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A Química do Bem Estar – Os hormônios da felicidade

Prazer, motivação, amor, felicidade. Há substâncias químicas


naturais em nosso organismo, conhecidas como “hormônios
da felicidade”, que são capazes de produzir essas sensações e
podem ser estimuladas naturalmente, de maneiras simples e sem
recursos que causam dependência.

As principais substâncias do nosso organismo geradoras de bem-estar, a


serotonina, a endorfina, a dopamina e a ocitocina, são neurotransmissores
produzidos pelos neurônios e têm a função de enviar informações para outras
células do corpo. Essas substâncias participam da química cerebral e cada
uma desempenha um papel diferente.
Dependendo de cada momento da vida, um neurotransmissor pode agir de
forma mais prevalente que o outro, mas todos devem estar presentes no
organismo em quantidade ideal. Quando a química cerebral está bem
equilibrada, ela gera a sensação de bem-estar e aumenta a capacidade da
pessoa de lidar com as tensões da vida.

A médica salienta que existem ações simples que podemos fazer na prática do
dia a dia, sem estímulo medicamentoso, para impulsionar a produção desses
hormônios de forma saudável.
ENTENDA COMO AGEM E COMO ATIVAR OS “HORMÔNIOS DA
FELICIDADE”

SEROTONINA

É um neurotransmissor responsável pela sensação de bem-estar, é o


“hormônio da felicidade”. Ela ajuda a manter a saúde mental, auxilia na
regulação do apetite, sono, libido, ansiedade, tem um papel importante na
regulação do humor e está muito ligada ao trato intestinal.
A serotonina é ativada, principalmente, pela alimentação, através de fontes
que contêm triptofano: aveia, banana, cacau (o chocolate 70% é uma boa
opção), castanhas, ovo, carne e outros alimentos proteicos ou que contenham
vitaminas do complexo B (confira ao final da página, uma receita prática da
nutricionista para incluir o triptofano na dieta).
Além da alimentação, tomar sol, meditar e fazer atividades relaxantes e
prazerosas também estimulam a produção da serotonina.

Cautela no consumo de carboidratos e açúcar: a nutricionista explica que


baixos níveis de serotonina estão relacionadas ao aumento da vontade de
ingerir doces e carboidratos. Embora sejam importantes, é sempre melhor
preferir carboidratos complexos e de alimentos saudáveis, como frutas e
cereais integrais, e evitar o açúcar.
O consumo excessivo de açúcar provoca hiperatividade cerebral e mudanças
de humor. Além disso, após um pico de açúcar, ocorre uma queda repentina,
gerando uma baixa de energia, podendo causar tristeza, ansiedade, entre
outros sintomas.

ENDORFINA

É o “hormônio do prazer”. Tem um poder de analgésico, causando uma


sensação euforizante. Está intrinsecamente ligada à prática de atividade
física. Além disso, cantar, dançar, cultivar pensamentos positivos, relembrar
bons momentos, dormir bem, tomar sol, sair com os amigos também ajudam a
liberar a endorfina.
A produção de endorfina também pode ser estimulada com o consumo de
alimentos como chocolate, pimenta, aveia, sementes de abóbora e de girassol.
O exercício físico, principalmente o aeróbico, como a caminhada, corrida, andar
de bicicleta, liberam com mais facilidade a endorfina, além de diminuir a
irritação e o estresse. Apesar do cansaço, isso vai causar aquela sensação de
bem-estar e prazer. O exercício físico precisa ter um gasto energético,
frequência e duração para ativar os benefícios de forma duradoura.

DOPAMINA

Conhecida como “hormônio da motivação”, na verdade é um


neurotransmissor presente na regulação de processos motivacionais. Tudo que
nos impulsiona a alcançar objetivos tem o papel da dopamina. Ela é liberada
por estímulos externos como criar e superar metas, ouvir músicas
agradáveis, momentos de prazer de uma forma geral. Praticar atividade
física e tomar sol também são estimulantes.
A produção de dopamina não está tão diretamente ligada aos alimentos, mas
compostos antioxidantes podem favorecer o aumento da liberação. São
exemplos os alimentos ricos em vitamina C, como laranja, acerola, goiaba, e os
que contêm betacaroteno como abóbora, cenoura, laranja.
OCITOCINA

