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ESTUDO DE IMPACTO AMBIENTAL

Class ( T ~ 6 i. .D.

Tombo. Capa
E-23249 Ricardo de Oliveira Rodrigues

Projeto Gráfico
TERRAGRAPH Artes e Informática

Produção
TERRAGRAPH Artes e Informática
Catalogação Bibliográfica
Revisão Final
(Preparada pelo Setor de Biblioteca da CETESB)
Luiz Roberto Tommasi I José Maurício Teixeira Ferro Costa

T622e Tommasi, Luiz Roberto Fotolito


Estudo de Impacto Ambiental/Luiz
CETESB - Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental
Roberto Tommasi. - São Paulo: CETESB:
Terragraph Artes e Informática, 1993
354 p. : il.; 24 cm

1. Meio amb iente - impacto 2. Polui-


ção ambiental - controle 1. Título.

CDD (18. ed.) 614 .7


CDU (2.ed. Med. Port.) 614.7

1 CETESB
Av. Prof. Frederico Hermann Jr., 345 • São Paulo • SP • Brasil • CEP 05489-900

1ª Edição • Setembro de 1994


Tiragem 2.000 exemplares TERRAGRAPH Artes e Informática S/C Ltda
RuaMarquêsdeltu,505 •São Paulo• SP • CEP01223-001 • Tel.:221 -0040 • FAX222.9164
, ,
2. PRINCIPIOS BASICOS PARA A
CONCEITUAÇAO- DE
IMPACTO AMBIENTAL

Devemos discutir, inicialmente, duas questões básicas. O que é meio


ambiente e a racionalidade das decisões.
Meio ambiente, segundo Grinover ( 1989), é .um jogo de interações
complexas entre o meio suporte (elementos abióticos), os elementos vi vos (elementos
bióticos) e as práticas sociais produtivas do homem. O todo ambiental compreende:
flora, fauna, processos físicos naturais, biogeociclos, riscos naturais, utilização do
espaço pelo homem, etc. A apreciação da importância desses elementos está,
segundo Grinover (1989), diretamente ligada à cultura, à classe social e às atividades
de cada indivíduo. Isso faz com que o meio ambiente não seja uma realidade
uniforme, que poderia, por exemplo, ser mapeada. Seu conteúdo deve, segundo
Grinover (1989), ser definido por quem está "envolvido"• .
Por esses motivos não se consegue ainda mapeár o "todo" ambiental,
esse conjunto de relações de grupos e grupos de objetivos, ou entre dois objetos de
um mesmo grupo. Todo estudo que não leve em conta as diversidades ambientais,
fundamentar-se-á em alguns a priori injustificáveis (Grinover, 1989).
Segundo Sachs (1986), meio ambiente inclui o natural, as tecno-
estruturas criadas pelo homem (ambiente artificial) e o ambiente social (ou cultural).
Inclui todas as interações entre os elementos naturais e a sociedade humana. Assim,
meio ambiente inclui os domínios ecológico, social, econômico e político.
Em realidade, podemos encontrar na natureza de hoje, dois grandes
sistemas: os geossistemas que, segundo Christofoletti (1990), compreendem a
organização espacial oriunda dos processos do meio ambiente físico e os sistemas
sócio-econômicos, que compreendem as organizações espaciais oriundas dos
processos ligados às atividades humanas. Esses dois sistemas estão integrados,
constituindo uma unidade de complexidade maior. O trabalho de Christofoletti
(op.cit.) é muito útil ao leitor, pois discute as características daqueles sistemas.
Mostra muito bem que os geossistemas possuem grandeza territorial, infraestrutura,
funcionamento , com sistemas abertos. Relacionando-se com outros sistemas, quer

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Estud o de Impacto Ambient a l Luiz Robert o Tommasi

em seu interior, quer em seu redor. A dinâmica de um geossistema reflete seus ajustes ambiente natural e a variedade de recursos que possui geram diferentes condições
internos à magnitude dos eventos naturais, levando a manutenção de sua integridade para o funcionamento das atividades econômicas. Essas condições são de dois tipos
funcional ou ajustamento a novas condições de fluxos de matéria e de energia fundamentais: condições resultantes da utilidade oferecida pelos recursos ambientais
(adaptado de Christofoletti, 1990), inclusive daqueles induzidos pelas atividades e condições resultantes da sensibilidade daqueles recursos. A utilidade econômica do
humanas. recurso é sua função na produção de bens, serviços, energias, etc. para o homem; já
Segundo Odum ( 19 80), o sistema de desenvolvimento homem-natureza a sensibilidade do recurso é sua capacidade de responder à intervenção humana, sem
pode ser concebido como subdividido em três setores: o setor humano, o setor reduzir sua utilidade econômica, estética ou ecológica.
agrícola e o suporte natural vital. São todos sócios com os mesmos direitos na Como mostra muito bem Kozlowski ( 19 89), não podemos nos esquecer
natureza. O gerenciamento correto do setor natural deve visar a incorporação do (e isso infelizmente ocorre com muita freqüência) que os recursos naturais sofrem
mesmo à economia, a todos planos de equilíbrio dos fluxos de matéria e de energia efeitos não apenas do homem, mas também da própria natureza e que esta pode ter,
e a nossos sistemas de serviços, com direitos sobre nosso destino. inclusive, paroxismos extremamente calamitosos aos próprios ecossistemas.
Outra questão básica é o da racionalidade das decisões. Um Por tudo isso é que um dos principais objetivos que temos de perseguir
comportamento racional é a seleção de altemati vas que levam a atingir corretamente é a manutenção da diversidade biológica, de grande importância à estabilidade das
objetivos pré-selecionados. Uma decisão racional é aquela consistente com valores, cadeias alimentares dos ecossistemas. É necessário termos sempre presente, que os
alternativas e informações, as quais foram avaliadas pelos que tomaram aquela componentes dos ecossistemas estão integrados, que uma ação sobre um de seus
decisão. componentes disparará toda urna série de ramificações de efeitos, que poderão acabar
Uma decisão racional envolve: a listagem de todas alternativas; a por inviabilizar a todo ecossistema. Esses efeitos, muitas vezes, terão implicações
identificação de todas conseqüências de cada alternativa e a avaliação de cada uma sociais, afetando a economia. o estilo de vida, a estrutura social, a saúde pública e a
dessas conseqüências. Um fator que dificulta, muitas vezes, que se tome plenamente qualidade de vida da população. Por isso, questões como as seguintes devem ser
uma decisão racional, é a extensão e a qualidade do conhecimento existente sobre sempre consideradas:
uma dada questão. 1. em que grau o projeto encoraja o crescimento urbano, industrial,
Os conceitos acima mostram que uma decisão racional sempre produzirá tecnológico e que resultados isso terá sobre o ambiente e sobre a sociedade?
algum benefício. Podemos tomar decisões racionais em questões sociais, legais, 2. o projeto é compaúvel com outros usos potenciais dos recursos da
políticas e ecológicas. área? Em que grau ele os comprometerá?
Decisões racionais ambientais são aquelas que permitem a conservação, O NEPA não definiu critérios, procedimentos ou guias para a identificação
a explotação dos ecossistemas e dos recursos naturais. São aquelas que servem a das ações que afetassem de forma significativa a qualidade ambiental. Mesmo o
legítimos objetivos sociais, que protegem os ecossistemas dos quais, de um modo ou "CE.Q Guidelines onPreparationofEnvirorimental Irnpact Statements" (38 FR 147,
de outro a sociedade depende e que asseguram o direito das nossas futuras gerações agosto, 1973) trata dessa questão de modo genérico e estabelece que a identificação
a um ambiente sadio, de alta qualidade. das ações que requerem um EIA é responsabilidade de cada agência federal. Segundo
Todavia, o que pode ser racional para uma sociedade, como a destruição o NEPA, o EIA deve ser exigido para projetos federais que têm influência significativa
de um ecossistema para a implantação de um programa de desenvolvimento de e que afetem a qualidade do meio ambiente humano. Assim, o NEPA se aplicava
grande interesse à mesmà, pode não ser para outra, que depende diretamente daquele apenas a projetos federais ou que envolvessem uma licença federal ou então, que
ecossistema. Assim, quando se consideram fins sociais, muitas vezes envolvem-se fossem financiados, total ou parcialmente por recursos federais.
julgamentos morais. Sempre haverá necessidade de se definir os objetivos sociais V árias decisões judiciais nos EUA procuraram seguir as orientações do
antes de se tomar uma decisão técnica. NEPA. Entre elas, Golden et al. (1980) citam a decisão do "First National Bank v.
Devemos ter sempre em mente, como mostra Kozlowski (1989), que o Richardson, Environment Report - Cases, 5 ERC 1833, The Bureau of National

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Estudo de Impacto Ambiental Luiz Roberto Tommasi

Affairs, Washington, DC (1974)", que aponta dois fatores relevantes para aquela 1. Impacto positivo ou benéfico - quando a ação resulta na melhoria da
conceituação: qualidade de um fator ou parâmetro ambiental (p. ex. deslocamento de uma população
1. abrangência espacial e temporal dos efeitos acarretados pelo impacto residente em palafitas para uma nova área adequadamente localizada e urbanizada).
ambiental, além daqueles criados pelo uso atual da área onde ela se desenvolveria. 2. Impacto negativo ou adverso - quando a ação resulta em um dano à
2. o efeito quantitativo ambiental adverso da ação, incluindo processos qualidade de um fator ou parâmetro ambiental (p. ex. lançamento de esgotos não
cumulativos que possam surgir, devido à contribuição de condições ou usos adversos tratados num lago).
já existentes na área. 3. Impacto direto - resultante de uma simples relação de causa e efeito
O fato é que, como apontam muito bem Golden et ai. (1980) e Machado (p. ex. perda de diversidade biológica pela derrubada de uma floresta).
( 1991), o EIA deve preceder à instalação do projeto, para que os efeitos adversos que 4. Impacto indireto - resultante de uma reação secundária em relação à
possam vir a ser induzidos pelo mesmo possam ser evitados ou reduzidos a níveis ação, ou quando é parte de uma cadeia de reações (p. ex. formação de chuvas ácidas).
aceitáveis. Isso significa que não pode nem ser concomitante e nem posterior ao 5. Impacto local - quando a ação afeta apenas o próprio sítio e suas
início da instalação do projeto e, portanto, muito menos em relação ao início de sua imediações (p. ex. mineração).
operação. 6. Impacto regional - quando o impacto se faz sentir além das imediações
A ResoluÇão nº 001 do CONAMA - Conselho Nacional do Meio do sítio onde se dá a ação (p. ex. abertura de uma rodovia).
7. Impacto estratégico - quando o componente ambiental afetado tem
Ambiente (23/01/86) definiu "impacto ambiental como qualquer. alteração das
relevante interesse coletivo ou nacional (p. ex. implantação de projetos de irrigação
propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer
em áreas como o Nordeste brasileiro, flageladas pela seca).
forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas, etc."
8. Impacto imediato - quando o efeito surge no instante em que se dá a
Já o "Glossário de Ecologia" da ACIESP ( 1987) define impacto ambiental
ação (p. ex. mortandade de peixes devido ao lançamento de produtos tóxicos).
como ... " toda ação ou atividade, natural ou antrópica, que produz alterações bruscas
9. Impacto a médio ou longo prazo - quando o impacto se manifesta certo
em todo meio ambiente ou apenas em alguns de seus componentes. De acordo com
tempo após a ação (p. ex. bioacumulação de contaminantes na cadeia alimentar).
o tipo de alteração, pode ser ecológico, social ou econômico" ... 10. Impacto temporário - quando seus efeitos têm duração determinada
Segundo o "Federal Environmental Assessment Review Office" (p. ex. efeitos de um derrame de petróleo sobre um costão rochoso exposto e bem
(FEARO, 1979), impacto ambiental são processos que pertubam, descaracterizam, batido pelas ondas).
destroem características, condições ou processos no ambiente natural; ou que causam 11. Impacto permanente - quando, uma vez executada a ação, os efeitos
modificações nos usos instalados, tradicionais, históricos, do solo e nos modos de não cessam de se manifestar num horizonte temporal conhecido (p. ex. a derrubada
vida ou na saúde de segmentos da população humana; ou que modifiquem de forma de um manguezal). .
significativa, opções ambientais. 12. Impacto cíclico - quando o efeito se manifesta em intervalos de
Segundo Moreira ( 1989) o EIA é um conjunto de procedimentos, alguns tempo determinado (p. ex. anox.ia devido à estratificação da coluna d' água no verão
de natureza técnico-cienúficos, outros de natureza administrativa, destinados, e reaeração devido à misturação vertical no inverno, num corpo hídrico costeiro que
primeiramente, a fazer com que os impactos ambientais de um projeto sejam recebe esgotos municipais).
sistematicamente analisados e, em segundo lugar, que assegurem os resultados dessa 13. Impacto reversível - quando o fator ou parâmetro ambiental afetado
análise, influenciem os procedimentos para a implantação do projeto, controlando os cessada a ação, retorna às suas condições originais (p. ex. poluição do ar pela queima
efeitos ambientais esperados. de pneus).
Segundo a Deliberação CECA nº 1078 de 25/junho/1987 (RJ), são os Rodrigues (1988) discute impactos extensivos e impactos intensivos.
seguintes os tipos de impacto ambiental: Para ele, impactos extensivos são aqueles caracterizados pela impossibilidade (ou

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Estudo de Impacto Ambiental
Luiz Roberto Tommasi

grande dificuldade) de delimitar sua área de abrangência, bem como seus possíveis do que um planejador ou um legislador; mas há imperiosa necessidade de entrosarmos
efeitos cumulativos, progressivos e crônicos. Impactos intensivos são aqueles que suas competências para podermos avaliar os vários significados daqueles efeitos.
abrangem uma área bem delimitável, qualquer que seja a sua extensão. Essa avaliação deve, em realidade, também ser realizada pela comunidade,
Segundo Holling (1978), não é possível estabelecer um modelo devidamente conscientizada de que não devemos adotar nem ecologismos, nem
generalizado de impacto ambiental, ou mesmo, de impacto sobre os ecossistemas, no tecnologismos exagerados. Não é real procurarmos avaliar todos os possíveis efeitos
qual haja uma redução do impacto com o aumento do controle da fonte de mudanças. ambientais de um projeto, especialme nte pela falta de conhecimento ecológico. O
As inúmeras interações entre os parâmetros ambientais e os ecossistemas inviabilizam que temos de conhecer são, isto sim, os principais e os efetivos efeitos ambientais de um
qualquer simplificação; apesar de que, evidentemente, a elaboração de um modelo dado projeto.
simples e geral para fins didáticos seja amplamente possível. Em alguns casos, como num estudo sobre a implantação de um distrito
É importante relembrarmos aqui o conceito de resiliência de um industrial ou similar, o EIA deverá nos dar as diretrizes dessa implantação, não
ecossistema. Resiliência é a medida da capacidade de um sistema persistir na apenas em termos locacionais, mas também sobre os resíduos que serão produzidos.
presença de uma perturbação (Holling, 1973). Se essa capacidade existir, após Na incerteza sobre quais indústrias virão a se instalar, sobre seus respectivos
terminar um dado impacto, o ecossistema se recupera e retoma a seu equilíbrio, a seu processos industriais, etc. será sempre irreal querer chegar a níveis que não sejam de
estado original. Ou então, atingirá um novo equilíbrio. Se, porém, o impacto for de diretrizes gerais. Apesar disso, quando isso se fizer necessário, elas devem ser o
uma magnitude e importância que ultrapasse a capacidade de recuperação, isto é, a suficientemente abrangentes para assegurar uma decisão correta sobre o
resiliência do ecossistema, ele entrará em processo de extinção. empreendimento.
Uma questão extremamente importante que deve ser aqui repetida é que Sem dúvida, a primeira e a mais importante preocupação de uma
o conceito de impacto ambiental, como também o de poluição é, basicamente, um comunidade conscientizada é quanto aos efeitos sobre sua saúde e segurança. Outra
conceito antropocêntrico. Ele está calcado nos efeitos das ações humanas sobre os preocupação que poderá atingir especialmente os ambientalistas, é quanto à perda de
ecossistemas e envolve, também, os efeitos das mesmas sobre a própria sociedade espécies raras, em risco de extinção. Para outros, serão as espécies de interesse
humana e sobre a sua economia. É, por isso, que devemos entender que não há comercial, recreacional (pesca esportiva, por exemplo) . Os ecologistas se preocuparão
poluição natural e que, impacto ambiental, como aqui usado, se refere a ações (e com muita razão) por perdas de habitats ! A percepção do ambiente por uma
antrópicas ainda que, em sua avaliação, devamos considerar estressores ambientais comunidade é freqüe ntemente diferente daquela de autoridades locais ou nacionais.
naturais, inclusive de grande efeito, como: inundações, secas, terremotos, furacões, etc. Por isso, parece-nos importante que, face a um dado projeto, a entidade de controle
Devemos ir agora, imediatamente, à problemática da aceitabilidade pela ambiental envolvida realize um inquérito entre a população da região onde se
sociedade do significado de um dado impacto. É por isso que autores como Andrews pretende que o mesmo seja implantado, a fim de verificar quais aspectos são
(1973) e Buffington et al. (1980) separam os conceitos de significado de um impacto considerados relevantes, pois nem sempre o grau de importância atribuído a um
e a aceitabilidade pública do mesmo. Por outro lado, autores como Longley (1979) impacto pela comunidade será o mesmo, tanto dos técnicos que realizarão os estudos,
e Coopere Zedler (1980) igualam os dois conceitos. como daqueles que o julgarão.
Assim, segundo Cooper e Zedler (op. cit.) " ... significância é uma Essa ação contribuiria em muito para se avaliar a resposta social de um
determinação que liga a avaliação de magnitude feita pelo analista de impacto impacto, ou seja, quanto ele é significativo para a qualidade de vida da comunidade
ambiental, com políticas ambientais ..."Segundo Bitar et al ( 1990), ao estabelecermos que será afetada.
a significância de um impacto, devemos considerar os seguintes aspectos: importância Aliás, a participação da comunidade nos EIA foi introduzido no sistema
dos atributos ambientais a serem alterados, distribuição das alterações no tempo e no de avaliação no Brasil pela Lei nº 693 8/81 (artigo 1O, parágrafo 1º) , que determina
espaço, magnitude das alterações e a confiabilidade das alterações previstas ou medidas. a publicação dos pedidos de licenciamento, renovação e concessão no Diário Oficial
Um ecologista poderá ver muito mais os efeitos sobre um ecossistema do Estado. O Decreto nº 8.351/83 (artigo 18, parágrafo 3°), estabeleceu que o público

