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Francisco Candido Xavier

Ditado por
EMMANUEL

a D/9 F£-D£f?fíÇNO
OBRAS DE

ERNESTO
BOZZANO:

PENSAMENTO E
VOHTADE
Br. 4$; ene. 6$

OS ENIGMAS DA
PSICOMETRIA
Br. 5$; ene. 8?

METAPSIQUICA
HUMANA
Br. 5$; ene. 8$

A CRISE DA
MORTE
Br. 4|; ene. 6$

XENOGLOSSIA
(MEDIUNIDADE
POLIGLOTA)
Br. 5$; ene. 8$

FENÓMENOS
.PSÍQUICOS NO
MOMENTO DA
MORTE
Br. 5$; ene. 8$

ANIMISMO OU
ESPIRITISMO?
Br. 9$; ene. 12$

BaâsaBsonsi
K M B R M H

Oêkad da meémú- auôú&: FRANCISCO CANDIDO XA"

BRASIL, CORAÇÃO DO MUNDO,


PATEIA DO EVANGELHO
( D i t a d o pelo espirito de H U M B E R T O DE
CAMPOS).

EMMANUEL
T r a t a - s e de m e n s a g e n s ditadas por esse b o n d o s o
espirito a o médium Francisco C a n d i d o X a v i e r , cheias de
coloridos que n o s enchem de c o n s o l o e s u a v i d a d e . —
B r o c h . 4 $ , ene. 7 Í .

A CAMINHO DA LUZ
Historia da Civilização, á Luz do E s p i r i t i s m o . Obra
prima ditada pelo espirito lúcido de E m m a n u e l . — B r o c h .
4 $ , ene. 7$.

PARNASO DE ALÉM TUMULO


anais da
Neste livro, verdadeiramente único até a g o r a n o s
bibliografia espirita, t e m o s u m a das p r o v a s DITADO PELO ESPIRITO DE
mais r o b u s t a s da identidade p e s s o a l , « p o s t m o r t e m » , de
um Castro A l v e s , Guerra Junqueiro, C a s e m i r o de A b r e u ,
João de D e u s e t a n t o s o u t r o s da n o s s a e d a s p a s s a d a s
g e r a ç õ e s . — B r o c h . 7,

CRÔNICAS DE ALÉM TUMULO


e n e . 10.
EMMANUEL
(Ditado pelo espirito de HUMBERTO DE
CAMPOS).
Coletânea de m e n s a g e n s para serem relidas de
q u a n d o em q u a n d o e para consulta n e s s e s momentos
t ã o a m e u d a d o s em que o a n i m o se n o s abate e o espirito
quasi d e s f a l e c e . — B r o c . 5 Í , e n e . 8 $ .

NOVAS MENSAGENS
( D i t a d o pelo Espirito de H U M B E R T O
CAMPOS).
E s t e livro deve ser lido e r e c o m e n d a d o a t o d o s
q u a n t o s s e interessam pelo a s s u n t o d o espiritualismo e
p o r t o d o s o s admiradores da p r o s a deliciosa e instrutiva
d o imortal escritor.—br. 4 Í , e n e . 6t.

HA DOIS MEL ANOS


Único pela sua singularidade de c o n c e p ç ã o e de
fatura, este livro de original beleza descreve, através d o
cérebro e pela p e n a m a g i c a do médium Francisco Can-
dido X a v i e r , a p a s s a g e m de E m m a n u e l pela terra c o m o p a -
tricio r o m a n o , ao t e m p o de T i b é r i o , de quem foi l e g a d o ,
na Palestina, o n d e conheceu Jesus e assistiu ao sacrifício
do G o l g o t h a . — br. 7 Í , e n e . 1 0 Í .
1 9 4 1
50 ANOS DEPOIS
Livraria da Federação Espirita Brasileira
( D i t a d o pelo E s p i r i t o de EMMANUEL).
Porte : — 1 v o l u m e , 1.000 rs. — D i v e r s o s , .500 rs. por e x e m p l a r . Avenida Passos, 30 — Rio de Janeiro — Brasil
ÍNDICE (1)
Págs.

DEETNIÇAO 15

PRIMEIRA PARTE

CIÊNCIA
O espiritismo e a necessidade da ciência.
I — CIÊNCIAS FUNDAMENTAIS . 19
Posição da ciência da vida.
QUÍMICA , 20
As forças espirituais e o campo da química. —
Ponte de origem dos elementos. — Movimentos
:

brownianos. — Base da expressão orgânica. — Pro-


gresso da individuação química. — Química bioló-
gica e industrial. — Radioatividade. — Fonte de
energia. — Nada se cria, nada se perde. — Diver-
sidade das expressões orgânicas. — Atmosfera do
mundo. — Morte térmica do planeta.
FÍSICA 25
Execução das leis físicas. — Bases convencionais.
— Conhecimentos atuais da física. — A física e
a existência de Deus. — As noções do homem. —
Imp. Of. "Reformador" O éter. — A física e o plano da evolução. — Subs-
tância. — Lei de equilíbrio e lei de fluídos. — Leis
de gravitação. — Teledinamismo nas relações entre
os dois planos. — Compreensão do magnetismo.

( l ) A s sentenças colocadas sob os títulos e sub-títulos


Indicam a natureza dos assuntos tratados nas perguntas e
respostas do texto.
ÍNDICE
ÍNDICE
Págs. Págs.
planetárias. — Etapas evolutivas da Terra, — Ele-
BIOLOGIA 29 mentos de formação. — Comoções geológicas. —
Natureza. — Manifestações da vida. — O espírito Notícias dos textos sagrados.
e o embrião humano. — Órgãos no corpo espiritual. V — CIÊNCIAS APLICADAS 56
— Início da reencarnação. — Interpenetração de
fluídos entre a gestante e a entidade. — Recapi- Campo de esforço. — Inspirações do plano superior.
tulação. — Arvore genealógica. — Genética. — — O agricultor. — O engenheiro. — A medicina
terrestre. — Saúde. — A moléstia e a sua causa
A genética e a melhoria do homem. — Combina-
psíquica. — Aplicação dos recursos humanos. •—
ções de "genes". — Mendelismo. — Monstros tera- O passe. — Aplicação do passe. — A "benzedura".
tólógicos. — A fecundidade e esterilidade. — Idéia
— Enfermidades físicas incuráveis. — Atuação dos
de evolução. espíritos amigos sobre a flora microbiana. — Agua
PSICOLOGIA 35 fluidificada. — Condições do auxílio espiritual. —
Experiência dos sentidos materiais. — A psicologia O conselho médico de um amigo espiritual não é
a caminho da verdade. — No estudo das desordens infalível. — Eutanásia. — Hospital espírita. —
mentais. — Psico-análise. — Associações de idéias. Base dos métodos de educação. — O período ta-
— Opiniões opostas. — Sede da inteligência. — O fantil. — A melhor escola de preparação. — Edu-
sonho. — Vocação. — Loucura. — Alucinação. — cação sexual. —• Renovação dos processos educati-
Influência dos pensamentos bons ou maus. vos. — Deveres dos pais espiritistas. — Economia
SOCIOLOGIA 39 dirigida.
Pátrias.— Desigualdade. — Conceito de igualdade
absoluta. — Questões proletárias. — O Estado e SEGUNDA PARTE
as classes armadas. — Espiritismo e sociologia. FILOSOFIA
— Os espíritas e a política. — Racismo. — Não
matarás. — Não julgueis. — Processos criminais. Interpretação da filosofia.
— Responsabilidade nos cargos públicos. — Re- I — VIDA
núncia evangélica. — Movimento feminista. — In- APRENDIZADO
quietação moderna. 68
O homem e o seu pretérito. — Inteligência. —
H — CIENCIAS ABSTRATAS 47
Patrimônio íntimo. — Dilatação da capacidade. —
Posição das ciências abstratas. Inteligência e sentimento. — Meio ambiente. — In-
HE — CIÊNCIAS ESPECIALIZADAS 48 tuição. — O crente e as imposições. — Palavra
humana. — Obstáculos á inspiração superior. —
Conquista do espírito humano. — Posição da Terra. Vibrações do bem e do mal. — Corpo são e mente
— Planos inferiores. — Humanidade. — Possibili- sadia. — Vida do irracional. — Erro de alimenta-
dade das viagens interplanetárias. — Condições ção. — Santificação do sábado.
fluídicas. — Fenômenos meteorológicos. •— Os es-
píritos e a botânica. — Zoologia. — Parentesco EXPERIÊNCIA . . 73
do homem com os animais. Aquisição da experiência. — Determinismo e livre
IV — CIÊNCIAS COMBINADAS 52 arbítrio simultâneos. — Liberdade do íntimo. —
Modificação do determinismo. — O bem e o mal.
Esforços do homem. — A história da civilização Determinação absoluta. — Vigilância sobre a liber j

terrestre no plano espiritual. — Falsos julgamentos. dade. — Possibilidade do erro. — As circunstan-


— Responsabilidade do historiador. — Canoniza- cias. — Influência dos astros. — Influência dos
ção e realidade espiritual. — Primeiras fôrmas
INDICE ÍNDICE

nomes. — Numerologia. — Influência oculta dos Pága.


objetos. — Fenômenos premonitórios. — Cartoman-
cia e espiritismo. — Limites ao racionalismo. — Racionalistas orgu-
lhosos .
TRANSIÇÃO ••• 81
Instante da morte. — Mudanças. — Primeiros INTELECTUALISMO 109
tempos do homem no Além Túmulo. — O reencon- Progresso moral e intelectivo. — Capacidade inte-
tro com os seres amados. — Os espiritistas nas lectual do homem. •— Atual posição intelectiva da
perturbações da morte. — Cremação. — Morte Terra. — Decadencia intelectual. — Tarefa espe-
violenta e morte natural. — Ameaças e perigos. cializada da inteligencia. — Responsabilidade do
— Primeiras impressões dos suicidas no Além- escritor. — Os trabalhadores do espiritismo e os
Túmulo. — Receio da morte. — Satisfação dos intelectuais do mundo.
desencarnados. — Possibilidades dos espíritos. —
PERSONALIDADE 113
Perseguições do invisível. — A perseguição e os
nossos guias. — Características dos espíritos de- Noção de personalidade. — Homem medíocre. —
sencarnados . — Magnetismo pessoal. — Talismãs. — Homens
n — SENTIMENTO de sorte. — Conceito social da dignidade. — Vigi-
lancia. ;
ARTE 89
r v — ILUMINAÇÃO
A arte. — O artista e a missão. — Educação do
artista..— O gênio. — O psiquismo dos artistas. NECESSIDADE 117
— Recordações do Infinito. — Os grandes músicos. Propaganda doutrinária. — Elementos de ilumina-
— Os espíritos desencarnados e os valores artísti- ção. - - Crença e iluminação. — Análise pela razão.
cos. — Disciplina da emotividade. — O gênio e o •—• Toque da alma. — Trabalho da iluminação
mal. — Enriquecimento artístico da personalidade. íntima. — Esforço dos desencarnados.
Arte antiga e arte moderna.
TRABALHO 121
AFEIÇÃO 95
Salvação da alma. — Os guias espirituais e a ilu-
Simpatia e antipatia. — Amizade. — Instituto da minação do homem. — Graça. — Auto-iluminação.
família. — Famílias espirituais. — Chefe espiritual.
— Purificação no ambiente do mundo. — Início
Afinidade no plano invisível. — Manifestações de
de esforço. — Os mais necessitados de luz.
sensibilidade. — A cólera. — O remorso. — O
ciúme. Auto-educação nos problemas sexuais. REALIZAÇÃO 125
DEVER 100 A maior necessidade de um homem. — Causa do
Boa ação. — Acaso. — Atitude mental favorável. retardamento do homem espiritual. — Decretos
— Dever dos cônjuges. — Obrigações das mães humanos. — Iluminação no Evangelho. — Ansie-
terrestre.Filhos incorrigíveis. — Ação dos pais dade de proselitismo e necessidade de iluminação.
na Terra. — A mentira. — Verdade com franqueza. —Doutrinar e evangelizar. — Inovações religiosas.
— Auxílio espiritual. — Esclarecimento interior. V — EVOLUÇÃO
— Os amigos espirituais e as queixas dos crentes. DOR 129
IH —CULTURA
Dor física e dor moral. — Felicidade na Terra. —
RAZÃO 106 Auxílio definitivo na redenção. — O Evangelho
A cultura terrestre no plano espiritual. — O ra- e as alegrias humanas. — Generalidade do con-
cionalismo e a evolução da Terra. — Razão e fé. curso da dor. — Lugares de penitencia no plano
— Desvios da razão humana. — Ciência e filosofia. invisivel. — A dor e a prece.
INDICE INDICE
PágB. Págs.
PROVAÇÃO 132
RELIGIÕES 153
Provação e expiação. — Lei das provas. — Queda Conceito de religiões. — Religiões que antecede-
do espírito. •— Queda do espírito fora da Terra. ram a vinda do Cristo. — Doutrinas cristãs. —
— Provação coletiva. — Incredulidade. — Intensi- Tarefa da Reforma. — O espírito e a preferencia
dade e fatalidade da provação. por determinadas idéias religiosas. — Promessa
VIRTUDE ,135 de Cristo aos seus apóstolos. — Os espiritistas e
Noção da virtude. — Paciencia. — Caridade. — o batismo. — Os espiritistas e o casamento. —
Esmola material. — Esperança e Fé. — Discípu- Definição da missa católica. — Os fatos da origem
los de Jesus. — Na prática da caridade. das igrejas.
ENSINAMENTOS 158
TERCEIRA PARTE "Sois deuses". — "Todos os pecados ser-vos-ão
perdoados, trazer paz á Terra". — "Porque eu
RELIGIÃO vim pôr em dissenção o homem contra seu pai,
A religião em face da ciência e da filosofia. a filha contra sua mãe, a nora contra a sua sogra".
— " E tudo que pedirdes na oração, crendo, recebe-
I — BIBLIA
reis". — " A luz brilha nas trevas e as trevas não
REVELAÇÃO . . 140 a compreenderam". — " A quem pertence a esposa
No princípio era o Verbo-Israél. — Judaismo. — é o esposo, etc". — Transfiguração de Jesus. •—
A Santíssima Trindade da teologia católica. — "Não tendo Deus querido sacrifício nem oblata
Absurdo da idéia do "nada". — Os dias da Cria- lhe formou um corpo". — "Três são os que forne-
ção. — Posição da Bíblia nos valores educativos. cem no céu o testemunho, o Pai, o Verbo e o Es-
LEI 143 pírito Santo". —, Bem aventurança aos pobres de
espirito. •— Lição de Jesus lavando os pés aos seus
Os dez mandamentos. — Moisés no Sinai. — Mis-
discípulos. •— Razão porque Jesus cingiu ao corpo
são de Moisés. — Moisés e a lei definitiva. — Lei
de Talião. — Confusão no segundo mandamento. uma toalha, em lavando os pés aos seus discípulos.
— Lição do auxílio de Simão Cirineu. — Ressur-
— A proibição do Deuteronomio.
reição de Lázaro. — Eucaristia. — Judas e o sa-
PROFETAS 146 cerdote. — Negação de Pedro. -— Tradução do
Os livros da Bíblia. — A predição e a previsão Eganvelho de Jesus.
nos textos sagrados. — Anjos. — Profetas nume- Hl —AMOR
rosos. — Profetas de Israel. — A cooperação per-
manente dos missionários do Cristo no mundo. — UNIÃO 165
A leitura da Bíblia nos círculos familiares. Gradação do amor na natureza. — Alma gêmeas.
Comprovação da teoria das almas gêmeas no texto
H — EVANGELHO sagrado. — Atração das almas gêmeas. — As
JESUS 149 almas gêmeas e o amor universal. — Lição de Je-
Posição do Evangelho de Jesus. — Afirmativa de sus Cristo. — Uniões matrimoniais no mundo. —
João. -— Missão Joanina. — Missão universalista A saudade e os espíritos evoluídos. — Auxílio da
de Jesus Cristo. — Sacrifício de Jesus. — Dor do alma encarnada. — Eunucos pelo reino dos céus.
Cristo. — Afirmativa de Jesus. — Os círculos de PERDÃO 170
atividade terrestre e a presença do Senhor. — As Perdoar e não perdoar. — O perdão na lei divina.
parábolas evangélicas. — O anti-Cristo.
— Perdão e esclarecimento. — Perdão sincero. —
INDICE
INDICE
Págs.
Págs
cessidade do sentimento para execução da tarefa
Arrependimento e resgate das culpas. — Concilia- mediúnica. — Toda faculdade é útil. — Maior ne-
ção. — Perdoar setenta vezes sete vezes. — Odio. cessidade de um médium. — Especialização. — A
— Perdão e esquecimento. — Os desencarnados e mediunidade pôde ser retirada. — O médium e a
as acusações do mundo. conversão dos descrentes. — Os irracionais e a
FRATERNIDADE 173 mediunidade.
Lição de Jesus, — Espíritos em missão de frater- PREPARAÇÃO 195
nidade. — Amor ao próximo. — O conselho evan- O médium e a necessidade de estudo. — Obsessão.
gélico e a agressão corporal. — Fraternidade e — Doutrinação. — Obsessão e loucura. — Movi-
má interpretação. — Escola da fraternidade. — mentação de fluídos maléficos. — Necessidade da
Indiferença humana pela fraternidade sincera. — educação mediúnica. — Necessidade de disciplina.
Fraternidade e igualdade. — Fraternidade e abne-
gação. — Amor a nós mesmos. — Opiniões irônicas ou insultuosas ao trabalho dos
médiuns. — Médiuns que procuram outros médi-
r v — ESPIRITISMO uns. — Mistificação.
FE 178 APOSTOLADO 199
Cristianismo redivivo. — Missão do espiritismo. — Remuneração. — Assuntos materiais. — O mé-
Ter fé. — Fé e raciocínio. — Dúvida raciocinada. dium e seus deveres sociais junto da família. —
— Revelações do plano superior. — Melhor bem. O apostolado e os espiritistas inquietos. — Ação
— Nas cogitações da fé. — Os espiritistas e os dos investigadores. — A verdade espírita e o au-
dogmas. — Na propaganda da fé. xílio de um médium. — Associações de auxílio
PROSÉLITOS 182 material aos médiuns. — Valorização do aposto-
Deveres do espiritista. — Lutas anti-fraternas. — lado. — O escolho da mediunidade. — Vitória do
Evolução do espiritista. — Ataques da crítica. — apostolado mediúnico.
— Extravagâncias doutrinárias. — Oportunidade
da conversação doutrinária. — Provocação do in-
visível. — Inconveniência da evocação direta e
pessoal. — Vidas passadas. — Fenômenos mediú-
nicos .
PRATICA 188
Sessão espírita. — Métodos. — Os dirigentes e ps
médiuns. — Agrupamentos sem médiuns. — De-
terminação de programa doutrinário. — Os estudio-
sos que não desejam a evangelização íntima. —
No trabalho de doutrinação. — Identificação da3
entidades que se comunicam. — Dever do espiritis-
ta ante uma criatura amada que parte para o Além.
Queixas dos que procuram o espiritismo sem uma
intenção séria.
V — MEDIUNIDADE
DESENVOLVIMENTO 191
Definição da mediunidade. — Mediunidade gene-
ralizada. — Desenvolvimento mediúnico. — Ne-
DEFINIÇÃO

Na reunião de 31 de outubro de 1939, no Grupo


Espírita Luiz Gonzaga, de Pedro Leopoldo, um amigo
do plano espiritual lembrou aos seus componentes a
discussão de temas doutrinários, por meio de perguntas
nossas á entidade de Emmanuel, afim-de ampliàr-se a
esfera dos nossos conhecimentos.
Consultado sobre o assunto, o Espírito de Em-
manuel estabeleceu um programa de trabalhos a ser
executado pelo nosso esforço, que foi iniciado pelas duas
questões seguintes:
— Apresentado o espiritismo, na sua feição de
Consolador prometido pelo Cristo, três aspectos dife-
rentes : científico, filosófico, religioso, qual desses as-
pectos é o maior?
— Podemos tomar o espiritismo, simbolizado desse
modo, como um triangulo de forças espirituais.
A ciência e a filosofia vinculam á Terra essa figura
simbólica, porém, a religião é o angulo divino que a
liga ao céu. No seu aspecto científico e filosófico,
a doutrina será sempre um campo nobre de investiga-
ções humanas, como outros movimentos coletivos, de
natureza intelectual, que visam o aperfeiçoamento da
humanidade. No aspecto religioso, todavia, repousa a
mia grandeza divina, por constituir a restauração do
lívangelho de Jesus Cristo, estabelecendo a renovação
EMMANUEL O CONSOLADOR 17

definitiva do homem, para a grandeza do seu imenso humano dentro de sua abençoada escola terrestre, sob a
futuro espiritual. proteção misericordiosa de Deus.
EMMANUEIÍ.
EMMANUEIJ.

Afim-de intensificar os nossos conhecimentos, rela-


As questões apresentadas foram as mais diversas
tivamente ao tríplice aspecto do espiritismo, poderemos
e numerosas. Todos os componentes do Grupo, bem
continuar com as nossas indagações?
como outros amigos espiritistas de outros pontos, coope-
. — Podereis perguntar, sem que possamos nutrir
a pretensão de vos responder com as soluções definiti- raram no acervo das perguntas, ora manifestando as
vas, embora cooperemos convosco da melhor vontade. «nas necessidades de esclarecimento íntimo, no estudo
do Evangelho, ora interessados em assuntos novos que
Aliás, é pelo amparo recíproco que alca-nçaremos
as expressões mais altas dos valores intelectivos e sen- as respostas de Emmanuel suscitavam.
timentais . Em seguida, o autor espiritual selecionou as ques-
Além do túmulo, o espírito desencarnado não en- tões, deu-lhes uma ordem, catalogou-as em cada assunto
contra os milagres da sabedoria e as novas realidades particularizado, e eis aí o novo livro.
do plano imortalista transcendem aos quadros do co- Que as palavras sábias e consoladoras de Emmanuel
nhecimento contemporâneo, conservando-se numa esfera proporcionem a todos os companheiros de doutrina o
quasi inacessível ás cogitações humanas, escapando, pois, mesmo bem espiritual que nos fizeram, são os votos
ás nossas possibilidades de exposição, em face da ausen- dos modestos trabalhadores do Grupo Espírita Luiz
cia de comparações analógicas, único meio de impressão Gonzaga, em Pedro Leopoldo, Minas Gerais.
na táboa de valores restritos da mente humana.
Pedro Leopoldo, 8 de março de 1940.
Além do mais, ainda nos encontramos num plano
evolutivo, sem que possamos trazer ao vosso círculo de
aprendizado as últimas equações, nesse ou naquele sec-
tor de investigação e de análise. É por essa razão qué
somente poderemos cooperar convosco sem a presun-
ção da palavra derradeira. Considerada a nossa con-
tribuição nesse, conceito indispensável de relatividade,
buscaremos concorrer com a nossa modesta parcela de
experiencia, sem nos determos no exame técnico das
questões científicas, ou no objeto das polemica.» da filo-
sofia e das religiões, sobejamente movimentados nos
bastidores da opinião, para considerarmos tão somente
a luz espiritual que se irradia de todas as cousas, e o
ascendente místico de todas as atividades do espírito
PKIMEIRA PARTE

CIENCIA
1. — Tem o espiritismo absoluta necessidade da
ciencia terrestre?
— Essa necessidade, de modo algum, pôde ser
absoluta. O concurso científico é sempre util, quando
oriundo da conciencia esclarecida e da sinceridade do co-
ração. Importa considerar, todavia, que a ciencia do
mundo, se não deseja continuar no papel de comparsa
da tirania e da destruição, tem absoluta necessidade do
espiritismo, cuja finalidade divina é á iluminação dos
sentimentos, na sagrada melhoria do homem, nas suas
características morais.

CIENCIAS FUNDAMENTAIS

2. — Se reconhecemos a Química, a Física,-a Bio-


logia, a Psicologia e a Sociologia como as cinco ciencias
fundamentais, qual será a posição da ciencia da vida,
em relação ás demais?
— A química e a física, estudando a ação íntima
dos corpos, suas relações entre si e as suas proprieda-
des, constituem a catalogação dos valores da ciencia
material. A psicologia e a sociologia, examinando a
O CONSOLADOR 21
20 EMMANUEL

cia forem ampliados, poderão reduzir-se, ainda mais,


paisagem dos sentimentos e os problemas sociais, repre- as fontes de origem?
sentam a táboa de classificação das conquistas da ciên-
cia intelectual. No centro de todas, está a biologia, — A química necessita apresentar essa divisão de
significando a ciência da vida em suas profundezas, elementos para a catalogação dos valores educativos,
revelando a transcendência da origem, o Espírito, o cora vistas ás investigações de natureza científica, no
Verbo Divino. mundo; contudo, se na sua base estão os átomos, na mais
vasta expressão de diversidade, mesmo assim, tenderá
Até agora, a biologia está igualmente encarcerada sempre para a unidade substancial, em remontando com
nas escolas materialistas da Terra, porém, nas suas ex- as verdades espirituais, ás suas fontes de origem.
pressões mais legítimas, evolverá para Deus, com as
Aliás, em se tratando das individuações químicas,
suas demonstrações sublimes, cumprindo-nos reconhecer
já conheceis que o hidrogênio, no quadro dos conheci-
que, mesmo na atualidade, seus enigmas profundos são
mentos terrestres é o corpo mais simples de todos. Seu
os mais nobres apelos á realidade espiritual e ao exame
átomo é a forma primordial da matéria planetária,
das fontes divinas da existência.
constituindo-se do sistema absolutamente simplificado,
porque composto de um só eletrão, de onde partem as
QUÍMICA
demais individuações no mecanismo evolutivo da ma-
téria, em suas expressões rudimentares.
3. — No campo da química, as forcas do plano
espiritual auxiliam o homem terrestre? 5. — Nos chamados movimentos brownian&s e nas
afinidades moleculares poderemos observar manifesta-
— Os prepostos de Jesus espalham-se por todos os
ções de espiritualidade?
sectores do trabalho humano e, em todos os tempos,
cooperaram com o homem no seu esforço de aperfeiçoa- Nos chamados movimentos brownianos, bem como
mento; aliás, os estudiosos e os cientistas do planeta não nas atrações moleculares, ainda não poderemos ver, pro-
criaram os fenómenos químicos, que sempre existiram priamente, manifestações de espiritualidade, como prin-
desde a aurora dos tempos, afirmando uma inteligência cípio de inteligência, mas fenómenos rudimentares da
vida em suas demonstrações de energia potencial, na
superior.
evolução da matéria, a caminho dos princípios anímicos,
Os homens, em verdade, aprenderam a química
sob a benção de luz da natureza divina.
com a natureza, copiaram as suas associações, desen-
volvendo a sua esfera de estudos e inventaram uma 6. — Houve uma unidade material para a forma-
nomenclatura, reduzindo a sua ação a analisar, com- ção das várias expressões orgânicas existentes na Terra?
binar e convencionar os valores químicos, sem lhes Assim como o químico humano encontra no hidro-
apreender a origem divina. geneo a fórmula mais simples para estabelecer a rota de
suas comparações substanciais, os espíritos que coope-
4. —• Nos estudos da química, avaliam-se em cerca
raram com o Cristo, nos primórdios da organização pla-
de um quarto de milhão as substancias da Terra, que
netária encontraram no protoplasma, o ponto de início
podem ser reduzidas, aproximadamente, como originá-
para a sua atividade realizadora, tomando-o como base
rias de oitenta elementos. Quando os estudos dessa cien-
22 EMMANUEL O CONSOLADOR 23

essencial de todas as células vivas do organismo ter- vida planetária. Todos os seres, como todos os centros
restre . em que se processam as forças embrionárias da vida,
7. — Existe uma lei de progresso para a indivi- recebem a renovação constante de suas energias através
duação química f da chuva incessante dos átomos que a sede do sistema
— Na conceituação dos valores espirituais, a lei é envia á sua família de mundos, equilibrados na sua
de evolução para todos os seres e cousas do universo. atração, dentro do Infinito.
Ás individuações químicas possuem igualmente a sua 11. — Como deveremos compreender a assertiva
rota para obtenção das primeiras expressões anímicas, dos químicos: "nada se cria, nada se perde"?
sendo justo observarmos que, no círculo industrial, a — Em verdade, o espírito humano não cria a vida,
individuação é trabalhada pelos processos mais gros- atributo de Deus, fonte da criação infinita e incessante;
seiros, até que possa ser aproveitada pelo agente invi- contudo, se o homem não pôde criar o fluido da vida,
sível na química biológica, onde entra em novo eielo nada se perde da obra de Deus em torno dele, porque
vital, na ascenção para o seu destino. todas as substancias se transformam na evolução para
8. — Qual a diferença observada pelos espíritos o mais alto.
entre a química biológica e a industrial?
12. — Em face da exatidão com que se efetuam
— Na primeira preponderam os ascendentes espiri-
as combinações naturais da química orgânica, como
tuais, em todas as organizações; ao passo que na se-
entender as diversas expressões da natureza, em seus
gunda todos os fatores podem ser de atuação pro-
primórdios?
priamente material.
Nisso reside a grande diferença. É que, na inti- — As expressões diversas da natureza terrestre, em
midade da célula orgânica, o fenómeno da vida sub- suas primitivas agregações moleculares, obedeceram ao
mete-se a um agente divino, em sua natureza profunda, pensamento divino dos prepostos de Jesus, quando nas
ej nos compostos industriais, as combinações químicas manifestações iniciais da vida sobre a crosta do orbe.
podem obedecer a um agente humano. Remontando a essas origens profundas, podeis ob-
9. — A radiotividade opera a destruição ou a evo- servar, então, o esforço dos espíritos sábios do plano
lução da matéria? invisível, na manipulação dos valores da química bio-
—- Através da radioatividade, verifica-se a evolu- lógica nos primórdios da vida planetária, estabelecendo
ção da matéria. É nesse contínuo desgaste que se ob- a caracterização definitiva dos processos da natureza na
servam os processos de transformação das individuações fixação das espécies, prevendo todo mecanismo da evo-
químicas, convertidas em energia, movimento, eletrici- lução no futuro, e entregando o seu trabalho ás leis
dade, luz, na ascenção para novas modalidades evoluti- da seleção natural que, sob a égide de Jesus, prosse-
vas, em obediência ás leis que regem o universo. guiriam no aperfeiçoamento da obra terrestre através
10. — Onde a fonte de energia para a matéria, de do tempo.
vez que a radiotividade opera incessantemente, traba- 13. — As forças espirituais organizaram igual-
lhando as suas forças? mente a atmosfera do mundo?
— O sói é essa fonte vital para todos os núcleos da — Isso é indubitável. A inteligência com que fo-
24 EMMANUEL O CONSOLADOR 25

ram dispostos os elementos do cenário para o desnvol- vas do nosso espírito, que são inacessíveis a todas as
vimento da vida no planeta, volo-comprova. transformações da matéria, em face do infinito.
A algumas dezenas de quilómetros foram colocados
os revestimentos do ozone, destinados a filtrar os raios FÍSICA
solares, dosando-lhes a natureza para a proteção da
vida. 15. — Existem espíritos especialmente encarrega-
Da atmosfera recebeis a maior percentagem de nu- dos da execução das leis físicas no planeta terrestre?
trição para o entretenimento das células. — Essa verdade é incontestável e o homem poderá
E, como o nosso escopo não é o de citações erudi- examinar e estudar constantemente, auferindo o melhor
tas, nem o de redizer os preceitos científicos do mundo, proveito na sua rotina de esforços perseverantes, porém,
lembremos que um homem, na manutenção da sua vida todas as definições do materialismo serão inúteis em
orgânica necessita de regular quantidade de oxigênio, face da realidade irrefutável dos fatores transcenden-
quinze gramas de azoto (alimentar) e quinhentas gra- tes, em todos os grandes fenómenos físicos da natureza.
mas de carbono (alimentar). O oxigênio é uma dádiva 16. — As novas revelações científicas positivadas
de Deus para todas as criaturas; quanto ao azoto e ao pelos professores Thomson, Butheforã, Bamsay e Soddy,
carbono, é pela sua obtenção que o homem luta afano- entre outros, no campo da física, sobre os átomos e os
samente na Terra, recordando-nos a exortação dos tex- életrões, são passíveis de fornecer o exato conheci-
tos sagrados ao espírito que faliu — "comerás o pão mento de todas as etapes da evolução anímica?
com o suor do teu rosto". — A ciência, propriamente humana, poderá esta-
O problema básico da nutrição, nessa conta de belecer bases convencionais, mas não a base legítima,
química, é uma reafirmação da generosidade paterna do em sua origem divina, porquanto os átomos e os ele-
Criador e do estado expiatório em que se encontram as trÕes são fases de caracterização da matéria, sem cons-
almas reencarnadas neste mundo. tituírem o princípio nessa escala sem fim, que se
14. — Gomo compreender a afirmativa dos astrô- verifica, igualmente, para o plano dos infinitamente
nomos relativamente á morte térmica do planeta? pequenos.
— É certo que todo organismo material se trans- 17. — Como são considerados, no plano espiritual,
formará, um dia, revestindo novas fôrmas. As energias os conhecimentos atuais da física na Terra?
do sol, como as forças telúricas do orbe terrestre serão — As noções modernas da física aproximam-se,
exgotadas aqui, para surgirem noutra parte. Alguns cada vez mais, do conhecimento das leis universais, em
astrónomos calculam a morte térmica do planeta para cujo ápice repousa a diretriz divina que governa todos
daqui a um milhão de anos, aproximadamente. os mundos.
Já se disse, porém, que a vida é o eterno presento. Os sistemas antigos envelheceram. As concepções
E o nosso primeiro dever não é o de contar o tempo de ontem deram lugar á novas deduções. Estudos recen-
demarcando, em bases inseguras, a duração das obras tes da matéria vos fazem conhecer que o seus ele-
reconhecidamente transitórias, mas o do valoriza-lo, mentos se dissociam pela análise, que o átomo não é
como oportunidade sagrada para as edificações dofiniti- indivisível, que* toda expressão material pôde ser con-
26 EMMANUEL O CONSOLADOR 2T

vertida em força e que toda energia volta ao reserva- sem que o homem consiga ultrapassar o domínio de de-
torio do éter universal. Com o tempo, as fórmulas terminadas vibrações.
académicas se renovarão em outros conceitos da reali- Mergulhadas nas vibrações pesadas dos círculos da
dade transcendente, e os físicos da Terra não poderão carne, as criaturas têm notícias muito imperfeitas do
dispensar Deus nas suas ilações, reintegrando a natu- universo, em razão da exiguidade dos seus pobres cinco
reza na sua posição de campo passivo, onde a inteli- sentidos.
gência divina se manifesta. É por isso que o homem terá sempre um limite nas
18. — Onde o ponto imediato de observação para suas observações da matéria, força e movimento, não
que a física reconheça a existencia de Deus? só pela deficiência de percepção sensorial, como também
pela estrutura do olho, onde a sabedoria divina delimi-
— Desde o ponto inicial de suas observações, a
tou as possibilidades humanas de análise, de modo a
física é obrigada a reconhecer a existencia de Deus em
valorizar os esforços e iniciativas da criatura.
seus divinos atributos. Para demonstrar o sistema do
20. — Como poderemos compreender o éter?
mundo, o cientista não recorreu ao chamado "eixo ima-
— Nos círculos científicos do planeta muito se tem
ginário"? Basta essa incógnita para que o homem seja
falado do éter, sem que possa alguém fornecer uma
conduzido a ilações mais altas, no dominio do trans-
imagem perfeita da sua realidade, nas convenções co-
cendente .
nhecidas .
A mecânica celeste prova a irrefutabilidade da teo- B, de fato, o homem não pôde imagina-lo, dentro
ria do movimento. O planeta move-se na imensidade. das percepções acanhadas da sua mente. Por nossa vez,
A matéria vibra nas suas mais diversificadas expressões. não poderemos proporcionar a vós outros uma noção
Quem gerou o movimento? Quem forneceu o pri- mais avançada, em vista da ausência de termos de
meiro impulso vibratório no organismo universal? analogia.
A ciencia esclarece que a energia faz o movimento, . Se, como desencarnados, começamos a eximina-lo
mas a força é cega e a matéria não tem características na sua essência profunda, para os homens da Terra o
de espontaneidade. éter é quasi uma abstração. De qualquer modo, porém,
Só na inteligencia divina encontramos a origem de busquemos entendê-lo como fluido sagrado da vida, que
toda coordenação e de todo equilíbrio; razão pela qual, se encontra em todo o cosmos; fluido essencial do uni-
nas suas questões mais ínfimas, a física da Terra não verso, que, em todas as direções, é o veículo do pensa-
poderá prescindir da lógica com Deus. mento divino.
19. — As noções de física conhecidas pelos homens 21. — Pôde a física oferecer-nos elemsntos para
são definições reais e definitivas? apreciar o plano divino da evolução?
— Os homens possuem da materia a conceituação — Também aí podereis observar a profunda beleza
possível de ser fornecida pela sua mente, compreen- das leis universais. Ao sopro inteligente da vontade
dendo-se que o aspecto real do mundo não é aquele que divina, condensa-se a matéria cósmica no organismo do
os olhos mortais podem abranger, porquanto as per- universo. Surgem as grandes massas das nebulosas e,
cepções humanas estão condicionadas ao» plano sensorial, em seguida, a família dos mundos, regendo-se em seus

ISwHHHnBHBHHB
28 EMMANUEL
O CONSOLADOR 29

movimentos pelas leis do equilíbrio, dentro da atração,


24. — As leis da gravitação são análogas em todos
no corpo infinito do cosmos.
os planetas?
O ciclo da evolução apresenta aí um dos seus
— As leis de gravitação não podem ser as mesmas
aspectos mais belos. Sob a diretriz divina, a matéria
para todos os planetas, mesmo porque, em face da vossa
produz a força, a força gera o movimento, o movimento
evolução científica, já compreendeis que os princípios
faz surgir o equilíbrio da atração e a atração se trans-
newtonianos foram substituídos, de algum modo, pelos
forma em amor, identificando-se todos os planos da
conceitos de relatividade, conceitos esses que, por sua
vida na mesma lei de unidade, estabelecida no universo
vez seguirão, igualmente, o curso progressivo do co-
pela sabedoria divina.
nhecimento .
22. — A substancia é igual em todos os mundos? 25. — O teledinamismo é aplicado nas relações en-
Como compreender a revelação dos espectroscopios? tre os planos visível e invisível?
— Reconhecido o axioma de que o universo obe- — Sendo o teledinamismo a ação de forças que
dece a uma lei de unidade, somos obrigados a reconhe- atuam á distancia, cumpre-nos esclarecer que, no fenó-
cer que o que se encontra no todo existe igualmente meno das comunicações, muitas vezes entram em jogo
nas partes. as ações teledinamicas, imprescindíveis á certas expres-
Contudo, o espectroscopio não vos poderá revelar sões do mediunismo.
todas as substancias que se encontram nos outros mun :
26. — Ante os princípios da física, como podere-
dos, e não podemos esquecer que a Terra é um aparta- mos compreender o magnetismo e quais as suas caracte-
mento muito singelo dentro do edifício universal, sem rísticas no intercambio entre encarnados e desencar-
que possamos conhecer, pelos seus detalhes modestos, nados?
a grandeza infinita da obra do Criador. —• O magnetismo é um fenómeno da vida, por cons-
23. — Existem uma lei de equilíbrio e uma lei de tituir manifestação natural em todos os seres.
fluidos? Se a ciência do mundo já atingiu o campo de equa-
— As grandes leis gerais do equilibrio têm a sua ções notáveis nas experiências relativas ao assunto, pro-
sede sagrada em Deus, fonte perene de toda vida. vando a generalidade e a delicadeza dos fenómenos mag-
E, em se falando da lei de fluidos, cada orbe a possue néticos, deveis compreender que as exteriorizações dessa
de conformidade com a sua organização planetaria. natureza, nas relações entre os dois mundos, são sempre
Com relação ao plano terrestre, somente Jesus e mais elevadas e sutis, em virtude de serem, aí, uma
os seus mensageiros mais elevados conhecem os seus pro- expressão de vida superior.
cessos, com a devida plenitude, constituindo essa lei um
campo divino de estudos, não só para a mentalidade BIOLOGIA
humana, como também para os seres desencarnados, que
2 7 . — Como devemos compreender a natureza?
já se redimiram dos labores mais grosseiros junto doa
— A natureza é sempre o livro divino, onde as
círculos da carne, afim-de evoluírem nas esferas mais
mãos de Deus escrevem a história de sua sabedoria, li-
próximas do cenário terrestre.
vro da vida que constitue a escola de progresso' espiri-
30 EMMANUEL O CONSOLADOR 31

tual do homem, evoluindo constantemente com o esforço matéria mais grosseira, no mecanismo das heranças ce-
e a dedicação de seus discípulos. lulares, as quais, por sua vez, se enquadram nas indis-
28. As manifestações de vida nos vários reinos pensáveis provações ou testemunhos de cada indivíduo.
da natureza, abrangendo o homem, significam a expres- 31. — A reencarnação inicia-se com as primeiras
são do VerboDivino , em escala gradativa nos processos mamifestadões de vida do embrião humano?
de aperfeiçoamento da Terra f — Desde o instante primeiro de tais manifestações,
— Sim, em todos os reinos da natureza palpita a a entidade espiritual experimenta os efeitos da sua nova
vibração de Deus, como o Verbo Divino da Criação condição. Importa reconhecer, todavia, que o espírito
Infinita,- e, no quadro sem fim do trabalho e da expe- mais lúcido, em contraposição com os mais obuseureci-
riência, todos os princípios, como todos os indivíduos, dos e ignorantes, goza de quasi inteira liberdade, até
catalogam os seus valores e aquisições sagradas para a a consolidação total dos laços materiais com o novo
vida imortal. nascimento na esfera do mundo.
29. — Os espíritos cooperam no desenvolvimento 32. — Quando o embrião está sendo formado,
do embrião do corpo em que se vão reencarnar? E, em existe uma interpenetração de fluidos entre a gestante
caso afirmativo, chegam a operar nos complexos celu- e a entidade então ligada ao feto? Existem consequên-
lares da herança física, para que os corpos futuros se- cias verificáveis?
jam dotadas de certos elementos aptos a satisfazerem — Essa interpenetração de fluidos é natural e
as circunstancias da prova ou missão que hajam de justa, ocasionando, não raras vezes, fenómenos subtilís-
cumprir? simos, como os chamados "sinais de nascença" que,
— No caso dos espíritos evoluídos, senhores de somente mais tarde poderão ser entendidos pela ciência
realizações próprias inalienáveis, essa cooperação quasi do mundo, enriquecendo o quadro de valores da biolo-
sempre se verifica, junto ao esforço dos prepostos de gia, no estudo profundo das origens.
Jesus, que operam nesse sentido, com vistas ao porvir
33. — O espírito, em cada uma de suas encarna-
de suas lutas no ambiente material. Temos de consi-
ções faz uma recapitulação das suas etapas evolutivas,
derar, todavia, que os espíritos rebeldes, ou indiferentes,
assim como se verifica com o embrião material que
desprovidos dos valores próprios indispensáveis, têm de
recorda, antes do nascimento, toda evolução da sua
aceitar a deliberação dos prepostos referidos, os quais
espécie?
escolhem as substancias que merecem ou que lhes são
imprescindíveis no processo de resgate ou de evolução. —• Essa recapitulação se verifica, na maioria dos
30. — Ha órgãos no corpo espiritual? casos, pela oportunidade qúe oferece á alma encarnada
— Dentro das leis substanciais que regem a vida de se portar retamente, nas mesmas circunstancias do
terrestre, extensivas ás esferas espirituais mais próximas passado culposo, porém, não eonstitue regra geral, sa-
do planeta, já o corpo físico, excetuadas certas altera- lietando-se que, quanto maiores as aquisições de sabe-
ções impostas pela prova ou tarefa a realizar, é uma doria e de amor, mais afastado se encontrará o espírito,
exteriorização aproximada do corpo perispirital, exte- em aprendizado na Terra, dessa rememoração das expe-
teriorização essa que se subordina aos imperativos da riências materiais, de cuja intimidade dolorosa poderá
32 EMMANUE3L O CONSOLADOR 33

então prescindir, pela sua expressão superior de espi- serviço de melhoramento e regeneração do homem espi-
ritualidade . ritual no mundo, mesmo porque, de outro modo, poderá
34. — A denominada árvore genealógica dos seres ser uma notável mentora da eugenia, uma grande escul-
humanos tem idêntica significação no plano espiritual? tora das formas celulares, mas estará sempre fria para
-— Na esfera espiritual, persiste o mesmo esforço o espírito humano, podendo transformar-se em títere
. na conservação e dilatação dos afetos familiares e, ora abominável nas mãos impiedosas dos políticos racistas.
nos trabalhos regeneradores da Terra, ora na luz san- 37. — As combinações de "genes" aconselhadas
tificante dos planos siderais, transformam-se as pai- pela genética podem imprimir no homem certas facul-
xões ou sentimentos ilegítimos em sagrados liames do dades ou certas vocações?
espírito. — Alguns cientistas da atualidade proclamam essas
A árvore genealógica, porém, como se conhece na possibilidades, esquecendo, porém, que a vocação ou
luta planetária, não se transporta ao plano invisível, faculdade é atributo da individualidade espiritual, ina-
porque, aí, os vínculos de sangue são substituídos pelas eessivel aos seus processos de observação.
atrações dos sentimentos de amor sublime, purificados Os geneticistas podem realizar numerosas demons-
no patrimônio das experiências e lutas vividas em
trações nas células materiais; todavia, essas experien-
comum.
cias não passarão dessa zona superficial, em se tratando
35. — A genética está submetida á leis puramente das conquistas, das provações ou da posição evolutiva
materiais?
dos espíritos encarnados.
— As leis da genética encontram-se presididas por 38. — Se a genética está orientada por elementos
numerosos agentes psíquicos que a ciência da Terra está
psíquicos, como esclarecer as conclusões tão exatas do
longe de formular, dentro dos seus postulados materia-
listas. Esses agentes psíquicos, muitas vezes, são movi- mendelismo?
mentados pelos mensageiros do plano espiritual, encar- — O mendelismo realizou experiencias notáveis,
regados dessa ou daquela missão junto ás correntes da porém, ainda encontra fenómenos inexplicáveis no pro-
profunda fonte da vida. Eis porque, aos geneticistas, cesso de suas observações positivas. Faz-se mister con-
comumente, se deparam incógnitas inesperadas, que des- siderar, igualmente, que, em escala decrescente, nos rei-
locam o centro de suas anteriores ilações. nos da natureza, a genética apresenta resultados felizes
nas suas demonstrações, pelo material simples e primi-
36. •— Pôde a genética estatuir medidas que me-
lhorem o homem? tivo tomado para as suas observações práticas, tais como
os complexos celulares de plantas e de animais, constitui-
—• Fisicamente falando, a própria natureza do orbe
dos por expressões rudimentares. Em escala ascendente,
vem melhorando o homem, continuadamente, nos seus
contudo, onde a evolução psíquica apresenta as suas
processos de seleção natural. Nesse sentido, a genética
características de intensidade e realização, a genética
só poderá agir copiando a própria natureza material.
encontrará sempre os fatores espirituais convocando-a
Se essa ciência, contudo, investigar os fatores espirituais
para um campo mais vasto e mais sublime de operações.
aderindo aos elevados princípios que objetivam a ilumi-
39. — Quais as causas do nascimento de mons-
nação das almas humanas, então, poderá criar um vasto
truosidades entre os homens e entre os animais? 3
34 EMMANUEL
O CONSOLADOR 35

