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empréstimo
Contratos de empréstimo
Editorial
PUC Campinas
Todos os direitos reservados.
Proibida a reprodução total ou parcial em qualquer mídia sem a autorização.
Autor
Giovana Meire Polarini
Revisão técnica
Uol EdTech
Projeto gráfico
Uol EdTech
I. Título.
Figura 01 Empréstimo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
Figura 02 Comodato e mútuo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
Figura 03 Locação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
Figura 04 Arrendamento mercantil. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
Figura 05 Built to suit . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
Figura 06 Contrato de depósito. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
Figura 07 Contrato de mandato.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
Figura 08 Parceria pecuária.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
Figura 09 Comodato.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
Figura 10 Contrato de comodato. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
Figura 11 Espécies de comodato. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
Figura 12 Direitos e deveres do comodatário. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
Figura 13 Direitos e deveres do comodante. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
Figura 14 Extinção do comodato. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
Figura 15 Mútuo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
Figura 16 Requisitos contratuais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76
Figura 17 Capacidades das partes. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
Figura 18 Consentimento. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78
Figura 19 Requisitos objetivos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79
3
Figura 20 Requisitos formais.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81
Sumário
Lista de figuras
Contratos de empréstimo
Figura 23 Extinção do mútuo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91
4
Sumário
Lista de quadros
Contratos de empréstimo
Quadro 03 Direitos e obrigações do comodante. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
Quadro 04 Direito e deveres do mutuante. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90
Quadro 05 Direitos e deveres do mutuário. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90
5
Sumário
Contratos de empréstimo
Sumário
Unidade 1 Contratos de empréstimo: aspectos
gerais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
Apresentação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
Bibliografia Comentada. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
Mapa conceitual. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
Conclusão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
6
Sumário
Contratos de empréstimo
Sumário
Unidade 2 Contrato de Comodato. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
Apresentação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
2.5.1 Conservação da coisa emprestada. . . . . . . . . . . . . . . . . 56
2.5.2 Utilizar a coisa emprestada segundo a sua natureza.. . 57
2.5.3 Responsabilizar-se pela mora. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
2.5.4 Restituir a coisa emprestada ao comodante. . . . . . . . . 58
2.5.5 Não recobrar as despesas pelo uso e gozo da coisa
emprestada.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
2.6 Direitos e obrigações fundamentais do comodante. . . . . 60
2.7 Extinção do comodato. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
Bibliografia Comentada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
Mapa Conceitual. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64
Conclusão. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
Apresentação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68
3.1 Introdução. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
3.2 Natureza jurídica e características contratuais. . . . . . . . . 71 8
Sumário
Contratos de empréstimo
3.2.1 Unilateralidade. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72
3.2.2 Temporalidade. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72
3.2.3 Gratuidade e onerosidade. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
3.2.4 Intuitu personae e fiduciário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74
3.2.5 Transferência da propriedade e obrigação de restituir . 74
Bibliografia Comentada. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92 9
Sumário
Contratos de empréstimo
Mapa Conceitual. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 94
Conclusão. . 94
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 96
10
Sumário
Contratos de empréstimo
Iconografia
Atenção Atividades de
Para saber aprendizagem
Saiba mais
Onde pesquisar Curiosidades
Leitura complementar
Dicas
Glossário Questões
Anotações Citações
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11
Sumário
Contratos de empréstimo
Biodata do autor
Giovana Meire Polari
Justificativa
O estudo do empréstimo, em suas diversas nuances e modalidades, é de extrema relevância
tanto nas relações pessoais quanto no âmbito profissional do operador do direito. Isso
porque é um instituto que comporta a entrega e a restituição de coisa fungível ou infungível,
de acordo com a sua espécie, findo o prazo estipulado no contrato, aquele que a recebeu
deve restituí-la ao seu legítimo proprietário. Abrange, inclusive, o empréstimo de dinheiro
e, sendo utilizado em desacordo com a lei, pode mascarar uma agiotagem e um negócio
jurídico com juros exorbitantes. Sendo assim, as suas funções sociais e econômicas são
inegáveis. Estudar essa disciplina permite uma melhor compreensão e maior efetividade dos
direitos e das obrigações fundamentais dos contratantes, prevenindo conflitos comuns nessa
seara, e também amplia o alcance e o enfoque de atuação dessa modalidade contratual
no cenário da sociedade brasileira do século XXI a partir da utilização do empréstimo por
outras modalidades contratuais.
Engajamento
O Direito, considerado uma ciência para a maioria dos doutrinadores, possui independência
e autonomia em relação às demais áreas do conhecimento. Contudo, não está isolado no
cenário jurídico; ele emerge da sociedade. Nesse cenário é que se insere o empréstimo,
12
enquanto negócio jurídico bem como elemento integrante de outras modalidades Sumário
Contratos de empréstimo
contratuais, típicas e atípicas. Esse instrumento, a rigor gerador de direitos e obrigações entre
os contratantes, em suas diversas categorias e nuances, também pode atuar como o meio
hábil para promover a regulação e a circulação de riquezas. Em outros dizeres, o empréstimo,
a par da análise jurídica que é corriqueira na prática diária, também prescinde de um
exame complementar de cunho econômico, mais adequado para atender às necessidades
da sociedade atual.
Reflita sobre essas questões e anote suas considerações. Depois de estudar todo o conteúdo,
volte às perguntas e compare as respostas.
Apresentação da disciplina
Bem-vindo ao estudo da disciplina “Contratos de empréstimo”. A partir de agora, você
reexaminará de forma panorâmica, em seus aspectos conceituais, o empréstimo enquanto
negócio jurídico, suas modalidades, os requisitos essenciais para formação do contrato e
os diversos eventos que acarretam sua extinção.
Em tal cenário, enquanto ciência humana aplicada, o Direito não pode ficar alheio às
13
mudanças da sociedade e às inovações que surgem nas diversas áreas jurídicas. Por isso, Sumário
Contratos de empréstimo
muitos dos conceitos que serão apresentados poderão ser revistos e reconsiderados ao
longo do tempo, notadamente em decorrência da pandemia do coronavírus. Desse modo,
é imperioso que você mantenha uma postura ativa, no sentido de se manter atento às
novidades que, com certeza, virão. Vale registrar que um dos deveres do operador do direito
é se manter sempre atualizado para o competente exercício de sua profissão.
Objetivos da disciplina
Ao final desta disciplina, esperamos que você seja capaz de:
14
Sumário
1
Contratos de empréstimo
Contratos de
empréstimo:
aspectos gerais
Unidade
Objetivos
Ao final desta unidade, esperamos que possa:
15
Sumário
Contratos de empréstimo
Nesse panorama, em breve síntese para que possa bem cumprir essa tarefa, é imprescindível
que o operador do direito conheça primeiramente as disposições gerais aplicadas a todas as
modalidades de empréstimo, sem a intenção de aprofundar a abordagem, o que extrapolaria
a finalidade traçada para a delimitação da presente unidade.
16
Sumário
Contratos de empréstimo
Para Maria Helena Diniz, a partir das lições de Coelho da Rocha, a principal característica
desse negócio jurídico e o que o diferencia de outros da mesma natureza é a utilização de
um bem de propriedade de outrem, acompanhada do dever de restituição. Desse modo,
implica, necessariamente, tradição da coisa para uso ou consumo pelo contratante devendo,
depois de certo prazo, restituí-la em espécie ou entregar coisa equivalente (DINIZ, 2003).
Por outro lado, em regra, o empréstimo pode ser firmado de forma gratuita ou onerosa,
de acordo com a finalidade econômica almejada pelos contratantes. E ainda, outras
características podem ser identificadas. São elas (RODRIGUES, 2016):
Características Descrição
O empréstimo, uma vez firmado e a partir da
entrega da coisa, apenas o contratante que a
Unilateral.
recebeu assume obrigações. Ao dono da coisa nasce 19
apenas o direito de exigir a sua restituição. Sumário
Contratos de empréstimo
Com efeito, são mútuos os riscos que envolvem o empréstimo e identificáveis a priori
pelos contratantes. Em outras palavras, as prestações que surgem de tal relação jurídica
são certas e as vantagens conhecidas desde o início e não permanecem na dependência
do risco (GONÇALVES, 2017).
20
Sumário
Contratos de empréstimo
22
Sumário
Contratos de empréstimo
Comodato Mútuo
Por outro lado, no tocante às semelhanças entre o comodato e o mútuo, a rigor, a finalidade
econômica de ambos é a mesma, já que derivam de um mesmo negócio jurídico: o
empréstimo. Assim, os contratantes propõem-se a entregar e a restituir um bem, findo
o prazo estipulado, devendo aquele que a recebeu devolver o que lhe foi entregue, mas
em condições diferentes, considerando a natureza jurídica e as especificidades de cada
qual (VENOSA, 2017). Com efeito, ambos são caracterizados como negócios jurídicos, que se
materializam por meio de contratos, geralmente particulares, e cujas principais regras estão
preconizadas no Código Civil.
23
Sumário
Contratos de empréstimo
1.5.1 Locação
Figura 03 Locação
b. Contraprestação em pecúnia.
Desse modo, assim como acontece com a locação, no arrendamento mercantil também
podem ser identificados elementos do empréstimo. Aqui, há a concessão a outrem de um 26
bem móvel ou imóvel, infungível e inconsumível, pertencente à uma pessoa natural ou Sumário
Contratos de empréstimo
O built to suit é outro instituto derivado do direito norte-americano, utilizado para facilitar
o acesso a bens de imóvel (real estate), de maneira especial para fins de locação por longo
período de tempo, geralmente entre 10 e 20 anos (SCAVONE JÚNIOR, 2013).
1.5.4 Depósito
O depósito é um negócio jurídico típico em que uma pessoa, natural ou jurídica, denominada
depositária, recebe sob sua custódia, um bem móvel para guardar e conservar até que o seu
legítimo proprietário, o depositante, o reivindique (BRASIL, Lei Nº 10.406, de 10 de janeiro de
2002. Art. 627). Daí decorre que a guarda de coisa alheia móvel, corpórea ou passível de ser
corporificada, como é o caso das ações e dos títulos de crédito, infungível e inconsumível,
é a característica fundamental dessa espécie de contrato, podendo o termo “depósito”
significar tanto a relação contratual propriamente dito quanto a mesma coisa depositada
(RODRIGUES, 2016).
28
Assim, trata-se de um contrato não solene e real, pois só se aperfeiçoa com a tradição da
Sumário
Contratos de empréstimo
A coisa depositada deve ser entregue quando reclamada pelo seu depositante no mesmo
estado e nas mesmas condições em que fora recebida, ainda que tenha havido o seu
perdimento ou deterioração. Se esses eventos tiverem ocorrido por culpa do depositário,
esse assumirá a responsabilidade pela reparação por perdas e danos. No entanto, se tiverem
ocorrido por conta de desgaste natural, é o depositante que o suportará, com lastro no
princípio res perit domino (RODRIGUES, 2016). De acordo com essas premissas, são nítidas
as similitudes com as modalidades de empréstimo. 29
Sumário
Contratos de empréstimo
1.5.5 Mandato
Figura 07 Contrato de mandato
O mandato é o negócio jurídico pelo qual uma pessoa, natural ou jurídica, transfere poderes
a outrem, para que esse, em seu nome, pratique atos ou administre os seus interesses
(BRASIL, Lei Nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Art. 653). Assim, é nítida a existência implícita
de uma representação no bojo do mandato (ROSENVALD, 2007). Em outro sentido, esse
instituto é utilizado quando alguém, incapacitado de cuidar diretamente de seu próprio
patrimônio, outorga poderes a uma outra pessoa, esta assumindo a posição de mandatária
e aquela a posição de mandante. Ao aceitar tais poderes, surge um complexo de relações
jurídicas subjacentes na esfera jurídica do mandatário (RODRIGUES, 2016).
