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Tradução de “Personal Assistance in Community Existence” que forma o acrônimo Pace, palavra que em
inglês possui o significado de ritmo, o que faz sentido em se referindo ao slogan “Rocovery at your pace”, ou
seja, “Recovery no seu próprio ritmo”.
Índice
Laurie Ahern foi internada e rotulada como portadora de doença mental aos 19 anos.
Ela se recovered e se tornou a editora-gerente de quatro jornais e escritora autônoma da
Associated Press, The Boston Globe e várias outras publicações nacionais. Ela ganhou prêmios
nacionais por sua escrita investigativa e editorial.
Laurie é atualmente Diretora Associada da Mental Disability Rights International5,
MDRI, uma organização internacional de direitos humanos dedicada a proteger os direitos
humanos de crianças e adultos com deficiência mental em todo o mundo. Anteriormente, ela
foi codiretora do National Empowerment Center, Inc. Ela foi editora do Boletim NEC e co-
criadora do Modelo PACE de Recuperação e Capacitação. Seu trabalho foi publicado em
periódicos profissionais, em uma variedade de mídias e traduzido para seis idiomas. Ela
recebeu o Prêmio de Advocacia do Bazelon Center for Mental Health Law6. Laurie atuou como
2
O conceito recovery em inglês não possui tradução apropriada para o português, aproximando-se, porém
não equivalendo, da palavra recuperação. O conceito designa um modelo que foca na pessoa e não na doença,
bem como em um processo baseado em determinados pilares que incluem: a retomada da esperança,
afirmação da identidade, o desenvolvimento de vínculos e relacionamentos que forneçam apoio, de
estratégias de enfrentamento e o empoderamento, etc. Aqui será utilizado o termo original (Recovery), bem
como os verbos em inglês derivados e que designam esse processo, e que serão destacados em itálico.
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Livremente traduzido como Centro Nacional de Empoderamento.
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Livremente traduzido como Centro de Tratamento Comunitário Dia Riverside.
5
Livremente traduzido como Direitos de DeficiênciaMmental internacional
6
Centro Bazelon para Direito em Saúde Mental.
vice-presidente da Associação Nacional de Direitos, Proteção e Advocacia (NARPA) e editora
de seu boletim informativo, The Tenet.
Tanto Dan como Laurie conduzem workshops, dão palestras e organizam conferências
para consumidores7, sobreviventes, famílias e profissionais de saúde mental para promover
a recuperação de pessoas rotuladas como doentes mentais. Eles foram nomeados co-
recipientes do prêmio Clifford Beers da National Mental Health Association em 2002.
PACE
Como a Assistência Pessoal na Existência Comunitária facilita a
recuperação das pessoas de "transtornos mentais"
As pessoas podem recover e de fato recover de sofrimento emocional grave conhecido
como "doença mental". No entanto, a maioria dos serviços de saúde mental - tanto dentro
do hospital quanto fora, na comunidade, - operam a partir da crença de que a doença mental
é uma condição permanente e vitalícia da qual as pessoas nunca se recuperam totalmente.
Os objetivos subjacentes do que é conhecido como modelo médicos e/ou de reabilitação são:
estabilização, manutenção e um maior nível de funcionamento enquanto permanece-se
mentalmente doente.
Pesquisa sobre recovery apontam que, dada a combinação certa de atitudes e apoio,
as pessoas podem recover completamente de transtornos mentais. Como resultado desta
pesquisa e com base no modelo de recovery do National Empowerment Center,
desenvolvemos uma nova forma de auxiliar as pessoas em sua jornada de recovery chamada:
7
Consumidor é um dos muitos termos como cliente, recipiente ou pessoa rotulada com doença mental, que
descrevem a pessoa que utiliza os serviços de saúde mental.
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PACE é o acrônomico para Personal Assistance in Community Existence, traduzido como Assistência Pessoal
para Existência na Comunidade.
Este manual foi elaborado para todas as pessoas afetadas por transtornos mentais. É
para administradores e provedores9 que desejam colocar em prática as informações mais
recentes sobre recovery. É para pessoas que recovered ou que estão em processo de recovery
e querem ajudar a si mesmas ou a outras pessoas. É uma ferramenta inestimável para
professores, instrutores e membros da família.
