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Fertilidade

Nutrição Mineral de Plantas


Volnei Pauletti*

A
nutrição mineral de plantas estuda (Ca), magnésio (Mg), enxofre (S), cloro
os nutrientes minerais e os meca- (Cl), cobre (Cu), manganês (Mn), boro
nismos que governam a sua absor- (B), zinco (Zn), ferro (Fe), níquel (Ni) e
ção e transporte dentro da planta e as molibdênio (Mo). Alguns elementos são
funções que exercem sobre o metabolis- considerados benéficos para as plantas,
mo e crescimento das plantas. Também como o sódio (Na), selênio (Se), silício
relaciona a presença de nutrientes com (Si) e cobalto (Co), no entanto, não são
os fatores que afetam as plantas como essenciais por não cumprirem os três re-
pragas, doenças e seca. quisitos de essencialidade citados acima.
Um material vegetal fresco ou vivo, Por exemplo, plantas de mangue acu-
contém entre 80 – 90% de água. Teci- mulam Na, enquanto o Co é necessário
dos inativos ou mortos possuem menos para a fixação do N do ar por bactérias
água, assim como as sementes que po- nos nódulos de raízes de leguminosas
dem ter apenas alguns pontos porcen- (como na soja), bem como para bacté-
tuais de umidade. Retirando a água do rias de vida livre que fixam N2. O Si é
tecido sobram 10-20 % de material seco. benéfico para certas algas e cavalinhas.
Esse material seco, ou mais comumente A quantidade de nutrientes em te-
chamado de matéria seca, é composto cidos vegetais varia em função do tipo
em mais de 90% por carbono (C), hidro- de planta, das condições climáticas du-
gênio (H) e oxigênio (O). rante o desenvolvimento das plantas, da
Portanto, apenas 10% da matéria composição química do meio e da ida-
seca de uma planta é formada por outros de do tecido, entre outros. Uma folha
elementos, o que representa entre 1% e madura geralmente contém uma con-
2% do total do peso da planta. É impor- centração maior de nutrientes que uma
tante considerar que a presença de um folha jovem. Da mesma forma uma folha
elemento na planta não garante que ele madura pode ter maior quantidade de
seja essencial para o seu ciclo vital. Ele- nutrientes que uma folha velha, pois esta
mentos não-essenciais e até mesmo tóxi- perde minerais solúveis em água que são
cos podem ser absorvidos pelas plantas, lavados pela chuva ou então transloca
pois elas apresentam capacidade limita- esses minerais para as folhas mais novas.
da de selecionar os minerais que absorve Os nutrientes essenciais são dividi-
pela raiz ou pela folha. Um exemplo dis- dos em macronutrientes e micronutrien-
so é o alumínio (Al) que mesmo causan- tes, conforme as quantidades exigidas
do redução do crescimento radicular em pelas plantas. Segundo Epstein e Bloom
solos ácidos e ricos neste íon, é absorvido (2006) os macronutrientes constituem
pela raiz. aproximadamente 99,5% das nutrien-
tes presentes na massa seca enquanto
1 Nutriente essencial os micronutrientes os outros 0,5%. São
considerados macronutrientes o C, H, O,
Para um elemento ser considerado N, P, K, Ca, Mg e S, enquanto os micro-
essencial para as plantas deve satisfazer nutrientes são o Fe, Cu, Mn, Zn, B, Ni, Cl
os três critérios seguintes (Arnon; Stout, e Mo. Os nutrientes C, H e O são obtidos
1939): diretamente do ar, na forma de gases ou
- A sua deficiência impede a planta dissolvidos na água, ou ainda obtidos
de completar seu ciclo vital; pela dissociação de água na planta. Os
- Não pode ser substituído por ou- demais nutrientes são obtidos principal-
tro elemento com propriedades simila- mente do solo, que tem sua composição
*Doutor, Professor da Disciplina de
Nutrição Mineral de Plantas e orientador res; relacionada com o tipo de rocha que lhe
do Curso de Mestrado em Ciências do Solo, - Deve participar diretamente do deu origem, da matéria orgânica forma-
do Departamento de Engenharia Agrícola metabolismo da planta. da a partir dos restos vegetais ou então
da Universidade Federal do Paraná, São 17 os nutrientes considerados pela aplicação de adubos orgânicos ou
Curitiba, PR. essenciais para as plantas: C, H, O, nitro- minerais.
vpauletti@ufpr.br gênio (N), fósforo (P), potássio (K), cálcio

