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de Compra
e Venda
Contrato de Compra e Venda
Editorial
PUC Campinas
Todos os direitos reservados.
Proibida a reprodução total ou parcial em qualquer mídia sem a autorização.
Autor
Wallace Leite Nogueira
Revisão técnica
Uol EdTech
Projeto gráfico
Uol EdTech
Figura 03 Colheita futura. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
Figura 04 Onerosidade contratual. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
Figura 05 Contrato solene. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
Figura 06 Bem imóvel. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
Figura 07 Preço.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
Figura 08 Formação de preço. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
Figura 09 Consentimento. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
Figura 10 Amostras. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
Figura 11 Protótipo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
Figura 12 Modelo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
Figura 13 Venda sujeita à prova. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
Figura 14 Venda ad mensuram. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
Figura 15 Venda ad corpus.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
Figura 16 Venda de ascendente a descendente. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
Figura 17 Proibição de venda.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64
Figura 18 Condômino. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
Figura 19 Venda entre cônjuges. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
3
Figura 20 Venda com exclusividade. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
Sumário
Lista de figuras
Contrato de Compra e Venda
Figura 21 Retrovenda. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
Figura 22 Preferência/Preempção.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74
Figura 23 Venda com reserva de domínio.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76
Figura 24 Venda sobre documentos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80
Figura 25 Riscos da coisa.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84
Figura 26 Compromisso de compra e venda.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92
Figura 27 Adjudicação compulsória. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 94
Figura 28 Compra e venda Internacional. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 98
Figura 29 Incoterms.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 101
Figura 30 Responsabilidade do vendedor. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 102
Figura 31 Convenção Internacional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 112
Figura 32 Contratos eletrônicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 116
4
Sumário
Lista de tabelas
Contrato de Compra e Venda
internacionais.... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107
Tabela 03 Incoterms e seus modais de transporte. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 110
5
Sumário
Contrato de Compra e Venda
Sumário
Unidade 1 Contrato de Compra e Venda. . . . . . . . . . . . . 14
Apresentação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
Sumário
Bibliografia Comentada. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
Mapa Conceitual. 50
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Conclusão. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
Apresentação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
Sumário
2.1.2.5 Pacto comissório e pacto de melhor comprador (CC
1916). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82
2.1.3 Riscos do contrato de compra e venda. . . . . . . . . . . . . . 83
Bibliografia Comentada. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86
Mapa Conceitual. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87
Conclusão. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87
Bibliografia Comentada. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 117
Conclusão. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 118
Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 120
9
Sumário
Contrato de Compra e Venda
Iconografia
Atenção Atividades de
Para saber aprendizagem
Saiba mais
Onde pesquisar Curiosidades
Leitura complementar
Dicas
Glossário Questões
Anotações Citações
Exemplos Downloads
10
Sumário
Contrato de Compra e Venda
Biodata do autor
Wallace Leite Nogueira
Justificativa
Os contratos de compra e venda são utilizados de diversas formas em todo o mundo,
fazendo circular bens e riquezas, não se limitando em operações locais – ocorrendo também
em operações de importação e exportação.
Assim sendo, você poderá aprofundar em questões relacionadas aos contratos de compra e
venda para poder analisar e redigir esse tipo de contrato, identificar problemas em potencial
e conhecer a posição atual de como as Cortes de Justiça no Brasil decidem sobre algumas
das situações levadas a julgamento para poder usar informações no âmbito profissional.
Engajamento
O contato de compra e venda é um dos mais utilizados na atualidade, mas é possível que
uma pessoa o confunda com outra modalidade de contrato, por exemplo, a permuta ou,
ainda, a doação. 11
Sumário
Contrato de Compra e Venda
• Para que seja considerado contrato de compra e venda, é preciso que o preço
sempre seja pago em dinheiro?
Reflita sobre essas questões e anote. Depois de estudar todo o conteúdo, volte às perguntas
e compare as respostas.
Apresentação da disciplina
Prezado(a) estudante, seja bem-vindo(a) ao estudo sobre Contrato de Compra e Venda.
Ao longo do conteúdo, serão abordados desde o conceito do contrato de compra e venda,
características, elementos essenciais, regras especiais, limitações, cláusulas especiais,
riscos da compra e venda, compromisso de compra e venda, contrato de compra e venda
internacional e as incoterms, e a Convenção das Nações Unidas para a Venda de Internacional
de Mercadorias.
Aqui será apresentada uma abordagem de acordo com as doutrinas atuais e predominantes,
legislação aplicável, bem como aplicação prática e problemas que são levados aos tribunais.
Já a unidade 2 tratará das regras especiais e das limitações impostas aos contratos de
compra e venda, bem como das cláusulas especiais e, ainda, dos riscos envolvidos no
contrato de compra e venda.
Por fim, a unidade 3 tratará do compromisso de compra e venda, a venda e compra
internacional com a utilização das principais incoterms e aplicação da CISG, e, por fim, as
novas tendências no tratamento do contrato de compra e venda.
Em cada uma das unidades, é importante que você enquanto aprendiz não deixe de se
dedicar ao conteúdo com muita atenção, para que possa facilmente identificar a ausência
de requisitos ou elementos nesta modalidade de contrato, a fim de construir a boa técnica
de redação de contratos desta natureza, seja para criação ou revisão, bem como buscar
soluções juridicamente viáveis para possíveis problemas.
Bons estudos!
Objetivos da disciplina
Ao final desta disciplina, esperamos que você seja capaz de:
13
Sumário
1
Contrato de Compra e Venda
Contrato de
Compra e Venda
Unidade
Objetivos
Ao final desta unidade, esperamos que possa:
14
Sumário
Contrato de Compra e Venda
Neste estudo, serão levados em consideração não apenas os conceitos herméticos do Direito
Civil, mas a possibilidade de se vislumbrar a transdisciplinaridade ao flertar abertamente
com o Direito Empresarial, na medida em que boa parte da economia mundial gira em torno
de contratos de compra e venda empresariais. Também merecem destaque os aspectos
constitucionais que envolvem o contrato de compra e venda, que vão desde o cumprimento
de sua função social até questões de soberania nacional e, ainda, implicações estudadas
no Direito Internacional Privado.
Aqui será possível verificar que nem todas as coisas podem ser objeto de contrato de compra
e venda e, ainda, como solucionar os casos em que não foi atribuído um dos elementos
essenciais, como o preço e as soluções trazidas pela lei. Será visto como na prática os
Tribunais interpretam e enfrentam o tema na atualidade, de forma a lhe proporcionar,
estudante, a habilidade para identificar possíveis problemas e saber como buscar a solução
para os mesmos.
Sobre moeda, Wessels (2010, p. 158) define: “é um ativo com o qual as pessoas compram e
vendem bens”.
Nesse contexto, a moeda assume papel de grande relevância, na medida em que ela 15
desempenha uma série de funções determinantes:
Sumário
Contrato de Compra e Venda
Dessa forma, verifica-se que a moeda foi crucial para a expansão do contrato de compra e
venda, na medida que se tornou uma alternativa à modalidade de comércio mais comum,
que era a troca (permuta) de bens. A permuta nem sempre guardou proporcionalidade
econômica, pois demandava a necessidade de outrem desejar trocar com o bem que lhe foi
oferecido, ou seja, se não houvesse demanda para determinado bem, poderia não ocorrer
a troca ou o produto seria depreciado.
A moeda teve o condão de fazer com que as operações de troca cedessem espaço à compra
e venda, na medida em que passou a ser possível atribuir preço a praticamente todos os
objetos, foi possível também acumular essas moedas para efetuar compras futuras, o que,
ainda, trouxe a possibilidade de compra e venda a prazo.
O surgimento da moeda foi fundamental para que o contrato de compra e venda fosse
implementado na sociedade de forma maciça, embora existisse a troca de produtos por
metal, antes de serem cunhadas as primeiras moedas, como assevera Caio Mário da Silva
Pereira (2017, p. 74).
A compra e venda se tornou mais usual, e hoje é o contrato mais comum entre as pessoas:
desde uma simples compra de pão até compras internacionais, nas quais, apesar haver 16
moedas diferentes, podem ser utilizadas operações de câmbio destas moedas ou serem
utilizados títulos de créditos, como letras de câmbio, para viabilizar o pagamento do preço. Sumário
Contrato de Compra e Venda
O Código Civil, por sua vez, assim determina, em seu artigo 481: “Pelo contrato de compra
e venda, um dos contratantes se obriga a transferir o domínio de certa coisa, e o outro, a
pagar-lhe certo preço em dinheiro”.
Portanto, além dos conceitos doutrinários, a lei traz, na redação do artigo 481, o conceito
legal do contrato de compra e venda.
Verifica-se, diante dos conceitos citados e da Lei, a existência de duas pessoas com objetivos
distintos: a que detém a propriedade da coisa quer vender; e a que detém o dinheiro e quer
comprar. Se esse contrato for firmado, a obrigação do vendedor será a da entrega da coisa;
e a do comprador, a de pagar o preço em dinheiro. O direito de propriedade é garantido no
artigo 5º da Constituição Federal, que dispõe em seu caput:
Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: [...].
Assim, não basta estar garantido o direito constitucional de propriedade, deve-se verificar
se incide alguma limitação, para, então, se exercitar o direito de usar, gozar e dispor do bem,
quando terá cabimento o contrato de compra e venda. O contrato de compra e venda merece
atenção especial e estudo, vez que traz obrigações para o comprador e para o vendedor.
Outro ponto interessante que merece ser abordado diz respeito aos bens públicos, como
regra os mesmos são inalienáveis, haja vista do que dispõe o artigo 100 do Código Civil:
“Os bens públicos de uso comum do povo e os de uso especial são inalienáveis, enquanto 18
conservarem a sua qualificação, na forma que a lei determinar”. Sumário
Contrato de Compra e Venda
Assim, existe a possibilidade jurídica de aquisição pelo particular de um bem público; e o ato
da compra deverá ser precedido de ato administrativo da Administração Pública consistente
na desafetação. Com isso, a classificação do bem (que antes era de uso comum ou especial)
passa a ser de bem dominical, sendo autorizada sua venda.
Para a venda dos bens, é obrigatório o processo de licitação, com as regras mínimas
previstas na Lei Federal nº 8.666/93 (sendo possível utilizar a Lei de Licitações Estadual
(desde que mais protetiva à Administração Pública que a Lei Federal). Se o bem de que
a Administração Pública quiser se desfazer for imóvel, demanda-se a obrigatoriedade de
autorização legislativa, e o adquirente interessado se sujeitará a modalidade da concorrência
nos termos do que dispõem os artigos 17 e 22 da referida Lei nº 8.666/93, devendo contar
com uma avaliação prévia. Por outro lado, se a venda, for de bens móveis, é dispensada
essa autorização legislativa.
Assim, verifica-se que um bem que, em princípio, não poderia ser objeto de comercialização,
a partir de determinado processo (de desafetação, autorização legislativa e licitação), passou
a ser comercializável – dando possibilidade ao particular de fazer a aquisição e colocá-lo
como sua propriedade. Em seguida, será possível vender o bem a quem estiver interessado
sem a necessidade de maiores entraves jurídicos.
19
Sumário
Contrato de Compra e Venda
Vale destacar que o Código Civil de 1916 (Lei nº 3.071/16) trazia, em seu artigo 69, a previsão
de coisas fora do comércio como “as insuscetíveis de apropriação, e as legalmente
inalienáveis”. Apesar de o Código Civil atual não trazer artigo correspondente, permanecem
as restrições acerca de poder ser objeto da compra e venda. O mar e a luz solar são
exemplos de coisas fora do comércio; e, como exemplos de legalmente inalienáveis, têm-
se as terras ocupadas pelos índios.
Complementando, pode-se afirmar que o contrato de compra e venda, por si só, não é
documento hábil para transferência da propriedade, e terá formas distintas para que isso se
opere – a depender de sua natureza, se “coisa” móvel ou imóvel. Se móvel, a transferência
deverá se materializar através da tradição (entrega da coisa), nos termos do artigo 1.267
do Código Civil; enquanto que, se for coisa imóvel, a propriedade desta será transferida
mediante registro, conforme previsão expressa no artigo 1.227 do mesmo Diploma Legal.
Vale destacar que o contrato de compra e venda no Brasil pode ser subdividido em áreas,
de acordo com o tipo da relação jurídica havida entre as partes, se foi de natureza comercial
(ou empresarial), de natureza civil ou, ainda, de natureza consumerista.
20
Sumário
Contrato de Compra e Venda
Caio Mario da Silva Pereira dispõe que esse tipo de contrato é: bilateral, oneroso, comutativo
(mas pode ser aleatório), consensual (ainda que em alguns casos seja solene) e translativo
da propriedade (como ato causal da transferência da propriedade) (2017, p. 75).
21
Em nosso sentir, o sinalagma, característica imanente aos contratos bilaterais, traduziria
a relação ou nexo de causalidade (reciprocidade) entre as prestações opostas, Sumário
Contrato de Compra e Venda
O contrato de compra e venda, além de ser bilateral, por exigir obrigações de comprador e
vendedor, não é qualquer obrigação: a do comprador, a de pagar o preço; e, em contrapartida
direta, a do vendedor, em entregar a coisa.
22
Sumário
Contrato de Compra e Venda
Outra característica do contrato de compra e venda é ser ele consensual, uma vez que
somente se aperfeiçoa através do mero consentimento. Os contratos consensuais se
contrapõem aos contratos reais, pois, nestes últimos, é imprescindível a entrega da coisa,
que constitui seu objeto (VENOSA, 1992, p. 50). Assim, de acordo com o artigo 482, basta que
exista o simples acordo de vontades no que diz respeito à coisa e ao preço, dispensando-se
a entrega da coisa no momento da conclusão do contrato, tal qual acontece na venda sobre
documentos: a tradição da coisa é efetivada em momento posterior ao da compra e venda.
Como regra geral o contrato de compra e venda não exige uma forma específica, sendo não
solene, mas, em determinadas hipóteses previstas na lei, há a exigência de que siga uma
determinada forma, sendo, portanto, solene, pois sua validade está ligada à sua forma, por
exemplo, a escritura pública para venda de bem imóvel, conforme previsto no artigo 108
do Código Civil.
O contrato de venda de imóvel deverá ser formal, se o valor da compra e venda estiver fora
da limitação legal trazida no artigo 108 do Código Civil:
Não dispondo a lei em contrário, a escritura pública é essencial para a validade dos
negócios jurídicos que visem à constituição, transferência, modificação ou renúncia
de direitos reais sobre imóveis de valor superior a trinta vezes o maior salário mínimo
vigente no país.
Assim, o contrato de compra e venda é, em regra, consensual e não formal, devendo seguir
a forma quando a lei determinar.
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Sumário
Contrato de Compra e Venda
O contrato de compra em venda também pode ser comutativo, na medida em que a coisa
vendida deve existir ao momento em que ocorre o consentimento, mas também a lei admite
que pode ser aleatório, se, no momento da venda, a coisa ainda não existe, ou seja, a
possibilidade de efetuar a compra e venda sobre coisa futura e incerta, por exemplo, uma
colheita.