Em um formato fácil de acompanhar, revisamos os princípios do recovery que
emergiram das pesquisas mais recentes. Ilustramos como o Modelo de Capacitação de
recovery fornece aos que dão e aos que recebem assistência uma visão otimista de seu futuro,
e oferece maneiras de aplicar os princípios PACE em qualquer ambiente onde as pessoas
estejam em recovery.
Princípios do PACE
As pessoas recover completemente mesmo das formas mais graves de "doença mental"
As pessoas devem ser capazes de seguir seus próprios sonhos para recover
Tudo o que aprendemos sobre a importância das conexões humanas se aplica igualmente a
pessoas rotuladas como "doentes mentais"
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Provedores é uma tradução para o termo “providers” que designa aqueles que prestam serviços em saúde
mental, sejam profissionais ou não (tal como voluntários ou pares).
Sentir-se emocionalmente seguro nos relacionamentos é vital para expressar sentimentos, o
que ajuda o recovery
Voltar-se para o futuro: as pessoas também são motivadas a sentir que estão
desenvolvendo elementos de si mesmas que não possuíam antes de serem rotuladas,
e não simplesmente retornando à sua condição anterior ao rótulo.
Alguém que acreditou em mim: Um entrevistado afirmou sobre seu terapeuta, "ele
validava que eu tinha muito a oferecer e tinha certeza de que eu era um indivíduo
único ...". Outra disse: "ela acreditava que eu era capaz de superar isso". Outro
descreveu que podia detectar sinais de convicção nas pessoas que realmente o
entendiam. Eram pessoas que “acreditavam na [minha] capacidade de ter uma vida,
de assumir responsabilidades, de mudar”.
Pessoas que fazem você se sentir seguro são pessoas em quem você pode confiar:
este tema é essencial para muitos que sentiam que podiam se expressar mais
livremente em tal relacionamento. “Ele sabia o que dizer para me fazer sentir segura
e confiei nele”. A segurança também pode envolver ter alguém para ajudar a resolver
problemas: "Vamos tentar resolver o que for que acontecer".
Pessoas que passaram por uma experiência semelhante: As pessoas se sentem mais
confortáveis e aceitas por quem já passou por uma experiência semelhante. Isso é
análogo a pessoas que se recuperaram do vício sendo os melhores conselheiros para
pessoas que estão apenas começando a ficar sóbrias. É por isso que os serviços
administrados pelo consumidor são tão atraentes e os consumidores que trabalham
como provedores desempenham um papel especial.
Pessoas que podem ser humanas: uma pessoa descreve seu terapeuta como sendo
humano, falível, aberto à correção e não se portando como se fosse um deus. Outro
solicitou que acima de tudo o seu terapeuta fosse real, ao que o terapeuta respondeu
que tentaria. O humor foi citado como um fator importante. Ao descrever um
cuidador um consumidor relatou, "ele me ficava me fazendo rir quando eu o via ... ele
me fazia rir". A maioria dos entrevistados considerou a distância profissional uma
barreira.
Pessoas que permitem que você recover em seu próprio ritmo: Em ambientes clínicos,
isso significa que é necessária uma colaboração entre as pessoas que estão se em sua
jornada de recovery e as pessoas que as assistem. Isso permite a formação de um
plano de recovery, que se baseia nos sonhos e nas metas de recovery das pessoas, e
não nas metas da equipe. Essa abordagem melhorou a motivação porque as pessoas
trabalham com muito mais afinco para realizar seus próprios sonhos e objetivos. Isso
deve ser feito em um ambiente não ameaçador e não coercitivo.
Pessoas que se preocupam com você: "Pela primeira vez em muitos anos eu senti que
alguém se preocupava comigo. Na minha vida não há nada mais importante do que
minhas amizades".
3. Habilidades de Recovery: Uma vez que as pessoas e sua rede passam a acreditar em
sua capacidade de recover e acreditar em si mesmas; elas podem adquirir muitas das
habilidades necessárias para administrar suas próprias vidas e seu sofrimento
emocional. Uma habilidade primária é aprender a se conectar emocionalmente.
Aprender a expressar raiva, tristeza, alegria, amor e medo ajuda as pessoas a fazerem
amigos e obterem controle sobre suas vidas. O cuidado autogerido é o conjunto de
habilidades para gerenciar estados emocionais graves sem o uso de medicamentos.
