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Imobiliários
Contratos Imobiliários
Editorial
PUC Campinas
Todos os direitos reservados.
Proibida a reprodução total ou parcial em qualquer mídia sem a autorização.
Autor
Patrícia Esteves de Mendonça
Revisão técnica
Uol EdTech
Projeto gráfico
Uol EdTech
1. Contratos Imobiliários
I. Título.
3
Sumário
Lista de quadros
Contratos Imobiliários
Quadro 01 Votos.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
4
Sumário
Contratos Imobiliários
Sumário
Unidade 1 Contratos de Incorporação
Imobiliária.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
Apresentação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
Mapa Conceitual. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
Conclusão. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
Unidade 2 Condomínios. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
Apresentação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
5
2.1 Condomínio... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31 Sumário
Contratos Imobiliários
Sumário
2.1.1 Conceito.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
2.1.2 Classificação.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
2.1.3 Do condomínio geral. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
2.1.4 Do condomínio edilício. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
2.1.4.1 Da convenção de condomínio. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
2.1.4.2 Do regimento interno.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
2.1.4.3 Dos direitos e deveres dos condôminos. . . . . . . . . . . . 37
2.1.4.4 Das vagas de garagem.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
2.1.4.5 Das penalidades.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
2.1.4.6 Dos órgãos de administração.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
2.1.4.6.1 Do síndico.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
2.1.4.6.2 Da assembleia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
2.1.4.7 Da extinção do condomínio.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
2.1.5 Do condomínio de lotes.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
2.1.6 Da multipropriedade.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
2.1.7 Do condomínio urbano simples.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
Bibliografia comentada. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
Mapa Conceitual. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
Conclusão. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58 6
Sumário
Contratos Imobiliários
Apresentação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
Bibliografia comentada. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82
Mapa Conceitual. 83
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Conclusão. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84
Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85
8
Sumário
Contratos Imobiliários
Iconografia
Atenção Atividades de
Para saber aprendizagem
Saiba mais
Onde pesquisar Curiosidades
Leitura complementar
Dicas
Glossário Questões
Anotações Citações
Exemplos Downloads
9
Sumário
Contratos Imobiliários
Biodata do autor
Luciano Nogueira Lucas
Bacharel em Direito pela Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho” (UNESP),
mestre em Função Social do Direito pela Faculdade Autônoma de Direito (FADISP) e doutor
em Constitucionalização dos Institutos do Direito Privado pela FADISP. Advogado e consultor
jurídico.
Justificativa
O objetivo da disciplina Contratos Imobiliários é capacitar o operador do direito para que
atue de forma efetiva no ramo do direito Imobiliário, compreendendo de forma mais direta
os contratos que mais são utilizados no mercado de imóveis, analisando desde os contratos
relacionados às incorporações imobiliárias até aqueles que são fontes de direitos reais,
como o contrato de Direito Real de Laje, e permitindo maior segurança ao profissional na
elaboração, análise e interpretação de tais negócios jurídicos.
10
Sumário
Contratos Imobiliários
Engajamento
• A Lei nº 6.766/79, que substituiu o Decreto-Lei nº 58/37, regulamenta o parcelamento
do solo urbano. Entretanto, o Código Civil e a Lei nº 6.766/79 regem os contratos
de compra e venda, e de promessa de compra e venda. Existe equilíbrio entre tais
leis nos Contratos Imobiliários?
Apresentação da disciplina
A disciplina Contratos Imobiliários pretende trazer à analise as diversas modalidades de
contratos que podem ter interferência nas relações imobiliárias, de forma direta ou indireta,
sendo observadas as questões mais relevantes nas relações negociais sobre imóveis.
Sabemos que os contratos são negócios jurídicos bilaterais, ações humanas que refletem
no mundo jurídico através da manifestação de vontade de duas ou mais pessoas. Podemos
considerar como um acordo de vontades que tem interferência no mundo jurídico. Assim,
muitos dizem que os contratos fazem leis entre as partes.
Desta forma, a disciplina Contratos Imobiliários pretende destacar os temas mais relevantes 11
e atuais que envolvem o direito imobiliário e suas relações negociais, permitindo uma visão
Sumário
prática e teórica, fundamental ao profissional da área.
Contratos Imobiliários
Objetivos da disciplina
Ao final desta disciplina, esperamos que você seja capaz de:
12
Sumário
1
Contratos Imobiliários
Contratos de
Incorporação
Imobiliária
Unidade
Objetivos
Ao final desta unidade, esperamos que possa:
13
Sumário
Contratos Imobiliários
14
Sumário
Contratos Imobiliários
Art. 2º. O parcelamento do solo urbano poderá ser feito mediante loteamento ou
desmembramento, observadas as disposições desta Lei e as das legislações estaduais
e municipais pertinentes.
III - rede para o abastecimento de água potável; e (Incluído pela Lei nº 9.785, de 1999).
§ 7º: O lote poderá ser constituído sob a forma de imóvel autônomo ou de unidade
imobiliária integrante de condomínio de lotes. (Incluído pela Lei nº 13.465, de 2017)
III - instituir e arrecadar os tributos de sua competência, bem como aplicar suas rendas,
sem prejuízo da obrigatoriedade de prestar contas e publicar balancetes nos prazos
fixados em lei;
16
IV - criar, organizar e suprimir distritos, observada a legislação estadual;
Sumário
Contratos Imobiliários
Desta forma, terá competência para legislar sobre as questões de parcelamento do solo, que
são diretamente de interesse municipal, pois afetam a vida das cidades nas quais estejam
sendo promovidos os loteamentos.
Tal tarefa, exclusiva em seus limites, subsume, contudo, a necessária integração aos
limites exteriores a que se integram os entes federados, e como elemento autônomo,
porém extensivo, do ente comum maior público. Razão pela qual, se pode dizer que
tal competência decorre de atividade legislativa concorrente, suplementar, quando
visto o disposto no artigo 21, da CR/88, que determina, como competência da União,
“instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano” (inc. XX), especificada no artigo 24
em concorrência com os Estados e Distrito Federal. Igualmente, legislar sobre direito
urbanístico, quando observados os limites da mencionada integração uniforme,
ressalvada a competência comum, em seus níveis de interesse e atuação política,
protegendo sítios arqueológicos, protegendo o meio ambiente e combatendo a poluição
em qualquer de suas formas. Há também determinação de se preservarem florestas,
a fauna e a flora, promovendo programas de construções de moradias e melhoria
das condições de saneamento básico, como previsto, expressamente, no artigo 23 da
mesma norma fundamental, fins de cooperação que se podem dizer objeto mediato e
final da implantação de um programa, de diretrizes, de parcelamento ordenado do solo
urbano, no âmbito de qualidade de vida e prevenção de conflitos sociais até mesmo de
vizinhança (AGHIARIAN, 2015, p. 196).
O estado então deverá atuar conjuntamente para que o parcelamento do solo seja feito
de forma integradora, contando com a proteção dos empreendedores que atuam no
desenvolvimento urbano, sempre fiscalizado pelo Estado através de seu poder de polícia.
17
Sumário
Contratos Imobiliários
O legislador não se acanhou, esboçando, afinal, no parágrafo único do artigo 5º, após
prever a capacidade de complementação de áreas non edificandi, isto é, aquelas
destinadas à implantação dos “equipamentos urbanos”, como sendo estes “os
equipamentos públicos e abastecimento de água, serviços de esgotos, energia elétrica,
coletas de águas pluviais, rede telefônica e gás canalizado”, tudo dentro de um limitado
ver urbano, em que já se ressaltou, distinguem-se, as noções de limite de interesse
público e social, muito embora, aparentemente esquecido, este último (AGHIARIAN,
2015, p. 201).
O Estado tem uma forma de exigir, portanto, uma área de servidão administrativa para
colocação de aparelhamentos urbanos conforme classificação do parágrafo único, artigo
quinto da Lei que dispõe que “consideram-se urbanos os equipamentos públicos de
abastecimento de água, serviços de esgotos, energia elétrica, coletas de águas pluviais,
rede telefônica e gás canalizado”.
A Lei nº 6.766/79 estipula que os lotes deverão ter uma área mínima de 125 m², com uma
frente de no mínimo 5 metros. Entretanto, estabelece que, de acordo com as particularidades
18
de cada município, será possível que o legislador municipal faça uma exigência maior para
a formação de um lote; porém, essa área é a mínima aceitável. Sumário
Contratos Imobiliários
Os contratos sobre parcelamento de solo são tratados nos artigos 25 e seguintes da Lei nº
6.766/79. Esses negócios jurídicos são protegidos pela lei, garantindo a estabilidade dos
contratos relativos à aquisição de bens imóveis.
A Lei nº 6.015/73, que trata de Registros Públicos, em seu artigo 221, determina que apenas
as escrituras públicas poderão ser levadas a registro. Os imóveis de pequeno valor e a
realidade social interferem na adoção das formalidades para celebração de contratos. Assim,
por via de exceção, o artigo 26 da Lei nº 6.766/79, aceita o registro de contratos celebrados
mediante instrumento particular.
O Conselho Superior da Magistratura, por sua vez, tem entendido que somente no caso
de loteamentos populares poderá ser eficaz o instrumento particular para registro,
conforme decisão CSM-SP, de 19.1.2005, em que foi Relator o Des. Corregedor-Geral de
Justiça José Mário Antonio Cardinale. Ao que se pode inferir da decisão, mesmo estando
o bem em valor inferior ao previsto no artigo 108 do CCB (trinta salários), não se trata
na espécie de venda, porém de promessa de venda, e assim prevalece a norma especial
da Lei em comento (AGHIARIAN, 2015, p. 214)
Vale lembrar que somente poderá se valer desses mecanismos de proteção o adquirente
que estiver em dia com suas prestações, como destacam os parágrafos segundo e terceiro
do artigo 27 da Lei nº 6.7666/79.
Aquele que parcela o solo urbano poderá ser caracterizado como fornecedor, nos termos
do artigo 3º do Código de Defesa do Consumidor, Lei nº 8.78/90, bem como o incorporador
e o construtor.
Art. 3°: Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou
estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de
produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação,
distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços.
Em 1964 fui incumbido pelo Governo de elaborar Projeto de Lei, disciplinando a matéria,
de que resultou a Lei 4.591 de 16 de dezembro 1964. Reunindo num mesmo diploma a
atividade empresarial da incorporação e o regime jurídico na propriedade horizontal,
essa lei, que é identificada como do Condomínio e Incorporações, imprimiu tipicidade
a um novo contrato, estabelecendo a qualificação para ser incorporação (construtor
licenciado, corretor de imóveis, proprietário do terreno, ou promitente comprador com
compromisso irretratável) e as exigências para o lançamento dos edifícios coletivos.
Refere-se às modalidades para a contratação em regime de empreitada (com ou sem
reajustamento de preços) e de administração de preço e de custo. Em dois pontos,
situa-se a essência do contrato. O primeiro está na instituição de nova modalidade de
direito real resultante da inscrição do empreendimento no Registro Imobiliário. Uma
vez efetuada, e decorrido o período de carência em que é permitido ao incorporador a
faculdade de desistência, fica estabelecido ius in re, oponível erga omnes como todo
direito real, inclusive em relação às autoridades administrativas, que não têm mais o
direito de cancelar a aprovação do projeto edilício. O segundo, na especificação das
responsabilidades do incorporador, do construtor e do próprio adquirente de unidade,
agilizando a efetivação do negócio (PEREIRA, 2020, p. 512).