É chamada de “hormônio do amor” porque tem um papel fundamental na


construção de laços e nas relações em geral. É produzida no parto, na
amamentação e durante o orgasmo. Provoca sensação de segurança, calma
e ajuda a controlar a ansiedade. Abraçar pessoas queridas, ter um convívio
familiar saudável, encontros agradáveis com os amigos, gargalhar e o ato
sexual são situações em que a ocitocina é liberada. Tomar sol e ter momentos
relaxantes também auxiliam na produção.
A ativação de hormônios como a ocitocina é uma parte importante do cuidado
com a saúde mental. É um círculo virtuoso, pois o fortalecimento do afeto, das
relações pessoais, aumenta a produção da ocitocina, que gera bem-estar e faz
com que a pessoa se sinta mais à vontade para cuidar bem das suas relações.

HORMÔNIOS NATURAIS X DEPENDÊNCIA QUÍMICA

Tanto a falta de um hormônio quanto o aumento exagerado na sua


liberação, geralmente causado pelo uso abusivo de drogas e álcool, vão
gerar desequilíbrio no organismo, explica a médica Luciana Martins.
O uso de drogas faz com que seja liberada uma quantidade excessiva de
dopamina, por exemplo, gerando uma grande e imediata sensação de prazer.
Quando passa o efeito da droga, o corpo quer manter a sensação, mas não
consegue, buscando doses cada vez mais altas. Infelizmente, segundo a
médica, o estímulo à produção dos hormônios de maneira saudável não
consegue jamais atingir os níveis liberados pela droga, tornando-se insuficiente
para suprir a necessidade de um dependente químico.
Mesmo assim, para a pessoa que está em tratamento, o estímulo à
produção natural dos hormônios é essencial e auxiliar, aliado ao
atendimento psiquiátrico e medicação. A prática de atividade física, por
exemplo, traz muitos benefícios. A fisioterapeuta Aline ressalta que a sensação
de bem-estar gerada pela droga é momentânea. Mas se uma pessoa
dependente química consegue fazer exercícios com regularidade, a endorfina
liberada naturalmente vai aliviar o estresse e o desconforto, trazendo uma
sensação de bem-estar mais duradoura.

TUDO É QUESTÃO DE EQUILÍBRIO


Os profissionais que atuam pela saúde física e mental concordam que a
produção de hormônios, independente de qual, é equilibrada por uma rotina de
vida saudável. A exposição ao sol, alimentação adequada, prática de
exercícios físicos, a meditação e as relações interpessoais são fontes
indispensáveis de saúde e bem-estar.
Mas não há hábito, nem hormônio milagroso e suficiente por si só. É
necessário equilibrar o cuidado com a saúde física, emocional e social para
alcançar qualidade de vida e a tão desejada felicidade.
Que efeito o chocolate tem no cérebro?
Essa iguaria alimentar desperta sentimentos de desejo e prazer
nas pessoas e pode ser considerada um vício.

Últimos retoques em bolos de chocolate feitos em Bayonne, na França.

FOTO DE BRIAN FINKE


O chocolate é, em seu nome literal, o alimento dos deuses, como explica um
artigo publicado na revista científica Science de 2011. O produto é feito a partir
do cacau, fruto de uma árvore chamada Theobroma cacao, cujo significado é,
justamente, "alimento dos deuses".
O artigo aponta também que, psicologicamente, o grau de desejo que o
chocolate produz em algumas pessoas pode coincidir com o impulso pelo
consumo de álcool em quem é dependente dessa substância.

A pessoa viciada em chocolate recebe o nome de chocoólico ou chocólatra. Isso


porque uma série de sensações e efeitos são despertados no cérebro com o
consumo do chocolate.

1. O chocolate é um ativador natural da serotonina


O impacto do chocolate no cérebro pode ser considerado impressionante, diz o
artigo. O desejo por chocolate em pessoas viciadas causa euforia, alegria e uma
grande sensação de bem-estar. É por isso que o alimento também é considerado
afrodisíaco.
A ciência associa o consumo de chocolate ao aumento da liberação de
serotonina no cérebro humano. "A serotonina é uma substância química
produzida no cérebro responsável por elevar o humor", diz o artigo da Science.
Portanto, a sensação de querer comer chocolate pode ser um sinal de um baixo
nível de serotonina no corpo e a necessidade de reabastecê-la com o consumo do
doce.

