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SÉRGIO EDUARDO BERNARDO LUTZER

SÁBADO LUNAR OU
SÁBADO DO 7º DIA?
QUAL O VERDADEIRO SÁBADO BÍBLICO?

1ª Edição

ISBN-13: 978-1549965456
ISBN-10: 154996545X

Selo editorial: Independently published

São Paulo
2017
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO................................................................................ 1

SEÇÃO I - PARTE HISTÓRICA


1. COMO FUNCIONAVAM OS CALENDÁRIOS NO MUNDO
ANTIGO? ......................................................................................... 4
1.1 Cronologias e calendários no mundo antigo .................................. 6
2. COMO FUNCIONA O CALENDÁRIO GREGORIANO? .. 10
3. COMO FUNCIONA O MODERNO CALENDÁRIO
JUDAÍCO? ..................................................................................... 14
4. O ANTIGO CALENDÁRIO JUDAICO: CIENTÍFICO OU
PRÁTICO? ..................................................................................... 17
5. COMO FUNCIONA O SÁBADO LUNAR? ........................... 21
6. OS SÁBADOS LUNARES E A ENCICLOPÉDIA JUDAICA
......................................................................................................... 25
7. TALMUD E O CALENDÁRIO LUNAR ................................ 41
8. QUANDO O CALENDÁRIO JUDAICO FOI ALTERADO?
......................................................................................................... 54
9. ERRO HISTÓRICO NO CALENDÁRIO DO SÁBADO
LUNAR ........................................................................................... 78

SEÇÃO II – PARTE TEOLÓGICA


1. COMO CONTAR AS SEMANAS? ......................................... 84
2. QUANTO TEMPO NOÉ PASSOU NA ARCA ...................... 94
3. A SEMANA DE ÊXODO 16 ..................................................... 97
3.1. A queda do maná ........................................................................ 107
4. ERA PROIBIDO TRABALHAR DO DIA DE LUA NOVA?
........................................................................................................ 114
4.1. Davi festejava na Lua Nova com Saul? ..................................... 120
4.2. Lua Nova era dia de visitar profetas? ....................................... 126
4.3. Era Proibido vender na Lua Nova?........................................... 127
4.4. A Lua Nova poderia cair em um dia de trabalho? ................... 129
4.5. Conclusão parcial do capítulo .................................................... 139
5. QUAL O MELHOR CALENDÁRIO FESTIVO? ................ 141
6. A REDUNDÂNCIA DOS DIAS DE DESCANSO ................ 144
6.1. A redundância da Lua Nova ...................................................... 149
6.2. Conclusão parcial do capítulo .................................................... 151
7. A PÁSCOA ............................................................................... 152
7.1. A primeira Páscoa em Canaã..................................................... 153
7.2. A última Páscoa de Jesus ............................................................ 159
7.3. A teoria dos calendários rivais ................................................... 167
7.4. “Era a preparação da Páscoa”................................................... 172
7.5. Comer a páscoa depois da crucifixão? ...................................... 176
7.6. Jesus morreu em uma santa convocação? ................................ 181
7.7. A entrada triunfal ....................................................................... 193
7.8. Cristo, o cordeiro de Deus .......................................................... 203
7.9. E se Jesus morreu em outro dia? ............................................... 223
7.10. Conclusão parcial do capítulo .................................................. 235
8. SHAVUOT – PENTECOSTES ............................................... 237
8.1. Shavuot - a contagem para a festa ............................................. 242
8.2. Por que os Judeus contam o Shavuot após a Páscoa?.............. 253
8.3. Conclusão parcial do capítulo .................................................... 260
CONCLUSÃO: POR QUE A ÂNSIA EM CONECTAR A LUA
COM O SABBATH?.................................................................... 261
Apêndice 1: Todos os termos festivos na Tanach ...................... 266
Apêndice 2: Todos os usos de ἦζγ θ ἰμ no Novo Testamento . 277
INTRODUÇÃO

O presente livro é o resultado de uma maratona de debates sobre


a validade do sábado lunar, e a validade do sábado bíblico. Teria a
verdadeira semana se perdido na história? Ou teria o calendário
juliano continuado a semana estabelecida por Deus desde o Éden?
Este livro será dividido em duas seções: a seção histórica, e a
seção Teológica.
Na seção histórica, serão discutidos alguns assuntos
preliminares ao debate que servem apenas para atualizar o leitor
sobre os bastidores do assunto que estará sendo debatido. Os 4
primeiros capítulos são “estatísticas para NERDs”, informações
extras que não pertencem ao debate propriamente dito. O primeiro
capítulo fará um apanhado histórico de como o tempo era contado
nos primórdios da humanidade. O segundo capítulo tratará de como
foi confeccionado o calendário juliano, a alteração para o calendário
gregoriano, e como ele funciona. O terceiro capítulo apresentará ao
leitor o moderno calendário judaico, como e desde quando ele foi
estabelecido nos moldes que se encontra hoje. O quarto capítulo
procurará fazer um apanhado histórico dos fatos que permeavam o
antigo calendário judaico, antes de aderir ao ciclo metônico do
moderno. Aqui finaliza o apanhado histórico, porém os próximos
capítulos continuam na parte histórica, mas já entrando no cerne do
debate. O quinto capítulo, apresentará de forma resumida a tese
defendida pelos Defensores do Sábado Lunar, chamados nesse livro
de DSL. O sexto capítulo comentará as fontes históricas usadas
pelos defensores do sábado lunar. O sétimo capítulo vasculhará o
Talmud e literatura judaica em busca de fontes que indiquem como
2 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

eram contabilizadas as semanas, meses, e anos, no antigo calendário


judaico. O oitavo capítulo buscará na história judaica qualquer
indício de que a contagem da semana tenha sido alterada
propositalmente ou não. O nono e último capítulo explorará o fato
do calendário judaico antigo ser baseado em observação para
levantar uma importante questão lógica.
Na seção teológica, serão discutidos os principais textos bíblicos
que lançam luz sobre tema. O primeiro capítulo procurará mostrar
como deve ser calculada a semana de acordo com a Bíblia. O
segundo capítulo, será uma pequena amostra de como o mês era
contado no Gênesis. O terceiro capítulo cuidará em esclarecer em
que dia do mês caiu o primeiro sábado que a Bíblia afirma que os
hebreus guardaram no deserto, antes de chegar ao Sinai, além de
analisar o evento da queda do maná que sucedeu a isto por 40 anos.
O quarto capítulo tentará descobrir se era proibido trabalhar no dia
da lua nova, analisando todos os textos bíblicos que ordenam não
trabalhar em algum dia, e cada um dos textos usados pelos DSL a
fim de sustentar esta tese. O quinto é uma introdução aos capítulos
subsequentes, levantando a questão do calendário festivo judaico e
seu cabimento no calendário lunar. O sexto capítulo analisará as
proibições de trabalho nos dias festivos e comparará essas proibições
às proibições sabáticas, levantando um importante dilema ao
calendário do sábado lunar. O sétimo capítulo explorará a páscoa,
suas ocorrências na Bíblia e procurará o calendário que melhor se
ajusta ao cronograma pascal Bíblico, bem como resolver um antigo
dilema sobre a cronologia dos evangelhos sinópticos e o evangelho
de João. No oitavo e último capítulo, será analisada a contagem da
festa de Shavuot, ou semanas (pentecostes), por usar como
referência dias e semanas, dando uma base para reconhecer como
Deus ordenou que as semanas fossem contadas.
O objetivo desse livro não é ser exaustivo nem na parte histórica,
nem na parte teológica, mas apenas demonstrar que a maioria dos
ataques a temas claros da revelação procedem de fontes humanistas
adotados por religiosos que desconhecem a origem do argumento, e
acabam argumentando contra a própria fé.
SEÇÃO I
PARTE
HISTÓRICA
1. COMO FUNCIONAVAM OS CALENDÁRIOS NO
MUNDO ANTIGO?

A simplicidade, clareza e comodidade de ter um único sistema de


cronologia para a história do mundo é algo tacitamente confessado
pela aceitação geral, e um sistema aceito já de longa data. É verdade
que, de certo ponto de vista, a introdução de nosso atual sistema
cristão de cronologia por Dionísio, no século VI d.C., e sua posterior
aceitação mundial, foi apenas uma consequência natural da
conversão do Império romano ao cristianismo. No entanto, o sistema
tem servido desde então, muito bem a humanidade, e ainda o faz,
tanto é que, mesmo aqueles que não reconhecem a centralidade de
Jesus Cristo na história do mundo, permanecem felizes em usá–lo ,
mesmo que por vezes com uma nomenclatura adaptada, para fins
comuns. Até mesmo a descoberta de que Dionísio determinou a
transição entre a.C. e d.C. com alguns anos de atraso, simplesmente
foi aceita como um fato, sem qualquer tentativa séria a ser feita para
modificar, e menos ainda para substituir o seu sistema.
O problema é que ainda não faz 100 anos que este calendário é
amplamente aceito e usado no mundo inteiro,1 porém os mais
importantes acontecimentos da história ficam décadas, séculos e até

1
GARTENHAUS, S.; TUBIS, A. The Jewish Calendar–A Mix of Astronomy
and Theology. Shofar, West Lafayette, v. 25, n. 2, p. 104–X, Winter Winter 2007
2007. ISSN 08828539. Disponível em: <
http://search.proquest.com/docview/275084552?accountid=53268 >.
1. COMO FUNCIONAVAM OS CALENDÁRIOS NO MUNDO ANTIGO? 5

milênios para trás. O presente artigo visa explorar os métodos de


datação usados para convergir datas de diferentes tipos de
calendários ao gregoriano, e descobrir se esses sistemas de datação
são sempre confiáveis, ou se é necessário cautela na afirmação de
algumas datas.
1.1 Cronologias e calendários no mundo antigo

Muitos momentos históricos serviram como ponto de referência


para cômputos de cronologias, dentre as quais estão:
a) A era das Olimpíadas gregas, que ocorriam a cada quatro
anos e foram as precursoras dos atuais Jogos Olímpicos,
datam de 776 a.C.
b) A era da fundação da cidade de Roma, que Varro, o
historiador romano, datou de 753 a.C.
c) A era selêucida, que data da vitória de Seleuco I, o fundador
da dinastia grega na Síria, na batalha de Gaza, em 312 a.C.
d) A era da criação do mundo, que a crônica rabínica Seder
Olam Rabbah fixa em cerca de 3761 a.C.2
Porém, Muitas vezes no decorrer dos registros históricos, os anos
foram identificados de uma forma diferente, a partir da posse de um
governante ou funcionário particular, e é desta forma que o início do
ministério de João Batista é datado em Lucas 3:1. Em ambos os
casos, um estudante moderno precisa determinar:
a. Como os anos estão sendo contados, ou seja, quando o novo
ano começa? A partir do momento da posse, desde o início
do ano em que o governante assumiu o cargo, ou a partir do
primeiro ano completo após o evento?
b. Como o próprio ano está sendo contado, e que calendário
está sendo usado para tal contagem? É um calendário lunar
de 354 dias, ou um calendário solar de algo em torno de 365
dias?

2
A maioria das cronologias judaicas e cristãs primitivas estão de acordo com
Seder Olam Rabbah quanto ao início da criação, apesar de discordar em relação à
quando deve ser considerada a criação como tendo ocorrido. Para maiores
informações, ver BECKWITH, R. T. Calendar and Chronology, Jewish and
Christian: biblical, intertestamental and patristic Studies. Boston: Brill Academic
Publisher, Inc, 2001. ISBN 0–391–04123–1.
1.1. Cronologias e calendários no mundo antigo 7

c. É um calendário exato, fixado pelo cálculo astronômico


cuidadoso, ou um calendário aproximado? Destina–se a
utilidade prática ao invés de precisão científica, ou consegue,
de alguma forma, coadunar os dois?
Somente quando todas essas considerações forem levadas em
conta, pode–se começar a transpor a informação cronológica dada
por antigos escritos, em termos de nossa própria cronologia, e não se
deve surpreender se as conclusões alcançadas são, na melhor das
hipóteses, prováveis em vez de certas, especialmente quando se está
tentando consertar o dia, mês ou ano de um acontecimento em
particular.
O desenvolvimento de um calendário cientificamente exato
ocorreu em diferentes nações em diferentes períodos, dependendo de
como o estudo da astronomia avançava e ganhava aceitação para
determinar as suas conclusões no meio em que estava. Nas terras
bíblicas, foi primeiramente na Babilônia e Egito onde a astronomia
foi estudada, mas a Grécia, já no século V a.C., voava mais alto
quando o astrônomo grego Meton desenvolveu e sugeriu o ciclo de
19 anos, conhecido como ciclo metônico, mais tarde refinado por
Calipo e Hiparco, para conciliar o ano lunar com o solar, embora na
prática, a Grécia continuou a usar um ciclo menos preciso de 8 anos.
Uma vez que doze meses lunares somam apenas 354,36708 dias,
este calendário tem de ser ajustado periodicamente para o ano solar
de 365.2422, com a adição de um décimo terceiro mês, de modo a
mantê–lo alinhado com as estações do ano. Este fenômeno é
chamado de intercalação. Originalmente a intercalação era feita de
forma irregular, sempre que se via necessário pelo atraso das
estações do ano, mas no ciclo de 19 anos, adotado também pelos
babilônios por volta do século V a.C., foi possível adicionar o
décimo terceiro mês em intervalos fixos, e se prever com
antecedência os anos bissextos em que seria necessário a
intercalação. A Babilônia, a Grécia e o Egito usavam um calendário
lunar, ajustado da forma descrita. Há, no entanto, um importante
calendário solar, ou estelar, que também existia naquela época, que
era regido pelo helíaco da estrela Sírius ou Sírio, de cão maior, ou
seja, sua ascensão na proximidade do sol nascente. Sendo o Egito é
um país plano e com um amplo horizonte, o surgimento helíaco das
mais brilhantes estrelas poderia ser facilmente identificado, e desde
tempos muito antigos, astrônomos egípcios observaram que isso
8 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

acontecia por volta de uma vez a cada 365 dias. Mas obviamente, o
calendário de 365 dias baseado neste fato não era absolutamente
exato, e em 238 a.C. um dos reis gregos do Egito, Ptolomeu
Euergetes I, emitiu seu decreto de Canopus, propondo o acréscimo
de um dia a cada quatro anos, de modo a corrigir a discrepância. Mas
na prática, a reforma não foi adotada até entre 30 e 26 a.C., época em
que um calendário solar com base em princípios semelhantes
também tinha sido introduzido em Roma. Este foi o famoso
calendário Juliano, introduzido por Júlio César em 46 a.C. sob a
orientação do astrônomo egípcio Sosígenes, e foi suficientemente
preciso para manter o seu lugar, sem alterações, até o século XVI
d.C.
Para calendários babilônicos, egípcios, gregos e romanos, ver F.
Hommel, G. Foucart, H. J. Rose, L. H. Gray3; E. J. Bickerman, J. D.
Schmidt4; R. A. Parker5; Mishnah: E. Cohen6; O. E. Neugebauer7;
W. J. Woodhouse8.
Acontece que os registros cronológicos da Babilônia, Egito e
Grécia são notavelmente completos. Assim, com a ajuda de seus
calendários relativamente precisos, a transposição de suas datas em
termos do calendário romano, que é hoje o padrão, e no sistema
cristão de cronologia é bastante simples. Verificações adicionais são
possíveis quando os registros mencionam fenômenos astronômicos,
já que é possível para os astrônomos modernos calcular com um alto
grau de precisão, as datas em que esses fenômenos devem ter
ocorrido. Registros cronológicos romanos também estão bastante
completos, e depois da introdução do quase preciso calendário
Juliano, a cronologia da história romana pode ser estabelecida com

3
HOMMEL, F. et al. Calendar (Babylonian), (Egyptian), (Greek), (Persian).
Encyclopaedia of Religion and Ethics. v. 3 1910.
4
BICKERMAN, E. J.; SCHMIDT, J. D. Calendar III: Ancient Middle Eastern
calendar systems. Encyclopaedia Britannica 1974.
5
PARKER, R. A.; DUBBERSTEIN, W. H. Babylonian Chronology 626 B.C.
– A.D. 75. In: LOVEJOY, D. S. (Ed.). Brown University Studies. Providence:
Brown University Press, v.19, 1956.
6
COHEN, M. E. The Cultic Calendars of the Ancient Near East. Bethesda:
CDL Press, 1993.
7
NEUGEBAUER, O. E. The Exact Sciences in Antiquity. 2ª ed. Providence:
Brown University Press, 1957.
8
WOODHOUSE, W. J. Horae. Encyclopaedia of Religion and Ethics. v. 6
1913.
1.1. Cronologias e calendários no mundo antigo 9

considerável exatidão, como afirma P. R. S. Moorey em seu livro


Excavation on Palestine, no capítulo 5, “Establishing Times
Scales”.9

9
MOOREY, P. R. S. Excavation in Palestine. Guildford: Lutterworth, 1981.
2. COMO FUNCIONA O CALENDÁRIO
GREGORIANO?

Vamos rever brevemente algumas características do nosso


calendário civil. Lembre–se que o dia 21 de março sempre marca o
primeiro dia do outono, e que 21 de junho marca o primeiro dia do
inverno, e assim por diante, de modos que 21 de setembro e 21 de
dezembro marcam o primeiro dia de primavera e verão,
respectivamente. Assim, tal como concebido, o nosso calendário
civil se relaciona totalmente com as quatro estações do ano. Por
outro lado, não há correlação alguma entre qualquer data especial em
nosso calendário civil e as fases da lua. Em qualquer data específica,
é possível que a lua esteja em qualquer uma das suas fases.
O desafio enfrentado no designer do calendário judaico é,
portanto, o de conciliar o ciclo lunar cara–a–cara com o ciclo solar, e
para criar um calendário que é, simultaneamente, em sincronia com
todas as estações do ano e o ciclo lunar.
Antes de ver o calendário judaico em si, vamos primeiro
considerar brevemente o nosso calendário civil um pouco mais de
perto. Nosso atual calendário civil é conhecido como o calendário
gregoriano, ou às vezes como a “reforma gregoriana do calendário
juliano". Baseia–se no fato de que o ano tropical, ou solar, consiste
em 365,2422 dias, ou ligeiramente menos do que 365 dias e 1/4.
Assim, para que o primeiro dia do outono ocorra sempre na mesma
data (21 de Março) todos os anos, ao longo de muitos anos, é
2. COMO FUNCIONA O CALENDÁRIO GREGORIANO? 11

evidente que o calendário deva consistir de exatamente 365,2422


dias. Uma vez que a duração do dia e do ano são determinadas,
respectivamente, pelo período de rotação da terra sobre seu eixo e o
período de translação da terra em torno do Sol, processos esses que
estão todos fora do poder da humanidade de manipulá–los, e que
para fins de um calendário é necessário um número inteiro de dias
para formar um ano, alguma decisão precisava ser tomada para
remediar esse problema.
Cerca de 2000 anos atrás, acreditava–se erroneamente que eram
exatamente 365 1/4 dias no ano. A mando de Júlio César em 45 a.C
o senado romano configurou o calendário “Juliano”, que estava
destinado a ser amplamente utilizado por mais de 1600 anos até o
final do século 16. Este calendário agrupou os anos em grupos de
quatro, com três anos sucessivos de 365 dias, seguido de um quarto
ano, conhecido como um ano bissexto e constituído por 366 dias.
Desta forma, em média, em cada ano consistia de 365 1/4 dias. Em
algum momento foi decidido que os anos de número ordinal
divisível por 4, como 1936, 2004 , etc , seriam anos bissextos com
366 dias cada, sendo os restantes anos com números ordinais não
divisíveis por 4, como 1938, 2001 etc , consistidos de 365 dias.
Desta forma, acreditava–se o calendário juliano de duração média
365,25 dias seria capaz de se manter em sintonia com as estações do
ano, para sempre. Mas isso não aconteceu!
A diferença entre o número real de dias no ano de 365.2422 e o
número médio de dias do ano de acordo com o calendário juliano,
365.2500, é muito pequena. Corresponde a uma diferença de 0,0078
dias por ano ou 0,78 dias por século. Essa diferença, ainda que
insignificante em comparação com a vida humana, por períodos mais
longos corresponde a um dia extra a cada 128 (1/.0078) anos. Ao
longo de mil anos ou mais, este calendário não seria mais estável em
relação às estações do ano, já que, o primeiro dia da primavera iria
ocorrer um dia antes a cada 128 anos. Assim, depois de cerca de
1300 anos, o primeiro dia do outono, como determinado por
observações astronômicas, no calendário juliano não ocorreu no dia
21 de março, mas por volta do dia 10 de março. E foi este
deslizamento do primeiro dia da primavera de 21 de março para os
meses de verão, que o calendário gregoriano foi projetado para
corrigir.
12 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

O calendário gregoriano, que é, essencialmente, em uso universal


de hoje, foi promulgado pelo Papa Gregório XIII em 1582, e
gradualmente adotado/reconhecido pela maioria dos países, mesmo
que por alguns, só muito recentemente, como o caso da União
Soviética, que só veio aceitar o calendário em 1917. Foi uma
mudança relativamente pequena no calendário juliano, mas essa
reforma trouxe:
1) A eliminação de 10 dias a partir do calendário juliano, que
reestabeleceu o dia 5 de outubro de 1582 como o dia 15 de
outubro de 1582, de modos que os dias 5 a 14 de outubro de
1582 nunca vieram a existir.
2) Uma reestruturação nos anos bissextos do calendário juliano,
de modos que agora os bissextos são os anos divisíveis por
quatro a menos que sejam anos de virada de século
(terminados em 00), a menos, que os anos de séculos sejam
múltiplos de 400.
Esta última reforma implica que os anos do século 1700, 1800 e
1900 por exemplo, que são divisíveis por 4 e que teriam sido anos
bissextos no calendário Juliano, não seriam anos bissextos no
calendário reformado, uma vez que eles não são também divisíveis
por 400. Por outro lado, o ano do século 2000, que é divisível por
400, seria mantido como um ano bissexto. Assim, em cada ciclo do
novo calendário de 400 anos haveria 97 anos bissextos e 303 anos
regulares.
O efeito dessa mudança, então, é que em média, o ano
gregoriano tem 365.2425 ((303 × 365 + 97 × 366)/400) dias e não
365,2500 como fez o ano juliano. A diferença entre o calendário
gregorianos (365.2425 dias) e o ano real (356.2422 dias) é de 0,003
dias por ano, correspondendo a apenas um dia extra a cada 3333
anos. Assim, por meio dessa mudança, o deslizamento de um dia a
cada 128 anos do calendário juliano foi reduzido a um dia a cada
3333 anos no calendário gregoriano.
É também interessante contrastar o calendário solar gregoriano
com o calendário islâmico, que é um calendário puramente lunar.
Este último consiste em um ano de 12 meses de alternadamente 30 e
29 dias, assim como faz o calendário judaico. Um ano cheio neste
calendário é composto de 354 (12 × 29,5) dias. Uma vez que o
período do ciclo lunar é na verdade 29,53059 dias e não 29,5 dias,
será eventualmente necessário adicionar um dia extra para o ano, a
2. COMO FUNCIONA O CALENDÁRIO GREGORIANO? 13

fim de manter os meses em sintonia com as fases da lua. Isto é


conseguido através do funcionamento de um ciclo de 30 anos, cujos
décimo segundo mês (Dha al–Hija) com 30 dias em vez do normal
29, nos 11 anos numerados de 2º , 5º , 7º , 10º , 13º , 16º , 18º , 21º ,
24º , 26º , e 29º do ciclo. Assim sendo, num ciclo de 30 anos serão
19 anos com 354 dias e 11 anos com 355 dias. Desta forma, a
duração média do mês é de 29,53056 ((19 × 354 + 11 × 355)/12 ×
30) dias, o que se torna muito próximo dos reais 29,53059 dias no
mês. Em um determinado ano, se o sol está no equinócio vernal no
primeiro dia do primeiro mês do ano (Muharram), no ano seguinte o
sol vai estar no equinócio vernal no 11 º dia do Muharram; no
terceiro ano, no dia 22 de Muharram e no seguinte já estará no 4º dia
de Safar (segundo mês). Portanto, apesar da maior exatidão quanto a
duração do mês, não há uma relação simples entre o calendário
islâmico e as estações do ano. Após cerca de 32 1/2 anos, o sol volta
a estar no mesmo ponto onde estava no início da contagem.
Voltando ao tema anterior, deve–se observar que a introdução do
calendário gregoriano em nada afeta a total falta de sincronização
entre nosso calendário civil e o ciclo lunar.
3. COMO FUNCIONA O MODERNO CALENDÁRIO
JUDAÍCO?

Projetar um calendário que siga fielmente tanto o ciclo solar


quanto os ciclos lunares parece ser, a princípio, uma tarefa no
mínimo formidável, se não, impossível. Dentre as restrições externas
que o calendário judaico deve abordar, estão as seguintes:
1. O ano solar (tropical) consiste em 365,2422 dias
2. O ciclo lunar é composto de 29,53059 dias
3. O ano civil deve ser composto por um número inteiro de dias
4. Há uma unidade mensal no calendário, cujo numero de dias,
em média, deve ser o mesmo que o do ciclo lunar, mas que
ao mesmo tempo deve ser constituído por um número inteiro
de dias
5. O ano civil deve ser composto de um número inteiro de
meses
6. Há uma unidade de medida semanal que deve ser composta
de exatamente sete dias. No entanto, não há algo que exija
que o numero de semanas no ano deve ser inteiro.
7. O primeiro dia do mês sétimo (Tshiri) não pode cair em um
domingo, quarta–feira ou sexta–feira (Esse requerimento é
para que as restrições religiosas onde o Hashaná Rabah no
dia 21 de Tishri não pode cair no sábado, e que o Yom
Kippur, no dia 10 de Tishri não pode cair numa sexta–feira
ou domingo)
3. COMO FUNCIONA O MODERNO CALENDÁRIO JUDAÍCO? 15

8. Um mês só pode ter 29 ou 30 dias. Nenhuma exceção é


permitida.
Para satisfazer qualquer uma ou duas destas oito condições seria
simples. Por outro lado, uma breve reflexão mostra que para
satisfazer todos os oito requisitos acima simultaneamente parece ser
praticamente impossível. No entanto, há uma curiosa relação entre o
número de dias em um ano solar e os em um ciclo lunar como dado
em 1 e 2 respectivamente, que faz com que um calendário lunar–
solar (ou lunisolar) seja possível; esta relação é conhecida como o
ciclo de Metônico.
No século V a.C, o astrônomo ateniense Meton apontou que o
número de dias em 19 anos solares é quase exatamente o mesmo que
o número de dias em 235 ciclos lunares (ou lunações). Este período
de tempo é agora conhecido como o ciclo de Metônico e serviu
como base para o calendário babilônico a partir do qual o calendário
judaico foi originalmente derivado. De acordo com o item 1,
encontramos 19 anos solares têm, a 7 casas decimais, 19 × 365,2422
= 6.939,602 dias. Da mesma forma, conforme o item 2, descobrimos
que 235 lunações consistem em 235 × 29,53059 = 6939,689 dias.
Surpreendentemente, estes concordam em cinco casas decimais. Para
colocar o assunto de uma forma alternativa, a relação entre o número
de dias em 235 lunações para o número de dias em 19 anos solares é
dada por (235 × 29,53059 )/(19 × 365,2422 ) = 6939,689 / 6.939,602
= 1,000013 que traz uma unidade de cinco casas decimais.
Desconsiderando a pequena decimal no final desta razão, para um
elevado grau de precisão, há quase exatamente 235 ciclos lunares em
19 anos solares. Talvez seja interessante notar que esse
relacionamento seria "exato" caso houvesse 365.2468 dias em um
ano, em vez de o número real de 365,2422.
Com o ciclo Metônico como pano de fundo a estrutura básica do
calendário judaico pode ser facilmente descrito qualitativamente.
Para este efeito, é conveniente supor, a seguir, que a duração do
ciclo lunar é precisamente 29,5 dias e não os reais 29,53059 dias e
para afinar o resultado mais tarde, incluir os efeitos do pequeno
decimal 0,03059.
Assim como no calendário gregoriano os anos estão agrupados
em ciclos de 400 anos, no calendário judaico os anos estão
agrupados em ciclos de 19 anos. Para satisfazer a condição de que
deve haver 235 meses ou ciclos lunares em cada ciclo solar de 19
16 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

anos, os anos individuais em cada ciclo são divididos em um dos


dois tipos: 12 anos comuns de 12 meses cada, e o restante de 7 anos
bissextos que consistem de 13 meses cada ((12 × 12) + (7 × 13) =
235).
Os meses de Nisan, Sivan, Ab, Tishri, Kislev e Shevat cada um
consistem em 30 dias e os seis meses restantes consistem de 29 dias
somando 354 dias em um ano regular. Para um ano bissexto de 13
meses é tudo igual, exceto que o mês de Adar de 29 dias torna-se
dois meses: Adar I e Adar II (ou BeAdar), com 30 e 29 dias,
respectivamente, somando 384 dias em um ano bissexto. O mês do
ano bissexto tem 29,53846, que é um pouco maior do que o valor
real em de 29,53059. Em um determinado ciclo de 19 anos, os anos
bissextos são sempre o 3º, 6º, 8º, 11º, 14º, 17º e 19º ano do ciclo, ou
seja, os sete anos já mencionados. Os outros 12 anos são os anos
normais.
Para determinar qual o ano no calendário judaico dado o ano do
calendário gregoriano (ou vice- versa), é só adicionar 3760 ao
número do ano do calendário gregoriano se for antes de 1 de Tishri,
e mais 3761 após 1 de Tishri. Assim, durante a primavera de 2000,
por exemplo, o ano judaico era 2000 + 3760 = 5760, enquanto que
após o 30 de setembro ou Tishri 1 de 2000 é 5761 (2000 + 3761) .
Para determinar se um determinado ano é um ano bissexto ou
não, vamos continuar usando como exemplo o ano de 5761 acima.
Divida o número do ano por 19 (5761 ÷ 19 = 303,21…) e em
seguida multiplique 19 pelo número inteiro do resultado (19 × 303 =
5757) a diferença é a posição no ciclo metônico que o referido ano
se encontra (5761 – 5757 = 4), como o 4º ano não faz parte dos 7
anos bissextos, então o ano 5761 não é bissexto.10

10
Para usar essa fórmula no excel / pages, use:
SE(OU(A2−(19×(ARRED(A2÷19;0)))=3;A2−(19×(ARRED(A2÷19;0)))=6;A2−(1
9×(ARRED(A2÷19;0)))=8;A2−(19×(ARRED(A2÷19;0)))=11;A2−(19×(ARRED(
A2÷19;0)))=14;A2−(19×(ARRED(A2÷19;0)))=17;A2−(19×(ARRED(A2÷19;0)))
=19);"Bissexto";"Normal")
Onde A2 é a célula que contem o ano desejado.
4. O ANTIGO CALENDÁRIO JUDAICO:
CIENTÍFICO OU PRÁTICO?

Sendo esta a situação na Babilônia, Egito, Grécia e Roma, pelo


início da era cristã, é natural supor que a situação fosse a mesma na
Palestina. Afinal de contas, a Palestina estava agora dentro do
Império Romano, esteve anteriormente sob a autoridade de gregos, e
em períodos mais remotos, já havia sido parte do império
Babilônico. De fato, o exílio na Babilônico os judeus trouxeram os
nomes babilônicos para os meses, que são encontrados nos últimos
livros do Antigo Testamento e literatura judaica posterior. Seria
então provável de se pensar que, de uma fonte ou de outra, teriam os
judeus também adquirido conhecimento suficiente da astronomia
para regular seu calendário, e consequentemente, sua cronologia com
uma precisão.
Esta convidativa presunção é realmente feita por muitos
escritores de cronologias do Novo Testamento, e tem a grande
conveniência de permitir que se maximize dados cronológicos
bastante escassos fornecidos no Novo Testamento. As tabelas de luas
novas, anos novos e anos bissextos na antiguidade, que foram
compilados por Parker e Dubberstein para a Babilônia11, e

11
PARKER, R. A.; DUBBERSTEIN, W. H. Babylonian Chronology 626
B.C. – A.D. 75. In: LOVEJOY, D. S. (Ed.). Brown University Studies.
Providence: Brown University Press, v.19, 1956.
18 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

calculados por Ginzel para Israel12, poderiam então ser aplicados


para os eventos registrados no Novo Testamento sem mais delongas.
Na realidade, porém, esse procedimento envolve uma grande
falácia. Vimos anteriormente que por volta do século V a.C. os
babilônios empregaram o ciclo metônico, de 19 anos, para conciliar
o ano lunar com o solar. Ajudado por isso, eles foram capazes de
fazer um cálculo preciso de luas novas, anos novos e anos bissextos,
e corrigi–los de maneira apropriada. É daí que vêm as tabelas de
Parker e Dubberstein. Hoje em dia os judeus também usam, para fins
religiosos, o ciclo de 19 anos. Trabalhando com o princípio metônico
de maneira retrograda a partir dos tempos modernos, Ginzel foi
capaz de calcular quando, as luas novas, anos novos e anos bissextos
dos judeus teriam caído nos tempos antigos. O que precisa ser
percebido, no entanto, é que as tabelas de Ginzel são em grande
parte teóricas, e que tratá–las como históricas é ignorar a evidência
clara de que os judeus não usavam tal ciclo até vários séculos depois
do início da era cristã.
Esta evidência é em parte judaica e em parte cristã. A evidência
judaica é encontrado principalmente na literatura rabínica, das quais
as primeiras partes substanciais a serem escritas foram a Mishná, o
Tosephta, o Halakic Midrashim, e as citações chamadas Baraitas,
citadas a partir de compilações anteriores em muitos lugares nos dois
Talmudes. Esta parte da literatura rabínica, provavelmente data de
cerca de 200–300 d.C., embora sendo um registro da tradição oral,
também fala de um período anterior, e às vezes chega a remontar ao
primeiro século d.C. ou até mesmo antes disso. A partir dessas
fontes, aprendemos que os meses judaicos, anos e festivais foram
fixados não por cálculo com antecedência, mas pela contínua
observação. O início de cada mês era anunciado quando a lua nova
era avistada na Palestina, e nos meses que continham festivais,
mensageiros eram enviados para informar os judeus da diáspora
(Mishnah: Rosh ha–Shanah 1–2). A adição de um décimo terceiro
mês ao ano dependia também da observação, esta ao observar se os
sinais da primavera tinham aparecidos ou não: se não houvesse
aparecido, o décimo terceiro mês seria adicionado, e mais uma vez
mensageiros seriam enviados para os judeus da diáspora para
informá–los sobre o fato (Tosephta: Sanhedrin 2:2–7, 12; Halakic
12
GINZEL, F. K. Handbuch der mathemalischen und technischen
Chronologie. Leipzig: Hinrichs, 1914.
4. O ANTIGO CALENDÁRIO JUDAICO: CIENTÍFICO OU PRÁTICO? 19

Midrashim: Mekilta: Pisha 2; baraitas em Babylonian Talmud:


Sanhedrin 11 a – 13 b).
Para fins de mesmo efeito, a evidência cristã se refere à fixação
de uma data para a Páscoa. Quando os cristãos no princípio da era
começaram a observar a Páscoa, eles evidentemente se esforçaram
para fixa–la a partir do cômputo judaico da Páscoa, em 14 de Nisan.
Cerca de 190 d.C. houve uma controvérsia acentuada entre os
cristãos sobre esse assunto, que ficou conhecida como a controvérsia
Quartodecimal, que consistia em definir se a observância da Páscoa
continuaria sendo em 14 de Nisan ou não, mas ambas as partes da
controvérsia baseavam seus cálculos na data em que os judeus
estavam observando a Páscoa, que lhes seria o primeiro passo para
iniciar a discussão. Isso trouxe provocações e zombarias da parte dos
judeus em relação aos cristãos, que não poderiam fixar a Páscoa sem
a ajuda deles. Em resposta, já no século III, os cristãos começaram a
calcular a data da Páscoa astronomicamente. O primeiro a fazer uma
tentativa foi Hipólito de Roma, adaptando o antigo ciclo grego de 8
anos, e em seguida, Anatólio de Alexandria, usando o ciclo mais
exato de 19 anos. As igrejas influentes de Roma e de Alexandria
foram as primeiras a adotar o novo método. Isso, no entanto, deu
origem à segunda grande controvérsia cristã sobre a Páscoa, que foi
resolvida a princípio, no grande concílio de Nicéia, em 325 d.C., que
tinha como meta corrigir a Páscoa por cálculo astronômico ou em
mantê–la no domingo após a Páscoa judaica. A decisão foi em favor
de calcular a própria Páscoa, embora o velho método permaneceu
por um tempo ainda entre os cristãos orientais.13 Se já estivesse em
uso o ciclo metônico para o cálculo de calendário entre os judeus,
esta segunda controvérsia pascoal não teria sentido, pelo menos não
da forma que foi.
De fato, parece que os judeus não começaram a calcular a data
da Páscoa astronomicamente, ou empregar o ciclo metônico para
esta finalidade, até entre os séculos IV e VII d.C. 14. Caso isso pareça

13
BECKWITH, R. T. Calendar and Chronology, Jewish and Christian:
biblical, intertestamental and patristic Studies. Boston: Brill Academic Publisher,
Inc, 2001. ISBN 0–391–04123–1. p. 51–70
14
WACHOLDER, B. Z.; WEISBERG, D. B. Visibility of the New Moon in
Cuneiform and Rabbinic Sources. Hebrew Union College Annual, v. 42, p. 227–
242, 1971. p. 227–242
20 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

surpreendente, deve–se lembrar da independência teimosa e ao


mesmo tempo louvável dos judeus em questões religiosas, o que
naturalmente os atrasariam no processo de aprovação das conclusões
e métodos pagão ou cristãos no cômputo do calendário.
Não foi antes de 358/359 d.C. que o calendário judaico foi
ajustado ao ciclo metônico, e as datas de festas como Shavuot
(pentecostes) ajustadas para uma data fixa em um calendário fixo,15
portanto as tabelas de Ginzel e as calculados de calendário judaico
podem funcionar muito bem em qualquer ano posterior a esses,
porém é impossível rever, com base nesses cálculos, qualquer data
anterior a essa, restando apenas o retrocesso astronômico para saber
que dia a lua nova foi possível ser vista na palestina na data
desejada, ainda assim sendo impossível prever o tempo daquele dia,
se as condições climáticas permitiram ou não a visualização da lua, e
também impossível em quais anos exatamente o Sanhedrim haveria
adicionado a intercalação, ou o 13º mês (bissexto), abrindo um
grande leque de possibilidades e conjecturas, e não uma data fixa e
única para cada evento.16

BECKWITH, R. T. Calendar and Chronology, Jewish and Christian: biblical,


intertestamental and patristic Studies. Boston: Brill Academic Publisher, Inc,
2001. ISBN 0–391–04123–1. p. 94–140
15
BECKWITH, R. T. Calendar and Chronology, Jewish and Christian:
biblical, intertestamental and patristic Studies. Boston: Brill Academic Publisher,
Inc, 2001. ISBN 0–391–04123–1. p. 130-140.
16
A maior parte dos estudiosos fixam o ano da morte de Jesus em 30 ou 33
d.C. justamente por retrocesso nas calculadoras de calendários, porém, obviamente
essas calculadoras não representam a realidade anterior ao ano 358 d.C., abrindo o
leque de estudo para mais anos possíveis.
5. COMO FUNCIONA O SÁBADO LUNAR?

De acordo com a proposta dos Defensores do Sábado Lunar


(DSL), a lua nova é considerada como um sábado - um dia sem
trabalho. Todo mês começa com uma lua nova. O primeiro dia de
trabalho é o segundo dia da contagem seguido por mais cinco dias de
trabalho, assim, o oitavo dia do mês também é o primeiro sábado
semanal do mês. Mais seis dias de trabalho (9 a 14) e o dia 15 é o
próximo sábado semanal. Mais seis dias de trabalho (16 a 21) e o
próximo sábado é dia 22. Mais seis dias de trabalho (23 a 28) e o dia
29 é o último sábado semanal do mês. Em seguida, vem a próxima
lua nova, que um não é um dia de trabalho, é um sábado, mas não o
sábado semanal, é um sábado mensal. Assim, os sábados semanais
sempre caem nos dias 8, 15, 22 e 29 de qualquer mês. Alguns meses
terminam no dia 29, seguido pela lua nova do mês seguinte.
Frequentemente, os meses terão um dia extra entre o último sábado e
a próxima lua nova. Por isso muitas vezes você tem dois ou três
sábados ou “dias sem trabalho” seguidos antes do novo mês
começar. Segue uma construção gráfica de quaisquer 3 meses
genéricos, para facilitar a compreensão:
22 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?
5. COMO FUNCIONA O SÁBADO LUNAR? 23

Como pode ser visto, o calendário é bem “engessado” de modo a


única variável que existe é se haverá ou não o 30º dia, o restante do
calendário permanece sempre fixo.
Segundo os DSL, o sábado caindo sempre nos dias 8, 15, 22 e 29
de cada mês, significa que o sábado também cairiam sempre na
época da lua nova, Lua crescente, Lua cheia, e Minguante. A maioria
dos sabatistas lunares não consideram o dia da lua nova para ser um
dia da semana, mas sim um dia de “nenhum trabalho regular". O
primeiro dia da semana real para eles vem no segundo dia do mês
lunar.
Mas existe dissensão nas fileiras dos DSL, porque alguns
acreditam que o sábado semanal cai nos dias 7, 14, 21 e 28 do mês.
Tais detalhes serão deixados de lado, um dos pressupostos gerais
dessa teoria, é que qualquer um saberia em quando é sábado
simplesmente por olhar para a lua. Pois o mesmo só cairia sob as
mudanças de fase da lua. Esse é um dos ponto principal desta
doutrina - produzir um marcador celeste para determinar quando
ocorre o sábado.
Nos moldes desse calendário, um fiel guardador do sábado lunar
o guardaria em qualquer dia da semana quando convertido ao
calendário gregoriano, se a lua nova cai em uma terça-feira, os
sábados daquele mês serão todos na terça-feira. No mês seguinte, os
sábados serão em outro dia da semana seguida pelo calendário
gregoriano, talvez seja esse o motivo de eu nunca ter conhecido um
guardador do sábado lunar.
A teoria do sábado lunar não é usada por zelosos cristãos ou
judeus preocupados em honrar a Deus da maneira certa, mas
geralmente por zelosos perseguidores preocupados em acusar
aqueles que decidiram guardar o sábado do sétimo dia de estar
guardando o sábado errado. Os DSL também dizem que o sábado do
sétimo dia é pagão, e que mesmo o ciclo semanal universal é de
origem pagã. Eles têm um problema com o Sabbath cair no “dia de
Saturno” (Saturday – Saturn day) mas, aparentemente, não têm
problema nenhum em qualquer outro dia que caia no dia de Sol
(Sunday – Domingo), Dia da Lua (Monday – Segunda-feira), dia de
Tiw (Tuesday – Terça-feira), Dia de Woden ou Odin (Wednesday –
Quarta-feira), Dia de Thor (Thursday – Quinta-feira) ou Dia de Frige
(Friday – Sexta-feira). Alguns parecem desconhecer a história e
confundem o que veio primeiro, o sábado ou o dia de Saturno.
24 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

A palavra Sábado é a transliteração latina da palavra grega


Sabbatwn que é a transliteração da palavra hebraica Sabbath –
Sábado. Se essa palavra é pagã, melhor reclamar com Deus que a
usou amplamente por toda a Bíblia, inclusive a chamando de “Santo
Sábado do SENHOR” (Êxo 16:23; 31:15; 35:2; Isa 58:13).
6. OS SÁBADOS LUNARES E A ENCICLOPÉDIA
JUDAICA

Geralmente, os DSL apresentam algumas citações da


Enciclopédia judaica (e algumas outras fontes) em apoio a sua teoria.
Essas citações são apresentadas triunfalmente como uma sólida
evidência histórica da autenticidade da teoria. Portanto seria justo
examinar esse aspecto corretamente.
A enciclopédia judaica explica os motivos para tentar ligar o
sábado com a lua. Qualquer um que leia as legendas perceberá que
esta é apenas uma alternativa proposta à base da Bíblia para o
sábado.
Provável Origem Lunar
– Visão Crítica:
A origem do sábado, bem como o verdadeiro
significado do nome, é incerta.17
É admitido livremente que a origem lunar do sábado só é
provável, com base nos dados levantados em seguida, como por
exemplo a adoração da lua dos antigos semitas ou os análogos
Assírios, conforme será brevemente discutido no capítulo “1. Como
contar as semanas?,” porém a origem real é dita ser incerta. É por
isso que esta citação está subtitulada como “visão crítica”. Como
pode ser obviamente visto, essa visão crítica não reconhece nem leva
em conta a origem bíblica para o sábado. A visão crítica está
apresentando uma visão humanista / naturalista alternativa, e não a
17
Jewish Encyclopedia, article: “Sabbath”, disponível em:
http://www.jewishencyclopedia.com/articles/12962-sabbath#anchor10
26 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

origem divina revelada pela Torah. Isto é afirmado nas seguintes


palavras:
“[O sábado] provavelmente estava originalmente
conectado de alguma forma com o culto da lua, como
de fato é sugerido pela freqüente menção dos festivais
do sábado e da Lua Nova na mesma sentença".18
Nenhum crente sincero poderia jamais cogitar que o sábado
bíblico tivesse qualquer tipo de ligação com o paganismo, uma vez
que as orientações vieram da boca do próprio Deus. Além do fato de
que o próprio texto admite que a origem lunar do sábado é só um
palpite, como evidenciado pelo uso da palavra “provavelmente”.
Tenha em mente que esta é apenas uma visão crítica que oferece uma
possível alternativa humanística provável à origem bíblica do
sábado. Alguém poderia questionar: “Por que um artigo judeu
apresentaria essa visão não-bíblica alternativa depois de falar sobre
a verdadeira origem bíblica do Sábado?” A resposta é simples. A
enciclopédia judaica procura oferecer uma série de pontos de vista,
nem todos bíblicos. Esta é a sua admissão clara no prefácio da
própria enciclopédia.
“Há aqueles que defendem a inspiração literal,
enquanto outros rejeitam essa visão e são de opinião
que as circunstâncias em que os vários textos foram
produzidos podem ser determinadas pelo que é
conhecido como Alta Crítica. Parece apropriado nos
mais importantes artigos bíblicos fazer uma distinção
clara entre esses dois pontos de vista e colocar em
parágrafos separados aos dados atuais do texto
Massorético e as visões críticas sobre eles. ... O
plano foi adotado para tratar os mais importantes
artigos Bíblicos sob os três pilares de (a) Dados
bíblicos, dando, sem comentários ou separação de
“fontes”, as declarações do texto; (b) Literatura
rabínica, dando a interpretação colocada sobre os fatos
bíblicos pelo Talmud, Midrash e, mais tarde, literatura
judaica; (c) Visão Crítica, afirmando de forma
concisa as opiniões mantidas pelos assim chamados
de Alta Crítica a respeito das fontes e a validade
das declarações bíblicas”.19 – Ênfase adicionada
É importante ter em mente o que esse prefácio diz:

18
ibid.
19
Jewish Encyclopedia, “Preface”, disponível em:
http://www.jewishencyclopedia.com/preface.jsp#12
6. OS SÁBADOS LUNARES E A ENCICLOPÉDIA JUDAICA 27

• Há uma distinção de fontes “nos mais importantes artigos


bíblicos”
• Essa distinção seria colocada em parágrafos separados
• Essa separação seria de 3 tipos de fontes:
⁃ Dados Bíblicos
⁃ Literatura Rabínica
⁃ Visão Crítica
Esta admissão é muito reveladora. Ao olhar o artigo “Sabbath”
da enciclopédia judaica, vemos esses três blocos bem claramente
delineados. No bloco “Biblical Data” (Dados Bíblicos) só é
mencionado a lua uma única vez, dizendo que “O sábado e o dia de
lua nova eram as ocasiões favoritas para consultar profetas (II Reis
iv. 23)”. No bloco da Literatura Rabínica, é dividido em Apócrifos e
Pseudoepígrafos, Joséfo e escritores clássicos, Philo, Talmud, e
Haggadah, e em toda essa parte da literatura rabínica, a lua só é
mencionada um um único momento no subtópico Talmud, no
contexto da criação, que diz que “o dois grandes astros celestes, o sol
e a lua, não passaram a perder seu brilho original até depois do
primeiro sábado (Mek. 69b; Gen. R. xi., xii.)”. No último bloco, da
visão crítica, aí sim fala da origem lunar do sábado, ligando a lua ao
sábado 13 vezes, mas também ligando aos assírios, babilônicos, e
povos mesopotâmicos circunvizinhos, onde é pressuposto que os
Hebreus podem ter copiado ou aprendido o sábado com eles, em
contra–partida, a Bíblia é clara que Deus foi quem deu o sábado aos
Hebreus, e que o Sábado pertencia ao Senhor (Exo 16:23–29; 20:10;
31:13–16; Lev 19:3, 30; 23:3; 26:2; Isa 56:4; 58:13; Eze 20:12–24;
Eze 22:8, 2; 23:38; 44:24).
A teoria do sábado lunar baseia-se, historicamente, unicamente
na Alta Crítica.20 Isso já dá uma perspectiva dos vários artigos e
citações que aparecem em meio a grupos que ligam o sábado da
Bíblia à lua. Essa “evidência” é meramente o ponto de vista da Alta
Crítica, isso é, não passa de um mera opinião de estudiosos
humanistas que partem do pressuposto de que a Bíblia é só mais um
produto do meio em que foi produzida, negando completamente a
revelação. Esta é a única maneira de ligar o sábado à lua: abandonar
a evidência bíblica e buscar as visões alternativas dos críticos. Essas
20
Alta Crítica recebe vários nomes, que embora não sejam idênticos em seus
significados, representam a mesma escola de pensamento, tais quais Método
histórico–crítico, Crítica das fontes, Crítica literária, entre outros.
28 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

visões, naturalmente, são oferecidas sem evidências sólidas para elas


(daí o uso de terminologia duvidosa, como “provavelmente” (mesmo
que seja meramente plausível), “possivelmente”, incertezas e etc.).
Isso não passa de conjeturas e conjecturas. Este é um meio
lamentável de chegar à doutrina Bíblica.
Deve-se ter muito cuidado ao basear qualquer opiniões em
teorias não bíblicas alternativas. Tal base pode inevitavelmente guiar
ao erro. Na ânsia de alimentar um preconceito, algumas pessoas
ficam dispostas a abrir mão de princípios e até fundamentos se isso
ajudar na defesa de seus pressupostos.
Para que se possa realmente apreciar a fonte questionável desta
teoria, devemos entender o que realmente significa a Alta Crítica e
como ela se relaciona com a Bíblia. Como a citação acima deixa
claro, a Alta Crítica julga sobre “as fontes e a validade das
declarações bíblicas”. O decisor final das conclusões neste campo
não é a Bíblia, mas os próprios críticos. Este aspecto precisa ser
examinado cuidadosamente.

Alta Crítica vs. a Bíblia


O que é uma Alta Crítica? A Alta Crítica é um sistema de análise
e interpretação bíblica com base no pressuposto de que a Bíblia é
uma coleção de mitos e lendas que foram agrupadas em livros. Essas
interpretações decorrem de uma negação profunda da inspiração
divina das Escrituras. Este sistema é um esforço humanista para
explicar a Bíblia. Membros da Alta Crítico utilizam pressupostos
racionalistas e naturalistas para chegar às suas conclusões, e então
oferecem essas conclusões como base para a verdade. Os crentes da
Bíblia muitas vezes consideraram inaceitáveis e heréticas as
conclusões da Alta Crítica. Simplificando, a Alta Crítica não
reconhece a Bíblia como uma revelação divina e, portanto, procura
explicar suas verdades atribuindo-as a um processo natural. A Alta
Crítica baseia-se no modelo evolutivo e busca aplicar este modelo de
Deus às Escrituras. É por esta razão que a Alta Crítica é estritamente
um processo humanista e naturalista de teorização. Somente Satanás
pode ser a inspiração por trás desses sentimentos e esforços.
Em seu livro The Hoax of Higher Criticism, o Dr. Gary North
demonstra que os homens que foram pioneiros na "Alta Crítica" da
Bíblia não acreditavam que Jesus fosse o divino Filho de Deus. Ele
mostra ainda que os dois ataques mais bem sucedidos contra o
6. OS SÁBADOS LUNARES E A ENCICLOPÉDIA JUDAICA 29

cristianismo no mundo moderno têm sido a Alta Crítica e o


Darwinismo (ou seja, a evolução). Ambos os pontos de vista provêm
da mesma fonte: uma visão do homem como uma criatura social que
vive em uma sociedade em evolução. Ambos os pontos de vista
substituem uma filosofia de processo histórico autônomo para a
criação bíblica, queda, redenção e julgamento final. É essa escola de
pensamento que originou a teoria do sábado lunar! Esta é uma das
evidências mais convincentes da falsidade dessa teoria. É meramente
uma alternativa naturalista ao Sábado bíblico da criação. Afinal, a
Alta Crítica nem sequer leva a sério a história da criação.
“Os membros da Alta Crítica tornaram-se os maiores
formadores de mitos pela proclamação da existência
de um conjunto de elevados ideais que estão de
alguma forma associados a mitos bíblicos (ou seja,
enganações). Depois de dizer ao leitor que os
primeiros capítulos de Gênesis não são históricos, mas
simplesmente simbólicos, os autores nos asseguram
sobre a história da queda de Adão: “Mas não se deixe
enganar pela simples forma de apresentação da
história".”21
Como resultado da Alta Crítica, a criação é vista como simbólica,
não literal, e Adão e Eva são nada mais do que figuras míticas. Não é
de se admirar que o próprio Sábado da criação não seja reconhecido.
"Os membros da Alta Crítica apresentam a Bíblia
como uma colcha de retalhos mal reunido de mentiras
e mitos, e então eles acrescentam insulto ao
argumentar que sua forma de desmascarar a Bíblia de
alguma forma eleva nossa visão dela".22

“Alta Crítica e evolução”. A Alta Crítica baseia-se


num modelo evolutivo de moralidade e história
humana".23
Assim como o engano da evolução é o esforço de Satanás para
substituir a criação divina, também o embuste do sábado lunar é um
esforço para deslocar e anuviar o verdadeiro Sábado da criação.
Ambos os enganos provêm da mesma fonte. Não só isso, mas os
homens responsáveis por serem pioneiros neste trabalho de Alta
Crítica possuem algumas credenciais alarmantes.

21
NORTH, G. The hoax of higher crítica, 1989, p.30
22
NORTH, G. The hoax of higher crítica, 1989, p.24
23
NORTH, G. The hoax of higher crítica, 1989, p.43
30 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

“As doutrinas da Alta Crítica, iniciadas pelos teólogos


católicos Richard Simon e Dr. Alexander Geddes em
1678, arrancaram o coração das Escrituras e
questionaram os ensinamentos mais simples sobre a
história e as origens. Os escritos de Moisés foram
relegados aos domínios da mitologia e a fé foi jogada
no chão".24
Não é nem necessário comentar, os fatos falam por si. A Alta
Crítica é um esforço finamente velado para atacar a Bíblia e as
verdades divinas nela contidas. Assim, enquanto muitos tentarão
citar qualquer fonte que promova essa visão crítica, é preciso
lembrar que ela não passa disso mesmo: uma visão crítica com viés
pessoal. A teoria dos sábados lunar nos saúda dos reinos da Alta
Crítica. O trabalho da Alta Crítica na dissecação, especulação e
reconstrução da “verdade” destruiu a fé na Bíblia como uma
revelação divina.
Bom seria se todos examinassem a origem e os antecedentes das
fontes que citam. A falta de fazer isso só pode resultar em confusão,
como é o caso agora. Muitos se empolgaram com a teoria do Sábado
Lunar sem perceber a fonte de onde estavam bebendo. Não é nada
além de um engano! Mais uma vez, a própria evidência usada para
apoiar a teoria do sábado lunar revela suas origens não bíblicas.
“A Bíblia da Alta Crítica não pode ser o que diz
claramente que é: a Palavra revelada do Criador e Juiz
do universo. Agora, se a Bíblia realmente não é o que
diz ser, então deve ser um engano. Uma vez que a
acusação implícita, embora educada, de engano é
feita, a questão então surge: quem é o verdadeiro
enganador, Deus ou a Alta Crítica? Não deve haver
dúvida em nossas mentes: o Crítico literário é o
criador dos mitos. A Alta Crítica literária da Bíblia é
uma fraude. Nenhuma outra palavra faz justiça. É uma
fraude, uma mentira, uma negação de que a Palavra
revelada de Deus é o que ela diz ser".25
Moisés Silva resume a Alta Crítica da seguinte maneira:
A “crítica bíblica” veio a significar não
simplesmente a investigação científica dos
documentos bíblicos, mas um método que
pressupôs, desde o início, o direito que o crítico tem
de emitir juízos sobre as afirmações bíblicas como
sendo ou não verdadeiras. Sendo assim, por

24
VEITH, W. J., Truth Matters, Amazing Discoveries, 2007, p. 206
25
NORTH, G. The hoax of higher crítica, 1989, p.32-33
6. OS SÁBADOS LUNARES E A ENCICLOPÉDIA JUDAICA 31

exemplo, interpretar a Bíblia historicamente


significava, quase que por definição, reconhecer que a
Bíblia contém contradições; na verdade, um dos
livros-textos básicos sobre o assunto, simplesmente
pressupõe que qualquer abordagem deixa de ser
histórica se não aceitar essas contradições. Em
resumo, concordar que a Bíblia não era totalmente
confiável tornou-se um dos princípios operacionais do
“método histórico-crítico”.26 – Ênfase acrescentada.
A própria Jewish Encyclopedia, falando sobre um dos mais
proeminentes membros da Alta Crítica, Wellhausen, diz:
Os argumentos com os quais Wellhausen cativou
quase que inteiramente todo o grupo de críticos
contemporâneos da Bíblia baseiam-se em duas
suposições: primeiro, que o rito fica mais apurado
com o desenvolvimento da religião; segundo, que as
fontes mais antigas necessariamente tratam dos
estágios mais primitivos do desenvolvimento ritual. A
primeira suposição é contrária à evidência das culturas
primitivas, e a última não encontra nenhum apoio na
evidência de códigos rituais, tais como os da Índia.”27
Existe um modo de testar a alta crítica, para ver se suas teorias
são corretas, ou não? A Enciclopédia Judaica prossegue:
Os conceitos de Wellhausen baseiam-se quase que
exclusivamente numa análise literal, e precisam ser
suplementados por um exame feito do ponto de vista
da arqueologia institucional.28
A questão é, será que a arqueologia, com o passar dos anos,
tendeu a confirmar as teorias dos pressupostos de Wellhausen? The
New Encyclopædia Britannica responde:
A crítica arqueológica tende a substanciar a
fidedignidade dos pormenores históricos, típicos,
mesmo dos períodos mais antigos [da história bíblica]
e a desconsiderar a teoria de que os relatos do
Pentateuco [os registros históricos nos mais antigos

26
SILVA, M. Abordagens contemporâneas na interpretação bíblica, em Fides
Reformata 4/2 (1999), p. 142-143; ver também MAIER, The end of the historical-
critical method, p. 12-13.
27
Jewish Encyclopedia, article: “Pentateuch”, disponível em:
http://www.jewishencyclopedia.com/articles/12011-pentateuch
28
ibid.
32 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

livros da Bíblia] sejam meros reflexos de um período


muito posterior.29
Repito, a alta crítica baseia-se apenas em pressupostos
humanistas, que vem sendo cada vez mais desconsiderados
conforme novos achadas são feitos.
Col 2:8 Cuidado que ninguém vos venha a enredar
com sua filosofia e vãs sutilezas, conforme a
tradição dos homens, conforme os rudimentos do
mundo e não segundo Cristo;

Artigo “Week” da Jewish Encyclopedia


Nessa hora, tudo que resta ao DSL é espernear e negar que as
fontes sejam da alta crítica, alegando, por exemplo, que o artigo
“week” da Jewish Encyclopedia faz a mesma ligação do sábado à lua
nova, no entanto, não é apresentado como sendo da visão crítica.30
Os DSL concluem de imediato que por não conter a especificação de
“Visão Crítica”, então é necessariamente o pensamento Judaico
embasado nos 11 textos bíblicos que o artigo cita, e portanto, fica
provado historicamente que o sábado era vinculado à lua nos
primórdios.
De fato, qualquer um pode ver que não aparece a especificação
“Critical View” antes do artigo week, mas igualmente não aparece a
especificação “Biblical Data” e nem mesmo “Rabbinical Literature”,
portanto concluir que é um deles em detrimento de outro, todos eles,
ou nenhum deles seria no mínimo, apressado. Para concluir qual o
teor do artigo, é necessário analisar o conteúdo, as fontes utilizadas e
o autor. Antes porém, é importante notar o que o prefácio (nota 19)
não disse, que os DSL querem forçar o leitor a crer:
• Que todo e qualquer artigo teria distinção das fontes, o
prefácio apenas afirma que isso seria nos mais importantes
artigos bíblicos.
• Que todo e qualquer artigo teria um parágrafo para cada tipo
de fonte, novamente, apenas nos mais importantes artigos
bíblicos.
• Que todo e qualquer artigo teria os 3 tipos de fontes

29
SARNA, N. M.; STENDAHL, K. et. al. biblical literature. Encyclopædia
Britannica. Encyclopædia Britannica, inc., 2015. Disponível em
:https://www.britannica.com/topic/biblical-literature/Old-Testament-literature
30
Jewish Encyclopedia, “Week”, disponível em:
http://www.jewishencyclopedia.com/articles/14813-week
6. OS SÁBADOS LUNARES E A ENCICLOPÉDIA JUDAICA 33

Essas três afirmações não são alegadas pelo prefácio, logo, a


conclusão de que “se não indica que é da visão crítica, então não é
da visão crítica” é necessariamente errada, a menos que se tenha
analisado o conteúdo, fontes e autor.
Conteúdo do Artigo “Week” da Jewish Encyclopedia
Pode–se resumir todo o subtópico “Conexão com as fases
lunares” em 4 argumentos:
1. Há indicações de que havia um método alternativo de contar
o tempo que era a década, três períodos de 10 dias dentro de
um mês, que aparentemente representa um terço do mês
solar.
2. Não é possível saber a origem da repartição quadripartite do
mês (a semana), é desnecessário assumir, no entanto, que os
Hebreus a tenham derivado dos Babilônicos, é possível que
ambos tenham desenvolvido a semana simultaneamente, com
base na observação da lua.
3. É possível assumir que tanto Hebreus quanto Babilônicos
consideravam o primeiro dia do mês como o primeiro dia da
semana.
4. Essa conexão da lua nova com o sábado deve ter sido
perdida posteriormente.
Percebe–se logo de cara que nenhuma das afirmativas são
embasadas na bíblia, mas todas partem de possibilidades, os termos
“há indicações”, “aparentemente”, “não é possível saber”, “é
desnecessário assumir”, “é possível que”, “é possível assumir”,
“deve ter sido” indicam apenas conjecturas, nenhum fato histórico.
Se parar para analisar cada uma das afirmações, elas em nada
ajudam a teoria do sábado lunar defendida pelos DSL, pois:
1. Se 1 for verdadeira, então havia um mês solar de 30 dias
concomitantemente com o mês lunar de 29/30 dias, o que
complica a teoria do sábado lunar que afirma que Deus foi
quem estabeleceu o calendário deles, e que os meses
dependiam da lua exclusivamente.
2. Se 2 for verdadeira, então assumimos a possibilidade do
sábado adotado pelos hebreu ter sido derivado dos
Babilônicos, e não revelado por Deus, e mesmo que não
tenha sido derivado dos Babilônicos, que é a outra
possibilidade, mesmo assim, foi desenvolvido por eles, e
portanto, exclui a revelação de toda forma.
34 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

3. Se 3 for verdadeira, então o mês deve começar sempre no


primeiro dia do mês, o que implica que os sábado seriam nos
dias 7, 14, 21 e 28 de cada mês, e que a lua nova seria sempre
dentro da semana, e não fora dela como os DSL afirmam.
4. Se 4 for verdadeira, então precisamos de pelo menos uma
fonte histórica ou mesmo bíblica que afirma que havia essa
ligação anterior dentre os hebreus para que posteriormente
tenha sido perdida.
Claramente, além das diversas e consecutivas incertezas usadas
para definir as afirmações no texto, 3 das 4 afirmações contradizem a
pregação dos DSL, e a ultima apenas apoia, porém, ela foi construída
em cima das afirmações 2 e 3, e se elas caírem, e não houver uma
única fonte histórica ou bíblica, a 4 cai também. Fica claro, portanto,
que pela quantidade de incertezas descrita, todo o artigo foi
construído em cima de suposições, não de fatos.
As fontes usadas no artigo “Week” da Jewish Encyclopedia
Das 11 fontes bíblicas usadas no artigo, 5 delas foram usadas
para a afirmativa 1, que em nada corrobora com o DSL, além de não
mostrar essa medição em nenhum dos textos, são apenas textos que
usam a expressão “dez dias” e não que definem dez dias como uma
divisão de calendário. 1 delas foi usada para a afirmativa 3, para
afirmar que o primeiro dia do mês caía sempre no primeiro dia da
semana, que em nada corrobora com os DSL, sobre esse verso, será
discutido em detalhes no capítulo “8.1. Shavuot - a contagem para a
festa.” As ultimas 5 foram usadas unicamente para a conclusão, de
que a semana se tornou um padrão útil para medir intervalos de
tempo, citando versos que usam a semana como medida de tempo.
Logo, vemos que não há base bíblica para nenhuma das
afirmações que ligam à lua nova à contagem da semana, porém, há
ainda outras fontes usadas e citadas no artigo, como fonte para a
medição dos dez dias da afirmativa 1, é citado ainda os Comentários
de Dillmann e Holzinger sobre Gen 24:55, e no final, como fonte
para todo a ligação lunar que foi citada, ainda é dada a fonte de
“Meinhold, "Sabbat und Woche im O. T." Göttingen, 1905”. Cabe,
portanto, ver rapidamente quem foram Dillmann, Holzinger e
Meinhold.
August Dillmann foi, nada mais, nada menos, que um dos mais
bem conhecido pioneiros da alta crítica, morreu em 1894 e era um
notável crítico do antigo testamento por conhecer o idioma Etíope,
6. OS SÁBADOS LUNARES E A ENCICLOPÉDIA JUDAICA 35

ele questionava até a autoria mosaica do pentateuco por duvidar que


a escrita já fosse plausível entre os hebreus.31
Helmuth Holzinger de maneira alguma fica para trás, escrevendo
o clássico Einleitung in den hexateuch (Introdução ao Hexateuco)
além de vários comentários, sendo um estandarte do Grafianismo
juntamente com Julius Wellhausen.32
Logo, a base do argumento introdutório do artigo “week” do Dr.
Hirsch é, nada mais, nada menos, que dois renomados teólogos da
alta crítica. E a afirmação é contundentemente na direção de algo
que não é relatado na bíblia, uma divisão da “década” de dez dias
que seguia o mês solar.
A última fonte do artigo, a base para toda a ligação lunar, é
Johannes Meinhold, critico textual contemporâneo aos outros dois
anteriormente citados, Dillmann e Holzinger, que ficou famoso em
1884 por defender a tese antissobrenaturalista da Alta Crítica de
Eichhorn.33 Negou qualquer profecia abertamente, afirmando, por
exemplo, que o livro de Daniel é uma colcha de retalhos posterior ao
III século A.C (os primeiros 6 capítulos) e que os últimos capítulos,
não passam de um plágio de um pseudoepígrafo produzido cerca de
165 anos antes da era Cristã, no período Macabeu. Escreveu um
livro intitulado Wellhausen, em homenagem ao precursor da Alta
Crítica. O proponente da alta crítica, Johannes Meinhold, mesmo
sendo religioso e teólogo, defendia que a revelação não existiu, e que
o sábado foi desenvolvido ou possivelmente copiado dos pagãos
circunvizinhos a Israel, e que inicialmente, o sábado era apenas uma
vez por mês (somente na lua cheia) e não semanal. Ideias totalmente
baseadas em pressupostos e comparações com os povos pagãos
circunvizinhos.
Logo, fica muito claro que nada menos de 100% de todas as
fontes usadas pelo Dr. Hirsch para a construção do artigo “week” da
Jewish Encyclopedia são fontes da alta crítica, configurando o artigo
como, no mínimo, um artigo crítico.
O autor do artigo “Week” da Jewish Encyclopedia

31
WALKER, L. L. “Some results and reversals of the higher criticism of the
Old Testament”. Criswell Theological Review, 1.2, 1987, p. 281-294
32
THOMPSON, R. J., “Moses and the Law” in A Century of Criticism Since
Graf, v. 19, 1970, p. 70.
33
MEINHOLD, J. Sabbat und Woche im Alten Testament. Göttingen:
Vandenhoeck & Ruprecht. 1905
36 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

O já citado Dr. Emil G. Hirsch era um brilhante pensador e


escritor, rabino e mestre de sinagoga, tem dezenas de artigos na
Jewish Encyclopedia e também no Reform Advocate, um periódico
semanal editado por cerca de 30 anos. Porém, mesmo sendo um
religioso convicto, o Dr. Hirsch concordava com Kant de que Deus
era filosoficamente improvável34 e que Deus poderia ser apenas um
postulado, a verdade em que se baseia a natureza moral humana,35 e
que os profetas bíblicos tiveram grandes lampejos criativos.36
Foi um adepto completo e defensor das mais radicais conclusões
da Alta Crítica, como por exemplo, chegou a afirmar que a revelação
é sinônimo de razão, e seu instrumento é o gênio humano.37
No decorrer da vida, o Dr. Hirsch foi se entregando mais e mais à
alta crítica, e cada vez assumindo postulados mais extremistas à
favor dela.38
O fato claro e que o Dr. Hirsch é da alta crítica e que todas as
suas fontes são da alta crítica, não invalida, no entanto, o artigo
inteiro, porém mostra o seu pressuposto, de que a revelação divina
não existe, e por isso a especulação de que as fontes históricas e
arqueológicas dos povos pagãos circunvizinhos sirvam como base
comparativa para descobrir como os hebreus viviam e pensavam, ao
contrário do pressuposto cristão de que a Bíblia somente é a regra de
fé, e ela afirma que foi Deus quem deu o sábado e instituiu a semana,
ela não foi fruto da engenhosidade humana. Como há vasta
bibliografia que tange ao assunto de divergências entre bíblia e alta
crítica, não é necessário expandir o assunto aqui, apenas deixar claro
que as fontes não são bíblicas, mas negam a revelação, não são
histórica nem arqueológicas diretas dos hebreus, apenas usam
comparações com fontes pagãs, o que qualquer crente na inspiração
bíblica deve recusar, e como esse é o público alvo desse livro, não
expandirei o assunto crítico.

34
Pentecostal Gifts, RA, Vol. 1, 1891. p. 729;
35
"The Centennial of a Book on Religion," RA, Vol. 7, 1894, pp. 467-70.
Ver também: Pentecostal Gifts, RA, Vol 1, 1891, pp. 228-30.
36
God in Nature, RA, Vol. 13, 1897, p. 359.
37
“God's Revelation," RA, Vol. 14, 1897, p. 518.
38
MARTIN, B. The Religious Philosophy of Emil G. Hirsch. American
jewish archives, p. 66–82, June 1952. Disponível em: <
http://americanjewisharchives.org/publications/journal/PDF/1952_04_02_00_mart
in.pdf >.
6. OS SÁBADOS LUNARES E A ENCICLOPÉDIA JUDAICA 37

Outras fontes
Tendo examinado o significado por trás das Alta Crítica, estamos
agora em uma posição melhor para entender os antecedentes e
origens de algumas das reivindicações do Sábado lunar. É de vital
interesse observar a variedade de fontes que promovem essa teoria
da Alta Crítica. Como já vimos claramente, as origens da teoria do
sábado lunar são encontradas, não na Bíblia, mas na mente dos
Críticos literários. Esta informação é admitida pelas próprias fontes
que são usadas para defender a teoria do Sábado lunar. À medida que
analisamos algumas outras fontes que promovem essa mesma idéia,
devemos ter em mente que estas são reproduções dos pontos de vista
de críticos superiores. Aqui estão algumas:
A Lua Nova é fixa, e o sábado foi originalmente
dependente do ciclo lunar … Originalmente, a Lua
Nova foi celebrada da mesma maneira que o sábado;
gradualmente, tornou-se menos importante, enquanto
o sábado tornou-se cada vez mais um dia de
religião e humanidade, de meditação e instrução
religiosa, de paz e prazer da alma.39 – Ênfase
acrescentada.

Com o desenvolvimento da importância do sábado


como um dia de consagração e a ênfase colocada no
significativo número sete, a semana tornou-se cada
vez mais divorciada de sua conexão lunar.40 – Ênfase
acrescentada.

A semana de sete dias estava relacionada com o mês


lunar, do qual é aproximadamente um quarto. A
divisão quadripartita do mês estava evidentemente em
uso entre os hebreus e outros povos antigos; mas não
está claro se ele se originou entre os primeiros. É
desnecessário assumir, no entanto, que foi derivado
dos babilônios, pois é igualmente possível que as
observações das quatro fases da lua levassem os
nômades hebraicos de forma espontânea e
independente a conceber o sistema de dividir o
intervalo entre as novas luas sucessivas em quatro
grupos de sete dias cada.41 – Ênfase acrescentada.

