Você está na página 1de 6

Alim. Nutr.

, Araraquara ISSN 0103-4235


v. 22, n. 1, p. 137-142, jan./mar. 2011 ISSN 2179-4448 on line

APRESENTAÇÃO DA REFEIÇÃO VERSUS DESPERDÍCIO


DE ALIMENTOS NA ALIMENTAÇÃO DE PACIENTES
ONCOLÓGICOS

Priscilla Moura ROLIM*


Kaliana Martins de SOUZA**
Lígia Pereira FILGUEIRA**
Luciana Câmara da SILVA***

RESUMO: A redução no consumo alimentar do paciente cia terapêutica em um hospital. Satisfazer as exigências nu-
com câncer é multifatorial, estando relacionada à própria tricionais dos pacientes irá ajudá-los na recuperação, assim
doença, tratamento e anorexia. As refeições consumidas em como auxiliá-los no tratamento. Otimizar o planejamento
hospitais comumente são avaliadas de maneira negativa. É de cardápios, adaptando e melhorando a forma de apresen-
priorizada a refeição terapêutica, sem levar em considera- tação das refeições são passos vitais para uma boa aceita-
ção o aspecto sensorial, muitas vezes indispensável para o ção da dieta, assim como reduzir os níveis de desnutrição
consumo de alimentos. O objetivo do trabalho foi avaliar hospitalar, e sob o ponto de vista econômico, minimizar o
a influência da forma de apresentação das refeições (em desperdício de alimentos. 14
bandeja ou em prato) sobre o Índice de Rejeito (IR) de pa- A redução no consumo alimentar do paciente com
cientes oncológicos. Duas enfermarias denominadas A e B, câncer é multifatorial, estando relacionada com problemas
totalizaram uma amostra de 30 leitos, representando 48% específicos do tumor e do tratamento, além da anorexia
do total de internação do hospital. A população foi caracte- propriamente dita. Pacientes com caquexia neoplásica fre-
rizada por adultos e idosos, internados para tratamento clí- quentemente têm problemas como obstrução física do trato
nico do câncer. Foi realizado análise do IR em 60 refeições, gastrointestinal, disfagia, odinofagia, alteração do paladar,
sendo 15 almoços e 15 jantares, para cada tipo de apresen- estomatites, náuseas e vômitos, déficit cognitivo e dispneia
tação (bandeja e prato). O tipo de utensílio utilizado para que dificulta a deglutição. 21
servir a refeição influenciou diretamente no índice de rejei- A perda ponderal associada à desnutrição tem sido
to, reduzindo-o a valores expressivos. A média do IR para frequentemente observada em pacientes com neoplasias
as duas enfermarias de acordo com o utensílio utilizado, malignas (40% a 80% dos casos) e, ainda, 30% desses pa-
apresentou diferença estatística (p>0,05) e reduziu de 27% cientes adultos exibem perda ponderal superior a 10%. A
para 19%, em bandeja e em prato, respectivamente. O rejei- frequência com que ocorre esta perda ponderal e a desnutri-
to da enfermaria A foi mais acentuado, possivelmente de- ção em pacientes com câncer varia entre 31% e 87%, sendo
vido ao tratamento quimioterápico a que eram submetidos mais prevalente em pacientes com câncer do trato gastrin-
os pacientes. Houve maior redução do IR no almoço que no testinal ou em estágios mais avançados da doença. Estudos
jantar, possivelmente devido ao oferecimento do lanche da relatam que pacientes oncológicos estão mais susceptíveis
tarde, que por ser bem aceito pelos pacientes, faziam com à desnutrição, quando comparados com os demais pacien-
que eles rejeitassem mais o jantar por relatarem que não tes hospitalizados. 5,6,13
sentiam fome. Os resultados apresentados possibilitaram Todas essas alterações são intensificadas com a uti-
a substituição gradual das bandejas por pratos, reduzindo lização de terapias de combate ao câncer como radiotera-
desperdícios e custos para o serviço de nutrição, bem como
pia, quimioterapia e cirurgia, que afetam a deglutição e o
melhorando a ingestão de alimentos pelos pacientes.
paladar, além de provocar diversos efeitos colaterais como
PALAVRAS-CHAVE: Desperdício; alimentos; pacien- náuseas, vômitos e anorexia. 2
tes; câncer. Acrescenta-se também a estes a dor e os aspectos
sociais e psicológicos, incluindo a depressão. 24 Segundo
Ginane & Araújo, 12 as refeições consumidas em hospitais
INTRODUÇÃO pelos pacientes internados, habitualmente, são analisadas
sensorialmente de maneira negativa. Prioriza-se a tera-
O fornecimento de alimentos de boa qualidade e pêutica sem ser levado em consideração o apelo sensorial,
aporte nutricional adequado é parte integrante da assistên- muitas vezes indispensável para o consumo de alimentos.

