a parede e
por meio segundo ele não caiu em cima de mim.
Derek foi o próximo.
Um dos vampiros passou direto por nós.
Robert saltou para o bueiro e puxou uma alavanca de

metal na parede. Acima de nós, uma plataforma de metal se
moveu, carregando a placa de concreto com ela. A plataforma
deslizou para o lugar, fechando o bueiro e nós mergulhamos
na escuridão total.
Ficamos completamente imóveis.
Podia sentir um vampiro bem em cima de nós.
Meu corpo gritava por ar, com falta de oxigênio depois da

corrida. Eu abri minha boca e me concentrei em respirar lento
e silenciosamente. Inspire. Expire. Calma.

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Livro 7
Um leve arranhão veio de cima, garras deslizando no

concreto. O morto-vivo estava sentado na placa.
Meus pulmões estavam em chamas.
Vá embora.
Um minuto se arrastou, seguido por outro.
282
— Comandante da Equipe Dois para Mãe, —uma
voz feminina abafada disse acima. — Bueiro selado, não
há movimento, sem invasores, repito, sem invasores,
o que recomenda?
Vá para casa. Era o que eu queria fazer agora. Ir para casa.
— Roger. Equipe dois, varredura completa,

voltando para Mãe.
A mente vampírica se virou e foi embora, indo em direção

ao Casino.
Tudo ficou quieto. Lembrei-me de como respirar

corretamente.
— Vá em frente, —Robert sussurrou para mim. Estiquei

minhas mãos, tentando sentir ao meu redor. Meus dedos
encontraram paredes de pedra nos dois lados. A abertura entre

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Livro 7
elas mal era larga o suficiente para passar. Escuro, apertado e

assustador. Minha coisa favorita.
Eu me espremi no corredor estreito e caminhei para a

frente. As paredes se estreitaram ainda mais. Meus ombros
rasparam a rocha. Só pode estar de brincadeira comigo.
283
Quando saísse daqui, mataria Hugh por isso. Lentamente.
Com uma lâmina cega.
O corredor precisava terminar. As paredes estavam se

fechando em mim.
E se o teto desabasse? Eu nem sabia o que diabos estava

acima de mim. Acabaria enterrada aqui, sob toneladas de
sujeira e entulho.
Hora do fim desse corredor aparecer.
Agora seria bom.
Quanto tempo duraria atravessar esse lugar?
De repente, as paredes se separaram. Congelei. Com a

minha sorte, dar um passo me colocaria em um poço de
víboras raivosas ou lava derretida. Não espere, lava seria bom.
Pelo menos eu seria capaz de ver alguma coisa.
— Vá em frente, —Robert murmurou atrás de mim.

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Livro 7
Apalpei cegamente e toquei algo de metal. Uma escada.

Certo. Agora estamos no negócio. Agarrei e subi na escuridão
total. Robert estava certo. Eu não encontraria este lugar nem
em um milhão de anos. Minha cabeça conectou com algo
duro.
284
Ai.
O teto acima de mim se moveu, deixando entrar um brilho

suave. Uma mão com longos dedos agarrou meu pulso e me
puxou para cima, me deixando pendurada no ar. Um rosto
horripilante surgiu à vista, iluminado pela fraca luz azul de
uma lanterna: pálido, com pelo desigual e nariz rosado no final
de um focinho em forma de lágrima. Longos bigodes rígidos ao
redor de uma boca cravejada com incisivos do tamanho de
dedos longos. Olhos escuros e perturbadoramente humanos
me encararam.
Minha mente percorreu uma corrente de pensamentos em

um espaço de meio segundo. Mate. Espere. Metamorfo rato em
forma de guerreiro = amigo. Pare.
Parei a minha faca de arremesso a poucos centímetros

antes de apunhalá-la na traqueia do metamorfo rato. Que bom
que eu tenho reflexos rápidos.

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Livro 7
— Consssorrte, —disse a criatura de pesadelo. — O que

você esssstá fazendo aqui?
Eu fiz minha boca se mover. — Procurando por você.
O metamorfo rato sorriu. Meu corpo estremeceu e tentou

fugir por puro instinto de defesa, e se eu não estivesse
285
mergulhada em um buraco escuro, teria fugido.
— Você me accchhou! —O metamorfo rato anunciou. —

Eu sempre quis conhecer você. Essstou lisssojeado.
A cabeça de Robert saiu do buraco. — Jardin, coloque a

Consorte no chão antes que você desloque o ombro dela.
— Alfa! —Jardin me colocou no chão. — Quanta

honrrrra.
Robert entrou no cômodo. Derek e Ascanio o seguiram.

Olhei em volta. Estávamos em um espaço estreito e retangular
tão largo quanto uma van comum. Três paredes pareciam de
concreto; a quarta estava coberta por uma cortina escura.
— Alguma ação? —Robert perguntou.
— Não nos últimosss dezzz minutosss. Um pouco

antes disssso tivemos um esssspetáculo emocionante.
Essstou apaixxxonado pela Beta dos Lobos. Havia

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Livro 7
vampirossss encurralando-a por todosss os ladosss. Ela

gritava: ‘Me mandem a conta, ssseuss chupadoresss de
sssangue!’
Sim, essa é a insana Beta dos Lobos, tudo bem.
— Também acho que estou apaixonado, —disse Ascanio.
286
Derek bateu na parte de trás da cabeça do bouda. Ascanio
estalou os dentes para ele.
— Parem com isso, —rosnei sob a minha respiração.
Jardin jogou um pano sobre a lanterna. A escuridão

afogou o quarto. A cortina farfalhou enquanto ele a afastava,
revelando um espaço longo e estreito, cheio de luz da lua.
Jardin se curvou, dobrando o corpo de quase dois metros de
altura e atravessou a abertura. Robert seguiu e eu também.
Meus olhos se acostumaram com a escuridão e vi Robert e
Jardin encostados na parede por uma abertura estreita no
concreto. O espaço era grande o suficiente para nós cinco.
Eu me agachei ao lado deles e olhei através da abertura.

Cem metros à esquerda, o Casino brilhava.
Vampiros vasculhavam as paredes, rastejando nos

parapeitos texturizados. Nós estávamos dentro do viaduto.

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Livro 7
— Como você encontrou esse lugar?
— Por acidente, —Robert disse tão baixo que eu mal ouvi.

— Antes que os viadutos desmoronassem, eles cruzavam o
local. Esta é uma seção reforçada, projetada para suportar o
peso de todos os três, caso ocorresse um colapso. Quando os
287
viadutos do topo caíram, a magia começou a comê-los por
dentro e, por fim, as três seções da estrada se fundiram,
formando esse buraco.
— A que devo o prazerrrr? —Perguntou Jardin.
— Estamos em guerra, —Robert disse a ele. — Alguém no

Bando matou Mulradin.
O metamorfo rato piscou. — Oh. Eu o vi sairrrr do

casssssino hoje à noite.
— Quando foi isso? —Perguntou Derek.
— Há cinco horasss atrásss.
Mulradin deve ter saindo logo depois que Ghastek partiu

para o Conclave. O que poderia ter sido tão urgente?
— Você disse que o viu no Warren antes também, —disse

Robert. — Onde?
— Essssquina da Margaret com a Jonessssboro.

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Livro 7
As sobrancelhas de Robert subiram. — No Covil da

Raposa?
— Ssssim.
— Você viu com quem? —Robert perguntou.
Jardin sacudiu a cabeça. — Masss eu o ssssegui até lá
288
por duassss vezes. —Ele levantou dois longos dedos.
— O Covil da Raposa é uma espécie de ‘foda-e-saia’, —

disse Robert para mim.
Um ‘foda-e-saia’ era um adorável eufemismo pós-

Mudança. Não era exatamente um prostíbulo e não era
exatamente um motel. A maioria dos ‘foda-e-saia’
funcionavam em prédios convertidos em pequenos
apartamentos. Se você quisesse fazer sexo com algo que criasse
pêlos, escamas ou penas, e quisesse fazer isso muito bem
escondido de todos, você ia até um ‘foda-e-saia’, satisfazia seus
desejos sexuais e continuava com a sua integridade humana
intacta. Ninguém ficava sabendo.
Tive que ir a trabalho algumas vezes a um ‘foda-e-saia’ na

época em que trabalhava na Associação dos Mercenários e na
Ordem dos Cavaleiros. A maioria das vezes o ‘foda-e-saia’

Magic Breaks
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Livro 7
funcionava por debaixo dos panos: Um cliente em potencial de

alguma forma encontrava o número do telefone do serviço,
ligava para a gerência, diziam suas preferências e pagava o preço
estipulado. Em troca, ele receberia uma chave pelo correio. No
horário designado, ele aparecia no apartamento, usava a
289
chave, desfrutava de seus desejos e ia embora. Era um
empreendimento do tipo ‘o risco é por sua conta’. Sem
segurança, sem recepção, sem testemunhas. A administração
cobrava de ambas as partes uma taxa fixa, mas não havia
cafetão nem madame. Todo mundo operava de forma
independente. Se Mulradin frequentava um ‘foda-e-saia’, ele
tinha um fetiche e queria mantê-lo escondido.
— Edifício de tijolos vermelhos, —disse Jardin. — O

ssssegundo a partir do lessste.
— Precisamos voltar ao Centennial Park primeiro, —eu

disse a todos. Eu não deixaria Desandra desamparada. Não
depois do sacrifício que ela fez. Confesso que estava um pouco
preocupada com o futuro do Clã Lobo, mas depois de hoje, ela
ganhou todo o apoio que queria de mim.
— Vocêssss podem usar o outro túnel, massss não

podem ssssair agora. A troca de turno ocorre daqui a

Magic Breaks
Ilona Andrews
Livro 7
dezzz minutosss e eles fazem uma varredura no

perímetro logo apóssss a troca.
— Quanto tempo demoram para terminar a varredura? —

Perguntei.
— Deve terminar em quarenta minutos.
290
— Nós esperaremos, então. —Eu me encostei contra o
concreto.
Ascanio sentou ao meu lado. — Você ainda está com raiva

de mim por ter vindo?
— Sim.
— Vai ficar tudo bem, —ele me disse.
Derek sentou-se à nossa frente.
— Você sabia sobre o grande plano de Ascanio? —

Perguntei.
— Não, —disse Derek. — Mas eu o vi se esconder na

floresta enquanto todos falavam.
— Eu não sabia nada sobre Desandra, —disse Ascanio. —

Eu não conhecia Robert também. Então, não podia confiar ...

Magic Breaks
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Livro 7
— Eu conheço Desandra, —disse Derek. — Ascanio é

irritante, mas o apoio extra é sempre bom.
Robert riu baixinho. — Vocês dois estavam planejando

lutar comigo?
— Não planejando, —disse Ascanio. — Apenas prontos,
291
se precisasse.
Guarda-costas adolescentes. Fechei meus olhos. Seria uma

noite longa e precisava de cada gota de sono que pudesse ter.
Eu me deixei levar, enquanto as vozes suaves de Robert e
Jardin sumiam, dando lugar a sonolência.
— Obrigado, Jardin. Isso nos ajudará tremendamente.
— Felizzzz por ajudar, Alfa.
— Depois que tivermos ido, preciso que volte para a Casa

do Clã Rato.
— Eu tenho comida sssuficiente por duasss

ssemanas, —disse Jardin. — Eu poderia sssser útil.
— Não, —disse Robert. — Você é muito valioso para nós

e este posto ficará muito perigoso. Sua vida não vale o risco ...
O sono me cobriu, como um cobertor se enrolando no

meu corpo.

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Livro 7
292

Magic Breaks
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Livro 7
— Kate ...
293
— Kate.
Algo me tocou. Eu me mexi. Meus olhos se abriram. Eu

estava sentada em cima do corpo de Jardin, segurando minha
espada na garganta dele.
Foi um sonho. Não foi real. Curran ainda estava

desaparecido. Eu queria uivar como um animal.
Não foi real.
Ficar longe dele doía como um soco no estômago. Estava

acordada e de volta ao meu pesadelo.
— De novo, —Jardin sorriu.
— Desculpe. —Saí de cima de Jardin.
— Pague, —disse Derek para Jardin.
O metamorfo rato rolou, ficou de pé e colocou um dólar

na palma de Ascanio.

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Livro 7
— Vocês dois apostaram que eu faria isso?
As sobrancelhas de Derek se levantaram. — Não podemos

confirmar nem negar que uma aposta tenha ocorrido.
— Mas nós já vimos você acordar quando está estressada.

—Ascanio piscou.
294
— Eu não posso esperar para voltar a Fortaleza, —rosnei.
— Então os dois começariam a brigar novamente? —

Robert perguntou.
— Exatamente. —Esta união amigável de Derek e

Ascanio estava me dando nos nervos.
Robert ficou de pé. — Obrigado novamente, Jardin.
— Eu poderia ficarrr, —o metamorfo rato ofereceu.
— Não. —Robert disse. — Você vai para casa. Seu

trabalho está feito. Agora é hora de fazermos o nosso.
Ele estava certo. Hora de sair daqui e cumprir nosso

trabalho.

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Livro 7
Capítulo 7
um
295
galho alto da árvore que amarramos Mimosa. Suas roupas
estavam salpicadas de sangue. Ela sorriu para nós.
— Perfume encantador, —observou Robert.
— Que bom que você gostou. —Ela pulou do galho. —

Chamo isso de Perfume de Vampiro Morto.
— Como você escapou? —Perguntou Ascanio.
— Por favor. —Ela deu-lhe um olhar. — Sou uma

metamorfa loba criada nas montanhas dos Cárpatos e eles são
uma merda em rastrear alguém ou cheirar. Posso fugir deles
dormindo.
Montei Mimosa e nos dirigimos para o leste. Vinte

minutos depois, viramos para o sul e seguimos para o denso
emaranhado de ruas que era o Warren.
Derek corria na frente para explorar, Ascanio corria à

minha esquerda, Desandra e Robert à minha direita. O

Magic Breaks
Ilona Andrews
Livro 7
Warren olhava para nós com os olhos negros das janelas

quebradas: maldoso, desconfiado e predatório, como um
bandido que tinha acabado de levar uma surra e tentava se
equilibrar para não cair. A rua Jonesboro, a rota mais direta,
estava fora de cogitação, óbvia e patrulhada demais, de modo
296
que abrimos caminho pelas ruas tortas de trás. Longas
cicatrizes arranhavam as paredes das casas degradadas, como
se um tornado de lâminas de aço tivesse roçado por elas. Na
estrada Harpy’s passamos por uma fileira de árvores, cada uma
com seu tronco anormalmente inchado e coberto de penugens
negras. Eu não tinha ideia o que eram essas penugens, mas as
evitamos de qualquer maneira. A lei de locomoção pela
Atlanta pós-Mudança era simples: se você não sabe o que é, não
toque.
A lua continuava sua trajetória pelo céu. Deveria já ser por

volta das três da manhã. A noite de inverno pegou a cidade
entre os dentes e mordeu com força. Aqui e ali um veículo
antigo tombado. As pontas dos meus dedos se transformaram
em pingentes dolorosos. Se ficasse mais frio, teria que
desmontar e andar ao lado de Mimosa só para me aquecer.

Magic Breaks
Ilona Andrews
Livro 7
Queria tanto Curran aqui comigo. Era uma necessidade

completamente egoísta, tão urgente quanto respirar. Queria
saber se ele estava bem. Eu sentia muita falta dele. Se me
concentrasse o suficiente, poderia evocar a voz dele na minha
cabeça.
297
Engraçado, ontem eu mal podia esperar para escapar da
Fortaleza com ele e fugir para os Chalés Black Bear. Agora,
ficaria feliz em participar de uma centena de reuniões do
Conselho ou de um simples telefonema de dez segundos,
deixando-me saber que ele estava bem.
À distância, algo gritou. Foi o grito violento e triunfante

de um predador que agarrou sua presa. O Warren não estava
em sua forma usual hoje à noite. Pensando bem, esse havia
sido o primeiro som que ouvimos depois que entramos no
bairro. Estava muito deserto e muito quieto. O frio ou a Nação
devem ter empurrado os moradores de rua de Warren para
seus abrigos.
Podia sentir duas mentes de vampiros atrás de nós. Eles

estavam a cerca de um quilômetro e meio de distância e não se
mexiam. Muito provavelmente um posto de observação que
foi ativado depois que nós passamos.

Magic Breaks
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Livro 7
Passamos por um caminhão enferrujado. O gelo alisou a

estrada. Provavelmente, um esgoto transbordante ou um cano
de água rebentado que derramou água sobre a rua antes que
ela se solidificasse. Mais à frente, um buraco se abria na
calçada, com cerca de um metro e setenta de largura. Uma
298
tampa de bueiro estava presa no gelo. Parecia que alguma
coisa havia saído do esgoto e arrancando uma boa quantidade
de terra com ela. Se alguma criatura misteriosa nos
encurralasse, eu apontaria para o Casino e lhe diria que é lá
onde mora o nosso chefe.
Um pouco mais a frente um homem de roupas escuras

atravessou o meio da rua e bloqueou nosso caminho. Ele era
esbelto, com cabelo escuro curto. Levantou a cabeça e olhou
para mim. Mesmo de longe, eu senti uma vontade súbita de
procurar a saída mais rápida.
— Mas vejam só! Aquele é o bastardo que atirou em mim.

—Desandra estalou os dedos. — Deixem-me cuidar dele ...
— Espere, —eu disse a ela.
— O que? Por quê?
— Sim, por quê? —Robert perguntou.

Magic Breaks
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Livro 7
— Você se lembra do caso Red Stalker? O serial killer que

sequestrou e torturou mulheres, e comia vampiros?
— Sim, —disse Robert.
— Ele comia vampiros? —Perguntou Ascanio.
— Antes do seu tempo, —Derek disse a ele.
299
O Red Stalker também matou Greg Feldman, meu
guardião legal, o Cavaleiro da Ordem que cuidou de mim
depois da morte de Voron. Foi a primeira vez que interagi com
o Bando, a primeira vez que encontrei Derek e, pela primeira
vez, mas não a última, senti uma necessidade irresistível de dar
um soco em Curran. — Durante a investigação, o Bando
capturou um cruzado.
— Eu lembro, —disse Robert. — Ele cheirava a comida

podre. Acho que tivemos que mergulhá-lo em uma banheira.
Ele tinha piolhos.
Balancei a cabeça em direção ao homem. — Aquele é ele.
Robert apertou os olhos. — Não pode ser.
Naquela época, Nick parecia um vagabundo. Ele usava

um casaco imundo manchado com lixo e comida velha, tinha
cabelos oleosos até os ombros, e cultivava o tipo de higiene que

Magic Breaks
Ilona Andrews
Livro 7
lhe garantia que qualquer um com um nariz ou um par de

olhos ficasse distante. Depois que o limpamos, ele pareceu em
forma e atlético, mas tinha uma aparência suave. O homem à
nossa frente agora era duro e cruel, despido de toda suavidade.
Seu cabelo estava cortado muito curto, rente a cabeça. Sua
300
mandíbula triangular estava bem barbeada. Ele parecia um
soldado ou um lutador, limpo, livre e forte.
— É ele, —eu disse. — Eu o vi antes com Hugh nos Jogos

da Meia-Noite.
Esse era o plano do joguinho de Hugh. Ele queria me

separar do Bando. Em uma conversa, na nossa viagem ao Mar
Negro, ele disse que me arrancar da Fortaleza seria muito
difícil. Então, ele veio aqui, montou todo o espetáculo,
balançou a cena do crime na minha frente como uma isca,
posicionou seu pessoal ao longo das rotas próximas a cena e
esperou. Nick não estava aqui para me matar. Ele estava aqui
para me segurar. Provavelmente enviou um sinal para Hugh,
deixando-o saber que me avistou, e agora ele faria tudo o que
pudesse para me segurar até Hugh chegar aqui.

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Ilona Andrews
Livro 7
Derek olhou para ele. Suas expressões eram quase

idênticas, neutras, carregando o peso de quão cruel a vida
poderia ser e sabendo que nunca a esqueceriam.
— Parece que ele passou por alguma merda, —disse

Derek.
301
Você mais do que ninguém saberia.
— O que é um cruzado? —Desandra perguntou.
— Os cruzados são Cavaleiros da Ordem, —disse Robert.
— Ah droga, —Desandra rosnou.
Os Cavaleiros da Ordem eram estritamente proibidos para

o Bando. Era como entrar em uma delegacia de polícia e atirar
em um policial.
— São Cavaleiros sem vínculo com nenhum dos núcleos

da Ordem, —eu disse. — Eles vão onde for necessário e fazem
as próprias regras. São como zeladores. Quando aparece um
problema desagradável é um cruzado que resolve. Ele vai
cortar o problema em pedaços e depois vai embora da cidade.
— Mas ele atirou em mim! Isso não conta para algo? O

que diabos ele está fazendo com D'Ambray, afinal? Se ele
trocou de lado, posso matá-lo.

Magic Breaks
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Livro 7
— Os cruzados são fanáticos, —disse Derek. — Não é

provável que ele tenha mudado de lado. Jim acha que ele está
disfarçado.
— Mesmo que ele esteja ao lado de Hugh disfarçado, isso

não importa, —eu disse. — Ele tomou a decisão de nos
302
bloquear. Mas correr até ele e tentar lhe dar um soco é uma má
ideia. Nós não sabemos do que ele é capaz.
Nós tínhamos que passar por Nick. Os vampiros estavam

atrás de nós e tomar um caminho diferente levaria muito
tempo. Estávamos encurralados agora. Não havia outra saída
senão seguir em frente.
— Nós não queremos lutar, —Robert gritou. — Sabemos

quem você é. Não temos motivos para te matar.
Nick tirou as luvas e as jogou no gelo.
— Talvez você deva tentar negociar? —Robert olhou para

mim.
Certo. Limpei minha garganta e gritei. — Saia da frente ou

vou cortar sua cabeça.
Nick tirou a jaqueta de couro e a jogou de lado.
— Ele não tem armas, —disse Derek.

Magic Breaks
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Livro 7
Robert fez uma careta.
‘Sem armas’ significava ‘com magia’, e seja lá qual magia

ele possuía, tinha que ser algo bem desagradável, porque havia
cinco de nós e só um dele e Nick não parecia preocupado. O
Nick que eu conheci tinha poderes muito específicos. Ele
303
podia dizer quanta magia uma pessoa tinha ao tocar nela e ele
também tinha uma estranha coordenação olho/mão, o que o
tornava muito preciso com armas e facas. Se naquela época
tinha magia de combate, não a usou mesmo quando lutou por
sua vida, então o mais provável é que Nick não tinha esse tipo
de magia na época. Mas ele já estava ao lado de Hugh por mais
de um ano. Agora Nick era um caixinha de surpresas e não
havia como saber se essas surpresas divertidas apareceriam
quando você o ferisse.
Nick tirou o suéter. Seus braços não eram apenas

definidos, eram esculpidos, como se alguém o tivesse talhado
a partir de um bloco de pedra com uma faca afiada. Seu
pescoço era grosso, seus ombros largos e sua camiseta cinza,
apertada mostrava ombros e abdome bem trabalhados. Aquele
corpo era o resultado de horas e horas na academia. Não se
chega a esse resultado levantando pesos e mais pesos, mas

Magic Breaks
Ilona Andrews
Livro 7
chutando, socando, agarrando e correndo. Seus músculos não

eram superdesenvolvidos, eram apenas muito bem definidos,
condicionados a lançar um golpe devastador, mas também
receber um e continuar em pé. Ele parecia que você poderia
socá-lo por horas e isso só o deixaria mais furioso.
304
Tirou a camiseta. Sim. Definidos assim como eu pensei.
— Antes que comece a dançar, já estou avisando que não

temos dinheiro! —Eu gritei.
— Uau! —Desandra acenou com os braços. — Tira mais!
— Como você quer fazer isso? —Robert me perguntou

baixinho.
— Eu posso chutá-lo, —Ascanio ofereceu.
— Fique quieto, Don Juansóque, —disse Derek.
— Don Juansóque? —Ascanio sacou as espadas.
— Don Juan Só-Que-Ser71, —explicou Derek. — Veja, fiz

um favor de explicar isso. Se ainda não entendeu, vou
desenhar para você depois da luta.
71
O trecho original em inglês é: — Sit your ass down, Don Juanabe, —Derek said. — Don Juanabe? —Ascanio pulled out his swords.
— Don Juan Wannabe, —Derek explained. Derek quis fazer uma piada com o termo que inventou, Don Juanabe e depois explicou que
era a Junção de Don Juan com Wannabe. Don Juan é aquele homem cativante conhecido como um grande amante ou sedutor de
mulheres, e Wannabe é uma pessoa que quer se aparecer, aspirante a estrela, uma pessoa que só quer ser aquilo que não é. Procurei
uma tradução mais próxima possível no português sem correr muito o risco de perder a piada.

Magic Breaks
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Livro 7
— Você já teve sua cota de inteligência para a noite, —

disse Ascanio.
— Estou apenas começando.
— Tenha cuidado, pode estragar algo em seu cérebro.
— Quietos, —eu rosnei.
305
Eu sabia por que Nick se juntou a Hugh. A Ordem odiava
Roland. Ele era seu inimigo público número um. Fazia sentido
que ele se disfarçasse entre o Senhor da Guerra de Roland. Se
Hugh tivesse o convencido em estar ao seu lado, não havia
nada que eu pudesse fazer. Mas pensar que Nick ainda poderia
estar disfarçado e imaginar as coisas que ele teve que suportar
para sobreviver esse tempo ao lado de Hugh, meu estômago
virou. Deve ter sido um inferno para ele. De alguma forma,
Nick tinha passado por muito e eu não queria terminar o
sacrifício dele aqui.
— Vamos tentar mantê-lo vivo, se pudermos, —eu disse.

— Se tivermos que matá-lo, o faremos, mas apenas como
último recurso. Se nós o matarmos, irei arcar as consequências
sozinha. Vocês não terão responsabilidade nisso.
Nick flexionou-se, aquecendo-se.

Magic Breaks
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Livro 7
Deslizei de cima de Mimosa e tirei a Matadora da bainha.

Precisávamos saber o que estávamos enfrentando. —
Desandra, quer dar as boas-vindas primeiro?
— Oh sim. —Ela mostrou os dentes.
— Ele é muito rápido. Não seja morta. Basta tocar nele o
306
suficiente para ele se abrir e nos mostrar o que tem.
Eu olhei para Derek. — Dê cobertura a ela.
Desandra se adiantou, tirando as luvas de lã com um dedo

de cada vez. Nick a observou.
— Lembra de mim? —Ela tirou o casaco e jogou a longa

trança loira para trás. — Você atirou em mim.
Ele jogou a cabeça de um lado para o outro, esticando o

pescoço. Derek seguiu Desandra, se mantendo atrás a uns seis
metros de distância.
Desandra se posicionou na frente dele, como se fosse uma

lutadora de box. Sua perna direita na frente um pouco
flexionada e sua esquerda esticada mais atrás. Ela saltou e
martelou um soco cruzado rápido na cabeça de Nick. Ele se
esquivou por pouco, e revidou tentando golpear com ao seu
punho esquerdo a lateral da cabeça de Desandra. Ela bloqueou

Magic Breaks
Ilona Andrews
Livro 7
o golpe de Nick com o seu braço direito. Nick se virou e

afundou um gancho cruel em suas costelas, enquanto ela
socava a mandíbula dele com o punho esquerdo. O golpe de
Desandra fez Nick cair de costas, mas ele rapidamente se
levantou. Desandra cambaleou para trás, segurando o lado
307
esquerdo. Costelas quebradas ou fraturadas.
Nick sacudiu a cabeça, meio tonto. Eu já tinha levado um

soco de um metamorfo antes. Não tem graça nenhuma.
Eles circularam um ao outro. Desandra encostou os

braços no corpo, as mãos abertas e lançou um chute baixo. Seu
pé se conectou com a perna de Nick. Apenas um pouco mais
alto e ela teria atingido o joelho. Ele cambaleou para trás, com
os braços para cima, e ela proferiu uma rajada de socos no
tronco dele. Ele se abaixou, segurou os braços de Desandra e
deu um chute frontal com a perna machucada no estômago
dela. Seu pé disparou como um martelo. Não havia como
desviar desse golpe. Desandra cambaleou para trás. Suas
roupas rasgaram. Os ossos se contorceram, os tendões e
músculos incharam sobre eles, a pele desapareceu e pêlos
brotaram no novo corpo. Uma metamorfa loba de dois metros
de altura apareceu, mostrando seus dentes selvagens.

Magic Breaks
Ilona Andrews
Livro 7
Dois ramos de videiras saíram do peito de Nick,

enrolando-se em seus braços, e seguraram Desandra,
serpenteando em torno dela como dois chicotes.
Que diabos era isso?
Caminhei na direção deles. Robert e Ascanio me
308
seguiram. A estranha risada de hiena se soltou de Ascanio.
— Ainda não, —eu disse a ele.
Desandra flexionou, tentando se libertar, mas os ramos a

agarraram mais forte. Eles eram flexíveis, com cerca de dois a
três centímetros de espessura e pelo uns seis metros de
comprimento. Eu nunca tinha visto algo assim.
Derek correu para a frente e agarrou os ramos, levantando

a machadinha para cortá-los. Espinhos estouraram das pontas
dos dois ramos, penetrando a pele de Desandra e Derek.
Ah não, você não. Eu corri.
Pontas de espinhos sangrentos emergiram da parte de trás

da mão de Derek. A pele ao redor das perfurações ficou cinza.
Veneno. Merda!
Desandra gritou. Derek cortou os ramos e soltou a mão

dele. As pontas dos ramos voltaram para Nick. A prisão de

Magic Breaks
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Livro 7
ramos ao redor de Desandra se desconectou de Nick e secou

em um instante, transformando-se em madeira dura.
— Isso não é nada bom! —Desandra rosnou.
Eu me lancei entre eles e Nick. Robert pousou ao meu

lado.
309
Derek tentava cortar a madeira que aprisionava Desandra
com a machadinha. Os ramos petrificados não sediam aos
cortes da arma de Derek. Os metamorfos tinham resistência a
doenças, mas as toxinas podiam matá-los.
Nick se concentrou em nós e começou a girar os ramos

cada vez mais rápido. Eu já tinha visto essa técnica antes.
Chicote de Corrente72 chinesa, feito de hastes de metal unidas
por anéis. Era considerado uma arma leve, mas não havia
nada de fácil nela e era preciso muita concentração para usá-
la.
— Ascanio, corra ao redor dele e jogue pedras.
72
O chicote de corrente é uma arma usada em algumas artes marciais chinesas,
particularmente nas disciplinas tradicionais chinesas, além do wushu moderno e tradicional.

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Livro 7
O bouda correu para o lado.
— Dividir e conquistar, —Robert murmurou.
— Vamos fazer isso.
Nós nos espalhamos. Nick continuou girando os chicotes.

Eles o envolveram, uma arma e um escudo em um só.
310
Dei um passo a frente. O chicote cortou minha bota,
rasgando-a, mas não alcançou minha pele.
— Me tire daqui! —Desandra rugiu.
— Eu estou tentando, —Derek rosnou, golpeando os

ramos.
Joguei uma faca de arremesso e ela raspou os chicotes de

videira. Eu poderia usar uma palavra de poder, mas isso
drenaria minhas energias e anunciaria a Hugh nossa
localização exata. Palavras de poder tinham muito eco
mágico.
Uma pedra bateu nas costas de Nick. Ascanio correu em

volta de nós em um círculo, lançando pedaços de gelo e
concreto nele.

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Livro 7
Robert atacou, ziguezagueando e girando como um

dervixe73. Nick jogou os ramos em direção a Robert que se
esquivou. Suas soqueiras com facas cortaram os chicotes. O
ramo esquerdo caiu deslizando sobre o gelo e
instantaneamente secou.
311
Nick virou-se para Robert. Aproveitei o momento, deslizei
no gelo, e empurrei a minha espada em sua lateral.
Ele torceu e me chutou, batendo o joelho em minhas

costelas enquanto eu me endireitava. Meus ossos gritaram,
estalando. Robert deu um pulo e chutou a cabeça de Nick.
Nick se esquivou. O chicote enrolou em volta de mim e eu
cortei antes que me prendesse. Nick saltou para trás como um
acrobata, uma vez, duas vezes, e aterrissou a seis metros de
distância. Dois novos chicotes de videiras escorregaram de seu
peito.
73
Um dervixe é um praticante aderente ao islamismo sufismo que segue o caminho ascético da
"Tariqah", conhecidos por sua extrema pobreza e austeridade. Neste aspecto, os dervixes são similares às ordens
mendicantes dos monges cristãos e dos sadhus hindus, budistas e jainistas.
Quem quiser saber o que a Kate quis dizer com Robert girando como um dervixe:
https://www.youtube.com/watch?v=al5ZuZ6_b0I

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Livro 7
Limpei o sangue da minha espada. Robert se endireitou.

Minhas costelas estavam em chamas. Uma ferida vermelha
escura marcava o lado direito de Nick. O sangue deslizou,
molhando sua pele. Eu não atingi nada vital. Ele viveria,
especialmente com Hugh por perto para curá-lo.
312
Nick se esquivou de um pedaço de gelo sujo voando em
direção a sua cabeça. Ascanio atirou outro, e Nick girou seus
novos ramos, derrubando Ascanio de lado. Nós apenas
tínhamos que manter Nick em movimento. Quanto mais ele
girava seus chicotes mais ele sangraria.
— Até onde você vai? —Perguntei. — O que você seria

capaz de fazer por ele? Você nos mataria por ele?
Nick olhou para mim com os olhos frios. — O que for

preciso.
Eu tinha a minha resposta. Ele não iria quebrar o seu

disfarce. Bem. Nós o sangraríamos, até ele cair.
Nick me atacou. Os ramos chicoteando ao meu redor,

rasgando o gelo no chão com seus espinhos. Eu me esquivei e
me abaixei instintivamente. Esquerda, direita, esquerda,
esquerda. Nós dançamos através do gelo. Meus pés

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Livro 7
escorregaram. Espinhos picaram meus braços como picadas de

abelhas. Não fui rápida o suficiente.
Robert se lançou da minha direita. O ramo o golpeou

direto no peito. Roupas se rasgaram e um metamorfo rato em
forma de guerreiro caiu no chão. Um ramo assobiou sobre sua
313
cabeça. Ele rolou para baixo, rosnou e chutou os pés de Nick,
derrubando-o com uma rasteira devastadora.
Uau!
Nick tentou se levantar. Desandra, enorme e desgrenhada,

saltou sobre a minha cabeça e bateu no cruzado.
Derek finalmente a libertou. Nick deslizou através do gelo

e caiu no buraco aberto na calçada. Seus ramos dispararam,
cravando no gelo com seus espinhos, segurando-o. Eu corri
para frente, deslizei de joelhos e cortei os ramos. A lâmina da
Matadora cortou os espinhos. Nick caiu de vez no buraco.
— Saia da frente, —Derek rugiu atrás de mim.
Rolei para o lado. Um caminhão enferrujado bloqueou a

minha visão do céu. Derek virou e atirou o caminhão com o
capô virado para baixo. O veículo deslizou alguns metros e
parou, caindo dentro do buraco, tampando-o. Um arranhar

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Livro 7
frenético contra o caminhão nos dizia que Nick tentava cortar

o metal.
Respirei fundo. Minhas costelas doíam. Pequenos cortes

nos meus ombros e lados ardiam como se tivessem sido
queimados.
314
— E fique paradinho aí! —Desandra rosnou.
Eu me virei para Derek. — Deixe-me ver sua mão.
Ele mostrou a mão esquerda para mim. Os cortes dos

espinhos não fecharam. A pele ao redor da ferida estava
escura.
Sangue riscado de cinza escorria dos ferimentos. O veneno

estava matando o Lyc-V dentro de seu corpo. Os arranhões
nos braços peludos de Desandra ainda estavam sangrando
também.
— Estou bem, —disse Derek.
— Sim. Estamos bem, —acrescentou Desandra.
Não havia nada a ser feito agora. O melhor que podíamos

fazer era chegar à cena do crime e voltar para a Fortaleza, onde
Doolittle poderia tratá-los.

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Livro 7
Ascanio fungou na mão de Derek. — Cheira mal. Acho

que devemos cortá-la. Aqui, fique firme.
Derek fez de conta que apertava a garganta de Ascanio

com a outra mão.
Ao longe as duas mentes de vampiro, que estavam
315
paradas, começaram a sem mover e se aproximavam de nós.
Merda.
— Temos que ir. —Fiquei de pé. — Agora!
Não havia
necessidade ou tempo para sermos discreto agora. Nós
tínhamos que chegar à cena do crime e dar o fora.
Nos dirigimos para Jonesboro e Mimosa corria pela rua.

O Fox Den surgiu diante de nós, prédios de apartamentos que
alternavam suas fachadas feitas de tijolos vermelhos ou
argamassa amarela, unidos em um complexo gigante.

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Livro 7
Finalmente.
As fachadas tinham visto dias melhores. Grafites

marcavam as paredes em ruínas. O lixo empilhado nos cantos.
Se você visse o lugar à luz do dia, você evitaria passar por

aqui. A noite tornava tudo ainda mais sombrio. Parecia o tipo
316
de lugar que abrigaria uma multidão enlouquecida, levada ao
desespero por predadores humanos e pela pobreza.
O tipo de pessoas que iria ver o outro ser esfaqueado até a

morte na entrada de sua casa e fecharia a porta enquanto a
vítima gritava por socorro.
— Sinto cheiro de Mulradin. —Robert virou à direita e

correu em direção à entrada de um dos edifícios de tijolos.
Desmontei Mimosa, joguei suas rédeas sobre um gancho

na parede, e segui Robert até as escadas. Em sua forma de
guerreiro, ele não apenas corria, corria tão rápido que parecia
que suas patas deslizavam no chão. Eu me esforcei para
alcançá-lo.
Subi um lance de escadas. Dois, três.
Havia sangue nas escadas. Manchas pequenas, ficando

maiores à medida que nos movíamos mais alto.

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Livro 7
Uma porta se abriu acima de nós.
Corri pelo patamar e cheguei a tempo de ver Robert

arrancar uma besta das mãos de um homem. Ele parecia mais
ou menos da minha idade, hispânico e grosseiro.
— Vá para dentro, —Robert disse a ele.
317
O homem entrou no apartamento. O ferrolho estalou,
deslizando no lugar. Robert subiu as escadas e eu o segui. Nós
atravessamos o terceiro andar, outro lance ...
Robert parou. Eu quase colidi com o rabo dele.
— Uma Proteção mágica, —disse ele e deu um passo para

o lado.
Andei até a porta. Uma parede invisível de magia envolvia

a porta.
— Podemos entrar pelo lado de fora? —Derek perguntou

atrás de mim. Ao lado dele, Ascanio e Desandra se moveram
para observar as escadas de incêndio.
Balancei a cabeça. Hugh teria protegido as janelas

também.
Tirei a Matadora da bainha e testei a Proteção. Magia

segurou a ponta da espada e ela parou, incapaz de ir mais

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Livro 7
longe. Geralmente as Proteções tinham uma resistência

elástica, parecido quando se tenta perfurar uma bola de
basquete um pouco murcha. Esta Proteção era completamente
sólida. Encontrei apenas uma única vez esse tipo de Proteção
invisível e sólida.
318
Eu me agachei e me inclinei para frente, procurando no
chão sujo. Lá estava, uma mancha escura quase imperceptível.
Hugh havia selado o lugar com seu próprio sangue.
— É uma Proteção de sangue. —Eu me levantei.
— Você pode quebrá-la? —Robert perguntou.
Quando Julie contraiu o Lyc-V meses atrás, eu fiz um

ritual para limpar o sangue dela com o meu. Ela adquiriu um
pouco da minha magia como resultado. Meu pai usara o
mesmo ritual ou um muito parecido para ligar Hugh a ele. O
sangue do meu pai estava naquela Proteção, o que tornaria
mais fácil para mim quebrá-la. Mas o poder da própria magia
de Hugh também estava presente, e Hugh tinha muita magia.
— Se eu quebrar isso, a reação em mim será uma merda.

Ficarei baqueada, sem energia por um tempo. —E enquanto
eu estivesse tentando não desmaiar, seja lá o que estiver dentro

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Livro 7
do apartamento iria me pegar. Bem jogado, Hugh. Uma

armadilha após a outra.
— Por quanto tempo? —Perguntou Derek.
— Eu não sei. Pode ser por segundos, minutos. Você pode

sentir o cheiro de alguma coisa daqui? Alguém lá dentro?
319
Os quatro ficaram muito quietos.
— Não, —disse Robert. — É como uma parede.
— Isso é uma confusão de merda, —disse Desandra.
Ajoelhei-me no chão e examinei a porta. Vários arranhões

marcavam a fechadura, todas antigas. Provavelmente tinha
sido estragada mais de uma vez. Esperado, considerando a
localização da porta. A porta em si não parecia ter sido
forçada. Mas também não havia muito para nos dar mais
pistas. Por tudo o que tinha acontecido até agora, o
apartamento atrás da porta poderia estar vazio ou continha um
polvo terrestre de mau humor que respirava fogo. Não havia
como saber. Eu tinha que quebrar a Proteção.
— Hugh gosta de magia e armadilhas. Quando entrarmos,

não toquem em nada. Preparem-se para me defender, estarei
vulnerável.

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Livro 7
— Vá em frente, —disse Derek.
Puxei minha manga esquerda e usei a Matadora para

cortar a minha pele, apenas o suficiente para tirar sangue.
Vapor subiu da espada opaca. Virei a lâmina de cabeça para
baixo, deixando o sangue cobri-la, a ergui me preparando e a
320
empurrei na Proteção.
A magia se curvou, chutando a lâmina como um cavalo

selvagem.
Eu me inclinei para ela. Lenta e firme. Meu sangue

assobiou na lâmina, fervendo. Alimentei a lâmina com a
minha magia.
A Proteção não se mexeu.
Vamos. Empurrei mais forte.
A Matadora parou como se eu estivesse tentando

empurrá-la em rocha sólida. Se eu empurrasse mais, a lâmina
poderia quebrar. Se tivéssemos tempo, poderia ficar sentada ali
pelos próximos quinze minutos, mantendo constante pressão
sobre a espada, até que a Proteção cedesse. Mas não tínhamos
tempo.
— Não está funcionando? —Robert perguntou.

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Livro 7
— Tudo é um jogo para ele. —Puxei a Matadora da

Proteção e coloquei na minha mão esquerda. A melhor
maneira de quebrar uma Proteção era lentamente,
metodicamente, passando por ela. Lentamente e
metodicamente tinha falhado, o que só me restava a força
321
bruta. Se quebrássemos rápido demais, a repercussão da magia
seria muito aguda e severa. Esta não era a decisão mais sábia,
mas tínhamos que entrar no apartamento e o tempo estava
curto. — Certo, tudo bem. Quer jogar, vamos jogar. Afastem-
se um pouco. Isso pode dar muito errado.
Apertei o corte no meu braço esquerdo, espalhando o

sangue nos meus dedos e enfiei a mão na Proteção. A magia
estalou, prendendo minha mão. Centenas minúsculas agulhas
de magia perfuraram minha pele, provaram meu sangue e
recuaram. Rachaduras vermelhas brilhantes dividiram o ar
vazio, irradiando da minha mão.
Eu empurrei.
Trovão rachou na minha cabeça, batendo no meu cérebro.

A Proteção quebrou, se estilhaçando em direção ao chão,
derretendo enquanto caia. O mundo girou ao meu redor, as

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Livro 7
bordas da minha visão se tornando confusas. Balancei a

cabeça, lutando para me manter em pé.
Robert abriu a porta e entrou. Desandra seguiu. Derek e

Ascanio pairaram ao meu lado.
Eu provavelmente deveria entrar. Se pudesse apenas
322
impedir meus ouvidos de zumbir.
— Limpo, —Robert gritou.
Balancei a cabeça. Ai. Isso só piorou a dor. A porta vacilou

na minha frente. Eu tinha que entrar no apartamento. Certo, a
porta tinha que ter pelo menos um metro de largura. Se eu
apenas me direcionasse na direção certa, eu passaria por ela.
Cerrei meus dentes. Passo. Passo. Outro passo. Eu estava dentro.
Isso, legal. Agora eu só tinha que permanecer consciente e não
cair de cara no chão.
Apertei os olhos tentando focar minha visão: um velho

sofá, um tapete puído e um poste de stripper 74. Um longo
74
Poste metálico para stripper.

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Livro 7
rastro de sangue conduzia da sala de estar pelo corredor

estreito. Alguém havia arrastado um corpo sangrando.
— Oh, isso é interessante. —Robert riu, sua voz seca.
Derek fez uma careta.
— Sim. —Ascanio revirou os olhos.
323
— Por favor, alguém dê uma pista a essa humana aqui, —
eu disse.
— Dorie Davis, —disse Derek. — Também conhecida

como Double D75.
— O cheiro dela está em todo este apartamento. —Robert

foi em direção ao corredor.
— Oh! —Desandra estalou os dedos. — Então é isso que

vocês estavam falando.
Eu os segui pelo corredor até o quarto. O fedor de sangue

entupiu meu nariz, tão forte que quase engasguei com ele.
Uma cama gigante ocupava a maior parte do quarto, equipada
com um banco acolchoado ao pé da cama e uma prateleira de
aço acima dela com vários anéis de metal presos à parede. O
75
Também conhecida pelos homens como "Delicious Delights " ou "Double Doobies", a definição Double D define uma
mulher com seios aparentemente grandes do tamanho D duplo. A maioria dos homens simplesmente baba por esse tamanho
e a maioria das mulheres o quer. Porém, apenas alguns poucos selecionados especiais o possuem.

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Livro 7
lençol vermelho estava amarrotado, encharcado de vermelho

mais escuro, o mesmo vermelho que manchava o colchão
exposto. Mulradin foi morto aqui, sem dúvida. Um corpo
humano tinha muito sangue e a maior parte do dele derramou
neste quarto.
324
Derek virou à direita. Robert virou à esquerda. Desandra
inspirou profundamente, dando uma volta lenta ao redor da
cama.
Eles andaram pela sala, parando nos objetos ao acaso,

provando os aromas.
Ascanio parou na entrada do quarto, para poder observar

a porta da frente. — Interessante.
Minhas pernas decidiram tirar férias e o quarto se arrastou

para o lado. Eu realmente precisava de uma parede para me
apoiar, mas tocar em algo aqui não era uma boa ideia. —
Double D, isso deveria me dizer alguma coisa?
— Ela é uma sofie, —disse Derek, da mesma forma que

alguém diria que ela é uma molestadora de crianças.
— Eu posso dizer pela sua voz que é ruim, mas não tenho
ideia do que isso seja.

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Livro 7
— A maioria dos metamorfos não fazem sexo em forma

animal, —disse ele.
— Isso não é estritamente verdade, —disse Robert. — A

maioria dos metamorfos fazem sexo em forma animal, mas
apenas uma vez. Porque não é tão bom assim. Não dura muito
325
tempo, é estranho e não há comunicação. Vamos apenas dizer
que é como você não apreciar ter as mãos até que elas
desapareçam.
— Uma merda, —Desandra se ofereceu.
— Com exceção dos boudas, —disse Derek.
Ascanio ergueu as sobrancelhas. Se olhares fossem facas,

Derek estaria sangrando.
— O Senhor Reprimido está tentando lhe explicar que

alguns humanos gostam de foder metamorfos em sua forma
animal, —disse Ascanio. — Eles são chamados de sofies.
‘Pêlos na pele’.
Robert revirou os olhos e caiu no chão para sentir o cheiro

do tapete.
— Tudo bem, —eu disse. — Eu gostaria de não saber

disso.

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Livro 7
— Bem-vindo ao Bando, —disse Robert. — Esta é uma

daquelas áreas cinzentas. Tecnicamente, não é proibido. O que
dois adultos fazem consensualmente em seu tempo livre não é
da nossa conta.
— Mas é nojento, —eu disse.
326
— Sim, —disse Robert. — É por isso que é fortemente
desencorajado.
Desandra se debruçou sobre a cama e engoliu em seco. —

Os cheiros aqui estão me dando náuseas.
— Não só você, —disse Derek.
— E para o registro, eu gosto de mulheres em sua forma

humana, —disse Ascanio. — Talvez alguns lobos sejam
atraídos por pêlos, mas eu gosto de pele.
— Oh, vocês dois parem com isso, —disse Desandra. —

É sexo proibido e excêntrico. Alguns lobos fazem, alguns
boudas fazem, alguns humanos fazem. Normal. Todo mundo
é igualmente fodido.
— Não é tão simples assim. Já somos bastantes

perseguidos pelos humanos normais, —disse Robert. — Há
três anos, houve uma campanha para proibir a entrada de

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Livro 7
metamorfos ratos nos restaurantes porque, segundo eles,

somos roedores transmissores de doenças. A petição tinha três
mil assinaturas antes de barrá-la. Um ano antes, o Clã Lobo
foi processado por uma cooperativa agrícola que alegou que os
metamorfos lobos estariam caçando seu gado. O principal
327
argumento era que os lobos não podem lutar contra seus
instintos naturais de caçar e correr para a terra. Se essa coisa
de ‘pêlo na pele’ se espalhar como fuxico por aí, não haverá fim
ao clamor público. Iremos ser acusados de administrar um
zoológico para pervertidos.
— Dorie é uma sofie de programa, —disse Derek. — Ela

cobra por seus serviços.
— Ela não precisa se prostituir, —disse Robert. —É uma

contadora com um salário decente. Faz isso porque decidiu
que é uma maneira fácil de ganhar dinheiro e porque ela tem
algum tipo de coceira que a incomoda. Quando o marido de
Jennifer estava vivo, ele tentou algumas vezes levá-la ao
aconselhamento, mas ela nunca aceitou ir. Como Dorie é uma
adulta a maneira que ela escolhe de fazer sexo não é da conta
de ninguém, nem mesmo de seus alfas.

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Livro 7
— Ela é um dos dois únicos metamorfos que conseguiram

pegar uma DST, —disse Ascanio. — O outro foi um
metamorfo pantera com quem ela saía. Eles pegaram juntos
em uma orgia.
Certo, eles devem ter se esforçado bastante para pegar essa DST.
328
O Lyc-V exterminava todos os invasores em seu território com
extrema violência.
Derek estremeceu. — Uma DST?
— Oh, você não ouviu sobre isso? —Perguntou Ascanio.

— Eles contraíram algum tipo de sífilis mágica.
Derek abriu a boca e fechou-a. — Como eles ...? Não

importa, não quero saber.
— Eu também não. —Era melhor esclarecer logo meu

interesse zero antes que eles decidissem me contar.
— Estamos ampliando seus horizontes, Consorte. —

Desandra sorriu.
— Meus horizontes são amplos o suficiente, obrigada. —

Agora, se todos a minha volta parassem de rodar, eu estaria
bem. — Entendo como Robert e Desandra sabem sobre
Double D. Eu quero saber como vocês dois sabem.

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Livro 7
Derek e Ascanio fizeram valentes tentativas de parecer

casuais.
— Todo mundo sabe, —disse Ascanio.
— Então, por que Desandra não identificou o cheiro?
— Quando a Double D apareceu no consultório de
329
Doolittle com a DST, ele leu para ela a cartilha sobre
orientações de práticas sexuais seguras, —disse Robert. — Ela
não gostou, então o evita como a peste. O que é irônico, na
verdade, porque a peste é exatamente o que ela não evitou.
— Eu não entendi, —disse Desandra. — Era para ser uma

piada?
Robert franziu a testa. — Deixa pra lá. Estava tentando

ser engraçadinho, mas consegui estragar tudo. O ponto é que
a Double D não é exatamente bem-vinda a Fortaleza.
— Ela não frequenta também a Casa do Clã Lobo, —disse

Desandra. — Eu a vi uma vez, acho. Jennifer a odeia até a suas
entranhas. A última vez que o nome dela surgiu, nossa ilustre
alfa a chamou de uma ‘criatura imunda pervertida’.
— Na frente de outras pessoas? —Robert perguntou.
— Uma sala cheia de testemunhas, —disse Desandra.

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Livro 7
Ótimo. Haviam muitas palavras de insultos que você

poderia usar para xingar um metamorfo. Dizer que eles
cheiravam mal era provavelmente um dos piores. Mas chamar
um deles de ‘criatura’ levava o insulto para outro nível. Isso
implicava que um metamorfo não era humano. Um loup era
330
uma criatura. Jennifer nunca deveria ter a insultado dessa
maneira, principalmente um membro do seu próprio clã.
Os lábios de Robert se ergueram, enrugando o focinho e

revelando dentes afiados. Ele fez um curto ruído de raiva, a
meio caminho entre um rosnado profundo e um grunhido.
— Eu sei, eu sei ... —Desandra disse.
— Podemos não aprovar as atitudes, —disse Robert, sua

voz precisa e fria. — Podemos achar revoltante, podemos até
rugir e rosnar para algum membro do nosso clã em particular,
mas não podemos transforma qualquer pessoa em objeto de
vergonha pública. Isso simplesmente não é digno de um alfa.
Jennifer fez dela um alvo. Agora qualquer um dentro do Clã
Lobo que faça alguma ação de bondade a Dorie o fará contra
os desejos de sua alfa.

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Livro 7
— Concordo, —eu disse a ele. — Vamos lidar com isso

mais tarde. Estamos com pouco tempo. Temos que seguir em
frente.
— Não há cheiros de outros metamorfos no quarto, —

disse Robert. — Apenas Double D e humanos.
331
— Eu sinto o cheiro de Mulradin, da Double D, Hugh e
alguns outros que provavelmente são do pessoal de Hugh, —
confirmou Derek.
Tentei me concentrar. Tudo ficava cada vez mais

complicado. Meu cérebro ainda atordoado queria flutuar na
névoa da inconsciência. — Você pode dizer o que aconteceu?
— Dorie chegou aqui primeiro, —disse Robert. —

Mulradin chegou cerca de meia hora depois. Eles fizeram
sexo, uma vez no banco, uma vez no canto de lá. —Ele
apontou para a esquerda da cama, onde uma corrente estava
caída no chão.
Uma das extremidades estava presa ao anel na parede e a

outra a uma algema de pescoço.
— Então Dorie matou Mulradin na cama, —disse

Desandra.

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Livro 7
Merda. — Você tem certeza?
Derek assentiu. — Quando você se acostuma com o cheiro

de sangue, fica muito claro. Seu perfume está na cama e na
roupa de cama, e seu pêlo está preso ao sangue de Mulradin.
Não há nenhum outro cheiro na cama.
332
— D'Ambray chegou em algum momento, com cinco
outras pessoas. Eles entraram em grupo, —disse Derek. —
Também alguém disparou uma bala de espingarda naquela
parede. —Ele acenou para a parede oposta.
— Antes ou depois do assassinato?
Ele balançou sua cabeça. — Não há como dizer, mas é

recente.
Ascanio acenou com a cabeça no corredor. — Dorie saiu

depois do assassinato. Sua trilha de cheiro é separada das
outras trilhas, contaminada com sangue mais antigo. Você
pode ver seus rastros sangrentos. —Ele apontou para o lado.
— Ela saiu correndo daqui.
Um membro do Bando matou um Mestre dos Mortos.

Uma pequena parte de mim esperava que a acusação de Hugh

Magic Breaks
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Livro 7
não fosse verdadeira, e agora essa esperança teve uma morte

triste.
Tentei entender a situação. — Bem, ela matou Mulradin

por algum motivo. Foi algum tipo de acidente ou ela fez isso
de propósito? Se foi um acidente, como Hugh se envolveu
333
nessa história? Se foi um assassinato premeditado, Hugh a
contratou para fazê-lo, ou a forçou ou, coincidentemente
Hugh estava de olho em Mulradin e o seguiu até o
apartamento, chegando na hora que ela o matava. —Esse
último não parecia provável. — Ela mataria por dinheiro?
— Duvido, —disse Derek. — Dorie não é violenta. Eu não

a consideraria uma boa pessoa, mas ela não mataria alguém
sozinha.
Por que Hugh deixou Dorie ir embora? Esfreguei meu rosto na

esperança de que isso me fizesse mais inteligente. Se eu fosse o
Hugh, o que eu faria com Dorie? Como eu poderia usá-la? Se Dorie
estivesse morta, o Bando não poderia entregá-la a tempo para
o prazo, o que garantiria a guerra. Ainda poderíamos
encontrar seu cadáver ou reconhecer que ela era a assassina e
nos oferecer para pagar uma restituição. Mas se Dorie estivesse
viva, as coisas ficariam muito complicadas.

Magic Breaks
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Livro 7
Se nós a entregássemos, pareceríamos fracos. Se não

fizéssemos isso, passaríamos a impressão de que estávamos
acima da lei. Não havia uma boa maneira de resolver essa
situação, e a responsabilidade por ela pousaria em meus
ombros. Seja qual for a decisão que eu tomasse, o Bando me
334
odiaria por isso.
Não, Hugh não a mataria. Por que ele iria matar um se podia
matar um bando inteiro de pássaros com uma pedra? — Dorie ainda
está viva.
Ascanio ergueu as sobrancelhas para mim.
— A questão não é por que Dorie matou Mulradin, é o

que iremos fazer com Dorie. Temos que sair daqui.
— Temos companhia, —anunciou Robert, olhando pela

janela.
Forcei minhas pernas se moverem e atravessei a sala até a

janela. Minha cabeça ainda estava rodando. Cavaleiros
invadiram a rua, um, dois ... doze. O líder montava um cavalo
escuro familiar. Hugh.
Nós estávamos no apartamento mais ou menos por seis

minutos, e ele já estava aqui.

Magic Breaks
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Livro 7
Desandra se inclinou para olhar além de Robert. Seus

dedos com garras roçaram o parapeito da janela.
Magia pulsou na janela em um flash de verde escuro.

Desandra puxou a mão do parapeito e xingou. — Eu sei, eu
sei. Toquei em algo. Minha culpa.
335
Minúsculas runas acenderam ao redor da janela, pulsaram
e desapareceram quando uma Proteção mágica se levantou.
Eu me virei. — Porta?
Ascanio já estava checando. — Protegida, —ele gritou um

segundo depois.
Nós estávamos presos. Ótimo. Encostei mais um pouco na

janela e empurrei minha palma da mão contra a Proteção. A
magia da Proteção me mordeu com dentes mágicos. Não era
uma Proteção de sangue. Era baseada em encantamentos e
alguém havia derramado um pouco de poder nela. Merda.
Ascanio retornou.
— É fácil quebrá-la? —Robert me perguntou.
— Com certeza. Só me dê uma hora para descobrir como

vou fazer isso, —respondi com ironia.
Derek xingou.

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Livro 7
Eu caí de joelhos perto da janela e deslizei minha mão

contra a Proteção, tentando traçar seus limites. Magia raspava
a minha pele com um relâmpago verde pálido. Eita! Se Hugh
protegeu todo o edifício, estaríamos ferrados.
Na rua, os cavaleiros desmontaram.
336
Encontrei uma borda na Proteção. Outra borda. — Ele
não protegeu o prédio inteiro. Apenas as aberturas, janelas e a
porta.
Derek mostrou os dentes. — Teto ou chão?
— Teto, —disse Robert.
Levariam pelo menos alguns minutos para atravessar o

teto até o telhado. Alguns minutos e nada entre nós e Hugh,
exceto uma porta quebrada. Corri para a porta.
— Onde você está indo? —Perguntou Ascanio.
— Nos conseguir algum tempo. Fique no quarto fora de

vista.
— Pergunte a ele sobre os policiais! —Robert gritou.
Bom ponto. Se Hugh comprou o PAD de Atlanta,

precisávamos saber.

Magic Breaks
Ilona Andrews
Livro 7
A porta da frente estava entreaberta, assim como a

havíamos deixado. O som de pessoas subindo as escadas
flutuou.
Não conseguiria quebrar essa Proteção a tempo, mas eu

tinha magia suficiente para fazer uma das minhas. Mergulhei
337
meus dedos no meu sangue e toquei o canto inferior da
moldura da porta do meu lado.
Os passos batendo se aproximavam.
Eu me concentrei. A magia saiu de mim, se transformou

em uma corrente invisível, tocou o ar vazio do buraco da porta
e se abriu como um elástico esticado. A dor esfaqueou minha
mente e por um segundo o mundo balançou em uma névoa
vermelha. Ai. Eu me forcei a ficar de pé. Passe por isso, seu filho
da puta.
Chegaram aos degraus do andar logo abaixo de nós.
Eu me inclinei contra a parede e tentei parecer casual.

Todas as horas praticando nesses últimos meses estavam
valendo a pena, porque há alguns anos eu não conseguiria
quebrar uma Proteção e fazer uma das minhas próprias no
espaço de quinze minutos. Minha cabeça ainda doía, mas pelo

Magic Breaks
Ilona Andrews
Livro 7
menos eu não daria a Hugh a satisfação de desmaiar na frente

dele.
Hugh atravessou os últimos degraus e parou ao lado da

porta. Ele ainda usava jeans enfiados em botas de montaria
altas, um suéter de lã preta e um casaco simples, salpicado de
338
lama e neve derretida. Luvas protegiam as suas mãos. Sua
altura e ombros largos garantiam que as pessoas mantivessem
distância, mas se ele cobrisse o rosto com o capuz, não
chamaria tanta atenção.
O capuz estava abaixado agora. Eu examinei o rosto de

Hugh, procurando por qualquer sinal dos ferimentos que
Curran e eu fizemos nele. Sabia que não os encontraria, mas
meu cérebro se recusava a reconhecer isso, eu não conseguia
aceitar. Sem cicatrizes antigas no queixo. Nenhum indício de
cartilagem esmagada no nariz. Olhei mais alto e corri direto
para os olhos dele. Transbordavam arrogância, poder e
divertimento. Hugh estava se divertindo.
Tirei um pano do bolso e comecei a limpar a Matadora,

deslizando o tecido ao longo da lâmina opaca.
Nick seguiu Hugh até a porta. Ele estava vestido

novamente em suas roupas e não parecia ter se machucado.

Magic Breaks
Ilona Andrews
Livro 7
Uma mulher caminhava com ele, tinha pelo menos cinquenta

anos, mas forte e em forma, uma estrutura física que podia
socar um tanque se precisasse. Pintura vermelha brilhante
cruzava sua bochecha esquerda, um T de lado, manchado,
provavelmente desenhado com um dedo. Representava
339
Uath76, a sexta letra do alfabeto Ogham77, usada pelos antigos
celtas. Significava horror ou medo, e de acordo com Voron,
Uath era também o nome dela. Meu pai adotivo a encontrou
anos atrás. Ela foi um dos seus soldados de elite que mais tarde
formaram a espinha dorsal da Ordem dos Cães de Ferro. Hugh
a herdou quando assumiu os Cães. Eu não tinha ideia de que
ela ainda estava viva. Voron sabia escolher muito bem seus
soldados.
Hugh sacudiu os dedos. Nick e Uath recuaram, desceram

alguns degraus e esperaram.
76
Uath
77
Ogham foi um alfabeto usado originalmente no irlandês arcaico, e posteriormente no irlandês antigo e picto em menor
escala. O Ogham é por vezes denominado "alfabeto celta das árvores". A palavra pronuncia-se [ˈoɣam] (ógam) em irlandês
antigo e [oːm] (óm) em irlandês moderno.

Magic Breaks
Ilona Andrews
Livro 7
Hugh tirou a luva de uma mão e alcançou o espaço da

entrada da porta. Sua Proteção mágica brilhou verde e se
desfez. Seus dedos tocaram a parede invisível da minha
barreira de sangue. Ele empurrou a minha Proteção.
Eu continuei limpando minha espada.
340
— Garota esperta, —disse Hugh.
— Vivendo e aprendendo.
Ele enfiou a mão na capa e tirou uma pequena garrafa

branca.
— O que é isso?
— Ibuprofeno78, —disse ele. — Para sua dor de cabeça. Sei

que você deve ter uma.
Hugh, um atencioso e bondoso assassino em massa. Sempre

pensando no futuro.
Hugh sacudiu a garrafa para mim.
— Não, obrigada. Eu já tomei minha dose diária de

veneno.
Hugh sorriu.
78
Analgésico e anti-inflamatório.

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Ilona Andrews
Livro 7
— Algo engraçado?
— Quanto mais você luta, Kate, mais aprendo sobre você.
— Aprendeu algo interessante hoje?
Ele se moveu, caminhou ao redor do patamar. Parecia ter

crescido de alguma forma desde o nosso encontro no Mar
341
Negro. Estava mais alto, mais largo, mais forte. Talvez fosse
minha memória pregando peças, ou talvez fosse o casaco.
— Que você pode quebrar minha Proteção. Até esta

manhã conhecia onze pessoas no mundo que podiam. Agora
são doze.
— Ah, coitadinho de você.
Hugh ignorou meu sarcasmo. — Sabe o que eu mais odeio

sobre o inverno nesta cidade?
Quanto mais conversávamos, mais tempo eu conseguiria

para Derek, Ascanio e Robert quebrarem o teto. Levantei uma
sobrancelha. — Hum?
— É muito frio, eu não deixaria um cachorro sair para rua,

mas não há neve. Há apenas essa sujeira. Não é chuva, não é
neve, é como lama congelada caindo do céu. —Ele descansou
uma mão na parede ao lado da porta. — Que tal a gente

Magic Breaks
Ilona Andrews
Livro 7
terminar essa conversa em outro lugar? O novo Hotel Four

Seasons tem suítes VIPs. Fiquei lá na minha última viagem
aqui. Vamos pedi-los para acender a lareira em um quarto
quente, seco e aconchegante. Vamos pedir comida, vinho
decente e conversar.
342
— Sobre o que falaremos?
— Sobre o futuro.
Fingi pensar sobre isso. — Não, obrigada.
Hugh mostrou os dentes em um sorriso estreito, como um

tigre faminto antes de atacar sua presa.
— Onde está a Hibla?
— Hibla foi transferida.
— Onde?
— Esqueça Hibla, —disse ele, daquele jeito bem-

humorado, como se estivéssemos sentados em algum lugar em
um bar, compartilhando uma bebida, e eu estava desabafando
com ele sobre uma colega de trabalho que me incomodou. —
Ela é difícil de matar e não vale a pena perder seu tempo.

Magic Breaks
Ilona Andrews
Livro 7
— Quando você a ver, deixe-a saber que eu tenho uma

sepultura escolhida para a cabeça dela. Com lápide e tudo
mais.
— Que tal isso: se você vier comigo, dou Hibla de presente

para você. Você vai poder brincar com ela o tempo que quiser
343
e eu vou te curar se ela te rasgar.
— Não, obrigada de novo.
— Você deveria reconsiderar. Teríamos apenas algumas

conversas amigáveis.
— Acho que não.
Hugh se inclinou para a frente, com os olhos divertidos, e

me olhou devagar, da cabeça aos pés. — Você parece bem.
Me poupe. — Bela jogada ter deixado Dorie ir embora. Se

eu não a entregar, você vai começar um banho de sangue e eu
e os alfas seremos culpados por isso. Se nós a entregarmos,
pareceremos fracos e nosso pessoal perderá a confiança em
nossa liderança. De qualquer forma, o Bando é desestabilizado
e eu sou o cara mau.
— Você está começando a entender como o jogo é jogado,

—disse Hugh.

Magic Breaks
Ilona Andrews
Livro 7
— Há uma terceira possibilidade. Eu poderia matar Dorie

e jogar seu cadáver no seu colo.
— Acho que não.
Ele disse isso com absoluta certeza. Sem hesitação

alguma. Nota para si mesma: aprenda a blefar melhor, Kate.
344
— Por que não?
— Porque enviará a mensagem errada. Se você matar

Dorie, todos os metamorfos que já violaram a lei se
perguntarão se eles serão os próximos da sua lista de alvos. Se
você tomar essa decisão, ninguém irá segui-la. Eu sou um
bastardo, mas nem mesmo eu mato meu próprio povo, a
menos que seja absolutamente necessário.
— Não, você apenas os coloca em jaulas e os deixa morrer

de fome lentamente.
Ele revirou os olhos. — Claro, há uma quarta opção.
— E qual seria ela?
— Você vem comigo agora, —disse ele. — E toda essa

bagunça feia acaba.
— Eu não acredito em você. —As palavras saíram quase

por conta própria. Mas um olhar nos olhos dele me disse que

Magic Breaks
Ilona Andrews
Livro 7
ele não estava mentindo. Merda. Ele realmente veio até Atlanta
atrás de mim. Eu era a única razão pela qual Mulradin estava
morto e o Bando agora estava se preparando para uma guerra.
Bem, esse era mais um mistério resolvido.
Eu não precisava desse tipo de peso nas minhas costas. Já
345
tinha muito para carregar como estava.
Hugh se concentrou, estendeu a mão e rabiscou um

desenho na minha Proteção. A magia mordeu seu dedo. Deve
ter doído.
— Eu quis dizer o que te disse antes. A vida dos seus

preciosos metamorfos não importa para mim. Se eu tiver que
esmagar o carvão para chegar ao diamante, farei isso.
— Aha. E eu sou o diamante?
— Você corta como um.
Ha! — Lisonja, realmente? Sutil como um martelo.
Ele encolheu os ombros. — Por que não? Os metamorfos

levam algum tempo para lisonjear você? Eles lhe dizem o
quanto estão gratos por você ter colocado seu pescoço na
guilhotina para o bem deles? —Ele tocou a barreira de sangue

Magic Breaks
Ilona Andrews
Livro 7
novamente. — Eles pedem seu perdão toda vez que esse

precioso sangue é derramado?
Não, eles geralmente não fazem. Na verdade, só tinham

reclamações sobre mim, mas eu não ia dizer isso a ele. — A
resposta é não.
346
— Não, eles não lisonjeiam você?
— Não, eu não vou sair daqui com você.
— Suponho que vou ter que entrar e pegar você então.
— Vá em frente. Tenho uma espada que está morrendo de

vontade de provar seu sangue. —Espere. Vá em frente ... Uma
ideia começou a se formar na minha cabeça.
Com o canto do olho vi Robert encostado no corredor. Ele

estava assistindo. Provavelmente ouviu cada palavra. Ótimo.
Agora viriam mais perguntas que eu não queria responder.
— Venha comigo, —disse Hugh. — Deixe-me mostrar o

tipo de poder que você está perdendo. Ninguém mais tem que
morrer. Ele está esperando por você.
Cada nervo em mim ficou em alerta. — Não vejo como

ele pode ter tempo para mim, preparando-se para a
Reivindicação e tudo.

Magic Breaks
Ilona Andrews
Livro 7
As sobrancelhas de Hugh subiram um centímetro.
Eu ri baixinho. — Vejo que ele não lhe conta tudo. Acho

que vou ficar bem aqui.
Ele balançou sua cabeça. — Sério, que porra você está

fazendo, Kate? Correndo pela noite congelada em uma cidade
347
imunda, bancando a rainha dos metamorfos? Seja minha. Eu
te darei a cidade em uma bandeja de prata. Um presente.
— Se eu quisesse a cidade, eu teria tomado.
— Amo esse rosnado em sua voz, —disse ele. — Sexy.
Eu revirei meus olhos.
— Eu também gosto disso, —disse ele.
— Só por curiosidade, —perguntei. — Da última vez que

verifiquei, os policiais franziam a testa para assassinatos
aleatórios de civis. Acha que a Divisão de Atividade
Paranormal de Atlanta vai deixar que você persiga à vontade
os metamorfos?
Hugh fingiu refletir por um longo momento. — Deixe-me

pensar. Sim.

Magic Breaks
Ilona Andrews
Livro 7
Jim estava certo. Ele havia feito um acordo com alguém

no alto da cadeia de comando da polícia. — Um pouco
presunçoso da sua parte, não acha?
— Isso é o que acontece quando você joga nos grandes

times.
348
— Grandes times, hein?
— Isso mesmo. —Ele piscou para mim. — Fique por

perto, eu vou te mostrar como fazemos isso.
— Não há necessidade. Eu já recebi as instruções

adequadas da minha tia. —Grandes times, mostrarei os grandes
times para ele. Era um risco, mas se funcionasse, nos daria
tempo suficiente para dar o fora daqui. — Curran quebrou a
Proteção de Erra, a propósito.
Os olhos de Hugh se estreitaram. — É adorável quando

você tenta me manipular. Eu acho encantador.
— Eu não estou manipulando você. Estou afirmando um

fato. O homem com quem eu durmo quebrou a Proteção de
sangue de Erra. —Apontei para a minha Proteção. — A minha
ainda está de pé.

Magic Breaks
Ilona Andrews
Livro 7
No quarto, Robert se inclinou por um segundo para

chamar minha atenção. Sim, sim, sei o que estou fazendo.
— Estive esperando por você para quebrar a minha.