39
Universal Jewish Encyclopedia, "Holidays", pág. 410
40
Universal Jewish Encyclopedia, Vol. X, “Week”, pág. 482
41
Jewish Encyclopedia, article: “Week”, disponível em:
http://www.jewishencyclopedia.com/articles/14813-week
38 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

Como pode ser claramente visto, qualquer fonte que cita essa
teoria é meramente réplica das reivindicações da Alta Crítica. O que
todas essas fontes têm em comum:
• Nenhuma fonte primária (arqueológica) que ligue o sábado
lunar aos hebreus
• Enorme quantidade de suposições como “é possível”,
“provavelmente”, “assumir” e etc…
Como pode uma enciclopédia que traduz o pensamento Judaico
dizer que o sábado foi se desenvolvendo enquanto a lua nova foi
perdendo seu valor, conforme as citações da pág 410 e 482, se na
bíblia diz claramente que o SENHOR deu o sábado à Israel e
simplesmente ordenou que o guardasse? A única explicação possível
é a óbvia, essa não é a posição bíblica, mas a posição humanista para
descaracterizar as verdades bíblicas.
Como então eles fazem essas suposições? Baseado nos cultos
pagãos documentados dos povos vizinhos, não dos próprios judeus, e
por assumirem o pressuposto de que Deus, a revelação e a criação
nunca existiram, concluem que a religião hebreia foi resultado da
aculturação semítica do antigo oriente próximo, e miscigenação com
mitologia egípcia.
Na mente dos Críticos literários, qualquer fonte é válida desde
que corrobore com o pressuposto humanista. A principal entre as
fontes apresentadas em defesa do sábado lunar é a Universal Jewish
Encyclopedia, uma enciclopédia humanista conforme já visto, que
promoveu esta teoria sem oferecer evidência ou prova em seu apoio
e sem divulgar a origem da teoria, mas por ter o nome Jewish no
título, induz os leitores desatentos a acreditar que essa seja a posição
oficial do judaísmo ou de qualquer um que creia na bíblia. A Jewish
Encyclopedia, por outro lado, admite que essa teoria é a visão da
Alta Crítica e mais nada. A semelhança do pensamento em todas
essas fontes é ampla prova de que eles estão apenas repetindo a visão
da Alta Crítica. É realmente assim que a teoria do sábado lunar
surgiu. Esta é a única maneira de vincular o sábado do sétimo dia à
lua.
A questão é, qual tablete, manuscrito, papiro, cuneiforme ou
qualquer outra fonte primária liga o sábado lunar ao judaísmo?
Resposta é: Nenhum! Mas como muitas outras culturas pagãs
vincularam o sábado à lua, o pressuposto humanista da alta crítica
assume que no judaísmo foi assim também, porém sem fonte
6. OS SÁBADOS LUNARES E A ENCICLOPÉDIA JUDAICA 39

alguma além da comparação com povos pagãos. Porém, é possível


que em nome do argumento, alguém ainda prefira o pensamento da
Alta Crítica às claras passagens bíblicas, nesse caso, citando apenas
os Críticos literários, eles terão de admitir com a Alta Crítica que:
• A exegese correta das escrituras só é possível através do
Método hitórico-crítico, e qualquer interpretação baseada
unicamente na Bíblia será certamente ingênua, infantil e
equivocada.42
• A raiz de todos os males na teologia é crer que termos tais
quais ‘Palavra de Deus’ e ‘Escritura’ como se fossem
idênticos.43
• O único modo de conhecer a verdade é através do Método
histórico-crítico.44
• Toda os livros da Bíblia foram editados e sua teologia
adaptada ao público em cada época, tornando-se uma colcha
de retalhos de tradições de várias épocas.45
• Todo o texto bíblico que chegou até hoje foi alterado, e não
preserva nada, ou quase nada, da mensagem original.46
• Os evangelhos foram uma invenção romantizada ao redor da
história do Jesus histórico.47
• O cânon bíblico foi uma invenção humana.48
Entre outras afirmação, como que alguns personagens Bíblicos
como Adão, Noé, Abraão, Davi, Salomão, Daniel e outros
provavelmente foram frutos do imaginário judaico para garantir-lhes
uma identidade como povo. Certamente é um debate que vale a pena
ser realizado e aprofundado, mas é um debate típico a se ter com
ateus, céticos e agnósticos, como não é esse o público alvo desse
42
FARRAR, Frederic. History of interpre-tation. New York: Dutton, 1886, p.
xi, xviii, p. 8-10, 20, 22, 39, 50, 88,122, 153, 162, 165, 191, 201, 236, 267, 302
43
SEMLER, J. S. Abhandlung von freier Untersuchung des Canon, em Texte
zur Kirchen- und Theologiegeschichte, 68 (Gütersloh, 1967), p. 52
44
FARRAR, Frederic. History of interpre-tation. New York: Dutton, 1886, p.
xi, xviii, p. 162, 167, 189, 200, 236, 267, 302.
45
KÜMMEL, Werner G. The New Testament: the history of the investigation
of its problems. Nashville: Abingdon, 1972
46
Ver artigo de W. Kümmel no livro editado por KÄSEMANN, Kanon, p. 94
47
VORSTER, The Synoptic gospels, p. 126-127. Cf. MARXSEN, Willi.
Mark, the evangelist: studies in the redaction history of the gospel. Abingdon
Press, 1979.
48
SEMLER, J. S. Abhandlung von freier Untersuchung des Canon, em Texte
zur Kirchen- und Theologiegeschichte, 68 (Gütersloh, 1967), p. 58
40 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

livro, muito pelo contrário, os DSL geralmente afirmam ser cristãos,


portanto, o foco desse livro não será refutar a Alta Crítica, apenas
esse capítulo foi dedicado para mostrar como o pensamento da Alta
Crítica não pode se alinhar com o cristianismo.
Infelizmente, alguns tendem a abandonar até mesmo sua
cosmovisão e princípios bíblicos se isso garantir um bom argumento
contra um grupo ou denominação à qual desejem atacar. Quão triste
é que as pessoas sejam enganadas, por falta de estudo, e ainda
queiram escavar a bíblia em busca de provas que suportem a
doutrina humanista.
Jer 17:5 Assim diz o SENHOR: Maldito o homem
que confia no homem, faz da carne mortal o seu braço
e aparta o seu coração do SENHOR!
O autor desse livro defende que se a escolha tiver que ser feita
entre a sabedoria humana (Alta Crítica) e o texto Bíblico, o claro
Assim diz o SENHOR sem sombra de dúvida será o escolhido.
7. TALMUD E O CALENDÁRIO LUNAR

Uma das mais triunfantes afirmações dos DSL é que os judeus


sempre observaram o sábado lunar, mesmo Cristo observou o sábado
lunar que ainda naquela época estava preservado, mas com a
modificação do calendário judaico no IV século, os judeus
esqueceram do verdadeiro sábado lunar e adotaram o sábado
gregoriano (na verdade seria juliano, mas eles preferem só repetir o
argumento do que conferir se está certo). Que houve uma mudança
no calendário judaico, que era prático, e se tornou científico no IV
século, isso é fato, mas cabe ver se alguma tradição judaica traz
qualquer evidência de um calendário como os DSL descrevem.
O talmud reflete a tradição judaica desde o IV século a.C. até o
IV século depois de Cristo, sendo a MISHNA a tradição de textos
mais antigos, e os comentários posteriores sendo feita em cima dela.
De maneira bem minimalista, o Talmud é um comentário da Mishná,
que por sua vez é um debate sobre alguns textos bíblicos e costumes
judaicos. O Talmud não é normativo ao cristianismo nem tão pouco
ao judaísmo, apesar de que muito judeus o considera assim (herança
do farisaísmo), mas pelo fato de se tratar de uma espécie de livro de
debates, pouco do seu conteúdo é 100% conciso, porém, ainda serve
como fonte para compreender o pensamento do judeu dos primeira
séculos. Esse capítulo não defende ou condena nenhum conteúdo da
tradição judaica, mas vai analisar como era o pensamento dos judeus
do século IV a.C. ao século IV d.C..
Muito é falado sobre o assunto da lua nova e do sábado no
Talmud, por sinal, há um tratado para cada um dos temas, e com
42 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

isso, é possível ter um vislumbre de como o judeu desde o século IV


a.C. enxergava os assuntos. Apensar da abordagem não ser
exaustiva, as poucas referências que serão citadas da tradição judaica
ajudará a entender como o Judeu enxergava seu calendário desde a
volta do cativeiro babilônico, e por consequência, nos dias de Cristo.
Logo na introdução do Talmud, é feito um comentário sobre o
sábado do sétimo dia, e a sua origem comum com outros povos:
Tem sido provado que o sétimo dia, mantido santo
pelos judeus também era nos tempos antigos o dia
geral de descanso entre outras nações, e geralmente
era observado pelas pessoas daqueles dias da mesma
maneira como é observado agora, onde as leis locais
não restringem a compra e venda, ou seja: pela manhã
orações eram proferidas e as necessidades de vida para
o dia eram adquiridas, enquanto a tarde era dedicada à
busca de prazer, alegria, visitação, e assim por diante.
Os judeus que viviam antes do tempo de Esdras e
Neemias, e mesmo durante a o regime posterior,
costumava, passar o sábado da mesma maneira que
seus vizinhos pagãos. Foi esse fato que fez com que os
sábios do tempo de Neemias temessem que os judeus,
que estavam sempre em minoria em comparação com
outras nações, continuassem com esse método de
guardar o sábado e se unissem na busca de prazeres e
alegria dos seus vizinhos, misturando-se livremente
com seus filhos e filhas, [com o que] a assimilação era
quase inevitável, especialmente porque a raça judaica
estava espalhada por todo o mundo conhecido e não
estava em nenhum lugar em números muito grandes. 49
Na visão judaica, e também bíblica, o sábado do SENHOR era
diferenciado dos demais, apesar da origem em comum. O sábado
vem da criação e era conhecido por todos nas primeiras eras, mas
logo foi sendo miscigenado com culto a outros deuses, então Deus
restaura o verdadeiro sábado com o judaísmo, restabelecendo o ciclo
semanal de sete dias, que alguns sabatistas das eras passadas já
haviam deturpado para um ciclo lunar,50 e restabelecendo os
verdadeiros motivos da adoração sabática, porque, em seis dias, fez
o SENHOR os céus e a terra, o mar e tudo o que neles há e, ao
sétimo dia, descansou; por isso, o SENHOR abençoou o dia de
49
The Babylonian Talmud, Translated by RODKINSON, M. L., Vol. 1-10,
1918, p 22–23
50
LEWIS, A. H. Biblical Teachings, concerning the Sabbath and the Sunday.
Alfred Centre, N. Y.: The American Sabbath Tract Society, 1888. 120-150.
7. TALMUD E O CALENDÁRIO LUNAR 43

sábado e o santificou (Êxo 20:11). Na visão judaica antiga, o culto


no sábado não era exclusividade judaica, mas o verdadeiro sábado
sim, por isso Deus os coloca como “reparadores de brechas” (Isa
58:12), para restaurar o verdadeiro sábado no sétimo dia de uma
semana de sete dias, que havia sido paganizado, como Satanás
sempre faz, falsifica o verdadeiro, não cria o falso do nada. Mas isso
são fatos bem firmados pela história, a grande revelação nesse
assunto, é como os judeus desde o IV a.C. enxergavam a lua nova:
Numa discussão sobre o que fazer no dia da lua nova do mês de
Tevet (10º mês) pelo fato de ser uma lua nova no meio de uma festa
não bíblica, o Hanukah, ou ascender das luzes, a discussão era se
mencionava a lua nova ou não nas orações desse dia, e a questão era
qual das duas festas era mais importante, a lua nova por ser citada da
Torah, ou o Hanukah pelo fato de que a Torah não ordena cessar o
trabalho na lua nova.
Os alunos propuseram uma pergunta: deve o dia da
Lua Nova ser mencionado na bênção após as
refeições? Devemos presumir que o dia da Lua
Nova é mais importante do que o Hanukah porque
a sua observação é ordenada nas Escrituras, ou
não precisa ser mencionada porque o trabalho
manual não é proibido naquele dia? Rabh mantém
que pode; R. Hanina mantém que não pode. Disse R.
Zerika: “Mantenham a opinião de Rabh, pois R. Oshia
mantém o mesmo;51 – Ênfase acrescentada
O fato é que mesmo a tradição rabínica do IV século a.C.
desconhece a proibição de trabalhar na Lua Nova, e discute sua
importância com uma festa não bíblica justamente pelo fato do
trabalho não ter sido proibido na lua nova. Além disso, ainda se
discutia sobre o procedimento na lua nova, uma vez que Torah não
dá parâmetros nenhum sobre o que fazer nesse dia além dos
sacrifícios:
“Não havia reunião dos homens de pé no 1º de
Tebeth”. Disse Rabha: o Hallel que é cantado na
festa da lua nova não é baseado numa ordenança
bíblica, porque R. Johanan disse em nome de R.
Simeon ben Jehozadok: “Dezoito vezes durante o ano
um indivíduo pode recitar todo o Hallel, e elas são:
nos oito dias da Festa dos Tabernáculos, nos oito dias
da Festa da Dedicação (Hanukah), no primeiro dia da

51
The Babylonian Talmud, Translated by RODKINSON, M. L., Vol. 1-10,
1918, p. 63.
44 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

Páscoa e no dia de Pentecostes. No exílio, no entanto,


pode-se recitá-lo vinte e uma vezes durante o ano, a
saber: Nos nove dias do festival dos Tabernáculos, nos
oito dias de Hanuká, nos dois primeiros dias da
Páscoa, e nos dois dias de Pentecostes”.52 – Ênfase
acrescentada
Apesar da tradição judaica declarar que a abstinência do trabalho
na lua nova era facultativa, e ainda mencionar a tradição de que
mulheres costumeiramente se abstenham de trabalhar na lua nova,53
o que podemos ver claramente, é que o dia de lua nova não era
considerado uma festa como as outras bíblicas, era apenas uma data
comemorativa, mas mesmo a tradição rabínica que adicionaram
muitas outras festas além das mencionadas da bíblia, jamais evocou
à lua nova autoridade de dia solene, onde se cessava o trabalho e
fazia-se santa convocação, mas apenas, uma festa comemorativa,
onde a vida cotidiana continuava normalmente. Mesmo o Talmud
que é a fonte judaica mais antiga que temos, desconhece a Lua
Nova como um dia a parte, e fica a pergunta no ar: “ou não precisa
ser mencionada por que o trabalho manual não é proibido naquele
dia (lua nova)?
Além da lua nova ser um dia de trabalho normal com descanso
facultativo (pela tradição, não pela lei), o Talmud ainda desconhece
qualquer indício dela cair sempre em um dia fixo e fora da semana:
Disse Rabba: Todos concordam que, no primeiro dia
do (terceiro) mês, os israelitas chegaram à região
deserta do Sinai. É aduzido da analogia da palavra
“mesmo”; [Ex. xix. 1] “no mesmo dia chegaram ao
deserto de Sinai”, e [Ex. xii.2] “este mesmo mês vos
será o princípio dos meses”. Como no último caso, o
“mesmo” referia-se ao primeiro, assim também no
anterior; além disso (ele disse), todos concordam que
a lei foi dada a Israel num sábado; isto se deduz da
analogia da palavra “lembrar” [Ex. xx. 8]: “Lembra-te
do dia do sábado para o santificar”, e [ibid. iii. 3]:
“Lembra-te do dia em que saistes do Egito”. Como no
último caso, o próprio dia de sua saída do Egito é
referido, então também assim é no primeiro caso. No
que os rabinos diferem é qual dia foi o primeiro do
mês. R. Yossi sustenta que o primeiro mês foi
definido no primeiro da semana, e sobre esse dia,
nenhum mandamento foi dado, porque os filhos de

52
ibid. p. 2206
53
v. Tosaf. s.v.
7. TALMUD E O CALENDÁRIO LUNAR 45

Israel estavam cansados de sua longa viagem. No


segundo dia (da semana), o Senhor disse-lhes: “Vós
sereis para Mim um reino dos sacerdotes” [Ex. xix. 1].
Na terceira semana, Ele ordenou que se afastassem da
montanha. No quarto que se separassem de suas
esposas. Os rabinos, no entanto, mantêm que o
primeiro dia do mês foi definido no segundo dia da
semana; de que naquele dia nada foi ordenado aos
israelitas, estando eles cansados; no terceiro, a
passagem citada [Ex. xix. 1] foi dito; no quarto dia,
eles deveriam se manter longe da montanha, e no
quinto, deviam se separar de suas esposas. 54 – Ênfase
acrescentada
Essa discussão data do século III a.C. O citado R. Yossi era da
quarta geração de sábios desde a babilônia,55 e participou de uma
discussão para definir em que dia da semana os Hebreus chegaram
no Sinai. Interessante que se alguém no mínimo tivesse ouvido falar
desse calendário do Sábado Lunar em Israel, no mínimo alguma
menção a ele teria sido feita, ou melhor, essa discussão nem existiria,
pois segundo o calendário do Sábado Lunar, o primeiro dia do mês é
o dia da lua nova, não é dia de semana nenhum, no entanto, alguns,
juntamente com Rabbi Yossi, defendiam que os hebreus chegaram
no sinai no primeiro dia da semana, porém o grande consenso foi
que eles chegaram no primeiro dia do mês, no segundo dia da
semana.
Vinde e ouvi: No décimo quarto dia do mês de Nisan,
durante o qual (mês) os israelitas saíram do Egito, eles
mataram o sacrifício da Páscoa e no décimo quinto
dia eles saíram. Na noite anterior, os primogênitos
dos egípcios foram mortos. Aquele dia (o décimo
quinto) foi o quinto da semana. Agora, se o décimo
quinto de Nisan foi o quinto da semana, certamente
devemos dizer que o primeiro do mês seguinte
(Iyar) foi sábado e o primeiro dia do mês seguinte
(Sivan) foi o primeiro dia da semana. Isso não é
contraditório com as declaração dos rabinos, de que o
primeiro dia do mês era o segundo dia da semana? Os

54
The Babylonian Talmud, Translated by RODKINSON, M. L., Vol. 1-10,
1918, p. 157
55
FRIEMAN, S. Who's Who in the Talmud, Jason Aronson, Inc. 2000, p.
401-404.
46 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

rabinos poderiam ter presumido que o mês de Iyar era


um mês intercalar.56 – Ênfase acrescentada
A discussão agora era sobre a data da saída do Egito, que foi no
dia 15 de Nissan, no calendário do Sábado Lunar, certamente teria
sido num sábado, porém, isso nem sequer passou pela cabeça dos
Rabinos do século III a.C., que acreditavam que a noite da saída
havia sido o quinto dia da semana. A sequencia do debate é que se o
15º dia de Nissan foi no 5º dia da semana, então a lua nova do 2º mês
foi num sábado, e a lua nova do 3º mês foi no primeiro dia da
semana. A conclusão é que isso é contraditório com os rabinos que
afirmavam o 2º dia da semana na discussão anterior. O fato a
despeito da discussão é: Se eles tinham um calendário de sábado
lunar no século II a.C., que por conseguinte foi preservado até os
tempos de Cristo, que sentido havia essa discussão? Ela continua:
Agora, se o primeiro dia desse ano foi o primeiro dia
da semana, devemos dizer que o primeiro de Nisan do
ano anterior caiu no quarto dia da semana, porque
aprendemos em outra Boraitha: “mestres anônimos
dizem que não pode haver mais de quatro dias de
diferença entre um dia de Ano Novo e outro. “Se
um ano bissexto interviesse, então pode haver uma
diferença de cinco dias. Isso não é contraditório com a
opinião de ambos os rabinos e R. Yossi? De acordo
com R. Yossi, houve sete meses curtos (de vinte e
nove dias) naquele ano, mas de acordo com os rabinos
houve oito desses meses, (consequentemente, a
diferença do ano anterior foi apenas de dois dias), pois
esse ano foi extraordinário. (E o primeiro dia do mês
de Iyar do último ano foi o sexto dia da semana). 57 –
Ênfase acrescentada
Eles conjecturam até a possibilidade de um ano novo começar
em 4 ou 5 dias (da semana) de diferença do ano anterior, isso não é
contraditório com o calendário do sábado lunar, uma vez que todo
ano deveria começar no mesmo dia, ou seja, a lua nova, que não era
dia de semana nenhum?
Disse R. Zera: “Com a bênção da lua nova é diferente,
porque se a lua nova cair num sábado não é feita
nenhuma bênção em separado, mas está incluída na
bênção do sábado na oração da manhã e da noite; a
bênção da lua nova também é mencionada na oração
56
The Babylonian Talmud, Translated by RODKINSON, M. L., Vol. 1-10,
1918, p. 158
57
ibid., p. 158-159
7. TALMUD E O CALENDÁRIO LUNAR 47

de Musaph em conjunto com a bênção do ano novo”.


Beth Shammai, de fato, sustenta que, se a lua nova
cair num sábado, a bênção pertencente a isso está
incluída naquela do sábado? Não aprendemos que se a
lua nova cair no sábado, Beth Shammai mantém que
oito bênçãos devem ser recitadas na oração e Beth
Hillel apenas sete? Esta questão não está decidida.58 –
Ênfase acrescentada
R. Zera também era da quarta geração após o exílio, século III
a.C.,59 e também desconhece o fato da lua nova ter um dia específico
só para ela, pois discute sobre a benção da lua nova caso ela caia em
um sábado, e vê a lua nova tão importante que caso ela caia num
sábado, nem precisava ser comentada, pois o sábado era muito mais
importante. Como o Talmud é um livro de debate, a escola de
Shammai, 2 séculos depois,60 posicionava-se contra a conclusão do
Rabbi Zera, e diz que em uma das orações sabáticas deveria ser
mencionado a lua nova. Mas o fato é que 3 séculos antes de Cristo
(R. Zera), e até 1 século antes de Cristo (Beth Shammai), os judeus
entendiam que a lua nova poderia sim cair em um sábado, e em
qualquer dia da semana (R. Yossi e os rabinos em geral).
E falando sobre a lua nova cair num sábado, havia uma discussão
específica para caso a lua nova caísse num sábado no último mês do
ano, Adar:
MISHNA: Quando o primeiro de Adar cair num
sábado, a porção Shekalim [Êxo. xxx. ii] deve ser
lida; se cair em qualquer outro dia, essa parte deve
ser lida no sábado anterior, e nada mais é lido no
sábado seguinte.61 – Ênfase acrescentada
A Mishná remete à mais antiga tradição oral judaica, é a base do
Talmud, e essa tradição anciã discute a possibilidade do mês de Adar
começar num sábado. No calendário do sábado lunar isso jamais
poderia acontecer, visto que o sábado é um dia, e a lua nova é outro
dia com propriedades exclusivas que não pertence à semana, porém
para os judeus desde o século IV a.C., essa ideia jamais passou por

58
The Babylonian Talmud, Translated by RODKINSON, M. L., Vol. 1-10,
1918, p. 729
59
FRIEMAN, S. Who's Who in the Talmud, Jason Aronson, Inc. 2000, p.
426-430.
60
ibid. p. 18-30
61
The Babylonian Talmud, Translated by RODKINSON, M. L., Vol. 1-10,
1918, p. 2280
48 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

sua mente. Os Boraithas seguem discutindo a Mishná, II século a.C.


à I século d.C.:
Aprendemos no Boraitha seguinte de acordo com
Samuel: Se o primeiro de Adar cair no sábado, a
porção do Êxo. xxx. 21 deve ser lida; e a porção dos
profetas deve ser sobre Joiada, o sacerdote [II Reis,
xii.]. R. Itz'hak da cidade de Naph'ha disse: se o
primeiro de Adar cair no sábado, três rolos sagrados
devem ser retirados, e devem ser lidos a partir de uma
porção devida nesse sábado e uma porção adequada
no primeiro dia do mês, e de uma porção do Shekalim
[Ex. xxx. 21]. Ele diz novamente: Quando o
primeiro dia do mês Tebeth cair no sábado, o
mesmo deve ser feito—três rolos devem ser retirados:
uma porção adequada para o sábado deve ser lida, o
segundo do primeiro dia do mês, e o terceiro sobre
Hanuka [Num. vii ..] Foi ensinado: quando o
primeiro de Tebeth cair num dia de semana, disse
R. Itz'hak: três devem ler a parte do primeiro dia do
mês, e um sobre a santificação; e R. Dimi da cidade de
Hepha disse: três devem ler sobre a santificação, e
uma sobre o primeiro do mês. ser lido; se cair em
qualquer outro dia, essa parte deve ser lida no
sábado anterior, e nada mais é lido no sábado
seguinte.62 – Ênfase acrescentada
Interessante quantas possibilidades os Boraithas abrangem:
• Se o primeiro de Adar cair num sábado
• Quando o primeiro de Tebeth cair num sábado
• Quando o primeiro de Tebeth cair num dia de semana
• Se cair em qualquer outro dia.
Todos esses termos discutem possibilidade do primeiro dia do
mês cair em qualquer dia da semana, ou mesmo no sábado, e
estamos falando de séculos antes da mudança do calendário judaico
(358/359 d.C.). Essas tradições refletem a época desde a saída da
Babilônia até o século posterior à Cristo, e todos eles garantem a
possibilidade da lua nova acontecer em qualquer dia da semana. O
discurso continua e levanta mais uma hipótese:
Foi ensinado: quando o primeiro de Adar cair na
véspera do sábado, disse Rabh, a porção Shekalim
deve ser lida no sábado anterior, porque as tabelas de
trocadores de dinheiro estão configuradas duas

62
The Babylonian Talmud, Translated by RODKINSON, M. L., Vol. 1-10,
1918, p. 2281
7. TALMUD E O CALENDÁRIO LUNAR 49

semanas após a leitura, e se for lida no sábado


seguinte, eles não irão ser configuradas no dia 15, mas
dois dias depois. Samuel, no entanto, disse: deve ser
lido no sábado seguinte.63 – Ênfase acrescentada
• Quando o primeiro de Adar cair na véspera do sábado (6º dia
da semana)
Logo, a única conclusão lógica é que:
1. Nenhum judeu antigo jamais ouviu a possibilidade do sábado
ser lunar, e não depois de 7 dias.
2. Não há nenhuma referência em nenhuma parte do Talmud
sobre um calendário de sábados lunares
3. Em nenhum lugar no Talmud se conjectura sobre a
possibilidade da lua nova ter um dia exclusivo só dela
4. A Lua nova sempre pôde cair em qualquer dia da semana e
até mesmo sobre o sábado.

Agora, falando sobre as festas fixas do Senhor, o testemunho do


Talmud é o mesmo:
Outra objeção foi levantada: aprendemos no Tract
Seder Aulim que no décimo quarto dia do mês de
Nisan, durante o qual (mês) os israelitas saíram do
Egito, mataram o sacrifício da Páscoa; no dia 15, eles
saíram, e esse dia foi sexta-feira. Agora, se o
primeiro do mês de Nisan daquele ano foi sexta-feira,
devemos dizer que o primeiro dia do mês seguinte
(Iyar) caiu no primeiro dia da semana e o primeiro do
mês sucessivo (Sivan) foi segunda-feira. Isso não é
contraditório com R. Yossi? R. Yossi irá então dizer
que esta Boraitha está de acordo com a opinião dos
rabinos.64 – Ênfase acrescentada
Aqui são os comentários sobre aquela primeira discussão
apontada nesse capítulo, esses comentários já são do III ou IV século
depois de Cristo, porém ainda continuam com a visão de que o 15º
dia de Nissan poderia ter sido um dia de semana, e não
necessariamente um sábado, tanto é que a opinião agora é que tenha
sido uma sexta-feira, e o primeiro dia do terceiro mês, uma segunda
feira, concordando com os Rabbis que discordavam de R. Yossi.
R. Nahman, em nome de Rabh, disse: “O Halakha
prevalece de acordo com R. Jehudah”. Disse-lhe

63
ibid.
64
The Babylonian Talmud, Translated by RODKINSON, M. L., Vol. 1-10,
1918, p. 159
50 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

Rabha: “Por que o mestre não diz que o Halakha


prevalece de acordo com R. Meir; pois não temos um
Mishna por mestres anônimos (o primeiro Mishna no
Capítulo II) que confirma R. Meir?” “Essa Mishna
não está de acordo com R. Meir, porque é oposta por
outros”. Então, retrucou Rabha, “por que o mestre não
diz que o Halakha prevalece de acordo com R.
Gamaliel, que, neste caso, é o mediador entre R.
Jehudah e R. Meir? “Respondeu R. Nahman: R.
Gamaliel não é o mediador neste caso, mas
meramente afirma a sua própria opinião, e se for o teu
desejo, eu te digo, que Rabh mantem-se com a Tanach
na seguinte Boraitha: se o 14º (de Nisan) cair num
sábado, todo o fermento deve ser removido antes
do sábado. A oferta impura ou oferta alçada duvidosa
deve ser queimada e oferta alçada limpa, que, no
entanto, não pode ser usada na Páscoa, suficiente para
somente duas refeições deve ser consumida antes da
quarta hora. Assim disse R. Elazar ben Jehudah, o
homem de Barthutha, em nome de R. Jehoshua. Ele
foi indagado por que a oferta alçada limpa deve ser
queimada, talvez podendo ser possível encontrar quem
a possa comer, e ele respondeu: “Esses homens foram
procurados, mas não puderam ser encontrados”,
contudo os rabinos persistiram: “Talvez houvesse
sacerdotes que passassem a noite além da cidade e
pudessem entrar na manhã e comê-lo?” R. Elazar
respondeu:” De acordo com o seu argumento, a oferta
alçada duvidosa não deve ser queimada tampouco, sob
o risco de que Elias venha de manhã e a declare
limpa!” e eles insistiram: “É sabido que Elias não
entrará na véspera do sábado”. Em conclusão Boraitha
relata que os sábios que seguiam a discussão não se
mudaram de seus lugares até que finalmente foi
declarado que o Halakha devia permanecer de acordo
com o declarado pelo mencionado R. Elazar ben
Jehudah em nome de R. Jehoshua. 65 – Ênfase
acrescentada
Essa discussão remete aos tempos do Novo Testamento, e os
Judeus entendiam que o 14º de Nissan poderia cair em um sábado, e
se fosse esse o caso, o fermento já deveria ser removido das casas no
dia 13. O fato é que no I século os Judeus entendiam que a páscoa
poderia cair em qualquer dia da semana, não somente numa sexta
como prega o calendário do sábado lunar.
65
ibid., p. 1295
7. TALMUD E O CALENDÁRIO LUNAR 51

MISHNA: Os ossos, os nervos e outras partes


restantes devem ser queimados no dia 16; e se esse
dia cair num sábado, devem ser queimados no dia
17, porque a queima destes não superam as leis do
sábado ou as do festival. 66 – Ênfase acrescentada
E para confirmar, a antiga tradição oral transcrita na Mishna, IV
séculos antes de Cristo, previa que o dia 16 poderia cair num sábado,
provando completo desconhecimento dos Judeus desde o IV século
a.C. sobre qualquer influência de um calendário de sábados lunares
entre os Judeus pelo menos desde o retorno para Jerusalém.
A Mishná também prevê a possibilidade do dia da expiação cair
num sábado, e estabelece várias leis para caso isso ocorra:
MISHNA IV. Sobre a dobramento de roupas e a
arrumação de camas no sábado. Leis sobre um
sábado que é coincidente com o Dia da Expiação.
Distinção de vestuário no sábado em comparação com
os dias de semana.67 – Ênfase acrescentada
Aqui vale ressaltar que no calendário do sábado lunar, o dia da
expiação seria sempre irremediavelmente o segundo dia da semana.
MISHNA: Pode-se dobrar a roupa (que acabou de ser
removida), mesmo quatro ou cinco vezes (no sábado).
Na véspera do sábado, pode-se preparar suas camas
para uso no sábado, mas não no fim do sábado para
uso após o sábado ter passado. R. Ismael diz: “Pode-se
organizar as suas roupas e preparar suas camas no dia
da expiação para o sábado; ademais, o sacrifício da
gordura remanescente do sábado pode ser
oferecido no Dia da Expiação (se os dois se
sucedem um ao outro, antes que o calendário
judaico fosse organizado); mas não é o que resta do
Dia da Expiação no sábado”. R. Aqiba disse: “Nem
aquela (gordura) que sobrou do sábado pode ser
oferecida no Dia da Expiação, nem a do dia do dia
Expiação no sábado”.68 – Ênfase acrescentada
Perceba que uma nota posterior ao IV século d.C., adiciona à
Mishna uma informação importante, que os dias só foram fixado
depois do calendário ser organizado (358/359 d.C), antes porém, o
dia da expiação poderia cair num sábado, numa véspera de sábado
ou em qualquer dia da semana.

66
ibid., p. 1399
67
ibid., p. 182
68
ibid., p. 220
52 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

Permanece conforme decretado por R. Joshua b. Levi:


se o dia da expiação cair num dia de sábado, a
menção do sábado deve ser feita mesmo na oração de
Neilah (a última das quatro orações diferentes do Dia
da Expiação). Por quê? Porque o sábado e o Dia da
Expiação são agora um, e quatro orações são
indispensáveis para os cultos do dia.69 – Ênfase
acrescentada
Caso o dia da expiação caísse no sábado, prevalecia a regra de
ambos, e as orações de ambos seriam unificadas. Diferente da
citação da página 729 do Talmud feita no início do capítulo, que
afirma que se o sábado e a lua nova se sobreporem, o sábado
engoliria a lua nova, e seriam mantidos os rituais do sábado, e algum
ainda sustentavam nem mesmo mencionar a lua nova. Aqui, o
sábado e o dia da expiação se fundiam e se tornavam um só.
MISHNA: O Lulab e o salgueiro para cercar o altar às
vezes eram usados em seis dias, e às vezes em sete
dias do festival. O Hallel e a comida das ofertas de
paz ocorriam em oito dias. A habitação em Succah e o
derramamento de água duravam sete dias, e as gaitas
eram tocadas às vezes cinco, às vezes seis dias. Em
que caso era o Lulab usado em sete dias? Quando o
primeiro dia sagrado do festival caía num sábado,
o Lulab era usado em sete dias; mas quando o
primeiro dia do festival caía em qualquer outro dia
da semana, o Lulab era usado apenas seis dias. Em
qual caso era o salgueiro usado em sete dias? Quando
o sétimo dia do salgueiro caía num sábado, o
salgueiro era usado sete dias; mas quando o sétimo
dia caía em qualquer outro dia da semana, o
salgueiro era usado apenas seis dias. Como era a
ordem para cumprir o Lulab quando o primeiro dia
santo do festival caía num sábado? Era costume que
todo homem trouxesse o seu Lulab ao Monte do
Templo, onde era recebido por inspetores, que o
depositavam numa galeria. Os anciãos colocavam o
deles numa câmara separada, e as pessoas eram
ensinadas a dizer: quem se apoderar do meu Lulab,
seja ele como um presente. Na manhã seguinte, as
pessoas chegavam cedo; os inspetores lançavam todos
os Lulabs antes deles; cada homem apanhava um, e
muitas vezes acontecia que eles se machucavam.
Quando o Beth Din via que as pessoas estavam
expostas ao perigo, ordenava que todo homem usasse

69
ibid., p. 63
7. TALMUD E O CALENDÁRIO LUNAR 53

o seu Lulab em sua própria casa.70 – Ênfase


acrescentada
Claramente, qualquer festa poderia cair num sábado (e a lua nova
também), comprovando acima de qualquer questionamento que o
judeu nunca conheceu esse calendário de sábado lunar pregado e
divulgado pelos DSL.
Não há dúvida que o calendário do sábado lunar, mesmo que
aplicado em alguma civilização perdida na história – o calendário
mais próximo a ele é o calendário Babilônico – jamais passou nem
perto de ser adotado na história judaica. Pode-se concluir, portanto,
que:
1. Qualquer lua nova poderia cair em qualquer dia da semana,
sem exceção
2. A lua nova sempre cairia em algum dia da semana, sem
exceção
3. Não havia qualquer dia que não fizesse parte da semana, sem
exceção
4. O sábado poderia cair em qualquer dia do mês, sem exceção
5. O dia da expiação poderiam cair em qualquer dia da semana,
sem exceção
6. O dia da expiação poderia cair em um sábado, somando as
suas leis
Assim, pode-se afirmar com 100% de certeza, que pelos escritos
judaicos, o calendário do sábado lunar está completamente errado,
sem exceção.

70
ibid., p. 2071
8. QUANDO O CALENDÁRIO JUDAICO FOI
ALTERADO?

Talvez uma das maiores afirmações dos DSL é a prerrogativa de


que o calendário lunar foi, em algum momento da história, alterado
ou adulterado, modificando a semana lunar, para então se adaptar ao
calendário Juliano / Gregoriano. A afirmação é tão enfática, que
chegam a repudiar o termo “perdido” no sentido da semana se perder
na história, tentando deixar claro que a modificação foi uma
adulteração intencional aos princípios bíblicos.
Cabe então questionar quando isso aconteceu, pois se é fato,
então será facilmente encontrado na história tão bem documentada
de um povo tão grande e relevante na história mundial. Para tanto,
podemos dividir nosso estudo em quatro período, que estudados
separadamente, abrangerão todas as possibilidades históricas para
uma suposta mudança do cômputo da semana hebraica:
1. Período pré–romano
2. Período Romano até a destruição do templo
3. Período pós destruição do templo
4. Pós século IV
Assim certamente abrangeremos todas as opções históricas
possíveis para tal mudança, e veremos se há respaldo histórico tal
prerrogativa, ou não passa de, mais uma vez, berros vazios.

1. Período pré–romano
Esse período foi explorado no capítulo “7. Talmud e o calendário
lunar,” vimos claramente que as fontes judaicas / rabínicas mais
8. QUANDO O CALENDÁRIO JUDAICO FOI ALTERADO? 55

antigas, que datam do século IV a.C. Não mencionam sequer uma


possibilidade de mudança no cômputo da semana, apesar de em
momento nenhum dar nem mesmo às mentes mais criativas um
único vislumbre para entender que o calendário dos DSL estivesse
em uso em Israel ou Judá, apesar de apresentar diversas
controvérsias, sobre a semana, nada é apresentado. As raras fontes
arqueológicas judaicas anteriores ao cativeiro babilônico nada
mencionam sobre qualquer alteração semanal, portanto é razoável
supor que se houve uma mudança de cálculo de calendário, essa
mudança não foi pré–exílio, e não logo após o exílio.
Nesse período ainda, os judeus caíram nas mãos dos gregos do
ano 333 a.C., com a agregação pacífica de Jerusalém ao domínio
grego, até 167 a.C., com a libertação Macabéia da mãos do
Selêucidas. É possível afirmar que houve alguma imposição grega
quanto à mudança de calendário nesse período? Definitivamente
não.71
Por mais que a agregação da Judéia ao império greco–
macedônico tenha sido pacífica, não há muitas informações sobre a
Palestina durante o período selêucida até ao reinado de Antíoco IV
Epifânio (175 a.C. - 164 a.C.). Porém em 189 a.C. os selêucida s
perderam a guerra contra Roma, o que resultou na perda da Ásia
Menor e o pagamento anual de 15 mil talentos aos romanos. Um das
formas de conseguir essa quantia foi apoderar-se dos tesouros do
Templo de Jerusalém, tentativa feita por Heliodoro, um dos
ministros de Seleuco IV Filopátor, porém a tentativa foi frustrada
pela reação teimosa e, ao mesmo tempo louvável, dos judeus à
profanação.
Alguns judeus, no entanto, admiravam a cultura helenista, e
desejavam uma integração do judaísmo nesse meio. Em 175 a.C., o
sumo sacerdote Jasão obteve a autorização de Antíoco IV Epifânio
para transformar Jerusalém numa cidade helénica, o que incluiu a
fundação de um ginásio, onde os jovens se exercitavam nus. Não é
nem preciso comentar que isso trouxe indignação e
descontentamento à uma boa parte dos judeus. Em resposta a esta
contestação, Antíoco Epifânio tomou medidas que visavam impor de

71
A narrativa à seguir baseia-se na narrativa de Josefo, História dos Hebreus,
Capítulos 8 a 18.
Porém, por ser uma narrativa extensa, não serão dadas as fontes após cada
citação histórica, a partir daqui só será feito um resumo dos citados capítulos.
56 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

forma coerciva o helenismo. Os judeus passaram a ser obrigados a


fazer sacrifícios em nome dos deuses pagãos e proibidos de praticar
a circuncisão e de observar o Sabbat. No final de 168 a.C., o Templo
de Jerusalém foi profanado com a instalação de uma estátua de Zeus
e o sacrifício de um porco no altar do templo, o que gerou a revolta
generalizada, conhecida como Revolta dos Macabeus, uma chamado
do Sacerdote Matatias contra os Selêucidas. O nome “Macabeus” se
deve ao primogênito de Matatias, Judas Macabeus, que liderou a
revolta após Matatias.
O objetivo da revolta não era romper com a cultura grega, mas
apenas voltar a ter o direito de culto e tradições conforme os antigo
ritos, e por isso, os judeus lutaram até o fim. Após consecutivas
vitórias, cerca de três após a profanação do templo, Judas Macabeus
retoma Jerusalém ao controle dos judeus, purifica e reinicia as
cerimônias judaicas no templo, feito esse que deu origem à festa
Hanuká, da qual o próprio Jesus participou (Joã 10:22).
Roma se tornava potência na Europa nesse período, então Judas
tenta aliar-se a ela e a Esparta. Antíoco Epifânio morreu nessa época
de desgosto a ver seus fracassos costumeiros da vida, e as
consecutivas derrotas em todas as suas fronteiras. 3 a 4 anos depois,
morre também Judas no campo de batalha, e é sucedido por Jônatas,
seu irmão, que também foi designado Sumo-Sacerdote pelos
próprios Selêucidas.
Jônatas reinou 17 anos até que por sua morte, seu irmão Simão
assume o poder por mais 8 anos, expulsa definitivamente qualquer
selêucida de Jerusalém, e inaugura a dinastia dos Asmoneus
Naquele mesmo tempo, numa aldeia da Judéia
chamada Modim, havia um sacerdote da descendência
de Joaribe, nascido em Jerusalém, que se chamava
Matatias, filho de João, filho de Simão, filho de
Asmoneu.72
A dinastia Hasmoneu se inicia com a consolidação do domínio
judeu em Jerusalem. Daqui por diante, os judeus não foram mais
dominados por ninguém até que Roma os torna parte do império
Notemos que até esse momento, os anais da história nem sequer
mencionam qualquer mudança de calendário, mesmo que os
Selêucidas tentassem impor um novo sistema de calendário,
nenhuma de suas imposições não foram bem aceitas no judaísmo,

72
História dos Hebreus, Capítulo 8, § 467
8. QUANDO O CALENDÁRIO JUDAICO FOI ALTERADO? 57

gerando uma revolta e guerra, não há motivo para acreditar em


qualquer adulteração de calendário até aqui.

2. Período Romano até a destruição do templo


Após o estabelecimento da Dinastia dos Asmoneus, os
interessem mudam, e a expansão se torna mais interessante que a
permanência no estado judeu. A expansão foi rápida e acelerada por
quase um século, porém depois da morte de Salomé, governadora e
esposa do falecido Alexandre Janeu, seus dois filhos entram em luta
pelo poder e apelam a Pompeu por ajuda. Pompeu, vendo a
oportunidade, simplesmente entra em Jerusalém e além de tomar
vários utensílios do templo também assume o controle e em 63 a.C.
o reino Asmoneu deixa de existir, a independência judaica é
encerrada, e agora a Judeia passa a ser província romana com
Herodes, o grande, como governador.
Foi assim que a divergência entre Aristóbulo e
Hircano causou tantos males, fazendo-nos perder a
liberdade, sujeitando-nos ao Império Romano e nos
obrigando a entregar o que havíamos conquistado da
Síria pelas armas. A isso devemos acrescentar que
esses novos senhores exigiram de ns, logo depois,
mais de dez mil talentos e transferiram o reino, que
antes sempre pertencera casta sacerdotal, a homens
cujos nascimentos nada tinham de ilustre.73
Nesse momento da história, os DSL gostam de apresentar fontes
que mostram a imposição dos costumes romanos aos povos
dominados, uma dessas “imposições” romanas, que quase não é
comentada, foi o calendário e o ano solar.
É que o caso não era tanto de ciência como de
religião. No computo, ou contagem do tempo pelas
fases da lua, havia muito de crenças religiosas.
Portanto, mesmo informado dengue suas contas e
referências não eram exatas, o homem preferiu insistir
nelas. Demais, que significavam para ele, na uniforme
existência dos dias sossegados, 11 dias em um ano?…
Ridicularias que pouco interessam à multiplicação dos
rebanhos, à chegada dos cardumes e ao
amadurecimento do trigo! Só no decorrer dos
séculos, o império da lei, em todas as nações,

73
História dos Hebreus, Capítulo 8, § 577.8
58 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

determinou a supremacia final do ano solar sobre o


ano de doze meses lunares.74
Ignorando o fato do livro ter chamado os critérios de observação
divina de “ridicularias”, atentando somente aos fatos, o texto diz foi
o calendário do império que se sobressaiu através dos séculos. Logo,
podemos concluir por esse texto que o império impôs seu calendário
e proibiu qualquer outra forma de computo de calendário? Claro que
não, o texto só diz que por influência do império, o calendário
prevalecente foi o imperial, porém nem as fontes dos DSL afirmam
uma imposição. Além disso, mesmo que houvesse uma imposição
desse calendário, a fonte afirma uma imposição sobre os judeus? Se
o motivo da pergunta não ficou clara, é importante ressaltar que os
judeus eram as exceções para todas as regras no império Romano.
Os romanos impunham sua religião, exigiam sacrifícios à César,
construíam templos pagãos em territórios conquistados, mas tudo
isso foi aplicado ao Judaísmo?
Enquanto Pompeu agia rispidamente contra os judeus, Júlio
César, do outro partido romano, adquiriu notável simpatia pelos
judeus, e para com os judeus, Josefo descreve assim:
César, depois de terminada a guerra, veio por mar da
Síria. Prestou grandes honras a Hircano e a Antípatro,
confirmou aquele no cargo de sumo sacerdote e deu a
este a prerrogativa de cidadão romano com todos os
privilégios a ele inerentes.75
Josefo gasta muitas páginas para afirmar e reafirmar a honra e o
prestígio que os judeus receberam de César, dos presentes trocados.
Os privilégio que os judeus recebiam de césar durariam enquanto
uma simples condição se mantivesse em pé:
Depois que César pôs em ordem todos os negócios da
Síria, tornou a embarcar em seu navio, e Antípatro,
depois de o acompanhar, voltou Judéia, onde a
primeira coisa que fez foi reerguer os muros de
Jerusalém. Em seguida, passou por toda a província
para impedir, com os seus conselhos e advertências, as
rebeliões e sedições, fazendo o povo ver que,
obedecendo a Hircano, como era seu dever,
poderia desfrutar em paz todos os seus bens. Mas
se a esperança de obter vantagens nas perturbaes
da ordem os fizesse suscitar revoltas e rebeliões,

74
DONATO, H., História do Calendário, Instituto nacional do livro – MEC,
Editora da universidade da USP, 1976, pág 28. – Ênfase acrescentada
75
História dos Hebreus, Capítulo 15, § 589
8. QUANDO O CALENDÁRIO JUDAICO FOI ALTERADO? 59

eles descobririam que, em vez de governador, ele


seria um senhor muito severo, que Hircano, em vez
de um rei cheio de amor pelos seus súditos, seria
um rei sem piedade, e que César e os romanos, em
vez de príncipes, seriam inimigos mortais e
irreconciliáveis, pois jamais tolerariam que se
suscitassem agitações e mudanças no que haviam
ordenado. Essas palavras de Antípatro tiveram tal
força que produziram uma feliz tranqüilidade. 76
Josefo afirma que os judeus entenderam a mensagem, e
permaneceram em paz nesses termos. Essa simpatia se estendeu à
alianças e decretos que deram privilégios aos judeus, que os faziam
uma exceção à qualquer regra de imposição romana
“Júlio César, imperador, ditador pela segunda vez e
sumo sacerdote. Depois de reunidos em conselho,
determinamos o que se segue. Como Hircano, filho de
Alexandre, judeu de nascimento, sempre nos deu
provas de seu afeto, tanto na paz como na guerra,
como vários generais do exército no-lo demonstraram,
e por ter na última guerra de Alexandria levado por
nossa ordem a Mitridates mil e quinhentos soldados,
não sendo em valor inferior aos outros, queremos que
ele e os seus descendentes sejam perpetuamente
príncipes e sumos sacerdotes dos judeus para
exercer esses cargos segundo as leis e os costumes
de seu país, como também que sejam nossos aliados e
amigos, e que desfrutem todos os direitos e privilégios
que pertencem ao sumo sacerdócio. E, se alguma
divergência surgir com relação à disciplina que se
deve observar entre os de sua nação, seja ele o juiz
e não seja obrigado a dar quartéis de inverno aos
soldados nem a pagar qualquer tributo”.77
Os judeus ficaram livres da tributação para o exército, dever de
todas as províncias romanas, porém não para os judeus, além disso, é
dado carta branca para que os judeus ajam de acordo com as leis e
costumes de seus pais, e não regidos pelas leis e costumes romanos.
Não apenas isso, mas eles ainda receberam isenção de serem
recrutados pelo exército, que era obrigação de todo o império, e
mesmo os tributos anuais, não seriam cobrados no sétimo ano por
causa do ano sabático:
"Caio César, imperador pela segunda vez.
Ordenamos que os habitantes de Jerusalém
76
História dos Hebreus, Capítulo 16, § 593.
77
História dos Hebreus, Capítulo 17, § 597.4.
60 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

paguem todos os anos um tributo, do qual a cidade


de Jope estará isenta, mas que no sétimo ano, a que
eles chamam ano do sábado, nada pagarão, porque
nesses anos eles não semeiam nem cultivam a terra,
nem recolhem os frutos das árvores; que pagarão de
dois em dois anos, em Sidom, o tributo que consiste
em um quarto das sementes e os dízimos a Hircano e
seus filhos, como pagaram os seus predecessores.
Determinamos também que nenhum governador,
comandante de tropas ou embaixador poderá
recrutar soldados ou fazer imposição alguma nas
terras dos judeus, quer quanto aos quartéis de
inverno, quer por qualquer outro pretexto, mas
que eles sejam isentos de todas as coisas e
desfrutem pacificamente tudo o que conquistaram
ou compraram”.78
Aqui é dito claramente que “nenhum governador, comandante de
tropa ou embaixador poderá fazer qualquer imposição nas terras dos
judeus.” Com base nisso, afirmar que os judeus eram obrigados à
seguir as imposições Romanas não passa de um argumento
desesperado. Se os romanos respeitavam até mesmo as raridades da
lei, como o ano sabático, que acontecia a cada 7 anos, como alguém
poderia supor que obrigaram os judeus a mudar a semana que iria
modificar a adoração sabática semanal?
Ditador após ditador, a história se repete e os direitos judaicos
são mantidos
“Ele [Caio César] quer também que as convenções
feitas em todos os tempos entre os judeus e os
sacerdotes sejam observadas e que eles usufruam
todos os favores que lhes foram concedidos pelo
senado e pelo povo romano, o que terá lugar mesmo
com relação a Lida.79
Depois da morte de César, Antônio e Dolabela, que
então eram cônsules, reuniram o senado, fizeram lá
entrar os embaixadores dos judeus e apresentaram o
que eles pediam. Foi-lhes concedido tudo, e
renovou-se por um decreto o tratado de
confederação e de aliança. O próprio Dolabela, tendo
recebido cartas de Hircano, escreveu também para
toda a Ásia, particularmente à cidade de Éfeso, que
era a principal.80

78
História dos Hebreus, Capítulo 17, § 597.9.
79
História dos Hebreus, Capítulo 17, § 597.9.
80
História dos Hebreus, Capítulo 17, § 597.12.
8. QUANDO O CALENDÁRIO JUDAICO FOI ALTERADO? 61

Os diretos dos judeus não foram apenas mantidos, como cada


vez foram ganhando mais e mais destaque, a ponto de que qualquer
um que não os respeitassem, seriam traidores de César.
Os judeus vieram de diversos lugares procurar-nos em
Delos e nos fizeram queixas, na presença de vossos
embaixadores, da proibição que lhes haveis feito de
viver segundo as suas leis e de fazer sacrifícios. Isso
é exercer contra amigos e aliados nossos um rigor
que não podemos permitir, não sendo justo obrigá-
los no que se refere à sua disciplina e impedir-lhes
de entregar o seu dinheiro, segundo o costume de
sua nação, em festins públicos e em sacrifícios, pois
isso lhes é permitido na própria cidade de Roma. E,
pelo mesmo edito com que Caio César, cônsul,
proibiu as assembléias públicas nas cidades, ele
excetuou os judeus. Assim, embora proibamos
essas assembléias, como ele o fez, permitimos aos
judeus continuar as suas, como eles fazem e
fizeram em todos os tempos. Assim, se ordenastes
alguma coisa que fere os nossos amigos e aliados, é
bem razoável que a revogueis em consideração à
sua virtude e afeição por nós”.81
Esse trecho é significante não apenas pelo fato de que restabelece
os direitos judaicos quanto ao império, como reafirma também que
“se ordenastes alguma coisa que fere os nossos amigos e aliados, é
bem razoável que a revogueis em consideração à sua virtude e
afeição por nós.” Isso é, os judeus eram a exceção às regras de
Roma, como poderia alguém afirmar que Roma impôs uma mudança
naquilo que eles tinham de mais religioso, sua forma de contar o
tempo, para situar as suas festas?
Josefo ainda afirma que os judeus não precisavam ir à guerra,
pois no sábado não poderiam pegar em armas, viajar e nem mesmo
cuidar dos alimentos.
Eis o que dizia a carta: "O imperador Dolabela, aos
magistrados, ao conselho e ao povo de Éfeso,
saudação. Alexandre, filho de Teodoro, embaixador
de Hircano, sumo sacerdote, príncipe dos judeus, nos
disse que os de sua nação não podem
presentemente ir à guerra porque nos dias de
sábado as leis de seu país lhes proíbem usar armas,
empreender viagem e até mesmo cuidar do
alimento. Eis por que, tencionando agir do mesmo

81
História dos Hebreus, Capítulo 17, § 597.11.
62 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

modo como agiram os nossos predecessores, em


cuja dignidade estamos, nós os isentamos de ir à
guerra e permitimo-lhes viver segundo as suas leis
e reunir-se como estão habituados a fazer, segundo
a sua religião o determina, a fim de se entregarem
às coisas santas e oferecerem sacrifícios.
Entendemos que o comuniqueis a todas as cidades de
vossa província".82
O trecho termina ainda reafirmando: “e permitindo-lhes viver
segundo as suas leis, e reunir-se como estão habituados a fazer,
segundo a sua religião e determina.” Não há dúvida que não havia
imposição religiosa da parte dos romanos sobre os judeus. Porém o
ponto principal, é a citação nominal do dia de sábado por dois
motivos:
1. O decreto não era endereçado aos judeus, mas aos
magistrados, ao conselho e aos povo de Éfeso, isso é, à
cidadãos romanos de alto cargo
2. O decreto diz que os judeus não poderiam fazer as coisas
habituais nos dias de sábado
Se ainda não ficou claro os dois pontos, pense por um momento:
Todos os romanos sabiam converter o calendário judaico para o
calendário romano a fim de saber quando o sábado judaico cairia na
semana romana? Pois nenhum adendo foi dado para explicar de
quando em quando esse “sábado” ocorreria, mas simplesmente
falado de um modo quase que casual, como se todos estivessem
familiarizados com o termo. A única forma de entender isso, é se a
semana judaica coincidisse com a semana romana, caso o contrário,
uma explicação adicional teria sido feita. Mesmo que isso não passe
de uma suposição, é uma suposição bastante lógica que exigiria uma
boa explicação para ser desvinculada, especialmente somada ao fato
de que não houve qualquer espécie de imposição romana sobre a
religião judaica.
“Cláudio César Germânico, príncipe da República
pela quinta vez, cônsul pela quarta vez, imperador
pela décima e pai da Pátria. […] me agradecido pelo
cuidado que dispenso à vossa nação e me solicitado
com grande insistência a manutenção da guarda dos
ornamentos de vosso sumo sacerdote e da coroa, tal
como Vitélio, que me é muito caro, fez antes de mim,
consenti em seu pedido. Fiz isso tanto por piedade

82
Antiquieties XIV:10.12.
8. QUANDO O CALENDÁRIO JUDAICO FOI ALTERADO? 63

quanto porque acho justo permitir a cada qual


viver conforme a religião de seu país e também pelo
afeto particular que o rei Herodes e o jovem Agripa
têm por mim e pelas vossas necessidades, sendo que
tenho com eles grande amizade.”83
Isso sem contar os inúmeros outros decretos mencionados e não
mencionados por Josefo
Há vários decretos do senado e atos dos imperadores
romanos em favor de Hircano e de nossa nação e
cartas escritas às cidades e aos governadores das
províncias relacionadas aos nossos privilégios. Os que
os lerem sem prevenção não terão dificuldade em
lhes prestar fé. Assim, tendo mostrado com provas
tão claras e tão constantes a nossa amizade com o
povo romano, e sendo que as colunas e as tábuas de
cobre que ainda hoje se vêem no Capitólio são e serão
sempre sinais indubitáveis disso, creio que nenhuma
pessoa sensata delas ainda queira duvidar.84
De fato, não tem como discordar de Josefo nesse ponto, durante
todo o período do segundo templo em que a Judéia foi província
romana, é impossível alguém afirmar que houve qualquer tipo de
mudança. Isso assegura que Jesus guardava o sábado correto em seu
tempo, o sábado do Senhor, e que pelo menos até o ano 70 d.C., os
judeus permaneceram sob a tolerância romana vivendo segundo os
seus costumes e leis, em nada sendo imposta a religião ou calendário
romano sobre eles, uma vez que isso afetaria a religião judaica, e
isso era contra a lei romana.Como afirma M. Goodman,
“os romanos sabiam que os judeus, unicamente entre
os habitantes do império, recusavam prestar culto a
qualquer deus senão o Deus ciumento venerado no
Templo de Jerusalém. Os romanos viam este
comportamento como bizarro, mas não
repreeensível.”85
Por que os romanos seriam assim tão tolerantes com os judeus?
Se houvesse uma coisa que os romanos respeitavam, era uma
tradição. As tradições judaicas, seus rituais e práticas antecediam em
muito a cidade de Roma, quanto mais o Império, o que era uma
justificativa bastante poderosa para os romanos. Josefo descreve isso
extensivamente em The Antiquities of the Jews. Os romanos
83
História dos Hebreus XX: 1: 835.3
84
História dos Hebreus, Capítulo 17, nota de rodapé em § 597.13.
85
GOODMAN, M., Rome and Jerusalem: The Clash of Ancient Civilizations
(London: Allen Lane, 2007), p. 392.
64 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

poderiam ter achado rude ou estranho quando os judeus disseram


que não comeriam o que os romanos comiam ou que não adorariam
nos santuários locais, mas quando esses judeus disseram: “Meu ta–
ta–ta–ta–“x”–taravô, assinou uma aliança perpétua com nosso
Deus para seguir esses costumes”, esses judeus começaram a falar
uma língua que um romano podia entender.86
O cristianismo não tinha tais vantagens. Era uma nova fé e a
maioria dos cristãos eram conversos recentes do mundo cultural
romano que estavam abandonando os costumes de seus antepassados
para assumir essa nova fé que estava mudando a forma como eles
viviam. Um judeu poderia reivindicar homenagear seu contrato
ancestral com seu Deus, o que era perfeitamente aceitável ao
romano, mas um cristão que estava adorando a Saturno e ao
imperador há um mês atrás não tinha isso.
Tibério César, nessa época, defendeu a proibição da pratica de
qualquer culto estrangeiro em Roma, porém isso não chegou a ser
sancionado, e mesmo que fosse, isso só impediria o custo judaico em
Roma, em nada privando a liberdade da religião judaica.87
É certo que mesmo nessa época, houveram algumas insurreições
dentre o judaísmo, havia um seita formada para combater os
romanos, chamados de Zelotes, mas o fato é, que certamente até pelo
menos 70 d.C., não houve uma única imposição religiosa dos
romanos sobre a religião judaica. No ano 70 d.C., no entanto, os
romanos dão um fim à primeira grande insurreição judaica, chamada
de Grande Revolta Judaica, será que o trato romano mudou após
isso?

3. Período pós destruição do templo


Os motivos da rebelião foram, à princípio, religiosos. Mas por
que se os romanos era tolerantes à religião judaica? Ao contrário do
que os DSL gostariam, não foi registrado nenhuma imposição
religiosa no quesito culto ou adoração aos judeus por parte dos
romanos, claro que a relação dos judeus no mundo helênico não
eram só flores, desde o domínio de Alexandre em 333 a.C., os judeus
sofreram constantes pressões do mundo helenista, não imposições,
mas preções tanto internas, dos simpatizantes, quanto externar, do
meio em que viviam, mas novamente, os romanos não impuseram,
86
ESLER, Community and Gospel in Luke–Acts, p. 215.
87
Suetónio, A Vida de Tibério César, XXXVI.
8. QUANDO O CALENDÁRIO JUDAICO FOI ALTERADO? 65

pois sabiam por experiência que qualquer imposição sobre assuntos


religiosos resultaria em guerras. A revolta estourou por que por volta
de 66 d.C., o procurador da Judéia, Géssio Floro, após muitas
arbitrariedades, pediu 17 talentos do tesouro do templo. Há muito, os
radicais Zelotes procuravam uma chance de conclamar o povo contra
Roma, e alguns aos poucos aderiam à seita, e essa cobrança foi o
estopim. Os judeus começaram a fazer uma revolta para o
“pobrezinho Floro” em forma de chacota, e Floro reagiu entregando
a seus soldados uma parte de Jerusalém para ser saqueada, o que
resultou numa carnificina. Josefo não escondia seu desprezo por
Floro, ao falar sobre os Zelotes, Josefo diz que “essa invencível
firmeza [dos Zelotes] aumentou ainda pela maneira ultrajosa como
Géssio Floro, governador da Judéia, tratou a nossa nação e a levou
por fim a se revoltar contra os romanos.”88
O cerco iniciou com Vespasiano, o rabino fariseu Yochanan ben
Zakkai previu que os judeus não poderiam ser vitoriosos em sua luta
desesperada contra Roma; Ele estava determinado, no entanto, que o
judaísmo não deveria perecer, mesmo que o Estado judeu e o Templo
fossem destruídos. Enquanto Jerusalém estava sob cerco, Yochanan
foi incapaz de receber permissão para deixar a cidade. Ele, portanto,
foi levado por seus alunos para fora de Jerusalém em um caixão,
presumivelmente para o seu enterro. Uma vez fora da cidade,
Yochanan foi ver Vespasiano e pediu ao general Romano que
dispensasse a cidade de Yavneh na costa do Mediterrâneo,
juntamente com seus estudiosos. De acordo com uma tradição
talmúdica, Yochanan previu a Vespasiano que ele logo seria
escolhido imperador, e quando isso se tornou realidade, Vespasiano
concedeu ao rabino seus pedidos. Este foi um ponto de viragem na
história judaica, pois nesta cidade sem importância de Yavneh,
Yochanan estabeleceu uma academia que teve imensa influência,
sendo assim a única seita a sobreviver ao cerco de Jerusalém.
Quando Vespasiano partiu para Roma para assumir o império e
finalizou o cerco momentaneamente, trouxe uma falsa sensação de
vitória aos judeus de Jerusalém, ele deixou o exército sob
responsabilidade de seu filho, Tito. No final de 69 d.C., Tito trouxe
suas catapultas, torres de cerco e exércitos para as muralhas de
Jerusalém. Eles destruíram a muralha exterior e depois a segunda

88
História dos Hebreus XVIII: 2: 760.5
66 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

parede interna. Então ele colocou um forte cerco que causou fome e
pestilência de raiva em toda a cidade.
Enquanto isso, os generais judeus dentro da cidade lutavam entre
si, matando-se por conflitos internos e desespero pela fome e doença.
Finalmente, os romanos apertaram o cerco ainda mais, e até a
primavera de 70 d.C., eles já estavam na última parede. O muro
finalmente caiu no mês de Tammuz. Os romanos atravessaram a
cidade, mas enfrentaram uma resistência incrivelmente feroz e
sofreram enormes vítimas dos guerreiros desesperados, porém,
seguiram em frente até cercarem a Fortaleza de Antonius, que
guardava o Templo.
Tito era um amante da arte, e pretendia manter o templo erguido,
dando ordens para que o Templo não fosse derrubado, porém Josefo
narra que
Quando todos aqueles soldados chegaram ao Templo
fingiram não entender as ordens que o imperador lhes
dava. Os que estavam atrás exortavam os mais
adiantados a pôr fogo e não restava então aos
revoltosos nem uma esperança de poderem impedi-
lo.89
Um soldado, então, sem para isso ter recebido ordem
alguma, e sem temer cometer um horrível sacrilégio,
mas, como levado por inspiração divina, fez-se
levantar por um companheiro e atirou pela janela de
ouro um pedaço de madeira aceso no lugar pelo qual
se ia aos edifícios, ao redor do Templo do lado do
norte. O fogo ateou-se imediatamente; em tão grande
desgraça, os judeus lançavam gritos espantosos.
Corriam procurando apagá-lo e nada mais os obrigava
a poupar suas vidas, quando viam desaparecer diante
de seus olhos aquele Templo que os levava a poupá-
las pelo desejo de conservá-lo.90
Tito foi avisado enquanto descansava, porém nada adiantou
correr e tentar apagar o fogo, estava forte demais, e nem toda a água
que todos os judeus jogavam podia conter as chamas, o fogo foi tão
intenso que até as pedras ficaram em chamas e o edifício colapsou.
O Talmud diz que ele queimou não só no final da tarde do nono da
Av, mas o dia inteiro do décimo.91 A única parte de todo o composto

89
História dos Hebreus XVIII:26:465
90
História dos Hebreus XVIII:26:466
91
De fato, há uma opinião no Talmud de que o dia da destruição deveria ser o
décimo de Av em vez do nono, porque o prédio foi realmente destruído no décimo.
8. QUANDO O CALENDÁRIO JUDAICO FOI ALTERADO? 67

do Templo deixado hoje é o fragmento do Muro Ocidental, que era a


parede do Pátio Exterior até o próprio Monte do Templo.
Quando viu que o fogo não tinha ainda chegado ali,
mas consumia então somente o que estava nas
vizinhanças do Templo, julgou, como era verdade,
que ainda poderia ser conservado; rogou, ele mesmo,
aos soldados que apagassem o fogo e mandou um
oficial de nome Liberal, um de seus guardas, que
desse mesmo pauladas, nos que se recusassem a
obedecer. Mas nem o temor do castigo nem o respeito
pelo general puderam impedir-lhes o efeito do furor,
da cólera e do ódio pelos judeus;92
Eles não conseguiram apagar o fogo e todo o Templo queimou -
junto com milhares de judeus, de acordo com Josefo. Muitos dos
defensores perturbados entraram nas chamas para queimar junto com
o templo. O desespero geral era tão desenfreado que, segundo
Josefo, milhares e milhares de judeus se suicidaram. Este tipo de
comportamento suicida é raro entre o povo judeu e, de fato, foi
realizado principalmente pelos Zelotes, Sicários e Nacionalistas, não
adeptos dos fariseus. Os fariseus estavam dispostos a submeter-se ao
jugo romano porque sentiram assim que o povo judeu sobreviveria.
A descrição de Josefo é penosa e pesada, por isso não será
resumida aqui. Terminado o cerco, Josefo afirma que um milhão e
cem mil judeus morreram, e outros noventa e sete mil homens foram
feitos prisioneiros.93 Muitos dos prisioneiros foram deixados em
Cesaréia, outros seguiram como cortejo de Tito e mortos como
forma de exibição pela vitorio, e outros vendidos como escravos,
porém haviam ricos judeus em Roma prontos para comprar a
liberdade de seus conterrâneos. Concomitantemente a isso, houve
uma revolta contra os judeus em Antioquia por causa de um judeu
chamado Antioco:
Quando a guerra começou e Vespasiano veio por mar
à Síria, eles ali eram muito odiados e então um deles
de nome Antíoco, filho do mais ilustre e do mais
poderoso dos que residiam em Antioquia, acusou seu
próprio pai e a vários outros, na presença de todo o
povo, reunido no teatro de que eles tinham intenção de

No entanto, desde que começou no nono, e por causa da conexão com a destruição
do Primeiro Templo, nessa mesma data, o nono permaneceu o dia memorial para a
destruição de ambos os Templos.
92
História dos Hebreus XVIII:26:466.2
93
História dos Hebreus XVIII:45:498
68 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

incendiar a cidade durante a noite e nomeado alguns


judeus de fora, que ele afirmou serem cúmplices
daquela conspiração.94
Frente a tal infeliz episódio, somado à situação atual da guerra,
seria razoável pensar que nesse momento os judeus perderam seus
privilégios, e passaram a ser cidadãos comuns do império, e
portanto, tiveram que cumprir às práticas idólatras e adotar outras
formas de culto, porém, a história diz algo bem contrário a isso. Os
cidadãos de Antioquia perseguiram os judeus e, com a chegada de
Tito à cidade, rogaram a ele que expulsasse os judeus de lá, pedido
esse negado pelo general, pois Jerusalém estava em cinzas, e os
judeus não teriam mais para onde ir.
Ante a recusa, os habitantes pediram-lhe então que
pelo menos apagasse os privilégios daquela nação das
lâminas de cobre onde estavam gravados. Mas não
lhes concedeu ele nem este segundo pedido e partiu
para o Egito, deixando as coisas em Antioquia, com
relação aos judeus, no mesmo estado em que antes
estavam.95
Mesmo em deplorável situação dos Judeus, Tito não lhes
revogou os privilégios historicamente concedidos pelos romanos, e
mesmo depois da destruição da cidade, e posteriormente de Masada,
a relação dos judeus com o império permaneceu inalterada.
Mais de 100 anos depois, Tertuliano, um produtivo autor da
origem do cristianismo, usa uma frase que ficou muito conhecida, ao
descrever o modo especial com que Roma tratava os judeus,
aplicando a expressão religio licita,96 que significa “religião
permitida” tentando, de alguma forma, incluir o cristianismo na
mesma categoria do judaísmo, no entanto, sem êxito.97
O termo religio licita não era um termo oficial da legislação
romana, e não há nenhum antecedente histórico que indique qualquer
tipo de licitação de religiões estrangeiras dentro do império romano,

94
História dos Hebreus VII:9:510.2
95
História dos Hebreus VII:14:516
96
Tertullian, Apologeticum 21.1.
97
AMES, C., "Roman Religion in the Vision of Tertullian," in A Companion
to Roman Religion, p. 467.
8. QUANDO O CALENDÁRIO JUDAICO FOI ALTERADO? 69

porém, quando aplicado exclusivamente ao judaísmo, seus


antecedentes históricos garantem a validade conceitual do termo.98
Os romanos não respeitavam a religião judaica simplesmente por
que Júlio César fez um decreto que assim deveria ser feito, mas
primeiramente, como já dito anteriormente, pela sua ancestralidade
exceder em muito a própria Roma e o império,99 além do fato de que
mesmo a despeito da guerra, os magistrados romanos não tinha
motivo algum para querer perseguir os judeus em suas práticas
religiosas, sabendo que eles morreriam por elas.100
De fato, Hasselhoff e Strothmann demonstram por um
apanhando de documentos do primeiro ao quarto século que o
judaísmo jamais perdeu o status conceitual de religio licita no
império romano, apesar desse termo não aparecer em nenhum
documento oficial de Roma, o conceito esteve presente desde a
época de Júlio César.101
Em 212, o édito de Caracalla, ou Constitutio Antoniniana, deu o
direito de que todos os judeus livres se tornassem cidadãos
romanos.102 O édito abria esse direito á vários povos, porém havia
uma imensa lista de exceções, que não poderiam se beneficiar do
édito, porém os judeus foram nominalmente descritos como inclusos
nesse direito.
Um fato interessante que corrobora ainda mais a isso, foi que em
249, Décios se tornou imperador de Roma depois de uma vitória

98
ESLER, P. F., Community and Gospel in Luke–Acts: The Social and
Political Motivations of Lucan Theology (Cambridge University Press, 1989,
1996), p. 211
Ver também:
RÜPKE, Religion of the Romans, p. 35;
GRAYZEL, S., ”The Jews and Roman Law," Jewish Quarterly Review, 59 (1968),
pp. 93-117;
Ben Witherington III, The Acts of the Apostles: A Socio-rhetorical Commentary
(Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, 1997), p. 542;
O'KEEFE, J. J., termo "Religio licita," em A Dictionary of Jewish-Christian
Relations (Cambridge University Press, 2005), p. 371.
99
ESLER, Community and Gospel in Luke–Acts, p. 215.
100
RUTGERS, L. V., ”Roman Policy towards the Jews: Expulsions from the
City of Rome during the First Century C.E.," Classical Antiquity 13 (1994), p. 73.
101
HASSELHOFF, G. K.; STROTHMANN, M, "Religio licita?" Rom und
die Juden, Series: Studia Judaica 84, 2017.
102
LIM, R. The Edinburgh Companion to Ancient Greece and Rome: Late
Antiquity. Edinburgh University Press. 2010. p. 114.
70 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

militar, e tinha a intenção de reviver a era de ouro romana, por isso,


assumiu o título e nome de Trajano, restaurando até o Coliseu. 103 A
fim de restaurar a tradição, em 3 de janeiro de 250 ele assinou um
édito que exigia que todo o império oferecesse irremediavelmente
sacrifícios anuais à Jupiter, e ao bem estar do Imperador, porém, os
Judeus foram os únicos nominalmente citados como isentos dessa
obrigação.104
Como os cristãos não foram excetuados, os sacrifícios também se
aplicavam a eles, causando uma eminente perseguição posterior, sob
acusações de traição ao estado e desordem pública, que ficou
conhecida como a perseguição de Décios.105
Isso mostra que 200 anos após a destruição de Jerusalém, os
direitos dos Judeus ainda não haviam sido revogados, e a sua
liberdade de fé, prática e culto permanecia inalterada, e assim
continuou durante todo o império, pois a tradição era algo que os
Romanos entendiam e respeitavam bem.106
Logo, é ilógico pensar que até esse período, teria sido feita
qualquer imposição romana sobre a religião judaica, o que implicaria
numa transposição dos romanos a seus próprios princípios, os
romanos jamais desrespeitariam uma tradição mais antiga que eles
mesmos. Assim certamente não houve qualquer mudança nos
direitos judaicos até o século III, qualquer DSL que queira
argumentar alguma mudança, não poderia argumentar essa mudança
sob imposição romana, então teria que apelar à uma mudança
expontânea judaica, pela iniciativa dos próprios judeus, o que não só
seria difícil de acreditar, como impossível de provar.