Entretanto, a ciência adverte que comer chocolate nem sempre ajuda o


indivíduo a se sentir melhor. "Se você estiver em um estado de espírito normal
ou feliz, o chocolate o deixará mais feliz. No entanto, se você estiver deprimido,
ele não reverterá seu humor nem diminuirá a intensidade da depressão", afirma
o artigo.
2. Comer chocolate gera sentimentos de desejo
Em um segundo artigo, publicado na revista Science em 2001 e
denominado “This is what your brain is like when you eat chocolate” (“É assim
que seu cérebro fica quando você come chocolate”, em tradução livre), foi
realizado um estudo para entender o que acontece em relação à atividade
cerebral quando as pessoas comem chocolate.
Durante a pesquisa, os participantes foram forçados a comer chocolate até
"sentirem nojo", a fim de reconhecer as regiões do cérebro que são ativadas
tanto pela sensação de um estímulo bom quanto por um estímulo que se torna
ruim.

"O sistema límbico do cérebro, que processa as emoções, entrou em ação de


maneiras diferentes, dependendo se os indivíduos acharam o chocolate
gratificante ou repugnante", mostrou a pesquisa, que foi feita com o uso de
tomografia computadorizada.

Diante da sensação de querer mais chocolate, os participantes do estudo


ativaram regiões do cérebro envolvidas no desejo, como o mesencéfalo e a
ínsula. Como a Science aponta, isso também ocorre quando as pessoas usam
drogas como a cocaína.
Em vez disso, quando os participantes comeram mais chocolate do que o
normal, o sangue fluiu para áreas como a região pré-frontal. Essas partes do
cérebro normalmente ajudam a tomar a decisão de parar de comer. Além disso,
várias regiões do córtex orbitofrontal, que está envolvido na ponderação das
motivações, foram ativadas, informou a equipe de pesquisa.
3. O chocolate pode despertar uma sensação de prazer no cérebro

Chocolate quente: cacau com leite vendido na beira de uma estrada do


estado de Tabasco, no México.

Os efeitos positivos do chocolate vêm da semente do cacau, que contém mais de


800 compostos químicos. Por esse motivo, quanto mais escuro o chocolate,
mais compostos benéficos ele contém, adverte o artigo “The Chemistry of
Chocolate” (“A química do chocolate”), publicado pelo Instituto Nacional de
Saúde dos Estados Unidos (NIH).
Em oposição, o chocolate ao leite e o chocolate branco são variantes cujo teor de
cacau é menor e até mesmo nulo no caso da última opção.

Em uma análise química por trás do chocolate, os estudos


do NIH determinaram que a teobromina e a feniletilamina são os dois
compostos químicos mais importantes e abundantes no chocolate amargo.
A teobromina é um alcalóide encontrado em muitas substâncias, como o cacau,
o café e o chá, por exemplo. Entretanto, é no cacau em que ela está presente em
maior quantidade. Ela também é quimicamente semelhante à cafeína e tem um
efeito estimulante similar no cérebro.
De acordo com o NIH, "a combinação de teobromina e cafeína encontrada no
chocolate cria o pequeno impulso que sentimos depois de comê-lo".

Já no caso da feniletilamina, ela é um componente químico responsável por


despertar a sensação de prazer no cérebro e, portanto, na pessoa que está
comendo chocolate.
4. Os flavonoides do cacau melhoram o fluxo sanguíneo
Outro efeito positivo do chocolate amargo ou escuro para a saúde é que ele
estimula a atividade cerebral em adultos mais velhos.
De acordo com um artigo do NIH intitulado “Chocolate Health Claims – Sweet
Truth or Bitter Reality?” (algo como “As reivindicações de saúde do chocolate –
doce verdade ou amarga realidade?), publicado em 2021, determinados
nutrientes do cacau melhoram a saúde do coração e do cérebro, especialmente
em adultos mais velhos.
Os pesquisadores acreditam que isso pode ser devido a compostos chamados
flavonoides, que são um grupo de compostos químicos ativados nos grãos de
cacau. O chocolate amargo contém mais cacau e, portanto, mais flavonoides do
que outros tipos de chocolate.

De acordo com os institutos norte-americanos, os flavonoides do cacau


melhoram a função cardíaca e o fluxo sanguíneo, portanto, os cientistas
acreditam que eles também podem beneficiar os pequenos vasos sanguíneos do
cérebro.

Entretanto, conclui o artigo, ainda é cedo para responder se os impactos do


cacau nas funções cognitivas de longo prazo – como na memória e na
concentração – realmente melhoram a condição de pessoas adultas.

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