Não obstante, trata-se de um contrato típico, nominado e consensual, já que se perfaz com o
30
simples acordo de vontades. É, em regra, gratuito e unilateral, intuitu personae, não solene, Sumário
Contratos de empréstimo
É possível que o mandato seja constituído de forma onerosa, presumida para os mandatários
profissionais (BRASIL, Lei Nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Art. 658), quando então passará
a ser bilateral e comutativo. Ademais, está lastreado na confiança que se deposita no
mandatário, e revogável a qualquer tempo (BRASIL, Lei Nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002.
Art. 682, inciso I).
Na prática jurídica do dia a dia, é comum encontrar operadores do direito que confundem
o mandato, enquanto negócio jurídico, com a procuração, que é o seu instrumento, ou seja,
o meio pelo qual o negócio se instrumentaliza (TARTUCE, 2017).
31
Fonte: SHUTTERSTOCK.COM, 2021. Sumário
Contratos de empréstimo
É nesse cenário que o contrato vaca-papel nasce. No entanto, esse instrumento tem servido
como um meio para mascarar a ocorrência de uma agiotagem ou mútuo feneratício, ou seja,
uma espécie de mútuo usurário, em que são estipulados juros excessivos que afronta a
limitação dos juros em 12% ao ano, nos termos do Decreto-lei nº 22.626/33 (MENDES, 2020)
e do Código Civil (BRASIL, Lei Nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Art. 406). Leonardo Flores
Sorgatto e Pedro Puttini Mendes tratam do assunto da seguinte forma:
Por vezes, estes contratos [parceria pecuária] são mal redigidos e se tornam um
problema ao invés da solução, formando ‘negociações de gaveta’. O perigo maior para
este caso é a simulação contratual, pois sem comprovação de entrega do rebanho, há
um risco de que o judiciário considere nulo o negócio, por não acreditar na existência do
gado, situação já decidida nos tribunais por diversas vezes, chamando tais contratações
de “vaca papel” (SORGATTO; MENDES, 2021) (grifo no original).
Dessa forma, no vaca-papel, como a própria denominação sugere, o gado não existe de
fato, mas apenas em um contrato simulado de parceria pecuária. Na verdade, o gado é
substituído pelo dinheiro recebido pelo mutuário e as crias do gado são os juros devidos ao
mutuante. Esse fato se configura fraude à lei, ou seja, para atingir lucro indevido no mútuo,
implementa-se um contrato simulado, que, segundo as normas preconizadas pelo Código
Civil, é nulo de pleno direito, excepcionados os direitos de terceiros de boa-fé (BRASIL, Lei
Nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Art. 167 e parágrafos).
32
Sumário
Contratos de empréstimo
O artigo recomendado trata do leasing a partir de uma visão histórica e sob o aspecto
econômico. O autor cuida principalmente dos elementos que são necessários para que o
contrato tenha validade e eficácia jurídica, bem como do regime jurídico que o disciplina.
Trata-se de um texto didático que introduz o discente no universo dos contratos de leasing.
O artigo sugerido trata do contrato vaca-papel como um instrumento comum no âmbito nas
parcerias pecuárias e se refere a ele como uma forma de camuflar a ocorrência do mútuo
feneratício. Por esse motivo, o autor o considera uma patologia do negócio jurídico. Além
disso, o texto trata, entre outros tópicos, da possibilidade de arguição prévia do mútuo 33
subjacente à vaca-papel. Esse artigo é bastante interessante para o docente que queira se
aprofundar no estudo do tema. Sumário
Contratos de empréstimo
Conclusão
A presente unidade teve como escopo tratar das disposições gerais do empréstimo enquanto
negócio jurídico, de modo a preparar o discente para o estudo de suas modalidades e
demais peculiaridades. Assim, pode-se dizer que foram abordados temas que formam uma
verdadeira “teoria geral” sobre o empréstimo. Percebe-se que tal negócio jurídico tem um
extenso campo de atuação e importante função econômica e social, uma vez que atinge
coisas fungíveis e infungíveis, consumíveis e inconsumíveis, que são entregues a outrem
para uso ou para consumo, mas com a obrigação de restituição, findo o prazo contratual.
Desse modo, é um dos mecanismos que servem para promover a apropriação de recursos
e a circulação de riquezas na sociedade.
Assim, comodato e mútuo são dois institutos que se aproximam, mas ao mesmo tempo se 34
repelem. Enquanto aquele é entendido como um empréstimo de uso, gratuito, que incide
sobre coisa infungível e inconsumível, que não transfere a propriedade ao comodatário, Sumário
Contratos de empréstimo
35
Sumário
2
Contratos de empréstimo
Contrato de
Comodato
Unidade
Objetivos
Ao final desta unidade, esperamos que possa:
36
Sumário
Contratos de empréstimo
2. Contrato de Comodato
Apresentação
Caro aluno,
37
Sumário
Contratos de empréstimo
2. Contrato de Comodato
2.1 Comodato: noções gerais
Figura 09 Comodato
O termo “comodato” tem original na expressão latina commodum datum, que significa
que a coisa era entregue para empréstimo para cômodo e proveito daquele que a recebia
(GONÇALVES, 2017). Esse é o sentido desse contrato, aplicado e utilizado nas mais diversas
relações sociais e econômicas, tanto cíveis quanto empresariais e consumeristas. No entanto,
não é comum vermos esse negócio no âmbito administrativo, mas é inaplicável nas relações
de natureza trabalhista, salvo de modo indireto (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2011).
38
Sumário
Contratos de empréstimo
2. Contrato de Comodato
A legislação civil conceitua o comodato como um empréstimo gratuito de coisa não fungível,
em que a coisa emprestada deverá ser restituída no prazo estipulado, sendo que a tradição
é da essência desse negócio (BRASIL, Lei Nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Art. 579).
Não basta dizer, pois, que o comodato é empréstimo de coisas não-fungíveis, pois
se deve incluir, na definição, as coisas não-consumíveis. Tanto uma como outras, no
entanto, podem ser dadas em comodato, se as partes, intencionalmente, Ihes atribuem
o caráter de infungibilidade, ou de inconsumibilidade, como no caso do comodato
ad pompam, como quando, por ocasião de uma festa, se exibem coisas que não
devem ser usadas [...] O próprio dinheiro - bem fungível por excelência - pode ser
dado em comodato, se for estipulado que deverão ser restituídas as mesmas cédulas,
emprestadas, por exemplo, para uma exposição. Do mesmo modo, uma cesta de frutas
(GOMES, 2007, p. 385). 39
Sumário
Contratos de empréstimo
2. Contrato de Comodato
Nesse ponto, vale lembrar que o Código Civil identifica e conceitua
os bens fungíveis como sendo os móveis que podem ser substituídos
por outros da mesma espécie, qualidade e quantidade (BRASIL,
Lei Nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Art. 85). Logo, o sentido
de infungibilidade ou não fungibilidade é entendido a partir do
conceito negativo. Alguns autores entendem que, em determinadas
circunstâncias, notadamente em decorrência do desenvolvimento
dos negócios imobiliários, o conceito de fungibilidade se estende
aos bens imóveis. Quanto aos bens consumíveis, o mesmo pode ser
dito. A legislação civil também os conceitua em sentido positivo,
sendo que os bens inconsumíveis são entendidos segundo o senso
negativo. Assim, de acordo com o Código Civil (BRASIL, Lei Nº 10.406,
de 10 de janeiro de 2002. Art. 86), os bens consumíveis são os móveis
cujo uso importa em destruição imediata da sua substância. Aqueles
destinados à alienação igualmente são considerados consumíveis.
Logo, os imóveis nessas condições são consumíveis. Considerando
essas premissas, pode-se dizer que, regra geral, os consumíveis são
fungíveis, e vice-versa (SAHIM, 2016, p. 125).
Outro aspecto que merece relevo é o fato de que o comodato também comporta o
empréstimo de bens incorpóreos, suscetíveis de uso e posse.
A necessidade da tradição da coisa empresa faz com que o contrato seja real, pois se
aperfeiçoa além da mera troca de consentimento entre os contratantes, mesmo porque, se
a posse direta do bem, objeto do empréstimo, não estiver em poder da pessoa, não há como
se exercer o direito de uso e gozo sobre a coisa, que o comodato, por sua própria essência,
lhe confere. Dessa forma, somente com a entrega, e não antes disso, é que o contrato se 40
aperfeiçoa. Por outro lado, nessa situação, a posse indireta não é anulada, podendo o
Sumário
Contratos de empréstimo
2. Contrato de Comodato
possuidor direto defender a sua posse contra o indireto (RODRIGUES, 2004).
a. Comodante: aquele que cedeu a coisa para fins de empréstimo de uso, de forma
gratuita e temporária, e que detém a propriedade e a posse indireta.
Para melhor entender essa temática, antes de cuidarmos dos aspectos doutrinários, vamos
verificar um caso em que a natureza jurídica e as principais características do comodato
estão presentes.
41
Sumário
Contratos de empréstimo
2. Contrato de Comodato
2.2.1 Unilateralidade
O comodato, uma vez celebrado e aperfeiçoado pela tradição da coisa emprestada, segundo
a declaração de vontade de ambos os contratantes, gera obrigações diretas apenas para o
comodatário, que figurará como devedor, e que passa a ter deveres definidos e constantes.
O comodatário nada presta. Daí ser um contrato unilateral (DINIZ, 2003).
Caio Mário da Silva Pereira recorda que, em condições excepcionais ou acidentais, e por
efeitos supervenientes à constituição do comodato, poderão nascer obrigações também para
o comodante. Nesse caso, o contrato será classificado como bilateral imperfeito (PEREIRA,
2017), se as circunstâncias obrigarem o comodatário a agir como gestor de negócios
(GOMES, 2007). No entanto, Silvio Rodrigues é contrário a esse posicionamento. Para o autor,
com fundamento na doutrina clássica francesa e nas lições de Carvalho de Mendonça, é
absolutamente descabido considerar a existência de um comodato bilateral porque essa
característica não pertence ao comodato, que é essencial e puramente unilateral, mas a
qualquer outro contrato. Assim, seria o mesmo que negar e inutilizar uma classe inteira de
outros contratos unilaterais (RODRIGUES, 2004).
Igualmente, Tereza Ancona Lopez assevera que “na sistemática do novo Código Civil, é
possível afirmar que estas obrigações são decorrentes de qualquer contrato, eis que estão
intimamente relacionadas ao princípio da boa-fé que, como se sabe, é um dos princípios
informadores deste novo diploma legal” (LOPEZ, apud GONÇALVES, 2017, p. 340).