4. Período pós século IV

103
FREND W. H. C.. The Rise of Christianity. Fortress Press, Philadelphia.,
1984, p. 319. ISBN 978-0-8006-1931-2.
104
CLARKE, G., Third-Century Christianity. In The Cambridge Ancient
History, Volume XII: The Crisis of Empire, edited by Alan Bowman, Averil
Cameron, and Peter Garnsey. Cambridge University Press. 2005 ISBN 0-521-
30199-8.
105
MOSS, C.,. The Myth of Persecution. HarperCollins. pp. 145–151. 2013
ISBN 978-0-06-210452-6.
106
SMALLWOOD, E. M., The Jews Under Roman Rule: From Pompey to
Diocletian : A Study in Political Relations. Brill Academic Publishers. 2001,
p. 539. ISBN 978-0-391-04155-4.
8. QUANDO O CALENDÁRIO JUDAICO FOI ALTERADO? 71

No século IV o senário se reverte, se até aqui o judaísmo era


religio licita e o cristianismo era religio ilicita, com a “conversão”
do imperador Constantino ao cristianismo, que não passou de uma
jogada política, o cristianismo agora não se torna apenas religio
licita mas religio officialis, enquanto o judaísmo foi perdendo poder.
O primeiro passo foi a proibição de casamentos entre judeus e
cristãos através do Sínodo de Elvira, entre 305 e 306.107 O objetivo
foi impedir a mistura do cristianismo com as religiões pagãs, como o
judaísmo nominalmente citados. Nove anos depois, em 315,
Constantino I aplicou várias leis que proibiam judeus de possuir
escravos cristãos ou circuncidar os escravos, 108a conversão ao
judaísmo se tornou proibida, e os judeus não poderiam mais
perseguir antigos judeus conversos ao cristianismo,109 as
congregações judaicas se tornaram restritas, mas os direitos de culto
ainda foram preservadas, assim como o benefício dos sacerdotes,
porém apenas nas áreas determinadas para isso.110 Além disso, o
direito de ir à Jerusalém no aniversário da destruição do templo
também permaneceu.
Com o concilio de Nicéia, em 325, um fim foi posto à
controversa quartodecimal mencionada no capítulo “4. O antigo
calendário judaico: científico ou prático?”, e a partir de agora, os
cristão oficialmente se separaram de vez do judaísmo, não
observando mais a páscoa na mesma data judaica:
“Foi ... declarado impróprio seguir o costume dos
judeus na celebração deste festival sagrado, porque, as
mãos manchadas com o crime, a as mentes desses
homens miseráveis são necessariamente cegas ... Não
tenhamos nada em comum com os judeus, que são
nossos adversários ... evitando todo contato com esse
jeito maligno ... Eles [os judeus], depois de terem
alcançado a morte do Senhor, que está fora de suas

107
GRIGG, Robert, "Aniconic Worship and the Apologetic Tradition: A Note
on Canon 36 of the Council of Elvira", Church History, 45 (4), 1976. pp. 428–433.
108
STEMBERGER, G. Jews and Christians in the Holy Land, A&C Black,
1999, p. 37-38, ISBN 0-567-23050-3.
SCHÄFER, Peter. The History of the Jews in the Greco-Roman World,
Routledge, 2003, p. 182, ISBN 1-134-40317-8.
109
GOLDSWORTHY, A. How Rome Fell: Death of a Superpower, Yale
University Press, 2010, p. 187.
110
GOLDSWORTHY, A. How Rome Fell: Death of a Superpower, Yale
University Press, 2010, p. 187.
72 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

mentes, são guiados não por uma razão sólida, mas


por uma paixão irrestrita, onde a sua loucura inata os
carrega ... um povo tão completamente depravado ...
Portanto, essa irregularidade deve ser corrigida , para
que não possuamos mais nada em comum com os
parricidios e os assassinos de nosso Senhor. ...
nenhum ponto em comum com o perjúrio dos
judeus”.111
Aqui vemos claramente que, por ódio aos judeus, foram os
cristãos que mudaram o cômputo da páscoa, e não os judeus que o
fizeram. A partir do concílio de Nicéia, os cristão passaram a
calcular a páscoa astronomicamente, como já faziam de maneira não
oficial desde o século anterior. Além disso, ainda foi definido que a
páscoa seria sempre num domingo, em comemoração à ressurreição,
bem como adicionar o domingo como o dia de guarda do
cristianismo,112 para distanciar ainda mais do judaísmo, e da bíblia..
Foi só em 339 que pena de morte foi aplicada a qualquer cristão
que se casasse com um judeu, e vice-e-versa, aumentando as tenções
anti-semitas no império, até que em 351 uma pira de livros judaicos
foi feita na pérsia, queimando quase todos os exemplares de
literatura judaica, culminando na revolta judaica contra Contantius
Gallus, cunhado de Constantino II, entre 351 e 352, que permitiu que
cristãos perseguissem pagãos, inclusive judeus, o que gerou os atos
anterior e consequentemente a revolta. Gallus estava em meio à
guerra contra os Sarracenos, mas respondeu a revolta enviando um
general para conter a revolta, destruindo completamente Diocesaréia,
e quase destruindo Tibérias e Dióspolis, duas cidades conquistadas
pelos rebeldes judeus.113
O centro político e religioso agora estava completamente
contrário os judeus, e embora não houvesse uma percepção nominal,
havia o favoritismo ao cristianismo, em que Roma em nada intervir
quando um cristão destruía uma sinagoga, mas punia com a morte se
o judeu fizesse o inverso, e se algum cristão se convertesse ao
judaísmo, todas as suas posses passaram a ser confiscadas a partir de
353. Por isso, alguns judeus passaram a se esconder dos cristãos, e
contra–atacar às escuras.

111
Eusebiu, Life of Constantine Vol. III Ch. XVIII.
112
ibid.
113
LAZARE, B. Antisemitism: Its History and Causes. University of
Nebraska Press. 1995. p. 47.
8. QUANDO O CALENDÁRIO JUDAICO FOI ALTERADO? 73

Com medo dessa perseguição, que entra na história um Rabino


chamado Hillel II, o responsável pela mudança oficial do calendário
judaico no ano 359 d.C.. Ao contrário do que pregam
desonestamente e sem fontes os DSL, apenas afirmando por sua
própria autoridade, o objetivo de Hillel II quando modificou o
calendário não foi adaptar o calendário judaico para o calendário
romano, nem mesmo alterar o calendário judaico para sair dos
padrões bíblicos, mas muito pelo contrário, preservar o calendário
judaico numa situação de perseguição onde o cristianismo romano
ameaçava a tradição judaica, não por imposição, mas por
perseguição física à pessoa judia, não à sua tradição.
Hillel II arquitetou uma forma do calendário judaico “prever” as
fases da lua através da astronomia, e para acabar com 2 problemas:
1. A Diáspora: Desde o retorno do exílio babilônico, os judeus
enfrentavam problemas com o calendário, uma vez quedas
datas todas dependiam da observação da lua em Jerusalém, e
os mensageiros deviam ser rápidos para avisar quando a lua
foi vista em Jerusalém, a maioria das festas passaram a ter
um dia a mais, como forma de garantir que seria celebrada no
dia certo
2. A necessidade de observação relativa: A observação do
ciclo mensal (molad) e por consequência, as festas,
dependiam de muitos fatores, já mencionados no capítulo “4.
O antigo calendário judaico: científico ou prático?” e serão
mais detalhados na segunda seção, no capítulo “1. Como
contar as semanas?” da segunda seção, dentre eles o clima e a
cultura do milho e da cevada.
Com uma previsão astronômica, Hillel II divulgou pelo mundo
judaico uma nova forma de manter o seu mesmo calendário sem
depender do anúncio do sinédrio de quando o ano começaria ou se
haveria intercalação do décimo terceiro mês, assim, todo judeu em
todo mundo saberia exatamente quando o ano começaria, quando
seria cada uma das festas, e qual anos teriam ou não intercalação,
aplicando oficialmente uma regra já conhecida e até aplicada, porém
não oficial entre os judeus, de que a páscoa seria sempre após o
equinócio da primavera, porém dessa vez, através de cálculos
astronômicos que preveriam as estações do ano.
Os meses com 29 ou 30 dias foram definidos quais seriam, e
alguns meses poderiam ter tanto 29 ou 30, dependendo do ano. Além
74 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

disso, quatro regras (dehioth) foram adicionadas e transmitidas por


Hillel II aos judeus:
Estes são os quatro Dehioth (adiamentos):
a. Quando o Molad Tishri ocorre em um domingo,
quarta-feira ou sexta-feira, Rosh Hashaná é adiada
para o dia seguinte.
b. Quando o Molad Tishri ocorre ao entardecer (18h)
ou mais tarde, Rosh Hashanah é adiada até o dia
seguinte. (Ou se este dia é domingo, quarta ou sexta-
feira, até segunda-feira, quinta-feira ou Sabbath por
causa de Dehiah a.)
c. Quando o Molad Tishri de um ano comum cai na
terça-feira, 204 partes após 3 A.M., ou seja, 3d 9h
204p ou posterior, Rosh Hashanah é adiada para
quarta-feira, e, por causa de Dehiah a., adiado para
quinta-feira.
d. Quando, em um ano comum, sucedendo um ano
bissexto, o Molad Tishri ocorre na segunda-feira de
manhã 589 partes após 9 A.M., ou seja, 2d 15h 589p
ou posterior, Rosh Hashanah é adiada até o dia
seguinte.114
Desse modo, a Dehiah cumpriria principalmente os seguintes três
requisitos religiosos: Yom Kippur (Tishri 10) nunca ocorrerá no dia
anterior ou após o sábado e Hoshana Rabbah (Tishri 21) nunca
ocorrerá no sábado.115 Os motivo para isso foram dados diretamente
por Hillel II:
O segundo dehiah impede o Yom Kippur de cair no
dia anterior ou no dia seguinte ao Shabat. Isso é
evitado para que não haja dois dias seguidos em
que é proibido preparar comida ou fazer o outro
tipo de trabalho permitido no Yom Tov. Uma vez
que Yom Kippur é uma semana e dois dias depois de
Rosh Hashanah, Rosh Hashanah não pode cair na
quarta ou sexta-feira para que Yom Kippur não caia
na sexta ou domingo. O segundo Dehiah também
impede Hoshanah Rabbah de cair no Shabat, e nesse
caso, não poderíamos realizar o costume de Arava
e os sete hakofos. Para evitar isso, Rosh Hashanah
não pode cair no domingo.
Há, portanto, três dias, domingo, quarta e sexta-feira,
em que Rosh Hashanah nunca pode cair. Se o molad
cai em um desses dias, então Rosh Hashanah é nidheh
– afastado – até o dia seguinte. No caso do Molad cair

114
SPIER, A., Comprehensive Hebrew Calendar, Feldheim, 1986, p. 12.
115
ibid, p. 15
8. QUANDO O CALENDÁRIO JUDAICO FOI ALTERADO? 75

após o entardecer (18h) do Shabat, terça ou quinta-


feira, Rosh Hashaná é adiado um dia porque é um
moad zoken, e uma vez que isso o colocaria em um
dos três dias em que não pode cair, é empurrado mais
um outro dia. Nesse caso, vemos que Rosh Hashaná
foi adiado dois dias do molad. 116
Os motivos dessas regras adicionais claramente não eram
bíblicos, não passavam de normas que deixariam todos os festivais
confortavelmente distribuídos entre a semana, a fim de que não haja
duas ordens de “nenhuma obra fareis” seguidas, e por isso, as ordens
se concentravam ao redor da proibição do dia da expiação cair um
dia antes, em cima, ou um dia depois do sábado. Vemos claramente
que toda a discussão corria ao redor do dia do mês em que caía o
calendário, e em nenhum momento foi questionado o funcionamento
da semana.
Essa preocupação apenas já garante a impossibilidade de uma
semana judaica que dependesse do mês, caso contrário, toda essa
discussão seria perda de tempo. Já foi comprovado no capítulo “7.
Talmud e o calendário lunar” que Judeu nenhum jamais ouvira falar
uma semana dependente da lua desde o século IV a.C. até o século
IV d.C., e os dehioth confirmam isso, mostrando que uma discussão
só desse teor só faria sentido entre um povo que tivesse uma semana
fixa, que comportaria feriados fixos no mês, porém móveis na
semana, e não o contrário. Isso significa que no século IV d.C., a
semana judaica já era fixa de 7 dias invariáveis.
O Rabi Hai ben Sherira (morto em 1038) é quem descreve o ato
de Hillel II, de fixação do calendário Judaico, e jamais dá a entender
que teria alguma alteração no ciclo semanal judaico.117 Muito pelo
contrário, as afirmações sobre os problemas da transição sempre
giraram em torno do pôr do sol, e nunca do dia da semana. 118 Todas
as fontes primárias desconhecem o suposto fato do ciclo semanal ter
sido alterado no IV século.
Quando finalmente o calendário judaico foi mudado, de prático
para científico, o ciclo semanal não foi alterado. Ajdler não
objetivava tratar especificamente desse tema, mas em seu artigo

116
BUSHWICK, N., Understanding the Jewish Calendar, Moznaim Pub Corp,
1989, p. 80–81.
117
Rabbi Hai Gaon ben Sherira Gaon, Sefer ha-Mikah veha-mimkar /
(Hebrew Edition), 2007
118
ibid. p. 122
76 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

sobre a transição do calendário prático judaico para o moderno


calendário fixo científico por Hillel II, que seguia o ciclo metônico
por conta da perseguição ao Judaísmo no ano 358/369, pelo menos
28 vezes ele afirma e documenta que a semana do calendário juliano
diferia em apenas uma parte do dia da semana do calendário
gregoriano, que era o momento entre o pôr do sol e a meia noite,
sendo assim, o primeiro dia da semana do calendário judaico
começava de 3 a 6 horas antes do primeiro dia do calendário Juliano
(Domingo), que nessa época já estava estabelecida em 7 dias por
causa do cristianismo.119 De Hillel para cá, Ajdler afirma que a única
alteração no calendário foi a adição do já apresentado dehiah que
impedia o molad Tishrei cair num domingo, que ele defende ser um
adendo posterior. Isso significa que tirando esse pequeno detalhe, o
calendário está fixo e inalterado desde o século IV até o presente
momento, e se definitivamente não houve uma mudança no ciclo
semanal até essa data, então, quando houve essa mudança?
Imagine só por um momento que, tomássemos por verdade a
imbecilidade de que Hillel II alterou a semana do calendário judaico,
adulterando o sábado lunar como advogam alguns DSL. Deve-se
lembrar que em meio aos tempos de perseguição, não havia um
grupo de grande maioria dos judeus do mundo concentrados em um
só lugar, e que essa decisão não foi no estilo plebicito onde todos
tiveram direito a voto, apenas foi transmitido os novos parâmetros
unificados para todos. Agora imagine um judeu, ou uma comunidade
judaica recebendo essa informação: “O sábado não será mais sete
dias depois da lua nova, e sete em sete após isso, mas a partir de
hoje, sempre de sete em sete dias, e as festas não serão mais sempre
no mesmo dia da semana, a partir de agora, elas irão se mover pelos
dias da semana.” A pergunta é: Qual judeu, em que lugar do mundo,
teria aceitado isso? Isso seria matéria de primeira página, e causaria
escândalo e alvoroço em todas as comunidade judaicas no mundo
todo, pois estariam cancelando nada mais, nada menos, que o sábado
do Senhor.
O DSL pode perceber, a essa altura, a bobagem que falou e
enfurecido dizer: “Mas eu não disse que foi Hillel II, e nem que
aconteceu de forma abrupta, mas foi mudando gradualmente.”
119
AJDLER, J. J. A Short History of the Jewish Fixed Calendar: The Origin
of the Molad., em: Ḥakirah, the Flatbush Journal of Jewish Law and Thought ,
Vol. 20, 2016, p. 133-190
8. QUANDO O CALENDÁRIO JUDAICO FOI ALTERADO? 77

Muito bem, mas então, em que período da história isso


aconteceu? Mesmo que não haja uma data pontual, certamente
alguém em algum lugar terá mencionado isso, pelo menos um relato
histórico de alguma fonte comentaria isso, então, onde está esse dado
histórico? Quem até o quarto século afirma ou percebeu essa
mudança?
Nothalf disserta sobre todos os textos da idade média
mencionando sobre qualquer detalhe do calendário judaico, e
desconhece qualquer texto que desse uma mera impressão de uma
semana diferente da semana fixa de 7 dias, muito pelo contrário,
ainda faz correspondência entre a semana judaica com a romana
baseado nos textos latins.120
Há, de fato, muitas fontes na internet que afirmam que os judeus
abandonaram seu ciclo semanal para adotar o ciclo semanal
gregoriano, porém, todas essas fontes da internet tem algo em
comum, nenhuma delas apresenta fonte histórica primária, como um
manuscrito, um decreto ou um historiador antigo, e quando
apresentam alguma fonte moderna, ainda é uma citação indireta,
geralmente da Universal Jewish Encyclopedia que por sua vez, se
baseia no artigo “week” ou “sabbath” da Jewish Encyclopedia,
porém, desonestamente omitem o fato mais que estabelecido de se
tratarem de artigos que contém, ou são completamente histórico–
críticos, não esclarecendo que é da parte da Visão Crítica da
enciclopédia, e apelam à autoridade como se esse fosse o ponto de
vista judaico do assunto, como se houvesse alguma fonte primária ou
como se todos devessem acreditar nisso só por que a alta crítica
assim o disse, não se baseia em fatos, mas em comparações e
pressuposições humanistas, comparando o judaísmo à costumes
pagãos, não a fontes primárias, que como já vimos nesse capítulo,
não faz o menor sentido aplicar as regras gerais ao judaísmo.

120
NOTHAFT, C. P. E., Medieval Latin Christian Texts on the Jewish
Calendar: A Study with Five Editions and Translations, BRILL, 2014
9. ERRO HISTÓRICO NO CALENDÁRIO DO
SÁBADO LUNAR

Um problema prático que não se leva em consideração, é que


apesar do calendário do Sábado Lunar parecer bem organizado,
redondinho e fixo, ele parte de uma premissa básica de que as luas
novas estariam sempre visíveis no início de cada mês, mas na
prática, isso é um pouco diferentes.
Abaixo há uma simulação do ciclo sinódico da lua no calendário
dos DSL em tempo aproximado, esse seria um mês normal onde a
lua nova poderia ter sido vista desde as primeiras horas do dia 1, o
que resultaria um mês seguinte de 30 dias, isso é o natural. Os dias
amarelos representam os dias em que cairia a mudança de fase da lua
(é apenas uma simulação), com o horário simulado abaixo, para fins
de cálculo, o dia seguinte é considerado a partir das 18:00h, portanto
é considerado que a lua nova estava visível desde o primeiro
segundo do dia um deste calendário:
9. ERRO HISTÓRICO NO CALENDÁRIO DO SÁBADO LUNAR 79

O mês seguinte, espera-se que seja um mês de 29 dias, já que


esse foi de 30 dias, porém a regra é que a lua fosse vista e
testemunhada por no mínimo 2 pessoas, só aí o mês começaria, isso
significa que: se por qualquer motivo a lua não pudesse ser vista,
automaticamente configuraria um mês de 30 dias.
MISHNA: Se a testemunha for desconhecida, outro
vai com ele testemunhar seu caráter. … Essa
evidência só será aceita vinda de alguém conhecido
(de boa reputação).121
GEMARA: Os Rabbis ensinam: Fogos só serão acesos
para anunciar a lua nova que puder ser vista e for
consagrada no tempo certo (depois do vinte e nove
dia). E quando ele serão acesos? Na véspera do
trigésimo dia. Faça assim.122
Os rabis ensinam: (Se as testemunhas disserem): “Nós
temos visto o reflexo (da lua) na água, ou por um
espelho de metal, ou nas nuvens” seu testemunho não
será aceito… Eles devem ver a lua de novo (antes que
seu testemunho seja aceito? Disse Abayi: “por isso é
dito que se a testemunha disser que viu a lua
acidentalmente, e voltar para procurar e não a puder
ver claramente, sua evidência será sem valor algum.”
Por quê? Porque alguém pode ter visto nuvens brancas
(e pensaram que fosse a lua).123

121
The Babylonian Talmud, Translated by RODKINSON, M. L., Vol. 1-10,
1918, p. 937
122
The Babylonian Talmud, Translated by RODKINSON, M. L., Vol. 1-10,
1918, p. 938
123
The Babylonian Talmud, Translated by RODKINSON, M. L., Vol. 1-10,
1918, p. 939
80 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

Se a lua não for consagrada ao trigésimo dia, o mês se


torna intercalado por si só.124
Independente de que dia fosse, a lua nova só era anunciada se
houvesse duas ou mais testemunhas, e as condições eram muito
restritas, caso ela não fosse consagrada, o mês automaticamente teria
30 dias. Em temporadas de chuvas, seria possível que, com um
pouco de azar, no dia exato da mudança da lua nova não fosse
possível ver a lua por causa do tempo nublado, o que configuraria
um mês de 30 dias, e se no mês seguinte ela não fosse vista de novo,
mais uma vez o mês teria 30 dias, e assim sucessivamente. Se por
qualquer motivo apenas 3 luas novas consecutivas não pudessem ser
vistas, o que seria difícil, mas não impossível, isso resultaria num
quarto mês com no máximo 27 dias, o 28º já seria a lua nova,
causando uma semana de apenas 5 dias de trabalho, seguido de lua
nova sem sábado.
Para ficar mais fácil de entender, os meses abaixo são os
seguintes do mês apresentado na figura acima. A figura da esquerda
é como o mês deveria ser (no calendário dos DSL), e a figura da
direita é como o mês seria caso o dia da lua nova fosse nublado: No
primeiro mês (mês 2 da figura), está tudo normal, mas a falta de
visibilidade faria com que o mês 3 começasse um dia depois do que
deveria.

Com apenas uma lua nublada, o próximo mês já teria um


problema, a lua nova seria no sábado dia 29, e ficaria a questão, esse
dia seria sábado ou já seria lua nova?

124
The Babylonian Talmud, Translated by RODKINSON, M. L., Vol. 1-10,
1918, p. 1683
9. ERRO HISTÓRICO NO CALENDÁRIO DO SÁBADO LUNAR 81

Mas se por acaso esse mês de novo ficasse nublado no período


da lua nova, o problema iria crescendo, e agora a lua estaria nova
logo no início do sábado (21h – lembrando que o dia nessa
simulação começa às 18h).

Mas se por acaso nesse mês (o terceiro consecutivo) a lua nova


novamente estivesse nublada, o problema seria ainda maior:

Resultaria em um mês onde a lua seria nova logo no início do 6º


dia de trabalho, resultando numa semana de 6 dias, seguida de lua
nova sem sábado, então nesse caso, entre o sábado dia 22, e a lua
nova teria apenas 6 dias, e entre o sábado dia 22 e o próximo sábado,
82 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

dia 8 do mês seguinte, 13 dias, fazendo com que o sábado dia 8 fosse
o sábado do 14º dia.
Apesar de não ser um evento deveras comum, também não seria
tão difícil de acontecer, mas resultaria no colapso do calendário do
Sábado Lunar sem nem precisar sair da lógica, a única forma disso
não acontecer, é se o calendário já fosse calculado, e não observado,
isso mostra que o calendário do sábado lunar, na prática, é um
calendário calculado e engessado, apesar do calendário bíblico ser
100% observado. Porém, os argumentos bíblicos começam a partir
do próximo capítulo.
SEÇÃO II
PARTE
TEOLÓGICA
1. COMO CONTAR AS SEMANAS?

A premissa inicial dos DSL, começa em Gênesis 1:14 quando


Deus manda que os astros sejam os responsáveis para sinalizar
estações, dias e anos
Gên 1:14 Disse também Deus: Haja luzeiros no
firmamento dos céus, para faserem separação entre o
dia e a noite; e sejam eles para sinais, para estações,
para dias e anos.
A premissa básica consiste em afirmar que apesar do texto são se
referir a semanas, está subentendido uma vez que a ordem consiste
em sinalizar dias e anos, e o calendário, sendo lunar, marca os anos
através dos meses que são marcados pelas semanas, logo, o texto
implica que os luzeiros devem ser sinais para semanas mesmo que
não fale isso. Para eles, o texto afirma que:
• Apenas as “luzes nos céus” determinam o sábado
• Para determinar o ciclo mensal de sábados requer o uso de
ambos luzeiros celestes – sol e lua.
Por mais bem bolado que pareça essa afirmação, ela não segue
necessariamente. É fato que no calendário adotado pelos primeiros
hebreus, o sol media o ano e as estações, e a lua media as estações e
os meses, mas a premissa erra em afirmar que a lua media as
semanas, o que não é verdade no calendário hebreu em nenhuma
forma. Ao questionar sobre como esta passagem liga diretamente a
lua com o sábado, o DSL começa um jogo de Dodge Ball. Ele deve
fazer isso porque nada nesta perícope liga a lua e suas fases
diretamente ao sábado semanal. Aliás, qual o papel que as estrelas,
1. COMO CONTAR AS SEMANAS? 85

que também são luzeiros, têm sobre os ítens citados o DSL também
não explica, dando apenas uma interpretação seletiva para a
passagem.
Se formos pensar da forma mais lógica possível, veremos uma
nítida relação entre os luzeiros e cada uma das medidas de tempo
citadas no texto, temos 2 luzeiros (Sol e Lua) e 3 medidas de tempo
(Estações, Dias e Anos)
Estações eram medidas tanto pelo Sol quanto pela Lua. O
grande desafio em se construir um calendário era manter os
equinócio e solstícios sempre na mesma época do ano. Vendo essa
problemática, os hebreus adicionavam um décimo terceiro mês ao
ano, chamado de beAdar ou segundo Adar (último mês do ano), que
poderia ter 29 ou 30 dias (Tosephta: Sanhedrin 2:5; Babylonian
Talmud: Sanhedrin 11 a–b), quando o ano estivesse prestes a iniciar
porém as estações ainda não estivessem alinhadas. Por mais que os
motivos listados não tivessem explicitamente ligados à estação, o
motivo era obviamente por causa disso. As fontes antigas
mencionam ao todo 11 razões para a adição do décimo terceiro mês,
seis delas são consideradas razões principais:
1. A imaturidade do milho comestível
2. A imaturidade das árvores frutíferas
3. O afastamento do equinócio
4. O fato dos fornos pascoais ainda não estarem secos
5. O fato de que os judeus da diáspora ainda não chegaram em
Jerusalém
6. O fato das estradas e pontes que levam a Jerusalém precisarem
de reparos após o inverno.
Duas das três primeiras razões deviam se aplicar
simultaneamente afim de que a admissão de um décimo terceiro mês
fosse decretado, e o mesmo pode ser o caso com os outros três.
Quatro razões secundárias também são mencionadas:
7. Que os cabritos ou cordeiros estão muito magros
8. Que as rolas estão muito frágeis
9. Que o tempo está muito frio ou com neve
10. Que os judeus da diáspora não terem sido capazes de se
preparar (Tosephta: Sanhedrin 2:4–6, 12; baraitas e cartas em
Babylonian Talmud: Sanhedrin 11 a–b).
Considera–se que estas apenas servem como razões auxiliares
para a inserção do décimo terceiro mês, mas mesmo se os motivos
86 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

forem apenas estes secundários, como diz o ditado de Raban Simeão


ben Gamaliel II (Tosephta: Sanhedrin 2:2; baraita em Babylonian
Talmud: Sanhedrin 11b), é possível que o decreto de um décimo
terceiro mês seja válido. Finalmente, mais uma última razão para a
adição do décimo terceiro mês é mencionada:
11. Que haja perigo de uma grande parte da nação ser incapaz de
comer a Páscoa por motivos de impureza (Tosephta: Sanhedrin 2:10;
baraita em Babylonian Talmud: Sanhedrin 12a– b).
Mesmo que a estação não seja mencionado explicitamente, o
equinócio aparece como 3º motivo principal, e tanto a neve como a
colheita ainda imatura são resultados do inverno, isso é, a distância
da estação correta, sendo assim, é possível concluir que a adição do
13º mês era para alinhar as estações ao ciclo solar, alinhar o ciclo
luar ao solar. A lua mesmo é mencionada nominalmente como
responsável por calcular estações:
Slm 104:19 Fez a lua para marcar estações; o sol
conhece a hora do seu ocaso.
Porém, nada indica que ela seria responsável por qualquer
cálculo semana.
Dias eram medidos como hoje, tanto pelo sol quanto pela lua.
Disse o SENHOR:
Gên 1:14 Disse também Deus: Haja luzeiros no
firmamento dos céus, para faserem separação
entre o dia e a noite; e sejam eles para sinais, para
estações, para dias e anos.
Gên 1:16 Fez Deus os dois grandes luzeiros: o maior
para governar o dia, e o menor para governar a
noite; e fez também as estrelas.
O sol e a lua foram explicitamente apontados como responsáveis
pelo dia e pela noite, enquanto tivesse sol, dia, e enquanto não
tivesse sol, ou por implicação tivesse lua (apesar de nem todas as
noites ter lua e nem todos os dias não a ter), noite.
A diferença entre a forma de computar dias, está na compreensão
de início e fim. Cada dia no relato da criação termina com a fórmula
“E houve tarde e manhã” (vayah–erev vayah–boqer)
Erev pode significar tanto meio–dia, parte da tarde, entardecer,
quanto toda a parte escura do dia, é um termo bem abrangente, que o
contexto apontaria o melhor significado, bem como boqer, que pode
indicar o um pouco antes do nascer do sol, o amanhecer, a parte da
manhã ou toda a parte clara do dia, mais uma vez sendo melhor
estabelecido pelo contexto, porém ambos em sequência como nas
1. COMO CONTAR AS SEMANAS? 87

finalizações de cada dia em Gen 1 indicam sequência, e como a parte


da tarde de um dia não vem antes da parte da manhã daquele mesmo
dia, a menos que o dia iniciasse ao meio dia, o que não faz sentido
no âmbito observacional (nem semântico), a única interpretação
possível é que erev se referia à parte escura do dia, e boqer à parte
clara, sendo assim a sequência diária é estabelecida desde o primeiro
capítulo da Bíblia como iniciando–se quando começa a parte escura,
e encerrando quando termina a parte clara, dando início a mais um
dia. Muito textos na bíblia confirmam essa contagem de tempo, o
mais claro é:
Lev 23:32 Sábado de descanso solene vos será; então,
afligireis a vossa alma; aos nove do mês, de uma
tarde a outra tarde, celebrareis o vosso sábado.
Claramente, a ordem de repouso deveria ser cumprida “de uma
tarde à outra", isso é, de pôr do sol a pôr do sol, sendo este o marco
de início da tarde. Assim sendo, por mais óbvio que parece, dia e
noite são sinalizados por sol e lua, porém, é importante ter em mente
que conforme Deus instituiu, o dia inicia–se ao pôr do sol, e termina
no pôr do sol seguinte.
Anos são contatos como de costume, com base no sol, mas
também com certa influência da lua, uma vez que a quantidade de
dias que um ano teria dependeria de quantos meses (lunares) este
ano teria, e a quantidade de meses dependia da posição do sol em
relação ao primeiro mês do ano (Abid ou Nissan). A palavra hebraica
para ano (shaneh) deriva precisamente de shana (volta, duplo,
transmutar, repetir, de novo) que pode implica numa volta completa,
podendo até ter aplicação à translação, ou simplesmente início de um
novo ciclo, porém com ligação sintáxica com o sol, já que os
próprios Judeus já sabem sobre solstício e equinócio desde que se
sabe de Judeus...
O texto exclui qualquer outra contagem de tempo que possa ser
feita com sol e lua? Claro que não, a lua era claramente usada para
marcar o início dos meses, apesar do texto não mencionar isso, a
própria palavra hebraica “mês” (hodesh) deriva especificamente de
hadash (nova) que é uma referencia direta à lua nova, indicando o
acontecimento que da início ao mês.
Então temos que indiscutivelmente:
Dia: Sol + Lua
Meses: Lua
Estações: Sol + Lua
88 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

Anos: Sol + Lua


Porém, como são contabilizadas as semanas? Qual desses astros
é responsável pela contagem semanal?
Por mais óbvio que pareça para alguns, e por mais absurdo que
pareça para outros, a semana não depende de astro nenhum no
calendário Bíblico. Veja bem: Um ano se estenderia por 12 ou 13
meses, dependendo da observação da posição solar (por implicação)
em relação com o início do ano.
Um mês estenderia por 29 ou 30 dias dependendo da observação
do aparecimento da Lua Nova, um mês que deveria ter 29 dias dado
o ciclo lunar de aproximadamente 29,5 dias, poderia ter 30 dias por
conta do mal tempo, nublado ou chuvoso, que impedia a observação
da lua nova, causando 2, 3 ou mais meses consecutivos de 30 dias
por falta de observação da lua, seguida por um mês onde havia boa
visualização onde se concertaria a extensão do ciclo lunar com um
mês menor de 29 dias.125
Uma semana poderia ter extensão diferenciada dependendo da
observação de alguma coisa? Pelo que conhecemos de história e
testemunho Bíblico, não!
Semana é shabua' ou shebuah, que é derivado de sheba ou
shi'bah, que significa sete (7)! Dando a entender que se trata de sete
partes, ou seja, sete dias. Não há texto bíblico ou testemunho
histórico que indique qualquer coisa diferente disso. Os relatos
históricos/arqueológicos dos mitos sumérios, dos proto–babilônicos,
e os acadianos são unânimes sobre o reconhecimento de semana de 7
dias desde os dias imediatos ao dilúvio, o que indica que esse
conhecimento precede o mesmo. O consenso entre os assiriologistas,
é que o Gênesis foi um relato copiado dos mitos sumérios, tão
grande a similaridade:
Os mitos mesopotâmicos, então, concordam com
Gênesis: (1) todos os deuses descansaram após a
criação do homem, e (2) todos os deuses descansaram
no sétimo dia, após a criação do homem e (3) O
Eterno separou o sétimo dia para o homem descansar
e no sétimo dia os deuses fizeram o homem

125
BALY, D. The Geography of the Bible. Londres: Lutterworth, 1959. p.
47–52.
Ver também: WACHOLDER, B. Z.; WEISBERG, D. B. Visibility of the New
Moon in Cuneiform and Rabbinic Sources. Hebrew Union College Annual, v. 42,
p. 227–242, 1971. p. 233.
1. COMO CONTAR AS SEMANAS? 89

“descansar”. A partir disso, para mim, Os Hebreus


aplicaram “new twists” aos antigos mitos
mesopotâmicos!126
E após desenvolver a conclusão, duas páginas depois termina:
Provavelmente a origem da religião em nossa espécie
guardava o sétimo dia e observavam a lua e o sol por
causa dos primeiros mitos que alguém contou de
como a vida começou pela criação dos deuses que
viviam no sol e na lua e que teriam criado a
humanidade em sete dias.127
Tamanha é a “coincidência” da origem em comum da adoração
sabática que muitos dos grandes assiriologistas não Cristãos
concordam com a conclusão de plágio,128 isso é claro,
desconsiderando a revelação. O professor Driver falando sobre a
origem do sábado, coloca lado a lado os épicos mesopotâmicos
encontrados até aquele momento e chega a seguinte conclusão:
“É difícil não concordar com Schrader, Sayce e outros
Assiriologistas no tocante à semana de sete dias,
finalizada por um sabbath religioso, como uma
instituição originalmente babilônica. O sabbath, é
verdade, assume um novo caráter religioso entre os
Hebreus; ele foi despojado de suas associações pagãs,
seus rituais e também ganhou finalidades morais e
éticas: Mas originalmente era Babilônico. Se, no
entanto, essa explicação da origem estiver correta,
então é claro que o Livro de Gêneses explica a
santidade do sabbath não historica e
anacronicamente".129

126
Richard S. Hess and David Toshio Tsumura. Editors. "Genesis and
Ancient Near Eastern Stories of Creation and Flood: An Introduction". 1994. pp.
55
127
Richard S. Hess and David Toshio Tsumura. Editors. "Genesis and
Ancient Near Eastern Stories of Creation and Flood: An Introduction". 1994. pp.
57
128
Wilfred G. Lambert. Atra–Hasis: The Babylonian Story of the Flood.,
1999, p. 35.
E.O. James. The Cult of the Mother Goddess., 1994. p. 7.
Alexander Heidel. The Babylonian Genesis., 1994. p. 64. e The Gilgamesh
Epic and Old Testament Parallels.,1946. p. 221
Benjamin R. Foster. From Distant Days, Myths, Tales and Poetry of Ancient
Mesopotamia. 1995. p. 44
129
Authority and Archaeology, Sacred Texts and Profane: Essays on the
Relation of Monuments to Biblical and Classical Literature., p. 312.
90 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

A conclusão é claramente humanista, mas é bastante clara: Assim


como sabemos da realidade do dilúvio baseado em diversas
civilizações que relataram o mesmo evento em diferentes locais,
sabemos da realidade da origem monoteísta e observadora do sábado
das primeiras religiões, e sabemos por eles, que essas mesmas
religiões observavam um sábado em meio a uma semana fixa de sete
dias, o que remete toda essa experiência ao relato da criação de sete
dias.
A. H. Lewis estudou exaustivamente os povos ao redor do
hebreus e escreveu uma das mais reconhecidas e conclusivas provas
que o sétimo dia de uma semana de sete dia era santificado por quase
todos, senão todos, os povos circunvizinhos aos Hebreus na época do
Êxodo e até meados da época de Neemias e Esdras.130
Assim, a semana de sete dias precede até mesmo o Êxodo, não
tendo sido estabelecida por conta da libertação do Egito, mas tudo
indica que antes mesmo do cativeiro os Hebreus já conhecem e
praticassem a semana de 7 dias. Porém, o ciclo lunar nada tem a ver
com o cômputo da semana, sendo essa, derivada unicamente de sete,
e não de qualquer observação feita quer seja na lua, no sol, ou
qualquer outro astro.
O ciclo sinódico da lua é de 29,53 dias,131 o que implica que cada
fase não é de uma semana, mas de 7 dias e 9 horas,132
aproximadamente. Alguém pode argumentar: “Mas o mês também
não é inteiro, nem o ano, o que conta é a observação aproximada!”
Seria verdade, não fosse três pequenos detalhes:
1. Deus jamais ordena que se calcule semana alguma com base
em astro algum, ou nem mesmo dá a entender que astro
algum seria sinal sobre semanas.
2. Se a contagem da semana, dependesse da observação da lua,
o mais lógico seria concluir que o sábado deveria
acompanhar as fases da lua, isso é, um sábado em cada fase
da lua, levando em consideração que cada fase da lua é de
7dias e 9h, a cada 2,6 fases seria necessário o acréscimo de
um dia, o que significa que em média, a cada 5 semanas, a 3º

130
LEWIS, A. H. Biblical Teachings, concerning the Sabbath and the Sunday.
Alfred Centre, N. Y.: The American Sabbath Tract Society, 1888. 140.
131
29 dias, 12 horas, 44 min 2,8 segundos
132
7 dias, 9 horas, 12-13 min
1. COMO CONTAR AS SEMANAS? 91

e a 5º deveriam ter 8 dias, o que não bate nem com o


calendário dos DSL.
3. Sendo a semana de 8 dias tão comum (2 a cada 5), a Bíblia
certamente comentaria sobre as semanas de 8 dias.
Quando se trata de a Lua Cheia (o segundo sábado do mês no
calendário dos DSL) fica ainda mais incerto, com três ou quatro luas
consecutivos a cada mês que parecem estar cheias. Apesar de a Lua
Cheia ocorrer a cada mês em uma data e hora específica, o disco da
Lua pode parecer “Cheio” por várias noites seguidas, se estiver
claro. Isso ocorre porque a percentagem do disco da Lua que aparece
iluminado muda muito lentamente na época da Lua Cheia. A Lua
pode estar 100% iluminada apenas na noite mais próximo ao tempo
do exato da Lua Cheia, mas na noite anterior e na noite posterior, ela
aparecerá 97-99% iluminada, a olho nu é praticamente impossível
notar a diferença. Nos dois dias anteriores e posteriores ainda, o
disco da Lua pode estar de 93-97% iluminado.133
Mas isso não é tudo. A cada 2,7 anos há duas luas cheias em um
mesmo ciclo lunar, a segunda é conhecida como a Blue Moon. A
última foi 21 de maio de 2016. Então como é que o crente normal
poderia saber quando isso vai acontecer? isso para não mencionar
como decidir decidir qual lua cheia é a correta para guardar o
sábado.
Portanto, nem no calendário dos DSL o sábado pode seguir o
ciclo lunar, pois caso o fizesse, dos 48 sábados de um ano de 12
meses, no mínimo 19 sábados não cairiam nos dias 8, 15, 22 ou 29,
além de que absolutamente nenhum mês teria os 4 sábados nos dias
8, 15, 22 e 29. Então o que resta aos DSL é afirmar que apenas um
sábado depende da lua, os outros três são avulsos, logo, a premissa
inicial de “basta olhar para o céu” cai por terra facilmente.
Quando tardiamente os Babilônicos adotaram uma semana que
seguia o ciclo lunar, ainda assim insistiram na semana de 7 dias,
terminando o mês com uma semana de 8 a 10 dias, e atribuíram a
cada dia o nome de um astro, à semelhança com o calendário
defendido pelos DSL é notável. Nada os escritos Bíblicos dão a
entender nada parecido com isso, muito pelo contrário, toda
descrição de dias, apenas os chama por um número (1º dia, 2º dia e
etc…) com exceção do sétimo que tem um nome (sabbath), e não há
133
SKILLING, T. Ask tom: Can a moon rise full but set waning? Chicago
Tribute, Jun 30 2017
92 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

um único texto que indique que o primeiro dia da semana tem a ver
com qualquer uma das fases da lua. Além disso, todo texto que fala
de semana, indica sempre nem mais nem menos que sete dias:
Gên 2:2 E, havendo Deus terminado no dia sétimo a
sua obra, que fizera, descansou nesse dia de toda a sua
obra que tinha feito.
Êxo 16:26 Seis dias o colhereis, mas o sétimo dia é o
sábado; nele, não haverá.
Êxo 20:9 Seis dias trabalharás e farás toda a tua obra.
Êxo 20:10 Mas o sétimo dia é o sábado do
SENHOR, teu Deus; não farás nenhum trabalho, nem
tu, nem o teu filho, nem a tua filha, nem o teu servo,
nem a tua serva, nem o teu animal, nem o forasteiro
das tuas portas para dentro;
Êxo 20:11 porque, em seis dias, fez o SENHOR os
céus e a terra, o mar e tudo o que neles há e, ao
sétimo dia, descansou; por isso, o SENHOR
abençoou o dia de sábado e o santificou.
Êxo 23:12 Seis dias farás a tua obra, mas, ao sétimo
dia, descansarás; para que descanse o teu boi e o teu
jumento; e para que tome alento o filho da tua serva e
o forasteiro.
Êxo 31:15 Seis dias se trabalhará, porém o sétimo dia
é o sábado do repouso solene, santo ao SENHOR;
qualquer que no dia do sábado fizer alguma obra
morrerá.
Êxo 31:17 Entre mim e os filhos de Israel é sinal para
sempre; porque, em seis dias, fez o SENHOR os céus
e a terra, e, ao sétimo dia, descansou, e tomou alento.
Êxo 34:21 Seis dias trabalharás, mas, ao sétimo dia,
descansarás, quer na aradura, quer na sega.
Êxo 35:2 Trabalhareis seis dias, mas o sétimo dia vos
será santo, o sábado do repouso solene ao
SENHOR; quem nele trabalhar morrerá.
Lev 23:3 Seis dias trabalhareis, mas o sétimo será o
sábado do descanso solene, santa convocação;
nenhuma obra fareis; é sábado do SENHOR em todas
as vossas moradas.
Deu 5:13 Seis dias trabalharás e farás toda a tua obra.
Deu 5:14 Mas o sétimo dia é o sábado do SENHOR,
teu Deus; não farás nenhum trabalho, nem tu, nem o
teu filho, nem a tua filha, nem o teu servo, nem a tua
serva, nem o teu boi, nem o teu jumento, nem animal
algum teu, nem o estrangeiro das tuas portas para
dentro, para que o teu servo e a tua serva descansem
como tu;
1. COMO CONTAR AS SEMANAS? 93

Além de tudo, o sábado do 7º dia é claramente diferenciado das


festas na descrição de Lev 23 pela nomenclatura sabbath hu
leYHWH – Sábado do SENHOR, essa expressão aparece na Bíblia
apenas 6 vezes (com pequenas variações), duas vezes na primeira
menção ao sábado (subst. sabbath) na Torah, no episódio da entrega
do maná (Êxo 16:23 e 25), duas vezes na descrição dos
mandamentos (Êxo 20:10 e Deu 5:14), uma vez na introdução das
festas (Êxo 23:3), esclarecendo a primazia e diferenciação do sábado
em relação às festas, e a ultima vez é no mesmo capítulo, ao finalizar
as festas (Lev 23:38), para estabelecer e relembrar que o sábado não
é uma festa comum, cada uma das festas dependem da lua, pois estão
fixas no mês, o sábado, no entanto, não é apresentado no capítulo ou
em qualquer outro texto nas escrituras como dependendo de mês ou
lua, mas apenas de uma contagem fixa de 7 (Lev 23:3), além de ser
dado o motivo correto também, o fato de Deus ter criado o mundo
em seis dias, e descansado no sétimo!
Por (1) falta de qualquer testemunho bíblico que indique
qualquer tipo de observação de sol, lua ou de qualquer fenômeno
natural, (2) a falta de testemunho bíblico em relação à uma semana
que não seja de exatos 7 dias, (3) além da somatória dos testemunho
histórico que indicam uma semana de sete dias precedente ao Êxodo,
e (4) diversos textos que firmam a semana em sete dias exatos
independente de qualquer astro ou observação, não há motivos para
pensar que o uso Bíblico de uma semana seja qualquer coisa
diferente à exatamente sete dias, independente de qualquer outro
fator.
2. QUANTO TEMPO NOÉ PASSOU NA ARCA

O livro de Gênesis mostra que ante mesmo de haver calendário


organizado, já era possível computar o tempo, e que essa forma de
computar o tempo era exatamente igual a forma que o povo de Israel
usa mais tarde. Por exemplo
Gên 7:11 No ano seiscentos da vida de Noé, aos
dezessete dias do segundo mês, nesse dia romperam–
se todas as fontes do grande abismo, e as comportas
dos céus se abriram,
Gên 8:4 No dia dezessete do sétimo mês, a arca
repousou sobre as montanhas de Ararate.
Moisés garante que o dia que as chuvas do dilúvio começaram
foi o 17º dia do segundo mês, e o dia que que a arca chegou ao
Ararate foi exatamente o 17º dia do sétimo mês, assim fica fácil de
saber que o período total desde o início da chuva foi de cinco meses,
7 – 2 = 5, ou:
17º dia do 2º mês – Início
17º dia do 3º mês – 1 mês
17º dia do 4º mês – 2 meses
17º dia do 5º mês – 3 meses
17º dia do 6º mês – 4 meses
17º dia do 7º mês – 5 meses
De acordo com o calendário dos DSL, 5 meses equivale a um
período de 145 dias mais 2 ou 3 dias adicionais, resultando em 147
ou 148 dias inescapavelmente. O problema é que na descrição do
dilúvio, Moisés se preocupa em ainda repetir esse tempo, mas de
uma forma diferente:
2. QUANTO TEMPO NOÉ PASSOU NA ARCA 95

Gên 7:24 E as águas durante cento e cinqüenta dias


predominaram sobre a terra.
Aqui é possível interpretar de duas formas diferentes:
1. Os 5 meses e os 150 dias se referem ao mesmo período de
tempo
2. Os 5 meses e os 150 dias se referem a eventos diferentes
Se 1 for verdadeiro, então Moisés chama de “águas
predominarem sobre a terra” desde o primeiro dia que começou a
chover, até o momento que a arca repousa sobre o Ararate. Em
suporte a esse ponto de vista pode-se citar que o que Moisés chama
de “águas predominarem sobre a terra” é o fato de estar chovendo e
nenhuma porção de terra ser visível:
Gên 7:17 Durou o dilúvio quarenta dias sobre a terra;
cresceram as águas e levantaram a arca de sobre a
terra.
Gên 7:18 Predominaram as águas e cresceram
sobremodo na terra; a arca, porém, vogava sobre as
águas.
Gên 7:19 Prevaleceram as águas excessivamente
sobre a terra e cobriram todos os altos montes que
havia debaixo do céu.
Se esse ponto de vista estiver correto, e 150 dias são sinônimos
de 5 meses, então 150 ÷ 5 = 30 dias em média (ou exatamente) cada
mês. Se 1 for verdadeiro, o calendário lunar não se encaixa de
modo algum, pois cada mês teve 30 dias sem exceção.
Se 2 for verdadeiro, então 5 meses (147/148 dias) foi o tempo
desde a chuva iniciar até a arca repousar sobre o monte Ararate, e
150 dias foi o período que as águas prevaleceram sobre a terra,
conforme os textos bíblicos. Nesse caso, seria necessário definir o
que significa a expressão “prevaleceram sobre a terra” que poderia
significar apenas três coisas:
a. O período de tempo desde o instante que as águas cobriram o
mais alto monte até o momento e que os primeiros montes
apareceram
b. O período de tempo total desde o dia que começou a chover
até a água voltar ao nível normal.
c. O período de tempo desde que a chuva começou até a terra
começar a aparecer novamente.
Se a for verdadeiro, então, tendo os 5 meses terminado de 2 a 3
dias antes dos 150 dias, a arca teria repousado sobre o monte Ararate
96 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

antes dele ter sido descoberto pela água, e como estamos falando de
uma arca e não de um submarino, então a não pode ser verdadeiro.
Se b for verdadeiro, então os 5 meses e os 150 dias começam no
mesmo dia, é portanto, necessário admitir que as águas do mundo
todo voltaram ao nível normal, isso é, foram absorvidas pela terra,
em 2 a 3 dias desde o momento em que a arca repousou sobre o
Ararate. Levando em consideração que o atual Ararate está 5.137 m
acima do nível do mar, e toda a água deve ter sido absorvida em, na
melhor das hipóteses, 72 horas, o nível da água teria que baixar na
melhor das hipóteses 71,4 metros por hora, 1,2 metros por minuto, 2
centímetros por segundo, o que é geológica e fisicamente
improvável, alem de geral uma era glacial instantânea na terra.
Portanto, muito provavelmente b não pode ser verdadeiro.
Se c for verdadeiro, então 150 dias só pode se referir ao mesmo
período de tempo dos 5 meses, pois a arca não poderia ter repousado
sobre o monte 2 a 3 dias antes da terra começar a aparecer, de novo,
é uma arca, não um submarino, e assim, 1 é verdadeiro, e portanto,
o calendário dos DSL é falto.
Portanto, na melhor das hipóteses, os DSL devem se apegar à
maior das improbabilidades para não admitir o mais provável, que o
seu calendário é falso.
3. A SEMANA DE ÊXODO 16

Em seu livro on-line, Arnold Bowen e Matthew Janzen134 dizem:


Para confirmar ainda mais o que afirmamos até agora,
podemos saber que o sábado semanal foi no 15º dia do
segundo mês devido ao cair do pão. Lembre-se, o pão
foi entregue pela manhã, na manhã do 16 (Êxodo 16:
1, 4–5, 13). Nós também sabemos que veio por seis
dias consecutivos dos versículos 4-5. Quando
contamos consecutivamente, é isso que nos
encontramos.
• 16º = primeiro dia de maná
• 17º = segundo dia de maná
• 18º = terceiro dia de maná
• 19º = quarto dia de maná
• 20º = quinto dia de maná
• 21º = sexto dia de maná
• 22º = dia do sábado
Sabendo que o pão começou no dia 16 e durou seis
dias, saberemos com certeza que o dia do sábado
ocorreu no dia 22 do mês, o que, por sua vez, teria que
significar que os dias 8, 15, 22 e 29 eram Sabbaths
também. Agora começamos a ver por que a o
SENHOR mencionou especificamente o 15º dia do
mês no início da narrativa.
Teria sido tudo muito bem se não estivesse faltando alguns
textos-chave, curiosamente, a maioria das pessoas deixa isso passar.
Vejamos o Êxodo 16, linha por linha:

134
BOWEN, A.; JANZEN, M. PROOF: Weekly Sabbath Days Are
Determined by the Moon, 8 ed. Ministers of the New Covenant. 2013, p. 21
98 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

Êxo 16:1 Partiram de Elim, e toda a congregação


dos filhos de Israel veio para o deserto de Sim, que
está entre Elim e Sinai, aos quinze dias do segundo
mês, depois que saíram da terra do Egito.
Sabemos que era o 15º dia do mês e que chegaram ao Deserto de
Sim. Havia cerca de dois milhões de pessoas que chegam para fazer
acampamento, assumir que todos os eventos no Êxodo 16:1–9
aconteceuram em uma única noite é um pouco ridículo, mas vamos
supor que foi esse o caso só para não acabar com o argumento logo
de cara.
Êxo 16:2 Toda a congregação dos filhos de Israel
murmurou contra Moisés e Arão no deserto;
Aqui no versículo 2, não há nenhuma indicação de que este
resmungo das pessoas tenha ocorrido no mesmo dia, o 15º, mas
vamos continuar assumindo que foi isso que aconteceu.
Êxo 16:3 disseram-lhes os filhos de Israel: Quem nos
dera tivéssemos morrido pela mão do SENHOR, na
terra do Egito, quando estávamos sentados junto às
panelas de carne e comíamos pão a fartar! Pois nos
trouxestes a este deserto, para matardes de fome toda
esta multidão.
Este versículo é apenas uma declaração de exatamente o que as
pessoas estavam resmungando. Não contém informações sobre o
tempo ou a data.
Êxo 16:4 Então, disse o SENHOR a Moisés: Eis que
vos farei chover do céu pão, e o povo sairá e colherá
diariamente a porção para cada dia, para que eu ponha
à prova se anda na minha lei ou não.
Êxo 16:5 Dar-se-á que, ao sexto dia, prepararão o que
colherem; e será o dobro do que colhem cada dia
Nestes versos, temos o SENHOR conversando com Moisés,
dizendo a Moisés o que Ele vai fazer. Esta é apenas uma discussão
sobre o que vai acontecer.
Êxo 16:6 Então, disse Moisés e Arão a todos os filhos
de Israel: à tarde, sabereis que foi o SENHOR quem
vos tirou da terra do Egito,
Êxo 16:7 e, pela manhã, vereis a glória do
SENHOR, porquanto ouviu as vossas murmurações;
pois quem somos nós, para que murmureis contra nós?
Êxo 16:8 Prosseguiu Moisés: Será isso quando o
SENHOR, à tarde, vos der carne para comer e, pela
manhã, pão que vos farte, porquanto o SENHOR
ouviu as vossas murmurações, com que vos queixais
contra ele; pois quem somos nós? As vossas
3. A SEMANA DE ÊXODO 16 99

murmurações não são contra nós, e sim contra o


SENHOR.
Agora, temos Moisés de volta ao acampamento, conversando
com Arão e o povo. Mas é certo que todos os eventos nos versículos
6–8 não podem estar acontecendo na mesma noite, pois no versículo
7, Moisés diz “pela manhã, vereis a glória do SENHOR”, no
hebraico diz: “uboqer ura`hitem et-qabôd YHWH” literalmente: “e
manhã será vista a glória do SENHOR” o verbo usado para dizer
que a glória do SENHOR será vista é o verbo ra’ah indicando algo
futuro, a manhã seguinte, informação que será muito útil a seguir.
No versículo 8, o que está acontecendo é o seguinte: Moisés está
dando instruções a Arão sobre o que dizer às pessoas. Veja que no
versículo 9, que lemos em seguida, confirma que Moisés estava
dando instruções a Arão. Então, até agora, assumimos que ainda é
dia 15, vamos ver o que acontece:
Êxo 16:9 Disse Moisés a Arão: Dize a toda a
congregação dos filhos de Israel: Chegai-vos à
presença do SENHOR, pois ouviu as vossas
murmurações.
Veja, aqui no versículo 9, Moisés ainda está conversando com
Arão, dizendo a Arão que vá reunir o povo, pois o SENHOR já
ouviu suas queixas. Observe que, enquanto Moisés diz a Arão para
“ir reunir as pessoas”, não há informações de tempo na declaração
para determinar quando Arão deve fazer isso. Mas, o tempo é
imediatamente esclarecido no próximo verso:
Êxo 16:10 Quando Arão falava a toda a congregação
dos filhos de Israel, olharam para o deserto, e eis que
a glória do SENHOR apareceu na nuvem.
Agora sabemos sem sombra de dúvida que é na manhã seguinte.
Arão reuniu o povo, e aqui está a glória do SENHOR aparecendo em
uma nuvem, o texto hebraico diz assim: “hinneh kabôd YHWH
nira’ah”, a conjunção “hinneh” não é meramente “eis” como na
versão portuguesa, é uma exclamação enfática como “olha lá!”,
olhar o que? “kabôd YHWH nira’ah” literalmente: “A Glória do
Senhor é vista (apareceu)” o verbo usado para dizer que a glória do
SENHOR é vista é o verbo ra’ah, o mesmíssimo verbo usado no
verso 7, porém agora indicando algo presente, “olha lá, a glória do
SENHOR é vista aqui agora!”, exatamente como Moisés havia dito
que aconteceria na manhã seguinte no verso 7. Então, o verso 10 é
indubitavelmente a manhã falada no verso 7, a manhã do dia 16 (de
acordo com a nossa suposição de que as pessoas montaram
100 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

acampamento, resmungaram, Moisés falou com o SENHOR, depois


com Arão, depois com o povo todo na mesma noite do dia 15).
Êxo 16:11 E o SENHOR disse a Moisés:
Isto é, o SENHOR falando com Moisés da nuvem naquela
manhã. Ele diz:
Êxo 16:12 Tenho ouvido as murmurações dos filhos
de Israel; dize-lhes: Ao crepúsculo da tarde,
comereis carne, e, pela manhã, vos fartareis de
pão, e sabereis que eu sou o SENHOR, vosso Deus.
Observe que o SENHOR diz que esta noite (“no anoitecer”) eles
terão carne, e na próxima manhã eles terão pão:
Êxo 16:13 À tarde, subiram codornizes e cobriram
o arraial; pela manhã, jazia o orvalho ao redor do
arraial.
Moisés não apenas disse ao povo que na manhã seguinte eles
experimentariam a glória de o SENHOR, mas desta vez, quando o
SENHOR chegou em uma nuvem na manhã seguinte, o dia 16, Sua
glória (não apenas como uma nuvem) era visível para todos. Então, o
próprio SENHOR (através de Moisés) disse ao povo que eles teriam
pão na manhã seguinte, e as codornas chegavam na noite do dia 16
para 17 e, na manhã seguinte, o 17º dia do mês, o maná chegou
pela primeira vez! Mesmo fazendo todas as concessões, é
impossível colocar o mana no 16º dia como os DSL gostariam que
acreditássemos.
Já prevendo o resultado da lógica inescapável, alguns DSL lerão
Êxo 16:7 e 10 e concluirão com base no verso 8 que a “glória do
SENHOR” é o maná que apareceu na manhã, e portanto, assumem
que era a manhã do dia 16. O problema é que:
1. No hebraico do verso 8 não diz: “Prosseguiu Moisés: Isso
será quando o SENHOR, a tarde…”, dando a entender que o
cumprimento do verso 7 é o maná, no hebraico só diz: “Disse
Moisés: Dará o SENHOR a tarde carne…” nada dá a
entender que o verso 8 implica no cumprimento do
aparecimento da Glória do SENHOR.
2. Se a “glória do SENHOR” é o maná, no verso 15 eles
deveriam exclamar: “man-hu’” ou em português “o que é
isso”? por que as pessoas não exclamaram: “Olhe! – Esta
coisa escamosa que permaneceu após a evaporação do
orvalho – é a glória da o SENHOR! É como Moisés disse!”?
Porém essa exclamação só foi feita no verso 10: “hinneh
3. A SEMANA DE ÊXODO 16 101

kabôd YHWH nira’ah”, ou “olha lá, a glória do SENHOR é


vista aqui agora!”, o maná foi até desdenhado pelo povo à
princípio, pois não sabiam o que era, e quando Moisés foi
explicar, ele não disse: “Essa é a Glória do Senhor, conforme
ele havia prometido”, pois a glória já havia sido vista por
todos no dia anterior, ele apenas disse: “Isto é o pão que o
SENHOR vos dá para vosso alimento” (Êxo 16:15)
Nada disso, o que aconteceu é claro. Moisés disse ao povo no
verso 7, que na manhã seguinte do dia 15 eles veriam a “glória de o
SENHOR” (ura`hitem et-kabôd YHWH), e isso é exatamente o que
aconteceu no verso 10, hinneh kabôd YHWH nira’ah – olha lá, a
glória do SENHOR é vista aqui agora! – a todos que estavam
presentes, não apenas como a nuvem que os guiou de dia, mas agora
eles vira a glória do próprio Senhor. Observe que o evento de
coroação foi que o próprio SENHOR veio entre o povo (verso 10 –
um evento geralmente reservado apenas para Moisés) para dizer que
Ele, o SENHOR mesmo, tinha ouvido pessoalmente suas queixas, e
que Ele, Ele mesmo, iria providenciar uma resolução à elas. É uma
aliança! O evento de coroação não era o maná! O maná foi apenas o
resultado da aliança, o meio pelo qual Deus resolveu o problema do
povo.
Os DSL Bowen e Janzen disseram que o maná caiu na manhã do
dia 16. Eles também salientam que caiu por 6 dias contínuos a partir
daí, que neste ponto, eles estão corretos, conforme o verso 5. Mas
uma revisão verso a verso de Êxodo 16:1–13, como acabamos de
demonstrar, revela que o maná não caiu antes do 17:
• 17º dia do mês → primeiro dia de maná
• 18º dia do mês → segundo dia de maná
• 19º dia do mês → terceiro dia de maná
• 20º dia do mês → quarto dia de maná
• 21º dia do mês → quinto dia de maná
• 22º dia do mês → sexto dia de maná (dobrado)
• 23º dia do mês → dia do sábado
Isso significa que indiscutivelmente, o sábado não foi o dia 22
daquele mês, mas o dia 23, o que implica que o sábado anterior não
foi o dia 15, mas 16, o dia que a Glória do Senhor foi vista por todo
o povo. Como se isso por si só não fosse suficiente, só o simples fato
102 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

de o SENHOR ter feito o povo viajar no dia 15135 (Êxo 16:1), e logo
em seguida mandar que eles não viajassem aos sábados (Êxo 16:29)
é um forte indício de que o dia 15 definitivamente não era um
sábado, a menos que mais uma vez o SENHOR estivesse se
contradizendo, conforme pregam os DSL (Para contradição que os
DSL atribuem a Deus, ver o Capítulo 6. A redundância dos dias de
descanso, bem como o capítulo 6.1. A redundância da Lua Nova).
Então:
1. No 15º dia, Moisés garante ao povo que veriam a glória do
SENHOR na manhã seguinte (Êxo 16:7)
2. A glória do SENHOR é vista (nira’ah) na manhã do dia 16
(Êco 16:10)
3. O SENHOR promete mandar codornizes naquela noite – dia
16 – e maná na manhã seguinte – dia 17 (Êxo 16:12)
4. A partir do dia 17, o maná cai por seis dias, portanto até o dia
22 (Êxo 16:5 e 22)
5. O dia seguinte – dia 23 – foi sábado (Êxo 16:23)
Essa é a conclusão lógica da maneira mais rápida, minimalista e
instantânea de ver as coisas, como se o povo todo pudesse se
organizar e todos os eventos acontecessem basicamente ao mesmo
tempo. No entanto, se leva em consideração que saíram do egito
cerca de 600 mil homens a pé (Êxo 12:37),136 sem contar mulheres e
crianças, as melhores estimativas simulam cerca de 2 a 3 milhões de
pessoas,137 seria impossível que todo acampamento fosse montado e

135
Êxo 13:31 diz que era o SENHOR que decidia quando o povo andava ou
parava através do movimento da coluna de fogo de noite e da nuvem de dia. Nee
9:19 garante que essa nuvem/coluna nunca se apartou deles, e Num 9:17 afirma
que o povo seguia o movimento da nuvem, então se o povo viajou no dia 15, foi
porque o SENHOR os mandou fazer.
136
Esse número bate com os números dos dois recenseamentos feitos em
Israel posteriormente em Num 1:46 e 26:51)
137
BRIGHT, J., História de Israel, Nova Coleção Bíblica, n°7, 2 edição,
Paulinas, São Paulo 1981, pág.170-174.
Os número apresentado no Êxodo têm sido questionados pela crítica, pois até
a saída do Egito foram 430 anos (Êxo 12:40; Ato 7:6 e Gal 3:17), porém os dois
textos do Novo Testamento confirmam que esse cálculo começa em Abraão e não
no cativeiro (também confirmando por Joséfo Ant. II, XV, 2) o tempo de cativeiro
seria cerca de 150 anos apenas, tendo em vista que apenas 66 homens entraram no
Egito (Gen 46:26), cada homem precisaria ter em média 17 filhos homens para que
houvessem 600 mil homens em 3 gerações de 50 anos, ou 6,5 filhos homens em 4
gerações de 37,5 anos., o que é a hipótese mais provável.
3. A SEMANA DE ÊXODO 16 103

desmontado em um só dia, por uma simples conta de matemática,


considerando 2 milhões de pessoas em filas, com 50 filas, teria 40
mil pessoas em cada fila. Se considerar uma distância razoável de
um metro entre cada pessoa (desconsiderando animais e qualquer
bagagem que eles viessem a carregar) teríamos 40 Km de fila, e
supondo ainda que eles andassem muito rápido, quase que fazendo
cooper, cerca de 5 km/h, levaria no mínimo 8 horas para que todo o
acampamento se reunisse em um só lugar, mas como pessoas não
são robôs, eles ainda traziam bagagens, animais e crianças pequenas,
poderíamos colocar um ou dois dias inteiros até que tudo se
organizasse, mas esse cálculo não é necessário, pois mesmo na
melhor das hipóteses, não tem como o sábado ter caído no dia 22 em
Iyar do ano que os Israelitas saíram do egito.
A única contestação possível seria dizer que o verso 1 diz que
toda a congregação chegou antes de iniciar o dia 15, ao pôr do sol do
dia 14, portanto não viajou ao sábado, e todos os acontecimentos se
passam um dia antes. A base para essa tentativa encontra–se na
septuaginta, onde a leitura é a seguinte:
Êxo 16:1 Ἀπῆλαθ ἐι δζδη εαὶ ἤζγκ αθ πᾶ α
υθαΰωΰ υ ῶθ Ι λαβζ μ θ λβηκθ ΢δθ, ἐ δθ
ἀθὰ η κθ δζδη εαὶ ἀθὰ η κθ ΢δθα.
π θ εαδ ε ῃ ἡη λᾳ ηβθὶ υ λῳ
ἐι ζβζυγό ωθ αὐ θ ἐε γ μ Αἰγύπ κυ
Êxo 16:2 δ γόγγυα θ πᾶ α υθαγωγ υἱ θ Ι λαβζ
ἐπὶ Μωυ θ εαὶ Ααλωθ,
A porção em negrito lê–se literalmente assim: “Mas no décimo
quinto dia do mês do segundo desde a saída deles da terra do Egito
murmurou toda a congregação de Israel contra Moisés e Arão.” Ao
intender da LXX, a conjunção afirma o início de uma nova frase,
separando a data da viagem, a conectando à murmuração apenas.
A tentativa é válida, porém é só mais um apelo à ignorância do
leitor. Por mais bem feita que seja a LXX, ela é apenas uma tradução
do texto hebraico, devendo ser usada como confirmação, e não
sobrepondo o significado original do texto. Assim sendo, vale olhar
o texto hebraico a fim de entender se há a mesma compreensão:
Êxo 16:1 ‫־ י‬ ‫־‬ ‫י־י‬ ‫־‬ ‫י‬ ‫י‬ ‫י‬
‫י‬ ‫ח‬ ‫ע רי‬ ‫י י י בח‬ ‫י־ י‬
‫י ׃‬
Êxo 16:2 ‫־‬ ‫־‬ ‫י־י‬ ‫־‬ ‫י ינ‬
‫׃‬
Ao olhar o texto hebraico, pode–se perceber duas coisa:
104 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

Primeiramente, em relação ao texto em negrito do verso 1, a


leitura é a seguinte: “beHamesh asar yom leHodesh sheniy”
literalmente “em cinco décimo dia para mês segundo.” Pode–se
observar pelo significado léxico que a preposição “be” prefixada ao
numeral hamesh (cinco) significa “em, por, com”, em qualquer um
desses casos, indica que foi durante o dia 15, e não antes do início
dele. Vemos isso claramente nos outros sete usos da expressão
“beHamesh asar yom leHodesh” ( ‫ח‬ ‫י‬ ‫ ) ח‬onde 4 vezes
se refere à festa dos tabernáculos (Lev 23:34, 39; Num 29:12; Ele
45:25), 2 vezes à festa dos Pães Ásmos (Lev 23:6; Num 28:17) e
uma vez afirmando que o povo de Israel fugi do Egito no dia 15, o
dia depois da páscoa (Num 33:3), sendo esse último exemplo o pior
para os DSL uma vez que teriam que explicar como pode ter havido
uma viagem em pleno dia 15 ordenada por Deus se isso era
expressamente proibido à Israel, e o próprio Cristo manda que “Orai
para que a vossa fuga não se dê no inverno, nem no sábado” (Mat
24:20). Em nenhum desses casos o dia 15 pode ser entendido como
dia 14 por conveniência, não dando qualquer base para esse
entendimento pelo texto.
Em segundo lugar, do ponto de vista sintáxico, pode–se notar
que não há nenhum tipo de quebra linguística entre a descrição da
viagem e a posição temporal, a frase inteira dos versos 1 e 2 seria
literalmente assim:
“e partiram de Elim e foi toda a congregação dos
filhos de Israel para o deserto de Sin que fica entre
Elim e entre Sinai no ( ) quinto décimo dia para mês
segundo da saída deles da terra do Egito e ( )
murmuraram toda a congregação dos filhos de Israel
contra Moisés e contra Arão no deserto”.
Nota–se que o “décimo quinto dia” é ligado à viagem pela
preposição “be” que significa “em, por, com” ( ‫ ח‬é + ‫ש‬ ָּׁ ִ ‫) ֲח‬
agregando valor à viagem (viajaram no décimo quinto dia), enquanto
o verso 2 inicia–se com o verbo liyn (murmurar) no hiphil 3ª pessoa
masculino plural prefixado com um vav ( ) que é a conjunção “e,
mas, então, assim, portanto” ( ‫ י י‬é + ‫) ִי‬, iniciando uma frase
distinta “e murmuraram”. Para que o décimo quinto dia do mês
iniciasse uma nova frase, esperaria–se que a conjunção vav estivesse
prefixado à ele, mas apenas a preposição bê sem conjunção aparece
ao décimo quinto dia. No entanto, a conjunção vav aparece ligado ao
verbo murmurar, iniciando nele então a frase seguinte, não deixando
3. A SEMANA DE ÊXODO 16 105

opções a não ser concluir acertadamente de que:


1. O que aconteceu no décimo quinto dia foi a viagem
2. Décimo quinto dia não pode, sob hipótese nenhuma,
significar décimo quarto dia.
O fato é que em Êxo 16:1 houve sim uma viagem no dia 15, e foi
esse o dia em que o povo de Israel chegou no deserto de Sim.
Mas mesmo que o texto não dissesse isso, e fosse possível a
interpretação de que no mínimo 2 milhões de Israelitas chegaram
antes do pôr do sol do dia 14, em nada muda a argumentação, pois
supondo que eles chegaram no finalzinho do dia 14, apesar do texto
dizer que foi 15, então no mesmo dia 14 ainda:
• O povo teria que ter montado acampamento
• O povo teria que ter murmurado
• Moisés teria que ter falado com Deus
• Moisés teria que ter falado com Arão
• Moisés e Arão teriam que ter falado com o povo
• Deus teria que ter falado com Moisés de novo
• As codornizes teriam que ter vindo
Tudo isso ainda no dia 14, antes do pôr do sol, porque se as
palavras do SENHOR “à tarde, sabereis que foi o SENHOR quem
vos tirou da terra do Egito, e, pela manhã, vereis a glória do
SENHOR” (Êxo 16:6–7) tivessem sido ditas nessa conjugação
“futuro” na noite, já no dia 15, estaria se referindo à outra tarde, do
dia 15 para 16, pois no verso 12 o SENHOR ainda enfatiza “Ao
crepúsculo da tarde, comereis carne, e, pela manhã, vos fartareis de
pão” o que significa que ainda não era o crepúsculo da tarde, logo,
se tudo isso foi no dia 14, foi bem cedo nesse dia 14 para dar tempo
de fazer tudo isso, e portanto, não teria por que dizer que foi no dia
15 (Êxo 16:1), logo:
1. O textos não narra nenhum acontecimento do dia 14
2. Houve uma viagem ordenada por Deus no dia 15.
3. Deus proibiu viajar aos sábados
4. Portanto o dia 15 não podia ser sábado
5. No menor cálculo possível, na noite da dia 15 para 16 Deus
garante a Moisés que o povo veria a Sua glória na manhã
seguinte
6. Na manhã do dia 16 o povo vê a glória de Deus
7. Em seguida Deus promete que a tarde eles comeriam carne e
na manhã seguinte comeriam maná.
106 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

8. Na tarde do dia 16 para 17 o povo comeu carne


9. O maná começou a cair, no cálculo mais rápido possível, na
manhã do dia 17
10. O maná caiu por seis dias, e dobrado no sexto dia, isso é, até
o dia 22
11. O sétimo dia era o sábado, dia 23
12. Logo, mesmo no cálculo mais rápido possível, o sábado não
teria sido antes do dia 23 e 16, sendo impossível 22 e 15
13. Assim, o calendário dos DSL com absoluta certeza não
estava sendo aplicado pelo menos durante os 40 anos que o
povo peregrinou no deserto!
3.1. A queda do maná

E como bônus no mesmo capítulo, esse capítulo não abre


exceção para 8 dias entre um sábado e outro (29 de um mês a 8 de
outro mês). O texto diz que o maná era colhido todo dia, e a cada 6
dias que caía, nesse 6º caía em dobro
Êxo 16:21 Colhiam-no, pois, manhã após manhã,
cada um quanto podia comer; porque, em vindo o
calor, se derretia.
Êxo 16:22 Ao sexto dia, colheram pão em dobro,
dois gômeres para cada um; e os principais da
congregação vieram e contaram-no a Moisés.
E continuando, o texto ainda diz que a queda do maná era
interrompida no sétimo dia, após o dia em que se caía em dobro, por
que era dia do repouso, o dia sétimo, o santo Sábado do SENHOR:
Êxo 16:23 Respondeu-lhes ele: Isto é o que disse o
SENHOR: Amanhã é repouso, o santo sábado do
SENHOR; o que quiserdes cozer no forno, cozei-o, e
o que quiserdes cozer em água, cozei-o em água; e
tudo o que sobrar separai, guardando para a manhã
seguinte.
Êxo 16:24 E guardaram-no até pela manhã seguinte,
como Moisés ordenara; e não cheirou mal, nem deu
bichos.
Êxo 16:25 Então, disse Moisés: Comei-o hoje,
porquanto o sábado é do SENHOR; hoje, não o
achareis no campo.
Êxo 16:26 Seis dias o colhereis, mas o sétimo dia é
o sábado; nele, não haverá.
O texto diz que o maná caía por 6 dias, cairia em dobro no 6º e
não cairia no 7º.
Se pensar sobre a transição de cada mês no calendário dos DSL,
teremos:
• 29º dia do mês - Sábado - Não cai maná
• 1º dia do mês - Lua Nova - 1º dia do maná
• 2º dia do mês - 1º dia de trabalho - 2º dia do maná
• 3º dia do mês - 2º dia de trabalho - 3º dia do maná
108 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

• 4º dia do mês - 3º dia de trabalho - 4º dia do maná


• 5º dia do mês - 4º dia de trabalho - 5º dia do maná
• 6º dia do mês - 5º dia de trabalho - 6º dia do maná (cai em
dobro)
• 7º dia do mês - 6º dia de trabalho - 7º dia do maná? O texto
diz que só há seis dias de maná e no 7º não cai
• 8º dia do mês - Sábado - Não cai maná por ser sábado, ou
começa a cair de novo por ser o dia depois do sétimo?
Nesse caso, não cairia no sábado por ser o 7º dia? Mas
tecnicamente seria o 8º dia do maná, não o 7º. Então seria o sábado
do 8º dia.