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Para alguns nutrientes ocorrem O mecanismo fluxo de massa con- contato com a raiz por difusão, devem
outras formas de obtenção pela planta siste no movimento do nutriente junto ser aplicados próximo da raiz, enquanto
como o N, que pode ser retirado do ar com a solução (água) do solo, de uma os que se deslocam mais e tem uma con-
e fornecido para as plantas por bacté- região mais úmida (longe da raiz) para tribuição significativa do fluxo de massa,
rias que recebem em troca produtos do uma região mais seca (próximo da su- podem ser colocados mais distantes. Um
metabolismo vegetal importantes para perfície da raiz). Depende principal- exemplo típico é a aplicação dos adubos
a sua sobrevivência. Da mesma forma, mente da quantidade de nutriente na contendo N a lanço em cobertura.
alguns nutrientes podem ser absorvidos solução do solo e da quantidade de água Como lembrete aos produtores e
na forma gasosa pelas folhas, através dos absorvida pela planta. Os nutrientes que técnicos, a aplicação de adubos no sul-
seus estômatos. entram em contato com a raiz predomi- co de semeadura é uma forma muito
A aplicação de adubos, corretivos e nantemente por esse mecanismo são o segura de fornecimento de nutrientes
demais insumos como fonte de nutrien- N, Ca, Mg, S, B e Mo. para as plantas. A alteração da forma de
tes, tem a finalidade de disponibilizar no Na difusão o nutriente entra em aplicação, como a aplicação a lanço ou
solo, uma quantidade maior de nutrien- contato com a raiz ao se deslocar em em faixa, ou ainda aplicações em época
tes essenciais, para que a produtividade uma solução do solo estacionária (sem distante da semeadura, deve sempre ser
das culturas de interesse (como soja, mi- movimento), da parte mais concentrada orientada pelo teor do nutriente e tex-
lho, cana, eucalipto, mamão, azevém, da solução (mais distante da raiz) para tura do solo (análise de solo), exigência
etc) possa ser maior. a menos concentrada (mais próxima da da cultura, além de outro fator que possa
É importante termos em mente raiz). A distância percorrida pelo nutrien- ser considerado importante para a situa-
que tanto os macronutrientes quan- te através da difusão sempre é muito pe- ção da lavoura.
to os micronutrientes essenciais tem a quena, uma questão de milímetros. Os
mesma importância para as plantas. Ou nutrientes que entram em contato com 2.2. Como os nutrientes são
seja, caso haja deficiência de um ma- a raiz predominantemente por esse me- absorvidos pelas raízes
cronutriente, a produtividade da planta canismo são o P, K, Mn e Zn.
diminui, e da mesma forma, caso haja Os três mecanismos podem ocor- Nem todas as partes da raiz são
deficiência de um micronutriente, a pro- rer simultaneamente, mas geralmen- eficientes na absorção de nutrientes. A
dutividade da planta também diminui. te um deles é mais expressivo para um maior taxa de absorção ocorre nas partes
A grande diferença entre um macro e determinado nutriente. Por exemplo, mais novas da raiz e na região dos pe-
um micronutriente para a agricultura, mesmo tendo a difusão como principal los radiculares (Figura 1), que apresenta
diz respeito à aplicação de adubos. Para mecanismo de contato, 25% do K chega uma elevada superfície de contato com
os macronutrientes (exigidos em kg por até a raiz por fluxo de massa. o solo.
hectare) a possibilidade de resposta da A contribuição relativa dos três me- Quando feito um corte transversal
planta é muito maior do que para os mi- canismos no suprimento de nutrientes de uma raiz, identifica-se de fora para
cronutrientes (exigidos em g por hecta- para as plantas interfere, por exemplo, dentro, as seguintes principais estruturas
re). Portanto, o solo por si só, tem mais na forma de aplicação dos adubos, espe- anatômicas: epiderme, exoderme, cór-
condições de suprir as pequenas quanti- cialmente quando o teor do nutriente a tex, endoderme e cilindro central, onde
dades de micronutrientes exigidas pelas ser aplicado é baixo no solo. Elementos se encontram os vasos condutores xile-
plantas, que as grandes quantidades exi- que se deslocam menos no solo e tem o ma e floema.
gidas de macronutrientes.

