Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Amanda
Sherman
tem
um
grande
motivo
para
fugir
do
Texas
e
começar
uma
nova
vida
em
Los
Angeles.
Apesar
de
reservada,
ela
começa
a
fazer
amizade
com
Sarah,
que
a
consegue
um
emprego
como
empregada
em
uma
mansão
em
Beverly
Hills,
de
um
conceituado
diretor
de
cinema
e
famoso
astro
de
Hollywood.
Brandon
Moyer
é
um
homem
impaciente,
sério
e
conciso.
Que
guarda
um
passado
triste
pela
perda
de
sua
mulher.
Quando
coloca
os
olhos
sobre
Amanda,
imediatamente
nota
algo
diferente
na
misteriosa
mulher
que
trabalha
em
sua
mansão.
Ambos
sentem
uma
conexão
incrível.
O
problema
é
que,
suas
feridas
ainda
não
cicatrizaram
e
Brandon
tentará
afastar
sem
sucesso
a
única
mulher
que
mexeu
de
fato
com
seu
coração.
Prólogo
Suas mãos fortes apertam a minha garganta e o ar parece ter fugido
dos meus pulmões. Ele está com raiva, muita raiva, e acredito jamais tê-lo
visto tão transtornado como agora.
— Eu te falei, você não deveria ter saído de casa, mas você quer sempre me
afrontar. — Brian grita com seu rosto bem próximo ao meu. Tento gritar,
mas estou perdendo a consciência e acho que dessa vez ele vai me matar.
Meu coração está disparado e sinto que o pânico começa a tomar conta de
mim. Sei que eu deveria ter tomado uma atitude no primeiro tapa que levei,
mas eu sempre achei que isso, um dia, iria acabar. Doce ilusão, não acabou!
Não tenho tempo para pensar, apenas sinto o baque forte do meu corpo
batendo contra a parede sólida. Instantaneamente sinto meu sangue
quente descendo no meu rosto, misturado com as lágrimas que não param
da cair. Por uma fração de segundos, perco a consciência, mas tento ficar o
máximo possível acordada.
— Por... favor. Pare! — sussurro, mas o meu tom de voz sai praticamente
inaudível. Brian me encara com seu olhar gelado e minha visão fica cada
vez mais turva.
— Voce não pode sair por aí e ser uma VAGABUNDA! — Brian grita fazendo
o meu corpo tremer. Estou sentada no chão com o corpo encolhido com
muito medo. Sei que dessa vez preciso dar um basta, antes que ele me mate
de verdade. Brian é bipolar e obcecado por mim. Hoje tivemos mais uma de
nossas habituais brigas, mas com um grande diferencial... ele passou de
todos os limites e me agrediu com muito mais violência que das outras
vezes.
Estou com fortes dores e agora não tem mais jeito, preciso fugir antes que
seja tarde demais...
1
Amanda
Ontem à noite saí de Austin — cidade do Texas — , e agora estou a
caminho do Colorado. Não, eu não ficarei por lá. Comprei uma passagem
para o primeiro lugar que me levasse longe dali o mais rápido possível. Saí
na calada da noite, quando Brian — meu marido — , dormia depois de mais
um porre. Aliás, beber ultimamente era algo comum em sua vida. Estou
decidida, não quero que ele me encontre. Se eu pedisse o divórcio, correria
um grande risco de morrer. Ele foi bem taxativo: "eu não aceito me separar
de você". Claro que eu já me arrisquei uma vez e claro que, ao invés de
fugir, eu fiquei presa por praticamente uma semana em casa. Ele já foi
preso uma vez por me agredir e saiu depois de pagar uma fiança enorme.
Mesmo que vizinhos tenham chamado a polícia, ele ainda queria ficar
comigo. Queria "nos dar uma outra chance". Mas eu sentia claramente seu
amor misturado com ódio. Ele sempre foi estranho e sempre será.
— Bom, eu também. Prazer, meu nome é Sarah. Vim morar com o meu
namorado e estou aqui há menos de dois meses. — Sorrio timidamente. De
repente um homem de altura mediana de cabelos pretos e pele morena
clara se aproxima e eu percebo que é o namorado dela.
Talvez eles possam ser meus amigos mas... preciso ter cuidado e
ficar atenta a tudo ao meu redor...
2
Amanda
Toda manhã quando abro meus olhos para me deparar com um
novo dia, tenho sensações estranhas. Meu coração dispara e a impressão é
de ainda estar no lugar errado. Não sei se é por imaginar Los Angeles sem
lugares tão estranhos quanto este ou por ainda não me acostumar com o
fato de estar livre. Isso mesmo, livre. Antes de conhecer o meu marido, eu
era alegre, decidida e ativa, então, quando o conheci, o tempo parou. Minha
vida havia se transformado em uma rotina maçante e tediosa. Claro que
para que isso mudasse de vez em quando, Brian, me agredia com palavras
ou fisicamente. Por conta destes dias que se tornaram anos, tenho
pesadelos terríveis, principalmente de estar novamente em suas garras.
Não direi a ela que jamais trabalhei para alguém, mas, mesmo assim,
preciso de qualquer coisa que me garanta um salário fixo.
— Bom, tem uma coisa... eles querem que uma de nós more na casa. Eu até
gostaria, mas tenho um namorado que provavelmente ficaria furioso, já que
vim de longe para morar com ele. — Sorrio amplamente. Seria ótimo
trabalhar em um lugar seguro e não correr o risco de morrer assassinada. A
área onde moro tem gangs que matam por nada. Sim, estou falando de Los
Angeles.
Tudo que sei é que o dono voltou do exterior, onde morou por um
ano. Ele precisa com urgência de empregados para cuidar da enorme casa e
confesso que estou com medo de não corresponder às expectativas. Há
muitos anos não faço trabalhos domésticos, mas acredito que a Sarah será
de grande ajuda. Antes de conhecer Brian, eu cuidava da casa dos meus pais
e adorava cozinhar. Embora às vezes eu arriscasse algo na cozinha, Brian
nunca aceitou que eu colocasse as mãos nas panelas, dizia que eu não era
mais a pobretona que conheceu. Eu tinha uma empregada que mais parecia
uma espiã em minha vida. Tinha uma vida muito confortável na qual eu
estava fadada a viver em meio a tristeza.
Embora a casa seja enorme, ela nos mostrou cada pedaço e nos
explicou com muita paciência como tudo funciona. A casa tem sete quartos,
nove banheiros e dois andares que se alastram sobre uma área de mais de
900m². Por fora, ela é toda branca com telhados na cor cinza e nos fundos
tem uma piscina estreita mas bem longa com imensas palmeiras enfeitando
cada lado. O lugar realmente é lindo e incrivelmente luxuoso. Meu quarto
fica no andar de baixo, dentro da lavanderia, e posso afirmar que é muito
melhor que todo o apartamento que estou morando.
— Ótimo. Preciso para ontem, o morador decidiu vir de útima hora, então,
por favor, pegue suas coisas e já pode começar amanhã. — fico sem ação.
Não imaginava ter que a trabalhar assim, tão rápido! Sorrio para Sarah, que
também me olha com uma expressão feliz.
— Espero que você tenha dado conta de tudo. Seus documentos e seu
atestado de bons antecedentes já estão comigo e você pode se considerar
contratada. — ergo as sobrancelhas. Pensei que já estava contratada, mas já
que mostrei um bom trabalho e nunca fui presa, acho que posso me sentir
aliviada.
— Bom, tem algumas coisas que preciso deixar claro sobre seu patrão.
— concordo com a cabeça e ela continua. — Você já deve saber que ele é
um astro muito famoso. — engulo em seco e assinto, fingindo saber.
— Na verdade, você será a única depois de mim que dormirá nesta casa. Ele
me deu autonomia para escolher quem eu quiser e então, espero que você
não me decepcione. — assinto sem dizer nada. O que vou dizer? Que eu
estou aqui fugindo de um marido psicopata? Nunca!
— Tudo pronto. Pode levar! — Jane me entrega uma bandeja de prata com
uma jarra de suco natural de morango. A jarra parece de cristal, límpida e
bem frágil. Estou um pouco trêmula devido a situação que jamais imaginei
passar. Nunca pensei em ser empregada de ninguém e muito menos servir
um famoso astro de Hollywood. Respiro profundamente e caminho em
direção à sala de jantar. Assim que chego, tento ser o mais profissional
possível. Minhas pernas tremem como se eu estivesse em um teste de
direção. Aproximo-me da mesa e vejo uma mulher de aproximadamente
quarenta anos com um senhor que aparenta ter uns setenta. Eles estão
sentados, um de cada lado e de frente para o outro enquanto a cadeira da
ponta está vazia. No primeiro momento, achei que ele fosse o Sr. Brandon,
mas suponho que ele ainda não chegou. Por incrível que pareça, me sinto
aliviada.
— Sua idiota! O que deu em você?! Era só o que me faltava! — Ela grita, me
fazendo ficar paralisada no lugar. Meu Deus, agora estou perdida. O que eu
vou fazer?!
Agora meu corpo está ainda mais trêmulo que o normal e acho que
vou ter um ataque cardíaco bem no meio da sala e, por um momento,
esqueço que deixei uma mulher ensopada e querendo nitidamente me
matar.
— Brandon, a idiota nem deve saber o valor deste vestido! — ela grita
completamente fora de controle, me trazendo de volta à terra. Ela disse
Brandon? Ele é o Sr. Brandon? Estou em estado de choque, já que o imaginei
muito velho e carrancudo.
— Desculpe, senhora, eu... hoje é o meu primeiro dia e peço perdão pela
minha falha. — por algum motivo, o senhor de idade que está sentado fica
com uma mão escondendo a boca e eu tenho a impressão de que a qualquer
momento ele vai rir. O senhor Brandon não diz nada, apenas me olha com o
cenho franzido.
— Amor, você não vai dizer nada? — A ruiva revoltada pede para o senhor,
me deixando ainda mais confusa. Ele é marido dela? Ele é bem mais velho
que ela mas, no entanto, ela o chama de amor. Se são casados, ela só pode
ser a madrasta do senhor Brandon.
Que loucura!
— Tire essa louca daqui antes que eu quebre essa cadeira em sua cabeça.
— a ruiva grita novamente e eu me afasto com uma expressão assustada.
Droga! Agora estou ferrada! Pra onde vou, se já não tenho nem lugar pra
ficar? Entreguei o apartamento e na rua não posso ficar. Meu Deus! Eles
não irão me perdoar.
Brandon
IMPACIÊNCIA deveria ser meu segundo nome. Estou há quase
quatro horas enfiado no aeroporto de Madri, pronto para embarcar em um
avião que resolveu não decolar. Sou um homem que odeia esperar e, por
causa de um mal tempo idiota, eles resolveram adiar a porcaria do voo.
Hoje à noite irei receber meu pai para um jantar de "boas vindas"
que ele fez questão de mandar Jane preparar. Ele não mora mais aqui,
desde que minha mãe faleceu, mas ele dá suas visitas esporádicas. Óbvio
que por ser pai de um homem como eu, apareceriam interesseiras como
sua nova mulher. Só espero que seja breve esse jantar e que eu possa
descansar para que amanhã eu possa começar a cuidar da minha vida.
— Desculpe, senhora, eu... hoje é o meu primeiro dia e peço perdão pela
minha falha. — a jovem diz com a voz apavorada, mas parece que ela terá
uma síncope à qualquer momento. Eu realmente não sei o que fazer, ela me
parece bem assustada, me deixando confuso. Não sei se eu a mando limpar
a bagunça ou se eu a ajudo.
Meu pai parece estranho com as mãos sobre a boca, como se estivesse
prestes a rir.
— Amor, você não vai dizer nada? — a interesseira pede e ele continua com
suas mãos sobre a boca, me deixando ainda mais confuso. Olho para a
jovem novamente e ela não sabe o que fazer. Ela está com medo, muito
medo, e por mais que eu queira brigar, eu... não consigo
— Tire essa louca daqui antes que eu quebre essa cadeira em sua cabeça.
— ela parece transtornada por causa de um mísero vestido e quando olho
novamente para a jovem empregada, ela se afasta da Cynthia, como se ela
realmente fosse quebrar a cadeira sobre a cabeça da pobre moça.
Jane aparece e finalmente a tira daqui. Meus olhos a seguem até elas
desaparecerem pela porta.
— Querida, não seja radical com a moça... ela não fez por mal. — meu pai
diz parecendo estar satisfeito com o que acaba de acontecer.
Ignoro o que ela disse e sento-me no meu lugar à mesa. Jane retorna
sozinha, limpando a cadeira onde Cynthia estava sentada.
— Que bom te ver filho. Como foi ficar tanto tempo fora do ar?
— Não vá mandar a jovem embora por causa dos ataques da Cynthia. Bem
que eu gostei que ela tenha estragado seu vestido idiota. — curvo meus
lábios em um leve sorriso.
— Não. Só... ando um pouco insatisfeito. Ela tem se mostrado cada dia mais
fútil e isso está me cansando. Nada demais! — aceno em positivo e, logo em
seguida, Jane retorna com duas travessas e começamos o jantar esperar à
mulher do meu pai.
Amanda
Quando eu acho que nada pior poderia acontecer, então eu me vejo
diante de tal situação.
— Ela é madrasta do senhor Brandon. Mulher do seu pai! Espero que ele
não se irrite com você. Mesmo que os dois não se dêem bem, não posso
imaginar o que ele vai realmente fazer com você. — ela solta uma
respiração forte. — Amanda, seu pai é viúvo e há algum tempo está com
essa mulher. Ela é uma mulher chata, mas acredito que sabe agradar bem o
senhor Moyer . — Ela diz, mas minhas lágrimas insistem em descer dos
meus olhos. Não posso esconder o meu pavor em ter que morar na rua.
— Eles não disseram nada, mas... preferi que ficasse no quarto. Você não
me parecia bem e acredito que não irão te mandar embora. Achei que
estivesse dormindo a essa hora. — solto um suspiro de alívio, mas sei que
terei que ser mais cuidadosa. Não posso dar mais nenhum furo ou terei que
me contentar com a rua.
— Certo, vou dar uma volta lá fora e volto para descansar. — ela assente
com a cabeça, parecendo realmente estar com pena de mim. Ela é uma boa
pessoa e acho que irá me ajudar daqui pra frente.
— Olá, gosta de flores? — ela tem os olhos azuis mais lindos que já vi. Seu
sorriso é fácil e ela provavelmente não deve ter além de dezoito anos. Não
sei, ela pode ser mais velha, já que trabalha aqui, mas a sua aparência é
bem jovem.
— Sim, sou apaixonada por plantas e flores. Sempre quis ter um grande
jardim como este. Você cuida muito bem do jardim! — ela sorri.
— Sou Emmy, prazer em conhecê-la! — ela ergue sua mão para mim e
então nos cumprimentamos.
— Muito prazer! — digo e então me ajoelho ficando ao seu lado. Emmy está
com luvas para não machucar suas mãos, e com delicadeza, ela corta os
cabos secos das flores, deixando apenas os novos.
— Muito bem! — Ela diz satisfeita e ficamos ali, por um bom tempo
conversando e cuidando das flores. Emmy me contou que vem todos os
dias desde que o senhor Brandon voltou. Ela disse que veio há pouco tempo
com todos os funcionários, ou seja, ela também é nova aqui, mas parece que
nasceu para cuidar desse jardim.
— Amanda, preciso fazer uma breve viagem. Meu irmão está muito doente
e terei que cuidar dele. Preciso muito que você cuide de tudo aqui. Acabei
de falar com o senhor Brandon, e ele está ciente de tudo. — estou estática
com o que acabo de ouvir. Ficarei nessa casa sozinha com o senhor Brandon?
— Certo, mas você precisa me passar o que terei que fazer. — ela sorri
concordando.
Todos os dias tenho ido ao jardim no fim da tarde para ajudar Emmy
com as flores. Com tanto cuidado e carinho, acredito que o jardim vai voltar
a ficar lindo como deveria ser antes, no passado.
— Sim?
— Gostaria que você me trouxesse o jantar daqui a uma hora, por favor! —
sua voz é grossa e seu tom é extremamente sério. Poderia ouvi-lo falar por
horas!
— Sim... senhor!
Subo as escadas apreensiva e meu coração parece que vai sair pela
boca. Assim que me aproximo da porta do seu quarto, respiro
profundamente, batendo na porta levemente. Depois de longos segundos, a
porta é aberta e eu tenho a visão mais incrível do mundo. O homem é
realmente lindo, um espetáculo. Seus cabelos estão molhados e ele veste
apenas uma calça de moletom mostrando sua bela forma.
— Entre! — ele diz se afastando para que eu entre com a bandeja. Ele
aponta para uma mesa com duas cadeiras de madeira próximo à porta da
varanda e eu coloco a bandeja. Por algum motivo, posso sentir seu olhar
sobre mim e isso me deixa um pouco nervosa. Não digo nada e me viro para
sair, ele ainda está de pé ao lado da porta me olhando intensamente. Deus,
porque ele me olha assim?
Caminho até a porta sem dizer nada, e então sou parada pela sua
bela voz.
Encaro-o nos olhos, que por sinal são de um azul incrível. Além de lindo, ele
cheira maravilhosamente bem. Achei que não conseguiria nunca ficar
atraída por outro homem por tanto sofrimento que passei, mas é inevitável
não se sentir atraída por um homem como ele.
