CARLOS WINCKLER

laboratório da extrema
direita em El Salvador
PÁGINA 10
CELSO SCHRÖDER
sem perdão para os
golpistas
Nº44 O JORNAL QUE RI PÁGINA 14
MAR ERNANI SSÓ
2024 o medo da
guerra nuclear
PÁGINA 13

anistia
éo
caralho!!
 | GM RA IRF2O0 42 44 | 2 | editorial

Anistia? Mais uma pá de cal, isso sim GRIFO

Jornal de humor e política,

Expediente
desde outubro de 2020.
Nem vem de escada que o incêndio é no porão. Com essa turma Eletrônico, mensal e gratuito.
que tá pedindo anistia para o 8 de janeiro de 2023 antes mesmo de Publicação de cartunistas da
condenados, só mesmo ditos antigos. Ajoelhou, tem que rezar. Aliás, Grafar (Grafistas Associados
coisa que eles dizem gostar, muitas vezes são preces para são Pirelli do RS)
ou santa Firestone. Outras, falam com seres superiores numa sofisti- Editores: Celso Augusto
Schröder e Marco Antonio

jornalgrifo@gmail.com
cada e codificada linguagem via lanternas de celulares. Alguns prefe-
Schuster.
rem simulacro de auto crucificação em parabrisas de caminhões. Editores adjuntos: Celso Vi-
Mas na chincha, o que eles querem mesmo é mamata. De prefe- cenzi e Gilmar Eitelwein
rência nas tetas do Estado. Uma beirada no contrabando de madeira Editor Licenciado: Paulo de
amazônica, liberação de garimpo em terra indígena, isenções de Tarso Riccordi
impostos ou – no andar da chefia – mimos singelos de príncipes Diagramação: Schröder
Mídias sociais: Lu Vieira
estrangeiros, ou de empreiteiros nacionais, já que os príncipes daqui Participam desta edição:
são de araque e estão falidos. Rio de Janeiro: Miguel Paiva,
Ao mesmo tempo, mentiras diárias nos zaps da vida, e reuniões Máximo
sobre golpe de Estado. Gravadas. Anotadas em diários manuscritos. Rio Grande do Sul: Allison, Bier,
Porque seguidores de Olavo de Carvalho são do tempo do “meu diá- Bruno Ortiz, Carlos Roberto Win-
ckler, Donga, Edgar Vasques, Er-
rio” escrito à mão. Pra completar, liberação de armas “ao povo” com nani Ssó, Eugênio Neves, Gilmar
tal descontrole que até condenados por tráfico de drogas, homicídio, Eitelwein, Hals, José Weis, Lu
lesões corporais obtiveram registros de fuzis e metralhadoras, relatou Vieira, Luis Faria, Máucio Bonoto,
o Tribunal de Contas da União no início de março. Eles mandavam Paulo de Tarso Riccordi, Santia-
a turma orar na frente de quartéis enquanto montavam um exército go, Schröder, Uberti.
Santa Catarina: Celso Vicenzi.
clandestino.
São Paulo: Bira Dantas
Agora pedem anistia? Não adianta rezar. Boicotar, conspirar con-
tra ou falsear a democracia é crime imperdoável. E quem for anistia-
do dele, vai tentar de novo. Leia aqui todas as edições do GRIFO
https://issuu.com/luvieira.
Anistia é … isso mesmo. Esse termo atualíssimo que é do tempo ink?issuu_product=header&issuu_
do latim. subproduct=publisher-
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Militares no banco dos réus