* Departamento de Nutrição – Centro de Ciências da Saúde – Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) – 52092-250 – Natal –
RN – Brasil. E-mail: priscillanutri@hotmail.com.
** Secretaria de Saúde do Estado do Rio Grande do Norte – SESAP-RN – 52092-250 – Natal – RN – Brasil.
*** Serviço de Nutrição e Dietética – Liga NorteRiograndense Contra o Câncer – 52092-250 – Natal – RN – Brasil.

137
ROLIM, P. M.; SOUZA, K. M.; FILGUEIRA, L. P.; SILVA, L. C. Apresentação da refeição versus desperdício de alimentos na alimentação de
pacientes oncológicos. Alim. Nutr., Araraquara, v. 22, n. 1, p. 137-142, 2011.

A terapia nutricional deve ser reavaliada nestes casos, pois, co, na cidade de Natal/RN. A UAN do hospital é respon-
sendo um momento em que esforços devem se unir para a sável por produzir e distribuir as refeições aos pacientes, e
recuperação do paciente, o prazer de comer não deve ser para esta pesquisa foram utilizadas as dietas do tipo livre,
esquecido. conhecidas também como dieta normal, a qual não possui
Uma forma de monitorar a qualidade da refeição é restrições em relação às quantidades, como também tipos
o controle e acompanhamento pelas Unidades de Alimen- de alimentos e forma de preparo.
tação e Nutrição (UAN), do resto-ingestão, que é a relação Com o objetivo de alcançar toda clínica médica do
entre o resto devolvido nas bandejas ou pratos pelo cliente hospital, uma vez que neste tratamento encontram-se os pa-
e a quantidade de alimentos fornecida expressa em percen- cientes com maior tempo de internação, foram escolhidas
tual, sendo eficiente para indicar a qualidade da refeição as enfermarias da clínica médica, atribuindo-as a nomen-
servida, além de controlar os desperdícios e custos. 8,19 clatura de A e B. As mesmas representaram 48% do total de
Em uma UAN o desperdício é proveniente da sobra leitos do hospital. A população do estudo foi composta de
de alimentos (alimentos preparados e não distribuídos) e adultos e idosos, internados para tratamento clínico do cân-
restos (alimentos distribuídos e não consumidos). Quando cer, com tempo médio de internação de 1 a 2 meses. É im-
o percentual de resto-ingestão for superior a 10%, para co- portante ressaltar que os pacientes internados na enfermaria
letividade sadia, e acima de 20% para população enferma, A estavam submetidos ao tratamento de quimioterapia.
significa que os cardápios são considerados inadequados e/ Foi realizada coleta de dados em um período de 3
ou mal planejados e executados. 6, 15 (três) meses, por meio da refeição distribuída aos pacien-
O Índice de Rejeito (IR) permite avaliar o consu- tes internados durante este período, sendo que no primeiro
mo alimentar e a aceitação das preparações, redirecionan- momento do estudo (primeiros 45 dias) as refeições foram
do o planejamento de cardápios e as operações ligadas à servidas em bandejas, e em um segundo momento servidas
sua produção. Os trabalhos são recentes, tendo em vista a (últimos 45 dias) em pratos (Figura 1), para dessa forma
inovação do tema em nossa realidade, mas a contribuição avaliar se a forma de apresentação dos alimentos, por meio
deste estudo é relevante para pesquisa científica na área, desses utensílios, interferiam na ingestão alimentar dos pa-
pois apresenta subsídios para o entendimento da prática da cientes.
nutrição hospitalar. 18 Destaca-se que em alguns momentos do estudo os
Esta pesquisa apresenta-se como instrumento para pacientes eram diferentes, no entanto, apresentavam as
confirmar a importância da forma de apresentação das re- mesmas características quanto ao estado nutricional e tra-
feições, iniciando uma possível ação de gastronomia hos- tamento, possivelmente não interferindo nos resultados. O
pitalar, tornando-se papel relevante na ingestão alimentar índice de resto-ingestão, também conhecido como indica-
dos pacientes. O trabalho teve como objetivo verificar a dor de restos, foi analisado em 60 refeições do tipo livre e
repercussão da forma de apresentação das refeições sobre o pastosa, sendo 15 almoços e 15 jantares, para cada tipo de
índice de rejeito de pacientes oncológicos internados para apresentação (bandeja e prato).
tratamento clínico em um hospital de Natal-RN. O cardápio oferecido aos pacientes em dieta livre
apresentou tipo médio, contendo basicamente as seguintes
preparações: arroz ou macarrão, feijão, carne ou frango,
MATERIAL E MÉTODOS purê ou salada de legumes cozidos, salada crua e suco.
Para a pesagem dos pratos e bandejas utilizou-se ba-
O estudo foi experimental, no qual foi modificado
lança Filizola modelo 9094-1, com carga mínima de 125g
a variável tipo de apresentação da refeição. A pesquisa foi
e máxima 15kg, com precisão de 5g. As bandejas utiliza-
realizada em um hospital oncológico, de caráter filantrópi-

FIGURA 1 – Registro fotográfico da apresentação da refeição do almoço na bandeja e no prato


(Fonte: Serviço de Nutrição e Dietética do Hospital).Nota: Na modalidade prato o feijão é servido
em um recipiente separado.

138
ROLIM, P. M.; SOUZA, K. M.; FILGUEIRA, L. P.; SILVA, L. C. Apresentação da refeição versus desperdício de alimentos na alimentação de
pacientes oncológicos. Alim. Nutr., Araraquara, v. 22, n. 1, p. 137-142, 2011.