Ainda que a maior parte dos contratos de compra e venda seja comutativa (prestações
determinadas e equivalência que pode ser apreciada), a legislação em vigor admite que
possa ser um contrato aleatório, nos termos do artigo 483 do Código Civil, que assim
determina: “A compra e venda pode ter por objeto coisa atual ou futura. Neste caso, ficará
sem efeito o contrato se esta não vier a existir, salvo se a intenção das partes era de concluir
contrato aleatório”.
O contrato aleatório é aquele no qual a parte se submete à álea, ou seja, à sorte: deverá se
assumir o risco; e essa modalidade, por sua vez, tem como espécies a emptio spei e a emptio
rei speratae. A primeira é materializada pelo risco da compra de coisa futura que não vier a
existir, prevista no artigo 458 do Código Civil, por exemplo a assunção do risco na compra de
uma safra que não foi colhida. A segunda (emptio rei speratae), por sua vez, se materializa
pela compra de coisa futura sem o risco integral, devendo haver um cumprimento mínimo,
conforme o artigo 459 do Código Civil, servindo como exemplo a compra de uma safra em 24
que se colheram 10% (dez por cento do previsto).
Sumário
Contrato de Compra e Venda
1.2.1.4 Oneroso
O contrato de compra e venda é ainda oneroso, na medida em que tanto o vendedor quanto
o comprador terão vantagens com a compra e venda: o comprador receberá a coisa, e o
vendedor receberá o preço. Assim, se retirar essa característica, não será um contrato de
compra e venda, podendo ser de doação, por exemplo.
A onerosidade contratual tem que estar sempre presente no contrato de compra e venda,
pois gera efeitos para comprador e vendedor: para o comprador, que se desfaz do montante
em dinheiro, adquire a coisa; e para o vendedor, que se desfaz da coisa e passa a ter o 25
dinheiro. Sumário
Contrato de Compra e Venda
Negrão traz a possibilidade da execução; além de poder ser imediata ou diferida, pode
ser de execução sucessiva ou continuada, sendo esta última caracterizada pela reiteração
no tempo dos atos de execução, em prestações devidamente acertadas (consenso) pelas
partes, tanto no que diz respeito ao modo e prazo (NEGRÃO, 2015, p. 246). Como exemplo
dessa modalidade, pode-se utilizar um contrato de fornecimento com prestações mensais
e prazo de fornecimento determinado.
Além dessas características, este contrato pode ser paritário, na medida em que as partes
contratantes têm a faculdade de impor condições e cláusulas que julgarem necessárias.
Todavia, o contrato de compra e venda está amplamente difundido e enraizado nas
sociedades modernas e com finalidade de agilizar uma série de operações de compra e
venda. Há a possibilidade de ser de adesão, também conhecido como contrato de cláusulas
predispostas: uma das partes cria o contrato com suas cláusulas, e a outra parte aceita as
condições ali escritas sem a possibilidade de discussão e modificação de cláusulas ou não.
Esse tipo de contratação (compra e venda) é muito comum em contratos de consumo, mas o
tratamento dispensado ao consumidor é diferente do previsto no Código Civil, aplicando-lhe
o Código de Defesa do Consumidor (Lei nº 8.078/90) com fundamento na sua hipossuficiência,
exigindo que a redação do contrato deve ser feita com clareza e destaque, conforme o
26
parágrafo terceiro do artigo 54 da referida lei e, ainda, a interpretação em favor do consumidor. Sumário
Contrato de Compra e Venda
Pode ser também o contrato principal e contar com uma série de outros contratos acessórios;
o contrato, por exemplo, de seguro visa à assunção do risco da entrega da coisa numa
operação de compra e venda.
Por outro lado, se a venda for de bem imóvel e o vendedor não outorgar a escritura, poderá
o comprador socorrer-se da ação de adjudicação compulsória (ação pela qual o comprador
ou promitente comprador busca a transferência obrigatória de um bem imóvel, desde que
cumpridas certas condições, por exemplo: implemento do prazo, pagamento do preço etc. E
com a sentença, é obtida a carta de adjudicação, que substitui a lavratura de uma escritura 27
definitiva sendo passível de registro, observadas as disposições dos artigos 1.417 e 1.418 do
Código Civil. Sumário
Contrato de Compra e Venda
A transmissão do domínio pode ser efetuada nos termos do artigo 1.267 do Código Civil, ou
seja, pela tradição. Todavia, em outros casos, como na venda de um bem imóvel, demanda
formalidade, pois demanda escritura pública conforme previsão contida no artigo 1.245 do
mesmo Código. Neste último caso, as despesas com escritura e registro serão atribuídas ao
comprador, a não ser que as partes não disponham de outra forma.
A compra e venda pode ainda ser empresarial “quando as partes forem empresárias ou 28
sociedades empresariais e o objeto se destinar à atividade empresarial” (NEGRÃO, 2015, p.
247). Sumário
Contrato de Compra e Venda
Vale destacar que, ainda que o Código Civil não faça distinção entre contratos civis e
empresariais, a Lei de Declaração dos Direitos da Liberdade Econômica (Lei nº 13.874/19)
houve por bem fazer a distinção, conforme a redação do parágrafo primeiro do artigo 1º e
dos incisos V e VIII do artigo 3º.
Vale destacar que a operação de compra e venda pode existir de forma oblíqua ou indireta, tal
como no contrato de leasing (arrendamento mercantil), no qual ao contratante arrendatário
é dada a tríplice possibilidade de escolha ao final do contrato: devolver o bem, efetuar nova
contratação ou adquirir o bem (comprar o bem), pagando o valor residual garantido (VRG).
1.2.2.1 Coisa
Sabe-se que nem todos os bens ou coisas estão disponíveis para serem objeto de compra e 30
venda. A venda de pessoas, que, antes de 1888, era permitida no Brasil, cessou com a abolição Sumário
Contrato de Compra e Venda
As coisas fora do comércio (ex.: rios, ar atmosférico em seu estado natural etc.) ou as
legalmente inalienáveis (ex.: bens de família, bens de menores etc.). A diferença entre as
duas reside no fato de que as coisas fora do comércio nunca poderão ser comercializadas, e
as legalmente, inalienáveis, dependendo da circunstância concreta e mediante autorização
judicial (se for para venda de bem de menor) ou legislativa (para venda de bem público –
visto no capítulo 1.1 desta unidade).
É importante destacar que a coisa objeto da compra deverá ser corpórea; se incorpórea,
não será objeto de compra e venda, mas de cessão de direitos (TARTUCE, 2019, p. 407). A
exemplo disso, está a cessão de direito de uso de marca, pois este é um bem incorpóreo,
que pode ser objeto de cessão.
Outra hipótese em que não há a compra e venda ocorre quando o(s) sócio(s) de uma
sociedade empresária resolvem “vender” a empresa. O que ocorre, na verdade, não é a
compra e venda das cotas sociais, mas de cessão de direitos: os sócios atuais cedem suas
cotas àqueles que serão os novos sócios (deve-se observar que o patrimônio empresarial
é da empresa e não se confunde com o patrimônio dos sócios, podendo a empresa firmar
contratos de compra e venda desses bens).
Assim, não é qualquer coisa que poderá ser objeto da compra e venda. Caio Mario da Silva
Pereira enumera quatro qualidades fundamentais da coisa que será objeto do contrato
de compra e venda: a) existência; b) individuação; c) disponibilidade; e d) possibilidade de
transferência ao comprador (PEREIRA, 2017, p. 77-79).
31
Sumário
Contrato de Compra e Venda
Pela existência, entende o referido autor que, ainda que seja possível elaborar contrato com
coisa futura, a existência da coisa é potencial, ou seja, existe a possibilidade real de existir,
não ficando adstrita ao plano ideológico (PEREIRA, 2017, p. 77). Assim, pode-se exemplificar
esse conceito com a potencial possibilidade de colheita se houve semeadura em solo fértil
na época adequada à determinada cultura.
As hipóteses previstas no artigo 484 do Código Civil são forma de determinação da coisa
na medida em que a coisa que deverá ser entregue deve ser similar a amostra, protótipo
ou modelo. Isso quer dizer que o comprador, ao examinar a coisa entregue e a mesma não
corresponder a amostra (pequena quantidade), protótipo ou modelo, da forma que foi
descrita no contrato, poderá se recusar a receber, e terá como fundamento para tanto o
parágrafo único do referido artigo, que estabelece que, em havendo contradição ou diferença
prevalecerá a amostra, protótipo ou modelo.
No que diz respeito à disponibilidade da coisa, esta tem que estar disponível para ser 32
comercializada. Assim, pode haver formas de indisponibilidade, como a natural, voluntária ou
Sumário
Contrato de Compra e Venda
• Primeira hipótese: se o comprador adquirir coisa que já é sua, ainda que ignore
esta situação.
Na segunda hipótese, Caio Mario da Silva Pereira (2017, p. 79-80) cita três correntes distintas
no que tange a validade do ato:
b. É ato nulo, pois não há o direito do vendedor sobre a coisa; prevista no Código
Civil francês, no artigo 1.599.
c. O ato é anulável, na medida em que pode haver fato novo após a venda, como o
convalescimento com a aquisição da coisa pelo vendedor em momento posterior
à venda ou, ainda, usucapião (o documento translatício pode se caracterizar como
justo título, aliado a outros requisitos da usucapião).
Gagliano e Pamplona, por sua vez, se posicionam no sentido de que, se realizada venda de
coisa que não pertence ao vendedor, o ato é nulo, por ausência de possibilidade jurídica,
mas ressalvam a possibilidade de a coisa vendida ser alheia contanto que o vendedor a
adquira antes que o comprador sofra a perda (GAGLIANO; PAMPLONA, 2019, p. 332).
Assim, a regra geral é que o vendedor tenha a propriedade da coisa quando da venda,
mas é admitida exceção no caso em que o comprador adquirir a coisa de boa-fé, ou seja,
acreditando ser a coisa do vendedor e de fato não ser e o vendedor adquirir a coisa em
momento posterior à venda. Nessa hipótese, o parágrafo primeiro do artigo 1.268 do Código
Civil considera válidas a venda e a data da mesma como sendo a data da tradição. 33
Sumário
Contrato de Compra e Venda
No que tange ao preço, existem alguns requisitos legais, como critérios objetivos para
determinação do mesmo. Em regra, as partes contratantes determinarão o preço nos termos
do que dispõe o artigo 482 do Código Civil. Ainda que, num primeiro momento, o vendedor
tenha atribuído preço à coisa, se o comprador aderir, tem-se que o preço foi determinado
pelas partes contratantes.
O referido artigo 489 reforça o tema quanto trata das condições puramente potestativas,
previstas no artigo 122 do Código Civil, que assim dispõe:
São lícitas, em geral, todas as condições não contrárias à lei, à ordem pública ou aos
bons costumes; entre as condições defesas se incluem as que privarem de todo efeito
o negócio jurídico, ou o sujeitarem ao puro arbítrio de uma das partes.
Por conta da impossibilidade de se deixar apenas que uma parte fixe o preço (em critérios
subjetivos), também não é possível que uma das partes o altere unilateralmente. É de se
observar que, como regra no Direito Civil, ao Juiz não é dada a possibilidade de alteração,
pois, assim, invadiria a autonomia da vontade das partes em relação ao preço. A exceção
admitida no Direito é a revisão judicial do contrato, com fundamento no artigo 317 do
Código Civil (desproporção do valor no momento de execução do contrato) e também
quando uma das partes pleitear a redução de sua prestação, a fim de evitar a onerosidade 34
excessiva (artigo 480 do Código Civil). Nos contratos de consumo, também será possível a
Sumário
Contrato de Compra e Venda
APLICAÇÃO PRÁTICA
A ação foi proposta por pessoa física adquirente de bem imóvel e logrou êxito em sentença
que, dentre outras teses, acolheu a condenação das vendedoras a:
Não bastasse, apesar de tal cobrança ser possível em tese, à luz da Lei nº 4.591/64, no
caso em questão, não há qualquer prova da apuração da diferença do custo da obra,
nem sua especificação ou forma de rateio, violando o dever de prestação de contas
aos compradores. Nenhum documento foi juntado aos autos no sentido de comprovar
a ocorrência de assembleia geral na qual foi deliberada a cobrança de saldo residual,
faltando transparência por parte das requeridas quanto à elucidação da necessidade de
arrecadação de fundos para o término das obras. Incumbia às requeridas demonstrar a
realidade do débito acaso existente e para tanto teve oportunidade processual pertinente.
Contudo, nada proveram nesse sentido. Além disso, a diferença a ser paga foi apurada de
forma unilateral, desrespeitando as normas do Estatuto da Cooperativa e do compromisso
de participação, além de violar o art. 489 do Código Civil.
Além de tudo, segundo o artigo 489 do Código Civil, “Nulo é o contrato de compra e
venda, quando se deixa ao arbítrio exclusivo de uma das partes a fixação do preço”, pois a 36
estipulação arbitrária e unilateral do preço fere a consensualidade do contrato.
Sumário
Contrato de Compra e Venda
No caso apresentado, é possível verificar a aplicação prática do artigo 489 do Código Civil,
na medida em que a formação do preço foi de forma unilateral. Esse fato foi constatado
e julgado pelo Tribunal quando da decisão constou que a cobrança de valor pretendida
não se justifica, pois não observou os requisitos como a demonstração clara e objetiva dos
custos que, em tese, justificariam o incremento no preço, que poderiam ser demonstrado
por uma prestação de contas.
Portanto, uma vez que as recorrentes não se atentaram às normas jurídicas a que estão
subordinadas, a alteração do preço foi considerada de forma unilateral, tanto pelo Juízo
a quo, quanto pelo Tribunal ad quem, que zelaram pela correta aplicação do disposto no
artigo 489 do Código Civil ao caso concreto.
Também será nula a venda se não houver fixação de preço. Para Caio Mario da Silva
Pereira (2017, p. 81-82), a formação do preço, deverá levar com consideração três pontos
fundamentais: dinheiro, seriedade e certeza.
Figura 07 Preço
37
Fonte: SHUTTERSTOCK, 2020. Sumário
Contrato de Compra e Venda
É de se observar, contudo, que a lei não busca o “preço justo”, podendo o dono da coisa
vendê-la por preço inferior ao de mercado para vender rápido.
38
Sumário
Contrato de Compra e Venda
Assim, para que esteja presente o elemento essencial do preço no contrato de compra e
venda, ainda que este não esteja determinado, é fundamental que seja determinável; e o
Código Civil traz algumas previsões de possibilidades de determinação do preço.
Se as partes não fixaram o preço, é possível que ele seja fixado utilizando-se parâmetros
objetivos.