Ou não cai no 6º dia da semana, por ser o 7º do maná, e cai no


sábado que seria o dia depois do 7º?
3.1. A QUEDA DO MANÁ 109

Para os DSL que defendem que a Lua Nova é um sábado, aí o


problema seria ainda pior, por sua tese ser ainda mais absurda:
• 29º dia do mês - Sábado - Não cai maná
• 1º dia do mês - Lua Nova - 1º dia do maná ou Não cai maná?
• 2º dia do mês - 1º dia de trabalho - 2º dia do maná ou 1º dia
do maná?
• 3º dia do mês - 2º dia de trabalho - 3º dia do maná ou 2º dia
do maná?
• 4º dia do mês - 3º dia de trabalho - 4º dia do maná ou 3º dia
do maná?
• 5º dia do mês - 4º dia de trabalho - 5º dia do maná ou 4º dia
do maná?
• 6º dia do mês - 5º dia de trabalho - 6º dia do maná (cai em
dobro) ou 5º dia do maná?
• 7º dia do mês - 6º dia de trabalho - 7º dia do maná ou 6º dia
do maná (cai em dobro), ou Não cai maná? O texto diz que
só há seis dias de maná e no 7º não cai
• 8º dia do mês - Sábado - Não cai maná por ser sábado, ou
começa a cair de novo por ser o dia depois do sétimo?
Então seria a santa lua nova do 8º dia?
110 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

Como se ainda não fosse o suficiente, ao pensarmos nos meses


que teriam 30 dias o problema seria ainda pior, vou considerar só a
hipótese mais séria que sabe que a lua nova não é um sábado, pois a
que considera a lua nova como um sábado já tem problemas
suficientes sem precisar complicar ainda mais:
• 29º dia do mês - Sábado - Não cai maná
• 30º dia do mês - Lua Nova - 1º dia do maná
• 1º dia do mês - Lua Nova - 2º dia do maná
• 2º dia do mês - 1º dia de trabalho - 3º dia do maná
• 3º dia do mês - 2º dia de trabalho - 4º dia do maná
• 4º dia do mês - 3º dia de trabalho - 5º dia do maná
• 5º dia do mês - 4º dia de trabalho - 6º dia do maná (cai em
dobro)
• 6º dia do mês - 5º dia de trabalho - 7º dia do maná? O texto
diz que só há seis dias de maná e no 7º não cai
• 7º dia do mês - 6º dia de trabalho - 8º dia do maná? Ou 1º dia
do maná por ser o dia depois do 7º?
• 8º dia do mês - Sábado - Não cai maná por ser sábado, ou
continua como 2º dia do maná?
Nesse caso, cairia maná por 8 dias e o sábado seria o sábado do
9º dia?
3.1. A QUEDA DO MANÁ 111

Ou não cairia maná no 5º dia da semana, e voltaria a cair no 6º e


no sábado também?

E se pensarmos na lua nova como sábado, que não cai maná, isso
resultaria em 3 dias seguidos sem cair maná?
112 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

No calendário dos DSL, só há duas opções nesse caso:


1. O Sábado pode ser o 8º / 9º dia da queda do maná, ou
2. Na lua nova não pode cair maná
Se 1 tiver valor de verdade, então o texto está errado por que diz
claramente que o Sábado é o 7º (Êxo 16:26), em nenhum momento
diz que pode ser o 8º ou 9º dia. Então, 1 não pode ser verdade. Se 2
tiver valor de verdade, então recorrerá no mesmo problemas que os
DSL têm para afirmar que na lua nova não se pode trabalhar: falta de
qualquer texto bíblico. O DSL não poderá afirmar que 1 é verdade
porque sabe que o sábado jamais é chamado de 8º ou 9º dia, então
restará apelar para a afirmativa 2, mas para tanto, terá que mostrar os
seguintes textos:
1. Um texto que mostre mais de um dia consecutivo sem cair
maná
2. Um texto que afirme que na lua nova não possa cair maná
3. Um texto que mostre que o maná do sexto dia duraria de 3
(28, 29 e 1) a 4 dias (28, 29, 30 e 1)
4. Um texto que mostre que o maná do sexto dia deveria ser
colhido até três (28, 29 e 1) ou quatro (28, 29, 30 e 1) vezes
mais.
E mesmo que isso fosse verdade, isso implicaria que não se
precisaria observar a lua para saber quando haveria um dia extra no
mês, e quando não haveria, pois se no dia 28 eles tivessem que
colher 3 vezes mais, então o mês não teria um dia extra. Se no dia 28
3.1. A QUEDA DO MANÁ 113

eles tivessem que colher 4 vezes mais, então o mês teria um dia
extra. E por isso, necessitaria de um quinto texto:
1. Um texto que mostre Deus avisando a cada 6º dia da última
semana do mês o quanto o povo teria que colher a mais
naquele dia,
Infelizmente para os DSL, tudo que temos são textos que
afirmam que:
a. Cairá maná por 6 dias
b. No 6º dia o maná será recolhido em dobro (nunca triplo ou
quádruplo)
c. No 7º dia não cairá maná (nunca 8º ou 9º)
d. Logo, a lua nova só pode estar dentro de um dos 6 dias de
trabalho
Toda semana, e cada semana por 40 anos caiu o maná (Êxo
16:35) ensinando sistematicamente o povo que o sábado vem
invariavelmente depois de 6 dias de trabalho, e o povo guardou o 7º
dia a cada 7 dias por 40 anos, aprendendo semana após semana que o
sábado é sempre o 7º dia, e depois de mais 6 dias, o próximo é
sempre o sábado! Em nenhuma única oportunidade Deus se
preocupou em dizer que naquela semana cairia maná 7 dias ou que
naquela semana não cairia maná por dois ou três dias seguidos. A
única conclusão possível é que o calendário dos DSL é
completamente desaprovado pelos testemunho dos textos Bíblicos.
Junte tudo isso com os fatos levantados no capítulo “9. Erro
histórico no calendário do sábado lunar” e poderá ter até “Sábado do
14º dia”, “13 dias colherás maná” o que não é nem preciso nem
dizer: É um absurdo inimaginável. Entre vãs filosofias da alta crítica
e a bíblia, sem titubear, escolha a Palavra de Deus.
4. ERA PROIBIDO TRABALHAR DO DIA DE LUA
NOVA?

Proibição de trabalho era algo bem comum para os antigos


Hebreus, por toda a Bíblia hebraica há diversas proibições de
trabalho, geralmente evidenciadas por refrãos como “Nenhuma obra
(servil) fareis”, “santa convocação", “descanso", “repouso",
“guardai", “celebrai", “santificai” ou simplesmente chamando de
“solenidade", é dessa forma que Deus sempre indicou que algum dia
deveria ter a atenção do povo.
A ordem expressa e absoluta “Nenhuma obra fareis” proíbe a
realização de qualquer tipo de obra, ela foi dada por Deus apenas 11
vezes:
• 5 vezes para o Sabbath, e até acompanhado de pena de morte
ao transgressor (Êxo 20:10; 31:15; 35:2; Lev 23:3; Deu 5:14)
• 4 vezes para o Yon Kippur – Dia da expiação (Lev 16:29;
23:28, 31; Num 29:7)
• 2 vez para a Páscoa / Pães ásmos (Êxo 12:16; Deu 16:8)
• Nenhuma vez para a Lua Nova
OBS: Esses dois primeiros, o Sabbath e o dia da expiação, jamais
receberam qualquer ordem inferior a essa (nenhuma obra servil
fareis), já a Páscoa / Pães ásmos só recebeu essa ordem absoluta no
contexto da primeira Páscoa no egito.
A ordem expressa mas não absoluta “Nenhuma obra servil
fareis” é pouco mais comum, proíbe apenas o trabalho e foi dada 12
vezes:
4. ERA PROIBIDO TRABALHAR DO DIA DE LUA NOVA? 115

• 4 vezes referente à Páscoa / Pães ásmos (Lev 23:7, 8; Num


28:18, 25)
• 4 vezes referente à festa dos tabernáculos (Lev 23:35, 36;
Num 29:12, 35)
• 2 vezes referente à festa das semanas (pentecostes) /
Primícias (Lev 23:21; Num 28:26)
• 2 vezes referente ao primeiro dia da festa das trombetas (Lev
23:25; Num 29:1)
• Nenhuma vez referente à Lua Nova
A expressão “santa convocação” remete a uma reunião com
todo o povo, como se fosse um dia de encontro. O termo é usado 16
vezes na Torah:
• 6 vezes em relação à Páscoa/Pães ásmos (Êxo 12:16 (2x);
Lev 23:7, 8; Num 28:18, 25)
• 3 vezes em relação à festa dos tabernáculos (Lev 23:35, 36;
Num 29:12)
• 2 vezes em relação à festa das semanas / primícias (Lev
23:21; Num 28:26)
• 2 vezes em relação ao primeiro dia da festa das trombetas
(Lev 23:24; Num 29:1)
• 2 vezes em relação ao Yon Kippur (Lev 23:27; Num 29:7)
• 1 vezes em relação ao Sabbath (Lev 23:3)
• Nenhuma vez em relação à Lua Nova
Importante notar que a grande maioria das vezes onde esses três
termos são usados, estão no capítulo 23 de Levítico e 28 / 29 de
Números. No capítulo 23 de Levítico, a Lua Nova nem sequer é
mencionada. Isso é importantíssimo pelo fato que a introdução do
capítulo é a apresentação dos dias das festas do Senhor, os dias que
serão as santas convocações,
Lev 23:2 Fala aos filhos de Israel e dize–lhes: As
festas fixas do SENHOR, que proclamareis, serão
santas convocações; são estas as minhas festas.
O fato de não haver menção da Lua Nova em Levítico 23 é por si
só conclusivo de que esse dia não era uma festa do Senhor como as
demais, não era uma santa convocação. Nos capítulos 28 e 29 de
Números no entanto, a Lua Nova é mencionada, mas como a única
festividade que não vem acompanhada de nenhuma dessas
proibições de trabalho. Alguém pode observar que em Num 28:9–10
o sábado também não é mencionado com proibição de trabalho,
porém há tantas ordens diretas de não trabalho no Sabbath por toda
116 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

Torah que ninguém em sã consciência questionaria a ordem, porém o


mesmo não é verdade em relação ao dia de Lua Nova, que não é
mandado que cesse o trabalho em nenhuma das grandes
oportunidades de fazê–lo um dia de repouso (Lev 23 e Num 28–29),
onde manda que repousasse em cada uma das festas, mas não na Lua
Nova.
Os termo “descanso” ou “repouso” quem vem do mesmo
substantivo hebraico “shabbathon” só aparece 11 vezes na Tanach:
• 4 vezes sobre o Sabbath (Êxo 16:23; 31:15; 35:2; Lev 23:3)
• 2 vezes sobre o Yom Kippur (Lev 16:31; 23:32)
• 2 vezes sobre a festa dos tabernáculos (Lev 23:39 (2x))
• 2 vezes sobre o ano sabático (Lev 25:4 e 5)
• 1 vez sobre o primeiro dia da festa das trombetas (Lev 23:24)
• Nenhuma vez sobre a Lua Nova
Já o verbo Sabath – repousar/descansar é bem mais comum,
usado 71 vezes na Tanach, porém, o uso é muito abrangente,
podendo significar “tirar fora”, “parar", “acabar", “desistir", “faltar”
e etc… Por ter seu uso muito abrangente, vale focar apenas nos usos
relacionado a um dia ou evento, o que reduz o uso para 8 vezes:
• 3 vezes Deus descansou no sétimo dia (Gen 2:2, 3; Êxo
31:17)
• 2 vezes ordem direta para descansar no sétimo dia (Êxo
23:12; 34:21)
• 1 vez ordem direta para descansar no dia da expiação (Êxo
23:32)
• 1 vez o povo descansava em algum momento no Egito (Êxo
5:5)
• 1 vez o povo descansou no sétimo dia (Êxo 16:30)
• Nenhuma vez com a Lua Nova
Nas festas em geral, o povo era ordenado que as guardassem
(shamar), isso está registrado 19 vezes:
• 13 vezes para o sabbath (Êxo 31:13, 14; 16; Lev 19:3, 30;
26:2; Deu 5:12, 15; Isa 56:2, 4, 6; Jer 17:12; Ele 44:24)
• 3 vezes para a Páscoa / Pães ásmos (Êxo 12:42; 23:15; 34:18,
Deu 16:1)
• 1 vez para a festa das semanas – pentecostes (Êxo 34:22)
• 1 vez para a festa dos Tabernáculos (Deu 16:13)
• 1 vez para Purim (Est 9:28)
• Nenhuma vez para a Lua Nova
4. ERA PROIBIDO TRABALHAR DO DIA DE LUA NOVA? 117

Mesmo não sendo uma ordem diretamente divina, e não estar na


Torah, até a festa de Purim é ordenada que fosse guardada, mas
nunca a lua nova. Além de guardar, as vezes ainda era ordenado ao
povo que as celebrassem (chagag), 43 vezes:
• 30 vez para Páscoa / Pães ásmos (Êxo 5:1; 12:14; 12:48;
23:14; Num 9:2, 3, 5, 6, 10, 11, 12, 13, 14; Deu 16:1; Jos
5:10; 2Rs 23:21, 22, 23; 2Cr 30:1, 2, 5, 13, 21, 23; 2Cr
35:16, 17, 18, 19; Est 6:19, 22)
• 8 vezes para Tabernáculos (Êxo 23:14; Lev 23:39, 41; Num
29:12, 15; Est 3:4, 11, Nee 8:18, Zac 14:16)
• 2 vezes para Semanas – Pentecostes (Êxo 23:14; Deu 16:10)
• 1 vez para o Sabbath (Êxo 31:16)
• 1 vez para Yon Kippur (Lev 23:32)
• 1 vez para Purim (Est 9:18)
• Nenhuma vez para a Lua Nova
Novamente até Purim que não é da Torah entra na lista, mas
nunca a lua nova. A palavra santificar (qadash) ainda é empregada à
alguns objetos, lugares, mas apenas um dia:
• 12 vezes para o Sabbath semanal! (Êxo 20:8, 11; 31:13; Deu
5:12; Nee 10:31; 13:22; Jer 17:22, 24; 27; Eze 20:12, 20;
44:24)
• Nenhuma vez para a Lua Nova
E por fim, a última palavra usada para identificar dias especiais é
o substantivo atsarah (Solenidade ou Assembléia Solene) que só
aparece 3 vezes na Torah:
• 2 vezes ligada à Tabernáculos (Lev 23:36; Num 29:35)
• 1 vez ligada ao último dia da Páscoa / Pães ásmos (Deu 16:8)
• Nenhuma vez para a Lua Nova
Na versão João Ferreira de Almeida Revista e Atualizada, o
Salmo 81:3 chama a Lua Nova de Solenidade, mas vale lembrar que
no hebraico lá diz apenas “dia de sacrifício” remetendo à Num 28.
É claro que nem todas as palavras e expressões são aplicadas a
todas as festas e dias especiais, mas algo em comum a todas elas, é
que nenhuma dessas palavras e expressões se aplicam nem uma
única vez à Lua Nova em local algum na Bíblia. Se de fato a lua
nova fosse um evento tão expressivo que a proibição do trabalho
fosse necessária, certamente haveria ao menos uma vez uma ordem
ou jargão costumeiro às festas que se referisse à Lua Nova, mas não
havendo fica mais do que claro que Deus jamais ordenou que o dia
118 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

da lua nova fosse um dia de repouso, que fosse proibido trabalhar


nesse dia, nem mesmo ordenou uma santa convocação.
Em suma, toda a teologia do calendário do Sábado lunar baseia-
se numa premissa falsa de uma ordem que não existe em toda a
Bíblia.

Mas então por que alguns ainda insistem em dizer que


Lua Nova era um dia que não se podia trabalhar por
lei?
O termo hodesh se repete por 279 vezes em toda a Tanach
(Antigo Testamento), mas a grande maioria das vezes, aparece como
se referindo ao mês inteiro ou a qualquer parte dele, já que em
hebraico, hodesh designa tanto o primeiro dia do mês (A Lua Nova
propriamente dita) quanto, mais comumente, o mês inteiro. Um texto
onde isso fica bem nítido é:
Num 28:14 As suas libações serão a metade de um
him de vinho para um novilho, e a terça parte de um
him para um carneiro, e a quarta parte de um him para
um cordeiro; este é o holocausto da lua nova (hodesh)
de cada mês (behodesho), por todos os meses
(lehodeshe) do ano (hashanah).
O texto hebraico diz zoth olah hodesh behodesho lehodeshe
hashanah, literalmente “este holocausto mês por mês para meses o
ano” que facilmente poderia ser entendido como “este é o holocausto
a cada mês todos os meses do ano” ou “…mês após mês todos os
meses…” que por implicação lógica, se trata do dia de Lua Nova,
mas isso não fica explícito no texto hebraico, pelo fato de não haver
uma palavra que diferencie a lua nova propriamente dito, do uso
mais comum que se refere ao mês como um todo. Isso demonstra
que o Hebreu via a lua nova como o sinal de mês novo, por isso a
expressão “amanhã é mês” usada por Davi (1Sa 20:5 e 18) pode ser
entendida, por implicação lógica, como se referindo ao primeiro dia
do mês.
Entre todos as 279 ocorrências de hodesh, apenas 4 poderiam
levar o leitor desatento a entender qualquer coisa parecido com um
dia que não se trabalhava:
1. 1Sa 20:5 Disse Davi a Jônatas: Eis que amanhã é a lua nova,
em que costumo assentar–me com o rei para comer; deixa–
me tu ir, porém, e esconder–me–ei no campo, até à terceira
tarde.
4. ERA PROIBIDO TRABALHAR DO DIA DE LUA NOVA? 119

2. 2Rs 4:23 E disse ele: Por que vais a ele hoje? Não é lua nova
nem sábado. E ela disse: Tudo vai bem.
3. Eze 46:1 Assim diz o Senhor JEOVÁ: A porta do átrio
interior, que olha para o oriente, estará fechada durante os
seis dias, que são de trabalho; mas, no dia de sábado, ela se
abrirá; também no dia da lua nova se abrirá.
4. Ams 8:5 dizendo: Quando passará a lua nova, para
vendermos o grão? E o sábado, para abrirmos os celeiros de
trigo, diminuindo o efa, e aumentando o siclo, e procedendo
dolosamente com balanças enganadoras,

A primeira coisa que observamos logo de cara em todos esses


textos é que o texto mais antigo data de 1000 a.C, isso é, mais de 400
anos depois da Torah, o que deixa acima de qualquer discussão que
não há nem sequer um texto ambíguo na Torah sobre a possível
ordem de não trabalhar na Lua Nova. A segunda coisa que pode-se
observar claramente, é que nenhum deles remete a uma ordem direta,
mas apenas falam de um evento específico, mas será feita a análise
de cada texto em seu devido contexto:
OBS: Todos os textos que falam de temas relacionados à dias de
descanso estão no Apêndice 1.
4.1. Davi festejava na Lua Nova com Saul?

1Sa 20:5 Disse Davi a Jônatas: Eis que amanhã é a


lua nova, em que costumo assentar–me com o rei
para comer; deixa–me tu ir, porém, e esconder–me–
ei no campo, até à terceira tarde.
1Sa 20:18 E disse–lhe Jônatas: Amanhã é a lua nova,
e não te acharão no teu lugar, pois o teu assento se
achará vazio.
1Sa 20:24 Escondeu–se, pois, Davi no campo; e,
sendo a lua nova, assentou–se o rei para comer
pão.
1Sa 20:27 Sucedeu também ao outro dia, o segundo
da lua nova, que o lugar de Davi apareceu vazio;
disse, pois, Saul a Jônatas, seu filho: Por que não veio
o filho de Jessé, nem ontem nem hoje, a comer pão?
1Sa 20:34 Pelo que Jônatas, todo encolerizado, se
levantou da mesa e, no segundo dia da lua nova, não
comeu pão; porque se magoava por causa de Davi,
pois seu pai o tinha maltratado.
Sobre o fato de haver uma refeição na Lua Nova, não há
problema nenhum nisso, se haveria sacrifício (Num 28:11-15), e
todo sacrifício era oferecido com ofertas pacíficas que implicavam
em refeição, seria ilógico imaginar que no dia da lua nova fosse
diferente. Porém, entre festeja/comer e guardar/parar de trabalhar há
uma distância muito grande que o texto claramente não afirma, mas
um dos pressupostos dos DSL, é que o mês tinha sempre exatamente
29 dias, e caso a Lua Nova não aparecesse, o 30º dia seria
considerado Lua Nova, mesmo que ela não fosse visível, e então,
quando ela finalmente aparecesse, seria outro dia de Lua Nova,
tendo assim a possibilidade de mais de um dia de Lua Nova num
mesmo mês. Como a Bíblia não mostra essa possibilidade em
nenhum outro verso, vamos analizar a cultura judaica antes de entrar
no texto propriamente dito:
Essa idéia de mais de uma Lua Nova em um mês não é
completamente estranha ao Talmud, a Mishna declara:
4.1. DAVI FESTEJAVA NA LUA NOVA COM SAUL? 121

R. Dosa ben Harchinas disse: Aquele que sobre ao


púlpito para orar no primeiro dia do ano diga: Nos
fortaleça, Ó Senhor nosso Deus, nesse dia da lua nova,
seja hoje ou amanhã (o verdadeiro dia). E no dia
seguinte ele repita a mesma oração com a variação
“seja hoje ou ontem o verdadeiro dia". No entanto, os
sábios não concordaram com ele.138 – Ênfase
acrescentada.
Vale ressaltar que no mesmo trecho que diz sobre um possível
“duas orações de Lua Nova” diz que a ideia foi recusada por todos,
era uma ideia única e particular de uma só pessoa. Além disso, a
ideia não era referente a todos os dias de Lua Nova do ano, mas
claramente o texto se refere à primeira Lua Nova do Ano, do mês de
Abib.
Essa regra das duas Luas Novas no início do ano passou a
explicitamente aplicada somente pelos Judeus que estavam no exílio,
tanto no ano religioso quanto no ano civil, pois eles dependiam do
anúncio da visualização da Lua Nova na palestina, e por isso
comemoravam as duas com medo de errar o dia certo, por isso a
Gemara afirma logo em seguida:
GEMARA: Quem são os sábios, que não concordam
com R. Jehudah? Diz Rabh: Isso é R. Jose, conforme
temos aprendido na Boraitha: Os sábios concordam
com R. Eliezer que “se um homem aprende que o ano
novo será celebrado por dois dias, ele deve preparar
dois Erubin. Ele então diz: Meu primeiro Erub do
primeiro dia deve ser válido para o leste e o do
segundo dia para o oeste; ou o do primeiro dia para o
oeste e o do segundo dia para o leste.139 – Ênfase
acrescentada
E a nota de rodapé à essa cessão explica:
Os Israelitas vivendo no exílio eram dependentes da
informação a respeito da data do Ano Novo
inteiramente dos mensageiros enviados pela alta corte
na Palestina, que por sua vez estabelecia a data sob
testemunho de testemunhas que anunciariam quando a
Lua Nova aparecesse (como explicado no tratado
Rosh Hashana). Assim o povo exilado não sabia se o
30º ou 31º dia desde o primeiro dia de Elul seria

138
The Babylonian Talmud, Translated by RODKINSON, M. L., Vol. 1-10,
1918, p. 726
139
The Babylonian Talmud, Translated by RODKINSON, M. L., Vol. 1-10,
1918, p. 727
122 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

proclamado o primeiro dia de Tishri (Ano Novo), e


ambos passaram a ser observados em
consequência. Por isso a Mishna cita a ordenança
referida a aprender que o Ano Novo duraria dois dias.
– Ênfase acrescentada
É notável que R. Eliezer diz que se alguém aprende, o que
significa que isso não era generalizado mesmo para os rabinos que
eram apaixonados pela tradição e a elevavam ao nível da Torah, e a
partícula condicional é bem clara, se alguém aprende, passagem com
destinatário certo, aqueles que estão no exílio, por motivos de
depender da observação da lua na palestina. Por este mesmo motivo,
as festividades para os judeus que ficaram na Babilônia, ganharam
um dia a mais em sua comemoração, fazendo com que a Páscoa, por
exemplo, para os judeus que ficaram em Babilônia, se tornasse uma
festa de oito dias, não mais sete conforme ordena o texto bíblico
(2Cr 30:21; 2Cr 35:17; Est 6:22; Eze 45:21, 23), para que, na dúvida
de qual dia seria o dia correto para celebração, se celebrasse dois
dias seguidos, para que um deles certamente estivesse correto.
R. Zera disse em nome de R. Na’hman, em todo cado
de dúvida (sobre os feriados), nós pós-datamos, mas
nunca ante-datamos. Isso quer dizer que (em caso de
dúvida sobre o dia exato que o Tabernáculos vai
começar) nós observamos o décimo quinto e o
décimo sexto dia, mas não o décimo quarto Nos deixe
guardar o décimo quarto também. Talvez Abh e Elul
tenham cada um apenas vinte e nove dias? Não, se
dois meses consecutivos tiverem vinte e nove dias
cada, isso seria anunciado.140
R. Johanan proclamou: em todo lugar que o
mensageiro enviou em Nissan, chegou, mas nos
lugares que os mensageiros enviados em Tishri não
puderam chegar, eles devem observar dois dias
para os festivais.141
Mas se estamos falando de um trecho anterior ao exílio pelo
menos 400 anos, não podemos aplicar a tradição pós–exílio à
compreensão de um texto pré–exílio. A menos que o texto fale isso
claramente e justifique o desenvolvimento da tradição posterior, os
dois textos que transmitem essa idéia dizem assim:

140
The Babylonian Talmud, Translated by RODKINSON, M. L., Vol. 1-10,
1918, p. 931
141
ibid.
4.1. DAVI FESTEJAVA NA LUA NOVA COM SAUL? 123

1Sa 20:27 Sucedeu também ao outro dia, o segundo


da lua nova, que o lugar de Davi apareceu vazio;
disse, pois, Saul a Jônatas, seu filho: Por que não veio
o filho de Jessé, nem ontem nem hoje, a comer pão?
1Sa 20:34 Pelo que Jônatas, todo encolerizado, se
levantou da mesa e, no segundo dia da lua nova, não
comeu pão; porque se magoava por causa de Davi,
pois seu pai o tinha maltratado.
Na versão portuguesa parece bem nítido que se trata do segundo
dia da festa da lua nova, com um aposto ao “outro dia” no verso 27 e
uma afirmação direta “no segundo dia da lua nova” no verso 34,
mas o verso 27 no hebraico diz: “wayuhi mommohorat hahodesh
hasseni”
Literalmente: “e foi do dia seguinte o hodesh o segundo”
O hebraico do verso 34 diz assim: “wayyaqom yuhonatan me’im
hassulhan bohori-ap wulo-akal buyom hahodesh hasseni”
Literalmente: “e levantou Jonatas da mesa em queimando o rosto
e não comeu em o dia o hodesh o segundo…”
Levando em consideração de que hodesh não significa
unicamente “lua nova” mas também e normalmente “mês", o verso
27 em hebraico deixa bem claro que foi no dia seguinte ao hodesh,
isso é, ao início do mês, e esclarece que é o segundo dia do mês. O
verso 34 é mais ambíguo, mas frente ao fato de que ele vem após a
explicação do verso 27, fica fácil de ver que se trata do segundo dia
do mês, e não do segundo dia da lua nova.
Linguagem semelhando é usada por toda a Bíblia, um exemplo
dentre tantos é 2Cr 7:10 que diz literalmente “e em dia vinte terceiro
o hodesh o sétimo” isso é, no dia 23 do sétimo mês, obviamente não
se trata do 23º dia da Lua Nova, mas a partir da Lua Nova, e quase
todas as vezes que a Tanach fala de dia do mês usa essa mesma
construção frasal, traduzindo “hodesh” em 1Sa 20:27 e 34 com a sua
tradução mais usual – mês – e toda e qualquer ambiguidade será
excluída:
1Sa 20:27 Sucedeu também ao outro dia,
o segundo do mês, que o lugar de Davi continuava
desocupado; disse, pois, Saul a Jônatas, seu filho: Por
que não veio a comer o filho de Jessé, nem ontem nem
hoje?
1Sa 20:34 Pelo que Jônatas, todo encolerizado, se
levantou da mesa e, neste segundo dia do mês, não
comeu pão, pois ficara muito sentido por causa de
Davi, a quem seu pai havia ultrajado.
124 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

Agora podemos analizar os problemas em pensar que a Lua nova


sempre precede um sábado, como prega os DSL, pois analisando o
texto anterior, e construindo a cronologia frente ao indicado, então
Saul mandou dois grupos de mensageiros buscar Davi que estava
com Mical (1Sa 19:12–14), ela diz que ele estava doente (v. 14),
Saul manda que os mensageiros retornem lá e peguem Davi, mesmo
na cama (v. 15), Davi foge para Naiote (v.18), alguém diz a Saul
onde Davi estava (v. 19), Saul envia três grupos de mensageiros à
Naiote para que trouxessem Davi, mas eles profetizam (vs. 20–21),
Saul mesmo vai atrás de Davi, e ele mesmo começa a profetizar (vs.
22–23) e passa todo o resto do dia e a noite lá em Naiote (v. 24),
Davi foge de Naiote (1Sa 20:1), por mais que o verso anterior
mencione “a noite inteira” muito provavelmente Davi não tivesse
ficado em Naiote com Saul o dia inteiro e a noite ainda, mas fugido
durante o mesmo dia, e então foi falar com Jonatas (vs 1–3), e disse
que amanhã era Lua Nova (v 5). Três problemas sérios acontecem
aqui com a hipótese dos DSL:
1. É muito “corre–corre” para um sábado, já que
obrigatoriamente antes da Lua Nova no calendário do sábado
lunar, tem que ser um sábado. E se disser que Davi dormiu
ali com Saul de sexta para sábado, tranquilamente, o que,
mesmo que pouco provável, ainda não é impossível, dizer
que tudo isso foi feito calmamente em meio dia, e todos
ainda repousaram no sábado conforme o mandamento é
praticamente impossível.
2. Como Davi poderia saber com tanta certeza que amanhã era
Lua Nova? Sabendo que essa festa duplicada era somente
pós–exílio, Davi só teria um modo de saber que o dia
seguinte seria certamente a Lua Nova: Se já fosse o 30º dia
desde a última lua nova, e a lua ainda estivesse minguante na
noite anterior, então com certeza no dia seguinte seria Lua
Nova, mas se na teoria do calendário do sábado Lunar o 30º
dia deveria ser considerado como Lua Nova, então não faria
sentido Davi dizer que “amanhã é lua nova” já que hoje
também é, logo, ele no mínimo deveria dizer que “amanhã é
lua nova de novo” e isso por sí só acaba com as chances de
que os versos 27 e 34 falassem de um segundo dia da Lua
Nova. Caso Davi estivesse no 29º dia do ciclo seria
4.1. DAVI FESTEJAVA NA LUA NOVA COM SAUL? 125

impossível afirmar com toda certeza que “amanhã é lua


nova", ele não falou da festa, falou da lua.
3. Mesmo que as duas primeiras questões fossem efetivamente
respondidas, o principal problema em admitir que Davi fala
com Jonatas num sábado, é o motivo dessa fala, ele diz: “Eis
que amanhã é a lua nova, em que costumo assentar–me com
o rei para comer” (v. 5). É fato que uma boa refeição era feita
em ação de graças pelo mês novo, mas sendo o sábado o
principal e mais bem lembrado dia festivo se há um dia em
que haveria festa era o sábado, e se a preocupação era
simplesmente uma oportunidade com o rei, esse era o dia
oportuno, não precisaria esperar até uma pseudo festa quando
a grande festa estava bem a tempo de acontecer.
Em suma, esse texto não serve para provar que os dias extras
eram dias de lua nova, e provavelmente contradiz um calendário
onde a lua nova precisa estar necessariamente após o sábado.
4.2. Lua Nova era dia de visitar profetas?

2Rs 4:23 E disse ele: Por que vais a ele hoje? Não é
lua nova nem sábado. E ela disse: Tudo vai bem.
Aqui já estamos um pouco mais longe da Torah, cerca de 550
anos de distância, e até agora, nenhuma ordem de não trabalho na
Lua nova. Esse texto é o mais simples, ele não fala exatamente nada,
apenas que assim que o filho dela morreu, ela correu atrás do
profeta, e não era nem sábado, nem lua nova. Nem mesmo o mais
criativo DSL poderia inferir a esse texto qualquer tipo de apologia ao
“não trabalho” para a Lua Nova, apenas afirma que o sábado e a Lua
Nova eram dias mais comuns para pessoas buscarem os profetas, por
motivos óbvios, eram os dias festivos mais comuns (semanal e
mensal) mas nada implica que eles eram dias para não se trabalhar
nesse texto. Qualquer coisa além disso, não passa de mera
imaginação.
4.3. Era Proibido vender na Lua Nova?

Ams 8:5 dizendo: Quando passará a lua nova, para


vendermos o grão? E o sábado, para abrirmos os
celeiros de trigo, diminuindo o efa, e aumentando o
siclo, e procedendo dolosamente com balanças
enganadoras,
Esse texto está pouco mais afastado da Torah, por volta de 600
anos de distância, e é de longe o melhor texto para quem quer
afirmar que a lua nova era um dia onde se era proibido trabalhar, o
texto parece deixar bem claro, mas obviamente, nenhum DSL vai
chamar atenção ao verso 1.
Ams 8:1 O Senhor JEOVÁ assim me fez ver: e eis
aqui um cesto de frutos do verão.
Ams 8:2 E disse: Que vês, Amós? E eu disse: Um
cesto de frutos do verão. Então, o SENHOR me
disse: Chegou o fim sobre o meu povo Israel; daqui
por diante nunca mais passarei por ele.
O que tem a ver “um cesto de frutos do verão” com “chegou o
fim sobre o meu povo”? A única explicação possível, é que Amos
sabia que o verão estava acabando, então “assim como o verão está
acabando, meu povo também está”. Essa é a única explicação lógica
para a comparação que Deus fez de Israel com o cesto de frutos do
verão.
Mas se o verão estava acabando, então em que mês estava
acontecendo essa visão? Só pode ser início de Tishri, que começa
entre 10 e 30 de setembro,142 o que significa obviamente que a lua
nova de que o texto está falando, é a Lua Nova de Tishri, o sétimo
mês. Já foi mostrado um texto do Talmud que mostra a importância
da Lua Nova de Tishri, que era chamada de Yom Teruah, o dia de
tocar as trombetas, a Lua Nova mais importante do ano, a única Lua
Nova do ano que insistentemente a Bíblia diz que deveria cessar o
trabalho, por ocasião da festa das trombetas (Lev 23:27–28; Num

142
O equinócio de outono no hemisfério norte é 23 de setembro, na pior das
hipóteses, o texto se refira ao final de Elul, logo antes de começar Tishri.
128 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

29:1), não por causa da Lua propriamente dita, esse dia sim era uma
festa com tudo o que tinha direito, inclusive não trabalhar. Em
nenhuma outra lua nova do ano, o trabalho era proibido, apenas
nessa.
O texto portanto fala do ritualismo cego de cumprir a lei
exteriormente, mas interiormente estar desejoso de buscar o seus
próprios interesses, não guardando a lei de coração, mesmo assunto
tratado em Isa 58:13–14.
Em suma, usar um texto que fala de Yom Teruah e aplicar a todas
as luas novas é no mínimo desonesto, é tirar completamente um
texto do contexto, assim, já nos afastamos 600 anos da Torah, e
ainda não há uma única ordem para não trabalhar na lua nova, nos
resta apenas o texto base para toda a argumentação do calendário do
sábado Lunar:
4.4. A Lua Nova poderia cair em um dia de trabalho?

Eze 46:1 Assim diz o Senhor JEOVÁ: A porta do


átrio interior, que olha para o oriente, estará fechada
durante os seis dias, que são de trabalho; mas, no
dia de sábado, ela se abrirá; também no dia da lua
nova se abrirá.
Esse texto tem sido dito como a base para toda a argumentação
dos DSL, na cabeça deles, esse único texto, 800 anos depois da
Torah, intenta de alguma forma estabelecer e declarar como deve ser
contado o calendário com 800 anos de atraso. Apesar de ilógico, vale
analisar o texto, contudo.
Nesse único texto, os DSL concluem que existe apenas: “dias de
trabalho", “dias de lua nova” e “Sabbaths". Há 6 “dias de trabalho”
seguidos por um Sabbath, mais 6 “dias de trabalho” seguidos de um
Sabbath, e depois do 4º Sabbath, tem um “dia de lua nova” (ou “dias
de lua nova” caso haja o 30º dia no mês). Se a lua ainda estiver
minguante ao final do 29º dia (isso significa que o próximo dia não
pode ser o dia 1º), simplesmente se esperava mais um dia até a lua
estar “nova” de novo. Esse procedimento é comum em qualquer
calendário lunar, dado o ciclo sinódico da Lua ser de 29,53 dias, esse
ajuste é obviamente necessário em qualquer calendário Lunar. O que
acontece com a interpretação dos DSL é chamado de inversão da
lógica modal.
O problema é que no calendário dos DLS, esse último dia do mês
enquanto se espera pela lua nova não é um dia de trabalho, mas
também não poderia ser “dia de lua nova", visto que essa seria
apenas no dia seguinte, e muito menos um sábado, assim seria no
máximo “extensão do dia de adoração” que seria, na melhor das
hipóteses, considerado como dia de lua nova, mas não seria dia de
lua nova, assim, apesar do esforço para impor apenas 3 dias,
claramente se define um 4º dia por esse pressuposto. Estranhamente,
não se menciona um quarto tipo de dia em Ezequiel 46:1 ou em
qualquer outro dia lugar nas escrituras.
130 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

A premissa básica do argumento é que além de haver apenas 3


tipos de dias, a despeito do 4º tipo claramente delineado, nenhum
dos 3 tipos de dias podem se sobrepor a nenhum outro tipo de dia ao
mesmo tempo, logo, são duas premissas sobrepostas:
1. Há apenas três tipos de dias.
2. Nenhum dos três tipos de de dias podem ser sobreposto à
outro tipo de dia.
Em adição às duas premissas, ainda é adicionado a falácia de que
a própria Bíblia indica essas premissas, forçando um argumento de
autoridade sobre aqueles que não tem muita afinidade com as
escrituras.
Muitos poderiam simplesmente se impressionar com o
argumento pelo fato de evocar autoridade Bíblica, porém, os DSL
falham em mostrar qualquer texto escriturístico que faça essa
indicação, e quando pressionados dizem que Eze 46:1 é suficiente
por si só. Visto que uma premissa depende da outra e nenhuma das
duas se sustentam sozinhas, basta avaliar se ambas premissas tem
algum sustento escriturístico.
A leitura do texto só pode dar duas possibilidades interpretativas:
1. O texto identifica estritamente 3 tipos de dias.
2. O texto simplesmente identifica que há seis dias de trabalho
em que o portão deve estar fechado, e no sabbath e Lua
Nova, o portão deve ser aberto.
Em toda a escritura só pode se encontrar 2 tipos de dias, dias que
se trabalham, e dias que não se trabalham, havia ainda alguns dias
em que se trabalhava mas era imposto alguns deveres religiosos, e
eram considerados dias festivos mesmo sendo dias de trabalho, como
por exemplo:
Lev 23:6 e aos quinze dias deste mês é a Festa dos
Asmos do SENHOR: sete dias comereis asmos;
Lev 23:7 no primeiro dia, tereis santa convocação;
nenhuma obra servil fareis;
Lev 23:8 mas sete dias oferecereis oferta queimada
ao SENHOR; ao sétimo dia haverá santa
convocação; nenhuma obra servil fareis.
Aqui por exemplo pode ser visto que se fala de apenas 2 dias que
não se pode trabalhar, o dia 15 do primeiros mês, e o dia 21. No
entanto, durante todos os 5 dias entre 15 e 21, havia três
responsabilidades religiosas:
• Comer Pães ásmos
4.4. A LUA NOVA PODERIA CAIR EM UM DIA DE TRABALHO? 131

• Oferecer oferta queimada


• Tirar o fermento de casa (Êxo 12:15)
Em Num 28:16–25 ainda especifica quanto e como deveria ser
essas ofertas, deveriam ser feito todos os dias, e por isso a festa era
considerada de 7 dias (2Cr 30:21; 2Cr 35:17; Est 6:22; Eze 45:21,
23), no entanto, apenas 2 dias não se devia trabalhar.
Da mesma forma era a festa dos tabernáculos:
Lev 23:34 Fala aos filhos de Israel, dizendo: Aos
quinze dias deste mês sétimo, será a Festa dos
Tabernáculos ao SENHOR, por sete dias.
Lev 23:35 Ao primeiro dia, haverá santa
convocação; nenhuma obra servil fareis.
Lev 23:36 Sete dias oferecereis ofertas queimadas
ao SENHOR; ao dia oitavo, tereis santa convocação
e oferecereis ofertas queimadas ao SENHOR; dia
solene é, e nenhuma obra servil fareis.
O verso 34 deixa claro que a festa durava 7 dias mais 1, mas a
proibição do trabalho seria apenas no 1º e no 8º, no entanto, os 6 dias
no meio em que se trabalhava ainda eram incumbidos com deveres
religiosos, oferecer diariamente as ofertas queimadas descritas em
Num 29:12–40, mas mesmo sendo dia de festas, e tendo obrigações
religiosas, eram dias de trabalho. Outros lugares na bíblia confirmam
que a festa era festejada por oito dias (2Cr 7:8–9; Nee 8:18; Eze
45:25), e não apenas no primeiro e no oitavo, no entanto, os dias no
meio eram dias de trabalho e de festa ao mesmo tempo. Assim, fica
definido que havia dias de trabalho que eram festivos, e que dia
festivo não é sinônimo de dia que não se devia trabalhar.
Além disso, havia três casos inversos:
Lev 23:6 e aos quinze dias deste mês é a Festa dos
Asmos do SENHOR: sete dias comereis asmos;
Lev 23:7 no primeiro dia, tereis santa convocação;
nenhuma obra servil fareis;
Lev 23:8 mas sete dias oferecereis oferta queimada ao
SENHOR; ao sétimo dia haverá santa convocação;
nenhuma obra servil fareis.
Se no calendário do sábado lunar, o dia 15 de qualquer mês é
sempre um sábado, nesse primeiro mês do ano, Nissan ou Abib, não
seria diferente, o dia 15 é igualmente um sábado, o primeiro dia da
festa, assim:
Dia 15 – sábado – 1º dia da Festa
Dia 16 – 1º dia da semana – 2º dia da Festa
Dia 17 – 2º dia da semana – 3º dia da Festa
132 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

Dia 18 – 3º dia da semana – 4º dia da Festa


Dia 19 – 4º dia da semana – 5º dia da Festa
Dia 20 – 5º dia da semana – 6º dia da Festa
Dia 21 – 6º dia da semana – 7º dia da Festa
Assim, o 21º dia de Nissan seria o 7º dia da festa, que cairia
sempre no sexto dia da semana nesse calendário, um dia de trabalho
que, diferente da lua nova, era explicitamente proibido trabalhar. O
próprio Pentecostes era outro problema nesse quesito
Lev 23:16 Até ao dia imediato ao sétimo sábado,
contareis cinqüenta dias; então, trareis nova oferta de
manjares ao SENHOR.
Lev 23:21 No mesmo dia, se proclamará que tereis
santa convocação; nenhuma obra servil fareis; é
estatuto perpétuo em todas as vossas moradas, pelas
vossas gerações.
O dia imediato ao sábado é o primeiro dia da semana, nesse
mesmo dia havia santa convocação, e, diferente da lua nova, o
trabalho aqui era explicitamente proibido! Da mesma forma
acontecia no dia da expiação:
Lev 23:27 Mas, aos dez deste mês sétimo, será o
Dia da Expiação; tereis santa convocação, e afligireis
a vossa alma, e oferecereis oferta queimada ao
SENHOR.
Se todo 8º dia do mês seria um sábado, então certamente o dia da
expiação cairia sempre no 2º dia da semana, que é um dia de
trabalho onde, diferente da lua nova, era explicitamente proibido
fazer qualquer coisa, não só trabalho, sendo o dia da expiação o
único juntamente ao sábado semanal para o qual se aplica a ordem
absoluta “Nenhuma obra fareis” e o único dia além do sétimo dia da
semana ao que se aplica o substantivo Sabbath.
Na melhor das hipóteses, pelo menos nesses três exemplo, pode–
se questionar:
— No sexto dia da semana a porta deve ficar aberta ou fechada?
— Fechada é claro, o texto diz que nos seis dias de trabalho deve
permanecer fechada!
— Mas não é dia de trabalho, no sétimo dia da festa dos Pães
ásmos não se trabalha, então, não é dia de trabalho, nem sábado, nem
lua nova, a porta fica aberta ou fechada?
É impossível responder essa pergunta na óptica dos DSL sem
criar no mínimo uma exceção que que eles mesmos terão que
inventar ao texto, pois o texto não fala de nenhuma exceção
4.4. A LUA NOVA PODERIA CAIR EM UM DIA DE TRABALHO? 133

adicional como “mas esses dias são apenas feriados”, não importa,
diferente da lua nova, a Bíblia explicitamente diz que não se deve
trabalhar em nenhum desses dias, então não se pode chamar de
dia de trabalho, mesmo caindo no 1º, 2º ou 6º dia da semana, e não
sendo lua nova e nem Sabbath, obviamente será necessário criar a
quinta categoria de dias, “os dias de trabalho que não se pode
trabalhar”. E a mesma pergunta pode ser feita em relação ao dia da
Expiação no segundo dia da semana e Pentecostes no primeiro dia da
semana. Assim, fica definido que:
• Havia dias de trabalho que eram festivos
• Havia dias festivos que se devia trabalhar
• Havia dias de trabalho que não se podia trabalhar
Logo, tendo visivelmente encontramos pelo menos uma quinta
categoria de dias que não é descriminado em Eze 46:1, os “dias de
trabalho que não se podia trabalhar", é derrubada a primeira
premissa de que só há 3 tipos de dias. Então, segue obviamente que:
1. É possível que um dia que era proibido trabalhar sobrepor um
dia de trabalho
2. Caso um dia que era proibido trabalhar sobrepusesse um dia
de trabalho, a proibição do trabalho tem prioridade sobre o
trabalho.
3. Assim, não existe uma lei que proíba que um tipo de dia
sobreponha outro tipo de dia
Então as duas premissas do argumento não se sustentam pelo
próprio exemplo bíblico. Estudada a lógica modal do texto, resta
agora analizar a sua estrutura gramatical. O hebraico do texto diz
literalmente:
“Assim diz Adonay YHWH porta o átrio interior lado leste é
fechada seis dias trabalho mas dia o Sabbath aberta e dia o Hodesh
aberta”
Primeiramente, absolutamente nada na construção da frase exige
a interpretação de que só existe 3 tipos de dias (até por que já vimos
que por essa lógica existe pelo menos 5 tipo de dias) e muito menos
que um tipo de dia não possa se sobrepor ao outro. Nada na
gramática exige que o dia da Lua Nova seja “seu próprio dia”, não
um dia de trabalho ou um Shabat. Já foi determinado que:
• Um dia festivo pode sobrepor um dia de trabalho, tendo as
leis do dia festivo prioridade sobre as leis do dia de trabalho.
134 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

• Um dia festivo não se torna dia de descanso só porque é


festivo, a menor que uma ordem expressa estabeleça que este
dia não se possa trabalhar.
Logo, se a primeira afirmação é correta, é necessário então um
bom motivo para entender que a lua nova não pode cair sobre um dia
de trabalho ou um Sabbath, e se a segunda é verdadeira, é necessário
igualmente um bom motivo para entender que a lua nova seja um dia
que não se possa trabalhar.
No dia de Lua Nova, têm–se o registro de algumas atividades
que não podiam ser realizadas em dias de sábado, por exemplo:
Exo 19:1 No terceiro mês da saída dos filhos de Israel
da terra do Egito, no primeiro dia desse mês, vieram
ao deserto do Sinai.
Êxo 40:2 No primeiro mês, no primeiro dia do
mês, levantarás o tabernáculo da tenda da
congregação,
Êxo 40:17 E aconteceu no mês primeiro, no ano
segundo, ao primeiro do mês, que o tabernáculo foi
levantado;
Esd 7:9 pois, no primeiro dia do primeiro mês,
partiu da Babilônia e, no primeiro dia do quinto
mês, chegou a Jerusalém, segundo a boa mão do seu
Deus sobre ele.
Em Êxo 19:1 os israelitas estão viajando em plena Lua Nova,
atividade expressamente proibida num dia como o sábado, Esdras
escolheu justamente o dia de lua nova para começar sua viagem para
Jerusalém, ao invés de dedicar o dia a um culto a Deus, e em Êxo
40:2 e 17 eles estão trabalhando na construção do tabernáculo,
mesmo sendo o tabernáculo, não há nenhum paralelo de que isso
fosse algo aceitável de se fazer num sábado, a frase de Cristo de que
os sacerdotes violam o sábado e ficam sem culpa (Mat 12:5) tem a
ver exclusivamente com o ofício do templo (como fazer fogo por
exemplo, que era proibido aos sábados) e não com o transporte do
templo, montar e desmontar o tabernáculo era uma atividade
realizada apenas para transporte do tabernáculo pelo deserto, e viajar
aos sábados era estritamente proibido (Êxo 16:29), mas nem Esdras
se importou em viajar na lua nova, nem Deus se importou em mover
o povo pelo deserto na lua nova, pois era uma atividade que
claramente poderia ser feita na Lua nova, e em qualquer dia de
trabalho comum, porém jamais em dia que não se poderia trabalhar,
4.4. A LUA NOVA PODERIA CAIR EM UM DIA DE TRABALHO? 135

o que coloca a Lua Nova num mesmo patamar de dias de trabalho


em pelo menos essa atividade.
Nesse ponto, o argumento pode voltar da seguinte forma: “viajar
era uma atividade proibida somente no sábado, não em qualquer
outro dia festivo, mesmo os dias que não se pode trabalhar”
Isso é verdade, pelo menos em parte, porém os dias festivos que
não se pode trabalhar são descritos todos como santa convocação,143
o que implica em uma reunião solene, algo que não poderia ser feito
em meio a uma viagem, o que indica que viagens não eram feitas em
nenhum dia que não se podia trabalhar, e como adição a esse
argumento, há o fato de que a bíblia não descreve nenhuma viagem
em qualquer dia que não se podia trabalhar, mas claramente nada no
dia da Lua Nova proibia viagens de serem feitas.
Ainda outro texto mostra Deus ordenando que se trabalhasse na
lua nova:
Age 1:1 No segundo ano do rei Dario, no sexto mês,
no primeiro dia do mês, veio a palavra do
SENHOR, por intermédio do profeta Ageu, a
Zorobabel, filho de Salatiel, governador de Judá, e a
Josué, filho de Jozadaque, o sumo sacerdote, dizendo:
Age 1:2 Assim fala o SENHOR dos Exércitos: Este
povo diz: Não veio ainda o tempo, o tempo em que a
Casa do SENHOR deve ser edificada.
Age 1:7 Assim diz o SENHOR dos Exércitos:
Considerai o vosso passado.
Age 1:8 Subi ao monte, trazei madeira e edificai a
casa; dela me agradarei e serei glorificado, diz o
SENHOR.
Age 1:12 Então, Zorobabel, filho de Salatiel, e
Josué, filho de Jozadaque, o sumo sacerdote, e todo
o resto do povo atenderam à voz do SENHOR, seu
Deus, e às palavras do profeta Ageu, as quais o
SENHOR, seu Deus, o tinha mandado dizer; e o povo
temeu diante do SENHOR.
Deus ordenou que Zorobabel:
• Subisse ao monte
• Cortasse árvore
• Trouxesse a madeira do monte

143
Sabbath (Lev 23:3), Páscoa/Pães ásmos (Êxo 12:16 (2x); Lev 23:7, 8; Num
28:18, 25), Festa das semanas / primícias (Lev 23:21; Num 28:26), Primeiro dia da
festa das trombetas (Lev 23:24; Num 29:1), Yon Kippur (Lev 23:27; Num 29:7),
Tabernáculos (Lev 23:35, 36; Num 29:12).
136 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

• Construísse o Templo
Claro que provavelmente nem tudo tenha sido feito no mesmo
dia, e independente deles terem começado naquele mesmo dia ou 10
anos depois, o fato é que Deus ordenou que trabalho fosse feito
no primeiro dia do mês, e tanto Zorobabel, quanto o filho do Sumo
sacerdote e o povo inteiro obedeceram às palavras do Senhor, no
primeiro dia do mês!
Como se não bastasse, a tradição rabínica do século IV a.C.
(Pouco depois do exílio, menos de 200 anos de distância de
Ezequiel) já nos garante essa igualdade da lua nova com um dia de
trabalho, conforme apresentado claramente no capítulo “7. Talmud e
o calendário lunar.”
Assim, parece mais lógico que o texto esteja simplesmente
dizendo que a porta do átrio fica fechada a semana toda, os 6 dias,
porém contrastando aos seis dias, o sabbath, que não faz parte desses
seis dias, a porta seria aberta, e além do Sabbath, no dia de Lua Nova
ela também seria aberta. Não há uma conexão causativa como:
“a porta fica fechada nos seis dias de trabalho, portanto só será
aberta no sábado e lua nova”
Essa frase certamente indicaria que o sábado e a lua nova não são
dias de trabalho, pois o portanto conclui que tanto sábado quanto
Lua Nova definitivamente não são dias de trabalho. Porém, não é
isso que diz o texto, de forma mais simplista possível, o texto tem
uma frase longa que diz que a porta fecha seis dias e abre no sábado,
contratando os seis dias com o sábado, e então uma conjunção
aditiva, “e na lua nova abre”.
“A porta do átrio interior estará fechada nos seis dias de trabalho
mas no sábado aberta e na lua nova aberta”
Duas vezes o texto diz: “aberta” porém há apenas uma partícula
adversativa entre os seis dias de trabalho e o sábado. Porém, o que
une a oração da lua nova à oração do sábado é uma conjunção
aditiva, o que indica soma, não contraste, isso é, além do sábado,
haverá mais um dia que a porta se abrirá: Na Lua Nova! Nada nesse
texto contrasta a lua nova com os seis dias de trabalho, a conjunção
está fazendo apenas uma soma, abrindo uma exceção.
O argumento todo dos DSL pressupõe que a Lua Nova não possa
cair em um sábado nem em um dia de trabalho, mas não há nada no
texto que obrigue essa pressuposição. O silogismo cai em assumir
que a Lua Nova precisa de “seu próprio dia” e que não possa cair
4.4. A LUA NOVA PODERIA CAIR EM UM DIA DE TRABALHO? 137

em um dia de trabalho ou sábado, mas de novo, não existe nada no


texto que obrigue isso. A lua nova é somente um dia especial com
ofertas especiais para esse dia em que a porta do templo ficaria
aberta (pelo menos a partir de 580 a.C., mas nada em texto nenhum
indica que por sua causa o trabalho deveria ser cessado.
Se o silogismo ainda não ficou claro, vamos transformar a
mesma frase em um mandamento: “Compre gasolina nos seis dias
de trabalho mas no sábado não compre gasolina e no primeiro dia
de cada mês não compre gasolina". A construção da frase é idêntica.
A armadilha lógica dos DSL é baseada em seu falso pressuposto de
que essa frase obrigue o primeiro dia do mês a não ser um dia de
trabalho, nem um sábado, a armadilha é mais ou menos assim:
Digamos que o primeiro dia do mês caia numa quarta-feira, e
digamos que eu te pergunte: “Você poderia comprar gasolina hoje,
ou não?” Se você disser “Compre, pois é um dia de trabalho” eu
poderia responder: “Mas é o primeiro dia do mês, você não pode
comprar”. Se você concordar comigo e disser: “Ok, é o primeiro dia
do mês, você não pode comprar” eu responderia: “Mas quarta-feira
é um dia de trabalho, você está permitido a comprar nesse dia".
Perceba que o problema não existe de fato, a lei é clara que por
ser o primeiro dia do mês não poderia comprar a gasolina, mas o
silogismo dos DSL quer tornar esse problema inexistente em um
muro lógico intransponível. Em ambas as frases é exatamente o
mesmo mandamento, mas nada obriga que o primeiro dia do mês
seja “um dia só dele” que não seja nem um dia de trabalho nem um
sábado. É bastante simples.

Assim, não havendo nada que proíba a lua nova de cair em um


dia de trabalho, ou mesmo num Sabbath, fica clara que a intensão do
texto era adicionar a porta aberta na Lua Nova, independente
(partícula aditiva) de em qual dia da semana ela caísse, prevaleceria
a firmada regra do dia festivo, ou mesmo que caísse num sábado, a
porta estaria aberta de qualquer maneira.
Assim, o texto apresenta uma regra (porta fechada na semana e
aberta no sábado) e uma exceção adicionada (aberta na lua nova),
satisfazendo 100% das possibilidades e não restando nenhuma
exceção adicional como teria que ser feito, caso se adotasse o
calendário dos DSL.
Uma vez que
138 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

1. a lógica modal não indica que a Lua Nova tenha um dia


exclusivo dela mesma pelo texto de Eze 46:1 ou qualquer
outro texto,
2. que biblicamente não há texto nenhum que indique que na
Lua Nova não se possa trabalhar, e um dos critérios
hermenêuticos é explicar textos ambíguos através de textos
mais simples, e não o contrário, interpretar que a Lua Nova
teria exclusividade num dia só dela que não seja interpolado
com nenhum outro dia com base em um texto cuja
construção gramatical não exige isso, e cuja lógica modal
também não o exige, muito pelo contrário, é no mínimo
forçado.
3. com a luz que podemos obter de outros textos, fica claro que
a Lua Nova estava no conjunto de dias em que se podia
trabalhar, e não nos que não se podia.
Então é lógico que a lua nova era um dia de trabalho normal, no
entanto, festivo com responsabilidades religiosas, e por isso, a porta
do átrio seria aberta como uma exceção à regra.
4.5. Conclusão parcial do capítulo

1. Nunca foi ordenado que não fosse feito nenhuma obra no dia
de Lua Nova
2. Nunca foi ordenado que não fosse feito nenhuma obra servil
no dia de Lua Nova
3. O dia de Lua Nova nunca foi chamado de Santa Convocação
4. O dia de Lua Nova nunca foi chamado de Repouso ou
Descanso
5. O verbo “descansar” jamais foi usado em associação à Lua
Nova
6. Nunca foi ordenado que se guardasse o dia de Lua Nova
7. Nunca foi ordenado que se celebrasse o dia de Lua Nova
8. Nunca foi ordenado que santificasse o dia de Lua Nova
9. O dia da lua nova nunca foi chamada de Assembléia Solene
10. A Bíblia nunca falou de mais de uma Lua Nova no mesmo
mês
11. Havia um costume de se visitar profetas no dia de Lua Noa
12. Unicamente no dia de Lua Nova do sétimo mês foi proibido
qualquer trabalho.
13. Havia dias de trabalho que eram festivos
14. Havia dias festivos que se devia trabalhar
15. Havia dias de trabalho que não se podia trabalhar
16. É possível que um dia que era proibido trabalhar sobrepor um
dia de trabalho
17. Caso um dia que era proibido trabalhar sobrepusesse um dia
de trabalho, a proibição do trabalho tem prioridade sobre o
trabalho.
18. Assim, não existe uma lei que proíba que um tipo de dia
sobreponha outro tipo de dia
19. Não existe nenhuma estrutura gramatical ou texto que
obrigue a interpretação de um dia exclusivo para a Lua Nova
20. Os escritos rabínicos desconhecem uma proibição de trabalho
no dia da Lua Nova
140 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

Logo, não era, nunca foi, e nunca vai ser proibido trabalhar na
lua nova. Apenas isso é suficiente para invalidar a tese do sábado
Lunar, porém, não acaba por aqui.
5. QUAL O MELHOR CALENDÁRIO FESTIVO?

