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Assistência Pessoal para Existência Comunitária1

~Uma guia para Recovery*~

Recovery em seu próprio ritmo.

Por Laurie Ahern & Daniel Fisher, M.D., Ph.D.

National Empowerment Center, Inc.


800-POWER-2-U (800-769-3728) www.power2u.org

1
Tradução de “Personal Assistance in Community Existence” que forma o acrônimo Pace, palavra que em
inglês possui o significado de ritmo, o que faz sentido em se referindo ao slogan “Rocovery at your pace”, ou
seja, “Recovery no seu próprio ritmo”.
Índice

Como a Assistência Pessoal na Existência Comunitária facilita a recuperação das pessoas


de "transtornos mentais" ................................................................................................. 4
Princípios do PACE ............................................................................................................ 5
Pesquisa do National Empowerment Center sobre como as pessoas se recuperam de
"transtornos mentais" ...................................................................................................... 6
Pesquisa da NEC sobre como as pessoas recover de "doenças mentais" .......................... 10
PACE é baseado no Modelo Recovery de Empoderamento .............................................. 12
O que é dito às pessoas quando lhes é contado que estão mentalmente doentes ........... 13
Como o modelo Médico / Reabilitação ainda segregava as pessoas rotuladas com doença
mental ........................................................................................................................... 14
Ciclos de Autoconstrução vs. Ciclos de Autodestruição.................................................... 15
Comparação do Sistema de Saúde Mental Tradicional vs. PACE ....................................... 17
A abordagem PACE para ajudar e auxiliar pessoas que estão em estados emocionais de
medo, raiva ou perturbação/abalo* ............................................................................... 18
Uma pessoa carinhosa/atenciosa* ajudou-me a sentir-me seguro................................... 18
O Homem que reverenciava de Karon ............................................................................. 18
Dr. Sandor Bochhoven .................................................................................................... 19
Um conte de/sobre dois meninos ................................................................................... 19
Os valores PACE de acordo com os quais vivo ................................................................. 21
O Plano de Recovery PACE .............................................................................................. 22
Perguntas frequentemente feitas com relação ao PACE e Recovery ................................. 24
Referencias .................................................................................................................... 26
Sobre os Autores
Dan Fisher obteve um PhD em bioquímica e realizou pesquisas em neuroquímica no
National Institute of Mental Health. No decorrer desse trabalho ele, aos 25 anos, foi
diagnosticado com esquizofrenia e foi internado várias vezes. Ele conseguiu recover, obter
um diploma de médico e se tornar um psiquiatra. Sua esposa dirige o Programa de Saúde e
Segurança Ocupacional de Massachusetts. Eles têm duas filhas.
Dan é um dos poucos psiquiatras do país que discute abertamente seu processo de
recovery2 de uma doença mental. Ele recebeu seu A.B. da Universidade de Princeton, seu
Ph.D. em bioquímica pela Universidade de Wisconsin, e seu M.D. pela Universidade George
Washington. Ele é um psiquiatra certificado que completou sua residência na Harvard
Medical School. Além de sua posição como Diretor Executivo do National Empowerment
Center3, Inc., Dan é psiquiatra da equipe do Riverside Community Outpatient Center4 em
Wakefield, Massachusetts.
Dan serviu na Comissão da Nova Liberdade da Casa Branca sobre Saúde Mental. A
participação de Dan foi fundamental para garantir que o Relatório da Comissão incluísse a
visão de criar um "futuro em que todos os portadores de transtornos mentais recover". Ele
continua a estar envolvido na implementação da Comissão.
Dan serviu na Comissão da Nova Liberdade da Casa Branca sobre Saúde Mental. A
participação de Dan foi fundamental para garantir que o Relatório da Comissão incluísse a
visão de criar um "futuro em que todos os portadores de transtornos mentais recover". Ele
continua a estar envolvido na implementação da Comissão.

Laurie Ahern foi internada e rotulada como portadora de doença mental aos 19 anos.
Ela se recovered e se tornou a editora-gerente de quatro jornais e escritora autônoma da
Associated Press, The Boston Globe e várias outras publicações nacionais. Ela ganhou prêmios
nacionais por sua escrita investigativa e editorial.
Laurie é atualmente Diretora Associada da Mental Disability Rights International5,
MDRI, uma organização internacional de direitos humanos dedicada a proteger os direitos
humanos de crianças e adultos com deficiência mental em todo o mundo. Anteriormente, ela
foi codiretora do National Empowerment Center, Inc. Ela foi editora do Boletim NEC e co-
criadora do Modelo PACE de Recuperação e Capacitação. Seu trabalho foi publicado em
periódicos profissionais, em uma variedade de mídias e traduzido para seis idiomas. Ela
recebeu o Prêmio de Advocacia do Bazelon Center for Mental Health Law6. Laurie atuou como

2
O conceito recovery em inglês não possui tradução apropriada para o português, aproximando-se, porém
não equivalendo, da palavra recuperação. O conceito designa um modelo que foca na pessoa e não na doença,
bem como em um processo baseado em determinados pilares que incluem: a retomada da esperança,
afirmação da identidade, o desenvolvimento de vínculos e relacionamentos que forneçam apoio, de
estratégias de enfrentamento e o empoderamento, etc. Aqui será utilizado o termo original (Recovery), bem
como os verbos em inglês derivados e que designam esse processo, e que serão destacados em itálico.
3
Livremente traduzido como Centro Nacional de Empoderamento.
4
Livremente traduzido como Centro de Tratamento Comunitário Dia Riverside.
5
Livremente traduzido como Direitos de DeficiênciaMmental internacional
6
Centro Bazelon para Direito em Saúde Mental.
vice-presidente da Associação Nacional de Direitos, Proteção e Advocacia (NARPA) e editora
de seu boletim informativo, The Tenet.
Tanto Dan como Laurie conduzem workshops, dão palestras e organizam conferências
para consumidores7, sobreviventes, famílias e profissionais de saúde mental para promover
a recuperação de pessoas rotuladas como doentes mentais. Eles foram nomeados co-
recipientes do prêmio Clifford Beers da National Mental Health Association em 2002.

PACE
Como a Assistência Pessoal na Existência Comunitária facilita a
recuperação das pessoas de "transtornos mentais"
As pessoas podem recover e de fato recover de sofrimento emocional grave conhecido
como "doença mental". No entanto, a maioria dos serviços de saúde mental - tanto dentro
do hospital quanto fora, na comunidade, - operam a partir da crença de que a doença mental
é uma condição permanente e vitalícia da qual as pessoas nunca se recuperam totalmente.
Os objetivos subjacentes do que é conhecido como modelo médicos e/ou de reabilitação são:
estabilização, manutenção e um maior nível de funcionamento enquanto permanece-se
mentalmente doente.
Pesquisa sobre recovery apontam que, dada a combinação certa de atitudes e apoio,
as pessoas podem recover completamente de transtornos mentais. Como resultado desta
pesquisa e com base no modelo de recovery do National Empowerment Center,
desenvolvemos uma nova forma de auxiliar as pessoas em sua jornada de recovery chamada:

Assistência Pessoal para Existência na Comunidade, ou PACE8


O PACE é baseado no princípio subjacente de que as pessoas se recuperam do que é
conhecido como doença mental por meio de formas voluntárias de assistência determinadas
pelos próprios indivíduos. A pedra angular dessa assistência é o desenvolvimento de relações
de confiança, que por sua vez permitem que as pessoas resgatem seus sonhos e que
(re)conquistem um papel social valorizado.
A conscientização é fundamental na implementação do programa PACE. Não se pode
sobrepor novos serviços a uma velha filosofia/sistema de crenças e esperar resultados
diferentes. O modelo PACE incorpora os valores/atitudes de autodeterminação, ausência de
coerção e a crença abrangente de que o sofrimento emocional grave é uma perturbação
temporária na vida de uma pessoa da qual ela pode recover.

