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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO, ATUÁRIA, CONTABILIDADE E


SECRETARIADO – FEAAC
DOUTORADO ACADÊMICO EM ADMINISTRAÇÃO E CONTABILIDADE

Discente: Antonio Rafael Holanda da Silva

Resenha crítica do livro:


BACHELARD, G. A formação do espírito científico. 5.ed. Rio de Janeiro: Contraponto,
1996.

Capítulo 1: A noção de obstáculo epistemológico


O texto é uma análise profunda sobre os obstáculos epistemológicos que
enfrentamos no processo de adquirir conhecimento científico. O autor argumenta que a
verdadeira dificuldade não se encontra apenas nos desafios externos, como a
complexidade dos fenômenos ou as limitações dos sentidos humanos, mas principalmente
nas barreiras internas que surgem durante o ato de conhecer. Em vez de focar apenas em
desafios externos, como a complexidade dos fenômenos ou as limitações dos sentidos
humanos, o autor destaca a importância de reconhecer as barreiras internas que surgem
durante o próprio ato de conhecer.
O texto também discute a distinção entre ciência e opinião. Enquanto o
conhecimento científico não é imediato nem pleno, mas sim uma jornada contínua de
revisão e reconstrução, a opinião tende a ser influenciada por necessidades pessoais e a
traduzir essas necessidades em conhecimento. Essa diferença fundamental coloca a
ciência em oposição à opinião e destaca a necessidade de uma abordagem crítica e
fundamentada para alcançar o verdadeiro conhecimento científico.
Um obstáculo epistemológico se incrusta no conhecimento não questionado.
Hábitos intelectuais que foram úteis e sadios podem, com o tempo, entravar a pesquisa.
Nosso espírito tem a tendência irresistível de considerar como mais clara a ideia que
costuma utilizar com frequência. O texto aborda a importância de formular problemas de
maneira clara e precisa para avançar no conhecimento científico. Ele argumenta que todo
conhecimento é uma resposta a uma pergunta e que a ausência de perguntas impede o
progresso científico.
O processo de conhecer envolve enfrentar desafios internos, como a necessidade
de formular problemas de maneira clara e precisa. O texto enfatiza que todo conhecimento
é uma resposta a uma pergunta e que o progresso científico só é possível quando há uma
clara formulação dos problemas a serem resolvidos.
O autor também discute os desafios específicos enfrentados no ensino de ciências,
destacando a necessidade de os educadores reconhecerem e superarem os obstáculos
cognitivos e afetivos que os alunos enfrentam ao tentar entender conceitos científicos, de
maneira que o professor deve conscientizar-se de que a aula não se limita na aquisição
do conhecimento, mas na própria mudança de cultura experimental.
Ao longo do texto, são discutidos diversos obstáculos epistemológicos, como a
tendência de explicar os fenômenos pela unidade da natureza, o verbalismo na
interpretação dos conceitos científicos e o substancialismo na compreensão dos
fenômenos naturais. Cada um desses obstáculos representa uma barreira ao progresso
do conhecimento científico e requer uma abordagem crítica e reflexiva para ser superado.

Capítulo 11: Os obstáculos do conhecimento quantitativo


O autor inicia sua reflexão apontando que mesmo o conhecimento que parece
objetivo à primeira vista está sujeito a ser falseado em função das impressões subjetivas
que precisam ser eliminadas. O conhecimento imediato, tanto qualitativo quanto
quantitativo, muitas vezes carrega consigo uma carga de subjetividade que precisa ser
expurgada para alcançar a verdadeira objetividade.
Uma crítica central do texto é direcionada à busca pela precisão excessiva, tanto
qualitativa quanto quantitativa. O autor argumenta que essa busca desenfreada pela
exatidão muitas vezes leva a conclusões enganosas e a uma compreensão inadequada
da realidade. Ele destaca que a precisão numérica deve ser constantemente referenciada
à sensibilidade do método de medição e às condições do objeto medido, e que medir
exatamente um objeto fugaz ou indeterminado, ou medir um objeto bem determinado com
um instrumento inadequado, são operações inúteis que a disciplina científica rejeita.
Além disso, o texto ressalta a importância do método científico na medição e na
interpretação da realidade. O autor argumenta que o cientista deve estar mais preocupado
com o método de medição do que com os resultados obtidos, e que a objetividade é
afirmada através do método discursivo de medição, em vez da intuição direta do objeto.
Essa abordagem coloca o método de medição como central para a obtenção de resultados
confiáveis e interpretações precisas.
O texto também critica a tendência do pensamento pré-científico em buscar
precisões excessivas em situações nas quais elas não são necessárias, muitas vezes
resultando em conclusões absurdas ou insignificantes. O autor destaca exemplos
históricos e contemporâneos dessa busca pela precisão desnecessária, e argumenta que
essa prática é prejudicial para uma compreensão verdadeiramente objetiva da realidade.
O texto em questão discute a evolução da ciência ao longo dos séculos, focalizando
especialmente o papel dos instrumentos de medida na determinação das diferentes etapas
do conhecimento científico. O autor destaca a importância da precisão dos instrumentos e
como essa precisão varia de acordo com a época e os avanços tecnológicos disponíveis,
ou seja, cada século possui sua própria escala de precisão e seus instrumentos
específicos.
Uma crítica central do texto é dirigida ao pensamento pré-científico, caracterizado
pela falta de uma doutrina clara dos erros experimentais e pela propensão a atribuir
interações indiscriminadas entre os fenômenos. Argumenta-se que essa abordagem
simplista leva a conclusões falaciosas e especulativas, ignorando a sensibilidade dos
instrumentos de medida e a necessidade de uma análise rigorosa dos dados
experimentais. Dessa maneira, destaca-se a resistência desse pensamento pré-científico
em abandonar as intuições habituais e expandir o entendimento para além da ordem de
grandeza familiar.
Este texto apresenta uma crítica perspicaz à maneira como a compreensão
científica é dificultada pela preferência por imagens intuitivas em detrimento da
formalização matemática. O autor destaca como as representações visuais simplificadas
muitas vezes prejudicam o avanço do conhecimento, ao invés de facilitá-lo. A refração da