Confesso uma coisa, sua técnica é realmente diferente. Curran
martelou a Proteção até que ela quebrou. Você não para de
349
falar. Me esclareça aqui, qual é a estratégia? Está esperando
que a Proteção se canse e se autodestrua para não ter mais que
ouvir você?
Os olhos de Hugh ficaram escuros.
Eu bocejei. — Eu não sei sobre a Proteção, mas eu estou

cansada. Preciso de um cochilo.
— Última chance, —disse Hugh. Sua voz perdeu toda a

diversão. — Venha comigo, e eu vou poupar o seu Bando
precioso. Todos os seus animais de estimação irão para a cama
em segurança e não terão de se preocupar em lutar pelas suas
vidas de manhã. Ou eles podem acordar para um massacre e
culpá-la quando seus filhos e entes queridos começarem a
morrer.
Deslizei a Matadora em sua bainha nas minhas costas e

cruzei meus braços. — O tempo de falar acabou. Vamos,
Preceptor. O homem com quem durmo quebrou a Proteção da

Magic Breaks
Ilona Andrews
Livro 7
Devoradora de Cidades. Você só tem que quebrar uma das

minhas. Faça isso, Hugh. Mostre-me algo.
— Lembre-se, foi você que pediu, —ele avisou.
Eu cavei na minha memória e tirei a pior repreensão que

Voron usava. Ele dizia isso para mim e ele dizia isso para
350
Hugh, porque Hugh jogou na minha cara a última vez que nos
encontramos.
— Se você está com muito medo de tentar, apenas diga

que está com medo, Hugh. —Nada era pior do que não ser
corajoso o suficiente para tentar.
Hugh tirou uma faca, cortou o antebraço e jogou a lâmina

no chão. Dramático. Por que não segurou a faca?
Ele apertou seu antebraço. Sangue derramou, carmesim

brilhante. Lentamente esfregou o sangue em suas mãos. Seu
olhar se fixou em mim. Uau. Hugh estava chateado.
Levantei minha sobrancelha para ele.
Ele se inclinou para a frente, os pés alinhados com a

largura dos ombros, os braços com cotovelos dobrados, os
dedos afastados, apontando para cima. Seu corpo inteiro ficou
tenso, concentrando-se como antes de dar um grande salto.

Magic Breaks
Ilona Andrews
Livro 7
Músculos inchados em suas pernas. Seus bíceps esticaram as

mangas de seu suéter. Seu abdômen endureceu. Faixas finas
de vapor azul escorregaram dele, ficando cada vez mais fortes,
até que fumaça azul clara emanou de todo o seu corpo. Eu já
tinha visto isso quando ele salvou Doolittle da beira da morte.
351
A Proteção me impediu de sentir, mas me lembrei da
magnitude desse poder.
Talvez esta não tenha sido uma boa ideia.
Nas escadas, Nick se agachou. Uath se segurou no

corrimão da escada. Com o canto do olho vi Robert de pé,
esperando no corredor.
Os olhos de Hugh ficaram azuis claros e brilhantes. O

brilho índigo cobria suas mãos.
— Isso é para hoje? —Eu gritei.
Ele se lançou para frente com as duas mãos. Seus dedos

perfuraram a Proteção como garras.
A Proteção de sangue brilhou com uma luz vermelha

intensa, a magia crepitou como um trovão. Hugh voou três
metros para trás e se chocou contra a escada que levava ao

Magic Breaks
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Livro 7
andar superior. A parte de trás da cabeça bateu nos degraus.

Ele escorregou e não se mexeu.
Ha! Eu te avisei!
Atrás de mim Robert disse com sua voz completamente

inexpressiva, — Oh meu!
352
Uma parede de vermelho translúcido pulsou na porta e
ficou transparente. Minha Proteção ainda estava ativa. Eu ri.
Nick e Uath subiram as escadas até o corpo de Hugh. Eu

me virei e corri para o quarto.
Um buraco estava aberto no teto ao lado da cama. Derek

esperava por mim. A mão de Ascanio apareceu no buraco me
oferecendo ajuda para subir. Eu agarrei e ele me puxou até que
pude me segurar em algumas vigas de madeira.
Ascanio me soltou, e eu me arrastei atrás dele. Minha

costela quebrada gritava de dor. Derek me seguiu até a
estrutura do teto. Vigas, tijolos quebrados, isolamento e mais
vigas.
Uma gota fria de água caiu na minha cabeça. Olhei para

cima e vi os pés de Ascanio desaparecerem, substituídos pelo
céu noturno.

Magic Breaks
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Livro 7
Meus dedos tocaram metal frio e me puxei para o telhado.

Chuva gelada caía do céu cinzento. A frente, Desandra, em
sua forma de guerreiro, agachava-se na beira do telhado, como
uma monstruosa gárgula.
— Você sabia que aquilo iria acontecer? —Robert emergiu
353
do buraco.
— Eu esperava que acontecesse.
— E se ele atravessasse?
— Então nós teríamos que correr muito rápido. —Bem,

nós ainda tínhamos que correr muito rápido. O pessoal de
Hugh não iria fazer nada até ele acordar, mas Hugh tinha uma
cabeça muito dura. Ele se recuperaria rapidamente.
O telhado coberto de gelo, inclinava-se num ângulo

agudo. O chão parecia muito distante. Ascanio correu pelo
telhado escorregadio seguindo o metamorfo rato. Minha
cabeça rodou. O telhado balançou diante de mim.
Não pense nisso. Apenas faça. Eu corri. Meu estômago

revirou. Pequenos pontos pretos nadaram na frente dos meus
olhos. Certo, correr pode ter sido uma ideia muito ousada.

Magic Breaks
Ilona Andrews
Livro 7
A borda do telhado apareceu sob meus pés. Uma fenda de

seis metros nos separava do prédio ao lado. Lá embaixo, chão
duro prometia um pouso doloroso.
Robert saltou pela fenda e correu.
Seis metros estavam muito além do que eu poderia pular
354
e isso não era engraçado. Descansada, em terreno firme, e com
algum treinamento, eu poderia chegar perto, mas agora, em
um telhado escorregadio, até uma distância de três metros
seriam muito para mim. Tinha que sair do telhado. Quando
Hugh finalmente acordasse e lidasse com a minha Proteção, a
reação seria uma cadela. Precisava pular, mas não sabia como.
— Kate. —Derek me agarrou e pulou. O chão se

distanciou e depois aterrissamos no outro teto.
Robert atravessou o telhado e pulou para baixo, logo

depois da borda. Eu o segui e quase deslizei das telhas geladas.
Vi uma escada de incêndio, três metros abaixo.
Pulei, aterrissei com um baque e deslizei pela escada de

incêndio, tentando não tropeçar em meus pés desajeitados. O
vento assobiou ao meu redor e então nós estávamos no chão e
ao lado de Robert, que segurava as rédeas de Mimosa.

Magic Breaks
Ilona Andrews
Livro 7
Pulei na sela e dei-lhe um aperto. Nós tínhamos que nos

apressar.
Mimosa não se mexeu.
— Vamos! —Chutei seus lados. — Agora não é hora de

ser uma idiota!
355
Mimosa continuou plantada no mesmo lugar. Não agora,
sua jumenta estúpida.
Ascanio rosnou e deu um tapa no traseiro dela. Mimosa

disparou a galope, descendo a rua.
Capítulo 8
Dobramos à
direita e saímos na Rodovia Garbage. Lixo e mais lixo estavam
empilhados em enormes montes contra as paredes dos prédios
abandonados, formando uma montanha de lixo de mais de

Magic Breaks
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Livro 7
seis metros de altura. Se conseguíssemos atravessar,

chegaríamos à Rua White.
Mimosa começou a diminuir sua marcha. Eu permitir que

ela diminuísse para um trotado. Um quilômetro e meio de
galope por terrenos acidentados era tudo que eu podia exigir
356
dela, mesmo com Hugh atrás de nós. Era isso ou, outro
quilômetro a mais, Mimosa não aguentaria continuar.
Pequenas bestas com caudas compridas corriam de um

lado para o outro nas colinas de lixo, com olhos amarelos se
destacando contra a escuridão. Os metamorfos corriam ao
meu lado, saltando sobre perigos nas encostas de lixo. A
Rodovia Garbage havia surgido por causa do Rio Phantom.
Fluía através do Warren, invisível aos olhos, pegando todo
lixo pelo caminho e arrastando para a Rodovia Garbage. O
Rio Phantom acabava quando chegava a Rua White, que tinha
sua própria marca de magia corrompida. As pessoas diziam
que as ‘águas’ do rio se acumulavam aqui, retidas pela Rua
White como uma represa, antes de depositarem todos os seus
‘tesouros roubados’ e desaparecer.
A estrada se alargou e saímos para o que deve ter sido uma

rotatória em algum momento. Agora, com as ruas laterais

Magic Breaks
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Livro 7
sufocadas por escombros, era apenas um gargalo de lixo: um

caminho, uma saída.
À frente Derek tropeçou.
Puxei as rédeas, tentando fazer com que Mimosa parasse.
357
Derek tentou continuar correndo, mas ele tropeçou
novamente e rolou no meio do lixo bem debaixo de Mimosa.
Os cascos do animal passaram pela cabeça dele por um fio de
cabelo. Ela finalmente parou e eu pulei no chão.
Derek se enrolou desajeitadamente de quatro e vomitou

uma torrente de material cinza no chão. Um cheiro azedo
pútrido me atingiu. Cheirava como se alguém tivesse aberto
uma carcaça de vaca que estava apodrecendo no sol por dias.
Eu engasguei e me ajoelhei ao lado dele. O vômito estava
cheio de lodo cinza escuro, riscado de preto e vermelho.
Ascanio e Robert caíram ao meu lado. Desandra pousou

ao nosso lado, estremeceu e vomitou, a mesma torrente de
lodo e sangue. Algo estava horrivelmente errado com eles.
—Estou bem. —Derek tossiu.
— Você ainda está sangrando?
Ele não respondeu.

Magic Breaks
Ilona Andrews
Livro 7
Agarrei a mão dele. Bolhas incharam sua pele onde os

espinhos tinham perfurado. As feridas ainda derramavam
sangue cinzento. As toxinas da magia de Nick estavam
comendo-os de dentro para fora.
Desandra se virou para mim. Ferimentos abertas
358
derramando sangue cinzento marcavam seus braços peludos.
Atrás de nós algo gritou. O longo grito ululante ergueu-se

acima dos telhados e pairou em algum lugar entre o céu e a
cidade, um grito feito de fome, alegria predatória e morte,
como se a coisa que gritou soubesse exatamente o quanto era
horrível. Apenas um ser humano poderia ser tão
autoconsciente assim. O grito gelou todos os ossos do meu
corpo.
Ascanio se virou. — Que diabo é isso?
Essa era a pergunta de um milhão de dólares.
— Você pode andar? —Robert perguntou.
Derek cambaleou e balançou em seus pés.
Agarrei as rédeas de Mimosa, segurando-a. — No

jumento.
— Eu posso andar.

Magic Breaks
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Livro 7
— Não seja ridículo, —retrucou Robert.
— Suba no jumento. Nós não temos tempo para essa

merda. Olhei para Desandra. — Você também.
Desandra vomitou novamente. O fedor me atingiu. Meu

estômago tentou o máximo se esvaziar. Eu engasguei, a bílis
359
subindo na garganta. — Obedeça-me, droga. Agora!
Desandra cambaleou até Mimosa e subiu na sela. Robert

pegou Derek como se o metamorfo lobo de dois metros em
forma de guerreiro não pesasse nada e o ergueu na sela como
se ele fosse uma criança.
Mimosa sacudiu as orelhas, imperturbável pelos dois

metamorfos lobos nas costas.
Atrás de nós, o uivo ressurgiu: angustiante, faminto, cheio

de desespero. Mais perto desta vez.
O lixo de ambos os lados de nós se moveu. Dezenas de

pequenas criaturas passaram correndo por nós, seus olhos
brilhantes arregalados. Oh droga!
Mimosa zurriu e correu pela rua, levando os dois lobos

com ela. Robert, Ascanio e eu a perseguimos. Dor apunhalou
meu lado a cada passo, como se minhas costelas quebradas

Magic Breaks
Ilona Andrews
Livro 7
tivessem se transformado em lâminas e perfuravam minhas

entranhas. Cerrei meus dentes. Foda-se. Eu já tinha passado por
muita dor antes, passaria por essa também.
Atrás de nós, um grito desesperado sacudiu a noite. Eu me

virei para olhar por cima do meu ombro.
360
Uma criatura colossal passou pela montanha do lixo. Era
mais alta do que as paredes de lixo: gigantesca, branca, com
franjas de cabelo grossos e claros ao longo das costas de seus
enormes braços. Seus quadris estavam rentes ao chão, seus
braços desproporcionalmente longos e armados com longas
garras do tamanho de uma tesoura de jardim. Seus ossos
esticando sua pele, seu estômago tão afundado que se eu
tivesse visto isso em algum animal na natureza, pensaria que
estava doente e morrendo de fome. Sua cabeça era redonda e
pálida, pregada em um pescoço curto. Seu rosto poderia ter
uma estrutura óssea distinta em algum momento, mas todos
os seus ossos pareciam ter derretido no crânio para dar lugar à
boca larga. Não havia lábios e as fileiras de longos dentes
afiados em sua boca sobressaíam. Seu nariz era pouco mais
que dois buracos, mas seus olhos, de uns dez centímetros de

Magic Breaks
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Livro 7
diâmetro e afundados em suas órbitas, pareciam

completamente humanos.
A lua saiu detrás das nuvens, sua luz iluminando a

abominação. A carne branca da criatura brilhava, translúcida,
e dentro dela eu vi seus pulmões pálidos e seu estômago
361
rosado, e, no meio dessa bagunça, aninhada na jaula de suas
costelas, uma forma mais escura e humana, como se a fera
tivesse engolido um pessoa inteira e o cadáver tornou-se seu
coração.
Os pêlos dos meus braços ficaram completamente

arrepiados. Eu já tinha visto um antes em fotografias, mas
nunca na vida real.
Ascanio estremeceu e mudou de forma, tão rápido que

pareceu um borrão.
— Um wendigo79, —Robert sussurrou ao meu lado.
79
Wendigo é uma criatura sobrenatural que faz parte da mitologia do povo indígena da
América do Norte Ojíbuas. De acordo com a mitologia, o Wendigo é formado a partir de um humano qualquer, que passou
muita fome durante um inverno rigoroso, e para se alimentar, comeu seus próprios companheiros.

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Livro 7
— Corram! —Eu corri. — Corraaaaam!
Corremos pela rua. Minhas costelas quebradas estavam

colocando meu lado em chamas. A velocidade era a nossa
melhor chance. Não havia lugar para se esconder na Rodovia
Garbage. Nós não tínhamos os números ou os meios para
362
matá-lo, e cada segundo que passávamos lutando nos custaria
tempo que não tínhamos.
As lendas diziam que os wendigos assombraram os

invernos na costa atlântica dos Estados Unidos e no Canadá,
alimentando-se das tribos algonquinas80. De acordo com os
mitos dos nativos americanos, aqueles que aderiam ao
canibalismo eventualmente se transformavam em um
wendigo, condenado a uma fome interminável de carne
humana. Eu nunca tinha lutado com um, mas conversei com
um homem que tinha. Não era possível argumentar com um
wendigo. Sua fome anulava todo a sua racionalidade. Eles
devoravam suas presas mesmo quando estavam sendo
desmembrados, e a única maneira de matar um deles era
80
Algonquinos: povo nativo americano que habita o nordeste da América do Norte. Mais especificamente, o termo
refere-se às tribos que falam o algonquino, uma língua da família das línguas algonquinas. Os algonquinos são aparentados,
cultural e linguisticamente, às tribos Odawa e Ojibwe, com as quais formam o agrupamento dos anishinaabe.

Magic Breaks
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Livro 7
desmembrá-lo e queimar os pedaços. Se você não o fizesse, ele

iria se regenerar em minutos, costurado pela magia.
Um wendigo não viria para Atlanta sozinho. Estávamos

muito longe ao sul, e mesmo que de alguma forma ele tivesse
chegado aqui, por conta própria, teríamos ouvido sobre isso
363
rapidamente.
Isto era uma importação de Hugh. Um presente especial

para o Bando.
— Mais rápido, mais rápido! —Robert rosnou.
Eu não podia ir mais rápido. Olhei por cima do meu

ombro. O wendigo se aproximava cada vez mais.
À frente Mimosa parou e zurrou.
Ascanio correu para frente e virou-se. — Está bloqueado!
Uma enorme lixeira industrial tombada de lado bloqueava

o caminho. Pelo menos uns seis metros de comprimento e
cheia até a borda com tijolos e concreto. Uma das gangues de
Warren deve ter a colocado aqui para encurralar os transeuntes
e os roubar mais facilmente. Tínhamos que atravessá-la.
O wendigo abriu as mandíbulas e soltou outro grito.

Estava a duzentos metros de distância.

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Livro 7
Agarrei as rédeas de Mimosa e a puxei, tentando levá-la

até a lixeira. Mimosa zurrou e parou teimosamente.
Robert pegou as rédeas ao meu lado e puxou. — Vamos.
Derek deslizou da sela, virou para trás e gritou: — Pare,

seu idiota!
364
Olhei rapidamente para trás.
Ascanio corria em direção ao wendigo, suas facas para

fora.
Não, não, não, seu estúpido idiota!
Meu corpo se moveu antes que minha mente percebesse

que eu estava correndo atrás dele.
O wendigo fez uma pausa, pegou algo do lixo e enfiou na

boca. Os enormes dentes talharam e uma viga de madeira saiu
perfeitamente cortada de sua boca.
Ascanio saltou e esculpiu as pernas do wendigo, suas facas

um redemoinho. A criatura uivou.
Eu corri tão rápido que estava quase voando.
Ascanio girou em torno das pernas do wendigo como um

dervixe, cortando e rasgando. O sangue rosa pulverizava as

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Livro 7
pilhas de lixo. O tornozelo esquerdo do wendigo se soltou e ele

caiu sobre um joelho.
Corra mais rápido, droga, eu tinha que correr mais rápido.
Ascanio recuou em minha direção para evitar ser

esmagado. A mão do wendigo estalou, chocantemente rápida,
365
e se fechou sobre o garoto. Ele o apertou e esmagou o bouda
contra o chão.
Ah não!
Robert passou por mim e pulou na cara do wendigo, suas

garras o cortando.
O wendigo puxou Ascanio para cima, alheio ao

metamorfo rato arranhando seu rosto, e o esmagou contra o
chão novamente. Ossos quebraram. O wendigo levantou a
mão. Estava vermelho-sangue. As garras rasgaram o corpo de
Ascanio. Se eu não parasse agora, essa coisa o mataria.
Parei para inalar um pouco de ar.
A criatura abaixou Ascanio novamente ...
— Aarh! —Pare.
A palavra de poder saiu de mim em uma onda de agonia.

O wendigo congelou. Robert congelou também, as garras da

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Livro 7
mão esquerda enterradas no rosto do wendigo, o braço direito

erguido para arranhar o olho humano da criatura.
Quatro segundos. Por quanto tempo o feitiço iria segurá-

los.
Uma forma peluda saltou da direita acima de mim,
366
navegando pelo ar, braços levantados, uma machadinha na
mão direita. Derek pousou no rosto do wendigo e esculpiu em
seu pescoço com seu machado.
Eu o ataquei e cortei os tendões das duas patas traseiras.
Desandra agarrou Ascanio e cambaleou para trás,

tropeçando.
O wendigo tremeu. Derek cortou de novo e de novo,

soltando em uma chuva rosa de sangue.
O feitiço se quebrou. O wendigo caiu e eu esculpi o seu

lado aberto, empurrando para dentro, através das costelas para
os pulmões. Regenere isso, seu filho da puta. A Matadora
empurrou através do músculo grosso, e um pop molhado
anunciou o estômago se rompendo. O cheiro de ácido e
enxofre tomou conta de mim. Sangue molhou minhas mãos,
jorrando pelo lado do wendigo.

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Livro 7
A enorme criatura estremeceu, tentando se levantar.
Robert cortou e abriu caminho até as costas do wendigo.

Sangue humano brilhante manchava sua pele. O alfa dos
metamorfos ratos cortou a carne translúcida, plantou os pés,
abaixou-se, trancou as garras em uma costela exposta e puxou.
367
O osso quebrou. Ele jogou a costela para fora, enfiou a mão
no buraco, tirou punhados de tecido de algum órgão e os atirou
para a noite.
Alcancei o coração do wendigo de aparência de um

humano com minha lâmina. Triturei seu fígado. Cortei seus
pulmões, transformei tudo que encontrava em pasta sangrenta.
Cortei suas artérias. Sangue rosa quase transparente me
pulverizava o tempo todo, o gosto queimando em meus lábios.
Acima de mim Robert jogou os intestinos no lixo. Peguei um
vislumbre de Desandra rasgando o corpo do wendigo ao meu
lado. De repente, a cabeça enorme e horripilante do monstro
tombou, pendurada no toco do pescoço por um fio fino de
carne. Com um golpe final, Derek cortou e a cabeça caiu no
chão. Derek aterrissou ao lado, chutou o crânio que rolou pela
rua suja de lixo e parou tombada como uma árvore cortada.

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Livro 7
O corpo de Derek estremeceu e se transformou em

humano novamente.
A poucos metros de distância, Ascanio gritava no chão,

nu, humano e ensanguentado. Tudo dentro de mim ficou frio.
Os ferimentos deles eram tão graves que o Lyc-V os havia
368
transformado de volta a humanos, enquanto se esforçava para
curá-los.
Ajoelhei-me ao lado de Derek e levantei a cabeça dele. Ele

estava inconsciente, mas ainda respirava. As feridas em suas
mãos pararam de sangrar e eu não sabia dizer se isso era bom
ou ruim.
— Kate! —Desandra chamou, sua voz tremendo.
Eu corri para ela.
Longos cortes rasgaram o peito e o estômago de Ascanio.

Intestinos úmidos se abriram através dos cortes, derramando
sangue. Sua pele aberta onde pedaços de costelas quebradas a
tinham perfurado. Seu rosto estava ensanguentado. Ele
respirava em suspiros curtos e agudos. Oh Deus!
— Conserte ele! —Desandra olhou para mim.

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Livro 7
Eu não podia. Ele estava longe demais. Nós tínhamos que

conseguir um médico mago. Precisávamos de um agora.
O olhar de Ascanio se fixou em mim. — Des ... desculpa.
— Não fale agora. —Não conseguiríamos carregá-lo no

jumento. Não havia espaço.
369
— Eu ... —Ascanio engoliu e tossiu sangue. Ele é tão jovem.
— Eu não .... quero morrer. Por favor.
— Você não vai morrer. —Eu estava ficando muito

melhor em mentir.
— Desculpe, —sussurrou Ascanio. — Desculpe.
— Sim, você tem muito o que pedir desculpas. Quando

chegarmos à Fortaleza, pedirá ainda mais. Que diabos estava
pensando?
Ele tentou sorrir, seus dentes sangrentos ... — Erro ... às

vezes.
Oh, garoto tolo.
Uivos altos vieram de trás do wendigo, gritos selvagens

humanos. Os Cães de Ferro de Hugh estavam nos caçando.
Desandra vomitou novamente.

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Livro 7
Meus intestinos se transformaram em uma bola fria e

torcida. Três pessoas gravemente feridas. Eu não podia deixá-
los morrer. Eles vieram para me proteger. Tinha que encontrar
uma solução mesmo que eu precisasse evocar uma do nada.
Derek não morreria no meu turno. Ascanio e Desandra não
370
morreriam. Eu não ficaria em pé diante do túmulo da Tia B e
diria a ela que deixei um de seus bouda jogar sua vida fora. Eu
não diria a Curran que o garoto foi morto.
Rastreei a área na minha cabeça. Eu conhecia bem essa

parte da cidade. Cobri quase cada centímetro quadrado
durante o meu trabalho com a Ordem.
A Ordem.
Isso era loucura. Mas então os médicos magos não

podiam escolher quem atender.
— Robert, você pode carregá-lo?
— Sim. Para onde estamos indo? —Robert perguntou.
— Para Ordem.
— Mas eles nos odeiam, —Desandra forçou a falar através

de seus dentes.

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Livro 7
— A Ordem tem médicos magos na equipe e o tipo de

Proteções que seria necessário um exército para violar. Eles
ajudarão quem precisar. Estamos precisando agora. Eles
odeiam Hugh d'Ambray mais do que nos odeiam.
Pelo menos eu esperava que isso fosse verdade. Por mais que Ted
371
Moynohan me desprezasse, ele ainda era um Cavaleiro
Protetor. Ele não deixaria meu povo morrer na rua em frente
ao escritório. E eu estava apostando três vidas nisso.
Cães de Ferro flutuava atrás de

nós, constantes agora, como um ruído sinistro e arrepiante.
Assim que um terminava, outro começava. Como eles

podiam correr e uivar ao mesmo tempo estava além de mim.
Estavam se aproximando cada vez mais rápido. Nós

perdemos dois preciosos minutos convencendo Mimosa a

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Livro 7
subir a montanha de lixo ao redor da lixeira e não estávamos

nos movendo rápido.
Desandra segurava Derek na sela à sua frente. Ele estava

completamente flácido. Os olhos dela estavam selvagens e ela
estremecia enquanto cavalgava. Desandra não duraria muito
372
mais tempo. Ao meu lado Robert corria silenciosamente,
carregando Ascanio em seus braços.
As ruas se arrastavam, dolorosamente lentas. Meu lado

doía tanto agora, que nem mais ligava para a dor. Apenas
aceitei ela lá.
Uma fachada familiar apareceu. Tínhamos que estar perto

agora.
Eu me concentrei, tentando enviar um pensamento focado

para o mundo. — Maxine?
A secretária telepática da Ordem não respondeu.
— Maxine! —Sussurrei. Vocalizar ajudava às vezes. —

Maxine!
Uma voz tranquila familiar soou na minha cabeça. — Olá,

Kate.

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Livro 7
— Eu estou em New Peachtree, sendo perseguida por

criaturas sobrenaturais. Peço proteção para cinco pessoas.
Maxine fez uma pausa. — Kate, a Ordem não é o lugar mais

seguro para você. Moynohan não a vê como uma cidadã honesta.
Moynohan pode ir se foder. — Eu tenho dois adolescentes e
373
um adulto gravemente feridos e estão morrendo. Diga a Ted
que estou fugindo de Hugh d'Ambray.
— Por favor espere.
Nós dobramos uma esquina a esquerda. Os uivos nos

perseguiam, cada vez mais alto. A rua rolava na nossa frente,
completamente vazia. Mais dez quarteirões até a Ordem. Pelo
que me lembrava, as Proteções da Ordem foram violadas
apenas uma vez e foi minha tia que fez isso. Nós tínhamos que
conseguir atravessar essas Proteções.
Trotes de casco. Eu virei.
Hugh dobrou a esquina. Ele montava seu enorme cavalo

preto. Uma dúzia de homens e mulheres o acompanhava.
— Proteção concedida, —Maxine disse na minha cabeça. —

Por favor, dirija-se ao Cofre da Ordem.

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Livro 7
Nós não conseguiríamos. Parei e me virei para encarar os

Cães de Ferro, desembainhando minha espada. Hugh me
queria. Hugh me teria. Cuidado com o que você deseja.
— Para baixo! —Mauro explodiu atrás de mim.
Eu caí no chão. O ar gemeu acima de mim quando meia
374
dúzia de flechas voou sobre minha cabeça e furou o asfalto,
caindo a poucos centímetros do cavalo de Hugh.
As flechas pulsaram uma vez com o azul brilhante. A noite

explodiu. Peguei um vislumbre do gigante cavalo preto de
Hugh.
Fiquei rapidamente em pé e me virei. Quatro Cavaleiros

da Ordem caminhavam em nossa direção: Mauro, Richter,
outro homem que eu não conhecia, e uma mulher ruiva com o
cabelo raspado. Eles carregavam bestas. Olá Cavaleiros. Atrás
deles, Robert corria a toda velocidade para a Ordem.
— Vai, Kate! —Mauro acenou para mim.
Os Cavaleiros estavam recarregando as armas. Eu corri. O

prédio indescritível da Ordem apareceu diante de mim. Robert
passou pelas portas. Espremi a última gota de velocidade,

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Livro 7
atravessei as portas, e quase colidi em dois Cavaleiros que

apontavam bestas carregadas diretamente para mim.
— Dê-me sua espada, —disse o mais alto.
— Acho que não.
— Eu faria o que ele pede, querida, —Maxine disse na minha
375
cabeça. — Eles estão sob ordens de atirar, se você não entregar sua
espada.
Capítulo 9
o Cofre depois que
minha tia queimou o lugar. A porta maciça havia sumido.
Escudos e armas ainda estavam pendurados em três

paredes, mas o quarto estava agora alinhado com jaulas loups,
com barras feitas de prata e liga de aço de cinco centímetros de

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Livro 7
espessura. A Ordem não poupou gastos e eu tinha uma bela

vista dessas barras pelo lado errado.
Andava de um lado para o outro, enquanto Robert

permanecia quieto ao meu lado, estendido no chão da jaula,
descansando para deixar seu corpo se curar. Se ele extrapolasse
376
os seus próprios limites, o Lyc-V o tiraria do ar para reparos e
ele não queria ficar inconsciente.
Meu lado ainda doía, e minhas costelas me lembravam de

vez em quando que elas existiam.
À direita, separados da nossa jaula pelas barras, Derek e

Desandra estavam esparramados em sua própria jaula
dormindo sob cobertores. A médico mago da Ordem, um
homem alto com uma longa trança de cabelos castanhos que
se apresentou como Steinlein, examinou-os e nos disse que não
havia nada que ele pudesse fazer. A toxina estava trabalhando
em seus corpos e eles se recuperariam ou não. O médico mago
achava que eles conseguiriam sobreviver, porque, depois de se
tornarem humanos, suas feridas haviam fechado, o que era um
bom sinal.
Através das barras, podia ver Ascanio. Ele estava mole em

uma mesa ao ar livre. Acorrentaram seus tornozelos e seus

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Livro 7
pulsos. As correntes não eram de prata, mas eram grossas o

suficiente para segurá-lo. Steinlein cantou sobre ele,
balançando para frente e para trás. Eu não sabia se o canto dele
fazia ou não algum efeito. O garoto não parecia nada melhor.
Eu me sentia tão vazia, como se alguém tivesse me
377
destruído. Não sabia com quem me preocupar mais, Ascanio
morrendo ou Derek e Desandra mal respirando.
A Cavaleira ruiva com o cabelo raspado, que Steinlein a

chamara de Diana, nos observava. Ao lado dela, um Cavaleiro
esguio e musculoso, com vinte e tantos anos, me dava a sua
melhor versão de um olhar feio. Ele carregava uma espada
tática81. Uma longa cicatriz atravessava seu rosto, desde o
curto cabelo loiro até o queixo. Ambos pareciam convencidos
de que, se um deles desviasse o olhar por um segundo, eu
escaparia da jaula trancada e explodiria a Ordem.
— Se continuarem me olhando assim, vão me incendiar,

—eu disse a eles.
81
Espada Tática

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Livro 7
Nenhum deles respondeu. Ótimo.
Mauro entrou no Cofre.
— Você ligou para o Bando? —Perguntei a ele.
— Os telefones não dão sinal, —disse ele.
378
Posso apenas ter uma folga?
— Mas mandei um mensageiro para a Atlanta Medical,

pedindo ajuda, —disse Mauro. — Eles têm uma nova extensão
do hospital a cerca de seis quilômetros daqui.
— Obrigada, —eu disse.
— Não vai adiantar, —disse Steinlein. — Seu tórax e tudo

dentro dele está esmagado. Se ele fosse mais fraco, já estaria
morto. Estou apenas atrasando o inevitável.
Ascanio confiava em mim. Ele confiava em mim e eu o

deixei vir comigo. Ele não tinha medo, porque era jovem e
achava que era imortal e porque contava comigo para mantê-
lo vivo. Eu não podia perdê-lo. — Se você desistiu do garoto,
me acorrente ao lado dele e eu continuarei cantando.
O médico mago virou para mim. — Eu não disse que

estava desistindo. Só estou dizendo que não há luz no fim deste
túnel. Você tem umas duas horas para se conformar com isso.

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Livro 7
Doolittle teria feito um novo buraco em algum lugar no

corpo desse médico mago pela maneira de como ele tratava
seus pacientes. Se Steinlein não estivesse segurando a vida de
Ascanio em suas mãos, eu teria dito a ele exatamente o que eu
pensava sobre essas maneiras.
379
— Nós não temos duas horas, —disse Robert, com os
olhos ainda fechados. — D'Ambray está chegando.
E logo também. Já estávamos dentro do prédio da Ordem

por cerca de quinze minutos. Tudo o que eu li sobre wendigos
dizia que eles se regeneraram em algo entre cinco minutos e
meia hora, dependendo da força da onda mágica. Nós não
tivemos tempo para cortá-lo em pequenos pedaços e depois
queimá-los. Assim que seu wendigo se levantasse, Hugh viria.
Eu o provoquei, e minha Proteção mágica no apartamento
chutou a buda dele. Ele não iria deixar isso passar.
— D'Ambray seria um idiota se resolver atacar a Ordem,

—disse Diana.
— Receberemos apoio, —disse Mauro. — Falei com o

Cavaleiro-Protetor. Ted entrou em contato com a Divisão de
Atividade Paranormal e a Guarda Nacional.
Nem o PAD nem a Guarda Nacional chegariam a tempo.

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Livro 7
— Já lutamos com um deles antes, —disse Mauro. — Eu,

Kate e Nash, e todos nós sobrevivemos a isso.
Tínhamos sobrevivido a isso, porque eu era ‘um deles’.

Apontar isso não seria interessante para mim.
— Deixe-me sair. Vou lutar com vocês.
380
— Desculpe, Kate. —Mauro fez uma careta. — Ordens
são ordens.
— Kate, —a voz de Maxine disse na minha cabeça.
— Sim?
— Estou sendo retirada para fora do escritório, mas sou instruída

a ficar dentro do meu alcance para que eu possa fazer um relatório
completo do que acontecer.
Ted estava esperando problemas.
— Obrigada por sua ajuda, —eu sussurrei. — Eu sou

muito grata por isso.
— Eu sei, querida. Lamento muito que você tenha saído da

Ordem. Aqui não tem sido o mesmo sem você e Andrea.
Passos pesados desceram as escadas e Ted Moynohan

entrou no Cofre. O Cavaleiro-Protetor envelhecera desde a
última vez que o vi. Ele tinha cinquenta e poucos anos quando

Magic Breaks
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Livro 7
nos conhecemos. Agora parecia mais perto dos sessenta. Ted

era um homem forte e tinha ficado mais forte ainda. A camada
de gordura enganava, haviam músculos duros e poderosos por
baixo, e Ted não parecia suave. Ele parecia um lutador de peso
pesado82 que se descuidou um pouco. Usava calça jeans, uma
381
camisa cinza, botas de caubói e um cinto com uma fivela que
representava muito bem suas ilusões de grandeza. Um chapéu
de caubói preto na sua cabeça, tão grande que, em um dia
quente, poderia abrigar um bando de órfãos de rua à sombra
dele.
Ted parou na minha jaula e olhou para mim, seu queixo

quadrado tenso. Tentei lembrar se em algum momento no
passado ele tinha feito algum favor a mim. Nunca fez nenhum
e não seria agora que faria.
— Aqui está você em uma jaula, Daniels. Sempre soube

que você acabaria em uma.
Eu não respondi. Se ele desabafasse tudo que queria, eu

teria uma chance melhor de fazê-lo entender o que estava por
vir.
82
Peso-pesado é uma divisão de artes marciais mistas onde geralmente competem lutadores de peso entre 205 e 265 lb
(93 kg e 120 kg).

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Livro 7
— Você colocou a Consorte do Bando em uma jaula, —

disse Robert.
— Eu não vejo aqui Consorte nenhuma. O que vejo é uma

simples mercenária desbocada com uma espada afiada, exceto
que ela está vestida melhor agora. Mercenários não têm
382
lealdade e esta aqui não tem cérebro. Ela vai te matar assim
como matou aqueles garotos ali. Vocês deveriam ter
encontrado alguém mais inteligente para liderá-los.
— D'Ambray está chegando, —eu disse. — Tem um

pelotão dos Cães de Ferro e pelo menos um wendigo com ele.
Também tem acesso a todo o conjunto de vampiros da Nação.
Quer derrubar o Bando e decidiu que me matar é a maneira de
fazê-lo. —Não era a verdade completa, mas perto o suficiente.
— Ele está muito chateado comigo. Se você me deixar ir,

D'Ambray vai me seguir.
— Hum-rum, —disse Ted.
— Ele tem números superiores e estar muito determinado.

Você não tem força de trabalho para se opor a ele. Deixe-me
sair. —Eu só precisava deles para manter Ascanio, Derek e
Desandra a salvos. Isso era tudo. Robert e eu poderíamos ir e
levar Hugh conosco para longe daqui.

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Livro 7
Ted sacudiu a cabeça. — Não. Esta é uma luta entre

humanos e você escolheu o lado errado. Viva com suas
escolhas.
Bastardo teimoso. — Você não tem autoridade para me

deter.
383
— Sim eu tenho. Quando vocês pediram proteção à
Ordem, nos deram o poder total para protegê-los da maneira
que acharmos melhor. Desfrute de nossos cuidados, Daniels.
Que raiva. Ouça-me, seu imenso idiota. — Eles vão violar suas
defesas. Você está jogando com a vida de seu pessoal. Hugh
não é um qualquer, ele é o Preceptor da Ordem dos Cães de
Ferro. Uath está com ele e ela gosta de esfolar as pessoas vivas.
Ted sorriu.
Ele queria isso.
O louco filho da puta realmente queria lutar com Hugh

d'Ambray. Enquanto a Ordem nos prendesse, havia uma
grande chance de Hugh decidir lutar para chegar até a mim, e
tudo que eu acabei de dizer a Ted só reforçou mais ainda a sua
decisão de nos manter aqui. Minha mente lutava para

Magic Breaks
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Livro 7
compreender seus motivos e enquanto isso mantive minha

boca fechada.
Por quê? O que ele poderia ganhar com isso? Minha tia deixou
este prédio aos pedaços, e olha que ela não fez isso
pessoalmente. Erra usou um golem83 de carne e osso para fazer
384
isso. Ted era um fanático, mas ele não era um idiota.
Ele tinha que saber que havia uma chance de Hugh

romper as defesas da Ordem. Os Cães de Ferro eram a elite da
elite e, de acordo com Mauro, seus Cavaleiros, que estavam
em desvantagem de pelo menos dois para um, não eram
exatamente a nata da Ordem.
Por que arriscar seu pessoal? Era uma tentativa desesperada de

ter algum tipo de morte gloriosa?
Precisava mudar minha estratégia e rápido. Espremi meu

cérebro atrás do conteúdo das Leis da Ordem. Aprendia
devagar, mas quando conseguia fixar as informações no meu
cérebro, elas ficavam lá para sempre.
83
Golem – é um ser artificial mítico, associado à tradição mística do judaísmo, particularmente à cabala,
que pode ser trazido à vida através de um processo divino.

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Livro 7
— De acordo com o artigo um ponto sete, um pedido de

proteção só é válido quando assinada pela pessoa que pediu a
proteção, após os termos e condições do pedido terem sido
explicados ao referido futuro protegido. Mostre-me essa
assinatura.
385
Ted tirou um papel do casaco e o levantou. Robert Lonesco.
Certo.
Robert encolheu os ombros. — Era isso ou eles não nos

deixariam entrar.
— Artigo número doze, um pedido de proteção de um

grupo poderá ser feito por um indivíduo, desde que esse
indivíduo tenha sido escolhido pelo grupo para atuar como seu
representante. Robert, você foi escolhido para atuar como
nosso representante?
O alfa rato riu. — Não.
O Cavaleiro com a cicatriz no rosto levantou as

sobrancelhas. Ele sabia onde eu estava indo com isso e sabia
que eu estava certa.
— É de seu conhecimento quem representa o nosso grupo,

Robert?

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Livro 7
— Sim, você representa o nosso grupo, Consorte, —disse

Robert.
Eu olhei para Ted. — Este pedido é inválido. Você está

nos detendo ilegalmente. Liberte-nos agora.
A magia estalou pelo edifício, seguida por um lamento
386
desesperado de arrepiar os cabelos. O wendigo de Hugh
acabara de testar a força das Proteções.
— Ela está certa, —disse o Cavaleiro com a cicatriz. —

Não temos o direito de segurá-los.
Ted olhou para ele. — Este é o dia D84, Torres. É para

isso que você treinou. —Sua voz se elevou. — É para isso que
todos treinamos. Isso é importante. Nós faremos história hoje.
Posso contar com você?
Músculos flexionaram no queixo do Torres. — Sim.
— Bom. Continuaremos essa conversa depois que

terminarmos. —Ted foi até o suporte de armas e pegou uma
clava. Diana começou a cantar em voz baixa.
— Deixe-nos sair! —Eu rosnei.
84
A expressão ‘dia D’ é um termo originalmente militar, usada frequentemente para denotar o dia em que um ataque ou
uma operação do combate devem ser iniciados. É mais conhecido pelo desembarques da Normandia durante a Segunda
Guerra Mundial. A expressão Dia D (D-Day) apareceu pela primeira vez nas ordens de batalha do Exército dos Estados
Unidos na Primeira Guerra Mundial.

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Livro 7
Ted me ignorou. — Diana, Torres, Mauro, comigo. —Ele

apontou para o médico mago. — Steinlein, nos apoie.
— Ted, me escute, seu idiota filho da puta! Talvez você

esteja planejando morrer de forma gloriosa, mas ...
Eles saíram. Steinlein, o médico mago com a longa trança,
387
os seguiu. — Desculpa.
Não. Não, droga. — Espere! O menino vai morrer!
— Sinto muito, mas ele está praticamente morto de

qualquer maneira. —O cavaleiro saiu do quarto.
O uivo enfurecido do wendigo entrou em erupção. O

prédio tremeu.
Magia subiu através de mim em

um flash de agonia. Protegidas. Ascanio estava morrendo,
Hugh estava invadindo e enquanto isso estávamos presos em
uma jaula como patos sentados. Bem, isso estava indo bem.

Magic Breaks
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Livro 7
Eu tinha uma chave mestra no meu cinto, mas os

Cavaleiros confiscaram meu cinto, meu casaco e minha
espada.
Acima de nós, algo estremecia com batidas rítmicas e

fortes, como se alguém estivesse batendo no prédio com um
388
enorme martelo.
Robert ficou de pé, encurvado abaixo da fechadura, e

tentou passar a mão entre as barras. Magia mordeu suas
garras. Ele fez uma careta, mostrando os dentes malignos e
tentou tocar na fechadura. Seu antebraço roçou as barras. Ele
empurrou o braço para trás. Uma cicatriz cinzenta cruzou sua
pele, onde a prata matara Lyc-V.
Robert arranhou o chão da jaula, abriu uma tábua e a

deixou cair de volta. — Prata e aço.
O mesmo com o teto. Nós não íamos a lugar algum. Se eu

usasse uma palavra de poder, ela iria rebater no feitiço da
Proteção das barras e voltaria para mim. Tentei fazer isso em
outra ocasião em uma cela com Proteção e a dor me deixou
aleijada por uma hora.
A batida estava ficando mais alta.

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Livro 7
Eu me virei para Robert. — Se Hugh passar e você tiver a

chance de correr, preciso que nos deixe e corra. Alguém tem
que dizer ao Bando o que aconteceu.
Robert me deu um pequeno sorriso. — Se Hugh passar, é

improvável que eu sobreviva.
389
Magia me bateu com uma mão invisível. Eu cambaleei.
— O que foi? —Robert perguntou.
— Alguém acabou de quebrar a Proteção principal da

Ordem.
Algo descia as escadas e Hugh entrou no quarto. Sangue

escorria de suas roupas e casaco, mas ele parecia intacto. Nada
desse sangue era dele. Que pena. A esperança é a última que morre.
Ele me viu e fez uma pausa. — Em uma jaula.
Sim. Sim.
Hugh sacudiu a cabeça. — Como diabos você se deixou

ser colocada em uma jaula?
Ele parecia ofendido em meu nome. Bem, isso não era gentil
da parte dele? — Desculpe, não consigo ouvir você. Meus
ouvidos ainda estão tocando daquele grande estrondo que sua

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Livro 7
cabeça fez quando atingiu as escadas. Seu cérebro está bem?

Porque seu crânio parecia oco.
Atrás dele, Nick entrou pela porta. O cruzado olhou para

cada um de nós, seus olhos frios. Talvez eu estivesse errada.
Talvez Hugh o tenha transformado.
390
Hugh deu uma volta pela sala, parou ao lado do corpo de
Ascanio e fez uma careta. — Odeio amadores.
Me peguei querendo muito bater nele por não deixar o

garoto em paz. Qualquer coisa ou qualquer um que eu
valorizasse, que eu me importasse, Hugh usaria contra mim.
Ele estava saboreando o momento.
Hugh foi até o fundo da sala, com Nick nos calcanhares,

virou-se e encarou a entrada. — Não quero ser interferido.
Nick assentiu e se encostou na parede oposta.
Diana irrompeu no quarto, com o rosto e os braços

manchados de fuligem. Torres, aquele com a cicatriz, estava
apenas um passo atrás. Um corte rasgava seu peito da esquerda
para a direita. Sangue, mas superficial.
— É isso? —Perguntou Hugh.
Os dois Cavaleiros olhavam para Hugh.

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Livro 7
Torres puxou uma besta para cima.
Hugh disse alguma coisa. A magia detonou como um

enorme balão explodindo. Uma palavra de poder. As jaulas
tremeram.
Pedaços da besta bateram no chão de pedra.
391
— Vocês têm problemas em entender. —Hugh tirou o
casaco e pendurou-a em um gancho de armas na parede. —
Sabem quem eu sou. Sabem o que posso fazer. Estou aqui por
ela. —Ele acenou para mim. — Não vou sair sem ela. Não vou
deixar vocês atirarem em mim. Poderiam tentar me trancar,
mas suas paredes não podem me segurar. E a contenção não é
realmente o que vocês tinham em mente, não é?
Hugh desembainhou um gládio85. Uma espada simples e

antiga, com uma lâmina reta de dois gumes, sessenta
centímetros de comprimento e cinco de largura,
provavelmente pesando uns dois quilos. Simples, mas brutal.
85
Gládio

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Livro 7
O tipo da espada que abriu caminho para o Império

Romano fora da Europa.
Diana encolheu os ombros, sussurrando baixinho. Torres

olhou para ele cautelosamente.
Acima de nós, o wendigo gritou novamente. Algo bateu,
392
seguido por gritos humanos roucos.
Hugh ergueu o gládio e girou a lâmina, aquecendo o

pulso. Os olhos de Torres se estreitaram. Hugh segurava a
espada como se fosse uma extensão dele, como se ela não
pesasse nada. Ele estava intimamente familiarizado com ela.
Ele deve ter usado essa espada por tanto tempo que, se
fechasse os olhos, provavelmente poderia estender a mão e
tocar sua ponta, porque sabia exatamente onde a lâmina
terminava. Eu sabia que ele podia, porque mesmo na
escuridão absoluta eu sabia exatamente o tamanho da lâmina
da minha Matadora.
— Tire-me desta jaula, —eu rosnei.
— Shhh, —disse Hugh. Seus olhos estavam duros. —

Apenas assista.

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Livro 7
Ele deu de ombros, esticando o corpo e acenou para os

Cavaleiros. — Se vocês me querem tanto assim, têm que vir e
me pegar.
— Não, —eu disse. — Ele vai matar vocês.
Diana puxou uma espada fina para fora e a segurou como
393
se soubesse o que estava fazendo, mas ela não tinha chances
contra Hugh. Fogo disparou da mão de Diana sobre a lâmina,
cobrindo a espada em chamas.
— Uma espada flamejante. —Hugh sacudiu a cabeça. —

Interessante. Vamos fazer isso.
— Espere, —disse Torres.
Diana pulou para frente, levando sua espada em um

impulso. Foi um bom impulso, bem apontado e rápido. Hugh
a encontrou no meio do caminho. Seu gládio escorregou
facilmente na lateral do corpo dela. Ele a girou, a prendeu a
ele, as costas dela contra o peito dele, e segurou a lâmina
coberta com o sangue de Diana em sua garganta. Demorou
menos de um segundo.
Ááááá. Agarrei as barras. Magia me queimou e eu soltei.

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Livro 7
— Diga-me, Kate, —disse ele, sua voz casual. — Quando

Lennart está fodendo você e você deseja que ele termine logo,
você já pensou em mim? Apenas para apimentar as coisas.
Diana murmurou, ofegando. Seu lado sangrando

enquanto seu corpo bombeava seu sangue da ferida.
394
— Não, —eu disse através dos dentes. — Mas quando
estou deprimida, me imagino matando você e isso me anima.
Isso me traz felicidade.
Hugh riu e puxou Diana para cima, a têmpora pressionada

contra a bochecha dele. — Olhe, está vendo aquela mulher que
você colocou na jaula?
A respiração de Diana saiu em suspiros roucos.
— Implore a ela por sua vida, —disse Hugh.
— Seu maldito bastardo. —Quando eu saí daqui, cortarei ele

em pedaços até que pare de se mover.
— Implore a ela gentilmente, —repetiu Hugh. — Se ela

conceder sua vida, eu deixo você ir.
— Você fez o seu ponto. Eu não quero que ela morra, —

eu disse.
— Implore a ela, —disse Hugh.

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Livro 7
Os lábios de Diana se moveram. — Vá se foder!
— Resposta errada. —Hugh cortou a garganta de Diana e

recuou. A Cavaleira ficou imóvel, seus os olhos bem abertos.
Sangue escuro jorrando de sua garganta. Seus olhos rolaram,
ela tropeçou e caiu. Seu sangue se espalhando em uma poça
395
larga no chão.
Os olhos de Nick estavam vazios. Ele olhou para o sangue,

aparentemente sem problemas. Nick parecia estar morto por
dentro, de tanta frieza.
— Um desperdício. —Hugh limpou o sangue de sua

espada.
Torres avançou cautelosamente. Ele se movia como um

gato assustado, leve na ponta dos pés e nervoso.
Todo mundo ficou louco hoje? — O que você está fazendo?

Apenas atire nesse idiota! Ele não pode continuar usando
palavras de poder. Ele vai acabar ficando sem energia antes
que você fique sem flechas na besta.
— Espadachim, hum. —Hugh colocou o gládio na mesa

de exame atrás dele. — Olha, mãe, sem espada.

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Livro 7
Torres pulou em direção a Hugh, rápido como um raio.

Hugh se esquivou para fora do caminho apenas o suficiente
para a lâmina passar de raspão, agarrou o pulso de Torres,
recostou-se e deu um chute lateral nas costelas do Cavaleiro,
logo acima do quadril direito. O chute foi como uma explosão.
396
Torres cambaleou para trás, curvando-se sobre o lado
machucado.
Hugh sorriu e fez sinal para ele. — Vamos.
Torres pulou novamente e golpeou da esquerda para a

direita, apontando para a garganta de Hugh. Muito devagar.
Hugh desviou e a lâmina roçou seu ombro esquerdo.
Torres inverteu o balanço e tentou esmagar o cabo da

espada no rosto de Hugh, deixando seu tórax muito aberto,
desprotegido.
Hugh se esquivou, agarrou seu gládio da mesa de exames

e cortou Torres. O primeiro golpe abriu o estômago do
Cavaleiro. Antes que ele tivesse a chance de girar, Hugh
afundou um impulso preciso no lado do Cavaleiro, bem entre
as costelas, direto no fígado.

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Livro 7
Torres caiu de joelhos, embalando suas entranhas. Hugh

agarrou o cabelo dele. — Implore a ela por sua vida.
— Eu quero que ele viva, —eu gritei.
— Ele tem que implorar a você, —Hugh me disse.
Torres puxou uma faca do cinto e a enterrou na coxa de
397
Hugh.
— Eu acho que temos um não como resposta. —Hugh

apunhalou seu gládio no peito do cavaleiro.
Torres gorgolejou e caiu no chão.
Eu girei na jaula, indefesa. Ele estava matando-os um por

um e eu só podia assistir. Raiva ferveu dentro de mim. — Por
que você está fazendo isso?
Hugh limpou o sangue da espada. — Você queria que eu

lhe mostrasse algo.
— Bem, até agora tudo o que eu vi foi você matando dois

Cavaleiros da Ordem. Escolha alguém do seu tamanho.
— Tudo a seu tempo. —Hugh sorriu para mim, com os

olhos frios.
Onde diabos estavam o PAD e a Guarda Nacional? Quanto

tempo demorariam para se mobilizarem?

Magic Breaks
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Livro 7
— Goste ou não, —ele disse, — você ainda é filha dele.

Mesmo que você corra dele, o despreze, não importa, a escolha
é sua. Só o Sangue pode insultar o Sangue. Ninguém mais.
Não vou permitir isso.
Finalmente entendi. Isso não era apenas sobre mim, isso
398
era sobre a Ordem ter arrastado meu nome na lama depois que
me desliguei dela, e hoje a Ordem me prendeu nessa jaula. Isso
não era apenas eliminação. Era uma punição. Ele mataria
todos os Cavaleiros desse prédio, mas não antes de fazer com
que todos se submetessem a mim e me implorassem por suas
vidas.
Eu tinha que fazer algo.
A Proteção entre as barras da jaula não era sólida. Doeu

como o inferno quando eu empurrei minha mão através dela,
mas eu poderia empurrá-la. Virei as costas para Hugh e
arranhei o corte no antebraço esquerdo. A dor me invadiu.
Sangue carmesim lavou minha pele, a magia nela viva e

pronta. Puxei, moldando o sangue com a minha vontade em
uma agulha de doze centímetros de comprimento. Era longa e
afiada e um olho seria um alvo perfeito, com o cérebro logo
atrás dele. Eu só tinha que trazê-lo para perto da jaula.

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— Você vai querer ver a próxima parte, —disse Hugh. —

Estou apenas começando. Ou é demais para você?
Eu me virei para o Hugh. — Não sai da minha cabeça

aquele fogo que destruiu seu castelo. Ninguém poderia ter
sobrevivido aquilo. Me pergunto: e se você não for mesmo o
399
verdadeiro Hugh?
Hugh se aproximou da jaula.
— E se meu pai tiver um armário cheio de Hughs, e toda

vez que Curran e eu quebrarmos um, ele simplesmente tira de
lá outra cópia?
Hugh passou por cima do corpo de Torres e,

vagarosamente, caminhou deliberadamente até as barras, mas
ficou fora do alcance de ataque. Tudo o que eu precisava era
de alguns centímetros mais perto.
— Uma vez eu assisti a um filme em que um homem fazia

clones de si mesmo, —eu disse a ele. — Cada clone era mais
burro do que o anterior. Acho que isso pode até ser verdade.
Você atacou a Ordem. Essa é a coisa mais idiota que já vi você
fazer.

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Livro 7
Hugh se inclinou para frente. Seus olhos azuis fixaram em

mim, duros e predatórios. Isso mesmo, mostre-me o quão grande e
cruel você é. Venha. Me fale sobre isso. Aproxime-se. Mais perto.
— Diga-me, qual é o seu número, clone-Hugh?
— Você quer saber como eu sobrevivi? Ele roubou um ovo
400
de fênix e me colocou dentro dele. Por dois meses fiquei
mergulhado no ovo, criando uma nova pele e uma nova
coluna, e pensando no que faria com Lennart e com você
quando saísse. —Hugh se aproximou. Mais um pouquinho e
estaria no lugar perfeito. — E deixe-me lhe dizer uma coisa, o
olhar em seu rosto quando viu eles morrerem agora fez tudo
valer a pena.
As escadas estremeceram sob passos rápidos. Hugh se

virou.
Não! Que merda, quase o peguei.
Quatro pessoas invadiram a sala: uma Cavaleira de cabelos

escuros que eu não conhecia, Ted Moynohan, o médico mago
Steinlein, e na frente de todos eles, um homem esguio com uma
cabeça careca e pintura de guerra azul-celta tatuada no rosto.
Richter, o Psicopata residente da Ordem.

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Ótimo. Mais pessoas para ele matar.
— O Cavaleiro-Protetor. —Hugh girou a espada em um

círculo preguiçoso, aquecendo seu pulso. — Finalmente. E
aqui eu pensando que você me deixaria arruinar seu prédio.
— Abra a jaula e eu vou destruí-lo, —eu disse. Tinha dado
401
uma surra nele uma vez. Poderia fazer isso de novo.
Hugh riu. — Vamos, Kate. Não os envergonhe. Eles são

Cavaleiros da Ordem. Já estava mais do que na hora de
alguém os testar.
Ted olhou para os dois corpos de bruços no chão em volta

dele e sorriu. Seu pessoal estava morto e ele sorriu.
A percepção me atingiu como uma tonelada de tijolos.

Ted queria um massacre. Ele estava sendo pressionado a sair
da Ordem. Ou ele se aposentava ou A Ordem armaria para sua
desonra, e ele deve ter decidido que sairia, mas do jeito dele.
Sairia em um momento de glória. Mas sua morte sozinha não
seria suficiente. Se Hugh matasse somente Ted, a Ordem
poderia encontrar uma maneira de ignorar esse episódio, mas
se o Senhor da Guerra de Roland massacrasse todo um núcleo
de Cavaleiros, a Ordem faria tudo o que estivesse em seu poder
para caçá-lo. Tinha que ser brutal, sangrento e cruel, então

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Livro 7
aqueles que morreram não seriam apenas Cavaleiros

derrotados ou vítimas, eles se tornariam mártires.
Hugh iria matar todos eles. Ted queria que todos eles
morressem. Ele queria seu próprio Álamo86. Os Cavaleiros
dariam suas vidas, cada um deles, após um impasse final
402
dramático, e Maxine testemunharia tudo isso. Estávamos
assistindo o início da guerra entre Roland e a Ordem.
Nada que eu pudesse fazer ou dizer faria qualquer

diferença. Eu caí no chão ao lado de Robert. Do outro lado da
sala, Nick olhou para mim, o rosto pálido como a neve lá fora.
Nossos olhares se encontraram. Ele entendeu e assistia a tudo
como eu e Robert.
Ted apontou para Hugh. — Peguem ele.
86
Em 1836, o General Sam Houston organiza um exército rebelde para liberar o Texas da norma brutal do ditador
mexicano General Santa Anna. Embora em número bem maior, o Exército voluntário do General Houston inclui figuras
folclóricas como Jim Bowie e Davy Crockett. Enquanto as forças de Santa Anna avançam em Santo Antonio, o lendário general
e seus homens se preparam para uma batalha final em uma missão heroica chamada Álamo.

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Livro 7
lâminas curtas e opacas, e se

multiplicou em três versões transparentes de si mesmo. Dois
eram falsos e um era real. Os três Richters se lançaram em uma
onda de ataques contra Hugh. O Preceptor da Ordem dos Cães
de Ferro recuou sob o ataque, bloqueou e chutou, colocando
403
todo o poder de suas enormes pernas nele. O verdadeiro
Richter voou pela sala e bateu na parede.
A mulher de cabelos escuros saltou para o lado e

apunhalou Hugh, apontando entre as costelas esquerdas,
rápido.
Hugh recostou-se, deixou a espada passar e enfiou o

cotovelo esquerdo no rosto da mulher. Ela tropeçou de volta.
Richter correu e cortou o ombro direito de Hugh. Sangue
pulverizou. Hugh empurrou Richter para fora do caminho.
A mulher voltou a atacar e congelou, apanhada na lâmina

de Hugh como um peixe num anzol. Ele empurrou em seu
peito, torceu, esculpindo o coração, e atirou seu cadáver em
Richter. O Cavaleiro se esquivou e atacou Hugh novamente
em um frenesi. Hugh recuou, bloqueando a parte plana da
lâmina, o seu rosto calmo e concentrado. Seus olhos se
tornaram calculistas. Era como se Voron tivesse ressuscitado e

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Livro 7
possuísse Hugh, e eu soubesse exatamente o que viria a seguir.

Ele cortaria Richter, lento e metodicamente, usando todas as
oportunidades. Não perderia a paciência, nem a concentração,
porque em um momento como esse, onde o ângulo da lâmina
separa a vida da morte, Hugh não podia falhar. Se um
404
meteorito em brasa perfurasse o telhado e explodisse, ele não
piscaria. Eu conhecia bem esse momento. Era aí que eu ficava
quando estava no meu melhor.
Richter extraiu sangue de novo e de novo, cada golpe de

suas lâminas abrindo outras pequenas feridas. Hugh reteve-se.
Então Richter balançou o braço direito um pouco demais.
A espada de Hugh, afiada, precisa e impiedosa esfaqueou

Richter no estômago. Hugh girou e chutou a perna do
Cavaleiro debaixo dele. Quando Richter caiu de joelhos, Hugh
o esfaqueou no local onde o pescoço se encontra com o ombro.
Richter ofegou. Hugh balançou a espada e a cabeça de Richter
rolou no chão.
Meu peito doía. Eu me lembraria desse sentimento

enquanto vivesse, essa sensação terrível de estar trancada em
uma jaula e não poder fazer nada.

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Livro 7
Ted Moynohan rugiu. Um contorno vermelho escuro

brilhou ao redor de seu corpo, deslizando sobre sua clava.
Aparentemente, o Cavaleiro-Protetor tinha alguma magia
própria.
Hugh se agachou e pegou uma segunda espada no corpo
405
de Torres, esparramado no chão.
Ted pulou. Hugh desviou para longe. Ted sacudiu a clava

como se não pesasse nada.
Hugh bloqueou, deixando a clava bater na espada de

Torres. Seu braço tremeu um pouco. Ele mudou de posição.
Isso foi um inferno de um golpe. Se eu fosse ele, tentaria

evitar o bloqueio.
— Você sabia quem ela era quando decidiu humilhá-la? —

Perguntou Hugh.
— Eu não preciso de você para lutar minhas batalhas por

mim, —eu disse.
— Alguém tem que fazer isso, já que você não vai.
Ted girou a clava e virou-se para Hugh. Hugh bloqueou

novamente e a cabeça da clava quebrou a lâmina ao meio.
Hugh cortou o braço de Ted com a lâmina quebrada e afastou

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a mão. A espada quebrada caiu no chão. Seja lá o que fosse a

aura vermelha de Ted, doía como um filho da puta.
— Você sabia quem ela era? —repetiu Hugh.
Ted balançou a clava novamente. Hugh se abaixou, saltou

sobre o cadáver de Richter e pegou um escudo na parede.
406
— Você não sabia. Ainda não sabe?
Ted se virou novamente e Hugh empurrou o escudo em

seu caminho. A clava se conectou com o escudo em um
estrondo, soando como um gongo.
— Pensei que seus garotos eram melhores em obter

informações.
Boom.
— Pelo menos deveria ter feito sua lição de casa.

Desleixado, Moynohan. Muito desleixado.
Boom. Hugh estava esperando que Ted entrasse em um

padrão. Ted batia com mais força, tentando romper o escudo
com força bruta. Uma vez que um oponente entrava em um
padrão, ele se tornava previsível, podendo ser derrotado
facilmente.

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Livro 7
— Quando você tem um poder como o dela ao seu lado,

você move o céu e a terra para segurá-lo.
Boom.
— Mas você não fez, não é?
Boom.
407
— Porque você é um idiota.
Ted balançou, colocando todo o seu poder no golpe,

esperando romper o escudo. Hugh deu um passo para a direita
e se virou. A clava assobiou no ar a distância de um fio de
cabelo do peito dele. Ted deu muito impulso ao golpe, ele não
conseguiu se segurar. O peso da clava o derrubou e Hugh o
esfaqueou no peito. Se ele não atingiu o coração, estava muito
perto.
O sangue subiu. Os olhos de Ted se arregalaram.
— Não, —disse Hugh. — Não, isso foi muito fácil.
O que?
Ted lutou para levantar a clava. A aura vermelha ao redor

dele apagou.
Hugh apertou a mão no peito de Ted. — Volte. Eu não

terminei com você.

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Livro 7
Um brilho azul cintilou nos dedos de Hugh. Algo

gorgolejou na garganta de Ted. Bolhas vermelhas se
expandiram para fora de sua boca.
Hugh estava curando Ted. Isso era tortura. — Deixe-o

morrer em paz!
408
— Não, ainda não. —Hugh sacudiu a cabeça. — Vamos.
Volte para mim.
Os braços de Ted tremiam. Ele respirou fundo.
Hugh libertou-o. O Cavaleiro-Protetor recuou.
Hugh bateu o gládio contra o escudo. — Vamos,

Cavaleiro. Me mostre mais.
A aura carmim chamejou Ted mais uma vez. Ele avançou

e bateu o ombro em Hugh. Hugh voou para trás e rolou
agachado ao lado do médico mago. Steinlein estava tão quieto
que já tinha esquecido que ele estava lá, pressionado contra a
parede e segurando um pequeno machado. Antes que Hugh
pudesse se levantar, o médico mago balançou o machado.
Hugh se moveu, mas não rápido o suficiente. O machado
afundou em seu ombro esquerdo.

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Livro 7
Hugh chutou para fora, varrendo as pernas do médico

mago, o derrubando. Steinlein caiu. Hugh enterrou seu gládio
no estômago de Steinlein, de forma tão natural que parecia que
estava brincando, e rolou para a esquerda bem a tempo de
evitar a clava de Ted. O Cavaleiro-Protetor o perseguiu.
409
Steinlein estremeceu no chão. Suas pernas tremiam. A
ferida aberta em seu estômago jorrava sangue.
Eu não sentia mais nada. Apenas ódio congelado.
Hugh atacou Ted como um tigre encurralado. Eles

entraram em confronto, clava se chocando contra escudo, se
amontoando no chão. Hugh enfiou os pés no chão e
empurrou, derrubando Ted de volta. O Cavaleiro-Protetor
girou a clava, apontando para a cabeça de Hugh. Hugh
levantou o escudo para se proteger, pondo toda a sua enorme
força no golpe.
O escudo se conectou, derrubando a clava de Ted. Por

uma fração de segundo, o Cavaleiro ficou desprotegido. Hugh
se virou e abriu um segundo corte no estômago de Ted. Ted
caiu contra a parede e deslizou para baixo.
Mauro entrou no quarto, ensanguentado e coberto de

fuligem. Sangue escorria de sua espada curta e larga. — Eu

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Livro 7
não posso segurá-los. Chame-os ... —Ele viu os corpos. Seus

olhos se arregalaram. Ele largou a espada.
— Não! —Eu gritei.
Mauro gritou e arrancou sua camisa. Tatuagens enroladas

ao longo de seu torso, redemoinhos densos de tinta escura em
410
padrões precisos brilharam. Ele bateu palmas como um
lutador de sumô. Sua pele ficou negra. As bordas de suas
tatuagens queimaram vermelhas, mudando um pouco, como
se sua pele de obsidiana tivesse rachado ao longo das linhas,
revelando um vislumbre da lava por baixo. O calor me
banhou, rolando dele em ondas.
Hugh encolheu os ombros. — Vamos, grande homem.

Vamos ver o que você tem.
Mauro atacou. Hugh desviou e enfiou o gládio no

estômago de Mauro. A lâmina não entrou. Mauro se chocou
com o ombro de Hugh. O Preceptor voou alguns metros e
bateu na parede.
Mauro se lançou contra ele, rugindo. Hugh saiu do

caminho, evitando ficar preso.

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Livro 7
Hugh era melhor com uma espada, mas uma vez vi Mauro
levantar um carro quando um gato ficou preso debaixo dele.
Faça isso, você pode fazer isso, Mauro.
Hugh apunhalou o gládio novamente ao lado de Mauro.

A lâmina rebateu. Hugh soltou o gládio e enfiou o punho na
411
garganta de Mauro. Foi um soco forte e poderoso. A pele de
Hugh chiou queimada. Ele tropeçou para trás. Quente o
suficiente para você, seu idiota?
Mauro fechou as mãos na garganta de Hugh e o empurrou

contra a parede. As costas de Hugh se chocaram contra as
pedras com um baque satisfatório. Mauro o espancou na
parede de novo e de novo.
— Torça o pescoço dele, —eu gritei.
Mauro esmagou Hugh na pedra novamente, sacudindo-o

para frente e para trás. Ele não me ouviu. Estava longe demais.
Hugh empurrou os braços para cima, entre os braços

maciços de Mauro, tentando se soltar. O ar cheirava a carne
chamuscada. Hugh ergueu os braços, os braços de Mauro se
abriram e o grande Cavaleiro deu uma cabeçada no rosto de

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Livro 7
Hugh. O sangue encharcou os lábios de Hugh. Nariz quebrado,

com certeza.
Mauro agarrou Hugh em um abraço de urso, levantando-

o do chão. Ossos gemeram.
— Kate! —Robert apontou para a direita. Olhei naquela
412
direção para o médico mago deitado em uma poça de sangue.
Steinlein se esforçou para dizer alguma coisa e enfiou a

mão no bolso.
Hugh enfiou os polegares nos olhos de Mauro. Mauro

atirou-o para o lado, como se Hugh não pesasse nada.
Steinlein pegou um chaveiro ensanguentado.
Chaves. Chaves para a jaula. Eu caí de joelhos pelas barras.

— Aqui. —Se eu pudesse sair da jaula, Mauro e eu acabaríamos com
Hugh.
Mauro agarrou Hugh, mas o Preceptor conseguiu desviar.

Bolhas cobriam os seus braços. A carne ao redor do pescoço
de Hugh estava queimada.
A mão de Steinlein tremeu. Ele rastejou em direção à

jaula, deixando uma mancha sangrenta no chão. Depressa.
Depressa.

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Mauro gritou novamente.
Steinlein esticou a mão com as chaves na minha direção.

Tentei alcança-las. As pontas dos meus dedos roçaram o
chaveiro. Magia mordeu meu braço com dentes de fogo e eu
puxei meus dedos para trás.
413
Droga.
Hugh se lançou atrás de Mauro, agarrou seu pulso direito

com a mão esquerda, colocou a mão direita no ombro de
Mauro e deu uma rasteira nele. O homem grande caiu como
um carvalho na areia. A sala tremeu com o impacto. A cabeça
de Mauro bateu no chão.
Steinlein se esticou mais um pouco e desabou, estendendo

a mão para as barras. Empurrei meu braço pela Proteção. A
magia me queimou, tão intenso que as lágrimas escorreram
dos meus olhos. Apertei meus dentes em agonia e me estiquei.
Eu não podia deixar Mauro morrer, não o grande, gentil e

engraçado Mauro. Ele cuidou de mim, ele trouxe o meu
cachorro, ele ajudava as pessoas ... eu queria que ele vivesse e
fosse feliz. Queria que ele fosse para casa com sua esposa.
Queria muito isso. Não queria que ele morresse aqui.

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Magia estava comendo meu braço.
Mauro era meu amigo. Eu não podia deixar ele morrer

aqui.
O mundo se derreteu em dor. Eu gritei.
Algo me puxou de volta. Pisquei e percebi os braços de
414
Robert me segurando. Meus dedos seguraram as chaves sujas
de sangue.
Hugh agarrou a espada com as duas mãos, apontou para

baixo e a enfiou no peito do grande homem, afundando todo
o peso e poder do corpo nele. O gládio afundou na carne uns
oito centímetros. Mauro gritou.
Eu me lancei para a porta.
— Não! —Robert me segurou.
Hugh pegou a clava de Ted e a martelou no gládio como

um martelo. A espada penetrou mais ainda no peito de Mauro.
Mauro ofegou. Sua pele empalideceu, suas tatuagens

desapareceram. Seu corpo estremeceu. O Cavaleiro maciço
soltou um único suspiro rouco e ficou imóvel.
Ele o matou. Ele matou Mauro. Parecia que alguém abriu um

buraco grande e escuro debaixo de mim e eu estava caindo

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Livro 7
dentro dele gritando. Eu falhei. Não fui rápida o suficiente.

Meu amigo estava morto e não havia nada que eu pudesse
fazer para trazê-lo de volta. Ele estava vivo ontem de manhã.
Fez uma reverência gentil no meu escritório.
Ele matou Mauro. Eu estava viva e ele ...
415
Não consegui respirar. Minha raiva e tristeza estavam me
sufocando, tentando me afogar.
Oh meu Deus, o que eu diria à esposa dele?
Hugh endireitou-se, gemeu, cuspiu sangue para o lado e

agachou-se ao lado de Ted. Seu rosto estava uma bagunça
sangrenta. No chão, sete pessoas estavam mortas ou
morrendo. No canto, Nick olhava para tudo, impassível.
Hugh examinou a cena e olhou para a ferida aberta no

estômago de Ted.
— Um ferimento assim é melhor, dessa forma a vitória é

muito mais satisfatória. Nos dá alguns momentos para
conversar antes de você morrer. Tenho um segredo para te
contar sobre um de seus ex-empregados. —Hugh ficou de pé e
pôs o braço em volta de Ted, movendo o rosto dele em minha

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direção. — Está vendo-a. A propósito, ela odeia jaulas. Você

vai gostar do que eu vou lhe contar.
Ele se aproximou de Ted e sussurrou em seu ouvido. Os

olhos de Ted se arregalaram.
— A vida é cheia de surpresas, não é? —Hugh sorriu.
416
Hugh se endireitou e fechou os olhos. Magia se condensou
em torno dele. Um brilho azul-claro lambeu seu ombro. Suas
feridas se fecharam. Seu nariz se consertou. Ele deu de ombros
e caminhou até a minha jaula, sangue pingando de sua espada.
— Diversão nunca dura. Eles morrem muito rapidamente

nas minhas mãos. Me dê as chaves, Kate. Você lutou uma boa
luta, mas acabou.
— Não. —Antes eu teria deixado a jaula e lutando com

ele para salvar a todos. Agora não havia necessidade. Agora
eles estavam mortos. Mauro estava morto.
— Ele era seu amigo? —Hugh olhou para o corpo do

grande Cavaleiro. — Sinto muito. Me dê as chaves.
— Vou matar você, —eu disse a ele. — Se eu não o matar,

Curran vai.