Às vezes, pode ser necessário fazer uso de medicação e aprender a usá-la de maneira
informada e voluntária como uma ferramenta entre muitas rumo ao recovery.
Técnicas de autocuidado: Essas são as coisas que uma pessoa pode fazer por si mesma.
As pessoas achavam útil descobrir o que as fazia se sentir bem, como escrever, pintar
ou fazer caminhadas. A saúde holística oferece muitas técnicas de autocuidado, como
meditação, exercícios, ioga e nutrição, para citar algumas.
Relembrando os sucessos anteriores: "Eu me dizia que já fiz isso antes ... [é] um
mecanismo de autoconstrução."
Sentir-se inteiro: muitos disseram que se sentir uma pessoa inteira novamente era
importante para o recovery.
Ajudar os outros dá sentido à vida das pessoas: Uma pessoa disse, "ajudar as pessoas
dá sentido e propósito à minha vida". Este é o apelo para que consumidores voltem
para trabalhar no sistema de saúde mental como provedores. Uma pessoa no estudo
afirmou, depois de voltar à escola para se tornar um profissional de saúde mental,
"Pela primeira vez na minha vida, sinto-me fortalecido ... Quando acordo de manhã,
sinto-me cheio de emoção e admiração ... Eu quero ir para o meu trabalho e gritar, se
eu consigo, vocês também conseguem! "
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O movimento consumidor/sobrevivente/ex-paciente (c/s/x) é uma rede international de pessoas que foram
rotuladas como doentes mentais e que juntas trabalham em prol do advocacy, apoio político e recovery.
Pesquisa da NEC sobre como as pessoas recover de "doenças
mentais"
Pesquisas adicionais nos últimos 30 anos apontaram que fatores sociais, culturais e
econômicos desempenham um grande papel na incidência e recovery de transtornos
mentais. Quando o sistema de saúde mental e a sociedade acreditam que as pessoas podem
recover até das formas mais graves de transtorno mental, os resultados são mais positivos.
A Dra. Nancy Waxler conduziu uma pesquisa que mostrou que as taxas de recovery da
esquizofrenia eram muito maiores nos país em desenvolvimento, Sri Lanka do que na
Inglaterra. Ela concluiu que, onde a esquizofrenia é vista como um distúrbio agudo do qual se
espera que as pessoas recover, como de qualquer outro distúrbio agudo, as pessoas
realmente recovered (Waxler, 1979).
O Dr. Harry Stack Sullivan foi um dos primeiros clínicos a questionar o curso
descendente previsto para pessoas rotuladas com esquizofrenia. A partir de seu trabalho com
pacientes e sua pesquisa, ele concluiu que as pessoas podiam recover. Além disso, ele atribuiu
grande parte deste recovery à crença de que poderiam recover e à sua capacidade de se
reintegrar à sociedade. "Se o paciente tem a crença consciente de que pode contornar ou
superar as desvantagens ambientais, e se essa crença é característica de uma integração
mental abrangente, seu recovery prossegue. Se nenhuma reconstrução for realizada, o
paciente não irá recover" (Sullivan, 1962).
A Dra. Loren Mosher, com uma bolsa do Instituto Nacional de Saúde Mental, abriu a
Soteria House na Califórnia em 1971 como uma alternativa não-médica à hospitalização para
o tratamento da psicose. Os residentes estavam experimentando sua primeira crise psicótica
de ruptura com a realidade compartilhada de seu ambiente social usual e foram
diagnosticados com esquizofrenia. A missão da Soteria House era "fornecer um ambiente
social simples, caseiro, seguro, caloroso, de apoio, sem pressa, tolerante e não intrusivo",
principalmente "estando com/convivendo com" os residentes. A equipe da casa acreditava
que o envolvimento humano e a compreensão sinceros eram interações críticas curativas.
Em geral, acredita-se que será usado o tratamento que seja mais eficaz dentre as
alternativas, mas os tratamentos psicológicos para a esquizofrenia e outras reações psicóticas
foram evitados, apesar das evidências de sua eficácia desde a época do "tratamento moral"
até o presente. Tratamentos menos eficazes, e até mesmo destrutivos, foram utilizados, em
parte, porque não exigem a compreender esses pacientes. Compreender as pessoas
esquizofrênicas significa nos deparar com fatos sobre nós mesmos, nossas famílias e nossa
sociedade sobre os quais não queremos saber ou saber novamente (no caso de sentimentos
ou experiências recalcados)" (Karon, 1992).