5
Brandon
Agora estou aqui, me perguntando por que diabos quero saber o seu
nome. Eu não sei o que está havendo. Do nada, eu senti uma grande
necessidade de apenas ouvir a voz dela. De perto, ela é ainda mais atraente
e eu não pude me conter. Onde estou com a minha cabeça? Ela estava
prestes a sair e eu tinha que fazer alguma coisa. Admito que ontem, ao vê-la
da janela do escritório da Alissa que fica de frente para o jardim, muitas
lembranças boas me vieram à cabeça, principalmente lembranças da minha
infância. Sim, admito que estava olhando-a de longe e notei que ela tem um
jeito especial para cuidar das flores. Ela tinha um carinho especial
enquanto retirava os galhos secos, como se as flores estivessem doentes.
Ela parecia não se importar em se sujar. Sua simplicidade naquele
momento me fascinou e só agora, depois de um ano, pude sentir algo bom
dentro de mim, algo verdadeiro.
— Meu nome é Amanda, pensei que o senhor soubesse! — Diz ela, quase
como um sussurro.
— Não costumo gravar nomes. — Digo de forma séria. Não quero que ela
perceba que minha pergunta foi apenas para ouvir a sua voz. Na realidade,
eu já sabia o seu nome. Tenho sua ficha no meu escritório. Confio em Jane,
mas gosto de saber quem eu coloco dentro da minha casa.
— Amanhã, farei uma breve viagem para Nova York e voltarei no dia
seguinte à noite. Você estará livre para tirar os dois dias de folga. —
Informo de maneira calma. Não quero que ela pense que sou um carrasco e
que desapareço sem avisar. Quero que ela se sinta bem e... segura. Ela acena
positivamente com a cabeça.
Hoje, falei com Jane por telefone, que me disse que seu irmão ainda
está mal e que talvez tenha que ficar um pouco mais. Ofereci ajuda, mas ela
já está amparada com o dinheiro extra que dei em um ótimo hospital. Não
há nada que possamos fazer. Ele é o único irmão de Jane e sempre teve
problemas com o álcool. Ele está com cirrose e seu estado de saúde nos
preocupa muito.
— Desculpe, eu... não vi o senhor chegar! — ela diz e nossos olhos não saem
um do outro. Sinto meu coração acelerar e um sentimento bate em mim
forte. É, não tem como negar... eu me sinto muito atraído por ela.
O que deu na minha cabeça de vir até aqui? Quase nunca entro nessa
cozinha. Provavelmente ela está se perguntando a mesma coisa. Ela se
levanta segurando a toalha para que não caia, e com muita rapidez ela faz o
seu caminho até a porta, desaparecendo pelo corredor. Meus olhos não
conseguiram sair de cima dela um só segundo. Olho para os cacos de vidro
no chão e decido limpar. Pego cada caco cuidadosamente com as mãos e
levo-os até a lixeira mais próxima. Quando termino, vejo que Amanda
retorna até cozinha com um vestido solto que a deixa ainda mais sexy. Ela
me observa surpresa ao me ver abaixado e limpando a sujeira.
— Aqui está. Espero que aprecie! — ela diz enquanto coloca o prato sobre o
balcão e sorri levemente.
— Obrigado, Amanda! — ela me olha nos olhos e mais uma vez tenho uma
sensação estranha.
— Você já comeu? — pergunto para conter seus passos. Ela se vira para
mim e une as sobrancelhas, confusa com a minha pergunta estranha.
— Você poderia se sentar e dividir esse sanduíche comigo? Acho que você
exagerou e provavelmente teremos que jogar fora se... você recusar. — ela
curva seus lábios e, um pouco hesitante, ela senta-se a minha frente.
— Tudo bem, eu... não comi nada até agora, e seria bom! — sorrio e então
quando menos percebo, devoro a grande metade do sanduíche. Ela, no
entanto... come devagar, saboreando cada pedaço.
— Preciso... dormir. Amanhã será um longo dia! — ela acena sem dizer uma
palavra e com muita hesitação eu saio, deixando a única mulher que
despertou algo bom dentro de mim...
6
Amanda
Meus sonhos eram alternados com pesadelos. Enquanto era
perseguida pelo meu marido, ao mesmo tempo ele não podia me tocar, pois
eu estava dentro dessa casa. Se eu tentasse sair pelo portão, era vítima de
suas perseguições, mas... enquanto estivesse aqui, nada podia me fazer mal,
nem mesmo Brian.
Agora são seis da manhã, então decido me levantar mais cedo para
mais um dia. Meus olhos param no canto do quarto onde guardei as minhas
telas e pinturas. Amo pintar quadros, Sempre amei. Mas fazia isso até Brian
quebrar minhas obras e jogá-las no lixo. Tudo que fizesse me afastar do
Brian, segundo ele, era uma coisa ruim. Quando pintava, eu me desligava do
mundo e era como se outra pessoa entrasse no meu corpo. Era sublime,
mágico e extremamente revigorante para mim. Quando meus desenhos
ganhavam formas, sentia-me serena e muito feliz. Brian não aceitava isso e
me proibia. Não podia ser feliz se ele não fizesse parte dessa felicidade.
Bom, isso era uma das mil coisas que ele me proibiu de fazer durante todos
esses anos.
Aproveitei meus dois dias de folga que o senhor Brandon havia me
dado. Naquele dia, parecia que existia uma conexão entre nós dois, algo
estranho. Ele parecia querer falar, mas algo o fazia parar. Não sei o que de
fato passa pela sua cabeça por ele ser muito sério. Seu rosto estava sempre
impassível, mas seus olhos me observavam profundamente. Eu sentia como
se ele soubesse os meus sentimentos, mas lógico que tudo isso era coisa da
minha cabeça. Ele é sem dúvida um homem muito ocupado para se
preocupar com uma mera empregada.
Bom, mas foi ótimo ele ter me dado esses dois dias e aproveitei para
sair e comprar tinta a óleo, pincel, telas, cavalete e paleta. Fui avisada pela
Jane que quando fosse sair, era prudente chamar um táxi que me pegasse
aqui dentro, já que fotógrafos de vários lugares ficavam escondidos fora
das dependências da casa. Eu não poderia ser reconhecida, nunca. Meu
rosto não pode aparecer em nenhuma mídia ou estaria perdida. Coloquei
meu capuz e chamei um táxi e quando o carro saiu pelo portão, lá estavam
eles, apenas dois paparazzi prontos para fotografar. Todo o cuidado é
pouco, então acredito que assim estaria segura. A sorte é que havia poucos,
já que todos sabiam que Brandon estaria em Nova Iorque.
Assim que chego ao jardim, vejo Emmy, linda como sempre e com
suas mãos delicadas, ajoelhada sobre a terra e toda suja. Vejo em seus olhos
o prazer que ela tem em fazer algo tão simples. Vê-la dessa forma me faz
perceber que não precisamos de muito para sermos realmente felizes.
Basta fazermos aquilo que realmente gostamos.
— Vai ficar perfeito, Emmy, confie em mim! — ela sorri e acena a cabeça
positivamente.
— Claro que confio. Tenho certeza de que você irá fazer um lindo trabalho
com suas mãos e esse extraordinário jardim.
— Ele está ótimo, e você, não tem família? Ninguém vem te visitar?! — ela
nunca havia sido invasiva sobre minha vida íntima. Desde que conheci
Sarah, sempre a achei discreta, mas ela me parece um pouco curiosa
demais. Lembro-me muito bem de tê-la contado que moro no Texas, mas
nada além disso.
— Desculpe, é que... — tento dizer mas sou interrompida pelos seus gritos.
— Amanda, segure o meu braço! — ele diz com o tom de voz apavorado e
eu não tenho forças para responder. Estou com medo, já que mesmo
estando no segundo andar, a sua casa é imensa e muito alta. Se eu cair,
acredito que irei me machucar feio. Meus braços estão ficando trêmulos e
suados. Começo a escorregar, ficando apenas as minhas mãos para que ele
segure. Mas as minhas mãos suadas impedem que ele me segure com
firmeza por muito tempo e eu acabo caindo do segundo andar sobre o
grande gramado. Meu corpo bate com força sobre o chão e a única coisa
que consigo ouvir é a voz do Brandon gritando o meu nome...
7
Brandon
Estou vivendo um pesadelo. Isso não pode estar acontecendo.
Começo a suar frio segurando seus braços com força, mas Amanda desliza
rapidamente para baixo, impedindo-me de segura-la e então o pior
acontece, ela cai de aproximadamente quatro metros de altura.
— AMANDA! — grito enquanto vejo seu corpo sendo levado para baixo e
batendo com força sobre o gramado. Corro imediatamente até o andar de
baixo e quando aproximo-me, ela está imóvel. Congelo no mesmo
momento, pensando que algo de ruim tenha acontecido. Ajoelho ao seu
lado e percebo que ela está com os olhos fechados. Um desespero toma
conta de mim.
Seguro seu rosto com as duas mãos e aproximo o meu rosto do dela.
Ela está com arranhões pelo corpo e vê-la assim me deixa com uma
sensação horrível.
— Graças a Deus. Calma, não se mexa que irei chamar a ambulância. — ela
me encara nos olhos e eu vejo sangue escorrer de sua testa. Droga! Que
imbecil que eu fui. A culpa é minha, toda minha. Mas eu não posso deixá-la
morrer. Pego meu celular no bolso da calça e disco para emergência. Eles
estão a caminho e eu preciso manter a calma. Sou um idiota por te-la feito
cair. Afinal, ela apenas estava em um escritório, provavelmente tinha um
motivo de estar lá, mas eu estava cego de raiva e, mais uma vez, o passado
entrou em minha vida. Não a deixei se explicar e nem sair daquela maldita
janela.
— Sim, não queria entrar em seu escritório... sinto muito, mas eu precisava
tirar o gato do telhado! — ela sussurra, mas logo em seguida faz uma careta
de dor.
— Shhh... por favor, não fale! — digo, passando as mãos em seu rosto.
— Acho que estou bem, mas sinto dores nas costas e na cabeça. — ela diz,
tentando se levantar e então eu a impeço.
— Não se mexa, você pode ter fraturado algo. Você caiu de uma altura de
quase quatro metros. — ela dobra as pernas me mostrando que não houve
fraturas, mas, mesmo assim, não a deixarei se mexer. Ouço um barulho de
ambulância e em poucos segundos os seguranças que ficam no portão os
deixam entrar.
Assim que chegam, eles pedem para que eu me afaste dela, mas o
meu corpo não quer obedecer. Sinto-me culpado por tê-la assustado
daquela forma, mas eu não podia imaginar que ela apenas queria salvar um
gato.
— Certo. — sussurro e quando olho para o seu belo rosto assustado, meu
coração dói. Aquela expressão de tristeza voltou em seu rosto me fazendo
querer cuidar dela. Com muita relutância, me afasto e eles começam a
imobiliza-la. Em poucos minutos eles a colocam dentro da ambulância, que
sai logo em seguida.
Não pude ir, já que neste exato momento muitos paparazzi estão na
entrada da minha casa, como urubus. Eles sabem das notícias muito rápido
e definitivamente não poderei ir, para não causar tumulto. Na verdade, eu
não queria sair de perto dela um só segundo, mas infelizmente minhas
condições não me permitem ser como as outras pessoas normais.
— Sim?
— Ela não é assim, David. Jane a contratou e tenho toda a confiança nela. —
agora ele me irritou profundamente. Não estou disposto a ouvir merdas a
essa hora. — Bom, se é isso que queria... preciso desligar!
— Okay, mas não saia de casa até essa poeira baixar. — ouço-o respirar
pesadamente — Sua carreira não pode ser manchada por esse tipo de coisa.
— ignoro o que ele disse e desligo sem me despedir. Será que ele realmente
quer falar sobre trabalho enquanto uma pessoa está ferida no hospital?
Infelizmente, David tem um grande defeito, só pensa em trabalho e
dinheiro. Não é casado e não tem filhos e acredito que é para não dividir o
seu dinheiro. Em nenhum momento ele quis saber sobre o estado de saúde
da Amanda, só sobre minha carreira que ele administra e que por sinal,
ganha muito bem para isso.
Três dias se passaram e parece que ela já está pronta para receber
alta. Não pude vê-la por causa dos abutres da mídia e paparazzi, mas fiz
questão de cuidar para que ela ficasse amparada e protegida por dois
homens de minha confiança e que ninguém tivesse acesso a ela.
— Sim.
— Senhor, ela está saindo, mas... se recusou que eu a levasse. Está com uma
amiga e disse que não iria para a sua casa. — congelo por dentro depois de
ouvir essas palavras que me pegaram completamente de surpresa. Ela não
vem?!
— Não a deixe sair. Diga que ela deve vir para cá! — ordeno
— Já disse, mas ela está irredutível, senhor. Ela disse que o senhor a
mandou embora e é o que ela está fazendo! — merda. Realmente eu disse
para ela sair da minha casa.
— Se ela sair, não tire seus olhos de cima dela, estou a caminho. — Desligo
o celular e soco a parede com um ódio reprimido de mim mesmo.
— Burro, idiota, imbecil... — digo para mim mesmo e, sem pensar duas
vezes, corro para o meu carro, seguindo direto para o hospital. Não sei se
estou sendo seguido por algum paparazzi maluco, mas não posso pensar
sobre isso, não agora. Simplesmente não posso deixá-la ir embora. Eu sou o
maldito culpado de tudo pelo que ela está passando. Minha consciência
nunca irá permitir que ela vá.
Assim que chego ao hospital, ligo para um dos meus seguranças, que
me diz que ela já foi embora no carro de uma amiga e o namorado, e que os
seguiram para um dos bairros mais perigosos de Los Angeles.
Meu Deus, eu não posso permitir que ela fique em um lugar como
este. Preciso fazer alguma coisa, agora.
8
Brandon
Medo, um sentimento novo pra mim. Admito, estou com medo com
o rumo que meus pensamentos estão tomando. Nunca agi assim. Nunca.
Sinceramente, se fosse outra pessoa que tivesse se acidentado em minha
casa, teria enviado os melhores profissionais, daria um bom dinheiro pela
minha falha e a deixaria viver em paz. No entanto, isso não acontece com
Amanda. Poderia deixá-la viver longe e ao mesmo tempo amparada. Mas
internamente, eu não queria que ela fosse embora. Ela deveria ir, mas eu
não quero que ela se afaste. Sei que preciso parar de pensar nela, mas... eu
não consigo.
— Não. Por favor... na... não... não faça isso comigo! NÃO! Brian? — ela
repete esse nome por várias vezes, me fazendo unir as sobrancelhas. Quem
é Brian e por que ela chama seu nome? Ela segura o seu pescoço como se
estivesse sem ar e então eu decido acorda-la. A agitação do seu corpo me
deixa tenso. Algo está errado com ela, mas o que pode ser?!
— NÃO! — ela grita e quando estou prestes a acorda-la, ela abre os olhos
que estão marejados. Seus olhos assustados encontram os meus, e então ela
chora compulsivamente. Fico sem reação e o único ímpeto que tenho é de
abraçá-la. Eu a seguro em meus braços e posiciono seu rosto sobre o meu
peito. Essa mulher mexe comigo em um grau inimaginável.
— Shh... shh... foi apenas um pesadelo! — ela continua a chorar e seu corpo
treme. Deus, o que foi isso? O meu corpo reage imediatamente diante dessa
situação. Amanda parece tão frágil agora e com tanto medo.
— Eu... estava passando pelo corredor e ouvi você gritar! — minto. Ela não
pode saber que vim até aqui apenas para vê-la dormir. De repente ela me
encara nos olhos ainda com o seu rosto perfeito sobre o meu peito e meu
coração acelera imediatamente.
Seus olhos ficam ainda mais verdes e brilhantes quando ela chora.
— Quem é Brian? — minha curiosidade fala mais alto e eu não pude deixar
de perguntar. Será que esse homem é alguém importante em sua vida? Ela
abre os olhos novamente e os fixa nos meus. Seus olhos estão arregalados e
com a sua proximidade, posso sentir seu coração bater como um tambor
em seu peito.
— Ninguém! — ela apenas diz, mas sua expressão assustada não muda.
Algo definitivamente está errado!
— Você parecia com medo, mas não sei o que exatamente esse Brian fazia
em seu pesadelo. — afirmo e ela se afasta com os olhos fixos no chão.
— Não sei com o que sonhei, mas sempre tenho esse tipo de pesadelo. Na
verdade tomo remédios para dormir e eu acabei esquecendo. Não se
preocupe, esses sonhos são sem importância.
Concordo com a cabeça e me levanto. Neste momento vejo que ela não faz
contato visual comigo e acredito que ela esteja sem graça.
— Sim, nas costas, mas já é hora e tomar meu remédio para dor.
— Obrigada, mas não precisa me ajudar. Não quero te dar trabalho. Eu fui
contratada para ajudar e não te dar ainda mais trabalho! — com os olhos
ainda cheios de lágrimas, ela sorri fracamente erguendo as sobrancelhas.
— Preciso ir... boa noite Amanda! — ela sorri fracamente e eu saio do seu
quarto sem dizer mais nada.
— Fala, David.
— Não. Eu a chamei para voltar, já que eu a assustei. Eu a fiz cair, nada mais
justo. Ela poderia ter entrado na justiça e não o fez. — ouço-o respirar
pesadamente.
— Menos mal. Mas fique de olho, ela pode estar armando algo para pedir
muito dinheiro. — ignoro seu último comentário.
— Na próxima semana você terá que dar um jantar para o dono da marca
milionária da qual você será a nova estrela. Sim, Brandon, vamos assinar
finalmente o contrato em sua casa. Organize o jantar de primeira qualidade.