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— É por isso que gosto de você. É sempre o caminho mais

difícil. —Hugh virou o pé, a bota deslizando no sangue e
caminhou até Ascanio. — O que temos aqui?
Eu não achei que pudesse sentir mais medo. Estava enganada.
Ele olhou para o cadáver de Steinlein. — Isso seria obra
417
sua? Eu detesto amadores. O garoto é um metamorfo e um
adolescente. Seu fator de regeneração é altíssimo. Quero dizer,
realmente, quão difícil seria curar o garoto?
Não toque nele. Não toque ...
Hugh estendeu as mãos e começou a cantar em voz baixa.

A magia se moveu lentamente a princípio, depois cada vez
mais rápido, contornando Hugh e se derramando no corpo de
Ascanio. As costelas esmagadas se arrastaram sob a pele do
menino, se reformando.
Hugh parou de cantar. O fluxo de magia parou como se

cortado por uma faca e eu quase gritei.
Ascanio estava deitado na mesa, pálido e sujo de sangue.

Ele era tão jovem. Tão jovem, apenas uma criança morrendo
lentamente na mesa de metal.
— Então, o que vai ser, Kate?

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Ilona Andrews
Livro 7
Hugh estendeu a mão e as feridas de Ascanio começaram

a se fechar. — Sim? —Ele fechou a mão em um punho. A cura
parou. — Ou não?
— Não. —A voz de Robert vibrou com urgência. — Não

morda a isca.
418
— Sim? —Pedaços fraturados das costelas deslizaram no
lugar.
Ascanio confiara em mim para mantê-lo seguro. Eu

prometi a Tia B. Prometi a ela em seu túmulo que cuidaria de
seu povo.
— Ou não? —A carne parou de se mover.
— Talvez você gostaria que eu fizesse isso ao contrário?

—Hugh ergueu as sobrancelhas.
— Não. —A palavra escapou antes que eu pudesse pegá-

la.
— Não! —A voz de Robert estalou como um chicote.
Hugh fez uma careta, com o rosto sacudido pelo esforço.

Os ossos de Ascanio rangeram. Oh Deus.

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Ilona Andrews
Livro 7
— Decida-se, —disse Hugh. — Porque eu vou quebrar

todos os ossos do corpo dele. Ele estará mole como uma
boneca de pano quando eu terminar.
Eu não podia deixar Ascanio morrer. Não estava em mim.
Parecia que as palavras cortavam minha boca ao sair. —
419
Cure-o e eu vou abrir a jaula.
— Isso é um erro, —disse Robert.
Hugh sorriu.
Segurei as chaves. — Você tem minha palavra. Cure o

menino e eu vou abrir a jaula.
Hugh virou-se para Ascanio e levantou a mão. Magia

construiu em torno dele como uma onda prestes a quebrar. Um
brilho azul constante lentamente se espalhou ao redor de seu
corpo.
A magia mergulhou no corpo de Ascanio em um dilúvio.

Ele gritou.
Ted se esforçou para dizer alguma coisa. Seu grande corpo

tremeu. O velho e duro bastardo se recusava a morrer.
Hugh o ignorou, sua magia fluindo dele para Ascanio.

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Ilona Andrews
Livro 7
A voz de Ted era um chiado rouco, como se uma bigorna87

pesasse em cima do seu peito e ele não conseguisse puxar ar
suficiente para os pulmões.
— Sua ... missão ...
A caixa torácica de Ascanio se expandiu, os ossos se
420
movendo lentamente de volta ao peito.
— Está ...
Ted ofegou. Sangue jorrava da sua boca. — Abortada.
O que?
— Efetive imediatamente.
As pernas de Ted se convulsionaram. Ele agarrou a borda

da mesa, mantendo-se ereto por pura vontade.
— Central, reconheça e registre minha ordem.
— Reconhecido e registrado, —a voz de Maxine disse na

minha cabeça. Robert olhou em volta, assustado. Hugh parou
e levantou a cabeça. Todos na sala devem ter ouvido isso. —
87
Bigorna

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Ilona Andrews
Livro 7
Cavaleiro cruzado Nikolas Feldman, você está sendo obrigado

a retornar às tarefas regulares.
Eu conhecia apenas um Feldman. Greg, meu falecido

guardião.
A mão de Ted escorregou. Ele caiu no chão. O sangue
421
jorrou de sua boca.
Nick deu um passo à frente. Os ramos gêmeos com os

espinhos nas pontas saíram de seu corpo e deram um soco no
peito de Hugh, fazendo com que ele se afastasse. O Preceptor
da Ordem dos Cães de Ferro voou e caiu no chão do lado de
fora da sala. Nick arrancou um escudo verde da parede,
revelando um interruptor e socando-o. Um portão levadiço de
metal deslizou no lugar, separando Hugh do resto de nós.
Eles tinham um portão levadiço! Eu quase engasguei. Certo,

natural que eu não soubesse da existência desse portão, os
outros Cavaleiros talvez não tinham conhecimento também.
Mas Ted sabia. Ele poderia ter trancado Hugh a qualquer
momento.
Hugh ficou de pé e gritou, um uivo de pura fúria.
Uath desceu as escadas. — Temos que ir.

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Ilona Andrews
Livro 7
Hugh apunhalou o portão levadiço com a mão. — Eu

quero isso quebrado.
— Não há tempo, —disse ela.
Ele se virou para ela, com o rosto contorcido.
Uath recuou. — Um pelotão da Guarda Nacional está
422
chegando. Eles estão a menos de um quilômetro de distância.
— Quantos?
— Dois esquadrões. Dezoito soldados e uma unidade de

magos. Podemos eliminá-los, mas isso levará muito tempo.
Quando terminarmos, metade da cidade estará em cima de
nós.
Hugh olhou para o teto.
— Senhor, —disse Uath. — Devo assumir uma posição

defensiva?
A raiva de Hugh implodiu. Seu rosto deslizou para a

calma gelada. — Não. Vamos recuar. Mova o nosso pessoal.
Uath subiu correndo as escadas.
Hugh apontou através das grades para Nick. — Bem

jogado. Você e eu não terminamos. —Ele se virou para mim.
— Ao meio-dia, eu estarei indo para você.

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Ilona Andrews
Livro 7
Ele se virou e subiu as escadas.
Eu enfiei minha mão entre as barras e destranquei a jaula.
Nick foi até Ted, agachou-se e tocou seu pescoço. Sua voz
tremeu com raiva reprimida.
— Bem, aqui estamos nós. Você está morto, seu bastardo
423
imbecil. Dois anos da minha vida, disfarçado. Você tem
alguma ideia de que tipo de merda eu vi? Sabe as coisas que eu
tive que fazer? As coisas que fizeram comigo? Dois anos de
coleta de informações, esperando por uma chance de fazer a
diferença. E você me queimou. Jogou tudo fora só para poder
ter uma testemunha da sua guerra santa. —Nick se levantou e
chutou Ted na cabeça.
— E agora você está morto, seu filho da puta, e eu tenho

que viver com tudo isso.
Abri a porta da jaula e corri para Ascanio. Ele estava

respirando. Os cortes ainda estavam abertos, mas o peito não
era mais uma bagunça disforme. Virei-me para Mauro,
procurando por um pulso. Por favor. Por favor, por favor, por favor
...

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Ilona Andrews
Livro 7
Sem batimentos. Nem é um pequeno pulso. Mauro estava

morto. Ele estava morto. Como eu explicaria isso para a esposa
dele? Como ...? Quem cuidaria de todos os cães que ele abrigava? Ele
estava vivo há apenas minutos atrás. Nunca mais voltaria para
casa. Estava morto. Eu me sentia tão vazia, tão destruída,
424
como se minha alma tivesse sido despedaçada. Isso doía. Doía
muito.
Quando a Guarda Nacional veio nos tirar do Cofre, eu

estava sentada ao lado do corpo de Mauro, Robert tentava
ligar para o Bando do telefone da Ordem, e Nick ainda chutava
o cadáver de Ted Moynohan e rosnava como um animal
raivoso.

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Ilona Andrews
Livro 7
Capítulo 10
88
eles
425
encontraram o pedido de proteção inválido da Ordem e nos
libertaram. A última vez que vi Nick Feldman, ele estava
cercado por soldados. Não havia como chegar até ele. Nós
tínhamos convencido a Guarda Nacional a nos dar uma
carona para um dos escritórios do Bando. De lá, Robert e eu
carregamos Desandra, Derek e Ascanio em um veículo do
Bando e fomos para a Fortaleza.
Nenhum dos três mudou de forma, continuavam

humanos. Ainda respiravam, mas precisávamos levá-los para
Doolittle.
Entrei na Fortaleza duas horas antes do amanhecer,

coberta de sangue seco e mancando. Meu rosto deveria estar
terrível, porque as pessoas me olhavam e saíam do meu
caminho.
88
MSDU – Unidade Militar de Defesa Sobrenatural

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Ilona Andrews
Livro 7
A Fortaleza estava lotada. Todos os metamorfos da cidade

que não evacuaram vieram para cá.
Barabas desceu correndo as escadas.
— Curran?
— Nenhuma notícia ainda.
426
— Julie?
— Deve estar em Virginia agora.
Eu me virei. A fortaleza ficou quieta ao meu redor. As

pessoas estavam nos corredores e nas escadas, esperando. Eu
era a Consorte. Eu era a alfa deles.
Minha voz soou no súbito silêncio. — Tragam-me Dorie

Davis! Traga-a para mim viva!
Todos se mexeram. As pessoas correram em todas as

direções, algumas em suas formas humanas, algumas peludas.
A Fortaleza pulou para a vida.
Atrás de mim, Robert rugiu: — Precisamos de um médico!
Jim apareceu como por magia.
— Preciso te contar algumas coisas. Suba as escadas.

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Livro 7
Marchei escada acima, entrei em uma das salas de

conferência e despenquei em uma cadeira. Algum tempo atrás
a minha mente decidiu não registrar mais a dor, mas agora
cada machucado gritava. Tudo doía.
Jim me seguiu. Trinta minutos depois terminei de contar
427
a ele tudo que aconteceu.
Jim se inclinou para frente e mostrou os dentes. — Hugh

é um grande fodido.
— Sim. Ele tinha uma vantagem, que era nos culpar pela
morte de um dos Mestre dos Mortos, mas irritou a Ordem
atacando-a. Hugh ainda vai trazer a Nação para cá, só que
agora as autoridades policiais da cidade não vão apoiá-lo.
— Podemos usar isso, —disse Jim. Eu quase podia ver as

rodas das engrenagens girando em sua cabeça.
— Precisamos encontrar Dorie Davis.
— Eu vou encontrá-la, —prometeu Jim. — Podemos

resolver isso, Kate. O MSDU e o PAD ficando neutros o jogo
muda.
— Maxine chamou Nick de o cruzado Nikolas Feldman,

—eu disse.

Magic Breaks
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Livro 7
— Sobrenome interessante, —disse Jim.
— Ele é parente de Greg Feldman?
— Eu não sei, —disse Jim.
— Nick apareceu logo após o assassinato de Greg, ele se

envolveu na investigação e tem o mesmo sobrenome. Quando
428
isso acabar, preciso que você descubra se Greg Feldman tinha
um irmão mais novo ou um filho.
Porque isso seria apenas a cereja no sangrento bolo das últimas

vinte e quatro horas.
— Provavelmente um irmão. Greg tinha cerca de quarenta

anos quando morreu, —disse Jim.
— Não, Greg parecia ter cerca de quarenta. Ele teve essa

mesma aparência durante os últimos quinze anos que eu o
conheci. Quem você mandou para a Carolina do Norte?
— Uma unidade com três Renders e nossos dois melhores

rastreadores. Eles o encontrarão, Kate. Não se preocupe.
Se eles não fizessem, eu faria. Procuraria por Curran e não

pararia até encontrar.
— Eu tenho tudo por aqui sob controle, —disse Jim. —

Descanse. Vou mandar Doolittle para cima.

Magic Breaks
Ilona Andrews
Livro 7
A última vez que verifiquei, o bom médico ainda estava

em uma cadeira de rodas. Seria muito mais fácil descer as
escadas do que ele subir. — Agora não. Existem três pessoas
muito feridas no andar de baixo. Ele vai estar ocupado por um
bom tempo de qualquer maneira.
429
Eu ainda não sabia se eles iriam sobreviver.
Jim se levantou e se inclinou sobre a mesa, fechando a

distância entre mim e ele. — Você parece um inferno.
— Obrigada. —Eu me sentia como o inferno. Sentia como

se tivesse passado por ele arrastando uma rocha gigante nas
minhas costas, por um chão encharcado de sangue.
— Suba as escadas, tome um banho e durma. Você nos

tirou da areia movediça. Nós temos uma chance de lutar
agora. Você ganhou uma hora de sono.
Forcei as palavras para fora. Minha voz estava rouca. —

Uma hora inteira de sono, oh garoto!
— Uma hora, então vou enviar Doolittle para cima.

Preciso que esteja no seu melhor. Vá, —disse Jim. — Eu vou
te acordar se o céu começar a cair.
Ele saiu.

Magic Breaks
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Livro 7
Sentei sozinha na cadeira. Eu me sentia completamente

vazia, como se alguém tivesse drenado toda a minha
ansiedade, o meu medo e raiva. Sei que ainda estavam lá,
fervendo sob a superfície, mas o cansaço tomou conta de tudo.
Eu estava tão cansada. Meu Deus, eu estava muito cansada.
430
Cobri meu rosto e esperei pelas lágrimas. Eu trouxe a
guerra para nós. Tinha consciência de que isso teria acontecido
mais cedo ou mais tarde. O poder do Bando havia crescido e
Roland não permitiria esse tipo poder. Mas minha presença
acelerou o processo.
Assisti, sem poder fazer nada, todo o núcleo da Ordem de

Atlanta ser abatida. Eu queria chorar só para deixar a dor
sangrar para fora de mim, mas meus olhos estavam secos.
Daria qualquer coisa para ver Curran passar pela porta

atrás de mim. Eu podia imaginá-lo fazendo isso. Ele entraria,
colocaria os braços em minha volta e tudo ficaria melhor.
Olhei para a porta.
Por favor, passe por ela. Por favor.
A porta permaneceu fechada.

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Livro 7
Não era assim que deveria ser. Sempre que planejamos

lutar contra D'Ambray, pensamos que estaríamos juntos. Nós
seríamos uma equipe. Eu não tinha percebido o quanto essa
crença me fazia mais forte e o quanto eu tinha me apoiado nela
até o momento em que ele não estava aqui. Agora eu sentia
431
como se minha muleta tivesse sido arrancada debaixo de mim.
Bem, o destino mais uma vez confirmou que presumir o que
você fará com o seu futuro é uma grande bobagem89.
Eu me inclinei para trás e descansei minha cabeça nas

costas da cadeira. Já faziam vinte e quatro horas desde que
dormi. A lateral do meu corpo doía. Meu braço esquerdo
estava ficando dormente. Quebrar a Proteção de Hugh no
apartamento havia me custado. Minhas costelas doíam.
Tão cansada ...
A Fortaleza enfrentaria qualquer coisa que Hugh trouxer.

Claro, ela enfrentaria. Mesmo que Hugh traga todos os
vampiros do estábulo da Nação, ela enfrentaria.
89
O trecho original em inglês é: “Well, fate had once again confirmed that when you assume, you make an ass of you and
me.” Traduzindo de forma literal fica: “Bem, o destino mais uma vez confirmou que, quando você assume, você faz um burro
de você e eu.” Essa frase grifada é um ditado americano que faz um jogo, uma brincadeira com a palavra ASSUME = ASS + U
+ ME (Burro + você + eu). O ditado quer dizer que é uma grande burrice ou bobagem presumi algo que está fora do seu
controle, como o futuro por exemplo.

Magic Breaks
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Livro 7
Eu precisava me arrastar, descer até o terceiro andar e ver

se Doolittle tinha alguma atualização sobre os garotos. Só
mais um minuto para descansar e eu me levantaria ...
432

Magic Breaks
Ilona Andrews
Livro 7
433
Eu me levantei abruptamente.
A porta da sala se abriu e Doolittle entrou. Ele parecia da

maneira que costumava parecer, um homem negro na casa dos
cinquenta anos, cabelos grisalhos, olhos inteligentes e gentis.
— Eu disse a Jim para não incomodar você.
— Primeiro, não é um incômodo, é o meu trabalho. E com

você, jovem, também é o meu eterno desafio. Toda vez que

Magic Breaks
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Livro 7
volta para a Fortaleza, eu me pergunto que jeito novo e criativo

você encontrou para se machucar. —Doolittle olhou para
mim. — A menos que esteja insinuando que minha cadeira de
rodas de alguma forma me impede de fazer o meu trabalho.
Nesse caso, eu posso ...
434
— Não, não é o que eu quis dizer. Apenas pensei que as
escadas seriam inconvenientes.
— É por isso que eu tenho estagiários. Eles me carregaram

até aqui. Estou pensando em encomendar um palanquin90.
Algo simples.
— Com seda e veludo carmesim?
— E detalhes dourados. —Doolittle rolou para frente. —

Então eu poderia ser transportado de maneira apropriada à
minha vasta experiência e sabedoria. Tire a camisa.
Argumentar com Doolittle era como tentar impedir que a

maré subisse. Tirei o suéter que as bruxas tinham me dado. Ai.
Ai. — Foram os guardas que te chamaram, não foi?
90
Também chamado de liteira.

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Livro 7
— Para ser justo, eles deixaram você dormir por duas

horas antes de ficarem preocupados e pedir ajuda.
Eu tirei meu sutiã esportivo.
Doolittle suspirou.
Olhei para baixo. Meu lado esquerdo inteiro estava azul e
435
roxo. — Acredito que tenho uma costela quebrada.
Ele examinou meu lado, sussurrando em voz baixa. —

Acredito que você tem três.
Ai.
Eu não consegui evitar a pergunta por mais tempo. —

Como eles estão?
— Derek e Desandra vão sobreviver, —disse Doolittle. —

Eles perderam seus dentes, unhas e cabelos e precisaram de
várias transfusões de sangue, mas agora o veneno está fora do
corpo. Estão fracos, mas nada do que boas refeições e um
pouco de descanso não vá resolver.
— Ascanio?
— Ele está comendo sopa no andar de baixo.
Eu pisquei. — Você está brincando comigo.

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Livro 7
— Não. E acredite em mim, agora ele tem problemas

muito maiores. Sua alfa e sua mãe estão na Fortaleza, elas
estão o mastigando a toda altura. É muito assustador. Não há
mais perguntas até que eu termine.
Doolittle colocou dois dedos na boca e assobiou. A porta
436
se abriu e Agatha, uma das guardas pessoais minha e de
Curran, enfiou a cabeça na sala.
— Empurre minha cadeira, por favor. Preciso de chá e a

Consorte precisa de uma nova muda de roupa.
Agatha e eu tivemos uma

leve discussão sobre o suéter de Evdokia. Eu queria vesti-lo de
volta e ela apontou que a roupa estava imunda e cheirava a
coisas não naturais e muito nojentas. Chegamos a um acordo.
Ela iria lavá-lo e secá-lo para tirar os restos do wendigo e
depois me devolveria. As bruxas me disseram para usá-lo. Eu

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Livro 7
não via razão para não as obedecer. Meu lado ainda doía, mas
a dor terrível diminuíra para uma dor suportável. Eu me sentei
ao lado de Doolittle. Agatha nos trouxe um pouco de chá
gelado e mel. Os guardas haviam feito o chá, então, pela
primeira vez, estava a salvo de adormecer imediatamente após
437
o tratamento médico.
Doolittle tinha o mau hábito de batizar os chás com

sedativos. Segundo ele, isso o salvava de discutir com os
pacientes difíceis sobre a prescrição de descanso.
Nós tomamos nosso chá. Esta era a calmaria antes da

tempestade, e eu a aproveitei. Era egoísta, mas havia algo
sobre a presença de Doolittle que me estabilizava.
— Quem curou Ascanio? —Doolittle perguntou baixinho.
— Hugh d'Ambray.
— O mesmo homem que me curou quando meu pescoço

foi quebrado?
— Sim. —A lesão deixou as pernas de Doolittle

paralisadas, mas sem Hugh ele teria morrido. Eu nunca soube
porque Hugh fez isso. Ele me perguntou se eu queria que

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Livro 7
Doolittle vivesse, eu disse que sim, e ele puxou Doolittle de

volta da beira da morte.
Doolittle franziu a testa e bebeu o chá. — Ascanio está sete

quilos mais leve que sua última pesagem, que foi há menos de
uma semana. Hugh não apenas consertou seus ossos. Ele
438
forçou o corpo de Ascanio absorver nutrientes para produzir a
matriz óssea91 e a construir tecido ósseo inteiramente novo.
— Você pode fazer isso?
— Sim, mas levaria horas. Possivelmente dias. Quanto

tempo Hugh trabalhou nele?
— Talvez seis ou sete minutos.
O rosto de Doolittle ficou sério. — Deixe-me mostrar-lhe

algo.
Ele olhou para baixo. Eu olhei para baixo também, para

seus pés vestidos em meias brancas.
91
A matriz óssea é composta por uma parte orgânica (35%, representa a flexibilidade
do osso), e uma parte inorgânica (65%, representa a rigidez e resistência do osso) cuja composição é dada basicamente por
íons de fosfato e cálcio, formando cristais de hidroxiapatita.

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Livro 7
Doolittle dobrou seus dedos dos pés. Pisquei para ter

certeza de que não estava vendo coisas. Não, ele estava
dobrando os dedos dos pés.
— Você está melhorando. —O alívio tomou conta de

mim. Eu ainda me culpava pelo o que aconteceu com ele.
439
— Parece que sim. É possível que daqui a alguns anos eu
possa até andar novamente.
Eu o abracei.
Ele me abraçou gentilmente.
Algo quente e úmido deslizou pelas minhas bochechas.

Percebi que estava chorando.
— Oh não, —Doolittle murmurou e bateu no meu cabelo.

— Não, não, nada disso agora. Se você fizer isso, eu vou
chorar e estou muito velho para isso.
Eu o soltei e me sentei. Ele limpou a garganta.
— Esta cadeira, Kate, não é uma coisa ruim.
— Mas você não pode andar.
Ele levantou a mão. — Me ouça. Antes dessa lesão, nunca

estive gravemente doente. Sou um médico que entendia de
doenças, mas nunca havia sentido o impacto de uma doença

Magic Breaks
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Livro 7
com risco de vida ou sofrido uma lesão significativa na minha

própria pele. Essa cadeira me fez um médico melhor. Isso me
deu uma nova perspectiva. Diga-me, quando você me ver
rolando na sua direção no corredor, você me vê ou vê a
cadeira?
440
— Eu vejo você. —É claro que eu o via. Ele ainda era
Doolittle.
Ele sorriu. — É exatamente onde quero chegar. Acredito

que a palavra ‘inválido’ é um equívoco. ‘Inválido’ implica que
você está quebrado além do uso. Não presta para mais nada.
Eu sou bem capaz. Não posso mais participar de operações de
campo, mas agora sou um professor melhor. Preciso de
arranjos adicionais para subir um lance de escadas, mas paro
para cheirar as rosas com mais frequência. Tenho a sorte de ter
controle intestinal e, embora minha bexiga necessite de uso
ocasional de um cateter, recuso-me a ser definido por quais
funções meu corpo pode ou não ter um bom desempenho.
Francamente, eu sou mais do que a soma das minhas partes
físicas. Cheguei a um acordo com minha nova vida e alcancei
felicidade pessoal. A perspectiva de que se vou recuperar ou

Magic Breaks
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Livro 7
não os meus movimentos, empalidece em comparação a tudo

que ganhei. Isso faz sentido?
— Sim.
Servi um pouco mais de chá para nós.
— Eu deveria estar morto, —disse ele. — Não tenho
441
nenhuma experiência anterior com esse tipo de lesão, então
não tenho base para saber o que realmente está acontecendo.
Não sei se esta recuperação parcial acontece porque o Lyc-V
está consertando meu corpo aos poucos ou se é ainda o
resultado do que Hugh fez, um resíduo da sua magia de cura
que ainda está ativada em mim. Acredito que toda vez que a
onda mágica vem, me curo um pouco mais, mas não é algo
que eu possa medir. Ascanio deveria estar morto também.
— Mas ele não está. —Eu ainda não conseguia acreditar.

Assim que eu tivesse um minuto livre, iria até a enfermaria
médica e acabaria com Ascanio por seu heroísmo estúpido
com wendigo. Supondo, claro, que sobrasse alguma coisa dele
depois que Andrea e Martina terminassem com ele.
Ascanio estava vivo. Talvez eu estivesse sonhando. Talvez tudo

isso fosse apenas uma ilusão.

Magic Breaks
Ilona Andrews
Livro 7
— Ele é notável, disse Doolittle.
— Hugh?
— Sim. Eu sou um poderoso médico mago, mas ele é

verdadeiramente talentoso. —Doolittle olhou para mim. —
Ele é um milagreiro.
442
— Só as vezes. Na maior parte do tempo ele é um
carniceiro.
— Estou tentando entender o porquê.
Suspirei. — Voron, meu pai adotivo, encontrou Hugh nas

ruas da Inglaterra. Hugh tinha sete anos de idade. Sua mãe
morreu quando ele tinha quatro anos e de alguma forma ele
acabou vivendo nas ruas em vez de ser enviado para o sistema
de adoção. Os moradores de rua o alimentavam em troca de
que ele pudesse curá-los. Quando Voron o encontrou, Hugh
estava no limite de sua sanidade. Voron levou o menino para
Roland, que lhe disse que ele tinha encontrado um enorme
reservatório mágico à sua disposição. Sua força bruta era
impressionante, e Roland viu uma oportunidade. Na época,
Voron era o Senhor da Guerra de Roland, mas Roland sabia
que Voron precisaria de um substituto. Voron não tinha poder
mágico. Ele era um espadachim supremo e estrategista, mas

Magic Breaks
Ilona Andrews
Livro 7
seu tempo estava no fim. A magia estava ficando cada vez

mais forte e Roland percebeu que precisaria de alguém que
pudesse usá-la. Hugh estava no lugar certo na hora certa.
Roland deu Hugh a Voron e meu pai adotivo o forjou em um
general do jeito que alguém forjaria uma espada. Ele fez um
443
excelente trabalho e foi assim que Hugh se tornou o adorável
psicopata que todos conhecemos e queremos matar.
Os olhos de Doolittle se arregalaram. — Ele poderia ter

sido qualquer coisa. Poderia ter salvado milhares ao longo de
sua vida. A quantidade de bem que ele poderia ter feito. Que
tipo de mente distorcida olharia para aquela criança milagrosa
e o transformaria em um assassino?
— É assim que Roland trabalha. Ele vê o potencial oculto

nas pessoas.
Doolittle recuou. — Isso não é potencial.
— Sim. Hugh gosta do que faz. Ele é assustadoramente

bom nisso.
Doolittle sacudiu a cabeça.
Eu levantei. — Olhe pela janela.

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Livro 7
Doolittle rolou a cadeira até a janela e olhou para o pátio

por um momento.
— O que você vê?
— Pessoas trabalhando.
Eu me virei para a janela, olhei para baixo por dois
444
segundos, e então virei de costas para ela. — Torre à esquerda,
quatro pessoas, dois homens no topo trabalhando no
escorpio92, uma mulher na janela do segundo andar com uma
besta, um homem na varanda. Pátio da esquerda para a direita:
duas mulheres no canto esquerdo, trabalhando em um jipe. Jim,
conversando com os seus rastreadores Yolanda e Colin. um
homem e dois adolescentes carregando vigas, provavelmente
para reforçar o portão. O homem tem uma lesão no joelho e
manca de sua perna esquerda.
— Três adolescentes agora, —disse Doolittle ainda

olhando pela janela. — Chegou mais um enquanto você estava
falando.
92
Um Scorpio era um tipo de motor de cerco de torção romana e peça de artilharia de campo. Foi
descrita em detalhes pelo arquiteto e engenheiro romano do período pré-imperialista Vitrúvio no século I aC, e pelo oficial e
historiador do século IV, Amiano Marcelino.

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Livro 7
— Foi para isso que fui treinada. Faz parte do conjunto de

habilidades que eu precisava para sobreviver. Isto é o que eu
faço. Se eu precisasse, poderia atravessar o pátio com uma
espada e abrir caminho através deles. Isso me custaria, mas no
final eu mataria ou mutilaria todos eles e em algum lugar
445
dentro de mim eu iria gostar, porque estaria fazendo o que eu
sou boa em fazer, o que fui treinada para fazer. Hugh é como
eu. Você olha para ele e vê a criança especial que foi desviada
de seu caminho. Eu olho para ele e vejo um homem que gosta
do que faz. Hugh poderia ter curado milhares de pessoas, mas
nunca teria sido tão feliz como quando matou os Cavaleiros
da Ordem no próprio prédio deles.
— Nem sempre é sobre a felicidade pessoal. Às vezes tem

que ser sobre a obrigação que temos para com os outros. Um
dever a pagar pelo dom que você recebeu.
— É por isso que você se tornou um médico?
Doolittle suspirou. — Eu já era médico, muito novo, mas

já era médico, quando percebi que tinha magia de cura. Ela
veio junto com o meu metamorfo. Esse último pedaço guardei
só para mim. Eu não sabia o que pensar ou como lidar com o
fato que eu era também um metamorfo. Naquele momento, a

Magic Breaks
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Livro 7
magia de cura era nova e ter alguém com esse dom e com o
conhecimento científico médico, ao mesmo tempo, era muito
raro. Eu era um dos dois médicos com o dom da cura em nossa
turma de formandos. O pai de Jim, Eric Shrapshire, era o
outro. Nós dois estávamos em uma posição delicada. Houve
446
muita pressão para entrarmos em pesquisa. Nós dois também
recebemos ofertas para trabalhos privados, para atendermos a
uma única família em regime de exclusividade. Muitas ofertas
foram tentadoras e eu estava considerando seriamente
algumas delas.
— Então, por que você não aceitou?
— Uma noite, Eric me ligou e me disse que ele havia se

decidido. Ele assistiu a um documentário sobre loupismo. Isso
o afetou profundamente e o fez perceber que usar seu dom para
o benefício dos metamorfos era a sua missão. No caos da
Atlanta pós-Mudança, Eric percebeu que os metamorfos, com
sua regeneração e resistência a doenças, seriam
negligenciados. A atenção da comunidade médica se
concentraria em doenças humanas, porque os humanos
normais seriam os mais vulneráveis. Pessoas normais viam
metamorfos como monstros, e monstros seriam os últimos da

Magic Breaks
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Livro 7
lista, não importando o quanto precisassem de ajuda. Ele

sentiu que poderia fazer uma diferença real trabalhando para
ajudar os metamorfos. —Doolittle olhou para mim. — Ele não
sabia que eu era um dos ‘monstros’. Ele viu pessoas
necessitadas sendo negligenciadas e decidiu ajudá-las. Achava
447
que era seu dever, enquanto eu estava egoisticamente tentando
selecionar a melhor oferta de benefícios e dinheiro. Decidi
então que não poderia fazer diferente de Eric.
O pai de Jim tinha morrido pelo que ele acreditava. Um

dia foi trazido a ele uma criança que tinha ido loup e cometido
vários assassinatos. Apesar disso, ele havia a escondido em vez
de tê-la sacrificado, como exigido por lei. O crime foi
descoberto, ele foi condenado e, na primeira semana de sua
prisão, outro preso o esfaqueou até a morte. Anos depois Jim
rastreou o assassino de seu pai e o fez pagar por isso.
— Eu me juntei ao Bando, —disse Doolittle. — Escolhi

um novo nome. Beatrice, Tia B, me apresentou ao Bando. Ela
e minha esposa tinham sido melhores amigas.
— Eu não sabia que você era casado.
— Ela faleceu há muito tempo. Em outra vida.

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Ilona Andrews
Livro 7
— Se você não tivesse se tornado um médico ‘monstro’,

você ainda praticaria medicina? —Perguntei.
— Sim.
— Hugh e eu ainda praticamos assassinato. Somos dois

lados da mesma moeda.
448
— Exatamente, —disse Doolittle. — Os lados opostos.
Por que você escolheu trabalhar para os Mercenários?
— Parte era porque eu estava me escondendo à vista de

todos.
— E a outra parte?
Foi a minha vez de suspirar. — Porque eu queria estar feliz

com o que fazia da minha vida. Fiz algumas coisas quando era
criança. Eu não me culpo por elas. Eu as fiz porque o adulto,
responsável por mim, me orientou a fazê-las e me elogiava
quando conseguia. Mas quando cresci, tornou-se difícil viver
com as lembranças de tudo o que eu tinha feito. Então decidi
ajudar as pessoas, para variar. Os Mercenários me deixavam
escolher os meus trabalhos, e eu pude ser ‘a boa moça’, mesmo
que apenas por um tempo.

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Livro 7
— E essa é a diferença crucial entre você e Hugh. Ele é um

agressor e você é uma protetora. —Doolittle se inclinou para
frente. — Você poderia ter sido uma assassina de aluguel ou
uma arma particular de alguém. Em vez disso, escolheu
proteger todos ao seu redor. É tão natural para você quanto
449
respirar e eu me considero um privilegiado por ter a sorte de
estar entre esses que são protegidos por você, mesmo que o seu
desejo de proteger às vezes a faça ir longe demais.
A maneira como ele disse ‘longe demais’ me jogou de volta

a alguns meses atrás, quando ele acordou depois que Hugh o
curou. Eu me sentei para que eu pudesse estar no mesmo nível
dos seus olhos. Precisava dizer isso, mas não sabia como.
Decidi apenas ser direta. — Você não precisa se preocupar. Eu
sei como se sente sobre o meu tipo particular de magia. Espero
que nunca chegue a isso, mas se acontecer, eu não vou te tirar
da morte como fiz com Julie.
Nunca esquecerei o que fiz para Julie. Ela não sabia, mas
isso a impossibilitava de recusar uma ordem direta minha.
Lembrei-me do medo nos olhos de Doolittle quando ele
recuperou a consciência e pensou que eu havia tirado seu livre

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Livro 7
arbítrio com minha magia. Às vezes eu sonhei com esse

momento.
Doolittle congelou por um doloroso segundo. Sua voz saiu

tranquila. — Fui tão fácil de ler assim?
— Você tinha acabado de voltar da morte, —eu disse.
450
— Eu não quis te ofender. Quando falei em ir longe
demais, quis dizer que seu desejo de proteger às vezes acaba
com você ferida. Você se arriscar muito. Mas foi bom você ter
tocado nesse assunto, dessa forma podemos falar sobre ele.
Agradeço tudo o que você está disposta a fazer, mas não vou
viver como escravo de ninguém. Minha família é legalmente
livre desde 1865 e não vou desistir da minha liberdade por
nada nesse mundo. Preferiria morrer.
— Eu entendo, —eu disse a ele.
Ficamos sentados em silêncio por alguns longos

momentos.
Doolittle se aproximou e tocou minha mão. — Seu tipo

particular de magia é ...
— Mal?

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Ilona Andrews
Livro 7
— Eu ia dizer assustadora. Não tenho medo de você. Não

temo quem você quer ser. Eu temo quem você pode se tornar
apesar de não querer. Mas você não precisa ser definida pela
sua magia ou pelo medo de um homem velho. Há uma boa
palavra para o tipo de pessoa que você é: honrada. A palavra
451
pode ser antiquada, mas cabe perfeitamente. Estou feliz por ter
tido o privilégio de conhecer você.
Eu forcei um sorriso. — Mesmo que eu não siga suas

prescrições e você tenha que me drogar com seu chá gelado
para me tirar fora do ar?
Doolittle sorriu. — Mesmo assim. Falando em

prescrições, você deve evitar ficar em pé o máximo que puder.
— Absolutamente. —Eu me levantei. — Vou abrir a porta

para você.
Doolittle resmungou. — Pelo menos tenha a decência de

esperar eu virar as costas para me ignorar.
— Éééé, desculpe. —Segurei a porta aberta para ele.
— Minha vida seria muito mais fácil sem tantos pacientes

difíceis, —ele resmungou.

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Ilona Andrews
Livro 7
— Você nos ama, doutor. Sabe que ama. Nós o mantemos

ocupado. Sem a gente, não há como saber que tipo de
problemas suas mãos ociosas o colocariam.
452
Capítulo 11
e
me deitei no sofá ridiculamente grande da nossa sala de estar.
Os aposentos de Curran foram adaptados para o tamanho da
sua forma animal. A cama, a banheira, os sofás, tudo foi
construído para acomodar um enorme leão pré-histórico. Mas
em todo o nosso tempo juntos, eu nunca tinha visto ele usar o
sofá na sua forma de leão. Nos raros dias em que ele entrava
em nossos aposentos em pelos, geralmente ficava na banheira
ou deitado no chão, e eu geralmente acabava no chão com ele,
me encostando ao seu lado e lendo um livro. Talvez aí tenha sido
o princípio da coisa.

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Ilona Andrews
Livro 7
Eu sentia falta dele. Ainda não havia notícias sobre se ele

estava vivo ou morto.
Olhei para o relógio. Oito quarenta e cinco. Três horas e

quinze minutos até o prazo de Hugh.
A essa altura já devem ter encontrado Curran.
453
Cortaria Hugh em pedaços. Arrancaria o sorriso
presunçoso de seu rosto. Ele não teria um rosto depois que eu
terminasse. Mas eu tinha que esperar. Esperar pela Double D,
esperar pelo próximo movimento de Hugh, esperar por Curran
ser encontrado. Eu odiava esperar.
Eu me forcei a sair do sofá. Tinha que me vestir e ser vista.

Com Curran desaparecido, o Bando procuraria por mim. A
Nação estaria se movendo para nós em breve. Precisava checar
nossas defesas e lidar com as perguntas do Conselho do Bando.
Precisava checar Derek, Desandra e Ascanio.
Uma batida soou na minha porta.
— Entre.
Andrea entrou, com o rosto endurecido. — Você está

bem?
— Estou bem.

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Livro 7
— Vim até aqui duas vezes antes e seus guardas não me

deixaram entrar. —Andrea aterrissou em uma cadeira. — Eu
não ouvi ainda notícias de Raphael.
Ela sabia que eu perguntaria.
— Qualquer notícia de Curran? —Ela me perguntou.
454
Balancei a cabeça. — Tenho algo para contar e você não
vai gostar.
Expliquei sobre Nick e o massacre na Ordem.
O rosto de Andrea ficou branco. Ela trancou as mãos em

um punho e inclinou a cabeça em direção a eles. Seus dedos
ficaram pálidos pela força da pressão. — Todos estão mortos?
Eu balancei a cabeça.
— E Mauro?
— Sim.
— Você está bem? —Andrea perguntou.
— Estou ótima. —Minha voz soou frágil, sarcástica e

amarga.
— Sempre desejei que algo de ruim acontecesse com a

Ordem, mas não isso, —disse ela. — Não tão ruim assim.

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Livro 7
— Você desejou que algo de ruim acontecesse?
Ela fez uma careta como se tivesse mordido um limão

podre. — Depois que Erra quase destruiu o prédio da Ordem
de Atlanta, Ted caiu em desgraça.
— Manteve o olho neles?
455
— Ah sim. Sempre fico de olho nas pessoas que eu desejo
matar.
Ela soou como a Tia B.
— Moynohan nunca foi um dos melhores Cavaleiros-

Protetores, mas ele estava na Ordem desde o começo.
— Um Cavaleiro-fundador, eu sei. Mauro me contou.
Andrea recostou-se. — Comecei a perceber como Ted

trabalhava quando descobri que ele havia recusado,
repetidamente, as propostas para aumentar o contingente de
Cavaleiros trabalhando no núcleo de Atlanta.
— Por quê? —Eu nunca entendi porque uma cidade do

tamanho de Atlanta tinha apenas sete Cavaleiros designados
para ela.
— Porque um núcleo com dez membros ou mais requer

um Cavaleiro-místico, —disse Andrea.

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Ilona Andrews
Livro 7
Um Cavaleiro-místico funcionava como um capelão93 em

unidades regulares do Exército. Greg Feldman, meu agora
falecido guardião, tinha sido um. Ele lidava com todo tipo de
problemas pessoais dos Cavaleiros, e eles tinham muitos.
— Falei com alguns dos novos Cavaleiros que foram
456
transferidos, —Andrea continuou. — Ted não tinha vergonha
de manipular as regras para chegar onde queria e ele queria um
grupo de Cavaleiros suficientemente leais para seguir essas
regras com ele. Um Cavaleiro-místico teria destruído sua
autoridade. Essa é uma das razões pelas quais ele deixou você
entrar, a propósito. Ele via em você uma pessoa de grande
talento e muito chateada com a morte de seu guardião. Ted
achava que, se desse a você a sua ‘grande chance’, você passaria
o resto da vida o agradecendo e por isso o seguiria.
Bem, ele teve uma grande surpresa. — Aposto que ele abriu
uma garrafa de champanhe quando Greg morreu.
— Provavelmente. —Andrea suspirou. — Sempre

acreditei que ele nunca iria se aposentar. Seu ego era muito
grande. Ele iria querer sair em um momento de glória. Bem,
93
Capelão é um ministro religioso autorizado a prestar assistência e a realizar cultos em comunidades religiosas,
conventos, colégios, universidades, hospitais, presídios, corporações militares e outras organizações ou corporações, e que
geralmente é oficiado por um padre ou pastor.

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Livro 7
ele fez isso, o idiota. Conseguiu seu último aplauso. Pessoas

morreram por isso. Deus, pobre Nick. Ele deve ter passado
pelo inferno trabalhando disfarçado e Ted o queimou por
nada. Foram anos jogados fora. Eu mataria Ted por isso.
— A última vez que eu vi Nick ele ainda chutava o cadáver
457
de Ted.
Andrea fez uma careta.
— A Ordem não vai nos ajudar, não é? —Perguntei.
Ela me encarou de frente. — Não.
Merda. — Isso é o que eu pensava. —A Ordem não gostava

do Bando ou da Nação. Não havia razão para lutar ao nosso
lado. Eles viriam, investigariam e caçariam Hugh como um
cão raivoso, mas contar com eles para intervir em nosso
benefício agora seria fútil. Mesmo que eles estivessem
dispostos a ajudar, eles não chegariam a tempo ou em número
suficiente para fazer a diferença.
— O que você vai fazer? —Andrea perguntou.
— Eu não sei. Pergunte-me depois que encontrarmos a

Double D.

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Ilona Andrews
Livro 7
Ela levantou a cabeça. — Seja qual decisão você tomar, o

Clã Bouda vai apoiá-la.
— Obrigada. —Pelo menos minha melhor amiga ainda

estava do meu lado.
— Obrigada por salvar Ascanio, —disse ela.
458
— Eu não o salvei.
— Sim, você fez. —Andrea olhou para mim. — Eu

deveria ter ido ao Conclave com você.
— Você foi da última vez.
— Você precisava de mim para cuidar de suas costas. —

Ela suspirou. — Sarah foi presa na Carolina do Sul e eu tive
que ir lá pessoalmente para tirá-la da cadeia. Deveria ter
enviado um advogado do Bando, mas acabei indo porque sinto
que Tia B está olhando por cima do meu ombro a todo
momento. Sinto essa necessidade de estar em todo lugar e
resolver tudo. Nunca pensei que iria dizer isso, mas sinto falta
dela. Eu queria que ela estivesse aqui.
— Conheço o sentimento.
Andrea hesitou, abriu a boca e fechou sem dizer uma

palavra.

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Livro 7
— O que foi?
— Estou grávida.
Fechei minha boca com um clique. — Parabéns!
Ela olhou para mim e abriu os braços como se dissesse: É
459
isso aí.
— Como você está? De quanto tempo?
— Quatro semanas. Eu não sinto nada diferente ainda. Só

tive um pressentimento que poderia estar, então eu fiz um
teste.
— Você está bem?
Ela se inclinou para frente, sua voz mal acima de um

sussurro. — Estou com muito medo.
Eu não tinha nem ideia do que dizer. Ficaria com medo

também. — Você disse a Doolittle?
— Ainda não.
— Você precisa dizer a Doolittle. Precisa começar a tomar

panaceia. —E nem eu nem ela sabíamos a quantidade que ela
precisaria tomar. — Raphael já sabe?
Ela balançou a cabeça. — Eu fiz o teste ontem.

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Ilona Andrews
Livro 7
Ah droga. Nós ainda não sabíamos se Curran e Raphael

estavam vivos.
— Eu sei exatamente como Jennifer se sentiu quando

Daniel morreu, —disse Andrea. — Raphael nem queria ir. Ele
estava tentando ganhar uma licitação de algum prédio para o
460
negócio, e eu disse a ele: — Vá, querido. Somos alfas novos e
isso fará bem a nossa reputação.
— Eles vão ficar bem, —eu disse.
— Claro que eles vão ficar bem.
Olhamos uma para a outra e fizemos um esforço

silencioso para acreditar em nossa própria besteira.
embora eu me arrastei até a

enfermaria. Desandra e Derek foram tratados, jantaram e
agora estavam dormindo.

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Livro 7
Uma das enfermeiras de Doolittle me contou que a mãe

de Ascanio estava com ele. Provavelmente precisavam ficar
sozinhos, então fui para o corredor de observação da UTI94.
Escuro e estreito, corria ao longo dos quartos individuais dos
pacientes, cada quarto tinha uma janela unidirecional. Sean,
461
uma enfermeira em treinamento, acenou para mim sentada em
seu posto no canto. Uma unidade de terapia intensiva para
metamorfos significava pacientes que poderiam ir a loup a
qualquer momento. Os quartos foram reforçados e alguém
ficava de olho neles vinte quatros horas por dia, durante os sete
dias da semana até que o perigo passasse.
Ascanio estava coberto pelos lençóis. Sua cor estava quase

de volta ao normal. Sua mãe sentada em sua cama lendo um
livro para ele. Ele disse alguma coisa. A julgar pelo seu sorriso,
ele achou engraçado. Sua mãe suspirou.
A porta do corredor se abriu e Robert se juntou a mim.
— Ele está se recuperando, —disse o alfa dos ratos.
— Sim.
94
Unidade de Terapia Intensiva

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Livro 7
Robert olhou para Sean. — Você se importaria de nos dar

um minuto?
Sean se levantou e saiu do corredor.
— Falei com meu companheiro, —disse Robert.
— Isso soa sinistro.
462
— Eu gosto muito de você, —disse ele. — Ele respeita e
valoriza minha opinião sobre você.
— Mas? —Havia sempre um ‘mas’ em anexo.
Robert olhou para o teto por um longo momento. — Estou

tentando encontrar a maneira certa de dizer isso.
— Vá em frente, estou pronta para ouvir.
— Se a morte de Curran for confirmada, a questão da sua

liderança surgirá. Pode haver questionamento da validade
dessa liderança.
Bem, isso não demorou muito. — Você ouviu alguma coisa a

esse respeito?
— Sim.
Eu não esperava por isso. Acho que estava muito

complacente com o Bando e essas palavras de Robert foram o

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Livro 7
meu chamado de despertar. Eu não tinha planos de liderar o

Bando sem Curran, mas ainda assim doía. Lutei muito por eles
e achei que tinha ganhado o respeito do Bando. O que mais eu
precisava fazer por eles?
Robert franziu a testa. — Talvez eu seja perguntado sobre
463
a minha experiência durante a noite passada. E pretendo
responder com sinceridade. Percebo que não é o melhor
momento, mas não quero que você se sinta apunhalada pelas
costas.
— Houve algo de errado com a minha conduta na noite

passada?
Robert encontrou meu olhar. — As pessoas gostam de

atribuir aos seus líderes qualidades nobres. Generosidade,
bondade, abnegação. A dura verdade é que os melhores líderes
são implacáveis. Curran é implacável. Enquanto houver a
chance dele estar vivo, nós o apoiaremos. Nós gostamos de
você como a Consorte do Senhor das Feras. Vocês se
equilibram um ao outro.
— Então você não acha que eu fui implacável o suficiente?

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Livro 7
Robert assentiu para Ascanio. — Eu gosto do garoto. Ele

é inteligente e corajoso. Engraçado. Mas quando Hugh estava
chantageando com sua vida, eu o teria deixaria morrer.
Eu me virei para ele.
— Eu teria lamentado com sua mãe, —disse Robert. —
464
Teria me sentido terrível e triste. Mas eu deixaria d'Ambray
matá-lo. Ele é apenas um dos filhos do Bando. Você é a
Consorte. Se você tivesse se deixado levar por d'Ambray,
teríamos ficado sem um líder. Eu teria voltado ao Bando com
a notícia de que D'Ambray tinha capturado você, e o Bando
teria marchado até o Casino da Nação para salvá-la ou retaliar.
Seria um banho de sangue. Por mais doloroso que seja, eu teria
deixado Ascanio morrer.
— Nunca conseguiria fazer isso. —Eu não queria liderar,

mas agora eu era a líder e essa era a única maneira que eu sabia
fazer.
— Eu sei, —disse Robert. — Acho que isso vai contra sua

natureza. Isso faz de você uma pessoa melhor que muitos de
nós aqui. É o que estou tentando dizer. Nós, os alfas, nem
sempre somos pessoas boas. Tentamos ser, mas há momentos
em que não há boas escolhas. Se meu clã estivesse fugindo de

Magic Breaks
Ilona Andrews
Livro 7
um inimigo, eu me sacrificaria por causa deles em um piscar

de olhos. Mas se eles estivessem correndo para uma porta que
só eu saberia abrir, correria à frente deles, mesmo que isso
significasse que alguns daqueles atrás de mim poderiam
morrer. Nós pensamos em números, não em indivíduos.
465
Nesse caso não sabia o que eu faria. Dependeria de quem estivesse
atrás de mim.
— Você salvou Ascanio, —disse Robert. — Mas agora

Roland e d'Ambray sabe que você tem uma fraqueza e eles
usarão isso contra você. Eles vão levar alguém que você ama e
ameaçar matá-lo, porque sabem que você não será capaz de
deixar passar essa isca. Você tem que se preparar para
sacrificar seus amigos.
Se eu tivesse que fazer tudo de novo, teria feito a mesma coisa.
— Vou ficar ao seu lado pelo maior tempo que puder, —

disse Robert. — Mas se me perguntarem sobre o que aconteceu
no Cofre da Ordem, direi ao Conselho do Bando minha
opinião sobre isso. Não importa como eu fale, todos eles verão
da mesma forma que Thomas e eu fazemos. Eu sinto muito.
— Não precisa se desculpar. —Olhei para ele. — Respeito

você como lutador e como alfa. Sem você nós não teríamos

Magic Breaks
Ilona Andrews
Livro 7
sobrevivido a esta noite. Se em algum momento precisar de

ajuda, eu o ajudarei. Por favor, avise ao Conselho do Bando
que irão poder providenciar quantas reuniões quiserem
quando esta confusão toda terminar. Mas até lá, se alguns de
vocês fizerem algum conluio, atrapalhando meus esforços para
466
salvar nosso povo, iniciando algum tipo de reunião para votar
uma nova liderança enquanto eu estou tentando evitar essa
guerra, vou tê-los confinados em seus alojamentos. Estou
muito cansada de ser julgada a cada passo e minha paciência
acabou.
Robert assentiu. — Sim, Consorte.
Ele saiu. Eu me inclinei contra a parede. Era só o que me

faltava. Eu não mostrei a Hugh nenhuma lacuna na minha
armadura no Cofre da Ordem. Ele já as conhecia, ele as
descobriu no verão passado. Agora o Bando também as
conhecia. O Conselho do Bando teria um dia de campo com
isso quando tudo terminasse.
Tudo bem. Eu falhei com Mauro. Mas Ascanio, Derek e

Desandra sobreviveram. Estão vendo? Já estou até pensado em
números. Bem, não fui tão ruim assim, não é?

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Livro 7
A porta se abriu e Jim apareceu. — Encontramos a Double

D.
467
quase correndo. — Aonde
você a encontrou?
— Ela estava se escondendo no sótão da casa de sua

prima, —disse Jim.
— Você chamou os alfas?
— Sim.
— Os ratos também?
Ele olhou para mim em dúvida. — E os ratos também?
— Eles acham que você está escondendo informações

deles.
— Eu escondo informações de todos. Eles acham que são

especiais?

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Livro 7
Entrei na sala do Conselho. Uma grande mesa dominava

o espaço, e o que pode ser reunido do Conselho do Bando
ocupava as cadeiras: Robert e Thomas Lonesco; Martha, a alfa
do Clã Heavy; os betas de Clã Ágil, a alfa dos chacais, Andrea
do clã Bouda e Desandra, pálida e careca.
468
— Onde está a alfa dos lobos?
George, a filha de Mahon, levantou os olhos do seu lugar

em uma pequena mesa. — Ela se recusou a comparecer. Envia
suas desculpas. —Apontou para Desandra. — Ela é tudo o que
poderíamos conseguir a curto prazo.
— Sim, —disse Desandra, com a voz seca. — Eu sou uma

alfa substituta.
Bem, Obvio. Porque essa reunião não terminaria bem para

a Double D e Jennifer não queria lidar com as consequências.
Quando os lobos se revoltassem e exigissem saber por que um
deles foi enviado para a Nação, ela iria lhes dizer que não teve
nada a ver com isso. Foi tudo culpa de Desandra. Maravilhoso.
— Pensei que seus dentes tivessem caído?

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Livro 7
— Eles caíram. —Desandra mostrou um novo conjunto

de dentes afiados para mim. — Descobri que estava vindo para
esta reunião e eles cresceram rapidamente sozinhos.
Alguém estava chateada.
Caminhei até a cabeceira da mesa e sentei na minha
469
cadeira, tentando valentemente ignorar o fato de que a cadeira
de Curran estava vazia ao meu lado. Se eu deixasse que uma
única gota de minha ansiedade aparecesse, o Conselho do
Bando se revoltaria. Eles começariam a brigar e nós não
chegaríamos a uma decisão.
— Traga-a, por favor, —eu disse.
A porta se abriu e Barabas trouxe Dorie Davis para dentro.

Ela não parecia deslumbrante. Não parecia uma prostituta
também. Parecia perfeitamente comum. Uma mulher de trinta
e poucos anos, rosto arredondado, olhos azuis e um cabelo
loiro na altura dos ombros. Não muito atlética, não muito
curvilínea. Suave. O tipo de mulher que provavelmente viveria
nos subúrbios, faria almoços para os filhos em idade escolar e
se entregaria a um copo de vinho à tarde.
Barabas pigarreou.

Magic Breaks
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Livro 7
— Vá em frente, —eu disse a ele.
Ele se virou para Dorie. — Antes de começarmos, você

precisa saber seus direitos. Todos aqui são alfas, representantes
de alfas ou membro do departamento jurídico. De acordo com
a lei estadual, nenhum alfa pode ser obrigado a testemunhar
470
contra um membro de seu clã. O Estado da Geórgia não tem
jurisdição nesta sala. Nada divulgado aqui pode ser usado
contra você em um tribunal.
Mas poderia ser usado contra ela no nosso tribunal.
— Diga-me o que aconteceu ontem à noite, —eu disse.
Dorie suspirou, seu rosto derrotado. — Eu encontrei

Mulradin no Fox Den.
— Ele era um cliente regular? —Robert perguntou.
— Sim, pelos últimos dez meses. Ele pagava bem. Ontem

fizemos sexo. Ele estava se preparando para uma segunda
rodada quando alguém estourou pela porta. Havia seis deles e
tinham espingardas. Eu estava em minha forma de loba com
uma coleira e acorrentada à parede. Um deles disparou contra
a parede e mostrou o resto das balas para mim. Elas eram de
prata. O homem grande de cabelos escuros me disse que eles

Magic Breaks
Ilona Andrews
Livro 7
se revezariam atirando em mim. Ele disse que eu não morreria

imediatamente. Disse que continuariam atirando em mim até
que eu fizesse o que eles queriam.
— Você tentou escapar? —Perguntei.
— Eles estavam apontando espingardas para mim.
471
Eu entendi isso como um não. — Descreva o 'homem
grande' para mim.
— Na casa dos trinta, mais de um metro e oitenta de

altura. Muito boa forma. Musculoso. Cabelos escuros. Olhos
azuis.
Hugh. — O que aconteceu então?
— Ele me disse que eu tinha que matar Mulradin. Se eu o

rasgasse, eles me deixariam ir.
Ela parou.
— Então?
— Então eu fiz. —Sua voz era neutra. — Ele gritou muito.

Foi horrível. Então eles tiraram minha coleira e eu corri.
Tão simples. Nenhum grande mistério. Hugh a segurara sob a

mira de uma arma para poder fabricar todo esse incidente.

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Livro 7
— Onde você foi depois? —Perguntei.
— Para a casa da minha prima. Ela me devia algum

dinheiro e eu sabia que ela me esconderia.
— Você não notificou seu clã ou sua alfa? —Perguntou o

beta do clã Ágil.
472
— Não.
— Por que não?
Dorie suspirou novamente. — Por que não? Por que não?

Porque eu não queria ser presa. Não queria ir para a cadeia.
Eu só queria que tudo acabasse. Queria a minha vida de volta.
— Tenho certeza que Mulradin também, —eu disse. —

Alguém viu você sair da cena do crime?
— Não.
Eu olhei para o Jim. — Nós não temos testemunhas e

Hugh tirou o corpo da cena original. —Um bom advogado de
defesa poderia fazer maravilhas argumentando que qualquer
evidência encontrada no corpo estava contaminada.
— Você está pensando em se render? —As sobrancelhas

de Jim subiram um oitavo de uma polegada.

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Livro 7
Eu estava pensando como evitar matar a Dorie e ter que

mandar a cabeça dela em uma bandeja para a Nação.
— Eles filmaram, —disse Dorie.
Eu me virei para ela. — O que?
— Eles filmaram, —disse ela. — Enquanto eu o matava.
473
Hugh fizera um filme do crime. Por que eu não fiquei
surpresa?
— Isso altera as coisas, —disse Thomas Lonesco.
Balancei a cabeça para Juan, um dos guardas pessoais de

Jim ao lado da porta. — Coloque-a sob guarda, por favor.
Certifique-se de que ela seja vigiada.
Ele a pegou pelo braço.
— O que vai acontecer comigo? —Dorie perguntou.
— Vamos. —Juan a puxou.
Dorie de repente veio a vida, agitando-se em seus braços.

— Eu não quero morrer! Eu não quero morrer! Não me
matem!
Ele a pegou e a levou para fora da sala.

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Livro 7
Esperei até que seus soluços desaparecessem e olhei para

o Conselho do Bando. Minha mente repetiu as palavras de
Curran de como lidar com o Conselho. Eu nunca poderia
entrar na sala do Conselho sem um plano. ‘Você tem que dar a
eles uma gama de possibilidades, mas se eles discutirem demais, nunca
474
tomarão uma decisão. Oriente-os na direção certa e não deixe que eles
descarrilem o trem.’
Orientá-los para a escolha certa. Certo. Fácil como torta.

— Como vocês sabem, a Nação pretende começar uma guerra.
Eles provavelmente estão se movendo em direção à Fortaleza
agora. Temos algumas decisões a tomar. Opção um: devemos
entregar Dorie a Nação. Opiniões?
Eu esperei.
— Não, —disse Jim.
— Nós perderíamos muita influência, —disse Martha. —

Esqueça essa opção.
— Não, —disse Andrea.
— Não, —disse Thomas Lonesco.

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Livro 7
Isso me dava uma maioria. Entregá-la a Nação estava fora

de cogitação. — Opção dois: podemos executar Dorie e mostrar
a prova para a Nação.
A pausa foi mais longa desta vez. Eles estavam pensando

sobre isso.
475
— Não, —disse Robert.
— Não, —concordou Martha. — Nós não matamos os

nossos sem um julgamento.
Um julgamento levaria tempo. Todos nós sabíamos disso.
Ninguém ofereceu mais nenhuma opção, então continuei.
— Opção três: mantemos Dorie viva e dizemos a Nação para

irem se foder.
— O número de mortos seria devastador, —disse Thomas

Lonesco.
— Se eles querem uma briga, podemos dar-lhes uma briga,

—disse Desandra. — Mas estamos com força reduzida, então
a briga será sangrenta.
— Esta não é uma opção para mim, —disse Jim.

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Livro 7
— Então, nós não queremos executar Dorie e não

queremos entregá-la a Nação, e nós não queremos ir para a
guerra, —eu disse. — Isso nos deixa com apenas uma opção:
Podemos entregá-la ao cumprimento da lei do Estado.
O silêncio caiu sobre a mesa como um tijolo pesado.
476
Desandra franziu a testa. — Então, o que? Aqui está
Dorie, aqui está sua confissão, tire-a de nossas mãos?
— Sim, —eu disse. — Tecnicamente, o assassinato foi

cometido em Atlanta, o que torna responsabilidade das
autoridades policiais de Atlanta. Se eles a levarem em
custódia, a Nação terá que lidar com eles. Nossas mãos estarão
limpas. Nós neutralizaríamos o pretexto deles para a guerra.
— Nós estaríamos abdicando do controle sobre a situação,

—disse Thomas Lonesco.
— Sim, —eu confirmei.
Martha se virou para Barabas. — Se fizermos isso, quais

são as chances dela no tribunal?

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Livro 7
Barabas fez uma careta. — Sob a lei da Geórgia, e a lei

comum dos EUA em geral, coação95 ou coerção96 não é uma
defesa para o homicídio. A ideia é que a pessoa não coloque
sua vida acima da vida dos outros.
— Poderia ser legítima defesa? —Perguntou o beta do clã
477
Ágil.
— Não, —disse Barabas. — A legítima defesa, por

definição, só é aplicável contra o agressor. Mulradin não foi o
agressor, ele foi a vítima. Para impor qualquer tipo de
responsabilidade criminal, é preciso provar tanto o actus reus97
quanto ao ato de culpa e a mens rea, a mente culpada. Dorie
cometeu o ato, e se ela negar, há provas filmadas. Isso nos dá
o actus reus. Mesmo que todos acreditem em sua defesa, que
ela teve que escolher entre sua vida e a de Mulradin, o fato é
que ela fez essa escolha, o que significa que ela queria matá-lo.
95
Coação é um dos vícios do consentimento nos negócios jurídicos, caracteriza-se pelo constrangimento físico ou moral
para alguém fazer algum ato sob o fundado temor de dano iminente e considerável à sua pessoa, à sua família ou a seus bens.
96
Coerção é o ato de induzir, pressionar ou compelir alguém a fazer algo pela força, intimidação ou ameaça. Quando tal
coerção é permanente, é considerada escravidão.
97
Actus reus, às vezes chamado de elemento externo ou elemento objetivo de um crime, é o termo em Latim para o "ato
de culpabilidade" que, quando provado além de uma dúvida razoável em combinação com a mens rea, "mente culpada",
produz responsabilidade criminal em as jurisdições de direito penal de direito comum do Canadá, Austrália, Índia, Paquistão,
África do Sul, Nova Zelândia, Inglaterra e País de Gales, Colômbia, Gana, Irlanda e Estados Unidos da América. Nos Estados
Unidos da América, alguns crimes também exigem prova de uma circunstância de atendente.

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Livro 7
Dessa forma se tem os dois ingredientes para uma convicção

rápida.
— Então é pena de morte? —Perguntou a alfa dos

Chacais.
— Não necessariamente. A grande questão é o que o
478
promotor irá fazer com isso. Se acusá-la de homicídio doloso98,
e eles seriam tolos se não a acusar disso, teremos que lutar
contra a pena de morte. Podemos tentar negociar com o
homicídio culposo99, o que é uma batalha inútil, a menos que
tenhamos algo para trocar. É possível que eles odeiem
D'Ambray e consigam acusá-lo e prendê-lo através do
testemunho de Dorie que o acusará de coagi-la. Também é
possível que eles não queiram usar D'Ambray e prefiram
esquecer que ele existe. Vamos poder usá-lo para nossa
vantagem? Depende de quem estará encarregado da acusação.
Uma eleição está chegando. Eles irão querer tratar esse caso
em silêncio ou tornarão esse caso uma questão eleitoral? Se
formos a julgamento, podemos fazer furos em suas evidências?
Nós nem sabemos quais são as evidências neste momento, mas
98
O homicídio doloso ocorre quando uma pessoa mata outra intencionalmente.
99
É classificado como homicídio culposo quando um sujeito mata outro sem intenção. A culpa é inconsciente e o
assassinato ocorre por negligência, imprudência ou imperícia

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Livro 7
o vídeo será difícil de contestar. A própria Dorie será difícil de

defender. Ela é um réu que será vista com extremo
preconceito: ela é uma prostituta que se envolvia com sexo
bizarro, bestial e com um homem casado.
— Eu acho que o mais errado nessa história é o homem
479
casado, —Andrea rosnou.
— E você está certa, mas ele não está em julgamento.

Podemos colocá-lo em julgamento, mas é sempre um risco.
Quem será o juiz? Quem serão os jurados? Atacar a vítima irá
predispô-los a odiar nossa cliente? Dorie é uma metamorfa, —
continuou Barabas. — O público em geral a vê como propensa
à violência.
— Você poderia nos dar uma resposta direta? —Jim

rosnou.
Barabas apontou para Jim. — Estão vendo? Propenso à

violência. E não, eu não posso. Você me deu uma cliente que
cometeu um assassinato sob coação e que provavelmente terá
que confessar isso para satisfazer a Nação e me fez uma
pergunta sobre suas chances. Estou respondendo.
Minha cabeça estava começando a doer. — Você poderia

nos dar a versão para leigos, então?

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Livro 7
Barabas levantou a mão. — Possíveis resultados, na

ordem do mais prováveis, —Ele esticou um dedo. — Um:
condenação por homicídio doloso, prisão perpétua sem
possibilidade de liberdade condicional ou pena de morte perante
um juiz ou júri. Dois! —Ele esticou o segundo dedo. —
480
Condenação pela menor ofensa de homicídio culposo na
frente de um juiz ou júri. Três: um acordo para uma sentença
negociada ou possivelmente imunidade, dependendo de quanto
eles querem chegar em Hugh d'Ambray. Isso está sujeito a
muitos fatores diferentes. Quatro: absolvição perante um juiz ou
um júri com base em dúvida razoável. Não é muito provável.
Cinco: anulação do júri. Esse só por um milagre. A anulação do
júri é muito mais rara do que as pessoas pensam, e teríamos
que provar ao júri que Dorie foi vítima de uma grande
injustiça. Seis: de alguma forma, encontramos brechas no caso
da promotoria e neutralizamos toda a acusação. A
probabilidade desta última é difícil de avaliar porque não
sabemos nem quais são as evidências da acusação. Deixe-me
lembrar a todos vocês que as autoridades podem não ter sido
notificadas sobre o assassinato de Mulradin.
O silêncio reivindicou a mesa.

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Livro 7
— Se formos para o Estado com isso, —disse Martha, —

eles usarão tudo o que têm para manchar mais ainda a nossa
reputação. Há um preço a pagar.
— É verdade, —disse o beta do Clã Ágil.
— Enfrentaremos novamente várias restrições, —disse a
481
alfa do clã Chacal.
— A alternativa é pior, —eu disse.
— Depende de como você olha para ela, —disse Martha.

— Não há boas escolhas, é verdade.
Eu estava perdendo-os. Meu trem estava rapidamente

saindo dos trilhos.
Robert olhou para mim e disse com muito cuidado. —

Qual é a penalidade para as ações de Dorie segundo a lei do
Bando?
— Morte, —disse Barabas. — Foi um assassinato

malicioso. Então, uma vida por uma vida.
Eles estavam me ajudando. Eu agarrei a vara. Era uma

vara frágil, mas as pessoas que se afogam em areia movediça
não podem escolher.

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Livro 7
— Como alfas, temos uma obrigação com nossos

membros do Bando. —Fiz uma anotação mental para
agradecer a Barabas novamente por me fazer memorizar as leis
do Bando de trás para frente. — Devemos garantir a segurança
geral do Bando e de seus membros individualmente. Nossa
482
primeira prioridade é a preservação da vida.
— Nós sabemos, querida, —disse Martha. — Lemos as

leis.
— Barabas, que sentença Dorie teria se a entregássemos a

Nação?
— Morte, —disse ele.
— E se nós a jugarmos?
— Morte.
— E se a entregarmos ao Estado?
— Eu não sei, —disse Barabas. — Posso dizer-lhe que

vamos lutar muito para manter a pena de morte fora do jogo.
— Então é um talvez?
— É um talvez. —Ele assentiu.
— Morte, morte, talvez. —Eu olhei ao redor do Conselho.

— Eu voto para o talvez. Quem está comigo?

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Livro 7
Cinco minutos depois, o Conselho saiu da sala. Martha

parou ao meu lado. — Bem jogado.
— Não realmente, —eu disse. — Você tem notícias de

Mahon?
Ela balançou a cabeça. — Não se preocupe. Eles vão
483
aparecer.
Eu esperava que ela estivesse certa.
Na porta, Jim falou com alguém e se virou para mim. —

Acabei de receber um telefonema da cidade. A Nação esvaziou
os estábulos do Casino. Eles estão vindo para nós.

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Livro 7
Capítulo 12
vendo o
484
último dos retardatários chegarem. Eles olharam para mim
enquanto entravam. Eu estava usando o suéter que Evdokia
me deu e fazendo o meu melhor para transmitir confiança.
Eram dez e dezoito da manhã. Não havia sinal da Nação
ainda, mas os espiões de Jim relataram um grande número de
vampiros saindo da cidade na direção da Fortaleza. Os espiões
estimavam pelo menos setenta. Os navegadores tinham um
alcance limitado, o que significava que os Mestres dos Mortos
da Nação e seus navegadores tinham que se deslocar com os
mortos-vivos.
Este era um movimento extremamente imprudente. Em

algum lugar a caminho, Ghastek deveria estar rangendo os
dentes. Manter muitos mortos-vivos juntos em um só lugar
exigia controle de ferro por parte dos navegadores. Havia uma
razão pela qual os vampiros passavam a maior parte do tempo
sob o Casino, confinados em jaulas de aço e acorrentados às

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Livro 7
paredes. Mesmo um único sugador de sangue solto era um

desastre.
Se eu fosse implacável, eu faria com que os nossos Renders

conseguissem atravessar o caminho através dos mortos-vivos e
deixaria meus guerreiros acabar com a Nação. Quando os
485
navegadores estivessem todos mortos os vampiros, sem a
coleira mental, nos cercariam. Não tinha certeza de quantos
eu poderia controlar de uma vez, mas estava disposta a arriscar
que eu poderia controlar o suficiente para afastá-los de nós e
enviá-los para longe.
Eles iriam para a cidade e matariam qualquer coisa que

respirasse. De manhã, Atlanta seria a cidade dos mortos. A
culpa recairia sobre a Nação e nós viveríamos felizes para
sempre, pelo menos até que meu pai decidisse se vingar da
tempestade de merda que esta carnificina jogaria em sua
cabeça.
Felizmente para Atlanta, eu não era o Hugh d'Ambray.

Atlanta não morreria hoje se eu pudesse impedir. Assim que o
primeiro vampiro fosse avistado, os portões seriam trancados.
Eu faria tudo o que estivesse ao meu alcance para negociar
com os navegadores, mas mesmo assim se eu falhasse, não

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Livro 7
atacaríamos. Curran construiu essa Fortaleza para resistir a

um cerco. Se era assim que eles queriam, assim seja. Uma frase
do meu livro favorito me veio à mente: ‘Divirta-se invadindo o
castelo100’, Hugh.
Uma mulher de calça jeans desbotada e um casaco pesado
486
atravessou os portões. Um capuz escondia o cabelo dela. Ela
caminhava firmemente através da neve e sua áurea dizia que
não estava brincando: passos largos, postura determinada em
seus ombros e uma coluna reta. Um homem alto vestindo uma
túnica preta andava ao lado dela, carregando um cajado em
seu ombro. O topo do cajado era esculpido na aparência de
uma cabeça de corvo com um bico cruel. Eu conhecia esse
cajado. Ele tentou me morder uma vez. Mas, considerando
que seu dono era um Volhv negro a serviço de um antigo deus
eslavo da escuridão e do mal, era de se esperar um
comportamento mesquinho. Eu tinha uma boa impressão de
100
A frase em inglês é: Have fun storming the castle! É uma citação do livro The Princess Bride (A Princesa Prometida) do
autor William Goldman. Uma aventura de conto de fadas sobre uma linda jovem, Buttercup, e seu amor verdadeiro. Um
menino, Westley, vira pirata para salvar sua amada das garras de um príncipe terrível. Para se reencontrar, o casal deve lutar
contra os demônios de um reino místico.
Esse é o livro preferido da Kate.

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Livro 7
Roman, até vê-lo usando um pijama do Bisonho101, o que me

fez reavaliar um pouco seu caráter.
Roman também era filho de Evdokia, o que significava

que a mulher com ele era provavelmente uma bruxa. Minhas
testemunhas neutras chegaram. A mulher disse algo para
487
Roman. Ele parou, virou-se para ela e sacudiu o cajado.
Ela cruzou os braços. Eu não podia ver os rostos deles,

mas li a linguagem corporal bem o suficiente. ‘Estou sacudindo
minha varinha mágica na sua cara!’
‘Deixe-me dizer o que você pode fazer com a sua varinha ...’
Um dos metamorfos, um homem musculoso na faixa dos

40 anos, movimentou-se para bloquear o caminho de Roman.
Roman apontou para mim. O homem se virou para olhar para
cima e eu acenei autorizando-os entrar. O metamorfo se
afastou e deixou Roman e a mulher passarem.
— Jennifer quer falar com você, —disse Barabas.
101
Bisonho, é um personagem da turma do Ursinho Puff. Ele também é conhecido como Oió, Ió
ou Igor. O nome oficial da Disney no Brasil é Ió. Bisonho é um burro cinzento com pernas curtas, orelhas caídas e crina negra.