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Estudo de Impacto Ambiental

terá acesso ao RIMA A Resolução nº 01/86, do CONAMA, determinou que cópias 3. DEFINIÇAO DO ESTUDO DE
do RIMA sejam enviadas aos órgãos governamentais relacionados com 0 projeto.
Determinou, também, que cópias fiquem à disposição dos interessados na SEMA IMPACTO AMBIENTAL
(hoje IBAMA). Além disso, prevê audiências públicas para a discussão do projeto e
de seus impactos.
Finalmente, uma questão de enorme importância: os estudos de impacto Segundo·Garcia ( 1987), de acordo com o enfoque funcionalista, impacto
ambiental têm de ser elaborados por equipes multidiciplinares, que possam cobrir é qualquer fator ou perturbação que tende a desequilibrar o estado de equilíbrio
todas as áreas relacionadas com o projeto avaliado. É humanamente impossível, a instável em que se encontra um sistema. Já, de acordo com um enfoque estruturalista,
uma só pessoa, realizar um estudo confiável desse tipo. Aliás, a nossa legislação impactos são aqueles fatores, ou condições de um sistema, que levem a mudanças
exige que esses estudos sejam elaborados por equipes multidisciplinares habilitadas estruturais do mesmo.
(artº 7º, Resolução nº 001 do CONAMA, 23/01/86) não pertencentes ao proponente Impacto ambiental é uma alteração física ou funcional em qualquer dos
do projeto. Não concordamos, totalmente, com essa última situação, pois, há em componentes ambientais. Essa alteração pode ser qualificada e, muitas vezes,
muitas entidades proponentes, equipes de alto nível técnico que poderiam, quantificada. Pode ser favorável ou desfavorável ao ecossistema ou à sociedade
perfeitamente, com maior conhecimento do projeto, realizar correto e honesto humana.
estudo. O que é, então, um Estudo de Impacto Ambiental (EIA)? Segundo Munn
A legislação nacional ambiental e, em especial, sobre EIA/RIMA pode (1975) é "uma atividade com o objetivo de identificar e predizer o impacto, no
ser consultada em FEEMA (1992), Machado (1991) e Milaré (1991). ambiente e na saúde pública, de propostas legislativas, programas de desenvolvimento,
projetos, etc., como também de interpretar e comunicar informações sobre os
impactos" . Visa, portanto, assegurar que os efeitos ambientais, sociais, políticos e
econômicos sejam identificados e avaliados na fase de planejamento daquelas ações,
antes que decisões irrevogáveis sejam tomadas. Segundo Lash et al. (1974 ), EIA é o
processo de realizar estudos preditivos sobre uma ação, analisar e avaliar seus
resultados. Há, sem dúvida, duas grandes áreas envolvidas num impacto ambiental:
a ecológica e a humana. Elas, com grande freqüência, se entrelaçam e suas
interdependências devem sempre ser consideradas. Por isso é que o EIA deve sempre
fornecer informações sobre a capacidade humana de se adaptar, física e mentalmente,
às alterações que serão induzida~ por uma dada ação.
Antes de se iniciar um EIA, é necessário verificar se o projeto em
consideração (mineração, obra hidráulica, indústria, projeto urbanístico, tratamento
e disposição final de resíduos sólidos, etc.), pode induzir impactos ambientais
relevantes, ou seja, se há efetiva necessidade de se exigir um estudo daquele tipo. Para
isso pode-se utilizar a metodologia do Batelle (1978), avaliação de áreas sensíveis
(Eagles, 1981 ), avaliação "ad hoc" ou outros métodos. Exigir EIA's indiscriminadamente
acabaria, apenas, produzindo uma indústria de elaboração dos mesmos.

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Estudo 'cte Impacto Ambiental Luiz Roberto Tommasi

Segundo o artigo 1º da Resolução nº 01 do CONAMA, impacto "ad-hoc";


ambiental é "qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do 6. as informações que produz têm grande chance de serem utilizadas
meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia, resultante das para a solução de questões ambientais.
atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam: ... Acima de tudo, o EIA não deve ser um trabalho acadêmico, mas sim,
1. a saúde, a segurança e o bem estar da população; essencialmente objetivo e pragmático.
2. as atividades sociais e econômicas; Há dois grandes tipos de impactos ambientais; os impactos diretos e os
3. a hiota; indiretos de uma dada ação.
4. as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; Impactos diretos são as modificações ambientais que exibem uma
5. a qualidade dos recursos ambientais." relação inicial, de primeira-ordem, com um fator importante (Bisset, 1984). Uma
Essa definição parece-nos que restringe o EIA à emissão de poluentes! mortandade de peixes, devido a um derrame de produto tóxico num rio, é um exemplo
Preferíamos que a definição tivesse sido ... " causada por qualquer forma de atividade de impacto direto.
que direta ou indiretamente, afetam: ... " Muitas vezes, uma ação induzida por um projeto desencadeia uma
Estudo de Impacto Ambiental (EIA) segundo Clark (1977) ... " é o seqüência de modificações, envolvendo uma variedade de componentes inter-
estudo de um ciclo de eventos, interligados numa cadeia de causas e efeitos que relacionados. Os impactos que atuam através de uma série de componentes
decorrem de necessidades humanas" ... " se esses efeitos degradam o ecossistema, intermediários do ambiente físico e biológico, são denominados de indiretos (Wathem,
eles causam um impacto ambiental. É especialmente importante na avaliação de 1984). Como exemplo, poderíamos lembrar as chuvas ácidas, decorrentes de poluição
impacto, prever a combinação esperada de efeitos passados, presentes e futuros" ... ' atmosférica, por óxidos de enxofre, de nitrogênio, por flúor.
Estudo de impacto ambiental é uma análise e avaliação de atividades O EIA é exatamente valioso, por contribuir para uma maior informação
planejadas, com vista a assegurar um desenvolvimento não impactante e sustentável imparcial sobre um determinado projeto, permitindo que o público possa orientar
(UNEP, 1987). mais corretamente sua posição em relação ao mesmo, com menos emotividade,
Segundo Rosemberg et al. (1981 ), o estudo de impacto ambiental é uma sabendo eliminar a influência tanto de grupos políticos como de grupos econômicos.
área da ecologia aplicada. Mas, com freqüência, tem misturado questões morais e Para se decidir, se é necessário ou não, elaborar um EIA, deveríamos,
políticas (como, por exemplo "que qualidade ambiental desejamos?) com questões preliminarmente:
científicas (como, por exemplo, "quanto tempo demora para um rio se recuperar de 1. estabelecer que tipos de ações contidas no projeto induzem
um derrame de petróleo?). potencialmente efeitos ambientais;
Ainda que muitos estudos já tenham sido feitos, procurando avaliar os 2. em cada uma dessas ações, que aspectos ambientais estarão envolvidos;
efeitos de ações humanas sobre ecossistemas, há sensíveis diferenças entre esses 3. identificar, que informações necessitamos obter sobre aqueles efeitos
trabalhos e uma avaliação de impacto ambiental. As características básicas de um ambientais e como as iremos obter;
EIA, segundo Rosemberg et al. (1981) são: 4. estabelecer, com base no obtido nos ítens 1, 2 e 3, como se tomará a
1. é um estudo de curta a média duração; decisão sobre a aceitabilidade do projeto.
2. é multid_isciplinar; Infelizmente, em todos países que adotaram o EIA, muitos desses
3. cobre geralmente áreas geográficas extensas, envolvendo muitos estudos têm sido superficiais, sem analisar interligações, sem a desejável amplitude
pesquisadores, técnicos, etc. e profundidade que permita, efetivamente, compreender os efeitos do projeto
4. envolve vários níveis de governo, universidades, firmas de consultoria, etc; proposto sobre o ambiente. Uma alternativa para se corrigir essa situação, seria cada
5. é, por natureza, orientado para a resolução de problemas; é relativo e vez mais envolver nos EIAs, as Universidades e os Institutos de Pesquisa, através da

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Estudo de Impacto Ambiental

prática denominada "consultoria". Como apontou muit~ bem Rogério C. de Cerqueira 4. COMPONENTES DE UM ESTUDO
Leite (Folha de São Paulo, G-4, Ciência, 14/julho/89), com essa prática a sociedade DE IMPACTO AMBIENTAL
se beneficiará de um eficiente canal de acesso ao conhecimento retido pela
Universidade, à medida que esse é gerado ou assimilado pela instituição. Isso hoje,
em nosso país, já é, felizmente, uma realidade.
O meio ambiente, segundo Perazza et al . (1985), pode ser considerado
Se considerarmos planejamento como sendo a localização racional, ou
como um espaço onde acontecem atividades urbanas e rurais. É constituído por um
a exploração de recursos visando benefícios ao homem a curto e a longo prazos, é fácil
verificar que o EIA deve ser componente, dos mais importantes, daquele planejamento. ambiente biogeofísico e por um ambiente sócio-econômico. A realização das
necessidades e das aspirações sócio-econômicas humanas se efetua através da
apropriação de um espaço e isso gera os impactos ambientais.
Para se avaliar os impactos ambientais decorrentes da ação humana,
temos de estabelecer critérios para o EIA. A Figura 1, de Perazza et al. ( 1985), mostra
uma seqüência de ações para o estabelecimento daqueles critérios e, também, o que
deve conter uma avaliação de impacto ambiental, ou seja, basicamente o seguinte:
1. descrição das condições ambientais existentes antes do início do
projeto, dos usos dos recursos e dos padrões sociais;
2. discussão sobre a necessidade de se implantar o projeto. Indicação das
alternativas. Devem ser consideradas todas as alternativas tecnológicas e locacionais;
3. revisão da literatura sobre projetos similares; levantamento de
bibliografia relacionada à área do projeto;
4. identificação dos principais impactos, inclusive dos secundários e
terciários. É impossível, muitas vezes, analisar todos os impactos devido a questões
de tempo e limitação das informações ecológicas, sociais e econômicas disponíveis;
5. previsão dos efeitos durante a fase de instalação e durante a fase de
operação do projeto. É a parte essencial do EIA. Deve incluir uma estimativa das
previsões. Isso pode ser obtido através de três métodos básicos: estudos de campo
(levantamento das espécies presentes, especialmente das que poderão ser afetadas);
métodos experimentais (muito bom para avaliar hipóteses levantadas sobre efeitos
prováveis; modelagem que permita simulações com computador, (Rosemberg et al. 1981);
6. formulação de recomendações, como modificações tecnológicas,
alternativas, visando reduzir ou evitar os impactos;
7. monitoramento dos efeitos ambientais que ocorrerão durante a
implantação e a operação do projeto (com as ações sugeridas para minimizar
possíveis danos ambientais).

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Estudo de Impacto Ambiental Luiz Roberto Tommasi

Uma questão muito importante é que o EIA pode e costuma gerar FIGURA 1 - Diagrama para o Estabelecimento de Critérios para o EIA (Perazza et al., 1985)
grandes polêmicas e animosidades. Para se preparar e subsidiar essas situações é
importante incluir no EIA um estudo sobre as relações entre os impactos ecológicos,
estéticos e econômicos induzidas pelo projeto (ver Sewell, 1973 e Coopere Zedler, MEIO AMBIENTE

1980). Essas abordagens não só contribuirão para a eliminação de atritos, inclusive


políticos e econômicos, como também alimentarão com informações, de forma muito ESPAÇO

mais ampla, os responsáveis pelas decisões finais.


Outra questão importante é não nos preocuparmos com o tamanho ou DESENVOLVIMENTO
URBANO E RURAL
com o tempo necessário à realização do EIA, mas sim, com sua qualidade, com sua
objetividade. Norton (1979) mostra que desde o início de 1970, quando uma Corte
Federal nos EUA julgou um EIA inicial, com 8 páginas, sobre a construção de uma
MEIO AMBIENTE MEIO AMBIENTE
estrada com 1900 km, os trabalhos passaram a ser apresentados em dimensões BIOGEOFÍSICO SÓC IO-ECONÔMICO
volumosas. Assim, o EIA final do oleoduto trans-alasquiano compreendia 6 volumes
uso
de texto sobre meio ambiente, 3 volumes de análise de risco e de segurança e 4 E INFRA-ESTRUTURA SUPER·ESTRUTUR
APROPRIAÇÃO
volumes de depoimentos públicos. O EIA apresentado pela Themag sobre a "Rodovia FÍSICO BIOLÓ-
DO
MATERIAL SOCIAL
GICO
do Sol" (SP) tinha 8 volumes. ÁGUA ESPAÇO ÁGUA INSTIT UCIONAL
AR FLORA AR CULTURAL
Beanlands e Duinker ( 198 3) citam algumas expectativas que, por vezes, SOLO FAUNA SOLO POLÍTICO
são identificáveis em relação aos EIA, como por exemplo:
NECESSIDADES NECESSIDADES
1. um generalista hábil pode contribuir mais a um EIA do que bons F ÍSICAS SOCIAIS
especialistas (de fato, um generalista, um bom articulador é extremamente útil no EIA); FÍSICO
ALIMENTAÇÃO EDUCAÇÃO
2. a finalidade do EIA é obter a aprovação do projeto (totalmente SAÚDE PARTICIPAÇÃO
SANEAMENTO TRABALHO
incorreto, mas é o que, muitas vezes, esperam o (s) proponente (s) do projeto); HABITA ÃO BEM-EST AR
3. a finalidade do EIA é evitar aprovações indevidas pelos órgãos IMPACTO IMPACTO
oficiais (pior ainda); BIOGEOFÍSICO ----- - - -- --- ~ - ---- ------------- -- SÓCIO-ECONÔMICO
'--~~~~~~-' '
'
4. o EIA iguala-se às necessidades mínimas de planejamento (ela é, isto '

sim, componente do sistema de planejamento).


O fato é que a perspectiva dos proponentes do projeto sujeito ao EIA, assim IMPACTO
AMBIENTAL
como a do industrial e do político que o apóia, é a sua aprovação. Curiosamente, temos
observado um "conflito" nos Conselhos Estaduais do Meio Ambiente (CONSEMA):
representantes de Secretarias de Estado e órgãos públicos votando a favor de seus projetos
versus membros dàs entidades ambientalistas e das urú versidades, que discordam total ou
parcialmente das conclusões "oficiais" sobre o EINRIMA, mas que são minoria e acaban1
EIA
derrotados. E , o que é mais grave ainda, não é raro apresentarem EIAs de projetos já em
desenvolvimento ou em fase efetiva de sua implantação.