Destarte, é possível que comprador e vendedor escolham uma terceira pessoa que deverá
estimar o preço que servirá de árbitro, de livre escolha as partes contratantes e, em razão
disso estes devem se submeter ao valor estimado pelo árbitro.
A lei não exige uma condição especial do árbitro, como um avaliador, mas seria interessante
que tivesse algum conhecimento técnico para trazer maior segurança às partes. Uma situação
para o árbitro levar em conta é: no momento em que vir a realizar coleta de elementos
para formar o preço, deve observar a situação atual da coisa, não quando da conclusão do
contrato, ressalvada disposição contratual em que a formação do preço deve levar em conta
outro momento (PEREIRA, 2017, p. 82).
O artigo 485 do Código Civil aduz que na hipótese do terceiro (indicado pelas partes) não
aceitar o encargo, se as partes contratantes não providenciarem a substituição por outro
árbitro, o contrato ficará sem efeito na medida em que fica afastado um dos elementos
essenciais.
Outra forma possível de determinação do preço pelas partes é acordar que este será formado
com base na taxa de mercado ou bolsa, em determinado dia e lugar, conforme determina
o artigo 486 do Código Civil.
40
Sumário
Contrato de Compra e Venda
Caio Mario da Silva Pereira cita também das coisas vendidas em leilão: ainda que o preço
não esteja ao arbítrio do vendedor, este pode estipular um valor mínimo para a venda e,
dessa forma, concordar em receber o valor do maior lance (PEREIRA, 2017, p. 83).
Além do preço da coisa, podem existir custos ou despesas, para que se ultimem as obrigações
assumidas no contrato de compra e venda; e a lei houve por bem distribuir estes, ora para
o comprador, e ora para o vendedor, se ausente estipulação contratual.
Assim, caso omisso o contrato, os custos da tradição serão do vendedor, enquanto os custos
da escritura e registro (contrato formal) serão atribuídos ao comprador.
Pode-se exemplificar com uma venda de bem imóvel cujo valor seja superior a trinta salários
mínimos (art. 108, CC), e pelo qual o comprador deverá custear a escritura e o registro junto
ao cartório e competente. Como exemplo do custeio pelo vendedor está a venda com entrega
do bem em localidade diversa em que se encontra uma máquina industrial; e, se não houver 41
previsão contratual, esse custo será do vendedor.
Sumário
Contrato de Compra e Venda
Vale ressaltar que pode ser interessante para as partes firmar outro contrato que não
o de compra e venda antes que este seja firmado. Se, por exemplo, uma das partes que
quer verificar se um bem imóvel atende às suas necessidades, antes de dispor de uma
quantia substancial para aquisição deste bem, pode alugá-lo do proprietário e ver se suas
expectativas serão atendidas. Além disso, tendo firmado um contrato de locação nos termos
do artigo 27 da Lei nº 8.245/91, terá o direito de preferência na aquisição desse bem imóvel
se o proprietário decidir vendê-lo.
Em qualquer caso, para que haja compra e venda, será imprescindível que as partes
contratantes emanem seus consentimentos de forma livre e desimpedida.
Figura 09 Consentimento
Vale observar que Gagliano e Pamplona não consideram a forma a ser adotada no contrato
para a formação do contrato, sendo essa exigida para o requisito de validade, a teor do que
dispõe o artigo 108 do Código Civil.
Merece ser destacado que o consentimento é caracterizado pelas vontades de cada uma
das partes, sendo que cada vontade coincidirá a um centro de interesse. Assim, o número
de partes no contrato corresponderá ao número de centros de interesse e não no número
de pessoas envolvidas na contratação (VENOSA, 1992, p. 64).
É importante destacar também que o consentimento das partes deve recair sobre a coisa
e o preço, conforme dispõe Tartuce (2019, p. 408):
No que concerne ao consentimento emitido pelas partes, que deve ser livre e
espontâneo, deve ainda recair sobre os demais elementos do contrato de compra e
venda, quais sejam a coisa e o preço. Havendo um dos vícios do consentimento (erro,
dolo, coação moral, estado de perigo e lesão) o contrato de compra e venda é anulável
conforme as regras que constam da Parte Geral do Código Civil (art. 171, inc. II do CC).
O consentimento é um elemento essencial, mas, ainda assim, nem sempre que este estiver
presente será possível realizar a compra e venda, na medida em que existem limitações
à liberdade de comprar e vender. Nessa continuidade, Caio Mário da Silva Pereira (2017,
p. 84-86) aponta as seguintes hipóteses: a) a venda de ascendente a descendente sem o
consentimento expresso do cônjuge e demais herdeiros; b) proibição de aquisição de bens
por determinadas pessoas em razão das funções que ocupam; c) a venda da cota parte do
condômino a estranho enquanto houver a indivisão do bem; d) cláusulas de exclusividade,
diante das quais o comprador tem limitação na aquisição de determinado ou no preço; e)
venda de bem entre marido e mulher de bem que integre a comunhão; f) compra e venda de
43
bem imóvel em qualquer regime de casamento exceto o da separação total, sem anuência
do outro cônjuge. Sumário
Contrato de Compra e Venda
APLICAÇÃO PRÁTICA
Como visto no material, um dos elementos formadores do preço deve ser a seriedade e não
irrisório, sob pena de se caracterizar uma doação dissimulada. Outro elemento essencial
da compra e venda é o consentimento livre de vícios.
“DECISÃO
Cuida-se de recurso especial interposto por xxx, com fundamento no artigo 105, inciso III,
alínea ‘a’ da Constituição Federal, em desafio a acórdão proferido em apelação cível pelo
Tribunal Regional Federal da 5ª Região, assim ementado:
1. Apelação interposta pela Caixa, em face da sentença que julgou procedente o pedido
de anulação do contrato de financiamento habitacional, determinando a exclusão de
quaisquer ônus sobre o imóvel objeto do referido contrato, tendo em vista tratar-se
de venda de imóvel que pertencia à mãe da autora e fora vendido ao seu irmão, sem
o seu consentimento, implicando ofensa ao art. 496 do Código Civil/2002.
2. Rejeição da preliminar de falta de interesse jurídico suscitada pela CEF sob a alegação
de que houve a extinção do contrato, em razão da adjudicação do imóvel por
inadimplemento. Ainda que tivesse havido a adjudicação do imóvel pela Caixa em data
anterior à citação, tal adjudicação se deu em cumprimento ao contrato que a Autora
reputa nulo. Assim, a questão da nulidade precede e prejudica a própria adjudicação,
não se podendo falar em falta de interesse de agir por esse fundamento.
Opostos aclaratórios, foram esses rejeitados pelo acórdão de fls. 385-388. Nas razões do
recurso especial (fls. 396-420), alega a insurgente violação aos artigos 496 e 182 do Código
Civil e 373 do NCPC.
Sustenta, em síntese:
a) ser anulável o contrato firmado entre sua genitora e irmão em virtude da ausência de
consentimento dos demais descendentes;
A resposta é negativa, ou seja, a Autora não demonstrou que se trata de doação simulada.
Ao contrário, a própria presença da Caixa, como agente financiador, revela a efetiva
existência de um negócio de compra e venda, já que houve financiamento do imóvel
localizado na Rua Tenente Eduardo Dantas, nº 08, Conjunto Recanto dos Bosques, Bairro
Luzia, CEP 49045-650, na cidade de Aracaju/SE, com a liberação do valor da venda, ao
preço de R$ 260.000,00 (duzentos e sessenta mil reais), no ano de 2011, para a genitora da
Demandante.
4. Agravo regimental a que se nega provimento. (AgRg no AREsp 159.537/PA, Rel. Ministro
ANTONIO CARLOS FERREIRA, QUARTA TURMA, julgado em 14/10/2014, DJe 21/10/2014) DIREITO
CIVIL. VENDA DE ASCENDENTE A DESCENDENTE SEM ANUÊNCIA DOS DEMAIS. ANULABILIDADE.
REQUISITOS DA ANULAÇÃO PRESENTES.
6.- Decisão do Tribunal de Justiça de Santa Catarina subsistente, Recurso Especial improvido.
(REsp 953.461/SC, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado em 14/06/2011,
DJe 17/06/2011) Civil e processo civil. Recurso especial. Alegação de ofensa ao disposto
no art. 535, II, do CPC. Omissão suprida em sede de embargos de declaração. Alegação
de ocorrência de julgamento fora do pedido. Devida narração dos fatos. Correlato
pedido julgado procedente na origem. Venda direta de ascendente a descendente sem o
consentimento dos demais herdeiros. Ato jurídico anulável.
Simulação.
• Inexiste ofensa ao disposto no art. 535, II, do CPC, se sanada, no julgamento dos
embargos de declaração, a questão tida por omissa.
• A correta narração dos fatos na petição inicial com o correlato pedido julgado
procedente na origem afasta a alegação de existência de julgamento fora do pedido
na espécie.
(REsp 476.557/PR, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 18/12/2003,
DJ 22/03/2004, p. 294) Para derruir o entendimento firmado pela instância precedente
acerca da ausência de demonstração de efetivo prejuízo ou venda por preço vil ou fora
dos padrões do mercado, seria necessário proceder ao reenfrentamento do acervo fático-
probatório dos autos, procedimento vedado a esta Corte Superior ante o óbice da súmula
7/STJ.
Ademais, inviável acolher a tese segundo a qual ‘se ninguém mais além dos contratantes
tem conhecimento do ajuste é inegável ter havido uma simulação ou fraude, sendo notório
o prejuízo em razão da ausência de consentimento dos herdeiros e em virtude da autora
vir a perder o único imóvel da família no qual reside’, isso porque mesmo na simulação 47
ou fraude é imprescindível a demonstração do prejuízo, não sendo esse presumido, tanto
Sumário
Contrato de Compra e Venda
2. Do exposto, com amparo no artigo 932 do NCPC c/c a súmula 568/STJ, nego provimento
ao recurso especial.
Publique-se. Intimem-se.
Brasília (DF), 1º de abril de 2020.
Relator
No que tange ao consentimento e às limitações impostas pela lei, o caso em estudo permite
verificar que, ainda que seja possível efetuar a anulação de contrato de compra e venda
efetuada de ascendente a descendente, não basta apenas o simples fato de ter havido a
compra e venda nestas condições. No caso examinado verificou-se que houve o contrato
de compra e venda de ascendente para descendente mas isso, por si só, não tem o condão
de anular a venda, haja vista que para que seja anulado o contrato é imprescindível a
demonstração da ocorrência de prejuízo, o que não se verificou no caso.
Observe-se que o Ministro ainda invocou decisões daquela Corte no sentido de que a venda
de bem de ascendente à descendente somente poderia ser anulada desde que houvesse
a devida comprovação de que aquele ato seria uma doação disfarçada (ou simulada) de
compra e venda com finalidade, de preterir direitos dos demais herdeiros, causando assim,
prejuízo a estes.
Assim, verificamos que, para que exista o contrato de compra e venda, e ele assim seja
considerado juridicamente, é imprescindível a comunhão de todos os elementos essenciais:
a coisa, o preço e o consentimento, em que inexistindo um ou mais deles haverá a
descaracterização do contrato de compra e venda. 48
Sumário
Contrato de Compra e Venda
GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo Curso de Direito Civil. 2. ed. São
Paulo: Saraiva Educação, 2019. Vol. 4: Contratos.
Nesta obra as caraterísticas do contrato de compra e venda são explicadas pelos autores
de forma simples e objetiva, quando traçam a similaridade do contrato bilateral com
sinalagmático. Os autores trazem de forma clara a aplicação prática das características
presentes na compra e venda em poder ser um contrato ou comutativo ou aleatório. Também
traz outras características não tão marcantes, mas interessantes para quem deseja extrair
o máximo do assunto, como a possibilidade de ser um contrato instantâneo. Sem dúvida é
um excelente material de consulta sobre o tema.
PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil. 21. ed. Rio de Janeiro: Forense,
2017. Vol. 3: Contratos.
No capítulo XLV desta obra, o aluno tem a possibilidade de se aprofundar nos elementos
essenciais da compra e venda na medida em que o autor faz uma análise detalhada e
explicativa acerca de cada um dos elementos essenciais. No que tange ao preço, enfatiza
as características que o mesmo deve ter. Quanto à coisa, o autor enumera as qualidades
que a coisa deve ter para ser considerada válida ao contrato de compra e venda. Por fim,
em relação ao consentimento o autor esclarece de forma insofismável sobre como é dado
e as limitações deste, seja de caráter legal ou convencional. Assim, a obra é de grande valia
na medida em que tem servido como base de estudo e de fundamentação para inúmeras
decisões judiciais. Trata-se de conteúdo necessário para poder elaborar fundamentação
em aplicação prática.
49
Sumário
Contrato de Compra e Venda
O contrato de compra e venda tem previsão legal nos artigos 481 a 532 do Código Civil, e
seu conceito legal é trazido pelo artigo 481: “um dos contratantes se obriga a transferir o
domínio de certa coisa, e o outro, a pagar-lhe certo preço em dinheiro”.
Este contrato tem como características ser: bilateral, na medida em que traz obrigações
recíprocas entre vendedor e comprador; oneroso, na medida em que exige uma
contraprestação pecuniária; consensual, pois demanda do acordo de vontades em relação
às partes envolvidas (comprador e vendedor); comutativo, se determinadas as prestações
a que cada uma das partes se submeteu; aleatório, se houver assunção do risco por pelo
menos uma das partes; formal ou informal, se houver exigência legal, por exemplo, a venda
de bem imóvel em valor acima de 30 (trinta salários) mínimos, que demanda a lavratura de
escritura pública, ou seja, deve ser formal.
50
Sumário
Contrato de Compra e Venda
Pudemos identificar diversos dispositivos legais aplicados aos contratos de compra e estudar
como se dá a aplicação prática dos conceitos.
Foi possível ver que, para diferenciar o contrato de compra e venda das demais modalidades
contratuais previstas no Direito brasileiro, é importante se ater às características do mesmo,
pois se ausente uma, ou mais, das características verificadas, poderá haver outro contrato,
por exemplo: se não houver onerosidade, poderá haver um contrato de doação, mas não
de compra e venda.
O preço, como visto, deve ser pago em dinheiro ou pelo menos na maior parte do contrato,
segundo entendimento de determinados autores. Uma vez que o preço for pago com outros
objetos, poderemos ter a permuta, e não compra e venda.
Por fim, vimos que os elementos essenciais assim são definidos, pois, se faltar um deles e
não houver a possibilidade de suprir através das regras legais, existe a possibilidade de não
considerar o contrato como de compra e venda ou estar o mesmo eivado de vício insanável,
que acarretará a nulidade. Em algumas hipóteses pode ser passível de anulação judicial.