Jeferson Miola

A responsabilização criminal
de oficiais da alta hierarquia das
Forças Armadas implicados com
a tentativa de golpe é um fato
inédito na história republicana
brasileira.
Não é nada trivial aplicar a Lei
para punir, inclusive com prisão,
capitães, coronéis, generais e um
almirante. Um avanço notável
num país marcado pela impuni-
dade.
O inquérito da PF é um passo
relevante, é verdade, mas será in-
suficiente se não abarcar as cúpu-
las militares e a institucionalidade
militar, que operava o golpe como
uma diretriz institucional para a
Isso, contudo, não apaga aquilo salvador da democracia, ofere-
continuidade do seu projeto de
que vários oficiais –que inclusive ceu justificativas pouco ou nada
poder.
ainda continuam na ativa– fizeram confiáveis.
O depoimento do general Estevam
nas etapas precedentes do golpe. As explicações não ficariam em pé
Theóphilo à PF arrastou a institui-
E tampouco elimina as respon- se confrontadas com a trajetória
ção militar para a cena do crime
sabilidades de cada um deles no dele no golpe, sobretudo quando
ao esclarecer que ele reuniu com
processo. impediu, em 29 de dezembro de
Bolsonaro para discutir o plano
As cúpulas das Forças Armadas 2022, a retirada do acampamento
golpista a mando do seu chefe hie-
buscam limitar o alcance das in- de extremistas no QG do Exército,
rárquico e então comandante do
vestigações somente aos já investi- de onde hordas fascistas saíram
Exército, general Freire Gomes.
gados, e tentam blindar a institui- para vandalizar as sedes dos pode-
Tal depoimento comprova, por-
ção militar. Eles entregam aqueles res da República em 8 de janeiro.
tanto, que não foram apenas
generais e outros oficiais que, por A mídia e ministros do STF en-
alguns delinquentes fardados que
vários motivos, são descartáveis, e camparam a versão diversionista
teriam “se jogado na aventura”
preservam os demais e as estrutu- dos militares e, com isso, vão cris-
com Bolsonaro, mas sim a própria
ras de comando. talizando esta narrativa deformada
hierarquia militar, que participou
Sente-se no ar o cheiro de um sobre os acontecimentos.
da concepção à articulação do
grande acordo envolvendo Alto A apuração da verdade e a pu-
empreendimento golpista.
Comando do Exército, governo nição de todos envolvidos é um
Sabe-se hoje que no meio do
federal e STF para estabelecer este requerimento democrático e de
caminho, devido ao impacto do-
“cordão sanitário” e circunscre- justiça.
méstico e internacional da vitória
ver as punições ao menor círculo A impunidade é um estímulo para
do presidente Lula na eleição e à
possível. a repetição de atentados contra a
pressão do governo Biden sobre
O depoimento do general Freire democracia. O Brasil precisa supe-
os militares, o consenso golpista
Gomes à PF é um indício da ma- rar esta cultura nefasta de acordos
na caserna ficou comprometido,
terialização deste grande acordo. e anistias. Passo fundamental para
e então alguns deles desistiram
O ex-comandante do Exército, isso é colocar todos militares gol-
na última hora de continuar na
agora alçado à condição de herói pistas no banco dos réus.
empreitada.
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|GM RA IR F2 O0 42 44 | 5| anistia é o ...
 | GM AR RI F- 2O0 42 44 | 6 | mundo
Lula lá,
pro mundo ouvir
18 de fevereiro Lula critica genocídio
Na Etiópia, durante viagem ao norte da África, Lula
denuncia: “O que está acontecendo na Faixa de Gaza
com o povo palestino não existiu em nenhum outro
momento histórico. Aliás, existiu. Quando Hitler
resolveu matar os judeus”. Benjamin Netanyahu disse
que Lula tinha cruzado a linha vermelha com esta
declaração
19 de fevereiro
Ministro das Relações Exteriores de Israel, Isra-
el Katz, diz que Lula “ é uma 'persona non grata' e
chama o embaixador brasileiroFrederico Meyer para
uma reprimenda. Em seguida, o Itamaraty determi-
nou que Meyer retornasse ao Brasil.
Parte da imprensa brasileira repercutiu o assunto,
embora o resto do mundo pouco se preocupasse com
isso.Nesse dia, o número de mortos na guerra chegou
a 24 mil pessoas.
26 de fevereiro
Aumenta a pressão pelo cessar-fogo
29 de fevereiro
Soldados israelenses atiram em pessoas que correram
em direção aos alimentos entregues para a população
na Faixa de Gaza. 112 pessoas morreram, outras 750
ficaram feridas.
5 de março
Deputado italiano Angelo Bonelli (Partido Verde) de-
nunciou, com fotos e vídeos, o embargo do governo
israelense à alimentação destinada a palestinos
“Dois mil caminhões estão bloqueados há mais de
um mês e aguardam para poder entrar em Gaza para
entregar ajuda humanitária”, declarou.
Parte da imprensa brasileira continua dizendo que
Lula errou.
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A Linha Vermelha
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O autoproclamado
“ditador mais legal do mundo”
Carlos Roberto Winckler
A extrema direita brasileira tem
um novo heroi. Nayib Bukele foi
reeleito presidente de El Salvador
com 84,6 % dos votos em feverei-
ro deste ano, além de seu partido,
Novas Ideias, conquistar 54 assen-
tos de 60 na Assembleia Nacional.
Já em 2019 fora eleito com 53,%
dos votos, além de ter maioria na
Assembléia. E nas recém realiza-
das eleições municipais venceu em
43 dos 44 conselhos municipais e
elegeu a maioria dos prefeitos das
capitais provinciais. Um laborató-
rio inspirador para a extrema di-
reita brasileira, e que talvez tenha
o tema mobilizador nas próximas
eleições no Brasil: a questão da
violência – que pode ser artificial-
mente radicalizada – somada ao ção de importações – governos da justificados pela necessidade de
dos costumes tão ao gosto dos elei- ARENA implementaram reformas combater a corrupção e a violência.
tores neopentecostais. neoliberais inclusive com dolariza- Com maioria legislativa substituiu
Três acontecimentos marcaram ção, que resultaram em crescimen- magistrados da Suprema Corte, em
a história recente de El Salvador: a to medíocre, piora das condições 2022, com o surto de violência de
guerra civil entre 1981 e 1992 sem sociais e crescentes déficits públi- gangues, estabeleceu o estado de
um claro vencedor, os Acordos de cos. A emigração sempre foi uma exceção (renovado mensalmente
Paz e arranjos institucionais de- saída para um país com 21 mil pela Assembleia), suspendeu as
mocráticos e a questão migratória, km² e atualmente com 6.548. 000 garantias constitucionais, 75 mil
decisiva junto com a crise climática habitantes. No início do século XX pessoas foram presas em clima de
e que projeta El Salvador na ques- o destino era Honduras, o conflito absoluta arbitrariedade, telefones
tão da mobilidade humana central armado em 1969 acelerou a migra- podem ser grampeados sem ordem
no século XXI, núcleo das atuais ção para os EUA a partir dos anos judicial. Construiu-se o Centro de
lutas pela soberania. Quem pode 70 até 92. Deportações efetivadas Confinamento do Terrorismo, a
se deslocar e como? O processo de pelos EUA de jovens organizados “maior cadeia das Américas”, com
democratização – que estabeleceu em gangues colaboraram na dete- capacidade para 40 mil presos.
