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Relatório Técnico 85/2021

Processo: 001712-097/2019
SAT 5363/2020

Caracterização de danos ambientais sobre a Área de


Preservação Permanente da nascente 59, dos
córregos do entorno e da possível nascente IPEM 58

_____________
Promotor de Justiça:
Marcelo C. Vacchiano - Promotor de Justiça, Coordenador do projeto Água para o Futuro
_____________
Equipe técnica:
Abílio J. Ferraz de Moraes - Biólogo, Mestre em Ecologia e Conservação da Biodiversidade
Adelson dos Santos Lima - Biólogo
André Pansonato - Biólogo, Doutor em Biologia Animal
Lucas Neris Araújo - Engenheiro Florestal
Tainá Figueras Dorado Rodrigues​- Bióloga, Doutora em Ecologia e Conservação da Biodiversidade

Cuiabá - MT
Abril de 2021

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Relatório Técnico 85/2021

1. Introdução

Este relatório apresenta os resultados do trabalho de caracterização de


danos sobre Área de Preservação Permanente (APP) da nascente 59, da
possível nascente IPEM 58 e dos córregos no entorno. Essa atividade foi
determinada pelo promotor de Justiça Dr. Marcelo Caetano Vacchiano,
Coordenador do projeto Água para o Futuro, a pedido da 17ª Promotoria de
Justiça de Defesa da Ordem Urbanística e do Patrimônio Cultural, com o fito de
subsidiar ações do Ministério Público do Estado de Mato Grosso referentes ao
processo SIMP 001712-097/2019.
A nascente 59 está inserida num contexto de ampla urbanização -
localizada no bairro Ribeirão do Lipa com acesso pela Avenida Mario Palma, na
cidade de Cuiabá, Mato Grosso (Figura 01). A nascente pertence à microbacia
hidrográfica do córrego do Ribeirão do Lipa. As coordenadas geográficas estão
na Lat. 15°33’40,1722” e Long. 56°06’40,4628” (Fonte: base de dados do
Projeto Água para o Futuro, hospedada na plataforma Geocloud app, feição
“Nascentes Cuiabá”). À jusante da nascente 59 se encontram as nascentes 64 e
84.

Figura 01. Mapa de localização da nascente 59, nascente à confirmar IPEM 58 e dos
córregos no entorno, localizados no Bairro Ribeirão do Lipa, Cuiabá, Mato Grosso.
Elaborado com auxílio do software Qgis.

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A nascente 59 foi confirmada pelo projeto Água para o Futuro no


município de Cuiabá-MT. Existe um córrego que se inicia a partir de uma
manilha próximo à nascente à confirmar IPEM 58 que também foi objeto deste
trabalho. A possível nascente IPEM 58 foi confirmada em 2008 no trabalho
IPEM (2008) e consta na base de dados do projeto Água para o Futuro como um
ponto de possível nascente, pois não foi observada a surgência hídrica, uma
vez que a área foi totalmente alterada e a água vem de uma manilha de
drenagem de águas pluviais do bairro a montante do ponto.
Vale ressaltar que o referido trabalho do IPEM subsidiou as ações iniciais
do projeto Água para o Futuro e, praticamente todas as nascentes mapeadas,
em 2008, pelo IPEM foram reconfirmadas a partir do início do projeto em
2015. Salvo os pontos que se apresentavam muito degradados e alterados,
como no caso em tela.

2. Metodologia

Foram compiladas todas as informações (histórico de imagens de


satélite e fotografias aéreas, dados topográficos, hidrografia e estudos
técnicos) constantes na base de dados do projeto Água para o Futuro referente
à área objeto de investigação. Foram realizadas vistorias para a constatação in
loco dos atuais danos ambientais sobre a área avaliada. Os danos constatados
foram registrados por fotografias e filmagens.

Acessoriamente, foi realizado o mapeamento construído com imagens


aéreas obtidas por aeronave remotamente pilotada (RPA), a partir de missões
de voo previamente definidas e processadas utilizando o software Agisoft
PhotoScan Professional.

