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Tags: O desenvolvimento da Moda no período da Idade Média

1) Descrição

A importância da compreensão dos aspectos históricos do período alto e baixo


medieval para o entendimento do processo de elaboração e de transformação das
indumentárias utilizadas nos diversos níveis sociais e econômicos da sociedade ocidental, e
relacionadas às distinções de gênero presentes na moda do período.

2) Propósito

Apresentar o processo histórico alto e baixo medieval relacionando-o às


transformações ocorridas no campo da moda ocidental.

3) Objetivos

 Compreender o processo histórico de formação da cultura no Império Bizantino e a


sua importância na constituição da moda bizantina.

Módulo 1 — O desenvolvimento da Moda no período da Idade Média: Império Bizantino

 Compreender o processo histórico de formação da cultura no Império Bizantino e a


sua importância na constituição da moda bizantina.

A Era de Justiniano e Teodora

O Império Romano, o último dos grandes impérios da Antiguidade, entrou em um


processo de crescente desagregação desde o século III. O século IV abrigou algumas tentativas
por parte dos imperadores romanos para deter a crise que se instalava em seu território. Os
conflitos políticos internos, a vasta extensão territorial, a máquina burocrática custosa, mas
necessária para a sua manutenção, e o aumento da pressão dos povos germânicos em suas
vastas fronteiras, dentre outros fatores, encaminharam o Império Romano para a sua
desagregação.
Como uma resposta a esse quadro desagregador, o imperador Teodósio (347-395)
dividiu o Império Romano em duas grandes áreas, não com a intenção de separá-las de fato,
mas com o intuito de facilitar a sua administração e conter o avanço dos povos invasores.
Dessa forma, Roma tornou-se a capital do Império Romano Ocidental e a cidade de Bizâncio foi
escolhida como a sede do Império Romano Oriental. Conforme você pode observar no mapa
abaixo, a cor verde representa os territórios do Império Romano Ocidental e a cor abóbora se
refere às regiões do Império Romano Oriental.

Imagem 1 — Mapa da divisão do Império Romano. Disponível em:


https://pt.wikipedia.org/wiki/Imp%C3%A9rio_Romano_do_Ocidente#/media/
Ficheiro:Western_and_Eastern_Roman_Empires_476AD-es.svg

Apesar da estratégia política e administrativa adotada por Teodósio, a integridade do


Império Romano não resistiu às crises internas e às investidas dos povos germânicos nas
fronteiras romanas. No século IV, então, o território romano ocidental fragmentou-se em
diversos reinos germânicos, enquanto a parte oriental do Império Romano manteve-se coesa.
Sob o domínio do imperador Justiniano (483-565), que investiu na preservação territorial e no
fortalecimento das bases culturais, o Império Romano Oriental tornou-se a “Nova Roma”.
Uma das estratégias políticas adotadas por Justiniano para fortalecer a autoridade
imperial e os símbolos de poder foi a revitalização da cidade de Constantinopla, inicialmente
nomeada como Bizâncio, na ocasião da sua fundação, no século VII a. C., como uma colônia
comercial grega. Situada no Estreito de Bósforo, Bizâncio localizava-se justamente na junção
entre a Ásia e a Europa, representando o ponto final de uma das rotas da seda que se iniciava
no Extremo Oriente.
As rotas da seda alimentaram grande parte do comércio externo entre o oriente e o
ocidente. Formada na Antiguidade, e partindo do Extremo Oriente chinês, os comerciantes de
diversas regiões venciam as barreiras naturais e políticas e seguiam em direção ao ocidente
levando diversos produtos, sendo a seda o mais procurado.
Através da Pérsia, a seda chegava ao território romano, onde a população se mostrava
ávida tanto dos produtos de luxo do Extremo Oriente, quanto daqueles originários do próprio
território persa e da Índia. Achados arqueológicos comprovam a existência de ânforas,
moedas, luminárias, espelhos e estátuas de deuses romanos em solo indiano, demonstrando o
dinamismo econômico que vinculava romanos e as sociedades orientais.
Foi através do contato comercial intensificado entre a China e a Pérsia que os produtos
luxuosos do oriente chegavam ao porto de Constantinopla e se distribuíam pelas rotas
comerciais ocidentais. As rotas comerciais mantinham o complexo mundo antigo e medieval
conectado e Constantinopla no centro do comércio do mundo conhecido (FRANCO
JUNIOR,1985,7). (SAIBA +1)
Justiniano e sua esposa Teodora (c. 500-548) transformaram a sua corte em um
símbolo da glória, do poder e do luxo imperial. As vestes imperiais ditavam a moda dos
súditos. Pela roda da seda, o casal imperial e toda a população bizantina tinha acesso ao que
de mais fino e luxuoso se produzia nas terras orientais. Nos afrescos que retratavam o
imperador e a imperatriz é possível observar a cor dourada e a cor púrpura em destaque,
como podemos observar nas imagens abaixo:

Imagem 2 — Byzantine mosaic depicting Empress Theodora (6th century) flanked by a chaplain and a court lady
believed to be her confidant Antonina, wife of general Belisarius. Disponível em:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Teodora_(esposa_de_Justiniano)#/media/Ficheiro:Empress_Theodora.jpg
Imagem 3 — San Vitale (Ravenna) - Mosaic of Iustinianus I
Disponível em:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Justiniano#/media/Ficheiro:Mosaic_of_Justinianus_I_-
_Basilica_San_Vitale_(Ravenna).jpg

O dourado representava todo o esplendor e a riqueza que envolvia o casal imperial e a


púrpura, tradicionalmente utilizada pelos imperadores romanos desde a fundação do Império,
representava o poder de governo, a soberania imperial. A tonalidade dourada relacionava-se
ao esplendor do ouro, o metal mais cobiçado pelos seres humanos desde a Antiguidade. O
dourado espelhava, então, a distinção e a riqueza que envolvia o portador da coroa imperial.
Conforme se observa nas imagens, os trajes imperiais formais eram adornados por
pedras preciosas que expressavam não só o luxo, mas também exerciam sobre os
espectadores um efeito visual de encantamento e de consequente reconhecimento da
autoridade imperial. Imagine o impacto que a dança de cores e de brilhos que envolviam os
trajes imperiais, expostos à luminosidade solar nos ambientes externos e à luminosidade
interna dos cômodos do palácio imperial, gerava sobre os súditos.
Além disso, os mantos imperiais tinham uma função que poderíamos chamar de
educativa, visto que neles eram representadas cenas religiosas com materiais luxuosos,
demonstrando a importância que o casal imperial dava aos símbolos cristãos bordados com
fios de ouro e pedras preciosas em suas vestes. Afinal, o imperador era o representante
máximo de Deus no seu reino, sendo, então, o chefe da Igreja. Mais do que um líder político,
os imperadores bizantinos eram também, chefes religiosos, o que os aproximava
ideologicamente dos imperadores persas, seus vizinhos. A indumentária imperial bizantina,
sobretudo a de Justiniano, inspirou-se diretamente na vestimenta imperial persa, com todo o
luxo e os símbolos que a envolvia, mas conservou características próprias, como a presença da
toga, vestimenta que se rementia à Grécia antiga e que, em Roma, era um símbolo de
cidadania.
Os imperadores tinham como uma das suas obrigações governamentais, a participação
em cerimônias onde eram adorados como divindades e nos jogos realizados no Hipódromo.
Para todos esses compromissos portava trajes elegantes que geravam um grande impacto no
público. Como informa o historiador Steven Runciman acerca dos imperadores bizantinos:

[...] Continuamente, era obrigado a mudar de roupa, a andar em longas procissões


com um pesado diadema na cabeça, a receber embaixadores e estar preparado
para ser levantado de repente bem alto no ar, sentado em seu trono, para
impressionar os simples forasteiros. (RUNCIMAN, 1977,148)

Como observamos tanto no afresco que representa Teodora quanto no que retrata
Justiniano, é perceptível o uso de joias, principalmente brincos, broches e adornos de cabelo,
com pedras preciosas incrustradas que asseguravam às roupas o luxo e a suntuosidade
necessária para impactar os súditos e os visitantes da corte imperial.
Apesar da sua origem humilde, sendo seu pai um homem do circo bizantino, Teodora
encantou os súditos e o jovem imperador Justiniano com a sua beleza. A imperatriz tornou-se
mais do que uma simples rainha, atuando como uma conselheira política. Foi graças à ação
dela que Justiniano, ameaçado de perder o trono graças à revolta de Niké (532), conseguiu
acalmar a ira da população, revoltada com o aumento dos impostos e os altos gastos públicos.
Pacificados, os revoltosos voltaram a reverenciar o imperador. (SAIBA +2)
A imperatriz exercia uma forte influência não só sobre o seu marido, mas sobre a corte
imperial e os súditos que, conhecedores da sua origem humilde, admiravam o seu sucesso e
elegância. Até hoje, Teodora é uma referência da moda feminina por reunir em sua figura todo
o esplendor, o luxo e o poder do mundo bizantino. Grandes marcas como a Dolche & Gabanna
inspiraram-se diretamente na figura de Teodora para lançar os seus produtos, como vemos na
imagem abaixo, onde a modelo ostenta joias similares àquelas do mosaico da imperatriz, e usa
um vestido com estampas predominantemente dourada, com tons de azul e de púrpura, que
traz no centro a reprodução da face da imperatriz.
Coleção Dolce & Gabanna. Desfile outono-inverno 2013/2014. Disponível em:
https://br.pinterest.com/pin/620652392380236149/?nic_v2=1a6brT8jm

