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245-00
IRANDÉ
ANTUNES
Licensed to Robson - robson.uneb@gmail.com - 686.355.245-00
EDITOR:
Marcos Marcionilo
CONSELHO EDITORIAL:
Ana Stahl Zilles [Unisinos]
Angela Paiva Dionisio [UFPE]
Carlos Alberto Faraco [UFPR]
Egon de Oliveira Rangel [PUC-SP]
Henrique Monteagudo [Universidade de Santiago de Compostela]
José Ribamar Lopes Batista Jr. [UFPI/CTF/LPT]
Kanavillil Rajagopalan [UNICAMP]
Marcos Bagno [UnB]
Maria Marta Pereira Scherre [UFES]
Roberto Mulinacci [Universidade de Bolonha]
Roxane Rojo [UNICAMP]
Salma Tannus Muchail [PUC-SP]
Sírio Possenti [UNICAMP]
Stella Maris Bortoni-Ricardo [UnB]
Vera Lúcia Menezes de O. e Paiva [UFMG/CNPq]
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A642t
Formato: ebook
Requisitos do sistema:
Modo de acesso: world wide web
Inclui bibliografia
ISBN: 978-65-86250-04-6 (recurso eletrônico)
Direitos reservados à
PARÁBOLA EDITORIAL
Rua Dr. Mário Vicente, 394 - Ipiranga
04270-000 São Paulo, SP
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e-mail: parabola@parabolaeditorial.com.br
ISBN: 978-65-86250-04-6
© do texto: Irandé Antunes, 2017
© da edição: Parábola Editorial, São Paulo, outubro de 2017
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SUMÁRIO
NOTA DO EDITOR................................................................................9
APRESENTAÇÃO............................................................................... 13
um
ENTRANDO NO ASSUNTO DA CONVERSA ................................................ 21
dois
TEXTOS: UM NOVO MODISMO?............................................................. 25
1. Fundamentos............................................................................ 25
2. Em sala de aula ......................................................................... 28
três
O TEXTO COMO OBJETO DE ESTUDO DA LÍNGUA...................................... 31
1. Fundamentos ........................................................................... 31
2. Em sala de aula ......................................................................... 34
quatro
QUALQUER CONJUNTO DE PALAVRAS É UM TEXTO?.................................. 43
1. Fundamentos ........................................................................... 43
2. Em sala de aula ......................................................................... 48
cinco
EM QUE CONSISTE A COESÃO DO TEXTO?............................................... 55
1. Fundamentos............................................................................ 55
2. Em sala de aula ......................................................................... 69
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seis
EM QUE CONSISTE A COERÊNCIA DE UM TEXTO?....................................... 73
1. Fundamentos ........................................................................... 73
2. Em sala de aula ......................................................................... 79
sete
A COERÊNCIA NO TEXTO POÉTICO........................................................ 85
1. Fundamentos............................................................................ 85
2. Em sala de aula......................................................................... 88
oito
CONTINUIDADE REFERENCIAL: O QUE É? ............................................... 93
1. Fundamentos............................................................................ 93
2. Em sala de aula........................................................................102
nove
EM QUE CONSISTE A INFORMATIVIDADE DO TEXTO? ............................... 107
1. Fundamentos...........................................................................107
2. Em sala de aula........................................................................ 113
dez
EM QUE CONSISTE A INTERTEXTUALIDADE?............................................117
1. Fundamentos........................................................................... 117
2. Em sala de aula........................................................................ 121
onze
OS GÊNEROS DE TEXTO: NOÇÕES E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS .....................129
1. Fundamentos........................................................................... 129
2. Em sala de aula........................................................................ 135
doze
E A GRAMÁTICA NESTA ‘HISTÓRIA TODA’? .............................................141
1. Fundamentos........................................................................... 141
2. Em sala de aula........................................................................ 145
treze
OS LINGUISTAS E O ENSINO DA GRAMÁTICA............................................151
catorze
UM ‘OUTRO’ PROGRAMA DE ESTUDO?...................................................157
quinze
PARA APROFUNDAR A CONVERSA .......................................................161
Referências.................................................................................164
NOTA DO EDITOR
P
ara alegria nossa, leitore(a)s seus do Brasil inteiro, Irandé
Antunes, aos 80 anos completados em 27 de julho de 2017,
vive a primavera, floresce de modo pleno.
Quem recebe a distinção de fazer parte de seu círculo íntimo
não contém a admiração diante de sua energia e de tanto e tão
constante empenho em estar perto e disponível para acolher sua
família e seus amigos, que são miríade.
Quem tem a oportunidade de ler seus livros e de viver a sen-
sação de entrar não num livro, não numa exposição doutoral,
mas numa conversa face a face, inevitavelmente se contagia pelo
entusiasmo da Autora e por sua luta de mais de cinquenta anos
na elaboração de pontos nucleares de uma educação linguística
mais coerente, coesa e de incidência explícita sobre a realidade
brasileira do ensino de língua materna em todos os seus níveis.