2. Absorção de um nutrien-
te pela planta

2.1. Contato do nutriente com


a superfície da raiz

Para que um nutriente seja absor-


vido é necessário em primeiro lugar, que
ele esteja na solução do solo (água do
solo) e entre em contato com a raiz. Esse
contato entre raiz e nutriente se dá atra-
vés de três mecanismos (Malavolta, Vitti
e Oliveira, 1997): interceptação radicu-
lar, fluxo de massa e difusão.
Na interceptação radicular, a raiz
encontra o nutriente durante o seu cres-
cimento. Este mecanismo depende espe-
cialmente da área do sistema radicular,
ou seja, quanto maior o sistema radicu-
lar, maior a possibilidade de contato íon-
raiz. Os nutrientes Cu e Fe apresentam
nesse mecanismo um importante modo
de contato com a raiz. Figura 1. Regiões radiculares e suas funções.

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Para ser utilizado pela planta em Qualquer íon pode circular livre- timentos do ELA (como a retenção nas
seu metabolismo, o nutriente deve en- mente da solução do solo para o interior cargas da parede celular ou então ser
trar nas células da raiz e da parte aérea. das raízes, se movimentar pelo ELA e re- perdido para o solo), no entanto, espe-
De forma resumida, o metabolismo é a tornar para o espaço externo (solo). Por cialmente em caso de deficiência, o íon
forma com que as plantas convertem os essa razão, não se pode considerar que pode ser retido na própria célula radicu-
nutrientes através da energia solar em os íons que estão no ELA, embora dentro lar para ser usado no metabolismo local
matéria seca ou, considerando o inte- da raiz, tenham sido realmente absorvi- e não ser deslocado para a parte aérea.
resse do ser humano, em produtividade. dos. Para que o íon seja absorvido, deve Assim a raiz estaria bem nutrida enquan-
Essa conversão é realizada pela fotossín- atravessar a membrana plasmática e pas- to a parte aérea da planta apresentaria
tese nas folhas. sar para o espaço interno da célula. deficiência. O íon fosfato (H2PO4-) é uma
Para atingir as folhas, ramos e fru- O espaço contínuo formado pelo das espécies iônicas absorvidas pela via
tos, o nutriente precisa chegar aos vasos conjunto de espaços existentes entre as simplástica.
condutores (xilema) que ficam no cen- células e os macro e micro poros da pa-
tro da raiz (ver Figura 1). Para entender rede celular (ELA), é também denomina- 2.3 Absorção propriamente
como isso ocorre, devemos saber que as do de apoplasma. Quando um nutriente dita
células vegetais apresentam uma parede percorre o ELA e atravessa a membrana
celular externa, rígida, e uma membra- plasmática de uma célula da endoderme Como exposto anteriormente, a
na interna, conhecida como membrana (ver Figura 2) para então atingir os vasos absorção de um determinado íon ou