A cor púrpura e a religião

Quando da divisão do Império Romano e a consequente formação do Império


Bizantino o cristianismo continuou a ser a base de sustentação do poder imperial e da coesão
social. Formou-se, em Bizâncio, um regime teocrático, onde o imperador era considerado o
chefe da igreja e do Estado. De acordo com o historiador Hilário Franco Junior: “[...] o Império
era — daí sua importância e sua razão de ser — uma antecipação do Reino dos Céus, uma
cópia imperfeita, mas que preparava os homens para Aquele.” (FRANCO JUNIOR,1985;13).
Sendo o chefe religioso e político, o imperador era entendido como a expressão
máxima da autoridade divina na Terra. Contudo, como o imperador deveria dedicar-se a
manter a harmonia e a ordem social a fim de assegurar as bênçãos divinas para o seu reino, ele
transferia para o patriarca as funções religiosas, mas sem abrir mão da liderança da Igreja.
O patriarca era o líder da Igreja bizantina devendo comandar o clero e ditar as normas
religiosas a serem seguidas pelos fiéis. O interessante é que o patriarca era escolhido pelo
imperador, podendo ser ou não um membro do corpo clerical, e estava diretamente
subordinado à figura imperial, o que não impediu, ao longo da história bizantina, que conflitos
surgissem em torno dessas figuras político-religiosas.
O clero era liderado pelo patriarca e composto por duas categorias clericais: o clero
secular e o clero regular. O clero secular era aquele que vivia diretamente em contato com os
fiéis e os auxiliava na administração da sua vida religiosa. O clero regular era integrado pelos
monges, que viviam nos monastérios, distantes do convívio direito com os fiéis e, por isso,
eram considerados como portadores de uma grande espiritualidade. Por vezes, na história
bizantina, é possível identificar sérios conflitos entre o clero secular e o clero regular,
motivados pela busca por admiração e pelos recursos dos fiéis. (SAIBA +3)
A fabricação das relíquias nos monastérios e que eram vendidas para a população
como sendo portadoras da “magia” e do “poder de cura” dos santos foi uma das formas
encontradas pelo clero de aproximar o seu discurso religioso das demandas de uma fé mágica
e tradicional entre a população bizantina que, de tão heterogênea, possuía referências
culturais bastante diferenciadas. Além disso, não se pode esquecer que Bizâncio era cortada
por rotas comerciais vindas do Oriente que traziam não só produtos, mas também ideias.
Tornava-se necessário para o clero marcar a diferença do seu status tanto através da
sua ritualística, como também através da sua vestimenta. O fiel tinha que reconhecer de longe
a figura portadora de uma autoridade religiosa. Logo, as altas autoridades clericais usavam a
cor púrpura em suas vestimentas como símbolos da sua distinção, enquanto os monges
vestiam trajes sem adorno feitos de tecido cru.
A cor purpura, conhecido atualmente como roxo (uma tonalidade alcançada entre o
vermelho e o azul), era tradicionalmente utilizada pelos imperadores romanos possuindo,
portanto, uma ampla carga simbólica associada à autoridade do seu portador, que também
remonta às casas imperiais orientais e egípcias.
Alexandre, o Grande incorporou essa tonalidade à vestimenta imperial, no que foi
seguido pelos imperadores romanos, que também influenciados pela indumentária etrusca
introduziram o uso das togas púrpuras em sua vestimenta, cercando-a de referências ao cargo
imperial.
O uso da cor púrpura remonta à Pré-História conforme atestam os sítios arqueológicos
neolíticos situados na caverna de Pech Merle (localizada na França atual), onde foram
encontrados desenhos feitos com varas de manganês e pó de hematita nessa coloração.
Nos relatos bíblicos e em textos gregos antigos, como na Ilíada e na Eneida, é possível
encontrar menções a objetos e vestimentas nessa tonalidade, que parece ter ganho
notoriedade a partir da produção do corante nas cidades fenícias de Sidon e de Pneu
(localizadas na atual Líbia), no início do século I a. C. De acordo com o livro bíblico do Êxodo,
Moisés foi exortado por Deus a utilizar panos de azul, púrpura e carmesim na construção do
Tabernáculo e na Ilíada, Homero mencionou que os cavalos troianos tinham a sua cauda
tingida de púrpura. A púrpura, portanto, representava o vigor e o poder do seu portador.
Sendo os principais comerciantes da tintura púrpura, os fenícios, na Antiguidade,
controlavam o seu comércio pelas rotas mediterrânicas e atraiam a atenção dos povos
orientais, como os hebreus, e do povo grego. Como informa David Abulafia:
[...] Os hebreus ficaram atraídos também pelas conchas do Murex; embora
proibidos de consumir o animal dentro delas, deviam colorir os debruns de seus
trajes com a tintura extraída desses moluscos. Essa tintura púrpura na verdade
variava de cor, indo de uma azul muito vivo ao vermelho enferrujado, dependendo
de como era o tratamento. (ABULAFIA,2014:99)

Além de representar a riqueza de quem a utilizava, visto que essa cor era
extremamente difícil de ser alcançada. O processo para a sua produção era bastante
trabalhoso e envolvia o domínio de uma técnica bastante complexa. Os pigmentos naturais
eram extraídos de algumas espécies de moluscos encontrados no litoral do Mar Mediterrâneo,
do Atlântico e das Ilhas Britânicas. A preparação da tinta para o tingimento do tecido exigia
uma técnica bastante apurada, que envolvia a manipulação delicada dos moluscos, dos quais
era extraída uma secreção branca, presente em uma pequena veia do animal, com a qual se
embebia o tecido a ser tingido que, exposto à luz solar, revelaria a cor pretendida. Inicialmente
o tecido alcançaria uma cor amarela, em seguida verde, para depois chegar à tonalidade
púrpura. O processo geral de tingimento do tecido durava em torno de dez dias.
Todo esse processo nos permite compreender como um tecido de cor púrpura era
valorizado, já que para a sua produção era necessária uma grande quantidade de matéria-
prima e uma técnica bastante aprimorada, além de, em seu processo produtivo, gerar pelo
menos duas outras tonalidades de tintas, sem contar os tons de cores intermediárias.
A cor púrpura era, portanto, exclusiva dos imperadores e dos altos dignatários
eclesiásticos e estava presente nas túnicas, nos mantos, nos adornos, na decoração e nos
mosaicos. No palácio imperial, havia a “morada púrpura”, uma ala especial que era ocupada
pelas imperatrizes quando elas estavam próximas de dar à luz (PATLAGEAN,2009). A mesma
cor púrpura foi utilizada no mosaico O Milagre do Pão e dos Peixes produzido por volta do ano
520, e localizado na basílica de Santo Apolinário. Neste mosaico reproduzido abaixo, nota-se o
uso dessa tonalidade no manto do Cristo, cercado por seus discípulos por ocasião da realização
desse milagre.
O Milagre do Pão e dos Peixes. Mosaico bizantino. c. 520. Basílica de Santo Apolinário
Disponível em: https://br.pinterest.com/pin/589479038717361663/

A púrpura não era, portanto, somente a cor dos imperadores e dos clérigos, mas
também a da própria divindade. Logo, aquele que a ostentava em suas vestimentas deveria
estar à altura de todo o poder e o respeito que por ela representado.
A cor púrpura tem sido utilizada ou abandonada de acordo com as tendências e as
propostas do mercado da moda, mas o seu impacto visual é inegável, como podemos perceber
no desfile da semana de moda de Londres, em 2012.

Christopher Kane, desfilou na semana de moda de Londres não apenas com uma coleção repleta de
looks roxos, como a passarela foi toda pintada da cor (20/02/2012)
Imagem: Getty Images
Disponível em https://www.uol.com.br/universa/noticias/redacao/2012/03/23/cor-purpura-apos-anos-
deixado-de-lado-o-roxo-volta-a-moda.htm

Indumentária: o começo do luxo


A cidade de Constantinopla era conhecida pela beleza da sua arquitetura e pelo luxo
da corte imperial. Era uma cidade que, com a sua riqueza, causava impacto nos seus
habitantes e nos estrangeiros. SAIBA +4
Os três grandes prédios de referência na cidade de Constantinopla eram o palácio real,
a catedral de Santa Sofia e o hipódromo. Afora essas grandes marcas arquitetônicas, o
mercado situava-se no centro da cidade onde os mercadores e os produtores se reuniam para
animar o intenso volume das transações comerciais realizadas de acordo com as regras
determinadas pelo Estado. A máquina burocrática imperial ditava as regras da produção
interna feita pelos artesãos bizantinos, organizados em corporações de ofícios, e controlava as
tarifas alfandegárias a serem cobradas dos comerciantes estrangeiros, vindos das mais
diversas regiões do ocidente e mesmo do oriente. Como lembra Franco Junior:

[...] A existência de uma moeda forte e estável, o nomisma, muito contribuía para a
realização deste comércio internacional. Sedas, tecidos de linho, perfumes, jóias,
objetos de marfim ricamente trabalhados, relicários, diversos tipos de especiarias;
estas mercadorias e muitas outras estimulavam os comerciantes de diversas partes
do mundo a se dirigirem para o império. Feiras realizadas em diversas cidades,
expunham mercadorias europeias, islâmicas, persas, indianas e chinesas. [...].
(FRANCO JUNIOR,1986,51)

