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ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS

"Situação nunca foi tão grave", alerta IPCC


O Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC) vai elaborar um novo
relatório, cuja "necessidade nunca foi tão grande"

Com o aquecimento do planeta a acelerar, os impactos das alterações climáticas sucedem-se, com secas, tempestades ou
inundações © EPA/DANIEL IRUNGU

O presidente do grupo de cientistas do Painel Intergovernamental para as Alterações


Climáticas (IPCC, na sigla em Inglês) declarou esta terça-feira que "a situação nunca foi
tão grave", ao lançar o processo de adoção de um novo relatório.

"A necessidade (deste documento) nunca foi tão grande, porque a situação nunca foi tão
grave", afirmou Hoesung Lee, durante uma teleconferência que abriu um período de
discussão, à porta fechada, que vai decorrer durante duas semanas.

Com o aquecimento do planeta a acelerar, os impactos devastadores das


alterações climáticas sucedem-se, com canículas, secas, tempestades ou
inundações, os quais vão agora motivar aquele relatório do IPCC.

Com mais de século e meio de desenvolvimento económico consagrado às energias


fósseis, a temperatura média global aumentou 1,1 graus centígrados (ºC), em relação à
era pré-industrial.

Em agosto último, em um outro documento do IPCC, os cientistas estimaram que a


subida do mercúrio atingiria em torno de 2030 -- dez anos mais cedo do que antecipado -
os 1,5ºC estabelecidos como meta no Acordo de Paris.

Antes de uma terceira publicação, esperada para abril, sobre as soluções para reduzir as
emissões de gases com efeito de estufa, esta segunda, cuja discussão começou hoje,
trata dos impactos do aquecimento e da adaptação.
"Cerca de 4,5 mil milhões de pessoas sofreram
uma catástrofe associada a um acontecimento
meteorológico nos últimos 20 anos"
Espera-se que decline as consequências sobre todos os continentes e em todos os seus
aspetos, como saúde, segurança alimentar, escassez de água, deslocação de
populações ou destruição de ecossistemas.

“Cerca de 4,5 mil milhões de pessoas sofreram uma catástrofe associada a um


acontecimento meteorológico nos últimos 20 anos", acrescentou o diretor da
Organização Meteorológica Mundial, Petteri Taalas, apontando a responsabilidade das
energias fósseis.

Em quase todos os continentes, as pessoas veem as catástrofes em curso. Como


em 2021, as chamas a devastarem o oeste dos EUA, a Grécia ou a Turquia,
inundações a submergirem regiões da Alemanha ou da China, ou a temperatura a
chegar aos 50ºC no Canadá.

E "sabemos (...) que o crescimento dos impactos climáticos supera de longe os nossos
esforços de adaptação", insistiu a diretora da agência da ONU para o Ambiente, Inger
Andersen, considerando que o novo relatório do IPCC é "capital para ajudar os
decisores mundiais a desenharem respostas aos impactos climáticos".

Face à litania das catástrofes e à necessidade de reduzir as emissões em cerca de 50%


até 2030 para não exceder o objetivo de 1,5ºC, os dirigentes mundiais prometeram em
novembro, em Glasgow, durante a 26.ª Conferência das Partes (COP26) da Convenção
das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (UNFCCC, na sigla em Inglês), acelerar
a luta contra o aquecimento global e financiar mais as medidas de adaptação.

"Insuficiente para afastar a catástrofe climática que continua a bater à porta", declarou
então o secretário-geral da ONU, António Guterres.

"Espero que este relatório seja um bom pontapé de saída" para a COP27, que vai
decorrer no Egito, no final do ano, disse à AFP o enviado dos EUA para os
assuntos do clima, John Kerry.
Relatório vai ajudar a "elaborar
políticas e a tomar decisões"

O documento "vai integrar mais fortemente as ciências económicas e sociais e fornecer


aos decisores informação e conhecimento para os ajudar a elaborar políticas e tomar
decisões", disse, por seu lado, Hoesung Lee.

Em 28 de fevereiro vai ser apresentado este novo documento do IPCC, depois dos
195 Estados membros analisarem, linha a linha, o “resumo para decisores", um
condensado politicamente sensível dos milhares de páginas do relatório científico,
preparado por 270 cientistas.

O foco da publicação é a adaptação.

Mas "há limites à adaptação", sublinhou à AFP o climatologista Laurent Bopp, um dos
coautores, evocando o risco de migrações importantes de populações.
"Em algumas zonas, se as temperaturas ultrapassarem níveis já muito elevados, a
vida humana deixa de ser possível. Se em algumas zonas costeiras, o nível do mar
subir mais de um metro, a proteção com diques deixa de ser possível", exemplificou.

DN/Lusa 15 Fevereiro 2022 — 11:56


Fonte: Diário de Notícias
Eva Lázaro, nº8, 11º3

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