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DENIS VALÉRIO PINTO

LITERATURA E CONTEXTO HISTÓRICO DO MUNDO BÍBLICO DO


NOVO TESTAMENTO | AS SETE IGREJAS DO APOCALIPSE

Santo André - SP
2023
DENIS VALÉRIO PINTO

LITERATURA E CONTEXTO HISTÓRICO DO MUNDO BÍBLICO DO


NOVO TESTAMENTO | AS SETE IGREJAS DO APOCALIPSE

Trabalho de conclusão da disciplina Literatura


e contexto histórico do mundo bíblico do Novo
Testamento apresentado ao Pr. Alexandre
Sanches do Seminário Teológico Batista do
ABC.

Santo André - SP
2023
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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 04
2 CONTEXTO HISTÓRICO DA REGIÃO ........................................................ 04
3 ÉFESO .......................................................................................................... 05
4 ESMIRNA ...................................................................................................... 06
5 PÉRGAMO .................................................................................................... 06
6 TIATIRA ........................................................................................................ 07
7 SARDES ....................................................................................................... 08
8 FILADÉLFIA ................................................................................................. 09
9 LAODICEIA................................................................................................... 09
10 CONCLUSÃO ............................................................................................... 10
REFERÊNCIAS............................................................................................. 12
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1 INTRODUÇÃO

No primeiro século do cristianismo a igreja se expandiu para a Ásia.


Através dos apóstolos Paulo, Pedro e João, o evangelho foi compartilhado e havia
igrejas nas principais cidades da Ásia Menor.
Na profecia do Apocalipse, dada pelo próprio Cristo ao apóstolo João,
quando este estava exilado na ilha de Patmos, há sete cartas para as sete principais
igrejas na província da Ásia.
Neste trabalho, veremos o contexto histórico das cidades e os desafios
encontrados pelos cristãos em meio a um povo pagão e aos judeus que também
habitavam essas cidades.

2 CONTEXO HISTÓRICO DA REGIÃO

Antes de entendermos o contexto histórico das sete igrejas mencionadas


no Livro de Apocalipse, é necessário entender o contexto geral da região e também
o contexto dos cristãos e do Apóstolo João, que recebeu e transcreveu a profecia
apocalíptica.
No momento do recebimento da revelação, João estava exilado na ilha de
Patmos, que fica a 80 km da costa da Ásia Menor (hoje Turquia). Exilado devido a
perseguição por pregar o evangelho. Além disso, no próprio Livro do Apocalipse, na
carta a igreja de Esmirna, João encoraja os cristãos devido à perseguição que
estava muito próxima deles. Considerando esse contexto de perseguição, há duas
possíveis datas que estudiosos e historiadores defendem para o momento em que
João recebe a revelação e redige as cartas para as setes igrejas. A primeira,
considera a década de 60 d.C., em que Nero perseguiu a igreja e matou muitos
cristãos. A segunda, defende que os fatos ocorreram durante a década de 90 d.C.,
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quando o imperador Domiciano, sucessor de Nero na perseguição aos cristãos,


continuou pressionando, perseguindo e matando os que professavam a fé em Cristo.
Além da perseguição romana, os Cristãos também sofriam com a
perseguição dos judeus, que mentiam sobre eles e os denunciavam aos romanos.
Logo, o período da revelação do Apocalipse era um período duro e incerto para a
igreja do Senhor. Ainda assim, cada uma das sete igrejas mencionadas possuía
seus próprios contextos e suas próprias lutas e dificuldades.

3 ÉFESO

A cidade havia se tornado a maior potência da província romana na Ásia.


