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1) Descrição
2) Propósito
3) Objetivos
Imagem 2 — Byzantine mosaic depicting Empress Theodora (6th century) flanked by a chaplain and a court lady
believed to be her confidant Antonina, wife of general Belisarius. Disponível em:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Teodora_(esposa_de_Justiniano)#/media/Ficheiro:Empress_Theodora.jpg
Imagem 3 — San Vitale (Ravenna) - Mosaic of Iustinianus I
Disponível em:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Justiniano#/media/Ficheiro:Mosaic_of_Justinianus_I_-
_Basilica_San_Vitale_(Ravenna).jpg
Como observamos tanto no afresco que representa Teodora quanto no que retrata
Justiniano, é perceptível o uso de joias, principalmente brincos, broches e adornos de cabelo,
com pedras preciosas incrustradas que asseguravam às roupas o luxo e a suntuosidade
necessária para impactar os súditos e os visitantes da corte imperial.
Apesar da sua origem humilde, sendo seu pai um homem do circo bizantino, Teodora
encantou os súditos e o jovem imperador Justiniano com a sua beleza. A imperatriz tornou-se
mais do que uma simples rainha, atuando como uma conselheira política. Foi graças à ação
dela que Justiniano, ameaçado de perder o trono graças à revolta de Niké (532), conseguiu
acalmar a ira da população, revoltada com o aumento dos impostos e os altos gastos públicos.
Pacificados, os revoltosos voltaram a reverenciar o imperador. (SAIBA +2)
A imperatriz exercia uma forte influência não só sobre o seu marido, mas sobre a corte
imperial e os súditos que, conhecedores da sua origem humilde, admiravam o seu sucesso e
elegância. Até hoje, Teodora é uma referência da moda feminina por reunir em sua figura todo
o esplendor, o luxo e o poder do mundo bizantino. Grandes marcas como a Dolche & Gabanna
inspiraram-se diretamente na figura de Teodora para lançar os seus produtos, como vemos na
imagem abaixo, onde a modelo ostenta joias similares àquelas do mosaico da imperatriz, e usa
um vestido com estampas predominantemente dourada, com tons de azul e de púrpura, que
traz no centro a reprodução da face da imperatriz.
Coleção Dolce & Gabanna. Desfile outono-inverno 2013/2014. Disponível em:
https://br.pinterest.com/pin/620652392380236149/?nic_v2=1a6brT8jm
Além de representar a riqueza de quem a utilizava, visto que essa cor era
extremamente difícil de ser alcançada. O processo para a sua produção era bastante
trabalhoso e envolvia o domínio de uma técnica bastante complexa. Os pigmentos naturais
eram extraídos de algumas espécies de moluscos encontrados no litoral do Mar Mediterrâneo,
do Atlântico e das Ilhas Britânicas. A preparação da tinta para o tingimento do tecido exigia
uma técnica bastante apurada, que envolvia a manipulação delicada dos moluscos, dos quais
era extraída uma secreção branca, presente em uma pequena veia do animal, com a qual se
embebia o tecido a ser tingido que, exposto à luz solar, revelaria a cor pretendida. Inicialmente
o tecido alcançaria uma cor amarela, em seguida verde, para depois chegar à tonalidade
púrpura. O processo geral de tingimento do tecido durava em torno de dez dias.
Todo esse processo nos permite compreender como um tecido de cor púrpura era
valorizado, já que para a sua produção era necessária uma grande quantidade de matéria-
prima e uma técnica bastante aprimorada, além de, em seu processo produtivo, gerar pelo
menos duas outras tonalidades de tintas, sem contar os tons de cores intermediárias.
A cor púrpura era, portanto, exclusiva dos imperadores e dos altos dignatários
eclesiásticos e estava presente nas túnicas, nos mantos, nos adornos, na decoração e nos
mosaicos. No palácio imperial, havia a “morada púrpura”, uma ala especial que era ocupada
pelas imperatrizes quando elas estavam próximas de dar à luz (PATLAGEAN,2009). A mesma
cor púrpura foi utilizada no mosaico O Milagre do Pão e dos Peixes produzido por volta do ano
520, e localizado na basílica de Santo Apolinário. Neste mosaico reproduzido abaixo, nota-se o
uso dessa tonalidade no manto do Cristo, cercado por seus discípulos por ocasião da realização
desse milagre.