plasmática ou plasmalema. Esta última condutores (xilema) que o levarão para a nutriente ocorre realmente quando este
além de permitir trocas entre o ambien- parte aérea da planta, considera-se que passa do substrato (solo, solução nutri-
te externo e interno da célula, também esse íon foi absorvido pela via apoplásti- tiva) através da membrana celular para
permite que o interior da célula tenha ca. O íon K+ é um exemplo de nutriente o interior da célula (citoplasma, vacúo-
composição diferente do meio que a cir- absorvido por essa via. lo). A membrana celular (plasmalema
cunda. No entanto, alguns nutrientes são ou membrana plasmática) é formada
Após entrar em contato com a absorvidos, ou seja, atravessam a mem- por uma dupla camada de fosfolipídios
superfície externa da raiz por intercep- brana plasmática, já na parte mais exter- e é impermeável à água e íons. Se um
tação radicular, fluxo de massa ou difu- na da raiz, nas células da epiderme ou nutriente está solúvel na água (solução
são (como apresentado no item 2.1), o do córtex (ver Figura 2). Nesse caso, o do solo ou adubo foliar, por exemplo),
nutriente alcança primeiro as células da íon é deslocado de uma célula para ou- terá dificuldades para atravessar a mem-
epiderme. Na parede celular das célu- tra, até atingir a endoderme e depois o brana.
las existem poros (microporos e macro- xilema. Esse deslocamento só é possível Alguns íons podem passar pela
poros) por onde circulam a água e os devido à ocorrência de canais que ligam membrana por simples difusão, mas o
nutrientes. Esses poros mais os espaços uma célula a outra, os plasmodesmos. A que permite que a maioria dos nutrien-
existentes entre as células, formam um parte interna das células é chamada de tes seja absorvida é a presença de prote-
ambiente denominado de “espaço li- simplasma. Portanto, os íons que se des- ínas que estão incrustadas e atravessam
vre”. Esse “espaço livre” é dividido em locam de célula a célula desde a epider- a membrana celular. Essas proteínas
locais sem presença de cargas, onde me ou córtex até atingir o parênquima formam os três sistemas que atuam no
água e nutrientes circulam livremente, e vascular (xilema), seguem a via simplás- transporte de íons: as bombas iônicas,
outro ambiente onde existem cargas, e tica de absorção. os transportadores de íons e os canais
os nutrientes têm sua circulação limita- Ao ser absorvido pela via simplásti- iônicos. As bombas iônicas atuam no
da, o que dá origem ao conceito “espaço ca, o íon evita as limitações ou restrições transporte ativo de íons (contra o gra-
livre aparente” ou ELA. de deslocamento dos diversos compar- diente de potencial eletroquímico), com