7
Consumidor é um dos muitos termos como cliente, recipiente ou pessoa rotulada com doença mental, que
descrevem a pessoa que utiliza os serviços de saúde mental.
8
PACE é o acrônomico para Personal Assistance in Community Existence, traduzido como Assistência Pessoal
para Existência na Comunidade.
Este manual foi elaborado para todas as pessoas afetadas por transtornos mentais. É
para administradores e provedores9 que desejam colocar em prática as informações mais
recentes sobre recovery. É para pessoas que recovered ou que estão em processo de recovery
e querem ajudar a si mesmas ou a outras pessoas. É uma ferramenta inestimável para
professores, instrutores e membros da família.
Em um formato fácil de acompanhar, revisamos os princípios do recovery que
emergiram das pesquisas mais recentes. Ilustramos como o Modelo de Capacitação de
recovery fornece aos que dão e aos que recebem assistência uma visão otimista de seu futuro,
e oferece maneiras de aplicar os princípios PACE em qualquer ambiente onde as pessoas
estejam em recovery.

Princípios do PACE

Os resultados de pesquisas sobre recovery

As pessoas recover completemente mesmo das formas mais graves de "doença mental"

"Doença mental" é um sinal de sofrimento emocional grave, que interrompe o papel de


uma pessoa na sociedade

As pessoas podem e desejam se conectar emocionalmente com outras pessoas,


especialmente quando estão passando por grave sofrimento emocional

A confiança é a pedra angular do recovery

Pessoas que acreditam em você o ajudam em seu recovery

As pessoas devem ser capazes de seguir seus próprios sonhos para recover

A desconfiança leva ao aumento do controle e da coerção, o que interfere no recovery

A autodeterminação é essencial para o recovery

Pessoas em processo de Recovery e aqueles ao seu redor devem acreditar que na


possibilidade de recovery

A dignidade humana e o respeito são vitais para o recovery

Tudo o que aprendemos sobre a importância das conexões humanas se aplica igualmente a
pessoas rotuladas como "doentes mentais"

9
Provedores é uma tradução para o termo “providers” que designa aqueles que prestam serviços em saúde
mental, sejam profissionais ou não (tal como voluntários ou pares).
Sentir-se emocionalmente seguro nos relacionamentos é vital para expressar sentimentos, o
que ajuda o recovery

Compreender o significado do sofrimento emocional grave ajuda o recovery

Pesquisa do National Empowerment Center sobre como as pessoas


recover de "transtornos mentais"
Nos últimos anos, o NEC tem conduzido pesquisas sobre os fatores mais importantes para a
recovery das pessoas com transtornos mentais (Fiser e Deegan, 1998). Estudos
retrospectivos envolvendo entrevistas estruturadas de pessoas que recovered
completamente de transtornos mentais revelaram temas que se enquadram em cinco
categorias principais.

1. Crenças de Recovery: Acima de tudo, descobrimos que para as pessoas poderem


recover, elas e as pessoas ao seu redor devem acreditar que elas são capazes de
recover. Eles precisam acreditar, assim como outras pessoas em suas vidas, que são
capazes de mais uma vez dirigir suas próprias vidas, de ter sonhos, amigos, um
emprego e um lar próprio. Nunca desista.

Acreditar que as pessoas vão recover: Um aspecto essencial é que as pessoas


acreditem que vão chegar a um ponto em que não têm mais transtornos mentais; isso
contrasta com a crença de que as pessoas estão sempre se recuperando.

A esperança é crucial para o Recovery: "Nenhum de nós se esforçaria se considerasse


isso um esforço inútil."

Acredite em si mesmo: "Um dos elementos que torna o recovery possível é


reconquistar a crença em si mesmo"

Voltar-se para o futuro: as pessoas também são motivadas a sentir que estão
desenvolvendo elementos de si mesmas que não possuíam antes de serem rotuladas,
e não simplesmente retornando à sua condição anterior ao rótulo.

2. Relacionamentos Recovery: as pessoas dizem que estabelecer relacionamentos


íntimos e de confiança foi vital para seu recovery. Pessoas que recovered nos dizem
que encontraram alguém que acreditou nelas. Dizem que é importante estar com
pessoas que os respeitam e compreendem. Esse tipo de relacionamento ajudou as
pessoas a recover porque se sentiram inteiras, humanas, vivas e no controle de suas
vidas.

Alguém que acreditou em mim: Um entrevistado afirmou sobre seu terapeuta, "ele
validava que eu tinha muito a oferecer e tinha certeza de que eu era um indivíduo
único ...". Outra disse: "ela acreditava que eu era capaz de superar isso". Outro
descreveu que podia detectar sinais de convicção nas pessoas que realmente o
entendiam. Eram pessoas que “acreditavam na [minha] capacidade de ter uma vida,
de assumir responsabilidades, de mudar”.

Alguém que nunca desistiu: Esse nível de persistência e comprometimento de longo


prazo com o bem-estar de outra pessoa é frequentemente citado. Uma pessoa
descreveu a sua médica: "ela me acompanhou durante tudo ... ela continuava a
acreditar em mim ... ela nunca desistiu". Outra disse que ajudou quando ela insistiu
com seu terapeuta, "não desista de mim, eu também sou uma pessoa".

Pessoas que fazem você se sentir seguro são pessoas em quem você pode confiar:
este tema é essencial para muitos que sentiam que podiam se expressar mais
livremente em tal relacionamento. “Ele sabia o que dizer para me fazer sentir segura
e confiei nele”. A segurança também pode envolver ter alguém para ajudar a resolver
problemas: "Vamos tentar resolver o que for que acontecer".

Pessoas que passaram por uma experiência semelhante: As pessoas se sentem mais
confortáveis e aceitas por quem já passou por uma experiência semelhante. Isso é
análogo a pessoas que se recuperaram do vício sendo os melhores conselheiros para
pessoas que estão apenas começando a ficar sóbrias. É por isso que os serviços
administrados pelo consumidor são tão atraentes e os consumidores que trabalham
como provedores desempenham um papel especial.