A população de Constantinopla tinha, então, a sua disposição uma série de produtos


de luxo produzidos na cidade ou no exterior e os consumia de acordo com a sua capacidade
socioeconômica.
Segundo o historiador Steven Runciman, o bairro comercial mais importante estava
situado a três quilômetros a partir da entrada do Palácio e do Hipódromo, onde ao longo da
larga rua Mesê, também conhecida como a Rua Central, situavam-se as lojas mais importantes
“[...] ordenadas em grupos segundo as mercadorias — as ourives, ao lado os cinzeladores de
prata, os vendedores de tecidos, os fabricantes de móveis, e assim por diante.”
(RUNCIMAN,1977,145). As lojas mais finas estavam mais próximas do palácio imperial, que
funcionava como um centro das tendências de consumo da população. O Grande Bazar,
também conhecido como a Casa das Luzes, “porque as suas vitrines se iluminavam à noite”
(RUNCIMAN,1977,145), onde se concentravam os empórios em que se vendia a seda.
Constantinopla atraía todos aqueles que estivessem interessados em buscar uma vida
de luxo e de riqueza, que se expressava na indumentária. A tradicional toga romana unissex foi
aos poucos abandonada e substituída “pelos longos casacos de pesado brocado”, chamados de
scaramangium, inspirados nos casacos dos hunos. Conforme a riqueza se tornava frequente na
cidade, mais as vestimentas variavam, sob a influência dos persas, dos povos do Extremo
Oriente e dos árabes.
A presença dos árabes nas fronteiras do Império Bizantino ampliou ainda mais as
referências culturais em uma região já cosmopolita. Com os árabes houve ainda mais a
intensificação das rotas comerciais e dos produtos consumidos na cidade. Segundo Runciman,
as vestes se tornaram cada vez mais trabalhadas. A diversidade das cores presentes nos
tecidos finos e o uso das pedras preciosas e dos fios de ouro na confecção dos imbricados
bordados eram as marcas das vestimentas dos mais ricos. Além disso, desenvolveu-se uma
tendência maior para a utilização de adornos, como chapéus e joias, além da ampliação do uso
de cosméticos (como os que a imperatriz Zoé, que reinou de 1028 a 1042, se dedicou a
produzir) e inovações como o uso de barbas, que funcionavam como uma espécie de símbolo
da virilidade masculina. Como esclarece Runciman:

[...] À medida que os séculos avançam, as vestes se tornam mais trabalhadas;


estranhas peças ornavam as cabeças de homens e mulheres, chapéus pontudos
enfeitados de peles ou altos turbantes acolchoados. A partir do século VII as barbas
tornaram-se comuns; barbear o queixo era ocidental e vulgar. Os cosméticos
estavam na moda, especialmente no tempo dos Paleólogos. Mesmo as mulheres
jovens e bonitas cobriam o rosto de pintura. (RUNCIMAN,1977,147).

Os bizantinos tinham um especial apresso pela beleza, que se expressava na


arquitetura e na arte produzidas na cidade e espelhadas no Palácio e na catedral de Santa
Sofia. Nos mosaicos bizantinos, obras delicadas e produzidas a partir de um grande esforço
técnico, diversos tipos de tonalidades, em especial o dourado, eram habilmente combinadas
para gerar no público o prazer de desfrutar de algo belo. As vestimentas buscavam reproduzir
o belo, mas também a discrição. Quanto mais bem posicionado socialmente, mais as roupas
tendiam a encobrir o corpo. Patlagean, ao referir-se à consciência que os bizantinos tinham em
relação ao seu corpo:

[...] Pode-se ver nos cofres de marfim a nudez exata de Adão e Eva e de figuras
mitológicas de gosto antigo. Porém as pinturas de manuscritos mostram uma
conduta bem diferente: a silhueta totalmente embuçada da viúva Danielis em
viagem, no Scylitzes de Madri; a roupa luxuosa cobrindo de alto a baixo as
dançarinas de um saltério pintado em Constantinopla no final do século XI, as mãos
escondidas dentro de mangas compridas e largas, a cabeça coberta por grandes
gorros. Quanto aos homens, na guerra e no trabalho dos campos aparecem com as
pernas nuas, porém na cidade não se veem mais do que os tornozelos dos leigos da
alta sociedade. (PATLAGEAN,2016;589).
Confira as observações da autora com a figura abaixo, que representa o manuscrito
mencionado.

Danielis siendo cargada por sus esclavos a Constantinopla. Miniatura de la crónica de Ioannis Skylitzes, mediados
del siglo XIII. Biblioteca Nacional de España, Madrid. Disponível em:
https://es.wikipedia.org/wiki/Danielis#/media/Archivo:Danielis.jpg

Considerações Finais

Roland Barthes, considerado um dos maiores referenciais no estudo da história da


moda, apontou em suas obras a necessidade de se estabelecer algumas premissas para o
entendimento desse campo de estudos. Dentre elas, segundo Maria do Carmo Cainho, Barthes
defendeu “[...] uma equivalência entre as formas das vestimentas e o zeitgeist, o espírito do
tempo, o clima histórico de uma determinada época.” (CAINHO,2010,152). Partindo do
chamado de Barthes é que entendemos aqui a importância que a indumentária do casal
imperial, Justiniano e Teodora, tiveram no alcance do seu projeto político de construção da
“Nova Roma”, a partir do qual, Constantinopla ganhou uma identidade própria, de capital do
Império Romano, tendo diante de si o desafio de garantir a unidade de uma população diversa
em termos étnico-culturais e preservar as suas vastas e disputadas fronteiras territoriais.
Diante de um projeto de poder tão grandioso, nada mais significativo do que um casal imperial
que ostentasse, em suas vestimentas, o luxo e a riqueza que pretendiam atrair para o seu
Império.

Questões

1 – A cor púrpura era muito valorizada no Império Bizantino, sendo utilizada de acordo com
determinadas regras. A valorização dessa cor pode ser explicada:

a) Pelo seu uso exclusivo nos símbolos religiosos.


b) Pela técnica complexa que envolvia a sua produção, pois sua matéria-prima era a casca
de uma árvore raríssima.
c) Por ser utilizada somente nas vestimentas das mulheres viúvas.
d) Por ser empregada para tingir a crina dos cavalos que iam à guerra.
e) Por ser utilizada nas roupas imperiais como símbolo da autoridade política e religiosa
do imperador

Gabarito

Letra E. A cor púrpura era utilizada sobretudo nas roupas imperiais e dos altos dignitários
religiosos.

2 — O Império Bizantino tinha acesso às mercadorias produzidas no Extremo Oriente,


especialmente os tecidos luxuosos, através:

a) Das rotas comerciais que eram dominadas pelos hunos, uma tribo asiática que atacou
o Império Bizantino no século V.
b) Das rotas comerciais que partiam do continente africano, especialmente aquela que
tinha origem no reino do Sudão.
c) Da ação dos mercadores judeus que, com as suas colônias, dominavam o comércio
pelo mar Mediterrâneo.
d) De uma das rotas da seda que se estendia do império chinês até a cidade de
Constantinopla.
e) Das rotas comerciais que partiam da Índia e eram dominadas pelos comerciantes
árabes.

Gabarito

Letra D. Do território chinês partiam várias rotas comerciais. Uma delas atravessava a região
oriental, sendo frequentada por diversos comerciantes que abasteciam as suas caravanas com
produtos luxuosos (como a seda), e alcançava a cidade de Constantinopla. A partir dos portos
bizantinos, esses produtos eram transportados para o ocidente medieval.

Fim do material obrigatório


Material suporte!!!

Módulo 2 — O desenvolvimento da Moda no período da Idade Média: Alta Idade Média

 Analisar o desenvolvimento da moda no período alto medieval, as influências por ela


recebidas das culturas romana e germânica e a configuração da indumentária
carolíngia.

A Indumentária nos reinos germânicos

A desagregação do Império Romano propiciou a ocupação das antigas províncias


romanas ocidentais pelos povos germânicos. A denominação povos germânicos foi empregada
pelos linguistas do século XIX para designar os diversos povos indo-europeus que falavam
dialetos derivados do tronco linguístico germânico. Tais povos, sobretudo mediante a pressão
militar exercida pelos hunos, adentraram nas fronteiras romanas e, através de migrações,
invasões e tratados de federação, ocuparam o antigo território imperial.
Em comum, os povos germânicos tinham algumas características básicas. Dentre elas,
podemos citar: a organização social se pautava nos clãs, onde os chefes tribais possuíam
autoridade sobre aqueles que estavam vinculados a eles por laços de parentesco ou de
produtividade; a liderança da tribo era exercida por um rei, inicialmente escolhido
temporariamente pelo conselho da comunidade (sippe), para aglutinar, sobretudo, a força
militar necessária para defender ou lutar por territórios que lhes fornecesse condições de
sobrevivência; e a crença em divindades ligadas às forças naturais.
O processo histórico de formação dos reinos germânicos foi diferenciado e marcado
por disputas entre os diversos povos pelo controle das terras férteis, importantíssimas para os
povos que estavam iniciando a sua sedentarização e o decorrente desenvolvimento da prática
agrícola. Alguns povos germânicos conseguiram organizar reinos estáveis como os vândalos
(Norte da África), os ostrogodos e os lombardos (Península Itálica), visigodos (Península
Ibérica) e francos (Gália).
Mapa dos reinos germânicos

https://br.pinterest.com/pin/742601426033813060/

A participação da Igreja católica foi fundamental no oferecimento de referências


político-administrativas herdadas da estrutura imperial romana que forneceram a sustentação
ideológica aos reinos germânicos. O princípio da hereditariedade como critério sucessório e a
composição dos códigos legais como forma de ordenamento social se tornou uma tendência
dos reinos germânicos que alcançaram maior longevidade.
A terra era entendida como a principal riqueza e inicialmente a sua exploração era
feita coletivamente, até o ponto em que, com a sedentarização e a estabilidade do poder real,
formou-se em torno do rei uma espécie de aristocracia, detentora das terras e responsável por
garantir a sua produtividade organizando a sua exploração realizada por camponeses livres.
Em termos gerais, o ocidente experimentou um processo de ruralização que se refletiu
na forma como a população lidava com o seu cotidiano, durante o período denominado Alta
Idade Média, que se estende do século V ao X. A ruralização trouxe consigo a acentuação da
vida privada em detrimento da vida pública, presente na Antiguidade.
Envolvidos em uma vida rural que girava em torno da produção agrícola e das tarefas
do campo, a população alto medieval em sua maioria, vestia-se de forma prática e compatível
com o trabalho que desenvolviam. Daí a utilização da sobreposição de roupas. As camadas de
roupas eram utilizadas como uma forma de o seu portador abrigar-se do frio ou do calor. A
historiadora Elena Percivaldi, ao questionar-se sobre a existência ou não da ideia de moda na
Idade Média, considera:

Existia ou não a moda na Idade Média? Se a compreendermos como um ato


hedonístico compulsivo, baseado em critérios efêmeros e mutantes ao menos nos
primeiros séculos, certamente não. As roupas eram poucas, geralmente simples e
nem mesmo muito diferenciadas entre os sexos. As pessoas tendiam a vestir-se
sempre do mesmo modo, em geral por camadas com capas sobrepostas que
podiam ser colocadas ou tiradas, conforme as exigências da vida cotidiana.
(PERCIVALDI,2018,66)

A formação dos reinos germânicos foi muito mais do que um projeto político, tratou-se
da interação de sociedades e de costumes romanos e germânicos, também no campo da
indumentária. As vestimentas utilizadas pelos diversos tipos sociais seguiam, portanto, as
referências germânicas e romanas.

