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PERFIL E DESAFIOS DO PSICÓLOGO EDUCACIONAL E

ESCOLAR EM MOÇAMBIQUE

PROFILE AND CHALLENGES OF THE EDUCATIONAL AND SCHOOL


PSYCHOLOGIST IN MOZAMBIQUE

Emêncio Chiposse1

RESUMO

Neste artigo de opinião, pretende-se abordar sobre o perfil e desafios do


Psicólogo Educacional e Escolar no contexto moçambicano com base nas experiências
como graduado desta área, docente, na escuta e diálogo realizado com vários
profissionais de educação e outros ministérios formados em Psicologia. Com objectivo
de analisar o perfil e os desafios enfrentados pelo psicólogo educacional e escolar em
Moçambique. Com a reflexão, ficou evidente que a marginalização desse profissional,
está aliado a falta de clareza sobre o perfil e papel do psicólogo nas várias instituições
moçambicanas e a fraca qualidade de ensino coadjuvada com o fenómeno corrupção.
Urge a necessidade de se pensar numa nova Psicologia e novas políticas de actuação em
Moçambique com um perfil desenhado e detalhado a partir da base ao mais alto nível.
Palavras-chave: Psicologia Educacional e Escolar, Desafios e Perfil.

ABSTRACT

In this opinion article, we intend to address the profile and challenges of the
Educational and School Psychologist in the Mozambican context, based on experiences
as a graduate in this area, teacher, in listening and dialogue carried out with various
education professionals and other ministries trained in Psychology. With the aim of
analyzing the profile and challenges faced by educational and school psychologists in
Mozambique. With the reflection, it became evident that the marginalization of this
professional is allied to the lack of clarity about the profile and role of the psychologist
in the various Mozambican institutions and the poor quality of education combined with
the corruption phenomenon. There is an urgent need to think about a new Psychology
and new policies for action in Mozambique with a profile designed and detailed from
the ground up at the highest level.

Keywords: Educational and School Psychology, Challenges and Profile.

1
Graduado em Psicologia Educacional com habilitações em Educação Infantil, actualmente mestrando
em Educação/Psicologia Educacional. Docente e Pesquisador/Consultor Júnior. Correio electrónico:
emerciochiposse@gmail.com
INTRODUÇÃO

No entanto, essa discussão exige, antes de mais nada, a explicitação de alguns


conceitos presentes nos termos da expressão Psicologia Educacional e Escolar e a
evolução da mesma como ciência. Porém, importa ressaltar, que estudos de género em
Moçambique são escassos.

No contexto moçambicano, numa perspectiva do senso comum, o conceito da


Psicologia relaciona-se com o estudo da demência, loucura, estudo dos loucos
vulgarmente "malucos". Onde os comportamentos desajustados por parte dos cursandos
ou formados, é relacionado a essa área de estudo. Importa referir que Psicologia tem um
longo passado e uma curta história. Ela torna-se ciência independente da filosofia em
1879, quando Wilhelm Wundt constrói o primeiro laboratório experimental de
Psicologia na Alemanha. Actualmente ela é ciência do estudo do comportamento e dos
processos mentais (Rodrigues, 2001,p.13). Porém, a Psicologia Educacional é em parte
Psicologia e em parte Pedagogia ou seja, é ramo da Psicologia Aplicada mas é também
uma das ciências Pedagógicas. O objectivo genérico da Psicologia Educacional é tornar
mais eficiente a Educação, baseando-a nos princípios científicos da Psicologia.
Decompondo esse objectivo geral, mestre Thorndike, diz que a Psicologia serve à
Educação de quatro maneiras:

i. Contribui para a melhor compreensão das aspirações da Educação, definindo-as e


limitando-as;

ii. Auxilia a apreciar a probabilidade de que uma aspiração seja exequível; por exemplo:
se as transformações morais e mental originadas em uma geração se transmitem à
geração seguinte;

iii. Contribui para o conhecimento dos métodos de ensino, tornando-os mais eficientes e
obtendo maior rendimento escolar, visto que nos dá a conhecer a natureza humana, seus
fenómenos e suas leis;

iv. Indica os meios para a averiguação das funções intelectuais (metódicos, testes,
questionários e provas psicológicas), estabelecendo assim as "diferenças individuais" e
agrupando os indivíduos segundo "tipos psicológicos".
Portanto a Psicologia educacional, constitui uma das principais especializações
do campo da Psicologia aplicada.

