de ser: por um lado, a soma do primeiro número par e do primeiro número ímpar (2+3); e, por outro, de estar no meio dos nove primeiros números. B símbolo de união, número nupcial segundo os pitagó- ricos; número, também, do centro da har- monia e do equilíbrio. Será, por conseguin- te, a cifra das hierogamias, o casamento do princípio celeste (3) e do princípio terres- tre da mãe (2). B, ainda, o símbolo do homem (braços abertos, o homem parece disposto em cinco partes em forma de cruz: os dois braços, o busto, o centro - abrigo do coração -, a cabeça, as duas pernas). Símbolo, igual- mente, do universo: dois eixos, um vertical, outro horizontal, passando por um mesmo centro. Símbolo da ordem e da perfeição. Símbolo, finalmente, da vontade divina, que não pode desejar senão a ordem e a per- feição (CHAS, 243-244). O número 5 representa também os cinco sentidos e as cinco formas sensíveis da matéria: a totalidade do mundo sensível. A harmonia pentagonal dos pitagóricos deixa sua marca na arquitetura das cate- drais góticas. A estrela de cinco pontas, a flor de cinco pétalas, estão postas, no sim- bolismo hermético, no centro da cruz dos quatro elementos: é a quintessência. ou o éter. O 5, em relação ao 6, é o microcosmo em relação ao macrocosmo, o homem indi- vidual em relação ao Homem universal. Na China, igualmente, 5 é o número do Centro. Encontra-se na casa central de Lo- chu. O caracter wu (cinco) primitivo é, pre- cisamente, a cruz dos quatro elementos, aos quais se junta o centro. Numa fase ulterior, dois traços paralelos aí se unem: o Céu e a Terra entre os quais o yin e o yang produzem os cinco agentes. Também os antigos autores asseguram que debaixo do céu, as leis universais são em número de cinco. Há cinco cores, cinco sabores, cinco tons, cinco metais, cinco vísceras, cinco planetas, cinco orientes, cinco regiões do espaço e, naturalmente, cinco sentidos. Cin- co é O número da Terra. B a soma das quatro regiões cardeais e do centro, o uni- e das técnicas, de Goibniu, o ferreiro), Mi- verso manifestado. Mas é também a soma nerva. O esquema é confirmado por Júlio de dois e de três, que são a Terra e o Céu César que, em De Bello Gallico, enumera na sua natureza própria: coníuncãe+eesa. Mercúrio, Iúpiter, Marte, Apolo, Minerva. mento do yin e dó yang, do T'ien ~ do Ti. Todavia, no autor latino, os teônimos ro- É, também, o número fundamental das so- manos designam não divindades, mas fun- ciedades secretas. É essa união que as cin- ções. O que explica que determinadas cor- co cores do arco-íris simbolizam. Cinco é, respondências célticas sejam duplas. Cinco ainda, o número do coração. seria, também, o símbolo da totalidade: No simbolismo hindu, cinco é a conjunção totalidade do país da Irlanda, totalidade do de dois (número feminino) e de três (núme- panteão celta. Mas uma totalidade obtida ro masculino). É princípio de vida, número por um centro que reúne e integra quatro de Xiva transformador. O pentágono estre- e do qual os quatro participam. lado, igualmente um símbolo xivaísta, é Na maior parte dos textos irlandeses me- considerado um pentágono simples circun- dievais, cinqüenta, ou seu múltiplo triplo dado por cinco triângulos de fogo, radian- cento e cinqüenta (tri coicait, literalmen- tes, que são Iínga=, Xiva, enquanto Senhor te: três cinqüentenas), é um número con- do Universo, domina também as cinco re- vencional, que indica ou simboliza o infi- giões, e é, por vezes, representado com cin- nito. Conta-se raramente acima disso. Mas co faces, e venerado, sobretudo no Kampu- o sistema de numeração celta é ainda hoje, chea (Camboja), sob a forma de cinco linga. nas línguas modernas, arcaico e de empre- No entanto, a quinta face, a que está vol- go infeliz. tada para o alto, identifica-se com o eixo e Na América Central, cinco é uma cifra não é, em geral, figurada (BENA, BHAB, sagrada. No período agrário, é o símbolo DANA, GRAP, GUEC, GUET, LIOT, numeral do deus do milho. Nos manuscri- WIEC, KRAA). tos, bem como na escultura maia, é repre- No budismo japonês da seita Shingon, sentado freqüentemente por uma* mão distinguem-se, igualmente, cinco orientes (os aberta. Segundo Girard (GIRP, 198), a sa- quatro pontos cardeais mais o centro); cin- cralização do número cinco estaria ligada co elementos (terra, água, fogo, vento, espa- ao processo de germinação do milho, cuja ço); cinco