Pessoas que podem ser humanas: uma pessoa descreve seu terapeuta como sendo
humano, falível, aberto à correção e não se portando como se fosse um deus. Outro
solicitou que acima de tudo o seu terapeuta fosse real, ao que o terapeuta respondeu
que tentaria. O humor foi citado como um fator importante. Ao descrever um
cuidador um consumidor relatou, "ele me ficava me fazendo rir quando eu o via ... ele
me fazia rir". A maioria dos entrevistados considerou a distância profissional uma
barreira.

Pessoas que permitem que você recover em seu próprio ritmo: Em ambientes clínicos,
isso significa que é necessária uma colaboração entre as pessoas que estão se em sua
jornada de recovery e as pessoas que as assistem. Isso permite a formação de um
plano de recovery, que se baseia nos sonhos e nas metas de recovery das pessoas, e
não nas metas da equipe. Essa abordagem melhorou a motivação porque as pessoas
trabalham com muito mais afinco para realizar seus próprios sonhos e objetivos. Isso
deve ser feito em um ambiente não ameaçador e não coercitivo.

Pessoas que se preocupam com você: "Pela primeira vez em muitos anos eu senti que
alguém se preocupava comigo. Na minha vida não há nada mais importante do que
minhas amizades".

3. Habilidades de Recovery: Uma vez que as pessoas e sua rede passam a acreditar em
sua capacidade de recover e acreditar em si mesmas; elas podem adquirir muitas das
habilidades necessárias para administrar suas próprias vidas e seu sofrimento
emocional. Uma habilidade primária é aprender a se conectar emocionalmente.
Aprender a expressar raiva, tristeza, alegria, amor e medo ajuda as pessoas a fazerem
amigos e obterem controle sobre suas vidas. O cuidado autogerido é o conjunto de
habilidades para gerenciar estados emocionais graves sem o uso de medicamentos.
Às vezes, pode ser necessário fazer uso de medicação e aprender a usá-la de maneira
informada e voluntária como uma ferramenta entre muitas rumo ao recovery.

Conectando-se com as pessoas emocionalmente: Muitas pessoas afirmaram que


formar relacionamentos emocionalmente significativos foi vital para seu recovery.

Técnicas de autocuidado: Essas são as coisas que uma pessoa pode fazer por si mesma.
As pessoas achavam útil descobrir o que as fazia se sentir bem, como escrever, pintar
ou fazer caminhadas. A saúde holística oferece muitas técnicas de autocuidado, como
meditação, exercícios, ioga e nutrição, para citar algumas.

Assumindo responsabilidade por si mesmo: Para progredir, é importante assumir


responsabilidade por parte de sua dificuldade e de seu recovery. Infelizmente, o
modelo médico isenta as pessoas de toda responsabilidade por seus problemas e suas
soluções. Talvez o exemplo mais extremo dessa posição tenha sido um consumidor
que disse aos pais que não podia lavar a louça porque tinha um desequilíbrio químico
no cérebro. Como disse uma pessoa do estudo, "você tem que perceber sua parcela
de responsabilidade pelos seus próprios problemas".

Perdoar-se: Um risco potencial em assumir responsabilidade é culpar-se


demasiadamente pelos seus problemas. Isso pode levar à autopunição. Entender que
existem eventos na vida que estão além de qualquer controle ajuda no perdão a si
mesmo. Um participante declarou: "Aprendi a ser um pouco menos exigente comigo
mesmo ... a perdoar a mim mesmo". Também é mais fácil perdoar a si mesmo quando
você tem amigos que também são capazes de fazê-lo.

Definir metas pessoais e alcançá-las: Parte de assumir mais responsabilidade pelo


próprio recovery é definir e cumprir metas pessoais. Algumas pessoas no estudo da
NEC definiram como objetivo se exercitar para ficar mais em forma e desenvolver mais
controle sobre seus corpos. Outros disseram que era importante priorizar suas tarefas
para que eles pudessem fazer as coisas mais importantes primeiro. Isso deu a eles
mais controle sobre seu tempo.

Expressando sentimentos desconfortáveis: As pessoas em nossa sociedade foram


educadas para serem “fortes” e não mostrar seus sentimentos, especialmente
aqueles de tristeza, raiva ou medo. Ser capaz de expressar esses sentimentos é vital
para o recovery.

4. Identidade Recovery: Precisamos deixar para trás a identidade fragmentada e isolada


de paciente com transtorno mental e recuperar a sensação de ser um ser humano
completo. Essa identidade positiva é importante para a recuperação de um lugar de
valor na sociedade. Esse processo ocorre por meio da valorização nos
relacionamentos, dos sucessos e da valorização de si mesmo.
Uma pessoa, não um paciente com transtorno mental: Uma pessoa enfatizou: "Eu
era uma pessoa antes de ser um paciente".

Relembrando os sucessos anteriores: "Eu me dizia que já fiz isso antes ... [é] um
mecanismo de autoconstrução."

Superando o estigma: as pessoas acham útil fazer parte do movimento consumidor/


sobrevivente/ex-paciente10 que enfatiza o orgulho. Fazer parte de um movimento
permite que as pessoas combatam os estereótipos e atitudes negativas direcionadas
a pessoas rotuladas como portadoras de doença mental. Ao estimular o uso da
linguagem que enfatiza a pessoa em vez de termos como "Os doentes mentais", as
pessoas rotuladas como portadoras de doença mental podem se ver como seres
humanos completos.

Sentir-se inteiro: muitos disseram que se sentir uma pessoa inteira novamente era
importante para o recovery.

5. Comunidade de Recuperação: É vital que as pessoas que estão em processo de


recovery ou que tenham recovered façam parte de uma comunidade que atribui a
cada pessoa papéis sociais valiosos que reforçam os fatores acima mencionados. O
movimento c / s / x, com sua voz coletiva, deu uma identidade positiva, uma conexão,
papéis valorizados e capacitação para muitos de seus membros. Ajudar outras pessoas
a recuperar a dignidade e seus direitos pode ajudar as pessoas em seu processo de
recovery.

O trabalho é frequentemente um bom meio de ter um papel social valorizado:


"Acredito sinceramente que o trabalho é uma terapia. É uma razão para se levantar e
se movimentar". “O trabalho me faz sentir que estou contribuindo”.

Ajudar os outros dá sentido à vida das pessoas: Uma pessoa disse, "ajudar as pessoas
dá sentido e propósito à minha vida". Este é o apelo para que consumidores voltem
para trabalhar no sistema de saúde mental como provedores. Uma pessoa no estudo
afirmou, depois de voltar à escola para se tornar um profissional de saúde mental,
"Pela primeira vez na minha vida, sinto-me fortalecido ... Quando acordo de manhã,
sinto-me cheio de emoção e admiração ... Eu quero ir para o meu trabalho e gritar, se
eu consigo, vocês também conseguem! "

10
O movimento consumidor/sobrevivente/ex-paciente (c/s/x) é uma rede international de pessoas que foram
rotuladas como doentes mentais e que juntas trabalham em prol do advocacy, apoio político e recovery.
Pesquisa da NEC sobre como as pessoas recover de "doenças
mentais"
Pesquisas adicionais nos últimos 30 anos apontaram que fatores sociais, culturais e
econômicos desempenham um grande papel na incidência e recovery de transtornos
mentais. Quando o sistema de saúde mental e a sociedade acreditam que as pessoas podem
recover até das formas mais graves de transtorno mental, os resultados são mais positivos.

