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RESUMO
O trabalho apresenta reflexões acerca da construção e do uso do diário de
campo na pesquisa. Acontece através de uma observação realizada com
crianças da educação infantil de uma escola situada na área do campo e de suas
brincadeiras no ambiente escolar. O resultado nasce a partir de um projeto de
Doutorado em Educação Escolar pela Universidade Federal de Rondônia. Trata
como objetivo demonstrar o passo a passo da construção de um diário de campo
na pesquisa, orientando o uso do mesmo na coleta de dados, visto na
metodologia qualitativa e no bojo das ciências humanas, como uma ferramenta
metodológica imprescindível em pesquisas dessa natureza. Com isso, ensina
como o pesquisador poderá realizar registros confiáveis ao observar ações e
interações das crianças, nesse caso, no ambiente escolar. A conceituação e as
estruturas teóricas sobre o diário de campo seguiu orientações de Bogdan e
Biklen (1994), bem como, de pesquisadores que se utilizaram desse instrumento
de registro na pesquisa, como é o caso do antropólogo Malinowski (1967);
Débora Diniz (2017) e Brandão (1982). Ambos demonstram o instrumento de
coleta, em diferentes formatos, garantindo as especificidades desse registro na
pesquisa. O estudo considera que o diário de campo é um relevante instrumento
de registro em pesquisas com crianças e/ou na área das ciências humanas e
socais. Reflete que o alcance de resultados significativos e densos em uma
investigação, será possível, a partir de uma observação minuciosa, dos cuidados
ABSTRACT
The paper presents reflections about the construction and use of the field diary
in research. It takes place through an observation carried out with children in early
childhood education at a school located in the countryside and their play in the
school environment. The result is born from a PhD project in School Education at
the Federal University of Rondônia. It aims to demonstrate the step-by-step
construction of a field diary in research, guiding its use in data collection, seen in
qualitative methodology and in the human sciences as an indispensable
methodological tool in research of this nature. With this, it teaches how the
researcher will be able to make reliable records when observing children's actions
and interactions, in this case, in the school environment. The conceptualization
and theoretical frameworks about the field diary followed guidelines from Bogdan
and Biklen (1994), as well as, from researchers who have used this recording
instrument in research, as is the case of the anthropologist Malinowski (1967);
Débora Diniz (2017) and Brandão (1982). Both demonstrate the collection
instrument, in different formats, ensuring the specificities of this record in
research. The study considers that the field diary is a relevant recording
instrument in research with children and/or in the area of human and social
sciences. Reflects that the achievement of significant and dense results in an
investigation, will be possible, from a thorough observation, the care with the
rewritten in memoranda, after returning from the research field, and then, opulent
data material.
1 INTRODUÇÃO
Nas pesquisas de natureza qualitativa percebe-se que a criança, seus
brinquedos e suas brincadeiras são aspectos ainda pouco estudados, sendo
esse, um campo que ainda necessita produzir conhecimentos, especialmente
trabalhos detalhando a coleta de dados no campo de pesquisa com o público
infantil.
O diário de campo na pesquisa com crianças em interação com seus
brinquedos e brincadeiras garante que as minúcias gravadas, escritas,
desenhadas ou anotadas no momento da coleta de dados, transformam-se
5MALINOWSKI, Bronislaw. Argonautas do Pacífico Ocidental. São Paulo: Abril Cultural, 1978.
6Antropólogo britânico (1854-1941). Sua publicação The Golden Bough: A Study in comparative
Religion, em 1890, tese em que demonstra que a evolução do pensamento e do conhecimento
humano se processou em três etapas fundamentais: magia, religião e ciência.
[...] No domingo, 27.9. Ontem fez duas semanas que estou aqui. Não
posso dizer que venha me sentindo bem fisicamente. No sábado
passado fiquei extenuado na excursão com Ahuia, e não consegui me
recobrar ainda. Insônia (não muito acentuada), coração
sobrecarregado e nervosismo (principalmente) parecem ser os
sinônimos, até agora. Tenho a impressão de que a falta de exercício,
causada por um coração fraco, combinados com um trabalho
intelectual positivamente intensivo são as bases desses sintomas. [...].
(MALINOWSKI, 1967, p. 50).
24 de janeiro de 1982
O semeador
Santa Luzia
A noite não demora na morada do escuro,
ela anseia o claro alvorar da manhã.
Estava o semeador de auroras sulcando a aragem da terra
com riscos de um fio invisível
que somente tecem e sabem tecer
as mãos hábeis dos rituais do amanhecer.
E alvorava de elo trabalhar, curvado sobre a terra,
a suave equação que de grão em grão movia
a complicada arquitetura do universo.[...]. (BRANDÃO, 1892, p. 5).
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
As reflexões sobre o uso do diário de campo realizadas a partir da
observação de crianças e suas interações com o brincar, demonstraram que a
construção dos registros materializa-se em um trabalho minucioso e detalhado,
exigindo rigorosidade antes, durante e após a volta do campo da pesquisa. Tal
rigorosidade se coloca independente do objeto investigado.
Vimos também que um olhar é sempre um olhar contaminado. Com isso,
o olhar do pesquisador e da pesquisadora precisa ser contaminado por um
referencial teórico-metodológico que sustente seus registros e suas análises. Por
isso, a importância da descrição dos eventos. Ao tecer algum comentário
valorativo, adjetivo ou de qualquer natureza, estes devem ser identificados nos
registros, evitando confundir os fatos com suas leituras, que certamente estão
atravessadas por suas teorias, que são suas lentes com as quais uma realidade
pode ser interpretada. Após o campo é fundamental a revisão de todos os
registros, o que inclui as percepções da pesquisadora.
No campo social, em pesquisas realizadas com seres humanos, é comum
o uso do diário de campo, mas, atualmente, o caderno físico tem sido substituído
pelo uso de gravadores e de computadores. Porém, há lugares em que o diário
físico (caderno e caneta) é insubstituível, como é o caso dos exemplos citados
pela pesquisadora Diniz, (2017).
Contudo, o diário de campo ancora-se em anotações precisas,
observações detalhadas e por reflexões constantes sobre as notas realizadas e
os memorandos construídos após a chegada do campo. Além disso, vimos que
é imprescindível identificar as notas com títulos previamente devidos para as
sessões que se procurará escrever mais adiante, no relatório da pesquisa,
dissertação ou tese.
Procuramos realizar esse trabalho considerando os fundamentos da
Teoria Histórico-Cultural durante a construção do projeto de pesquisa e nas