Quem tem a honra de editar seus livros desde 2003 vê a con-
solidação da figura pública de uma Autora que – de um já remoto:
“Quem é esse Irandê Antunes?”, assim mesmo com um ê circun-
flexo e perguntando por um autor, não por uma autora –, veio a
se tornar a mais amada escritora da Parábola Editorial, atenta-
mente lida e ouvida no país todo por estudantes de Letras e de Pe-
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NOTA DO EDITOR 11
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***
Irandé, parabéns pelos seus 80 anos e obrigado pela fecun-
didade, por tudo o que nos ensina. Não à toa você se apresenta
sempre como “professora de português”. Por você nunca ter se
distanciado de seus pares, seu público é unânime em dizer:
M arcos M arcionilo
São Paulo, Primavera de 2017
APRESENTAÇÃO
M
inha pretensão para este livro é oferecer aos professo-
res da educação básica e a alunos dos cursos de Letras
e Pedagogia uma introdução aos estudos da textua-
lidade e do texto, com esclarecimentos a respeito de questões
mais gerais e preliminares. Uma espécie de iniciação básica... Um
começo de conversa... O que significa que é uma ‘iniciação’ (‘um
começo’) de ‘uma conversa’ que vai se prolongar e se aprofundar
depois... Quero eu!
Além dessa iniciação aos conteúdos ligados a esses tópicos
textuais, pretendo trazer algumas orientações e sugestões de
como os professores poderiam iniciar os alunos nesses estu-
dos textuais, tirando do foco do ensino — como vem acontecen-
do, ainda hoje, em muitas escolas do país — conceitos e atividades
mais restritos à gramática da palavra e da frase.
Por exemplo, em geral, aos alunos das séries iniciais não se
pede que escrevam pequenos textos (já que ainda não estão al-
fabetizados), mas se pede que formem frases isoladas, a partir
de palavras também isoladas, reconhecidas com base em figuras
que nem sempre têm vínculo que as associe semântica ou prag-
maticamente. Uma atividade que nega o princípio básico da lin
guagem — sua funcionalidade — e o outro da textualidade — que
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Por isso me dirijo prioritariamente a professores da educação
básica e a alunos de Letras e de Pedagogia. Nada impede, no en-
tanto, que alguém interessado em iniciar-se no mundo do texto
e de suas categorias dê uma olhadinha nestas páginas, a fim de
ampliar sua formação linguística, já que, como se sabe, o texto e
seus conceitos não têm preenchido a pauta dos programas de estu
do nem mesmo nas séries mais avançadas.
Não alimento, pois, outras pretensões, a não ser isto mes-
mo: favorecer a introdução desse público em um universo
conceitualainda pouco acessível e tradicionalmente preterido e
assim oferecer subsídios — bem claros e acessíveis (espero!) —
para que novos objetos de ensino sejam incorporados às aulas
de português.
Não terei pudor em ser taxativa ou mesmo repetitiva em re-
lação a certos pontos teóricos ou metodológicos considerados ex-
Apresentação 15
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***
Vale, já nesta altura de nossa conversa, um esclarecimento: o
texto de que vou me ocupar é, prioritariamente, o texto linguísti
co, ou seja, o texto constituído de palavras.
Essa minha opção não significa desconhecimento da natu-
reza textual-discursiva que podem assumir desenhos, imagens,
gestos, fotos, pinturas, grafites, gráficos, os quais também se sub-
metem a certas condições que caracterizam um ‘objeto de lin-
guagem’ e, assim, podem funcionar como ‘textos’. Minha opção,
reitero, resulta de meu empenho em divulgar novas concepções
entre os professores que, em situação de sala de aula, tratam com
o objeto ‘linguagem-língua’, objeto tão secularmente mal compre-
endido na imensa abrangência de suas funções sociais.
Por que continuo insistindo em falar com quem ‘está no co-
meço’ de uma trajetória de formação linguística, isto é, graduan
dos de Letras e de Pedagogia, professores recém-formados ou
aqueles que já se ocupam da educação básica?
Apresentação 17
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***
“O texto abre as portas para o inusitado, para o
mundo da vida invadir a sala de aula, para o
acontecimento conduzir a reflexão, sem que os
sentidos se fechem nas leituras prévias e privilegia
das com que os trechos têm sido silenciados quando
presentes na sala de aula”
(W. Geraldi. Aula como acontecimento, 2010: 124).
Apresentação 19
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um
ENTRANDO NO ASSUNTO
DA CONVERSA
N
ossa conversa se insere em um campo dos estudos da lin-
guagem conhecido como a linguística de texto. É um cam-
po relativamente novo, que teve seu desenvolvimento no
começo da segunda metade do século XX. Esse campo foi conside-
rado pelos linguistas que defendiam sua aceitação, como:
(1) um novo modo de fazer linguística;
(2) uma nova perspectiva na observação e descrição do objeto lin-
guístico, o que implicou uma reavaliação dos princípios e mé-
todos da linguística geral, embora pretendesse deslocar mais
do que substituir os paradigmas da investigação linguística;
(3) um programa de investigação capaz de reafirmar a impor-
tância da linguística no centro de outras ciências sociais (se-
gundo consta em Schmidt, 1978: 1-14);
(4) “uma das linhas de pesquisa mais promissoras da linguísti-
ca” (Marcuschi, 2008: 1).