Adquiriu suas riquezas devido ao comércio e a sua própria localização, que era uma
rota comercial. Eram tão abastados que negaram ajuda de Roma para reconstruir o
templo de Ártemis (Diana, para os romanos), após este ser consumido pelo fogo. Foi
em Éfeso que foi construído o templo dos Sebastoi, a família de Domiciano, e lá era
feito o culto ao imperador romano.
Os judeus eram numerosos, ricos e influentes, a ponto de construírem
uma sinagoga própria com a proteção de Roma.
No geral, a população era libertina, supersticiosa e violenta, possuindo um
nível de moralidade muito baixo.
Nesse cenário estava inserida a igreja de Éfeso, fundada por Paulo e
pastoreada durante um período por Timóteo. João também habitou na cidade e foi
uma forte influência para os cristãos, contudo, devido ao aumento da pressão sobre
a igreja, João foi exilado na ilha de Patmos.
A igreja de Éfeso era considerada uma líder entre as igrejas da Ásia, daí
ter sido a primeira a receber uma carta. Os cristãos de Éfeso eram trabalhadores e
pacientes e, no geral, conheciam as escrituras, pois colocavam a prova os falsos
apóstolos. A igreja suportava a pressão do império e, com isso, mostravam que não
haviam esmorecido em sua vida espiritual.
Porém, o grande problema da igreja era a falta de entusiasmo e
motivação, o primeiro amor, que as primeiras gerações da igreja demonstraram no
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cumprir da obra do Senhor. Para se recuperarem, precisariam encontrar o momento


em que caíram e voltarem as primeiras obras.
Mesmo sendo exortados por Cristo, é notório que a igreja de Éfeso não
vacilou nas questões doutrinárias e permaneceram fiéis aos ensinamentos da
Palavra de Deus.

4 ESMIRNA

Efésios poderia ser a maior potência, mas Esmirna era a mais bela. A
cidade é ainda existe até os dias atuais (Izmir) e é localizada na costa oeste, num
porto protegido numa baía. Devido ao porto e a localização no final de uma estrada
comercial, Esmirna era uma verdadeira metrópole do seu tempo. Era uma aliada fiel
aos romanos, tanto que em 195 a.C. construiu um tempo a Dea Romana, a deusa de
Roma. Além disso, se destacava pelo culto ao imperador romano. A beleza da
cidade era tanta que escritores a chamavam de “a coroa de Esmirna” devido a
beleza dos edifícios da cidade. Foram das árvores nos bosques da cidade que
encontraram uma goma aromática, a mirra.
Os judeus eram muito influentes e ricos na cidade e usavam sua
influência e poder contra os cristãos. A igreja, devido a opressão e perseguição, era
formada por pessoas na sua maioria sem posses. Os judeus incitavam as
autoridades romanas a perseguirem os cristãos, a ponto até de lhe tomarem os bens
e também os lançarem na prisão.
Ainda assim, os cristãos da cidade permaneciam fiéis e, no conteúdo da
carta que receberam, não havia exortações, apenas motivações para permanecerem
firmes e fiéis ao Senhor.

5 PÉRGAMO

A cidade de Pérgamo se situava num planalto, numa altitude de 330


metros, que dava a ela uma proeminência entre as demais. Após a invasão pelos
romanos, foi transformada numa capital da região. Era conhecida como centro
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religioso, pois possuía diversos templos e um altar a Zeus com cerca de 13 metros
de altura.
Devido a criações dos pergaminhos como material para escrever, a
cidade fundou uma grande biblioteca e chegou a possuir mais de 200 mil rolos.
Assim, além de um centro religioso, também ficou conhecida como um centro de
estudos.
Assim como na maioria das outras cidades, a vida dos cristãos de
Pérgamo não era nada fácil. Enfrentavam diariamente a pressão de viverem em
meio a uma sociedade pagã e, por se recusarem a fazer concessões aceitando as
divindades romanas, eram zombados, perseguidos e até mortos. A vida deles era
quase insuportável.
Em meio a essas dificuldades, a igreja ainda expandia, guardando o
nome do Senhor mesmo em meio a perseguição. Contudo, conforme escrito em
Apocalipse 2.13, alguns cristãos se permitiram contaminar pelas doutrinas pagãs,
praticando idolatria e imoralidades sexuais.