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Ao ser aplicado em solução sobre a
folha, o nutriente segue o caminho apre-
sentado abaixo (Figura 3). A cutícula,
portanto, é o primeiro obstáculo encon-
trado pelo nutriente antes de ser absor-
vido na folha, sendo composta por cera,
cutina, celulose e pectina. A cutícula tem
função de proteger a folha evitando que
ocorram perdas excessivas de água e a
lavagem de solutos pela chuva. A cera e
a cutina são hidrofóbicas (repelem água)
e a pectina e a celulose são hidrofílicas,
ou seja, atraem água (Camargo; Silva,
1975). Com isso, substâncias polares ou
solúveis em água penetram na cutícula
através da pectina, e substâncias apolares
ou insolúveis em água atravessam a cutí-
cula através da cera ou cutina.
Após a passagem pela cutícula, os
mecanismos que governam a absorção
são muito similares aos que ocorrem nas
Figura 2. Representação geral de um corte transversal de uma raiz. raízes (itens 2.2 e 2.3).
A absorção foliar de nutrientes le-
o uso direto de energia metabólica. Os ção de gases utilizados no metabolismo vou ao desenvolvimento da técnica da
transportadores de íons (carreadores) da planta. Entre os mais expressivos es- adubação foliar. Várias empresas atuam
transportam íons a favor do gradiente tão o gás carbônico (CO2), cuja principal no Brasil, disponibilizando ao produtor
de potencial eletroquímico (transporte forma de obtenção é através dos estô- suas marcas e produtos. A adubação
passivo) sem troca (uniporte) ou com matos, a amônia (NH3), o óxido nitroso foliar, portanto, é uma técnica eficiente
troca (antiporte) por outra espécie iôni- (NO) e o gás sulfuroso (SO2). Plantas po- de fornecimento de nutrientes para as
ca de mesma carga. Os transportadores dem obter via foliar de 5-30 kg de S por plantas. Assim como para correção do
também podem fazer o transporte ativo hectare por ano, com maiores valores solo e aplicação de adubo na semeadura,
de um cátion ou um ânion quando esses em áreas próximas a regiões industriali- cabe ao assistente técnico do produtor e
entram na célula, acompanhados de ou- zadas. Em pastagens, estima-se em 100- ao próprio produtor, decidir sobre a ne-
tro íon, este sim, a favor de seu potencial 400 g de N por hectare por dia como cessidade de aplicação destes insumos. A
eletroquímico. Os canais iônicos, quan- sendo proveniente da absorção foliar de fundamentação científica, especialmente
do abertos, formam poros seletivos que NH3 (Marschner, 1986). através de experimentos regionais, é que
transportam íons sempre a favor do gra- O que diferencia a absorção de deve orientar a aplicação dos adubos
diente de potencial eletroquímico. Pelos um nutriente pela raiz ou pela folha é a foliares. Normalmente a aplicação foliar
canais a passagem de um nutriente ou presença da cutícula, que é uma camada de macronutrientes traz pouco resultado
molécula é rápida. Um importante canal que existe sobre toda a folha. Esta cutí- devido a grande quantidade exigida pela
descoberto pela pesquisa é a aquapori- cula varia em composição e espessura. planta. Algumas exceções, como a apli-
na, que permite a rápida passagem da Podemos perceber esta diferença, por cação de Ca em maçã e em tomate, são
água pela membrana. Após esta desco- exemplo, quando colocamos uma gota bem discutidas e fundamentadas.
berta foi possível justificar como a absor- de água sobre uma folha. Em algumas Como consenso da maioria dos
ção pela raiz consegue suprir a grande a gota escorre rapidamente, enquanto pesquisadores, o fornecimento de nu-
demanda de água da parte aérea das em outras a gota permanece por mais trientes para a planta através das folhas
plantas. tempo ou se espalha. O que confere esta deve ser uma técnica complementar ao
diferença é principalmente a cutícula. fornecimento de nutrientes através das
2.4. Absorção de nutriente raízes (adubação no solo).
pela folha

As plantas iniciaram seu desenvol-


vimento em meio aquático (no mar),
sendo que com a evolução, houve neces-
sidade de adaptação para o crescimento
fora da água. As raízes se especializaram
no suporte da planta e na absorção de
água e nutrientes, enquanto a parte aé-
rea na fotossíntese. No entanto, as folhas
mantiveram a capacidade de absorver
nutrientes.
Na folha ocorrem os estômatos
que são uma importante via de penetra- Figura 3. Caminho percorrido por um nutriente ao ser aplicado sobre a folha.