Recuperando o controle
Acreditar em si e ter quem acredite
em você
Doente Mental
Perda do controle, Equilibrado e
desconexão conectado
Sofrimento
Emocional
Recovery do transtorno
mental
recuperação do controle
Cura emocional
da própria vida
O diagrama acima descreve nosso modelo de recovery com base em pesquisas que nós e
outros realizamos. Este modelo descreve o processo de como as pessoas são rotuladas de
doentes mentais e conseguem recover.
Sofrimento emocional: Este grau de angústia pode assumir a forma de pesar, medo, tristeza,
mas muitas vezes não interrompe completamente o cumprimento de seu papel social normal,
como aluno, amante, trabalhador e/ou pai. As pessoas ainda são vistas como membros plenos
da sociedade e mantêm o controle sobre as principais decisões de suas vidas. Para obter alívio
dessa angústia, eles/as se envolvem em =>
Cura emocional: Assim como o sofrimento é universal, a cura também é universal. As pessoas
se curam de várias maneiras, algumas individualmente, outras em grupos. A cura geralmente
envolve encontrar significado/dar sentido e recuperar um sentimento de mais equilíbrio e
completude. No entanto, para algumas pessoas, perda e trauma resultam em um estado de
=>
PACE/Modelo de Empoderamento
Ciclo de autoconstrução
A vida tem
significado Ser uma pessoa
plena/inteira
Voz ~
Expressão Social
Corajoso/a,
Destimido/a
Intimidade
Sistema de saúde mental tradicional
Ciclo de autodestruição
Fragmentado/a
visão mecanicista
Vida sem
significado/sentido
Temeroso/a,
Delirante
Impotente
Alienado/a
Comparação do Sistema de Saúde Mental Tradicional vs. PACE
Um por um, vários médicos me abordaram, começando pelo médico responsável e, aos
poucos, os profissionais mais baixos na escala social. Cada um disparou uma série de
perguntas. Cada um parecia pouco preocupado com quem eu realmente era; sua intenção
era de preencher formulários. Não vendo nenhuma razão para responder às suas perguntas,
permaneci em silêncio. Eles me sentaram uma cadeira de rodas e me empurram para um
canto enquanto decidiam o que fazer a seguir. Enquanto isso, um jovem paramédico, o clínico
de nível mais baixo na sala de emergência, parou para me ver. Ele olhou para mim por um
longo tempo sem falar. Ele olhou para mim de uma maneira atenciosa e focada. Estava claro
em seus olhos que ele se importava com o eu que continuava ali bem no fundo da pessoa
perturbada. Com uma voz muito gentil, ele disse: "Olá, meu nome é Rick. Vejo que você está
sofrendo muito. Você poderia balançar a cabeça se me ouvir?"
Eu balancei a cabeça, e naquele momento senti que poderia voltar a viver com outras
pessoas.
~ Daniel Fisher
"Emoções".
"Medo e solidão"
Quando ele se sentia sozinho, ele buscava se aproximar, então ele se inclinava para frente.
Mas quando a inclinação o aproximava das pessoas, ele se assustava e se afastava
endireitando-se. Sempre há um significado pessoal nos comportamentos mais incomuns. O
homem recovered completamente da esquizofrenia em oito semanas. (Karon, 1992)
Era uma vez dois jovens rapazes maravilhosos, felizes, inteligentes. Ambos estavam na
faculdade, vivendo sozinhos - testando as águas - testando a si mesmos. Novos amigos, novas
liberdades, novos amores, novas ideias, novas tentações - tudo novo. Ambos tinham o mundo
a seus pés e eram limitados apenas por suas próprias imaginações acerca daquilo que suas
vidas poderiam ser, poderiam se tornar. E então “boom”11.
Bem, como eu disse, Jack é uma criança que conheço desde sempre. Eu o observei
crescer dentro de sua mãe, observei-o dar seus primeiros passos e dizer suas primeiras
palavras. Eu acompanhava e continuo acompanhando.