— Não podemos olvidar que entre os homens esses


fenómenos dolorosos decorrem do quadro de provações 41. — A idéia de evolução, que tem influião na
purificadoras, sem nos esquecermos, igualmente, de que esfera de todas as ciências do mundo, desde as teorias
o mundo terrestre ainda é escola visando o aperfei- darwinianas, representa agora uma nova etape de apro-
çoamento . ximação entre os conhecimentos científicos do homem e
Os produtos teratológicos constituem luta expiató- as verdades do espiritismo?
ria, não só para os pais sensiveis, como para o espírito — Todas as teorias evolucionistas no orbe terrestre
encarnado, sob penosos resgates do pretérito delituoso. caminham para a aproximação com as verdades do espi-
Quanto aos animais, temos de reconhecer a neces- ritismo, no abraço final com a verdade suprema.
sidade imperiosa das experiencias múltiplas no drama
da evolução anímica. PSICOLOGIA
Em tudo, porém, busquemos divisar a feição edu-
42. — Como poderemos compreender, pelo espiri-
cativa dos trabalhos do mundo.
tismo, o preceito da psicologia que afirma a experiência
A Terra é uma vasta oficina. Dentro dela operam
dos nossos cinco sentidos como todo o fundamento de
os prepostos do Senhor, que podemos considerar como
nossa vida mental?
os orientadores técnicos da obra de aperfeiçoamento e
redenção. Em determinadas secções de esforço, os ho- — O espiritismo esclarece que o homem é senhor de
mens são maus alunos ou trabalhadores rebelados. Nes- um património mais vasto, consolidado nas suas expe-
ses núcleos, os prepostos de Jesus podem edificar o riências de outras vidas, provando que o legítimo fun-
mesmo trabalho de sempre; todavia, encontram a per- damento da vida mental não reside, de maneira abso-
turbação e a resistencia dos próprios beneficiados, razão luta, na contribuição dos sentidos corporais, mas tam-
pela qual a fonte de energias puras não pôde ser res- bém nas recordações latentes do pretérito, das quais os
ponsabilizada pelos fenómenos que a deturpam, opera- fenómenos da inteligência prematura, na Terra, são os
dos pela indiferença, pela intenção criminosa ou pela testemunhos mais eloquentes.
perversidade das próprias criaturas humanas, objeto 43. — Estabelecendo a psicologia do mundo como
constante do carinho desvelado do Senhor, em todos os sede da memória, do julgamento e da imaginação, as
caminhos dos seus destinos. partes do cérebro, humano, cujas funções não são ainda
40. — A fecundidade e a esterilidade são provas? devidamente conhecidas pela ciência, retarda a solução
— No quadro de compreensões da Terra, esses con- de um problema que só pôde ser satisfeito pelos co-
ceitos podem indicar situações de prova para as almas nhecimentos espiritistas?
que se encontram em experiencias edificadoras; todavia, — Distante das cogitações de ordem divina, a psi-
se considerarmos a questão no seu aspecto espiritual, cologia terrestre efetua essa procrastinação, até que
somos obrigados a reconhecer que a esterilidade não consiga atingir o profundo estuário da verdade integral.
existe para o espírito que, na Terra ou fora dela, pôde 44. — Poderá a psicologia chegar á uma solução
ser fecundo em obras de beleza, de aperfeiçoamento e cabal do problema das desordens mentais, denominadas
de redenção. anormalidades psicológicas?
— Movimentando tão somente os materiais da cien-
O CONSOLADOR 37
36 EMMANUEL

ciai; ações essas, oriundas do seu esforço" incessante,


eia humana, a psicologia não atingirá esse desideratum, projetdas através do cérebro material, que não é mais
eonservando-se no terreno das definições e dos estudos, que um instrumento passivo.
distantes da causa. 47. —• Por que se encontram divididos, no campo
Os conhecimentos do mundo, porém, caminham para da opinião, os psicólogistas do mundo, no estudo dos
a evolução dessa ciência á luz do espiritismo, quando, processos mentais?
então, seus investigadores poderão alcançar as soluções — Os psicólogistas humanos, que se encontram
precisas. ainda distantes das verdades espirituais, dividem-se tão
45. •— A psico-análise freudiana valorizando os só pelas manifestações do personalismo, dentro de suas
poderes desconhecidos do nosso aparelhamento mental, escolas; mesmo porque, analisando apenas os efeitos, não
representa um traço de aproximação entre a psicologia investigam as causas, perdendo-se na complicação das
e o espiritismo ? nomenclaturas científicas, sem uma definição séria e
— Essas escolas do mundo constituem sempre gran- simples do processo mental, onde se sobrelevam as pro-
des tentativas para aquisição das profundas verdades fundas realidades do espírito.
espirituais, mas os seus mestres, com raras exceções, se 48. — O espiritismo esclarecerá a psicologia quanto
perdem na vaidade dos títulos académicos ou nas falsas as problema da sede da inteligência?
apreciações dos valores convencionais.
— Somente com a cooperação do espiritismo poderá
Os preconceitos científicos, por enquanto, impossi- a ciência psicológica definir a sede da inteligência hu-
bilitam a aproximação legítima da psicologia oficial e mana, não nos complexos nervosos ou. glandulares do
do espiritismo. corpo perecível, mas no espírito imortal.
Os processos da primeira falam da parte desco-
49. — Como devemos conceituar o sonho?
nhecida do mundo mental e chamam-na a subconeiencia,
sem definir essa cripta misteriosa da personalidade hu- —- Na maioria das vezes, o sonho constitue uma ati-
mana, examinando-a apenas na classificação pomposa vidade reflexa das situações psicológicas do homem, no
das palavras. Entretanto, somente á luz do espiritismo mecanismo das lutas de cada dia, quando as forças orgâ-
poderão os métodos psicológicos aprender que essa zona nicas dormitam em repouso indispensável.
oculta, da esfera psíquica de cada um, é o reservatório Em determinadas circunstancias, contudo, como nos
profundo das experiências do passado, em existências fenómenos premonitórios, ou nos de sonambulismo em
múltiplas da criatura, arquivo maravilhoso, onde todas que a alma encarnada alcança elevada percentagem de
as conquistas do pretérito são depositadas em ener- desprendimento pareial, o sonho representa a liberdade
gias potenciais, de modo a ressurgirem no momento relativa do espírito prisioneiro da Terra, quando, então,
oportuno. poder-se-á verificar a comunicação "inter-vivos", e quan-
46. — Como poderemos compreender os chamados do são possíveis as visões proféticas, fatos esses sempre
complexos ou associações de idéias no fenómeno mental? organizados pelos mentores espirituais de elevada hie-
— Sabemos que as associações de idéias não têm rarquia, obedecendo a fins superiores, e quando o en-
causa nas células nervosas, constituindo ações espontâ- carnado em temporária liberdade pôde receber a palavra
neas do espírito, dentro do vasto mecanismo circunstan-
38 EMMANUEL
O CONSOLADOR 89

e a influencia diretas de seus amigos e orientadores do


plano invisível. circunstancias, quando a criatura se fez credora desses
choques dolorosos, na justiça das compensações.
50. — A vocação é uma lembrança das existências
passadas? Sobre todos os feitos dessa natureza, todavia, pre-
valece a Providencia Divina, que opera a execução de
— A vocação é o impulso natural oriundo da repeti-
seus designios de equidade, com misericórdia e sa-
ção de análogas experiências, através de muitas vidas.
bedoria .
Suas características, nas disposições infantis, são o tes-
temunho mais eloquente da verdade reencarnacionista.
SOCIOLOGIA
51. — A loucura é sempre uma prova?
—• O desequilíbrio mental é sempre uma provação 54. — Com a difusão da luz espiritual, alargará
difícil e dolorosa. Essa realidade, contudo, podendo o homem a noção de pátria, de modo a abranjer no
representar o resgate de uma dívida do pretérito esca- mesmo nivel todas as nações do mundo?
broso e desconhecido pôde, igualmente, constituir uma — A luz espiritual dará aos homens um eoneeito
resultante da imprevidência de hoje, no presente que novo de pátria, de maneira a proscrever-se o movimento
passa, fazendo necessária, acima de todas as exortações, destruidor pelos canhões e balas homicidas.
aquela que recomenda a oração e a vigilância.
Quando isso se verifique, o homem aprenderá a
52. — A alucinação é fenómeno do cérebro, ou
valorizar o berço em que renasceu, pelo trabalho e pelo
do espírito?
amor, destruindo-se concomitantemente as fronteiras ma-
— A alucinação é sempre um fenómeno intrinse- teriais e dando lugar á era nova da grande família hu-
camente espiritual, mas pôde nascer de perturbações mana, em que as raças serão substituidas pelas almas
estritamente orgânicas, que se façam reflexas no apa- e em que a patria será honrada, não com a morte, mas
relho sensorial, viciando o instrumento dos sentidos, por com a vida bem aplicada e bem vivida.
onde o espírito se manifesta.
55. A desigualdade verificada entre as classes so-
53. — Os bons ou maus pensamentos do ser en-
ciais no usufruto dos bens terrenos perdurará nas épo-
carnado afetam a organização psíquica de seus irmãos
cas do porvir?
na Terra, aos quais sejam dirigidos?
— Os corações que oram e vigiam, realmente, de — A desigualdade social é o mais elevado teste-
acordo com as lições evangélicas, constróem a sua pró- munho da verdade da reencarnação, mediante a qual
pria fortaleza, para todos os movimentos de defesa cada espírito tem sua posição definida de regeneração
espontânea. e resgate. Nesse caso, consideramos que a pobreza, a
miséria, a guerra, a ignorancia como outras calamida-
Os bons pensamentos produzem sempre o máximo
des coletivas, são enfermidades do organismo social, de-
bem sobre aqueles que representam o seu objetivo, por
vido á situação de prova da quasi generalidade dos seus
se enquadrarem na essência da Lei única, que é o Amor
membros. Cessada a causa patogênica com a iluminação
em todas as suas divinas manifestações; os de natureza
espiritual de todos em Jesus Cristo, a moléstia coletiva
inferior podem afetar o seu objeto, em identidade de
estará eliminada dos ambientes humanos.
40 EMMANUEL O CONSOLADOR 41

56. — Pôde admitir-se, em, sociologia, o conceito sua cristianização. Conhecemos daqui os maus dirigentes
de igualdade absoluta? e os maus dirigidos, não como ricos e pobres, mas como
— A concepção igualitária absoluta é um erro á homens avarentos e os revoltados. Nessas duas expres-
grave dos sociólogos, em qualquer departamento da sões, as criaturas operaram o desequilibrio de todos os
vida. A tirania política poderá tentar uma imposição mecanismos do trabalho natural.
nesse sentido, mas não passará das espetaculosas uni- A verdade é que todos os homens são proletarios da
formizações simbólicas para efeitos exteriores, porquanto evolução e nenhum esforço de boa realização na Terra
o verdadeiro valor de um homem está no seu íntimo, é indigno do espírito encarnado.
onde cada espírito tem sua posição definida pelo pró- Cada máquina exige uma direção especial, e o meca-
prio esforço. nismo do mundo requer o infinito das aptidões e dos
Nessa questão existe uma igualdade absoluta de conhecimentos.
direitos dos homens perante Deus, que concede a todos
Sem a harmonia de cada peça na posição em que
os seus filhos uma oportunidade igual nos tesouros ina-
se encontra, toda produção é contraproducente e toda
preciáveis do tempo. Esses direitos são os da conquista
boa tarefa impossível.
da sabedoria e do amor, atraA és da vida, pelo cumpri-
r

mento do sagrado dever do trabalho e do esforço indi- Todos os homens são ricos pelas bênçãos de Deus e
vidual. Eis porque cada criatura terá o seu mapa de cada qual deve aproveitar, com êxito, os "talentos" rece-
méritos nas sendas evolutivas, constituindo essa situa- bidos, porquanto, sem exceção de um só, prestarão um
ção, nas lutas planetárias, uma grandiosa escala pro- dia, além-túmulo, as contas de seus esforços.
gressiva em matéria de raciocínios e sentimentos, em Que os trabalhadores da direção saibam amar, e que
que se elevará naturalmente todo aquele que mobilizar os da realização nunca odeiem. Essa é a verdade pela
as possibilidades concedidas á sua existência para o tra- qual compreendemos que todos os problemas do trabalho
balho edificante da iluminação de si mesmo, nas sagra- na Terra, representam uma equação de Evangelho.
das expressões do esforço individual. 58. — Reconhecendo-se o Estado como aparelha-
57. —• Poderão os homens resolver sem atritos as mento de leis convencionais, é justificável a sua existen-
chamadas questões proletárias f cia, bem como a das classes armadas, que o sustentam
—• Sim, quando se decidirem a aceitar e aplicar no mundo?
os princípios sagrados do Evangelho. Os regulamentos Na situação (ou condição) atual do mundo e consi-
apaixonados, as greves, os decretos unilaterais, as ideo- derando a heterogeneidade dos caracteres e das expres-
logias revolucionárias, são cataplasmas inexpressivas, sões evolutivas das criaturas, examinadas isoladamente,
complicando a chaga da coletividade. justifica-se a necessidade dos aparelhos estatais nas con-
O socialismo é uma bela expressão de cultura hu- venções políticas, bem como das classes armadas que
mana, enquanto não resvala para os pólos do extre- os mantêm no orbe, como institutos de ordem para a
mismo . execução das provas individuais, nas contingencias hu-
Todos os absurdos das teorias sociais decorrem da manas, até que o homem perceba o sentido de concordia
ignorância dos homens relativamente á necessidade de e fraternidade dentro das leis do Criador, prescindindo
O CONSOLADOR 43
42 EMMANUEL

doutrina é consolar e instruir, em Jesus, para que to-


então da obrigatoriedade de certas determinações das
dos mobilizem as suas possibilidades divinas no caminho
leis humanas, convencionais e transitórias.
da vida. Troca-la por um lugar no banquete dos Esta-
59. — Tem o espiritismo um papel especial junto
dos é inverter o valor dos ensinos, porque todas as
da sociologia?
organizações humanas são passageiras em face da neces-
— Na hora atual da humanidade terrestre, em que
sidade de renovação de todas as fórmulas do homem
todas as conquistas da civilização se subvertem nos
na lei do progresso universal, depreendendo-se daí que
extremismos, o espiritismo é o grande iniciador da so-
a verdadeira construcção da felicidade geral só será efe-
ciologia, por significar o Evangelho redivivo, que as
tiva com bases legítimas no espírito das criaturas.
religiões literalistas tentaram inhumar nos interesses
61. — Como deveremos encarar a política do ra-
econômicos e na convenção exterior de seus prosélitos.
cismo?
Restaurando os ensinos de Jesus para o homem e
— Se é justo observarmos nas pátrias o agrupa-
esclarecendo que os valores legítimos da criatura são
mento de múltiplas coletividades, pelos laços afins da
os que procedem da consciência e do coração, a doutrina
educação e do sentimento, a política do racismo deve
consoladora dos Espíritos reafirma a verdade de que
ser encarada como um erro grave, que pretexto algum
a cada homem será dado por seus méritos, no esforço
justifica, porquanto não pôde apresentar uma base sé-
individual, dentro da aplicação da lei do trabalho e do
ria nas suas alegações, que mal encobrem o propósito
bem; razão pela qual representa o melhor antídoto dos
nefasto de tirania e separatividade.
venenos sociais atualmente espalhados no mundo pelas
filosofias políticas do absurdo e da ambição desmedida, 62. — O "não matarás" alcança o caçador que
restabelecendo a verdade e a concórdia para os corações. mata por divertimento e o carrasco que extermina por
obrigação?
60. — Como se deverá comportar o espiritista
— Á medida que evoluirdes no sentimento evangé-
perante a política do mundo?
lico, compreendereis que todos os matadores se encon-
• — O sincero discípulo de Jesus está investido de
tram em oposição ao texto sagrado.
uma missão mais sublime, em face da tarefa política
No grau dos vossos conhecimentos atuais, enten-
saturada de lutas materiais. Essa é a razão porque não
deis que somente os assassinos que matam por per-
deve provocar uma situação de evidencia para si mesmo,
versidade estão contra a lei divina. Quando avançardes
nas administrações transitórias do mundo. E, quando
mais no caminho, aperfeiçoando o aparelho social, não
convocado á tais situações pela força das circunstancias,
tolerareis o carrasco e, quando estiverdes mais espiri-
deve aceita-las não como galardãcrpara a doutrina que
tualizados, enxergando nos animais os irmãos inferiores
professa, mas como provação imperiosa e árdua, onde
de vossa vida, a classe dos caçadores não terá razão
todo êxito é sempre difícil. O espiritista sincero deve
de ser.
compreender que a iluminação de uma conciencia é
como se fora a iluminação de um mundo, salientando-se Lendo os nossos conceitos, recordareis os animais
que a tarefa do Evangelho, junto das almas encarna- daninhos e, no íntimo, haveis de ponderar sobre a neces-
das na Terra, é a mais importante de todas, visto cons- sidade do seu extermínio. É possível, porém, que não
tituir uma realização definitiva e real. A missão da vos lembreis dos homens daninhos e ferozes. O calunia-
44 EMMANUEL,
O CONSOLADOR 45

dor não envenena mais que o toque de uma serpente?


O armamentista, óu o político ambicioso, que montam Nos processos públicos, a autoridade judiciária,
com frieza o maquinário da guerra incompreensível, não como peça integrante da máquina do Estado no desem-
são mais impiedosos que o leão selvagem ? . . . penho de suas funções especializadas, deve saber onde
Ponderemos essas verdades e reconheceremos que se encontra o recurso conveniente para o corretivo ou
o homem espiritual do futuro, com a luz do Evangelho reeducação do organismo social, mobilizando, nesse mis-
na inteligência e no coração, terá modificado o seu am- ter, os valores de sua experiência e de suas responsa-
biente de lutas, auxiliando igualmente os esforços evo- bilidades .
lutivos de seus companheiros do plano inferior, na vida Individualmente, porém, busquemos aprender que
terrestre. se podemos "julgar" alguma cousa, julguemo-nos sem-
63. — Considerando a determinação positiva do pre, em primeiro lugar, como o irmão mais próximo
não julgueis", como poderemos discernir o bem do mal daquele a quem se atribue um crime ou uma falta,
sem julgamento? afim-de estarmos acordes com Aquele que é a luz dos
— Entre julgar e discernir, ha sempre grande dis- nossos corações.
tancia. O ato de julgar para a especificação de conse- Nas horas comuns da existência, procuremos a luz
quências definitivas pertence á autoridade divina, po- evangélica para analisar o erro e a verdade, discernir
rém, o direito da análise está instituido para todos os o bem e o mal; todavia, no instante dos julgamentos
espíritos, de modo que, discernindo o bem e o mal, o definitivos, entreguemos os processos a Deus, que, antes
erro e a verdade, possam as criaturas traçar as diretri- de nós, saberá sempre o melhor caminho da regeneração
zes do seu melhor caminho para Deus. dos seus filhos transviados.
64. — Em face da lei dos homens, quando em 65. — O homem que guarda responsabilidades nos
presença do processo criminal, deve dar-se o voto con- cargos públicos da Terra responde, no plano espiritual,
• denativo, em concordância com o processo-crime, ou pelas ordens que cumpre e faz cumprir?
absolver o réu em obediência ao "não julgueis"? — A responsabilidade de um cargo público, pelas
— Na esfera de nossas experiências, consideramos suas características morais, é sempre mais importante
que, á frente dos processos humanos, inda que as suas que a concedida por Deus sobre um património mate-
peças sejam condenatórias, deve-se recordar a figura do rial. Daí a verdade que, na vida espiritual, o deposi-
Cristo junto da pecadora apedrejada, pois que Jesus tário do bem público responderá sempre pelas ordens
estava também perante um júri. expedidas pela sua autoridade, nas tarefas da Terra.
"Quem estiver sem pecado atire a primeira pedra" 66. — O preceito evangélico "assim pois aquele
— é a sentença que deveria lembrar, sempre, a nossa que dentre vós não renunciar a tudo o que tem., não
situação comum de espíritos decaídos, para não conde- pôde ser meu discípulo", deve ser interpretado no sen-
nar esse ou aquele dos nossos semelhantes. "Vai e não tido absoluto?
peques mais" — deve ser a nossa norma de conduta — Ainda esse ensino do Mestre deve ser conside-
dentro do próprio coração, afastando-se a erva do mal rado no seu divino simbolismo.
que nele viceje. A fortuna e a autoridade humanas são também ca-
minhos de experiências e provas, e o homem que as
O CONSOLADOR 47
46 EMMANUEL

poderão ser solucionados pelos códigos do homem, mas


atirasse fora de si, arbitrariamente, procederia com a somente á luz generosa e divina do Evangelho.
noção da irresponsabilidade, desprezando o ensejo do 68. — Como conceituar o estado de espírito do ho-
progresso que a Providencia Divina lhe colocou em mem moderno, que tanto se preocupa com o "estar bem
mãos. na vida", "ganhar bem" e "trabalhar para enriquecer"?
Todos os homens são usufrutuários dos bens divi- — Esse propósito do homem viciado, dos tempos
nos e os convocados ao trabalho de administração desses atuais, constitue uma forte expressão de ignorância
bens devem encarar a sua responsabilidade como pro- dos valores espirituais na Terra, onde se verifica a in-
blema dos mais sérios da vida. versão de quasi todas as conquistas morais.
Renunciando ao egoísmo, ao orgulho, á fraqueza, ás Foi esse excesso de inquietação, no mais desen-
expressões de vaidade, o homem cumprirá a ordenação freado egoismo, que provocou a crise moral do mundo,
evangélica e, sentindo a grandeza de Deus, único dis- em cujos espetáculos sinistros podemos reconhecer que
pensador no patrimonio real da vida, será discípulo do o homem físico, da radiotelefonia e do transatlântico,
Senhor em qualquer circunstancia, por usar as suas pos- necessita de mais verdade que dinheiro, de mais luz
sibilidades materiais e espirituais, sem os característicos que de pão.
envenenados do mundo, como intérprete sincero dos de-
signios divinos para felicidade de todos. II
67. — Como interpretar o movimento feminista na
atualidade da civilização? CIÊNCIAS ABSTRATAS
— O homem e a mulher, no instituto conjugai, são 69. — No quadro dos valores espirituais, qual a
como o cérebro e o coração do organismo doméstico. posição das ciências abstratas como a Matemática, a
Ambos são portadores de uma responsabilidade Estatística e a Lógica, por exemplo, que requerem
igual no sagrado colégio da família; e se a alma femi- o máximo de método e observação para as suas ativi-
nina sempre apresentou um coeficiente mais avançado dades dedutivas?
de espiritualidade na vida, é que, desde cedo, o espírito — Ainda aqui, observamos a matemática e a esta-
masculino intoxicou as fontes da sua liberdade, através tística medindo, calculando e enumerando o patrimônio
de todos os abusos, prejudicando a sua posição moral das expressões materiais, e a lógica orientando as ati-
no decurso das existencias numerosas, em múltiplas vidades intelectuais do homem, nas contingências de sua
experiencias seculares. vida no planeta.
A ideologia feminista dos tempos modernos, porém, Não podemos desprezar a cooperação das ciências
com as suas diversas bandeiras políticas e sociais, pode abstratas nos postulados educativos, por adestrarem as
ser um veneno para a mulher desavisada dos seus gran- inteligências, dilatando a espontaneidade nos espíritos,
des deveres espirituais á face da Terra. Se existe um de maneira a estabelecer a facilidade de compreensão
feminismo legítimo, esse deve ser o da reeducação da dos valores da vida planetária, mas temos de reconhecer
mulher para o lar, nunca para uma ação contrapro- que as suas atividades, quasi todas circunscritas ao am-
ducente fora dele. É que os problemas femininos não
48 EMMANUEL
O CONSOLADOR 49
I

biente do mundo, são processos ou meios para que o


homem atinja a ciência da vida em suas mais profundas astro do dia, sem esquecermos que a Terra é 1.300.000
revelações espirituais, ciência que simboliza a divina vezes menor que o nosso sói.
finalidade de todas as investigações e análises das orga- Nessas cifras grandiosas, compreendemos a exten-
nizações existentes na Terra. são da nossa humildade no universo, apiedando-nos sin-
ceramente da situação dos conquistadores humanos de
III todos os matizes, os quais, no afã de açambarcarem pa-
trimônios materiais, nos dão a impressão de ridículos
CIÊNCIAS ESPECIALIZADAS e vaidosos polichinelos da vida.
72. — Existem planetas de condições piores que as
70. — As ciências especializadas como a Astro- da Terra?
nomia, a Meteorologia, a Botânica e a Zoologia, foram — Existem orbes que oferecem piores perspectivas
ciciadas pelo esforço do espírito humano, na evolução de existência que o vosso e, no que se refere á perspecti-
das ciências fundamentais? vas, a Terra é um plano alegre e formoso, de apren-
— Como atividades complementares das ciências dizado. O único elemento que aí destoa da natureza
fundamentais, esses estudos especializados representam é justamente o homem, avassalado pelo egoísmo.
um conjunto de conquistas do espírito humano, no sa- Conhecemos planetas onde os seres que os povoam
grado labor da entidade abstrata a que chamamos "civi- são obrigados a um esforço contínuo e penoso para
lização". aliciar os elementos essenciais á vida; outros ainda,
Tais esforços constituem a catalogação das pesqui- onde numerosas criaturas se encontram em doloroso de-
sas e realizações propriamente humanas; todavia, con- gredo. Entretanto, no vosso, sem que haja qualquer
vergem para a ciência integral no plano infinito, onde sacrifício de vossa parte, tendes gratuitamente céu azul,
se irmanarão com os valores morais na glorificação do fontes fartas, abundância de oxigênio, árvores amigas,
homem redimido. frutos e flores, cor e luz, em santas possibilidades de
trabalho, que o homem ha renegado em todos os tempos.
71. — Como julgar a posição da Terra em rela-
73. — A humanidade terrestre é idêntica á dou-
ção aos outros mundos?
tros orbes?
— A grandeza do plano sideral, onde se agita a — Nas expressões físicas, semelhante analogia é
comunidade dos sistemas, é demasiado profunda para impossível, em face das leis substanciais que regem cada
que possamos assinar-lhe a definição com os mesquinhos plano evolutivo; mas, procuremos entender por huma-
formulários da Terra. nidade a família espiritual de todas as criaturas de Deus
No turbilhão do Infinito, o sistema planetário cen- que povoam o universo e, examinada a questão sob esse
tralizado pelo nosso sói é excessivamente singelo, consti- prisma, veremos a comunidade terrestre identificada
tuindo um detalhe muito pobre da Criação. com a coletividade universal.
Basta lembrar que Capela, um dos nossos vizinhos 74. — O homem científico poderá encarar, com
mais próximos, é um sói 5.800 vezes maior que o nosso êxito, as possibilidades de uma viagem interplanetária?
— Pelo menos, enquanto perdurar a sua atitude de
50 EMMANUEL O CONSOLADOR 51

confusão, de egoísmo e rebeldia, a humanidade terrestre tes, o que prova a atenção do plano espiritual para com
não deve alimentar qualquer projeto de viagem inter- o chamado reino dos vegetais.
planetária . Esse departamento da natureza, campo de evolução
Que dizermos do homem que, sem dispor a ordem como os outros, recebe igualmente o sagrado influxo do
na sua própria casa, quisesse invadir a residencia dos Senhor, através da assistência de seus mensageiros, desde
vizinhos? Se tantas vezes as criaturas terrestres têm os pródromos da organização planetária.
menosprezado os bens que a Providência Divina lhes Recordai-vos de que o homem é discípulo numa
colocou em mãos, não seria justo circunscrevê-las ao seu escola que o seu raciocínio já encontrou organizada pela
âmbito acanhado e mesquinho? sabedoria divina e, em nome d'Aquele que é a origem
O isolamento da Terra é um bem inapreciável. sagrada de nossas vidas, amai as árvores e tende cuidado
Observemos as expressões do progresso humano, mo- com o campo, onde florescem as bênçãos do céu.
vimentadas para a guerra e para a destruição, nos triun- 78. •— A zoologia é também objeto de atenção dos
fos da força, e rendamos louvores ao Pai Celestial por planos espirituais?
não haver dilatado no orbe terreno os processos de — Sem dúvida, também a zoologia merece o zelo
observação das suas vaidosas criaturas. da esfera invisível, mas é indispensável considerarmos
75. —-Na diversidade .de suas experiencias, é o a utilidade de uma advertência aos homens, induzindo-os
espírito obrigado a adaptar-se ás condições fhiídicas de a examinar detidamente os seus laços de parentesco com
cada orbe? os animais, dentro das linhas evolutivas, sendo justo
— Esse é um imperativo para aquisição de seus que^ procurem colocar os seres inferiores da vida pla-
valores evolutivos dentro das leis do aperfeiçoamento. netária sob o seu cuidado amigo.
76. — Poderão os fenómenos da meteorologia ser Os reinos da natureza, aliás, são o campo de opera-
controlados, mais tarde, pelos homens? ção e trabalho dos homens, sendo razoável considera-los,
— Os fenómenos meteorológicos, incontroláveis pe- mais sob a sua responsabilidade direta que propriamente
las criaturas humanas, não o são pelos prepostos de dos espíritos, razão pela qual, responderão perante as
Jesus, que buscam dispô-los de acordo com os ascenden- leis divinas pelo que fizerem, em cohciencia, com os
tes espirituais a serem observados em todos os proces- patrimónios da natureza terrestre.
sos evolutivos. 79. — Como interpretar nosso parentesco com os
Não olvidemos, contudo, que a Terra é uma escola. animais ?
Se não é possível conceder, por enquanto, um título Considerando que eles igualmente possuem diante
de conhecimento total aos discípulos rebeldes e pregui- do tempo um porvir de fecundas realizações. Através
çosos, isso será possível um dia, quando a evolução mo- de experiências numerosas, chegarão, um dia, ao cha-
ral houver atingido o nivel indispensável ao aproveita- mado reino hominal, como, por nossa vez alcançaremos,
mento dessa ou daquela força, em benefício de todos. no escoar dos milénios, a situação de angelitude. A es-
77. — Os espíritos se preocupam com a botânica? cala do progresso é sublime e infinita. No quadro exí-
— Na botânica encontrais as mesmas incógnitas dos r;uo dos vossos conhecimentos, busquemos uma figura
princípios, apenas explicáveis pelos fatores transcenden- que nos convoque ao sentimento de solidariedade e de
O CONSOLADOR 53
52 EMMANUEL

Muitas vezes, os heróis nos livros da Terra são en-


amor que deve imperar em todos os departamentos tidades misérrimas na esfera espiritual. Verifica-se,
da natureza visivel e invisivel. 0 mineral é atração. então, o contrário. Conhecemos espíritos altíssimos, que
O vegetal é sensação. O animal é instinto. 0 homem vieram do mundo cobertos de virtudes gloriosas, e que
é razão. O anjo é divindade. Busquemos reconhecer a não constam de nenhuma lembrança da humanidade.
infinidade de laços que nos unem nos valores grada- Os altares e as galerias patrióticas da Terra foram sem-
tivos da evolução e ergamos em nosso íntimo o santuá- pre comprometidos pela polítiea rasteira das paixões.
rio eterno da fraternidade universal. Poucos heróis do planeta fazem jús a esse título no
mundo da verdade.
IV É por essa razão que a história do orbe sendo exata,
no concernente á descrição e á cronologia, é ilegítima no
CIÊNCIAS COMBINADAS que se refere á justiça e á sinceridade.
80. — As chamadas ciências combinadas, entre as 82. — Os falsos julgamentos da história agravam
quais a História, a Geologia e a Geografia, surgiram a situação dos que se desprendem do mundo, na qua-
lidade de heróis sem que o sejam?
no mundo tão só pelo esforço dos espíritos aqui en-
•— As exéquias solenes, os necrológios brilhantes,
carnados?
os pomposos adjetivos que se concedem aos "mortos",
— Indiretamente, as crituras humanas têm rece-
em troca do ouro ou da posição convencional que dei-
bido, em todas as épocas, a cooperação do plano espi-
xaram, afligem os que partiram com a morte, de ma-
ritual para a edificação dos seus valores mais legítimos.
neira intraduzível. Penosa situação de angiistia se esta-
As chamadas ciências combinadas são expressões do
belece para esses espíritos sofredores e perturbados, que
mesmo quadro de conhecimentos humanos, com igual se envergonham de si mesmos, experimentando a mais
convergência para a sabedoria integral, no plano in- funda repugnância pelas homenagens recebidas.
finito . Cessada essa fase do julgamento insincero do mun-
A história,- como a conheceis, não é uma estatística do, freqtientemente poder-se-á observar a incoerência
dos acontecimentos do planeta através das palavras? dos homens.
Todas elas são processos evolutivos para os valores O "antigo herói" volta ao orbe com as vestes do
intelectuais do homem, a caminho das conquistas defi- mendigo ou do proletário rude; aprende nas lágrimas
nitivas de sua personalidade imortal. silenciosas a compor os cânticos do dever e do trabalho
81. — Nos planos espirituais a história das ci- santificantes; todavia, ninguém o vê, porque, na his-
vilizações terrestres é conhecida, nas mesmas caracterís- tória do mundo, em todos os tempos, o homem sempre
ticas em que a conhecemos através dos narradores incensou a tirania e, raramente fixou o olhar inquieto
humanos ? na flor carinhosa e humilde da virtude.
— A descrição dos fatos é aproximadamente a 83. — É o historiador responsável pelos juizos fal-
mesma; todavia, os métodos de apreciação dos acon- sos da história?
tecimentos e das situações divergem, de maneira quasi —• Considerando-se que cada espírito encarnado
absoluta.
54 EMMANUEL O CONSOLADOR

tem sua tarefa especial nesse ou naquele sector evo- preexistente, no sentido de imitação, porque todas elas
lutivo, os historiadores que se deixam mergulhar no receberam o influxo sagrado do coração do Cristo.
interesse econômico das sinecuras políticas, embriagados A verdade é que, assim como nas vossas constru-
pelo vinho da mediocridade, responderão além-túmulo ções materiais, todas as obras viveram previamente no
pela exploração comercial da inteligência que hajam cérebro de um engenheiro ou de um arquiteto, todas
praticado na Terra, adulterando a justiça e o direito, as fôrmas de vida na Terra foram primeiramente con-
evitando a verdade, ou fornecendo mentiras ao espírito cebidas na sua visão divina.
confiante dos pósteros. 86. — Tendo sido a Terra formada pelo poder
84. — Se um espírito no plano invisível não é divino, por que passou o planeta por tantas etapes evo-
realmente uma criatura santificada, como receberá as lutivas, muitas das quais duraram milhões de anos?
orações de seus devotos, se a história do mundo o ca- No infinito do universo a evolução do princípio
nonizou f espiritual tem de escapar a todas as vossas limitações
— A canonização é um processo muito arrojado das de tempo e de espaço, na táboa dos valores terrestres.
ambições humanas, para ser considerado perante a ver- As aquisições de cada indivíduo resultam da lei do
dade espiritual. esforço próprio no caminho ilimitado da Criação, des-
Conhecemos inquisidores, verdugos de povos e trai- tacando-se daí as mais diversas posições evolutivas das
dores do bem, conduzidos ao altar pelo falso julgamento criaturas e compreendendo-se que tempo e espaço são
da política humana. A prece dos devotos invocando o laboratórios divinos, onde todos os princípios da vida
seu socorro, muitas vezes sem se lembrarem da pater- são submetidos ás experiências do aperfeiçoamento, de,
nidade de Deus, ecôam-lhes no coração perturbado como modo que cada um deva a si mesmo todas as realiza-
vozes de acusação terrível e dolorosa, porquanto, reavi- ções, no dia de aquisição dos mais altos valores da vida.
vam ainda mais a nudez de suas feridas. 87. — De onde foram tirados os elementos para
Frequentemente, os espíritos que se encontram a formação da Terra?
nessa penosa situação, rogam a Jesus a concessão das — Sabemos que a aglutinação molecular, bem como
experiências mais humildes na Terra, afim-de olvidarem o motor transcendente do mundo, obedeceram ao sopro
os ruidos nocivos das falsas glórias do planeta, no si- gerador da vida, oriundo do Todo-Poderoso, lanqado
lencio das grandes dores que lucifieam e regeneram. sobre o infinito da criação universal; contudo, acha-
85. — As primeiras fôrmas planetárias obedece- mo-nos ainda na situação do aluno que encontrou a
ram a um molde especial preexistente? escola já edificada, cabendo-nos louvar e buscar, pelo
— Jesus foi o divino escultor da obra geológica do trabalho e pelo aperfeiçoamento, o seu Divino Autor.
planeta. Junto de seus prepostos, iluminou a sombra 88. — Deve o homem terrestre enxergar nas co-
dos princípios com os eflúvios sublimados do seu amor, moções geológicas do globo elementos de provação para
que saturaram todas as substancias do mundo em for- a sua vida?
mação . — Os abalos sísmicos não são simples acidentes da
Não podemos afirmar que as formas da natureza, natureza. O mundo não está sob a direção de forças
em sua manifestação inicial obedecessem a um molde cegas. As comoções do globo são instrumentos de pro-
56 EMMANUEL O CONSOLADOR 5T

vações coletivas, ríspidas e penosas. Nesses cataclismos, harmonizam, nas lutas do homem, como recursos terre-
a multidão resgata igualmente os seus crimes de outrora nos para o desiderato das finalidades divinas.
e cada elemento integrante da massa quita-se do pre- 91. — No quadro das ciencias, as inspirações do
térito na pauta dos débitos individuais. plano superior são destinadas á determinados estudio-
89. —- Por que razão não existe nos textos sagra- sos, ou lançadas de maneira geral para todos os cien-
dos uma notícia positiva das terras descobertas poste- tistas?
riormente á vinda de Jesus ao planetaf —• Nos departamentos da atividade científica, exis-
— Nesse particular, temos de convir que a palavra te, ás vezes, esse ou aquele missionário, com tarefa
das profecias, através de todos os tempos e situações especializada e conferida tão somente ao seu esforço.
do planeta, como éco das regiões divinas, não teve em Em se tratando, porém, de idéias e aparelhos no-
mira senão a edificação do Reino de Deus nos corações, vos, nos movimentos evolutivos, as inspirações do plano
desprezando as fundações humanas, precárias e perecí- espiritual são distribuidas em todas as correntes do
veis. Todavia, no desdobramento das revelações, encon- pensamento humano, percebendo-as, contudo, somente
trareis notícias das novas terras, posteriormente desco- aqueles que se encontram sintonizados com as suas
bertas, informações essas que se encontram sob os véus vibrações.
dos símbolos, como aconteceu com todas as demais no- 92. — O agricultor, aplicando os conhecimentos da
tificações que o Velho e Novo Testamento legaram ciencia para a melhoria do seu meio ambiente e eleva-
ao homem espiritual. ção do nivel social em que se encontra, cumpre, tam-
bém,, missão espiritual?
,V — O homem recebeu, igualmente, uma grande ta-
refa junto ao solo do globo, fonte da manutenção de
CIENCIAS APLICADAS stia existencia, competindo-lhe o bom serviço de culti-
var e aperfeiçoar o trato de terra, sob a sua ordenação
90. — As ciências aplicadas, como a Agricultura, transitória, porquanto é na oficina do orbe que se pre-
a Engenharia, a. Medicina, a Educação e a Economia para, de modo geral, para o seu futuro infinito, cheio
representam o campo de esforço dos espíritos encarna- de beleza e de realizações definitivas no plano eterno.
dos, para amplificação dos conhecimentos do homem, em 93. — O engenheiro na movimentação dos patri-
benefício material da humanidade? monios materiais do orbe, alargando as possibilidades
— As ciencias aplicadas são as forças que se mo- de comunicação entre os povos, é amparado pelas for-
bilizam para as comodidades da civilização; todavia, ças espirituais?
apesar de suas características materiais, é dentro de seus —• As fontes de proteção do plano invisível ampa-
quadros que se organizam os esforços abençoados do ram todos os esforços generosos e sinceros que objetivam
espírito, em provas de regeneração ou em missões puri- não só o aperfeiçoamento da escola planetária, como
ficadoras, na sua marcha ascencional para o perfeito. também o de seus filhos. Assim, temos de reconhecer
Entrosando-se com as atividades complementares no engenheiro abnegado um obreiro do progresso e da
das demais expressões científicas do planeta, todas se fraternidade.
58 EMMANUEL O CONSOLADOR 5»

Essa a razão •.pela qual as grandes obras da enge- nas células do corpo. Indagareis, aflitos, quanto ás mo-
nharia, em sua feição beneficiária, apesar de materiais, léstias incuráveis pela ciencia da Terra e eu vos direi
possuem elevada significação pela extensão de sua uti- que a reencarnação, em si mesma, nas circunstancias do
lidade ao espírito coletivo. mundo envelhecido nos abusos, já representa uma esta-
94. — Como é considerada, nos planos espirituais, ção de tratamento e de cura e que. existem enfermidades
a medicina terrena? d'alma, tão persistentes, que podem reclamar várias
— A medicina humana, compreendida e aplicada estações sucessivas, com a mesma intensidade nos pro-
dentro de suas finalidades superiores, constitue uma cessos regeneradores.
nobre missão espiritual. 97. — Se as enfermidades são de origem espiri-
O médico honesto e sincero, amigo da verdade e tual, é justa a aplicação dos medicamentos humanos, a
dedicado ao bem, é um apóstolo da Providência Divina, cirurgia, etc., etc.?
da qual recebe a precisa assistência e inspiração, sejam — O homem deve mobilizar todos os recursos ao
quais forem os princípios religiosos por ele esposados seu alcance, em favor do seu equilíbrio orgânico. Por
na vida. muito tempo ainda, a humanidade não poderá prescin-
95. — Em face dos esforços da medicina, como dir da contribuição do clínico, do cirurgião e do far-
devemos considerar a saúde? macêutico, missionários do bem coletivo. O homem tra-
— Para o homem da Terra, a saúde pôde signifi- tará da saúde do corpo, até que aprenda a preserva-lo
car o equilíbrio perfeito dos órgãos materiais; para o e defendê-lo, conservando a preciosa saúde de sua alma.
plano espiritual, todavia, a saúde é a perfeita harmonia Acima de tudo, temos de reconhecer que os serviços
da alma, para obtenção da qual, muitas vezes, ha neces- de defesa das energias orgânicas, nos processos huma-
sidade da contribuição preciosa das moléstias e defi- nos, como atualmente se verificam, asseguram a esta-
ciencias transitórias da Terra. bilidade de uma grande oficina de esforços santifica-
96. — Toda moléstia do corpo tem ascendentes dores no mundo. Quando, porém, o homem espiritual
espirituais? dominar o homem físico, os elementos medicamentosos
— As chagas da alma se manifestam através do da Terra estarão transformados na excelencia dos re-
envoltório humano. O corpo doente reflete o panorama cursos psíquicos e essa grande oficina achar-se-á elevada
interior de um espírito enfermo. A patogenia é um a santuario de forças e possibilidades espirituais junto
conjunto de inferioridades do aparelho psíquico. das almas.
E é ainda na alma que reside a fonte primária de 98. •—• Nos processos de cura, como deveremos
todos os recursos medicamentosos definitivos. A assis- compreender o passe?
tência farmacêutica do mundo não pôde remover as cau- — Assim como a transfusão de sangue representa
sas transcendentes do caráter mórbido dos indivíduos. uma renovação das forças físicas, o passe é uma trans-
O remédio eficaz está na ação do próprio espírito fusão de energias psíquicas, com a diferença que os
enfermiço. recursos orgânicos são retirados de um reservatório li-
Podeis objetar que as injeções e os comprimidos mitado, e os elementos psíquicos o são do reservatório
suprimem a dor; todavia, o mal ressurgirá mais tarde ilimitado das forças espirituais.
60 EMMANUEL
O CONSOLADOR 61

99. — Como deve ser recebido e dado o passe?