Nesse ponto, qualquer DSL encheria a boca para dizer que o


calendário deles é o único que se encaixa com as festas bíblicas, e
embora nunca tenha visto alguém fazer, é possível que ainda tentem
impressionar mostrando o calendário anual como esse que eu mesmo
fiz:144

144
A sequência dos meses é: Nissan, Iyar, Sivan, Tammuz, Av, Elul, Tishrei,
Cheshvan, Kislev, Teve, Shevat, Adar, e quando necessário, BeAdar.
142 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?
5. QUAL O MELHOR CALENDÁRIO FESTIVO? 143

A maioria dos DSL que eu conheço não conhecem muito de


calendário, então eu mesmo fiz o calendário deles para ajudar, com
os 30º dias aleatórios, não precisando ser necessariamente nesses
meses que escolhi. Mas o fato é que, olhando por cima, sim, todas as
festas cabem no calendário do Sábado Lunar, porém alguns detalhes
que precisam ser observados:
1. A redundância dos dias de proibição ao trabalho
2. A festa da Páscoa
3. A festa das Semanas – Pentecostes (Shavuot)
Muito provavelmente, os capítulos 7 a 10 de João sigam uma
sequência cronológica ininterrupta, a grande maioria dos cronologias
do Novo Testamento assim confirmam, o que seria ainda uma prova
que o ultimo dia da festa das trombetas (dia 22) não era um sábado,
pois no dia seguinte (dia 23) Jesus foi acusado de curar um cego no
tanque de Siloé num sábado (Joã 9)… Porém como são muitos
discursos entre o capítulo 7 e 9, mesmo nada indicando a passagem
de dias entre o claro dia 23 do capítulo 8 e o sábado do capítulo 9,
facilmente alguém pode propor que houve um salto temporal, por
não contem nenhuma frase como “naquele dia” ou qualquer coisa
parecida, apesar de estar bem claro no texto, não vamos adentrar
essa questão por ela ser facilmente escorregável, mas vamos falar
detalhadamente de cada uma das observações levantadas
anteriormente.
6. A REDUNDÂNCIA DOS DIAS DE DESCANSO

Esse ponto é bem simples, se prestar atenção, de acordo com o


calendário dos DSL, 3 dos 6 dias de descanso anuais eram em um
sábado.
1. O primeiro descanso da Páscoa era num sábado
2. Os dois descansos da festa dos Tabernáculos também seriam
em sábados
O discurso das festas em Levítico 23 é introduzido pela
reafirmação do sábado do sétimo dia (e pelo esquecimento de
mencionar a Lua Nova). O texto diz:
Lev 23:1 Disse o SENHOR a Moisés:
Lev 23:2 Fala aos filhos de Israel e dize–lhes: As
festas fixas do SENHOR, que proclamareis, serão
santas convocações; são estas as minhas festas.
Lev 23:3 Seis dias trabalhareis, mas o sétimo será
o sábado do descanso solene, santa convocação;
nenhuma obra fareis; é sábado do SENHOR em
todas as vossas moradas.
Essa é uma referência direta ao mandamento, a primeira coisa
que Deus se preocupou em estabelecer é o que é o Sabbath, o sétimo
dia, e que esse dia seria de descanso (Shabbathon), santa convocação
(miqra’ qodesh), e que qualquer tipo de obra era proibida (kol
melahkah lo asah), além da diferenciação exclusivista sabbath hu
leYHWH já discutido no capítulo “1. Como contar as semanas?,”
tudo isso para deixar bem estabelecido que o sábado recebia todos os
adjetivos de um dia de descanso completo em um mesmo verso,
antes de falar de qualquer outra festa, o sábado do sétimo dia é
6. A REDUNDÂNCIA DOS DIAS DE DESCANSO 145

apontado como a ocasião mais objetivamente de repouso apontada


pelo SENHOR, e do SENHOR.
A partir daí o Senhor começa a falar da Páscoa e das demais
festas, mas logo em seguida, inicia–se o discurso da Páscoa,
Lev 23:4 São estas as festas fixas do SENHOR, as
santas convocações, que proclamareis no seu tempo
determinado:
Lev 23:5 no mês primeiro, aos catorze do mês, no
crepúsculo da tarde, é a Páscoa do SENHOR.
Lev 23:6 E aos quinze dias deste mês é a Festa dos
Pães Asmos do SENHOR; sete dias comereis pães
asmos.
Lev 23:7 No primeiro dia, tereis santa convocação;
nenhuma obra servil fareis;
Lev 23:8 mas sete dias oferecereis oferta queimada ao
SENHOR; ao sétimo dia, haverá santa convocação;
nenhuma obra servil fareis.
Como que num lapso de memória, 3 versos depois de falar que o
sábado era o descanso dos descansos, o verso 6 estabelece que a
festa dos Pães Asmos começaria sempre no dia 15, e por esse dia
iniciaria–se uma contagem de sete dias comendo Pães ásmos, e no
primeiro e último dia dessa contagem teria santa convocação, e
nenhuma obra servil poderia ser feita. O verso 7 é claro que a santa
convocação não era por que era dia 15, mas porque o primeiro e
último dia dessa contagem de 7 dias comendo Pães ásmos seriam
santa convocação, e nenhuma obra poderia ser feita. Pode parecer
irrelevante essa discussão, mas preste atenção em dois detalhes que
geralmente passam desapercebidos:
1. Se o dia 15 era fixamente um sábado, sempre, e todo sábado
já era santa convocação por natureza (não faz nem 4 versos
que Deus havia acabado de falar isso), pra que dizer que o
primeiro dia da contagem era santa convocação, se era muito
mais fácil simplesmente dizer ou relembrar o óbvio que não
deu nem tempo de ser esquecido ainda: que sendo dia 15,
isso é, sábado no calendário dos DSL, automaticamente seria
santa convocação?
A ênfase do texto é a contagem de sete dias “no primeiro dia” (v.
7), e não o dia do mês, afirmação bastante ilógica caso o dia 15 fosse
necessariamente um sábado, mas esse não é nem de longe a pior
redundância desse mesmo texto:
146 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

1. Se o dia 15 era fixamente um sábado, sempre, e todo sábado


vinha com a ordem “nenhuma obra fareis” (não faz nem 4
veros que Deus havia acabado de falar isso), pra que dizer
“nenhuma obra servil fareis” no primeiro dia da contagem?
Preste atenção na diferença das duas afirmações, no verso 3 Deus
diz absolutamente sobre o sábado: “Nenhuma obra fareis”, isso
inclui basicamente qualquer tipo de serviço ou esforço. 4 versos
depois, falando de um dia 15 que supostamente (segundo a lógica
dos DSL) deveria ser um sábado, Deus declara: “Nenhuma obra
servil fareis”.
É como se o presidente do Brasil decretasse: “Todo domingo é
proibido pular corda!” é um decreto absoluto, que não abre
excessões ou precedentes, simplesmente não pode pular corda no
domingo de forma alguma, mas ao mesmo tempo, faz outro decreto:
“No dia dos pais (que é sempre o segundo domingo de agosto), é
proibido pular corda com um pé só!” De duas, uma:
1. Ou o segundo decreto anula o primeiro, e no domingo do dia
dos pais exclusivamente passa a ser permitido pular corda
com os dois pés ou de qualquer outra forma que não seja com
um pé só.
2. Ou o segundo decreto não vale de nada, uma vez que a
proibição vigente já era muito mais restritiva que a nova
proibição.
De qualquer modo, um dos dois decretos deve ser invalidado.
Um presidente que faz dois decretos auto–exclusivos em sequencia,
obriga que qualquer um que cumpra apenas a segunda regra,
transgrida irremediavelmente a primeira. Regras assim não podem
vir de um presidente sério, nem com bom senso.
Agora, se o mesmo presidente decretar: “Todo domingo é
proibido pular corda!” que é o mesmo decreto absoluto, e em
seguida decretar: “No dia da independência do Brasil, é proibido
pular corda com um pé só!” Agora sim ambos os decretos fazem
sentido:
1. Todo domingo é inquestionavelmente proibido pular corda.
2. Todo dia 7 de setembro é inquestionavelmente proibido pular
corda com um pé só.
3. Quando o dia 7 de setembro cair em um domingo,
permanece a lei do domingo, por ser mais abrangente.
6. A REDUNDÂNCIA DOS DIAS DE DESCANSO 147

Nesse caso, essa terceira afirmativa só seria necessária em caso


de sobreposição de dias, seria portanto, uma exceção à regra, e a
segunda regra não seria uma regra auto–exclusiva com a regra
anterior, pois geralmente o dia da independência não caia num
domingo.
Se Deus decreta que no sábado nenhuma obra poderia ser feita
no verso 3, e 4 versos depois diz que no dia 15 de Nissan nenhuma
obra servil poderia ser feita, só há três conclusões possíveis:
1. Deus foi auto–contraditório e criou uma regra só para ser
transgredida pelos seus súditos.
2. Deus acabou de abolir a regra que Ele mesmo acabou de
estabelecer.
3. O 15º dia de Nissan não era necessariamente um sábado.
Em suma, ou admitimos um Deus contraditório, ou admitimos
que os dias 15 do calendário não são sábados fixos.
Pior ainda é que essa não é a única vez que isso acontece:
Lev 23:34 Fala aos filhos de Israel, dizendo: Aos
quinze dias deste mês sétimo, será a Festa dos
Tabernáculos ao SENHOR, por sete dias.
Lev 23:35 Ao primeiro dia, haverá santa
convocação; nenhuma obra servil fareis.
Lev 23:36 Sete dias oferecereis ofertas queimadas ao
SENHOR; ao dia oitavo, tereis santa convocação e
oferecereis ofertas queimadas ao SENHOR; é reunião
solene, nenhuma obra servil fareis.
Aqui esse problema é elevado ao quadrado. Novamente a festa
começa no dia 15, que supostamente é um sábado, o foco está
novamente na contagem de sete dias, a proibição da contagem está
novamente no primeiro dia da contagem, e não ligado ao dia do mês,
novamente as mesmas palavras usadas para indicar o descanso do
sábado no verso 3 são repetidas aqui (sendo que supostamente cairia
sempre num sábado) mas aqui tem o agravante da santa convocação
ser no oitavo dia, isso é, não era no dia 21 (supostamente o sexto dia
da semana) como nos Pães ásmos, mas cairia no dia 22, que seria
supostamente outro sábado, e novamente, a redundância acontece
diminuindo a proibição que já estava vigente, implicando em um
Deus contraditório se quiser defender o calendário dos DSL, ou
implicando na admissão de que o calendário dos DSL está errado.
Talvez a única defesa possível para o argumento seja: “Mas
havia muitos tipos de procedimentos que deveriam ser feitos nos
sábados e nas festas, a proibição do sábado era para uns
148 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

procedimentos, e a proibição das festas era para outros


procedimentos".
Quem apela para esse argumento espera que seu público engula
qualquer coisa facilmente, os DSL jamais farão uma tabela distintiva
mostrando quais são esses procedimentos de que eles estão falando,
que poderiam ser feito nos dias que nenhuma obra era permitida e
que não fossem permitidos em dias que nenhuma obra servil fosse
permitida.
O fato para além do “achismo” é que “Nenhuma obra” engloba
tudo que “Nenhuma obra servil” engloba, e ainda mais. Esses
argumentos genéricos “havia muito…”, “todos mundo sabem que…”
ou “os judeus faziam/pensavam…” que não vêm acompanhados de
provas, são apenas tentativas desesperadas de impressionar o público
e negar o óbvio, não passa de uma falácia que obriga o ouvinte a se
achar inferior por que não conhece a informação que o sujeito
acabou de inventar.
6.1. A redundância da Lua Nova

Assumindo ainda que o calendário do sábado lunar esteja


correto, as redundâncias não se limitam apenas ao sábado e festas,
mas a própria Lua nova, apresentar uma grande redundância:
Lev 23:24 Fala aos filhos de Israel, dizendo: No mês
sétimo, ao primeiro do mês, tereis descanso solene,
memorial, com sonidos de trombetas, santa
convocação.
Lev 23:25 Nenhuma obra servil fareis, mas trareis
oferta queimada ao SENHOR.
Os DSL costumam afirmar que existe algum lugar na bíblia que
proíba o trabalho durante as luas novas (apesar de jamais consegui
mostrar ou tal texto, isso quando não insistem em Ezequiel 46:1),
mas justamente por não existir este texto, paira a pergunta no ar: que
tipo de descanso seria exigido durante a lua nova de acordo com a
lógica dos DSL?
Resposta resposta à esta pergunta fica a critério de preferência
pessoal, uma vez que não existe um texto, cada um escolhe a
resposta que achar mais conveniente, mas qualquer uma das
respostas cria redundância, como é o caso de Lev 23:24–25.
Nenhuma Obra Fareis: Se for esse o caso de proibição na lua
nova, o DSL está pressupondo que a lua nova seja igual a um
sábado, a despeito da falta de qualquer texto para afirmar isso, a
redundância seria a mesma já apresentada por ocasião do 15º dia do
primeiro mês, o primeiro dia da festa dos Pães ásmos, e os dois dias,
o primeiro e último, da festa dos tabernáculos. Mesmo que a lua
nova estivesse no mesmo patamar de um sábado, então por que a lua
nova do sétimo mês, a única que é diferenciada das outras e descrita
como uma solenidade, é rebaixada ao nível de “nenhuma obra servil
fareis”? Sendo a lua nova em si mais restritiva, isso implicaria que o
Yom Teruah, a primeira lua nova de Tishrei, seria a lua nova menos
importante no ano inteiro, a única lua nova que não seria “nenhuma
obra fareis”.
150 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

Nenhuma Obra Servil Fareis: No caso do DSL admitir que a


lua nova não está no mesmo patamar de um sábado, a redundância
continua: por que Deus precisaria ordenar que Na lua nova do sétimo
mês fosse proibido o trabalho, e se realizasse santa convocação, se
isso não seria mais que o natural de toda a lua nova? O que a lua
nova do Sétimo mês teria de especial nesse caso? Seria apenas perda
de tempo chamar o Yom Teruah de festa.
Na verdade, não importa a visão que o DSL adote sobre a lua
nova, esse texto mostra que a lua nova normalmente é um dia de
trabalho, dado o fato que unicamente a lua nova do sétimo mês é
“promovida” ao método mais simples de proibição de trabalho, isso
prova que as luas novas em geral não o possuem essa proibição.
Alguém ainda pode tentar argumentar que é apenas uma forma
didática de Deus repetir coisas importantes, já que até a ordem de
guardar o sábado é repetida diversas vezes.
É verdade, o sábado é repetido várias e várias vezes, assim como
boa parte de toda a lei é repetida muitas vezes, mas esse é o ponto: O
pré–requisito para que algo seja repetido, é que ele já tenha sido
afirmado ao menos uma vez, caso contrário, não é repetição, é
revelação! Assim, fica a critério do DSL mostrar onde Deus afirma
que na Lua Nova não se poderia trabalhar, e já que estamos falando
de “repetição” essa ordem ainda deve ter sido revelada antes de
Levítico 23, caso não haja, então Lev 23:24–25 não repetiu
didaticamente nada, e nesse caso, é uma revelação, e a revelação diz
que: “A lua nova do sétimo mês deve ser uma santa convocação,
nenhuma obra servil fareis” e se a ordem é que a lua nova do 7º mês
seja um dia de descanso, isso implica logicamente que as luas novas
do 1º ao 6º mês e do 8º ao 12º (13º) mês não eram dias de descanso,
o que passar disso vêm do maligno (Mat 5:37).
6.2. Conclusão parcial do capítulo

Conforme visto até aqui:


1. No Sábado nenhuma obra pode ser feita
2. O Sábado é dia de santa convocação
3. O sábado é dia de descanso solene
4. No dia 15 de Nissan, 15 e 22 de Tishrei nenhuma obra servil
pode ser feita
5. No dia 15 de Nissan, 15 e 22 de Tishrei é santa convocação
6. Então, se o dia 15 e 22 de todo mês fosse um sábado, Deus
estaria se contradizendo em diminuir o tipo de restrição que
já seria vigente àquele dia.
Ainda:
1. Se toda lua nova é descanso
2. Se toda lua nova é santa convocação
3. Então a Lua Nova do sétimo mês não é nada de especial e os
judeus entenderam errado ao considerando-a a lua nova mais
importante do ano.
7. A PÁSCOA

Nenhuma festa é tão mencionada em toda a Bíblia quanto a festa


da Páscoa. Mas se o calendário dos DSL estiver correto, então todas
as Páscoas mencionadas na Bíblia precisam necessariamente ser:
• 14º de Nissan – 6º dia da semana
• 15º de Nissan – Sabbath
• 16º de Nissan – 1º dia da semana
Invariavelmente sem nenhuma exceção. É verdade que a grande
maioria das vezes que a bíblia fala da Páscoa / Pães ásmos ela não se
preocupa em falar em que dia da semana foi, mas há pelo menos dois
eventos na Bíblia que fala da páscoa e faz questão de falar em que
dia da semana que caiu: A primeira Páscoa em Canaã e A última
Páscoa de Jesus com os discípulos.
Se o calendário dos DSL for real, o mínimo que se espera é que
passe no teste de todas as páscoas no mesmo dia da semana, e por
isso, vamos analisar os dois momentos onde é descrito o dia da
semana da páscoa para tirar a prova real.
7.1. A primeira Páscoa em Canaã

Por mais que Levítico 23 estabelecesse uma norma a ser seguida


anualmente, é inegável que o alvo primário do texto se referia ao
tempo em que o povo de Israel chegasse à terra prometida:
Lev 23:10 Fala aos filhos de Israel e dize-lhes:
Quando entrardes na terra, que vos dou, e segardes
a sua messe, então, trareis um molho das primícias
da vossa messe ao sacerdote;
Lev 23:11 este moverá o molho perante o SENHOR,
para que sejais aceitos;
Lev 23:12 no dia imediato ao sábado, o sacerdote o
moverá. No dia em que moverdes o molho,
oferecereis um cordeiro sem defeito, de um ano, em
holocausto ao SENHOR.
Lev 23:14 Não comereis pão, nem trigo torrado,
nem espigas verdes, até ao dia em que trouxerdes a
oferta ao vosso Deus; é estatuto perpétuo por vossas
gerações, em todas as vossas moradas.
Então aqui estabelece uma sequencia clara de eventos que
necessitariam ser cumpridos na ordem exata:
1. Entrar na terra (Lev 23:10)
2. Colher a primeira colheita (Lev 23:10)
3. Trazer um molho dessa primeira colheita ao sacerdote (Lev
23:10)
4. O Sacerdote move o molho perante o SENHOR no dia
imediato ao sábado (Lev 23:11-12)
5. Então poderiam comer os frutos da terra (Lev 23:14)
A polêmica pode girar em torno do 4º e 5º passo, os frutos da
terra poderiam ser comido após entregar o molho da primeira
colheita ao Sacerdote, ou só depois do sacerdote mover o molho
perante o Senhor? Por mais irrelevante que pareça essa discussão,
isso faz diferença quanto ao cumprimento.
A vertente que interpreta que poderia se comer os frutos da terra
desde a entrega do molho, e não do dia que o sacerdote movia o
molho, foca a interpretação no verso 10 onde diz que o molho deve
154 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

ser trazido ao sacerdote indefinidamente em algum momento após a


colheita, e se, de acordo com o calendário dos DSL, a páscoa, dia 14,
acontece no 6º dia da semana, então a colheita poderia ter sido feita
qualquer dia entre o 1º dia da semana (dia 9) e o próprio 6º dia da
semana (dia 14), mas o molho só seria movido perante o Senhor no
1º dia da outra semana (dia 16), porém, nesse caso, poderiam comer
os frutos da terra desde o 1º dia da semana, quando trouxeram o
molho ao sacerdote.
A vertente que interpreta que só poderia se comer os frutos após
o sacerdote mover o molho, foca a interpretação no verso 14, que diz
que só poderiam comer os frutos da terra no dia em que trouxessem
a oferto ao Senhor, e não ao sacerdote. Os versos 11-12 são claros
em dizer que o molho entregue ao sacerdote só estaria perante o
Senhor no dia em que o sacerdote o movesse, no dia imediato ao
sábado, e como a ordem do verso 14 era não comer os frutos da terra
até trazerem a oferta ao Senhor, e não ao sacerdote, só poderiam
comer os frutos da terra a partir do dia imediato ao sábado, quando
se movesse o molho.
Diferente da polêmica de trabalhar ou não na lua nova, ambos os
lados parecem ter, nesse ponto, base bíblica para afirmar suas
interpretações, essa dúvida só poderá ser esclarecida firmemente ao
acompanharmos o cumprimento dessas palavras, descrito no 5º
capítulo do Josué:
Jos 5:10 Estando, pois, os filhos de Israel acampados
em Gilgal, celebraram a Páscoa no dia catorze do mês,
à tarde, nas campinas de Jericó.
Jos 5:11 Comeram do fruto da terra, no dia
seguinte à Páscoa; pães asmos e cereais tostados
comeram nesse mesmo dia.
Jos 5:12 No dia imediato, depois que comeram do
produto da terra, cessou o maná, e não o tiveram mais
os filhos de Israel; mas, naquele ano, comeram das
novidades da terra de Canaã.
Esse texto demonstra o cumprimento de toda a ordem expressa
em Lev 23, apesar de não apresentar 3 dos cinco passos.
1. Entraram na terra (Jos 3:14-17)
2. Colheram a primeira colheita (Não menciona)
3. Trouxeram um molho ao sacerdote (Não menciona)
4. O sacerdote moveu o molho perante o Senhor (Não
menciona)
7.1. A PRIMEIRA PÁSCOA EM CANAÃ 155

5. O povo comeu os frutos da terra no dia seguinte à páscoa (Jos


5:11)
O texto não fala quando trouxeram o molho, e muito menos
quando o sacerdote o moveu, mas uma coisa é clara no texto: Os
frutos da terra só foram comidos no dia seguinte à páscoa, e não
antes dela, o que significa que ou:
a. a colheita foi feita apenas no dia seguinte à páscoa, ou
b. eles só poderiam comer depois do sacerdote mover o molho
Os DSL devem ser rápidos em afirmar que o dia seguinte à
páscoa deve ser o dia 16, o dia em que o molho seria movido,
satisfazendo as duas alternativas, pois caso contrário, isso indicaria
que a colheita teria sido feita no dia 15, que no calendário deles se
trata de um sábado, e portanto, invalidaria o seu próprio calendário
pela impossibilidade do hebreu fazer a colheita (trabalho) em um
sábado. Então nesse ponto, é necessário que um DSL admita que só
poderia comer os frutos da terra no dia imediato ao sábado quando o
molho fosse movido, isso é, o 1º dia da semana, assumindo que a
páscoa é o dia 15, e o dia seguinte à páscoa também é o dia imediato
ao sábado, o dia 16. Logo, comparando Levítico com Josué,
Jos 5:11 Comeram do fruto da terra, no dia seguinte
à Páscoa; pães asmos e cereais tostados comeram
nesse mesmo dia.
Lev 23:12 no dia imediato ao sábado, o sacerdote o
moverá. No dia em que moverdes o molho,
oferecereis um cordeiro sem defeito, de um ano, em
holocausto ao SENHOR.
um DSL é obrigado a afirmar que:
1. Os frutos só poderia ser comigo no dia em que se movesse o
molho
2. A páscoa é 15º dia de Nissan, e o dia seguinte à páscoa é o
16º dia de Nissan
O calendário dos DSL depende dessas duas afirmações, pois se 1
for falsa, a colheita teria ocorrido num sábado, e portanto, dia 15 não
poderia ser sábado; se 2 for falsa, então o dia seguinte à páscoa seria
dia 15, o dia que se moveu o molho por ser o primeiro dia da
semana, e portanto, dia 15 não era um sábado.
A afirmativa 1 parece ser mesmo a mais lógica, visto que os
frutos da terra só foram comido depois da páscoa, e não antes,
provavelmente a colheita poderia ter sido realizada antes do dia
156 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

imediato ao sábado independente de que calendário se use, porém há


um problema sério com a afirmativa 2.
É correto que qualquer calendário rabínico atual aponte a páscoa
como o dia 15, e o dia 14 apenas a véspera da páscoa. Na teologia
bíblica, essa afirmativa, no âmbito teológico, não está errada, pois o
significado original da páscoa só aconteceu no dia 15:
Êxo 12:27 Respondereis: É o sacrifício da Páscoa ao
SENHOR, que passou por cima das casas dos filhos
de Israel no Egito, quando feriu os egípcios e livrou
as nossas casas. Então, o povo se inclinou e adorou.
Êxo 12:29 Aconteceu que, à meia-noite, feriu o
SENHOR todos os primogênitos na terra do Egito,
desde o primogênito de Faraó, que se assentava no
seu trono, até ao primogênito do cativo que estava na
enxovia, e todos os primogênitos dos animais.
Êxodo 12:27 é claro em definir o que é a páscoa: “que passou
por cima das casas dos filhos de Israel no Egito, quando feriu os
egípcios e livrou as nossas casas” e isso aconteceu: “à meia-noite”,
levando em consideração que o dia Bíblico começa e termina ao pôr
do sol, a meia noite após o sacrifício do dia 14 é de fato dia 15, a
proibição do trabalho está no dia 15, a santa convocação é só no dia
15, e por isso, tradicionalmente, a páscoa é o dia 15.
Porém, na linguagem Bíblica, páscoa não é um dia, mas um
momento:
Lev 23:5 no mês primeiro, aos catorze do mês, no
crepúsculo da tarde, é a Páscoa do SENHOR.
Aqui, Páscoa claramente se trata do sacrifício do cordeiro. Em
português, associamos “crepúsculo da tarde” ao pôr do sol, em
hebraico, porém, “beyn haerevim” significa literalmente “entre
tarde”, motivo pelo qual os sacrifícios da Páscoa eram realizados
entre o sol a pino (meio dia – tarde alta) e o pôr do sol (tarde baixa).
A Páscoa, literalmente falando, era o sacrifício do dia 14. Na bíblia
Hebraica, o termo “a Páscoa” está sempre se referindo ao sacrifício
da Páscoa (a um ou a todos eles). O “dia seguinte à Páscoa” é
claramente o dia seguinte ao sacrifício da Páscoa. Esse é o uso usual
em toda a Bíblia:
Num 33:3 partiram, pois, de Ramessés no décimo
quinto dia do primeiro mês; no dia seguinte ao da
Páscoa, saíram os filhos de Israel, corajosamente, aos
olhos de todos os egípcios,
O texto é claro e demonstra o uso da expressão na Bíblia
hebraica, o dia seguinte à páscoa, o dia em que o povo de Israel
7.1. A PRIMEIRA PÁSCOA EM CANAÃ 157

saiu do Egito, é sem sombra de dúvida o 15º dia do primeiro mês. O


sacrifício foi feito no final do 14º dia do Primeiro Mês, e comido na
noite que começou o 15º dia do Primeiro Mês (ver Êxodo 12:18;
Deuteronômio 16: 4). O dia seguinte à Páscoa é, portanto, o 15º dia
do Primeiro Mês Hebraico. Portanto, a oferta do Omer no ano em
que entraram na terra ocorreu no 15º dia do mês, e portanto, o 15º
dia de Nissan foi ao mesmo tempo o dia seguinte à Páscoa e o dia
imediato ao sábado, isso é, o primeiro dia da semana. Assim, de
acordo com o calendário dos DSL,
1. A oferta do Omer só poderia ser movida no dia 16
2. Os Israelitas só poderiam comer os frutos da terra no dia em
que o molho era movido, pois a colheita não poderiam ter
sido feita num sábado
3. O dia seguinte à Páscoa, o dia em que se comeu os frutos da
terra, precisa ser irremediavelmente o dia 16, pois a colheita
não poderia ter sido feita num sábado e o dia 15 não pode ser
o 1º dia da semana
4. O dia que os frutos da terra foram comidos foi
definitivamente o dia seguinte à páscoa
5. Porém, o dia seguinte à Páscoa é o dia 15, então 4.
necessariamente está errado
6. Portanto o dia em que comeram dos frutos da terra foi o dia
15
7. O dia 15 foi também o dia seguinte ao sábado, o dia e que se
movia o molho, pois a colheita não poderia ter sido feita num
sábado, então mais uma vez 4. está necessariamente errado
8. Logo, o dia 15 não pode ter sido um sábado
A única interpretação possível é que o dia 15 não era um sábado,
mas sim, o primeiro dia da semana, caso contrario, implicaria em
transgressão do sábado por parte dos Israelitas. Independente de
qual das duas vertentes apresentadas no início do capítulo se adote, o
resultado será o mesmo, se assumir que só poderia comer os frutos
da terra no dia imediato ao sábado, então:
1. O dia imediato ao sábado era o mesmo dia seguinte à páscoa
(cf. Lev 23:12 e Jos 5:11)
2. O dia seguinte à Páscoa é o dia 15 (Num 33:3)
3. Logo, o dia 15 de Nissan foi o 1º dia da semana
Se assumir que já poderia comer os frutos desde o dia que
entregasse o molho ao sacerdote, isso é, a colheita, então:
158 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

1. Os frutos da terra só foram comidos no dia seguinte à páscoa


(Jos 5:11)
2. O dia seguinte à Páscoa é o dia 15 (Num 33:3)
3. Então a colheita foi feita no só no dia 15
4. Logo, o dia 15 pode ser qualquer dia, menos um sábado
A primeira solução é a mais lógica, pois a colheita não poderia
ter sido realizada no dia 15 de qualquer forma, pois no 15º dia de
Nissan, toda obra servil era proibida (Lev 23:5-8). Assim, fica certo
que o 15º dia do primeiro mês que os Israelitas estiveram na terra
prometida caiu no 1º dia da semana, invalidando completamente o
calendário dos DSL.
Sendo que Jos 5:12 fala unicamente do dia em que parou de cair
o maná, e não tem a ver com o dia de mover o molho, a única
objeção lógica que poderia ser feita seria adotando a segunda
conclusão, e inferindo que a colheita poderia ter sido feita no dia 14
ou anterior, mas o molho só foi levado ao sacerdote no dia 15, por
isso estariam liberados a comer no dia 15, e o molho teria sido
movido no dia 16.
Tomando em consideração a segunda conclusão, sim, isso seria
possível, não fosse o fato da exigência dos DSL que o dia 15 deve
ser um sábado, dia em que o próprio Deus manda que não se
poderiam carregar fardo algum, o que inclui o molho (Jer 17:21), e
ainda não poderiam andar de um lado para o outro (Êxo 16:29),
ainda mais carregando o molho, ainda que fosse com ajuda de
animais (Êxo 20:10).
Assim, se a preferência for pela segunda conclusão, segue a
conclusão inescapável que o o dia 15 pode ser qualquer dia, menos
um sábado. Se a preferência for pela primeira conclusão, segue a
conclusão inescapável que o dia 15 foi o 1º dia da semana, e não um
sábado como pregam os DSL.
7.2. A última Páscoa de Jesus

A outra Páscoa que é descrita explicitamente relacionada a um


dia foi a última Páscoa que Jesus celebrou com seus discípulos. Os
evangelhos sinópticos são unânimes quanto ao dia em que Jesus
realizou a ceia com os seu discípulos:
Mat 26:17 No primeiro dia da Festa dos Pães
Asmos, vieram os discípulos a Jesus e lhe
perguntaram: Onde queres que te façamos os
preparativos para comeres a Páscoa?
Mar 14:12 E, no primeiro dia da Festa
dos Pães Asmos, quando se fazia o sacrifício do
cordeiro pascal, disseram–lhe seus discípulos: Onde
queres que vamos fazer os preparativos para comeres
a Páscoa?
Luc 22:7 Chegou o dia da Festa dos Pães Asmos,
em que importava comemorar a Páscoa.
A pergunta óbvia é: A santa ceia foi uma legítima ceia pascal, ou
foi apenas uma refeição especial um dia antes da páscoa? Por mais
simples que pareça a pergunta, sua resposta abala muitas teologias
amplamente difundidas por aí. Os três evangelhos sinópticos são
bem detalhistas quanto ao tempo e ao evento, levando em
consideração as informações dos três evangelhos sinópticos, é
possível dizer inequivocamente que:
1. Era o primeiro dia dos Pães asmos (Mat 26:17; Mar 14:12;
Luc 22:7)
2. Era o dia que se fazia o sacrifício da Páscoa (Mar 14:12; Luc
22:7)
3. Os preparativos eram para comer a páscoa (Mat 26:17; Mar
14:12; Luc 22:8)
4. Jesus diz que comeria a Páscoa com os seus discípulos (Mar
14:14; Luc 22:11)
5. Jesus disse que celebraria a Páscoa com os discípulos
naquela casa (Mat 26:18)
6. A Páscoa foi preparada (Mat 26:19; Mar 14:16; Luc 22:13)
160 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

7. Jesus afirma ter desejado comer a páscoa com os discípulos


(Luc 22:15)
8. Naquela tarde (noite), comeram (Mat 26:20–21; Mar 14:17–
18)
9. A refeição continha pão e vinho (Mat 26:26–27; Mar 14:22–
23; Luc 22:19–20)
10. A refeição já estava acontecendo quando Jesus pegou o pão
(Mat 26:26; Mar 14:22)
O fato 10 é de particular importância, foi tira qualquer dúvida de
que a ceia se tratasse unicamente de pão e vinho, pois os textos
dizem que Jesus pegou o pão “enquanto comiam,” o que significa
que acima de qualquer controvérsia, a refeição já estava acontecendo
quando o pão e o vinho foram introduzidos. Que refeição? Os fatos 4
e 6 comprovam que Jesus relata seu desejo de comer a páscoa com
seus discípulos antes da preparação da páscoa (4) e depois dela já
preparada (6), portanto é lógico que se tratava da refeição pascal,
isso é, o cordeiro, afinal essa era a intenção pelo fato 3. Portanto,
somado todos os 10 fatos narrados pelos sinópticos, é evidente que
Jesus definitivamente comeu a Páscoa com os seus discípulos
naquela noite, no dia certo em que deveria fazer isso. Um dos
maiores pesquisadores do Judaísmo, Joachim Jeremias identifica 14
indícios favoráveis ao contexto pascal da última ceia de Jesus:145
1. Em Jerusalém: Os sinópticos e João situam a última ceia de
Jesus em Jerusalém, apesar do seu hábito de voltar todas as
tardes a Betânia, onde estava hospedado. Por que razão,
aquele dia, tomou a ceia em Jerusalém apesar da multidão
que ali se acotovelava (cerca de 100.000)? Tal circunstância
torna-se compreensível tratando-se de uma ceia pascal:
“Quem comer o cordeiro fora da cidade recebe 40
chicotadas” (Siphre Num. 69).
2. Local: A facilidade em conseguir o local para a ceia (Mar
14:13-15) denota uma circunstância especial. Parece que era
uso jerusalemitano ceder o local pela cabeça do cordeiro.
Trata-se, com certeza, de um indício precário.
3. Hora noturna: Os diversos testemunhos recordam esta
circunstância (ICo 11:23; Joã 13:30; Mar 14:17; Mat 26:20).
Pois bem, na Palestina do tempo de Jesus havia uma refeição
145
JEREMIAS, J. The Eucharistics Words of Jesus. Londres: SCM Press,
2011. ISBN 978-0334004141. pp. 80-82
7.2. A ÚLTIMA PÁSCOA DE JESUS 161

a meio da manhã (entre as 10 e as 11 horas) e outra a meio da


tarde (mesmo no Qumrân), que, sendo festiva, por vezes, se
prolongava pela noite a fora. Não parece que Jesus tivesse o
costume de tomar refeições de noite. Por ocasião da
multiplicação dos pães, ao cair da noite, sublinha–se que já
havia passado a hora da refeição (Mt 14:15). Porém, a ceia
pascal, essa, é celebrada de noite: “a Páscoa só de noite pode
ser comida” (Zebh. V,8; cf. Êxo 12:8). A hora noturna é,
portanto, um indício importante.
4. Jesus e os Doze: Esta refeição é reservada ao grupo mais
íntimo dos Doze (Mar 14:17), quando Jesus não costumava
selecionar os seus convivas. No entanto é uma circunstância
compreensível numa celebração pascal, para a qual se
requeria um grupo de em média 10 pessoas.
5. Reclinados: O judeus tomavam suas refeição quotidianas
sentados. Reclinados só em grandes festividades. Esta
posição era obrigatória, mesmo para os pobres, durante a ceia
Pascal, em sinal de liberdade.
6. Pureza levítica: Segundo João (13:10), a última refeição é
tomada em pureza levítica, aliás exigida aos leigos na noite
de páscoa (e só para este banquete).
7. Partir o pão: De acordo com o rito pascal, Jesus parte o pão
no decorrer da refeição (Mar 14:22; Mat 26:26), e não ao
princípio como era costume nas refeições normais.
8. O vinho (Mar 14:25): Entre os judeus, o vinho só fazia parte
da ementa dos dias festivos: circuncisão, noivado, casamento
e durante os sete dias de luto; Páscoa, Tabernáculos e
Pentecostes; para iniciar e terminar o dia de sábado. Para
além destas ocasiões, era usado como medicina. Na ceia
pascal não podia faltar (quatro cálices), mesmo que fosse
necessário recorrer à caixa dos pobres.
9. Vinho tinto: Na ceia pascal usava-se vinho tinto. O
simbolismo vinho/sangue sugere a presença de vinho tinto.
10. Judas vai às compras: Alguns discípulos pensam que Judas
saiu às compras para a festa (Jo 13:29), interpretando assim a
palavra de Jesus: “o que tens a fazer fá-lo depressa” (Jo
13,27). Tal interpretação é compreensível numa noite de
páscoa, na qual era lícito fazer compras. Se não fosse o dia
162 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

14 de Nizan, que necessidade havia de ir fazer compras de


noite para a festa?
11. Judas foi dar esmolas: Outros julgaram que ele tinha ido dar
esmolas (Joã 13:29), segundo o costume pascal de ajudar os
pobres a celebrar a páscoa (as taças de vinho). Em nenhuma
outra noite havia o costume de dar esmolas.
12. O cântido "hallel": A última ceia de Jesus termina com um
cântico de louvor (Mar 14:26; Mt 26:30). O cântico hallel é
parte integrante da ceia pascal (e só da celebração pascal).
13. Pernoitamento no monte das Oliveiras: Em vez de
regressar a Betânia, como nos dias anteriores, Jesus resolve
passar a noite no monte das Oliveiras. Tal circunstância só se
explica em noite de páscoa, na qual havia o preceito de
pernoitar em Jerusalém. A grande afluência de peregrinos
fizera alargar o círculo da cidade que ia até Beth-phage, não
até Betânia.
14. “Berakha” sobre o pão e o vinho: Jesus, ao explicar o
simbolismo do pão e do vinho, refere-os à sua morte. Trata-se
de um indício importante por nele se refletir a “berakha” que
o chefe de família pronunciava sobre o pão e o vinho. Em
resposta à pergunta de uma criança sobre o significado da
festa, o chefe de família explicava o significado do rito (Ex
12:26-27; 13:8) e dos alimentos: cordeiro, pão ázimo, ervas
amargas e os cálices (os 4 cálices do Faraó, 4 expressões da
salvação, 4 cálices da imolação de Israel). O sentido
messiânico-escatológico do pão e do vinho foram referidos
por Jesus à sua pessoa e destino.
Cada um desses indícios analisados separadamente, parecem
meramente ocasionais, porém considerados globalmente, levam
Joachim Jeremias a decidir-se em favor do carácter pascal da última
ceia de Jesus. Além disso, o autor refuta 11 objeções como
demasiado débeis para pôr em causa a conclusão pascal àquela ceia.
Portanto, podemos concluir que tanto o relato bíblico quanto a
cultura judaica inequivocamente garantem a natureza pascal daquele
evento.
Uma aparente dificuldade à essa interpretação surge do fato de
que todos os evangelhos iniciam dizendo que chegou o dia da festa
dos Pães asmos, porém relatam eventos que aconteceram durante o
dia, e concluem com o que aconteceu durante a noite, e se o dia já
7.2. A ÚLTIMA PÁSCOA DE JESUS 163

era o primeiro dia da festa dos Pães asmos, então a noite seria do dia
16, um dia depois do momento certo de comer a Páscoa. A lógica do
argumento está correta, apenas a contextualização não está.
De fato os evangelhos se referem ao dia, e dizem que era o
primeiro dia da Festa dos Pães asmos,146 então logicamente a noite já
iniciaria o segundo dia da festa, então, o dia 16. Porém, Lucas e
Marcos são mais cuidadosos e alem de afirmar que era o primeiro
dia dos asmos, ainda explicam que era o dia em que se fazia
o sacrifício da Páscoa. O que parece ser uma clara contradição, já
que claramente o cordeira pascal era sacrificado no dia 14 e comido
naquela noite, no dia 15, e não sacrificado no dia 15 e comido no dia
16. Mas tanto Lucas quanto Marcos não são apenas cuidadosos
quanto ao dizer que era o dia do sacrifício, como também, antes
mesmo de falar isso, cada um deles já explicam o que eles chamam
de Pães asmos:
Luc 22:1 Estava próxima a Festa dos Pães Asmos,
chamada Páscoa.
Lucas deixa claro que os termos Pães asmos e Páscoa eram
usados intercambiavelmente, mas uma objeção poderia ser
levantada: “Mas Lucas diz que só os Pães asmos eram chamados de
Páscoa, não a Páscoa de Pães asmos”. Apesar do texto não limitar o
termo ao “só” como na objeção, mas parecer deixar claro que ambas
as festas compartilhavam os nomes, Marcos também dá uma dica
sobre essa nomenclatura para acabar com a dúvida:
Mar 14:1 Dali a dois dias, era a Páscoa e a Festa
dos Pães Asmos; e os principais sacerdotes e os
escribas procuravam como o prenderiam, à traição, e o
matariam.
Marcos diz que ambos:
1. Páscoa
2. Pães asmos
Aconteceriam juntos, em dois dias, e foi justamente o dia em que
mataram o cordeiro, logo, é inequívoca a conclusão de que na
terminologia neotestamentária, os sinópticos chamam tanto a Páscoa
de Pães asmos e os Pães asmos de Páscoa. Por qual motivo
chamavam a páscoa do dia 14 de Pães asmos? Simples, por que era
nesse dia que o povo devia começar a comer Pães asmos:

146
No grego, nenhum dos evangelhos usa a palavra ἑκλ ή (eorte - festa) nem
ἄλ κμ (artos - pão), apenas dizem literalmente: “chegou o primeiro dos asmos”
164 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

Êxo 12:18 Desde o dia catorze do primeiro mês, à


tarde, comereis pães asmos até à tarde do dia vinte e
um do mesmo mês.
Os evangelhos usaram a expressão primeiro dos asmos para se
referir ao dia do sacrifico, a Páscoa, por que naquela mesma noite, já
comeriam o banquete pascal com Pães asmos, na parte escura do dia
15.

Mas alguém poderia afirmar que Jesus poderia ter adiantado a


Páscoa por saber que morreria no dia seguinte. A teoria da
antecipação é bastante famosa, mas falha em diversos aspectos:
1. A expressão “primeiro dos asmos” poderia claramente ser
aplicado ao dia 14, pois era a partir daquela noite que se
começava a comer Pães asmos, porém, não há como encaixar
essa expressão com o dia 13.
2. Marcos e Lucas são claros em dizer que era o dia em que se
sacrificava a páscoa, mesmo que Jesus quisesse ter adiantado
a páscoa, isso não faria o dia 13 ser o dia que se sacrificava a
páscoa.
3. A lei exigia que o cordeiro fosse morto na tarde do dia 14,
Jesus disse que veio cumprir a lei (Mat 5:17-18), não
reinventar a roda.
4. A suposta evidência de Josefo,147 que afirma que os judeus
celebravam a páscoa desde a noite do dia 14 é falsa, pois
tudo o que Josefo afirma é que a festa da páscoa era
celebrada por 8 dias, e não sete conforme a bíblia (2Cr 30:21;
2Cr 35:17; Est 6:22; Eze 45:21, 23), remetendo à tradição
rabínica de duplicar o primeiro dia da festa para ter certeza
que os judeus do exílio observassem a páscoa no dia certo,
pós–datando a festa até o dia 22, e não adiantado para a noite
doa dia 13/14 conforme decorrido no capítulo “4.1. Davi
festejava na Lua Nova com Saul?”
5. Por fim, a suposta contradição entre os Fariseus e Saduceus
sobre o dia da páscoa não tem nenhuma evidência histórica
além de uma mera suposição, seria estranho que o Talmud
que fala de tantas controvérsias entre esses dois grupos nem
sequer mencione nada a respeito disso.

147
Antiq. II, 15.1
7.2. A ÚLTIMA PÁSCOA DE JESUS 165

Porém, se comprovadamente Jesus sacrificou a Páscoa com seus


discípulos, no dia certo, e comeram a Páscoa genuinamente naquela
noite, isso significa que todos os eventos que se seguem naquela
noite no Getsêmani, a prisão de Jesus, as reuniões no pretório, as
reuniões na casa do sumo sacerdote, o julgamento de Cristo, a
procissão de grande multidão com Cristo até o calvário, a crucifixão
e o sepultamento de Cristo, tudo isso aconteceu na parte clara do dia
15 de Nissan, e portanto, no calendário dos DSL tudo isso teria
supostamente acontecido em um sábado. O que é inimaginável e
inquestionavelmente impossível pois:
Mar 15:42 Ao cair da tarde, por ser o dia da
preparação, isto é, a véspera do sábado,
Mar 15:43 vindo José de Arimatéia, ilustre membro
do Sinédrio, que também esperava o reino de Deus,
dirigiu-se resolutamente a Pilatos e pediu o corpo de
Jesus.
Luc 23:53 e, tirando-o do madeiro, envolveu-o num
lençol de linho, e o depositou num túmulo aberto em
rocha, onde ainda ninguém havia sido sepultado.
Luc 23:54 Era o dia da preparação, e começava o
sábado.
Joã 19:31 Então, os judeus, para que no sábado não
ficassem os corpos na cruz, visto como era a
preparação, pois era grande o dia daquele sábado,
rogaram a Pilatos que se lhes quebrassem as pernas, e
fossem tirados.
Os evangelhos são claros ao afirmar que que Jesus morreu numa
véspera de sábado, não num sábado, seu corpo ainda foi pedido a
Pilatos para que não ficasse pendurado no sábado, se todo esse
cuidado foi feito para não deixar alguém pendurado no sábado, quem
dirá a impossibilidade de crucificar alguém no dia de sábado
Luc 23:56 Então, se retiraram para preparar aromas e
bálsamos. E, no sábado, descansaram, segundo o
mandamento.
E depois da morte de Jesus, as mulheres e os discípulos ainda
descascaram conforme o mandamento. Como se não bastasse a
impossibilidade de Jesus ter morrido num sábado, a sua própria
ressurreição impossibilita sua crucifixão num sábado:
Mat 28:1 No findar do sábado, ao entrar o
primeiro dia da semana, Maria Madalena e a outra
Maria foram ver o sepulcro.
166 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

Mar 16:1 Passado o sábado, Maria Madalena, Maria,


mãe de Tiago, e Salomé, compraram aromas para irem
embalsamá-lo.
Mar 16:2 E, muito cedo, no primeiro dia da
semana, ao despontar do sol, foram ao túmulo.
Joã 20:1 No primeiro dia da semana, Maria
Madalena foi ao sepulcro de madrugada, sendo
ainda escuro, e viu que a pedra estava revolvida.
Se Jesus morreu no sábado, ele foi sepultado pouco antes do pôr
do sol e ressuscitou bem cedo no dia seguinte, antes do sol nascer
(ainda escuro), significa que teria passado menos de 10 horas na
tumba, contradizendo suas próprias promessas de ressuscitar ao
terceiro dia, e contradizendo os próprios discípulos que naquele 1º
dia da semana afirmaram que já era esse o 3º dia desde que tudo isso
aconteceu (Luc 24:21).
Portanto, segue que:
1. Jesus comeu uma genuína refeição Pascal com seus
discípulos na noite do dia 14 Nissan
2. Jesus morreu no dia 15 de Nissan
3. Jesus morreu na véspera do sábado
4. Logo, o 15º dia de Nissan era o 6º dia da semana
Não há dúvida que essa é a descrição sinóptica dos últimos
eventos da semana da paixão, porém, muitos entendem que a
cronologia Joanina narra a história de modo diferente, e muitos
baseiam toda sua teologia excluindo os sinópticos e colocando João
em evidência, mas há apenas dois textos no evangelho de João que
parecem contradizer toda essa conclusão inescapável que foi
construída nesse capítulo:
Joã 18:28 Depois, levaram Jesus da casa de Caifás
para o pretório. Era cedo de manhã. Eles não
entraram no pretório para não se contaminarem,
mas poderem comer a Páscoa.
Joã 19:14 E era a preparação da Páscoa, cerca da
hora sexta; e disse aos judeus: Eis aqui o vosso rei.
Os textos parecem indicar que quando Jesus morreu, a páscoa
ainda não havia sido sacrificada. Por isso, cabe analizar cada texto
para concluir se há um desajuste nas cronologias, e se houver, como
escolher a cronologia mais acertada. Porém, antes de analisar os
textos, é útil estudar um pouco da história dessa polêmica.
7.3. A teoria dos calendários rivais

A cronologia da semana da paixão é um problema difícil e


complicado, e aqui não há espaço para se explora toda a questão. O
objetivo do aqui será simplesmente aconselhar cautela antes de
apressadamente rejeitar certas soluções ou aceitar outras. O
problema é: como conciliar o fato de que João e os sinópticos
afirmam ter Jesus morrido em datas distintas, 14 e 15 de Nissan
respectivamente? Uma cronologia seria excludente a outra? Excluir a
cronologia joanina trazem suas próprias dificuldades, uma vez que o
próprio João conhece e faz diversos usos da cronologia sinóptica. Ao
passo que excluir a cronologia sinóptica é também muito arriscado
por ser o relato de três (sendo um deles, Lucas, um historiador)
contra apenas um. Porém, várias maneiras possíveis de conciliá-los
são dignas de consideração.
Uma maneira, que está sendo muito utilizada no momento, é a de
calendários rivais. Este argumento assume várias formas. Uma das
formas mais conhecidas está baseada em um mal-entendido da
evidência rabínica, que alguns judeus sacrificaram o cordeiro da
Páscoa em 13 de Nissan, e não em 14. Isso seria contrário à ordem
expressa de Êxo 12:6; Lev 23:5; Números 9:3; 28:16. O argumento
se sustenta baseado na suspeita de que os saduceus ou boethusianos
(grupos relacionados, se não de fato o mesmo) tinham uma
controvérsia com os fariseus sobre a data da páscoa, assim como eles
fizeram sobre a data de pentecostes. No entanto, isso é apenas uma
conjectura, e uma vez que a volumosa literatura rabínica tantas vezes
especifica assuntos sobre as quais esses grupos rivais disputavam,
incluindo a data de Pentecostes, seria no mínimo estranho que ela
não diga nada sobre uma controvérsia acerca da data de um festival
ainda mais importante como a Páscoa.
Outra explicação sobre a discrepância entre os evangelhos, tem
sido buscada no fato de que alguns judeus consideravam o dia de 24
horas a partir do anoitecer, enquanto outros, a partir do amanhecer,
ou para ser mais claro, que alguns preferiram uma forma de contar o
168 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

tempo a outra, pois como afirma Beckwith, elas não eram tratadas
como mutuamente exclusivas148. A falácia aqui é que mesmo que
isso fosse correto, a diferença só poderia ter sido quanto a data da
parte escura do dia, e não do dia inteiro. Uma vez que todas as
atividades ocorriam na parte clara do dia (exceto a refeição pascoal),
é o dia em que seria datado, e não a noite, se falasse da noite anterior
ou da noite seguinte, dataria unicamente o dia. Desde que o
Pentateuco requeria que o cordeiro fosse morto no dia 14 e comido
na noite seguinte (Êxo 12:6-10), e uma vez que o sacrifício no
primeiro século era realizado a partir do meio dia do dia 14 até o
entardecer desse mesmo dia,149 não faria nenhuma diferença na
prática, para fins cronológicos, se a noite seguinte era considerada
parte do dia 14 ou parte do 15, pois ainda seria a noite após o dia
que, em ambas as formas de contagem do dia, era chamado de dia
14, e em que a páscoa era sacrificada.
Estas diferenças conjunturais de calendário foram deixadas de
lado pela demonstração das verdadeiras diferenças entre os
calendários das escolas judaicas de pensamento predominantes na
época e o dos essênios. O crédito para essa demonstração pertence
principalmente ao Mile Annie Jaubert. Em seu livro juntamente com
vários artigos relacionados, ela provou, para a satisfação da maioria
dos estudiosos, que o calendário solar exposto em 1 Enoque e no
Livro dos Jubileus, que era realmente praticado em Qumran, atribuía
exatamente 52 semanas, ou 364 dias, para o ano, e o dia do ano novo
era sempre uma quarta-feira. Consequentemente, o 14º dia do
primeiro mês, quando os cordeiros pascais eram sacrificados, era
sempre uma terça-feira, e Jaubert tenta usar este fato para explicar a
diferença entre os sinópticos e João, ao sugerir que Jesus seguiu o
calendário essênio, enquanto seus adversários seguiam o calendário
lunar padrão. Infelizmente, esta engenhosa proposta se mostra
vulnerável a algumas objeções.
1. Embora muitos eventos seguem sucessivamente entre a
última ceia e a morte de Jesus, todos os Evangelhos colocam

148
BECKWITH, R. T. Calendar and Chronology, Jewish and Christian:
biblical, intertestamental and patristic Studies. Boston: Brill Academic Publisher,
Inc, 2001. ISBN 0-391-04123-1. p. 1-9
149
PHILO, De specialibus legibus libri, 5.145, 149
JOSEFO, Wars, 6.9.3
Mishnah: Pesaḥim 5:1
7.3. A TEORIA DOS CALENDÁRIOS RIVAIS 169

sua morte na sexta-feira (Mat 27:62; 28:1; Mar 15:42; Luc


23:54; Joã 19:31, 42) e todos eles garantem que a última ceia
ocorreu na noite anterior, e não três noites antes.
2. As relações entre o cristianismo primitivo e os essênios,
embora interessantes, são relativamente poucas, e a relação
do próprio Jesus com o calendário essênio é improvável que
tenha alguma força.
3. É muito questionável se os essênios subiam a Jerusalém para
as festas, ou mesmo se Jesus subiria para as festas caso
compartilhasse suas opiniões. Os essênios seguiam as crenças
expressas nas seções mais antigas do Livro de Enoque, onde
os sacrifícios oferecidos no segundo templo são descritos
como "poluídos e impuros", e a vidente é incapaz de dizer se
o povo de Deus deve entrar em Jerusalém novamente (1
Enoque 89:67, 73). Por sua vez, as autoridades do templo
excomungaram os essênios, e isso pode muito bem ter
acontecido antes mesmo da época do ministério de Jesus.150
4. O ponto de vista assumido por Mile Jaubert de que, embora
os essênios realizassem a páscoa em um dia diferente dos
outros judeus, seguramente eles a comemorariam na mesma
semana, é completamente gratuito, e muito provavelmente
errado. O argumento é baseado na pressuposição de que os
judeus dos dias de Cristo teriam a mesma proficiência em
ciências astronômicas que alguns de seus vizinhos possuíam,
e assim teriam sido bem consciente de que a verdadeira
duração do ano solar não era 364 dias. Assim, tal suposição
não está de acordo com a abordagem pragmática e pouco
sofisticado com que a maioria das evidências judaicas
refletem sobre o uso do calendário no primeiro século d.C.,
nem é de acordo com as afirmações dogmáticas dos essênios
de que seu ano de 364 dia era exato.151 Sem os anos
bissextos, o calendário essênio teria rapidamente divergido
nas datas das estações do ano, e uma vez que as afirmações
são encontradas primeiramente nas partes mais antiga de 1
Enoque, e este remonta ao século III a.C., a ideia de que ele

150
JOSEFO, Ant. 18.1.5
151
BECKWITH, R. T. Calendar and Chronology, Jewish and Christian:
biblical, intertestamental and patristic Studies. Boston: Brill Academic Publisher,
Inc, 2001. ISBN 0-391-04123-1. p. 93-140
170 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

ainda teria sido suficientemente paralelo às estações do ano


por ocasião da última ceia para que a páscoa caísse na mesma
semana que a de outros judeus, está no mais alto grau
improbabilidade.
Mas, se a hipótese de que os calendários rivais são a chave para
conciliar a cronologia da semana da paixão finalmente se romper, se
torna necessário voltar à velha solução de que os sinópticos
realmente concordam com João, ou que João realmente concorda
com os sinópticos.
Uma vez que os grandes estudantes cristãos do judaísmo152 são
unânimes ao considerar que os sinópticos representam a última ceia
como não podendo ser nada diferente de uma refeição pascoal, a
única maneira dos sinópticos realmente se manterem de concordo
com a afirmação joanina de que a páscoa foi um dia depois, é dizer
que Jesus, por sua própria autoridade, realizou a sua própria refeição
de Páscoa um dia antes do ordenado. Isso envolveria dizer que Jesus
celebrou a páscoa em um dia diferente do que o Antigo Testamento
prescreve e sacrificou o cordeiro fora do único santuário que o
Antigo Testamento reconhece.153 O que torna esta afirmação bastante
complicada, é o fato de que o próprio evangelho de João parece
conter indícios de uma cronologia diferente daquela que fica por
cima de sua superfície, de uma cronologia que tornaria a última ceia
em uma refeição pascal oficial, e não em uma refeição antecipada.
As principais dessas indicações, apontadas por Jeremias,154 são
as seguintes:
a. A última ceia, como João a descreve, tem muitas das
peculiaridades da refeição da páscoa. Ela é realizada em

152
DALMAN, G. Arbeit und Sitte in Palästina. Tubinger: SLM Press, 2013.
EDERSHEIM, A. The Life and Times of Jesus the Messiah. Grand Rapids:
Eerdmans, 1953.
JEREMIAS, J. The Eucharistics Words of Jesus. Londres: SCM Press, 2011.
ISBN 978-0334004141. p. 41-84
STRACK, H. L.; BILLERBECK, P. Kommentar zum Neuen Testament, 6
Bde., Bd.2, Das Evangelium nach Markus, Lukas und Johannes und die
Apostelgeschichte. Munique: C. H. Beck, 2009.
153
Pois os sacerdotes do Templo nunca teriam oferecido o cordeiro um dia
mais cedo, e Jesus nunca teria tentado apresentar o cordeiro pascoal como algum
tipo de outro sacrifício de maneira enganosa.
154
JEREMIAS, J. The Eucharistics Words of Jesus. Londres: SCM Press,
2011. ISBN 978-0334004141. p. 80-82
7.3. A TEORIA DOS CALENDÁRIOS RIVAIS 171

Jerusalém, apesar da multidão, e não em Betânia (João 18:1,


cf. João 12:10). É realizada mais tarde do que a habitual
refeição da tarde, já adentrando para a noite (João 13:30), e
os participantes reclinar em vez de se sentar (João 13:12, 23,
25).
b. O pressuposto de que os discípulos de Jesus entenderam a
ordem para Judas sair da última ceia e “fazer depressa” como
que para comprar as necessidades para a festa (João 13:27-
30) é dificilmente compreensível se essa foi apenas a noite
seguinte a 13 de Nissan e não a noite seguinte a 14 de Nissan,
pois era o costume na Judéia para trabalhar em 14 de Nissan
apenas até o meio-dia (MISHNAH: Pesaḥim 4:1, 5). Nissan
15, por outro lado, era um dia de descanso solene, de acordo
com Lev 23:5-8, por isso, se esta foi a noite seguinte a 14 de
Nissan, Judas já estaria atrasado para comprar as
necessidades para a festa do dia e do sábado seguinte, e
precisava se apressar.
c. A declaração de João 19:31 “o dia de sábado era grande” é
curiosamente vaga se referida a 15 de Nissan, e não 16. João
afirma sete vezes que eles vieram a Jerusalém para a páscoa
(João 11:55 (2x); 12:1; 13:1; 18:28, 39; 19:14). Se ele
quisesse falar do sábado cerimonial pascal, certamente teria
sido mais natural se dissesse que “o dia do sábado era a
páscoa” ou “foi o dia em que eles comeram a Páscoa”. Se, no
entanto, foi 16 de Nissan, o sábado semanal, sua expressão
seria muito natural.
O que então, deve ser feito das duas passagens em João que
parecem indicar o oposto:
1. João 19:14 chama o dia da crucificação de “a preparação da
Páscoa”
2. João 18:28 diz que, no mesmo dia, os chefes dos sacerdotes e
os fariseus ainda tinham que “comer a Páscoa”
Agora passaremos à análise dos dois textos em questão, para ver
qualquer possibilidade de conciliação entre as cronologias, ou se tal
conciliação é impossível.
7.4. “Era a preparação da Páscoa”

A maioria dos cronologistas do Novo Testamento dão preferência


à cronologia joanina sobre a cronologia sinóptica, já pressupondo a
contradição, muito provavelmente pelo simbolismo de Jesus morrer
no dia que se sacrificava a páscoa. O texto chave para a preferência
da cronologia joanina é João 19:14
Joã 19:14 E era a parasceve pascal, cerca da hora
sexta; e disse aos judeus: Eis aqui o vosso rei.
O texto diz que era παλα ε υ κῦ πά χα (paraskeue tou pasxa -
lê-se paraskeuê tu pasca).
Enquanto paraskeue (preparação) está no nominativo, tou pasxa
é genitivo, que implica posse, pertence, aponta um meio, não um
objetivo, isso é, era a preparação da páscoa e não a preparação para
a páscoa, que seria expresso pelo acusativo grego paraskeue ten
pasxa, o acusativo por sua vez aponta o objetivo, não o meio. Para
ilustrar essa diferença, vale ver alguns casos análogos em ambas as
conjugações:
Joã 7:10 Mas, depois que seus irmãos subiram para
a festa, então, subiu ele também, não publicamente,
mas em oculto.
Aqui implica em objetivo, direção: subiram para a festa, com o
objetivo de ir à festa, no grego está θ ἑκλ ήθ (ten eorten) - que é o
acusativo, não é o caso do texto.
Joã 13:29 Pois, como Judas era quem trazia a bolsa,
pensaram alguns que Jesus lhe dissera: Compra o que
precisamos para a festa ou lhe ordenara que desse
alguma coisa aos pobres.
Ten eorten de novo, acusativo, quando a festa é o objetivo, o foco
da ação, o uso é o acusativo, mas não é esse o caso de João 19:14,
onde é expressado pelo genitivo.
A expressão genitiva é diferente, indica posse, domínio, como
por exemplo:
Joã 13:1 Ora, antes da Festa da Páscoa, sabendo
Jesus que era chegada a sua hora de passar deste
7.4. “ERA A PREPARAÇÃO DA PÁSCOA” 173

mundo para o Pai, tendo amado os seus que estavam


no mundo, amou-os até ao fim.
ἑκλ ῆμ κῦ πά χα (eortes tou pasxa) no genitivo, indica que a
festa pertencia à Páscoa, se a expressão fosse acusativa ortes ten
pasxa o sentido seria que a festa era para a Páscoa, uma festa de
véspera, que precederia a páscoa, porém o genitivo diz que a festa
era um meio pelo motivo da páscoa, pertencia à páscoa, dentro da
páscoa. Voltando ao texto:
Joã 19:14 E era a paraskeue tou pasxa, cerca da
hora sexta; e disse aos judeus: Eis aqui o vosso rei.
“Era a preparação da Páscoa (dentro dela, pertencendo a ela),
cerca da hora sexta…”
A grande diferença entre o genitivo e o acusativo pode ser
exemplificado da seguinte forma:
• Preparação do túmulo - genitivo - Expressaria a preparação
de dentro do túmulo, do túmulo em si (meio).
⁃ Preparação para o túmulo - acusativo - Expressaria a
preparação de algo externo (como um corpo, por
exemplo) para o túmulo (objetivo)
• Preparação da prova - genitivo - Expressaria a elaboração da
prova, ou de uma questão dentro dela (meio)
⁃ Preparação para a prova - acusativo - Expressaria a
preparação que alguém externo faria para executar a
prova (objetivo)
É impossível que o genitivo aponte um objetivo, ele aponta
apenas o meio, portanto a preparação da páscoa (meio) não pode ser
a preparação que ocorreria para a páscoa (objetivo).
É interessante que a literatura judaica em grego sempre chamou
o sexto dia da semana de paraskeue ten sabbata155 (preparação “para
o sábado”, acusativo apontava para o sábado, nunca “do sábado”,
genitivo, pertencendo ao sábado ou no meio dele, tou sabbatou) pois
era a preparação para o sábado. Enquanto isso, o termo jamais é
usado para a páscoa, onde só é usado o termo παλαηκθή θ πα χα
(paramone ten paska - véspera para a páscoa - no acusativo). Assim,
é impossível que o genitivo demonstre a preparação que deveria
acontecer antes da páscoa.
Todos os usos de paraskeue no restante do Novo Testamento
seguem exatamente essa linha:

155
Ver por exemplo: Josephus, "Ant." xvi. 6, § 2
174 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

Mar 15:42 E, chegada a tarde, porquanto era o Dia


da Preparação, isto é, a véspera do sábado,
Luc 23:54 Era o dia da preparação, e começava o
sábado.
E como se não bastasse, no mesmo capítulo, João usa mais duas
vezes o termo paraskeue:
Joã 19:31 Então, os judeus, para que no sábado não
ficassem os corpos na cruz, visto como era a
preparação, pois era grande o dia daquele sábado,
rogaram a Pilatos que se lhes quebrassem as pernas, e
fossem tirados.
Joã 19:42 Ali, pois, por causa da preparação dos
judeus e por estar perto o túmulo, depositaram o
corpo de Jesus.
O próprio João usa o termo paraskeue mais duas vezes no
mesmo contexto para expressar o 6º dia da semana, se João
intentasse dizer que a preparação era para a páscoa, muito
provavelmente ele teria usado a expressão comum ao judaísmo
paramone ten paska, e mesmo que preferisse por algum motivo usar
uma expressão desconhecida a seus leitores para expressar a
preparação para a páscoa com o termo paraskeue, no mínimo, teria
aplicado o uso do acusativo.
Então, usando um termo comum a seus público que aponta ao
sábado semanal, num contexto onde outras duas vezes ele usa esse
mesmo termo apontando para o sábado semanal, com uma
conjugação que exclui a possibilidade de que a páscoa fosse o
objetivo da preparação, e sim o meio dela, João com toda certeza não
intentava aplicar um termo novo à páscoa, portanto, certamente se
referia ao sábado semanal da páscoa (da semana da páscoa). Assim,
os fatos são que:
1. O genitivo jamais intenta expressar “para” como objetivo,
mas expressa “de” como meio, posse.
2. Em todo o Novo Testamento paraskeue só é usado
exclusivamente para se referir ao sábado do sétimo dia,
nunca a qualquer festa.
3. João usa paraskeue no mesmo contexto mais duas vezes
apontando inquestionavelmente ao sábado semanal.
4. O uso do genitivo exclui a possibilidade da páscoa ser o
objetivo da preparação.
5. Na literatura judaica em grego, paraskeue é aplicado
exclusivamente para o sábado, a véspera da páscoa é
7.4. “ERA A PREPARAÇÃO DA PÁSCOA” 175

chamada sempre de παλαηκθή θ πα χα (paramone ten


paska - véspera para a páscoa - no acusativo).
Portanto, a preparação da páscoa faz muito mais sentido
gramatical se for a preparação para o sábado da páscoa, isso é, o
texto fala implicitamente da sexta-feira (6º dia da semana) da
semana da páscoa, respeitando a conjugação e a forma de uso em
todo o novo testamento e cultura judaica. Forçar o uso do genitivo
para afirmar que a preparação era para a páscoa, é no mínimo
adulteração textual. Assim sendo, o texto só pode se referir à
preparação (6º dia da semana) da semana da páscoa, e não para o dia
da páscoa.
Desse modo, João fica de acordo com os sinópticos, sem
contradições nem dificuldades em assumir contradições entre os
evangelhos. A única forma de apresentar um contra-argumento seria:
• Apresentando uma forma mais coerente de coadunar os 4
evangelhos
• Apresentando um texto que ligue paraskeue à páscoa
• Apresentando um texto que indique o genitivo apontando
objetivo, e não modo
Na impossibilidade de apontar tais contestações, essa segue
sendo a melhor forma de alinhar a cronologia dos 4 evangelhos.
7.5. Comer a páscoa depois da crucifixão?

João 18:28 é mais complicado do que uma simples frase como


João 19:14. O texto fala clara e inequivocamente que os fariseus e
sacerdotes ainda precisavam comer a páscoa após a crucifixão de
Cristo:
Joã 18:28 Depois, levaram Jesus da casa de Caifás
para o pretório. Era cedo de manhã. Eles não
entraram no pretório para não se contaminarem,
mas poderem comer a Páscoa.
Esse texto parece indicar que Jesus morreu antes da Páscoa, o
que levou muitas pessoas a concluírem, juntamente com
compreensão errônea do teto de João 19:14, que inequivocamente
Jesus morreu no 14º dia de Nissan, no dia em que se sacrificava o
cordeiro pascal. Por mais romantizada e tentadora que seja a ideia de
Jesus ter sido o cordeiro pascal morto na data e hora que o cordeiro
pascal havia de morrer e, possivelmente seja esse o maior motivo
pelo qual os intérpretes em geral ignoram todo o relato sinóptico e se
baseiam exclusivamente nesses dois textos, qualquer conclusão
apressada que prioriza um texto em detrimento de outro corre sério
risco de estar equivocada.
Já vimos que nenhuma tentativa de demonstrar calendários rivais
até agora teve sucesso, e a única forma de colocar João contra os
sinópticos e vice-e-versa seria dar um bom motivo para se crer em
calendários rivais, o melhor que podemos fazer é tentar alinhar os
quatro evangelhos, e para isso, basta ver alguns textos análogos
sobre a observação da páscoa.
É evidente que a páscoa deveria ser comida na noite seguinte ao
sacrifício (Êxo 12:8), que já era dia 15, mas a questão é: Só se comia
a páscoa uma única vez, ou a páscoa era comida mais vezes? A
resposta óbvia é que a refeição pascal é somente essa no dia 15,
porém o que pouco se fala, é que o sacrifício do cordeiro pascal, e a
refeição que se seguia, eram apenas o primeiro (embora o mais
importante) dos muitos sacrifícios e refeições sagradas que teriam
7.5. COMER A PÁSCOA DEPOIS DA CRUCIFIXÃO? 177

lugar durante a semana da páscoa e pães ázimos, e isso era feito


desde os tempos do Antigo Testamento.
No primeiro século, era mantida a ideias de que o mandamento
de não “aparecer de mãos vazias” perante o Senhor nas festas de
peregrinação (Êxo 23:15; 34:20; Deu 16:16) tinha um significado
preciso: que cada homem israelita traria um holocausto e uma
oferta pacífica, além do cordeiro pascal. Essa obrigação é discutida
no tratado Hagigah na Mishná.
Os israelitas (isto é, os não-Cohanim) cumprem suas
obrigações de ofertas pacíficas de alegria com votos e
presentes, e o dízimo de animais, [está escrito
(Deuteronômio 16:14): “E você se alegrará em sua
festa” - para incluir todas as variedades de alegria, ou
seja, de carne, o verso que requer apenas alegria. E o
mestre disse: "Há alegria apenas com carne" 156
Se alguém não trouxe as ofertas de paz do festival e
seu holocausto que ele deve trazer na festa inteira e no
última dia de festa […] Se o festival passou e ele não
trouxe a oferta, ele não precisa fazer restituição. Deste
que está escrito (Koheleth 1:15): “O torto não pode ser
endireitado e a falta não pode ser numerada”.157
As pessoas referidas em João 18:28 como querendo permanecer
cerimonialmente puros a fim de “comer a Páscoa", são os principais
sacerdotes e os fariseus (Joã 18:3). Os fariseus eram muito
escrupulosos sobre os deveres da Hagigah, e uma vez que envolveu
uma oferta pacífica, o que necessariamente inclui uma refeição
sagrada, eles certamente intentariam ficar cerimonialmente puros
não apenas durante a primeira noite, mas durante a semana inteira, a
fim de estarem aptos à comê-las. Isso teria preocupado ainda mais os
príncipes dos sacerdotes, já que uma parte de toda a oferta pacífica ia
para o sacerdote que ofereceu.
A questão, portanto, que ainda resta é se seria possível a
utilização de frases como “sacrificar a Páscoa” ou “comer a Páscoa”
para cobrir esses outros sacrifícios e refeições sagradas. Nos tempos
do Antigo Testamento, Deuteronômio 16:2 mostra que era, e como o
Antigo Testamento era a Bíblia do judaísmo, e o Pentateuco era
contado como a sua parte mais importante, sempre seria possível que
a fraseologia do pentateuco fosse ecoada ou copiada. O que
Deuteronômio 16:2-3 diz é:
156
Mishnah Chagigah 1:4
157
Mishnah Chagigah 1:6
178 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

Deu 16: 2 Então sacrificarás a páscoa ao Senhor


teu Deus, das ovelhas e das vacas, no lugar que o
Senhor escolher para ali fazer habitar o seu nome.
Deu 16:3 Com ela [a páscoa] não comerás
levedado; sete dias nela [a páscoa] comerás pães
ázimos, pão de aflição (porquanto, apressadamente,
saíste da terra do Egito), para que te lembres, todos os
dias da tua vida, do dia em que saíste da terra do
Egito.
Apesar do português desse texto não ficar bem claro, aqui a
frase “sacrificar a Páscoa” (vezabacht pesach) é de fato usada, e a
frase “comer pão sem fermento com (alyn) a Páscoa” (e portanto,
“comer a Páscoa” em si) é claramente implícita, além disso, o verso
2 ainda salienta que vacas eram inclusas nesses sacrifícios da
Páscoa, o que não acontecia no sacrifício do dia 14, mas certamente
acontecia nas ofertas pacíficas que acompanhavam aspados. Em
ambos os casos a referência é ao que se passa por sete dias, e inclui o
sacrificar e comer os bois do rebanho, bem como os cordeiros e
cabritos. O uso provavelmente é encontrado novamente no hebraico
de 2 Crônicas 30:22, no relato da páscoa de Ezequias, em que o
significado literal é:
2Cr 30:22 E Ezequias falou benignamente a todos os
levitas, que tinham bom entendimento no
conhecimento do Senhor; e comeram as ofertas da
festividade [isso é, a páscoa, verso 18) por sete dias,
oferecendo ofertas pacíficas, e louvando ao Senhor
Deus de seus pais.
Aqui também diz claramente que a oferta da páscoa, era comida
por sete dias, e nenhuma dessas refeições festivas eram permitidas
para os cerimonialmente impuros (Lev 22:6-7; Num 9:6-7). Além
disso, o exemplo anterior ocorre também no grego do Antigo
Testamento, onde Deuteronômio 16:2 é traduzido literalmente na
Septuaginta, ao passo que 2 Crônicas 30:22 é parafraseado.
É no mínimo cabível que “comer a Páscoa” em João 18:28
signifique “comer qualquer uma das refeições sagradas do festival”,
que seriam realizados nos próximos sete dias. Levando em conta que
João pressupõe um conhecimento dos evangelhos sinópticos, ou pelo
menos da tradição sinóptica em seus leitores, ele poderia ter usado a
frase neste sentido menos comum, sem esperar ser mal interpretado,
e sem esperar que usassem seu evangelho para contradizer os
evangelhos escritos antes dele. Essa opção não só seria provável,
como também a que melhor se encaixa com o pressuposto de que:
7.5. COMER A PÁSCOA DEPOIS DA CRUCIFIXÃO? 179

a. João conhecia os evangelhos sinópticos, que foram escritos


entre de 30 a 20 anos antes do seu.
b. João não escreveu seu evangelho intencionado desmentir os
evangelhos anteriores, se fosse esse o caso, provavelmente
ele teria mencionado isso pelo menos uma vez.
Se esses dois pressupostos são reais, ou no mínimo prováveis,
então essa interpretação é a única que se encaixa com o princípio de
não contradição dos textos. Obviamente que alguns hoje negam que
João pressupõe um conhecimento da tradição sinóptica, mas a
datação tradicional do seu evangelho, e a notável seleção de material
que ele contém, sugerem fortemente que João pressupõe um
conhecimento dos sinópticos, e se for assim, o versículo mais
problemático de seu evangelho, provavelmente não passe somente
de apenas um aparente conflito com a cronologia sinóptica.
Além de toda evidência bíblica direta, mesmo o famoso costume
já tratado no capítulo “4.1. Davi festejava na Lua Nova com Saul?”
de que a tradição rabínica havia duplicado a cerimônia pascal da
noite do dia 14/15 para a noite do dia 15/16, pos–datando a festa até
o dia 22, fazendo com que os sacrifícios da páscoa ocorressem por
dois dias seguidos, assim, mesmo sem toda a evidência bíblica
apresentada até aqui, somente a evidência rabínica já é uma razão
mais que suficiente para que eles quisessem se manter
cerimonialmente puros no dia 15, para a segunda refeição pascal..
Portanto:
1. É bastante óbvio que os fariseus e os sacerdotes precisariam
se manter cerimonialmente puros pelos sete dias da festa, e
não apenas no primeiro dia
2. A expressão “sacrificar a páscoa” é usada no Antigo
Testamento como se tratando de todos os sacrifícios durante
os sete dias de festividade
3. Além de tudo, havia a tradição rabínica que duplicava o
primeira dia de festa, repetindo na noite do dia 15/16 o ritual
da noite do dia 14/15.
4. Logo, seria obrigatório que os fariseus se mantivessem
cerimonialmente puros também no segundo dia de
festividade para comer a páscoa naquele dia também
Assim, todas as dificuldade com a cronologia sinóptica e joanina
são facilmente resolvidos, nenhuma contradição precisa ser
acentuada, nenhuma preferência a um em detrimento de outro
180 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

precisa ser feito, e todos os requisitos são cumpridos, estabelecendo


que inquestionavelmente:
I. Jesus comeu a páscoa com seus discípulos na noite do dia 14
(dia 15)
II. Jesus foi sacrificado no dia 15, na hora nona, hora do
sacrifício da tarde
III. Jesus foi sacrificado no 6º dia da semana, dia da preparação
para o sábado da páscoa
IV. Portanto, o 15º dia de Nissan do ano da morte de Cristo caiu
inquestionavelmente no 6º dia da semana
E portanto, a conclusão lógica novamente é que nem todo dia 15
era sábado, e portanto, o calendário dos DSL não passa de mera
conjectura não Bíblica.
7.6. Jesus morreu em uma santa convocação?