2.2.2 Temporalidade
O comodato é um negócio jurídico temporário, porque o comodatário não pode ter a posse
direta da coisa emprestada ad eternum, ou seja, de forma perpétua ou vitalícia, pois além
desse atributo ela é também precária. Assim, haveria a descaracterização da natureza do
próprio instituto, já que não há transmissão da propriedade do bem emprestado para o
comodatário. Se isso acontecer, o comodato será convertido em doação (VENOSA, 2017).
Por outro viés, o negócio desprovido de temporalidade poderia servir para mascarar uma
doação simulada. Nesse caso, o bem emprestado passa a integrar o patrimônio do donatário.
Assim, é importante analisar a intenção dos contratantes para se determinar se aquela
situação concreta específica é, de fato, um comodato ou uma mera simulação (RODRIGUES,
2016). 42
Sumário
Contratos de empréstimo
2. Contrato de Comodato
Obrigatoriamente, o comodato deverá ter um prazo de encerramento, que pode estar
determinado ou indeterminado no contrato, mas nada impede que também seja determinável.
Nessa hipótese, tem-se um comodato precário (FARIAS; BRAGA NETTO; ROSENVALD, 2018).
Vale lembrar que, ao final do contrato, seja ele por tempo certo ou incerto, o comodante
deverá notificar o comodatário para devolver a coisa emprestado, constituindo-o em mora
(mora ex re) (BRASIL, Lei Nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Art. 397). A não devolução
do bem emprestado nessas condições configurará a prática de esbulho possessório pelo
comodatário, com isso autorizando o comodante a ingressar com ação de reintegração de
43
posse (DINIZ, 2003). Outro aspecto relevante nessa seara é o fato de que o comodato, em
Sumário
Contratos de empréstimo
2. Contrato de Comodato
decorrência de seu caráter temporário, não se transmite aos herdeiros ou sucessores do
comodatário. Se assim o fosse, o comodante estaria privado da propriedade (GAGLIANO;
PAMPLONA FILHO, 2011).
2.2.3 Personalíssimo
A rigor, o comodato tem natureza jurídica intuitu personae e individual. Isso porque a
contratação leva em conta os atributos da pessoa do comodatário, embora esse requisito
possa ser excepcionado pelos contratantes, com lastro no princípio da autonomia da
vontade, da boa-fé e da liberdade de contratar (BRASIL, Lei Nº 10.406, de 10 de janeiro de
2002. Art. 421).
2.2.4 Fiduciário
O comodato é um negócio jurídico que nasce a partir de uma relação de fidúcia existente
entre os contratantes; na confiança em que uma pessoa deposita na outra. Tanto é verdade
que esse negócio jurídico é gratuito. Caio Mário da Silva Pereira entende que um vínculo
fiduciário (trust) se forma quando “uma das partes, recebendo da outra bens móveis ou
imóveis, assume o encargo de administrá-los em proveito do instituidor ou de terceiro,
tendo a livre administração dos mesmos, mas sem prejuízo do beneficiário” (PEREIRA, 2017,
p. 462). O fundamento dessa característica contratual está
2. Contrato de Comodato
À vista disso, não é admito um subcomodato sem a prévia e expressa autorização do
comodatário. Sem ela, essa medida se constitui abuso de direito, em virtude do desvio de
finalidade. E, também, a confiança fundamenta a impossibilidade de transmitir o comodato
aos herdeiros ou sucessores do comodatário (VENOSA, 2017).
Se a coisa não for restituída pelo comodatário, o comodante o notificará para fins de
constitui-lo em mora, como mencionado. Além disso, responderá pelos riscos da mora e terá
de pagar aluguel arbitrado também pelo comodante (BRASIL, Lei Nº 10.406, de 10 de janeiro
de 2002. Art. 582, segunda parte). O termo “aluguel”, presente na redação do texto normativo,
tem sido interpretado pela doutrina e pela jurisprudência no sentido de indenização por
perdas e danos, pois o comodato não se converte em locação (GONÇALVES, 2017).
Entretanto, Orlando Gomes e Maria Helena Diniz, entre outros autores, têm posicionamento
contrário. Nessa hipótese, entendem que o comodato pode se converter em verdadeira
locação, sendo aplicável, inclusive, por analogia, os preceitos do Código Civil, que estabelecem
que o juiz poderá reduzir o valor do aluguel quando for manifestamente excessivo e puder
propiciar o enriquecimento ilícito do comodante ou caracterizar abuso de direito (BRASIL,
Lei Nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Arts. 187; 413; 575, parágrafo único e 884) (GOMES,
2007; DINIZ, 2003). Nesse sentido, esse deverá ser calculado em execução e por arbitramento,
desde que proposta ação judicial tenha por escopo essa finalidade (RODRIGUES, 2004). 45
Sumário
Contratos de empréstimo
2. Contrato de Comodato
Em tal cenário, se a coisa emprestada se perder sem culpa do comodatário e antes da sua
restituição, o comodante sofrerá as consequências desse fato, em decorrência do princípio
res perit domino, e a relação contratual se extinguirá (BRASIL, Lei Nº 10.406, de 10 de janeiro
de 2002. Art. 238). Caso contrário, se houver culpa, o comodatário responderá pelo valor
equivalente à coisa perdida acrescido de indenização por perdas e danos (BRASIL, Lei Nº
10.406, de 10 de janeiro de 2002. Art. 239).
Não obstante, na ocorrência de fortuito e força maior, o comodatário não responde pelos
prejuízos que o comodante vier a suportar pela perda da coisa emprestada, ressalvada a
hipótese de, contratualmente, ter responsabilidade por ela ou em virtude da mora (BRASIL,
Lei Nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Arts. 393 e 399).
Outra questão que merece relevo diz respeito às benfeitorias edificadas pelo comodatário
no bem emprestado. De modo geral, aplicam-se as regras preceituadas pelo Código Civil
relativamente ao possuidor de boa-fé e de má-fé (BRASIL, Lei Nº 10.406, de 10 de janeiro
de 2002. Arts. 1.219 a 1.221). Assim, quando da restituição do bem ao comodante, se o
comodatário tiver feito benfeitorias úteis e necessárias, com o consentimento expresso ou
tácito do comodante, deverá ser ressarcido, sendo a ele conferido, inclusive, o direito de
retenção até que o comodatário seja indenizado. Quanto às voluptuárias, essas podem ser
levantadas se não afetar a estrutura da própria coisa. Havendo prévia e expressa autorização
do comodante, todas as categorias de benfeitorias serão indenizadas (FARIAS; BRAGA NETTO;
ROSENVALD, 2018).
46
Sumário
Contratos de empréstimo
2. Contrato de Comodato
2.3 Requisitos contratuais
Figura 10 Contrato de comodato
O contrato de comodato, para que seja revestido de validade e tenha eficácia jurídica, deve
preencher determinados requisitos de cunho subjetivo, objetivo e formais, sob pena de
ser declarado nulo de pleno direito, ou anulável, considerando as circunstâncias do caso
concreto (BRASIL, Lei Nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Arts. 166 e 171).
2. Contrato de Comodato
obrigações. Desse modo, a capacidade para fins de celebração do comodato é, a rigor, aquela
comum ou ordinária, a mesma que é exigida para os atos da vida civil em geral. Assim, é da
natureza do instituto, como mencionado, a não transmissibilidade da propriedade do bem
emprestado ao comodatário. Entretanto, incluem também aqueles atos considerados para
fins de administração, por transferir apenas o uso e gozo da coisa (MIRANDA, 2012).
O Código Civil estabelece uma incapacidade especial para a formação do comodato. É o que
ocorre com os tutores, curadores e em geral todos os administradores de bens de terceiros,
que não poderão dar em comodato, sem autorização, os bens que lhe são confiados à sua
guarda (BRASIL, Lei Nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Arts. 580 e 1.749, inciso II).
Como se vê, integram esse rol, além dos tutores e curadores já citados, os inventariantes,
os testamenteiros, o síndico de massa falida, o depositário, o enfiteuta, o superficiário, o
usufrutuário e o usuário (VENOSA, 2017). Por não serem proprietários, somente poderão dar
em comodato após prévia e expressa autorização do comodante, o legítimo proprietário
da coisa dada em empréstimo, se capaz, ou do juiz, ouvido o Ministério Público, se incapaz
(DINIZ, 2003).
48
Sumário
Contratos de empréstimo
2. Contrato de Comodato
2.3.1.2 Consentimento
49
Sumário
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2. Contrato de Comodato
Em virtude da infungibilidade, o bem emprestado, objeto mediato da relação jurídica, pode
ser móvel ou imóvel. Logo, integram essa categoria tantos aqueles que assim são entendidos
considerando a natureza do bem, por mera destinação legal, ou assim estabelecido pelas
partes no contrato (BRASIL, Lei Nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Arts. 79 a 83).
Para melhor entender esse assunto, vamos verificar um caso de comodato de coisa fungível.
A princípio, o comodato abrange tanto o bem principal quanto os acessórios que o integram.
No entanto, é permitido que os contratantes disponham em sentido contrário mediante
clausulado expresso no contrato (BRASIL, Lei Nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Arts. 92 a
97, 566, inciso I e 425).
2. Contrato de Comodato
Nesse ponto, é oportuno citar o comodato constituído no direito de usar certo local
(commodatum loci), como é o caso do estacionamento gratuito de veículos (DINIZ, 2003).
Por fim, o comodato não requer que a coisa emprestada pertença necessariamente ao
patrimônio do comodante, porque, sendo simplesmente um empréstimo de uso, não há
transferência de propriedade. Para tanto, é suficiente a posse direta (GOMES, 2007).
A feitura do contrato e a sua execução podem ser comprovadas inclusive por testemunhas.
Entretanto, a formalização por escrito confere mais eficácia ao negócio em especial se,
diante do caso concreto, houver a necessidade de distingui-lo da locação, da doação ou do
depósito, por exemplo (PEREIRA, 2017).
51
Sumário
Contratos de empréstimo
2. Contrato de Comodato
Diante dessas premissas, pode-se dizer que, quanto à formalidade, o comodato é um
contrato ad probationem tantum. A solenidade servirá apenas para fazer prova do negócio
jurídico celebrado, não exigindo solenidade ad substantiam.
O comodato, assim como outros negócios jurídicos, comporta algumas categorias. Entre
aquelas mais usuais na prática jurídica do dia a dia, destacam-se: a promessa de comodato
e o comodato modal.
52
Sumário
Contratos de empréstimo
2. Contrato de Comodato
Suponha que uma determinada empresa de transportes tenha
prometido que disponibilizaria um ônibus para levar as crianças de
uma creche a uma festa em uma escola pública local. No entanto,
no dia e horário convencionados para pegar as crianças, o ônibus
não apareceu.