A Dra. Nancy Waxler conduziu uma pesquisa que mostrou que as taxas de recovery da
esquizofrenia eram muito maiores nos país em desenvolvimento, Sri Lanka do que na
Inglaterra. Ela concluiu que, onde a esquizofrenia é vista como um distúrbio agudo do qual se
espera que as pessoas recover, como de qualquer outro distúrbio agudo, as pessoas
realmente recovered (Waxler, 1979).

Na década de 1940, vários gestores visionários da saúde mental em Vermont


desenvolveram um novo programa de reabilitação para pacientes de longa permanência no
Hospital Estadual de Vermont. A equipe do hospital recebeu treinamento e estrutura para
criar uma enfermaria democrática, enfatizando a confiança, a compaixão e a esperança. Além
disso, um grupo de ex-pacientes foi criado na comunidade, chamado Helping Hands, e
desempenhou um papel valioso na adaptação dos pacientes à vida comunitária. Eles
forneceram incentivo e modelo para os pacientes e funcionários do hospital. Eles educaram
a comunidade em geral para ajudar a reduzir o estigma e facilitar a transição dos pacientes
para a comunidade. Eles forneceram apoio de pares na comunidade às pessoas que
receberam alta. Essa nova abordagem ficou conhecida como a História de Vermont (Cittick et
al, 1961). Trinta anos depois, a Dra. Courtney Harding e associados compararam os resultados
dos consumidores da História de Vermont com um grupo de consumidores do Maine com
histórico igualmente severo. As pesquisas concluíram que a taxa de recovery era muito mais
alta em Vermont, porque havia uma ênfase na autossuficiência, autodeterminação e
integração na comunidade. Por outro lado, Maine tinha manutenção, estabilização e adesão
à medicação como seus objetivos (DeSiste, et al ., 1995).

O estudo transcultural e multicultural da Organização Mundial da Saúde sobre


esquizofrenia concluiu que havia taxas significativamente mais altas de recovery em países
em desenvolvimento do que em países industrializados (OMS, 1979).

O Dr. Harry Stack Sullivan foi um dos primeiros clínicos a questionar o curso
descendente previsto para pessoas rotuladas com esquizofrenia. A partir de seu trabalho com
pacientes e sua pesquisa, ele concluiu que as pessoas podiam recover. Além disso, ele atribuiu
grande parte deste recovery à crença de que poderiam recover e à sua capacidade de se
reintegrar à sociedade. "Se o paciente tem a crença consciente de que pode contornar ou
superar as desvantagens ambientais, e se essa crença é característica de uma integração
mental abrangente, seu recovery prossegue. Se nenhuma reconstrução for realizada, o
paciente não irá recover" (Sullivan, 1962).
A Dra. Loren Mosher, com uma bolsa do Instituto Nacional de Saúde Mental, abriu a
Soteria House na Califórnia em 1971 como uma alternativa não-médica à hospitalização para
o tratamento da psicose. Os residentes estavam experimentando sua primeira crise psicótica
de ruptura com a realidade compartilhada de seu ambiente social usual e foram
diagnosticados com esquizofrenia. A missão da Soteria House era "fornecer um ambiente
social simples, caseiro, seguro, caloroso, de apoio, sem pressa, tolerante e não intrusivo",
principalmente "estando com/convivendo com" os residentes. A equipe da casa acreditava
que o envolvimento humano e a compreensão sinceros eram interações críticas curativas.

Os resultados foram surpreendentes: sem o uso de medicação, os residentes da


sotéria House conseguiram recover da psicose em seis semanas. Após um período de dois
anos, uma porcentagem maior de residentes de Soteria Hosue vivia de forma independente
e teve significativamente menos reinternações hospitalares em comparação com aqueles
tratados com medicação e hospitalização (Mosher, 1999).

Em geral, acredita-se que será usado o tratamento que seja mais eficaz dentre as
alternativas, mas os tratamentos psicológicos para a esquizofrenia e outras reações psicóticas
foram evitados, apesar das evidências de sua eficácia desde a época do "tratamento moral"
até o presente. Tratamentos menos eficazes, e até mesmo destrutivos, foram utilizados, em
parte, porque não exigem a compreender esses pacientes. Compreender as pessoas
esquizofrênicas significa nos deparar com fatos sobre nós mesmos, nossas famílias e nossa
sociedade sobre os quais não queremos saber ou saber novamente (no caso de sentimentos
ou experiências recalcados)" (Karon, 1992).

Na cidade de Falun, na Suécia, de 1992 a 1996 o psiquiatra Lars Martensson praticou


o que chamou de "psiquiatria reversa". Pacientes psicóticos em seu primeiro surto
trabalharam com uma equipe psiquiátrica que via a psicose como uma crise humana que
poderia ser superada, não acreditava no uso de neurolépticos e evitava a hospitalização.
Como resultado, nenhum dos pacientes recebeu o diagnóstico de esquizofrenia e todos foram
capazes de superar sua psicose e retornar à comunidade.

"Na psiquiatria normal, um paciente psicótico é hospitalizado, separado da família e


finalmente, após algum tempo, recebe alta com medicamentos neurolépticos de
manutenção. A família é "educada" para ajudar a garantir que o paciente tome os
medicamentos de que "precisa". Com a psiquiatria reversa, por outro lado, parece que
a maioria das pessoas que se tornariam esquizofrênicas com a psiquiatria normal são
capazes de superar a psicose. Em outras palavras, com a ajuda certa em um estágio
inicial, o desenvolvimento da psicose para a esquizofrenia pode ser prevenido”
(Martensson, 1997).

A autora, pesquisadora e a ex-paciente Judi Chamberlin e associados realizaram


pesquisas essenciais para definir o termo empoderamento. A pesquisa mostrou que, quando
uma pessoa é empoderada, ela é capaz de assumir o controle das decisões importantes que
a afetam, é assertiva e se considera um membro competente da sociedade. Ela concluiu: "Se
algo define a percepção pública (e profissional) de "pacientes com transtornos mentais", é a
incompetência. Pessoas com diagnósticos psiquiátricos são amplamente aceitos como
incapazes de conhecer suas próprias necessidades ou agir de acordo com elas. À medida que
alguém se torna mais capaz de assumir o controle de sua vida, demonstrando sua semelhança
essencial com as pessoas ditas "normais", essa percepção deve começar a mudar. Aumenta
a autoconfiança do cliente que reconhece que está conquistando o respeito dos outros, e
assim muda ainda mais a percepção de quem está de fora. Há benefícios genuínos quando os
clientes começam a assumir o controle de suas próprias vidas e quando os profissionais se
tornam guias e instrutores nesse processo ao invés de assumir o papel paternalista de longo
prazo de supervisores "(Chamberlin, 1997).