24 25
Estudo de Impacto Ambiental Luiz Roberto Tommasi

Nas conclusões de sua revisão sobre o EIA, Lee (1983) mostra que essa 10. preparo de procedimentos de avaliação que auxiliem os que vão
prática se tem desenvolvido consideravelmente em duas direções principais: lº) no tomar decisões, pela adoção de conclusões objetivas, claras, fáceis de serem entendidas
planejamento e aprovação de ações maiores do que simples projetos individuais de pelos mesmos, sobre os principais impactos e sobre os principais custos e outros
desenvolvimento e 2°) na melhoria da qualidade e da relação custo-efetividade dos problemas envolvidos na escolha entre as alternativas ao projeto proposto;
EIA e, conseqüentemente, no uso desses estudos para a tomada de decisões. 11. usar mais técnicas de avaliação social, na determinação da importância
O ideal é que houvessem planos regionais, macrozoneamentos, nos relativa que as comunidades dão aos diferentes tipos de impacto. Desenvolver
quais se inseririam projetos individuais. Assim, os EIA seriam feitos especialmente diagnósticos de percepção para avaliar como uma determinada decisão, sobre um
para grandes projetos, o que teria a imensa vantagem de mostrar todas inter-relações desenvolvimento proposto, poderá influir em possíveis mudanças dos pesos atribuídos
entre os projetos individuais, os ecossistemas e as comunidades humanas, facilitando, a um determinado impacto. Finalmente, desenvolver análises para mostrar a provável
em muito, a ação de controle, pois as limitações estariam previamente estabelecidas. distribuição dos impactos de um projeto de desenvolvimento, entre diferentes setores
Lee (1983) recomenda os seguintes aspectos para a melhoria do nível e classes da comunidade;
dos EIA: 12. dar maior ênfase a uma apresentação clara dos resultados dos EIA,
1. uso de matrizes simples e de listas relacionadas tipos específicos de numa forma que mais atenda às necessidades dos que a consultem para seus estudos,
desenvolvimento ou ambiente, as quais serão suplementadas por notas de advertência trabalhos e decisões;
sobre a identificação de impactos principais; 13. rever os sistemas existentes de monitoramento ambiental, a fim de
2. uso mais amplo de informações objetivas sobre o local a fim de determinar os mais apropriados a cada avaliação;
garantir que os recursos investidos nos estudos do EIA sejam usados de modo correto; 14. rever os sistemas de obtenção, armazenamento e de recuperação de
3. coleta de informações sobre prováveis desvios de uma operação dados, de modo a torná-los mais efetivos ao EIA;
previamente planejada e o preparo de análises de risco, baseadas nessas informações, 15 . desenvolver estudos nas Universidades, nos Institutos de Pesquisas,
para determinar o significado ambiental daqueles desvios; nos Órgãos de Controle Ambiental, visando ampliar os conhecimentos básicos sobre
4. preparo de manuais para identificar as fontes de dados ambientais o Meio Ambiente, tanto de áreas mais críticas, como de áreas onde apenas futuramente
existentes e/ou para estabelecer bancos de dados, que facilitem o acesso aos dados serão implantados projetos de desenvolvimento. Desenvolver estudos sobre produção
ambientais para a preparação dos EIA; de resíduos, modelos de difusão, sistemas de tratamento, etc.
5. preparo de manuais para a escolha dos métodos de avaliação, visando Como mostra bem Claudio (1987), os órgãos de meio ambiente estadual
obter dados ambientais que completem os inventários das condições básicas ambientais; devem estabelecer diretrizes e normas complementares à Resolução CONAMA 001/
6. dar maior ênfase às fases da análise mais diretamente ligadas à 86, de modo a promover a integração de EIA às ações de controle das atividades
previsão e à avaliação dos impactos e uma descrição mais detalhada dos métodos de modificadoras do meio ambiente. Assim, o EIA se constituirá, efetivamente, num
previsão e avaliação que foram utilizados; excelente instrumento para a preservação ou, no mínimo, redução efetiva da
7. preparo de manuais para a escolha de modelos que possam ser usados deterioração da qualidade ambiental (Claudio, 1987).
para a previsão de impactos de primeira ordem; Além disso, deve-se destacar a força integradora dos EIA, que permitem,
8. desenvolvimento de métodos para a aná)jsee previsão de impactos de em ampla escala, formar equipes multidisciplinares, aproximar instituições, ampliar
segunda ordem ou &uperiores; e aprofundar o conhecimento científico e desenvolver metodologias. É, inclusive,
9. uso de métodos adequados para avaliar o grau de confiabilidade das promissora oportunidade profissional!
previsões feitas sobre a magnin1de do impacto e para o tratamento de incertezas, na É difícil avaliar a confiabilidade das previsões de impacto ambiental
apresentação final dos resultados obtidos no estudo; contidos num EIA, a não ser que se realize um monitoramento adequado, de longa

26 27
Estudo de Impacto Ambiental

duração. Essa é uma questão complexa, que envolverá pessoal técnico em número e
capacitação suficiente para monitorar indústrias, loteamentos, lixões, portos terminais,
5. O ESTUDO DE
etc., já instalados e que vierem a se instalar. IMPACTO AMBIENTAL
Quando representamos a USP no CONSEMA de São Paulo (1988-89),
solicitávamos com freqüência, que fosse implantado um sistema de acompanhamento
por aquele conselho, dacorretaimplantação das exigências efetuadas em cada um dos O termo RIMA foi introduzido no Brasil pela Norma Administrati vai
EIA/RIMA aprovados. Isso não envolvia qualquer questionamento quanto à ação da CECA-NA, 001, (Deliberação CECA nº 03, de 28/dezembro/77) Rio de Janeiro,
CETESB, apenas refletia a necessidade dos conselheiros estarem a par, inclusive para como Relatório de Influência no Meio Ambiente. O Decreto Federal nº 88.35 l de
seu próprio aprimoramento, do que ocorria com aquelas exigências, sua praticabilidade 1983 é que usou, pela primeira vez, a sigla RIMA como Relatório de Impacto
e correção. Ambiental. Segundo o § 2º do Art. 18 daquele Decreto ... " o estudo de impacto
ambiental ... constituirá o Relatório de Impacto Ambiental (RIMA)" ... Posteriormente,
a legislação brasileira diferenciaria claramente o EIA do RIMA. (Resolução nº O1/
1986 do CONAMA). A Deliberação CECA nº 1078 (25/junho/87) substituiu a
denominação Relatório de Influência no Meio Ambiente por Relatório de Impacto Ambiental.
O Art. 18 do Decreto Federal 88.351, diz que a construção, instalação,
ampliação e funcionamento de estabelecimentos de atividades utilizadoras de recursos
ambientais, considerados efetiva ou potencialmente poluidores, bem como os
empreendimentos capazes, sob qualquer forma, de causar degradação ambiental,
dependerão de prévio licenciamento do órgão estadual competente, integrante do
SISNAMA, sem prejuízo de outras licenças legalmente exigíveis. O parágrafo
primeiro daquele artigo estabelece que caberá ao CONAMA fixar os critérios
' básicos, segundo os quais serão eX.igidos estudos de impacto ambiental para fins de
licenciamento, contendo, entre outros, os seguintes ítens:
1. diagnóstico ambiental da área;
2. decisão da ação proposta e suas alternativas;
3. identificação, análise e previsão de impactos significativos, positivos
e negativos.
O art 18 daquele Decreto estabeleceu um sistema de licenças constituído
de:
1. licença'p révia (LP), a ser concedida na fase preliminar do planejamento
da atividade, contendo requisitos básicos a serem atendidos nas fases de localização,
instalação e operação, observados os planos municipais, estaduais ou federais de uso
do solo;
2. licença de instalação (LI) autorizando o início da implantação do
projeto, de acordo com as especificações constantes do projeto executivo, aprovado
pelo órgão de controle ambiental;

28 29
Estudo de Impacto Ambiental Luiz Roberto Tommasi

3. licençadeoperação (LO) autorizando, após as verificações necessárias, ambiente a ser afetado, incluindo informações, dados técnicos, mapas e diagramas
o início da atividade licenciada e o funcionamento de seus equipamentos de controle onde aspectos relevantes ao julgamento do EIA sejam plotados. Recomenda que
da poluição, de acordo com o previsto nas LP e LI. análises e dados altamente técnicos e especializados sejam evitados no corpo da
O Decreto 28.687 de 11/02/82, do Estado da Bahia, estabelece em seu minuta do EIA. Esses estudos devem ser incluídos como apêndice ou como notas ao
art. 100, detalhado no art. 106, uma quarta licença que é a de ampliação, reformulação pé de uma página, com as.adequadas referências bibliográficas. O EIA deve assim
de processos e reequipamentos, desde que hajam alterações: descrever, sucintamente, o ambiente da área afetada e como ele existe antes do início
1. na natureza e/ou operação das instalações; da ação proposta (isso inclui outras atividades na área e que estão relacionadas à ação
2. na natureza dos insumos básicos; proposta). As inter-relações e impactos ambientais cumulativos das ações propostas
3. na alteração do processo produtivo; com outros projetos, no mesmo local, devem ser apresentados na avaliação. A
4. no aumento da capacidade nominal de produção ou prestação de serviço. quantidade de detalhes apresentados nas descrições devem ser condizentes com a
Segundo os "Guidelines" para a realização dos "Environmental Impact extensão e o impacto esperado da ação. Desde que possível, devem ser efetuadas
Statement" do "Federal Register" (Diário Oficial do EUA) vol. 38, nº 147, parte visitas ao local da ação proposta, a fim de se avaliar a correção das descrições e das
1.500, pg. 20.550-20.557 (1973), após ouvir todos os Ministérios, Agências, previsões. Deve-se ter cuidado em identificar, apropriadamente, populações e
estabelecimentos, bem como entidades estaduais e privadas e verificou-se que dois características do crescimento da área afetada e quaisquer considerações usadas para
temas principais estavam presentes na maioria dos comentários efetuados na revisão justificar o projeto; bem como, em se determinar impactos secundários sobre a
dos mesmos, publicada por aquele órgão: 1º - o Conselho de Qualidade Ambiental população e sobre o crescimento resultantes da ação proposta, assim como de suas
deveria aumentar a oportunidade de um envolvimento público no processo de alternativas.
avaliação dos impactos e 2º - o Conselho deveria prover diretrizes mais detalhadas No ftem 1500.8, estabelece que todas as fontes de dados utilizados no
sobre as responsabilidades das agências federais, à luz de decisões recentes da justiça. EIA devem ser identificadas, avaliadas e todas as conseqüências ambientais devem
O ítem 1500.1 estabelece que todas as agências federais, em sua maior ser expressamente descritas.
extensão possível, ... "devem dirigir suas políticas, planos e programas visando OEIA, segundo aResoluçãonºOOl de 1986doCONAMA,deveindicar
proteger e melhorar a qualidade ambiental; devem dirigir suas ações de modo a de forma sucinta, compreensível a toda coletividade, as relações entre a ação proposta
encorajar uma relação harmônica entre o homem e o seu ambiente, promover e os planos de uso do solo e legislações sobre a área afetada. Isso pode exigir uma
esforços a fim de-prevenir ou eliminar danos ao ambiente e à biosfera e estimular a síntese de como a ação proposta está de acordo ou em conflito com os objetivos e com
saúde e o bem estar do homem, bem como enriquecer o conhecimento sobre os os termos específicos de planos locais, federais, estaduais ou municipais. Caso exista
sistemas ecológicos e os recursos naturais importante~ à Nação" ... Essas diretrizes um conflito, o EIA deve descrever, claramente, a extensão pela qual o projeto o
requerem que as agências envolvidas no processo de decisão iniciem, o mais cedo resolverá.
possível, avaliações apropriadas e cuidadosas sobre os aspectos ambientais da ação O EIA deve indicar, de forma bastante clara e compreensível, para a
proposta, a fim de que efeitos ambientais adversos possam ser evitados ou minimizados comunidade, os prováveis impactos da ação sobre o meio ambiente, quer sejam
e a qualidade ambiental previamente perdida seja restaurada. positivos como negativos, tanto a nível local, como regional e mesmo nacional. A
No ítem 1500.2 o "Federal Register" estabelece que as avaliações de atenção dada aos diferentes fatores ambientais deve variar conforme a importância,
'.
impacto sejam desenvolvidas, simultaneamente aos estudos técnicos e econômicos natureza, escala e localização da ação proposta.
iniciais. Atenção especial deve ser dada à discussão daqueles fatores mais
O ítem 1500.3 do "Federal Register" estabelece que o EIA deve cobrir intensamente impactados pela ação proposta. Conseqüências primárias ou diretas,
os seguintes pontos: descrição da ação proposta e de suas finalidades, do meio bem como secundárias ou indiretas, devem ser incluídas na análise. Muitos projetos

30 31
Estudo de Impacto Ambiental
r Luiz Robe r to To mmas i

como os de construção de rodovias, aeroportos, sistemas de esgotos, uso de recursos Brasil São Paulo
hídricos, etc., estimulam ou induzem efeitos secundários na forma de investimento
associados e mudanças nos padrões de atividades sociais e econômicas. Esses efeitos 1. Mineração 87 54
secundários podem ser mais importantes do que os primários, através de seus 2. Indústrias 32 01
impactos nos serviços e nas atividades comunitárias existentes, induzindo o 3. Tratamento de resíduos sólidos 18 14
desenvolvimento de novos serviços e atividades ou através de mudanças nas 4. Projetos hidráulicos 18 01
condições naturais. Assim, o efeito mais importante de um projeto pode não ser 5. Projetos urbanísticos 17 09
diretamente sobre o ambiente, mas sim sobre a população, sobre o crescimento e 6. Oleodutos 11 03
qualidade de vida da mesma Esses efeitos incluem tanto o uso do solo, como usos 7. Usinas hidrelétricas 10 01
múltiplos da água (abastecimento, geração de energia, esgotos, lazer, etc.) e serviços 8. Emissários submarinos 03 02
públicos na área do projeto (escolas, energia elétrica, assistência médica, estradas, 9. Projetos agropecuários 01 01
transportes). 10. Despoluição de lagos 00 01
Devem ser apresentadas alternativas apropriadas às ações que gerem
conflitos não solucionados sobre os usos alternativos de recursos disponíveis. Verifica-se, da relação acima, que os EIA de mineração são os mais
Considera-se como essencial, a apresentação dessas alternativas com seus benefícios freqüentes, tanto no Brasil como em São Paulo.
Finalmente, uma questão importante: quem deve pagar pelo EIA? Sem
ambientais, custos e riscos. As alternativas devem considerar desde a não realização
dúvida, o proponente do projeto de desenvolvimento ,quer seja ele privado ou oficial.
do projeto, ou postergá-lo na dependência de estudos necessários que deverão ser
Segundo, Hollick (1984 ), o órgão de controle ambiental deveria possuir uma lista de
efetuados, como o estudo de alternativas tecnológicas e locacionais, que podem
firmas particulares, efetivamente capacitados a realizar estudos multidisciplinares do
prover os mesmos benefícios ainda que com diferentes impactos ambientais.
EIA e, entre elas, o proponente escolherá a que fará o estudo para o seu projeto.
Devem ser claramente expostos os efeitos adversos que não poderão ser
No Brasil há ainda muitos EIAs realizados em apenas três ou quatro
evitados; por exemplo, poluição das águas, do ar, usos indesejáveis do solo, danos a
meses e, totalmente, com base em dados secundários, da bibliografia especializada
sistemas vivos, congestionamento urbano, riscos e agravos à saúde pública, etc.
que, com muita frequência, não foram gerados para os fins de um EIA Na Au strália,
O EIA deve mostrar, claramente, como se comportarão as relações entre
eles demoram de 6 a 17 meses (Kozlowski, 1989); já segundo o UNECE (1987) é
os usos dos recursos ambientais e o comportamento da produtividade ambiental. necessário cerca de 12 a 18 meses. O custo de um EIA, de um modo geral, varia de
Deve ser mostrado em que extensão o projeto envolve ganhos a curto prazo, às custas 0,5 a 2% do valor do projeto (Clark, 1984; Hart, 1984).
porém, de perdas ambientais, sociais e econômicas, a longo prazo ou vice-versa.
Segundo Maglio (1991), até dezembro de 1988 tinham sido analisados
no Brasil, pelos órgãos estaduais de controle ambiental, 140 EIAs, dos quais 46 em
São Paulo. Destes últimos, 23 foram reprovados. Naquela data, estavam em tramitação
nos órgãos estaduais1 85 EIAs, dos quais 45 em São Paulo.
Em maio de 1990, segundo ainda Maglio (1991), estavam em tramitação
na Secretaria de Estado do Meio Ambiente de São Paulo, 177 EIAs dos quais, 102
de mineração, 19 de rodovias e 12 de disposição de resíduos sólidos.
A relação seguinte apresenta os tipos de EIAs realizados até dezembro
de 1988 no Brasil e em São Paulo (analizados e em tramitação):

