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Fonte: The Royal Art Collection, Londres. RCIN 405893. Pintor: Sir Joshua Reynolds (1723-
1792). Nota: Oléo sobre tela. Estilo: Romantismo. Tamanho: 245,4 × 206,7 cm. 1767.
Diante desse cenário, esta dissertação procurou
responder a seguinte pergunta: como se
construíram as dimensões e as propostas
de instrumentalização dessa “disciplina
militar”, que direcionaram as práticas
educativas militares em Portugal e na
América Portuguesa, na segunda metade
do século XVIII?
Como hipótese propõe-se que a disciplina militar, inserida nos
escritos de Lippe, se construiu tendo como base uma cultura
militar diferente dos costumes militares portugueses,
especialmente em sua dimensão educativa. Ela representou uma
proposta de mudança às práticas militares portuguesas, e também
um avanço em relação ao pensamento militar prussiano clássico.
Esses direcionamentos se refletiram em diversos pontos:
estruturação da Justiça Militar; critérios para alistamento e
promoção dos oficiais; valorização da educação e da instrução
militares; desenvolvimento dos pressupostos da “Arte Militar
Defensiva” e incorporação de dimensões da disciplina militar por
administradores e comandantes militares na América portuguesa.
Objetivo geral:
- descrever as dimensões e as propostas operativas da “disciplina militar”
provenientes dos escritos do Conde de Lippe.
Objetivos específicos:
Capítulo 2
O PENSAMENTO DO CONDE
- interpretar o processo de construção da “disciplina militar” e suas DE LIPPE E O ENSINO
dimensões a partir da trajetória pessoal de Lippe e seu contexto sócio- MILITAR
81 Práticas Educativas
55 Vigiar
39 Ensinar
36 Punir
Da interpretação das fontes (“escritos militares”, correspondências e
iconografias) percebeu-se que a disciplina militar direcionou as práticas
educativas e estaria sustentada no tripé ensinar-vigiar-punir.
Inicialmente era necessário ensinar as leis e regulamentos, proporcionando os
conhecimentos que estavam relacionados à utilidade e à conduta do militar. Na
sequência, era preciso vigiar os comportamentos, por meio de uma teia de
olhares pluridirecionais, que envolviam hierarquicamente superiores, pares e
subordinados. Por fim, era necessário punir os transgressores contrários às
condutas esperadas do “bom e leal vassalo” militar.
Conhecimentos Condutas e Na
técnicos comportamentos Nos Na Academia Administração
regimentos Militar Militar luso-
americana
Técnica Artigos de
Tática Guerra e Justiça Propostas operativas da Disciplina Militar
Militar (Instrumentalização)
Estratégia
Sob a égide do
despotismo esclarecido do
futuro Marquês de Pombal
e por indicação da
Inglaterra, aportou em
Portugal, em 1762, o
oficial militar alemão
Wilhelm Zu Schaumburg-
Lippe. Ele assumiu o
Wilhelm zu Schaumburg-Lippe.
comando do exército e
Fonte: Joshua Reynolds., Öl auf Leinwand, 1767 realizou uma ampla
reforma militar.
Lippe chegou a Portugal acompanhado por vários oficiais
alemães, entre os quais o príncipe Carlos Luiz Frederico
II, Duque de Mecklenburg, Tenente-general do Exército
Português, irmão da rainha de Inglaterra, futuro
Governador de Hannover e Marechal de campo do exército
inglês.
«Regulamento para a Real Infantaria Prussiana: no qual se contêm as evoluções, o manuseamento e o carregamento, e
como o serviço deve ser executado em campanha e na guarnição, bem como todos os oficiais se devem comportar, e
quanto deve ser pago em soldos, e quanto descontado, e como deve ser executado o fardamento… (Berlin, 1750).
Gravura do Conde Albert e o Condado de Bückeburg.