O Código Civil de 2002 não fez nenhuma alteração na lei na parte relacionada à incorporação
imobiliária, apenas estabeleceu novas diretrizes a respeito dos condomínios edilícios,
disciplinados na primeira parte da Lei nº 4.591/64.
21
Sumário
Contratos Imobiliários
Não obstante pessoal o direito do adquirente, desprovido de registro junto ao RI, o seu
contrato, gera mesmo, em face do proponente-empreendedor, negócio irretratável,
definitivo, salvo pela ocorrência da própria inviabilidade do empreendimento ou outra
causa justificadora posterior, prevista no contrato. Para terceiros, entretanto, somente
se conceberá com o registro do contrato, com natureza de promessa de venda, se
poderá conceber o direito do adquirente como direito real, seguindo a regra comum
da propriedade imobiliária (AGHIARIAN, 2015, p. 276).
A Lei nº 10.931 trouxe a regulamentação específica para o patrimônio de afetação, que não
se confunde com o patrimônio do incorporador. O objetivo da constituição do patrimônio
de afetação é guardar maior proteção aos consumidores que adquirem unidades em
construções. Assim, esse patrimônio afetado será destinado às obrigações assumidas pelo 22
incorporador imobiliário contraídas em relação à própria incorporação.
Sumário
Contratos Imobiliários
Trata-se, como dissemos, de medida bastante positiva que visa resguardar o direito dos
adquirentes na complexidade que tomou o tema da construção imobiliária urbana no
país, sobretudo com a explosão demográfica das cidades. O nosso intuito, na parte final
deste volume sobre Contratos, é apenas a apresentação de novas figuras obrigacionais
distintas daquelas já tipificadas no Código Civil; melhores esclarecimentos os leitores
podem obter na leitura de obras especializadas (PEREIRA, 2020, p. 514).
O artigo 43, inciso VII da Lei 4.591/64, foi alterado pela Lei nº 10.931/04, tratando do
patrimônio de afetação, que ficará apartado do patrimônio do incorporador. Assim, em caso
de insolvência, este valor será utilizado para continuação da obra e, se for insuficiente, uma
assembleia geral, com a aprovação do voto de 2/3 dos adquirentes, tem legitimidade para
deliberar sobre a venda do terreno.
Após a venda serão pagas as dívidas e o remanescente do valor, que couber, será entregue
ao proprietário do terreno, nos termos do artigo 40 da Lei de Condomínio e Incorporações,
conforme a fração ideal do terreno. Caso o valor apurado não seja suficiente para indenizar os
adquirentes, estes poderão requerer que seja utilizado o patrimônio pessoal do incorporador
para satisfação do crédito, que será responsável solidário.
23
Sumário
Contratos Imobiliários
Existem três espécies de incorporações imobiliárias previstas na Lei nº 4.591/64. São elas:
Vale ressaltar que as frações nas áreas comuns não poderão sofrer alteração, pois são
vinculadas à especificação do lote. Nos empreendimentos por conta e risco do incorporador,
uma comissão de representantes atuará em conformidade com o artigo 50 da Lei de
Incorporações.
Simples forma de garantia para o crédito obtido para aquisição, a tornar mais atrativo
o instituto, diante de menores riscos para os agentes financiadores. Evitando-se a
perda da remuneração do capital investido, permite a Lei no 10.931/04, reproduzindo
25
redação da MP no 2.223/04, que, em contratos com prazo mínimo de trinta e seis meses,
seja estipulada cláusula de reajuste com periodicidade mensal, por índices de preços Sumário
Contratos Imobiliários
A alienação fiduciária é festejada pelos operadores por sua efetividade, pois permite a
busca e apreensão dos bens dados em garantia, em face do devedor insolvente. Conforme
disposto no artigo 3º da Lei “o proprietário fiduciário poderá requerer contra o devedor
ou terceiro a busca e apreensão do bem alienado fiduciariamente, a qual será concedida
liminarmente, desde que comprovada a mora ou o inadimplemento do devedor”
É importante ressaltar que existem três figuras a serem consideradas nesse contrato: o
credor fiduciário é a instituição financeira que concederá o crédito; o devedor fiduciante,
que é aquele que precisou do crédito fiduciário para aquisição do bem; e o vendedor, que
terá o recebimento do preço tão logo se completar a operação contratual. A propriedade
que é transferida à instituição financeira no momento da celebração do contrato é uma
propriedade fiduciária e como tal se extingue quando houver por parte do devedor fiduciante
o pagamento integral do débito.
Mapa Conceitual
27
Sumário
Contratos Imobiliários
A Lei nº 6.766/79, que trata do parcelamento do solo urbano, estabelece regras para criação
de lotes e sua comercialização, criando obrigações a serem cumpridas pelo parcelador
e determinando quais seriam as suas responsabilidades em relação ao Estado e aos
adquirentes de lotes.
A Lei nº 6.766/79 adota alguns requisitos mínimos para formação de lotes. Assim,
os loteamentos devem reservar áreas de circulação para que sejam implementados
equipamentos urbanos, proporcionais à densidade populacional dos Municípios. A área
mínima de um lote é 125 m², com uma frente mínima de 5 metros. Porém, a legislação
municipal poderá estipular área mínima diferente, desde que não seja inferior a estipulada
na lei federal.
29
Sumário
2
Contratos Imobiliários
Condomínios
Unidade
Objetivos
Ao final desta unidade, esperamos que possa:
• Examinar o condomínio.
30
Sumário
Contratos Imobiliários
Apresentação
2. Condomínios
Esta unidade tem como foco o condomínio. Trata-se de instituto tradicional dos direitos reais
cuja tradição remonta ao Direito Romano que vem sendo adaptado a novas potencialidades,
atendendo a demandas de nosso tempo.
A estrutura das modernas cidades está visceralmente ligada ao condomínio edilício, que
permite a racionalização dos custos e o adensamento. Em razão disso, os imóveis em
condomínios têm ampla difusão, atraindo a necessidade de estudos sobre as questões
jurídicas que o circundam, abrangendo desde o financiamento da incorporação, a venda
da unidade e a administração da vida condominial.
Tendo criado uma estrutura jurídica que atende aos interesses de todos, o marco legal do
condomínio edilício tem inspirado novas espécies, como são exemplos a multipropriedade e
o condomínio urbano simples. Cuidam-se de novas figuras com grandes potencialidades no
comércio jurídico, que devem atrair a atenção dos operadores do Direito nos próximos anos.
2.1 Condomínio.
2.1.1 Conceito.
Denomina-se condomínio a comunhão de propriedade de um bem simultaneamente por
mais de uma pessoa, de modo que a cada uma delas, de forma ideal, toca o mesmo direito.
É o direito de propriedade exercido simultaneamente por mais de um titular.
Caracteriza-se pela presença de mais de um coproprietário sobre a mesma coisa, que exerce
seu direito de modo comum sobre toda a coisa. Em outras palavras, cada condômino não
pode se dizer proprietário de uma parte específica do bem, senão de todo o bem.
Assim, por exemplo, se um imóvel tem como proprietários cinco diferentes pessoas, cada
2. Condomínios
uma pode se dizer titular de uma quota ideal correspondente a um quinto. Mas nenhum
deles pode se apropriar da coisa, afastando ou impedindo a fruição e o uso dos demais,
tampouco unilateralmente alienar a coisa enquanto perdurar o condomínio. Por isso, cada
condômino é titular de uma quota ideal.
Desse modo, fica claro que o regime jurídico condomínio se fundamenta na unidade do
bem e na pluralidade de proprietários. Essa dualidade é equalizada ora pela noção de
quota, ora pelo compartilhamento da propriedade no tempo. Cada condômino é titular de
uma quota de caráter não material, mas ideal, que corresponde a uma porção aritmética
que mensura a participação de cada condômino em suas obrigações e direitos. Tratando-
se da multipropriedade, fraciona-se o uso e o gozo do bem no tempo, de sorte que cada
coproprietário pode usar da coisa com exclusividade por determinado período de tempo.
O assunto é regulamentado no Código Civil, em sua Parte Especial, no Título III, destinado
à propriedade, bem como na legislação esparsa.
2.1.2 Classificação.
O Código Civil ao tratar do condomínio diferencia três distintas espécies: o condomínio geral,
o edilício e a multipropriedade.
com o condomínio indivisível nas áreas comuns, tais como áreas de acesso, salões de festa,
2. Condomínios
elevadores etc.
Sob outro aspecto, a doutrina, com base nas normas do Código Civil, classifica ainda o
condomínio geral em razão de sua origem em voluntário ou necessário.
Voluntário se diz do condomínio estabelecido pela vontade das partes. É o que ocorre
quando, por exemplo, dois amigos decidem adquirir em conjunto um imóvel de recreio, ou
quando alguém doa um bem para duas ou mais pessoas.
De outro lado, o condomínio necessário, também chamado de legal, é aquele que decorre
da determinação legal. Em diversas situações, por conveniência do interesse social, a lei
impõe a existência do condomínio.
É o que se dá, por exemplo, na hipótese de sucessão com mais de um herdeiro. O art. 1.791
do Código Civil determina expressamente que a herança defere-se como um todo unitário,
ainda que vários sejam os herdeiros, submetendo o direito dos herdeiros às normas relativas
ao condomínio até a realização da partilha dos bens.
A igualdade entre os diferentes condôminos, que anima este instituto, impossibilita por outro
aspecto a alteração unilateral da destinação da coisa comum ou mesmo a autorização de 33
Sumário
1 BRASIL, 2002, Lei nº 10.406 (Código Civil), art. 1.358-C.
Contratos Imobiliários
uso ou gozo por terceiros sem o consenso dos demais condôminos. Com efeito, a concessão
2. Condomínios
de posse ou gozo do bem a terceiros afastaria a possibilidade de igual oportunidade dos
demais, resultado que nega a finalidade do instituto, razão pela qual foi proibida.
O condomínio também cria para seus titulares obrigações: são os condôminos vinculados
a concorrer com as despesas de conservação da coisa, bem como suportar os custos
de sua divisão. Novamente, vê-se a noção da igualdade dando formas ao instituto, eis
que a obrigação de suportar os custos de conservação da coisa é partilhado conforme
a participação ideal de cada um na sua propriedade, presumindo a lei a igualdade de
participação no silêncio dos interessados.
A doutrina faz o registro de que o instituto remonta a tempos imemoriais2. Todavia, só com
o florescimento da sociedade moderna pode-se encontrar similaridade no que é essencial
ao condomínio que se conhece nos dias é hoje.
34
2 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Condomínio e incorporações. 13. ed. Ed. Grupo GEN, 2018. p. 34. [Minha
Sumário
Biblioteca].
Contratos Imobiliários
A convenção tem seus limites e possibilidades postas pela lei, mas aos condôminos
2. Condomínios
resta grande liberdade para deliberar, característica que torna cada convenção peculiar e
adaptada aos interesses e necessidade de cada condomínio. Colhe-se da jurisprudência o
entendimento de que a convenção não pode limitar a posse de animais domésticos nas
unidades autônomas3.
Apesar de ser fruto da vontade dos proprietários, a convenção tem caráter estatutário,
vinculando, após o registro, mesmo aqueles que não participaram de sua elaboração e que
dela discordaram.