32 33
6. ALTERNATIVAS AO PROJETO

Um dos principais aspectos que se considera num EIA é a a vali ação das
alternativas ao projeto. Essa avaliação é exigida pelo art. 5º, 1 da Resolução 001/86
do CONAMA. Entre essas alternativas, deve-se considerar as conseqüências de se
continuar sem o projeto (não ação), sob o ponto de vista ambiental, social e
econômico. Em realidade, não são apenas as alternativas locacionais que devem ser
consideradas, mas todas as possíveis, como as tecnológicas, de processos, de
disposição final de resíduos, de tratamento de efluentes, de fontes de energia, etc. No
Brasil, é ainda difícil encontrarmos num EIA, a discussão de alternativas locacionais.
Essas altemati vas devem ser confrontadas com planos, políticas, sistemas
de controle existentes, uso de recursos naturais, potencialidades paisagísticas,
culturais , etc.
Um aspecto importante é a substituição de ecossistemas naturais por
antrópicos ou, ainda, a restauração destes últimos após sua destruição. Um estudo
relevante sobre essa questão é o de Race e Christie (1982), sobre a criação de
marismas em áreas degradadas.
Segundo o "Council on Environmental Quality" dos EUA (CEQ - 1980,
"Environmental Quality", Eighth Ann. Rep., Washington, DEC), a agência de
controle ambiental deve identificar as alternativas ambientais mais favoráveis de um
projeto. A melhor das alternativas será a que atende melhor à política nacional
ambiental.
Urna boa altemati va é a menos impactante, a que apresente menor risco,
ou seja, uma menor probabilidade da ocorrência de um certo nível de impacto (Whyte
e Burton, 1980).
Um método para se avaliar qual das alternativas de um projeto é a menos
impactante é, por exemplo, o da ECO (1977).
Para aplicar-se o método da ECO utilizaremos três tabelas. A primeira
(Tab. 1) para determinar o peso a ser atribuído a cada variável. Tomamos, por
exemplo, 5 variáveis ambientais impactadas e mais uma variável nominal, ou seja,
uma que, por definição, não sofre impacto. Ela é incluída para evitar que se atribua
a qualquer variável impactada o valor zero, ou seja, sem importância relativa. Cada
variável é comparada, par a par, com todas as demais, para se determinar qual delas

35
Estudo de Impacto /\mbicntal Luiz Roberto Tommasi

é a mais importante para a área estudada. A variável de cada par que for considerada A Tabela2 é construida para se comparar as várias alternativas (inclusive
a mais importante receberá o valor 1; a outra, receberá um zero. Quando não se pode a não ação) dos impactos sobre a variável V 1. Visa, simplesmente, decidir qual das
tomar uma decisão ou quando considerarmos as duas variáveis com igual importância, alternativas, tomadas duas a duas, terá um menor impacto sobre aquela. Em cada par,
atribuir-se-á a cada uma o valor 0,5. a alternativa mais favorável recebe o valor 1 e, a menos favorável, o valor zero.
É evidente que, a atribuição de valores a cada variável deve estar, Se as duas alternativas têm um impacto sinúlar, o valor de ambos será 0,5.
solidamente, alicerçada e m informações experimentais e em observações de casos No presente exemplo, podemos prever os impactos das cinco alternativas
reais. Além disso, parece-nos muito perigoso, extrapolar o valor .obtido de um sobre a variável V 1 da seguinte forma:
determinado habitat, para outro, mesmo que vizinho e semelhante. Além do mais,
este método envolverá, sempre, um certo 1úvel de subjetividade. Aternativas Impacto
Na Tabela 1, as colunas sob o título, "peso relativo das variáveis"
representam os resultados das comparações, entre cada par de variável. Somam-se, A (Não ação) · benéfico
cm seguida, (horizontalmen te) os valores de cada variável (coluna de soma). Dividc- B benéfico
se cada soma pela soma total dos valores obtidos para cada variável (no exemplo da e o mais benéfico
Tabela l é 15) para se determinam coeficiente de importância relativo (CIR), de cada D prejudicial
variável. No nosso exemplo, a variável de maior importância relativa é a V 2 •
O total da coluna soma deve totalizar N CN-12, onde N é o número de As colunas verticais sob o titulo "escala relativa entre as alternativas",
2 representam os resultados das comparações entre os pares de alternativas. Os valores
variáveis consideradas (incluindo a nominal). No nosso exemplo, N =6 e o valor da atribuídos a cada alternativa são somados e resultam no valor indicado na coluna
coluna soma é 15. soma. Cada um desses valores da coluna soma é di vidido pela soma total dos v alores
A soma dos valores da coluna CI R deve totalizar 1 (um) ou um valor da coluna soma (neste caso é 10), para deternúnar o coeficiente de seleção de
muito próximo a 1. alternativa (CSA).
A coluna CIR da Tabela 1 apresenta o peso de cada variável. O da No nosso exemplo, a alternativa melhor é que obteve um valor maior na
variável nominal é zero, ou seja, ela não tem por definição prioridade. No nosso coluna CSA, ou seja, é a alternativa C. O mesmo deve ser feito para todas as variáveis
exemplo, a sequência de prioridade das variáveis, da maior para menor, é: consideradas na Tabela 1.

TABELA 2 - Estabelecimento de Escala para a Variável X


TABELA 1 - Atribuição dos Valores de Importância ALTERNATIVA PESO RELATIVO DAS VAR IÁVEIS SOMA CSA
IMPACTADAS PESO RELATIVO DAS VARIÁVEIS SOMA CIR A B e D
V1 V2 V3 V4 V5
V1 o 1 0,5 1 1 3.5 0.23
A 0,5 o 1 1 2,5 0,25
V2 1 1 1 1 1 5,0 0,33 B 0,5 o 1 1 2,5 0,25
V3 o o o 0,5 1 1,5 0, 10 e 1 1 1 1 4,0 0,40
V4 0,5 o 1 1 1 3,5 0,23
D o o o 1 1,0 0, 10
V5 o o 0,5 o 1 1,5 0,10
Nominal o o o o o 0,0 0,0 Nominal o o o o 0,0 0,00
TOTAL 15,0 0,99 TOTAL 10,0 1,0

36 37
Estudo de Impacto Ambiental Luiz Roberto Tommasi

Para se escolher a alternativa menos impactante, sobre todas as variáveis, Outro método para a avaliação de alternativas é o de Minere Warrick
usamos a Tabela 3. Nela colocaremos os CIR das cinco variáveis e os CSA das quatro (1975), que estudaram os efeitos de sistemas alternativos de refrigeração de reatores
alternativas. Os valores desses dois coeficientes são multiplicados, par a par, nucleares, sobre variáveis diversas. Essa avaliação é representada na Tabela 4,
obtendo-se, assim, os resultados indicados sob o título, matriz final de coeficiente modificada daqueles autores.
(CIR e CSA). Na base da tabela, o total indica a soma de cada coluna da matriz. É evidente que, a atribuição de valores do efeito da refrigeração a cada
Quanto maior o valor obtido, menos impactante será a alternativa. No nosso exemplo, variável deve estar, solidamente, alicerçada em informações experimentais e em
a alternativa melhor, menos impactante é a A seguida da e e da D, em igual nível. A observações de casos reais. Além disso, parece-nos muito perigoso extrapolar o valor
pior, a mais impactante é a alternativa B. ohtido de um habitat, para outro, mesmo que vizinho e semelhante. Além do mais,
este método envolverá , sempre, um certo nível de subjetividade.
TABELA 3 - Escolha da Alternativa Menos Impactante

ALTERNATIVAS MATRIZ FINAL DE


,VARIÁVEIS CIR COEFICIENTES ICIR x CSA)
A B c D A B D c
V1 0,20 0,25 0,25 0,40 0,10 0,05 0,05 0,08 0,02
V2 0,40 0,33 0,00 0,17 0,50 0,13 0,00 0,07 020
V3 0,10 0,30 0,30 0,20 0,20 0,03 0,03 0,02 0,02
V4 0,20 0,30 0,30 0,30 0,30 0,06 0,06 0,06 0,02
V5 0,10 0,50 0,17 0,33 0,00 0,05 0,02 0,03 0,00
TOTAL 0,32 0,16 0,26 0,26

TABELA 4 - Efeitos de Sistemas Alternativos de Refrigeração de Reatores Nucleares


sobre Variáveis Diversas
EFEITOS SOBRE SISTEMA DE REFRIGERACÃO
VARIÁVEIS Torres usando águ Torres usando Torres usando Torres no litoral, Lançamento do
de origem agrlcola água de rio água costeira usando água de ri< efluente quente nc
ou municipal /mar\ mar
Plãndon e larvas de peixes 1 2 5 2 4
Pesca 1 2 2 2 2
Com u nidades bentõnicas 1 1 4 1 2
Ecologia te rrestre 4 1 4 1 1
Uso do solo 5 5 5 5 1
Uso adicional de combustível 5 5 5 5 1
Perda de eficiência do sistema 5 5 5 5 1
Equipamento do sistema 3 1 3 1 1
Recursos naturais/materiais 4 4 4 4 1
Áquadoce . 1 5 1 5 1

1 ; Sem efeito
2; El eito pequeno ou insignificante
3; Efe ito potencial significativo que pode ser mitigado com algum gasto
4 ; Efeito potencial significat ivo, que pode ser mitigado com grandes gastos
5 ; Eleito potencial significativo que não pode ser mitigado

38 39
7. LIMITES DE UM ESTUDO DE
IMPACTO AMBIENTAL

O estabelecimento dos limites (Art. 5°, III, da Resolução 001/86 do


CONAMA) geográficos, tecnológicos, sociais, econômicos a serem considerados,
ou seja, a área de influência do projeto, é uma das tarefas mais difíceis e complexas
num EIA. Apesar disso, esse processo é fundamental. Os limites estabelecidos
determinam a extensão física, a escala temporal e a abordagem tecnológica necessária
aos estudos e determina, também, a amplitude das interpretações, extrapolações e
previsões. Vários autores têm reconhecido a enorme importância em se estabelecer,
desde o início, os limites de um estudo de impacto ambiental. Entre eles, podemos
destacar: Cooper e Zedler (1980), Fritz et al. (1980) Sanders e Suter (1980) e
Beanlands e Duinker ( 1981).
Entre os primeiros limites a serem estudados estão o do ecossistema, que
será afetado. Assim, consideraremos um rio ou sua bacia hidrográfica? Incluiremos
o seu estuário? E o mar adjacente? No caso de uma floresta, até onde ela será
estudada? Se for uma baía consideraremos apenas a baía, ou também as bacias
hidrográficas que nela desaguam e o oceano adjacente? O inciso III do Art. 5 da
Resolução 001/86 apresenta uma referência geográfica à determinação do limite de
um EIA, que é a bacia hidrográfica onde o projeto deverá ser implantado.
Autores como Fritz et al. (1980) dizem que o melhor é delimitar o
problema e, assim, será mais fácil estabelecer limites espaciais.
Em todo projeto será possível encontrar várias áreas, que deverão ser
convenientemente delimitadas no tempo e no espaço. Tomemos, como exemplo, uma
indústria qualquer. Simplisticamente, ela recebe materiais e energia, envia produtos
por uma rodovia, ocupa uma área sobre a qual está instalada, há uma área onde lança
seus resíduos sólidos, há um local onde lança seus efluentes líquidos e há uma área
atingida pelas suas emissões gasosas. É, portanto, relativamente fácil identificarmos
sub-áreas. Devemos, nesse caso, conhecer também tanto as interações entre elas,
como aquelas com áreas vizinhas.
Há, evidentemente, sistemas para os quais os limites espaciais são muito
bem definidos. É o caso de uma laguna costeira, de uma rodovia. Já, se pensarmos em
bacia hidrográfica, atmosfera, oceano, a situação ficará muito mais complexa.

41
Estudo de Impacto Ambiental Luiz Roberto Tommasi

Apesar disso, podemos complicar aqueles cenários, considerando, por exemplo, a Européia, que estabeleceu que quando um projeto implantado num país influenciar
importação e a exportação de produtos e resíduos industriais, urbanos, etc. Neste o ambiente de outro, o primeiro deverá colocar à disposição do influenciado, toda
caso, entram em jogo processos físicos de transporte, difusão, dispersão, acumulação, informação que se fizer necessária.
que necessitam ser bem compreendidos e por vezes modelados. Há muitos exemplos de ações e projetos num país, influenciarem as
O limite físico de qualquer estudo de impacto ambiental deve ser condições ambientais de outro país. É o que ocorre com as chuvas ácidas oriundas do
suficientemente abrangente de modo a comportar os reflexos diretos ou indiretos do norte da Alemanha e de outros países e que prejudicam lagos na Escandinávia. É o
projeto, especialmente quanto a efeitos biológicos, sociais e econômicos. caso das termoelétricas a carvão do sul do Brasil, aparentemente responsáveis por
Segundo Hilborn et ai. (1980) não podemos transplantar limites chuvas ácidas que afetam cidades no norte do Uruguai. Outra situação complexa é a
ecológicos para limites físicos. Isso porque um sistema ecológico mantém longas e de rios que cortam ou se constituem em limite entre vários países, como o Reno e o
complexas anastomoses com todos os demais vizinhos. Um bom exemplo é a Paraná. O lançamento de efluentes industriais, esgotos, etc., sempre criará problemas
construção de uma barragem num rio que deságua num estuário. A barragem pode ao uso múltiplo da água do mesmo.
estar a centenas de quilômetros do estuário, mas ela afetará o rio, tanto à montante Finalmente, devemos dedicar muita atenção aos chamados ecótonos ou
como à jusante da mesma, tendo inclusive reflexos sobre o estuário, bem como sobre zonas de transição entre comunidades ecológicas ou biornas adjacentes, podendo ser
o oceano adjacente. Um exemplo clássico são os efeitos da barragem de Assuam sobre gradual, abrupta (ruptura), em mosaico ou apresentar estrutura própria (ACIESP,
o Rio Nilo, seu delta e o Mediterrânoo adjacente. 1987). Nesses habitats podem ocorrer espécies características de ecótonos, que
Uma abordagem ecológica dos limites de um estudo de impacto ambiental devem ser consideradas num EIA.
deve considerar até onde ocorrem efeitos ecotoxicológicos, até onde pode haver Como mostram Rosenberg et ai (1981), todo projeto, não importando
bioacumulação de poluentes na cadeia alimentar, até onde há modificação de habitats seu tamanho, deve ser abordado, sobretudo, a partir de uma perspectiva regional e não
e até onde ocorrerão interferências nos ciclos biogeoquímicos.
local ou pontual. Com isso torna-se possível considerar tanto efeitos cumulativos
Fritz et al. ( 1980) definem um impacto como uma mudança na estrutura
como interações entre projetos em áreas contiguas. É inadimissível realizar um EIA
ou na dinâmica de uma população, resultante de uma atividade humana, que
para um empreendimento imobiliário, por exemplo no litoral, sem considerar os
permanece enquanto a atividade ocorre. Esse período de tempo é, porém,
impactos globais, conjuntos, com os empreendimentos vizinhos já existentes ou
freqüentemente maior do que o da existência do projeto, pois a não ser que haja
projetados.
recuperação imediata do habitat, com retorno das espécies que o habitavam , o
impacto se prolongará até mesmo indefinidamente.
Assim, como afirmaram Sanders e Suter (1980) ..."a variação natural
temporal nos componentes bióticos e na magnitude dos impactos esperados deve ser
a consideração dominante" ... Em realidade, essa variação é que deverá, segundo
Beanlands e Duinker (1981), definir o limite no tempo de um EIA. É o denominado
limite da estabilidade (Holling e Goldberg, 1971), ou seja, os limites dentro dos quais
um parâmetro pode retornar a seu estado anterior ao impacto. O impacto é um
processo que lança 11.quele parâmetro fora desses limites. Segundo Beanlands e
Duinker (op.cit.), a melhor aproximação à determinação de limites desse tipo, é
através da análise de séries temporais.
Machado (1991), discute a situação na qual os efeitos de um projeto se
estendem além dos limites de um país. Cita, entre outros, a Comunidade Econômica