Para que exista uma real promessa de comodato, e não a mera oferta de comodato, que
são institutos diferentes, é importante que os contratantes possam provar que houve
manifestação de vontades convergentes, no sentido de querer concluir posteriormente um
contrato de comodato (MIRANDA, 2012). Nesse instrumento, a principal característica é que
não há a transferência da posse direta para o comodatário, ou seja, a tradição do bem, que
só ocorrerá com a celebração do contrato definitivo. Assim, somente será considerado um
comodato propriamente dito quando houver a cessão da coisa para uso e não quando se
promete cedê-lo. Não são os efeitos do contrato que se iniciam com a tradição, mas a sua
própria existência é que depende do cumprimento desse ato (GOMES, 2007).
Essa corrente argumenta que, embora não exista uma efetiva obrigação de emprestar, mas
justamente em razão dela, o comodatário poderá ter feito despesas contando como a certeza
da celebração do contrato definitivo e com a boa-fé do comodante. Assim, na eventualidade
de não ser formalizado, é justo que o comodatário seja ressarcido. Porém, em virtude da
gratuidade, entende também a doutrina que é inviável a execução coativa da promessa já
que ninguém pode ser compelido a emprestar, mesmo tendo se comprometido. Dessa forma,
essa relação jurídica se resolverá em perdas e danos (GONÇALVES, 2017).
Para aclarar os aspectos doutrinários ora apresentados, vejamos um julgado a respeito: Rio
de Janeiro. AgInt no Pedido de Tutela Provisória nº 2.528 (2019/0386724-5). FERSAN Reparos
Marítimos Ltda versus Dique Lahmeyer de Reparos Navais Ltda. Rel. Min. Luis Felipe Salomão,
j. 14/09/2020. Acesso em: 24 mai. 2021.
53
Sumário
Contratos de empréstimo
2. Contrato de Comodato
2.4.2 Comodato modal
O comodato, como mencionado, é uma espécie de empréstimo de uso, unilateral, real e
gratuito, sendo que essas características, de sua essência, não impedem a aposição de um
elemento acessório ou acidental do negócio jurídico, qual seja o modo ou encargo, nos
termos da legislação civil (BRASIL, Lei Nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Arts. 136 e 137),
transformando um comodato puro e simples em comodato modal ou com encargos.
54
Sumário
Contratos de empréstimo
2. Contrato de Comodato
Não obstante, existe uma corrente minoritária, da qual se filia Orlando Gomes, que entende
que o encargo seria equiparado a uma contraprestação que o comodatário deve cumprir
perante o comodante. Logo, seria inadmissível um comodato modal, já ele implicaria
no desaparecimento da gratuidade (GOMES, 2007). No entanto, observa-se que esses
argumentos contradizem a própria essência do encargo, enquanto elemento acidental do
negócio jurídico, porque, como mencionado, trata-se de um ônus imposto justamente ao
beneficiário de um ato gratuito.
Por fim, o comodato modal não está previsto e tutelado pela legislação civil de regência.
Assim, é considerado um contrato atípico, regido pela teoria geral dos contratos (BRASIL,
Lei Nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Art. 425).
Sobre essa temática, vejamos como o Superior Tribunal de Justiça já decidiu, tendo como
parâmetro os seguintes julgados: a) São Paulo. Recurso Especial nº 1.316.895 (2011/0301020-
4). Valquíria Cristina Miranda versus Fundação Criança de São Bernardo Do Campo. Rel. Min.
Nancy Andrighi, j. 11/06/2013. Acesso em: 23 mai. 2021; e b) Amazonas. Recurso Especial nº
1.309.800 (2012/0033585-0). Petrobrás Distribuidora S/A versus Antônio Carlos Navegação
Ltda. Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 22/08/2017. Acesso em: 23 mai. 2021.
55
Sumário
Contratos de empréstimo
2. Contrato de Comodato
2.5 D i re i t o s e obrigações
fundamentais do comodatário
Figura 12 Direitos e deveres do comodatário
A celebração do contrato de comodato, como é da sua substância, faz nascer, de modo geral,
direitos e obrigações recíprocas, uma vez que a todo direito corresponde um dever correlato.
Não se perca de vista que, como qualquer outro contrato, o comodato é fonte de obrigações,
que passam a ser exigíveis a partir da celebração do negócio jurídico (GAGLIANO; PAMPLONA
FILHO, 2011). Via de regra, identificam-se cinco obrigações fundamentais do comodatário:
conservar a coisa emprestada, utilizando-a de acordo com a sua natureza, e ainda restituí-
la ao final do prazo ajustado entre os contratantes, responsabilizando-se pela mora e não
recobrar as despesas pelo uso da coisa emprestada.
2. Contrato de Comodato
(DINIZ, 2003). Não se perca de vista que, pelo fato de o contrato ser gratuito, os cuidados
com o objeto da prestação se intensificam. Mesmo uma culpa considerada levíssima impacta
na responsabilidade do comodatário em face da destruição ou da desvalorização do bem
dados em comodato (ROSENVALD, 2007).
2. Contrato de Comodato
O comodante empresta ao comodatário uma escultura de um artista
famoso para figurar em certa exposição. Ocorre que o imóvel que
abriga o evento sobre um incêndio. Nesse caso, o comodatário não
tem a obrigar de arriscar a sua vida para salvar o bem, mas, se puder
salvar objetos de sua propriedade e a escultura em questão, em
primeiro lugar, deverá retira do incêndio essa. Se assim não agir,
arcará com perdas e danos (DINIZ, 2003).
Percebe-se que a finalidade dessa norma é evitar fraudes, impondo ao comodatário certa
cautela na preservação aquilo que não lhe pertence, perante a consumação de eventual
risco (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2011).
Se não houver sido estipulado um prazo, o termo do contrato será o suficiente para que o
comodatário possa fazer uso da coisa, da maneira como se pressupõe que deve ser (BRASIL,
Lei Nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Art. 581, primeira parte). No entanto, o comodante
poderá pleitear a restituição antecipada da coisa provando necessidade e urgência, que
não poderia seriam previstas no momento da feitura do contrato, devendo ser assim
reconhecidas e declaradas pelo Poder Judiciário (BRASIL, Lei Nº 10.406, de 10 de janeiro de
2002. Art. 581, segunda parte).
Em qualquer uma dessas situações, caso o comodatário não restitua o bem emprestado
ao comodante, incorrerá em mora. Consequentemente, arcará com as responsabilidades
pelos efeitos que ela produzir e, entre elas, será compelido a pagar um aluguel arbitrado
pelo comodante, durante o tempo de atraso (BRASIL, Lei Nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002.
Art. 582, terceira parte). Vale lembrar que, o termo “aluguel’ deve ser interpretado como
indenização por perdas e danos, pois o comodato não se converte em locação (GONÇALVES,
2017). 58
Sumário
Contratos de empréstimo
2. Contrato de Comodato
Além disso desses reflexos, estará configurado o esbulho possessório e o comodatário estará
sujeito à ação de reintegração de posse. Essa norma demonstra o grau de zelo a que está
sujeito o comodatário como o bem emprestado (RODRIGUES, 2016).
É certo que assim o seja. Consoante o brocardo jurídico: “quem aufere o cômodo suporta
o incômodo”. De outro lado, o comodato, sendo em instrumento gratuito, não poderá criar
estipulações que onere o comodante pelas despesas ordinárias da coisa emprestada,
excepcionada disposição contratual em outro sentido (ROSENVALD, 2007).
2. Contrato de Comodato
Sanseverino, j. 12/05/2020. Acesso em: 24 mai. 2021; e c) Rio de Janeiro. AgInt no Agravo em
Recurso Especial nº 1.527.911 (2019/0184341-3). Camélia Santos de Miranda versus Jurema
Monteiro de Albuquerque. Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 10/02/2020. Acesso em: 24
mai. 2021.
2.6 D i re i t o s e obrigações
fundamentais do comodante
Figura 13 Direitos e deveres do comodante
Silvio de Sávio Venosa, ao tratar do assunto, argumenta que, em virtude da própria natureza
do comodato, não se pode falar em obrigações do comodante. Contudo, todas as modalidades
contratuais, quer sejam unilaterais ou bilaterais, sempre geram efeitos recíprocas para os
contratantes, ainda que de modo indireto (VENOSA, 2017). 60
Sumário
Contratos de empréstimo
2. Contrato de Comodato
Quadro 03 Direitos e obrigações do comodante
DIREITOS OBRIGAÇÕES
Avisar o comodatário dos vícios que a coisa
emprestada possui e que podem afetar o
Exigir do comodatário que conserve
seu uso, excepcionados os casos de vícios
a coisa emprestada como se fosse
redibitórios. Nesse caso, deverá indenizar
sua, utilizando-a de acordo com sua
o comodatário dos prejuízos causados, dos
destinação, finalidade e natureza.
quais tinha conhecimento e dolosamente
não o preveniu (GONÇALVES, 2017).
Não pleitear a restituição do objeto do
empréstimo antes do prazo ajustado ou, em
não sendo fixado, antes do tempo adequado
para o seu uso, ressalvadas as hipóteses
Responder por dolo ou culpa grave quando o
de necessidade imprevista e urgência. No
bem objeto do comodato ocasionar prejuízos.
entanto, se o prazo for indeterminado,
o bem poderá ser retomado a qualquer
momento desde que notificado o comodatário
para a sua devolução (DINIZ, 2003).
Pagar as despesas extraordinárias, as
Exigir que o comodatário efetue as urgentes e as necessárias feitas pelo
despesas ordinárias para conservação, comodatário para fins de conservação da
uso e gozo do bem emprestada. coisa, se não puder ser previamente avisado
o comodante para autorizá-las (DINIZ, 2003).
Receber a coisa dada em comodato, pois, se
Arbitrar e cobrar o aluguel-penalidade houver a recusa injustificada ou oposição
para a satisfação de perdas e danos, a isso, o comodante será constituído em
em caso de atraso na restituição. mora, cabendo ação de consignação em
pagamento a ser movida pelo comodatário.
2. Contrato de Comodato
2.7 Extinção do comodato
Figura 14 Extinção do comodato
O comodato, como qualquer outra espécie contratual, pode ser extinto por diversas formas.
A princípio, vislumbra-se a possibilidade de resilição bilateral (BRASIL, 2002, Lei nº 10.406, art.
472), por meio do distrato, quando a continuidade do negócio jurídico não interessar mais
a ambos os contratantes (DINIZ, 2003). Nos contratos de duração indeterminada, a resilição
unilateral também pode encerrar o comodato, desde que a lei expressa ou implicitamente
a permita. Nessa modalidade, é imprescindível que o contratante interessado na resilição
notifique o outro de sua intenção de findar o contrato (BRASIL, 2002, Lei nº 10.406, art. 473)
para garantir que o denunciado não seja surpreendido imotivadamente. Se a iniciativa for
do comodatário, esse deverá efetuar a restituição da coisa ou, havendo a recusa imotivada
do comodante, consigná-la judicialmente (GONÇALVES, 2017).