Fonte: Biblioteca Nacional da Áustria. Imagens digitais. Números dos inventários: Wilhelm: Port_00065079_01. Georg: Port_00065077_01. Créditos das imagens: ÖNB. Autorias: Martin Tyroff
(gravador); Anton E. Grumbrecht (desenhista). C. 1740. Escola/estilo alemão.
Fonte: Gravura de Anton Wilhelm Strack. 1787.
Medalhão do retrato de dom José I e a
Os dois distintivos utilizados pelo Conde de Representações do Conde de Lippe. Século XVIII Estrela da Ordem da Águia Negra
Lippe possuem dimensões simbólicas que fazem
parte de sua trajetória como militar e que
impactaram seus escritos militares e sua pedagogia
militar. O medalhão, destaca-se pelo tamanho,
centralidade e pelo detalhamento da pintura da
face de dom José I. A Estrela da Ordem da Águia
Negra, a mais alta ordem da Cavalaria na Prússia, era
a concedida como forma de reconhecimento pela
valentia no combate e pela excelência na liderança
militar. Ela era colocada do lado esquerdo, e tinha ao
centro a inscrição em latin: Sum Cuique, que
significa “a cada um de acordo com seus méritos”.[1]
A ideia de que “todos podem receber o que lhes
é devido” parece ter sido uma máxima perseguida
Conde Wilhelm Friedrich Ernst de Schaumburg-
pelo Conde de Lippe no processo pedagógico Lippe. c. 1770. Dimensões: 71,7 x 87 cm.
ocorrido na Academia Militar de Wilhelmstein, em Autor: Johann Georg Ziesenis. Photo ©bpk – Photo
Agency/Gemäldegalerie, Staatliche Museen zu
termos de habilitades e capacidades dos cadetes. Berlin - Preubischer Kulturbesitz /Volker-H,
Schneider.
Fonte: Detalhes da pintuea Conde Wilhelm Friedrich Ernst de Schaumburg-Lippe. 1764.
Dimensões: 71,7 x 87 cm. Autor: Johann Georg Ziesenis. Photo ©bpk – Photo Agency/Gemäldegalerie,
b - Conde Wilhelm Friedrich Ernst de Schaumburg-
Staatliche Museen zu Berlin - Preubischer Kulturbesitz /Volker-H, Schneider Lippe. Feito após Johann Ziesenis. 1782.
Autor: Anton Wilhelm Strack.
[1] Ela foi concedida por Frederico, o Grande por ocasião de uma inspeção de tropa na Vestfália em 1751.
Lippe considerava a leitura fonte para formar-se “o
espírito militar e prover-se de ideias, por ela se
enriquecia com as luzes e com as experiências dos O acervo básico da biblioteca militar de cada
outros”. guarnição seria composta pelas obras:
VILLALTA, Luiz Carlos. Governadores, bibliotecas e práticas de leitura em Minas Gerais no século XVIII.
Nº 1º Uniforme do Terço Auxiliar da Cidade, de que é Mestre de Campo Marcos José Monteiro de Carvalho e Veiga Coelho. Nº 2º Dº do Bairro da Campina, que é Mestre de Campo Lourenço Furtado de
Vasconcellos. Aquarela. 1784. Imagem 31,0 x 18,0 cm em f. 34,5 x 24,0 cm. Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Brasil. MAP.I,4,01 nº013A – Manuscritos.
Desenhista: José Joaquim Freire (1760-1847)
Nº 1º Uniforme do Terço Auxiliar da Cidade, de que é Mestre de Campo Marcos José Monteiro de Carvalho e Veiga Coelho.
Nº 2º Dito do Bairro da Campina, que é Mestre de Campo Lourenço Furtado de Vasconcellos. Aquarela. 1784. Imagem 31,0 x 18,0 cm em f. 34,5 x 24,0 cm
Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Brasil. MAP.I,4,01 nº013A – Manuscritos.