O Milagre do Pão e dos Peixes. Mosaico bizantino. c. 520. Basílica de Santo Apolinário
Disponível em: https://br.pinterest.com/pin/589479038717361663/
A púrpura não era, portanto, somente a cor dos imperadores e dos clérigos, mas
também a da própria divindade. Logo, aquele que a ostentava em suas vestimentas deveria
estar à altura de todo o poder e o respeito que por ela representado.
A cor púrpura tem sido utilizada ou abandonada de acordo com as tendências e as
propostas do mercado da moda, mas o seu impacto visual é inegável, como podemos perceber
no desfile da semana de moda de Londres, em 2012.
Christopher Kane, desfilou na semana de moda de Londres não apenas com uma coleção repleta de
looks roxos, como a passarela foi toda pintada da cor (20/02/2012)
Imagem: Getty Images
Disponível em https://www.uol.com.br/universa/noticias/redacao/2012/03/23/cor-purpura-apos-anos-
deixado-de-lado-o-roxo-volta-a-moda.htm
[...] A existência de uma moeda forte e estável, o nomisma, muito contribuía para a
realização deste comércio internacional. Sedas, tecidos de linho, perfumes, jóias,
objetos de marfim ricamente trabalhados, relicários, diversos tipos de especiarias;
estas mercadorias e muitas outras estimulavam os comerciantes de diversas partes
do mundo a se dirigirem para o império. Feiras realizadas em diversas cidades,
expunham mercadorias europeias, islâmicas, persas, indianas e chinesas. [...].
(FRANCO JUNIOR,1986,51)
[...] Pode-se ver nos cofres de marfim a nudez exata de Adão e Eva e de figuras
mitológicas de gosto antigo. Porém as pinturas de manuscritos mostram uma
conduta bem diferente: a silhueta totalmente embuçada da viúva Danielis em
viagem, no Scylitzes de Madri; a roupa luxuosa cobrindo de alto a baixo as
dançarinas de um saltério pintado em Constantinopla no final do século XI, as mãos
escondidas dentro de mangas compridas e largas, a cabeça coberta por grandes
gorros. Quanto aos homens, na guerra e no trabalho dos campos aparecem com as
pernas nuas, porém na cidade não se veem mais do que os tornozelos dos leigos da
alta sociedade. (PATLAGEAN,2016;589).
Confira as observações da autora com a figura abaixo, que representa o manuscrito
mencionado.
Danielis siendo cargada por sus esclavos a Constantinopla. Miniatura de la crónica de Ioannis Skylitzes, mediados
del siglo XIII. Biblioteca Nacional de España, Madrid. Disponível em:
https://es.wikipedia.org/wiki/Danielis#/media/Archivo:Danielis.jpg
Considerações Finais
Questões
1 – A cor púrpura era muito valorizada no Império Bizantino, sendo utilizada de acordo com
determinadas regras. A valorização dessa cor pode ser explicada:
Gabarito
Letra E. A cor púrpura era utilizada sobretudo nas roupas imperiais e dos altos dignitários
religiosos.
a) Das rotas comerciais que eram dominadas pelos hunos, uma tribo asiática que atacou
o Império Bizantino no século V.
b) Das rotas comerciais que partiam do continente africano, especialmente aquela que
tinha origem no reino do Sudão.
c) Da ação dos mercadores judeus que, com as suas colônias, dominavam o comércio
pelo mar Mediterrâneo.
d) De uma das rotas da seda que se estendia do império chinês até a cidade de
Constantinopla.
e) Das rotas comerciais que partiam da Índia e eram dominadas pelos comerciantes
árabes.
Gabarito
Letra D. Do território chinês partiam várias rotas comerciais. Uma delas atravessava a região
oriental, sendo frequentada por diversos comerciantes que abasteciam as suas caravanas com
produtos luxuosos (como a seda), e alcançava a cidade de Constantinopla. A partir dos portos
bizantinos, esses produtos eram transportados para o ocidente medieval.