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Parece claro que os pressupostos e as motivações apresenta-
dos para justificar a relevância da linguística de texto se ajustam
exatamente àqueles objetivos pretendidos para a tarefa da educa-
ção, pois é no estudo e na análise das atuações comunicativas —
quer dizer, das atividades de linguagem em textos — que se pode,
com amplo sucesso, preparar as pessoas para o mercado de tra-
balho e para sua participação cidadã na condução de sua própria
vida e da vida da sociedade em que está inserido.
dois
TEXTOS: UM NOVO MODISMO?
1. Fundamentos
E
m consonância com o desenvolvimento dos estudos da se-
mântica e, sobretudo, da pragmática, surgiu o interesse da
linguística em abranger a língua como um todo e, assim,
fugir da concentração unilateral e reduzida tradicionalmente
adotada. Abranger a língua como um todo supõe percebê-la na sua
complexidade, já que toda língua é um sistema plural de compo
nentes linguísticos e cognitivos estreitamente vinculados e depen-
dentes das situações socioculturais de cada grupo.
Daí, também, o interesse da linguística em eleger como lugar
central de estudo e pesquisa os usos reais da língua, em seus di-
versos contextos sociais. Não se pode entender o que o outro diz
sem levar em conta os elementos espaçotemporais e culturais da
situação, isto é, os elementos exteriores aos fatos linguísticos que
se quer entender.
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2. Em sala de aula
três
O TEXTO COMO OBJETO DE
ESTUDO DA LÍNGUA
1. Fundamentos
S
e nos convencêssemos de que usar uma língua — falando,
ouvindo, lendo, escrevendo — é alguma coisa que se faz
apenas sob a forma de textos, nenhum outro item poderia
ser objeto de estudos, de análise, de avaliação, de prática senão o
texto, senão concretamente todo gênero de texto com que a gente
se depara no dia a dia. Obviamente, o professor não está proi-
bido de tratar de unidades menores (palavra, morfema, sílaba
etc.), sempre que isso seja textualmente relevante e sob a devida
orientação para a textualidade.
Apenas o texto possibilita a compreensão mais global e mais
consistente do fenômeno linguístico. Todas as possíveis variações
de interpretação, de sentidos e referências são mais complexas no
texto do que em frases soltas.
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2. Em sala de aula
tipo, a não ser isso mesmo: são frases soltas que remetem a uma
série de objetos também soltos, sem qualquer dependência con-
textual explícita. Fora de uma cena social concreta, sem sujeitos
interlocutores e sem um propósito comunicativo qualquer. Não
importa o que se diz nem como é dito. Importa somente formar
uma frase em que apareça determinada palavra.
Nessas condições, se pratica ‘a não linguagem’, pois ninguém
se comunica segundo esse modelo. Nessas condições, se exercita
a não textualidade da língua e se contraria o modo de ocorrência
de qualquer atuação que as pessoas executam por meio da fala
ou da escrita.
As frases são constituintes integrantes dos textos e, somente
nessa condição (quer dizer, dentro dos textos que compõem), po-
dem ser interpretadas. Isoladas, são objetos teóricos, são hipóte-
ses de algo que poderia, um dia, vir a ser dito.
Vejamos o que nos dizem as teorias do texto:
(3) avisos;
(4) informações;
(5) bilhetes;
(6) propagandas;
(7) pequenas mensagens (de amizade, de congratulação, de soli-
citação);
(8) pequenas sínteses ou comentários a propósito de um tema etc.
Todos eles, na verdade, cumprem, como lembramos, as mais
diferentes funções comunicativas; não estão circulando por acaso
ou apenas hipoteticamente.
Por exemplo, ‘avisos ou advertências’ como:
quatro
QUALQUER CONJUNTO DE
PALAVRAS É UM TEXTO?
1. Fundamentos
Lesão
Desafio, máquina, tempo, banco, gente, milhas, mun-
do, momentos, flocos, reportagem.
Turbulência, início, passeio, caminho, verdade, luz,
orgulho, missão, jovem, dinheiro, sabor, sol, rede,
qualidade, notícia, desconto, receitas.
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Exercício
Alguns medicamentos ajudam a prevenir o desgaste
das articulações. O que vale é que a cultura popular
está em alta. Por que tanta polêmica? No trabalho
temos de saber nos portar.
O aquecimento global está em recorde batido pelo
terceiro ano consecutivo. Depois de surpreender e fi-
car abaixo da meta no ano passado, a inflação conti-
nua baixa.
Nos meses de janeiro e fevereiro preparamos rotei-
ros encantadores. O pior na economia já passou. O
grande desafio de um apreciador de vinho é escolher
o que degustar.
Esse plano é especial para quem quer ampliar seus
conhecimentos sobre a sustentabilidade.
2. Em sala de aula
n um adjetivo _____________________________
cinco
EM QUE CONSISTE
A COESÃO DO TEXTO?