As túnicas, de inspiração romana, eram uma espécie de vestido folgado que escondia
as formas do corpo humano, podendo estender-se até o joelho ou o tornozelo. Eram utilizadas
por homens e por mulheres, sendo feitas de lã, de linho e de cânhamo. Na Península Ibérica,
devido à presença muçulmana, utilizavam-se a seda e o algodão para a feitura das túnicas.
Normalmente as mulheres usavam uma espécie de cinto amarado na cintura, como uma forma
de ornamento.
O tamanho das túnicas tinha relação com o status social, em geral, as túnicas curtas
eram usadas pelos mais populares, já as túnicas longas eram usadas pelas nobrezas e pelas
autoridades eclesiásticas. A imagem abaixo é de uma iluminura, produzida no século XIII, e que
representa a rainha anglo-saxã Etelfleda (c. 869-918). Nota-se o uso de uma túnica coberta por
um manto, em tons de azul, com bordados que se assemelham às pedras preciosas. Como
adorno e símbolo da sua autoridade, a rainha ostenta uma coroa sob a sua cabeça.
Etelfleda, no "Cartulário e Costumes" da abadia de Abingdon, 1220. Disponível em:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Etelfleda#/media/Ficheiro:%C3%86thelfl
%C3%A6d_as_depicted_in_the_cartulary_of_Abingdon_Abbey.png

As capas eram as peças mais utilizadas e seguiam, geralmente, o modelo romano,


sendo utilizadas por homens ou por mulheres como forma de proteção às intempéries
climáticas. Essa vestimenta utilitária poderia ser feita de tecido ou de peles de animais. As
capas de lã e de peles de animais eram bastante utilizadas. A pele dos animais pequenos era
utilizada pelos mais pobres, já a pele dos animais de maior porte era mais comumente
utilizada pelos elementos da nobreza.

Já as calças de tradição celto-germânica, também chamadas de bracae, eram utilizadas


somente pelos homens. Aparentemente elas foram inspiradas nos povos das estepes,
provavelmente os hunos, que haviam tido contato com os germânicos. O uso de bordados e
adornos nas calças era frequente e elas eram ajustadas, com tiras de couro, nas panturrilhas.
Quanto mais elevada a posição social do seu portador, mais adornos e enfeites eram utilizados
na vestimenta.
Era comum também o uso de peças de metais, uma espécie de fivela, para prender as
túnicas e promover o ajuste das calças. Na figura abaixo podemos observar algumas
representações das peças da vestimenta dos guerreiros germânico: a túnica curta, os
acessórios de metais (como os cintos, os braceletes e os capacetes e os peitorais) e a capa. As
figuras de cima representam os membros da realeza e da nobreza, já as figuras de baixo
retratam os guerreiros comuns. Observe que as capas das figuras que representam aqueles
que estavam mais bem posicionados na hierarquia social tem a coloração vermelha, a
preferida da nobreza e dos reis.

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As mulheres tinham entre uma das suas habilidades principais a tecelagem. As artesãs
fiavam os tecidos rústicos com os quais eram cerzidas as roupas normalmente utilizadas,
dominando também algumas técnicas de tingimento.

O linho era utilizado, principalmente, nas roupas de baixo porque a sua leveza
facilitava a sua lavagem. Já os materiais luxuosos e tecidos finos eram empregados nas roupas
das mulheres nobres, sobretudo no bordado das mangas das túnicas. Na iluminura abaixo,
feita no século XIV, como parte de uma cópia francesa da obra Decamerão, de Bocaccio, são
representadas mulheres, provavelmente artesãs, tecendo e costurando tecidos e roupas.
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Carlos Magno e o período Carolíngio

Um dos reinos germânicos que alcançou maior longevidade na Idade Média foi o reino
franco. Os francos ocuparam a região da Gália e desenvolveram uma realeza que tinha o seu
poder sustentado por uma aristocracia detentora de terras e da força militar. A primeira
dinastia franca, a dinastia merovíngia foi substituída, no século VIII, pelos carolíngios.
Os carolíngios subiram ao poder oficialmente, em 751, quando o papado reconheceu
Pepino, o Breve (751—768) como o novo rei. Os reis carolíngios mantiveram uma forte aliança
com a Igreja e mesmo antes da sua ascensão ao trono, tiveram um papel bastante significativo
na defesa do ocidente medieval contra os muçulmanos, que haviam se instalado na Península
Ibérica, em 711, e iniciaram uma série de ofensivas militares contra a Gália buscando controlá-
la. O avanço muçulmano na Gália foi contido pelo pai de Pepino, o prefeito do rei Carlos
Martel, que venceu a batalha de Poitiers, em 732.
Uma das figuras mais significativas da dinastia carolíngia foi Carlos Magno (724—814)
que assumiu o trono após a morte do seu irmão. Carlos Magno consolidou a sua aliança com a
Igreja, que lhe rendeu, dentre outros benefícios, o apoio para o seu plano de expansão
territorial sobre as regiões que pertenciam a outras tribos germânicas, e garantiu-lhe o título
imperial, já que o papa o coroou imperador, em Roma, no ano de 774. Em troca do apoio
recebido pela Igreja, Carlos Magno ampliou o patrimônio territorial eclesiástico através de
doações, investiu na fundação de monastérios e tornou-se o defensor militar da cristandade
contra os muçulmanos.
Além de aliar-se à Igreja para montar o seu Império, Carlos Magno distribuiu benefícios
aos seus aliados militares da nobreza. Os benefícios consistiam na distribuição de terras, da
licença para cobrar impostos em uma região, ou de cobrar pedágios nas estradas que
cortavam o Império. Os nobres recebedores dos benefícios (ou feudos) ocupavam o papel de
vassalos do Imperador no quadro hierárquico onde ele era o suserano. Com o apoio militar dos
seus vassalos, Carlos Magno investiu nas conquistas militares e territoriais, que lhe valeu o
controle sobre boa parte da Europa ocidental e central, formando o Império Carolíngio.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Imp%C3%A9rio_Carol%C3%ADngio#/media/
Ficheiro:Frankish_Empire_481_to_814-pt.svg

O Império Carolíngio, sob Carlos Magno, tornou-se um espaço de prosperidade


agrícola, dada a distribuição das terras conquistadas militarmente entre a aristocracia, e de
circulação de mercadorias, o que incrementou o comércio interno realizado através das
estradas romanas revitalizadas.
Carlos Magno investiu na organização da administração do seu Império fortalecendo a
sua corte, cercando-se de funcionários que cuidavam das mais diversas atividades burocráticas
do governo. Essa corte tornou-se também o centro de uma vasta produção cultural,
estimulada pelo imperador, que se inspira diretamente na arte e nas referências greco-
romanas e se expressa: na arquitetura, na feitura de manuscritos, na produção literária e
jurídica, dentre outros campos.
Tendo como referência a cultura romana, os carolíngios buscaram manter alguns
hábitos e instrumentos herdados da cultura clássica. As estradas e os banhos romanos foram
restaurados. Carlos Magno, por exemplo, gostava de banhar-se com os seus convidados nas
piscinas termais romanas. De acordo com Michel Rouche: “[...] Os príncipes carolíngios
trocavam de roupa e tomavam banho no sábado. Cada sexo tinha seus rituais e seus
instrumentos de toaletes presos ao cinto [...].” (ROUCHE,2009,441). Na iluminura abaixo está
representado um banho feminino.

https://br.pinterest.com/pin/313140980314586571/

A vestimenta franca assemelhava-se bastante a romana, sendo as peças básicas uma


camisa de linho que se estendia até o joelho e a túnica de mangas curtas ou cumpridas. Os
homens, seguindo a tradição germânica, usavam calças com faixas ajustadas, e calçavam
botinas de couro ou tamancos.
Os coletes de couro ou de pele, bem como o sagum — uma espécie de manto
quadrado de lã que se usava jogado nas costas “[...] e puxado para frente e preso por uma
fíbula que une as duas pontas sobre o ombro direito.” (ROUCHE,2009,441) — eram utilizados,
nos dias frios, para aquecer. No esquema abaixo você pode observar algumas das peças de
vestimenta de tradição greco-romana e usada pelos povos germânicos, como os francos.
https://br.pinterest.com/pin/381609768432882818/