DIFERENÇA ENTRE PSICOLOGIA ESCOLAR DA EDUCACIONAL

A Psicologia Escolar, diferentemente, define-se pelo âmbito profissional e refere-


se a um campo de acção determinado, isto é, o processo de escolarização, tendo por
objecto a escola e as relações que aí se estabelecem. Fundamenta sua actuação nos
conhecimentos produzidos pela Psicologia Educacional, por outros ramos da Psicologia
e por outras áreas de conhecimento.

Deve-se, pois, sublinhar que Psicologia Educacional e Psicologia Escolar são


intrinsecamente relacionadas, mas não são idênticas, nem podem reduzir-se uma à outra,
guardando cada qual, sua autonomia relativa. A primeira é uma área de
conhecimento (ou ramo) e, grosso modo, tem por finalidade produzir saberes sobre o
fenómeno psicológico no processo educativo. A outra constitui-se como campo de
actuação profissional, realizando intervenções no espaço escolar ou a ele relacionado,
tendo como foco o fenómeno psicológico, fundamentada em saberes produzidos, não
só, mas principalmente, pelo ramo da Psicologia, a Psicologia Educacional. (Antunes
2008,p.21). No enquanto Psicologia Educacional se refere à pesquisa teórica, sendo
assim mais abrangente, a Psicologia Escolar é subdisciplina aplicada.

PERFIL DO PSICÓLOGO EDUCACIONAL

Perante a evolução do país politicamente, socialmente e economicamente, bem


como da ciência no geral, as universidades moçambicanas, foram desafiadas a
introduzir vários ramos da Psicologia, desde a Psicologia Escolar, Educacional, Clínica,
Social, das organizações, Infantil, Vocacional entre outros. Face os desafios da
Educação, foram introduzidos cursos de Psicologia Educacional e Escolar e nos
institutos de formação de professores e no ensino secundário a disciplina de
Psicopedagogia com objectivo de responder várias demandas deste ministério,
sobretudo melhoria da qualidade de ensino. A disciplina de Psicopedagogia no ensino
secundário, contrariamente, é geralmente leccionada por docente de diferentes áreas de
saberes (Biologia, Agropecuária, Filosofia, Química….as vezes só para completar a
carga horária do funcionário).
Actualmente, Moçambique conta com milhares de profissionais da área de
Psicologia Educacional e Escolar, formados no território nacional maioritariamente e
uma minoria fora do país. Mas ainda há duvidas sobre: i. O que estão a fazer os
Psicólogos educacionais e escolares em diferentes ministérios? ii. Como estão a fazer?
iii. E como deveriam fazer? iv. Que desafios estão encarando? v. Até que ponto estão
apoiando na melhoria de ensino?

Antes, importa referir que constituem funções do psicólogo educacional que


relaciona-se com o perfil do mesmo:

i. Intervenção em relação às necessidades educativas dos alunos: deve se


encarregar de estudar e prever as necessidades educacionais dos alunos. Graças a
isso pode agir para melhorar a experiência educacional dos alunos.
ii. Funções vinculadas à orientação, aconselhamento profissional e vocacional:
o objectivo geral desses processos é colaborar no desenvolvimento das
competências das pessoas, através do esclarecimento dos seus projectos
pessoais, vocacionais e profissionais de modo que possam dirigir sua própria
formação e sua tomada de decisões.
iii. Funções preventivas: deve intervir na aplicação das medidas necessárias para
evitar os possíveis problemas na experiência educacional. É importante agir
sobre todos os agentes educacionais (pais, professores, filhos, orientadores…).
iv. Intervenção na melhoria do acto educacional: é de grande importância prestar
atenção à instrução aplicada pelos educadores. Estudar e aplicar as melhores
técnicas educacionais é necessário para que o aprendizado e o desenvolvimento
do aluno seja ideal.
v. Formação e aconselhamento familiar: uma parte importante da educação é a
que a família oferece. Através do estudo da família e do posterior
aconselhamento é possível alcançar modelos educacionais familiares eficientes.
Com isso, aumentamos a qualidade de vida de todos os membros da família.
vi. Intervenção socioeducativa: a vida acadêmica e familiar não são as únicas
coisas que educam o ser humano, o ambiente todo importa. É responsabilidade
do psicólogo educacional se encarregar do estudo de como o sistema social
influencia a educação para, assim, tentar intervir naqueles aspectos que são
passíveis de melhorias.
vii. Pesquisa e docência: para que todas as outras funções possam ser
desempenhadas, são necessárias muitas pesquisas que mostrem as direções a
seguir. Toda pesquisa seria inútil sem uma docência que dissemine o
conhecimento entre outros profissionais e estudantes. Com auxilio de diferentes
teorias da Psicologia, (Behavioristas; Construtivistas; Motivacionais;
Cognitivistas, Humanistas…).