1. Fundamentos
O
alcance da propriedade da coesão é bastante vasto; mui-
to vasto mesmo. O que me parece mais acertado, então,
é, neste momento, expor algumas noções mais gerais e
apontar os recursos mais comuns e que podem ser objeto de ex-
ploração numa sala de aula de iniciantes. O mesmo posso dizer
em relação à terminologia própria dessa área. Opto também por
simplificá-la, recorrendo a explicações bem acessíveis e à apre-
sentação de exemplos. O foco deste trabalho — reitero — não é,
a dimensão teórica da questão, embora não esteja em jogo abrir
mão da sua consistência. Meu propósito é de ‘iniciação’, ou seja,
de ‘entrada’ na área da textualidade, de forma contundente e bem
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1. 2. C
omo se consegue deixar um texto coeso?
Ou com que recursos podemos obter a coesão de um texto?
Todos os recursos que criam e sinalizam o efeito semântico
de coesão são ‘indícios’ de uma articulação pretendida pelo autor,
o qual espera que o ouvinte ou o leitor, em sua atividade de inter-
pretação, a reconheçam.
Na verdade, todos esses recursos constam no texto para faci-
litar o trabalho interpretativo de quem o ouve ou lê. Em suma,
um texto coeso é mais facilmente interpretável do que outro sem
marcas de conexão.
Mas então, de que recursos dispomos para deixar o texto coeso?
Comecemos pelos recursos gramaticais, os quais são mais fa-
miliares às considerações que normalmente são feitas nos livros
didáticos.
Existem classes de palavras cuja função principal é criar e
sinalizar os nexos que vão garantindo a articulação entre os di-
ferentes segmentos do texto; isto é, vão criando e sinalizando a
necessária coesão entre esses segmentos, os quais podem ser pala-
vras, orações, períodos, parágrafos e até blocos supraparagráficos.
São termos, por isso mesmo, conhecidos como ‘marcadores’,
exatamente porque ‘marcam’, porque ‘assinalam’ o ponto em que
ocorreu algum tipo de conexão.
As conjunções, as preposições, alguns advérbios e respectivas
locuções são exemplos típicos desses marcadores que vão indican-
do os pontos em que incidem as conexões. Não por acaso conjun-
ções e preposições são normalmente chamadas de conectivos.
Tais marcadores são também chamados de ‘articuladores tex-
tuais’. A esse propósito, sugiro a leitura do capítulo 11 de Koch
(2002), onde a autora traz uma enumeração bastante extensa dos
tipos de articuladores de uso mais frequente, com explicações e
exemplos que merecem ser analisados, pois o enfoque que preva-
lece é o de sua funcionalidade semântica e discursiva.
Acontece que essa conexão — expressa no nível da sintaxe
(ou seja, aparecendo na linha da superfície onde as palavras es-
EXEMPLO 1
Canto
Na minha janela
Pousou rapidinho
Um passarinho.
Da sua passagem
Caiu uma pena.
Escrevi com ela
Este poema.
Elza Beatriz, Caderno de segredos. São Paulo: FTD, 1989, p. 53.
EXEMPLO 2
EXEMPLO 3
Bilhete
Se tu me amas, ama-me baixinho
Não o grites de cima dos telhados
***
1
Sugiro a leitura de Lutar com palavras – coesão e coerência (Antunes, 2003), onde são
dadas fartas explicações a respeito dos recursos gramaticais e lexicais que promovem a
coesão do texto. Além das explicações – em linguagem bem acessível – podem ser vistos
muitos exemplos da aplicação desses recursos, em textos reais, de diferentes gêneros. O
foco de Lutar com palavras é especificamente a coesão e a coerência. O objetivo deste pre-
sente livro pretende cobrir mais que essas duas propriedades textuais.
2
Em Lutar com palavras (pp. 62-85), desenvolvi essa questão da paráfrase e do paralelis-
mo, com explicações e fartos exemplos.
2. Em sala de aula
3
Para esse tema, cf. minha obra Análise de textos: fundamentos e práticas. São Paulo:
Parábola Editorial, 2010.
(6) além dos recursos escolhidos para deixar o texto mais facil-
mente interpretável — o que implica deixá-lo também mais
próximo da coerência pelos nexos coesivos de que dispõe.
Em suma, na sala de aula, o interesse maior deve ser a des-
coberta do quanto somos ‘seres de linguagem’, e, por isso, somos
capazes de criar e viver diferentes mundos.
***
Em relação aos livros didáticos, temos que reconhecer a
sensível evolução na qualidade de suas bases teóricas e de suas
propostas pedagógicas. Apesar de nem sempre as perspectivas
textuais terem inspirado suas descrições, normas e atividades,
muita melhoria pode ser constatada.
No entanto, concordo com a observação de Geraldi (1991): se
o livro didático facilitou o trabalho do professor, por outro lado,
diminuiu sua responsabilidade quanto aos conteúdos a serem ob-
jetos do ensino e, naturalmente, quanto à seleção de atividades
a que recorrer. Segundo Geraldi, uma das consequências dessa
‘dispensa’ do professor de, ele próprio, ‘dirigir e organizar’ seu
trabalho foi o descaso com a elevação de suas exigências de for-
mação pedagógica e o consequente aumento de seu desprestígio
profissional e social. Por esse viés, fica evidente que as coisas se
entrelaçam, se interdependem: melhorias trazem melhorias; re-
trocessos desencadeiam retrocessos. Usemos da criatividade para
romper com essa conexão.
seis
EM QUE CONSISTE
A COERÊNCIA DE UM TEXTO?