•— O passe poderá obedecer á fórmula que forneça não pôde decifrar os problemas relativos á evolução de
maior percentagem de confiança, não só a quem o dá, seus discípulos.
como a quem o recebe. Devemos esclarecer, todavia, Além de'tudo, a doença incurável traz consigo pro-
que o passe é a transmissão de uma força psíquica e fundos benefícios. Que seria das criaturas terrestres
espiritual, dispensando qualquer contacto físico na sua sem as moléstias dolorosas que lhe apodrecem a vai-
aplicação. dade? Até onde poderiam ir o orgulho e o personalismo
100. — A chamada "benzeãura", conhecida nos do espírito humano, sem a constante ameaça de uma
meios populares, será uma modalidade do passe? carne frágil e atormentada?
— As chamadas "benzeduras", tão comuns no am- Observemos as dádivas de Deus no terreno das gran-
biente popular, sempre que empregadas na caridade, des descobertas, mobilizadas para a guerra de exter-
são expressões humildes do passe regenerador, vulgari- mínio, e contemplemos com simpatia os hospitais isolados
zado nas instituições espiritistas de socorro e de as- e escuros, onde, tantas vezes, a alma humana se recolhe
sistência . para as necessárias meditações.
Jesus nos deu a primeira lição nesse sentido, im- 102. — Podem os espíritos amigos atuar sobre a
pondo as mãos divinas sobre os enfermos e sofredores, flora microbiana, nas moléstias incuráveis, atenuando os
no que foi seguido pelos apóstolos do cristianismo pri- sofrimentos da criatura?
mitivo . — As entidades amigas podem diminuir a intensi-
"Toda boa dádiva e dom perfeito vêm do Alto" dade da dor nas doenças incuráveis, bem como afasta-la
— dizia o apóstolo, na profundeza de suas explanações. completamente, se esse benefício puder ser levado a
A prática do bem pôde assumir as fórmulas mais efeito no quadro das provas individuais, sob os desígnios
diversas. Sua essência, porém, é sempre a mesma sábios e misericordiosos do plano superior.
diante do Senhor. 103. — No tratamento ministrado pelos espíritos
101. — Por que não será permitida ás entidades amigos, a agua fluidificada para um doente, terá o
espirituais a revelação dos processos de cura da lepra, mesmo efeito em outro enfermo?
do câncer, etc. ? — A agua pôde ser fluidificada, de modo geral,
— Antes de qualquer consideração, devemos exami- a benefício de todos; todavia, pôde sê-lo em caráter par-
nar a lei das provações e a necessidade de sua execução ticular para determinado enfermo, e, neste caso é con-
plena. veniente que o uso seja pessoal e exclusivo.
Na própria natureza da Terra e na organização de 104. — Existem condições especiais para que os
fluidos inerentes ao planeta, residem todos esses recur- espíritos amigos possam fluidificar a agua pura, como
sos, até hoje inapreendidos pela ciência dos homens. sejam a presença de médiuns curadores, reuniões de
Jesus curava os leprosos com a simples imposição de vários elementos, etc., etc. ?
suas mãos divinas. -— A caridade não pôde atender á situações espe-
O plano espiritual não pôde quebrar o ritmo das cializadas. A presença de médiuns curadores, bem como
leis do esforço próprio, como a direção de uma escola as reuniões especiais, de modo alguni podem constituir
o preço do benefício aos doentes, porquanto os recursos
62 EMMANUEL O CONSOLADOR 63

dos guias espirituais, nessa esfera de ação, podem in- lhor exaltação dos ensinos consoladores dos mensageiros
depender do concurso medianímico, considerando o pro- celestiais.
blema dos méritos individuais. As edificações dessa natureza, todavia, exigem o
105. •—• O fato de um guia espiritual receitar pa,ra máximo de renúncia por parte dos que as patrocinem,
determinado enfermo, ê sinal infalível de que o doente porquanto, dentro delas o médico do mundo é compe-
terá de curar-se? lido a esquecer os títulos acadêmicos, para ser um dos
— O guia espiritual é também um irmão e um mais legítimos missionários d Aquele Médico das Almas
amigo, que nunca ferirá as vossas mais queridas es- que curou os cegos e os leprosos, os tristes e os endemo-
peranças . ninhados, exemplificando o amor e a humildade na en-
trosagem de todos os serviços pelo bem dos semelhantes.
Aconselhando o uso de uma substancia medicamen-
tosa, alvitrando essa ou aquela providencia, ele cooperará Um hospital espírita deve ser um lar de Jesus.
nas melhoras de um enfermo e, se possivel, no pleno Seu aparelhamento é um maquinário divino, exi-
restabelecimento de sua saúde física, mas não poderá gindo idêntica superioridade nos operários chamados a
modificar a lei das provações ou os desígnios supremos movimentar-lhe as peças, de modo a se não deturpar
dos planos superiores, na hipótese da desencarnação, a grandeza profunda dos fins.
porque dentro da Lei, somente Deus, seu Criador, pôde 108. — Onde a base mais elevada para os métodos
dispensar. de educação?
— As noções religiosas, com a exemplificação dos
106. — A eutanásia é um bem, nos casos de mo-
melhores deveres da vida, constituem a base de toda a
léstia incurável?
educação, no sagrado instituto da família.
— O homem não tem o direito de praticar a euta- 109. — O período infantil é o mais importante
násia, em caso algum, ainda que a mesma seja a de- para a tarefa educativa?
monstração aparente de uma medida benfazeja. — O período infantil é o mais sério e o mais pro-
A agonia prolongada pôde ter uma finalidade pre- pício á assimilação dos princípios educativos.
ciosa para a alma e a moléstia incurável pôde ser um Até aos sete anos, o espírito ainda se encontra em
bem, como a. única válvula de escoamento das imper- fase de adaptação para a nova existencia que lhe com-
feições do espírito em marcha para a sublime aquisição pete no mundo. Nessa idade, ainda não existe uma in-
de seus patrimônios da vida imortal. Além do mais, os tegração perfeita entre ele e a matéria orgânica. Suas
desígnios divinos são insondáveis e a ciência precária recordações do plano espiritual são, por' isso, mais vivas,
dos homens não pôde decidir nos problemas trans- tornando-se mais suscetível de renovar o caráter e esta-
cendentes das necessidades do espírito. belecer novo caminho, na consolidação dos princípios
107. —• Um hospital espirita tem utilidade para a de responsabilidade, se encontrar nos pais legítimos
família espírita? representantes do colégio familiar.
— A fundação de um hospital, em cujos processos Bis porque o lar é tão importante para a edificação
de tratamento estejam vivos os princípios do espiritismo do homem, e porque tão profunda é a missão da mulher
evangélico, constitue uma realização generosa, na me- perante as leis divinas.
O CONSOLADOR 65
64 EMMANUEL

dentro das almas, assegurando o êxito das iniciativas.


Passada a época infantil, credora de toda vigilan-
Os professores do mundo, todavia, considerado o
cia e carinho por parte das energias paternais, os pro-
quadro legítimo das exceções, ainda não passam de ser-
cessos de educação moral que formam o caráter, tor-
vidores do Estado, angustiados na concorrência do pro-
nam-se mais difíceis com a integração do espírito em
fissionalismo. Na sagrada missão de ensinar, eles ins-
seu mundo orgânico material, e, atingida a maioridade,
truem o intelecto, mas, de um modo geral ainda não
se a educação não se houver feito no lar, então, só o
sabem iluminar o coração dos discípulos, por necessita-
processo violento das provas rudes, no mundo, pôde
dos da própria iluminação.
renovar o pensamento e a concepção das criaturas, por-
quanto, a alma reencarnada terá retomado todo o seu Examinada a questão desse modo, e atendendo ás
patrimonio nocivo do pretérito e reincidirá nas mesmas circunstancias das posições evolutivas, consideramos que
quedas, se lhe faltou a luz interior dos sagrados prin- os pais são os mestres da educação sexual de seus filhos,
cípios educativos. indicados naturalmente para essa tarefa, até que o orbe
110. — Qual a melhor escola de preparação das possua, por toda a parte, as verdadeiras escolas de Jesus,
almas reencarnadas, na Terra? onde a mulher, em qualquer estado civil, se integre
— A melhor escola ainda é o lar, onde a criatura na divina missão da maternidade espiritual de seus pe-
deve receber as bases do sentimento e do caráter. quenos tutelados e onde o homem, convocado ao labor
Os estabelecimentos de ensino, propriamente do educativo, se transforme num centro de paternal amor
mundo, podem instruir, mas só o instituto da família e amoroso respeito para com os seus discípulos.
pôde educar. É por essa razão que a universidade po- 112. — Como renovar os processos de educação
derá fazer o cidadão, mas somente o lar pôde edificar para a melhoria do mundo?
o homem. — As escolas instrutivas do planeta poderão reno-
Na sua grandiosa tarefa de cristianização, essa é a var sempre os seus métodos pedagógicos, com esses ou
profunda finalidade do espiritismo evangélico, no sen- aqueles processos novos, de conformidade com a psico-
tido de iluminar a conciencia da criatura, afim-de que logia infantil, mas a escola educativa do lar só pos-
o lar se refaça, para que um novo ciclo de progresso sue uma fonte de renovação que é o Evangelho, e um
espiritual se traduza, entre os homens, em lares cristãos só modelo de mestre, que é a personalidade excelsa do
para a nova era da humanidade. Cristo.
111. — É justa a fundação de institutos para a 113. .— Os pais espiritistas devem ministrar a edu-
educação sexual? cação doutrinária a seus filhos ou podem deixar de
—- Quando os professores do mundo estiverem ple- fazê-lo invocando as razões de que, em matéria de reli-
namente despreocupados das tabelas administrativas, gião apreciam mais a plena liberdade dos filhos?
dos auxilios oficiais, da classificação de salarios, das si- — O período infantil, em sua primeira fase, é o
tuações de evidencia no magisterio, das promoções, e t c , mais importante para todas as bases educativas e os pais
para sentirem nos discípulos os filhos reais do seu co- espiritistas cristãos não podem esquecer os seus deveres
ração, será acertado cogitar-se da fundação de educan- de orientação dos filhos, nas grandes revelações da
dários dessa natureza, porquanto, haverá muito amor 5
66 EMMANUEL
O CONSOLADOR 67

vida. Em nenhuma hipótese, essa primeira etape das


lutas terrestres deve ser encarada com indiferença. ção a esses elevados princípios de harmonia é uma pas-
O pretexto de que a criança deve desenvolver-se sagem para a destruição revolucionária, onde se inver-
com a máxima noção de liberdade pôde dar ensejo a tem todos os valores da vida.
graves perigos. Já se disse no mundo, que o menino li- Que a economia seja dirigida, mas que as paixões
vre é a semente do celerado. A própria, reencarnação políticas não penetrem os seus domínios de equilíbrio
não constitue, em si mesma, restrição considerável á e reciprocidade, porquanto, na sua influencia nefasta, o
independência absoluta da alma necessitada de expia- "bastar-se a si mesmo" é a ideologia sinistra da ambição
ção e corretivo? e do egoismo, onde o fermento dà guerra encontra o
clima apropriado para as suas manifestações de violên-
Além disso, os pais espiritistas devem compreender
cia e extermínio.
que qualquer indiferença nesse particular pôde condu-
zir a criança aos prejuízos religiosos de outrem, ao apego
do convencionalismo, e á ausência de amor á verdade.
Deve nutrir-se o coração infantil com a crença, com
a bondade, com a esperança e com a fé em Deus. Agir
contrariamente á essas normas é abrir para o faltoso
de ontem a mesma porta larga para os excessos de toda
sorte, que conduzem ao aniquilamento e ao crime.
Os pais espiritistas devem compreender essa caracte-
rística de suas obrigações sagradas, entendendo que o
lar não se fez para a contemplação egoística da espécie
mas, sim para santuário onde, por vezes, se exige a
renúncia e o sacrifício de uma existência inteira.
114. — A economia deve ser dirigida?
— No que se refere á técnica de produção, á neces-
sidade da repartição e aos processos de consumo, é mais
que justa a direção da economia, porém, nesse sentido,
todo excesso político que prejudique a harmonia na lei
das trocas, de que o progresso depende inteiramente,
é um erro condenável, com graves consequências para
toda a estrutura do organismo coletivo.
Tais excessos deram causa aos sistemas autárquicos
de governo, da atualidade, onde perecem todos os ideais
de justiça económica e de fraternidade, em virtude dos
erros de visão do mau nacionalismo.
A vida depende de trocas incessantes e toda restri-
O CONSOLADOR 69

da Terra, afim de se desfazer do seu envoltorio, cres-


cendo, em seguida para a luz do sói e cumprindo sua
missão sagrada, enfeitada de flores e frutos.
117. — A inteligencia, julgada pelo padrão hu-
mano, será a súmula de várias experiencias do espírito
sobre a Terra?
— Os valores intelectivos representam a soma de
muitas experiencias, em várias vidas do espírito, no
plano material. Uma inteligencia profunda significa um
SEGUNDA PARTE
imenso acervo de lutas planetárias. Atingida essa posi-
ção, se o homem guarda consigo uma expressão idêntica
de .progresso espiritual, pelo sentimento, então estará
FILOSOFIA apto a elevar-se á novas esferas do Infinito, para a con-
115. — É a filosofia a interpretação sintética de quista de sua perfeição.
todas as atividades do espírito em evolução na Terra? 118. — Como se registram as experiencias do espí-
— A filosofia eonstitue, de fato, a súmula das ati- rito em uma encarnação, por servirem de patrimonio
vidades evolutivas do espírito encarnado na Terra. evolutivo nas reencarnações subsequentes?
Suas equações são as energias que fecundam a É no próprio patrimonio íntimo que a alma regista
ciência, espiritualizando-lhe os princípios, até que uni- as suas experiencias, no aprendizado das lutas da vida,
das uma á outra, indissoluvelmente, penetrem o átrio acerca das quais guardará sempre uma lembrança inata
divino das verdades eternas. nos trabalhos purificadores do porvir.
119. — Como devemos proceder para dilatar nossa
I capacidade espiritual?
— Ainda não encontramos uma fórmula mais ele-
V I D A
vada e mais bela que a do esforço próprio, dentro da
humildade e do amor, no ambiente de trabalho e de li-
APRENDIZADO
ções da Terra, onde Jesus houve por bem instalar a
116. — O homem físico está sempre ligado ao seu nossa oficina de perfectibilidade para a futura elevação
pretérito espiritual? dos nossos destinos de espíritos imortais.
—• Como a maioria das criaturas humanas se en- 120. — Póãe existir inteligencia sem desenvolvi-
contra em lutas expiatórias, podemos figurar o homem mento espiritual?
terrestre como alguém a lutar para desfazer-se do seu — Diremos melhor inteligencia humana, sem de-
próprio cadáver, que é o passado culposo, de modo a senvolvimento sentimental, porque nesse desequilíbrio
ascender para a vida e para a luz que residem em Deus. do sentimento e da razão é que repousa atualmente a
Essa imagem temo-la na semente do mundo que, dolorosa realidade do mundo. O grande erro das cria-
para desenvolver o embrião, cheio de vitalidade e beleza, turas humanas foi entronizar apenas a inteligencia, olvi-
necessita do temporário estacionamento no seio lodoso
70 EMMANUEL O CONSOLADOR 71

dando os valores legítimos do coração nos caminhos de seus caracteres falados ou escritos que o homem
da vida. recebe o patrimônio de experiências sagradas de quantos
121. — O meio ambiente influe no espirito? o antecederam no mecanismo evolutivo das. civilizações.
— O meio ambiente em que a alma renasceu, mui- É por intermédio de seus poderes que se transmite, de
tas vezes constitue a prova expiatória; com poderosas gerações a gerações, o fogo divino do progresso na escola
influencias sobre a personalidade, faz-se indispensável abençoada da Terra.
que o coração esclarecido coopere na sua transformação 125. — Reconhecendo que os nossos amigos do
para o bem, melhorando e elevando as condições mate- plano espiritual estão sempre ao nosso lado, em to-
riais e morais de todos os que vivem na sua zona de dos os trabalhos e dificuldades, afim-de nos inspirar,
inf lueneiação. quais os maiores obstáculos que a sua bondade encon-
122. — Que se deve fazer para o desenvolvimento tra em nós, para que recebamos o seu socorro indireto,
da intuição? afetuoso e eficiente?
— O campo do estudo perseverante, com o esforço — Os maiores óbices psíquicos antepostos pelo ho-
sincero e a meditação sadia é o grande veículo de am- mem terrestre aos seus amigos e mentores da espiritua-
plitude da intuição, em todos os seus aspectos. lidade, são oriundos da ausência de humildade sincera
123. — Deve o crente criar imposições absolutas nos corações, para o exame da própria situação de
para si mesmo, no sentido de alcançar mais depressa egoísmo, rebeldia e necessidade de sofrimento.
a perfeição espiritual? 126. — As vibrações relativas ao bem e ao mal,
— O crente deve esforçar-se o mais possível, mas, emitidas pela alma encarnada no seu aprendizado ter-
de modo algum, deve nutrir a pretensão de atingir a restre persistem no Espaço para exame e ponderação
superioridade espiritual completa, de uma só vez, por- do futuro?
quanto, a vida humana é um aprendizado de lutas puri- — Haveis de convir conosco que existem fenómenos
ficadoras e, no cadinho do resgate, nem sempre a tem- físicos, transcendentes em demasia, para que possamos
peratura pôde ser amena, alcançando, por vezes, a mais examina-los devidamente, na pauta exígua dos vossos
alta tensão para o desiderato do acrisolamiento. conhecimentos atuais.
Em todas as circunstancias, guarde o cristão a prece Todavia, em se tratando de vibrações emitidas pelo
e a vigilancia, prece ativa que é o trabalho do bem e espírito encarnado, somos compelidos a reconhecer que
vigilancia que é a prudencia necessária, de modo a não essas vibrações ficam perenemente gravadas na memória
trair novos compromissos. E, nesse esforço, a alma es- de cada um e a memória é uma chapa fotográfica, onde
tará preparada a estruturar o futuro de si mesma, no as imagens jamais se confundem. Bastará a manifesta-
caminho eterno do espaço e do tempo, sem o desalento ção da lembrança para serem levadas a efeito todas as
dos tristes e sem a inquietação dos mais afoitos. ponderações, mais tarde, no capítulo das expressões do
124. — Qual a importancia da palavra humana mal e do bem.
para as conquistas evolutivas do espírito? 127. — O preceito do "corpo são, mentalidade sa-
— A palavra é um dom divino, em se fazendo dia" poderá ser observado tão somente pelo hábito dos
acompanhar dos atos que o testemunhem, e é através esportes e labores atléticos?
72 EMMANUEL O CONSOLADOR 73

—- No que se refere ao "corpo são" o atletismo tem rios fabricam o seu pão cotidiano, sem que as suas peças
um papel importante e a sua ação seria das mais edifi- possam 'ser destruidas sem perigos graves, de um dia
cantes no problema da saúde física, se o homem na sua para outro, e consolemo-nos com a visão do porvir, sendo
vaidade e egoísmo não houvesse viciado, também, a justo trabalharmos, dedicadamente, pelo advento dos
fonte da ginástica e do esporte, transformando-a em tempos novos em que os homens terrestres poderão dis-
tablado de entronização da violência, do abastardamento pensar da alimentação os despojos sangrentos de seus
moral da mocidade, iludida com a força bruta e enga- irmãos inferiores.
nada pelos imperativos da chamada eugenia ou pelas 130. — Operarios do aprendizado terrestre, como
competições estranhas dos grupos sectários, desviando devemos encarar o texto sagrado do "lembra-te do dia
de suas nobres finalidades um dos grandes movimentos de sábado para santificá-lo", quando as obrigações de
coletivos em favor da confraternização e da saúde. serviço proporcionam para isso os domingos?
Bastará essa observação para compreendermos que — O descanço dominical deve ser sagrado pelo ho-
a "mentalidade sadia" somente constituirá uma reali- mem, não por se tratar de um domingo, mas em virtude
dade quando houver um perfeito equilíbrio entre os da necessidade de se estabelecer uma pausa semanal aos
movimentos do mundo e as conquistas interiores da movimentos da vida física, para o recolhimento espi-
alma. ritual da alma em si mesma, no caminho das ativida-
128. — A vida do irracional está revestida igual- des terrestres. O repouso dominical substitue perfei-
mente das características missionárias? tamente o sábado antigo, salientando-se que a rigidez
— A vida do animal não é propriamente missão, da sua observancia foi instituida pelos legisladores he-
apresentando, porém, uma finalidade superior que cons- breus, em virtude da ambição e da prepotencia dos
titue a do seu aperfeiçoamento próprio, através das senhores de escravos, numerosos na época e que, somente
experiências benfeitoras do trabalho e da aquisição em desse modo atendiam á medida de humanidade, conce-
longos e pacientes esforços, dos princípios sagrados da dendo uma trégua ao esforço exhaustivo que costumava
inteligência. aniquilar a existencia de servos fracos e indefesos.
129. — Ê um erro alimentar-se o homem com a O descanço semanal deve ser sempre consagrado
carne dos irracionais? pelo homem ás expressões de espiritualidade da sua
— A ingestão das vísceras dos animais é um erro vida, sem se dar, porém, a qualquer excesso no dominio
de enormes consequências, do qual derivaram numerosos da letra, nesse particular, porque, após a palavra de
vícios da nutrição humana. É de lastimar semelhante Moisés devemos ouvir a lição do Senhor, esclarecendo
situação, mesmo porque, se o estado de materialidade que " o sábado foi feito para o homem e não o homem
da criatura exige a cooperação de determinadas vitami- para o sábado".
nas, esses valores nutritivos podem ser encontrados nos
produtos de origem animal, sem a necessidade absoluta EXPERIENCIA
dos matadouros e frigoríficos.
Temos de considerar, porém, a máquina econômica 131. — Como adquire experiencia o espírito en-
do interesse e da harmonia coletiva, onde tantos operá- carnado?
74- EMMANUELf O CONSOLADOR 75

— A luta e o trabalho são tão imprescindíveis ao ções, dentro das provas necessárias, mas, no íntimo,
aperfeiçoamento do espírito, como o pão material é in- zona de pura influenciação espiritual, o homem é livre
dispensável á manutenção do corpo físico. É traba- na escolha do seu futuro caminho. Seus amigos do in-
balhando e lutando, sofrendo e aprendendo, que a alma visível localizam aí o santuário da sua independência
adquire as experiências necessárias na sua marcha para sagrada. ,'
k

a perfeição. Em todas as situações, o homem educado pôde


132. — Ha o determinismo e o livre arbítrio, ao reconhecer onde falam as circunstancias da vontade de
mesmo tempo, na existência humana? Deus, em seu benefício, e onde falam as que se formam
— Determinismo e livre arbítrio coexistem na vida, pela força da sua vaidade pessoal ou do seu egoísmo.
entrosando-se na estrada dos destinos, para a elevação Com êle, portanto, estará sempre o mérito da escolha,
e redenção dos homens. nesse particular.
O primeiro é absoluto nas mais baixas camadas evo- 134. — Como pôde o homem agravar ou amenizar
lutivas e o segundo amplia-se com os valores da educa- o determinismo de sua viãaf
ção e da experiência. Acresce observar que sobre ambos — A determinação divina na sagrada lei universal
pairam as determinações divinas, baseadas na lei do é sempre a do bem e da felicidade, para todas as
amor, sagrada e única, da qual a profecia foi sempre o criaturas.
mais eloquente testemunho. No lar humano, não vedes um pai amoroso e ativo,
Não verificais, atualmente, as realizações previstas com um largo programa de trabalhos pela ventura dos
pelos emissários do Senhor ha dois e quatro milénios, filhos? E cada filho, cessado o esforço da educação na
no divino simbolismo das Escrituras? infância, na preparação para a vida, não deveria ser
Estabelecida a verdade de que o homem é livre na um colaborador fiel da generosa providencia paterna
pauta de sua educação e de seus méritos, na lei das pelo bem de toda a comunidade familiar? Entretanto,
provas, cumpre-nos reconhecer que o próprio homem a maioria dos pais humanos deixa a Terra sem ser com-
á medida que se torna responsável, organiza o deter- preendida, apesar de todo o esforço dispendido na edu-
minismo da sua existência, agravando-o ou amenizando- cação dos filhos.
lhe os rigores, até poder elevar-se definitivamente aos Nessa imagem muito frágil, em comparação com a
planos superiores do universo. paternidade divina, temos um símile da situação.
133. — Havendo o determinismo e o livre arbí- O espírito que, de algum modo, já armazenou cer-
trio, ao mesmo tempo, na vida humana, como compreen- tos valores educativos, é convocado para esse ou aquele
der a palavra dos guias espirituais quando afirmam trabalho de responsabilidade junto de outros seres em
não lhes ser possível influenciar a nossa liberdadef provação rude, ou em busca de conhecimentos para a
— Não devemos esquecer que falamos de expressão aquisição da liberdade. Esse trabalho deve ser levado
corpórea, em se tratando do determinismo natural, que a efeito na linha reta do bem, de modo que esse filho
prepondera sobre os destinos humanos. - seja o bom cooperador de seu Pai Supremo, que é Deus.
A subordinação da criatura, em suas expressões do O administrador de uma instituição, o chefe de uma
mundo físico é lógica e natural, nas leis das eompensa- oficina, o escritor de um livro, o mestre de uma escola,
76 EMMANUEL
O CONSOLADOR 77
têm a sua parcela de independencia para colaborar na
obra divina, e devem retribuir á confiança espiritual Urge recompor os elos sagrados dessa harmonia
que lhes foi deferida. Os que se educam e conquistam sublime.
direitos naturais, inerentes á personalidade, deixam de Eis o resgate.
obedecer, de modo absoluto, no determinismo da evolu- Vede, pois, que o mal, essencialmente considerado,
ção, porquanto estarão aptos a cooperar no serviço das não pôde existir para Deus, em virtude de representar
ordenações, podendo criar as circunstancias para a mar- um desvio do homem, sendo zero na sabedoria e na pro-
cha ascencional de seus subordinados ou irmãos em videncia divinas.
humanidade, no mecanismo de responsabilidades da con- O Criador é sempre o Pai generoso e sábio, justo e
ciencia esclarecida. amigo, considerando os filhos transviados como incursos
Nesse trabalho de ordenar com Deus, o filho neces- em vastas experiências. Mas, como Jesus e os seus pre-
sita considerar o zelo e o amor paternos, afim-de não postos são seus cooperadores divinos e eles próprios insti-
desviar sua tarefa do caminho reto, supondo-se senhor tuem as tarefas contra o desvio das criaturas humanas,
arbitrário das situações, complicando a vida da família focalizam os prejuízos do mal com a força de suas
humana, e adquirindo determinados compromissos, por responsabilidades educativas, afim-de que a humanidade
vezes bastante penosos, porque, contrariamente ao pro- siga retamente no seu verdadeiro caminho para Deus.
pósito dos pais, ha filhos que desbaratam os "talentos" 136. —- Existem seres agindo na Terra sob determi-
colocados em suas mãos, na preguiça, no egoísmo, na nação absoluta?
vaidade ou no orgulho. — Os animais e os homens quasi selvagens nos dão
Daí a necessidade de concluirmos com a apologia uma idéia dos seres que agem no planeta sob determina-
da humanidade, salientando que o homem que atingiu ção absoluta. E essas criaturas servem para estabelecer
certa parcela de liberdade está retribuindo a confiança a realidade triste da mentalidade do mundo, ainda dis-
do Senhor, sempre que age com a sua vontade miseri- tante da fórmula do amor, com que o homem deve ser
cordiosa e sábia, reconhecendo que o seii esforço indi- o legítimo cooperador de Deus, ordenando com a sua
vidual vale muito, não por ele, mas pelo amor de Deus sabedoria paternal.
que o protege e ilumina na edificação de sua obra Sem saberem amar aos irracionais e aos irmãos mais
imortal. ignorantes colocados sob a sua imediata proteção, os ho-
135. — Se o determinismo divino é o do bem, quem mens mais educados da Terra exterminam os primeiros
criou o malf para a sua alimentação e escravizam os segundos para
— O determinismo divino se constitue de uma só objeto de explorações grosseiras, com exceções, de modo
lei, que é a do amor para a comunidade universal. To- a mobiliza-los a serviço do seu egoísmo e da sua ambição.
davia, confiando em si mesmo, mais do que em Deus, 137. —• O homem educado deve exercer vigilância
o homem transforma a sua fragilidade num foco de ações sobre o seu grau de liberdade?
contrárias á essa mesma lei, efetuando, desse modo, uma — É sobre a independência própria que a criatura
intervenção indébita na harmonia divina. humana precisa exercer a vigilância maior.
Eis o mal. Quando o homem educado se* permite examinar a
conduta de outrem, de modo leviano ou inconveniente,
O CONSOLADOR 79
78 EMMANUEL

físico, em sua formação orgânica e em seu nascimento


é sinal que a sua vigilância padece desastrosa deficiên-
na Terra, porém, a existência planetária é sinónimo
cia, porquanto a liberdade de alguém termina sempre
de luta. Se as influencias astrais não favorecem a de-
onde começa uma outra liberdade, e cada qual respon-
terminadas criaturas, urge que elas lutem contra os ele-
derá por si, um dia, junto á Verdade Divina.
mentos destruidores, porque, acima de todas as verdades
138. — Em se tratando das questões do determi-
astrológicas temos o Evangelho, e o Evangelho nos en-
nismo, qualquer ser racional póãe estar sujeito a erros?
sina que cada qual receberá por suas obras, achando-se
— Todo sêr racional está sujeito ao erro, mas não
cada homem sob as influencias que merece.
se encontra obrigado a ele.
141. — Ha influencias espirituais entre o sêr hu-
Em plano de provações e de experiências como a
mano e o seu nome, tanto na Terra, como no Espaço?
Terra, o erro deve ser sempre levado á conta dessas mes-
— Na terra ou no plano invisível, temos a simbo-
mas experiências, tão logo seja reconhecido pelo seu
logia sagrada das palavras; todavia, o estudo dessas
autor direto, ou indireto, tratando-se de aproveitar os
influencias requer um grande volume de considerações
seus resultados, em idênticas circunstancias da vida,
especializadas e, como o nosso trabalho humilde é uma
sendo louvável que as criaturas abdiquem da repetição
apologia ao esforço de cada um, ainda aqui temos de
dos experimentos, em favor do seu próprio bem no curso
reconhecer que cada homem recebe as influencias a que
infinito do tempo.
fez jús, competindo a cada coração renovar seus pró-
139. — Se na luta da vida terrestre existem cir-
prios valores, em marcha para realizações cada vez mais
cunstancias, por toda a parte, qual será a melhor de
altas, pois que o determinismo de Deus é o do bem, e
todas, digna de ser seguida?
todos os que se entregarem realmente ao bem, triunfarão
— Em todas as situações da existência a mente do
de todos os óbices do mundo.
homem defronta circunstancias do determinismo divino
142. — Poderíamos receber um ensinamento sobre
e do determinismo humano. A circunstancia a ser se-
o número sete, tantas vezes utilizado no ensino das tra-
guida, portanto, deve ser sempre a do primeiro, afim-de
dições sagradas do cristianismo?
que o segundo seja iluminado, destacando-se essa mesma
circunstancia pelo seu caráter de benefício geral, mui- — Uma opinião isolada nos conduziria a muitas
tas vezes com o sacrifício da satisfação egoística da per- análises nos domínios da chamada numerologia, fugindo
sonalidade. Em virtude dessa característica, o homem ao escopo de nossas cogitações espirituais.
estará sempre habilitado, em seu íntimo, a escolher o Os números, como as vibrações, possuem a sua mís-
bem definitivo de todos e o contentamento transitório do tica natural, mas, em face de nossos imperativos de
seu " e u " , fortalecendo a fraternidade e a luz, ou agra- educação, temos de convir que todos os números, como
vando o seu próprio egoísmo. todas as vibrações serão sagrados para nós, quando
houvermos santificado o coração para Deus, sendo
140. — Os astros influenciam igualmente na vida
justo, nesse particular, copiarmos a antiga observação
do homem?
do Cristo sobre o sábado, esclarecendo que os números
— As antigas assertivas astrológicas têm a sua ra-
foram feitos para os homens, porém, os homens não
zão de ser. O campo magnético e as conjunções dos
foram criados para os números.
planetas influenciam no complexo celular do homem
O CONSOLADOR 81
80 EMMANUEL,

ou pelos fatos que hão de vir, na sugestão nem sempre


143. — Beve acreditarse na influencia oculta de sincera dos que devassam o mundo oculto.
certos objetos, como jóias, etc., que parecem acompa-
nhados de uma atuação infeliz e fatal? TRANSIÇÃO
— Os objetos, mormente os de uso pessoal, têm a
sua história viva e, por vezes, podem constituir o ponto 146. — É fatal o instante da morte?
de atenção das entidades perturbadas, de seus antigos Com exceção do suicídio, todos os casos de desen-
possuidores no mundo; razão peia qual parecem tocados, carnação são determinados previamente pelas forças
por vezes, de sigulares influencias ocultas, porém, nosso espirituais que orientam a atividade do homem sobre a
esforço deve ser o da libertação espiritual, sendo in- Terra.
dispensável lutarmos contra os fetiches, para considerar Eselareceudo-vos quanto á essa exceção, devemos
tão somente os valores morais do homem na sua jor- considerar que, se o homem é escravo das condições
nada para o Perfeito. externas da sua vida no orbe, é livre no mundo íntimo,
144. — . O s fenómenos premonitorios atestam a pos- razão porque, trazendo no seu mapa de provas a ten-
sibilidade da preciencia com relação ao futuro? tação de desertar da vida expiatória e retificadora, con-
— Os espíritos de nossa esfera não podem devas- trai um débito penoso aquele que se arruina, desman-
sar o futuro, considerando essa atividade uma caracte- telando as próprias energias.
rística dos atributos do Criador Supremo, que é Deus. A educação e a iluminação do íntimo constituem
Temos de considerar, todavia, que as existencias o amor ao santuário de Deus em nossa alma. Quem as
humanas estão subordinadas a um mapa de provas ge- realiza em si, na profundeza da liberdade interior, pôde
rais, onde a personalidade deve movimentar-se com o modificar o determinismo das condições materiais de sua
seu esforço para a iluminação do porvir, e, dentro desse existência, alçando-a para a luz e para o bem. Os que
roteiro, os mentores espirituais mais elevados podem eliminam, contudo, as suas energias próprias, atentam
organizar os fatos premonitorios, quando convenham á contra a luz divina que palpita em si mesmos. Daí o
demonstração de que o homem não se resume a um con- complexo de suas dívidas dolorosas.
glomerado de elementos químicos, de conformidade com E existem ainda os suicídios lentos e. gradativos,
a definição do materialismo dissolvente. provocados pela ambição ou pela inércia, pelo abuso
145. — Que dizermos da cartomancia em face do ou pela inconsideração, tão perigosos para a vida da
espiritismo ? alma, quanto os que se observam, de modo espetacular,
— A cartomancia pôde enquadrar-se nos fenóme- entre as lutas do mundo.
nos psíquicos, mas não no espiritismo evangélico, onde Essa a razão pela qual tantas vezes se batem os
o cristão deve cultivar os valores do seu mundo íntimo instrutores dos encarnados pela necessidade permanente
pela fé viva e pelo amor no coração, buscando servir a de oração e de vigilância, afim de que os seus amigos
Jesus no santuário de sua alma, não tendo outra von- não fracassem nas tentações.
tade que não aquela de se elevar ao seu amor pelo 147. — A morte proporciona mudanças inespera-
trabalho e iluminação de si mesmo, sem qualquer pre- das e certas modificações rápidas, como será de desejar?
ocupação pelos acontecimentos nocivos que se foram,
82 EMMANUEL O CONSOLADOR 83