A convenção pode ser feita por instrumento público ou privado, devendo ser subscrito por
pelo menos dois terços dos condôminos. Caso haja apenas um instituidor, como ocorre
no caso do testamento ou da incorporação, basta sua participação para fins de registro
imobiliário, podendo, posteriormente, a assembleia-geral deliberar sobre sua manutenção
ou alteração.
Nos termos dos arts. 1.332 e 1.334 do Código Civil, a convenção deve obrigatoriamente
dispor sobre: (a) discriminação e individualização das unidades de propriedade exclusiva,
estremadas uma das outras e das partes comuns; (b) determinação da fração ideal atribuída
a cada unidade, relativamente ao terreno e partes comuns; (c) fim a que as unidades se
destinam; (d) quota proporcional e modo de pagamento das contribuições dos condôminos
para atender às despesas ordinárias e extraordinárias do condomínio; (e) sua forma de
administração; (f) competência das assembleias, forma de sua convocação e quórum exigido
para as deliberações; (g) sanções a que estão sujeitos os condôminos, ou possuidores; e
(h) regimento interno4.
Tem especial importância a definição de sanções, por que dão coercibilidade às regras de
2. Condomínios
convivência social. Aplicam-se também a todos aqueles que venham a estar no condomínio
como convidados, locatários e possuidores.
Art. 12. A assembleia condominial, inclusive para os fins dos arts. 1.349 e 1.350 do Código
Civil, e a respectiva votação poderão ocorrer, em caráter emergencial, até 30 de outubro
de 2020, por meios virtuais, caso em que a manifestação de vontade de cada condômino
será equiparada, para todos os efeitos jurídicos, à sua assinatura presencial5.
Nada obstante, como os efeitos da pandemia de covid-19 se alongam, não se podendo excluir
a possibilidade de novas medidas restritivas de reuniões em que envolvam aglomeração de
pessoas, é importante que os condomínios atualizem suas convenções, de modo a permitir
a realização de assembleias por vídeo conferência.
Conveniente que os condôminos deliberem sobre o tema criando regras específicas para a
realização de assembleias por meios digitais. Com essa importante providência, se exclui
a possibilidade de todo o prejuízo para a administração do condomínio decorrente da
impossibilidade de se realizarem encontros presenciais, bem como de discussões jurídicas
sobre sua legitimidade.
2. Condomínios
O Código Civil houve por estabelecer um rol de direitos e deveres dos condôminos. Desse
modo, a legislação criou verdadeiro modelo que deverá ser observado como limite a ser
observado na convenção.
São direitos dos condôminos, nos termos do art. 1.335 do Código Civil6:
II - usar das partes comuns, conforme a sua destinação, e contanto que não exclua a
utilização dos demais compossuidores;
O condômino, como titular do direito de propriedade exclusivo, pode usar e fruir da sua
unidade. Importante destacar, contudo, que o uso da unidade exclusiva deve estar em
conformidade com a destinação dada na convenção e com as regras do regulamento interno
e de boa convivência.
37
Sumário
6 BRASIL, 2002, Lei nº 10.406 (Código Civil), art. 1.335.
Contratos Imobiliários
2. Condomínios
que, “existindo na Convenção de Condomínio regra impondo destinação residencial, mostra-
se indevido o uso de unidades particulares que, por sua natureza, implique o desvirtuamento
daquela finalidade7”. Ressalvou-se, todavia, a possibilidade de deliberação em assembleia,
observada a maioria qualificada de dois terços das frações ideais), permitir a utilização das
unidades condominiais para fins dessa hospedagem atípica.
O uso das áreas comuns deve obedecer ao regulamento e horário próprios. Alguns
equipamentos, tais como salões de festa e academia, podem ter restrições de horário,
demandar agendamento ou pagamento de serviços associados, como ocorre no caso de
educadores físicos, tudo conforme dispuser o regulamento interno. É comum também a
criação de restrições do uso de equipamentos, tais como piscina e playground a convidados,
por razões sanitárias, de segurança e também para não impedir o uso pelos demais
condôminos.
De outro lado, o art. 1.336 do Código Civil dispôs sobre os deveres dos condôminos:
7 Superior Tribunal de Justiça, Recurso especial nº 1.819.075/RS. Relator: Min. Luis Felipe Salomão.
Relator p/acórdão: Min. Raul Araújo. Data de julgamento: 20.04.2021. Ementa: “DIREITO CIVIL. RECURSO ESPECIAL.
CONDOMÍNIO EDILÍCIO RESIDENCIAL. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE NÃO FAZER. LOCAÇÃO FRACIONADA DE IMÓVEL PARA
PESSOAS SEM VÍNCULO ENTRE SI, POR CURTOS PERÍODOS. CONTRATAÇÕES CONCOMITANTES, INDEPENDENTES E
INFORMAIS, POR PRAZOS VARIADOS. OFERTA POR MEIO DE PLATAFORMAS DIGITAIS ESPECIALIZADAS DIVERSAS.
HOSPEDAGEM ATÍPICA. USO NÃO RESIDENCIAL DA UNIDADE CONDOMINIAL. ALTA ROTATIVIDADE, COM POTENCIAL 38
AMEAÇA À SEGURANÇA, AO SOSSEGO E À SAÚDE DOS CONDÔMINOS. CONTRARIEDADE À CONVENÇÃO DE
Sumário
CONDOMÍNIO QUE PREVÊ DESTINAÇÃO RESIDENCIAL. RECURSO IMPROVIDO”.
Contratos Imobiliários
2. Condomínios
I - contribuir para as despesas do condomínio na proporção das suas frações ideais,
salvo disposição em contrário na convenção;
III - não alterar a forma e a cor da fachada, das partes e esquadrias externas;
IV - dar às suas partes a mesma destinação que tem a edificação, e não as utilizar de
maneira prejudicial ao sossego, salubridade e segurança dos possuidores, ou aos bons
costumes8.
Todo condômino tem o dever de contribuir com o rateio das despesas do condomínio na
proporção de sua fração ideal, posto que, não tendo o condomínio finalidade econômica,
este depende dos condôminos para fazer frente a despesas comuns.
A convenção pode determinar diferente critério para repartição das despesas, conforme
constar na convenção coletiva. É mesmo comum que a convenção preveja a isenção de
pagamento na hipótese do exercício da função de síndico. Em condomínios mistos, nos quais
há a instalação de pontos comerciais no andar térreo e unidades com fins residenciais nos
demais andares, é comum a discriminação dos proprietários das unidades inferiores que
consomem energia elétrica, por não se utilizarem de elevadores.
39
Sumário
8 BRASIL, 2002, Lei nº 10.406 (Código Civil), art. 1.336.
Contratos Imobiliários
Importante dever dos condôminos é não realizar obras que comprometam a segurança
2. Condomínios
da edificação. Trata-se de tema de grande relevância, que pode colocar em risco a solidez
do edifício e a segurança de todos. Isso tem justificado algumas convenções a exigir a
entrega de projetos preparados por profissionais habilitados antes de permitir a realização
de reformas e obras.
Tema de especial importância e que gera muitas controvérsias na vida condominial são as
vagas de garagem. Os condomínios podem ter diferentes arranjos no que diz respeito a vagas
de estacionamento, podendo ter vagas específicas e vinculadas a unidades autônomas, ou
vagas indeterminadas em área comum ou, ainda, simplesmente não dispor de espaço.
A utilização destes espaços segue o regramento do art. 1.335, I, do Código Civil. Importante 40
destacar, contudo, que o §1º do art. 1.331 do Código Civil limitou a alienação e a locação
Sumário
Contratos Imobiliários
dos abrigos para veículos a pessoas estranhas ao condomínio, salvo autorização expressa
2. Condomínios
na convenção de condomínio.
Se os abrigos para veículos estão em área comum, há maior espaço para regramento na
convenção e no regimento, especialmente quando o espaço não seja suficiente para servir
a todos os condôminos ou quando as vagas ofereçam distintas configurações e tamanhos9.
Importante observar, todavia, na hipótese de fixação do critério do sorteio, que não pode o
condomínio deixar de realizar frequentes e periódicos sorteios, sob pena de se individualizar
o uso de área comum10.
9 LOPES, João Batista. Condomínio. 10. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008. p. 58.
10 Confira-se precedente do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo: “CONDOMÍNIO EDILÍCIO -
AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE DE ASSEMBLEIA GERAL – DELIBERAÇÃO ANTIGA QUE CONFRONTA O TEXTO
MAIS RECENTE DA CONVENÇÃO DE CONDOMÍNIO – NULIDADE RECONHECIDA – CONVENÇÃO DE CONDOMÍNIO
QUE POSSUI CARÁTER INSTITUCIONAL E CONSTITUI NORMA DE REGÊNCIA, COM FORÇA OBRIGATÓRIA PERANTE
TODOS OS PROPRIETÁRIOS E OCUPANTES, ATUAIS E FUTUROS, DAS UNIDADES AUTÔNOMAS – NECESSIDADE DO
QUÓRUM ESPECIAL DE 2/3 PARA ALTERAÇÃO DA CONVENÇÃO – ARTIGO 1.351 DO CÓDIGO CIVIL - DELIBERAÇÃO
ASSEMBLEAR QUE DETERMINOU O SORTEIO DE VAGAS DE GARAGEM INDETERMINADAS - IMPOSSIBILIDADE DE SE
CONFERIR CARÁTER DEFINITIVO PARA O SORTEIO, COMO DETERMINAÇÃO DE VAGAS FIXAS – RESTABELECIMENTO
DO CARÁTER INDETERMINADO - NECESSIDADE – USO ROTATIVO DAS VAGAS MEDIANTE SORTEIOS PERIÓDICOS OU
EVENTUAL ALTERAÇÃO DA CONVENÇÃO PARA USO DETERMINADO DAS VAGAS QUE DEVE SER DELIBERADA EM NOVA
ASSEMBLEIA EXTRAORDINÁRIA, CONVOCADA PARA ESSE FIM, TAL QUAL REQUERIDO PELA AUTORA – SENTENÇA 41
MANTIDA. - Recurso desprovido.” (TJ-SP - APL: 10050413320158260477 SP 1005041-33.2015.8.26.0477, Relator: Edgard
Sumário
Rosa, Data de Julgamento: 20/10/2016, 25ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 24/10/2016).
Contratos Imobiliários
2. Condomínios
observância de determinadas regras e deveres. As multas são penalidades exigidas em
dinheiro com o valor equivalente até o quíntuplo da contribuição mensal do condômino,
sem prejuízo da apuração de eventuais prejuízos, nas hipóteses do art. 1.336, II a V, do Código
Civil. O não pagamento da contribuição dá espaço a multa de dois por cento do valor devido,
além de juros de mora de um por cento ao mês.
42
Sumário
Contratos Imobiliários
O descumprimento reiterado dos deveres condominiais, nos termos do art. 1.337, enseja
2. Condomínios
a possibilidade de aplicação de multa, por deliberação de 3/4 quartos dos demais
condôminos, e de pagamento de multa correspondente até ao quíntuplo do valor atribuído à
contribuição para as despesas condominiais, conforme a gravidade das faltas e a reiteração,
independentemente das perdas e danos que se apurem11.