As mulheres vestiam uma túnica cumprida com uma abertura na frente para facilitar o
deslocamento. Era comum também o uso de uma pequena corrente que levantava a barra da
túnica para facilitar a locomoção. Assim como entre os outros povos germânicos, as mulheres
francas deveriam vestir-se de modo recatado e a qualidade e o luxo da indumentária se
relacionavam ao seu status social. O cuidado com o corpo feminino não era somente de
responsabilidade das próprias mulheres, mas também do governo que, através das leis, punia
àqueles que praticassem a violação das mulheres, desrespeitando-as e comprometendo o
cumprimento do seu papel social, que era, sobretudo, o procriativo.
Os francos alcançaram um forte desenvolvimento na arte da metalurgia, assim como
outros povos germânicos. O estímulo dado por Carlos Magno à arte favoreceu o
desenvolvimento da ourivesaria, através da qual foram produzidos adornos de ouro e de
outros metais que eram empregados para embelezar as vestimentas e expressar o status social
do seu portador. As mulheres, por exemplo, usavam longas cabeleiras presas por alfinetes
feitos de metais, considerados elementos fundamentais da beleza feminina. Os reis
merovíngios eram chamados de “reis cabeludos” por manteres os seus cabelos longos que
expressavam a sua virilidade e liberdade, mas os eclesiásticos e os escravos mantinham seus
cabelos cortados. No caso dos eclesiásticos, o cabelo era cortado de forma a criar uma coroa
de pelos. Já no caso dos escravos, o cabelo era cortado curto. Na iluminura abaixo é possível
observar que as mulheres representadas têm cabelos longos e estão vestidas com túnicas
adornadas com correntes e bordados.
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O feudalismo e a indumentária

Após a morte de Carlos Magno, o seu filho e herdeiro, Luís, o Pio (814—840) assumiu o
controle do Império Carolíngio. O novo imperador lutou para manter o controle territorial e
político sobre o seu Império, mas não conseguiu impedir a sua desagregação, visto que a
nobreza, que havia sido a base de apoio do seu pai, cobrava de Luís a distribuição de novos
benefícios para a renovação da sua vassalagem. Em consequência disso, o imperador distribuiu
cada vez mais feudos e também o direito de ban (o direito de aplicar a justiça e de fazer as leis,
antes exclusivo do imperador), o que esvaziou significativamente o seu poder. Por ocasião da
morte de Luís, o Pio, o Império Carolíngio desagregou-se, sendo dividido entre os seus três
filhos: Luís, o Germânico recebeu a França Orientalis; a Carlos, o Calvo coube a França
Ocidentalis; a parte central do Império, incluindo a Península Itálica, coube ao filho mais velho,
Lotário. Observe no mapa abaixo a divisão do Império Carolíngio proposta com a assinatura do
Tratado de Verdun (843).
Disponível em:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Tratado_de_Verdun#/media/Ficheiro:Carolingian_empire_843-pt.svg

À desagregação política enfrentada pelo Império Carolíngio, o Ocidente medieval


enfrentou uma série de invasões, sobretudo nos séculos IX e X. Os vikings (originários da
Escandinávia), os lombardos (que se deslocavam do Leste em direção ao centro da Europa) e
os árabes (que atacavam, com a sua pirataria, a bacia do mar Mediterrâneo) cada qual
partindo de seus interesses e utilizando seus próprios recursos, espalharam o terror entre a
população ocidental.
A chegada dos invasores acelerou a autonomia política e militar dos nobres que
haviam recebido benefícios (feudos) dos reis carolíngios. Sem uma autoridade central com
poderes efetivos para deter os invasores, os senhores locais reuniram os guerreiros que
estavam sob o seu serviço e organizaram a defesa das regiões disputadas.
Os senhorios fundiários, grandes propriedades de terras, eram dominados pelos
senhores feudais que reuniam em torno de si uma corte composta por cavaleiros e damas, que
partilhavam a vida nos castelos de pedras que se espalharam pelo ocidente medieval.
Os laços de suserania e vassalagem ligavam os senhores aos seus vassalos, compondo
uma rede de relações hierarquicamente dispostas. Através de um pacto pessoal firmado, os
senhores se comprometiam a oferecer aos seus vassalos proteção e meios de subsistência
(especialmente através da distribuição de terras) e, em troca, os vassalos pactuavam oferecer
conselho e auxílio ao seu senhor, inclusive na produção material.
O sistema político, econômico, social e cultural que teve como base as relações feudo-
vassálicas foi denominado, pela historiografia, como feudalismo. Nele, os senhores feudais
exerciam o poder de mando sobre os seus senhorios e todos aqueles que nele residiam
estavam sob a sua autoridade. As cortes feudais formavam uma espécie de núcleo de uma
célula formada pelos senhores e a sua parentela, pelos vassalos e pelos servos (responsáveis
pela produção agrícola dos senhorios, mediante o recebimento de lotes de terras que eram
cultivados com a mão de obra familiar).
As esposas e as parentas dos senhores formavam o núcleo feminino das cortes
senhoriais. Nos castelos, habitavam uma espécie de gineceu, onde a esposa do senhor exercia
a liderança sobre as mulheres da casa. As vestimentas, os hábitos e os objetos da senhora
serviam como referência para as outras damas da corte. As mulheres da corte dividiam o seu
tempo entre as orações e o trabalho manual. Segundo o pensamento eclesiástico da época,
era recomendável que as mulheres mantivessem a sua mente ocupada para livrar-se das
tentações diabólicas. Por isso, as mulheres nobres se dedicavam a arte da tapeçaria. Como
informa Georges Duby:

[...] Das mãos femininas saíam, de fato, todos os enfeites do corpo e os tecidos
ornamentados que decoravam o próprio quarto, a sala e a capela, isto é, uma parte
considerável do que chamaríamos de criação artística, sacra e profana, mas
assentada em materiais tão perecíveis que dela só subsistem hoje ínfimos
fragmentos (DUBY, 90)

Quanto à indumentária, não houve variações significativas em relação à indumentária


carolíngia, tanto em relação às referências de gênero e de grupos sociais.
A Igreja teve um papel considerável na fundamentação ideológica do feudalismo e os
monges se tornaram figuras bastante valorizadas na cultura eclesiástica medieval, por serem
símbolos de uma espiritualidade pura e bastante próxima de Deus. As igrejas, as capelas, os
monastérios e outros prédios religiosos se tornaram referências arquitetônicas para o homem
medieval, tanto quanto os castelos. Nos momentos em que as invasões externas e as guerras
internas, movidas pelos senhores feudais em busca da ampliação dos seus domínios
territoriais, se intensificavam, os prédios eclesiásticos funcionavam como refúgio para a
população.
Observando a imagem abaixo, de uma igreja erguida no estilo românico, você pode
observar que ela foi construída com paredes sólidas, praticamente sem janelas e outras
aberturas que permitissem a entrada de qualquer invasor.
Fachada românica da Sé Velha de Coimbra em Coimbra.
Disponível em:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Arquitetura_rom%C3%A2nica#/media/Ficheiro:S
%C3%A9_Velha_de_Coimbra.jpg

Considerações finais
A desagregação do Império Romano não significou o fim da influência da cultura
romana no ocidente medieval. Pelo contrário, os povos germânicos que ocuparam o território
da Europa atual absorveram as referências culturais romanas e, em combinação com as suas
próprias referências culturais, construíram uma ampla e diversa base cultural sobre a qual se
constituiu a identidades dos reinos medievais que ali se estabeleceram.
A chegada de outros povos ao ocidente medieval não só impingiu mudanças na
organização política, econômica, social e cultural presente no império carolíngio, como
inaugurou um novo sistema na região: o feudalismo. Nas cortes medievais, o casal senhorial
era considerado o modelo de comportamento, inclusive de indumentária, para os demais
membros da corte e do seu senhorio, mesmo que os servos não tivessem a capacidade
econômica de segui-lo.

Questões

1 — A base da vestimenta no período da Alta Idade Média que comportou variações, em


termos principalmente de tamanho, e que era utilizada por homens e por mulheres das
diversas condições sociais foi:

a) A toga romana
b) O casaco huno
c) O vestido árabe
d) As ceroulas francas
e) A capa normanda

Gabarito:

Letra A. A toga romana serviu como base da vestimenta alto medieval tanto para os homens
quanto para as mulheres. Ela era usada curta, pelos homens (a ponto de tornar-se uma
espécie de camisa), e longa pelas mulheres, assumindo a forma de uma espécie de vestido.

2 — O estilo arquitetônico utilizado para a construção das igrejas durante a Alta Idade Média
foi:

a) O gótico
b) O clássico
c) O românico
d) O neogótico
e) O rococó

Gabarito:

Letra C. O estilo românico, com paredes sólidas e poucas aberturas e janelas, foi utilizado na
construção das igrejas durante a Alta Idade Média, principalmente porque elas serviam como
espaços de proteção para a população diante das ameaças das invasões e das guerras internas.
Módulo 3 — O desenvolvimento da Moda no período da Idade Média: Baixa Idade Média

 Identificar o impacto que as transformações históricas do período baixo medieval


exerceram sobre a moda ocidental.