— A morte não prodigaliza estados miraculosos os sacerdotes, objetivando cada grupo a defesa dos seus
para a nossa conciencia. interesses próprios?
Desencarnar é mudar de plano, como alguém que se O homem desencarnado procura ansiosamente, no
transferisse de uma cidade para outra, aí no mundo, Espaço as aglomerações afins com o seu pensamento, de
sem que o fato lhe altere as enfermidades ou as virtu- modo a continuar o mesmo gênero de vida abandonado
des, com a simples modificação dos aspectos exteriores. na Terra, mas, em se tratando de criaturas apaixona-
Importa observar apenas a ampliação desses aspectos, das e viciosas, a sua mente encontrará as obsessões de
comparando-se o plano terrestre com a esfera de ação materialidade, quais as do dinheiro, do álcool, e t c . ;
dos desencarnados. obsessões que se tornam o seu martírio moral de cada
Imaginai um homem que passa de sua aldeia para hora, nas esferas mais próximas da Terra.
uma metrópole moderna. Como se haverá, na hipótese Daí a necessidade de encararmos todas as nossas
de não se encontrar devidamente preparado em face atividades no mundo como a. tarefa de preparação para
dos imperativos da sua nova vida? a vida espiritual, sendo indispensável á nossa felici-
dade, além do sepulcro, que tenhamos um coração sem-
A comparação é pobre, mas serve para esclarecer
pre puro.
que a morte não é um salto dentro da natureza. A alma
149. — Logo após a morte, o homem que se des-
prosseguirá na sua carreira evolutiva, sem milagres
prende do envólucro material pôde sentir a companhia
prodigiosos.
dos entes amados que o precederam no álém-túmulo?
Os dois planos, visível e invisível, se interpenetram
— Se a sua existência terrestre foi o apostolado
no mundo e se a criatura humana é incapaz de perceber
do trabalho e do amor a Deus, a transição do plano ter-
o plano da vida imaterial, é que o seu sensório está habi-
restre para a esfera espiritual será sempre suave.
litado á certas percepções, sem que lhe seja possível,
Nessas condições, poderá encontrar imediatamente
por enquanto, exorbitar da janela estreita dos cinco
aqueles que foram objeto de sua afeição no mundo, na
sentidos.
hipótese de se encontrarem no mesmo nível de evolução.
148. — Que espera o homem desencarnado, dire- Uma felicidade doce e uma alegria perene estabelecem-se
tamente, nos seus primeiros tempos da vida de além- nesses corações amigos e afetuosos, depois das amar-
túmulof guras da sparação e da prolongada ausência.
— A alma desencarnada procura naturalmente as
Entretanto, aqueles que se desprendem da Terra
atividades que lhe eram prediletas nos círculos da vida
saturados de obsessões pelas posses efêmeras do mundo
material, obecendo aos laços afins, tal quel se verifica
e tocados pela sombra das revoltas incompreensíveis,
nas sociedades do vosso mundo.
não encontram tão depressa os entes queridos qtie os
As vossas cidades não se encontram repletas de antecederam na sepultura. Suas percepções restritas a
associações, de grêmios, de classes inteiras que se atmosfera escura dos seus pensamentos, seus valores ne-
reúnem e se sindicalizam para determinados fins, con- gativos impossibilitam as doces venturas do reencontro.
jugando idênticos interesses de vários indivíduos? Aí, É por isso que observais, tantas vezes, espíritos so-
não se abraçam os agiotas, os políticos, os comerciantes, fredores e perturbados fornecendo a impressão de cria-
84 EMMANUEL
O CONSOLADOR 85

turas desamparadas e esquecidas peia esfera da bon-


dade superior, mas, que, de fato, são desamparados por dolorosas á alma desencarnada, em vista da situação de
sí próprios, pela sua perseverança no mal, na intenção surpresa á face dos acontecimentos supremos e irreme-
criminosa e na desobediência aos sagrados desígnios diáveis. Quasi sempre, em tais circunstancias, a cria-
de Deus. tura não se encontra devidamente preparada e o impre-
150. — É possível que os espiritistas venham a so- visto da situação lhe traz emoções amargas e terríveis.
frer perturbações depois da morte? Entretanto, essas surpresas tristes não se verificam
— A morte não apresenta perturbações á consciên- para as almas, no caso das enfermidades dolorosas e
cia reta e ao coração amante da verdade e do amor, prolongadas, em que o coração e o raciocínio se tocam
dos que viveram na Terra tão somente para o cultivo das luzes das meditações sadias, observando as ilusões
da prática do bem, nas suas variadas formas e dentro e os prejuízos do excessivo apego á Terra, sendo justo
das mais diversas crenças. considerarmos a utilidade e a necessidade das dores
Que o espiritista cristão não considere o seu título físicas, nesse particular, porquanto, somente com o seu
de aprendiz de Jesus como um simpies rótulo, ponde- concurso precioso pôde o homem alijar o fardo de suas
rando a exortação evangélica" — "muito se pedirá de impressões nocivas do mundo, para penetrar tranqui-
quem muito recebeu" — preparando-se nos conheci- lamente os umbrais da vida no Infinito. .
mentos e nas obras do bem, dentro das experiências do 153. — Se a hora da morte não houver chegado,
mundo para a sua vida futura, quando a noite do tú- poderá o homem perecer sob os perigos que o ameacem?
mulo houver descerrado aos seus olhos espirituais a — Nos aspectos externos da vida, e desde que o
visão da verdade, em marcha para as realizações da espírito encarnado proceda de conformidade com os di-
vida imortal. tames da eonciencia retilinea e do coração bem intencio- *
151. •—• O espírito desencarnado pôde áofrer com nado, sem a imponderação dos precipitados e sem • o
a bremação dos elementos cadavéricos? egoísmo dos ambiciosos, toda e qualquer defesa do ho-
— Na cremação faz-se mister exercer a piedade mem reside em Deus.
com os cadáveres', procrastinando por mais horas o ato 154. — Quais as primeiras impressões dos que
de destruição das vísceras materiais, pois, de certo desencarnam por suicídio?
modo, existem sempre muitos elos de sensibilidade entre — A primeira decepção que os aguarda é a reali-
o espírito desencarnado e o corpo onde se extinguiu o dade da vida que não se extingue com as transições da
"tónus vital", nas primeiras horas sequentes ao desen- morte do corpo físico, vida essa agravada por tormentos
lace, em vista dos fluidos orgânicos que ainda solicitam pavorosos, em virtude de sua decisão tocada de suprema
a alma para as sensações da existência material. rebeldia.
152. — A morte violenta proporciona aos desen- Suicidas ha que continuam experimentando os pa-
carnados sensações diversas da chamada "morte na- decimentos físicos da última hora terrestre, em seu corpo
tural"? somático, indefinidamente. Anos a fio, sentem as im-
— A desencarnação por acidentes, os casos fulmi- pressões terríveis do tóxico que lhes aniqiiilou as ener-
nantes de desprendimento proporcionam sensações muito gias, a perfuração do cérebro pelo corpo estranho utili-
zado com a arma do gesto supremo, o peso das rodas
86 EMMANUEL O CONSOLADOR 87

pesadas sob as quais se atiraram na ânsia de desertar grande número de irmãos nossos ansiosos por uma pa-
da vida, a passagem das águas silenciosas e tristes sobre lavra da Terra, porquanto, as impressões que trazem do
os seus despojos, onde procuraram o olvido criminoso mundo não lhes permitem a percepção dos mentores ele-
de suas tarefas no mundo e, comumente, a pior emoção vados, das mais altas esferas espirituais.
do suicida é a de acompanhar, minuto a minuto, o pro- 157. — Os espíritos desencarnados podem ouvir-
cesso da decomposição do corpo abandonado no seio da nos e ver-nos quando querem? Gomo procedem para
terra, verminado e apodrecido. realizar semelhante desejo?
De todos ps desvios da vida humana o suicidio é, — Isso é possível, não quando querem, mas quando
talvez, o maior deles pela sua característica de falso o mereçam, mesmo porque, existem espíritos culpados
heroísmo, de negação absoluta da lei do amor e de su- que, somente muitos anos após o desprendimento do
prema rebeldia á vontade de Deus, cuja justiça nunca mundo, conseguem a permissão de ouvir a palavra amiga
se fez sentir junto dos homens, sem a luz da mise- e confortadora dos seus irmãos ou entes amados, da
ricórdia. Terra, afim-de se orientarem no labirinto dos sofrimen-
155. — O receio da morte revela falta de evolução tos expiatórios. O comparecimento de uma entidade
espiritual? recem-desencarnada ás reuniões do Evangelho já signi-
— Nesse sentido, não podemos generalizar seme- fica uma benção de Deus para o seu coração desiludido,
lhante definição. porquanto, essa circunstancia se faz acompanhar dos
No que se refere a esses receios, somos obrigados a mais elevados benefícios para a sua vida interior.
reconhecer, muitas vezes, as razões aduzidas pelo amor, Quanto ao processo do seu contacto convosco, pre-
sempre sublimes na sua manifestação espiritual. To- cisamos considerar que os seres do Além-Túmulo, em
davia, não é justo que o crente sincero se encha de suá generalidade, para se comunicar nos ambientes do
pavores ante a idéia de sua passagem para o plano in- mundo adaptam-se ao vosso modo de ser, condicionando
visível aos olhos humanos, sendo oportuno o conselho de suas faculdades á vossa situação fluídica na Terra; ra-
uma preparação permanente do homem para a vida nova zão pela qual, nesses instantes, na forma comum, pos-
que a morte lhe apresentará. suem a vossa capacidade sensorial, restringindo as suas
156. •—• Os espíritos logo após a sua desencarna- vibrações de modo a se acomodarem, de novo, ao am-
ção ficam satisfeitos pela possibilidade de se comuni- biente terrestre.
carem conosco? 158. — Se uma criatura desencarna deixando ini-
— De um modo geral, muito reduzido é o número migos na Terra, é possível que continue perseguindo o
das criaturas humanas que se preparam para as emo- seu desafeto, dentro da situação de invisibilidade?
ções da morte, ho desenvolvimento dos seus trabalhos — Isso é possível e quasi geral, no capítulo das
comuns na Terra e, frequentemente, as meditações da relações terrestres, porque, se o amor é o laço que reúne
enfermidade não bastam para uma situação de perfeita as almas nas alegrias da liberdade, o ódio ó a algema
tranquilidade, nos primeiros tempos do além-túmulo. dos forçados, que os prende reciprocamente no cárcere
Eis o motivo pelo qual tão salutares se fazem as vossas da desventura.
reuniões de estudo e de evangelização, ás quais concorre Se alguém partiu odiando e se no mundo o desafeto
88 EMMANUEL O CONSOLADOR 89

faz questão de cultivar os gérmens da antipatia e das os seus deveres no plano das dores e das dificuldades
lembranças cruéis, é mais que natural que, no plano materiais.
invisível perseverem os elementos da aversão e da vin- Dilatando, porém, a questão, devemos ponderar que
dita implacáveis, em obediência ás leis de reciprocidade, os espíritos com esses ou aqueles traços característicos,
depreendendo-se daí a necessidade do perdão com ó in- estão em marcha para Deus, purificando todos os sen-
teiro esquecimento do mal, afim-de que a fraternidade timentos e embelezando as faculdades próprias, afim-de
pura se manifeste através da oração e da vigilância, refletirem a luz divina, transformando-se, então, nessas
convertendo o ódio em amor e piedade, com os exem- ou naquelas condições, em perfeitos executores dos de-
plos mais santos, no Evangelho de Jesus. sígnios do Eterno.
159. — No caso das perseguições dos inimigos es-
pirituais, a sua ação se realiza sem o conhecimento dos II
nossos guias amorosos e esclarecidos?
S E N T I M E N T O
— As chamadas atuações do plano invisível, de
qualquer natureza, não se verificam á revelia de Jesus AETE
e de seus prepostos, mentores do homem na sua jornada
de experiências para o conhecimento e para a luz. 161. — Que é arte?
As perseguições de um inimigo invisível têm um —• A arte pura' é a mais elevada contemplação
limite e não afetam o seu objeto senão na pauta de sua espiritual por parte das criaturas. Ela significa a mais
necessidade própria, porquanto, sob os olhos amoraA^eis profunda exteriorização do ideal, a divina manifestação
dos vossos guias do plano superior, todos esses movi- desse "mais além" que polariza as esperanças da alma.
mentos têm uma finalidade sagrada, como a de ensi- O artista verdadeiro é sempre o "médium" das
har-vos a fortaleza moral, a tolerância, a paciência, a belezas eternas e o seu trabalho, em todos os tempos,
conformação, nos mais sagrados imperativos da frater- foi tanger as cordas mais vibráteis do sentimento hu-
nidade e do bem. mano, alçando-o da Terra para o Infinito e abrindo,
160. — Os espíritos desencarnados se dividem, em todos os caminhos, a ansia dos corações para Deus,
igualmente, nas esferas mais próximas da Terra em nas suas manifestações supremas de beleza, de sabe-
seres femininos e masculinos? doria, de paz e de amor.
— Nas esferas mais próximas do planeta, as almas 162. — Todo artista pôde ser também um missio-
desencarnadas conservam as características que lhes nário de Deus?
eram mais agradáveis nas atividades da existência ma- — Os artistas, como os chamados sábios do mundo,
terial, considerando-se que algumas que perambulam podem enveredar, igualmente, pelas cristalizações do
no mundo com uma veste orgânica imposta pelas cir- convencionalismo terrestre, quando nos seus corações não
cunstancias da tarefa a realizar junto ás criaturas ter- palpite a chama dos ideais divinos, mas, na maioria das
renas, retomam as suas condições anteriores á reencar- vezes, têm sido grandes missionários das idéias, sob a
carnação, então enriquecidas, se bem souberam cumprir égide do Senhor, em todos os departamentos da ativi-
90 EMMANUEL O CONSOLADOR 91

dade que lhes é própria, como a literatura, a música, tão logo possa apreender a grandeza da sua visão espi-
a pintura, a plástica. ritual na paisagem do futuro.
Sempre que a sua arte se desvencilha dos interesses 165. — Gomo poderemos entender o ptiquismo dos
do mundo, transitórios e perecíveis, para considerar artistas, tão diferente do que caracteriza o homem
tão somente a luz espiritual que vem do coração unísono comum?
com o cérebro, nas realizações da vida, então o artista -— O artista, de um modo geral, vive quasi sempre
é um dos mais devotados missionários de Deus, por- mais na esfera espiritual que propriamente no plano
quanto saberá penetrar os corações na paz da medita- terrestre.
ção e do silêncio, alcançando o mais alto sentido da Seu psiquismo é sempre a resultante do seu mundo
evolução de si mesmo e de seus irmãos em humanidade. íntimo, cheio de recordações infinitas das existências
passadas, ou das visões sublimes que conseguiu apreen-
163. — Pôde alguém fazer-se artista tão só pela
der nos círculos de vida espiritual, antes da sua reen-
educação especializada em uma existência?
carnação no mundo.
— A perfeição técnica, individual de um artista,
bem como as suas mais notáveis características, não Seus sentimentos e percepções transcendem aos do
constituem a resultante das atividades de uma vida, mas homem comum pela sua riqueza de experiências no pre-
de experiências seculares na Terra e na esfera espiritual, térito, situação essa que, por vezes, dá motivos á falsa
porquanto o gênio, em qualquer sentido, nas manifesta- apreciação da ciência humana, que lhe classifica os
ções artísticas mais diversas é a síntese profunda de transportes como nevrose ou anormalidade, nos seus
vidas numerosas, em qu% a perseverança e o esforço se erros de interpretação.
casaram para as mais brilhantes florações da espon- É que, em vista da sua posição psíquica especial,
taneidade . o artista nunca cede ás exigências do convencionalismo
do planeta, mantendo-se acima dos preconceitos contem-
164. — Gomo devemos compreender o gênio?
porâneos, salientando-se que, muita vez, na demasia de
— O gênio constitue a súmula dos mais longos
inconsideração pela disciplina, apesar de suas qualida-
esforços em múltiplas existências de abnegação e de
des superiores, pôde entregar-se aos excessos nocivos á
trabalho, na conquista dos valores espirituais.
liberdade, quando mal dirigida ou falsamente apro-
Entendendo a vida pelo seu prisma real, muita vez, veitada.
desatende ao círculo estreito da vida terrestre, no que Eis porque, em todas as situações, o ideal divino
se refere ás suas fórmulas convencionais e aos seus pre- da fé será sempre o antídoto dos venenos morais,
conceitos, tornando-se um estranho ao seu próprio meio, desobstruindo o caminho da alma para as conquistas
por suas qualidades superiores e inconfundíveis. elevadas da perfeição.
Esse é o motivo pelo qual a ciência terrestre, en- 166. — No caso dos artistas que triunfaram, sem
carcerada nos cânones do convencionalismo, presume qualquer amparo do mundo e se fizeram notáveis tão
observar no gênio uma psicose condenável tratando-o, só pelos valores da sua vocação, traduzem suas obras
quasi sempre, como a célula enferma do organismo so- alguma recordação da vida no Infinito?
cial, para glorificá-lo, muitas vezes, depois da morte, — As grandes obras primas da arte, na maioria
O CONSOLADOR 03
92 EMMANUEL,

sas da Terra para as vibrações do íntimo com o In-


das vezes, significam a concretização dessas lembranças finito .
profundas. Todavia, nem sempre constituem um traço 168. — Os espíritos desencarnados cuidam igual-
das belezas entrevistas no Além pela mentalidade que mente dos valores artísticos no plano invisível para os
as concebeu, e sim recordações de existências anteriores, homens?
entre as lutas e as lágrimas da Terra. — Temos de convir que todas as expressões de arte
Certos pintores notáveis que se fizeram admirados na Terra representam traços de espiritualidade, muitas
por obras levadas a efeito sem os modelos humanos, vezes estranhos á vida do planeta.
trouxeram á luz nada mais nada menos que as suas Através dessa realidade, podereis reconhecer que
próprias recordações perdidas no tempo, na sombra a arte, em qualquer de suas fôrmas puras, eonstitue
apagada da paisagem de vidas que se foram. Relati- objeto da atenção carinhosa dos invisíveis, com possi-
vamente aos escritores, aos amigos da ficção literária, bilidades outras que o artista do mundo está muito
nem sempre as suas concepções obedecem á fantasia, longe de imaginar.
porquanto são filhas de lembranças inatas, com as quais
recompõem o drama vivido pela sua própria individua- No Além, é com o seu concurso que se reformam
lidade nos séculos mortos. os sentimentos mais impiedosos, predispondo as entida-
O mundo impressivo dos artistas tem permanentes des infelizes ás experiências expiatórias e purificadoras.
relações com o passado espiritual, de onde extraem o E é crescendo nos seus domínios de perfeição e de be-
material necessário á construção espiritual de suas obras. leza;, que a alma evolve para Deus, enriquecendo-se nas
167. —• Os grandes músicos quando compõem pe- suas sublimadas maravilhas.
ças imortais podem ser também influenciados por lem- 169. — A emotividade deve ser disciplinada?
branças de uma existência anterior? — Qualquer expressão emotiva deve ser discipli-
— Essa atuação pôde verificar-se no que se refere nada pela fé, porquanto a sua expansão livre, na base
ás possibilidades e ás tendências, mas no capítulo da das incompreensões do mundo, pôde fazer-se acompa-
composição os • grandes músicos da Terra, .com méritos nhar de graves consequências.
universais, não obedecem á lembranças do pretérito, 170. — Com tantas qualidades superiores para o
sim a gloriosos impulsos das forças do Infinito, por- bem, pôde o artista de gênio transformar-se em instru-
quanto, a música na Terra é, por excelência, a arte mento do mal?
divina. •— O homem genial é como a inteligência que hou-
As óperas imortais não nasceram do lodo terrestre, vesse atingido as mais perfeitas condições de técnica
mas da profunda harmonia do universo, cujos cânticos realizadora, por haver alcançado os elementos da espon-
sublimes foram captados, parcialmente, pelos compo- taneidade; essa aequisição, porém, não o exime da neces-
sitores do mundo, em momentos de santificada ins- sidade de progredir moralmente, iluminando a fonte do
piração . coração.
Apenas desse modo, podereis compreender a sa- Em vista de numerosas organizações geniais não
grada influencia que a música nobre opera nas almas, haverem alcançado a culminância de sentimento é que
arrebatando-as em quaisquer ocasiões, ás idéias indeci-
EMMANUEL O CONSOLADOR 95

temos contemplado, muitas vezes, no mundo, os talentos AFEIÇÃO


mais nobres encarcerados em tremendas obsessões, ou 173. — Como devemos entender a simpatia e a
anulados em desvios dolorosos, porquanto, acima de to- antipatia?
das as conquistas propriamente materiais, a criatura — A simpatia ou a antipatia tem as suas raizes
deve colocar a fé, como o eterno ideal divino. profundas no espírito, na subtilíssima entrosagem dos
fluidos peculiares a cada um e, quasi sempre, de modo
171. — De modo geral, todos os homens terão de geral, atestam uma renovação de sensações experimen-
buscar os valores artísticos para a personalidade? tadas pela criatura, desde o pretérito delituoso, em
iguais circunstancias.
— Sim; através de suas vidas numerosas a alma
Devemos, porém, considerar que toda antipatia,
humana buscará a aquisição desses patrimonios, por-
aparentemente a mais justa, deve morrer para dar lu-
quanto, é justo que as criaturas terrenas possam levar
gar á simpatia que edifica o coração para o trabalho
da sua escola de provações e de burilamento que é o
construtivo e legítimo da fraternidade.
planeta, todas as experiencias e valores suscetíveis de
174. —• Poderemos obter uma definição da ami-
serem encontrados nas lutas da esfera material.
zade?
172. — Existem, de fato, uma arte antiga e uma — Na gradação dos sentimentos humanos a ami-
arte moderna? zade sincera é bem o oásis de repouso para o cami-
nheiro da vida, na sua jornada de aperfeiçoamento.
— A arte evolue com os homens e, representando
Nos trâmites da Terra a'amizade leal é a mais for-
a contemplação espiritual de quantos a exteriorizam,
mosa modalidade do amor fraterno, que santifica os
será sempre a manifestação da beleza eterna, condicio-
impulsos do coração nas lutas mais dolorosas e inquie-
nada ao tempo e ao meio de seus expositores.
tantes da existência.
A arte, pois, será sempre uma só, na sua riqueza Quem sabe ser amigo verdadeiro, é sempre o emis-
de motivos, dentro da espiritualidade infinita. sário da ventura e da paz, alistando-se nas fileiras dos
Ponderemos, contudo, que, se existe hoje grande discípulos de Jesus, pela iluminação natural do espírito
número de talentos com a preocupação excessiva de ori- que, conquistando as mais vastas simpatias entre os
ginalidade, dando curso ás expressões mais extravagan- encarnados e as entidades bondosas do Invisível, sabe
tes de primitivismo, esses são os cortejadores irrequietos irradiar por toda parte as vibrações dos sentimentos
da glória mundana que, mais distanciados da arte legí- purificadores.
tima, nada mais conseguem que refletir a confusão dos Ter amizade é ter coração que ama e esclarece, que
tempos que passam, apoiando o domínio transitório da compreende e perdoa, nas horas mais amargas da vida.
futilidade e da força. Eles, porém, passarão como pas- Jesus é o Divino Amigo da Humanidade.
sam todas as situações incertas de um cataclismo, como Saibamos compreender a sua afeição sublime e
zangões da sagrada colmeia da beleza divina, que, em transformaremos o nosso ambiente afetivo num oceano
vez de espiritualizarem a natureza, buscam deprimi-la de paz e consolação perenes.
com as suas concepções bizarras e doentias. 175. — O instituto da família é organizado no
96 EMMANUEL.
O CONSOLADOR 97

plano espiritual, antes de projetar-se na Terra f


das, em suas características familiares, pelas santas afi-
—- O colégio familiar tem suas origens sagradas na
nidades dalma e cada uma possue o seu grande mentor
esfera espiritual. Em seus laços, reunem-se todos aque-
nos planos mais elevados, de onde promanam as subs-
les que se comprometeram no Além a desenvolver na
tancias eternas do amor e da sabedoria.
Terra uma tarefa construtiva de fraternidade real e
178. — Poderíamos receber algum esclarecimento
definitiva.
sobre a lei das afinidades entre os espíritos desen-
Preponderam nesse instituto divino os elos do amor,
carnados?
fundidos nas experiências de outras eras; todavia, aí
— Na Terra, as criaturas humanas, muitas vezes,
acorrem igualmente os ódios e as perseguições do pre-
revelam as suas afinidades nos interesses materiais, que
térito obscuro, afim-de se transfundirem em solidarie-
podem dissimular a verdadeira posição moral da per-
dade fraternal, com vistas ao futuro.
sonalidade; no mundo dos espíritos elevados, porém, as
É nas dificuldades provadas em comum, nas dores
afinidades legítimas se revelam sem qualquer artifício,
e nas experiências recebidas na mesma estrada de evo-
pelos sentimentos mais puros.
lução redentora, que se olvidam as amarguras do pas-
179. — No capítulo das afeições terrenas, o casar
sado longínquo, transformando-se todos os sentimentos
ou não casar está fora da vontade dos seres humanos?
inferiores em exprssões regeneradas e santificantes.
— O matrimonio na Terra é sempre uma resul-
Purificadas as afeições, acima dos laços do sangue,
tante de determinadas resoluções, tomadas na vida do
o sagrado instituto da família se perpetua no Infinito,
Infinito, antes da reencarnação dos espíritos, seja por
através dos laços imperecíveis do Espírito.
orientação dos mentores mais elevados, quando a enti-
176. — As famílias espirituais no plano invisível
dade não possue a indispensável educação para manejar
são agrupadas em falanges e aumentam ou diminuem,
as suas próprias faculdades, ou em consequência de com-
como se verifica na Terra?
promissos livremente assumidos pelas almas, antes de
— Os núcleos familiares do Além agrupam-se,
suas novas experiências no mundo; razão pela qual os
igualmente, em falanges, continnuando aí a obra de
consórcios humanos estão previstos na existência dos
iluminação - e de redenção de alguns componentes dos
indivíduos, no quadro escuro das provas expiatórias, ou
grupos, elementos mais rebeldes ou estacionários, que
no acervo de valores das missões que regeneram e san-
são impelidos pelos seus companheiros afins, aos esfor-
tificam.
ços edificantes, na conquista do amor e da sabedoria.
De maneira natural, todos esses núcleos se dilatam, 180. — A indiferença nas manifestações de sensi-
á medida que se aproximam da compreensão do Onipo- bilidade afetiva, dentro dos processos de evolução de
tente, até alcançarem o luminoso plano de unificação vida na Terra, nas horas de dor e de alegria-, é uma ati-
divina, com as aquisições eternas e inalienáveis do tude justificável, como medida de vigilância espiritual?
Infinito. — A indiferença que se traduz por cristalização
dos sentimentos é sempre perigosa para a vida da alma;
177. — As famílias espirituais possuem também
todavia, existem atitudes no domínio da exteriorização
um chefe?
emocional, que se justificam pela nobreza de suas ex-
— Todas as coletividades espirituais estão reuni-
pressões educativas.
7
98 EMMANUEL O CONSOLADOR 99

181. — Como entender o sentimento da cólera nos atirar-se a terríveis tentações, com largos reflexos nos
trâmites da vida humanai dias do futuro.
— A cólera não resolve os problemas evolutivos e 184. — Como devemos efetuar nossa auto-educa-
nada mais significa que um traço de recordação dos ção, esclarecida pela luz do Evangelho, nos problemas
primordios da vida humana em suas expressões mais das atrações sexuais cujas tendências egoístas tantas ve-
grosseiras. zes nos levam a atitudes anti-fratemais?
A energia serena edifica sempre, na construção dos • — Não devemos esquecer que o amor sexual deve
sentimentos purificadores; mas a cólera impulsiva, nos ser entendido como o impulso da vida que conduz o ho-
seus movimentos atrabiliários, é um vinho envenenado mem ás grandes realizações do amor divino, através da
de cuja embriaguez a alma desperta sempre com o co- progressividade de sua espiritualização no devotamente
ração tocado de amargurosos ressaibos. e no sacrifício.
182. — O remorso é uma punição f Toda vez que experimentardes disposições anti-
— O remorso é a força, que prepara o arrependi- fraternais em seu círculo, isso significa que preponderam
mento, como este é a energia que precede o esforço rege- em vossa organização psíquica as recordações prejudi-
nerador. Choque espiritual nas suas características pro- ciais, tendentes ao estacionamento na marcha evolutiva.
fundas, o remorso é o interstício de luz, através do qual É aí que urge o esforço da auto-educação, por-
recebe o homem a cooperação indireta de seus amigos quanto toda criatura necessita resolver o problema da
do Invisível, afim-de retificar seus desvios e renovar renovação de seus próprios valores.
seus valores morais, na jornada para Deus. Haveis de observar que Deus não extermina as pai-
183. — Como se interpreta o ciúme no plano xões dos homens, mas fá-las evoluir, convertendo-as
espiritual? pela dor em sagrados patrimônios da alma, competindo
ás criaturas dominar o coração, guiar os impulsos,
— O ciúme, propriamente considerado nas suas
orientar as tendências na evolução sublime dos sen-
expressões de escândalo e de violencia, é uma expressão
timentos .
de atrazo moral ou de estacionamento no egoísmo, do-
Examinando-se, ainda, o elevado coeficiente de vi-
lorosa situação que o homem somente vencerá a golpes
ciação do amor sexual, que os homens criaram para os
de muito esforço, na oração e na vigilancia, de modo
seus destinos, somos obrigados a ponderar qae, se mui-
a enriquecer o seu íntimo com a luz do amor universal,
tos contraem débitos penosos, entre os excessos da for-
começando pela piedade para com todos os que sofrem tuna, da inteligência e do poder, outros o fazem pelo
e erram, guardando, também, a disposição sadia para sexo, abusando de um dos mais sagrados pontos de
cooperar na elevação de cada um. referencia de sua vida.
Só a compreensão da vida, colocando-nos na situa- É por esse motivo que observamos, muitas vezes,
ção de quem errou ou de quem sofre, afim-de iluminar- almas numerosas aprendendo, entre as angústias sexuais
mos o raciocínio para a análise serena dos acontecimen- do mundo, a renúncia e o saerifício, em marcha para
tos, poderá aniquilar o ciúme no coração, de modo a as mais puras aquisições do amor divino.
cerrar-se a porta ao perigo, pela qual toda alma pôde Depreende-se, pois, que, longe da educação sexual
100 EMMANUEL O CONSOLADOR 101

pela satisfação dos instintos, para a compreensão da nas o bem e a sagrada oportunidade de trabalho e edi-
alma é impreseindivel que os homens eduquem a sua ficação, no patrimonio eterno do tempo.
alma para a compreensão sagrada do sexo. Esquecer o mal é aniquilá-lo, e perdoar a quem o
pratica é ensinar o amor, conquistando afeições sinceras
DEVER e preciosas.
Daí a necessidade do perdão, no mundo, para que
185. — Quais são as características de uma boa o incendio do mal possa ser exterminado, devolvendo-se
ação f a paz legítima ao coração.
—• A boa ação é sempre aquela que visa o bem de 188. — Como devem proceder os cônjuges para
outrem e de quantos lhe cercam o esforço na vida. bem cumprir seus deveres?
Nesse problema, o criterio do bem geral deve ser — O matrimonio mui frequentemente, na Terra,
a essência de qualquer atitude. A melhor ação pôde, ás constitue uma prova difícil, mas redentora.
vezes, padecer a incompreensão alheia, no instante em Os cônjuges desvelados por bem cumprir suas obri-
que é exteriorizada, mas será sempre vitoriosa a qual- gações divinas, devem observar o máximo de atenção,
quer tempo, pelo benefício prestado ao indivíduo ou respeito e carinho mútuos, concentrando-se ambos no
á coletividade. lar. sempre que haja um perigo ameaçando-lhes a fe-
186. — O "acaso" deve entrar nas cogitações da licidade doméstica, porque na prece e na vigilancia
vida de um espiritista cristão? espiritual encontrarão sempre as melhores defesas.
— O acaso, propriamente considerado, não pôde No lar, muitas vezes, quando um dos cônjuges se
entrar nas cogitações do sincero discípulo da verdade transvia, a tarefa é de lutas e lágrimas penosas, porém,
evangélica. no sacrifício toda a alma se santifica e se ilumina,
• No capítulo do trabalho e do sofrimento, a sua alma transformando-se em modelo no sagrado instituto da
esclarecida conhece a necessidade da redenção própria, família.
com vistas ao passado delituoso e, no que se refere aos Para alcançar a paciencia e o heroísmo domésticos,
desvios e erros do presente, melhor que ninguém a sua faz-se mister a mais entranhada fé em Deus, tomando-se
conciencia deve saber da intervenção indébita, levada como espelho divino a exemplificação de Jesus no seu
a efeito sobre a lei de amor, estabelecida por Deus, apostolado de abnegação e de dor, á face da Terra.
cumprindo-lhe aguardar, concientemente, sem qualquer 189. — Que deve fazer a mãe terrestre para cum-
noção de acaso, os resgastes e reparações dolorosas do prir evangélicamente os seus deveres, conduzindo os
futuro. filhos para o bem e para a verdade?
187. — Qual a atitude mental que mais favorecerá — No ambiente doméstico, o coração maternal deve
o nosso êxito espiritual nos trabalhos do mundo? ser o expoente divino de toda compreensão espiritual
— Essa atitude deve ser a que vos é ensinada pela e de todos os sacrifícios pela paz da família.
lei divina na reencarnação em que vos encontrais, isto Dentro dessa esfera de trabalho, na mais santifi-
é, a do esquecimento de todo o mal para recordar ape- cada tarefa de renúncia pessoal, a mulher cristã acende
102 EMMANUEL O CONSOLADOR 103

a verdadeira luz para o caminho dos filhos através dos filhos, sem um exame desapaixonado e meticuloso
da vida. das questões, levantando-lhes os sentimentos para Deus,
A missão materna resume-se em dar sempre o amor sem permitir que estacionem na futilidade ou nos pre-
de Deus, o Pai de Infinita Bondade, que pôs no coração juízos morais das situações transitórias do mundo.
das mães a sagrada essência da vida.. Nos labores do Será no lar o bom conselho sem parcialidade, o
mundo, existem aquelas que se deixam levar pelo egoísmo estímulo do trabalho e a fonte de harmonia para todos.
do ambiente particularista; contudo, é preciso acordar Buscará na piedosa Mãe de Jesus o símbolo das
a tempo, de modo a não viciar a fonte da ternura. virtudes cristãs, transmitindo aos que a cercam os dons
A mãe terrestre deve compreender, antes de tudo, sublimes da humildade e da perseverança, sem qualquer
que seus filhos, primeiramente, são filhos de Deus. preocupação pelas gloríolas efémeras da vida material.
Desde a infância, deve prepará-los para o trabalho Cumprindo esse programa de esforço evangélico,
e para a luta que os esperam. na hipótese de fracassarem todas as suas dedicações e
Desde os primeiros anos, deve ensinar a criança a renúncias, compete ás mães incompreendidas entregar o
fugir do abuso da liberdade, controlando-lhe as atitudes fruto de seus labores a Deus, prescindindo de qualquer
e concertando-lhe as posições mentaes, pois que essa é a julgamento do mundo, pois que o Pai de Misericórdia
ocasião mais propícia á edificação das bases de uma saberá apreciar os seus sacrifícios e abençoará as suas
vida. penas, no instituto sagrado da vida familiar.
Deve sentir os filhos de outras mães, como se fos- 190. — Quando os filhos são rebeldes e incorrigí-
sem os seus próprios sem guardar, de modo algum, a veis, impermeáveis a todos os processos educativos, como
falsa compreensão de que os seus são melhores e mais devem proceder os pais?
altamente aquinhoados que os das outras. — Depois de movimentar todos os processos de
Ensinará a tolerância mais pura, mas não desde- amor e de energia no trabalho de orientação educativa
nhará a energia quando seja necessária no processo da dos filhos, é justo que os responsáveis pelo instituto
educação, reconhecida a heterogeneidade das tendências familiar, sem descontinuidade da dedicação e do sacri-
e a diversidade dos temperamentos. fício, esperem a manifestação da Providencia Divina
Sacrificar-se-á de todos os modos ao seu alcance, para o esclarecimento dos filhos incorrigíveis, compreen-
sem quebrar o padrão de grandeza espiritual da sua dendo que essa manifestação deve chegar através de
tarefa, pela paz dos filhos, ensinando-lhes que toda a dores e de provas acerbas, de modo a semear-lhes, com
dor é respeitável, que todo o trabalho edificante é divino, êxito, o campo da compreensão e do sentimento.
e que todo o desperdício é uma falta grave. 191. — Como poderão os pais despertar do íntimo
Ensinar-lhes-á o respeito pelo infortúnio alheio, do filho rebelde as noções sagradas do dever e das obri-
para que sejam igualmente amparados no mundo, na gações para com Deus Todo-Poderoso, de quem somos
hora de amargura que os espera, comum a todos os filhos?
espíritos encarnados. — Depois da esgotar todos os recursos a bem dos
Nos problemas da dor e do trabalho, da provação filhos e da prática sincera de todos os processos amoro-
e da experiência, não deve dar razão a qualquer queixa sos e enérgicos pela sua formação espiritual, sem êxito
104 EMMANUEL O CONSOLADOR 105

algum, é preciso que os pais estimem uesses filhos adul- seu quinhão de verdades relativas, com o qual se ali-
tos, que não lhes apreenderam a palavra e a exemplifi- mentam as almas nos vários planos evolutivos.
cação, os irmãos indiferentes ou endurecidos de sua O coração que retêm uma parcela maior, está habi-
alma, comparsas do passado delituoso, que é necessário litado a alimentar seus irmãos a caminho de aquisições
entregar a Deus, de modo que sejam naturalmente tra- mais elevadas; todavia, é imprescindível o melhor cri-
balhados pelos processos tristes e violentos da educação tério amoroso na distribuição dos bens da verdade, por-
do mundo. quanto esses bens devem ser fornecidos de acordo com
A dor tem possibilidades desconhecidas para pene- a capacidade de compreensão do espírito a que se des-
trar os espíritos, onde a linfa do amor não conseguiu tina o ensinamento, de maneira que o esforço não se
brotar, não obstante o serviço inestimável do afeto pa- faça acompanhar de resultados contraproducentes.
ternal, humano. Ainda aqui, podemos examinar os exemplos da na-
tureza material.
Eis a razão pela qual, em certas circunstancias da
A nutrição de um menino deve conter a substancia
vida, faz-se mister que os pais estejam revestidos de
mantenedora da vida, mas não pôde ser análoga á nu-
suprema resignação, reconhecendo no sofrimento que
trição do adulto. A despreocupação nesse assunto po-
persegue os filhos a manifestação de uma bondade su-
deria levar a criança ao aniquilamento, embora as
perior, cujo buril oculto, constituído por sofrimentos,
substancias ministradas estivessem repletas de elemen-
remodela e aperfeiçoa com vistas ao futuro espiritual.
tos vitais.
192. — A mentira retarda o desenvolvimento do
espírito? 194. — Devemos contar, de maneira absoluta, com
o auxílio dos guias espirituais em nossas realizações
— Mentira não é o ato de guardar a verdade para
humanas?
o momento oportuno, porquanto essa atitude mental se
— Um guia espiritual poderá cooperar sempre em
justifica na própria lição do Senhor, que recomendava
vossos trabalhos, seja auxiliando-vos nas dificuldades, de
aos discípulos não atirarem a esmo a semente bendita
maneira indireta, ou confortando-vos na dor, estimu-
dos seus ensinos de amor.
lando-vos para a edificação moral, imprescindível á ilu-
. A mentira é a ação capciosa que visa o proveito minação de cada um; entretanto, não deveis tomar as
imediato de si mesmo, em detrimento dos interesses suas expressões fraternas por uma promessa formal, no
alheios em sua feição legítima e sagrada; e essa atitude terreno das realizações do mundo, porquanto essas reali-
mental da criatura é das que mais humilham a perso- zações dependem do vosso esforço próprio e se acham
nalidade humana, retardando, por todos os modos, a evo- entrosadas no mecanismo das provações indispensáveis
lução divina do espírito. ao vosso aperfeiçoamento.
193. — A verdade quando dita com sinceridade e 195. —• Como poderemos encontrar, dentro de nós
franqueza rudes pôde retardar o progresso espiritual mesmos, o elemento esclarecedor de qualquer dúvida,
pela dor que causa? quanto á qualidade fraternal e excelente do ato que
— A verdade é a essência espiritual da vida. pretendamos realizar nas lutas cotidianas da vida de
Cada homem ou cada grupo de criaturas possue o relação?
106 EMMANUEL O CONSOLADOR 107