Conforme disciplina estabelecida pelo parágrafo único do art. 1.337 do Código Civil,
o condômino ou possuidor que, por seu reiterado comportamento antissocial, gerar
incompatibilidade de convivência com os demais condôminos ou possuidores, poderá ser
constrangido a pagar multa correspondente ao décuplo do valor atribuído à contribuição
para as despesas condominiais, até ulterior deliberação da assembleia12.
2. Condomínios
2.1.4.6.1 Do síndico.
A administração do condomínio é confiada pela lei ao síndico, que pode ser ou não
condômino, deve ser eleito pela assembleia para exercer suas funções pelo período de até
dois anos, permitida a reeleição (art. 1.347, CC).
Pode prever a convenção a figura do subsíndico, para o exercício das funções no caso
de sua ausência eventual ou mesmo para realização de atividades auxiliares ao síndico.
O próprio síndico, autorizado pela assembleia, pode transferir, total ou parcialmente, os
poderes de representação e suas funções administrativas, providência que pode ser útil
para o enfrentamento de questões específicas, como a realização de uma reforma ou a
fiscalização dos trabalhos de empregados como porteiros, faxineira e manobristas.
APROVAÇÃO QUASE UNÂNIME DOS CONDÔMINOS ACERCA DA PROPOSITURA DA AÇÃO E DAS MEDIDAS A SEREM
APLICADAS AO RÉU. EXISTÊNCIA DE INÚMEROS BOLETINS DE OCORRÊNCIA FEITOS PELOS OUTROS MORADORES.
EXISTÊNCIA DE AÇÃO DE INDENIZAÇÃO PROPOSTA POR UM DELES. RÉU QUE É DEVEDOR CONTUMAZ DAS DESPESAS
CONDOMINIAIS, O QUE, EMBORA SEJA OBJETO DE AÇÃO PRÓPRIA, É INDICATIVO DE QUE TAMBÉM A REGRA DA
PRESERVAÇÃO DO CONDOMÍNIO, POR MEIO DO PAGAMENTO DAS PARCELAS NECESSÁRIAS, NÃO VEM SENDO
CUMPRIDA. DECISÃO AGRAVADA QUE, DEPOIS DO CONTRADITÓRIO, DEFERIU TUTELA DE URGÊNCIA PARA PROIBIR A
ENTRADA DO REQUERIDO NAS DEPENDÊNCIAS DO CONDOMÍNIO, CONCEDENDO A ELE E SEUS FAMILIARES PRAZO
PARA QUE SE RETIREM DO LOCAL DECISÃO, QUE FICA MANTIDA. Agravo de instrumento improvido” (TJSP. Agravo
de Instrumento 2100147-05.2020.8.26.0000. Relator: Jayme Queiroz Lopes. 36ª Câmara de Direito Privado. J. em 44
23/02/2021).
Sumário
15 BRASIL, 2002, Lei nº 10.406 (Código Civil), art. 1.348.
Contratos Imobiliários
2. Condomínios
ou administrativo, de interesse do condomínio;
V - diligenciar a conservação e a guarda das partes comuns e zelar pela prestação dos
serviços que interessem aos possuidores;
VII - cobrar dos condôminos as suas contribuições, bem como impor e cobrar as multas
devidas;
O sindico deve prestar contas anualmente de todos os atos que lhe forem incumbidos,
inclusive elaborando planejamento dos exercícios seguintes.
2.1.4.6.2 Da assembleia
Algumas matérias só podem ser deliberadas por ela, de modo exclusivo, por exemplo: a
alteração da convenção, a mudança da destinação do edifício ou da unidade imobiliária.
Em outras questões, como nas disciplinares, tem a possibilidade de rever as decisões de
órgãos inferiores.
Tratando-se de um órgão coletivo, demanda que seja convocada para deliberar. A assembleia
é convocada pelo síndico, obedecida a forma prevista na convenção. Também é a convenção
que define o local onde se realizarão a ordem e a direção dos trabalhos, o modo de discussão
das matérias e a votação.
Os votos, em regra, não são apurados por cabeça, mas sim pela proporção da fração ideal 45
de cada condômino. Pode, entretanto, fixar a convenção que o voto seja pessoal, ainda que
Sumário
Contratos Imobiliários
2. Condomínios
Quadro 01 Votos
d) Alteração da convenção do
condomínio (art. 1.351, CC).
2. Condomínios
a) A construção de outro pavimento, ou, no
solo comum, de outro edifício (art. 1.343, CC).
Unanimidade
b) Mudança da destinação ou finalidade do
edifício ou da unidade (art. 1.351, Código Civil).
A lei não disciplinou a forma do voto. Normalmente qualquer seguro sinal de concordância,
como o levantar da mão, pode representar a manifestação dos condôminos, não sendo
necessária a utilização de cédulas.
A lei prevê quórum de instalação, em primeira convocação, de pelo menos metade das
frações ideais, conforme art. 1.352 do Código Civil. É comum, todavia, que se estruture em
uma segunda convocação já realizada no mesmo instrumento, de modo que, não atingido
determinado percentual de participação, deve-se aguardar uma segunda convocação, que
comumente se realiza no mesmo dia, momentos depois, com qualquer número de presentes
e deliberando-se por maioria simples, isto é, pela metade mais um dos presentes, salvo se
cuidar de matéria sujeita a quórum especial.
Em razão disso, a lei não prestigiou a vontade dos condôminos como suficiente por si para
2. Condomínios
dar ensejo à extinção do condomínio. Apesar disso, ele pode ser extinto nas hipóteses em
que se perde a substância ou a propriedade do imóvel sob o qual se estabelece o edifício.
São as hipóteses de destruição total ou ruína, decorrentes de fatos da natureza, tais como
um terremoto, ou por diversos fatores, tais como um incêndio, a falta de manutenção, o uso
em desacordo com o projeto e falhas na execução da obra.
Art. 1.358-A. Pode haver, em terrenos, partes designadas de lotes que são propriedade
exclusiva e partes que são propriedade comum dos condôminos.
§1º A fração ideal de cada condômino poderá ser proporcional à área do solo de cada
unidade autônoma, ao respectivo potencial construtivo ou a outros critérios indicados
no ato de instituição.
2. Condomínios
a cargo do empreendedor16.
2. Condomínios
c) serão discriminadas as partes do total do terreno que poderão ser utilizadas em
comum pelos titulares de direito sôbre os vários tipos de unidades autônomas;
A diferença entre o condomínio de lotes e o de casas, tratado pelo art. 8º da Lei nº 4.591/1964,
é mais sútil. O primeiro se estabelece sobre lotes ou terrenos, isto é, não há a vinculação a
um projeto de construção previamente definido ou mesmo construções já implantadas. No
condomínio de casas, também chamado de condomínio deitado, o empreendedor oferta a
venda de uma casa térrea ou assobradada, que será a unidade autônoma do condomínio,
que se vincula a uma área comum, por exemplo, um jardim ou um playground20.
2. Condomínios
Essa diferenciação é importante, notadamente em relação ao
loteamento de acesso controlado, que é vulgarmente chamado de
“loteamento fechado”, “condomínio fechado” ou “condomínios de
fato1”. O loteamento com acesso controlado, que se constitui por
imóveis autônomos, não é uma espécie de condomínio; e decorrente
disso é a discussão sobre a legitimidade de associações de
moradores exigirem a cobrança de taxas para suportar as despesas
de interesse comum, tais como de segurança e manutenção, dos
moradores do loteamento2.
A Lei nº 13.465/17, ao incluir o art. 36-A na Lei nº 6.766/79, de redação obscura, passou a
prever a sujeição indistinta dos titulares de direitos imobiliários, tenham eles anuído ou
não com sua constituição. Está assim redigido o art. 36-A:
Parágrafo único. A administração de imóveis na forma do caput deste artigo sujeita seus
titulares à normatização e à disciplina constantes de seus atos constitutivos, cotizando-
se na forma desses atos para suportar a consecução dos seus objetivos.
51
O Supremo Tribunal Federal, analisando o Tema nº 492 de repercussão geral, fixou a seguinte
tese: Sumário
Contratos Imobiliários
2. Condomínios
conservação de loteamento imobiliário urbano de proprietário não associado até o
advento da Lei nº 13.465/17 ou de anterior lei municipal que discipline a questão, a partir
do qual se torna possível a cotização de proprietários de imóveis, titulares de direitos ou
moradores em loteamentos de acesso controlado, desde que, i) já possuidores de lotes,
tenham aderido ao ato constitutivo das entidades equiparadas a administradoras de
imóveis ou, (ii) no caso de novos adquirentes de lotes, o ato constitutivo da obrigação
tenha sido registrado no competente registro de imóveis.
Acompanhando a lição de Paulo Lôbo21, pode-se afirmar que o lote pode agora ser
constituído no regime tradicional do loteamento ou de unidade imobiliária integrante de
condomínio de lotes. O condomínio de lotes se distingue pela existência de partes comuns,
que não integram o domínio público como ocorre no loteamento, pertencendo em comum
os proprietários dos lotes, bem como pelo fato de a implantação da infraestrutura ficar a
cargo do empreendedor.
2.1.6 Da multipropriedade.
A multipropriedade foi objeto de introdução em nosso ordenamento jurídico pela Lei nº
13.777, de 2018, que introduziu o art. 1.358-B a 1.358-S no texto do Código Civil. Trata-se de uma
criação estrangeira, originária do final da década de 1960, na França, fruto da inovação de
empresas da área hoteleira que miravam incentivar o uso de suas habitações, pulverizando
sua utilização ao longo do ano e o aumento dos lucros.
Devido ao seu sucesso, passou a se ter seu uso disseminado na Europa e nos Estados
Unidos da América. No Brasil, alguns empreendimentos foram feitos a partir de construções 52
Sumário
21 LÔBO, Paulo. Direito Civil. Vol. 4: Coisas. Ed. Saraiva, 2019. [Minha Biblioteca].
Contratos Imobiliários
2. Condomínios
já vinha reconhecendo a possibilidade de sua realização, inclusive reconhecendo seus
efeitos reais22.
A recente lei cria nova espécie de condomínio. Cuida-se de novo regime condominial no
qual a propriedade de bem imóvel é definida em períodos definidos de tempo, de modo
que os proprietários compartilhem a coisa entre si.
Ajusta-se, por exemplo, a imóveis de recreio ou temporada, tais como casas de campo ou de
praia, bem como a imóveis com finalidade profissional ou industrial, tais como escritórios
e galpões.
Assim, como mostra Flávio Tartuce, um conjunto de quatro amigos pode decidir comprar
um imóvel de recreio na praia, estabelecendo o regime de uso fracionado e exclusivo do
imóvel, de maneira que cada um possa se utilizar do imóvel de modo exclusivo. Pode-se
dar o exemplo da multipropriedade também em modelo organizado de forma profissional.
Nesta segunda hipótese, os quatro amigos poderiam adquirir um quarto de hotel em um
empreendimento hoteleiro administrado em sistema de pool24.
22 Confira-se: SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. REsp 1.546.165/SP. Relator: Min. Ricardo Villas Bôas Cueva.
Relator p/acórdão: Min. João Otávio de Noronha. 3ª Turma. J. em 26.04.2016. DJe de 06/09/2016.
