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A ARTE DE PROTESTO NA DITADURA MILITAR BRASILEIRA (1964-1985)

Bruno S. Fernandes1, Denilson P. Souza2, Jawanne L. Lyra3


1. Estudante do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte | Campus Pau
dos Ferros (IFRN-PF)
2. Estudante do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte | Campus Pau
dos Ferros (IFRN-PF)
3. Estudante do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte | Campus Pau
dos Ferros (IFRN-PF)

Resumo
A Música Popular Brasileira foi um importante recurso na arte de protesto na ditadura militar brasileira
(1964-1985), no qual atravessou as barreiras da censura e, através de suas letras e mecanismos musicais,
expressou repulsa ao regime totalitário. Dessa forma, a partir de sua manifestação musical, o cantor e
compositor Chico Buarque, foi um dos principais nomes na resistência e luta pela liberdade, durante o período
ditatorial. Nesse sentido, a presente pesquisa tem como objetivo analisar algumas das principais músicas do
cantor em questão, sendo elas: “Apesar de você” 1970; “Cordão” 1971 e "Cálice" 1973, no qual foram
compostas e publicadas durante o regime militar. Sendo assim, a análise se baseia na interpretação, não
apenas das letras, mas de todo o contexto em que a letra das canções foram escritas. Contudo, as letras das
canções de Chico Buarque expressam a narrativa vivida, as consequências e sentimentos sentidos, e o poder
da resistência e luta pela liberdade durante a ditadura militar.

Palavras-chave: Chico Buarque; Censura; MPB.

Introdução
A pesquisa tem como tema “A arte de protesto na ditadura militar brasileira (1964-1985)” e possui o
objetivo de analisar as letras das músicas: “Apesar de você” 1970; “Cordão” 1971 e "Cálice" 1973, do cantor e
compositor Chico Buarque no qual abordam aspectos relacionados à censura durante a ditadura militar
instaurada no Brasil em 1964, devido suas músicas serem uma forma de expressar seus sentimentos sobre o
regime político vivenciado na época. É importante abordar essa temática, no que diz respeito à relevância da
música popular brasileira como uma arte de protesto e reivindicação das drásticas decisões tomadas pelos
autoritários da ditadura militar imposta no Brasil no ano de 1964, mesmo diante a severa censura que
perseguia esse tipo de obra. Entender como os artistas que viveram essa época escaparam da censura e
conseguiram expressar sua revolta ao regime militar através de suas artes, é essencial para entender a própria
ditadura militar, além de estimular a merecida valorização da música popular brasileira como elemento
essencial na arte de repulsa ao regime, para que nunca mais o Brasil seja afligido por ditaduras ou quaisquer
tipo de censura. A pesquisa foi fundamentada a partir de alguns dos seguintes trabalhos científicos: A censura
às músicas de Chico Buarque na ditadura (1964-1985), de Stephanie Carvalho, Luana Paula Rocha, Jéssica
Natalia Silva e Sthefany Toso, Observatório da Imprensa; Tempo de resistência: o discurso de protesto na
poesia de Chico Buarque, de Luiz Benigno dos Santos Filho e Vanessa Raquel Soares Borges, Caderno
Cajuína Revista Interdisciplinar.

Metodologia
Os materiais a serem utilizados para sustentar nossa pesquisa constituem em algumas das músicas
do cantor e compositor Chico Buarque, um dos principais nomes da resistência ao regime militar no Brasil,
sendo elas: “Apesar de você” 1970; “Cordão” 1971 e "Cálice" 1973, no qual foram escritas e publicadas durante
a ditadura militar de 1964 no Brasil. Além de pesquisas e artigos de caráter acadêmico no qual darão suporte a
nossa pesquisa. A metodologia será de caráter dedutivo, do tipo explicativa, abordando o aspecto qualitativo e
utilizando a técnica documental.

Resultados e Discussão
Após a ditadura militar no Brasil ser instaurada em 1964, Chico Buarque, assim como diversos
artistas brasileiros, se exilou por um tempo fora do Brasil. Em 1970, quando retorna ao seu país, o cantor
manda sua música “Apesar de você" para a Divisão de Censura de Diversões Públicas (DCDP), no qual é
analisada antes de ser liberada para a gravação e lançamento da mesma, por surpresa, a música foi liberada.
Após, o grande sucesso da obra, foram vendidos mais de 100 mil cópias por todo o país, mas, após um jornal
expor que a referida música se referia ao presidente Médici, o exército brasileiro invadiu a fábrica de discos e
confiscou as cópias do disco de Chico Buarque, apesar de terem esquecido da matriz. A polêmica música do
cantor se tornou a proibição mais pública do Brasil, tornando-se assim, ainda mais popular.