51
Sumário
2
Contrato de Compra e Venda
Regras, implicações
jurídicas e riscos
do contrato de
compra e venda
Unidade
Objetivos
Ao final desta unidade, esperamos que possa:
52
Sumário
2.Regras,implicaçõesjurídicaseriscosdocontratodecompraevenda
Contrato de Compra e Venda
Apresentação
Caro estudante, nesta unidade, o estudo será direcionado às regras especiais da compra e
venda, sua aplicabilidade e condições específicas de cada uma delas. Também são objeto
do estudo as limitações impostas aos contratos de compra e venda, sejam elas decorrentes
da lei ou não.
Será possível verificar algumas hipóteses em que pode haver litígio, casos em que a compra
e venda é anulável, e casos em que ela é simplesmente nula.
Na unidade será possível verificar que regras especiais, limitações, cláusulas especiais e
riscos das coisas atribuirão benefícios e obrigações para os compradores e vendedores
quem nem sempre serão de forma proporcional.
Destarte, será possível identificar os principais pontos que podem gerar litígios e a posição
e solução dadas pelos tribunais brasileiros, e assim saber como buscar as melhores opções
para solução desde a confecção destes contratos até a solução de problemas nos contratos
de compra e venda.
O parágrafo único do artigo 484 do Código Civil dispõe que se a venda se realizar à vista de
amostras, protótipos ou modelos, entender-se-á que o vendedor assegura ter a coisa as
qualidades a que a ela correspondem. A lei traz ainda a solução no caso de discrepância entre
a amostra, o protótipo ou o modelo e a descrição ou contradição da coisa descrita no contrato.
Figura 10 Amostras
54
Sumário
Fonte: SHUTTERSTOCK, 2020.
2.Regras,implicaçõesjurídicaseriscosdocontratodecompraevenda
Contrato de Compra e Venda
Figura 11 Protótipo
O modelo, por sua vez, é uma reprodução gráfica, que pode ser um molde, um impresso,
uma réplica tridimensional etc. daquilo que se quer comprar ou vender, e deverá conter sua
descrição integral, por exemplo, uma impressão em 3D (terceira dimensão) de uma peça,
um diorama, uma maquete etc. (NEGRÃO, 2015).
55
Sumário
2.Regras,implicaçõesjurídicaseriscosdocontratodecompraevenda
Contrato de Compra e Venda
Figura 12 Modelo
O objetivo do dispositivo legal previsto no artigo 484 do Código Civil, como assevera Carlos
Roberto Gonçalves, é a prestação de informação adequada de forma a prestigiar a boa-fé
objetiva prevista no artigo 422 do Código Civil, ou seja, o vendedor não poderá se desviar
da qualidade apontada na amostra, no protótipo ou no modelo (2019). Vale destacar ainda
que, se for relação de consumo, há previsão similar no Código de Defesa do Consumidor,
no artigo 30.
Assim, como esta modalidade (venda por amostra, protótipos ou modelo) se submete à
condição suspensiva até a tradição, o comprador poderá recusar expressamente no ato do
recebimento se a mercadoria não corresponder ao que foi previamente oferecido como
amostra, protótipo ou modelo, operando-se, assim, a condição resolutiva.
Vale salientar que, ainda que o comprador possa rejeitar a coisa entregue pelo vendedor,
deverá fazê-la de forma justificada, preservando o princípio da boa-fé objetiva, ou seja, não
poderá recusar injustificadamente.
Na venda a contento prevista, especificamente no artigo 509, o comprador ainda não conhece
a coisa que irá adquirir, ao passo que na venda sujeita à prova, prevista no artigo 510, a
coisa é conhecida, mas demanda de prova de a coisa ser aquela que já conhece e, ainda, 57
tem que ter as qualidades asseguradas pelo vendedor bem como ser idônea à finalidade
a que se destina. Sumário
2.Regras,implicaçõesjurídicaseriscosdocontratodecompraevenda
Contrato de Compra e Venda
Assim, verifica-se que o Código de Defesa do consumidor tem uma amplitude maior que
o Código Civil, haja vista que dispensa a motivação que é exigida na venda a contento do
Código Civil, mas valerá somente na hipótese desde que a venda tenha sido efetuada fora
do estabelecimento comercial. O sentido jurídico desta norma é o fato de que o comprador
não pode ver, tocar, manusear, aferir qualidade da coisa adquirida.
Assim, verifica-se que nesta modalidade especial de venda (venda à contento ou sujeita
à prova) ela somente estará perfeita e concluída com a aceitação do comprador, ou seja,
não basta a tradição da coisa. É portanto uma compra e venda justa na medida em que o
comprador tem o poder de avaliar se o produto (coisa) tem as qualidades prometidas.
A venda por medida, por extensão ou ad mensuram é outra modalidade especial de contrato
de compra e venda direcionada aos bens imóveis nos termos do que dispõe o artigo 500
do Código Civil. Nesses tipos de venda a formação do preço levará em conta a extensão, a
medida do bem imóvel, que poder ser aferida em metros quadrados, hectares, etc. O que
o direito busca resguardar é o direito do comprador que adquiriu um imóvel com medidas
determinadas e na oportunidade que efetuou a medição houve por bem em verificar uma
58
diferença que possa lhe prejudicar, ou seja, lhe causar prejuízo, e dá-se o nome de vício
redibitório. Sumário
2.Regras,implicaçõesjurídicaseriscosdocontratodecompraevenda
Contrato de Compra e Venda
Observe que o parágrafo primeiro do artigo 500 do Código Civil traz a possibilidade de que
possa haver uma diferença de até 1/20 da área total, que é presumida como aceita pelo
comprador, na medida em que corresponde a 5% (cinco por cento) da área total.
Tartuce denomina de vício redibitório especial, na medida em que esta presunção – que é relativa
(de aceitação da diferença de até 5%) fora afastada pelo comprador ao provar que a medida
era elemento essencial do negócio jurídico e exemplifica com o julgado (2019, 443): “Contrato
de compra e venda de terreno com ‘mais ou menos’ 1.250 metros quadrados. Constatação que
o imóvel possuía metragem inferior. Pedido de restituição de parte do montante pago. Parcial
procedência do pedido” (Apelação nº Relator Desembargador J. L. Mônaco da Silva, 5ª Câmara
de Direito Privado, julgado em 29/03/2017, publicado em 31/03/2017).
Havendo o vício redibitório, o comprador tem asseguradas por lei algumas soluções. A que
se deve tentar para solucionar a questão de quantidade menor é a complementação da área,
que será promovida através da Ação ex empto, também chamada de ação ex vendito, ação
esta de caráter pessoal que busca o integral cumprimento do contrato (GONÇALVES, 2019).
O artigo 500 do Código Civil atribui direitos ao comprador se não houver possibilidade desta
complementação de área pelo vendedor, por exemplo, em caso de impossibilidade física
de a área ser complementada, poderá então o comprador optar por uma das soluções: a)
o abatimento proporcional no preço, que será promovido por ação estimatória, também
denominada ação quanti minoris; ou b) a resolução do contrato com pedido de devolução
das quantias pagas, que será promovido por ação redibitória. Deve-se atentar ainda ao fato 59
de que se o vendedor agiu de má-fé, esta deve ser provada, para então o comprador pleitear
também as perdas e danos. Sumário
2.Regras,implicaçõesjurídicaseriscosdocontratodecompraevenda
Contrato de Compra e Venda
Por outro lado, a lei também prevê a hipótese de o vendedor desconhecer as reais medidas
do imóvel vendido (fato este que deve ser provado) e entregar imóvel com medida superior
à que foi acordada com o comprador na formação do preço. A solução trazida é a devolução
pelo comprador da área excedente ou complementação do preço original, que servirá de
parâmetro para tal complementação, sendo a escolha cabível ao comprador.
A venda ad mensuram se contrapõe à venda ad corpus, pela qual a metragem não é levada em
consideração, mas sim o imóvel que é vendido como coisa certa e determinada, mesmo que no
contrato de compra e venda não haja expressa menção que a que a venda se deu no formato
ad corpus, conforme expressa previsão do parágrafo terceiro do artigo 500 do Código Civil.
Túlio quer comprar a fazenda Sete Léguas, que tem uma usina de
geração de energia solar em Tocantins e faz uma compra de porteira
fechada, ou seja, não leva em consideração a metragem, mas sim
tudo o que compõe o bem imóvel.
60
Sumário
2.Regras,implicaçõesjurídicaseriscosdocontratodecompraevenda
Contrato de Compra e Venda
Logo, se não houver uma descrição clara da modalidade escolhida pelas partes contratantes,
como resolver um impasse se for levado a Juízo? Caio Mario da Silva Pereira explica (2017, p. 89):
Um ponto importante a ser observado pelo comprador é o prazo decadencial para propositura
das ações nos casos de vícios redibitórios, inclusive a ação ex empto, cujo prazo, de acordo
com o artigo 501 do Código Civil, é de um ano, tendo como termo inicial o registro do título,
e não a tradição. Gonçalves (2019) destaca que as ações oriundas de vícios previstos no
61
artigo 500 não devem ser confundidas com as ações edilícias por vício redibitório, em que
a coisa é entregue na sua totalidade, mas contêm vícios ou defeitos ocultos. Sumário
2.Regras,implicaçõesjurídicaseriscosdocontratodecompraevenda
Contrato de Compra e Venda
No estudo dos elementos essenciais, verificamos que, se o consentimento estiver ausente, não
haverá contrato de compra e venda, mas não basta a simples existência do consentimento
entre as partes (comprador e vendedor), tendo em vista que existem limitações impostas pela
lei a ainda pode existir limitação de caráter convencional. No que tange às limitações em firmar
contrato de compra e venda, Caio Mário da Silva Pereira destacou as seguintes hipóteses:
Assim, merece ser destacado que não há proibição de que ocorra a compra de determinado
bem por descendente, desde que haja anuência dos irmãos e do cônjuge e/ou convivente do
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ascendente, anuência esta que pode ser dada no momento da compra e venda, ou posterior Sumário
2.Regras,implicaçõesjurídicaseriscosdocontratodecompraevenda
Contrato de Compra e Venda
a esta, uma vez que a lei não exige que seja concomitante à venda.
O Código Civil resguarda a proteção dos demais herdeiros em caso de doação simulada ou
qualquer outra figura simulada que cause prejuízo a estes e, se isso ocorrer, a compra e
venda será passível de anulação nos termos do que dispõe o artigo 406 do Código Civil. Esta
anulação tinha o prazo prescricional de 20 (vinte) anos, nos termos da Súmula no 494 do
STF (Supremo Tribunal Federal), de forma a causar certa indignação a vários autores, como
Gagliano e Pamplona (2019), que aduzem a não recepção da mesma frente ao artigo 179 do
Código Civil de 2002 (prazo de dois anos), que também não tem dispositivo correspondente
no Código Civil de 1916, que assim dispõe: “Quando a lei dispuser que determinado ato é
anulável, sem estabelecer prazo para pleitear-se a anulação, será de dois anos, a contar da
conclusão do ato”.
O Código Civil traz também outras limitações para a compra e venda de coisas no que diz
respeito às pessoas envolvidas, conforme previsão no artigo 497, limitações estas em razão
das funções que exercem, de forma a atender o princípio da moralidade e evitar eventuais
conflitos de interesse. Destarte, na ocorrência de uma compra e venda entre as pessoas
designadas no referido artigo, esta nula, uma vez que falta legitimidade para realizar o
63
negócio jurídico. Sumário
2.Regras,implicaçõesjurídicaseriscosdocontratodecompraevenda
Contrato de Compra e Venda
Assim, não poderão efetuar a contratação de compra e venda tutores, curadores, testamenteiros
e administradores em relação aos bens confiados à sua guarda, conforme previsão do inciso
I do referido artigo 497 do Código Civil. Da mesma forma, não podem os servidores públicos,
sejam eles concursados, celetistas ou com cargos em comissão, bem como os administradores
de bens e direitos de pessoa jurídica, seja da administração direta ou indireta.
Os leiloeiros e seus prepostos também não podem adquirir bens que estejam encarregados
de vender. Até aqui nota-se que as pessoas impedidas contam com uma situação especial
que pode ter acesso a inúmeras informações da coisa que administra ou a informações
privilegiadas, de forma a ferir o princípio da moralidade se efetuar operação de compra.
Também ficam impedidos os juízes, secretários de tribunais, arbitradores, peritos e outros
serventuários ou auxiliares da justiça, mas contemplam a exceção prevista no artigo 498
do Código Civil: “A proibição contida no inciso III do artigo antecedente não compreende
os casos de compra e venda ou cessão entre co-herdeiros, ou em pagamento de dívida, ou
para garantia de bens já pertencentes a pessoas designadas no referido inciso”.
A referida exceção do artigo 498 do Código Civil se justifica, conforme explicam Gagliano e
Pamplona (2019, p. 351): “a relação jurídica submetida em juízo não tem qualquer vinculação,
direta ou indireta, ao múnus público exercido”. Afirmam ainda os referidos autores que há
extensão ao inciso III do artigo 497 a utilização de interposta pessoa que atue no interesse
64
de um dos agentes públicos citados no referido inciso, que resulta em simulação, sendo nulo
o ato, nos termos do artigo 167 do Código Civil. Dessa forma, verifica-se que estas restrições Sumário
2.Regras,implicaçõesjurídicaseriscosdocontratodecompraevenda
Contrato de Compra e Venda
Outra limitação que merece ser destacada é em relação ao condômino que tiver interesse na
venda de coisa indivisa. Nesse caso, o condômino deverá oferecer aos demais condôminos
antes de oferecer a terceiros, de forma a observar o direito de preferência dos demais,
que deve ser exercido no prazo de 180 (cento e oitenta) dias, nos termos do artigo 504 do
Código Civil. Vale enfatizar que esse direito deve observar a igualdade de concorrência com
terceiros interessados em adquirir a coisa indivisa.
Figura 18 Condômino
66
Fonte: SHUTTERSTOCK, 2020. Sumário
2.Regras,implicaçõesjurídicaseriscosdocontratodecompraevenda
Contrato de Compra e Venda
No que tange à compra e venda entre casal (marido e mulher), o Código Civil previu a
hipótese e autoriza expressamente essa possibilidade, conforme se infere da leitura do
artigo 499: “É lícita a venda e compra entre cônjuges, com relação a bens excluídos da
comunhão”. Vale lembrar que esta norma também é aplicável ao(à) companheiro(a), haja
vista que pelo princípio constitucional da isonomia há a equiparação da união estável com
regime da comunhão parcial, conforme preceitua o artigo 1.725 do Código Civil.
Portanto, se não houver expressa vedação, como a que ocorre de venda e compra no regime
de separação obrigatória de bens, e havendo compatibilidade com o regime de casamento,
é permita a compra e venda entre o casal. Da leitura do referido artigo 499 do Código Civil
interpreta-se que os bens da comunhão não podem ser objeto de compra e venda. Tal
proibição diz respeito a comprar coisa que já lhe pertence, pois se assim o fizer a compra e
venda é nula devido à impossibilidade do objeto, nos termos do artigo 166, II do Código Civil.