23 Como já referido, a jurisprudência do STJ já vinha reconhecendo o caráter real da multipropriedade
antes mesmo de sua regulamentação legal, razão pela qual não se verificam impeditivos para a utilização de
seu regime nos bens móveis, como se explorará na aplicação prática. 53
24 TARTUCE, Flávio. Direito Civil. Vol. 4: Direito das coisas. Ed. Grupo GEN, 2020. [Minha Biblioteca].
Sumário
25 TEPEDINO, Gustavo. Multipropriedade imobiliária. São Paulo: Saraiva, 1993. p. 18 e ss.
Contratos Imobiliários
2. Condomínios
tornando-se indivisível. Igualmente é indivisível a fração de tempo que se destina a
cada multiproprietário, que deve ter pelo menos sete dias por ano, de forma seguida ou
intercalada, determinados de maneira fixa, flutuante ou mista no ato de instituição.
A instituição pode se dar por testamento ou por ato entre vivos, sendo imprescindível que
se faça constar a duração dos períodos correspondentes a cada fração de tempo. É possível
que o instrumento estabeleça o limite máximo de tempo que poderá ser titularizado pela
mesma pessoa.
Além disso, tem a faculdade de ceder sua fração de tempo, em comodato ou locação, ou
mesmo aliená-la. Curiosa é a redação do artigo 1.358-T do Código Civil, que limita a renúncia,
determinando que o multiproprietário somente poderá renunciar de forma translativa a
seu direito de multipropriedade em favor do condomínio edilício26. Trata-se de restrição ao
direito real que tem a clara finalidade de preservar o empreendimento agora estruturado
em forma da nova espécie condominial, que suscitará controvérsias.
54
26 BRASIL, 2002, Lei nº 10.406 (Código Civil), art. 1.358-T.
Sumário
27 TARTUCE, Flávio. Direito Civil. Vol. 4: Direito das coisas. Ed. Grupo GEN, 2020. [Minha Biblioteca].
Contratos Imobiliários
2. Condomínios
multipropriedade e nas assembleias do condomínio edilício de que aquele, eventualmente,
faça parte.
A lei possibilita a fixação de multa para o caso de descumprimento das obrigações, a ser
estabelecida na convenção de condomínio, bem como de multa com caráter progressivo e
a perda temporária do direito de utilização no período correspondente a respectiva fração 55
de tempo, no caso de descumprimento reiterado de deveres.
Sumário
28 BRASIL, 2002, Lei nº 10.406 (Código Civil), art. 1.358-J.
Contratos Imobiliários
2. Condomínios
A Lei nº 13.465, de 2017, em seu art. 61 e seguintes, disciplinou o condomínio urbano simples.
Apesar de a legislação tratar da regularização fundiária rural e urbana, a nova modalidade de
condomínio não se relaciona apenas a imóveis de baixa renda ou apenas àqueles sujeitos
a regularização fundiária urbana.
Trata-se de uma nova espécie de condomínio. Determina a lei em exame que, quando um
mesmo imóvel contiver construções de casas ou cômodos, poderá ser instituído, inclusive
para fins de regularização fundiária urbana, condomínio urbano simples, respeitados os
parâmetros urbanísticos locais.
Aplica-se a situações de terrenos onde haja mais de uma construção, com autonomia
funcional e de acesso, e em que o seu titular queira tornar cada uma dessas construções
uma unidade autônoma de condomínio. É o que ocorre, por exemplo, em imóveis que
tenham construções autônomas, aptas a acomodar distintas famílias, como ocorre com
a chamada “casa dos fundos”. A doutrina critica a utilização da expressão “cômodos”, eis
que a intenção do legislador foi criar unidades autônomas e não disciplinar o uso de uma
habitação coletiva29.
Com o registro da instituição abrem-se novas matrículas, uma para cada unidade autônoma,
a qual pertencerá uma fração ideal do solo representada na forma de percentual. As unidades
autônomas podem ser livremente alienadas e gravadas por seus titulares.
56
29 TARTUCE, Flávio. Direito Civil. Vol. 4: Direito das coisas. Ed. Grupo GEN, 2020. [Minha Biblioteca].
Sumário
30 BRASIL, 2017, Lei nº 13.465, art. 63.
Contratos Imobiliários
Bibliografia comentada
2. Condomínios
AZEVEDO, Álvaro V. Curso de Direito Civil: direito das coisas. Ed. Saraiva, 2018. [Minha
Biblioteca]. A obra do desembargador e professor Álvaro Vilaça de Azevedo se destaca
em razão de retratar aspectos práticos do condomínio, especialmente no que se refere à
possibilidade de exclusão do condômino, recolhendo interessante jurisprudência.
SILVA FILHO, Elvino. Questões de condomínio no registro de imóveis. São Paulo: Malheiros
Editores, 1999. Trata-se de referência no estudo do condomínio de especial utilidade, por
enfocar questões relacionadas ao registro de imóveis.
SILVA, PEREIRA, Caio Mário D. Condomínio e incorporações. 13. ed. Grupo GEN, 2018. Trata-se
de valioso estudo sobre o tema do condomínio edilício de autoria de respeitável estudioso
da matéria, que foi responsável pela preparação do anteprojeto da Lei de Condomínios e
Incorporações.
SCAVONE JR., Luiz Antonio. Direito Imobiliário: teoria e prática. Ed. Grupo GEN, 2020. Cuida-se
de obra festejada que se notabiliza por enfrentar temas do Direito Imobiliário enfocando
questões reais e obrigacionais, e mesmo de Direito Público, com o uso de texto objetivo e
linguagem clara.
TEPEDINO, Gustavo. Multipropriedade imobiliária. São Paulo: Saraiva, 1993. Trata-se de obra
de referência no tema, o primeiro estudo dedicado ao tema. Mais recentemente, aliás, em
razão da criação legislativa, o autor lançou a obra Comentários à Lei da Multipropriedade
(Lei nº 13.777/2018) pela editora Revista dos Tribunais.
57
Sumário
Contratos Imobiliários
Mapa Conceitual
Conclusão 2. Condomínios
O condomínio urbano simples tende a dar maior segurança aos proprietários de casa que
2. Condomínios
tenham construção de casas e cômodos de uso multifamiliar. Cuidando-se de realidade
muito frequente, facilita o comércio desses imóveis ao possibilitar a abertura de matrícula
específica para cada casa.
59
Sumário
3
Contratos Imobiliários
Contratos reais
Unidade
Objetivos
Ao final desta unidade, esperamos que possa:
60
Sumário
Contratos Imobiliários
Apresentação
3. Contratos reais
Esta unidade tem como foco a regularização fundiária e os direitos reais de garantia. A
regularização fundiária consiste no conjunto de medidas jurídicas, urbanísticas, ambientais
e sociais destinadas à incorporação dos núcleos urbanos informais ao ordenamento
territorial urbano e à titulação de seus ocupantes. Trata-se de instituto que visa enfrentar
a precariedade da vida das pessoas mais vulneráveis, que vivem em áreas precárias ou em
terrenos irregulares, de modo a garantir o direito social à moradia, o pleno desenvolvimento
das funções sociais da propriedade urbana e o direito ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado.
A primeira metade do século XX é marcada por uma crise no capitalismo, que deu ensejo
ao surgimento do nazismo e do fascismo e à propagação do socialismo. Também, nesse
período, ocorreram duas Grandes Guerras, que tornaram ainda mais difícil a situação social,
em especial, da Europa. A partir da Constituição de 1934, no contexto brasileiro, percebeu- 61
Sumário
Contratos Imobiliários
se uma sensível mudança na garantia da propriedade, que teve seu exercício limitado ao
3. Contratos reais
interesse social1.
Com a edição do Estatuto das Cidades, Lei nº 10.257/01, a regularização fundiária é designada
como um dos instrumentos jurídicos da política urbana3 que visa à urbanização de áreas
ocupadas por população de baixa renda mediante o estabelecimento de normas especiais de
urbanização, uso e ocupação do solo e edificação, consideradas a situação socioeconômica
da população e as normas ambientais.
De significativa importância foi a edição da Lei nº 11.977/09, que criou o programa “Minha
Casa, Minha Vida” com o objetivo de fomentar o financiamento de aquisição, produção ou
reforma de imóveis urbanos ou rurais por população de baixa renda, bem como definiu o
conceito de regularização fundiária em seu art. 46:
1 A Constituição de 1891 dispunha em seu art. 72: “Art. 72 - A Constituição assegura a brasileiros e a
estrangeiros residentes no país a inviolabilidade dos direitos concernentes à liberdade, à segurança individual
e à propriedade, nos termos seguintes: [...] §17 - O direito de propriedade mantém-se em toda a sua plenitude,
salva a desapropriação por necessidade ou utilidade pública, mediante indenização prévia. As minas pertencem
aos proprietários do solo, salvas as limitações que forem estabelecidas por lei a bem da exploração deste
ramo de indústria”. De seu turno a Constituição de 1934: “Art. 113 - A Constituição assegura a brasileiros e
a estrangeiros residentes no país a inviolabilidade dos direitos concernentes à liberdade, à subsistência, à
segurança individual e à propriedade, nos termos seguintes: [...] 17 - É garantido o direito de propriedade, que
não poderá ser exercido contra o interesse social ou coletivo, na forma que a lei determinar. A desapropriação
por necessidade ou utilidade pública far-se-á nos termos da lei, mediante prévia e justa indenização. Em
caso de perigo iminente, como guerra ou comoção intestina, poderão as autoridades competentes usar da
propriedade particular até onde o bem público o exija, ressalvado o direito à indenização ulterior”. 62
2 BRASIL, 1988, Constituição da República, art. 5º, XXIII.
Sumário
3 BRASIL, 2001, Lei nº 10.257, art. 4º, inciso V, “q”.
Contratos Imobiliários
3. Contratos reais
A regularização fundiária consiste no conjunto de medidas jurídicas,
urbanísticas, ambientais e sociais que visam à regularização de
assentamentos irregulares e à titulação de seus ocupantes, de modo
a garantir o direito social à moradia, o pleno desenvolvimento das
funções sociais da propriedade urbana e o direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado1.
3.2 Servidões
A propriedade é o direito real mais amplo que congrega todas as faculdades em sua plena
potencialidade: usar, gozar, fruir, reaver etc. Alguns direitos reais se formam a partir do
destaque dessas faculdades, assim como acontece, por exemplo, com o direito real de uso,
que retira da propriedade o direito de uso, possibilitando o surgimento de um direito real
autônomo a beneficiar pessoa distinta da do proprietário.
63
4 A nova legislação é objeto de três ações diretas de inconstitucionalidade, ADIS nºs 5.883, 5.771 e 5.787,
Sumário
de relatoria do Min. Dias Toffoli.
Contratos Imobiliários
3. Contratos reais
Não é diferente com as servidões, que se caracterizam com o
destaque de uma utilidade de um imóvel a outro. A referência à
servidão já é uma curiosidade em si, porque a expressão servidão
remete à condição mais própria daquela pessoa que tenha condição
de escravo. Não se desconhece que Roma conviveu com a cultura
da escravidão, e, em razão disso, serviu-se da expressão de modo
impróprio, relacionando-a a imóveis.
O Código Civil, em seu artigo 1.378, traça os elementos essenciais das servidões:
Art. 1.378. A servidão proporciona utilidade para o prédio dominante, e grava o prédio
serviente, que pertence a diverso dono, e constitui-se mediante declaração expressa
dos proprietários, ou por testamento, e subseqüente registro no Cartório de Registro
de Imóveis5.