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O título da música em si é capaz de pensar em diversas possibilidades de interpretação, quem seria o
“você” em “Apesar de você”?. Como dito em alguns dos jornais da época, “você” se referiria ao poder máximo
do período ditatorial do Brasil, o então presidente general, Emílio Garrastazu Médici (1969-1974), mas é
conclusivo que o “você” dito por Chico Buarque, se refere não somente a uma pessoa em específico, mas a
uma situação de repreensão sentida por milhares de pessoas vítimas do regime militar, proibidas de se
expressarem. O próprio Chico Buarque clarifica esse fato no DVD Vai Passar: “Apesar de você” queriam que
eu dissesse que “você” fosse o Médici, mas não era. Não era um general, era uma generalidade. Era uma
situação. “Apesar de você” era tudo. [...] A vontade que as pessoas têm de que as coisas sejam mais
diretas. Não era”. Portanto, a música se refere a todas as formas de opressão, a censura imposta aos artistas.
(SANTOS FILHO, Luiz; BORGES, Vanessa. TEMPO DE RESISTÊNCIA: o discurso de protesto na poesia de
Chico Buarque. Cadernos Cajuína, 2448-0916, V.4, N.1, 2019, p.247 – 264).

“Apesar de você” em alguns dos versos durante a música é apresentada a situação atual, ou seja, ao
momento vivido pelo cantor, durante a composição da música, como no verso:

“Hoje você é quem manda/ Falou, 'tá falado/ Não tem discussão, não [...]”

Mostrando assim, a realidade do país durante a ditadura militar. Além disso, Chico Buarque mostra através da
letra da canção, as consequências diretas para os brasileiros, após o ato antidemocrático

“A minha gente hoje anda falando de lado/ E olhando pro chão, viu [...]”

Abordando um povo reprimido e com medo de viver no seu próprio país. Na estrofe do refrão, o compositor
busca repassar um aspecto de esperança, de luta e resistência, que em um futuro próximo, há de resultar em
liberdade

“Apesar de você/ Amanhã há de ser outro dia/ Eu pergunto a você onde vai se esconder/ Da enorme euforia/
Como vai proibir/ Quando o galo insistir/ Em cantar/ Água nova brotando/ E a gente se amando sem parar [...]”

Após isso, a letra se desenvolve e é finalizada com uma letra antiditadura, se mostrado imbatível e resistente a
qualquer tipo de censura e repreensão

“Inda pago pra ver/ O jardim florescer/ Qual você não queria/ Você vai se amargar/ Vendo o dia raiar/ Sem lhe
pedir licença/ E eu vou morrer de rir/ Que esse dia há de vir/ Antes do que você pensa [..]”.

Contudo, Chico Buarque, expressa em "Apesar de você” toda uma narrativa do período ditatorial
vivido, as consequência causadas por ele e o poder da resistência e luta pela liberdade, concluindo que,
apesar da repreensão e censura, a liberdade há de vir. Portanto, a canção foi e é um importante recurso na
arte de protesto contra a ditadura militar no Brasil.

Na canção “Cordão” do cantor e compositor Chico Buarque, lançada um ano depois de “Apesar de
você”, em 1971, é mais um grande exemplo da demonstração de oposição ao regime militar da época, canção
que contém mensagens subliminares que contestam a ditadura, e ele nega a se entregar à ditadura e diz que
não vai parar de cantar, e como se não bastasse ele ainda chama a população para se juntar a ele nessa
batalha, como apresenta no trecho a seguir:
“Pois quem
Tiver nada pra perder
Vai formar comigo o imenso cordão
E então quero ver o vendaval
Quero ver o carnaval sair”
Em vários momentos da canção o Chico Buarque dá voz à coragem, à bravura, à audácia, que
deveria tomar conta da consciência de toda população brasileira. O amor cívico e a paixão pela causa serviam
de inspiração para aqueles corações que se determinavam a combater e resistir. Não iria existir força de
proibição que impedisse a força voluntária da disposição de ir à luta. Podemos ver um exemplo disso na
segunda estrofe:
“Eu não
Eu não vou desesperar
Eu não vou renunciar
Fugir
Ninguém
Ninguém vai me acorrentar
Enquanto eu puder cantar
Enquanto eu puder sorrir”