Como assegura Rodrigues (2001);

O Psicólogo Educacional tem um campo de intervenção bastante amplo uma


vez que trata dos aspectos psicológicos da educação em crianças e pessoas
adultas de todas as idades. Costuma-se pensar que o Psicólogo Educacional no
interior da instituição escolar para apoiar e orientar estudantes que manifestam
dificuldades de aprendizagem e de ajustamento ao processo educativo. Esta
tarefa é simplesmente um dos aspectos da actividade do Psicólogo Educacional.
Os psicólogos da área educacional, dedicam-se também, por exemplo: i. A
definir critérios a que deve obedecer a formação de professores; ii. A
estabelecer, de acordo com princípios fundamentais do desenvolvimento
cognitivo, o momento em que no processo educativo, são possíveis
determinadas aprendizagens; iii. A avaliar e desenvolver currículos, materiais e
métodos do processo ensino-aprendizagem; iv. A determinar o efeito dos
educadores no comportamento dos educandos; v. a elaborar programas e
métodos que formem e aconselhem professores e pais no auxilio a crianças com
problemas emocionais e de aprendizagem (P.86).

Portanto, dentro do campo de actuação do Psicólogo Educacional, estão as


instituições, métodos, currículos e estruturas do sistema educativo. A sua intervenção é
importante no que respeita aos objectivos da educação, á orientação escolar e
vocacional/profissional. Intervindo junto de organizações sociais como as instituições
educativas, trabalha em colaboração e diálogo com professores, pais, alunos e outros
participantes no processo educativo, uma vez que o percurso escolar de um indivíduo é
simplesmente um dos aspectos do seu desenvolvimento e é influenciado pela interacção
com outros factores, o Psicólogo Educacional não se pode limitar ao aconselhamento
em estratégias e métodos de ensino-aprendizagem, em matéria de currículos e de
recursos educativos.

Com efeito, uma instituição educativa é uma realidade social e económica, com
as suas contradições e ambiguidades, com um modo de funcionamento de ligação á
comunidade onde se insere que pode dificultar ou facilitar a actividade educativa. Por
outro lado, a intervenção na promoção e desenvolvimento do sucesso educativo – não
meramente escolar – exige atenção ao indivíduo enquanto membro da comunidade
educativa. Assim, numa perspectiva educacional e não terapêutica, o Psicólogo
Educacional pode aconselhar os membros da comunidade educativa no que respeita a
problemas emocionais e distúrbios comportamentais e pessoais directa ou
indirectamente envolvidas na vida da escola.

Em linhas gerais, na visão de Rodrigues, (2001,p.88), constituem objectivos do


Psicólogo Educacional:

I. Promover o desenvolvimento integral do indivíduo;


II. Intervir em problemas de natureza emocional que perturbem o processo
educativo;
III. Prevenir dificuldades de ajustamento ao contexto escolar;
IV. Prestar apoio psicopedagógico aos intervenientes no processo educativo.

DESAFIOS DO PSICÓLOGO EDUCACIONAL E ESCOLAR NO CONTEXTO


MOÇAMBICANO

Actualmente a figura do Psicólogo Educacional e Escolar enfrenta vários


desafios. Os mais relevantes são:

I. Desconhecimento do papel e perfil desse profissional por parte da população,


dirigentes das instituições, distritais, provinciais até ao mais alto nível as vezes
do próprio graduado;
II. Fraca qualidade do Ensino Superior Vs desenho e concretização do perfil
esperado do profissional;
III. Pouco apoio das administrações públicas;
IV. Confusão profissional;
V. Um sistema educacional hostil;
VI. Corrupção nas instituições públicas e privadas e;
VII. Não criação de ordem dos psicólogos com dever e direitos definidos.

Uma boa parte dos profissionais formados nessa área em Moçambique, assumem
e desempenham funções de docentes de Português, Educação Visual, Filosofia, TICs,
Empreendedorismo, chefes de secretaria, entre outras repartições, sobretudo os
bolsistas. Muitas vezes, sem espaço para a aplicação dos conhecimentos adquiridos
durante a formação. Com excepção de alguns que trabalham para organizações não
governamentais (ONGs) e uma boa parte desses profissionais, estão em casa, sem ideia
sobre o que fazer.