— Aqui, somos compelidos a recordar o antigo pre- da vida, a vossa posição cultural é considerada como pro-
ceito do "amor ao próximo como a nós mesmos". cesso, não como fim, porquanto, este reside na perfeita
Em todos os seus atos, o discípulo de Jesus deverá sabedoria, síntese gloriosa da alma que se edificou a si
considerar se estaria satisfeito, reeebendo-os de um seu mesma através de todas as oportunidades de trabalho e
irmão, na mesma qualidade, intensidade e modalidade de estudo da existência material.
com que pretende aplicar o conceito, ou exemplo, aos Entre a cultura terrestre e a sabedoria do espírito
outros. ha singular diferença, que é preciso considerar. A pri-
Com esse processo introspectivo, cessariam todas as meira se modifica todos os dias e varia de concepção nos
campanhas levianas dos atos e das palavras, e a comu- indivíduos que se constituem seus expositores, dentro das
nidade cristã estaria integrada, em conjunto, no seu mais evidentes características de instabilidade; a se-
legítimo caminho. gunda, porém, é o conhecimento divino, puro e inaliená-
196. — Como encaram os guias espirituais as nos- vel, que a alma vai armazenando no seu caminho, em
sas queixas? marcha para a vida imortal.
— Muitas são consideradas verdadeiras preces dig- 198. — Póãe o racionalismo garantir a linha de
nas de toda carinhosa atenção dos amigos desencarnados. evolução da Terra?
A maioria, porém, não passa de lamentação estéril — Por si só, o racionalismo não pôde efetuar esse
a que o homem se acostumou, como a um vício qualqiier, esforço grandioso, mesmo porque, todos os centros da
porque, se tendes nas mãos o remédio eficaz com o Evan- cultura terrestre têm abusado largamente desse con-
gelho de Jesus e com os consoladores esclarecimentos da ceito. Nos seus excessos, observamos uma venerável civi-
doutrina dos Espíritos, a repetição de certas queixas lização condenada a amarguradas ruinas. A razão sem
traduz má vontade na aplicação legítima do conheci- o sentimento é fria e implacável, como os números e os
mento espiritista a vós mesmos. números podem ser fatores de observação e catalogação
da atividade, mas nunca criaram a vida. A razão é uma
III base indispensável, mas só o sentimento cria e edifica.
É por esse motivo que as conquistas do humanismo ja-
mais poderão desaparecer nos processos evolutivos da
C U L T U R A
humanidade.
EAZÃO 199. — Poderá a razão dispensar a fé?
— A razão humana é ainda muito frágil e não
197. — Como se observa, no plano espiritual, o pa- poderá dispensar a cooperação da fé que a ilumina,
trimônio da cultura terrestre? para a solução dos grandes e sagrados problemas da
— Todas as expressões da cultura humana são apre- vida.
ciadas na esfera invisível, como Um repositório sagrado Em virtude da separação de ambas, nas estradas
de esforços do homem planetário em seus labores con- da vida, é que observamos o homem terrestre no desfi-
tínuos e respeitáveis. ladeiro terrível da miséria e da destruição.
Todavia, é preciso encarecer que, neste "outro lado" Pela insânia da razão, sem a luz divina da fé, a
108 EMMANUEL O CONSOLADOR 109

força faz as suas derradeiras tentativas para asseiiho- evolução planetária, atendendo-se á conveniência e ao
rear-se de todas as conquistas do mundo. estado de progresso moral das criaturas.
Falastes demasiadamente de razão e permaneceis É por esse motivo que os limites das aplicações e
na guerra da destruição, onde só perambulam miserá- das análises chamadas positivas sempre acompanham e
veis vencidos; revelastes as mais elevadas demonstrações seguirão sempre o curso da evolução espiritual das enti-
de inteligência, mas mobilizais todo o conhecimento para dades encarnadas na Terra.
o morticínio sem piedade; pregastes a paz fabricando os 203. — Como apreciar os racionalistas que se orgu-
canhões homicidas, pretendestes haver solucionado os lham de suas realizações terrestres, nas quais pretendem
problemas sociais intensificando a construção das ca- encontrar valores finais e definitivos?
deias e dos prostíbulos. — Quasi sempre, os que se orgulham de alguma
Esse progresso é o da razão sem a fé, onde os ho- cousa caem no egoísmo isolacionista, que os separa do
mens se perdem numa luta inglória e sem fim. plano uniArersal, mas, os que amam o seu esforço nas
200. — Onde localizar a origem dos desvios da realizações alheias ou a continuidade sagrada das obras
razão humana? dos outros na sua atividade própria, jamais conservam
— A origem desse desequilíbrio reside na defecção pretensões descabidas e nunca restringem sua esfera de
do sacerdócio, nas várias igrejas que se fundaram nas evolução, porquanto, as energias profundas da espiri-
concepções do cristianismo. Ocultando a A^erdade para tualidade lhes santificam os esforços sinceros, condu-
que preA alecessem os interesses econômicos de seus trans-
7
zindo-os aos grandes feitos através dos eleA^ados cami-
Aaados expositores, as seitas religiosas operaram o des- nhos da inspiração.
virtuamento da fé, fixando a sua atividade, por absoluta
ausência de colaboração com o raciocínio, no caminho INTELECTUALISMO
infinito de conquistas da vida.
201. — No quadro dos valores racionais, ciência e 204. — A alma humana poãer-se-á elevar para
filosofia, se integram mutuamente, objetivando as reali- Deus tão somente com o progresso moral, sem os valores
zações do espírito? inielectivos?
— Ambas se completam no campo das atividades do — O sentimento e a sabedoria são as duas asas com
mundo, como dois grandes rios que, servindo a regiões que a alma se elevará para a perfeição infinita.
diversas naeesfera da produção indispensável á manu- No círculo acanhado do orbe terrestre, ambos são
tenção da vida, se reúnem em determinado ponto do classificados como adiantamento moral e adiantamento
caminho para desaguarem, juntos, no mesmo oceano, intelectual, mas, como estamos examinando os valores
que é o da sabedoria. propriamente do mundo, em particular, devemos reco-
202. — No problema da investigação, ha limites nhecer que ambos são imprescindíveis ao progresso,
para aplicação dos métodos racionalistas? sendo justo, porém, considerar a superioridade do pri-
— Esses limites existem, não só para a aplicação, meiro sobre o segundo, porquanto a parte intelectual
como também para a observação; limites esses que, são sem a moral pôde oferecer numerosas perspectivas de
condicionados pelas forças espirituais qne presidem á queda, na repetição das experiências, enquanto que o
110 EMMANUEL O CONSOLADOR 111

avanço moral jamais será excessivo, representando o nú- todas as ocasiões, possa ele cultivar os valores legítimos
cleo mais importante das energias evolutivas. do sentimento.
205. — Podemos ter uma idéia da extensão de 206. — Como é considerada, no plano espiritual,
nossa capacidade intelectual? a posição atual, intelectiva da Terra?
— A capacidade intelectual do homem terrestre — Os valores intelectuais do planeta, nos tempos
é excessivamente reduzida, em face dos elevados poderes modernos, sofrem a humilhação de todas as forças cor-
da personalidade espiritual independente dos laços da rutoras da decadencia. A atual geração, que. tantas ve-
matéria. zes se entregou á jactancia atribuindo a si mesma as
Os elos da reencarnação fazem o papel de quebra- mais altas conquitas no terreno do raciocínio positivo,
luz sobre todas as conquistas anteriores do espírito operou os mais vastos desequilibrios nas correntes evo-
reencarnado. Nessa sombra, reside o acervo de lembran- lutivas do orbe, com o seu injustificável divórcio do
ças vagas, de vocações inatas, de numerosas experiên- sentimento.
cias, de valores naturais e espontâneos, que chamais sub- Nunca os círculos educativos da Terra possuíram
conciencia. tanta facilidade de amplificação, como agora, em face
O homem comum é uma representação parcial do da evolução das artes gráficas; jamais o livro e o jornal
homem transcendente, que será reintegrado nas suas foram tão largamente difundidos; entretanto, a im-
aquisições do passado, depois de haver cumprido a prova prensa, quasi de modo geral, é órgão de escândalo para
ou a missão exigidas pelas suas condições morais, no a comunidade e centro de interesse econômico para o
mecanismo da justiça divina. ambiente particular, enquanto que poucos livros triun-
Aliás, a incapacidade intelectual do homem físico fam sem o bafejo da fortuna privada ou oficial, na
tem sua origem na sua própria situação, caracterizada hipótese de ventilarem os problemas elevados da vida.
pela necessidade de provas amargas. 207. •—. A decadencia intelectual pôde prejudicar
O cérebro humano é um aparelho frágil e defi- o desequilíbrio do mundo?
ciente, onde o espírito em queda tem de valorizar as — Sem dúvida. E é por essa razão que observamos
suas realizações de trabalho. na paisagem político-social da Terra as aberrações, os
Imaginai a caixa craneana, onde se acomodam célu- absurdos teóricos, os extremismos, operando a inversão
las microscópicas, inteiramente preocupadas com a sua de todos os valores.
sede de oxigênio, sem dispensarem por um milésimo de Excessivamente preocupados com as suas extrava-
segundo a corrente do sangue que as irriga, a fragili- gancias, os missionários da inteligencia trocaram o seu
dade dos filamentos que as reúnem, cujas conexões são labor junto ao espírito por um lugar de domínio, como
de cem milésimos de milímetro, e tereis assim uma idéia os sacerdotes religiosos que permutaram a luz da fé
exata da pobreza da máquina pensante de que dispõe pelas prebendas tangíveis da situação económica. Seme-
o sábio da Terra para as suas orgulhosas deduções, veri- lhante situação operou naturalmente o mais alto dese-
ficando que, por sua condição de espírito caído na luta quilíbrio no organismo social do planeta, e como prova
expiatória, tudo tende a demonstrar ao homem do real. desse asserto, devemos recordar que a guerra de
mundo a sua posição de humildade, de modo que, em 1914-1918 custou aos povos mais intectualizados do
EMMANUEL O CONSOLADOR na
112

mundo mais de eem mil bilhões de francos, salien- quando houver despido a indumentária do mundo, para
tando-se que, com menos da centésima parte dessa im- eompareeer ante as verdades do Infinito.
portancia, poderiam essas nações haver expulsado o fan- 210. — Os trabalhadores do espiritismo devem
tasma da sífilis do cenário da Terra. buscar os intelectuais para a compreensão dos seus de-
veres espirituais?
208. •—• Ha uma tarefa especializada da inteligen-
— Os operários da doutrina devem estar sempre
cia no órbe terrestre?
bem dispostos na oficina do esclarecimento, sempre que
— Assim como numerosos espíritos recebem a pro- procurados pelos que desejem cooperar sinceramente nos
vação da fortuna, do poder transitório e da autoridade, seus esforços. Mas provocar a atenção dos outros no
ha os que recebem a incumbencia sagrada em lutas ex- intuito de regenera-los quando todos nós, mesmo os
piatorias ou em missões santificantes, de desenvolverem desencarnados, estamos em função de aperfeiçoamento
a boa tarefa da inteligencia em proveito real da cole- e aprendizado, não parece muito justo, porque estamos
tividade . ainda com um dever essencial, que é o da edificação de
Todavia, assim como o dinheiro e a posição de nós mesmos.
realce são ambientes de luta, onde todo êxito espiritual No labor da doutrina, temos de convir que o espi-
se torna mais porfiado e difícil, o destaque intelectual, ritismo é o cristianismo redivivo, pelo qual precisamos
muitas vezes, obscurece, no mundo a visão do espírito fornecer o testemunho da verdade e, dentro do nosso
encarnado, eonduzindo-o á vaidade injustificável, onde conceito de relatividade, todo o fundamento da verdade
as intenções mais puras ficam aniquiladas. na Terra está em Jesus Cristo.
209. — 0 escritor de determinada obra será jul- A verdade triunfa por si, sem o concurso das frá-
gado pelos efeitos produzidos pelo seu labor intelectual geis possibilidades humanas. Alma alguma deverá pro-
na Terra? cura-la supondo-se elemento indispensável á sua vitória.
— O livro é igualmente como a semeadura. O es- Como seu órgão no planeta, o espiritismo não necessita
critor correto, sincero e bem intencionado é o lavrador de determinados homens para consolar e instruir as
previdente que alcançará a colheita abundante e a ele- criaturas, depreende-se que os próprios intelectuais do
vada retribuição das leis divinas á sua atividade. O lite- mundo é que devem buscar, espontaneamente, na fonte
rato fútil, amigo da insignificancia e da vaidade, é bem de conhecimentos doutrinários o benefício de sua ilu-
aquele trabalhador preguiçoso e nulo que "semeia ven- minação .
tos para colher tempestades". E o homem de inteli-
gencia que vende a sua pena, a sua opinião e o seu PERSONALIDADE
pensamento no mercado da calúnia, do interesse, da am-
bição e da maldade, é o agricultor criminoso que humi- 211. — Como compreender a noção de persona-
lha as possibilidades generosas da Terra, que rouba os lidade?
vizinhos, que não planta e não permite o desenvolvi- — A compreensão da personalidade, no mundo,
mento da semeadura alheia, cultivando espinhos e agra- vem sendo muito desviada de seus legítimos valores,
vando responsabilidades pelas quais responderá um dia. pelos espíritos excêntricos, altamente preocupados em se
s
EMMANUEL O CONSOLADOR 115

destacar no vasto mundo das letras. Entendem muitos com o sol no amanho da Terra, fabricando o pão sabo-
que "ter personalidade" é possuir espírito de rebeldia roso da vida, tem mais valor para Deus que os artistas
e de contradição na palavra sempre pronta a criticar de inteligência viciada, que outra cousa não fazem se-
os outros, no esquecimento de sua própria situação. não perturbar a marcha divina das suas leis.
Outros entendem que o "homem de personalidade" deve Vede, portanto, que a expressão de intelectualidade
sair mundo afora, buscando posições de notoriedade em vale muito mas não pode prescindir dos valores do sen-
falsos triunfos, porquanto exigem o olvido pleno dos timento em sua essência sublime, compreendendo-se,
mais sagrados deveres do coração. Poucos se lembra- afinal, que o "homem medíocre" não é o trabalhador
ram dos bens da humildade e da renúncia, para a ver- das lides terrestres, amoroso de suas realizações do lar
dadeira edificação pessoal do homem, porque para a e do sagrado cumprimento de seus deveres, sobre cuja
esfera da espiritualidade pura a conquista da ilumina- abnegação erigiu-se a organização maravilhosa do patri-
ção íntima vale tudo, considerando que todas as expres- mônio mundano.
sões da personalidade prejudicial e inquieta do homem 213. — Devemos acalentar a preocupação de adqui-
terrestre passarão com o tempo, quando a morte impla- rir os elementos do chamado magnetismo pessoal?
cável houver descerrado a visão real da criatura. — Essa preocupação é muito nobre, mas ninguém
212. — O homem sem grandes possibilidades inte- suponha realiza-la tão só com a experiência da leitura
lectuais é sempre um homem medíocre? de livros pertinentes ao assunto.
— O conceito da mediocridade modifica-se no plano Não são poucos os que buscam essa literatura, dese-
de nossas conquistas universalistas, depois das traiisi- josos de fórmulas mágicas no caminho do menor esforço.
ções da morte. Todavia, o que é indispensável salientar é que
Aí no mundo, costumais entronizar o escritor que estudioso algum pôde conquistar simpatias sem que
enganou o píiblico, o político que ultrajou o direito, haja transformado o coração em manancial de bondade
o capitalista que se enriqueceu sem escrúpulos de con- espontânea e sincera. Na vida não basta saber. É im-
ciencia, colocados na galeria dos homens superiores. prescindível compreender. Os livros ensinam, mas só o
Exaltando-lhes os méritos individuais com extravagancias esforço próprio aperfeiçoa a alma para a grande e
louvaminheiras, muito falais em "medocridade", em abençoada compreensão. Esquecei a conquista fácil, a
"rebanho", em "rotina", em "personalidade superior". operação mecânica, injustificáveis nas edificações espiri-
Para nós, a virtude da resignação dos pais de fa- tuais, e volvei atenção e pensamento para o vosso pró-
mília, criteriosos e abnegados, no extenso rebanho de prio mundo interior. Muita cousa aí se tem a fazer e,
atividades rotineiras da existencia terrestre, não se com- nesse bom trabalho a alma se ilumina, naturalmente,
para em grandeza com os dotes de espírito do intelectual aclarando o caminho de seus irmãos.
que gesticula desesperado de uma tribuna, sem qiial- 214. —. Como interpretar os impulsos daqueles que
quer edificação séria, ou que se emaranha em confusões acreditam na, influencia dos chamados talismãs da fe-
palavrosas na esfera literária, sem uma preocupação licidade pessoal?
sincera de aprender com os exemplos da vida. — Criaturas ha, que, para manter sua energia es-
O trabalhador que passa a vida inteira trabalhando piritual sempre ativa precisam concentrar a atenção em
116 EMMANUEL
O CONSOLADOR 117

algum objeto tangível, visando os estados sugestivos


indispensáveis ás suas realizações, como esses crentes Evangelho, porquanto o seu esforço será sempre o da
que não prescindem de imagens e símbolos materiais cooperação sincera a favor do reerguimento e da ele-
para admitirem a eficacia de suas preces. vação espiritual dos semelhantes.
Ficai certos, porém, que o talismã para a felici- 217. — Qual o modo mais fácil de levar a efeito
dade pessoa], definitiva, se constitue de um bom coração a. vigilância pessoal, para evitar a queda em tentações
sempre afeito á harmonia, á humildade e ao amor, no — A maneira mais simples é a de cada um esta-
integral cumprimento dos designios de Deus. belecer um tribunal de auto-crítiea, em conciencia pró-
215. — Os chamados "homens de sorte"são guia- pria, procedendo para com outrem, na mesma conduta
dos pelos espíritos amigos? de retidão que deseja da ação alheia para consigo
— Aquilo que convencionastes apelidar "sorte" próprio.
representa uma situação natural no mapa de serviços do
espírito reencarnado, sem que haja necessidade de ad- IV
mitirdes a intervenção do plano invisível na execução
das experiencias pessoais. I L U M I N A Ç Ã O
A "sorte" é também uma prova de responsabili-
NECESSIDADE
dade no mecanismo da vida, exigindo muita compreen-
são da criatura que a recebe, no que se refere á mise- 218. — A propaganda doutrinária para multipli-
ricórdia divina, afim-de não desbaratar o patrimonio de cação dos prosélitos ê a necessidade imediata do espi-
possibilidades sagradas que lhe foi conferido.
ritismo ?
216. — O "amor próprio", o "brio", o "caráter", — De modo algum. A direção do espiritismo, na
a hoúra", são atitudes que a sociedade humana reclama
sua feição de Evangelho redivivo, pertence ao Cristo
da personalidade; como proceder em tal caso, quando
e seus prepostos, antes de qualquer esforço humano,
os fatos colidem com os nossos conhecimentos evan-
precário e perecível. A necessidade imediata dos ar-
gélicos?
raiais espiritistas é a do conhecimento e aplicação legí-
— O círculo social exige semelhantes atitudes da
tima do Evangelho, da parte de todos quantos militam
personalidade e contudo essa mesma sociedade ainda não
nas suas fileiras, desejosos de luz e de evolução. O tra-
soube entendê-las, senão pela pauta das suas conven-
balho de cada um na iluminação de si próprio deve ser
ções, quando o amor próprio, o brio, o caráter e a honra
permanente e metodizado. Os fenómenos acordam o
deveriam ser traços do aperfeiçoamento espiritual e
espírito adormecido na carne, mas não fornecem as lu-
nunca demonstrações de egoísmo, de vaidade e orgulho,
zes interiores, somente conseguidas á custa de grande
quais se manifestam comumente, na Terra.
esforço è trabalho individual. A palavra dos guias e
Quando o homem se cristianizar, compreendendo
mentores do Além ensina mas não pôde constituir ele-
essas posições morais no seu verdadeiro prisma, não
mais se verificará qualquer colisão entre os aconteci- mento definitivo de redenção, cuja obra exige de cada
mentos da existencia comum e os seus conhecimentos do um sacrifícios e renúncias santificantes, no laborioso
aprendizado da vida.
118 EMMANUEL O CONSOLADOR 119

219. — Nos trabalhos espiritistas, onde poderemos admite; mas o que se ilumina vibra e sente. O primeiro
encontrar a fonte principal de ensino que nos oriente depende dos elementos externos, nos quais coloca o
para a iluminação? Poderemos óbtê-la com as mensa- objeto da sua crença; o segundo é livre das influencias
gens de nossos entes queridos, ou apenas com o fato de exteriores, porque ha bastante luz no seu próprio ín-
guardarmos o valor da crença no coração? timo, de modo a veneer corajosamente nas provações, a
— Numerosos filósofos hão compendiado as teses e que foi conduzido no mundo.
conclusões do Espiritismo no seu aspecto filosófico, É por essa razão que os espiritistas sinceros devem
científico e religioso; todavia, para a iluminação do compreender que não basta acreditar no fenómeno ou
íntimo só tendes no mundo o Evangelho do Senhor, que na veracidade da comunicação com o Além, para que
nenhum roteiro doutrinário poderá ultrapassar. os seus sagrados deveres estejam totalmente cumpridos,
Aliás, o Espiritismo em seus valores cristãos não pois a obrigação primordial-é o esforço próprio, o amor
possue finalidade maior que a de restaurar a verdade do trabalho, a serenidade nas provas da vida, o sacri-
evangélica para os corações desesperados e descrentes fício de si mesmo, de modo a entender plenamente a
do mundo. exemplificação de Jesus Cristo, buscando a sua -luz
Teorias e fenómenos inexplicáveis sempre houve no divina para a execução de. todos os trabalhos que lhes
mundo. Os escritores e os cientistas doutrinários po- competem no mundo.
derão movimentar seus conhecimentos na construção de 221. — A análise pela razão pôde cooperar, de
novos enunciados para as filosofias terrestres, mas a modo definitivo, no trabalho de nossa iluminação espi-
obra definitiva do espiritismo é a da edificação da con- ritual?
ciencia profunda no Evangelho de Jesus Cristo. — É certo que o homem não pôde dispensar a ra-
O plano invisível poderá trazer-vos as mensagens zão para vencer na tarefa confiada ao seu esforço, no
mais comovedoras e convincentes dos vossos bem ama- círculo da vida; contudo, faz-se mister considerar que
dos; podereis guardar os mais elevados princípios de essa razão vem sendo trabalhada, de muitos séculos no
crença no vosso mundo impressivo e, todavia, esse é o planeta, pelos vícios de toda a sorte.
esforço, a realização do mecanismo doutrinário em ação, Temos plena confirmação deste asserto no ultra-
junto de vossa personalidade; só o trabalho de auto- racionalismo europeu, cuja avançada posição evolutiva,
evangelização, porém, é firme e imperecível. Só o es- ainda agora, não tem vacilado entre a paz e a guerra,
forço individual no Evangelho de Jesus pôde iluminar, entre o direito e a força, entre a ordem e a agressão.
engrandecer e redimir o espírito, porquanto, depois de Mais que em toda parte do órbe, a razão humana
vossa edificação com o exemplo do Mestre, alcançareis ali se elevou ás mais mais altas culminancias de reali-
aquela verdade que vos fará livres. zação e, todavia, desequilibrada pela ausencia do sen-
220. — Ha alguma diferença entre a crença e a timento, ressuscita a selvageria e o crime, embora o
iltiminação? fausto da civilização.
— Todos os homens da Terra, ainda os próprios Reconhecemos, pois, que na atualidade do órbe toda
materialistas, crêem em alguma cousa. Todavia, são iluminação do homem ha de nascer, antes de tudo, do
muito poucos os que se iluminam. O que crê, apenas sentimento. O sábio desesperado do mundo deve vol-
120 EMMANUEL O CONSOLADOR 121

yer-se para Deus como a criança humilde, para cuidar mesma tarefa abençoada de aquisição dos próprios va-
dos legítimos valores do coração, porque apenas pela lores, e a reencarnação no mundo tem por objetivo priii^
reeducação sentimental, nos bastidores do esforço pró- cipal a consecução desse esforço.
prio, poder-se-á esperar a desejada reforma das cria-
turas . TRABALHO
222. — Que significa o chamado "toque da alma",
ao qual tantas vezes se referem os espíritos amigos ? 225. —• Como entender a salvação da alma e como
— Quando a sinceridade e a boa vontade se irma- conseguí-la?
nam dentro de um coração, faz-se no santuario íntimo a •— Dentro das claridades espirituais que o Conso-
luz espiritual para a sublime compreensão da verdade. lador vem espalhando nos bastidores religiosos e filosó-
Esse é o chamado "toque da alma", impossível para ficos do mundo, temos de traduzir o conceito de salva-
quantos perseverem na lógica convencionalista do mundo, ção por iluminação de si mesmo, a caminho das mais
ou nas expressões negativas das situações provisorias da elevadas aquisições e realizações no Infinito.
matéria, em todos os sentidos. Considerando esse aspecto real do problema de "sal-
223. — Ha tempo determinado na vida do homem vação da alma", somos compelido a reconhecer que, se
terrestre para que se possa ele entregar, com mais pro- a Providencia Divina movimentou todos os recursos in-
babilidades de êxito, ao trabalho de iluminação? dispensáveis ao progresso material do homem físico na
— A existencia na Terra é um aprendizado exce- Terra, o Evangelho de Jesus é a dádiva suprema do céu
lente e constante. Não ha idades para o serviço de para a redenção do homem espiritual em marcha para
iluminação espiritual. Os pais têm o dever de oxientar o amor e sabedoria universais.
a criança, desde os seus primeiros passos, no capítulo
das noções evangélicas, e a velhice não tem o direito de Jesus é o Modelo Supremo.
alegar o cansaço orgânico em face desses estudos de O Evangelho é o roteiro para a ascenção de todos
sua necessidade própria. os espíritos em luta, e aprendizado na Terra para os
É certo que as aquisições de um velho, em matéria planos superiores do Ilimitado. De sua aplicação decorre
de conhecimentos novos, não podem ser tão fáceis como a luz do espírito.
as de um jóven em função de sua instrumentabilidade No turbilhão das tarefas de cada dia, lembrai a
sadia, fisicamente falando; os homens mais avançados afirmativa do Senhor: — " E u sou o Caminho, a Ver-
em anos, têm, contudo, a seu favor as experiencias da dade e a V i d a . " Se vos cercam as tentações de autori-
vida, que facilitam a compreensão e nobilitam o esforço dade e poder, de fortuna e inteligência, recordai ainda
da iluminação de si mesmos, considerando que, se a ve- as suas palavrasx — "Ninguém pôde ir ao Pai senão
lhice é a noite, a alma terá no amanhã do futuro a por M i m . " E se vos sentis tocados pelo sopro frio da
alvorada brilhante de uma vida nova. adversidade e da dor, se estais sobrecarregados de tra-
224. — As almas desencarnadas continuam igual- balhos no mundo, buscai ouvi-Lo sempre no imo dalma:
mente no serviço da iluminação de si próprias? — "Quem deseje encontrar o R«ino de Deus tome a sua
— Nos planos invisíveis o espírito prossegue na cruz e siga os meus passos."
122 EMMANUEL O CONSOLADOR 123

226. — Os guias espirituais têm uma parte ativa receber no seu antropomorfismo, não se observa no ca-
na tarefa de nossa iluminação pessoal? minho da vida, pois Deus não pôde assemelhar-se a um
— Essa colaboração apenas se verifica como no monarca humano, cheio de preferencias pessoais ou
caso dos irmãos mais velhos, ou dos amigos mais idosos subornado por motivos de ordem inferior.
nas experiências do mundo. A alma, aqui ou alhures, receberá sempre de
Os mentores do Além poderão apontar-vos os resul- acordo com os méritos próprios, conquistados no tra-
tados dos seus próprios esforços na Terra, ou então balho da edificação de si mesma. É o próprio espírito
aclarar os ensinos que o homem já recebeu através da que inventa o seu inferno ou cria as belezas do seu
misericórdia do Cristo e da benevolência dos seus en- céu. E tal seja o seu procedimento acelerando o pro-
viados, mas, em hipótese alguma, poderão afastar a cesso de evolução pelo esforço próprio, poderá Deus
alma encarnada do trabalho que lhe compete, na curta dispensar na Lei, em seu favor, pois a Lei é só uma
permanência das lições do mundo. e Deus o seu Juiz Supremo e Eterno.
Que dizer de um professor que decifrasse os pro- 228. — A auto-iluminação pôde ser conseguida
blemas comuns para os alunos? apenas com a tarefa de uma existência na Terra?
Além disso, os amigos espirituais não se encontram — Uma encarnação é como um dia de trabalho.
em estado beatífico. Suas atividades e deveres são E para que as experiências se façam acompanhar de
maiores que os vossos. Seus problemas novos são inú- resultados positivos e proveitosos na vida, faz-se indis-
meros e cada espírito deve buscar em si mesmo a luz pensável que os dias de observação e de esforço se suce-
necessária á visão acertada do caminho. dam uns aos outros.
Trabalhai sempre. Essa é a lei para vós outros e No complexo das vidas diversas, o estudo prepara;
para nós que já nos afastámos do âmbito limitado do todavia, somente a aplicação sincera dos ensinamentos
círculo carnal. Esforcemo-nos constantemente. do Cristo pôde proporcionar a paz e a sabedoria, ine-
3

A palavra do guia é agradável e amiga, mas o tra- rentes ao estado de plena iluminação dos redimidos.
balho de iluminação pertence a cada um. Na solução 229. — Como entender o trabalho de purificação
dos nossos problemas nunca esperemos pelos outros, por- nos ambientes do mundo?
que, de pensamento voltado para a fonte de sabedoria — A purificação na Terra ainda é como o lírio
e misericórdia, que é Deus, não nos faltará, em tempo alvo, nascendo do lodo das amarguras e das paixões.
algum, a divina inspiração de sua bondade infinita. Todos os espíritos encarnados, porém, devem con-
227. — Deus concede o favor a que chamamos siderar que se encontram no planeta como em poderoso
graça"? cadinho de acrisolamento e regeneração, sendo indispen-
— São tão grandes as expressões da misericórdia sável cultivar a flor da iluminação íntima, na angústia
divina que nos cercam o espírito, em qualquer plano da vida humana, no círculo da família ou da comuni-
da vida, que, basta um olhar á natureza física ou invi- dade social, através da maior severidade para consigo
sível para sentirmos, em torno de nós uma aluvião de mesmo e da maior tolerância com os outros, fazendo
graças. cada qual, da sua existência um apostolado de educação,
O favor divino, porém, como o homem pretende onde o maior beneficiado seja o seu próprio espírito.
O CONSOLADOR 125
124 EMMANUEL

da palavra, porque na oficina da fraternidade bastará


230. — Como iniciar o trabalho de iluminação da o seu sentimento esclarecido no Evangelho. A grande
nossa própria alma? maravilha do amor é o seu profundo e divino contagio.
— Esse esforço individual tem de começar com o Por esse motivo, o espírito encarnado para regenerar
auto-domínio, com a disciplina dos sentimentos egoísti- os seus irmãos da sombra, necessita iluminar-se primeiro.
cos e inferiores, com o trabalho silencioso da criatura
por exterminar as próprias paixõees. REALIZAÇÃO
Nesse particular, não podemos prescindir do co-
nhecimento adquirido por outras almas que nos prece- 232. — Em matéria de conhecimento, onde pode-
deram nas lutas da Terra, com as suas experiencias san- remos localizar a maior necessidade do homem?
tificantes — agua pura de consolação e de esperança, •— Como nos tempos mais recuados das civilizações
que poderemos beber nas páginas de suas memorias ou mortas, temos de reafirmar que a maior necessidade da
nos testemunhos de sacrifício que deixaram no mundo. criatura humana ainda é a do conhecimento de si
mesma.
Todavia, o conhecimento é a porta amiga que nos
conduzirá aos raciocínios mais puros, porquanto, na 233. — Por que razão o homem da Terra tem sido
reforma definitiva de nosso íntimo, é indispensável o tão lento na solução do problema do seu conhecimento
golpe da ação própria, no sentido de modelarmos o nosso próprio?
santuario interior, na sagrada iluminação da vida. — Isso é explicável. Somente agora, a alma hu-
231. — Considerando que numerosos agrupamen- mana poderá ensimesmar-se o bastante para compreen-
tos espíritas se formam apenas para doutrinação das der as necessidades e os escaninhos da sua personalidade
entidades perturbadas, do plano invisível, quais os mais espiritual.
necessitados de luz: os encarnados ou os desencarnadas? Antigamente a existência do homem resumia-se na
• — Tal necessidade é comum a uns e outros. É justo luta com as forças externas, de modo a criar uma lei
que se preste auxílio fraterno aos seres perturbados e de harmonia entre ele próprio e a natureza terrestre.
sofredores, das esferas mais próximas da Terra; entre- Muitos séculos deeorreram, até que lobrigasse a conve-
tanto, é preciso convir que os espíritos encarnados ca- niência da solidariedade para enfrentar os perigos co-
recem de maior percentagem de iluminação evangélica muns. A organização da tríbu, da família, das tradi-
que os invisíveis, mesmo porque, sem ela, que auxílio ções, das experiências coletivas, exigiu muitos séculos de
poderão prestar ao irmão ignorante e infeliz? A lição luta e de infortúnios dolorosos. A ciência das relações,
do Senhor não nos fala do absurdo de um cego a con- o aproveitamento das forças materiais que o rodeavam,
duzir outros cegos? não requisitaram menor porção de tempo.
Por essa razão é que toda a reunião de estudos Agora, porém, nas culminancias da sua evolução
sinceros, dentro da doutrina, é um elemento precioso física, o homem não necessitará preocupar-se de modo
para estabelecer o roteiro espiritual a quantos desejem tão absorvente com a paisagem que o cerca, razão pela
o bom caminho. qual todas as energias espirituais mobilizam-se, nos tem-
A missão da luz é revelar com verdade serena. pos modernos, em torno das criaturas, convocando-as ao
O coração iluminado não necessita de muitos recursos
126 O CONSOLADOR 127
EMMANUEL

sagrado conhecimento de si mesmas, dentro dos valores existe fonte alguma além da exemplificação de Jesus
infinitos da vida. no seu Evangelho de Verdade e Vida.
234. — Que dizer dos que propugnam leis para o Os próprios filósofos que falaram na Terra, antes
bem-estar social, por processos mecánicos de aplicação, d'Ele, não eram senão emissários da sua bondade e
sem atender á iluminação espiritual dos individuos? sabedoria, vindos á carne de modo a preparar-lhe a lu-
— Os estadistas ou condutores de multidões que minosa passagem pelo mundo das sombras, razão por-
procurem agir nesse sentido, em pouco tempo cáem no que, o modelo de Jesus é definitivo e único para a reali-
desencanto de suas utopias políticas e sociais. zação da luz e da verdade em cada homem.
236. — Como interpretar a ansiedade do proseli-
A harmonia do mundo não virá por decretos, nem
tismo espirita, em matéria de fenomenologia, ante essa
de parlamentos que caracterizam sua ação por uma força
necessidade de iluminação?
excessivamente passageira. Não vedes que o mecanismo
— Os espiritistas sinceros devem compreender que
das leis humanas se modifica todos os dias? Os siste-
os fenómenos acordam a alma, como o choque de ener-
mas de governo não desaparecem para dar lugar a ou-
gias externas que faz despertar uma pessoa ador-
tros que, por sua vez, terão de renovar-se com o trans-
mecida; mas somente o esforço opera a edificação mo-
correr do tempo? Na atualidade do planeta, tendes
ral, legítima e definitiva.
observado a desilusão de muitos utopistas dessa natu-
É uma extravagancia de consequências desagradá-
reza, que sonharam com a igualdade irrestrita das cria-
veis, atirar-se alguém á propaganda de uma idéia sem
turas, sem compreender que, recebendo os mesmos direi-
haver fortalecido a si mesmo na seiva de seus princípios
tos de trabalho e de aquisição perante Deus, os homens,
enobrecedores. O espiritismo não constitue uma escola
por suas próprias ações são profundamente desiguais
de leviandade. Identificado com a sua essência conso-
entre si, em inteligencia, virtude, compreensão e mo-
ladora e divina, o homem não pôde acovardar-se ante
ralidade.
a intensidade das provações e das experiencias. Grande
O homem que se ilumina conquista a ordem e a erro praticariam as entidades espirituais elevadas se pro-
harmonia para si mesmo. E para que a coletividade metessem aos seus amigos do mundo uma vida fácil e
realize semelhante aquisição, para o organismo social, sem cuidados, solucionando-lhes todos os problemas e en-
faz-se impreseindivel que todos os seus elementos com- tregando-lhes a chave de todos os estudos.
preendam os sagrados deveres de auto-iluminação. É egoísmo e insensatez provocar o plano invisível
235. — Ha outras fontes de conhecimento para a com os pequeninos caprichos pessoais.
iluminação dos homens, além da constituida pelos ensi- Cada estudioso desenvolva a sua capacidade de tra-
namentos divinos do Evangelho? balho e de iluminação e não guarde para outrem o que
— O mundo está repleto de elementos educativos, lhe compete fazer em seu próprio benefício.
mormente no referente ás teorias nobilitantes da vida O espiritismo sem Evangelho pôde alcançar as me-
e do homem, pelo trabalho e pela edificação das facul- lhores expressões de nobreza, mas não passará de uma
dades e do caráter. atividade destinada a modificar-se ou desaparecer, como
Mas, em se tratando de iluminação espiritual, não todos os elementos transitorios do mundo. E o espírita
128 EMMANUEL O CONSOLADOR 129

que não cogitou da iluminação com Jesus Cristo pode É certo que o planeta já possue as suas expressões
ser um cientista e um filósofo com as mais elevadas isoladas de legítimo evangelismo, raras na verdade, mas
aquisições intelectuais, mas estará sem leme e sem ro- consoladoras e luminosas. Essas expressões, porém, são
teiro no instante da tempestade inevitável da provação obrigadas ás mais altas realizações de renúncia em face
e da experiência, porque só o sentimento divino da fé da ignorância e da iniquidade do mundo. Esses após-
pôde arrebatar o homem das preocupações inferiores tolos desconhecidos são aquele "sal da Terra" e o seu
da Terra para os caminhos supremos dos paramos 1 esforço divino será respeitado pelas gerações vindouras,
espirituais. como os símbolos vivos da iluminação espiritual com
237. — Existe diferença entre doutrinar e evan- Jesus Cristo, bem-aventurados de seu Reino, no qual
gelizar? souberam perseverar até o fim.
— Ha grande diversidade entre ambas as tarefas.
Para doutrinar, basta o conhecimento intelectual dos V
postulados do espiritismo; para evangelizar é necessário
a luz do amor no íntimo. Na primeira, bastarão a lei- E V O L U Ç Ã O
tura e o conhecimento; na segunda é preciso vibrar e
sentir com o Cristo. Por tais motivos, o doutrinador DOR
muitas vezes não é senão canal dos ensinamentos, mas
o sincero evangelizador será sempre o reservatório da 239. — Entre a dor física e a dor moral, qual das
verdade, habilitado a servir ás necessidades de outrem, duas faz vibrar mais profundamente o espírito humano?
sem privar-se da fortuna espiritual de si mesmo. — Podemos classificar o sofrimento do espírito
238. ;— Para acelerar o esforço de iluminação, a como a dor-realidade e o tormento físico, de qualquer
humanidade necessitará de determinadas inovações reli- natureza, como a dor-ilusão.
giosas? Em verdade, toda a dor física colima o despertar
— Toda inovação é indispensável, mesmo porque a da alma para os seus grandiosos deveres, seja como
lição do Senhor ainda não foi compreendida. A cris- expressão expiatória, como consequência dos abusos hu-
tianização das almas humanas ainda não foi além da manos, ou como advertência da natureza material ao
primeira etape. dono de um organismo.
Alguns séculos antes de Jesus, o plano espiritual, Mas, toda a dor física é um fenómeno, enquanto
pela boca dos profetas e dos filósofos exortava o homem que a dor moral é uma essência.
do mundo ao conhecimento de si mesmo. O Evangelho Daí a razão por que a primeira vem e passa, ainda
é a luz interior dessa edificação. Ora, somente agora a que se faça acompanhar das transições de morte dos
criatura terrestre prepara-se para o conhecimento pró- órgãos materiais e só a dor espiritual é bastante grande
prio através da dor; portanto, a evangelização da alma e profunda para promover o luminoso trabalho do aper-
coletiva, para a nova era de concórdia e de fraterni- feiçoamento e da redenção.
dade somente poderá efetuar-se de modo geral, no ter- 240. — De algum modo, póãe-se conceber a felici-
ceiro milênio. dade na Terra?
9
130 EMMANUEL
O CONSOLADOR 131

— Se todo espírito tem consigo uma noção da fe-


licidade, é sinal que ela existe e espera as almas em ou desenvolvendo os métodos da ingratidão e da
violencia.
alguma parte.
Tal como sonhada pelo homem do mundo, não pode Eis porque, em seu ambiente natural, toda a hisória
existir, por enquanto, na face do órbe, porque, em sua evangélica é sempre um poema de luz, de amor, de en-
generalidade, as criaturas humanas se encontram intoxi- cantamento e de alegria.
cadas e não sabem contemplar a grandeza das paisagens 243. — Todos os espíritos que passaram pela Terra
exteriores que as cercam no planeta. Contudo, importa tiveram as mesmas características evolutivas, no que se
observar que é no globo terrestre que a criatura edifica refere ao problema da dor?
as bases da sua ventura real, pelo trabalho e pelo sa- — Todas as entidades espirituais encarnadas no
crifício, a caminho das mais sublimes aquisições para órbe terrestre são espíritos que se resgatam ou apren-
o mundo divino de sua conciencia. dem nas experiencias humanas, após as quedas do pas-
241. — Onde o maior auxílio para nossa redenção sado, com exceção de Jesus Cristo, fundamento de toda
espiritual? a verdade neste mundo, cuja evolução se verificou, em
— No trabalho de nossa redenção individual ou linha reta para Deus, e em cujas mãos angélicas repousa
coletiva, a dor é sempre o elemento amigo e indispen- o governo espiritual do planeta, desde os seus pri-
sável. É a redenção de um espírito encarnado na Terra mórdios .
consiste no resgate de todas as suas dívidas, com a con- 244. — Existem lugares de penitencia no plano
sequente aquisição de valores morais passíveis de serem espiritual? E acaso poderá haver sofrimento eterno para
conquistados nas lutas planetárias, situação essa que os espíritos inveterados no erro e na rebeldia?
eleva a personalidade espiritual a novos e mais sublimes — Considerando a penitencia em sua feição expia-
horizontes na vida do Infinito. tória, existem numerosos lugares de provações na esfera
' 242. — Por que o Evangelho não nos fala das ale- para vós invisível, destinados á regeneração e preparo
grias da vida humana? de entidade perversas ou renitentes no crime, afim-de
— O Evangelho não podia trazer os cenários do riso conhecerem as primeiras manifestações do remorso e do
mascarado do mundo, mas a verdade é que todas as li- arrependimento, etapes iniciais da obra de redenção.
ções do Mestre Divino foram efetuadas nas paisagens da 'Quanto á idéia do sofrimento eterno, se houvesse
mais perfeita alegria espiritual. espíritos eternamente inveterados no crime, haveria para
Sua primeira revelação foi nas bodas de Caná, en- eles um sofrimento continuado, como o seu próprio erro;
tre os júbilos sagrados da família. Seus ensinamentos, o Pastor, porém, não quer se perca uma só de suas ove-
á margem das águas do Tiberiades desdobraram-se entre lhas e, dia virá em que a conciencia mais denegrida
criaturas simples e alegres, fortalecidas na fé e no. tra- experimentará, no íntimo, a luz radiosa da alvorada do
balho sadio. seu amor.
Em Jerusalém, contudo, junto das hipocrisias do 245. — Se é justo esperarmos no decurso do nosso
Tempo, ou em face dos seus algozes empedernidos, o roteiro de provações na Terra, por determinadas dores,
Mestre Divino não poderia sorrir, alentando a mentira devemos sempre cultivar a prece?
132 EMMANUEL O CONSOLADOR 133