PACE é baseado no Modelo Recovery de Empoderamento

Exclusão pela Inclusão pela


sociedade Sofrimento sociedade
Emocional
Severo
s
Perda do controle da Perda/trauma
propria vida

Recuperando o controle
Acreditar em si e ter quem acredite
em você

Doente Mental
Perda do controle, Equilibrado e
desconexão conectado

Sofrimento
Emocional

Recovery do transtorno
mental
recuperação do controle
Cura emocional
da própria vida

O diagrama acima descreve nosso modelo de recovery com base em pesquisas que nós e
outros realizamos. Este modelo descreve o processo de como as pessoas são rotuladas de
doentes mentais e conseguem recover.

Equilibrado/a & Conectado/a: As pessoas começam a vida como equilibradas e inteiras no


útero. Equilibrado/a e completo/a é um estado de espírito e um modo de ser. Pensa-se que
estamos constantemente nos esforçando para retornar a esse estado de bem-estar por meio
de nossas conexões com as pessoas ao nosso redor =>

Perda/Trauma: inevitavelmente, todos nós experimentamos perdas e traumas durante a


infância. Algumas dessas experiências são mais traumáticas do que outras, como a perda de
um dos pais, abuso físico e sexual, pobreza e racismo. Esses traumas são lembrados
profundamente e muitas vezes resultam em =>

Sofrimento emocional: Este grau de angústia pode assumir a forma de pesar, medo, tristeza,
mas muitas vezes não interrompe completamente o cumprimento de seu papel social normal,
como aluno, amante, trabalhador e/ou pai. As pessoas ainda são vistas como membros plenos
da sociedade e mantêm o controle sobre as principais decisões de suas vidas. Para obter alívio
dessa angústia, eles/as se envolvem em =>

Cura emocional: Assim como o sofrimento é universal, a cura também é universal. As pessoas
se curam de várias maneiras, algumas individualmente, outras em grupos. A cura geralmente
envolve encontrar significado/dar sentido e recuperar um sentimento de mais equilíbrio e
completude. No entanto, para algumas pessoas, perda e trauma resultam em um estado de
=>

Sofrimento Emocional Grave: É possível haver problemas mais dramáticos no sentimento e


no pensamento, como paranoia, sensação de que a TV está falando consigo ou sentimentos
suicidas. No entanto, essas distorções no pensamento e sentimento não resultam em um
rótulo de doença mental se a pessoa tiver apoio sociocultural suficiente, recursos (como
moradia) e habilidades de enfrentamento para manter seu lugar na sociedade e manter o
controle de sua vida. Se, no entanto, em algumas situações não houver apoio, recursos ou
habilidades de enfrentamento e a pessoa não conseguir manter o controle, ela pode precisar
de uma assistência mais intensa. Normalmente, isso significa que a pessoa é rotulada como
=>

Doente mental: então, é a pessoa é frequentemente internada em hospitais psiquiátricos e


começa um curso de intenso tratamento profissional. A pessoa perde seu(s) papel(es)
principal(is) na sociedade e inicia a "carreira" de paciente com transtorno mental. É muito
mais difícil o recovery uma vez que uma pessoa é rotulada de doente mental, porque envolve
também o recovery do trauma de ser excluído/a da sociedade, de estar com deficiência, além
do sofrimento severo que a colocou nessa jornada =>

Recovery da doença mental: o recovery é alcançado através da combinação de acreditar que


vai irá recover, envolver-se em relacionamentos com pessoas que também acreditam que irá
recover, aprender habilidades de recovery e assumir um papel valioso na sociedade. Sua
identidade muda de "paciente com transtorno mental" para “pessoa inteira”.

O que é dito às pessoas quando lhes é contado que estão


mentalmente doentes
Infelizmente, a maioria das pessoas rotuladas de doentes mentais ouve um conjunto de
frases que são pessimistas e interferem no recovery. Essas frases precisam ser combatidas
para que o recovery prossiga.

Modelo Médico/de reabilitação Modelo de Empoderamento


“Você está mentalmente doente” "você está passando por um sofrimento
emocional grave que interfere na sua vida
na comunidade"
"sua doença mental é causada por um "seu sofrimento se deve a uma combinação
distúrbio cerebral de base genética ou de perdas, traumas e falta de apoio"
química"
"seu transtorno é permanente" "você pode recover completamente"
"você não deve trabalhar até que esteja "comece um trabalho significativo o mais
livre de sintomas" rápido possível, pois o trabalho ajuda o
recovery"
"você deve tomar medicação para o resto "você pode achar que a medicação é útil
de sua vida" enquanto está aprendendo habilidades de
autogestão e formas alternativas de
recovery de estresse emocional grave"
"você deve permanecer sob os cuidados de "você poderá obter seu apoio principal de
profissionais para sempre" colegas e amigos, e não de profissionais"
"se você evitar o estresse, pode ser capaz "você pode mais uma vez ter sonhos,
de lidar com isso" encontrar desafios e ter uma vida plena"
"você é sua doença" "você ainda é inteiramente humano"
"você não tem os mesmos direitos ou "você tem pleno direito a seus direitos
responsabilidades que os outros" civis"
"você é mais perigoso do que os outros na "você não é mais perigoso do que o
sociedade" restante da comunidade"
"você não pode ter um parceiro "você pode ter um parceiro e ter filhos
significativo ou ter filhos" depois de progredir em seu recovery"

Como o modelo Médico / Reabilitação ainda segrega as pessoas


rotuladas com doença mental
A visão do modelo médico/de reabilitação acerca da doença mental é que as pessoas
recuperam algumas funções sociais, apesar de seguirem apresentando sintomas, limitações
e utilizando medicação. Embora possam se tornar "altamente funcionais", permanecem
para sempre com doentes mentais. Eles estão para sempre separados do resto da sociedade
porque acreditam que são química e geneticamente defeituosos e desequilibrados - um
estado do qual eles nunca poderão recover totalmente.

Modelo Médico/de reabilitação Modelo de Manutenção dos Doentes Mentais

Populações Os doentes recuperação Os reabilitados


com mentais Doentes Mentais
Transtorno (quimicamente Manutenção
desequilibrados) medicação
Mental Funcionais
Ciclos de Autoconstrução vs. Ciclos de Autodestruição

