Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
ISSN: 2595-6825
DOI:10.34119/bjhrv7n1-510
RESUMO
Objetivo: avaliar o efeito da aplicação do ácido fosfórico 37% sobre dois tipos de cimentos de
ionômero de vidro forradores, convencional e modificado por resina, imediatamente e após
armazenamento por 30 dias. Métodos: Os materiais testados foram Vitrebond e Vidrion F
aplicados em 108 incisivos bovinos. Os dentes foram divididos em 3 grupos: controle,
condicionamento prévio a inserção do cimento e condicionamento posterior a inserção do
cimento na cavidade, armazenados por dois períodos: 24 horas e 30 dias. Avaliou-se a
resistência de união ao cisalhamento e liberação de flúor. Os dados foram analisados pelos
testes ANOVA e post hoc de Tukey (p=0,05). Resultados: Para o grupo Vidrion F, não houve
diferença significativa nas propriedades analisadas em nenhum dos períodos. Houve um
aumento na resistência de união estatisticamente significativa para o Vitrebond de
condicionamento posterior armazenado por 30 dias e menor liberação de flúor estatisticamente
significativa comparado com 24 horas (p>0,05). Conclusão: o condicionamento com ácido
fosfórico 37% sobre o Vitrebond influenciou positivamente a resistência de união e não
influenciou negativamente a liberação de flúor; para o Vidrion F, não houve alteração das
propriedades mecânica e química do material.
ABSTRACT
Objective: to evaluate the effect of applying 37% phosphoric acid on two types of glass ionomer
lining cements, conventional and resin-modified, immediately and after storage for 30 days.
Methods: The materials tested were Vitrebond and Vidrion F applied to 108 bovine incisors.
The teeth were divided into 3 groups: control, conditioning prior to cement insertion and
conditioning after cement insertion into the cavity, stored for two periods: 24 hours and 30 days.
The bond strength to shear and fluoride release was evaluated. Data were analyzed using
ANOVA and Tukey's post hoc tests (p=0.05). Results: For the Vidrion F group, there was no
significant difference in the properties analyzed in any of the periods. There was a statistically
significant increase in bond strength for post-etching Vitrebond stored for 30 days and
statistically significant lower fluoride release compared to 24 hours (p>0.05). Conclusion:
etching with 37% phosphoric acid on Vitrebond positively influenced the bond strength and did
not negatively influence the release of fluoride; for Vidrion F, there was no change in the
mechanical and chemical properties of the material.
Keywords: permanent dental restoration, tooth cavity lining, glass ionomer cements, shear
strength, fluoride.
1 INTRODUÇÃO
A filosofia de mínima intervenção em odontologia se popularizou com o
desenvolvimento dos materiais adesivos e o uso da resina composta como material restaurador
em dentes anteriores e posteriores, pois não requerem preparos extensos e preservam a estrutura
dentária hígida [1]. Em cavidades profundas, que se estendem além do terço interior de dentina
[2] essa filosofia se aplica por meio da remoção parcial de cárie, modificando o microambiente
2. MATERIAIS E METODOS
Esse trabalho respeitou as diretrizes do Comitê de Ética em Pesquisa com Animais.
Inicialmente, realizou-se o estudo piloto para determinar o tamanho da amostra. O software G*
Power 3 for Windows foi utilizado, com os parâmetros de poder do teste 80%, número de
grupos a serem testados igual a dois, erro de probabilidade a 0,05 e f = 1,250, chegou-se ao
cálculo amostral de 09 espécimes por grupo.
Fonte: própria.
3 RESULTADOS
Os valores médios de resistência de união (MPa) produzidos pelo CIV estão
apresentados na Tabela 2 e separados por tipo de material. Verificou-se uma maior resistência
de união estatisticamente significativa para o Vitrebond de condicionamento posterior e
armazenados por 30 dias quando comparado com o de 24 horas (ANOVA p<0,05 e
Tukey<0,05).
Tabela 2. Valores médios de resistência de união (MPa) produzidos pelos cimentos de ionômeros de
vidro, segundo o tipo de condicionamento ácido.
Grupos N Vitrebond Vidrion F
Controle 36 28,06 ±10,46 a,B 20,85 ±9,59 b,B 12,92 ±3,15 a,A* 14,85 ±5,74 a,A
Prévio 36 33,46 ±11,51 a,B 18,81 ±11,23 b,B 14,30 ±6,06 a,A 10,76 ±6,82 a,A
Pós 36 27,29±11,95 a,B 37,69 ±13,54 a,C 12,58 ±3,84 a,A 9,59 ±3,54 a,A
* os valores representam as médias (desvio padrão) em MPa.