Karl, conheci há apenas alguns meses - por meio da linha telefônica 0800 do NEC. Karl,
eu não conheço – e ainda assim, o conheço. Os paralelos entre esses dois jovens são
assustadores - embora os resultados sejam tão diferentes - tão assustadoramente diferentes.
Colapso. Colapso. Colapso. Parece que acontece nessa idade, não é? Dezoito a vinte e
poucos anos. E isso aconteceu com Jack e Karl.
Jack estava na faculdade na Nova Inglaterra e Karl estudava na costa oeste. Lembro-
me que quando Jack tinha quinze anos, ele e um amigo foram assaltados a faca. Apesar de
terem capturado o homem - e ele foi sentenciado a sete anos de prisão - Jack nunca pareceu
se recuperar completamente. Ele não ficava sozinho em casa à noite, sempre trancava as
portas do carro para onde quer que fosse, e não viajava sem o celular.
Quando Karl me ligou no NEC, ele me contou sobre uma época em que ele era um
estudante de intercâmbio e como ele havia sido roubado - assaltado - sozinho em um país
estrangeiro - e nunca tinha ficado tão apavorado em sua vida.
Eu te digo essas coisas por um motivo.
Jack sempre quis ser jornalista, e Karl me disse que a música é sua paixão desde que
ele se entende por gente.
Ambos tinham grandes esperanças, grandes sonhos, Só resta um sonhador. O outro
sonhador morreu com seus sonhos quando foi rotulado "doente mental".
Cada um experimentou drogas pela primeira vez na faculdade - Jack foi a um show e
experimentou LSD. Karl começou a fumar maconha com a banda que formou na faculdade. A
caixa de Pandora agora estava aberta. Paranoia e medo penetraram, substituindo a lógica.
Homens estavam perseguindo-os, as pessoas falavam deles. Eles não conseguiam dormir, não
podiam comer. O medo era o fator dominante em suas vidas. As drogas tinham acabado, a
brisa acabou, a viagem tinha cessado - mas os demônios permaneceram.
Jack ligou para casa e os amigos de Karl ligaram para seus pais. É aqui que a estrada se
divide. É aqui que terminam as semelhanças. É aqui que um tem um colapso e o outro uma
superação.
A mãe de Jack sabia que ele estava com medo. Ela disse a ele para deixar a faculdade
e voltar para casa. Ela sentiu que precisava ajudá-lo a se sentir seguro novamente - a única
maneira de tirá-lo dessa paranoia profunda.
Os pais de Karl disseram a ele para voltar para casa. Eles também sabiam que ele
estava com medo e precisava de ajuda. Eles o levaram ao melhor psiquiatra. Ele foi
hospitalizado. Ele foi medicado. Disseram-lhe que tinha um desequilíbrio químico no cérebro.
Ele foi rotulado. Disseram-lhe que a faculdade era muito estressante para ele, ele nunca
poderia voltar. Ele tentou suicídio. Ele viveu, mas seus sonhos, seus sonhos morreram.
A mãe de Jack e seus amigos ficaram em casa com ele escutando sobre seus medos.
Ele parou de tomar cafeína, comeu alimentos saudáveis e tomou banhos longos e quentes.
Ele fez acupuntura, massagens e encontrou um terapeuta que não o rotulou. Eles passeavam
11
“Boom” é uma onomatopoeia em inglês que, simultaneamente, indica o barulho de uma choque ou
colapso, e o próprio colapso.
juntos, conversavam. Lentamente, muito lentamente, ele se sentiu seguro o suficiente para
voltar. E então eles trabalharam em por que ele teve de “ir embora”, por que essa realidade
era tão assustadora que ele precisou deixá-la para começo de conversa.
Jack - bem, Jack está de volta morando na faculdade. Ele começou a se exercitar e se
tornou voluntário em uma casa para adultos com retardo mental. Ele me disse várias coisas
desde sua superação: "Esta é a coisa mais dolorosa que já passei na minha vida e eu não
desejaria isso a ninguém - mas eu não mudaria nada. Melhor eu lidar com essas questões
agora do que esperar até ter quarenta ou cinquenta anos. Sinto-me mais forte do que nunca.
Aprendi muito sobre mim, ainda tenho medos, mas eu os controlo - eles já não me
controlam".
