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LIVE – ADOLESCENTE DEVE IR NO GINECOLOGISTA?

Perguntas – Dra. Helena Belique

1) Qual melhor abordagem da TPM na adolescência?

A famosa “tensão pré-menstrual” ou “TPM”, cujo nome técnico é “síndrome pré-menstrual”


ou “transtorno disfórico pré-menstrual” (em seu quadro mais grave), é uma síndrome que
ocorre de 2 a 10 dias antes da menstruação, manifestado por sintomas físicos e mentais que
atrapalham a vida da mulher.

Entre os principais sintomas estão cólicas, inchaço no corpo, dor de cabeça, irritabilidade,
humor deprimido, ansiedade, fadiga e insônia, e são decorrente das alterações hormonais que
ocorrem durante o ciclo menstrual da mulher, associadas principalmente ao hormônio
Progesterona que se eleva após a ovulação.

Tanto a mulher adulta quanto a adolescente podem manifestar esses sintomas e o tratamento
visa reduzir os sintomas para melhorar a qualidade de vida da paciente. Como a adolescência é
uma fase de muitas mudanças, e a paciente muitas vezes começou a menstruar agora, ela
pode apresentar sintomas ainda mais intensos, atrapalhando sua vida social. A abordagem vai
ser direcionada para cada paciente, de acordo com quais sintomas a afetam mais.

Algumas medidas sugeridas para reduzir os sintomas são: prática de atividades físicas diárias,
seguida de um descanso/sono satisfatório; alimentação leve, com redução de gorduras, açúcar
e cafeína, e aumento da ingesta de água; psicoterapia e remédios para ansiedade, como
antidepressivos do tipo inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRS), caso o médico
julgue necessário; e em alguns casos, pode-se iniciar contraceptivos hormonais, com o objetivo
de suprimir a ovulação e controlar as variações hormonais.

2) Quando e como iniciar uso de contraceptivos na adolescência?

A contracepção pode, e deve, ser iniciada tão logo a adolescente iniciar a vida sexual, visando
evitar a temida gravidez na adolescência. A escolha do método contraceptivo deve ser feita em
conjunto com a adolescente, e não há necessidade de autorização de responsável, desde que
não haja suspeita de violência sexual ou risco de vida para a adolescente.

A idade, por si só, não contraindica nenhum tipo de contracepção, e normalmente, por seu
estado de saúde saudável típico da idade, as adolescentes podem usar qualquer método
contraceptivo. O ginecologista irá avaliar as condições clínicas da paciente, para identificar se
há alguma contraindicação.

Os contraceptivos hormonais, sejam pílula ou injeção são permitidos, e muitas vezes são os de
mais fácil acesso. Algumas pacientes podem iniciar o uso deles antes mesmo de iniciar a vida
sexual, para controle do ciclo, se fluxo intenso, muita cólica ou TPM.

É sempre indicado os métodos de longa duração (LARCS), como o implante e o DIU, uma vez
tem maior eficácia e não dependem da aderência da paciente. Além disso, é importante a
associação com a camisinha, para evitar a transmissão de doenças sexualmente transmissíveis.
3) Adolescente pode colocar DIU?

Como já abordado, adolescente pode colocar DIU, tanto o hormonal quanto o não hormonal,
desde que ela já tenha iniciado a vida sexual. Não tem idade mínima para colocar o DIU, e não
é necessário que a paciente já tenha filhos. O DIU se adapta ao tamanho do útero e hoje
existem DIUs de tamanho menor para melhor adaptação.

É importante desfazer alguns mitos que deixam as adolescentes temerosas, como acharem
que o DIU causa infecções ou infertilidade, o que não é verdade, além de não ser um método
abortivo, mas tem como mecanismo a resposta inflamatória do endométrio que impede a
passagem dos espermatozoides.

Para as adolescentes, o DIU apresenta grandes vantagens, como longa duração, alta eficácia,
não depender de ser lembrado para tomar diariamente e não apresentar os efeitos colaterais
que alguns contraceptivos hormonais podem apresentar.

4) Adolescentes estão susceptíveis às IST?

Sim, a adolescência é a fase da iniciação sexual, e é comum que nessa fase a paciente não
tenha um parceiro único, mas vários. Isso à deixa susceptível a aquisição de infecções
sexualmente transmissíveis, como sífilis, HIV, herpes e hepatites.

Por isso, é importante sempre reforçar a necessidade do uso da camisinha, que até o
momento é o melhor método para se evitar a transmissão dessas doenças. Também temos
como arma a vacina contra o HPV, um vírus de transmissão sexual que é causador de verrugas
genitais e pode levar ao câncer do colo do útero, e que deve ser dada a todas as meninas e
meninos na infância/adolescência.

5) Quando vacinar contra o HPV?

A vacina contra o HPV está disponível na rede pública (na forma quadrivalente) e também em
clínicas privadas (quadrivalente e nonavalente). Ela é destinada a meninos e meninas de 9 a 14
anos (até 14 anos, 11 meses e 29 dias), além de pessoas com imunossupressão (por
transplante, quimioterapia ou HIV) e vítimas de violência sexual, até os 45 anos.