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A formação dos reinos germânicos foi muito mais do que um projeto político, tratou-se
da interação de sociedades e de costumes romanos e germânicos, também no campo da
indumentária. As vestimentas utilizadas pelos diversos tipos sociais seguiam, portanto, as
referências germânicas e romanas.
As túnicas, de inspiração romana, eram uma espécie de vestido folgado que escondia
as formas do corpo humano, podendo estender-se até o joelho ou o tornozelo. Eram utilizadas
por homens e por mulheres, sendo feitas de lã, de linho e de cânhamo. Na Península Ibérica,
devido à presença muçulmana, utilizavam-se a seda e o algodão para a feitura das túnicas.
Normalmente as mulheres usavam uma espécie de cinto amarado na cintura, como uma forma
de ornamento.
O tamanho das túnicas tinha relação com o status social, em geral, as túnicas curtas
eram usadas pelos mais populares, já as túnicas longas eram usadas pelas nobrezas e pelas
autoridades eclesiásticas. A imagem abaixo é de uma iluminura, produzida no século XIII, e que
representa a rainha anglo-saxã Etelfleda (c. 869-918). Nota-se o uso de uma túnica coberta por
um manto, em tons de azul, com bordados que se assemelham às pedras preciosas. Como
adorno e símbolo da sua autoridade, a rainha ostenta uma coroa sob a sua cabeça.
Etelfleda, no "Cartulário e Costumes" da abadia de Abingdon, 1220. Disponível em:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Etelfleda#/media/Ficheiro:%C3%86thelfl
%C3%A6d_as_depicted_in_the_cartulary_of_Abingdon_Abbey.png
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As mulheres tinham entre uma das suas habilidades principais a tecelagem. As artesãs
fiavam os tecidos rústicos com os quais eram cerzidas as roupas normalmente utilizadas,
dominando também algumas técnicas de tingimento.
O linho era utilizado, principalmente, nas roupas de baixo porque a sua leveza
facilitava a sua lavagem. Já os materiais luxuosos e tecidos finos eram empregados nas roupas
das mulheres nobres, sobretudo no bordado das mangas das túnicas. Na iluminura abaixo,
feita no século XIV, como parte de uma cópia francesa da obra Decamerão, de Bocaccio, são
representadas mulheres, provavelmente artesãs, tecendo e costurando tecidos e roupas.
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Um dos reinos germânicos que alcançou maior longevidade na Idade Média foi o reino
franco. Os francos ocuparam a região da Gália e desenvolveram uma realeza que tinha o seu
poder sustentado por uma aristocracia detentora de terras e da força militar. A primeira
dinastia franca, a dinastia merovíngia foi substituída, no século VIII, pelos carolíngios.
Os carolíngios subiram ao poder oficialmente, em 751, quando o papado reconheceu
Pepino, o Breve (751—768) como o novo rei. Os reis carolíngios mantiveram uma forte aliança
com a Igreja e mesmo antes da sua ascensão ao trono, tiveram um papel bastante significativo
na defesa do ocidente medieval contra os muçulmanos, que haviam se instalado na Península
Ibérica, em 711, e iniciaram uma série de ofensivas militares contra a Gália buscando controlá-
la. O avanço muçulmano na Gália foi contido pelo pai de Pepino, o prefeito do rei Carlos
Martel, que venceu a batalha de Poitiers, em 732.
Uma das figuras mais significativas da dinastia carolíngia foi Carlos Magno (724—814)
que assumiu o trono após a morte do seu irmão. Carlos Magno consolidou a sua aliança com a
Igreja, que lhe rendeu, dentre outros benefícios, o apoio para o seu plano de expansão
territorial sobre as regiões que pertenciam a outras tribos germânicas, e garantiu-lhe o título
imperial, já que o papa o coroou imperador, em Roma, no ano de 774. Em troca do apoio
recebido pela Igreja, Carlos Magno ampliou o patrimônio territorial eclesiástico através de
doações, investiu na fundação de monastérios e tornou-se o defensor militar da cristandade
contra os muçulmanos.