1. Fundamentos
S
e a coesão pode ser percebida como uma ‘conexão sequen
cial’ — manifestada na linha superficial do texto, pois seus
recursos ali aparecem e podem ser vistos — a coerência, an-
tes, se manifesta no nível dos sentidos e, por isso, constitui uma
‘conexão conceitual’, quer dizer, uma ‘continuidade de sentidos’. O
principal da linguagem para quem fala ou escreve é: expressar
sentidos; para quem ouve ou lê: buscar, encontrar esses sentidos.
Tudo, na linguagem, gira em torno da significação.
E onde está este ‘sentido’? Nas palavras do texto, apenas? Nos
saberes armazenados pelo interlocutor, apenas? Nos dois pontos:
no texto e nos interlocutores? Sim: o sentido do texto é uma cons-
trução que tem como origem os dois pontos: texto e interlocuto
res. Ambos exercendo um papel extremamente ativo, cooperador.
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2. Em sala de aula
sete
A COERÊNCIA
NO TEXTO POÉTICO
1. Fundamentos
V
ale a pena dizer algumas palavrinhas à parte sobre as
especificidades da coerência nos textos literários, mais
precisamente, nos textos poéticos. Reiterando os pontos
principais de nossa conversa, a coerência é uma das proprieda-
des constitutivas da textualidade, o que equivale a afirmar que
todo texto — independentemente de seu gênero, de seu tipo, de
sua função e, até mesmo, de sua extensão — requer a coerência
como uma das suas características fundamentais.
Como propriedade semântica dos discursos, a coerência diz
respeito aos sentidos atribuídos ao texto, ou à associação semân-
tica que lhe confere unidade. Supõe a disposição natural dos su-
jeitos da comunicação verbal de, na sua interação, produzirem
somente enunciados que façam sentido, isto é, que sejam interpre
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***
2. Em sala de aula
***
Para corroborar tudo que foi dito neste capítulo, leiamos o poe-
ma abaixo, de autoria do poeta Manoel de Barros, poema que, pare-
ce, foi feito, exatamente, para exemplificar tudo que a gente afirmou.
oito
CONTINUIDADE REFERENCIAL:
O QUE É?
1. Fundamentos
A
continuidade referencial do texto constitui o que a nomen-
clatura linguística chama de processo de referenciação,
um dos processos fundamentais para o funcionamento da
expressão e da compreensão em linguagem. Vamos lá.
Este ponto das teorias textuais, o processo de referenciação,
é demasiado complexo, até porque entra de cheio nos campos
da semântica e da pragmática; ou seja, está em íntima relação
com as condições concretas de realizações das ações de lingua-
gem — falar, escrever e seus respectivos correlatos. Além disso,
envolve conceitos eminentemente textuais e discursivos, ainda
pouco explorados.
Como a pretensão aqui é facilitar a compreensão desses con-
ceitos pelos leitores iniciantes, opto por desenvolver os tópicos
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***
É bom ter isso em conta: as expressões referenciais de que
nos valemos para falar das coisas assumem a forma de sintag
1.3. C
omo acontece o processo de referenciação
ao longo de um texto?
No desenvolvimento do processo referencial de um texto, cos-
tumam acontecer certas operações básicas, a saber:
(a) a operação de ‘ativação’ — que consiste em introduzir um
‘referente textual’, isto é, de falar pela primeira vez em de-
terminada coisa; a expressão linguística usada para designar
esse referente adquire certa importância e fica na memória
discursiva dos interlocutores; comumente, essa referência é
feita por meio de uma expressão referencial indefinida (‘Era
uma vez um rei... ’);
(b) a operação de reativação — que consiste na ação de voltar a
falar do ‘referente textual’ anteriormente mencionado ou de
retomá-lo na continuação do texto; dessa forma, o referente
textual introduzido, e agora reativado, continua em foco; se
se tratar do mesmo referente, a menção de retomada é feita
por meio de uma descrição definida ou de um pronome; (‘Era
uma vez um rei’. ‘Certo dia, o rei’; ou ‘Certo dia, ele... ’); nesse
caso, trata-se de uma reativação correferencial, isto é, quando
o mesmo referente é outra vez mencionado;
(c) a operação de disjunção referencial — que consiste na inter-
venção segundo a qual outro referente textual é introduzi-
do, deixando em segundo plano o referente anterior; ou seja,
tirando-o do foco. Por esse aspecto, podemos admitir que
quanto mais um objeto é, na sequência do texto, referido —
quer dizer, é reativado — mais aumenta a possibilidade de a
expressão linguística que o representa estar diretamente li-
gada à continuidade temática do texto. Outra vez, fica eviden-
ciada a função que a reiteração (incluindo, a repetição literal
2. Em sala de aula
A ambição superada
nove
EM QUE CONSISTE A
INFORMATIVIDADE DO TEXTO?
