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Aula 3 - Situações Inesperada

1. O Juiz pode inspecionar o celular da parte ou da


testemunha em audiência, em busca de prova da
contradita?
1.1. 1

1.1.1. A situação prática

1.1.1.1. a

1.1.1.1.1. Você advoga para a parte autora de uma


importante ação

1.1.1.2. b

1.1.1.2.1. Na audiência de instrução você descobre que a


parte contrária arrolou uma única testemunha para ser
ouvida

1.1.1.3. c

1.1.1.3.1. Lá na audiência o seu cliente te conta que a


pretensa testemunha e a parte requerida possuem
amizade íntima

1.1.1.3.1.1. Como você não sabia disso


antecipadamente, não pesquisou provas para
apresentar a contradita

1.1.1.3.1.1.1. Porém, se a pessoa for ouvida como


testemunha e acabar faltando com a verdade para
beneficiar o amigo, o seu cliente pode perder a ação

1.1.1.3.1.1.1.1. Você sabe que precisa fazer


alguma coisa, mas não tem muito tempo pra
pensar
1.1.1.3.1.1.1.1.1. Aí lhe vem a seguinte idéia
na cabeça: e se eu pedir para o juiz
inspecionar o celular da parte contrária,
especialmente as conversas de whatsapp entre
ela e a pretensa testemunha?

1.1.1.3.1.1.1.1.1.1. O teor das conversas


pode demonstrar a amizade íntima e fazer
com que o juiz acolha a contradita

1.1.1.3.1.1.1.1.1.1.1. Você acha que esse


tipo de pedido é possível?

1.1.1.3.1.1.1.1.1.1.1.1. Se sim, como


você fundamentaria?

1.1.1.3.1.1.1.1.1.1.1.1.1. Ou você
acha que isso fere o direito à
intimidade da parte contrária e,
portanto, que não seria um pedido
pertinente?

1.1.1.3.1.1.1.1.1.1.1.1.1.1. Vamos
analisar juridicamente a questão

1.2. 2

1.2.1. A análise jurídica

1.2.1.1. a

1.2.1.1.1. O direito ao Sigilo das Comunicações, previsto


na Constituição Federal

1.2.1.1.1.1. Art. 5, XII – é inviolável o sigilo da


correspondência e das comunicações telegráficas, de
dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último
caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que
a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou
instrução processual penal;”
1.2.1.1.1.1.1. Segundo o STJ, essa pretenção
também se aplica às conversar de whatsapp

1.2.1.1.1.1.1.1. Recurso Especial nº 1903273/PR

1.2.1.2. b

1.2.1.2.1. Para o STJ, o sigilo das conversas de Whatsapp


somente pode ser levantado em 3 hipóteses

1.2.1.2.1.1. 1

1.2.1.2.1.1.1. por decisão judicial, no caso de


necessária investigação criminal ou instrução
processual penal (artigo 5º, inciso XII, da CF);

1.2.1.2.1.2. 2

1.2.1.2.1.2.1. nos casos em que “(...) a exposição


das mensagens tiver como objetivo resguardar um
direito próprio do receptor”, sendo necessário
analisar o caso concreto nessa última hipótese, para
ponderar se o direito à liberdade de informação ou o
direito à privacidade prevalecerá.

1.2.1.2.1.3. 3

1.2.1.2.1.3.1. mediante consenso dos participantes

1.2.1.2.1.4. O nosso caso

1.2.1.2.1.4.1. Veja que o nosso caso não se


enquadra nas duas primeiras exceções que o STJ
tem admitido: não estamos tratando de ação penal
e o pedido não está sendo feito por um dos
participantes da conversa
1.2.1.2.1.4.1.1. No nosso caso, seu cliente, um
terceiro que não participou da conversa, pretende
ver divulgada uma conversa do Whatsapp
mantida entre outras pessoas, para fazer prova
da amizade íntima entre a testemunha e a parte,
em uma ação cível

1.2.1.2.1.4.1.1.1. Então o seu pedido não é


possível, tudo está perdido?