** para cada cimento de ionômero de vidro seguidas de letras minúsculas iguais não diferem estatisticamente nas
colunas (p>0,05) e letras maiúsculas iguais nas linhas não diferem estatisticamente (p>0,05)
Fonte: Análise realizada em Máquina Universal de Ensaios Mecânicos - Instron/Emic 23-5S - no laboratório de
pesquisas da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.
Para o grupo Vidrion F não houve diferença significativa na resistência de união entre
o grupo testado e grupo controle para em ambos os períodos (ANOVA p>0.05).
A análise das fraturas foi realizada por dois examinadores (E) treinados e calibrados. Os
valores do coeficiente de concordância Kappa intra-examinadores foi de 0,83 (ótimo). Para a
análise inter-examinadores o coeficiente Kappa foi 1,00 (ótimo). Os dados estão descritos na
Controle 24h 9 mista (5) adesiva (4) mista (8) adesiva (1)
Figura 2. Fotomicrografias das fraturas mistas de cada grupo do período de 24 horas e 30 dias
A - Fotomicrografias das fraturas mistas de cada grupo do período de 24 h; A1 - VD cond prévio, verifica-se
uma fina camada do remanescente do material; A2 - VD cond posterior – verifica-se a presença de remanescente
do material na região condicionada. A3 - VT com cond prévio, nota-se presença de grande remanescente de CIV;
e A4 - VT com cond posterior nota-se presença de remanescente de CIV. D – dentina; VD – Vidrion F; e VB –
Vitrebond. B - Fotomicrografias das fraturas mistas de cada grupo do período de 30 dias. B1 - VD
condicionamento prévio – verifica-se uma camada porosa do remanescente do material; B2 - VD
condicionamento posterior – verifica-se a pequena presença de remanescente do material na região
Tabela 4. Liberação de flúor dos espécimes de cimentos de ionômero de vidro segundo o tipo de condicionamento
ácido.
Grupos N Vitrebond Vidrion F
4. DISCUSSÃO
Em situações clínicas nas quais há o risco de comprometimento da vitalidade pulpar em
cavidades muito profundas, a utilização de um material forrador biocompatível pode favorecer
e acelerar o processo de formação de dentina [2, 14-16]. Quando a camada de dentina
remanescente é menor que 500 micrômetros, um material biocompatível deve ser aplicado para
fornecer um ambiente adequado no qual as células da polpa hospedeiras são capazes de
restaurar a homeostase do tecido [17].
Entre as demais vantagens da utilização do CIV forrador sabe-se que este é um material
capaz de reduzir significativamente a formação de lacunas em restaurações com resina
composta [18], bem como minimizar os efeitos da contração de polimerização do material [19].
Em um trabalho publicado em 2019 [7], os autores analisaram diferentes técnicas restauradoras,
de uma e duas camadas. Observou-se uma tendência de diminuição do estresse de contração de
sobre a superfície do CIV forrador. Novas pesquisas com períodos mais longos de análise, bem
como avaliação de diferentes propriedades que podem sofrer influência do tratamento de
superfície devem ser realizadas, assim como estudos clínicos randomizados.
5 CONCLUSÃO
Conclui-se que o condicionamento com ácido fosfórico 37% sobre o Vitrebond
influenciou positivamente a resistência de união e não influenciou negativamente a liberação
de flúor; para o Vidrion F, não houve alteração das propriedades mecânica e química do
material nos dois períodos analisados.
REFERÊNCIAS
1. Laske M. et al. Minimally Invasive Intervention for Primary Caries Lesions: Are Dentists
Implementing This Concept? Caries Res. 2018; Aug;53(2):204-16. doi:10.1159/000490626
2. Ribeiro AP. et al. Human pulp response to conventional and resin-modified glass ionomer
cements applied in very deep cavities. Clin Oral Investig. 2019 May; 24(5):1739-
1748. doi:10.1007/s00784-019-03035-3
3. Barros MMAF; Rodrigues MIQ; Muniz FWMG; Rodrigues LKA. Selective, stepwise, or
nonselective removal of carious tissue: which technique offers lower risk for the treatment of
dental caries in permanent teeth? A systematic review and meta-analysis. Clin Oral Invest.