De igual modo, o comodato poderá também ser extinto por resolução (pacto comissório
ou cláusula resolutória) quando o comodatário não cumpre com as obrigações assumidas
(VENOSA, 2017). No estado de normalidade, encerra-se com o término do prazo ajustado
entre os contratantes e o adimplemento das obrigações assumidas pelo comodatário. Não
havendo uma estipulação temporal, o comodato terá fim com a partir da utilização do
objeto emprestado conforme a sua finalidade ou natureza. Na verdade, nesse caso, o efetivo
encerramento do contrato ocorre com a devolução da coisa dada em comodato (GAGLIANO;
PAMPLONA FILHO, 2011). 62
Sumário
Contratos de empréstimo
2. Contrato de Comodato
Outras situações que também carreiam desfazimento contratual são a morte do comodatário,
se o contrato fora celebrado intuitu personae, e a alienação da coisa emprestada, salvo se
o adquirente do bem se comprometer a assumir a obrigação de manter o comodato (DINIZ,
2003).
Por óbvio, o perecimento do objeto emprestado também põe termo ao contrato. Nessa
hipótese, havendo culpa do comodatário, esse responderá por perdas e danos. Também
será responsabilizado se o perecimento tenha decorrido do fortuito ou da força maior,
se o objeto emprestado correr risco e antepuser a salvação dos seus, abandonando o do
comodante (BRASIL, 2002, Lei nº 10.406, art. 583) ou, por último, se se encontrava em mora
com a obrigação de restituição (BRASIL, 2002, Lei nº 10.406, art. 399) (GONÇALVES, 2017).
Bibliografia Comentada
Veja a seguir algumas indicações de leitura que poderão complementar seus estudos. Essa
leitura não é obrigatória, porém poderá ampliar seu conhecimento em relação ao assunto
abordado na unidade.
CHAINÇA, Igor A. A possibilidade de usucapião no comodato. Migalhas. 24 set. 2020. Disponível em:
<https://www.migalhas.com.br/depeso/333847/a-possibilidade-de-usucapiao-no-comodato
>. Acesso em: 18 mai. 2021.
O artigo acima indicado, conforme o próprio título sugere, trata da possibilidade de usucapir
bens dados em comodato a partir da transformação do caráter da posse, segundo a análise 63
dos casos concretos levados à apreciação do Poder Judiciário e com base na função social
Sumário
Contratos de empréstimo
2. Contrato de Comodato
da propriedade e na dignidade da pessoa humana. O tema é bastante interessante, mesmo
porque causa dúvidas entre os operadores do direito na prática jurídica do dia a dia.
FONSECA, José Geraldo da. Comodato e relação de emprego de caseiro. Diritto & Diritto dal 1996. 15
out. 2009. Disponível em: <https://www.diritto.it/comodato-e-relacao-de-emprego-de-caseiro
/>. Acesso em: 18 mai. 2021.
O texto, inicialmente, faz uma abordagem panorâmica acerca do comodato para preparar
o leitor para o estudo da correlação existente entre esse instituto e a relação de emprego
de caseiro. Em certas situações, o dono do imóvel, como uma forma de negar o vínculo
empregatício, alega que o caseiro ocupava o bem a título de comodato. O autor contesta
esse e outros argumentos que geralmente são apresentados nos processos dessa natureza.
Também é um assunto de bastante incidência na prática jurídica cotidiana.
Mapa Conceitual
64
Sumário
Contratos de empréstimo
2. Contrato de Comodato
Conclusão
Na presente unidade vimos que o comodato é uma espécie de empréstimo que se destina
ao uso da coisa emprestada, característica essa que, somada às demais, diferencia-o de
outras modalidades, tais como: o mútuo.
Com efeito, como qualquer outra modalidade contratual, o comodato igualmente demanda
a observância de requisitos subjetivos, objetivos e formais para a sua validade e eficácia.
Alguns deles são pontuados pela teoria geral dos contratos, como é o caso da capacidade
dos contratantes e do consentimento, o objeto lícito, possível, determinado ou determinável
e a ausência de solenidade.
Outros são específicos desse negócio jurídico, sem os quais estaria desnaturado. Dessa
forma, nos termos da legislação civil, o bem objeto da prestação deve ser necessariamente,
infungível e inconsumível. É verdade que a doutrina admite comodato de bens fungíveis
quando, ainda que possa ser substituída, o comodatário se obriga a devolver a mesma
coisa que lhe foi entregue para o uso. É o que acontece com os objetos dados para fins de
decoração ou ornamentação.
Como se denota, o contrato, quer seja por escrito ou até mesmo de forma verbal, faz nascer
direitos recíprocos aos contratantes, mas obrigações apenas para o comodatário, em razão
da gratuidade do negócio jurídico, que se extinguirá, no estado de normalidade, com o
decurso do prazo contratual e a imediata restituição da coisa emprestada ao comodante, 65
seu legítimo proprietário.
Sumário
Contratos de empréstimo
2. Contrato de Comodato
Por outro lado, o comodato também poderá ser desfeito automaticamente pela morte
do comodatário, pelo perecimento ou pela alienação do objeto emprestado, desde que
o adquirente não tenha se comprometido a respeitá-lo, além das demais hipóteses de
desfazimento contratual preconizadas pela teoria geral dos contratos.
Dessa forma, o comodato é um negócio jurídico que surge mais da vontade do comodante
do que propriamente da necessidade do comodatário, e atua em diferentes setores
sociais e econômicos, como importante ferramenta para circulação de bens infungíveis e
inconsumíveis, móveis ou imóveis.
66
Sumário
3
Contratos de empréstimo
Contrato de mútuo
Unidade
Objetivos
Ao final desta unidade, esperamos que possa:
67
Sumário
Contratos de empréstimo
3. Contrato de mútuo
Apresentação
Caro aluno,
Os direitos e as obrigações dos mutuantes e dos mutuários também não ficarão à margem
do estudo da presente unidade e, sempre que possível, faremos um comparativo com o
comodato para facilitar o entendimento.
À vista desse cenário, igualmente ao que acontece com o comodato, o fim perseguido
ao examinarmos esses temas é evidenciar de que forma esse relevante negócio jurídico
é regulado pelo ordenamento nacional, como as normas preconizadas na legislação de
regência vêm sendo interpretadas e incidem na prática jurídica cotidiana.
Desse modo, propiciará uma outra forma de compreender e utilizar esse importante instituto
de modo a proteger os legítimos interesses dos contratantes, albergando as demandas da 68
nova realidade social em que vivemos.
Sumário
Contratos de empréstimo
3. Contrato de mútuo
3.1 Introdução
Figura 15 Mútuo
O mútuo é um dos negócios jurídicos mais utilizados na sociedade e se revela como uma
forma de impulsionar a economia mundial e viabilizar a atividade financeira. Historicamente,
esse instrumento também é um dos mais antigos institutos jurídicos, ao lado da locação,
do comodato, da doação e de vários outros celebrados cotidianamente. Nas sociedades
antigas, o mútuo era marcado pela circulação de riquezas, sobretudo dinheiro, mas sem a
incidência de juros. Apenas no Direito Romano, no entanto, os juros passam a incidir sobre
essa modalidade de empréstimo. No decorrer dos séculos, os juros foram rechaçados no
Direito Canônico e voltaram a ser aceitos no direito moderno e contemporâneo (GAGLIANO;
PAMPLONA FILHO, 2011).
3. Contrato de mútuo
Nesse ponto, vale lembrar que o Código Civil identifica e conceitua
os bens fungíveis como sendo os móveis que podem ser substituídos
por outros da mesma espécie, qualidade e quantidade (BRASIL,
Lei Nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Art. 85). Quanto aos bens
consumíveis (BRASIL, Lei Nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Art.
86), são considerados os móveis cujo uso importa em destruição
imediata da sua substância. Aqueles destinados à alienação
igualmente são considerados consumíveis. Logo, os imóveis nessas
condições são consumíveis. Considerando essas premissas, pode-
se dizer que, regra geral, os consumíveis são fungíveis, e vice-versa
(SAHIM, 2016).
A partir da redação do texto normativo, percebe-se que o dinheiro é a coisa fungível por
excelência, objeto da prestação mutuária, incidindo sobre quantia líquida e certa. No entanto,
outros bens que preencham essas características e que são passíveis de consumo podem
ser alvo do mútuo (ROSENVALD, 2007).
70
Sumário
Contratos de empréstimo
3. Contrato de mútuo
Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho, valendo-se do
magistério de Álvaro Villaça Azevedo, destacam que, para esse
autor, melhor seria se o legislador do Código Civil tivesse usado a
expressão “espécie e quantidade” ao invés de “gênero e quantidade”,
pois essa tem sentido mais amplo do que aquela. Com fulcro nesse
entendimento, o Projeto de Lei nº 6.960/2002, que atualmente
encontra-se arquivado, propunha a alteração da redação do artigo
243, do Código Civil para substituir o termo “gênero” por “espécie”
(GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2011).
A destinação dada a certo bem infungível pode torná-lo objeto do mútuo, desde que a
restituição seja feita em outro bem do mesmo gênero, qualidade e quantidade, sob pena
de ser configurado negócio jurídico diverso (RODRIGUES, 2016). Sem embargo, além da
fungibilidade, outro elemento da essência mútuo, e que aparece na conceituação legal, é
a obrigação de restituição da coisa emprestada, ainda que em objeto assemelhado pela
espécie. Daí decorre a transmissão da propriedade do bem dado ao mutuário, como se
verá (ROSENVALD, 2007). Por fim, os sujeitos envolvidos em uma relação de mútuo são os
seguintes:
a. Mutuante: aquele que emprestou a coisa, objeto da prestação, para fins de consumo.
3. Contrato de mútuo
de transferência da propriedade do bem dado por empréstimo, já que se trata de um
empréstimo de consumo, e o seu caráter intuitu personae e fiduciário.
3.2.1 Unilateralidade
O mútuo é uma espécie contratual que, uma vez celebrado, a princípio, gera obrigações
apenas ao mutuário, qual seja, a restituição da coisa emprestada ao final do prazo
estipulado no contrato. Assim, a unilateralidade decorre da própria natureza real do contrato
(ROSENVALD, 2007).
No entanto, há autores, como Silvio de Sávio Venosa e Pontes de Miranda, que questionam
a descaracterização da unilateralidade frente à obrigação do mutuante de entregar o bem
ou da estipulação de juros, no empréstimo de dinheiro. Para o primeiro, o mútuo oneroso é
contrato bilateral (VENOSA, 2017), para o segundo, assemelha-se à locação de uso, enquanto
o mútuo sem juros ao comodato (MIRANDA, 2012).
Silvio Rodrigues tem entendimento contrário. Para ele, o mútuo se aperfeiçoa com a tradição
da coisa. Portanto, o dever de entregá-la, que nasce para o mutuante, é uma obrigação
preliminar ou pré-contratual, por isso não tem o condão de desnaturar a unilateralidade do
contrato (RODRIGUES, 2004). A despeito da fixação de juros, ela caracteriza a onerosidade do
negócio, mas em nada afeta o caráter unilateral do contrato. Isso porque “quem se obriga
a pagá-lo é a mesma parte que nele figura na qualidade de devedor. O mútuo é o único
contrato unilateral oneroso, quando feneratício” (GOMES, 2007, p. 355).
3.2.2 Temporalidade
É característica do mútuo a estipulação de um prazo determinado para a sua vigência, sendo
essa a sua natureza em decorrência da obrigação de restituir o bem, objeto do empréstimo.