1. Fundamentos
E
m que sentido se propõe que um conjunto de palavras,
para ser reconhecido como texto, deve ser marcado pela
propriedade da informatividade?
Como avaliar se um texto satisfaz ou não essa exigência?
Primeiramente, vale advertir que o termo ‘informatividade’,
nesse âmbito das propriedades textuais, não significa apenas que
um texto tem como função principal ‘transmitir informações’. Des-
se modo, todo texto — até mesmo o texto literário — circula com a
finalidade de ‘informar sobre algo’. Na verdade, a informatividade
do texto tem a ver com esse aspecto, mas não o esgota. Vamos ten-
tar explicar melhor em que consiste essa propriedade do texto.
O teor de informatividade de um texto é calculado com base
em seu grau de novidade, de imprevisibilidade. Por esse lado, se
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Ou avisos, do tipo:
2. Em sala de aula
dez
EM QUE CONSISTE A
INTERTEXTUALIDADE?
1. Fundamentos
O
conceito de intertextualidade, proposto no âmbito da lite-
ratura em meados do século passado, tem-se desenvolvi-
do e ganhado, cada vez mais, uma definição satisfatória,
apesar de sua complexidade, como acontece com quase tudo do
mundo da linguagem.
Vamos ao principal dessa questão.
A intertextualidade é uma condição das ações discursivas,
segundo a qual a linguagem é, essencialmente, uma atividade
que se constitui na retomada de conhecimentos prévios — o que
implica a incorporação de outras experiências de linguagem an
teriores — gerando, assim, uma ininterrupta continuidade na li
nha dos discursos humanos. Isso é tão verdadeiro que se pode
afirmar o seguinte:
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2. Em sala de aula
Muitas vozes
Meu poema
é um tumulto:
a fala
que nele fala
outras vozes
arrasta em alarido.
***
Cada vez mais me impressiono com a estreiteza de visão
com que as pessoas — sobretudo as pessoas letradas — têm a
respeito de questões linguísticas. Confundem língua com gra-
mática. Gramática com ortografia. Falar e escrever bem com fa-
lar e escrever sem erro gramatical. Avaliar com corrigir. Não
veem mais que isso. Aprendem, durante onze anos, exatamen-
te, o quê? Nem mesmo conseguem identificar em qual contexto
usar um ‘a’ com o acento indicativo da crase. Muitas vezes, me
lembro daquela advertência dos manuais de trânsito: “Na dúvi-
da, não ultrapasse”. E, recorrendo à intertextualidade, digo: “Na
dúvida, não use a crase”, porque, devido talvez ao cuidado de
não ‘errar’, se esteja incorrendo numa hipercorreção e usando o
acento grave em quase todo ‘a’.
Não podemos adiar a introdução de outros conteúdos para
as aulas de língua, seja língua materna, sejam línguas estran-
geiras, na convicção de que existe uma ciência que tem como
objeto o fenômeno da linguagem e muito pode acrescentar à for
mação integral das pessoas, como seres vocacionados ao dia-
logismo, ao intercâmbio, à interação, à reciprocidade. Muito
podem acrescentar, em outros termos, à preparação das pesso
as para o mundo do trabalho, e à continuação de seus estudos
ao longo da vida.
Analisemos como o recurso à intertextualidade pode elevar a
relevância de um texto e a força dos argumentos com que defen-
demos nosso ponto de vista.
***
Não posso deixar de insistir no fato de as lições de gramática
ainda serem, nos tempos de hoje, o foco do ensino da língua em
muitas escolas, quase sempre com o aval dos seus gestores e, mui-
tas vezes, da família dos alunos, a despeito de tantas mudanças
no âmbito das linguagens e das tecnologias ligadas a elas.
Será, pergunto eu, que para chegar ao desempenho (criativo,
expressivo, convincente, atrativo...) a que chegou o autor do texto
‘Da fome à obesidade’ e outros aqui analisados, bastam lições de
gramática, bastam exercícios de formar frases soltas?
Onde fica a formação integral do aluno? Onde fica a sua prepa
ração para o mundo do trabalho?
onze
OS GÊNEROS DE TEXTO:
NOÇÕES E PRÁTICAS
PEDAGÓGICAS
1. Fundamentos
F
az parte da tradição escolar a exploração do conceito de
‘tipos de texto’, centrada, sobretudo, nos tipos narrativo,
descritivo e dissertativo, distribuídos conforme os avanços
dos estudos escolares, desde a educação básica.
Devido à pouca atenção da escola às práticas da produção de
texto, essa exploração não foi uma das mais produtivas. Quase
sempre, os alunos não eram advertidos em relação ao tipo de
texto que deviam produzir. Comumente, em um tempo que já
vai longe (espero!), a solicitação se esgotava em um simples co-
mando de ‘Escreva um texto sobre’... ou ‘Conte uma história’...,
sem maiores definições de propósitos, de interlocutores, e — o
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Ø charge;
Ø conferência;
Ø conto;
Ø contrato;
Ø conversação;
Ø convite;
Ø crônica;
Ø declaração;
Ø depoimento;
Ø edital;
Ø editorial;
Ø e-mail;
Ø exposição oral;
Ø fábula;
Ø fôlder;
Ø formulário;
Ø história em quadrinhos;
Ø história;
Ø mensagem de felicitação;
Ø nota;
Ø palestra;
Ø resenha;
Ø resumo;
Ø sermão...
e muitos, muitos outros.