Além de aliar-se à Igreja para montar o seu Império, Carlos Magno distribuiu benefícios
aos seus aliados militares da nobreza. Os benefícios consistiam na distribuição de terras, da
licença para cobrar impostos em uma região, ou de cobrar pedágios nas estradas que
cortavam o Império. Os nobres recebedores dos benefícios (ou feudos) ocupavam o papel de
vassalos do Imperador no quadro hierárquico onde ele era o suserano. Com o apoio militar dos
seus vassalos, Carlos Magno investiu nas conquistas militares e territoriais, que lhe valeu o
controle sobre boa parte da Europa ocidental e central, formando o Império Carolíngio.
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Ficheiro:Frankish_Empire_481_to_814-pt.svg
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As mulheres vestiam uma túnica cumprida com uma abertura na frente para facilitar o
deslocamento. Era comum também o uso de uma pequena corrente que levantava a barra da
túnica para facilitar a locomoção. Assim como entre os outros povos germânicos, as mulheres
francas deveriam vestir-se de modo recatado e a qualidade e o luxo da indumentária se
relacionavam ao seu status social. O cuidado com o corpo feminino não era somente de
responsabilidade das próprias mulheres, mas também do governo que, através das leis, punia
àqueles que praticassem a violação das mulheres, desrespeitando-as e comprometendo o
cumprimento do seu papel social, que era, sobretudo, o procriativo.
Os francos alcançaram um forte desenvolvimento na arte da metalurgia, assim como
outros povos germânicos. O estímulo dado por Carlos Magno à arte favoreceu o
desenvolvimento da ourivesaria, através da qual foram produzidos adornos de ouro e de
outros metais que eram empregados para embelezar as vestimentas e expressar o status social
do seu portador. As mulheres, por exemplo, usavam longas cabeleiras presas por alfinetes
feitos de metais, considerados elementos fundamentais da beleza feminina. Os reis
merovíngios eram chamados de “reis cabeludos” por manteres os seus cabelos longos que
expressavam a sua virilidade e liberdade, mas os eclesiásticos e os escravos mantinham seus
cabelos cortados. No caso dos eclesiásticos, o cabelo era cortado de forma a criar uma coroa
de pelos. Já no caso dos escravos, o cabelo era cortado curto. Na iluminura abaixo é possível
observar que as mulheres representadas têm cabelos longos e estão vestidas com túnicas
adornadas com correntes e bordados.
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O feudalismo e a indumentária
Após a morte de Carlos Magno, o seu filho e herdeiro, Luís, o Pio (814—840) assumiu o
controle do Império Carolíngio. O novo imperador lutou para manter o controle territorial e
político sobre o seu Império, mas não conseguiu impedir a sua desagregação, visto que a
nobreza, que havia sido a base de apoio do seu pai, cobrava de Luís a distribuição de novos
benefícios para a renovação da sua vassalagem. Em consequência disso, o imperador distribuiu
cada vez mais feudos e também o direito de ban (o direito de aplicar a justiça e de fazer as leis,
antes exclusivo do imperador), o que esvaziou significativamente o seu poder. Por ocasião da
morte de Luís, o Pio, o Império Carolíngio desagregou-se, sendo dividido entre os seus três
filhos: Luís, o Germânico recebeu a França Orientalis; a Carlos, o Calvo coube a França
Ocidentalis; a parte central do Império, incluindo a Península Itálica, coube ao filho mais velho,
Lotário. Observe no mapa abaixo a divisão do Império Carolíngio proposta com a assinatura do
Tratado de Verdun (843).