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Livro 7
Eu me virei.
Barabas estava na porta do quarto atrás de mim. Ele nem

parecia que não tinha dormido nas últimas vinte e quatro
horas. Seu rosto estava mais tenso do que o habitual, e seu
cabelo havia perdido o penteado espetado, mas fora isso ele
488
estava muito bem.
Atravessei a sacada de volta para o quarto. — Você

conseguiu colocar o detetive Gray no telefone?
Ele balançou sua cabeça. — Ainda estamos tentando.
Entre nossos contatos no PAD, Gray era o mais simpático

aos metamorfos. Normalmente sempre atendia o telefone, mas
hoje estava se mostrando esquivo. Eu esperava que fosse uma
coincidência, porque se ele estava deliberadamente nos
evitando, estávamos em apuros.
— O que Jennifer quer?
— Ela não especificou. Quer que eu diga que você está

ocupada?
— Não. —Vamos acabar logo com isso.
Ele assentiu e abriu a porta. — A Consorte vai receber

você.

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Livro 7
Jennifer entrou. Parecia abatida. Sua calça de moletom

estava pendurada nos seus magros quadris e ela carregava uma
garrafa de água na mão. A julgar pelos seus olhos,
provavelmente havia algo mais forte do que água. Se meu
corpo processasse álcool tão rápido quanto o dela, eu também
489
teria encontrado uma daquelas garrafas de água.
O guarda-costas loiro de Jennifer, Brandon, aquele que

tinha falado comigo na ponte, tentou segui-la. Barabas
bloqueou seu caminho. Brandon recuou. Barabas o seguiu e
fechou a porta atrás dele.
— O que posso fazer por você?
Jennifer lambeu os lábios. — Eu vim falar sobre Desandra.
Certo. A Nação e Hugh d'Ambray estavam praticamente à

nossa porta. Agora era o momento perfeito para me
incomodar sobre seus problemas. — Você quer ter essa
conversa agora?
— Sim.
Eu me inclinei contra a parede. — Certo. O que tem

Desandra?

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Livro 7
Ela engoliu em seco. — Eu quero que você a expulse do

Bando.
Hum. — Com que base?
— Ela ameaça a estabilidade do Clã Lobo.
— Você tem provas disso?
490
Jennifer mostrou os dentes. — Ela está me provocando.
Eu me sentei em um banco ao lado da janela. — Você não

é sinônimo do Clã Lobo. Ela não está ameaçando o clã. Está
ameaçando sua liderança.
— Uma mudança de liderança agora vai desestabilizar o

clã. Ainda estamos sofrendo a falta de Daniel.
Daniel estava morto há mais de seis meses. Jennifer ainda

estava de luto e eu entendia isso. Mas o clã seguiu em frente.
— Você está me pedindo para interferir no processo

particular da seleção do alfa de um clã. Eu não tenho
autoridade para fazer isso. Não só os outros clãs ficariam
indignados, mas mesmo que eu pudesse de alguma forma
influenciar o processo, eu não iria. Não é direito meu dizer ao
seu povo quem ele deve apoiar e escolher para governá-los.
— Eles me apoiam.

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Livro 7
— Então por que você está aqui?
Ela lutou com isso por um segundo. — Eu sou a alfa. Ela

é ... —Jennifer apertou a mão em um punho. — Ela é vulgar.
Um de seus filhos é um monstro.
Desandra estava certa. Jennifer não tinha intenção de
491
deixar o seu bebê crescer no clã. Se eu fosse Desandra, cavalos
selvagens não seriam capazes de me arrastar para longe de
lutar com Jennifer pelo posto de alfa.
— O filho de Desandra é um bebê e um membro do

Bando.
Jennifer continuou falando. — O que acontecerá quando

ele crescer?
— Nós vamos atravessar essa ponte quando chegarmos a

ela.
— Eu não vou deixá-la me empurrar para fora do meu

posto de alfa. É o meu lugar. Estou fazendo isso pela minha
filha. Pela filha de Daniel. Ela crescerá para ser filha de uma
alfa.
Jennifer tinha aquele olhar meio desesperado e meio

determinado em seus olhos. Certo. Nenhuma vida inteligente lá.

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Livro 7
Estava fora de si. — Por que é tão importante ser alfa? Por que
você não apenas cede o posto?
— Porque é onde eu pertenço. Daniel me escolheu. Ele me

escolheu entre todas as outras mulheres do Bando para que eu
pudesse ficar ao seu lado. Daniel não cometia erros. Ele
492
morreu, e agora tenho que liderar o clã em sua memória,
porque senão sua morte terá sido em vão.
Oh meu Deus, ela havia transformado o marido em um deus. Os

metamorfos já eram paranoicos, mas a dor de Jennifer
combinada com a gravidez deve tê-la catapultado para um
lugar muito ruim. Não importa quantos argumentos racionais
eu desse, ela não ouviria, porque eu não poderia competir com
a memória de Daniel.
— Alguém fez a mesma pergunta a Desandra, —eu disse.

— E Desandra respondeu: 'Porque posso tornar as pessoas do
clã mais seguras e felizes'.
Jennifer me encarou, seus olhos luminosos de verde. —

Você me deve. Você matou minha irmã, meu marido morreu
por causa da briga que você nos arrastou, e então você trouxe
Desandra para cá. Poderia imaginar por um segundo o que ela
irá fazer com a minha vida, se ela ganhar o posto de alfa? Eu

Magic Breaks
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Livro 7
não receberei ordens daquela cadela! —Sua voz subiu. — Não

vou! Minha filha não irá chamar essa mulher vulgar e vadia de
alfa. Você fez essa bagunça, vai consertar isso para mim ou irá
se arrepender.
Certo, já tive mais do que o suficiente disso. — Não.
493
Jennifer olhou para mim, seus olhos brilhando de verde.
— Tome cuidado com o que você fala, ou eu vou resolver

essa luta de poder aqui e agora.
Ela recuou. O brilho diminuiu.
— Deixe-me soletrar. Eu não matei sua irmã de propósito.

Eu a matei porque ela foi a loup e estava sofrendo. Acabar com
a vida dela foi um ato de misericórdia. Daniel não morreu para
você se tornar uma alfa. Ele morreu, porque fanáticos
detonariam um dispositivo que teria matado todos os
metamorfos em um raio de dez quilômetros. Você está lutando
com Desandra pela liderança do seu clã e está perdendo. O
próprio fato de estar aqui agora faz de você uma fraca. Se eu
te ajudar, isso só fará parecer mais fraca ainda. Sinto muito,
mas você está por conta própria. Nenhum guarda-costas,
nenhum Senhor das Feras poderá resolver esse problema,
apenas você.

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Livro 7
Ela olhou para mim, seu rosto completamente branco. Eu

deveria parar de falar, mas nas últimas doze horas corri ao
redor da cidade congelada tentando impedir uma guerra
sobrenatural, quase perdi uma criança que confiava em mim
para protegê-lo, assisti Hugh d'Ambray matar pessoas e não
494
pude fazer nada para pará-lo, e esse tempo todo, o homem que
eu amava estava desaparecido. Os freios do meu bom senso
tinham falhado e eu continuei correndo, direto para penhasco.
— Explique-me porque eu te ajudaria? Durante todo o

tempo que me conhece, você não fez nada além de jogar
pedras na minha cabeça. Ontem à noite eu tive que entrar no
território da Nação e não sabia se sobreviveríamos. Fui porque
o futuro do Bando inteiro dependia disso. O alfa rato se
ofereceu para ir comigo. O alfa felino também. Um membro
do seu clã não podia esperar para se juntar a mim. Uma
criança bouda me seguiu porque ele queria fazer a diferença.
Eles fizeram isso porque se sentiam responsáveis pela
segurança de seus amigos. Eles fizeram isso para proteger o
Bando. Você se ofereceu para me ajudar?
Minha voz estalou como um chicote. Jennifer se encolheu.

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Livro 7
— Você foi comigo, Jennifer? Você lutou ao meu lado?

Você se sacrificou e arriscou a sua vida para tirar quatro
vampiros do caminho, para que eu pudesse chegar onde
precisava chegar? Você lutou com um Cavaleiro que tinha
algum tipo de magia desconhecida? Você se jogou em cima de
495
um maldito wendigo enquanto estava envenenada e
vomitando para salvar um garoto? Não. Você sentou aqui,
planejando e sentindo pena de si mesma. E menos de uma hora
atrás, quando o Conselho do Bando estava tentando decidir o
que fazer com Dorie, onde diabos você estava? Você enviou
Desandra, porque não queria enfrentar o fogo.
Jennifer mostrou os dentes, recuando.
— Desandra pode ser grosseira e manipuladora, mas você

sabe o que ela faz? Ela enfrenta. Ela entra no meio da lama e
do sangue com o resto de nós e suja as mãos. Nenhum de nós
gostamos de sujar as mãos, mas fazemos. Eu não vou ajudar
Desandra a tirá-la do seu posto de alfa, mas eu não vou pará-
la também. E depois do que ela fez, se Desandra precisar de
mim, eu estarei lá para apoiá-la, porque ela me protegeu e me
serviu quando precisei. Você não é especial. Não consegue se
destacar em nada. Não consegue nem se quer resolver seus

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Livro 7
próprios problemas. Quer estar no comando? Tudo bem. Entre

na lama com o resto de nós, vá até o fundo, encontre uma
espinha dorsal e cuide de sua própria merda. Caso contrário,
desista e abra caminho para alguém que realmente se importe.
Jennifer sentou-se congelada, com o rosto aturdido. Sua
496
mão apertou a garrafa de água.
Eu esperei que ela explodisse.
Alguém bateu e a porta se abriu. Barabas entrou. —

Tenho Gray no telefone.
Finalmente. Eu me virei para Jennifer. — Já terminamos?
— Não posso fazer isso, —ela disse baixinho, sua voz

triste. — Eu deveria fazer isso, mas eu não posso. Está errado.
Seria como cuspir em sua memória.
Do que ela estava falando? Como lutar com Desandra cuspiria

na memória de Daniel? Eu não conseguia compreendê-la de jeito
nenhum. — Você pode abrir mão de seu posto e ser mãe ...
Ela se levantou e fugiu do quarto.

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Livro 7
497
até uma das salas de conferência.
Jim já estava lá, encostado na parede, como uma sombra, seus
olhos endurecidos. Eita.
— Como você conseguiu colocar Gray no telefone? —

Perguntei.
— Pedi a duas pessoas que entrassem em seu escritório e

se recusassem a sair enquanto não nos atendesse, —disse Jim.
— Ele estava lá a manhã toda.
Gray estava se esquivando das nossas chamadas. Isso era

exatamente o que eu não queria ouvir. Caí em uma cadeira e
apertei o botão do viva-voz.
— Detetive Gray.
— Olá, Kate.
— Você é um homem difícil de encontrar.

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Livro 7
— O que você quer? —Gray parecia cansado.
— Eu quero entregar um suspeito implicado no

assassinato de Mulradin Grant à sua custódia.
Silêncio.
498
Mais silêncio.
Imaginei um buraco se manifestando de repente sob os pés

de Gray e engolindo-o inteiro. O caminho que meu dia estava
tomando, eu não ficaria surpresa.
— Não estamos cientes de nenhum assassinato, —disse

Gray.
Aha! — Estou fazendo você ciente disso agora. O Sr.

Grant está morto, ele foi assassinado por um metamorfo, e
um membro do Bando foi implicado neste assassinato.
Estou entrando em contato com você e me oferecendo para
entregá-la à sua custódia.
— Esta é uma questão de jurisdição, —disse Gray. — A

Fortaleza está no Condado102 de Dekalb.
102
Cada um dos estados nos Estados Unidos está subdividido administrativamente em territórios chamados condados –
com exceção do Alasca, onde tais divisões são chamadas de distritos, e da Louisiana, onde são chamadas de paróquias.
O Condado de DeKalb é um dos 159 condados do estado americano da Geórgia.

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Você está brincando comigo? — O assassinato foi cometido

nos limites da cidade de Atlanta.
— O citado assassinato.
Que raiva. Eu me inclinei para mais perto do telefone. —
499
Sempre nos esforçamos para manter boas relações com o
PAD. Só no ano passado nós os ajudamos em ...
Jim levantou nove dedos.
— ... em nove casos. Estou pedindo para você nos

ajudar.
Silêncio.
— Sinto muito, —disse Gray. — Eu não posso.
A raiva inchou dentro de mim como uma onda. Minha

voz tremeu ligeiramente. — Estou prestes a ter um banho de
sangue em minhas mãos.
Gray baixou a voz. — A ordem vem de cima. Não podemos

nos envolver em uma guerra entre o Bando e a Nação. Nós não
temos os números nem o poder de fogo. Seríamos abatidos. Me
desculpe, mas isso é entre você e eles.

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Livro 7
Ele não nos ajudaria. — Você teve a chance de fazer a

diferença hoje e estar se esquivando. A autoridade só é
válida quando se decide fazer o correto com ela e você
decidiu não fazer nada. Faça isso muitas vezes e logo
ninguém vai respeitá-lo. Da próxima vez que precisar da
500
minha ajuda, não ligue.
Eu desconectei a chamada.
— Muito diplomático, —disse Barabas.
— Foda-se a diplomacia.
O telefone tocou. Eu peguei.
— Esta é uma questão de jurisdição, —disse Gray, com a

voz tensa. — Nós não temos jurisdição sobre a Fortaleza.
Ele desligou.
Certo. — Quem tem jurisdição sobre nós? —Perguntei a

todos na sala.
— A maioria das nossas terras estão no Condado DeKalb,

—disse Barabas. — Um pouco está no Condado de Clayton
também.

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Livro 7
Nem o xerife de DeKalb nem o do Condado de Clayton

nos ajudariam. DeKalb não ligava para nós, e Clayton estava
com falta de pessoal.
— E de Milton também, ao longo da borda norte, —disse

Jim.
501
Espere um minuto. — Condado de Milton?
Ele assentiu.
A última vez que tive a oportunidade de viajar para

Milton, foi porque Andrea tinha ficado chateada com uma
camareira de um hotel que flertou com Rafael descaradamente
na frente dela, então Andrea sacou uma arma e quase afogou
a mulher em uma banheira de hidromassagem. Beau Clayton,
o xerife do condado de Milton, tinha pessoalmente ido ao
hotel e prendido Andrea e Rafael até eu chegar lá.
Soquei seu número no telefone. — Beau?
— Kate. —Uma voz profunda tingida com o típico sotaque

do sul da Georgia respondeu. — A coisa mais interessante
aconteceu. Um dos meus assistentes acabou de ver o que ele
descreveu como ‘toda uma confusão de mortos-vivos’ se movendo
em sua direção. Agora estou curioso. Você está dando uma festa?

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— Beau, —eu disse. — Preciso da sua ajuda.
502
O dia estava lindo.
O sol iluminava o céu turquesa, tingindo-o com um pálido véu
de ouro. Diante de mim, um claro campo de neve se estendia
até a parede escura e irregular da floresta. O vento agitou um
fio solto do meu cabelo.
Atrás de mim, o Conselho do Bando esperava.
Algo se moveu à distância na linha das árvores. Uma

única forma esquelética emergiu do mato, um rabisco escuro
contra a neve branca. O morto-vivo parou de quatro. Sua
magia roçou em mim, revoltando-se, como uma mancha de
carne em decomposição na superfície da minha mente.
Vampiros saíram da floresta, seus corpos grotescos e

esqueléticos se movendo ridiculamente rápido. Muitos ...

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Livro 7
Atrás deles, quatro carros blindados arrastavam-se pelo

campo. Pintados em cores escuras, rolavam no chão em oito
rodas, pareciam pequenos tanques. E eles estavam
provavelmente repletos de navegadores.
— A Nação tem Strykers103, —disse Andrea. — Armadura
503
em camadas, proteção total do casco. Esses carros têm uma
camada de aço, depois uma camada de armadura de cerâmica
contra cartuchos perfurantes, depois mais aço e teto de
armadura provavelmente reativas. Você pode disparar um
lançador de foguetes naquela coisa e ele nem espirrará.
— Quão pesado eles são? —Martha perguntou.
— Pouco mais de dezesseis toneladas, —disse Andrea.
— Dezesseis mil quilos, —Robert murmurou.
Martha deu de ombros. — Muito pesado para tombar.
Tirar Ghastek e sua turma para fora dos Strykers seria

muito difícil.
103
O Stryker é um veículo de combate canadense desenvolvido pela General Dynamics
e utilizado pelas forças armadas dos Estados Unidos. Ele foi construído baseado no modelo suíço Piranha III 8×8.

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Ilona Andrews
Livro 7
Os veículos de combate blindados se posicionaram e

pararam. Os vampiros se formaram ao redor deles.
Onde você está, Curran? Na minha cabeça pensei que ele iria
de alguma forma magicamente aparecer. Mas ele não estava
aqui. Eu estava sozinha.
504
Eu me virei para o pátio e acenei para Roman e a bruxa
ao lado dele.
— É a irmã dele? —Andrea me perguntou.
— Não. —Falei com os dois. — Eu perguntei isso a ela.

Seu nome é Alina, não é sua irmã, e ela sente profundamente
pena das irmãs dele, porque se tivesse que aturar a presença
dele por mais de um dia, ela iria se jogar da ponte mais
próxima, apenas para acabar a agonia.
— Bem, —disse Andrea. — Que bom que ela esclareceu

isso.
O sombrio Volhv acenou de volta para mim e gritou: —

Hora do show!
Alina suspirou ao lado dele. — Por que está tão feliz? Nós
vamos morrer.
Os dois partiram em direção aos portões.

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Livro 7
— É emocionante, —disse Roman. — Olhe para todos

esses metamorfos e vampiros. É um momento histórico e o
Bando ficará nos devendo.
— Como é que você não tem nem um pingo de bom-

senso? Todo o bom-senso escorreu de seu corpo quando você
505
nasceu?
Roman indicou seu rosto. — Eu não preciso de bom-

senso. Eu tenho a ajuda do meu charme em dobro.
— Você quer dizer ajuda da sua besteira em dobro ...
Eles passaram pelos portões abaixo de nós e pararam,

Derek e dois outros metamorfos ergueram uma enorme viga
que trancava o portão. O menino maravilha, careca e pálido,
decidiu que já tinha descansado o suficiente. Eu não tinha
energia para lutar com ele sobre isso.
Roman e a bruxa atravessaram e pararam a quatro metros

do portão. Um único vampiro emergiu da horda de mortos-
vivos e correu para eles. Roman falou com o vampiro. Ele
estava listando nossas condições: receberíamos dois Mestres
dos Mortos na frente dos portões em uma reunião e
discutiríamos o assassinato de Mulradin. Roman e a bruxa

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Livro 7
atuariam como testemunhas imparciais. E se Hugh chegasse a

qualquer lugar a menos de quatro metros de onde estaríamos
reunidos, todas as negociações cessariam.
O vampiro retornou. A bruxa levantou a cabeça e abriu os

braços. Uma faísca verde escura pulsou dela e se dividiu em
506
mil fitas estreitas de verde. As fitas saíram do corpo da bruxa,
caindo na neve.
O vapor subiu enquanto a neve derretia e o verde se

enterrava no chão, formando um anel perfeito de cerca de
quatro metros de diâmetro. Caules verdes finos brotaram do
solo exposto e se esticaram para cima, transformando-se em
espinhos do tamanho da altura dos joelhos.
Nós conseguíamos nossa reunião.
ao lado de Jim. Os portões

da Fortaleza estavam fechados atrás de nós. Na parede,

Magic Breaks
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Livro 7
Andrea segurava uma besta de alto alcance. Ela trouxe um rifle

Snipes104 no caso da magia ir embora.
O mar de vampiros se abriu e Ghastek saiu, alto, esguio,

vestindo um longo casaco branco de estilo militar e calças
brancas, estrategicamente pintadas com pequenas manchas
507
irregulares de marrom. Botas brancas e um capacete no mesmo
padrão completavam a roupa. Aparentemente, ele pretendia se
enterrar na neve e atirar em nós do seu abrigo. Uma mulher o
seguia. Ela usava um uniforme idêntico e o capacete escondia
seu cabelo, mas eu conheceria Rowena em qualquer lugar. Ela
estava em dívida com as bruxas e estava secretamente me
fornecendo sangue de vampiro. Rowena não sabia o que eu
fazia com isso, mas se ela descobrisse, seu capacete voaria
direto para a cabeça porque o cabelo dela ficaria em pé.
— Que diabos eles estão vestindo? —Jim murmurou ao

meu lado.
— Eles estão fantasiados de soldados. Provavelmente

custou-lhes um braço e uma perna.
104
Modelo de um rifle sniper

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Livro 7
— Eles podem pagar, —Jim ofereceu.
Ghastek cuidadosamente passou pelos os espinhos do

círculo de limite da bruxa. Rowena o seguiu.
A horda de mortos-vivos ondulou novamente e Hugh saiu.

Ele usava uma armadura de couro escuro e um longo manto
508
de pele de lobo. Boa escolha. Quando se sai para confrontar uma
Fortaleza cheia de pessoas que se tornam peludas, certifique-
se de estar usando a pele de algum animal morto em sua capa.
Seu enorme cavalo preto, um enorme frísio105, dançava sob
ele, longa crina negra esvoaçando ao vento, pelos negros em
suas patas elevando a neve.
O vapor subiu das narinas do garanhão.
Hugh deveria ter trazido uma bandeira estandarte com ‘EU

SOU MAL’ costurado em letras douradas. O cavalo, a armadura
e o casaco de pele não estavam fazendo uma declaração
suficiente.
105
Frísio, também chamado de friesian, é uma raça de cavalos de cor negra
originária da Frísia. É um animal de temperamento dócil e fisicamente bastante robusto. É criado principalmente na Frísia,
litoral norte dos Países Baixos, de onde se origina seu nome. É difícil datar a origem do cavalo frísio com precisão.

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Livro 7
Jim se inclinou para frente, seu olhar fixo em Hugh.
— Não, —eu murmurei.
Hugh guiou o cavalo e parou na beira dos espinhos. O

frísio nos circulou, mas não cruzou os limites. Hugh era
claramente o tipo que ‘obedeço ao pé da letra o acordo, mas não
509
o espírito da coisa’.
Eu queria tirá-lo de seu cavalo e esfregar seu rosto na terra.
— Vocês encontraram o assassino? —Perguntou Ghastek.
— Sim. —Passei para ele um pedaço de papel com a

confissão manuscrita da Double D sobre o que aconteceu. Ele
leu e olhou para Hugh. Hugh estava me encarando. Olhar você
pode. Tente se aproximar um pouco mais e eu vou curar o que nos
aflige.
Ghastek continuou lendo mais. Repugnância e aversão

torceram o seu rosto. — Isso é ... lamentável.
— Acredito particularmente que a palavra certa é trágico,

mas podemos ir com lamentável, se você quiser. —O final do
prazo se aproximava rapidamente. Beau Clayton não estava
em lugar nenhum. Talvez ele tivesse desistido de vir.

Magic Breaks
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Livro 7
Ghastek dobrou o papel ao meio e passou-o para Rowena.

Ela leu e olhou para cima. A mente atrás dos olhos de Rowena
calculando rapidamente as opções. Ela dirigia as relações
públicas da Nação. Essa coisa toda era um pesadelo de
relações públicas para todos os envolvidos.
510
— Você leu a parte em que d'Ambray a abordou, apontou
uma arma para sua cabeça e a forçou a matar Mulradin, para
que ele pudesse fabricar essa guerra?
Ghastek parecia ter mordido um pêssego e percebeu que

estava podre. — Tenho certeza que eu li o que ela diz que ele
fez. Eu não li a parte em que ela apresenta evidências desta
história selvagem. Isso tudo parece muito fantasioso para
mim.
Tudo bem, eu tinha mais. — Por que ela mentiria?
Hugh continuou nos circulando. Um pequeno sorriso

curvou seus lábios. Ele parecia um homem que estava se
divertindo.
Neve, sol, ar puro, um cavalo veloz... e um iminente abate.

Todas as coisas que um garoto em crescimento precisa.

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Livro 7
— Para evitar essa situação. Talvez tenha sido uma briga

de namorados, —disse Ghastek. — Talvez ela quisesse roubá-
lo. Eu não sei, e francamente, não me importo no momento.
Você pode provar que ela é a assassina e não algum cordeiro
de sacrifício?
511
— Você pode ficar à vontade para pedir um exame do
DNA dela. Vai combinar com o que está no corpo de
Mulradin.
— Você está preparada para entregá-la a nós?
— Não.
Ghastek se inclinou para frente. — Kate, eu odeio recorrer

a ameaças, mas há uma certa responsabilidade que você e eu
temos com as pessoas que lideramos neste conflito ...
À esquerda dele, três cavaleiros emergiram debaixo das

árvores. Será que era Beau?
— As mortes e os custos financeiros dessa guerra serão

catastróficas, —disse Ghastek. — Eu entendo que você está
contando com a ajuda de algum navegador que contratou, mas
garanto a você, nós somos mais do que capazes de neutralizar
ele ou ela.

Magic Breaks
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Livro 7
— Que navegador?
— Aquele que ajudou você na noite passada no Conclave.
O que ele estava falando ...? ... Ah ...
Aparentemente eu tinha me escondido muito bem.

Mesmo com toda a sua inteligência, Ghastek ainda não havia
512
colocado dois e dois juntos. Ele tinha a absoluta certeza que
eu não poderia pilotar vampiros. Ele tinha me visto não os
pilotar em numerosas ocasiões. Em sua mente, eu não poderia
fazer isso, então ele achava que contratei outra pessoa e que
esse alguém assumiu o controle dos vampiros no Conclave.
Certo.
— Temos o dever de evitar isso, —disse Ghastek.
— Você está certo. Enviei seu exército de mortos-vivos

para casa e discutiremos isso como pessoas razoáveis.
Ghastek suspirou. — Eu sou a parte reacionária nesse

derramamento de sangue.
— Ghastek, você é um homem inteligente. Está aqui

vestindo uma roupa ridícula e se preparando para atacar um
lugar cheio de famílias e crianças com uma horda de vampiros.
Isso parece certo para você?

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Livro 7
O rosto de Ghastek tencionou. — Os conceitos de certo ou

errado são irrelevantes neste caso.
— Os conceitos de certo ou errado são sempre

consequentes. Não podem ser situacionais ou é certo ou
errado.
513
— Eu não vim aqui para debater conceitos éticos com
você, —disse Ghastek.
— Você é que começou. Eu só estou lhe dando a minha

opinião.
— Você está abrigando uma fugitiva. Entregue-a à nossa

custódia.
Um grito me fez virar. Um homem pulou da parede da

Fortaleza e correu para nós. Brandon, o lobo de estimação de
Jennifer. Mas o que agora? Se ele fizesse alguma coisa para
atrapalhar isso, eu quebraria o pescoço dele.
Brandon atravessou a neve e saltou para o círculo. Ele

estava segurando algo em sua mão.
— Que diabos você está fazendo? —Jim rosnou.

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Livro 7
Brandon se esquivou dele, abriu os dedos e eu percebi o

que ele estava segurando, a garrafa de água de Jennifer. Ele
arrancou a tampa e jogou o líquido na minha direção.
Eu desviei, mas não rápido o suficiente. Água fria espirrou

minha bochecha direita, encharcando meu cabelo. Atrás de
514
mim, Ghastek jogou as mãos para cima, e a água que não
derramou em mim pingava em seus dedos. O Mestre dos
Mortos olhava perplexo, a água pingando das mãos. Seus
olhos se arregalaram em uma confusão furiosa.
Jim se mexeu. Sua mão se fechou no pulso de Brandon e

torceu. Brandon caiu de joelhos na neve, o braço deslocado do
ombro.
O mundo inteiro tinha enlouquecido comigo. Eu não

conseguia mais nem ficar com raiva. Eu não sentia mais nada.
— Está feito, —o homem loiro espremeu as palavras. —

Eu fiz isso por ela.
Que diabos? Eu mataria Jennifer. Faria isso sozinha e pouparia

o problema de Desandra.
Jim torceu o braço, dobrando-o como uma mola. — Eu

volto em um minuto.

Magic Breaks
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Livro 7
Ele agarrou Brandon pelo colarinho e o arrastou para fora

do círculo em direção à Fortaleza. Os portões se abriram
apenas o suficiente para deixar uma pessoa passar, Derek e
outro metamorfo apareceram. Jim empurrou Brandon na
direção deles, virou-se e voltou para o círculo.
515
Ghastek finalmente recuperou sua capacidade de falar. —
Como você ousa? Isso é um insulto?
— Sim, —eu disse a ele. — Mas foi um insulto para mim,

não para você. Minhas mais profundas desculpas.
Hugh riu.
Derek e o outro metamorfo com certeza estava dando uma

lição em Brandon atrás das portas.
Ghastek abriu a boca. Nenhuma palavra saiu. Ele estava

obviamente lutando para se controlar.
— Eu sinto muito, —repeti. Agora eu me desculpava com o

homem que estava ameaçando me matar.
Espero que minhas artérias não explodam da pressão.
— Isso é ultrajante.
— Ultrajante é soltar vampiros sem controle no meio de

uma reunião do Conclave.

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Livro 7
Ghastek fechou a boca com força.
— Vamos levar a acusada agora, —disse Rowena.
Os três cavaleiros se aproximaram. Chapéus de xerife.

Tinha que ser Beau.
— Se nós a entregarmos para vocês, o que farão com ela?
516
Um linchamento? Talvez a queimem na fogueira? Da última
vez que chequei, pelo menos fingíamos que éramos pessoas
civilizadas.
Ghastek trancou os dentes. Ele colecionava um par de

correntes usadas em julgamentos medievais de bruxas na
parede de seu escritório. Falar sobre fogueira deve ter o
lembrado das bruxas sendo queimadas.
— Ela terá todas as oportunidades para provar sua

inocência, —disse Rowena.
— Sim, ela vai, —disse Jim. — Estamos entregando Dorie

Davis à aplicação da lei humana.
O rosto de Hugh perdeu o meio sorriso. Ah não. Você achou

metade de uma minhoca na maçã que acabou de morder?
— Isso seria extremamente imprudente, —disse Ghastek.
— Por quê?

Magic Breaks
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Livro 7
— Porque expõe nossas duas facções ao escrutínio

público, —disse Rowena.
— Eu pensei que vocês quisessem evitar a todo custo o

derramamento de sangue, —disse Jim.
Eu dei a Ghastek meu melhor sorriso psicótico. — Acho
517
que todos podemos nos beneficiar de um pouco de
transparência.
— Você está fodendo, —disse Hugh de seu cavalo.
— Cala a boca, —eu disse a ele. — Ninguém está falando

com você.
— Você está blefando, —disse Hugh. — Você não

encontrará ninguém para levá-la.
Eu apontei para os cavaleiros que se aproximavam.
Ghastek virou-se para olhar por cima do ombro. Beau e

dois policiais, um homem baixo e compacto de cabelos ruivos
e uma mulher hispânica de quarenta e poucos anos, estavam
se aproximando.
— Beau Clayton? —Ghastek baixou a cabeça e esfregou a

ponta do nariz. — Ele não tem jurisdição aqui.

Magic Breaks
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Livro 7
— Sim ele tem. Aquelas florestas ali estão no condado de

Milton.
Os olhos de Hugh ficaram escuros.
— Ele é respeitado e tem muita influência, —gritou

Ghastek. — Se você matá-lo, todas as agências de aplicação da
518
lei irão se virar para nós.
Beau estava a poucos metros de distância. Com quase um

metro e noventa de altura e um corpo que lembrava antigos
saxões que balançavam machados tão altos quanto eles, Beau
montava uma Percheron106 manchada que tinha cerca de um
metro e oitenta de altura do casco a orelha e parecia forte o
suficiente para puxar um trator. Os dois policiais montavam
cavalos da raça Tennessee Walking107. Três cavaleiros, três
espingardas.
106
Percheron é uma raça de cavalo francesa originária da atual comuna de Perche, de onde
herdou o nome. Trata-se de uma típica raça de cavalo de tração, e a mais conhecida das raças equinas francesas. É um animal
bem proporcionado, com ossos duros e de pé firme e forte, utilizado para carruagens e trabalho.
107
Tennessee Walking é uma raça de cavalo conhecido por seu movimento único de quatro
batidas de corrida e movimento chamativo. Foi originalmente desenvolvido no sul dos Estados Unidos para uso em fazendas
e plantações.

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Livro 7
Nada mais.
Beau parou. Os vampiros olharam para ele, controlados

pelas mentes dos navegadores.
— Tudo bem, —Beau ressonou. — Eu sou Beau Clayton,

legalmente eleito pelo povo do Condado de Milton como seu
519
xerife. É dever do meu escritório executar fielmente todos os
escritos, mandados, preceitos e processos dirigidos a mim
como xerife deste condado. Estou aqui para executar um
mandado.
Os sanguessugas olhavam para ele.
O olhar de Hugh se tornou calculista. Ele estava pensando

nisso.
— Aqui está o que vai acontecer. Eu vou levar a acusada

em custódia. Vocês irão se virar e voltar para as suas casas. O
linchamento foi cancelado. Vão embora. Não há nada para
fazer aqui.
O garanhão de Hugh dançava debaixo dele.
— Vão embora, —repetiu Beau.
Hugh pegou sua espada.

Magic Breaks
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Livro 7
Eu levantei minha mão. Os portões da Fortaleza se

abriram. Metamorfos em forma de guerreiro esperavam em
fila, enchendo o pátio, com o pêlo levantado, as presas à
mostra. Eu pus todos os metamorfos capazes de se transformar
na sua meia forma no pátio. Sessenta e quatro pessoas. Apenas
520
dezoito eram treinados em combate, mas vistos daqui,
pareciam que cada um era um Render.
— Se você atacar um oficial de lei, o Bando irá retaliar, —

disse Jim.
— Seus melhores combatentes não estão aqui, —disse

Ghastek. — Você está com meia força de combate na melhor
das hipóteses.
Eu balancei a cabeça. — Você está enganado. Sim, a

maioria dos nossos jovens solteiros foram caçar. Você estará
enfrentando pais cujos filhos estão nessa Fortaleza. Já tentou
pegar um filhote de lobo? Vocês são bem-vindos para tentar.
A mão de Hugh estava em sua espada.
Eu peguei a Matadora. O riso borbulhava em mim. — Vá

em frente, Hugh. Faça o meu dia. Estou muito frustrada agora.
Preciso desabafar. Por favor.

Magic Breaks
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Livro 7
Ele olhou para mim.
— Você perdeu, —eu disse a ele. — Admita seu blefe.

Leve seus capangas e vá para casa.
— Não temos legitimidade para atacar um xerife, —disse

Ghastek.
521
— Você vai fazer o que eu mandar, —Hugh disse a ele.
— Não, ele não vai, —eu disse a ele. Eu poderia dizer

pelos olhos de Ghastek que ele não faria. O que quer que Hugh
decidisse agora, eu fiz o meu trabalho. Impedir essa guerra de
acontecer.
Um rugido rolou pelo campo coberto de neve, sacudindo

o ar do inverno como um súbito e aterrorizador estrondo de
trovão.
O frísio de Hugh se sacudiu. Um rugido em cascata,

espumando de ameaça e fúria, despertando um instinto há
muito esquecido que separava a parte racional do cérebro do
corpo e deixava apenas três opções de ação: lutar, fugir ou
congelar.
Curran.

Magic Breaks
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Livro 7
O alívio me afogou, me deixando sem peso, e por um

breve momento eu estava completamente e totalmente feliz.
Curran!
As árvores na borda norte do campo tremeram quando um

bando de pássaros levantou voo. Curran saltou para a neve.
522
Em sua forma de guerreiro com quase dois metros e meio de
altura, uma mistura aterrorizante de um homem
extremamente musculoso e um gato predatório, embainhado
em pele cinza e armado com garras do tamanho dos meus
dedos. Sua cabeça era de leão puro. Ele abriu a boca e rugiu
mais uma vez.
Um enorme urso Kodiak emergiu do mato, sacudindo seu

grande corpo peludo. Ao lado dele, um bouda acompanhado
por sua risada sinistra. Eu nunca estive tão feliz em ouvir essa
risada arrepiante em toda a minha vida.
Metamorfos saíram da floresta, dez, vinte, mais ... Onde ele

os conseguiu ...? Deve ter ido até o Bosque e tirado nosso pessoal da
caçada. Ele trouxe um exército. Sim!
Curran começou a correr. Os metamorfos os seguiram,

levantando neve no ar.

Magic Breaks
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Livro 7
— Nós terminamos aqui. —Ghastek se virou para o mar

de vampiros. — Missão abortada. De volta para sede Mãe.
Os vampiros saíram do campo.
Eu ri.
Hugh virou o cavalo para mim. — Tentei ser legal, mas
523
tenho meus limites. Você quer ser tratada como um animal,
vou tratá-la como um.
Ele abriu a boca. A magia saiu dele como uma onda e

quebrou, me prendendo. Uma palavra de poder.
O lado direito do meu rosto ficou quente. Uma espiral de

luz dourada clara circulava ao meu redor. Ao meu lado,
Ghastek se sacudia, preso em uma espiral incandescente
idêntica.
Na parede atrás de mim, Christopher gritou: — Senhora!
Hugh sorriu.
O que quer que estivesse acontecendo, ele morreria antes

de terminar. Eu corri para ele através da neve, com a espada
para fora. A luz se moveu comigo, fluindo ao meu redor em
fitas brilhantes e ensolaradas. Pulei sobre os espinhos do
círculo.

Magic Breaks
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Livro 7
Hugh desceu do cavalo.
Curran correu em minha direção, seus olhos de ouro puro.
Eu ataquei. A lâmina de Hugh encontrou a minha. Ele

mostrou os dentes para mim.
O tornado de luz ao meu redor agora pulsava de vermelho,
524
cortou a lâmina da Matadora onde a espada de Hugh tocou. A
lâmina da Matadora se partiu ao meio.
Não!
No campo, Hugh e Curran desapareceram.
Capítulo 13
dos meus
pés. Mergulhei no ar vazio, sem peso, meus braços
transparentes. Tijolos brilhavam diante de mim. Eu estava

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Livro 7
caindo através de um túnel redondo. Bem abaixo de mim, uma

grade de metal grosso bloqueava a água escura.
Vou morrer.
Bati na grade e passei por ela, como se fosse ar. Meu corpo
mergulhou na água.
525
Morna. Viscosa.
Meu corpo ficou sólido. Chutei, emergi e olhei para a

metade de uma espada na minha mão. Hugh quebrou minha
espada. Ele quebrou a Matadora.
Ele quebrou a minha espada.
Eu me enrolei em uma bola ao redor da minha espada,

mergulhando na água. Tinha a Matadora desde os cinco anos.
Voron deu para mim. Eu dormia com ela debaixo da minha
cama quase todas as noites nos últimos vinte e dois anos. A
Matadora era uma parte de mim e agora estava quebrada.
Quebrada ao meio. Parecia que alguém tinha cortado meu
braço e continuava doendo cada vez mais.
Eu o mataria. Não era um ‘se’. Era um ‘quando’.
Ele quebrou a Matadora.

Magic Breaks
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Livro 7
Acima de mim, alguém estava caindo, atravessou a grade

e bateu na água. Eu me estiquei e nadei. Um momento depois,
Ghastek apareceu ao meu lado engasgando. Ele sugava o ar
em pânico. Olhei ao redor. Cerca de dez segundos depois, ele
parou de se debater e olhou para mim.
526
— Foi aquela água. Isso nos marcou e nos tornou
vulneráveis à magia de d'Ambray.
— Sim. Hugh deve ter subornado um dos meus. Ou o

chantageou. Ou o ameaçou.
Era Jennifer. Tinha que ser, e se fosse esse o caso, Hugh

não teria que ameaçar muito.
Ela deve ter ficado lá com aquela garrafa nas mãos e

tentou reunir coragem suficiente para jogar em cima de mim.
Ela não conseguiu.
Isso não me quebraria. Minha espada poderia estar

quebrada, mas isso não me quebraria. Eu venceria. Sairia
daqui. Sobreviveria e veria as pessoas que amo novamente.
Este não era meu primeiro rodeio. A tranquilidade e frieza

escorregaram para dentro de mim. A voz de Voron murmurou

Magic Breaks
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Livro 7
na minha memória e eu me apoiei a ela como uma muleta. —

Sai daí primeiro.
— Sim. Sairei.
Eu me inclinei na água, tentando deslizar o que restava da

minha espada para dentro da bainha enquanto permanecia
527
flutuando. Eu perdi.
Eu perdi porra. Não tinha perdido uma batalha em duas décadas.
— Você era o alvo, —disse Ghastek. — Eu fui um

espectador infeliz.
— Parece que sim. —Finalmente consegui deslizar o

pedaço da Matadora na bainha.
— Onde estamos?
— Não faço ideia.
— Ele sabia que nós dois seríamos teletransportados para

cá. Ele sabia e não fez nada para impedir meu teletransporte,
—disse Ghastek.
— Parece que d'Ambray acredita que você é dispensável.
Ghastek olhou para mim por um longo momento. Um

músculo em seu rosto se tencionou. Com um grunhido

Magic Breaks
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Livro 7
gutural, Ghastek deu um soco na água. — Exatamente. Isso é

foda!
Eita. Em todo esse tempo que conheço Ghastek, eu nunca

o ouvi xingar. Nunca. O Número Um dos Mestre dos Mortos
estava prestes a fazer birra. Eu me preparei.
528
— Ele vem para minha cidade, ordena ao meu pessoal, me
ordena como se eu fosse seu servo e agora isso? Como ele se
atreve!
Suspirei. Saiu da boca de Ghastek, ‘Como ele se atreve!’ Mas

o que ele queria dizer mesmo era, ‘ele sabe quem eu sou?’
— Não sou um analfabeto que ele pode fazer o que quiser.

Eu não vou ser tratado assim. Trabalhei muito duro, por anos.
Anos! Anos de estudo e aquele maldito Neanderthal108 entra,
sacode os braços e acha que pode tudo. —Ghastek
movimentou os músculos do rosto e fez uma careta.
Provavelmente o que ele pretendia era imitar as feições de
Hugh, mas o que conseguiu foi parecer extremamente
108
O homem de Neandertal é uma espécie humana extinta. Alguns autores consideram-no como subespécie
do Homo sapiens, o homem moderno, com o qual conviveu. Surgiram há cerca de 400 mil anos na Europa e no Médio Oriente
e, na Península Ibérica, extinguiram-se há 28 mil anos.
É uma maneira de dizer que alguém é bruto, estúpido, burro, grosseiro.

Magic Breaks
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Livro 7
constipado. — Ooo, eu sou o Hugh d'Ambray, estou

começando uma guerra!
Rir agora era uma péssima ideia. Eu tinha que conservar

energias.
— Uma guerra que tenho tentado evitar por anos. Anos!
529
Ele continuou gritando.
— Acha que é fácil negociar com lunáticos violentos, que

não conseguem entender conceitos elementares?
Era bom saber o que ele realmente achava da gente.
— Eu não vou tolerar isso. Landon Nez vai ouvir poucas

e boas.
Landon Nez provavelmente estava no comando dos

Mestres dos Mortos. Meu pai gostava de delegar autoridades
máximas para cada ramo. Hugh comandava os Cães de Ferro,
o ramo militar. Alguém comandava a Nação, o ramo de
pesquisa. Era uma posição com uma grande quantidade de
negócios envolvidos. Landon Nez deve ser o comandante mais
recente.
— Troglodita. Estúpido. Desgraçado! —Maldições saíram

de Ghastek. — Quando eu sair daqui, vou colocar todos os

Magic Breaks
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Livro 7
vampiros à minha disposição em cima dele até que eles o

drenem. Então vou cortá-lo em pedaços e incendiar seu corpo
estripado!
— Você pode ter que entrar na fila.
Ele finalmente lembrou que eu estava lá. — O que?
530
— Eu vou te dar um pedaço de Hugh para brincar quando
terminar.
Ele não parece ter me ouvido. — Ninguém faz isso

comigo! Eu vou arrancar seu coração. Ele sabe quem eu sou?
— Tudo bem, —eu disse a ele. — Desabafe. Jogue tudo

para fora.
Ghastek se dissolveu em uma torrente de obscenidades.
Eu me afastei. Nós precisávamos sair desta bagunça e eu

tinha que verificar o lugar e descobrir possíveis rotas de saída.
A grade acima de nós era de cor pálida, isso normalmente

significava que o metal continha prata. Acima da grade, um
poço de cerca de seis metros de largura e uma altura de pelo
menos trinta metros. Luzes azuis de lanternas a gás saiam das
paredes em intervalos regulares, iluminando os tijolos.
Demasiado íngreme para subir.

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Livro 7
As barras da grade tinham pelo menos dois centímetros e

meio de diâmetro em um padrão entrecruzado. Normalmente,
grades como esta tinham barras transversais que eram soldadas
ou fixadas por parafusos, mas esta não mostrava nenhuma
solda. Deve ter sido feito especificamente para esse poço.
531
As extremidades das barras desapareciam dentro das
paredes. Eu chutei a água para me impulsionar, me estiquei e
agarrei a grade com meus dedos. Por enquanto, tudo bem.
Levantei as pernas e chutei a grade com todas as minhas
forças. Não somente firme. Era imóvel. Bem, pelo menos os
espaços entre as barras não eram minúsculos.
Tirei meu casaco, enfiei uma manga na grade, amarrando-

a e segurei na outra manga. Bom o bastante. Respirei fundo e
mergulhei na água escura. Não estava fria, mas não era
especialmente quente também.
O suéter de Evdokia me protegeria algum tempo. A lã

mantinha você aquecida mesmo quando molhada. Nadei ao
longo da parede. Escuridão e tijolos. Nenhuma passagem
secreta, nenhum túnel, nenhum cano com aberturas que
pudessem ser soltas.

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Livro 7
Sangue bateu nos meus ouvidos. Eu tinha que voltar ou

ficaria sem ar. Virei cento e oitenta graus e chutei para a
superfície. Acima de mim, o céu líquido prometia luz e ar.
Chutei mais forte. Meus pulmões gritavam por oxigênio.
Quebrei a superfície e engoli o ar.
532
— ... ele acha quem ele é?
Esta era uma cela de prisão destinada a segurar um

metamorfo. A prata nas barras os impediria de quebrá-la. A
água do poço era muito funda, isso impediria apoiar os pés no
chão do poço e se arremessar até a grade. Mesmo que eu
conseguisse de alguma forma erguer as barras da grade, o que
não era muito provável, ela cairia sobre nós e seu peso iria nos
afogar. Minha mente imaginou uma visão de pesadelo: a grade
caindo em cima de mim e me empurrando profundamente na
água escura. Não, obrigada.
As lanternas nas paredes do poço estavam somente lá para

aumentar sua angustia, pois dessa forma você poderia ver
exatamente como a situação era sem esperança.
Você quer ser tratada como um animal, eu vou te tratar como um.
Obrigada, Hug. Tão feliz em saber que você se importa.

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Livro 7
Eu poderia sair dessa situação. Treinei toda a minha vida

para sair de situações como essa.
Ghastek finalmente ficou em silêncio.
— Suponho que seu uniforme extravagante não vem com

um dispositivo de flutuação?
533
— Não seja ridícula.
— Uma garota pode ter esperanças. —Mergulhei e

desamarrei os cadarços na minha bota esquerda. Depois foi a
vez da direita. Emergi para pegar um pouco de ar.
— O que você está fazendo? —Perguntou Ghastek.
— Aliviando meu peso. —Mergulhei, cuidadosamente

tirei minha bota esquerda, emergi, peguei a grade e amarrei o
cadarço sobre a barra. Amarrei um nó e deixei a bota suspensa,
depois fiz o mesmo com a bota direita.
— Eu vou me cansar em uma hora ou duas e vou precisar

dos sapatos se sairmos daqui.
Tirei meu cinto, passei pelas barras e o tranquei em um

laço. Ghastek ergueu as sobrancelhas. Empurrei meu braço
através do laço e segurei na grade. O cinto me manteria no
lugar sem precisar ter que me esforçar para boiar na água.

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Livro 7
O rosto de Ghastek despencou em desânimo. — Quanto

tempo você acha que ele irá nos manter aqui?
— Eu não faço ideia.
Ele suspirou e começou a tirar as próprias botas.
534
na água. O tempo passou.
Eu não fazia ideia de quanto tempo estávamos aqui. Tínhamos
nos revezado em mergulhos para vasculhar nossos arredores,
mas não encontramos nenhuma saída. Eventualmente nós
paramos. Em algum momento, enquanto estávamos
mergulhando, a onda mágica acabou. Agora quatro lâmpadas
elétricas iluminavam o poço. A luz fraca, parecia opressiva,
apenas outra forma de tortura.
Usamos o casaco e o cinto de Ghastek para fazer dois

laços que pudessem segurá-lo na posição vertical. Com dois

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Livro 7
suportes cada um, poderíamos dormir. Pequeno conforto, mas

era alguma coisa.
Um tempo atrás minha boca ficou seca e eu bebi um pouco

do meu cantil109 e passei para Ghastek.
— Você sempre carrega um cantil?
535
— É força do hábito. —Qualquer um poderia sobreviver a
muitas coisas desde que tivesse um cantil e uma faca.
Ele tomou um gole e passou de volta. — O que acontecerá

quando ficamos sem água?
— Nós beberemos isso. —Balancei a cabeça para a água

escura inundando o poço.
— Não parece limpa e, mesmo que seja, não vai continuar

assim por muito tempo.
— Pessoas morrendo de sede não podem escolher.
Nós nos penduramos na água.
— O que você fez com Nataraja? —Perguntei.
109
Cantil.

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Livro 7
Ghastek piscou, assustado.
— Eu sempre tive curiosidade. Ele simplesmente

desapareceu.
Ghastek suspirou.
— Não vamos a lugar nenhum por um tempo, —eu disse
536
a ele.
Ele ergueu o olhar para o teto, ponderou e encolheu os

ombros. — Por que não? Nataraja tinha uma administração
muito fraca, praticamente não fazia nada. Eu nunca entendi
porque ele foi colocado no comando em primeiro lugar. Ele só
parecia impressionante, mas na verdade se envolvia muito
pouco com as funções reais do escritório. Eu supervisionava a
pesquisa e desenvolvimento, e Mulradin lidava com os
aspectos financeiros. Um ano atrás, o comportamento de
Nataraja tornou-se cada vez mais imprevisível. Ele vagava ao
redor, murmurando para si mesmo. Matou aquela
monstruosidade que ele mantinha como animal de estimação.
— Wiggles? Sua cobra gigante?
— Sim. Um navegador encontrou pedaços dela

espalhados pelo andar superior. Um relatório foi feito para o

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Livro 7
escritório principal. Um membro de alto escalão da Legião

Dourada chegou e fez algumas entrevistas. Nataraja
desapareceu. Nos disseram que ele foi demitido.
— Você acha que ele foi demitido?
Ghastek encolheu os ombros. — Qual seria o objetivo em
537
especular? Mulradin e eu ficamos encarregados do escritório
até que um de nós se ‘destacasse’ ou um substituto fosse
designado para o cargo. Suponho agora que a preocupação de
‘destacar’ seja irrelevante. Mulradin está morto e eu estou
aqui. —Ele cuspiu a última palavra.
Ghastek acabou dormindo. Também seria melhor se eu

dormisse. Fechei os olhos e imaginei estar na praia com
Curran. Foi um sonho tão agradável ...
seco. Ele tinha água suficiente para

um pouco mais de dois dias, isso se fosse uma única pessoa o

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Livro 7
consumido e se cuidadosamente fosse racionado, havíamos o

dividido para nós dois. Estávamos presos aqui por mais de
vinte e quatro horas. Provavelmente mais perto das quarenta e
oito horas. Nós começamos a beber a água do poço e o meu
estômago não aceitou muito bem ela.
538
A água no poço havia se tornado mais fria há algumas
horas. A temperatura não tinha realmente mudado, mas a
água minava o calor do corpo cerca de vinte e cinco vezes mais
rápido que o ar. O que não nos faltava era tempo de sobra para
perceber esse detalhe.
Estava faminta. Meu estômago era um poço sem fundo

cheio de dor. Se não fosse desperdiçar mais energia eu me
chutaria por não ter comido algo delicioso enquanto estava na
Fortaleza naquela manhã. Eu tinha que economizar cada gota
de energia. Pendure-se na água. Aguente. Sobreviva.
Quando o frio ficou insuportável, me soltei do cinto e

nadei. O esforço queimaria meus últimos escassos suprimentos
de energia, mas isso faria me sentir mais aquecida. Até que os
tremores começassem novamente.
— Nós vamos morrer aqui, —disse Ghastek.
— Não, —eu disse a ele.

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Livro 7
— O que te faz pensar que sobreviveremos?
— Curran virá para mim.
Ghastek riu, um som amargo e quebrado. — Você nem

sabe onde estamos. Poderíamos estar do outro lado do país.
— Não importa. Ele virá para mim. —Ele viraria o planeta
539
de dentro para fora até que me encontrasse, porque eu faria o
mesmo por ele.
Ghastek sacudiu a cabeça.
— Você tem que permanecer vivo, —eu disse a ele.
Ele não olhou para mim.
— Eu não estou morrendo neste buraco. Curran virá para

mim e nós sairemos daqui. Não é assim que acabaremos. Hugh
não vencerá. Nós vamos sobreviver a isso e algum dia vou
enfiar minha espada quebrada em sua garganta.
Ghastek olhou para mim. Sua voz estava rouca. — Deixe-

me reiterar. Fomos teletransportados para algum lugar
desconhecido, provavelmente a milhares de quilômetros de
distância de todos que você conhece, possivelmente em outro
continente. O homem que nos colocou aqui provavelmente se
teletransportou também, levando consigo o conhecimento de

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Livro 7
nossa localização, para que ninguém que conheçamos tenha

uma ideia infinitesimal de onde poderíamos estar. Não temos
como nos comunicar com o mundo exterior. Mesmo que
pudéssemos nos comunicar por meios mágicos com aqueles
que conhecemos, não teríamos ajuda, porque não sabemos
540
onde estamos. Estamos flutuando na água fria e escura.
— Não é tão fria assim, na verdade.
Ele levantou o dedo. — Eu não terminei. Nós não temos

comida. Estamos aqui há pelo menos quarenta e oito horas,
porque as dores da fome que sinto agora são menos intensas.
Neste momento, nossos corpos estão queimando as reservas
de gordura escassas que temos, o que resultará em cetose110
severa, que por sua vez levará à acidose metabólica111, que
causará náuseas e diarreia. Logo desmaio, fraqueza e vertigem
se seguirão. Como nossos cérebros serão privados dos
nutrientes necessários, começaremos a ter alucinações, e então
os nossos órgãos vitais sofrerão danos catastróficos, até que
110
A cetose nada mais é do que um estado onde a queima de gordura está em níveis altíssimos. Isso ocorre porque o corpo
está sendo obrigado a obter energia quase que exclusivamente a partir de corpos cetônicos, e não da glicose, a fonte
tradicional de combustível para o organismo.
111
A acidose metabólica é uma acidez excessiva do sangue e fluidos corporais. Essa acidez pode reduzir o pH do sangue,
tornando a respiração mais profunda e rápida, uma vez que o corpo está tentando liberar o excesso de ácido no sangue. Além
disso, os rins também podem se sobrecarregar, uma vez que precisam excretar uma quantidade maior de ácido na urina.

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Livro 7
finalmente morreremos de parada cardíaca. É uma morte

brutal e torturante. Mahatma Gandhi112 sobreviveu por vinte e
um dias sem alimento, quando fez campanha pela
independência da Índia, mas considerando que estamos na
água e nossos corpos estão queimando os nossos nutrientes a
541
um ritmo acelerado, eu dou duas semanas, no máximo.
— Se você decidir mudar de profissão eu aconselho não ir

para a área motivacional.
— Você não entendeu? A única pessoa que sabe onde

estamos é D'Ambray, e ele nos colocou aqui para morrer de
fome lentamente. Mesmo que mude de ideia e decida tirar
você daqui, já que ele tem um estranho fascínio por sua pessoa,
ele não tem a mesma simpatia por mim. Sou descartável. As
poucas relações que tive com esse homem foram abruptas ao
ponto de serem rudes. Ele claramente não tem consideração
por mim.
112
Mohandas Karamchand Gandhi, mais conhecido como Mahatma Gandhi foi o idealizador e
fundador do moderno Estado indiano e o maior defensor do Satyagraha como um meio de revolução.

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Livro 7
— Prometo a você agora que chegamos aqui juntos e

iremos embora juntos. Curran vem me buscar e eu não vou te
deixar para trás.
— Esperar que Curran de alguma forma venha e resgate

você antes de morrer é um absurdo.
542
— Você não o conhece como eu.
— Kate! Você é delirante!
— Esta não é a minha primeira vez presa sem comida, —

eu disse. — Costumava passar por isso com frequência. Nós
temos água, o que é uma enorme vantagem. Ainda não
estamos mortos.
Ele olhou para mim.
— Sobrevivi ao deserto do Arizona. Sobrevivi em uma

floresta chamuscada por incêndios. Estive faminta, afogada,
congelada, mas ainda estou viva. A chave para a sobrevivência
é não desistir. Você tem que lutar pela sua vida. Você tem que
ter esperança. Se deixar ir a esperança, tudo acabou. Recusei-
me a morrer em silêncio com as mãos amarradas em uma
cabana onde o homem me amarrou e me abandonou lá. A
esperança me fez atravessar correndo mais de quinze

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Livro 7
quilômetros através da neve e da floresta contra todas as

probabilidades.
Ghastek piscou. — Você realmente fez isso?
— Sim.
— Quem colocou você na cabana?
543
— Meu pai.
Ghastek abriu a boca. — Por quê? Que tipo de pai faz isso
com uma criança?
— O único que eu tive. Não desista. Não deixe o troglodita

vencer, Ghastek.
Ele balançou sua cabeça.
Seu cérebro estava muito ligado. Ele precisava parar de

pensar, porque sua mente continuava correndo em círculos,
levando-o cada vez mais para o desespero. O desespero era o beijo
da morte.
Nós precisávamos conservar energia, mas se eu não o

distraísse, o perderia. — Você continua analisando a situação
e quanto mais analisa, mais impossível parece. Tente não
pensar nisso. Fale comigo em vez disso.
— Sobre o que?

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Livro 7
— Eu não sei. Por que decidiu se tornar um navegador?

Você sempre quis pilotar os mortos-vivos? Por que não
trabalha por conta própria? Por que escolheu a Nação? —
Vamos lá, isso deverá mantê-lo ocupado.
Ele ficou imóvel na água. — Ghastek não é meu nome
544
verdadeiro. Cresci em Massachusetts113, perto de Andover114. Eu
era inteligente e pobre. Não terrivelmente pobre. Conhecia
crianças que eram mais pobres. A pobreza é quando seus pais
chegam em casa do primeiro emprego e se apressam para
comer seu macarrão com queijo, porque em cinco horas eles
têm que se levantar para o segundo emprego e querem dormir
um pouco. Nós não éramos tão pobres assim. Tínhamos
comida. Possuímos uma casa. Eu via meus dois pais na mesa
de jantar ao mesmo tempo. No nono ano, houve um torneio
de ciências entre as escolas locais. A academia de ciências de
113
Massachusetts ou Masachusetes é um dos 50 estados
dos Estados Unidos, localizado na região da Nova Inglaterra. É o sexto menor estado em área e o 13º estado mais populoso
do país, sendo o terceiro mais densamente habitado dos Estados Unidos.
114
Andover é uma cidade no Condado de Essex, Massachusetts, Estados
Unidos. Foi estabelecido em 1642 e incorporado em 1646. Até à data do recenseamento 2010, a população era 33.201. Faz
parte da área metropolitana de Boston-Cambridge-Quincy, Massachusetts-New Hampshire.

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Livro 7
uma escola preparatória particular local estava participando,

principalmente para demonstrar a vasta superioridade de sua
educação sobre o sistema público. Eu venci. A escola
preparatória me deu uma bolsa de estudos. Eu me lembro de
como meus pais ficaram felizes por mim. Essa escola
545
preparatória era a porta de entrada para a Universidade Yale115
e eles acharam que agora eu tinha um futuro. Então, no ano
escolar seguinte, comecei a escola preparatória. Era uma
viagem de quarenta e cinco minutos e todo dia meu pai me
levava em sua van de trabalho. Meu pai consertava as linhas
de gás. A van tinha um logotipo escrito em grandes letras
amarelas: GAS TEK. O nome da empresa. Ninguém ficou
interessado em aprender meu nome. Eu me tornei ‘aquele
garoto do Gastek’, depois só ‘Gastek’, e então um dos palhaços
da turma achou que seria hilário colocar um H no nome.
Ghastek. Uma associação não tão sutil com a palavra
115
A Universidade Yale é uma instituição de ensino superior privada norte-
americana situada em New Haven, Connecticut. Fundada em 1701 sob o nome de Collegiate School, Yale é a terceira instituição
de ensino superior mais antiga dos Estados Unidos.

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Livro 7
‘ghastly’116. Ghastek ou, às vezes, simplesmente ‘Creep’117.

Até o final do ano, até mesmo os professores não me
chamavam pelo meu nome.
Eu podia ouvir a velha amargura em sua voz. Ele aceitou

e não doía mais, mas ainda estava lá.
546
— Percebi naquele primeiro ano que nunca seria aceito.
Era de conhecimento de todos que não importa o quanto eu
tentasse, não importa o quanto eu fosse brilhante, o melhor
que eu poderia esperar era trabalhar para um dos meus colegas
mais idiotas quando crescêssemos. Eles seriam os donos. Eu
seria um empregado. Veja, ser inteligente não era o suficiente.
Se eu fosse bonito ou atleta, poderia até ter tido algum grau de
aceitação, porque os adolescentes são superficiais. Então
alguns deles iriam querer me tornar um troféu, se eu permitisse
me usarem, mas eu não era nenhum dos dois. Se eu fosse rico
isso teria aberto as portas, mas mesmo assim eles nunca me
deixariam entrar por completo. Eles iriam gastar meu dinheiro
e iriam rir de mim pelas costas. Eu vi isso acontecer. Veja,
inteligência, aparência, dinheiro, nada disso seria suficiente.
116
Ghastly, palavra inglesa. Tradução: horrível, horripilante, pavoroso, sinistro.
117
Creep, palavra inglesa. Tradução: Verme, aberração, anormal, esquisito, deformação.

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Livro 7
Existe uma coisa chamada ‘sobrenome’. Não era apenas sobre

onde você estudava ou com quem. Era sobre onde seu avô
estudou e quem eram seus melhores amigos.
— Já deu para perceber que a escola não foi o seu lugar

favorito.
547
— Eu a odiava. Então um recrutador da Nação veio
quando eu estava no terceiro ano do ensino médio. Eles
trouxeram um vampiro enjaulado e nos deixaram um por um
tentar dominá-lo. A sensação quando eu percebi pela primeira
vez que eu poderia controlá-lo ... não posso descrever isso. A
única coisa que senti era de que eu estava fazendo algo que
nasci para fazer. Pela primeira vez na minha vida, algo parecia
certo. Eu fiz o morto-vivo abrir a porta da gaiola e então
persegui meus queridos colegas com ele. O recrutador não foi
forte o suficiente para tirar o vampiro do meu controle. Eles
correram de mim. Não importava o quanto fossem ricos. Não
importava qual eram os seus sobrenomes. Os seus avós com
sobrenomes importantes não poderiam salvá-los, porque se
seus avós estivessem lá, fugiriam de mim também.
Ghastek sorriu, um sorriso alegre e feliz. — Alguns deles

me imploraram para parar.

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Ele parecia tão insanamente feliz que eu fiz um esforço

para não fugir o mais longe dele nesse momento.
— Eles me expulsaram dentro de uma hora. —Ele riu. —

No final do dia, a Nação levou um cheque para os meus pais,
o valor era maior do que a soma da renda de três anos dos dois
548
juntos. Um agrado para tornar suas vidas um pouco mais
fáceis se eu decidisse sair de casa e estudar com a Nação. Mas
meus pais não queriam me deixar ir. O dinheiro não fazia
diferença para eles.
— Eles te amavam, —eu imaginei.
Ele assentiu. — Eles amavam. Coloquei o cheque nas

mãos deles e saí de casa. Eu queria o poder. Eu queria respeito
e dinheiro também, mas acima de tudo eu queria poder. Você
me perguntou por que sou um navegador. Porque eu amo isso.
Amo desde de quando minha magia fez a primeira conexão.
Eu amo a precisão, a sutileza, a arte disso. Se você pudesse
pilotar, entenderia.
Ah, se ele soubesse ...
— É como estar conectado a uma fonte de energia pura.

Isso te nutre. Trabalhei, estudei bastante e subi cada vez mais

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na hierarquia. Agora estou em décimo sétimo lugar na Legião

Dourada.
A Legião de Ouro era composta pelos melhores Mestres

dos Mortos de Roland. A Ouro era os melhores cinquenta
Navegadores e a Prata era os cinquentas seguintes. — Eu
549
pensei que o nome era Legião de Ouro.
— Eles mudaram no ano passado, —disse Ghastek. —

‘Dourada’ soa melhor. Navegação é como qualquer outra
coisa. É preciso prática e disciplina e, eventualmente, o
trabalho duro compensa. Todo ano meu poder está
aumentando. Eu poderia estar entre os dez primeiros, mas
escolhi não reivindicar essa posição.
— Por que não?
— Você não entenderia, —disse Ghastek.
— Me teste.
— Não. Basta que eu lhe diga que trabalhei por anos e

agora todos os meus esforços me trouxeram para cá. Para isso
... um buraco no chão. Vou descansar agora. Já falei o
suficiente por hoje.

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Ghastek ficou quieto. Minutos se passaram. Sua cabeça

caiu.
Eu poderia imaginá-lo no quintal da escola, um garoto

magro em roupas baratas pilotando um morto-vivo atrás das
pessoas que o magoaram. Quem iria imaginar uma história como
550
essa?
Fechei meus olhos. Era tudo que podia fazer.
Nós sairíamos daqui.
Curran viria para mim. Claro que ele viria.

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Jester Park tem sido um dos parques infantis favoritos ao ar
livre do centro de Iowa desde 1958. Este parque de 1.675 acres na costa ocidental de Saylorville Lake oferece camping,
piquenique e golfe em um ambiente rural tranquilo a apenas meia hora do centro de Des Moines.
119
Iowa é um dos 50 estados dos Estados Unidos, localizado na
Região Centro-Oeste do país. 92% da população do estado são brancos, e o maior grupo étnico de Iowa são os alemães, que
compõem 35,7% da população do estado. As principais fontes de renda de Iowa são a manufatura, a agricultura e o turismo.
120
Des Moines é a capital e a maior cidade do estado norte-
americano de Iowa. É também a sede do governo do Condado de Polk. Uma pequena porção da cidade se estende no Condado
de Warren. Foi fundada em maio de 1843 e incorporada em 22 de setembro de 1851, como o Forte Des Moines, que depois foi
abreviada para Des Moines.

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Acordei agitada. A água fria tomou conta de mim.

Ghastek olhava para mim, com os olhos turvos.
— Curran virá por mim, —eu disse a ele.

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cãibras. Elas vinham com
frequência assustadora, torcendo-me em tanta dor que eu teria
gritado se não estivesse tão fraca. Tínhamos passado por
quatro ondas mágicas até agora. Durante a terceira onda,
Ghastek falou com a sua mãe, olhando para a parede,
implorando para não morrer. Estávamos em nossa quarta
onda mágica agora e ele tinha ficado em completo silêncio
horas atrás.
Tentei usar palavras de poder, mas nenhuma delas

funcionou. Elas apenas ricochetearam nas paredes do poço.
Hugh deve ter providenciado isso.
Tentei dormir o máximo que pude. Quando não

conseguia, contei os tijolos. Ultimamente eles estavam
embaçados e fora de foco, como se eu estivesse olhando para
eles através do ar quente subindo da calçada. Eu não era mais

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Kate. Eu era uma outra coisa. Fria. Exausta. Morrendo de

fome. Imunda.
Não quero morrer neste buraco escuro. Eu não quero morrer!
Só quero ver o sol. Quero abraçar Julie mais uma vez. Quero
beijar Curran.
562
Talvez eu estivesse errada.
Talvez ele não me encontrasse a tempo.

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Escuridão fria e úmida. Ghastek convulsionava preso nos

cintos que lhe segurava. A cabeça acima da água. Não morra.
Nós vamos conseguir. Nós temos que conseguir.
563
Eu não sei mais se está quente ou
fria.
A parede do poço se desfaz. Curran olha para mim. Eu o

vejo. Vejo seus olhos cinzentos. Ouço sua voz.
— Eu estou chegando, bebê. Aguente. Apenas segure mais

um pouco, por mim.
Ele veio para mim! Ele veio me tirar daqui. — Eu te amo muito
...
Só quero tocá-lo, mas não consigo alcançá-lo. Algo está

me impendido. Ele está bem ali. Posso vê-lo ali mesmo. Eu
não consigo ...

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— Kate! Kate! —Algo está tentando me segurar, mas

tenho que chegar até Curran. Eu tenho que sair.
— Não é real. —Voz de Ghastek. — Não é real. Olhe?
Curran desaparece. Há apenas as pedras, pedras frias,

escuras e sujas do meu sangue, onde eu me agarrei a elas.
564
Eu flutuo em um lago de sangue.
Estou alucinando, mas posso saboreá-lo nos meus lábios, o
sabor salgado e quente de uma vida humana.
Vai passar. É só a fome.
A imagem de Ghastek está embaçada, seu rosto fora de

foco, flutuando no sangue ao meu lado. — Estou com medo,
Kate.
Tenho que mantê-lo vivo. — Nós vamos conseguir.
— Eu só queria viver, —ele sussurra. — Eu assisti minha

mãe morrer. Ela sofreu. Ela sofreu muito. Não posso fazer

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isso. Eu não posso. Estou com muito medo. Fiz tudo isso
porque queria ser presenteado pelo Construtor. Eu queria que
ele me fizesse imortal.
Ele olha para mim com olhos dementes. Ele realmente

não me vê.
565
— Ghastek?
— Meu nome é Matthew. —Sua voz é um sussurro febril.

— Quando o Construtor se importa com alguém, quando ele
precisar desse alguém, ele o deixa viver para sempre. Ele não
o deixa morrer.
— Eu me importo com você, Matthew. Segure minha

mão. Não vou deixar você morrer.
Curran está na grade acima de mim e eu falo com ele. Eu

falo, ‘amo todos vocês. Este não é o fim. Eu não vou rolar e morrer’.

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Eu gostaria de ter sido uma pessoa melhor. Queria que as

coisas tivessem sido diferentes.
Este lugar não vai me matar. Eu sobreviverei. Não vou

quebrar.
Curran sorri para mim. Ele está falando comigo. Sei que
566
ele virá para mim.
Ele virá para mim. Só não sei se será tarde demais.
constante, como
o bater de algum coração gigante.
Ficando cada vez mais alto.
Cada vez mais próximo.
Estou alucinando novamente.
Dor.

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Minha mão esquerda está segurando a grade. Há um

pedaço de tijolo do outro lado da grade ao lado.
Há um pedaço de tijolo.
Minha mente começou a trabalhar devagar, como um

motor enferrujado tentando voltar à vida.
567
Bam! Algo atingiu a parede acima de nós.
Outro tijolo bateu na grade.
Eu me aproximei e balancei Ghastek. Ele estava imóvel

em seus cintos. Eu mal conseguia movê-lo.
Bam!
— Ghastek, —sussurrei. — Ghastek ...
Seus olhos se abriram devagar.
Bam.
Tijolos caíam da parede do poço. Na penumbra das

lâmpadas elétricas, o poço oscilava, embaçado, mas vi o
buraco na parede a cerca de seis metros de altura. Outro baque.
Mais tijolos caíram, saltando da parede. Alguém se moveu no
topo do buraco, saltou e pousou na grade. Olhos cinzentos
olhavam para mim.

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Livro 7
Curran.
Por favor, deixe ser real.
Ele olhou para mim. Seus olhos estavam horrorizados. —

Kate? Jesus Cristo.
Meus lábios se moviam. — Por favor, seja real.
568
Ele tirou uma serra de metal da mochila e começou a
cortar a grade. — Fique comigo, bebê.
Isso era um sonho. Outra alucinação. Ou Hugh fodendo

de vez com a minha cabeça. Eu me preparei para o sonho
acabar. Eu acordaria e Curran desapareceria.
Dois outros caíram na grade. Jim. Thomas, o alfa dos

ratos.
Jim me viu e xingou.
— Me tirem daqui, —sussurrou Ghastek. — Por favor.
— Eu deveria deixar você aí, seu filho da puta, —rosnou

Curran. — Tirem-no.
Jim pegou outra serra.
A lâmina cortava as barras acima de mim. Vai e vem. Vai e

vem.