Ele merece! Iremos marcar a coletiva que falamos, no hotel Bellmont
Valley.
— Essa semana passei por muitas coisas, David. O importante é que tenho
um assessor que me lembre, já que é muito bem pago para isso. Até mais!
O que será que houve com ela para deixá-la tão agitada?
10
Amanda
Paz. Uma palavra tão pequena com um significado tão grande. É
assim que me sinto quando estou pintando os meus quadros. Quando estou
dando forma aos meus desenhos. É algo para o que não há explicação.
Apenas sentimos.
Ando pelo jardim até chegar próximo ao chafariz. Por algum motivo,
gosto daqui. Me escondo no meio das árvores e finalmente disco o número
que eu já sei de cor. Sempre liguei, mesmo às escondidas, para saber da sua
saúde. O telefone toca e na quarta chamada eles atendem.
— Querida, você sumiu. Seu marido veio até aqui e cancelou todos os
pagamentos. Ficamos com sua mãe o máximo que conseguimos, mas,
depois, tivemos que transferi-la para uma outra clínica. — ela diz e meu
corpo gela imediatamente.
— E vocês podem me passar o contato? — peço com uma voz falha e ela me
passa o telefone com o endereço da clínica que anoto no próprio celular.
Deus, estou tremendo imaginando as necessidades que a minha mãe deve
estar passando nesse momento e eu simplesmente não poderei fazer
absolutamente nada.
— Você está bem? Aconteceu alguma coisa? — ele pergunta com sincera
preocupação. Engulo em seco.
— Sim, está. Minha mãe tem Alzheimer e... precisa de cuidados especiais.
— Ela está no Texas, onde você nasceu? — ele pergunta, demonstrando que
sabe de onde sou.
— Sim... está. — informo apenas isso. Não posso falar sobre minha vida, já
que se ele souber que estou fugindo de um marido psicopata, vai me
obrigar a ir a uma delegacia e então sim, Brian pode fazer mal a minha mãe.
Esse é o meu maior medo.
— Não. Ela... trabalha aqui! — ele diz de uma maneira introvertida. O tal
homem ergue as sobrancelhas, ainda encarando e fixando seus olhos
intensamente nos meus.
— Prazer, sou Alan Weinberg. — ele estende a sua mão bem cuidada para
que eu pegue, me pagando de surpresa. Olho para o Brandon que tem uma
expressão indecifrável no rosto. Sorrio fracamente e seguro sua mão.
— Você não fala? — ele pergunta e, por algum motivo, eu não consigo dizer
nada. Acho que foi o susto em vê-lo aqui, nessa cozinha. O homem tem
cabelos loiros e olhos azuis, ele é alto e magro. Sua estatura me lembra a do
Brian. Ele se aproxima ainda mais de mim e estende suas mãos.
— Mas... preciso reconhecer. Alan Weinberg tinha razão, você é uma bela
mulher. Linda! — engulo em seco com o seu elogio. Deus, será que ele
perdeu um contrato bilionário por minha causa? Seria eu a mulher a que
ele se refere? Fico sem reação. De fato, ele está alterado e ter a coragem de
dizer isso agora, me faz ter um certo medo dele. Ele parece ter raiva de
mim.
— Você é muito bonita para ser uma mísera empregada. — ele ergue as
sobrancelhas — quer dar o golpe do baú? Se infiltrou na casa de Brandon
Moyer para engravidar dele ou casar com ele? — balanço a cabeça em
negativo sem dizer uma palavra. Este homem me assusta e,
involuntariamente, lágrimas começam a descer dos meus olhos.
— Do que você está falando? — pergunto ainda com lágrimas nos olhos. Ele
ri ironicamente e se aproxima, prensando meu corpo contra o balcão.
— Disso. Quero que você seja a minha prostituta e more na minha casa.
Prometo que pagarei a você muito mais que o Brandon. — ele afirma, mas
não tenho forças, apenas choro.
— Não. Não faça isso! — sussurro com minhas lágrimas inundando meu
rosto.
Brandon
Um jantar que deveria tratar apenas de negócios se transformou em
uma obsessão por uma única mulher: Amanda Sherman. Alan Weinberg
não parou de falar dela ou de pedir que eu a chamasse para que ela se
juntasse a nós um só minuto. Ele ficou encantado por ela e eu tentei
disfarçar ao máximo, mas um ódio dentro de mim despertou
instantaneamente quando ele disse que iria tirá-la daqui. Sim, o canalha
disse que iria fazer uma proposta de trabalho irrecusável quando descobriu
que seu trabalho aqui era de empregada doméstica. Ele mudou totalmente
o foco da sua visita em minha casa. Eu senti muita raiva e mesmo que eu
não saiba exatamente quais são os meus sentimentos em relação a Amanda,
meu cérebro não quer aceitar que ninguém a desrespeite e
principalmente... tire-a daqui. Na verdade, estou lutando contra um
sentimento que agora parece me dominar. Não sei o que sinto, mas sei que
ela mexe comigo de uma forma que jamais senti por qualquer outra
mulher.
— Vamos, diga-me... quanto você quer? — ouço-o falar e assim que entro,
dou de cara com uma cena que me faz perder completamente os sentidos.
David está prensando Amanda contra o balcão e ela chora, implorando para
que ele saia de cima dela. Cego de raiva e totalmente irracional, vou para
cima dele arremessando seu corpo contra o chão com toda a minha força.
Vou até seu corpo começo a desferir socos sem parar. Eu não quero parar.
Quero matá-lo!
Ela não diz nada e seu olhar intenso pede por algo que eu ainda não
sei decifrar.
— Por que me trouxe aqui? — ela pergunta com a voz baixa e então eu me
sento ao seu lado fixando meus olhos nos dela.
— Não se preocupe, não irei tentar nada, apenas quero cuidar de você.
Sinto uma... necessidade em cuidar de você. Sinto algo por você que eu
jamais pensei voltar a sentir por mais ninguém. — Confesso e ela sorri
fracamente.
— Eu... quero ser cuidada por você. Eu confio em você! — ela confessa e
instintivamente passo as costas da minha mão sobre o seu rosto perfeito.
Ela fecha os olhos respirando profundamente e sentindo o meu toque.
— Eu... me sinto atraída por você. Também achei que jamais poderia sentir
isso por alguém e eu sei que sou apenas a empregada, mas eu... — não a
deixo terminar de falar e a beijo profundamente. Sentir seus lábios
novamente é algo indescritível. É como estar em casa. Gosto do seu gosto,
do seu cheiro de tudo que tem relação a ela. A impressão que tenho é que
ela está me libertando para a vida. Seguro a sua mandíbula e nosso beijo se
aprofunda. Sei que prometi não beija-la, mas, com ela, é impossível me
controlar, pela segunda vez. Achei que ela fosse me afastar, mas não, sinto
seus dedos em meus cabelos e então com muita relutância... nossos lábios
se separam. Nossas testas se encostam e por alguns segundos ficamos com
os olhos fechados, apenas sentindo um ao outro.
— Eu não vou fazer nada, eu prometo. Quero apenas que você... fique! —
ela me dá um meio sorriso e instintivamente nos beijamos mais uma vez.
Me afasto dela e me levanto retirando minha camisa. Ela arregala seus
olhos olhando para o meu abdômen e eu sorrio timidamente.
— Não. — é a única coisa que ela consegue dizer. De repente seus olhos
fixam em minhas mãos e ela se levanta da cama vindo em minha direção.
— Sua mão! — ela diz, encarando o meu machucado devido aos socos que
desferi naquele desgraçado.
— Você está sangrando! — vejo que seu olhar está preocupado agora, me
fazendo curvar meus lábios em um sorriso.
Sou acordado por um cheiro único, por um corpo quente e por uma
sensação incrível. O cheiro da Amanda é algo sublime, incrível e me faz
querer acorda-la e querer senti-la de outras formas. Sinto o seu corpo sobre
o meu e a sensação de estarmos juntos sobre a minha cama é inexplicável.
Pela primeira vez em toda a minha vida, consigo dormir por toda a noite —
sem acordar. Amanda também não teve pesadelos e meus olhos agora estão
sobre ela, que dorme pacificamente. Sua respiração está regular, calma, e
quando vejo o relógio no criado mudo ao lado da minha cama, percebo que
deveria ter saído daqui há mais de duas horas. Não me preocupo, não me
importo. Nada me fará sair daqui, nada vai me tirar essa sensação, esse
prazer único de estar ao lado da Amanda.
Hoje irei conversar com ela e me abrir. Quero que ela entenda o meu
passado e minhas preocupações, sobre o que passei com Alissa. Quero que
ela fique comigo, quero que ela me ensine a amar novamente. Agora eu sei
que a única pessoa capaz de fazer isso, de me curar, se chama... Amanda
Sherman.
Amanda
Consigo ouvir as batidas do seu coração e são com elas que sou
acordada. Acho que nunca dormi tão bem em toda a minha vida e pela
primeira vez em anos, fui tratada com todo o respeito por um homem.
Levanto a minha cabeça e dou de cara com Brandon me observando.
— Linda! — é a única coisa que ele diz e então meus lábios se curvam em
um sorriso. Era pra eu estar me sentindo mal por estar aqui, já que não
temos nada, mas é como se eu o conhecesse há anos. Não sinto vergonha.
— Bom dia e... obrigada por ficar comigo! — digo sinceramente e ele segura
o meu rosto delicadamente.
— Amanda, se tem alguém aqui que deve agradecer, esse sou eu. — ele
respira profundamente.
— Preciso falar com você. Quero que você entenda o motivo pelo qual me
afastei por várias vezes e principalmente, te evitei. — engulo em seco. Ele
está se abrindo para mim?
— Amanda, sei que sabe sobre meu casamento. Sobre a minha mulher que
perdi há mais de um ano. — concordo com a cabeça e ela continua.
— Eu... nunca aceitei a sua morte e esse era um dos motivos de não aceitar
outra pessoa. Aquele escritório no qual eu... — ele fecha os olhos por um
momento — eu briguei com você e quase aconteceu uma tragédia, era
dela... Alissa. — ele respira profundamente.
— Amanda, eu te desejo e quero você, mas não farei nada que você não
queira. Somos adultos e devemos jogar aberto um com o outro. — ele diz
ofegante e eu sorrio amplamente.
— Eu quero, eu preciso de você. – digo, lhe dando sinal verde e ele curva
seus lábios em um sorriso. Nos beijamos ainda mais e suas mãos passam
pela lateral do meu corpo. Brandon beija meu pescoço e logo em seguida
estamos completamente perdidos. Sentir este homem é tudo que eu quero,
é tudo que eu preciso.
Passamos a manhã inteira no quarto e nem percebemos que já era
tarde. Brandon não foi trabalhar e ficamos presos como se não houvesse
um mundo lá fora. Nem comemos e provavelmente Jane deve estar perdida
a minha procura. Ela deve imaginar que estou aqui, no quarto do Brandon,
mas confesso que tenho medo do que ela realmente vai pensar em relação a
isso. Ela, como o David, pode achar que sou uma golpista e espero que ela
compreenda tudo. Não saímos para nada e confesso que só agora me deu
fome de verdade.
— Vamos conversar com Jane. Quero que ela arrume outra pessoa para
cuidar da casa. Quero você aqui, comigo. — ele levanta a cabeça sorrindo e
fixando seus olhos nos meus.
— Não tenho dúvida, Amanda, eu... quero você pra mim! — então de
repente ele fica sério.
— Amanda, quero saber da sua vida e por que você tem tantos pesadelos,
mas antes...— ele se levanta.
— Vamos comer algo e claro, quero que a Jane saiba de tudo. Não devemos
esconder nada dela. — ele diz e eu me levanto.
— Nem precisa dizer. Vi que Amanda despertou algo nesse seu coração frio
no primeiro momento que a viu. Brandon, eu o conheço desde que nasceu.
Você não tirava seus olhos sobre ela, mas, em um primeiro momento,
pensei que fosse pela sua beleza. — Jane diz e Brandon sorri fracamente.
Não dizemos nada e então Jane se aproxima.
— Tenho certeza de que ficará lindo, Amanda! Quando ficará pronto? — ela
pergunta ansiosamente
— Acredito que na próxima semana, já que não tenho vindo aqui todos os
dias. — ela sorri animadamente.
— Não se preocupe, também não estou mais vindo aqui todos os dias.
Agora somente três vezes na semana. Ela diz olhando ao seu redor. — Meu
trabalho está ficando lindo com a sua ajuda. — ela diz orgulhosa com o seu
trabalho e claro, tem um dedo meu aí. O jardim realmente está cada dia
mais lindo e repleto de flores de todas as formas e cores.
— Calma, eu estou aqui. Seja lá o que forem esses pesadelos, você tem que
me contar. Sabe que precisa de ajuda, não sabe? — concordo com a cabeça
enquanto lágrimas escorrem dos meus olhos.
— Amanda, preciso que você confie em mim como confiei em você. Contei
uma parte importante da minha vida para você e espero que você me conte
sobre o que te aflige também. — sorrio fracamente. Deus, terei que me
abrir ou eu certamente não terei espaço em sua vida.
— Eu quero saber, quem é esse Brian? Você repetiu seu nome agora, mais
uma vez.
Encaro-o nos olhos e agora não há mais jeito de fugir, preciso contar
quem é ele e se ele não aceitar, terei que me preparar para partir. Preciso
ser honesta agora.
Brandon
Esperaria qualquer coisa vindo de sua boca, que esse era um ex
namorado ou um louco, mas... nunca passou pela minha cabeça em
momento algum que ela tivesse um marido. Deus, Amanda é casada! Então,
ela tem pesadelos com o seu marido?!
— Não entendo, Amanda, marido? — ela engole em seco e parece estar com
dificuldade em continuar. Amanda parece bem nervosa e agora eu imagino
que isso seja ainda mais grave do que pensei.
— Eu... eu... estou fugindo dele. — ela diz com a voz falha, me fazendo unir
as sobrancelhas.
— Não entendo. Você é casada e foge do seu marido? O que exatamente ele
fez a você, para que você chegasse a algo tão extremo? — seus olhos
novamente parecem gritar por ajuda e por Deus, estou com muito medo do
que ela vai dizer a seguir.
— Não podia ficar mais lá, ou ele me mataria. — ela diz e as palavras junto
com a minha respiração parecem fugir do meu corpo. Meu coração parece
que vai explodir em meu peito. Já o odeio, com toda a minha alma. Como
um infeliz, desgraçado, é capaz de agredir uma mulher, ainda mais uma
mulher como Amanda?
— Brandon, eu sei que deveria ter dito isso antes, mas... eu tive medo e eu
precisava confiar em você como agora, para me abrir. Por favor, entenda.
Eu, eu precisava fugir dele. — Fixo meus olhos nos dela e seguro o seu
rosto com as duas mãos para tentar acalma-la. Mas eu devo estar pior por
dentro com tudo que acabo de ouvir.
— Conte-me sua história para que eu possa te ajudar. — peço com uma voz
falha, mas a verdade é que por dentro sinto ódio, um ódio que jamais
pensei em sentir antes. Se eu o encontrasse agora, certamente o mataria.
Desgraçado! Ela respira profundamente.
— Eu o conheci quando tinha apenas dezoito anos. Ele sempre teve uma
certa obsessão por mim e seu jeito persuasivo convenceu o meu pai que
casar comigo era o melhor para todos. Ele sanaria todas as nossas dívidas,
inclusive a maior, a clínica em que minha mãe fazia o tratamento para o
Alzheimer. — engulo em seco em imaginar uma jovem indefessa que
deveria estar cuidando de sua vida e, no entanto, teve que ser coagida a se
casar. Deus, não consigo falar, apenas a observo enquanto ela continua.
— Eu era uma jovem ingênua, e ele, muito mais velho que eu. Brian não só
o convenceu, mas a mim também. Eu me apaixonei por ele e no início era
tratada como uma rainha. Ele sabia exatamente como me agradar — de
repente sua expressão se modifica para uma expressão de dor.
— Ele me agredia de todas as formas possíveis. Pela minha mãe e pela sua
influência, eu jamais fugi. Durante todos esses anos, fiquei me sujeitando a
isso. — ela termina de falar e eu me levanto, andando de um lado para o
outro. Minhas mãos se fecham e minha vontade agora é de matar esse
desgraçado.
— Brandon, fala alguma coisa. Não me odeie... Por favor! — ela pede e eu
paro de andar, encarando-a nos olhos. Ainda posso ver o medo dentro deles
e agora tudo faz sentido. Todo o seu medo, as suas dores e ainda aquele
acidente que eu provoquei quase causando uma tragédia. Deus, Amanda
sofreu muito nas mãos de um verme e agora seus pesadelos mostram o
quão ferida ela está, principalmente por dentro. Seus olhos e sua alma
gritam por ajuda e ela não tem nem o seu pai para ajudá-la. Ela não tem
ninguém. Amanda não deveria passar por algo tão terrível com tão pouca
idade.
— Você já foi à polícia? Você sabe que precisa ir, não sabe? — pergunto e
ela se levanta apavorada, se aproximando de mim.
— Não. Ele é muito influente. Brandon, ele não aceita a nossa separação.
Isso seria terrível. Despertaria ainda mais seu ódio. — encaro-a nos olhos e
me aproximo dela colocando minhas mãos sobre cada lado do seu rosto.
"Seus olhos, eles brilham tanto. Quero guardar a luz deles... não posso fugir
agora, a menos que você me mostre como"
— Sim, Jane!