A Baixa Idade Média - o período gótico e a religião

O termo gótico surgiu no século XVI, sendo utilizado pelo artista renascentista italiano
Giorgio Vasari para referir-se a arte produzida durante a Baixa Idade Média, e que se
desenvolveu, sobretudo, através da construção das catedrais.
O ocidente europeu experimentou, no século XI, uma série de transformações que se
estenderam ao século seguinte. O uso de novas técnicas favoreceu o aumento da produção
agrícola. Com o uso da charrua (instrumento agrícola semelhante a um arado, mas que
revolvia a terra mais profundamente) e a utilização do cultivo trienal (que implicava em dividir
o terreno a ser cultivado em três partes, sendo uma delas destinada ao pousio e as duas outras
restantes empregadas no cultivo dos cereais de inverno e de verão) os senhorios tiveram a sua
produção agrícola ampliada, e que foi ainda mais favorecida pelas condições climáticas
adequadas para o desenvolvimento da lavoura.
A ampliação das lavouras implicou na ocupação das chamadas terras incultas,
florestas, pântanos e áreas anteriormente destinadas somente à exploração senhorial, e no
aumento demográfico. Pequenas vilas e cidades surgiram ou foram revitalizadas sob a
influência da ampliação das rotas comerciais, onde os produtos produzidos nas regiões ou no
oriente eram transportados por vias marítimas e terrestres para abastecer a população que se
ampliava gradativamente.
Os produtos luxuosos e excêntricos vindos do oriente ganharam um espaço crescente
nas feiras e nos mercados ocidentais, sobretudo após as cruzadas. As cruzadas foram
movimentos de caráter militar e religioso, pregados pelo papado, que conclamava os fieis dos
diversos grupos sociais, mais especialmente a nobreza, a lutar contra as tropas muçulmanas
seljúcidas que dominaram a Terra Santa (Palestina) e retomar o controle cristão na região.
Apesar de as Cruzadas não terem alcançado o resultado esperado, tiveram uma participação
bastante significativa na intensificação do contato comercial e cultural entre o oriente e o
ocidente medieval. (SAIBA + 5)
O historiador da arte Gombrich, ao analisar o impacto que as Cruzadas causaram no
campo artístico, afirma: "De fato, em nenhuma outra época a arte europeia se aproximou mais
dos ideais desse gênero de arte oriental do que no apogeu do estilo românico."
(GOMBRICHI,180).
A Igreja medieval não ficou isenta da prosperidade econômica e das transformações
sociais, culturais e políticas profundas que caracterizaram os séculos XI e XII. A pregação das
Cruzadas pelo papado demonstra o papel importante que a Igreja medieval alcançou nesse
período de mudanças sociais.
Disposta a romper com a intervenção contínua que os senhores laicos exerciam sobre
os cargos eclesiásticos, o papado iniciou um processo de reformas na estrutura interna da
Igreja, que implicou em um maior controle da Igreja sobre os membros dos seus quadros e
consequentemente, sobre o seu patrimônio.
Fortalecida internamente, a Igreja procurou alcançar aos seus fiéis de uma forma mais
efetiva. As igrejas se tornaram os edifícios mais reconhecidos e centrais nas comunidades
urbanas. A população citadina, cada vez mais heterogênea, ao caminhar pelo espaço urbano
avistava, nos edifícios religiosos, os símbolos da vida religiosa.
As cidades onde os bispos residiam e que, portanto, abrigavam o palácio episcopal, se
tornaram o espaço por excelência para a construção das catedrais que não só representavam o
poder dos seus líderes religiosos, mas também garantiam o prestígio da própria cidade. Uma
catedral imponente que possuísse em seu interior relíquias sagradas e obras de arte sacras
atraía não só os fiéis da própria comunidade para um exercício mais efetivo da sua fé, mas
também aos estrangeiros.
As imponentes catedrais medievais se tornaram centros de peregrinações dos fiéis que
se sentiam recompensados por esse exercício de fé quando, ao final da caminhada, podiam
deslumbrar-se com a beleza da arquitetura, da estatuária e da pintura realizada nos vitrais, e
retornar para as suas casas com relíquias e objetos que lhes valessem a sensação de levar
consigo uma parcela do poder dos santos de que eram devotos.
O conceito de uma nova espiritualidade difundiu-se com a reforma eclesiástica, onde o
fiel era estimulado a empenhar-se no fortalecimento individual da sua fé, baseada na
contrição, na busca pelo perdão dos seus pecados e pelo aprimoramento espiritual.
Reunindo os novos padrões de espiritualidade com a construção das catedrais, os
bispos disponibilizaram grande parte dos recursos da sua sé e da comunidade (que participava
dessa empreitada através de ofertas) para a realização dessa empreitada. Dessa forma, por
todo o ocidente europeu espalhou-se uma rede de catedrais e cada uma das cidades que as
possuía empenhava-se por tornar a sua catedral mais imponente e atraente aos fiéis.
As catedrais se tornaram, ao mesmo tempo, símbolos do prestígio religioso dos bispos
e do poder político da aristocracia urbana, que se beneficiava diretamente dos recursos
econômicos decorrentes do trânsito dos fiéis que se lançavam às peregrinações.
Inicialmente, os "doutores em pedras" (ou os arquitetos, como foram denominados
posteriormente) foram desafiados pelos bispos e por seus capítulos a construir tetos
abobadados que substituiriam os tetos retos das antigas catedrais românicas. Diante desse
desafio arquitetônico, novas inovações técnicas foram elaboradas para construir edifícios que
se mostrassem esteticamente mais atraentes e impactantes para os fiéis. A ideia era que os
devotos, ao adentrar às catedrais góticas, vivenciassem a sensação de estar mais próximos do
poder sobrenatural que emanava das figuras sacras, mas que principalmente
experimentassem a luminosidade originária diretamente do poder de Deus.
Para que essa sensação espiritual se concretizasse, as catedrais deveriam parecer mais
etéreas e menos sólidas. O desafio dos arquitetos medievais era reinventar o uso das pedras,
matérias-primas da construção dos edifícios medievais, e acrescentar o uso de novos materiais
como o vidro. Do projeto espiritual dos bispos e das inovações técnicas dos mestres das pedras
surgiram as catedrais góticas.
As catedrais góticas assemelhavam-se a grandes estufas. Sua estrutura longilínea
erguia-se em direção ao céu, à luz de Deus. Hoje seriam construídas com imbricadas estruturas
de ferro e aço, mas na Idade Média foram erigidas com pedras. Ao invés das compactas
paredes de pedras românicas, as paredes góticas eram adornadas com vitrais onde as figuras
sacras se destacavam.
A construção desses edifícios tão inovadores para o período exigiu o desenvolvimento
de cálculos matemáticos complexos que garantissem não só as características estéticas do
edifício, mas também a segurança daqueles que os frequentaria. Os tetos eram abobadados e
os vitrais próximos ao altar garantiam que os sacerdotes e os símbolos sagrados fossem
iluminados com luzes aparentemente mística. Os inúmeros arcos, feitos em pedra trabalhada
para garantir a sensação de leveza da construção, foram característicos das catedrais góticas e
asseguravam aos fiéis a sensação de estarem se elevando em direção ao céu. As paredes e os
arcos eram tecidos com pedras trabalhadas que promoviam o encaixe perfeito e a solidez da
estrutura. Logo, o que a princípio era uma inovação técnica tornou-se um conceito de
religiosidade corporificado arquitetonicamente.
A catedral de Chartres foi a primeira a ser construída no estilo gótico. Após os anos
1200, grandes e novas magníficas catedrais brotaram na França e nas regiões vizinhas. Veja as
figuras abaixo, elas representam a fachada e a parte interna da catedral de Notre Dame, uma
das catedrais mais antigas da Europa e um dos símbolos mais referenciados da arte gótica, mas
que infelizmente está parcialmente destruída em função de um incêndio ocorrido em 2019.

Fachada da Catedral de Nortre Dame — Paris


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Na foto 2 é possível observar os múltiplos arcos que ladeiam a nave da catedral, dando
a sensação ao visitante que ele está sendo conduzido por uma parede de arcos internos até o
ponto mais importante do edifício, o altar, onde a missa era realizada, os ritos seguidos e os
objetos sacros, cobertos de ouro e incrustrados de pedras preciosas, eram admirados pelos
espectadores, demonstrando a glória e a riqueza divina.

Interior da Catedral de Notre Dame


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A pintura dos vitrais é o exemplo de uma técnica diretamente beneficiada pela


intensificação do contato comercial com o oriente. Um comércio em torno dos produtos
utilizados para os trabalhos artísticos se tornou frequente nas cidades, especialmente aquelas
que tinham uma maior representatividade nas rotas comerciais - os negociantes traziam
produtos estrangeiros, como os pigmentos que permitiam ampliar a gama das cores e, muito
em especial, os necessários para produzir o azul que fascinava a arte do vitral.
Os vitrais, cujas temáticas eram fundamentalmente religiosas, narravam a história de
figuras sacras como o próprio Cristo, seus apóstolos e os santos. Ao percorrer a nave da
catedral, o fiel era capaz de aprender sobre a vida e os sacrifícios enfrentados por esses
personagens sagrados, o que foi reconhecido pelo historiador Georges Duby:

[...] Muito em especial nas figuras quer eles resolviam colocar nas fachadas, à vista
dos que não sabiam ler, como uma transposição visual do seu saber. Ordenavam
aos seus escultores e aos pintores que expusessem no centro da cidade, ponto de
confluência dos povos, a maneira como agora eram imaginadas na escola as
relações entre o Criador e as criaturas, que mostrassem portanto, um Deus feito
homem, semelhante a qualquer um de nós pela carne que revestira, e que o
mostrassem mais próximo dos homens, imitável, tal como viera no dia-a-dia entre
eles" (DUBY, 2002, 65).

Além da própria arquitetura e dos vitrais, um outro elemento característico das


catedrais eram as esculturas. Dispostas em nichos, geralmente nas paredes laterais e nos
altares, as esculturas personificavam as figuras sacras como os santos e o próprio Cristo, que
ganhou maior representatividade, especialmente, a partir do projeto reformista da Igreja. A
figura do Cristo menino, passando pelo Cristo sofredor até o Cristo ressurreto expresso na
estatuária e nos vitrais demonstrava aos fiéis a humanidade e a vitória do salvador, e os
convidava, através da introspecção e do sacrifício necessários àqueles que queria alcançar a
espiritualidade e a salvação eterna, a seguir o exemplo do mestre.
Sob a influência da arte grecoromana, detectável principalmente a partir do século XIII,
a técnica de esculpir tornou-se mais complexa e eficaz. As esculturas passaram por um
processo de aprimoramento considerável para compor o ambiente das catedrais góticas.
Inicialmente, seguindo o modelo da arte românica, as figuras sacras eram esculpidas de forma
garantir um ar de sacralidade imóvel. Contudo, com o avanço da arte gótica, as esculturas
sacras ganharam um certo ar de movimento. As vestes dos personagens sacros eram talhadas
de forma mais definida de maneira a realçar os pés e as mãos que podiam ser entrevistas nas
estátuas, conforme se observa na figura abaixo.

