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ASCENSÃO DE HERÓIS

UMA RIVALIDADE
AMIGÁVEL

Um Conto de Justin Groot, Gavin Jurgens-Fyhrie e Miranda Moyer


HISTÓRIA
Justin Groot, Gavin Jurgens-Fyhrie,
Miranda Moyer
ILUSTRAÇÕES
HANNAH TEMPLER
EDITORIAL
Chloe Fraboni
PRODUÇÃO
Brianne Messina, Amber Thibodeau
DESIGN
Jessica Rodriguez
CONSULTORIA DE HISTÓRIA
Madi Buckingham, Ian Landa-Beavers
CONSULTORIA DA EQUIPE DO JOGO
Jeff Chamberlain, Gavin Jurgens-Fyhrie,
Peter C. Lee, Miranda Moyer, Dion Rogers
AGRADECIMENTOS ESPECIAIS
Ian Landa-Beavers, Maddiy Cook
TRADUÇÃO
XX

© 2024 Blizzard Entertainment, Inc.


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E ntão, eu sei que parece ruim”, disse Junkrat, lutando contra as correntes para coçar o nariz.
Mako Rutledge, conhecido com Roadhog, seu parceiro bem maior e bem mais acorren-
tado, não respondeu. Através de uma janela gradeada alta na parede, veio um som de algo sendo
esmagado e um grito, como se alguém houvesse perdido algum membro importante.
Junkrat não estava ouvindo. Ele tinha uma forte desconfiança de que seu melhor amigo estava
nervoso. “Relaxa!”, disse. “Deixa que eu cuido de toda a conversa. Se as coisas começarem a sair
do controle, eu posso falar pra dona Rainha onde tá o tesouro.”1
Roadhog permaneceu quieto.
“Ah, qual é?”, continuou Junkrat. “Você sabe como eu e a Rainha somos! Somos unha e carne!
Mas não que nem você e eu”, adicionou rápido. “É como...”
Ele cutucou os ladrilhos lascados do chão com um dedão sujo.
“Uma rivalidade amigável!”, concluiu. “Às vezes não tão amigável, mas nós nos respeitamos,
entende? É um respeito mútuo.”
Roadhog resmungou. Junkrat aceitou isso como um sinal positivo.
“Pois é, talvez a gente troque um papo-cabeça.” Junkrat deu de ombros. “Aí, a gente faz uma
declaração das nossas mais sinceras desculpas, passa um tempo escavando no Poço de Lama... e
depois? A gente volta para o bar para tomar um chá de pobá e comer batatinhas de grilo!”
Roadhog não parecia aliviado. Para Junkrat, ele parecia um pouquinho mais preocupado.
“Tá bom”, admitiu Junkrat. “Talvez a gente tenha que passar alguns dias no xilindró. Uma
semana, no máximo. É com isso que você tá preocupado?”
Silêncio.
Junkrat estalou os dedos. “Você acha que devíamos fugir agora! Tem razão. Que esperar pela

1 O fato de Junkrat saber de um tesouro secreto escondido sob Junkertown era o segredo mais mal guardado da Austrália. Se você viajasse por
milhares de quilômetros pelo deserto irradiado, o eremita que você encontraria diria: “Junkrat? Já ouvi falar dele. Ele tem um tesouro secreto, não é? Não
fecha a matraca falando dele.”

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BEM NO ALTO, EM UM ASSENTO ACIMA DA ARENA, ESTAVA A
RAINHA JUNKER, COM QUASE DOIS METROS DE ARMADURA,
CICATRIZES, MÚSCULOS E UMA FACA BEM GRANDE. SEU
MACHADO, CARNIFICINA, ASSOMAVA SOBRE O OMBRO DELA
COMO A PROMESSA DE UMA MORTE DOLOROSA.

sentença o quê! Isso não é coisa de mestres criminosos como Junkrat e Roadhog! Já devíamos
estar no esgoto passando pela trincheira! Vamos nessa!”
Roadhog não levantou com um salto e arrancou as correntes da parede. Junkrat já estava
perdendo a paciência.
“O que foi, então? O que você tá esperando?”
A porta da cela se escancarou.
“Muito bem, senhores!”, disse o guarda. “Está na hora da execução!”
Pela primeira vez em muito tempo, Junkrat ficou sem palavras.
Roadhog suspirou.
“Finalmente.”