— Brandon, meu filho... Cynthia e seu pai estão aqui e ela quer que a
Amanda saia daqui. O que faço?! — franzo o cenho sem entender.
— Estou indo. Merda! Meu pai precisa dar um jeito nessa mulher ou eu
darei!
13
Amanda
Fui pega desprevenida pela mesma louca que pensei não ver tão
cedo. Estava aqui na cozinha preparando um lanche quando ela apareceu
exigindo que eu faça um jantar improvisado para ela e seu marido. Jane
havia ido se deitar, mas pelo visto não foi informada sobre a visita surpresa
do Sr. Paul e madrasta do Brandon. Essa mulher é detestável, mas tentei ser
educada dizendo que eu não sou mais a empregada da casa e que se ela
avisasse com antecedência, faria com maior prazer. Sei que será difícil
explicar, já que não tivemos tempo em contar a ninguém. Não quis dar
detalhes, mas obviamente ela entendeu. A expressão do seu rosto é de
pavor, quando se deu conta de que Brandon e eu estamos juntos. Ela me
encara como se eu tivesse cometido um assassinato. Agora, estou aqui,
encurralada por ela na cozinha.
— Você é bonita e claro que isso foi um fator importante para que Brandon
caísse na sua graça. Mas conheço vagabundas feito você de longe. — eu não
respondo, apenas a ignoro enquanto ela continua a destilar o seu veneno
sobre mim. Passo por ela caminhando em direção à sala. Ela me segue e
quando chego, paro ao ver o pai do Brandon vindo em minha direção.
— Eles estão juntos como havia imaginado, querido! Lembra que te falei?
— ele a encara com um olhar indecifrável.
— Disse para você tomar uma atitude em relação a isso. Ela iria dar em
cima dele na primeira oportunidade! — enquanto ela grita, Jane aparece
com o telefone nas mãos, sem saber o que fazer.
— Jane, você sabia que eles estavam juntos! — Jane a observa calada.
Acredito que Jane deve ter ouvido os gritos e havia ligado para o Brandon.
Por isso a demora em aparecer.
— Quem você pensa que é, vindo até a minha casa para ofender Jane ou a
Amanda? — Brandon aparece do nada e todos o encaramos
simultaneamente. — ela se assusta com sua súbita presença, mas continua
a sua arrogância.
— Acha que não sei o seu maldito objetivo? Acha que eu não sei que você
quer mesmo... é o Brandon? Pensa que sou idiota? — ele desabafa com o
rosto próximo ao dela e ela parece estar com as palavras contidas. Brandon
está estático no lugar, claramente surpreso com a reação do seu pai e com o
que ele acabou de dizer. Realmente, jamais imaginaria que essa louca tem
sentimentos ou seja lá o que for pelo Brandon, mas agora faz todo o sentido
desde a primeira vez que ela me viu. Cynthia me viu como uma ameaça, e
não como "a empregada".
— Estou farto de você. Quero que saia da minha vida. Vim ver o meu filho e
não me sujeitar a uma crise estúpida de ciúmes feito essa. — as lágrimas
dessem dos olhos de Cynthia e acredito que o senhor Paul Moyer não está
para brincadeiras.
— Você não sabe o que está dizendo. Eu te amo, meu amor. — ele ri com
sarcasmo.
— Somos casados, eu tenho direitos e você não vai... — ele não a deixa
terminar de falar e logo desfere uma bofetada em sua cara. Coloco as mãos
sobre minha boca e meus olhos arregalam com a cena que acabo de
presenciar. Jane não está diferente. O pai do Brandon deu uma bofetada
bem na cara da louca. Todos ficamos sem reação, inclusive Brandon.
— Por isso a fiz assinar aquele documento que você nem havia percebido
sobre separação total de bens. — lágrimas descem dos seus olhos e ela
parece agora ter ódio do senhor Moyer.
— Faça o que achar melhor! — ele diz, mas ela, não satisfeita, se aproxima
do Brandon tentando argumentar.
— Não. Apenas ofensas, mas... não me importo. Ela parece uma louca e seu
pai deu a ela o que merecia. — sussurro e ele desvia seu olha para o pai.
— Foi o olhar da Cynthia que me fez enxergar isso, ela parecia odiar
Amanda sem motivos, causando toda aquela confusão. Mas ainda não
queria acreditar até perceber que ela queria vir aqui sempre, pois estava
"desconfiada". Eu gostava dela, mas isso foi o fim.
— Nunca olhei para aquela mulher. — Brandon afirma. — Não sei de onde
ela tirou que poderia ter algo comigo.
— Eu sei, filho, mas ela sempre te observava furtivamente. Não há como ela
negar esse "amor platônico" ou "amor financeiro" por você. — Brandon
acena com uma expressão séria e acredito que aqui não veremos essa
mulher nunca mais. Menos um problema em nossas vidas.
Olho para o Brandon, que parece nervoso ao meu lado. Seguro sua
mão e ele sorri fracamente.
Caminho rapidamente até ela e assim que chego, vejo que ela está
com uma boneca de pano nas mãos, me fazendo lembrar da minha infância.
Ela não percebe a minha presença e continua a mexer na boneca.
Aproximo-me dela e me abaixo bem a sua frente. Brandon está de longe me
observando.
— Sou, eu... sua filha! — sussurro e ela ergue as suas sobrancelhas, não
acreditando no que disse.
— Eu tenho uma filha linda, mas... ela é apenas um bebê e quando crescer,
será muito parecida com você. O nome dela é Amanda. Dei este nome a ela
em homenagem a minha mãe. — sorrio passando as mãos em seu rosto
cansado.
Aproximo-me ainda mais dela. — Aaah mãe, senti tanto a sua falta! — digo
com os olhos apertados enquanto a envolvo em um abraço apertado. Nos
separamos e ela me entrega a boneca.
— Essa boneca eu fiz para a minha filha, mas pode ficar. Faço outra. Ela é
um bebê e não vai se importar! — ela diz sorrindo me entregando a simples
bonequinha de pano com cabelos de crochê marrom. Minha emoção é tão
grande que ela apenas me olha parecendo estar com pena de mim. Minha
mãe fazia essas bonecas quando eu era pequena e eu me sinto feliz que ela
se lembra ao menos a melhor época de sua vida.
— Por mais que você não se lembre de mim, eu... Te amo. Te amarei da
mesma forma, mãe. Agora é a minha vez de cuidar de você.
— Não sei como irei te agradecer, Brandon. Como você fez isso?! —
pergunto ainda emocionada e ele sorri segurando o meu rosto com as duas
mãos.
— Eu tenho meus meios e não foi difícil pegar todos os dados da sua mãe.
Ela está segura agora, e depois que chegarmos em casa, quero resolver o
resto. — ele está falando do Brian. Depois que Brandon fez tudo isso pra
mim, não tenho o direto de dizer não. Quero que ele me ajude a me livrar
do Brian agora que minha mãe está segura.
— Lindo casal! — minha mãe diz e nós dois nos encaramos sorrindo. Sei
que temos muito o que enfrentar, mas a primeira etapa e a mais importante
para mim, foi vencida! Não há como não amar a bondade do Brandon. Isso
chega a me emocionar de uma forma inimaginável. Hoje, eu tive a maior
comprovação.
14
Brandon
Não sei o que foi mais gratificante pra mim, poder finalmente me
livrar da mulher do meu pai ou ver o rosto da Amanda quando viu a sua
mãe depois de tanto tempo. Não sei o que está acontecendo comigo, mas sei
que meu sentimento por ela só aumenta a cada dia. Parece que estive
esperando por Amanda todo esse tempo e não sabia.
David tem tentado entrar em contato para pedir desculpas pelo seu
ataque, mas eu mudei todos os meus números e me recusei a atendê-lo em
qualquer lugar que seja. Pra mim, aquele inútil morreu. Por sua culpa, hoje,
sou notícia em todo o mundo por brigar com o meu ex assessor. As notícias
de fofoca noticiam de tudo e eu muitas vezes me recuso a ler. Espero que
Amanda não pire com a repercussão que a minha vida tem dado
principalmente nos últimos dias.
— Ele está aqui para falar dos seus novos projetos. Não da vida pessoal. —
minha assessora diz enquanto as mãos dos repórteres estão erguidas
ansiosos para serem escolhidos.
— Bom, eu transferi a mãe de uma pessoa muito especial pra mim. Foi
apenas uma ajuda, nada mais. — digo apenas isso e voltam os bombardeios.
— Brandon Moyer, na sua última entrevista, o senhor deixou claro que não
pretendia mais ter um novo amor. Agora o senhor mudou de ideia? É
verdade o que todos dizem? O senhor está apaixonado? — ela termina as
suas perguntas e todos me olham esperando a minha resposta. Até
Angelina.
Admito que estou nervoso. Não quero que Amanda se assuste com
as coisas que estou fazendo por ela, mas é que eu não consigo parar. Parece
que eu sinto uma necessidade em deixá-la feliz. Sinto que ela não mereça
menos que a felicidade por tudo que sofreu. Sim, eu perdi pessoas
importantes na minha vida e ainda não posso tocar em determinados
assuntos, mas Amanda sofre por causa de pessoas que estão vivas. Por
pessoas que deveriam cuidar dela. Pela mãe que não se lembra da filha e de
ninguém. Quero dar a ela um pouco de felicidade. Sinto que quando
Amanda me fala sobre suas pinturas, vejo dentro dos seus olhos que ela
ama o que faz.
— Meu Deus! — ela finalmente fala. Quando olho em seus olhos, vejo que
eles estão marejados. Ela se vira para mim e me abraça apertado.
— É lindo, Brandon, e eu estou confusa. Quando fez tudo isso sem que eu
perceba?
— Quando você saiu para comprar tintas. Foi tudo muito rápido e agora,
você poderá decorar do jeito que quiser. — respiro profundamente
aproximando-me dela.
— Quero que se sinta bem aqui. Quero que veja o quão feliz eu estou ao seu
lado. — digo e uma lágrima solitária desce em seu olho direito. Passo meu
polegar para limpar sua lágrima e ela sorri amplamente.
15
Amanda
Ainda é primavera... a estação mais linda do ano. Fiz muitas pinturas
desde que me mudei. Acho que os culpados disso tudo só podem ser
Brandon e essa estação incrível que nos inspira cada dia mais.
Depois de me aproximar aos poucos, faço algo que queria fazer desde o
primeiro dia. Sim, estou fazendo uma linda trança em seu cabelo e ela
parece gostar. Sempre fazia quando a visitava no Texas e é como se seu
subconsciente se lembrasse de mim por esse simples gesto. Depois que
termino, pego o pequeno espelho em minha bolsa e coloco em sua frente.
Assim que ela encontra o seu reflexo no espelho, o sorriso que estava em
seu rosto se esvai aos poucos.
— Você também é linda! — ela se afasta e pega outra boneca de pano com
cabelos de crochê marrons que acabou de fazer.
— Estou fazendo essa boneca para a minha filha, tome. Pode ficar. — ela
me entrega outra boneca e um sorriso se abre em meu rosto.
— Quando a minha filha crescer, ela será tão meiga e linda como você. —
respiro profundamente. Por mais que ela esteja falando de mim, não há
possibilidade de evitar as lágrimas. Queria que minha mãe estivesse
entendendo que eu cresci e que agora estou feliz ao lado do Brandon e que
estou cuidando dela. Queria que ela pudesse se lembrar de tudo
novamente.
Hoje, pintei a minha mãe enquanto fazia sua boneca de pano. É algo que lhe
dá prazer, então providenciamos tudo que ela precisa para sempre poder
fazer suas bonecas de todas as formas e cores.
— Alô?! — pergunto com uma voz baixa e receosa. A pessoa do outro lado
parece estar me ouvindo, mas não diz nada.
Eles parecem loucos e a única coisa que penso é por qual razão eles tiveram
que nos fechar para apenas tentar tirar fotos. Será que eles pensam que o
Brandon está aqui?
— Os loucos não poderão ficar aqui por muito tempo já que o trânsito foi
interrompido. — ele me informa para me acalmar. Concordo com a cabeça
ainda tentando controlar a minha respiração.
— Mas eles pensam que o Brandon está aqui? — pergunto e ele nega com a
cabeça.
Poucos minutos depois a polícia chega e mesmo tentando fugir, eles são
pegos. Os policiais se aproximam do nosso veículo, o motorista explica a
situação e finalmente somos liberados. Para o meu alívio não precisei sair
do veículo e dois da segurança do Brandon agora nos escoltam até
chegarmos em casa.
Assim que o carro estaciona, desço e logo vejo Brandon andando a passos
largos em minha direção.
— Ainda bem que não fizeram nada. Querem uma maldita foto. — ele solta
um ar pesado. — Você sabe que eles obterão sua foto mais cedo ou mais
tarde, não sabe?! — concordo com a cabeça. Ao menos eu sei que não é o
Brian. Isso definitivamente me deixa tranquila por agora. Brian é muito
inteligente, e não posso duvidar que ele esteja armando alguma coisa. Seu
silêncio me assusta. Infelizmente eu sei que ele é um psicopata e não é
difícil encontrarmos pessoas como ele por aí. Podemos encontrá-los
disfarçados de religiosos e até de bons amigos. Brian era assim com todos e
ninguém acreditaria que ele era capaz de fazer aquelas atrocidades. A
realidade de pessoas como ele entre nós é contundente, mas o mais
impactante disso tudo é que a maioria esmagadora vive fora das grades,
entre as pessoas, e não são percebidas até cometerem algo muito ruim.
— Sim, mas... não imaginava que eles agem dessa forma. — ele acena
positivamente
— Espero que isso não te chateie. Eu... — ele fixa seus olhos nos meus. —
Eu não quero ficar longe de você, Amanda. — sorrio, segurando seu rosto
com as duas mãos.
— Larguei tudo que estava fazendo e não tenho mais cabeça para voltar.
Vamos... deixa eu cuidar de você.
"Eu continuo sonhando que você estará comigo e você nunca irá embora.
Paro de respirar se eu não te ver mais"
— Eu... amo você, Amanda. — ele confessa com sua voz rouca.
Imediatamente seguro a minha respiração. Deus, ele me ama! Encaro-o e
não consigo conter o meu sorriso, fixando meus olhos nos dele.
— Me prometa que nunca vai embora? Quero você sempre comigo. — ele
respira profundamente. — Amanda... Espero que você não se canse dessa
vida... Com você eu não me vejo como um "Astro". Com você posso ser
apenas... eu. Acho que é por isso que eu te amo!
Abro os olhos e o sol já está entrando pela janela. Brandon não está
mais aqui, mas os meus olhos logo encontram um bilhete. Sorrio
imediatamente e pego o bilhete. Ele está dobrado, então abro-o e leio seu
recado.
Não pude acordar você. Você parecia tão bem enquanto dormia. Te vejo à
noite...
Brandon
— Oi, Amanda...
— Eu também...
— Está tudo bem por aí? — ele pergunta e eu decido não o preocupar.
— Sim! — digo apenas isso. Não quero causar preocupação sobre esses
telefonemas que ando recebendo. Pode não ser nada e se eu o alarmar, me
sentirei culpada se não for nada.
— Que bom. Fico mais tranquilo assim. — ele diz como um sussurro.
— Eu te amo... Amanda. — ouço-o dizer essa frase tão pequena que faz toda
a diferença em minha vida. Brandon é incrível e por ele... Sou capaz de
enfrentar tudo... até o Brian.
16
Brandon
Muito trabalho devido ao meu filme e pouco tempo para estar ao
lado da Amanda. Ontem à noite, quando cheguei em casa, já passava das
duas da manhã. Tenho trabalhado incansavelmente, mas, quando comecei,
não era o que realmente queria fazer. Pensei que esse seria um trabalho
menos complicado, mas, na verdade... não é. Quero poder ter tempo para
ficar com ela ou fazer algo diferente para tirá-la da solidão. Sei que ela deve
se sentir só. Ao menos Amanda tem suas pinturas e isso a deixa feliz. Vi o
seu trabalho e realmente, é inacreditável o talento que ela tem. Amanda
retrata em seus quadros um realismo e um sentimento que me deixa
impressionado. As águas em seus quadros são límpidas e muito realistas.
Tudo é inacreditável, então andei pensando e decidi que este talento não
pode ficar apenas em um ateliê. Não. Amanda merece muito mais do que
isso. Ela merece um lugar onde possa expor as suas obras. Não é apenas
porque gosto dela que farei isso. É porque vejo um talento inacreditável
que não pode ficar guardado. Já estou providenciando isso e Angelina está
me ajudando. Ela disse que já encontrou um bom lugar e agora, só falta
avisar a Amanda. Queria fazer uma surpresa, mas não sei se ela realmente
irá gostar.
Hoje, ela disse que sairia para encontrar com sua amiga Sarah.
Parece que é seu aniversário e elas iam na casa de uma amiga da Sarah, que
fica do outro lado da cidade. Não gostei nada da ideia, mas não pude priva-
la de se divertir. Afinal, ela está praticamente enclausurada em minha casa.
Sarah é a única amiga que ela realmente tem, além de Jane. Nem
precisei insistir para que ela fosse com os seguranças, já que ela sabe dos
riscos que corre ao sair, mas, segundo ela, Sarah a convidou para casa de
outra amiga em um apartamento. Bom, é uma reunião de mulheres, então
acredito que não seja nada demais. Mas confesso que estou me sentindo
ansioso, apreensivo como se algo fosse acontecer com ela. Deixei uma
mensagem em seu celular e ela já me respondeu. Falo com os meus
seguranças quase que o tempo todo e vejo que não foram seguidos. Espero
que fique bem até ela voltar para casa.