1.2.1.2.1.4.1.1.1.1. O impossível é a
desculpa que o idiota arranjou, para
justificar a incompetência dele

1.2.1.2.1.4.1.1.1.1.1. No caso, você vai


agir da seguinte forma...

1.3. 3

1.3.1. A solução proposta

1.3.1.1. a

1.3.1.1.1. Você vai apresentar a contradita, alegando a


existência de amizade íntima entra a parte contrária e a
pretensa testemunha

1.3.1.2. b

1.3.1.2.1. O Juiz vai indagar à pretensa testemunha se ela


confirma a amizade

1.3.1.2.1.1. Caso ela negue, o juiz vai perguntar se


você tem provas da contradita
1.3.1.2.1.1.1. Neste momento, você vai pedir que a
parte contrária e a pretensa testemunha
apresentem ao juiz suas conversas de whatsapp,
para que, conhecendo o seu teor, o magistrado
possa decidir pela existência ou não da amizade
íntima

1.3.1.2.1.1.1.1. Você vai dizer que, de acordo com


o STJ, no Recurso Especial nº 1903273/PR, essa
exibição não fere qualquer direito dos envolvidos,
se os participantes das conversas concordarem
com ela

1.3.1.2.1.1.1.1.1. E você vai dizer ainda que,


como a pretensa testemunha está dizendo que
não existe amizade alguma, não há o que
esconder né...que quem não deve, não teme....

1.3.1.2.1.1.1.1.1.1. Aqui, duas coisas podem


acontecer:

1.3.1.2.1.1.1.1.1.1.1. 1

1.3.1.2.1.1.1.1.1.1.1.1. Se o advogado
da parte contrária não estiver
preparado e esperando essa atitude,
ele pode acabar concordando com a
exibição, com receio de o juiz achar
que eles estão, de fato, escondendo
alguma coisa...

1.3.1.2.1.1.1.1.1.1.1.1.1. Mas é mais


provável que aconteça a segunda
hipótese

1.3.1.2.1.1.1.1.1.1.2. 2
1.3.1.2.1.1.1.1.1.1.2.1. Se o advogado
da parte contrária estiver bem
preparado, ele vai impedir o cliente de
mostrar as conversas, invocando o
direito ao sigilo das comunicações

1.3.1.2.1.1.1.1.1.1.2.1.1. Eles ficarão


sem jeito, pq vai ficar um clima no
ar de que estão querendo esconder
alguma coisa...

1.3.1.2.1.1.1.1.1.1.2.1.1.1. Mas aí
você vai usar a estratégia
surpresa que eu vou te ensinar
agora

1.3.1.3. c

1.3.1.3.1. A estratégia surpresa

1.3.1.3.1.1. A prova da contradita será o depoimento


dos envolvidos

1.3.1.3.1.1.1. Primeiro ouve a pretensa testemunha


na ausência da parte que a arrolou

1.3.1.3.1.1.1.1. Na sequência ouve-se a parte que


arrolou a pretensa testemunha

1.3.1.3.1.1.1.1.1. E para ambos você vai fazer


as mesmas perguntas, sobre assuntos pessoais
e cuja resposta não pode ser diferente

1.3.1.3.1.1.1.1.1.1. Por exemplo:


1.3.1.3.1.1.1.1.1.1.1. Você já foi na casa
do fulano? Ele já foi na sua casa? Se sim,
quantas vezes? Você já foi em alguma
aniversário? Você já foi em algum velório
de parente? Vocês já viajaram juntos?
Etc...

1.3.1.3.1.1.1.1.1.1.1.1. Caso as
respostas não batam, você vai alegar
que a contradita está provada:
primeiro pela negativa em mostrar as
conversas de whatsapp e, segundo,
pela discrepância das respostas

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