Pontes de Miranda ensina que “servidões são direitos reais que conferem ao dono do
prédio dominante o exercício de algum dos direitos oriundos do domínio, ou o retiram ao
proprietário do prédio serviente6”.
Diante disso, pode-se dizer que servidão é o direito real instituído por declaração expressa
dos proprietários que vincula imóveis de diferentes proprietários, sujeitando-o a restrições
em benefício, gozo ou utilidade do outro.
3. Contratos reais
O primeiro deles é o objeto que o suporta. As servidões pressupõem dois prédios, um
dominante e outro serviente; e não há servidões sobre bens móveis. Desdobra-se desta
peculiaridade o caráter real do instituto: não se trata de uma obrigação, de um vínculo
pessoal de um proprietário ou mera tolerância assumida em relação ao proprietário do
imóvel vizinho. Trata-se de direito real, com eficácia erga omnes, o que implica que o
proprietário do imóvel serviente, assim considerado aquele que suporta a restrição,
independentemente de quem seja, está vinculado à servidão.
Em outras palavras, a servidão cria um vínculo que liga os imóveis, sujeitando-os a restrições
ou criando utilidades independentemente de seus titulares, que se vinculam pela simples
titularidade do imóvel. É a utilidade da coisa que está em mira quando se fala sem servidão
predial. Assim, por exemplo, imaginando-se uma servidão de passagem, esta é a concessão
do próprio caminho ou espaço próprio para a passagem possibilitando o acesso ao imóvel
ou prédio beneficiado.
As servidões, por estarem relacionadas a bens imóveis, são sempre acessórias, isto é não
existem por si só. Sua estrutura jurídica e utilidade econômica as relacionam a dois imóveis:
um que suporta uma restrição, chamado por isso de prédio serviente, e outro que agrega a
utilidade suportada pelo primeiro, chamado de prédio dominante.
As servidões se estabelecem por ato voluntário, referindo-se a lei à declaração expressa dos
proprietários ou testamento, posteriormente registrada no oficial de registro de imóveis da
sede do local dos imóveis. Esse regime implica que a servidão não se presume e tem sua
existência vinculada ao ato de sua instituição ou ao seu reconhecimento por usucapião,
caso se cuide de servidões aparentes, vigorando de modo indeterminado ou perpétuo.
Como ensina Pontes de Miranda, “não é preciso que a servidão caiba numa das espécies
previstas pelos textos, que se referiam às servidões típicas7”.
As servidões, por sua natureza, atendem a imóveis próximos ou vizinhos. Essa característica
não decorre de uma limitação legal, mas da potencialidade natural de cada imóvel. Nesse 65
Sumário
7 MIRANDA, Pontes de. Tratado de Direito Privado. Campinas: Bookseller, 2002. t. XVIII. p. 234.
Contratos Imobiliários
sentido, imaginando-se que um imóvel tenha fonte ou mina d’água, é coerente imaginar
3. Contratos reais
que os imóveis próximos tenham interesse na constituição de uma servidão para buscar
dessa fonte.
3.2.2 Classificação
A servidão é normalmente classificada pela doutrina em urbana ou rural, tomado o critério
da localização do imóvel.
No âmbito rural, são tradicionais e até intuitivas as servidões de trânsito, retirada de água,
aqueduto e pastagem, dentre outras que podem ser livremente instituídas pelas partes.
Washington de Barros Monteiro exemplifica as hipóteses de servidões urbanas:
São servidões urbanas: tigni immittendi (meter trava na parede do vizinho), oneris
ferendi (direito de apoiar sua construção no edifício do vizinho), stillicidii vel fluminis
recipiendi (direito de fazer com que as águas pluviais vertam para o vizinho, gota a gota,
ou mediante calhas), luminis (direito de abrir janelas na própria parede, ou na do vizinho,
para obter luz), ne luminibus officiatur (obrigação do dono do prédio serviente em não
criar obstáculo à entrada de luz no prédio dominante), prospectu (direito de gozar
de vista, ou da janela ou do terraço de sua casa), ne prospectui officiatur (obrigação
do proprietário do prédio serviente de não perturbar a perspectiva desfrutada pelo
dominante), altius non tollendi (não edificar além de certa altura), fumini immittendi
(lançar fumo) e jus proiciendi (avançar cano ou sacada na propriedade vizinha8).
Cabe ressaltar que a lei não fixa ou limita a espécie de utilidade ou restrição que pode ser
estabelecida pelas partes, podendo estas inovarem para atender a seus interesses, desde
que respeitem os limites postos pela lei.
Por sua vez, denominam-se descontínuas as servidões exercidas pela ação humana. É o
que se dá na servidão de passagem, cujo exercício depende do trânsito de pessoas e coisas
numa determinada porção do prédio serviente.
66
8 Curso de Direito Civil brasileiro: direito das coisas. 37. ed. atual. por Carlos Alberto Dabus Maluf. São
Sumário
Paulo: Saraiva, 2003. v. 3. p. 279-280.
Contratos Imobiliários
3. Contratos reais
podendo ser aparentes ou não aparentes. Aparentes são as servidões que se exteriorizam
de forma material, ou seja, seu uso deixa sinais tangíveis. É o que ocorre nas servidões de
trânsito, nas quais determinado caminho é marcado por cercas, divisórias e portões.
Em contraponto, colocam-se as servidões não aparentes, que são aquelas que não deixam
vestígios de sua existência. Exemplo de servidões não aparentes são as servidões de não
construir ou não altear a construção existente além de determinada altura visando à
preservação da vista ou da iluminação do prédio dominante.
Esse segundo critério de classificação tem importância para fins de usucapião, eis que o
art. 1.379 do Código Civil só dá espaço para a caracterização da usucapião das servidões
aparentes, bem como para fins de proteção possessória – eis que a Súmula 415 do Supremo
Tribunal Federal possibilita proteção possessória às servidões aparentes.
De outro aspecto, impõe-se ao dono do prédio serviente as obrigações de tolerar e não criar
embaraço o legítimo exercício da servidão. Todavia, o exercício dos direitos da servidão é
restrito à necessidade que justificou sua criação, e não pode ser ampliado como regra, seja
em seu conteúdo, seja em relação a terceiros.
§1º. Constituída para certo fim, a servidão não se pode ampliar a outro.
§2º. Nas servidões de trânsito, a de maior inclui a de menor ônus, e a menor exclui a
mais onerosa.
Para o exercício da servidão, poderá seu titular realizar as obras necessárias, devendo o
3. Contratos reais
proprietário do imóvel serviente tolerar a entrada de pessoas e coisas para a realização do
necessário. Sendo o instituto fruto da autonomia da vontade, podem as partes estabelecer
que essa obrigação seja custeada pelo titular do prédio serviente, para o que se exigirá
cláusula expressa.
Caso a obrigação caiba ao titular do prédio servente, poderá ele preferir se exonerar
abandonando, total ou parcialmente, a propriedade ao dono do prédio dominante, como
prescreve o art. 1.282 do Código Civil. Nesse caso, se o dono do prédio serviente se recusar
a receber a propriedade, caberá responder pelo custo das obras.
O Código Civil de 2002 inovou ao estabelecer, em seu art. 1.384, a possibilidade de remoção
da servidão:
Art. 1.384. A servidão pode ser removida, de um local para outro, pelo dono do prédio
serviente e à sua custa, se em nada diminuir as vantagens do prédio dominante, ou
pelo dono deste e à sua custa, se houver considerável incremento da utilidade e não
prejudicar o prédio serviente9.
Desse modo, é possível que no curso da servidão sobrevenha situação que recomende a
remoção da servidão de uma porção para outra do imóvel serviente, desde que não haja
diminuição da vantagem do prédio dominante; ou, se houver considerável incremento da
utilidade, sem causar prejuízo ao prédio serviente.
Sendo o direito vinculado aos imóveis, qualquer das hipóteses de extinção da propriedade,
como é o caso, por exemplo, a desapropriação, mencionada expressamente pelo art. 1.387, 68
Sumário
9 BRASIL, 2002, Lei nº 10.406, Código Civil, art. 1.384.
Contratos Imobiliários
3. Contratos reais
Além da perda da propriedade, pode a servidão ser extinta por livre acordo dos proprietários
do imóvel serviente e do dominante. Ora, sendo o instituto criado pela vontade livre dos
interessados, podem eles também ajustar seu cancelamento. Observa a lei que se o
imóvel dominante estiver hipotecado, sendo a servidão mencionada na hipoteca, deverá
se manifestar favoravelmente também o credor hipotecário em termos de preservação da
garantia.
Sendo direito disponível, a servidão pode também ser objeto de renúncia de seu titular,
hipótese na qual seu titular expressamente abdica do direito observando a forma prevista
no art. 108 do Código Civil. Igualmente o titular do prédio serviente pode negociar a extinção
da servidão mediante seu resgate, que consiste na abdicação onerosa da servidão.
Por fim, refere a lei o desuso por dez anos contínuos. Nessa hipótese, deverá o proprietário
do imóvel serviente demonstrar que a servidão não tem uso de forma contínua por dez
anos ou mais, caso em que seu direito será reconhecido por sentença que determinará o
cancelamento do direito no registro de imóveis.
69
Sumário
Contratos Imobiliários
3. Contratos reais
O direito real de laje se diferencia dos demais institutos de direito real, que advêm da
experiência e da tradição do Direito Romano. É fruto de uma forte demanda social oriunda
das cidades brasileiras, nas quais o direito à moradia se perde em aglomerados formados
à margem da lei, sem reconhecimento e proteção legal.
Nada obstante a proteção constitucional, o formalismo próprio dos direitos reais impedia
o reconhecimento e a proteção da realidade jurídica das populações mais carentes, em
razão do que o Estatuto das Cidades fixou como diretriz da política urbana a “regularização
fundiária e urbanização de áreas ocupadas por população de baixa renda mediante o
estabelecimento de normas especiais de urbanização, uso e ocupação do solo e edificação11”.
Nesse contexto deve ser identificado o direito real de laje criado pela Medida Provisória
nº 759, de 201613, posteriormente convertida pela Lei nº 13.465, de 11 de julho de 2017, que
acrescentou os arts. 1.510-A a 1.510-E do Código Civil.
Trata-se de um novo direito real14 que pode se constituir na superfície superior ou inferior de
10 BRASIL, 2000, Emenda Constitucional nº 26.
11 BRASIL, 2001, Lei nº 10.257, art. 2º, inc. XIV.
12 Sobre a utilização do direito de superfície como alternativa para enfretamento da questão de moradia
confira-se
13 Sobre as críticas à redação da medida provisória: GAGLIANO, Pablo Stolze. Direito real de laje: primeiras
impressões. Revista Jus Navigandi [on-line], Teresina, ano 22, n. 4.936, 5 jan. 2017. Disponível em: https://jus.com.
br/artigos/54931. Acesso em: 8 jun. 2021; MARTINS, José Eduardo Figueiredo de Andrade. Medida Provisória que
criou direito real de laje apresenta problemas técnicos. Revista Consultor Jurídico [on-line], [s. l.], 7 jan. 2017.
Disponível em: https://www.conjur.com.br/2017-jan-07/jose-martins-mp-direito-real-laje-problemas-tecnicos.