— Brandon? Sou eu, Sarah! O segurança está levando-a para casa. Ela
esqueceu o celular, mas... depois eu a devolvo. — Sarah diz e um alívio me
invade imediatamente.
— Ah, certo. Okay! Obrigado, Sarah! — digo apenas isso e desligo, ligando
imediatamente para um dos seguranças. Ele atende no primeiro toque.
— Senhor?
— Onde está Amanda? — pergunto sem rodeios e eu sei que minha voz soa
apavorada.
— Ela está aqui Sr. Acabamos de sair. — solto o ar que nem sabia que havia
prendido.
— Você sabe que você esqueceu o seu celular com a sua amiga, não sabe?
— ouço-a respirar pesadamente.
— Apenas um copo de vinho, mas não me caiu bem. — franzo o cenho sem
entender como um copo de vinho a deixou com a voz arrastada.
— Parece que ela está enganando você também, não é mesmo? — é ele.
Tenho certeza. Quer jogar a Amanda contra mim. Esteve calado durante
esse tempo para tentar me colocar contra ela. Idiota!
— Aqui é o Brian. Sou o marido da Amanda. Ela não te contou que tem
falado comigo há dias? Amanda quer mais dinheiro. O que ela me roubou,
não foi o suficiente. — ele diz com uma voz sarcástica e meu coração
acelera.
— Ela roubou a minha empresa, meu dinheiro e tudo que você possa
imaginar.
— Escute bem, seu astro babaca; ela não é sua e eu vou buscar o que é meu
de volta. — ele diz e logo em seguida, desliga na minha cara. Amanda ainda
está apavorada, me fazendo acreditar que ela tem falado com ele.
— Amanda. Você sabe com quem eu estava falando? — ela balança a cabeça
e lágrimas começam a cair dos seus olhos. Merda! Ela sabe. Como ela me
ocultou isso? Como ela quer que eu a ajude se ela omite algo tão
importante?
— Achei que não fosse nada demais e não queria te preocupar. — ela diz
com a voz chorosa, mas isso poderia ter causado uma tragédia. Se ele já
sabe o seu número. Ele provavelmente pode saber todos os seus passos.
— Por que não confia em mim de uma vez por todas? — pergunto com um
tom de voz alterado e ela apenas chora. Como ela pode ser tão negligente
com a própria vida assim? Se eu soubesse que alguém estava ligando não a
deixaria ir nem na esquina. Em primeiro lugar, sua integridade física.
— Agora é tarde. — saio, sem olhá-la nos olhos, e sigo em direção ao meu
carro. Estou segurando o seu celular e antes que eu entre no meu carro
jogo-o no chão, partindo o celular em mil pedaços. Se ele estiver
rastreando-a, não estará mais.
— Sou eu, Angelina! — como ela sabia que estava aqui? Abro a porta e ela
ergue as sobrancelhas, com um leve sorriso no rosto.
Angelina é uma mulher sensual e sabe disso. Sei que ela é profissional, mas
não posso esquecer de que todas as mulheres que se aproximaram de mim
foram, em primeiro lugar, profissionais.
— Precisava falar sobre o lugar em que a Amanda vai expor seus quadros.
— eu havia esquecido disso. Era para contar para Amanda, mas depois de
tudo que aconteceu simplesmente fiquei sem cabeça para isso.
— Bom, mas não se esqueça de que você terá um baile no sábado, que
premiará os melhores atores e diretores na Hollywood Golden. Você deve
comparecer. — concordo com a cabeça. Mais um evento que eu me esqueço
completamente.
— Você deve ir acompanhado e, casa não ache que esteja na hora em levar
a Amanda, eu posso ir no seu lugar. — concordo com a cabeça. Preciso falar
com a Amanda sobre este evento e sobre suas exposições. Ela foi
imprudente em não me contar sobre o telefonema, mas o fato é que eu a
amo e gostaria que ela viesse comigo. Quero mostrar a todos quem é a
Amanda. Quero que vejam e saibam que agora ela tem alguém que se
importe com ela. Que a ama, de verdade.
17
Amanda
Minha mãe sempre me ensinou que a verdade é o melhor caminho.
Doa a quem doer. Hoje, estou vivendo isso na pele com a última pessoa que
eu deveria magoar. Não foi por querer, mas eu acabei mentindo de certa
forma, e Brandon me olhava de uma forma como ele nunca me olhou.
Talvez eu preferisse a raiva, o ódio, do que ver decepção em seus olhos.
Como sou burra e ingênua em pensar que aquelas ligações não eram
importantes. Como poderia cogitar que Brian teria desistido de mim?
Agora, estou aqui sobre a cama em prantos. As lágrimas descem
timidamente e só em pensar que Brian já sabe onde estou, me assusta em
um grau inimaginável. Estou com medo do que Brandon fará em relação a
nós. Confesso que, sem ele, nada mais fará sentido em minha vida, mas não
posso ignorar o fato de ter um ex marido maluco, psicopata e que pode
fazer algo contra ele também.
— Que bom ouvir isso Jane. Você é a pessoa certa a me dizer, afinal,
conviveu com ele desde que nasceu. Sinto-me mais tranquila agora.
— Ele ficou bravo, mas o seu amor falará mais alto, não se preocupe.
Sempre pensei que depois de Alissa, apareceria alguém tão especial quanto
ela. Brandon teve perdas irreparáveis ao longo da vida e você, sem dúvida,
está deixando-o mais leve. Mais feliz como jamais vi. — minhas lágrimas
pararam e suas palavras aqueceram o meu coração. Eu certamente
precisava ouvir isso.
Abro os olhos e estou só. Brandon já foi trabalhar, mas vejo que ele
deixou uma caixa branca envolvida em um laço vermelho com um bilhete
sobre a cama ao meu lado. Franzo o cenho, sorrio fracamente e pego o
bilhete. Abro-o e lá encontro suas letras, com as quais eu já estou
totalmente familiarizada.
Amanda,
Quero poder cuidar de você. Garantir a sua segurança ao meu lado. Não
duvide do meu amor. Encontra-la foi difícil... Não quero perdê-la. Confie em
mim? Brandon
— Oi, meu amor! Acordada a essa hora? — ele diz e beija-me levemente nos
lábios.
— Venha. — ele segura minha mão esquerda — Quero que conheça uma
pessoa. — ele diz, me conduzindo até a mulher, que sorri animadamente
para mim. Ela se levanta da poltrona com classe e ergue suas sobrancelhas
perfeitamente esculpidas. A mulher é mais alta do que eu e acredito que
seja por causa dos saltos. Seus cabelos negros caem como cascatas sobre
seus ombros.
— Sim, olha só... que cabeça a minha! — ela diz sorrindo a balançando a
cabeça.
— Eu... não quero atrapalhar. Não sabia que estavam aqui. Apenas vim ler
um livro. — digo, querendo sair dali o mais depressa possível.
— Angelina, obrigado mais uma vez por ter ido àquela reunião no meu
lugar. — Brandon diz com um olhar agradecido e eles se olham por alguns
segundos. Deus, esse sentimento está me corroendo por dentro.
Ela vai embora e Brandon finalmente volta a sua atenção para mim.
Ele se aproxima e segura meu rosto com as duas mãos, fixando seus olhos
intensamente nos meus.
— Senti a sua falta! — ele diz e essa simples frase muda o meu humor
imediatamente. Curvo os meus lábios em um sorriso e beijo-o nos lábios.
— Como eu senti a sua falta. — ele diz enquanto me carrega, fazendo com
que minhas pernas enrolem em sua cintura. Ele tira o livro das minhas
mãos e coloca-o sobre o sofá sem tirar seus lábios dos meus.
— Einstein terá que esperar. — ele diz entre os beijos e eu sorrio ainda
com os lábios colados aos dele.
— Por que uma mulher tão linda trabalhando para você? — pergunto e ele
parece surpreso, mas sorri levemente.
— Não tão bonita quanto você. E ela é uma das melhores do país. Precisava
de alguém eficiente. — ele diz, com orgulho da Angelina. Além de bonita,
ela é inteligente e perfeita. Droga! — ele percebe a minha cara de desgosto.
— Nem um pouco. – afirmo, mas não o convenci, já que ele ri como jamais
vi em toda minha vida. Estou ainda presa em sua cintura e sua risada
espontânea e gostosa me envolve por inteiro, e eu não consigo controlar
um impulso de beijá-lo loucamente.
— Estou aqui. — ouço os seus passos vindo em minha direção. Quando ele
entra no banheiro e encontra o meu reflexo no espelho, ele paralisa no
lugar. Seus olhos estão fixos em mim e passeiam por todo o meu corpo. Sua
boca está ligeiramente aberta como se ele estivesse completamente
surpreso.
— A mulher mais linda que eu já vi. Hoje vou mostrar ao mundo quem é a
responsável por me deixar completamente apaixonado... — ele respira
profundamente. — Confie em mim? — ele pede. Brandon sente minha
tensão e acho que talvez seja por isso ele esteja tentando me acalmar. A
partir de hoje serei ainda mais conhecida e estarei ao lado do homem mais
importante de Hollywood.
18
Brandon
Incrivelmente linda...
— Não fique nervosa. Você, além de linda, é a pessoa mais importante pra
mim. Estarei ao seu lado, não se preocupe. — sem responder ela assente
sorrindo, e em poucos minutos o carro estaciona em frente ao evento onde
um longo tapete vermelho está. Os seguranças do local se posicionam para
que ninguém se aproxime. Cordas de proteção estão em cada lado até a
entrada. Quando recebo o sinal de um dos seguranças, eu desço.
Assim que meus pés tocam o chão, flashes disparam vindo de todas
as direções, me deixando quase cego. Viro-me e estendo a mão direita para
que Amanda a segure. Ela olha para minha mão, engole em seco e respira
profundamente. Por uma fração de segundos, pensei que ela fosse desistir.
Mas finalmente ela segura minha mão e sai do carro. Sua respiração parece
estar irregular. Aperto delicadamente sua mão e aproximo meus lábios do
seu ouvido.
— Muito bem. — ela respira profundamente e fixa seus olhos nos meus. —
Feliz em estar participando de algo tão importante com você... como este
evento. — instintivamente passo minha mão em seu rosto e ela tomba
levemente a cabeça, curvando-a apreciando o meu toque. A imprensa que
está espalhada em torno do grande salão deve estar apreciando a vista. Na
verdade, todos os curiosos devem adorar a vista neste momento. E por
mais que eu seja uma pessoa totalmente discreta e reservada, eu não ligo.
Quero que todos vejam o quanto estou apaixonado por essa mulher. O
quanto eu sou grato por encontrá-la e por me tirar da solidão. E quando
digo "solidão", quero dizer por dentro. Onde estavam guardados os meus
maiores medos. O único medo que tenho agora é de perdê-la. Acho que não
suportaria mais uma perda em minha vida. Amanda se transformou pra
mim muito mais do que ela possa imaginar.
— Bom, é uma honra e um privilégio estar aqui nesta noite, recebendo essa
estatueta. — olho para estatueta e logo em seguida meus olhos procuram
Amanda, que sorri enquanto me observa. Sorrio e continuo o que estava
dizendo:
— Certo, Brandon. Bom, vejo que finalmente decidiu aparecer com uma
mulher. — ele diz, me fazendo voltar a atenção a ele.
— Ela é a minha mulher. — ele parece surpreso, mas não diz nada além. De
repente, sinto mãos sobre o meu ombro e quando me viro, dou de cara com
Angelina. Encaro-a, surpreso.
— Angelina? Você por aqui? — ela sorri com seu batom vermelho
extravagante.
— Brandon, não deixaria de vir a este evento. Que bom que trouxe
Amanda! — aceno e ela me abraça efusivamente, cumprimentando-me.
— Precisava vir ao toalete, mas não achei que haveria algum problema. —
ela diz e sorrio enquanto a observo.
— Você está cansada? Quando quiser ir, fale-me! — Amanda assente com
um leve sorriso.
— Bem. — foi a única palavra que saiu de sua boca. Angelina ergue suas
sobrancelhas esperando que ela continue a falar, mas Amanda não diz mais
nada.
— Ah, ela se levantou e disse que precisava andar. — andar? Amanda saiu
para andar?
— E, Joey?
— Ele foi embora. Disse que estava cansado e resolveu ir sem mim. —
encaro-a com uma expressão confusa. Para um homem abandonar uma
mulher, ele no mínimo deveria estar com raiva. Resolvi não dizer nada
sobre isso. Minha cabeça gira de um lado para o outro à procura de
Amanda. O que será que está incomodando-a? Será Angelina? Ela não foi
tão amistosa assim com ela. Mas Angelina tentou conversar a todo
momento com a Amanda e ela não retribuiu a gentileza. Estranho.
— Sente-se, Brandon, Amanda deve voltar logo. Vamos! Não seja bobo. —
ela se levanta e se aproxima de mim, encarando-me nos olhos.
— Você está certa. Ela deve voltar em breve. — digo forçando um leve
sorriso e me sento. Poucos minutos depois, Amanda retorna. Respiro
novamente com mais facilidade e ela se senta ao meu lado.
— Fui dar uma volta pelo salão. — ela diz, respondendo a minha pergunta
silenciosa. Queria que ela dissesse antes que eu perguntasse para ela
imaginar que esteja sendo possessivo com ela.
— Quer ir embora? — ela sorri e coloca a mão esquerda sobre o meu rosto
olhando fixamente nos meus olhos.
— Estou bem, Brandon. Não se preocupe. Tudo que eu queria era poder
estar ao seu lado e eu estou. Obrigada por me trazer! — ela diz com
sinceridade no olhar, me arrancando um sorriso.
Amanda
Não sei o que fazer. O homem que me olhou de uma forma diferente
na casa do Brandon está aqui e continua com o seu olhar sobre mim.
Confesso que não sei se saio ou se fico aqui. Entendo que Brandon deve dar
atenção às pessoas, mas sempre que ele se afasta Angelina parece querer
dar o bote a qualquer momento.
— Querido, quanto tempo não o vejo! — Angelina diz e ele sorri, mas os
seus olhos ainda estão sobre mim.
— Amanda? — Brandon retorna, mas o seu olhar está sobre Alan, que não
parece se incomodar com sua chegada. Alan se vira e sorri alegremente.
— Como vai o homem mais requisitado dos últimos tempos? — ele diz e
Brandon continua sério, encarando-o. Angelina parece não entender, mas
os observa com um olhar de curiosidade.
— Acalme-se, Brandon. Não vou tomar a bela Amanda de você, vi que gosta
dela desde o dia em que fui a sua casa. Saiba que eu respeito isso e por mais
que eu tenha ficado irritado com a sua atitude, não guardo mágoas. Eu te
entendo. — Brandon apenas o encara com uma expressão impassível.
Brandon enlaça seus dedos aos meus, e saímos dali o mais depressa
possível.
— Esse lugar é... lindo, Amanda! — ela afirma com empolgação na voz.
— Estou muito feliz que vocês estejam juntos. Você parecia triste, sozinha e
agora, vejo que seus olhos estão felizes. Você parece diferente e feliz agora,
Amanda. — Emily está certa. Por mais que eu esteja sentindo medo pelo
que Brian possa tentar, aqui eu me sinto feliz e segura ao lado do Brandon.
É como se eu realmente pertencesse a este lugar.
— Você tem razão. Estou muito feliz e confesso que estou muito ansiosa em
mostrar a sua pintura. Venha! — conduzo Emily para que ela se posicione
de frente à tela coberta por um lenço branco e, assim que retiro o lenço, ela
parece não acreditar no que seus olhos veem. Eu fiz um retrato fiel a ela.
Seus olhos brilham enquanto ela encara a tela fascinada.
Nos afastamos e vejo que seus olhos azuis estão em uma tonalidade
claro devido às poucas lágrimas que inundam seus olhos.
— Obrigada! – sorrio.
— Estou me mudando hoje para outro lugar e... não poderei levá-lo. — ela
respira profundamente. — Quero que fique com ele como recordação.
Estou mudando para muito longe daqui e não sei quando voltarei a vê-la. —
ela me pega de surpresa com essa revelação. Emily vai deixá-lo comigo?
Achei que ela quisesse levá-lo imediatamente pela sua expressão
maravilhada.
— Cuide bem dele, Amanda. Este é o meu presente pra você. O quadro que
você pintou com tanto amor e carinho.
Não tenho palavras, já que ela está indo embora. Fiquei triste por
imaginar que não a verei mais aqui, mas confesso que ao mesmo tempo
feliz por ficar com o seu quadro. No fundo, acho que não queria deixar de
olhar para ele. No fim das contas, eu fui presenteada pela Emily.
— Sarah?
— Oi, Amanda, você pode autorizar a minha entrada? Preciso falar com
você. — acho estranho, mas deve ser importante para ela vir aqui a essa
hora.
— Ah, certo.
Ela desce e vejo que está bem vestida e seus cabelos estão bem
cuidados. Ela não se parece em nada com a Sarah que conheci, simples. Eu a
observo com um olhar de interrogação e ela se aproxima de mim com seus
saltos fazendo barulho sobre o chão.
— Quanto você ganhou para vender minha imagem? — ela olha para o chão
e depois me encara nos olhos.
— Meu Deus. — olho para o nada. Minha única amiga, ou eu pensei que ela
fosse, me traiu da maneira mais baixa.