Vale lembrar ainda que em todos os regimes, exceto no regime da separação obrigatória de
bens, a compra e venda de coisa de qualquer valor deve contar com a outorga uxória, nos
termos do artigo 1647, I, do Código Civil, podendo haver o suprimento judicial do consentimento
no caso de recusa injustificada, conforme prevê o artigo 1.648 do mesmo Diploma Legal.
Caio Mario da Silva Pereira (2017) aponta outro caso de limitação, que são os contratos de
compra e venda com exclusividade, que podem ser aplicados tanto em relação a determinado
fornecedor quanto em relação a determinado produto, seja em relação ao preço, que são
perfeitamente válidas e aceitas no mercado, desde que estipuladas por prazo determinado,
sob pena de se atentar contra a liberdade individual. Observe que esta modalidade,
diferentemente das outras limitações, é exclusivamente contratual e não decorre da lei.
67
Fonte: SHUTTERSTOCK, 2020. Sumário
2.Regras,implicaçõesjurídicaseriscosdocontratodecompraevenda
Contrato de Compra e Venda
Aqui foi possível verificar que as limitações impostas ao contrato de compra e venda,
impostas pela lei ou pelas partes em contrato, têm o condão de gerar efeitos diversos,
desde anulação – como no caso de venda de ascendente à descendente – até decretação
de nulidade – no caso de tutores, curadores, testamenteiros, etc. Estas limitações delineiam
os contornos das possibilidades jurídicas do contrato de compra e venda.
2.1.2.1 Retrovenda
68
A retrovenda, na conceituação de Pereira, é: “pacto adjeto à compra e venda, mediante o qual
o vendedor estipula o direito de recobrar em certo prazo, o imóvel que vendeu, restituindo Sumário
2.Regras,implicaçõesjurídicaseriscosdocontratodecompraevenda
Contrato de Compra e Venda
ao adquirente o preço acompanhado das despesas realizadas” (2017, p. 102). Assim, é uma
possibilidade conferida ao vendedor para desfazer a venda, mas deverá se atentar a algumas
limitações legais. São elas: 1) a observância do prazo máximo de 3 (três) anos como forma
de observar a segurança jurídica do comprador que se sujeitou a este tipo de compra; 2) a
devolução do preço pago pelo comprador, devidamente acrescidos das despesas custeadas
pelo adquirentes, por exemplo, a reforma de uma parede estrutural que cedeu.
A retrovenda, como cláusula acessória que é, adjeta ao contrato de compra e venda, no ver
de Gagliano e Pamplona, é uma condição resolutiva expressa na medida em que sujeita
o negócio jurídico da compra e venda a evento futuro e incerto, segundo o interesse do
vendedor em reaver a coisa, aliado ao oferecimento do valor adequado para restituição e
reembolso (2019).
Figura 21 Retrovenda
poderão ser cobradas, pois, à exceção destas, outras despesas, a teor do dispositivo legal
citado, somente poderão ser cobradas desde que sejam autorizadas por escrito pelo vendedor.
O instituto da retrovenda tem razão de ser no caso em que uma pessoa passa por dificuldades
financeiras momentâneas e efetua a venda do imóvel condicional, uma vez que, o objetivo
principal não é se desfazer do bem, sendo que se houver possibilidade de se recuperar
financeiramente, poderá desfazer a venda, mas já houve apontamento do desvirtuamento
do instituto para sua utilização como forma de empréstimos velados e reprimidos na Lei
de Usura (PEREIRA, 2017).
APLICAÇÃO PRÁTICA
Além do caso acima, o Superior Tribunal de Justiça também foi instado a se manifestar em
caso em que houve a desvirtuação da cláusula de retrovenda e assim decidiu:
Recurso conhecido em parte e nessa parte provido (REsp. 285.296/MT, Relator Ministro Ruy
Rosado e Aguiar, 4ª Turma, julgado em 22/03/2001, publicado no DJ de 07/05/2001, p. 150).
E, em recente decisão proferida pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo acerca do
tema, assim foi entendido:
“Critica-se o fato de o CC/02 continuar a tratar dessa cláusula especial. Isso porque, na
prática, encontra-se presente, muitas vezes, em casos envolvendo fraudes ou atos ilícitos.
Geralmente são utilizados por emprestadores de dinheiro que querem fugir dos percalços
de uma execução judicial, sempre complexa e demorada e na qual certamente virá à
tona o valor das taxas de juros. Por isso, usam do pacto de retrovenda como garantia do
empréstimo; se o devedor não conseguir pagar e não exercer o direito de recompra a coisa
fica definitivamente na titularidade do comprador” (TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil:
volume único. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2011. fls. 592)
Assim, o que se extrai do primeiro julgado é que não basta a alegação de desvirtuação da
cláusula especial de retrovenda, na medida em que é exigida a prova, o que o vendedor não
conseguiu fazer naqueles autos, sendo assim negado seu pedido de anulação da compra e
venda. Portanto, a prova da simulação de negócio jurídico é essencial para o reconhecimento
do desvirtuamento da retrovenda com a anulação do negócio. No segundo caso houve o 71
reconhecimento da simulação na medida em que os fatos processuais assim demonstraram,
Sumário
2.Regras,implicaçõesjurídicaseriscosdocontratodecompraevenda
Contrato de Compra e Venda
Ação de imissão de posse cumulada com ação condenatória ajuizada pelo promissário
comprador em face de um dos alienantes, visando à desocupação do imóvel, bem assim
ao ressarcimento dos prejuízos experimentados (aluguéis). Sentença de procedência
reformada pelo Tribunal de origem, ao reputar demonstrada a simulação e o pacto
comissório firmado entre as partes e, portanto, a nulidade do compromisso de compra
e venda com cláusula de retrovenda, julgando improcedentes os pedidos veiculados na
demanda. (...) 2. É nulo o compromisso de compra e venda que, em realidade, traduz-
se como instrumento para o credor ficar com o bem dado em garantia em relação a
obrigações decorrentes de contrato de mútuo usurário, se estas não forem adimplidas.
Isso porque, neste caso, a simulação, ainda que sob o regime do Código Civil de 1916
e, portanto, concebida como defeito do negócio jurídico, visa encobrir a existência de
verdadeiro pacto comissório, expressamente vedado pelo artigo 765 do Código Civil
anterior (1916). 2.1 Impedir o devedor de alegar a simulação, realizada com intuito de
encobrir ilícito que favorece o credor, vai de encontro ao princípio da equidade, na
medida em que o “respeito aparente ao disposto no artigo 104 do Código Civil importaria
manifesto desrespeito à norma de ordem pública, que é a do artigo 765 do mesmo
Código”, que visa, a toda evidência, proteger o dono da coisa dada em garantia (Cf. REsp
nº 21.681/SP, Rel. Ministro Eduardo Ribeiro, Terceira Turma, DJ 03/08/1992). (...). (REsp no
1076571/SP Relator Ministro Marco Buzzi, 4a Turma, julgado em 11/03/2014, publicado
no DJE em 18/03/2014).
Netto Lôbo, divergindo assim de Maria Helena Diniz, que entende se tratar de um direito
personalíssimo (2019).
Outro ponto importante é que se o direito se estender a mais de uma pessoa, por exemplo,
couber a dois herdeiros e somente um tiver interesse, deverá notificar o outro e ainda
efetuar o depósito integral do preço da venda e despesas. Assim, as partes podem estipular a
cláusula de retrovenda, uma vez que estão juridicamente amparada na lei, mas, além de ser
uma opção do vendedor que precisa de recursos a curto prazo, merece atenção da utilização
deste instituto sem que este seja desvirtuado e utilizado para operações financeiras escusas
e reprimidas pela legislação em vigor, como a Lei de Usura.
2.1.2.2 Preempção
Outra cláusula especial é o direito de preferência, preempção ou prelação, direito que está
previsto nos artigos 513 a 520 do Código Civil e consiste no dever de o comprador oferecer
ao vendedor antes de disponibilizar à venda no mercado ou dá-la em pagamento para que
o comprador exerça ou não seu direito mencionado, em igualdade de condições. Caio Mario
da Silva Pereira assim define (2017, p. 108):
Figura 22 Preferência/Preempção
Vale salientar que esta cláusula não se trata de retrovenda, pois a coisa pode ter um valor
completamente distinto, em contrapartida, na retrovenda basta a devolução do valor com as
despesas. Na retrovenda haverá a volta ao estado anterior antes da venda, já na preempção
há uma nova operação de compra e venda (GAGLIANO; PAMPLONA, 2019).
O prazo máximo para que a cláusula de preempção permaneça ativa e produzindo efeitos
é previsto no parágrafo único do artigo 513 do Código Civil: 180 (cento e oitenta) dias para
bens e de 2 (dois) anos para bens imóveis. Todavia, não é pacífico na doutrina o termo inicial
de fluência deste prazo no que tange aos bens móveis. Tartuce entende que o prazo passa
a fluir da data da realização da venda original, enquanto Maria Helena Diniz que o prazo
se inicia com a tradição. No que diz respeito a alongar os prazos, o referido autor entende
que não podem ser aumentados, mas podem ser reduzidos contratualmente, uma vez que
a lei trouxe o lapso temporal máximo (2019,).
É possível que o contrato de compra e venda tenha a cláusula de preempção mas que não
foi estipulado prazo. Nesta hipótese, o comprador que desejar se desfazer do bem terá de 74
notificar o vendedor, que terá o prazo decadencial de 3 (três) dias se bem móvel ou de 60 Sumário
2.Regras,implicaçõesjurídicaseriscosdocontratodecompraevenda
Contrato de Compra e Venda
(sessenta) dias se bem imóvel para se manifestar acerca do direito de prelação. Observe que,
se o vendedor tomar ciência não pelo comprador, ou seja, por terceiro, de que o comprador
pretende revender ou dar em pagamento de alguma obrigação, terá a faculdade de notificar
o comprador para o exercício de seu direito de preempção dentro dos prazos do artigo 513
do Código Civil.
Haverá alguma consequência para o comprador e terceiro se efetuar a revenda para este,
dentro do prazo assegurado ao vendedor, sem dar ciência a este último? Sim, deverá
responder por perdas e danos e, caso o terceiro não seja adquirente de boa-fé, responderá
solidariamente. Diferentemente do que ocorre na retrovenda, este direito não é passível de
cessão, anda que para os herdeiros, por expressa vedação legal (artigo 520 do Código Civil).
A Lei Civil prevê ainda o direito de preferência na seara do Direito Administrativo, ou seja,
na hipótese de ato administrativo de desapropriação por necessidade ou utilidade pública,
ou, ainda, por interesse social, se não for dada a destinação especifica constante do ato
expropriatório, o direito de prelação daquele que perdeu a propriedade em favor do ente
público expropriante, pelo valor atual do bem (coisa). O Direito Administrativo trata do
instituto da preferência como retrocessão.
Vale lembrar que não é o contrato que fica sujeito à condição suspensiva, mas sim a
execução deste, ou seja, a subordinação da transferência da propriedade ao pagamento
do preço (PEREIRA, 2017). Para que tal cláusula tenha validade, é imprescindível que esteja
prevista em contrato escrito, que por sua vez deve estar registrado na localidade do
domicílio do comprador (no Cartório de Registro de Títulos e Documentos) a fim de que
tenha validade contra terceiros. O objetivo desta norma inserida no artigo 522 do Código
Civil é dar publicidade e, assim, evitar que o bem seja alienado a terceiro pelo comprador
sem conhecimento e anuência do vendedor, já que este está na posse direta do bem.
Vale destacar que o instituto em estudo não é aplicado aos bens imóveis, como ocorre na
alienação fiduciária em garantia, aplicando-se apenas e tão somente aos bens móveis e
infungíveis a teor do disposto no artigo 523 do Código Civil.
Assim, questiona-se quais são os deveres e direitos do comprador? Terá como deveres
efetuar o pagamento das parcelas que se comprometeu e, também, se lhe for turbada a
posse, utilizar dos interditos possessórios previsto na lei contra terceiros; e como direitos
poderá usar os referidos interditos até contra o próprio vendedor (desde que esteja
cumprindo fielmente suas obrigações). Terá ainda como direito a posse direta da coisa
com a possibilidade de usar e gozar e ceder os direitos que tem (já que ainda não tem a
propriedade) a terceiro, desde que com a anuência do vendedor.
APLICAÇÃO PRÁTICA
O teor do disposto no artigo 525 do Código Civil é categórico no que tange à execução da
cláusula de reserva de domínio e assim dispõe: “O vendedor somente poderá executar a
cláusula de reserva de domínio após constituir o comprador em mora, mediante protesto
do título ou interpelação judicial”. Assim, já foi submetido ao Poder Judiciário análise de
viabilidade de executar a cláusula de reserva de domínio sem a notificação, que assim decidiu:
A notificação extrajudicial, em que pese não fazer parte do texto legal, eis que este
utiliza a expressão “interpelação judicial”, é muito mais célere e atende ao dinamismo
da sociedade. Deve-se observar que este procedimento é de jurisdição voluntária e não
precisaria necessariamente da utilização do Poder Judiciário, que já está sobrecarregado
com demandas contenciosas, o que pode significar para o vendedor uma demora apenas
para efetuar a constituição em mora.
Outro ponto fundamental e a aplicação do artigo 397 do Código Civil, que assim dispõe:
78
Art. 397. O inadimplemento da obrigação, positiva e líquida, no seu termo, constitui de
pleno direito em mora o devedor. Sumário
2.Regras,implicaçõesjurídicaseriscosdocontratodecompraevenda
Contrato de Compra e Venda
Parágrafo único. Não havendo termo, a mora se constitui mediante interpelação judicial
ou extrajudicial.
Admitida então a notificação extrajudicial, ela deve ser pessoal? Apesar de a lei não tratar
da questão o Poder Judiciário assim decidiu:
Se optar por ingressar com a ação de cobrança (na maioria dos casos amparada num título
de crédito, razão pela qual será proposta ação de execução), poderá penhorar a coisa e
levá-la a hasta pública e satisfazer seu crédito com o produto da arrematação.
O parágrafo único do artigo 529 determina que, se a documentação estiver em ordem, não
poderá o comprador obstar o pagamento alegando defeito ou estado, exceto se já houver
prova de tal defeito. Isso não quer dizer que o comprador ficará desamparado se houver
vício redibitório, mas poderá ingressar com as ações cabíveis. Este instituto visa agilizar as
operações de compra e venda, cujo objetivo é facilitar a transferência de domínio, sem ter
que aguardar a tradição (GAGLIANO; PAMPLONA, 2019).
Vale destacar que nesta modalidade de compra e venda considera-se que a tradição irá
ocorrer em outro momento que não o da conclusão do contrato, e que, para preservação
da coisa e minimizar os riscos que incidem sobre ela, é recomendada a contratação em
caráter acessório de um seguro se a mercadoria estiver em outra localidade que demandar
de transporte e custo deste (pagamento do prêmio), cabendo ao comprador. O artigo 531 do
Código Civil dispõe do seguro nesta modalidade de compra e venda, e afasta a obrigação
do custeio do seguro pelo comprador se o vendedor agiu de má-fé no momento da venda
se este sabia da avaria na mercadoria.
