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Oficina Modelo-Vivo

A representação da figura humana nas artes plásticas, realizada inicialmente por escultores e
pintores desde registros muito remotos, requereu a exibição do corpo nu.
A produção de esculturas, desenhos e pinturas feitos a partir da exposição de modelos vivos é
fundamentalmente histórica e existe ao longo do ensino das artes. De acordo com o
historiador inglês (CLARK, 1956), o nu é considerado uma forma de arte e a figura humana é
representada por esculturas gregas desde o séc. V a.C. Há porém, registros de sua
representação em cavernas na pré-história, como “A Dama e o Corne”
(1)

estatueta encontrada em Laussel, na França, feita no período Paleolítico-Superior, ou ainda, a


estátua de “Vênus de Willendorf”, do mesmo período e encontrada na Áustria.
(2)
Das esculturas Gregas ao Renascentismo, o nu, continuou servindo à prática da observação de
modelos vivos nos períodos seguintes, sendo objeto de estudo para grandes artistas até os
dias de hoje...
Sessões de desenho com modelo- vivo são realizadas em diversas instituições de ensino e
centros de cultura a cidade de São Paulo, oferecendo aos interessados a oportunidade de
aprendizagem sobre representação do corpo.
A diversidade de formação, atuação e intenções que movem o indivíduo a praticar ou ao
menos, iniciar-se na prática de uma atividade tão importante quanto é a da observação de
modelo-vivo, mostra que a pluralidade é parceira e necessária na realização da arte.
Na Grécia Antiga o nu se caracterizou por um componente idealizador (Idealismo) mais do que
por uma representação naturalista. A figura humana era representada com um ideal de
perfeição para transcender a matéria e evocar a alma, a pureza, e a união corpo-espirito. Os
artistas gregos, mais do que imitaram o corpo humano, aperfeiçoaram-no. (CLARK, 1956).
O pintor Zeuxis (464-398 a.C) pinta sob encomenda Helena de Tróia a partir da observação de
5 jovens consideradas as mais belas jovens da cidade de Crotona. O nu se apresenta na Grécia
Antiga como sublimação do corpo pela alma, a glória, o orgulho e, a primeira modelo-vivo que
ganhou notoriedade na história viveu na Grécia Antiga. Phyne (390-330 a.C), uma cortesã que
se tornou musa do artista Apolos e depois dos demais artistas da época.
Na sequência, na Arte Cristã Primitiva (séc. II ao V d.C), e também na Arte Bizantina o corpo
era representado sem preocupações com primor estético por artesãos autodidatas, em
contraposição à arte greco-romana. O nu deste período era mostrado com vulnerabilidade,
com culpa, sofrimento e não mais com representação do orgulho e êxtase, como na Grécia
Antiga.
É notória a diferença entre a forma de se enxergar o nu na cultura greco-romana, que o
enxergava como algo glorioso e sagrado, e na cultura judaico-cristã, que o enxergava com
pudor, culpa e vergonha. Na Idade Média (séc, V ao XV) a Igreja Católica influenciou aspectos
sociais, econômicos, políticos, religiosos e culturais. A arte medieval teve forte inspiração na
religião. Não havia influência da representação da nudez como símbolo artístico sacro.
Reverberar estes entendimentos para os artistas que observam o modelo-vivo. Atualiza-los
com um entendimento maior sobre o corpo e sua participação no processo criativo dos
mesmos.
“Desse ponto de vista, a “comunicação envolve a troca de sentidos”, seja pela utilização da
linguagem e/ou por representações visuais que fazem parte do povo, mais precisamente, a
denominada cultura dos indivíduos de uma sociedade. (COSMANO, 2015: 38)
A exposição do modelo-vivo pode estar muito mais ligada a cultura dos seus participantes, do
que, com representações visuais de um indivíduo. O modelo-vivo expõe mais do que a sua
anatomia física, provoca a mediação que pode ir muito além do que é visto.

Razões da Oficina

Ainda vemos tentativas desesperadas de alguns poderes dominantes da replicação dos


padrões de pensamento, tão veladores e estagnadores de consciência.
1- Razões técnicas: Ao artista observador, olhar para o modelo nu permite que este
compreenda o tamanho e as proporções anatômicas reais, sem se orientado pelo
corte da roupa que o modelo vestiria, ou então, enganado pelos caimentos e desenhos
do traje. Volumetria real sem a interrupção das linhas e volume das vestes.
2- Razões filosóficas: A nudez promove o enfrentamento dos medos e traumas daquele
que observa o modelo nu. Promove o respeito pelas diferenças relacionadas à
anatomia, singularidades e comportamentos humanos.
3- Razões históricas: “O corpo humano, considerado na arte como um núcleo autônomo,
é rico em associações; e quando considerado esteticamente, elas não se perdem do
todo.[...] O nu pode ser o ponto de partida para a expressão de uma experiência muito
mais vasta e civilizada: é a nossa própria imagem, e permite-nos evocar tudo aquilo
que temos em mente fazer de nós próprios. Acima de tudo, o tratamento estético do
corpo humano pode assumir umas das formas mais expressivas do nosso desejo de
perpetuação. (CLARK, 1956)
4- Razões morais: É importante entender a diferença entre o nu e o pelado, sendo o
primeiro uma atitude, um estado e o segundo, uma ocorrência. O estado é relacionado
na arte pela disponibilidade, a ocorrência é relacionada pela sociedade (o mais
comum) como algo incorreto se oferecido sem propósito ou conteúdo. O nu contém
uma intenção reflexiva da nudez a respeito dos hábitos impostos por padrões sociais.
5- Razões políticas: O corpo é considerado por muitos um potencial icônico de lutas
políticas, seja em intenções pela paz, direitos humanos, racismos, generofobias ou em
quaisquer interesses sociais de divergências. Por representar o que o ser humano é em
sua essência, como vem ao mundo e o quanto é modificado por ele, a nudez tem um
potente referencial balizador.
6- Razões religiosas: Segundo o Filósofo contemporâneo Giorgio Agambem (2009,
pág.73) a nudez, na nossa cultura, é inseparável de uma marca teológica. De acordo
com a narrativa do Gênesis, Adão e Eva só se dão conta de estarem nus após o pecado
que cometem. Antes deste “pecado” eles já estavam nus e se subentende que seus
nus eram como trajes gloriosos, trajes de e luz...
7- Razões antropológicas: No que se refere ao estudo mais aprofundado do ser humano,
através da comparação incontestável que a exposição da nudez promove, podemos
ver no outro o que há e o que não há em nós. A complexa nudez que se observa do
modelo-vivo pode ser a nudez que falta a àqueles que o observam. O despojamento
que ela representa é o despojamento que a arte pretende (ou possa pretender) refletir
na obra de arte.

“Olhar para o outro e ver também si mesmo. Olhar para si próprio e se ver no
outro, melhor, inerente. Modelos de uma transfiguração, artistas e eu somos um
só. E nosso trabalho espelho, que reflete a todos nós em um reconhecer-se.
(HOLLIVIER, Juliano:2006)”

Cronograma

Ao longo de todo 2024

Modelos (Corpos) da Oficina

Elmira Valieva
Russa de São Petesburgo passou por os últimos tempos em Cuba e agora
está por aqui oferecendo suas lindas poses.
Roger D’Mello
Brasileiro, Paulista, está junto a Elmira oferecendo suas poses ou, em
conjunto com ela, ou sozinho.

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