6 TIATIRA

Tiatira era uma cidade fortifica a sudeste de Pérgamo. Por estar situada
num longo vale plano, foi facilmente atacada e conquistada pelos romanos em 190
a.C. A cidade fazia parte da rota comercial entre Pérgamo e Sardes, logo, as
principais estradas comerciais da região passavam pelo seu território. Isso estimulou
seu crescimento econômico e a cidade se desenvolveu com diversos ramos
artesanais. Haviam padeiros, pintores, curtidores, oleiros e ainda outros que
trabalhavam com lá, linho e metal (principalmente cobre).
Tamanha a importância dos artesãos na cidade, as guildas (sindicatos)
controlavam a cidade. Assim como as demais cidades da região, os habitantes eram
majoritariamente pagãos e, no caso dos de Tiatira, adoravam a Apolo e Ártemis, e
praticavam culto no altar de Sabata.
Todos os membros das guildas eram obrigados a participar de festas
dedicadas aos deuses pagãos, onde comiam alimentos dedicados e praticavam
promiscuidade sexual. Os que não se submetiam a isso, como a grande maioria dos
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cristãos, eram expulsos das guildas e não podiam mais exercem suas profissões
nem comercializar seus produtos. Isso fez com que, no geral, a igreja de Tiatira
fosse formada por pessoas com muitas dificuldades financeiras.
Na carta direcionada a igreja, os cristãos recebem com elogio o
crescimento contínuo do seu amor, fé e perseverança. Contudo, alguns se
desviaram da retidão em servir ao Senhor e adotaram um estilo de vida mais
próximo do pagão, para tentarem serem aceitos tanto no mundo quanto na igreja.
Para aqueles que não se contaminaram, há uma mensagem de perseverança no
final da carta, para que se mantenham firme até a volta do seu Senhor.

7 SARDES

O nome da cidade no plural se refere a serem duas cidades com uma


pequena distância de 500 metros entre elas. A primeira, uma fortaleza situada numa
faixa montanhosa alta e estreita. A segunda, uma planície num vale logo abaixo.
Devido a forte proteção da cidade, se tornou a capital da Lídia. A área alta e
protegida dependia totalmente da vida fértil da cidade baixa. Na cidade alta
habitavam o rei e os mais nobres moradores. Na cidade baixa, habitavam
fazendeiros, trabalhadores da indústria de lã e comerciantes.
Sardes foi duas vezes invadida e tomada por nações vizinhas antes de se
tornar uma província romana em 189 a.C.. Primeiro pela Pérsia e depois pela Síria.
E foi na época que estavam sob o domínio sírio que algumas famílias judias foram
obrigadas a emigrar para a cidade. Porém, os judeus na cidade eram ricos,
influentes e numerosos, a ponto de terem construído uma sinagoga na cidade.
Assim como as demais cidades da Ásia Menor, a grande maioria do povo
cultuava deuses pagãos.
Os cristãos de Sardes eram tão poucos e tão sem influência na
evangelização que sequer sofreram oposição pelos judeus. Diferentemente dos
cristãos das outras igrejas da Ásia Menor, os cristãos de Sardes possuíam riquezas
e influência política e social, daí possuíam apenas a aparência de uma
espiritualidade vigorosa.
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A carta os exorta a se arrependerem, para que não morram. Contudo,


havia poucos que não se contaminaram e esses receberam a promessa de estarem
no futuro juntos com o seu Senhor.

8 FILADÉLFIA

A cidade foi fundada em 140 a.C. por Átalo II, cujo nome de família era
Filadelfo e, em homenagem a seu irmão, chamou a cidade de Filadélfia, a cidade do
amor fraternal. Era uma cidade situada ao longo de uma movimentada estrada que
ligava o a Ásia a Europa e mantinha sempre suas portas abertas para todos.
Era rodeada por uma área vulcânica. As cinzas vulcânicas tornaram a
terra extremamente fértil, porém, a cidade era frequentemente atingida por terremos.
Um dos mais fortes destruiu a cidade em 17 a.C. Para fugir dos desmoronamentos
causados pelos terremotos, muitos habitantes decidiram viver fora da cidade, nos
seus arredores. Após sua reconstrução, recebeu o nome de Nova Cesareia (a
cidade do novo César) em homenagem ao imperador Tibério, que doou dinheiro
para ajudar na reconstrução da cidade. Cerca de trinta anos depois, a cidade passou
a ser chamada de Flávia, devido ao templo em homenagem ao imperador
Vespasiano (Tito Flávio Sabino Vespasiano).
A igreja de Filadélfia era missionária e extremamente ativa. Tanto que, na
carta enviada a eles, não havia exortações, apenas elogios. De todas as setes
igrejas na província da Ásia, apenas a de Filadélfia sobreviveu ao passar dos
séculos.