(c) Uma das características fortes dos gêneros é que eles repre-
sentam o lado estável das realizações textuais; ou seja, os
gêneros apresentam-se sob a forma recorrente de ‘modelos’,
admitem uma composição própria, apesar de sua f lexibili-
dade e maleabilidade de forma e conteúdo; o normal é que
a gente queira saber como se faz um resumo, um reque-
rimento, um recibo, uma procuração, um edital, como se
apresenta em público a resenha de uma obra etc.; por isso
mesmo, os gêneros são tidos como “formas relativamente
estáveis” de texto.
2. Em sala de aula
1
Vale a pena consultar o Dicionário de gêneros textuais, de Sérgio Roberto Costa (ver bi-
bliografia). Nessa obra, o autor, além de propiciar uma discussão teórica sobre a questão
dos gêneros textuais, apresenta uma relação dos principais gêneros escritos e orais, com
suas definições e características, o que pode favorecer um trabalho mais amplo e consis-
tente dos gêneros, enquanto objeto didático.
2
A esse propósito, vale a pena conhecer a publicação de Denise Lino de Araújo (2017)
(ver bibliografia), em que são relatadas experiências que o Grupo de Pesquisa Teorias
da Linguagem em Ensino, realiza na Universidade Federal de Campina Grande (Campina
Grande, PB).
Carta
doze
E A GRAMÁTICA
NESTA ‘HISTÓRIA TODA’?
1. Fundamentos
T
udo indica que ainda prevalece uma séria incompreensão
acerca do que é ‘gramática’, e isso dificulta em muito a es-
colha do que deve ser o foco do ensino de línguas, sobretu-
do do ensino de língua materna.
Daí a dificuldade em se rever a grade dos conteúdos a serem
explorados, a escolha das atividades a serem propostas, a aborda-
gem, enfim, que o professor tende a fazer em sala de aula.
Essa incompreensão dos que fazem a comunidade escolar —
gestores, educadores de apoio, professores — é subsidiada forte-
mente pela comunidade da família e, até certo ponto, pelos alunos
de séries mais avançadas. Se tem gramática, a aula é boa. Se não
tem gramática, é embromação. (Muitas vezes, essa ‘gramática’
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2. Em sala de aula
***
Vimos, no espaço anterior da ‘fundamentação teórica’, os sis-
temas de saberes que concorrem em qualquer atividade de lin-
guagem. Vimos como o conhecimento linguístico — que abrange o
conhecimento do léxico e o conhecimento da gramática — constitui
um desses sistemas. Mas ficou claro, também, que o conhecimen
to da gramática é apenas parte do conhecimento linguístico, que,
por sua vez, é apenas parte dos saberes necessários para que nos
sas atuações verbais aconteçam.
Vale insistir na ideia de que o conhecimento gramatical é
necessário, mas nunca suficiente. É um engodo de grandes pro-
porções tratar da gramática como se ela fosse um constituinte su-
ficiente para a realização de toda e qualquer ação de linguagem.
Convencidos — nós, gestores, professores e pais — desses li-
mites da gramática (necessária, mas nunca suficiente), vamos as-
sumir o eixo pelo qual seu estudo deve acontecer na escola, desde
a educação básica: os usos sociais da língua, concretizados em ma
treze
OS LINGUISTAS E
O ENSINO DA GRAMÁTICA
T
em havido certo equívoco em relação à intervenção dos lin-
guistas quando se trata do ensino da gramática nas escolas. Há
quem creia que os linguistas defendem a ideia de que “saber
gramática não é um lance importante” e de que, portanto, “não é para
se ensinar gramática”. Atribuem aos linguistas o princípio de que, em
termos de linguagem, “vale tudo”; “o importante é se comunicar”.
O que os linguistas defendem é que não dá mais para ensinar
APENAS gramática. Defendem — como acabamos de demonstrar
— que a gramática é um componente da língua, não o único.
É um componente necessário, mas não suficiente. Não há como
excluir a gramática das línguas. Todos sabemos que gramática
não é uma questão de opção.
(...) Mas estudar gramática não leva, nunca levou, ninguém a desen-
volver suas habilidades de leitura, escrita ou fala, nem sequer seu co-
nhecimento prático do português padrão escrito (Perini, 2010: 19).
catorze
UM ‘OUTRO’
PROGRAMA DE ESTUDO?
U
ma medida que talvez pudesse proporcionar outra dire-
ção para o ensino e aprendizagem da língua materna nas
escolas poderia ser uma mudança significativa de foco em
nossos programas e em nossas expectativas de aprendizagem.
Ou seja, o que é que em geral direciona nosso estudo da lín-
gua, desde as séries iniciais da educação básica? O que a socieda-
de em geral acredita que se deve ensinar nas aulas de português
e cobra isso com todas as letras em cada oportunidade?