das foram de marca ALBAN com 5 divisórias e o prato de a estudos com pessoas sadias. Vale salientar que mesmo em
porcelana branco. Para a determinação do índice de rejei- indivíduos doentes, o paciente com câncer possui caracte-
to utilizou-se o Método citado por Corrêa et al.,8 a saber: rísticas especiais, merecendo uma atenção nutricional mais
Índice de Resto-ingestão(%) = (Resto-Ingestão/quantidade direcionada. Torres 23 relata que pacientes oncológicos es-
consumida) x 100. tão mais susceptíveis à desnutrição, quando comparados
A pesagem dos alimentos para a determinação do com demais pacientes hospitalizados.
índice de rejeito ocorreu após o porcionamento, a fim de Durante os 3 (três) meses de coleta de dados pôde-
se conhecer a quantidade total oferecida ao paciente, e em se verificar que os valores de resto-ingestão para as duas
seguida, posteriormente à refeição, foi realizada a pesagem enfermarias avaliadas reduziram a partir da intervenção,
das bandejas e dos pratos vazios. Para conhecimento da alterando o utensílio de servir a refeição, substituindo a
quantidade consumida, após o consumo todas as bandejas
bandeja onde os alimentos eram servidos separadamente
e pratos, foram recolhidos e levados à área de copa de la-
de acordo com as divisórias, pelos pratos de porcelana.
vagem para a correta higienização. Nesse momento, todo o
É importante ressaltar a redução mais expressiva do
resto foi colocado em sacos plásticos, descartando todos os
desperdício alimentar dos pacientes internados na enferma-
materiais não comestíveis, como guardanapos, ossos, co-
pos, etc., para que, em seguida, o resto fosse pesado. Os ria B dos pacientes que estavam na enfermaria A, havendo
resultados foram analisados estatisticamente por meio da diferença estatística (p>0,05) nesta redução (28,06% com
Análise de Variância e Teste de médias de Tukey, a 5% de bandeja e 14,97% com pratos), este fato possivelmente
significância, utilizando o software Statsoft. 22 pode estar relacionado com a aplicação da quimioterapia
nos pacientes da enfermaria A, reduzindo o apetite e conse-
quentemente a ingestão dos alimentos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO Ao analisar a Figura 3, observa-se que houve uma
redução significativa do índice de rejeito do almoço quando
A média do IR das enfermarias A e B, de acordo o mesmo foi servido no prato. No entanto, quando compa-
com o tipo de utensílio utilizado para apresentar a refeição,
ramos o índice de rejeito das refeições oferecidas no prato
reduziu de 27% com bandejas para 19%, utilizando pratos
no almoço e jantar encontrou-se um discreto aumento, mes-
para servir as refeições, sendo esta diferença significativa
mo que não significativo, no IR do jantar.
(p>0,05), confirmando a hipótese inicial de que a forma de
Ao analisarmos o jantar, o estudo mostrou que não
apresentar a refeição, seja ela em bandeja ou em prato, po-
deria influenciar diretamente na ingestão por parte do pa- houve redução significativa entre a utilização de bandejas
ciente (Figura 2). A avaliação do desperdício para clientela e pratos, fato que possivelmente pode ser explicado pela
enferma é considerada “ótima” quando possui valores até variedade de alimentos que é servida no horário do lanche
10%, “bom” até 15%, “regular” até 20% e “péssimo” acima da tarde (bolo com suco de fruta ou iogurte, torrada com
de 20%. Com isso, pode-se verificar que o IR evoluiu de suco, cachorro-quente com suco), no qual os pacientes ge-
péssimo para regular. 15 ralmente se alimentam bem, fazendo com que no jantar a
Existem poucos estudos publicados sobre avaliação ingestão seja pouco satisfatória. No entanto, não podemos
de índices de rejeito em clientelas enfermas. As pesquisas afirmar com certeza esta possível evidência, uma vez que
comumente não refletem a realidade encontrada em muitos não se sabe ao certo se todos os pacientes que jantaram
hospitais, por muitas vezes apresentarem dados referentes também lancharam.

FIGURA 2 – Índice de rejeito dos pacientes das enfermarias “A” e “B” de acordo com o tipo de apresentação.

139
ROLIM, P. M.; SOUZA, K. M.; FILGUEIRA, L. P.; SILVA, L. C. Apresentação da refeição versus desperdício de alimentos na alimentação de
pacientes oncológicos. Alim. Nutr., Araraquara, v. 22, n. 1, p. 137-142, 2011.

FIGURA 3 – Média do índice de rejeito do almoço e do jantar segundo a forma de apresentação.