42 43
8. DIFICULDADES E
RECOMENDAÇÕES PARA
REALIZAÇÃO DE ESTUDOS DE
IMPACTO AMBIENTAL

O EIA é um sistema recente, introduzido apenas há duas décadas e por


isso, ele é considerado por alguns autores como ainda embrionário. Vamos analisar
alguns dos problemas que hoje existem, na realização de um EIA.
Começaríamos pela distinção entre o papel do cientista e o do público.
Segundo Rosenberg et al. (1981), a função do cientista é descrever objetiva. e
cientificamente, as mudanças que poderão ocorrer devido a um dado projeto. A
função do público é decidir se essas modificações, com base nas informações dos
cientistas, em suas expectativas ambientais, sociais e econômiGas, são aceitáveis
(boas) ou não (más). Isso mostra que um EIA não pode ficar restrito às~mpresas de
consultoria, órgãos de controle ambiental e Conselhos Estaduais de Meio Ambiente.
Há permanente necessidade de participação da comunidade.
Outra questão é a avaliação do custo ambiental. Quanto vale, em termos
de ecossistema, um cerrado, um manguezal? O que terá maior valor econômico,
social, cultural e ambiental: preservar uma área ou introduzir na me~ma uma dada
tecnologia?
Segundo Schindler (1976), os principais motivos do fracasso dos
estudos de impacto ambiental são os seguintes:
1. erros de generalização de critérios de conclusão ("toking") ·
2. prazos irreais para realização do trabalho
3. dados científicos incompletos ou não confiáveis
4. falta de informações atualizadas
5. má apresentação dos resultados
6. falta de coordenação e de uma síntese articulada, adequada, das
informações obtidas.
A esses motivos podemos acrescentar entre nós a falta de séries
históricas, que permitam avaliar, com maior correção, o comportamento de certas

45
Estudo de Impacto Ambiental Luiz Roberto Tomma si

variáveis ambientais. Outra questão importante, é que muitos projetos de fácil acesso e isso deveria ser bem divulgado, por exemplo, pelos jornais. As decisões
desenvolvimento, são previstos para ambientes já impactados, em diferentes níveis finais devem ser divulgadas rotineiramente em Diário Oficial e, também, em revistas
o que agrava a correção das avaliações de impactos sobre os mesmos. científicas de ampla divulgação. Aliás, os órgãos de controle ambiental deveriam ter
Os erros de generalização de critérios de conclusão ("toking") podem publicações que periodicamente divulgassem as decisões sobre os projetos analisados,
manifestar-se de vários modos como, por exemplo, através de avaliações que não legislação, etc.
contribuem para uma decisão efetiva sobre o projeto mas que por outro lado, Outra questão importante, é que não pode haver segredo num EIA; todas
procuram minimizar efeitos observados; avaliações que, na realidade, são meras informações necessárias devem ser incluídas. Ainda que devam ser preservadas as
justificativas para aprovar determinado projeto; avaliações que são efetuadas apenas patentes e os direitos sobre processos tecnológicos industriais, etc, nunca poderão ser
para satisfazer questões legais (Peterson, 1974). sonegadas informações pelo proponente que permitam conhecer, por exemplo, suas
Uma questão básica na realização de um EIA é a organização da equipe fontes de emissão de poluentes.
multidisciplinar. Entretanto, mais importante ainda, é a indicação adequada de seu A participação do público deve ser organizada, de modo que ele tenha
coordenador. Holling ( 1978) mostra que uma coordenação fraca apenas distribuirá amplo conhecimento do projeto. Isso pode ser conseguido, por exemplo, pela
e administrará os trabalhos, enquanto que uma efetiva coordenação levará à troca de exposição pública do plano e de seus objetivos, por debates entre técnicos de órgãos
informações, à estruturação das idéias, ao encadeamento de atividades e ao consenso de controle ambiental e responsáveis pelo projeto; por debates entre responsáveis
sobre as questões básicas em discussão. pelo projeto e representantes da comunidade, em audiência pública, sob a moderação
Uma dificuldade freqüentemente observada no Brasil é o acesso a de técnicos de órgãos de controle ambiental. Em certas circunstâncias, pode-se
relatórios e outros tipos de informações existentes em empresas estatais, firmas de prever até plebicitos a fim de se avaliar a posição de uma comunidade quanto a um
consultoria, de engenharia, etc. Há muitas informações úteis, de boa qualidade
dado projeto. As audiências públicas deveriam ser mais dinâmicas e não tão
naquelas entidades mas não há um catálogo, não há acesso às mesmas. Outra fonte
defensivo-expositivo-contestatórias, sem debates, corno ocorre hoje em dia.
importante de informações são dissertações e teses nas universidades, muitas não
De modo geral, é necessário, inclusive no Brasil, uma ampla discussão
publicadas. Ainda que hajam catálogos de teses, não há, por vezes, uma boa
sobre muitas das questões fundamentais ligadas ao EIA como, por exemplo, as
divulgação de seu conteúdo. Deveria ser implantado no País, um sistema mais ágil
apontadas por Lee e Wood (1985), Ritchie ( 1978), Rosenberg et ai. (1981 ), Schindler
de acesso às informações ambientais disponíveis em todas as entidades, quer
particulares como governamentais. (1976) e Peterson (1974); a legislação nacional já aborda algumas dessas questões
Muitas vezes, há necessidade de realização de trabalhos de campo, para fundamentais, cuja relação básica é arrolada a seguir:
o desenvolvimento de programas de avaliação. Logo surgem problemas básicos 1. Por que deve ser realizado um EIA?
como: que parâmetros devem ser estudados, como amostrá-los, qual a freqüência da 2. Em que circunstâncias deve um EIA ser exigido?
amostragem, como avaliar as inter-relações entre os mesmos. Quando há necessidade 3. O julgamento de um EIA implica na necessidade de urna audiência pública?
de identificar espécies animais e ·vegetais, logo nos defrontamos com a falta de 4. O que deve ser incluído num EIA?
especialistas, de monografias, de manuais e de chaves de classificação. Há falta de 5. Um EIA deve ser preparado segundo diretrizes elaboradas por órgãos
dados quantitativos. Devem ser obtidas informações cartográficas atualizadas, dados de controle ambiental?
sobre condições sociais, econômicas, legislação, programas de desenvolvimento, 6. Quais são os requisitos para se elaborar um estudo de impacto
etc. Evidentemente, a extensão das informações a serem obtidas depende muito das ambiental?
características do projeto. 7. O que os técnicos que redigirão o EIA devem ter em mente ao realizar
A falta de divulgação dos relatórios de EIA é um aspecto muito grave o trabalho?
do nosso sistema. Os EIA deveriam ser distribuídos a grandes bibliotecas e a 8. Quais são as habilidades técnico-científicas necessárias para a

46 47
Estudo de Impacto Ambiental Luiz Roberto Tommas i

organização de uma equipe multidisciplinar que realizará o EIA? e pressões significativas, exemplificadas a seguir por aqueles autores:
9. Há suficiente informação para se avaliar que aspectos de um projeto 1. Na ocasião da avaliação de políticas, projetos e legislações, devido a
poderão degradar o ambiente e criar riscos à saúde pública? pressões de grupos políticos e econômicos, com forte capacidade de interferência nos
10. Como proceder quando grande parte das informações disponíveis órgãos de decisões.
pertencem a entidades governamentais e a firmas particulares? 2. Quando o projeto visa atender uma necessidade social premente,
11. Como poderemos distinguir entre flutuações ambientais naturais e como a de gerar empregos.
os efeitos de um dado projeto? 3. Quando se estabelece uma forte polêmica pública sobre um dado
12. Há base científica para se estabelecer o que é um impacto significativo projeto e as entidades oficiais já tomaram posição favorável a respeito do mesmo.
(positivo ou negativo)? 4. Quando o tempo disponível para a realização do projeto, por motivos
econômicos e políticos, é muito pequeno.
13. Qual o período de tempo necessário para se avaliar corretamente os
5. Quando o órgão que realiza o EIA é o mesmo que o avaliará, ou que
impactos induzidos por um projeto?
o aprovará.
14. Podemos incluir num EIA questões intangíveis, subjetivas, como
A Resolução nº 1 da Secretaria do Estado do Meio Ambiente de São
moral, cultura, estética, etc?
Paulo de 02/01/90, determina que o responsável por obras ou atividades públicas ou
15. Quanto tempo deveremos monitorar um projeto e como poderemos
privadas, que se encontravam em andamento, ou ainda não indicados naquela data,
demonstrar as relações de causa e efeito?
mesmo licenciadas, autorizadas ou aprovadas por qualquer órgão ou entidade do
16. Quais são as necessidades e condições para a realização de uma
poder público, mas que não tenha sido objeto de EIA/RIMA, deveriam realizá-los nos
audiência pública?
termos dos critérios afixados pela Secretaria do Meio Ambiente.
17. A audiência pública deve abordar todos aspectos (tecnologia,
Uma das dificuldades que observamos, para uma ampla utilização de
operação, economia, ambiente natural, social) ou apenas algum deles? Qual a sua EIA no Brasil, são as grandes diferenças técnico-científicas, políticas e econômicas
duração? que ainda persistem entre os diferentes estados. Outra é a ingerência político-
18. O que deveria ser feito com os resultados da audiência pública? econômica naquele sistema.
Quem deverá avaliá-los e implementá-los? Contudo há outro tipo de dificuldade. Segundo Holling (1978), foram
19. Como devemos monitorar um projeto durante as fases de construção criados diversos mitos sobre o EIA, devido a incorreções sobre a natureza desse
e de operação? Quem deve arcar com os custos desse trabalho? processo e suas relações, por um lado com a ecologia e, por outro, com instituições
20. Se, quando o projeto entrar em funcionamento, for verificado, por governamentais e de planejamento. Analisando essa questão, Roberts e Roberts
exemplo, um dano ambiental (mortandade de peixes, etc.), como demonstrar que o ( 1984) apontam várias causas de erros na interpretação do que é um EIA. Entre eles,
projeto é o respo nsável pelo dano? podemos citar: falta de compreensão de que o EIA deve ser um processo seqüencial,
21. Qual é a capacitação técnico-científica necessária à equipe que começando com a descrição do sistema natural e antrópico, prosseguindo na análise
avaliará um EIA? dos efeitos de projetos de desenvolvimento sobre eles e, finalmente, apresentação de
22. Qual é o papel da universidade e dos institutos de pesquisa no alternativas e de medidas visando minimizá-los ou, mesmo, eliminá-los. Tudo de
sistema de EIA? forma que se possa tomar uma decisão, política, sobre o projeto. Outro problema
23. Qual é a estrutura e o nível necessários aos cursos de treinamento em grave é o não reconhecimento da diversidade espacial do sistema ambiental e de sua
EIA? elevada dinâmica. T~bém a incapacidade em se identificar a natureza das relações
A aplicação do EIA sempre encontrará algumas dificuldades, resistências entre os componentes ecológicos, desenvolvimentistas e gerenciais de um sistema.
e pressões significativas, exemplificadas a seguir por aqueles autores: A tabela 5 seguinte apresenta uma relação de conceitos equivocados
sobre o EIA e a realidade de cada um (Holling, 1978; Roberts e Roberts, 1984).
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Estudo de Impacto Ambiental

TABELAS - Conceitos Equ ivocados sobre o EIA 9. TREINAMENTO EM ESTUDO DE


(Holling, 1978 e Roberts e Roberts, 1984).
IMPACTO AMBIENTAL
ERRADO CERTO
1. O objetivo do EIA é levar o desenvolvimento a um ponto 1. Nem a estabilidade nem a previsibilidade são
estável. previsível. características dos sistemas natural e social. O objetivo do
EIA é compreender as mudanças que poderão ocorrer em Quando no Brasil se resolveu exigir a realização do EIA, em muitos
decorrência do desenvolvimento.
2. O programa de desenvolvimento deve ser encarado 2. Os programas de desenvolvimento são tão sujeitos às casos não dispunhamos de pessoal efetivamente qualificado para isso, apesar de j á
como um conjunto extrínseco de fatores, que sobrepomos mudanças como os sistemas ambientais e virão a ser parte
ao sistema ambiental que o receberá. intearante do sistema aue os receberá.
existirem, na época, núcleos de alto nível técnico, especialmente nos órgãos de controle
3. Podemos adotar primeiro políticas e objetivos sociais e 3. A compreensão do ambiente, de sua variabilidade, de sua ambiental de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo.
usar o EIA para descrever as respostas que ocorrerão. vulnerabilidade, auxilia a direcionar correiamente políticas e
obietivos sociais. Hoje, essa capacitação é muito maior, sendo que além dos órgãos de
4. Todos os impactos possíveis. decorrentes da 4. Muitos impactos não podem ser previstos, por isso o controle ambiental, várias firmas de consultoria possuem equipes de alto nível
implantação de um projeto, devem ser considerados num planejamento deve prever a possibilidade de mundaças. de
EIA. adaptacões. Essa é a imoortâncla do monitoramento . técnico-científico, realizando trabalhos efetivamente bons.
5. Devemos efetuar levantamentos completos do sistema 5. Levantamentos completos são excessivos, gerarão Isso não significa, porém, que muito não se tenha de desenvolver quanto
ambiental em questão. muitos dados irrelevantes. O que se deve, é conhecer
variáveis relevantes q ue. monitoradas adequadamente, ao treinamento, à formação de pessoal efetivamente qualificado para compor equipes
1oermitirão conhecer os efeitos induzidos oor um projeto.
multidisciplinares. Nesse sentido, o Curso de Pós-Graduação em Ciências Ambientais
6. Os limites do EIA são físicos como, por exemplo, os de 6. O problema é de definir os limites. Com freqüência. limites
uma bacia hidrOÇJráfica, de um Estado (polltica). etc. tísicos e oolfticos serão ultraoassados. da USP é um meritório exemplo.
7. Estudos isolados de partes de um sistema, ou estudos 7. Estudos parciais dificilmente mostrarão, quando unidos, a
realizados numa dada estação do ano podem, dinâmica do todo, pois a dinâmica global pode também ser
Importantes trabalhos sobre o treinamento para a realização de Avaliações
posteriormente, ser unidos para o conhecimento e variável e não refletida numa simples somatória de trabalhos de Impactos Ambientais são os de Lee e Wood (1985) e o de Wood e Gazidellis (1985).
1 previsões do lodo. 1oarciais.

8. A análise ecológica e a avaliação de i mpacto permitem 8. As análises devem não apenas suprir incertezas
Segundo Lee e Wood (op.cit.), uma estratégia de treinamento em Estudo
reduzir a incerteza inevitáveis, mas também, indicar áreas onde elas são de Impacto Ambiental, para qualquer país. deverá ser desenvolvida a partir das quatro
maiores.
seguintes questôes: .
l. Quais são as necessidades atuais e as futuras, de treinamento em EIA?
2. Quais são os recursos dispo1úveis para treinamento em EIA?
Estou convencido de que nenhum sistema de EIA, será efetivo, se não
3. Quais são as principais deficiências atuais e potenciais, no treinamento,
dispusermos de planos diretores municipais, de zoneamento, de gerenciamento do
equipamentos, recursos humanos e econômicos?
desenvolvimento, enfim, de políticas de desenvolvimento. É por isso, face à realidade
4. Que melhorias devem ser feitas nas facilidades existentes e como
nacional, que muitas vezes nos perguntamos se o que necessitamos, frente a alguns
devem ser implementadas?
projetos de desenvolvimento, não seria a aplicação da legislação de uso do solo, de
Segundo estes autores as necessidades de treinamento podem ser
controle de poluição, da preservação de mananciais, etc. Felizmente já há, na nossa
identificadas pelo exame de duas questões:
Constituição Federal, a exigência de planos diretores para municípios com mais de 1. Quem necessita de treinamento em EIA?
vinte mil habitantes (Art. 182, § lº). Já está em estruturação no país o gerenciamento 2. Qual é o conteúdo necessário ao treinamento em EIA a ser ministrado?
costeiro (Lei nº 7 .661 de 16/maio/88). Quando esses processos estiverem efetivamente Antes, porém, de nos preocuparmos em responder àquelas duas questões,
implantados, o EIA atingirá plenamente seus objetivos. é necessário que os órgãos federais e estaduais terúrnm discutido e regulamentado,
adequadamente, todo processo de Estudo de Impacto Ambiental.
De nada vale ministrar cursos, treinar equipes, se elas não souberem,
efetivamente, como irão proceder legalmente, na prática profissional .