A Lei ainda prevê a atuação de estabelecimento bancário neste tipo de contratação, uma vez
que as partes podem se valer de instituição financeira para realizar a operação. Gonçalves
explica como funciona esta operação (2019, p. 336):
Destarte, verifica-se que a venda sobre documentos é uma importante cláusula especial de
grande relevância em todos os contratos de compra e venda em que a tradição se dará em
momento posterior, algo comum em muitos contratos de compra e venda internacionais.
81
Sumário
2.Regras,implicaçõesjurídicaseriscosdocontratodecompraevenda
Contrato de Compra e Venda
O pacto comissório tinha previsão no artigo 1.163 do Código Civil de 1916 e assim dispunha:
Art. 1.163 – Ajustado que se desfaça a venda, não pagando o preço até certo dia, poderá
o vendedor, não pago, desfazer o contrato, ou pedir o preço.
Parágrafo único - Se, em 10 (dez) dias de vencido o prazo, o vendedor, em tal caso, não
reclamar o preço, ficará de pleno direito desfeita a venda.
Esta modalidade de pacto era uma cláusula resolutiva expressa e tinha como objetivo não
ter a necessidade de notificar o comprador, bem como a desnecessidade de propositura de
ação para desfazer o negócio.
Gagliano e Pamplona entendem que foi correta a não reprodução do instituto no Código
Civil atual, pois este tema diz respeito à teoria geral dos contratos e não especificamente
ao contrato de compra e venda, e poderia confundir com o “pacto comissório”, instituto
jurídico dos direitos reais previsto no artigo 1.428 do Código Civil vigente, que disciplina a
proibição do credor em ficar com a coisa dada em garantia real pelo devedor (2019, p. 399).
O pacto de melhor comprador, por sua vez, tinha previsão nos artigos 1.158 a 1.162 do Código
Civil revogado:
Art. 1.158 – O contrato de compra e venda pode ser feito com a cláusula de se desfazer,
se, dentro em certo prazo, aparecer quem ofereça maior vantagem.
Parágrafo único – não excederá de 1 (um) ano esse prazo, nem esta cláusula vigorará
senão entre os contratantes.
Art. 1.159 – O pacto de melhor comprador vale por condição resolutiva, salvo convenção
em contrário.
Art. 1.160 – esta pacto não pode existir nas vendas de móveis.
Art. 1.162 – Se, dentro no prazo fixado, o vendedor não aceitar proposta de maior 82
vantagem, a venda se reputará definitiva.
Sumário
2.Regras,implicaçõesjurídicaseriscosdocontratodecompraevenda
Contrato de Compra e Venda
Nesse sentido, verifica-se que o objetivo deste pacto era beneficiar o vendedor na medida
em que a condição resolutiva era a possibilidade deste, por exemplo, na venda de um imóvel
conseguir preço maior ou condições melhores (menor prazo de pagamento) do que ofertado
pelo comprador, pacto de caráter personalíssimo (não poderia ser transferido) e com limite
temporal máximo de um ano.
Pereira entende ser possível que comprador e vendedor insiram esta cláusula especial
ainda que não tenha previsão na legislação atual, mas adverte a obrigação de seguir alguns
requisitos, como contrato personalíssimo (insuscetível de transmissão) e ser aplicado a
coisas móveis e imóveis, e a venda estará concluída e perfeita (não dependerá de qualquer
ato do vendedor) se implementado o prazo contratual. Continua o referido autor a explicar na
hipótese de não estipulação de prazo que pode levar a dois possíveis resultados: o contrato
será considerado é nulo por não impor um lapso temporal ou aplicar analogicamente
o prazo da preempção (180 dias se coisa móvel e 2 anos se coisa imóvel), mas ressalva
este último na medida o instituto da preempção não se coaduna com pacto de melhor
comprador, entendendo assim ser o contrato nulo (2017).
O pacto comissório e pacto de melhor comprador são cláusulas especiais que, apesar de
não estarem previstos no Código Civil atual, não impedem que seja realizado um contrato
neste sentido, mas não terá o amparo legal específico e eventual litígio entre comprador e
vendedor se for levado ao Poder Judiciário, e neste caso o juiz deverá analisar o contrato
com base em outros elementos contratuais, por exemplo, a boa-fé.
e. são dos comprador os riscos das coisas colocadas à sua disposição se ocorrer caso
fortuito por ocasião de contar, marcar ou assinalar as coisas.
Todavia, as despesas podem ser livremente distribuídas pelas parte contratantes conforme
este o entendimento dominante da doutrina e jurisprudência citados por Tartuce, que
exemplifica (2019, p. 417):
O risco, por sua vez, é o perigo de perda da coisa, que pode deteriorar ou perecer, decorrente
de caso fortuito ou força maior. Assim, é importante saber que irá assumir o risco, por
exemplo, de uma mercadoria vendida em uma cidade que deverá ser entregue em outra e,
durante o transporte, se houver uma inundação e a mercadoria for perdida, de quem será o
risco? Como regra prevista no artigo 492 do Código Civil, o risco é do vendedor, mas a coisa
vendida teve que ser deslocada e se constatado que a ordem partiu do comprador para que
a entrega se desse em outra localidade, este passa a assumir o risco, salvo se o vendedor
se desviou das instruções do comprador (artigo 494, CC).
84
Sumário
Fonte: SHUTTERSTOCK, 2020.
2.Regras,implicaçõesjurídicaseriscosdocontratodecompraevenda
Contrato de Compra e Venda
Pereira ainda traz como exemplo situação em que o vendedor, a fim de tornar o recebimento
mais rápido e eficiente, efetuou a remessa via aérea, quando o comprador solicitou via
terrestre; neste caso, como o vendedor se desviou do que o comprador havia determinado,
passou a assumir o risco (2017). Assim é possível verificar a possibilidade de deslocamento
do risco que no caso acima era do comprador e ao se desviar do que havia sido contratado
por este, acaba por transferir o risco ao vendedor.
Outra hipótese legal atinente ao risco foi prevista no Código, na hipótese em que ao vendedor
é dada a possibilidade de sobrestar a entrega ao comprador se este cair em insolvência
civil e somente após este prestar caução (garantia real ou fidejussória) que demonstre que
irá pagar no tempo e modo devidos, e ao comprador também é possível sobrestar se o
vendedor cair em insolvência, até que entregue a coisa (TARTUCE, 2019).
O estudo dos riscos e como são distribuídos é de extrema importância no mundo prático,
tendo em vista que existem custos (seja pela perda do bem, contrato acessório de seguro,
contrato de armazenamento, etc.) a serem suportados ora vendedor, ora pelo comprador,
podendo inclusive haver o deslocamento destes riscos entre eles.
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Sumário
2.Regras,implicaçõesjurídicaseriscosdocontratodecompraevenda
Contrato de Compra e Venda
Bibliografia Comentada
Veja a seguir uma indicação de leitura que poderá complementar seus estudos. Essa leitura
não é obrigatória, porém poderá ampliar seu conhecimento em relação ao assunto abordado
na unidade.
1. GAGLIANO, Pablo Stolze. PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo Curso de Direito Civil.
Volume 4: Contratos. 2. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2019.
Esta obra traz uma abordagem mais simples e objetiva, fazendo com que o aluno
compreenda os temas estudados de forma mais natural. É um bom material de
consulta em caso de dúvidas e complementação de leituras. Explica de forma
simples as cláusulas especiais da compra e venda.
Tal qual a obra anterior, esta é bem objetiva e de fácil assimilação pelo aluno sobre
os principais conceitos aqui estudados. Vale destacar as limitações na compra e
venda, e as cláusulas especiais.
3. PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil. Volume 3: Contratos. 21.
ed. Rio de Janeiro: Forense, 2017.
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Sumário
2.Regras,implicaçõesjurídicaseriscosdocontratodecompraevenda
Contrato de Compra e Venda
Mapa Conceitual
O Mapa conceitual objetiva que o aluno possa visualizar os tópicos estudados nesta unidade
e buscar a localização topográfica no Código Civil. O Contrato de compra e venda tem regras
especiais previstas em lei e conta ainda com limitações, ou seja, ainda que presentes
os elementos da compra e venda (coisa, preço e consentimento), nem sempre poderá
ser efetuada a venda da coisa. Além disso, o contrato de compra e venda pode contar
com pactos adjetos, também chamados de cláusulas especiais, que irão criar obrigações
assessórias que, via de regra, são impostas ao comprador. Há ainda a distribuição dos riscos
entre vendedor e comprador que incidem sobre a coisa.
Conclusão
Nesta unidade foi possível verificar que o contrato de compra e venda pode ter uma série de
regras especiais previstas na lei, e que podem surgir conflitos entre comprador e vendedor,
bem como implicações em relação a terceiros, principalmente no que tange às limitações
impostas a esta modalidade.
Observarmos que existe o elemento volitivo do comprador e vendedor, e que nem sempre
o contrato de compra e venda poderá ser firmado, pois poderá haver prejuízo para outras
pessoas que não fizeram parte do contrato, como nas hipóteses de venda de ascendente
para descendente, venda entre condôminos da coisa indivisa, aquisição de bens entre o
casal que façam parte da comunhão, aquisição de bens por determinadas pessoas em 87
virtude do princípio da moralidade e também uma limitação que não decorre da lei, mas
Sumário
2.Regras,implicaçõesjurídicaseriscosdocontratodecompraevenda
Contrato de Compra e Venda
Vimos que as regras especiais previstas na legislação objetivam vinculações a uma das
partes ou a coisa objeto do contrato de forma a trazer segurança jurídica nos formatos de
compra e venda previstos na legislação em vigor no Brasil.
Não obstante as regras especiais, também pudemos ver as cláusulas especiais previstas em
lei, como a retrovenda, a preempção (direito de preferência), a venda sobre documentos
e a compra e venda com reserva de domínio, sendo estas duas últimas muito utilizadas, a
penúltima com grande ênfase nas operações de compra e venda empresariais e a última
como uma forma de financiamento muito comum na aquisição de bens móveis.
Ainda nas cláusulas especiais vimos as principais cláusulas especiais que não mais fazem
parte da previsão legal, uma vez que o legislador houve por bem em não reproduzir no
Código Civil de 2002.
E vimos também como fica a questão de distribuição das despesas e riscos entre comprador
e vendedor no contrato de compra e venda, bem como a possibilidade de distribuir tais
despesas e riscos entre as partes como forma de viabilizar muitas operações.
88
Sumário
3
Contrato de Compra e Venda
Compromisso de Compra e
Venda, Contrato de Compra
e Venda Internacional e
Novas tendências para o
Contrato de Compra e Venda
Unidade
Objetivos
Ao final desta unidade, esperamos que possa:
89
Sumário
3C.ompromissodeCompraeVendaC,ontratodeCompraeVendaInternacionaeN
Contrato de Compra e Venda
Apresentação
Caro(a) estudante, nesta unidade o estudo será direcionado ao compromisso de compra e
venda e as principais implicações jurídicas deste instrumento, que é um dos mais populares
l ovastendênciasparaoContratodeCompraeVenda
para aquisição de bens imóveis no Brasil.
Também será objeto do estudo as incoterms, expressões comuns que ocorrem nas operações
de compra e venda internacional e verificar a responsabilidade do vendedor em cada um
dos casos.
As incoterms estão divididas em quatro grupos com atribuição de custos ora do vendedor, ora
do comprador. Também será estudado o surgimento e aplicação e objetivo da CISG - Convenção
das Nações Unidas sobre Contratos de Compra e Venda Internacional de Mercadorias, um
importante instrumento para trazer segurança jurídica às partes contratantes.
Será possível também verificar como o contrato de compra e venda pode ser montado e
adaptado às novas tecnologias mantendo-se íntegros seus elementos essenciais.
O contrato de compra e venda apesar de ser um dos mais antigos que se tem notícia está
em constante evolução e acaba se amoldando às necessidades e demandas da sociedade.
Assim, neste modelo de contrato são preservados os elementos essenciais mas os formatos
tendem a seguir o dinamismo do mercado.
l ovastendênciasparaoContratodeCompraeVenda
3.1.1 Compromisso de compra e venda
O compromisso de compra e venda será analisado sob a ótica jurídica mas vale lembrar
que tem uma utilidade prática muito grande na medida em que não existe uma forma como
ocorre na compra e venda de bens imóveis quando o valor superar 30 salários mínimos.
Assim este estudo busca explicar as implicações jurídicas desta modalidade de contratação...
Gonçalves (2019) explica que na compra e venda, o objeto é o pagamento do preço pelo
comprador e a entrega da coisa pelo vendedor e, ainda, se a venda for de bem imóvel, terá a
denominação de promessa ou compromisso de compra e venda, se contar com as cláusulas
de irrevogabilidade e irretratabilidade.
Pelo fato de as partes assumirem obrigações, é um contrato bilateral. É cabível, tanto para
os bens móveis, quanto imóveis (apesar da grande maioria dos contratos nesta modalidade
ser de imóveis).
A fim de que o compromisso de compra e venda tenha os efeitos do atual Código Civil é imperativo
que ele não deve conter cláusula de arrependimento, nos termos do disposto no artigo 463 do
Código Civil: “Concluído o contrato preliminar, com observância do disposto no artigo antecedente,
e desde que dele não conste cláusula de arrependimento, qualquer das partes terá o direito de 91
exigir a celebração do definitivo, assinando prazo à outra para que o efetive”. Sumário
3C.ompromissodeCompraeVendaC,ontratodeCompraeVendaInternacionaeN
Contrato de Compra e Venda
l ovastendênciasparaoContratodeCompraeVenda
Fonte: SHUTTERSTOCK.COM, 2020.
O Código Civil Brasileiro de 2002 houve por bem em prever esta modalidade de contrato
(promessa ou compromisso) nos artigos 1.417 e 1.418, no que diz respeito à compra e venda,
que assim dispõem:
Art. 1.417. Mediante promessa de compra e venda, em que se não pactuou arrependimento,
celebrada por instrumento público ou particular, e registrada no Cartório de Registro de
Imóveis, adquire o promitente comprador direito real à aquisição do imóvel.
Art. 1.418. O promitente comprador, titular de direito real, pode exigir do promitente
vendedor, ou de terceiros, a quem os direitos deste forem cedidos, a outorga da escritura
definitiva de compra e venda, conforme o disposto no instrumento preliminar; e, se
houver recusa, requerer ao juiz a adjudicação do imóvel.
Uma das grandes vantagens de se firmar este tipo de contrato é a ausência de exigência
legal no que diz respeito à forma que pode ser; tanto por escritura pública, quanto por 92
documento escrito particular.