o pluripartidarismo e uma relativa rioração salvadorenha. A reeleição foi inconstitucional
desmilitarização – se efetivou em Os governos da FMLN, à es- e validada. Ampla reforma eleitoral
torno de dois partidos: a Aliança querda, não conseguiram rom- foi realizada em 2023, reduzindo
Republicana Nacional (ARENA) per com o modelo neoliberal nos o número de deputados, as pre-
e a Frente Faribundo Martí para dez anos anteriores à ascensão feituras passaram de 262 para 44,
a Libertação Nacional ( FMLN) de Bukele, que foi prefeito de San fundos não foram distribuídos aos
até 2019, quando Bukele rompe Salvador pela Frente e expulso em partidos que tinham direito por
com o arranjo. Desde 1989 – com 2017. Bukele dá continuidade ao cada voto nas eleições anteriores.
o esgotamento do modelo agroe- neoliberalismo e se cerca de cres- O paraíso bolsonarista em minia-
xportador e de modesta substitui- centes mecanismos autoritários tura.
 | GM RA IRF2O0 42 44 | 11 |
Acredite se quiser. O discurso
do Magno Malta na Paulista
acionou o plantão do Corpo de
Bombeiros.
Pra que depoimento na Polícia
Federal, se existe a Avenida Paulista,
né?
Antes de se tornar um físico
notável, Einstein era colador de
selos nos correios.
Eu sou persona non grata em
muitos lugares desde que me tornei
cartunista.
Se for pela Globo, Netanyahu
deverá assumir a Comissão de
Direitos Humanos da ONU.
Pra prevenir racismo, todo
brigadiano deveria examinar sua
árvore genealógica antes de sair pra
rua.
Acho difícil o governo falar em
combate ao crime com um
Congresso desses.
O supositório é aquele último
remédio que você usa antes
de receber visitas de parentes
fofoqueiros.
Macho alfa é coisa de Animal
Planet. O que mais tem por aqui
é macho analfa.
Mercúrio em aquário? Antigamente
vinha em vidrinhos. E ardia pra
caraio!
Em boteco raiz, cada cliente que
fica ganha uma bomba de Flit
pra se livrar das moscas.
Brasil: o único lugar do mundo onde
a burrice pode ser aperfeiçoada.
Alexa, canta aquela marchinha
da Papuda!
diabo rosa bier
Lindomar tinha feito algumas
disciplinas do básico comigo no
curso de jornalismo, ali por 1982,
e depois sumiu. Muitos anos
mais tarde, um sujeito barbudão
apareceu no Bar do Nereu, berrou
meu nome e me abraçou como
se tivesse voltado da guerra.
Pra ele, foi um arrebatamento.
Pra mim, quase uma fratura
na espinha. Era o velho e bom
Lindomar, truculento, simpático
– e mais peludo do que o Toni
Ramos. Tinha a barba por fazer,
sem acabamento, que começava
logo abaixo dos olhos, contornava
o nariz e a boca, e descia pelo
pescoço camiseta adentro. O
cabelo também era espesso. Se
tivesse a testa baixa, seria um
Neanderthal de jaqueta. Os dentes
branquíssimos contrastavam no
meio daquela pelugem castanha.
Viam-se os pelos saindo do nariz.
Davam a impressão de que, se não
fossem aparados semanalmente,
nosso amigo morreria asfixiado.
Andava feliz da vida. Plantava
árvores na Serra e vinha a cada dez
dias pra visitar a mãe em Porto
Alegre. Ficamos de nos encontrar
novamente no mesmo lugar e,
durante a conversa, Julinho, que já
adernava a embarcação, botou o
OUTRA MANHÃ
O infinito cântico dos galos
Abre as janelas da manhã
E o sol derrama seu néctar
No dorso dos vinhedos
Há café passado
Ovos e pão fresco
Inundando a casa
De perfume e circunstância
O sino da capela avisa
Que Jesus anda por perto
E poderá aparecer
Para contar uma piada nova
Da qual riremos até chorar
dedo no nariz do Lindomar:
- Tu parece um lobisomem!
Risos gerais. Depois baixou
um silêncio como se séculos
de tratados sobre a licantropia
desfilassem nas mentes de cada
bebedor. Goles e goles de histórias.
Lembranças de causos da infância.
Episódios contados pelos avós
sobre vizinhos estranhos. O
semblante do pessoal tava ficando
emblemático. Até que o Julinho
não se conteve:
- A lua ontem tava tão bonita,
que eu tive vontade de virar
lobisomem.
- Faltou testosterona?
- Não, faltou cabelo!
|
 | GM RA IRF2 O0 42 44 | 13 | periodista restaurador| josé weis
Inéditos garantem Jabuti póstumo para Noll
Ciclo fechado. O escritor João
Gilberto Noll estreou com o
livro O CEGO E A DANÇARI-
NA (1981) e conquistou o troféu
Jabuti de autor revelação. Em
2023, EDUCAÇÃO NATURAL
– Textos Póstumos e Inéditos re-
cebeu na 65ª edição do Prêmio
Jabuti, categoria conto. À época
do primeiro troféu, João Gilberto
tinha 34 anos, ele morreu pouco
antes de completar 71 anos.
Não pense o leitor que entre
estes troféus o autor teve uma vida
fácil. Na biografia JOÃO AOS PE-
DAÇOS (Diadorim, 2021), Flávio
Ilha conta sobre as dificuldades
que Noll teve que superar para
obter o verdadeiro reconhecimen-
to e a recepção de sua obra. Uma
trajetória que soma 20 livros: de
contos, romances e de crônicas.
O organizador do volume,
Edson Migracielo, relata que os
textos “me foram confiados por
Luiz Fernando Noll”. Esses se
encontram no computador de
João Gilberto Noll, reunidos numa
pasta de arquivos intitulada “Con-
tos não enviados”, o organizador
segue contando como chegou à
montagem do livro. As datas de
modificações dos arquivos, em sua
maioria, são do ano de 2006, isso,
para Edson Migracielo, “indica
que os contos dessas pastas foram
vistos/revistos por João na mesma
época e também que ele não os
A PEDIDO
No texto ROMANCE INA-
CABADO, que pode nos levar à
analogia com a “Sinfonia Inacaba-
da” do compositor austríaco Franz
Schubert, há uma referência mu-
sical para o jovem João. A música
sempre foi importante para ele,
chegou ao canto lírico e participa-
va de cerimônias de casamentos,
quando, emocionado, cantava a
Ave Maria de Schubert.
Foi neste tempo que se decidiu
pela tônica dominante e o autor
de HARMADA (1993) e A CÉU
ABERTO (1996) definitivamente
dedicou à literatura. Uma evi-
dência pode ser encontrada em
um dos últimos textos em que
João estava envolvido de forma
alterou depois disso”.
Ao longo dos contos, Noll e entrega total, com sempre: “Vi
recorre a personagens que sempre que entre mim e o resto havia uma
aparecem em situações nas quais convulsão, se perdessem o ímpeto
estão envolvidos e arrastados, por e parassem eu não saberia mais
vezes engolidos pelas circunstân- voltar à minha inanição”, escreveu
cias. São os errantes, os margina- em ROMANCE INACABADO.
lizados, os incompreendidos que Foi o sétimo Prêmio Jabuti que
João Gilberto traz à tona na sua o autor recebeu. Significativo por
escrita. Essa sempre rigorosa em ser póstumo, reforça a legitimação
busca de uma evolução, numa literária e a carreira de um dos
linguagem que se aproxima da po- mais representativos escritores
ética, foge da linearidade possível brasileiros desta passagem de sé-
de uma narrativa. culo. Atualmente a obra de Noll é
Talvez, se tivesse tido mais publicada pela Editora Record.
tempo, João alterasse alguma coisa EDUCAÇÃO NATURAL –
antes de publicar, sempre foi rigo- Textos Póstumos e Inéditos, de
roso no ato de escrever, mas, o que João Gilberto Noll
veio a lume neste volume póstumo Editora Record, Rio de Janeiro,
é uma legítima obra nolliana. 240 páginas, R$ 59,00
 | GM RA IRF2O0 42 44 | 14 | quer que desenhe? | schröder