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Livro 7
Por favor seja real. Alcancei através das grades e toquei seus
dedos em luvas de proteção. Sua mão estava quente.
— Espere, bebê. Encontrei você.
Uma criatura saiu do buraco e caiu na grade. Sem pêlo e

esquelético, agachou-se de quatro como se nunca tivesse
569
andado na vertical. Garras curvas grossas coroavam os dedos
dos pés. Seu peito era largo, seus músculos laterais do tórax
desenvolvidos como os de um cachorro boxer121. Uma crista
óssea se projetava de sua coluna. As enormes mandíbulas
abertas e deformadas, as presas do tamanho de um dedo
perfuraram o ar. Seus olhos, profundos e vermelhos, ardiam
de fome.
Um vampiro. Um vampiro antigo, tão velho que enviou

um arrepio na minha espinha.
Curran virou-se. O vampiro pulou. A mão direita de

Curran se fechou na garganta do vampiro. Ele o girou, alheio
121
Cão da raça Boxer

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Livro 7
às garras rasgando seu casaco e enfiou a cabeça do morto-vivo

na parede. O crânio do vampiro bateu no tijolo. Curran
mostrou os dentes e bateu na parede de novo e de novo, o rosto
selvagem.
Os ossos do vampiro racharam. Sangue de morto-vivo
570
espirrou nos tijolos. Curran bateu a sanguessuga no tijolo pela
última vez e torceu a cabeça dele como se estivesse torcendo a
roupa. O corpo de vampiro caiu de um lado, a cabeça do outro.
— Exibido, —eu sussurrei.
— Aguente. Quase pronto.
Ele agarrou a grade. A pele de seus dedos ficou cinza—a

prata queimando-o. Curran colocou força. Suas pernas
tremiam sob a pressão. As duas últimas barras dobraram e ele
empurrou parte da grade para o lado como uma tampa em
uma lata. Ele caiu de joelhos e me alcançou. Eu deslizei para
fora dos cintos que me prendiam. Alguém deve ter colocado
pedras amarradas nas minhas pernas, porque elas me puxaram
para baixo como uma âncora. Eu afundei. A água subiu pelo
meu pescoço e pela minha boca ... Ele agarrou meu braço, me
puxou pela grade, para o ar e me abraçou a ele.

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Livro 7
Ele cheirava a Curran. Parecia como ele. Enterrei meu

rosto na curva do seu pescoço. Sua pele estava tão quente que
ardia.
— Não morra em meus braços. —Ele beijou meu rosto,

tirou seu casaco. — Não morra em meus braços.
571
Eu não aguentei mais segurá-lo. Caí em cima da grade.
Ele me envolveu em seu casaco, fechou os braços em volta

de mim e pulou. Então nós estávamos em um corredor
estreito. Ele me carregou através desse corredor.
— Eu te amo, —eu disse a ele.
— Eu também te amo. —Sua voz era crua. — Fique viva,

Kate.
— Ghastek ...
— Eles vão pegá-lo. Não se preocupe. Fique comigo.
— Onde mais eu iria?
Ele me apertou para ele. — Vou matar aquele filho da

puta.
— Entre na fila, —eu disse a ele. — Ele quebrou minha

espada.

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Livro 7
— Foda-se a espada. Eu quase perdi você. —Ele chutou

uma porta aberta e me abaixou para uma fogueira construída
no chão de concreto. — Andrea, roupas! Rápido!
Curran rasgou minha camisa ao meio. Minhas calças

saíram, alguém estava tirando minhas roupas encharcadas. O
572
calor do fogo girava em torno de mim. Christopher se virou
para mim, o cabelo branco como a neve, segurando uma
garrafa térmica nos meus lábios. — Beba, minha Senhora.
Eu bebi. Caldo de galinha. Bebi novamente e ele puxou de

volta. — Não muito rápido. Você vai vomitar.
— Espere, —Andrea me disse, e colocou meias nos meus

pés. — Nunca mais faça essa merda de novo, você está me
ouvindo?
— Claro, —eu sussurrei.
— Aqui. —Robert entregou uma camiseta para Curran.
— O que todos vocês estão fazendo aqui? —Sussurrei,

enquanto Curran colocava a roupa em mim.
— Viemos salvá-la. —Christopher sorriu. — Até eu. Não

queria voltar a este lugar, mas tinha que fazer. Não podia
deixá-la em uma jaula.

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Livro 7
Ele me deu mais caldo. Eu bebi. Curran me abraçou

apertado.
Nós estávamos em algum tipo de sala grande. Um fogo

aceso no centro, queimando restos de móveis de escritório.
Várias placas divisórias122 formavam cubículos grudados
573
nas paredes. Havia janelas no teto. A sala parecia estar virada
de lado. Isso não fazia sentido.
— Onde estamos? —Eu sussurrei.
— Você não sabe? —Os olhos azuis de Christopher se

arregalaram. — Estamos em Mishmar.
Prisão da torre de Roland. Eu só sabia o que Voron me

disse sobre ela. Quando o distrito comercial de Omaha caiu,
meu pai comprou os escombros da cidade empobrecida. Ele
havia pegado pedaços colossais de arranha-céus caídos, dois,
três, quatro andares de altura, puxou-os para um campo
deserto em algum lugar de Iowa e os colocou em uma enorme
torre, unidos por magia e cercados por uma parede. Era um
122
Placas divisórias.

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Livro 7
lugar vicioso, um labirinto em constante mudança, onde as

saídas se fechavam e as paredes tomavam novas formas.
Vampiros ferozes vagavam por aqui. Coisas, para as quais
ninguém tinha dado um nome porque não tinham o direito de
existir, caçavam aqui. Não havia como escapar de Mishmar.
574
Ninguém saiu nunca.
— Você veio para Mishmar por mim?
Curran me abraçou, embalando-me como se eu fosse uma

criança. — Claro que sim.
Eu o amo tanto. — Você é um idiota do caralho. —Minha

voz estava rouca. — Por que diabos fez isso?
— Porque amo você. Dê-lhe mais caldo. Ela está

voltando.
— Temos que sair daqui, —eu disse. — Hugh me visita

em meus sonhos.
Os olhos de Curran ficaram dourados. — Deixe-o vir.
— Um vampiro! —Andrea gritou.
A janela acima e à esquerda de nós quebrou. Fragmentos

de vidro e madeira caíram em cascata no chão. Uma vampira
caiu no quarto, sua mente uma faísca quente na minha frente.

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Livro 7
Aterrissou de quatro, velha, magra e desumana. Uma crista

óssea afiada se projetava de suas costas. Outra antiga.
A vampira disparou para frente e depois parou

abruptamente.
— Ainda sou ... um Mestre dos Mortos, —disse Ghastek
575
de um cobertor no chão. — Mate-a antes que eu perca a
consciência.
Capítulo 14
Estava deitada enrolada em um
cobertor, vestida com várias camadas de roupa.
Eu não conseguia ver Curran. Ele me segurou por horas.

Toda vez que acordei, ele estava lá, mas não agora. Ansiedade
cravou em meu peito.

Magic Breaks
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Livro 7
Certo, tenho que sair dessa. Curran não vai evaporar. Ele não foi
uma alucinação. Curran estava aqui ... em algum lugar.
Acima de mim, pequenos pontos de magia abominável

moviam-se para a frente e para trás. Vampiros. Um, dois ...
Nove. Empurrei os cobertores para cima. A sala estava quase
576
vazia. Christopher cochilando encostado na parede. À minha
esquerda, Ghastek estava deitado em seus cobertores. Robert,
o alfa rato, sentado ao lado dele. Sem sinal de Curran ou Jim.
Também achei que tinha visto Andrea, mas eu deveria estar
enganada. Andrea não poderia estar aqui. Ela está gravida.
Não arriscaria o bebê.
Uma mulher de olhos castanhos se ajoelhou ao meu lado.

Tinha a minha idade, cabelos escuros, boca carnuda e pele
morena. Usava uma abaya123 preta solta, uma túnica estilo
islâmico e um hijab124 combinando, um lenço largo,
123
Aabaya
124
Hijab

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Livro 7
pendurado sobre a cabeça. Ela parecia árabe para mim. Eu já

havia a visto antes entre a equipe do Doolittle.
— Qual o seu nome?
— Me chamo Nasrin. —Nasrin gentilmente tocou meu

rosto, examinando meus olhos. — Estou aqui para curar você.
577
— Onde está Curran?
— Checando a barricada, —disse Nasrin. — Jim e outros

estão de guarda lá. Como você se sente?
Que barricada? — A sala não está mais embaçada.
Ela sorriu. — Isso é bom. Nós tivemos uma pequena onda

mágica e trabalhei um pouco em você.
— Acho que lembro.
Eu tinha desmaiado em algum momento, mas Curran me

acordou a cada cinco minutos para comer. No início vomitei
o caldo uma ou duas vezes. Lembrava vagamente de Andrea
limpando o meu rosto com um pano úmido e Nasrin
murmurando algo e segurando um cantil nos meus lábios. Seja
lá o que ela me deu para beber fez me sentir melhor. Depois
fizeram eu beber uma mistura misteriosa que Doolittle
preparou e mandou com eles, especialmente no caso de termos

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passado fome. Perguntei o que havia dentro, e Christopher me

disse muito seriamente: Quarenta e dois por cento de leite
desnatado, trinta e dois por cento de óleo comestível e vinte e
cinco por cento de mel. Tinha medo de não conseguir segurar a
beberagem no estômago se eu perguntasse sobre o outro um
578
por cento que faltava ele me dizer. Então uma onda mágica
veio e alguém cantou uma cura sobre mim, e de repente estava
faminta. Havia tomado duas vasilhas de caldo e o meu
estômago queria mais, então desmaiei novamente. Eu não
tinha certeza, mas parece que toda essa sequência aconteceu
mais de uma vez.
— O que tinha na garrafa que você me deu? —Perguntei.
Ela sorriu. Não era a mesma coisa de ter Doolittle aqui,

mas algo nela transmitia a mesma confiança tranquilizadora.
— Água de Zamzam125.
125
O poço de Zamzam (poço Zamzam, ou apenas Zamzam ou Zenzem;
significando «copioso» ou «abundante») é um poço considerado sagrado, localizado em Meca, a poucos metros ao leste
da Caaba, Arábia Saudita. Possui 35 metros de profundidade e é coberto por uma cúpula. Segundo a crença islâmica este poço
foi aberto pelo Anjo Gabriel, para salvar Agar e seu filho Ismael de morrer de sede no deserto, por isso também é conhecido
pelo nome de Poço de Ismael.

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Livro 7
— A água abençoada de Meca?
— Sim. —Ela assentiu com um pequeno sorriso e segurou

uma garrafa nos meus lábios. — Beba agora.
Eu tomei um gole.
— Quando o profeta Abraão enviou Agar e seu filho
579
pequeno, Ismail, para o deserto estéril de Meca, ele os deixou
lá com apenas um saco de tâmaras e uma bolsa de couro com
água. —Nasrin tocou minha testa. — Sem febre. Isso é bom.
Quando toda a água acabou, Ismail chorou porque estava com
sede e Agar começou a procurar água. Ela subiu as montanhas
e andou pelos vales, mas a terra era muito árida. Sente
qualquer tontura?
— Não.
— Isso é bom também. Finalmente, no monte al-Marwah,

Agar pensou ter ouvido uma voz e gritou, implorando por
ajuda. O anjo Gabriel desceu ao chão, passou sua asa pela terra
e a fonte de Zamzam se espalhou. Sua água satisfaz tanto a
sede quanto a fome. —Nasrin sorriu novamente. — Levamos
um pouco dela para casa quando minha família foi em uma
peregrinação sagrada a Meca. Minha magia de cura incentivou
o seu corpo a curar-se, fazendo-o metabolizar os alimentos a

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Livro 7
uma taxa acelerada. Como você não tinha ferimentos para

reparar, seu corpo absorveu os nutrientes e usou todos na cura
geral do seu organismo, a água acelerou o processo ainda mais.
Se continuarmos assim, você estará andando em breve. Nada
mal para trinta e seis horas de tratamento, e parece que
580
conseguiremos evitar a síndrome de realimentação126. Sem
magia de cura, restaurar suas forças levaria algumas semanas.
Eu olhei para Ghastek.
— Ele está se recuperando mais devagar, —disse Nasrin.

— Você estava em melhor forma e tinha mais reservas de
energia do que ele. Não se preocupe. Vou te ajudar a recuperar
seu peso normal, logo estará pronta para lutar. Essa é minha
especialidade. Eu sou a chefe da unidade de recuperação da
Fortaleza. Suspeitávamos que você pudesse estar desnutrida,
então o Doutor Doolittle e eu concordamos que a minha vinda
seria a mais adequada e eficaz.
— Obrigada.
— Não há de quer.
126
A síndrome de realimentação caracteriza-se por alterações neurológicas, sintomas respiratórios, arritmias e falência
cardíacas, poucos dias após a realimentação. Ocorre em consequência do suporte nutricional (oral, enteral ou parenteral) em
pacientes severamente desnutridos.

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Livro 7
Eu tentei levantar minha cabeça. — Você disse que havia

uma barricada. Onde?
— É nas duas extremidades do corredor. —Nasrin olhou

para cima. — O andar acima de nós está infestado de vampiros
ferozes. Ghastek tentou contá-los em algum momento e
581
mencionou quatro uma vez e seis duas horas depois. Nós
matamos um casal, eles estavam muito deformados. Este lugar
não é saudável nem mesmo para os vampiros.
Havia nove vampiros agora. Eles poderiam nos sentir de

alguma forma, e continuariam chegando. Nós tínhamos que
atacá-los ou nos mover.
— Eles estão se alimentando um do outro, —disse

Ghastek, que se virou para deitar de lado, de frente para mim.
Seus olhos estavam afundados em suas órbitas. Parecia um
fantasma de si mesmo.
— Nunca ouvi falar de mortos-vivos fazendo isso, —eu

disse.
— Em casos raros, —disse ele. — É preciso uma fome

severa ou alimentação controlada. Eu já consegui reproduzi-
los antes em um ambiente de laboratório. Existem ... —ele
bocejou ... — muitas variáveis. Um vampiro que se alimenta

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Livro 7
de outros mortos-vivos sofre alterações morfológicas. Deve ser

feito com muito cuidado, ou o vampiro pode morrer. Alguns
mortos-vivos ... —ele bocejou novamente ...— uma dieta que
consistente de outros vampiros ao longo do tempo ... o que eu
estava dizendo?
582
Eu também tinha dificuldade em me concentrar. — Algo
sobre vampiros se alimentando de outros vampiros.
— Isso os faz parecer mais velhos, mais poderosos para

nós, —disse Ghastek. — Os navegadores podem sentir a idade
de um morto-vivo, e uma dieta de outros mortos-vivos faz com
que um vampiro pareça para nós mais velho.
Eu conheci vampiros velhos o suficiente para serem Pré-

Mudança, mas nunca consegui entender como isso era
possível. Deveria ser impossível haver vampiros antes da
Mudança, porque a magia era muito fraca, quase não existia.
O patógeno Immortuus não se manifestou até a primeira onda
mágica catastrófica. Agora eu sabia como eles existiam. Eles
não eram muito velhos. Eram canibais.
— Parecem mais velho como? Por décadas?
— Sim. —Ghastek bocejou. — A menos que você queira

apenas um espécime superpotente, não é rentável continuar a

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alimentar um vampiro com outros mortos-vivos ao longo do

tempo. A aquisição de vampiros é cara. É realmente um
desperdício. —Ele bocejou novamente. — Você tem que dizer
ao seu leão para evitar matá-los. Vampiros canibais visam os
mais fracos de suas espécies e reagem ao sangue dos mortos-
583
vivos. Mate um e um enxame virá direto para o cadáver.
Ele fechou os olhos.
— Quantos vampiros estão em Mishmar? —Robert

perguntou.
Ghastek abriu os olhos. — Eu estive aqui apenas uma vez,

cinco anos atrás. Tive que fazer um teste para ser admitido na
Legião Dourada. Você deve entrar em Mishmar e trazer um
vampiro. Naquela época, eu senti centenas.
Centenas. Tínhamos que sair daqui. Quanto mais rápido

sairmos, melhores serão nossas chances de sobrevivência.
Ghastek e eu estávamos mantendo a todos ancorados aqui. Eu
precisava me mover rapidamente.
Estendi a mão para pegar o recipiente e comecei a comer

mais da pasta de Doolittle.
— Obrigado, —disse Ghastek.

Magic Breaks
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Livro 7
— Pelo o quê?
— Por me manter vivo. —Ele fechou os olhos e

adormeceu.
Curran empurrou a porta. Seu cabelo loiro parecia mais

longo do que antes de ir para a Carolina do Norte. Uma barba
584
cobria sua mandíbula. Ele também não se barbeava em
algumas semanas. Suas roupas salpicadas de manchas de
sangue, algumas velhas, outras novas.
Curran sentou ao meu lado. Eu coloquei meus braços ao

redor dele e o beijei. O gosto dele contra a minha língua era
mágico. Ele me beijou de volta e me segurou apertado. — Você
comeu?
— Comi. O gosto é muito melhor do que os da festa que

Hugh estava oferecendo.
— Eu vou quebrar o pescoço dele, —Curran sussurrou,

sua voz vibrando com tanta ameaça que eu quase estremeci.
Os músculos dos braços de Curran se endureceram com a
tensão. Ele provavelmente estava imaginando matando Hugh
em sua cabeça. Eu não gostaria de ser Hugh d'Ambray neste
momento. Entre meu ódio e o de Curran, seu prognóstico para
uma vida longa não parecia bom.

Magic Breaks
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Livro 7
— Ghastek diz que os vampiros aqui estão se alimentando

um dos outros. Se você matar um, eles vão vir atrás do sangue
do morto. Como está a barricada? —Perguntei.
— Vai durar mais algumas horas. —Curran acariciou meu

ombro e beijou meu cabelo. Eu me inclinei contra ele. Era tão
585
bom saber que ele estava aqui.
— Você pode tirar mais uma soneca e depois eu vou levá-

la, —disse ele.
— Posso caminhar.
— Isso é bom, mas se não, eu carrego você.
Passei meus braços ao redor dele novamente. Havia coisas

que eu queria dizer, mas não sabia como. Ele atravessou
metade do país, invadiu uma prisão impenetrável e encontrou-
me contra todas as probabilidades. Não havia palavras para
explicar a ele como me sentia sobre isso.
— Eu te amo, —disse a ele. Pronto. Bom e simples. —

Sabia que você me encontraria.
Ele sorriu para mim. — Nunca pararia de procurar.
E não faria mesmo. Ele continuaria até que me

encontrasse. Eu não tinha dúvidas disso.

Magic Breaks
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Livro 7
Curran enfiou a mão no casaco e me entregou algo

enrolado em um pano. Eu desdobrei o tecido. A outra metade
da Matadora. Imaginei deslizando-a nos olhos de Hugh. Era
isso ou começaria a chorar, e eu não choraria em Mishmar.
— Isso pode ser consertado? —Perguntou Curran em voz
586
baixa.
— Não. —Eu já havia trincado a Matadora em alguns

lugares antes, e a espada se refez nessas trincas, mas essa
quebra foi bem no meio.
Minha espada estava destruída. Uma velha amiga

morrera. Pensar nisso me fez estremecer. Acariciei a lâmina.
Era como se uma parte de mim tivesse sido cortada. Eu me
sentia ... nua. — Mesmo se eu conseguisse consertá-la de
alguma forma, a lâmina sempre teria um ponto fraco.
— Eu sinto muito.
— Obrigada. Perdi a cabeça com Hugh e acabei sendo

descuidada.
— Não se preocupe, eu pretendo perder a cabeça com ele

também. —Ele enrolou os dedos como fazia quando tinha
garras.

Magic Breaks
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Livro 7
— Ele não vai gostar.
Ficamos sentados em silêncio por um longo minuto.
— Eu trouxe a sua outra espada, —disse ele.
— A Cherkassy127?
587
Curran assentiu.
— Posso vê-la?
Ele estendeu a mão e a puxou da pilha de mochilas. Eu

tirei a lâmina de metal levemente curvada da bainha e corri
meus dedos ao longo dela. Não era a mesma coisa.
Curran cutucou o recipiente de comida para mim. —

Coma.
— Alimentando-me novamente, Vossa Peludeza?
— Claro, —disse ele. — Eu te amo.
Isso fez me sentir quente por todo lado.
— Descobri como Hugh se teletransporta, —eu disse entre

as mordidas. — Ele usa um pequeno frasco de água em volta
do pescoço em emergência. Hugh quebra o frasco e a água
molha sua pele, ele diz uma palavra de poder, e o
127
Cidade Ucraniana. Não encontrei significado da palavra. Mas nesse caso e uma Espada, que leva esse nome.

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Livro 7
teletransporta para a fonte da água. Enquanto se estar

teletransportando, seu corpo fica etéreo do início ao fim do
processo. Ele se teletransporta apenas como último recurso, se
a tecnologia chegar e a magia for embora durante o
teletransporte, é morte na certa.
588
— Bom saber.
— O convite de Gene foi uma armação?
Curran encolheu os ombros. — Eu não sei. Mas quando

voltarmos, planejo perguntar a ele. Ele será nosso convidado
na Fortaleza.
O jeito que ele disse ‘convidado’ não seria bom para Gene.
— O que aconteceu depois que eu desapareci?
Curran encostou-se a uma cadeira virada. — Persegui

Hugh através do campo, mas ele se teletransportou antes que
eu pudesse chegar até ele. Tenho o cavalo dele. Você o quer?
— Seu frísio? Não, obrigada. É lindo, mas os cavalos dessa

raça não são os melhores em equitação. Disseram a você que
eu montei uma jumenta gigante?
Ele piscou. — Você o que?

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Livro 7
— Uma jumenta gigante preta e branca. Ela tinha uns dois

metros e meio de altura e mal-humorada. Eu a deixei nos
estábulos da Fortaleza. Aluguei a jumenta em um estábulo
particular, então, depois de todo esse tempo que estamos com
ela, talvez tenhamos que comprá-la agora. O nome dela é
589
Mimosa.
Ele olhou para mim, tentando compreender o que eu

estava falando: — Às vezes a fome tem efeitos colaterais
estranhos ...
— Não, eu estava lá, —disse Robert, com os olhos ainda

fechados. — Eu conheci Mimosa. Orelhas longas.
Os olhos de Curran se arregalaram.
— Se sairmos daqui eu gostaria de ficar com ela, —eu

disse a ele.
— Se você terminar de comer esta comida, eu vou te dar

uma manada inteira de jumentos gigantes.
— Esse é o suborno mais estranho que já ouvi falar, —

disse Robert.

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Livro 7
— Eu não quero uma manada. Eu só quero a Mimosa. —

Comi mais da pasta de Doolittle. — O que você vai fazer com
o Frísio de Hugh?
— Eu não sei. Inferno, poderia ficar com ele. Vou andar

por aí como um cachorro na coleira.
590
Eu ri. — Você odeia cavalos.
— Não, —disse Curran. — Eu não confio neles. Há uma

diferença.
— Então o que mais aconteceu depois que eu desapareci?
— Então eu tive um enorme problema, —disse ele. —

Você tinha desparecido, Hugh havia desaparecido e Ghastek
também desapareceu.
A Nação estava gritando assassinato sangrento e correndo

de um lado para outro. Jim me contou sobre Brandon e seu
truque com a água. Eu precisava de mais informações e queria
descobrir o que tinha dentro de Brandon que fazia dele uma
criatura tão idiota ao ponto de fazer o que ele fez. Então eu
abri o estômago de Brandon e puxei suas entranhas enquanto
Jennifer assistia. Eu disse que se ela se movesse um centímetro,

Magic Breaks
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Livro 7
eu faria coisas para ela que fariam o que eu estava fazendo a

Brandon parecer civilizado e gentil.
Ele perdeu o controle. Eu podia contar nos dedos de uma das

mãos os momentos em que Curran perdeu o controle e eles
estavam marcados na minha memória. Ele se orgulhava de
591
estar sempre no controle. O Senhor das Feras deve ter sentido
tanta raiva ou medo por mim que finalmente ficou fora de sim.
Eu sabia exatamente como ele se sentia. Não podia rugir como
ele, mas se Curran tivesse sido teletransportado daquele
campo, eu teria feito todo o Bando se encolher e se mijar.
— Jennifer se transformou? —Perguntei.
— Não. Ficou ali em silêncio enquanto ele gritava.

Brandon não me deu nada de construtivo. Foi Barabas quem
lembrou que Jennifer tinha entrado no quarto com aquela
garrafa quando foi conversar com você.
— Ela não conseguiu fazer, —eu disse a ele. — Eu acho

que ela entrou no quarto planejando fazer isso, mas recuou no
último minuto.
— Já que Brandon não estava ajudando, eu dei o que

sobrou dele para Mahon e disse a Jennifer que era a vez dela.
Ela disse que eu não ousaria. Eu assegurei a ela que faria.

Magic Breaks
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Livro 7
Agarrei-a pela garganta e a sacudi um pouco. Eu posso ter

rugido também.
Robert suspirou. — Ele estava em meia forma. Tinha

crescido garras do tamanho de presas de morsas128 e elas
estavam pingando com o sangue de Brandon. Seu pêlo estava
592
em pé, sua boca era tão grande, —Robert segurou suas mãos a
cerca de uns sessenta centímetros de distância para demonstrar
o tamanho da boca de Curran, — ele havia criado um conjunto
extra de presas, e seus olhos pareciam que estavam pegando
fogo. Rugia tão alto que as janelas da Fortaleza vibravam, e
quando falou, a voz soou como a de um demônio do inferno.
Eu teria dito a ele qualquer coisa.
Escovei meus dedos ao longo de sua bochecha barbada

gentilmente. — Seu controle implacável falhou, Vossa
Peludeza?
128
A morsa (Odobenus rosmarus) é um animal de grande porte que vive nas
águas do Ártico. É a única espécie não extinta do gênero Odobenus e da família Odobenidae. Uma morsa fêmea adulta chega
a 2,60 metros de comprimento e pode pesar de 400 até 1.250 kg. O macho adulto é ainda maior, podendo ter de 3 a 4 metros
de comprimento. Os machos adultos do Pacífico podem pesar até mais de 2.000kg e, entre pinípedes, são ultrapassados em
tamanho apenas pelas duas espécies de elefantes marinhos. Subdivide-se em três subespécies: morsa do Atlântico (O.
rosmarus) que vive no oceano Atlântico, a morsa do Pacífico (O. rosmarus divergens) que habita no oceano Pacífico e O.
rosmarus laptevi, que vive no mar de Laptev.

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Livro 7
— Não, —disse Curran. — Estava perfeitamente no

controle.
Do outro lado da sala, Robert sacudiu a cabeça. — Ele

segurou Jennifer pela garganta a meio metro do chão o tempo
todo que a questionou.
593
— Você estrangulou a alfa lobo? —Não que ela não
merecesse.
Curran fez uma careta. — Claro que não. Precisava de

informação. Depois que coloquei o rosto dela dentro da minha
boca, concordamos mutuamente que era do interesse dela me
dizer o que eu queria saber. Então as comportas se abriram e
todos os tipos de coisas interessantes saíram. Ela havia sido
abordada há cinco meses, logo após a morte de Daniel. Um
homem a encontrou em um restaurante e disse que ele era do
Clã Fúrias de Gelo, e que queriam informações privilegiadas.
No começo, ela negou, mas então a paranoia e o medo com a
gravidez se instalaram. Quando saímos para a Europa, eles
ofereceram a panaceia. Ela aceitou.
Jennifer estava grávida na época, sozinha e com medo.

Seu bebê também era o bebê de Daniel, e ela faria qualquer

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coisa para impedir que sua filha fosse a loup. Mas trair todos
do Bando ...
— Ela começou a alimentá-los com todo o tipo de

informações sobre nós, —Curran continuou. — Em troca, eles
lhe forneceram a panaceia e outros favores. Você se lembra
594
quando a loja de Foster e Kara foram incendiados?
Foster e Kara Hudson eram os betas do Clã Lobo desde

da época de Daniel. Depois da morte de Daniel ela os herdou.
Eles possuíam uma pequena fábrica de tecidos e uma loja

de roupas que sofreu um grande incêndio, destruindo tudo. Na
época do incêndio estávamos na nossa viagem, ‘rumo a
panaceia’. — Incêndio culposo? Contra seus próprios betas?
Curran assentiu. — Antes do incêndio, parece que Foster

pretendia desafiar Jennifer, mas depois do incidente, ele teve
que pegar um empréstimo com o Bando e tanto ele quanto
Kara abriram mão do posto de beta para se concentrarem na
reconstrução dos seus negócios. Jim desconfiou que essa
história cheirava mal, então investigou, mas nem Jennifer nem
ninguém do Clã Lobo estavam perto do fogo na hora do
incêndio.

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Uau. Eu não achei que ela fosse tão baixa assim. Kate Daniels, a
brilhante juiz de caráter. Só que não.
— Desandra chegou de viagem com a gente, pegou o

posto beta, e as coisas ficaram cada vez piores, até que Jennifer
exigiu que eles a fizessem desaparecer. Antes do Conclave,
595
Jennifer recebeu a garrafa e disseram a ela que ou ela jogava a
garrafa em você pela manhã, e em troca Desandra
despareceria, ou a evidência da sua traição seria apresentada
ao Bando.
— Você pode ter tudo o que quiser, se fizer o que

mandarmos, ou nós tiraremos tudo o que você tem?
— Sim. De acordo com Jennifer, ela não conseguiu jogar

a garrafa em você, então Brandon fez isso por ela. Segundo ele,
sem ela pedir. Ele se ofereceu. —Curran fez uma careta.
Robert encolheu os ombros. — Eu não consigo decidir se

a incapacidade dela em nos trair completamente é algo bom
ou ruim. Bom porque ela ainda teria alguns escrúpulos, ou
ruim porque seria na verdade um sinal de sua covardia e dessa
forma acabou manipulado alguém para fazê-lo.
— Eu não me importo, —disse Curran.

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Livro 7
— O que aconteceu depois? —Perguntei.
— Em seguida, soltei Jennifer e disse a Desandra que, se

ela queria liderar os lobos, agora seria um bom momento. Para
o crédito de Jennifer ela não negou o desafio. Jennifer fez uma
boa luta, mas no final teve uma morte rápida.
596
Eu deveria odiar Jennifer. Se ela tivesse escapado do
desafio, eu a teria matado quando retornasse, não porque não
gostasse dela, mas porque era uma traidora e uma fraqueza no
Bando. Deveria estar com raiva, mas Hugh tinha o monopólio
de toda a minha raiva ultimamente. Tudo o que sentia por
Jennifer era tristeza. Dois anos atrás, tudo era maravilhoso
para ela. Ela tinha um marido que a amava e uma posição
importante no clã. Eles estavam planejando ter filhos. Sua vida
era muito promissora. Em vez disso, tudo foi para o alto e
terminou em uma tragédia.
— O que acontece com a bebê? —Eu perguntei.
— Winona a levou, —disse Curran.
Uma das irmãs de Jennifer. Ela tinha cinco. — Elas vão

causar problemas?

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Livro 7
— Eu estou pouco me fodendo para isso, —disse Curran.

— Se elas decidirem causar problemas, vou abatê-las até que
parem de ser um problema.
Está bem então. — Como você me achou?
— Encontrei Nick primeiro, —disse Curran.
597
Oh garoto. — Por favor, não me diga que você abriu o
estômago do cruzado só para ver se ele tinha algo estúpido
dentro dele também.
— Eu não precisei. Ele me disse onde você estava. —

Curran acenou com a mão para a sala imunda. — Esse era o
plano B de Hugh. Se ele não conseguisse, você acabaria em
Mishmar. Voltei para a Fortaleza e pedi voluntários para
virem comigo. Nós tínhamos que nos mover rapidamente.
Christopher apareceu com o seu cabelo e disse que ele poderia
rastreá-la com ele.
— Você trouxe Jim. —Eu sorri.
Curran revirou os olhos. — Eu não estava planejando

trazê-lo. Jim e eu rosnamos um para o outro por meia hora, e
Raphael e Mahon decidiram que desta vez eles poderiam ficar
para trás. Eu tinha Jim e Christopher. Derek queria vir, mas

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Livro 7
ele não estava cem por cento, então eu não o trouxe. Robert e
Thomas se ofereceram. Andrea também.
Ah, sua loira idiota. Ela não deveria ter vindo. Eu daria a ela
uma merda quando saíssemos. Olhei para Robert. — Por que
veio?
598
Ele suspirou. — Porque eu entendo. Se meu companheiro
sumisse, eu o encontraria. Não importa o que fosse preciso.
Ele faria o mesmo por mim. Onde um de nós vai, o outro
segue.
— Obrigada, —eu disse.
— Não há de que.
— Com os dois, tínhamos o suficiente, mas precisávamos

de um médico mago. Doolittle não poderia vir, mas ele pediu
voluntários. —Curran acenou para Nasrin.
A médica maga encolheu os ombros. — Eu vou onde for

preciso.
— Então eu tive que fazer um milhão de arranjos de merda

para garantir que o Bando não desmoronasse enquanto
estivéssemos fora. O Conselho me deu trabalho. Não
conseguimos sair até a manhã seguinte.

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Livro 7
A maneira como ele disse que o Conselho tinha dado

trabalho, significava nada de bom. — Eles não queriam que
você viesse.
— Alguém ficou empolgado e me disse que eu não poderia

vir, já que isso não era do melhor interesse do Bando, —disse
599
Curran.
Imagino. Não importa o quanto bem eu servisse o Bando,

minha vida não valeria a pena arriscar a vida de Curran e dos
outros alfas. Essa ingratidão deveria ter doído, mas eu já estava
me acostumando com isso.
— Eles estavam em pânico, —disse Robert.
— O que você fez? —Perguntei a Curran.
Ele encolheu os ombros. — Lembrei-lhes que sou eu quem

ainda decide as coisas.
— Levamos dois dias para chegar aqui, —disse Robert. —

Há uma Linha Ley muito rápida que passa por aqui saindo em
torno de St. Louis, mas não há quase nada indo para o
noroeste.
— As estradas são uma merda, —disse Curran. — Não

sabíamos exatamente onde ficava Mishmar, e quando

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Livro 7
finalmente chegamos, demoramos mais um dia para encontrar

uma maneira de entrar. Mas a questão real era que não
podíamos nos mover durante a tecnologia. Christopher
colocou seu cabelo em alguma solução e nós o usamos como
uma bússola, mas só funcionava enquanto a magia estava alta.
600
Eu tive que sentar em minhas mãos e esperar a metade do
tempo. Nós temos vagado por esse maldito lugar por dias.
Pobre Christopher. ‘Vou te seguir até os confins da terra, mas

não lá. Não posso ir lá de novo’. Mas ele fez. Ele veio para
Mishmar por mim. Se saíssemos daqui vivos, eu encontraria
uma maneira de recompensá-lo.
— Christopher lhe disse para trazer as serras?
Curran assentiu. — Ele disse que havia celas de prisão ...
Curran levantou a cabeça. Robert se virou para a porta.
Uma saraivada de tiros veio de algum lugar no corredor.

Isso era Andrea.
Thomas enfiou a cabeça pela porta. — Temos que sair

daqui.

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Livro 7
601
corredor estreito. Bem, eu não
estava realmente correndo. Estava me arrastando para frente.
Curran se inclinou para mim. — Você vai ser teimosa

sobre isso?
— O que acha? —Nós já estávamos em desvantagem,

porque Ghastek não podia andar e Jim decidiu levá-lo. Eu não
iria amarrar as mãos de Curran fazendo com que ele também
me carregasse.
— Se está dizendo que consegue, tudo bem. Mas se você

cair, eu vou levá-la.
— Combinado.
Cair não parecia uma ideia tão ruim agora.
O corredor estreito continuava, suas paredes marrons

pontuadas por entradas que davam para escritórios cheios de
móveis quebrados e sujos. Os dois metamorfos ratos lideravam

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Livro 7
o caminho, ambos em forma de guerreiros, magros,

desgrenhados e rápidos. Nasrin seguia depois deles, Curran e
eu, Jim com Ghastek, e Christopher e Andrea, na retaguarda.
Atrás de nós, os vampiros atravessavam Mishmar. Eu podia
sentir suas mentes. Havia quase vinte agora, seis diretamente
602
atrás de nós e o resto acima e nas laterais. Parecia que eles
estavam se movendo através das paredes.
Thomas, o maior dos dois metamorfos ratos, dobrou uma

esquina. Eu o segui a tempo de vê-lo saltar através de um
buraco irregular no chão. Corri atrás dele e olhei através do
buraco. Uma queda de três metros. Claro, por que não. Pulei no
buraco. Ai. Tropecei. Certo, isso não foi uma boa ideia. Curran
desceu depois de mim.
— Conseguiu, bebê? —Ele perguntou baixinho.
— Foi moleza.
Nasrin já estava pulando por outro buraco a poucos

metros para a direita. Verifiquei a altura. Mais uns oito metros
desta vez e estreito demais para Curran passar me carregando
no colo. — Nesse eu vou precisar de ajuda.
Curran pulou e aterrissou. — Venha.

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Pulei no buraco. Ele me pegou e me abaixou no chão. —

Bem?
— Bem.
— Necro129 no buraco, Jim gritou de cima. Eu olhei para

cima a tempo de ver Ghastek caindo do teto. Curran o pegou.
603
— Isso é ridículo, —disse Ghastek.
Jim pulou para baixo. Curran entregou Ghastek a ele e

continuamos o caminho. A sala em que estávamos agora era
larga e esticada por dezenas de metros. Assemelhava-se a um
saguão de hotel: altas colunas cinzentas de pedra natural, teto
texturizado, degraus com algum acabamento preto brilhante,
candelabros elaborados empoeirados que de alguma forma
sobreviveram ao desastre ...
A magia rolava sobre nós como uma onda invisível e

viscosa.
Hastes pretas saíram do chão.
129
Necro é abreviação da palavra necromancer, em português Necromante. Um apelido não muito carinhoso que o
pessoal do Bando gosta de chamar os Navegadores, já que ser chamado de necromante é ofensivo para os navegadores.
Necromancia é a prática de se comunicar com o mundo espiritual para obter informações do passado, do futuro ou do pós-
vida por meio da evocação dos mortos ou dos espíritos destes, utilizando-se ou não dos restos mortais que pertenceram a
outras pessoas.

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Livro 7
Curran e eu desviamos ao mesmo tempo. Ele me pegou

quando eu pulei em seus braços e então correu pelo quarto
como um morcego saindo do inferno. Quando uma onda
mágica atinge e algo estranho sai do chão, você não precisa
saber o que é. Você coloca uma certa distância entre você e o
604
que diabos for isso.
Atrás de nós, Andrea gritou. — Corra, Christopher!
Ao nosso redor, as hastes, que agora eram caules, se

abriram, suas ramificações se alargando em flores triangulares.
Curran voou pela sala. À nossa frente, uma parede se

erguia, com uma larga escadaria de pedra que levava para
cima.
Os degraus estavam livres dos caules, que agora

floresciam. Nasrin já estava lá, acenando.
Os caules brotaram bulbos negros asquerosos.
Morte de mortos-vivos manchava minha mente. Olhei de

volta por cima do ombro de Curran. Andrea havia trancado o
braço de Christopher nela e o estava puxando, correndo pelo
salão. Atrás deles, um vampiro caiu através do buraco no teto
e correu em nossa direção.

Magic Breaks
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Livro 7
Curran saltou e aterrissou na escada. Jim com Ghastek

estava apenas um passo atrás.
As flores se abriram, liberando uma densa coroa de

filamentos finos, brilhando em roxo pálido, como se alguém
tivesse tirado as franjas de várias flores de maracujá130 e as
605
amarrasse no mesmo caule.
Andrea chegou às escadas arrastando Christopher alguns

passos para cima e o soltou. Ele desmoronou.
O vampiro deslizou entre as flores, silencioso e rápido.
— Não o mate, —murmurou Ghastek. — Preciso de uma

carona.
As flores estremeceram. Uma névoa cintilante de cor

creme subiu de suas pétalas. O vampiro tropeçou, recuou em
completo silêncio e desmoronou.
— Droga, —Ghastek xingou.
Os caules sussurraram. Raízes pretas e peludas se

estenderam até o corpo do sanguessuga.
130
Flor de maracujá.

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Livro 7
— Lindo, —sussurrou Christopher. — Mortem

germinabit131.
— Vamos, Christopher. Temos que ir. —Andrea o puxou

para cima e subimos as escadas.
— Eu sei que estamos seguindo a trilha de nosso cheiro,
606
mas não me lembro de ter passado por aqui, —disse Jim.
— Isso é porque não passamos por aqui, —disse Robert.
— Mas me lembro subindo esses dois buracos que

passamos agora, —disse Andrea. — Eles cheiravam a nós.
Este salão ou o que quer que seja, não deveria estar aqui. Aqui
deveria ser um corredor. Você está dizendo que o ambiente
mudou?
— Não sabemos, —disse Thomas.
As escadas terminaram em outra porta. Robert abriu-a.

Um típico corredor de hotel apareceu diante de nós, completo
com longos carpetes vermelhos e números nas portas.
— Então, não temos ideia de para onde estamos indo? —

Perguntou Nasrin.
131
Latim: Flor da Morte

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Livro 7
— Estamos descendo, —Curran disse a ela. — A menos

que este lugar desenvolva sua própria gravidade, a direção
certa não deve ser tão difícil.
Eu não apostaria nisso.
607
a parte de Mishmar que
foi feita de restos de um hotel terminou. Nós subimos as
escadas, esprememos através de uma abertura na parede e de
repente o corredor do hotel acarpetado acabou, substituído por
um piso de madeira e o plano aberto de um apartamento
moderno. As paredes mudaram de bege para vermelho
brilhante polido, rico como a cor do sangue arterial. A mobília
cinza escuro estava intacta, o sofá e as cadeiras arrumados
como se esperassem uma festa começar. Até panelas ainda
estavam penduradas em uma prateleira acima do balcão.
Agora, como meu pai conseguiu isso? Como alguém escolhe um pedaço
de um prédio e o coloca em cima de outros prédios sem que os móveis

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Livro 7
deslizem? Talvez alguém tenha arrumado tudo de novo depois que se

tornou parte de Mishmar?
Tentei não pensar no poder absoluto necessário para

cortar vários andares de um edifício e levantá-los centenas de
metros no ar, sem destruir o seu conteúdo. Minha mente não
608
conseguia conceber isso.
Nós caminhamos na ponta dos pés pela madeira. A arte

moderna estava pendurada nas paredes, uma coleção de
retângulos estratificados de vermelho e branco. Uma mala
aberta, meio cheia de camisas masculinas, estava no meio do
chão, perto de onde a porta deveria estar. Uma longa faixa
marrom se estendia através da madeira polida em direção à
porta que faltava. Sangue seco antigo.
Os metamorfos ratos checaram o corredor, avançando.
— Tudo limpo, —Thomas gritou.
— Não exatamente, —murmurou Ghastek.
Eu os senti também, atrás de nós, acima de nós, à direita

... mais de vinte agora. A horda de vampiros continuava
crescendo, como uma bola de neve enquanto rolava por uma
colina coberta de neve. Não sabia se eram novos vampiros ou

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Livro 7
se eram os que deixamos para trás e que de alguma forma

encontraram uma maneira de contornar as flores mortais. Eu
nem me importei. Só queria sair de Mishmar.
Nós entramos no corredor. Fadiga estava me atrasando e

me arrastei para frente, cada passo um esforço como se uma
609
âncora estivesse acorrentada às minhas pernas. Eu queria me
deitar, mas tirar uma soneca não era uma opção.
— Um poço de elevador seria bom agora, —disse Jim.
— Continue sonhando, —disse Curran.
Um grande buraco cortava o chão do corredor. Robert

caiu de quatro e enfiou a cabeça nele, curvando-se tanto que
metade de seu corpo desapareceu. Por todos os direitos, ele
deveria ter caído. — Eu não vejo nada em movimento.
— Qualquer morto-vivo? —Perguntou Curran a Ghastek.
O Mestre dos Mortos olhou para ele. — Escolha uma

direção, eu vou te dizer quantos.
— Existe uma direção em que não há vampiros? —Andrea

perguntou.
— Não.
Curran olhou para mim.

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Livro 7
— Para baixo é tão bom quanto qualquer uma, —eu disse,

e puxei minha espada para fora. Não parecia a Matadora,
provavelmente porque não era a Matadora. A Matadora estava
quebrada na bolsa de Curran.
— Descendo agora.
610
Os dois metamorfos ratos caíram no buraco e Curran e eu
os seguimos. Pulei atrás deles, e Curran saltou e me encontrou,
me pegou no ar e pousou em pés macios.
— Gostei, —eu disse a ele, analisando uma extremidade

da sala, enquanto ele olhava para a outra. Este andar parecia
ser uma academia de alto nível, cheia de fileiras de elípticos132
e esteiras.
— Tentando te impressionar, bebê. —Curran me pôs de

pé, pegou Ghastek e o entregou a Jim, não muito gentilmente.
Nós começamos a nos mover. Havia um fila de máquinas a
esquerda, no meio um caminho aberto e a direita duas filas de
132
Elíptico ou elíptica é uma máquina de exercícios usada para simular caminhadas, corridas,
percursos de bicicleta e subida de escadas sem causar pressão excessiva nas articulações, diminuindo as lesões de impacto.

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maquinas. Acima delas, telas planas, agora opacas e

empoeiradas, lamentavam a passagem da era tecnológica
penduradas em suportes giratórias no teto.
Os múltiplos pontos de magia dos mortos-vivos mudaram,

fluindo em nossa direção.
611
— Entrada, —disse Ghastek. — Movendo rápido. Eles
provavelmente encontraram um ponto de entrada para este
andar.
Nós recuamos.
Uma forma esquálida e esquelética se espremia através de

uma rachadura na parede perto do teto, presa à parede com
enormes garras, os dois olhos vermelhos parecendo brasas
ardentes.
— Acima e à direita, —murmurei.
— Eu o vejo, —respondeu Curran.
Outro morto-vivo saiu do buraco e se arrastou ao lado do

primeiro. Este era claramente mais velho.
As saliências ósseas ao longo de sua coluna tinham pelo

menos uns sete centímetros e suas mandíbulas pareciam uma

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Livro 7
armadilha de urso133. Em frente a nós um terceiro vampiro

rastejou para fora de uma rachadura escura na outra parede.
Este também era velho.
Uma cicatriz longa e esfarrapada marcava seu rosto,

descendo pelo peito, passando pelo ponto que eu podia ver.
612
Um vampiro canibal. As duas palavras nem sequer
combinavam juntas. O que vem a seguir, fantasmas zumbis de
piratas Vikings?
Uma forma cintilou no canto do meu olho, correndo atrás

das esteiras. Outro se moveu no canto. Seis vampiros entraram
no quarto e eles estavam nos perseguindo. Isso não seria
bonito.
— Têm muitos vampiros, —relatou Christopher.
— Shiii, —eu disse a ele. — Continue andando.
Vampiros reagiam à presas que corriam, então não

corremos. Nos movemos calmamente e firmemente para o
fundo da sala.
133
Armadilha de urso.

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Livro 7
O vampiro velho na parede da direita se esgueirou. Atrás

de nós, um morto-vivo saltou para a esteira e se empoleirou lá,
como um gato mutante sem pelo. Mais olhos de mortos-vivos
nos encararam através das lacunas nas máquinas.
Não é bom.
613
Alguma coisa ressoou à frente. Olhei. Thomas encontrou
uma enorme porta de metal.
— Trancada, —ele falou baixinho.
Maravilha. Tentar derrubá-la definitivamente provocaria

os vampiros.
Os mortos-vivos se aproximaram de nós, dois no chão,

dois nas paredes, um na parte superior das esteiras. Eu me
preparei. Se tivesse que matá-los, que assim seja.
Andrea levantou a besta.
O primeiro morto-vivo saltou. O sanguessuga velho com

a cicatriz atravessou o ginásio e estripou o primeiro vampiro a
meio caminho. Sangue de morto-vivo bateu no chão, e o
‘Cicatriz’ empurrou um pedaço de osso vampírico em seu
oponente. O sanguessuga ferido caiu como uma pedra. O
Cicatriz saltou, girando como um saca-rolha, as garras abertas

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Livro 7
cortando dois outros vampiros da carne até o osso. Dois

pedaços de pulmões secos esponjosos e um coração inchado
atingiram o chão.
Eu fechei minha boca.
Os três vampiros restantes, dois velhos e um com sua crista
614
espinhal começando a se desenvolver, correram para nós,
cruzando os caminhos um do outro, de cabeça baixa.
Eu virei. Ghastek estava de pé, com o rosto pálido e os

olhos determinados. O vampiro mais jovem se virou e pegou
o Mestre dos Mortos no colo. Os dois mais velhos se
arrastavam no chão, Cicatriz à esquerda e a outra, uma grande
vampira, tão pálida que parecia completamente branca, à
direita, movendo-se em perfeita harmonia.
— Podem quebrar a porta agora, —disse Ghastek, sua voz

saindo de quatro bocas ao mesmo tempo, dos três vampiros e
da sua, no familiar tom frio que eu me lembrava. — O resto
dos mortos-vivos sentirá o cheiro do sangue desses. Nós não
temos muito tempo.

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Livro 7
Capítulo 15
destruída, atrás dela um
615
restaurante meio arruinado apareceu a nossa frente. Então
atravessamos uma sala cheia de vampiros. Ghastek conseguiu
usar seus novos mortos-vivos, enquanto eu usei minha espada
substituta. Não era a mesma coisa da Matadora, mas boa o
suficiente para me levar de um lado da sala para outro.
Destruímos uma outra porta e corremos através de outro
corredor para uma escada. Subimos.
Passamos por muitos quartos imundos, cadeiras em

ruínas, pavimentos que não faziam sentido, em um momento
caminhávamos por andares inteiros de arranha-céus de luxo, e
no seguinte estávamos em ruínas, depois um hospital ... Às
vezes ambientes gelados, às vezes úmidos. Um quarto
abrigava uma pilha de cadáveres apodrecendo, cobertos por
enormes cobras. Outro tinha um andar imaginário. O chão
estava lá, nós podíamos vê-lo, mas quando Thomas pisou nele,
seus pés passaram completamente direto. Robert o pegou no

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Livro 7
ar e o puxou para cima rapidamente, mas não antes que o alfa

dos ratos visse o que havia debaixo do chão. Ele não nos disse
o que era. Só ficou com um olhar selvagem em seu rosto meio
humano e meio rato, recuou e correu na mesma direção de
onde viemos. Levamos dez minutos para alcançá-lo.
616
A certa altura, chegamos a um enorme buraco na lateral
do prédio e um a um enfiamos a cabeça para fora. O sopro de
ar frio e fresco era como um maná do céu. Estávamos bem
acima do solo. Eu vi um pedaço do céu, um campo distante
coberto de neve, e então um gigante pássaro de aparência
reptiliana mergulhou e tentou arranhar meu rosto com suas
garras. Obrigada Roland. Muito gentil da sua parte.
Curran bateu na parede por alguns minutos testando sua

solidez. A parede era segura, mas mesmo que conseguíssemos
escalar pelo lado de fora para baixo, os pássaros nos atacariam.
Nós nos agrupamos em torno desse buraco por um tempo,

não querendo sair da frente dele, mas eventualmente tivemos
que nos movimentar. Descemos cada vez mais, controlando
mais alguns vampiros perdidos e usando-os como escolta. Os
mortos-vivos estavam em toda parte agora, uma constelação

Magic Breaks
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Livro 7
de faíscas mágicas imundas se movendo junto conosco,

sempre tentando diminuir a distância entre eles e nós.
— Talvez este inferno não tenha fim, —rosnou Andrea,

quando abrimos mais uma porta.
— Não. —Christopher deu-lhe um sorriso quando ele
617
atravessou a porta. — Isso termina. É finito ... —Ele parou.
Chegamos a uma prisão. Diante de nós, duas fileiras de

celas se estendiam para a frente e, ao longe, uma câmara com
uma configuração circular já conhecida por mim. Eu tinha
visto esse modelo exato debaixo do Casino. Filas de celas
irradiavam do círculo central como raios de uma roda, exceto
que as celas do Casino continham vampiros. Essas celas
continham cadáveres.
— Não, —sussurrou Christopher. Suas pernas se

dobraram e ele caiu no chão, puxando o capuz sobre o rosto,
apertando seu corpo magro em uma pequena bola. — Não,
não, não ...
Corpos enchiam as celas. Em algumas, esqueletos

agarravam as barras com dedos que costumavam ter carne. Em
outras, corpos mais frescos com músculos apodrecendo ainda
agarrados a seus ossos. Alguns nem pareciam humanos. Uma

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Livro 7
dessas celas deve ter sido a de Christopher. Ele havia se

sentado aqui, em uma jaula, morrendo lentamente e vendo os
mortos ao seu redor desmoronar.
— Que horrível ... —Nasrin sussurrou.
Ajoelhei-me ao lado de Christopher e coloquei meus
618
braços ao redor dele.
— Não ... —Ele gemeu.
Nasrin se agachou ao meu lado, sua voz se tranquila. —

Vai ficar tudo bem, Christopher.
— Não vamos ficar aqui, —eu disse a ele. — Você não

está em uma jaula. Você é um homem livre.
Ele balançava para frente e para trás. Não conseguia nem

me ouvir.
Atrás de nós, a horda de vampiros se acumulou em algum

lugar nas paredes, como uma avalanche pronta para quebrar e
nos enterrar inteiros.
— Não podemos nos demorar, —disse Ghastek,

movendo-se nos braços do vampiro. Seus outros dois
sanguessugas pararam.
— Não ... —Christopher murmurou.

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Livro 7
— Shiiii, —eu disse a ele. — Olhe para mim. Olhe nos

meus olhos.
Deixei minhas defesas mágicas escorregar um pouco. Meu

poder se curvou em torno de Christopher. Ele levantou a
cabeça e olhou para mim. — Senhora ...
619
— Não vou deixar nada de ruim acontecer com você. —
Eu estava ficando muito boa em fazer promessas que não
poderia cumprir.
— Não vou deixar você ficar preso aqui em uma jaula.

Vamos.
Eu o coloquei em pés.
Curran olhou para Nasrin. — Carregue-o se for preciso.

Nós precisamos ir.
Nasrin pegou a mão de Christopher. — Aqui, segure-se

em mim. Está bem. Vai tudo ficar bem.
Começamos a correr pelas celas. Cadáveres nos

observavam passar com órbitas vazias. O cheiro pútrido me
sufocava. Querido Deus. Tantas pessoas.
— Criança! —Uma voz feminina chamou.
Parei no meio do caminho. Eu conhecia essa voz.

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Livro 7
Um braço em uma luva escura apareceu entre as barras,

acima de um cadáver apodrecido pressionado contra o ferro.
Uma mulher olhava para mim de dentro da cela mais próxima.
A última vez que a vi, ela era de meia-idade, baixa e forte e um
rosto da cor de jambo. Ela parecia décadas mais velha agora.
620
Suas bochechas afundadas em seu crânio. Sua pele pendia de
seus ossos. Sujeira e sangue seco manchavam o véu de malha
índigo cobrindo seu cabelo escuro e testa. Ela era um fantasma
de seu antigo eu.
— Naeemah.
— Criança.
Naeemah é descendente de uma antiga família de

metamorfos que trabalhavam como guarda-costas. Meses
atrás, Hugh contratou-a para me proteger, embora não pela
bondade de seu coração. Ele tinha começado a suspeitar que
havia algo de errado em mim, mas Roland o enviou para outra
tarefa, então Hugh a instruiu a cuidar de mim e me manter
viva até que ele pudesse voltar e continuar de onde parou.
Minha tia escolheu exatamente esse momento especial para
entrar na cidade. Sem a ajuda de Naeemah, eu estaria morta.
Eu me virei para Curran. — Temos que tirá-la daqui.

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Livro 7
Ele pegou as barras e soltou. — Prata. Preciso das serras.
— Estamos com pouco tempo, —disse Jim.
— Não vou me mexer até que ela saia daí, —eu disse.
Jim me deu um olhar duro.
621
— Ela disse que não vai se mexer, —Andrea disse a ele.
— Não comece com as suas merdas.
— Tome o seu tempo, —disse Ghastek. Seus vampiros se

moveram para cobrir o caminho que viemos. — Ninguém
deveria morrer de fome em uma cela.
Jim puxou as serras e ele e Curran começaram a cortar as

barras. Metal rangeu.
Naeemah me observou com olhos febris.
— O que você está fazendo aqui? Hugh a colocou aqui?
— Sim. Por te ajudar, —ela disse. — E por meu filho.
— O que aconteceu com o seu filho?
— Ele recusou trabalhar para d'Ambray. Eu sou uma lição

que d’Ambray quer ensinar a meus filhos.
Adicionei mais um item à minha lista: ‘Razões para Matar

Hugh’. A lista estava ficando comprida.

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Livro 7
Uma barra de cela bateu no chão.
Um vampiro disparou pelo corredor. Os vampiros de

Ghastek se moveram como duas lâminas de uma tesoura. Dois
cortes coordenados de suas garras e a cabeça do invasor rolou
para o chão.
622
Não percebi o quanto estava cansada enquanto me movia.
Mas agora, parada, a exaustão tentava me puxar para o chão.
E assim que me sentasse, ficaria lá.
A segunda barra caiu. Mais uma e o buraco seria grande o

suficiente para ela sair.
A avalanche de mentes vampíricas estava se

aproximando.
Terceira barra. Naeemah se espremeu pela abertura.
— Precisamos correr agora, —disse Ghastek, sua voz

muito calma.
— Qual o caminho? —Perguntou Curran.
— Por aqui. —Naeemah correu pelo corredor. — Eu

conheço o caminho.
— Você confia nela? —Jim perguntou.
— Sim! —Corri atrás dela, tropeçando.

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Livro 7
Nós atravessamos a sala. Atrás de nós a porta estremeceu

o morto-vivo estava tentando rompê-la.
Minhas pernas decidiram que seria um ótimo momento

para parar de suportar meu peso. Curran agarrou meu braço,
me estabilizando.
623
Um buraco escuro se abriu na parede à nossa frente.
Naeemah mergulhou nele. Os metamorfos ratos a seguiram.
Um vampiro caiu do teto, prendendo Nasrin e

Christopher. A médica maga recuou e deu um tapa na cabeça
do morto-vivo, chocando-o contra a cela à esquerda. O crânio
do vampiro se partiu como um ovo caído na calçada. Eu me
virei para Curran. — O que ela é ...?
— Leão-asiático134. —Ele apontou para o buraco. — Vai!
Alcancei o buraco e olhei para baixo. Tudo o que eu podia

ver era um poço que descia inclinado. E lá vamos nós. Pulei
134
O leão-asiático, também chamado de leão indiano ou leão persa, é uma
população de leão que está listada como em perigo de extinção pela UICN, devido a sua pequena população. Desde 2010, a
população de leões asiáticos vem aumentando de forma constante ao redor do Parque Nacional da Floresta de Gir no oeste
da Índia.

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Livro 7
sentada, pernas esticadas e deslizei minha bunda pelo poço,

rolando através da escuridão total. Meu traseiro bateu em algo
molhado. Senti o cheiro de algas. Minhas mãos deslizaram
sobre o lodo. Continuei descendo pelo túnel. Se houver um
chão de concreto esperando por mim abaixo, farei um lindo
624
‘ploft’ nele.
Uma luz apareceu mais em frente. Plantei minhas botas

no fundo do chão do túnel, mas a pedra lisa e revestida de algas
não oferecia resistência. Se isso fosse um filme, essa seria a
parte em que eu arrancaria uma faca do meu cinto e a cravaria
na pedra para me segurar. O problema, que com a minha sorte,
a faca inexistente quebraria, eu machucaria meu braço e ainda
acabaria como uma panqueca humana sangrenta.
O túnel terminou. Voei no ar por dois segundos terríveis e

mergulhei em água morna. Sim, sobrevivi. Chutei meus pés,
nadei até a superfície e me afastei do buraco no teto.
Uma enorme sala se estendeu diante de mim. Acima, um

teto amarelo ornamentado, belo e dourado, subia em elegantes
arcos, como se alguém abrisse um portal no tempo e o glamour

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renascentista135 se derramasse. No teto a decoração de ouro

brilhava, intensa o suficiente para banhar a câmara inteira com
uma luz suave. Um enorme lustre empoeirado pendia do
centro circular no teto, como uma coleção de cristais suspensos
em uma caverna. Os restos de cortinas vermelhas caíam em
625
ambos os meus lados. Além das cortinas, a sala se alargava, o
fundo inundado com água verde esmeralda. Plantas cobriam a
superfície da água. Flores de lótus136 creme e marfim, com suas
pétalas de pontas rosadas, flutuavam próximo a grandes flores
de lótus amarelas luminosas. Os lírios137 com suas flores em
forma de estrelas floresciam entre as folhas largas, algumas
azuis, outras vermelhas, algumas com pétalas alaranjadas que
135
Palácio Medici Riccardi em Florença. Exemplo de arquitetura e decoração
renascentista.
136
Flores de Lótus.
137
Lírios

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Livro 7
iam escurecendo até o vermelho-cobre perto do centro. Três

metros acima da água, uma varanda, coberta de folhas verdes,
pontuadas de vermelho e musgo.
Que diabos?
— Você está vendo isso? —Eu perguntei.
626
— Sim.
— Então eu não estou alucinando?
— Não.
— Acha que se nós rastejarmos para a varanda, essas

plantas vão nos comer?
— Se elas tentarem, vou comê-las primeiro.
Naeemah subiu a parede lateral e pulou na varanda,

desaparecendo por trás do crescimento das plantas. Thomas e
Robert seguiram.
— Estamos no Teatro Orpheum138, —disse Ghastek atrás

de mim.
138
Teatro Orpheum - Slosburg Hall: Localizado em Omaha – Nebraska.

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— Você já esteve aqui? —Perguntei.
— Não, mas vi fotos quando estudei para minha viagem a

Mishmar. Este é o Slosburg Hall, um dos edifícios históricos
de Omaha. Estava entre as estruturas que Roland comprou.
Eu nadei pela água. Estava tão quente e eu estava tão
627
cansada.
— Você está bem? —Curran perguntou.
— Se eu desmaiar de bruços nesta água, você vai me

pescar?
— Você promete me chamar de Vossa Majestade?
— De jeito nenhum.
— Então vou ter que pensar sobre isso.
Ghastek e seu trio de vampiros passaram por nós. Essa

água nunca terminaria. O lugar estava ficando nebuloso aos
meus olhos e eu sabia que as minhas energias acabaram. Meu
corpo não tinha mais nada.
Meus dedos tocaram a parede. Agarrei a fenda na pedra,

tentando me puxar para cima, e então Curran colocou a mão
debaixo do meu pé e me levantou, para fora da água. Subi a
parede, peguei a mão de Robert e entrei na borda. A varanda

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subia em terraços, cada terraço cheio de terra. Aqui e ali,

cadeiras vermelhas atravessavam o chão úmido. As flores
enchiam os terraços: rosas, tulipas139, papoulas140, margaridas
e flores estranhas, mas notavelmente bonitas, que pareciam um
aglomerado de tulipas invertidas penduradas em um arranjo de
628
guarda-chuva a partir de um único tronco arroxeado. Era de tirar
o fôlego ... uma estranha serenidade tomou conta de mim.
— Aqui é seguro, —disse Naeemah. — Vampiros não vêm

aqui.
Afundei no chão e fechei os olhos e o mundo desapareceu.
139
Tulipas
140
Papoulas

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Livro 7
estava pensando? —Curran

rosnou.
Fiquei de pé rapidamente. A Matadora estava estranha na

minha mão. O peso era diferente ... a realidade me atingiu
como um tijolo no rosto. Ah. Está certo. Não era a Matadora.
629
Droga.
Um cheiro azedo atingiu minhas narinas. Ao lado, Andrea

se inclinou e vomitou na grama. Ela limpou a boca e se
endireitou. — Eu estava pensando que minha melhor amiga se
encontrava presa em Mishmar e ela precisaria da minha ajuda
para sair.
— Pretendia falar com você sobre isso, —eu disse.
— Sou toda ouvidos, —disse Andrea.
— Esta é uma missão suicida e você está grávida. Que

porra você estava pensando?
— Ele já disse isso. Vocês não são divertidos. Que tal

‘Estou feliz por você’ ou ‘De quanto tempo você está?’
— Você é uma idiota, —eu disse a ela.
— Eles precisavam de um atirador e de alguém que

conhecesse algo sobre Roland e Mishmar além de Christopher.

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— Você está grávida, —eu disse a ela.
— Você faria isso por mim, —disse ela. — Agora me

desculpem, preciso fazer xixi e vomitar um pouco mais. —Ela
se afastou e desapareceu atrás da vegetação.
Curran sacudiu a cabeça e estendeu um recipiente da
630
comida ‘maravilhosa’ de Doolittle para mim. Eu peguei e
comecei a comer. — Quanto tempo estive dormindo?
— Duas horas.
— Sem vampiros?
— Sim.
Olhei em volta. Curran, Christopher, Nasrin, Jim, Andrea

e Ghastek, que estava com os olhos vidrados. Está certo. Ele
tinha que ficar acordado. Se adormecesse agora, seus vampiros
iriam nos atacar. — Onde está o restante?
— Os ratos e Naeemah foram em frente para explorar o

caminho, —disse Curran.
Estendi a mão com a minha magia. Constelações de

vampiros nos cercavam. Alguns acima, alguns para os lados ...
os números deles aumentaram enquanto eu dormia.
Cinquenta ... sessenta? Se eles nos atacassem agora, mesmo

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com a minha ajuda, poderíamos não sobreviver. Perguntei a

Curran pelas peças da Matadora e as coloquei em minhas
roupas. Estava quebrada, mas fazia me sentir melhor. Já havia
esmagado mentes de vampiros antes, quando fiquei presa no
castelo de Hugh. Poderia matar alguns, mas fazer suas cabeças
631
explodirem tiraria um grande pedaço de magia e de energia de
mim.
Dez minutos depois, eu estava quase terminando de comer

quando Thomas, Robert e Naeemah entraram pela porta dos
fundos do jardim.
— Você quer as más notícias ou as outras más notícias? —

Thomas disse.
Curran suspirou. — Me dê as más notícias.
— Só há uma maneira de sair daqui, —disse Robert. —

Diretamente atrás dessa porta há um enorme espaço redondo,
muito grande e escuro. Há uma ponte de metal que leva ao
único acesso para o outro lado.
— A ponte está quebrada? —Eu imaginei.
— Não, está levantada. Do outro lado.

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Livro 7
— Se foi levantada, deve haver um mecanismo para

abaixá-la, —disse Ghastek.
Thomas fez uma careta. — Essa é a outra má notícia.
632
do espaço, enorme poderia ser
um eufemismo. Ficamos parados em uma borda estreita. Uma
câmara cavernosa, em forma oval e muita larga estava diante
de mim, moldada de paredes e pedras de cem edifícios
diferentes. Estendia-se de cima a baixo por pelo menos trinta
metros. Um pináculo141 estreito de blocos de concreto, pedaços
de alvenaria e vigas de aço, cimentadas pelo solo endurecido,
brotavam do centro da câmara. Uma estrutura idêntica ao
141
Um pináculo é uma torre, o ponto mais alto de um edifício. Também pode
ser qualquer estrutura alta pontuda.

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pináculo que brotava do chão, só que invertido, pendia do teto.

Os dois pináculos se encontravam no centro, e entre eles uma
caixa retangular de rocha sólida do tamanho de uma grande
casa de dois andares. Uma abertura estreita permitia um
vislumbre dentro da caixa. O que quer que estivesse lá brilhava
633
em roxo claro, como se a caixa fosse um geode142 contendo
um tesouro dentro.
Uma passarela de metal circulava toda a caixa retangular.

Uma ponte de metal ligava a borda onde eu estava até a
passarela. Pela abertura estreita na frente podia ver uma
grande abertura na parede do fundo de dentro da caixa,
ligeiramente à esquerda. Outra ponte levava daquela abertura
para outra borda do outro lado. Mas essa ponte estava
levantada dois terços.
— Longe demais para pular, —Robert avaliou.
— Que tal por baixo? —Andrea perguntou.
142
Os geodes ou geodos são formações rochosas que ocorrem em rochas
vulcânicas e ocasionalmente em rochas sedimentares. São essencialmente cavidades que se formam nas rochas, apresentando-
se revestidas por formações cristalinas, muitas vezes apresentando a forma de faixas concêntricas.

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Olhei para baixo. Vapor subia ao longo do fundo da

câmara. Formas estranhas se projetavam dele. Olhei mais de
perto. Ossos de vampiro, meio afundados na gosma
avermelhada. Enquanto eu observava, um sanguessuga
movia-se lentamente pela gosma, alheio a nós.
634
— Isso seria uma ideia muito ruim, —disse Ghastek.
Não brinca!
— Há uma roda dentro da caixa, —disse Naeemah. — Se

girarmos a roda, a ponte se estende por completo e poderemos
cruzar.
— Então, qual é o problema? —Perguntou Curran. —

Entramos e giramos a roda.
— Tente, —Thomas disse a ele.
Curran começou a atravessar a ponte. Um terço do

caminho, ele parou e segurou o corrimão. Os músculos dos
braços dele endureceram. Seu rosto mudou, se transformando
em um focinho leonino. Seu cabelo estava em pé. Ele rosnou,
como um gato chateado.
— Querido? —Eu chamei.
— Bem, ele foi mais longe do que eu, —disse Thomas.

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O corpo de Curran tremeu. Ele estava esforçando-se, mas

não progredindo.
— Curran! —Eu gritei.
Curran se virou, se sacudiu e caminhou de volta. Seu rosto

se transformou em um humano novamente. Ele soltou uma
635
única palavra. — Magia.
— Tudo bem, —disse Ghastek. — Minha vez.
O vampiro antigo com a cicatriz correu para a ponte.

Curran desviou para o lado, deixando um espaço para o
sanguessuga passar. O vampiro chegou a cerca de dois metros
antes do ponto que Curran tinha conseguido ir. Ghastek
plantou os pés, os olhos fixos na caixa e, lentamente, estendeu
o braço direito para a frente. O vampiro estremeceu e abraçou
o corrimão da ponte. Uma veia do lado do rosto de Ghastek
pulsou. O vampiro não se moveu mais um centímetro.
— Se sua cabeça explodir, posso herdar suas coisas? —

Perguntei.
— Minha cabeça não vai explodir, —disse Ghastek, com

a voz seca, e caminhou em direção à ponte. — Posso passar,
por favor?

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— Fique à vontade. —Curran desceu da ponte para a

borda.
Ghastek começou a andar pela ponte.
— Isso vai ser interessante, —disse Robert.
Ghastek diminuiu a velocidade, depois parou alguns
636
metros atrás do vampiro. Ele ficou olhando para a caixa
brilhante no centro da câmara por um longo momento, sua
espinha rígida, e falou, sua voz muito abafada para distinguir
as palavras.
— O que ele está dizendo? —Perguntei.
— Está dizendo ‘eu não posso’, —disse Curran. — ‘Poder.

Trevas’... eu acho que ele está perdendo a mente.
Ghastek caiu de joelhos.
— Acho que seria melhor ir buscá-lo, —murmurei para

Curran.
— Não podemos simplesmente deixá-lo lá?
— Não, nós não podemos.
Curran caminhou ao longo da ponte, tocou o ombro de

Ghastek e o pôs de pé. O mestre dos mortos se virou. Seus

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olhos estavam arregalados sob as sobrancelhas franzidas, a

boca frouxa. Eu conhecia essa emoção muito bem. Algo tinha
aterrorizado Ghastek fora de seu juízo. Ele voltou para a
borda, seu vampiro e Curran seguindo-o.
— O que foi? —Andrea perguntou.
637
Ghastek respirou fundo.
— Acho que ele precisa de um minuto, —eu disse.
Lentamente, o rosto de Ghastek relaxou. — Poder, —

disse ele finalmente. — Poder incompreensível. Estamos no
centro de Mishmar e essa sala é o seu coração. Tudo o que
vimos até aqui, toda a magia que sentimos, aquela caixa é a
fonte de tudo isso. Não posso entrar lá. Eu tentei.
Simplesmente não posso.
— Poderíamos esperar até que a tecnologia chegasse, —

disse Andrea.
Naeemah sacudiu a cabeça. — A magia nunca vai embora

aqui.
Curran olhou para mim, seus olhos cinzentos se

acalmaram. — Bebê?

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— Não, —Ghastek me avisou. — Você não tem ideia do

que é sentir o peso disso em sua mente. Isso vai te queimar. É
a escuridão no sentido mais primordial da palavra.
Provavelmente ele tinha razão, era a escuridão, mas era o

meu tipo de escuridão. Isso me gerou e sua magia corria no
638
meu sangue. Pisei na ponte. Magia tocou o meu corpo, fina
como uma teia de aranha, mas saturada de poder.
Uau!
— Pelo menos amarre uma corda nela para ela não cair,
—gritou Ghastek.
Eu dei outro passo. A teia de magia engrossou, deslizando

contra mim, guiando-me, seu toque suave contra a minha pele,
mas não tão suave contra a minha mente. Na minha mente a
magia bateu, esmagadora, aterrorizante e potente. Não
ofereceu resistência. Ela apenas me observava, esperando,
consciente e viva, tão forte que se eu desse um passo em falso,
a minha vida seria sufocada por ela.
— Isso é uma má ideia, —disse Curran. — Kate?
Os véus da teia de magia perfuraram minha mente,

deslizando através de mim em um flash de dor intensa.

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Livro 7
— Kate?
A magia se moveu ao meu redor, inimaginavelmente

antiga. Eu podia vê-la agora. Ela rodopiava de azul e ouro,
fluindo em prata e depois em vermelho profundo, uma luz
diáfana, sua própria aurora boreal derramando-se diante de
639
mim e, além dela, um antigo poder impiedoso me observava.
— Tire-a da ponte! —Ghastek gritou.
A magia me chamou. Recusar o convite era morrer.