9 LAODICEIA

A cidade era porta de entrada para a Síria. Até o século 3º a.C. era
conhecida como Dióspole (a cidade de Zeus) e Roa. Porém, por volta de 250 a.C. foi
dominada pelo rei sírio Antíoco II que deu nome de Laodiceia a cidade em
homenagem a sua esposa Laódice. Os romanos dominaram a cidade em 133 a.C. e
fizeram dela um grande centro judicial e administrativo. Laodiceia ficava no
cruzamento de estradas que ligavam a cidades de norte a sul e de leste a oeste, o
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que a tornou um forte e influente centro comercial. Sua indústria de lã era muito
forte, contudo, o que tornou a cidade conhecida por todo o mundo foi a invenção de
um colírio muito eficiente pela escola de medicina da cidade, que era especializada
no tratamento de olhos e ouvidos.
A água da cidade vinha da cidade de Hierápolis através de um aqueduto.
As águas eram termais, porém devido a distância de aproximadamente 100
quilômetros entre as cidades, a água chegava morna em Laodiceia. Ainda assim,
devido a água ser rica em carbonato de cálcio, possuía valor medicinal e atraiam
várias pessoas para os seus balneários. Porém esse mesmo carbonato de cálcio,
causava náuseas naqueles que bebiam da água.
Assim como no caso de Sardes, a igreja da cidade era irrelevante, tanto
que não sofriam perseguição nem dos judeus nem dos gentios. Isso porque se
adaptaram a outras religiões, usufruíam de todos os benefícios sociais dos gentios e
eram totalmente infrutíferos na causa de Cristo. Diferentemente da igreja da
Filadélfia, na carta a igreja de Laodiceia não há elogios, mas apenas exortações.

10 CONCLUSÃO

Cada uma das sete igrejas para as quais as cartas da profecia do


Apocalipse foram endereçadas possuíam suas próprias histórias, contextos, lutas e
glórias. Porém, é notório algumas semelhanças entre a maioria delas, como a
perseguição que sofriam tanto dos pagãos quanto dos judeus.
A região da Ásia Menor era dominada pelos romanos e, anteriormente,
pelos gregos. Isso fez com que a adoração aos deuses pagãos fosse muito forte e
relevante. Além disso, havia também a adoração ao imperador romano. Os cristãos
que não se dobraram, foram duramente perseguidos, perderam seus empregos,
suas posses e até suas vidas. Infelizmente, alguns se permitiram contaminar e
passaram a viver como os pagãos.
Na região havia também muitos judeus, algumas cidades possuíam até
sinagogas. Os judeus perseguiam constantemente os cristãos, levantando falso
testemunho contra eles e entregando os aos oficiais romanos. Os judeus só
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perseguiam os cristãos que compartilhavam sua fé, tanto que, nas cartas para as
igrejas infrutíferas, não há menção de judeus, pois a igreja era irrelevante.
Em meio a perseguição tanto de gentios quanto de judeus, a igreja
verdadeira foi perseverante e continuou a pregar as boas novas, enfrentando
grandes desafios e confiando nas promessas do Senhor.
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REFERÊNCIAS

KISTEMAKER, Simon. Comentário do Novo Testamento – Apocalipse. Tradução


de Jonathan Hack, Markus Hediger, Mary Lane. São Paulo: Cultura Cristã, 2014.

KEENER, Craig S. Comentário histórico-cultural da Bíblia: Novo Testamento.


Tradução de José Gabriel Said. São Paulo: Vida Nova, 2017

Bíblia de estudo nova versão transformadora – tradução de Susana Klasse. 1ª


Edição. São Paulo: Mundo Cristão, 2018.

Bíblia de estudo Spurgeon, BKJ 1611. 1ª Edição Revisada. Rio de Janeiro: BV


Films Editora, 2021.

MACARTHUR, John. Comentário bíblico MacArthur: desvendando a verdade de


Deus, versículo a versículo. Tradução de Eduardo Mano. Rio de Janeiro: Thomas
Nelson Brasil, 2019.

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