Anistia é o cacete O alerta do Putin é estarrece-

Anistia é, em princípio, um dispositivo democrático previsto para dor. Ele sabe que o capitalismo
o perdão de determinadas ações políticas. Está amparada no conceito mambembe encaminha de ma-
de que, na política, o futuro pode corrigir o passado. No entanto raras neira irreversível o mundo para
vezes o princípio é aplicado com justiça e com capacidade reparado- a guerra final.
ra. Na maior parte das vezes é aplicado pelos algozes para se perdoa- *
rem dos crimes cometidos contra suas vítimas. Foi assim na ditadura Não vi nenhum jornalista que se
militar e assim está sendo reivindicado pelos golpistas bolsonaristas. pretenda especialista em política
Mas, enquanto na ditadura militar o perdão unilateral extrapolou internacional resgatar e justifi-
os comprovados excessos políticos e inocentou assassinos e tortu- car a fala de Lula de dias atrás
radores a posteriori, na atual situação brasileira os criminosos, na que anunciou a carnificina que
grande maioria sequer indiciados e muitos menos julgados já estão teve seu ápice no assassinato de
clamando por um perdão a priori. Não deixa de ser uma novida- 112 pessoas que buscavam de-
de jurídica e uma curiosidade penal. O que pretendem inaugurar é sesperadamente comida e água.
um combo em que o crime já vem com o perdão. O Temer já vinha A única diferença neste momen-
rascunhando a insólita regra quando escreveu o pedido de desculpas to é que Hitler tentava esconder
para Bolsonaro e o expediente foi usado várias vezes depois. No en- seus crimes.
tanto, se o pedido de desculpas, sincero ou não, é um ato a posteriori *
que reconhece a responsabilidade de uma agressão anterior, o pedido Pior do que matar 112 pessoas
de Bolsonaro e de seus cúmplices quer algo novo. Antes mesmo do que imploravam por comida é
indiciamento e do julgamento de crimes sequer comprovados querem mentir e desrespeitar a memória
ser perdoados. destes martirizados.
Na verdade, neste caso, o pedido de indulto antes do crime funcio- *
na como as selfies dos destruidores da Praça dos Três Poderes, con- Israel massacrou publicamente
mulheres e crianças que bus-
fissões públicas do crime a ser perdoado. Seria sem sentido se ainda
cavam comida. Isto me parece
não estivéssemos vivendo o estertor do mundo paralelo irracional
inédito na história dos massa-
criado pelo pensamento miliciano/pentecostal/militar que dividiu o
cres. Os nazistas escondiam seus
país. Criminosos, não interessa o seu número e força, não transfor-
crimes.
mam seus crimes em ações legítimas pelo simples desejo. Anistia é o
*
cacete! Taxar as grandes fortunas não
é uma opção, é uma obrigação
técnica e moral.
*
Tenho dito há algum tempo que
o que unifica o bolsonarismo é
a vocação criminosa, o que não
diminui o nosso problema.
*
Quando cantarem a Internacio-
nal Comunista, daí será o sinal
do meteoro.
*
Daí a senhora enrolada nas
bandeiras de Brasil e Israel jus-
tifica a fantasia: é porque somos
cristãos, Brasil e Israel. Houve
um tempo em que isto caberia
nos programas do Chico Anisio
ou do Jô Soares.
 | GM RA IRF2O0 42 44 | 15 | tiras
BLAU Bier