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Estudo de Impacto Ambiental Luiz Roberto Tommasi

Outra premissa básica para a aplicação do EIA é que se conheça muito Esses valores poderão parecer altos à primeira vista, mas basta lembrar
bem o alvo a ser impactado. Como o conhecimento ecológico no Brasil sobre nossos que, no Brasil, estão distribuídos por órgãos estaduais de controle ambiental, de
ecossistemas deixa ainda muito a desejar: pelo menos um bom levantamento planejamento, por órgãos federais, Urúversidades, Institutos de Pesquisas, etc. O que
faunístico, florfstico, geológico, climatológico, hidrológico, sobre a qualidade do ar se pode antever é o poder aglutinante, integrador do processo de avaliação de impacto
e do solo deverá ser exigido sem, porém, descer aos níveis que seriam necessários a ambiental, que poderá agir como fator do desenvolvimento de muitas áreas do
urna pesquisa acadêmica. O relatório elaborado referente a esses estudos deveria ser conhecimento ambiental.
apresentado a grupos de especialistas em cada uma daquelas áreas, para julgamento Um curso sobre EI_A poderi a contemplar, entre outros, os seguintes
e indicação de necessidade ou não de estudos complementares. Mesmo para regiões ítens:
onde haja urna boa informação bibliográfica, a síntese efetuada deveria ser submetida 1. O que é meio ambiente? Quais são seus componentes? Como é sua
a uma avaliação similar. dinâmica?
Os seguintes elementos devem ser considerados nas atividades de 2. Histórico do Estudo de Impacto Ambiental.
julgamento de um EIA, segundo Lee e Wood (1985): 3. Legislação nacional e internacional sobre EIA.
1. Grupos industriais e outros (federação das indústrias, etc) que 4. O que são impactos ambientais? Quais os tipos que existem?
elaborarão o projeto para o qual foi feito o EIA (proponente). 5. Discussão entre os alunos sobre projetos que induziram impactos
2. Entidades que possam estar ligadas ao projeto de que tratará o EIA ambientais.
(saneamento, planejamento, controle ambiental, agricultura, etc). 6. Quais são os fatores ambientais sigruficativos? Construção de matrizes
3. Técnicos de reconhecida competência. de efeitos de ações antrópicas sobre os fatores ambientais.
4. Membros dos grupos oficialmente encarregados de julgar o EIA. 7. A previsão de impactos (métodos experimentais, modelos matemáticos,
5. Membros de entidades ambientalistas, interessadas em problemas de técrúcas de levantamentos, técrúcas não formais).
impactos ambientais. 8. Como podemos impactar o ambiente atmosférico e como podemos
Lee e Wood (1985), calcularam o envolvimento do seguinte número de prever esses impactos?
pessoas, em função do número anual de EIA realizados: 9. Como podemos impactar um corpo hídrico e como podemos prever
esse impacto?
10. Como podemos induzir e prever impactos sobre o solo?
TABELA 6 - Número de Pessoas Envolvidas em EIA (Lee e Wood, 1985).
11. Como podemos induzir e prever impactos estéticos?
GRUPO 10 EIA/ANO 50 EIA/ANO 100 EWANO 12. Como podemos induzir e prever impactos sócio-econômicos, inclu-
1 40 175 300 sive sobre a saúde pública?
2 60 265 450
3 120 525 900 13. O que é avaliação de risco? Como é realizada?
4 15 70 120 14_ Metodologia de Estudos de Impacto Ambiental.
5 40 175 300
Total 275 1.210 2.070
15 . Técrúcas para quantificação e ordenação de impactos.
(aoroxlmadamente) 16. A participação da comurúdade no processo de EIA. As auditorias
ambientais.
Grupo
1 = representantes de indústrias. sindicatos, etc
17. A redação de um EIA.
2 = administradores seniores, coordenadores de EIA 18. O j ulgamento de um EIA.
3 - especialistas, técnicos, cientistas
- 4 = membros do grlpO de rev isão
Uma questão importante, num curso deste tipo, é a discussão da
5 = membros de entidades ambientalistas confiabilidade das conclusões e recomendações de um EIA Como aponta Machado

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Estudo de Impacto Ambiental

( 1991 ), a confiabilidade da solução é mais do que mitigar o impacto, significa tentar 10. PROJETOS PARA OS QUAIS SE
evitar o impacto negativo ou, sendo impossível evitá-lo, procurar corrigi-lo, DEVE SOLICITAR O ESTUDO DE
recuperando o ambiente. Por isso, a recuperação do ambiente, desde que necessária,
deve ser componente do EIA e conseqüentemente, os alunos daquele curso devem
IMPACTO AMBIENTAL
receber, pelo menos, fundamentos de recuperação ambiental.
Outra questão a ser abordada no curso é a de medidas compensatórias,
previstas na Resolução 01186 do CONAMA (art. 6º, III e art. 9º, VI); já a Resolução Segundo Munn (1975), os projetos que podem produzir impactos
10/87 prevê, como compensação pela destruição de ecossistemas, a implantação de ambientais são os seguintes:
uma estação ecológica pelo proponente do projeto. Outras medidas compensatórias, 1. Uso e transformação do solo urbano, industrial e agrícola, aeroportos,
seriam a recuperação da vegetação do entorno do projeto, repovoamento por peixes, transportes, linhas de transmissão, estruturas em alto mar.
aves, etc. 2. Extração de recursos naturais: perfuração, mineração, dinamitação,
Deve-se, porém, ter a maior cautela com propostas compensatórias. Elas extração de madeira, pesca e caça comercial.
poderão, na realidade. embutir a solicitação legal para a degradação ambiental. 3. Renovação de recursos naturais: reflorestamento, manejo e vida
Pessoalmente reprovamos a compensação financeira. Não se pode pretender substituir silvestre, adubação, reciclagem de resíduos, controle de enchentes.
um ecossistema por alguns milhares de dólares. Com isso, em realidade, estaremos 4. Processos agrícolas: irrigação, agricultura e pecuárias.
criando um mero comércio ambiental, inaceitável. Isso, nada tem a ver com 5. Transporte: estradas de ferro, aeroportos, rodovia, dutovia, portos.
ressarcimento financeiro por danos ecológicos induzidos. 6. Energia: represas, barragens, usinas geradoras de energia, reatores
nucleares.
7. Disposição final de efluentes municipais. Lançamento oceânico.
8. Aterros sanitários, aterros industriais. Infiltração no solo de resíduos
líquidos industriais.
9. Tratamento com produtos químicos: uso de pesticidas, herbicidas, etc.
10. Recreação: parques, áreas de caça, reservas, etc
Segundo o art. 2º da Resolução 001/86 CONAMA (em atendimento ao
parágrafo 1ºdo Artigo 18, do Decreto nº 88.351/83), o EIA deve ser exigido para fins
de licenciamento, nos seguintes casos (o parágrafo tem intenção exemplificativa e
não delimitadora, pois diz ... " tais como" ... ):
• estradas de rodagem com duas ou mais faixas de rolamento;
• ferrovias;
• portos e terminais de minério, petróleo e produtos químicos;
• aeroportos, (conforme definidos pelo inciso 1, Artigo 40 do Decreto-
Lei nº 32, de 18.11.66);
• oleodutos, gasodutos, minerodutos, troncos coletores e emissários de
esgotos sanitários;

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Estudo de Impacto Ambiental Luiz Roberto Tommasi

• linhas de transmissão de energia elétrica (acima de 230 kw); deva deixar aquela decisão apenas ao órgão de controle ambiental. Um sistema
• obras hidráulicas para exploração de recursos hídricos, tais como: interessante será discutido, no próximo capítulo.
barragens para fins hidrelétricos, (acima de 1OMW); de saneamento ou de irrigação; Segundo o Decreto 28.687 de 11102/82, do Estado da Bahia, que
retificação de cursos d ' água; abertura de barras e embocaduras; transposição de regulamentou a Lei 3.858 de 3/11/80 daquele Estado, em seu art. 99, as seguintes
bacias e diques; atividades foram consideradas, para efeito de EIA, com potencial de impacto no meio
• extração de combustível fóssil (petróleo, xisto, carvão) ; ambiente:
• extração de minério, inclusive os da classe II, definidas no Código de 1. atividades de extração e tratamento de minerais;
Mineração; 2. atividades agropecuárias;
• aterros sanitários, processamento e destino final de resíduos tóxicos ou 3. sistemas de trabalho e/ou disposição final de resíduos ou materiais
perigosos; sólidos, líquidos ou gasosos;
• usinas de geração de eletricidade, qualquer que seja a fonte de energia 4. instalação e/ou construção de barragens, aeroportos, instalações de
primária, acima de 10 MW; geração de energia, vias de transportes, bem como de qualquer outra atividade de
• complexos e unidades industriais e agro-industriais (petroquímicos, iniciativa dos órgãos e entidades da administração centralizada e descentralizada do
siderúrgicos, coloriquímicos, destilarias de álcool, hulha, extração e cultivo de Estado e dos Municípios, que possam repercutir no ambiente;
recursos hídricos); 5. atividades de pesca e caça comercial;
• distritos industriais e zonas estritamente industriais - ZEI; 6. hospitais e casas de saúde, estabelecimentos de assistência médico-
• exploração econômica de madeira ou de lenha, em áreas acima de 100 hospitalar;
hectares ou menores, quando atingir áreas significativas em termos percentuais ou de 7. todo e qualquer loteamento de imóveis, independente do fim a que se
importância do ponto de vista ambiental; destina e projetos de conjuntos habitacionais, bem como terraplanagem;
• projetos urbanísticos, acima de 100 ha, ou em áreas consideradas de
8. terminais de granéis sólidos, líquidos, gasosos e correlatos;
relevante interesse ambiental, a critério da SEMA, dos órgãos municipais ou
9. armazenamento e disposição final de produtos perigosos;
estaduais competentes; 10. exploração de recursos hídricos superficiais e subterrâneos;
• qualquer atividade que utilize carvão vegetal, em quantidade superior 11. atividades que utilizem incinerador ou outros dispositivos para a
a dez toneladas por dia. queima de lixo, materiais ou de resíduos sólidos, líquidos ou gasosos;
Além desses casos, as autoridades poderão exigir a realização de EIA 12. atividades que utilizem combustíveis sólidos, líquidos ou gasosos,
para outros que considerarem impactantes. Isso implica porém, em um risco, que é para fins comerciais ou de serviços;
0 desenvolvimento do que tem sido denominado da "indústria do RIMA", passando- 13. atividades que impliquem no manuseio, estocagem e utilização de
se a exigir EIA/RIMA para projetos sem significado ambiental relevante e dando, agrotóxicos e fertilizantes;
com isso, apenas trabalho às empresas de consultoria, nem sempre capacitadas. Além 14. atividades que acarretem descaracterização paisagística assim como
do mais, nesses casos, os relatórios acabarão apontando aspectos favoráveis ao das belezas naturais;
empreendedor (Jornal do Brasil, Cidade, p. 6 25/05/91). 15. atividades que impliquem na alteração de dunas, manguezais e áreas
Urna alternativa, a nosso ver, seria urna comissão permanente de alto de influência da maré;
nível, composta por profissionais liberais, pesquisadores, membros da comunidade 16. atividades que impliquem na descaracterização de monumentos
científica e membros do órgão estadual de controle ambiental, que avaliariam se um arqueológicos, geológicos e históricos, bem corno do contexto paisagístico/histórico
dado projeto deveria ou não receber um EIA. Com todo respeito, não cremos que se ou artístico/cultural;

56 57
Estudo de Impacto Ambiental
Luiz Robe rto Tomma s i

17. movimentação de produtos perigosos.


6. A comissão receberá todas as sugestões a que se refere o ftem anterior,
A Constituição de vários Estados como Amazonas, Ceará, Pará, Paraná,
as avaliará e poderá exigir modificações no projeto, novos estudos sobre certos
Rio Grande do Sul e Rondônia, detalham a exigência de EIA/RIMA (Machado, 1991 e
aspectos e, finalmente, aprová-lo (com ou sem condições) ou rejeitá-lo;
Petrobrás, 1991).
Devo destacar também o § 2º do art. 6º, da Lei Federal 7. 661 de 16/05/ 7. Se o projeto, apesar de não atender aos ítens 1 e 2 for aprovado, com
88, que instituiu o Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro, como parte integrante ou sem modificações, deverá ser apresentado à comissão citada no ítem 5, um
da Política Nacional para os Recursos do Mar-PSRM e da Política Nacional do Meio programa de monitoramento, para se avaliar possíveis desvios dos ftens 1 e 2;
Ambiente (PNMA). Segundo aquele inciso, para o licenciamento do parcelamento e 8. Qualquer modificação desejá~l no programa de uso do solo, aprovado
desmembramento do solo; a construção, instalação, funcionamento e ampliação de segundo os ítens 1 e 2, em decorrência de um projeto aprovado conforme os ítens 5
atividades com alterações das características naturais da zona costeira, o órgão a 7, deverá ser imediatamente divulgada em Diário Oficial. Todas as informações
competente solicitará ao responsável pela atividade, a elaboração do EIA e o relevantes que forem geradas durante o planejamento do projeto e sua realização,
respectivo RIMA. Ainda que esse EIA atenda as especificidades normais dos demais deverão ser remetidas ao banco de dados indicado no ítem 3.
EIA, como aponta Machado (1991) ele tem uma especificidade que é dever observar, O que se pretende é, basicamente, tornar o EIA, cada vez mais, um
além das determinações legais federais, estaduais e municipais, as diretrizes dos componente do planejamento, da decisão sobre o uso do solo e sobre o uso de recursos
Planos de Gerenciamento Costeiro. naturais. Com isso se estaria estimulando, em realidade, um ecodesenvolvimento.
Há muito a se fazer, ainda no Brasil, a fim de se desenvolver uma forte Deve-se ter um cuidado especial num EIA/RIMA, naco-relação entre
interação entre EIA e os sistemas de planejamento e do controle do desenvolvimento. a previsão de impactos e o monitoramento que for proposto. Isso leva à necessidade
Embora a Lei Federal 5.597 de 1.986, baseada na Lei Federal 6.803 de 1.980, defina de se exigir auditorias periódicas, após a implantação e início da operação do projeto,
critérios para o zoneamento industrial, nas áreas críticas de poluição do país. Esta para se avaliar a efetividade do EIA, dos métodos e técnicas nele empregados. O que
interação pode ser estimulada, segundo Hollick (1981 ), por meio dos seguintes tipos queremos dizer é que devem ser, realizadas periodicamente auditorias para avaliar
de ações: o cumprimento efetivo das exigências efetuadas, e especialmente, para se saber se os
1. Preparo de planos locais e regionais de uso do solo, os quais devem métodos utilizados no EIA foram os mais corretos. Conseqüentemente, se as
ser periodicamente revistos, considerando-se tanto os recursos físicos como fatores exigências também foram corretas. Com isso, aquelas auditorias contribuirão
sociais, econômicos e ambientais, incluindo questões como padrões de efluentes; decisivamente para a melhoria e evolução do sistema EIA em nosso País.
2. Preparo de projetos de uso do solo, acompanhados de EIA e sujeitos
A auditoria pós EIA/RIMA, permitirá, ainda, avaliar a extensão que
à revisão pública, antes daqueles projetos serem aprovados pelos órgãos competentes;
deverão ter certos EIA/RIMA e contribuirá para a avaliação dos tipos de projetos aos
3. Organização de bancos de dados acessíveis a todos interessados;
quais se deve pedir aquele estudo. Contribuirá, também, para o aperfeiçoamento da
4. As proposições que estiverem de acordo com os ítens 1 e 2 serão
legislação sobre EIA/RIMA. Permitirá avaliar em que nível esse sistema está
aprovadas; as que apresentarem discrepâncias, deverão incluir uma discussão sobre
efetivamente contribuindo para a defesa da qualidade ambiental e da saúde pública.
as razões das mesmas, seus possíveis efeitos e ações para eliminar possíveis
problemas e conflitos;
5. As proposições que não estiverem de acordo com os ítens 1 e 2
deverão ser subriietidas a uma comissão constituída por membros de agências
governamentais relacionadas com o assunto e, também, por representantes da
comunidade científica. As conclusões desse grupo devem ser divulgadas pelo Diário
Oficial, a fim de poder receber sugestões do público em geral;