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3. Transporte e redistribui- elaborada, para serem redistribuídos, ou mais velhos diminuindo para os mais
ção dos nutrientes seja, enviados para outros órgãos como novos (veja exemplo do K na Figura 4)
folhas e raízes novas e frutos. ou mais intenso nos tecidos mais novos e
Segundo Malavolta; Vitti; Oliveira Alguns nutrientes não circulam no diminuindo no sentido dos mais velhos.
(1997), o transporte de um determinado floema, ou seja, uma vez depositados Na identificação visual é importan-
nutriente ou composto pode ser defini- em um tecido vegetal, não são remobi- te considerar a existência de outros fato-
do como sendo o movimento desse íon lizados para outra parte da planta. No res que podem ocasionar sintomas pare-
ou composto do local de absorção para entanto, outros nutrientes são móveis e cidos com os de deficiências nutricionais
outro local. Já a redistribuição, é o mo- se deslocam no floema. Essa variação na como toxidez por herbicidas (Figura 7),
vimento do nutriente ou composto do mobilidade/remobilização na planta, ser- pragas, doenças, geada, entre outros. A
local de residência (órgão) para outro. vem na prática, para sabermos a posição comprovação de deficiência poderá ser
Os nutrientes, após atingirem os em que ocorrem os sintomas de defici- obtida através da análise química da fo-
vasos do xilema na raiz (ver Figura 2) ência dos nutrientes. Para os nutrientes lha ou outro tecido.
pelas vias apoplástica ou simplástica de imóveis (Ca, S, B, Mn, Zn, Cu, Fe e Ni),
absorção (item 2.2), seguem para a parte os sintomas são percebidos inicialmente 4. Avaliação do estado
aérea das plantas, onde são novamente nos tecidos mais novos, enquanto que nutricional das plantas
depositados nos espaços livres das célu- para os nutrientes móveis (N, K, P, Mg e
las, equivalentes ao espaço livre das raí- Cl), percebe-se os sintomas inicialmente Quando a deficiência ou excesso de
zes (ELA). O transporte a longa distância nos tecidos mais velhos. um determinado nutriente são percebi-
(raiz – parte aérea) através do xilema, Nas Figuras 4, 5 e 6 são apresenta- dos visualmente, o crescimento ou a pro-
utiliza a água como agente e é governa- dos exemplos de sintomas de deficiên- dução possivelmente já foi comprometi-
do pela diferença de potencial osmóti- cia de K em soja, de N em milho e de B do, pois o sintoma visível é o fim de uma
co e hídrico (gerado pela transpiração). em mamona. Observa-se que a posição série de alterações metabólicas ocorridas
Nas células dos tecidos da parte aérea, onde ocorre o sintoma mais evidente de na planta. A identificação da deficiência
os nutrientes precisam novamente des- deficiência é nos tecidos (folhas) mais ve- nutricional antes da ocorrência visual do
locar-se através dos macro e microporos lhos para os nutrientes móveis na planta sintoma é possível através da análise quí-
da parede celular, alcançar a membrana (K e N) e nos tecidos mais novos para o mica de tecidos, normalmente análise da
plasmática, ser transportado através da Fe que é imóvel na planta. É importante folha que é o principal órgão utilizado.
membrana plasmática e então atingir a ressaltar que dificilmente será possível A avaliação do estado nutricional
parte interna da célula. observar sintoma de deficiência nutri- através da análise química tem como
Após entrarem na célula, os nu- cional na parte intermediária de uma pressuposto comparar uma amostra
trientes podem entrar no metabolismo planta. A ocorrência de uma deficiência com um padrão. Um padrão entende-se
celular ou ser deslocados via simplás- nutricional em plantas sempre segue um como uma planta ou plantas, um tecido
tica em direção ao floema, que são va- gradiente de intensidade, sendo mais in- ou parte de um tecido de uma planta
sos condutores que transportam a seiva tenso nos tecidos (normalmente folhas) considerada normal, que tenha propor-

Figura 4. Sintoma de deficiência de potás- Figura 5. Folhas mais velhas de milho secas Figura 6. Morte do meristema apical e for-
sio em soja, em grandiente, sendo ou amareladas em função da defi- mação de ramos laterais em fun-
mais intenso nas folhas mais velhas ciência de nitrogênio. ção da deficiência de boro em
e menos intenso nas folhas mais mamona.
novas.