cores; cinco qualidades de conhe- primeira folha sai da terra cinco dias de- cimentos, as que o Buda supremo possuía e pois da semeadura. Os Deuses Gêmeos do que o adepto do esoterismo Shingon deve Milho, depois da sua morte iniciática, res- esforçar-se para adquirir progressivamente a suscitam do rio cinco dias depois de terem fim de ascender ao nível da Iluminação. suas cinzas lançadas às águas (Popol-Vuh). Cinco se revela, aqui, como o número da O mito especifica que eles aparecem pri- perfeição integrada. meiro sob a forma de peixes, em seguida, Cinco são as províncias da Irlanda, re- de homens-peixes (sereias), antes de se fa- partidas em quatro províncias tradicionais: zerem adolescentes radiosos (solares). Assim, Ulad (Ulster), Connacht (Connaught), Muns- o glifo maia do número cinco, constituído, ter (Mumu) e Leinster (Lagin), e uma pro- de regra, por uma mão, surge também sob víncia central. Midhe (Meath), constituída os traços de um peixe. Ainda hoje, os pela retirada de uma parcela das quatro Chorti, descendentes dos maias, associam o outras províncias. O nome da província é, número cinco ao milho e ao peixe. Mais em irlandês médio, coiced, ced, literalmen- adiante, na sua história, os Gêmeos se di- te, quinta. Cinco é, ainda, o número dos ferenciam em Deus Sol e Deus Lua. É o deuses fundamentais do panteão celta, ou Deus Lua que conserva o cinco como sím- seja, um deus supremo, politécnico, Lug bolo numérico (donde a analogia com o (luminoso), assemelhado a Mercúrio, no peixe*, símbolo lunar). contexto romano, a quatro deuses, dos Entre os Chorti, igualmente, o ciclo de quais ele transcende todos os aspectos: infância, pelos mesmos motivos (analogia Dadge (deus bom), Júpiter; Ogme (o cam- homem-milho), é de cinco anos; o Deus do peão) e Nuada (o rei), Marte; Diancecht Milho é o protetor das crianças que ainda (médico) e Mac Oc (o rapaz), Apolo: Brigit não atingiram a idade da razão, i.e., meno- (brilhante, mãe dos deuses, mãe das artes res de cinco anos (GIRP, 201). Segundo as crenças dos maias, Deus iça nas suas metamorfoses sucessivas, encarna o morto pela corda *, que é a sua alma, no por duas vezes a idéia de sacrifício e de quinto dia. Assim também o milho termina renascença, assemelhado, de um lado, ao seu período de gestação e sai da terra içado Sol, de outro, a Vênus, que, todos dois, de- por Deus, depois de cinco dias. O colmo saparecem a Oeste no domínio das trevas, do milho é, igualmente, denominado corda para reaparecer - renascer - a Leste, ou alma. com o dia. Enquanto Senhor da casa da Na tradicão mexicana, Quetzalcoatl des- aurora: QuetzalcoatI. renascendo sob a for- cansa quatro dias no inferno antes de renas- ma de Vênus, estrela-d'alva, é representa- cer ao quinto dia (GIRP, 200-201). O pie- do .nos manuscritos mexicanos como um tograma solar dos maias compõe-se de cin- personagem que leva estampado no rosto co círculos; o Deus do Milho é, igualmente, o número cinco, sob a forma de cinco pon- deus solar. tos grossos, em quincunce (um em cada Cinco é também símbolo de perfeição ângulo e o quinto no meio). Assim, o nú- entre os maias (THOH), para os quais o mero cinco tem por significado esotérico, quinto dia é o das divindades terrestres. Se- precisa J. Soustelle, no simbolismo da clas- gundo o mesmo autor, ele é, então, sem se sacerdotal e guerreira, o sacrifício, ou, qualquer dúvida, o dia da serpente que mais exatamente, o auto-sacrifício e a res- envia a chuva. surreição. Glifo solar, ele encarna a idéia Os quatro* sóis sucessivos da tradição do triunfo solar, do triunfo da vida. Mas asteca representam o remate de um mundo subentende também aqueles sacrifícios dos que se encontra, com o quarto sol, reali- guerreiros, cujo sangue derramado, alimen- zado, mas não ainda manifesto. É com o to do Sol, condiciona o retorno cíclico do quinto sol, signo da nossa era, que se com- astro, que condiciona, por sua vez, a vida. pleta a manifestação. Vimos que cada um Da mesma forma, o Centro do mundo, re- desses sóis - e dessas idades - correspon- presentado pelo 5, é também o glifo do dia a um dos pontos cardeais. O quinto tremor de terra, do castigo final, do fim sol corresponde ao centro ou meio da cruz assim desenhada. É o despertar desse cen- do mundo,· onde os espíritos maus se pre- tro, o tempo da consciência. Cinco é, então, cipitarão das quatro direções cardeais