Disponível em:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Tratado_de_Verdun#/media/Ficheiro:Carolingian_empire_843-pt.svg
[...] Das mãos femininas saíam, de fato, todos os enfeites do corpo e os tecidos
ornamentados que decoravam o próprio quarto, a sala e a capela, isto é, uma parte
considerável do que chamaríamos de criação artística, sacra e profana, mas
assentada em materiais tão perecíveis que dela só subsistem hoje ínfimos
fragmentos (DUBY, 90)
Considerações finais
A desagregação do Império Romano não significou o fim da influência da cultura
romana no ocidente medieval. Pelo contrário, os povos germânicos que ocuparam o território
da Europa atual absorveram as referências culturais romanas e, em combinação com as suas
próprias referências culturais, construíram uma ampla e diversa base cultural sobre a qual se
constituiu a identidades dos reinos medievais que ali se estabeleceram.
A chegada de outros povos ao ocidente medieval não só impingiu mudanças na
organização política, econômica, social e cultural presente no império carolíngio, como
inaugurou um novo sistema na região: o feudalismo. Nas cortes medievais, o casal senhorial
era considerado o modelo de comportamento, inclusive de indumentária, para os demais
membros da corte e do seu senhorio, mesmo que os servos não tivessem a capacidade
econômica de segui-lo.
Questões
a) A toga romana
b) O casaco huno
c) O vestido árabe
d) As ceroulas francas
e) A capa normanda
Gabarito:
Letra A. A toga romana serviu como base da vestimenta alto medieval tanto para os homens
quanto para as mulheres. Ela era usada curta, pelos homens (a ponto de tornar-se uma
espécie de camisa), e longa pelas mulheres, assumindo a forma de uma espécie de vestido.
2 — O estilo arquitetônico utilizado para a construção das igrejas durante a Alta Idade Média
foi:
a) O gótico
b) O clássico
c) O românico
d) O neogótico
e) O rococó
Gabarito:
Letra C. O estilo românico, com paredes sólidas e poucas aberturas e janelas, foi utilizado na
construção das igrejas durante a Alta Idade Média, principalmente porque elas serviam como
espaços de proteção para a população diante das ameaças das invasões e das guerras internas.
Módulo 3 — O desenvolvimento da Moda no período da Idade Média: Baixa Idade Média
O termo gótico surgiu no século XVI, sendo utilizado pelo artista renascentista italiano
Giorgio Vasari para referir-se a arte produzida durante a Baixa Idade Média, e que se
desenvolveu, sobretudo, através da construção das catedrais.
O ocidente europeu experimentou, no século XI, uma série de transformações que se
estenderam ao século seguinte. O uso de novas técnicas favoreceu o aumento da produção
agrícola. Com o uso da charrua (instrumento agrícola semelhante a um arado, mas que
revolvia a terra mais profundamente) e a utilização do cultivo trienal (que implicava em dividir
o terreno a ser cultivado em três partes, sendo uma delas destinada ao pousio e as duas outras
restantes empregadas no cultivo dos cereais de inverno e de verão) os senhorios tiveram a sua
produção agrícola ampliada, e que foi ainda mais favorecida pelas condições climáticas
adequadas para o desenvolvimento da lavoura.
A ampliação das lavouras implicou na ocupação das chamadas terras incultas,
florestas, pântanos e áreas anteriormente destinadas somente à exploração senhorial, e no
aumento demográfico. Pequenas vilas e cidades surgiram ou foram revitalizadas sob a
influência da ampliação das rotas comerciais, onde os produtos produzidos nas regiões ou no
oriente eram transportados por vias marítimas e terrestres para abastecer a população que se
ampliava gradativamente.
Os produtos luxuosos e excêntricos vindos do oriente ganharam um espaço crescente
nas feiras e nos mercados ocidentais, sobretudo após as cruzadas. As cruzadas foram
movimentos de caráter militar e religioso, pregados pelo papado, que conclamava os fieis dos
diversos grupos sociais, mais especialmente a nobreza, a lutar contra as tropas muçulmanas
seljúcidas que dominaram a Terra Santa (Palestina) e retomar o controle cristão na região.
Apesar de as Cruzadas não terem alcançado o resultado esperado, tiveram uma participação
bastante significativa na intensificação do contato comercial e cultural entre o oriente e o
ocidente medieval. (SAIBA + 5)
O historiador da arte Gombrich, ao analisar o impacto que as Cruzadas causaram no
campo artístico, afirma: "De fato, em nenhuma outra época a arte europeia se aproximou mais
dos ideais desse gênero de arte oriental do que no apogeu do estilo românico."