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Já na música “Cálice” de Chico Buarque escrita em 1973, apresentava uma visão diferente, que
referenciava ao regime político que calava aqueles que tentavam expor a ditadura para a população,
abordando a repreensão e a liberdade tirada à força. Portanto, muitos artistas da época se expressavam
através de suas músicas, e quando o regime político via as letras da músicas passou a ver a visão desses
artistas que eles estavam expressando e alertando o povo sobre esses políticos, num pequeno trecho de sua
música percebe-se que o compositor Chico Buarque faz um apelo para que afastasse dele o “Cálice”, no qual,
intencionalmente ou não, pode ser verbalizada como “Cale-se”, mostrando assim, a censura imposta durante o
período ditatorial.
“Pai, afasta de mim esse cálice, pai”
Isso fez com que os políticos censurassem algumas de suas músicas por expor o governo da época. Além
disso, em um verso da canção, dá a entender a visão do cantor sobre o sentimento de ser silenciado, em que
ele diz que tem que aturar essa vida amarga, mesmo que doa, mesmo que não dêem a liberdade de opinar,
segue com peito, e o silêncio na cidade que não se escuta, pois o povo sofre.
“Como beber dessa bebida amarga
Tragar a dor, engolir a labuta
Mesmo calada a boca, resta o peito
Silêncio na cidade não se escuta”

Conclusões
Após a análise das três músicas selecionadas do cantor e compositor Chico Buarque, escritas e
publicadas durante a ditadura militar no Brasil (“Apesar de você” 1970; “Cordão” 1971 e "Cálice" 1973),
percebe-se a importância da influência da Música Popular Brasileira (MPB) na arte de protesto na Ditadura
Militar brasileira (1964-1985), mesmo diante a censura imposta contra esse tipo de manifestação, a música é
um importante artifício para esse fim, por atingir muitos públicos e repassar justamente, mensagens de cunho
crítico, em que grande parte da população quer falar mas não pode, portanto se sentem representados nas
letras dessas canções.
Ao analisar, em detalhes e no contexto, no qual foram compostas e publicadas, algumas das
principais músicas do cantor e compositor Chico Buarque durante o regime totalitário, em específico: “Apesar
de você” 1970; “Cordão” 1971 e "Cálice" 1973, abordam de forma delicada, o tempo vivido, as consequências
do autoritarismo e a euforia pela liberdade durante a ditadura militar no Brasil. Em suas canções, assim como
diversos artistas daquela época, Chico Buarque usa alguns recursos musicais para despistar a Divisão de
Censura de Diversões Públicas (DCDP), no qual eram responsáveis por confiscar as obras, antes de serem
gravadas e publicadas, como em “Cálice”, em que o próprio nome da música pode ser verbalizada como
“Cale-se”, representando assim, o silenciamento bastante repentino durante esse período. Além disso, o
compositor, em muitos momentos de suas músicas, apresenta resistência contra qualquer tipo de censura, e
confiança na luta pela liberdade e democracia, repassando mensagens importantes e confiáveis para uma
população reprimida e desesperançosa por um Brasil melhor, livre de ditaduras.
Por fim, o cantor e compositor Chico Buarque, foi e é merecidamente, um dos principais nomes na
luta contra a ditadura militar no Brasil, por apresentar através de suas canções, de forma muito inteligente,
mensagens subliminares valiosas no contexto em que o Brasil vivia, dando voz a uma população silenciada
pela censura.

Referências bibliográficas
(SANTOS FILHO, Luiz; BORGES, Vanessa. TEMPO DE RESISTÊNCIA: o discurso de protesto na poesia
de Chico Buarque. Cadernos Cajuína, 2448-0916, V.4, N.1, 2019, p.247 – 264)

(CARVALHO, Stephanie; ROCHA, Luana; SILVA, Jéssica; TOSO, Sthefany. A censura às músicas de Chico
Buarque na ditadura (1964-1985). Observatório da Imprensa, 2015. Disponível em:
https://www.observatoriodaimprensa.com.br/diretorio-academico/a-censura-as-musicas-de-chico-buarque-na-dit
adura-1964-1985/. Acesso em: 07 de fev. de 2023.

LEITÃO, Rui. "CORDÃO" de Chico Buarque. [S. l.], 28 nov. 2017. Disponível em:
https://www.recantodasletras.com.br/analise-de-obras/6184450. Acesso em: 7 fev. 2023.

CORDÃO. [S. l.], 21 nov. 2011. Disponível em: https://analisedeletras.com.br/chico-buarque/cordao/. Acesso


em: 7 fev. 2023.

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