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Guião para o Atendimento de Mulheres Gestantes com Diagnóstico do HIV

Escrito por: Gerson Carlos Queifaz

Contactos: + 258 845345142


Gersoncarlosqueifaz36@gmail.com

Maputo, 3 Fevereiro de 2024

Introdução

Este guião surge no âmbito do atendimento dado por activistas nos centros de saúde em alguns
distritos de Maputo, atividades estas implementadas pela associação de jovens fazendo sorrir
Moçambique (AJFSM).
Sabemos que o vírus de imunodeficiência humana (HIV), pode causar a síndrome de
imunodeficiência humana (SIDA), caso os pacientes diagnosticados com o HIV, não adiram ao
tratamento. Não sendo possível prevenir o HIV, para alguém que já o possui no seu sangue, mas
a ciência e a medicina consideram que é possível prevenirmos a transmissão do HIV, da mãe
para filhos. As mulheres gestantes vivendo com o HIV, devem ser elucidadas acerca da possível
transmissão do vírus ao feto (bebê). E as mulheres gravidas devem ser informadas de que o seu
comportamento pode contribuir para que o bebê nasça com o HIV ou nasça sem o HIV.
Para tal conhecer elementos como gravidez de risco, nutrição (alimentação) de mulheres
gestantes com HIV, aconselhamento psicológico para pacientes com o diagnostico do HIV ,
instrumentos para o atendimento e acompanhamento e por fim a ética e deontologia profissional.
Objectivos deste guião:
 Dotar o activista de conhecimentos teóricos e práticos acerca do atendimento a mulheres
gestantes com diagnostico do HIV;
 Servir de consulta no âmbito da actuação no campo;

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1. Gravidez de risco

Entende-se por gravidez de risco aquela que existe a possibilidade ou probabilidade alta de
surgir complicações para o bebê ou para a mãe. Estas complicações podem surgir durante a
gravidez (aborto) , no parto (transmissão do HIV) ou depois do parto/pós parto ou puerpério
((transmissão do HIV).
Considerando que estamos falando de mulheres gestantes com o HIV, então podemos considerar
essas mulheres como tendo uma gravidez de risco, por elas poderem serem meios para a
transmissão do HIV para o bebê ou seja da mãe para o bebê.
Listas de doenças crônicas, situações ou condições que podem possibilitar uma gravidez de
risco:
Em primeiro lugar o próprio HIV, diabetes, anemias, hipertensão arterial, entre outras.
A idade materna menores de 18 anos (adolescentes) e maiores a 35 anos (idade extrema),
consumo de drogas ou álcool.
Então é da responsabilidade do activista procurar saber se a paciente possui outras condições
que possibilitem a gravidez de risco fora o diagnostico do HIV. E também explicar ou informar
ao paciente sobre o risco que a sua condição actual apresenta ao bebê.

2. Nutrição (alimentação) de mulheres gestantes com HIV

Os alimentos são importantes para a nossa sobrevivência, muito mais para as mulheres que
carregam vidas dentro dos seus úteros. Para tal conhecer alguns alimentos recomendáveis e
outros não recomendáveis para mulheres gestantes é importantíssimo. Sabemos que existem
vários e vários tipos de alimentos os proteicos (ricos em proteínas) que incluem-se frango, ovos,
carne vermelha, castanha de caju, milho, soja, bananas, maçã, abacate, goiaba, cenoura,
abobrinha, beterraba, pimenta, entre outros, alimentos carboidratos (os mais energéticos) os
principais são, feijões, pães, inhame, arroz, mel, batata reno, batata doce e mandiocas e
alimentos gordurosos (ricos em gordura), abacate, ovos, amêndoas, castanhas, manteiga de
amendoim, salmão, atum, queixos brancos, chocolate escuro, óleo de coco, iogurte, batata frita.
Alimentos perigosos para mulheres gestantes (carnes cruas ou mal passadas, ovos crus,
alimentos industrializados, peixe espada, café, álcool, frutas e legumes não lavados, lulas,
lagostas, camarões, coca cola, energéticos).
Então é da responsabilidade do activista/nutricionista procurar informar e orientar a paciente
sobre os alimentos tendo em conta os alimentos mais frequentes da época e tendo em conta o
bairro (a realidade local). E também informar sobre os alimentos perigosos.