Virgem com o Menino, França, século 13. Disponível em:


https://de.wikipedia.org/wiki/Elfenbein#/media/Datei:MRAH_20112011_Vierge_14eme_s_Ivoire.jpg

Os pórticos das catedrais também eram ricamente ornados por personagens sacros,
figuras angelicais, e também maléficas, como serpentes e dragões, que representavam as
maldades a serem vencidas pelos santos e pelos fiéis na busca pela salvação.
Através da apreciação da beleza dos vitrais, das estátuas, das linhas harmoniosas dos
arcos e do teto abobadado, bem como dos pórticos, que exerciam um claro estímulo estético
visual, o fiel se via mais próximo da riqueza e da glória que cercava a Jerusalém celeste,
destino desejado por todos os cristãos.

Baixa Idade Média - O gótico e as artes

A arte gótica, que surgiu no âmbito eclesiástico, extrapolou-o e ganhou espaço na


esfera laica. As inovações técnicas que permitiram erguer as catedrais foram utilizadas
também na construção de outros edifícios que marcavam os símbolos de governo das cidades,
como as municipalidades, as universidades, as sedes das guildas, e mesmo nas residências da
aristocracia urbana. O incremento demográfico, a ampliação das redes comerciais internas e
externas, sobretudo com o oriente aqueceu o campo das construções e, além daquelas
equipes de artesãos que se encontravam direta e quase exclusivamente ligados à igreja,
artesãos dos mais diversos locais formaram uma rede de profissionais prontas a atender às
mais diversas demandas que se estendiam desde a construção dos prédios até a produção de
objetos artísticos.
Surge uma espécie de aristocracia do trabalho manual nas grandes cidades, onde a
arte ganhava corpo. Contudo, os laços que mantinham os mestres dessas oficinas impedia a
concorrência e inibia a inovação. Os artesãos que estavam ligados às casas eclesiásticas e
senhoriais tinham maior liberdade para promover inovações, visto que formavam uma equipe
que servia a um senhor e depois deslocava-se para outra corte, garantindo a sua autonomia
por não estarem presos às regras das corporações de ofício.
Os artesãos medievais se organizavam em corporações de ofício. Essas corporações
reuniam artesãos do mesmo ofício, que criavam estatutos através dos quais estabeleciam os
critérios de participação na corporação e de formação do futuro mestre artesão e as
características que os produtos deveriam conter para serem produzidos e comercializados.
Dessa forma, a técnica utilizada na produção do produto ficava restrita a um grupo de
iniciados, que se alto protegiam e impediam a concorrência entre si.
Os Arquitetos, os estucadores, os pintores e os escultores eram exemplos de artesãos
que, reunidos nos canteiros de obras, eram dotados de um saber especializado bastante
almejado no contexto baixo medieval. Experimentou-se o aperfeiçoamento das ferramentas,
que ajudavam o homem a dominar a matéria, e a valorização das habilidades para a utilização
e exploração de todas as potencialidades produtivas da madeira, da lã, da pedra ou do metal,
além da diferenciação e da produção das diversas tonalidades de cores a serem empregadas
nas pinturas, nos vitrais e no tingimento dos tecidos.
A aristocracia urbana, enriquecida com os frutos das suas atividades comerciais e
artesanais e estimulada pelos produtos vindos do oriente, ansiava por assemelhar o seu
padrão de vida àquele das casas senhoriais e reais. Da mesma forma, as cortes senhoriais
situadas nos campos se acostumaram com o luxo dos produtos orientais e dos objetos
artísticos produzidos nas cidades. Toda essa expectativa em relação ao consumo desses
produtos gerou o que o historiador Georges Duby chamou de uma arte popular.
[...] Descobrimos no decorrer do século XIII, cada vez mais claros, os traços de
uma arte a que poderíamos chamar de popular, se por isso entendermos que
imitava para uma clientela de menor fortuna e cultura menor, mas desejando a
ostentação, aquilo que mãos mais hábeis fabricavam por encomenda dos prelados
e dos príncipes com materiais menos vulgares. (DUBY, 2002, 72).

Dessa forma, o gosto pelos produtos refinados e luxuosos ganhou espaço. A arte da
estatuária e a da pintura ganhou espaço na composição de adornos domésticos e pessoais.
O senso de profundidade obtido através do jogo de luz e de sombras, decorrente da
influência da arte bizantina na arte italiana, desenvolveu-se na pintura gótica. Um dos pintores
italianos que conseguiu empregar na arte da pintura o senso de profundidade presente nas
esculturas góticas foi o pintor florentino Giotto de Bordone (1267-1337). Em seus famosos
afrescos, Giotto redescobriu a arte de criar a ilusão de profundidade numa superfície plana.
Como informa E. H. Gombrich:

Para Giotto, essa descoberta não representou apenas um estratagema a ser exibido
como tal. Ela habilitou-o a mudar toda a concepção da pintura. Em vez de usar os
métodos de escrita pictória, ele citou a ilusão de que a história sagrada estava
acontecendo diante dos nossos olhos. (GOMBRICH,2015,201)

Observe abaixo a obra de Giotto, Lamentação do Cristo, e atente para o senso de


profundidade existente na pintura:
Disponível em https://www.pinterest.pt/pin/350154939785216578/

O talento de Giotto para a pintura o fez reconhecido pela sociedade e, a partir dele, a
autoria de uma obra de arte passou a ser identificada. Com o tempo, os artistas criaram o
habito de assinar as suas obras e, partindo da experiência alcançada com a arte sacra, se
voltaram para a representação da natureza e das pessoas. Apesar de a arte do retrato não ser
tradicional na Idade Média, há vestígios da existência de um retrato feito pelo pintor Simoni
Martini (1284—1344).
Sob a influência crescente da filosofia aristotélica, que entendia que o conhecimento
sobre o mundo era um elemento fundamental para o entendimento da verdade divina e para a
proximidade com Deus, a arte gótica, sobretudo a produzida no âmbito de uma arte popular,
voltou-se para a representação dos elementos naturais. Alguns mestres italianos pintaram
copiando a natureza, desenvolvendo a arte retratista e rompendo com as rígidas figuras da
arte bizantina.
Antes, os artistas realizavam a sua arte através do treino das antigas fórmulas para
representar as principais figuras da história sagrada, e aplicar esse conhecimento a
combinações sempre renovadas. Agora, o oficio do artista incluía uma habilidade diferente: ser
capaz de realizar estudos da natureza e transferi-los para os seus quadros. Os espectadores da
arte julgavam a qualidade da mesma pela riqueza e precisão dos detalhes apresentados na
reprodução da realidade.
As peças artísticas produzidas eram avidamente adquiridas e por vezes encomendadas
pela aristocracia urbana e rural interessada em ter nas suas residências objetos similares
àqueles que viam nas grandes casas senhoriais e nos palácios reais. Ampliou-se, então, o
hábito de encomendar o erguimento de uma capela nas propriedades que eram
cuidadosamente ornadas com estátuas, vitrais e pinturas, para uso próprio da família
senhorial. Também era costumeira a encomenda dos livros das horas, um livro de oração que
era feito para o público laico e utilizado nas devoções particulares, muitas das vezes realizadas
nessas capelas. Quanto mais importante era a personalidade que encomendava esse tipo de
literatura, mais ricamente produzidas seriam as suas iluminuras e acabamentos. Observe a
imagem a seguir. Trata-se do livro das horas do duque de Berry.

Les très riches heures du duc de Berry


Disponível em:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Livro_de_horas#/media/Ficheiro:Folio_63r_-
_The_Presentation_in_the_Temple.jpg

Uma outra produção artística muito frequente na Baixa Idade Média eram os
calendários com iluminuras que marcavam a passagem do tempo, explorando principalmente
cenas da natureza que representavam o período do plantio e da colheita.
Agricultural calendar, c. 1470, from a manuscript of Pietro de Crescenzi
Disponível em: https://en.wikipedia.org/wiki/Middle_Ages

Os séculos baixo-medievais foram de intensa troca cultural entre os estudiosos e os


artistas que circulavam livremente de um centro cultural para o outro, partilhando as suas
ideias, suas técnicas e seus conhecimentos independente da sua origem ética e religiosa. As
cortes, os monastérios, as universidades e as escolas de tradução eram centros de
efervescência cultural espalhadas pelo ocidente e pelo oriente.