Por outro lado, se o contrato for firmado de forma vitalícia ou perpétua, estaria caracterizada
uma compra e venda ou então uma doação (DINIZ, 2003). Assim sendo, sem um tempo
certo fixado, o mútuo se tornaria inviável, pois é de sua natureza ser um contrato de longa
duração. Por esse motivo, no silêncio do contrato, o Código Civil pontua uma relação de
prazos supletivos, iniciando-se a contagem com a tradição do bem (VENOSA, 2017). São eles
(BRASIL, Lei Nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Art. 592):
72
Sumário
Contratos de empréstimo
3. Contrato de mútuo
a. se o mútuo se referir a produtos agrícolas, para consumo ou para semeadura, ele
se findará até a próxima colheita, já que essa é a época em que o mutuário terá o
capital necessário para pagar o mutuante.
Nota-se que essas disposições estão em consonância com aquelas preconizadas pelo Direito
das Obrigações (BRASIL, Lei Nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Art. 331), em que se prevê
a satisfação imediata da coisa dada em empréstimo quando não for estabelecida a época
do cumprimento da obrigação (ROSENVALD, 2007).
Nas lições de Orlando Gomes, a gratuidade não é da essência do mútuo, mas sim da sua
natureza. “Em Direito Civil, só não é gratuito se for expressamente estipulado o contrário.
Tal estipulação se permite. Toma, então o nome de mútuo feneratício ou frutíferos, sendo
normalmente oneroso o mútuo de dinheiro” (GOMES, 2007, p. 318). Já no entendimento de
Silvio Rodrigues:
O Código, tendo em vista a concepção tradicional, presumiu gratuito o mútuo. Tal ideia
de repulsa à onerosidade do empréstimo em dinheiro, representava um sentimento
muito difundido e que se apoiava na concepção de que como o dinheiro não gera
dinheiro – numus numum non gerat –, não se justificava o recebimento de interesse
por parte do mutuante (RODRIGUES, 2004, p. 268).
73
Sumário
Contratos de empréstimo
3. Contrato de mútuo
Desse modo, a gratuidade se revela quando não for fixada uma contraprestação para o
mutuante, sendo que o mutuário se beneficiaria apenas com o empréstimo. Ao contrário,
estipulado uma remuneração ao mutuante, haverá também sacrifício patrimonial do
mutuário, convertendo-o em um negócio jurídico oneroso (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO,
2011). Nessa perspectiva, pode-se concluir que a onerosidade se presume nessa modalidade
de empréstimo. A finalidade econômica é que definirá o mútuo, já que, nesse caso, o negócio
não é feito por simples amizades ou benesses do mutuante. Ao contrário, busca uma
contraprestação ou remuneração (GONÇALVES, 2017).
Para melhor entender esse assunto, vamos verificar um caso de aplicação prática da
gratuidade e da onerosidade do contrato de mútuo.
3. Contrato de mútuo
o consumo pelo mutuário (VENOSA, 2017). Outro reflexo da fungibilidade é que o mutuário
poderá usar da coisa emprestada da forma como melhor lhe aprouver, inclusive, abandoná-
la, aliená-la, dá-la em submútuo sem autorização do mutuante, além de consumi-la (DINIZ,
2003). Essas características permitem identificar o mútuo como sendo um contrato real,
já que não basta o mero acordo de vontades para a sua formalização. É imprescindível a
entrega da coisa emprestada que se revela como um dos pressupostos de existência do
próprio negócio (RODRIGUES, 2004). Não obstante, em decorrência dessa característica, o
mútuo se enquadra na categoria de contrato translativo (GONÇALVES, 2017).
Nesse panorama, a tradição é o meio pelo qual o bem alcançará o mutuário e permitirá a
satisfação de suas necessidades econômicas. A função econômica do mútuo é o fato de
permitir a criação e a circulação do crédito, pois caracteriza-se pela obtenção de um bem
para ser posteriormente devolvido, baseado na fidúcia entre os contratantes (GAGLIANO;
PAMPLONA FILHO, 2011). Desse fato decorre que, recebendo em empréstimo coisa fungível, o
mutuário se torna seu proprietário, passando a ele os riscos pela perda ou deterioração. É a
aplicação do princípio res perit domino (BRASIL, Lei Nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Art.
587, segunda parte) (DINIZ, 2003). Assim, se agir de má-fé, arcará com os prejuízos causados
ao mutuante. No caso da boa-fé, caberá ao mutuário exigir a obrigação do mutuante
(RODRIGUES, 2016).
O contrato de mútuo poderá ser alterado quando o mutuário sofrer notória mudança em
sua situação econômica, antes do vencimento da obrigação, de modo a exigir uma garantia
de restituição da coisa emprestada (BRASIL, Lei Nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Art.
590). A intenção do legislador ao estabelecer essa norma é de proteger o mutuante, já
que aquiesce em pactuar o mútuo analisando as condições econômicas do mutuário no
momento da celebração do contrato. Assim, se elas têm uma significativa redução e de
conhecimento geral, a ponto de comprometer ou colocar em risco a devolução da coisa
emprestada, ainda que em gênero, qualidade e quantidade, parece justo que as disposições
inicialmente contratadas sejam revistas para exigir garantias de restituição, de modo a se
ajustar a atual realidade econômica do mutuário.
As categorias de garantias que podem ser estipuladas nesse caso são: a real (penhora,
hipoteca ou anticrese), a fidejussória (fiança) ou a caução de dinheiro feita mediante 75
depósito bancário e autorização judicial (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2011). Caso o mutuário Sumário
Contratos de empréstimo
3. Contrato de mútuo
não atenda a essa exigência incorrerá em pena de vencimento antecipado da obrigação,
arcando com todas as consequências advindas desse ato (RODRIGUES, 2004).
O contrato de mútuo, para que seja revestido de validade e tenha eficácia jurídica plena,
deve preencher determinados requisitos de cunho subjetivo, objetivo e formal, sob pena de
ser declarado nulo de pleno direito, ou anulável, considerando as circunstâncias do caso
concreto (BRASIL, Lei Nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Arts. 166 e 171).
3. Contrato de mútuo
3.3.1.1 Capacidade das partes
A capacidade civil é, em breve síntese, a habilidade que a pessoa natural ou a jurídica, por
analogia, possui para adquirir direitos e contrair obrigações. Desse modo, a capacidade
para fins de celebração do mútuo é, a rigor, aquela comum ou ordinária, a mesma que é
exigida para os atos da vida civil em geral (BRASIL, Lei Nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002.
Arts. 3º, 4º e 5º).
77
Sumário
Contratos de empréstimo
3. Contrato de mútuo
3.3.1.2 Consentimento
Figura 18 Consentimento
No ponto de vista de Maria Helena Diniz, “não se requer, obrigatoriamente, uma manifestação
direta da vontade; será suficiente o consentimento indireto, pois nada impede que alguém,
tacitamente, permita a outrem usar e gozar de imóvel que lhe pertence, desde que o
ocupante lhe pague um preço correspondente a esse uso e gozo” (DINIZ, 2003, p. 102).
78
Sumário
Contratos de empréstimo
3. Contrato de mútuo
3.3.2 Requisitos objetivos
Figura 19 Requisitos objetivos
O objeto do mútuo, como citado, segundo a norma jurídica, diz respeito à coisa fungível, ou
seja, aquela que pode ser substituída, independentemente do seu valor, porque, firmado
esse negócio jurídico, coisa assemelhada em gênero, qualidade e quantidade deve ser
restituída ao mutuante.
3. Contrato de mútuo
necessariamente suscetível de consumo. Por esse motivo, é imprescindível que, regra geral
seja lícito, possível física e juridicamente, determinado ou no mínimo determinável, sob
pena de nulidade do contrato (BRASIL, Lei Nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Arts. 104,
inciso II e 166, inciso II).
Nesse cenário, os bens imóveis não podem ser objeto de mútuo, embora certas espécies
podem ser consideradas fungíveis, como é o caso de lotes de loteamento para o loteador
e as unidades condominiais para o incorporador imobiliário (VENOSA, 2017). O dinheiro é o
objeto de mútuo mais comum em razão de ser coisa fungível por excelência. Outros, menos
frequentes são: ações e títulos (GOMES, 2007).
3. Contrato de mútuo
se o mutuante ou o mutuário sejam residentes e domiciliados no exterior (BRASIL, Lei Nº
10.406, de 10 de janeiro de 2002. Arts. 315 e 318) (DINIZ, 2003).
Para a formação dos contratos em geral, o ordenamento não exige forma específica para
a validade e a eficácia do negócio jurídico. A princípio, vigora a liberdade de forma, já que
as partes podem celebrar o contrato da maneira que melhor atender aos seus interesses
privados, desde que previamente convencionada. Assim, os contratantes podem eleger o
tipo de instrumento (público ou particular) e até mesmo a forma verbal, salvo nos casos em
que a lei, para dar maior segurança e credibilidade ao negócio, determine expressamente
que seja escrito, sob pena de nulidade do negócio jurídico (BRASIL, Lei Nº 10.406, de 10 de
janeiro de 2002. Art. 166, incisos IV e V).
Essas mesmas regras e princípios são observados pelo mútuo, que se caracteriza por ser
um contrato não solene, admitindo-se, inclusive, a modalidade verbal, com exceção do
mútuo feneratício, como se verá que (BRASIL, Lei Nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Art.
591) (DINIZ, 2003). A feitura do contrato e a sua execução podem ser comprovadas inclusive
por confissão. Entretanto, a formalização por escrito confere mais eficácia ao negócio em
especial se, diante do caso concreto, houver a necessidade de distingui-lo da doação ou do
comodato, por exemplo (PEREIRA, 2017).
81
Sumário
Contratos de empréstimo
3. Contrato de mútuo
Diante dessas premissas, pode-se dizer que, quanto à formalidade, o mútuo, assim como
acontece no comodato, é um contrato ad probationem tantum. A solenidade servirá apenas
para fazer prova do negócio jurídico celebrado, não exigindo solenidade ad substantiam
(VENOSA, 2017).
O mútuo, assim como outros negócios jurídicos, comporta algumas modalidades. Entre
aquelas mais usuais na prática jurídica do dia a dia, destacam-se: a promessa de mútuo, o
mútuo feito a pessoa menor e o mútuo feneratício.
3. Contrato de mútuo
A promessa de mútuo é um instituto pouco festejado pelos autores e a corrente majoritária
é no sentido de não permitir a sua constituição em decorrência da incompatibilidade com
a própria sistemática do instituto (RODRIGUES, 2016). No entanto, existem posicionamentos
divergentes, admitindo-se a promessa quando tiver por objeto empréstimo oneroso
(GAGLIANO PAMPLONA FILHO, 2011).
Seja como for, a promessa de mútuo pode ser unilateral ou bilateral, conforme o mutuário
fique, ou não, obrigado a receber a quantia ou a coisa prometida. Ademais, é suscetível de
revogação por parte do mutuante quando houver ficar constatado que houve consideráveis
modificações na situação patrimonial do mutuário, a ponto de induzi-lo a insolvência.
Entretanto, recusando-se injustificadamente a firmar o mútuo, o mutuante responderá por
perdas e danos (PEREIRA, 2017).