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uma análise de uma amostra coletada
no florescimento com outra coletada na
maturação fisiológica da planta. Da mes-
ma forma, não é possível comparar uma
folha sem doença com outra afetada por
alguma doença.
Se a quantidade de um determi-
nado nutriente essencial está abaixo
do nível necessário para o crescimento
ótimo, a planta é considerada deficien-
te naquele nutriente. O nível crítico é o
conceito normalmente utilizado na ava-
liação do estado nutricional das culturas
por análise de tecido (Epstein e Bloom,
2006), representando a concentração do
nutriente acima da qual a planta expres-
sa o máximo ou o ótimo crescimento ou
produção. Abaixo do nível crítico ocorre
deficiência do nutriente.
O nível crítico não é um valor fixo,
Figura 7. Sintoma de ocasionado em soja pela aplicação de herbicida (glyphosate), semelhante mas uma faixa de teor do nutriente, na
à deficiência de manganês. qual a planta encontra-se suficientemente
bem suprida. Na Figura 8 é apresentada
a curva que relaciona o teor de nutrien-
te com a produção (ou crescimento) de
uma determinada planta. Quando o teor
do nutriente está abaixo do nível crítico,
a produtividade é menor do que o poten-
cial máximo possível de ser obtido. Nesta
condição espera-se aumento significativo
da produtividade ou do crescimento da
planta com a adubação. Entre o nível crí-
tico inferior e o nível crítico superior estão
os valores considerados “adequados” do
nutriente. Como entre esses valores não
ocorre aumento significativo da produ-
ção, considera-se que a absorção de nu-
trientes atende a um “consumo de luxo”.
Após essa etapa, continuando a absor-
ção, a concentração do elemento pode
tornar-se tóxica ou causar algum dese-
quilíbrio no metabolismo, diminuindo o
Figura 8. Representação da variação da produção de uma planta de acordo com o teor foliar
crescimento ou produção.
de um determinado nutriente.
A amostragem de tecidos exige
um determinado rigor para evitar erros
cionado altas produtividades ou altas ta- de interpretação. Em uma planta, num
xas de crescimento. Essas características mesmo local, o teor dos nutrientes pode
geralmente são determinadas em experi- variar em função do órgão que é analisa-
mentos que avaliam de maneira contro- do ou da parte do mesmo, da época em
lada o fornecimento de nutrientes para que é colhido, das condições de clima, da
as plantas. Por outro lado, uma amostra presença ou ausência de frutos, de apli-
significa uma ou várias plantas, um teci- cações foliares de nutrientes ou produtos
do ou parte de um tecido, representan- fitossanitários e de outros fatores, o que
do uma planta ou um talhão da cultura mostra a necessidade de padronização
que se pretende avaliar. da amostra.
Para avaliação do estado nutricio- Normalmente em manuais de
nal das plantas é fundamental a simila- adubação e calagem são apresentadas
ridade entre a amostra que será avaliada tabelas que contém os níveis considera-
e o padrão. Por exemplo, deve-se cole- dos adequados para as culturas. Pauletti
tar tanto na amostra como no padrão (2004) apresenta uma revisão contendo
o tecido na mesma posição na planta, os tecidos a serem coletados e seus res-
no mesmo estádio fenológico ou idade, pectivos níveis de interpretação (Tabelas
no mesmo estado fitossanitário e assim 1 e 2).
por diante. Não é possível comparar

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Tabela 1. Amostragem para diagnose foliar em algumas culturas (adaptado de Pauletti, 2004).

Tabela 2. Teores de nutrientes considerados adequados para algumas culturas (adaptado de


Pauletti, 2004).

Referências Bibliográficas

ARNON, D.J.; STOUT, P.R. The essentiality of certain elements in minute quantity for plants with
special reference to copper. Plant Physiol., 14:371-375, 1939.
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MALAVOLTA, E.; VITTI, G. C.; OLIVEIRA, S.A. Avaliação do estado nutricional das plantas:
princípios e aplicações. 2.ed. Piracicaba, Potafos, 1997. 319p.
MARSCHNER, H. Mineral nutrition of higher plants. 2 ed. London, Academic Press, 1986.
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PAULETTI, V. Nutrientes: teores e interpretações. Castro, Fundação ABC, 2004. 86 p.

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