VAREJEIRAS EM CRISE Celso Schröder

Fabiane Langona
 | G R I F O44
MAR2024 | 16 | tiras
Bioma Pampa Schröder

BLAU Bier

ARMANDINHO Alexandre Beck

RANGO Edgar Vasques

 | GM RA IRF2O0 42 44 | 17 | borracheiro&exorcista | ernani ssó
Ministério da Igualdade Social e
Empoderamento das Mulheres e Crianças
Lula foi acusado de ignorante,
antissemita e tudo mais, pela ma-
tilha da grande imprensa e por au-
toridades israelenses. Uma dessas
autoridades, May Golan, ministra
da Igualdade Social e Empodera-
mento Feminino de Israel, disse se
orgulhar das ruínas em Gaza e de-
sejar que as crianças judias possam
contar a seus netos o que “os judeus
fizeram” contra o grupo extremista
Hamas. Se, numa breve frase, mi-
lhares de civis assassinados, sen-
do 70% de mulheres e crianças,
se tornam extremistas do Hamas,
o que esperar da interpretação da
frase, aliás muito simples, de Lula?
A gente fala com desprezo dos mé-
todos do Gabinete do Ódio – dis-
torções e mentiras grotescas para
difamar as pessoas –, mas me diga:
qual a diferença entre os métodos
da grande imprensa e da maioria
das autoridades em todo canto?
Bomba, bomba!
Voltou o medo de uma guerra
nuclear ou a propaganda do medo
de uma guerra nuclear. Acho que
acreditei nessa guerra, nos tem-
pos em que a série O planeta dos
macacos estava, digamos, bom-
bando nas telonas, e me parecia
menos metida e mais eficaz como
sátira que Dr. Fantástico. Por aí,
eu também lia muita ficção cien-
tífica. Lembro com prazer de ro-
mances como Um cântico para
Leibowitz, de Walter M. Miller Jr.,
ou Dr. Bloodmoney, ou como nos
saímos depois da bomba, de Phi-
lip K. Dick, ou, do mesmo Dick em
parceria com Roger Zelazny, Deus
irae. Nenhum deles culpava os so-
viéticos pela catástrofe, porque não
viam muita di-
ferença entre
os dois lados,
em matéria de
honestidade e
ânsia de poder.
Mas a maioria
dos autores nor-
te-americanos,
com Robert A.
Heinlein como
porta-bandeira,
era de direitis-
tas surtados que
batiam no peito
e diziam-se de-
mocratas até de-
baixo de chuva
ácida. O gozado é que eles sempre
esqueceram que o único país a usar
armas atômicas numa guerra era
adivinha quem? Pior, contra civis.
Hoje a ficção científica mos-
tra o planeta em colapso devido à
ganância capitalista, seguida sem
disfarces inclusive por países di-
tos comunistas. O fim, como disse
o poeta, não será com um estron-
do. Mas também não será com um
suspiro, lo digo yo. Estamos nos
encaminhando pra um fim mais
patético, mais sujo e mais lento, o
que quer dizer mais doloroso. Uma
mistura de temperaturas, desigual-
dades e estupidezes extremas não
tem o encanto guerreiro que em-
balava os velhos romances. O que
o herói de um Heinlein, o homem
com o falo ereto conquistando o
universo pra exportar democracia
aos poucos sobreviventes, pode fa-
zer no cenário de uma lixeira pla-
netária?
Um pesadelo, num fim de ma-
drugada, me deu de presente um
conto de ficção científica. Sua co-
micidade terrível mexeu com al-
gum demônio no fundo da minha
cabeça e, quase um ano depois,
sigo registrando o que o demônio
me sopra, as aventuras de pobres
heróis loucos e idiotas desespera-
dos no cenário da lixeira planetá-
ria. Gostaria de terminar o livro
logo. Por nada, não. Ou porque a
gente se sente melhorzinho quan-
do o demônio se cala.
Quanto à ameaça nuclear, te-
nho minhas dúvidas. Putin pode
varrer a Ucrânia em alguns minu-
tos, como os EUA podem varrer a
Rússia e Israel, os palestinos. Mas
onde está o lucro? Os territórios
não seriam conquistados, seriam
envenenados por décadas e déca-
das. Os fabricantes de armas, que
dependem de guerras tradicionais
prolongadas, ficariam satisfeitos?
Mas há perigo, claro. Por isso acho
bom trancarem bem as portas dos
hospícios. Vá que algum paciente
saia e se candidate à presidência,
como tem acontecido ultimamente
mais do que o recomendável.