O Ferro-velho era uma grande arena feita de aço enferrujado, o chão uma paisagem arenosa
marcada por manchas e escombros. No centro dele havia um grande pináculo de metal segu-
rando partes robóticas e outros membros.
Sobre as paredes havia assentos abarrotados com pessoas que Junkrat conhecia desde
sempre. Tocado, ele acenou contente, e algumas delas arremessaram ovos nele.
“Eu vi isso, Wingley Scumbo!”, gritou Junkrat. “Aqui em Junkertown, nossa sábia e misericor-
diosa Rainha exige que os prisioneiros sejam tratados com respeito.”
Roadhog tocou o colega no ombro.
Bem no alto, em um assento acima da arena, estava a Rainha Junker, com quase dois metros de
armadura, cicatrizes, músculos e uma faca bem grande. Seu machado, Carnificina, assomava
sobre o ombro dela como a promessa de uma morte dolorosa.

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Ela estava sorrindo. E não era um sorriso amigável.
“Vocês dois não merecem respeito”, disse ela. “Vocês quase não têm a minha atenção. Só vim
ver a execução.”
“Isso é um ultraje!”, arfou Junkrat. “Roadhog e eu somos súditos leais. Se houver alguma
alegação contra nós, exigimos ouvir!”
A Rainha Junker olhou para ele.
“Certo”, disse ela levantando um dedo. “Tentativa de demolição do portão principal de
Junkertown.”
“Estávamos testando as suas defesas!”, protestou Junkrat.
“Destruição da barraca de Salsicha Premium do Bill Outback.” Já eram várias acusações. “Junto
com alguns dos clientes favoritos dele.”
“Nós...” Junkrat fez uma pausa e olhou para Roadhog, que concordou. “Tá legal, isso foi culpa
nossa. Foi mal, colega!”
Bill Outback afundou no assento, parecendo mais magoado que irritado.
“E o pior de tudo”, disse a Rainha Junker, aproveitando o silêncio e cerrando o punho, “o
Incidente do Biscoito.”
Uma onda de murmúrios cresceu e Junkrat olhou em volta.
“Olha nos meus olhos e diz que você teria feito diferente!”
“A sentença”, disse a Rainha Junker do alto, “é a morte pelas mãos do meu campeão.”
“Tá com medo de nos desafiar pessoalmente?”, gritou Junkrat.
“Não. Estou dando uma chance para vocês, porque a história do biscoito foi bem engraçada.
Peguem.” A Rainha chutou uma caixa da beirada, que logo se quebrou no chão.
“Inacreditável”, resmungou Junkrat, vasculhando os escombros. Ele pegou as seis granadas de
uma bandoleira até que bonita, enquanto Roadhog enrolava a corrente de gancho no antebraço
carnudo.
A enorme porta de ferro no lado oposto da arena se ergueu. Atrás dela, uma bocarra de
escuridão.
“Não é maravilhoso?” Junkrat suspirou. “Morrer pelas mãos do campeão! Mas que honra!”
“Você morre”, disse Roadhog. “Eu vivo.”
“Latoeiros e Demolidores, Desmanteladores e Sucateiros...”2 A Rainha Junker impôs o machado.
“O seu e o meu campeão: Wrecking Ball!”

2 A Rainha governa Junkertown, mas as facções fazem a cidade funcionar, ou quase isso. Sucateiros encontram partes para os Desmantela-
dores e Latoeiros construírem aparelhos encantadores. Demolidores, de modo geral, gostam de demolir coisas, mas de um jeito construtivo.