3. Aconselhamento psicológico para pacientes com o diagnostico do HIV

O psicólogo ou activista que estiver no centro deve saber que as pacientes diagnosticadas com
HIV, podem apresentar diversos comportamentos, apresentar pensamentos, sentimentos e
percepções sobre a sua condição actual.
E actuar para mudar (os comportamentos, os pensamentos, sentimentos e percepções) é a
grande e maior função do psicólogo ou activista.

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O processo de aconselhamento ira decorrer em três fases:
 1ª fase exploração do problema;
 2ª fase nova compreensão do problema;
 3ª fase desenho do plano de acção.

Mas antes de iniciar essas fases do aconselhamento psicológico, o activista deve procurar
estabelecer a confiança com o paciente para tal, devera garantir e informar ao paciente que ele é
proibido de tirar, informar, espalhar, conversar acerca de tudo que será conversado entre a
paciente e o activista.
A decisão para aderir ou não alguma actividade ou tratamento é totalmente da paciente, o
activista deverá procurar actuar de maneira a possibilitar a mudança e tomada de decisão
favorável para a paciente, sem obrigar, sem impor essa tomada de decisão.
Então garantir o sigilo é a primeira coisa que o activista deve fazer, informando que as
informações fornecidas durante a entrevista serão tratadas de forma estritamente confidencial e
que a identidade da paciente não será divulgada e que as informações compartilhadas serão
utilizados apenas para o atendimento e acompanhamento da paciente durante o tempo que
durarem ou gestação ou puerpério.

Então entrada na 1ª fase do aconselhamento que é da exploração do problema, o termo já diz


tudo, ou seja iremos buscar conhecer e compreender a paciente ou seja o histórico da paciente ou
da condição actual da paciente.
No entanto é importante nesta fase conhecermos (a idade, histórico e tempo de gestação,
profissão/fonte de renda e nível de escolaridade, com quem vive, tempo do diagnostico do HIV,
estado civil ou sorodiscordância).
Por que saber a idade da paciente? Simples as mulheres com idades inferiores a 18 anos e
aquelas com idades superiores a 35 anos tem maiores chances de terem complicações durante a
gravidez ou o parte, e ter essa informação é extremamente importante tanto para a paciente como
para o activista.
Por que saber o histórico e tempo de gestação? Saber se é a primeira gravidez ou é a segunda
ou terceira, saber quantos meses de gravidez são serão uteis para que o activista saiba como
abordar alguns assuntos durante o atendimento, visto quanto mais cedo a paciente aderir ao
tratamento mais chances o bebê terá para não nascer com a infecção do HIV.
Por que saber a profissão/fonte de renda e nível de escolaridade? O nível de escolaridade
informará ao activista há possibilidade de a paciente ter conhecimentos sobre HIV e que tipo de
linguagem ou língua usar durante o atendimento, a fonte de renda sera útil para sabermos por
exemplo que tipos de alimentos podemos recomendar a paciente de acordo com o seu bolso.
Por que saber com quem a paciente vive? Simples para sabermos o tipo de apoio que ela
poderá ter dos familiares, os medos que ela poderá ter, se a família sabe da sua condição ou se
ela vê algum problema em informar sobre a sua condição a eles.
Por que saber o tempo de diagnóstico do HIV? Simples a forma de abordar e de lidar com
uma paciente que tem o dagnostico a muito mais tempo ou duma que o diagnostico é recente será
diferente, a possibilidade de levar menos tempo com a paciente que mais tempo de diagnostico
do HIV é maior do que naquela que tem o diagnostico recente.
Por que saber o Estado civil? Simples, primeiro devemos saber que a sorodiscordância é
quando num casal um deles é POSITIVO AO HIV e o outro é NEGATIVO AO HIV, ou seja

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temos que saber se o casal sabe do estado serológico do outro, visto que se for o caso de a
mulher gestante esconder o seu estado serológico, será muito mais difícil seguir o tratamento, e
também se o casal sabe do estado do outro será mais fácil incluir o marido no apoio ao
tratamento.
Na primeira fase o activista ouve, escuta mais e fala menos em relação a paciente.