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luz serve como exemplo inicial, demonstrando como uma imagem grosseira pode limitar a
compreensão científica.
Além disso, o texto destaca como a falta de compreensão matemática adequada
pode levar a concepções errôneas, exemplificadas pela interpretação equivocada da
elipse como um "círculo mal feito". A importância de uma educação científica que promova
uma compreensão profunda e abrangente dos conceitos matemáticos subjacentes aos
fenômenos naturais é enfatizada.
Um ponto central do argumento é a resistência à informação matemática precisa
em favor de explicações visuais simplificadas. O autor observa que mesmo diante de
demonstrações precisas, há uma tendência de retornar às primeiras imagens vagas. Isso
é exemplificado pela crítica de Newton feita pelo padre Castel, que contesta a abordagem
matemática da refração da luz em favor de explicações baseadas em analogias visuais
inadequadas.
O texto também aborda a importância da dificuldade na compreensão dos estudos
científicos, argumentando que a dificuldade é primordial para a verdadeira compreensão
e valorização da cultura científica. A resistência à matematização é vista como um sintoma
dessa dificuldade, refletindo uma preferência por explicações visuais simplificadas em
detrimento da precisão matemática.

Conclusões:
1. No decorrer do texto, o autor analisa diversos obstáculos epistemológicos, como a
explicação pela unidade da natureza, a influência do verbalismo na compreensão
dos conceitos científicos e o substancialismo na interpretação dos fenômenos
naturais. Ele também destaca a importância da psicanálise da razão para entender
e superar esses obstáculos.

2. O texto oferece uma visão abrangente e perspicaz sobre os desafios enfrentados


no processo de aquisição de conhecimento científico, tanto no contexto histórico
quanto na prática educacional contemporânea. Ele ressalta a necessidade de uma
abordagem crítica e reflexiva para superar os obstáculos epistemológicos e
promover o avanço do pensamento científico.

3. Ao destacar a importância do método científico e criticar a busca pela precisão


excessiva, o autor nos convida a repensar nossas abordagens ao conhecimento e
a buscar uma compreensão mais crítica e reflexiva da realidade.

4. Expõe as limitações do conhecimento objetivo imediato e destacar a importância


do método científico na medição e interpretação da realidade, o autor nos leva a
refletir sobre a natureza do conhecimento e as armadilhas que podem surgir em
nossa busca pela verdade.

5. É apresentada uma análise crítica perspicaz sobre a evolução da ciência e os


desafios enfrentados ao longo do caminho, destacando a importância da precisão
dos instrumentos, da sensibilidade experimental e da flexibilidade do pensamento
científico.
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6. O texto oferece uma crítica perspicaz às limitações das imagens intuitivas na
compreensão científica e destaca a importância da formalização matemática para
uma compreensão precisa dos fenômenos naturais. Ele convida os leitores a
repensarem sua abordagem à educação científica, enfatizando a importância de
uma compreensão matemática sólida para avançar no conhecimento científico.

7. O autor destaca a necessidade de explicar os conceitos científicos através de uma


combinação de abordagens matemáticas e visuais, reconhecendo que ambos têm
seu papel, mas enfatizando a importância de evitar a valorização excessiva das
imagens visuais em detrimento da precisão matemática.