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Uma garra se prendeu no topo do portal, e um grande mecha em forma de bola se balançou
pelo ar. Roadhog agarrou Junkrat pela bandoleira e o arremessou para longe do caminho.
No ar, dois canhões de artilharia quádrupla saíram da bola e abriram fogo, triturando a areia
onde Junkrat estava antes. A plateia berrou e assobiou. Junkrat, que havia aterrissado de cabeça,
não estava feliz com a situação.
“Nunca perdeu nenhum confronto e nunca sai do mecha!”, disse uma voz próxima na plateia.
“Ninguém nunca nem viu a cara dele!”
“Por quê? Será que é muito feio?”, disse outro espectador.
“Pode ser. Mas pensa só. Nesse calor? E nunca sai do mecha?”
“Deve ser um fedor danado. Tipo um esgoto só de queijo”, gritou Junkrat, com vontade de
participar da conversa.
“Se mexe, idiota”, disse Roadhog. Nenhum dos dois viu o mecha balançar, quicar em uma
parede e disparar em direção a eles como um cometa assassino.
Junkrat levantou o dedo para responder, mas Roadhog já havia sido empurrado em direção à
parede distante a uma velocidade absurda, preso na massa do campeão.
Pedras foram esmagadas. A multidão gemeu. A Rainha gargalhou de cima do trono.
Junkrat arrancou uma granada da bandoleira, puxou o pino, porque ele trabalhava melhor sob
pressão, e olhou para cima.
A garra do Wrecking Ball estava indo direto para a cabeça dele. Junkrat saiu do caminho e
pegou a linha enquanto ela se retraía, açoitava e assobiava. A força o arrancou do chão e o jogou
para o ar, como um pássaro cor de pó. No caminho até o mecha, ele soltou a granada.
“Roadhog!”, berrou enquanto disparava em direção ao chão. “Me segura!”
Roadhog não segurou. Ele estava caído no canto da arena, imóvel.
Enquanto Junkrat quicava pelo chão, a granada explodiu. Conferindo se havia perdido algum
dente, Junkrat se pôs de pé, espiando pela cratera de fumaça onde Wrecking Ball estivera.
Onde Wrecking Ball ainda estava. A armadura do mecha parecia, no máximo, manchada, e uma
pequena escotilha no topo parecia solta. Mas só.
“Bola maldita!”, xingou Junkrat, fervoroso.
Com uma respiração ruidosa profunda, um Roadhog vivíssimo deu um passo à frente, girou a
corrente de gancho e arremessou. O gancho se prendeu bem fundo na escotilha. Com os
músculos se movendo sob a carne, Roadhog puxou e...
Arrancou um painel inteiro da armadura do mecha.
Lá, nos controles do mecha, piscando com a luz súbita, havia um hamster. Ele era só um
pouquinho maior que os hamsters que não pilotam mechas — e tinha um moicano.

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A multidão ficou em silêncio. Então alguém finalmente levantou a voz.
“Esse é o campeão?”, perguntou Bill Outback.
O hamster sacudiu o punho e chilreou com raiva. Luzes se acenderam na frente do mecha.
“Ele diz: ‘Você vai pagar por isso’”, traduziu o mecha.
Saltando, a multidão rugiu em aprovação.
O hamster mergulhou no centro do mecha e a artilharia quádrupla se armou. Junkrat e Roadhog
se jogaram para lado opostos quando as balas zuniram por eles.
“Tá tudo bem, Roadhog!”, arfou Junkrat, arrancando outra granada da bandoleira. “Só temos
que... manter distância...”
Mas a multidão estava entoando.
“Girando e matando! Girando e matando!”
O mecha parou na areia. O hamster apareceu e concordou com a cabeça. Uma garra disparou
do mecha e se prendeu no pináculo no centro da arena.
Devagar a princípio, mas ficando cada vez mais rápido, o mecha girou ao redor do centro,
ficando mais e mais firme. Ele se tornou um borrão de metal, um círculo assassino crescente.
Junkrat e Roadhog se afastaram.
“Você vai ver só!”, gritou Junkrat para a Rainha.
Ela se inclinou na sacada. “E você vai virar papa.”
Junkrat mordeu o pino da granada pensativo e olhou para o hamster que girava no pináculo...
Ele jogou a granada.
A explosão atingiu bem em cheio. Solto, Wrecking Ball foi jogado em linha reta pela parede da
arena e, pelo som, pelas próximas três ruas.
A multidão segurou o fôlego enquanto a Rainha Junker olhava sua cidade.
“Ele está bem”, disse ela. “Parece que a nova barraca do Bill amorteceu o impacto.”
A multidão inteira, incluindo Bill, gritou de alegria quando a Rainha saltou da sacada.
“Tudo bem. Eu meio que já queria matar vocês dois com as minhas próprias mãos mesmo.”
“M-mas você não precisa”, gaguejou Junkrat. “E pensa bem, se eu morrer aqui, você nunca vai
saber onde tá o meu tesouro secreto!”
A Rainha e a plateia resmungaram em uníssono.
“Ninguém liga para o seu tesouro”, disse a Rainha Junker indo em direção a ele.
“Isso mesmo, meu tesouro secreto infame!”, disse Junkrat, aguentando o desdém com a digni-
dade ferida de um verdadeiro herói. “Porque só eu sei como passar pela Porta Final!”
Silêncio, no qual se ouvia o ranger distante de um gigantesco mecha de metal rolando com fúria
sobre a areia na direção da arena.