PACE/Modelo de Empoderamento
Ciclo de autoconstrução

A vida tem
significado Ser uma pessoa
plena/inteira

Voz ~
Expressão Social

Corajoso/a,
Destimido/a

Intimidade
Sistema de saúde mental tradicional
Ciclo de autodestruição

Fragmentado/a
visão mecanicista
Vida sem
significado/sentido

Temeroso/a,
Delirante

Impotente

Alienado/a
Comparação do Sistema de Saúde Mental Tradicional vs. PACE

Valores/Assistência Sistema de Saúed Mental PACE


Tradicional
Qualquer um pode ficar Não: as pessoas rotuladas Sim: Portanto, somos todos
doente mentalmente? não são igualmente igualmente humanos
humanas
Causa da doença mental Desordem cerebral Sofrimento emocional
permanente severo e perda do papel
social
Recovery Processo que perdura por Possibilidade de recovery
toda a vida completo
Objetivo da ajuda Manutenção Recovery completo
Controle Coerção pela equipe; Centrado na pessoa,
controle externo voluntário; autocontrole
Ritmo Determinado pela equipe Determinado pelo próprio
indivíduo
Relacionamentos Distância profissional Conexão entre pares
Assistência principal Medicação Pessoas que acredita em
você
Cenário social principal Dirigido profissionalmente Dirigido por pares
Direitos Frequentemente violados Respeitados
Resultado Dependência; falta de Autogerenciamento;
responsabilidade adquirir senso de
responsabilidade
Escolha Pouca escolha e restrita à Escolha completa;
alternativas médicas gerenciamento pelo
consumidor, psicossocial,
terapia
Pessoa principal Gerente do Caso Assistente pessoal
Habitação e dinheiro Conformidade ao serviço Conformidade ao serviço
requerida não é requerida
Função da medicação Necessária para Usada como ferramenta, de
manutenção vitalícia acordo com a escolha
A abordagem PACE para ajudar e auxiliar pessoas que estão em
estados emocionais de medo, raiva ou perturbação/abalo*
Ssss Não importa o quão perturbado ou
A seguir estão exemplos da
abordagem PACE para auxiliar e distante da realidade alguém pareça
assistir pessoas que estão em
estar, lembre-se, sempre há uma
estados emocionais de medo, raiva
ou perturbação/desequilíbrio pessoa ali

Uma pessoa atenciosa me ajudou a sentir-me seguro


Eu tinha 25 anos e estava muito assustado. Fui deixado no pronto-socorro do Hospital Naval
de Bethesda por uma colegas com quem divida uma casa e que eu mal conhecia. Eles
aceleraram, deixando-me sem amigos, família ou identificação. Eu estava com muito medo
de falar.

Um por um, vários médicos me abordaram, começando pelo médico responsável e, aos
poucos, os profissionais mais baixos na escala social. Cada um disparou uma série de
perguntas. Cada um parecia pouco preocupado com quem eu realmente era; sua intenção
era de preencher formulários. Não vendo nenhuma razão para responder às suas perguntas,
permaneci em silêncio. Eles me sentaram uma cadeira de rodas e me empurram para um
canto enquanto decidiam o que fazer a seguir. Enquanto isso, um jovem paramédico, o clínico
de nível mais baixo na sala de emergência, parou para me ver. Ele olhou para mim por um
longo tempo sem falar. Ele olhou para mim de uma maneira atenciosa e focada. Estava claro
em seus olhos que ele se importava com o eu que continuava ali bem no fundo da pessoa
perturbada. Com uma voz muito gentil, ele disse: "Olá, meu nome é Rick. Vejo que você está
sofrendo muito. Você poderia balançar a cabeça se me ouvir?"

Eu balancei a cabeça, e naquele momento senti que poderia voltar a viver com outras
pessoas.

~ Daniel Fisher

O Homem que reverenciava de Karon


Dr. Betram Karon estava fornecendo terapia a um homem com diagnóstico de esquizofrenia.
Um dos sintomas do homem era reverenciar frequentemente. Quando perguntado por que
reverenciava, ele disse que não reverenciava. O terapeuta demonstrou uma reverência e
disse: "mas você faz isso e isso é se reverenciar".

O homem repetiu: "Não, eu não reverencio".

Terapeuta: "O que é?"

O homem: "Estou me equilibrando".

Terapeuta: "O que você está equilibrando?"

"Emoções".

"Que emoções?" "

"Medo e solidão"

Quando ele se sentia sozinho, ele buscava se aproximar, então ele se inclinava para frente.
Mas quando a inclinação o aproximava das pessoas, ele se assustava e se afastava
endireitando-se. Sempre há um significado pessoal nos comportamentos mais incomuns. O
homem recovered completamente da esquizofrenia em oito semanas. (Karon, 1992)

Dr. Sandor Bochhoven


O Dr. Sandor Bochoven foi treinado nos dias anteriores à medicação. Se um paciente no
hospital ficava furioso, ele usava suas habilidades de comunicação, ao invés de medicação,
para acalmá-lo. Ele organizaria seu consultório de modo que ele e o paciente ficassem à
mesma distância da porta. Ele usava tons suaves e sempre mantinha os olhos no mesmo nível
ou abaixo do nível do paciente. Sua taxa de sucesso era alta (Bockhoven, 1963).

Um conto sobre dois meninos


Esta é uma história de dois meninos - dois rapazes para ser completamente sincero. Um eu
conheço muito bem - o filho de um amigo meu – nós o chamaremos de Jack. E o outro,
bem, eu não o conhecia tão bem - apenas por meio de alguns telefonemas anônimos para o
National Empowerment Center. Vamos chamá-lo de Karl. (Os nomes foram alterados neste
conto para proteger os inocentes, e lamento dizer, os não tão mais inocentes). E para
qualquer um que se pergunte, esta é uma história muito real.

Era uma vez dois jovens rapazes maravilhosos, felizes, inteligentes. Ambos estavam na
faculdade, vivendo sozinhos - testando as águas - testando a si mesmos. Novos amigos, novas
liberdades, novos amores, novas ideias, novas tentações - tudo novo. Ambos tinham o mundo
a seus pés e eram limitados apenas por suas próprias imaginações acerca daquilo que suas
vidas poderiam ser, poderiam se tornar. E então “boom”11.
Bem, como eu disse, Jack é uma criança que conheço desde sempre. Eu o observei
crescer dentro de sua mãe, observei-o dar seus primeiros passos e dizer suas primeiras
palavras. Eu acompanhava e continuo acompanhando.
Karl, conheci há apenas alguns meses - por meio da linha telefônica 0800 do NEC. Karl,
eu não conheço – e ainda assim, o conheço. Os paralelos entre esses dois jovens são
assustadores - embora os resultados sejam tão diferentes - tão assustadoramente diferentes.
Colapso. Colapso. Colapso. Parece que acontece nessa idade, não é? Dezoito a vinte e
poucos anos. E isso aconteceu com Jack e Karl.
Jack estava na faculdade na Nova Inglaterra e Karl estudava na costa oeste. Lembro-
me que quando Jack tinha quinze anos, ele e um amigo foram assaltados a faca. Apesar de
terem capturado o homem - e ele foi sentenciado a sete anos de prisão - Jack nunca pareceu
se recuperar completamente. Ele não ficava sozinho em casa à noite, sempre trancava as
portas do carro para onde quer que fosse, e não viajava sem o celular.
Quando Karl me ligou no NEC, ele me contou sobre uma época em que ele era um
estudante de intercâmbio e como ele havia sido roubado - assaltado - sozinho em um país
estrangeiro - e nunca tinha ficado tão apavorado em sua vida.
Eu te digo essas coisas por um motivo.
Jack sempre quis ser jornalista, e Karl me disse que a música é sua paixão desde que
ele se entende por gente.
Ambos tinham grandes esperanças, grandes sonhos, Só resta um sonhador. O outro
sonhador morreu com seus sonhos quando foi rotulado "doente mental".
Cada um experimentou drogas pela primeira vez na faculdade - Jack foi a um show e
experimentou LSD. Karl começou a fumar maconha com a banda que formou na faculdade. A
caixa de Pandora agora estava aberta. Paranoia e medo penetraram, substituindo a lógica.
Homens estavam perseguindo-os, as pessoas falavam deles. Eles não conseguiam dormir, não
podiam comer. O medo era o fator dominante em suas vidas. As drogas tinham acabado, a
brisa acabou, a viagem tinha cessado - mas os demônios permaneceram.
Jack ligou para casa e os amigos de Karl ligaram para seus pais. É aqui que a estrada se
divide. É aqui que terminam as semelhanças. É aqui que um tem um colapso e o outro uma
superação.
A mãe de Jack sabia que ele estava com medo. Ela disse a ele para deixar a faculdade
e voltar para casa. Ela sentiu que precisava ajudá-lo a se sentir seguro novamente - a única
maneira de tirá-lo dessa paranoia profunda.
Os pais de Karl disseram a ele para voltar para casa. Eles também sabiam que ele
estava com medo e precisava de ajuda. Eles o levaram ao melhor psiquiatra. Ele foi
hospitalizado. Ele foi medicado. Disseram-lhe que tinha um desequilíbrio químico no cérebro.
Ele foi rotulado. Disseram-lhe que a faculdade era muito estressante para ele, ele nunca
poderia voltar. Ele tentou suicídio. Ele viveu, mas seus sonhos, seus sonhos morreram.
A mãe de Jack e seus amigos ficaram em casa com ele escutando sobre seus medos.
Ele parou de tomar cafeína, comeu alimentos saudáveis e tomou banhos longos e quentes.
Ele fez acupuntura, massagens e encontrou um terapeuta que não o rotulou. Eles passeavam