para a cifra simbólica do homem-consciência do o centro, a fim de aniquilar a espécie hu- mundo. Os astecas atribuem ao Sol do Cen- mana. O Centro do mundo é, aqui, a encru- tro a divindade Xiuhtecutli, senhor do fogo, zilhada central, e, como todas as encruzi- representado às vezes por uma borboleta * lhadas=, lugar onde se produzem temíveis (SOVM). aparições. Entre os astecas, o deus cinco (milho Cumpre lembrar que é nas encruzilhadas jovem) é o senhor da dança e da música. que aparecem, cinco vezes por ano, à noite, Essa função apolínea o associa ao amor, à as mulheres mortas de parto, as quais, divi- primavera, à aurora e a todos os jogos. O nizadas como os guerreiros mortos em com- mesmo deus, dito o cantor, é, entre os bate ou sacrificados, acompanham o Sol no Huitchol, a estrela-d'alva. seu curso diurno - o que lembra, por Retomando a interpretação do número analogia, o pensamento dos dogons quanto cinco entre os antigos mexicanos, J. Sous- a esse número. Finalmente, e sempre para telle (SOVC) esclarece perfeitamente a am- precisar o lado nefasto desse símbolo, há bivalência própria do símbolo. Cinco, diz que lembrar que 5, enquanto meio da série ele, é, antes de tudo, o número do mundo noturna (9), é o oposto de 7, meio da sé- presente (que foi precedido por quatro es- rie diurna (13). O quinto Senhor da noite, boços preliminares de criação) e do centro Mitlantecutli, Senhor da morte, opõe-se à da cruz* dos pontos cardeais. Por isso ele feliz deusa Chicomecoatl, sétima das 13 di- simboliza o fogo, mas sob sua dupla acep- vindades diurnas. Ele traz nas costas um ção, de uma parte, solar, logo ligado ao signo solar: é o sol dos mortos - o sol dia, à luz, à vida triunfante; de outra, sob negro - que passa por debaixo da terra sua forma interna, terrestre, ctoniana, asso- durante a noite. Assim, conclui J. Soustel- ciada à noite e ao curso noturno do sol le, o número 5 simboliza, para os mexica- negro nos. infernos. O herói Quetzalcoatl, nos, a passagem de uma vida à outra pela morte, e a ligação indissolúvel do lado lu- sem cuidados, as Ilhas dos Bem-A ventura- minoso e do lado sombrio do universo. dos, à beira dos turbilhões profundos do O precioso relato do padre Francisco Oceano (ibid., 170-175), i.e., no extremo de Avila, De Priscorum Huarachiriensum Ocidente, nas proximidades do jardim dos (AVIH), mostra o papel capital que desem- deuses, a que montam guarda as Hespéri- penhava o número cinco nas crenças dos des. Existe, também aí, uma curiosa apro- antigos peruanos: tudo o que servia de ximação a fazer entre a tradição grega e a alimento amadurecia cinco dias depois de dos cinco sóis ou cinco eras dos astecas. semeado. Os mortos ressuscitavam depois Para os dogons e bambaras do Mali, o de cinco dias, razão pela qual não eram único é excepcional, não como sinônimo enterrados, mas expostos: no quinto dia, de àcabamento, de perfeição, mas como si- via-se reaparecer o seu espírito sob a for- nônimo de erro da natureza: é o número ma de uma pequenina mosca. Nos mitos do caos inicial, enquanto o 2 é o do relativos ao fim das primeiras idades, havia cosmo organizado. Desse modo, 5, feito da um dilúvio, que durou cinco dias, e um associação de 4, símbolo feminino, e 1, é, eclipse do Sol, que mergulhou o mundo em ele mesmo, um símbolo do incompleto, do trevas igualmente de cinco dias. Então, os impuro, do desarmônico, do instável, da cimos das montanhas se entrechocaram, e criação inacabada. É, assim, um número almofarizes e mós de moinho puseram-se a considerado, as mais das vezes, como ne- esmagar os homens. O deus Paryacaca, se- fasto, associado aos mais graves reveses, nhor das águas e do raio, nasce de cinco como os maus sucessos e a morte. No en- ovos sob a forma de cinco milhafres; ele tanto, ele pode ser considerado como um é um em cinco; faz chover simultaneamen- símbolo feliz: os bambaras falam, com efei- te em cinco lugares diferentes e desfere to, de um quinto mundo - por vir - relâmpagos das cinco regiões do céu. que seria o mundo perfeito, nascido da associação não mais de 4 e 1, como o mun- A concepção de cinco humanidades su- do atual, mas de 3 e 2 (DIEB). cessivas - sendo a nossa a quinta - en- contra-se em Érga kaí hemérai (Os traba- Santa Hildegarda de Bingen desenvolveu lhos e os dias), de Hesíodo. Para o poeta toda uma teoria do número cinco como da Theogonia, a. terra