— A lei das provas é uma das maiores instituições sabilidade, dentro das suas possibilidades.de ação; po-
universais para.a distribuição dos benefícios divinos. rém, são raros os que praticam seus legítimos deveres
Precisais compreender isso, aceitando todas as do- morais, aumentando os seus direitos divinos no patri-
res com nobreza de sentimento. mônio universal.
A prece não poderá afastar os dissabores e as lições Colocada por Deus no caminho da vida, como dis-
proveitosas da amargura, constantes do mapa de servi- cípulo que termina os estudos básicos, a alma nem sem-
ços que cada espírito deve prestar na sua tarefa ter- pre sabe agir em correlação com os bens recebidos do
rena, mas deve ser cultivada no íntimo, como a luz que Criador, caindo pelo orgulho e pela vaidade, pela am-
se acende para o caminho tenebroso, ou mantida no bição ou pelo egoísmo, quebrando a harmonia divina
coração como o alimento indispensável que se prepara pela primeira vez e penetrando em experiências peno-
de modo a satisfazer a necessidade própria, na jornada, sas, afim-de restabelecer o equilíbrio de sua existência.
longa e difícil, porquanto, a oração sincera estabelece 249. — A queda do espírito somente se verifica
a vigilancia e constitue o maior fator de resistencia mo- na Terra?
ral, no centro das provações mais escabrosas e mais — A Terra é um plano de vida e de evolução
rudes. como outro qualquer, e nas esferas mais variadas, a
alma pode cair, em sua rota evolutiva, porquanto, pre-
PROVAÇÃO cisamos compreender que a sede de todos os sentimen-
tos bons ou maus, superiores ou indignos, reside no
246. —• Qual a diferença entre provação e ex- âmago do espírito imperecível e não na carne que se
piação? apodrecerá com o tempo.
-— A provação é a luta que ensina o discípulo 250. — Como se processa a provação coletiva?
rebelde e preguiçoso a estrada do trabalho e da edifi- — Na provação coletiva verifica-se a convocação
cação espiritual. A expiação é a pena imposta ao mal- dos espíritos encarnados, participantes do mesmo débito,
feitor que comete um crime. com referencia ao passado delituoso e obscuro.
247. — A íei da prova e da expiação é inflexível? O mecanismo da justiça, na lei das compensações,
— Os tribunais da justiça humana, apesar de im- funciona então espontaneamente, através dos prepostos
perfeitos, por vezes, não comutam as penas e não bene- do Cristo, que convocam os comparsas na dívida do pre-
ficiam os delinquentes com o "sursis"? térito para os resgates em comum, razão pela qual, mui-
A inflexibilidade e a dureza não existem para a. tas vezes, intitulais "doloroso acaso" as circunstancias
misericordia divina, que, conforme a conduta do espí- que reúnem as criaturas mais díspares no mesmo aci-
rito encarnado, pode dispensar na lei. em benefício do dente, que lhes ocasiona a morte do corpo físico ou as
homem, quando a sua existencia já demonstre certas mais variadas mutilações, no quadro dos seus compro-
expressões do amor que cobre a multidão dos pecados. missos individuais.
248. — Como se verifica a queda do espírito? 251. —• A incredulidade é uma provação?
— Conquistada a conciencia e os valores racio- O ateísmo ou a incredulidade absoluta não existem,
nais, todos os espíritos são investidos de uma respon- a não ser no jogo de palavras dos cérebros desespera-
134 EMMANUEL 135
O CONSOLADOR

dos, nas teorias do mundo, porque, no íntimo, todos os a necessidade de vigilancia, sem que possamos, de modo
espíritos se identificam com a idéia de Deus e da sobre- algum, imputar a Deus o fracasso de suas esperanças,
vivência do sêr, que lhes é inata. Essa idéia superior porque a Providencia Divina concede a todos os seres
pairará acima de todos os negativismos e sairá vitoriosa as mesmas oportunidades de trabalho e de habilitação.
de todos os decretos de força que se organizem nos Esta-
dos humanos, porque constitue a luz da vida e a mais VIRTUDE
preciosa esperança das almas.
252. — 8óm,ente se recebe a ofensa a que se fez 253. — A virtude é concessão de Deus, ou é aqui-
jús no cumprimento das provas? E considerando a in- sição da criatura?
tensidade dessa ou daquela provação, poderá alguém se — A dor, a luta e a experiencia constituem uma
reencarnar fadado ao suicídio e ao crime? oportunidade sagrada concedida por Deus ás suas cria-
— Receberemos a dor de acordo com as necessi- turas, „em todos os tempos; todavia, a virtude é sempre
dades próprias, com vistas ao resgate do passado e á uma sublime e imorredoura aquisição do espírito nas
situação espiritual do futuro. estradas da vida, eneorporada eternamente aos seus va-
No capítulo da ofensa, quando a recebemos de al- lores, conquistados pelo trabalho no esforço próprio.
guém que se encontra dentro do nosso nivel de com- 254. —• Que ê a paciencia e como adquiri-la?
preensão e do plano evolutivo, é certo que se trata de — A verdadeira paciencia é sempre uma exteriori-
provação bem amarga, indispensável ao nosso processo zação da alma que realizou muito amor em si própria,
de regeneração própria. para dá-lo a outrem, na exemplificação.
Existem, porém, no mundo, as pedradas da igno-
Esse amor é a expressão fraternal que considera to-
rância e da má fé, partidas dos sentimentos inferiores,
das as criaturas como irmãs, em todas as circunstancias,
e convêm que o cristão esteja preparado e sereno, de.
sem desdenhar a energia para esclarecer a incompreen-
modo a não recebê-las com sensibilidade doentia, mas
são, quando isso se torne indispensável.
com o propósito de trabalho e esforço próprio, conhe-
cendo que as mesmas fazem parte do seu plano de vida É eom a iluminação espiritual do nosso íntimo que
temporária, onde veiu para se educar, colaborando ao adquirimos esses valores sagrados da tolerancia escla-
mesmo tempo na educação de seus semelhantes. recida. E, para que nos edifiquemos nessa claridade
Relativamente ao suicídio, a obra de Deus é a do divina, faz-se mister educar a vontade, curando enfermi-
amor e do bem, em todos os planos da vida, e devemos dades psíquicas seculares, que nos acompanham através
reconhecer que, se muitos espíritos se reencarnam com das vidas sucessivas, quais sejam as de abandonarmos o
a prova das tentações ao suicídio e ao crime, é porque esforço próprio, de adotarmos a indiferença e de nos
esses devem agir como alunos que, havendo perdido uma queixarmos das forças exteriores, quando o mal reside
prova em seu curso, voltam ao estudo da mesma no ano em nós mesmos.
seguinte, até obterem conhecimento e superioridade na Para levarmos a efeito uma edificação tão sublime,
matéria. Muitas almas efetuam a repetição de um mesmo necessitamos começar pela disciplina própria e pela con-
esforço e, por vezes, sucumbem na luta, sem perceberem tinencia dos nossos impulsos, considerando a liberdade
136 EMMANUEL, O CONSOLADOR 137

do mundo interior, de onde o homem deve dominar as Senhora de uma fortuna considerável e havendo
correntes da sua vida. construido numerosas obras tangíveis, de assistência so-
O adagio popular considera que " o hábito faz a cial, sente hoje que as suas edificações são apenas de
segunda natureza" e nós devemos aprender que a disci- pedra, porquanto, em seus estabelecimentos suntuosos o
plina antecede a espontaneidade, dentro da qual pôde homem contemporâneo experimenta os mais dolorosos
a alma atingir, mais facilmente, o desiderato da sua desenganos.
redenção. As obras da caridade material somente alcançam a
255. •— Devemos nós, os espiritistas, praticar so- sua feição divina quando colimam a espiritualização do
mente a caridade espiritual, ou também a material f homem, renovando-lhe os valores íntimos, porque, refor-
— A divisa fundamental da codificação kardeciana, mada a criatura humana em Jesus Cristo, teremos na
formulada no "fora da caridade não ha salvação" é bas- Terra uma sociedade transformada, onde o lar genui-
tante expressiva para que nos percamos em minuciosas namente cristão será naturalmente o asilo de todos os
considerações. que sofrem.
Todo serviço da caridade desinteressada é um Depreende-se, pois, que o serviço de cristianização
reforço divino nà obra da fraternidade humana e da sincera das conciencias constitue a edificação definitiva,
redenção universal. para a qual os espiritistas devem voltar os olhos, antes
Urge, contudo, que os espiritistas sinceros, esclareci- de tudo, entendendo a vastidão e a complexidade da
dos no Evangelho, procurem compreender a feição edu- obra educativa que lhes compete efetuar, junto de qual-
cativa dos postulados doutrinários, reconhecendo que o quer realização humana, nas lutas de cada dia, na ta-
trabalho imediato dos tempos modernos é o da ilumina- refa do amor e da verdade.
ção interior do homem, melhorando-se-lhe os valores do 256. — Como interpretar a esmola material?
coração e da conciencia. — No mecanismo de relações comuns, o pedido de
Dentro desses imperativos, é lícito encarecermos a uma providencia material tem o seu sentido e a sua
excelência dos planos educativos da evangelização, de utilidade oportuna, como resultando da lei de equilíbrio
modo a formar uma mentalidade espírito-cristã, com que preside o movimento das trocas no organismo da
vistas ao porvir. vida.
Não podemos desprezar a caridade material que faz A esmola material, porém, é índice da ausencia de
do espiritismo evangélico um pouso de consolação para espiritualização nas características sociais que a fo-
todos os infortunados da sorte; mas não podemos esque- mentam .
cer que as expressões religiosas sectárias também orga- Ninguém, de certo, poderá reprovar o ato de pedir
nizaram as edificações materiais para a caridade no e, muito menos, deixará de louvar a iniciativa de quem
mundo, sem olvidar os templos, asilos, orfanatos e mo- dá a esmola material; todavia, é oportuno considerar
numentos. Todavia, quasi todas as suas obras se desvir- que, á medida que o homem se cristianiza, iluminando
tuaram, em vista do esquecimento da iluminação dos as suas energias interiores, mais se afasta da condição
espíritos encarnados. de pedinte para alcançar a condição elevada do mérito,
A igreja romana é um exemplo típico. pelas expressões sadias do seu trabalho.
138 EMMANUEL O CONSOLADOR 138

Quem se esforça nos bastidores da conciencia reti- — A palavra de Jesus, em todas as circunstancias
linea, dignifica-se e enriquece o quadro de seus valores foi tocada de uma luz oculta, apresentando reflexos pris-
individuais. máticos, em todos os tempos, para a alma humana, na
E o cristão sincero, depois de conquistar os elemen- sua ascenção para a sabedoria e para o amor.
tos da educação evangélica, não necessita materializar a Antes de tudo, busquemos justar o conceito a nós
idéia da rogativa da esmola material, compreendendo próprios.
que, esperando ou sofrendo, agindo ou lutando, nos Se possuímos a verdadeira caridade espiritual, se
esforços da ação e do bem ha de receber, sempre, de trabalhamos pela nossa iluminação' íntima, irradiando
acordo com as suas obras, de conformidade com a pro- luz, espontaneamente, para o caminho dos nossos irmãos
messa do Cristo. em luta e aprendizado, mais receberemos das fontes pu-
257. — A esperança e a fé devem ser interpreta- ras dos planos espirituais mais elevados, porque, depois
das como uma virtude sóf de valorizarmos a oportunidade recebida, horizontes in-
— A esperança é a filha dileta da f é . Ambas estão, finitos se abrirão no campo ilimitado do Universo, para
uma para outra, como a luz reflexa dos planetas está as nossas almas, o que não poderá aconteeer aos que
para a luz central e positiva do sol. lançaram mão do sagrado ensejo de iluminação própria
A esperança é como o luar que se eonstitue dos nas estradas da vida, com a mais evidente despreocupa-
bálsamos da crença. A fé é a divina claridade da ção de seus legítimos deveres, esquecendo o caminho
certeza. melhor, trocado, então, pelas sensações efêmeras da
258. — No caminho da virtude, o pobre e o rico existência terrestre, contraindo novas dívidas e afas-
da Terra podem ser identificados como discípulos de tando de si mesmo as oportunidades para o futuro, en-
Jesus? tão mais difíceis e dolorosas. •v

— O título de discípulo é conferido pelo Divino


Mestre a todos os homens de boa vontade, sem distin-
ção de situações, de classes ou de qualquer expressão
seeetária.
Com responsabilidade dos bens materiais ou sem ela,
o homem é sempre rico pela sua posição de usufrutuário
das graças divinas e, além do mais, temos de ponderar
que, em toda situação a criatura encontrará responsa-
bilidade na existencia, razão pela qual os sinceros dis-
cípulos do Senhor são iguais aos seus olhos, sem pre-
ferencia de qualquer natureza.
259. — No que se refere â prática da caridade,
como interpretar o ensinamento de Jesus: "Àquele que
tem será concedido em abundancia e aquele que não
tem, até mesmo o que tiver lhe será tirado"?
O CONSOLADOR 141

com a sua misericórdia e sabedoria, desde a organização


primordial do planeta.
Visível ou oculto, o Verbo é o traço da luz divina
em todas as cousas e em todos os seres, nas mais va-
riadas condições do processo de aperfeiçoamento.
262. — Por que razão a palavra das profecias pa-
rece dirigida invariavelmente ao povo de Israel?
TERCEIRA PAKTE — Em todos os textos das profecias, Israel deve ser
considerado como o símbolo de toda a humanidade ter-
restre, sob a égide sacrossanta do Cristo.
RELIGIÃO 263. — Deve-se atribuir ao judaísmo uma missão
especial, em compararão com as demais idéias religiosas
do tempo antigo?
260. — Em face da ciencia e da filosofia, como
— Embora as elevadas concepções religiosas que
interpretar a religião nas atividades da vida?
floreceram na índia e todos os grandes ideais de co-
— Religião é o sentimento do Divino, cujas exte-
nhecimento da divindade, que povoaram a antiga Asia
riorizações são sempre o Amor, nas expressões mais su-
em todos os tempos, deve-se reconhecer no judaísmo a
blimes. Enquanto a ciencia e a filosofia operam o tra-
grande missão da revelação do Deus único.
balho da experimentação e do raciocinio, a religião e d i -
Enquanto os cultos religiosos se perdiam na divisão
fica e ilumina os sentimentos.
e na multiplicidade, somente o judaísmo foi bastante
As primeiras se irmanam na Sabedoria, a segunda
forte na energia e na unidade para cultivar o mono-
personifica o Amor, as duas asas divinas com que a alma
teísmo e estabelecer as bases da lei universalista, sob a
humana penetrará, um dia, nos pórticos sagrados da
luz da inspiração divina.
espiritualidade.
Por esse motivo, não obstante os compromissos e os
;
• ' ; l • ' " ' -111 débitos penosos que parecem perpetuar os seus sofri-
mentos, através das gerações e das pátrias humanas no
B Í B L I A doloroso curso dos séculos, o povo de Israel deve mere-
cer o respeito e o amor de todas as comunidades da
REVELAÇÃO Terra, porque, somente ele foi bastante grande e unido
para guardar a idéia verdadeira de Deus, através dos
261. — "No princípio era o Verbo..." — Como martírios da escravidão e do deserto.
deveremos entender esta afirmativa do texto sagrado? 264. — Como deve ser considerada, no espiritismo,
— O apóstolo João ainda nos adverte que " o Verbo a chamada "Santíssima Trindade", da teologia católica?
era Deus e estava com Deus". — Os textos primitivos da organização cristã não
Deus é amor e vida e a mais perfeita expressão do falam da concepção da igreja romana, quanto á chamada
Verbo para o órbe terrestre era e é Jesus, identificado "Santíssima Trindade".
142 EMMANTJEL O CONSOLADOR 143

Devemos esclarecer, ainda, que o ponto de vista espíritos da minha esfera tão obscuro, quanto o primeiro
católico provêm de subtilezas teológicas sem uma base momento da energia espiritual nos círculos da vida
séria nos ensinamentos de Jesus. universal.
Por largos anos, antes da Boa Nova, o bramanismo Compreendemos, contudo, que, sendo Deus o "Verbo
guardava a concepção de Deus, dividido em três prin- da Criação, o "nada" nunca existiu para o nosso con-
cípios essenciais, que os seus sacerdotes denominavam ceito de observação, porquanto o Verbo, para nós ou-
Brahma, Vichnú e Siva (*);. tros, é a luz de toda a Eternidade.
(*) O Padre Alta em o "Cristianismo do Cristo e o de 2 6 . . — Os dias da Criação, nas antigas referen-
seus vigários", nos diz que a fórmula do catecismo — 3 pessoas cias da Bíblia, correspondem a períodos inteiros da evo-
em Deus — era verdadeira em latim, onde o vocábulo "persona" lução geológica?
significa forma, aspecto, aparência. É falsa, porém, em francês
ou em português, com acepção de individuo. (Nota do editor). — Os dias da atividade do Criador, tal como nos
Contudo, a teologia que se organizava sobre os anti- refere o texto sagrado, correspondem aos largos períodos
gos princípios do politeísmo romano, necessitava apre- de evolução geológica, dentro dos milênios indispensá-
sentar um complexo de enunciados religiosos, de modo veis ao trabalho da gênese planetária, salientando-se que,
a confundir os espíritos mais simples, mesmo porque, com esses, a Bíblia encerra outros grandes símbolos ine-
sabemos que se a igreja foi, a princípio, depositária das rentes aos tempos imemoriais, das origens do planeta.
tradições cristãs, não tardou muito que o sacerdócio eli- 267. — Qual a posição da Bíblia no quadro de
minasse as mais belas expressões do profetismo, inhu- tratores da educação religiosa do homem?
mando o Evangelho sob um acervo de convenções reli- — No quadro de valores da educação religiosa das
giosas, e roubando ás revelações primitivas a sua feição criaturas, o Velho Testamento, apesar de suas expres-
de simplicidade e de amor. sões altamente simbólicas, poucas vezes acessíveis ao ra-
Para esse desideratum, as forças que vinham dispu- ciocínio comum, deve ser considerado como a pedra
tar o domínio do Estado, em face da invasão dos po- angular, ou como a fonte-mater da revelação divina.
vos considerados, bárbaros, se apressaram, no poder, em
transformar os ensinos de Jesus em instrumento da LEI
política administrativa, adulterando os princípios evan-
gélicos nos seus textos primitivos e assimilando velhas 268. — Os dez mandamentos recebidos por Moisés
doutrinas como as da índia legendária, e organizando no Sinai, base de toda justiça até hoje, no mundo, fo-
novidades teológicas, com as quais o catolicismo se redu- ram alterados pelas seitas religiosas?
ziu á uma força respeitável mas puramente humana, — As seitas religiosas, de todos os tempos, pela
distante do Reino de Jesus, que, na afirmação do Mes- influenciação de seus sacerdotes, procuraram modificar
tre, simples e profunda, não tem ainda fundamentos os textos sagrados; todavia, apesar das alterações tran-
divinos na face da Terra. sitórias, os dez mandamentos transmitidos á Terra por
intermédio de Moisés, voltam sempre a ressurgir na sua
265. — Como interpretar a antiga sentença —
pureza primitiva, como base de todo o direito no mundo,
"Deus fez o mundo do nada"?
sustentáculo de todos os códigos da justiça terrestre.
— O primeiro instante da matéria está para os
144 EMMANUEL O CONSOLADOR 145

269. — Como entender a palavra da Bíblia quan- insuperável do Amor. O Espiritismo em sua feição de
do nos diz que Deus falou a Moisés no Sinai? cristianismo redivivo traz consigo a -sublime tarefa da
— Estais atualmente em condições de compreender Verdade. No centro das três revelações encontra-se
que Moisés trazia consigo as mais elevadas faculdades Jesus Cristo, como o fundamento de toda luz e de toda
mediúnicas, apesar de suas características de legislador sabedoria. E que, com o Amor, a Lei manifestou-se
humano. na Terra com o seu esplendor máximo. A Justiça e
É inconcebível que o grande missionário dos judeus a Verdade nada mais são que os instrumentos divinos
e da humanidade pudesse ouvir o Espírito de Deus. de sua exteriorização, com aquele Cordeiro de Deus,
Estais, porém, habilitados a compreender agora, que a alma da redenção de toda humanidade. A primeira
Lei ou a base da Lei nos dez mandamentos, foi-lhe di- lhe aplainou os caminhos, a segunda esclarece os seus
tada pelos emissários de Jesus, porquanto, todos os mo- divinos ensinamentos. Eis porque, com o Espiritismo
vimentos de evolução material e espiritual do orbe se simbolizando a Terceira Revelação da Lei, o homem
processaram, como até hoje se processam, sob o seu terreno se prepara, aguardando as sublimadas realiza-
augusto e misericordioso patrocínio. ções do seu futuro espiritual nos milênios porvindouros.
270. — Apesar de suas expressões tão humanas, 272. — Qual a significação da lei de Talião "olho
Moisés veiu ao mundo como missionário divino? por olho, dente por dente", em face da necessidade da
— Examinando os seus atos enérgicos de homem, redenção de todos os espíritos pelas reencarnações su-
ha que considerar as características da época em que cessivas?
se verificou a grande tarefa do missionário hebreu, legí-
— A lei de Talião prevalece para todos os espíritos
timo emissário do plano superior, para entregar ao que não edificaram ainda o santuário do amor nos co-
mundo terrestre a grande e sublime mensagem da pri- rações, e que representam a quasi totalidade dos seres
meira revelação. humanos'.
Com expressões diversas, o grande enviado não po-
Presos, ainda, aos milênios do pretérito, não cogi-
deria dar conta exata de suas preciosas obrigações, em
taram de aceitar e aplicar o Evangelho a si próprios,
face da humanidade ignorante e materialista.
permanecendo encarcerados em círculos viciosos de do-
271. — Moisés transmitiu ao mundo a lei defi-
lorosas reencarnações expiatórias e purificadoras.
nitiva?
— O profeta de Israel deu á Terra as bases da Lei Moisés proclamou a Lei antiga vinte séculos antes
do Senhor. Como já foi dito, o profeta hebraico apre-
divina e imutável, mas não toda Lei integral e de-
sentava a Revelação com a face divina da justiça; mas,
finitiva .
com Jesus o homem do mundo recebeu o código perfeito
Aliás, somos obrigados a reconhecer que os homens
do Amor. Se Moisés ensinava o "olho por olho, dente
receberão sempre as revelações divinas de conformi-
por dente", Jesus Cristo esclarecia que " o amor cobre
dade com a sua posição evolutiva.
a multidão dos pecados".
Até agora, a Humanidade recebeu a grande reve-
lação em três aspectos essenciais. Moisés trouxe a Daí a verdade de que as criaturas humanas se redi-
missão da Justiça. O Evangelho trouxe a revelação mirão pelo amor e se elevarão a Deus por ele, anulando
10
146 EMMANUEL O CONSOLADOR 147

com o bem todas as forças que lhes possam encarcerar 276. — A previsão e a predição, nos livros sagra-
o coração nos sofrimentos do mundo. dos, dão a entender que os profetas eram diretamente
273. — Qual é verdadeiramente o segundo manda- inspirados pelo Cristo?
mento? — "Não farás imagens esculpidas das cousas — Nos textos sagrados das fontes divinas do cris-
que estão nos céus, etc", segundo alguns textos, ou tianismo, as previsões e predições se efetuaram sob a
"Não tomar o seu santo nome em vão", conforme o en- ação direta do Senhor, pois só Ele poderia conhecer
sinamento da igreja católica de Roma? bastante os corações, as fraquezas e as necessidades dos
— A segunda fórmula foi uma tentativa de con- seus rebeldes tutelados para sondar, com precisão, as
fusão dos textos primitivos, levada a efeito pela igreja estradas do futuro, sob a misericórdia e a sabedoria
romana, afim-de que o seu sacerdócio encontrasse campo de Deus.
livre para desenvolvimento das heranças do paganismo, 277. — Os espíritos elevados, como os profetas
no que se refere ás pomposas demonstrações do culto antigos, devem ser considerados como anjos, ou como
externo. espíritos eleitos?
274. — Qual a intenção de Moisés no Deuteronó- — Como missionários do Senhor, junto á esfera de
mio, recomendando "que ninguém interrogasse os mor- atividade propriamente material, os profetas antigos
tos para saber a verdade"? eram também dos "chamados" á luminosa semeadura.
— Antes de tudo, faz-se preciso considerar que a Para a nossa compreensão, a palavra " a n j o " deve
afirmativa tem sido objeto injusto de largas discussões designar somente as entidades que já se elevaram ao
por parte dos adversários da nova revelação que o espi- plano superior, plenamente redimidas, onde são "esco-
ritismo trouxe aos homens, na sua feição de Consolador. lhidos" na tarefa sagrada d'Aquele cujas palavras não
As expressões sectárias, todavia, devem considerar passarão. O Eleito, porém, é aquele que se elevou para
que a época de Moisés não comportava as indagações do Deus em linha reta, sem as quedas que nos são comuns,
Invisivel, porquanto o comércio com os desencarnados sendo justo afirmar que o órbe terrestre só viu um
se faria com um material humano excessivamente gros- eleito, que é Jesus Cristo.
seiro e inferior. Á compreensão do homem, todavia, em se tratando
de angelitude, generalizou a definição, extenclendo-a a
PROFETAS todas as almas virtuosas e boas, nos bastidores da sua
literatura.
275. — Os cinco livros maiores da Bíblia encer- 278. — Devemos considerar como profetas somente
ram símbolos especiais para a educação religiosa do aqueles a que se referem as páginas da Bíblia?
homem? — Além dos ensinamentos legados por um Elias ou
— Todos os documentos religiosos da Bíblia se um Jeremias, temos de convir que numerosos missioná-
identificam entre si, no todo da primeira revelação com rios do plano superior precederam a vinda do Cristo,
Moisés, de modo a despertar no hoinen as verdadeiras distribuindo no mundo o pão espiritual de suas verda-
noções do seu dever para com os semelhantes e para des eternas.
com Deus. . Um Çakia-Muni, um Confúcio, um Sócrates, foram
148 EMMANUEL
O CONSOLADOR 149
igualmente profetas do Senhor, na gloriosa preparação
dos seus caminhos. Se desenvolveram ação distante do da filosofia, da literatura e das artes, • levantando-vos o
ambiente e dos costumes israelitas, pautaram a missão pensamento abatido para as maravilhosas construções
no mesmo plano universalista, em que as tribus de Israel espirituais do porvir. Igualmente, é certo que os mis-
foram chamadas a trabalhar, mais particularmente, sionários novos não encontraram o deserto de figueiras
pelo progresso religioso do mundo. bravas, onde se nutriam apenas de gafanhotos e de mel
279. — Os profetas hebraicos representavam o pa- selvagem, mas ainda são obrigados a viver no deserto
pel de sacerdotes dos crentes da Lei? das cidades tumultuosas, cheio de corações indiferentes
— Em todos os tempos houve a mais funda dife- e incompreensíveis, cercados pela ingratidão e pela
rença entre o sacerdócio e o profetismo. zombaria dos contemporâneos, que, muitas vezes, os le-
Os antigos profetas de Israel nunca se caracteriza- vam ao pelourinho e ao sacrifício.
ram por qualquer expressão de servilismo ás convenções O amor de Jesus, todavia, é a seiva divina que lhes
sociais e aos interesses económicos, tão ao gosto do sa-
alimenta a fibra de trabalho e realização, e, sob as suas
cerdócio organizado, em todas as eras e em todos os
bênçãos generosas, as grandes almas solitárias atraves-
lugares.
sm o mundo, distribuindo a luz do Senhor pelas estra-
Extremamente dedicados ao esforço próprio, não
das sombrias.
viviam do altar de sua fé, mas do trabalho edificante,
281." — A leitura da Bíblia e do Evangelho, nos
fosse na indumentária dos escravos oprimidos, ou no
círculos familiares, como ê de hábito entre muitos povos
isolamento dos desertos que as suas aspirações religio-
sas sabiam povoar de um santo dinamismo construtivo. europeus, favorece a renovação dos fluidos salutares de
paz na intimidade do coração e do ambiente doméstico?
280. — Os profetas do Cristo têm voltado á esfera
material para trazer aos homens novas expressões de — Essa leitura é sempre util e quando não pro-
luz para o futuro da humanidade? duza a paz imediata, em vista da heterogeneidade de
— Em tempo algum as coletividades humanas dei- condições espirituais daqueles que a ouvem em conjunto,
xaram de receber a sublime cooperação dos enviados do constitue sempre uma proveitosa semeadura evangélica,
Senhor, na solução dos grandes problemas do porvir. extensiva ás entidades do plano invisível, que a assis-
Nem sempre a palavra da profecia poderá ser tra- tem, sendo lícito esperar mais tarde o seu florecimento
zida pelas mesmas individualidades espirituais dos tem- e frutificação.
pos idos; contudo, os profetas de Jesus, isto é, as pode-
II
rosas organizações espirituais dos planos superiores têm
estado convosco, incessantemente, impulsando-vos á evo- E V A N G E L H O
lução em todos os sentidos, multiplicando as vossas pos-
sibilidades de êxito nas experiências difíceis e doloro- JESUS
sas. É verdade que os novos enviados não precisarão
dizer o que já se encontra escrito, em matéria de reve- 282. — Se devemos considerar a Bíblia, como a
lações religiosas; todavia, agem nos sectores da cieneia, pedra angular da Revelação Divina, qual a posição do
Evangelho de Jesus na educação religiosa dos homens?
150 EMMANUEL O CONSOLADOR 151

— A Bíblia é o alicerce da Revelação Divina. genealogia". — Como interpretar essa afirmativa, em


O Evangelho é o edifício da redenção das almas. Como face da palavra de Mateus?
tal, devia ser procurada a lição de Jesus, não mais para —• Faz-se necessário entendermos a missão univer-
qualquer exposição teórica, mas visando cada discípulo salista do Evangelho de Jesus através da palavra de
o aperfeiçoamento de si mesmo, desdobrando as edifica- João, para compreender tal afirmativa, no tocante á
ções do Divino Mestre no terreno definitivo do Espírito. genealogia do Mestre Divino, cujas sagradas raizes
283. — Com referencia a Jesus, como interpretar repousam no infinito do amor e da sabedoria em Deus.
o sentido das palavras de João: —• "E o Verbo se fez 286. — O sacrifício de Jesus deve ser apreciado
carne e habitou entre nós, cheio de graça e verdade ?" tão somente pela dolorosa expressão do Calvário?
— Antes de tudo, precisamos compreender que Je- — O Calvário representou o coroamento da obra
sus não foi um filósofo e nem poderá ser classificado do Senhor, mas o sacrifício na sua exemplificação se
entre os valores propriamente humanos, tendo-se em verificou em todos os dias da sua passagem pelo pla-
conta os valores divinos de sua hierarquia espiritual, na neta. E o cristão deve buscar, antes de tudo, o modelo
direção das coletividades terrícolas. nos exemplos do Mestre, porque o Cristo ensinou com
Enviado de Deus, Ele foi a representação do Pai, amor e humildade o segredo da felicidade espiritual,
junto do rebanho de filhos transviados do seu amor e sendo imprescindível que todos os discípulos edifiquem
da sua sabedoria, e cuja tutela lhe foi confiada nas no íntimo essas virtudes, com as quais saberão remon-
ordenações sagradas da vida no Infinito. tar o calvário de suas dores, no momento 'oportuno.
Diretor angélico do orbe, seu coração não desde-
287. — Numerosos discípulos do • Evangelho consi-
nhou a permanência direta entre os tutelados míseros
deram que o sacrifício do Gólgota não teria sido com-
e ignorantes, dando ensejo ás palavras do apóstolo,
pleto sem o máximo de dor material para o Mestre
acima referidas.
Divino; como conceituar essa suposição em face da in-
284. — O apóstolo João recebeu uma missão dife-
tensidade do sofrimento moral que a cruz lhe terá
rente, na organização do Evangelho, considerando-se a
offerecião?
diversidade de suas exposições em confronto com as nar-
rações de seus companheiros? — A dor material é um fenómeno como o dos fogos
— Ainda aí, temos de considerar a especialização de artifício, em face dos legítimos valores espirituais.
das tarefas, no capítulo das obrigações conferidas a cada Homens do mundo, que morreram por uma idéia,
um. As peças das narrações evangélicas identificam-se muitas vezes não chegaram a experimentar a dor física,
naturalmente, entre si, como as partes indispensáveis sentindo apenas a amargura da incompreensão do seu
de um todo, mas somos compelidos a observar que, se ideal.
Mateus, Marcos e Lucas receberam a tarefa de apre- Imaginai, pois, o Cristo, que se sacrificou pela
sentar, nos textos sagrados, o Pastor de Israel na sua humanidade inteira e chegareis a eontempla-Lo na imen-
feição sublime, a João coube a tarefa de revelar o Cristo sidão da sua dor espiritual, augusta e indefinível para
Divino, na sua sagrada missão universalista. a nossa apreciação restrita e singela.
285. -— "Jesus Cristo é sem pai, sem mãe, sem De modo algum poderíamos fazer um estudo psieo-
152 EMMANUEL O CONSOLADOR 153

lógico de Jesus, estabelecendo dados comparativos entre árvores de misericórdia e de sabedoria para a huma-
o anjo e o homem. nidade.
Em sua exemplificação divina, faz-se mister consi- 291. — Como interpretar o Anti-Cristo?
derar, antes de tudo o seu amor, a sua humildade, a sua — Podemos simbolizar como Anti-Cristo o con-
renúncia pela humanidade inteira. junto das forças que operam contra o Evangelho, na
Examinados esses fatores, a dor material teria signi- Terra e nas esferas vizinhas do homem, mas, não de-
ficação especial para que a obra cristã ficasse consa- vemos figurar nesse Anti-Cristo um poder absoluto e
grada? A dor espiritual, grande demais para ser com- definitivo, que pudesse neutralizar a ação de Jesus, por-
preendida, não constituiu o ponto essencial da sua per- quanto, com uma tal suposição negaríamos a previdên-
feita renúncia pelos homens? cia e a bondade infinitas de Deus.
Nesse particular, contudo, as criaturas humanas RELIGIÕES
prosseguirão discutindo, como as crianças que somente
admitem as realidades da vida de um adulto, quando 292. — Em que sentido deveremos tomar o con-
se lhes fornece o conhecimento tomando para imagens ceito de religiões?
o cabedal imediato dos seus brinquedos. —: Religião, para todos os homens, deveria com-
288. — "Meu Pai e eu. somos Um". — Poderemos preender-se como sentimento Divino, que clarifica o ca-
receber mais algum esclarecimento sobre essa afirma- minho das almas e que cada espírito apreenderá na
tiva do Cristo? pauta do seu nivel evolutivo.
— A afirmativa evidenciava a sua perfeita iden- Neste sentido, a religião é sempre a face augusta
tidade com Deus na direção de todos os processos ati- e soberana da Verdade, porém, na inquietação que lhes
nentes á marcha evolutiva do planeta terrestre. caracteriza a existência na Terra, os homens se dividi-
29. — São muitos os espíritos em evolução na ram nas religiões numerosas, como se a fé também pu-
Tetra, ou nas esferas mais próximas, que já viram desse ter fronteiras, como as pátrias materiais, tantas
o Cristo, experimentando a glória da sua presença vezes mergulhadas no egoísmo e na ambição de seus
divina? filhos.
— Toda a comunidade dos espíritos encarnados na Dessa falsa interpretação têm nascido no mundo
Terra, ou localizados em suas esferas de labor espiritual as lutas anti-fraternais e as dissenções religiosas de to-
mais ligadas ao planeta, sentem a sagrada influencia do dos os tempos.
Cristo, através da assistência de seus prepostos; todavia, 293. — As religiões que surgiram no mundo, an-
muito poucos alcançaram a pureza indispensável para a tes do Cristo, tinham também por missão principal a
contemplação do Mestre no seu plano divino. preparação da mentalidade do mundo para a sua vinda?
290. — Poãer-se-á reconhecer nas parábolas de Je- — Todas as idéias religiosas que as criaturas Ira-
sus a expressão fenomênica das palavras, guardando a nianas traziam consigo do pretérito milenário, desti-
eterna vibração de seu sentimento nos ensinos? nam-se a preparar o homem para receber e aceitar o
. . . . — Sim. As parábolas do Evangelho são como as Cordeiro de Deus, com a sua mensagem de amor perene
sementes divinas que desabrochariam, mais tarde, em e reforma espiritual definitiva.
154 EMMANUEL O CONSOLADOR 155

O cristianismo é a síntese, em simplicidade e luz, também as crenças ou cultos a que se deverá submeter
de todos os sistemas religiosos mais antigos, expressões nas experiencias da vida?
fragmentárias das verdades sublimes trazidas ao mundo — Todos os espíritos, reencarnando no planeta, tra-
na palavra imorredoura de Jesus. zem consigo a idéia de Deus, identificando-se de modo
Os homens, contudo, não obstante todos os elemen- geral nesse sagrado princípio.
tos de preparação, continuaram divididos e, dentro das Os cultos terrestres, porém, são exteriorizações desse
suas características de rebeldia, procrastinaram a sua princípio divino, dentro do mundo convencional, de-
edificação nas lições renovadoras do Evangelho. preendendo-se daí que a Verdade é uma só, e que as
294. — Beconhecendo-se que várias seitas nasce- seitas terrestres são materiais de experiencia e de evo-
ram igualmente do cristianismo, devemos considera-las lução, dependendo a preferencia de cada um do estado
cristãs, ou simples expressões religiosas isoladas da ver- evolutivo em que se encontre no aprendizado da exis-
dade de Jesus? tencia humana, e salientando-se que a escolha está sem-
—• Todas as expressões religiosas nascidas do cris- pre de pleno acordo com o seu estado íntimo, seja na
tianismo, se identificam pela seiva de amor do tronco viciosa tendencia de repousar nas ilusões do culto ex-
que as congrega, apesar dos erros humanos de seus terno, ou pelo esforço sincero de evoluir, na pesquisa
expositores. incessante da edificação divina.
Os sacerdotes das castas mais diversas inventaram 297. —• Considerando que a convenção social con-
os manuais telógieos, os princípios dogmáticos e as fór- fere aos sacerdotes das seitas cristãs certas prerrogati-
mulas políticas; todavia, nenhum esforço humano con- vas na realização de determinados acontecimentos da
seguiu deslustrar a claridade divina do "amai-vos uns vida, como interpretar as palavras de Mateus — "Tudo
aos outros", base imortal de todos os ensinos de Jesus, o que ligardes na Terra será ligado no Céu — se os
cuja luminosa essência as identifica entre si, em todas sacerdotes, tantas vezes, não se mostram dignos de falar
as posições e tarefas especializadas que lhes foram no mundo em nome de Deus?
conferidas. — Faz-se indispensável observar que as palavras
295. — Se as seitas religiosas nascidas do cristia- do Cristo foram dirigidas aos apóstolos e que a missão
nismo têm uma tarefa especializada, qual será a das de seus companheiros não era restrita ao ambiente das
correntes protestantes, oriundas da. Reforma? tribus de Israel, tendo a sua divina continuação além
— A Reforma e os movimentos que se lhe seguiram das próprias atividades terrestres. Até hoje, os discí-
vieram ao mundo com a missão especial de exhumar a pulos diretos do Senhor têm a sua tarefa sagrada em
"letra" dos Evangelhos, enterrada até então nos ar- cooperação com o Mestre Divino, junto da humanidade,
quivos da intolerância clerical, nos seminários e nos con- — a Israel mística dos seus ensinamentos.
ventos, afim-de que, depois da sua tarefa, pudesse o Os méritos dos apóstolos, de modo algum poderiam
Consolador prometido, pela voz do espiritismo cristão, ser automaticamente transferidos aos sacerdotes degene-
ensinar aos homens o "espírito divino" de todas as li- rados pelos interesses políticos e financeiros de deter-
ções de Jesus. minados grupos terrestres, depreendendo-se daí que a
296. — O espírito, antes de se reencarnar, escolhe igreja romana, a que mais tem abusado desses conceitos,
O CONSOLADOR 157
156 EMMANUEL
espiritistas na consagração do casamento, sem ferir as
mais uma vez desviou o sentido sagrado da lição do convenções sociais, reflexas dos cultos religiosos?
Cristo. — Os cultos religiosos, em sua feição dogmática,
Importa, porém, lembrarmos neste particular, a são igualmente transitórios como todas as fórmulas do
promessa de Jesus de que estaria sempre entre aqueles convencionalismo humano.
que se reunissem sinceramente em seu nome. Que o espiritista sincero e cristão, assumindo os
seus compromissos conjugais, perante as leis dos homens,
Nessas circunstancias, os discípulos leais devem
busque honrar a sua promessa e a sua decisão, santifi-
manter-se em plano superior ao do convencionalismo
cando o casamento com o rigoroso desempenho de todos
terrestre, agindo com a própria conciencia e com a me-
os seus deveres evangélicos, ante os preceitos terrestres
lhor compreensão de responsabilidade, em todos os cli-
e ante a imutável lei divina, que vibra em sua concien-
mas, do inundo, porquanto, desse modo, desde que desen-
cia cristianizada.
volvam atuação no bem, pelo bem e para o bem, em
300. — Como interpretar a missa no culto externo
nome do Senhor, terão seus atos evangélicos tocados pela
da igreja católica?
luz sacrossanta das sanções divinas.
— Perante o coração sincero e fraternal dos cren-
298. — Considerando que gs religiões invocam o tes, a missa idealizada pela igreja de Roma deA e ser um
r

Evangelho de Mateus para justificar a necessidade do ato exterior, respeitável para nós outros, como qualquer
batismo em suas características cerimoniais, como de- cerimonia convencionalista do mundo, que exija a mú-
verá proceder o espiritista em face desse assunto? tua consideração social no mecanismo de relações super-
— Os espiritistas sinceros, na sagrada missão de ficiais da Terra.
paternidade, devem compreender que o batismo aludido A igreja de Roma pretende comemorar, com ela,
no Evangelho é o da invocação das bênçãos divinas o sacrifício do Mestre pela humanidade; todavia, a ceri-
para quantos a eles se reúnem no instituto santificado da monia se efetua de conformidade com a posição social
família. e financeira do crente.
Longe de quaisquer cerimonias de natureza reli- Ocorrem, dessa maneira, as missas mais variadas,
giosa, que possam significar tuna continuação dos feti- tais como a do " d o galo", " a nova", a "particular", a
chismos da igreja romana, que se aproveitou do símbolo "pontifical", a "das almas", a "seca", a "cantada",
evangélico para a chamada venda dos sacramentos, o a "chã", a "campal", e t c , adstritas a um prontuario
espiritista deve entender o batismo como o apelo do seu tão convencionalista e tão superficial, que é de admirar
coração ao Pai de Misericórdia, para que os seus esfor- a adaptação ao seu mistifório, por parte do sacerdote
ços sejam santificados no trabalho de conduzir as almas afeito á sinceridade e inteligente.
a ele confiadas no instituto familiar, compreendendo, 301. — As aparições e os chamados milagres rela-
além do mais, que esse ato de amor e de compromisso cionados na história da origem das igrejas são fatos de
divino deve ser continuado por toda a vida, na renúncia natureza mediúnica?
e no sacrifício, em faA^or da perfeita cristianização dos — Todos esses acontecimentos, classificados no do-
filhos, no apostolado do trabalho e da dedicação. minio do sobrenatural, foram fenómenos psíquicos sobre
299. — Qual o procedimento a ser adotado pelos
158 EMMANUEL O CONSOLADOR 159

os quais se edificaram as igrejas conhecidas, fatos esses ção do conhecimento interior, guardada no coração e
que o espiritismo veiu catalogar e esclarecer, na sua no raciocínio, essa significa o "pecado contra o Espírito
divina missão de Consolador. Santo", porque a alma humana estará, então, contra si
própria, tripudiando das suas divinas possibilidades.
ENSINAMENTOS É lógico, portanto, que esses erros são os mais gra-
ves da vida, porque consistem no desprezo dos homens
302. — Como compreender a afirmativa de Jesus pela expressão de Deus, que habita neles.
aos judeus: — "Sois deuses"? 304. — Qual o espírito destas letras: — "Não
— Em todo homem repousa a partícula da divin- cuideis que vim trazer paz á Terra; não vim trazer a
dade do Criador, com a qual pode a criatura terrestre paz, mas a espada"?
participar dos poderes sagrados da Criação. —• Todos os símbolos do Evangelho, dado o meio
O espírito encarnado ainda não ponderou devida- em que desabrocharam, são, quasi sempre, fortes e in-
mente o conjunto de possibilidades divinas guardadas cisivos .
em suas mãos, dons sagrados tantas vezes convertidos Jesus não vinha trazer ao mundo a palavra de con-
em elementos de ruina e destruição. temporização com as fraquezas do homem, mas a cen-
Entretanto, os poucos que sabem crescer na sua telha de luz para que a criatura humana se iluminasse
divindade pela exemplificação e pelo ensinamento, são para os planos divinos.
cognominados na Terra santos e heróis, por afirmarem E a lição sublime do Cristo, ainda e sempre, pôde
a sua condição espiritual, sendo justo que todas as cria- ser reconhecida como a "espada" renovadora, com a qual
turas procurem alcançar esses valores, desenvolvendo deve o homem lutar consigo mesmo, extirpando os ve-
para o bem e para a luz a sua natureza divina. lhos inimigos do seu coração, sempre capitaneados pela
303. — Qual o sentido do ensinamento evangélico: ignorancia e pela vaidade, pelo egoísmo e pelo orgulho.
"Todos os pecados ser-vos-ão perdoados, menos os que 305. — A afirmativa do Mestre: — "Porque eu
cometerdes contra o Espírito Santo?" vim pôr em dissenção o homem contra seu pai, a filha
—• A aquisição do conhecimento espiritual, com a contra sua mãe e a nora contra sua sogra" — como deve
perfeita noção de nossos deveres, desperta em nosso ser compreendida em espírito e verdade?
íntimo a centelha do espírito divino, que se encontra no — Ainda aquí, temos de considerar a feição antiga
âmago de todas as criaturas. do hebraico, com a sua maneira vigorosa de expressão.
Nesse instante, descerra-se á nossa visão profunda Seria absurdo admitir que o Senhor viesse estabe-
o santuário da luz de Deus, dentro de nós mesmos, con- lecer a perturbação no sagrado instituto da família
solidando e orientando as nossas mais legítimas noções humana, nas suas elevadas expressões afetivas, mas sim
de responsabilidade na vida. que os seus ensinamentos consoladores seriam o fermento
Enquanto o homem se desvia ou fraqueja, distante divino das opiniões, estabelecendo os movimentos natu-
dessa iluminação, seu erro justifica-se, de alguma sorte, rais das idéias renovadoras, fazendo luz no íntimo de
pela ignorância ou pela cegueira. Todavia, a falta co- cada um, pelo esforço próprio, para felicidade de todos
metida com a plena conciencia do dever, depois da ben- os corações.
160 EMMANUEL, O CONSOLADOR 161