Cabe ressaltar que houve diferença estatística se- seguinte, precisam rever suas políticas de alimentação para
gundo a forma de apresentação da refeição do almoço em tornar mais adequada às necessidades dos doentes.
bandejas e pratos, havendo uma redução importante do ín- Uma estratégia para reduzir o desperdício nas ban-
dice de rejeito dos pacientes quando os mesmos receberam dejas deve incluir um aperfeiçoamento na gestão de cardá-
a refeição no prato. Este dado é importante, uma vez que a pios e mais rápido sistema de comunicação entre a enfer-
perda ponderal associada à desnutrição tem sido frequen- maria e o serviço de alimentação. Por meio de inquéritos,
temente observada em pacientes com neoplasias malignas o paciente estabelece preferências alimentares, a melhoria
(40% a 80% dos casos) e, ainda 30% dos pacientes adultos da qualidade e atendimento no serviço pode ajudar a uma
exibem perda ponderal superior a 10%. 11 melhor ingestão de alimentos. Todos estes fatores devem
Os indicadores de restos encontrados no presente fazer parte de uma estratégia bem coordenada de cuidado
trabalho não são considerados ideais; no entanto, deve-se nutricional em hospitais. 3
levar em conta que são pacientes oncológicos, submetidos Com os resultados obtidos durante o estudo, con-
a tratamento antineoplásico, como quimioterapia e radio- segue-se afirmar que o desperdício de refeições oferecidas
terapia, o que resulta em várias alterações no paladar, bem aos pacientes pelo serviço de nutrição e dietética do refe-
como no apetite dos mesmos. Cabe ressaltar a importância rido hospital é muito elevado, pois somando a quantidade
de mais estudos nesta área para que se determine um índice desprezada pelos pacientes durante os 3 meses de coleta de
de rejeito específico para pacientes oncológicos. dados, poder-se-ia alimentar 27 pessoas. Fato que acarretou
Ao comparar com estudos em coletividades sadias, em um desperdício de alimentos de aproximadamente 10kg
devido à deficiência de trabalhos com coletividades enfer- por mês, constatando possíveis elevações nos custos da
mas, encontram-se também resultados acima da média para UAN. Os resultados também remetem à preocupação com
população sadia, que é de 10%. Castro 7 demonstrou que o consumo de alimentos pelos pacientes, provavelmente
todas as amostras apresentaram índice de resto-ingestão su- abaixo das recomendações nutricionais diárias necessárias
perior a 10%, e os estudos de Bradacz 3 demonstraram um para recuperação e promoção de sua saúde.
percentual de resto-ingestão de 15%. Proença et al. 18 ressalta que não só o alimento é im-
A média de resto-ingestão do almoço na unidade em portante, mas também sua apresentação e o contexto para o
questão foi de 31% ao utilizar bandejas, índice este seme- comensal. Para coletividades enfermas, além dos princípios
lhante ao encontrado por Nonino-Borges et al. 17 em que da dietoterapia são necessários cuidados para estimular a
analisando o desperdício de alimentos intra-hospitalar, ve- adesão à dieta, devido a eles estarem fora do seu ambiente
rificaram uma quantidade excessiva de restos alimentares, e com a saúde comprometida. Também é notável que ao
na média de 33% da quantidade total dos alimentos ofereci- considerar o ato de comer, é importante saber que este en-
dos, classificando o serviço como de baixa qualidade. volve a combinação de todas as sensações: olfativas, táteis,
Segundo Barton et al. 3 mais de 40% dos alimentos térmicas, auditivas, que na boca se fundem e resultam no
oferecidos em uma UAN foram desperdiçados, o que im- prazer de comer.
plica no possível não atendimento dos requerimentos nutri- As refeições hospitalares além da qualidade nutri-
cionais da clientela. Este indicador ajuda a explicar a contí- cional e sanitária devem agregar também características psi-
nua perda de peso em pacientes hospitalizados e representa cossensoriais e simbólicas aos pacientes, pois a alimentação
um grande desperdício de recursos. Os hospitais, por con- para o ser humano envolve aspectos além do atendimento

140
ROLIM, P. M.; SOUZA, K. M.; FILGUEIRA, L. P.; SILVA, L. C. Apresentação da refeição versus desperdício de alimentos na alimentação de
pacientes oncológicos. Alim. Nutr., Araraquara, v. 22, n. 1, p. 137-142, 2011.