É claro que o que esperam não é o ensino da produção de tex-
tos orais e escritos; que não é o ensino das teorias e práticas de
leitura; que não é a pesquisa e a reflexão sobre as concepções de
linguagem, de língua e de seus componentes; que não são as condi
ções de sucesso que as exigências modernas das práticas de comu
nicação exigem; que...
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Poderíamos avançar muito mais nessa relação ‘do que não é...’
Com base nas concepções teóricas e suas contribuições que
fundamentaram as ciências da linguagem nos últimos anos, e re-
tomando aqui explicitamente uma demarcação conceitual que tem
todas as características de ser básica, essencial, lanço mão de um
princípio já introduzido no início deste trabalho (p. 22):
quinze
PARA APROFUNDAR A CONVERSA
N
este capítulo, indico aos leitores e às leitoras que tenho
em mente algumas obras das mais correntes e acessíveis,
a fim de que possam desenvolver, com mais alcance, os
pontos teóricos e metodológicos apresentados ao longo deste livro.
Espero ter estimulado o interesse pelo conhecimento das
questões da textualidade e de suas possíveis aplicações no tra-
balho diário em sala de aula. Assim, a necessidade de um maior
aprofundamento virá naturalmente e, por conta própria, as opor-
tunidades serão buscadas e bem aproveitadas.
Em relação a essa busca dos professores por mais oportuni-
dades de estudo e de reflexão sobre teorias e práticas de ensi-
no e aprendizagem da língua materna, queria lembrar que, nem
sempre, as oportunidades vêm gratuitamente a nós; precisamos
buscá-las, muitas vezes, pedir o acesso a elas, insistir, levados
pela certeza de que, com mais e melhores fundamentos teóricos,
poderemos responder, com mais eficácia, às exigências de uma
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***
Quero agradecer a todos os professores com quem tenho
interagido, em palestras e minicursos, pela oportunidade de
escutá-los, de ouvir a confissão de suas dificuldades, de seus
anseios e até de seus silêncios; a narrativa das situações em
que se sentem animados, esperançosos, e daquelas outras em
que tudo parece não ter solução, não ter jeito. São essas escutas
que me instigam a continuar ‘falando’, a continuar acreditando
que, em alguma medida, posso motivá-los a descobrirem outros
fundamentos, outras razões para seu trabalho no dia a dia da
sala de aula. Sobretudo quando estão desenvolvendo os temas
da linguagem, da língua, da textualidade, do texto, da gramá-
tica, da competência comunicativa, momentos em que podem
REFERÊNCIAS
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Paulo: Cortez Editora, 2008.
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____. Língua, texto e ensino: outra escola possível. São Paulo: Parábola Editorial,
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____. Território das palavras. São Paulo: Parábola Editorial, 2012.
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bola Editorial, 2014.
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São Paulo: Parábola Editorial, 2010.
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____. De alunos a leitores: o ensino da leitura na educação básica. São Paulo: Pará-
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GALVES, C.; ORLANDI, E. P.; OTONI, P. O texto: leitura e escrita. Campinas: Pontes,
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GERALDI, J. W. O texto na sala de aula. São Paulo: Ática, 1997.
____. Aula como acontecimento. São Carlos: Pedro & João Editores, 2010.
GONÇALVES, M. S. O mundo na sala de aula – Intertextualidade nos anos finais do
ensino fundamental. São Paulo: Parábola Editorial, 2017.
MAINGUENEAU, D. Análise de textos de comunicação. São Paulo: Cortez Editora,
2001.
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O
ideal do ensino brasileiro de língua tem sido tornar os alunos
imunes a erros, os quais são sempre mais ou menos os mes-
mos: violações de regras de sintaxe, que incluem concordân-
cia, regência e colocação (de pronomes, sobretudo). Nas listas desses
erros, constam sempre os mesmos casos.
O que essa prática, na maioria das escolas, tem deixado de incluir?
Certamente o empenho em estimular os alunos a serem capazes de
elevar gradualmente o nível de informatividade de seus textos, de di-
zerem coisas que, se não forem ditas, farão falta; capazes de, fugindo
das obviedades, recorrerem a argumentos consistentes, de explora-
rem o lado novo e imprevisível dos fatos e das situações, com o uso de
um vocabulário menos comum e mais conforme às especificidades de
cada situação.
Em geral, todo movimento que tenha a pretensão de romper com pa-
radigmas tradicionais assusta. Parece carregado de riscos. Esperemos
seja diferente com nossa proposta de reconhecer a textualidade como
condição necessária para a existência de qualquer espécie de linguagem
e foco de todo ensino de língua, principalmente na perspectiva de uma
educação linguística.
Textualidade – noções básicas e implicações pedagógicas se dirige prio-
ritariamente a professores da educação básica e a alunos de Letras e de
Pedagogia. Nada impede, porém, que alguém interessado em iniciar-se
nesse mundo do texto e de suas categorias dê uma olhadinha nestas
páginas, a fim de ampliar sua formação linguística.