Um último questionando sobraria quanto ao fato de Jesus ter


morrido no dia 15, o fato de que o dia 15 de Nissan era, segundo
Levítico 27:7:
• Santa convocação
• Nenhuma obra servil poderia ser realizada
Os DSL poderão, por conveniência, ressaltar a santa convocação,
dizendo que seria impossível toda a sequência de eventos da
crucificação de Cristo acontecer durante a festa por ser santa
convocação e por não se poder trabalhar, os eventos foram:
• A prisão de Jesus – Os evangelhos são unânimes sobre isso
acontecer de madrugada (Mat 26:47–56; Mar 14:43–52; Luc
22:47–53; Joã 18:1–12), porém não precisam a hora.
• As reuniões na casa do sumo sacerdote – O sinédrio se
reuniu na casa do Sumo Sacerdote para tendenciosamente
julgar Jesus, com direito à falsas testemunhas (Mat 26:57–68;
Mar 14:53–65; Luc 22:54,66–71; Joã 18:19–24). Sabemos
que foi antes do sol nascer, pois em seguida, Pedro nega a
Jesus e o galo imediatamente cantou (Mat 26:68–75; Mar
14:66–72; Luc 22:54–62; Joã 18:15–18,25–27).
• O julgamento de Cristo – Jesus é amarrado e levado para
ser julgado por Pilatos logo que o sol nasce (Mat 27:1–2,11–
31; Mar 15:1–20; Luc 23:1–25; Joã 18:28–19:16). Entre os
eventos de Pilatos e Herodes, Jesus é condenado e Barrabás,
libertado, por ocasião da festa.
• Jesus levado ao pretório – Jesus foi levado imediatamente
ao pretório, onde foi açoitado e escarnecido (Mat 27:27–31;
Mar 15:16–20; Joã 18:28–32).
• A procissão de grande multidão com Cristo até o calvário
– Muitos curiosos que estavam pela cidade seguiram Jesus
até o Gólgota (Luc 23:26–32). Um deles, Simão, ainda foi
obrigado a levar a sua cruz.
182 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

• A crucifixão – Aqui é o primeiro evento a marcar uma hora


exata, que segundo Marcos foi a hora terceira, isso é, cerca
de 9h da manhã, e houve trevas a partir da hora sexta, cerca
do meio dia (Mat 27:32–44; Mar 15:21–32; Luc 23:26–43;
Joã 19:17–27). Sendo assim, sabemos que todos os eventos
posteriores ocorreram num curto espaço de tempo.
• A morte de Jesus – Mais uma vez, todos os sinópticos
precisam a hora em que esse evento ocorre, a hora nona, isso
é, cerca de 3h da tarde, ou 15h (Mat 27:45–56; Mar 14:33–
41; Luc 23:44–49; Joã 19:28–30).
Porém, o Antigo Testamento fala que nesse dia:
Lev 23:6 E aos quinze dias deste mês é a Festa dos
Pães Asmos do SENHOR; sete dias comereis pães
asmos.
Lev 23:7 No primeiro dia, tereis santa convocação;
nenhuma obra servil fareis;
Assim, vemos que o caso de Jesus levou praticamente o dia todo,
o que dá ao DSL uma sensação de “incabível” haja vista a santa
convocação do dia 15, e portanto, usado como argumento último
para desaprovar a morte na sexta–feira dia 15. Perceba que a esse
ponto, o DSL já desistiu de tentar provar que está certo, agora só
quer encontrar uma forma de dizer que o outro está errado. Eles não
tentarão lidar com os problemas já levantados para a tese deles, não
tentarão resolver a problemática entre os sinópticos e João, não
discorrerão sobre o fato de todos os evangelhos colocarem a santa–
ceia como uma refeição pascal e nem mesmo argumentarão sobre as
evidências de Jesus ter morrido no dia 14, apenas tentarão inverter o
ônus no desespero de conseguir uma brecha, como se qualquer erro
na resposta automaticamente elevasse a tese deles como correta.
Estaria o cronograma do dia da morte de Cristo impedindo que os
fatos que os evangelhos levantam sobre a morte no dia 15 seja
confirmado?
O primeiro ponto é entender, é à quê se refere a expressão “Santa
Convocação”. No Capítulo “4. Era proibido trabalhar do dia de lua
nova?” foi levantado todas as ocorrências da expressão no antigo
testamento, onde vimos que é uma expressão exclusiva de Lev 23 e
Num 28–29, capítulos que falam das festas, com uma única exceção
em Êxodo 12, porém no mesmo contexto, quando fala da páscoa.
Podemos ver que ao mesmo tempo que temos considerável
número de ocorrências da expressão no Antigo Testamento, não
7.6. JESUS MORREU EM UMA SANTA CONVOCAÇÃO? 183

temos nenhuma explicação sobre ela, além de ser um dia de


encontro. Quando o DSL afirma que seria impossível que tudo isso
ocorresse em um dia de santa convocação, ele está necessariamente
inferindo uma ou mais dessas proposições abaixo, que santa
convocação seria:
• Um dia onde as leis sabáticas seriam aplicadas
• Uma reunião que levaria um dia inteiro, do nascer ao pôr do
sol
Unicamente se pelo menos uma dessas duas proposições for
verdadeira, a santa convocação seria um real problema para a
cronologia, e elas serão exploradas a seguir;

Proposição 1: Todo dia de santa convocação era semelhante ao


sábado? As mesmas leis era aplicadas?
Dificilmente alguém cometeria o absurdo de dizer abertamente
que sim, porém, os DSL facilmente tentarão fazer parecer que sim
nesse ponto, mesmo que neguem quando perguntados diretamente.
Na bíblia, vemos que o trato com o sábado era bem diferente que o
trato com as demais festas, com exceção do dia da expiação, a
começar pela expressão “nenhuma obra fareis” absoluta que o
sábado (Êxo 20:10; 31:15; 35:2; Lev 23:3; Deu 5:14) e o dia da
expiação (Lev 16:29; 23:28, 31; Num 29:7) recebem, enquanto as
demais festas recebem apenas a afirmação relativa “nenhuma obra
servil fareis” (no caso da páscoa: Lev 23:7, 8; Num 28:18, 25),
conforme estudado no capítulo “6. A redundância dos dias de
descanso”. Só isso já mostra o sábado bem mais restritivo que as
demais festas, portanto não se pode aplicar leis sabáticas como
idênticas às leis nas festividades.
A Mishna apontava uma série de leis adicionais para os sábado,
como proibição de Semear, Arar, Colher, Agrupar feixes, Debulhar,
Dispersar, Catar, Moer, Peneirar, Preparar massa, Assar, Tosquiar,
Lavar a lã, Desembaraçar a lã, Tingir a lã, Fiar, Tecer, Dar dois nós,
Tecer dois fios, Separar duas linhas, Atar, Desatar, Coser, Rasgar,
Caçar, Abater, Raspar o couro, Curtir o couro, Alisar o couro,
Demarcar o couro, Cortar, Escrever, Apagar, Construir, Demolir,
Acender fogo, Apagar ou diminuir o fogo, Martelar, Transportar algo
desde um ambiente particular a um público e etc. Essas leis foram o
motivo pelas constantes controvérsias entre Jesus e os Fariseus a
respeito do sábado, como por exemplo quando os discípulos
184 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

pegaram espigas e os fariseus os acusaram de colher, mesmo que


para comer, que era proibido pela Mishna, porém não pela Torah
(Mat 12:1–8; Mar 2:23–28; Luc 6:1–5), ou quando Jesus cuspiu na
terra para fazer barro e passou nos olhos de um cego (Joã 9), o ato de
cuspir no chão no sábado era proibido pela tradição rabínica, pois
fazer barro era para fazer tijolos, e cuspir na grama poderia estar
regando uma muda. A tradição rabínica cercou os mandamentos
divinos com as Halachás,158 e à essas tradições que Jesus se opunha,
porém, as halachás sabáticas eram extraordinariamente mais
abundantes e restritivas que as halachás das festividades em geral
(exceto o dia da expiação), portanto, tanto no mandamento divino,
quanto na tradição rabínica, comparar as leis sabáticas com as leis
das festividades beira o absurdo e total ignorância bíblica e histórica.

Proposição 2: Quanto tempo durava as reuniões no dia de santa


convocação?
Essa não é uma pergunta simples de responder, uma vez que não
temos nenhuma resposta direta da Bíblia. Afirmar que seriam
reuniões de apenas uma hora, seria tão prematuro quanto afirmar que
seriam reuniões de um dia inteiro, cabe analisar as pistas que temos,
e felizmente, temos várias delas.
À nível de comparação, temos o dia de sábado, que também era
uma santa convocação. Sabendo que o dia de sábado era muito mais
restritivo que o dia de festa, e que ambos eram santa convocações,
podemos afirmar com toda certeza que o período de reunião em dias
festivos é menor, ou no máximo igual ao período de reunião de um
sábado. No novo testamento, felizmente, há diversos relatos de
atividades dentro das horas sabáticas:
O primeiro sábado logo no início do ministério de Jesus está
descrito em Lucas 4, assim que Jesus volta do deserto (onde foi
tentado), vai para Nazaré e entrando numa sinagoga num sábado, leu
o profeta Isaías e anunciou que era profeta e o messias (Luc 4:16–
30), e como resposta, levaram Jesus ao alto do monte na qual a
cidade estava edificada para o jogar lá de cima, porém Jesus
escapou. Duas coisas podemos ver aqui:

158
Mandamentos humanos que “protegiam” a lei divina.
7.6. JESUS MORREU EM UMA SANTA CONVOCAÇÃO? 185

1. No sábado o povo se reuniu na sinagoga para um culto e


leitura pública da parashá,159 e
2. No sábado mesmo julgaram que Jesus era digno de morte, e
tentaram O matar.
Continuando a leitura, vemos que no sábado seguinte,160 Jesus
desceu para Cafarnaum e foi novamente à outra sinagoga (Luc 4:31–
37), uma vez que isso era um costume de Cristo (Luc 4:16) e após
sair da sinagoga, ainda foi para a casa Simão, que estava com a
Sogra doente, Jesus a curou, ela se levantou e o serviu por um tempo
indeterminado pela narrativa bíblica (Luc 4:38–39), e só depois de
tudo isso, o sol se pôs (Luc 4:40). Vemos aqui mais três coisas:
1. Essas reuniões sabáticas eram as santa convocações, pois não
é descrita nenhuma outra reunião nas horas sabáticas que,
segundo o Antigo Testamento, eram santas convocações,
2. As santas convocações eram locais, nas sinagogas, não
necessitavam uma reunião geral entre Israel, cada
comunidade local realizava a sua santa convocação, e
3. essas reuniões não duravam o dia inteiro, uma vez ainda deu
tempo de Jesus ir à cada de Simão, curar a sogra, e ela ainda
O serviu antes que o sol tivesse se posto. A expressão usada
para “o serviu” muito provavelmente ainda indique uma
refeição ( δβεόθ δ α κῖμ), indica “cuidar de suas
necessidades”, o que leva a crer que essa reunião aconteceu
pela manhã somente, apesar de não podermos precisar a hora.
Nos relatos sabáticos do Novo Testamento, vemos o mesmo
padrão, uma reunião pública, porém que não durava o dia inteiro,
nem mesmo a maior parte dele, pois geralmente, as controvérsias de
Jesus e os fariseus sobre o sábado nem sequer eram no templo ou
sinagoga (Mat 12:1–14; 15–21; Mar 2:23–28; Luc 6:1–5; 14:1–5;
Joã 5:1–17; 9:1–41), além de ser apresentado tendo a refeição do
meio do dia no sábado na casa de um dos principais fariseus,
inclusive (Luc 14:1–6).
159
Parashá é o nome dado à porção semanal de textos da Torá dentro do
judaísmo. Também são conhecidas como Parashat haShavuá (Porção semanal) ou
Sidra ,e cada uma possui um nome geralmente derivada de suas primeiras palavras
no hebraico.
160
Lucas não afirma ser o próximo sábado, porém dadas as distâncias de
Nazaré e Cafarnaum (47 Km) e a palavra grega γέωμ (adiante, imediatamente),
empregada em Marcos 1:21 sobre o mesmo episódio, podemos afirmar que se
tratava do sábado seguinte, e não do mesmo sábado.
186 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

Tendo em vista que as reuniões de santa convocação seriam no


máximo iguais, provavelmente menos extensivas que as de sábado,
com certeza essa premissa também falha ao teste bíblico, as santas
convocações não eram reuniões exaustivas que duravam o dia todo,
mas apenas uma pequena parte dele.

Ao comparar as ações dos sacerdotes e fariseus no dia da


crucificação, vemos que:
Mesmo durante o julgamento de Cristo, o que ocorreu de manhã
bem cedo, antes das 9h, os sacerdotes já estavam no templo, pois
durante o julgamento, Judas devolve o dinheiro para os sacerdotes,
que não o aceitam, e por isso Judas joga as moedas no templo (Mat
27:3–6). Isso implica também que apenas alguns sacerdotes estavam
com Cristo, outros permaneceram no templo para oficiar. Isso é mais
significativo que parece, pois, além de acabar com o problema de
que os sacerdotes precisariam estar oficiando a santa convocação,
ainda nos indica que o templo estava aberto ao povo desde logo pela
manhã, o que não há relato algum de acontecer em dias que não
fossem santa convocação.
O último relato de envolvimento dos sacerdotes com Cristo foi
na hora da crucificação, isso é, hora terceira, cerca de 9h da manhã,
quando caçoavam de Jesus (Mat 27:41; Mar 15:31). Os relatos
posteriores não citam mais nenhum sacerdote com Cristo, apenas os
soldados, espectadores e ladrões escarnecendo dEle, o que seria
estranho mencionar pontualmente esses e não mencionar os
sacerdotes, caso houvesse sacerdotes entre eles. Os sacerdotes só são
mencionados dentro da cidade, conversando com Pilatos sobre a
placa (Joã 19:19–22).
No caminho, pediram a um Simão carregar a cruz, o fato é que
ele vinha do campo antes das 9h da manhã (Mar 15:21), o que
significa que de onde ele vinha era perto o suficiente para vir e
chegar bem cedo à cidade, o que faria todo sentido se estivesse indo
para um santa convocação, porém, se fosse o dia 14, os sacrifícios
familiares da páscoa só teriam início dali à 3 horas, e se estenderia
por mais 6h após o início, ele estaria chegando surpreendentemente
cedo se o intuito dele seria apenas realizar o sacrifício pascal.
Assim, o fato de alguns sacerdotes (não todos) acompanharem
Jesus até as 9h da manhã em nada dificulta a compreensão daquele
dia ser uma santa convocação.
7.6. JESUS MORREU EM UMA SANTA CONVOCAÇÃO? 187

Um último argumento pode ser usado, de que julgar alguém era


proibido fazer num dia de santa convocação. Embora esse argumento
beire o ridículo, pode ser que alguém sinceramente acredite nele,
então cabe analisar os seus fundamentos, e para isso, apresentaremos
pelo menos 2 motivos de por que essa argumentação não procede.
I – Os judeus se sentiam livres para julgar até em sábados, que
eram mais restritivos que outros dias de festa.
Ao olhar para os fatos já levantados, vimos que o povo se sentia
livre para julgar e condenar alguém à morte em pleno sábado,
conforme já citado no episódio do primeira sábado do ministério de
Cristo em Nazaré (Luc 4:16–30), dizer que isso não poderia ser feito
durante uma santa convocação é no mínimo, ilógico.
Não obstante, alguém pode dizer que isso foi um comportamento
do povo, não da lei de Deus, e está correto, mas perceba que não
estou entrando no mérito da questão de Deus permitiu ou não na
Torah, mas analisando o comportamento do Judeu do primeiro
século na narrativa bíblica, fica fácil percebermos que se um
julgamento de sábado era permitido na concepção deles, quanto mais
num outro dia de santa convocação.
Além disso, no dia seguinte à morte de Cristo, que
indubitavelmente era um sábado, os próprios sacerdotes foram mais
uma vez diante de Pilatos pedindo pedindo que ele ordenasse que o
túmulo fosse guardado para que os discípulos não roubassem o corpo
de Cristo, isso não só exigiria que os sacerdotes e fariseus se
deslocassem até Pilatos, como que por sua influência, soldados
romanos realizassem trabalho ao sábado, o que seria clara
transgressão do mandamento, mas o pior é que a escolta não foi
enviada ao túmulo, mas dada aos sacerdotes para que fizessem o que
bem entendesse com a escolta, portanto foi por ordem direta dos
sacerdotes, e não de Pilatos, que os soldados guardaram o túmulo
durante o sábado,
Êxo 20:10 Mas o sétimo dia é o sábado do SENHOR,
teu Deus; não farás nenhum trabalho, nem tu, nem o
teu filho, nem a tua filha, nem o teu servo, nem a tua
serva, nem o teu animal, nem o forasteiro das tuas
portas para dentro;
Porém, mesmo isso foi feito num sábado sem o menor pudor, no
dia onde qualquer tipo de obra era proibida, diferente de um dia de
santa convocação qualquer, se isso foi feito em pleno sábado, por
188 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

que um julgamento até as 9h da manhã de um dia de santa


convocação onde apenas o trabalho serviu era proibido, seria
impossível?
II – Não há nenhum texto que proíba o ofício de julgamento de
um sacerdote no sábado.
Alguém poderia chegar mais fundo ainda no desespero a afirmar
que “julgar o povo era um obra servil do sacerdote, e portanto,
proibido às santas convocações.” De fato, se for uma obra servil
isso seria proibido, porém, não há nenhum texto que nos afirme isso
tanto na Tanach quando na Torah, e não passa de uma costumeiro
invenção de argumentos bíblicos inexistentes. Dentre as funções
bíblicas para os sacerdotes no que diz respeito ao povo, e santuário,
estão inclusas:
• Cobrir e descobrir os móveis do santuário, bem como montar
e desmontar o tabernáculo durante o deserto (Num 4:5–15).
• Carregar a arca da aliança (Jos 3:3, 13, 15, 17; 1Rs 8:3–6).
• Tocar as trombetas e cantar diante dos exércitos (Num 1:47–
49; 2:33; Jos 6:4; 2Cr 13:12).
• Sacrificar, aspergir sangue, retalhar os sacrifícios, manter
aceso o fogo no altar, cozinhar a carne e aceitar todas as
outras ofertas, assim como lidar com as impurezas do povo
(Lev 1–7; 12:6; 13–15; Num 6+1–21).
• Cuidar das ofertas contínuas, da manhã e da tarde, e todos os
serviços relacionados como manter o incenso queimando
(Êxo 29:58–42; Num 28:1–10; 2Cr 13:10–11).
• Manter o candelabro suprido com óleo (Êxo 27:20–21).
• Cuidar do óleo sagrado e incenso (Num 4:16).
• Abençoar o povo nas assembleias solenes (Num 6:22–27).
• Julgar o povo para tomar as decisões difíceis (Deu 21:1–5).
• Quando não podiam decidir, apelar ao julgamento direto de
Deus (Num 5:11–31).
Alguns desses serviços são claramente obra servil, como é o caso
de cuidar dos sacrifícios, pois o sacrifício exigia fogo, e o fogo não
poderia ser feito no sábado (Êxo 35:3) por se tratar de um processo
muito complexo e com muito esforço, pois seria necessário caminhar
até a floresta ou fonte de lenha, e no sábado não poderiam fazer
longas caminhadas (Êxo 16:29), teriam que fazer o esforço de cortar
a árvore, preparar as toras em lenha, carregar a lenha até o local onde
o fogo seria acesso, que também foi claramente proibido aos sábados
7.6. JESUS MORREU EM UMA SANTA CONVOCAÇÃO? 189

(Jer 17:21), arrumar a lenha, fazer o fogo, que sem fósforo, isqueiro
ou combustível era uma tarefa trabalhosa, e por isso no sábado isso
não poderia ser feito. Porém, o próprio Deus ordena que essas tarefas
sejam feitas no santuário durante cada sábado (Num 28:9–10), e
também durante cada festa (Num 28:11–31; 29:1–40), o que
significa que no sábado, os sacerdotes mesmo violando o sábado
segundo a lei, ficam sem culpa, pois estão realizando o ofício que
Deus ordenou, foi exatamente isso o que Jesus falou:
Mat 12:5 Ou não lestes na Lei que, aos sábados, os
sacerdotes no templo violam o sábado e ficam sem
culpa? Pois eu vos digo:
Assim, mesmo que houvesse um texto que afirmasse que julgar o
povo seria uma obra serviu do sacerdote, as obras do sacerdote em
prol do povo ou santuário são deixadas impunes por Deus, além
disso, especificamente no quesito julgamento, há um exemplo claro
de julgamento durante o sábado pelo próprio Deus, através de
Moisés:
Num 15:32 Estando, pois, os filhos de Israel no
deserto, acharam um homem apanhando lenha no
dia de sábado.
Num 15:33 Os que o acharam apanhando lenha o
trouxeram a Moisés, e a Arão, e a toda a
congregação.
Num 15:34 Meteram-no em guarda, porquanto ainda
não estava declarado o que se lhe devia fazer.
Num 15:35 Então, disse o SENHOR a Moisés: Tal
homem será morto; toda a congregação o
apedrejará fora do arraial.
Num 15:36 Levou-o, pois, toda a congregação para
fora do arraial, e o apedrejaram; e ele morreu, como
o SENHOR ordenara a Moisés.
No exemplo do texto, um homem é capturado, julgado e
condenado no dia de sábado, que por sinal é muito mais restritivo
que os outros dias de santa convocação, e não dá nem para dizer que
“isso foi comportamento humano” pois foi o próprio Deus quem
ordenou isso. Por mais que o sacerdote devesse preparar fogo no
sábado, isso era proibido a qualquer outro filho de Israel, motivo
pela qual o ofício de montar e desmontar o santuários também nunca
foi realizado num sábado, pois isso exigiria o deslocamento não só
do sacerdote, mas também do povo, o que era proibido ao sábado.
Portanto, o argumento que o dia 15 necessariamente não era
santa convocação por que os sacerdotes estavam envolvidos em um
190 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

julgamento, e isso não poderia ser feito num sábado, é um argumento


na melhor das hipóteses, ignorante às verdades bíblicas.

À bem da verdade, apesar de jamais conhecer um DSL que


conhecesse esse verso, vale mencionar o verso mais problemático na
versão portuguesa sobre a crucifixão no dia 15 no debate do dia da
crucifixão, a compra de um lançou em um feriado.
Mar 15:45 Após certificar-se, pela informação do
comandante, cedeu o corpo a José.
Mar 15:46 Este, baixando o corpo da cruz, envolveu-
o em um lençol que comprara e o depositou em um
túmulo que tinha sido aberto numa rocha; e rolou uma
pedra para a entrada do túmulo.
O texto parece dizer que naquele mesmo dia, José de Arimateia
comprou um lençol, para envolver Jesus, se era o dia 15, onde ele
encontrou uma loja aberta para comprar o lançou se era um dia que o
vendedor não poderia trabalhar (obra servil)?
Por isso que esse seria o texto mais difícil na versão portuguesa,
mas há pelo menos duas razões para acreditar que esse lençol foi
comprado, mas não naquele dia:
I – A sintaxe grega
Marcos procura deixar bem claro a narrativa αὶ ἀγο ά α
ό α usando o aoristo particípio ativo para o verbo άΰκλά ω,
uma das sentenças mais raras no Novo Testamento para deixar claro
uma ação previamente realizada. “envolveu-O num lençol que ele já
havia comprado”
Marcos faz um esforço para mostrar que as coisas já estavam
feitas, não foram feitas na hora, os demais evangelistas não se
prendem a isso, e apenas dizem que foi enrolado em linho. Ao falar
da tumba, Marcos diz αὶ α έ αὐ ὸ ἐ ίῳ ὃ ἦ
αο έ ο ἐ πέ α que significa literalmente“e colocou ele em
túmulo que já havia sido cavado em rocha.” A diferença das duas
frases é que a primeira é ativa, “ele já havia comprado o lençol” e a
segunda é passiva “a tumba já havia sido cavada”, seria ilógico
pensar que José teria ido até Pilatos pedir o corpo, teria ido ao
mercado achar um linho a venda, voltado ao Gólgota para cava o
túmulo na rocha, pegado o corpo, usado mirra e aloé de Nicodemos e
depositado Jesus na tumba tudo isso entre as 15h e o por do sol.
Obviamente, ninguém sugeriria que a tumba haveria sido cavada na
hora, assim como Marcos deixa claro que o tecido também não havia
7.6. JESUS MORREU EM UMA SANTA CONVOCAÇÃO? 191

sido comprado naquele instante, a concordância certamente indica


que o pano teria outro propósito, mas o texto deixa claro que não foi
naquele instante que o tecido foi comprado.
O fato de José já ter a tumba a disposição explica o fato dele
também já ter o linho, provavelmente ele estivesse esperando ou
preparado para outro funeral, mas como aconteceu o “imprevisto”
com Jesus, usou todos os recursos que tinha para a ocasião
inesperada, afinal o que é mais fácil, alguém ter comprado linho
anteriormente para uma ocasional eventualidade, ou alguém ter uma
tumba anteriormente para uma eventual casualidade? Imaginar que a
segunda é possível enquanto a primeira é impossível não faz menor
sentido.
II – As mulheres não puderam comprar aromas naquele dia
Um fato importante é que, se José tivesse achado uma loja aberta
para comprar linho naquele mesmo dia, por que Maria Madalena,
Maria mãe de Tiago e Salomé só conseguiram comprar depois do
sábado?
Mar 16:1 Passado o sábado, Maria Madalena, Maria,
mãe de Tiago, e Salomé, compraram aromas para
irem embalsamá-lo.
Se houvesse alguma loja aberta naquele dia, o que seria
obrigatório caso fosse o dia do sacrifício do primeiro cordeiro
pascal, certamente elas teriam comprado os aromas naquele mesmo
dia, e única explicação para isso não ter acontecido, é que era um dia
onde o comercio estivesse fechado, isso é, uma santa convocação,
onde nenhuma obra servil poderia ser realizada. Após a morte de
Cristo, Lucas ainda diz que as mulheres saíram para descansar no
sábado conforme o mandamento:
Luc 23:56 Então, se retiraram para preparar
aromas e bálsamos. E, no sábado, descansaram,
segundo o mandamento.
Isso não só reforça o fato da intenção delas preparem os
balsamos ainda antes do por do sol, e não conseguiram por não ter
nada aberto, como ainda omite uma refeição pascal, que deveria ter
acontecido caso se tratasse do dia 14, é no mínimo engraçado Lucas
mencionar apenas o sábado se se tratasse da noite da Páscoa.
Ironicamente, alguém pode afirmas que como Jesus havia morrido,
já não seria mais necessário o ritual da páscoa, e por conseguinte, a
ceia pascal, porém se todos os envolvidos já soubessem disso, então
esse argumento comprovaria acima de qualquer questionamento a
192 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

validade do sábado após a morte de Cristo, pois escolheram não


celebrar a páscoa, mas ainda guardaram o sábado, e os DSL seriam
obrigados a guarda-lo, independente dele ser o sábado do 7º dia, ou
em qual seja o dia do calendário gregoriano que ele caísse, pois antes
importa obedecer a Deus que aos homens (Ats 5:29). Logo, se eles
não celebraram a páscoa (o primeiro cordeiro) naquele dia, e os
evangelhos unanimemente declaram que a celebraram na noite
anterior, então obviamente esse dia só pode ser o dia após a noite em
que se comia a páscoa, portanto, o dia 15.

Em Mateus 27:7 acontece algo semelhante quanto à compra:


Mat 27:7 E, tendo deliberado, compraram com elas
o campo do oleiro, para cemitério de forasteiros.
O texto diz que um campo foi comprado, porém não diz que foi
comprado naquele mesmo instante, a menos que entendamos que o
campo foi comprado e já foi feito um cemitério instantaneamente,
mas o texto simplesmente está dizendo em voz de narrador pós-
eventum que com aquele dinheiro, um campo foi comprado e que foi
usado como cemitério, não diz quando isso aconteceu, até porque
comprar um terreno não é algo que se faça em um minuto.

Assim, o panorama bíblico não só não é contrário, como é a


favor de uma santa convocação no dia da morte de Jesus por relatos
apofáticos e também catafáticos. Não restando qualquer dúvida de
que a morte no dia 15 não é só plausível, como altamente provável,
tornando a morte do dia 14 completamente problemática, e
confirmando a visão desse livro, invalidando novamente a hipótese
do sábado lunar.
7.7. A entrada triunfal

Uma das formas de testar a cronologia da paixão, é comparando


com a Cronologia dos eventos paralelos narrados nos evangelhos.
Apesar dos sinópticos não detalharem grandemente os últimos dias,
João parece mais preocupado com as datas, e narra um tanto quanto
claro que:
Joã 12:1 Seis dias antes da Páscoa, foi Jesus para
Betânia, onde estava Lázaro, a quem ele ressuscitara
dentre os mortos.
Se a páscoa é dia 14, então o dia 13 é um dia antes, o dia 12 é 2
dias antes e assim sucessivamente:
• Dia 14 – Dia da páscoa
• Dia 13 – 1 dia antes da páscoa
• Dia 12 – 2 dias antes da páscoa
• Dia 11 – 3 dias antes da páscoa
• Dia 10 – 4 dias antes da páscoa
• Dia 09 – 5 dias antes da páscoa
• Dia 08 – 6 dias antes da páscoa
Isso significa que João 12:1 diz que Jesus foi para Betânia 6 dias
antes da páscoa, isso é, durante o dia 08 de Nissan. Jesus estava
vindo de próximo ao deserto, pois saiu de público, pois os Fariseus
já haviam dado a ordem de prender Jesus
Joã 11:54 De sorte que Jesus já não andava
publicamente entre os judeus, mas retirou-se para
uma região vizinha ao deserto, para uma cidade
chamada Efraim; e ali permaneceu com os
discípulos.
Joã 11:57 Ora, os principais sacerdotes e os fariseus
tinham dado ordem para, se alguém soubesse onde ele
estava, denunciá-lo, a fim de o prenderem.
E só saiu de lá seis dias antes da páscoa, quando foi para Betânia.
Até aqui não há dúvida, apesar de que alguns DSL desesperados
berrarão de que Jesus chegou em Betânia no pôr do sol do dia 7 para
o dia 8. O esquema que eles intentam mostrar é o seguinte:
Se o dia 14 foi no 6º dia, então:
194 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

• dia 13 foi no 5º dia


• dia 12 foi no 4º dia
• dia 11 foi no 3º dia
• dia 10 foi no 2º dia
• dia 9 foi no 1º dia, o dia que Jesus entra em Jerusalém
• dia 8 foi no sábado, o dia em que Ele chegou da viagem que
começou no dia 7, duas horas antes do pôr do sol, chegando
nos primeiros momentos do sábado para não o transgredir.
É claro que nem precisa de muito conhecimento grego para
perceber que o texto Bíblico não diz isso, nem no português nem no
grego, o texto é claro que a viagem ocorreu 6 dias antes da festa. Um
forma de racionalizar essa distorção usada pelos DSL, é usando a
seguinte paráfrase: “se eu sair de casa três horas antes do pôr do sol
da sexta, e chegar na casa de meus minutos após o pôr do sol, eu
posso dizer que ‘fui à casa dos meus pais no sábado’”
Essa frase pode estar correta, porém perceba que ela foi
estruturada completamente diferente do texto bíblico, armada para
indicar a chegada unicamente, pois já está dando o horário da
chegada, e é ao indicador de tempo que a frase se liga. Se essa
mesma frase for reconstruída sem o aspecto narrativo (se eu sair…),
nos mesmos moldes do texto Bíblico, substituindo:
• seis dias por três horas
• páscoa por pôr do sol da sexta
• Betânia por casa dos meus pais
ela muda completamente de conceito: “Três horas antes do pôr
do sol da sexta, fui à casa dos meus pais, e cheguei minutos após o
pôr do sol.”
Perceba que agora essa mesma frase, com as mesmas
informações, já mudou completamente o conceito de “fui à”
apresentado na frase arquitetada pelos DSL, que nada tinha a ver
com a construção do texto bíblico, agora, “fui à” claramente aponta a
saída, independente da hora da chegada, ou mesmo se chegou, a
chegada é discriminada apenas na segunda oração. Mesmo que eu
nunca chegasse lá, em nada mudaria o sentido do “fui à” na frase:
“três horas antes do pôr do sol de sexta, fui à casa dos meus pais,
porém houve um acidente e eu não cheguei lá.”
Essa frase não muda o fato de eu ter ido à casa dos meus pais,
mesmo que a ação não tenha sido completada, pois o foco da
expressão é claramente a saída, apontando a direção, não a chegada.
7.7. A ENTRADA TRIUNFAL 195

Perceba que as frases são idênticas, mudando apenas os valores,


abaixo a representação negrita da estrutura, sublinhada os valores, e
itálica o complemento da oração:
Seis dias antes da Páscoa, foi Jesus para Betânia,
onde estava Lázaro, a quem ele ressuscitara dentre os
mortos.
Três horas antes do pôr do sol da sexta, fui (eu) à
casa dos meus pais, (e cheguei minutos após o pôr do
sol / porém houve um acidente e eu não cheguei lá)
Aqui há uma posição temporal (seis dias antes) antes da ação (foi
para), como na segunda frase, uma posição temporal (três horas
antes) antes da ação (fui à), e é ao indicador de tempo que a frase se
liga, aqui vemos que o texto claramente marca a saída rumo ao
destino, independente do destino ser ou não alcançado, e isso,
analisando apenas a lógica gramatical na língua portuguesa.
Assim quando, o DSL afirma que Jesus viajou antes do pôr do
sol do sexto dia e chegou no sábado, tendo em vista o fato de que a
frase “seis dias antes da páscoa, foi Jesus para…” indica a saída
rumo ao destino, e não a chegada ao destino, mesmo que não
entenda, o DSL está afirmando que o sexto dia da semana foi “seis
dias antes da páscoa”, e portanto, é uma auto-afirmação de que Jesus
não morreu no dia 14.
O modo mais simples de entender a expressão “foi para” da
construção do português é imaginando a seguinte situação: Você
leva um amigo ao aeroporto que pegará um avião com destino à
Tokyo, um voo que hipoteticamente leve 24h, contando que ele
embarcou ao meio dia do dia 1, ele chegaria à Tokyo
hipoteticamente ao meio dia do dia do dia 2. Porém, se na tarde do
dia 1, outra pessoa perguntar pelo seu amigo, qual seria a melhor
resposta?:
a) “Foi para Tokyo ao meio dia de hoje.” ou
b) “Irá para Tokyo ao meio dia de amanhã”
Obviamente, a opção a) é a única resposta possível, mas e se a
pergunta fosse feita uma semana depois, qual seria a melhor
resposta?
a) “Foi para Tokyo ao meio dia do dia 1” ou
b) “Foi para Tokyo ao meio dia do dia 2
Obviamente a opção a) indica que seu amigo embarcou no dia 1,
e a opção b) indica que após o levar ao aeroporto, seu amigo ainda
teve de esperar um dia inteiro antes de embarcar para Tokyo, e teria
196 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

chegado apenas no dia 3, 24h depois de ter “ido para Tokyo”, pois
essa expressão indicaria apenas a saída, e não a chegada. Na
casualidade de não chegar, em nada mudaria o sentido do foi: “Foi
para Tokyo lajeio dia do dia 1, mas por um problema técnico, fez um
pouso de emergência e parou na Europa.”
Logo, no português já fica claro que Jesus saiu de Efraim seis
dias antes da páscoa, na impossibilidade de fazer tal viagem num
sábado, a única opção que resta é admitir que foi numa sexta-feira
que Jesus saiu de Efraim, tendo a ceia após o pôr do sol daquele dia,
que a priori, já se trata de um sábado.
Mas para tirar qualquer dúvida, o texto grego diz:
῾Ο κ θ ᾿Ιβ κῦμ πλὸ ι ἡη λῶθ κῦ πά χα ἦζγ θ ἰμ
βγαθίαθ
literalmente, “então o Jesus antes seis dias a páscoa
partiu (foi) para (em direção à) Betânia.”
O texto claramente indica a movimentação de Jesus de onde ele
estava (Efraim) para seu destino (Betânia), usando o verbo erxomai
seguido da preposição eis, e não apenas a chegada. O verbo erxomai
pode indicar tanto “ir” como “vir”, isso é, ele sozinho poderia dizer
que Jesus “foi” ou Jesus “veio”, porém o verbo “vir” indica o
movimento em direção ao narrador, e sabendo que João não estava
em Betânia, a única tradução possível seria “ir”, no aoristo, “Jesus
foi”. A preposição eis indica destino “para, em direção à”, não é
possível a tradução “chegou para Betânia”, mas “foi para (em
direção à) Betânia” com sentido de “partiu para Betânia,” ligando–se
claramente à origem, apontando para o destino, que ainda não
aconteceu, e nem importa quanto tempo demore para acontecer, ou
mesmo se acontecerá.
Todos os usos bíblicos no verbo erxomai no segundo aoristo
indicativo ativo na terceira pessoa do singular com a preposição eis
(ἦζγ θ μ – hlthen eis) confirmam isso, a seguir estarão apenas um
exemplo de cada evangelho e um do livro de atos:
Mat 9:1 Entrando Jesus num barco, passou para o
outro lado e foi para a sua própria cidade.
Toda ação ocorre antes de ir para a sua própria cidade, que era o
destino, mas o tempo da frase acontecia na saída, quando passou
para o outro lado, e não na chegada, independente de quanto tempo
levasse. Jesus não foi para sua própria cidade quando chegou lá, mas
a partir do momento que passou para o outro lado.
7.7. A ENTRADA TRIUNFAL 197

Mar 8:10 Logo a seguir, tendo embarcado juntamente


com seus discípulos, partiu para as regiões de
Dalmanuta.
Ele não foi para Dalmanuta quando chegou nela, mas quando
embarcou com seus discípulos, Dalmanuta era o alvo de algo que
aconteceria não importa quanto tempo depois.
Luc 2:51 E desceu com eles para Nazaré; e era-lhes
submisso. Sua mãe, porém, guardava todas estas
coisas no coração.
A ação está enquanto desce, e não no momento da chegada em
Nazaré. Ele não foi para Nazaré quando chegou lá, mas quando
iniciou o caminho desde Jerusalém, independente de quanto tempo
levasse para isso.
Ats 18:1 Depois disto, deixando Paulo Atenas, partiu
para Corinto.
Paulo não foi para Corinto quando chegou, mas quando saiu de
Atenas, e com certeza não foi no mesmo dia, porém, ele claramente
foi para Corinto desde a saída, e não na chegada.
Assim, fica mais que claro que tanto em português, quanto em
grego, que a frase:
João 12:1 Seis dias antes da Páscoa, foi Jesus para
Betânia, onde estava Lázaro, a quem ele ressuscitara
dentre os mortos.
está se referindo à saída rumo ao objetivo, e não à chegada. Uma
análise completa de todos os usos da expressão ἦζγ θ μ pode ser
vista no Apêndice 2 deste livro. Além disso, se o intuito fosse
enfatizar a chegada, e não a partida, o grego bíblico está bem servido
de verbos que indicariam a chegada, como por exemplo:
 εα απζέω – kataplew – chegar, como um barco que chega no
porto, as vezes traduzido como “aportar” – como em Luc
8:26 – A JFAA e a JFAC traduzem como “rumaram” e
“navegaram” respectivamente, apontando a saída, enquanto
esse verbo aponta especificamente a chegada, as versões
inglesas, KJV e LITV, traduzem como arrived ou sailed
down, chegaram ou desembarcaram, respectivamente,
corretamente determinando a chegada.
 παλαίάζζω – paraballw – chegar em, com sentido de
proximidade – como em Ats 20:15
 ἐφδεθέκηαδ – efikneomai – alcançar ou chegar em um ponto
– como em 2Co 10:13–14
 ou ate φγάθω – fthanw – chegar – apesar de não ser usado
198 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

no Novo Testamento, mas muito recorrente na literatura do


primeiro século.
Mas certamente, não usariam um verbo significa “ir” para
intentar falar do tempo da chegada. Portanto, pelo texto, é mais do
que claro que seis dias antes da páscoa, Jesus foi em direção à
Betânia de onde ele estava, sendo impossível afirmar que Jesus saiu
de Efraim no dia 7, e chegou em Betânia após o pôr do sol, no dia 8,
isso é no máximo uma hipótese que não passa nem da primeira fase.
Estando claro que Jesus realizou essa viagem no dia 8, cumpre-
nos saber a rota dessa viagem. Betânia é facilmente identificável nos
arredores de Jerusalém, distando cerca de 2,5 km da capital em linha
reta, uns 7 km de percurso. Porém Efraim não é tão facilmente
identificável, Josefo comenta dela,161 mas nada fala da distância, e
sabemos que estava próxima do deserto (Joã 11:54). A opinião dos
comentaristas divergem entre 8 e 20 milhas de distância, algo entre
13 e 30 km, tomando a menor medida como verdade, 13 km, pouco
menos de 3 horas de caminhada, é um trajeto curto, porém muito
maior do que um Judeu faria num sábado. Tendo em vista que a
viagem ocorreu definitivamente no dia 8, já é possível definir logo
de cara que esse dia 8 certamente poderia ser qualquer dia da
semana, menor um sábado. Esse é o primeiro ponto que destrói a
falha hipótese do calendário do sábado lunar, mesmo que se acredite
que Jesus veio abolir a lei, Ele não teria feito isso antes de sua morte,
caso contrário, não precisaria ter cumprido nenhuma das páscoas que
cumpriu em seu ministério também e o capítulo 5 de Mateus poderia
ser arrancado da Bíblia. Somando a clareza do texto em dizer que
Jesus foi para Betânia no dia 8, à distância que Ele percorreu, fica
claro que dia 8 certamente não era um sábado.
A única argumentação possível, é citar dois episódios onde Jesus
argumenta contra a tradição rabínica, em um debate contra as
fariseus:
Mat 12:5 Ou não lestes na Lei que, aos sábados, os
sacerdotes no templo violam o sábado e ficam sem
culpa? Pois eu vos digo:
Joã 5:17 Mas ele lhes disse: Meu Pai trabalha até
agora, e eu trabalho também.
Com isso, afirmam os DSL que Jesus tinha autorização de fazer
o que bem entendesse, a hora que bem entendesse, pois era o Senhor

161
The Jewish War iv. ix. 9
7.7. A ENTRADA TRIUNFAL 199

do sábado, e todas as suas obras missionários poderiam ser


realizadas no sábado sem violação.
Mesmo que pareça um bom argumento, ele é, na verdade, apenas
um recorte de textos que não apresentam seus contextos, tornando–
se apenas uma falácia. Em primeiro lugar, João 5:17 está no meio a
uma discussão sobre a cura de um paralítico, em que os judeus se
indignaram por Jesus o ter curado no sábado (5:16). Em nenhum
momento Jesus intentou ser a excessão da regra, Ele mesmo afirmou
ter vindo cumprir toda a lei (Mat 5:17–18), portanto está no mesmo
contexto temático de Mat 12:9–14, Mar 3:1–6, Luc 6:6–11 e 14:1–6
onde Jesus diz que no sábado é lícito fazer o bem (Mat 12:12; Mar
3:4; Luc 6:9), salvar a vida, e não deixa-la perecer (ibid.), e ainda
compara com o cuidado de animais, que se um cair num poço, era
dever do Judeu resgatá-lo mesmo que no dia de sábado (Mat 12:11;
Luc 14:5), pois a vida é prioridade. Em nenhum momento, qualquer
um desses textos afirma que no sábado é lícito correr meia maratona,
especialmente em um dia onde poderia ter feito isso em qualquer
momento antes.
Já Mat 12:5 é um dos versos preferidos de muitos para usar só
quando convém, mas nunca lembram deles quando querem acusar
guardadores do sábado. O texto diz que os serviços cúlticos eram
realizados no sábado e os sacerdotes permaneciam sem culpa, que
foi um argumento além da discussão, se poderia comer ou não
espigas no sábado, quando Jesus deu o exemplo de Davi que comeu
os pães da proposição (1Sa 21:3–6). O exemplo de Davi não era de
um episódio ocorrido no sábado, apenas foi citado como exemplo de
algo que não era lícito fazer normalmente, mas no caso de não haver
outra saída (1Sa 21:6), e ser uma questão de urgência, a vida é
prioridade, em nenhum momento Jesus se referiu a isso analisando a
lei ou dizendo que Ele era uma excessão à ela. Sobre o exemplo dos
serviços cultivos, novamente, não vemos nenhum sacerdote em toda
a Bíblia, em nenhum momento andando meia maratona nos sábados,
fosse o motivo qual fosse, bem como não vemos Jesus fazendo isso
em sábado nenhum, os serviços cúlticos estão relacionados com os
sacrifícios, onde era necessário acender fogo, que era ilícito a todo
Israel nos dias de sábado, porém exigido aos sacerdotes, conforme já
discutido no capítulo “7.6. Jesus morreu em uma santa
convocação?”. Logo, nenhum desses versos dão a mínima impressão
de que viajar no sábado fosse lícito, seja qual for o motivo. Além
200 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

disso, Jesus não viajou sozinho, pois seus discípulos estavam com
Ele em Efram (Joã 11:54) e também estavam com Ele na ceia (Joã
12:4). Mesmo que fosse permitido aos sacerdotes viajar no sábado, e
que Jesus fizesse uso desse suposto direito, aos discípulos ainda
seriam proibidos, e, Jesus os incentivando a transgredir a lei, estaria
a transgredindo também. Portanto, não havendo qualquer texto
Bíblico que desculpasse sacerdote algum de viajar no sábado, e Jesus
não abrindo essa excessão nem a Ele nem a ninguém, afirmar que
Jesus viajaria no sábado sem nenhum problema não passa de mero
“achismo”, até por que, mesmo que tudo isso fosse verdade, nenhum
judeu concordaria com isso, e as acusações viriam com certeza.
Jesus chegou em Betânia, portanto, no mesmo dia 8 em que saiu
de Efraim, e o texto diz que ali, lhe serviram uma ceia.
Joã 12:2 Deram-lhe, pois, ali, uma ceia; Marta
servia, sendo Lázaro um dos que estavam com ele à
mesa.
Uma ceia só poderia acontecer à noite, já que a possibilidade de
Jesus ter feito a viagem no dia 7 é descartada pelo texto, só nos resta
dizer que era a noite do dia 9 aqui, após o pôr do sol do dia 8 para o
9. Os eventos até o verso 8 ocorreram naquela mesma noite do dia 9,
os eventos dos versos 9–11, a multidão querendo ver a Jesus e
Lázaro, não são atados a um tempo, se aconteceram naquela noite ou
no dia seguinte, mas o fato é que são eventos do dia 9. A narrativa
continua:
Joã 12:12 No dia seguinte, a numerosa multidão que
viera à festa, tendo ouvido que Jesus estava de
caminho para Jerusalém,
Joã 12:13 tomou ramos de palmeiras e saiu ao seu
encontro, clamando: Hosana! Bendito o que vem em
nome do Senhor e que é Rei de Israel!
Se todos os últimos eventos se tratavam do dia 9, o dia seguinte
só pode ser o dia 10, o dia em que, segundo a lei, cada família judia
separaria um cordeiro para o sacrifício (Exo 12:3). Portanto, foi
nesse mesmo dia que Jesus entrou na cidade e foi saudado com
ramos de oliveira.
Agora, aplicando essa cronologia ao calendário do sábado lunar,
temos o seguinte:
Se o dia 14 foi no 6º dia, então:
• dia 13 foi no 5º dia
• dia 12 foi no 4º dia
• dia 11 foi no 3º dia
7.7. A ENTRADA TRIUNFAL 201

• dia 10 foi no 2º dia, o dia depois da ceia, quando Jesus entra


em Jerusalém
• dia 9 foi no 1º dia
• dia 8 foi no sábado, o dia da viagem.
Então, no calendário do sábado lunar, Jesus andou pelo deserto
até Betânia em pleno sábado com seus discípulos, teve a ceia do
início da semana em Betânia, passou o primeiro dia em Betânia, e
entrou em Jerusalém no segundo dia da semana, dia 10. Ainda
contou com a sorte dos fariseus não o acusarem de transgredir o
sábado no dia 8. Os DSL não afirmam isso, pois não aceitam a ideia
de Jesus ter feito a viagem no sábado, porém, é o único
desdobramento lógico da cronologia deles se respeitar o texto.
O único subterfúgio é apelar para que a viagem de Jesus tenha
ocorrido no dia 7, desrespeitando o texto que tão claramente afirma
que foi no dia 8, e somente a chegada ocorreria no dia 8, o que já
vimos ser textualmente impossível, e sendo assim, a entrada triunfal
seria no dia 9, o primeiro dia da semana, porém seus fundamentos
são inexistentes tanto no português quanto no grego. Como se não
bastasse, um Judeu não usaria o pôr do sol do sexto dia para viajar,
tendo tido o dia inteiro livre para isso, Joã 11:54 deixa claro que
Jesus passou um tempo em Efraim com seus discípulos, se até um
servo de Deus ordenou que já dando sombra o muro (após o meio
dia) já todas as atividades eram encerradas (Nem 13:19), quanto
mais o autor da lei não desperdiçaria o Kabbalat Shabbat162 viajando,
quando Ele poderia muito bem ter feito isso em qualquer hora do
dia, ou até em outro dia, já que não se sabe quanto tempo Ele passou
em Efraim; seria muita indiferença com a sua própria lei se usasse
justamente o pôr do sol do dia da preparação para a viagem, isso
significaria que Jesus fez tudo, menos se preparar para o sábado.
Já no calendário Bíblico, a história é completamente diferente:
Se o dia 14 foi no quinto dia, conforme a Bíblia, então
• dia 13 foi no quarto dia
• dia 12 foi no terceiro dia
• dia 11 foi no segundo dia
• dia 10 foi no primeiro dia, o dia em Jesus entra e Jerusalém
• dia 9 foi no sábado
• dia 8 foi no sexto dia, o dia da viagem

162
O culto do recebimento do Shabbat, realizado pelo judaísmo.
202 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

Então, no calendário bíblico, Jesus foi à Betânia no sexto dia da


semana, dia 8 (Joã 12:1), para passar o sábado em Betânia com seus
amigos, e veio com tempo, para não engolir as horas do sábado em
viagem, ali acontece a ceia de sábado no seu início, dia 9 (João
12:2–8), Jesus passou o sábado em Betânia tranquilamente
repousando conforme o mandamento, atendendo as pessoas que
queriam vê–Lo e a Lázaro (Joã 12:9–12), e entrou em Jerusalém no
primeiro dia da semana, o dia após os últimos acontecimentos
citados (Joã 12:13). Por esse ponto de vista, não é necessário
nenhum malabarismo, não é necessário dar nenhuma desculpa, nem
mesmo alterar sentidos de frases e expressões, cumprindo o
significado natural do texto.
O fato é que seis dias antes da páscoa não poderia ser sábado,
pois Jesus estava em plena viagem, e portanto, Jesus não poderia ter
morrido no dia da páscoa, pois isso tornaria o dia de sua morte no
quinto dia da semana, e portanto, o calendário do sábado lunar
definitivamente não pode ser o mesmo calendário usado nos tempos
de Cristo.
Assim, pode–se concluir que:
• O dia 8 era seis dias antes da festa
• O texto Bíblico afirma que Jesus viajou com seus discípulos
no dia 8
• Portanto, o dia 8 não pode ter sido um sábado
• Se o dia 8 não foi sábado, então o calendário do Sábado
lunar está errado
• Se o dia 8 não foi sábado, então a páscoa não pode ter sido na
sexta–feira
• Se a páscoa não foi na sexta–feira, então o calendário do
sábado luar está errado
• De qualquer forma, o calendário do sábado luar está
errado
7.8. Cristo, o cordeiro de Deus

Jesus é o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Foi essa


a declaração de João Batista ao ver seu primo no evangelho de João
(Joã 1:29). O símbolo do cordeiro é usado muitas e muitas vezes no
novo testamento, a seguir, estão todos os versos que fazem qualquer
menção de Cristo como um cordeiro com qualquer relação à
sacrifício.163
Joã 1:29 No dia seguinte, viu João a Jesus, que vinha
para ele, e disse: Eis o Cordeiro de Deus, que tira o
pecado do mundo!
Joã 1:36 e, vendo Jesus passar, disse: Eis o Cordeiro
de Deus!
João 19:36 E isto aconteceu para se cumprir a
Escritura: Nenhum dos seus ossos será quebrado.
Ats 8:32 Ora, a passagem da Escritura que estava
lendo era esta: Foi levado como ovelha ao matadouro;
e, como um cordeiro mudo perante o seu
tosquiador, assim ele não abriu a boca.
1Co 5:7 Lançai fora o velho fermento, para que sejais
nova massa, como sois, de fato, sem fermento. Pois
também Cristo, nosso Cordeiro pascal, foi imolado.
1Pe 1:19 mas pelo precioso sangue, como de
cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue de
Cristo,
Apo 5:6 Então, vi, no meio do trono e dos quatro
seres viventes e entre os anciãos, de pé, um Cordeiro
como tendo sido morto. Ele tinha sete chifres, bem
como sete olhos, que são os sete Espíritos de Deus
enviados por toda a terra.
Apo 5:12 proclamando em grande voz: Digno é o
Cordeiro que foi morto de receber o poder, e

163
Em apocalipse, Cristo é chamado de cordeiro repetidas vezes, a palavra
grega é diferente, e não convém entrar nessa discussão, então serão mencionadas
apenas as ocorrências que de alguma forma relacionam o tema do sacrifício.
204 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

riqueza, e sabedoria, e força, e honra, e glória, e


louvor.
Apo 13:8 e adorá-la-ão todos os que habitam sobre a
terra, aqueles cujos nomes não foram escritos no Livro
da Vida do Cordeiro que foi morto desde a
fundação do mundo.
Foi sempre muito cômodo pensar no cordeiro como sendo o
cordeiro pascal, afinal, é o cordeiro mais famoso para as mentes
ocidentais, assim as palavras do Batista foram rapidamente
interpretadas como predizendo a morte de Cristo como cordeiro
pascal. Mas seria esse o pensamento que passaria na mente judaica
no primeiro século? O que pouco se fala entre o cristianismo, é que o
cordeiro pascal não era nem de longe o principal cordeiro do culto
judaico, é importante notar que João não chama seu primo de
“cordeiro pascal”, mas apenas “cordeiro”, e o único texto em toda a
bíblia que pode fazer qualquer ligação entre Cristo e o cordeiro
pascal é 1Co 5:7, que carece uma análise cuidadosa ao fim desse
capítulo, porém, nenhum outro texto faz essa ligação.
Mas qual a diferença? É importante notar que o cordeiro não era
usado unicamente na páscoa, como exigido em Êxo 12 e 13, mas em
muitas outras ocasiões como em ofertas pacíficas (Lev 3:7),
holocaustos ao Senhor (Lev 9:3; 12:6), ritual de purificação (Lev
14:10), para o voto de Nazireu (Num 6), para a dedicação do templo
(Num 7), dezenas de outros cordeiros para cada uma das festas (Lev
23; Num 28–29) e para o sacrifício contínuo (Êxo 29:38–42; Num
28:3–8). A qual cordeiro o Novo Testamento compara Cristo?
A chave dessa pergunta se encontra na primeira comparação
bíblica de Jesus a um cordeiro, e provavelmente, a base para todas as
outras comparações:
Joã 1:29 No dia seguinte, viu João a Jesus, que vinha
para ele, e disse: Eis o Cordeiro de Deus, que tira o
pecado do mundo!
João viu Cristo como um cordeiro que tira o pecado, a pergunta
é: no rito do cordeiro pascal, existe algum simbolismo em que o
cordeiro é usado para tirar algum pecado? A resposta curta seria:
não, nunca!
Outra objeção é que o sacrifício da Páscoa não era
exclusivamente um cordeiro, e, portanto, uma identificação explícita
com o sacrifício da Páscoa não teria necessariamente seguido da
referência.
7.8. CRISTO, O CORDEIRO DE DEUS 205

Êxo 12:5 O cordeiro será sem defeito, macho de um


ano; podereis tomar um cordeiro ou um cabrito;
Além disso, o testemunho claro dos evangelhos é que os
cordeiros/cabritos pascais foram abatidos no dia anterior à morte de
Cristo, assim, podemos elencar que o sacrifício da páscoa não é um
símbolo perfeito para a morte de Cristo por vários motivos:
 Milhares de animais sacrificados – um por família (Êxo
12:3–4)
 Sete (7) outros cordeiros sacrificados a cada dia da festa, por
sete dias – Mais 49 cordeiros no total (Num 28:19, 24)
 Não precisava ser um cordeiro – Podia ser um cabrito
também. (Êxo 12:5)
 Era vicário,164 mas não continha função expiatória165 – não
lidava com o pecado
 O horário difere da morte de Cristo – os animais pascais
eram sacrificados por várias horas até o pôr do sol. (Êxo
12:6; Lev 23:5 – beyn haarevbyim, entre tardes)
No máximo, três pontos podem ser levantados como similaridade
da páscoa com a morte de Cristo, (1) a data, se e somente se aceitar a
morte no dia 14, apesar de contrariar toda a evidência neo–
testamentária, (2) a figura do cordeiro, que também não era
obrigatória, uma vez que poderia ser usado um cabrito. O único
ponto incontestável seria (3) o conceito de perfeição do cordeiro
(Êxo 12:5), porém, esse era um requisito para praticamente qualquer
sacrifício, e o fato de ser vicário (substitutivo) não é propriedade
exclusiva da páscoa, todos os sacrifício o são. Nada mais poderia
tornar a morte de Cristo similar à figura da páscoa. Ainda é no
mínimo engraçado que um dos objetivos centrais, senão o central, do
livro de hebreus é identificar a tipologia da morte e ministério de
Cristo, no entanto, a única menção à páscoa é quando diz que Moisés
a celebrou no Egito (Heb 11:28), jamais relaciona a páscoa à Cristo.
Em toda a Torah, apenas 3 eventos usam cordeiros para funções
expiatórias:
1. A purificação de um leproso.
Lev 14:12 tomará um dos cordeiros e o oferecerá
por oferta pela culpa e o sextário de azeite; e os
moverá por oferta movida perante o SENHOR.

164
Vicário significa substitutivo, a morte de um em lugar de outro.
165
Expiatório no contexto Bíblico significa que purifica pecado.
206 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

A oferta que Deus pediu de um leproso para a sua purificação


após a cura da lepra, é que ao oitavo dia após o sacerdote verificar a
cura, ele trouxesse um cordeiro para oferta pela culpa, porém, este
cordeiro não era oferta pelo pecado, pelo pecado seria imolado uma
rolinha, uma pomba ou uma cordeira (Lev 14:22), a diferença entre
oferta pelo pecado e oferta pela culpa era bem delineada nos
sacrifícios da Torah, sendo assim, dificilmente um judeu confundiria
os dizeres “cordeiro que tira o pecado do mundo” com uma oferta
pela culpa.
2. O voto Nazireu
Num 6:12 Então, consagrará os dias do seu nazireado
ao SENHOR e, para oferta pela culpa, trará um
cordeiro de um ano; os dias antecedentes serão
perdidos, porquanto o seu nazireado foi contaminado.
Mais uma vez, no voto nazireu, o cordeiro era oferta pela culpa,
e não pelo pecado, a oferta pelo pecado novamente seria duas rolas
ou dois pombinhos (Num 6:13–14). Ademais, o voto Narizeu era
algo muito específico para ser lembrado por uma frase como a
proferida pelo Batista, e novamente, dificilmente um judeu
confundiria os dizeres “cordeiro que tira o pecado do mundo” com
uma oferta pela culpa.
3. O sacrifício contínuo
Este ritual diário foi delineado na Lei Mosaica em uma parcela
dedicada aos requisitos e atividades dos sacerdotes.
Êxo 29:38 Isto é o que oferecerás sobre o altar: dois
cordeiros de um ano, cada dia, continuamente.
Êxo 29:39 Um cordeiro oferecerás pela manhã e o
outro, ao pôr-do-sol.
Êxo 29:40 Com um cordeiro, a décima parte de um
efa de flor de farinha, amassada com a quarta parte de
um him de azeite batido; e, para libação, a quarta parte
de um him de vinho;
Êxo 29:41 o outro cordeiro oferecerás ao pôr-do-sol,
como oferta de manjares, e a libação como de manhã,
de aroma agradável, oferta queimada ao SENHOR.
Êxo 29:42 Este será o holocausto contínuo por vossas
gerações, à porta da tenda da congregação, perante o
SENHOR, onde vos encontrarei, para falar contigo ali.
Num 28:3 Dir-lhes-ás: Esta é a oferta queimada que
oferecereis ao SENHOR, dia após dia: dois cordeiros
de um ano, sem defeito, em contínuo holocausto;
O sacrifício contínuo não era uma simples oferta por um pecado
de um indivíduo como as outras ofertas pelo pecado, mas era o pré–
7.8. CRISTO, O CORDEIRO DE DEUS 207

requisito para todos os outros sacrifícios, cobrindo assim, todo o


povo. Parecido com o que acontece com outros sacrifícios de culto
no Antigo Testamento, este era o principal caminho para o povo ter
acesso a Deus. Também como outros casos de sacrifício no Antigo
Testamento, o animal em questão deveria atender a certos requisitos
– entre eles, o padrão de perfeição. O animal sacrificial devia ser
sem defeito em um sentido físico e tangível. Esta prática acabou por
ser conhecida como Korban Tamid, ou apenas Tamid.166 Korban é a
prática do sacrifício, enquanto Tamid significa “regularmente” ou
“continuamente”.
Os detalhes delineados em Êxodo 29 e no contexto mais amplo
do livro estão intimamente ligados à alteridade de Deus, como
expressa no Pentateuco. Ela serve para enfatizar sua santidade ao
estabelecer rigorosa orientações sobre como a comunidade deve se
esforçar para se aproximar dele. Assim, as idéias da inacessibilidade
de Deus e sua perfeição são contrapostas com as imperfeições
evidentes de seu povo, se tornando um conceitos teológicos críticos.
É aí que entra a função do sacrifício contínuo, descrito como o meio
pela qual essa inacessibilidade de Deus é rompida, e então, Deus se
encontra com seu povo (Êxo 29:42), isso é, enquanto o cordeiro
estiver queimando sob o altar, e o aroma suave estiver subindo às
narinas de Deus, Ele estará aceitando as ofertas sobre o altar.
A primeira parte deste Sacrifício Tamid começa todas as manhãs
com um cordeiro macho sem defeito. O sacerdote abate o cordeiro e
o coloca no fogo como o primeiro sacrifício do dia. O cordeiro arde
no fogo o dia todo – um contínuo sacrifício queimado. Até o
sacrifício da tarde, o sacerdote coloca todos os outros sacrifícios que
forem feitos sobre a madeira onde este cordeiro está queimando,
estes sacrifício só poderiam ocorrer após o Korban Tamid da manhã.
Estavam inclusos:
c) A oferta pelo pecado
d) A oferta pela culpa
e) As ofertas queimadas
f) As ofertas de cereais
g) As ofertas pacíficas

166
Tamid pode indicar qualquer um dos rituais diários, tais quais manter o
candelabro aceso, trocar os pães da proposição, manter o incenso aceso e etc. O
sacrifício especificamente era o Korban Tamid, mas para encurtar, alguns chamam
apenas de Tamid, mas no contexto de sacrifício.
208 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

h) Sacrifícios festivos
Em outras palavras, cada uma das outras ofertas, inclusive as
ofertas das outras festas, só teria validade por causa do sacrifício
contínuo e enquanto este estivesse queimando, por isso o Korban
Tamid era chamado de “sacrifício completo” ou “máximo”. Na
discussão rabínica sobre o principal Pasuk (trecho) da Torah, a
disputa ficou entre apenas três versos:
Ben Soma disse: Encontramos um pasuk que inclui
tudo, “Ouve, Israel, o SENHOR, nosso Deus, é o
único SENHOR.” (Deu 6:4)
Ben Nannas disse: Encontramos um pasuk que inclui
tudo, “amarás o teu próximo como a ti mesmo.” (Lev
19:18)
Ben Pazai disse: Encontramos um pasuk que inclui
tudo, “Um cordeiro oferecerás pela manhã e o outro, a
tarde.” (Êxo 29:39)167
A interpretação que se tornou padrão foi que de acordo com
Shimon Ben Pazai, a permanência consistente da Avodat HaShem
(adoração à Deus) é representada pelo Korban trazido todos os dias,
de manhã e de tarde, esse é o princípio fundamental da Torah.168
“Pela nossa tradição, nós temos mantido nosso equilíbrio por muitos
e muito anos… e por causa da nossa tradição… cada um de nós sabe
quem é e o que Deus espera dele.”169
A primazia do Korban Tamid sobre os demais serviços do
santuário é evidente em todos os aspectos. Cada dia, ao oferecer sua
cabra ou cordeira em oferta pelo pecado (Lev 4:27–35), o israelita
poderia ver que antes mesmo de sua oferta, o cordeiro do sacrifício
contínuo já estava lá, tornando esse local um ponto de encontro (Êxo
29:42), e por isso, a sua oferta seria aceita. Mesmo na páscoa, ao
oferecer o seu cordeirinho entre tardes, o israelita poderia ver que o
cordeiro do Tamid já estava lá queimando, tornando aquele lugar um
ponto de encontro com Deus, e por isso, o seu sacrifício seria aceito.
O sacrifício contínuo jamais parava, nem em dia de sábado (Num
28:10), nem na lua nova (Num 28:15), nem na páscoa (Num 28:23),
nem na semana dos pães ásmos (Num 28:24) nem em qualquer outra
festa (Num 28:31; 29:6, 11, 16, 19, 22, 25, 28, 31, 34, 38 e 39). Não

167
Parshat Tetzaveh
168
Netivot Olam, Netiv Ahavat Ha'Reia 1
169
Tevye de Fiddler
7.8. CRISTO, O CORDEIRO DE DEUS 209

importa a ocasião, por mais especial que fosse, o sacrifício contínuo


era a única coisa que jamais deixaria de acontecer (Num 15:5).
Quando o sacrifício da tarde é realizado, é sinal que todos os
demais serviços do dia terminaram. Isso é, quando o sacerdote
completasse todos os sacrifícios para aquele dia, ele “fecharia com
chave de ouro” com o segundo cordeiro. O segundo cordeiro é morto
e colocado em cima das ofertas do dia. Isso forma um “sanduíche de
ofertas”, colocando todos os sacrifícios do dia entre os dois cordeiros
do Sacrifício Tamid.
O Korban Tamid tem muitos paralelos diretos à Cristo e à
expressão “eis o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”.
Apenas um único sacrifício era feito para todo o Israel, assim como
Cristo morreu uma vez para todo aquele que nEle crê, o que nada
tem a ver com a páscoa, cujo sacrifício só era eficaz para uma
família, tendo assim, milhares de cordeiros sacrificados todos os
anos.
Estranhamente, no exato momento de crucifixão e morte de
Cristo, o mais importante, porém esquecido pelo cristianismo, ritual
do santuário estava acontecendo, uma parte crítica da vida e
adoração comunal sob o sistema mosaico: O cordeiro oferecido
diariamente no templo. De acordo com as fontes judaicas antigas, o
sacrifício da manhã do Tamid ocorria à hora terceira, isso é, 9h. Já o
sacrifício da tarde ocorria à hora nona, isso é, 15h.170 Esses horários
são precisamente os horários de crucifixão e morte de Cristo:
Mar 15:25 Era a hora terceira quando o
crucificaram.

Mat 27:46 Por volta da hora nona, clamou Jesus em


alta voz, dizendo: Eli, Eli, lamá sabactâni? O que quer
dizer: Deus meu, Deus meu, por que me
desamparaste?
Mat 27:50 E Jesus, clamando outra vez com grande
voz, entregou o espírito.
Mat 27:51 Eis que o véu do santuário se rasgou em
duas partes de alto a baixo; tremeu a terra, fenderam-
se as rochas;
Isso significa que Jesus foi crucificado na hora em que se fazia o
sacrifício da manhã, e morreu na hora em que se fazia o sacrifício da
170
Ver Mishná, Tamid 3:7, Josefo, Antiquities 14.4.3, Filo, Special Laws,
1:169
210 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

tarde, como a expressão exata do Tamid. Isso , somado ao fato de ser


uma santa convocação, explica a ausência dos sacerdotes após as 9h
da manhã na morte de Cristo. O véu do templo se rasgar na hora
nona (Mat 27:51) significava o impedimento do mais importante
sacrifício do dia no santuário, pois o verdadeiro Korban Tamid
estava entregando o espírito naquele instante. No momento em que
se consumaria as ofertas e sacrifícios daquele dia, Jesus exclamou
“está consumado” (Joã 19:30).
Por causa do Korban Tamid, a hora terceira e hora nona se
tornaram horários de oração no judaísmo. Mesmo após a morte de
Cristo, Pedro e João continuaram a prática das orações, Cornélio, um
centurião romano converso, também o fez:
Ats 3:1 Pedro e João subiam ao templo para a oração
da hora nona.
Ats 10:30 Respondeu-lhe Cornélio: Faz, hoje, quatro
dias que, por volta desta hora, estava eu observando
em minha casa a hora nona de oração, e eis que se
apresentou diante de mim um varão de vestes
resplandecentes
Isso significa que enquanto os Judeus oravam dentro do
santuário pela vinda do messias (Tzmach – 15ª benção da Amida),
pela redenção (Geulá – 7ª benção da Amida), pelo perdão dos
pecados (S’lichá – 6º benção da Amida), pela ressurreição dos
mortos (2ª benção da Amida),171 o Messias que havia vindo estava
sendo crucificado e morto nessa mesma hora, pela redenção e perdão
dos pecados deles, garantindo a ressurreição dos mortos (1Co 15),
porém, fora do santuário (Heb 13:12).
Podemos sintetizar de forma resumida os paralelos entre o
sacrifício de Cristo e o Korban Tamid da seguinte maneira:
1. O conceito de Perfeição
Num 28:3 Dir-lhes-ás: Esta é a oferta queimada que
oferecereis ao SENHOR, dia após dia: dois cordeiros
de um ano, sem defeito, em contínuo holocausto;

1Pe 1:19 mas pelo precioso sangue, como de


cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue de
Cristo,

171
b. Ber. 26b, Gen. R. lxviii). para esses rituais no período do segundo
templo, ver Talmud Babilônico, Ber.33a, Meg. 17b
7.8. CRISTO, O CORDEIRO DE DEUS 211

Heb 4:15 Porque não temos sumo sacerdote que não


possa compadecer-se das nossas fraquezas; antes, foi
ele tentado em todas as coisas, à nossa semelhança,
mas sem pecado.
Heb 7:26 Com efeito, nos convinha um sumo
sacerdote como este, santo, inculpável, sem mácula,
separado dos pecadores e feito mais alto do que os
céus,
Heb 9:14 muito mais o sangue de Cristo, que, pelo
Espírito eterno, a si mesmo se ofereceu sem mácula
a Deus, purificará a nossa consciência de obras
mortas, para servirmos ao Deus vivo!
2. Um cordeiro sacrificado
Êxo 29:39 Um cordeiro oferecerás pela manhã e o
outro, ao pôr-do-sol.

Mat 26:28 porque isto é o meu sangue, o sangue da


[nova] aliança, derramado em favor de muitos,
para remissão de pecados.
Mar 14:24 Então, lhes disse: Isto é o meu sangue, o
sangue da [nova] aliança, derramado em favor de
muitos.
Luc 22:20 Semelhantemente, depois de cear, tomou o
cálice, dizendo: Este é o cálice da nova aliança no
meu sangue derramado em favor de vós.
Ats 8:32 Ora, a passagem da Escritura que estava
lendo era esta: Foi levado como ovelha ao matadouro;
e, como um cordeiro mudo perante o seu
tosquiador, assim ele não abriu a boca.
Heb 9:14 muito mais o sangue de Cristo, que, pelo
Espírito eterno, a si mesmo se ofereceu sem mácula
a Deus, purificará a nossa consciência de obras
mortas, para servirmos ao Deus vivo!
Heb 10:12 Jesus, porém, tendo oferecido, para
sempre, um único sacrifício pelos pecados, assentou-
se à destra de Deus,
Heb 10:19 Tendo, pois, irmãos, intrepidez para entrar
no Santo dos Santos, pelo sangue de Jesus,
Heb 13:12 Por isso, foi que também Jesus, para
santificar o povo, pelo seu próprio sangue, sofreu
fora da porta.
Apo 13:8 e adorá-la-ão todos os que habitam sobre a
terra, aqueles cujos nomes não foram escritos no Livro
da Vida do Cordeiro que foi morto desde a
fundação do mundo.
3. Um ato vicário proporcionando acesso a Deus
212 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

Êxo 29:42 Este será o holocausto contínuo por vossas


gerações, à porta da tenda da congregação, perante
o SENHOR, onde vos encontrarei, para falar
contigo ali.
Êxo 29:43 Ali, virei aos filhos de Israel, para que,
por minha glória, sejam santificados,

Joã 14:6 Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a


verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por
mim.
2Co 5:19 a saber, que Deus estava em Cristo
reconciliando consigo o mundo, não imputando aos
homens as suas transgressões, e nos confiou a palavra
da reconciliação.
Heb 4:16 Acheguemo-nos, portanto,
confiadamente, junto ao trono da graça, a fim de
recebermos misericórdia e acharmos graça para
socorro em ocasião oportuna.
4. Um único sacrifício eficiente para todo o povo
Êxo 29:42 Este será o holocausto contínuo por
vossas gerações, à porta da tenda da congregação,
perante o SENHOR, onde vos encontrarei, para falar
contigo ali.

Joã 3:16 Porque Deus amou ao mundo de tal maneira


que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que
nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.
1Jo 2:2 e ele é a propiciação pelos nossos pecados e
não somente pelos nossos próprios, mas ainda pelos
do mundo inteiro.
Heb 9:26 Ora, neste caso, seria necessário que ele
tivesse sofrido muitas vezes desde a fundação do
mundo; agora, porém, ao se cumprirem os tempos, se
manifestou uma vez por todas, para aniquilar, pelo
sacrifício de si mesmo, o pecado.
Heb 10:12 Jesus, porém, tendo oferecido, para
sempre, um único sacrifício pelos pecados,
assentou-se à destra de Deus,
Ainda uma quinta característica pode ser elencada proveniente da
pergunta: “Por que então, dois cordeiros deveriam ser mortos, e não
apenas um?” Tradicionalmente, alguns ramos do judaísmo esperam
dois messias diferentes por conta da simbologia do Tamid e dos
profetas:
7.8. CRISTO, O CORDEIRO DE DEUS 213

1. O cordeiro inferior seria o Messias Ben Joseph (filho de


José)
2. O cordeiro superior seria o Messiah Ben David (filho de
Davi)
O cordeiro inferior refere-se à primeira vinda do Messias, como
o Servo Sofredor (Isa 53), montado num jumentinho (Zac 9:9),
traído (Slm 41:9; Zac 11:12) e assassinado (Slm 22), porém,
ressurrecto (Slm 16:10). Já o cordeiro superior se refere à segunda
vinda do Messias, glorificado e exaltado nas nuvens (Dan 7:13–14),
como o rei. O judaísmo geralmente entende dois messias, para o
Cristianismo, todas as profecias se cumpriram no mesmo Messias,
porém, em duas fases distintas. Por isso, podemos colocar uma
quinta comparação entre o Messias e o Korban Tamid na
soteriologia Cristã:
5. Dois cordeiros que apontam duas fases distintas – o início e o
fim da redenção.
Êxo 29:38 Isto é o que oferecerás sobre o altar: dois
cordeiros de um ano, cada dia, continuamente.
Êxo 29:39 Um cordeiro oferecerás pela manhã e o
outro, ao pôr-do-sol.