às necessidades fisiológicas, como também psicológicas, nados para tratamento clínico e quimioterápico, influenciou
sociais e econômicas. Reduzindo, assim, o sofrimento do diretamente no índice de rejeito alimentar.
paciente pela doença e/ou internação, com diminuição das Nas enfermarias avaliadas, conclui-se que ao forne-
carências nutricionais, através de dietas individualizadas e cer a refeição em pratos de porcelana obteve-se uma redu-
especializadas. 10, 20 ção do desperdício alimentar quando comparados à utiliza-
Destaca-se que o hospital muitas vezes é o local que ção de bandejas.
muitos comensais descarregam as suas emoções, por meio A quimioterapia influenciou no índice de rejeito,
de grandes consumos de alimentos ou simplesmente desper- uma vez que mesmo quando houve mudança do utensílio,
diçando-o, como uma forma de protesto para com a situação pode-se observar uma discreta diminuição no desperdí-
em que se encontra. A escolha do alimento a ser ingerido e cio. Para evitar o desperdício de alimentos com pacientes
a quantidade adequada das necessidades devem ser atitudes oncológicos são necessárias algumas medidas corretivas,
respeitadas pela UAN, principalmente quanto à questão do como, treinamento de funcionários responsáveis pelo por-
hábito alimentar associada ao custo da refeição; neste senti- cionamento, pesquisas de aceitação das preparações pelos
do, o nutricionista reduzirá o desperdício, bem como irá des- pacientes, metas para diminuição do resto-ingestão, além
pertar olhar sustentável na produção de refeições. do cuidado quanto ao tipo de utensílio utilizado para servir
Pesquisas diretas com os pacientes são necessárias as refeições.
para investigar o real motivo de índices de resto-ingestão O objetivo de recuperar indivíduos debilitados por
tão elevados. Fonseca, 8 estudando adequação da ingestão meio de um adequado consumo de alimentos pode-se afir-
alimentar em pacientes com câncer, verificou nas respostas mar que foi alcançado, no sentido em que se conseguiu com
obtidas dos próprios pacientes que a ingestão incompleta este trabalho melhorar a ingestão a partir do cuidado com a
dos alimentos se dava por fatores como: falta de apetite, vô- forma de apresentar a refeição.
mitos, sabor ruim do alimento, náusea, aversão ao alimento
oferecido e gases. Além de alterações no paladar devido ao
uso de medicamentos, fatores emocionais como distância ROLIM, P. M.; SOUZA, K. M.; FILGUEIRA, L. P.;
da família, horários das refeições não correspondentes a SILVA, L. C. Presentation of meal versus food waste in the
sua rotina, entre outros fatores. 16 oncologic patients feeding. Alim. Nutr., Araraquara, v. 22,
O investimento na terapia nutricional do paciente n. 1, p. 137-142, 2011.
com câncer é decisivo não só para a redução dos resídu-
os orgânicos produzidos, mas também para manutenção da ABSTRACT: The reduction in food intake in cancer