Atravessei a ponte e entrei na caixa de pedra.
Paredes simples me saudaram, desprovidas de qualquer

ornamento ou decoração. A caixa por dentro era apenas uma
sala oca de pedra com uma simples plataforma de pedra no
outro extremo. Mas no chão, no centro da sala, algo mágico
esperava. A princípio eu vi como um amontoado claro,
comprido, enraizado no chão, parecido a um coral se
espalhando de um centro comum e se dividindo em dezenas
de ramificações, formando uma floresta de protuberâncias de
cor clara. Eles brilhavam azul e púrpura, alguns tão altos
quanto eu, alguns curtos, do tamanho da minha mão, mas a
magia invadia e encharcava tudo, girando e penetrando como
fios de fumaça. Isso parecia tão familiar ...

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Livro 7
A magia me puxou para frente. Me aproximei, circulei o

amontoado em direção a uma plataforma na parede oposta da
caixa. Subi cinco degraus de pedra, cada um com trinta
centímetros de altura, e me virei. O estranho coral mágico
estava abaixo de mim no chão. Forcei a minha mente e os
640
meus olhos, tentando entender o que era o amontoado de
protuberâncias abaixo.
Magia rodou na outra ponta do coral.
Os contornos do que estava no chão de repente fizeram

sentido.
Um esqueleto.
Um enorme esqueleto com quase três metros de altura.

Suas costelas se curvavam, os ossos esticados, distorcidos,
feitos de um material que parecia mais um metal opaco do que
osso, mas era um esqueleto humano.
A magia estalou e brilhou como um pedaço de seda

prateada que foi de repente esticado. Uma mulher apareceu,
sua forma translúcida pairando bem acima dos ossos, na
minha frente e acima da minha cabeça. Ela tinha pele escura e
grandes olhos castanhos. Ouro coloria os seus lábios carnudos
e brilhava em seus cílios. Cabelos negros cascateavam por suas

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costas em cachos suaves. Usava uma coroa de ouro fino, tão

leve e intrincada que parecia mais fiada do que forjada.
Duas serpentes aladas douradas, trabalhadas com detalhes

meticulosos enrolados em seus braços, suas asas finas como
teias de aranha embalando seus pulsos.
641
Ela parecia comigo.
Não, espere. Isso estava errado. Eu parecia com ela.
Uma grande pressão pairou sobre mim. A magia de

Mishmar esperava como um martelo colossal posicionado
acima da minha cabeça. Se caísse em mim, esmagaria todos os
ossos do meu corpo.
A magia me empurrou para baixo. Eu caí de joelhos.
Procurei em minhas roupas e tirei os pedaços quebrados

da Matadora embrulhados em um pano. Os pedaços
combinavam perfeitamente com o esqueleto. Mesma
substância clara, nem metal nem osso, mas ambos. Um brilho
roxo pálido emanou da lâmina da Matadora, combinando
com os ossos abaixo.
A magia primitiva invadiu minha mente e eu ouvi a

mesma palavra sussurrada na minha cabeça.

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Z'emir-amit. Z'emir-amit. Z'emir-amit.
Oh meu Deus! Eu reconhecia esse nome. Li sobre ela.

Estudei suas lendas, mas nunca pensei que iria encontrar algo
dela porque está morta há milhares de anos. Morta e enterrada
no distante Iraque, em algum lugar na margem leste do rio
642
Tigre. Esse nome pertencia aos ossos à minha frente. Eu podia
sentir isso. Conhecia essa magia.
Eu estava olhando para os restos mortais da minha avó.
Ela queria que eu pronunciasse o nome dela. Ela queria

saber que se a reconheci.
Abri minha boca e disse em voz alta. — Semiramis143.
Sua magia me encharcou, não como um golpe de um

martelo, mas como uma cascata de poder, derramando sobre
mim como se estivesse sob uma cachoeira.
143
Semíramis, também conhecida como Shammurāmat,
foi uma rainha mitológica que, segundo as lendas gregas e lendas persas, reinou sobre Pérsia, Assíria, Armênia, Arábia, Egito
e toda a Ásia por mais de 42 anos. Para saber mais um pouco sobre o mito de Semiramis: https://www.outromundo.net/deusa-
semiramis/

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Z'emir-amit. A Desbravadora. O escudo da Assíria. A

Grande Rainha Semiramis. Frases de Sarchedon144 flutuaram
da minha memória. ‘Quando ela vira os olhos para você, é
como o brilho dourado do meio-dia, e seu sorriso é mais
brilhante e mais glorioso do que o pôr-do-sol no deserto ...
643
Olhar em seu rosto revelado o tornará escravo da Grande
Rainha, para sempre.’
Semiramis havia governado a antiga Mesopotâmia. Os

portões da Babilônia tinham o seu nome, mas através dos
séculos ela retornou à sua amada Assíria várias vezes.
Construiu as muralhas de suas cidades, liderou seus exércitos
e deu vida a seus primeiros jardins suspensos.
Eu carregara um pedaço dela comigo todos esses anos e

nunca soube disso. Será que Voron sabia de onde a Matadora veio,
quando ele me deu? Se ele sabia, deveria querer que eu matasse
144
Sarchedon: uma lenda da grande rainha – George John Whyte-Melville: publicada pela primeira
vez em 1871.

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Livro 7
Roland com uma lâmina feita com os ossos de sua mãe. Quão
poético.
A imagem de Semiramis flutuou mais próxima de mim. A

magia me segurou em suas mandíbulas e me levantou no ar.
Flutuei acima da plataforma, meu corpo tão pressionado pela
644
magia que eu nem conseguia respirar.
Semiramis me alcançou. Seus olhos escuros olhavam

diretamente nos meus. Olhei para a profundidade de suas íris
marrons e vi o abismo. O tempo desapareceu. O poder me
agrediu, batendo contra a minha mente várias vezes. O
primeiro golpe rachou minhas defesas, o segundo a destruiu
completamente, e o terceiro colocou minha mente em chamas.
Todos os meus segredos, medos e preocupações estavam à sua
frente e ela os bebia como um vampiro faminto. Era como ser
jogada no coração do sol e sentir seu fogo feroz me consumir.
Sua fúria me saturou. Meu pai tirou os ossos da minha avó

do seu lugar de descanso no Iraque e os trouxe para cá. Ela
odiava isso. Sua magia, sua raiva e sua dor permeavam cada
centímetro de Mishmar e o transformou no inferno na terra.
Lágrimas quentes banharam minhas bochechas. Eu estava

chorando.

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Livro 7
Ela me reconheceu. Sabia quem eu era. Era como ser a

neta de um furacão devastador ou de um monstro insano que
havia sido esmagado e destruído por tanto tempo, que não
mais se lembrava de como nutrir seus filhos, mas ainda
reconhecia seu próprio sangue e tentava ser gentil, controlando
645
a sua própria ira de me destruir.
A magia me libertou. Flutuei até o chão, pousando em

meus pés, a imagem translúcida de Semiramis desaparecendo
diante de mim. Uma única lâmina de osso saiu do esqueleto e
aterrissou diante dos meus pés. Um presente.
A Matadora vibrou no chão aos meus pés. O cabo se abriu,

liberando a lâmina quebrada. Encaixei a nova lâmina nela, e o
cabo se fechou, prendendo-se à nova lâmina como se uma
espada nova tivesse sido forjada. Eu a levantei. Não era a
Matadora. Era uma pouco mais longa e um pouco mais
pesada, mas se encaixava perfeitamente em minhas mãos. Eu
sabia exatamente como a chamaria.
Levantei minha cabeça. Minha avó se foi, sua magia

diminuiu de intensidade. Não tinha desaparecido. A magia
havia recuado, esperando. Ela deixaria a nossa caravana
passar se eles não a perturbassem.

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Livro 7
Desci da plataforma e corri para a abertura nos fundos.

Uma roda de metal estava grudada na parede ao lado da saída.
Girei a roda e ouvi o barulho de uma ponte de metal se
estendendo. Sai para a passarela e vi Curran atravessando a
ponte e dando a volta por fora da caixa pela passarela. O resto
646
do nosso pessoal esperava na borda antes da ponte, olhando
para nós. — Você está bem?
Engoli e assenti. — Não entre na caixa. Ela vai te matar.

Se ninguém entrar, poderemos passar para o outro lado. Diga
aos outros para dar a volta pela plataforma como você fez.
— Ela quem? O que diabos está lá? —Perguntou Curran.
— Os ossos da minha avó.
Curran abriu a boca, fechou e finalmente disse: — Sua

avó é a magia de Mishmar?
— Ela quer voltar para as margens do rio Tigre. Odeia isso

aqui. —Tirei ‘Sarrat’ um pouco para fora da sua bainha. —
Olha, ela me deu uma nova espada.
Curran olhou para ela. — Parece com a Matadora.
— Isso é porque elas são ambas feitas de seus ossos.
— Sua espada é feita de ossos da sua avó?

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Livro 7
— Certo, eu agora vejo como soa estranho quando você

diz isso nesse seu tom de voz ...
Curran agarrou minha mão. — Não vou dizer mais nada.

Vamos sair daqui.
647
Capítulo 16
bloqueando o acesso ao interior, até que o último de nosso

grupo atravessou. Ela nos deixou passar. Quando cheguei ao
outro lado, ninguém falou. Eles apenas olhavam para mim,
suas feições assustadas.
— Continue andando, —rosnou Curran.
Corremos pelos corredores torcidos de Mishmar.

Estávamos nesse ritmo por pelo menos uma hora. Eu estava
tão cansada ...

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— Pausa, —Curran gritou de repente.
Eu quase pulei em seus braços, mas no último momento,

me afastei e caí contra a parede. Kate Daniels, a imagem da graça.
Ghastek parou na minha frente, ainda nos braços de seu

vampiro. — Exijo uma explicação.
648
Foda-se. Que tal essa explicação?
— Deixe-me saber se você conseguiu uma, —Robert disse

a ele. — Tenho exigido explicações nas duas últimas semanas.
— Você não está em posição de exigir nada, —disse Jim.
— Eu? —Robert se virou para Jim.
— Não, ele. —Jim acenou para Ghastek.
— Claramente, não tenho conhecimento de certas coisas,

e considerando que sou um espectador inocente de todo este
caso sórdido, mereço saber o que está acontecendo, —disse
Ghastek.
Curran se virou. Sua voz caiu no tom neutro que

normalmente significava que ele estava a meio segundo de
explodir em violência. — Você e sua ninhada de mortos-vivos
vieram à minha casa e ameaçaram meu povo e minha
companheira. Eu tenho um forte desejo de esmagar o seu

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Livro 7
pescoço entre os meus dentes. Mas preste atenção, até agora

eu tenho resistido a essa necessidade porque Kate gosta de
você, o motivo? Eu não consigo entender. Mas minha
paciência está se esgotando.
— Você não ousaria, —Ghastek disse a ele.
649
Curran olhou para Jim. — Eu ousaria?
Jim riu. — Pode apostar. Na verdade, não consigo

entender por que você ainda não ousou. Mulradin já está
morto. Se Ghastek não conseguir sobreviver a essa aventura, a
Nação experimentará um vácuo de poder. Ou eles vão brigar
entre eles ou vão ter um novo comandante vindo de fora que
não sabe nada sobre Atlanta. De qualquer forma, é uma vitória
para nós.
— Nós realmente não temos que matar você, —disse

Thomas. — Pode ser um acidente infeliz. Você poderia ter
entrado em um buraco escuro e quebrado seu pescoço. Ou
você e Jim poderiam ter ficado para trás por um momento ou
dois, e então você escorregou e caiu.
— Em minhas garras, —Jim acrescentou. — Acidente

muito infeliz.

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Livro 7
— Ou eu poderia acidentalmente ter atirado em você, —

Andrea ofereceu por trás. — Estava escuro, vi algo se mexer.
Todo mundo sabe que tenho uma pontaria terrível.
— Ha-há-há, —eu disse a ela.
— Nós voltaríamos para casa, —disse Robert. — E a
650
Nação nos perguntaria: ‘Onde está Ghastek?’ E diríamos: ‘Sei
que é terrível, mas infelizmente não o encontramos. Mishmar é
um lugar enorme, você sabe.’
— Eu sinto como se tivesse sido capturado por uma horda

de selvagens, —disse Ghastek secamente.
— Você é um homem que pilota monstros, —disse Nasrin.

— Somos monstros. Nós cuidamos dos nossos. Você não é um
dos nossos.
— Eu gostaria de dar a minha opinião agora: devemos

matá-lo, —disse Jim. — Vamos nos arrepender amargamente,
se não o matarmos.
— Sim, Curran, —disse Andrea. — Afinal, o quão brava

Kate ficaria realmente? Ela ama você. Vai te chutar um par de
vezes, mas vai acabar de perdoando.

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Ilona Andrews
Livro 7
— Vocês são um motim, —eu disse. Não segurei a cabeça

de Ghastek acima da água por dias para ser assassinado por
eles. — Prometi a ele que nós sairíamos juntos daqui.
Ninguém vai matá-lo
Uma enxurrada de magia de mortos-vivos correu contra
651
nós, centenas de sanguessugas vinham em nossa direção em
algum lugar acima. Os vampiros devem ter encontrado uma
maneira de contornar a câmara de Semiramis.
— Corram! —Ghastek gritou.
Corremos pelo corredor. Uma curva atrás da outra ... O

corredor se abriu para o que deve ter sido em algum momento
no passado um saguão. Portas duplas gigantescas bloqueavam
nosso caminho e, entre as portas, uma abertura estreita e fina
como um fio de cabelo brilhava suavemente. Luz solar. Nós
encontramos a saída. Eu quase não conseguia acreditar.
Robert bateu na porta. — Trancada pelo lado de fora.

Dava para ver as barras por fora segurando a porta.
— Afastem-se. —Curran começou a correr e se chocou

contra a porta. Tudo estremeceu. Ele bateu novamente.

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Livro 7
A madeira lascou, as portas e as barras se abriram e nós

disparamos para a luz ofuscante do dia. O ar fresco tinha um
gosto tão bom. Tropecei, piscando, tentando me acostumar com
o brilho.
Uma ponte feita de pedaços de um viaduto de concreto se
652
estendia diante de nós, coberta de neve e gelo. Atravessava um
buraco de quase duzentos metros de comprimento e cerca de
cem metros de largura. Uma enorme parede transparente
rodeava o buraco. A ponte corria diretamente para a parede e
no lugar onde elas se encontravam, uma grande porta de aço
marcava a saída.
No meio da ponte estava Hugh d'Ambray.
Adrenalina borbulhou no meu corpo. Meu coração

martelou. O mundo entrou em foco nítido. Eu vi tudo ao
mesmo tempo em meio segundo: seis pessoas no familiar
equipamento de batalha preto dos Cães de Ferro atrás de Hugh.
Uma M2 E-50145, uma metralhadora pesada reforçada que
cuspia balas tão rapidamente, que cortavam aço como um
145
M2 E-50

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Livro 7
abridor de latas, montada em uma plataforma giratória à

esquerda, os dois artilheiros meio escondidos atrás do escudo
da arma. O próprio Hugh, enorme, usando uma armadura
escura, e por último, visualizei a porta atrás dele. Hugh estava
entre nós e a liberdade. O desgraçado na nossa frente, a horda
653
de mortos-vivos atrás de nós. Tínhamos que passar por ele ou
morreríamos.
— Tranquem a porta, por favor, —disse Ghastek. Além

disso, antes que alguém me pergunte, não tenho ideia de como
abrir o portão externo.
— Nós vamos lidar com isso quando chegarmos lá, —Jim

rosnou.
Thomas pegou a barra de madeira quebrada e a colocou

de volta nos encaixes da porta, trancando-a. Não duraria
muito, mas qualquer coisa era melhor que nada.
O rosto de Hugh estava sombrio. Sua capa era preta. Sua

armadura também era preta. Claramente ele tinha uma cor
favorita.
A armadura não se parecia com equipamento tático

moderno de batalha ou medieval. Parecia tecido, como se
minúsculos fios de metal maleáveis tivessem sido de alguma

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Livro 7
forma costurados, meticulosamente trabalhados juntos em

uma trama, e moldados à estrutura muscular de Hugh. O
tecido formava placas densas, imitando os grandes músculos
do peito, estômago e braços, e fluindo sobre os braços e a meio
caminho do pescoço grosso de Hugh. Parte da armadura de
654
sangue da minha tia parecia assim, exceto que a dela era
vermelha. Com certeza essa armadura era obra do meu pai, o
que significava que garras, presas e lâminas não iriam cortá-lo.
Eu desembainhei Sarrat. Ela se encaixou perfeitamente

em minhas mãos.
Onde cortar? Parte de trás do braço, protegido. Coxa

interna, protegida. Tórax, protegido. O rosto dele era a única
coisa que não estava protegida, mas ele não iria ficar parado
ali e me deixar trabalhar no seu rosto. Eu também não estava
cem por cento. Tinha dificuldades em me manter em pé.
Os olhos de Hugh prometiam a morte, mas eles não

estavam olhando para mim. Olhavam para a minha direita.
Para Curran.
Curran rosnou. Suas íris ficaram douradas. Todo

pensamento racional fugiu de seu rosto. Sua expressão se

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Livro 7
tornou selvagem. Ele sorriu, mostrando os dentes. Puta merda!

Aparentemente, estavam felizes em ver um ao outro.
Hugh esticou o braço em direção as suas costas e tirou dois

curtos machados negros. Apontou uma para Curran e gritou:
— Lennart!
655
Era o tipo de grito que se ouviria por cima de todo o ruído
caótico de uma batalha. O gritou se chocou nas paredes de
Mishmar atrás de nós e ecoou. Muito acima os pássaros
gigantes gritaram alarmados.
— Venha! —Gritou Hugh.
— Curran? —Chamei.
Curran nem me ouviu. Ele já havia começado a se mover

em direção a Hugh, tirando o casaco enquanto avançava. O
casaco caiu no chão da ponte. Músculos em suas costas e
ombros se arquearam sob a camisa escura. Ele começou a
correr. Curran se foi. Permanecendo apenas o Senhor das
Feras.
Hugh agarrou seus machados. Ele deve ter decidido que

espadas não causariam danos suficiente a Curran, então

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Livro 7
escolheu algo que poderia arrancar um membro em um único

golpe.
— Por que o Senhor das Feras está se transformando?

Nasrin murmurou ao meu lado.
— Não sei, —eu disse a ela. Curran lutou com minha tia
656
junto comigo. Ele se lembraria da armadura. — Acredito que
garras não penetram essa armadura.
— Atire em qualquer um que interfira! —Hugh rugiu e

atacou.
Eles voaram um para o outro. Não havia uma força no

planeta que pudesse impedi-los de colidir. A nós, só cabia
esperar que o mundo não acabasse quando eles se chocassem.
Eu queria cortar Hugh em pedaços. Ele me devia pelo o

que fez com Mauro, com a minha espada e pelos sete dias no
poço. Mas ele devia a Curran por me ter feito desaparecer, por
todo trabalho em descobrir onde eu estava, por correr atrás de
mim pela metade do país sem saber se eu ainda estava viva, e
depois por lutar para entrar em Mishmar e me encontrar meio
morta. Curran tinha uma pontuação muito maior para
resolver.

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Livro 7
O sangue correu pelas minhas veias. Podia ouvir meu

próprio batimento cardíaco. O familiar gosto metálico da
adrenalina cobria minha língua. Vamos, Curran. Bata nele com
força. Pelo menos a magia estava para baixo.
— Você pode atirar nos artilheiros? —Thomas perguntou
657
a Andrea ao meu lado.
— Não, —disse ela. — Não enquanto eles estão se

escondendo atrás da artilharia. Eu poderia conseguir abater
um, talvez.
Os dois homens colidiram.
Hugh girou os machados como se eles não pesassem nada

e desceu o braço direito, colocando todo o seu poder no
balanço. Curran bloqueou o cabo com o antebraço, mas o
machado esquerdo de Hugh já estava se movendo. A cabeça
afiada do machado cortou o estômago de Curran e a lateral do
seu corpo da direita para a esquerda.
Não!
O mundo desacelerou. Vi a lâmina sangrenta do machado

cortar a carne, lançando uma fina névoa de sangue de Curran

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Livro 7
para o ar. Meu coração estava batendo muito alto na minha

cabeça.
Curran baixou a guarda. Hugh continuou o golpe com o

machado esquerdo, levantando-o e partindo com velocidade
vertiginosa. Curran deixou o braço de Hugh de lado antes que
658
Hugh pudesse enterrar a cabeça do machado direito no lado
de Curran. Em vez disso, a lâmina roçou a lateral de Curran.
Mova-se mais rápido, bebê. Mova-se. Mova-se!
Curran deu um salto para trás. Seu lado esquerdo

sangrando. O corte em seu estômago não poderia ter sido
profundo, mas sangrava também.
Hugh sacudiu os machados, espirrando o sangue no

pescoço e no peito de Curran. Hugh esfregou o sangue de
Curran no próprio peito. Idiota. Hugh sorriu. Curran deu um
passo à frente, as mãos levantadas, apontando para o rosto de
Hugh. Hugh girou, pegando impulso, e cortou a parte de baixo
de Curran em um corte horizontal com o machado direito,
deixando o seu próprio rosto desprotegido. É uma armadilha,
Curran. Não!
Curran se esquivou e enfiou o antebraço no queixo de

Hugh. Não!

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Livro 7
Hugh cambaleou para trás, inclinando-se, transformando

a energia do impacto em seu próprio golpe e cortando o lado
esquerdo de Curran. O machado mordeu a carne pelo menos
cinco centímetros de profundidade. Dane-se tudo para o inferno!
Curran voltou a se movimentar. Hugh se lançou para
659
frente, cortando a perna de Curran. Curran se esquivou para a
esquerda, ergueu os punhos e os abaixou como um martelo na
direção da cabeça de Hugh.
O que ele estava fazendo? Eu chutei a neve. Curran era melhor

que isso. Lutei com ele todos os dias na nossa academia. Ele era melhor
que isso.
Hugh levantou os machados, cruzou os cabos, segurou os

punhos de Curran e separou os machados, se livrando do golpe
de Curran. Curran chutou com a perna esquerda, varrendo a
perna de trás de Hugh debaixo dele. D'Ambray rolou no chão
e se levantou de novo. Curran o perseguiu. Eles atravessaram
a ponte, cortando e bloqueando, cada golpe rápido e forte o
suficiente para derrubar a maioria dos lutadores comuns.
A horda de mortos-vivos atrás de nós estava ficando cada

vez mais próxima.

Magic Breaks
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Livro 7
Curran estava cortado em quatro lugares. Seu sangue

derramava por toda a ponte. Hugh mancava da perna direita,
mas não demonstrava sinais de cansaço. Seus machados
cortavam e entalhavam qualquer lugar que alcançasse e que
fosse o mais próximo do peito de Curran. Comecei a andar de
660
um lado para o outro. Era isso ou eu explodiria.
Outro roçar do machado. Outra ferida aberta. Mais

sangue.
Curran estava sofrendo muitos danos, mesmo para um

metamorfo. Eu não o perderia nessa ponte idiota. Não era
assim que acabaria. Não poderia ser. Hugh não o tiraria de
mim.
A porta atrás de nós estremeceu sob a pressão dos corpos

dos mortos-vivos. Termine isso. Termine, Curran.
Hugh inverteu o golpe e enfiou o topo da cabeça do

machado direito no meio do corpo de Curran. Curran
cambaleou e Hugh esmagou o cabo do machado esquerdo no
crânio de Curran.
Meu coração se apertou em uma dolorosa bola

endurecida.

Magic Breaks
Ilona Andrews
Livro 7
Curran inclinou-se para a frente, aturdido.
D'Ambray sorriu um sorriso demoníaco e girou os dois

machados de uma só vez em um estúpido movimento
exagerado. Na minha mente eu vi as lâminas se conectando
como tesouras afiadas, cortando, e a cabeça de Curran
661
deslizando de seus ombros ... minha garganta se fechou. Eu
não podia respirar.
Curran levantou-se, agarrou os pulsos de Hugh, plantou o

pé no lado esquerdo do estômago de Hugh e recuou. Hugh
caiu para a frente, puxado pelo peso de Curran. Curran passou
a perna direita pelo pescoço de Hugh.
Hugh caiu de costas no chão e Curran enrolou-se em cima

dele, com o braço de Hugh preso nas mãos, uma perna sobre
a garganta de Hugh, a outra sobre o peito. Juji Gatame146, o
golpe mais poderoso do judô.
146
Ude-Hishigi-Juji-Gatame é uma das 29 técnicas oficiais do Kodokan Judo. É
uma das nove técnicas conjuntas da lista de Kansetsu-waza, uma das três listas de luta em Katame-waza do judô, enumerando
29 técnicas de luta. https://www.youtube.com/watch?v=7Uyh1BtXPWg

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Livro 7
Curran se inclinou para trás e puxou o braço. Hugh gritou

quando sua articulação do ombro se desfez. Seu manguito
rotador147 deve ter rasgado. Tríceps148 também,
provavelmente. Curran arqueou os quadris. O cotovelo de
Hugh estalou como um pauzinho quebrando. Sim! Cure isso aí,
662
seu filho da puta.
Hugh rugiu e tentou cortar Curran com seu machado

restante.
Curran rolou livre.
Hugh cambaleou a seus pés. Seu braço esquerdo estava

inutilizado. Acabou agora. Curran iria separá-lo, peça por
peça. O rosto de Hugh estava pálido. Ele foi nocauteado e
sabia disso.
Hugh girou o machado. Curran se inclinou para fora do

caminho e deu um soco rápido no rosto dele.
147
Manguito rotador é formado por um conjunto de quatro músculos responsáveis por
movimentar e dar estabilidade ao ombro.
148
Tríceps

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Livro 7
Ooo, nariz quebrado. Curran girou e chutou no peito. Costela

quebrada. Hugh voou e caiu na neve.
A porta rangeu atrás de nós. A sensação que eu tinha, era

que no espaço atrás da porta havia uma parede de mortos-
vivos.
663
— Atire no artilheiro da esquerda, —disse Ghastek em voz
baixa.
Andrea piscou.
Os dois artilheiros estavam juntos, o da direita escondido

pelo escudo da artilharia, o da esquerda estava em pé, apenas
o topo de seu rosto se projetava acima do escudo enquanto ele
esticava o pescoço para assistir à luta. Era um tiro impossível.
Estávamos muito longe e o alvo era do tamanho de uma caixa
de fósforos.
— Tiro. A esquerda. Artilheiro, —repetiu Ghastek,

pronunciando cada palavra exatamente.
Andrea destravou o rifle e disparou.
A bala deu um soco no artilheiro esquerdo entre os olhos.
O vampiro com cicatrizes de Ghastek saiu de debaixo da

ponte e derrubou o artilheiro restante. Seu segundo vampiro

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Livro 7
saltou sobre os Cães de Ferro do outro lado. Ha! Ele deve tê-los
enviado por debaixo da ponte enquanto assistíamos a luta. Eles
tinham rastejado pelos lados da ponte fora da vista, e agora
Hugh estava desarmado.
Hugh ficou de pé.
664
Curran atacou Hugh. O Preceptor da Ordem dos Cães de
Ferro tentou chutá-lo. Curran agarrou o pé de Hugh e dobrou
a perna dele. O joelho de Hugh estalou.
Na minha frente, dois dos quatro Cães de Ferro restantes

levantaram suas armas. O rifle de Andrea estalou duas vezes,
os tiros tão próximos que eram quase uma música, e o pessoal
de Hugh caiu.
A porta rangeu e gemeu sob a pressão dos vampiros. Nós

estávamos sem tempo.
Corri para Curran e Hugh.
Curran derrubou Hugh e enterrou o rosto na ponte.

Agarrei o braço de Curran. — Temos de ir.
Ele mostrou os dentes.
— Agora!

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Livro 7
Christopher, os dois metamorfos ratos, Nasrin, Naeemah,

Ghastek e Andrea passaram correndo. Atrás de nós, a porta
explodiu. Uma avalanche de vampiros se derramou na ponte.
Eles caíam um sobre o outro, uma massa enorme de carne
morta-viva que se contorcia.
665
Jim pousou ao meu lado, com os olhos brilhando de puro
verde. — Vamos!
Nós corremos.
A avalanche de mortos-vivos desgovernados rolou sobre a

ponte Hugh tentou se levantar. Ficou de joelhos, viu os
vampiros e congelou. A onda de mortos-vivos o alcançou e o
engoliu inteiro. Tchau, Hugh. Divirta-se com os vampiros do meu
pai. Foi bom te conhecer.
Andrea sentou no banco do artilheiro da E-50. Jim pousou

ao lado dela. O resto de nós correu. Olhei por cima do meu
ombro. A E-50 girou e cuspiu um fluxo constante de balas,
rasgando a linha de frente dos mortos-vivos em mingau. Mas
a própria horda de mortos-vivos não tinha diminuído a
velocidade.
Concentrei a minha mente, puxando a minha magia,

tentando segurar a horda. Era como tentar bloquear uma onda

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Ilona Andrews
Livro 7
gigantesca com meus dedos. Havia muitos, e sua magia os

unia em uma força cataclísmica imparável.
— Foda-se! —Andrea saltou para fora do assento do

artilheiro. Jim a seguiu, abandonando a arma.
Curran agarrou meu braço e me puxou para frente. Eu não
666
corri, voei, o ar se transformando em fogo nos meus pulmões.
O portão para o exterior apareceu diante de nós, a única
ruptura na parede. Estávamos prestes a sair da ponte.
Christopher alcançou a porta e gritou alguma coisa.

Robert correu para a esquerda, para o outro lado da porta, e
pegou uma alavanca presa na parede. Uma seção quadrada da
parede direita da porta, com cerca de trinta centímetros de
largura, se abriu ao lado de Christopher, revelando um
mecanismo complexo de engrenagens e mostradores de metal.
Christopher começou a girar os mostradores.
Nós chegamos no portão. Eu vomitei no chão.
O mecanismo ao lado de Christopher clicou. A porta se

abriu, revelando uma estreita passagem de pedra. Uma porta
idêntica bloqueava o caminho apenas três metros à frente.

Magic Breaks
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Livro 7
— Segure a alavanca, —Christopher gritou. — Vire a

engrenagem para a direita do seu lado quando eu lhe disser. Se
você soltar, todas as duas portas se fecham. Eles ficarão presos
entre elas.
Robert se apoiou na alavanca. Eu não fazia ideia de como
667
Christopher conhecia a combinação dos portões de Mishmar,
mas, se sobrevivêssemos, descobriria.
Christopher virou os mostradores.
O segundo portão se abriu.
Os vampiros estavam quase em cima. Eles enxameavam

atrás de nós, subindo uns sobre os outros, mordendo, lutando.
Se eles pudessem correr, já estaríamos mortos, mas havia
muitos deles e acabavam atropelando um ao outro.
— Vão! —Christopher gritou. — Vão!
Nós não conseguiríamos. Parei, virei e tentei empurrar a

horda de mortos-vivos para trás. Era como tentar segurar um
trem. A massa contorcida diminuiu, mas ainda continuou
rolando. Curran parou por mim.
Nasrin passou correndo por nós. Thomas e Naeemah

seguiram. Jim e Andrea passaram correndo. Ghastek, seu

Magic Breaks
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Livro 7
rosto uma máscara de concentração completa, recuava

devagar.
A pressão na minha mente me aterrorizou. Eu tremi. Não

conseguiria segurá-los mais. Havia muitos. Mesmo se
passássemos pelos portões, a horda nos perseguiria. Nós não
668
poderíamos matar todos eles.
— Vá agora, Senhora! —Christopher gritou.
Na minha cabeça, vi a Tia B parada na frente do portão.

Não, hoje não. Ninguém estaria se sacrificando em meu turno
hoje. Não podia passar por isso novamente.
Curran puxou meu braço. Eu me soltei dele. — Não vou

sem eles.
As mentes dos mortos-vivos se misturaram em um único

fogo vermelho. Minhas defesas mentais se quebraram. Eu
cambaleei de volta.
Curran me arrancou do chão e correu pelo corredor.
— Coloque-me para baixo, —eu rosnei.
— Não. —Curran me segurou mais apertado. — Não

estou perdendo você.

Magic Breaks
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Livro 7
O terceiro portão se abriu à nossa frente. Além dele, um

amplo campo coberto de neve se estendia. Curran me carregou
para fora, deixou-me de pé e me segurou contra ele.
— Robert! —Thomas gritou.
Robert se inclinou para a porta. Eu vi Christopher ao lado
669
dele. O homem loiro e gentil sorriu, seu rosto triste. Atrás
deles, a onda de vampiros crescia, a poucos centímetros de
distância.
Não! Não, não de novo, não, não!
Robert olhou por cima do ombro para a horda de mortos-

vivos e depois para Thomas.
Não faça isso.
— Não! —Thomas gritou.
— Eu te amo, —disse Robert, e soltou a alavanca.
Os portões se fecharam, bloqueando a avalanche de

mortos-vivos. Thomas uivou. Era um grito de pura dor, feito
de tristeza e desespero.
De novo não. Tudo o que eu mantinha dentro de um lugar

escuro e profundo, guardado para que eu pudesse funcionar,
explodiu de dentro de mim. O sacrifício de Tia B, a morte de

Magic Breaks
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Livro 7
Mauro, Robert, Christopher, tudo isso se derramou de mim

em uma torrente de sofrimento indefeso e eu não consegui
segurá-lo.
Eu ainda gritava quando Curran me levou de Mishmar

para o inverno.
670
em volta de uma fogueira,
em um acampamento improvisado nas ruinas de um posto de
gasolina. O telhado e a maior parte das paredes haviam
sumido, mas ainda havia um canto que protegia o fogo do
vento.
Andrea, Jim, Nasrin e Naeemah haviam adormecido. Até

mesmo Ghastek desistiu e desmaiou, mas não antes de termos
encontrado uma enorme corrente para prender seus dois
vampiros antigos a uma árvore. Ele matou o terceiro. Era
muito desgastante controlar todos eles e estava cansado.

Magic Breaks
Ilona Andrews
Livro 7
Thomas tinha ido para a noite. Ele queria ficar sozinho.

Eu o entedia.
Curran sentou-se ao meu lado. — Eles sabiam o risco que

corriam quando vieram.
— Eles estão mortos, por minha causa. —Minha voz soou
671
vazia. — Vieram nesta missão para me resgatar e agora estão
mortos. Christopher não estava nem se quer em seu juízo
perfeito. Ele tentou me avisar. Tentou descrever Mishmar para
mim. Sua voz tremia. Voltar para aquele lugar o aterrorizava,
mas ele voltou de qualquer maneira e agora foi dilacerado por
mortos-vivos. Prometi a ele que o tiraria vivo de lá. Dei minha
palavra. Ele confiou em mim. Não deveria ter sido assim. Não
posso aceitar. Eu que deveria salvá-los. Não o contrário.
— Às vezes isso acontece, —disse Curran.
Meu peito inteiro doía, como se alguém tivesse removido

tudo de dentro de mim e substituído por um aglomerado de
agulhas geladas. — Eu só quero saber quem será o próximo.
Quem será o próximo que Roland irá atrás? Julie? Derek?
— Não faça isso para si mesma, —disse ele. — É um ciclo,

Kate. Nós lutamos pelo Bando, eles lutam por nós. Nós
sangramos, eles sangram. Às vezes as pessoas morrem. Todos

Magic Breaks
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Livro 7
que vieram comigo vieram por vontade própria. Sabiam para

onde estávamos indo. Todos sabiam que havia uma boa
chance de que nem todos saíssem vivos. Esta não é a primeira
luta ou a última. As pessoas irão se sacrificar por nós
novamente e faremos o mesmo. Eu não sei quão ruim o futuro
672
será, mas eu prometo a você, nós vamos lidar com ele. Você e
eu juntos.
Eu me enrolei em uma bola debaixo dos cobertores. Ele

passou o braço em volta de mim.
A sensação de vazio no meu estômago não iria embora.

Minha memória relembrava o rosto de Robert e depois o olhar
de Thomas quando os portões se fecharam. Isso fazia meu
peito doer.
Eu saí de Mishmar. Mantive Ghastek vivo. Mas

Christopher e Robert haviam trocado suas vidas pelas nossas.
Não queria esse tipo de troca.
Eu não aguentava mais.

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Livro 7
673
Uma presença desconhecida tocou minha mente. Meus

olhos se abriram.

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Livro 7
Levantei minha cabeça. Curran estava me segurando.

Todo mundo dormia, exceto Jim, que estava sentado em cima
de uma parede arruinada, vigiando. Ele acenou para mim, seus
olhos captando a luz das chamas. Uma lenha na fogueira
crispou, enviando faíscas para o frio.
674
Dormir era superestimado.
Lá estava outra vez, um gentil empurrão de magia

desconhecida. Parecia emanar da árvore onde os vampiros
estavam amarrados. Olhei para eles. As duas mentes
vampíricas brilhavam fracamente. Atrás deles, no campo, uma
terceira mente de um morto-vivo esperava, imóvel, controlado
por alguém. O que agora?
Escapei dos braços de Curran. Ele abriu os olhos.
— Volto já, —eu disse a ele. — Banheiro.
Eu me levantei e caminhei em direção à árvore, a neve

esmagando sob meus pés. O céu estava sem lua, mas a neve
fez a noite parecer mais clara. Ambos os vampiros estavam
muito quietos agora. Eles ficaram tentando se soltar de suas
correntes depois que Ghastek adormeceu, mas agora não
moviam um músculo. Algo não estava certo.

Magic Breaks
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Livro 7
Passei pelos vampiros. Seus olhos estavam vidrados, uma

indicação segura de que alguém mantinha suas mentes em um
aperto de aço. Não era Ghastek, ele dormia profundamente. A
terceira mente de morto-vivo estava bem na minha frente, no
campo, a cerca de duzentos metros de distância.
675
Passei pelos sanguessugas e me inclinei do outro lado da
árvore. Quem segurava o terceiro vampiro provavelmente
segurava esses dois, e eu não estava indo para esse campo
sozinha.
— O que você quer? —Eu sussurrei.
— Seus amigos estão vivos, —disse uma voz

masculina tranquila.
Esperança passou por mim, mas eu a agarrei e a sufoquei

com a morte. Ele estava mentindo. Ninguém poderia ter
escapado daquela horda. O grande número de mortos-vivos
era demais para alguém escapar, exceto possivelmente meu
pai.
— Há um outro morto-vivo ao sul de onde você

estar no campo, —disse a voz masculina tranquila. — Vou

Magic Breaks
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Livro 7
soltar a mente dele. Por favor, assuma a mente do

vampiro.
A mente de um quarto vampiro chamejou e eu o prendi

com a minha magia.
— Estou esperando por você a três quilômetros ao
676
sul. Lá nós poderemos falar em alguma privacidade.
Meu corpo ficou onde estava, mas pilotei o vampiro o

mandado para o sul. Corria pela neve, as imagens de sua
mente sobrepondo a minha, como se eu estivesse observando
o que via em uma tela translúcida. Mais um minuto ou dois e
Curran viria me procurar. Voltei para o Jim.
— Eu não consigo dormir. Deixe-me vigiar o turno.
Jim olhou para mim. — Tem certeza?
— Claro, —eu disse. — Vou me sentar naquele tronco e

pensar nas coisas. —Apontei para um tronco caído a cerca de
cem metros de distância. Se eu mantivesse minha voz baixa,
eles não me ouviriam.
Quer que eu vá com você? —Perguntou Curran.
— Não. Eu gostaria de um tempo sozinha.
Ele abriu a boca e fechou. — Como quiser.

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Livro 7
Eu também te amo.
Fui e sentei no tronco. Jim se deitou. Curran estava

deitado também, mas eu tinha certeza de ele me observava. Se
tivéssemos em posições trocadas, eu estaria o observando
também.
677
Sentei-me em silêncio de costas para Curran enquanto
meu vampiro corria pela neve. Atravessou um campo aberto,
depois mata baixa, a faixa de floresta ... Olhei de volta para o
acampamento. Curran estava deitado de costas. Acordado.
Ele geralmente dormia de lado a menos que eu estivesse

deitada ao lado dele, minha cabeça descansando em seu peito.
A floresta acabou. O vampiro disparou para a clareira na

crista de uma colina que subia suavemente. Um homem estava
ali envolto em um manto vermelho escuro, desgastado e
rasgado nas bordas. Seus longos cabelos escuros soltos ao
redor do rosto. Testa alta, maçãs do rosto esculpidas, queixo
quadrado forte, olhos escuros, bonito e em forma, a julgar pela
maneira como ele se levantou. Um nativo americano, não
jovem, mas sem idade, da mesma forma que Hugh era eterno,
preso para sempre em algum lugar por volta dos trinta anos.
O homem inclinou a cabeça. — Sharrim.

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Livro 7
Era uma palavra acadiana149. Significava ‘do rei’. Minha

voz saiu da boca do vampiro sem esforço. — Não me
chame assim.
— Como quiser.
678
Eu quase disse a ele para não dizer isso também, mas a
explicação levaria muito tempo.
— Olhe abaixo, —o homem convidou.
Levei o vampiro para a borda da colina. Abaixo de mim o

chão rolava para outro campo.
Vampiros enchiam o local. Eles se sentavam em filas

organizadas, mantidas sob controle pelas mentes dos
navegadores. Tinha que haver mais de duzentos vampiros e
provavelmente pelo menos metade desse número de
navegadores. Muitos para mim. Tentar reter a horda de
mortos-vivos mais cedo me deu alguma perspectiva. Se eu
pegasse todos os mortos-vivos naquele campo, eu poderia
segurá-los por tempo suficiente para o resto do nosso grupo
correr, mas meu controle sobre eles seria por segundos.
149
O acádio, também conhecido como acadiano ou assiro-babilônio era uma língua semítica falada na antiga
Mesopotâmia, particularmente pelos assírios e babilônios.

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Livro 7
— Meu nome é Landon Nez, —disse o homem ao meu

lado. — Eu sirvo seu pai.
Direito ao ponto. Aparentemente, eu poderia parar de

fingir que não estava relacionadA com Roland.
— Hugh d'Ambray é o Preceptor da Ordem dos Cães de
679
Ferro. Eu sou o Legatus150 da Legião Dourada. Você sabe o
que isso significa?
Isso significava que estávamos todos em apuros. Eu sabia

exatamente sobre Landon Nez. Um Legatus não durava muito,
porque Roland era exigente e não tolerava erros. O último
Legatus que meu pai adotivo conheceu, Melissa Rand, morreu
cerca de dois anos depois que Voron morreu. — Isso significa
que você está no comando dos Mestres dos Mortos,
você responde diretamente a Roland e sua
expectativa de vida é bastante curta.
— É uma boa maneira de explicar. Seu pai escolheu as

políticas da Nação e eu as implementei. Eu sou o cérebro por
trás da força de d’Ambray.
— Hugh sobreviveu?
150
Latim: Embaixador

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Livro 7
— Sim.
Como ...?
— Isso te incomoda? —Landon perguntou.
— Não, só estou me perguntando o que tenho
680
que fazer para matá-lo.
Landon levantou as sobrancelhas alguns milímetros. —

Eu sempre me perguntei a mesma coisa. Tenho certeza que se
colocar fogo nele e espalhar as cinzas no vento, ele não vai se
regenerar.
— Testou?
— Ainda não. Mas imaginei fazer isso muitas vezes.
O inimigo do meu inimigo não é meu amigo. Nem um pouco. —

O que você quer?
— Hugh teve sua chance. Ele falhou. É a minha vez. Fui

autorizado a oferecer isso a você.
Ele levantou uma foto. Sobre ele, Christopher e Robert

sentados um ao lado do outro em uma mesa. Os olhos
vidrados de Robert estavam em branco. Faixas molhadas
marcavam o rosto de Christopher e seus olhos estavam

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Livro 7
vermelhos. Ele chorara. Ele estava de volta nas mãos do

homem que tinha quebrado sua mente. Eu andaria em cima de
vidro quebrado descalça para tirá-lo dali e meu pai sabia disso.
Agora, meu pai estava usando isso contra mim.
— Eles estão ilesos, —disse Landon. — A oferta dele é a
681
seguinte: se você for capaz de entrar em Jester Park, poderá
libertá-los pessoalmente e todos os três irão embora de forma
segura de lá. Mas você deve ir sozinha. Por você ter aceitado ir
até ele, mesmo que você fracasse tentado entrar em Jester
Park, seus amigos que estarão esperando por você no
acampamento terão permissão para retornar a Atlanta sem
serem molestados.
— E se eu recusar ir?
Landon se virou para os vampiros. — Ele quer ver você.

Se escolher ignorar o convite dele, os dois homens vão morrer
e eu vou mandar todos esses vampiros que você vê aqui para
cima do seu acampamento. Ele não tem dúvidas de que você
sobreviverá ao massacre. Talvez o metamorfo leão sobreviva
também. O resto não terá tanta sorte. A escolha é sua.
O metamorfo leão não sobreviveria. Nós dois sabíamos

disso.

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Livro 7
As palavras de Robert voltaram para mim.
682
Eu não podia fazer isso. Não era da minha natureza. Não
podia sacrificar as pessoas que arriscaram tudo para me manter
respirando. Não podia deixar Curran ou qualquer outra pessoa
morrer naquele acampamento neste campo sem nome.
Olhei para a Legião Dourada esperando abaixo. Era

apenas uma pequena fração do que Roland poderia trazer, e
eu sabia que meu pai não iria parar. Ele continuaria matando
meus amigos um por um, até que eu estivesse sozinha. Todo
mundo com quem eu me importava havia se tornado um alvo.
Sabia que isso aconteceria. Voron me avisou sobre isso. Ele me
ensinou que amigos me fariam vulnerável. Ignorei o aviso
dele. Fui avisada, mas mesmo assim escolhi deixar as pessoas
entrarem na minha vida, sabendo que um dia teria de enfrentar

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Livro 7
as consequências. Agora era minha responsabilidade mantê-

los seguros.
Isso tinha que terminar. Eu tinha que colocar um fim

nisso. Tinha que enfrentar meu pai.
Se eu fizesse como Roland queria, Curran e eu
683
terminaríamos. Prometi a Curran que, quando chegasse a
hora, enfrentaríamos Roland juntos. Ele me amava, mas se eu
dissesse que ele tinha que sentar em suas mãos enquanto eu
estava indo para a minha morte, ele me deixaria. Ele perdoaria
quase qualquer outra coisa, mas não isso. Mas se formos lá
juntos, seria duplo suicídio.
— Como Hugh e os meus amigos sobreviveram? —

Perguntei.
— Seu pai estava assistindo. Ele segurou os mortos-vivos

e meu pessoal desceu para pegar os dois homens e o Preceptor.
Se Landon não estava mentindo, significava que meu pai

parou toda a horda de mortos-vivos com um único esforço de
sua vontade. O alcance desse poder era impressionante.
Curran e eu não sairíamos vivos.
— Diga-me por que eu deveria acreditar em você.

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Livro 7
— É uma pergunta justa. —Landon inclinou a cabeça. —

Se seu pai simplesmente quisesse capturar ou matar você, ele
poderia ter feito isso várias vezes. Essa é uma das razões pelas
quais D'Ambray está encrencado. O teletransporte é muito
imprevisível para qualquer situação, exceto escapar da morte
684
certa. Ele assumiu um risco desnecessário com a própria vida
e com a sua os teletransportando. A questão relevante é por
que D'Ambray fez isso? Por que te prender dentro de Mishmar
quando ele poderia simplesmente te teletransportar para Jester
Park ou te arrastar algemada? A instrução dada a d'Ambray foi
exatamente igual à que me foi dada.
— E qual foi ela?
— Persuadi-la a vir a Jester Park por sua livre vontade.
— Por quê?
— Seu pai tem suas razões. Ele escolheu não as

compartilhar comigo. Mas você deve saber que quando ele dá
sua palavra, ele não mente.
Eu ri sob a minha respiração. Entre na minha casa, disse a

aranha para a mosca.
— Sim ou não? —Landon perguntou em voz baixa.

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Livro 7
Se eu fosse, Curran tentaria vir comigo e nós dois

provavelmente morreríamos. Se eu dissesse a Curran que ele
não iria comigo, nossa relação estaria acabada e eu
provavelmente morreria. Se eu dissesse a Landon que não iria,
todo mundo morreria. Não havia boas escolhas.
685
Era a minha vez de garantir que as pessoas que eu amava
conseguissem sair de Mishmar vivas. Eu poderia me esgueirar
no meio da noite. Ou prender Curran em uma barreira de
sangue assim que a onda mágica chegasse. Mesmo se ele
atravessasse a Proteção, isso me daria tempo e ele não
conseguiria me alcançar.
O problema era que o amava. Depois da nossa última

briga, ele me prometeu que sempre seria honesto comigo. Eu
havia prometido a ele a mesma coisa e agora tinha que seguir
as regras.
— Vou te dizer pela manhã.
— Eu preciso de uma resposta, —disse Landon.
Olhei para ele. Ele não parecia perturbado.
Demorei dez segundos para perceber que ele não podia ver
meu olhar psicótico através dos olhos do vampiro.

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Livro 7
Bem vamos lá, campeão. — Você receberá sua resposta

pela manhã. Se fez sua lição de casa, deve saber
muito bem que acredito que a lógica e a restrição são
superestimadas. Se me empurrar, vou buscar meu
pessoal e ver quantos desta famosa Legião Dourada
686
posso matar.
— Você vai perder, —disse Landon.
— Sim, mas vou me divertir muito e levar muitos de

vocês comigo. Nos últimos dias, fui ameaçada,
teletransportada, afogada, passei fome, sede e
trancada em uma jaula enquanto fui forçada a assistir
pessoas, com quem me importava, morrer. Eu tenho
tanta raiva em mim, que estou tendo problemas para
mantê-la trancada. Se você me pressionar, tem a
minha palavra que vou fazer a minha missão pessoal
encontrá-lo no corpo a corpo da batalha e cortar sua
cabeça do seu corpo. Eu adoraria. Seria divertido
para mim. Se de alguma forma você conseguir
sobreviver, terá que voltar para o meu pai e explicar
como você me perdeu, como foi um incompetente e

Magic Breaks
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Livro 7
falhou, assim como Hugh, e agora muitos vampiros e

eu estamos mortos ... de alguma forma, duvido que
ele aceitasse minha cabeça como prêmio de
consolação. Você terá minha resposta pela manhã.
Larguei a mente do vampiro, levantei-me e fui para o fogo.
687
Curran ainda estava deitado de costas.
— Eu sei que você está acordado. —Deitei ao lado dele.
Ele abriu os olhos cinzentos e olhou para mim. Eu o

amava tanto que doía. Amava tudo sobre ele. A maneira como
seus olhos se iluminavam quando ria. O jeito que eles
brilhavam com pequenas faíscas douradas quando ele me
desejava. O jeito que suas grossas sobrancelhas se uniam
quando estava chateado. Amava seu nariz torto por não ter
curado certo. Eu amava a barba em suas bochechas e a linha
dura de sua mandíbula. Amava quando ele me chamava
atenção pelas minhas besteiras. Eu ria de suas piadas e amava
que ele ria das minhas. Amava que não importa onde eu
estivesse ele viria para mim. Que sempre estaria lá, me
ajudando a atravessar a bagunça que era a vida.
Eu me inclinei para ele e o beijei. Eu o beijei, tentando

contar-lhe todas as coisas que não conseguia colocar em

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Livro 7
palavras. Tentando dizer a ele que o amava, que ele significava

tudo para mim e que eu lutaria por ele.
Ninguém iria levá-lo para longe de mim, porque se

tentassem, eu iria esculpir um caminho através deles. Curran
me beijou de volta e saboreá-lo foi o paraíso. Ele estava bem
688
aqui, vivo, quente e meu, mas só até amanhã. Abracei
apertado. Acabei de tê-lo de volta, depois de tantos dias longe.
Não queria perdê-lo. Agora não.
— Eu te amo, —disse a ele.
— Eu também te amo. —Seus olhos cinzentos procuraram

meu rosto. — Algo aconteceu e sei que é ruim.
— Sim. Recebi uma visita de Landon Nez.
— Quem é ele?
— O Legatus da Legião Dourada. Hugh supervisiona os

Cães de Ferro, ele é a força bruta de Roland. Landon lidera os
Mestres dos Mortos. Ele é o chefe de Ghastek.
O rosto de Curran deslizou em uma máscara neutra. — O

que ele queria?
— Ele me mostrou uma foto de Robert e Christopher.

Estão vivos. Meu pai assistiu seu duelo com Hugh e depois

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Livro 7
tirou Christopher e Robert de Mishmar e os levou para Jester

Park.
— A foto pode ser falsa? —Perguntou Curran.
— Roland não se incomodaria em falsificar uma foto, —

eu disse a ele. — Meu pai está me esperando em Jester Park.
689
Ele quer me ver. Devo ir sozinha. Se eu conseguir entrar em
Jester Park e reivindicar nossos amigos, todos poderemos ir
para casa. Se eu não aceitar ir, Landon tem cerca de duzentos
vampiros estacionados a três quilômetros ao sul de nós.
O rosto de Curran era impenetrável. Eu sabia exatamente

o que ele estava pensando, no entanto. Poderia dizer pelo jeito
que ele se sentou, muito quieto, e pelos olhos dele. Estavam
congelados.
— Acha que seu pai está mentindo? —Perguntou Curran.
— Não.
— Temos duas opções, —disse ele, sua voz calma. —

Opção um, você diz a eles que não e nós lutamos para ir
embora. Mas não podemos vencer em uma luta direta com
tantos vampiros.

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Livro 7
— Concordo. Eu poderia matar alguns sanguessugas, mas

todos eles serão controlados por Mestres dos Mortos, no
mínimo no nível de Ghastek. Antes de matar qualquer um dos
vampiros, eu teria que lutar com todos esses navegadores pelo
controle de suas mentes. É preciso esforço e tempo.
690
— Nós seríamos derrotados. —Curran ponderou, olhando
para as chamas da fogueira. — Nós poderíamos nos dividir
agora e fugir. Há uma chance deles virem até nós em grupos
menores. Leva tempo e manobra para conseguir colocar
duzentos vampiros em movimento. Mas assim que paramos
para lutar com um grupo de vampiros, o resto nos alcançaria.
— Além disso, Robert e Christopher morreriam.
Olhamos para o fogo. — Este é um inferno de um

encontro, —eu disse.
— Presos por uma horda de vampiros no meio de um

campo coberto de neve, aconchegando-se em torno de uma
pequena fogueira em cobertores finos, —disse Curran. —
Aproveite isso, bebê. Todo esse luxo só para você.
— Pelo menos não está chovendo.

Magic Breaks
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Livro 7
Nós dois olhamos para cima, para o caso de uma chuva

inesperada decidir nos ensopar, mas o céu noturno estava
limpo.
Nada além de estrelas e desespero.
Eu não queria morrer.
691
— Se dermos prejuízo a Legião Dourada, matando muitos
vampiros, eles recuariam? —Perguntou Curran.
— Não. Acredito que Roland está determinado. Enquanto

Landon tiver um único vampiro, tentará me pegar. —Nossas
opções estavam diminuindo a cada palavra. Eu me inclinei
contra ele. — Robert me disse que se você não voltasse vivo da
sua viagem, a minha liderança do Bando seria questionada,
alguns alfas iriam votar contra ela.
Curran resmungou baixinho em voz baixa. — Robert diz

um monte de coisas.
— Ted nos trancou em uma jaula no Cofre da Ordem e

Hugh matou todos os Cavaleiros. Ele pegou Ascanio e
ameaçou matá-lo. Hugh começou curando-o e depois
ameaçou retirar a cura e terminar de matá-lo, e eu disse a ele
que, se salvasse o menino, eu sairia da jaula.

Magic Breaks
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Livro 7
— Isso soa como você.
— Robert acredita que eu não tenho crueldade suficiente

para estar no comando. Que eu deveria ter deixado Ascanio
morrer, porque se Hugh colocasse as mãos em mim teria sido
um desastre para o Bando.
692
— Ele estava certo, —disse Curran.
— Concordo. Mas eu não posso fazer isso. Não posso dar

as costas para Robert e Christopher. Eu simplesmente não
posso. Não faz parte de mim.
— Eu sei, —disse ele. — É quem você é. Mas sou

implacável o bastante por nós dois. Roland acha que você pode
ser filha dele. Ele não tem certeza, por isso quer que você vá
até ele. Roland quer um grande show. Se você for uma
impostora irá morrer na frente de um público, se você for sua
verdadeira filha ele poderá te mostrar. Mesmo que você saia
de lá, não haverá mais como se esconder. É por isso que você
não está indo.
— Eu tenho que ir vê-lo, Curran. Agora é Christopher e

Robert, da próxima vez será Julie, Derek, ou você na foto. Eu
não posso continuar adiando isso.

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Livro 7
Ele me encarou com os olhos duros. — Não.
— Sim.
Seus olhos brilharam dourados. Olhei em suas íris. O

desejo de congelar de pavor me agarrou. Lá estava o famoso
olhar alfa do Senhor das Feras. Eu não via esse olhar por um
693
tempo.
Sua voz saiu profunda e entrecortada, como se o grunhido

de leão cortasse as palavras em pedaços enquanto tentavam
sair de sua boca. — Kate, não. Você não está indo. Não
mesmo.
Eu tinha que convencê-lo ou essa coisa entre nós estaria

acabada. Atormentei meu cérebro tentando obter palavras
inteligentes e persuasivas, as palavras certas, mas não tinha
nada.
Ele ainda olhava para mim, esperando.
Foda-se. — Eu te amo. Não quero brigar com você. Não

quero discutir. Tenho que fazer isso, porque, como você disse,
é quem eu sou. Eu não abandono as pessoas que lutaram por
mim. Se eu abrir mão disso, logo abrirei mão de outras coisas
e não serei mais eu. Não posso deixar meu pai me dobrar em

Magic Breaks
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Livro 7
algo que não sou. Eu não vou deixar. Sei que é estúpido e
imprudente, mas tenho que pelo menos tentar, Curran. Tenho
que tentar e estou com medo.
O olhar alfa morreu.
— Eu não vou pedir para você me querer de volta depois
694
que eu voltar, se eu voltar, —eu disse. — Não quero que você
venha, porque ele está me forçando a desafiá-lo e se você vier
comigo, estaria desafiando-o também. Não tenho certeza se
vou sobreviver a isso e mesmo se eu sobreviver, ele virá atrás
de mim com tudo o que tem. Eu quero que você viva e seja
feliz, Curran. Eu quero que você sobreviva. Quero me casar
com você e ter seus filhos, mas se eu morrer, quero que você
se case e tenha filhos com alguém que te faça feliz. Eu quero
que você viva. Tudo que peço é que me deixe ter o que resta
desta noite com você. Não me deixe agora por causa disso e
não brigue comigo sobre isso. Preciso de você. Por favor.
Curran me puxou para ele. Seus braços se fecharam em

volta de mim e por um momento me senti segura. Era uma
ilusão, mas eu não me importei.
— Nós vamos juntos, —disse ele.
— Não.

Magic Breaks
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Livro 7
— Eu não me meto em quais batalhas você deve lutar.

Não se meta nas minhas também.
— Curran, não há como voltar atrás depois disso ...
Ele balançou sua cabeça. — Eu te amo. Nós vamos juntos.
— Mas ...
695
— Não, —disse ele. — Não está em discussão.
Oh idiota estúpido. — Você é louco, sabe disso?
— Sim. Mas eu sou muito bom de cama.
Eu ri. — Está bem então. Isso conserta tudo.
— Exatamente.
Adormeci em seus braços ao lado do fogo que lentamente

agonizava no frio do campo nevado. Não teria negociado esse
momento nem mesmo por o palácio mais luxuoso.

Magic Breaks
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Livro 7
com a manhã, trazendo

um frio ainda mais severo. Abri meus olhos. O céu acima de
mim era azul cristalino. Puxei o cobertor para cima, deixando
o calor que Curran e eu dividíamos durante a noite e me sentei.
Neve branca e pura se estendia até onde eu podia ver,
696
cintilando no sol da manhã como cristal esmagado.
Belo dia.
Curran ficou de pé. Enrolei um cobertor, ele rolou o outro

e checamos as mochilas.
Andrea nos observava. — Vocês dois estão tramando algo.
— Precisamos ir a um lugar, —eu disse.
— Levantem e brilhem, —gritou Curran.
O resto do grupo acordou instantaneamente, todos, exceto

Ghastek, que parecia morto para o mundo. Um, dois, três ...
Naeemah não estava entre nós. Bem, nós a resgatamos, ela nos
ajudou a sair da Mishmar. Eu suponho que estávamos quites.
Espero que os vampiros de Landon a tenham deixado passar.
Andrea estava de pé. — O que vocês estão tramando?
— Eu tenho que ir ver Roland, —eu disse a ela. — Ele tem

Robert e Christopher.

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Livro 7
— Robert está morto, —disse Thomas, sua voz crua.
— Há uma possibilidade de que ele não esteja, —disse

Curran.
Thomas congelou. Um músculo em seu rosto se sacudiu.

— Então eu vou com vocês. —Thomas agarrou sua mochila.
697
— Você não pode ir, —disse Curran, com a voz calma. —
Se você for, ele morre. Essa é uma condição de Roland, não
nossa.
Thomas largou a bolsa e avançou, a linha de seus ombros

rígidos. Seus olhos ficaram verdes. Suas narinas se alargaram.
Curran bloqueou seu caminho.
Por um segundo, pensei que Thomas iria colidir com ele,

mas o rato alfa parou a poucos centímetros de Curran.
Os dois homens se enfrentaram. Thomas tinha mais de um

metro e oitenta e um corpo como se pudesse empurrar
caminhões, mas em uma luta Curran iria quebrá-lo.
O ouro afogou as íris de Curran. — Olhe para mim. Esta

é uma ordem direta. Fique aqui. Se você insistir, terá que
passar por mim.
Os dois se encararam por um longo momento.

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Livro 7
— Aguente firme, Thomas, —disse Curran, com a voz

mais calma.
Thomas virou-se e xingou.
— Há vampiros ao sul de nosso acampamento, —eu disse.

— Vou fazer uma Proteção de sangue. Ela irá protegê-los
698
enquanto a magia se sustentar. Jester Park fica a menos de
duas horas de carro. Fique aqui. Nós voltaremos.
Ghastek se sentou em seu cobertor. — O que está

acontecendo?
— E se você não voltar? —Andrea me perguntou.
— Então vocês podem ter que lutar para ir embora, —disse

Curran. — O pessoal de Roland nos prometeu uma volta
segura para casa, mas eu não confio neles e vocês também não
devem confiar.
— Quantos vampiros? —Jim perguntou.
— Cerca de duzentos. —Puxei Sarrat de sua bainha, cortei

meu braço e comecei a fazer um círculo ao redor deles na neve.
A cor sumiu do rosto de Andrea. — Duzentos. Moleza.
— Alguém vai me dizer o que está acontecendo? —

Ghastek exigiu.

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Livro 7
As últimas gotas de sangue conectaram com a primeira. A

magia se estendeu de mim, acumulando-se sobre o círculo de
sangue. Eu cortei o vínculo. Uma parede vermelha subiu e
desapareceu. A Proteção de sangue estava pronta.
Atrás de mim a neve rangeu. Eu virei. Landon caminhou
699
em minha direção, seu manto vermelho esfarrapado como
uma ferida vermelha e irregular contra a neve.
Ghastek abriu a boca e fechou novamente.
Landon parou a poucos metros de distância. O vento

puxou sua capa e longos cabelos escuros.
— Eu vou com ela, —disse Curran.
— Isso não é possível, —disse Landon.
Curran sorriu e até eu senti uma vontade de recuar. —

Roland tem medo do que eu possa fazer? Eu sou tão assustador
assim?
— Você não conseguirá nada me ameaçando ou

ameaçando a ele, —disse Landon.
— Diga a Roland que, se ele amou minha mãe, ele vai

entender, —eu disse.

Magic Breaks
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Livro 7
Landon murmurou algo em voz baixa. Nós esperamos. O

vento nos mordia com suas presas geladas. Quando
descreveram impasses dramáticos na neve na história,
ninguém nunca mencionou o congelamento de seus traseiros.
Pulei para cima e para baixo, tentando me aquecer. Se isso
700
fosse mais dramático, pedaços de mim começariam a cair.
— Ele vai ver receber vocês, —disse Landon.
Ghastek se levantou.
— Senhor Stefanoff, —disse Landon para ele. — Seus

serviços e conduta durante esses eventos foram muito
apreciados. Quando a magia for embora novamente, um carro
virá buscá-lo.
O rugido familiar de um motor de água encantada

balançou através da planície. Um Land Rover151 prateado
deslizou por trás das árvores distantes, vindo em nossa direção.
Curran e eu começamos a caminhar em direção a ele. Landon
nos alcançou.
151
Land Rover

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— Você usou o nome de Kalina, —disse Landon. — Para

o seu próprio bem, espero que você seja realmente filha dele.
701
Capítulo 17
Sentei no banco do passageiro da frente
e Curran sentou atrás. Se as coisas azedassem, eu distrairia a
atenção de Landon e Curran arrancaria sua garganta.
O sol havia nascido, deixando a neve incandescente. As

ruínas de outro posto de gasolina passaram por nós,
congeladas pelo inverno. Calor rolava dentro do Land Rover.
Eu tinha tirado o casaco antes de entrar no carro e estava
confortável com Sarrat em sua bainha no meu colo. Ela seria
meu presente especial para meu pai, se eu tivesse uma chance.
Pensar sobre o nosso encontro iminente colocava meus

nervos no limite. A pressão era quase demais. Desejei que

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Livro 7
Landon parasse o carro para que eu pudesse correr em círculos

pela neve o mais rápido que podia e queimar alguma energia.
Eu me acomodei e acariciei a bainha de Sarrat.
Não conseguiria vencer o meu pai. Eu sabia agora. O

problema era que não fazia ideia do que ele queria realmente
702
comigo.
— Ele reivindicou Atlanta? —Perguntei.
— Não, —disse Landon.
Então a Reivindicação não tinha acontecido. Isso

significava que eu podia de alguma forma ainda evitar que
acontecesse.
Uma placa antiga passou: I-80 Leste152.
Landon olhou para mim. Seus olhos espertos se

demoraram no meu rosto.
152
A Interstate 80 ou simplesmente I-80 é a segunda
maior auto-estrada dos Estados Unidos (atrás somente da I-90) que conecta a região de São Francisco, na Califórnia,
a Teaneck em Nova Jérsei no sentido leste-oeste. A I-80 cruzava em alguns trechos com a Auto-estrada Lincoln, a primeira
construída no país. A I-80 foi construída através de junções de antigas rodovias norte-americanas, principalmente
na Califórnia.

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Livro 7
— Você é Apache153? —Curran perguntou do banco de

trás.
— Navajo154, —disse Landon.
— Eu achava que as tribos nativas desencorajavam a

necromancia, —disse Curran.
703
— Elas fazem. E por isso não gostavam do que eu podia
fazer, então fui embora e encontrei alguém que gostasse.
Como Hugh disse uma vez, esse era o maior talento do

meu pai. Párias e desajustados eram atraídos por ele. Roland
encontrava um lugar perfeito para cada um e os inspirava para
a grandeza. Exceto que seu tipo de grandeza resultava em
morte, miséria e tirania.
Landon estava olhando para mim. Se ele continuasse

olhando, teria que fazer alguma dancinha ou qualquer outra
coisa. — O que foi?
— Você não é o que eu esperava, —disse ele.
153
Os apaches são povos nativos dos Estados Unidos que falam a língua apache e que habitam atualmente reservas
indígenas no sudoeste dos Estados Unidos. Antigamente, os povos Apaches ocupavam territórios em Arizona, norte
do México, Novo México, oeste e sudoeste do Texas e sul de Colorado.
154
Os navajos são um povo indígena da América do Norte, da família linguística Athapaskan e da área cultural Sudoeste.
Originalmente, imigraram das áreas do norte e durante o século XVI tornaram-se um povo pastor e caçador. O povoado vive
numa reserva no nordeste do Arizona e continua em partes do Novo México e Utah.

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Livro 7
— E o que você esperava? —Perguntei.
— Alguém com mais ... presença. Você parece comum.
— Eu sinto muito, deveria andar em um SUV preto,

vestida em um terninho de dois mil dólares e fazer um show
com a minha espada em chamas?
704
— Sua aparência esta terrível, o que é de se esperar depois
de dias aprisionada em Mishmar, —disse Landon. — Mas
você simplesmente não é como ele. Não estou falando de
semelhanças físicas, há traços em seu rosto que se parecem
com ele, mas isso pode ser só coincidência. Estou falando que
quando se está na presença dele e ele está feliz e satisfeito, é
como estar ao sol. Todos ao seu redor se sentem iluminados,
aquecidos. Mas quando ele está descontente, é como estar em
uma nevasca. Ele congela tudo e a todos e não há nada pior do
que isso. Com você ... —Landon moveu a mão na minha
frente, — não sinto nada.
Bom saber que todos os meus escudos mágicos ainda

estavam inteiros.
— Esse é o proposito dela, —disse Curran. — Você

realmente não deve sentir nada em sua presença. Dê a ela uma
chance de usar a sua espada e você mudará de ideia.

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Landon olhou no espelho retrovisor. — Já você, por outro

lado, é exatamente o que eu esperava.
— E o que seria isso? —Perguntou Curran.
— Um homem simples que pensa que tudo pode ser

resolvido com uma espada.
705
— Eu acho que você foi insultado, —eu disse.
Curran sorriu. — Estou arrasado. Nem se quer uso

espadas.
Landon o ignorou e me encarou por um breve momento.

— Se você for quem ele pensa que é, tudo mudará. Se você for
sua verdadeira filha, a sua presença altera a estrutura de poder
de todo o continente. O que você pode fazer? Do que você é
capaz? Não há outro como você há milhares de anos. Você vai
apoiá-lo ou se opor a ele? Quem vai seguir a filha do
Construtor de Torres? Como devo me dirigir a um pretendente
ao trono? Devo me ajoelhar? D'Ambray deve ter achado que
você era o verdadeiro McCoy155. Eu não entendia a motivação
por trás de suas estranhas maquinações políticas na Europa
durante a primavera e o verão, mas agora vejo que ele
155
Real McCoy (O verdadeiro McCoy) é uma expressão idiomática e metafórica usada em grande parte do mundo de
língua inglesa para significar "a coisa real" ou "o artigo genuíno”.

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construiu uma armadilha, que aparentemente falhou. Mas

Atlanta? O que ele fez em Atlanta foi precipitado mesmo para
Hugh. Ao contrário de todas as suas risadinhas forçadas e
declarações do tipo ‘Oh, pobre de mim, eu sou apenas um simples
soldado’, d'Ambray é inteligente e implacável. Algo deve ter
706
acontecido entre ele e Roland para empurrá-lo ...
— Você o chama de Roland? —Perguntei.
Os olhos de Landon se estreitaram. — Eu vou responder

a uma das suas perguntas se você responder a uma das minhas.
Eu já joguei esse jogo antes. Isso nunca acabava bem. Mas

porque não? — Certo. Você o chama de Roland na sua
presença?
— Eu o chamo de Sharrum.
Rei. Bem, isso não foi exatamente surpreendente.
— Mas sim, em público, me refiro a ele como Senhor

Roland. Esse é o nome que ele escolheu depois que acordou
nessa era.
Os olhos de Landon se iluminaram. — Minha vez. Você

carrega a espada de Voron?
— Não.

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Livro 7
A emoção morreu nos olhos de Landon.
— Hugh quebrou a Matadora, —eu disse a ele. — Amava

essa espada. Foi uma parte de mim por mais de vinte anos.
— Uma desculpa muito conveniente, —murmurou

Landon.
707
Ah, foda-se, ele pensava que eu era uma impostora. — Eu
lamento muito pela minha espada, mas tudo bem. A minha
avó me deu outra. —Puxei Sarrat de sua bainha.
Landon girou o volante. O Land Rover cambaleou, quase

saindo da estrada. Landon estacionou e saiu do carro, batendo
a porta do motorista atrás dele.
Impressionante. Consegui aterrorizar o Legatus da Legião

Dourada apenas mostrando a ele minha espada. Se eu a
balançasse, ele provavelmente explodiria.
Sarrat fumegou no meu colo. Sua magia não era sutil,

como a da Matadora. Não, esta espada emanava poder. E esse
poder se enrolava em mim. Gostava de mim.
Landon andava de um lado para o outro com olhos um

pouco selvagens.

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Livro 7
— Bem, ele recebeu essa informação pior do que eu, —

disse Curran.
— Eu não vejo qual é o grande problema.
— É uma espada feita dos ossos da sua avó, Kate.
Dei de ombros.
708
Landon me encarou através do para-brisa, virou-se, andou
de um lado para o outro e olhou para mim novamente.
— Você sabe o que a maioria das pessoas ganham da avó?

Um conjunto de chá. Ou uma colcha. —Curran sorriu. — Se
sua família tivesse uma colcha, seria feita de pele de quimera156
e decorada com penas de anjos mortos.
— Estamos falando de anjos judaico-cristãos, porque esses

não existem, ou anjos pagãos como Teddy Jo?
— Kate, —disse Curran.
— Ei, eu te avisei desde o começo que ficar ao meu lado

seria estranho. Sentei-me naquela banheira com você e disse
156
Quimera é uma figura mística caracterizada por uma aparência híbrida de dois ou mais animais e a
capacidade de lançar fogo pelas narinas, sendo, portanto, uma fera ou besta mitológica.