3. Breve histórico de confirmação e caracterização da nascente 59

3.1 Confirmação das nascentes 59 e IPEM 58


A nascente 59 foi identificada primeiramente em 2008 por meio do
estudo denominado “Caracterização e Delimitação Cartográfica das Áreas de

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Preservação Permanente e das Zonas de Interesse Ambiental na Área Urbana de


Cuiabá” (IPEM 59) (Figura 02), encomendado pela Prefeitura de Cuiabá e
realizado pela Universidade Federal de Mato Grosso e pelo Instituto de
Pesquisa Matogrossense (IPEM). Na oportunidade também foi confirmada
outra nascente na mesma região (ID: IPEM 58), que dá origem ao córrego onde
desaguam as águas da nascente 59.
Seguindo o procedimento do projeto Água para o Futuro, não foi possível
confirmar a nascente IPEM 58 pois no local existe uma manilha por onde a
água, de origem desconhecida, flui para o canal.
O ponto de nascente IPEM 58 consta na camada de nascentes a confirmar da
base de dados do projeto Água para o Futuro (hospedada na plataforma Geocloud), e
está localizado no bairro Ribeirão do Lipa. Na visita in loco foi evidenciado que trata-se
da presença de uma manilha que direciona água para o córrego formado pelas
nascentes. Diante das relevantes interferências antrópicas pretéritas ainda, não foi
possível realizar a confirmação pelos indícios do meio físico que confirmassem a
existência de nascente.

Figura 02. Fragmento do mapa síntese da pesquisa realizada em 2008 pela


Universidade Federal de Mato Grosso e pelo Instituto de Pesquisa Matogrossense

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(IPEM) de Cuiabá onde foi mapeada a nascente 59 e a possível nascente IPEM 58 ao


norte da imagem.

Em 2016, técnicos do projeto “Água para o Futuro” realizaram os


procedimentos de identificação e confirmação da nascente 59, durante o
período de estiagem (mês de junho). Foi observada surgência hídrica em
substrato alterado por aterros e cascalhos, porém, com solo gleizado delgado a
partir de aproximadamente 20 cm, seguido de rocha metarenitos alterada. Foi
observada também a formação do canal que ocorre em metarenitos. Apesar da
vegetação se encontrar regenerada no momento da vistoria, foi possível
observar que a área sofreu alterações como retirada da vegetação e queimadas.
Apesar de não terem sido registrados indícios de efluentes e resíduos sólidos
na nascente 59, foi observado o despejo de efluentes à jusante, atribuindo forte
odor à pequena lagoa formada.

A partir da confirmação, procedeu-se às avaliações hidrogeológicas e do


meio biótico da nascente 59, por meio de análises de imagens pretéritas,
reconhecimento geológico em campo, sondagem direta do solo com auxílio de
trado manual, bem como avaliação da flora e fauna local. A Nascente 59 foi
caracterizada pela equipe de hidrogeologia como do tipo pontual, com
surgência hídrica no contato solo/rocha (Figura 3). O canal de drenagem é
formado em afloramento de metarenito.

Figura 3. Características do afloramento da Nascente 59, com aspecto físico da água


ferruginoso e sem odor. Registro realizado no período chuvoso.

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3.2. Fauna

Em setembro de 2017 (11/09/2017) a equipe de fauna coletou


informações referente à fauna e aos danos ambientais locais durante o
trabalho de campo realizado nos períodos diurno e noturno. A equipe de fauna
registrou por visualização direta, fauna pouco diversa com apenas 12
indivíduos distribuídos em três espécies, sendo uma de anfíbio anuro (dez
indivíduos de Adenomera sp.), uma de lagarto (Cercosaura parkeri) e um
mamífero (Dasyprocta azarae) (Figura 4).