Heb 9:28 assim também Cristo, tendo-se oferecido


uma vez para sempre para tirar os pecados de muitos,
aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que o
aguardam para a salvação.
Ats 1:11 e lhes disseram: Varões galileus, por que
estais olhando para as alturas? Esse Jesus que dentre
vós foi assunto ao céu virá do modo como o vistes
subir.
A reflexão cristã tradicional procurou estabelecer a perfeição
absoluta de Jesus como um elemento fundamental da fé. Além disso,
a cruz de Cristo é apresentada ao longo do Novo Testamento como
um sacrifício pelos pecados e como uma experiência que
proporciona acesso a Deus, um sacrifício único e absoluto para todo
o crente, porém, em duas fases distintas. Nessas cinco áreas, a
interpretação do Korban Tamid como símbolo absoluto para a morte
de Cristo oferece correspondência teológica válida. O próprio autor
de Hebreus compara o sacrifício de Cristo com o sacrifício diário.
Heb 10:11 Ora, todo sacerdote se apresenta, dia após
dia, a exercer o serviço sagrado e a oferecer muitas
214 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

vezes os mesmos sacrifícios, que nunca jamais


podem remover pecados;
Heb 10:12 Jesus, porém, tendo oferecido, para
sempre, um único sacrifício pelos pecados,
assentou-se à destra de Deus,
Embora a base bíblia tenha sido apresentada, alguns apelam ao
argumento de autoridade e cobram comentaristas que apoiem a visão
apresentada. Embora existam poucos comentaristas que façam um
link explícito entre esta imagem do Antigo Testamento e o “Cordeiro
de Deus”, ainda muitos apoiam esse visão, e nenhum trabalha
especificamente contra ela. Hoskyns, por exemplo, aponta
brevemente para o Êxodo 29 como cenário para João 1:29, 36 em
seu comentário sobre o Quarto Evangelho. Ele escreve:
“A fé dos apóstolos é autorizada pelo testemunho
original e primário de João, que declara que Jesus é
propriedade de Deus, por cuja obediência completa os
sacrifícios normais no Templo – um cordeiro sem
defeito foi oferecido diariamente na manhã e à noite
(Ex. xxix. 38-46). . . . O lugar do sacrifício é o lugar
onde a glória e a graça de Deus são conhecidas (Ex.
Xxix. 43). A obediência do Filho do homem é,
portanto, o lugar onde a culpa do pecado é tirada e,
como Sua obediência é uma obediência final, suas
conseqüências são universais.”172
Junto a Hoskyns, porém em um comentário mais datado, William
Bruce afirma:
“O Senhor, quanto à sua humanidade, é o Cordeiro de
Deus. Este é um nome que lhe foi dado como o grande
antítipo dos sacrifícios judaicos, especialmente do
cordeiro do sacrifício diário e do pascal, que eram
tipos de Jesus, que se ofereceu como um sacrifício
pelos pecados do mundo.”173
Assim, fica claro que o símbolo mais perfeito e preciso sobre a
morte de Cristo no antigo testamento, é o sacrifício contínuo, e não o
primeiro sacrifício familiar da páscoa. A primeira coisa que viria na
cabeça de um judeu do primeiro século ao ouvir a expressão “esse é
o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” certamente seria o
cordeiro do Tamid, não só por ser o mais importante sacrifício do
Antigo Testamento, mas também, por ser o mais comum e eficiente,
172
HOSKYNS, E. C. The Fourth Gospel, reprint. ed. (Great Britain: Latimer
Trend & Company, 1947), p. 176.
173
BRUCE, W. Commentary on the Gospel according to St. John (London:
James Speirs, 1891), p. 26-27.
7.8. CRISTO, O CORDEIRO DE DEUS 215

uma vez que acontecia todos os dias e um único cordeiro para todo
Israel, mesmo quando outras festividades sacrificariam outros
cordeiros.
É perceptível que todos os textos que remetem Cristo a um
cordeiro, encontram plena correspondência unicamente no cordeiro
do Tamid, porém, o que fazer com 1Co 5:7 nesse ponto de vista? O
texto não é bem claro de que Jesus é o cordeiro pascal? Seria esse o
único texto a fazer correspondência direta de Cristo com o cordeiro
pascal?
1Co 5:7 Lançai fora o velho fermento, para que sejais
nova massa, como sois de fato, sem fermento. Pois
também Cristo, nosso Cordeiro pascal, foi imolado.
Muito provavelmente, o dito popular de que Jesus teria morrido
no dia 14 provém da conclusão de Paulo chamar Cristo de cordeiro
pascoal, e o cordeiro pascal era definitivamente morto no dia 14 de
Nissan, afinal, Paulo não cometeria um erro tão crasso de chamar
Jesus assim se Ele não tivesse morrido precisamente no dia 14,
certo?
Não há como questionar que um frase tão precisa como essa
dificilmente poderia ser rebatida, porém, antes de fazer teologia em
volta de um texto, é importante se perguntar o que o autor disse, e
por que o autor disse isso, e para isso, será feito uma investigação
em duas etapas: Análise textual e análise contextual.

1. Analise textual
O primeiro fato a se levantar aqui é o fato de que Paulo jamais
chamou Jesus de cordeiro pascal, observe o textus receptus:
1Co 5:7 ἐεεαγάλα κ θ θ παζαδὰθ αύηβθ, ἵθα ἦ
θέκθ φύλαηα, εαγώμ ἐ ἄαυηκδ. εαὶ γὰλ ὸ πά χα
ἡη θ ὑπ λ ἡη θ ἐ ύγβ Χλδ όμ·
Lit.: então limpai o fermento velho, para que sejais
nova massa, já que sois asmos, e pois a páscoa nossa
por/sobre nós foi imolada Cristo.
Esse texto é particularmente complicado de ser traduzido, mas de
cara, pode–se ver que a palavra “cordeiro” não existe no texto. A
expressão “nossa páscoa” e “nosso cordeiro pascal” acarretam
diferenças conceituais e teológicas enormes.
Além disso, outro problema é que nos melhores e mais antigos
manuscritos do século IV, esse verso está consideravelmente menor:
216 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

Tanto no codex Sinaíticus, , à esquerda, quanto no codex


Vaticanus, B, à direita, vemos que a frase final é: “εαὶ ΰὰλ ὸ πά χα
ἡηῶθ ἐ ύγβ Χμ”, que comparado ao “εαὶ ΰὰλ ὸ πά χα ἡηῶθ π λ
ἡηῶθ ἐ ύγβ Χλδ όμ·” do textus receptus, é visivelmente menor,
além de não ter a conjunção κ θ no início da frase. A última palavra,
Χμ, é uma forma de abreviação de Χ ό – Cristo. A tradução
literal do trecho grifado dos textos dos códices seria: “pois a páscoa
nossa foi imolada Cristo.”
O próximo ponto a ser levantado, é o sujeito da frase. Cristo está
no nominativo, sendo por isso, geralmente, o sujeito. Porém, o
substantivo πά χα por se tratar de uma transliteração aramaica, é
sempre inflexionada, aparecendo diversas vezes no Novo
Testamento tanto como objeto (Mat 26:2, 17–19; Mar 14:12,14,16;
Luc 2:41; 22:7,8,11,13,15; Joã 2:23; 12:1; 18:28, 39) quanto como
sujeito (Mar 14:1; Luc 22:1; Joã 2:13; 6:4; 11:55), em ambos os
casos, inflexionado por se tratar de uma transliteração aramaica.
Logo, é possível que ὸ πά χα seja o/um sujeito dessa frase, e a
definição do sujeito faz toda diferença.
No grego, a ordem do sujeito e predicado não interfere, mas o
artigo indica o sujeito, mesmo que haja mais de um substantivo no
nominativo, como no caso de εαὶ Θ ὸμ ἦθ ὁ Λόΰκμ (E a palavra era
Deus) de João 1:1, tanto Theos (Deus) quanto Logos (palavra) estão
no nominativo, porém o artigo ho (o) junto ao Logos o torna
inequivocamente o sujeito da frase, mesmo que a frase fosse
construída diferente, como εαὶ ὁ Λόΰκμ ἦθ Θ ὸμ (E a palavra era
Deus) ou no presente com uso predicativo εαὶ ὁ Λόΰκμ Θ ὸμ (E a
palavra é Deus) ou εαὶ Θ ὸμ ὁ Λόΰκμ (E a palavra é Deus). O fato
de um substantivo possuir artigo o torna sujeito da frase,
independente de qualquer outro substantivo nominativo sem artigo.
7.8. CRISTO, O CORDEIRO DE DEUS 217

O aposto em grego é geralmente indicado pelo modo acusativo, e


por mais que pascha nunca seja flexionada por se tratar de uma
transliteração do aramaico, o seu artigo o é, como acontece em Luc
2:41; Joã 12:1; 13:1 e 19:14 no genitivo, em Joã 2:23 e 18:39 no
dativo, em Ats 12:4 e Heb 11:28 no acusativo, ou em Luc 22:1 sem
artigo. Porém, o artigo ὸ (neutro) permanece no nominativo,
enquanto Christos aparece sem artigo. Afirmar que um substantivo
com artigo é aposto de um substantivo sem artigo é uma grave
inversão de papeis. Em 1Co 5:7, o único artigo se encontra com
Pascha, e não com Christos, o que não nos deixa outra saída além de
estabelecer o segundo fato: o sujeito da frase é a páscoa, e não
Cristo, mudando completamente o sentido do texto.
Ao analisar o verbo γύω – Thyw, imolar, vê–se que ele é usado
outras 12 vezes na Bíblia, das quais:
 6 vezes para abate de animais para refeição: Mat 22:4; Luc
15:23, 27, 30; Ats 10:13; 11:7.
 4 vezes para sacrifício a deuses pagãos: Ats 14:13, 18; 1Co
10:20 (2x)
 2 vezes para o sacrifício da Páscoa: Mar 14:12; Luc 22:7
 1 vez para descrever homicídio por um ladrão: Joã 10:10
Nenhuma vez esse verso é usado, em flexão alguma, com
qualquer relação a Jesus. A bíblia descreve a morte e sacrifício de
Cristo dezenas de vezes e com muitos verbos diferentes, mas nunca
γύω:
 ἀπκε ίθω – matar – Mat 16:21
 γαθα όω – matar – 1Pe 3:18
 ἀπκγθή εω – morrer, ser morto – Rom 5:6; 8:34 14:9, 15;
1Co 8:11; 15:3; 2Co 5:14; Gal 2:21
 πλκ φέλω – ofertar – Heb 5:3; 8:3
 ἀθαφέλω – oferecer – Heb 7:27
Paulo, em especial em Coríntios, repete varias vezes o verbo
ἀπκγθή εω – apothnhskw, para expressar a morte e sacrifício de
Cristo, mas jamais usa γύω para isso. Na epístola aos Hebreus,
vários capítulos são dedicados só para explicar o cumprimento dos
sacrifício por Cristo, diversos verbos são usados para isso, porém,
jamais γύω. Tudo isso soma ao fato de Hebreus jamais relacionar
Cristo à páscoa mesmo tendo por objetivo mostrar a tipologia do
ministério de Cristo, porém, não exclui completamente a
possibilidade dessa aplicação única à Cristo, mas com certeza a torna
218 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

muito menos óbvia e muito mais improvável do que parece à


primeira vista.
Por outro lado, há um importante evento na vida de Cristo que é
descrito com o verbo γύω, e apesar desses versos já terem sido
citados, cabe usa-los novamente agora:
Mar 14:12 (Portuguese JFAA) E, no primeiro dia da
Festa dos Pães Asmos, quando se fazia o sacrifício do
cordeiro pascal, disseram-lhe seus discípulos: Onde
queres que vamos fazer os preparativos para comeres
a Páscoa?
Luc 22:7 (Portuguese JFAC) Chegou, porém, o dia
da Festa dos Pães Asmos, em que importava
sacrificar a Páscoa.
Conforme visto no capítulo “7.2. A última Páscoa de Jesus com
Seus discípulos”, os evangelhos relatam que Jesus comeu a páscoa
com seus discípulos, e como resultado desse ultimo γύω pascal, foi
estabelecida a nova aliança no que ficou conhecido como “a ceia do
Senhor” (Mat 26:28; Mar 14:24; Luc 22:20; 1Co 11:25). Jesus
obviamente também sacrificou a páscoa naquele dia, o que os
evangelhos relatam com o verbo γύω. Se Paulo concorda com os
evangelhos, e está fazendo o uso comum do verbo, então é para o
simbolismo e significado da nova aliança e, por consequência, a
ceia, que ele está apontando em 1Co 5:7 e não implicando que Jesus
é o cordeiro sacrificado no dia 14, já que o cordeiro foi morto e a
aliança confirmada antes mesmo da morte de Cristo e nem mesmo
simbolicamente γύω já foi aplicado alguma vez a Jesus, mas que
Jesus e a nova aliança é o cumprimento da páscoa em si, o
significado da páscoa, o tempo não é discutido, citado e nem sequer
implicado no texto.
Pode–se concluir que, pela análise textual:
• Jesus não é chamado de cordeiro pascal
• Cristo não é o sujeito da frase
• Páscoa é o sujeito da frase
• O verbo γύω jamais foi aplicado a Cristo em nenhum
contexto em toda a Bíblia, mesmo nos contextos
exclusivamente tipológicos
• O texto não faz nenhuma menção à data da páscoa, mas a seu
significado
7.8. CRISTO, O CORDEIRO DE DEUS 219

• Logo, claramente o texto não procurou estabelecer uma


relação de data e muito menos horário da morte do cordeiro
pascal com a morte de Cristo.

2. Análise contextual
Mas mesmo que a frase fosse “ὀ Χλδ όμ ὸ πά χα αηθκ ἡηῶθ
ἤ β ἐ ύγβ” isso é: “Cristo, nosso cordeiro pascal, já foi sacrificado”
não há nenhum problema em admitir que a páscoa apontava para
Cristo, assim como a novilha vermelha apontava para Cristo, a cabra
da oferta pelo pecado também apontava a Cristo, bem como
qualquer ritual do santuário apontava direta ou indiretamente para
Cristo, então, não há problema algum em afirmar que a páscoa ou
mesmo o cordeiro pascal apontava para Cristo, a questão é: 1Co 5:7
procura manter a relação de similaridade entre a páscoa e Cristo pela
data do sacrifício do cordeiro ou pelo significado do rito?
Um texto nunca vem sem contexto. O próprio apóstolo Pedro já
alertava que frases soltas de Paulo pode ser isoladas de seus
contextos a fim de mudar o sentido do que ele realmente queria dizer
(2Pe 3:14–16), e a Bíblia está cheia desses exemplos.
Se for olhar para o símbolo, possivelmente todos concordem que
o bode para o Senhor do dia da expiação seja um símbolo exato do
sacrifício de Cristo, o próprio autor do livro de hebreus faz essa
comparação (Heb 9:11–14; 10:1–18), porém, mesmo tendo uma
comparação Bíblica direta entre a morte de Cristo e a morte do
animal, ninguém procura estabelecer um padrão de similaridades de
datas entre os dois eventos, pois a relação é sobre significância, e
não data, porém em relação à páscoa, mesmo não havendo nenhum
texto que ligue a data da morte de Cristo ao sacrifício do cordeiro
pascal, e ainda tendo o testemunho dos evangelhos de que Cristo
comeu a páscoa com seus discípulos na noite anterior à sua morte,
por tradição, e unicamente por isso, continua-se afirmando essa
inexistente paridade.
Ao buscar pelo contexto do texto de 1Co 5:7, vemos
primeiramente que, em nenhum lugar do capítulo se discute a morte
de Cristo, se Paulo de fato exprimisse uma afirmação categórica da
data da morte de Cristo em meio à discussão do capítulo, isso seria
algo bem fora do seu próprio contexto.
Nos 5 primeiros versos de 1Co 5, Paulo diz estar ciente de
imoralidade entre os Coríntios, ainda maior do que entre os gentios,
220 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

pois havia alguém que teve relações sexuais com a mulher de seu pai
(v.1), embora não fique claro se era a sua mãe, ou outra mulher de
seu pai. Paulo reclama com os crentes de Corinto que não estão
tomando nenhuma atitude para banir esse indivíduo do meio deles
(v.2), então Paulo apela que esse indivíduo seja retirado do meio e
entregue a Satanás (vs. 3 a 5). Aí então, Paulo compara essa situação
de condescendência com o pecado ao pão sem fermento, que, ao
misturar um pouco de fermento, se torna impossível separar o
fermento da massa, fermentando toda a massa (v.6), como o assunto
é pão sem fermento, Paulo imediatamente liga à páscoa, perceba que
essa ligação vem do pão, que tecnicamente é a festa dos pães asmos,
mas a Bíblia sempre a chamou de páscoa, e Paulo faz o mesmo,
dizendo para lançar o fermento fora, isso é, parem de ser
condescendentes com o pecado, para que sejam uma massa nova,
sem fermento, já que são de fato asmos, isso é, Cristo já os libertou
do pecado, não há mais negociação entre o Cristão e o pecado, e
como Justificativa, remete o pensamento do crente de Corinto à
páscoa.
Perceba que o assunto não é o cordeiro, mas os pães asmos, o
problema é que, segundo a Torah, o fermento só seria removido e os
pães asmos só seriam servidos a partir da páscoa
Êxo 12:15 Sete dias comereis pães asmos. Logo ao
primeiro dia, tirareis o fermento das vossas casas, pois
qualquer que comer coisa levedada, desde o
primeiro dia até ao sétimo dia, essa pessoa será
eliminada de Israel.
Êxo 12:18 Desde o dia catorze do primeiro mês, à
tarde, comereis pães asmos até à tarde do dia vinte e
um do mesmo mês.
Êxo 12:20 Nenhuma coisa levedada comereis; em
todas as vossas habitações, comereis pães asmos.
Essa é a imagem que Paulo procura evocar. Sua mensagem após
comparar o fermento com o pecado é inequívoca: “Qualquer um que
continuar de mãos dadas ao pecado será eliminado do povo de
Deus, pois a páscoa já começou e vocês ainda têm fermento em
casa, tirem logo isso daí, vocês já estão atrasados!”
É nítido que a intenção de Paulo em nenhum momento foi datar a
morte de Cristo nesse verso, isso os evangelistas fazem
detalhadamente nos quatro evangelhos, a intenção de Paulo foi dar
uma mensagem de urgência, nesse contexto a páscoa é a experiência
da conversão, o abandono das práticas da carne, e uma vez salvo
7.8. CRISTO, O CORDEIRO DE DEUS 221

pelo sangue de Cristo, debaixo da nova aliança que Cristo


estabeleceu antes mesmo de sua morte, as praticas antigas não têm
mais lugar na casa do converso.
O objetivo do verso nunca foi estabelecer a data da morte de
Cristo, isso não passa de uma inferência baseada numa tradição, e
não num princípio Bíblico ou mesmo texto Bíblico.
Muito provavelmente, toda essa confusão começou pelo
princípio de contradição dos evangelhos sinópticos com João, porém
como já visto no capítulo “7.3. A teoria dos calendários rivais”, não
há contradição alguma, e portanto, os textos isolados devem ser lidos
sob a perspectiva dos evangelhos, e não o contrário. A ausência de
qualquer evidencia textual que indique a intenção de demarcar uma
data, somado à evidencia contextual de que a intenção de Paulo era
falar do significado da páscoa assim como o mesmo compara Cristo
a outros ritos do santuário, mas sem evidenciar a data,
descaracterizam 1Co 5:7 do argumento da definição cronológica da
crucifixão.
Pode–se concluir pelo contexto que:
• O assunto tratado era a conivência com o pecado
• Paulo diz que quem é conivente com o pecado, ainda não está
preparado para o Cristianismo
• Paulo compara a conivência com o fermento
• Paulo sinaliza a urgência para tirar o fermento, pois compara
a conversão à páscoa, e portanto, a necessidade de lançar fora
o fermento
• A afirmação é comparativa, e nunca intentou marcar ou
afirmar a data da morte de Cristo
• Portanto, 1Co 5:7 não pode ser usado para estabelecer a data
da morte de Cristo, pois seria adulterar o seu contexto
Em suma de tudo que foi dito até aqui por esse capítulo, pode–se
concluir que:
1. Jesus é o cumprimento de todos os sacrifícios do santuário
2. Não há problema algum em comparar qualquer sacrifício a
Cristo
3. Nenhum texto bíblico compara Cristo ao cordeiro pascal
4. O verbo γύω jamais é aplicado a Cristo
5. O livro de hebreus jamais compara Cristo à páscoa
6. O sacrifício que expressa com maior exatidão a morte de
Cristo é o sacrifício diário
222 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

7. Portanto, a comparação entre Cristo e um cordeiro só pode


remeter ao sacrifício diário
7.9. E se Jesus morreu em outro dia?

A maioria dos DSL defendem que Jesus morreu no 6º dia da


semana, e ressuscitou no 1º dia da semana, mas a essa altura, é
provável que muitos estejam dispostos a abrir mão de suas próprias
convicções religiosas só para poder dizer que toda a interpretação até
agora está errada, e pode partir para o último argumento
desesperado, e citar Mateus 12:40 para dizer que Jesus não poderia
ter morrido numa sexta-feira, já que Ele mesmo afirmou que teria
que ficar 3 dias e 3 noites enterrado, e portanto, isso descarta toda a
interpretação da última páscoa de Cristo apresentada até aqui.
Mat 12:40 Porque assim como esteve Jonas três dias
e três noites no ventre do grande peixe, assim o Filho
do Homem estará três dias e três noites no coração
da terra.
Desse modo, eles preferem migrar para a interpretação de que
Jesus morreu no 5º ou 4º dia da semana do que assumir que Jesus
comeu a páscoa no 5º para o 6º dia e morreu nesse mesmo 6º dia da
semana, que seria dia 15. Essa mudança não ajuda em nada a
interpretação dos DSL, só piora, pois isso afasta ainda mais o dia 15
do sábado, mas é feita em nome da falácia Tu Quoque.174
O texto é claro que o próprio Jesus afirmou que ficaria 3 dias e 3
noites na sepultura, e a álgebra básica impossibilita o 6º dia da
semana a entrar nessa conta, do modo inclusivo de contagem de
tempo, a conta ficaria assim:
6º dia de dia – 1 Dia
6º dia à noite – 1 Dia e 1 Noite
Sábado de dia – 2 Dia e 1 Noite
Sábado a noite – 2 Dia e 2 Noites

174
Tu Quoque significa “você também”, é um último recurso para apontar um
erro do oponente a fim de mascarar o erro dele e colocar em evidência o erro do
oponente, como por exemplo dizer: “Como você pode mandar eu ser vegetariano
se você adora usar sapatos e cintos de couro?”
224 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

Em seguida, é apresentado João 20:1 e em seguida João 11:9:


Joã 20:1 No primeiro dia da semana, Maria Madalena
foi ao sepulcro de madrugada, sendo ainda escuro,
e viu que a pedra estava revolvida.
Joã 11:9 Respondeu Jesus: Não são doze as horas do
dia? Se alguém andar de dia, não tropeça, porque vê a
luz deste mundo;
E a conclusão é que como o dia só é considerado a parte clara, e
Jesus ressuscitou ainda na parte escura, então se Jesus tivesse
morrido no 6º dia da semana, ele só teria passado 2 dias e 2 noites na
sepultura, e portanto mentiu ao dizer que ficaria 3 dias e 3 noites na
sepultura. Em seguida, refazem o cálculo e mostram que mesmo se
considerasse o dia do 1º dia da semana, ainda assim daria 3 dias e 2
noites, portanto, mesmo abrindo todas as concessões possíveis, a
conta não bate, e por isso, Jesus não pode ter morrido no 6º dia da
semana, a menos que estivesse mentindo.
Em seguida, mostram os seus cálculos de trás para frente, e
explicam que a contagem só pode ser feita quando o dia e / ou a
noite é completa, de 12h conforme João 11:9 (modo exclusivo de
contagem de tempo), portanto como Ele ressuscitou sendo ainda
escuro, não conta a noite após o sábado, que já é o dia da
ressurreição, então não conta, portanto:
• Sábado de dia – 1 Dia
• Noite após o 6º dia – 1 Dia e 1 Noite
• 6º dia de dia – 2 Dias e 1 Noite
• Noite após o 5º dia –2 Dias e 2 Noites
• 5º dia de dia – 3 Dias e 2 Noites
• Noite após o 4º dia – 3 Dias e 3 Noites

Assim, a conclusão é que Jesus morreu no 4º dia, e foi enterrado


naquela noite, levantado ao pôr do sol do sábado para o 1º dia, e
7.9. E SE JESUS MORREU EM OUTRO DIA? 225

quando questionados sobre a ressureição no 1º dia eles afirmam que


Jesus ressuscitou 1 minuto, ou 1 segundo após o início do dia.
Não há consenso entre os defensores dessa teoria, alguns
concordam que o dia começa ao pôr do sol, outros afirmam que o dia
começa à meia noite, outros ainda afirmam que Jesus não morreu no
4º dia, mas no 5º, e calculam o tempo do modo inclusivo, assim:

Pelo modo exclusivo, o 4º dia encaixa perfeitamente em Mateus


12:40, pelo modo inclusivo, o 5º dia se encaixa perfeitamente, mas
nenhum dos dois se encaixa com a morte no 6º dia. A despeito do
modo inclusivo ou exclusivo, tanto a teoria do 4º dia quanto a teoria
do 5º dia, concordam que textos como Mat 27:62; Mar 15:42–43;
Luc 23:53–56 e Joã 19:31 que falam claramente que Jesus morreu
um dia antes do sábado, se referem ao 15º dia de Nissan, o 1º dia dos
Pães asmos, que as duas teorias defendem ser um sábado
cerimonial.175
Por mais forte que pareça a argumentação, ela não passa de uma
teologia de um verso só, por mais claro que pareça o verso, é um
erro desconsiderar todos os outros versos que falam sobre a
ressurreição de Jesus. Duas coisas precisam ser consideradas:
1. O que dizem os outros textos que falam sobre o tempo que
Jesus deveria ficar na tumba?
2. Os judeus contavam o dia de forma inclusiva, ou exclusiva?

1. O que dizem os outros textos que falam sobre o tempo que


Jesus deveria ficar na tumba?
O grande problema de construir toda uma teologia em volta de
um verso só, é que abre muitas brechas para contradição com os
demais versos que não foram considerados. Ao se reunir todos os
textos que se referem ao tempo que Jesus passou na sepultura,
encontraremos 3 informações aparentemente contrastantes:
175
O fato de que a bíblia jamais chamou a Páscoa ou qualquer outra festa,
salvou o dia da expiação, de sábado, e esse ser um pressuposto baseado
unicamente numa tradição, não será discutido nesse livro, por não ser um texto
absolutamente necessário para lidar com esse assunto.
226 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

1. 13 textos que dizem que Jesus ressuscitou/ressuscitaria ao


terceiro dia, ou no terceiro dia (Mat 16:21; 17:23; 20:19;
27:64; Luc 9:22; 18:33; 24:7, 21, 46; Joã 2:19-22; Ats 10:40,
1Co 15:4)
2. 4 textos que dizem que Jesus ressuscitaria depois de três
dias (Mat 27:63; Mar 8:31; 9:31; 10:34)
3. 1 texto que fala de três dias e três noites (Mat 12:40)
Aparentemente, são três informações conflitantes, “ao terceiro
dia” parece indicar que a ressurreição ocorreu dentro do terceiro dia,
“depois de três dias” parece indicar que é no quarto dia, isso é,
quando o terceiro dia acabar, e “três dias e três noites” parece
indicar que se trata de 72h176 no método exclusivo de tempo, e pelo
menos 48h e 2 min177 no método inclusivo de contar o tempo.
Ou as três informações se contradizem, ou devemos encontram
um modo de conciliar as 3 expressões. Mesmo a expressão “ao
terceiro dia” sendo bem mais comum, não podemos simplesmente
assumir que ela esteja certa e as demais erradas, isso não resolveria o
problema da contradição, então precisamos compará-las para
entender o significado das expressões, começando pela proposição
“depois de três dias”.
Mar 8:31 Então, começou ele a ensinar-lhes que era
necessário que o Filho do Homem sofresse muitas
coisas, fosse rejeitado pelos anciãos, pelos principais
sacerdotes e pelos escribas, fosse morto e que, depois
de três dias, ressuscitasse.
Logo após Pedro confessar confessar Jesus como o Messias (Mar
8:27-30), Jesus começou a mostrar para os Seus discípulos que era
necessário que Ele fosse rejeitado e morto, mas garantiu que depois
de três dias ressuscitaria. Esse mesmo episódio está escrito nos
outros dois evangelhos sinópticos, quando Pedro confessa que Jesus
é o Cristo (Mat 16:13-20 e Luc 9:18-20), e em seguida, mostra a
seus discípulos que era necessário que Ele fosse rejeitado e morto,
mas garantiu que ressuscitaria no terceiro dia, e não depois do
terceiro dia.

176
São 3 dias completos de 12h + 3 noites completas de 12h, isso é: ((3 dias ×
12h) + (3 noites × 12horas)) = 72h.
177
São 1 min do 1º dia + a 1ª e a 2ª noite inteira + o 1º e o 2º dia inteiro + 1
min da 3ª noite, isso é: ((2 dias × 12h) + (2 noite × 12h) + (1 min do dia 1 + 1 min
da noite 2)).
Outros dizem que é 1 segundo ao invés de 1 minuto.
7.9. E SE JESUS MORREU EM OUTRO DIA? 227

Mat 16:21 Desde esse tempo, começou Jesus Cristo a


mostrar a seus discípulos que lhe era necessário seguir
para Jerusalém e sofrer muitas coisas dos anciãos, dos
principais sacerdotes e dos escribas, ser morto e
ressuscitado no terceiro dia.
Luc 9:22 dizendo: É necessário que o Filho do
Homem sofra muitas coisas, seja rejeitado pelos
anciãos, pelos principais sacerdotes e pelos escribas;
seja morto e, no terceiro dia, ressuscite.
Isso novamente indica que para os evangelistas, ambas as
expressões eram sinônimas, apenas dois modos diferentes de dizer a
mesma coisa. No capítulo seguinte, acontece o episódio da
transfiguração (Mar 9:2-13), e descendo do monte Jesus cura um
jovem possesso (Mar 9:14-29) e então prediz pela segunda vez a sua
morte, mas garantindo que depois de três dias ressuscitaria:
Mar 9:31 porque ensinava os seus discípulos e lhes
dizia: O Filho do Homem será entregue nas mãos dos
homens, e o matarão; mas, três dias depois da sua
morte, ressuscitará.
Os outros evangelistas concordam com Marcos, após a
transfiguração (Mat 17:1-13; Luc 9:28-36) e a cura do jovem
possesso (Mat 17:14-21; Luc 9:37-42), Jesus prediz a sua morte pela
segunda vez, mas garantindo, segundo Mateus, que ressuscitaria ao
terceiro dia, embora Lucas nem sequer fala de alguma período de
tempo:
Mat 17:23 e estes o matarão; mas, ao terceiro dia,
ressuscitará. Então, os discípulos se entristeceram
grandemente.
Luc 9:44 Fixai nos vossos ouvidos as seguintes
palavras: o Filho do Homem está para ser entregue nas
mãos dos homens.
Isso novamente indica que para os evangelistas, ambas as
expressões eram sinônimas, apenas dois modos diferentes de dizer a
mesma coisa. Um capítulos depois, após o debate com os fariseus
dobre divórcio (Mar 10:1-12), o carinho pelas crianças (Mar 10:13-
16) e o encontro com o jovem rico (Mar 10:17-31), Jesus prediz a
sua morte pela terceira vez, mas garante que ressuscitaria depois de
três dias:
Mar 10:34 hão de escarnecê-lo, cuspir nele, açoitá-lo
e matá-lo; mas, depois de três dias, ressuscitará.
Os evangelistas sinópticos concordam com ele, após o debate
com os fariseus sobre divórcio (Mat 19:1-12), o carinho pelas
crianças (Mat 19:13-15) e o encontro com o jovem rico (Mat 19:16-
228 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

30), Jesus prediz a sua morte pela terceira vez (Mat 20:17-19), mas
garante que ressuscitaria ao terceiro dia:
Mat 20:19 E o entregarão aos gentios para ser
escarnecido, açoitado e crucificado; mas, ao terceiro
dia, ressurgirá.
Luc 18:33 e, depois de o açoitarem, tirar-lhe-ão a
vida; mas, ao terceiro dia, ressuscitará.
Isso novamente indica que para os evangelistas, ambas as
expressões eram sinônimas, apenas dois modos diferentes de dizer a
mesma coisa. O ultimo texto em que aparece a expressão depois de
três dias é:
Mat 27:63 disseram-lhe: Senhor, lembramo-nos de
que aquele embusteiro, enquanto vivia, disse: Depois
de três dias ressuscitarei.
Os fariseus estavam inseguros sobre a possibilidade de roubarem
o corpo de Jesus, já após a sua morte, e afirmam perante Pilatos que
Jesus havia predito que “depois de três dias ressuscitaria”, os
mesmos fariseus, em seguida, pedem a Pilatos se eles poderiam ter
uma guarda de soldados para proteger o sepulcro “até o terceiro
dia”
Mat 27:64 Ordena, pois, que o sepulcro seja guardado
com segurança até ao terceiro dia, para não suceder
que, vindo os discípulos, o roubem e depois digam ao
povo: Ressuscitou dos mortos; e será o último
embuste pior que o primeiro.
Note que eles não pediram guarda até depois do terceiro dia, mas
somente até o terceiro dia. Logo, a frase “depois de três dias” só
pode ter sido equivalente a “ao terceiro dia”, ou caso contrário, os
fariseus teria pedido uma guarda de soldados até o quarto dia (até o
dia depois do quarto dia), deixando claro que a expressão depois de
três dias só se extende até ao terceiro dia.
Alguns argumentam que os fariseus pediram que a guarda fosse
feita até ao terceiro dia desde o dia em que eles estavam, e no verso
62 deixa claro que já era o dia seguinte à morte de Jesus, então esse
até ao terceiro dia na verdade se referia sim ao quarto dia. Isso seria
problemático por que em primeiro lugar, criaria uma evidente
contradição com todas as afirmativas do Senhor no próprio
evangelho de Mateus e nos demais evangelhos de que a ressurreição
seria ao ou no terceiro dia, e não no quarto. Em segundo lugar, o
adverbio de tempo ωμ (eos – até) indica um período de tempo
continuado (enquanto) concordando com a sentença anterior, isso é,
7.9. E SE JESUS MORREU EM OUTRO DIA? 229

enquanto o período anteriormente citado estivesse em voga. Caso os


fariseus quisessem pedir para guardar o túmulo por mais três dias a
partir de agora, teriam usado o advérbio δ (eti – até, ainda) com
sentido de soma, “mais três dias”. Além disso, o artigo βμ (tes – o,
a, isso) indica que não eram três dias, mas o terceiro dia que já havia
sido comentado no verso anterior.
Assim, entender que Mat 27:64 esclarece que as duas expressões
“ao terceiro dia” e “depois de três dias” são sinônimas, e
significam um período dentro do terceiro dia, concilia os 4 textos aos
13 outros textos que falam sobre esse tema, sem causar qualquer
conflito ou contradição. Além disso, se entendermos que apesar da
língua grega ter sido usada para redigir o Novo Testamento, os
escritores eram em sua maioria judeus, e pensavam como judeus. Na
Tanach vemos exemplos dessas mesmas expressões que se explicam
por si só:
Em 2 Crônicas 10:05, Roboão afirmou que o povo de Israel
voltasse para ele após três dias, e no verso 12 Jeroboão e o povo
vieram a Roboão ao terceiro dia.
2Cr 10:5 Ele lhes respondeu: Após três dias, voltai a
mim. E o povo se foi.
2Cr 10:12 Veio, pois, Jeroboão e todo o povo, ao
terceiro dia, a Roboão, como o rei lhes ordenara,
dizendo: Voltai a mim, ao terceiro dia.
Claramente após três dias significa “em algum momento no
terceiro dia” e não “depois que o terceiro dia acabar” ou “no
quarto dia”. Em Ester 4:16, Ester pede aos judeus para “Não comer
ou beber durante três dias, nem de noite nem de dia”, e, só depois
disso, ela iria ter com o rei, já em 5:1, Ester foi até o rei no durante o
terceiro dia:
Est 4:16 Vai, ajunta a todos os judeus que se acharem
em Susã, e jejuai por mim, e não comais, nem bebais
por três dias, nem de noite nem de dia; eu e as
minhas servas também jejuaremos. Depois, irei ter
com o rei, ainda que é contra a lei; se perecer, pereci.
Est 5:1 Ao terceiro dia, Ester se aprontou com seus
trajes reais e se pôs no pátio interior da casa do rei,
defronte da residência do rei; o rei estava assentado no
seu trono real fronteiro à porta da residência.
Claramente a expressão “depois de três dias e noites” é sinônima
de “ao terceiro dia”, e não “depois do terceiro dia acabar” ou “no
quarto dia”.
230 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

É ainda notável que na Tanach, há muitas expressões que


demonstram claramente sobre o método de contar o tempo, se é
inclusiva ou exclusiva, por exemplo: Em Gênesis 42:17, José
encarcera seus irmãos por três dias, e, em seguida, no verso 18, José
falou com eles ao terceiro dia, e (pelo contexto) libertou-os naquele
dia:
Gên 42:17 E os meteu juntos em prisão três dias.
Gên 42:18 Ao terceiro dia, disse-lhes José: Fazei o
seguinte e vivereis, pois temo a Deus.
Isso significa que um dia era contado como inteiro, mesmo que
apenas uma parte dele, não necessitando que seja o dia inteiro
completo. Em 1 Reis 20:29, Israel e Síria estavam acampados frente
um do outro, por sete dias, e ao sétimo dia eles começaram a lutar
entre si.
1Rs 20:29 Sete dias estiveram acampados uns
defronte dos outros. Ao sétimo dia, travou-se a
batalha, e os filhos de Israel, num só dia, feriram dos
siros cem mil homens de pé.
Mais uma vez mostra que o sétimo dia foi contado como inteiro
quando disseram que eles ficaram acampados, mesmo que a batalha
tenha ocorrido em algum momento durante o sétimo dia, e não só
depois do sétimo dia acabar. Como se não bastasse, o Rabi Eleazar
ben Azarias (c. 100 DC), que foi o décimo na descendência de
Esdras, declarou: “um dia e noite são uma Onah [uma porção de
tempo] e a parte de uma Onah é como ela inteira”.178
Assim, indiscutivelmente, todos os textos bíblicos e ainda a
cultura judaica confirmam que o cálculo era sempre inclusivo, isso é,
qualquer parte do dia era contado como um dia inteiro, assim,
qualquer momento antes do início do dia, o dia seguinte inteiro e
qualquer momento após o início do terceiro dia seriam contado como
três dias, ao terceiro dia, ou mesmo após três dias.
Ainda há o testemunho claro de dois dos discípulos que
acompanharam de perto tudo que acontecia com o Mestre, e naquele
mesmo 1º dia da semana que Cristo havia ressuscitado (Luc 24:13),
e naquele mesmo dia, disseram:
Luc 24:20 e como os principais sacerdotes e as
nossas autoridades o entregaram para ser
condenado à morte e o crucificaram.

178
Jerusalem Talmud: Shabbath ix. 3; Babylonian Pesahim 4a
7.9. E SE JESUS MORREU EM OUTRO DIA? 231

Luc 24:21 Ora, nós esperávamos que fosse ele quem


havia de redimir a Israel; mas, depois de tudo isto, é já
este o terceiro dia desde que tais coisas sucederam.
É claro pelo verso 20 de que os eventos de que os discípulos
falavam eram da prisão, crucifixão e morte de Cristo, isso é, dos
eventos que aconteceram durante o dia, e disseram que desde o dia
em que isso tudo aconteceu, hoje (1º dia da semana) já era o terceiro
dia desde que tudo isso aconteceu, fato confirmado por Pedro (Ats
10:40), e posteriormente por Paulo (1Co 15:4).
Tendo, portanto, 17 textos unânimes que indicam que Jesus
ressuscitou durante o terceiro dia, e que o método de cômputo de
tempo era sempre inclusivo, resta ainda analisar o texto em questão,
e a expressão “três dias e três noites”.
Apesar do próprio texto de Ester 4:16 e 5:1 ser bastante
conclusivo sobre a ordem de não comer nada por três dias, nem de
noite nem de dia está bastante clara de que é uma outra forma de
falar “três dias e três noites”, alguns ainda poderão teimar e apontar
que o texto não fala especificamente “três dias e três noites” como o
texto de Mateus 12:40, apesar de negar o óbvio, podemos concordar
que a frase mesmo sendo parecida, não é idêntica, e por isso, o texto
mais exato está em 1 Samuel 30:12, onde um servo egípcio
abandonado não tinha comido pão nem bebido água por três dias e
três noites, porém no verso seguinte, ele afirma que seu mestre o
deixou para trás há três dias.
1Sa 30:12 Deram-lhe também um pedaço de pasta de
figos secos e dois cachos de passas, e comeu;
recobrou, então, o alento, pois havia três dias e três
noites que não comia pão, nem bebia água.
1Sa 30:13 Então, lhe perguntou Davi: De quem és tu
e de onde vens? Respondeu o moço egípcio: Sou
servo de um amalequita, e meu senhor me deixou
aqui, porque adoeci há três dias.
Lembrando que no hebraico não tem o verbo “há” colocando o
“dia um” no dia de “ontem”, apenas diz no verbo qal perfeito:
“adoecido três dias”, aqui fica claro que três dias e três dias e três
noites são formas diferentes de se referir ao mesmo período de
tempo, isso é:
Hoje – um dia (independente de que horas seja)
Ontem – dois dias
Antes de Ontem – três dias (independente de que horas começou)
232 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

Portanto tanto Ester quanto 1 Samuel mostram que a expressão


três dias e três noites igualmente se referem a qualquer momento
durante o terceiro dia. Logo, todas as expressões são unânimes em
afirmar que Jesus ressuscitaria ao terceiro dia, e não depois que o
terceiro dia estivesse completo, nem 72h depois. Isso gera um grande
problema para a teoria das 72h, pois:

Isso colocaria a ressurreição de Jesus ao quinto dia, e não ao


terceiro como diz os textos bíblicos. Nessa hora, os proponentes da
crucifixão do 4º dia da semana podem mudar de argumento e dizer
que Jesus foi apenas crucificado no 4º dia da semana, porém foi
sepultada já no 5º dia logo após o pôr do sol. Essa mudança súbita de
argumentação levanta vários problemas:
Em primeiro lugar, Lucas deixa claro que Jesus foi sepultado
antes de começar o sábado, que na visão deles era sábado do
cerimonial da Páscoa.
Luc 23:53 e, tirando-o do madeiro, envolveu-o num
lençol de linho, e o depositou num túmulo aberto em
rocha, onde ainda ninguém havia sido sepultado.
Luc 23:54 Era o dia da preparação, e começava o
sábado.
Luc 23:55 As mulheres que tinham vindo da Galiléia
com Jesus, seguindo, viram o túmulo e como o corpo
fora ali depositado.
Luc 23:56 Então, se retiraram para preparar
aromas e bálsamos. E, no sábado, descansaram,
segundo o mandamento.
Ou verso 54 afirma que ainda era o dia da preparação, portanto o
sábado ainda não havia começado. O verbo ἐπδφώ εω (epiphosko -
começar) está no imperfeito, significa que ainda estava para começar
o sábado, definitivamente ainda não havia começado, tanto que ir no
verso 56 ainda afirma que ainda deu tempo para as mulheres se
retirarem, prepararam aromas e bálsamos, antes de descansarem no
sábado segundo o mandamento, portanto, é impossível dizer que
Jesus foi sepultado após o pôr do sol.
7.9. E SE JESUS MORREU EM OUTRO DIA? 233

Em segundo lugar, mesmo que ele tivesse sido sepultado após o


pôr do sol, o texto de Marcos é bem claro que Jesus ressuscitou no
primeiro dia da semana, não no finalzinho do sábado.
Mar 16:9 Havendo ele ressuscitado de manhã cedo
no primeiro dia da semana, apareceu primeiro a
Maria Madalena, da qual expelira sete demônios.
Portanto mesmo que ele tivesse sido sepultado no finalzinho do
5º dia da semana, como advogam os proponentes da teoria da
crucifixão ao 5º dia, pelo método inclusivo de contagem de tempo, o
fato de Jesus tenha ressuscitado no primeiro dia da semana,
independente de que horas foi, faz com que, na melhor das hipóteses,
Ele tivesse ressuscitado ao quarto dia, não ao terceiro.

Tendo como ponto de chegada o primeiro dia da semana, através


do método inclusivo de contagem de tempo, a única forma de não
contradizer os 18 textos que afirmam e Confirmam que Jesus
ressuscitaria ao terceiro dia, é se ele tivesse sido sepultado no sexto
dia da semana.

Mas então por que por que falar três noites se não intentava que a
terceira noite fosse contada?
Em primeiro lugar, o texto de Mateus 12:40 não é nem de longe
uma ordem expressa para contar três dias, e contar três noites, como
veremos no capítulo seguinte, sobre a festa do Pentecostes:
Lev 23:15 Contareis para vós outros desde o dia
imediato ao sábado, desde o dia em que trouxerdes o
molho da oferta movida; sete semanas inteiras serão.
Lev 23:16 Até ao dia imediato ao sétimo sábado,
contareis cinqüenta dias; então, trareis nova oferta de
manjares ao SENHOR.
Jesus não deu uma ordem para computar três dias e três noites,
apenas um usou uma expressão idiomática quem dizia a mesma
234 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

coisa que ele já havia dito tantas outras vezes, que ressuscitaria
durante o terceiro dia.
Em segundo lugar, o exagero é considerado uma forma de humor
em quase todas as culturas, assim como na judaica. É por isso que
parábolas Jesus usava tanto exagero, como a parábola do credor
incompassivo por exemplo, onde um trabalhador assalariado devia
10.000 talentos, soma de dinheiro que provavelmente ele jamais
poderia conseguir durante a vida inteira. O exagero é uma forma de
chamar atenção para verdade que você quer expressar.
Alguém pode explicar porque chegou atrasado no trabalho da
seguinte forma: “Eu passei o dia inteiro esperando o ônibus, e ele
não chegava…” obviamente seu chefe sabe que o empregado não
passou literalmente o dia inteiro esperando o ônibus, caso fosse, nem
sequer haveria chegado ao trabalho para contar isso, porém o chefe
entendeu a comparação hiperbólica de seu empregado, que ressaltou
o fato do ônibus ter atrasado, sem contudo, concluir que o
empregado estivesse mentindo ao dizer que esperou ou ônibus o dia
inteiro.
Jesus chamou atenção para fato de que ressuscitaria ao terceiro
dia com a expressão três dias e três noites, quem pode não ser uma
expressão muito comum em nossa cultura, porém, Os judeus que ali
estavam ouvindo, certamente entenderam o que Ele quis dizer.
7.10. Conclusão parcial do capítulo

Conforme visto até aqui:


1. O dia imediato ao sábado era o mesmo dia seguinte à páscoa
(cf. Lev 23:12 e Jos 5:11)
2. O dia seguinte à Páscoa é o dia 15 (Num 33:3)
3. Logo, o dia 15 de Nissan do 1º ano dos Israelitas em
Canaã foi inquestionavelmente o 1º dia da semana
4. Jesus comeu uma genuína refeição Pascal com seus
discípulos na noite do dia 14 Nissan
5. Jesus morreu no dia 15 de Nissan
6. Jesus morreu na véspera do sábado
7. Logo, o 15º dia de Nissan do ano da Morte de Cristo era
inquestionavelmente o 6º dia da semana
8. Nenhuma das teorias de calendários rivais resolve, apenas
piora, as cronologias dos 4 evangelhos
9. O genitivo jamais intenta expressar “para” como objetivo,
mas expressa “de” como meio, posse.
10. Em todo o Novo Testamento paraskeue só é usado
exclusivamente para se referir ao sábado do sétimo dia,
nunca a qualquer festa.
11. João usa paraskeue no mesmo contexto mais duas vezes
apontando inquestionavelmente ao sábado semanal.
12. O uso do genitivo exclui a possibilidade da páscoa ser o
objetivo da preparação.
13. Na literatura judaica em grego, paraskeue é aplicado
exclusivamente para o sábado, a véspera da páscoa é
chamada sempre de παλαηκθή θ πα χα (paramone ten
paska - véspera para a páscoa - no acusativo).
14. Logo, o termo “preparação da páscoa” só pode indicar a
sexta-feira da semana da páscoa.
236 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

15. É bastante óbvio que os fariseus e os sacerdotes precisariam


se manter cerimonialmente puros pelos sete dias da festa, e
não apenas no primeiro dia
16. A expressão “sacrificar a páscoa” é usada no Antigo
Testamento como se tratando de todos os sacrifícios durante
os sete dias de festividade
17. Logo, nada impede que os fariseus precisassem se manter
puros também no segundo dia de festividade para comer
a páscoa naquele dia também
18. Seis dias antes da páscoa Jesus estava viajando, portanto, dia
8 não era um sábado.
19. Jesus comeu a páscoa com seus discípulos na noite após o dia
14 (dia 15)
20. Jesus foi sacrificado no dia 15, na hora nona, hora do
sacrifício da tarde
21. Jesus foi sacrificado no 6º dia da semana, dia da preparação
para o sábado da páscoa
22. Portanto, confirmadamente o 15º dia de Nissan do ano da
morte de Cristo caiu inquestionavelmente no 6º dia da
semana
8. SHAVUOT – PENTECOSTES

Nenhum texto expõe tanto o calendário dos DSL quanto a


contagem da festa das semanas, pois não precisa de conhecimento
teológico ou lógica modal para entender por que o suposto
calendário não funciona, apenas matemática básica (operações de
adição 1+1) é suficiente. O texto diz assim:
Lev 23:15 Contareis para vós outros desde o dia
imediato ao sábado, desde o dia em que trouxerdes o
molho da oferta movida; sete semanas inteiras serão.
Lev 23:16 Até ao dia imediato ao sétimo sábado,
contareis cinqüenta dias; então, trareis nova oferta
de manjares ao SENHOR.
Diferente das demais festas, o Shavuot não recebe uma data fixa,
mas apresenta um estranho ponto de referência “desde o dia imediato
ao sábado”. Os DLS defendem que há sim uma data fixa, e essa data
é o 9º dia de Sivan, o terceiro mês. Antes de demonstrar qualquer
conta, é necessário estabelecer o ponto de início da contagem, e o
ponto de chegada, algo que parece tão simples, tem confundido a
muitos desde muito cedo.
Logo após estabelecer a festa dos Pães ásmos (Êxo 23:4–8),
Deus começa a falar das primícias:
Lev 23:9 Disse mais o SENHOR a Moisés:
Lev 23:10 Fala aos filhos de Israel e dize-lhes:
Quando entrardes na terra, que vos dou, e segardes
a sua messe, então, trareis um molho das primícias
da vossa messe ao sacerdote;
Lev 23:11 este moverá o molho perante o SENHOR,
para que sejais aceitos;
238 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

Lev 23:12 no dia imediato ao sábado, o sacerdote o


moverá. No dia em que moverdes o molho,
oferecereis um cordeiro sem defeito, de um ano, em
holocausto ao SENHOR.
O texto é notavelmente vago ao que se refere à data em que esse
molho deveria ser movido, por outro lado, esse mesmo texto é
bastante claro ao que se refere a um evento específico, o que em que
entrassem e Canaã. Mas quando deveria-se mover o molho
anualmente? Se comparar todos os textos que ordenam mover um
molho das primícias, os resultados não são melhores:
Êxo 34:22 Também guardarás a Festa das Semanas,
que é a das primícias da sega do trigo, e a Festa da
Colheita no fim do ano.
Num 28:26 Também tereis santa convocação no dia
das primícias, quando trouxerdes oferta nova de
manjares ao SENHOR, segundo a vossa Festa das
Semanas; nenhuma obra servil fareis.
Deu 16:9 Sete semanas contarás; quando a foice
começar na seara, entrarás a contar as sete
semanas.
Deu 16:10 E celebrarás a Festa das Semanas ao
SENHOR, teu Deus, com ofertas voluntárias da tua
mão, segundo o SENHOR, teu Deus, te houver
abençoado.
Todos os textos indicam uma mesma coisa: Não havia uma data
fixa para começar a contagem das semanas, a contagem
dependeria claramente da data da primeira colheita! A aparente
contradição entre a data para início da contagem (se começa desde o
dia da primeira colheita ou no dia imediato ao sábado) é resolvida
juntando essa informação dos últimos textos ao texto base de Lev
23:9-16 podemos estabelecer uma ordem cronológica pré–contagem:
1. A primeira colheita era realizada! (Lev 23:10; Deu 16:9)
2. Um molho dessa colheita era trazida ao sacerdote (Lev
23:10; Num 28:26)
3. O sacerdote movia esse molho no dia imediato ao sábado
(Lev 23:11–12)
4. Então se iniciava a contagem (Lev 23:15–16).
Logo de cara é possível concluir que não havia um dia certo para
começar a contagem, se a colheita demorasse, a contagem demorava,
se a colheita viesse cedo, a contagem começaria cedo. Então a
pergunta lógica em sequência seria: “Quando começava a
colheita?”
8. SHAVUOT – PENTECOSTES 239

O primeiro passo é identificar a colheita, o que se esperava


colher, porém os textos não lançam luz sobre o que se esperava
colher. Êxo 34:22 fala sobre a colheita do trigo, porém o assunto
aqui é a festa das semanas (isso é, o final da contagem), não o molho
movido, assim, pode-se entender que a contagem inicia quando
iniciar a primeira colheita, do que quer que seja. O trigo só madurava
em meados de Sivan (3º mês), por isso é relacionado com o final da
contagem. Em Israel semeava-se a cevada entre Tishrei e Cheshvan
(7º e 8º mês) após terem começado as chuvas temporãs e o solo se
tornar arável (Is 28:24, 25). A cevada amadurece mais rápido do que
o trigo (Êx 9:31, 32), e iniciava-se a colheita no começo da
primavera, no mês de Nissan (1º mês). A colheita da cevada marcava
assim um período definido do ano (Ru 1:22; 2Sa 21:9), e seu início
correspondia ao tempo da Páscoa, o molho de cereal movido pelo
sacerdote era das primícias da cevada.
Apesar de não ter como prever o dia exato da colheita, é sabido
que durante toda a semana da Páscoa se comia Pães ásmos, e
portanto, a colheita necessariamente deveria ter sido antes disso, a
fim de preparar o pão para a Páscoa, por isso, entende-se que a
colheita era realizada na semana da Páscoa, 14º dia de Nissan, pois
desde esse dia se comeria Pães ásmos (Êxo 12:18). Por isso, a festa
começou a ser tradicionalmente contada a partir da semana da
Páscoa, Lev 23:12 diz que o molho deveria ser movido no dia
imediato ao sábado, mas que dia era esse? Uma pergunta que parece
tão simples, causou divisão entre as principais seitas do judaísmo do
segundo templo.179

Quais são todas as possíveis interpretação de “no dia


imediato ao sábado”?
Na verdade, são apenas duas interpretações possíveis, a
interpretação “cerimonial” (IC) e a interpretação “literal” (IL).
A IC acrescia o termo “cerimonial” à compreensão do texto, e
relia o texto da seguinte forma: “no dia imediato ao sábado
cerimonial…” Mas o que é esse sábado cerimonial?
179
A expressão “Segundo Templo” se refere à época do templo que o povo
judeu construiu após o regresso a Jerusalém do Cativeiro Babilónico, no mesmo
local onde o Templo de Salomão existira antes de ser destruído. Foi destruído
novamente no ano 70 pelos soldados romanos liderados pelo general Tito. Portanto
o período do Segundo Templo remete a 457 a.C até 70 d.C.
240 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

Tecnicamente, não existe sábado cerimonial na bíblia, nem


mesmo o Talmud chama qualquer uma das festas de sábados
cerimoniais, em toda a Tanach, apenas dois dias são chamados como
Sabbath, o sábado do sétimo dia e o dia da expiação, porém o
substantivo shabbathon, descanso, é aplicado tanto ao sábado do
sétimo dia, o dia da expiação e à festa dos tabernáculos,
curiosamente, nenhuma vez para a Páscoa, e pior ainda, nem mesmo
o verbo sabath (descansar, cessar) foi usado alguma vez para a
Páscoa, portanto, aplicar a frase “no dia imediato ao sábado…” ao
dia seguinte do primeiro dia dos Pães ásmos carece de qualquer
fonte Bíblica, uma vez que nem o termo Sabbath, nem o substantivo
Shabbathon e nem o verbo Sabath foi usado qualquer vez para a
Páscoa ou mesmo a maioria das festas. Além disso, fixar uma data,
isso é, o 16º dia de Nissan para o início da contagem faz a própria
frase enigmática “no dia imediato ao sábado” perder o sentido, uma
vez que em todas as festas Deus indica explicitamente a sua data
pelo número do dia em que deveria começar, se Sua intenção fosse
estabelecer o 16º dia como o dia para mover o molho, certamente Ele
teria dito como disse em todas as outras festas: “no décimo sexto dia
do primeiro mês” e não usar uma forma não fixa de falar uma data
fixa, aliás, nem mesmo precisaria mencionar o 16º dia, uma vez que
era só dizer: “no nono dia do terceiro mês, será a festa das
semanas…” O fato de não ter mencionado a data exata, e ainda
mandar contar dias a partir de uma data que também não foi
especificada como exata, é um fator muito relevante para não
pressupor que havia uma data exata.
A IL lê o texto como está escrito, “no dia imediato ao sábado…”
como o sábado do sétimo dia da semana da Páscoa. Essa
interpretação é bem mais coerente pelo fato de não precisar de
qualquer acréscimo, usar o significado natural de Sabbath, que por
sinal, havia sido deixado bem claro no início do capítulo sobre o seu
significado, e ainda não fixar uma data para o início da contagem,
preservando a orientação de começar sempre após o sábado, que por
não ter data fixa, não foi mencionado como tal. A IL também leva
em consideração o contexto da passagem, uma vez que no início das
festas Deus apresenta o Sábado como o sétimo dia da semana, e
nenhum outro evento até então teria recebido esse título, não há
motivo para acreditar que Deus intentasse se referir a outra coisa ao
mencionar novamente o sábado aqui.
8. SHAVUOT – PENTECOSTES 241

Os DSL não passam por esse dilema, uma vez que no calendário
deles as duas interpretações podem ser alinhadas a um mesmo dia.
Sendo o 15º dia um sábado todos os meses, e no primeiro mês sendo
também o primeiro dia dos Pães ásmos, o “dia imediato ao sábado”
se encaixa como o 16º dia de Nissan tanto considerando o sábado
semanal, como a festa dos Pães ásmos. A única dificuldade quanto
ao dia de início, seria o fato de Deus deixar explícito o dia de início
de todas as festas, e nessa resolver dizer simplesmente “no dia
imediato ao sábado” o que não faria sentido se fosse uma data fixa,
mas como a desculpa pode ser um simples: “por que Deus quis” e
isso não poderia ser provado como necessariamente falso, tudo que
concluiremos até aqui é que “o dia imediato ao sábado” se trata
inequivocamente ao sábado semanal da semana da Páscoa,
referindo–se, desse modo, ao primeiro dia da semana, e até esse
ponto, não há debate com os DSL. O grande problema aparece em
seguida.
8.1. Shavuot - a contagem para a festa

Uma vez estabelecido o início da contagem, a saber, o 16º dia


para os DSL e o dia imediato ao sábado da semana da Páscoa para o
calendário Bíblico, é preciso levar em consideração os critérios para
realizar esse cálculo:
Lev 23:15 Contareis para vós outros desde o dia
imediato ao sábado, desde o dia em que trouxerdes
o molho da oferta movida; sete semanas inteiras
serão.
Lev 23:16 Até ao dia imediato ao sétimo sábado,
contareis cinqüenta dias; então, trareis nova oferta
de manjares ao SENHOR.
Claramente há dois critérios para a contagem, ou duas coisas que
devem ser contadas:
1. 7 semanas inteiras (v. 15) + 1 dia (v. 16).
2. 50 dias (v. 16)
Logo, o critério parece razoavelmente simples: 50 dias e 7
semanas e 1 dia. Os DSL são rápidos em apontar a palavra “inteiras”
para dizer que somente os dias das semanas que fossem inteiras
deveriam ser contados, já que para eles, tanto a Lua Nova quanto os
dias adicionais (30º) não faziam parte da semana, e por isso, não
podem ser contados, e desse modo, a contagem no calendário deles
ficaria assim:
8.1. SHAVUOT - A CONTAGEM PARA A FESTA 243

Porém, por mais bem explicado que pareça ficar, as coisas não
são tão simples assim, note que convenientemente, nenhum dos dias
de lua nova foram contados, com base na interpretação do termo
“inteiras” da expressão “sete semanas inteiras”, e há ainda várias
dificuldade com esse calendário nessa contagem, mas para início de
conversa, podemos citar que no hebraico, não há a palavra semana
no texto.
Existe uma palavra no hebraico que significa semana, essa
palavra é: shabuá ( ) que também pode ser escrito (shabua)
ou (shebua) que é uma palavra derivada de sheba ( ) que
significa “sete” – seria mera coincidência?
A Tanach usa shabua sempre que quer falar de semana, no
sentido de sete dias, no plural e no singular, tanto na Torah quanto
em todo o resto da Tanach:
244 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

Lev 12:5 Mas, se tiver uma menina, será imunda


duas semanas (shabuim – plural), como na sua
menstruação; depois, ficará sessenta e seis dias a
purificar–se do seu sangue.
O sentido é que se iniciasse a ser imunda no terceiro dia da
semana, apenas no terceiro dia da semana depois da semana seguinte
a imundice passaria.
Dan 9:25 Sabe e entende: desde a saída da ordem
para restaurar e para edificar Jerusalém, até ao
Ungido, ao Príncipe, sete semanas (shabuim – plural)
e sessenta e duas semanas (shabuim – plural); as
praças e as circunvalações se reedificarão, mas em
tempos angustiosos.
Shabuim (plural) é usado no total 18 vezes em toda a Tanach,
mas também o singular é usado na Torah:
Gên 29:27 Decorrida a semana (shabua – singular)
desta, dar–te–emos também a outra, pelo trabalho de
mais sete anos que ainda me servirás.
E na Tanach como um todo:
Dan 9:27 Ele fará firme aliança com muitos, por uma
semana (shabua – singular); na metade da semana
(shabua – singular), fará cessar o sacrifício e a oferta
de manjares; sobre a asa das abominações virá o
assolador, até que a destruição, que está determinada,
se derrame sobre ele.
Num total de 4 vezes, quando o objetivo é falar de uma semana,
o termo usado é shabua (singular) ou shabuim (plural), porém esse
termos nem sequer aparece em Lev 23, o texto hebraico literalmente
diz: “Vós contareis desde próximo dia o sábado desde dia trazer o
omer a oferta sete sábados completos serão; Até próximo dia o
sábado o sétimo vós contareis cinquenta dias e farão oferta nova
para YHWH”
O texto hebraico claramente identifica que duas coisas precisam
ser contadas:
1. 7 Sábados (v. 15) + 1 dia (v. 16)
2. 50 dias (v. 16)
Mas de um sábado a outro não é uma semana? Qual a diferença
de contar 7 sábados ou contar 7 semanas? Por mais simples que
pareça, a palavra “sábado” faz toda a diferença. Forçando bastante o
texto, é possível que esse “contareis sete semanas inteiras” se
referisse a semana de que a Lua Nova não fizesse parte, já que ela,
no calendário dos DSL, não fazia parte da semana. Porém isso muda
8.1. SHAVUOT - A CONTAGEM PARA A FESTA 245

com o termo “contareis sete sábados completos” que está presente


no hebraico, esse contorcionismo não é mais possível, uma vez que o
foco agora não está no fato da semana ser completa, o que pressupõe
aos DSL que a lua nova não poderia ser contada, mas o foco agora é
simplesmente contar 7 sábados completos, isso é, passado 7 sábados,
o dia seguinte é o Shavuot, e para confirmar, conte 50 dias desde o
dia imediato àquele primeiro sábado.
O termo ‘ad (até) deixa claro que contará cada dia até chegar no
50º, não abre precedentes para não contar um dia ou outro, mas
conte cada dia até o 50º. O princípio é muito claro: A partir do dia
imediato ao sábado da Páscoa, conta cada dia, e conta cada sábado,
quando der 49 dias, e ao mesmo tempo der 7 sábados, o dia seguinte
é Shavuot! Nada nesse texto dá um mínimo de esperança de que a
lua nova não deva ser contada, muito pelo contrário, afirma que todo
dia, sem exceção, deve ser contado e somado até 50, todo sábado,
sem exceção, deve ser contado e somado até 7, portanto se é dia,
conta! Se é sábado, conta!.
Se fosse traduzido em termos matemáticos, poderíamos afirmar
que 7 semanas + 1 dia = 50 dias, ou simplesmente 7x + 1 = 50 onde
x é o número de dias que compõe uma semana, isso é, de um sábado
a outro. Uma coisa fica muito clara no texto: o número de dias em 7
sábados, é definitivamente 49 dias. Por mais que a lógica seja muito
simples, a simples álgebra não bate com o calendário dos DSL, onde
é possível haver 8 (ou até 9) dias entre o sábado do dia 29 de
qualquer mês e o sábado do dia 08 do mês seguinte, essa conclusão
cai irremediavelmente perante a álgebra básica da contagem de
Shavuot. De acordo com a contagem do Shavuot, duas luas novas
estariam no meio da contagem, e por uma simples equação de lógica,
definimos que elas necessariamente precisariam ser contadas. Nesse
caso, contando os sábados e todos os dias invariavelmente como
manda o texto, o calendário dos DSL ficaria assim:
246 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

O 50º dia seria, no mínimo, 2 a 3 dias antes do 7º sábado, e o dia


imediato ao 7º sábado seria no mínimo o 53º dia da contagem,
podendo chegar até o 55º caso dois meses seguidos fossem
acrescidos do 30º dia. Isso sem considerar a absurda hipótese que
compara a lua nova a um sábado; caso isso fosse levado a sério, e
cada lua nova contasse um sábado à mais nessa contagem, 50 dias só
dariam depois de pelo menos 10 sábados. A única resposta possível
do argumento em prol desse calendário seria aplicar o termo inteiras
às 7 semanas, infelizmente, porém, a palavra semanas não existe no
texto, e o termo inteiras aplicados aos 7 sábados muda
completamente o sentido para completos, intentando unicamente
enfatizar a contagem dos sábados, e não estabelecer o modelo de
semana que deva ser contada.
8.1. SHAVUOT - A CONTAGEM PARA A FESTA 247

Além disso, mesmo que a expressão usada no texto fosse


semanas inteiras e não sábados completos, essa interpretação ainda
teria dificuldades em explicar o que são semanas inteiras, pois a
explicação padrão dos DSL é que uma semana é composto por 6 dias
que se pode trabalhar, e 1 sabbath, baseado no já refutado Ezequiel
46:1. Porém se isso for verdade, os dias 17 a 22 de Nissan não
compõem uma semana, já que se trata de apenas 5 dias que se pode
trabalhar, 1 dia que não se pode trabalhar (dia 21 de Nissan) e 1
Sabbath, fugindo da descrição que eles chamam de absoluta,
portanto, esses dias ainda não poderiam ser contados, por não se
tratar de uma semana inteira.
Mas mesmo que todas as dificuldade pudessem ser explicadas e
contornadas, ainda assim, seria uma alternativa forçada dizer que só
se poderia contar os dias que estão dentro de uma semana inteira,
inventando explicações que não existem no texto, até porque, o verso
16 não manda contar só os dias que estão dentro das semanas
inteiras, apenas manda contar 50 dias. Essa interpretação pressupõe
que a semana deles esteja correta, nem de longe prova que ela está,
logo, é uma argumentação sem prova, apenas um pressuposto que
eles querem que seja engolido como verdade a fim de provar o ponto
deles, é raciocínio circular, a prova do argumento é o seu próprio
pressuposto, silogismo puro.
Porém no calendário Bíblico a contagem bate em qualquer
hipótese de calendário. Há sete possibilidades de calendário para a
contagem bíblica (nesse modelo de calendário, o mês ter 29 ou 30
dias apenas deslocaria o resultado final um dia do mês, mas não
alteraria a ordem semanal, por isso não faz diferença no cálculo),
uma para cada dia em que o ano começasse, segue as sete
possibilidades e a respectiva contagem, contando cada dia e cada
sábado, como manda o texto, em cada uma das possibilidades são:
248 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?
8.1. SHAVUOT - A CONTAGEM PARA A FESTA 249
250 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?
8.1. SHAVUOT - A CONTAGEM PARA A FESTA 251

Assim, não importa em que dia comece o ano, e por


consequência, em que dia da semana cairia a Páscoa, o calendário
Bíblico sempre poderia cumprir as exigências de contar 7 sábados e
252 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

50 dias sem nenhuma dificuldade, não estabelecendo dias fixos no


mês conforme a própria bíblia não o estabeleceu, cumprindo 100%
dos requisitos sem precisar adicionar nenhuma regra que não esteja
explicitamente descrita no texto. A contagem dos DSL depende
exclusivamente de um mecanismo de contagem que não existe nem
nesse texto e nem em texto nenhum na bíblia para excluir as luas
novas da conta, porém sem precisar reinventar a roda e inventar
silogismos, o calendário bíblico pode ser facilmente explicado sem
entrar em nenhuma contradição com só um pouco de lógica e
matemática.
Nessa altura da argumentação, a única explicação possível seria
bater o pé na tradução de 7 semanas inteiras, apresentar a tradução
da LXX180 ou outras traduções como se elas fosses mais relevantes
que o texto massorético (o próprio texto hebraico), ou outros
comportamentos comuns de quem rejeita a exegese dando mais
crédito a seus próprios pressupostos, ou apelar ao argumentum ad
verecundiam,181 evocando que se os modernos calendários judaicos
não contam conforme o cálculo apresentado nesse capítulo, então
isso significa que essa interpretação só pode estar errada. Então o
desafio é: Por que os judeus não seguem a contagem do Shavuot
conforme apresentado nesse capítulo como sendo o método bíblico
de contar?

180
LXX é a Septuaginta, ou tradução dos setenta, é a mais antiga tradução da
Bíblia hebraica para o grego, datando do III século ao I século a.C.. A tradição
sustenta que 72 sábios, 6 de cada tribo de Israel, traduziram o pentateuco em 72
dias, todos eles de maneira independente, e no final, todas as traduções estavam
exatamente iguais.
181
O argumentum ad verecundiam ou argumentum magister dixit é uma
expressão em latim que significa apelo à autoridade ou argumento de autoridade.
É uma falácia lógica que apela para a palavra ou reputação de alguma autoridade a
fim de validar o argumento. Este raciocínio é absurdo quando a conclusão se
baseia exclusivamente na credibilidade do autor da proposição e não nas razões
que ele apresentou para sustentá-la.
8.2. Por que os Judeus contam o Shavuot após a
Páscoa?

Por mais forte que possa parecer esse argumentum ad


verecundiam, ele apenas demonstra o desespero do DSL que sentiu-
se sem saída em seu argumento e apelou para a primeira informação
que lhe passou pela cabeça, pois na verdade, se trata de um tiro no
próprio pé, porque se for assumido que o que os Judeus atuais fazem
é e sempre foi o correto, então certamente a contagem do Shavuot
apresentada no capítulo anterior estaria errada, porém nos modernos
calendários judaicos:
• O ciclo semana é de 7 dias fixos, independente da lua
• A lua nova sempre cai em um dia da semana, não existe um
dia exclusivo para ela em qualquer calendário judaico
• Qualquer festa pode cair em qualquer dia da semana
• O ciclo anual descreve o ciclo metônico, e não a observação
Isso se ficássemos apenas no calendário, se fôssemos além do
calendário, ainda teríamos que admitir que Jesus não é o Messias e
talvez que Ele nem mesmo tenha existido, como pregam alguns
Judeus, entre tantas outras coisas que implicaria essa falácia de
autoridade. Apesar dessa pergunta, como argumento, não passar de
uma falácia de autoridade, a pergunta como curiosidade é válida,
vale a pena dedicarmos algumas páginas para entender por que de
fato os judeus modernos contam o pentecostes a partir da Páscoa e
não do dia imediato ao sábado como manda claramente o texto.
Nem sempre isso foi assim, qualquer livro de história judaica
confirma a divisão do Judaísmo do segundo templo em diversas
seitas, e cada seita mantendo seu próprio modo de interpretar a
Torah. No final do tempo do Segundo Templo, houve um debate
entre três facções judaicas diferentes sobre o significado da frase
hebraica “desde o dia imediato ao sábado" e, portanto, sobre o
momento de Shavuot. As três facções concordaram que o "desde o
dia imediato ao sábado" estava associado à festa dos pães ázimos,
embora a conexão precisa tenha levado a observar o festival em dias
254 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

diferentes. A Festa dos Pães ázimos de sete dias vai do dia 15º ao 21º
dia do Primeiro Mês Hebraico (Nissan) e marca o Êxodo do Egito.
As três facções conectaram a expressão “desde o dia imediato ao
sábado” com a Festa dos Pães ázimos, mas diferiram quanto ao
tempo e conexão exatos. As três facções que discutiram o momento
de Shavuot foram os fariseus que escreveram a Mishná e o Talmud,
os essênios que escreveram os pergaminhos de Qunran, e os
saduceus que constituíram o sacerdócio do templo.182
O Talmud, apesar de não ser exaustivo sobre o assunto, esclarece
como eram os pensamentos de alguns desses grupos:
O primeiro trabalho de [Anan ben David] foi separar-
se dos judeus fixando a data de Pentecostes para
cinquenta dias após o primeiro sábado depois da
Páscoa, como os saduceus o fixaram
anteriormente. As datas do Ano Novo e o Dia da
Expiação, a Páscoa e a Festa das Cabanas foram
determinadas pela busca da lua nova, que não
concordava com as datas judaicas.183 – Ênfase
acrescentada.
Anna ben David foi um reformador, mas os fariseus execraram
ele, por discordar com a interpretação deles da contagem do
Shavuot, e insistir que as datas de festas deviam ser marcadas pela
observação da lua, e não por cálculos, ambas as práticas eram
adotadas pelos saduceus antigamente, mas discordavam dos fariseus
que adotaram sua forma única e peculiar de contar os dias para as
festas.
Os fariseus e os Bathusees também disputavam a data
em que a festa de Pentecostes era para ser
comemorada, os últimos afirmando que, como está
escrito [Lev. xxiii. 15]: “E deveis contar para vós,
desde o dia seguinte ao sábado . . . sete semanas
completas, “o dia de Pentecostes deve
necessariamente cair no primeiro dia da semana;
mas os fariseus, através de R. Johanan ben Zakkai,
sustentavam que a passagem implica que a
contagem deve ser iniciada no dia seguinte ao
primeiro dia do festival, e, portanto, a festa de

182
VAN DER WOUDE, A. S. (ed.), Bible Handbook, Vol. II. The World of
the Old Testament. Translated by S. Woudstra. 1989, p. 387–8.
183
The Babylonian Talmud, Translated by RODKINSON, M. L., Vol. 1-10,
1918, p. 3016
8.2. POR QUE OS JUDEUS CONTAM O 255
SHAVUOT APÓS A PÁSCOA?