As dificuldades acima, surgem devido:

i. A fraca firmeza científica dos profissionais (desconhecimento da sua área


de actuação), em explicar o perfil e funções do psicólogo educacional e
escolar. É necessário que as universidades ofereçam ferramentas sustentáveis,
metódicos, teoria e prática a ser consolidada no campo de actuação. As
universidades em parceria com governo, representado pelo Ministério da Ciência
e Tecnologia, Ensino Superior e Técnico Profissional devem definir e partilhar
com as demais instituições o perfil do Psicólogo Educacional e Escolar e
garantir que no final do curso seja alcançado.

Os docentes universitários devem ensinar a pescar e não a dar peixe. As


experiências, noções de pesquisa, de construção de conhecimento devem começar
na sala de aula e posteriormente no campo de actuação.

ii. Falta de vontade e conhecimento sobre essa área de formação por parte dos
dirigentes. Nota-se desconhecimento por parte dos gestores escolares, Recursos
Humanos e aos demais dirigentes no que tange ao perfil desse profissional;
iii. Corrupção. A prática de corrupção nas instituições públicas e privadas, faz com
que seja contratado o profissional formado em Matemática para dar
Psicopedagogia, porque provavelmente, este primeiro possui condições
económicas ou influências;
iv. Fraca qualidade de ensino desde primário até superior e monitoria. A fraca
capacidade de monitoria das instituições de Ensino Superior, faz com que hajam
muitos profissionais certificados, mas sem conhecimentos adequados a área de
formação.
v. Fraco conhecimento sobre Orientação Escolar Profissional. A escolha da
Psicologia e outras áreas de formação do homem em Moçambique, muitas das
vezes, está relacionada a número de vagas que as instituições de ensino superior
oferecem, para os estudantes a tempo inteiro. Para os estudantes bolseiros (os
que já vem trabalhando em diferentes ministérios) a necessidade do sector, do
distrito ou da província, as vezes escolha aleatória, por imitação ou facilidade de
entrar neste sistema de ensino. Portanto, muitos estudantes vão cursar a
Psicologia, sem mínimas noções sobre as áreas de actuação, o perfil esperado e
campo de trabalho. O que muitas vezes gera desinteresse Vs desmotivação para
com a Psicologia.

No entanto, este profissional, vai perdendo crédito a cada dia que passa, vai
tornando dispensável nas instituições, sobretudo de ensino. A sua presença nas
instituições torna-se menos visível e credível.

METODOLOGIA

Em termos metodológicos, como referiu-se anteriormente, este artigo é o resultado


das experiências como graduado em Psicologia Educacional e conversa com
profissionais dessa área e dirigentes de vários ministérios, onde foram colhidas
sensibilidades sobre os desafios do Psicólogo Educacional e Escolar. Recorreu-se
também, ao método bibliográfico, estabelecendo um cruzamento entre experiências e o
material bibliográfico sobre Psicologia Educacional e Escolar.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Perante essa discussão, fica evidente a marginalização desse profissional e a


necessidade de se pensar numa nova Psicologia e novas políticas de actuação em
Moçambique com um perfil desenhado e detalhado a partir da comunidade ao mais alto
nível. Fica evidente a luta contínua sobre o reconhecimento, a emancipação desse
profissional nas instituições, sobretudo, públicas. Os profissionais formados nessa área,
devem fazer-se sentir, nos seus locais de trabalho, através do saber fazer, ser e estar.

A intervenção do psicólogo educacional, não limita-se apenas no seio escolar,


ele intervê nas seguintes instituições: Universidades; Infantários; Instituições de
educação especial; Ministérios; Instituições de Orientação Escolar Profissional,
instituições de formação de professores e ONGs. Apesar dos desafios que este
profissional enfrenta, os ministérios, as instituições de ensino, a comunidade e outras
entidades, precisam do psicólogo para o seu sucesso, sobretudo na prevenção,
orientação, planificação das actividades, intervenção, gestão, no recrutamento e
selecção e no diagnóstico de prováveis problemas do fórum cognitivo, emocional,
social, psicomotor e comportamental.
Os psicólogos educacionais desenvolvem o seu trabalho em conjunto com os
educadores de forma a tornar o processo de aprendizagem mais efectivo e significativo
para o educando, principalmente no que diz respeito à motivação e às dificuldades de
aprendizagem. Focam a sua acção não apenas nas necessidades da criança na escola
como, também, em outras áreas onde as experiências escolares têm impacto.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANTUNES, M. A. M. (2008). Psicologia Escolar e Educacional: História,


compromissos e perspectivas. Brasil.

RODRIGUES, L. (2001). Psicologia 12.º Ano. 1º Volume. Plátano, editora: Lisboa.

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