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“SE QUISER ATRAVESSAR A PORTA FINAL,
VAI PRECISAR DO MEU OLHO.”

A MULTIDÃO REFLETIU.

“MATEM-NO E PEGUEM SEU OLHO!”

“O que é a Porta Final?”, alguém perguntou.


“A última porta fechada do ômnium,3 tonto.”
“Ah, essa porta.”
“A Porta Final é impenetrável. Já batemos nela. Jogamos bombas. E não fizemos um arranhão
sequer.” A Rainha deu uma bronca em Junkrat. “Você nunca entrou.”
“Não só entrei, como saí!”, disse Junkrat. O som da areia sendo esmagada ficava cada vez mais
alto.
“É?”, disse a Rainha. “E como você fez isso?”
“Eu caí por uma série de buracos minúsculos pelo telhado! Encontrei uma sala de controle e a
liguei à minha própria chave especial!” Junkrat deu uma piscadinha atrevida para a Rainha. “Se
quiser atravessar a Porta Final, vai precisar do meu olho.”
A multidão refletiu.
“Matem-no e peguem seu olho!”
Wrecking Ball foi com tudo pelo buraco na parede ao mesmo tempo que uma multidão de
lacaios de Junkertown caía pelas grades. O mecha tombou com eles, como uma rolha em uma
tempestade. Do outro lado da arena, Desmanteladores queimados acendiam pavios, enquanto
Latoeiros levantavam máquinas gigantescas.
Lá na arena, Roadhog olhou de um exército para o outro e suspirou.
“Junkrat”, disse ele.

3 Junkertown foi construída sobre as ruínas de um ômnium, uma fábrica anterior à Crise que produzia servos robóticos para humanos e solda-
dos mecânicos para o programa-deus Anúbis. Junkers, como esperado, já haviam explodido os seus há muito tempo para usar como sucata.

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“Junkrat, você é um gênio?”, respondeu Junkrat, esperançoso.
“Faca”, disse Roadhog.
“Ah, que alívio. Achei que você fosse falar idiota.”
“Faca”, disse Roadhog, porque um dos Demolidores havia arremessado uma.
A Rainha Junker sacou o machado e atingiu a faca no ar.
“Mako”, disse ela. “Ele tá mentindo?”
“Sei lá”, disse Roadhog.
“Tá, né.” Ela se virou para o exército de Demolidores que avançava. “Quem vocês pensam que
são pra tentar pegar algum tesouro na minha cidade?” Antes que alguém pudesse responder, uma
centena de bombas dos Desmanteladores explodiu de uma só vez. Uma nuvem de poeira baixou,
deixando Junkrat em pé na sombra crescente da Rainha Junker. Ao redor deles, Demolidores
lutavam até a morte entre si só para chegar até ele.
“Queria muito ver você morrer”, disse ela.
“Eu também”, disse Roadhog. A Rainha Junker deu um tapinha simpático no ombro dele, e
então virou para encontrar Wrecking Ball, por fim, em forma de bola e ao lado dela.
“Onde você tava?”, disse ela.
O hamster se rastejou para fora da cabine e rosnou alguma coisa.
“O mamífero diz que caiu num esgoto”, o mecha traduziu.
“Ah, então é por isso que tá fedendo?”, disse a Rainha Junker, bufando. “Não porque você nunca
toma banho.”
Junkrat, atrapalhado, tentava entender.
“Você sabia?!”
Ela se virou, e o sorriso caiu mais rápido do que uma guilhotina.
“Não lembro de ter autorizado você a falar, ratazana.”
“Ele é um vombate em traje de robô!”, disse Junkrat.
A Rainha Junker virou a cabeça. “E você é um rato, e seu amiguinho aí tem cara de porco”, disse
ela. “Já cansei a minha beleza. Você tá me devendo um tesouro.”
Ela deu um tapa na placa do Wrecking Ball e apontou através da multidão de Demolidores.
“Campeão! Pode estender o tapete vermelho!”
Ao disparar a garra através da multidão, Wrecking Ball avançou com tudo. Roadhog disparou
logo em seguida, usando seu gancho para manter o caminho livre. Junkrat foi em seguida... com a
faca da Rainha em suas costas.
Os quatro correram, cambaleantes, e rolaram por um beco torto. Em ruas da vizinhança,
gangues de Demolidores caçadores chamavam umas às outras, como lobos bêbados.