(GOMBRICHI,180).
A Igreja medieval não ficou isenta da prosperidade econômica e das transformações
sociais, culturais e políticas profundas que caracterizaram os séculos XI e XII. A pregação das
Cruzadas pelo papado demonstra o papel importante que a Igreja medieval alcançou nesse
período de mudanças sociais.
Disposta a romper com a intervenção contínua que os senhores laicos exerciam sobre
os cargos eclesiásticos, o papado iniciou um processo de reformas na estrutura interna da
Igreja, que implicou em um maior controle da Igreja sobre os membros dos seus quadros e
consequentemente, sobre o seu patrimônio.
Fortalecida internamente, a Igreja procurou alcançar aos seus fiéis de uma forma mais
efetiva. As igrejas se tornaram os edifícios mais reconhecidos e centrais nas comunidades
urbanas. A população citadina, cada vez mais heterogênea, ao caminhar pelo espaço urbano
avistava, nos edifícios religiosos, os símbolos da vida religiosa.
As cidades onde os bispos residiam e que, portanto, abrigavam o palácio episcopal, se
tornaram o espaço por excelência para a construção das catedrais que não só representavam o
poder dos seus líderes religiosos, mas também garantiam o prestígio da própria cidade. Uma
catedral imponente que possuísse em seu interior relíquias sagradas e obras de arte sacras
atraía não só os fiéis da própria comunidade para um exercício mais efetivo da sua fé, mas
também aos estrangeiros.
As imponentes catedrais medievais se tornaram centros de peregrinações dos fiéis que
se sentiam recompensados por esse exercício de fé quando, ao final da caminhada, podiam
deslumbrar-se com a beleza da arquitetura, da estatuária e da pintura realizada nos vitrais, e
retornar para as suas casas com relíquias e objetos que lhes valessem a sensação de levar
consigo uma parcela do poder dos santos de que eram devotos.
O conceito de uma nova espiritualidade difundiu-se com a reforma eclesiástica, onde o
fiel era estimulado a empenhar-se no fortalecimento individual da sua fé, baseada na
contrição, na busca pelo perdão dos seus pecados e pelo aprimoramento espiritual.
Reunindo os novos padrões de espiritualidade com a construção das catedrais, os
bispos disponibilizaram grande parte dos recursos da sua sé e da comunidade (que participava
dessa empreitada através de ofertas) para a realização dessa empreitada. Dessa forma, por
todo o ocidente europeu espalhou-se uma rede de catedrais e cada uma das cidades que as
possuía empenhava-se por tornar a sua catedral mais imponente e atraente aos fiéis.
As catedrais se tornaram, ao mesmo tempo, símbolos do prestígio religioso dos bispos
e do poder político da aristocracia urbana, que se beneficiava diretamente dos recursos
econômicos decorrentes do trânsito dos fiéis que se lançavam às peregrinações.
Inicialmente, os "doutores em pedras" (ou os arquitetos, como foram denominados
posteriormente) foram desafiados pelos bispos e por seus capítulos a construir tetos
abobadados que substituiriam os tetos retos das antigas catedrais românicas. Diante desse
desafio arquitetônico, novas inovações técnicas foram elaboradas para construir edifícios que
se mostrassem esteticamente mais atraentes e impactantes para os fiéis. A ideia era que os
devotos, ao adentrar às catedrais góticas, vivenciassem a sensação de estar mais próximos do
poder sobrenatural que emanava das figuras sacras, mas que principalmente
experimentassem a luminosidade originária diretamente do poder de Deus.
Para que essa sensação espiritual se concretizasse, as catedrais deveriam parecer mais
etéreas e menos sólidas. O desafio dos arquitetos medievais era reinventar o uso das pedras,
matérias-primas da construção dos edifícios medievais, e acrescentar o uso de novos materiais
como o vidro. Do projeto espiritual dos bispos e das inovações técnicas dos mestres das pedras
surgiram as catedrais góticas.