306. — "E tudo o que pedirdes na oração, crendo, corações, que persistem em não ver a luz, fugindo á
o recebereis". — Esse preceito do Mestre tem aplica- verdade.
ção, igualmente, no que se refere aos bens materiais ? 309. — Em que sentido devemos interpretar as
— O "seja feita a vossa vontade", da oração co- sentenças de João: — "A quem pertence a esposa é o
mum, constitue nosso pedido geral a Deus, cuja Provi- esposo, mas o amigo do esposo, que com ele está e ouve,
dencia, através dos seus mensageiros, nos proverá o muito se regosija por ouvir a voz do esposo; pois este
espírito ou a condição de vida do mais util, conveniente gozo eu agora experimento; é preciso que ele cresça e
e necessário ao nosso progresso espiritual, para a sa- que eu diminua."
bedoria e para o amor. — O esposo da humanidade terrestre é Jesus Cris-
O que o homem não deve esquecer, em todos os sen- to, o mesmo Cordeiro de Deus que arranca as almas
tidos e circunstancias da sua vida, é a prece do tra- humanas dos caminhos escusos da impenitencia.
balho e da dedicação, no santuário da existência de lutas O amigo do esposo é o seu apóstolo, cuja expressão
purificadoras, porque Jesus abençoará as suas realiza- humana deveria desaparecer, para que Jesus resplan-
ções de esforço sincero. decesse para o mundo inteiro, no seu Evangelho de Ver-
307. — Por que disse Jesus que "o escândalo é dade e Vida.
necessário, mas ai daquele por quem o escândalo vier"? 310. — A transfiguração do Senhor é também um
— Num plano de vida, onde quasi todos se encon- símbolo para a humanidade?
tram pelo escândalo que praticaram no pretérito, é justo — Todas as expressões do Evangelho possuem uma
que o mesmo "escândalo" seja necessário, como elemento significação divina e, no Tabôr, contemplamos a grande
de expiação, de prova ou de aprendizado, porque aos lição de que o homem deve viver a sua existência no
homens falta ainda aquele "amor que cobre a multidão mundo sabendo que pertence ao céu, por sua sagrada
dos pecados". origem, sendo indispensável, desse modo, que se des-
As palavras do ensinamento do Mestre ajustam-se, materialize, a todos os instantes, para que se desen-
portanto,. de maneira perfeita, á situação dos encarna- volva em amor e sabedoria, na sagrada exteriorização
dos no mundo, lastimando-se os que não vigiam, por se da virtude celeste, cujos germes lhe dormitam no
tornarem desse modo instrumentos de tentação nas suas coração.
quedas constantes, através dos longos caminhos. 311. — Qual o sentido da afirmativa do texto sa-
308. — As palavras de João: — "A luz brilha nas grado, acerca de Jesus: — "Não tendo Deus querido
trevas e as trevas não a compreenderam", tiveram, apli- sacrifício, nem oblata, lhe formou um corpo"?
cação sãmente quando da exemplificação do Cristo, ha — Para Deus, o mundo não mais deveria persistir
dois mil anos, ou essa aplicação é extensiva á nossa era? no velho costume de sacrificar nos altares materiais, em
seu nome, razão pela qual, enviou aos homens a palavra
— As palavras do apóstolo referiam-se á sua época;
do Cristo, afim de que a humanidade aprendesse a sa-
todavia, o simbolismo evangélico do seu" enunciado ex-
crificar no altar do coração, na ascenção divina dos
tende-se aos tempos modernos, nos quais a lição do Se-
sentimentos para o seu amor.
nhor permanece incompreendida para a maioria dos
312. — Como interpretar a afirmativa de João:
11
162 EMMANUEL O CONSOLADOR 163

....— "Três são os que fornecem testemunho no céu, lar-se o escravo pelo amor da humanidade, á qual vi-
o Pai, o Verbo e o Espírito Santo"? nha trazer a luz da vida, na abnegação e no sacrifício
— João referia-se ao Criador, a Jesus, que consti- supremo.
tuía para a Terra a sua mais perfeita personificação, e 316. — Aceitando Jesus o auxílio de Simão Ciri-
á legião dos espíritos redimidos e santificados que co- neu, desejava deixar um novo ensinamento ás criaturas?
operam com o Divino Mestre, desde os primeiros dias
da organização terrestre, sob a misericórdia de Deus. — Essa passagem evangélica encerra o ensinamento
do Cristo concernente á necessidade de cooperação fra-
313. — Como entender a bem-aventurança confe- ternal entre os homens, em todos os trâmites da vida.
rida por Jesus aos "pobres de espírito"?
317. — A ressurreição de Lázaro, operada pelo
— O ensinamento do Divino Mestre refei-ia-se ás Mestre, tem um sentido oculto, como lição á huma-
almas simples e singelas, despidas do "espírito de ambi- nidade?
ção e de egoísmo", que costumam triunfar nas lutas do
— O episódio de Lázaro era um selo divino, iden-
mundo.
tificando a passagem do Senhor, mas também foi o sím-
Não costumais até hoje, denominar os vitoriosos do bolo sagrado da ação do Cristo sobre o homem, teste-
século, nas questões puramente materiais, de "homens munhando que o seu amor arrancava a humanidade do
de espírito"? É por essa razão que, em se dirigindo á seu sepulcro de misérias, humanidade pela qual tem o
massa popular, aludia o Senhor aos corações despreten- Senhor dado o sacrifcio de suas lágrimas, resusci-
ciosos e humildes, aptos a lhe seguirem os ensinamentos, tando-a para o sói da vida eterna, nas sagradas lições
sem determinadas preocupações rasteiras da existência do seu Evangelho de amor e de redenção.
material. 318. — Poderemos receber um ensinamento sobre-
314. — Qual a maior lição que a humanidade rece- a eucaristia, dado o costume tradicional da igreja ro-
beu do Mestre, ao lavar ele os pés dos seus discípulos? mana, que recorda a ceia dos discípulos com o vinho e
— Entregando-se a esse ato, queria o Divino Mes- a hóstia?
tre testemunhar ás criaturas humanas a suprema lição — A verdadeira eucaristia evangélica não é a do
da humildade, demonstrando, ainda uma vez, que, na pão e do vinho materiais, como pretende a igreja de
coletividade cristã, o maior para Deus seria sempre Roma, mas, a identificação legítima e total do discípulo
aquele que se fizesse o menor de todos. com Jesus, de cujo ensino de amor e sabedoria deve
haurir a essência profunda, para iluminação dos seus
315. — Por que razão Jesus, ao lavar os pês dos
sentimentos e do seu raciocínio, através de todos os ca-
discípulos, cingiu-se com uma toalha?
minhos da vida.
— O Cristo, que não desdenhou a energia frater- 319. — Quem terá recebido maior soma de mise-
nal na eliminação dos erros da criatura humana, afir- ricórdia na justiça divina: — Judas, o discípulo infiel
mando-se como o Filho de Deus nos divinos fundamen-
mas iludido e arrependido, ou o sacerdote maldoso e
tos da Verdade, quis proceder desse modo para reve-
indiferente, que o induziu â defecção?
O CONSOLADOR 165
164 EMMANUEL

III
— Quem ha recebido mais misericórdia, por mais
necessitado e indigente, é o máu sacerdote de todos os A M O R
tempos, que, longe de confundir a lição do Cristo uma
só vez, vem praticando a defecção espiritual para com UNIÃO
o Divino Mestre, de muitos séculos.
323. — Ha uma gradação do amor, no seio das
320. — Que ensinamentos nos oferece a negação de manifestações da natureza visível e invisível?
Pedro? — Sem dúvida, essa gradação existiu em todos os
— A negação de Pedro serve para significar a fra- tempos, como gradativa é a posição de todos os seres
gilidade das almas humanas, perdidas na invigilaneia na escala infinita do progresso.
e na despreocupação da realidade espiritual, deixando-se O amor é a lei própria da vida e, sob o seu domínio
conduzir, indiferentemente, aos torvelinhos mais tene- sagrado todas as criaturas e todas as cousas se reúnem
brosos do sofrimento, sem cogitarem de um esforço legí- ao Criador, dentro do plano grandioso da unidade
timo e sincero, na definitiva edificação de si mesmas. universal.
Desde as manifestações mais humildes dos reinos
321. — Qual a edição dos Evangelhos que melhor
inferiores da natureza, observamos a exteriorização do
traduz a fonte original?
amor em sua feição divina. Na poeira cósmica, síntese
— A grafia original dos Evangelhos já representa, da vida, temos as atrações magnéticas profundas; nos
em si mesma, a própria tradução do ensino de Jesus, corpos simples, vemos as chamadas "precipitações" da
considerando-se que essa tarefa foi delegada aos seus química; nos reinos mineral e vegetal verificamos o pro-
apóstolos. blema das combinações indispensáveis. Nas expressões
. Sendo razoável estimarmos, em todas as circunstan- da vida animal, observamos o amor em tudo, em gra-
cias, os esforços sinceros, seja qual fôr o meio onde se dações infinitas, da violência á ternura, nas manifesta-
desdobram, apenas consideramos que, em todas as tra- ções do irracional.
duções dos ensinamentos do Mestre Divino torna-se No caminho dos homens é ainda o amor que pre-
imprescindível a separação da letra e do espírito. side a todas as atividades da existência em família e em
Podereis objetar que a letra deveria ser simples sociedade.
e clara. Reconhecida a sua luz divina em todos os ambien-
Convenhamos que sim, mas, importa observar que tes, observaremos a união dos seres como um ponto
os Evangelhos são o roteiro das almas e é com a visão sagrado de referencia dessa lei única que dirige o
espiritual que devem ser lidos. universo.
Constituindo a cátedra de Jesus, o discípulo que Das expressões de sexualidade, o amor caminha
deles se aproximar com a intenção sincera de aprender, para o super-sexualismo, marchando sempre para as su-
encontra, sob todos os símbolos da letra a palavra per- blimadas emoções da espiritualidade pura, pela renún-
suasiva e doce, simples e enérgica, da inspiração do seu cia e pelo trabalho santificantes, até alcançar o amor
Mestre imortal.
166 EMMANUEL, O CONSOLADOR 167

divino, atributo dos seres angélicos, que se edificaram 325. — A atração das almas gêmeas ê traço ca-
para a união com Deus, na execução de seus sagrados racterístico de todos os planos de luta na Terra?
desígnios no universo. — O universo é o plano infinito, que o pensamento
323. — Será uma verdade a teoria das almas divino povoou de ilimitadas e intraduzíveis belezas.
gêmeas? Para todos nós, o primeiro instante da criação do
— No sagrado mistério da vida, cada coração pos- sêr está mergulhado num suave misterio, assim também
sue no Infinito a alma gêmea da sua, como divino com- 'como a atração profunda e inexplicável que arrasta uma
plemento da sua personalidade. alma para outra, no instituto dos trabalhos, das expe-
Criadas uma para a outra, as almas gêmeas se bus- riencias e das provas, no caminho infinito do tempo.
cam através da eternidade. A união perene é-lhes a A ligação das almas gêmeas repousa, para o nosso
aspiração suprema e indefinível. Milhares de seres conhecimento relativo, nos desígnios divinos, insondáveis
transviados no crime ou na inconciencia, experimentam na sua sagrada origem, constituindo a fonte vital do
a separação da alma que os integra, como a provação interesse das criaturas para as edificações da vida.
mais ríspida e dolorosa e, no drama das existências mais Separadas ou unidas, nas experiencias do mundo,
obscuras, vemos sempre a atração eterna das almas gê- as almas gêmeas caminham, ansiosas, pela união e pela
meas evoluindo uma para a outra, num turbilhão de harmonia supremas, até que se integrem, no plano espi-
ansiedades angustiosas, atração que é superior a toclas as ritual, onde se reúnem para sempre na mais sublime
expressões convencionais da vida terrestre. Quando se expressão de amor divino, finalidade profunda de todas
encontram, no acervo dos trabalhos humanos, sentem-se as cogitações do sêr, no dédalo do destino.
de posse da felicidade real para os seus corações — a 326. — A união das almas gêmeas pôde constituir
da ventura de sua união, pela qual não trocariam to- uma restrição ao amor universal?
dos os impérios do mundo, e a única amargura que lhes —O amor das almas gêmeas não pôde efetuar se-
empana a alegria é a perspectiva de uma nova sepa- melhante restrição, porquanto, atingida a culminância
ração pela morte, perspectiva essa que a luz da Nova evolutiva, todas as expressões afetivas se irmanam na
Revelação veiu dissipar, descerrando para todos os espí- conquista do amor divino.
ritos, amantes do bem e da verdade, os horizontes eter- 327. — Se todos os seres possuem a sua alma gê-
nos da vida. - mea, qual a alma gêmea de Jesus Cristo?
324. — Existe, nos textos sagrados, algum ele- •— Não julgamos acertado trazer a figura do Cristo
mento de comprovação para a teoria das almas gêmeas? para condiciona-la aos meios humanos, num paralelismo
— Somos dos primeiros a reconhecer que em todos injustificável, porquanto em Jesus temos de observar a
os textos necessitamos separar o espírito da letra; con- finalidade sagrada dos gloriosos destinos do espírito.
tudo, é justo lembrar que, nas primeiras páginas da NEle cessaram os processos, sendo indispensável
Bíblia, base da Revelação Divina, está registado: " e Deus reconhecer na sua luz as realizações que nos compete
considerou que o homem não devia ficar s ó " . (*) atingir.
Representando para nós outros a síntese do amor
(*) Veja-se a Nota final do volume. divino, somos compelidos a considerar que de sua cul-
168 EMMANUEL O CONSOLADOR 169

minancia espiritual, enlaçou no seu coração magnânimo, num interesse divino, opera as grandes abnegações do
com a mesma dedicação, a humanidade inteira, depois céu, que seguem os passos vacilantes do espírito encar-
de realizar o amor supremo. nado, através de sua peregrinação expiatória ou reden-
328. — Perante a teoria das almas gêmeas, como tora na face da Terra.
esclarecer a situação dos viúvos que procuram novas 330. — Somente pela prece a alma encarnada
uniões matrimoniais, alegando a felicidade encontrada pôde auxiliar um espírito bem amado que a antecedeu
no lar primitivo? na jornada do túmulo?
— Não devemos esquecer que a Terra ainda é uma —• A oração coopera eficazmente em favor do que
escola de lutas regeneradoras ou expiatórias, onde o ho- partiu, muitas vezes, com o espírito emaranhado na rede
mem pôde consorciar~se várias vezes, sem que a sua das ilusões da existência material. Todavia, o coração
união matrimonial se efetue com a alma gêmea da sua, amigo que ficou aí no mundo, pela vibração silenciosa
muitas vezes, distante da esfera material. e pelo desejo perseverante de ser util ao companheiro
A criatura transviada, até que se espiritualize para que o precedeu na sepultura, para os movimentos da
a compreensão desses laços stiblimes, está submetida, no vida real, nos momentos de repouso do corpo, em que
mapa de suas provações, a tais experiências, por vezes a alma evoluída pôde gozar de relativa liberdade, pôde
pesadas e dolorosas. encontrar o espírito sofredor ou errante do amigo de-
A situação de inquietude e subversão de valores na sencarnado, induzí-lo á verdade e ao dever, bem como
alma humana justifica essa provação terrestre, caracte- orientá-lo sobre a sua realidade nova, sem que a sua
rizada pela distancia dos espíritos amados, que se en- memoria corporal registe o acontecimento na vigília
contram num plano de compreensão superior, os quais, comum.
longe se desdenharem as boas experiências dos compa- Daí nasce a afirmativa de que somente o amor pôde
nheiros de seus afetos, buscam facultar-lhas com a má- atravessar o abismo da morte.
xima dedicação, de modo a facilitar-se o seu avanço 331. — Como devemos interpretar a sentença: —
direto ás mais elevadas conquistas espirituais. "Ha eunucos que se castraram a si mesmos, por causa
329. — Os espíritos evoluídos, pelo fato de deixa- do reino dos céus"?
rem algum ser amado na Terra, ficam ligados ao pla- — Almas existem que, por obterem as sagradas
neta pelos laços da saudade? realizações de Deus em si próprias, entregam-se a la-
— Os espíritos superiores não ficam propriamente bores de renúncia, em existências de santificada abne-
ligados ao orbe terreno, mas não perdem o interesse gação .
afetivo pelos seres amados que deixaram no mundo, Nesse mister, é comum abdicarem transitoriamente
pelos quais trabalham com ardor, impulsionando-os na das ligações humanas, de modo a acrisolarem os seus afe-
estrada das lutas redentoras, em busca das culminancias tos e sentimentos em vidas de ascetismo e de longas dis-
da perfeição. ciplinas materiais.
A saudade, nessas almas santificadas e puras, é Quasi sempre, os que na Terra se fazem eunucos
muito mais sublime e mais forte, por nascer de uma para os reinos do céu, agem de acordo com os dispositivos
sensibilidade superior, salientando-se que, convertida sagrados de missões redentoras, nas quais, pelo sacri-
170 EMMANUEL O CONSOLADOR 171

fíeio e pela dedicação, se redimem entes amados on a A concessão paternal de Deus, no que se refere á
alma gémea da sua,. exilados nos caminhos expiatórios. reencarnação, para a sagrada oportunidade de uma nova
Numerosos espíritos recebem de Jesus a permissão para experiência, já significa, em si, o perdão ou a magna-
esse gênero de esforços santificantes, porquanto, nessa nimidade da Lei. Todavia, essa oportunidade só é con-
tarefa, os que se fazem eunucos pelos reinos do céu pre- cedida quando o espírito deseja regenerar-se e renovar
cipitam os processos de redenção do sêr ou dos seres seus valores íntimos pelo esforço nos trabalhos santi-
amados, submersos nas provas e, simultaneamente, pela ficantes .
sua condição de evolvidos, podem ser mais facilmente Eis porque a boa vontade de cada um é sempre o
transformados, na Terra, em instrumentos da verdade e arrependimento que a Providencia Divina aproveita em
do bem, redundando o seu trabalho em benefícios ines- favor do aperfeiçoamento individual e coletivo, na
timáveis para os entes queridos, para a coletividade e marcha dos seres para as culminancias da evolução
para si próprios. espiritual.
334. — Antes de perdoarmos a alguém, ê conve-
PERDÃO niente o esclarecimento do erro?
— Quem peKloa sinceramente, fá-lo sem condições
332. — Perdoar e não perdoar significa absolver e e olvida a falta no mais íntimo do coração; todavia, a
condenar? boa palavra é sempre util e a ponderação fraterna é
— Nas mais expressivas lições de Jesus, não existem, sempre um elemento de luz, clarificando o caminho das
propriamente, as condenações implícitas ao sofrimento almas.
eterno, como quiseram os inventores de um inferno 335. — Quando alguém perdoa, deverá mostrar a
mitológico. superioridade de seus sentimentos para que o culpado
Os ensinos evangélicos referem-se ao perdão ou á seja induzido a arrepender-se da falta cometida?
ausência dele. — O perdão sincero é filho espontâneo do amor e,
Que se faz ao máu devedor a quem já se tolerou como tal, não exige reconhecimento de qualquer na-
muitas vezes? Não havendo mais solução para as dívidas tureza .
que se multiplicam, esse homem é obrigado a pagar. 336. — O culpado arrependido pôde receber da
É o que se verifica com as almas humanas, cujos justiça divina o direito de não passar por determinadas
débitos, no tribunal da justiça divina, são resgatados provas?
nas reencarnações, de cujo círculo vicioso poderão afas- — A oportunidade de resgatar a culpa já consti-
tar-se, cedo ou tarde, pelo esforço no trabalho e boa tue, em si mesma, um ato de misericórdia divina e daí
vontade no pagamento. o considerarmos o trabalho e o esforço próprio como
333. — Na lei divina, ha perdão sem arrependi- a luz maravilhosa da vida.
mento ? Estendendo, todavia, a questão á generalidade das
— A lei divina é uma só, isto é, a do amor que provas, devemos concluir ainda, com o ensinamento de
abranje todas as cousas e todas as criaturas do universo Jesus, que " o amor cobre a multidão dos pecados", tra-
ilimitado. çando a linha reta da vida para as criaturas e represen-
172 EMMANUEL
O CONSOLADOR 173

tando a única força que anula as exigências da Lei de


Talião, dentro do universo infinito. são, de modo que jamais as energias afetivas se conver-
337. — "Concilia-te depressa com o teu adversá- tam em forças destruidoras do coração.
rio". — Essa é a palavra do Evangelho, mas se o 340. — Perdão e esquecimento devem significar a
adversário não estiver de acordo com o bom desejo de mesma cousa?
fraternidade, como efetuar semelhante conciliação? •—• Para a convenção do mundo, o perdão significa
— Cumpra cada qual o seu dever evangélico, bus- renunciar á vingança, sem que o ofendido precise olvi-
cando o adversário para a reconciliação precisa, olvi- dar plenamente a falta do seu irmão; todavia, para o
dando a ofensa recebida. Perseverando a atitude ran- espírito evangelizado, perdão e esquecimento devem ca-
corosa daquele, seja a questão esquecida pela fraterni- minhar juntos, embora prevaleça para todos os instan-
dade sincera, porque o propósito de represália, em si tes da existencia a necessidade de oração e vigilancia.
mesmo, já constitue uma chaga viva para quantos o Aliás, a própria lei da reencarnação nos ensina que
conservam no coração. só o esquecimento do passado pôde preparar a alvorada
338. — Por que teria Jesus aconselhado perdoar da redenção.
"setenta vezes sete vezes"? 341. •—• Os espíritos de nossa convivencia na Terra,
— A Terra é um plano de experiências e resgates que partem para o Além sem experimentar a luz do
por vezes bastante penosos, e aquele que se sinta ofen- perdão, podem sofrer com as nossas opiniões acusato-
dido por alguém, não deve esquecer que ele próprio rias, relativamente aos atos de sua vida?
pôde também errar setenta vezes sete. — A entidade desencarnada muito sofre com o juizo
339. — Em se falando de perdão, poderemos ser ingrato ou precipitado que, a seu respeito, se formula
esclarecidos quanto á natureza do oãio? no mundo.
— O odio pôde traduzir-se nas chamadas aversões Imaginai-vos recebendo o julgamento de um irmão
instintivas, dentro das quais ha muito de animalidade, de humanidade e avaliai como desejaríeis a lembrança
que cada homem alijará de si, com os valores da auto- daquilo que possuís de bom, afim-de que o mal não pre-
educação, afim-dè que o seu entendimento seja elevado valeça em vossa estrada, sufocando-vos as melhores espe-
á uma condição superior. ranças de regeneração.
Todavia, na maior parte das vezes, o odio é o germe Em lembrando aquele que vos precedeu no túmulo,
do amor que foi sufocado e desvirtuado por um coração tende compaixão dos que erraram e sede fraternos.
sem Evangelho. As grandes expressões afetivas conver- Rememorar o bem é dar vida á felicidade. Esquecer
tidas nas paixões desorientadas, sem uma compreensão o erro é exterminar o mal. Além de tudo, não devemos
legítima do amor sublime, incendeiam-se no íntimo, por esquecer que seremos julgados pela mesma medida com
vezes, no instante das tempestades morais da vida, dei- que julgarmos.
xando atrás de si as expressões amargas do odio, como FRATERNIDADE
carvões que enegrecem a alma.
S6 a evangelização do homem espiritual poderá 349. — A resposta de Jesus aos seus ãiscíptdos —
conduzir as criaturas a um plano superior de eompreen- "Quem é minha mãe e quem são os meus irmãos", é um
incitamento á edificação da fraternidade universal?
O CONSOLADOR 175
174 EMMANUEL

Quanto aos processos de esclarecimento, devem eles


— O Senhor referia-se á precariedade dos laços do
dispensar, em qualquer tempo e situação, o concurso da
sangue, estabelecendo a fórmula do amor que não deve
força física, sendo justo que demonstrem as nuanças
estar circunscrita ao ambiente particular, mas ligada ao
de energia, requeridas pelas circunstancias, variando,
ambiente universal, em cujas estradas deveremos ob-
desse modo, de conformidade com os acontecimentos è
servar e ajudar, fraternalmente, a todos os necessitados,
com fundamento invariável no bem geral.
desde os aparentemente mais felizes, aos mais desvalidos
da sorte. 345. — O preceito evangélico "se alguém te bater
numa face, apresenta-lhe a outra", deve ser observado
343. — Nas leis da fraternidade, como reconhecer,
pelo cristão, mesmo quando seja vítima de agressão cor-
na Terra, o espírito em missão?
poral não provocada?
— Precisamos considerar que o espírito em missão
— O homem terrestre, com as suas taras seculares,
experimenta, igualmente, as suas provas no trabalho a
tem inventado numerosos recursos humanos para justi-
realizar, com a diferença de permanecer menos acessível
ficar a chamada "legítima defesa", mas a realidade é
ao efeito dos sofrimentos humanos, pela condição de
que toda a defesa da criatura está em Deus.
superioridade espiritual.
Somos de parecer que, agindo o homem com a
Podereis, todavia, identificar a missão da alma pelos
chave da fraternidade cristã, póde-se extinguir o fer-
atos e palavras, na exemplificação e no ensino da tarefa
mento da agressão, com a luz do bem e da serenidade
que foi chamada a cumprir, porque um emissário de amor
moral.
deixa em todos os seus passos o luminoso selo do bem.
344. — O "amor ao próximo" deve ser levado até Acreditando, contudo, no fracasso de todas as ten-
mesmo á sujeição, ás ousadias e brutalidades das criatu- • tativas pacíficas, o cristão sincero, na sua feição indi-
ras menos educadas na lição evangélica, senão que o vidual, nunca deverá cair ao nível do agressor, sabendo
ofendido deve tolerá-las humildemente, sem o direito de estabelecer, em todas as circunstancias, a diferença en-
esclarecê-las, relativamente aos seus erros? tre os seus valores morais e os instintos animalizados
— O amor ao próximo inclue o esclarecimento fra- da violência física.
terno, a todo o tempo em que se faça util e necessário. 346. — Nas lutas da vida, como levar a fraterni-
A sujeição passiva ao atrevimento ou á grosseria pôde dade evangélica àqueles que mais estimamos, se, por
dilatar os processos da força e da agressividade; mas, em vezes, nosso esforço pôde ser mal interpretado, condu-
recebendo as suas manifestações, saiba o crente pulve- zindo-nos a situações mais penosas?
riza-las com o máximo de serenidade e bom senso, afim-de — De conformidade com os desígnios evangélicos,
que sejam exterminadas em sua fonte de origem, sem compete-nos esclarecer aos nossos semelhantes com amor
possibilidades de renovação. fraternal, em todas as circunstancias desagradáveis da
Esclarecer é também amar. existência, como desejaríamos ser assistidos, irmãmente,
Toda a questão reside em bem sabermos explicar, em situação idêntica a dos que se encontram sem tran-
sem expressões de personalismo prejudicial, ainda que quilidade; mas, se o atrito dos instintos animalizados
com a maior contribuição de energia, para que o erro prevalece naqueles a quem mais desejamos serenidade
ou o desvio do bem não prevaleçam. e paz, convêm deixar-lhes as energias, depois de nossos
176 O CONSOLADOR 177
EMMANUEL,

esforços supremos em trabalho de purificação, na vio- experimenta a dilatação de suas tendências profundas
lência que escolheram, até que possam experimentar a para o "mais alto". Nessa hora, a fraternidade con-
serenidade mental imprescindivel para se beneficiarem quista uma nova expressão no íntimo da criatura, afim-
com as manifestações afetuosas do amor e da verdade. de que o espírito possa alçar o grande vôo para os mais
347. — A Terra é escola de fraternidade, ou peni- gloriosos destinos.
tenciaria de regeneração? 349. — Fraternidade e igualdade podem, na Terra,
— A Terra deve ser considerada uma escola de merecer um conceito só?
fraternidade para o aperfeiçoamento e regeneração dos — Já observamos que o conceito igualitário abso-
espíritos encarnados. luto é impossível no mundo, dada a heterogeneidade das
As almas que aí se encontram em tarefas purifi- tendências, sentimentos e posições evolutivas no círculo
cadoras, muitas vezes colimam o resgate de dívidas da individualidade. A fraternidade, porém, é a lei da
assaz penosas. Daí o motivo da maioria encontrar um assistência mútua e da solidariedade comum, sem a qual
sabor amargo nos trabalhos do mundo, que se lhes afi- todo progresso, no planeta, seria praticamente impos-
gura rude pnitenciaria, cheia de gemidos e de aflições. sível .
A verdade incontestável é que os aspectos divinos 350. — Pode a fraternidade manifestar-se sem a
da natureza serão sempre magníficos e luminosos, po- abnegação?
rém, cada espírito os verá pelo prisma do seu coração; — Fraternidade pôde traduzir-se por cooperação
mas na dor como na alegria, no trabalho feliz, como na sincera e legítima, em todos os trabalhos da vida e, em
experiência escabrosa, todas as criaturas deverão con- toda a cooperação verdadeira, o personalismo não pôde
siderar a reencarnação um processo de sublime apren-
subsistir, salientando-se que quem coopera cede sempre
dizado fraternal, concedido por Deus aos seus filhos, no
alguma cousa de si mesmo, dando o testemunho de abne-
caminho do progresso e da redenção.
gação, sem a qual a fraternidade não se manifestaria
348. — Onde a causa da indiferença dos homens
no mundo, de modo algum..
pela fraternidade sincera, observando-se que ha geral-
351. — Como entender o "amor a nós mesmos",
mente em todos grande entusiasmo pela hegemonia ma-
segundo a fórmula do Evagelho?
terial de seus grupos, suas cidades, clubes e agremiações
— O amor a nós mesmos deve ser interpretado
onde se verifique a evidencia pessoal?
como a necessidade de oração e de vigilância, que todos
— É que as criaturas, de um modo geral, ainda
os homens são obrigados a observar.
têm muito da tribu, encontrando-se encarceradas nos
Amar a nós mesmos não será a vulgarização de uma
instintos propriamente humanos, na luta das posições e
nova teoria de auto-adoração. Para nós outros, a ego-
das aquisições, dentro de um egoísmo quasi feroz, como
latria já teve o seu fim, porque o nosso problema é de
se guardassem consigo, indefinidamente, as heranças da
vida animal. Todavia, é preciso recordar que, após a iluminação íntima, na marcha para Deus. Esse amor,
eclosão desses entusiasmos, ha sempre o gosto amargo da portanto, deve traduzir-se em esforço próprio, em auto-
inutilidade no íntimo dos espíritos desiludidos da pre- educação, em observação do dever, em obediência ás leis
cária hegemonia do mundo, instante esse em que a alma de realização e de trabalho, em perseverança na fé, em
12
178 EMMANUEL
O CONSOLADOR 179
desejo sincero de aprender com o único Mestre que
é Jesus Cristo. formá-las, elevando-lhes as concepções antigas para o
Quem se ilumina cumpre a missão da luz sobre a clarão da verdade imortalista.
Terra. B a luz não necessita de outros processos para A missão do Consolador tem que se verificar junto
revelar a verdade, senão o de irradiar espontaneamente das almas e não ao lado das gloriólas efêmeras dos triun-
o tesouro de si mesma. fos materiais. Esclarecendo o erro religioso onde quer
Necessitamos encarar essa nova fórmula de amor que se encontre e revelando a verdadeira luz, pelos atos
a nós mesmos, conciente de que todo bem conseguido e pelos ensinamentos, o espiritista sincero, enriquecendo
por nós, em proveito do próximo, não é senão o bem de os valores da fé, representa o operario da regeneração
nossa própria alma, em virtude da realidade de uma do Templo do Senhor, onde os homens se agrupam em
só lei, que é a do amor e um só dispensador dos bens, varios departamentos, ante altares diversos, mas onde
que é Deus. existe um só Mestre, que é Jesus Cristo.
354. — Poãer-se-á definir o que é ter fé?
IV —• Ter fé é guardar no coração a luminosa certeza
em Deus, certeza que ultrapassou o âmbito da crença
E S P I R I T I S M O religiosa, fazendo o coração repousar numa energia
constante de realização divina da personalidade.
PÉ Conseguir a fé é alcançar a possibilidade de não
mais dizer "eu creio", mas afirmar "eu sei", com todos
352. - r — Devemos reconhecer nó espiritismo o cris- os valores da razão tocados pela luz do sentimento. Essa
tianismo redivivo? fé não pôde estagnar em nenhuma circunstancia da vida
— O espiritismo evangélico é o Consolador pro- e sabe trabalhar sempre, intensificando a amplitude de
metido por Jesus, que, pela voz dos seres redimidos sua iluminação, pela dor ou pela responsabilidade, pelo
espalha as luzes divinas por toda a Terra, restabelecendo esforço e pelo dever cumprido.
a verdade e levantando o véu que cobre os ensinamentos Traduzindo a certeza na assistência de Deus, ela
na sua feição de cristianismo redivivo, afim-de que os exprime a confiança que sabe enfrentar todas as lutas
homens despertem para a era grandiosa da compreensão e problemas, com a luz divina no coração e significa a
espiritual com o Cristo. humildade redentora que edifica no íntimo do espírito
a disposição sincera do discípulo, relativamente ao
353. — O espiritismo veia ao mundo para substi-
"faça-se no escravo a vontade do Senhor".
tuir as outras crenças?
355. —.Será fé acreditar sem raciocinio?
—• O Consolador, como Jesus, terá de afirmar — Acreditar é uma expressão de crença, dentro da
igualmente: — " E u não vim destruir a Lei". qual os legítimos valores da fé se encontram em-
O espiritismo não pôde guardar a pretensão de brionários .
exterminar as outras crenças, parcelas da verdade que O ato de crer em alguma cousa demanda a neces-
a sua doutrina representa, mas sim trabalhar por trans- sidade do sentimento e do raciocinio, para que a alma
edifique a fé em si própria. Admitir as afirmativas
O CONSOLADOR 181
180 EMMANUEL

deve restringir suas divagações ao limite necessário ás


mais estranhas, sem um exame minucioso, é caminhar
suas experiencias na Terra?
para o desfiladeiro do absurdo, onde os fantasmas
dogmáticos conduzem as criaturas a todos os dispaute- — Pelo menos é justo que somente cogite das ex-
rios. Mas também interferir nos problemas essenciais pressões transcendentes ao seu meio, depois de realizar
da vida sem que a razão esteja iluminada pelo senti- todo esforço de iluminação que o mundo lhe pôde pro-
mento, é buscar o mesmo declive onde os fantasmas porcionar nos seus processos de depuração e aperfei-
impiedosos da negação conduzem as almas a muitos çoamento .
crimes. 360. -— Qual deve ser a ação do espiritista em face
dos dogmas religiosos?
356. — A dúvida raciocionaãa, no coração sin- — Os novos discípulos do Evangelho devem com-
cero, é uma base para a fé? preender que os dogmas passaram. E as religiões lite-
— Toda a dúvida que se manifesta na alma cheia ralistas que os construíram, sempre o fizeram simples-
de boa vontade, que não se precipita em definições mente em obediencia a disposições políticas, no governo
apriorísticas dentro de sua sinceridade, ou que não das massas.
busca a malícia para contribuir em suas cogitações, é Dentro das novas expressões evolutivas, porém, os
um elemento benéfico para a alma, na marcha da inte- espiritistas devem evitar as expressões dogmáticas, com-
ligência e do coração para a luz sublimada da f é . preendendo que a doutrina é progressiva, esquivando-se
357. — É justa a preocupação dominante em mui- a qualquer pretensão de infalibilidade, em face da gran-
tos estudiosos do espiritismo, pelas revelações do plano deza inultrapassável do Evangelho.
superior, a título de enriquecimento da féf 361. — Na propaganda da fé, é justo que os espí-
— Toda curiosidade sadia é natural. O homem, ritas ou os médiuns estejam preocupados em converter
todavia, deve compreender que a solução desses proble- aos princípios da doutrina os homens de posição desta-
mas lhe chegará naturalmente, depois de resolvida a cada no mundo, como os juizes, os médicos, os profes-
sua situação de- devedor ante os seus semelhantes, fa- sores, os literatos, os políticos, etc. ?
zendo-se, então, credor das revelações divinas. — Os espiritistas cristãos devem pensar muito na
358. — Para os espíritos desencarnados, que já iluminação de si mesmos, antes de qualquer prurido, no
adquiriram muitos valores em matéria de fé, qual o intuito de converter os outros.
melhor bem da vida humana? E, em se tratando dos homens destacados no con-
vencionalismo terrestre, esse cuidado deve ser ainda
•—• A vida humana nas suas características de tra-
maior, porquanto ha no mundo um conceito soberano de
balho pela redenção espiritual, apresenta muitos bens
"força" para todas as criaturas que se encontram nos
preciosos aos nossos olhos, na sequencia das lutas, esfor-
embates espirituais para a obtenção dos títulos de pro-
ços e sacrifícios de cada espírito. Para nós outros, po-
gresso. Essa " f o r ç a " viverá entre os homens, até que
rém, o tesouro maior da existência terrestre reside na
as almas humanas se compenetrem da necessidade do
conciencia reta e pura, iluminada pela fé e edificada
reino de Jesus em seu coração, trabalhando por sua
no cumprimento de todos os deveres mais elevados.
realização plena. Os homens do poder temporal, com
359. — Nas cogitações da fé, o espírito encarnado
182 EMMANUEL
O CONSOLADOR 183

exceções, muitas vezes aceitam somente os postulados


que a " f o r ç a " sanciona ou os princípios com que a Um gremio espírita-cristão deve ter, mais que tudo,
mesma concorda. Enceguecidos temporariamente pelos a característica familiar, onde o amor e a simplicidade
véus da vaidade e da fantasia, que a "força" lhes pro- figurem na manifestação de todos os sentimentos.
porciona, faz-se mister deixa-los em liberdade nas suas Em uma entidade doutrinária, quando surgem as
experiências. Dia virá em que brilharão na Terra os dissenções e lutas internas, revelando partidarismos e
eternos direitos da verdade e do bem, anulando essa hostilidades, é sinal de ausencia do Evangelho nos co-
"força" transitória. Ainda aqui, tendes o exemplo do rações, demonstrando-se pelo excesso de material hu-
Divino Mestre que, trazendo ao orbe a maior mensagem mano e pressagiando o naufragio das intenções mais
de amor e vida, para todos os tempos, não teve a pre- generosas.
ocupação de converter ao Evangelho os Pilatos e os Nesses núcleos de estudo, nenhuma realização se
Antipas do seu tempo. fará sem fraternidade e humildade legítimas, sendo im-
Além do mais, o espiritismo na sua feição de cris- prescindível que todos os companheiros, entre sí, vigiem
tianismo redivivo, não deve nutrir a pretensão de dispu- na boa vontade e na sinceridade, afim-de não transfor-
tar um lugar no banquete dos Estados do mundo, marem a excelencia do seu patrimonio espiritual numa
quando sabe muito bem que a sua missão divina ha de reprodução dos conventículos católicos, inutilizados pela
cumprir-se junto das almas, nos legítimos fundamentos intriga e pelo fingimento.
do Reino de Jesus. 364. — O espiritista para evoluir na doutrina ne-
PROSÉLITOS cessita estudar e meditar por si mesmo, ou será sufi-
362. — Poderemos receber um novo ensino sobre ciente frequentar as organizações doutrinárias, espe-
os deveres que competem aos espiritistas? rando a palavra dos guias?
— Não devemos especificar os deveres do espiri- — É indispensável a cada um o esforço próprio no
tista cristão, porque, palavra alguma poderá superar estudo, meditação, cultivo e aplicação da. doutrina, em
a exemplificação do Cristo, que todo discípulo deve to- toda intimidade de sua vida.
mar como roteiro.da sua vida. A frequência ás sessões ou o fato de presenciar esse
Que o espiritista, nas suas atividades comuns dis- ou aquele fenómeno, aceitando-lhe a veracidade, não
pense o máximo de indulgência para com os seus seme- traduz aquisição de conhecimentos.
lhantes, sem nenhuma para consigo mesmo, porque, an- Um guia espiritual pôde ser um bom amigo, mas
tes de cogitar da iluminação dos outros, deverá buscar nunca poderá desempenhar os vossos deveres próprios,
a iluminação de si próprio, no cumprimento de suas nem arrancar-vos das provas e das experiencias impres-
obrigações. cindíveis á vossa iluminação.
363. — Como se justifica a existência de certas Daí surge a necessidade de vos preparardes indi-
lutas anti-fraternas dentro dos grupos espiritistas? vidualmente, na doutrina, para viverdes tais experien-
— Os agrupamentos espiritistas necessitam enten- cias com dignidade espiritual, no instante oportuno.
der que o seu aparelhamento não pôde ser análogo ao 365. — Como deveremos receber os ataques da
das associações propriamente humanas. crítica?
— Os espiritistas devem receber a crítica dos cam-
184 EMMANUEL O CONSOLADOR 185

pos de opinião contraria, com o máximo de serenidade e a aplicação individuais, no estudo das leis morais que
moral, em lhe reconhecendo a utilidade essencial. que regem o intercambio entre o planeta e as esferas do
Essas críticas se apresentam, quasi sempre, com invisível.
uma finalidade preciosa, qual a de selecionar, natu- De modo algum dever-se-á provocar as manifesta-
ralmente, as contribuições da propaganda doutrinária, ções mediúnicas, cuja legitimidade reside nas suas ca-
afastando os elementos perturbadores e confusos, e va- racterísticas de espontaneidade, mesmo porque, o pro-
lorizando a cooperação legítima e sincera, porque todo grama espiritual das sessões está com os mentores que
ataque á verdade pura serve apenas para destacar e as orientam do plano invisível, exigindo-se de cada es-
exaltar essa mesma verdade. tudioso a, mais elevada percentagem de esforço próprio
366. — Como deverá agir o espírita sincero, quan- na aquisição do conhecimento, porque o plano espiritual
do se encontre perante certas extravagancias doutri- distribuirá sempre, de acordo com as necessidades e os
nárias? méritos de cada um. Forçar o fenómeno mediúnico é
— Â luz da fraternidade pura, jamais neguemos tisnar uma fonte de agua pura, com a vasa das paixões
o concurso da boa palavra e da contribuição direta, egoísticas da Terra, ou com as suas injustificáveis in-
sempre que oportuno, em benefício do esclarecimento quietações .
de todos, guardando, todavia, o cuidado de nunca tran- 369. — É aconselhável a evocação direta de deter-
sigir com os verdadeiros princípios evangélicos, sem fe- minados espíritos?
rir os sentimentos das pessoas. E se as pessoas perse- — Não somos dos que aconselham a evocação di-
verarem na incompreensão, cuide cada trabalhador da reta e pessoal, em caso algum.
sua tarefa, porque Jesus afirmou que o trigo cresceria Se essa evocação é passível de êxito, sua exequi-
ao lado do joio, em sua seara santa, mas Ele, Cultivador bilidade somente pôde ser examinada no plano espiri-
da, Verdade Divina, saberia escolher o bom grão na tual. Daí a necessidade de sermos espontâneos, por-
época da ceifa. quanto, no complexo dos fenómenos espiríticos, a solução
367. — É justo que, a proposito de tudo, busque de muitas incógnitas espera o avanço moral dos apren-
o espiritista tanger os assuntos do espiritismo nas suas dizes sinceros da doutrina. O estudioso bem intencio-
conversações comuns? nado, portanto, deve pedir sem exigir, orar sem recla-
— O crente sincero precisa compenetrar-se da opor- mar, observar sem pressa, considerando que a esfera
tunidade, no tempo e no ambiente, com relação aos espiritual lhe conhece os méritos e retribuirá aos seus
assuntos doutrinários, porquanto, qualquer inconsidera- esforços de acordo com a necessidade de sua posição
ção, nesse particular, pôde conduzir a um fanatismo evolutiva e segundo o merecimento do seu coração.
detestável, sem nenhum caráter construtivo. Podereis objetar que Allan Kardec se interessou
368. — Nos agrupamentos espiritistas devemos pro- pela evocação direta, procedendo a realizações dessa na-
vocar, de algum modo, essa ou aquela manifestação tureza, mas precisamos ponderar no seu esforço a tarefa
do Além? excepcional do codificador, aliada á necessidades e mé-
— Nas reuniões da doutrina, acima de todas as ritos ainda distantes da esfera de atividade dos apren-
expressões fenoménicas, devem prevalecer a sinceridade dizes comuns.
O CONSOLADOR 187
186 EMMANUEL