Não sei como cheguei ao Cortázar,
mas me lembro de quando me dei
conta disto. Foi quando conheci,
de verdade, o Ernani Ssó, ainda
Torquato Ssó, numa banca de
jornais na esquina da Lima e Silva
com a República. Nos encontramos
por acaso, comprando jornais
certamente, numa tarde, acho, de
1975. O amálgama da conversa que
nunca mais terminou foi o conto
que eu estava lendo sobre o pulôver
azul, em espanhol “No se culpe a
nadie”. Dali para frente Cortázar ficou
como uma espécie de cúmplice de
nossos planos e projetos, a maioria
inconclusos. Pelo menos é o que diz a
minha memória. (Schröder)
A camuflagem é o ópio do polvo.
(Carlos Castelo)
Não foi confirmado
que a Assembleia
Geral da ONU se reuniu
pra agradecer a Deus
por Bolsonaro não
poder viajar ao exterior.
(Bier)
| GM RA IRF2O0 42 44 | 18 | entrevero
-Capitalista é um sujeito que discute tudo
com muita propriedade. (Celso Vicenzi)
Um milico desmaiando ao ser
Cinema: Mel Brooks é sondado
preso pela PF é muitíssimo mais
para dirigir longa sobre
do que poderíamos desejar.
planejamento do golpe de 8 de
(Schröder)
janeiro. (Carlos Castelo
Vale ressaltar que esta expressão, O problema do Brasil é que as
vale ressaltar, já virou um cacoete vanguardas são muito retrógradas.
jornalístico insuportável. (Celso Vicenzi)
(Ernani Ssó)
Hospitais ameaçam suspender
Ser “persona non grata” em Israel
atendimentos do IPE. Depois de
é medalha internacional neste
doar a CEEE, Leite se prepara para
momento.
entregar o IPE para os amigos,
(Schröder)
que agradecerão sensibilizados.
O aumento da contribuição dos
O amanhã está cada vez mais
ontem. (Carlos Castelo) pensionistas do Instituto foi apenas
uma estratégia para tornar o IPE
Os EUA são uma fábrica de
guerras. Nunca uma sigla foi
mais atrativo para os amigos que
receberão um filé com contribuição
tão verdadeira como lá: Produto garantida.
Interno BRUTO! (Celso Vicenzi) (Schröder)
São tempos de casas inteligentes Os casarões históricos vão sendo
e moradores desmiolados. (Carlos destruídos pelo progresso.
Castelo)
Progressivamente. (Celso Vicenzi)

Muitos sionistas invocam o

Holocausto como álibi pra
qualquer coisa, como se os judeus
tivessem o monopólio da desgraça
e por isso a inocência eterna. É
evidente que os judeus foram
perseguidos e mortos séculos
afora, mas parecem esquecer
que 70 milhões de indígenas
foram mortos nas Américas,
com a chegada dos europeus.
Também parecem esquecer que
12, 5 milhões de africanos foram
escravizados, com a maioria
morrendo de tanto trabalhar,
e nem sei quantos milhares
trucidados em plena África por
europeus. Enfim, ninguém tem o
monopólio da desgraça, sem falar
que indígenas e negros continuam
sendo perseguidos e mortos num
nível que os judeus não podem
invocar depois da Segunda Guerra,
diga o que diga a propaganda de
Israel. (Ernani Ssó)

AGRONEGÓCIO. Palavra que
nunca deve fazer parte do verbe- Era um humorista de mão cheia.
te Meio Ambiente.
ALEXEI NAVALVI. Dissidente
russo falecido de causas sobre-
naturais.
ANISTIA DO ZAP. Pedido de
perdão aos golpistas do 8 de
Janeiro organizado pelas tias do
zap através de correntes, emojis,
vídeos e rifas de bolos.
CONTRAINTELIGÊNCIA. Não tem
nada mais bolsonarista.
EMPODRERAMENTO. Quando
alguém sujo assume um papel
central numa sociedade, empre-
sa ou corporação.
MANINFESTAÇÃO. Manifestação
política, de caráter populista,
infestada de bandidos, biltres,
cafajestes, calhordas, crápulas,
ordinários, patifes, sem-vergo-
nhas e velhacos.
ÓCULOS VR. A prova de que a
tecnologia pode levar a qualquer
lugar, inclusive à misantropia.
OLAVO DE CARVALHO. Um mor-
to que ainda não morreu.
PADRE KELMON. O anti-padre
Julio Lancelotti.
PRESÍDIO. Beco sem saidinha.
PROPAGANDA POLÍTICA. Arte
de vender sonhos e ideias, com
prazo de validade até o dia da
eleição.
RICO. País que emite mais gás
carbônico do que o seu.
STEVE BANNON. Banner do ne-
crocapitalismo.
WALT DISNEY. Explorador do
trabalho de ratos.
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Vi agora o “diálogo místico” de Baby e Ivete. Bons
tempos quando no carnaval o pessoal enchia a cara,
cheirava uns lança, beijava umas bocas e chutava o
balde por três dias ao som do Caetano. (Schröder)
Apesar do bolso vazio.
(Celso Vicenzi)
Tony Garcia: “Moro sai
da vida pública sem
dignidade alguma”.
Como entrou.
(Ernani Ssó)
Banqueiro quando se apaixona
troca juros de amor.
(Celso Vicenzi)
Sou cristão, mas não da linha luta
armada.(Carlos Castelo)
Na sua época de virilidade fake,
Bolsonaro afirmava que não
seria preso. Dava a entender que
cometeria um ato extremo de
resistência. As cuecas sujas de agora
demonstraram que era apenas o
velho problema do intestino preso.
(Schröder)
Nota de pé de página em A
indústria do Holocausto, de
Norman G. Finkelstein: “Ken
Livingstone, um ex-membro do
Partido Trabalhista, que concorreu
à prefeitura de Londres como
candidato independente, disse:
‘A cada ano, o sistema financeiro
internacional mata mais gente do
que a Segunda Guerra, mas Hitler
pelo menos era louco, você sabia?’
(Ernani Ssó)
O ato na paulista é mais ou menos
como se a máfia tivesse realizado um
ato pela liberdade de Al Capone em
Chicago.
(Schröder)
Manchete no DCM: “PF prende
traficante com arma capaz de
derrubar avião no Paraguai”. Bom,
se só derruba avião no Paraguai,
não é tão perigosa assim.
(Ernani Ssó)
Uma criança tão risonha e
franca, em escola tão cívico-
militar. (Carlos Castelo)
-Quem disse que dinheiro não
nasce em árvore? Pergunte aos
madeireiros e fruticultores.
(Celso Vicenzi)
Tenho visto muita gente que
respeito falando do viralatismo
da grande imprensa brasuca.
Não é viralatismo, me parece,
mas apenas mais um meio de
difamação dos inimigos. (Ernani
Ssó)
Ex-goleiro procura emprego de
guarda. Longa experiência como
guarda-meta, guarda-rede e
guarda-vala. (Celso Vicenzi)
Massas bem temperadas são
ótimas, o ruim é o destempero das
massas.(Carlos Castelo)
Slavoj Žižek: “O que resta da
esquerda é o obsessivo esforço
em proteger as velhas conquistas
do Estado de bem-estar social,
um projeto que ignora em grande
parte o quanto o capitalismo
mudou a textura de relações de
nossas sociedades nas últimas
décadas”. Talvez seja mais simples:
a esquerda pode ter cansado de
ter esperanças irrealistas sobre o
bípede implume. (Ernani Ssó)
Era para ser um golpe
de mestre, foi um
golpe de azar.
(Carlos Castelo)
Muito melhor do que o surto
místico da Baby e da Ivete é a
marola músico-religiosa provocada
nas redes.(Schröder)
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Vocês já ouviram falar da ameaça comunista? Eis um exemplo