Acesso em: 8 jun. 2021
14 A natureza jurídica do direito de laje é objeto de controvérsia na doutrina. Sobre o tema, confira-se
TARTUCE, Flavio. Direito Civil. Vol. 4: Direito das coisas. Ed. Grupo GEN, 2020. [Minha Biblioteca]. Na jurisprudência 70
do Superior Tribunal de Justiça, o novo direito já foi classificado como direito real sobre a coisa alheia no REsp
Sumário
1.478.254/RJ. Relator: Min. Luis Felipe Salomão. J. em 08/08/2017.
Contratos Imobiliários
3. Contratos reais
O art. 1.510-A do Código Civil permite que o proprietário do imóvel ceda a superfície
superior ou inferior de sua construção, de modo que se mantenha unidade distinta daquela
originalmente construída, constituindo novo imóvel com espaço para abertura de matrícula
própria e pagamento de impostos.
Não é qualquer construção que dá espaço à formação do direito real. Para tanto, é necessário
que a construção-base e aquela sobrelevada tenham acesso ou entrada individualizada e
isolamento funcional, porquanto a lei vise à criação de unidades autônomas.
A criação do direito real de laje se inicia com a realização de negócio jurídico, gratuito ou
oneroso, seguido da abertura de matrícula do registro de imóveis local. A redação do art.
1.510-A permite a criação desse direito real por diversos meios, por exemplo, uma cessão
de direitos, uma doação ou uma disposição testamentária.
Deverá ser observada a forma pública caso seu valor supere o marco de trinta salários-
mínimos, estabelecidos no art. 108 do Código Civil. Seja qual for, é conveniente que o
instrumento discipline a partilha das despesas necessárias de conservação e fruição das
partes que sirvam a todo o edifício, na forma do art. 1.510-C.
Pode-se cogitar do reconhecimento do direito de laje por meio da usucapião, desde que o
animus do possuidor se adeque aos requisitos e limites do instituto. É o que pode ocorrer,
por exemplo, quando o proprietário simplesmente autoriza a construção por sobrelevação
em sua laje a um parente sem que se documente juridicamente sua instituição. Após o
prazo da usucapião, o interessado poderá se valer dos meios próprios para aquisição do
direito real de laje. 71
Sumário
15 MELO, Marco Aurélio Bezerra de. Direito Civil: coisas. 2. ed. rev. Rio de Janeiro: Forense, 2018. p. 375.
Contratos Imobiliários
3. Contratos reais
de novos direitos de laje, desde que haja a autorização dos titulares da construção-base e
demais lajes e a observância das posturas edilícias e urbanísticas.
A instituição desse direito real não dá direito à fração ideal do terreno ou da construção já
existente, mas contempla o espaço aéreo ou o subsolo de terrenos públicos ou privados,
tomados em sua projeção vertical. Cuida-se, pois, de um direito que confere os direitos de
propriedade na laje ou no subsolo sem vincular a construção-base e o solo.
Nesse sentido é a proibição do art. 1510-B, que veda que o titular da laje prejudique com
obras novas ou com falta de reparação a segurança, a linha arquitetônica ou o arranjo
estético do edifício.
Por essas razões devem o proprietário da construção-base e o titular da laje dispor sobre
a partilha das despesas necessárias à conservação e à fruição das partes que sirvam a
todo o edifício, tais como alicerces, colunas, instalações de água, esgoto, eletricidade e ao
pagamento de serviços de interesse comum.
A legislação não esclareceu que espécie de alienação tem em mira, como o fizeram o art. 504
3. Contratos reais
do Código Civil ou o art. 27 da Lei nº 8.245, de 1990, deixando grande espaço para discussões
e disputas. Sem prejuízo, parece que a hipótese não se aplica aos atos gratuitos, porque
isso representaria limitação injustificada ao direito de propriedade, no que respeita à sua
disposição, tampouco se acomodaria ato gratuito ao regime de preferência.
Interessante notar que a lei diferencia a hipótese de ruína para o imóvel que se constrói
no subsolo da construção-base, pressupondo que, mesmo em caso de sua ruína, poderá o
titular da laje reconstruí-lo, independentemente da reconstrução do prédio-base.
É mais prudente que a construção seja protegida por um seguro, de modo a evitar a grande
dificuldade advinda para os titulares de direito no caso de ruína, de forma semelhante que
ocorre no condomínio edilício. Seja como for, os prejudicados têm o direito de reclamar
indenização do culpado pela ruína.
73
Sumário
Contratos Imobiliários
3. Contratos reais
Sabe-se que o cumprimento das obrigações, em geral, é assegurado pelo patrimônio
do devedor, como determina o art. 789 do Código de Processo Civil. Em razão disso, o
inadimplemento das obrigações, de modo geral, encontra sua garantia geral no patrimônio
do devedor.
Essa proteção pode ser ampliada com o estabelecimento das garantias pessoais, ou
fidejussórias, e das reais. As garantias pessoais se estruturam pela vinculação de uma
terceira pessoa, que oferece seu patrimônio próprio para garantia de cumprimento de uma
obrigação, como ocorre na fiança e no aval.
As garantias são estabelecidas por contratos, que, para terem validade contra terceiros,
devem obedecer a requisitos identificadores da obrigação e da coisa objeto da garantia.
Tradicionalmente, no Direito brasileiro, compõem o quadro de direitos reais de garantia o 74
penhor, a hipoteca e a anticrese.
Sumário
Contratos Imobiliários
Vale observar, entretanto, que a apreciável morosidade do processo judicial, que normalmente
3. Contratos reais
é necessário para a exigência forçada do cumprimento das obrigações, somada à criação de
privilégios legais, notadamente para proteção dos créditos da Fazenda Pública e de origem
trabalhista, conspira contra a eficiência das garantias reais. A Súmula 308 do Superior
Tribunal de Justiça, ao retirar a eficácia da hipoteca firmada entre a construtora e o agente
financeiro, anterior ou posterior à celebração da promessa de compra e venda, em relação
aos adquirentes do imóvel, condenou o instituto ao desuso.
Esses fatores de ineficácia das garantias reais deram ensejo a maior utilidade da alienação
fiduciária em garantia, que se funda na própria atribuição da propriedade ao credor
condicionada ao cumprimento da obrigação, justificando maior atenção do intérprete.
Os direitos reais demandam segurança e publicidade. Por isso os direitos reais de garantia
são criados por contratos que devem observar a forma específica de cada espécie de
garantia.
da garantia, se a dívida não for paga no vencimento, não obstante possa o devedor, após o
3. Contratos reais
vencimento da obrigação, dar a coisa em pagamento.
Constituída a obrigação, o credor tem em seu favor os efeitos do privilégio legal, o direito de
sequela e a faculdade de excussão. A regular constituição da garantia real tem como principal
efeito a criação de um privilégio, que consiste no direito de preferência no pagamento do
credor real quando em concorrência com outros credores sem semelhante garantia.
O direito de sequela, por seu turno, se caracteriza pela vinculação do bem ao cumprimento
da obrigação, uma vez que, quando possível a alienação do bem objeto da garantia, esta
não prejudica o credor, porque este pode perseguir o bem nas mãos de quem quer que
seja, permanecendo o bem submetido a garantia da obrigação.
O art. 1.425 do Código Civil, dando maior proteção às garantias reais, regulamenta hipóteses
de vencimento da dívida:
III - se as prestações não forem pontualmente pagas, toda vez que deste modo se achar
estipulado o pagamento. Neste caso, o recebimento posterior da prestação atrasada
importa renúncia do credor ao seu direito de execução imediata;
A partir dessa disposição, fica claro que a garantia real cria um vínculo do credor com o
próprio bem, uma vez que o perecimento ou sua deterioração implicará o vencimento
antecipado da dívida caso o devedor não reforce ou substitua a garantia.
76
Sumário
16 BRASIL, 2002, Lei nº 10.406, Código Civil, art. 1.425.
Contratos Imobiliários
3. Contratos reais
Em comparação com os institutos do penhor e da hipoteca, a alienação fiduciária em
garantia se utiliza de técnica mais ampla, que não se restringe a vincular um bem do devedor
ao cumprimento de uma obrigação, senão toda a propriedade, que fica condicionada ao
pagamento da dívida.
Foi originalmente tratada no art. 66 da Lei nº 4.728/65, que se referia exclusivamente a bens
móveis, permitindo-se que o credor mantivesse a propriedade do bem até a liquidação da
dívida, período no qual, mantendo-se adimplente, poderia o devedor permanecer com a
posse do bem na condição de depositário. Não é propriamente um direito real de garantia,
que tem por objeto coisa alheia, vez que a propriedade fiduciária se relaciona a bem próprio
do credor.
Seu regime legal foi atualizado pelo Decreto-Lei nº 911/69, agregando eficiente tutela
específica e diferenciada, permitindo ao credor, no caso de mora, a busca e apreensão do
bem, a consolidação da propriedade no patrimônio do credor, e a venda do bem.
No ano de 1997, surgiu a Lei nº 9.514 para cuidar exclusivamente da alienação fiduciária de
bens imóveis. Com isso, a alienação fiduciária ganhou novo campo, mormente por vantagens
trazidas pela nova norma, destacando-se o leilão extrajudicial do bem garantido, tema que
ainda será abordado.
Com a edição do Código Civil de 2002, a alienação fiduciária recebeu tratamento indireto,
uma vez que a propriedade fiduciária passou a compor a norma geral privada, diante das
regras inseridas entre os arts. 1.361 e 1.368-B, com as alterações posteriores pela Lei nº
13.043/2014. A atual codificação restringe a propriedade fiduciária aos bens móveis, conforme
a dicção do seu primeiro comando citado do CC/2002, que enuncia em seu caput: “considera-
se fiduciária a propriedade resolúvel de coisa móvel infungível que o devedor, com escopo
de garantia, transfere ao credor”.
Desse modo, hoje o instituto segue três regimes legais: para as instituições financeiras,
aplicam-se a Lei nº 4.728, de 14 de julho de 1965, e o Decreto-Lei nº 911/69, apto a garantir
obrigações com bens móveis, fungíveis e infungíveis; o regime da Lei nº 9.514/97, aplicável
aos bens imóveis; e, finalmente, o regime do Código Civil, que denomina o instituto como
propriedade fiduciária, restrito aos bens móveis infungíveis. Importante acentuar que o
regime do Código se aplica em caráter subsidiário às demais espécies naquilo que não for
incompatível com as peculiaridades do regime da legislação especial.
77
Tendo em vista os objetivos desta unidade, é conveniente o foco no estudo da alienação Sumário
Contratos Imobiliários
fiduciária em garantia de bens imóveis, objeto da Lei nº 9.514/97, que disciplina todo o
3. Contratos reais
sistema de financiamento imobiliário, dedicando seus arts. 22 a 33 à disciplina da alienação
fiduciária.
Art. 22. A alienação fiduciária regulada por esta Lei é o negócio jurídico pelo qual o
devedor, ou fiduciante, com o escopo de garantia, contrata a transferência ao credor,
ou fiduciário, da propriedade resolúvel de coisa imóvel.
§1º A alienação fiduciária poderá ser contratada por pessoa física ou jurídica, não
sendo privativa das entidades que operam no SFI, podendo ter como objeto, além da
propriedade plena;
IV - a propriedade superficiária.
§2º Os direitos de garantia instituídos nas hipóteses dos incisos III e IV do §1º deste
artigo ficam limitados à duração da concessão ou direito de superfície, caso tenham
sido transferidos por período determinado17.