Vejamos os seguintes julgados do Superior Tribunal de Justiça para ilustrar o que ora foi
abordado: a) Rio de Janeiro. AgInt nos EDcl no Recurso Especial nº 1.818.042 (2019/0157184-9).
SPE Guanumbi – Empreendimento Imobiliário LTDA versus Denner Evangélio de Conceição e
outro. Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 26/04/2021. Acesso em: 30 mai. 2021; e b) Rio Grande
do Norte. AgInt no Recurso Especial nº 1.606.103 (2016/0153327-5). Caixa Econômica Federal
versus Ramonn De Azevedo Coutinho e outros. Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 21/11/2019.
Acesso em: 30 mai. 2021.
3. Contrato de mútuo
Em Roma, o filho de um senador contraiu empréstimo e, na
impossibilidade de pagá-lo, matou o próprio pai a fim de obter a
herança necessária ao pagamento. Impressionado, o Senado editou
uma medida: senatosconsulto macedoniano, pelo qual o mútuo
contraído sem representação ou assistência do incapaz não poderia
ser posteriormente cobrado do mutuário ou de seus fiadores. Essa
é a origem do mútuo feito a pessoa menor (ROSENVALD, 2007).
No Direito atual, esse instituto é norma de ordem pública e tem a função de proteger o
menor que, normalmente, é inexperiente quanto às práticas empresariais e, muitas vezes,
pode se encontrar sujeito à negócios maliciosos (RODRIGUES, 2016).
O mútuo, como qualquer outro contrato, está sujeito aos requisitos de validade do negócio
jurídico, conforme preconizado no Código Civil (BRASIL, Lei Nº 10.406, de 10 de janeiro de
2002. Art.104). Entre eles, destaca-se a capacidade das partes, que pressupõe que todos
os contratantes sejam maiores e capazes. Ocorre que, nesse caso, o ordenamento admite
a validade e a eficácia do negócio feito a menor, mas com certas restrições (GAGLIANO
PAMPLONA FILHO, 2011).
Sem embargo, a própria legislação civil preconiza algumas hipóteses em que o mutuante
poderá exigir a restituição do que fora emprestado ao menor (BRASIL, Lei Nº 10.406, de 10
de janeiro de 2002. Art. 589). São elas:
3. Contrato de mútuo
b. se, estando ausente o representante legal, o menor se viu obrigado a celebrar
o mútuo para seus alimentos habituais. Nesse caso, a urgência e a necessidade
justificam e validam a celebração do contrato. Por “alimentos habituais”, devem
ser entendidos tudo aquilo que é imprescindível para que o menor tenha uma
existência digna e com dignidade, tais como: alimentação, vestuário, educação,
saúde, entre os principais, até mesmo em respeito à norma constitucional, que
trata do direito à vida (BRASIL, Constituição da República, de 5 de outubro de
1988. Arts. 1º, inciso III e 5º, caput). Assim, a restituição se justifica pelo fato de
o empréstimo ser contraído com fins relevantes, e não para estimular o ócio
(GAGLIANO PAMPLONA FILHO, 2011). De outro lado, haveria um enriquecimento
imotivado do menor se o mutuante não pudesse cobrar aquilo que emprestou. “A
expressão alimentos habituais afasta a possibilidade de se validar empréstimos
supérfluos efetuados pelo menor, que constituam esbanjamento de dinheiro e não
satisfaça as necessidades retromencionadas” (GONÇALVES, 2017, p. 354).
c. se o menor tiver bens adquiridos com o seu trabalho. No entanto, essa é uma
situação que comporta algumas contradições com outras normas do ordenamento.
Segundo a Constituição da República (BRASIL, Constituição da República, de 5 de
outubro de 1988. Art. 7º, inciso XXXIII), a capacidade laboral é aos 16 anos, e abaixo
dessa idade somente poderá atuar como aprendiz. Por outro lado, nessas condições,
o menor com economia própria será emancipado, conforme as disposições do
Código Civil (BRASIL, Lei Nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Art. 5º, inciso V). Seja
como for, adquirido patrimônio, o menor poderá ser demandado para pagar o
mútuo (ROSENVALD, 2007). No ponto de vista de Carlos Roberto Gonçalves, essa
norma só se aplica quando o trabalho não tenha emancipado o menor. Melhor
explicando: se, em função da atividade exercida, não tiver economia própria, ou
tendo, não haja ainda completado dezesseis anos (GONÇALVES, 2017). A intenção do
legislador ao instituir essa norma é de proteger a dignidade do menor, preservando
um piso mínimo de direitos, segundo o Estatuto Jurídico do Patrimônio Mínimo
(TARTUCE, 2017). Não se perca de vista que somente aquilo que for resultado do
seu trabalho é que poderá ser alvo de execução pelo mutuante (BRASIL, Lei Nº
10.406, de 10 de janeiro de 2002. Art. 391).
3. Contrato de mútuo
ou seja, a pessoa que deveria autorizá-lo. Como mencionado, o direito não tolera
que “se locuplete à custa alheia, ao mutuante é lícito reaver o que emprestou,
acionando aquele que se aproveitou, e não o menor, cujos bens se põem forros
de garantia” (PEREIRA, 2017, p. 350).
Nesse ponto, vale lembrar que os juros nada mais são do que um
fruto civil. Em breve síntese, são fixados por lei ou convencionados
entre os contratantes e podem ser classificados em compensatórios e
moratórios, calculados de forma simples ou composta (anatocismo),
nos casos permitidos pela lei. Os juros compensatórios são, regra
geral, convencionados, mas também podem ser estabelecidos
legalmente ou de decisão jurisprudências, nos termos da Súmula
164. Já os moratórios são indistintamente fixados por acordo de
vontades ou pela lei (GAGLIANO PAMPLONA FILHO, 2011).
86
Sumário
Contratos de empréstimo
3. Contrato de mútuo
O ordenamento sempre teve a preocupação de limitar os juros no Brasil. Tanto isso é verdade
que o assunto é tratado no Código Civil (BRASIL, Lei Nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Art.
406), que estabelece, em apertada síntese, que os juros deverão estar limitados a taxa que
estiver em vigor para a mora do pagamento de impostos devidos à Fazenda Nacional (DINIZ,
2003). Esse dispositivo sempre foi alvo de grande polêmica doutrinária e jurisprudencial,
sendo que até hoje o assunto ainda não foi pacificado. Em complemento a essa regra, o
Código Tributário Nacional (BRASIL, Lei Nº 5.172, de 25 de outubro de 1966. Art. 161, parágrafo
primeiro) permite e considera o teto dos juros moratórios em um por cento ao mês, se a lei
não dispuser de outro modo.
Esses dispositivos são de extrema importância, porque o mútuo feneratício está sujeito às
regras ali preconizadas, conforme pode ser verificado da redação do Código Civil BRASIL,
Lei Nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Art. 591), por se tratar de um contrato oneroso
remunerado. Em regra, os juros são presumidos nessa modalidade de empréstimo e o caso
concreto definirá quando o mútuo não terá essa finalidade econômica (GONÇALVES, 2017).
É nesse mesmo sentido que segue a Súmula 34, da I Jornada de Direito Civil da Justiça
Federal: “No novo Código Civil, quaisquer contratos de mútuo destinados a fins econômicos
presumem-se onerosos (art. 591), ficando a taxa de juros compensatórios limitada ao
disposto no art. 406, com capitalização anual.”
3. Contrato de mútuo
Alves Ferreira versus Itaú Unibanco Holding S.A. Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 11/05/2021.
Acesso em: 30 mai. 2021; b) São Paulo. AgInt no Recurso Especial nº 1.849.384 (2019/0345327-5).
Lourdes Soares de Lima versus Sul América Companhia Nacional de Seguros. Rel. Min. Maria
Isabel Gallotti, j. 03/05/2021. Acesso em: 30 mai. 2021; e c) Distrito Federal. AgInt no Agravo
em Recurso Especial nº 1.704.238 (2020/0118911-4). Banco Bradesco S.A. versus Charopin
Transporte Rodoviário de Cargas LTDA. Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 12/04/2021. Acesso
em: 30 mai. 2021.
A celebração do contrato de comodato, como é da sua substância, faz nascer, de modo geral,
direitos e obrigações, uma vez que a todo direito corresponde um dever correlato. Vale
lembrar que, como qualquer outro contrato, o mútuo é fonte de obrigações, que passam a
ser exigíveis a partir da celebração do negócio jurídico (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2011).
Com efeito, ao contrário do que ocorre com o comodatário, o ordenamento se eximiu de
estabelecer expressamente um rol de direitos e obrigações do mutuante e do mutuário.
No entanto, eles podem ser deduzidos a partir da análise dos dispositivos que regulam e
disciplinam o mútuo no ordenamento. 88
Sumário
Contratos de empréstimo
3. Contrato de mútuo
Via de regra, por ser um contrato unilateral e real, apenas o mutuário assume efetivamente
obrigações, que é restituir aquilo que lhe foi emprestado no mesmo gênero, qualidade e
quantidade; e na sua falta, pagar o seu valor equivalente. Do lado do mutuante, a rigor,
a única obrigação que lhe cabe, originada diretamente da relação contratual, é entregar
o objeto do mútuo, transferindo ao mutuário a propriedade da coisa para que possa ser
por ele consumida. Eventualmente, o mutuante terá a obrigação de indenizar o mutuário
pelos danos causados em decorrência dos defeitos ou vícios da coisa que eram do seu
conhecimento ou em decorrência de evicção (GONÇALVES, 2017). Silvio de Salvo Venosa, ao
tratar do assunto, seguindo as lições de Caio Mário da Silva Pereira (PEREIRA, 2017) assevera
que:
No tocante aos direitos do mutante, o principal deles é exigir a restituição do bem dado
em empréstimo ao término do prazo fixado, bem como exigir uma garantia de restituição,
como mencionado, se antes do vencimento o mutuário sofrer considerável e notória
modificação em sua situação econômica (BRASIL, Lei Nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002.
Art. 590) (VENOSA, 2017). E ainda, é direito do mutuante pleitear a resolução do contrato se,
no mútuo feneratício, o mutuário deixar de pagar os juros. Nesse caso, é obrigação desse
pagá-los, conforme fixados na lei ou no contrato (DINIZ, 2003).
89
Sumário
Contratos de empréstimo
3. Contrato de mútuo
Quadro 04 Direito e deveres do mutuante
DIREITOS OBRIGAÇÕES
Exigir a restituição do objeto do Entregar o bem, objeto do mútuo,
empréstimo ao término do prazo fixado. transferindo ao mutuário a propriedade.
Exigir uma garantia de restituição, se Indenizar o mutuário pelos danos causados
antes do vencimento, o mutuário sofrer em decorrência dos defeitos ou vícios
considerável e notória modificação da coisa emprestada que eram do seu
em sua situação econômica. conhecimento ou por conta da evicção.
Pleitear a resolução do contrato se,
Não interferir no consumo da coisa
no mútuo feneratício, o mutuário
emprestada durante a vigência do contrato.
deixar de pagar os juros.
Não exigir a restituição da coisa
emprestada antes do término no
prazo ajustado, salvo justo motivo.