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Livro 7
que era uma péssima ideia isso entre nós. Você disse que me
amava e permaneceu na banheira. Até onde sei, você fez sua
cama. Agora tem que deitar nela.
— Vou deitar em qualquer cama desde que você esteja

nela, mas isso ainda é estranho.
709
Voltei a olhar para ele. — Vamos ver meu pai, que
provavelmente vai me esmagar como um mosquito, e você está
enlouquecido com a minha espada?
Curran acenou para Landon. — Eu não sou o único.
Landon olhou para mim novamente.
— Você já deu um nome a ela? —Perguntou Curran.
— Sim. Sarrat Irkalli157. Significa Grande Rainha de

Irkalla, a Terra dos Mortos. Minha avó ocasionalmente foi
confundida com ela e agora que está morta, é apropriado.
Curran abriu os braços. — Não preciso dizer mais nada.
157
Sarrat Irkalli.

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Livro 7
Isso era ridículo. Inclinei-me para o lado do motorista, abri

a porta e gritei a plenos pulmões, tentando fazer com que
minha voz soasse mais alta do que o motor de água encantado.
— Você já terminou?
— O quê? —Landon disse.
710
— Você! Já! Terminou?! Se quiser, pode ficar aqui. Só nos
diga a direção do caminho que devemos ir e vamos dirigir sem
você!
Landon sentou de volta no assento do motorista e apontou

para a minha espada. — Guarde isso.
— Diga a palavra mágica.
— Por favor, —Landon espremeu.
Deslizei a lâmina de volta na bainha e a acariciei. — Tudo

bem, Sarrat. Se ele te insultar, vou cortar a cabeça dele e você
pode beber o seu sangue.
Landon fechou os olhos por um longo momento, exalou e

guiou o Land Rover de volta para a estrada.
Árvores passavam pela minha janela, cobertas de neve e

gelo. Dentro do SUV fortemente isolado o mundo estava
quieto exceto pelo zumbido do motor. Landon olhava

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concentrado para a estrada. Algumas maquinações

complicadas sem dúvida estavam ocorrendo em sua cabeça.
Provavelmente tentando descobrir como minha presença
afetaria seu pequeno reino dentro do império de Roland.
A estrada serpenteava pela floresta. A neve terminou e a
711
pavimentação surgiu, feita com grandes blocos de pedra. —
Por que a pedra?
— A magia dele degrada as estradas modernas, —disse

Landon.
A floresta continuou. As árvores ficaram mais grossas e

altas, dirigindo seus poderosos galhos para o sol. A neve
brilhava na fraca luz do inverno, branco puro ao sol, azul nas
sombras. A magia deve ter alimentado esse parque da mesma
forma que alimentou os parques de Atlanta, e o que começou
como um local cuidadosamente manejado de verde se
transformou em uma densa floresta antiga. Quão estranho
deve ter sido o meu pai vir da Mesopotâmia antiga para o país
das maravilhas do inverno.
Voron havia dedicado sua vida para me trazer até este

ponto. Se ele ainda estivesse vivo, saberia que eu estava indo
para a minha morte. Agora percebo que Voron nunca esperou

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Livro 7
que eu ganhasse. Todos os seus planos sempre terminavam

comigo lutando com Roland. Nunca houve qualquer conversa
sobre o que aconteceria depois. Ele não esperava que eu tivesse
um depois.
A floresta se abriu. Um prédio se erguia à distância,
712
cercado por um largo fosso em espiral coberto de gelo,
enrolando-se ao redor da estrutura como uma cobra de vidro
fosco. O prédio se erguia, quase flutuando, acima do gramado
coberto de neve, alto, suas paredes uma reunião de delicados
painéis brancos que pareciam suspeitosamente com asas
gigantes. Elas atravessavam o centro do prédio em perfeita
imitação de um pássaro. A estrada girou, circulando o prédio,
e eu vi toda a estrutura.
Um cisne.
O edifício foi construído na forma de um cisne gigante,

com a cauda no chão, o peito preso no gelo do lago, enquanto
o pescoço orgulhoso se curvava cinco andares acima da água.
O sol banhava-o e brilhava um pouco, como se todo o palácio
tivesse sido minuciosamente esculpido por um gênio escultor
a partir de um enorme bloco de cerâmica brilhante. Cada asa
destacava-se, distinta, suas penas e haste claramente visíveis.

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Livro 7
O cisne parecia pronto para sair e nadar no lago. Se tivesse

sido em tamanho natural, eu pensaria que era real. A beleza
disso me tirou o fôlego.
Como o homem que construiu Mishmar poderia construir isso?
— Por que um cisne? —Perguntou Curran.
713
— Ele gosta de cisnes, —disse Landon, parando o carro.
— Nós saímos daqui.
Ele saiu do carro. Curran e eu o seguimos em direção a

três pontes ornamentadas, uma após a outra. Atravessamos
duas por cima do fosso espiralado. Neve rangia sob meus pés.
Eu estava andando no coração do poder do meu pai,

enquanto a magia estava em alta. Não era assim que imaginei
confrontando-o. Mas pelo menos Curran estava comigo. Então
poderíamos morrer heroicamente juntos. Certo, esse não era o melhor
pensamento para ter agora.
Não importava. Eu caminharia até lá e voltaria com

Christopher e Robert. Ou, no mínimo, veria o sangue de
Roland na minha nova espada antes que ele me esmagasse.
Talvez eu devesse parar de pensar completamente.
As pontes terminaram. Eu não estava pronta.

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Livro 7
Curran fez uma pausa e examinou o cisne. — Que diabos

...
— Basta continuar andando, —eu disse a ele.
Uma porta larga e arqueada esperava por mim no lado do

cisne, bem onde as asas estavam debaixo do corpo. Uma
714
escada de degraus de mármore branco levava à porta.
Ele matou minha mãe. Ele ia reivindicar a cidade que eu

chamava de lar. Ele parou uma horda de vampiros mortos-
vivos em Mishmar.
Isso estava acontecendo.
Cada nervo do meu corpo ficou tenso. Minha respiração

se aprofundou. Meus músculos ficaram soltos e flexíveis,
como se eu tivesse passado meia hora me aquecendo antes de
uma grande luta. Parecia que meu sangue estava fervendo. Ao
meu lado, Curran revirou a cabeça, esticando o pescoço e
afrouxando os ombros.
As escadas terminaram. A porta arqueada se abriu. Eu

andei pelas portas abertas do palácio do meu pai.

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Livro 7
715
monocromático e frio. Não
poderia estar mais errada. Azulejos aquecidos, cor de areia,
cobriam o chão. Um jardim interno, exuberante com plantas
verdes, espalhadas em ambos os meus lados em canteiros
curvos, cercados por um lago suavemente sinuoso, onde
carpas158 gordas e preguiçosas flutuavam sob os lírios. O ar
cheirava a lótus e rosas. Pequenos insetos, azuis, verdes e
vermelho-rubi, flutuavam entre as flores, como uma dispersão
de um punhado de joias sem peso lançadas descuidadamente
no ar.
No centro do jardim, um mecanismo redondo de

engrenagens douradas e prateadas girava, equilibrado em um
pico fino. Anéis de arame fino enrolados em volta do conjunto
158
Carpas. Peixes muito usados em ornamentações.

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de engrenagens. Os anéis giravam e giravam, hipnóticos em

sua beleza. Magia emanava em torno dele. Isso era algum tipo
de modelo atômico?
Eu fiz minha boca se mover. — O que isso faz?
— Não sei, —disse Landon. — Ele construiu uma tarde
716
por capricho.
Uma porta gigante esperava do outro lado da sala.
Concentrei meus sentidos na minha magia. Vampiros.
Minhas mãos estavam tremendo. De jeito nenhum. Eu tive

vinte e sete anos para me preparar. Não me perderia agora.
Inalei o ar, deixando sair lentamente. Minhas mãos se
firmaram. Meu pulso diminuiu.
— Você não pode ir mais longe do que essa porta, —disse

Landon a Curran.
— Tudo bem, —disse ele. — Vou esperar na porta.
Passamos entre as flores, circulamos o mecanismo e

paramos diante da porta. Eu toquei e ela se abriu. Uma longa
sala se estendia diante de mim, suas paredes de mármore
branco subindo até o alto. Pisei em uma passarela elevada.
Com seis metros de largura, abrangia toda a extensão da sala,

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correndo da porta, de onde eu estava, até a parede oposta.

Uma trincheira fazia fronteira com os dois lados da passagem,
cheia de vampiros. Passando pelas trincheiras, nas laterais,
homens e mulheres esperavam, em pé em silêncio. O Tribunal
do meu pai.
717
A passarela terminava em um palco elevado. No centro
dele, em um trono formado pelos corpos de serpentes
esculpidas em pedra branca brilhante, estava meu pai. Ele
usava branco.
Eu olhei para o rosto dele.
Ele olhou de volta para mim.
No instante em que vi seus olhos, soube por que minha

mãe o amava. Sua pele era de um profundo bronze, saturado
com o calor do sol. Seu nariz era reto com uma ponta
inclinada, as maçãs do rosto esculpidas com atenção
cuidadosa, a linha do maxilar forte e masculina. Um pedaço
de pano branco jogado sobre a cabeça cobria a maior parte do
cabelo. Uma barba curta com um toque grisalho traçava sua
mandíbula, mas as sobrancelhas acima dela eram negras, e
seus olhos eram jovens e cheios de vida. Ele poderia ter sido
árabe ou judeu, hindu ou hispânico.

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Livro 7
Se ele parecesse vinte anos mais novo, poderia silenciar

uma sala cheia de mulheres simplesmente entrando nela. Mas
preferiu parecer mais velho. Quando os órfãos sonhavam em
ser adotados, esse era o tipo de pai que eles imaginavam.
Seus olhos irradiavam sabedoria e gentileza, inteligência e
718
tranquilidade, resultados da idade e confiança em seu próprio
poder. Ele poderia ter sido um antigo rei, um grande profeta
ou um professor reverenciado. Mas ele matou minha mãe. E
eu o odiava. No entanto, quando olhou para mim agora, eu
queria voar. Era como estar à luz do sol da manhã. Quando o
poder daqueles olhos brilhou para minha mãe, ela não teve
chance.
A pequena esperança que eu tinha evaporou. Ele

realmente quis me matar no útero da minha mãe, porque nada
menos do que isso teria arrancado minha mãe do seu lado.
Ao meu lado, Curran parou, pronto, como um leão antes

de um ataque. Seu rosto congelado. Músculos saltaram sobre
as pernas, esticando os jeans. Seus olhos se tornaram
completamente dourados. Ele perdeu toda a expressão e
deslizou para a calma perfeita de um predador focado em sua
presa. Ele estava tratando meu pai com um olhar alfa.

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Por alguma razão idiota, uma risada nervosa borbulhava

dentro de mim. Meu pai e Curran estavam se encarando.
Talvez se eu assobiasse e esperasse o tempo suficiente, uma
bola de mato seco rolaria na minha frente159.
As serpentes de pedra deslizaram uma contra a outra. Suas
719
cabeças subiram acima dos ombros do meu pai e elas me
olharam com olhos vermelhos. Ali estava ele dentro de um
palácio de cisne, uma maravilha de beleza delicada, sentado
em um trono de enormes cobras de pedra. Meu pai sabia que
ele era um bastardo. Ele era a serpente venenosa em uma cama
de rosas. Aparentemente, não apenas reconhecia esse fato,
mas também fazia questão de demonstrar. Tudo o que faltou
na cena era um letreiro em néon dizendo: ‘SOU MAL, MAS UM
POUCO CONFUSO SOBRE ISSO’, com uma seta apontando para a
cabeça.
Hugh d'Ambray estava à direita do trono e alguns degraus

abaixo. Seu rosto parecia que ele fazia um grande esforço para
159
Kate faz uma referência aos antigos filmes de Velho Oeste. Onde um dos temas
musicais mais conhecidos é ‘The good, the Bad and the Ugly’: https://www.youtube.com/watch?v=h1PfrmCGFnk .
Nesse estilo de filme era comum os duelos e muito comum também aparecer rolando nas cenas o que os americanos chamam
de ‘tumbleweed’, que são bolas secas de vegetação nativa.

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se controlar e não sair por aí massacrando tudo o que via. Seu

olhar se fixou em algo sobre o meu ombro direito. Landon. Um
músculo tencionou no rosto de Hugh. Ah não, parece que alguém
não gostou de ser passado para trás.
Nossos olhares se encontraram. Eu pisquei para ele. Sua
720
vez de estar na jaula. Não tem barras, mas ainda é uma jaula.
Do outro lado do trono, em um pequeno banco, Robert e

Christopher estavam em poses idênticas, com as espinhas
rígidas, os joelhos juntos. Eles me encaravam com olhos
vidrados. Provavelmente nem me viam.
— É Stasis160, —Landon sussurrou atrás de mim. — Irão

voltar ao normal com a distância daqui e o tempo.
Os vampiros e a corte de Roland me encaravam.
— Você pode fazer isso, querida, —disse Curran em voz

baixa, com o olhar fixo em Roland. — Entre, pegue-os, mate
qualquer coisa que atrapalhe. Você está saindo viva. Prometo
isso a você.
Levantei minha cabeça. Minha voz soou através da sala,

muito alta. — Eu vim pelo o meu povo.
160
Grego: estase, paralisia. Incapacidade de agir; estado de impotência.

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Livro 7
Roland inclinou-se ligeiramente para a frente e as cobras

deslizaram, ajustando-se à mudança de postura.
Sua voz ressoou pela sala, profunda e saturada de poder.

— Se eles são seus, venha e os reivindique.
Certo. Eu posso providenciar isso.
721
Comecei a descer a passarela. Dois vampiros saltaram das
trincheiras na minha frente, presas à mostra. Ah olhe, é uma festa
e todo mundo está convidado. Bom. Eu gosto de festas.
Desembainhei Sarrat. A lâmina cantou enquanto cortava

o ar. Deslizou através da carne do vampiro como uma faca
através de uma maçã crocante. A primeira cabeça vampírica
rolou do coto do pescoço. Enterrei minha espada dentro do
coração do segundo vampiro, rasguei com a minha espada e
puxei Sarrat.
Quatro vampiros saltaram para a passarela. Este era um

teste. Ele queria uma demonstração do meu poder. Eu não
tinha escolha sobre isso.
Os vampiros atacaram.
Quatro era demais.

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Livro 7
Abri meu escudo mágico e agarrei as quatro mentes dos

mortos-vivos. As mentes de seus navegadores tentaram me
tomar o controle, mas eu os neutralizei. O esforço doeu, mas
era a maneira mais eficiente. Agarrei as quatro mentes dos
mortos-vivos e apertei. Quatro crânios explodiram,
722
derramando a névoa vermelha do sangue no chão claro.
Alguém ofegou. Continuei andando e esmagando as mentes
dos vampiros na minha frente como cascas de amendoim
esmagadas pela minha bota. Minha magia se agitou e ferveu
em volta de mim, se ela tivesse voz, estaria rugindo.
Os sanguessugas saltaram para mim das trincheiras e

caíram para trás, quebrados e torcidos. As trincheiras corriam
com vermelho. O fedor de sangue morto-vivo saturou o ar.
Senti os navegadores soltando suas mentes, desligando-se dos
vampiros meio segundo antes deles explodirem.
O último vampiro caiu no chão. Eu pisei e continuei

andando.
Uma mulher saltou para o caminho das trincheiras. Ela

tinha um rosto forte, áspero, cabelos escuros e usava uma

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armadura de couro marrom escuro com uma adaga161 na

cintura e uma katana162 nas mãos. Hibla.
Em minha mente, lembrei da Tia B rosnando de dor e a

espada de Hibla cortando seu pescoço.
Ei, Tia B, veja o que eu encontrei. Eu sorri. Não pude me
723
controlar. Não havia nada me impedindo e havia tantas coisas
que precisávamos discutir. Eu tinha uma promessa para pagar,
se sobrevivesse, contaria tudo sobre a lápide da Tia B. Inferno,
se eu puder, vou levar a cabeça de Hibla para ela.
Hibla mostrou os dentes. Ela era uma espécie de

metamorfo. Alegou ser um chacal, mas nada que saísse de sua
boca poderia ser dado como verdade. Força aprimorada,
velocidade sobrenatural e julgar pelo modo como segurava sua
espada, uma grande dose de treinamento.
161
Adaga
162
Katana.

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Livro 7
Na minha lista de pessoas para matar, Hugh ocupava o

segundo lugar e Hibla ocupava o terceiro lugar. Meu pai não
estava disposto a jogar fora Hugh, mas Hibla era dispensável.
Ele queria uma demonstração do que eu poderia fazer com a
espada, e deveria saber que eu não poderia resistir a essa
724
tentação. Muito bem. Já que estou sendo obrigada ...
Hibla levantou sua katana.
Eu desviei. Ela atacou de cima e eu segurei sua espada

com Sarrat. Hibla empurrou, tentando baixar minha espada.
Força de Metamorfo. Que divertido. Hibla pressionou mais forte
sua Katana em Sarrat. Abaixei minha guarda, ela empurrou
sua espada para cortar meu pescoço, e eu cortei seu peito.
Minha lâmina saiu sangrenta. O sangue encharcou o opaco
osso metálico da espada. Fios de fumaça subiam de Sarrat,
alimentados pela minha raiva. Minha espada estava furiosa e
faminta.
Hibla tropeçou para trás, os olhos arregalados. Dói, não é?
Ela pulou para mim, sua lâmina rápida como uma cobra
impressionante. Eu bloqueei, deixando sua espada deslizar
para fora do meu bloqueio. Ela me empurrou de volta pela
passarela, golpeando cada vez mais forte. Por Hibla ser uma

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Livro 7
metamorfo, provavelmente eu me cansaria antes dela, mas ela

não tinha ideia de quanta raiva eu estava carregando por
dentro.
Golpe, golpe, golpe. Ela tentou me derrubar com um golpe

de seu pé. Segurei meu equilíbrio, joguei sua lâmina de lado e
725
esmaguei o calcanhar da palma da minha mão esquerda em
seu nariz. Cartilagem triturada. O sangue jorrou sobre seus
lábios.
Ela fechou o punho em minha direção. Não havia tempo

para me esquivar. Eu me virei, abaixei e o soco golpeou meu
ombro. Meu braço esquerdo ficou dormente. Chutei o joelho
dela. Ele quebrou. Girei e chutei na sua cabeça. O chute a
derrubou. Ela rolou para trás, balançou a cabeça, deu um pulo
em minha direção e eu enfiei Sarrat entre as seis e a sétima
costelas. A ponta da minha espada arranhou o coração de
Hibla. Ainda não. Não, ainda não. Puxei a lâmina de volta.
Ela chutou em direção ao meu estômago. Eu vi o golpe

chegando e me preparei, o pé dela bateu contra o músculo
endurecido. O golpe me jogou para trás. Parecia que alguém
tinha furado meu intestino com um ferro quente.

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Livro 7
Grunhi e me endireitei, e Hibla levantou sua espada. Ela

era boa e rápida. Mas eu era melhor.
— Vou te matar e levar a sua cabeça para Hugh, —Hibla

aterrou.
Não em seus sonhos. — Você é boa, mas não esta no meu
726
nível. Se você treinou toda a sua vida, ainda não seria boa o
suficiente, porque eu realmente quero matá-la. Você matou a
Tia B. Ela era minha amiga.
Hibla atacou. Eu bloqueei e cortei seu peito da esquerda

para a direita. Ela se virou, empurrando e eu cortei seu braço,
fatiando o músculo e o tendão. Hibla gritou.
— Você não teve a decência de desafiá-la ou de lhe dar

uma morte rápida.
Eu inverti a lâmina e a apunhalei no estômago. Hibla

borbulhou sangue.
— Ela morreu em agonia. Ela era importante para mim.
Sua armadura de couro estava no meu caminho, então eu

cortei um pedaço dele e o joguei de lado.
— Isso não será rápido. Será doloroso para você. Mas se

me pedir por misericórdia agora, terminarei rápido.

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Livro 7
— Eu vou arrancar seu coração e comê-lo enquanto você

morre. —Ela me apunhalou. Sua espada roçou meu lado.
— Que meigo. —Eu a empurrei de volta pela passarela,

cortando pedaços sangrentos dela. — Quero que você me
entenda.
727
Cortei novamente. Ela se moveu para bloquear, mas
errou, e eu deslizei a lâmina da minha espada contra sua parte
interna da coxa, cortando sua veia femoral163.
Sua espada roçou meu lado e eu soquei o seu rosto com o

cabo de Sarrat, arrancando seu olho esquerdo. O globo ocular
estourou e o branco do olho de Hibla escorregou em sua
bochecha. Ela tropeçou e eu tirei a adaga da bainha do seu
cinto. Oh olha, eu tenho duas lâminas agora. Vou te machucar
melhor ainda.
— Isso não é vingança.
163
Veia femoral na parte interna da coxa. No desenho representado pelo vaso mais largo azul
claro.

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Livro 7
Ela estremeceu e soltou sua espada. Músculos incharam

pelo seu corpo. Ela estava tentando mudar. Eu me lancei para
a frente e cortei seu tórax, uma, duas, três vezes. Sua carne
fumegou. A metade superior de Hibla se inclinou.
— Isso é punição.
728
Disseram a mim que não se poderia sangrar um
metamorfo até a morte. Não me disseram nada sobre cortá-la
até a morte.
Ela pulou em minha direção, uma enorme

monstruosidade com suas garras para fora. Abaixei-me entre
elas e enfiei Sarrat pela parte inferior do queixo até o focinho
deformado. Garras me rasgaram, mas eu não me importei.
Mergulhei a adaga de Hibla em seu baixo-ventre, puxando-a
de sua carne logo depois e me distanciei. Ela rugiu, mostrando
os dentes. Balancei minha espada e a afundei em um ritmo
suave e fácil. O mundo se estreitou para a minha espada e meu
alvo na frente dele. Um corte. A mão de Hibla caiu. Outro corte.
Outro pedaço de carne. Ela recuou e eu a segui, implacável,
precisa, pagando a minha promessa que fiz a Tia B, que nunca
mais veria seus netos, por Andrea e Raphael, que tiveram que

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Livro 7
vê-la morrer, pelo bebê de Andrea, que nunca conheceria sua

avó. Pelos meus pesadelos fodidos ...
Um corte. Outro corte. Mais um corte.
Querem ver o quão cruel eu posso ser? Vou mostrar.
O resto que sobrou de Hibla caiu diante de mim. Ela
729
estava acabada.
Um homem saltou para a passarela, alto e magro, a magia

fluindo dele. Eu já havia sentido aquela mesma magia, foi
antes de ver três correntes de prata saírem dele e prenderem
Tia B no chão. Arrastei o punhal de Hibla contra o meu lado
sangrando, cobri o punhal com o meu sangue e o atirei no
mago. O punhal cravou em sua garganta. Concentrei na magia
do meu sangue e a lâmina explodiu em uma dúzia de pontas
afiadas, perfurando a garganta do mago por dentro. Seus olhos
reviraram em seu crânio. Ele caiu.
Olhei de volta para o pedaço sangrento de carne que

costumava ser Hibla. Não conseguiria machucá-la mais do que
já estava. Balancei minha espada, desci no seu pescoço e
observei sua cabeça cair de seus ombros. Eu deveria ter
deixado ela sofrer mais, mas tinha coisas para fazer.

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Livro 7
Podia sentir Curran me observando da porta. Não estava

sozinha. Ele estava lá comigo, como uma pedra na qual eu
poderia me apoiar. Eu me apoiei naquele olhar e olhei para
cima.
O trono estava quase na minha frente. Limpei Sarrat no
730
meu jeans e dei um passo a mais. Uma parede de vermelho
pulsou na minha frente. Uma Proteção de sangue. Meu pai selou
o acesso ao trono com o sangue dele. Se eu quebrasse, ninguém
nesta sala teria qualquer dúvida de que eu era sua filha.
O olhar do meu pai se fixou em mim.
Era tarde demais para voltar atrás. Eu tinha uma espada e

ele estava a poucos metros de distância. Toda a minha vida foi
traçada para esse momento. Eu poderia fazer isso. Eu era a
filha de Ninrode164, o Grande Caçador, o Construtor de Torres,
Herói de Seu Povo e Flagelo de Seus Inimigos. O reino de meu
pai e aqueles semelhantes trouxeram o cataclismo que
expurgou a magia do mundo.
164
Nimrod é um personagem bíblico descrito como o primeiro poderoso na terra. Filho
de Cuxe, que era filho de Cam, que era filho de Noé.

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Livro 7
Eu enfiei minha mão sangrenta na Proteção, uma parede

vermelha translúcida, que estremeceu convulsionando como
uma coisa viva. As pessoas atrás de mim gritaram. A parede
se quebrou e se estilhaçou em pedaços. Os pedaços da
Proteção caíram, derretendo no ar.
731
Não doeu. Não doeu nada.
Magia me atingiu vindo do meu pai. Subiu atrás dele

como asas, como um furacão que se desfazia em nuvens que
poderiam se condensar em uma tempestade devastadora a
qualquer segundo. A Proteção de sangue a tinha contido, mas
agora, com a Proteção quebrada, eu sentia cada gota do poder
de Ninrode. Esqueci de respirar.
Minha avó não estava completamente morta, mas ela não

estava viva, não no verdadeiro sentido da palavra. Meu pai
estava vivo. A magia de Semiramis tinha me aterrorizado até
os ossos, mas contra essa tempestade, o poder de minha avó
era uma mera sombra, uma chama de vela ofuscada pelo
brilho de um holofote industrial. Era o tipo de poder que
poderia pegar pedaços de arranha-céus e fundi-los em
Mishmar.

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Livro 7
Se esse poder se voltasse contra mim, me destruiria. Ele

simplesmente me excluiria da existência e eu desapareceria.
Então era isso que Hugh quis dizer quando disse que eu
não poderia ganhar. Eu não tinha chances. Nenhuma chance.
Se eu investisse contra ele agora e tentasse enterrar Sarrat em
732
seu coração, simplesmente eu deixaria de existir, como se
nunca tivesse existido. Senti com total certeza a mesma certeza
que sentiria se estivesse no telhado de um prédio alto e olhasse
para o pavimento duro abaixo. Pular era morrer.
Christopher e Robert morreriam um segundo ou dois

depois de mim, Curran nunca sairia deste lugar e Atlanta
cairia.
Faça! Voron gritou para mim em minha mente. Faça!

Mate-o!
Não senti medo, apenas uma calma absoluta. As coisas se

tornaram muito simples. Se eu tentasse matar meu pai
verdadeiro, todos os outros, especialmente o homem que eu
amava, pagariam o preço. Eu podia sentir o olhar de Curran
em mim. Havia pessoas esperando por mim para protegê-las
de Roland em Atlanta. Não podia jogar minha vida fora. Não
era mais minha.

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Livro 7
Eu parei e me virei. Levou toda a minha vontade.
Meu pai estava olhando para mim e seus olhos me

disseram que ele sabia o que eu estava pensando.
Faça! O fantasma de Voron rugiu. É para isso que você

treinou. É por isso que eu treinei você!
733
Algo vibrou dentro de mim e percebi que era esperança.
Eu queria viver. Queria que Curran sobrevivesse a isso. Pensei
nele. Pensei em Julie. Em Derek e Ascanio. Em Andrea e
Raphael. Em Jim. Eu queria levar Robert de volta para
Thomas. Queria que Christopher sorrisse de novo e me
dissesse que ele estava tentando se lembrar de como voar.
A morte é para sempre. A morte não é nada. Mas salvar

uma vida é tudo. Minha mãe compreendia isso e agora eu
finalmente também.
Voron tinha um propósito para mim, mas era o propósito

dele, não meu. Eu o amava, ainda lamentava sua morte, e
estava grata porque ele me fez o que eu era. Mas acabei
vivendo o propósito de outra pessoa. Eu tinha que viver para
o meu. Eu tinha pessoas para proteger. Curran sacrificou tudo
para me salvar de Mishmar. Agora eu sacrificaria minha
vingança para salvá-lo desse Palácio de Cisne.

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Livro 7
Subi a plataforma e coloquei minhas mãos nos ombros de

Robert e de Christopher. — Eu os reivindico.
Meu pai assentiu devagar. — Leve-os.
Os dois homens se levantaram, os olhos ainda vidrados.

Eu me virei e caminhei de volta ao longo da passarela
734
salpicada de sangue.
Eles me seguiram, dois robôs no piloto automático. Na

entrada, Curran olhou para o meu pai uma última vez.
— Vou ver vocês dois em Atlanta, —disse meu pai.
Curran sorriu, seus olhos pareciam duas luas ardentes. —

Se você quer uma guerra, nós vamos te dar uma.
Passei por Curran e continuei andando, saí da sala, passei

pelo jardim, e direto para o inverno, Christopher e Robert
seguindo-me e Curran guardando nossas costas. Ninguém nos
parou.

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Livro 7
de pedras, Robert e
Christopher me seguindo. Eles ainda usavam as roupas
quentes que trouxeram para me tirar de Mishmar, mas eu
deixei meu casaco no carro de Landon. O frio raspava a carne
dos meus ossos.
735
Conheci meu pai. Eu o conheci e sobrevivi.
Falhei com Voron. Eu deveria ter matado Roland, mas fui

embora e fiz isso deliberadamente. Traí a memória de Voron.
E eu não me importava com isso. Sobrevivi. Nós todos
sobrevivemos.
Eu me sentia livre.
— Nós sobrevivemos, —sussurrei. As palavras tinham um

gosto estranho. — Nós sobrevivemos.
Curran me pegou e me beijou, seus lábios queimando os

meus.
— Eu matei Hibla, —eu disse a ele.
— Eu vi, —disse ele. — Você se sente melhor?
— Sim.
— Nós vamos ter um bom jantar com Martina quando

voltarmos, —disse ele. — Acho que seria uma boa ideia.

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Livro 7
À frente, uma batida constante de cascos anunciava um

cavalo se aproximando. Uma carroça apareceu, puxada por
um cavalo roan165. Naeemah segurava as rédeas. Eu me
apressei.
— Subam! —Ela chamou.
736
Merda. — O que você está fazendo aqui? Não deveria ter
vindo.
— Fui atrás de uma carroça.
Ah não. Virei-me para olhar o palácio e gritei. — Ela não

sabia que não poderia vir com a gente.
O silêncio reinou.
— Ela não sabia. —Gritei de novo.
Sem resposta. De alguma forma, eu não achava que isso

importaria.
— Subam, —Naeemah chamou novamente.
165
Roan é uma cor de pelagem encontrada em muitos animais, incluindo cavalos, gado, antílopes e
cães. É definido geralmente como uma mistura uniforme de pêlos brancos e pigmentados que não "desmamam" ou
desaparecem conforme o animal envelhece.

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Livro 7
— Subam, —eu disse a Christopher e Robert. Os dois

homens não se mexeram.
Curran os pegou e os colocou na carroça, um por um.

Naeemah puxou um cobertor e jogou em mim. — Aqui.
Vamos antes que Roland mude de ideia.
737
Curran subiu ao lado dela. Sentei na carroça com os dois
homens. Eles estavam rígidos como duas estátuas de madeira.
Naeemah virou a carroça e o cavalo desceu a estrada, saindo
de Jester Park.
— Bem, —ela perguntou. — Como foi?
— Eu tive uma chance e não aproveitei.
— Você escolheu viver. Escolha inteligente. Vida sempre

significa alguma coisa. Uma morte é apenas uma morte. Se
você morresse lá, o que sua morte significaria? Nada. Você não
pararia nada. Você não mudaria nada. —Ela soprou os dedos
e acenou para eles na estrada. — Um besouro debaixo de um
sapato. Mas você sobreviveu. E agora eles também vivem.
— Exatamente, —disse Curran.
— Matei Hibla, —eu disse.
— Ela precisava ser morta?

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Livro 7
— Sim.
— Não foi exatamente um assassinato, —disse Curran. —

Vocês lutaram e você a puniu arrancado peça por peça do
corpo dela.
Naeemah olhou para ele. — E você? Rugiu para o bruxo?
738
— Não, —disse Curran. — Vou rugir para ele quando ele
vier para Atlanta.
— Veja, vocês se saíram bem. Você fez o que deveria fazer

e saiu viva. Boa estratégia.
A risada finalmente se soltou e eu ri, engolindo o ar frio.
recuou três horas depois de termos saído

do Palácio do Cisne. Vinte minutos depois, uma figura
solitária pontilhava o campo à nossa frente.
— Maldição! —Xingou Curran.

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Livro 7
O ponto cresceu a um ritmo alarmante até que finalmente

se tornou Thomas, correndo a toda velocidade sobre a neve.
Ele correu até nós, pulou na carroça e abraçou Robert,
beijando-o.
— Vai passar, —eu disse antes que ele pudesse surtar com
739
a Stasis de Robert. — Quanto mais distância entre nós e
Roland, melhor.
Thomas se virou para mim. — Pois faça essa carroça ir

mais rápido, Consorte.
Encontramos o resto do nosso pessoal esperando onde

havíamos deixado. Nós carregamos nossos equipamentos e
fomos em direção a Atlanta. Em algum momento eu entrei na
parte de trás da carroça e adormeci. Sonhei com Natal e
guirlandas. Elas me envolviam em longos fios brilhantes.
Tentava me libertar, enquanto Jim tentava me convencer que
eu era uma linda árvore de Natal e que o Bando apreciaria
meus esforços em agradá-los.
Outra onda mágica chegou perto da manhã. Eu senti o

momento em que saímos do território de Roland. Era como
acertar uma lombada na estrada. Fiquei ali de olhos abertos e
respirei fundo aliviada.

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Livro 7
Ele nos deixou ir.
Nós não terminamos. Roland disse que nos veria em

Atlanta. As coisas só piorariam a partir daqui. Não apenas
isso, mas tanto Naeemah quanto Thomas haviam
desobedecido. Foi uma desobediência parcial, Naeemah tinha
740
saído para providenciar a carroça antes de eu anunciar que eles
tinham que ficar no acampamento, e Thomas correu para nós
depois que saímos do Palácio do Cisne, mas, ainda assim,
havia um preço a ser pago. Eu meio que esperei que os olhos
deles se derretessem de suas órbitas.
— A frente, —disse Curran.
Levantei minha cabeça. Um redemoinho de sombras

apareceu na estrada na minha frente. Fios escuros,
serpenteando em um turbilhão de mais de dois metros de
altura.
— Que diabos agora? —Curran rosnou.
— Não tenho ideia, —eu disse a ele.
O redemoinho se abriu e cuspiu uma pessoa na estrada.

Ele ou ela usava calças e uma túnica de pele de animal com
pedaços de outras peles costuradas em lugares aparentemente

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Livro 7
aleatórios. Pintura clara cobria as mãos e o rosto da pessoa,

com duas linhas verticais vermelhas que se estendiam da linha
do cabelo em ambos os lados do nariz até os lábios. Três linhas
vermelhas se curvavam a partir daquelas duas, traçando as
maçãs do rosto. Um par de chifres de búfalos, pintados com
741
faixas de vermelho e branco, descansava no topo da cabeça da
pessoa, posicionados de modo que as pontas apontassem para
baixo.
A pessoa apontou um cajado em nossa direção. — Filha

de Ninrode!
Um homem.
— Estou de olho em você!
O homem jogou alguma coisa no chão. Fumaça vermelha

explodiu. O vento clareou e o homem desapareceu.
Ninjas Xamã. Perfeito. Agora minha vida estava completa.
— Fui descoberta, —eu disse a ele. — Agora todo

esquisitão com uma queda pelo poder estará vindo investigar.

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Livro 7
— É como se você tivesse ido a sua festa de debutante, —

disse Andrea. — Você foi apresentada à sociedade adulta, o
problema é que agora todo mundo quer matar você.
— Me poupe.
— Kate Daniels, A Debutante. —Andrea sorriu.
742
— Não é engraçado.
— É hilário. —O sorriso deslizou do rosto de Andrea e ela

vomitou na neve.
— Bem feito, —eu disse a ela.
— Filha de Ninrode? —Perguntou Curran em voz baixa.
— Nimr Rad, se você quiser ser mais específico. Aquele

que subjuga leopardos. O Grande Caçador.
— Ninrode, o da Bíblia? —Curran perguntou. — Aquele

que construiu a Torre de Babel?
— É uma alegoria, —eu disse. — Meu pai e seus

contemporâneos construíram uma civilização baseada em
magia. Era grande e poderosa, assim como uma torre alta. Mas
a magia tornou-se muito e o Universo compensou iniciando a
primeira Mudança. A tecnologia começou a inundar o mundo

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Livro 7
em ondas, e sua civilização desmoronou como a torre. A

linguagem das palavras de poder foi perdida.
— Quantos anos tem o seu pai, exatamente?
— Um pouco mais de cinco mil anos de idade.
— Por que ele constrói torres?
743
— Eu não sei. Ele tem uma coisa por elas, eu acho. Acho
que elas podem ajudá-lo com a Reivindicação de um território.
— A Reivindicação?
Expliquei o que as bruxas tinham me dito sobre o

genocídio das tribos nativas, a falta de proteção natural para a
terra, e a visão das Bruxas do Oráculo de Roland reivindicando
Atlanta.
Curran olhou direto para a frente, sua expressão sombria.
— Estamos bem? —Perguntei.
— Sim. Estamos bem, —disse ele. — Eu só preciso de um

tempo para processar.
Uma coisa era saber que você estava dormindo com a filha
de Roland. Outra coisa completamente diferente era ter
encontrado Roland. E ter desafiado ele. — Por que diabos você
o desafiou para uma guerra?

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Livro 7
— Ele precisava saber. Estamos prontos e não vamos

fugir. Tinha que acontecer mais cedo ou mais tarde. Sabíamos
que ele estava vindo e já sabíamos disso por um tempo. Se ele
aparecer, vamos lidar com ele. Nós lidamos com Hugh e Erra,
vamos lidar com ele também.
744
Uma hora depois, Robert começou a chorar. Ele não disse
nada. Não fez barulho. Passou um bom tempo chorando, com
lágrimas rolando pelo rosto. Thomas falava com ele, dizendo
palavras calmas e tranquilas. Por fim, Robert parou e
Christopher começou a chorar.
Meia hora depois, Robert pigarreou. — Tom?
— Sim? —Thomas se inclinou para ele.
— Se Roland tentar me capturar novamente ...
— Ele não vai.
— Se ele tentar, me mate.

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Livro 7
chegamos ao ponto da Linha Ley e aos dois

Jeeps do Bando que eles haviam estacionado ali. Naeemah me
disse que ela não iria mais longe.
— Obrigada, —eu disse a ela.
— Eu vou ver você, —disse ela.
745
Embarcamos nos jipes e os conduzimos para a Linha Ley.
A corrente mágica pegou os veículos e os arrastou para o
sudeste. Percorremos a Linha Ley por horas. Eu dormi. Estava
muito cansada. Às vezes eu acordava e ouvia Jim e Curran
discutindo planos de guerra ou via Christopher dormindo ao
meu lado com um pequeno sorriso no rosto, ou ouvia Andrea
vomitar em um saco de papel. Em algum momento Jim
perguntou a ela como ainda poderia ter dentro dela qualquer
coisa para vomitar e ela ameaçou atirar nele.
Finalmente, a magia apertou as paredes do jipe, nos

compactando dentro dele, como se alguma força invisível de
alguma forma apertasse nossos átomos. A pressão desapareceu
e a Linha Ley nos cuspiu em terra firme. Abri meus olhos. —
Onde estamos?

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Livro 7
— Cumberland166. —Curran estava olhando para algo à

frente.
Extremo noroeste da cidade. Estávamos em casa.
Levantei a cabeça e olhei na direção que Curran estava

olhando. Barabas nos esperava na calçada.
746
— Como ele sabia que estávamos vindo?
— Ele não deveria saber, —disse Curran.
Saímos do carro e Barabas se aproximou. — Estou muito

feliz por vocês estarem vivos!
— Estamos felizes também, —eu disse. — O que você está

fazendo aqui?
— A Nação nos notificou que vocês estariam saindo neste

ponto Ley. Na verdade, eles nos deram a hora exata em que
vocês chegariam, o que é estranho.
Não era estranho em tudo. Aparentemente meu pai nos

tinha vigiado.
166
Cumberland, também conhecida como Cumberland / Galleria, é uma comunidade sem personalidade jurídica e uma
importante cidade de ponta no condado de Cobb, na parte noroeste da área metropolitana de Atlanta, na Geórgia, Estados
Unidos. Está situado a dezesseis quilômetros a noroeste do centro de Atlanta.

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Livro 7
— A Nação quer uma reunião do Conclave hoje à noite, e

eles pediram a presença de vocês dois e do Conselho do Bando.
Disseram que querem enterrar o machado167. Daqui a duas
horas.
— Diga-lhes que não, —disse Curran.
747
— Eu tentei, —disse Barabas. — Eles disseram, cito: 'a
presença de Sharrim é solicitada'. Isso significa alguma coisa
para vocês?
Curran xingou.
— Eu enviei nossos rapazes para verificar o local e

preparar nossa chegada, —disse Barabas. — Eles informaram
que a Nação já está lá. O Conselho do Bando está de
prontidão. Você quer que eu cancele?
— Se não formos, vai piorar as coisas, —eu disse. —

Roland está nos dando o tempo e o lugar. Se nós o ignorarmos,
ele pode nos atingir na Fortaleza, e a perda de vidas será maior.
167
Bury the hatche (enterrar o machado): É uma expressão idiomática, originada de uma antiga tradição dos índios norte-
americanos. Ao afirmar um tratado de paz entre tribos, os chefes destas enterravam os machados de guerra (chamados
de tomahawk; nome inclusive dado a um míssil da marinha Americana). No século 17, a frase bury the hatchet (literalmente,
“enterrar o machado”) passou a ser usada no sentido de “cessar disputas e conflitos e estabelecer uma relação amigável”.

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Livro 7
Curran colocou o braço em volta de mim. — Você é quem

decide.
Eu estava tão pronta agora quanto eu estaria a qualquer

momento. Mais alguns dias ou até mais algumas semanas não
fariam diferença. Teria escolhido um século ou dois se fosse
748
me oferecido, mas não era possível. — Foda-se. Estou cansada
de esperar. Vamos acabar com isso.
Curran olhou para Barabas. — Ligue para o Conselho. O

Bando estará presente no Conclave.
Capítulo 18
de
fora do jipe. Atlanta. Feia e bela, decadente e sobrevivente, vida
e morte ao mesmo tempo. Lar. Para melhor ou pior, era a
nossa casa. O sol estava começando a se pôr e o céu queimava

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Livro 7
com uma explosão de laranja e vermelho. Curran dirigia com

o rosto sombrio.
— Este não é o caminho para Bernard’s.
— O Conclave não será realizado no Bernard’s, —disse

Barabas do banco de trás. — Estamos indo para Lakeside.
749
— O que é Lakeside? —Eu perguntei.
— É um novo local onde costumava ser a North Atlanta

High School168.
— A que foi invadida por javalis com espinhos de aço? —

Lembrei-me disso. Levou dois anos para a cidade retirar todos
os javalis da área.
— Sim. Supostamente, a Lakeside foi construída pela

mesma empresa que fez a Champion Heights.
Champion Heights era o único prédio alto sobrevivente

em Atlanta. — É um edifício?
— Doze andares.
168
A North Atlanta High School é uma escola secundária pública
abrangente de aproximadamente 1.800 estudantes no bairro de Paces, em Atlanta, Geórgia, Estados Unidos. A escola é uma parte
das escolas públicas de Atlanta

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Livro 7
Eu ri. O que mais havia para fazer?
— Perdi alguma coisa? —Barabas perguntou.
— Você deveria me deixar e ir embora, —eu disse a

Curran.
— O que? E perder toda a diversão? Sem chance. Nós
750
vamos derrubá-lo.
Não poderíamos vencê-lo. Eu sabia. Curran sabia disso.

Mas essas palavras só me fizeram o amar ainda mais.
Entramos e seguimos na rodovia Northside Parkway. O chão
se erguia, formando uma colina, e no topo havia uma torre
encaixada sobre um longo e estreito lago. Construído com
rocha amarela e vidro turquesa, de frente o sol poente, o céu
incendiava suas janelas.
Curran estacionou em frente à torre perto de uma fileira

de SUVs pretos que provavelmente pertenciam a Nação. Uma
fileira de Jeeps do Bando estava na extremidade oposta do
estacionamento. A festa já estava pronta. Agora só faltava eu
chegar com o entretenimento.
— Quem está no comando da segurança? —Curran

perguntou.

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Livro 7
— Derek, —respondeu Barabas.
Bem, o lugar estaria seguro. O problema é que Derek

estando aqui provavelmente morreria. Eu precisava tirar ele e
nosso pessoal do prédio.
O segundo jipe estacionou ao nosso lado e Jim, Andrea,
751
Thomas e Robert saíram dele. Quando tentei sugerir que
Robert ficasse na Fortaleza, ambos metamorfos ratos agiram
mortalmente ofendidos. Deixei virem. Eu estava cansada de
tentar convencer as pessoas em desistir desse suicídio em
massa.
Nós andamos através das portas duplas, vigiadas por dois

guardas. O mais alto dos homens à direita veio para frente.
Curran olhou para ele por um segundo e os dois guardas se
viraram e decidiram procurar outro lugar.
Atravessamos o saguão.
— O elevador ainda não funciona, —Barabas me

informou. — Os andares inferiores não estão acabados.
Apenas os três primeiros estão.
— Isso é bom. Nós vamos subir as escadas, —disse

Curran.

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Livro 7
Subimos as escadas. Eu sabia que escadas seria a minha

morte um dia.
Doze andares passaram rápido. Abri a porta e nós

entramos em um corredor largo forrado com tapete verde. Seis
Navegadores estavam à esquerda, seis vampiros sentados a
752
seus pés. Em frente a eles, Derek e cinco de nossos
combatentes estavam à direita. Derek nos viu e se afastou da
parede.
Se eu conhecia alguma coisa sobre Derek, com certeza

esses cinco não era a totalidade das forças do Bando no prédio.
Ele teria combatentes escondidos no telhado, no andar de
baixo, no estacionamento.
— Não há necessidade de que todos morram, —

murmurei.
Curran assentiu para Derek. — Limpe o prédio. Remova

nosso pessoal daqui.
Ele nem piscou. — Sim, senhor.
— Todos, Derek, —acrescentei. — Uma remoção

completa.

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Livro 7
— Sim, Consorte. —Ele se virou para os metamorfos. —

Evacuação completa.
Eles se viraram e foram para as escadas. Ele os seguiu, sua

voz elevada, avisando as pessoas com audição sobrenatural ao
nosso redor. — Evacuação completa. Repito, evacuação
753
completa. Limpem o prédio.
Os Navegadores se entreolharam. Um deles, uma garota

muito jovem, de cabelos ruivos, correu para a porta no final do
corredor. Curran e eu a seguimos devagar. Nós não estávamos
com pressa. Queríamos dar ao nosso pessoal tempo suficiente
para deixar o Lakeside.
O corredor terminou. Curran abriu a porta e entrou na

sala. Com cerca de trinta metros de comprimento e metade
disso em largura, a sala abrigava duas mesas compridas, uma
na parede esquerda e a outra à direita, cada uma coberta com
uma toalha de mesa, o chão entre as duas estava vazio. Os
alfas do Conselho do Bando sentavam-se à direita. A Nação
sentou-se à esquerda. Eu vi rostos familiares, Mahon e Martha,
Raphael, Desandra ... todo mundo estava aqui. Nós nos
sentamos. Alcancei debaixo da mesa e apertei a mão de
Curran. Ele apertou de volta.

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Livro 7
— Estamos prestes a ser atacados, —disse Curran.
— Nós sabemos, —disse Mahon.
Do outro lado da sala, os sete Mestres dos Mortos ficaram

boquiabertos, cada um segurando dois vampiros dispostos em
uma linha precisa contra a parede atrás deles. Seis rostos
754
familiares e um novo, um homem mais velho com cabelos
grisalhos.
A Navegadora ruiva sussurrou para Ghastek. Ele olhou

para nós e acenou para ela. — Eu não me importo com quem
Lennart retirou do prédio.
O homem de cabelos grisalhos se levantou, caminhou e se

ajoelhou no chão em frente a mim. Oops! Parece que me sentei
cedo demais.
— Sharrim.
Eu já tinha ouvido sua voz antes. Enquanto tentávamos

escapar do castelo em chamas de Hugh, antes da morte de Tia
B, Hugh havia enviado vampiros atrás de mim. Abati os
mortos-vivos, destruíndo as mentes dos Navegadores que os
pilotavam, mas deixei um vivo. Quando aquele vampiro falou
comigo, falou na voz desse homem.

Magic Breaks
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Livro 7
A Nação olhava para nós. Rowena estava piscando

rapidamente, atordoada. Ghastek se inclinou para frente,
focado em mim com precisão de laser. Eu me perguntei o que
Landon havia dito a ele. Talvez nada. Isso não seria engraçado?
— Sharrim, —repetiu o homem.
755
Hora do show. Levantei-me e fui até ele. Ele olhou para
mim, suas mãos cruzadas no colo.
— Você é jovem, —disse o Mestre dos Mortos. — Tem o

poder, mas falta domínio. Pense em todas as coisas que ele
poderia te ensinar. Pense nos segredos que se abririam para
você.
Senti um poder se reunindo além das paredes de Lakeside,

como uma tempestade distante relampejando no horizonte. As
janelas não me permitiam ver o céu, mas aposto que o céu se
agitava com nuvens de tempestade. Meu pai estava chegando
e sei que ele iria reivindicar Atlanta agora.
— Pense no que você poderia se tornar.
Eu estava pensando nisso. Não fiz nada além de pensar

sobre isso o tempo todo que levei para ir de Jester Park a
Atlanta.

Magic Breaks
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Livro 7
A tempestade arcana se aproximava, terrível, girando com

correntes de energia.
Havia vinte e dois vampiros nas imediações. Seis no

corredor, doze na sala e quatro na sala adjacente.
Teria que ser o suficiente. Havia um poder que eu não
756
demonstrei ao meu pai. Estava na hora de mostrar a ele.
— Não há necessidade de lutar uma batalha que não pode

ser vencida.
A tempestade inchou do lado de fora do prédio, prestes a

quebrar em nós.
— Pense em quem você é.
O furacão de magia explodiu. Um relâmpago brilhou do

lado de fora das janelas estreitas e bateu na parede à minha
frente. A parede rachou. Eu agarrei os vampiros e os puxei
para mim. As mentes dos Navegadores lutaram e resistiram
como cavalos selvagens. Rowena gritou. Os Mestres dos
Mortos recuaram, lutando para manter o controle.
Eu abri minha boca. — Hesaad. —Meu.
A palavra de poder rasgou de mim, rachando como um

chicote. A resistência dos Navegadores desapareceu. O Mestre

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Livro 7
dos Mortos na minha frente levantou-se e pressionou-se contra

a parede esquerda. Os vampiros voaram para mim.
A parede na minha frente explodiu. Pedaços de pedra

voaram em minha direção, quebraram em pedaços menores,
pairaram no ar por um longo momento e caíram no chão. O
757
céu estava negro e cinzento com a fúria de uma tempestade, e
abaixo das nuvens, o pôr-do-sol sangrava no céu. O vento
gelado me banhou, puxando meu cabelo.
A manada de vampiros me circulou, formando um

turbilhão de mortos-vivos ao redor dos meus pés.
A luz dourada irrompeu no espaço onde a parede havia

estado. Fios de fumaça clara se erguiam. Uma parede de luz
brilhava de amarelo e branco, como se alguém tivesse
arrancado um pedaço da coroa do sol e o jogado na beira do
lago. O rosto do meu pai se projetou nela, enorme, os olhos
brilhando de poder.
Sua voz sacudiu a torre. — FILHA.
Eu olhei para o poder rugindo no meu rosto. — Pai.
— Pai? —Alguém engasgou a esquerda. Acho que Ghastek

pode ter tido um ataque cardíaco agora.

Magic Breaks
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Livro 7
O poder reverberou pela beira do lago, sacudindo as

paredes. — VENHA ATÉ MIM. FIQUE AO MEU LADO.
A luz e a chama surgiram e eu me vi usando uma

armadura vermelha. Uma coroa de ouro descansava na minha
cabeça. Eu parecia minha avó.
758
Empurrei o meu poder e as cabeças dos vampiros ao meu
redor explodiram. Sangue morto-vivo inundou o chão.
Levantei meu braço esquerdo e o cortei com Sarrat. Meu
sangue escorreu, misturando-se com o líquido rubi escuro aos
meus pés. Minha magia disparou através do sangue dos
mortos-vivos como fogo abaixo de um cabo de detonação. O
sangue dos mortos-vivos correu para mim, flexível e obediente.
Curvou-se em volta dos meus pés, cobrindo minhas roupas,
deslizando por meus braços e escorreu por Sarrat, alargando a
lâmina enquanto cobria a espada de vermelho.
— TOME O SEU LUGAR.
— Não.
A armadura de sangue subiu, embainhando meu corpo. A

imagem de mim usando uma coroa estourou e se despedaçou.

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Livro 7
Levantei minha cabeça. — Esta é a minha cidade. Vá

embora.
O fogo intenso na minha frente aumentou. Uma lança

disparou, colossal, forjada de luz dourada e poder, mirando
em mim. A Reivindicação.
759
Eu me lancei, balançando minha nova espada de sangue.
Sarrat conectou com a lança.
Magia se revoltou, explodindo e gritando ao meu redor. O

impacto quase me tirou do chão. Era como jogar cabo de
guerra com um tornado. A lâmina tremeu e estremeceu em
minhas mãos.
A lança de poder empurrou. A enormidade da magia do

meu pai me pressionou, esmagando-me, moendo meus ossos
em pó. A dor começou pelas pontas dos meus dedos e desceu
sobre mim. Eu queimava. Do topo da minha cabeça até as
solas dos meus pés, eu queimava. Meus olhos não podiam ver
nenhum dano, mas meus sentidos gritavam que minha pele
estava borbulhando do calor.
Se eu desistisse agora, Roland reivindicaria Atlanta. Eu

não poderia deixar isso acontecer. Ele não tomaria esta cidade.

Magic Breaks
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Livro 7
Pessoas que eu conhecia, pessoas que eu amava, não se

curvariam e não se ajoelhariam diante dele enquanto eu
estivesse em pé.
— Amehe, —eu sussurrei para a minha lâmina. — Amehe.

Amehe. —Obedeça. Obedeça. Obedeça.
760
Meus ossos gritaram. Na minha cabeça vi meus músculos
começarem a se desfiar, fibra por fibra, nervos desgastados
tremendo no vento furioso. Mas eu não me mexeria.
Eu não me mexeria.
— Esta é a minha cidade. Este é o meu povo.
Provei a mordida afiada da minha magia nos meus lábios.

Meu nariz estava sangrando. Pequenas gotas vermelhas
subiram das minhas bochechas e flutuaram para se juntar ao
revestimento de sangue de Sarrat. Meus olhos estavam
sangrando também.
Meus braços tremiam. Meus pés deslizaram para trás meio

centímetros. Outro meio centímetro.
Um braço musculoso apareceu em volta do meu

estômago. Outro fechou no meu peito. Um rugido de leão
ensurdecedor, orgulhoso e furioso, trovejou sobre meus

Magic Breaks
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Livro 7
ombros. Curran me abraçou. Sua magia misturada com a

minha.
Meus pés pararam de se mexer.
Meu pai empurrou e nós empurramos de volta.
Fendas finas e dolorosamente brilhantes apareceram na
761
lança onde ela encontrou minha lâmina.
A tensão estava rasgando meu corpo. Coloquei ainda mais

da minha magia na força do meu ataque. Pensei que tinha
dado tudo o que podia, mas continuava vindo cada vez mais,
vindo de dentro de mim.
As rachaduras na lança se alargaram.
Só um pouco mais ...
A lança quebrou.
Tentei recuar, mas não consegui. A magia continuou a sair

de mim, tão incontrolável quanto uma inundação, mais, mais,
mais ... eu me esforcei para contê-la, mas ela se recusava a
parar. Ela me arrancou dos braços de Curran e me elevou no
ar. Minha armadura de sangue se transformou em poeira.
Palavras apareceram em minhas mãos e braços, palavras

Magic Breaks
Ilona Andrews
Livro 7
estranhas escritas em tinta escura. O ar ao meu redor ficou

vermelho. O teto acima de mim explodiu.
Meu corpo se curvou para trás, meus braços se abriram,

minhas costas arquearam. O prédio balançou, tremendo.
Abaixo de mim, as pessoas se agachavam, se escondendo nos
762
cantos das paredes, tentando se proteger do meu poder.
A magia dentro de mim entrou em erupção. Minha voz

rolou como o som de um enorme sino.
— HESAAD. —MEU.
Um pulso de puro vermelho saiu de dentro de mim,

espalhando-se em forma de um anel sobre Atlanta. A onda de
choque rolou como um som de um trovão. Senti-o deslizar
pela cidade todo o caminho além dos arredores, passando pela
Fortaleza até que finalmente se dissipou. A magia encharcou
o chão que respondeu, enviando uma onda de magia de volta
para mim.
Ah não.
Eu reivindiquei a cidade. Marquei Atlanta como meu

território.
Meu pai sorriu e desapareceu.

Magic Breaks
Ilona Andrews
Livro 7
Mergulhei e aterrissei no chão duro na frente de Curran,

ainda em sua forma de guerreiro. Nós dois nos entreolhamos.
Pedaços de algo que provavelmente costumava ser o teto
choveram ao nosso redor.
Curran abriu suas mandíbulas monstruosas. Eu me
763
preparei para ouvir o que não queria ...
— Exibida.
Fiquei lá, olhando para ele. Meu cérebro não conseguiu

assimilar a palavra.
Ele sorriu para mim. — Vem cá, bebê. Estamos indo

para casa.
inferior de Lakeside e depois

para o Jeep do Bando foi muito mais difícil do que eu esperava.
Alguém já havia começado a cantar sobre o motor de água
encantado para nós. Entrei no lado do passageiro.

Magic Breaks
Ilona Andrews
Livro 7
Estava muito entorpecida. Continuei assim no piloto

automático. Deveria sentir algo. Alívio, medo, algum tipo de
emoção humana, mas não havia nada lá. Apenas um frio
desapego.
Curran puxou um conjunto extra de moletons da parte de
764
trás do Jeep Wrangler169, mudou para a forma humana,
colocou-os e deslizou para o banco do motorista. Ele tirou o
jipe do estacionamento e o conduziu para a rua. Uma caravana
de Jeeps do Bando se juntou a nós.
As nuvens de tempestade haviam se dissipado há muito

tempo. O pôr-do-sol tinha acabado, deixando uma mera
mancha vermelha no céu, uma lembrança distante de sua
morte. O céu acima de nós ficou roxo.
Minha boca finalmente se moveu. — Não.
— Não me leve de volta para a Fortaleza. Eles irão querer

uma explicação. Eu não posso fazer isso agora.
169
Jeep Wrangler

Magic Breaks
Ilona Andrews
Livro 7
Curran fez uma curva acentuada para a direita, para

dentro de um terreno coberto de neve entre um prédio de
escritórios e uma ruína. O carro guinchou até parar.
Atrás de nós a caravana de veículos parou. A porta do

primeiro veículo se abriu e Jim veio até o nosso carro. Curran
765
abaixou a janela, deixando o barulho ensurdecedor do motor
de água encantada entrar no veículo.
— Qual é o problema? —Jim gritou sobre o barulho do

motor.
— Não há problema, —Curran gritou de volta. — Vá em

frente sem nós.
— O que?
— Vá em frente sem nós!
— Por quê?
— Porque eu quero passar algum tempo com minha

companheira em paz! —Gritou Curran.
Jim assentiu, deu-nos um sinal de positivo e voltou para o

jipe.
Curran levantou a janela. — É como viver em um maldito

aquário.

Magic Breaks
Ilona Andrews
Livro 7
Os veículos do Bando passaram por nós. Curran virou o

jipe e dirigiu na direção oposta, a sudoeste.
— Onde estamos indo?
— Você verá.
A cidade passava pela janela, as silhuetas escuras de
766
prédios, alguns desmoronando, alguns resistentes e novos,
destacados pelo brilho azul das lanternas a gás. Era minha
cidade agora. Verdadeiramente minha. Eu a reivindiquei e
agora era responsável por ela.
— Reivindiquei a cidade, —eu disse a Curran.
— Você gostaria que eu montasse para você um escritório?
O que? Olhei para ele.
— Você poderia ter uma pequena placa com o seu nome

na porta dele: Kate Daniels, Proprietária da Cidade.
— Não é engraçado.
— Podemos conseguir aqueles organizadores de limites

usadas nas filas de banco com postes e cordas de veludo170 e um
170
Pedestais organizadores de fila.

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Ilona Andrews
Livro 7
pequeno travesseiro na frente, para que as pessoas possam

formar uma linha e ajoelhar-se diante de você em súplica
humilde ...
— Você vai parar?
— Podemos colocar Derek vestido em um daqueles ternos
767
escuros e óculos de aviador171. Ele pode fazer cara ameaçadora
e distribuir senhas: Você é o sétimo na fila para se curvar diante
de Kate Daniels.
— Eu vou te dar um soco no braço, —rosnei.
— Podemos conseguir um trono de cobras. Eu vou ficar

ao seu lado e rugir para qualquer um que não se humilhe.
Temam Kate Daniels. Ela é uma governante poderosa e terrível.
Grendel pode ungir os suplicantes com o seu vômito. Vai ser
ótimo ...
Oh Deus. Coloquei minhas mãos no meu rosto.
— Vamos, bebê, —disse ele. — Estou apenas tentando

animá-la.
171
Óculos estilo aviador

Magic Breaks
Ilona Andrews
Livro 7
— Eu reivindiquei o território que meu pai queria. Ele vai

perder a merda completamente agora. Não só isso, mas todo
idiota ambicioso com uma gota de poder mágico saberá que
esta área é reivindicada e procurará por quem a reivindicou.
Sem mencionar que, no momento, as Bruxa do Oráculo, os
768
neo-pagãos e a Nação estão tendo uma crise de apoplexia172. Eu
deveria impedir a Reivindicação, não tomar a cidade. O
Conselho do Bando terá gatinhos173.
— As Bruxas do Oráculo e os neo-pagãos podem ir se

danar, —disse Curran. — Eles vão superar isso. Se alguém vier
te desafiar, nós vamos chutar a bunda deles. Nós vamos
encontrar uma maneira de lidar com Roland. E se o Conselho
do Bando tiver gatinhos, nós os daremos para Jim criá-los. Ele
precisa amadurecer de qualquer maneira.
Olhei para ele.
Curran tirou as mãos do volante e as separou por cerca de

quinze centímetros. — Gatinhos lindos, fofinhos. Sentados no
colo de Jim.
172
Apoplexia ou Acidente Vascular Cerebral é uma afecção cerebral que surge inesperadamente, acompanhada da
privação do uso dos sentidos e/ou da suspensão dos movimentos.
173
Having kittens (Ter gatinhos): expressão que significa: ficar chateado, emocionados exageradamente, estressados.

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Livro 7
Imaginei Jim com sua expressão de Chefe de Segurança

durão rodeado de gatinhos fofinhos. Era demais. A dormência
dentro de mim quebrou, como uma represa. Eu gargalhei alto.
Curran também gargalhou.
— Gatinhos fofinhos, miau-miau, —eu disse. Na minha
769
cabeça vi Jim levantando o dedo e falando com firmeza a um
bando de gatinhos. Oh Deus. — Ele iria transformá-los todos
em gatinhos fodões.
— Ele os levaria para a floresta para caçar veados, —disse

Curran entre as gargalhadas. — Eles ... atacariam.
Eu teria dobrado se o cinto de segurança tivesse me

deixado.
Ainda estávamos rindo como dois idiotas quando Curran

parou o carro em um estacionamento diante de um prédio
escuro. O lugar parecia familiar. Oh. Este era o antigo prédio que
ficava o meu apartamento. Eu tinha herdado um apartamento do
meu tutor, Greg Feldman, e morei nele durante o tempo que
trabalhei para a Ordem. Mas minha tia o destruiu. A última
vez que vi o lugar, estava completamente em ruínas.
— Não há nada lá, —eu disse a ele.

Magic Breaks
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Livro 7
— Vamos ver de qualquer maneira, —disse ele.
Por que não?
Saí do carro. Surpreendentemente minhas pernas me

seguraram. Subimos as escadas juntos. Uma nova porta
impedia o acesso ao meu apartamento. Uma fechadura de
770
combinação mecânica protegia a porta. Uma coluna de
números, de um a cinco, cada um com um botão, esperava
acima da fechadura.
— Quatro, quatro, um, dois, três, —disse Curran.
Pressionei os botões com os números que ele falou. A

fechadura clicou. Eu abri a porta.
Um apartamento limpo e mobiliado olhava para mim. O

chão no corredor era de madeira. Eu podia ver um pouquinho
da cozinha pela porta, iluminado por luzes de lanternas.
Novos armários de carvalho haviam substituído os destroços
quebrados dos antigos. Eu entrei. À esquerda, a sala de estar,
que eu usara como dormitório, estava perfeitamente intacta.
As paredes tinham sido consertadas e pintadas de um azul-
verde calmante. Uma cama enorme com um edredom escuro
e macio estava encostada na parede. Outra lanterna a gás
pairava acima dela. Um tapete bege no chão. Do outro lado da

Magic Breaks
Ilona Andrews
Livro 7
sala, junto à janela, havia um televisor plano na parede, ao

lado de estantes repletas de livros. Cortinas cinzentas
combinando com o edredom emolduravam a janela. Do lado
de fora das janelas de vidro, barras de aço e prata brilhavam
fracamente, reagindo com magia e a luz da lua crescente.
771
Eu me movi pela sala de estar e olhei para a pequena sala
que Greg usara como seu quarto e eu havia transformado em
uma biblioteca. Estantes de livros vazias cobriam as paredes,
esperando que livros fossem colocados nelas.
— Eu sei que não é uma cópia exata, —disse Curran,

girando a válvula do aquecedor. Ele tinha instalado um
aquecedor. Uau. O síndico deve ter finalmente consertado a
maldita caldeira. — Mas pensei que você gostaria de tê-lo de
volta.
Não era uma cópia exata. Parecia um apartamento

novinho em folha e isso era muito melhor. Muitas lembranças
ruins estavam amarradas ao antigo.
Curran atravessou a sala, aproximando-se. Ele se movia

com uma espécie de poder contido e suave. Seus olhos
cinzentos se concentraram em mim. Ele olhou para mim como
se eu não usasse nada.

Magic Breaks
Ilona Andrews
Livro 7
Nós estávamos sozinhos. Em um apartamento. A porta

estava trancada.
Soltei o cinto que mantinha a bainha de Sarrat nas minhas

costas, escorreguei e coloquei na mesinha de cabeceira.
Ele fechou a distância entre nós. Seus braços se fecharam
772
ao meu redor, um em minhas costas, o outro pressionando a
curva logo acima da minha bunda. Ele me puxou para ele.
Meus seios roçaram seu peito musculoso, minhas pernas
bateram contra suas coxas duras, e o comprimento rígido de
seu pênis pressionou contra meu estômago. Eu fui pega em
seus braços. Ele me pegou e me prendeu. Seu corpo me
enjaulou. Mal conseguia me mexer.
Meu instinto de sobrevivência chutou, gritando para

escapar. Meus olhos se arregalaram. Minha respiração
acelerou, cada subida do meu peito empurrando meus
mamilos contra ele. Meu corpo apertou, como se antecedesse
uma luta, os músculos se tencionaram em antecipação. Eu
respirei seu cheiro, familiar e tentador. Dizia Curran.
Masculino. Sexo. Luxúria queimava dentro de mim como um
fogo bem definido.

Magic Breaks
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Livro 7
Ele acariciou minha bunda, me pressionando mais contra

ele. Um estreito sorriso predatório iluminou seu rosto. Ele me
pegou. Eu era dele e ele estava determinado a aproveitar cada
segundo. Uma pequena faísca de alarme instintivo explodiu
em mim e misturou-se com uma necessidade irresistível de tê-
773
lo, como tempero adicionando uma pitada de sabor a um
prato. Um calor carente se espalhou através de mim,
transformando-se em calor líquido entre as minhas pernas.
— Humm, —disse ele. — A grande e poderosa Kate

Daniels.
Eu levantei meu queixo. Minha voz era um desafio. — O

que posso fazer por você, Vossa Majestade?
Ele sorriu um sorriso louco, feroz e me beijou. Sua boca

selou a minha, seus lábios quentes, capturando minha
respiração. Nós nos conectamos e a pura alegria daquele
contato ressoou através de mim em uma corrida eletrizante.
O pavor das consequências da Reivindicação e as

memórias de Mishmar que pairavam em torno de mim como
uma mortalha escura e esfarrapada desapareceram,
aniquiladas em uma onda de luxúria, necessidade e amor.

Magic Breaks
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Livro 7
Ele enterrou a mão no meu cabelo, me puxando para mais

perto. Meu corpo chamou a atenção como se eu estivesse
dormindo há muito tempo e de repente acordei. Amava o jeito
que ele me beijava. Amava o seu sabor. Sua língua empurrou
em minha boca, possuindo, seduzindo, me puxando, mais e
774
mais profundo. Eu o amava tanto. Eu o amava mais do que
poderia dizer. Tranquei meus braços ao redor dele e o beijei de
volta. Eu te amo. Eu quero você.
Nós nos separamos. Ele fez um baixo ruído masculino, a

meio caminho entre o meio rosnado feliz de um predador
capturando sua presa e a risada profunda de um homem
confiante de que estava prestes a transar.
— Eu vou te dizer o que você pode fazer por mim, —ele

rosnou. — Melhor ainda, vou te mostrar.
Minha respiração estava chegando em suspiros

irregulares. Meus mamilos apertados. Eu o queria em mim
agora. — Decidiu fazer alguma reivindicação de sua
preferência?
— Sim. —Seus olhos brilharam com ouro. — Minha.
Ele me atacou, prendendo-me novamente e me beijou.

Suas mãos percorreram meu corpo, acariciando minhas costas

Magic Breaks
Ilona Andrews
Livro 7
e minha bunda. Não era um beijo, era um ataque. Se eu tivesse

colocado alguma defesa, ele as teria demolido, mas não ofereci
nenhuma. Apenas o deixei roubar minha boca e me deliciei
com isso. Ele tinha um gosto masculino, quente e ansioso.
Gosto de Curran, meu Curran. Se alguém jogasse uma
775
montanha entre nós agora, ele iria rasgá-la só para chegar até
mim e eu adoraria.
Deslizei minha mão em sua calça de moletom, encontrei

o comprimento duro de seu pênis, e corri meu punho para
cima e para baixo de seu eixo. Ele puxou minha camisa de
cima de mim, arrancou meu sutiã e chupou meu mamilo,
roçando-o com os dentes. Uma explosão elétrica de prazer
irradiava do meu seio através de mim. Estremeci. Afundei
meus dedos em seu cabelo. Ele abriu meu jeans e deslizou a
mão para dentro, deslizando sobre meus pelos, sobre as dobras
sensíveis, e mergulhou os dedos em mim. Suspirei. Curran
espalhou minha umidade e acariciou meu clitóris. Explosões
de prazer me balançaram, deslizando pelo meu corpo,
tornando-o flexível, mole e quente. Montei seus dedos, me
perdi em perseguir o êxtase, querendo mais. Mais ...

Magic Breaks
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Livro 7
Ele me jogou na cama. Eu caí no edredom. Minhas botas

voaram. Curran tirou meu jeans. Eu estava nua, gloriosamente
nua e sem vergonha alguma. Levantei meus braços,
convidando-o para entrar. Ele tirou a camisa e parou por um
pequeno momento, nu, poderoso, musculoso, longo e meu.
776
Todo meu. Seus olhos brilhavam, afogados com ouro. Seus
músculos se tencionaram em seu corpo, como o aço sob a seda
aquecida da pele. Eu conhecia cada borda dura desse corpo e
a força esmagadora dele. O corpo de Curran me deixava
bêbada de luxúria, seus olhos me seduziam, mas a teimosa e
inflexível vontade que o guiava me fazia amá-lo.
Ele se ajoelhou na cama, deslizou as mãos por baixo da

minha bunda e me levantou. Sua língua lambeu o meu clitóris
sensível.
Oh meu Deus. A onda de prazer me atingiu e me arrastou

para baixo. Eu gritei.
Cada lambida de sua língua alimentou a tensão dentro de

mim. Eu estava queimando e gemia o nome dele várias vezes.
Meu corpo se apertou em antecipação, cada carícia me
enrolando um pouco mais, até que eu não aguentei mais.
— Quero gozar com você dentro de mim.

Magic Breaks
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Livro 7
— Isso pode ser providenciado.
Curran me montou e se enfiou dentro de mim. O

comprimento duro de seu pênis me encheu. Ele se afastou e se
empurrou dentro de mim de novo e de novo, e eu arqueei
minhas costas, moendo contra ele, mais e mais rápido. Beijei
777
seu pescoço, minha língua deslizando sobre a barba por fazer.
Abri meus olhos e o vi, acima de mim. Suor nos encharcava.
— Mais rápido! —Eu sussurrei.
Ele acelerou, seu ritmo frenético, me balançando a cada

impulso. Agarrei suas costas, desesperada, querendo que
fossemos um só e igualando seu ritmo. Parecia tão certo. Era
assim que o céu deveria ser ... meu corpo se apertou ao redor
dele. A tensão era demais, quase uma dor. De repente, explodi
e quebrei em contrações rápidas cheias de pura felicidade. Eu
gritei. O corpo de Curran tremeu, tenso, os músculos tensos.
Parecia que eu estava voando ...
Ele rosnou e gozou dentro de mim.
Nós flutuamos pelo mundo, cansados e felizes. Um só.