2020; 24: 521–532. https://doi.org/10.1007/s00784-019-03114-5
4. Souza KKO, Silva YA, Mendonça ICG. Conservative pulp treatment: literature review.
Brazilian Journal of Health Review. Brazilian Journal of Health Review. 2022. 5(3): 11912-
11919, doi:10.34119/bjhrv5n3-322
5. Kuhn E; Reis A; Chibinski ACR; Wambier DS. The influence of the lining material on the
repair of the infected dentin in young permanent molars after restoration: A randomized clinical
trial. J Conserv Dent. 2016 Nov-Dec; 19(6):516-21. doi: 10.1590/1807-3107/2017.vol31.0101
8. Arandi NZ; Rabi T. Cavity bases revisited. Clinical, Cosmetic and Investigational Dentistry.
2020; 12:305-312. doi:10.2147/CCIDE.S263414
9. Junior LVB et al. Glass ionomer cement: literature review. Brazilian Journal of Health
Review. 2022; 5(2): 6893-6902.doi:10.34119/bjhrv5n2-257
10. Karaman E, Ozgunaltay G. Cuspal deflection in premolar teeth restored using current
composite resins with and without resin-modified glass ionomer liner. Oper Dent. 2013 May-
Jun; 38(3):282-9. doi:10.2341/11-400-L
11. Pinheiro SL; Oda M; Matson E; Duarte DA; Guedes-Pinto AC. Simultaneous activation
technique: an alternative for bonding composite resin to glass ionomer. Pediatr Dent. 2003;
25(3):270-4. PMID:12889705
12. Duque C; Negrini TC; Sacono NT; Spolidorio DMP; Costa CAS; Hebling J. Clinical and
microbiological performance of resin-modified glass-ionomer liners after incomplete dentine
caries removal. Clin Oral Investig. 2009 Dec; 13(4):465-71. doi:10.1007/s00784-009-0304-2
13. Oliveira SS. et al. The influence of the dentin smear layer on adhesion: a self-etching primer
vs. a total-etch system. Dent Mater. 2003; 19(8):758-67. doi:10.1016/s0109-5641(03)00023-x
15. Santos PS; Pedrotti D; Braga MM; Rocha RO; Lenzi TL. Materials used for indirect pulp
treatment in primary teeth: a mixed treatment comparisons meta-analysis. Braz Oral Res. 2017;
18;31:e101. doi:10.1590/1807-3107/2017.vol31.0101
17. Giraud T; Jeanneau C; Rombouts C; Bakhtiar H; Laurent P; About I. Pulp capping materials
modulate the balance between inflammation and regeneration. Dent Mater. 2019; 35(1):24–35.
doi:10.1016/j.dental.2018.09.008
18. Oglakci B; Kazak M; Donmez N; Dalkilic EE; Koymen SS. The use of a liner under
different bulk-fill resin composites: 3D GAP formation analysis by x-ray microcomputed
tomography. J Appl Oral Sci. 2019 ;28:e2019004. https://doi.org/10.1590/1678-7757-2019-
0042
19. Rodrigues MD et al. Selective carious tissue removal and glass ionomer liner reduction of
pulp stress in bulk fill resin composite restorations. Braz Oral Res. 2021; 35:e119. doi:
10.1590/1807-3107bor-2021.vol35.0119
20. Sauro S. et al. The effect of dentine pre-treatment using bioglass and/or polyacrylic acid on
the interfacial characteristics of resin-modified glass ionomer cements. J Dent. 2018; 73:32-39.
doi:10.1016/j.jdent.2018.03.014
21. Caneppele TM; Bresciani E; Ávila DMS; Barcellos DC; Pucci CR. Effect of Lining
Materials on Shear Bond Strength for Composite Restorations In Vitro. Int J Periodontics
Restorative Dent. 2016; 37(10):137-143. doi:10.11607/prd.2595
22. Blum IR, Wilson NHF. An end to linings under posterior composites? J Am Dent Assoc.
2018; 149(3):209-13. https://doi.org/10.1016/j.adaj.2017.09.053
23. Pamir T, Sen BH, Evcin O. Effects of etching and adhesive applications on the bond strength
between composite resin and glass-ionomer cements. J Appl Oral Sci. 2012 Nov-Dec;
20(6):636-42. https://doi.org/10.1590/S1678-77572012000600008
24. Zanata RL; Navarro MF; Ishikiriama A; Júnior MHSS; Delazari RC. Bond strength between
resin composite and etched and non-etched glass ionomer. Braz Dent J. 1997; 8(2):73-8.
PMID:9590929
25. Taggart SE, Pearson GJ. The effect of etching on glass polyalkenoate cements. J Oral
Rehabil. 1991 Jan; 18(1):31-42. doi:10.1111/j.1365-2842.1991.tb00027.x
27. Bonfante EA; Coelho PG. A Critical Perspective on Mechanical Testing of Implants and
Prostheses. Advances In Dental Research. 2016; 28(1): 18–27.
https://doi.org/10.1177/0022034515624