Resenha crítica do livro:


MORIN, E. Ciência com consciência. 8. ed. Rio de Janeiro: Bertrand, 2005.

Capítulo 2: O conhecimento do conhecimento científico


Inicialmente, o autor menciona o movimento do Círculo de Viena, que defendia uma
filosofia baseada em enunciados observáveis e verificáveis. No entanto, essa busca por
fundamentos sólidos acabou enfrentando desafios, como o teorema da indecidibilidade de
Gödel e as limitações da verificabilidade como critério único de cientificidade.
Karl Popper surge como uma figura central ao introduzir o conceito de "falibilismo",
defendendo que uma teoria científica deve ser falível e estar aberta à refutação. Ele propõe
o princípio da "falseabilidade", argumentando que uma teoria deve poder ser falsificada
para ser considerada científica.
A discussão se estende para a questão da objetividade na ciência, enfatizando que,
embora os dados científicos se baseiem em observações objetivas, as teorias em si são
construções mentais que refletem a interpretação dos pesquisadores. A objetividade é
alcançada por meio de verificações intersubjetivas, mas também é influenciada por fatores
sociais, culturais e históricos.
Além disso, o texto aborda a influência de pressupostos, postulados metafísicos e
interesses na construção do conhecimento científico. Ele menciona a ideia de themata,
paradigmas e programas de pesquisa como elementos que orientam a atividade científica
e que, muitas vezes, não são diretamente derivados da observação ou da experimentação.
O texto destaca a importância da criatividade na ciência, enfatizando que a mente do
cientista desempenha um papel fundamental na formulação de teorias e na descoberta
científica. No entanto, essa criatividade muitas vezes escapa à análise lógica,
representando um desafio para a compreensão do processo científico.
O autor também discute sobre imprinting, um fenômeno observado na etologia
animal, e o compara ao processo de aprendizado e formação de ideias na universidade.
Ele argumenta que assim como os animais imprimem em suas mentes uma figura como
sua "mãe", os estudantes também são influenciados por suas experiências educacionais,
o que pode moldar sua maneira de pensar e abordar problemas. Em seguida, aborda
questões relacionadas à sociologia da invenção e à dissidência na pesquisa acadêmica,
destacando os desafios enfrentados pelas comissões e a necessidade de reformas para
favorecer a originalidade.

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Ao longo do texto, o autor examina a relação entre arte e ciência, argumentando
que esses dois campos têm elementos em comum e podem se beneficiar de uma maior
integração. Ele também discute diferentes abordagens da evolução científica,
contrastando a visão "darwiniana" de Popper com a teoria de Kuhn sobre mudanças de
paradigma. Além disso, o autor enfatiza a importância dos conflitos de ideias na ciência e
como esses conflitos contribuem para o seu progresso, enquanto reconhece os desafios
impostos por interesses externos e pressões sociais. O autor defende uma visão mais
ampla e interdisciplinar da ciência, argumentando que ela deve se relacionar de forma
mais próxima com a arte e a filosofia. Ele sugere que a ciência não é uma atividade isolada,
mas está intrinsicamente ligada a outras formas de conhecimento e expressão humana.
Outro ponto abordado é a relação entre ciência e democracia, com o autor
destacando a importância da liberdade de pensamento e da crítica intersubjetiva para a
objetividade científica. Ele argumenta que a ciência é uma atividade construída pela mente
humana e pela comunidade científica, que se baseia na livre comunicação e na crítica
aberta.
O texto traz uma discussão entre duas pessoas (Edgar Morin e o interveniente)
sobre vários aspectos da ciência, tecnologia e conhecimento, na qual se nota uma relação
entre mudanças de paradigma científico e avanços tecnológicos, destacando a
interdependência entre ciência e tecnologia.
Uma das principais questões levantadas é a interdependência entre
desenvolvimento científico e tecnológico. O texto destaca que as grandes revoluções
científicas muitas vezes estão intimamente ligadas ao avanço das tecnologias disponíveis
em determinado momento. Além disso, ressalta-se a importância das tecnologias na
ampliação do campo do cognoscível, possibilitando a descoberta de novos dados e,
consequentemente, a revisão de teorias estabelecidas.
Outro ponto relevante é a discussão sobre a crise na ciência, que ocorre quando
uma teoria não consegue mais integrar os dados observados, levando à necessidade de
revisão ou substituição do paradigma dominante. A crítica ao conceito de demarcação
entre ciência e não-ciência também é abordada, destacando a complexidade e a fluidez
dos limites entre esses campos.
O papel do inconsciente no pensamento científico é outro tema explorado,
sugerindo que a mente humana opera em grande parte de forma inconsciente,
influenciando o processo de construção do conhecimento. A discussão sobre as limitações
do conhecimento humano e a natureza da realidade também traz reflexões filosóficas
importantes.
A reflexão se estende à democratização do conhecimento científico e aos
problemas decorrentes da especialização disciplinar. O autor critica o elitismo que pode
surgir quando os especialistas monopolizam o poder de decisão, ao passo que novos
problemas requerem uma abordagem mais ampla e interdisciplinar. Ele também aponta
para a necessidade de preservar a diversidade de opiniões e a tolerância às dissidências
dentro da comunidade científica.
A discussão no texto segue pontuando questões fundamentais sobre os limites do
conhecimento humano, o papel da ciência na sociedade e os desafios enfrentados pelos
cientistas e pesquisadores, essas questões estão relacionadas abaixo:

• Limites do Conhecimento: Os autores discutem como nosso entendimento do


mundo é limitado pela capacidade de nossa mente e pelos instrumentos que temos

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para investigá-lo. Apesar dos avanços da ciência, existem aspectos da realidade
que permanecem além do alcance do nosso entendimento.

• Dualidade da Ciência e Tecnologia: A origem da ciência ocidental está ligada ao


desenvolvimento tecnológico e às convulsões sociais que caracterizaram a história
do Ocidente. Enquanto as grandes descobertas científicas impulsionaram o
progresso tecnológico, elas também causaram mudanças sociais significativas.

• Ciência e Sociedade: O texto aborda o dilema da especialização na ciência e como


isso pode levar a uma perda de perspectiva e de diálogo interdisciplinar. Também
discute o papel da ciência na democracia e como a especialização excessiva pode
minar a participação pública nas decisões científicas.

• Ciência Aplicada e Pura: Há uma distinção entre ciências motivadas pelo interesse
reflexivo (como a física teórica) e ciências motivadas pela eficácia prática (como a
engenharia e a tecnologia). Enquanto a primeira busca a verdade, a segunda busca
soluções práticas, o que pode criar conflitos de interesse e direcionar a pesquisa
de maneiras distintas.

• Desafios da Interpretação: A interpretação dos dados científicos é fundamental para


a construção do conhecimento, mas também pode ser influenciada por
preconceitos e limitações humanas. A interpretação errônea dos dados pode levar
a conclusões equivocadas e a perpetuação de teorias falsas.

• Democracia na Ciência: O texto levanta questões sobre como garantir a diversidade


de perspectivas e o diálogo aberto na comunidade científica, sem cair em uma
mediocracia ou elitismo. A democracia na ciência envolve permitir a participação de
diferentes vozes e garantir a tolerância às divergências de opinião.

Uma das principais críticas feitas é a ideia de que os sistemas conceituais e


semânticos não possuem meios suficientes para se autojulgar ou se explicar
completamente, exigindo a introdução de metassistemas para uma compreensão mais
ampla. O autor ressalta que, como membros de uma sociedade, somos parte do sistema
que tentamos entender, o que leva a um problema situacional de indecidibilidade. Embora
seja possível buscar meios de descentração para obter uma visão mais ampla, não
podemos nos "metassistematizar" completamente.
Além disso, o autor compartilha sua experiência pessoal na área da sociologia,
destacando os desafios enfrentados na academia, como a sobrecarga do mercado de
trabalho e a dificuldade de obter reconhecimento acadêmico. Ele também critica o sistema
de financiamento de pesquisas e a forma como os recursos são utilizados, muitas vezes
de maneira inadequada ou questionável.
Outro ponto abordado é a relação entre ciência e mídia, destacando como a
divulgação científica muitas vezes simplifica ou distorce questões complexas, perdendo a
oportunidade de envolver os cidadãos em discussões mais profundas e reflexivas sobre o
universo em que vivemos.

Conclusões:
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1. É enfatizada a importância da crítica, da objetividade e da criatividade na
construção do conhecimento científico. O texto questiona a distinção nítida entre
esses interesses, sugerindo que eles muitas vezes se entrelaçam na prática
científica.

2. O texto oferece uma reflexão profunda sobre os desafios epistemológicos e sociais


enfrentados pela ciência contemporânea, levantando questões relevantes sobre a
natureza do conhecimento, a democratização do saber e os limites da
especialização disciplinar.

3. O autor também critica a ideia de uma ciência pura e defende a necessidade de


uma maior interação entre ciência, arte e filosofia. Ele argumenta que a ciência é
um processo contínuo de construção e desconstrução, que se auto-organiza dentro
de um contexto cultural e social mais amplo.

4. Ele destaca a importância de reconhecer os limites do conhecimento humano e


promover um diálogo aberto e inclusivo dentro da comunidade científica e com o
público em geral.

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