— Eu estou indo para minha cidade, mas antes eu precisava vir aqui. Eu
precisava contar tudo para ao menos limpar a minha consciência. Sinto
muito por tudo e espero que um dia você possa me perdoar. — ela diz com
um olhar arrependido, mas eu lhe devolvo um olhar frio.
Brandon disse que sua relação com ela sempre foi estritamente
profissional, porém não é o que vejo, ao menos nessa foto. Sei que eles se
veem, mas imaginar que eles saem para jantar ou tomar uma bebida me
deixa doente. Vou passando as fotos e na sequência vejo-os cada vez mais
íntimos, até que na última, ela está segurando seu rosto com as duas mãos
enquanto ele sorri. Eles parecem íntimos demais. Decido ver a data e vejo
que é dessa semana. Brandon tem chegado cada dia mais tarde, mas agora
eu percebo por qual motivo.
Meu coração acelera com essa imagem e uma raiva toma conta de
mim. Quase não saio com o Brandon por causa da minha exposição. Tenho
muito trabalho a fazer, mas ele sempre enfatizou que antes de sairmos em
público juntos, devemos resolver minha "situação" com o Brian, que ignora
qualquer tipo de contato. Na verdade, ele desapareceu do Texas e ninguém
tem notícias dele. Não há como encontrá-lo. Mas isso não justifica suas
saídas com essa mulher. Nada justifica.
20
Brandon
Angelina estava por conta de organizar o evento de exposição dos
quadros da Amanda, que será no próximo mês, mas devido aos seus
comportamentos duvidosos nesse últimos meses, passei o seu trabalho
para uma agência especializada em eventos de todos os tipos. A única coisa
que fazia questão, realmente, é encontrar o local perfeito. Queria um lugar
afastado e que não chamasse tanta a atenção das pessoas.
Amanda não tem ninguém, apenas a mim, Jane e uma mãe que não
se lembra dela devido a sua doença. Ela me contou o que sua única amiga
fez. Sarah a traiu por dinheiro e desapareceu de nossas vidas. Eu sentia que
algo estava errado naquele dia e isso foi confirmado. Sinto-me aliviado que
ela tenha sumido. Melhor assim do que ter que conviver com uma mulher
que vende a própria amiga para benefício próprio.
Para garantir que ela não apareça sem avisar, eu pedi aos
seguranças que vetassem a sua entrada aqui no estúdio de gravações e em
qualquer outro lugar de minha propriedade. Se ela quiser falar comigo, terá
que me ligar e não aparecer sem ser chamada. Ainda não tive oportunidade
de falar com a Amanda sobre esse episódio lamentável e sobre a sua
exposição, mas espero que ela entenda que eu a amo acima de tudo.
Sigo até a cozinha, sala e vários cômodos... e nada. Subo até mesmo
em seu ateliê, mas assim que entro, vejo que ele está escuro. Ela não está
aqui. Volto em direção ao corredor que vai para o meu quarto e abro todas
as portas. Ela simplesmente não pode ter desaparecido. Entro nos quartos
de hóspedes e um pavor me invade. Estou em pânico.
Ainda respiro com dificuldade, mas mesmo assim, deito ao seu lado
na minúscula cama de solteiro. Por impulso, puxo seu corpo próximo ao
meu. Instintivamente Amanda se aconchega em meu corpo, me abraçando e
encostando sua cabeça em meu peito. Sua presença me relaxa e me devolve
a paz de qualquer problema que eu possa ter. O meu cansaço é tão grande
que só tive tempo de tirar os meus sapatos e eu apago, mergulhando em um
sono profundo.
— Brandon? Acorda! — ouço a voz da Amanda como um sussurro em meu
ouvido. Abro os olhos lentamente e me deparo com a mulher da minha vida
em meus braços. Estou com as pernas sobre ela, esmagando-a totalmente
nessa minúscula cama.
— Bom dia! — digo com uma voz rouca e ela apenas me observa com um
olhar frio. Deus, ela está mesmo com raiva de mim! — levanto-me e me
sento na minúscula cama. Amanda também se levanta lentamente, ficando
de pé com os braços cruzados. Respiro profundamente.
— Por que veio parar aqui? — Pergunto, mas no fundo, eu já tenho ideia.
Ela respira profundamente.
— Por isso quero ouvir de você antes de ir embora. — encaro-a nos olhos
com uma expressão atordoada.
— Aquele local da foto será onde você irá expor os seus quadros. É um
grande espaço, e antes que você diga mais alguma coisa, eu não fui a esse
lugar com Angelina. Sim, eu percebi que ela queria algo "além" do trabalho,
e por esse motivo estava procurando outras pessoas para cuidar da sua
exposição. — ela abre a boca ligeiramente e agora sua expressão é de total
surpresa.
— Então, essa mulher não está mais cuidando do evento? — nego com a
cabeça.
— Nem do seu evento e nem de nada que seja relacionado a mim. — solto
um ar pesado.
— Amanda, ela não cuida mais da minha assessoria exatamente por causa
daquele episódio que viu em alguma revista de fofocas. Ia te contar antes
que soubesse, mas não tive oportunidade. Não nos vimos essa semana.
Tenho chegado muito tarde. — ela abre os olhos exageradamente.
— Ela não é mais a sua assessora? — ela engole em seco. — Mas vocês
pareciam íntimos. Parecia que estavam em um jantar romântico! — sorrio,
mesmo que não ache isso remotamente engraçado.
— Acabei de decidir que não irei sair hoje. Apenas ficarei o dia inteiro com
você. Não iremos fazer absolutamente nada, o que acha? — ela arregala os
olhos e um sorriso se abre em seu rosto.
21
Amanda
Vivendo e aprendendo.
Eu, por outro lado. Não sou famosa, nunca almejei estar um dia
sequer nessa posição. Contudo, entendo que certas situações são
inevitáveis. Sei que não era o que eu queria, mas eu sei que pelo Brandon,
eu enfrento qualquer coisa.
— Eu estou amando cada pedaço do meu dia ao seu lado. Não temos muito
tempo juntos, e esses filmes não podiam vir em melhor momento. Amo
filmes antigos. — confesso e ele curva seus lábios em um lindo sorriso.
Brandon segura o meu rosto e se abaixa, me beijando lentamente. Agora
somos namorados, sem ninguém ao nosso redor. Ninguém para nos
atrapalhar.
— Sinto-me tão sortuda por ter encontrado você. — ele sorri com nossos
rostos bem próximos. Brandon segura delicadamente minha mandíbula.
— Amanda, quero que saiba que você se tornou a pessoa mais importante
pra mim. Sei que sou fechado e que tenho dificuldades em falar do meu
passado, das minhas perdas. Você sabe que perdi a minha mãe, que sou
viúvo e... existem perdas que ainda me doem, mas um dia irei contar tudo.
Há uma perda que eu nunca aceitei, mas hoje eu estou começando aceitar.
— ele respira profundamente com os olhos fechados. Sua testa encosta na
minha. — Um dia pretendo falar sobre tudo que me ocorreu mais
abertamente e sobre... minhas perdas. — Ele abre seus olhos e acredito que
ele esteja segurando suas lágrimas.
— Durante toda a minha vida, eu só perdi. Hoje, eu ganhei. Eu ganhei...
você. Você é a única mulher que não está comigo pelo que eu tenho, e sim
pelo que eu sou. — ele solta um ar pesado.
Assim que chego, ela nota a minha presença e se vira com um leve
sorriso em seu rosto. Seus cabelos estão soltos e ela está vestida com um
pijama, assim como eu. Sento-me na cadeira alta do balcão e ela se
aproxima.
— Também preciso.
— Tive um sonho. — ela apenas diz isso e se vira para continuar a fazer o
chá.
— Sorte sua. — afirmo e ela vem com duas xícaras contendo chá e se senta
a minha frente.
— Sonhei com uma pessoa que vivia aqui, nesta casa, e que Brandon amava
muito. — ela me encara nos olhos. — Bom, sobre ela, não cabe a mim falar,
e sim Brandon. — concordo com a cabeça.
Brandon perdeu sua mãe e esposa e ambas viviam nessa casa. Sei
que se trata dessas perdas tão significativas em suas vidas. Jane é
praticamente da família. Ela trabalha aqui desde que Brandon nasceu e
obviamente sentiu cada perda como se fossem pessoas da sua família.
— Sua exposição será um sucesso, você vai ver! — Jane diz com sinceridade
no olhar me fazendo agradecer mentalmente a Deus por tê-la conhecido.
— Emily foi embora há alguns meses dessa casa e eu já sinto falta dela. —
respiro profundamente e então ouvimos um barulho na porta.
— Bom, vou dormir. O chá me relaxou! — ela diz, mas vejo que ela está um
pouco agitada.
— Achei estranho ver você acordada a essa hora. — Brandon diz a ela, que
sorri, mas seu sorriso é forçado e ela parece um pouco nervosa.
— Amanda, o dia de amanhã... será todo seu. — ele sussurra e me beija nos
lábios.
Sinceramente, não sei o que faria da minha vida sem este homem bem
diante de mim.
Brandon, além de não ter tido tempo para ver as minhas obras,
preferiu ser surpreendido assim como os convidados. Achei isso lindo da
sua parte. Ele diz que quer sentir a mesma surpresa de todos os presentes.
Espero que ele goste principalmente deste quadro e que em breve faça
parte da sua decoração.
— Brandon, amor... fala alguma coisa! O que achou?! — pergunto, mas ele
continua a olhar para o quadro. O que está acontecendo com ele? Ele parece
estupefato com a imagem e então volta sua atenção novamente para mim.
— Por que fez isso comigo? Porque não me falou? — ele pergunta e meu
sorriso se esvai aos poucos, me fazendo unir as sobrancelhas.
— Brandon? — ele se vira. Seu olhar frio está ainda direcionado a mim e
isso me deixa doente.
— Por que fez isso? — ele repete a mesma pergunta que havia feito quando
se deparou com o quadro. Ainda estou confusa, mas preciso saber do que
ele está falando.
— Então, por que está tão bravo? — ele parece querer chorar e então volta
com seus olhos gelados em minha direção.
— Como você quer que eu me sinta se você mentiu pra mim o tempo todo?
Disse a você que contaria sobre a minha vida, mas você já sabia! — estou
desnorteada com o rumo da nossa conversa. O que ele está dizendo?!
— Mas... eu não sei! — afirmo e ele ri com sarcasmo mais uma vez.
— Você não sabe que aquela mulher da foto, aquela mulher que está ali,
estampando um lugar de destaque na exposição que eu fiz para você... é a
minha irmã que faleceu há anos?
— Isso... Não pode ser verdade! — lágrimas rolam livremente dos meus
olhos me impedindo de falar. Na verdade, sua revelação me deixa em total
estado de choque.
— Brandon...
Brandon
Depois que Alissa faleceu, sempre soube identificar quando há
algum intuito por trás de algo, mas com a Amanda foi realmente uma
grande surpresa. Está claro que não é por causa do meu dinheiro, mas pode
ser para se promover.
Na verdade, estou sem acreditar até agora que ela sabia sobre a
morte da minha irmã. Nunca contei a ninguém. Nunca nem cogitaram isso
na mídia. Ninguém sabe. Éramos jovens e Emily era apenas dois anos mais
velha que eu. Sempre me protegeu, sempre fomos amigos acima de tudo.
Ela era um anjo em minha vida, mas decidi não dizer nada para ninguém,
porque isso doía em mim mais do que qualquer coisa. Na verdade, dói até
hoje. Não me conformei com sua morte repentina e quando acredito que
iria finalmente me conformar, acontece isso. Estava pronto para contar
sobre Emily depois da exposição. Estava pronto para entregar a minha
alma a essa mulher. Havia cogitado a possibilidade em nossa sessão de
filmes e ela parecia surpresa com o que havia dito. Ela parecia querer saber
sobre minha vida, mas, na realidade, ela já sabia.
Afinal, como Amanda sabia de sua morte? Como ela investigou isso?
A única pessoa que sabe, além de mim e meu pai, é Jane, e a coitada só pode
ter se deixado levar pelas perguntas "ingênuas" da Amanda. Só pode! Se
Amanda achou que iria me impressionar, ela se enganou, já que essa sua
atitude só demonstrou o quão baixa ela foi. Confiei nela. Confiei no seu
amor e mais, confiei a minha vida a ela. Ela usou o seu dom de pintar para
fazer um belíssimo quadro da minha irmã.
Na verdade, não sei o que pensar. Saí daquela exposição com o meu
carro e estou seguindo sem rumo pelas ruas. Apenas dirijo e meu cérebro
não consegue raciocinar direto. Uma coisa não posso negar, a imagem é
realmente impressionante. Amanda colocou todo o seu sentimento ali,
naquela tela. Contudo, doeu muito ver aquele rosto lindo e jovem, mesmo
com uma expressão feliz. Se havia um lugar naquela casa que a deixava
feliz... era aquele jardim, que estava sem vida desde que Emily morreu. Não
disse para Amanda, mas o jardim ganhou vida e cores novamente quando
Amanda começou a cuidar dele. Isso foi uma de tantas coisas que me
impressionou nela.
Havia feito uma conta no banco em nome da Amanda. Para que ela
não precisasse me pedir dinheiro. Na verdade, ela jamais me pediu um
centavo. Só vivia para aqueles quadros. Mas a conta, além de ajudá-la sem
que eu precisasse controlar, serviria para que todo o dinheiro das vendas
na exposição ficasse com ela.
A princípio, ela havia negado, mas eu a convenci de que o dinheiro
era dela, portanto ela deveria aceitar. Vou cumprir com a minha palavra.
Não quero saber de nenhum centavo que seja relacionado àqueles quadros.
Ela certamente irá precisar para ir embora.
Embora?!
— Senhor?
— Amanda. Quero saber dela... onde ela está? — pergunto com uma voz
séria, indo direto ao ponto.
— Senhor... ela pegou um táxi e... saiu. — junto as sobrancelhas. Achei que
ela quisesse impressionar a todos e ela simplesmente... sai?!
Decido ligar para o seu celular, mas toca até cair na caixa de
mensagens. Por mais que ela tenha me enganado, não posso abandoná-la
assim. Sei das suas dificuldades e ao menos preciso colocá-la em um hotel.
Respiro pesadamente e passo as mãos freneticamente em meus cabelos.
Ligo o carro novamente e volto para a exposição.
Assim que chego, vejo que ainda há algumas pessoas. Entro e vou
direto até uma das responsáveis do evento. Ela me olha curiosamente.
— Você sabe da Amanda? — pergunto com urgência na voz. Espero que ela
tenha conversado com a Amanda.
Como fui idiota! Não iria imaginar que em poucos minutos ela fosse
sumir. Sei que ela não está desamparada financeiramente, já que além de
dar um cartão a ela, depositei uma boa quantia para que ela investisse em
suas telas. Inesperadamente algo me vem à cabeça. A única forma de saber
onde ela está é através do cartão. Imediatamente aciono meus funcionários
para fazerem o rastreamento dos lugares onde ela utilizou o seu cartão.
Minutos depois, recebo a ligação de que o último e único lugar é... em um
hotel barato aqui em Los Angeles. Junto as sobrancelhas. O dinheiro que
depositei em sua conta é o suficiente para ela se instalar no melhor hotel da
cidade por pelo menos três meses. Porque ela não aproveitou? A cada nova
notícia sobre ela, minha consciência parece me chamar de idiota. Peço para
que dois dos meus seguranças fiquem de prontidão e cuidem da sua
segurança já que ela agora é uma pessoa conhecida. Não quero ser o
responsável por nada, afinal, ela só é conhecida por minha causa.
— Não há mais o que fazer. Ele respira com a ajuda de aparelhos. — ela diz
com uma voz desanimada, mas ao mesmo tempo resignada com o que
parece certo a acontecer.
— Sinto muito, Jane! — sei o que ela está sentindo com toda a minha alma.
— Sim. Foi. Mas... ela usou uma pintura com uma imagem bem real da
Emily. — digo e ouço-a respirar pesadamente. Conto tudo que aconteceu
durante a última noite e, quando termino, não ouço nada do outro lado. Por
uma fração de segundos, achei que havia caído a ligação.
— Sim, meu querido, mas eu nunca disse a ela nada sobre Emily e... na
véspera da exposição ela falou algo estranho como se Emily morasse nessa
casa. — junto as sobrancelhas.
— Filho, queria chamá-la na mesma noite para entender o que ela disse,
mas tive que vir às pressas. Tenho certeza de que Amanda via a Emily pela
casa como se estivesse viva. Agora que me contou sobre o quadro, eu tenho
certeza. Ela achou que Emily era alguma empregada ou algo do tipo. Como
os empregados aqui são muitos... ela nunca havia comentado sobre sua
relação com Emily. — um arrepio percorre por todo o meu corpo.
— Nem uma mísera palavra, mas quando estava prestes a perguntar sobre
Emily, você apareceu e então decidi perguntar em um momento em que
você não estivesse por perto, já que você não toca em seu nome há anos. —
definitivamente, não sei o que pensar. Tento imaginar outra maneira
plausível que ela tenha descoberto, mas não encontro. Seria uma
investigação de profissionais, já que o acidente ocorreu há muitos anos.
Éramos adolescentes.
— Brandon, filho, não me diga que você brigou com ela? — respiro
pesadamente.
— Brandon, por mais que pareça maluco, você deve ouvi-la. Tenho certeza
de que ela jamais faria algo contra você. Procure-a e por favor... não a faça
sofrer mais do que ela já sofreu.