Karl me ligou depois de voltar para casa depois de seu último dia no programa de
tratamento dia. "Eu vi uma placa na janela de um restaurante - eles estavam procurando um
lavador de louça. Você acha que eu dou conta de lidar com isso?".
Eu sou um ser humano único: eu e outros humanos ao meu redor existimos ao mesmo tempo
nos níveis espiritual, mental e físico. Cada um de nós tem seus próprios pensamentos,
sentimentos e consciência, os quais podemos compartilhar em parte uns com os outros e em
parte guardar para nós mesmos. Sou mais do que uma máquina química. Sou uma pessoa que
recovered de experiências rotuladas como "doença mental" e do tratamento que recebi. Eu
valho tanto quanto qualquer outra pessoa.
Posso dizer sim à vida: há dias melhores pela frente. Não importa quão escuro seja o
presente, posso sonhar, ter esperança e me ver tendo um futuro, porque ser humano significa
que não estou condenado a reviver meu passado. Posso aprender a confiar em mim mesmo/a
e a me perdoar.
Posso tomar decisões sobre minha vida: na verdade, só eu posso tomar as decisões mais
importantes sobre minha vida. Outros podem fornecer ferramentas e apoio, mas devo
administrar minha própria vida. Sinto-me motivado a realizar as decisões que tomo porque
elas estão conectadas a quem eu sou. Sinto-me desmotivado para realizar os planos de outra
pessoa baseados em quem pensam que sou.
Dirigirei meu próprio recovery: existe uma velha expressão "Os médicos tratam as feridas
enquanto Deus as cura". Para mim, isso significa que os médicos e outros ajudantes podem
reduzir sintomas, mas cada pessoa dirige seu própria recovery. Tratamentos, conselhos e
apoio são úteis quando usados por você como parte do recovery. Assim como o sofrimento
emocional severo afeta todos os níveis de mim, o recovery ocorre quando eu presto atenção
em todos os níveis.
Posso ter relacionamentos e trabalho significativos: tenho o direito e preciso estar com
pessoas que se preocupam comigo e me valorizam pelo que sou, pessoas que querem que eu
seja eu mesmo. Da mesma forma, posso cuidar deles e respeitá-los. No trabalho, preciso
sentir que faço uma diferença positiva na vida das pessoas ao meu redor. Preciso sentir que
meus esforços cumprem os objetivos que estabeleci para mim.
Posso fazer a diferença na minha comunidade: tenho coisas importantes a dizer. Posso afetar
outras pessoas ao meu redor. Espero que as pessoas ouçam e pensem sobre minhas palavras.
Eu sou uma pessoa e espero respeito, e então posso respeitar os outros.
Estou conectado a todos os seres vivos: a terra e o céu nos tocam e nos conectam a todos.
Eu preciso lutar contra o desejo de me retirar e isolar na minha própria concha. O que vai
volta. Tudo o que faço afeta os outros e vice-versa. “Somos todos uma família sob o mesmo
céu”.
Posso amar e ser amado: sou capaz de dar e receber amor. Posso respeitar e valorizar os
outros e eles podem me respeitar e valorizar. Concordo com a letra da música "I Will Survive":
"Tenho toda a minha vida para viver e tenho todo o meu amor para dar".
Eu tenho a coragem de continuar: não importa quão escuro seja o dia ou quão longa seja a
noite, eu sobreviverei. Já sobrevivi a outros momentos difíceis e sei que outros também
sobreviveram.
Eu acredito em mim mesmo: há sempre um eu, bem lá no fundo, capaz de seguir em frente.
Posso confiar e ter certeza de que meu eu profundo me ajudará nesses tempos difíceis. Posso
encontrar outras pessoas que acreditam em mim, assim como posso acreditar nelas.
Posso superar as crenças negativas: além de reforçar as crenças positivas, é vital eliminar,
neutralizar ou pelo menos suspender as crenças negativas sobre si mesmo e o mundo.