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Sem diminuir o passo, a esfera rolante fez crescer quatro pernas, movendo-se de maneira leve e
ágil à frente do grupo ao mesmo tempo que um Demolidor aparecia do nada em um beco ao lado
e apontava um rifle para eles. O mecha deu um salto, rodou e desceu com força no Demolidor,
esmagando tudo.
Junkrat estremeceu. Ao ver o estado do Demolidor, ele tremeu de novo e correu em direção a
Roadhog, indo parar na frente do grupo.
“Roadhog”, ele sussurrou.
“Não”, disse Roadhog.
“Como assim, não?”
“Chega de planos.”
Junkrat quase explodiu. Mas ele decidiu, com perspicácia, que seria mais sábio guardar a irri-
tação para mais tarde.
“Assim que a Rainha conseguir o tesouro, a gente vai ser descartado. Certo?”
Roadhog permaneceu quieto.
“Então, assim que a gente passar pela porta, é só esperar pelo meu sinal. Combinado?”
“Do que que vocês tão falando aí?”, indagou a Rainha Junker.
“O tesouro”, respondeu Junkrat, dizendo a verdade.
“O meu tesouro”, corrigiu ela. “E afinal, o que é?”
“Uma surpresa”, disse Junkrat. “Mas vou te dizer uma coisa. Você mal pode esperar!”
Ele deu uma gargalhada enquanto o resto do grupo continuou andando, acertando alguns
Junkers ao longo do caminho. Juntos, eles chegaram a um pátio no topo de uma colina. Lá no pé,
bem na base rochosa de uma construção reclinada, estava uma porta metálica perfeita intocada
pela ferrugem e pelo tempo.
A Porta Final.
Infelizmente, uma multidão de Demolidores bloqueava o caminho, à espera deles. O líder estava
na frente do grupo, com ataduras novas e um grande canhão caseiro preso por alças de fita
adesiva. Não dava para saber o que o canhão poderia disparar, nem mesmo se funcionava, mas o
líder parecia todo cheio de si.
A Rainha Junker os encarou com desdém, e então deu um pescotapa em Junkrat.
“Você nunca respeitou as minhas regras”, disse ela. “E agora você tá aqui, me protegendo nesse
entulho. Sabe por que eu governo Junkertown? Por que as pessoas me seguem?
Esfregando as bochechas, Junkrat abriu a boca para responder.
“Sem interrupções”, disse a Rainha Junker. “Lógico que não é por lealdade a mim. Dá só uma
olhada.”

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“AS PESSOAS ME SEGUEM PORQUE QUANDO AS COISAS DÃO
ERRADO, QUANDO UMA MULTIDÃO ENFURECIDA TÁ NA SUA
PORTA E TUDO QUE VOCÊ CONSTRUIU TÁ EM CHAMAS, VOCÊ
PRECISA DE ALGUÉM QUE FAÇA ISSO.”

Junkrat estava olhando. Os Demolidores já estavam com o canhão na mira.


“Não é porque eu sou melhor que todos vocês”, continuou a Rainha Junker, “embora eu seja.”
Vupt. O canhão lançou um raio branco quente de energia. Um grande pedaço da construção
acima da cabeça da Rainha Junker virou pó.
“Presta atenção”, disse ela, enquanto brasas brilhantes caíam ao redor dela como estrelas.
Os olhos de Junkrat se focaram no líder dos Demolidores, na base da colina. Ele estava xingando
e ajustando o ângulo do canhão.
“Eu disse presta atenção”, resmungou a Rainha, ao agarrar Junkrat pelo pescoço. “As pessoas
me seguem porque quando as coisas dão errado, quando uma multidão enfurecida tá na sua porta
e tudo que você construiu tá em chamas, você precisa de alguém que faça isso.”
Ela largou Junkrat e sacou o machado e a faca.
“Quem quer um machado na cara?”, rugiu ela.
Ela então partiu com tudo para cima do grupo de Demolidores. Sozinha.
Vupt, e o canhão disparou mais uma vez. Porém, a Rainha Junker já estava no ar, rindo, e o raio
passou longe. O machado dela esculpiu um arco pela fumaça e poeira, e o canhão explodiu. O
líder dos Demolidores deu um berro. Ao ver o resto dos Demolidores vindo em sua direção, Junkrat
considerou suas opções. Contou as granadas na bandoleira (quatro) e olhou para a multidão de
Demolidores (mais do que quatro). Com uma gargalhada, ele pegou uma granada na mão e partiu
colina abaixo para entrar na briga.
Wrecking Ball girou com tudo pela multidão à sua direita na velocidade máxima, lançando
diversos Demolidores para cima. À sua esquerda, alguém estava fazendo o som borbulhento
engraçado que fazem quando Roadhog se irrita em suas proximidades.
Junkrat entrou no meio da pancadaria e viu a Rainha Junker.
Ela estava de costas para a Porta Final. Dez Demolidores com facas, porretes, ganchos e armas