11
“Boom” é uma onomatopoeia em inglês que, simultaneamente, indica o barulho de uma choque ou
colapso, e o próprio colapso.
juntos, conversavam. Lentamente, muito lentamente, ele se sentiu seguro o suficiente para
voltar. E então eles trabalharam em por que ele teve de “ir embora”, por que essa realidade
era tão assustadora que ele precisou deixá-la para começo de conversa.
Jack - bem, Jack está de volta morando na faculdade. Ele começou a se exercitar e se
tornou voluntário em uma casa para adultos com retardo mental. Ele me disse várias coisas
desde sua superação: "Esta é a coisa mais dolorosa que já passei na minha vida e eu não
desejaria isso a ninguém - mas eu não mudaria nada. Melhor eu lidar com essas questões
agora do que esperar até ter quarenta ou cinquenta anos. Sinto-me mais forte do que nunca.
Aprendi muito sobre mim, ainda tenho medos, mas eu os controlo - eles já não me
controlam".
Karl me ligou depois de voltar para casa depois de seu último dia no programa de
tratamento dia. "Eu vi uma placa na janela de um restaurante - eles estavam procurando um
lavador de louça. Você acha que eu dou conta de lidar com isso?".

Os valores PACE de acordo com os quais vivo


Por Daniel Fischer, M.D., Ph.D.

Eu sou um ser humano único: eu e outros humanos ao meu redor existimos ao mesmo tempo
nos níveis espiritual, mental e físico. Cada um de nós tem seus próprios pensamentos,
sentimentos e consciência, os quais podemos compartilhar em parte uns com os outros e em
parte guardar para nós mesmos. Sou mais do que uma máquina química. Sou uma pessoa que
recovered de experiências rotuladas como "doença mental" e do tratamento que recebi. Eu
valho tanto quanto qualquer outra pessoa.

Posso dizer sim à vida: há dias melhores pela frente. Não importa quão escuro seja o
presente, posso sonhar, ter esperança e me ver tendo um futuro, porque ser humano significa
que não estou condenado a reviver meu passado. Posso aprender a confiar em mim mesmo/a
e a me perdoar.

Posso tomar decisões sobre minha vida: na verdade, só eu posso tomar as decisões mais
importantes sobre minha vida. Outros podem fornecer ferramentas e apoio, mas devo
administrar minha própria vida. Sinto-me motivado a realizar as decisões que tomo porque
elas estão conectadas a quem eu sou. Sinto-me desmotivado para realizar os planos de outra
pessoa baseados em quem pensam que sou.

Dirigirei meu próprio recovery: existe uma velha expressão "Os médicos tratam as feridas
enquanto Deus as cura". Para mim, isso significa que os médicos e outros ajudantes podem
reduzir sintomas, mas cada pessoa dirige seu própria recovery. Tratamentos, conselhos e
apoio são úteis quando usados por você como parte do recovery. Assim como o sofrimento
emocional severo afeta todos os níveis de mim, o recovery ocorre quando eu presto atenção
em todos os níveis.
Posso ter relacionamentos e trabalho significativos: tenho o direito e preciso estar com
pessoas que se preocupam comigo e me valorizam pelo que sou, pessoas que querem que eu
seja eu mesmo. Da mesma forma, posso cuidar deles e respeitá-los. No trabalho, preciso
sentir que faço uma diferença positiva na vida das pessoas ao meu redor. Preciso sentir que
meus esforços cumprem os objetivos que estabeleci para mim.

Posso fazer a diferença na minha comunidade: tenho coisas importantes a dizer. Posso afetar
outras pessoas ao meu redor. Espero que as pessoas ouçam e pensem sobre minhas palavras.
Eu sou uma pessoa e espero respeito, e então posso respeitar os outros.

Estou conectado a todos os seres vivos: a terra e o céu nos tocam e nos conectam a todos.
Eu preciso lutar contra o desejo de me retirar e isolar na minha própria concha. O que vai
volta. Tudo o que faço afeta os outros e vice-versa. “Somos todos uma família sob o mesmo
céu”.

Posso expressar meus sentimentos e pensamentos: tenho a capacidade e direito, e preciso,


expressar meus sentimentos e pensamentos mais íntimos e respeitar os direitos e
necessidades dos outros. Meus medos e alegrias têm significado para mim e para aqueles que
amo.

Posso amar e ser amado: sou capaz de dar e receber amor. Posso respeitar e valorizar os
outros e eles podem me respeitar e valorizar. Concordo com a letra da música "I Will Survive":
"Tenho toda a minha vida para viver e tenho todo o meu amor para dar".

Eu tenho a coragem de continuar: não importa quão escuro seja o dia ou quão longa seja a
noite, eu sobreviverei. Já sobrevivi a outros momentos difíceis e sei que outros também
sobreviveram.

Eu acredito em mim mesmo: há sempre um eu, bem lá no fundo, capaz de seguir em frente.
Posso confiar e ter certeza de que meu eu profundo me ajudará nesses tempos difíceis. Posso
encontrar outras pessoas que acreditam em mim, assim como posso acreditar nelas.

Posso superar as crenças negativas: além de reforçar as crenças positivas, é vital eliminar,
neutralizar ou pelo menos suspender as crenças negativas sobre si mesmo e o mundo.
Infelizmente, muitas dessas crenças negativas são o produto de uma cultura materialista e
mecanicista que muitas vezes se reflete em nosso sistema médico moderno que enfatiza a
patologia. Acredito, no entanto, que a saúde - não doenças e enfermidades - é nossa condição
mais comum.