Baixa Idade Média — a indumentária

Segundo a historiadora Elena Percivaldi, a moda passou a existir na Idade Média a


partir do século XIII quando a burguesia recém formada tornou-se economicamente capaz de
comprar objetos e ornamentos que assemelhavam-se àqueles que eram utilizados nas cortes
senhorias. Nas palavras da autora: “[...] a maior disponibilidade econômica trouxe consigo um
novo hedonismo, a necessidade de emergir e — por que não? — se fazer notar e admirar por
aquilo que se era e se tinha.” (PERCIVALDI, 2018, 66).
As pedras preciosas e as sedas se tornaram frequentes nas vestimentas masculinas e
femininas que se tornaram cada vez mais distintas e auxiliaram na distinção socioeconômica
dos seus portadores. Logo, na Baixa Idade Média, as roupas caminharam para uma distinção
do gênero e da condição socioeconômica dos indivíduos, especialmente a partir do século XIV.
As antigas túnicas nos moldes romanos ainda eram a base da vestimenta, mas foram
se tornando mais torneadas para as mulheres, aos quais eram acrescidos elementos
decorativos — mangas, caudas longas, meias-calças, todos ricamente ornados com bordados e
tecidos. As linhas do corpo passaram a ser mais acentuadas e os bustos femininos valorizados
através de decotes apertados e vestidos com pregas que insinuavam a fertilidade das suas
portadoras. Também se expandiu o uso dos botões que ajudavam a dar mais forma à roupa. As
mangas mais longas e largas criavam um efeito interessante no corpo feminino, alongando os
braços de forma elegante.
Para valorizar as formas femininas, difundiu-se o uso, especialmente entre as mulheres
nobres, dos corpetes nos vestidos. Os corpetes se estendiam até os quadros e a partir dai,
estendia-se uma saia longa que caia em pregas até os pés, podendo formar também uma
longa cauda. Sobre o vestido, era comum o uso de uma sobretúnica, também herdeira da
tradição oriental, bastante ajustada ao corpo e com mangas longas (SANTOS, 2006).
A mesma tendência à valorização do corpo é perceptível na vestimenta masculina. A
antiga toga romana tornou-se curta e assumiu a forma de uma camisa. Sobre ela, os homens
portavam o gibão, uma espécie de casaco ou colete, geralmente feito de couro, que
valorizavam o peitoral dos seus portadores. As calças masculinas, que eram tão justas quanto
meias-calças, e tinham coberturas de couro na altura do púbis, completavam o traje masculino
e ressaltavam a masculinidade daqueles que as vestiam (PERCIVALDI, 2018). Debaixo das
túnicas, os homens vestiam o Brial, uma espécie de ceroula que se estendia os joelhos. As
meias passaram por uma espécie de aperfeiçoamento e eram usadas ligadas à parte superior
do traje. As calças eram costuradas usando-se a lã, o linho ou a seda, e investia-se no uso
multicor.
Sobre o gibão, os homens usavam uma espécie de sobre túnica conhecida como côte-
hardie, mais decotada, justa e abotoada na frente. As mangas eram largas e longas. Os nobres
usavam-na mais longa, ao passo que os mais pobres usavam-na mais curta e vestiam-na pela
cabeça, ao invés de usar botões (SANTOS, 2006). Na ilustração abaixo, é possível observar
exemplos da indumentária masculina e feminina.
Iluminura do Romance de la Rose
http://ica.themorgan.org/manuscript/page/9/77114

Graças à ampliação do contato comercial com o oriente, cores variadas invadiram as


vestimentas ocidentais e as técnicas complexas para a sua produção foram descobertas e
difundidas. Contudo, apesar da difusão do uso das cores, estas alcançaram significados
simbólicos diferenciados quando aplicadas a objetos e vestimentas na cultura baixo medieval.
O uso das cores nas vestimentas e a própria forma das roupas foram alvo de regulação
tanto por parte da Igreja quanto pelos monarcas medievais. As chamadas leis suntuárias, que
regulavam a vestimenta da população, marcando, sobretudo, a sua distinção social, não se
tratam de uma invenção medieval, já que estavam presentes nas sociedades antigas, mas
foram retomadas pela Igreja para marcar aqueles que eram considerados como uma ameaça à
ordem social e religiosa. No século XIII, as determinações eclesiásticas quanto à vestimenta
foram absorvidas pelas autoridades laicas e passaram a fazer parte da legislação régia.
Tomemos como exemplo a cor amarela. Segundo o Concílio de Latrão, realizado em
1213, os judeus eram obrigados a usar algo de cor amarela para mostrar a sua condição étnica.
As prostitutas também eram obrigadas, pelas leis suntuárias, a usar a cor amarela para que
pudessem ser identificadas e diferenciadas das outras mulheres. Isso porque o amarelo era
considerado como uma cor que evocava a traição e a infâmia.
A cor azul, também na arquitetura oriental, era entendida como um símbolo do poder
de um soberano e, a partir, sobretudo do século XIII, passou a ser utilizado nas obras de arte
que representavam a Virgem Maria, uma das figuras sacras mais importantes do catolicismo e
que ganhou um largo espaço na arte gótica. O manto da virgem era pintado de azul nos vitrais,
nas esculturas e nas pinturas baixo medievais, representando a sua santidade e logo, os
mantos reais foram pintados com a mesma cor, demonstrando o poder e a distinção que
envolvia o poder régio. Os reis da França, por exemplo, passaram usar a cor azul como
representativa da casa real em suas vestimentas e na heráldica.
Já a cor preta foi assimilada ao luto, mas também a algumas profissões, como a dos
médicos e dos homens da lei. Com as suas vestes negras, os magistrados eram reconhecidos
socialmente, especialmente no momento em que atuavam nos tribunais, representando a
distinção e o prestígio que envolvia essa profissão.
A maior parte das leis suntuárias eram destinadas aos grupos que eram considerados
diferentes, marginais, por motivos étnicos, religiosos ou morais, mas também se empenhavam
majoritariamente no controle das vestes femininas. O uso excessivo das maquiagens e dos
ornamentos a ponto de chamar a atenção em demasia para a figura feminina era amplamente
combatido, sobretudo, pelos eclesiásticos.
As leis suntuárias poderiam ser brandas ou mais rígidas de acordo com as autoridades
locais, mas de uma forma geral, buscavam evitar os excessos, que desagradavam
especialmente a moral eclesiástica, e garantir que cada grupo social respeitaria as marcas das
distinções sociais e étnicas.
Uma das peças da indumentária que se tornou comum no período medieval foi o
Pallium, uma espécie de lenço ou cachecol longo utilizado com várias dobras, inicialmente
utilizada pelos imperadores romanos. Como símbolo do poder da realeza que era, o Pallium foi
incorporado, no período medieval, na vestimenta das autoridades eclesiásticas. As
transformações da vestimenta tornaram o Pallium um corte de tecido simples com uma
abertura na cabeça largamente utilizado na Baixa Idade Média e que era mais um acessório
utilizado para embelezar as vestes e cobrir as madeixas femininas.
O contato com os produtos orientais, especialmente os do mundo muçulmano,
difundiu o uso do véu entre as mulheres, sobretudo aquelas da nobreza e da aristocracia
urbana, e que era utilizado cobrindo-se parcialmente o rosto. O véu era preso geralmente por
círculo de ouro que circundava a testa e tinha o objetivo, assim como o barbette — uma faixa
de linho que era passada sobre o queixo e puxada sobre as têmporas — de proteger o rosto
feminino dos olhares curiosos, especialmente o olhar masculino. O uso do fillet, um adorno
para o cabelo, que consistia em duas tiras ocas, ricamente trabalhadas, no interior das quais os
cabelos eram colocados, tornou-se frequente, e garantia que as madeixas femininas não
seriam expostas. É bom lembrar que o cabelo era entendido, na sociedade medieval, como
símbolo da virtude feminina.
O grande interesse pela arte gótica fez surgir uma tendência da moda gótica que até
hoje serve de inspiração para a moda contemporânea.

Considerações finais

Durante a Baixa Idade Média, no ocidente medieval desenvolveu-se o estilo gótico,


empregado na construção das catedrais, que fomentou inovações na arte da estatuária e da
pintura. Além disso, o contato da população ocidental com vários tipos de produtos oriundos
do oriente, especialmente a partir das cruzadas, influenciou diretamente a moda medieval,
com a introdução de novas peças do vestuário, como o véu, e com o uso de tecidos refinados
como a seda. Essas inovações tornaram a indumentária baixo medieval mais variada e
colorida, servido como inspiração para a indumentária moderna.

Questões

1 — Estilo arquitetônico que caracterizou as edificações eclesiásticas na Baixa Idade Média:

a) Românico
b) Neoclássico
c) Gótico
d) Rococó
e) Barroco

Gabarito: Letra C — O estilo gótico surgiu na Baixa Idade Média através do projeto eclesiástico
de construção das catedrais urbanas.

2 — Cor que, durante o período baixo medieval, alcançou grande valorização e representação
na arte e na indumentária por ser utilizada no manto da Virgem Maria:

a) A púrpura
b) O amarelo
c) O preto
d) O azul
e) O vermelho

Gabarito: Letra D. A cor azul passou a ser utilizada na arte sacra para colorir o manto da
Virgem Maria e que foi utilizada também pelos monarcas baixo medievais.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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DUBY, G. Quadros. In: DUBY,G. e ARIÉS,P. História da Vida Privada. Do Império Romano ao Ano
Mil. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.

FRANCO JUNIOR, Hilário. O Império Bizantino. São Paulo: Brasiliense, 1985.

GOMBRICH, E. H. A História da Arte. Rio de Janeiro: LTC, 2015.

PATLAGEAN, Évelyne. Bizâncio. Séculos X e XI. História da Vida Privada. Do Império Romano ao
Ano Mil. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.

RAINHO, M. do C. T. Barthes e Bourdieu. Os maîtres à penser e a moda. Acervo, Rio de Janeiro,


v. 23, no 1, p. 147-164, jan/jun 2010.

ROUCHE, M. Alta Idade Média Ocidental. In: DUBY,G. e ARIÉS,P. História da Vida Privada. Do
Império Romano ao Ano Mil. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.

RUNCIMAN, S. A Civilização Bizantina. Rio de Janeiro: Zahar, 1977.

SANTOS, G. M. de. A roupa, a moda e a mulher na Europa Ocidental Medieval. Reflexo da


opressão sofrida pelas mulheres na Idade Média (séculos XI—XV). Dissertação de Mestrado em
Arte Contemporânea. Brasília: UNB, 2009.

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