ilustrativo. Em 1968, o brigadeiro João Paulo Burnier pretendia usar os
paraquedistas da Para-Sar para explodir um monte de bombas no Rio Mouzar Benedito
de Janeiro, na hora do rush. O resultado? Pelo menos 10.000 mortos.
Ao mesmo tempo, críticos da ditadura, como Helder Câmara, Juscelino
Kubitschek e Carlos Lacerda, seriam sequestrados e jogados em alto
mar. Tudo isso seria atribuído aos comunistas. (Ernani Ssó)
Tenta golpe e, quem diria,
Quando a coisa fica feia,
A vida passa. O Após a vitória da revolução feita O valentão pede anistia!
Apedrejaram o patrimônio público *
problema é saber quem e agora querem botar uma pedra PF, coisa ruim ou legal?
lava. (Celso Vicenzi) em cima do assunto. Quem gosta é Prato Feito;
(Carlos Castelo) Quem teme, Polícia Federal
Matéria da Folha diz que no Brasil
há mais espaços religiosos que As fábricas de prego foram as *
educacionais e de saúde. É – primeiras a utilizar tecnologia de Afilhados na contra-mão:
estamos sendo fodidos em nome ponta. (Celso Vicenzi) Do Lula, o Toffoli,
de Jesus. (Ernani Ssó) Duas perguntas infantis: Do Temer, o Xandão!!!
*
Ninguém sabe se 1. Os judeus assassinados
PL, é Projeto de Lei,
entramos no apocalipse, por Hitler tinham um exército E também partido liberal,,,
mas a Besta está entre pra se defender ou eram A lei pra ele é legal?
nós.(Carlos Castelo) vítimas indefesas? *
2. E os palestinos Em crime de sionista
Fiquei esperando algumas reações assassinados por Israel E briga de marido e mulher
indignadas contra o cartum que
compara Lula com um macaco que têm um exército? Não, mas, Não se pode meter a colher
balbucia Gaza. Os mesmos que segundo a lógica sionista, a *
acharam um exagero insuportável vítima é Israel. (Ernani Ssó) Não pensa no seu futuro
a comparação dos genocidas O campeão da rachadinha:
A Terceira Guerra será uma disputa
Netanyahu e Hitler acharam razoável É contra a saidinha!
entre países para saber qual é o
a insinuação do desenhista racista.
mais pacifista. (Carlos Castelo) *
(Schröder) Viva a liberdade!
Brada o gado escondendo
Seiscentos karakóis O que quer de verdade!
de Máucio Bonotto *
Em março, Máucio Bonotto, Que padecimento!
cartunista do GRIFO, professor, Gostaria de colocar nele
comemora 600 publicações da sé- Uma pá de cimento!
rie “karakóis”, iniciada na pande- *
mia, “como forma de amenizar as Gosto de rabo de saia
angústias, tanto do autor, quanto E abomino suas rimas
de possíveis amigos e leitores”, diz. Maracutaia e Malafaia!
As lesminhas agradaram geral, *
gerando convites para palestras e temática varia, conforme a espiral Entenda, meu bem:
exposições. da concha autoral. Abrange temas Navegar é preciso,
“Os Karakóis se apresentam na intimistas, psicológicos, existen- E viver também!
forma de cartum, um quadro só, ciais. O enfoque político-social *
colorido. Nos episódios aparecem acompanha os acontecimentos Eita situação danada!
anonimamente, como costumeira- regionais ou mais amplos”. Se apressado, como cru,
mente vemos as lesmas nos quin- Perfil no Facebook: Máucio Bo- Vagaroso, não como nada.
tais, nas calçadas, nos jardins. A notto Rodrigues
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Senhoras e Apresentamos, nesse encontro, o resultado de

duas décadas de administração neoliberal no
senhores, eis o Estado e na cidade. As diferenças são notáveis.