Infelizmente, muitas dessas crenças negativas são o produto de uma cultura materialista e
mecanicista que muitas vezes se reflete em nosso sistema médico moderno que enfatiza a
patologia. Acredito, no entanto, que a saúde - não doenças e enfermidades - é nossa condição
mais comum.
g. Atividades de voluntariado
De si-para-o mundo
Recovery por meio do pertencimento à comunidade
b. Fazer parte de uma comunidade de trabalho por meio do voluntariado ou por meio
de um emprego de meio período ou período integral
c. Maternidade/Paternidade
Apesar de mais de 100 anos de pesquisa, não há evidências de que a doença mental se deva
principalmente a um desequilíbrio químico específico ou diferença genética (Harrison, 1999).
Fatores sociais, psicológicos e culturais são tão importantes quanto os bioquímicos. Somos
seres muito complexos e existimos em muitos níveis ao mesmo tempo. Uma ênfase
exagerada na causalidade biológica fragmenta e distorce a existência, deixando as pessoas
com a sensação de que não são mais do que uma coleção de substâncias químicas sem
sentido. Esse sentimento interfere no recovery, que depende da assunção de um papel ativo
na condução da própria vida e de vivenciar a própria completude.
As pessoas que se recuperaram ainda passam por períodos de sofrimento emocional, mas
não há mais sintomas de doença mental porque aprenderam a manter o controle de suas
vidas. Ouvir vozes é um bom exemplo. Ouvir vozes sempre foi considerado um sintoma de
doença mental. Recentemente, no entanto, a pesquisa de Sandra Escher e do Dr. Marius
Romme (Romme e Escher, 1993) mostrou que muitas pessoas que nunca foram rotuladas
como doentes mentais são ouvidores de vozes. Além disso, eles descobriram que algumas
pessoas que se recuperaram totalmente da esquizofrenia ainda ocasionalmente ouvem
vozes. Eles descobriram que as pessoas que se recuperaram se sentem mais fortes do que
suas vozes e desenvolveram estratégias de enfrentamento. Eles/as podem permanecer
envolvidos/as em relacionamentos de carinho e apoio, apesar das vozes. Também parece
necessário que essas pessoas experimentem as vozes como significativas. As pessoas
precisam sentir que podem entender o que as vozes estão dizendo sobre suas vidas. Então,
eles/as podem tomar medidas para lidar com isso. Esses autores sugerem que a explicação
do desequilíbrio químico oferecida pela psiquiatria biológica não é útil no recovery porque
não deixa espaço para a pessoa aprender a compreender ou controlar sua voz por meio de
seus próprios pensamentos ou ações.
Pesquisas no NEC reforçam essas descobertas, como a história a seguir ilustra: John foi
rotulado pela primeira vez com doença mental grave quando estava na faculdade. Ele estava
muito assustado devido a seus pensamentos e vozes. Ele se isolou. Ele tinha medo de contar
às pessoas o que estava vivenciando. Ele foi hospitalizado várias vezes e foi fortemente
medicado. Gradualmente, por meio de relacionamentos positivos, terapia sensível e trabalho
significativo, ele recovered e retirou a medicação. Vários anos depois, as vozes e os
pensamentos negativos voltaram. Desta vez, porém, ele lidou com a angústia em casa, sem
medicamentos. A diferença é que, por meio de experiências anteriores, ele aprendeu que
poderia tomar medidas para enfrentar tais sentimentos. Ele manteve a esperança e não se
deixou levar pelo medo ou desespero. Ele sentiu que suas vozes o ajudaram a se entender
melhor. Ele também não teve medo de compartilhar sua experiência com sua esposa e
colegas de trabalho. Eles puderam ajudá-lo a fazer ajustes em seu trabalho e em sua vida para
acomodar seu estado temporário de angústia.
Sim, porque fazer uso de medicação não é suficiente para definir uma pessoa como doente
mental. Muitas pessoas na sociedade tomam medicamentos psiquiátricos, mas não são
consideradas doentes mentais. O fator decisivo é se a pessoa aprendeu a recuperar o controle
de sua vida e a cumprir um papel social valioso. Se a medicação for usada voluntariamente
com total consentimento informado, como uma ferramenta de enfrentamento entre muitas
outras, não é um sinal de doença mental.
Referencias
Somos seres biológicos, com certeza, mas
você não pode colocar as experiências de vida
de uma pessoa - medos, traumas,
pensamentos, emoções, sonhos e perdas -
sob um microscópio e diagnosticá-los e
chamar de doença.
~Laurie Aherns