58
59
11. AVALIAÇÃO INICIAL
DE PROJETOS DE
DESENVOLVIMENTO

Impacto ambiental é o resultado integral de toda uma série de ações


relacionadas com um determinado projeto. Assim, por exemplo, o estabelecimento
de uma cultura agrícola, envolve uma série de ações que induzem toda uma coleção
de efeitos, nos seguintes compartimentos ambientais: ·
• Floresta - destruição de habitats, destruição de espécies animais e
vegetais, destruição do banco genético existente no ecossistema.
• Solo - erosão, mudanças na fertilidade do solo, sua salinização ou
acidificação, acúmulo de resíduos agro-químicos.
• Ar - aumento de concentração de poeira, modificação na umidade.
• Água - mortandade de peixes, turbidez, assoreamento, mudanças na
qualidade da água e conseqüente comprometimento de seus usos múltiplos.
O tratamento e disposição correta dos esgotos de uma cidade, melhorará
sensivelmente a qualidade de água de rios e resevatórios, que os recebiam "in natura",
mas exigirá um uso irreversível de áreas com, inclusive, desapropriação, desvalorização
de imóveis para construção de estações de tratamento, elevatórias, etc. Haverão
custos com estudos, projetos, obras, operação, manutenção, etc. O impacto será a
integração de todas essas ações.
É fácil ao leitor verificar que, se todo sistema de coleta, tratamento e
disposição final de esgotos for bem projetado e realizado, os impactos resultantes
deverão ser benéficos, pois o tratamento dos esgotos eliminará o risco de transmissão
de doenças de veiculação hídrica, permitirá usos múltiplos do corpo aquático, bem
como melhorias em termos de diversidade, biomassa, etc.
Com todo aquele significado, questões que envolvem impactos
ambientais, planejamento, etc. são do maior interesse público. É por isso, que cabe
a decisão ao conjunto da sociedade: seus representantes políticos, órgãos
governamentais, etc.
É esse o único meio de se afastar situações, infelizmente freqüentes
entre nós , originadas em contextos econômicos, políticos e culturais que, na

61
Estudo de Impacto Ambiental Luiz Roberto Tommasi

realidade, não atendem os interesses maiores da sociedade mas, apenas, os de grupos recrutados em órgãos de controle ambiental, universidades, institutos de pesquisas e
minoritários poderosos: econômica, política, ou até mesmo, culturalmente influentes. que:
Todo projeto de desenvolvimento deve, imperiosamente, atender à 1. estabeleceriam as diretrizes para a realização do EIA/RIMA;
realidade social e necessidades, como também à conservação e preservação do 2. avaliariam o EINRIMA, elaborado dentro de um roteiro do tipo
patrimônio natural e histórico. Como subsídio para as decisões mais e.a rretas acima indicado; apresentariam exigências quanto a estudos complementares;
possíveis, contamos hoje com uma valiosíssima ferramenta, que é o EIA. 3. elaborariam parecer detalhado, o qual seria enviado ao órgão
Todo projeto de desenvolvimento deve sofrer uma avaliação inicial, que competente para decisão final.
permitirá que se determine as suas implicações potenciais, ambientais e sociais. Para A grande vantagem desse sistema é que permitiria, com muito mais
isso, pode-se usar um sistema de avaliação como o do "Federal Environmental proficiência, que os EIA fossem realizados atendendo tanto às peculiaridades do
Assessment Review Office" do Canadá (1986) esquematizado na Figura 2. projeto como a vulnerabilidade do meio ambiente, onde o mesmo será implantado.
O que se pretende com o sistema de avaliação inicial é permitir que se
FIGURA 2 - Sistema de EIA Utilizado no Canadá (FEARO, 1979). chegue a objetivos claros, firmemente delineados do EIA. Esses objetivos tem de
estar diretamente relacionados com a avaliação dos impactos potencialmente induzidos
por um projeto como também por suas alternativas locacionais e tecnológicas.
Segundo Rosenberg et ai (1981), a essência do EIA é a previsão de
PROPOSIÇÃO
A SER efeitos e a medida dos desvios no estado do ecossistema, na ausência ou presença dos
AVALIADA
referidos efeitos. Por isso uma etapa de avaliação inicial, anterior à da apresentação
do próprio EIA, pode permitir eliminar muitos erros, a avaliação inadequada da

Rejeição
automática
Efeitos
adversos
insignifican-
tes
Efeilos
adversos
mitigáveis
Habilidade
em mitigar o
desconhe-
cido
Efeitos
desoonheci-
dos
Eleitos
adversos
sigrificativos
'
Interesse
püblico
slgilftcalivo

t
SUbmissão
automática
importância dos efeitos e até mesmo garantir que todos efeitos significativos venham
a ser considerados no EIA.

INVESTIGAÇÃO DE
FATORES SUBMISSÃO AO ÓRGÃO
efeitos não significativos D ESCONHECIDOS
RESULTANTES DA
AVALIAÇÃO INICIAL
efeitos IV"llenciais
significativos - COMPETENTE PARA
AUDl~NCIA PÚBLICA

PROJETO
eleitos

PROJETO
inaceitáveis
i
MODIFICAR
E
ACEITO REJEITADO
REAPRESENTAR

Pode-se designar, para acompanhar cada EIA, uma comissão constituída


por 4 a 6 técnicos de alto nível, relacionados com as áreas de interesse do projeto e

62 63
12. A CONTRIBUIÇÃO DA
COMUNIDADE À REALIZAÇÃO
DE UM ESTUDO DE
IMPACTO AMBIENTAL

Na Europa de hoje, segundo Werner Eugênio Zulauf (1988), a


"sociedade consciente tem colaborado efetivamente com as ações das autoridades
governamentais, nas questões ambientais. Apesar disso, naquele continente aumenta
a perplexidade diante da irreversibilidade, a curto prazo, da degradação ambiental,
particularmente dos danos à vegetação silvestre e contaminação ao longo do perfil do
solo. Por isso, não apenas os partidos alternativos e verdes, mas todos os segmentos
da sociedade, inclusive os grandes partidos e o Parlamento da Comunidade
Econômica Européia preocupam-se cada vez mais com a questão ambiental.
No começo de 1987, a população de Taiwan conseguiu significativa
vitória ambiental, após um longo ano de protestos com violentas manifestações de
rua. A indústria química Du Pont desistiu de construir uma indústria de dióxido de
titânio, cujas emissões poluidoras poderiam destmir o turismo e as fazendas de peixe
da região de Lukang. Esse é um exemplo da força que as comunidades possuem e de
que em todo o mundo, cada vez mais, não se aceitarão novos projetos degradadores
do meio ambiente, que ponham em risco seus interesses comunitários e sua saúde.
No Brasil há, sem dúvida, crescente simpatia de nossos políticos pela
problemática ambiental, o que culminou num avançado capítulo ambiental em nossa
Constituição Federal (art. 225 - 1988). Mas isso é, em realidade, muito pouco. Há
urgente necessidade, tanto de políticas ambientais efetivas associadas com os
objetivos do nosso desenvolvimento, como da implementação de mecanismos para
que a Lei seja, efetivamente, cumprida. Ilá premente necessidade de que hajam
decisões políticas efetivas, visando a proteção ambiental.
/\o participar de um evento patrocinado pelo Ministério Público do
Estado de São Paulo, em maio de 1988, ouvi de um Promotor Público da Região
Amazônica, seu temor de que o EIA viesse a se transformar num sistema de liberação
formal de projetos degradadores, auxiliando assim, por exemplo, a implantação da
mineração naquela região.

65
Estudo de Impacto Ambiental Luiz Roberto Tommasi

Como resolver problemas desse tipo, como tranqüilizar a comunidade participação ao público, auxiliando significativamente no levantamento dos problemas
quanto às suas preocupações ambientais? e dos valores locais, bem como identificará características ambientais relevantes.
A situação que ocorre, em inúmeros projetos, é a de haver um espaço de Sem dúvida, muitas vezes, a oposição pública a um projeto decorre da má ou da falta
tempo bem acentuado, entre a proposição do projeto e a percepção do mesmo pela de informações da comunidade sobre o mesmo. Apesar disso, a participação pública
comunidade, o que, com freqüência, gera conflitos entre ambos. não deve ser encarada como um meio de se obter aprovação pública para um dado
O ideal, evidentemente, seria que os dois fatos fossem os mais sobrepostos
projeto.
possíveis. A solução dessa questão só é possível com a participação da comunidade,
O fato é que muitos planos poderão induzir, além de danos ambientais,
desde o início da concepção do projeto.
modificações sócio-econômicas do maior interesse da população. Entre as
Devemos, desde logo, lembrar que a noção de impacto pressupõe,
modificações que poderão ocorrer, estão as seguintes:
muitas vezes, um julgamento de valor. Esse julgamento depende do grupo social
envolvido, de sua possibilidadeecapacidadedeinfluirtanto no processo de avaliação 1. Modificação na densidade populacional (aumento ou redução).
dos impactos de um projeto, como na escolha, tanto da alternativa menos impactante, 2. Modificação nos padrões de migração.
como de medidas efetivas de proteção ambiental e da saúde pública. 3. Modificações na distribuição espacial das populações; relocações.
Infelizmente, no Brasil, a participação comunitária no EIA ocorrre em 4. Modificações nos padrões econômicos (aumento ou redução).
estágios muito avançados, se não finais, dos projetos. A participação pública nas 5. Modificações nos tipos e na qualidade de empregos.
decisões de Conselhos Estaduais de Meio Ambiente, ainda que vigorosa, muitas 6. Modificações no uso do solo e nos valores dos terrenos.
vezes têm sido inócua, pelo predomínio de representantes de entidades governamentais, 7. Modificações na necessidade de serviços médicos, educacionais,
o que acaba por fazer prevalecer interesses políticos e econômicos, sobre os dos transporte público, saneamento básico e outros.
ambientalistas. 8. Modificações nas oportunidades recreacionias, turísticas e culturais
O contexto político, econômico e cultural nacional não permitiu, ainda, da região.
uma plena participação pública nas decisões sobre projetos, que poderão induzir 9. Modificações estéticas e paisagísticas; riscos a monumentos e sítios
impactos ambientais. Esse é um grave erro político, pois a participação de
históricos.
representantes de grupos sociais pode permitir que novas sugestões e alternativas
10. Modificações (aumento, criação de novos) nas taxas de impostos.
possam vir a ser consideradas, bem como que a variedade de efeitos positivos ou
11. Introdução de novas doenças por trabalhadores imigrantes.
negativos de um projeto possa vir a ser melhor conhecida pelas respectivas autoridades
responsáveis. 12. Introdução de poluentes nos compartimentos ambientais que poderão
A participação do público num EIA pode ser realizada de vários modos: comprometer os usos múltiplos dos recursos naturais e gerar riscos à saúde pública.
simples conhecimento através da divulgação do projeto pelo Diário Oficial do 13. Modificações nos padrões do tráfego, aumento do número de
Estado; formas amplas de circulação e divulgação: discussão com representantes dos acidentes e da poluição produzida por veículos automotores.
vários segmentos da sociedade (associação de classe, sociedades, sindicatos, É evidente que a população tem que participar de decisões, que poderão
universidades, etc); promoção de seminários técnico-cienúficos abertos à comunidade; induzir modificações como as acima indicadas. Aliás, cada vez mais, nossas
audiências públicas, etc. Seria muito importante se os órgãos de controle ambiental, comunidades não aceitam mais passivamente a implantação de projetos que possam
corno é feito atualmente pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente de São Paulo, induzir, quer sejam impactos ecológicos, quer sejam impactos sócio-econômicos.
divulgassem periodicamente tanto a relação dos projetos em análise pelas Gerências Nossos políticos tem cada vez mais que se conscientizar que o que devem representar
de Avaliação de Impactos Ambientais, como o resultado do julgamento dos mesmos. são os interesses da comunidade. Os dirigentes de órgãos oficiais de controle e de
Os processos supra-citados devem proporcionar plena oportunidade de gerenciamento ambiental têm de se conscientizar que estão em seus cargos para

66 67
Estudo de Impacto Ambiental Luiz Robe rto Tommasi

impor suas aspirações e pretensões sobre as suas legítimas aspirações, vocações e Seus membros são indicados pelo Ministério do Ambiente ( 4 ) .
tradições. Todo progresso é desejável, mas para o povo e com sua participação e, 10. Os membros do painel: o SOR/84-467 de 22/06/84 do Governo do
especialmente, com sua aceitação! E cada vez mais o povo quer ser co-participante, Canadá estabelece em seu ítem 22, " ... the members of a Panei shall a) be unbiased
instrumento eco-autor dos processos de desenvolvimento. and free of any potencial conflit or interest relative to the proposal under review; b)
Cada vez mais, os políticos, os diretores de órgãos governamentais e nor could their associate themselves with any position their employers may take on
devem compreender que são transitórios, mas as aspirações sociais não o são. Cada the project; c) have special knowledge and experience relevant to the antecipated
vez mais, devem compreender que a sociedade não mais aceita decisões restritas à technical, environmental and social effects ofthe proposal under review ... "
determinada categoria política ou profissional, mas exige informações e debate Ou seja, os membros do painel devem ser neutros, autônomos,
aberto. Cada vez mais exige participação ! independentes e imparciais, em relação a um dado projeto.
A audiência pública é o meio que se encontrou, no processo de EIA, para 11. Cada painel tem um moderador, o "Chairman'', que, geralmente, é
a participação da comunidade. No Canadá, por exemplo, é um processo muito bem o chefe do órgão de controle, ou funcionário de alto ruvel do mesmo.
sucedido que tem dado muito mais pontos a favor do que contra. As razões disso são 12. A discussão com a comunidade envolve os efeitos ambientais e os
as seguintes: sociais do projeto.
13. Cada painel fornece todas informações necessárias à comunidade e
1. São procedimentos geralmente informais.
garante que o público tenha acesso a todas informações que solicitar. A audiência
2. Permitem um questionamento de informações muito mais efetivo, do
pública é aberta a todo e qualquer interessado no projeto.
que através de um procedimento judiciário tradicional.
14. No fim da audiência, o painel prepara um relatório contendo suas
3. Não é um privilégio adquirido pela comunidade, mas um serviço que
conclusões e recomendações ao órgão de controle ambiental ao qual caberá divulgar
o governo solicita da comunidade, para auxiliá-lo a tomar a melhor decisão e
o relatório à comunidade. Essa divulgação é feita o mais rápido possível.
favorecer uma relação harmoniosa entre desenvolvimento econômico e proteção Esse sistema é muito mais dinâmico e efetivo do que as audiências
ambiental. públicas que ocorrem em muitos Estados do Brasil. Os membros do painel podem ser,
4. A finalidade da audiência pública é examinar questões ambientais perfeitamente, recrutados nas Universidades, nos Institutos de Pesquisa, em Sociedades
relativas a um projeto e ouvir o que a comunidade tem a dizer sobre elas. Ambientalistas mais relevantes (SOS - Mata Atlântica, por exemplo), entre consultores
S. A audiência pública é regida por princípios éticos. e profissionais independentes e, finalmente se for o caso, entre especialistas de
6. A audiência pública deve supor uma total e dinâmica troca de idéias renomada competência de outros Estados e mesmo, do exterior.
entre todos os participantes, com livre trânsito de perguntas. O sistema implantado no Brasil não permite, muitas vezes, grandes
7. Todos têm pleno acesso às informações necessárias para as discussões. discussões e, especialmente, que se chegue a consensos. O que ocorre, por vezes. é
8. As audiências públicas são suficientemente flexíveis, para se adaptar muito mais uma longa seqüência de depoimentos com, invariavelmente, muita
a todos os tipos de situações e comunidades. contestação. A nosso ver, é errada a prática de permitir que cada pessoa se manifeste
9. Em toda audiência pública deve, sempre, haver um painel (grupo de apenas uma vez. Deve haver, porém, um controle pelo "chairman". Uma boa sugestão
especialistas) multidi sciplinar, independente do governo e do proponente do projeto. foi feita pelo Prof. Dr. José G. Tundisi (USP). Porque antes das audiências. não
Nenhum destes dois têm o direito de ter um representante no painel. Cabe a esse painel: efetuar reuniões com câmaras comunitárias (advogados, engenheiros, ecólogos,
a) analisar os impactos ecológicos e sociais do projeto, avaliar as
alternativas discutidas, as medidas mitigadoras propostas, o monitoramento, etc;
<4 ) No nosso país, seria pelo Presidente do IBAMA, ou pelo Secrelário de Estado do Meio Ambiente (ou
b) assessorar a audiência pública, discutindo o projeto com a comunidade. da Secretaria a que o controle ambiental estiver ligado).