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estavam em volta dela. Outros quatro estavam aos seus pés, de cara na lama, com uma aparência
péssima. Ela estava desarmada, e mesmo assim, ninguém ousava chegar perto.
“Demorou bastante”, disse ela. “Venha aqui.”
“Qualquer coisa pra Rainha Junker!”, disse Junkrat, resplandecente de sinceridade.
A Rainha Junker fez um sinal positivo com a cabeça e colocou a mão no peito esquelético dele.
“A lealdade é traiçoeira. Eu costumo evitar.”
Ela levantou a mão, usando os três pinos das granas restantes dele como anéis.
“Tente não explodir seu olho, tá? Preciso dele pra porta e tal.”
O coração de Junkrat se encheu de admiração ao avançar para cima da multidão com sua
bandoleira explosiva. É uma pena que ele teria que traí-la no final disso tudo.
Ele examinou a batalha para decidir o que fazer e viu uma multidão vindo em sua direção. Ele
subiu no Wrecking Ball e se prendeu na garra enquanto o chão se curvava. No pico do giro, ele se
arremessou para longe da bola, soltando granadas nos grupos de Demolidores.
Cabum. Fechou os olhos com um sorriso. A vida era boa.
Cabum. Demolidores gritando. Junkrat estendeu os braços como um pássaro, sentindo o calor
das explosões em suas costas.
Cabum. A gravidade exigia sua atenção. Ah, não.
Junkrat abriu os olhos. O chão se aproximava bem rápido.
“Roadhog! Me pe...”
“Levanta ele”, disse a Rainha.
Roadhog levantou Junkrat bem alto e o deixou lá. No fim, os pés dele encontraram o chão.
“A gente ganhou?”, disse ele sem rodeios.
“Me diz aí, gênio”, disse a Rainha Junker, apoiando-se na parede ao lado do leitor óptico da
Porta Final. Ao redor dela era possível ver diversos Demolidores detonados. O campeão havia
deixado sua bola e estava examinando os pedaços do canhão dos Demolidores, todo empolgado.
“A gente ganhou!”, Junkrat decidiu.
“É isso aí”, disse ela, com paciência. “Chegou a sua vez de brilhar.”
“Mas é claro, minha Rainha!”, disse ele, esfregando as mãos, cheio de malandragem. “Roadhog!
Agora!”
Roadhog ficou olhando, sem entender.
“Tô dando o sinal!”, Junkrat disse, desesperado.
Roadhog coçou o cotovelo.
Uma mão conhecida, forte e cheia de cicatrizes, agarrou a nuca de Junkrat.
“Esqueceu de avisar pra ele o plano, é?”, disse a Rainha Junker, quase de maneira gentil. O

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hamster, agora de volta no mecha, balançou com a cabeça, com repulsa. Junkrat pensou um
pouco.
“É, acho que sim”, disse ele, triste.
“Pois é”, respondeu ela. “Tem sempre uma próxima vez.”
Então ela o elevou pelo pescoço e esmagou a cara dele contra o leitor óptico.
“ACESSO CONCEDIDO”, disse a porta.
“Hnghtbthh”, disse Junkrat.
A Porta Final abriu com um zunido, revelando uma escuridão gélida e profunda. A Rainha Junker
entrou, apertando os olhos enquanto se habituavam à escuridão. Ela então olhou para cima. E
para bem longe.
“Detectando surpresa”, disse o mecha de Wrecking Ball, rompendo o silêncio.
Roadhog olhou com curiosidade, sua máscara pouco escondendo o espanto. A admiração cole-
tiva deles encheu Junkrat de orgulho, apesar de ter sido por pouco tempo.
“Vocês dois”, disse a Rainha Junker, apontando para Junkrat e Roadhog, “têm trinta segundos
pra vazar daqui. Só pensem em como são sortudos por saírem daqui com vida, depois daquele
golpezinho patético.”
Antes que Junkrat pudesse protestar, ela se voltou para o recinto, batendo no mecha de
Wrecking Ball. “Acha que consegue fazer voar?”

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