As catedrais góticas assemelhavam-se a grandes estufas. Sua estrutura longilínea
erguia-se em direção ao céu, à luz de Deus. Hoje seriam construídas com imbricadas estruturas
de ferro e aço, mas na Idade Média foram erigidas com pedras. Ao invés das compactas
paredes de pedras românicas, as paredes góticas eram adornadas com vitrais onde as figuras
sacras se destacavam.
A construção desses edifícios tão inovadores para o período exigiu o desenvolvimento
de cálculos matemáticos complexos que garantissem não só as características estéticas do
edifício, mas também a segurança daqueles que os frequentaria. Os tetos eram abobadados e
os vitrais próximos ao altar garantiam que os sacerdotes e os símbolos sagrados fossem
iluminados com luzes aparentemente mística. Os inúmeros arcos, feitos em pedra trabalhada
para garantir a sensação de leveza da construção, foram característicos das catedrais góticas e
asseguravam aos fiéis a sensação de estarem se elevando em direção ao céu. As paredes e os
arcos eram tecidos com pedras trabalhadas que promoviam o encaixe perfeito e a solidez da
estrutura. Logo, o que a princípio era uma inovação técnica tornou-se um conceito de
religiosidade corporificado arquitetonicamente.
A catedral de Chartres foi a primeira a ser construída no estilo gótico. Após os anos
1200, grandes e novas magníficas catedrais brotaram na França e nas regiões vizinhas. Veja as
figuras abaixo, elas representam a fachada e a parte interna da catedral de Notre Dame, uma
das catedrais mais antigas da Europa e um dos símbolos mais referenciados da arte gótica, mas
que infelizmente está parcialmente destruída em função de um incêndio ocorrido em 2019.
Na foto 2 é possível observar os múltiplos arcos que ladeiam a nave da catedral, dando
a sensação ao visitante que ele está sendo conduzido por uma parede de arcos internos até o
ponto mais importante do edifício, o altar, onde a missa era realizada, os ritos seguidos e os
objetos sacros, cobertos de ouro e incrustrados de pedras preciosas, eram admirados pelos
espectadores, demonstrando a glória e a riqueza divina.
[...] Muito em especial nas figuras quer eles resolviam colocar nas fachadas, à vista
dos que não sabiam ler, como uma transposição visual do seu saber. Ordenavam
aos seus escultores e aos pintores que expusessem no centro da cidade, ponto de
confluência dos povos, a maneira como agora eram imaginadas na escola as
relações entre o Criador e as criaturas, que mostrassem portanto, um Deus feito
homem, semelhante a qualquer um de nós pela carne que revestira, e que o
mostrassem mais próximo dos homens, imitável, tal como viera no dia-a-dia entre
eles" (DUBY, 2002, 65).
Os pórticos das catedrais também eram ricamente ornados por personagens sacros,
figuras angelicais, e também maléficas, como serpentes e dragões, que representavam as
maldades a serem vencidas pelos santos e pelos fiéis na busca pela salvação.
Através da apreciação da beleza dos vitrais, das estátuas, das linhas harmoniosas dos
arcos e do teto abobadado, bem como dos pórticos, que exerciam um claro estímulo estético
visual, o fiel se via mais próximo da riqueza e da glória que cercava a Jerusalém celeste,
destino desejado por todos os cristãos.
Dessa forma, o gosto pelos produtos refinados e luxuosos ganhou espaço. A arte da
estatuária e a da pintura ganhou espaço na composição de adornos domésticos e pessoais.
O senso de profundidade obtido através do jogo de luz e de sombras, decorrente da
influência da arte bizantina na arte italiana, desenvolveu-se na pintura gótica. Um dos pintores
italianos que conseguiu empregar na arte da pintura o senso de profundidade presente nas
esculturas góticas foi o pintor florentino Giotto de Bordone (1267-1337). Em seus famosos
afrescos, Giotto redescobriu a arte de criar a ilusão de profundidade numa superfície plana.