68 69
r
Estudo de Impacto Ambiental Luiz Roberto Tom masi

sociólogos, geógrafos, geólogos, ambientalistas, etc), que discutiriam questões requerendo uma comunidade conscientizada e evoluída. A criação dos painéis
específicas corneada uma daquelas áreas profissionais ou ambientais? Isso permitiria significa uma enorme abertura para a participação comunitária e representa uma
uma revisão, reavaliação ou correções pelo proponente do projeto. Só após isso, é que evolução na direção do sistema que os ambientalistas gostariam que existisse, entre
o EINRIMA iria para a audiência pública. Há porém visível evolução na prática das nós.
audiências públicas em nosso país. Um bom exemplo do esforço nesse sentido é a A Deliberação CONSEMA (SP) de 21106/90, publicada no DOE,
Deliberação CECA nº 1344, de 22/agosto/1988 (RJ), que pode ser consultada em Executivo, pág. 20, de 11/07/90, estabeleceu normas de convocação e condução de
FEEMA ( 1992). audiências públicas. Deve-se destacar nessa Deliberação, entre outros, os seguintes
As audiências públicas no Canadá são, sem dúvida, uma experiência pontos:
válida bem sucedida nesse sentido, envolvendo tanto indivíduos, comunidades, 1. Audiências públicas são reuniões com o objetivo de debater, conhecer
como grupos de cidadãos, em questões que ficavam geralmente restritas às autoridades, e informar a opinião pública sobre a implantação de determinada obra ou atividade,
responsáveis pelas suas decisões. A experiência canadense mostra que é essencial a potencialmente causadora de significativo impacto ambiental.
interação entre a comunidade, os proponentes do projeto, os que realizaram o EIN 2. São eventos públicos, permitindo a presença de qualquer pessoa ou
RIMA e o painel que o avaliou antes das decisões finais pelos órgãos oficiais. entidade interessadas no projeto em discussão.
As audiências públicas permitem que um projeto seja analisado por 3. As despesas com a realização de Audiência Pública, sempre que
outros ângulos, além dos que motivaram o proponente. Elas não decidem nada , neçessário, serão custeadas pelo empreendedor.
apenas oferecem aos que decidirão sobre o projeto, informações, críticas e sugestões. Como a comunidade saberá de que irá ocorrer uma audiência pública?
Provavelmente, o que muitos ambientalistas gostariam é que houvesse O órgão de controle ambiental tem de divulgá-la pelos jornais, rádio e televisão. Há
um processo como o seguinte: bons programas, para isso, como o Jornal do Meio Ambiente, da Rádio Eldorado de
1. Um proponente estabelece os planos gerais de um projeto; consulta São Paulo e o Repórter ECO, da TV Cultura, Canal 2, de São Paulo.
a população, que lhe fornece todas as informações disponíveis e suas opiniões sobre
questões ambientais.
2. O proponente efetua modificações no projeto, face às questões
levantadas pela população e retorna à mesma para aprovação.
3. Após uma série de reuniões, a proponente terá uma boa idéia sobre o
que deverá fazer e do grau de satisfação da população face ao projeto .
4 . O proponente envi a o projeto ao governo, para obter autorização ou
financiamento para o projeto.
S. O governo exige a realização de um EIA, o qual deverá envolver uma
descrição completa do projeto, seus processos, repercussões ambientais possíveis,
medidas mitigadoras da poluição e eventuais impactos que ocorrerão, mesmo após
o uso da melhor-tecnologia dispo1úvel.
6. O governo analisa o projeto e o discute com a população.
7. O governo avalia tudo que recebeu e ouviu e aprova ou rejeita o projeto.
8. Todos ficam felizes, no melhor dos mundos possíveis.
Obviamente, a implantação desse sistema no nosso país é difícil,

70 71
13. IMPACTOS SOCIAIS

Entre os aspectos pouco ou insuficientemente abordados nos EIA, que


têm sido realizados no Brasil, estão os impactos sociais.
Entr e os trabalhos relevantes publicados no Brasil sobre impactos
sociais está o de Martine e Garcia (1987) sobre a modernização agrícola. Deve-se,
também, citar os livros editados por Finsterbusch e Wolf (1977) e a revisão de
Finsterbusch ( 1985).
No grande campo de problemas sociais que devem preocupar as equipes
que realizarão os EIA/RIMA, podemos destacar as seguintes questões induzidas pelo
projeto, segundo McMahon (1 982):
1. Emprego e crescimento econômico:
a - aumento nas construções;
b - mudanças nos negócios (comércio, turismo, indústria) ;
c - aumento nas oportunidades de emprego.
2. Custos públicos fiscais:
a - aumento nos custos dos serviços públicos;
b - aume nto na arrecadação de taxas e impostos;
e - aumento nos custos de controle da poluição, ressarcimento de danos.
3. Uso do solo:
a - mudanças no planejamento, em planos diretores e no zoneamento ;
b - mudanças no uso de edifícios e outras construções;
c - mudanças no padrão de crescimento (tipo, períodos de tempo).
4. Saúde pública:
a - impactos associados com a operação de sistemas de controle da
poluição e de resíduos sólidos;
b - impactos associados com a melhoria e tratamento da água;
c- impactos associados com controle de enchentes, erosão, combate
a vetores e com doenças de veiculação hídrica;
d - impactos associados com acidentes nos componentes do projeto.
S. Aspectos visuais:
a - conflitos sobre usos do solo, que interferem em aspectos paisagísticos;
b - conflitos com a identidade visual;
c - destruição de paisagens.

73
Estudo de Impacto Ambiental Luiz Roberto Tonimasi

6. Recursos históricos: A figura anterior mostra que, são os seguintes os efeitos indiretos da
a - mudanças no número, tipos locais e usos; implantação de uma estação de tratamento de esgotos:
b - destruição de sítios, de edificações e de monumentos históricos; 1. aumento de custos para pessoas físicas e jurídicas;
c - destruição de monumentos de interesse arqueológico. 2. aumento da demanda de serviços públicos;
7. Populações indígenas: 3. aumento da demanda de empregos relacionados com a construção de
a - mudanças no número e localização (relações); redes de esgoto, elevatórias, interceptores, estação de tratamento, etc;
b - perda de valores culturais e morais; 4. redução do valor dos terrenos e imóveis ao redor da estação;
c - transmissão de doenças. Evidentemente, podemos incluir na figura anterior aspectos de saúde
8. Recreação: pública, como redução do risco de contrair doenças de veiculação hídrica e,
a - modificações nas oportunidades recreacionais; conseqüentemente, melhoria da saúde da população, aumento das possibilidades de
b - modificações na demanda recreacional. usos múltiplos de corpos hídricos, como para recreação, irrigação, aqüicultura,
Segundo McMahon (1982), os impactos associados à uma estação de industrial, etc.
tratamento de esgoto em Smithville (EUA) foram os indicados na Figura 3. Segundo o "CEQ, Guidelines, 36CFR 800.9" dos EUA, ocorrem efeitos
adversos sobre sítios históricos quando há:
FIGURA 3 - Impactos associados à uma estação de tratamento de esgoto 1. destruição ou modificação de todo ou de parte do sítio;
(McMahan, 1982). 2. isolamento ou modificação do ambiente adjacente;
3. introdução de elementos visuais, audíveis ou atmosféricos, que são
IMPACTOS DIRETOS IMPACTOS INDI RETOS
estranhos ou que modificam o sítio;
VALOR DA
SENSORIAI S
TERRA 4. transferência ou venda de propriedade do governo, sem que tenham
sido tomadas providências restritivas, visando a preservação, a manutenção ou o uso;
RECREAÇÃO RECREAÇÃO
5. esquecimento do sítio, levando à sua deterioração ou destruição;
EMPREGOS EMPREGOS
É necessário que na avaliação de um EINRIMA pelo órgão ambiental
competente, seja verificada a existência ou não de sítios históricos, sua localização
HABITAÇÃO POPULAÇÃO
SERVIÇOS
e o risco de ocorrerem alguns dos processos acima indicados.
USO DO SOLO
PÚBLICOS
ESTAÇÃO DE EMPREGO EMPREGO
Uma questão importante são os impactos sobre populações indígenas.
TRATAMENTO
DE ESGOTO Segundo o jornal "O Estado de São Paulo" de 25/10/88 , estavam previstas para a
CUSTOS PARA SERVIÇOS
Amazônia, 76 novas usinas hidrelétricas das Centrais Elétricas do Norte do Brasil
EMPREGOS
FIRMAS PÚBLICOS
S.A. (Eletronorte). Essas usinas inundariam cerca de 80.000 km2 de florestas. Usinas
CUSTOS PARA
PÚBLICO/FISCAL
PESSOAS
já construídas induziram sérios problemas ambientais, como por exemplo:

SERVIÇOS
a - Tucunú
2
PÚBLICOS
Além da destruição de 6.500 km de habitats naturais pela inundação
provocada pela formação do lago artificial, deve-se ressaltar que a usina foi fechada
VALOR DA antes da retirada da floresta, o que representou a perda de milhões de dólares em
TERRA
madeiras nobres, e acarretou a formação de sulfitos , com destruição da biota do rio

74 75
Estudo de Impacto Ambiental Luiz Roberto Ton1111asi

e do próprio lago. atitudes das populações. Isso levou vários autores a proporem a organização de
b - Rio Xingu indicadores sociais subjetivos visando, especificamente, a mensuração da qualidade
Nos trechos estudados foram observados 40 habitats diferentes, sendo de vida e de seus componentes (Stagner, 1970; Campbell e Converse, 1972).
que 14 deverão desaparecer devido às barragens de Casarnao e Babaquara, perto de Segundo Knox (1976) são várias as vantagens dessa abordagem, que
Altamira Paia. Nos países temperados, o número de habitats encontrados num rio é pode ser usada como uma alternativa ou como um suplemento a estatísticas
bem menor, variando de 6 a 10. convencionais. Informações subjetivas podem minimizar problemas de acessibilidade,
O Rio Xingu, segundo Evaristo Miranda, corre de Sul para o Norte, ambigüidade e agregação de informações. Por outro lado, permite uma avaliação
atravessando várias condições climáticas e, por isso, abrigando diversidade maior do mais rigorosa do bem estar social a ser atingido (Campbell, 1972). Pode, também, ser
que o Amazonas que corre de Oeste para Leste. um valioso instrumento na avaliação dos efeitos sociais de um dado empreendimento.
Problema de não menor gravidade, em relação às barragens no Amazonas, O sentimento do bem estar pode ser avaliado por uma variedade de
é quanto às populações indígenas. A represa de Altamira, por exemplo, segundo "O técnicas psicométricas. Uma delas é a denominada escala de autopromoção social,
Estado de São Paulo", atingirá diretamente sete povos indígenas do Rio Xingú: os que é utilizada para se obter medidas de satisfação sobre a vida ou sobre um dado
araras, os asurinis, os junmas, os cararaos, os paracanãs, os xicrins e os xipaia- aspecto da mesma, como condições de residência, recreação, emprego, vizinhança,
curuaias. etc. Permite, também, avaliar as atitudes da comunidade em relação a problemas
Segundo a Eletrobrás "os povos indígenas são um problema ambiental locais e regionais (Knox, 1976).
da maior complexidade, que ocorre nas áreas de empreendimentos hidrelétricos" ... Um exemplo de abordagem mtúto simples do nível de satisfação de uma
Segundo o antropólogo Eduardo Viveiros de Castro (Museu Nacional do Rio de comunidade, em relação a um dado projeto, pode ser a seguinte:
Janeiro), essa posição é evidentemente inaceitável, pois os empreendimentos
1. Efetuar uma pesquisa na comunidade, a fim de verificar sua satisfação
hidrelétricos é que se instalarão nas áreas indígenas! Segundo ainda Castro:
em relação à sua vida atual, de um modo geral, sem um dado projeto. O nível de
1. há intenção em se despolitizar a relação com os índios afetados,
satisfação seria abordado numa escala de Oa 10 (desde absoluta insatisfação até total
tratando-os como objetos quantificáveis e sem opinião.
satisfação). Verificar, também, como era esse sentimento há quatro ou cinco anos
2. essa ação levará à desestruturação da sociedade indígena devido à
atrás e como seria, após a implantação de um dado projeto.
transferência de local;
2. Lançar os resultados obtidos numa tabela como a que segue.
3. as terras dos índios não são terras, são territórios;
4. não se trata apenas de uma população que habita uma área, mas de um povo;
TABELA 7 - Satisfação G lobal com a Vida Atual
5. a maioria dos povos indígenas do Xingú conhecem os civilizados há
muito pouco tempo e o impacto sobre eles será maior quanto mais recente for o contato: NIVELDE PASSADO PRESENTE FUTURO
SATISFAÇÃO CIDADE A 1CIDADE B CIDADE A 1 CIDADE B CIDADE A 1 CIDADE B
6. a grande maioria não fala português e é difícil entenderem as razões % % % % % %
de sua mudança; o
1
7. entrarão em contato com doenças da civilização contra as quais não
2
desenvolveram defesas, por isso pode ocorrer altos índices de óbitos devido à gripe, 3
4
saran1po, tubertulose, etc; 5
8. nos locais para os quais são transferidos, continuam a sofrer pressões 6
7
de colonos, garimpeiros e caçadores. 8
Muitos trabalhos sobre indicadores sociais têm apontado para a 9
10
necessidade de se desenvolver mais estudos sobre as aspirações, prioridades e
X a1 a2 b1 b2 c1 c2

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Luiz Robe rto Tommasi
Estudo de Impacto Ambiental

de hectares da floresta onde ocorrem, inclusive, espécies vegetais em extinção como


3. A análise dos resultados da tabela anterior permitirá avaliar a
o cedro, a peroba e o pau marfim.
tendência da satisfação das comunidades, ou seja, quando ela está aumentando ou não
Segundo, porém, o Centro de Tecnologia Promon, os impactos sociais
e quando, no futuro (com o projeto implantado), ela aumentará ou diminuirá.
do projeto da Camargo Correia são mais graves que os ecológicos, pois a cidade de
4. Através de um teste estatístico, pode-se avaliar a significância dos
Bodoquema, hoje com 6.000 habitantes, deveria apresentar, devido àquele projeto,
resultados obtidos.
um crescimento de 217 % . A cidade não dispõe, atualmente, de coleta de lixo, ônibus
Em seu estudo sobre o bem estar induzido pela produção de petróleo no
urbano, rede de água e de esgoto, nem hospital e escolas para atender a demanda que
Mar do Norte, Knox ( 1976) sugere a realização de uma avaliação sobre determinados
se instalaria. Mesmo se o Governo do Estado alocasse recursos, Bodoquema
aspectos da vida. O procedimento analítico seria o mesmo do Cl;lSO anterior,
enfrentaria graves problemas sociais com o projeto.
considerando-se, porém, situações tais como:
A Figura 4 apresenta uma modificação do modelo de Olsen et al ( 1981)
1. serviços de ônibus;
de avaliação geral de impactos sociais. Esse modelo apresenta vários fatores de
2. serviços de saúde;
entrada (inputs) e torna possível a previsão dos impactos sociais e a recomendação
3. facilidades educacionais;
de estratégias de planejamento e de gerenciamento (outputs).
4. condições de habitação;
5. divertimentos;
FIGURA 4 - Modelo de avaliação de impactos sociais (Olsen et ai, 1981 ).
6. oportunidades de emprego, etc.
Uma questão importante é que, com um método simples como esse,
pode-se comparar os efeitos de um projeto sobre duas ou mais comunidades ENTAAOAS SADAS

atingidas.
O êxito do diagnóstico de percepção que avalia, entre outras coisas,. o CONOfÇÔESSOC~IS E ri - - - - -- - - - -- -- - - -- - - -- ,
. ECONôMICAS A TUAIS .
bem estar e o grau de satisfação com a vida, pressupõe que a população tenha sido 1

correta e amplamente informada sobre o projeto em questão.


A percepção sobre a qualidade de vida pode depender muito de MUDANÇAS
OEMOGRÃFICAS
circunstâncias imediatas, ou seja, de eventos até sem grande importância, quer para POLfTICA S, PROGRAMAS
OU PROJETOS
o futuro, quer para a própria comunidade, mas que podem influir sobre as atitudes da PROPOSTOS
MUOANÇAS
ECONôMICAS
comunidade face suas respostas (Knox, 1976).
Outra questão é a própria concepção da palavra satisfação. Abrahms
( 1973) indica que diferentes pessoas podem ter diferentes concepções sobre satisfação
VALORES
e isso pode interferir nas respostas sobre as questões formuladas. Além da avaliação INTERESSES
ATITUDES

de forma global sobre a comunidade, a alternativa poderia ser a avaliação por


categoria: social, econômica, cultural, etc.
Um exemplo é o projeto da Camargo Correia Industrial S.A. que CAPACIOAOE FUNCIONi\l
EXISTENTE
pretendia construir em Bodoquema (Município a 286 km de Campo Grande - MS)
uma fábrica de cimento que produziria a partir de 1.991, 1.667 toneladas/dia. A poeira CAPACIDADE OE
PLANEJAMENTO E NECE SSIDADE OE
e as explosões usadas para a exploração do calcário são os principais impactos GEFIENC~ME NTO
EXISTEN TE
PLANEJAMENTO E
GERENCIAMENTO

ecológicos da fase de operação e que afetari~, potencialmente, a biota de dezenas

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