— A sessão espírita deveria ser, em toda parte,


370. — Seria lícito investigarmos, com os espíritos uma cópia fiel do cenáculo fraterno, simples e humilde
amigos, as nossas vidas passadas? Essas revelações quan- do Tiberíades, onde o Evangelho do Senhor fosse refle-
do ocorrem traduzem responsabilidade para os que as tido em espírito e verdade, sem qualquer convenção do
recebem? mundo, de modo que, entrelaçados todos os pensamentos
— Se estais submersos em esquecimento tempora- na mesma finalidade amorosa e sincera, pudesse a as-
rio, esse olvido é indispensável á valorização de vossas sembléia constituir aquela reunião cie dois ou mais co-
iniciativas. Não deveis provocar esse género de revela- rações, em nome do Cristo, onde o esforço dos discípulos
ções, porque os amigos espirituais conhecem melhor as será sempre santificado pela presença do seu amor.
vossas necessidades e poderão provê-las em tempo opor- 373. — Como deve ser conduzida uma sessão espí-
tuno, sem quebrar o preceito da espontaneidade exigido rita, de sua abertura ao encerramento?
a esse fim. — Nesse sentido, ha que considerar a excelência da
O conhecimento do pretérito através das revelações codificação kardeciana; contudo, será sempre utii a lem-
ou das lembranças, chega sempre que a criatura se faz brança de que as reuniões da doutrina devem observar
credora de um benefício como esse, o qual se faz acom- o máximo de simplicidade, como as assembléias humil-
panhar, por sua vez, de responsabilidades muito gran- des e sinceras do cristianismo primitivo, abstendo-se de
des no plano do conhecimento; tanto assim que, para qualquer expressão que apele mais para os sentidos ma-
muitos, essas reminiscencias costumam constituir um teriais que para a alma profunda, a grande esquecida
privilegio doloroso, no ambiente das inquietações e ilu- de todos os tempos da humanidade.
sões da Terra. 374. — Nas sessões, os dirigentes e os médiuns têm
371. — Devem ser intensificadas no espiritismo as uma tarefa definida e diferente entre si?
sessões de fenómenos mediúnicos? — Nas reuniões doutrinárias, o papel do orienta-
—São muito poucos, ainda, os núcleos espiritistas dor e do instrumento mediúnico deve estar sempre iden-
que podem entregar-se á prática mediúnica com plena tificado na mesma expressão de fraternidade e de amor,
conciencia do serviço que têm em mãos; motivo pelo acima de tudo, mas, existem características a assinalar,
qual, é aconselhável a intensificação das reuniões de para que os serviços espirituais produzam os mais ele-
leitura, meditação e comentario geral para as ilações vados efeitos, salientando-se que o dirigente das sessões
morais imprescindíveis no aparelhamento doutrinário, deve ser o raciocínio e a lógica, enquanto o médium deve
afim-de que numerosos centros bem intencionados não representar a fonte de agua pura do sentimento. É por
venham a cair no desânimo ou na incompreensão, por isso que nas reuniões onde os orientadores não cogitam
causa de um prematuro comércio com as energias do da lógica e onde os médiuns não possuem fé e despren-
plano invisível. dimento, a boa tarefa é impossível, porque a confusão
natural estabelecerá a esterilidade no campo dos co-
PRÁTICA rações .
375. — Os agrupamentos espiritistas podem ser
372. — Como deveremos entender a sessão es- organizados sem a contribuição dos médiuns?
pírita ?
188 EMMANUEL O CONSOLADOR 189

— Nas reuniões da doutrina, os médiuns são úteis íntimo, conservam-se, por algum tempo, incapazes de
mas não indispensáveis, porque somos obrigados a pon- apreender as vibrações do plano espiritual, sendo assim
derar que todos os homens são médiuns, ainda mesmo conduzidas por seus guias e amigos redimidos ás reuniões
sem tarefas definidas, nesse particular, podendo cada fraternas do espiritismo evangélico, onde, sob as vistas
qual sentir e interpretar, no plano intuitivo a palavra amorosas desses mesmos mentores do plano invisível, se
amorosa e sábia de seus guias espirituais, no imo da processam os dispositivos da lei de cooperação e benefício
conciencia. mútuo, que rege a vida nos dois planos.
376. — Será aconselhável a determinação de dias . 379. — Como deverá agir o estudioso para iden-
da semana para a realização normal das sessões espíritas? tificar as entidades que se comunicam?
— Qualquer dia e hora podem ser consagrados ao — Os espíritos que se revelam através das orga-
bom trabalho da fraternidade e do bem, sempre que nizações mediúnicas, devem ser identificados por suas
necessário; mas, em se tratando de reuniões dedicadas idéias e pela essência espiritual de suas palavras.
ao esforço doutrinário, faz-se imprescindível a metodi- Determinados médiuns, com tarefa especializada,
zação de todos os trabalhos em dias e horas prefixados. podem ser auxiliar precioso á identificação pessoal, seja
377. — Ha estudiosos da doutrina que se afaslam no fenómeno literário, nas equações da ciência, ou sa-
das reuniões quando as mesmas não apresentam fenô- tisfazendo a certos requisitos da investigação; todavia,
menos. Como se deve proceder para com eles? essa não é a regra geral, salientando-se que as entidades
— Os que assim procedem testemunham, por si espirituais, muitas vezes, não encontram senão um ma-
mesmos, plena inhabilitação para o verdadeiro trabalho terial deficiente que as obriga tão só ao indispensável,
do espiritismo sincero; se preferem as emoções transi- no que se refere á comunicação.
torias dos nervos ao serviço da auto-iluminação, é me- Devemos entender, contudo, que a linguagem do
lhor que se afastem temporariamente dos estudos sérios espírito é universal, pelos fios invisíveis do pensamento,
da doutrina, antes de assumirem qualquer compromisso. o que, aliás, não invalida a necessidade de um estudo
A compreensão do espiritismo ainda não está bas- atento, acerca de todas as idéias lançadas nas mensagens
tante desenvolvida em seu mundo interior e é justo medianímicas, guardando-se muito cuidado no capítulo
que prossigam em experiencias para alcança-la. dos nomes ilustres que, porventura, as subscrevam.
O êxito dos esforços do plano espiritual, em favor Nas manifestações de toda natureza, porém, o crente
do cristianismo redivivo, não depende da quantidade de ou o estudioso do problema da identificação, não pôde
homens que o busquem, mas da qualidade dos trabalha- dispensar aquele sentido espiritual de observação que
dores que militam nas suas fileiras. lhe falará sempre no imo da concieneia.
378. — Por que motivo a doutrinação e a evangeli- 380. — É justo que o espiritista, depois de sofrer
zação nas reuniões espiritistas beneficiam igualmente a separação de um ente amado, pela morte, provoque
aos desencarnados, se a estes seria mais justo o aprovei- sua comunicação nas sessões medianímicas?
tamento das lições recebidas no plano espiritual? — O espiritista sincero deve buscar o conforto mo-
Grande número de almas desencarnadas, nas ilusões ral, em tais casos, na própria fé que lhe deve edificar
da vida física, guardadas quasi que integralmente no intimamente o coração.
O CONSOLADOR 191
190 EMMANUEL
V
Não é justo provocar ou forçar a comunicação com
esse ou aquele desencarnado. Além de não conhecerdes M E D I U N I D A D E
as possibilidades de sua nova condição na esfera espiri-
tual, deveis atender ao problema dos vossos méritos. DESENVOLVIMENTO
O homem pode desejar isso ou aquilo, mas ha uma 382. — Qual a verdadeira definição da meãiuni-
Providencia que dispõe no assunto, examinando o mérito dade?
de quem pede e a utilidade da concessão. — A mediunidade é aquela luz que seria derramada
Qualquer comunicado com o Invisivel deve ser sobre toda carne, prometida pelo Divino Mestre aos tem-
espontaneo e o espiritista cristão deve encontrar na sua pos do Consolador atualmente em curso na Terra.
fé o mais alto recurso de cessação do egoísmo humano, A missão mediúnica, se tem os seus percalços e as
ponderando quanto á necessidade de repouso daqueles a suas lutas dolorosas, é uma das mais belas oportunida-
quem amou, e esperando a sua palavra direta quando des de progresso e de redenção, concedidas por Deus
e como julguem os mentores espirituais, conveniente e aos seus filhos misérrimos.
oportuno. Sendo luz que brilha na carne, a mediunidade é um
381. — Muita gente procura o espiritismo, quei- atributo do espírito, patrimônio da alma imortal, ele-
xando-se de perseguições do Invisivel. Os que reclamam mento renovador da posição moral da criatura terrena,
contra essas perturbações estão, de algum modo, aban- enriquecendo todos os seus valores no capítulo da vir-
donados de seus guias espirituais? tude e da inteligência, sempre que se encontre ligada
— A proteção da Providencia Divina extende-se a aos princípios evangélicos na sua trajetória pela face
todas as criaturas. do mundo.
A perseguição de entidades sofredoras e perturba- 383. — É justo considerarmos todos os homens
das justifica-se no quadro das provações redentoras, mas como médiuns?
os que reclamam contra o assédio das forças inferiores, —• Todos os homens têm o seu grau de mediuni-
dos planos adstritos ao orbe terrestre, devem consultar dade, nas mais variadas posições evolutivas e esse atri-
o próprio coração antes de formularem as suas queixas, buto do espírito representa, ainda, a alvorada de novas
de modo a observar se o espírito perturbador não está percepções para o homem do futuro, quando, pelo avanço
neles mesmos. da mentalidade do mundo, as criaturas humanas verão
Ha obsessores terríveis do homem, denominados "or- alargar-se a janela acanhada dos seus cinco sentidos.
gulho", "vaidade", "preguiça", "avareza", "ignorancia" Na atualidade, porém, temos de reconhecer que, no
ou "má vontade", e convém examinar se não se é vítima campo imenso das potencialidades psíquicas do homem,
dessas energias perversoras que, muitas vezes, habitam existem os médiuns com tarefa definida, precursores das
o coração da criatura, enceguecendo-a para a compreen- novas aquisições humanas. É certo que essas tarefas
são da luz de Deus. Contra esses elementos destruido- reclamam sacrifícios e se constituem, muitas vezes, de
res, faz-se preciso um novo gênero de preces, que se cons- provações ásperas; todavia, se o operário busca a subs-
titue de trabalho, fé, esforço e boa vontade.
192 EMMANUEL
O CONSOLADOR 193

tancia evangélica para a execução de seus deveres, é ele


tarefa definida se encha de espírito missionário, com
o trabalhador que faz jús ao acréscimo de misericórdia
dedicação sincera e fraternidade pura, para que o seu
prometido pelo Mestre a todos os discípulos de boa
mandato não seja traído na improdutividade.
vontade.
387. — Qual a maior necessidade do médium?
384. —• Dever-se-á provocar o desenvolvimento da
— A primeira necessidade do médium é evangeli-
mediunidade t
zar-se a si mesmo antes de se entregar ás grandes tarefas
— A mediunidade não deve ser fruto de precipi-
doutrinárias, pois, de outro modo, poderá esbarrar sem-
tação nesse ou naquele sector da atividade doutrinária,
pre com o fantasma do personalismo, em detrimento de
porquanto, em tal assunto, toda a espontaneidade é in-
sua missão.
dispensável, considerando-se que as tarefas medmnicas
são dirigidas pelos mentores do plano espiritual. 388. — Nos trabalhos mediúnicos temos de consi-
derar, igualmente, os imperativos da especialização?
• 385. — A mulher ou o homem, em particular, pos-
— O homem do mundo, no círculo de obrigações
suem disposições especiais para o desenvolvimento me-
que lhe competem na vida, tem de sair da generalidade
diúnico ?
para produzir o útil e o agradável, na esfera de suas
— No capítulo do mediunismo não existem pro-
possibilidades individuais.
priamente privilégios para os que se encontram em de-
terminada situação, porém, vence nos seus labores quem Em mediunidade, temos de nos submeter aos mes-
detiver a maior percentagem de sentimento. B a mu- mos princípios. O homem enciclopédico em faculdade
lher pela evolução de sua sensibilidade em todos os cli- ainda não apareceu, senão em gérmen, nas organizações
mas e situações, através dos tempos, está, na atualidade, geniais que, raramente, surgem na Terra e temos de
em esfera superior á do homem para interpretar, com considerar que a mediunidade somente agora começa a
mais precisão e sentido de beleza, as mensagens dos pla- aparecer no conjunto de atributos do homem trans-
nos invisíveis. cendente .
386. — Qual a mediunidade mais preciosa para o A especialização na tarefa mediúnica é mais que
bom serviço á doutrinai necessária e somente de sua compreensão poderá nascer
— Ninguém deverá forçar o desenvolvimento dessa a harmonia na grande obra de vulgarização da verdade
ou daquela faculdade, porque, nesse terreno, toda a a realizar.
espontaneidade é necessária; observando-se, contudo, a 389. — A mediunidade pôde ser retirada em de-
floração mediúnica espontânea, nas expressões mais sim- terminadas circunstancias da vida?
ples, deve-se aceitar o evento com as melhores disposi- — Os atributos medianímicos são como os talentos
ções de trabalho e boa vontade, seja essa possibilidade do Evangelho. Se o patrimonio divino é desviado de
psíquica a mais humilde de todas. seus fins, o máu servo torna-se indigno da confiança do
Não existe mediunidade mais preciosa uma que Senhor da seara da verdade e do amor. Multiplicados
outra. no bem, os talentos mediúnicos crescerão para Jesus, sob
Qualquer uma é um campo aberto ás mais belas as bênçãos divinas; todavia, se sofrem o insulto do
realizações espirituais, sendo justo que o médium com egoísmo, do orgulho, da vaidade ou da exploração infe-
rior, podem deixar o intermediario do invisível entre
13
194 EMMANUEL O CONSOLADOR 195

as sombras pesadas do estacionamento, nas mais dolo-


rosas perspectivas de expiação, em vista do acréscimo de PREPARAÇÃO
setis débitos irrefletidos.
392. — Póãe contar um médium, de maneira ab-
390. — É justo que um médium confie em si soluta, com os seus guias espirituais, dispensando os
mesmo para a provocação de fenómenos, organizando estudos?
trabalhos especiais com o fim de converter os descrentes? — Os mentores de um médium, por mais dedicados
— Onde o médium em tão elevada condição de e evolvidos, não lhe poderão tolher a vontade e nem
pureza e merecimento, para contar com as suas próprias afastar-lhe o coração das lutas indispensáveis da vida,
forças na produção desse ou daquele fenómeno? Nin- em cujos benefícios todos os homens resgatam o passado
delituoso e obscuro, conquistando méritos novos.
guém vale, na Terra, senão pela expressão da miseri-
córdia divina que o acompanha, e a sabedoria do plano O médium tem obrigação de estudar muito, obser-
superior conhece minuciosamente as necessidades e mé- var intensamente e trabalhar em todos os instantes pela
sua iluminação própria. Somente desse modo poderá
ritos de cada um. A tentativa de tais trabalhos é um
habilitar-se para o desempenho da tarefa que lhe foi
erro grave. Um fenómeno não edifica a fé sincera,
confiada, cooperando eficazmente com os espíritos sin-
somente conseguida pelo esforço e boa vontade pessoal
ceros e devotados .ao bem e á verdade.
na meditação e no trabalho interior. Os descrentes che-
Se um médium espera muito dos seus guias, é lícito
garão á Verdade, algum dia, e a Verdade é Jesus.
que os seus mentores espirituais muito esperem do seu
Anteciparmo-nos á ação do Mestre não seria testemunho
esforço. E, como todo progresso humano, para ser con-
de confusão? Organizar sessões medianímicas com o ob-
tinuado, não pode prescindir de suas bases já edificadas
jetivo de arrebanhar prosélitos é agir com demasiada
no espaço e no tempo, o médium deve entregar-se ao
leviandade. O que é santo e divino ficaria exposto aos
estudo, sempre que possível, criando o hábito de con-
julgamentos precipitados dos mais ignorantes e ao as-
viver com o espírito luminoso e benéfico dos instrutores
salto destruidor dos mais perversos, como se a Verdade da humanidade, sob a égide de Jesus, sempre vivos no
de Jesus fosse objeto de espetáculos, nos picadeiros de mundo, através dos seus livros e da sua exemplificação.
um circo.
O costume de tudo aguardar de um guia pôde
391. — Os irracionais possuem mediunidaãe? transformar-se em vício detestável, infirmando as pos-
sibilidades mais preciosas da alma. Chegando-se a esse
— Os irracionais não possuem faculdades mediúni- desvirtuamento, atinge-se o declive das mistificações e
cas propriamente ditas. Contudo, têm percepções psíqui- das extravangias doutrinárias, tornando-se o médium
cas embrionárias, condizentes ao seu estado evolutivo, e preguiçoso e leviano responsável pelo desvio de sua
através das quais podem indiciar as entidades delibera- tarefa sagrada.
damente perturbadoras, com fins inferiores, para esta- 393. — Como entender a obsessão? É prova inevi-
belecer a perplexidade naqueles que os acompanham, em tável, ou acidente que se possa afastar facilmente, anu-
determinadas circunstancias. Icmão-lhe os efeitos?
196 EMMANUEL O CONSOLADOR 19T

— A obsessão é sempre uma prova, nunca um acon- como também na hipótese do obsidiado entregar-se vo-
tecimento eventual. No seu exame, contudo, precisamos luntariamente ao assédio das forças nocivas que o cer-
considerar os méritos da vítima e a dispensa da mise- cam, preferindo esse gênero de experiências.
ricórdia divina a todos os que sofrem. 396. —• Em se tratando da necessidade de prepa-
Para atenuar ou afastar os seus efeitos, é impres- ração para a tarefa mediúnica, é justo acreditarmos
cindível o sentimento do amor universal no coração na movimentação de fluidos maléficos em prejuízo do
daquele que fala em nome de Jesus. Não bastarão as próximo ?
fórmulas doutrinárias. "É indispensável a dedicação, pela — É o caso de vos perguntarmos se não haveis
fraternidade mais pura. Os que se entregam á tarefa movimentado as energias maléficas, no decurso da vida,
da cura das obsessões precisam ponderar, antes de tudo, contra a vossa própria felicidade.
a necessidade de iluminação interior do médium per- Num orbe como a Terra, onde a percentagem de
turbado, porquanto, na sua educação espiritual reside forças inferiores supera quasi que esmagadoramente os
a própria cura. Se a execução desse esforço não se efe- valores legítimos do bem, a movimentação de fluidos
tua, tende cuidado, porque, então, os efeitos serão exten- maléficos é mais que natural; todavia, urge ensinar aos
sivos a todos os centros de força orgânica e psíquica. que operam nesse campo de maldade, que os seus esfor-
O obsidiado que entrega o corpo sem resistência moral ços efetuam uma semeadura infeliz, cujos espinhos, mais
ás entidades ignorantes e perturbadas, é como o artista tarde se voltarão contra eles próprios, em amargurados
que entregasse seu violino precioso a um malfeitor, o choques de retorno, fazendo-se mister, igualmente, edu-
qual, um dia, poderá renunciar á posse do instrumento ear as vítimas de hoje na verdadeira fé em Jesus, de
que lhe não pertence, deixando-o efacelado sem que o modo a compreenderem o problema dos méritos na ta-
legítimo, mas imprevidente dono, possa utiiza-lo nas refa do mundo.
finalidades sagradas da vida. A aflição do presente pôde ser um bem a se expres-
394. — Será sempre util, para a cura de um obsi- sar em conquistas preciosas no futuro e, se Deus per-
diado, a doutrinação do espírito perturbado, por parte mite a influencia dessas energias inferiores, cm deter-
de um espiritista convicto? minadas fases da existência terrestre, é que a medida
— A cooperação do companheiro vale muito e faz tem sua finalidade profunda, ao serviço divino da rege-
sempre grande bem, principalmente ao desencarnado; neração individual.
mas a cura completa do médium não depende tão só 397. — Por que razão alguns médiuns parecem
desse recurso, porque se é fácil, ás vezes, o esclareci- sofrer com os fenómenos da encorporação, enquanto que
mento da entidade infeliz e sofredora, a doutrinação do outros manifestam o mesmo fenómeno naturalmente?
encarnado é a mais dificil de todas, visto requisitar os •— Nas expressões de mediunismo existem caracte-
valores do seu sentimento e da sua boa vontade, sem rísticas inerentes a cada intermediário entre os homens
o que a cura psíquica torna-se inexequível. e os desencarnados; todavia, a falta de naturalidade do
395. — Pôde a obsessão transformar-se em loucura? aparelho mediúnico, no instante de exercer suas facul-
— Qualquer obsessão pôde transformar-se em lou- dades, é quasi sempre resultante da falta de educação
cura, não só quando a lei das provações assim o exige, psíquica.
198 EMMANUEL O CONSOLADOR 199

398. — É natural que, em plenas reuniões de es- corra de outro médium para obter o amparo dos seus
tudo, os médiuns se deixem influenciar por entidades amigos espirituais ?
perturbadoras que costumam quebrar o ritmo de tra- — É justo que um amigo se valha da estima fra-
balhos proveitosos e sinceros, de educação? ternal de um companheiro de crença, para assuntos de
— Tal interferência não é natural e deve ser muito confiança íntima e recíproca, mas, na função mediúnica,
estranhavel para todos os estudiosos de boa vontade. o portador dessa ou daquela faculdade deve buscar em
Se o médium que se entregou á atuação nociva é seu próprio valor o elemento de ligação com os seus
inciente dos seus deveres á luz dos ensinamentos doutri- mentores do plano invisível, sendo contraproducente
nários, trata-se de um obsidiado que requer o máximo procurar o amparo, nesse particular, fora das suas pró-
de contribuição fraterna; mas se o acontecimento se prias possibilidades, porque, de Outro modo, seria repou-
verifica através de um companheiro portador do co- sar numa fé alheia, quando a fé precisa partir do íntimo
nhecimento exato de suas obrigações, no círculo de ati- de cada um, no mecanismo da vida.
vidades da doutrina, é justo responsabiliza-lo pela per- Além do mais, cada médium possue a sua esfera de
turbação, porque o fato, então, será oriundo da sua invi- ação no ambiente que lhe foi assinado. Abandonar a pró-
gilancia e imprevidência, em relação aos deveres sagra- pria confiança para valer-se de outrem, seria sobrecar-
dos que competem a cada um de nós no esforço do bem regar os ombros de um companheiro de luta, esque-
e da verdade. cendo a cruz redentora que cada espírito encarnado terá
399. — Quando a opinião irônica ou insultuosa de carregar em busca da claridade divina.
ataca uma expressão da verdade, no campo mediúnico, 401. — A mistificação sofrida por um médium
ê justo buscarmos o apoio dos espíritos amigos para significa ausência de amparo dos mentores do plano
revidar? espiritual?
— Vossa inquietação no mundo costuma conduzir- — A mistificação experimentada por um médium
vos a muitos dispauterios. traz sempre uma finalidade util, que é a de afasta-lo do
Semelhante solicitação aos desencarnados seria um amor próprio, da preguiça no estudo de suas necessida-
deles. Os valores de um campo mediúnico triunfam por des próprias, da vaidade pessoal ou dos excessos de con-
si mesmos, pela essência de amor e de verdade, de con- fiança em si mesmo.
solação e de luz, que contenham e seria injustificável Os fatos de mistificação não ocorrem á revelia dos
convocar os espíritos para discutir com os homens, seus mentores mais elevados, que, somente assim, o con-
quando já se demasiam as polêmicas dos estudiosos duzem á vigilância precisa e ás realizações da humil-
humanos entre si. dade e da prudência no seu mundo subjetivo.
Além do mais, os que não aceitam a palavra sincera
e fraternal dos mensageiros do plano superior terão, APOSTOLADO
igualmente, de buscar o túmulo algum dia, e é inútil
perder tempo com palavras quando temos tanto o que 402. — Seria justo aceitar remuneração financeira
fazer no ambiente de nossas próprias edificações. no exercício da meãiuniãaãe?
400. — Poderá admitir-se que um médium se so- — Quando um médium se resolva a transformar
200 EMMANUEL O CONSOLADOR 201

suas faculdades em fonte de renda material, será me- labores sagrados do pão de cada dia e o cumprimento
lhor esquecer suas possibilidades psíquicas e não se dos seus elevados deveres familiares.
aventurar pelo terreno delicado dos estudos espirituais. A execução dessas obrigações é sagrada e urge não
A remuneração financeira, no trato das questões cair no declive das situações parasitárias, ou do fana-
profundas da alma, estabelece um comercio criminoso, do tismo religioso.
qual o médium deverá esperar no futuro os resgates No trabalho da verdade, Jesus caminha antes de
mais dolorosos. qualquer esforço humano e ninguém deve guardar a
A mediunidade não é ofício do mundo e os espíri- pretensão de converter alguém, quando nas tarefas do
tos esclarecidos na verdade e no bem, conhecem mais mundo ha sempre oportunidade para o preciso conheci-
que os seus irmãos da carne, as necessidades dos seus mento de si mesmo.
intermediários. Que médium algum se engane em tais perspectivas.
403. — É razoável que os médiuns cogitem da so- Antes sofrer a incompreensão dos companheiros que
lução de assuntos materiais junto dos seus mentores do transigir com os princípios, caindo na irresponsabili-
plano invisível? dade ou nas penosa»? dívidas de conciencia.
— Não se deve esquecer que o campo de atividades 405. — Poder-se-á admitir que os espiritistas se va-
materiais é a escola sagrada dos espíritos encorpados no lham de um apostolado mediúnico, para solução de to-
orbe terrestre. Se não é possível aos amigos espirituais das as dificuldades da vida?
quebrarem a lei de liberdade própria de seus irmãos, — O médium não deve ser sobrecarregado com exi-
não é lícito que o médium cogite da solução de pro- gencias de seus companheiros, relativamente ás dificul-
blemas materiais junto dos espíritos amigos. O mundo dades da sorte. É justo que seus irmãos se socorram das
é o caminho no qual a alma deve provar a experiência, "suas faculdades, em circunstancias excepcionais da exis-
testemunhar a fé, desenvolver as tendências superiores, tencia, como nos casos de enfermidade e outros que se
conhecer o bem, aprender o melhor, enriquecer os dotes lhe assemelhem. Todavia, cercar um médium de soli-
individuais. citações de toda a natureza é desvirtuar a tarefa de um
O médium que se arrisca a desviar suas faculda- amigo, eliminando as suas possibilidades mais preciosas
des psíquicas para o terreno da materialidade do mu;"do e, além do mais, não se deverá repetir no espiritismo
ístá em marcha para as manifestações grosseiras dos» sincero a atitude mental dos católico-romanos, que se
planos inferiores, onde poderá contrair os débitos mais abandonam junto á "imagem" de um "santo", olvi-
penosos. dando todos os valores do esforço próprio.
404. — Deve o médium sacrificar o cumprimento Os núcleos espiritistas precisam considerar que, em
de suas obrigações no trabalho cotidiano e no ambiente seus trabalhos, ha quem os acompanhe do plano superior
sagrado da família, em favor da propaganda doutri- e que receberão sempre o concurso espiritual de seus
nária? irmãos libertos da carne, dependendo a satisfação desse
— O médium somente deve dar aos serviços da ou daquele problema particular, dos méritos de cada
doutrina a cota de tempo de que possa dispor, entre os um. Proceder em contrário, é confundir e eliminar O
202 EMMANUEL O CONSOLADOR 203

aparelho mediúnico, fornecendo um doloroso testemunho trabalho sincero é elevação e toda dor é uma luz, quando
de incompreensão. suportada com serenidade e confiança no Mestre dos
406. — Quando um investigador busque valer-se Mestres.
dos serviços de um médium, ê justo que submeta o apa- 409. — Como deverá proceder o médium sincero
relho meãianímico a toda sorte de experiências, afim-de para a valorização do seu apostolado?
certificar-se dos seus pontos de vista? — O médium sincero necessita compreender que,
— Depende do caráter dessas mesmas experiências antes de cogitar da doutrinação dos espíritos, ou de seus
e, quaisquer que elas sejam, o médium necessita muito companheiros de luta na Terra, faz-se mister a ilumi-
cuidado, porquanto, no caminho das aquisições espiri- nação de si próprio pelo conhecimento, pelo cumpri-
tuais cada investigador encontra o material que pro- mento dos deveres mais elevados e pelo esforço de si
cura. E quem se aproxima de uma fonte espiritual, tis- mesmo na assimilação perfeita dos princípios doutri-
nando-a com a má fé e a insineeridade, não pôde, por nários .
certo, saciar a sede com uma agua pura. No desdobramento dessa tarefa, jamais deve des-
407. — Para que alguém se certifique da verdade cuidar-se da vigilância, buscando aproveitar as possibi-
do espiritismo, bastará recorrer a um bom médium? lidades que Jesus lhe concedeu na edificação do tra-
— Os estudiosos do espiritismo, ainda sem uma balho estável e útil. Não deve cultivar o sofrimento
convicção valorosa e séria no terreno da fé, precisam pelas queixas descabidas e demasiadas e nem recorrer,
reconhecer que, em trabalhos dessa ordem, não basta o a todo instante, á assistência dos seus guias, como se
recurso de um bom médium. O medianeiro não fará perseverasse em manter uma atitude de criança inex-
milagres dentro da natureza. Faz-se mister que o in- periente. O estudo da doutrina e, sobretudo, o cultivo
vestigador, a par de uma curiosidade sadia, possua va- da anto-evangelização, devem ser ininterruptos. O mé-
lores morais imprescindiveis, como a sinceridade e o dium sincero sabe vigiar, fugindo da exploração material
amor do bem, servindo á uma existência reta e fértil ou sentimental, compreendendo, em todas as ocasiões,
de 'ações puras. que o mais necessitado de misericórdia é ele próprio,
408. — Seria proveitosa a criação de associações de afim-de dar pleno testemunho do seu apostolado.
auxílio material aos médiuns? 410. — Onde o maior escolho do apostolado me-
— Em espiritismo é sempre de bom aviso evitar-se diúnico ?
a consecução de iniciativas tendentes a estabelecer uma — O primeiro inimigo do médium reside dentro
nova classe sacerdotal no mundo. dele mesmo. Frequentemente é o personalismo, é a
Os médiuns, nesse ou naquele sector da sociedade ambição, a ignorância ou a rebeldia no voluntário des-
humana, devem o mesmo tributo ao trabalho, á luta e conhecimento dos seus deveres á luz do Evangelho, fa-
ao sofrimento, indispensáveis á conquista do agasalho e tores de inferioridade moral que, não raro, o conduzem
do pão material. Ao demais, temos de considerar, acima á invigilancia, á leviandade e á confusão dos campos
de toda proteção precária do mundo, o amparo de Jesus improdutivos.
aos seus trabalhadores de boa vontade. Toda expressão Contra esse inimigo é preciso movimentar as ener-
de sacrifício sincero está eivada de uma luz divina, todo gias íntimas pelo estudo, pelo cultivo da humildade,
204 EMMANUEL O CONSOLADOR 205

pela boa vontade, com o melhor esforço de auto-educa- 411. — Onde a luz definitiva para a vitória do
ção, á claridade do Evangelho. apostolado mediúnico?
O segundo inimigo mais poderoso do apostolado — Essa claridade divina está no Evangelho de
mediúnico não reside no campo das atividades contrá- Jesus, com o qual o missionário deve estar plenamente
rias á expansão da doutrina, mas no próprio seio das identificado para a realização sagrada da sua tarefa.
organizações espiritistas, constituindo-se daquele que se O médium sem Evangelho pôde fornecer as mais eleva-
convenceu quanto aos fenómenos, sem se converter ao das informações ao quadro das filosofias e ciências
Evangelho pelo coração, trazendo para as fileiras do fragmentárias da Terra; pôde ser um profissional de
Cosolador os seus caprichos pessoais, as suas paixões nomeada, um agente de experiências do invisível, mas
inferiores, tendências nocivas, opiniões cristalizadas no não poderá ser um. apóstolo pelo coração. Só a aplica-
endurecimento do coração, sem reconhecer a realidade ção com o Divino Mestre prepara no íntimo do traba-
de suas deficiências e a exiguidade dos seus cabedais ín- lhador a fibra da iluminação para o amor, e da resis-
timos. Habituados ao estacionamento, esses irmãos infe- tência contra as energias destruidoras, porque o médium
lizes desdenham o esforço próprio, — única estrada de evangelizado sabe cultivar a humildade no amor ao tra-
edificação definitiva e sincera — para recorrerem aos balho de cada dia, na tolerância esclarecida, no esfôx-ço
espíritos amigos nas menores dificuldades da vida, como educativo de si mesmo, na significação da vida, sabendo,
se o apostolado mediúnico fosse uma cadeira de car- igualmente, levantar-se para a defesa da sua tarefa de
tomante. Incapazes do trabalho interior pela edificação amor, defendendo a verdade sem transigir com os prin-
própria na fé e na confiança em Deus, dizem-se neces- cípios no momento oportuno.
sitados de conforto. Se desatendidos em seus caprichos O apostolado mediúnico, portanto, não se constitue
inferiores e nas suas questões pessoais, estão sempre tão somente da movimentação das energias psíquicas
prontos para acusar e escarnecer. Falam da caridade em suas expressões fenomênicas e mecânicas, porque
humilhando todos os princípios fraternos; não conhecem exige o trabalho e o sacrifício do coração, onde a luz
outro interesse além do que lastreia o seu próprio da comprovação e da referencia é a que nasce do enten-
egoismo. São irônicos, acusadores e procedem quasi sem- dimento e da aplicação com Jesus Cristo.
pre como crianças levianas e inquietas. Esses são tam-
bém aqueles elementos da confusão, que não penetram FIM
o templo de Jesus e nem permitem a entrada de seus
irmãos.
N O T A F I N A L
Esse gênero de inimigos do apostolado mediúnico
é muito comum e insistente nos seus processos de insi- No Livro dos Espíritos, de Allan Kardee, a teoria
nuação, sendo indispensável que o missionário do bem das almas gêmeas, ou metades eternas, se encontra assim
e da luz se resguarde ha prece e na vigilância. E como posta:
a verdade deve sempre surgir no instante oportuno, P . — 298. As almas que se devem unir, são
para que o campo do apostolado não se esterilize, faz-se desde a sua origem predestinadas a essa união? Tem
imprescindível fugir deles. cada um de nós, em algum ponto do universo, a sua
206 EMMANUEL O CONSOLADOR 207

metade a que um dia haja fatalmente de unir-se? tos. A afinidade espiritual deve ser extensiva a
R . — Não; não existe iniião particular e fatal en- todas as criaturas e se esse sistema de gênese bina-
tre duas almas. A união existe entre todos os Espíritos, ria pudesse justificar-se, a comunhão universal ja-
mas em graus diferentes, segundo a posição que ocupam, mais seria una e integral. Como contingência aci-
isto é, segundo a perfeição que adquiriram. Quanto dental, na trajetória dos seres decaídos, poder-se-ia
mais perfeitos, mais unidos. Da discórdia nascem todos talvez admitir, mas, ainda assim, em caráter tran-
os males da humanidade e da concórdia resulta a felici- sitório, condicional, nunca absoluto. De outra fôr-
dade completa. ma, parece-nos, seria um dualismo excecional, bar-
Depois, resumindo o ensino que se desenvolve dos reira oposta á lei do amor, que deve abranjer todas
§§ 291 a 302, o Codificador o ilustra com o seguinte as criaturas de Deus em perfeita identidade de
comentário pessoal: origem e de fins. De resto, o nosso grande Amigo
" A teoria das metades eternas é uma figura da e lúcido Instrutor é presto no afirmar que Jesus
união de dois espíritos simpáticos; é uma expressão escapa ou transcende á sua concepção. Ora, assente
usada mesmo na linguagem vulgar, por isso não como postulado incontroverso, que ha muitos Cris-
devemos tomá-la ao pé da letra. Seguramente, os tos, achamos nós que a teoria, ou sistema das almas
espíritos que a têm utilizado não pertencem a uma gêmeas, deixa de ter cunho universal e desneces-
ordem elevada, a esfera de' suas idéias é necessa- sário será equacioná-la.
riamente limitada e eles exprimiram o pensamento Para nós, o problema se ajusta muito melhor
pelos termos de que se tinham servido durante a ao instituto da família, como ensaio de comunhão
vida. corporal. Deve-se, pois, rejeitar a idéia de dual, mas sempre condicional ou acidental e tran-
dois espíritos criados um para o outro e devendo sitória, colimando a unificação coletiva com o
um dia unir-se fatalmente para a eternidade, de- Cristo, para D e u s . "
pois de terem estado separados por tempo mais ou A estas considerações, dignou-se de responder o
menos l o n g o . " insigne e bondoso Emmanuel, com a seguinte mensagem:
Esta circunstancia e a presunção, sempre cabivel,
de qualquer falha na captação mediúnica, tão sutil e "Meu amigo, Deus te abençoe o coração nas lutas
delicada, nos levaram a formular ao médium, para que materiais. Agradecendo o teu carinho fraterno na co-
as submetesse ao seu preclaro Mentor e Autor deste li- laboração amiga e sincera de sempre, peço a modifi-
vro, as seguintes obj ecoes: cação do texto da questão n. 378, do novo trabalho,
"Esta teoria, ou hipótese, afigura-se-nos aqui que deverá ser apresentado nos seguintes termos:
algo obscura. Não satisfaz, e da fôrma por que é — "Grande mímero de almas desencarnadas nas
apresentada, parece-nos ilógica e contraditória. De ilusões da vida física, guardadas quasi que integral-
fato, essa criação original dúplice, induz a concluir mente no íntimo, conservam-se, por algum tempo, inca-
que as almas surgem incompletas. É ilação incom- pazes de apreender as vibrações do plano espiritual,
patível com a onieiencia de Deus. Aliás, é idéia sendo conduzidas pelos seus guias e amigos redimidos
recusada por Allan Kardec, no Livro dos Espíri- as reuniões fraternas do espiritismo evangélico, onde,
208 EMMANUEL.

sob as vistas amoraveis desses mesmos mentores do plano


invisível, se processam os dispositivos da lei de coopera-
ção e benefícios mútuos, que rege os fenómenos da vida
nos dois planos."
Devo a pequena confusão observada, concedendo
á matéria certos ascendentes que só pertencem ao espí-
rito, a perturbações do método de "filtragem me-
diúnica", onde o meu pensamento foi prejudicado.
Solicitando essa modificação, pediria a conservação
no texto, da humilde exposição, relativa á tese das
"almas gêmeas", ainda que, em eonciencia, sejam os
amigos da Casa de Ismael compelidos á apresentação
de uma ressalva, em obediência á lealdade de um respei-
tável ponto de vista. A tese, todavia, é mais complexa
do que parece ao primeiro exame, e sugere mais vasta
meditação ás tendências do século, no capítulo do " d i -
vorcismo" e do "pan-sexualismo", que a ciência de con-
fusão vem lançando nos espíritos. No caso do Cristo,
devemos invocar toda veneração para o trato de sua
personalidade divina, motivo pelo qual apenas tratei
do assunto com referencia aos homens, para considerar
que as uniões, em toda vida, são orientadas por as-
cendentes de amor mais profundos que aqueles entro-
sados nas humanas concepções, que se modificam na
esteira evolutiva. Se possível, eis o que me permito
solicitar, renovando ao querido irmão o meu agradeci-
mento sincero e a minha afeição de todos os dias."
EMMANUEL .
Aí têm os leitores a ressalva que visa conciliar a
fidelidade do nosso programa integral com a veneração
e reconhecimento, mais que merecidos, ao emérito e sá-
bio cultor da Seara Cristã, para que cada qual possa in-
terpretar e decidir de foro íntimo, com aquela prerro-
gativa de liberdade que é apanágio maior da nossa
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