Melonikistão Agora, esta capital sedia eventos como o de hoje:

empreendedores, influencers, pessoas proativas,
sabendo que estamos na era da inteligência artifi-
cial, da globalização.
Nada de encontros de povos de todo planeta
defendendo melhor distribuição de renda, mais
saúde, mais cultura. Não. Nada que nos prendia
ao passado, nada de vanguarda do atraso. Esta-
mos na era das Summit, entregando, quero dizer,
integrando, o público ao privado. Fim daquelas in-
termináveis e enfadonhas reuniões em associações
de bairros, vilas, favelas com os moradores dando
pitaco sobre encanamento, pavimentação, ilumi-
nação ou transporte coletivo. Agora, são empresas
e pessoas de bem que decidem.
Outra bobagem que acabamos foi a dos limites da
construção civil. Vamos liberar tudo, vamos ser
uma Dubai pampeana, cada empresa que construa
o prédio que quiser, do tamanho que desejar. Em
qualquer lugar terreno, se tem muita árvore, auto-
rizamos o corte geral: não queremos ser a capital
mais arborizada do país. Pra que? Queremos a
modernidade.
E as privatizações? Outro grande feito… Alô?
Tudo bem? Estão me vendo? Depois desse breve
corte da luz, retomo. As privatizações enxugaram
as máquinas estatais. No estado, a luz está privati-
zada, a água também.Tem gente reclamando, mas
sempre têm os insatisfeitos, fazer o quê? Uns dias
sem luz pode ser uma novidade, mas também ser-
vem para lembrar a dura vida dos nossos antepas-
sados. Também criticam a quebra de qualidade de
saneamento, mas é preciso entender que os novos
proprietários ainda estão começando a adminis-
trar.
Enfim, para maioria, piorou a luz, piorou a água,
piorou o transporte coletivo, diminuíram os espa-
ços de opinião e de manifestação cultural, mas o
empreendedorismo está vencendo, e o problema
dessa gente é que não são empreendedoras. E
aproveito para anunciar nossa próxima atração,
a “Summit Winter Air”, a feira que vai apresentar
novidades internacionais sobre coisa nenhuma.
Boa noite.
(Fragmentos de um discurso de um próximo
evento no sul do Brasil)
| GM RA IRF2O0 42 44 | 22 | brasil
 | GM RA IRF2O0 42 44 | 23 | quintal do paiva | miguel paiva
Macetando o apocalipse
A palavra que define muito
bem o que vivemos foi ressus-
citada agora pela voz de Baby
Consuelo. Apocalipse. Talvez não
no sentido que ela queria, mas
no sentido do inferno que vive-
mos. Publiquei um livro chamado
Diário do Inferno que reúne as
charges e os textos feitos para o
247 no período do governo Bolso-
naro. Apocalipse é pouco e inferno
mais ainda. Não encontro palavras
para descrever. Agora então com
as investigações, os documentos
revelados, as delações vemos que
escapamos de boa. Nós todos nos
juntamos a Ivete Sangalo e mace-
tamos coletivamente o apocalipse.
Começando pela manifestação
deste domingo na paulista que não
sei no que vai dar. Não consegui
fazer uma charge porque primeiro
tinha decidido a falar menos do
inominável. Depois porque real-
mente não sei o que vai acontecer.
No apocalipse tudo queimava, era
inundado ou afundava no terreno
que se abria. Não quero que isso
aconteça na Avenida Paulista, mas
simbolicamente é tudo que eu
desejo para essa gente. E tem um
pessoal que ainda acha que isso é
política. O Zema e o Tarcísio que
estão por ai sem processo aparente
e que disseram que irão à manifes-
tação. O que eles pretendem? Se
comprometer com o criminoso?
Aproveitar a brecha e conseguir al-
guns votos? Inútil. Não vejo futuro
para eles. Imaginem o Nordeste
diante da urna eletrônica onde
o candidato é o Tarcísio. Quem?
Tarcísio? Não sei quem é. E o
Zema, coitado que não consegue
aparecer nem no cenário mineiro.
O apocalipse existe, porém.
Está ai e nos ronda a cada dia.
Temos que macetar bem macetado
para que não consiga se erguer. E
macetar o apocalipse é jogar a favor
do governo, com senso crítico, mas
a favor. Eleger prefeituras e verea-
dores que nos ajudem, contribuir
nas ruas, nos bairros, no trabalho
apar a aceitação e sedimentação da
política do governo. Evitar que o
mundo se transforme num enorme
feudo dos Estados Unidos e seus
parceiros fortalecendo os Brics. Te-
mos um futuro macetado que nos
ajudará a melhorar de vida. O apo-
calipse sempre me assustou. Desde
criança, ainda no tempo em que
ia a missa, fugia no dia do sermão
do apocalipse. Tinha medo mes-
mo que aquilo acontecesse. Ainda
bem que cresci e superei. Será que
a Baby Consuelo acredita de fato?
Será que o Bolsonaro vai sobrevi-
ver para estabelecer as regras do
apocalipse. Espero que não e só
depende de nós. Prefiro viver por
aqui, no paraíso na terra que pode
existir, sem exageros, é claro, mas
dentro do que podemos realizar.
 MAR2024 | 24 | artesdrásticas/graça craidy
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