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julgamento.
7. Os mencionados suportes digitais continham facturação detalhada, dos
serviços prestados pela operadora de telecomunicações PT Comunicações, S.A.
8. Sucede que, além da facturação detalhada referente ao posto telefónico n.º
21……., de que era titular um dos então arguidos dos autos n.º 1…/0..9JDLSB,
aqueles suportes continham o mesmo tipo de informação referente a outros
telefones, facto que apenas veio a ser constatado na fase de inquérito do presente
processo.
9. A facturação detalhada contida nesses suportes informáticos era integrada
por uma relação de chamadas telefónicas, efectuadas e recebidas através de
telefones identificados só pelo seu número, dela constando, também, o dia, a hora
e a duração das chamadas efectuadas, e o número de telefone de destino ou
chamador.
10. Porém, essa facturação não continha a identificação dos titulares dos
telefones a que se reportava, não fazia referência ao local onde estavam
instalados os telefones, nem indicava a identificação dos titulares dos telefones
para onde foram realizadas chamadas, ou a sua localização.
11. Os telefones em causa integravam contas/Estado, das quais também fazia
parte aquele posto telefónico a que se reportava a facturação detalhada
efectivamente requisitada.
12. E eram todos telefones de residências particulares, confidenciais, cuja
titularidade não era possível ser conhecida, quer através dos serviços
vulgarmente conhecidos por "118", quer através de outros serviços de
informações da PT - Telecomunicações.
13. As autoridades judiciárias competentes nunca facultaram a consulta dos
suportes informáticos guardados no envelope … junto ao apenso V do
denominado "YYYYYY” a alguém estranho ao processo, designadamente aos
dois arguidos.
14. Todavia, por modo e em data não concretamente apurados, mas
necessariamente posterior a meados de Maio de 2003, data em que foi pedida a
facturação detalhada de um dos arguidos do processo "YYYYYY", os ora
arguidos vieram a lançar mão dos ficheiros informáticos constantes daquelas
cinco disquetes.
15. Tomaram então conhecimento do respectivo conteúdo e, ainda, que se tratava
de facturação detalhada junta ao processo referido, tendo consciência perfeita de
que, com excepção da sua junção a processo crime mediante despacho do Juiz, a
sua detenção, posse, penetração na informação contida no suporte ou acedência
à mesma só eram permitidos às próprias pessoas a quem essa facturação dizia
respeito.
16. Apesar disso, introduziram e abriram em computador esses ficheiros e
verificaram que, para além da facturação detalhada referente ao posto n°
21……., havia aí facturação detalhada de outros números, com os dados acima
referidos.
17. Sabendo que se tratava de dados pessoais e de matéria referente à reserva da
intimidade da vida privada e que, por isso, não lhes era lícito fazê lo,
procederam a diligências tendentes à sua descodificação, passando, assim,
nomeadamente através de telefonemas feitos para esses números, a saber quem
eram os titulares dos telefones a quem essa facturação respeitava, em que
residências e locais estavam instalados esses telefones e, em algumas situações,
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01/12/21, 13:48 Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa
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inquérito.
Tratando-se da situação inversa – decisão de arquivar o inquérito – a
comprovação judicial desta tem de ser promovida através de requerimento do
assistente para abertura da fase da instrução.
Se até ao encerramento da instrução tiverem sido recolhidos indícios suficientes
de se terem verificado os pressupostos de que depende a aplicação ao arguido de
uma pena ou de uma medida de segurança, o juiz, por despacho, pronuncia o
arguido pelos factos respectivos; caso contrário, profere despacho de não
pronúncia – artigo 308º, n.º 1 do Código de Processo Penal.
Nesta fase processual, não se pede ao juiz, nem tão pouco ao Ministério Público,
na fase de inquérito, a convicção do crime para o pronunciar (ou acusar). Basta-
se a lei com a existência de indícios suficientes, ou seja, uma probabilidade
razoável.
Para que se acuse ou pronuncie um arguido há que dos elementos recolhidos nos
autos extrair-se uma convicção de que existe uma probabilidade mais positiva do
que negativa de que determinado crime foi cometido.
O juízo (objectivo) que subjaz a tal decisão tem, necessariamente, de se
fundamentar em provas recolhidas nos autos.
Assim, no culminar da fase de instrução, e como se refere no Acórdão do
Tribunal da Relação do Porto de 29/03/2006 [arresto do qual relator o Exmo. Sr.
Juiz Desembargador, Dr. Joaquim Gomes, processo 0516874, disponível no site
www.dgsi.pt], o juízo de pronúncia deve, em regra, passar por três fases:
«Em primeiro lugar a um juízo de indiciação da prática de um crime, ou seja, a
uma indagação de todos os elementos probatórios produzidos, quer na fase de
inquérito, quer na de instrução, que conduzam ou não à verificação de uma
conduta criminalmente tipificada.