qualidade de vida, preservar a integridade intestinal, me- patients is multifactor, being related to the disease, treatment
lhorar o balanço nitrogenado, restabelecer a imunidade me- and anorexia. Meals consumed in hospitals are commonly
diada por células, acelerar a cicatrização de feridas, reduzir measured in a negative way. The therapeutic meal is priority,
o tempo de hospitalização e a mortalidade. 1 regardless of the sensory aspect, often indispensable for the
Alterações comprometedoras do estado nutricional consumption of food. The objective of this work was to
contribuem para a resposta individual a diversas enfermida- evaluate the presentation of the meals (tray or plate) on the
des, estando correlacionadas ao elevado índice de morbimor- Index of Reject (IR) of cancer patients. Two wards named
talidade. O emagrecimento tem sido evidenciado nos pacien- A and B, totaled a sample of 30 beds, representing 48% of
tes com câncer e está associado à perda de massa magra. 2 the hospitalization. Adults and elders, in clinical treatment
Esta pesquisa além de contribuir para a redução dos of cancer, characterized the population. The IR analysis
custos no serviço de alimentação, melhorar a aceitação da was performed in 60 meals, 15 lunches and 15 dinners, for
dieta por parte dos pacientes, teve grande importância para each type of presentation (tray and dish). The type of utensil
o setor de nutrição do hospital, uma vez que após a verifica- used to serve the meal directly influenced the IR, reducing
ção da redução do IR e melhor aceitação da nova forma de it to expressive values. The average IR for the two wards,
apresentação, as bandejas foram substituídas gradualmente according to the utensil used, showed statistical difference
por pratos até que todas as enfermarias do hospital fossem (p>0.05) and decreased from 27% to 19% in the tray and
beneficiadas por tal fato. A pesquisa científica propiciou plate, respectively. The rejection of the ward A was more
ações para que o hospital reavaliasse a apresentação da ali- pronounced, possibly due to chemotherapy treatment that
mentação servida aos seus pacientes, e dessa forma contri- the patients were undergoing. There was a higher reduction
buiu para sua recuperação, além de permitir para reflexão of IR at the lunch than at the dinner, possibly due to the
sobre o desperdício de alimentos em hospitais, gerando offer of the afternoon snack, which by being well accepted
subsídios para o estabelecimento de novos indicadores de by patients, made most of them rejects dinner, reporting
resto-ingestão. that they didn’t feel hungry. The results allowed the gradual
replacement of trays for plates, reducing waste and costs
CONCLUSÕES for the nutrition service, as well as improving food intake
by patients.
As análises realizadas demonstraram que a forma de
apresentar uma refeição para pacientes oncológicos inter- KEYWORDS: Waste; food; patients; cancer.