A baixa riqueza pode indicar danos à integridade da água, do ambiente e


no microclima. No entanto, mesmo que em baixa diversidade, anfíbios e
répteis são importantes componentes da cadeia alimentar, e alimentam-se de
insetos e outros invertebrados, sendo assim importantes no controle de larvas,
mosquitos e aranhas em áreas urbanas. A cotia (Dasyprocta azarae), registrada
na área, é considerada uma importante dispersora de sementes, auxiliando a
recompor florestas. Durante a vistoria, foi observado que a nascente sofreu
recentemente perturbações por queimadas e retirada da vegetação (Figura 5).

Figura 4. Anfíbios (Adenomera sp.) e répteis (lagarto Cercosaura parkeri) registrados no


dia 11/09/2017 na nascente 59, situada no Bairro Ribeirão do Lipa (Cuiabá, Mato
Grosso).

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Figura 5. Resquício de queimada ocorrida na nascente n° 59 amostrada no dia


11/09/2017 (Cuiabá, Mato Grosso).

Diferentes populações de plantas e de animais têm sido estudadas para


entender como respondem aos efeitos da urbanização. Algumas espécies se
beneficiam em ambientes urbanos, principalmente pela entrada contínua de
alimentos, como algumas aves, canídeos silvestres e até mesmo grandes
répteis, como serpentes constritoras e crocodilianos. Outras são prejudicadas,
seja pela poluição de ambientes aquáticos ou pela supressão de vegetação
nativa, a exemplo de alguns invertebrados aquáticos, peixes, anfíbios,
crocodilianos e mamíferos.

Diversos animais podem ser encontrados nestes micro-habitats de


cerrado desempenhando serviços ambientais. Alguns muito pequenos
(microorganismos e insetos) são importantes em diferentes níveis da cadeia
alimentar. A própria ciclagem de nutrientes depende, em boa parte, de alguns
insetos, que devolvem a matéria orgânica e seus nutrientes ao ambiente,
através da fragmentação e decomposição das folhas que caem no solo. Na água,
os insetos aquáticos têm o papel de filtrar as partículas dos nutrientes e
consequentemente promovem melhoria na qualidade da água e alimento para
peixes e sapos. Muitos dos invertebrados que necessitam de ambiente
florestado, ou água de boa qualidade para reprodução, não sobrevivem em
ambiente degradado e poluído.

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3.3. Vegetação

A avaliação da vegetação realizada em dezembro de 2017, caracterizou a


área da nascente como um fragmento de cerrado arborizado com dossel
semi-aberto e estágio sucessional da vegetação avançado (Figura 6). Foram
registradas 14 espécies de plantas no entorno da nascente. Entre as
espécies nativas do Cerrado cita-se o “gonçaleiro” - Astronium
fraxinifolium. Dentre as espécies observadas no entorno da nascente 59,
algumas são indicadoras de muita umidade no ambiente a maior parte do ano
(Figura 7).

Figura 6. Vista do interior do fragmento de cerrado no entorno da nascente 59.

Figura 7. Espécies indicadoras de umidade e aquática encontradas na APP da nascente:


Lygodium venustum.

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3.4. Monitoramento da nascente 59

Em 20 de agosto de 2019 - período de estiagem em Cuiabá - foi realizado


monitoramento para o levantamento do regime hídrico da nascente 59. O
regime hídrico da nascente 59 foi determinado como intermitente. A Área de
Preservação Permanente (APP) da nascente apresentou mais uma vez vestígios
de queimadas, cujas origens não foram possíveis de serem
determinadas em acidental ou intencional (Figura 8).

Figura 8. Vista Parcial da Área de Preservação Permanente da nascente 59 com


vestígios de queimadas.

4. Histórico de imagens

A avaliação dos danos ambientais à Área de Preservação Permanente da


nascente 59 pode ser feita a partir da cronossequência de imagens de satélite e
fotografias aéreas disponíveis, desde o ano de 1983 até o ano de 2019 (Figura
9), além de constatações in loco. As imagens demonstram que desde 1998 a
nascente 59 não passou por processos de ocupação. Atualmente, sua APP se
mantém conservada, de forma geral (Figura 10 e 11). Em relação à nascente
confirmada pelo IPEM em 2008 mas não confirmada pela equipe do projeto
Água para o Futuro IPEM 58, observa-se que houveram severas alterações no
ambiente a partir da urbanização das áreas (Figuras 9, 12 e 13).