Desenhista: José Joaquim Freire (1760-1847)
Planta de Vila Boa Capital da
Capitania geral de Goyas :
levantada no ano de 1782,
pelo Illmo. e Exmo. Snr. Luis
da Cunha Menezes,
Governador , e Capitão
General da mesma
Capitania.
Catálogo da coleção
cartográfica e iconográfica
do Arquivo Histórico
Ultramarino. Projeto Resgate
Barão do Rio Branco.
ESTAMPA do regular uniforme dos cavalos do Regimento Pago de Vila Rica. dado e regulado no ano de 1775. Arquivo Histórico Ultramarino. Lisboa. COD. 1516.
José Joaquim da Rocha, filho do capitão Luís da Rocha e de dona
Maria do Planto, nasceu por volta de 1740, em São Miguel da Vila de
Souza, ao sul de Aveiro, no Bispado da Extremadura. Sobre sua vida
enquanto esteve em Portugal, pouco se sabe. Chegou às Minas
Gerais quando Luís Diogo Lobo da Silva era governador (1763-1768),
e aí ficou até morrer (1804), tendo permanecido solteiro. Sentou
praça como Cabo-de-Esquadra nas Companhias de Dragões e
posteriormente se integrou ao Regimento de Cavalaria (1775).
Quando da Inconfidência Mineira, residia em Vila Rica e declarou
nos Autos da Devassa que vivia de seus negócios. Após realizar
diversas produções cartográficas e a “Memória Histórica”, José
Joaquim recebeu a patente de Sargento Mor para atuar em corpos
auxiliares.
ROCHA, José Joaquim da. Geografia histórica da Capitania de Minas Gerais. Descrição geográfica, topográfica, histórica e política da Capitania de Minas
Gerais. Memória Histórica da Capitania de Minas Gerais. (Estudo crítico Maria Efigênia Lage de Resende; transcrição e colação de textos Maria Efigênia Lage de
Resende e Rita de Cássia Marques). Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, Centro de Estudos Históricos e Culturais, 1995
ROCHA, José Joaquim da. Mapa da Comarca do Sabará. 1778
Fundo Seção Colonial. Secretaria do Governo. SC. 005. Arquivo
Público Mineiro. Belo Horizonte. Minas Gerais
40 folhas: 22 desenhos técnicos, 6
plantas ms., 12 mapas ms., nanquim;
21,7 x 33,3 cm.
Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro
De acordo com o Conde de Lippe (1766) os livros obrigatórios para a artilharia eram: Curso de matemática, de Bernard
Forest de Bélidor; Mecanismo de Artilharia, de Joseph Dulac; Ataque e defesa das praças, de Sébastien Le Preste de
Vauban; obras de Jean-Florent de La Vallière; Lormee; Surirey de Saint-Rémy e Joseph Dulac. Para a Engenharia:
Engenheiro de Campanha, de Clairac e as obras de Le Blond
A disciplina militar, presente nos nos escritos de Lippe, emergiu de uma
cultura militar diferente dos costumes praticados pelos portugueses nos
“domínios de Marte” ou de Mars Cariocecus (deus da guerra na mitologia
lusitana), especialmente quando analisada em sua dimensão educativa.
Percebe-se que suas propostas se alinhavam às obras de grandes
pensadores portugueses, como Ribeiro Sanches, Pina Proença e Verney que
destacavam a dimensão educativa do “exemplo” e a “utilidade” da
educação. Os escritos de Lippe também representavam um avanço em
relação ao pensamento militar prussiano clássico, especialmente pela
incorporação de premissas iluministas, que advogavam o “comando pelo
caráter” e a “obediência pela convicção”.
Oficiais e Praças como o Conde de Lippe, Böhn, Marquês do Lavradio,
Antonio de Noronha, José Joaquim Freire, José Joaquim da Rocha, Manuel
Ribeiro Guimarães e Joaquim Vieira da Silva podem ser vistos como
mediadores das culturas militares. Eles transitaram fisicamente, traziam e
levaram saberes e práticas de uma cultura para outra, em um processo de
influências múltiplas.