Sumário
3C.ompromissodeCompraeVendaC,ontratodeCompraeVendaInternacionaeN
Contrato de Compra e Venda
Vale observar que o registro deste documento tem o condão de dar publicidade perante
terceiros e evitar que o mesmo bem seja vendido mais de uma vez num dado momento (uma
vez que ele pode ser vendido várias vezes, em momentos distintos, desde que presentes os
requisitos legais). Observe-se também que com o registro, observadas as regras cartorárias
há a atribuição de um direito real, conforme o disposto no artigo 1.417 do Código Civil.
l ovastendênciasparaoContratodeCompraeVenda
Silva (2017, p. 94), adverte que o registro do compromisso de compra e venda gera ônus real
sobre a coisa e dá ao promitente comprador o direito de perseguir a coisa onde quer que
ela esteja, inclusive contra terceiros.
O comando contido no parágrafo único do artigo 463 (obrigação de efetuar o registro) deve
ser interpretada de forma relativa, conforme o decidido no Enunciado no 30 do Conselho da
Justiça Federal. Isso se traduz que o registro atribuirá direito real, oponível erga omnes e cria
a obrigação de dar pelo promitente vendedor. De outro lado, se não registrado, não estará o
promitente comprador desamparado legalmente, haja vista que a obrigação será de natureza
pessoal, com efeitos inter partes e gera uma obrigação de fazer para o promitente vendedor.
Assim, se não houver o registro; o promitente comprador terá três opções frente ao
promitente vendedor que se recusa a celebrar o contrato definitivo e que não haja cláusula
de arrependimento (Tartuce, 2019, p. 233-234):
1) Exigir tutela específica das obrigações de fazer, com fundamento no artigo 463 do
Código Civil;
l ovastendênciasparaoContratodeCompraeVenda
Administrativa competente, desapropriação, etc. (FERNANDES, 2014, p. 12-13)
94
Fonte: SHUTTERSTOCK.COM, 2020. Sumário
3C.ompromissodeCompraeVendaC,ontratodeCompraeVendaInternacionaeN
Contrato de Compra e Venda
Observe-se que os artigos 1.417 e 1.418 do Código Civil estipulam alguns requisitos:
l ovastendênciasparaoContratodeCompraeVenda
2. inexistência de pactuação de cláusula de arrependimento e;
Este último requisito (registro) foi revisado pelo Superior Tribunal de Justiça com a edição da
Súmula no 239 que assim dispõe: “o direito de adjudicação compulsória não se condiciona
ao registro do compromisso de compra e venda no cartório de imóveis”.
Gagliano e Pamplona (2019, p. 375), esclarecem que o no caso da Súmula acima citada a ação
terá como fundamento um direito pessoal (e não real, haja vista que para isso demanda do
registro) e será exercitado através da aplicação do artigo 501 do Código de Processo Civil
(Lei no 13.105/15), ou seja, de natureza obrigacional a fim de que o vendedor outorgue a
escritura (2019, p. 375).
4. promitente comprador que cria embaraço para receber a escritura, que posterga
injustificadamente.
Vale destacar que o órgão competente para conhecer desta modalidade de ação é a Justiça
comum estadual e não as Varas de Registros Públicos e nem o Juízo de Família, haja vista
que tem como fundamento um direito real e não versa nem sobre registro e nem sobre
questões diretas de sucessão.
l ovastendênciasparaoContratodeCompraeVenda
Quanto ao prazo prescricional o Superior Tribunal de Justiça já se manifestou como sendo
a ação de adjudicação compulsória imprescritível, conforme julgamento do Agravo Interno
no Agravo em Recurso Especial abaixo:
(AgInt no AREsp 1181960/GO, rel, Min. MARCO AURÉLIO BELLIZZE, 3ª TURMA, julgado em
247/04/2018, publicado em 03/05/2018)
l ovastendênciasparaoContratodeCompraeVenda
com dinheiro os títulos de crédito se desenvolveram e ganharam espaço nas operações de
compra e venda internacionais, liberados pela letra de câmbio.
Vale destacar que o fenômeno denominado globalização houve por bem em trazer à tona
as questões que envolvem a compra e venda internacional, já que este tipo de contrato
é um dos elementos propulsores da economia mundial. Souza explicita a importância da
globalização econômica (2017, p. 12):
Vale destacar que com a globalização houve o alongamento dos contratos de compra e
venda que durante muitos anos era praticamente exclusivo dos negócios empresariais e de
grandes corporações e atualmente cede espaço a contratações de compra e venda efetuadas 97
por pessoas físicas e particulares que não atuam habitualmente no mercado internacional. Sumário
3C.ompromissodeCompraeVendaC,ontratodeCompraeVendaInternacionaeN
Contrato de Compra e Venda
l ovastendênciasparaoContratodeCompraeVenda
comprador, a localidade do fornecedor e, ainda, o espaço virtual/
territorial do site Amazon (SOUZA, 2017, p. 14).
Para que um contrato seja considerado internacional, a ideia inicial é que, o comprador
esteja sediado em um país e o vendedor em outro, mas, nada impede que, por exemplo,
tenham a mesma nacionalidade e elaborem o contrato no mesmo local se a coisa for
fabricada ou esteja em outro Estado.
Venosa (2013, p. 53-54) explica que um determinado país pode disciplinar o que entende
por compra e venda internacional e discipliná-lo, que seria uma exceção a possibilidade de
existência de mais de um sistema jurídico para disciplinar o contrato.
Assim, fica claro que as normas de direito processual podem ser estipuladas contratualmente
como o foro de eleição ou ainda a solução de eventual conflito mediante arbitragem, que
não se confunde com as questões de direito material. A escolha deste tipo de cláusula se
justifica na autonomia da vontade e em razão disso tornando-se obrigatória entre as partes.
l ovastendênciasparaoContratodeCompraeVenda
Quanto estipulado contratualmente qual legislação ou qual o sistema jurídico que as partes
deverão se submeter em caso de litígio torna simples o encaminhamento para a solução.
Todavia, quando isso não acontece ter-se-á que buscar a legislação de qual Estado será
aplicável.
A Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro – LINDB (Lei no 12.376/10 traz o seguinte
entendimento em seu artigo 9o, complementado pelo parágrafo segundo:
...
De acordo com a redação infere-se que não havendo escolha pelas partes contratantes,
aplicar-se-á a legislação do país onde se originou a obrigação.
Ocorre quando as partes escolhem regras de diferentes países para reger seu contrato.
Suponhamos a hipótese de, na compra e venda, as partes admitirem a lei brasileira,
no que se refere aos vícios redibitórios, e a lei de ordenamento estrangeiro, no tocante
à responsabilidade por perdas e danos. Existe o seccionamento, o despedaçamento
da legislação aplicável ao contrato. Essa decomposição do contrato deve decorrer da
vontade das partes. Em nosso sistema jurídico, o juiz poderá supri-la apenas como
forma de integração e interpretação da vontade contratual (ver a esse respeito nossa
obra Direito civil: teoria geral das obrigações e teoria geral dos contratos, seção 21.7).
De qualquer forma, a dépeçage, vanguarda da autonomia da vontade na contratação
internacional, nunca poderá ter o condão de ferir leis cogentes do ordenamento jurídico
no qual o contrato deva ser aplicado.
Assim, esta é uma das formas possíveis da aplicação de determinado regramento jurídico
99
(ou parte dele) para a soluções de conflitos, mas não a única. Em se tratando de compra
e venda internacional os costumes historicamente tiveram grande importância para a Sumário
3C.ompromissodeCompraeVendaC,ontratodeCompraeVendaInternacionaeN
Contrato de Compra e Venda
l ovastendênciasparaoContratodeCompraeVenda
Art. 38
...
b) O costume internacional como prova de uma prática geralmente aceita como direito;
Todavia, o caminho encontrado para buscar maior segurança jurídica para as partes
contratantes em contrato de compra e venda internacional e que hoje está em vigor foi a
elaboração de uma Convenção em 1980, a Convenção das Nações Unidas sobre Contratos
de Compra e Venda Internacional de Mercadorias - CISG, elaborada em 1980 tendo ela sido
ratificada pelo Brasil em 2012 e entrou em vigor em 2014. Vale ressaltar que a convenção não
esgota a legislação interna, bem como não impedem a autonomia da vontade dos contratantes.
Assim, a compra e venda internacional atualmente tem grande difusão e é possível que
desta operação possa haver algum tipo de conflito entre comprador que está em um país
e o vendedor que está em outro e para saber qual o regramento jurídico deve ser aplicado
ao caso concreto, se o do país do vendedor ou se do país do comprador, tendo o Direito
Internacional Privado a missão de compatibilizar a aplicação do regramento jurídico ao caso
e a solução adotada por muitos países acerca deste tema foi a ratificação de Convenção das 100
Nações Unidas sobre Contratos de Compra e Venda Internacional de Mercadorias.
Sumário
3C.ompromissodeCompraeVendaC,ontratodeCompraeVendaInternacionaeN
Contrato de Compra e Venda
3.1.2.1 As Incoterms
l ovastendênciasparaoContratodeCompraeVenda
com os costumes e dinamismo do mercado que houve por bem em levar a busca de uma
padronização de procedimentos pois até então cada país contava com sua legislação
procedimentos próprios.
Figura 29 Incoterms.
É uma organização privada fundada em 1919, com sede em Paris, que adota, entre
seus objetivos, o de promover o comércio internacional, a economia de mercado e o
crescimento das economias dos países desenvolvidos e em desenvolvimento, buscando 101
a melhor forma de integrá-los na economia internacional (2015, p. 280).
Sumário
3C.ompromissodeCompraeVendaC,ontratodeCompraeVendaInternacionaeN
Contrato de Compra e Venda
l ovastendênciasparaoContratodeCompraeVenda
Assim, em 1936 a ICC houve por bem em criar as incoterms (International Commercial Terms)
cujo objetivo era regulamentar as obrigações das partes no contrato de compra e venda,
sendo o primeiro regulamento de compras e vendas internacionais. Os Estados Unidos
da América do Norte lançaram em 1941 regulamento com a mesma função, denominado
Revised American Foreign Definitions e, em 1953 a ICC houve por bem em apresentar
através de catálogo as obrigações atinentes a comprador e vendedor. Assim, passa a ter
relevância jurídica o contrato de compra e venda que adotar as incoterms e fazer referência
no contrato deste fato, pois considera-se fonte dos normativa dos contratos de compra e
venda internacionais (VENOSA, 2015, p. 280-281).
As incoterms passam de tempos em tempos por algumas revisões sendo a última em 2020
tendo atualmente 11 (onze) incoterms que temos em vigor que são representadas por siglas
de forma abreviada dos costumes frequentes do comércio internacional no que tange a
distribuição dos custos de entrega da mercadoria.
As incoterms estão divididas em 4 (quatro grupos), representados pelas letras: “E” (de Exit),
que corresponde a responsabilidade do vendedor pela saída da mercadoria; letra “F” (de
Free), que corresponde a envio sem custo; Letra “C” (de Cost), que corresponde ao custo
envio com custo e, por fim, a letra “D” (de Delivery) que corresponde às obrigações do
vendedor pela entrega.
MAIOR MAIOR
102
Figura: Elaborada pelo autor. Sumário
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Contrato de Compra e Venda
l ovastendênciasparaoContratodeCompraeVenda
que as despesas e riscos são do comprador desde a retirada da mercadoria.
• Grupo “F” haverá responsabilidade do vendedor até a saída desta do país, incluindo-
se o desembaraço na alfândega, mas o transporte principal não é suportado pelo
vendedor, mas sim pelo comprador.
O Ministério da Economia (Governo Federal Brasileiro) traz a tabela das incoterms 2020, na
página Aprendendo a Exportar do sítio eletrônico, com comentários. Veja:
CÓDIGO DESCRIÇÃO
EX WORKS (named place of delivery)
l ovastendênciasparaoContratodeCompraeVenda
entrega a mercadoria, desembaraçada para a exportação, ao transportador ou a
FCA
outra pessoa indicada pelo comprador, no local nomeado do país de origem.
CIF Além de arcar com obrigações e riscos previstos para o termo FOB,
l ovastendênciasparaoContratodeCompraeVenda
o vendedor contrata e paga frete, custos e seguro relativos ao
transporte da mercadoria até o porto de destino combinado.
CIP Além de arcar com obrigações e riscos previstos para o termo FCA,
o vendedor contrata e paga frete, custos e seguro relativos ao
transporte da mercadoria até o local de destino combinado.
105
Sumário
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Contrato de Compra e Venda
l ovastendênciasparaoContratodeCompraeVenda
DPU
a mercadoria é colocada à disposição do comprador, na data ou dentro do
período acordado, em local determinado no país de destino, descarregada
do veículo transportador mas não desembaraçada para importação.
As Condições de venda abaixo não disciplinadas pela Publicação nº 723-E, de 2020, da ICC,
ou seja, não fazem parte do rol das Incoterms mas também são utilizadas nas operações 106
de compra e venda internacional de mercadorias:
Sumário
3C.ompromissodeCompraeVendaC,ontratodeCompraeVendaInternacionaeN
Contrato de Compra e Venda
CÓDIGO DESCRIÇÃO
l ovastendênciasparaoContratodeCompraeVenda
COST PLUS FREIGHT
C+F
O vendedor arca com os custos e riscos das tarefas no país de exportação,
bem como contrata e paga o transporte internacional convencional.
C+I
O vendedor arca com os custos e riscos das tarefas no país de exportação, bem
como contrata e paga o seguro de transporte internacional convencional.
OCV
Utilizável em operação que não se enquadre em qualquer
das situações descritas nesta Resolução.
Fonte: Governo Federal. Disponível em: http://www.aprendendoaexportar.gov.br/index.php/
incoterms/2-uncategorised/835-incoterms-2020-tabela-resumo. Acesso em 09/11/2020.
Trataremos agora das incoterms de forma a explicar a aplicabilidade das mesmas, onde se
verificará que da primeira pra a última a reponsabilidade do vendedor passa a ser maior e
ainda os modais de transporte aplicáveis a cada uma das siglas. ...
• A única E-term – EXW – Ex works (no local de trabalho, que pode abranger
estabelecimento, fábrica, depósito, plantação, etc.) demonstra a mínima
responsabilidade do vendedor, bastando que este efetue a entrega da coisa em
seu estabelecimento, ocorrendo assim a tradição ao comprador que assume os
riscos e custos (carregamento e transporte, contratação de seguro e pagamento do
prêmio e desembaraço alfandegário), pela retirada do local de produção da coisa.
Todos os modais de transporte podem ser utilizados.
107
• As F-terms – FCA, FAS e FOB – trazem uma responsabilidade maior ao vendedor na Sumário
3C.ompromissodeCompraeVendaC,ontratodeCompraeVendaInternacionaeN
Contrato de Compra e Venda
l ovastendênciasparaoContratodeCompraeVenda
mercadoria à disposição do transportador principal no local indicado no contrato.
É uma modalidade muito utilizada para transporte de coisas em contêineres e se
houver cobrança de Demurrage (sobre-estadia – somente ocorre no transporte
marítimo) está será imputada ao comprador.
