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CRÍTON- SOBRE O DEVER

O VALOR DA COERÊNCIA

Informações preliminares
Considerado pela crítica como um escrito de juventude, a cena é situada
na terceira madrugada que antecede a morte de Sócrates, na prisão em
que aguardava a realização da sentença.
Sócrates, neste diálogo, interage com a personificação das Leis diante de
Críton, seu discípulo mais fiel, que participa muito pouco da discussão,
ainda que tenha dado ensejo ao problema central: a natureza do dever.
Críton foi um ateniense abastado do mesmo demo de Sócrates, que
sempre o ajudou em circunstâncias práticas, mas não estava entre os
discípulos mais inteligentes.
Um dos diálogos mais curtos e claros de Platão, embora encerre um
problema central e revele, quanto a ele, uma solução bem acabada.

Estrutura do diálogo

1. Prelúdio.
Críton vai à cela de Sócrates preocupado com a proximidade da
execução da sentença.
2. Críton convida Sócrates a fugir e diz que tem todos os recursos.
Argumentos:
a) O povo julgará mal os seus amigos, por não o haverem ajudado;
b) As dificuldades práticas são facilmente contornáveis
c) Ficando na prisão, Sócrates prejudica a si mesmo, aos filhos e
aos amigos
3. Discurso de Sócrates sobre o erro em fugir do cárcere, razão pela
qual o recusa:
a) A vida de um homem deve ser coerente com sua doutrina
b) A opinião de todos não é referência; apenas as daqueles eu
sabem;
c) Viver por viver não é é o ponto central; e sim o viver bem, isto é,
segundo a virtude e a justiça
d) Enfrentamento da pergunta: É justo fugir do cárcere?
e) Em hipótese algum se deve cometer injustiça ou revidar uma
injustiça com outra;

4. Prosopopéia das Leis


Prosopopéia: Figura que consiste na atribuição de sentimentos,
psicologia e comportamento humanos a seres inanimados e a animais.
Personificação.
a) Fugir do cárcere significaria destruir as leis
b) O cidadão é quem é em virtude das leis, portanto, sua existência
depende delas, está atrelada a elas;
c) Usar da violência não é algo justo em hipótese alguma;
d) Por que Sócrates tem o dever de obediência nas comparações das
Leis;
e) Sócrates sempre teve amor e apreço pelas leis de Atenas e não
pode pisoteá-las agora
f) Incoerência e inconsistência de uma vida de Sócrates do exílio;
g) Sócrates não tem a vida em consideração maior que a justiça

PROBLEMA de superfície – É JUSTO FUGIR DA PRISÃO?


É justo violar as leis da cidade?
É correto reverter a ordem natural entre cidade e cidadão?
Fazer o mal à cidade compara-se a infligir injustiça ao pai ou a mãe. O ser
de alguém está atrelado à sua ascendência; o estatuto civil de qualquer
pessoa está atrelado à sua origem/cidadania.
PROBLEMA político de fundo – HÁ CIDADE SEM LEI?
A premissa da resposta de Sócrates a Críton está no valor político do
respeito à ordem.
A natureza da lei: as leis são as estruturas invisíveis da cidade
Mas e a lei injusta?
Corrigimos enquanto vivos e atuantes. Incomodar-se com a imperfeição
das leis quando ela se torna inconveniente num caso particular não
justifica que se viole/COMETA VIOLÊNCIA/ as próprias estruturas
invisíveis, contudo reais, de uma cidade.
É justo corrigir leis injustas; não é justo violar a lei

Cidadãos não são “a menor minoria”. São parte de uma ordem que os
antecede.
A relação entre pessoas e cidades reflete a condição humana enquanto
parte de um cosmo cuja ordem foi desenhada por um ser superior, a qual
se impõe sobre todas as suas partes. De forma semelhante, a cidade se
impõe sobre o cidadão.
É justo derrubar a cidade para salvar a pele de alguém que sempre foi feliz
nela?

O discurso de Sócrates na Apologia é a premissa sem a qual não se


compreende sua devoção à cidade. Ele próprio, farol de outros homens,
foi posto a serviço da cidade por desígnio do Deus. Significa que a vida de
Sócrates é indissociável da ordem superior que governa o mundo. De
modo que separar-se desta ordem na forma aparente da cidade (posta
sobre os pilares invisíveis das Leis), seria separar-se de si mesmo. O dever
sintetiza a integridade ontológica do ser-humano, sendo o cerne do
caráter.

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