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Figura 9. A cronossequência de imagens de fotografia aérea retrata a evolução da


paisagem urbana no entorno da nascente 59 e da nascente não confirmada IPEM 58
em quatro momentos ao longo das duas últimas décadas.

Figura 10. Fotografia aérea da nascente 59 situada no bairro Ribeirão do Lipa no ano
de 2020 (Cuiabá, MT).

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Figura 11. Mapa com a delimitação cartográfica da APP no entorno das nascentes 59,
64 e 84 situadas no bairro Ribeirão do Lipa, sobrepostos ao ortomosaico de imagens
aéreas registradas em julho de 2020 (Cuiabá, MT).

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Figura 12. A cronossequência de imagens de fotografia aérea retrata a evolução da


paisagem urbana no entorno da nascente IPEM 58 em dois momentos ao longo das
duas últimas décadas (2005 e 2020).

Figura 13. Fotografia aérea da nascente não confirmada IPEM 58 situada no bairro
Ribeirão do Lipa no ano de 2021 (Cuiabá, MT).

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Figura 14. Fotografia aérea do ponto IPEM 58, onde não foi confirmada a nascente
devido às alterações ambientais.

Assista ao voo sobre a área onde estão localizadas as nascentes 59, 64 e 84 e a possível nascente
IPEM 58.

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5. Constatação de danos ambientais em Área de Preservação


Permanente
Nascente 59
A Área de Preservação da nascente 59 se apresenta conservada. Não há
ocupações na APP, que é formada por vegetação nativa. Apesar da conservação
da APP da nascente 59, é necessário que se proceda a sinalização com placas
orientativas da existência da nascente. Ainda, observou-se que a área sofre
constantemente com queimadas.

Figura 15. Visualização da APP da nascente 59.

Córregos do entorno
A região do bairro Ribeirão do Lipa, próximo à área das nascentes,
apresenta uma amplitude topográfica com cotas que variam entre 156 a 197
metros. A bacia hidrográfica do Ribeirão do Lipa é caracterizada por ser divisor
de, aproximadamente, treze microbacias hidrográficas do córrego, onde a
topografia favorece um baixo tempo de concentração, propiciando rápido
escoamento superficial. Destaca-se que todas porções de drenagem são
afluentes do Ribeirão do Lipa, portanto, considerando que toda a área está
inserida na Bacia Hidrográfica do Ribeirão do Lipa ou da Ponte. A paisagem

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predominante nesta porção de drenagem compreende as áreas de menor


declividade, normalmente abrangendo a planície aluvial do Ribeirão do Lipa.

O zoneamento ambiental de Cuiabá demonstrou, em 2011, os cursos


d’água presentes na região urbana (Prefeitura de Cuiabá-SMDU, 2011). Um
curso d’água é formado pelas nascentes confirmadas pelo Projeto Água para o
Futuro (2019) pertencendo a bacia do Ribeirão do Lipa (Figura 16).
Considerando a importância da região, a área foi classificada como Zona de
Interesse Ambiental 1 - ZIA Zoonoses (Figura 16) sendo registrado um mosaico
vegetacional de espécies arbóreas arbustivas, herbáceas nativas do cerrado,
indicadoras de umidade e exóticas.

As Zonas de Interesse Ambiental são aquelas que têm por objetivo a


recuperação, a preservação ou conservação ambiental, destinadas a ocupação
de baixa a muito baixa densidade e, preferencialmente, ao lazer e uso público.
A Zona de Interesse Ambiental 1 – ZIA 1 deve ser destinada às atividades e
empreendimentos com baixa densidade de ocupação.

Figura 16. Localização das nascentes presentes na ZIA Zoonoses na porção oeste da
cidade de Cuiabá, Mato Grosso, no bairro Ribeirão do Lipa, margem direita do córrego
Ribeirão do Lipa. Fonte: Prefeitura de Cuiabá, 2013.