• As C-terms – CFR, CIF, CPT e CIP – aumentam, em relação às outras vistas até agora,
a responsabilidade do vendedor, uma vez que, este passa a ser responsável pelo
custo do transporte principal e sua responsabilidade permanece até a entrega no
porto o destino da mercadoria.
l ovastendênciasparaoContratodeCompraeVenda
• As D-terms - e DAP DPU e DDP, onde as responsabilidades do vendedor são as
maiores das incoterms até então vistas aqui pois estende-se até a chegada da
mercadoria ao seu destino. É importante frisar que aqui a transferência do risco se
dá fora do país exportador. Em 2010 o Grupo D teve extintas as DAF (Delivered and
Frontier), DES (Delivered Ex-Ship), DEQ (Delivered Ex-Quay) e DDU (Delivered Duty
Unpaid) e criadas duas novas DAP (Delivered at Place) e DAT (Delivery at Terminal),
sendo que esta última em 2020 mudou para DPU (Delivered at Place Unloaded),
dada a ampliação da possibilidade de utilização de terminais desta última.
Na tabela a seguir pode-se visualizar a aplicação das incoterms nos modais de transporte:
l ovastendênciasparaoContratodeCompraeVenda
Transporte Multimodal Transporte marítimo ou fluvial – interno
EXW – Ex Works FAS – Free Alongside Ship
FCA – Free Carrier FOB – Free On Board
CPT – Carriage Paid To CFR – Cost And Freight
CIP – Carriage and Insurance Paid To CIF – Cost Insurance and Freight
DAP - Delivered At Pace
DPU – Delivered At Place Unload
DDP – Delivered Duty Paid
Fonte: Autoria própria
Insta observar que que as incoterms não são de caráter obrigatório, uma vez que, as partes
contratantes têm ampla e total liberdade de aderir ou não. As incoterms servem para agilizar
operações de compra e venda e se as partes aderirem a estas devem fazer referência a qual
delas foi escolhida para contratação determinada.
A compra e venda internacional tomou grandes proporções dada a dinâmica dos mercados
mundiais e tendo em vista os conflitos são inevitáveis surge um problema afeto à segurança
jurídica: qual legislação utilizar sem que haja invasão da soberania dos Estados a que
pertencem o comprador e vendedor? Qual legislação aplicar, a do país do vendedor ou do
país do comprador? Esses e outros questionamentos serão respondidos a seguir.
A United Nations Convention on Contracts for the International Sales of Goods (CISG) 110
– Convenção das Nações Unidas sobre Contratos de Compra e Venda Internacional de Sumário
3C.ompromissodeCompraeVendaC,ontratodeCompraeVendaInternacionaeN
Contrato de Compra e Venda
Mercadorias que foi aprovada no âmbito das Nações Unidas, foi a regulação criada para
resolver as questões sendo ratificada pelo Brasil somente em 2012, com início de vigência
em 1o de abril de 2014.
l ovastendênciasparaoContratodeCompraeVenda
evitar a submissão de uma das partes a um direito alienígena desconhecido ou, ainda, que
possa lhe ser desfavorável, e forma a conferir maior segurança jurídica e assim diminuir
consideravelmente os riscos da atividade empresarial.
Os caminhos para que se chegasse à CISG não foram simples uma vez que foram efetuadas
diversas tentativas de unificação do direito contratual, sendo a sde maior relevância as que
remetem ao início do século XX. Ribeiro e Barros abordam acerca de como foi criação da
CISG (2014):
A Conferência de Haia de 1964 aprovou dois instrumentos normativos que não tiveram
o êxito esperado: a Lei Uniforme sobre Formação de Contratos de Compra e Venda
Internacional (ULFIS, sigla em inglês) e a Lei Uniforme sobre Compra e Venda de Bens
(ULIS, sigla em inglês). A partir de tais instrumentos, a Comissão das Nações Unidas
sobre o Direito do Comércio Internacional (UNCITRAL, sigla em inglês) assumiu a
tarefa de elaborar uma lei uniforme que, tanto quanto possível: i) não previsse regras
excessivamente pró-comprador (buyer oriented), tampouco pró-vendedor (seller
oriented); e ii) fosse aplicável tanto por sistemas de civil law quanto de common law.
A julgar pelo elevado número de adesões à Convenção desde sua edição em 1980, o
objetivo inicial foi alcançado.
Assim, longo foi o caminho para se chegar a atual Convenção para facilitar o tráfego
econômico e jurídico e, assim, otimizar os custos haja vista que a partir do momento em
que comprador e vendedor utilizam do mesmo regramento, não há necessidade de gerar
custos para conhecer a legislação alienígena com quem se pretende negociar.
A CISG ingressou no ordenamento jurídico brasileiro com sua ratificação promovida através
do Decreto Legislativo no 538/2012, que entrou em vigor em 2014 aplicando-se aos contratos
de compra e venda internacional firmados no Brasil ou que seus efeitos sejam produzidos
neste país.
Passou-se assim a ter uma segurança jurídica maior na medida em que antes disso as partes
contratantes tinham que anuir expressamente às normas da CISG.
111
Sumário
3C.ompromissodeCompraeVendaC,ontratodeCompraeVendaInternacionaeN
Contrato de Compra e Venda
l ovastendênciasparaoContratodeCompraeVenda
Fonte: Shutterstock 2020
Assim, após o advento do Decreto supra mencionado, se houver conflito que diga respeito
a contratos de compra e venda internacional este pode ser solucionado de duas formas:
2. levar ao Poder Judiciário, que aplicará a CISG, ou seja, se o proponente for brasileiro,
aplicar-se-á a lei brasileira.
Apesar de contar com grande adesão por vários países no mundo, na hipótese do proponente
brasileiro quiser negociar com alguém cujo país não seja signatário da Convenção, é possível
que eles pactuem contratualmente a aplicação da CISG, conferindo assim, liberdade e
segurança para o empresário estrangeiro.
No caso brasileiro, nos últimos anos, a influência e relevância prática da CISG, a partir
das iniciativas de cooperação multilateral com o aperfeiçoamento dos trabalhos da
Uncitral (a exemplo do que representaria a base de dados sobre as decisões proferidas
em tribunais dos Estados contratantes da Convenção), levaram a resultados não menos
significativos. As Jornadas Brasileiras de Direito Civil, do Conselho da Justiça Federal
(CJF), abriram novos espaços para aportes da doutrina jusprivatista internacional e
l ovastendênciasparaoContratodeCompraeVenda
jurisprudência em matéria de contratos e venda e compra internacional, conduzindo à
revisão de princípios em matéria de direito das obrigações no direito brasileiro.
Merece destaque ainda que a CISG não tem como objetivo substituir a legislação de cada país
signatário podendo coexistir com normas de Direito Comercial Internacional e sendo por elas
complementada. Assim o conteúdo normativo da CISG tem o condão de permear culturas jurídicas
distintas da brasileira (como o commom law e o civil law) com certa flexibilidade, pois autoriza a
preservação da competência legislativa interna em determinadas hipóteses (POLIDO, 2014, p. 5).
(b) aos efeitos que o contrato possa ter sobre a propriedade das
mercadorias vendidas.
Mazzuoli (2018, p. 323), comenta contudo o caráter obrigatório da aplicabilidade da Convenção: 113
“Trata-se de norma internacional de observância obrigatória para juízes e de tribunais
brasileiros quando em causa contrato internacional de compra e venda”. (2018, p. 323). Sumário
3C.ompromissodeCompraeVendaC,ontratodeCompraeVendaInternacionaeN
Contrato de Compra e Venda
Isso não quer dizer que as partes não podem afastar a aplicação da CISG, pois o próprio
artigo 6o demonstra a aplicação do princípio da autonomia da vontade de forma que
autoriza as partes a promoverem o opting-out e o opting-in, restringindo e alargando,
respetivamente, o âmbito de aplicação estabelecido no texto da Convenção (MENEZES;
CARVALHO, 2018, p. 141).
l ovastendênciasparaoContratodeCompraeVenda
Assim, o esperado é que conservadorismo judiciário brasileiro ceda a aplicação da CISG e
assim contribua para a construção de jurisprudência internacional pois no que se refere a
aplicação da CISG na arbitragem não há dúvida pois o parágrafo segundo do artigo 2o da
Lei de Arbitragem (Lei no 9.307/96) é categórico quanto a isso.
114
Sumário
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Contrato de Compra e Venda
l ovastendênciasparaoContratodeCompraeVenda
a ser pago em duas parcelas onde após a venda os compradores
alegaram ter comprado a metade. O fundamento do Tribunal
para não descaracterizar a venda integral foi que ao analisar as
negociações em momento algum foi questionada a quantidade e
que não ha forma específica exigida por lei, sendo, portanto, válidas
as negociações e a contratação. (Processo 0718261-18.2019.8.07.0007.
Relator Desembargador Diaulas Costa Ribeiro. 8a Turma Cível.
Julgado em 08/10/2020. Publicado em 23/10/2020).
Além da negociação vista no exemplo acima, atualmente são efetuadas milhares de compras
em lojas virtuais, e o ambiente digital democratizou as operações de compra e venda,
na medida que dá a possibilidade de efetuar venda de bens pessoas que não exercem
profissionalmente a venda de bens em sites de como o “Mercadolivre”, onde é possível
anunciar e realizar negociações de todo tipo de bem que pode ser comercializado. Para
tanto, o vendedor de aceitar as cláusulas impostas pelo administrador do site, inclusive no
que tange a normas de conduta (como por exemplo a emissão de nota fiscal para quem
atua profissionalmente).
A compra e venda também pode ser realizada através dos smartcontracts, ou seja, contratos
elaborados no meio digital em linguagem de programação, não sujeito a análise ou validação
de terceiros e, ainda, autoexecutável, ou seja, implementado determinado prazo a execução
é automática.
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Sumário
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Contrato de Compra e Venda
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Fonte: Shutterstock 2020
O grande desafio do futuro será como o Estado atuará no caso de uma pessoa sentir
que foi lesada, pois muitas destas negociações podem ocorrem entre pessoas de nações
distintas ou, ainda o programa e execução se dão em outra localidade que não a nação dos
contratantes em que talvez as normas de Direito Internacional atuais não sejam o bastante
para resolver.
Assim, é importante destacar que mesmo que as criptomoedas não sejam consideradas
moeda oficial pelas nações mundiais, não se pode ignorar que o dinheiro pode ser
convertido em criptomoedas e estas realizarem uma série de operações no mundo virtual
e sua conversibilidade em moeda corrente novamente. Estas operações realizadas com
as moedas virtuais, de acordo com a legislação brasileira deixam de ser compra e venda
e passam a ser consideradas como permuta, uma vez que o artigo 481 do Código Civil é
categórico no que tange ao pagamento do preço em dinheiro. 116
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Contrato de Compra e Venda
O comércio mundial vem passando por profundas transformações com as operações virtuais
e a tendência é que evoluam cada vez mais de forma a trazer mais segurança para quem
opera neste meio.
Vale lembrar que o comércio eletrônico quando inaugurado na internet era visto com muita
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desconfiança pelas pessoas que não conheciam do seu funcionamento. No Brasil o seu
desenvolvimento se deu não apenas pela facilidade de efetuar a compra e venda, mas em
muitos casos pela aplicação do Código de Defesa do Consumidor (Lei no 8.078/90) que deu
segurança jurídica necessária ao se adquirir bens fora do estabelecimento comercial, como
o direito de arrependimento e devolução imotivada no prazo de 7 (sete) dias da compra,
previsto no artigo 49 da referida lei.
Bibliografia Comentada
Veja a seguir uma indicação de leitura que poderá complementar seus estudos. Essa leitura
não é obrigatória, porém poderá ampliar seu conhecimento em relação ao assunto abordado
na unidade.
1. VENOSA, Sílvio de Salvo. Contratos em Espécie. 13a ed. São Paulo: Atlas, 2013.
Esta obra traz uma abordagem simples e objetiva no que tange ao compromisso de compra
e venda e da adjudicação compulsória (p. 537-566), onde traz a evolução histórica no Brasil
e, ainda, traz alguns julgados a título exemplificativo.
Este artigo trata de forma crítica a aplicação da CISG no Brasil, onde o aluno poderá se
aprofundar sobre o tema pois aborda não apenas o caminho para a construção da CISG
mas também sua aplicabilidade prática.
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Mapa conceitual
Contrato de Compra e Venda
Conceito e aplicabilidade
Adjudicação Compulsória
As I ncoterm s
E term s : EXW
Conclusão
Nesta unidade pudemos verificar que o uma das modalidades do contrato de compra e
venda é o compromisso de compra e venda, um tipo de contrato preliminar que se contar
com a cláusula de irretratabilidade atribui ao promitente comprador o direito a exigir o
contrato principal – contrato de compra e venda. O compromisso poderá ou não estar
registrado e se estiver irá garantir ao promitente comprador um direito real sobre a coisa.
Caso não esteja registrado o promitente comprador poderá demandar de tutela específica
de obrigação de fazer ou buscar a adjudicação compulsória, ainda resolver a obrigação em
perdas e danos.
Um importante instrumento no direito brasileiro que as partes podem se socorrer é a ação de 118
adjudicação compulsória, onde o promitente comprador poderá dela utilizar nas hipóteses
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Contrato de Compra e Venda
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Os contratos de compra e venda existem tanto no âmbito interno quanto no internacional e
o Direito Internacional busca a aplicação de um regramento para este tipo de contrato. Em
matéria de compra e venda internacional de mercadorias muitas das regras foram inspiradas
nos costumes, ou seja a praxe do mercado impõe regras para quem nele atua.
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Contrato de Compra e Venda
Referências
Referências
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a elas pertinentes. Diário Oficial da União, 21 out. 1991. Disponível em: <http://www.planalto.
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de 21 de junho de 1993. Regulamenta o art. 37, inciso XXI, da Constituição Federal, institui
normas para licitações e contratos da Administração Pública e dá outras providências. Diário
Oficial da União, 22 jun. 1993. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/
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BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Lei nº 9.434,
de 4 de fevereiro de 1997. Dispõe sobre a remoção de órgãos, tecidos e partes do corpo
humano para fins de transplante e tratamento e dá outras providências. Diário Oficial da
União, 5 fev. 1997. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9434.htm>.
Acesso em: 22 out. 2020. 121
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Contrato de Compra e Venda
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garantias de livre mercado; altera as Leis nºs 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil),
6.404, de 15 de dezembro de 1976, 11.598, de 3 de dezembro de 2007, 12.682, de 9 de julho
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novembro 1994, o Decreto-Lei nº 9.760, de 5 de setembro de 1946 e a Consolidação das Leis
do Trabalho, aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943; revoga a Lei Delegada
nº 4, de 26 de setembro de 1962, a Lei nº 11.887, de 24 de dezembro de 2008, e dispositivos
do Decreto-Lei nº 73, de 21 de novembro de 1966; e dá outras providências. Diário Oficial da
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