Suas palavras me pegam de surpresa, já que Jane acredita piamente
na Amanda. Estou me sentindo mal e, por mais que ache tudo muito
absurdo, preciso dar essa chance a ela. Preciso sentir a verdade em seus
olhos.
Bato na porta devagar, mas minha ansiedade já está a mil. Ela não
responde... bato novamente um pouco mais forte e... nada ainda. Passo as
mãos freneticamente sobre meus cabelos e seguro minha cabeça como se
ela fosse cair. A cada segundo que eu tenho certeza de que ela não está, um
pavor de que algo ruim tenha ocorrido toma conta do meu corpo.
23
Brandon
Aquele olhar triste que eu jamais imaginei voltar a ver está
novamente aqui, bem diante dos meus olhos. Amanda não só parece triste,
mas sim magoada. Aqui, eu começo a perceber que mais uma vez posso ter
cometido um grande erro. O problema é que ela precisa me falar sobre
Emily e como soube da sua existência. Preciso entender o que ela tem a me
dizer.
— Eu... me precipitei em sair daquela forma, mas eu preciso falar com você.
Preciso saber da sua ligação com a minha irmã. — Ela me olha friamente.
— Não sabia que Emily é a sua irmã. Só fiquei sabendo de fato quem Emily
é depois que você me contou. Eu a vi, fomos amigas no período em que
estive morando em sua casa. — suas palavras me arrepiaram por inteiro.
Ela não parece estar brincando, definitivamente.
— Eu também não estou acreditando até agora que aquela menina, jovem e
cheia de vida esteja... — ela engole em seco. — Morta. — mais lágrimas
descem dos seus olhos, mas ela me encara fixamente.
— Preciso ficar sozinha para entender toda essa situação. Não posso...
conversar. Se você se surpreendeu, eu me surpreendi ainda mais. — ela diz
entre as lágrimas. Vejo que ela parece determinada a ficar sozinha agora.
— Vá embora. Não sou louca e agora, mais do que nunca, preciso ficar
sozinha. Por favor! — ela pede com convicção na voz. Ela realmente quer
que eu vá.
— É isso que você quer? — ela acena com os olhos fechados. Olho para
minúsculo quarto ao fundo e não me conformo que ela queria ficar aqui.
Este lugar é velho.
— Tudo bem, mas saiba que por mais que eu ache tudo isso maluco, eu...
sinto muito por não deixa-la falar. Eu... deveria ter te ouvido em nome de
tudo que vivemos nos últimos meses. — respiro profundamente e tento
segurar minhas lágrimas que também insistem em querer sair.
Não preciso saber se ela viu ou não a minha irmã. Eu apenas sei que
ela não está mentindo. Algo dentro de mim me diz que ela está sendo
sincera e eu me sinto mal por isso.
Ainda com os meus olhos fixos nos dela, viro-me e saio, sem dizer
uma palavra.
Amanda
Confusa não é a palavra certa para me definir nesse momento.
Afinal, como tudo isso aconteceu? Como fui capaz de ver uma pessoa que já
morreu? Emily, para os meus olhos, está completamente viva. Pude ser
capaz de conversar com ela, abraçá-la e compartilhar histórias. Fomos
amigas!
— Filha, queria falar sobre a Emily para você, mas não houve tempo. Sinto
muito. — Jane parece segurar as lágrimas enquanto fala.
— Emily era a minha menina e quando você disse seu nome, eu não sabia o
que pensar. O sonho que tive aquela noite foi o que me deixou acordada.
Sonhei com a Emily. No sonho, ela disse que se tornou a sua amiga. — Jane
para de falar por alguns minutos, parecendo nitidamente emocionada.
Brandon
— Incrível. — Digo com um olhar hipnotizado pelo quadro a minha frente.
Pedi que o colocassem no ateliê e então, aqui está ele. Não consigo ainda
acreditar que essa imagem, aqui, bem a minha frente foi pintada
recentemente. Se Amanda realmente a viu, ela está realmente feliz. Emily
parece satisfeita cuidando das flores, como antes. Ela ainda é uma
adolescente. Uma lágrima solitária cai do meu olho direito.
— O que está acontecendo? — sussurro para a sua imagem, que é tão real
que sinto que estou vendo uma fotografia. Seus olhos estão fixados nas
flores e um lindo sorriso estampa seu rosto, como havia me lembrado. Eu
sempre hesitei em ver fotos ou falar dela novamente, mas por incrível que
pareça, isso está sendo libertador pra mim. É como se ela estivesse dizendo
através da fotografia: "Siga em frente, meu irmão. Estou bem! "
Essa fotografia retrata a felicidade da minha irmã. Como se ela
quisesse me dizer algo. Estou me sentindo mais leve agora, e só agora eu
pude perceber o quanto essa imagem significa para mim.
Já passa das seis e acho que estou aqui quase a madrugada inteira.
Meus pensamentos agora estão voltados totalmente àquele olhar triste. Eu
a amo mais que tudo nessa vida e eu sei que não deveria duvidar dela um
só segundo. Eu disse atrocidades à única mulher de quem eu deveria
cuidar. Eu a amo. Deveria ouvi-la. Vê-la triste daquela forma... acabou
comigo. Sou novamente o único culpado de tê-la feito sofrer. Logo eu, que
prometi cuidar dela. Sempre pedi para que ela confiasse em mim, e o que
faço? Não confio nela. Não, não posso ser tão idiota assim. Preciso falar com
Amanda. Já dei o tempo que ela tanto implorou, mas agora chega.
Se ela viu a minha irmã, essa imagem bem diante dos meus olhos me
confirma. Isso não transmite mentira. Definitivamente, essa imagem
transmite amor, verdade e a minha liberdade. Sim, estou me sentindo livre
do peso da sua morte durante todos esses anos. Eu perdi a Emily, perdi a
minha mãe e perdi a Alissa. Não posso perder a Amanda. A única mulher,
depois de tanto tempo, que me fez sentir novos sentimentos. Ela não só me
fez enxergar como a vida deve seguir. Amanda me fez sentir vivo como há
muito tempo não me sentia. Ela só me trouxe coisas boas... Algo pelo que,
definitivamente, vale a pena lutar.
— Por que você fez isso? — é Amanda e alguém já está aqui, com ela. Deus,
só pode ser o psicopata do Brian. Como os seguranças não viram ninguém
entrar? Devia tê-los mandado ficar de prontidão em sua porta. Droga! Eu
falhei mais uma vez. Como fui burro em pensar que ela poderia estar
segura com os meus seguranças?
Meu coração dispara e não penso em nada, não escuto nada... Afasto-
me da porta e com toda a minha força corro de encontro a ela, fazendo-a
cair imediatamente sobre o chão. Quando meus olhos encontram Amanda,
vejo que ela está de pé e um homem com cabelos grisalhos está em sua
frente. Ele me encara, sem reação.
— Eu sou o pai da Amanda, e você só pode ser o Brandon. — ele diz com
sarcasmo na voz.
— Amanda me falou sobre você e, pelo que ela me disse, acredito que não
há nada o que fazer aqui. — digo e ele continua sério, me encarando. —
encaro a Amanda, que treme. Junto as sobrancelhas. Ela tem medo do
próprio pai?
— Ele não, já eu, tenho muito o que fazer aqui. — uma voz intimidadora
desvia minha atenção e então, vejo o último homem que desejaria ver
saindo do minúsculo banheiro... Brian. Sim, eu sei quem é ele sem ao menos
ter visto o seu rosto uma única vez. Ele tem cabelos claros e olhos verdes
com o branco do olho avermelhados, como se não dormisse há dias. Seus
cabelos são bagunçados e sua expressão é de um doente. Brian é tão alto
quanto eu. Ele segura uma arma e meu corpo fica tenso imediatamente. Sua
ironia e cara de psicopata demonstram claramente que ele demorou e,
agora que está aqui, não irá desistir.
Provavelmente, o pai da Amanda foi apenas uma isca para que ela
abrisse a porta sem chamar a atenção, e claro que ele estava me esperando.
Ele parece calmo agora, como se eu não fosse nada. Amanda parece sem
reação e, inesperadamente, Brian se aproxima dela e meu corpo gela, meus
músculos ficam ainda mais tensos e meu coração parece querer sair pela
minha boca. O que esse homem claramente doente pretende fazer?
24
Brandon
Os olhos do Brian estão vidrados e mesmo ele não estando tão
próximo, posso sentir o seu ódio direcionado a mim. Suas pupilas estão
dilatadas e eu acredito ser efeito de algum tipo de droga. Tento não dar
nenhum passo em falso para que ele não faça nada de mal contra Amanda.
Ela está do seu lado e ele já apontou essa maldita arma em sua direção
algumas vezes. Cada vez que ele faz este movimento, eu morro um pouco
por dentro.
— Você gostou muito de usufruir da minha grana durante todos esses anos,
não é mesmo? — ele o observa com uma expressão de medo.
— Eu fiz tudo que você queria. Vim até aqui, fiz com que minha filha me
atendesse para não levantar suspeitas. O que quer que eu faça mais? —
Brian começa a rir devagar e logo está dando gargalhadas. Ninguém aqui
acha isso remotamente engraçado, provavelmente nem ele. De repente ele
fica sério e todos continuamos parados. Amanda está nitidamente nervosa
e percebo que suas mãos tremem. Isso acaba comigo. Encaro-a e quando
finalmente seus olhos encontram os meus, tento dizer a ela que tudo ficará
bem apenas com o meu olhar. Ela parece entender, já que faz um leve aceno
de cabeça. Seus olhos tristes estão novamente voltados para o bastardo. É
nítido o medo que ela sente desse desgraçado. Seu corpo treme e ela se
abraça, como se isso a ajudasse a se livrar deste homem.
Meus punhos se fecham até ficarem brancos. Estou com um ódio tão
grande, que sou capaz de partir em três a cara desse desgraçado. Quero
quebrar cada parte do seu corpo e jogá-lo pela janela, mas eu sei que se eu
ao menos fizer menção de tentar algo, ele poderá usar a sua maldita arma e
atirar na Amanda. Isso acabaria comigo. Aquela famosa sensação de perda
toma conta do meu corpo e imediatamente começo a entrar em pânico. Sei
que estou suando frio, mas definitivamente preciso me controlar. Respiro
profundamente.
— Sei quem é você. Eu sei de toda a sua vida. Sei que sempre lutou e que
me derrubaria facilmente. Não sou idiota. Não vou gastar minha força física,
já que posso te dar apenas um tiro. — ele diz com uma calma
impressionante. À medida que os minutos passam, sinto que estou vivendo
em um pesadelo. Será que meus seguranças vão invadir? Tomara que não.
Agora, estou rezando para que eles não façam, já que ele está próximo
demais da Amanda e isso pode prejudicá-la.
Tento me controlar para não voar em cima dele e estragar tudo. Não
aceitarei perder mais ninguém. Amanda é tudo que eu tenho e agora
estamos aqui, por minha culpa. Se algo acontecer com ela, eu não me
perdoarei... nunca.
Ele aponta sua arma em direção a minha cabeça e eu deixo que o pai
da Amanda me amarre. Ele enrola as cordas em minhas pernas e braços,
unindo-as com a cadeira e eu estou totalmente imobilizado agora. Encaro a
porta com expectativa. Não há como eu agir dessa forma. Meus seguranças
precisam entrar.
— Não faça nada contra ele, Brian... por favor. — ela implora e a última
palavra sai como um sussurro. Eu sinto dor ao ver o seu sofrimento.
— Eu não gostava daquela vida e você sabe disso. — ela confessa, mas ele a
ignora beijando sua boca com força. Tento me debater na cadeira, mas as
cordas estão presas forte demais.
— Você não entendeu nada, não é? Ela é MINHA mulher. Somos casados,
seu idiota! Ela vai sair daqui comigo.
— Isso é o que nós vamos ver! — ele se vira, mas de repente se volta em
minha direção batendo a sua arma em minha cabeça. É tão rápido que sinto
um baque forte na cabeça e eu tento permanecer acordado, mas a única
coisa que ouço são gritos da Amanda. Gritos desesperados e segundos
depois... tudo se escurece.
— NÃO. Não pode ser! Eles não podem tê-la levado e vocês não viram! — os
dois se olham e depois me encaram com a mesma expressão de culpa.
Amanda
Eu só queria que esse pesadelo acabasse logo. Meu corpo treme e
minha alma grita pelo Brandon. Quando vi que o Brian o atingiu forte com
uma coronhada na cabeça, eu gritei até os meus pulmões arderem. Senti a
cada segundo que Brandon sofria em me ver daquela forma. Ali, pude sentir
o seu amor ainda mais vivo por mim. Ele não teve como reagir. Meu Deus.
Ele parecia desesperado! Pude ver a sua frustração e raiva por não poder
me ajudar.
Não sei como meu pai se sujeitou a tanta humilhação há tantos anos
e mesmo assim, prefere estar jogando do seu lado. Ou melhor, eu sei... é
óbvio que sempre será por dinheiro. Ele é movido a dinheiro e acredito que
jamais aceitaria viver novamente na pobreza. Ele prefere ser humilhado
por um homem detestável feito Brian.
— Aonde vamos? — Pergunto e Brian não responde. Ele continua com seus
olhos vidrados na estrada. Brian me ignora como se eu tivesse feito mal a
ele. Só espero que Brandon esteja bem. Espero que ele não tente nada
arriscado.
Depois de viajarmos por mais ou menos uma hora, avisto uma placa
indicando que chegamos a uma cidade chamada "Canyon Lake". Não
conheço nada na Califórnia e muito menos este lugar. Minutos depois, o
carro estaciona em frente a uma espécie de pousada.
Um grande lago com águas cristalinas compõe um maravilhoso
cenário. Contudo, não penso sobre isso, e sim sobre como vou me livrar
deste monstro. À medida que o tempo vai passando, meu medo é
multiplicado por mil. Não sei ao certo do que Brian pode ser capaz.
Confesso que enquanto ele estiver assim, sem beber... não acredito que ele
vá fazer algo contra mim. Porém, sei que em breve ele deve começar a
beber e isso definitivamente não é uma situação que eu queira estar por
perto.
Meu pai está tão calado quanto Brian. Eu sei que ele sente raiva em
ser obrigado a fazer tudo que Brian manda, inclusive fazer mal a sua
própria filha. Ele, apesar de tudo, sabe o quão ruim está sendo, mas não
quer perder a sua vida regada a bebidas e mulheres.
Todos descem do carro e logo sou puxada pelo Brian com força. Saio
do carro quase caindo e sou levada rapidamente para dentro da pousada.
Quando entro, vejo que não há ninguém aqui. Claro, isso só pode ser uma
das muitas propriedades do Brian. Ele não se arriscaria em trazer-me em
um local público.
— Não foi difícil encontrar o Brian. Quando o vi, acho que foi amor à
primeira vista. — ela diz na maior cara de pau. Então, ela está me dizendo
que procurou o Brian?
— Na verdade, Amanda, não foi difícil saber da sua vida. Você é uma pobre
coitada que achou que poderia querer o Brandon, mas ele é muito para
uma mulherzinha de quinta feito você. — ela diz, me medindo com o seu
olhar.
Sinto um ódio por essa mulher estar aqui e por ela ter ido atrás do
Brian apenas para me atingir. Estou cega e com uma raiva reprimida desta
mulher. Não penso duas vezes e voo para cima dela. Ela não esperava a
minha reação e minhas mãos vão direto segurando seu cabelo. Ela grita e
eu a jogo no chão montando meu corpo em cima dela como um animal
irracional. Arranho a sua face e desfiro tapas em sua cara. Inesperadamente
meu pai entra e me puxa de cima dessa mulher, agora toda arranhada.
— Tome. — meu pai diz e quando olho para a sua mão, me surpreendo com
um aparelho celular. Junto as sobrancelhas.
— Ainda sou o seu pai e por mais que eu esteja devendo minhas calças para
o Brian, o meu coração fala mais alto. — não respondo, mas isso me pegou
completamente de surpresa. Ele acena com a cabeça e sai do quarto
trancando a porta logo em seguida. Imediatamente pego o aparelho celular
e disco para o Brandon, que deve estar maluco por notícias.
Brandon
Caminho de um lado para o outro e minha tensão não diminui. Estou
desesperado sem ao menos saber aonde aquele desgraçado levou a minha
mulher. As minhas lágrimas descem involuntárias dos meus olhos e a cada
minuto sem resposta, um pânico se instala em mim.
25
Amanda
Estou sentada sobre a única cama desse cômodo vazio, abraçada aos
meus joelhos flexionados e contando os minutos para que Brandon apareça
com a polícia. Sei que não estamos próximos a Los Angeles, mas sem dúvida
alguma, ele deve estar vindo de uma maneira mais rápida. Pelo desespero
de sua voz eu tive a certeza de que este homem me ama da mesma maneira
que eu o amo. O problema maior agora é apenas o Brian, que ainda não veio
até aqui.
— Eu disse para ficar escondida, sua vadia! Agora não há como explicar a
ela sua presença.
— Sinto muito, mas eu precisava...
— Sei o que você queria quando me procurou. Sabia que eu iria querer
saber o motivo daquele telefonema, já que você claramente disse que iria
me ajudar a pegar a Amanda, mas você é mais uma idiota apaixonada pelo
Astro. — ele solta outra gargalhada que me traz arrepios dos pés à cabeça.
— Você quer vida boa e a única mulher a quem eu sou capaz de dar essa
vida boa é a Amanda. SÓ a minha Amanda. — ele diz com uma voz
arrastada e apenas o choro dela consigo ser capaz de ouvir.