Pentecostes cairá sobre o sexto dia do mês de Sivan. 184


– Ênfase acrescentada.
Ao que tudo indica, os fariseus estavam sozinhos em sua
interpretação alegórica de sábado, todos os outros grupos contavam
o shavuot a partir do sábado semanal. A polêmica da contagem do
Shavuot era uma das mais clássicas polêmicas entre fariseus e os
demais grupos que discordavam deles:
“Mas os escribas, muito diferentemente dos
saduceus, mantêm-se estritamente no décimo sexto
dia do mês de Nisan para oferecer as primícias sem
qualquer exceção, após o dia sabático ou o primeiro
dia da festa ter-se findado. E, entre outros, pelos quais
fortalecem sua opinião, esses dois lugares diferentes
da Escritura, Exod. xii. 15, “Sete dias comereis o pão
ázimo”, e Deut. xvi. 8",Seis dias comereiss o pão
ázimo”, de acordo com o sentido que têm, conciliam
assim, “sete dias, na verdade, deveis comer pão
ázimo; isto é, pão ázimo do trigo antigo, no primeiro
dia da festa, o molho não tendo sido oferecido; e os
pães ázimos do trigo novo, os seis dias restantes,
depois de se ter oferecido as primícias”.185 – Ênfase
acrescentada.
Os fariseus argumentaram que Shavuot deve ser contado desde o
primeiro dia da festa dos Pães ázimos, que designaram como sendo
um “Sábado” seguindo o pressuposto que não trabalhar equivale a
descanso, mesmo que a palavra não seja empregada, e como sábado
é descanso, então qualquer dia de proibição de trabalho seria um
sábado. Já vivos que esse argumento não tem base bíblica, porém, os
fariseus acharam por bem fazê-lo. Segundo os fariseus, “desde o dia
imediato ao sábado” significa o “1º dia do Pão ázimo”. Os antigos
fariseus e seus sucessores modernos dos rabinos ortodoxos começam
a contar os 50 dias para Shavuot no segundo dia do Pão ásmo.
Pode acontecer como R. Shemaiah ensina: O
Pentecostes cai no quinto, sexto ou sétimo de Sivan.
Como isso é possível? Num ano em que os meses de
Nisan e Iyar têm trinta dias cada um, o Pentecostes cai
no quinto de Sivan; quando cada um tem vinte e nove
dias, o Pentecostes cai no sétimo de Sivan; mas

184
ibid., p. 2178
185
LIGHTFOOT, John., A Commentary on the New Testament From The
Talmud and Hebraica, vol. 4, CreateSpace Independent Publishing Platform,
ISBN-13: 978-1481946018, 2013, p. 23-24
256 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

quando um tem vinte e nove dias e o outro tem trinta


dias, o Pentecostes cai no sexto de Sivan. 186 – Ênfase
acrescentada.
Como resultado, o Shavuot farisaico sempre caiu nos tempos do
segundo templo de 5 a 7 dia do Terceiro Mês Hebraico (Sivan).
Os essênios que escreveram os manuscritos do Mar Morto
começaram a contar 50 dias para Shavuot em um sábado diferente
dos fariseus. Em seu julgamento, a oferta de Omer deveria ser
trazida no dia seguinte do sábado semanal, isso é, o 1º dia da
semana. Os essênios começaram a contar no primeiro dia da semana
após os sete dias da Festa dos Pães ázimos (4Q320-4Q321). Como
resultado, eles sempre começaram sua contagem no 26º dia do
Primeiro Mês Hebraico, pois o Essênios tiveram um calendário solar
de 364 dias baseados no livro de Jubileu, que começava todos os
anos numa quarta–feira e tinha comprimentos fixos para cada mês
(4Q320-4Q321).187 Com base no calendário Essênio, Shavuot
sempre caia no 15º dia do Terceiro Mês Hebraico. Presume–se que
os essênios tenham sido aniquilados quando os romanos invadiram a
Judéia em 66–74 a.C e apenas seus documentos sobrevivem hoje.
A terceira facção, os saduceus, concordou com os essênios que
Shavuot deve ser contado a partir de um sábado semanal, mas
discordou sobre qual. Os saduceus acreditavam que a contagem de
50 dias deve começar no Sabbath semanal que cai durante os sete
dias da Festa dos Pães ázimos, como já vimos pelo próprio Talmud.
De acordo com o seu julgamento, a contagem para Shavuot poderia
começar em qualquer lugar do dia 15 ao 21 do mês, dependendo de
que dia da semana começasse a Festa dos Pães ázimos. Se o Pão
ázimo começasse no domingo, a contagem começaria no dia 15 do
mês. Se o Pão ázimo começasse no sábado, a contagem começaria
no dia 16 do mês, e assim por diante. Com base nesta contagem,
Shavuot poderia cair do 4º ao 12º dia do Terceiro Mês Hebraico. Os
judeus karaítas, os samaritanos, os ananitas, os benjaminitas, os
bathusees, os seguidores de al-Ukbari, os seguidores de Musa de
Tiflis, os seguidores de Malik al Ramli e pelo menos alguns essênios

186
The Babylonian Talmud, Translated by RODKINSON, M. L., Vol. 1-10,
1918, p. 2178
187
FELDMAN, R. H., The 364-day “Qumran” calendar and the biblical
seventh-day sabbath, Graduate Theological Union, 2009.
8.2. POR QUE OS JUDEUS CONTAM O 257
SHAVUOT APÓS A PÁSCOA?

aceitaram o cálculo do saduceu como o único a ser consistente com o


significado simples do texto bíblico.188
Mas se a maioria dos movimentos Judaicos aceitavam, no
passado, a contagem conforme exposta no capítulo anterior, ou pelo
menos parecida, e apenas os fariseus contava, a partir da Páscoa,
por que hoje o judaísmo nem sequer debate isso? – Bem, isso não é
absolutamente verdade, muitos judeus hoje não aceitam o cálculo
rabínico, mas o motivo de por quê o cálculo rabínico se tornou
oficial é muito simples: Após a destruição do Templo, os fariseus se
tornaram a facção sobrevivente predominante entre a liderança
judaica e sua interpretação é seguida pela maioria dos judeus até o
dia de hoje:
Mas, como nossos atuais reformadores são
descendentes dos fariseus, e os saduceus não mais
estando em existência, portanto, eles também
adotaram, em muitas coisas, uma nova forma, e
reconhecem os ensinamentos dos fariseus (como,
por exemplo, a observância do sexto dia de Sivan
como Pentecostes) como leis incontestáveis. Não
podemos de modo algum, porém, acusar os
reformadores de não acreditarem na tradição em geral,
já que não podemos acusar os ex-saduceus.189 –
Ênfase acrescentada.
No entanto, podemos ver claramente pelo Talmud que à
princípio, nem mesmo os fariseus fixavam o pentecostes em 6 de
Sivan como é feito hoje, mesmo contando a partir do segundo dia
dos Pães ásmos, a data do pentecostes poderia variar entre 5 e 7 de
Sivan conforme já apresentado no enxerto do Talmud, porém nesse
enxerto posterior, o dia 6 de Sivan já aparece como fixado para o dia
de Shavuot. Foi só em 359 dC, que o líder fariseu Hillel II
estabeleceu um calendário pré–calculado e desde então o Shavuot
farisaico ficou sendo observado no dia 6 de Sivan.
Após o tempo do Antigo Testamento, existem
diferentes ideias entre os judeus quanto ao dia que se
constitui o terminus a quo das sete semanas (Van
Goudoever, pp. 18, 29). Vem a propósito aqui a
exegese de Levítico 23:11, 15, que fala do “dia após o

188
ANKORI, Z., Karaites in Byzantium: The Formative Years, 970-1100, 597
ed., Columbia University Press, 1959, p. 276-278.
189
The Babylonian Talmud, Translated by RODKINSON, M. L., Vol. 1-10,
1918, p. 3118
258 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

sábado”. Os Saduceus (e também os samaritanos)


tomaram o texto o mais literalmente possível. Eles
entendiam o sábado mencionado ali como sendo o
sétimo dia da semana. . . Nesse caso, a Festa das
Semanas era sempre no primeiro dia (domingo).
Os fariseus contavam de forma diferente. O cálculo
deles tornou-se oficialmente aceito na ortodoxia
judaica a partir do segundo século A.D. pela
inexistência de outros grupos. Segundo eles, o
“sábado” nestes textos referem-se ao primeiro dia
da festa da Páscoa. No dia seguinte, o feixe devia ser
trazido e o quinquagésimo dia devia ser calculado a
partir disso, e mais tarde no século IV fixado no sexto
dia de Sivan.190 – Ênfase acrescentada.
Hoje, o que predomina é a tradição rabínica, e não mais o
ensinamento bíblico, pois toda essa tradição foi herdada do
farisaísmo. Em sua época, não poucas vezes Jesus reprovou a
tradição rabínica:
Mat 15:2 Por que transgridem os teus discípulos a
tradição dos anciãos? Pois não lavam as mãos, quando
comem.
Mat 15:3 Ele, porém, lhes respondeu: Por que
transgredis vós também o mandamento de Deus, por
causa da vossa tradição?
Mat 15:6 esse jamais honrará a seu pai ou a sua mãe.
E, assim, invalidastes a palavra de Deus, por causa da
vossa tradição.

Mar 7:3 (pois os fariseus e todos os judeus,


observando a tradição dos anciãos, não comem sem
lavar cuidadosamente as mãos;
Mar 7:5 interpelaram-no os fariseus e os escribas: Por
que não andam os teus discípulos de conformidade
com a tradição dos anciãos, mas comem com as mãos
por lavar?
Mar 7:8 Negligenciando o mandamento de Deus,
guardais a tradição dos homens.
Mar 7:9 E disse-lhes ainda: Jeitosamente rejeitais o
preceito de Deus para guardardes a vossa própria
tradição.
Mar 7:13 invalidando a palavra de Deus pela vossa
própria tradição, que vós mesmos transmitistes; e
fazeis muitas outras coisas semelhantes.

190
DRANE, J.,The World of the Bible, Lion Hudson, ISBN-13: 978-
0745952505, 2010, p. 389.
8.2. POR QUE OS JUDEUS CONTAM O 259
SHAVUOT APÓS A PÁSCOA?

Jesus disse que a tradição dos anciãos (tradição rabínica) poderia


invalidar os mandamentos de Deus. E Paulo mesmo faz um alerta:
Col 2:8 Cuidado que ninguém vos venha a enredar
com sua filosofia e vãs sutilezas, conforme a tradição
dos homens, conforme os rudimentos do mundo e não
segundo Cristo;
Tudo o que sobreviveu do Judaísmo à destruição do templo no
ano 70 d.C., foi o farisaísmo e sua tradição, e por isso, conforme o
próprio Talmud expressa, não havendo concorrência interpretativa,
todo o judaísmo abraçou a interpretação farisaica, e por isso o
Shavuot hoje, é calculado tradicionalmente a partir do segundo dia
dos Pães ásmos, e não de acordo com a contagem estabelecida pelos
parâmetros bíblicos. Isso não significa que os Saduceus,
Samaritanos, Karaítas ou qualquer outra seita eram melhores ou
piores que os Fariseus, o próprio Jesus teve problemas sérios tanto
com Saduceus quanto com Fariseus por motivos interpretativos, mas
diferente dos Fariseus, os Saduceus por exemplo rejeitavam a
tradição oral, esse era um defeito dos fariseus, os defeitos dos
Saduceus eram outros.
Assim, o questionamento que intenta demonstrar que por que os
Judeus modernos não começam a contagem do Shavuot pelo dia
imediato ao sábado semana, então essa contagem deve estar errada,
não é apenas um falacioso tiro no pé apelando ao argumentum ad
verecundiam, mas também é uma falácia histórica e argumentum ad
antiquitatem,191 não passando de uma tentativa desesperada de
sustentar um argumento que ignora os fatos históricos que circundam
o tema.

191
A expressão latina Argumentum ad antiquitatem, também chamada de
apelo à tradição, é uma falácia que consiste em dar autoridade a algo em função de
sua antiguidade, ou ainda afirmar que algo é verdadeiro ou bom porque é antigo ou
“sempre foi assim”.
8.3. Conclusão parcial do capítulo

Conforme visto até aqui


1. O dia imediato ao sábado é necessariamente o 1º dia da
semana
2. 7 sábados precisariam ser contados até o Shavuot
3. 50 dias precisariam ser contados até o Shavuot
4. Nada em texto nenhum indica que algum dia poderia ser
pulado na contagem
5. No calendário dos DSL 7 sábados + 1 dia somariam
irremediavelmente no mínimo 53 dias
6. No calendário dos DSL o 50º dia seria irremediavelmente
anterior ao 7º sábado
7. Logo, o calendário dos DSL não pode responder a
nenhum dos critérios bíblicos
8. Os fariseus são os únicos remanescentes da destruição do
templo
9. O judaísmo moderno segue generalizadamente os ensinos
rabínicos
10. O farisaísmo defende o cálculo a partir da páscoa, e não a
partir do dia imediato ao sábado como manda o texto bíblico.
11. Logo, é fácil entender por que os judeus não observam o
Shavuot no dia designado pela bíblia
CONCLUSÃO: POR QUE A ÂNSIA EM CONECTAR
A LUA COM O SABBATH?

Praticamente todas as culturas adoraram a lua e o sol, e várias


culturas pagãs tinham seus cultos e calendários baseados na lua, o
calendário dos DSL se assemelha e muitos em muitos calendários
antigos de povos que cultuavam a lua.192
Diversos foram dados a divindades relacionadas à lua em várias
culturas, na grécia, Artemis, Afrodite, Selene e Hera eram
relacionadas à lua. No antigo Egito, era Isis, Hathor e Seshat. Os
esquimós a chamavam de Sedna. Os chineses chamaram-lhe Shing
Moon. Os celtas a chamaram de Morgana.
Em todo o mundo, os rituais foram realizados em sua
homenagem. No hinduísmo, Shiva é a testemunha, a consciência, a
vibração (também chamada Ma / heshv / ar, o removedor da morte)
que é simbolizada pela Lua da Noite. Na Suméria antiga, este
símbolo da estrela de 8 raios era o símbolo de Deus, e os primeiros
símbolos islâmicos usavam essa mesma estrela de oito raios com a
lua crescente para representar sua fé sob a Estrela da Noite. A
divindade da Mistério da Babilônia de Mithra, que era o anjo dos
raios da Luz (luciferante) entre o sol e a terra, seu inimigo era a
Noite.

192
LEWIS, A. H. Biblical Teachings, concerning the Sabbath and the Sunday.
Alfred Centre, N. Y.: The American Sabbath Tract Society, 1888. 140.
262 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

A Lua na tradição cabalística193 representa o Messias. A lua


crescente e Estrela como a NOITE, é o símbolo do Islã e Ramadã.
Os Wiccas têm a lua como principal deusa do panteão, e principal
motivo de culto. Mas nenhuma tradição lunar foi tão significativa
quanto a de Lilith, a rainha da noite, cujo culto baseava-se nas fases
da lua, assim como o calendário dos DSL o faz. O próprio papa
194
João XXIII era supersticioso em relação à lua.
Talvez a definição do deus do Islã possa ajudar a essa altura:
A religião do Islã tem como foco de adoração uma
deidade com o nome de “Allah”. Os muçulmanos
afirmam que Allah em tempos pré-islâmicos era o
Deus bíblico dos Patriarcas, profetas e apóstolos. A
questão é, portanto, de continuidade. "Allah" era o
Deus bíblico ou um deus pagão na Arábia durante os
tempos pré-islâmicos? A reivindicação de
continuidade do muçulmano é essencial para a
tentativa de converter judeus e cristãos porque “Allah”
é parte do fluxo da revelação divina nas Escrituras,
então, é o próximo passo na religião bíblica. Assim,
todos devemos tornar-nos muçulmanos. Mas, por
outro lado, se Allah fosse uma deidade pagã pré-
islâmica, então sua reivindicação central é refutada.
As reivindicações religiosas geralmente se caem
perante resultados de ciências brutas, como a
arqueologia. Podemos especular sem parar sobre o
passado ou ir e desenterrá-lo e ver o que a evidência
revela. Este é o único caminho para descobrir a
verdade sobre as origens de Allah. Como veremos, a
evidência bruta demonstra que Allah era uma
deidade pagã. Na verdade, ele era o deus da lua
que estava casado com a deusa do sol e as estrelas
eram suas filhas.195 – Ênfase acrescentada.
Seria por isso que a bandeira muçulmana tem a lua crescente
(para Allah) e a estrela (suas filhas) tão corajosamente exibidas?
Tenha em mente que o Senhor está permitindo que o vento sopre
cada vento de doutrina de modo a remover a palha antes que Ele

193
Kabbalah é um espécie de mitologia judaica que interpretava as escrituras
de modo alegórico.
194
The speech of a lifetime: John XXIII's words dedicated to the Moon,
disponível em http://www.romereports.com/en/2014/04/24/the-speech-of-a-
lifetime-john-xxiii-s-words-dedicated-to-the-moon/ data de acesso 8 de ou. 2017.
195
MOREY, R. A.The Islamic Invasion: Confronting the World's Fastest
Growing Religion. Xulon Press. 2011, p. 256
CONCLUSÃO 263

venha. Ele permite que essas falsas doutrinas fluem para testar suas
pessoas obedientes para ver se eles têm o que é necessário para
permanecer no Seu reino para a eternidade.
Foi visto que em relação à teoria do sábado lunar:
• Não há evidência histórica que confirme o uso de qualquer
calendário que observasse o sábado lunar no judaísmo.
• Não há evidência na tradição judaica que confirme o uso de
qualquer calendário que observasse o sábado lunar.
• Não há evidência bíblica que confirme o uso de qualquer
calendário que observe o sábado lunar.
• Há muitas evidências que desaprovam o calendário que
observa o sábado lunar.
⁃ O sábado sempre aparece na bíblia como o sétimo
dia.
⁃ O sábado sempre aparece na bíblia como o último dia
de sete dias.
⁃ Semana vem da palavra – Sete – e nada tem a ver
com a lua.
⁃ Os meses de Gên 7 a 8 são meses fixos de 30 dias.
⁃ A lua nova era um legítimo dia de trabalho.
⁃ Nada em toda a bíblia proíbe qualquer tipo de
atividade na lua nova que já não seja proibida em
qualquer dia.
⁃ Nada em toda bíblia indica que a lua nova tivesse um
dia só para ela, que não fizesse parte da semana.
⁃ O calendário dos DSL invalida o sábado semanal,
reduzindo a restrição nas festas que caem ao sábado,
fazendo de Deus um Deus auto–contraditório.
⁃ O calendário dos DSL invalida a festividade das
trombetas, tornando num dia sem importância alguma
para o calendário.
⁃ O primeiro 14º dia do primeiro mês em Canaã caiu
num sábado, não numa sexta-feira como previa o
calendário dos DSL.
⁃ Seis dias antes da páscoa era o sexto dia da semana.
⁃ Jesus morreu no 15º dia de Nissan, que foi o 6º dia da
semana.
⁃ A contagem do Shavuot deixa claro que a semana não
pode ter nem mais nem menos de 7 dias.
264 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

⁃ Na contagem do Shavuot deveria-se contar sábados


completos, e não semanas inteiras, invalidando a
desculpa dos DSL para não contar os dias de lua
nova.
⁃ A contagem para os 50 dias para o Shavuot invalidam
qualquer hipótese de não contar algum dia, como a
lua nova.
⁃ Não há como encaixar o calendário dos DSL na
contagem do Shavuot.
⁃ O primeiro dia que caiu o maná foi o 17º dia do
segundo mês, e por consequência, os sábados foram
no dia 16 e 23, se considerar a contagem mínima.
⁃ Não há forma de encaixar o sábado como dia 15 e 22
no segundo mês desde o Êxodo.
⁃ A queda do maná por 6 dias e o dobro do sexto,
seguido de um sábado no 7º invalida completamente
o calendário dos DSL.
Pela falta de evidências a favor do calendário dos DSL, e pelo
excesso de evidências contrárias, fica evidente que o calendário dos
DSL não passa de apenas mais uma invenção para invalidar o sábado
do sétimo dia. Assim como o culto ao Sol foi adaptado ao
cristianismo no primeiro dia da semana, substituindo o sábado
bíblico do sétimo dia,196 é certo que satanás fará de tudo para ofuscar
o verdadeiro dia de guarda que o SENHOR estabelece desce os
primórdios da Criação.197 Não era de se assustar que na
impossibilidade de desaprovar o dia de guarda do sábado pela Bíblia,
a tentativa agora é desaprovar o próprio sábado bíblico.
Os DSL contam com diversas falácias interpretativas, além de
teimosamente insistir em argumentos como: “não existe nenhum
texto bíblico que ordene seguir o calendário gregoriano”, O que por
si só seria um tremendo contrassenso mandar seguir algo que
demorou mais de 1500 anos depois do término da Bíblia para surgir.
Mas ao mesmo tempo, baseia o seus argumentos em textos que não

196
BACCHIOCCHI, S. Doutoral Tesis: From sabbath to sunday: A historical
investigation of the rise of sunday observance in early christianity. Vidimus et
aprobamus ad normam Statutorum Universitatis, 1974.
197
Para a pergunta se o sétimo dia da criação foi um sábado ou apenas um
sétimo dia qualquer, ver: COLE, R. The Sabbath and Genesis 2:1-3. Avondale
College. 2003
CONCLUSÃO 265

existem, como por exemplo, uma ordem para não trabalhar na lua
nova, um texto que afirme que a lua nova é um tipo diferente de dia
que não entra na semana e etc. O fato, é que o calendário do Sábado
lunar jamais foi instituído por Deus, que foi quem instituiu o sábado
do Sétimo dia, todo sétimo dia é o sábado do Senhor desde a criação
do mundo. O calendário do sábado lunar foi pressuposto pela alta
crítica, que inseriu este calendário ao judaísmo por comparação com
povos pagãos, rejeitando a inspiração ou qualquer evidência bíblica.
Porém, como toda mentira, o calendário do sábado lunar
encontra um grande empecilho na propagação de sua teologia: a falta
de qualquer texto bíblico que aprove a mentira.

Joã 8:32 e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará


Apêndice 1: Todos os termos festivos na Tanach

nela os tirou da terra do Egito;


Êxo 5:1 E, depois, foram esta é a noite do SENHOR,
Moisés e Arão e disseram a que devem guardar todos os
Faraó: Assim diz o SENHOR, filhos de Israel nas suas
Deus de Israel: Deixa ir o meu gerações.
povo, para que me celebre
uma festa no deserto. Êxo 12:48 Porém, se
algum estrangeiro se hospedar
Êxo 12:14 E este dia vos contigo e quiser celebrar a
será por memória, e celebrá– Páscoa ao SENHOR, seja–lhe
lo–eis por festa ao SENHOR; circuncidado todo macho, e,
nas vossas gerações o então, chegará a celebrá–la, e
celebrareis por estatuto será como o natural da terra;
perpétuo. mas nenhum incircunciso
comerá dela.
Êxo 12:16 E, ao primeiro
dia, haverá santa convocação; Êxo 16:23 E ele disse–
também, ao sétimo dia, tereis lhes: Isto é o que o SENHOR
santa convocação; nenhuma tem dito: Amanhã é repouso, o
obra se fará neles, senão o que santo sábado do SENHOR; o
cada alma houver de comer; que quiserdes cozer no forno,
isso somente aprontareis para cozei–o; e o que quiserdes
vós. cozer em água, cozei–o em
água; e tudo o que sobejar
Êxo 12:42 Esta noite se ponde em guarda para vós até
guardará ao SENHOR, porque amanhã.
APÊNDICE 1 267

abibe; porque nele saíste do


Êxo 20:8 Lembra–te do Egito; ninguém apareça vazio
dia do sábado, para o perante mim;
santificar.
Êxo 31:13 Tu, pois, fala
Êxo 20:10 mas o sétimo aos filhos de Israel, dizendo:
dia é o sábado do SENHOR, Certamente guardareis meus
teu Deus; não farás nenhuma sábados, porquanto isso é um
obra, nem tu, nem o teu filho, sinal entre mim e vós nas
nem a tua filha, nem o teu vossas gerações; para que
servo, nem a tua serva, nem o saibais que eu sou o
teu animal, nem o teu SENHOR, que vos santifica.
estrangeiro que está dentro das
tuas portas. Êxo 31:14 Portanto,
guardareis o sábado, porque
Êxo 20:11 Porque em seis santo é para vós; aquele que o
dias fez o SENHOR os céus e profanar certamente morrerá;
a terra, o mar e tudo que neles porque qualquer que nele fizer
há e ao sétimo dia descansou; alguma obra, aquela alma será
portanto, abençoou o extirpada do meio do seu
SENHOR o dia do sábado e o povo.
santificou.
Êxo 31:15 Seis dias se
Êxo 23:12 Seis dias farás fará obra, porém o sétimo dia
os teus negócios; mas, ao é o sábado do descanso, santo
sétimo dia, descansarás; para ao SENHOR; qualquer que no
que descanse o teu boi e o teu dia do sábado fizer obra,
jumento; e para que tome certamente morrerá.
alento o filho da tua escrava e
o estrangeiro. Êxo 31:16 Guardarão,
pois, o sábado os filhos de
Êxo 23:14 Três vezes no Israel, celebrando o sábado
ano me celebrareis festa. nas suas gerações por concerto
perpétuo.
Êxo 23:15 A Festa dos
Pães Asmos guardarás; sete Êxo 34:18 A Festa dos
dias comerás pães asmos, Pães Asmos guardarás; sete
como te tenho ordenado, ao dias comerás pães asmos,
tempo apontado no mês de como te tenho ordenado, ao
268 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

tempo apontado do mês de guardará os meus sábados. Eu


abibe; porque no mês de abibe sou o SENHOR, vosso Deus.
saíste do Egito.
Lev 19:30 Guardareis os
Êxo 34:21 Seis dias meus sábados e o meu
trabalharás, mas, ao sétimo santuário reverenciareis. Eu
dia, descansarás; na aradura e sou o SENHOR.
na sega descansarás.
Lev 23:3 Seis dias obra se
Êxo 34:22 Também fará, mas o sétimo dia será o
guardarás a Festa das sábado do descanso, santa
Semanas, que é a Festa das convocação; nenhuma obra
Primícias da sega do trigo, e a fareis; sábado do SENHOR é
Festa da Colheita no fim do em todas as vossas habitações.
ano.
Lev 23:7 no primeiro dia,
Êxo 35:2 Seis dias se tereis santa convocação;
trabalhará, mas o sétimo dia nenhuma obra servil fareis;
vos será santo, o sábado do
repouso ao SENHOR; todo Lev 23:8 mas sete dias
aquele que fizer obra nele oferecereis oferta queimada ao
morrerá. SENHOR; ao sétimo dia
haverá santa convocação;
Lev 16:29 E isto vos será nenhuma obra servil fareis.
por estatuto perpétuo: no
sétimo mês, aos dez do mês, Lev 23:21 E, naquele
afligireis a vossa alma e mesmo dia, apregoareis que
nenhuma obra fareis, nem o tereis santa convocação;
natural nem o estrangeiro que nenhuma obra servil fareis;
peregrina entre vós. estatuto perpétuo é em todas
as vossas habitações pelas
Lev 16:31 É um sábado vossas gerações.
de descanso para vós, e
afligireis a vossa alma; isto é Lev 23:24 Fala aos filhos
estatuto perpétuo. de Israel, dizendo: No mês
sétimo, ao primeiro do mês,
Lev 19:3 Cada um temerá tereis descanso, memória de
a sua mãe e a seu pai e jubilação, santa convocação.
APÊNDICE 1 269

Lev 23:25 Nenhuma obra ao SENHOR; dia solene é, e


servil fareis, mas oferecereis nenhuma obra servil fareis.
oferta queimada ao SENHOR.
Lev 23:39 Porém, aos
Lev 23:27 Mas, aos dez quinze dias do mês sétimo,
deste mês sétimo, será o Dia quando tiverdes recolhido a
da Expiação; tereis santa novidade da terra, celebrareis
convocação, e afligireis a a festa do SENHOR, por sete
vossa alma, e oferecereis dias; ao dia primeiro, haverá
oferta queimada ao SENHOR. descanso, e, ao dia oitavo,
haverá descanso.
Lev 23:28 E, naquele
mesmo dia, nenhuma obra Lev 23:41 E celebrareis
fareis, porque é o Dia da esta festa ao SENHOR, por
Expiação, para fazer expiação sete dias cada ano; estatuto
por vós perante o SENHOR, perpétuo é pelas vossas
vosso Deus. gerações; no mês sétimo, a
celebrareis.
Lev 23:31 Nenhuma obra
fareis; estatuto perpétuo é Lev 26:2 Guardareis os
pelas vossas gerações, em meus sábados e reverenciareis
todas as vossas habitações. o meu santuário. Eu sou o
SENHOR.
Lev 23:32 Sábado de
descanso vos será; então, Num 9:2 Que os filhos de
afligireis a vossa alma; aos Israel celebrem a Páscoa a seu
nove do mês, à tarde, duma tempo determinado.
tarde a outra tarde, celebrareis
o vosso sábado. Num 9:3 No dia catorze
deste mês, pela tarde, a seu
Lev 23:35 Ao primeiro tempo determinado a
dia, haverá santa convocação; celebrareis; segundo todos os
nenhuma obra servil fareis. seus estatutos e segundo todos
os seus ritos, a celebrareis.
Lev 23:36 Sete dias
oferecereis ofertas queimadas Num 9:4 Disse, pois,
ao SENHOR; ao dia oitavo, Moisés aos filhos de Israel que
tereis santa convocação e celebrassem a Páscoa.
oferecereis ofertas queimadas
270 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

Num 9:5 Então, Num 9:13 Porém, quando


celebraram a Páscoa no dia um homem for limpo, e não
catorze do primeiro mês, pela estiver de caminho, e deixar
tarde, no deserto do Sinai; de celebrar a Páscoa, tal alma
conforme tudo o que o do seu povo será extirpada;
SENHOR ordenara a Moisés, porquanto não ofereceu a
assim fizeram os filhos de oferta do SENHOR a seu
Israel. tempo determinado; tal
homem levará o seu pecado.
Num 9:6 E houve alguns
que estavam imundos pelo Num 9:14 E, quando um
corpo de um homem morto; e estrangeiro peregrinar entre
no mesmo dia não podiam vós e também celebrar a
celebrar a Páscoa; pelo que se Páscoa ao SENHOR, segundo
chegaram perante Moisés e o estatuto da Páscoa e segundo
perante Arão aquele mesmo o seu rito, assim a celebrará;
dia. um mesmo estatuto haverá
para vós, assim para o
Num 9:10 Fala aos filhos estrangeiro como para o
de Israel, dizendo: Quando natural da terra.
alguém entre vós ou entre as
vossas gerações for imundo Num 28:18 No primeiro
por corpo morto ou se achar dia, haverá santa convocação;
em jornada longe de vós, nenhuma obra servil fareis;
contudo, ainda celebrará a
Páscoa ao SENHOR. Num 28:25 E, no sétimo
dia, tereis santa convocação;
Num 9:11 No segundo nenhuma obra servil fareis.
mês, no dia catorze, de tarde, a
celebrarão: Com pães asmos e Num 28:26
ervas amargas a comerão. Semelhantemente, tereis santa
convocação no dia das
Num 9:12 Dela nada primícias, quando oferecerdes
deixarão até à manhã e dela oferta nova de manjares ao
não quebrarão osso algum; SENHOR, segundo a vossa
segundo todo o estatuto da Festa das Semanas; nenhuma
Páscoa, a celebrarão. obra servil fareis.
APÊNDICE 1 271

Num 29:1 tuas portas; para que o teu


Semelhantemente, tereis santa servo e a tua serva descansem
convocação no sétimo mês, no como tu;
primeiro dia do mês; nenhuma
obra servil fareis; ser–vos–á Deu 5:15 porque te
um dia de jubilação. lembrarás que foste servo na
terra do Egito e que o
Num 29:7 E, no dia dez SENHOR, teu Deus, te tirou
deste sétimo mês, tereis santa dali com mão forte e braço
convocação e afligireis a estendido; pelo que o
vossa alma; nenhuma obra SENHOR, teu Deus, te
fareis. ordenou que guardasses o dia
de sábado.
Num 29:12
Semelhantemente, aos quinze Deu 16:1 Guarda o mês
dias deste sétimo mês, tereis de abibe e celebra a Páscoa ao
santa convocação; nenhuma SENHOR, teu Deus; porque,
obra servil fareis; mas sete no mês de abibe, o SENHOR,
dias celebrareis festa ao teu Deus, te tirou do Egito, de
SENHOR. noite.

Num 29:35 No oitavo dia, Deu 16:8 Seis dias


tereis dia de solenidade; comerás pães asmos, e no
nenhuma obra servil fareis; sétimo dia é solenidade ao
SENHOR, teu Deus; nenhuma
Deu 5:12 Guarda o dia de obra farás.
sábado, para o santificar,
como te ordenou o SENHOR, Deu 16:10 Depois,
teu Deus. celebrarás a Festa das
Semanas ao SENHOR, teu
Deu 5:14 Mas o sétimo Deus; o que deres será tributo
dia é o sábado do SENHOR, voluntário da tua mão,
teu Deus; não farás nenhuma segundo o SENHOR, teu
obra nele, nem tu, nem teu Deus, te tiver abençoado.
filho, nem tua filha, nem o teu
servo, nem a tua serva, nem o Deu 16:13 A Festa dos
teu boi, nem o teu jumento, Tabernáculos guardarás sete
nem animal algum teu, nem o dias, quando colheres da tua
estrangeiro que está dentro de eira e do teu lagar.
272 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

Israel, nem tampouco dos reis


Deu 16:15 Sete dias de Judá.
celebrarás a festa ao
SENHOR, teu Deus, no lugar 2Rs 23:23 Porém, no ano
que o SENHOR escolher, décimo–oitavo do rei Josias,
porque o SENHOR, teu Deus, esta Páscoa se celebrou ao
te há de abençoar em toda a SENHOR, em Jerusalém.
tua colheita e em toda obra
das tuas mãos; pelo que te 2Cr 30:1 Depois disso,
alegrarás certamente. Ezequias enviou mensageiros
por todo o Israel e Judá e
Jos 5:10 Estando, pois, os escreveu também cartas a
filhos de Israel alojados em Efraim e a Manassés que
Gilgal, celebraram a Páscoa viessem à Casa do SENHOR,
no dia catorze do mês, à tarde, a Jerusalém, para celebrarem a
nas campinas de Jericó. Páscoa ao SENHOR, Deus de
Israel.
Jzs 21:19 Então,
disseram: Eis que, de ano em 2Cr 30:2 Porque o rei
ano, há solenidade do tivera conselho com os seus
SENHOR, em Siló, que se maiorais e com toda a
celebra para o norte de Betel, congregação em Jerusalém
da banda do nascente do sol, para celebrarem a Páscoa no
pelo caminho alto que sobe de segundo mês.
Betel a Siquém, e para o sul
de Lebona. 2Cr 30:3 Porquanto, no
mesmo tempo, não a puderam
2Rs 23:21 E o rei deu celebrar, porque se não tinham
ordem a todo o povo, dizendo: santificado bastantes
Celebrai a Páscoa ao sacerdotes, e o povo se não
SENHOR, vosso Deus, como tinha ajuntado em Jerusalém.
está escrito no livro do
concerto. 2Cr 30:5 E ordenaram que
se fizesse passar pregão por
2Rs 23:22 Porque nunca todo o Israel, desde Berseba
se celebrou tal Páscoa como até Dã, para que viessem a
esta desde os dias dos juízes celebrar a Páscoa ao
que julgaram a Israel, nem em SENHOR, Deus de Israel, a
todos os dias dos reis de Jerusalém; porque muitos a
APÊNDICE 1 273

não tinham celebrado como holocaustos sobre o altar do


estava escrito. SENHOR, segundo o
mandado do rei Josias.
2Cr 30:13 E ajuntou–se
em Jerusalém muito povo para 2Cr 35:17 E os filhos de
celebrar a Festa dos Pães Israel que ali se acharam
Asmos, no segundo mês; uma celebraram a Páscoa naquele
mui grande congregação. tempo e a Festa dos Pães
Asmos, durante sete dias.
2Cr 30:21 E os filhos de
Israel que se acharam em 2Cr 35:18 Nunca, pois, se
Jerusalém celebraram a Festa celebrou tal Páscoa em Israel,
dos Pães Asmos sete dias, com desde os dias do profeta
grande alegria; e os levitas e Samuel, nem nenhuns reis de
os sacerdotes louvaram bem Israel celebraram tal Páscoa
alto ao SENHOR, dia após como a que celebrou Josias
dia. com os sacerdotes, e levitas, e
todo o Judá e Israel que ali se
2Cr 30:22 E Ezequias acharam, e os habitantes de
falou benignamente a todos os Jerusalém.
levitas que tinham
entendimento no bom 2Cr 35:19 No ano
conhecimento do SENHOR; e décimo–oitavo do reinado de
comeram as ofertas da Josias, se celebrou essa
solenidade por sete dias, Páscoa.
oferecendo ofertas pacíficas e
louvando ao SENHOR, Deus Esd 3:4 E celebraram a
de seus pais. Festa dos Tabernáculos, como
está escrito, e ofereceram
2Cr 30:23 E, tendo toda a holocaustos de dia em dia, por
congregação conselho para ordem, conforme o rito, cada
celebrarem outros sete dias, coisa no seu dia;
celebraram ainda sete dias
com alegria. Esd 3:11 E cantavam a
revezes, louvando e
2Cr 35:16 Assim se celebrando ao SENHOR,
estabeleceu todo o serviço do porque é bom; porque a sua
SENHOR naquele dia, para benignidade dura para sempre
celebrar a Páscoa e sacrificar sobre Israel. E todo o povo
274 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

jubilou com grande júbilo, fazendas e qualquer grão para


quando louvou o SENHOR, venderem, nada tomaríamos
pela fundação da Casa do deles no sábado, nem no dia
SENHOR. santificado; e livre
deixaríamos o ano sétimo e
Esd 6:19 E os que vieram toda e qualquer cobrança.
do cativeiro celebraram a
Páscoa no dia catorze do Nee 13:22 Também disse
primeiro mês; aos levitas que se purificassem
e viessem guardar as portas,
Esd 6:22 E celebraram a para santificar o sábado.
Festa dos Pães Asmos os sete (Nisso também, Deus meu,
dias com alegria, porque o lembra–te de mim; e perdoa–
SENHOR os tinha alegrado e me segundo a abundância da
tinha mudado o coração do rei tua benignidade.)
da Assíria a favor deles, para
lhes fortalecer as mãos na obra Est 9:28 e que estes dias
da Casa de Deus, o Deus de seriam lembrados e guardados
Israel. geração após geração, família,
província e cidade, e que estes
Nee 8:14 E acharam dias de Purim se celebrariam
escrito na Lei que o SENHOR entre os judeus, e que a
ordenara pelo ministério de memória deles nunca teria fim
Moisés que os filhos de Israel entre os de sua semente.
habitassem em cabanas, na
solenidade da festa, no sétimo Slm 81:3 Tocai a trombeta
mês. na Festa da Lua Nova, no
tempo marcado para a nossa
Nee 8:18 E, de dia em dia, solenidade.
ele lia o livro da Lei de Deus,
desde o primeiro dia até ao Lam 2:6 E arrancou a sua
derradeiro; e celebraram a cabana com violência, como
solenidade da festa sete dias e, se fosse a de uma horta;
no oitavo dia, a festa do destruiu a sua congregação; o
encerramento, segundo o rito. SENHOR, em Sião, pôs em
esquecimento a solenidade e o
Nee 10:31 e de que, sábado e, na indignação da sua
trazendo os povos da terra no ira, rejeitou com desprezo o
dia de sábado algumas rei e o sacerdote.
APÊNDICE 1 275

SENHOR, sendo deste modo


Lam 2:22 Convocaste de servos seus, todos os que
toda parte os meus receios, guardarem o sábado, não o
como em um dia de profanando, e os que
solenidade; não houve no dia abraçarem o meu concerto,
da ira do SENHOR quem
escapasse ou ficasse; aqueles Jer 17:21 Assim diz o
que trouxe nas mãos e SENHOR: Guardai a vossa
sustentei, o meu inimigo os alma e não tragais cargas no
consumiu. dia de sábado, nem as
introduzais pelas portas de
Isa 30:29 Um cântico Jerusalém;
haverá entre vós, como na
noite em que se celebra uma Jer 17:22 nem tireis
festa santa; e alegria de cargas de vossas casas no dia
coração, como a daquela que de sábado, nem façais obra
sai tocando pífano, para vir ao alguma; antes, santificai o dia
monte do SENHOR, à Rocha de sábado, como eu ordenei a
de Israel. vossos pais.

Isa 56:2 Bem–aventurado Jer 17:24 Será, pois, que,


o homem que fizer isso, e o se diligentemente me
filho do homem que lançar ouvirdes, diz o SENHOR, não
mão disso, que se guarda de introduzindo cargas pelas
profanar o sábado e guarda a portas desta cidade no dia de
sua mão de perpetrar algum sábado, e santificardes o dia
mal. de sábado, não fazendo nele
obra alguma;
Isa 56:4 Porque assim diz
o SENHOR a respeito dos Jer 17:27 Mas, se não me
eunucos que guardam os meus derdes ouvidos, para
sábados, e escolhem aquilo santificardes o dia de sábado e
que me agrada, e abraçam o para não trazerdes carga
meu concerto: alguma, quando entrardes
pelas portas de Jerusalém no
Isa 56:6 E aos filhos dos dia de sábado, então,
estrangeiros que se chegarem acenderei fogo nas suas
ao SENHOR, para o servirem portas, o qual consumirá os
e para amarem o nome do
276 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

palácios de Jerusalém e não se Osé 9:5 Que fareis vós no


apagará. dia da solenidade e no dia da
festa do SENHOR?
Eze 20:12 E também lhes
dei os meus sábados, para que Nau 1:15 Eis sobre os
servissem de sinal entre mim e montes os pés do que traz
eles, para que soubessem que boas–novas, do que anuncia a
eu sou o SENHOR que os paz! Celebra as tuas festas, ó
santifica. Judá, cumpre os teus votos,
porque o ímpio não tornará
Eze 20:20 E santificai os mais a passar por ti; ele é
meus sábados, e servirão de inteiramente exterminado.
sinal entre mim e vós, para
que saibais que eu sou o Zac 14:16 E acontecerá
SENHOR, vosso Deus. que todos os que restarem de
todas as nações que vieram
Eze 20:21 Mas também os contra Jerusalém subirão de
filhos se rebelaram contra ano em ano para adorarem o
mim e não andaram nos meus Rei, o SENHOR dos
estatutos, nem guardaram os Exércitos, e para celebrarem a
meus juízos, os quais, Festa das Cabanas.
cumprindo–os o homem,
viverá por eles; eles Zac 14:18 E, se a família
profanaram os meus sábados; dos egípcios não subir, nem
por isso, eu disse que vier, virá sobre eles a praga
derramaria sobre eles o meu com que o SENHOR ferirá as
furor, para cumprir contra eles nações que não subirem a
a minha ira no deserto. celebrar a Festa das Cabanas.

Eze 44:24 E, quando Zac 14:19 Este será o


houver pleito, eles assistirão a castigo dos egípcios e o
ele para o julgarem; pelos castigo de todas as nações que
meus juízos o julgarão; e as não subirem a celebrar a Festa
minhas leis e os meus das Cabanas.
estatutos em todas as minhas
solenidades guardarão e os
meus sábados santificarão.
Apêndice 2: Todos os usos de ἦζγ θ ἰμ no Novo
Testamento

A seguir estarão, para consulta, todos os 19 casos de ἦζγ θ ἰμ


no Novo Testamento, para o caso de alguém se apegar à uma ou
outra tradução, estará sendo comparada 2 traduções americanas, e 3
brasileiras. Essa análise não é necessária, pois as traduções que usam
linguagem conceitual não podem ser usadas para discutir a gramática
grega, o fato de erchomai significar “ir ou vir” não muda pela
tradução, porém, alguns teimam que somente tradução A ou B estão
corretas, por isso, segue uma análise comparativa das versões:

LITV – Literal Translation of the Holy Bible


KJV – King James Version
JFAA – João Ferreira de Almeida Atualizada
JFAC – João Ferreira de Almeida Corrigida
KJA – King James Atualizada e traduzida para Português

Vale lembrar que em português, costumamos dizer “ir / foi” para


quando o sujeito da ação vai a qualquer outro lugar que não seja o
lugar presente pelo narrador, e “vir / veio” com o mesmo sentido,
porém quando o sujeito da ação vai ao local em que se encontra o
narrador. Em inglês, porém, é comum usar “to come / came” (vir /
veio) mesmo que não seja para o mesmo lugar que o narrador, mas
simplesmente por questão de proximidade, porém, aponta para o
verbo grego λχκηαδ, ir ou vir, onde o sentido é o deslocamento de
um ponto A para um ponto B. No caso de uma tradução do grego, o
278 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

uso de come (came) e go (went) são intercambiáveis e ficam a


critério do tradutor, não do verbete grego, e “chegar / chegou /
chegada” seria descrita como “arrive / arrived / arrival” ou mesmo
“reach / reached”. Tendo isso em mente, segue todos os usos da
expressão ἦζγ θ μ no Novo Testamento e as referidas traduções.

Mat 2:21 ὁ ἐΰ λγ ὶμ παλέζαί ὸ παδ ίκθ εαὶ θ ηβ έλα


α κῦ εαὶ ἦζγ θ ἰμ ΰῆθ ᾿Ι λαήζ.
(LITV) And rising up, he took along the child and His mother
and came into the land of Israel.
(KJV) And he arose, and took the young child and his mother,
and came into the land of Israel.
(JFAA) Dispôs-se ele, tomou o menino e sua mãe e regressou
para a terra de Israel.
(JFAC) Então, ele se levantou, e tomou o menino e sua mãe, e
foi para a terra de Israel.
(KJA) Então, José se levantou, tomou o menino e sua mãe, e foi
para a terra de Israel.

José tomou Maria e Jesus e foi para a terra de Israel. Foi quando?
Assim que tomou o menino e sua mãe, e partiu, não quando chegou.
Relação Foi / Chegou:
LITV 1 / 0
KJV: 1 / 0
JFAA: 1 / 0
JFAC: 1 / 0
KJA: 1 / 0

Mat 9:1 Καὶ ἐηίὰμ μ πζκῖκθ δ πέλα εαὶ ἦζγ θ ἰμ θ ίαθ
πόζδθ.
(LITV) And entering into the boat, He passed over and came to
His own city.
(KJV) And he entered into a ship, and passed over, and came
into his own city.
(JFAA) Entrando Jesus num barco, passou para o outro lado e
foi para a sua própria cidade.
(JFAC) E, entrando no barco, passou para a outra margem, e
chegou à sua cidade. E eis que lhe trouxeram um paralítico deitado
numa cama.
APÊNDICE 2 279

(KJA) E, entrando Jesus num barco, atravessou o mar e foi para


a sua cidade.

Aqui unicamente a JFAC diz que chegou, enfocando sua chegada


à cidade, todas as outras utilizam o verbo normalmente, dizendo que
Jesus foi. Foi quando? Logo que entrou no barco, não quando
chegou em sua cidade.
Relação Foi / Chegou:
LITV 2 / 0
KJV: 2 / 0
JFAA: 2 / 0
JFAC: 1 / 1
KJA: 2 / 0

Mat 12:9 Καὶ η αίὰμ ἐε ῖγ θ ἦζγ θ ἰμ θ υθαΰωΰ θ α ῶθ.


(LITV) And moving from there, He came into their synagogue.
(KJV) And when he was departed thence, he went into their
synagogue:
(JFAA) Tendo Jesus partido dali, entrou na sinagoga deles.
(JFAC) E, partindo dali, chegou à sinagoga deles.
(KJA) Tendo Jesus saído daquele lugar, foi para a sinagoga
deles.

Aqui tanto a JFAA e a JFAC focam a chegada, com o verbo


entrar e chegar. Porém até no português isso fica sem nexo, pois a
frase “tendo partido entrou” ou “partindo chegou” indica que ambas
as ações acontecem simultaneamente, ou no máximo, em sequência
instantânea, como “tendo saído da cozinha cheguei na sala,” a última
acontece enquanto primeira está em execução, ou imediatamente
seguida da primeira, o que não faz sentido. Jesus foi quando? Assim
que partiu, independente de quando chegou na sinagoga.
Relação Foi / Chegou:
LITV 3 / 0
KJV: 3 / 0
JFAA: 2 / 1
JFAC: 1 / 2
KJA: 3 / 0
280 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

Mat 13:36 Σό ἀφ ὶμ κὺμ χζκυμ ἦζγ θ ἰμ θ κ είαθ. Καὶ


πλκ ῆζγκθ α ῷ κ ηαγβ αὶ α κῦ ζέΰκθ μ· φλά κθ ἡηῖθ θ
παλαίκζ θ ῶθ αδααθίωθ κῦ ἀΰλκῦ.
(LITV) Then sending away the crowds, Jesus came into the
house. And His disciples came to Him, saying, Explain to us the
parable of the darnel of the field.
(KJV) Then Jesus sent the multitude away, and went into the
house: and his disciples came unto him, saying, Declare unto us the
parable of the tares of the field.
(JFAA) Então, despedindo as multidões, foi Jesus para casa. E,
chegando-se a ele os seus discípulos, disseram: Explica-nos a
parábola do joio do campo.
(JFAC) Então, tendo despedido a multidão, foi Jesus para casa.
E chegaram ao pé dele os seus discípulos, dizendo: Explica-nos a
parábola do joio do campo.
(KJA) Então, Jesus se despediu da multidão e foi para casa.
Seus discípulos aproximaram-se dele e pediram: “Explica-nos a
parábola do joio na plantação”.

Aqui unanimemente, todas as versões enfocam a saída. Foi


quando? Assim que despediu as multidões, não quando chegou em
casa.
Relação Foi / Chegou:
LITV 4 / 0
KJV: 4 / 0
JFAA: 3 / 1
JFAC: 2 / 2
KJA: 4 / 0

Mat 15:39 Καὶ ἀπκζύ αμ κὺμ χζκυμ ἐθέίβ μ ὸ πζκῖκθ εαὶ


ἦζγ θ ἰμ ὰ λδα Μαΰ αζά.
(LITV) And sending away the crowds He went into the boat
and came to the borders of Magdala.
(KJV) And he sent away the multitude, and took ship, and came
into the coasts of Magdala.
(JFAA) E, tendo despedido as multidões, entrou Jesus no barco
e foi para o território de Magadã.
(JFAC) E, tendo despedido a multidão, entrou no barco e
dirigiu-se ao território de Magdala.
APÊNDICE 2 281

(KJA) A seguir, Jesus se despediu da multidão, entrou no barco


e foi para a região de Magadã.

Mais uma vez, todas as versões concordam com o foi para. A


JFCA que é a mais conceitual, ainda aplica “dirigiu-se à”. Quando
que Jesus foi? Após entrar no barco, não quando chegou em
Magadã.
Relação Foi / Chegou:
LITV 5 / 0
KJV: 5 / 0
JFAA: 4 / 1
JFAC: 3 / 2
KJA: 5 / 0

Mat 19:1 Καὶ ἐΰέθ κ ἐ έζ θ ὁ ᾿Ιβ κῦμ κὺμ ζόΰκυμ


κύ κυμ η ῆλ θ ἀπὸ ῆμ Γαζδζαίαμ εαὶ ἦζγ θ ἰμ ὰ λδα ῆμ
᾿Ικυ αίαμ πέλαθ κῦ ᾿Ικλ άθκυ.
(LITV) And it happened when Jesus had finished these words,
He moved from Galilee and came into the borders of Judea beyond
the Jordan.
(KJV) And it came to pass, that when Jesus had finished these
sayings, he departed from Galilee, and came into the coasts of
Judaea beyond Jordan;
(JFAA) E aconteceu que, concluindo Jesus estas palavras,
deixou a Galiléia e foi para o território da Judéia, além do Jordão.
(JFAC) E aconteceu que, concluindo Jesus esses discursos, saiu
da Galiléia e dirigiu-se aos confins da Judéia, além do Jordão.
(KJA) E aconteceu que, concluindo Jesus essas palavras, partiu
da Galiléia e dirigiu-se para a região da Judéia, no outro lado do
Jordão.

Mais uma vez, unanimemente todas utilizam o sentido natural da


expressão. Quando Jesus foi? Assim que deixou a Galiléia, não
quando chegou na Judéia.
Relação Foi / Chegou:
LITV 6 / 0
KJV: 6 / 0
JFAA: 5 / 1
JFAC: 4 / 2
282 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

KJA: 6 / 0

Mar 6:1 Καὶ ἐιῆζγ θ ἐε ῖγ θ εαὶ ἦζγ θ ἰμ θ πα λί α α κῦ·
εαὶ ἀεκζκυγκῦ δθ α ῷ κ ηαγβ αὶ α κῦ.
(LITV) And He went out from there and came to His
fatherland. And His disciples followed Him.
(KJV) And he went out from thence, and came into his own
country; and his disciples follow him.
(JFAA) Tendo Jesus partido dali, foi para a sua terra, e os seus
discípulos o acompanharam.
(JFAC) E, partindo dali, chegou à sua terra, e os seus discípulos
o seguiram.
(KJA) Então, partiu Jesus dali e foi para sua terra natal, na
companhia dos seus discípulos.

Mais uma vez, apenas a JFAC discorda de todas as outras e foca


somente na chegada de Cristo, mais uma vez usando o “saindo da
cozinha, cheguei na sala,” como se fossem um ao lado do outro. Foi
quando? Assim que partiu, não quando chegou.
Relação Foi / Chegou:
LITV 7 / 0
KJV: 7 / 0
JFAA: 6 / 1
JFAC: 4 / 3
KJA: 7 / 0

Mar 8:10 Καὶ γέωμ ἐηίὰμ μ ὸ πζκῖκθ η ὰ ῶθ ηαγβ ῶθ


α κῦ ἦζγ θ ἰμ ὰ ηέλβ αζηαθκυγά.
(LITV) And at once entering into the boat with His disciples,
He came into the region of Dalmanutha.
(KJV) And straightway he entered into a ship with his disciples,
and came into the parts of Dalmanutha.
(JFAA) Logo a seguir, tendo embarcado juntamente com seus
discípulos, partiu para as regiões de Dalmanuta.
(JFAC) E, entrando logo no barco com os seus discípulos, foi
para as regiões de Dalmanuta.
(KJA) Logo depois, entrou no barco com seus discípulos e
dirigiu-se para a região de Dalmanuta. Os fariseus querem um sinal
APÊNDICE 2 283

Unânime, novamente todas dizem que Jesus foi assim que


embarcou, não quando chegou em Dalmanuta.
Relação Foi / Chegou:
LITV 8 / 0
KJV: 8 / 0
JFAA: 7 / 1
JFAC: 5 / 3
KJA: 8 / 0

Mar 9:33 Καὶ ἦζγ θ ἰμ Καπ λθακύη· εαὶ ἐθ ῇ κ είᾳ
ΰ θόη θκμ ἐπβλώ α α κύμ· ί ἐθ ῇ ὁ ῷ πλὸμ ἑαυ κὺμ δαζκΰία γ ;
(LITV) And they came to Capernaum. And having come into
the house, He questioned them, What were you disputing to
yourselves in the way?
(KJV) And he came to Capernaum: and being in the house he
asked them, What was it that ye disputed among yourselves by the
way?
(JFAA) Tendo eles partido para Cafarnaum, estando ele em
casa, interrogou os discípulos: De que é que discorríeis pelo
caminho?
(JFAC) E chegou a Cafarnaum e, entrando em casa, perguntou-
lhes: Que estáveis vós discutindo pelo caminho?
(KJA) Então chegaram a Cafarnaum. Quando já estavam em
casa, indagou-lhes: “Sobre o que discorríeis pelo caminho?”

Aqui a JFAC é seguida pela KJA brasileira, porém a própria KJV


original não diz isso, enfocando a ida à Cafarnaum, e não a chegada
como a sua tradução. Quando eles foram? Depois de Jesus contar a
parábola, não quando chegaram e Cafarnaum.
Relação Foi / Chegou:
LITV 9 / 0
KJV: 9 / 0
JFAA: 8 / 1
JFAC: 5 / 4
KJA: 8 / 1

Luc 2:51 εαὶ εα έίβ η ᾿ α ῶθ εαὶ ἦζγ θ ἰμ Ναααλέ , εαὶ ἦθ


πκ α όη θκμ α κῖμ. εαὶ ἡ ηή βλ α κῦ δ ήλ δ πάθ α ὰ ῥήηα α
ἐθ ῇ εαλ ίᾳ α ῆμ.
284 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

(LITV) And He went with them and came to Nazareth and was
being subject to them. And His mother carefully kept all these words
in her heart.
(KJV) And he went down with them, and came to Nazareth,
and was subject unto them: but his mother kept all these sayings in
her heart.
(JFAA) E desceu com eles para Nazaré; e era-lhes submisso.
Sua mãe, porém, guardava todas estas coisas no coração.
(JFAC) E desceu com eles, e foi para Nazaré, e era-lhes
sujeito. E sua mãe guardava no coração todas essas coisas.
(KJA) Contudo, Ele seguiu com eles para Nazaré, pois lhes era
obediente. Sua mãe, entretanto, meditava silenciosamente em seu
coração sobre todos estes acontecimentos.

Unânimes novamente, todas afirmam que Jesus fui pra Nazaré a


partir do momento em que deixou Jerusalém, não apenas quando
chegou em Nazaré.
Relação Foi / Chegou:
LITV 10 / 0
KJV: 10 / 0
JFAA: 9 / 1
JFAC: 6 / 4
KJA: 9 / 1

Luc 3:3 εαὶ ἦζγ θ ἰμ πᾶ αθ θ π λίχωλκθ κῦ ᾿Ικλ άθκυ


εβλύ ωθ ίάπ δ ηα η αθκίαμ μ ἄφ δθ ἁηαλ δῶθ,
(LITV) And he came into the neighborhood of the Jordan
proclaiming a baptism of repentance for remission of sins,
(KJV) And he came into all the country about Jordan,
preaching the baptism of repentance for the remission of sins;
(JFAA) Ele percorreu toda a circunvizinhança do Jordão,
pregando batismo de arrependimento para remissão de pecados,
(JFAC) E percorreu toda a terra ao redor do Jordão, pregando
o batismo de arrependimento, para o perdão dos pecados,
(KJA) Então ele percorreu toda a região próxima ao Jordão,
proclamando um batismo de arrependimento para perdão dos
pecados.
APÊNDICE 2 285

Apesar de todas as versões portuguesas parafrasearem esse


verso, o sentido não difere das versões inglesas que traduziram o
verso mais literalmente, dizendo que Jesus foi à toda a vizinhança o
Jordão, não só quando terminou de percorrer todas elas, mas desde o
momento que saiu nessa empreitada.
Relação Foi / Chegou:
LITV 11 / 0
KJV: 11 / 0
JFAA: 10 / 1
JFAC: 7 / 4
KJA: 10 / 1

Luc 4:16 Καὶ ἦζγ θ ἰμ θ Ναααλέ , κ ἦθ γλαηηέθκμ, εαὶ


ῆζγ εα ὰ ὸ ωγὸμ α ῷ ἐθ ῇ ἡηέλᾳ ῶθ αίίά ωθ μ θ
υθαΰωΰήθ, εαὶ ἀθέ β ἀθαΰθῶθαδ.
(LITV) And He came to Nazareth where He was brought up.
And as was His custom, He went in on the day of the sabbaths, into
the synagogue, and He stood up to read.
(KJV) And he came to Nazareth, where he had been brought
up: and, as his custom was, he went into the synagogue on the
sabbath day, and stood up for to read.
(JFAA) Indo para Nazaré, onde fora criado, entrou, num
sábado, na sinagoga, segundo o seu costume, e levantou-se para ler.
(JFAC) E, chegando a Nazaré, onde fora criado, entrou num
dia de sábado, segundo o seu costume, na sinagoga e levantou-se
para ler.
(KJA) Jesus viajou para Nazaré, onde havia sido criado e
conforme seu costume, num dia de sábado, entrou na sinagoga. E
posicionou-se em pé para fazer a leitura.

A paráfrase agora ficou por conta da KJA brasileira, porém o


sentido foi mantido ao original mesmo que parafraseando “ir” com
“viajar”, porém, como de costume, a JFAC substituiu o verbo ir pelo
verbo chegar, contrariando de todas as outras versões que insistem
que Jesus foi para Nazaré depois de haver voltado para a Galiléia, e
não apenas quando chegou em Nazaré.
Relação Foi / Chegou:
LITV 12 / 0
KJV: 12 / 0
286 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

JFAA: 11 / 1
JFAC: 7 / 5
KJA: 11 / 1

Joã 1:7 κ κμ ἦζγ θ ἰμ ηαλ υλίαθ, ἵθα ηαλ υλή ῃ π λὶ κῦ
φω όμ, ἵθα πάθ μ πδ ύ ω δ δ᾿ α κῦ.
(LITV) He came for a witness, that he might witness
concerning the Light, that all might believe through Him.
(KJV) The same came for a witness, to bear witness of the
Light, that all men through him might believe.
(JFAA) Este veio como testemunha para que testificasse a
respeito da luz, a fim de todos virem a crer por intermédio dele.
(JFAC) Este veio para testemunho para que testificasse da luz,
para que todos cressem por ele.
(KJA) Ele veio como testemunha para que testificasse a respeito
da luz, a fim de todos virem a crer por intermédio dele.

Esse é o único texto que não fala de um lugar, João batista foi /
veio para testemunhar.

Joã 4:45 κ θ ἦζγ θ ἰμ θ Γαζδζαίαθ, ἐ έιαθ κ α ὸθ κ


Γαζδζαῖκδ, πάθ α ἑωλαεό μ ἃ ἐπκίβ θ ἐθ ῾Ι λκ κζύηκδμ ἐθ ῇ
ἑκλ ῇ· εαὶ α κὶ ΰὰλ ἦζγκθ ἰμ θ ἑκλ ήθ.
(LITV) Therefore, when He came into Galilee, the Galileans
received Him, seeing all things which He did in Jerusalem at the
Feast. For they also went to the Feast.
(KJV) Then when he was come into Galilee, the Galilaeans
received him, having seen all the things that he did at Jerusalem at
the feast: for they also went unto the feast.
(JFAA) Assim, quando chegou à Galiléia, os galileus o
receberam, porque viram todas as coisas que ele fizera em
Jerusalém, por ocasião da festa, à qual eles também tinham
comparecido.
(JFAC) Chegando, pois, à Galiléia, os galileus o receberam,
porque viram todas as coisas que fizera em Jerusalém no dia da
festa; porque também eles tinham ido à festa.
(KJA) Assim, quando chegou à Galileia, os galileus o
receberam bem, porque viram todas as coisas que Ele fizera em
APÊNDICE 2 287

Jerusalém, por ocasião da festa à qual eles também tinham


comparecido.

Esse é o único textos que as versões brasileiras usam


unanimemente o verbo “chegar”, porém isso ainda não acontece em
nenhuma das versões inglesas, que usam, “ir / vir”, no grego ainda é
empregado um advérbio de tempo no início do verso: quando ele foi
à Galiléia, conceitualmente, o português omitiu o quando na JFAC e
trocou o verbo “ir / vir” para “chegar”… Porém o texto diz que ele
foi para Galiléia, e quando estava lá, os galileus o receberam. Por
coincidência, o texto usa somente essa construção, mas ao invés de
ser na terceira pessoa do singular, no final do verso é usado na
terceira pessoa do plural, as versões inglesas se mantêm constantes
na tradução de “ir / vir”, porém as versões portuguesas já mudam o
significado do mesmo verbo, no mesmo tempo, no mesmo modo, na
mesma pessoa, porém apenas em número diferente, usando “chegar
e ir” para o mesmo verbo na mesma frase.
Relação Foi / Chegou:
LITV 13 / 0
KJV: 13 / 0
JFAA: 11 / 2
JFAC: 7 / 6
KJA: 11 / 2

Joã 12:1 ῾Ο κ θ ᾿Ιβ κῦμ πλὸ ι ἡη λῶθ κῦ πά χα ἦζγ θ ἰμ
βγαθίαθ, πκυ ἦθ Λάααλκμ ὁ γθβεώμ, θ ἤΰ δλ θ ἐε θ ελῶθ.
(LITV) Then six days before the Passover, Jesus came to
Bethany, where Lazarus was, who had died, whom He raised from
the dead.
(KJV) Then Jesus six days before the passover came to
Bethany, where Lazarus was which had been dead, whom he raised
from the dead.
(JFAA) Seis dias antes da Páscoa, foi Jesus para Betânia, onde
estava Lázaro, a quem ele ressuscitara dentre os mortos.
(JFAC) Foi, pois, Jesus seis dias antes da Páscoa a Betânia,
onde estava Lázaro, o que falecera e a quem ressuscitara dos mortos.
(KJA) Seis dias antes da Páscoa, Jesus foi para Betânia, onde
estava Lázaro, que havia morrido e fora ressuscitado dentre os
mortos.
288 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

Mais uma paráfrase da JFAC, porém, manteve a fidedignidade


do texto, sendo esse o texto em debate. Quando Jesus foi para
Betânia? Por mais que os DSL chorem, o texto não deixa dúvida que
foi seis dias antes da páscoa que ele foi, isso é, iniciou sua viagem, e
não sete conforma eles gostam de inferir. Nesse mesmo texto, todas
as versões são unânimes sobre o ponto de saída, e não o de chegada.
Relação Foi / Chegou:
LITV 14 / 0
KJV: 14 / 0
JFAA: 12 / 2
JFAC: 8 / 6
KJA: 12 / 2

Ats 18:1 Μ ὰ αῦ α χωλδ γ ὶμ ὁ Παῦζκμ ἐε ῶθ ᾿ γβθῶθ


ἦζγ θ ἰμ Κόλδθγκθ·
(LITV) And after these things, departing from Athens, Paul
came to Corinth.
(KJV) After these things Paul departed from Athens, and came
to Corinth;
(JFAA) Depois disto, deixando Paulo Atenas, partiu para
Corinto.
(JFAC) Depois disto, partiu Paulo de Atenas e chegou a
Corinto.
(KJA) Logo depois desses acontecimentos, Paulo deixou Atenas
e rumou para Corinto.

Essa era uma viagem que não se realizava no mesmo dia, porém
Lucas é enfático em afirmar que Paulo foi para Corinto no momento
que deixou Atenas, e não apenas quando chegou lá, e isso é
unanimemente visível a todas as versões.
Relação Foi / Chegou:
LITV 15 / 0
KJV: 15 / 0
JFAA: 13 / 2
JFAC: 9 / 6
KJA: 13 / 2
APÊNDICE 2 289

Ats 18:7 εαὶ η αίὰμ ἐε ῖγ θ ἦζγ θ μ κ είαθ δθὸμ ὀθόηα δ


᾿Ικύ κυ, ίκηέθκυ ὸθ Θ όθ, κ ἡ κ εία ἦθ υθκηκλκῦ α ῇ
υθαΰωΰῇ.
(LITV) And moving from there, he went into the house of one,
Justus by name, one worshiping God, whose house was next door to
the synagogue.
(KJV) And he departed thence, and entered into a certain man's
house, named Justus, one that worshipped God, whose house joined
hard to the synagogue.
(JFAA) Saindo dali, entrou na casa de um homem chamado
Tício Justo, que era temente a Deus; a casa era contígua à sinagoga.
(JFAC) E, saindo dali, entrou em casa de um homem chamado
Tito Justo, que servia a Deus e cuja casa estava junto da sinagoga.
(KJA) Então, saindo da sinagoga, Paulo dirigiu-se à casa de
Tício Justo, homem que obedecia a Deus e que morava ao lado da
sinagoga.

Esse é o único verso em que a KJV define a tradução como o


ponto de chegada, e não o ponto de partida, dizendo que Jesus entrou
na casa, e isso só pode ser a chegada. porém a LITV, que é a mais
literal, discorda dessa tradução, bem como a KJA brasileira,
mostrando que não há necessidade de distorcer o verso para encaixar
na compreensão. A frase mais uma vez está na construção “saindo da
cozinha, entrou na sala”. Porém, há um motivo para a King James ter
optado pela tradução “entrar” ao invés do “ir”, pois no o verbo ἦζγ θ
nesse texto é uma variante textual minoritária, não aparecendo nem
nos principais, nem na maioria dos manuscritos. No , ou codex
sinaiticus, por exemplo, ἦζγ θ μ não aparece, dando lugar a
ἠζγ θ μ, do verbo έλχκηαδ no mesmo tempo e modo de
ἦζγ θ (2AAI-3S), que significa, entrar.
290 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

Por isso, certamente as traduções que apresentam “entrar”


basearam a tradução desse verso no textus críticus, enquanto as que
apresentam “foi à” basearam a tradução desse verso no textus
receptus. Sendo assim, evidência neutra para ambos os lados, pois
diferentes manuscritos assumiriam diferentes sentidos.

Ats 20:2 δ ζγὼθ ὰ ηέλβ ἐε ῖθα εαὶ παλαεαζέ αμ α κὺμ


ζόΰῳ πκζζῷ ἦζγ θ ἰμ θ ῾ ζζά α·
(LITV) And passing through those parts, and exhorting them
with much speech, he came into Greece.
(KJV) And when he had gone over those parts, and had given
them much exhortation, he came into Greece,
(JFAA) Havendo atravessado aquelas terras, fortalecendo os
discípulos com muitas exortações, dirigiu-se para a Grécia,
(JFAC) E, havendo andado por aquelas terras e exortando-os
com muitas palavras, veio à Grécia.
(KJA) Viajou por toda a região, animando os irmãos com muitas
exortações e, finalmente, chegou à Grécia,

Somente a KJA brasileira contraria as demais nesse verso, todas


confirmam que Paulo foi para a Grécia assim que terminou de adar e
exortar pela Macedônia, e não só quando colocou os pés na Grécia,
afinal de contas, é outro país.
Relação Foi / Chegou:
LITV 16 / 0
KJV: 16 / 0
JFAA: 14 / 2
JFAC: 10 / 6
APÊNDICE 2 291

KJA: 13 / 3

Há mais um último verso bônus, que não faz parte de nenhuma


narrativa, mas de um discurso teológico:
1Tm 1:15 Πδ ὸμ ὁ ζόΰκμ εαὶ πά βμ ἀπκ κχῆμ ἄιδκμ, δ
Χλδ ὸμ ᾿Ιβ κῦμ ἦζγ θ ἰμ ὸθ εό ηκθ ἁηαλ ωζκὺμ ῶ αδ, ὧθ
πλῶ όμ ηδ ἐΰώ.
(LITV) Faithful is the Word and worthy of all acceptance, that
Christ Jesus came into the world to save sinners, of whom I am
chief.
(KJV) This is a faithful saying, and worthy of all acceptation,
that Christ Jesus came into the world to save sinners; of whom I am
chief.
(JFAA) Fiel é a palavra e digna de toda aceitação: que Cristo
Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o
principal.
(JFAC) Esta é uma palavra fiel e digna de toda aceitação: que
Cristo Jesus veio ao mundo, para salvar os pecadores, dos quais eu
sou o principal.
(KJA) Esta declaração é fiel e digna de plena aceitação: Cristo
Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o
pior.

A tradução “veio ao mundo” é unânime aqui, e pelo fato de todos


nós estarmos no mundo, a impressão é que o texto fale da chegada
de Cristo à terra. Porém o texto nem sequer fala de uma viagem, não
há um percurso, não é possível dizer a distância “do céu de onde
Cristo veio à terra” ou mesmo o tempo que levou, é apenas um
argumento abstrato à mente humana, em que tentamos racionalizar e
visualizar, mas é impossível dizer como aconteceu, logo, a partícula
temporal do verso é inexistente, não sendo possível definir uma
direção.

Sendo assim, pode–se perecer que as versões inglesas jamais


trocam o significado de “ir / vir” para “chegar,” o mesmo acontece
na tradução alemã de Lutero e na Vulgata Latina, e mesmo nas
versões portuguesas, dificilmente acontece esses erros, sendo
facilmente contornáveis.
Relação final Foi / Chegou:
292 SÁBADO LUNAR OU SÁBADO DO 7º DIA?

LITV 16 / 0
KJV: 16 / 0
JFAA: 14 / 2
JFAC: 10 / 6
KJA: 13 / 3
Ainda podemos perceber que a versão mais parafraseada foi a
que apresentou maior ocorrência de trocas verbais, por apresentar
uma tradução mais conceitual e interpretaria do que literal. Tendo
por base que não é a tradução que define o significado grego, mas
deveria ser o contrário, vemos que não nenhum verso em que os
tradutores sentiram necessidade real de trocar o verbo, sendo assim,
a tradução “chegar” é no máximo uma hipótese completamente
descartável e sem base Bíblica, apenas baseada em algumas
traduções selecionadas a dedo.

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