141
ROLIM, P. M.; SOUZA, K. M.; FILGUEIRA, L. P.; SILVA, L. C. Apresentação da refeição versus desperdício de alimentos na alimentação de
pacientes oncológicos. Alim. Nutr., Araraquara, v. 22, n. 1, p. 137-142, 2011.

REFERÊNCIAS 12. GINANI, V.; ARAÚJO, W. Gastronomia e dietas


hospitalares. Nutr. Pauta, São Paulo, n. 56, p. 49-52,
1. ARAÚJO, E. M.; MENEZES, H. C. Formulações com 2002.
alimentos convencionais para nutrição enteral ou oral.
13. HUHMANN, M. B.; CUNNINGHAM, R. S. Importance
Ciênc. Tecnol. Aliment., v. 26, n. 3, p. 533-538, jul./set.
of nutritional screening in treatment of cancer-related
2006.
weight loss. Lancet Oncol., v. 6, p. 334-343, 2005.
2. ARAÚJO, F. F.; SILVA, C. C.; FORTES, R. C. Terapia
14. LEUENBERGER, M. et al. Meeting the nutritional
nutricional enteral em pacientes oncológicos: uma
requirements of hospitalized patients: An
revisão da literatura. Comun. Ciênc. Saúde, v. 19, n. 1,
interdisciplinary approach to hospital catering. Clin.
p. 61-70, 2008.
Nutr., v. 27, p. 800-805, 2008.
3. BARTON, A. D. et al. High food wastage and low
15. MEZOMO, I. B. Os serviços de alimentação:
nutritional intakes in hospital patients. Clin. Nutr.,
planejamento e administração. 5.ed. São Paulo: Manole,
v. 19, p. 445-449, 2000.
2002. 84p.
4. BRADACZ, D. C. Modelo de gestão da qualidade
16. MORIMOTO, I. M. I. Melhoria da qualidade na
para o controle de desperdício de alimentos em uni-
unidade de alimentação e nutrição hospitalar: um
dades de alimentação e nutrição. 2003. 172f. Disser- modelo prático. 2002. 72f. Dissertação (Mestrado
tação (Mestrado em Engenharia de Produção) – Pro- em Engenharia de Produção) – UFSC, Florianópolis,
grama de Pós-Graduação em Engenharia de Produção, 2002.
UFSC, Florianópolis, 2003.
17. NONINO-BORGES C. B. et al. Desperdício de
5. BRASIL. Ministério da Saúde. Estimativa 2006: alimentos intra-hospitalar. Rev. Nutr., Campinas, v.19,
incidência de câncer no Brasil. São Paulo: Instituto n.3, p.350-356, mai./jun. 2006.
Nacional do Câncer, 2005. 12p.
18. PROENÇA et al. Qualidade nutricional e sensorial
6. CASTRO, M. D. A. S. et al. Resto-ingesta e aceitação na produção de refeições. Florianópolis: Ed. UFSC,