Apesar da relevante importância desta região de mananciais foram


detectados o lançamento direto de efluentes sanitários sem tratamento. Foi
observado que o sistema de drenagem urbana é direcionado (por meio de

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bueiro de concreto) para o vale formado pelas três nascentes; além disso, a
ligação clandestina de esgoto bruto ou dos efluentes das fossas sanitárias na
tubulação do sistema de drenagem urbana contamina e polui o curso d’água.

UNIDADE DE CONSERVAÇÃO AMBIENTAL - UCA

Quanto à área destinada para a conservação, onde se localiza o Centro de


Zoonose, foi observado que esta não apresenta estruturas básicas de proteção
ambiental, como o correto cercamento da Unidade de Conservação Ambiental,
instalação de placas de identificação, prevenção de incêndios etc. Segundo
alguns servidores do Centro de Zoonose, há tempos não há a intervenção do
poder público na gestão da unidade. Ainda, é comum o lançamento de resíduos
sólidos e o trânsito de pessoas dentro da unidade, que inclusive, praticam a
casa de animais silvestres.

Figura 17. Parte dos resíduos sólidos depositados irregularmente na Unidade


de Conservação Ambiental.

Figura 18. Delimitação da Unidade de Conservação Ambiental - UCA.

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Os trabalhos executados pelo projeto Água para o Futuro nas nascentes


da região demonstraram que a Unidade de Conservação da Zoonose representa
um importante fragmento de conservação das cabeceiras do Ribeirão do Lipa e
consequentemente para o Rio Cuiabá. Além da vegetação nativa do cerrado,
existem afloramentos rochosos e formação de um córrego de considerável
vazão hídrica. Também foi observado que existe uma grande quantidade de
animais silvestres na unidade.

Figura 19. Afloramentos rochosos e córrego inserido na UCA.

Figura 20. Córrego no interior da UCA.

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Observou-se uma antiga trilha de caminhada demarcada por pedras no


interior da UCA. Segundo os servidores da Zoonose, a trilha foi construída por
eles próprios e que o local fora bastante frequentado em sua criação. A trilha
percorre as diferentes fitofisionomias do cerrado na área, todavia se encontra
há muitos anos abandonada.

Figura 21. Vista de parte da trilha de caminhada abandonada no interior da


UCA.

Figura 22. Vista aérea do corredor ecológico onde a UCA está inserida.

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7. Considerações finais

Diante das constatações conclui-se que a APP da nascente 59 se


encontra conservada. Apesar da conservação atual, é recomendado a
delimitação física da APP e instalação de placas de identificação da APP da
nascente e do córrego formado por esta.

Quanto à possível nascente IPEM 58, não foi possível proceder à


confirmação desta. Apesar dos fortes indícios (formação de um canal bem
escavado e o fato de já ter sido confirmada em 2008) não se observa mais o
processo de surgência hídrica devido às alterações da área.

Quanto aos córregos da região, existe o lançamento de esgoto sanitário


sem tratamento nestes corpos hídricos. Estes lançamentos comprometem a
qualidade da água da microbacia. Estes córregos, juntamente com as nascentes
formam um importante corredor ecológico ainda conservado na zona urbana
de Cuiabá.

Quanto à Unidade de Conservação Ambiental da Zoonose, observa-se


que esta não cumpre funções básicas de uma Unidades de Conservação. Não há
uma gestão adequada da unidade, que se encontra em estado de abandono há
muitos anos. De pronto, recomendamos a retirada dos resíduos sólidos do
interior da Unidade bem como seu correto cercamento e identificação.

É de consenso entre todos os técnicos que visitaram a UCA que a área


possui grande potencial de se tornar um belo equipamento comunitário
voltado para a conservação ambiental e contemplação da população cuiabana.