A fidúcia encerra a ideia de uma convenção pela qual uma das partes, o fiduciário,
recebendo da outra (fiduciante) a propriedade de um bem, assume a obrigação de dar-
lhe determinada destinação e, em regra, de restituí-lo uma vez alcançado o objetivo
enunciado na convenção. A fidúcia, como garantia, exerce função correspondente às
garantias reais em geral, sendo, porém, dotada de mais eficácia, pois, enquanto nos
contratos de garantia em geral (por exemplo, a hipoteca) o devedor grava um bem ou
direito para garantia, mas o mantém em seu patrimônio, na fidúcia, diferentemente,
o devedor transmite ao credor a propriedade ou titularidade do bem ou direito, que,
então, permanecerá no patrimônio do credor como propriedade-fiduciária, até que seja
satisfeito o crédito18.
3. Contratos reais
Trata-se, portanto, de uma espécie de domínio com caráter resolúvel, porque a causa
da aquisição é a garantia de uma obrigação da qual é acessório. Sua função é prestar
garantia, de sorte que, cumprida a obrigação, se verifica a condição resolutiva e se extingue a
alienação fiduciária. Sua constituição implica o fato de que o imóvel pertença ao patrimônio
do credor, de modo a ficar afastado de outros credores do devedor.
Sua contratação pressupõe, como de resto para a prática de qualquer negócio jurídico, a
capacidade das partes e a legitimidade de disposição do bem. É que a constituição do direito
supõe a alienação do bem imóvel ao credor, para fins condicionados à garantia da dívida.
O texto legal é claro ao permitir a contratação da alienação fiduciária por qualquer pessoa
física ou jurídica, não ficando restrita aos atores do sistema financeiro imobiliário, arrolada
no art. 2º da Lei nº 9.514/9719. Destaca-se, entretanto, que a contratação por pessoa que
não se caracterize como instituição financeira impede a utilização da tutela diferenciada
do Decreto-Lei nº 911/6920.
19 STJ. AgInt no AREsp 1.307.645/MS. Relator: Min. Marco Buzzi. J. em 23/04/2019. DJe de 26/4/2019; AgInt
no AgRg no AREsp 772.722/PR. Relatora: Min. Maria Isabel Gallotti. J. em 18/04/2017. DJe de 25/04/2017.
20 Nesse sentido, confira-se o REsp 1.101.375/RS. Relator: Min. Luis Felipe Salomão. J. em 04/06/2013. 79
21 BRASIL, 1997, Lei nº 9.514, art. 5º.
Sumário
22 BRASIL, 1997, Lei nº 9.514, art. 38.
Contratos Imobiliários
Tal como ocorre nos demais direitos reais de garantia, a legislação exige requisitos específicos
3. Contratos reais
nos contratos que contenham o pacto de alienação fiduciária. Nos termos do art. 24 da Lei
nº 9.514/97, o contrato deve conter o valor do principal da dívida, o prazo e as condições de
reposição do empréstimo ou do crédito do fiduciário, além da taxa de juros e os encargos
incidentes.
O contrato ainda deve obrigatoriamente definir o prazo de carência, no qual o devedor não
poderá ser intimado para a constituição de mora. Trata-se de concessão a pequenos atrasos.
Uma vez que pague totalmente a dívida, tem o direito de receber a quitação do credor
fiduciário, no prazo de trinta dias, sob pena de multa equivalente a 0,5% ao mês, ou fração.
De posse da quitação, o interessado pode requerer a averbação no registro de imóveis,
extinguindo-se a propriedade fiduciária e cancelando-se a garantia.
O credor fiduciário, caso o devedor fiduciante falte ao pagamento e uma vez superado o
prazo de carência, pode requerer a intimação do devedor pelo oficial do registro de imóveis
para purgar a mora. Face essa intimação, abre-se a oportunidade do devedor fiduciante de
purgar a prestação vencida e as que vencerem até a data do pagamento, acrescida dos juros
e demais encargos legais e contratuais, bem como as despesas de cobrança e intimação,
no prazo de quinze dias.
3. Contratos reais
do imposto de transmissão inter vivos ou do laudêmio, se for o caso de enfiteuse, pelo
credor fiduciário.
Não realizada a venda, deve-se realizar um segundo leilão, sendo de rigor a comunicação ao
devedor, no qual será aceito o maior lance oferecido. Caso se apure valor superior ao valor
da dívida e dos encargos legais, deverá ser entregue ao devedor a importância que sobejar,
considerando-se nela compreendido o valor da indenização de benfeitorias. Na hipótese
de não se apurar valor suficiente para o pagamento da dívida e encargos, considerar-se-á
extinta a dívida, devendo ser dada quitação da dívida ao devedor mediante termo próprio.
81
24 STJ. AgInt no REsp 1.718.272/SP. Relator: Min. Ricardo Villas Bôas Cueva. Terceira Turma. J. em 22/10/2018.
Sumário
DJe de 26/10/2018; AgInt no AREsp 1.344.987/SP. Relator: Min. Marco Aurélio Bellizze.
Contratos Imobiliários
Bibliografia comentada
3. Contratos reais
LEVY, Jose Renato Nalini; LEVY, Wilson. Regularização fundiária. Ed. Grupo GEN, 2013. [Minha
Biblioteca]. No exame da regularização fundiária, esta obra reúne artigos de diferentes
autores a fim de explorar distintos aspectos do instituto.
ALFONSIN, Betânia de Moraes et al. Da função social à função econômica da terra: impactos
da Lei nº 13.465. Revista de Direito da Cidade, v. 11, n. 1, p. 168-193, 2019. Este artigo traz
interessante análise da evolução da regularização fundiária e os principais aspectos de sua
nova legislação.
GOMES, Orlando. Direitos reais. 21. ed. Ed. Grupo GEN, 2012. [Minha Biblioteca]; e MONTEIRO,
Washington de Barros. Curso de Direito Civil brasileiro: direito das coisas. 37. ed. atual. por
Carlos Alberto Dabus Maluf. São Paulo: Saraiva, 2003. v. 3. Para uma visão dos direitos reais
na doutrina tradicional sugere-se a leitura dessas duas obras.
CHALHUB, Melhim Namem. Alienação fiduciária: negócio fiduciário. 6. ed. Ed. Grupo GEN,
2019. [Minha Biblioteca]. Cuida-se de obra de referência e prestígio em matéria de alienação
fiduciária.
82
Sumário
Contratos Imobiliários
Mapa Conceitual
3. Contratos reais
83
Sumário
Contratos Imobiliários
Conclusão
3. Contratos reais
A análise do Direito, especialmente dos institutos relacionados à propriedade, demonstra
sua constante renovação e mutação. Criado para atender aos interesses exclusivos de seu
titular, o direito de propriedade hoje está relacionado à função social, vinculando-se, dentre
outras finalidade, a dar concreção ao direito de moradia e ao princípio da dignidade humana.
Nesse contexto, tem espaço a regularização fundiária, que reúne um conjunto de institutos
destinados a organizar e integrar núcleos urbanos informais à cidade. Trata-se, em seu
aspecto mais amplo, de política pública direcionada preponderantemente pelos Municípios,
os principais responsáveis do desenvolvimento da política urbana.
O tema se conecta com o direito de laje, nova forma de direito real que se constitui sobre
ou sob uma construção-base. E seu instituto visa dar proteção a uma prática social existente
das favelas, que, não tendo como acomodar novos moradores em expansão horizontal,
passou a experimentar a verticalização.
Na doutrina, registram-se muitas críticas, pelo fato de o instituto relevar de alguma maneira
a impotência do Estado em alterar uma indesejada situação urbanística, adotando modelos
que podem contribuir com a precariedade e insegurança das moradias, que infelizmente
são demonstrados em notícias da imprensa com desabamentos de construções irregulares.
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Sumário
Contratos Imobiliários
Referências
Referências
3. Contratos reais
AGHIARIAN, Hércules. Curso de direito imobiliário. 12. ed. rev., ampl. e atual. São Paulo: Atlas,
2015.
ALFONSIN, Betânia de Moraes et al. Da função social à função econômica da terra: impactos
da Lei nº 13.465. Revista de Direito da Cidade, v. 11, n. 1, p. 168-193, 2019. Este artigo traz
interessante análise da evolução da regularização fundiária e os principais aspectos de sua
nova legislação.
AMADEI, Vicente Celeste; AMADEI, Vicente de Abreu. Como lotear uma gleba: o parcelamento
do solo urbano em seus aspectos (loteamento e desmembramento). 3. ed. Campinas, SP:
Millennium, 2012.
ANDRADE, Anna Carolina Pessoa de Aquino. Repercussões da Lei 13.786/2018 nos contratos
de venda de lotes. Revista de Direito Imobiliário, v. 87, p. 273-293, jul./dez. 2019.
CHALHUB, Melhim Namem. Alienação fiduciária: negócio fiduciário. 6. ed. Ed. Grupo GEN,
2019. [Minha Biblioteca]. Cuida-se de obra de referência e prestígio em matéria de alienação
fiduciária.
CHALHUB, Melhim Namem. Da incorporação imobiliária. 2. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2005.
FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Curso de direito civil: reais. V. 5. 14. ed.
Salvador: JusPODIVM, 2018.
FRANCO, Vera Helena de Mello. Contratos: direito civil e empresarial. 2. ed. São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 2011.
GOMES, Orlando. Direitos reais. 21. ed. Ed. Grupo GEN, 2012. [Minha Biblioteca]; e MONTEIRO,
Washington de Barros. Curso de Direito Civil brasileiro: direito das coisas. 37. ed. atual. por
Carlos Alberto Dabus Maluf. São Paulo: Saraiva, 2003. v. 3. Para uma visão dos direitos reais
na doutrina tradicional sugere-se a leitura dessas duas obras.
LEITE, Carlos Kennedy da Costa. O ingresso dos contratos atípicos no registro de imóveis.
3. Contratos reais
Revista de Direito Imobiliário, v. 79, p. 33-83, jul./dez. 2015.
LEONARDO, Rodrigo Xavier. Redes contratuais no mercado habitacional. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2004.
LEVY, Jose Renato Nalini; LEVY, Wilson. Regularização fundiária. Ed. Grupo GEN, 2013. [Minha
Biblioteca]. No exame da regularização fundiária, esta obra reúne artigos de diferentes
autores a fim de explorar distintos aspectos do instituto.
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito de construir. 8. ed. Atualizado por Eurico de Andrade Azevedo.
São Paulo: Malheiros, 2000.
PEREIRA, Caio Mário da Silva. Condomínio e incorporações. 11. ed. Atualizada por Sylvio
Capanema de Souza e Melhim Namem Chalhub. Rio de Janeiro: Forense, 2014.
PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil: volume 3: contratos. 24. ed., rev. e
atual. por Caitlin Mulholland. Rio de Janeiro: Forense, 2020.
SCAVONE JUNIOR, Luiz Antonio. Direito imobiliário: teoria e prática. 15. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2020.
SILVA, Joseane Suzart Lopes da. Os contratos imobiliários diante da Lei Federal 13.786/2018
e a fundamental proteção da parte vulnerável: os consumidores. Revista de Direito do
Consumidor, v. 122, p. 267-305, mar./abr. 2019.
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Sumário