de refeições em uma unidade de alimentação e nutrição. 2005. 221p.
Rev. Hig. Aliment., São Paulo, v. 17, n. 114/115,
p. 24-28, 2003. 19. RIBEIRO, C. B.; JUSTO, M. C. P. Controle do resto-
ingesta em unidade de alimentação e nutrição
7. CASTRO, M. H. C. A. Fatores determinantes de hospitalar. São José do Rio Preto: Centro Universitário
desperdício de alimentos no Brasil: diagnóstico da de São José do Rio Preto - UNIRP, 2003. 25p.
situação. 2002. 93f. Monografia (Especialização em
Gestão de Qualidade em Serviços de Alimentação) - 20. SANTANA, A. M. C. A produtividade em unidades
Universidade Estadual do Ceará, Fortaleza, 2002. de alimentação e nutrição: aplicabilidade de um sis-
tema de medida e melhoria da produtividade inte-
8. CORRÊA, T. A. F.; SOARES, F. B. S.; ALMEIDA, F. A. grando a ergonomia. 2002. 86f. Dissertação (Mestra-
A. Índice de resto-ingestão antes e durante a campanha do em Engenharia de Produção) - UFSC, Florianópolis,
contra o desperdício em uma Unidade de Alimentação 2002.
e Nutrição. Hig. Aliment., São Paulo, v. 21, n. 140,
p. 64-73, 2006. 21. SILVA, M. P. N. Síndrome da anorexia-caquexia em
portadores de câncer. Rev. Bras. Cancerol., v. 52, n. 1,
9. FONSECA, P. C. Estado nutricional e adequação p. 59-77, 2006.
da ingestão alimentar em pacientes submetidos
22. STATSOFT INC. Statistica for windows: versão 6.0:
a laparotomia. 2006. 70f. Dissertação (Mestrado
Tulsa, 2002. v. 4, software.
em Ciência de Alimentos) - Faculdade de Farmácia -
UFMG, Belo Horizonte, 2006. 23. TORRES, H. O. G.; FERREIRA, T. R. A. S. Doente em
câncer. In: TEIXEIRA NETO, F. T. Nutrição clínica.
10. GARCIA, R. W. D. A dieta hospitalar na perspectiva
São Paulo: Guanabara Koogan, 2003. p. 394-399.
dos sujeitos envolvidos em sua produção e em seu
planejamento. Rev. Nutr., Campinas, v. 19, n. 2, 24. WAITZBERG, D. L. Dieta, nutrição e câncer. 2.ed.
p. 129-144, mar./abr. 2006. São Paulo: Atheneu, 2004. 783p.
11. GARÓFOLO, A.; PETRILLI, A. S. Balanço entre
ácidos graxos ômega -3 e 6 na resposta inflamatória em Recebido em: 14/07/2010
pacientes com câncer e caquexia. Rev. Nutr., v. 19, n. 5,
p. 611-621, set./out. 2006. Aprovado em: 06/05/2011

142

Você também pode gostar