Magic Breaks
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Livro 7
778
Curran levantou a cabeça e xingou.
Levantei minha cabeça. Uma vez que o sol se pôs por

completo, percebemos que o aquecedor do apartamento não o
aquecia suficiente. Puxamos o edredom e outros lençóis sobre
nós. Curran me segurou e eu acabei adormecendo em um sono
suave e confortável.
Outro barulho. Veio da janela.
Deus, o que foi agora? Não poderíamos ter alguns minutos de

paz?
— Eu vou torcer a cabeça de alguém. —Curran rolou para

fora da cama e foi até a janela. Ele ainda estava nu. Bem, pelo
menos seu passeio até a janela serviu para me deixar excitada
com a visão.
Eu me sentei com o lençol em volta de mim.

Magic Breaks
Ilona Andrews
Livro 7
Ele puxou as cortinas de lado e xingou novamente.
— O que foi?
Ele se afastou. Um vampiro estava sentado do lado de fora

da nossa janela, batendo nas barras com o punho. Como diabos
ele estava fazendo isso com as Proteções ativas? Oh espere, minha
779
tia quebrou todas as minhas Proteções. Se resolvêssemos ficar
realmente com esse lugar, eu teria que refazê-las. Isso seria um
saco.
Curran olhou para o vampiro. — O que você quer?
A boca do vampiro se moveu, mas eu não consegui ouvir.
— Não, —disse Curran.
O vampiro disse alguma coisa.
As sobrancelhas de Curran se juntaram. — Ghastek, se

você não for embora, vou arrancar a cabeça dessa coisa e enfiar
no rabo dele.
O vampiro iniciou um longo discurso.
Eu não queria conversar. Queria dormir. Mas Ghastek

estava agora no comando da Nação. Eu não queria voltar a ser
a Consorte agora. Apenas por uma noite, queria ser só a Kate.

Magic Breaks
Ilona Andrews
Livro 7
Ghastek continuou falando. Ele não iria embora.

Continuaria até que conseguisse. Eu me conformei ao meu
destino. — Deixe-o entrar. Quanto mais cedo ele desabafar,
mais rápido poderemos voltar a dormir.
Curran deslizou a janela e destrancou a grade de metal. O
780
vampiro entrou e caminhou em minha direção em suas pernas
traseiras. — Sua filha!
— Isso foi uma pergunta?
— Sua filha! A criança perdida. A Sharrim! —O

vampiro correu para a frente e apontou um dedo para mim.
— Você não me contou! Nós estávamos morrendo

e você não me contou!
Dei de ombros. — Eu não posso fazer nada se você foi a

última pessoa a descobrir isso.
— Quem mais sabia?
— Eu sei há algum tempo. —Curran pegou sua calça de

moletom e a colocou. — Jim sabia antes de mim. Mahon, Tia
B. Doolittle. Andrea. Barabas. As Bruxas do Oráculo sabem.
Saiman pelo menos suspeita. Obviamente, Hugh d'Ambray
descobriu também.

Magic Breaks
Ilona Andrews
Livro 7
O vampiro correu para um lado da sala, virou-se e correu

para o outro. Ghastek deve estar andado de um lado para o
outro, preso em seus próprios pensamentos, e assim,
inconscientemente empurrou o vampiro para fazer o mesmo.
— É um trabalho básico de inteligência, —disse Curran.
781
— Você deveria ter colocado as peças juntas. Elas estavam lá.
Precisa investir na coleta de informações, Ghastek. Entendo
que você se concentra em pesquisa e desenvolvimento, mas
não pode administrar a Nação sem uma sólida rede de
inteligência. Se você não consegue, providencie alguém que
possa. Eu nem sei por que estou te dizendo isso, porque, na
verdade, sua ignorância é minha felicidade.
O vampiro parou e olhou para Curran.
— Você nem sabia que seu rival tinha um fetiche por sexo
bizarro, —disse Curran. — Você estava disputando com ele
pelo comando da Nação de Atlanta. Precisava de vantagens.
Se soubesse sobre os passeios do seu rival ao ‘foda-e-saia’,
poderia ter acumulado provas. Poderia tê-lo envergonhado
publicamente, poderia ter enviado a evidência para a esposa
dele e destruído o casamento, poderia ter empacotado e
enviado para os seus superiores e informando que você tinha

Magic Breaks
Ilona Andrews
Livro 7
uma potencial violação de segurança, poderia ter o

chantageado, se reunido em privado com ele e dito que você
tinha essa evidência, mas sabe o quão importante a família é
para ele e que você não iria destruí-la por solidariedade, então
ele estaria comendo da sua mão. É assim que você controla a
782
situação, Ghastek. Você não controlou, porque não tinhas as
preciosas informações.
E ali estava o Senhor das Feras em toda a sua glória.
— Terminou? —Perguntou Ghastek.
— Você mereceu ouvir, —eu disse a ele. — Veio aqui

exigir saber por que não sabia dos meus segredos. As pessoas
não contam seus segredos, Ghastek. É você que tem que
descobri-los.
O vampiro se virou para mim. — Percebe a

enormidade do que você fez?
— Sim eu percebo. É por isso que eu e o homem que amo

estamos aqui nesse apartamento, para ter um tempo de silêncio
antes da tempestade chegar. E você está atrapalhando isso.
— Você o desafiou. Ele não vai deixar isso sem

resposta.

Magic Breaks
Ilona Andrews
Livro 7
— Eu sei.
— Ele virá aqui e queimará esta cidade.
— Sei disso, Ghastek. Sou sua filha. Eu o conheço melhor

do que você.
O vampiro abriu a boca.
783
— Pare, —eu disse a ele.
O vampiro parou, silhueta contra a janela. — Você tem?
— Tem o quê? —Perguntou Curran.
Ghastek estava perguntando se eu tinha o Presente. A

promessa de imortalidade que mantinha pessoas como ele
ancoradas ao meu pai. Eu olhei para o vampiro. — Você está
vivo, não está?
O vampiro congelou, sua boca estava folgada.
A porta se soltou das dobradiças e quatro metamorfos

entraram no quarto, Myles, o lobo, assumindo a liderança.
Curran girou em seu pé e rugiu: — Parem!
Eles congelaram.

Magic Breaks
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Livro 7
Curran em calça de moletom, eu em um lençol,

obviamente nua sob ele, um vampiro no meio do chão e quatro
metamorfos de combate. Coloquei minha mão no meu rosto.
O rosto de Curran era terrível. — Expliquem-se.
— Fomos instruídos a prestar a assistência necessária, —
784
disse Myles.
— Por quem?
— Jim.
Ótimo. Jim nos seguiu.
— Nós vimos um morto-vivo entrar pela janela, —disse

Myles.
Os olhos de Curran brilharam com ouro. Sua expressão

ficou neutra. Sua raiva implodiu. Ele segurou sua raiva e
transformou em frieza. Os metamorfos não moviam um
músculo.
— O vampiro arrombou a janela? —Perguntei. — Ou

bateu e foi deixado entrar?
Os metamorfos ficaram perfeitamente imóveis.

Magic Breaks
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Livro 7
Curran falou devagar, pronunciando exatamente cada

palavra. — O que fez vocês pensarem que nós dois juntos não
conseguiríamos lidar com um único vampiro?
Myles engoliu em seco. — Foi minha decisão. Eu assumo

total responsabilidade.
785
— Voltem para a Fortaleza, —disse Curran, com a voz
estranhamente calma.
Os metamorfos se viraram e fugiram.
O vampiro de Ghastek saiu pela janela. Curran e eu nos

entreolhamos.
Eles quebraram a porta do apartamento que Curran

reformou para mim. Por alguma razão, isso me atingiu mais
do que saber que o Conselho do Bando não queria que ele fosse
me resgatar.
— Vou consertá-lo, —disse ele.
Eles iriam quebrá-la novamente na próxima vez. — Tudo

bem, —eu disse. — É só uma porta. Podemos muito bem
voltar para a Fortaleza.
— Sinto muito, —disse ele.
Eu sorri para ele. — Eu sabia no que estava me metendo.

Magic Breaks
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Livro 7
E ele valia a pena.
786
o tempo um pouco mais. No
momento em que entramos no pátio do Fortaleza, a noite
estava a todo vapor. Subimos as escadas, enquanto Derek
seguia atrás de nós e cuspia informações: patrulhas triplas,
alerta máximo, blá-blá-blá-blá-blá ... parei de ouvir. As últimas
gotas da minha paciência haviam evaporado há muito tempo.
Fomos direto para os nossos aposentos. Curran fechou a

porta. Eu caí no nosso sofá. Do lado de fora da grande janela
da sala de estar reinava Atlanta, uma mancha distante na
escuridão profunda da noite, cravejada de luzes azul clara.
Casa ...
A porta se abriu. Barabas entrou, o rosto sério, os olhos

levemente vidrados, como se estivesse olhando para algo
distante. Algo estava errado. Ele sempre bateu.

Magic Breaks
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Livro 7
— O visitante que vocês estavam esperando está aqui, —

disse Barabas.
Ele se afastou e segurou a porta aberta. Uma pessoa

envolta em um manto marrom claro com um grande capuz
entrou. Barabas se curvou um pouco, saiu e fechou a porta
787
atrás de si. A figura puxou o capuz, revelando o rosto do meu
pai.
Por que eu?
Curran foi em direção a Roland. Seus olhos estavam em

chamas.
Eu corri e fiquei entre eles, bloqueando com meu corpo.

— Pare.
— Mova-se, Kate, —disse Curran, com a voz calma.
Roland sorriu. — Eu não quero problemas. Acabei de

chegar e quero ver minha filha. Sem espectadores, sem
necessidade de um grande show. Eu simplesmente desejo
conversar.
Virei as costas para ele e vi o rosto de Curran. — Por favor,

pare.
Ele finalmente olhou para mim.

Magic Breaks
Ilona Andrews
Livro 7
— Pare, —eu pedi a ele.
Ele deu um passo para trás, encostou-se ao lado do sofá e

cruzou os braços. — Toque nela, e eu vou acabar com você.
— Posso me sentar? —Roland me perguntou.
Sua magia silenciosa o envolvia como um manto. Eu
788
ainda a sentia forte e poderosa, mas ele parecia muito mais
humano agora. Este deve ser o seu disfarce usado para andar
por aí. Ninguém jamais desconfiaria. Certo, certo.
Eu sentei no sofá. — Tudo bem.
— Obrigado. —Ele se sentou na cadeira macia em frente

a mim.
Roland passara por nossas patrulhas triplicadas como se

não fossem nada e então compeliu Barabas a deixá-lo entrar.
Todas as defesas que construímos, todas as paredes, portões e
proteções, significavam nada. Ele poderia simplesmente entrar
na Fortaleza a qualquer momento. Poderia entrar e sentar na
cama de Julie e eu nunca saberia disso.
O rosto de Curran ficou inexpressivo. Ele puxou o rosto

do Senhor das Feras como uma máscara. Deve ter chegado à

Magic Breaks
Ilona Andrews
Livro 7
mesma conclusão que a minha. Quaisquer que fossem as

ilusões de segurança, acabou de virar cinzas.
Roland sentou-se. — É uma Fortaleza muito bem-feita.

Consideravelmente mais confortável por dentro do que parece
do lado de fora. Lindas pinturas que você tem aqui nas
789
paredes. Não se importem comigo, estou apenas fazendo
conversa fiada. — Você machucou alguém no caminho para
entrar aqui? —Perguntei.
— Não. Eu vim para conversar, e se eu tivesse machucado

um dos seus, você não falaria comigo. —Roland olhou para o
cabo da espada que se projetava sobre o meu ombro. — Vejo
que visitou sua avó.
Eu tirei Sarrat e mostrei para ele. Ele passou a mão pela

lâmina, o rosto triste.
— Queria que você não a tivesse encontrado. Ela é

perigosa.
Sim ela é. A lenda dizia que ela assassinou meu avô.

Considerando tudo, ele provavelmente mereceu. — Não foi
por escolha.
— Essa foi uma reviravolta infeliz, —disse ele.

Magic Breaks
Ilona Andrews
Livro 7
— Você não deveria ter tirado seus ossos da Pérsia. Ela

sente falta de lá.
Roland suspirou. — A Pérsia é um lugar desafiador no

momento. Poderes antigos estão despertando. Alguns que
dormiram, outros que estavam mortos ou talvez não tão
790
mortos assim. Mishmar é o lugar mais seguro para ela agora.
— Perto o suficiente para que você possa esmagá-la se ela

tentar se levantar?
— Exatamente.
Esta era uma conversa surreal.
— Como está a criança? —Roland perguntou.
O que?
— A jovem cujo sangue você purificou. Como ela está?
Eu me inclinei para frente. — Deixe-a fora disso. Não fale

com ela, não assombre seus sonhos, ou juro, terminarei o que
minha mãe começou. Foi o olho esquerdo ou o direito? Diga-
me, então eu saberei qual escolher.
— O esquerdo. —Roland bateu na sua bochecha abaixo

do olho esquerdo. — Você é muito parecida com sua mãe. Ela
era feroz também.

Magic Breaks
Ilona Andrews
Livro 7
— Você a matou.
— Sim, —disse ele. — Não passa um dia que eu não

lamente pela morte dela.
— E você tentou me matar antes de eu nascer.
— Sim.
791
— E você enviou seu Senhor da Guerra para caçar e matar
o homem que me criou.
— Sim.
— E agora você deseja ter uma conversa.
Os olhos de Roland ficaram quentes. — Eu amei sua mãe.

Eu amava tanto sua mãe que quando ela quis um filho,
prometi a ela que daria o tipo de criança que esse mundo não
vê há milhares de anos.
Ele estendeu o braço e abriu a mão.
Curran deu um passo à frente.
Coloquei minha mão na palma da mão de Roland. Seu

toque era quente. Magia deslizou contra a minha pele.
— Derramei minha magia em você desde o dia em que foi

concebida.

Magic Breaks
Ilona Andrews
Livro 7
Palavras apareceram na minha mão, ficaram escuras e, em

seguida, desapareceram.
— Escrevi a linguagem do poder em seu corpo enquanto

você ainda estava no útero. Você seria minha maior conquista,
meu presente para Kalina. Eu estava apaixonado e cego. Então
792
tive uma visão do que iria acontecer por consequência do que
fiz. Sua tia era a Devoradora de Cidades, sua avó era o Flagelo
da Babilônia e você ... você destruiria nações. Se eu a deixasse
viver, se eu e sua mãe te criassemos juntos, no futuro sua raiva
devoraria tudo, como a fúria de Kali174. Tentei dizer a sua mãe.
Tentei explicar, mas ela não queria ouvir. Você era seu bebê,
seu tesouro. Você nem havia nascido e ela a amava muito.
Então sim. Planejei matar você no útero. Planejei fazer isso
gentilmente.
— Oh, bem, então está tudo bem, —disse Curran. —

Contanto que você queria sufocar a vida dela gentilmente,
acho que não há ressentimentos.
174
Kali é uma deusa indiana considerada tanto benevolente quanto malévola. É a mão amável para os seus
filhos e a morte para os inimigos de seus devotos. É a corporificação da fúria feminina, aquela que deixa destruição e morte
por ande passa. É considerada uma manifestação da deusa Durga, a esposa de Shiva. É representada manchada de sangue,
com cobras e um colar de crânios.

Magic Breaks
Ilona Andrews
Livro 7
Eu me inclinei para frente. — E o que acha de mim agora?

Está orgulhoso do monstro que você fez?
Roland sorriu. Hugh e Landon estavam certos. Era como

se o sol tivesse nascido. Como cavar um buraco no seu quintal
e encontrar uma joia brilhante no chão.
793
— Minha criança, minha bela e poderosa criança. Você
reivindicou sua cidade. Você não deveria ser capaz de fazer
isso por mais cem anos. Estou tão orgulhoso que meu orgulho
poderia derrubar montanhas. Se você me deixar, te mostrarei
ao mundo. Eu mostraria o mundo para você.
— Então eu poderia ver através dos seus olhos?
— Então você poderia ver através dos seus próprios olhos.
Eu me inclinei para frente. — Desde que pude andar até

os meus quinze anos, toda lembrança que tenho é sobre você.
Quando eu não estava estudando sobre você, sobre seus filhos
e seu reino, eu estava treinando para matá-lo ou para me
esconder de você. Nunca tive medo de monstros no meu
armário ou debaixo da minha cama. O único medo que tinha
era de que você me encontrasse. Todo o propósito da minha
existência era para que eu pudesse um dia te matar.

Magic Breaks
Ilona Andrews
Livro 7
— Aqui estou. Você tem uma espada. Por que não a usa?
Encontrei o seu olhar. Não havia sentido em mentir. —

Porque decidi não mais viver a minha vida de acordo com as
expectativas de Voron. Eu não te conheço. Sei apenas o que
me foi dito. Se você ameaçar Curran ou qualquer outra pessoa
794
que eu ame, se tentar destruir esta cidade, aí sim, farei tudo
que estiver ao meu alcance para matá-lo, não importa o quão
fútil seja. Mas eu não farei isso porque um homem morto me
disse para fazê-lo.
Ele recostou-se e riu baixinho. — Você é verdadeiramente

minha filha.
— Isso não é um elogio.
Ele sorriu para mim do jeito que alguém sorria para uma
criança talentosa, mas ingênua. Imaginei o chutando na
cabeça. Eu morreria um segundo depois, mas seria muito
satisfatório.
— Vamos negociar o futuro da cidade que você ama? —

Perguntou ele.
— É por isso que veio aqui, não é?

Magic Breaks
Ilona Andrews
Livro 7
Ele esfregou as mãos, os olhos brilhantes. Parecia ... feliz.

— Muito bem. Você sabe o que fez?
— Eu bloqueei sua Reivindicação em Atlanta e a

reivindiquei.
— Qualquer um que entre em Atlanta agora sentirá as
795
fronteiras do seu território. Eles não necessariamente sabem
que o território é seu, o que lhe dará o elemento surpresa. Um
território reivindicado é um desafio. Você será desafiada, se
não por mim, será por outros.
— Sei disso.
— De minha parte, não posso permitir que você

permaneça em uma posição importante de poder. Você e eu
somos invasores nesta terra. Nossa magia não nasceu aqui. —
Roland acenou para Curran. — A magia dele sim. Em algum
lugar nos ventos do tempo seus ancestrais fizeram um pacto
com uma criatura desta terra. O sangue foi diluído através das
gerações e misturado com o dos recém-chegados, mas não o
suficiente para neutralizá-lo. Vocês representam uma ameaça.
— É por isso que está tentando destruir o Bando, —disse

Curran.

Magic Breaks
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Livro 7
— Para ser justo, eu realmente não tentei, —disse Roland.
— Os rakshasas175, —eu disse.
— Eles eram mais um incômodo do que uma ameaça real.

Os rakshasas procuraram uma aliança comigo. Eram um
bando de chatos, então dei a eles um alvo como condição da
796
aliança. Eles falharam tão brilhantemente quanto eu esperava.
— E minha tia?
Meu pai se inclinou para frente. — Eahrratim. —Ele disse

o nome dela com pesar, como se algo de grande beleza tivesse
sido perdido para sempre. — Sua tia não queria acordar. Mas
acordou mesmo assim, e quando se levantou, ela era uma mera
sombra de si mesma. Não gostava deste novo mundo. Estava
vivendo porque não podia se permitir desistir da vida. Nós
fomos ensinados desde a mais tenra idade que a vida é
preciosa. A nossa morte deve realmente significar alguma
coisa. Eu queria que você a tivesse visto no auge de seu poder.
175
Rakshasa (em português, raxasa) é uma raça de seres mitológicos humanoides ou
espíritos malignos na religião Budista e Hindu. O nome vem do sânscrito "raksha", pedir proteção, já que eram seres tão
horripilantes que induziam, a quem quer que se deparassem com eles, a pedir proteção. A Kate se refere a batalhas que
aconteceu no livro (Ataque Mágico), na Arena dos Jogos da Meia Noite.

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Livro 7
Ela era uma força. Erra queria algo para fazer. Eu disse a ela
sobre o Bando. Ela pensou sobre isso por algumas semanas e
um dia me disse que iria ver se poderia encontrar alguma
diversão em Atlanta. Ela deve ter ficado muito feliz por ter
encontrado você, sua sobrinha, perdida neste novo mundo.
797
Você se parece com ela.
— Eu sei, —eu disse. Eu parecia tanto com ela, que era

assustador. Exceto que Erra era mais poderosa do que eu.
Maior, mais forte, mais rápida, com uma magia que fazia a
minha par9ecer patética. Matá-la foi a coisa mais difícil que já
fiz, mas Curran e eu não tivemos outra escolha. Quase perdi
Curran por causa dela. Ele passou onze dias em coma.
— Ela poderia finalmente descansar. Não há vergonha em

ser morto por um de sua própria linhagem. Na noite antes de
você lutar, ela me ligou. —Seus olhos nublaram. — Queria
falar sobre os Jardins de Água. No palácio onde crescemos,
havia jardins aquáticos, quilômetros e quilômetros de águas
rasas, atravessados por caminhos estreitos. Era um lugar lindo,
de areia e água morna, onde flores desabrochavam e pequenos
peixes corriam de um lado para o outro. Nós costumávamos
brincar por horas. Minhas lembranças mais felizes nasceram

Magic Breaks
Ilona Andrews
Livro 7
lá. Quando ela começou a falar sobre isso, eu sabia que não a
veria novamente. Senti o momento em que ela entregou sua
vida e então entendi que você ainda estava viva. Ela era a
Devoradora de Cidades. Você deve ter se perguntado como ela
morreu tão facilmente.
798
Eu quase engasguei.
Roland suspirou. — Suponho que devemos retornar a

nossa conversa anterior. O fato é que você não pode lutar
comigo. Posso colocar fogo nas paredes desta Fortaleza até
que elas se derretam com todos dentro dela. Em um dia, tudo
que você cuidou e todos que você ama desaparecerão. A
cidade não fará nada a respeito, pois o preconceito é fruto da
natureza humana.
— Ele não vai fazer isso, —eu disse a Curran. — Quando

ele decidir acabar conosco, fará algo elaborado, como nos
enviar sementes mágicas, que germinarão belas flores com
pólen venenoso. O pólen enraizará nas nossas veias,
morreremos em agonia, mas os nossos cadáveres ficarão
cobertos por lindas flores. Se ele estiver com vontade de fazer
uma declaração, as flores irão pingar sangue só por diversão.

Magic Breaks
Ilona Andrews
Livro 7
Roland sorriu. — A morte, por mais terrível que seja, deve

ser bela, não acha?
— O que quer de nós? —Perguntei.
— Eu quero conhece-la. Você é preciosa para mim, como

sua mãe foi um dia. Mas não posso deixá-la ter o Bando. —
799
Ele olhou para Curran. — Você sozinho é uma ameaça o
suficiente. Vocês dois juntos no comando de muitos
metamorfos é uma ameaça muito clara para eu ignorar. Você
será vista como uma oposição ativa a mim.
— E? —Perguntou Curran.
Roland olhou para mim. — Quero que você deixe o

Bando.
Meu batimento cardíaco acelerou. Curran nunca se

afastaria do Bando. Ele era o Senhor das Feras. Ele uniu os
metamorfos, deu a eles leis e estrutura, Curran vivia e respirava
o Bando. Os metamorfos eram o seu povo. Se eu ficasse com
ele, seria a Consorte, mesmo que eu renunciasse as minhas
obrigações com o Bando. Não daria certo e meu pai sabia
disso. A única maneira que eu poderia renunciar seria deixar
Curran.

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Livro 7
— Em troca, vou deixar você manter seu território

reivindicado, —disse Roland. — E sua cidade.
— Não é bom o suficiente, —disse Curran.
Ele estava realmente pensando nisso. Isso fazia sentido.

Nós evitaríamos uma guerra sangrenta. Poderíamos manter
800
tantas vidas seguras ...
— Muito bem, vamos colocar um bônus nisso. Prometo

não tomar nenhuma ação direta, nem instruir meu povo a
tomar qualquer ação contra alguém dentro do território que
minha filha tenha reivindicado pelos próximos cem anos. Se
algum dos meus membros o desafiar, eles o fariam sem minha
permissão e incorreriam em minha ira. Vou, no entanto,
manter a instalação da Nação em Atlanta e seus negócios
continuarão como de costume.
Minha mente começou a funcionar. — Eu quero mais.

Quero que você prometa que nem você nem seu povo agindo
sob suas ordens jamais irão prejudicar Curran ou Julie, no meu
território ou fora dele.
— Estou sendo bastante generoso. Já é um bom negócio,

—Roland me disse. — Você deseja proteger seu povo. Eu sou
a maior ameaça que você enfrenta. Me elimine como um

Magic Breaks
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Livro 7
perigo. Se você recusar, flor do meu coração, eu voltarei a

Atlanta e trarei fogo e ruína para ela. Vou limpar a Fortaleza
do jeito que purguei Omaha176.
Os terremotos de Omaha mataram milhares de pessoas.

Mas eles sempre foram vistos como um cataclisma assustador
801
causado por um surto, uma onda mágica maciça.
— Foi você ...?
Ele assentiu.
— Por quê?
— Havia um poder nativo que optou por se opor a mim,

—disse Roland. — Eu não dei o primeiro golpe. Apenas
retaliei. Isso é perturbador para você?
— Sim.
— Você irá entender eventualmente. Nenhum desafio, por

insignificante que seja, pode ficar sem resposta. Até mesmo
um grito no deserto deve ser tomado a sério, porque alguém
pode ter ouvido ele. —Roland sorriu. — Eu tenho sorte que
176
Omaha é uma cidade localizada no estado americano de
Nebraska, no Condado de Douglas.

Magic Breaks
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Livro 7
você tenha sobrevivido. Será muito interessante vê-la crescer.

Não temos nada além do tempo em nossas mãos.
— Você está me dizendo para desistir do homem que amo,

—eu disse.
— Eu não posso dizer que aprovo a sua escolha. Ele é
802
poderoso, mas também paranoico e xenófobo177. Um homem
difícil de dobrar.
— Ah, isso foi muito gentil, —disse Curran.
Eu abri meus dentes. — Posso viver anos sem me

preocupar se você aprova ou não as minhas escolhas. E não
tenho o mínimo interesse em dobrar Curran. Gosto dele do
jeito que ele é. Você não tem o direito de palpitar sobre meus
relacionamentos.
— Eu sou seu pai. Esse é o grande privilégio da

paternidade, podemos palpitar sobre o que quisermos.
— Eu não quero que você seja meu pai.
— Claro que quer, —disse Roland. — Você quer ser

amada, assim como todos nós queremos ser amados por
177
Xenofobia é o medo, aversão ou a profunda antipatia em relação aos estrangeiros, a desconfiança em relação a pessoas
estranhas ao meio daquele que as julga ou que vêm de fora do seu país com uma cultura, hábito, raça ou religião diferente.

Magic Breaks
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Livro 7
nossos pais. Você não quer saber sobre sua mãe? Como ela era?
Sobre a nossa família?
— Nossa família consiste em monstros.
— Sim. Mas nós somos monstros grandes e poderosos. O

amor exige sacrifícios. Quando você ama alguma coisa, do
803
jeito que ama seu povo, Flor do meu coração, você deve pagar
por isso. Além disso, não estou forçando-a deixá-lo, apenas a
posição de poder que vem com ele.
— Como exatamente fica a questão de eu ter desafiado

publicamente você?
— Você reivindicou um território. Em retaliação ao seu

desafio fiz você desistir de sua posição no Bando. Isso
demonstrará para aqueles que estão observando que eu tenho
poder sobre você e que o nosso relacionamento é muito mais
complexo do que o seu simples desafio a mim.
— Você é incrivelmente poderoso, —eu disse a ele. — Mas

sou sua filha. Se você machucar Curran ou Julie, vou te caçar.
Dedicarei todos os momentos da minha vida a matá-lo e terei
sucesso. Talvez não agora. Talvez em outro século ou dois.
Mas nunca vou desistir. Seus poderes funcionam a metade do
tempo, quando a magia vai embora você enfraquece. Já a

Magic Breaks
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Livro 7
minha espada funciona sempre. Prometa-me pai. Prometa-me

isso.
Roland olhou para Curran. — Que assim seja. Mas esta é

a última concessão que estou disposto a fazer.
— Temos um acordo, —disse Curran. Meu coração partiu
804
em pequenos pedaços.
Roland sorriu novamente. — Eu sempre dei aos meus

filhos o que achava que eles queriam. Geralmente eles queriam
poder. Estou dando o que você precisa. Considere isso como
um presente de casamento antecipado.
Não haveria um casamento. O Senhor das Feras e o Bando

eram um só. Mesmo se tentássemos fazer isso funcionar,
falharíamos. O Bando puxaria e o pressionaria a passar o
tempo na Fortaleza, onde eu não poderia estar, enquanto eu o
puxaria e o pressionaria para ficar comigo.
Roland se levantou. — Vocês dois têm algumas escolhas a

fazer. Vou deixá-los para isso. Ah, e eu gostaria de ser
convidado para o casamento.
— Não, —Curran e eu dissemos ao mesmo tempo.

Magic Breaks
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Livro 7
Roland parou junto à porta, o rosto sábio, os olhos

eternos. — Sempre me perguntei por que nunca consegui criar
meus filhos para ser as pessoas que desejei que fossem. Agora
acredito que foi porque eles foram criados comigo. O poder
corrompe, é verdade, mas nenhum sucumbe à sua podridão
805
tão facilmente quanto os jovens. Você não vê dessa maneira
agora, mas o que lhe dei foi uma bênção. Com o tempo irá
entender.
Ele colocou a mão na maçaneta da porta. — Quase

esqueci. Teletransporte por água requer um encantamento e a
ignorância ou concordância de quem está sendo
teletransportado. Aar natale.
As palavras clicaram em minha mente, seu significado

veio a mim claramente. — Interromper?
Meu pai assentiu. — Isso é tudo que precisa dizer para

parar um encantamento de teletransporte.
Ele saiu.
Se eu ficasse com Curran, Atlanta queimaria e o Bando

morreria e não poderia fazer nada para pará-lo.
— Lutar com ele será difícil, —disse Curran.

Magic Breaks
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Livro 7
— Sim. —A conclusão do ano.
— Você gosta de ser a Consorte? —Ele perguntou.
— Você está brincando comigo, certo?
Ele se aproximou, se ajoelhou na minha frente e segurou

minhas mãos nas dele. — Kate, você gosta de ser a Consorte?
806
Eu não podia pedir a ele para desistir do Bando por mim.
Mas não podia mentir para ele também. — Não. Nunca quis
ser a Consorte. Eu só queria você.
— Então problema resolvido. Barabas! —Gritou Curran.
A porta se abriu e Barabas entrou, com o rosto intrigado.

— Acabei de ver um homem sair daqui. Eu estive no posto de
guarda desde que chegamos aqui. Tenho certeza que ele não
passou por mim. A menos que eu esteja ficando louco,
nenhum de nós o deixou entrar.
— Eu quero que você faça um anúncio geral para o Bando,

—disse Curran.
— Devo pegar uma caneta e papel?
— Não, será curto.
— Pode dizer, estou pronto, —disse Barabas.

Magic Breaks
Ilona Andrews
Livro 7
Curran olhou para mim. — A partir dessa manhã, eu e

Kate não seremos mais alfas do Bando, estamos renunciando.
Jim tem a nossa bênção.
O que?
Barabas abriu a boca. Nada saiu.
807
— Tome o seu tempo, —disse Curran.
— Vocês o que?
— Estamos abrindo mão da nossa posição, —disse

Curran.
— Vocês não podem!
— Acabamos de fazer.
— Mas ...
— Vamos falar sobre os detalhes pela manhã.
— Mas o que eu digo a eles?
Curran suspirou. — Eles quem?
— Eles! —Barabas agitou os braços. — Todo o mundo.
— Diga a eles que renunciamos. Obrigado Barabas. Isso é

tudo.

Magic Breaks
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Livro 7
Barabas piscou várias vezes, virou-se e saiu da sala. A

porta atrás dele se fechou.
— Você está deixando o Bando? —Eu não podia acreditar.
— Não, nós estamos deixando o Bando. Juntos. É a

liberdade, Kate. Livre de papeladas, livre das análises das
808
petições. Nós podemos ter um dia de folga sempre que
quisermos. Podemos fazer sexo sempre que quisermos. Você
pode continuar trabalhando na Cutting Edge, eu vou ajudá-la
a capturar coelhinhos, podemos ir às apresentações escolares
de Julie ou o que diabos ela faz, sem ter que dar desculpas ...
Coloquei minha mão em seus lábios. — Mas você é o

Senhor das Feras.
Ele beijou meus dedos e tirou minha mão da boca. — Já

faz algum tempo que não gosto de ser o Senhor das Feras.
Protegi e cuidei de todos aqui, construí a Fortaleza e toda essa
estrutura para que todos, mas principalmente minha família,
que é você, estivessem protegidos. Então, quando precisei
deles, quase tive que matar meu próprio Conselho para que eu
pudesse sair e salvar minha companheira. No final, Roland
passou por todas as defesas que preparei por anos. Que se

Magic Breaks
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Livro 7
danem! Para mim chega. Ir embora é a melhor maneira de

proteger você e Julie por agora.
— Você criou tudo isso. Não posso te pedir para desistir

da sua vida por mim.
Ele sorriu. — Eu sei. Mas você fez isso por mim. Desistiu
809
de sua vida e se mudou para a Fortaleza comigo. Agora é a
minha vez.
Palavras saíram correndo de mim, umas sobre as outras.

— Você percebe que meu pai não vai nos deixar em paz? Ele
não irá se controlar. Irá se intrometer. Não nos atacará
diretamente. Em vez disso, encontrará um deus antigo com
um machado gigante e sugerirá a ele que Atlanta pode ser um
bom lugar para criar raízes, só para que ele possa nos ver
derrubá-lo. Você não o viu? Ele está muito feliz por eu ter
passado no seu pequeno teste. A essa altura já deve estar
pensando em maneiras de manipular e usar a nós dois.
— Tudo bem, —disse Curran. — Ele vai se meter conosco

ao invés do Bando e nós vamos lidar com isso. A verdadeira
questão é, você ainda vai me amar se eu não for mais o Senhor
das Feras?

Magic Breaks
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Livro 7
Coloquei meus braços ao redor dele. — Claro que ainda

vou amar você, seu estúpido. O Senhor das Feras é um idiota
arrogante. Nunca o quis. Eu só sempre quis Curran.
— Fique comigo, —disse ele.
— Sempre, —eu disse a ele.
810
EPÍLOGO
—anunciou Julie.
Examinei a casa de três andares. Resistente, com paredes

grossas e grades sobre as janelas, foi construída após a
Mudança, feita de pedra marrom dura. Curran inclinou a
cabeça. O anúncio do nosso afastamento havia atingido o
Bando na primeira hora da manhã e gerou uma tempestade de
merda de enormes proporções. Deveríamos estar participando

Magic Breaks
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Livro 7
de uma reunião de emergência do Conselho do Bando, exceto

que nós três fugimos da Fortaleza em vez disso.
Tomamos café da manhã em uma pequena lanchonete e

depois paramos em um escritório imobiliário do Bando. Uma
vez que Nina, a agente imobiliária, uma ruiva de quarenta e
811
poucos anos, recuperou a capacidade de falar, entrou em ação.
Esta era a terceira casa que vimos e eu realmente gostei dela.
Isolada em um terreno de vinte mil metros quadrados nos
arredores de Atlanta, a apenas cinco quilômetros da Cutting
Edge. Pessegueiros cresciam nos fundos, mas a casa ficava no
meio do que seria um gramado na primavera. Julie circulou e
relatou a presença de uma piscina no quintal.
— Tudo isso costumava ser edifícios de escritórios. —

Nina acenou com o braço para a rua. — Depois que limparam
os destroços dos edifícios, eles decidiram subdividi-lo em lotes
de vinte mil metros quadrados. Vocês terão vizinhos à
esquerda e à direita, mas na sua frente há pelo menos cem
metros de árvores e depois o Lago Smallish. Tem uma piscina
e um estábulos para seis cavalos na parte de trás. Esta é uma
área relativamente segura no norte de Atlanta.

Magic Breaks
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Livro 7
— Segurança não é um problema, —disse Curran. — Vou

fazê-la segura.
— É apenas meia hora da minha escola, —disse Julie. —

Isso corta meu trajeto pela metade.
— Você pode ter que montar um cavalo, —eu disse a ela.
812
— Jezebel não vai mais levar você de carro. —Jezebel
trabalhava para o Bando e nós estávamos cortando os laços.
Os olhos de Julie se iluminaram. — Posso montar o cavalo

de Hugh?
— Vou pensar sobre isso, —disse Curran.
Pensei que ela ficaria chateada por deixar a Fortaleza. Em

vez disso, Julie deu de ombros e anunciou que, enquanto
pudesse ir para a mesma escola, não se importaria.
— Vamos entrar? —Nina abriu a porta.
Julie foi correndo para dentro.
— É bem grande, —eu disse.
Curran sorriu. Eu bati no braço dele.
— Isso é bom. Muita privacidade.

Magic Breaks
Ilona Andrews
Livro 7
— Podemos comprá-la? —Perguntei a Curran. Deveria

custar um braço e uma perna.
— Sim, —disse ele. — Sou um homem rico.
— Bem, não somos presunçosos, Vossa Peludeza.
— Tecnicamente, você não pode mais me chamar assim.
813
— Vou te chamar do que eu quiser.
Nós entramos. Azulejos cor de areia forravam o chão. A

casa era clara e aberta. A luz passava pelas janelas. O ar
cheirava a biscoitos recém assados. Muito confortável, bonita.
E a agência ficava a menos de vinte minutos a cavalo. Era
como se essa casa tivesse sido feita sob medida para nós.
— Quatro mil metros quadrados de área construída. Piso

plano e aberto, —Nina falou. — Ladrilho no primeiro andar,
madeira nos dois últimos andares. Belas janelas por toda parte,
grades de última geração com alto teor de prata ...
Nós a seguimos até a cozinha. Era quase tão grande

quanto meu antigo apartamento. Um prato de biscoitos nos
esperava no balcão com uma pequena nota branca.
— Os biscoitos são um toque agradável, Nina, —disse

Curran.

Magic Breaks
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Livro 7
Nina fez uma pausa. — Não fui eu que fiz eles. Não tinha
nem ideia de que ia mostrar essa casa hoje.
Arranquei a nota do balcão.
E CONTINUA ... 814

Magic Breaks
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CENAS EXTRAS 01
Prequel (prólogo) to Magic Shifts

POV 10 de Curran
815
(7,5 no goodreads)
(Cenas que antecedem Mudanças Mágicas, livro 8, na visão de Curran.
Esse conto POV estava disponível no blog dos autores, não está mais,
parece que ainda não foi concluído. Acredito que os autores o
retiraram do blog para a edição e posterior publicação.)
Kate, Julie e eu pegamos as

caixas da traseira de um caminhão alugado e as levamos para
a nova casa. Kate escreveu nas caixas: ‘Cozinha’, ‘sala de estar’,
‘quarto principal’, etc. Era estranho ter todos esses espaços
diferentes depois de viver em dois cômodos por tanto
tempo. O plano era colocar todas as caixas nos seus devidos
ambientes antes de começarmos a desempacotá-las.
Assim que anunciamos que estávamos deixando a posição

de alfa, tínhamos noventa dias para preparar a nossa saída da

Magic Breaks
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Livro 7
Fortaleza. Tivemos a sorte de encontrar uma grande casa de

três andares localizada em um bairro a uma curta distância da
escola de Julie e da Cutting Edge. Havia até um lugar nos
fundos para Kate e a garota andarem a cavalo. O que
honestamente não me importava, mas deixava as garotas
816
felizes.
Não é que eu não goste de cavalos. Certo, eu realmente

não gosto deles. Simplesmente não via graça neles. São
grandes, mas terrivelmente frágeis. Alimente-os com comida
demais ou a comida errada, e eles morrem. Se entram em um
buraco e quebram uma perna, precisam ser sacrificados. Que
outro animal você tem que fazer isso? Quando eu era criança,
tínhamos um gato com três pernas e metade de um rabo. Seu
nome era Casper e ele se virava muito bem.
Quando eu era criança ...
Sim, eu não pensava muito sobre a minha infância,

provavelmente por um bom motivo. Realmente não podia
reclamar dela. Foi uma ótima infância antes ... de tudo se
tornar muito ruim. Melhor não pensar nisso.

Magic Breaks
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Livro 7
Kate e Julie lutavam para levantar uma grande caixa de

livros, então me aproximei, peguei a caixa e levei em uma mão
como um garçom faria com um prato ou bandeja de comida.
— Onde você gostaria que eu colocasse isso, senhora?
— Exibido, —disse Kate. — Está escrito ‘Biblioteca' nela.
817
— Oh? Pensei que esses garranchos fossem trabalho de um
grafiteiro demente.
— Há-há-há. Perguntei se você queria escrever nas caixas

e você se negou.
— Eu estava ocupado, na verdade fazendo as malas. Acho

que fiz muito bem pela primeira vez.
— Espere, você nunca se mudou antes? —Julie perguntou.
— Não, não realmente. Quando Mahon me encontrou, eu

não tinha muito comigo. Toda a minha porcaria cabia em uma
mochila. Roubava apenas o que precisava para sobreviver. Se
você começa a roubar muito, as pessoas começam a notar. Eu
nunca ficava em um lugar por muito tempo e precisava ser
capaz de me mover rápido e silencioso.
— Caramba, —ela disse. — Você era um delinquente

juvenil.

Magic Breaks
Ilona Andrews
Livro 7
Kate lançou a ela um olhar de advertência. Julie a

ignorou.
— Isto é tão legal.
Nunca pensei nisso como legal antes. Solitário, faminto e

assustado, sim. Legal, nem tanto.
818
— Julie, —Kate começou, — Acho que Curran não gosta
de falar sobre isso.
— Não, está tudo bem. Eu tinha doze anos e depois que

meus pais ... depois que eles se foram, morei sozinho na
floresta por vários meses. Caçava quando podia e tentava ficar
fora da chuva, mas o inverno nas Montanhas Smokies178 é
inconsistente. É nessa época que cai as neves mais
pesadas. Um dia o clima está bom e no outro há uma nevasca.
Quando eu estava com frio, molhado e com fome suficiente,
eu me esgueirava em cabanas desocupadas. Alguma eram
muito legais.
— Você nunca foi pego?
178
As Montanhas Great Smoky são uma cordilheira, parte dos Montes
Apalaches, localizada nos estados de Tennessee e Carolina do Norte, nos Estados Unidos. O seu pico mais alto é o Clingsman
Dome, com seus 2.025 metros de altitude.

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Livro 7
— Apenas uma vez. Tomava cuidado e me certificava de

que os donos estivessem fora. Muitas pessoas, especialmente
antes da Mudança, tinham casas de férias nas montanhas.
Geralmente eram da Flórida, que vinham no verão para fugir
do calor e no outono para ver as folhas caírem. A maioria não
819
permanecia no inverno. Alguns arriscavam passar as férias no
inverno, mas o lugar não era tão bonito nessa época. Apenas
frio, umidade e neve.
— Como você sabia quais cabanas teriam comida e outras

coisas?
— As casas de veraneio eram sempre maiores e mais

agradáveis do que as casas das pessoas que ali viviam durante
o ano todo. Era uma área pobre. Alguns moradores locais
viviam em pequenos barracos. Eles geralmente tinham muitas
armas e eu sempre os evitei.
— Isso é fod ... chato.
— Olha a boca, —alertou Kate.
— Eu não disse nada, —disse Julie. — Mas se eu tivesse

dito, seria verdade.

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Livro 7
— Ela está certa, —acrescentei prestativamente, — Era

muito fodido. Essa área sofria com o que poderíamos chamar
de 'disparidade de renda' entre os turistas e os habitantes
locais. Os turistas tinham de sobra e isso realmente não me
incomodou em roubar o que eu precisava.
820
— Concordo, maldição —disse Julie.
— Olha a boca, —alertou Kate novamente.
— O quê? —Ela disse, — eu disse ‘maldição’, está na

Bíblia.
— Ela te pegou.
Kate olhou para nós. — Que tal vocês dois pararem de

tagarelar aí em pé e realmente carregarem um pouco dessa
merd ... coisas dentro da casa.
— Arrá! —Julie disse. — Você disse merda e você me deve

um dólar.
Kate, em um esforço para conter os xingamentos de Julie,

adotou um sistema no qual quem xingasse pagava um dólar
por cada ofensa. Eu não sabia o saldo dessa disputa, mas supôs
que elas estavam empatadas.

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Livro 7
— Eu não disse a palavra toda, —disse Kate. — Então só

te devo cinquenta centavos.
— Setenta e cinco!
— Tudo bem.
— Estou com fome, o que vai ter para o almoço? —Julie
821
perguntou.
Kate olhou para ela. — Você acabou de comer antes de

sairmos. Faz apenas um par de horas.
— Sim, mas estamos trabalhando duro e estou com fome.
— Eu também, —eu disse. — Você vai nos fazer alguma

coisa?
Kate se inclinou contra a pilha de caixas. — Posso se vocês

encontrarem o material da cozinha, tirá-los da caixa e
organizar tudo. Não sei cozinhar sem panelas.
— É muito difícil negociar com você, terrível

senhora. Mas nós aceitaremos sua oferta. Vamos, Julie,
quanto mais cedo fizermos isso, mais cedo comemos.
Mais tarde, depois de carregarmos para a cozinha todas as

caixas marcadas ‘cozinha’, e levar para dentro a mesa e as
cadeiras, Kate nos serviu um pouco de chá gelado e depois foi

Magic Breaks
Ilona Andrews
Livro 7
organizar os itens essenciais do banheiro. Julie e eu

começamos a guardar os itens das caixas. Quanto mais cedo
colocássemos todos os potes e panelas nos armários, mais cedo
eu teria uma refeição.
Era estranho, mas também era bom se acomodar na nova
822
casa. Esta era a nossa casa agora, a de Kate, da Julie e a
minha. Antes, durante o processo de escolha e compra da casa,
parecia algo distante, teórico. Agora, colocando nossas coisas
nela, tornou mais real.
Julie perguntou: — Então, como você foi pego?
— O que? Por que você quer saber?
— Eu não sei, todo mundo sabe como você se tornou o

Senhor das Feras, mas ninguém fala sobre o que você era
antes. Por quê?
— Porque não é uma história bonita. Eu não puxei

nenhuma espada de uma pedra179. Um homem gigante não veio
179
Curran faz uma referência sobre a história ficcional da Lenda da espada do
Rei Artur.

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Livro 7
no meu aniversário para me dizer que eu era um bruxo180. —

Bem, Mahon parecia um gigante para mim na época.
Os olhos de Julie ficaram muito grandes. — Conte-me.
— É uma história sangrenta e cheia de coisa ruins, —eu

disse.
823
— Eu também passei por merdas ruins.
— Eu ouvi isso! —Kate gritou do banheiro.
— Posso lidar com a sua história.
Eu dei a ela meu olhar firme. Aquele olhar que dizia que
essa conversa estava encerrada.
— Não adianta me olhar assim. Já te disse que não

funciona comigo. Eu sei que você não vai me machucar, então
pare de fingir.
— Eu sei que você passou por muita coisa, e sinto muito

por isso. O que aconteceu com você não foi justo, mas às vezes
é melhor deixar o passado, bem, no passado.
180
Curran faz uma referência sobre a história de Harry Potter.

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Livro 7
— Isso foi profundo, —disse Julie. — Leu isso em um

biscoito da sorte?
Ela estava ficando tão malcriada e língua esperta quanto

Kate, mas ao contrário de Kate, Julie se desculpava logo
depois. Três, dois …
824
— Desculpe, —disse ela. — Eu compreendo. Não gosto
de falar sobre minha mãe e ... —ela fez uma pausa e fez um
gesto com a mão, — todas essas coisas.
Porque ainda doía. — Vai doer menos com o tempo.
— Você é velho, —disse ela. — Se ainda dói muito falar

sobre isso depois de todo esse tempo, então provavelmente
nunca vai parar de doer em mim.
Aí ela me pegou.
Julie sabia que eu contei essa história para apenas uma

pessoa, Kate, e agora que éramos uma família, ela queria saber
se era digna da minha confiança. Nós éramos uma família. A
família sabia o que as pessoas de fora não sabiam.
— Tudo bem. Mas é uma longa história.
— Eu não vou interromper, —disse ela. — Prometo que

não vou contar a ninguém.

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Ilona Andrews
Livro 7
E então comecei a contar a ela toda a história feia.
— Meu pai e minha mãe eram militares. Ele era fuzileiro

naval. Ela era do exército. Os fuzileiros navais e o exército
dividiam uma base e ambos fizeram cursos no centro de
educação. Quando a Mudança chegou, minha mãe foi a
825
primeira a se transformar. Quando meu pai a viu se
transformar em um leão, isso desencadeou algo e ele mudou
de forma também. Ambos sabiam que, a menos que
estivessem dispostos a se tornar cobaias para os militares,
teriam que sair antes que alguém descobrisse. Eles se
demitiram.
— Eles tinham algumas conexões e tentaram se juntar a

um bando não muito longe da base, mas não funcionou. Meu
pai era como eu. As pessoas o viam como líder e o Alfa o via
como uma ameaça. Quando o alfa tentou reivindicar minha
mãe como parte de seu harém, meu pai o matou.
Facilmente. Então o bando queria que ele assumisse a
liderança. Ele não queria fazer isso, mas concordara porque se
sentia responsável por matar o Alfa. Quando ficou claro que
ele não estaria tomando uma nova companheira, uma das

Magic Breaks
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Livro 7
mulheres do bando tentou matar minha mãe que estava

grávida. Meus pais foram embora depois disso.
— Com o dinheiro que haviam economizado, compraram

uma grande cabana de madeira nos Apalaches. Meu pai sabia
que a área tinha uma reputação de ser insolada e não
826
particularmente acolhedora para pessoas de fora. Mas foi
justamente isso que lhe agradou no local. Depois de sua
experiência com o bando, eles só queriam ficar sozinhos e
viver em suas próprias vidas. Não eram responsáveis por mais
ninguém e responderia apenas a eles mesmos.
— Compreensível, —disse Julie. — Mas você não cresceu

em um barraco abandonado?
— De modo nenhum. Foi ótimo. Não tão grande como

este lugar, mas não era pequeno e nem sujo.
— Então, nenhum banheiro do lado de fora da casa?
Eu ri. — Não, eu não acho que minha mãe teria suportado

isso. Nós tínhamos encanamento interno e eletricidade.
Conveniências modernas. Isso foi pós-Mudança, então
tínhamos um gerador a gás quando a energia acabava. Mais
tarde, quando pararam de reparar as linhas de energia, nós o
usamos principalmente para a geladeira. Como eu disse, meus

Magic Breaks
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Livro 7
pais eram ex-militares. Ambos passaram a maior parte de suas

carreiras nos campos de batalha. Eles queriam conforto que
não tiveram e queriam algo bom para nós.
— Nós? Quem mais estava lá?
— No começo, apenas eram nós três, quando eu tinha
827
cinco anos, minha irmã Alice nasceu. Eu fiquei com ciúmes
no começo. Eles prestavam muita atenção a ela. Mais tarde foi
bom ter outra criança por perto.
— Você era próximo de sua irmã?
— Claro. Como éramos só nós dois e nossos pais, Alice

pensava que era incrível. Aos olhos dela eu era o rei dos
bosques. Mostrava a ela onde escolher as melhores frutas e
onde pegar o peixe mais gordo. Os melhores lugares para se
esconder quando ela queria fugir das tarefas ou aulas.
— Espera, como vocês frequentaram a escola, tinham que

descer as montanhas?
— Não, isso era muito difícil, estudávamos em casa.
— Isso é legal. Eu gostaria de poder ficar em casa e brincar

o dia todo.

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Livro 7
— Você começaria a uivar para as paredes em duas

semanas, —Kate gritou.
— Nós tínhamos nossas lições. Meus pais eram bem-

educados. Eles nos ensinaram a ler e escrever. Nenhum livro
estava fora dos limites e eles se certificaram de que tivéssemos
828
muito tempo para ler. Literatura e história sempre foram fáceis
para mim. A matemática foi mais difícil. Nós tínhamos um
computador antigo e havia jogos que nos ensinavam, usando
personagens divertidos.
Julie sorriu.
— O que foi?
— Eu simplesmente não consigo ver você jogando jogos

de criança.
— Eu era um garotinho. O que estou tentando dizer é que

tivemos uma infância muito boa. Quando meu pai achou que
eu tinha idade suficiente, ele começou a me levar para caçar e
pescar. Eu costumava amar estar na floresta, sozinho ou só eu
e ele.
— Alice não ia com vocês?

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Livro 7
— Ah não. No começo ela era muito jovem e depois era

muito tagarela para estar em uma caça. Você tem que ficar
muito quieto e muito silencioso para se esgueirar em alguma
coisa. Parece ruim dizer, mas ela tinha muita dificuldade em
ficar quieta. Não me lembro quando ela conseguia ficar em
829
silêncio. Mesmo quando ela era bebê, balbuciava bobagens
constantemente. Às vezes, mamãe e papai saíam para caças
juntos e me deixavam tomando conta dela. Eu ficava muito
bravo, passava horas sem falar com eles, e Alice tentava me
fazer rir. Ainda sinto muito a falta dela.
— Sinto muito, —disse Julie.
— Eu também.
— Eles trabalhavam? O que faziam para ganhar dinheiro?
— Nós trocávamos produtos principalmente. Carne,

alguns vegetais, milho, batata e cogumelos que encontrávamos
na mata. Às vezes, quando ficávamos sem dinheiro ou
suprimentos, meu pai desaparecia por um tempo e voltava
com presentes e dinheiro. Então nós íamos até Gatlinburg181
181
Gatlinburg é uma cidade localizada no estado norte-americano de Tennessee,
no Condado de Sevie.

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Livro 7
comprar o que precisávamos. Uma vez eles nos levaram para

um parque de diversões dirigido por um famoso cantor
country. Eu lembro porque todos nos divertimos muito. Isso
foi antes ...
— Antes do que? —Julie perguntou.
830
— Antes que tudo mudou. Antes dos loups chegarem.
— Oh merda, —disse Julie. — Você não tem que me

contar o resto se você não quiser.
— Não, está tudo bem. Somos uma família agora e sinto

que você deveria saber porque sou do jeito que sou. Lembro-
me de ler em algum lugar que somos a soma total de nossas
experiências. Isso faz sentido?
— Sim. É como se as vezes as coisas fodidas acontecem

para nos fazer como precisamos ser. Você não pode mudar
isso.
— Exatamente. Deveríamos colocar isso em uma camisa

para Kate.
Julie riu. — Ou cartões de visita que ela poderia distribuir.

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Livro 7
— Vocês poderiam gravar em alguns socos ingleses, para

que eu pudesse socar as pessoas quando eu ficasse irritada, —
disse Kate.
— Então, o que aconteceu com os loups? —Julie

perguntou.
831
— Eu tinha doze anos quando eles vieram para nós. Era a
vez da minha irmã arrumar a mesa. Mamãe cozinhava, um de
nós dois arrumava ou limpava a mesa, e meu pai lavava a
louça. Quando minha mãe a chamou e ela não veio, eles me
mandaram sair para encontrá-la. Eu estava aborrecido porque
ela tinha o hábito de se esconder quando tínhamos trabalho a
fazer.
— Você a encontrou?
— Sim, mas não antes deles. Pensei que ela estava

cochilando em uma árvore. Chamei e quando ela não me
respondeu eu me prepararei para subir na árvore e trazê-la para
baixo. Em vez disso, entrei direto em uma armadilha. Eles me
amarraram com uma corrente de prata.
— Jesus, isso foi brutal!

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Livro 7
— Sim, foi. É o que os loups fazem, Julie. Eles não sentem

medo ou pena. Tudo o que sentem é fome e desejo. Nunca
podem realmente se saciarem também.
— É por isso que você os odeia tanto?
— Sim. Eles tiraram tudo de mim naquele dia. Eles não
832
me mataram, mas tiraram a minha vida do mesmo jeito.
— Seus pais?
— Quando eu não voltei com Alice, meu pai seguiu meu

cheiro até a clareira. Eles estavam esperando por ele, me
usando como isca. Meu pai era forte. Ele lutou e matou muitos
deles, mas o resto o atacou e o derrubou. Havia muitos e ele
era apenas um homem. Depois que terminaram com meu pai,
eles foram atrás da minha mãe. Ela não teve chance. A loucura
deles os torna muito rápidos e fortes.
— Como você ... —Julie não terminou a pergunta, mas

ela ficou lá, pendurada.
‘Não morreu, não foi estuprado e devorado por monstros?’
— Escapei? —Eu ofereci.
— Sim, Mahon veio e salvou você?

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Livro 7
— Não. Eu queria que tivesse sido assim. Que o grande

urso tivesse chegado a tempo e que ele e meu pai lutassem
juntos e matassem os loups. Eu realmente acredito que os dois
juntos teriam conseguido.
— Você poderia? Agora eu quero dizer.
833
— Talvez. Eu costumava pensar muito sobre isso. Se eu
fosse mais velho, mais forte. Nos meus sonhos acordados
costumava salvá-los. Nos pesadelos, ainda sou fraco e fico ali,
desamparado, enquanto eles destroem meu pai.
— Puta merda, você ainda tem esses pesadelos?
— Não tanto quanto antes. Logo depois do que aconteceu,

quando eu dormi na floresta, costumava sempre acordar com
certeza de que eles estavam se aproximando de mim. Ainda
acontece às vezes.
— Isso é ruim. Você precisa ver alguém.
Ela provavelmente estava certa.
— Talvez. Agora é tarde demais e eu estava muito fora de

mim. Não acho que eu poderia ter falado sobre tudo isso com
um estranho. O que eles diriam? Que minha família está em

Magic Breaks
Ilona Andrews
Livro 7
um lugar melhor agora? Que tudo fazia parte do plano de

Deus?
— Sim, eu odeio essa porcaria. Você acredita Nele?
— Eu não sei. Não sou ateu, eu vi muita coisa estranha

para não acreditar em nada. Acho que, se Ele existe, tem muito
834
o que se explicar. Meio que me faz mais um agnóstico furioso.
— Cuidado, você vai para o inferno por esse tipo de

conversa.
— L'enfer, c'est les autres.182
— O que isso? Isso é irlandês ou qualquer outra língua?
— O inferno é outras pessoas. —Eu citei. — Não, é

francês, na verdade.
— O que isto quer dizer?
— Acredito que isso significa que nós já criamos suficiente

dor e sofrimento aqui na Terra.
— Isso é pesado. Eu não sabia que você falava francês.
182
O inferno é outras pessoas é uma citação da peça No Exit, de Jean-Paul Sartre, que teve um grande impacto,
ultrapassou em muito o âmbito da filosofia para passar em linguagem e cultura cotidiana popular.

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Livro 7
— Um pouco. Minha mãe me ensinou. Eles queriam que

eu fosse capaz de ler Sartre183 e Camus184 no idioma
original. Meu pai era um grande defensor da ‘educação
clássica’. Eu acho que ele estudou Filosofia.
— Ei, —ela disse, — você está evitando a pergunta?
835
— Que pergunta? —Eu sabia do que ela estava falando,
mas esperava que ela não tivesse notado que eu estava
evitando responder.
— Como você escapou?
— Sério? Como você disse, sou um velho e esqueço das

coisas.
— Você só não quer me dizer.
183
Jean-Paul Charles Aymard Sartre foi um filósofo, escritor e crítico francês, conhecido como
representante do existencialismo. Acreditava que os intelectuais têm de desempenhar um papel ativo na sociedade. Era um
artista militante, e apoiou causas políticas de esquerda com a sua vida e a sua obra.
184
Albert Camus foi um escritor, filósofo, romancista, dramaturgo, jornalista e ensaísta francês, nascido
na Argélia. Ele também atuou como jornalista militante envolvido na Resistência Francesa, situando-se próximo das correntes
libertárias durante as batalhas morais no período pós-guerra.

Magic Breaks
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Livro 7
— Não, não é isso, é que eu precisava de algum tempo

para conseguir colocar isso para fora.
— Você não precisava me dizer ...
— Eu sei, mas eu quero dizer e talvez precise. Onde nós

paramos?
836
— Mahon não salvou você?
— Não, essa parte vem depois. De qualquer forma, assim

como eu disse quando comecei a subir na árvore para pegar
Alice, eles me pegaram. Enrolaram em uma corrente de prata
no meu pescoço e me envolveram em uma rede de
prata. Machucou como o inferno. Depois que eles terminaram
com meu pai, foram atrás da minha mãe. Ouvi ela chorar, e
isso me deixou um pouco louco. Lutei e a corrente deve ter
cortado o galho em que eu estava pendurado. Devo ter levado
algum tempo para me livrar da rede porque a essa altura minha
mãe não estava mais gritando.
— Oh meu deus, —disse Julie calmamente, — isso foi

horrível.
— Eu te disse. Então corri. Eles me perseguiram, mas eu

conhecia a área melhor e eles faziam muito barulho e

Magic Breaks
Ilona Andrews
Livro 7
desistiram quando não conseguiram me encontrar depois de

um tempo. Continuei assim por alguns meses. Eles ficaram em
nossa casa e eu me escondi e os assisti de longe. Sabia que não
poderia lutar com todos, então esperei pacientemente pegar
um por um sozinho.
837
— Você fez? Pegou um por um?
— Não, eles estavam sempre juntos. Havia apenas cinco

até então, meu pai tinha matado três, mas isso ainda era
demais para mim. —Pensando bem, se eu fosse realmente
honesto comigo mesmo, eu sabia que um metamorfo contra
cinco loups era suicídio em potencial.
— Então você morou sozinho na floresta? Como

sobreviveu sozinho?
— A primavera é uma cadela viciosa nas montanhas, fria

e dura como gelo. No início, eu os assisti o máximo que pude,
mas também sabia que, eventualmente, precisava encontrar
comida e abrigo se não quisesse ficar doente ou morrer de
frio. Então encontrei um lugar que parecia vazio e entrei.
— Era um dos lugares bons? —Julie perguntou.

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Livro 7
— Oh sim, era maravilhoso para mim, mas eu realmente

não tinha comido ou dormido mais de uma hora ou duas em
provavelmente uma semana. Estava morrendo de fome, então
invadi a despensa e comi a maioria dos cereais secos e
enlatados. Podemos ficar por um tempo sem comida ou
838
dormir, mas não os dois. Meu corpo foi desligado e eu fiquei
lá por dias morto para o mundo e apenas me levantando para
comer. Eu tinha pesadelos onde os loups estavam do lado de
fora esperando por mim. Na maioria das vezes acordava e
surtava me perguntando onde eu estava e por que minha
família não estava lá. Então me lembrava de tudo.
— Você chorou? Tudo bem se você fez. Não vou contar a

ninguém.
— Não, eu queria, mas não consegui. Nunca vi meu pai

chorar. Prometi a mim mesmo que também não iria até punir
os covardes que o assassinaram. Mas foi mais que isso. Eu
nunca na minha vida me senti tão impotente quando eu estava
pendurado naquela árvore, observando enquanto ele lutava
por sua vida, sua esposa e seu filho e perdia. Impotente para
parar o que veio depois.

Magic Breaks
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Livro 7
— Não foi sua culpa. Você era apenas uma criança e eles
teriam matado você também.
— Oh, eu sei disso agora. Mas eu tinha que lidar com isso
de alguma forma, então decidi que nunca mais ficaria tão fraco
de novo e nunca sentiria o mesmo medo. Era isso ou ceder e
839
deixar a dor me engolir. É como uma frase de uma velha
canção que diz: 'Quando eu era jovem, eu estava tão cheio de medo,
me escondi por trás da raiva, segurei minhas lágrimas185'.
— É daquela banda que você gosta de ouvir enquanto

levanta pesos, Social Destruction?
— Distortion, —eu corrigi. — Sim é deles.
— Como se chama, a música que eu quero dizer?
— Eu estava errado.
— Bem, então definitivamente não é sobre você. —Julie

verificou meu rosto para ver se eu ia rosnar. Eu não ia.
— Isso foi engraçado, então vou deixar passar a piadinha.
185
Social Distortion é uma banda norte-americana de punk rock formada
originalmente em 1978 em Fullerton, California pelo seu vocalista, guitarrista e líder, Mike Ness. O trecho que o Curran cita e
da música: I Was Wrong: https://www.youtube.com/watch?v=aXAU4MmMIMo

Magic Breaks
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Livro 7
— Então o que aconteceu? Você acabou de ficar sem casas

aleatórias para roubar?
— Tipo isso. Uma vez acordei e os loups estavam mesmo

do lado de fora. Acho que eles ficaram sem comida e tiveram
a mesma ideia que eu. Só que eles não se importavam se um
840
lugar estava vazio ou não. Se houvesse pessoas em um lugar,
isso significava mais comida e diversão para eles.
Julie fez uma careta. — Isso é horrível.
— De fato. Eu fugi, mas percebi que precisava ser mais

cuidadoso. Não podia ficar em um lugar por muito tempo ou
arriscar que eles me rastreassem em uma casa que estava
ocupada. Aprendi a esperar. Comecei a observar de longe os
lugares que eu iria ficar. Não entrava pelas portas. Procurava
sempre por janelas destrancadas pelas quais pudesse entrar.
— Ah sim, —disse Julie, — foi o que eu fiz. Eu acho que

eles pensam que ninguém pode entrar por elas, mas se você é
pequeno o suficiente, consegue. Quando ficávamos sem
comida ou dinheiro, Red me mandava entrar nos lugares para
conseguir comida e coisas que poderíamos vender. Eu sempre
procurava uma janela de banheiro primeiro, elas quase nunca
estão trancadas. Não sei porque.

Magic Breaks
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Livro 7
— Acredito que é porque a maioria das pessoas quando

pensam em ladrões pensa em adultos, grandes. Não crianças
com fome ou desesperadas o suficiente para se espremer
através de uma janela de banheiro ou janela do andar de cima.
Julie pareceu pensar sobre isso. Talvez sobre esse tempo
841
em sua vida. Finalmente ela falou. — Acontece embora.
— Isso aconteceu conosco.
Talvez sentindo uma pausa na conversa, Kate escolheu

aquele momento para entrar na cozinha.
— Vocês dois gostariam de comer ou querem terminar de

conversar? —Ela perguntou, sua voz calma. — Posso esperar
para comer.
— Comida, —Julie e eu dissemos em uníssono.
— Comida então, —disse Kate.
— Vai continuar? —Perguntou Julie.
— Se você quiser, mais tarde.
Continua ...

Magic Breaks
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Livro 7
CENAS EXTRAS 02
Kate e Curran Twitter: O Vestido
(7,6 no goodreads)
842
Não há twitter na Atlanta de Kate Daniels, mas se houvesse …
Kate - mensagem direta para Curran

Kate: Tô no mercado. Você quer alguma coisa além de café?
Curran: Carne.
Kate: Que tipo de carne?
Curran: Carne deliciosa.
Kate: Entendi isso. Vaca ou veado?
Curran: Não me importo. Ei, sobre o seu vestido ...
Kate: Qual vestido?
Curran: O branco. Eu lavei, mas o sangue não sai.
Kate: Você tentou lavar roupa novamente?
Curran: Eu não tento. Eu faço.

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Livro 7
Kate - mensagem direta par Julie

Kate: Julie, ele está lavando roupa?
Julie: Simmm.
Kate: Ele separou as roupas brancas das coloridas ou apenas
843
colocou tudo junto na lavadora novamente?
Julie: Ele separou. Jogou alvejante em seu vestido. Eu disse a

ele para não fazer isso.
Kate: É a segunda vez que ele lava roupa em toda a sua vida.
Nós só precisamos ter paciência.
Kate – mensagem direta para Curran

Kate: Ei querido, você usou alvejante no meu vestido de seda?
Curran: Sim, eu fiz. As manchas não quiseram sair. As

instruções no vasilhame do alvejante diziam que para cada litro de
água uma xícara de alvejante, então coloquei o vestido de molho
nisso.
Kate: Ah. Você pode verificar o vestido?
Curran: Claro.

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Livro 7
Curran: Humm. Kate, eu não sei como te dizer, mas seu

vestido tem buracos nele. Não sei como isso aconteceu.
Curran: Kate?
Kate: Eu não gostava muito desse vestido.
Kate: Curran, você está aí?
844
Curran: Sim. Espere, há algo andando pelo nosso gramado.
Kate: Provavelmente é só o cara do medidor de energia

novamente.
Kate: Curran? Não ataque o rapaz. Se você o amarrar em uma

árvore novamente, nós teremos problemas. Estou falando sério.
Kate – mensagem direta para Julie

Kate: Julie, o que diabos ele está fazendo?
Julie: Há um cachorro gigante de duas cabeças no nosso

quintal. Tem chifres enormes e está pingando baba brilhante pela
boca. Curran está gritando com a coisa. Espere, vou abrir a janela.
Kate: Oh.
Julie: Acabou de chama-lo de demônio. Ele está perguntando

o que a criatura quer.

Magic Breaks
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Livro 7
Kate:
Julie: Aparentemente, quer comer o rosto de Curran. Oh,

vomitou um cadáver de cachorro. Eeeca.
Julie: Ele, ele, ele ...
845
Kate: Ele está batendo no demônio?
Julie: Com um bloco de concreto que os empreiteiros

deixaram no quintal.
Kate: Ele parece satisfeito?
Julie: Simm. Está sorrindo. Há sangue por toda parte.
Kate:
Kate: Você quer alguma coisa do mercado?
Julie: Delineador e maçãs.
Fim ...

Magic Breaks
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Livro 7
846
Depois de deixarem o Bando, a ex-mercenária Kate Daniels e seu
companheiro, ex-Senhor das Feras, Curran Lennart, estão se ajustando a
um ritmo de vida muito diferente. Apesar de estarem muito felizes por terem
se livrado de todos os problemas internos do Bando, Curran sente falta dos
constantes desafios de liderar os metamorfos.
Então, quando o Bando oferece a ele o cargo de Oficial representante do Bando
nas ações da Associação dos Mercenários, Curran aproveita a oportunidade,
pena que a Associação não quer nada com ele e Kate. Felizmente, como uma
mercenária veterana, Kate pode assumir qualquer um dos trabalhos
inacabados da Associação, a fim de trazer dinheiro e construir sua
reputação. Mas o que Kate e Curran não percebem é que as missões em que
estão trabalhando estão todas conectadas.
Um antigo inimigo surgiu, e Kate e Curran são os únicos que podem pará-lo,
antes que ele desmonte sua cidade, peça por peça ...

07 - Magic Breaks

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07 - Magic Breaks

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Magic Breaks

Mais um Projeto das Divas & Lord’s FOREVER

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Não importa o quanto a política paranormal de Atlanta mude, uma

Como ex-mercenária e companheira de Curran, o Senhor das Feras de Atlanta,

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CURRAN LENNART: Senhor das Feras. Alfa e líder dos

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cinzas, aproximadamente um metro e oitenta de altura, possui

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BARABAS GILLIAM: Apesar de ser um metamorfo

ANDREA NASH: Mulher, um metro e sessenta de altura,

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ela é a prole extremamente rara de uma bouda fêmea e uma

RAPHAEL MEDRANO: Herdeiro e alfa do Clã Bouda, tem

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parceiros, mas se apaixonou por Andrea Nash à primeira vista

DEREK GAUNT: Metamorfo lobo e o protegido de Jim e

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ASCANIO FERARA: Adolescente bouda, dezesseis anos.

DESANDRA: Mulher, vinte e tantos anos, metamorfa loba.

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para se tornar beta, perdendo apenas para Jennifer. Debaixo

DR. DOOLITTLE: O primeiro e o mais experiente médico

JULIE: Mulher, adolescente, Curran a chama de ‘filhote de

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do Bando. Julie tem a capacidade única de ver magia, ela é um

JENNIFER: Alfa fêmea do Clã Lobo e viúva de Daniel, que

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ROBERT E THOMAS LONESCO: Alfas casados do Clã Rato.

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A Ordem dos Cavaleiros da Ajuda

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a se aposentar, a menos que cometa um erro colossal. Ted está

MAXINE: Poderosa telepata e secretária de longa data e

MAURO: Um grande samoano5, Cavaleiro da Ordem,

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MULRADIN GRANT: O principal rival de Ghastek pelo poder

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HUGH D'AMBRAY: o Senhor da Guerra de Roland; ele caçou

HIBLA: Mulher, origem desconhecida. Hibla é um dos Cães

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tem esperado pela oportunidade de vingança desde o fim do

ROLAND: O pai de Kate é uma figura mítica cujas origens

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MAPA DE ATLANTA PÓS-MUDANÇA

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MEU NOME É Barabas. Eles me deram esse nome

No momento em que escrevo estas linhas, tenho vinte

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Também trabalho para a Consorte do Bando como um

Estou vivendo um momento particularmente

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de quem serão esses sobreviventes. Não me leve a mal,

Então, suponho que devo começar do começo. O

Nos tempos antigos, a tecnologia e a magia existiam

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noite e fizeram chover cobras aladas e metal derretido em

Avancemos cinco mil anos. É o início do século XXI e

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lâmpadas e os motores elétricos, no lugar deles a magia

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