Por sua vez e caso se opere essa adequação, proceder-se-á em segundo lugar, a
um juízo probatório de imputabilidade desse crime ao arguido, de modo que os
meios de prova legalmente admissíveis e que foram até então produzidos, ao
conjugarem-se entre si, conduzam à imputação desse(s) facto(s) criminoso(s) ao
arguido.
Por último efectuar-se-á um juízo de prognose condenatório, mediante o qual se
possa concluir que predomina uma razoável possibilidade do arguido vir a ser
condenado por esses factos e vestígios probatórios, estabelecendo-se um juízo
indiciador semelhante ao juízo condenatório a efectuar em julgamento».
Temos assim, e em suma, que a pronúncia só deve ter lugar quando tiverem sido
recolhidos indícios suficientes de se ter verificado o crime e de quem foi o seu
agente.
Já na decisão instrutória de não pronúncia, o juiz decide que os autos não estão
em condições de prosseguir para a fase de julgamento, por não se verificarem os
pressupostos de que depende a aplicação ao arguido de uma pena ou medida de
segurança criminais.
Assim, e com relevância para a decisão a proferir, importa considerar, além dos
meios de prova produzidos em sede de inquérito (com relevância para a presente
decisão), designadamente aqueles que estão elencados no despacho de acusação,
e que aqui se dão por reproduzidos, os seguintes meios de prova:
Em instrução
a. Fls. 1190 a 1195: Acta de diligência de análise de disquetes e CD
b. Fls. 1199-1200: Auto de inquirição de R……., inspector chefe da PJ
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II – FUNDAMENTAÇÃO
Delimitação do objecto do recurso
7 – Antes de entrarmos na análise do recurso interposto pelo Ministério Público,
importa fazer notar que, como se vê claramente das peças processuais
transcritas no relatório do presente acórdão, os arguidos foram acusados da
prática de um crime de «Acesso indevido», conduta p. e p. pelo artigo 44º, n.ºs 1
e 2, alínea b), da Lei n.º 67/98, de 26 de Outubro.
Não foram acusados da prática de qualquer crime de «Devassa da vida
privada», de «Devassa por meio de informática» (artigos 192º e 193º do Código
Penal), de «Desobediência» (artigo 88º, n.ºs 2 e 3, do Código de Processo Penal),
de «Violação de segredo de justiça» (artigo 371º do Código Penal) ou de algum
crime cometido através da imprensa (artigo 30º e segs. da Lei n.º 2/99, de 13 de
Janeiro).
Daí que o recurso interposto pelo Ministério Público do despacho de não
pronúncia só possa ter como objecto o crime que por esta entidade tinha sido
imputado aos arguidos na acusação e não qualquer outro.
11 – Por tudo isto, este tribunal, se bem que por fundamentos não inteiramente
coincidentes com os utilizados no despacho recorrido, não pode deixar de negar
provimento ao recurso interposto pelo Ministério Público, mantendo a decisão
de não pronúncia.
III – DISPOSITIVO
Face ao exposto, acordam os juízes da 3ª secção deste Tribunal da Relação em
negar provimento ao recurso interposto pelo Ministério Público, mantendo a
decisão de não pronúncia dos arguidos A… e B… .
Sem custas.
_______________________________________________________
[1] Também havia um subsegmento dessas notícias em que se afirmava que esses telefones estiveram a ser
investigados, o que, como já resulta deste despacho, não se mostra que tenha qualquer fundamento. Como diz o
Professor Faria Costa em "Direito Penal da Comunicação", Coimbra, 1988, págs. 59/60, não satisfazendo a
condição da verdade, o direito de informar, nesta parte, já não corresponde à realização de um interesse
legítimo. Também, como se haverá de ver mais adiante esta referência poderia perfectibilizar a prática de um
crime de difamação, este sim cometido através da imprensa. Como, porém, os pressupostos de procedibilidade
não estavam realizados, nada mais há a comentar sobre esta matéria, passando-se à frente.
[2] Cfr. o Parecer do Conselho Consultivo da PGR, N° 21/2000, de 16 de Junho, publicado no DR, II série, n°
198, de 28 de Agosto, o Acórdão do Tribunal Constitucional de N° 241/02, de 29 de Maio e o ponto 1 do
comunicado de 18 de Janeiro de 2006, da Comissão Nacional de Protecção de Dados, junto a fls. 399 destes
autos.