Como informa E. H. Gombrich:
Para Giotto, essa descoberta não representou apenas um estratagema a ser exibido
como tal. Ela habilitou-o a mudar toda a concepção da pintura. Em vez de usar os
métodos de escrita pictória, ele citou a ilusão de que a história sagrada estava
acontecendo diante dos nossos olhos. (GOMBRICH,2015,201)
O talento de Giotto para a pintura o fez reconhecido pela sociedade e, a partir dele, a
autoria de uma obra de arte passou a ser identificada. Com o tempo, os artistas criaram o
habito de assinar as suas obras e, partindo da experiência alcançada com a arte sacra, se
voltaram para a representação da natureza e das pessoas. Apesar de a arte do retrato não ser
tradicional na Idade Média, há vestígios da existência de um retrato feito pelo pintor Simoni
Martini (1284—1344).
Sob a influência crescente da filosofia aristotélica, que entendia que o conhecimento
sobre o mundo era um elemento fundamental para o entendimento da verdade divina e para a
proximidade com Deus, a arte gótica, sobretudo a produzida no âmbito de uma arte popular,
voltou-se para a representação dos elementos naturais. Alguns mestres italianos pintaram
copiando a natureza, desenvolvendo a arte retratista e rompendo com as rígidas figuras da
arte bizantina.
Antes, os artistas realizavam a sua arte através do treino das antigas fórmulas para
representar as principais figuras da história sagrada, e aplicar esse conhecimento a
combinações sempre renovadas. Agora, o oficio do artista incluía uma habilidade diferente: ser
capaz de realizar estudos da natureza e transferi-los para os seus quadros. Os espectadores da
arte julgavam a qualidade da mesma pela riqueza e precisão dos detalhes apresentados na
reprodução da realidade.
As peças artísticas produzidas eram avidamente adquiridas e por vezes encomendadas
pela aristocracia urbana e rural interessada em ter nas suas residências objetos similares
àqueles que viam nas grandes casas senhoriais e nos palácios reais. Ampliou-se, então, o
hábito de encomendar o erguimento de uma capela nas propriedades que eram
cuidadosamente ornadas com estátuas, vitrais e pinturas, para uso próprio da família
senhorial. Também era costumeira a encomenda dos livros das horas, um livro de oração que
era feito para o público laico e utilizado nas devoções particulares, muitas das vezes realizadas
nessas capelas. Quanto mais importante era a personalidade que encomendava esse tipo de
literatura, mais ricamente produzidas seriam as suas iluminuras e acabamentos. Observe a
imagem a seguir. Trata-se do livro das horas do duque de Berry.
Uma outra produção artística muito frequente na Baixa Idade Média eram os
calendários com iluminuras que marcavam a passagem do tempo, explorando principalmente
cenas da natureza que representavam o período do plantio e da colheita.
Agricultural calendar, c. 1470, from a manuscript of Pietro de Crescenzi
Disponível em: https://en.wikipedia.org/wiki/Middle_Ages
Considerações finais
Questões
a) Românico
b) Neoclássico
c) Gótico
d) Rococó
e) Barroco
Gabarito: Letra C — O estilo gótico surgiu na Baixa Idade Média através do projeto eclesiástico
de construção das catedrais urbanas.
2 — Cor que, durante o período baixo medieval, alcançou grande valorização e representação
na arte e na indumentária por ser utilizada no manto da Virgem Maria:
a) A púrpura
b) O amarelo
c) O preto
d) O azul
e) O vermelho
Gabarito: Letra D. A cor azul passou a ser utilizada na arte sacra para colorir o manto da
Virgem Maria e que foi utilizada também pelos monarcas baixo medievais.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DUBY, G. História Artística da Europa. A Idade Média. São Paulo: Paz e Terra, 2002.
DUBY, G. Quadros. In: DUBY,G. e ARIÉS,P. História da Vida Privada. Do Império Romano ao Ano
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PATLAGEAN, Évelyne. Bizâncio. Séculos X e XI. História da Vida Privada. Do Império Romano ao
Ano Mil. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.
ROUCHE, M. Alta Idade Média Ocidental. In: DUBY,G. e ARIÉS,P. História da Vida Privada. Do
Império Romano ao Ano Mil. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.