O Plano de Recovery PACE

1. De si-para-si: autoajuda, enfrentamento, cura


Recovery no seu próprio ritmo
a. Acreditar na capacidade de recovery por meio do uso de manuais, fitas e vídeos de
autoajuda por pessoas que recovered, sobre temas como lidar com vozes

b. Sonhar com o que mais se deseja

c. Desenvolver seus próprios planos de exercícios, dieta, meditações, biofeedback,


visualização, autocuidado

d. Explorar a autoexpressão através da escrita, música, artes, dança

e. Cultivar uma espiritualidade, filosofia e / ou religião pessoal

2. De si-para-ajudante: assistência pessoal daquelas


pessoas que acreditam em você

a. Serviços dirigidos ao consumidor: psicoterapia centrada no cliente, reabilitação


autodirigida

b. Escolha informada: medicação e suas alternativas

c. Medicina complementar: acupuntura, ervas, massagem, etc.

d. Instruções dadas antecipadamente e procuração de cuidados de saúde: esteja bem


informado, certificando-se de que é o próprio plano do c / s / x

e. Manutenção colaborativa de registros: planejamento de tratamento / manutenção


de registros em parceria total com o provedor

f. Trabalho apoiado por meio de um instrutor/coach de empregos, moradia com


serviços de apoio, educação com serviços de apoio, maternidade/paternidade
apoiada

g. Atividades de voluntariado

3. De si-para-pares: parceiros íntimos, amigos, irmãos


Recovery por meio do pertencimento a pequenos grupos

a. Grupos de autoajuda, apoio mútuo


b. Linhas diretas - assistir ou ser assistido em momentos de angústia

c. Clubes sociais administrados por consumidores

d. Promoção dos direitos humanos por meio de advocacy

e. Consumidores que trabalham no sistema de saúde mental como provedores ou por


meio da participação em conselhos consultivos ou de gestão

De si-para-o mundo
Recovery por meio do pertencimento à comunidade

a. Grupos e atividades fora do sistema de saúde mental: igrejas, grupos de dança,


boliche e outros hobbies

b. Fazer parte de uma comunidade de trabalho por meio do voluntariado ou por meio
de um emprego de meio período ou período integral

c. Maternidade/Paternidade

d. Viver na sua própria casa ou apartamento

Perguntas frequentemente feitas com relação ao PACE e Recovery


O que causa doenças mentais?

Apesar de mais de 100 anos de pesquisa, não há evidências de que a doença mental se deva
principalmente a um desequilíbrio químico específico ou diferença genética (Harrison, 1999).
Fatores sociais, psicológicos e culturais são tão importantes quanto os bioquímicos. Somos
seres muito complexos e existimos em muitos níveis ao mesmo tempo. Uma ênfase
exagerada na causalidade biológica fragmenta e distorce a existência, deixando as pessoas
com a sensação de que não são mais do que uma coleção de substâncias químicas sem
sentido. Esse sentimento interfere no recovery, que depende da assunção de um papel ativo
na condução da própria vida e de vivenciar a própria completude.

Em contraste com o modelo biológico, o modelo de empoderamento encoraja as pessoas a


assumir o controle de suas vidas em todos os níveis. Em vez de esperar que um profissional
resolva, as pessoas veem que suas ações podem ser vitais para seu recovery. Quanto mais as
pessoas aprendem a administrar suas próprias vidas, mais elas se sentem completas. Isso lhes
dá esperança, responsabilidade e força renovadas.
As pessoas ainda apresentam sintomas após recovery de uma doença mental?

As pessoas que se recuperaram ainda passam por períodos de sofrimento emocional, mas
não há mais sintomas de doença mental porque aprenderam a manter o controle de suas
vidas. Ouvir vozes é um bom exemplo. Ouvir vozes sempre foi considerado um sintoma de
doença mental. Recentemente, no entanto, a pesquisa de Sandra Escher e do Dr. Marius
Romme (Romme e Escher, 1993) mostrou que muitas pessoas que nunca foram rotuladas
como doentes mentais são ouvidores de vozes. Além disso, eles descobriram que algumas
pessoas que se recuperaram totalmente da esquizofrenia ainda ocasionalmente ouvem
vozes. Eles descobriram que as pessoas que se recuperaram se sentem mais fortes do que
suas vozes e desenvolveram estratégias de enfrentamento. Eles/as podem permanecer
envolvidos/as em relacionamentos de carinho e apoio, apesar das vozes. Também parece
necessário que essas pessoas experimentem as vozes como significativas. As pessoas
precisam sentir que podem entender o que as vozes estão dizendo sobre suas vidas. Então,
eles/as podem tomar medidas para lidar com isso. Esses autores sugerem que a explicação
do desequilíbrio químico oferecida pela psiquiatria biológica não é útil no recovery porque
não deixa espaço para a pessoa aprender a compreender ou controlar sua voz por meio de
seus próprios pensamentos ou ações.

Pesquisas no NEC reforçam essas descobertas, como a história a seguir ilustra: John foi
rotulado pela primeira vez com doença mental grave quando estava na faculdade. Ele estava
muito assustado devido a seus pensamentos e vozes. Ele se isolou. Ele tinha medo de contar
às pessoas o que estava vivenciando. Ele foi hospitalizado várias vezes e foi fortemente
medicado. Gradualmente, por meio de relacionamentos positivos, terapia sensível e trabalho
significativo, ele recovered e retirou a medicação. Vários anos depois, as vozes e os
pensamentos negativos voltaram. Desta vez, porém, ele lidou com a angústia em casa, sem
medicamentos. A diferença é que, por meio de experiências anteriores, ele aprendeu que
poderia tomar medidas para enfrentar tais sentimentos. Ele manteve a esperança e não se
deixou levar pelo medo ou desespero. Ele sentiu que suas vozes o ajudaram a se entender
melhor. Ele também não teve medo de compartilhar sua experiência com sua esposa e
colegas de trabalho. Eles puderam ajudá-lo a fazer ajustes em seu trabalho e em sua vida para
acomodar seu estado temporário de angústia.

É possível ter recovered e ainda estar fazendo uso de medicação?

Sim, porque fazer uso de medicação não é suficiente para definir uma pessoa como doente
mental. Muitas pessoas na sociedade tomam medicamentos psiquiátricos, mas não são
consideradas doentes mentais. O fator decisivo é se a pessoa aprendeu a recuperar o controle
de sua vida e a cumprir um papel social valioso. Se a medicação for usada voluntariamente
com total consentimento informado, como uma ferramenta de enfrentamento entre muitas
outras, não é um sinal de doença mental.
Referencias
Somos seres biológicos, com certeza, mas
você não pode colocar as experiências de vida
de uma pessoa - medos, traumas,
pensamentos, emoções, sonhos e perdas -
sob um microscópio e diagnosticá-los e
chamar de doença.
~Laurie Aherns

A doença médica é a perda de sonhos, não a


perda de dopamina.
~Dan Fisher

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