Brian fita seus olhos nos meus e aquele olhar com o qual estou
familiarizada volta, como se eu jamais tivesse saído do seu lado.
— O que esse maldito celular faz aqui? — ele grita, apertando forte cada
lado dos meus braços. Ainda com lágrimas nos olhos, eu balanço a cabeça
freneticamente.
— Eu não fiz nada. Não chamei ninguém! — seu ódio agora é palpável e
Brian com apenas um único movimento me lança contra a parede. Meu
corpo colide com força e cai imediatamente sobre o chão. Além da dor,
sinto um medo descomunal de que dessa vez eu não sairei viva daqui. Não
antes do Brandon chegar.
Brandon
Já estamos no local indicado pelo equipamento de rastreio do FBI.
Eles queriam me afastar, mas eu insisti que viesse. Eles acabaram cedendo
ao meu apelo e acabaram me trazendo junto em um de seus helicópteros.
Para a minha surpresa, já havia muitos agentes e outros policiais cercando
e isolando toda a área, já que a imprensa também está aqui. Daqui de
dentro de um dos carros, posso ver curiosos e muitos fotógrafos de longe,
tentando pegar o melhor ângulo. À medida que o tempo vai passando, meu
coração dispara, e meus músculos ficam cada vez mais tensos. Meu cabelo e
corpo estão encharcados pelo suor e o desespero me sufoca a cada minuto.
— Sim, dois mortos! — se meu coração havia gelado, agora ele parou. Não
consigo respirar e um mal estar toma conta de mim. Reúno toda minha
força e aproximo-me ainda mais. Ele nota a minha presença e devido a sua
máscara, não posso ver seu rosto.
— Quem... morreu? — pergunto, mesmo que ele queira me tirar daqui. Essa
palavra ainda me traz arrepios e acredito que jamais irei me acostumar em
pronuncia-la. Ao mesmo tempo que faço a pergunta, sinto um grande medo
da sua resposta.
— Fomos avisados que o senhor está aqui, mas o senhor deveria ter
permanecido em um dos carros, longe. — o agente me repreende, mas eu
ignoro-o. Quero saber logo o que houve. Essa agonia e desespero que
invadiram o meu corpo precisam ir embora.
— Uma mulher e um homem. Não há mais ninguém lá dentro. — Ele
informa, mas e os tiros? Meu coração dispara e, por um momento, pensei
que ele fosse parar de bater em meu peito.
Assim que meus pés tocam o lugar, não vejo ninguém aqui. Parece
que os agentes evaporaram.
— O que está fazendo aqui? — vejo que um dos agentes ainda está aqui e se
aproxima.
— Parece que ela ainda está com o celular e já estamos fazendo o rastreio.
Amanda
O carro anda em alta velocidade e meu coração dispara. Assim que
Brian avistou o aparelho, ele não pode me bater por muito tempo. Queria
me tirar dali antes que a polícia chegasse. Ele me deixou sobre o chão e
correu. Ele pedia a alguém para preparar a porta do tal túnel, e saímos. Sim,
esse maldito lugar foi projetado para uma fuga rápida. Aproveitei o seu
desespero e peguei novamente o telefone que Brian havia esquecido sobre
a cama. Ele queria sair dali com tanta pressa que nem sentiu falta do
aparelho. Na verdade, ele parece bêbado e drogado. Um dos homens nos
guiou para fora do túnel até um veículo. Ele disse que esse era o seu plano
b. O celular está entre meus seios, o único lugar em que conseguiria
esconder dentro deste vestido desconfortável e agora sujo. Agora é tudo ou
nada, preciso que Brandon saiba aonde estou indo ou... acabou.
A única coisa que pude ser capaz de ouvir é o Brian ordenando que
"matem os dois". Meus instintos dizem que ele mandou matar o meu pai e a
Chyntia. Não sei se o único homem ficou para fazer o trabalho sujo
conseguiu sair de lá ileso, mas espero que a polícia o pegue.
— Não. Mais rápido! — Brian ordena fazendo meu corpo tremer. A estrada
se transformou em um borrão agora de tão rápido que estamos.
Sei que a polícia já nos encontrou, mas quero que Brandon saiba que
eu estou bem... ao menos até agora
26
Brandon
Depois de ser informado das mortes, o policial me obrigou a sair do
local. Ligo para um dos meus seguranças que já estava me esperando com o
carro próximo ao local. Aquela sensação terrível de morte me acompanha
como se a qualquer momento aqueles policiais fossem me surpreender
com a pior notícia.
— O senhor quer que busque água? — meu segurança pergunta e eu, sem
olhar para ele, aceno positivamente. Ele sai do carro e minha cabeça está
fervendo. De alguma maneira, Brian descobriu que a polícia estaria vindo e
a tirou daqui rapidamente. O meu maior medo é o que ele pode ter feito
com a Amanda. Espero que ele não tenha encostado suas mãos imundas na
minha mulher.
— Deus, isso não parece real. — A impressão é que irei acordar a qualquer
momento. Sinto-me sem chão, sem saber o que fazer ou pra onde ir. Isso é
uma tortura.
Amanda
Um tiro foi o suficiente para me deixar histérica. Grito
desesperadamente dentro deste veículo em alta velocidade. Depois que o
motorista informou ao Brian que não estávamos em uma Ferrari e sim em
um Murano, foi o suficiente para que Brian atirasse sem dó na sua cabeça e,
com uma rapidez impressionante, jogasse-o para fora da estrada.
— Você não tem para onde ir. A polícia está aqui e em breve viaturas irão
chegar. BRIAN, PARE O CARRO! — grito e ele me ignora. Olho para suas
mãos e percebo que ele não segura a arma com firmeza. Respiro
profundamente com o olhar fixo na arma. Preciso ir para o tudo ou nada.
Não posso ficar nessa agonia, fazendo o que ele quer, para sempre. Agora
não há mais ninguém aqui. Somente, eu e ele.
Brandon
Já está ficando escuro e entro em alerta imediatamente quando, de
longe, consigo avistar um helicóptero com uma grande lanterna sobre um
veículo um pouco distante de mim. É a Amanda.
Acelero com os olhos fixados no veículo e percebo que ele está ainda
mais rápido. Aquele desgraçado vai acabar batendo esse maldito carro.
Pisco o farol freneticamente para alguns carros a minha frente e acelero
cada vez mais. Quando meu carro se aproxima, não posso ver o seu interior.
Os vidros são escuros, mas eu sei que Amanda está ali.
Sou tomado por um ódio que nem mesmo eu sabia que existia
dentro de mim. Vou para cima dele e desfiro socos em sua cara com toda a
minha força. Ele tenta me afastar com os pés, mas ele não tem nenhuma
chance contra a minha ira. Depois de dar intermináveis socos até deixar o
seu rosto desfigurado, vejo que ele para de se mexer. Encaro-o ofegante, me
certificando de que ele esteja apagado e me levanto, correndo em direção a
Amanda, que está chorando descontroladamente.
— Shhhh... Está tudo bem. Acabou! — digo afagando seus cabelos. Aperto
meus olhos com força e sinto um alívio indescritível de tê-la novamente em
meus braços. Os faróis estavam em nossas cabeças o tempo todo e viaturas
de longe começam a se aproximar.
— Pensei que não fosse te ver nunca mais! — ela diz entre soluços
enquanto eu a aperto contra o meu corpo, como se ela fosse fugir de mim.
27 – Final
Amanda
Embora Brandon tenha me obrigado a me consultar com um
psicólogo... não sinto traumas, não sinto um pingo sequer de remorso por
ter atirado naquele homem. Ele poderia te-lo matado e eu me odiaria se
não tivesse impedido isso. Felizmente, eu fui rápida para pará-lo de vez.
Sabia onde a arma estava caída e rapidamente corri para pegá-la.
Meu lugar é atrás dos "holofotes" e das câmeras. Não me vejo e não
quero nada que seja relacionado com a fama. Já tenho o suficiente com o
Brandon. Nesses últimos dias, ele não parava de me ligar, preocupado. Ele
quer sempre saber se está tudo bem. Estou sendo cuidada de uma maneira
única. Aliás, ele se sentiu mal por tudo que nos aconteceu, mas ao menos
ele supre tudo isso, me dando muito carinho e não se sentindo culpado
como ele havia feito a vida toda. Brandon e eu experimentamos momentos
terríveis com o sentimento de ficarmos próximos da morte, mas por algum
motivo, aprendemos mais sobre a vida e a consciência de que ela um dia
chegará ao fim.
Temos consciência da morte, mas aqueles que passam por algo
traumático ou uma doença séria, tem ainda mais consciência que qualquer
outra pessoa. Na realidade, as pessoas não imaginam que o amanhã pode
não chegar ou daqui a um mês ou daqui a um ano. O fato é que devemos
parar de temer e apenas... viver. Vamos viver cada momento como se
fossem únicos. Deixei de fazer isso durante muitos anos e hoje sou uma
nova Amanda. Uma Amanda que encontrou o amor. Sinto que essa casa é o
meu lar, meu lugar, e eu não pretendo mais sair daqui.
Não tenho saído de casa por motivos óbvios, mas precisava ver a
minha mãe. Brandon prometeu me levar na próxima semana. Preciso ver o
seu rosto. Sua presença me acalma.
— Senti a sua falta o dia todo. — ele confessa e eu curvo os meus lábios em
um sorriso. Enlaço meus braços em seu pescoço e seus lábios tocam os
meus, levemente.
— Preciso que veja uma coisa. — Brandon segura minha mão, puxando-a
em direção a sala de estar. Junto às sobrancelhas não imaginando o que
pode ser.
Assim que atravessamos a grande porta que liga a sala de jantar com
a sala de estar, meus pés fincam no chão com a imagem que vejo. Meus
olhos se enchem de lágrimas ao ver a minha mãe sobre sua cadeira de
rodas bem no meio da sala de estar da nossa casa. Ela está segurando uma
bolsa e seus olhos estão fixados no quadro da Emily.
— Não faz nenhum sentido ela viver em uma clínica, sendo que aqui ela
receberá o seu amor diariamente. Eu a trouxe para você, Amanda. —
Brandon diz o que eu havia imaginado, e então, lentamente, aproximo-me
dela. Abaixo o meu corpo e ela envolve meu rosto em suas mãos delicadas.
— Disseram que a minha filha está aqui e eu... sinto falta dela. Ela deve
estar dormindo, não é?! — concordo com a cabeça, não conseguindo
responder por causa da emoção em tê-la aqui, comigo.
— Não chore! — ela abre sua bolsa — Eu trouxe uma boneca para você. —
minha mãe me entrega uma boneca de pano com os mesmos cabelos de
crochê marrons.
— Fique com ela, faço outras. — ela diz, mal sabendo que guardo todas as
bonecas que ela me deu em um dos quartos da casa. Beijo-a no rosto e ela
acaricia meu cabelo. Beijo a sua testa demoradamente e levanto-me
fazendo o meu caminho em direção ao Brandon.
— Linda, até quando chora! — ele segura meu rosto com as mãos — Vamos
adaptar a nossa casa de acordo com as necessidades da sua mãe. Sei que
além do Alzheimer, ela tem limitações de saúde. Contratei uma enfermeira
que ficará com ela em tempo integral. Sua mãe será tratada como merece.
— ele diz, me fazendo chorar ainda mais.
Deus, não acredito que ele esteja fazendo tudo isso por mim.
— Não acabou. — Franzo o cenho e ele tira algo do bolso da calça. É uma
pequena caixa de veludo na cor azul turquesa. Instintivamente, coloco as
mãos sobre a boca.
Com os seus olhos ainda presos aos meus, ele abre a caixa e retira
uma linda aliança de ouro com algumas pedras que parecem ser diamantes.
Ele é simples e ao mesmo tempo sofisticado. Não consigo explicar o que
vejo bem diante de mim.
— Case-se comigo com a bênção de sua mãe? — neste momento sou uma
confusão de sentimentos. Sorrio e choro ao mesmo tempo não acreditando
em tudo isso. Minha mãe nos olha encantada e com um sorriso no rosto.
— Eu estou muito feliz que meu filho tenha encontrado alguém como você.
Parece que ele não puxou ao pai. A única vez que tive uma escolha acertada,
foi quando conheci a mãe do Brandon. Nunca mais soube achar alguém que
a substituísse. — ele parece emocionado enquanto segura as minhas mãos,
reprimindo o choro. — Na verdade não há substituição para ela nem para
ninguém. Eu já havia encontrado o grande amor da minha vida, mas
Brandon, não, até te conhecer... — suas palavras me fazem refletir sobre
como ele deve ter sofrido com a perda de sua mulher, a mãe do Brandon.
Ele não toca no nome da Chyntia e parece não se importar com o que
aconteceu a ela.
Brandon
Não me lembro de um momento em minha vida em que estive tão
nervoso quanto agora. Estou sem ver a Amanda há dois longos dias. Jane a
fez dormir em seu quarto, impedindo-me de vê-la. Ela disse que era para eu
poder me sentir ainda mais nervoso e privilegiado ao ver a minha futura
esposa.
Um ano depois...
Brandon
Com a experiência que tive, posso dizer que em um determinado
tempo a relação de um casal diminui, tornando-se fria. Não é o que
acontece comigo e a Amanda, definitivamente. Quanto mais o tempo passa,
mais eu quero sentir o seu corpo. Isso tem se tornado cada vez mais intenso
pra mim. Eu amo chegar em casa e poder tocar cada parte do seu corpo.
Amo poder dormir ao seu lado e sentir o seu cheiro inebriante que se
tornou um relaxante para mim. É inexplicável. Hoje, temos nossas vidas e
respeitamos o espaço de cada um. Amanda decidiu ficar afastada dos
holofotes e apenas aparece em público quando vamos a eventos, festas e
jantares. Ela continua com os seus quadros e já até ganhou prêmios.
Amanda se encontrou com suas obras de arte.
Nos últimos meses tenho ligado para Amanda mais que deveria.
Essa minha preocupação excessiva tem fundamento e é algo que eu
simplesmente não consigo controlar. Aliás, em seu estado, acredito que isso
seja comum. São quase nove meses de gestação e digamos que eu não estou
preparado para essas coisas.
Estamos gravando uma externa agora. Tivemos que dar uma pausa
por causa da chuva, mas em breve daremos continuidade. Tenho um novo
assessor desde que me casei e, finalmente, parece que acertei com a minha
contratação. E sobre os meus ex-empresários, não faço a mínima ideia do
que estão fazendo. Angelina, eu nunca mais a vi. Sei que ela se casou com
um astro vinte anos mais jovem. Nos jornais sensacionalistas, ele sempre
está acompanhado com mulheres. Muitas mulheres. Ela resolveu fingir de
morta para continuar mantendo suas aparências, já que isso é o mais
importante para ela.
— O que aconteceu?! Por que você me ligou? Amanda está bem? Ela não
pode falar?
— Acalme-se, Brandon! Ela está bem! Só... sente algumas dores! Estou a
levando ao hospital. — um nó se forma em minha garganta.
Neste momento, ela está soprando o ar. Uma técnica que ela
aprendeu para se acalmar. Amanda está suando frio e pela sua expressão
de dor, sei que ela está sofrendo. Finalmente, seus olhos encontram os
meus e ela tenta sorrir, mas logo em seguida faz uma careta de dor me
fazendo correr até ela.
— Dez centímetros de dilatação! Entrem, ela está pronta! — ele diz, depois
de examina-la e inesperadamente, os enfermeiros entram, levando a minha
mulher para longe de mim. Eles me dão uma roupa especial enquanto ela é
levada para a sala de parto.
Agora, não poderei fazer nada. Minha mulher está nas mãos dos
melhores médicos e eu apenas preciso confiar a sua vida em suas mãos.
Uma hora depois, eu estou no mesmo lugar. Jane saiu para buscar
informações sobre a Amanda, já que eles se recusam a falar comigo. Estou
muito agitado e essa falta de informação está me deixando completamente
maluco. Meu pai já está aqui e... a única coisa que sabe me pedir... é calma,
mas isso é impossível. Amanda não havia dado nenhum sinal de que tudo
isso iria acontecer. Estávamos bem e ela passou por uma gravidez
tranquila, sem maiores problemas. Eu não consigo entender isso. Sei que se
passou pouco tempo desde que saí de lá, mas eles dizem apenas que está
tudo bem, sendo que não foi o que os meus olhos viram.
— Amor... ela sempre vai estar ao nosso lado! — ouço a voz calma da
Amanda, que está bem atrás de mim. Ela fez questão de que eu encarasse a
realidade e viesse ao encontro da minha irmã. Nunca a havia visitado e eu
não sabia o quanto isso foi libertador. Mesmo aceitando a sua morte, eu
ainda não conseguia vir até aqui. Amanda é a responsável por toda essa
mudança. Tudo. No dia em que ela deu à luz ao nosso filho, passei
momentos terríveis por um mal entendido. Jane havia perdido o seu irmão.
Sua reação me fez acreditar que era a Amanda. Mesmo sendo o seu irmão,
não pude deixar de me sentir aliviado que aquela hemorragia era pequena
e nada de mais grave havia acontecido.
Seu irmão já estava mal, e sua morte era inevitável, mas não a minha
Amanda... isso me pegaria completamente de surpresa e acabaria comigo,
para sempre.
— Você está mimando este menino! — afirmo com um meio sorriso e ela
toca os seus lábios nos meus.
FIM