Na adolescência, são realizadas duas doses, com intervalo de seis meses entre as doses. Para
pessoas com condições clínicas especiais, como as pessoas vivendo com HIV/Aids, pessoas que
receberam transplante de órgãos, que estão em tratamento oncológico ou são
imunossuprimidas por algum outro motivo, são necessárias três doses, com intervalo de dois e
seis meses da primeira dose, e nesses casos é deve-se ter prescrição médica.

Os meninos também precisão ser vacinados, com o objetivo de evitar surgimento de verrugas
ano-genitais e câncer de pênis. Também evita a transmissão do vírus para suas parceiras
sexuais.

A cobertura vacinal ainda está muito abaixo do ideal, sendo que alguns alegam que poderia
induzir a iniciação sexual. No entanto, tendo em vista a alta prevalência da infecção de HPV e a
gravidade das lesões que ele causa, é de suma importância que as pais e também os pacientes
se conscientizem da necessidade da vacinação para todos os adolescentes.

6) A vacina contra o HPV pode ser feita após iniciada vida sexual?

O objetivo de vacinar adolescentes entre 9 e 14 anos é que seja realizado antes do início da
vida sexual e, portanto, antes do contato e infecção pelo vírus HPV. Além disso, essa faixa
etária produz mais anticorpos do que adultos.

No entanto, existem mais de 200 subtipos de vírus HPV. A vacina quadrivalente protege contra
as quatro formas mais comuns (6, 11, 16 e 18) responsáveis pelos condilomas e cânceres. Já a
vacina nonavalente protege contra nove subtipos de vírus (6, 11, 16, 18, 31, 33, 45, 52 e 58).
Assim, se a pessoa já teve contato com alguns desses tipos, ainda assim a vacina irá proteger
contra os demais. Além disso, ela ajuda a aumentar a imunidade e reduz o risco de recidiva de
lesões de quem já teve o contato com algum subtipo do vírus.

Por isso, mesmo que o/a adolescente já tenha iniciado a vida sexual, ainda assim deve ser
vacinado/a.

7) É necessário educar crianças e adolescentes sobre vida sexual - Quando começar a falar
sobre e de quem é esse papel?

Até agora nós falamos sobre contracepção e prevenção de doenças sexualmente


transmissíveis em adolescentes. Esses ainda são assuntos tratados como “tabus”, dos quais
todos fogem e se fica meio desconfortável de falar.

A adolescência é um período de mudanças físicas no corpo, hormonais e sociais, então surge a


curiosidade e o desejo sexual nessa fase. Se o descobrimento do corpo e a sexualidade forem
abordadas de forma aberta e sem julgamentos, os adolescentes poderão passar por essa fase
de forma segura, cuidado de seus corpos com responsabilidade. É um erro achar que falar
sobre isso irá estimular o início precoce da vida sexual, pois os adolescentes de hoje já estão
super expostos a estímulos que abordam a sexualidade, e quando é se tido como algo
proibido, maior é a curiosidade e o impulso para experimentar.

É importante que os assuntos sobre mudança do corpo, diferenças entre os corpos femininos e
masculinos, menstruação, contracepção, uso de camisinha e doenças sexualmente
transmissíveis sejam abordados antes mesmo que eles iniciem a vida sexual, para que, quando
ela for iniciada, já possa ser feita com segurança.

O assunto pode e deve ser abordado dentro de casa com os pais e nas escolas. E nós, como
profissionais médicos, também podemos e iremos, nas consultas, retirar dúvidas, mitos e
medos que podem surgir sobre esses temas, explicar sobre as mudanças do corpo, avaliar se
tudo está ocorrendo de forma adequada, orientar sobre vacinação e dar opções de
contracepção.

Referências:
1) Departamento Científico de Adolescência. Anticoncepção na Adolescência. Guia
Prático de Atualização. SBP. Nº 7, Fevereiro de 2018.
2) FEBRASGO. Anticoncepção para Adolescentes. Série Orientações e Recomendações
Febrasgo. N. 9, 2017.
3) Ministério da Saúde. Vacina contra o HPV: a melhor e mais eficaz forma de proteção
contra o câncer de colo de útero. Biblioteca Virtual em Saúde. Disponível em:
https://bvsms.saude.gov.br/vacina-contra-o-hpv-a-melhor-e-mais-eficaz-forma-de-
protecao-contra-o-cancer-de-colo-de-utero/ Acesso em: 20/02/2024 às 13:32.
4) Secretaria de Estado de Saúde. HPV. Disponível em https://www.saude.mg.gov.br/hpv
Acesso em 20/02/2024 às 13:34.
5) Manual MDS. Tensão Pré-Menstrual (TPM). Disponível em:
https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/problemas-de-sa%C3%BAde-feminina/dist
%C3%BArbios-menstruais-e-sangramento-vaginal-an%C3%B4malo/tens%C3%A3o-pr
%C3%A9-menstrual-tpm Acesso em 20/02/24 às 13:36.

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