DIREITOS OBRIGAÇÕES
Restituir o bem emprestado no mesmo
Receber o bem, objeto do mútuo, e
gênero, qualidade e quantidade; e na sua
a transferência da propriedade.
falta, pagar o seu valor equivalente.
Receber indenização pelos danos causados
em decorrência dos defeitos ou vícios da Pagar os juros, conforme fixados na lei
coisa emprestada que não eram do seu ou no contrato, no mútuo feneratício.
conhecimento ou por conta da evicção.
Exigir a não interferir do mutante
no consumo da coisa emprestada
durante a vigência do contrato.
90
Sumário
Contratos de empréstimo
3. Contrato de mútuo
3.6 Extinção do mútuo
Figura 23 Extinção do mútuo
O comodato, como qualquer outra espécie contratual, pode ser extinto por diversas formas.
A princípio, vislumbra-se a possibilidade de resilição bilateral (BRASIL, Lei Nº 10.406, de 10 de
janeiro de 2002. Art. 472), por meio do distrato, quando a continuidade do negócio jurídico
não interessar mais a ambos os contratantes (DINIZ, 2003)
Nos contratos estipulados por prazo indeterminado, a resilição unilateral também pode
encerrar o mútuo, desde que a lei expressa ou implicitamente a permita. Nessa modalidade,
é imprescindível que o contratante interessado na resilição notifique o outro de sua intenção
de findar o contrato (BRASIL, Lei Nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Art. 473), para garantir
que o denunciado não seja surpreendido imotivadamente. Se a iniciativa for do mutuário,
este deverá efetuar a devolução de coisa assemelhada ou, havendo a recusa imotivada
do mutuante, consignar ou depositar judicialmente, se se tratar de dinheiro (GONÇALVES,
2017). De igual modo, o mútuo poderá também ser extinto por resolução (pacto comissório
ou cláusula resolutória) quando o mutuário não cumprir com as obrigações assumidas
(VENOSA, 2017).
3. Contrato de mútuo
evidenciado por uma situação de que o mutuário que não cumprir com a prestação que
lhe cabe poderá antecipar-se, requerendo o desfazimento do contrato antes do termo final
(FARIAS; BRAGA NETTO; ROSENVALD, 2018).
Vale lembrar que nessa modalidade, que tem conexão direta com a regra prevista no Código
Civil (BRASIL, Lei Nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Art. 477) e ocorre quando uma obrigação
antes de se tornar exigível, já se denota de antemão que não haverá possibilidade de ser
executada. Isso ocorre porque, de acordo com a situação do negócio ou com a condição
econômica de um dos contratantes, há efetiva manifestação no sentido de não cumprir a
obrigação. Poderá ser pleiteado caso o mutuante não obtenha outras garantias por parte
do mutuário, sendo solicitado. Assim, esse poderá propor ação de resolução com pleito
indenizatório ou executar a prestação (FARIAS; BRAGA NETTO; ROSENVALD, 2018).
Bibliografia Comentada
Veja a seguir algumas indicações de leitura que poderão complementar seus estudos. Essa
leitura não é obrigatória, porém, poderá ampliar seu conhecimento em relação ao assunto
abordado na unidade.
3. Contrato de mútuo
O texto sugerido aborda uma importante questão: os valores concedidos a título de mútuo
são creditados em conta corrente de natureza alimentícia para pagamento em parcelas
mensais, desde que devidamente autorizada pela instituição financeira. Para tanto, parte
da análise do estudo de um caso concreto ocorrido na cidade do Campo dos Goytacazes. É
um artigo bastante interessante, não apenas pela temática, mas pela forma como o autor
trata de um assunto tão importante.
CAMPOS. Rodrigo Fustinoni. Como levantar capital para sua startup – contrato de mútuo
conversível. JusBrasil. 4 fev. 2021. Disponível em: https://rodrigofustinonicampos.jusbrasil.
com.br/artigos/1163170082/como-levantar-capital-para-sua-startup-contrato-de-mutuo-
conversivel. Acesso em: 31 mai. 2021.
O texto indicado trata de uma temática bastante importante para a sociedade em que
vivemos: o consumo por meio da economia compartilhada, propondo uma interpretação
jurídica sobre a questão. Para tanto, analisa alguns modelos de negócios e conclui as
autoras que ao comprar por meio de uma economia colaborativa, na concessão de crédito
via financiamento colaborativo, a lei que se aplica não é diferente da lei aplicada aos
empréstimos ao consumidor. É um artigo que vale a pena se estudado à luz da teoria aborda
na presente unidade.
93
Sumário
Contratos de empréstimo
3. Contrato de mútuo
Mapa Conceitual
Conclusão
Na presente unidade demonstramos que o mútuo é caracterizado como um empréstimo
destinado ao consumo e, por isso, tem como objeto coisa fungível e consumível, sendo
que o bem mais utilizado nessa modalidade contratual é o dinheiro. Isso significa que, ao
expirar o prazo contratualmente ajustado entre os contratantes ou, em não sendo fixado, nos
termos daqueles previstos de forma supletiva na norma jurídica, o mutuário restituirá coisa
incerta, no mesmo gênero, qualidade e quantidade. Por essa razão, o mútuo não comporta o
empréstimo de bens imóveis, ainda que certas espécies possam ser consideradas fungíveis,
como é o caso de lotes de loteamento para o loteador e as unidades condominiais para o
incorporador imobiliário.
O mútuo é caracterizado por ser unilateral e temporário, que pode ser firmado de forma
gratuita ou onerosa, intuitu personae e fiduciária, demandando, para a sua concretização,
a efetiva transferência de propriedade do bem, objeto de contrato, para o domínio do
mutuário. Daí exsurge que o mútuo é um contrato real.
Como qualquer outro negócio jurídico, em especial o comodato, esse instituto demanda a
observância de certos requisitos gerais (subjetivos, objetivos e formais) para a sua validade
e eficácia, sendo preconizados na teoria dos contratos, como é o caso da capacidade dos
contratantes, do objeto lícito, possível, determinado ou determinável e da informalidade. 94
Outros são específicos desse negócio jurídico, tais como: a natureza do bem, objeto do Sumário
Contratos de empréstimo
3. Contrato de mútuo
empréstimo, como visto. Preenchidos esses requisitos, o mútuo será um contrato válido,
sendo que, via de regra, o mutuante somente poderá exigir a restituição da coisa emprestada
antes do término no prazo ajustado, salvo justo motivo.
Nessa perspectiva nascem direitos e obrigações para o mutuante e para o mutuário. Por
ser um contrato unilateral e real, apenas esse contrai obrigações, sendo a principal a de
restituir aquilo que lhe foi emprestado no mesmo gênero, qualidade e quantidade; e na sua
falta, pagar o seu valor equivalente.
Do lado do mutuante, regra geral, a única obrigação que lhe cabe, ainda que não haja
consenso entre os doutrinadores, é entregar o objeto do mútuo naquelas condições,
transferindo ao mutuário a propriedade da coisa para que possa ser por ele consumida.
Eventualmente, o mutuante terá a obrigação de indenizar o mutuário pelos danos suportados
em decorrência dos defeitos ou dos vícios da coisa que eram do seu conhecimento.
É certo que outras obrigações e direitos nascem para ambos os contratantes, sendo
considerados derivados e complementares desses principais porque, no nosso ordenamento,
a todo direito corresponde um dever correlato, sendo o contrato fonte de obrigações, que
passam a ser exigíveis a partir da celebração de um negócio jurídico válido.
Não obstante, o mútuo comporta algumas modalidades especiais. No entanto, talvez o mais
usual na prática jurídica e nas relações sociais seja o mútuo feneratício ou a juros. Dessa
forma, o mútuo, assim como o comodato, é um importante instrumento que propicia o
aporte de recursos e desempenha uma importância função social, à medida que permite a
abertura e a circulação do crédito, e a transferência de bens do patrimônio de uma pessoa
a outra, objetivando a obtenção de uma utilidade econômica a partir dessa transmissão
de posse.
95
Sumário
Contratos de empréstimo
Referências
3. Contrato de mútuo
Referências
BRASIL, Constituição da República, de 5 de outubro de 1988. Diário Oficial da União: Brasília,
1988.
BRASIL. Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Institui o Código Penal. Diário Oficial
da União: Rio de Janeiro, 1940.
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário Oficial da União:
Brasília, 2002.
DINIZ, Maria Helena. Tratado teórico e prático dos contratos, 5. ed. rev. ampl. e atual. de
acordo com o novo Código Civil. V. 3. São Paulo: Saraiva, 2003.
FARIAS, Cristiano Chaves de; BRAGA NETTO, Felipe; ROSENVALD, Nelson. Manual de Direito
Civil. Volume Único. 2. ed. Salvador: Juspodivm, 2018.
FARIAS, Cristiano Chaves; ROSENVALD, Nelson. Curso de direito civil: parte geral e LINDB, v.
1. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2015.
GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil: contratos em
espécie. 4. ed. V. IV. Tomo 2. São Paulo: Saraiva, 2011.
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: contratos e atos unilaterais. 15. ed. V. 3.
São Paulo: Saraiva, 2017.
JUNIOR, Luís Vieira Carlos; ZAIA, Bruno Luís Scombatti. Arrendamento mercantil para
empresas: uma maneira de conseguir bens de capital. Revista REGRAD, UNIVEM, v. 11, n. 1,
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MENDES, Pedro Puttini. Vaca-papel. Scot Consultoria. 16 out. 2020. Disponível em: <https://
www.scotconsultoria.com.br/noticias/artigos/53280/vaca-papel.htm>. Acesso em: 14 mai.
2021.
3. Contrato de mútuo
MIRANDA, Pontes de. Tratado de direito privado: parte especial. V. 42. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2012.
MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de Direito Civil: direito das obrigações. 2ª parte. 41.
ed. São Paulo: Saraiva, 2014.
MOREIRA, Camila Ramos. Built to suit: particularidades e a lei 12.744/2012. Revista de Direito
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PEREIRA, Caio Mario da Silva. Instituições de direito civil: contratos, declaração unilateral de
vontade, responsabilidade civil. 21. ed. V. 3. Rio de Janeiro: Forense, 2017.
RODRIGUES, Fabrício Dias. Código Civil interpretado: artigo por artigo, parágrafo por parágrafo.
Coord. Costa Machado; Chinellato, Silmara Juny. 9. ed. São Paulo: Manole, 2016.
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ROSENVALD, Nelson. In: PELOSO, Cezar (coord.). Código Civil comentado: doutrina e
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SAHM, Regina. Código Civil interpretado: artigo por artigo, parágrafo por parágrafo. Coord.
Costa Machado; Chinellato, Silmara Juny. 9. ed. São Paulo: Manole, 2016.
SCAVONE JUNIOR, Luis Antonio. Contrato “built to suit” e a Lei do Inquilinato. [s.d.]. Disponível
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TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil: volume único. 7. ed. São Paulo: Método/GEN, 2017. 97
Sumário
Contratos de empréstimo
3. Contrato de mútuo
VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil: contratos. 17. ed. V. 3. São Paulo: Atlas, 2017.
VENOSA, Silvio de Salvo. Lei do inquilinato comentada: doutrina e prática. 15. ed. São Paulo:
Atlas, 2020.
98
Sumário