Na 2ª fase do aconselhamento a nova compreensão do problema

Nesta fase o activista ouve, escuta menos e fala mais em relação a paciente.
Aqui o activista devera informar, educar, conscientizar, mudar significados, sentimentos,
pensamento e percepções da paciente em relação a sua condição actual.
Aqui o activista devera colocar bem claro que o bebê poderá nascer com HIV ou nascer sem o
HIV, mas isso irá depender do comportamento da mulher gestante.
Informar o que é uma gravidez de risco e como lidar com ela.
Poderá informar a paciente sobre as causas do HIV, as consequências positivas (vantagens) se
for a aderir o tratamento, as consequências negativas (desvantagens) se não aderir ao tratamento,
informar sobre a alimentação e saúde da mulher e do bebe.
Informar que a presença de um vírus no corpo não significa não ter saúde.
NOTA: Esta fase devera terminar com o activista dizendo a paciente ir a casa e pensar, refletir e
tomar a decisão se irá aderir ou não ao tratamento.

Na ultima fase que é desenho do plano de acção.


É onde busca-se desenhar um plano onde terão as actividades que a paciente devera seguir, criar
um roteiro do dia a dia (desde o acordar ate ao ir a cama), quando serão as consultas no centro de
saúde, quando tomar o medicamento, entre outras actividades por exemplo documentos a levar
no dia do parto para que as parteiras saibam que devem proceder com maior delicadeza e atenção
de maneira a evitar a transmissão do HIV da mãe para o bebê.
O foco nesta fase esta naquilo que a paciente devera fazer para o alcance do objectivo que será
traçado junto da paciente.
O sucesso desta fase depende da decisão da paciente em aderir ao não ao atendimento.
Deste modo, a sessão com a paciente deve durar no máximo 45 minutos.
Na primeira sessão poderá ser apenas para o levantamento do histórico da paciente.
A segunda sessão será para o activista aplicar a segunda fase do paciente.

NOTA: Esta fase somente irá iniciar se a paciente tiver tomado a decisão de aderir ao
tratamento. Caso contrario o activista devera retomar a segunda fase usando uma linguagem mais
convincente e terminando como a segunda fase deve terminar. Caso a paciente recuse duas vezes
somente restara ao activista arquivar o caso.

Habilidades do Activista durante o aconselhamento


 Compreensão Empatia (saber colocar-se na situação em que paciente se encontra);
 Congruência/autencidade (ser verdadeiro com os pacientes, sem ofender ou colocar em
risco a sua integridade emocional);
 Escuta activa (habilidade de focar no que se esta ouvindo);
 Aceitação positiva incondicional (aceitar os pensamentos, sentimentos, percepções da
paciente sem julgar, aceitar a paciente tal como ela pensa, sente e percebe as coisas do

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mundo e a situação actual).

4. Instrumentos para o atendimento e acompanhamento


 Ficha de identificação da paciente (usado na 1ª sessão).
 Termo de livre consentimento da paciente (usado na 1ª sessão)
 Ficha de acompanhamento.

5. A ética e deontologia profissional do activista

O activista social deve ser respeitoso e respeitado no âmbito da sua actuação para tal actitudes
como essas são necessárias.
Deveres do activista:
 Receber e atender com maior humanismo os pacientes;
 Respeitar e considerar a Vida Humana como um direito universal;
 Não causar danos intencionalmente ao paciente;
 Respeitar a vontade ou decisão do paciente ou do seu representante, bem como seus
valores morais, sentimentos, pensamentos, percepções e crenças;
 Tratar os pacientes de formas iguais ou equitativas , no sentido de distribuir os benefícios
igualmente entre eles;
 Tratar as pessoas de acordo com suas necessidades, suas capacidades ou tomando em
consideração tanto umas quanto outras;
 Não explorar os pacientes;
 Garantir a preservação do segredo das informações, o estrito dever de proteger a
confidencialidade de toda a informação a que tem acesso no exercício da sua
profissão;
 Investigar sobre assuntos do dia a dia laboral.
Direitos do activista:
 Ser informado e encaminhado mulheres gestantes com HIV;
 Supervisionar os colegas; fazer denúncias de conduta imprópria;
prevenir práticas não autorizadas;
 De não Envolvimento em actividades comunitárias não relacionadas
com a profissão;
 De ser informado sobre a actividades que desenvolver;
 De receber uma formação;
 De receber material de trabalho;
 De opinar e expor o seu pensamento.

6. Conclusão
Este guião foi pensado e elaborado para facilitar a actuação do activista no seu atendimento e
acompanhamento a mulheres gestantes com HIV. Neste guião consideramos como activistas
(nutricionistas, psicólogos, enfermeiros, entre outros que trabalham na área social e que
estejam a lidar com as mulheres gestantes).

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