[3] Com a única diferença de se tratar de sigilo dos advogados e sigilo bancário, a mesma questão, fáctica e de
direito, foi tratada no Acórdão, do mesmo Tribunal da Relação, de 18 de Maio de 2006, proc. n.º 54/2006-9, em
que era Relatora a Ex.ma Juíza Desembargadora Dra. Ana Brito, cujo texto integral pode ser consultado em
http://www.dgsi.pt/jtrl.nsf/33182, tendo-se, no sumário, escrito o seguinte: "VII - Questões relacionadas com
sigilo profissional - de advogado ou bancário - só se colocam quando do momento da revelação dos documentos
e demais coisas apreendidas e não no concreto momento que lhe precede e que agora está em causa, o da
apreensão". (o sublinhado é do próprio texto do Acórdão).
[4] Lei que transpõe para a ordem jurídica interna a Directiva 95/46/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho,
de 24 de Outubro de 1995, e que visa tutelar a «autodeterminação informativa que consiste no controlo que
cada um de nós deve ter relativamente à informação que nos diz respeito pessoalmente, seja ou não íntima,
como forma de preservar, deste modo e no limite, a própria identidade, a nossa dignidade e a liberdade»
(MURILLO DE LA CUEVA, citado por ALVAREZ-CIENFUEGOS SUAREZ, José Maria, in «La Defensa de la
Intimidad de los Ciudadanos y la Tecnologia Informática», Aranzadi, Pamplona, 1999, p. 25).
[5] A norma correspondente da revogada Lei n.º 10/91, de 29 de Abril, exigia o acesso «a um sistema informático
de dados pessoais».
[6] A lei refere-se a autorização e não a consentimento do titular. Não prevê, contudo, a concessão de
autorizações para acesso a dados pessoais ou a ficheiros de dados pessoais. Daí que a “devida autorização” só
possa, em nosso entender, ser interpretada como aquela que resulta da própria lei para o responsável pelo
tratamento dos dados e para todos aqueles que podem realizar esse tratamento, aos quais o acesso aos dados,
por conseguinte, não está vedado. Sobre a interpretação do “sin autorización” previsto no n.º 2 do artigo 197º do
www.dgsi.pt/jtrl.nsf/33182fc732316039802565fa00497eec/ce7999e8a0dc962f802574d4004ef5f9?OpenDocument 15/16
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Código Penal espanhol, veja-se, entre outros, PRATS, Fermín Morales, in «Comentários al Nuevo Código
Penal», dirigido por Gonzalo Quintero Olivares, Aranzadi, Pamplona, 1996, p. 958.
[7] MATA Y MARTIN, referindo-se ao n.º 2 do artigo 197º do Código Penal espanhol, considera que «Com o
acesso opera-se a captação intelectual da informação armazenada num sistema informático» (MATA Y
MARTIN, Ricardo M., in «Delincuencia Informática y Derecho Penal», Edisofer, Madrid, 2001, p. 139.
[8] «Por qualquer modo», tratando-se, portanto, de um crime de forma livre.
[9] Nada aponta, nem nenhum argumento justifica, que a qualificação do crime dependa do preenchimento
cumulativo das três alíneas do n.º 2 do artigo 44º. Se é verdade que o legislador não aditou, no fim da alínea b),
o habitual “ou”, também é certo que não colocou nesse mesmo lugar um “e”.
[10] Tais dados, como claramente resulta do n.º 3 do artigo 86º do Código de Processo Penal, uma vez que não
constituíam meios de prova, deviam ter sido destruídos, coisa que, como é consensual, não aconteceu.
[11] Se dúvidas existissem, elas deveriam ser resolvidas através da utilização do princípio “in dubio pro reo”.
[12] Tal direito abrange, como o Sr. procurador-geral-adjunto reconhece, o direito de denunciar, em dois
artigos de um jornal diário, a junção a um processo de ficheiros informáticos contendo dados relativos a
numerosas pessoas, muitas delas titulares ou ex-titulares de órgãos de soberania e de cargos políticos, e a sua
manutenção nesse processo sem aparente necessidade.
[13] Ver ANDRADE, Manuel da Costa, in «Liberdade de Imprensa e Inviolabilidade Pessoal – Uma perspectiva
jurídico-criminal», Coimbra Editora, Coimbra, 1996, p. 313.
[14] Ver o n.º 1 do Código Deontológico dos Jornalistas, aprovado em 4 de Maio de 1993.
[15] E é hoje um dever expressamente imposto por lei (artigo 14º, n.º 1, alínea a), da Lei n.º 1/99, de 13 de
Janeiro, na redacção que lhe foi dada pela Lei n.º 64/2007, de 6 de Novembro).
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