foi habitada suces- símbolo do homem. O homem se divide, de sivamente pelos homens de ouro, pelos ho- comprido, i. e., do alto da cabeça aos pés, em cinco partes iguais; no sentido da lar- mens de prata, pelos homens de bronze e gura, formada pelos braços estendidos da pelos semideuses - que pereceram no extremidade de uma das mãos à da outra, curso da guerra de Tróia - antes que divide-se ele em cinco partes iguais. Levan- sobreviesse a nossa geração, a dos homens do em conta essas medidas iguais no com- de ferro. Os homens de ouro se tornaram primento e essas cinco medidas iguais na os gênios benfazejos, guardiães da terra, largura, o homem pode ser inscrito num dispensadores das riquezas (HEST, 121- quadrado perfeito (DAVS, 170). Cinco qua- 125); seus sucessores, os homens de prata, drados no comprimento e cinco quadrados culpados dos mais loucos excessos, foram na largura, com o peito como lugar de in- sepultados por Zeus depois de haverem terseção, formam uma cruz num quadrado. recusado render o culto devido aos imor- Se o quadrado é o símbolo da Terra, o tais; transformaram-se naqueles seres que homem é como uma cruz neste mundo, ou os mortais chamam os Bem-aventurados dos este mundo é para ele como uma cruz. Infernos, gênios inferiores, mas que algu- Além dessas cinco partes iguais no com- ma felicidade ainda acompanha (ibid., 140- primento e das cinco partes iguais na lar- 144). Os homens de bronze, culpados, eles, gura, o homem possui cinco sentidos, cinco não da soberba luciferiana dos seus prede- extremidades (cabeça, mãos, pés). Plutarco cessores, mas do excesso de sua própria usa esse número para designar a sucessão força terriiicante, sucumbiram às suas pró- das espécies. Uma idéia assim pode, até, prias mãos e partiram para o Hades, agita- encontrar-se no Gênesis, onde se diz que dos de arrepios, sem deixar nome na terra os peixes e as aves foram criados no quin- (ibid., 150-155). Quanto à raça divina dos to dia ... O número par significando a ma- semideuses, ela habita, de coração leve e triz, uma vez que feminino, e o número ímpar, o elemento masculino, a assoctaçao de um e de outro é andrógina. .. Assim, o pentagrama é o emblema do microcosmo e do andrógino. Nas miniaturas medievais, o homem microcosmo é muitas vezes repre- sentado de braços e pernas abertos, a fim de melhor indicar as cinco pontas do pen- tagrama. O número cinco rege, pois, a estru- tura do homem (DAVS, 171). Cinco é cifra de bom augúrio para o Islã, que lhe vota especial predileção: o penta- grama dos cinco sentidos e do matrimônio. Cinco é o número das horas, da prece, dos - bens para o dízimo, dos elementos do hajj (e dos dias em Arafât), dos gêneros de jejum, dos motivos de ablução, das dispen- sas para a sexta-feira; é o quinto dos tesou- ros e do butim; as cinco gerações para a vingança tribal, os cinco camelos para a diya, as cinco takbir, ou fórmulas de ora- ção: Deus é grande! São os cinco testemu- nhos do Mubâhala (pacto), as cinco chaves do mistério no Corão (Corão 6, 59; 31,34). São, também, os cinco dedos da mão de Fátima (MASA, 163). Contra o mau-olhado, estendem-se os cinco dedos da mão direita, dizendo: Cinco no teu olho, ou Cinco sobre teu olho. Em Fez, para conjurar o perigo causado pela admiração por alguma coisa ou por alguém, é costume dizer: Cinco e quinze. O número cinco tornou-se desse modo um sortilégio em si mesmo. O quinto dia da semana, a quinta-feira, está sob o signo de uma pro- teção eficaz. Cinco, diz Allendy (ALLN, 121), é o nú- mero da existência material e objetiva. O psicanalista e a tradição maia se encontram aqui, bem como as tradições orientais, para fazer de cinco o signo da vida manifestada. Sendo um número ímpar, ele exprime, não um estado, mas um ato. O Quinário é o número da criatura e da individualidade. É digno de nota, nesse sentido, que o Ho- mem* se inscreva num pentagrama, que tem por centro o seu sexo. É o pentagrama que se encontra na origem do signo ideo- gráfico chinês [en, que representa o Ho- mem. Se um homem está alongado, de bra- ços e pernas estendidos, com o sexo servin- do de centro, sua parte superior é igual à sua parte inferior; e uma circunferência pode ser traçada a compasso, cada uma dessas partes tendo o comprimento de um raio. Uma vez mais, o cinco simboliza-a manifestação do homem, ao termo da evo:: --- lução biológica e espiritual.