Ressaltamos que as áreas verdes arborizadas localizadas em zonas


urbanas exercem papéis ecológicos essenciais para a sadia qualidade de vida
das pessoas e de todas as formas de vida. Em Cuiabá, as APPs e outras áreas
arborizadas são fundamentais para amenizar o calor intenso e proteger os
recursos hídricos, além de outras funções ambientais e ecossistêmicas já
amplamente reconhecidas. Para que as áreas verdes continuem vivas temos

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que cuidar atentamente da água e da Área de Preservação Permanente (APP’s)


e entorno.

Estes locais têm a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a


paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e
flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas. A
mata ciliar, como os cílios dos olhos das pessoas, protege as nascentes,
córregos e rios. A mata ciliar evita os efeitos devastadores das enxurradas, os
processos erosivos, filtra os nutrientes e auxilia na regulação do ciclo da água.
O ambiente protegido promove a manutenção térmica, além de servir de abrigo
e fornecer alimento a diferentes animais.

Ressaltamos que o projeto Água para o Futuro apoia e recomenda a


recuperação de nascentes e córregos mediante a construção de equipamentos
comunitários, todavia, estes devem ser acompanhados de programas de
recuperação de áreas degradadas (PRAD) que visem a melhoria das funções
ambientais exercida pelas APPs, bem como o bem-estar social.

Em Cuiabá temos um grande exemplo de transformação de uma área


úmida degradada em um belo parque destinado à conservação de nascente e à
recreação e lazer da população. É o parque Yone de Azevedo Campos, conhecido
também com Parque da Nascente, onde a união de esforços entre o Ministério
Público, Poder Judiciário, Prefeitura de Cuiabá e concessionária Águas Cuiabá
permitiu a construção deste belo parque, que recebe milhares de pessoas todos
os dias na região do bairro Morada do Ouro.

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Figura 23. Vista aérea atual do Parque da nascente.

Assista ao vídeo produzido pela Prefeitura Municipal de Cuiabá sobre a construção do


Parque da Nascente

Figura 24. Detalhe para a trilha suspensa construída sobre a área úmida do Parque da
Nascente.

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Por derradeiro sugerimos que o município de Cuiabá promova a


revitalização da Unidade de Conservação Ambiental mediante um Programa de
Recuperação de Área Degradada ou Alterada (PRADA) que contemple o plantio
de espécies nativas do Cerrado, a remoção dos resíduos sólidos, além de outras
ações entendidas como necessárias para que a UCA cumpra suas funções
socio-ambientais.

Este é o Relatório Técnico apresentado em 22 folhas, sendo a última


assinada pelos técnicos do Projeto Água para o Futuro.

Cuiabá, 22 de abril de 2021.

Assinado digitalmente por ABILIO JOSE Assinado digitalmente por ANDRE


FERRAZ DE MORAES:01179042107 PANSONATO:72124334115
DN: C=BR, O=ICP-Brasil, OU=Presencial, DN: C=BR, O=ICP-Brasil,
OU=19109359000120, OU=Secretaria da OU=VideoConferencia,
Receita Federal do Brasil - RFB, OU=RFB OU=23109187000161, OU=Secretaria da
e-CPF A1, OU=(em branco), CN=ABILIO Receita Federal do Brasil - RFB,
JOSE FERRAZ DE MORAES: OU=RFB e-CPF A1, OU=(em branco),
01179042107 CN=ANDRE PANSONATO:72124334115
Razão: Eu sou o autor deste documento
Razão: Eu sou o autor deste documento
Localização: sua localização de
Localização:
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Data: 2021-04-22 18:36:51
______________________
Foxit Reader Versão: 9.3.0 _____________________
Data: 2021.04.22 17:52:26-04'00'
Foxit PhantomPDF Versão: 10.1.1

Msc. Abílio J. Ferraz de Moraes Dr. André Pansonato


Biólogo, CRBIO – 079745/01 Biólogo, CRBIO – 72524/01

________________ _____________________
Lucas Neris Araújo Adelson dos Santos Lima
Engenheiro Florestal, CREA – MT Biólogo, CRBIO – 120578/01-P
041421

______________________
Dra. Tainá Figueras Dorado
Rodrigues
Bióloga, CRBIO – 74229/01

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